Pura natureza

Para se sentir em casa

O arquipélago no sul da Bahia que vale muito sua visita.

Abrolhos continua conservado e é um dos melhores lugares do mundo para avistar famílias inteiras de baleias jubarte e diferentes espécies de aves marinhas

Sou um viajante e amante da natureza inveterado. Trabalho como consultor ambiental, fotógrafo dos mares e cinegrafista da natureza. Passo o ano visitando os principais parques brasileiros e do mundo. E quando falo que um lugar é espetacular, pode acreditar! Espetacular. Sim, essa é a palavra mais adequada para definir a sensação que é conhecer Abrolhos. É impossível para quem já percorreu tantos mares ao redor do mundo não se encantar com esse paraíso marinho no extremo sul da Bahia. Para chegar até o arquipélago, que é um Parque Nacional gerenciado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o principal porto de embarque é a pequena cidade litorânea de Caravelas, distante 250 quilômetros da famosa e bem povoada Porto Seguro.

Ao chegar em Caravelas, é necessário fazer uma travessia de aproximadamente 36 milhas náuticas (unidade de distância usada em navegação marítima) ou quase 70 quilômetros, num dos barcos credenciados pelo Parque. Esqueça hotéis, pousadas, shoppings ou lojas de conveniência: o grande atrativo do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos é a natureza. E que natureza! Pode soar espartano passar três dias em um barco – ele serve de pousada, restaurante e plataforma de mergulho –, mas, acredite, é a melhor forma de conhecer o Parque. As embarcações têm, em geral, capacidade máxima para 15 passageiros e dispõem de cabines com camas de casal e solteiro. As águas e ilhas do arquipélago são protegidas e muito convidativas aos mergulhadores e amantes da natureza.

O arquipélago é composto por cinco ilhas: Redonda, Siriba, Guarita, Sueste e Santa Bárbara. Esta última, a maior do arquipélago, não faz parte do Parque, sendo uma base militar da Marinha do Brasil, que tem uma importante tarefa de segurança e apoio à navegação, através da manutenção e conservação do radiofarol dos Abrolhos, fundamental para a sinalização náutica. O nome, inclusive, tem origem na língua portuguesa, de Portugal, e é creditado pela tradição náutica como sendo um aviso aos navegadores que traziam as antigas cartas náuticas aos navegantes da região e significava “abra os olhos”. A ideia era alertar sobre os perigos existentes devido aos recifes de corais submersos, que, na maré baixa, chegam a aflorar na superfície do mar.

As ilhas de Siriba e Redonda estão abertas à visitação. Nelas, é possível observar aves marinhas, com destaque para os simpáticos atobás. Mesmo os visitantes que não são certificados como mergulhadores autônomos (com uso do cilindro) se divertem muito usando apenas a máscara e o snorkel. Abrolhos tem a maior biodiversidade marinha de todo o Oceano Atlântico na sua porção sul. Em outras palavras, significa que nenhum outro local do litoral brasileiro tem tanto bicho diferente. Vale muito conhecer o destino.

Como todo lugar especial, Abrolhos guarda

É possível visitar as ilhas de Siriba e Redonda

1, 2, 3, 4 e 5. A incrível biodiversidade do Parque, onde podemos encontrar corais, caranguejos e moreias

6. O arquipélago de Abrolhos, formado por cinco ilhas de origem basáltica muitas surpresas e é impossível ver tudo numa única visita. A principal época de visitação é o verão (novembro a março), quando as águas são claras, calmas e quentes, ideal para exploração, através do mergulho, dos recifes de coral, naufrágios e toda biodiversidade, comparado ao nosso vizinho Mar do Caribe.

Mas há uma grande, enorme razão, para voltar no inverno (meados de junho a outubro): é a época em que Abrolhos recebe suas mais ilustres visitantes, as baleias jubarte. E são muitas, a ponto de, indo no pico da temporada nos meses de julho e agosto, ser praticamente impossível não ver uma ou muitas baleias – a população chega a mais de 20 mil no Banco dos Abrolhos, segundo pesquisadores.

Existem regras rígidas para aproximação das embarcações das baleias para que o turismo de observação ou whale watching, como é internacionalmente conhecido, ocorra sem causar danos à população de animais, e o mergulho não é permitido, medida também adotada em outros locais do mundo, mas nada que tire o brilho e a emoção da jornada. Dentre todas as outras espécies de baleias existentes, as jubartes são as mais acrobáticas do mundo. Saltos, batidas de nadadeira caudal (rabo da baleia), fêmeas com filhotes, machos adultos, estão todos lá – são tantos comportamentos aéreos que a equipe do Instituto Baleia Jubarte, responsável por estudá-las, tem até uma tabela para os registros. Câmeras ou celulares sempre em mãos para não perder um clique!

E essa é uma experiência inesquecível tanto para adultos quanto para crianças. Fica até difícil relatar em palavras a emoção de observar esses animais na natureza selvagem. Imagine ver um animal de mais de 14 metros e 40 toneladas saltando a metros do barco – você, assim como eu, nunca mais esquecerá e, numa reflexão mais ampla, entenderá a importância da conservação dos oceanos. Voltamos (todos) simplesmente diferentes de uma experiência e vivência como essa.

Abrolhos é um daqueles lugares especiais que precisa e merece ser protegido. Ao visitá-lo de forma ordenada, passamos a conhecê-lo e, por consequência, aprendemos a respeitá-lo. Só assim teremos o arquipélago conservado para que nossos filhos e netos possam também desfrutar de tamanha beleza.