TOP Destinos Edição 174

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ESPECIAL GIGANTES DOS MARES | Brasil | Fernando de Noronha com suas belas praias e rica biodiversidade continua sendo um dos lugares mais espetaculares para mergulhar do mundo | aventura | os desafios de uma viagem de moto do Acre até a Argentina e todas as belezas deste roteiro cheio de adrenalina | roteiro | uma enotrip por Portugal para os amantes de vinho e gastronomia que não dispensam muita exclusividade | gigantes dos mares | o projeto desbravou os melhores pontos de mergulho do mundo e traz um especial, que inclui Palau, Galápagos, Bahamas, Malpelo, Filipinas e Ilha de Guadalupe | mapa da bebida | licor de chocolate | diário de bordo | as dicas de um viajante e mergulhador que conhece muito do fundo do mar

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R$ 35,00

Nosso mundo

BAHAMAS

Uma aventura em Bimini e Tiger Beach para avistar o tubarão-martelogigante e o tubarão-tigre

NORONHA

Toda a beleza terrestre e marinha deste paraíso brasileiro

2

PORTUGAL

Uma enotrip pelas regiões vinícolas mais emblemáticas do país

MAPA DA BEBIDA

O licor de chocolate é a bebida ideal para os amantes de cacau e para quem gosta de algo leve

AVENTURA

Doze motociclistas e cinco mil quilômetros rodados no tour RedRider Amazônia MotoGP

FILIPINAS

Os pequenos e preciosos animais escondidos no mar de Dumaguete

TOP DESTINOS
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Viajantes

1. Marcelo Skaf é documentarista de natureza desde 1993 e costuma visitar as áreas mais remotas do planeta. Ele documentou as expedições para Bahamas, Filipinas, Galápagos, Ilha de Guadalupe e Palau. @skaf.marcelo

2. Fábio Borges é fotógrafo, cinegrafista da natureza e defensor dos oceanos. Trabalha para TV Globo, Canal Off, National Geographic e colabora com instituições de pesquisa. Mora em Noronha há 25 anos e conta sobre os encantos deste paraíso brasileiro e também de Malpelo, na Colômbia. @fabioborgesdocumentarista

3. Claudio Mello é Publisher do Mundo TOP, mergulhador e criador do Projeto Gigantes dos Mares, que ilustra as páginas desta edição especial. @claumello

4. Socorro Camelo é formada em Jornalismo, História e Ciências Sociais. Já trabalhou em diversas áreas do setor de comunicação, é presidente da Abrajet (Associação dos Jornalistas em Turismo) no Acre, e faz o seu relato da viagem de moto da experiência Honda RedRider pela América do Sul. @socorrocamelo

CORRESPONDENTES 6 3 2 1 4
Nossos colaboradores rodam o mundo em busca de novidades, dicas inusitadas e experiências marcantes para ajudar o viajante a ter memórias únicas.

Publisher

Claudio Mello

Projeto Gráfico Almap/BBDO

Diretora de Redação Renata Zanoni

Editora Vivian Monicci

Diretora de Arte Rosana Pereira

Assistente de Arte Luana Jimenez

Colaboradores

Dani Hispagnol Fábio Borges Jan Neumark Marcelo Skaf Marcelo Vigneron Socorro Camelo

Conselho Editorial Andreas Heiniger Tuca Reinés

Diretor Executivo Francisco Guarisa

Diretor de Criação Bruno Souto

Gerente Corporativa Carolina Alves

RP & Interface de Atendimento Dianine Nunes

Produtora executiva Camila Battistetti

Assistente de Produção Diego Almeida

Financeiro Marcela Valente

Circulação Regiane Sampaio

Assessoria Jurídica Bitelli Advogados Redação redacao@topdestinos.com.br

Assinatura assinatura@topmagazine.com.br ou (11) 3074-7979

Atendimento ao Leitor sac@topmagazine.com.br

Impressão Ipsis Gráfica e Editora

TOP Destinos é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691, 14º andar, Itaim Bibi, 04531-011, São Paulo / SP / (11) 3074-7979

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. Acompanhe as novidades em www.topdestinos.com.br, no Facebook e Instagram @topdestinos

EXPEDIENTE
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Índice

02-03

1. Nosso Mundo

Um mapa que ilustra os lugares por onde a TOP Destinos viajou nesta edição.

06

2. Viajantes

Um pouco sobre nossos colaboradores, que rodam o mundo em busca de novidades. 12-29

3. Pelo Mundo

Um Six Senses para curtir o fundo do mar de Omã, o novo Nobu Hotel em Santorini, a primeira praia flutuante do mundo, e muito mais. 30-31

4. Pelo Mundo I Coluna Gouté

Restaurante Aizomê reabre com ambiente repaginado e novidades no menu.

34-49

5. Aventura I América do Sul

O tour RedRider

Amazônia MotoGP reuniu doze motociclistas, que partiram do Acre, Brasil, passando por quatro países até a Argentina, em um percurso de mais de 5.000 quilômetros.

62-75

7. Brasil I Fernando de Noronha

Descubra os encantos marinhos e terrestres da ilha mais cobiçada do país – e quiçá do mundo -, pelo olhar do morador e cinegrafista Fábio Borges.

76-93

8. Palau

A abundante natureza e as espécies do fundo do mar de Palau. 94-111

9. Equador I Galápagos

O destino tem uma riqueza natural em terra e no fundo do mar que impressiona até os mais experientes mergulhadores. Uma viagem emocionante e desafiadora!

52-59

6. Roteiro I Enotrip Portugal

Uma viagem pelos sabores e aromas deste país rico em cultura, gastronomia e, obviamente, vinhos.

ÍNDICE 8

112-131

10. Bahamas

Os enormes e temidos tubarão-martelo-gigante e o tubarão-tigre em Bimini e Tiger Beach.

132-149

11. Colômbia I Malpelo

O destino colombiano de rica biodiversidade ainda desconhecido dos brasileiros.

150-163

12. Filipinas

Um mergulho em Dumaguete para conhecer e ver as cores dos pequenos animais que vivem camuflados no mar.

164-181

13. México | Ilha de Guadalupe

Uma jornada percorrendo sete ilhas remotas do Pacífico para ver de perto a vida marinha e, claro, diferentes espécies de tubarão.

182-183

14. Mapa da Bebida | Licor de chocolate

Tudo sobre o Licor 43 Chocolate, que acaba de desembarcar no Brasil, e outras marcas deliciosas.

184-185

15. Diário de Bordo | Jan Neumark

O viajante e mergulhador que já desbravou os pontos mais espetculares do mundo conta tudo aqui.

188-193

16. Glossário

Um dicionário dos termos do universo dos viajantes, documentos e vacinas necessárias para a viagem.

194

17. Anotações

Um espaço para anotar as curiosidades que aprendeu sobre os futuros destinos a visitar.

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Pelo mundo

A joia escondida de Omã

Six Senses Zighy Bay é o hotel perfeito para desbravar a vida marinha do destino

Você sabia que o Sultanato de Omã, no Oriente Médio, é um belíssimo país para mergulhar? Seu litoral é intocado e a península de Musandam, ao norte, tem falésias que terminam no mar e águas transparentes com enorme diversidade de vida marinha.

A melhor época é de outubro a maio, quando o mar está tranquilo e a água mais quente. Não deixe de explorar The Caves, local com câmaras e túneis nas rochas de

calcário, que abriga lagostas, tartarugas, arraias e tubarões. Outro spot imperdível é Lima Rock, com corais incrustrados, cavernas, fendas e paredões com profundidade de até 20 metros. Nos meses mais frios, é possível avistar o tubarão-baleia.

E é exatamente em Musandam que está uma joia hoteleira, perfeita para fincar base enquanto desfruta de tudo o que o destino tem a oferecer: o Six

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Senses Zighy Bay, localizado em uma praia de areia fina e água verde esmeralda.

Assim como todos os hotéis da rede Six Senses, o Zighy Bay também tem como um dos pilares a sustentabilidade local.

As iniciativas incluem plantio de árvores na região; reciclagem ou reaproveitamento dos resíduos gerados na propriedade; produção de sua própria água potável engarrafada através do

processo de dessalinização; e incentivo à economia local. Além disso, o hotel também investe na criação de uma área marinha protegida na Península de Musandam e na educação e capacitação dos pescadores locais. A equipe de mergulho do Zighy

Bay limpa as praias e o fundo do oceano, remove redes fantasmas deixadas por pescadores e resgata animais marinhos que foram capturados nelas.

+infos: sixsenses.com/en/resorts/ zighy-bay

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Norwegian Cruise Line lança novidades de spa e fitness nos navios Classe Prima

Romper barreiras e implementar inovações são características que acompanham a Norwegian Cruise Line desde sua fundação em 1966. Já são 54 anos ultrapassando os limites tradicionais das viagens marítimas, mas a companhia não se cansa de novidades. A boa nova da vez é a oferta de spa e fitness nos navios Classe

Prima (Norwegian Prima e Norwegian Viva), que terá seis navios em sua frota. Com o objetivo de despertar os sentidos dos hóspedes como nunca visto antes, o ambiente foi perfeitamente projetado para tranquilidade e rejuvenescimento nos espaços de spa e fitness das embarcações. Para começar, a Norwegian Cruise Line apresenta a primeira sauna a carvão do setor, no mar. Derivada das práticas

de bem-estar japonesas e coreanas, usa um sistema de calor radiante com uma camada externa de carvão para atingir temperaturas entre 30º e 50º graus Celsius. É só relaxar, enquanto a sauna ajuda

Para despertar os sentidos em alto mar
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a aumentar a circulação e o metabolismo, ao mesmo tempo que remove toxinas do corpo. E não para por aí. Também é possível desfrutar da sala de sal e vapor, sala de gelo, chuveiros experimentais, piscina flutuante de sal e sauna infravermelha. Além dos novos tratamentos: Ocean Spa Wave Massage, Musclease Aroma Spa Ocean Wrap, Cellutox Aroma Spa Ocean Wrap e Zero Gravity Wellness

Massage. Para completar, uma área de relaxamento com 22 espreguiçadeiras de pedra aquecida e duas novas camas de massagem do Gharieni Group. Além de todas as novidades, os queridinhos dos hóspedes foram aprimorados, incluindo a Vitaly Pool, sauna a vapor e sauna finlandesa. Se você gosta de praticar exercícios físicos, saiba que esta é a primeira vez que o centro de fitness estará localizado na

frente do navio. A academia inclui a nova sala Performance Recovery, uma experiência interativa e envolvente de bemestar utilizando uma seleção de produtos Hyperice em workshops, aulas de ginástica em grupo e serviços para maximizar os benefícios do usuário. No Pulse Fitness Center, os hóspedes têm acesso gratuito aos equipamentos de última geração, além de aulas de yoga e spin também disponíveis.

+infos: ncl.com.br

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“WE’RE NOT HERE TO TRY. WE’RE HERE TO DO.”
TOM BRADY, 7 TIME SUPER BOWL CHAMPION

IWC TOP GUN.

BIG PILOT’S WATCH TOP GUN EDITION “MOJAVE DESERT”

Quando você estiver no topo e não tiver mais nada a provar para ninguém, você pode relaxar e desfrutar do sucesso. Ou, então, pode aproveitar o espírito que inspirou tudo aquilo e embarcar em um desafio ainda maior. E, quando você faz isso, não há melhor companheiro do que o Big Pilot‘s Watch, da IWC, a escolha de quem nasceu para deixar a sua marca no mundo.

WWW.IWC.COM.BR

Estrela japonesa em Santorini

Ilha grega ganha seu primeiro Nobu Hotel e Restaurante

A costa nordeste de Santorini ficará ainda mais especial. Localizado no topo de uma falésia em Imerovigli – a apenas dez minutos de carro de Oia e a 20 minutos do aeroporto

internacional de Santorini –, com vistas panorâmicas da Caldeira e do Mar Egeu, o Nobu Hotel e Restaurante Santorini, com inauguração prevista para o verão europeu de 2022, será o novo point da região. Fundado em 1994 na cidade de Nova York pelo renomado chef Nobu Matsuhisa, o ator Robert De Niro e o produtor cinematográfico Meir Teper, o grupo Nobu se tornou

queridinho de celebridades e personalidades. Hoje, a marca possui cerca de 50 restaurantes em todo o mundo e, em 2013, expandiu os negócios para o setor hoteleiro, inaugurando seu primeiro hotel butique dentro do Caesars Palace, em Las Vegas. O Nobu Santorini é o 26º hotel da marca no mundo e o décimo no continente europeu. Projetado no estilo tradicional das casas brancas gregas e com decoração

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minimalista, dispõe de 25 suites e villas com vistas espetaculares da paisagem e algumas com piscina privativa. Além do restaurante com assinatura Nobu, que serve cozinha de fusão nipo-peruana, o hotel butique conta também com spa completo, academia de ginástica e piscina de dois níveis.

+infos: nobuhotels.com

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Arte submersa

Conheça o museu subaquático da Austrália

Já ouviu falar em museu subaquático? Sim, isso existe em vários países do mundo! Se você gosta de mergulhar e se interessa

por obras de arte, os museus embaixo d’água são ideais para juntar as duas paixões. Muito mais do que turismo, estas instalações têm um propósito em comum: conscientizar as pessoas sobre a conservação ambiental, tema imprescindível atualmente. Para que possamos nos deslumbrar com os encantos

da vida marinha, precisamos preservar.

A Austrália é o lar da Grande Barreira de Corais, maior organismo vivo do mundo e Patrimônio Mundial da UNESCO. Com mais de dois mil quilômetros de extensão e situada ao longo do estado de Queensland, ela compreende

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um ecossistema formado por milhares de recifes e inúmeras espécies de peixes coloridos, moluscos, estrelas-do-mar, tartarugas, golfinhos, tubarões, entre outras.

E é justamente na Grande Barreira de Corais, mais especificamente em Townsville North Queensland, que você

pode conhecer o Museum of Underwater Art (MOUA), único museu subaquático do país, que apresenta uma série de obras de arte imperdíveis. Projetado para inspirar e educar sobre a conservação dos recifes em escala global, o MOUA conta com peças criadas por Jason deCaires Taylor (principal escultor subaquático do mundo), que se transformaram em seus próprios ecossistemas com vida marinha.

Para desbravar todo esse acervo subaquático, você pode mergulhar com snorkel ou cilindro. O museu é administrado pela MOUA Ltd, uma empresa sem fins lucrativos que arrecada fundos para a manutenção contínua do local, além de outras iniciativas como plantio e colheita de corais científicos e turismo educacional.

+infos: moua.com.au

fotos: Matt Curnock e Tourism and Events Queensland
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Inovação panamenha

Resort Bocas Bali, no Panamá, apresenta KupuKupu, primeira “praia flutuante” do mundo

Já imaginou como seria uma praia suspensa no mar? Agora, você pode conferir essa inovação de perto! O resort de luxo Bocas Bali, inaugurado em setembro de 2021 e localizado em Bocas Del Toro, no Panamá, inaugurou este ano a Kupu-Kupu Beach, considerada a primeira “praia flutuante” mundo. Este oásis acima da água em palafitas tem aproximadamente 30 metros de comprimento e seis metros de largura, escadas de quartzo verde em cascata, areia branca com palmeiras, espreguiçadeiras e o Tipsy Bar, que serve drinques e pratos leves. O nome Kupu-Kupu vem da palavra indonésia para borboleta, representada na arquitetura da praia e do calçadão ao redor. O hotel exclusivo com inspiração balinesa e membro da The Leading Hotels of the World, conta com 16 vilas personalizadas sobre a água, piscina de água doce e o restaurante Elephant House. Prezando pela sustentabilidade, tem pegada de carbono limitada, utiliza energia solar e sistema de tratamento de águas residuais ecologicamente correto. Além disso, as construções sobre a água preservam os corais que cercam a ilha.

+infos: bocasbali.com

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A SUA PRIMEIRA BMW EM TONS ATEMPORAIS

NOVA G 310 GS TRIPLE BLACK

Versátil e ainda mais imponente, a Nova G 310 GS Triple Black chegou com acabamentos em tons de preto, prata e alumínio para levar você pelos caminhos da cidade com a atitude de quem topa qualquer desafio. Preparado para fazer da sua rotina uma aventura inesquecível?

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Farta biodiversidade

O Mar Vermelho é um dos melhores points do mundo para desbravar o fundo do mar

Tubarões, arraias-manta, tartarugas, moreias, peixes-borboleta, peixespapagaio e os gigantes peixesnapoleão são apenas algumas espécies que você encontra no Mar Vermelho. Este estreito golfo do Oceano Índico, localizado entre a África e a Ásia, é um dos principais centros de biodiversidade do nosso planeta, além de ter uma belíssima barreira de corais.

Um dos maiores atrativos para os mergulhadores é o Ras Mohammed National Park, primeiro parque nacional do Egito, na Península do Sinai. O local tem uma área de 480 km2, sendo 345 km2 marinhos. Nesta região, existem mais de 220 espécies de corais, mil espécies de peixes, 40 de estrelas do mar, 150 de crustáceos e 25 de ouriços-domar, além de espécies endêmicas. Por ter sol o ano todo, o Mar Vermelho pode ser desbravado em qualquer época. Porém, os melhores meses para mergulhar são de março a maio, e de setembro a novembro, quando a temperatura da água chega a 25°C.

Uma das cidades egípcias para fincar base e mergulhar é Sharm el Sheikh, um balneário com atmosfera cosmopolita e diversas opções de hotéis, restaurantes e esportes aquáticos, a apenas 19 quilômetros do Ras Mohammed National Park.

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Boas novas da capital

Novidades de um dos melhores rodízios japonês da cidade e um restaurante que é a tradução de comfort food italiana

São mais de cinco anos oferecendo excelência nos produtos e no atendimento. Não à toa, é considerado o melhor rodízio japonês da capital paulista. Esse é o Oguru Sushi Bar, que acaba de dar as boas-vindas ao novo ponto no shopping Market Place e, a partir de junho, o restaurante do Jardins passa a funcionar em um imóvel maior. Em um ambiente intimista ao

som de músicas lounge, aproveite as novas opções: como o Niguiri de Lula com salsa trufada e ovas; Beef Sushi com ovo frito, flor de sal e ovas, e o Niguiri de Barriga de Salmão maçaricada com flor de sal e raspas de limão siciliano. Já nos pratos quentes, vale provar o Tempurá de Milho. Para harmonizar, a carta de drinques foi reformulada pelo premiado bartender Marcio Silva, que integra a lista dos dez melhores do mundo.

Partindo para a Vila Nova Conceição, imagine o que você

PELO MUNDO / GIRO SP 28

pode esperar de uma casa cujo lema é compartilhar experiências, gastronomia e paixão pela comida. Muito, com certeza. O Foglia Forneria Artigianale é mais um dos empreendimentos do restaurateur Marcelo Fernandes em parceria com Sergio Degase e consultoria de Franco e Lorenzo Ravioli.

Com ambiente moderno, um bar na entrada e um jardim vertical,

que chamam a atenção, o Foglia combina pratos aconchegantes e leves a alguns clássicos. Das pizzas aos paninis, das pastas de grano duro aos pães artesanaiscuja receita autoral com farinha italiana 00 levou meses para ser concluída -, tudo é saboroso e bem realizado.

Como entrada, o Polpette della Nonna feito de carne e linguiça com farinha de pão servida com mostarda da casa, ou a Melanzane Parmigiana, uma beringela gratinada com molho pomodoro e muçarela, super saborosa. Na hora do prato principal, você ficará na dúvida entre pedir uma pizza dos 17 sabores disponíveis, como a Foglia, que leva muçarela, tomate concassé, burrata, pesto e crocante de prosciutto por cima, com uma massa tão leve e fofa que parece dissolver na boca. Ou os pratos, mais robustos, como o Saltimbocca alla Romana com risoto – que é um escalope de filé mignon coberto com sálvia e presunto cru servido com risoto de queijos. Ou surpreenda-se positivamente com o Risotto alle Verdure, feito com arroz arbóreo, brie, parmesão, abobrinha, aspargos verdes, rúcula e fios de parma.

E para o grand finale, um cannoli recheado de ricota com raspas de limão e pistache ou um clássico tiramissú. Além disso, a carta de vinhos é bem ampla, com tintos, brancos e roses como Terrazas, Viña Maipo, entre outros, com preços justos.

+infos: ogurusushibar.com.br / fogliaforneria.com.br

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Filosofia budista

Restaurante Aizomê reabre com ambiente repaginado e menu sazonal inspirado no shojin ryori

O Aizomê, primeiro restaurante de Telma Shiraishi, no bairro dos Jardins, conhecido informalmente como “casa-mãe”, reabre com novidades no menu e balcão mais minimalista, além do Ichiba – o empório do Aizomê –, e a sala Origami.

Além do cardápio tradicional, a chef apresenta novas versões de seu omakase, com menus veganos e vegetarianos inspirados no shojin ryori, a culinária budista tradicional, aperfeiçoada pelos monges como parte de seu desenvolvimento espiritual. “A prática budista evita qualquer tipo de violência contra outras formas de vida, portanto carnes e peixes não entram no menu. Os sabores concentram-se em vegetais, cogumelos e algas, seguindo o ritmo das estações e dos produtos locais”, conta Telma. Os pratos variam conforme os ingredientes que seu círculo de pequenos

produtores levam ao restaurante a cada dia.

A filosofia budista contempla cinco elementos: terra, água, fogo, ar e o vazio. “Na cozinha, percebemos o poder dos cinco elementos representados nos alimentos e nas transformações que fazemos. E é através de cinco princípios que norteiam a culinária japonesa que expressamos nossas

habilidades e entendimentos, oferecendo o nosso melhor em uma refeição e buscando a harmonia, a variedade e o equilíbrio”, explica a chef.

As refeições são pensadas para englobar estes cinco princípios: cinco gostos (doce, salgado, azedo, amargo e umami); cinco sentidos (visão, olfato, paladar, tato e audição); cinco cores (branco, vermelho, amarelo, preto e verde); cinco tipos de preparação (grelhado, cozido, frito, ao vapor e fresco ou cru); e cinco pontos de adequação (temperatura, ingredientes, quantidade, técnicas e hospitalidade adequados) –“kokoro” significa fazer e oferecer com o coração no lugar e com o sentimento adequado.

Em minha visita, senti que a entrega do menu é genuína e

COLUNA GOUTÉ
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contempla os princípios propostos. Da sequência que provei, destaco: Kuro gomadofu – tofu de gergelim preto; Yakinasu –berinjela defumada com missô de

castanhas e pecãs caramelizadas; Usuzukuri de konnyaku e Sobamaki – rolinhos de macarrão de trigo sarraceno, cará, umê, shisô e nori, em caldo com matchá; Mochi, cogumelos e raízes ao missô de castanhas. Parabéns à chef Telma, que também está à frente da cozinha da Japan House São Paulo e do Consulado do Japão em São Paulo, entre outros projetos, como o Água no Feijão, que já distribuiu mais de 100.000 marmitas. E anuncia: “Queremos dar mais um passo e aumentar o nosso compromisso com a sustentabilidade. A nossa saúde, a saúde do planeta e o futuro de todos, valorizando de forma mais ampla e inclusiva todo o reino vegetal, explorando

mais possibilidades e a imensa variedade de cogumelos e algas que ainda é pouco conhecida”. @aizomerestaurante @telmashiraishi

Dani Hispagnol é chef e criadora da Gouté, em que compartilha experiências gastronômicas desde 2008, sendo os últimos anos dedicados a encontrar as melhores cozinhas e receitas à base de plantas @danihispagnol goute.com.br

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Arrume as malas

Estradas de tudo quanto é tipo: serras maravilhosas, precipícios desafiadores, retas intermináveis, tapetōes e, algumas, esburacadas, de terra batida, de terra com pedra, areião, em cenários ou tempestades surgindo no horizonte de tirarem o fôlego

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Texto SOCORRO CAMELO foto MARCELO VIGNERON
AVENTURA / AMÉRICA DO SUL
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O RedRider, programa de experiências com motos de alta cilindrada da Honda, iniciou a temporada 2022 de expedições com o pé direito, numa viagem que ficou marcada na história.

A partir do Acre e depois de um inesquecível voo de balão ar quente, o único na Amazônia, o tour Amazônia MotoGP rumou para a Argentina, explorando quatro países, durante 14 dias, em um percurso de mais de 5.000 quilômetros.

Brasil, Peru, Bolívia e Argentina foram os destinos dos aventureiros com motos CRF 1100L Africa Twin, big trails de alta performance.

A EME Amazônia, do empresário e piloto Cassiano Marques, é a empresa operadora do programa Honda RedRider para Amazônia e América Andina, que oferece viagens premium aos clientes motociclistas. Além da moto, são oferecidos no pacote todos os demais itens da viagem, que vão desde o combustível, seguros, completa assistência, parte da alimentação, passeios em roteiros exclusivos.

O RedRider Amazônia Moto GP reuniu um grupo de 12 motociclistas que partiu de Rio Branco, no Acre, passando inicialmente pela região amazônica no Brasil e Peru.

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AVENTURA / AMÉRICA DO SUL
De Africa Twin, riders cruzam a planície amazônica, a partir do Acre na fronteira com o Peru, rumo à Cordilheira dos Andes
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38 AVENTURA / AMÉRICA DO SUL
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No vizinho Peru, nossos riders se depararam com a mistura entre as tradições das civilizações pré-colombianas e a cultura espanhola e inca, belezas naturais e magia, em uma terra colorida e muito diferente.

Percorrer de moto a Cordilheira dos Andes é uma experiência única. Por ser a maior

cadeia de montanhas das Américas, ela alcança dimensões planetárias, não apenas por seus dramáticos acidentes naturais, mas também pelas obras humanas, formando um mundo imponente, que merece o mesmo respeito que a grandeza de suas montanhas.

Na Cordilheira dos Andes se uniram a

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AVENTURA / AMÉRICA DO SUL

grandiosidade da natureza e a grandiosidade das culturas. Entre algumas das montanhas mais altas da Terra, surgiram cidades que parecem ter sido construídas por gigantes, cujas ruínas guardam o mistério de sua origem. Lá, o coração do homem com certeza é maior, para poder viver com o ar rarefeito das montanhas.

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TOP DESTINOS
Ilhas flutuantes do povo Uros no lago Titicaca, a 3.812 metros de altitude, sendo o curso d’água navegável mais alto do mundo

Percorrer de moto essas montanhas é alucinante. A cada curva a paisagem fica ainda mais desafiadora.

E à medida que se avança para outros pontos turísticos cobiçados por quem anda em duas rodas, como o Lago Titicaca e a viagem pela Estrada da Moror, o coração bate cada vez mais forte. Na Bolívia, especialmente no Salar do Uyuni, maior deserto de sal do mundo, a paisagem é um desbunde. O hotel de sal de base comunitária foi um regalo mais que merecido, após percorrerem estradas sinuosas e alagadiças. E é lógico, um bom vinho, porque ninguém é de ferro. Mas só no jantar, claro: “never drink and drive”. Nem brinca com isso.

A chegada na Argentina foi comemorada com alegria. Percorrer os vales do norte argentino, pela região de Jujuy com seus cactos gigantes e montanhas coloridas, é um espetáculo natural à parte.

A passagem pela histórica Salta é marcante, com bares e restaurantes localizadas nos prédios de arquitetura colonial espanhola e traços andinos. Ruas estreitas cujas laterais conduzem às lojinhas de artesanatos, igrejas e outras praças menores.

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AVENTURA / AMÉRICA DO SUL
A alegria de quem se deslumbra com a paisagem do maior deserto de sal do mundo. O Salar de Uyuni é para ficar na memória
TOP DESTINOS
AVENTURA / AMÉRICA DO SUL
TOP DESTINOS

A cidade de Termas de Rio Hondo, o principal destino da viagem e local da terceira etapa do mundial de motovelocidade em 2022, nessa época é efervescente. Muita gente nas ruas e um movimento intenso de amantes do motociclismo de vários cantos do mundo. A cidade respira adrenalina, com milhares de motos por todos os lugares.

No dia seguinte, e renovados da energia adquirida em Termas de Rio Hondo, os riders aceleraram pelas estradas argentinas até cruzarem a fronteira para o destino final, nas Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR), já de volta ao Brasil.

Foram 14 dias marcantes com um roteiro fantástico e, para os participantes, dias de autoconhecimento, liberdade, felicidade,

amizade e superação, como bem definiu Cassiano Marques, organizador da Expedição RedRider Amazônia MotoGP. “O mais importante na indústria do turismo de aventura é o aspecto essencialmente humano da atividade: integração, unidade, compartilhamento de experiências inesquecíveis e a comunhão. Agradeço a todos os pilotos que construíram essas memórias e essa história de coragem, dedicação e confiança no programa Honda RedRider”, finaliza Marques.

Essa expedição, cujo resultado foi bastante positivo, é apenas a primeira de uma agenda repleta de atividades para 2022.

Além de viagens como a Expedição Amazônia MotoGP, o programa Honda RedRider conta com passeios, cursos de pilotagem on e off-road, track days, palestras e muito mais.

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AVENTURA / AMÉRICA DO SUL
47 Salta, na Argentina, é um encanto com suas lojinhas de artesanatos, cafés, igrejas, mosteiro e outras praças menores TOP DESTINOS

O encerramento da expedição em Foz do Iguaçu teve como pano de fundo as maravilhas das Cataratas e as incríveis amizades

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AVENTURA / AMÉRICA DO SUL

Saiba Mais

SAIBA MAIS COMO PARTICIPAR DESSA EXPERIENCIA:

O programa de relacionamento Honda RedRider transforma viagens em experiências memoráveis, a bordo das motos CRF1100L Africa Twin inclusas nos pacotes turísticos. Os interessados devem possuir habilitação para conduzir motocicleta e disposição para vivenciar roteiros cheios de experiências autênticas.

SERVIÇO

Confira a agenda completa no site da Honda: hondaredrider.com.br e diretamente com a EME Amazônia (+5568 98100-8000).

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Termas de Rio Hondo Foz do Iguaçu Rio Branco Salta Salar de Uyuni Lago Titicaca BRASIL PERU BOLÍVIA ARGENTINA OCEANO ATLÂNTICO
TOP DESTINOS
OCEANO PACÍFICO

Cuidar de você e do futuro de quem você ama, todos os dias.

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Ao longo da vida, a gente vai colecionando conquistas pequenas e grandes, e começa a dar valor ao que realmente importa.

A Omint dá valor a tudo que é importante pra você e, por isso, tem um seguro de vida ideal para cuidar de você e de quem você ama, hoje e no futuro.

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Enotrip portuguesa

Embarque em uma viagem que combina luxo e experiências únicas relacionadas ao universo dos vinhos e da gastronomia em um destino queridinho pelos amantes dessa bebida milenar

ROTEIRO / ENOTRIP PORTUGAL 52

1. Praça do Comércio e estátua do Rei José I em Lisboa

2. Rua típica de Alentejo

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de PORTUGAL

O Brasil e Portugal têm muitos pontos em comum, além do mesmo idioma. Nós somos grandes admiradores dos vinhos produzidos lá e toda a história das vinícolas que passam por gerações, a gastronomia marcante, os doces típicos de cada localidade, as cidades cheias de história, entre muitos outros pontos. Todo esse passado só consolida o país como um dos mais importantes destinos para os apreciadores de um bom vinho.

Frutas, flores, especiarias e ervas. Aromas variados e sabores complexos. Rubi, vermelho intenso, âmbar, violáceo ou até um sutil rosado e amarelado. A paleta de cores é ampla. Não é possível negar que o vinho é uma verdadeira arte para aqueles que entendem seu valor.

Pensando nisso, a VSX Club, startup pioneira e especializada no turismo enogastronômico, se juntou à Abreu Viagens e Turismo, uma das mais tradicionais operadoras que desde 1840

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leva viajantes para desbravarem a Europa, para lançar três roteiros de enogastronomia dentro dos Circuitos Abreu Prestige. A primeira enotrip será por Portugal, uma viagem exclusiva com experiências enriquecedoras relacionadas ao universo dos vinhos, da gastronomia e muita cultura.

Tudo tem início na capital portuguesa, que possui castelos, mosteiros e uma vida efervescente. Lisboa é a porta de entrada e, seja você um conhecedor ou não do destino, vale sempre passear pela linda Praça do Comércio passando pelos Arcos da Augusta, seguir para o Bairro Alto e conferir as lojinhas locais, andar pela arborizada avenida Liberdade até a Praça Marques de Pombal, e ver as inúmeras opções de butiques de grife e hotéis renomados que se espalham por sua extensão. Obviamente, sempre vale ir ao Castelo de São Jorge para uma vista panorâmica, passear pelo bairro de Belém incluindo o Mosteiro dos Jerônimos, Torre de Belém e, claro, uma parada estratégica na confeitaria original de Pastel de Belém.

Depois de um dia de descobertas, siga para curtir a hospedagem no Sofitel Avenida Liberdade, com seu estilo francês e decoração moderna. Não

deixe de reservar uma mesa no restaurante Matiz, dentro do hotel, comandado pelo chef executivo Daniel Schlaipfer, que traz toda sua criatividade ao menu de cozinha portuguesa contemporânea.

Na manhã seguinte, o dia é dedicado a explorar Setúbal, com direito a visita, degustação e almoço no Palácio da Bacalhôa, uma das maiores e mais prestigiadas vinícolas portuguesas. Os jardins com influências europeias e orientais não passam despercebidos e são perfeitos para uma foto, além das obras de arte e a coleção de azulejos portugueses dos séculos XV e XVI.

Partindo para o Alentejo, onde acontece visita e almoço na Herdade dos Coelheiros,

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1. Os famosos pastéis de Belém

2. O Sofitel Avenida Liberdade tem estilo francês e decoração moderna

3. A Herdade dos Coelheiros é uma das melhores produtoras da região de Alentejo

4. O Castelo de São Jorge é parada imperdível em Lisboa

5. O hotel butique M’ar De AR Aqueduto foi construído em um antigo palácio uma propriedade histórica com um legado que remonta ao século XV e um dos melhores produtores da região. Ali, você pode provar diferentes vinhos da marca, entre eles o Tapada Coelheiros Tinto, que é um vinho histórico e foi desde o início feito com a predominância de Cabernet Sauvignon. Feito desta forma até hoje e um dos ícones da casta em Portugal. Desta vez, a hospedagem é em Évora, no irretocável hotel butique M’ar De AR Aqueduto. Esse hotel cheio de bossa fica na zona tida como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e foi construído em um antigo palácio preservando diferentes espaços. Ele conta com apenas 62 acomodações com decoração contemporânea, o spa Aqueduto de mais de 200 m² com diferentes terapias – como a massagem aqueduto, com ritual de renovação e hidratação corporal em que se aliam toques relaxantes com óleos essenciais –, e gastronomia mediterrânea assinada pelo chef António Nobrega.

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O Palácio da Bacalhôa é uma das maiores e mais prestigiadas vinícolas portuguesas

Não faltam vinícolas interessantes e cheias de bons vinhos em Douro, como a Quinta do Crasto e a Quinta do Ameal

Vista aérea dos vinhedos de Ouro

Douro Royal Valley Hotel & Spa

e 7. Quinta do Ameal

Neste dia, depois de relaxar no hotel, o grupo segue para conhecer a Herdade dos Grous. Localizada no coração do Alentejo, com extensas paisagens e uma quinta orgânica, possui excelentes vinhos conhecidos pelo frescor e franqueza da sua fruta, longevidade dos tintos e riqueza aromática dos brancos. Destaque para o Herdade dos Grous 23 Barricas e Colheita Tardia. Depois do tour, o almoço é no Grous, com vista para a herdade no entorno e pratos que valorizam vegetais e frutas do pomar próprio. O jantar, por sua vez, acontece no Luar de Janeiro, fundado em 1972 e que serve gastronomia portuguesa tradicional, e é acompanhado por Luis Duarte Vinhos, um dos maiores enólogos do país.

Na manhã seguinte, o destino é a vinícola Vadio, na Bairrada, para um almoço no Rei dos Leitões e visitar alguns vinhedos. De lá, segue para o Douro Royal Valley Hotel & Spa, que é a nova hospedagem, e jantar com o enólogo da Quinta Touriga-Chã, uma das vinícolas de uma das famílias mais tradicionais do ramo do Douro.

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1 e 2. Herdade dos Grous 3. Os vinhedos de Vadio, na Bairrada
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A região do Douro é uma das mais ricas e com belas paisagens de Portugal. E, obviamente, não faltam vinícolas interessantes e cheias de bons vinhos. A escolha ali é a Quinta do Crasto, considerada uma das dez vinícolas mais bonitas do mundo, em uma propriedade na margem direita do Douro com cerca de 135 hectares, dos quais 74 são ocupados por vinhas e uma produção de vinhos do Douro e do Porto. Uma atração à parte é a famosa piscina com vista infinita para o Rio Douro. Para o almoço, saboreie o melhor da cozinha portuguesa acompanhado dos vinhos tintos, brancos e roses da Quinta do Crasto. Para fechar o dia, os participantes têm um jantar no hotel com participação e harmonização proposta pelo enólogo da Quinta do Valbom. Para a manhã seguinte, que tal uma visita à charmosa Quinta do Ameal? Um refúgio em meio

à natureza em que são produzidos vinhos brancos de excelência, exclusivamente a partir de uvas orgânicas. Seguido de almoço na propriedade acompanhado de rótulos do local. Depois, uma parada estratégica para conhecer Braga, a terceira maior cidade de Portugal e a mais antiga fundada há mais de dois mil anos, considerada um dos principais centros religiosos do país, com mais

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A Vinícola Ramos Pinto, fundada em 1880, é a aposta para fechar as visitas com chave de ouro

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2. A Vinícola Ramos Pinto é uma das líderes do mercado de vinho do Porto

2. Joào Luís Baptista, enólogo responsável pelos vinhos da casa Ramos Pinto de trinta igrejas. Coloque um sapato confortável e desbrave a pé, sem pressa, com paradas na Catedral da Sé, na Basílica do Bom Jesus do Monte, e em uma das confeitarias para provar os doces típicos, como as tíbias (uma massa recheada de creme e polvilhada de açúcar) ou os pequenos biscoitos Fidalguinhos com toque de canela. A lista de doces é imensa e muitos deles têm origem conventual. O InterContinental Porto - Palácio das Cardosas aguarda para uma boa noite de sono no centro histórico e todos os confortos esperados de um cinco estrelas.

A Vinícola Ramos Pinto, fundada em 1880, é a aposta para fechar as visitas com chave de ouro. Ao longo dos anos, seus vinhos de grande qualidade e a estratégia inovadora fizeram dela uma das líderes do mercado de vinho do Porto, em especial no Brasil. A proposta é uma parada no Restaurante Vinum, com uma das vistas mais bonitas de Vila Nova de Gaia e prova de vinhos icônicos do Douro, como da Quinta do Vesúvio e o Chryseia.

Como já dizia o ditado, “tudo o que é bom dura pouco” e, depois de nove dias percorrendo

diferentes regiões de Portugal e visitando as vinícolas mais exclusivas de cada uma delas, a enotrip chega ao fim. E a volta para casa é acompanhada de excesso de bagagem, com certeza, não de algo material, mas sim de uma vivência única e de muitas histórias para contar.

Não deixe de visitar a Basílica do Bom Jesus do Monte
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Dicas quentes

COMO CHEGAR

Voos diretos, de aproximadamente nove horas de duração, conectam várias cidades brasileiras a Lisboa, capital portuguesa. A companhia aérea TAP é a responsável pela maioria dessas rotas.

DOCUMENTAÇÃO E VACINAS

Para entrar em Portugal, não há necessidade de visto, apenas de passaporte válido.

Antes de viajar, não se esqueça de verificar as atualizações e restrições de viagem da Covid-19 para Portugal.

IDIOMA E MOEDA

A língua oficial é o português e a moeda local é o Euro.

QUEM LEVA

Neste roteiro premium, os viajantes terão contato direto com os melhores produtores e enólogos, degustações nas melhores vinícolas e, muitas delas, com portas abertas exclusivamente ao grupo, além de hotéis e restaurantes estrelados. Ao todo, serão nove dias desta viagem de indulgência, começando por Lisboa, passando por Setúbal,

Alentejo, Bairrada e Douro. O grupo terá no máximo 16 pessoas e será acompanhado também por um dos especialistas da VSX Club.

Pacote de nove dias de viagem tem início da parte terrestre em 09 de outubro de 2022.

Mais informações: abreutur.com.br
Évora
OCEANO
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Bairrada
Douro Alentejo Braga Setúbal Porto
ATLÂNTICO Lisboa
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A essência de Noronha

Texto e fotos FABIO BORGES, de FERNANDO DE NORONHA
conhece garante
não
lugar
belo
A ilha mais cobiçada do país é também a mais exclusiva, feita apenas para receber quem respeita e admira a natureza TOP DESTINOS 63
Quem
que
mais
no Brasil.

Fernando de Noronha recebeu ao longo de sua história diversos nomes e apelidos. Aqui, citarei dois dos mais simbólicos: “Paraíso” e “Esmeralda do Atlântico”. Este último, dado pela cor de suas águas mais rasas, quando o azul do mar se junta ao dourado da areia das praias, formando um rico tom de verde. E, claro, uma referência à pedra preciosa, uma joia rara no meio do oceano. Não à toa, o arquipélago tornou-se um destino de

sonhos e o turismo se firmou como a principal atividade econômica, quiçá a única.

Os grandes atrativos estão nas atividades diurnas e, sem dúvida alguma, é sob a luz do sol que Noronha demonstra todo seu esplendor e exerce sua vocação essencial: a contemplação de sua natureza tão especial. Pode-se dizer que temos aqui um retorno às origens, aos objetivos mais nobres ao vivenciar o que a ilha oferece. Curtir longas ba-

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ladas e se recuperar debaixo do guarda-sol (nada contra!) pode ser feito pelo Brasil todo, mas ver e curtir o que a ilha tem de melhor, só aqui, e de dia! Então, vamos focar nesse turismo consciente e de fato voltado à sustentabilidade, como deve ser.

O Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha abrange mais de 70% da área do arquipélago. O restante é uma Área de Proteção Ambiental (APA). Esses dois dados já nos dão a dica:

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O Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha abrange mais de 70% da área do arquipélago

visitar Noronha é conhecer a natureza marinha preservada. Quem quer ir a fundo nesse objetivo, literalmente, pode mergulhar com cilindro, o chamado mergulho SCUBA (sigla em inglês para os equipamentos que permitem respirar debaixo d’água). Nem é necessário já saber mergulhar, visto que as operadoras locais oferecem tanto cursos completos, como o “batismo submarino”, que é uma primeira experiência nesse mundo tão en-

cantador, na qual cada cliente desce acompanhado por um instrutor. Posso dizer com segurança que é uma atividade memorável e transformadora. Nada se compara ao prazer de ver de perto a biodiversidade submersa e à sensação de falta de gravidade, de “voar” por esse mundo de novas cores, formas e sensações. Quem já fez o curso de mergulho tem mais opções de locais para descer, de todos os níveis: do mais iniciante ao mais avan-

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çado. Os mais experientes podem se aventurar na famosa Corveta Ipiranga, um belíssimo navio naufragado, com profundidade entre 45 e 60 metros. Um dos mais bonitos naufrágios do mundo. E digo isso por experiência própria, pois rodei o planeta mergulhando nos mais famosos naufrágios. Nossa Corveta, assim como muitos dos nossos mergulhos mais usuais, são lindos.

Agora, se soltar bolhinhas lá no fundo não é

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O destino é considerado o “Havaí brasileiro” pela qualidade do surfe, especialmente na Cacimba do Padre

o que te atrai, ainda assim pode dar uma espiada nas riquezas naturais submersas, fazendo mergulho livre com snorkel. É fácil encontrar locais que alugam os equipamentos para isso: máscara, snorkel e nadadeiras. De novo, são muitas as opções para essa atividade em Noronha. Por exemplo, ir ver tartarugas e outros bichos na Baía do Sueste. Neste caso, é obrigatório o uso de colete de flutuação, para evitar o toque nos frágeis corais do fundo, e é recomendado contratar um guia, pois eles sabem exatamente onde encontrar as tartarugas. Há vários outros pontos para um bom snorkeling, como o Naufrágio do Porto (SCUBA lá também é incrível), Baía dos Porcos, Morro de Fora, etc. O período sem ondas, mais ou menos de maio a outubro, é o ideal para o mergulho livre, mas há boas possibilidades o ano todo.

Já que citei as ondas, não custa lembrar que Noronha é considerada o “Havaí Brasileiro” pela qualidade do surfe em nossas praias, especial-

mente na Cacimba do Padre. A melhor época é de dezembro a março.

Um passeio que tem feito grande sucesso ultimamente e que coloca o viajante em contato com a natureza, é a canoa havaiana. E, para mim, a grande dica é ir no primeiro horário, para ver o nascer do sol. Nada se compara a ver a alvorada no mar e há uma razoável chance de encontrar os golfinhos, que costumam chegar à ilha de manhã cedo. A canoa permite vê-los e ouvi-los de uma maneira única.

Visitar Noronha é conhecer a natureza marinha preservada

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Como nem só de água se faz uma viagem ao nosso paraíso insular, que tal fazer uma trilha? Há caminhadas para todos os gostos e níveis de preparo físico. Muitas delas conciliam a trilha em si com pausas para um mergulho livre. Por exemplo, as trilhas para a Piscina da Atalaia, em sua versão curta ou longa. Essa é uma piscina de maré, ou seja, a visita se dá na maré baixa, quando a água fica represada por uma borda de corais e algas calcárias, formando um verdadeiro aquário natural. Na versão longa dessa trilha, depois da piscina o visitante caminha pela costa até a Praia das Caieiras, passando por pontos lindos como a Pontinha e Pedra Alta. É um dos meus passeios prediletos, proporcionando a verdadeira sensação de estar em uma ilha oceânica. Outra trilha linda e razoavelmente fácil é a dos Abreus, que também permite o banho na piscina de mesmo nome. Quem curte algo um pouco mais desafiador (não muito) e longo, pode fazer a trilha do Capim-Açu, que começa pela “mata” noronhense, passando por mirantes maravilhosos e indo até a Caverna do Capim-Açu. A volta costuma ser feita pelos costões, terminando na Praia do Leão, um dos cenários mais marcantes da ilha. Aos caminhantes, um aviso: algumas das trilhas exigem agendamento prévio e a contratação de guias credenciados, como Atalaia longa, Capim-Açu, Piscina de São José e Pontinha-Caieiras. Outras exigem só agendamento: Atalaia curta e Abreus. Algumas, como a Trilha Costa Esmeralda (passando por quase todas as praias do Mar de Dentro) exige apenas disposição, mas, na minha opinião, um guia torna a experiência mais rica. Os agendamentos são feitos diariamente das 16h às 19h no Centro de Visitantes do ICMBio, vizinho ao Projeto Tamar. Lá podem ser encontrados guias da ACITUR, a associação dos condutores, que certamente darão informações valiosas.

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A rica biodiversidade marinha encanta e atrai viajantes do mundo inteiro
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Fernando de Noronha tem a vocação clara de sensibilizar e educar o público em relação às questões ambientais, sobretudo às marinhas. De maneira coerente, a ilha também dá passos importantes para a sustentabilidade. Aqui cito dois programas exemplares: o de redução no uso de

plástico (saquinhos pequenos, copos e canudos foram banidos há alguns anos) e o de eletrificação da frota de veículos, já em andamento. O objetivo é a substituição (quase) total dos veículos com motores a combustão por elétricos já em 2030, daqui a pouco. Hoje, já podemos ver algumas de-

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zenas de carros 100% elétricos rodando na ilha, assim como um posto de carga de baterias a partir de energia solar. Ainda há muito o que caminhar para uma sustentabilidade verdadeira, mas passos fundamentais estão sendo dados. O futuro dependerá de todos nós.

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A ilha também dá passos importantes para a sustentabilidade
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Dicas quentes

COMO CHEGAR

A forma mais fácil de chegar até Fernando de Noronha é de avião. Voos diretos e diários para a ilha partem de Recife (operação feita pela AZUL e GOL) e de São Paulo (operação feita pela AZUL). Se você vive em outras cidades, é necessário fazer uma conexão nos aeroportos de Recife ou São Paulo (Congonhas) para chegar ao destino final.

DOCUMENTAÇÃO

Taxa de Preservação AmbientalTPA: Para entrar na ilha, é obrigatório o pagamento da Taxa de Preservação Ambiental (TPA), um tributo cobrado e arrecadado pelo Estado de Pernambuco, que administra o Distrito Estadual de Fernando de Noronha, sendo aplicado na gestão dos serviços públicos da ilha. O valor da taxa é cobrado por dia de permanência e deve ser pago no site tpa.noronha.pe.gov.br ou no aeroporto no momento do desembarque.

COVID-19: -É necessário apresentar, no momento do embarque, a Carteira de Vacinação Digital. Para facilitar, os viajantes podem enviar digitalmente e antecipadamente o certificado de vacinação através da solução Passe Verde (immunie.net/passeverde) incorporada ao pagamento online da TPA.

-Permanece obrigatório o uso de máscaras nos espaços e ambientes fechados e em quaisquer locais, abertos ou fechados, destinados à prestação de serviços de saúde.

-De cada voo ou embarcação, serão sorteados 20% dos passageiros

BRASIL

OCEANO ATLÂNTICO

Praia da Cacimba do Padre

BAÍA DOS PORCOS Pontinha

Vila dos Remédios FERNANDO DE NORONHA

Praia do Leão Capim Açu

BAÍA DO SUESTE

que deverão realizar teste RT-PCR para COVID-19, de acordo com o período que permanecer na ilha. O teste será custeado pelo Governo. Verifique todos os protocolos atualizados para entrar em Fernando de Noronha: sounoronha.com.br/protocolo-noronha-covid

* Fabio Borges é fotógrafo e cinegrafista da natureza, paulistano morando em Noronha há 25 anos. Filma para TV Globo, Canal OFF e muito mais. Colabora com instituições de pesquisa, biólogos e etc. @fabioborgesdocumentarista

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OCEANO ATLÂNTICO
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Palau, um lugar único no planeta

Texto e fotos MARCELO SKAF Cavernas submarinas, naufrágios, recifes de corais, um lago com milhares de águas-vivas. O primeiro santuário de tubarões do mundo é o paraíso do mergulho
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Palau tem um Santuário Nacional Marinho com mais de 500 mil km2

Está tudo bem se você nunca ouviu falar de Palau e não é mergulhador, mas entre os que gostam de estar submersos, esse é um local que permeia o imaginário de muitos e está na lista da maioria deles.

A República de Palau, ou simplesmente Palau – Belau na língua local, o palauano –, é um país localizado na Micronésia, entre o Mar das Filipinas e o norte do Oceano Pacífico.

As ilhas emergem de águas cristalinas e são cheias de vida graças a três correntes oceânicas que convergem para um mesmo ponto, trazendo consigo nutrientes que possibilitam uma incrível diversidade de animais marinhos de todos os tamanhos. E esse é o encanto para mergulhadores: múltiplas oportunidades para todos os gostos.

Existem desde blue holes (buracos azuis de maior profundidade), inúmeros naufrágios da

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PALAU

Segunda Guerra, militares e civis, cavernas, túneis, paredões (drop-off), recifes de corais e uma infinidade de diferentes tipos de animais como os pequenos peixes Mandarin, até grandes cardumes de tubarões. Imperdível!

Soma-se a toda riqueza o fato que, em 2009, Palau tornou-se o primeiro Santuário Nacional de Tubarões do mundo, acabando com a pesca comercial de tubarões em suas águas. E ainda

foram além: em 2015, seu presidente sancionou uma lei que criou o Santuário Nacional Marinho de Palau, uma das iniciativas de conservação marinha mais ousadas do mundo, com mais de 500.000 quilômetros quadrados de áreas protegidas. Um convite aos amantes da natureza e dos oceanos.

O país de características insulares tem mais de 300 ilhas de formação calcária e apenas cerca de 18.000 habitantes, a maioria vivendo em Koror,

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a capital econômica do arquipélago. A economia é baseada no turismo, agricultura e pesca de subsistência, dependendo de recursos externos para se desenvolver.

Sua posição geográfica estratégica fez com que se tornasse um ponto fundamental no Teatro do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial.

Uma das mais sangrentas batalhas entre forças norte-americanas e japonesas se deu em uma de suas ilhas, Peleliu, retratada em dois episódios no imperdível seriado Pacific da HBO.

Após a Segunda Guerra Mundial, juntamente com outras ilhas do Pacífico, Palau foi posta sob alçada dos Estados Unidos, através do Protetorado das Ilhas do Pacífico em 1947. Apenas em 1994, ganhou sua soberania plena sob o Tratado de Livre Associação com os americanos.

A chegada em Palau se dá por Koror, normalmente nos voos que vêm da Ilha Guam, das Filipinas ou da Coreia do Sul. Existem basicamente duas formas de operação de mergulho, uma chamada de bate-volta, em que o mergulhador vai, faz dois mergulhos e retorna à base dormindo em hotéis. A outra, mais interessante pela liberdade e maior quantidade de locais explorados, é a que os mergulhadores ficam hospedados em barcos o tempo todo, chamada de liveabords. Foi assim, num liveabord, que eu e meu dupla de mergulho

Claudio Mello, publisher da revista TOP Destinos, saímos rumo à nossa expedição a esse remoto canto do mundo. E que expedição! Uma experiência única que marca até o mais experiente viajante. Mas, atenção! Vale muito deixar dois dias na agenda para conhecer Koror e arredores antes de

Nossa expedição só foi completa porque estávamos a bordo do MV Solitude One

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embarcar rumo às ilhas mais distantes que são, em sua grande maioria, desabitadas. Restaurantes, lojas de souvenirs locais, lojas de mergulho, museus e artefatos da Segunda Guerra, além da aproximação com a cultura e o amistoso povo local fazem a diferença. Destaque para o Belau National Museum, criado em 1955 e que tem uma

Bai tradicional em seu acervo. As Bai, como são conhecidas localmente, são as casas de encontro de homens e fazem parte da cultura palauense, pintadas à mão com símbolos dos costumes locais e construídas sem nenhum prego ou parafuso, apenas encaixes na madeira a sustentam, como peças de um quebra-cabeças.

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1. Hidroavião

Japonês Jake, praticamente inteiro deitado no fundo

2. Explorando o sistema de cavernas Chandelier

Com as visitas em terra concluídas, vale muito observar Palau de cima. Existem passeios de avião e helicóptero disponíveis em Koror, e o imperdível é o que faz o roteiro passando acima das Seventy Islands, uma visão incrível.

Enfim, chegou a hora de embarcarmos em nossa casa flutuante por oito dias, o majestoso MV Solitude One, um trawler de aço de 52 metros de comprimento, que alia conforto e segurança com operacionalidade para até 24 mergulhadores.

Nosso trajeto, navegando em direção ao sul por uma região chamada Rock Islands, foi cuidadosamente escolhido para irmos aos melhores pontos de mergulho de Palau, incluindo naufrágios da Segunda Guerra Mundial, cavernas, drop-offs e o singular Jellyfish Lake (Lago das águas-vivas).

A expedição começou com um mergulho emocionante, num naufrágio de um hidroavião de guerra japonês. O Jake Seaplane é um modelo E13A Navy Type 0 e está a 14 metros de profundidade. Deitado num fundo que tem alguns corais, ele se mantém na posição de voo, como se estivesse pronto para decolar a qualquer momento. Num dos ataques norte-americanos, relata a história, o Jake ficou sem combustível para a batalha e seus próprios pilotos o afundaram para não ser capturado, daí seu estado quase inteiro. Ao mergulhar e observar o hidroavião, muitos

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Rock Islands guarda naufrágios, cavernas e o lago das águas-vivas

pensamentos sobre o sofrimento dos países e pessoas envolvidas em uma batalha tão brutal nos vieram à mente e saímos do mergulho em um silêncio respeitoso.

Seguimos para um sistema de cavernas conhecidas como Chandelier Cave, três salões com passagens estreitas de um para o outro, com formações de estalactites impressionantes apenas vistas com ajuda das lanternas de mergulho, uma escuridão total que nos exige calma e concentração absolutas. Mergulhos em cavernas são sempre mais técnicos do que em ambiente aberto.

Palau seguia nos surpreendendo, à medida em que navegávamos em direção ao sul, os grandes animais começaram a aparecer e tubarões e raiasjamanta estavam em vários pontos do percurso.

Era hora de encarar o ponto de mergulho mais famoso de Palau, o Blue Corner. Lendário, imprevisível e sempre espetacular, esse paredão

é famoso por suas fortíssimas correntes, o que obriga os mergulhadores a ficarem ancorados com um gancho preso às rochas e ao colete, sem o qual seria impossível permanecer parado para observar quem também adora as correntes, os tubarões. Muitos e ativos, eles nadam graciosamente contra a corrente como se ela não existisse, para deleite dos mergulhadores devidamente ancorados.

Somente estando numa embarcação com estrutura para expedições foi possível explorar Palau de forma tão completa. A incrível

Pensar no melhor horário para entrar no Blue Hole é essencial

1. Mergulhadores ancorados no Blue Corner 2. Mergulho no Blue Hole em uma de suas entradas mais rasas

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diversidade de ambientes nos levou aos próximos mergulhos em um outro ponto famoso de imersão, chamado de Blue Holes. A entrada a 24 metros de profundidade nos conduziu a um salão enorme que comportaria um edifício de 12 andares dentro. Esculpidos pela ação das correntes marinhas no calcário, são verdadeiras catedrais submersas. O balé da luz do sol entrando pelos orifícios acima deixou o lugar e nossa visão mais dramáticas, numa poesia escrita com luz. O planejamento foi fundamental, pois nos organizamos para entrar na água por volta do meio-dia, com sol a pino e buscando esse momento de luzes invadindo os salões do Blue Hole.

No extremo sul do arquipélago, fomos a um local especialmente emocionante, a ilha de Peleliu, palco de uma das mais violentas batalhas do Pacífico entre norte-americanos

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e japoneses. Um aeródromo estratégico foi a principal razão do conflito na ilha, uma vez que poucos locais apresentavam condições de pouso e decolagem tão bons num raio de várias centenas de quilômetros. Os comandantes e fuzileiros americanos imaginavam tomar a ilha em quatro dias devido ao poderio militar superior e aos intensos bombardeios de aviões e navios contra as forças nipônicas. Demoraram três meses... Túneis, estratégias e a força mental dos japoneses tornaram a batalha uma tortura sem fim, com mais de 11.000 japoneses mortos e 1.800 soldados americanos que perderam a vida. A resistência japonesa foi tão incrível que os próprios americanos, após o fim do

conflito, fixaram placas nos memoriais de guerra reconhecendo o heroísmo e patriotismo japonês.

Todos perdem com a guerra. Estar num memorial e caminhar entre túneis e trincheiras, encontrando garrafas de saquê, munição e canhões de guerra em meio às casas-mata, nos fez refletir, após tantos mergulhos, sobre como um lugar tão lindo e único pode ter sido palco de ações humanas tão destrutivas. Precisamos repensar nossos valores enquanto civilização e melhorar nossa relação humana e com a natureza.

Realizando mergulhos diurnos e noturnos em locais remotos como German Channel, Manta Ray Cleaning Station, Turtle Cove, Big Drop-off, Soft

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Coral Arch, Iro, Ulong Channel, Siaes Tunnel, Siaes Corner e tantos outros, imaginamos que Palau havia se mostrado para nós. Mas nossos anfitriões a bordo, Silvia Pérez e Alfonso Ribote, ainda guardaram uma última surpresa.

Existe um lugar chamado Jellyfish Lake ou Lago das águas-vivas em Palau, raríssimo no mundo, a ponto de pesquisadores apenas no ano passado encontrarem mais um ou dois casos parecidos no planeta, mas ainda assim sem a importância do lago de Palau. Porções de mar foram isoladas por eventos geológicos formando lagos de água salgada sem comunicação direta com o mar. Em um desses lagos, algumas águas-vivas ficaram aprisionadas e

com o passar dos anos acabaram desenvolvendo mecanismos para sobreviverem isoladas. As águas-vivas são animais carnívoros que têm em seus tentáculos células urticantes que são usadas normalmente para caçar pequenos peixes. Uma vez isoladas e sem os peixes, a necessidade de ter essas células acabou por não existir mais e elas foram

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Mergulhos em cavernas são sempre mais técnicos do que em ambiente aberto

diminuindo em número e intensidade. Mas então como se alimentar para viver? A grande adaptação e singularidade desse local está justamente nessa dinâmica biológica, as águas-vivas são compostas basicamente por água em seus corpos e neles, principalmente nos tentáculos, existem algas chamadas zooxantelas. O que as espertas águasvivas fizeram? Começaram a realizar migrações durante o dia para perto da superfície e nadar de cabeça para baixo deixando os tentáculos mais expostos ao sol. Já as algas fizeram mais fotossíntese, gerando como resultado açúcares que são usados pela própria água-viva como alimento, uma solução que permitiu àquela população de águas-vivas sobreviver e prosperar. São mais de quatro milhões de águas-vivas no lago atualmente.

Evidente que em minhas pesquisas como oceanógrafo eu sabia do lago, mas também sabia

que ele estava fechado, pois alguns anos atrás, por falta de chuva, a salinidade subiu muito, matando quase toda a população das águas-vivas e o mergulho foi proibido.

Qual não foi nossa surpresa ao saber que apenas três semanas antes de nossa expedição, o governo de Palau reabriu o lago para pequenos grupos agendados com a devida antecedência e com regras ambientais rígidas. A sorte acompanha os que acordam cedo. Lá fomos nós, após uma trilha de 15 minutos com subidas e descidas, e lá estava ele!

Com cerca de 600 metros de comprimento e somente aberto para mergulho livre, o lago abrigava as inofensivas águas-vivas que nos aguardavam. Que emoção estar ali, que lugar especial e único, que oportunidade, quanto a agradecer! Saímos em êxtase da água e maravilhados. Palau... difícil traduzir em palavras.

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O lago reúne mais de quatro milhões de águas-vivas
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Dicas quentes

COMO CHEGAR

Partindo de São Paulo, a viagem até Koror, capital do Palau, é demorada (cerca de 60 horas) e conta com várias paradas, pois não há voo direto. O melhor trajeto é com a United Airlines, que faz escalas no

DOCUMENTOS

Por conta da pandemia de Covid-19, para entrar em Palau, os viajantes brasileiros devem estar com o esquema de vacinação completo e apresentar teste PCR negativo feito até 72 horas antes da chegada, ou antígeno negativo feito até 24 horas antes do embarque. Vale sempre conferir as atualizações antes de embarcar!

QUANDO IR E O QUE LEVAR

- Entre janeiro e abril é a época de menos chuva;

Aeroporto Internacional O’Hare, em Chicago, no Aeroporto Internacional de Honolulu, no Havaí, e, por último, no Antonio B. Won Pat International Airport, em Guam. De lá, você pega um voo de duas horas para Koror.

- Se possível, chegue em Palau com a certificação de mergulhador autônomo, ou você perderá muito da natureza do país;

- O fuso horário é um problema. Reserve dois dias para se adaptar antes de mergulhar com cilindro;

- Protetor solar é fundamental. Leve o seu em quantidade suficiente. Na ilha existem para compra, porém os básicos;

- Uma vez do outro lado do mundo, considere ir visitar algum país próximo como as Filipinas ou Guam;

- O liveabord é realmente a melhor forma de conhecer as maravilhas submersas de Palau;

- Uma roupa de mergulho de 3 mm é suficiente para sua proteção térmica;

- Estude um pouco a Segunda Guerra Mundial antes da viagem, isso faz a diferença na experiência.

*Marcelo Skaf é fotógrafo, oceanógrafo, cinegrafista e documentarista de natureza há 20 anos. Já explorou os cinco continentes ao longo de sua vida. @skaf.marcelo

TOP DESTINOS
Babeldaob Seventy Islands Peleliu Koror Rock Islands
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PALAU

Galápagos: um dos lugares mais incríveis do planeta

e fotos MARCELO SKAF, de GALÁPAGOS
Texo
O arquipélago, no Oceano Pacífico, Patrimônio Natural da Humanidade declarado pela UNESCO, reserva surpresas incríveis a todos os visitantes, local onde a natureza convive em harmonia com os seres humanos GIGANTES DOS MARES / GALÁPAGOS 94
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Imagine que você pudesse seguir a linha do Equador no Oceano Pacífico a partir de uma praia na América do Sul e nadasse cerca de 900 km em linha reta... Você chegaria ao arquipélago de Colón, mundialmente conhecido como Galápagos, pertencente ao Equador.

Um verdadeiro laboratório evolutivo de vida a céu aberto, com animais e plantas endêmicas (que só encontramos lá). De uma beleza inigualável, as mais de 330 ilhas, ilhotas e rochedos de origem vulcânica, se distribuem ao longo de uma grande

área, e a melhor forma de conhecer a região é de barco. Entre uma ilha e outra, as distâncias são surpreendentes, com mais de 18 horas de navegação, dependendo da corrente.

Arquipélago historicamente famoso pela passagem de seu mais ilustre visitante, o naturalista Charles Darwin, Galápagos foi fundamental para despertar ideias que levariam à publicação do famoso livro A Origem das Espécies, e ao desenvolvimento da teoria da evolução. Mas, apesar da importância das observações em

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Galápagos, Darwin foi parar meio sem querer na remota área e permaneceu apenas 35 dias por lá. A bordo do H.M.S Beagle, capitaneado pelo também famoso Robert Fitz Roy, eles tinham como objetivo o abastecimento de víveres entre 15 de setembro e 20 de outubro de 1835. O Beagle retornou para a Inglaterra após cinco anos de navegação, em 1836, com um levantamento hidrográfico das costas da América do Sul.

Muitos elementos chamaram a atenção de Darwin, dentre eles as aves, seus distintos bicos

Explorar o arquipélago através do mergulho enriquece muito a experiência TOP DESTINOS 97

Cerca de 240 mil visitantes exploram o Parque Nacional de Galápagos anualmente

e ainda as tartarugas gigantes de Galápagos, que o motivaram a aceitar a ideia que uma espécie pode evoluir devido ao isolamento geográfico, como nas ilhas.

O tempo passou sem que Galápagos perdesse sua importância, e em 1959, em comemoração ao primeiro centenário da publicação do livro A Origem das Espécies , foi criado o Parque Nacional Galápagos, que conserva 97% da área terrestre do arquipélago.

Já a área marinha é protegida por uma Reserva Marinha, criada em 1998, com extensão de 133 mil quilômetros quadrados e com proibição total da pesca comercial, tornando-a uma das dez maiores do mundo e um dos melhores locais de mergulho do planeta. Alguns consideram inclusive o melhor ponto para observação de grandes animais. É a região com maior biomassa (quantidade de animais) de tubarões do mundo.

Em 2001, em reconhecimento à importância ecológica, cultural e econômica da Reserva Marinha de Galápagos, a UNESCO declarou o local Patrimônio Natural da Humanidade.

O ecossistema de Galápagos não poderia sobreviver sem a proteção e conservação das áreas

1. Entrada do centro de visitantes do Parque Nacional

2. As famosas tartarugas gigantes de Galápagos

3. Vista da baía de San Cristobal

4. Turistas visitando o píer de onde saem diversos passeios

5. Leão marinho convivendo em harmonia com a população local

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marinhas e costeiras. Muitas espécies nativas e endêmicas dependem inteiramente dos mares, e os processos evolutivos e ecológicos que ocorrem em terra também guardam relação direta com os oceanos. Já foram registradas mais de 2.900 espécies, das quais 25% são endêmicas. Como exemplo, são 24 espécies de mamíferos marinhos e entre baleias, golfinhos e leões marinhos, duas das espécies de leões são endêmicas. Apesar de todo esforço dos galapaguenhos, existem relatos de barcos pesqueiros industriais nas águas protegidas. É uma dor saber que uma parcela dos seres humanos não respeita limites ambientais.

As belezas naturais, diversidade de espécies, origem vulcânica e aspectos geológicos dinâmicos e em permanente mudança, além da variedade de formações, são considerados um laboratório de processos evolutivos ainda em curso. Em conjunto a esses aspectos, Galápagos, por uma

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série de motivos geográficos e ambientais, desenvolveu um largo número de animais e plantas que não existem em qualquer outra parte do mundo, tornando-o um lugar único no planeta e de importância incalculável.

Em Galápagos, apenas cinco ilhas são habitadas, sendo Santa Cruz a mais central e a que tem a maior cidade, Puerto Ayora. Já San Cristóbal é a capital da província insular e a principal porta de entrada de visitantes por seu aeroporto.

Isabela é a maior ilha do arquipélago, mas ainda conta com uma baixa população e tem no

turismo de natureza um grande potencial, sendo a mais biodiversa de todas. Floreana, apesar de ter sido historicamente uma das primeiras ilhas a serem habitadas, atualmente não ultrapassa 120 habitantes. A quinta ilha se chama Baltra, uma árida porção de terra que recebeu uma base americana na Segunda Guerra Mundial e tem pouquíssimos moradores.

A melhor forma de chegar ao arquipélago é voando desde Quito ou Guayaquil até San Cristóbal, que fica a cerca de 900 km de distância. Existem mais dois aeroportos em Galápagos, um em Baltra

São inúmeras opções de passeios nas diversas ilhas, sempre rodeados de uma abundante natureza
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1. Homenagem a Darwin numa das praças de San Cristóbal

2. Quiosque com informações ambientais de Galápagos

3. Qualquer espaço livre vira berçário de leões marinhos

4. Nosso publisher Claudio Mello explora uma das ilhas remotas

5. O ecoturismo é a base da economia

6. Especialidade dos restaurantes locais são os frutos do mar

e outro em Isabela. Esse último é equipado apenas para receber aeronaves pequenas.

Existem alguns controles importantes para se chegar até Galápagos: já no aeroporto no continente, é necessário se registrar no Galapagos Government Council Office e obter o Transit Control Card (TCT), ao custo de US$ 20, pagos apenas em dinheiro. Esse TCT deverá permanecer o tempo todo com o visitante durante sua estada no arquipélago, pois pode ser solicitado pelas autoridades locais. Ele só é emitido se houver comprovação do bilhete aéreo de retorno e voucher de hotel ou cruzeiro devidamente validados.

Após obtenção do TCT, é necessário que a bagagem seja checada e lacrada pela agência de biossegurança, para que nenhuma espécie de fora seja introduzida em Galápagos. Portanto, itens frescos como carnes e frutas são proibidos e retidos, caso encontrados nas bagagens.

Antes do pouso, você ainda é surpreendido por uma higienização com spray na cabine. Muitos cuidados. Mas espere que não acabou. Ao pousar, você ainda tem que pagar uma taxa de entrada

de US$ 100 por pessoa (desconto de 50% para o Mercosul), também apenas em dinheiro. Então, não esqueça de levar esses valores em espécie para poder, enfim, chegar lá.

Com a história em dia, informações na mão, taxas pagas e autorizações emitidas, lá fomos nós, eu e meu dupla de mergulho, o publisher Claudio Mello, para mais uma expedição Gigantes dos Mares.

Embarcamos num super barco de expedições de mergulho, o M/V Galápagos Master, também

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conhecido pelo antigo nome Deep Blue. Esse barco é o único de Galápagos que fica três dias inteiros em Darwin e Wolf, o que envolve itinerários de longas distâncias de navegação (acima de 19 horas até as ilhas mais distantes). Como somos do mar, essa foi a melhor escolha. As ilhas de Darwin e Wolf são capítulos à parte em Galápagos e estão na minha lista dos melhores pontos de mergulho do mundo.

Partimos da ilha central de San Cristóbal, mas mesmo antes de subirmos a bordo da nossa casa flutuante, um simples caminhar no porto revela como Galápagos é único. Em meio às pessoas, barcos, bancos e praças se observam iguanas marinhas, leões marinhos, pelicanos e uma infinidade de animais, num exemplo claro de como a convivência entre humanos e natureza é

viável sob vários aspectos. Um grande exemplo a ser seguido.

Com essas boas-vindas, partimos para preparar os equipamentos de mergulho e de captação de imagens. Tudo pronto e lá fomos nós cumprir o protocolo de segurança de um check out dive. Lugar raso apenas para ajustar lastro, roupas, capuzes e luvas – sim, luvas. A água nesse dia estava 18 graus, já um baita frio, mas ainda pegaríamos 14 graus em outros mergulhos.

A água é justamente um dos segredos da singularidade e riqueza de Galápagos. Como pode uma ilha oceânica na linha do equador ter pinguins e uma água gelada dessas? A resposta vem da oceanografia e das correntes marinhas. Galápagos é incrivelmente banhado por várias delas. Por isso, sempre espere água fria e com

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1. Nossa casa flutuante: o Deep Blue

2. Esse é o único barco que fica três dias inteiros em Darwin e Wolf

3. Equipados para a água gelada de Galápagos

corrente nos mergulhos. Mergulhar em Galápagos pode ser bastante desafiador mesmo para os mais experientes. Definitivamente, não é um lugar para iniciantes. Sugiro ao menos uns 50 mergulhos para se aventurar nos mais incríveis de lá (em Wolf e Darwin), pois baixa visibilidade e correntes fortes podem surgir do nada.

Voltando às correntes, elas determinam o clima das ilhas e influenciam o ecossistema de forma geral. São quatro principais correntes, além da ressurgência (águas de fundo que afloram, e por estarem no fundo são geladas): Corrente de Humbolt, a mais “famosa”; a de Cromwell, também chamada de contracorrente Equatorial; a do Panamá; e a contracorrente equatorial do Norte. Ufa...! Estas correntes criam habitats diversos e sustentam uma enorme quantidade de vida marinha devido aos

nutrientes que carregam, estimulando assim toda cadeia produtiva dos oceanos. São verdadeiros “rios de nutrientes”. A de Humbolt costuma estar presente entre junho e novembro e vem do Sul, trazendo águas geladas e uma abundância de vida.

Mergulho de check out realizado, tudo funcionando, partimos para os mergulhos incríveis de Galápagos sempre rumando para as

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As ilhas de Darwin e Wolf estão na minha lista dos melhores pontos de mergulho do mundo
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A abundante fauna de Galápagos impressiona até os mais experientes

1. Leões marinhos curiosos sempre dão um olá aos mergulhadores

2. Claudio Mello observa uma iguana marinha alimentando-se

3. Cardume de tubarõesmartelo em Wolf

4. Ancorados ao fundo devido às fortíssimas correntes

ilhas ao norte, Darwin e Wolf.

Exploramos vários pontos de mergulho como Seymour North e Mosquera, sempre com águas frias e com considerável corrente. Nessa parte mais central do arquipélago, pudemos observar tubarões-galha-branca-de-recife, tartarugasverdes, raias-manteiga, leões-marinhos, raiaschita, moreias – todos juntos num mergulho, para nosso deleite.

Mas a joia da coroa estava ainda distante, cerca 18 horas de navegação ao norte, as famosas ilhas Darwin e Wolf. Dentro d’água, nos esperavam cardumes com centenas e às vezes milhares de tubarões-martelo, tubarões de Galápagos, golfinhos, tubarões-baleia, cardumes de peixes, raias chita e por aí vai.

Iniciamos por Wolf, nome em homenagem ao geólogo alemão Theodor Wolf. Esse extinto vulcão aflora para cerca de 253 metros de altura, formando paredões multicoloridos. Os pontos

de mergulho variam de corrente moderada a bem forte, e o uso de luvas e ancoragem são recomendados, sendo algumas vezes obrigatórios. Sim, ancoragem... A corrente é tão forte que para ficarmos parados documentando os animais, principalmente os tubarões, usamos um gancho fixado às rochas e uma linha conectada ao equipamento de mergulho. A chance de se

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perder da dupla ou ser arrastado é grande, e eu e Claudio procuramos chegar ao fundo o mais rápido possível. Fizemos a entrada negativa, na qual já entramos na água com os coletes desinflados para agilizar a manobra, sempre feita a partir das pangas, que são pequenos botes infláveis que nos levam da “nave mãe” ao ponto de mergulho. Uma epopeia fazer isso com as câmeras em mãos.

Wolf não nos decepcionou! Cardumes de tubarões-martelo e todos os seus amigos por lá: um festival. Muita corrente e ancoragem em funcionamento. A cada imersão, saíamos em êxtase.

Após Wolf, chegou a vez de Darwin. Com seu ilustre e famosíssimo ponto de mergulho, o Arco de Darwin proporcionou uma novidade a cada imersão, mas o ponto alto foram os três tubarõesbaleia vistos num mesmo mergulho. Que emoção!

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Quase 40 minutos de tubarão passando para lá e para cá. Numa dessas passadas, avistamos um tubarão enorme, que deveria chegar a 14 metros. Decidimos segui-lo e ir para o “azul”.

No jargão dos mergulhadores, significa perder a referência de rochas e/ou da costeira e se aventurar sem referência visual de navegação no azul. Fizemos isso acompanhados de um tubarãobaleia, que emoção! Inflamos nossos sinalizadores e terminamos o último mergulho em Darwin com esse presente.

Missão mais do que cumprida nas ilhas ao norte, navegamos de volta à área central do arquipélago e fomos atrás do nosso último objetivo, mergulhar com as iguanas marinhas. As iguanas são répteis e, portanto, não conseguem manter a temperatura do corpo de forma constante como nós mamíferos. Para uma iguana, entrar na água significa perder calor muito rápido, e elas evitam isso a todo custo. Mas não em Galápagos, um lugar tão incrível que

até as iguanas deram um jeito de mudar o padrão. Os machos adultos e grandes acumulam calor e, por volta do meio-dia, horário mais quente, entram na água gelada para se fartarem das algas abundantes a dois ou três metros de profundidade, local inacessível a iguanas pequenas. Lá fomos nós documentar esse comportamento e, para isso, o planejamento foi fundamental.

1. Enorme tubarão-baleia visto no azul 2. Claudio Mello com cardume de tubarões-martelo passando
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Os mergulhos nas ilhas ao norte são desafiadores, mas incríveis
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1. Raias-chita são facilmente vistas nos mergulhos

2. Águas geladas requerem roupas adequadas para as imersões

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Achamos um banco de algas, observamos iguanas grandes na praia e não deu outra, perto do meiodia lá estavam elas, alimentandose. Documentar natureza é assim, respeito ao tempo dos animais e planejamento. Terminamos nossa expedição submersa com essa visão.

Ao desembarcar do Deep Blue, ainda tivemos um tempinho para conhecer a Estação de Pesquisa Charles Darwin, em Puerto Ayora, na Ilha de Santa Cruz. Muito importante o trabalho de conservação das tartarugas-gigantes-de-galápagos desenvolvido por eles, com apoio da comunidade. Você sai de Galápagos, mas Galápagos não sai de você. Um lugar para voltarmos muitas vezes.

Galápagos tem poucos barcos autorizados a operar mergulho; organize-se com antecedência GIGANTES DOS MARES / GALÁPAGOS 110
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Dicas quentes

COMO CHEGAR

A Copa Airlines oferece voos de São Paulo até o Panamá. De lá, você pode pegar uma conexão para Quito. Mais informações e reservas: copaair.com

COVID-19

Atualmente, Galápagos está aberto à visitação, porém é necessário apresentar resultado negativo de teste PCR realizado até 72 horas antes do embarque ou certificado completo de vacinação contra Covid-19, além de formulário de declaração de saúde fornecido pelo Governo local.

ONDE FICAR

Em Quito, uma das boas alternativas antes de embarcar para Galápagos é o Hilton Colon Quito. hilton.com

O QUE LEVAR E CUIDADOS

- Não esqueça de levar dólar em espécie para taxas;

- A moeda local é o dólar americano. Leve dinheiro suficiente, pois nem todos os lugares aceitam cartão de crédito;

- Fique atento às regras de comportamento social e ambiental. Os galapaguenhos levam o tema a sério;

- Faça um curso de mergulho no Brasil e tenha pelo menos 50 imer-

sões contabilizadas. Galápagos exige certa experiência;

- Vacinas e um kit de medicamentos prescritos pelo seu médico sempre ajudam em áreas remotas;

- Cuide de sua segurança. Galápagos tem dois pequenos hospitais. Você não vai querer se machucar por lá;

- Tome água apenas de fontes confiáveis;

- Apesar de estar na linha do equador, Galápagos tem temperaturas amenas entre 21 e 24 graus, vale incluir um moletom na mala;

- A água é sempre fria nos melhores

pontos de mergulho – mais fria ou menos fria, mas sempre fria. Espere entre 14 e 23 graus Celsius. Roupa seca é uma boa pedida para os mergulhos ou uma semi seca de 7 mm;

- Se for mergulhar, não esqueça capuz e luvas. Fundamentais;

- Nenhum barco de mergulho em Galápagos tem internet. Desfrute estar offline.

*Marcelo Skaf é fotógrafo, oceanógrafo, cinegrafista e documentarista de natureza há 20 anos. Já explorou os cinco continentes ao longo de sua vida. @skaf.marcelo

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Ilha Espanhola Ilha Floreana Ilha Marchena Vulcão Wolf Porto Villamil Porto Ayora Porto Baquerizo Moreno Ilha Isabela Ilha Santa Cruz Ilha de San Cristóbal Ilha Santiago Ilha Fernandina OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO
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OCEANO PACÍFICO ILHAS GALÁPAGOS

Paixão em mergulhar com tubarões

Um dos melhores lugares do mundo para a incrível experiência de mergulhar com grandes tubarões, as Bahamas são um exemplo de conservação dos oceanos, considerando sustentabilidade ambiental e socioeconômica

Texto e fotos MARCELO SKAF, das BAHAMAS
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Escutamos com muita frequência, quando falamos de mergulhos com tubarões: “vocês são malucos” ou “tem que ter muita coragem”. Mas a verdade é que não existe heroísmo nesses encontros, há muita paixão, planejamento, técnica e uma busca por estar com animais incrivelmente fascinantes.

Quando o cineasta Steven Spielberg lançou em 1975 o filme Jaws (Tubarão) com a mundialmente conhecida música de John Williams que arrepia qualquer um, vencedora do Oscar de melhor trilha sonora original, não imaginava que um thriller impactaria a vida do universo marinho de forma tão intensa. O imaginário coletivo passou a

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associar tubarões, especialmente os grandes, com bestas assassinas devoradoras de qualquer coisa, inclusive ser humano.

Passado quase meio século do lançamento desta obra cinematográfica, ainda temos uma percepção distorcida dos amigos tubarões, e justamente essa realidade é nosso maior estímulo

Tubarão-limão confere de perto a presença dos mergulhadores na água. A fileira de dentes pontudos e afiados não deixa dúvidas quanto à posição de predador na cadeia alimentar

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A incrível transparência da água ajuda muito nos mergulhos

para realização das expedições de documentário, desmistificar os tubarões e sensibilizar o grande público acerca da importância desses animais. Com esse objetivo em mente, montamos uma equipe muito experiente de cinco mergulhadores, o Publisher da revista TOP Destinos Claudio Mello, Alexandre Costa (o Alê da Cacau Show), Marcello Costa, Ricardo Rachid e eu. Os alvos dessa etapa do projeto Gigantes dos Mares foram o lendário tubarão-tigre e o tubarão-martelo-gigante.

Existem alguns, não muitos, pontos de mergulho no planeta em que se pode mergulhar com essas duas espécies, mas encontrá-las juntas numa mesma região ou até no mesmo mergulho é raríssimo, e escolhemos o melhor ponto do mundo para buscar nossas imagens, as Bahamas.

Ex-colônia britânica, as Bahamas conquistou sua independência como nação em 1973, tendo

Nassau como capital. É um arquipélago formado por mais de 700 ilhas e ilhotas no Oceano Atlântico margeando o Mar do Caribe, tendo os Estados Unidos ao norte e Cuba ao sul, como países mais próximos. Muitas delas são desabitadas e as mais conhecidas são Grand Bahama, mais ao norte, e Paradise Island, com diversas opções de hotéis e resorts.

Nossa busca pelos gigantes dos mares nos levou a dois dos melhores pontos de mergulho para grandes encontros do planeta: Bimini e Tiger Beach.

1.

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Equipe reunida acertando os detalhes pré-mergulho Claudio Mello e Marcelo Skaf ajustando a operação com Neal Watson
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Um dos segredos para mergulho com tubarões é o planejamento e trabalho em equipe

Com águas transparentes e um ecossistema marinho conservado, as Bahamas atraem visitantes do mundo inteiro

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Mas vamos apresentar nossos astros antes de contar sobre os encontros... O tubarão-tigre é uma lenda entre os mergulhadores e um animal enorme que pode chegar aos cinco metros de comprimento (o mesmo dos tubarões-brancos) e mais de 800 quilos. Possui um corpo robusto, cabeça larga e achatada, focinho curto e meio quadrado, sua lateral varia de cinza-escuro a cinzaamarronzado, com as famosas manchas ou listras escuras que deram o nome à espécie em alusão às listras dos tigres. Se você algum dia encontrar um tubarão grande e observar essas listras laterais, não se engane, é um tigre. Seus dentes têm formato triangular, lembram um abridor de latas mais serrilhado e podem facilmente cortar ossos, carne e até cascos de tartarugas. Aqui, vale um parênteses: podemos determinar a espécie ou tipo de uma grande quantidade de tubarões apenas analisando o formato de seu dente. Pouco seletivo, já foi encontrado de tudo dentro de seu estômago, de tartarugas a aves, passando por objetos que nada se parecem com alimento.

Devido ao seu tamanho, cara de bravo e comportamento agressivo quando está caçando, ele tem uma má fama entre os tubarões, mas com alguns cuidados e planejamento, é possível, como fizemos, mergulhar com esses magníficos animais.

Não menos incrível é o tubarão-martelo. Quando falamos nele, estamos nos referindo a cerca de nove espécies conhecidas no mundo. A que fomos buscar é a maior delas, conhecida como grande-martelo ou tubarão-martelo-gigante. Essa espécie não forma grandes cardumes como os martelos de Galápagos ou Cocos, são animais mais solitários, mas são enormes, chegando a quase seis metros de comprimento e 450 quilos. Infelizmente estão na lista dos animais em risco de extinção.

Com sua cabeça clássica em forma de T, tem o corpo robusto e uma longa nadadeira dorsal (a das costas) que ajuda a identificar a espécie. Outro fator de diferenciação é a forma da cabeça em T ou do “martelo”. A do grande-martelo é quase reta quando comparada com seus primos menores, que têm o T mais arredondado. O que parece igual na natureza, muitas vezes não é. Outra característica marcante dos martelos é a posição dos olhos nas extremidades da cabeça, o que confere uma visão 360 graus. Estão entre os tubarões mais evoluídos do planeta.

Nossa expedição contou com a presença e logística do super credenciado Neal Watson, um dos mergulhadores mais experientes do mundo quando se trata de mergulho com tubarões. Estávamos com o equipamento certo, com a equipe certa, na época certa e com a experiência dos mergulhadores locais ao nosso lado. Para se ter chances de estar com tigres e martelos juntos, a viagem precisa ser feita entre novembro e fevereiro (apesar de ocorrerem variações de ano a ano), pois essa é a época em que os martelos migram para as Bahamas. Após esse período, simplesmente desaparecem.

1. Um grande martelo pega um pedaço de peixe. Seu tamanho impressiona e supera o do mergulhador

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Os tubarões se aproximam interessados em comida
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A equipe de segurança está sempre atenta ao movimento dos tubarões. A nadadeira dorsal longa do grande martelo é bastante característica

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Depois de semanas de planejamento e preparação, lá estávamos nós prontos para encarar o desafio de encontrar, mergulhar e documentar os bichos, três processos bem distintos. Encontrar, pois, como todo animal selvagem, não há garantias mesmo com todo planejamento, considerando ainda ritmo de marés, vento e chuva que nessa época acontecem rotineiramente. Após acharmos os bichos, precisamos avaliar as condições de mergulho, como visibilidade e correntes, e assegurar a segurança da equipe. Por fim, precisamos que os animais estejam perto o suficiente para que as imagens possam ser produzidas em vídeo e foto. Não é uma tarefa simples juntar todos esses elementos a nosso favor, mas aí está parte da beleza em documentar animais selvagens em expedições, vencer as dificuldades e estar pronto quando a oportunidade acontece. Pode ser uma oportunidade de minutos ou poucas horas, numa expedição de dias.

Nossa primeira etapa foi em Bimini e o único local com chances de encontrar os dois tubarões juntos. No primeiro dia, após algumas horas jogando restos de peixes triturados na água para ajudar a atrair os tubarões, o Neal grita de cima da embarcação: “tubarão!”. Incrível os olhos treinados dele para ver a sombra do martelo no fundo. Primeira etapa feita: achamos. As

A ceva com pedaços de peixes para atrair os tubarões é o primeiro passo do planejamento para os mergulhos. A quantidade impressiona até os mais experientes

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Tiger Beach é um verdadeiro festival de tubarões

Sem gaiolas, o encontro com os tigres é sempre emocionante. São enormes e a aproximação é necessária para imagens de qualidade

condições estavam razoáveis e decidimos entrar na água. A emoção de ver o primeiro martelo gigante a menos de um metro é de difícil descrição, são majestosos, passaram inúmeras vezes na nossa frente e renderam muitas imagens. Os mergulhos feitos com o Neal são, em sua maioria, com alimentação dos tubarões no sentido de mantê-los por perto. Isso mesmo, descemos com uma caixa com pedaços de peixes e vez ou outra o guia alimenta os tubarões. Apesar de toda preparação, estamos na água com animais selvagens e com alimento, isso torna tudo bastante dinâmico lá embaixo e, ainda assim, os tubarões se comportam de uma forma incrivelmente pacífica. Essa atividade

de alimentação com regras é permitida e regulamentada nas Bahamas e a forma como é feita não causa impactos significativos aos animais. Pelo contrário, gera uma importante receita ao país com o turismo de mergulho que ajuda a estabelecer leis e comportamentos da população que protegem os tubarões, um ganhaganha, um verdadeiro exemplo de conservação ambiental com elementos socioeconômicos e envolvendo a comunidade.

Os martelos, durante os dias que se seguiram, apareceram na maioria de nossos mergulhos, não mais que dois ou três animais simultaneamente, como esperado, mas bichos enormes e muito cooperativos do ponto de vista de geração de

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imagens, muitos encontros incríveis e objetivo alcançado, mas o melhor ainda estava por vir. No último dia, fomos recompensados com a presença de um tigre junto com os martelos, incrível ver dois dos maiores predadores do mundo submerso juntos num mesmo momento durante o mergulho. Ambos respeitando seus espaços na água, como deve ser. Foram momentos mágicos, poucos minutos, é verdade, mas o suficiente para entrarem no rol de mergulhos incríveis do nosso projeto Gigantes dos Mares.

Deixamos Bimini e os martelos para trás e fomos para Grand Bahama, mais especificamente uma região chamada Freeport. De lá, saímos para nosso segundo objetivo: ficar cara a cara

com os tigres, muitos deles no lendário ponto de mergulho chamado Tiger Beach.

Estávamos com o “descobridor” de Tiger Beach, então fiz a pergunta: Neal, por que o nome Tiger Beach (em tradução livre, Praia dos Tigres),

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Documentar o ambiente marinho e contribuir levando informação e imagens incríveis ao público é o objetivo do projeto Gigantes dos Mares

uma vez que o ponto de mergulho (na verdade, uma região com alguns pontos) não tem praia a quilômetros de distância? Ele, com um sorriso irônico, disse: “para afastar os curiosos”. De fato, não é lugar para curiosos, é uma região de mar aberto sem qualquer abrigo, ao sabor das correntes e do vento. Tiger Beach é um ponto no meio do nada, que só quem conhece bem deve se aventurar. Chegamos, mas as condições estavam realmente ruins no primeiro dia. Fortes ventos balançavam nossa embarcação de forma intensa e a água estava com dois a três metros de visibilidade, pouquíssimo para um protocolo de segurança adequado com os tigres. Abortamos o mergulho, mas como já estávamos por lá, ficamos no barco jogando iscas para atrair os tigres. Depois de quatro horas balançando, a tarefa estava cumprida. Fomos embora com gosto amargo de nem entrar na água, mas certos de que o mar e seus habitantes precisam de respeito, e respeitar o mar é um sinal de sabedoria. Nos confortamos com as boas histórias do Neal sobre o que provavelmente viria nos próximos dias: estar na água com mais de dez tigres. Ouvindo atentamente, Claudio e eu projetávamos o que faríamos embaixo d’água, enquanto Alê, Marcello e Rachid se organizavam para cuidar da observação dos tigres ao redor enquanto produzíamos as imagens. O dia seguinte ainda não foi o nosso dia, voltamos, mergulhamos, a água estava melhor, mas nada de tigres, mesmo adotando a mesma estratégia de levar uma caixa de peixes para o fundo do mar. Muitas outras espécies apareceram, mas nada dos nossos amigos famosos. Paciência e resiliência.

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Estar cercado de tubarões por todos os lados é incrível

São tantos tubarões, que eles se esbarram o tempo todo

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Terceiro dia, e bem, que coisa incrível, os tigres apareceram, um, dois... oito! Oito tigres na água simultaneamente, foi algo ao mesmo tempo incrível, mas confesso, um pouco tenso. Ok, não são bestas assassinas, mas ainda são tigres, e cuidar de oito ao mesmo tempo não é tarefa fácil. Eles são curiosos com mergulhadores e nadam de forma muito tranquila, mas tínhamos comida na água para que eles se aproximassem e ficassem por perto. Os tigres precisam ser encarados de frente, mergulhar com eles requer técnica e uma equipe experimentada, eles precisam ser olhados sempre nos olhos de forma frontal, algo como “estou te vendo amigo, não venha com graça”. Nossa equipe estava bem dividida, eu fazendo fotos, Claudio imagens em vídeo e o Alê, Marcello e Rachid cuidando da nossa retaguarda, uma vez que essa quantidade era de difícil controle. Ver um animal majestoso de cinco metros passando a meio metro de você é uma das experiências mais incríveis do mundo... para quem gosta, claro! Documentar esses animais nadando tranquilamente, sumindo e voltando do azul, com a dose certa de cuidados, nos mostra que até mesmo um predador, que no imaginário da maior parte da população é algo a se querer distância, é um gigante não compreendido, que merece nosso respeito e admiração.

O tubarão-tigre com suas manchas típicas na lateral do corpo

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Observar animais selvagens soltos na natureza é uma experiência enriquecedora

Precisamos conhecer para conservar, não se protege aquilo que se desconhece a importância, e os tubarões são extremamente importantes para a saúde dos oceanos, para a saúde do planeta.

Finalizamos nossa expedição Gigantes dos Mares nas Bahamas, certos de que as imagens produzidas estão contribuindo para esse objetivo.

Documentar a natureza requer paciência e prontidão

Nossa equipe esperando os bichos aparecerem. Às vezes, são horas ou dias nesse processo

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Dicas quentes

COMO CHEGAR

Não existem voos diretos entre o Brasil e as Bahamas. É necessário fazer conexão, geralmente na Cidade do Panamá ou em Miami.

MOEDA E IDIOMA

A moeda local é o Dólar baamiano. E o inglês é a língua oficial.

DOCUMENTAÇÃO E VACINAS

Passaporte válido - Não é necessário visto para viagens de turismo.

O QUE FAZER

Bahamas tem cassinos e hotéis incríveis, reserve um tempo para passeios fora d’água. Além dos mergulhos com tubarões, as ilhas têm diversão submersa para todos os gostos, desde naufrágios até snorkel com golfinhos. As Bahamas ficam muito próximas da Flórida, uma passada na casa do Tio Sam para compras ou mesmo para uma ida à Disney em família pode fazer sentido.

O QUE LEVAR

As Bahamas são um país quente. Não se esqueça da hidratação e do protetor solar. Além disso, peça a seu médico no Brasil um remédio para enjoo. A temperatura da

Grand Bahama Abaco Islands Governor’s Harbour

Bimini Islands BAHAMAS

Nassau

OCEANO ATLÂNTICO

OCEANO ATLÂNTICO

Cat Island

OCEANO ATLÂNTICO

Rum Cay Island Ragged Island

Great Exuma Island

água no inverno caribenho chega a 24oC, o que não chega a ser frio, mas as condições do mergulho são distintas de outras operações, pois são bastante estáticas. Você entra na água, muitas vezes sem nadadeira e fica quase todo o tempo ajoelhado no fundo, por essa razão recomendamos uma roupa de pelo menos cinco milímetros de espessura com luvas e capuz.

QUEM LEVA

Natural Diving - Junior Neves Contato: (11) 961646024 ou juniorneves@naturaldiving.com.br @viagensemergulho

OCEANO ATLÂNTICO

Crooked Island

Long Island Mayaguana

Inagua Islands

*Marcelo Skaf é fotógrafo, oceanógrafo, cinegrafista e documentarista de natureza há 20 anos. Já explorou os cinco continentes ao longo de sua vida. @skaf.marcelo

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TOP DESTINOS
GIGANTES DOS MARES / MALPELO 132

Expedição Gigantes dos Mares: Malpelo

Texto e fotos FÁBIO BORGES
tesouro colombiano da biodiversidade ainda desconhecido dos brasileiros TOP DESTINOS 133
O

Para a maioria dos brasileiros, visitar a costa colombiana significa ir à famosa Cartagena das Índias, banhada pelo Mar do Caribe. Talvez por influência do grande escritor colombiano Gabriel

García Márquez (ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, em 1982), que lá viveu por muitos anos e encontrou inspiração para um de seus livros mais famosos, O Amor nos Tempos do Cólera, de 1985.

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GIGANTES DOS MARES / MALPELO

rinha, o Santuário da Fauna e Flora Ilha Malpelo é um destino de sonho, sobretudo para os mergulhadores mais experientes. Mergulhar ali pode ser muito desafiador, mas compensa cada esforço.

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No entanto, é do outro lado, no Oceano Pacífico, onde está a joia rara da biodiversidade marinha colombiana, a quase desconhecida ilha de Malpelo. Dentre os antenados na conservação da vida maTOP DESTINOS

A expedição

A Expedição Gigantes dos Mares chegou em Malpelo para mais uma viagem com o apoio do Mundo T-Cross, plataforma de viagens da Volkswagen, que nos acompanhou nesta nova grande aventura. Éramos quatro mergulhadores e somaram-se a nós outros dois: uma ilustre colombiana (falo dela daqui a pouco) e um americano. E só! Um imenso privilégio estar ali em um grupo tão pequeno, o que costuma favorecer o encontro com a fauna marinha selvagem.

Mas a grande honra foi participar da expedição com a prestigiada naturalista e ambientalista franco-colombiana Sandra Bessudo.

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GIGANTES DOS MARES / MALPELO
Para ver a fauna marinha selvagem de Malpelo, na Colômbia, é preciso bastante esforço
TOP DESTINOS 137

Tivemos a honra de dividir a expedição com a expert Sandra Bessudo

Sandra visita Malpelo há décadas, inicialmente como instrutora de mergulho, desde 1987. Logo de cara, percebeu que o lugar tinha algo de especial e precisava ser protegido. Arregaçou as mangas e nunca mais parou de trabalhar nesse sentido. Resumindo suas conquistas: conseguiu que o arquipélago fosse declarado área marinha protegida; estendeu os contornos dessa área diversas vezes (hoje o Santuário tem impressionantes 27.098 km 2 de proteção integral); em 1999, criou a Fundação Malpelo, da qual é dirigente. Entre outros méritos, foi Ministra do Meio Ambiente da Colômbia e é consultora da Mission Blue, coalizão internacional para proteção dos oceanos, capitaneada por ninguém menos que a Dra. Sylvia Earle, referência máxima no assunto.

Importância ecológica

Mas afinal, o que a ilha tem de tão especial para receber toda essa atenção? Muitas carac -

A ambientalista franco-colombiana que nos acompanhou na viagem
GIGANTES DOS MARES / MALPELO 138

terísticas singulares. Sua posição geográfica, no lado leste do Oceano Pacífico, relativamente próxima a outros arquipélagos de grande importância ecológica, como Galápagos (Equador), Ilhas Revillagigedo (México) e Cocos Islands (Costa Rica) favorece o intercâmbio de espécies nesta macro região. Não por acaso, os arquipélagos citados são todos declarados pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade e são também destinos de sonho para qualquer mergulhador.

Malpelo, dentre essas ilhas, é a que recebe o maior número de correntezas oceânicas distintas, favorecendo a biodiversidade por um lado, mas trazendo características mais desafiadoras aos mergulhos. Mergulhar ali com correntezas fortes e variáveis é praticamente inevitável. Num mesmo mergulho, podemos ter duas ou

TOP DESTINOS 139

mais direções diferentes de correntes, dependendo da profundidade ou do momento. O mesmo vale para a temperatura da água. É possível começar com a água em temperaturas confortáveis, por volta dos 26 graus, e logo sentir o termômetro baixar para os 18 graus ou menos. Essa diferença é muito mais significativa quando estamos debaixo d’água. Na época em que fomos, as águas turvas são comuns,

com menos de 15 metros de visibilidade mas, em um instante, podem se tornar cristalinas, com clareza de 40 metros – e logo em seguida voltarem a ser opacas. Em minhas andanças pelo planeta, nunca vi um local tão dinâmico.

Por outro lado, a variedade e quantidade de vida marinha compensa todo e qualquer desconforto ou esforço físico. Somos rodeados por dezenas de raias-chitas e vemos

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No mergulho em Malpelo, vimos dezenas de raias-chita, tubarõesmartelo e muito mais
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de perto os lindos tubarões-martelo, com seu corpo em formato único, um design inspirador da natureza. Outros grandes tubarões também são vistos a toda hora, como o tubarão-de-galápagos e o lombo-preto. Cardumes colossais de peixes variados tornam cada mergulho uma experiência memorável. Barracudas, xaréus, guarajubas e outros parentes da mesma família (Carangídeos), entre outros igualmente impressionantes.

Para nossa agradável surpresa, nos deparamos com uma maravilhosa bancada de corais coloridos que se estende por três pontos de mergulho vizinhos que nunca decepcionam: El Arrecife, La Cara del Fantasma e La Pared del Naufrago. Essas formações coralíneas são bem menos frequentes neste lado do Oceano Pacífico do que no lado ocidental, onde temos a famosa Grande Barreira de Corais da Austrália, por exemplo.

Outro ponto de mergulho que fica na memória é La Nevera (a geladeira). Sim, lá pegamos as águas mais geladas da expedição, porém foi o local onde vimos os tímidos tubarões-martelo mais de perto, assim como outras formações de coral muito bonitas. Perto dali, La Porta del Cielo (a porta do céu) é uma grande caverna de tirar o fôlego.

TOP DESTINOS 147
Em La Nevera, a geladeira, pegamos as águas mais geladas da expedição, mas vimos de perto os martelo
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único liveabord que chega até Malpelo é o Ferox, da Colombia Dive Adventures GIGANTES DOS MARES / MALPELO
O

Dicas quentes

DOCUMENTAÇÃO

Não é necessário visto. Apenas passaporte válido.

VACINAS E COVID-19

É exigido comprovante internacional de vacina contra febre amarela.

Os viajantes totalmente vacinados contra a COVID-19 não precisam fornecer prova de um resultado negativo de teste para COVID-19. No entanto, viajantes parcialmente vacinados, bem como aqueles que receberam a última dose menos de 14 dias antes da viagem, devem fornecer um resultado negativo de teste para COVID-19. O resultado pode ser de PCR, obtido no máximo 72 horas antes da partida, ou de um teste de antígeno, obtido no máximo 48 horas antes da partida.

FORMULÁRIOS

Todos os viajantes devem preencher (online) um formulário de pré-registro (Check-MIG) pelo menos uma hora e no máximo 72 horas antes da partida para a Colômbia. Os viajantes deverão apresentar a confirmação da inscrição antes do embarque. O objetivo do Check-MIG é minimizar o tempo de interação presencial e o contato desnecessário entre as autoridades de imigração e os passageiros que chegam e saem do país.

COMO CHEGAR

A Copa Airlines tem voos de São Paulo – Panamá – Cali, com conexão na cidade do Panamá. O voo tem duração média de dez horas. Para mais informações e reservas: copaair.com

Cali COLÔMBIA

QUEM LEVA

La Pared del Náufrago La Nevera

La Puerta del Cielo

MALPELO

OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO

La Cara del Fantasma

El Alrrecife OCEANO PACÍFICO

Atualmente, há apenas uma embarcação operando mergulho em Malpelo, o Ferox, um robusto caça-minas sueco reformado. É operado pela Colombia Dive Adventures, do super experiente e atencioso Tony.

A nossa viagem teve duração de dez dias e nove noites. Para começar, deve-se passar ao menos uma noite em Cali, de onde sai o transfer da operadora que nos leva até o porto de Buenaventura, a cerca de quatro horas de viagem. Não é muito recomendado fazer o traslado por conta própria, visto que a cidade é relativamente caótica e esse é o principal porto utilizado pelo narcotráfico. Com o traslado da empresa, nos sentimos muito seguros e não presenciamos nada fora do comum.

Uma vez a bordo do Ferox, são cerca de 500 km de navegação tranquila, o que leva por volta de um dia e meio. O mesmo roteiro ocorre na volta, com a viagem terminando em Cali. Aliás, se a gastronomia também lhe atrai, Cali tem restaurantes muito bons como o Platillos Voladores. (platillosvoladores.com)

Mais informações e datas das próximas saídas: colombiadiveadventures.com

*Fábio Borges é fotógrafo, cinegrafista de natureza e defensor dos oceanos. Trabalha para TV Globo, Canal Off, National Geographic e colabora com instituições de pesquisa. @fabioborgesdocumentarista

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TOP DESTINOS
Textos e fotos MARCELO SKAF, das FILIPINAS* Nossos mergulhadores foram em busca dos mais coloridos e exóticos animais marinhos do planeta
formas
mar das Filipinas 150 GIGANTES DOS MARES / FILIPINAS
As cores e
do
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1. Mimetizado peixeescorpião

2. As formas e cores dos peixes impressionam

3. Caranguejo-deanêmona protegido em sua anêmona

4. Peixe-pedra esperando sua refeição passar para o ataque

5. Nudibrânquio exuberante 1

Raros, espetaculares e… pequenos, fomos à procura de animais marinhos difíceis de serem encontrados e vistos. Nosso destino é um dos locais mais incríveis do mundo para mergulhar com bichos exóticos: Dumaguete, nas Filipinas.

Quando se planeja uma viagem de mergulho, ou num simples bate-papo sobre a vida no mar, logo surgem as perguntas: “mas o que tem lá para ver?” ou “viram muitos bichos grandes?”, “alguma tartaruga?”.

Mais do que natural, essas perguntas permeiam o imaginário de muitas pessoas, e o encontro com grandes animais é a grande atração para a maioria dos mergulhadores que estão começando a carreira submersa. Mas os oceanos abrigam

muito mais que isso, e pode ser surpreendente estar aberto a novas experiências e encontros. Para dar alguns exemplos do leque de possibilidades, temos os mergulhos em naufrágios, em cavernas, em locais com gelo e uma modalidade que tem crescido muito, que é a de observação de pequenos animais. Costumeiramente, os mergulhadores se referem a esses locais como bons para macro, em alusão ao tipo de imagem que se faz quando usamos lentes que tornam pequenos animais grandes nas fotos. Então, quando dizemos que um determinado lugar é bom para macro, estamos nos referindo à grande quantidade de animais pequenos que podem ser observados.

2 3 152 GIGANTES DOS MARES / FILIPINAS

É claro que mergulhar com cardumes de tubarões-martelo em Galápagos ou com as raias-jamanta em Ilhas Socorro são experiências espetaculares, sem contar os encontros com golfinhos-rotadores no Mar Vermelho ou baleias jubarte em Silver Bank, na República Dominicana, que surpreendem até os mais experientes.

Um outro ângulo de visão dos mergulhos da categoria macro é o seguinte: imagine você na água num mergulho procurando um tubarão de três metros de comprimento ou uma tartaruga de um metro. Se esses caras estiverem por lá e no seu campo de visão, você os verá, não há dúvida. Agora tente achar um peixe-sapo ou um cavalo-marinho, por exemplo. Você sabe que eles estão lá, mas ou são pequenos ou estão escondidos ou camuflados e mimetizados, e por vezes tudo isso

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Dumaguete é um dos locais com maior biodiversidade marinha do planeta

ao mesmo tempo, o que torna a tarefa muito difícil. Essa é a graça dos mergulhos macro: os exploradores viram detetives à procura de pistas que levam aos encontros, uma verdadeira caça ao tesouro. Foi com esse espírito e com a missão de encontrar e documentar raros, exóticos e, por vezes, extremamente venenosos animais marinhos, que fomos, eu e meu companheiro de mergulho, o publisher da revista TOP Destinos Claudio Mello, até Dumaguete, nas Filipinas.

Pousando em Manila, capital das Filipinas, pega-se um voo doméstico da Cebu Pacific ou da Philippine Airlines (ambos com Airbus A319/320) em direção a Dumaguete, capital da província de Negros Oriental, na Ilha de Negros. Com uma população, segundo o censo de 2020, de cerca de 134 mil habitantes, é uma cidade uni-

versitária e um importante porto regional.

Uma vez na cidade, existe uma gama de opções de hotéis que oferecem saídas diárias de mergulhos.

Nossa base, na pequena cidade de Dauin, foi o renomado Atlantis Philippines Dive Resort, localizado a 30 minutos de carro do aeroporto, de frente para o mar, numa longa, calma e bela praia de areia com os mais variados tons. Dauin estabeleceu diversos santuários marinhos com a pesca e ancoragem proibidas, e essa é uma das razões da incrível conservação da biodiversidade marinha encontrada por lá.

Os mergulhadores partem sempre da praia localizada na frente do hotel em pequenos barcos adaptados à prática com cilindros, e em poucos minutos de uma navegação tranquila há diversos pontos de imersão.

154 GIGANTES DOS MARES / FILIPINAS

Tínhamos alguns objetivos em mente, com boa chance de sucesso: encontrar os camuflados peixes-sapo, os cavalos-marinhos, peixes-folha, peixes-escorpião, todos exóticos em suas formas e únicos no mundo. Mas havia três itens em nossa lista mental que seriam mais complicados. Para dois deles nos preparamos, estudamos os melhores locais, planejamos e trocamos muita informação com os divemasters locais: o coloridíssimo peixe-mandarim e a venenosa serpente marinha do Pacífico. No entanto, o mais almejado era encontrar um dos animais mais venenosos e raros dos oceanos, o polvo-dos-anéis-azuis.

Preparamos as câmeras e treinamos o olhar — sim, treinamos o olhar para as formas dos animais que tínhamos como objetivo encontrar. Esse é um dos segredos, saber qual animal procurar, sua

forma, como se camufla e se mimetiza. Animais como os polvos ainda conseguem mudar de cor para ficarem iguais à paisagem ao seu redor, aí temos nossa caça ao tesouro.

Mas Dumaguete não nos decepcionou, e mergulho após mergulho íamos encontrando nossos amigos exóticos e raros.

No quarto dia, já havíamos visto muita coisa da nossa lista, mas nada dos três objetivos maiores. Nada que tirasse nossa empolgação ou entu-

155 TOP DESTINOS
A água azul-turquesa é um convite ao mergulho

siasmo, pois cada animal visto e fotografado era motivo de comemoração.

Todos apareceram: cavalo-marinho, peixe-sapo, nudibrânquios, peixe-escorpião, peixe-de-anêmona ou palhaço (o Nemo, imortalizado pelo filme da Disney), caranguejos e camarões das mais variadas formas, peixe-folha-fantasma, e por aí vai. Um festival de formas, cores e texturas.

Após muitos encontros, começamos a nos preocupar com as três estrelas da nossa viagem e decidimos fazer mergulhos dedicados, ou seja, ir a lugares em horas e condições específicas para encontrar apenas aqueles animais. Uma decisão arriscada, mas necessária.

Nosso primeiro alvo foi o peixe-mandarim, um dos mais coloridos do mundo, e com cores quase que fluorescentes, em especial o azul, uma mistura psicodélica. Extremamente tímido, ele chega a apenas seis centímetros de comprimento e vive em águas rasas e quentes. Passa o dia escondido

1. Peixe-palhaço ou Nemo oxigenando seus ovos

2. O incrível, raro e venenoso polvo-dos-anéis-azuis

3. Cavalo-marinho com cores mágicas

156 GIGANTES DOS MARES / FILIPINAS
Muita atenção e procura revelam os segredos das Filipinas
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3 157 TOP DESTINOS
158 GIGANTES DOS MARES / FILIPINAS

entre pedaços de corais mortos, sendo difícil de vê-lo e mais ainda de fotografá-lo. Tanta timidez nos exigiu paciência e mudanças no planejamento do mergulho, isso porque, apesar da timidez, o mandarim tem um ritual reprodutivo espetacular que ocorre ao pôr do sol. Nos organizamos da seguinte forma: primeiramente precisaríamos estar no local adequado, ou seja, águas quentes e rasas com muitos esconderijos para os peixes — convenhamos que muitos lugares são assim no recife de coral —; depois, achar uma “casa” de mandarins e, por fim, esperar que naquele específico dia eles estivessem com instintos reprodutivos aguçados. Sem mencionar o detalhe da lanterna — sim, pois nossa chance era encontrá-lo em um fim de tarde e, por consequência, já com a necessidade de lanternas. Recordam-se do termo tímido usado nesse texto? Pois é, eles só saem da toca para reprodução com — acreditem — luzes em tons vermelhos

para não atrapalhar o namoro. Estávamos a postos, Claudio com a lanterna vermelha iluminando, e eu pronto para fotografar, trabalho de equipe.

Mesmo com tudo perfeito, lugar certo, hora certa, luz certa, nada foi fácil, pois o ritual envolve uma saída rápida de cerca de dois ou três segundos a apenas alguns centímetros dos corais na coluna d’água, e para piorar, cada vez saem da toca em um local diferente. Muita paciência e conseguimos documentar o ritual reprodutivo dos mandarins: objetivo alcançado, casal fotografado.

159 TOP DESTINOS
As cores, formas e texturas impressionam até os mais experientes

1 GIGANTES DOS MARES / FILIPINAS

Lá fomos nós para o segundo objetivo, as serpentes. Não estamos falando de alguns peixes que têm forma de enguia, e sim de répteis — e, nesse caso, altamente venenosos. Somente encontradas nos oceanos Índico e Pacífico, as serpentes habitam águas quentes e têm a ponta da cauda em forma de remo para facilitar a natação. Como todo réptil, elas precisam de tempos em tempos vir à superfície respirar (assim como as tartarugas marinhas), mas conseguem absorver oxigênio pela pele que é recoberta por escamas, o que permite longos mergulhos. Podendo chegar a 1,5 metro de comprimento, são ativas caçadoras de peixes nos recifes de coral.

Para encontrá-las foi necessário um maior deslocamento, e fomos para um importante ponto de mergulho a cerca de 1h30 de navegação da nossa base, a ilha de Apo. Com seus recifes de

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mergulho

1. A venenosa serpente marinha do Pacífico

2. Claudio Mello observa uma tartaruga-verde

3. Embarcações aguardando mergulhadores em Apo

A Ilha de Apo se mostrou um grande ponto de
coral muito conservados, tínhamos apenas dois mergulhos para localizar nosso objetivo. Depois de um mergulho lindo, mas sem serpentes, fomos muito atentos para a segunda imersão, e faltando apenas cinco minutos para retornarmos à superfície, senti uma puxada brusca em meu ombro: era o Claudio, que achou a nossa serpente. Devidamente registrada, estendemos o quanto pudemos nosso retorno ao barco. Mais um animal da nossa lista encontrado. 160
3 161 TOP DESTINOS

Ver o polvodos-anéisazuis foi o ponto alto

1. O encontro com um dos mais venenosos animais marinhos do planeta, o polvodos-anéis-azuis

2. Laranja, preto e verde: esse nudibrânquio brilha embaixo d’água

1

Apesar da incessante busca, faltava apenas mais um dia de mergulho e nada do nosso ilustre anfitrião, o polvo-dos-anéis-azuis. Esse magnífico animal mede apenas cerca de 18 centímetros e tem seu nome devido ao corpo amarelado recoberto por anéis brilhantes azuis. Reconhecido como um dos animais marinhos mais venenosos do mundo, em função da sua neurotoxina chamada de tetrodotoxina, é letal para humanos.

Como havíamos tentado encontrá-lo perto dos recifes de coral sem sucesso, e sabendo que os guias locais o encontram em apenas um a cada cem mergulhos, decidimos fazer um mergulho diferente e tentar a sorte, um muck diving, expressão em inglês que se refere a um local que a princípio parece deserto e sem nada de vida, geralmente com areias vulcânicas negras, pouco inspirador. O mergulho muck envolve paciência e muita atenção durante sua exploração. Mas esse tipo de mergulho, quando feito da forma correta, é surpreendente e fascinante, e coisas raras podem aparecer. O ponto de mergulho com essas características mais icônico do mundo é o Estreito de Lembeh, na Indonésia, mas Dumaguete se

mostrou um adversário à altura. Nos 28 metros de profundidade com uma corrente que não estava ajudando muito, lá estava ele: com não mais de dez centímetros de comprimento, como num trono em cima de uma pequena rocha em meio à areia negra, reinava absoluto o nosso primeiro polvo-dos-anéis-azuis, que emoção. Como oceanógrafo, sabia da raridade daquela oportunidade, um verdadeiro presente do mar para nós. Saímos da água em êxtase, com a sensação de missão cumprida.

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Dicas quentes

COMO CHEGAR

A Ethiopian Airlines oferece voos diretos, de aproximadamente 12 horas de duração, de São Paulo para Addis Abeba. De lá, você pode pegar outro voo para Manila, capital das Filipinas, de onde é possível embarcar para Dumaguete em um voo doméstico, de uma hora e meia, da Cebu Pacific Air, da Philippine Airlines ou da Philippines AirAsia. Há também a opção de voar com a Qatar até Manila, saindo de São Paulo e fazendo uma escala em Doha.

ethiopianairlines.com qatarairways.com cebupacificair.com flyphilippineairlines.com airasia.com

DOCUMENTOS E VACINAS

O passaporte deve ser válido por pelo menos seis meses, mas brasileiros não precisam de visto para uma viagem de até 59 dias para o destino. Além disso, é obrigatório apresentar o Certificado Internacional de Vacinação contra a febre amarela. E não se esqueça de confirmar as atualizações e restrições de viagem referentes à Covid-19.

MOEDA E IDIOMA

A moeda local é o Peso Filipino. A língua filipina e o inglês são os idiomas oficiais.

QUANDO IR

A melhor época é de outubro a começo de junho. Evite outros meses, que podem ter chuvas e ventos fortes.

O QUE LEVAR

- a água é quente nas Filipinas, entre 25 e 27 graus Celsius, uma roupa de até três

FILIPINAS

milímetros resolve para os mergulhos; - leve lanterna de cor normal e uma vermelha, essa última assusta menos os animais marinhos;

- estude os animais que deseja procurar e esteja familiarizado com a forma de seu corpo;

- avise aos guias de mergulho o que você procura, pois eles têm muita experiência no local e podem facilitar os encontros;

- o trânsito, por vezes caótico, requer tempo para deslocamento até o aeroporto, fique atento.

- mergulhar de snorkel com tubarões-baleia pode ser uma alternativa aos mergulhos regulares. Os melhores pontos são em Oslob, na Ilha de Cebu

ONDE FICAR

Uma das melhores opções de hospedagem é o Atlantis Philippines Dive Resort & Liveaboards. Ele tem confortos na medida certa, além de barcos e uma equipe bem especializada para ajudar nos mergulhos. atlantishotel.com

*Marcelo Skaf é fotógrafo, oceanógrafo, cinegrafista e documentarista de natureza há 20 anos. Já explorou os cinco continentes ao longo de sua vida. @skaf.marcelo

MAR DA MERIDIONAL MAR DE CELEBES MAR DAS FILIPINAS Luzon Panay Legazpi Mindanao Gen. Santos Zamboanga Palawan Mindoro Negros Manila Davao Cebu
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Cara a cara com o rei dos mares

Mergulhadores de oito nacionalidades navegaram por 2.440 quilômetros para explorar sete ilhas remotas do Pacífico e registrar, entre outros animais, tubarões de oito espécies, inclusive o maior predador dos oceanos

Por LAWRENCE WAHBA* fotos MARCELO SKAF*, da ILHA
GIGANTES DOS MARES / ILHA DE GUADALUPE 164
TOP DESTINOS 165

– Shaaaaark! Shaaaaaaaark! Shark!

Gritos histéricos ecoam no convés. A poucos metros do barco, uma nadadeira dorsal rasga a superfície, tornando real a imagem clichê perpetuada pelo cinema e pelos cartoons. A transparência da água não deixa qualquer dúvida: um enorme tubarão-branco, de quase quatro metros de comprimento, se aproxima lentamente. A agitação toma conta da embarcação. Todo mundo corre em direção ao mar. Três felizardos, que ganharam esse direito por sorteio, ajustam os equipamentos de mergulho e se preparam para pular na água antes dos outros.

Olhando de fora, a cena não faz nenhum sentido, parece que todo mundo está indo na “contramão”. Estamos na Ilha Guadalupe, a cerca de 150 milhas náuticas (270 quilômetros) da Costa da Baja California, no México, palco de uma das maiores concentrações de tubarões-branco do mundo. A bordo do MV Nautilus Explorer, 22 mergulhadores de oito nacionalidades navegaram 28 horas justamente para ter a oportunidade de ficar cara a cara com o maior predador dos oceanos. Do Brasil, além de mim, estão o publisher da TOP Destinos Claudio Mello e o fotógrafo e oceanógrafo Marcelo Skaf, meu parceiro de expe-

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dições há 24 anos e autor das fotos desta matéria. Cada um dos mergulhadores a bordo tem sua história e suas razões para estar aqui. O corretor de valores francês François Pagano, que trabalha em Wall Street, brinca que, cansado dos tubarões de gravata, resolveu fotografar os tubarões de verdade. Nem todo mundo é turista aqui. Para nós, essa viagem tem um sabor especial: trata-se do início do projeto Gigantes dos Mares. Idealizado por Claudio, o objetivo do projeto é divulgar a importância de preservar grandes animais marinhos. Ideia que teve sua semente plantada na viagem anterior que fizemos para a África do Sul,

1. Tubarão-branco visto de dentro da gaiola de fundo

TOP DESTINOS 167
A emoção é quase incontrolável ao ver um tubarão-branco de quatro metros se aproximar

para assistir à corrida da sardinha e ver o maior cardume da Terra, considerado o Everest dos mergulhos. Dessa vez, foram produzidas reportagens, um livro, exposição de fotos e vídeos, na internet e na televisão. “Sempre sonhei em ser um pouco Jacques Cousteau”, diz Claudio, sorridente.

Havíamos embarcado havia duas noites. Era, portanto, apenas o terceiro dia de uma Expedição que percorreu 2.440 quilômetros, explorou sete ilhas remotas do Pacífico Mexicano e registrou,

entre outros animais, tubarões de oito espécies. O Nautilus Explorer faz essa viagem apenas uma vez ao ano e tivemos o privilégio de estar nele.

O sol mal havia raiado naquela manhã mágica e a ilha parecia um arco-íris. O laranja do sol se misturava com o dourado das encostas rochosas. Ambas as cores refletiam no mar e à medida que o dia ia clareando, as cores da paisagem mudavam, criando um espetáculo impossível de ser traduzido em palavras. Quando nos demos conta,

GIGANTES DOS MARES / ILHA DE GUADALUPE 168
1

três tubarões-brancos já rondavam o barco. A experiente tripulação baixou as gaiolas de metal e os mergulhadores começaram a se revezar nelas. Mesmo eu, o mergulhador mais experiente a bordo, já na sétima expedição para filmar o tubarão-branco, incluindo uma em que tinha autorização especial para deixar a gaiola, estava ansioso pela minha vez. Marcelo estava em sua segunda, mas as águas turvas da África do Sul não haviam colaborado com as imagens na primeira experiência

1. Ilha de Guadalupe com nosso barco ancorado no local de encontro com os tubarões-brancos

TOP DESTINOS 169
A Ilha de Guadalupe é habitada por apenas 30 famílias de pescadores

em que o Claudio estava prestes a mergulhar com o “rei dos mares” pela primeira vez. Todos quicavam de ansiedade.

A história de Guadalupe

Enquanto esperávamos a nossa vez de mergulhar, admirávamos a ilha e com binóculos obser-

vávamos a colônia de mamíferos marinhos que tomavam conta da praia. Durante a noite, toda uma sinfonia de lobos, leões e elefantes marinhos mal nos deixou dormir. Agora podíamos ver, mesmo que a distância, os autores da gritaria.

Não há sinal de presença humana na baía nordeste da ilha onde estávamos ancorados. Árida e remota, Guadalupe é habitada por cerca de 400 mil pessoas, incluindo algumas famílias de pescadores.

Nos séculos 18 e 19, o local foi muito explorado por caçadores de peles russos e americanos

GIGANTES DOS MARES / ILHA DE GUADALUPE 170

que levaram o lobo-marinho de Guadalupe, espécie endêmica daqui, à beira da extinção. Em 1844, o animal foi declarado extinto na natureza, mas, anos depois, uma Expedição do Museu Smithsonian, nos Estados Unidos, registrou a presença de um pequeno número desses animais, fazendo com que o governo mexicano começasse a tentar proteger a ilha em 1922. Os mamíferos marinhos são uma das razões que atraem os tubarões-brancos para a região, mas, curiosamente, aqui o predador é mais ameaçado do que as presas.

2005, a ilha se tornou Reserva da Biosfera e se transformou em um santuário de tubarões-brancos 1. A equipe planejando a rota de exploração 2 e 3. Nossa embarcação durante a Expedição Gigantes dos Mares, o Nautilus Explorer TOP DESTINOS 171
Desde

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Pescado por décadas por frotas industriais espalhadas pelo Pacífico, o Carcharodon carcharias, ou simplesmente grande-tubarão-branco, é hoje parte da lista das espécies ameaçadas de extinção. Não é à toa. Seu ciclo reprodutivo é lento e as fêmeas só começam a reproduzir por volta dos 12 anos de idade. Ao serem dizimadas, as populações da espécie demoram muito para se recupe-

1. Claudio Mello entrando na gaiola de fundo para um mergulho a dez metros

2. Smartphone Samsung S8 dentro de uma das gaiolas fotografando os grandes-brancos, como são conhecidos pelos mergulhadores

rar. Protegido em vários países, o grande-branco ainda é vítima da pesca esportiva, da pesca incidental e da pesca ilegal. O México declarou a ilha “Reserva da Biosfera” em 2005, e procura fiscalizar as águas em seu entorno, transformando Guadalupe num dos principais santuários do mundo para os tubarões-brancos.

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O turismo aliado à ciência e à conservação Apesar de ser considerado o peixe mais famoso dos oceanos, principalmente devido à repercussão do filme Jaws nos anos 1970, a ciência ainda sabe muito pouco sobre os hábitos desses magníficos animais. Entretanto, sabe-se que, assim como todos os predadores de topo, são essenciais para o equilíbrio dos mares. Precisamos de muito mais informações para poder preservar a espécie, e o turismo tem um papel fundamental nesse processo.

Expedições como a que participamos são organizadas por diversos operadores de turismo certificados pelo Governo Mexicano e não só garantem que a ilha tenha “olhos” durante a temporada de tubarões-brancos, como colaboram direta e indiretamente com pesquisas científicas.

víduos por meio delas. Atualmente, muitos já foram catalogados. Com o passar dos anos, os cientistas vão coletando peças de um quebra-cabeças que ajuda a desvendar hábitos da espécie. Assim descobriu-se, por exemplo, que grandes fêmeas em idade reprodutiva repetem padrões migratórios, visitando a ilha a cada dois ou três anos. TOP DESTINOS 173

Imagens feitas por profissionais como nós ou por turistas que nos acompanham são cedidas a pesquisadores que conseguem identificar os indiA Expedição Gigantes dos Mares fez 15 mergulhos em apenas três dias, e foram identificados mais de 15 tubarões diferentes
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Os operadores de turismo também criaram um fundo que financia pesquisas de ponta, com o uso de transmissores de sinal via satélite, que são fixados nos tubarões e permitem que suas rotas migratórias sejam conhecidas.

Chegou a nossa vez

Depois de uma hora e 20 minutos de espera, chegou nossa vez de mergulhar! O barco conta com três gaiolas de observação de tubarões. Uma delas é submersível, sendo baixada por um guincho até os dez metros de profundidade. As outras duas ficam na superfície, presas à popa. Cada mergulhador tem direito a quatro mergulhos diários, dois no fundo e dois na superfície, em sistemas de rotação.

Demos sorte, nosso primeiro mergulho foi na

gaiola de fundo. Acostumado, entrei tranquilo nesse “elevador” para o paraíso. A maioria das pessoas deve nos achar malucos, imaginando que estávamos prestes a viver um pesadelo infernal com altas doses de adrenalina, mas a realidade é bem diferente...

Antigamente, suculentos pedaços de atum eram amarrados às gaiolas, fazendo com que os tubarões fossem atraídos e sempre aparecessem nas imagens com a boca escancarada e os enormes dentes à mostra. Isso ajudou a ampliar a fama de monstro assassino que eles carregam até hoje. As nossas gaiolas não carregavam sangue nem isca. As regras de turismo de observação em Guadalupe tentam reduzir ao mínimo a quantidade de comida dada aos animais. Na superfície, alguns pedaços de atum são amarrados a cordas com uma

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boia e usados para atrair os tubarões para próximo do barco, mas os marinheiros fazem de tudo para “driblá-los” e evitar que comam.

À medida que a gaiola vai descendo, uma sensação de paz toma conta de nós. O azul das águas de Guadalupe chega a ser inebriante. Trata-se, sem dúvida alguma, do melhor lugar do mundo para fotografar tubarões-branco. Eles nadam tranquilamente à nossa volta, mais curiosos do que agressivos. Em algumas ocasiões, chegam tão perto que é duro resistir à vontade de acariciá-los. Mas as regras do parque são claras: é proibido tocar nos animais, para não estressá-los e evitar acidentes.

Infelizmente a gaiola em que estávamos tem um grave erro de projeto. Uma barra nas quinas atrapalha os movimentos de câmera, ainda mais

de uma grande como a minha de vídeo ou a fotográfica do Skaf. Fazer imagens fica mais difícil, e temos de nos concentrar muito. Embora eu critique esse aspecto técnico, a gaiola peca pelo excesso de segurança, deixando os mergulhadores tranquilos para contemplar o espetáculo à sua

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O azul das águas torna o destino um dos melhores lugares do mundo para fotografar os grandes-brancos

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frente. Ver um grande tubarão-branco em seu habitat é um privilégio para poucos. Trata-se de uma criatura moldada à perfeição por 400 milhões de anos de evolução. Isso quer dizer que seus ancestrais nadavam nos mares do planeta milhões de anos antes do surgimento dos dinossauros. Temos a chance de testemunhar um verdadeiro fenômeno da natureza. Todo poder da criação compactado numa criatura de carne e cartilagem (tubarões não têm esqueleto ósseo)!

Recorde no primeiro dia!

Ao longo de nosso primeiro dia em Guadalupe, fiz cinco mergulhos. Mesmo protegido por uma roupa de neoprene semisseca de sete milímetros, depois de três horas na água a 18 graus, o frio fez-se sentir e, ao fim da tarde, subi no barco batendo os dentes.

O meio americano, meio canadense Aaron, Capitão do Nautilus Explorer, me recebeu radiante no convés. Análises preliminares da pesquisado-

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ra Maya Santangelo, a bordo conosco, indicavam que as câmeras dos mergulhadores haviam registrado ao menos dez tubarões-brancos diferentes!

À noite, após revisar minuciosamente as imagens, Maya nos traz a notícia: foram identificados 15, melhor marca que o capitão e a pesquisadora já tiveram em anos e anos de operação na região. A Expedição Gigantes do Mares é pé-quente mesmo!

Ao longo de três dias, fizemos uma maratona que totalizou 15 mergulhos, um melhor do que o

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Uma expedição marcante para torcer pela preservação, ajudar nas pesquisas e admirar o rei dos mares

outro. Filmamos e fotografamos tubarões-brancos de vários tamanhos, inclusive grandes fêmeas com mais de cinco metros de comprimento. Na gaiola de fundo, observávamos esses poderosos gigantes nadando suavemente e, nas de superfície, assistíamos de camarote o jogo entre os tubarões tentando comer a isca e os marinheiros tentando evitar, puxando o cabo a cada vez que uma bocarra se escancarava. Quando um grande-branco conseguia comer, batíamos palma até debaixo da água, afinal, todo mundo a bordo torce por eles. E é exatamente disso que se trata uma viagem como essa. De torcer pelos tubarões. De admirar o poder do rei dos mares. De contribuir com a pesquisa. De saber que, enquanto houver santuários como a Ilha Guadalupe, os grandes-tubarões-brancos poderão viver em paz, protegidos do pior predador que já habitou este planeta: nós, seres humanos!

Grande tubarão-branco

Nome Científico: Carcharodon charcharias Distribuição: Ocorre em todos os mares tropicais e subtropicais do planeta – apesar de raros, há registro desses animais em águas brasileiras. Tamanho máximo: Há controvérsias, e as fontes bibliográficas se contradizem em relação ao tamanho e peso máximo já registrados para a espécie – muitos livros mencionam até 7 metros de comprimento, mas a média dos machos adultos é de 3,5 a 4 m e das fêmeas, de 4,5 a 5 m. O maior tubarão-branco medido oficialmente pela ciência tinha 5,94 m. Podem ultrapassar 2,5 toneladas. Presas: Suas principais presas são mamíferos marinhos. Além de predadores, também são carniceiros, comendo carcaças de animais já mortos. Ataques a humanos: Devido ao grande porte e ao fato de se alimentarem naturalmente de mamíferos marinhos, o grande-tubarão-branco é, sem sombras de dúvidas, a espécie de tubarão

mais perigosa ao homem. Segundo o ISAF (sigla em inglês para International Shark Attack File), instituição ligada ao Museu de História Natural da Flórida, que se dedica a catalogar todos os ataques de tubarões contra humanos, seja através de registros históricos ou de investigações diretas, de 1580 (1o registro) até hoje foram comprovados 858 ataques de tubarões a pessoas, sendo 314 deles por tubarões-brancos. Curiosidade: A cada ano ocorrem, em média, 84 ataques de tubarões de todas as espécies a seres humanos no mundo todo, e menos de 10% são fatais (no caso de ataques de tubarão-brancos, cerca de 30% causam morte da vítima). A título de comparação, nos EUA uma pessoa tem 75 vezes mais chances de morrer vítima de um raio do que atacada por tubarão.

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Dicas quentes

Cada um dos três barcos da Nautilus Fleet faz apenas uma expedição por ano como a que fizemos, que compreende mergulhos em sete ilhas remotas ao longo de 15 dias e mais de 2.400 quilômetros de navegação. Entretanto, viagens para observação de tubarões-brancos ocorrem frequentemente entre julho e novembro. nautilusliveaboards.com

COMO CHEGAR

Não existem voos diretos conectando o Brasil a Guadalupe. O ideal é pegar um voo direto para Miami (aproximadamente oito horas de duração) e de lá embarcar para Pointe-à-Pitre (aproximadamente três horas de duração), a principal cidade de Guadalupe.

DOCUMENTOS E VACINAS

É necessário passaporte válido, mas brasileiros não precisam de visto para viagens de turismo. Não se esqueça de confirmar as atualizações e restrições referentes à Covid-19.

MOEDA E IDIOMA

A moeda local é o Euro. E francês é a língua oficial.

Ilha de Guadalupe

O QUE LEVAR

MÉXICO GOLFO DO MÉXICO GOLFO DA CALIFÓRNIA

- Roupa de mergulho sete milímetros com luvas e capuz. A água tem 18oC e dentro das gaiolas nos movimentamos muito pouco, o que faz com que percamos calor rapidamente.

- Agasalhos para usar a bordo. Os dias são quentes, mas as noites são frescas, e com vento a sensação térmica é de frio.

- Remédio para enjoo: a navegação até a ilha leva 28 horas, muitas vezes com mar bravo. Procure seu médico para dicas da medicação mais adequada para você.

- Lanchinhos: apesar de o barco ter serviços e acomodações de alto

nível, a comida deixou muito a desejar. Chocolates, barras de cereal, frutas secas e demais lanchinhos podem ser “salvadores”.

- Câmeras: Não deixe de levar a melhor câmera subaquática que couber no seu bolso, as oportunidades de filmar e fotografar são incríveis!

*Laurence Wahba é mergulhador, cinegrafista, recordista de documentários da NatGeo e já ganhou um Emmy. @lawrence.wahba

*Marcelo Skaf é oceanógrafo, fotógrafo e cinegrafista de natureza. @skaf.marcelo

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Bebida aos chocólatras

O licor de chocolate é a aposta perfeita

Parece que tudo fica mais gostoso com chocolate, não é mesmo? Esse ingrediente tem a capacidade de acalmar e confortar o coração. Agora, se o cacau for de origem sustentável, melhor ainda. E se for pronto para beber e ainda com um toque de álcool? Aqui, nós te mostramos que essa pode ser uma excelente combinação.

Para quem gosta de bebidas alcoólicas mais docinhas, o licor é sempre uma ótima opção e, misturado com cacau, é uma explosão na boca. A boa nova que acaba de desembarcar no Brasil é o Licor 43 Chocolate, da espanhola Zamora Company, que une a combinação botânica das ervas aromáticas do Licor 43 Original com cacau de origem 100% sustentável.

“A ideia surgiu para comemorar os 75 anos da Zamora, já que a mistura entre Licor 43 e chocolate era bastante popular na Espanha nos anos 1970 e 80. Mas, além disso, internamente já notávamos em vários mercados que os nossos posts relacionados com sobremesas de chocolate sempre faziam muito sucesso. Para nós aqui no Brasil e na América do Sul é ótimo porque somos apaixonados por chocolate”, explica Tomas Lellis Vieira, gerente da América do Sul para Zamora Company.

O novo sabor é resultado de uma parceria com o chocolatier dinamarquês Anton Berg. Além de consumi-lo puro e bem gelado – tal qual a marca recomenda –, você pode combinar este licor versátil em diferentes sobremesas.

ÁUSTRIA ITÁLIA ESPANHA

“A categoria ‘licor’ parecia esquecida por parte importante do mercado e dos consumidores. Era vista como antiquada e vinha sendo sustentada por uma base de apreciadores fiéis. O consumo era basicamente como digestivo depois do almoço de família. Entendo que Licor 43 e o nosso coquetel, o Carajillo, que é Licor 43 + café espresso + gelo, conseguiram mudar essa dinâmica. Além disso é comumente usado em coquetéis, sendo a parte doce das receitas”, conta Tomas Lellis Vieira.

OCEANO ATLÂNTICO MAR NEGRO MAR DO NORTE MAR DA NOREGA MAR MEDITERRÂNEO
MAPA DA BEBIDA / LICOR DE CHOCOLATE 182

Licor 43 Chocolate

Importado com exclusividade pela Aurora Fine Brands, o Licor 43 Chocolate possui 16% de teor alcoólico e cacau de origem 100% sustentável, cujo fornecedor é parceiro do Cocoa Horizons (cocoahorizons. org). “A sugestão é deixar a garrafa 24 horas na geladeira e servir numa tacinha de licor – o produto fica cremoso. Também pode adicionar gelo, se quiser diluir um pouco o produto, aí você altera principalmente a textura. Por último, é possível fazer um Carajillo. Basta adicionar 50 ml do licor + gelo + 1 expresso curto. O sabor lembra um capuccino”, sugere Tomas Lellis Vieira.

+infos: licor43.com.br

BOTTEGA Nero Liquore al Cioccolato

Original da região de Vêneto, na Itália, este licor contém cacau proveniente de uma planta cujo nome é “Theobroma”. Com aroma intenso de chocolate e notas de cacau amargo no final, o Nero Bottega é cremoso, suave, tem teor alcoólico de 15% e um toque final de grappa, o que o torna único e inconfundível. Importante destacar que ele não contém leite, portanto, pode ser apreciado por intolerantes às proteínas do leite ou à lactose.

+infos: bottegaspa.com

Mozart Chocolate Cream

Super premiado, o licor de chocolate da marca austríaca Mozart é feito artesanalmente apenas com ingredientes naturais, sem glúten e refinado com chocolate belga. Com teor alcoólico de 17%, tem sabor encorpado e cremoso combinado com notas aromáticas de baunilha e cacau. A Destilaria Mozart produz a bebida desde 1770 na cidade de Salzburgo, na Áustria, e o nome é uma homenagem ao compositor Amadeus Mozart, que nasceu na cidade austríaca.

+infos: mozartchocolateliqueur.com

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Uma vida no fundo do mar

Comecei a me interessar por mergulho quando tinha 15 anos. Na verdade, meu tio paterno Michel mergulhava e sempre tinham cilindros na casa da minha avó, e aquilo me fascinava. Sempre fui muito da água e fiz meu primeiro curso de mergulho no Mar Vermelho, em Israel. Em 1994, estava com 22 anos e no auge da minha paixão por mergulho; com isso, comecei a convidar amigos para mergulhar. Depois, entrei na sociedade de uma loja de equipamentos com um amigo em Alphaville, e dali não parei mais de me aprofundar nesta área. Fiquei com a loja por algum tempo até chegar à conclusão que daria apenas aulas. Para mim, é muito prazeroso ensinar alguém a mergulhar. Em 2005, abri a Viajan e, até hoje, só atendo meus amigos e pessoas pré-indicadas. Tenho

uma equipe de dez pessoas que me ajudam a organizar essas viagens customizadas, mas gosto que todas tenham o meu DNA. Hoje em dia, costumo fazer seis viagens só para mergulho por ano. Mas ao longo dos anos tive várias temporadas de três meses direto em destinos recebendo pessoas, como Bonaire (no Caribe) e Sharm el-Sheikh (cidade egípcia entre o

deserto da península do Sinai e o Mar Vermelho), que fui mais de 36 vezes. Fui esse tanto de vezes pois meu irmão morava em Jerusalém, então cruzava a fronteira e subia de carro ou avião, e ainda passava um tempo com meu irmão. Existem grandes diferenças entre esses destinos. Bonaire, por exemplo, tem um recife muito saudável, pois está fora da rota de furacões e

DIÁRIO DE BORDO / MERGULHO
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tem uma grande particularidade, que é o fato dos cilindros serem ilimitados para mergulho de praia. Você pega quantos cilindros quiser e os pontos são identificados com pedras amarelas na água. Em Bonaire, você faz naufrágio, mergulhos noturnos saindo de piers, consegue encontrar cavalos marinhos e frogfish – uma espécie bem peculiar de lá. Já no Mar Vermelho,

o grande diferencial é que todos os mergulhos são embarcados –ou você viaja em um liveaboard, ou sai muito cedo para sua expedição –, e a vida marinha é mais completa, com mais peixes coloridos, espécies venenosas, corais diferentes, moluscos, peixes pequenos e ornamentais, além dos naufrágios.

Todo ano, desde 1996, volto para

as Maldivas e fico cerca de um mês. Gosto de mergulhar em Baa Atoll para ver raias-manta e tubarões-baleia. Costumo ficar no Conrad Rangali Island (Sul) ou no Velaa Private Island Resort (Norte). Também já fiquei bastante tempo ao longo da minha vida em Fernando de Noronha.

Uma das experiências mais desafiadoras que tive foi o Sardine Run, na África do Sul. Foi desafiador por dois motivos: primeiro, a saída de bote da praia e ter que atravessar ondas de dez metros; segundo, o fato de termos ido muito no final da temporada e, com isso, mergulhamos com muitos predadores e pouca sardinha. Ainda quero voltar, mas em outro período.

Outra das viagens mais marcantes foi a primeira vez que mergulhei em Galápagos, no meio dos cardumes de tubarão-martelo com cerca de mais de mil espécies de uma vez, e vi tubarão-baleia de 18 metros: impossível esquecer.

Entre meus sonhos, está o de conhecer Vanuatu, um país na Oceania, e Okinawa, no Japão. Ainda vou!

*Jan Neumark é viajante, mergulhador e apaixonado por animais e conhecer o mundo. Dono da Viajan Turismo, que faz uma curadoria e forma grupos de pessoas interessadas em mergulhar pelo mundo. @aquamansp

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Frotas

SAAB 34oB/Plus

Embraer ERJ-145LR

Boeing 747 - 451

Bombardier CRJ - 200ER

Bombardier CRJ - 700

Boeing 747 - 251B

Bombardier CRJ - 900ER

McDonnell Douglas DC- 9 - 32

Boeing 777 - 232

McDonnell Douglas DC- 9 - 41

Boeing 767 - 432

Boeing 767 - 332

McDonnell Douglas DC- 9 - 51

McDonnell Douglas MD - 88

McDonnell Douglas MD - 90

Boeing 767 - 332

Embraer ERJ - 170SU

Boeing 757 - 351

Embraer ERJ - 175

Airbus A319

Boeing 757 - 2Q8

Boeing 757 - 232

Boeing 737 - 832

Boeing 737 - 732

Airbus A320 Airbus A330 - 200

Airbus A330 - 300

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Glossário

Um guia essencial para planejar a viagem

emergência. Leve com você – não despache! Deixe uma cópia no Brasil com algum familiar.

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

Para viagens nacionais, é preciso portar documento original com foto, dentro do prazo de validade. Pode ser carteira de identidade, passaporte, carteira de trabalho, carteira de habilitação, identidade trabalhista. Para os países do Mercosul, é possível embarcar portando apenas o RG original. Já para o exterior são necessários: o passaporte com validade mínima de 6 (seis) meses; visto (quando exigido pelo país de destino); e, se solicitada, a carteira internacional de vacinação, validada pela Anvisa.

PASSAPORTE BRASILEIRO

Para fazer ou renovar seu passaporte, preencha o formulário no site da Polícia Federal (www. pf.gov.br/servicos-pf/passaporte). No dia do atendimento, leve: RG, certidão de casamento atualizada (em caso de alteração do nome), título ou certificado de quitação eleitoral, certificado de serviço militar obrigatório (homens) e o comprovante de pagamento da Guia de Recolhimento da União –GRU para a emissão do passaporte. Atenção: como não há renovação, você precisa fazer o processo do zero. Desde 2015, o passaporte brasileiro é válido por 10 anos.

(modelos no site da PF); certidão de nascimento do menor; documento de identidade dos pais; e a presença do menor no requerimento e na retirada do passaporte. Há três modelos de passaporte: com a autorização prévia para viagem com um dos pais; com a autorização prévia para viagem com um dos pais ou desacompanhado; sem autorização prévia, necessitando de autorização a cada viagem.

CÓPIA DE SEGURANÇA

Fotografe seus documentos de viagem e mande por WhatsApp ou por e-mail para você mesmo. Imprima uma cópia de segurança do passaporte, seguro viagem e cartão com telefones de

PASSAPORTE DE MENORES

Para solicitar o documento é preciso: autorização de ambos os pais ou do responsável legal

AUTORIZAÇÃO DE VIAGEM

Crianças (até 12 anos) precisam de autorização dos pais para viajar com outras pessoas (exceto tios e avós). Maiores de 12 anos dispensam autorização para viajar dentro do território nacional, bastando portar documento de identidade ou certidão de nascimento autenticada. Mas atenção: é preciso autorização para hospedagem em hotéis

No caso de viagens internacionais, quando o passaporte não tiver autorização, é preciso levar autorização de ambos os pais, com

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reconhecimento de firma (duas cópias), além do destino e data da viagem especificados. O documento pode estipular o responsável ou autorizar a viagem sem guardião. Há modelos em cartórios.

Mas é importante contratar um seguro para o número de dias da viagem. Principais empresas de seguro: Allianz (0800-771-0555, allianz. com.br), Assistcard (0800-7701664, assistcard.com/br), TravelAce (0800-333-3000, travelace.com.br). Omint (0800 726 4116) omintseguroviagem.com.br

VACINAS

VISTOS

Verifique se o país a ser visitado solicita visto de entrada e os critérios para a obtenção. Não use visto de trabalho para lazer e viceversa, a multa pode ser grande e você corre o risco de ser mandado de volta para o Brasil. Países que dispensam visto: todos do Mercosul, União Europeia, Reino Unido, México e Israel.

Principais países com visto: Austrália, Canadá, China, Estados Unidos, Índia, Indonésia, Japão, Nepal, Tanzânia.

Para lista completa, acesse: www.brasil.gov.br/turismo/2015/01/ conheca-quais-paises-exigemvisto-para-brasileiros

DINHEIRO

Avise seu gerente que vai para o exterior pois muitos bancos “travam” as compras internacionais por precaução. Leve dinheiro na moeda local (1,1% de IOF), cartão de débito e de crédito internacional e/ou um cartão pré-pago (6,38% de IOF) além do telefone do gerente para uma transferência de emergência.

A vacina mais comum exigida é a de febre amarela. Basta tomar uma vez na vida, pelo menos 10 dias antes da viagem. Mas é preciso portar uma carteira internacional de vacinação na Anvisa. Você pode se vacinar no SUS ou em clínicas e procurar postos da Anvisa nos aeroportos ou no Hospital Emílio Ribas para fazer a carteira permanente.

SEGURO DE VIAGEM

É obrigatório nos países europeus que fazem parte do Tratado de Schengen (cobertura mínima de 30 mil euros), em Cuba e na Venezuela.

CÂMBIO

Até o fechamento da edição, essas eram as cotações das principais moedas:

USD (dólar americano): R$ 5,13

€ (euro): R$ 5,43

£ (libra): R$ 6,31

Com a pandemia de Covid-19, muitos países exigem o passaporte da vacina e restringem a entrada de não vacinados. Além disso, alguns destinos pedem, ainda, um teste PCR, feito 72 horas antes do embarque, ou antígeno, realizado até 48 horas antes. Para tirar o Certificado Nacional de Vacinação Covid-19, você precisa solicitar emissão ao Ministério da Saúde, usando o ConecteSUS Cidadão. O certificado digital do ConectSUS pode ser emitido em inglês e espanhol e é aceito para entrar nos países que estão recebendo brasileiros vacinados. Antes de viajar, é importante verificar se o país de destino aceita as vacinas aplicadas no Brasil. Confirme as informações diretamente com os consulados e embaixadas dos países estrangeiros.

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BAGAGEM

Os pesos e as medidas variam conforme a companhia, o destino e a classe da passagem. Com as novas regras da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), as companhias poderão cobrar pelo despacho da bagagem, e os critérios e valores serão definidos por cada empresa. Confira as regras no site da companhia aérea pela qual vai viajar. Se tiver mais dúvidas sobre sua bagagem, entre em contato com a Anac: www. anac.gov.br ou 0800 725 4445 (24 horas por dia).

MALA DE MÃO

Em voos nacionais e internacionais, a soma das medidas não pode ultrapassar 115 centímetros e o peso máximo é de 10kg + volume de mão (bolsa, mochila ou sacola). Cada companhia aérea tem suas regras, cheque antes de embarcar.

Para levar líquidos na mala de mão em viagens internacionais é preciso que cada pote tenha até 100 ml e que estejam acomodados em embalagens transparentes tipo ziplock. Aeroportos como o de Heathrow, na Inglaterra, limitam a um saco transparente.

30 por quilo. Nas rotas domésticas, o Código Brasileiro de Aviação determina que cada quilo vale cerca de três OTNs (R$ 50), até o limite de 150 OTNs.

SEGURO DE BAGAGEM

Não despache nada de valor sentimental. E bom contratar seguro de bagagem junto com o de saúde. É possível, ainda, declarar no checkin os valores de objetos contidos na bagagem a ser despachada (declaração especial de valor de bagagem). A empresa irá verificar o conteúdo e cobrar um seguro adicional sobre o valor declarado.

MALA EXTRAVIADA

Caso a bagagem tenha sido extraviada, apresente o comprovante do despacho e registre a ocorrência no balcão da companhia aérea e em seções da Anac no aeroporto (prazo máximo de até 15 dias após a data do desembarque). A empresa aérea deverá indenizar o passageiro em até 7 dias após a reclamação. A indenização para voos internacionais é feita pelo Direito Especial de Saque (DES) e equivale a US$

FARMÁCIA

Antes de viajar, procure seu médico e peça uma lista básica de medicamentos para levar na viagem. Mantenha-os nas embalagens originais e guarde sempre a receita para os antibióticos e para outros remédios controlados.

LIMITE DE COMPRAS

Para não pagar impostos, o limite de mercadorias que se pode trazer do exterior é o equivalente a US$ 1.000, quando se chega por ar ou por mar; e US$ 500, por terra ou por rio. Artigos para uso pessoal não entram nessa conta. Observe a relação do número de dias da viagem e o número de objetos trazidos, pois o critério da Receita Federal é subjetivo. Por exemplo: não volte com 20 calças na mala se a viagem durou 7 dias.

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AEROPORTOS DO MUNDO

Um bom aplicativo sobre aeroportos: Flio, detalha tudo o que há nos aeroportos – restaurantes, salas vips, tráfego, filas, entretenimento, tomadas e wi-fi...

CONSULADOS DO BRASIL

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ROUPAS E SAPATOS

Como não há padronização entre as marcas nacionais e internacionais, o melhor sempre é provar as roupas do que confiar em tabelas de conversão de numeração. Conte com alguns aplicativos para celular como o Right Size e o Size It. E as tabelas abaixo para referência. Dica: nas melhores lojas, os vendedores ajudarão a tirar suas medidas. O que será útil, depois, ao usar as lojas virtuais já que algumas lojas detalham a numeração com medidas como a da cintura, do quadril, da virilha ao pé, do peitoral, dos ombros, etc...

Ao contrário do que se imagina, o viajante deve recorrer ao consulado e não à Embaixada do Brasil no caso de perda de documentos –mas antes deve se dirigir à Polícia local e solicitar a expedição de um Boletim de Ocorrência. De posse do BO, poderá solicitar o novo passaporte em horário comercial.

Os endereços dos consulados estão no site do Itamaraty (portalconsular. itamaraty.gov.br/rede-consular). Em caso de emergências – catástrofes, atentados, morte – acesse: portalconsular.itamaraty.gov.br/ emergencias

Ao levar equipamentos fotográficos como câmeras profissionais e tripés, é importante pensar em um seguro para os equipamentos e tomar cuidado com possíveis furtos. Diversas empresas oferecem planos para assegurar seu equipamento durante as viagens.

ADAPTADOR DE TOMADAS

Telefones, ipads, câmeras... para recarregá-los não esqueça de levar um adaptador universal de tomadas.

MEDIDAS ÚTEIS

Milhas para quilômetros: multiplique as milhas por 1,6. Quilômetros para milhas:multiplique o quilômetro por 0,62). De Fahrenheit para Celsius: subtraia 32 e divida por 1,8. Libras para quilos: multiplique as libras por 0,37. Quilos para libras: multiplique os quilos por 2,67.

COMPANHIAS AÉREAS

Veja se sua companhia aérea tem um aplicativo próprio para realizar o check-in, reservar assentos e consultar o número de milhas acumuladas. Para acompanhar um voo, baixe os aplicativos Flightradar24 e FlightAware.

GASTRONOMIA

Para comer bem é preciso de muito mais do que um bom restaurante. Pesquise, peça dicas, anote os nomes, endereços e procure saber mais sobre cada um dos lugares. Não esqueça de verificar se é necessário fazer reserva, se o local abre tanto para almoço quanto para jantar e se fica muito lotado em horários de pico.

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HABILITAÇÃO INTERNACIONAL

A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é aceita em 130 países como documento para dirigir um veículo. A Permissão Internacional para Dirigir, contudo, por ter os dados traduzidos em 7 idiomas, agiliza nos processos que envolvem acidente. Pode ser tirada em postos do Detran (detran.com.br).

básico, que cobre batidas de carro e se o carro for roubado. Ao alugar pela Internet, veja se esse seguro já está incluso. Quanto antes reservar o carro, mais barato vai pagar.

celular reserva e um GPS podem ser muito úteis durante o caminho. Procure se informar sobre as melhores rotas para andar de bicicleta, evitando surpresas no percurso e também fazer uma revisão da bicicleta para evitar quaisquer problemas de funcionamento.

MOTO

Para diminuir o risco de acidente antes de uma viagem de moto, faça revisão em uma mecânica de confiança para ver se ela está em condições de pegar estrada e planeje o itinerário, prevendo paradas, para evitar ficar sem gasolina e para descansar. É importante também vestir roupas adequadas, como um calçado reforçado, calça, jaqueta e é claro, o capacete. Caso esteja levando bagagem, é sempre bom conferir se está bem presa, evitando sua perda ou queda.

TREM

LOCAÇÃO DE VEÍCULOS

Cheque os documentos exigidos pelo país para alugar o carro e dirigir por lá. Nos países da América do Sul como Argentina, Uruguai e Chile, só é necessário R.G e carteira de habilitação brasileira. Miami, Orlando, Las Vegas, San Diego, Los Angeles, San Francisco, Nova York e Chicago pedem, além da habilitação, o passaporte do motorista. O mesmo vale para outros lugares turísticos do mundo como Espanha, Portugal, França, Alemanha, México e Canadá. Alguns lugares exigem a PID, a Carteira de Habilitação Internacional, como Grécia, Itália e Áustria. Faça seguro

BIKE

Antes de se aventurar pelo mundo de bicicleta, é preciso programar o itinerário da viagem. Fazer um check-up de sua saúde antes de começar a pedalar é importante para evitar problemas. Além disso, garantir alguns equipamentos eletrônicos como carregadores, um

Ao contrário do Brasil, a Europa é familiarizada com os roteiros de viagem de trem. De lá é possível visitar qualquer outro país do continente com esse meio de transporte. Antes de planejar uma viagem de trem, é necessário lembrar que nem sempre será a opção mais barata, mas pode render paisagens maravilhosas durante o caminho.

MONTANHA

Seja no frio ou no calor, é sempre bom pensar sobre a melhor época do ano para cada destino. As montanhas proporcionam diversas atividades como o esqui, escalada, trilhas, além das

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paisagens maravilhosas ao chegar no topo. Caso a opção seja uma trilha durante o verão, é necessário lembrar que mesmo com o calor, o vento costuma sempre forte e mudanças climáticas acontecem rapidamente, portanto, roupas corta-vento e roupas impermeáveis não podem faltar na mala.

metros, em qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de renová-la. A partir dos 10 anos de idade já é possível fazer o curso para obter o certificado, desde que a pessoa saiba nadar.

REMO

ESQUI

Para quem vai passar uma temporada na neve é essencial preparar bem a mala para o frio. Além dos casacos especiais é bom levar blusas e calças térmicas, importantes para manter o calor do corpo. Outro item indispensável é uma luva impermeável e uma bota adequada. As meias também devem ser pensadas com cuidado. Elas devem absorver o suor para evitar a sensação dos pés congelando.

BARCO

Para os amantes do mar é possível alugar veleiros, lanchas e barcos, com a presença de um capitão a bordo. Caso o viajante queira alugar sem comandante é necessário comprovar através de uma certificação de arrais amador ou mestre que você pode conduzir a embarcação.

O remo é um dos esportes mais antigos do mundo. Antes de remar é importante verificar se a pessoa sabe nadar e também se existe algum problema de saúde, já que o esporte exige esforço do corpo como um todo. Ao procurar um instrutor, ele vai ensinar a prática de remo e orientar o grupo a fazer os exercícios de forma correta, para que não existam lesões no corpo mais tarde.

MERGULHO

É preciso ter a certificação para viagens de mergulho. O documento permite mergulhar com um cilindro numa profundidade de até 18

SURFE

Antes de surfar pela primeira vez, é necessário procurar um instrutor que passe as informações básicas de segurança como observar outros surfistas na água, carregar a prancha corretamente e avaliar a área certa da praia para surfar.

TREKKING

O termo trekking tem origem africana e significa seguir, a pé, um percurso. Antes de se aventurar nesse esporte, é importante estar com os equipamentos adequados. Nos pés, o calçado indicado são as botas, que dão mais segurança aos tornozelos nos percursos. As meias também são essenciais para que o atrito entre o pé e o calçado não cause problemas. Além disso, é importante levar uma garrafa de água na mochila para manter-se hidratado. Dependendo dos quilômetros andados, é indispensável um bastão para facilitar as passadas e dar mais estabilidade.

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