TOP Magazine Edição 267

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R$40,00

Fátima Pissarra

pessoas / Fátima Pissarra: a trajetória da criadora da agência Mynd / casal dedica a vida à preservação da África / conheça a artista francesa Noémie Marmorat / cultura / a marcante Josephine Baker / olhar sutil do fotógrafo Bill Phelps / mundo top / um apanhado de novidades requintadas / lifestyle / as coincidências memoráveis da história / como compartilhar o luxo / carros megaexclusivos / viagem / os encantos do Myanmar

Saúde e

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12 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 267 Sumário 82 104 94 100 32 56

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Profissão: Beverly e Derek Joubert

O casal de cineastas, exploradores e parceiros da National Geographic busca documentar e preservar a biodiversidade da África

Fátima Pissarra

Conheça a trajetória da fundadora da Mynd, maior agência de marketing de influência e entretenimento do Brasil

Fotografia e ilustração

A francesa Noémie Marmorat produz desenhos realistas de automóveis com lápis e canetas

Mundo TOP

Estadia de luxo exclusiva, câmera que mescla o antigo com o moderno, exercícios de alta performance, jatos executivos, a arquitetura imponente de Zaha

Hadid e muito mais

Coincidências da história

Há narrativas que só se explicam pela sorte, destino ou qualquer outro determinismo

Josephine Baker

A vida movimentada de umas das artistas afroamericanas de maior sucesso na França

Olhares de um mesmo mundo

O fotógrafo Bill Phelps garimpa o que há de único e individual

Luxo compartilhado

Já pensou em adquirir parte de um iate, casa de praia, helicóptero ou jato? Conheça a iShare, empresa especializada no assunto

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Um país múltiplo Myanmar tem natureza luxuriante e povos diversos

Mercado de limousines

Veja modelos exclusivos de sedãs que unem conforto, espaço e requinte

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PESSOAS CULTURA LIFESTYLE VIAGEM
Sumário

Quem Fez

Renata Zanoni é jornalista e trabalha há mais de 15 anos no mercado editorial. Ela é diretora de redação da TOP Destinos e já viajou para mais de 70 países, sempre interessada em saber mais sobre a cultura, história e ter uma boa conversa com os locais. Nesta edição, ela assina a capa e conta um pouco sobre a trajetória da empresária Fátima Pissarra.

Jornalista formada pela PUCSP, Vivian é editora da TOP Magazine e TOP Destinos. Ama contar boas historias e escrever sobre turismo, lifestyle, moda e beleza.

Jornalista e apaixonada por viagens, vive hoje entre a França e o Brasil, e sempre que pode busca novas paisagens e culturas ao redor do mundo.

Com certificações na área da beleza e visagismo, junto a escolas renomadas como a Madre Conhecimento Criativo, a beauty artist possui experiência nos setores de publicidade, moda, maquiagem artística e social, tendo, inclusive, atuado nos principais desfiles de moda, como o SPFW. Para a mãe paulistana de 32 anos, a naturalidade e a autenticidade são o segredo para se alcançar o melhor look e, por isso, valoriza o atendimento personalizado para revelar a melhor versão de cada cliente.

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Ju Shinoda Um dos maiores nomes da fotografia nacional, Miro retratou com seu olhar único a essência da empresária Fátima Pissarra que ilustra a capa desta edição da TOP Magazine
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Miro

Publisher

Claudio

TOP Magazine | Studio Mundo TOP

Diretora de Redação: Julyana Oliveira

Redação: Renata Zanoni e Vivian Monicci

Diretora de Arte: Rosana Pereira

Assistente de Arte: Luana Jimenez

Assistente de Produção e de Mídias Digitais: Diego Almeida

Estagiária: Gabriela Haluli

Projeto Gráfico

Marcus Sulzbacher

Lilia Quinaud

Paulo Altieri

Fabiana Falcão

Colaboradores

Texto

Camila Lara, Érico Hiller, Lucas Berti, Marília Aguena, Mario Mendes, Roberto Marks, Walterson Sardenberg Sº

Foto

Miro

Produção

Leandro Milan e Paula Giannaccari (Catering), Ju Shinoda

Tratamento de Imagens

Fujoka, JC Silva

Editora Todas as Culturas

Criativo: Bruno Souto

Gerência de Relacionamento: Carolina Alves

Produção Executiva: Camila Battistetti

RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes

Financeiro: Marcela Valente

Circulação: Regiane Sampaio

Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados

Impressão: R2 Produção Gráfica

Distribuição: Brancaleone

TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda.

Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - CEP 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074-7979

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados.

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TOP MAGAZINE EDIÇÃO 267 Expediente

Mundo Top

UMA SELEÇÃO DE TUDO O QUE FAZ A DIFERENÇA SOBRE LIFESTYLE / CULTURA / DESIGN / FO

viagem

Palácio sobre trilhos

Imagine uma estadia de luxo exclusiva, para você e mais 18 convidados aproveitarem da forma que quiserem. Suítes VIP, salão, jardim, terraço ao ar livre para festas, jantares, apresentações e ainda um espaço reservado para guardar seus carros, motos e outras preciosidades. Soa como um hotel, certo? Mas, na verdade, estamos falando de um trem de luxo particular, o G Train. Assinado pelo designer francês Thierry Gaugain, que ficou conhecido por suas colaborações com Philippe Starck na criação de super iates, o projeto audacioso é fruto de um trabalho de 30 anos de concepção, apelidado de “palácio sobre trilhos”. São 14 carros se estendendo ao longo de mais 400 metros e 3,5 mil metros quadrados, abraçados por um vidro técnico que forma as paredes da locomotiva, tudo sem perder a velocidade, atingindo até 160 quilômetros por hora. E sob um único proprietário, podendo seguir qualquer roteiro de viagem e fazer quantas paradas o dono quiser.

O G Train ainda está em sua fase de desenvolvimento, mas já atrai o interesse de viajantes e investidores ao redor do mundo, com o preço estimado de 350 milhões de dólares. A idealização foi feita em colaboração com os maiores especialistas do ramo, para que o trem tenha a capacidade de adaptação para trilhos de qualquer parte do mundo. Além de ser uma ideia inovadora, traz ao mercado uma nova alternativa mais eco-consciente aos jatinhos privados.

O primeiro trem de luxo particular do mundo toma forma em projeto de Thierry Gaugain
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TOGRAFIA / CINEMA

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Vintage repaginado

fotografia A nova câmera 907X da Hasselblad combina aparência antiga com a mais moderna tecnologia

Em 2021, a marca sueca de câmeras fotográficas Hasselblad completou 80 anos de história. Para celebrar a data, lança agora a edição especial de aniversário Hasselblad 907X Anniversary Edition Kit, limitada a apenas 800 kits e inspirada na icônica câmera SWC. Com aparência que remete ao passado, tem obturador com lâminas, um enorme sensor CMOS de 50 megapixels dentro de seu corpo todo de metal e pesa

740 g. Sua resolução de 8.272x6.200 pixels permite imagens nítidas e aprimoradas com a tecnologia de gerenciamento de cores HNCS exclusiva da Hasselblad. O sistema de dados de cores do sensor reproduz fielmente as cores percebidas pelo olho humano. O software da Hasselblad é capaz de proporcionar um visual analógico, realista e cinematográfico à fotografia moderna. E o aplicativo Phocus da Hasselblad para iPhone ou iPad Pro permite o controle total da câmera e captura remota via Wi-Fi ou cabo USB.

Para os que amam detalhes únicos, vale destacar que um lado da câmera apresenta uma placa comemorativa que diz “Desde 1941”, enquanto o corpo e visor ótico contam com o nome Hasselblad em letras manuscritas.

Mais informações: hasselblad.com

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EDIÇÃO 267 Cultura Mundo Top
MAGAZINE

Fitness on demand

saúde Com as bikes e esteiras da Peloton, sua rotina de exercícios nunca mais será a mesma

Por acaso você já pagou um ano inteiro de academia, mas foi apenas no primeiro mês? Se a sua resposta foi sim, acredite, você não está sozinho. Com a correria do dia a dia, muitas vezes falta tempo e disposição para dedicar alguns minutos para praticar uma atividade física. Em 2012, a startup nova-iorquina Peloton surgiu com a proposta de facilitar nossas vidas. Combinando tecnologia, conteúdo e os melhores instrutores do mundo, a empresa produz esteiras e bicicletas ergométricas equipadas com um tablet touchscreen de 21,5 polegadas habilitado para Wi-Fi para que você possa acompanhar as aulas no conforto da sua casa. Para entrar neste universo, basta adquirir uma bike ou esteira e fazer a assinatura do aplicativo, que não está

inclusa no equipamento. O investimento total é caro: cerca de US$ 2.300 no primeiro ano e quase US$ 500 a cada ano a partir de então. No app, você pode escolher os treinos de acordo com seus objetivos, níveis e desafios. Há ainda transmissões ao vivo, aulas sob demanda e diversas modalidades, que incluem yoga e meditação. Com a pandemia de Covid-19 e o fechamento das academias, a Peloton explodiu no mercado. De acordo com a revista Time, em 2021 a empresa conquistou 1,67 milhão de membros, o que representa um aumento de 134% em relação ao ano anterior, e foi eleita pela publicação como uma das 100 empresas mais influentes no mundo.

Mais informações: onepeloton.com

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Gulfstream aviação

Empresa apresenta seus novos jatos executivos

Para ganhar os céus mundo afora, a conceituada empresa americana de aeronaves Gulfstream introduziu seus novos jatos executivos em um evento online exclusivo, com transmissão ao vivo: os incríveis G800 e G400. O primeiro oferece o maior alcance da frota da marca, de 8.000 milhas náuticas/ 14.816 km em Mach 0,85, e 7.000 nm/ 12.964 km em Mach 0,90. É também equipado com motores Rolls-Royce Pearl 700 de alto empuxo,

asas e winglet projetadas pela marca e anteriormente introduzidas no modelo G700, e combustível de maior eficiência. É feito para 19 passageiros e tem ar 100% puro. A segunda opção, o G400, tem um desempenho de longo alcance e alta velocidade, reduzindo o consumo de combustível, emissões e ruído devido ao seu design aerodinâmico e asa limpa da marca e dos motores Pratt & Whitney PW812GA. A aeronave voará 4.200 nm/ 7.778 km em sua velocidade de cruzeiro de longo alcance de Mach 0,85, acomodando até nove, 11 ou 12 passageiros. Super máquinas que irão tomar conta do céu!

gulfstream.com

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A rainha da curva design

O belíssimo trabalho da arquiteta iraquiana-britânica

Entre as grandes mulheres que contribuíram para o desenvolvimento da arquitetura contemporânea, Zaha Hadid merece destaque especial. Nascida em Bagdá, Iraque, em 1950, ela percorreu um caminho corajoso e ousado na arquitetura, o que lhe rendeu o reconhecimento como a maior arquiteta mulher da arquitetura contemporânea.

Conhecida como “rainha da curva”, suas construções e designs não têm nada de comum. São imponentes, marcantes e futuristas, repletas de curvas e ângulos e com muito aço e concreto. Por isso, sua linha de arquitetura é considerada desconstrutivista e abstrata, apesar de ela nunca ter se encaixado em nenhuma escola de pensamento. Alguns de seus projetos mais famosos são a Guangzhou Opera House, em Guangzhou, na China; o Galaxy Soho, em Pequim, China; o Museu Riverside, em Glasgow, na Escócia, construído para os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012; e o Centro Heydar Aliyev (foto), em Baku, Azerbaijão.

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E seu trabalho recebeu o devido reconhecimento. Em 2004, Hadid foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Pritzker, considerado o “Nobel da Arquitetura”, e em 2010 e 2011, ganhou o Stirling Prize, principal prêmio de arquitetura do Reino Unido. Além disso, já foi citada como uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo e foi condecorada pela Ordem do Império Britânico pelos serviços prestados à arquitetura, tornando-se Dama Zaha Hadid.

Em 2016, aos 65 anos, morreu em decorrência de um ataque cardíaco. Porém, seu legado segue vivo em suas construções eternas e através de seu escritório Zaha Hadid Architects.

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moda

A vez das mulheres!

Panerai lança seu primeiro relógio feminino – e ele não poderia ser mais especial

A espera acabou! Finalmente, depois de uma vida inteira dedicada apenas aos pulsos masculinos, a grife fiorentina de alta relojoaria Panerai revela a coleção “Panerai Luminor Piccolo Due”, criada especialmente para as mulheres.

Como a palavra principal da linha sugere, os relógios “Piccolo” têm caixa em tamanho reduzido para realçar a feminilidade de quem está em busca da exclusividade e design da marca.

Os Luminor Piccolo Due são apresentados em duas versões, com paletas de cores opostas: PAM01247, de tonalidade cinza antracite profunda e elegante, mostrador em estilo sanduíche, acabamento escovado e pulseira em couro croco preto polido; e PAM01248, com cores con-

trastantes no mesmo formato, um tom de marfim escovado no mostrador, combinado com Super – LumiNova™ bege e ponteiros dourados, e uma pulseira de couro croco vermelha polida. Ambos apresentam o icônico e patenteado dispositivo Panerai, que é a trava de segurança da coroa, medindo 38mm de diâmetro, e o prático sistema “Quick Release” de troca rápida de pulseira, que permite personalizar com diversos tipos de pulseiras. Além disso, contam com o calibre P.900, que proporciona reserva de marcha de até três dias, e são resistentes à água, podendo ser submersos em até 30 metros de profundidade. Puro glamour.

panerai.com.br

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bar

Sabor da monarquia

O raro Royal Salute 62 Gun Salute foi criado para homenagear a rainha

Elizabeth II

Uma joia em forma de whisky, ou um whisky em forma de joia? Os dois! O raro whisky escocês Royal Salute 62 Gun Salute, parte da coleção permanente da Royal Salute, foi lançado para celebrar o aniversário da monarca britânica

Elizabeth II.

A luxuosa bebida é apresentada em uma garrafa

midnight blue de cristal de

parede dupla feita sob medida por Dartington Crystal e soprada individualmente pelo Master Glass Blower. O brasão é pintado à mão em ouro líquido e a garrafa é finalizada com uma gola folheada a ouro e uma rolha de vidro fixada na coroa, também folheada a ouro. São necessárias 40 horas para a fabricação de cada garrafa.

Um clássico para quem deseja celebrar momentos especiais em grande estilo como, por exemplo, as festas de fim de ano, tem olfato rico com notas frutadas, paladar intenso e doce e final longo. O custo unitário é de R$ 18.990 e o lote limitado está disponível no site drinksandclubs.com.br.

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Veja a vida por um outro ângulo

Imagens meramente ilustrativas. Habilitado para a tecnologia 5G. A velocidade real pode variar, dependendo do país, da operadora e/ou do ambiente do usuário. Verifique com a sua operadora a disponibilidade para mais detalhes. É possível notar um vinco no centro da tela principal, que é uma característica natural do smartphone. A dobradiça suporta o modo Flex em ângulos entre 75° e 115°. Para a sua conveniência, esse modo também pode ser ativado antes ou depois dessa faixa de ângulos. Recomendamos manter o celular imóvel durante o modo Flex. Alguns aplicativos podem não suportar o modo Flex. O Snapdragon é um produto da marca Qualcomm Technologies, Inc. e/ou suas subsidiárias.

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Profissão: Beverly e JoubertDereck

CASAL SUL-AFRICANO DE CINEASTAS, CONSERVACIONISTAS E EXPLORADORES PARCEIROS DA NATIONAL GEOGRAPHIC DOCUMENTA E AJUDA A PRESERVAR A VIDA DE ESPÉCIES SELVAGENS NA ÁFRICA

LUIZA CAMPOS 33

“Tudo o que você vê coexiste em um equilíbrio delicado. Como rei, você precisa compreender isso e respeitar todas as criaturas, desde a formiga rastejante até o antílope saltitante. Mas, Pai, nós não comemos os antílopes? Sim, Simba, mas deixe-me explicar: quando nós morremos, nossos corpos se tornam a grama e os antílopes a comem, então todos nós estamos conectados no grande ciclo da vida”. Esse diálogo emblemático entre Mufasa e Simba no filme O Rei Leão, da Disney, ilustra muito bem como funciona o ecossistema africano. Quando uma engrenagem deixa de existir, todo o ciclo é prejudicado em efeito cascata. E é exatamente isso que Beverly e Dereck Joubert - casal sul-africano de cineastas, conservacionistas e exploradores parceiros da National Geographic - comprovaram em mais de 30 anos estudando, documentando e ajudando a preservar a vida de grandes felinos e outras espécies selvagens na África. Mas afinal, qual é a verdadeira importância dos leões?

“Em todos os lugares do planeta onde predadores são eliminados, o ecossistema estagna e morre porque eles (leões) garantem as migrações em movimento, e isso mantém a terra agitada e vibrante, permitindo que a chuva penetre nos solos duros e possibilitando o florescimento de sementes de grama, que atraem mais vida selvagem”, explica o casal em entrevista exclusiva à TOP Magazine. Os dois se conheceram no Ensino Médio, na África do Sul, e já naquela época compartilhavam a curiosidade pelo continente, que os levou a desbravar vários países. O ano de 1981, porém, foi decisivo quando viajaram para Botsuana e se encantaram pelo local: a paixão virou profissão. Trabalhando como pesquisador e fotógrafo do Chobe Lion Research Institute, Dereck filmou hipopótamos lutando para sobreviver em um rio quase seco, e assim, descobriu sua habilidade para fazer filmes. Beverly, por outro lado, se dedicava à captação de som e virou especialista em fotografia africana. “Botsuana é a nossa casa, fomos “adotados” pelo país há 20 anos e agora somos cidadãos. No geral, é um dos melhores, mais gentis e racionais países do mundo por causa da população. Nos apaixonamos pela natureza intocada e a vida selvagem, mas quando conhecemos as pessoas e aprendemos a língua e a cultura, passamos a apreciar tudo”, contam.

Em 1985, fundaram a empresa Wildlife Films e, desde então, nunca mais pararam de pesquisar, explorar e produzir filmes para grandes emissoras internacionais. “Já fazíamos para a National Geographic há 20 anos e achávamos que nosso trabalho estava cada vez mais voltado à conservação. Se tivesse que definir um explorador seria como alguém que vai para as bordas da nossa sociedade e volta com informações críticas, sem medo de falhar, mas para mudar o mundo. Somos Explorers-at-Large, dos quais existem apenas 12 no planeta”, diz Dereck. Em 30 anos de carreira, contabilizam mais de 25 filmes para a National Geographic, 11 livros publicados e inúmeros artigos para a National Geographic Magazine, além de colecionar prêmios, entre eles, 8 Emmys, um Peabody Award e o World Ecology Award. Em 2011, foram honrados pelo presidente de Botsuana com o Presidential Order of Meritorious Service por seu notável trabalho no país. Mas tudo a um custo considerado muito alto para a maioria de nós: “Tivemos a nossa cota justa de ataques da vida selvagem: malária cinco vezes, 21 picadas de escorpiões, três acidentes de avião, quatro ataques de elefantes, quatro picadas de cobras mortais e três ataques de búfalos, um deles quase fatal. Só que as ameaças dos seres humanos são mais preocupantes. Estávamos tra-

“Os leões garantem as migrações em movimento, e isso mantém a terra agitada e vibrante”
FOTO ©BERVERLY JOUBERT
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Leão na região da Olare Motorogi Conservancy, no Quênia
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balhando no filme Wildlife Warriors e caçadores ilegais encontraram nosso acampamento e nos ameaçaram com armas.” Seus inúmeros jobs, porém, são essenciais para transmitir uma missão: “Existem três razões pelas quais os ecossistemas falham. A primeira é a ignorância, em que pessoas simplesmente não sabem que há um problema com suas ações. Por isso, fazemos filmes e livros para propagar o conhecimento. Acreditamos que há 405 chances de você não danificar o planeta se entender que o que está fazendo é errado. Necessidade é o segundo pilar do problema - mesmo que compreenda ser uma má ideia matar rinocerontes, mas não tem meios para alimentar sua família, você coloca o ambiente e a vida selvagem em segundo lugar, por sobrevivência. E a terceira é a ganância, característica destrutiva dos infratores. Se sabe que é ruim matar elefantes e não precisa para viver, mas o faz de qualquer forma só porque quer um relógio Rolex ou um BMW, então você é ganancioso e malvado”, pontuam Beverly e Dereck, que ainda acrescentam: “A questão é que, ao contrário dos outros, você influencia o sistema. Para comercializar um chifre de rinoceronte é preciso pelo menos um funcionário corrupto, e esse ato ilegal gera outros até corromper nossa sociedade, roubando de todos. Isso é o mais difícil de lutar”. Importante saber que Beverly e Dereck de fato colocam a mão na massa. Hoje, administram programas e fundações que contribuem para a preservação da vida selvagem africana e são fundadores da Big Cats Initiative com a National Geographic, que provê fundos em prol da conservação de grandes felinos, com projeto que forma parcerias com alguns dos maiores especialistas do mundo e financia pesquisas locais e inovadoras. Entre tantas experiências, o casal destaca uma lição crucial para a compreensão da vida selvagem e que resultou na criação da Big Cats Initiative: o encontro quase espiritual com o leopardo fêmea

FOTO WILDIFEFILMS FOTO DIVULGAÇÃO GREAT PLAINS CONSERVATION
“Se sabe que é ruim matar elefantes, mas o faz só porque quer um relógio Rolex ou um BMW, então você é ganancioso e malvado”
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Na pág. anterior: migração de Gnus na região do Parque Nacional de Maasai Mara, no Quênia. Nessa pág: o casal Joubert atravessando o delta do Rio Okavango, em Botsuana. Na pág. ao lado: manada de elefantes no Zambezi National Park, no Zimbábue; leoa na Concessão de Selinda, em Botsuana. Uma família de leões na concessão de Duba, no delta do Rio Okavango, em Botsuana
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FOTOS ©BERVERLY JOUBERT 39
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Legadema. “Quando a encontramos, ela tinha 8 dias de vida e nós dedicamos os próximos quatro anos para segui-la e compreendê-la. Na época, estávamos preocupados com o número de felinos, mas após uma pesquisa, percebemos que 10 mil leopardos foram caçados legalmente no mesmo período, e que cada um deles era tão único quanto Legadema. Precisávamos começar o Big Cats Initiative para nos tornarmos a voz dos sem-voz”, explicam. Legadema acendeu uma luz para que fizessem algo a respeito. “Nós olhamos para os nossos prêmios de cinema e entendemos que não eram a medida real do nosso sucesso; na verdade, representavam nossa falha já que, quando nascemos, havia 450 mil leões e, agora, o número caiu para apenas 20 mil. Foi um alerta! Fomos para o Nat Geo e montamos a Big Cats Initiative. Hoje, temos 120 projetos em mais de 27 países e estamos indo bem. Provavelmente já ‘salvamos’ 4.500 leões.”

Para conter a extinção das espécies e a degradação dos habitats, os Joubert também criaram a Great Plains Conservation, uma organização de proteção que desenvolve projetos inovadores em diversos lugares ameaçados na África, financiados pelo chamado “turismo de conservação” de baixo volume e impacto, que ainda traz benefícios diretos para as comunidades locais. “Nosso design é de ponta, o que geralmente é caro, mas é a melhor maneira de compartilhar o que fazemos com algumas pessoas, de uma maneira que não danifique o ambiente. Temos cerca de 1,5 milhão de hectares de terra fora dos parques em áreas críticas para preservar”, detalham sobre a ONG que conta com inúmeros “acampamentos” de safári exclusivos e sustentáveis em Botsuana, no Quênia e no Zimbábue, e prometem uma experiência única e memorável. Um braço importante da empresa é a Great Plains Foundation, entidade licenciada e sem fins lucrativos focada

Na pág. anterior: elefante atravessando o Rio Zambezi, próximo a Concessão de Sapi, no Zimbábue; Projeto Rhinos Without Borders com a chegada de um rinoceronte à concessão de Duba, em Botsuana; equipe multidisciplinar que participa de cada etapa da adaptação dos animais; transporte de um rinoceronte de Maum para a Concessão de Duba, em Botsuana

FOTO BERVERKY_JOUBERT_NAT_GEO
“Já movemos 87 rinocerontes e eles tiveram 29 bebês, então foi um sucesso”
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Na pág ao lado: vista da varanda de uma das suítes do Selinda Camp, em Botsuana; no mesmo local, jantar na Savana; safári em canoa no Zambezi National Park, no Zimbábue; safari a cavalo no Ol Donyo Lodge em Chyulu Hills, no Quênia; pôr do sol na savana, um dos maiores espetáculos africanos; quarto da suíte do Zarafa Camp, na Concessão de Selinda, em Botsuana; Kinds Camp – realizado uma vez por ano, em Botsuana, pela Great Plains Conservation para educar as crianças das comunidades locais sobre a Savana, sua fauna e geografia; avião utilizado para o transporte dos hóspedes aos camps da Great Plains Conservation no Quênia, com o Monte Kilimanjaro ao fundo. Abaixo: o casal Joubert

em projetos e espécies financiados por doações - 100% do dinheiro arrecadado é revertido para reabilitar e salvar a vida selvagem. “Também a estabelecemos em resposta à massiva caça ilegal de rinocerontes na África do Sul. Mover tantos animais para locais mais seguros era um plano viável e ambos os governos concordaram, então começamos há quatro anos com uma meta de 100 rinocerontes. É caro para mover e cuidar de cada um na natureza – em torno de 45 mil dólares cada -, mas vale a pena. Já movemos 87 e eles tiveram 29 bebês, então foi um sucesso. Nossa equipe é tão eficiente que podemos movimentar rinocerontes com segurança, e levaremos os esforços do Rhinos Without Borders para Uganda e Zimbábue. Espero mover cerca de mil ao longo do tempo e ser uma peça significativa para salvar estas duas espécies da extinção”, diz Dereck. Depois de tudo isso, talvez você esteja se perguntando se Beverly e Dereck pretendem deixar Botsuana em algum momento no futuro. “Não. É nossa base, mas também temos investimentos em turismo no Quênia e no Zimbábue. Amamos a África Oriental e, em muitos aspectos, nossa ideia de conservação é baseada na ética compartilhada de não matar”. E qual é a principal lição que aprenderam estudando os grandes felinos ao longo dos anos? “Sociedade. Eles estão ligados pela família e por suas comunidades e, paralelamente, às nossas próprias vidas. Caçar e matar é o que os predadores fazem a cada dia, mas eles simplesmente querem seguir com suas vidas e não nos incomodar”, afirma o casal que está prestes a lançar uma série de televisão sobre o rio Okavango e um livro de memórias para registrar suas aventuras. (greatplainconservation.com)

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“Existem três razões pelas quais a vida selvagem falha: a primeira é a ignorância; a segunda, sobrevivência; e a terceira é a ganância.”
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Coincidências

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NÃO FOSSE O ACASO, NÃO TERÍAMOS NEM PENICILINA NEM VIAGRA. AGRADEÇA...
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Trinta de março de 1981. O presidente Ronald Reagan saía do hotel Hilton, em Washington, cercado de seguranças, quando foi atingido à bala por um maluco, que resolveu aparecer só para chamar a atenção da atriz Jodie Foster, por quem estava obcecado. Dois fotógrafos registraram o atentado: o americano Ron Edmonds e o brasileiro Sebastião Salgado. Estavam na mira da sorte: as fotos foram vendidas para o mundo inteiro. Sebastião teve ainda mais estrela. Se o americano, da Associated Press, recebeu pela façanha só um aumento de US$ 200 no salário, o fotógrafo brasileiro embolsou US$ 250 mil. Comprou um carro, um apartamento em Paris e lançou-se de vez no seu objetivo maior: deixar de clicar os poderosos para retratar as vítimas deles. Acertou na mosca.

Ronald Reagan também deu sorte. Como bom cowboy de Hollywood, recuperou-se do acidente, que ajudou a transformá-lo no herói que tentara ser, décadas antes, nos filmes B.

A mesma sorte brindou Armando Nogueira. Ele era só um repórter de 27 anos do jornal  Diário Carioca, no dia 5 de agosto de 1954. Naquela noite, batia um papo descontraído com amigos dentro de um automóvel, estacionado na Rua Toneleros, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Foi quando presenciou o atentado a tiros contra o jornalista Carlos Lacerda, então feroz opositor do presidente Getúlio Vargas. Armando viu morrer o major Rubem Vaz, segurança voluntário de Lacerda, atingido por um tiro de calibre 45. Narrou o episódio em primeira pessoa no  Diário Carioca, abrindo espaço para uma carreira vitoriosa que o levaria a diretor do jornalismo da Rede Globo. Mas nunca explicou como o pé de Lacerda, colhido em tese por outro balaço de 45 milímetros, teria passado pelo incidente sem danos maiores. Nem o pé do Cyborg resistiria a um tiro de tal calibre.

Seja como for, Armando estava no lugar certo, na hora certa. Isso pode mudar de maneira radical a vida de alguém — como mudou a dele. Armando Nogueira, fã dos esportes, teve a sorte do goleiro que, por pura intuição, pula para o lado certo na defesa do pênalti decisivo. Ou a do pugilista que escuta o gongo antes de o juiz contar o dez arrasador. Já dizia o escritor Nelson Rodrigues, seu amigo: “Sem sorte, não se chupa nem um Chicabon. Você pode engasgar com o palito ou ser atropelado pela carrocinha.”.

O inventor do picolé, aliás, era um sortudo. O garoto Frank Epperson, de 11 anos, preparava um refresco, com refrigerante em pó e água, num dia de inverno na varanda da sua casa. Chamado por alguém, esqueceu-se desse afazer. Na manhã seguinte descobriu que o refresco, congelado, virara o pioneiro do Chicabon. Tinha até o palito que Frank havia usado para mexer o líquido.

Enclave de nossas melhores fantasias, Hollywood tem, claro, muitos exemplos de sortudos. Mel Gibson, inclusive. Ele nem pensava em ser ator. Havia se comprometido a dar carona a um amigo que iria se submeter a um teste de elenco. Cumpriu a promessa, embora bem contrariado. No dia anterior, havia brigado feio num bar e seu rosto estava cheio de escoriações. Justamente o que agradou ao responsável pelo casting. A cara lanhada deu a Mel Gibson o papel em Mad Max (1979).

A sul-africana Charlize Theron também acabou nas telas de maneira fortuita. Aos 14 anos, ela já morava nos Estados Unidos e foi ao banco

“Sem sorte, não se chupa nem um Chicabon. Você pode engasgar com o palito ou ser atropelado pela carrocinha”
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A partir da seta, em sentido horário: A atriz Natalie Portman, descoberta por um agente enquanto devorava uma pizza em um restaurante; Mel Gibson, que ganhou o papel em Mad Max depois de uma briga em um bar; Carl Jung, que dedicou-se ao estudo das coincidências após uma grande coincidência; Charlize Theron, descoberta no caixa do banco por um caçador de talentos que esperava na fila; Jean Cocteau, que acreditava veementemente na sorte; Jennifer Lawrence, que deu sorte em um avião
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descontar um cheque da mãe. O caixa, porém, relutou em fazer a transação. Não queria aceitar um cheque de outro país. Charlize subiu nas tamancas. Seu desempenho dramático não passou incólume a um caça-talentos de Hollywood que esperava na fila. Sorte semelhante teve outra loirinha, Natalie Portman. Ela devorava uma pizza num restaurante quando foi abordada por um agente, que lhe perguntou se desejava ser modelo. “Não! Quero ser atriz”, devolveu, decidida. Ótimo. O agente a levou para o set de Leon, O Profissional, seu filme de estreia. Jennifer Lawrence foi descoberta num avião. Pamela Anderson, num jogo de futebol americano — estava na arquibancada e foi mostrada no telão. Já Steven Seagal ganhou a primeira chance bem ao seu feitio: na porrada. Um de seus alunos de artes marciais era agente. Mas sorte mesmo teve um conhecido ator paulista. Em 3 de maio de 1963, o avião da ponte aérea em que viajava decolou do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Caiu em seguida. Incendiou-se. Só 12 passageiros sobreviveram. Entre eles, o tal ator, que teve mais 46 anos para contar essa história — até sua morte, aos 85 anos. Seu nome: Renato Consorte.

Com sorte? Há quem fale em providência divina. Outros em “destino”, em “sina” ou qualquer outro determinismo. São Mateus apregoava que “muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”. O psicólogo suíço Carl Jung dedicou-se ao estudo das coincidências depois que um escaravelho raro bateu na janela de seu consultório durante a consulta de um paciente que narrava seu sonho com um escaravelho dourado. Desse episódio surgiriam conceitos como o de inconsciente coletivo.

Sim, as coincidências. O escritor americano Mark Twain veio ao mundo no mesmo ano da passagem do cometa Halley, e previa para quem quisesse ouvir que morreria na nova visita do Halley, 75 anos depois. Assim aconteceu. O fotógrafo paulista Domício Pinheiro tinha, entre os seus pares, o apelido de Toque Toque. Quando pronunciavam seu nome, batiam três vezes na madeira. Havia muito de inveja nessa atitude. Entre outras imagens históricas, Domício clicou uma arquibancada da Vila Belmiro desabando; e o instante exato em que atacante Mirandinha quebrou a perna esquerda numa dividida. Diziam que o fotógrafo tinha a sorte de clicar o azar.

Seja como for, os acasos podem ser um golpe de sorte não só para um felizardo, mas para toda a humanidade. Basta lembrar do cientista inglês Alexander Fleming. Em 1928, ele saiu de férias com tal pressa que esqueceu no laboratório, em Londres, algumas placas com cultura de microrganismos. Ao voltar, reparou que as culturas de Staphylococus haviam sido contaminadas por um bolor. Notou também que não havia mais bactérias em torno das colônias. Alguns testes depois, Fleming confirmou que o tal fungo era o responsável por essa eliminação. Com ele, produziu a penicilina. Surgido por uma casualidade, o medicamento salvou milhões de vidas.

O Viagra também surgiu absolutamente por acaso. Farmacêuticos do laboratório Pfizer sintetizaram o Cidrato de Sidenafila a fim de tratar a hipertensão. Durante os testes, notaram que a circulação do sangue favorecia a ereção. Eles salvaram, se não milhões de vidas, ao menos milhões de casamentos.

Você acredita em sorte? O escritor e cineasta francês Jean Cocteau, um dos pais do surrealismo, dizia, veemente: “Eu acredito”. E perguntava: “De que outra forma eu poderia explicar o sucesso daqueles de quem não gosto?”

“Eu acredito [em sorte]...
De que outra forma eu poderia explicar o sucesso daqueles de quem não gosto?
(Jean Cocteau)
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Ao lado: Pamela Anderson, que estava na arquibancada de um jogo de futebol americano e foi mostrada no telão. Deu no que deu

FÁTIMA PISSARRA É SÓCIA DA MAIOR AGÊNCIA

ESPECIALIZADA EM MARKETING DE INFLUÊNCIA E ENTRETENIMENTO DO BRASIL

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Por Renata Zanoni Fotos Miro Beleza Ju Shinoda 5 min
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Fátima Pissarra
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Expert em conectar marcas e pessoas, a criadora da Mynd construiu muito mais do que um negócio bem sucedido. Fátima Pissarra criou uma agência diversa e plural, que reflete a realidade do Brasil e agencia os maiores artistas e influenciadores do país. A agência, que tem seu foco em diversidade - conta com mais de 50% de colaboradores pretos e LGBTQIA+. Com um casting de 400 influenciadores e mais de 400 colaboradores, realiza os projetos mais inovadores do mercado.

Psicóloga, jornalista, profissional de marketing e autora do livro Profissão Influencer, Fátima Pissarra tem 25 anos de carreira e é uma das pioneiras no digital no Brasil. Passou por grandes empresas como BCP, Claro, Terra, Nokia e VEVO antes de decidir empreender, em 2012, quando inaugurou a Music2!, representante exclusiva da VEVO no Brasil. Em 2017, fundou a Mynd, em parceria com Preta Gil e Carlos Scappini, que auxilia empresas e agências na identificação de oportunidades, planejamento de estratégias e execução de projetos de entretenimento e marketing de influência. Além disso, a empresária concilia a rotina do dia a dia com a maternidade: é mãe da Carolina, de 13 anos, e dos gêmeos Luiz e Beatriz, de 7 anos. Nessa entrevista, ela fala sobre carreira e projetos para o futuro.

Desde quando você trabalha com marketing de influência?

Comecei minha carreira com o digital, no lançamento da internet. Fui beta tester de internet no Brasil, em 1996. A Federal de Santa Catarina (onde fez a primeira graduação), junto da Federal do Rio de Janeiro, foram as duas universidades que começaram os testes. Tinha uma plaquinha na faculdade: “quem conhecer alguém que tenha e-mail, se candidate para esse grupo’’. O meu irmão tinha e-mail, porque

ele trabalhava na Microsoft, nos Estados Unidos. Me deram um modem 14400, um disquete, e eu tinha que ficar mandando e-mail para o meu irmão. Quando me formei, fui trabalhar na start-up da BCP. Fui para a Nokia, virei Claro, sempre trabalhei em telecom. Meu chefe foi para a Vevo e me chamou para montar a operação no Brasil. Montei a Vevo, trabalhando com música e, depois, criei a Music2!, empresa especializada em projetos de música para marcas, representante exclusiva da VEVO no Brasil. Em 2017, lancei a Mynd. Foi quando comecei a agenciar. A Preta (Gil) entrou, começou a crescer, crescer, crescer e virou isso.

Você lá atrás já enxergava o potencial da internet?

Enxergava. Na época, fazia jornalismo na Federal de Santa Catarina e pensava que para eu trabalhar com jornalismo, para ser a Fátima Bernardes, era muito difícil, muita concorrência, muita gente boa. Meu projeto de conclusão de curso foi sobre internet. Minha pós-graduação, na Federal do Paraná, em Curitiba, foi sobre arquitetura de informação. Falei: “vou nesse caminho porque tenho certeza que vai ser muito grande e vou estar desde o início, vou surfar essa onda que aqui não tem ninguém”.

Conta um pouquinho mais sobre a sua formação?

Fiz duas graduações e uma pós. Depois que me formei em Jornalismo, fiz pós-graduação em marketing na Federal do Paraná. Lá, tinha um professor que era consultor da Coelba (Companhia de Eletricidade da Bahia) e me indicou para uma agência de Salvador. A menina da agência me ligou e me chamou para ser a gerente. Fui para Salvador, comecei a minha carreira na agência da Coelba. Depois de um ano, vim para São Paulo trabalhar na BCP (compa-

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“Somos uma empresa que está muito na frente, conseguimos pensar projetos fora da caixa”

nhia de celular que hoje faz parte da Claro). Do lado de onde eu trabalhava tinha uma faculdade, decidi fazer psicologia. Pensei que ia ser bom porque iria aprender a lidar com pessoas. Era um curso que eu gostava. Trabalhava de dia e, à noite, ia para a faculdade.

Como surgiu a sua parceria com a Preta Gil? Vendia patrocínios para o trio elétrico dela enquanto estava na Vevo. A gente foi se tornando conhecida, amiga. Um dia a gente teve uma reunião e ela começou a falar: “por que você não agencia?”. Eu falei que dava muito trabalho e só topava se ela fosse minha sócia. Ela respondeu: “Eu topo e a gente começa com a Pabllo (Vittar)”. Montei a Mynd e ela entrou de sócia.

Isso quando?

Em 2017. Seis meses depois que o Carlos Scappini entrou, a gente montou essa estrutura e começou a agenciar mais cantores. A Preta conheceu a Gleici, que tinha acabado de ganhar o BBB e falou: “por que a gente não amplia de cantor para influenciador?”. Em 2018, a gente mudou para entretenimento e a Gleici foi a primeira agenciada.

A Mynd se diferenciou no mercado por não contratar só héteros e brancos, conta um pouco dessa estratégia?

A Preta trazia muito a questão de discussão de gênero e de raça, de várias coisas que tinham acontecido na vida dela, termos usados errados. Ela já vinha com esse conhecimento. Falei: “Preta, não queria montar uma agência que não represente a realidade do Brasil’’. Quando estamos falando de marketing de influência, precisamos entender o país inteiro. Ouvia muito isso dos cantores: “Fátima, vocês estão

trancados em uma sala em São Paulo, mas eu que viajo para o Acre, para Rondônia, para o Amazonas, para o Rio Grande do Sul, sei a realidade”. Já tinha escutado tanto isso, precisava ter representatividade aqui dentro para errar menos e para ter essa visão mais aberta. Queria uma agência diversa de verdade, de dentro para fora. A gente já tinha a Pabllo, estava trazendo a Gleici e tinha a Preta. Trouxe a Samantha Almeida (atualmente diretora na área de conteúdo da Rede Globo), que estava na Avon. Falei: “Samantha, quero montar uma agência diversa, quero que a gente tenha 50% dos colaboradores pretos. Sei que as pessoas acham que sou louca por querer isso”. Enfrentei resistência dentro da empresa. Tinha gente que era contra. A mesma coisa que ouço hoje, que é difícil de achar, que precisa de treinamento. Mas a gente não mora na Suécia, moramos no Brasil, onde mais de 50% da população é preta. E não precisa de treinamento, não estou contratando tigre, estou contratando pessoas. Pessoa é pessoa.

Você conseguiu isso?

Consegui. A Samantha veio e contratou 50% de pessoas pretas. LGBTQIA+ já era 70%, mulher já era 80%. Somos uma empresa que está muito na frente, conseguimos pensar projetos fora da caixa. Quando começamos a agenciar a Gleici, a Camilla de Lucas, o Yuri Marçal, a Tia Má, eles entravam na Mynd e falavam que nunca tinham ido em um lugar assim, com pessoas pretas em todos os níveis. Se entrava em reunião de direção tinha preto, na de gerente tinha preto, analista tinha preto, tinha preto em todas as esferas. E os brancos também se motivaram com esse movimento. O que a gente aprende serve não só para o nosso micromundo. Essa vi-

“A gente não mora na Suécia, moramos no Brasil, onde mais de 50% da população é preta. E não precisa de treinamento, não estou contratando tigre, estou contratando pessoas”
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vência passa a ser uma vivência natural e isso amplifica toda a cadeia. Sempre falo para empresas que querem verdadeiramente fazer isso, me procurar. Posso ajudar, posso contar onde foram as maiores batalhas, onde tem que prestar mais atenção. Mas muito poucas empresas realmente têm coragem. A gente teve. Não é difícil contratar, não é difícil achar, então você quebra um monte de discursos, verdades que não são verdades.

Tem alguma pessoa que você gostaria muito que entrasse na sua agência?

Meu sonho é agenciar o Felipe Neto, mas ele tem a agência dele. Tem o Jorge e Mateus, que sou super fã. E sempre falo que é meu sonho agenciar a Deborah Secco. Sou fã dela desde a infância, quando ela fazia Confissões de Adolescente

Qual a melhor estratégia digital que você viu nos últimos tempos?

Amo as estratégias da Boca Rosa, acho ela perfeita. Ela é uma que eu queria agenciar. Ela é muito inteligente, entende muito do meio e sabe extrair além da publicidade, que é o caminho que a gente está indo agora na Mynd. Ela faz isso de uma forma muito bem sucedida, como influenciadora, como empreendedora e como criadora de novos negócios.

Quais os projetos para o futuro?

Até agora trabalhamos muito focados em publicidade e agora estamos trabalhando para criar linhas de produtos para os influenciadores, ampliando o campo onde o nosso agenciado pode atuar, outros meios e outras formas de gerar receita, para transformá-los em empresas com longevidade

e rentabilidade. Chamamos isso de produtificação. Até trouxemos o José Cirilo, que era da Seara, da Procter, para ajudar na parte mais mercadológica de cada influenciador. É bem novo isso: a construção de uma pessoa ser uma empresa tão forte que pode abrir um IPO. Isso é o que está rodando agora para o futuro.

Porque você decidiu escrever o livro Profissão Influencer?

Decidi escrever de tanto que me perguntavam: “o que eu tenho que fazer para ser influenciador?”. Era muita mensagem no meu direct. O livro é baseado em tudo que ouvi esse tempo todo trabalhando nesta área. Escuto muito, de quem não tem experiência, que influenciador ganha dinheiro sentado no sofá. Não ganha. Você tem que tratar como um negócio. É uma coisa séria, tem que olhar seus concorrentes, que tipo de conteúdo você acha legal fazer, qual é a sua verdade. Tem que trabalhar muito com a sua autenticidade e tratar isso de uma forma profissional. Com gravação todos os dias, com horário, com compromisso. Essa disciplina é o que eu queria colocar no livro, essa realidade.

Quais conselhos você daria para quem está começando?

É importante ter a mente aberta para aprender, ouvir os outros, interagir com várias pessoas. Sempre aprendi além do meu job description. Fiz Jornalismo porque queria saber tudo, jornalista entrevista todos os tipos de pessoa. É importante aprender sobre tudo o que envolve o que você vai fazer. E é preciso saber trabalhar em equipe. Estou vendo que está muito difícil, hoje em dia, trabalhar em equipe.

“Escuto muito, de quem não tem experiência, que influenciador ganha dinheiro sentado no sofá. Não ganha. Você tem que tratar como um negócio”
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Imagine ter uma casa na praia, no campo ou no exterior, um iate, helicóptero e jato, mas sem bancar tudo do seu bolso. Agora dá para ter tudo isso com o mesmo valor que você investiria em um único bem. É o que propõe a empresa de compartilhamento iShare, que cuida dos bens de luxo de clientes que têm muito, mas pouco usam, ou dos que querem ter, mas de forma inteligente e compatível com a conveniência. “Por exemplo, um imóvel de R$ 20 milhões, se dividido com outras pessoas, terá seu investimento reduzido. Você vai ser proprietário de uma casa que ficou mais barata. Ou com os mesmos R$ 20 milhões vai ter acesso não só à residência, mas também a um helicóptero, barco, etc.”, explica Laurent Sciama, diretor da iShare. A empresa nasceu da necessidade dos sócios de otimizar o uso de uma casa de campo no interior de São Paulo e de duas aeronaves. Eram bens subutilizados, que geravam altos custos mensais de manutenção e administração, mas acabavam sendo um impeditivo para que um novo patrimônio fosse adquirido, pois isso geraria mais custos ainda.

O novo modelo de negócios possibilita ter mais por menos. “Pense em uma família que já tem uma casa na Fazenda Boa Vista, de R$ 10 milhões, mas só utiliza uma vez por mês. A melhor forma para eles é, além de usufruir dela, também ter uma cota de um barco que possam aproveitar em outra ocasião na praia. A pessoa vai receber dinheiro quando outros investidores comprarem a cota dessa casa. E os bens vão se multiplicar”, conta. Segundo estimativa feita pela corporação,

“Em momentos de incertezas, as pessoas querem liquidez”
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Abaixo e na pág. de abertura: Classic 76 da MCP Yachts

quem tem um helicóptero voa, em média, apenas 10 horas por mês. Proprietários de casas de praia ou campo utilizam basicamente 30 dias por ano. Quando o imóvel fica no exterior, o tempo de uso cai bastante. Um apartamento em Miami, por exemplo, é utilizado, cerca de, três vezes por ano. No tempo ocioso, esses bens estão apenas gerando custos de manutenção e administração. “Temos essa proposta para lazer, mas nada impede as empresas de aderirem também. Uma companhia pode ter um barco de 80 pés para organizar eventos corporativos ou premiar vendedores e fornecedores de destaque.” Laurent explica ainda que o compartilhamento é relevante em tempos de crise. “Em momentos de incertezas, as pessoas querem liquidez e diminuir gastos fixos. Quem investiu R$ 10 milhões em uma casa recupera grande parte do investimento mantendo o mesmo uso, e consegue dividir o custo e manutenção.”

Multiplicador de patrimônio

O compartilhamento pode envolver um bem existente ou até um novo a ser adquirido ou construído por um grupo de compradores. “Além da administração dos ativos que serão compartilhados, também cuidamos da manutenção. Os empregados já vão estar orientados de acordo com o gosto do proprietário. A pessoa usa sem dor de cabeça, não precisa lembrar de nada, é só arrumar as malas e ir. O papel da iShare é tornar a experiência da família inesquecível”, diz Laurent. E é só isso mesmo. Se optar por uma casa de praia, por exemplo, quando você chegar, tudo vai ter a sua cara — como se fosse só sua — e estar customizado do

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Acima: Helicóptero Agusta AW109 Grand, com capacidade para oito pessoas

jeito que pediu, com detalhes como porta-retratos da família, cardápio preparado por um chef de acordo com o gosto da pessoa, toalhas e lençóis com as iniciais, entre outras facilidades que o cliente pode escolher. “Nosso momento é muito interessante, em particular no Brasil. O compartilhamento é uma coisa nova, mas que já entrou na vida de muita gente de maneira até informal, como muitos que dividem a casa de campo ou praia entre amigos e familiares. Mas que, às vezes, gera desentendimento. O custo de manutenção é muito elevado e não vale a pena ter esse dinheiro parado”, avalia.

Lifestyle

A cartela de bens à escolha do cliente é enorme. Seja qual for o gosto, vai ter uma opção que se encaixa à sua necessidade. Residências nos Estados Unidos, na Europa, na América do Sul, ilhas, iates acima de 50 pés, helicópteros e jatos podem ser adquiridos por meio de cotas. Quem aprecia experiências gastronômicas, por exemplo, pode chamar de sua uma casa com vinhedo no quintal no sul da França; se quiser algo mais perto, pode ir a Punta del Este com o jato que também é seu e está no pacote de compartilhamento. “Nosso público gosta de bens de luxo, mas com investimentos diferenciados. Compartilhar significa investir de maneira inteligente, e otimizar a aquisição e o uso. Nosso trabalho é juntar pessoas com o mesmo perfil de investimento, de lazer e de uso”, explica Laurent. Tudo é feito por meio de rodízio, todos desfrutam do mesmo bem pela mesma quantidade de tempo e de maneira justa. E o apoio de um concierge garantirá a otimização do tempo de todos. ishare.net.br

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Nesta pág.: Casa em St. Barth
“Você pode chamar de sua uma casa com vinhedo no quintal no sul da França ou uma ilha paradisíaca por um valor bem menor”
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A partir da seta, em sentido anti-hórario: Requinte urbano em São Paulo; avião Hawker 800XP; casas com arquitetura única na Serra da Mantiqueira, no interior de São Paulo; e em Trancoso, na Bahia

Na ponta do lápis

AS CRIAÇÕES HIPER-REALISTAS DE NOÉMIE MARMORAT

SÃO FEITAS A PARTIR DE INSTRUMENTOS CLÁSSICOS:

LÁPIS E CANETAS, SEM NENHUMA INTERVENÇÃO

DIGITAL. AS MOTOS E OS CARROS QUE NASCEM A PARTIR DE SEUS TRAÇOS PRECISOS ENGANAM OS OLHOS E CRIAM UMA LINHA TÊNUE ENTRE FOTOGRAFIA E ILUSTRAÇÃO

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O prazer em desenhar acompanha a francesa Noémie Marmorat desde pequena, assim como seu interesse pelo universo das motos e carros. Há três anos, aliou as duas paixões e, despretensiosamente, deu início a sua carreira como ilustradora de veículos motorizados. “Tudo começou quando meu irmão me pediu para desenhar sua primeira motocicleta, uma Kawasaki Ninja 300. Foi a primeira vez que desenhei uma moto. Gostei do resultado e então fiz outras ilustrações e postei nas redes sociais”, relembra Noémie. Sem grandes pretensões, ela buscava um feedback sobre suas criações, mas em pouco tempo seu trabalho fez tanto sucesso que os pedidos por ilustrações exclusivas começaram a pipocar em sua caixa de mensagens. Sob o pseudônimo de Gasoline MAAB, Noémie realiza hoje ilustrações sob encomenda e os pedidos chegam dos quatro cantos da França, mas também de outras partes do mundo, como Itália, Espanha, Noruega, Austrália, Estados Unidos e Índia.

Perfeccionista nata, Noémie gosta de tudo organizado, bem-estruturado e com o mínimo possível de falhas — características de sua personalidade que se refletem nos traços de cada uma de suas ilustrações. É a partir de fotos em alta resolução que ela cria seus desenhos e se mantém fiel a cada detalhe. Das cores às sombras; do formato do motor à costura do estofado: tudo é estudado para que se aproxime ao máximo do real. De sua formação como designer de produtos guardou o fascínio pela representação realista e diversas técnicas de desenho. Usa canetas à base de álcool para definir as cores; lápis de cor para criar sombras, luzes e relevos e, para realçar certos detalhes, opta por canetas Posca. “A etapa de finalização é a que eu mais gosto. Para mim, é no momento em que utilizo as canetas Posca que a moto ou o carro parecem realmente ganhar vida. É quando se aproximam mais da realidade.” Todo esse processo é feito manualmente, sem nenhum artifício digital. “É comum me perguntarem por que eu não faço ilustrações digitais. Eu gosto do lado humano e bruto do desenho, o defeito de um traço dá certa personalidade à ilustração. Acho importante desenvolver a sensibilidade e o traço com ferramentas manuais “clássicas”, mesmo estando ciente das possibilidades que o digital oferece hoje”. Todo esse processo minucioso exige tempo: Noémie leva entre 15 e 20 horas para se dar por satisfeita com uma ilustração. Os últimos três anos foram intensos e seu portfólio já é composto por centenas de ilustrações de motos, carros e pilotos. Dentre elas, uma das quais mais se orgulha é a de Ayrton Senna: “Além de ser um dos meus maiores ídolos do universo automobilístico, seus retratos foram os mais complexos de serem desenhados”. Para ela, a arte é uma excelente maneira de se comunicar sem palavras: “Ser capaz de transmitir uma memória ou um sentimento por meio de uma folha de papel é muito gratificante para mim”. Além da sensação

“Tudo começou quando meu irmão me pediu para desenhar sua primeira motocicleta, uma Kawasaki Ninja 300”
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insubstituível de presenciar a alegria de seus clientes ao receber seus trabalhos, a carreira de Noémie já lhe proporcionou outros grandes momentos, como o encontro com o piloto Giacomo Agostini e a exposição de seus desenhos em diversos eventos automobilísticos, como o 24 Heures de Le Mans; Salon du 2 Roues, em Lyon; e Cafe Racer Festival, em Montlhéry. “É um verdadeiro sonho. Todos os eventos nos quais expus minhas criações foram muito enriquecedores. Adoro conhecer pessoas e receber feedback sobre meu trabalho.”

Como parte de seu processo de aprimoramento, Noémie nunca está muito longe de um lápis: “Eu desenho todos os dias, vejo meu traço mudar e sei que ainda tenho muito o que aprender. É um processo interminável e provavelmente é disso que eu mais gosto”. Além de aperfeiçoar seus desenhos, pretende ampliar seus horizontes e conquistar também o universo dos barcos e aviões. “Gostaria também de expandir mais meu trabalho no mercado internacional, expor em grandes eventos, fazer colaborações e projetos originais que permitam meu desenvolvimento de outras formas.”

Apesar de estar mergulhada no universo das motos há bastante tempo, foi apenas há dois anos que Noémie tirou sua habilitação para dirigir motos. Hoje, embaixadora da Indian Motorcycle France e proprietária de uma Indian Scout Bobber Sixty, diz orgulhosa: “Agora sou oficialmente motociclista”.

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Nada escapa aos olhos atentos de Noémie. Das cores, às sombras; do formato do motor à costura do estofado: cada detalhe é rigorosamente retratado em seus desenhos
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DESCUBRA OS ENCANTOS DE MYANMAR, PAÍS QUE REVELA UM PATRIMÔNIO PRECIOSO PARA O MUNDO Texto e fotos Érico Hiller 5 min 80 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 267 Viagem
As novas cores da Ásia
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Um país múltiplo: eis uma maneira de explicar a maior nação do Sudeste Asiático, que tem mais de 53 milhões de habitantes espalhados por um território cujo tamanho é a soma das áreas da Alemanha e da Itália. A duplicidade começa pelo nome: Mianmá ou Myanmar para alguns. Birmânia ou Burma, pelo menos para os Estados Unidos, a Inglaterra e a Austrália — entre outros países que não aceitaram a adoção do novo nome, decidida por um dos muitos generais que governam o país desde sua independência dos ingleses, em 1948. Um lugar de natureza luxuriante e povos diversos, que falam muitas línguas e rezam para muitos deuses.

Myanmar também é variada por sua história. Pertenceu à Índia por muitos séculos (só em 1932 os ingleses deram-lhe autonomia); tem origens ligadas ao budismo, parte da população é muçulmana, parte hinduísta — uma verdadeira salada asiática, no melhor sentido que esse termo pode ter.

Há muito a ver, estranhar e com que se surpreender em Myanmar.

Para começar, quase tudo tem dois nomes: a antiga capital chamava-se Rangoon e agora é Yangon. A mesma lógica se aplica a quase todos os nomes locais. Com o tempo, os nomes antigos tendem a desaparecer.

Yangon (fiquemos com esse) foi a capital do país até 2005. Uma cidade estranha, onde as ruas têm buracos para orgulhar nossos governantes: são enormes, quase todos inundados e ninguém toma providência. A bagunça no trânsito é ainda maior, porque, depois de décadas de mão inglesa, o governo decidiu mudar para a mão francesa. Como quase todos os carros e ônibus têm o volante à moda inglesa, é fácil imaginar a confusão.

O país tem grande variedade de povos, religiões e hábitos culturais
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No sentido horário: Meditação na Pagoda Shwedagon, a maior do país com 90 toneladas de ouro; monge novato estuda em templo
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Os 2200 templos de Bagan são uma das maravilhas do mundo.

E podem ser apreciados de balão

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Os homens usam uma espécie de saia, chamada longui. Não se trata de mostrar a cor do clã, como na Escócia, mas de refrescar-se do tórrido calor da região.

Três tesouros chamam a atenção. O centro, todo erguido com arquitetura inglesa, é até preservado. O Pagode Shwedagon é outra atração: são 90 toneladas de ouro que guardam algumas relíquias atribuídas a Buda. Mas o mais surpreendente — e incomum na região — é a paixão dos birmaneses pela leitura. Há centenas de lojas de livros usados que passam de mão em mão, na falta de produção mais recente.

Os homens de Myanmar têm, em sua maioria, o rosto pintado. Não, não se trata de maquiagem. O produto que dá a cor à face é uma pasta de tanaka, um tipo de árvore local. Serve para proteger do sol, embora muitos locais aproveitem para fazer desenhos em seus rostos.

A maior atração turística do país é o complexo de templos budistas de Bagan. Redescoberto, hoje ele é citado como uma das maiores atrações do mundo. Um único vale que contém 2.200 templos (pagodes), erguidos no século 11.

É obrigatório visitar, porque a região também é muito bonita. Outro lugar para o qual você deve ir é Mandalay, outra antiga capital do país. Não deixe de ver a ponte de U Bein, toda feita de madeira sobre o Rio Irauádi. E, certamente, é necessário visitar o monumental templo de Mingun, que hoje é apenas uma parte do que foi a maior concentração de tijolos do mundo — e que perdeu grande parte de sua estrutura em um terremoto.

Costumes abandonados em outras partes da Ásia ainda podem ser vistos em Myanmar
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As ruínas de Mingun Paya, em Mandalay
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Os birmaneses são os melhores produtores de laca em todo o planeta, apesar da concorrência da China e da Índia. Mas não é isso que os sustenta. O país produz borracha, petróleo e gás. Quase 70% de sua economia é proveniente do setor primário.

Sabe-se, porém, que é o ópio, plantado como papoula e produzido em grande escala nas regiões montanhosas, o responsável por grande parte do dinheiro circulante na região.

Falando em dinheiro, se você é colecionador de moedas, não vai ser fácil encontrá-las. A inflação que afligiu o país tornou-as desnecessárias. Para se ter uma ideia, um dólar vale quase 1400 kyats. Imagine o valor das antigas pias, que eram moedas em centavos.

Por enquanto, só os mais aventureiros visitam o país, embora já existam resorts chiques como o Pristine Lotus Spa Resort, às margens do Lago Inie. Nesse lago pratica-se uma forma curiosa de pesca. Para poder dar atenção completa ao trabalho, os pescadores remam, habilidosamente, com um de seus pés.

Mas vá com calma: para compensar o atraso, a semana birmanesa tem um dia a mais que a nossa. Na verdade, é a quarta-feira que se divide em dois dias. Na prática, é a mesma coisa. Mas, na teoria, é bom que pareça mais tempo para explorar.

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Há muito ouro no lugar e ele é usado sem economia nos templos budistas

Na pág. ao lado: Tecelãs da tribo Kayan Lahwi. Nessa pág., no sentido horário: Típica mulher fuma um cigarro de cheroot, visitantes colam folhas de ouro na estátua do Buda, no Templo Mahamuni Buddha

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Pompa e Circunstância

OS REQUINTADOS E ESPAÇOSOS SEDÃS TIPO LIMUSINE

AINDA TÊM SEU ESPAÇO CATIVO NO MERCADO MUNDIAL

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Nesse mundo acelerado, no qual novas tendências se sucedem rapidamente e já se especula até automóvel autônomo para um futuro breve, os exclusivos e requintados sedãs tipo limusine devidamente comandados por “chofer”, podem parecer um anacronismo, mas ainda têm espaço no mercado e são os preferidos de milionários e celebridades.

Marcas tradicionais nesse segmento, pelo legado histórico, são as inglesas Bentley e Rolls-Royce, além da alemã Mercedes-Maybach. Vale destacar que todas têm atualmente “sotaque” alemão, já que a Bentley é controlada pelo Grupo VW, enquanto a Rolls-Royce faz parte do conglomerado BMW, após a acirrada disputa que forçou a separação das duas tradicionais marcas inglesas.

As características de exclusividade, como espaço, conforto e requinte, também aliam desempenho que em nada — ou pouco — fica a dever a muitos esportivos. Isso, inclusive, pode fazer com que o privilegiado ocupante do banco traseiro sinta uma ponta de inveja de quem está tendo o prazer de conduzir o carro, e vice-versa.

Souvenir de Le Mans

O Bentley Mulsanne Extended Wheelbase é uma versão top de linha da marca. A denominação Mulsanne evoca a grande reta da pista francesa de Le Mans, souvenir da época de glória da Bentley na tradicional competição de 24 Horas, na década de 1920. A nova geração do Mulsanne, lançada em 2009, teve o estilo atualizado, e em 2016 a carroceria poderá vir com charmosa pintura bicolor.

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Por Roberto Marks Fotos Divulgação 5 min
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O comprimento de 5,8 metros e entre-eixos de 3,5 metros proporciona a essa versão do Mulsanne muito espaço nas duas poltronas traseiras, reclináveis e ajustáveis eletronicamente, com apoio para as pernas, o que simula a mesma sensação de relaxar de um jato particular. Os monitores multimídia, escamoteáveis, ficam encaixados atrás do encosto dos bancos dianteiros, e copos de cristal, no console, já acompanham o carro, além das cortinas de privacidade acionadas por comando elétrico.

A especificação de acabamento Mulliner, divisão de personalização da marca, específica para o Mulsanne, traz laterais das portas e painel revestidos em madeira nobre (raiz de nogueira). Nos bancos, o couro é selecionado de raças nobres e os tapetes de lã de cordeiro proporcionam a agradável sensação de afundar os pés. Além disso, podem ter até apliques com diamantes, dependendo da solicitação do cliente.

O motor V8 do Mulsanne com 6,8 litros, biturbo, desenvolve 512 cv e o câmbio é automático de oito marchas. Mesmo pesando cerca de 2.750 quilos, em ordem de marcha, ele acelera de 0 a 100 km/h em 5 segundos e alcança velocidade máxima, declarada pelo fabricante, de 296 km/h. O preço na Inglaterra é de 275 mil libras, algo em torno de 1,45 milhão de reais. Mas a marca não é comercializada oficialmente no Brasil, no momento.

Espectro de êxtase

O Rolls-Royce Ghost Extended Wheelbase, lançado em 2012, ganhou a atualização de estilo realizada na linha em 2015. O termo Ghost, que pode significar tanto alma como espírito, ou até mesmo fantasma, no caso deste modelo é definido como Espectro. As versões do Ghost são mais acessíveis que as do Phantom, top de linha da marca, mas não menos requintadas.

O Bentley Mulsanne pode vir com pintura bicolor, revestimento em couro e madeira nobre, além de monitores multimidia escamoteáveis
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Características exclusivas, como conforto e requinte, também aliam desempenho que em nada — ou pouco — fica a dever a muitos esportivos

Trata-se de estratégia de marketing, com o Phantom se destacando pela imponência e formalidade, enquanto o Ghost é mais jovial e informal. O acabamento, entretanto, segue os elevados parâmetros de requinte da marca, que faz questão de afirmar que todos os seus modelos são montados à mão, por uma equipe de técnicos e artesãos, na moderna fábrica de Goodwood.

Com comprimento total de 5,4 metros e entre-eixos de 3,3 metros, o Ghost também se caracteriza, assim como o Phantom, pela abertura das portas traseiras em sentindo inverso para facilitar o acesso. Mas o espaço atrás, razoavelmente dimensionado, é inferior ao de seus concorrentes diretos, como também em relação ao Phantom. Já os detalhes de acabamento, assim como o revestimento interno em couro e madeira, são impecáveis. A carroceria pode vir pintada em dois tons.

O motor V12, de origem BMW, com 6,6 litros, biturbo, desenvolve 570 cv e se destaca pelo funcionamento bastante silencioso. O câmbio automático utiliza dados de satélite para determinar a melhor seleção das oito marchas. A suspensão pneumática inteligente proporciona a sensação de flutuar sobre a pista, mas com estabilidade e dirigibilidade. Pesando 2.500 kg, o Ghost acelera de 0 a 100 km/h em 4,8 segundos, porém, tem velocidade máxima limitada a 250 km/h. O modelo importado pela Via Itália, só por encomenda, custa cerca de 3 milhões de reais.

Homenagem ao pioneiro

O Mercedes-Maybach é o top de linha da Classe S da marca alemã e homenageia Wilhelm Maybach, um dos pioneiros da indústria automobilística alemã, juntamente com Gottlieb Daimler e Karl Benz. Maybach

A abertura das portas traseiras facilita o acesso no Rolls-Royce Ghost, que também se destaca pelo acabamento impecável

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foi engenheiro-chefe da Daimler até 1909, quando abriu a própria fábrica de motores para equipar os dirigíveis do conde Ferdinand von Zeppelin. Após a Primeira Guerra Mundial, ele e o filho Karl construíram automóveis de prestígio para concorrer com a Mercedes-Benz, Rolls-Royce e Bentley.

Depois da Segunda Guerra, a Maybach-Motorenbaun voltou às origens para se dedicar exclusivamente à produção de motores e, posteriormente, se associou a Daimler-Benz. Quando VW e BMW iniciaram a disputa pelo controle do grupo Rolls-Royce/Bentley, o comando da Daimler decidiu resgatar o nome Maybach para enfrentar a concorrência. Mas a proposta de reviver Maybach como marca independente, relançada em 2002, não foi bem-sucedida, e suas atividades foram encerradas em 2013.

A partir de 2015, Maybach passou a denominar a versão top de linha da Mercedes Classe S. A nova geração do Mercedes-Maybach, 2019, lançada no Salão do Automóvel em Genebra e que deverá estar no Salão de São Paulo, em novembro, tem carroceria alongada e pintura especial à mão, em dois tons, com dupla camada e nove combinações diferentes. Com 5,5 metros de comprimento e entre-eixos de 3,4 metros, possui duas espaçosas poltronas traseiras reclináveis, com regulagem elétrica e apoio para as pernas.

O Mercedes-Maybach tem três versões: S450, com motor V6 de 3,0 litros; S560, com motor V8 de 4,0 litros; e a opção mais potente, S650 com motor V12 de 6,0 litros, biturbo, e potência de 630 cv, que acelera de 0 a 100 km/h em 4,7 segundos de velocidade máxima, limitada eletronicamente a 250 km/h. Esta última, importada pela Mercedes-Benz do Brasil somente por encomenda, custa cerca de 1,6 milhão de reais.

A pintura bicolor é padrão no Mercedes-Maybach e os bancos reclináveis são confortáveis poltronas

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O MercedesMaybach é a versão top de linha da requintada Classe S
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A Princesa Art-Déco

UM DOS ÍCONES CULTURAIS MAIS FAMOSOS DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20, JOSEPHINE BAKER ERA IRREVERENTE A PONTO DE TER UMA GUEPARDO DE ESTIMAÇÃO

DONO DE UMA COLEIRA DE DIAMANTES. MAS SUA FAMA É ATRIBUÍDA AO SEU TALENTO INDESCRITÍVEL E SUA VEIA ATIVISTA

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Bem antes de Carmen Miranda fazer do turbante de bananas sua marca registrada e de Madonna e Angelina Jolie se tornarem mães adotivas multirraciais, houve Josephine Baker que se envolveu com tudo isso e mais um pouco. A figura negra, pequena e esguia, de seios miúdos, pernas bem torneadas e derrière empinado causou furor pela primeira vez  e entrou para a história do século 20, em Paris, na noite do dia 2 de outubro de 1925. Praticamente nua a não ser por um saiote de bananas sobre um biquíni mínimo, ela era uma atração da Revue Nigre, trupe americana de artistas negros que apresentava para le tout Paris a sensação do momento, o jazz. Josephine dançou como fazia desde a infância nos cortiços de St. Louis, meneando os quadris de modo frenético, sacudindo os braços nus e revirando os olhos numa careta infantil, que os franceses encararam como uma performance de alta voltagem erótica e chamaram de “danse sauvage”. Do dia para a noite, jornais e revistas só falavam da “pérola negra”, “vênus de bronze”, “deusa crioula” e o público só queria saber de “la Baker” – pronunciado à francesa, “Bá-quér”. Ela não fez por menos, comportando-se como a estrela que se tornara e os fãs esperavam ver. Virou musa de pintores, fotógrafos, escritores e costureiros. Vestia-se no rigor da moda, coberta de joias, e seu penteado gomalinado à la garçonne era copiado por todas. Colecionava amantes de ambos os sexos e causava geral desfilando pelos boulervards com seu guepardo de estimação preso em uma coleira de diamantes feita pela joalheria Cartier. Uma façanha e tanto para a menina pobre Freda Josephine McDonald, nascida em 1906. Quando la Baker se tornou tão parisiense quanto a baguette e o croissant, gravou com voz pequena o hino de sua vida J’ai Deux Amours (Mon Pays et Paris), mas o amor pelos EUA nunca foi totalmente correspondido. Estrela na França, foi descriminada em seu país natal sendo forçada a entrar pela porta dos fundos em restaurantes, hotéis e nightclubs onde se apresentava. Porém, recusou terminantemente se apresentar para plateias segregadas, iniciando um ativismo pelos direitos civis que a acompanhou pelo resto da vida.

Assumiu o posto de vedete do music hall francês e a cidadania do país de adoção, que mais tarde a condecorou pelo envolvimento na luta da Resistência contra a ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Nos anos 50, com a carreira em declínio, casou-se pela quarta vez – com o francês Jo Buillon –, comprou o castelo de Les Milandes, onde se instalou com o marido, e começou a adotar crianças de diferentes nacionalidades –do Japão, da Venezuela, do Marrocos e da Finlândia, entre outros países. Ao todo foram 12, que ela chamou de Tribo do Arco-Íris.

Depois de enfrentar mais um divórcio, a falência e a debandada da tribo de filhos adotivos – eles se rebelaram durante a adolescência e alguns foram viver com o pai em Buenos Aires –, la Baker ressurgiu das cinzas em 1975 com um espetáculo vitorioso no teatro Bobino em Paris. A morte a apanhou no meio da temporada, aos 68 anos, e ela teve um funeral com honras militares comandado pela amiga de longa data, a princesa Grace de Mônaco. Akio Bouillon, o integrante japonês da Tribo do Arco-Íris que hoje vive em Paris,  falou sobre a mãe famosa em 2009: “Ela era uma grande artista e nossa mãe. E, como toda mãe, cometeu erros. Ninguém é perfeito”.

A vedete mas bem paga dos cabarés franceses adotou 12 filhos que ela chamava de Tribo do Arco-Íris
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Josephine colecionava amantes de ambos os sexos e causava geral desfilando pelos boulervards com seu guepardo de estimação
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NA ESSÊNCIA, O SER HUMANO MUDOU POUCO EM SUA JORNADA. E É JUSTAMENTE ESSA INÉRCIA DE ESPÍRITO QUE TORNA O TRABALHO DO FOTÓGRAFO TÃO PRECIOSO, FAZENDO DE CADA RETRATO UM DIAMANTE A SE LAPIDAR Olhares de um mesmo mundo Por Lucas Berti Fotos Bill Phelps 2 min 105
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O fotógrafo garimpa o que há de único e individual em um ser que há séculos tem sutilezas bem parecidas
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A busca por algo novo em meio à mesmice é fundamentalmente o que podemos chamar de arte
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