Made in Brazil: os 10 festivais de música sertaneja mais populares do país
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DE NORTE A SUL DO PAÍS, ENTENDA A ORIGEM DO GÊNERO MAIS TOCADO NO ÚLTIMO ANO E CONHEÇA OS EVENTOS QUE VÃO ESQUENTAR DIVERSAS FESTAS PELO BRASIL
Por Thaís Mota FotosReprodução 5 min
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A retrospectiva musical de 2022, produzida pelo Spotify, mostrou – sem grandes surpresas – as preferências que dominam o gosto dos ouvintes brasileiros. O gênero mais escutado no país, segundo o serviço de streaming, é o “sertanejo pop”, seguido pelo funk carioca e pelo “sertanejo universitário”. Marília Mendonça, a eterna rainha da “sofrência”, liderou o Top 5 dos artistas mais escutados do Brasil, com as duplas Henrique & Juliano na segunda posição e Jorge & Mateus na terceira. Apesar de essas vozes dominarem o topo das paradas na atualidade, o gênero musical surgiu no século passado e carrega muitas histórias e diversas transformações técnicas até chegar à versão que mais toca nos fones dos brasileiros.
A música sertaneja tem origem no sertão rural brasileiro na década de 1910, a partir das modas de viola que tocavam, sem grande preocupação rítmica, canções sobre as vivências simplistas no campo, o contato com a natureza e os costumes caipiras. Essa primeira geração do estilo musical é conhecida por “sertanejo raiz” e representada por nomes populares como Alvarenga & Ranchinho e Tonico & Tinoco.
Transições
Com o passar dos anos, as características do sertanejo foram se transformando devido às influências de elementos trazidos pelo pop, country e rock, e a inserção de novos instrumentos musicais. Assim, surgiu o “sertanejo romântico” de Zezé Di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó nos anos 1960 – e não é possível negar as aparências, nem disfarçar as evidências do sucesso do gênero porque, com certeza, você já cantou algum hit dessas e de tantas outras duplas que marcaram o país com letras e melodias sentimentais. Entre tantas variações, o responsável pelo maior alcance nacional e internacional do estilo musical é o “sertanejo universitário”. O gênero queridinho e “superchiclete” foi consolidado nos anos 2000, trazendo uma repaginação tanto nas letras – que passaram a contar sobre relações afetivas, dinheiro, festas e álcool – quanto no visual e na vestimenta dos artistas com a modernização das referências estéticas caipiras. Entre os principais nomes desse grupo, estão Maiara & Maraisa, Luan Santana, Michel Teló e Jorge & Mateus. Vale destacar o subgênero do sertanejo conhecido como “feminejo”, integrado por cantoras e compositoras mulheres, colocadas como protagonistas dos novos enredos musicais – historicamente voltados e criados sob a perspectiva masculina. Essa segmentação deu espaço a vozes femininas no cenário e trouxe representatividade para esse público, que consegue se identificar mais com os versos cantados pelas “patroas”. Independentemente de qual variação ou geração do estilo escutado, o sertanejo é responsável por movimentar grandes festivais que unem música, agronegócio, diversão e o que o brasileiro faz como ninguém: festa! Botas lustradas, fivelas apertadas e chapéu em mãos? Então confira o guia dos dez festivais sertanejos mais populares do Brasil para se divertir e celebrar a música nacional!
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Independentemente de qual variação ou geração do estilo escutado, o sertanejo é responsável por movimentar grandes festivais que unem música, agronegócio, diversão e o que o brasileiro faz como ninguém: festa!
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Caldas Country Festival @caldascountry
Aclamado como um dos maiores festivais do país, acontece há 16 anos na cidade de Caldas Novas (GO). A edição de 2023 fará parte do Circuito Sertanejo no mês de novembro, com 30 horas de música e um lineup que promete esquentar o estado.
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Farraial @farraial
Com mais de dez horas de shows, experiências gastronômicas e muita farra, recebeu mais de 40 mil pessoas em sua última edição, na Arena Anhembi, em São Paulo. O lineup deste ano, que mistura sertanejo, pop e eletrônica, já tem atrações anunciadas e participações inéditas.
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Circuito Brahma Sertanejo
@camarotebrahmaoficial
O Circuito Brahma Sertanejo reúne mais de 50 eventos com as maiores e melhores festas do estilo, espalhados de norte a sul do Brasil, alcançando mais de seis milhões de pessoas em suas edições anteriores e uma experiência completa com a qualidade da cervejaria.
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Festa do Peão de Barretos @festadopeaodebarretos_oficial
Conhecida como “Barretão”, a festa acontece todos os anos na cidade do interior paulista, desde 1956. O maior rodeio da América Latina também traz shows musicais, feira comercial, apresentações culturais e diversas atividades temáticas em uma infraestrutura de mais de dois milhões de metros quadrados. Em 2023, a festa acontece de 17 a 27 de agosto, sendo uma das etapas do Circuito Sertanejo.
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Festival Sertanejo @festivalbrasilsertanejooficial
Responsável por trazer estrelas da música nacional a Belo Horizonte, o Festival Sertanejo celebra cinco anos e acontece, pela primeira vez, no gramado do Mineirão, em Belo Horizonte, com atrações como Zé Neto & Cristiano, Maiara & Maraísa, Dennis, Guilherme & Benuto e muito mais.
Há 61 anos, a ExpoLondrina movimenta o setor agropecuário e se consagra como o maior evento de agronegócio do país, trazendotambém o melhor da festa sertaneja para o público paranaense.
ExpoLondrina @expolondrinaoficial
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Villa Country @villacountry
A casa temática paulistana possui 12 mil m² inspirados no Velho Oeste americano, e recebe grandes estrelas da música country e sertaneja. Em 2023, completa 21 anos e fará parte do Circuito Sertanejo.
Ribeirão Rodeo Music
@ribeiraorodeomusic
Mais uma etapa do Circuito Sertanejo, o Ribeirão Rodeo Music é um dos eventos mais aguardados do interior paulista. O RRM 2023 terá 15 shows em quatro dias de festa country no Parque Permanente de Exposições de Ribeirão Preto, e o público poderá assistir aos shows de Ana Castela, Bruno & Marrone, Alok e outros grandes nomes da cena musical.
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Festa do Peão de Colorado @srcolorado
Famosa pela valorização da montaria em cavalos no estilo cutiano, a “Capital do Rodeio no Paraná” é referência no país e sedia, anualmente, a Festa de Peão Boiadeiro – já em sua 47ª edição. O espaço conta com uma área de mais de 90 mil m², na qual recebe milhares de visitantes de todo o país. Vale destacar a importância da festa para a movimentação da economia local e o reconhecimento do rodeio pela alta qualidade das competições, com animais e participantes criteriosamente selecionados.
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Curitiba
Country Festival @countryfestival
Um dos eventos mais tradicionais de música sertaneja do país apresenta, em sua 14ª edição, um lineup de grandes nomes, como Maiara & Maraísa, Bruno & Marrone e Chitãozinho & Xororó. Neste ano, durante os dias 6 e 7 de maio, mais de 30 horas de entretenimento agitaram o Expotrade Convention Center, localizado na Região Metropolitana de Curitiba.
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48 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 George Henrique & Rodrigo
NOVO ÁLBUM DE GEORGE HENRIQUE & RODRIGO TRAZ O HIT
CUIDA DA SUA VIDA E REGRAVAÇÕES DE CHITÃOZINHO & XORORÓ, JOÃO PAULO & DANIEL E BRUNO & MARRONE
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Por Camila Lourenço Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Gabriela Tonon Styling Charles Mello 5 min
Com mais de dez anos de carreira, a dupla
George Henrique e Rodrigo acumula músicas de sucesso, com destaque em plataformas de streaming, além de aparecer em listas de artistas mais tocados nas rádios do Brasil.
Os irmãos goianos, que cresceram no universo da música sob influência do pai, são apaixonados pelo sertanejo desde pequenos. Após cantarem juntos em eventos da família e churrascos de amigos, os dois se convenceram que poderiam fazer uma dupla de sucesso.
O jeito irreverente sempre foi a marca de George Henrique & Rodrigo, que escolheu gravar o primeiro DVD em um inusitado cenário de posto de gasolina.
Apadrinhados por Bruno & Marrone, os cantores fizeram parcerias marcantes com artistas como Jorge & Mateus, Henrique & Juliano, Zé Neto & Cristiano e Gusttavo Lima. A música Vai Lá em Casa Hoje, gravada ao lado de Marília Mendonça, foi reproduzida mais de 250 milhões de vezes no Spotify e ficou entre as mais tocadas em 2022.
Em 2023, George Henrique & Rodrigo disponibilizou o projeto completo de Influências nos serviços de streaming. O álbum traz regravações de artistas que inspiraram a dupla, como Chitãozinho & Xororó, João Paulo & Daniel e Bruno & Marrone, além de músicas inéditas. Os irmãos lançaram os singles Faz Moleque Virar Homem, com Bruno & Marrone, e A Dona da Minha Raiva, que também traz os padrinhos juntos com George Henrique & Rodrigo mais Thiago & Graciano.
Como foi a produção do EP Influências?
Nós sempre gostamos muito de cantar sertanejo, tanto o raiz quanto o mais moderno. E o nosso público cobrava que a gente fizesse um projeto de regravações, com resgate de músicas que gostamos, ouvimos e cantamos em casa. Pegamos desde duplas mais antigas até Marília Mendonça, por exemplo. Mas, no fim, teve música inédita também. Foi um trabalho bem sertanejo, gravado na fazenda, todo em um clima country.
Como vocês formaram a dupla?
O nosso pai viveu da música a vida inteira, então crescemos nesse universo. Quando íamos ficar com ele, aos finais de semana, ele, pai, não podia parar de trabalhar e levava a gente para as apresentações. Nós gostávamos. E nos acostumamos, desde pequenos, a ouvir música. Depois, nos churrascos da família e amigos, a gente tocava violão e cantava junto. O pessoal gostava, as vozes de irmãos geralmente combinam. Naturalmente, fomos virando uma dupla. Com o tempo, entendemos que dava para ganhar um bom dinheiro com a música. E é curioso que cantamos em bar, mas foram uns três, quatro anos. Logo, tivemos a oportunidade de entrar em escritório, lançar música, fazer show. Então tivemos a escola das apresentações em bares, mas não ficamos dez anos nisso.
Como é ter Bruno & Marrone de padrinhos? A responsabilidade de ser apadrinhado por Bruno & Marrone é grande. Eles têm mais de 30 anos de sucesso. Éramos fãs dos dois
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“Um dos primeiros shows, nós fizemos em troca de botas de couro de avestruz. Na época, era moda e nós tínhamos o sonho de ter uma. Para ser sincero, a bota valia mais que o nosso cachê de dupla”
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bem antes disso, na infância. Quando eles lançavam álbum, a gente corria, sentava e ficava ouvindo. Um dia, o Bruno e o Marrone ouviram a gente cantando no bar. Foi emocionante para todo mundo, porque éramos muito fãs. Ele chorava, eu chorava. E falaram: “Queremos lançar vocês”. Isso sempre foi uma referência e uma responsabilidade, porque se Bruno & Marrone nos escolheu, nós devíamos cantar bem. Até hoje é gratificante.
E teve alguma permuta diferente para fazer show?
Um dos primeiros shows, fizemos em troca de botas de couro de avestruz. Na época, era moda e nós tínhamos o sonho de ter uma. Só que, depois do show, queriam levar a gente na conversa de que era só um par. Nós batemos o pé e falamos: “Não, nós somos uma dupla! Não é um pé para cada um não…” Eles deram os dois pares, mas queriam outro show. Para ser sincero, a bota valia mais do que o nosso cachê de dupla.
Como é essa coisa de, às vezes, escrever uma música sobre algo que você viveu?
Quem compõe pega qualquer história interessante para escrever. Pode ser minha, pode ser sua. Geralmente ninguém nunca fica sabendo com quem aconteceu a história e os detalhes. Mas cada compositor tem um estilo. Tem gente que gosta de inventar, outros gostam de escrever sobre o que viveram ou algo que um conhecido
passou. Somos mais desse último grupo. Coisas que vivemos na adolescência e tal. O sertanejo fala de casos normais de amor, amizade, traição, pinga e cachaça. Todo mundo vive isso. Porém, hoje, não podemos depender só de composições próprias, porque não tem como dedicar só o tempo livre para compor. E outra coisa: às vezes você não está com humor ou cabeça. Também há o fato de que é preciso considerar bastante coisa para escrever uma música. Hoje em dia, por exemplo, quem trabalha com isso acompanha o tipo de expressão que as pessoas estão falando. Se você usar uma frase, ela vai pegar só o regional ou vai pegar nacional? E é bom saber que temos ótimos profissionais que focam na composição, enquanto fazemos a outra parte do trabalho. A dupla faz gravação, faz entrevista, tem que ir para a estrada, fazer show e compor também quando é possível. Só que a gente participa do processo. Se estamos gravando um DVD, nós recebemos as músicas e sentamos no estúdio com empresário e produtor para ouvir. Conforme o grupo gosta, vai separando e assim fazemos uma peneira.
Qual é o lado positivo e negativo de fazer dupla com o irmão?
O lado bom é que é família, geralmente ambos foram criados juntos, com a parte da voz combinar também. O lado ruim é o excesso de intimidade, de misturar família com o profissional. Às vezes, você
“Um dia, o Bruno e o Marrone ouviram a gente cantando no bar. Foi emocionante para todo mundo, porque éramos muito fãs. Ele chorava, eu chorava. E falaram:
‘Queremos lançar vocês’. E isso sempre foi uma referência e uma responsabilidade”
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desrespeita mais do que desrespeitaria uma pessoa de fora, porque irmão aguenta mais coisa. E, às vezes, leva para o pessoal, porque é família e, então, isso atrapalha um pouco.
E vocês são de brigar assim?
A gente já brigou muito. Hoje, só discordamos, porque cada um tem a própria forma de ver as coisas, mas isso é bom. Por exemplo, quando estamos escolhendo música, ele tem uma opinião, eu tenho outra e nós temos que fazer as duas se completarem.
Como vocês lidam com a fama?
A exposição não nos incomoda. Porque a gente lutou e trabalhou a vida inteira para conseguir esse reconhecimento. E faz parte disso sair na rua e as pessoas quererem uma foto. Tem gente que vai te ver e querer te abraçar. Se você está comendo, é incômodo, mas nós não ligamos, porque pensamos primeiro na pessoa. Mas tem uma coisa que me deixa sem graça, que o George Henrique pensa de forma diferente. Se eu estou em um restaurante com a minha esposa, chega alguém e fala: “Canta o refrão daquela música?” Eu fico com vergonha de cantar. Está todo mundo em silêncio. Já aconteceu. Eu respondi: “Pode ser uma foto ou mandar um abraço?” Já, compartilhar a vida, nós não temos problema nenhum, mostramos bastante coisa nas redes sociais. Quando você se propõe a sair de casa, tem que saber que as pessoas vão querer falar e tirar fotos. Se você não quer ou se é um dia em que você não está legal, é melhor ficar em casa. Tem dias em que você não está bem para ficar sorrindo para todo mundo. Tudo bem. Melhor ficar em casa.
“Quando você se propõe a sair de casa, tem que saber que as pessoas vão querer falar e tirar fotos. Se você não quer ou se é um dia em que você não está legal, é melhor ficar em casa”
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58 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Kevi Jonny
KNASCIDO NA BAHIA, KEVI JONNY REVELA QUE, APESAR DE SE IDENTIFICAR MAIS COM TEMAS LIGADOS AO AMOR, GOSTA DE INOVAR E MISTURAR RITMOS NA PRODUÇÃO DE SUAS MÚSICAS
Por Camila Lourenço Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Iza Ventura 5 min
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O sonho de ser famoso fez Kevi Jonny tentar diversas atividades, porém foi na música que ele encontrou a verdadeira paixão. Tudo começou com uma brincadeira na escola: durante os intervalos, Kevi e os amigos começaram a improvisar um som para divertir os colegas. Vendo como os jovens gostavam do momento, o colégio organizou um festival de música. No entanto, para participar, o aluno precisava se apresentar com uma composição própria. Kevi aceitou o desafio e escreveu a sua primeira música.
Hoje, com uma agenda que conta com mais de 20 shows por mês, o cantor conquistou o seu espaço com a “sofrência”. O último projeto do artista foi o DVD Com Amor, Kevi Jonny. A música Te Love, que faz parte do trabalho, soma 90 milhões de visualizações no YouTube, além de virar hit e integrar as paradas dos serviços de streaming musicais.
Como foi produzir o DVD Com Amor, Kevi Jonny?
Foi bem especial. O DVD veio do álbum, em que peguei as minhas melhores músicas. Tenho muitas composições e eu pensei: “Quais dessas são as que eu mais amo?” Com isso, nós gravamos um álbum. Foi o primeiro CD inédito que fizemos, porque sempre colocamos algumas regravações de músicas de outras pessoas. A gente fez um álbum bem legal, que rodou muito. Depois veio a ideia de transformar o projeto em um DVD, gravado em Goiânia. É uma cidade que amo e tem tudo a ver com música, com “sofrência” e com as composições. Inclusive, tiveram algumas músicas feitas lá.
Quando você descobriu o seu amor pela música?
Eu sempre pedi a Deus algo que me fizesse aparecer. As pessoas me chamavam de doido, porque, desde pequenininho, eu falava: “Um dia, vou chegar em um lugar e todo mundo vai saber meu nome”. Só que eu não sabia que seria na música. Então, eu fui um cara que tentei de tudo. Fiz luta, futebol, teatro, dança, fiz muita coisa. Lembro que a minha mãe, uma época, chegou para mim e falou: “Você vai ser o quê da vida? Todo dia você está em uma coisa. Agora estou vendo você indo para show e está com esse negócio de música”. A música foi a última coisa que tentei. E começou na escola, porque, no intervalo, a gente começou a fazer um sambinha. Juntava a galera, pegava balde de lixo, batia, um amigo levava um cavaco. A gente fazia a festa. As pessoas começaram a curtir e criaram um festival na escola. Só que, para participar, você tinha que compor. Então, foi meio que tudo junto, porque tive que compor para cantar. Foi a minha primeira composição chamada Jardim Sem Flor. O festival foi tão legal que criaram um evento mesmo para disputar com outras escolas, com jurados e tal. Eu não passei, perdi, chorei bastante. Só que a minha música tinha um refrão muito bom e todo mundo cantou na hora. Era uma “sofrência”, como que canto hoje, música romântica. Depois disso, me chamaram para fazer backing vocal em uma banda e eu aceitei. Quando o cantor saiu, eu disse: “Eu vou cantar” e assim foi.
E quando você percebeu estar dando certo? Foi quando veio a internet. Eu fazia
“As pessoas me chamavam de doido, porque, desde pequenininho, eu falava:
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‘Um dia, vou chegar em um lugar e todo mundo vai saber meu nome’. Só que eu não sabia que seria na música”
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shows pela cidade e o pessoal já estava me contratando bem. Só que, quando comecei a gravar uns vídeos caseiros, começou a chamar a atenção das pessoas. Lembro que gravei cantando uma música que estava no auge, a Domingo de Manhã, da dupla Marcos & Belutti. O Belutti viu e comentou. Nisso, eu que sou de uma cidade pequena, contei para todo mundo. A partir daí, eu postava os vídeos e marcava as pessoas. A Solange, o Dorgival Dantas e vários cantores da época estavam comentando em meus vídeos. Por meio disso, apareceram pessoas querendo apostar junto comigo nesse sonho. Quando apareceu uma pessoa de Salvador, capital do estado onde moro, a minha mãe falou: “Você vai para Salvador, porque é perto, que qualquer coisa eu te busco. Você não vai para São Paulo, que fica mais difícil”. Fui para lá há oito anos e estou até hoje.
Quando está compondo, você tem um tema preferido?
Os meus fãs sempre falam que canto muito sobre ex. Gosto de falar de amor, de romance, de acreditar. É algo que me move. Mas as inspirações, às vezes, vêm de coisas que a gente ouve. Esses dias, por exemplo, eu ouvi um tema e vou fazer uma música sobre “saudade perpétua”. A saudade que não tem fim. Eu ouvi alguém falar e disso a gente vai para: “O que é uma saudade perpétua?” E você vai criando, bolando e tal, assim sai uma música. Quando a gente escreve uma música é quase como botar um filho no mundo, né?
Você fala bastante sobre amor. Você é romântico?
Eu procuro ser, mas sou de demonstrar em
atitudes. Sou bem parceiro e prestativo. A minha parte romântica está mais nisso, de ser aquele que está junto para tudo. Sou meio Cazuza, sabe? Passar e roubar algumas flores para levar para a pessoa.
Quais são suas referências musicais? Sou bastante eclético. Em meu dia a dia, eu escuto tudo. Muito pop, trap, sertanejo. “Sofrência” também. Ouço Marília Mendonça demais. Isso me ajuda na minha carreira, porque eu sempre gosto de ousar. O que falo para as pessoas é que sou um intérprete. Eu não sou um cara rotulado a um ritmo. Lancei Te Love, que não tem muito a ver com o que eu sigo. Sou um cantor romântico, mas na produção sempre tento fazer algo diferente. Colocar um piseiro, um forró, um eletrônico. Eu procuro mesclar um pouco de tudo. No último álbum, teve até uma música que coloquei um reggae no refrão. Ninguém entendeu, mas ficou muito bom.
Como foi lidar com a fama?
Tem a parte boa e a parte ruim. É bem complicado. A gente sonha muito com isso, mas, quando chega, a responsabilidade é grande. Às vezes, a gente pensa: “Será que está valendo a pena?” Principalmente na parte pessoal, porque é muito difícil manter relacionamentos. Quando você namora uma pessoa anônima, às vezes, ela não vai conseguir entender. Ela vai querer ir em um restaurante a qualquer hora e não dá. Você tem vontade de sair sozinho no seu carro, mas tem que ter um cuidado. A melhor parte são os fãs. A única tatuagem que tenho é a palavra “fã”. Eu sonhava com as pessoas que iam chegar para me conhecer, para saber
algumas flores para levar para a pessoa”
“Sou bem parceiro e prestativo. A minha parte romântica está mais nisso, de ser aquele que está junto para tudo. Sou meio Cazuza, sabe? Passar e roubar
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quem eu sou. E, em troca, ter a chance de mudar algo na vida delas. E Deus botou a música. Amo poder cantar e ver o sorriso dos fãs. A vida já é tão complicada. Então, em um show, eu procuro chegar lá sabendo que tenho que levar algo, que as pessoas têm que ir embora dali com uma sensação melhor.
Qual foi a maior loucura que um fã fez?
Antigamente, eu morava em um apart-hotel. Uma fã sabia e reservou um quarto no hotel só para ir bater na minha porta. Quando abri, pensei que fosse algum funcionário do prédio. E lá estava ela com um monte de presente na mão, toda suada, porque não podia subir para a parte de moradia, só podia ficar na parte do hotel. E ela conseguiu subindo as escadas. Eu estava sozinho, foi bem complicado, fiquei com medo. Ela entrou em casa, disse que precisava tomar água, que estava cansada, porque subiu 16 andares. Tratei
bem e foi tudo legal. Só que, depois, ela foi lá de novo, em um dia em que eu não estava e ela pegou o meu cachorro para levar embora. Foi um negócio terrível.
Quais são os próximos projetos?
Tem muita gente que grava um trabalho e pensa: “Agora eu vou relaxar”. Eu, não. Enquanto não faço outro projeto, eu fico morto. Preciso renascer. Então eu já tenho um próximo DVD para gravar no segundo semestre.
Qual é a sua relação com as mídias sociais?
Tenho uma equipe muito boa de mídias sociais, mas faço o Instagram. Eu sou bem participativo nessa parte. A galera gosta. Alguns amigos meus falam que eu sou o cantor mais blogueiro que tem, porque filmo tudo. Eu não apareço só pra pedir para ouvirem a minha música, eu apareço para dar um bom dia, desejar uma boa semana, mostrar o dia a dia. É bem legal, porque é uma forma de estar próximo dos fãs.
“O que falo para as pessoas é que sou um intérprete. Eu não sou um cara rotulado a um ritmo. Sou um cantor romântico, mas na produção sempre tento fazer algo diferente”
Assessoria de imprensa Karina Caldi 64 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Kevi Jonny
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PROJETO AO VIVO EM BRASÍLIA FOI IDEALIZADO POR LAUANA PRADO PARA SER UMA CELEBRAÇÃO À VITÓRIA APÓS OS ANOS DE PANDEMIA
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Por Camila Lourenço Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Anauê Stein Styling Veronica Schulz Ribeiro 5 min
Lauana Prado é natural de Goiânia (GO), mas foi no estado de Tocantins que ela se apaixonou pelo sertanejo. A artista começou a mostrar sua afinidade com a música ainda pequena, quando já cantava e compunha.
Nos churrascos e encontros com amigos, também já dava “palhinhas” com o violão. Com incentivo da mãe fez o seu primeiro show. Na época, a garota de apenas 16 anos já olhava para a música com seriedade e profissionalismo.
Apesar de ter se formado em Publicidade e Propaganda, Lauana preferiu investir na carreira de cantora. Participou de competições no Programa Raul Gil e da primeira edição do The Voice Brasil. Somente em 2015, após vencer o quadro Mulheres que Brilham, também do programa de Raul Gil, que a goianiense conseguiu uma projeção maior.
Em 2018, a artista lançou um EP que contava com a faixa Cobaia. Meses depois, a música virou hit e a cantora se tornou um nome conhecido nacionalmente.
Neste ano, a cantora iniciou um novo ciclo em sua trajetória musical com o lançamento da primeira parte do trabalho Lauana Prado – Ao Vivo em Brasília. Entre as nove músicas já lançadas, Tanto Faz, em parceria com Xand Avião, acumula milhões de reproduções nas plataformas. O projeto audiovisual conta ainda com participações de Guilherme & Benuto, Sorriso Maroto e Diego & Victor Hugo.
Em que momento você percebeu que era uma pessoa da música?
Comecei a me interessar por música desde muito bebê. Minha mãe conta que, em festas de família, eu sempre estava cantando ou batucando alguma coisa.
Na adolescência, comecei a me dedicar a aprender instrumentos. Primeiro foi o piano. Depois, eu me interessei pelos de corda. Tudo [o que aprendi foi] de forma autodidata, porque, na época, não tive a oportunidade de fazer aulas. A música sempre foi envolvente para mim, algo que me me calibrou muito no decorrer da vida. E eu comecei a entender que fazia parte do mundo artístico. Passei a visualizar a minha vida futura, o meu trabalho nesse meio e eu sabia que seria um caminho árduo, mas era um amor muito profundo, que eu queria realizar.
Sua família apoiou a ideia?
Minha mãe sempre foi muito entusiasta. Na adolescência, que eu comecei a dar sinais de que eu queria trabalhar com música, ela disse: “Você vai fazer um curso superior primeiro, vamos entender se isso é uma fase ou se, de fato, você quer viver disso”. Então, me formei em Publicidade e Propaganda. Hoje, vejo que o que eu aprendi na faculdade, consigo aplicar no meu cotidiano profissional.
Quando você começou a se apresentar em público?
Foi por volta dos 16 anos. Na época, a minha mãe trabalhava com recrutamento de equipes. Ela era contratada por empresas e, ao final do processo, eles faziam uma confraternização. Então dizia: “Minha filha toca violão. Se vocês quiserem, posso trazer ela para se apresentar”. Assim, eu comecei a fazer os meus primeiros shows. Foi muito bom para mim, porque eu entendi que era entretenimento e arte, mas também era trabalho e eu precisava ter o comprometimento e a responsabilidade de fazer acontecer da melhor forma
“Um show que eu lembro bastante foi em Aparecida do Taboado (MS). Era um grande sonho ir naquele rodeio e eu já fui como artista principal, com um público gigante”
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possível, porque era uma carreira que estava sendo construída.
Em que momento você passou a compor?
Lembro que, ainda criança, quando eu tinha aquelas paixões da escola, eu fazia musiquinhas – e era algo que mexia comigo. Mais tarde, quando comecei a trabalhar com música, já queria gravar algo autoral. Fui praticando e melhorando a minha composição. Então, essa esfera também passou a ser parte do meu trabalho. Depois que eu venci o Mulheres que Brilham, do Raul Gil, e fiz minha mudança para São Paulo, comecei a visitar os estúdios mostrando as minhas músicas. Compor para outros artistas me deu projeção para dar um passo maior na carreira.
Quando você pensou que “chegou lá”?
Conhecer o Fernando, da dupla com o Sorocaba, foi um divisor de águas na minha história, porque ele acreditou no meu trabalho e resolveu empresariar a minha carreira. Daquele momento em diante, nós passamos a trabalhar com muito foco o meu repertório e a minha persona, como produto mesmo. Logo em seguida, eu gravei o acústico. Foi o meu primeiro trabalho audiovisual. Depois, gravei um EP que tinha Cobaia, que foi a música que bombou e me projetou nacionalmente.
Qual é a lembrança mais marcante para você?
Eu tenho sido presenteada com muitas situações lindas, mas 2019 me marcou muito. Um show que eu lembro bastante foi em Aparecida do Taboado (MS). Era
um grande sonho ir naquele rodeio e eu já fui como artista principal, com um público gigante. Aquele ano também foi marcante por causa da demanda de trabalho. Foi quando entendi que, por mais que eu tivesse, ao longo dos anos, trabalhado bastante, aquele era um novo começo e eu teria que doar muito mais da minha disposição física, emocional e artística. Foi um desafio, já que nós tínhamos uma média de 25 shows por mês. Mas também foi um grande aprendizado.
Como você lida com a fama?
Eu tive que aprender, porque, como eu tinha essa maneira de olhar para a música como um trabalho, não entendia que ia ter que disponibilizar a minha intimidade também. No início, isso foi um pouco assustador. Não é fácil lidar com a popularidade. Às vezes, você não está bem. Tem dias que eu saio de casa sem maquiagem, com óculos de sol e é justamente nesse dia que as pessoas vêm tirar uma foto. Você nem penteou o cabelo direito… Acontece. Mas entendo que faz parte do processo. E eu recebo muito carinho das pessoas, então o mínimo que eu posso fazer é retribuir isso. O máximo que eu posso oferecer para as pessoas, eu ofereço. Acho que isso também faz toda a diferença no processo final.
Como você lida com os haters?
Eu não tenho muitos haters. Os que existem, eu não sei por que eles me odeiam. Às vezes, dá uma chateada, mas eu não sou aquela pessoa que vai para a internet e cria conflito. Pelo contrário: eu gosto
“A minha visão é: quando alguém vem com uma mensagem de ódio para mim, isso diz muito mais sobre a pessoa do que sobre mim. Então, eu não posso querer agir com a mesma violência”
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de resolver essas coisas na minha terapia, que é o melhor lugar para isso. Até porque a minha visão é: quando alguém vem com uma mensagem de ódio para mim, isso diz muito mais sobre a pessoa do que sobre mim. Então, eu não posso querer agir com a mesma violência. Não adianta. E a indiferença é o melhor remédio. O hater quer a sua atenção. Se você não dá, de nada valeu aquilo para ele.
Como foi trabalhar no projeto Ao vivo em Brasília?
Nós idealizamos o projeto depois que tudo normalizou, com as pessoas vacinadas e o número de óbitos [causados pela Covid-19] caindo drasticamente. Isso nos deu segurança. Quando pensei no Ao Vivo em Brasília, eu queria que fosse o mais simples e honesto possível. Por isso, é um projeto tão despretensioso de outras coisas que não sejam a própria música e o momento do ao vivo. A gente sabe que a gravação no estúdio traz uma beleza, mas eu abri mão da perfeição para trazer a realidade de fato. Eu queria que fosse um momento em que pudéssemos celebrar a vitória, depois do tempo ruim e difícil que foi a pandemia,
honrando as pessoas que se foram e também aquelas que optaram pela vacinação. Foi um dia que me trouxe muita alegria – isso fica claro nos vídeos. Quem assiste consegue perceber o quanto eu fiquei em êxtase, porque realmente eu olhava e dizia: “Caramba, estamos aqui de novo. Que bom!” Geramos um repertório de 18 faixas inéditas. Já temos nove lançadas.
Você gosta de fazer parcerias com artistas de ritmos diferentes. Isso te inspira?
Eu acho que o Brasil é tão rico musicalmente que seria uma falta de respeito não me permitir viver essas colaborações. Então, à medida em que a minha carreira foi crescendo, eu fui recebendo esses convites. E é incrível. É o resultado de anos de trabalho e o reconhecimento não só do público do meu segmento, mas de outros lugares. Eu gravei, por exemplo, com Edi Rock, do Racionais, com Maneva, MC Hariel, Vitão… E quero seguir fazendo isso. Eu acho que a gente precisa ter essa visão ampla de que estamos falando de um país que é muito rico, que é muito frutífero musicalmente. Então, o meu papel é esse: além do sertanejo, poder contribuir com a arte em outros estilos também.
“A gente precisa ter essa visão ampla de que estamos falando de um país que é muito rico, que é muito frutífero musicalmente. Então, o meu papel é esse: além do sertanejo, poder contribuir com a arte em outros estilos também”
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MARI FERNANDEZ TEM APENAS 22 ANOS E JÁ SE
TORNOU UMA GRANDE REFERÊNCIA FEMININA DO
PISEIRO E DO FORRÓ. CANTORA E COMPOSITORA
CEARENSE, VIRALIZOU NAS PLATAFORMAS DIGITAIS COM O HIT NÃO, NÃO VOU, QUE ATINGIU O TOPO DAS MAIS TOCADAS NO SPOTIFY
Por Fernanda Ávila Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Well Dias Styling Luiz Plinio 5 min
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Nascida em Alto Santo, no Ceará, Mariane Fernandez começou a cantar ainda criança. Com apenas sete anos, já fazia apresentações na igreja e na escola. Depois do ensino médio, mudou-se para Fortaleza em busca de oportunidades na carreira. E foi graças às suas letras que entrou no circuito do forró, quando nomes importantes da cena musical começaram a gravar suas músicas, como Tarcísio do Acordeon e Vitor Fernandes. Em 2020, gravou seu primeiro álbum e estourou com Não, não vou, que virou trend no TikTok. Pouco tempo depois, emplacou Parada Louca e se tornou a segunda cantora brasileira mais ouvida nos streamings. Nesta entrevista, Mari fala sobre como aprendeu a lidar com a fama, conta sobre o novo DVD, além de dividir com os leitores o sonho de ser a cantora mais ouvida do Brasil.
Como foi sua infância e adolescência no interior do Ceará?
Foi uma infância muito boa. Venho de uma família simples, mas que sempre me proporcionou tudo que eu necessitava para ter uma vida boa. Eu gostava de cantar na escola, na igreja. Meu negócio era cantar e jogar bola. Na época eu jogava futsal. E pronto, era isso: estudar, jogar futsal, brincar de pega-pega, esconde-esconde na rua lá de casa e cantar.
O que a motivou a se mudar para Fortaleza e quais foram as dificuldades encontradas nessa transição?
Fortaleza sempre foi a capital do forró, onde há grandes bandas que fazem bastante sucesso. Sabia que iria ser bom pra mim, porque eu conseguiria compor, me encontrar com outros compositores e acabaria tendo espaço no mercado, oportunidade de encontrar produtores, empresários e artistas que pudessem escutar minhas composições. A maior dificuldade foi porque
eu era uma menina de interior, acostumada com outro estilo de vida. A cidade era bem maior e havia coisas novas para aprender, que devagarinho fui aprendendo. Eu ia pegar ônibus e errava a rota. Nunca tinha pegado, meu interior é o interior onde você anda a pé por todo o lugar. Então foram dificuldades assim, né? Dificuldade também porque o custo de vida era bem mais caro, então acabava que todo dinheiro que eu ganhava era para pagar as contas. Passei muito tempo comendo miojo com salsicha e ovo, porque era o que dava para comprar. Não comprava carne, porque era muito caro na época.
Como foi seu início no mundo da música e como as dificuldades enfrentadas influenciaram sua carreira?
Comecei cantando pequenininha, com sete, oito anos, na escola e na igreja. Mas o meu início profissional foi compondo. Comecei a escrever músicas minhas e, nas primeiras oportunidades, comecei a gravar algumas músicas de artistas como Victor Fernandes e Tarcísio do Acordeon. Hoje eu sou muito feliz por, além de ser compositora de algumas músicas que eles gravaram, ser também amiga deles. E em relação às dificuldades, eu levei muitos “nãos”, né?
Muita porta na cara Só que pra mim foi um aprendizado, eu sempre olhava aquilo pelo ponto de vista positivo, procurava melhorar. A minha maior preocupação era me apresentar em barzinhos e agradar desde as pessoas que eram da minha idade até as pessoas mais velhas. Eu precisava ter um repertório eclético. E isso, junto com os “nãos” e todas as críticas que eu recebia, fazia com que eu procurasse aprender cada vez mais. Hoje, quando estou no palco fazendo o meu repertório de show, independente da região, consigo puxar qualquer tipo de música, porque tenho decorado na cabeça um repertório bem variado.
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“Passei muito tempo comendo miojo com salsicha e ovo, porque era o que dava para comprar”
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Como sua carreira evoluiu de compositora para uma das principais cantoras de forró e de piseiro?
Quando eu recebi o convite, a oportunidade de cantar, a transição aconteceu. Não tem explicação, foi uma parada abençoada por Deus, que é como eu costumo dizer. E o sucesso não tem receita, né? A receita é Deus abençoar e o povo abraçar. Foi o que aconteceu comigo. Eu apenas gravei um CD, como qualquer outra pessoa que tem talento e vontade de cantar poderia ter gravado, e publiquei nas plataformas digitais de música. A galera abraçou, Deus abençoou. Desde então, estou aqui.
Pode falar mais sobre o sucesso de Não, não vou? Como essa música se tornou um hit viral?
Os compositores mandaram a música para o meu empresário, o Waguim. Ele escutou e me mandou perguntando o que eu achava. Lembro que ele mandou mais ou menos às duas horas da madrugada, por WhatsApp. Eu falei, na época: “Cara, essa música é uma ‘bala’, ela é sensacional, é diferente de todas as outras músicas que a gente está gravando no repertório”. Na época o meu CD tinha duas músicas inéditas, Amizade colorida e Agonia, e sete regravações de grandes sucessos. Faltava uma música para fechar dez. Para mim, ela era a música mais “chiclete”, aquela música que, do nada, você se pega cantando. O Wagner, meu empresário, lançou uma dancinha com a esposa dele no TikTok, que é uma das plataformas que mais gera oportunidade para quem está começando, e a música viralizou. Ele nem usou o áudio original da música, porque o áudio original não estava disponível ainda. Ele meio que soltou a dancinha para fazer uma pré-divulgação do CD. Vários artistas, vários famosos, uma galera que eu sempre admi-
rei, estava dançando e eu não acreditava que aquilo estivesse acontecendo comigo, foi inacreditável.
Como você lidou com a fama e o sucesso repentinos? Quais desafios você enfrentou e como os superou?
Aconteceu tudo muito rápido e a única coisa que eu pude fazer, por um bom tempo, foi confiar nos meus sócios, porque eu não tinha maturidade nem cabeça para entender o que estava acontecendo. As músicas viralizaram, a minha imagem, a minha carreira, tudo viralizando, e eu era uma menina, não tinha experiência nenhuma, estava começando a aprender. Acho que sociedade é como um casamento, você tem que confiar no seu parceiro e eu confiei nos meus parceiros. Eles me guiaram até um certo momento, foram me ensinando tudo o que eu sei, tudo que eu sou hoje em cima do palco, como falar, como conversar, como expressar o que eu quero passar para as pessoas. E aí, devagarinho, consegui me situar. Só comecei a entender um pouco mais da proporção das coisas que estavam acontecendo comigo depois da gravação do DVD. A dificuldade foi conseguir assimilar, conseguir juntar minha vida pessoal com a vida profissional e lidar com a saudade de casa. Eu era uma menina muito apegada com a família, com o meu canto, com minha zona de conforto, que era o meu quarto, o violão e uma cama. Do nada eu estava numa vida totalmente agitada, um dia em avião, outro dia em ônibus, outro dia em van, outro dia em carro, fazendo show, cada dia em uma cidade. A dificuldade foi isso, conseguir lidar com a rotina e com as coisas que o sucesso traz. O sucesso não traz só a música viralizada e as pessoas te amando, traz também grandes responsabilidades.
“Eu fiz terapia justamente para entender os meus sentimentos, entender o que estava acontecendo na minha carreira e que também acabava respingando na minha vida pessoal”
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Como o suporte psicológico tem te ajudado a lidar com as pressões e estresses da fama?
Você tem dicas de como lidar com isso para quem está começando?
Cada um tem a sua maneira, mas uma coisa que eu fiz logo, que não é segredo, é que eu fiz terapia na época. Indico para qualquer pessoa, porque terapia é uma coisa muito boa, independente de você ter fama ou não, de ter sucesso ou não. Eu fiz terapia justamente para entender os meus sentimentos, entender o que estava acontecendo na minha carreira e que também acabava respingando na minha vida pessoal. Cada vez mais procuro me expressar, quero mostrar para pessoas quem eu sou, quero que as pessoas conheçam a Mariane, não só a Mari Fernandez. Graças a Deus, tive apoio das pessoas que me amam, das pessoas que trabalham comigo.
Qual o impacto do sucesso de Parada Louca na sua carreira e na vida pessoal?
Parada louca foi, e é, um dos meus hits mais emocionantes, um dos principais da minha carreira. Foi a minha segunda música que viralizou e tem muita importância. Eu me perguntava: “Poxa, quando é que eu vou ver as pessoas cantando outra música minha que não seja só a Passa lá em casa tire a minha roupa?” E aí, em poucos meses, veio a Parada louca, que eu gravei com o Marcinho Sensação, grande amigo, meu parceiro. A gente gravou a música e, de repente, estava todo mundo fazendo a dancinha, todo mundo cantando, todo mundo curtindo… Sem falar que é uma composição minha, né? Foi a minha primeira composição que viralizou. E então misturou ali o sonho de cantora com sonho de compositora. É uma das músicas mais cantadas no meu show, mais pedidas, é muito especial pra mim.
O que podemos esperar do seu próximo DVD, com participações de Wesley Safadão, Luísa Sonza e Maiara & Maraísa? Esse DVD tem bastante emoção, com participações maravilhosas, pessoas com as quais eu sempre sonhei em gravar. É bem eclético. Tem “sofrência”, tem música animada, tem música para quem superou, música pra quem ainda tá sofrendo pelo ex, tem todo tipo de música. É um DVD muito bacana, muito especial, que eu gravei com todo amor, com todo carinho, trazendo um diferencial novo na minha banda, que é a bateria. Até então, nós do piseiro não usávamos bateria nos shows e eu comecei a pensar, junto com meu sócio, em colocar uma bateria na banda para ver como seria. Criamos coragem para fazer isso. Então o DVD está vindo com muita coisa nova, uma roupagem da minha carreira totalmente diferente.
Como você vê o futuro de sua carreira e quais são seus planos para se manter relevante na indústria da música brasileira?
Um dos meus maiores sonhos é me tornar a artista mais consumida do Brasil. Quero muito que as pessoas conheçam meu trabalho e só vou parar quando eu tiver a sensação de que eu me tornei a cantora mais ouvida do Brasil. E sobre meus planos para manter a minha carreira, acho que é continuar fazendo o que estou fazendo com os pés no chão, respeitando todo mundo assim como as pessoas respeitam o meu trabalho, o meu momento. E sempre aprendendo e trazendo o novo. Acho que o sucesso conta muito com o fator da novidade, então quando você traz o novo, encanta as pessoas, as pessoas gostam do diferente. O meu projeto, desde o início, tem muito isso. É um projeto diferente de tudo que as pessoas já viram. A gente, desde o início, sempre imaginou isso: “Vamos fazer diferente”.
“Um dos meus maiores sonhos é me tornar a artista mais consumida do Brasil”
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Assessoria de imprensa Katia Almeida | Novità Comunicação
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Acessórios Carlos Penna
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NNAIARA AZEVEDO ESTOUROU COM 50 REAIS, UMA RESPOSTA BEM DADA A UMA TRAIÇÃO QUE LEVOU A
CANTORA AO TOPO DAS PARADAS MUSICAIS NO BRASIL
Por Fernanda Ávila Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza e Styling Carol Gelinski 5 min
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Nascida em um sítio em Campo Mourão, no interior do Paraná, Naiara Azevedo só deixou a vida rural aos 17 anos, quando decidiu estudar Estética e Cosmetologia em Umuarama, no mesmo estado. Foi entre os estudos e o trabalho como garçonete que começou a cantar em pequenas apresentações em bares e festas universitárias. Em 2011, de brincadeira, compôs e postou no YouTube a música Coitado, em resposta a Sou foda, da dupla Carlos & Jader, que, aos olhos dela, passava uma imagem negativa da mulher. Com isso, as portas para a jovem cantora paranaense começaram a se abrir. Em 2012, impulsionada pela vontade de viver de música, mudou-se para uma cidade maior, Londrina. Gravou um DVD e começou a chamar a atenção da indústria fonográfica. Em 2016, decidiu morar em Goiânia, a capital dos sertanejos, para dar início a uma nova fase na carreira. Foi lá que nasceu o álbum Totalmente Diferente, com o hit 50 Reais, que rapidamente ganhou o Brasil, disparando na lista das músicas mais tocadas nas rádios brasileiras, além de entrar para o Top 100 mundial de vídeos mais visualizados no YouTube. Logo foi a vez de Contraste, seu terceiro álbum lançado em um show no Rio de Janeiro com as participações especiais de Ivete Sangalo, Gusttavo Lima, Wesley Safadão e Kevinho. Em 2022, Naiara participou do BBB e acabou ficando ainda mais conhecida Brasil afora. Nesta entrevista, a cantora fala sobre a sua carreira, parcerias e momentos marcantes da trajetória até aqui.
Como a experiência de crescer em um sítio influenciou sua trajetória na música?
Eu cresci no sítio e morei lá por muitos anos. Não faltava nada para mim e para a minha família, mas era tudo muito simples e humilde. Isso me ajudou a entender que não precisamos de muito para viver e para sermos felizes. Estou acostumada com a simplicidade das coisas e não sou exigente. Então tudo para mim vira festa. Isso se aplica hoje no meu trabalho. Se tem show num lugar mais simples ou num lugar com mais estrutura, é a mesma coisa, vou entregar o mesmo show com a mesma energia e amor.
Como você equilibrou seus estudos, trabalho e o início de sua carreira musical?
Meus primeiros passos na música aconteceram na faculdade, de forma bem despretensiosa. Eu cursava estética e comecei a cantar nas festinhas de faculdade, “chopada”, calourada… a galera gostava da minha voz e eu comecei a enxergar aquilo como algo profissional. Mas eu nunca deixei meus estudos de lado, até quando eu decidi seguir definitivamente no ramo musical, entreguei meu diploma de graduação e pós-graduação para meus pais. Cumpri minha missão. E aí sim fui viver da música.
Como foi a experiência de gravar seu primeiro DVD em 2013 e que impacto isso teve em sua carreira?
Foi tudo feito com muito suor e dedicação. Já estávamos fazendo shows, mas
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“Estou acostumada com a simplicidade das coisas e não sou exigente. Então tudo para mim vira festa”
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faltava um trabalho autoral, um projeto audiovisual para subirmos mais um degrau na carreira. O impacto que o DVD trouxe naquele momento foi muito positivo, eu tive o prazer de gravar uma música com o Mr. Catra, que na época foi algo inovador no mercado, porque as mulheres que cantavam naquela época seguiam um estilo mais sertanejo e eu estava vindo na contramão, misturando ritmos, ousando… Algumas portas se abriram e a minha visibilidade no mercado sem dúvidas aumentou depois desse DVD.
Você poderia falar sobre o sucesso de 50 Reais e como ele afetou sua carreira?
O que a música 50 reais fez na minha vida foi algo incrível e indescritível. Pensar que, através dessa música, eu conquistei tantas coisas que eu sonhava, fui a tantos lugares que eu nem imaginei que iria chegar um dia, sem contar todo reconhecimento dos fãs, programas de tv, rádios…
Sou muito grata à essa música e aos compositores dela que me ajudaram a fazer de um limão uma limonada com uma história verídica de traição…(Risos)
Poderia compartilhar algumas de suas experiências mais memoráveis cantando com seus fãs?
Meus fãs são o maior presente que a música me deu. Por onde eu passo, recebo um carinho incondicional deles. Já tivemos muitos momentos lindos no palco, pedidos de casamento, declarações… Os encontros no camarim também são cheios de surpresas, vira e mexe algum fã me pede pra cantar um trechinho de uma música minha antiga e fazemos isso juntos. Eu faço questão de atender meus fãs em
todos os shows que faço, porque sem eles nada disso que eu vivo hoje seria possível.
Como foi a experiência no Show dos Famosos e o que significou para você ser indicada ao Grammy Latino?
O Show dos Famosos foi um dos maiores desafios que enfrentei na minha carreira. Não só pelo nível de dificuldade de aprender todos os trejeitos, estilo musical e letras das músicas dos artistas homenageados em um prazo curto de tempo, mas principalmente pela minha logística de shows e ensaios. Eu estava cumprindo uma agenda muito intensa e tinha que ensaiar a apresentação no hotel das cidades, dentro do ônibus, aeroporto… Muitas vezes o horário que eu tinha pra dormir era também a única hora que eu tinha para ensaiar, então de fato foi desafiador! Porém, é um quadro que sou grata por ter sido convidada a participar e que até hoje trago o que aprendi no programa para os meus shows e minha vida. Já a indicação do Grammy foi um momento único que vivi na carreira. O DVD (Contraste) indicado foi um projeto muito ousado que criamos e com uma logística muito difícil por ter tantos equipamentos grandiosos para serem levados para o alto do Morro do Vidigal, em uma laje. A comunidade abraçou muito meu sonho e todos foram bem solícitos, fazendo com que esse DVD fosse realizado com muito sucesso e fosse indicado para a maior premiação de música.
Você poderia falar sobre as colaborações com outros grandes nomes da música brasileira e como elas impactaram sua carreira? Muitos artistas participaram dos meus projetos ao longo desses anos. Ivete San-
“Meus fãs são o maior presente que a música me deu. Por onde eu passo, recebo um carinho incondicional deles”
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galo, Gusttavo Lima, Wesley Safadão e Kevinho, por exemplo, participaram do DVD Contraste, que foi indicado ao Grammy Latino. Todos eles viviam um excelente momento na carreira e todos toparam de cara participar e somaram muito. Falando da nova geração, recentemente a Ana Castela também participou comigo no DVD Plural e, juntas, criamos esse hit chamado Palhaça que, desde que foi lançado, vem conquistando números incríveis! Sou grata a todos eles e passaria o dia inteiro aqui listando essas participações marcantes.
Quais foram os momentos mais marcantes e desafiadores de seus 11 anos de carreira musical?
Acredito que a pandemia foi muito desafiadora para nós que vivemos de música e da indústria de shows e eventos. Hoje o meu projeto conta com mais de 400 colaboradores direta e indiretamente, e a principal fonte de renda do projeto são os shows. Quando me vi ali dentro de casa, sem poder fazer o que eu mais amo e sabendo que muitas famílias dependiam de mim, foi desesperador. Mas o brasileiro sempre dá seu jeito pra tudo e graças a Deus todos os artistas iniciaram aquele movimento das lives que, por muitos meses, foi o que segurou as pontas, além de
arrecadarmos muitas doações para hospitais e famílias carentes que estavam passando por grandes dificuldades.
Como sua participação no BBB22 influenciou sua carreira e imagem pública? Participar do BBB foi o maior desafio que já encarei como artista. Uma experiência que só quem vive na pele consegue descrever. Eu sempre fui mais durona, não sou de chorar por qualquer coisa e, no segundo dia de programa, eu estava igual uma manteiga derretida, chorando, carente. Mexe muito com as emoções, mas ao mesmo tempo te faz enxergar as coisas com um outro olhar. Eu não sou mais a mesma Naiara que entrou lá. Você sai de lá transformado e isso é indescritível. Para a minha carreira de cantora, somou muito, porque, por mais que eu já tenha viajado por todo Brasil fazendo shows, muitas pessoas só me conheceram de verdade quando me viram no programa, se tornaram meus fãs e me acompanham até hoje.
Quais são seus planos futuros para sua carreira musical?
Estou trabalhando meu DVD Plural, gravado no fim do ano passado, mas já estou planejando meu próximo projeto pra este ano ainda. Muita coisa boa vem por aí, mas vou deixar vocês curiosos.
“Participar do BBB foi o maior desafio que já encarei como artista. Uma experiência que só quem vive na pele consegue descrever”
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92 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Sérgio Reis
SÉRGIO REIS, UM DOS MAIORES NOMES DA MÚSICA CAIPIRA, É O ARTISTA BRASILEIRO COM MAIS INDICAÇÕES AO GRAMMY
Por Fernanda Ávila Fotos Miro
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Tratamento de imagem Fujocka Beleza Iza Ventura 5 min
S
Sérgio Reis nasceu Sérgio Bavini, no tradicional bairro de Santana, em São Paulo, no ano de 1940. Passou a usar o sobrenome do avô paterno aconselhado pelos produtores da gravadora Chantecler, que acharam Reis mais adequado ao sertanejo, estilo que o imortalizou como um dos seus maiores representantes no Brasil. Na década de 60 chegou a integrar a Jovem Guarda, mas foi a música caipira que o consagrou. Mesmo vivendo na cidade grande, foram os sons do interior que formaram seu repertório musical. Aos dez anos já era fã de Tonico & Tinoco. Em 1967, lançou a música Coração de Papel, seu maior sucesso, criada a partir de uma crise de ciúmes. Seu disco O Melhor de Sérgio Reis, lançado em 1981, vendeu mais de 1 milhão de cópias. Além de cantor e compositor, Sérgio Reis também construiu uma carreira como ator. Fez sua estreia na televisão na novela Paraíso (1982), na Globo, a convite do autor Benedito Ruy Barbosa. Repetiu a parceria ao atuar em Pantanal (1990), da Manchete. Esteve ainda em A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990) e O Rei do Gado (1996). Mais tarde, retornou às telas em Bicho do Mato (2006), na Record, e Paraíso (2009), novamente na Globo. Também teve participações no cinema, nos filmes A Mágoa do Boiadeiro e O Filho Adotivo. Além da carreira artística, Sérgio Reis fez uma breve passagem pela política: foi eleito deputado federal pelo estado de São Paulo, em 2014. Nesta entrevista, ele conta um pouquinho da sua trajetória e fala sobre as transformações do sertanejo.
Como começou o seu interesse pela música sertaneja? Poderia nos contar um pouco sobre a sua jornada até se tornar um dos nomes mais conhecidos do gênero? Com dez anos de idade eu era um menino do bairro de Santana, onde meu pai morava. Meu pai nasceu em Osasco, minha mãe era carioca de Laranjeiras, nenhum parente no interior e eu com dez anos já gostava de Tonico & Tinoco, no programa Na Beira da Tuia, da Bandeirantes. Pra quem não sabe o que é Tuia, é aquele barraco onde se guarda as enxadas, os milhos para dar para as galinhas. O caipira acaba de trabalhar, deixa a enxada dentro da tuia, pega a viola ali e canta. Papai tinha um rádio grande, eu ouvia toda terça e quinta. Quando fiz dez anos, meu pai me deu uma violinha que eu tenho até hoje guardada. Essa viola tem 72 anos. Está velhinha, pintadinha, aqui em casa. E, depois, eu comecei a cantar em programas de calouro. Cantei Conceição, de Cauby Peixoto, e o Tony Campello, que era produtor da Odeon, queria gravar com o Deny & Dino. Ele veio buscar uma música comigo, alguém falou que eu tinha músicas. E eu fiz.
Você compôs uma música que eles gravaram? Eu já tinha uma música, mostrei pra eles e eles gravaram, foi sucesso. “Eu só quero ver, você sorrir / Não vejo a hora, de perdão pedir / Você chorou, você sofreu / E o culpado sei que fui eu, sei que fui eu”. Passado isso, o Tony Campello pegou a gravação que eu fiz e falou: “Cara, você precisa gravar. Eu vou te levar na Chantecler”, uma gravadora caipira onde traba-
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“Quando fiz dez anos, meu pai me deu uma violinha que eu tenho até hoje guardada. Essa viola tem 72 anos”
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lhavam o Palmeira e o Teddy Vieira. Eles me perguntaram: “Qual é seu nome?”
Eu falei Sérgio Bavini. “Não, Bavini não é bom, precisa ter outro nome.” Contei que a minha mãe era Clara Reis Bavini, meu avô português é Reis. O Palmeiras olhou pro Teddy, mexendo nos arquivos, e falou: “Sérgio Reis é bom, né? Fala aí várias vezes: Sérgio Reis, Sérgio Reis, Sérgio Reis, Sérgio Reis. Então você está batizado por mim e pelo Teddy Vieira como Sérgio Reis”. Teddy Vieira é autor do Menino da Porteira e outras tantas músicas. Deus me colocou nesse caminho, pronto.
Quais foram as suas maiores influências musicais no início da carreira? E como elas contribuíram para o seu estilo musical?
No início minhas referências eram o Tonico & Tinoco, depois Cauby Peixoto. E as músicas italianas, que eram um sucesso no Brasil.
Você já lançou diversos álbuns ao longo da sua carreira. Poderia compartilhar qual deles você considera o mais marcante e por quê?
O mais marcante foi o primeiro long play Saudade da minha terra, onde eu arrisquei a minha vida, a minha carreira, com orientação do meu produtor, Tony Campello. Ele que cuidava da minha carreira musical. Foi importante, porque consegui fazer 12 sucessos. Eu gravei para todos aqueles que estavam longe de casa, que era o título do LP.
Qual a história por trás da sua música de maior sucesso? Como foi o processo de composição e gravação?
Minha composição de maior sucesso foi Coração de Papel, que eu fiz em 1976 e gravei em 77. Na época eu era casado com a minha primeira esposa, Ruth, mãe dos meus filhos, o Paulo e o Marco. E eu era muito ciumento. A gente brigava muito. Me lembro que eu estava com a mamãe na cozinha da minha casa, esperando ela fritar um ovinho. E, enquanto ela fazia meu prato para o almoço, eu peguei o violão e comecei a escrever. Não deu certo, eu amassei aquele papel, joguei num canto. Aí eu olhei o papel no chão e pensei: “Pô, meu coração tá amassado desse jeito”. A Ruth não queria mais falar comigo, não queria me atender e eu estava sofrendo, né? Eu era apaixonado por ela. Aí peguei de novo e escrevi: “Se você pensa que o meu coração é de papel, não vai pensando, pois não é / Ele é igualzinho ao seu”.
O sertanejo tem se transformado ao longo dos anos, com a ascensão do “sertanejo universitário” e outras novas tendências. Como você vê essas mudanças e qual o seu papel nessa evolução?
Essa nova música sertaneja virou sucesso por causa dos dos estudantes de medicina, os universitários. E o universitário normalmente não é da cidade onde ele está estudando. Ele tenta em três, quatro, cinco faculdades e vai para onde conse-
“Os momentos mais memoráveis da minha carreira foram as entregas dos Grammys”
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gue entrar. O Dito era um amigo meu de Tabatinga, perto de Araraquara, que saiu de lá para estudar em Machado. Só que ele era um caipira, era um fazendeiro. Então, todos os estudantes conhecem a nossa música oficial sertaneja, os cantores antigos. Só que são mais jovens e começaram a criar músicas mais modernas, com a guitarra. Quando Léo Canhoto & Robertinho puseram guitarra na música sertaneja, virou moda. Eles falam música sertaneja, mas não é sertaneja. Sertanejo é Chico Mineiro, essas coisas.. Mas é válido, eles têm o direito de fazer o trabalho, são músicas boas, tem muito sucesso e até eu canto.
Quais os maiores desafios que você enfrentou em sua carreira musical e como conseguiu superá-los?
Os desafios de uma carreira são muitos e, na verdade, eu fui pioneiro em quase tudo. Fui o primeiro artista a ter avião, primeiro artista a andar com ônibus, o primeiro a ter o som próprio. Eu chegava na feira e montava o meu som. E os outros artistas levavam a violinha só. Foi o Sérgio Reis que começou isso. Além disso tudo, eu
fui o primeiro artista a tocar no FM, na rádio. O Plínio Paiva era um amigo meu que tinha uma rádio e queria tocar músicas minhas de qualquer jeito. O programa dele era de domingo de manhã e tocava rock. Aí ele fez um especial comigo, foi um sucesso e ele mudou a programação da rádio. Nos domingos de manhã, até o meio-dia, só tocava sertanejo por culpa do Sérgio Reis. Entendeu? Então essas coisas a gente tem que dar valor.
Qual foi o momento mais memorável da sua carreira até agora?
Os momentos mais memoráveis da minha carreira foram as entregas dos Grammys.
Como você se relaciona com seus fãs e o que eles significam para você? Você tem alguma mensagem que gostaria de passar para eles? Me relaciono muito bem com os fãs, sempre trato com muito carinho! E a minha mensagem é que eles continuem comigo, venham assistir aos meus shows e matar as saudades, porque no fundo somos todos grandes amigos.
“Fui o primeiro artista a ter avião, primeiro artista a andar com ônibus, o primeiro a ter o som próprio”
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100 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Sula Miranda
SSULA MIRANDA É A ETERNA “RAINHA DOS CAMINHONEIROS”. ÍCONE DO MOVIMENTO QUE MODERNIZOU O SERTANEJO, ABRIU MUITAS PORTAS PARA QUE O GÊNERO CHEGASSE AONDE CHEGOU
Por Ariel Marques Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Iza Ventura 5 min
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Sula Miranda nasceu Suely Brito de Miranda, em 1963, filha de Dona Maria José e Seu Mário. A caçula entre as três meninas do casal nasceu com um problema grave na laringe que impedia a passagem dos alimentos. Contrariando a recomendação de uma junta de 40 médicos, que disseram que a única solução para manter a menina viva seria submetê-la a uma traqueostomia que a condenaria a passar o resto da vida com uma abertura externa na garganta, e seguindo a orientação de um pediatra amigo da família, os pais decidiram tratá-la com antibióticos fortíssimos e apostaram na fé. A menina não só sobreviveu como se tornou um dos maiores ícones da música sertaneja (e mais recentemente do gospel) no Brasil. Seus shows chegaram a reunir mais de 100 mil pessoas.
A “Rainha dos Caminhoneiros” começou a cantar com as irmãs Yara e Maria Odete (a Gretchen) em um salão grande que havia no sobrado em que moravam, no bairro Ipiranga, no Rio de Janeiro. Em função dos problemas de saúde da mais nova, os pais não permitiam que as meninas brincassem na rua e as presenteavam com muitos brinquedos musicais e estimulavam as atividades artísticas. As três, então, formaram o grupo As Mirandas que, mais tarde, virou o quarteto As Melindrosas, com a entrada da amiga Paula. O primeiro LP, Disco Baby, alcançou a marca de 1 milhão de cópias vendidas.
O sucesso estava traçado. Em 1986, Sula Miranda lançou seu primeiro disco solo pela gravadora 3M. O sertanejo vivia um movimento de renovação, misturando a tradicional música caipira com toques de modernidade e instrumentos eletrônicos. Sula, jovem e talentosa, logo tornou-se um expoente desse novo gênero, batizado de “sertanejo-urbano”. Ganhou o Disco de
Ouro, fez uma média de 25 shows por mês, foi convidada para todos os programas de rádio e televisão e conquistou o Brasil com a sua voz poderosa. Ao longo da carreira, tem gravados 17 discos, sendo 12 com músicas sertanejas inéditas e regravações, três coletâneas e dois de música gospel. Sua relação com o universo da estrada nunca parou. Hoje ela apresenta o podcast Na boleia da Sula, disponível nos principais aplicativos de streaming, que traz informações, novidades, curiosidades e muita história das estradas do Brasil. Cada episódio tem um tema e um convidado especial.
Como começou seu interesse pela música e quais foram suas principais influências ao longo da carreira?
Tudo iniciou na infância. Meus pais incentivavam a arte, me davam brinquedos musicais. Depois estudei piano e violão no conservatório, além de ter estímulo em casa. As influências na carreira foram a música country americana de Willie Nelson e, no Brasil, Nalva Aguiar.
O título de “Rainha dos Caminhoneiros” tem uma história interessante. Você poderia compartilhar como recebeu esse título e o que ele significa para você?
Recebi o título por conta da primeira música que fez sucesso, logo no primeiro LP, em 1986, Caminhoneiro do Amor. Decidi gravar música sertaneja, pois entendia que os caminhoneiros apreciavam esse estilo e, que se eu agradasse esse público, faria sucesso na música sertaneja.
Como foi a transição de cantora de música country e sertaneja para a música gospel? Quais foram as principais diferenças que você encontrou entre os gêneros?
Na verdade não houve uma transição, con-
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“Quero ter admiradores do meu trabalho, não incentivo a idolatria nem o fanatismo”
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tinuo cantando música sertaneja. A música gospel surgiu na minha vida para professar minha fé. Não tem o propósito de me engrandecer, nem que eu seja um grande sucesso ou reconhecida por isso. Quero apenas adorar a Deus e ganhar almas através das mensagens. A diferença nos estilos musicais, para mim, não é o que importa. E sim o sentido de cada estilo e o propósito de cada um na vida das pessoas.
Como você mantém o contato com seus fãs, especialmente os caminhoneiros que estão sempre na estrada?
Procuro ser natural, meus fãs sabem que faço meu dia a dia normalmente. Quero ter admiradores do meu trabalho, não incentivo a idolatria nem o fanatismo. E, por isso, tenho os fãs como amigos que me incentivam a prosseguir todos os dias em tudo que faço.
Tem alguma música ou álbum que você considera ser o ponto alto de sua carreira até agora?
A música, sem dúvida, é Caminhoneiro do Amor. Mas confesso que tenho minhas prediletas. Amo regravar sucessos de outros cantores, trazendo para meu estilo musical.
Com a evolução da tecnologia e das mídias sociais, a maneira como os artistas interagem com os fãs mudou muito. Como você adaptou sua abordagem para se conectar com os fãs nesse ambiente digital? Confesso que demorei um pouco pra me acostumar com muitas coisas novas. Estou em aprendizado e numa eterna adaptação à nova maneira de entender essa forma de
levar a música até as pessoas. Quanto aos fãs, penso que é o lado positivo, porque nos aproximou mais.
Como você vê a evolução da música sertaneja desde que começou sua carreira até agora? Foi tudo muito positivo, no sentido de sempre estar em crescimento. Me sinto privilegiada em ter participado da melhor fase da música sertaneja, onde tudo se abriu para que hoje os artistas atuais pudessem chegar ao patamar que chegaram.
Quais são seus próximos planos para sua carreira musical? Há alguma colaboração dos sonhos que você gostaria de realizar? O plano atual é lançar novas músicas que já gravei, releituras de grandes sucessos dos anos 1990 à minha moda.
Como é o processo de criação das suas músicas? Existe alguma rotina ou ritual que você segue quando está escrevendo uma nova canção?
Quando componho, escolho temas, assuntos que quero trazer para a observação das pessoas. E aí nasce a canção.
Quais conselhos você daria para jovens artistas que estão tentando encontrar seu lugar na indústria da música, especialmente no cenário da música sertaneja?
A melhor dica é humildade, perseverança, resistência e fé. Acreditar que sempre vai dar certo, que o importante é produzir sem se preocupar se irão consumir. Mas pensar que sempre pode ser uma semente que vai florescer em algum lugar e tocar alguém de alguma forma.
“A melhor dica é humildade, perseverança, resistência e fé”
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“Me sinto privilegiada em ter participado da melhor fase da música sertaneja, onde tudo se abriu para que hoje os artistas atuais pudessem chegar ao patamar que chegaram”
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Assessoria de imprensa Delviene Gurgel
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