TOP Magazine Edição 272

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Azevedo

STUDIO MUNDO TOP | VW / pessoas / George Henrique & Rodrigo, Kevi Jonny, Lauana Prado, Mari Fernandez, Naiara Azevedo, Sérgio Reis e Sula Miranda: um mix de tradição e inovação no sertanejo / Diego Faria, Kaik & Alessandro, Matheuzinho, Thiago & Graciano e Augusto & Atílio estão revigorando o cenário musical brasileiro / cultura / os dez festivais mais populares do estilo no país / gastronomia / Pantanal assinado pelo chef Paulo Machado

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12 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Sumário 108 32 20 48

O canto da viola

George Henrique & Rodrigo, Kevi Jonny, Lauana Prado, Mari Fernandez, Naiara

Azevedo, Sérgio Reis e Sula Miranda são capas da edição

Sertanejos pt. 2 e contam sobre carreira e projetos futuros.

Mundo TOP

O novo iate luxuoso da BMW, as cores vibrantes de Yayoi Kusama, um hotel de tirar o fôlego em Maiorca, as leis da gravidade em formato de mesa de centro, os designs geniais de Ken Adam e o charmoso La Poêle.

Pantanal

As características, ingredientes e influências da gastronomia pantaneira assinada pelo chef Paulo Machado. E mais: uma receita megaespecial para você fazer em casa.

Os novos sertanejos

Diego Faria, Kaik & Alessandro, Matheuzinho, Augusto & Atílio e Thiago & Graciano deram um show no Studio e compartilharam suas trajetórias com a TOP em entrevistas especiais.

No ritmo do Brasil

Prepare seu chapéu e bota de cowboy e descubra tudo sobre os eventos, festas e festivais do gênero mais ouvido no país.

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48 PESSOAS CULTURA GASTRONOMIA STUDIO MUNDO TOP
Sumário
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Quem Fez

Camila Lourenço

Apaixonada por conhecer a história de vida de outras pessoas, Camila Lourenço começou a trabalhar no jornalismo há dez anos e escolheu a reportagem como profissão. Camila conversou com os nossos artistas convidados para esta edição.

Fernanda Ávila

Fernanda Ávila foi a primeira editora da TOP, quando a revista foi lançada, no começo dos anos 2000. É jornalista e escritora com especialização em Leitura de Múltiplas Linguagens. Cursou Escrita Criativa em Lisboa. Autora do Guia Nova York com Crianças, coautora do portal Viajo com Filhos. Sócia e diretora de conteúdo da Pulp Edições, lançou a Amora Livros, um clube de assinatura de livros escritos por mulheres.

Maquiadora há 15 anos, Iza Ventura é a responsável por makes que realçam ainda mais a beleza de nossas estrelas da capa. Pelos corredores da redação, também desfilou seu bom humor e simpatia tão encantadores quanto seu tradicional delineado.

Thaís Mota é uma paulista-curitibana apaixonada por viagem, arte, moda e redes sociais. Jornalista de formação e coautora do livro Look do Dia: Política, atua como social media e digital creator, compartilhando dicas de viagem para mais de 10 mil seguidores.

Thaís Mota
14 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Colaboradores
Iza Ventura

Um dos maiores nomes da fotografia nacional, Miro retratou com seu olhar único alguns dos nomes mais importantes da música sertaneja nesta edição especial de TOP Magazine.

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Miro

Publisher

Claudio Mello

TOP Magazine | Studio Mundo TOP

Redação: Renata Zanoni

Editora Multiplataformas: Emilia Jurach

Diretora de Arte: Rosana Pereira

Assistente de Arte: Luana Jimenez

Revisão: Evandrus Camerieri de Alvarenga

Produção executiva: Jeane Souza

Estagiária: Gabriela Haluli

Projeto Gráfico

Marcus Sulzbacher

Lilia Quinaud

Paulo Altieri

Fabiana Falcão

Colaboradores

Texto

Ariel Marques, Camila Lourenço, Fernanda Ávila, Marley Galvão, Thaís Mota, Vivian Monicci

Foto

Miro

Produção

Leandro Milan e Paula Giannaccari (Catering), Ana Paula Zanuto, Anauê Stein, Carol Gelinski, Charles Mello, Gabriela Tonon, Luiz Plinio, Veronica Schulz Ribeiro, Viviani Prado, Well Dias

Tratamento de Imagens

Fujoka, JC Silva

Editora Todas as Culturas

Gerência de Projetos: Camila Polido

Criativo: Bruno Souto

Gerência de Relacionamento: Carolina Alves

RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes

Financeiro: Marcela Valente

Circulação: Regiane Sampaio

Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados

Impressão: Digital Printz

Distribuição: Brancaleone

TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda.

Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - CEP 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074-7979

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados.

/topmagazineonline @topmagazine /topmagazine

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TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Expediente

Mundo Top

UMA SELEÇÃO DE TUDO O QUE FAZ A DIFERENÇA SOBRE LIFESTYLE / CULTURA / DESIGN / FO

sustentabilidade

Mobilidade aquática

Redefinindo a mobilidade sustentável com THE ICON

A BMW e a fabricante de barcos TYDE fizeram uma estreia mundial impressionante no 76º Festival de Cinema de Cannes, onde apresentaram THE ICON, um novo marco para a mobilidade sustentável na água. O ICON, uma embarcação marinha movida à bateria, une viagem localmente livre de emissões a uma visão de luxo. Esse pioneiro veículo aquático redefine a relação entre as dimensões, velocidade máxima e alcance de uma embarcação elétrica. Sua inovação reside no uso de hidrofólios, que reduzem o consumo de energia em até 80% em comparação com um casco convencional. A energia é fornecida por seis baterias da BMW i3, que alimentam dois motores elétricos de 100 kW, proporcionando uma autonomia de mais de 50 milhas náuticas (aproximadamente 100 km).

A BMW, como força motriz por trás do ICON, mostrou mais uma vez seu compromisso com a mobilidade sustentável, não apenas no transporte terrestre, mas também no marítimo. O ICON representa uma forma de luxo voltada para o futuro, oferecendo aos passageiros uma nova experiência de mobilidade, combinando conforto e impacto ambiental significativamente reduzido. O som a bordo é proporcionado pelo sistema Dolby Atmos e pelo compositor vencedor do Academy Awards, Hans Zimmer. As criações acústicas revolucionárias de Zimmer marcam uma nova era na satisfação de viagens sustentáveis na água.

+infos: bmw.com

20 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Cultura

TOGRAFIA / GASTRONOMIA

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cultura

Espelhos abraçados

David Zwirner teve o prazer de anunciar Eu passo cada dia abraçando flores, uma exposição de trabalhos da artista japonesa Yayoi Kusama, que apresentou novas pinturas, esculturas e um novo quarto de espelho infinito. A exposição foi realizada nas galerias 519, 525 e 533 da West 19th Street em Nova York.

Yayoi Kusama, uma das artistas mais influentes dos séculos XX e XXI, ocupou uma posição única na história da arte recente. Desde sua assimilação inicial da pop art e do minimalismo na década de 1960, ela criou uma obra altamente pessoal que ressoa com o público global. A exposição levou o nome de três esculturas monumentais de flores, cada uma intitulada Eu passo cada dia abraçando flores. No final da exposição, na 533 West 19th Street, três esculturas de abóboras transfiguraram as formas orgânicas reinventadas por Kusama ao longo de várias décadas.

Junto com um novo espelho infinito, 36 pinturas de sua série Cada dia eu rezo por amor (2021-2023) foram exibidas na 525 West 19th Street. Esses trabalhos derivaram

22 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Cultura Mundo Top
O renascimento artístico de Yayoi Kusama em Nova York

do seu desejo de produzir arte que fosse autobiográfica e ao mesmo tempo criada fora dos limites do eu. Uma retrospectiva extensa das obras de Kusama, Yayoi

Kusama: 1945 até agora, esteve em exibição no M+ Museum, em Hong Kong, até maio de 2023, e posteriormente foi para o Guggenheim Bilbao.

Yayoi Kusama (nascida em 1929) apresentou sua primeira exposição individual no Japão em 1952. Mais recentemente, de 2011 a 2012, seu trabalho foi o tema de uma retrospectiva de grande escala que viajou para o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri; Centre Georges Pompidou, Paris; Tate Modern, Londres; e Whitney Museum of American Art, Nova York. Em 2023, um mosaico encomendado por Kusama, Uma

mensagem de amor, diretamente do meu coração para o universo (2022), foi revelado na nova Madison Concourse na Grand Central Station, Nova York, e permanece em exibição permanente.

Kusama é representada por David Zwirner desde 2013. O Yayoi Kusama Museum, um museu dedicado ao trabalho da artista, abriu em primeiro de outubro de 2017, em Tóquio.

A exposição Eu passo cada dia abraçando flores esteve em exibição de 11 de maio a 21 de julho de 2023, nas galerias 519, 525 e 533 West 19th Street, Nova York.

+infos: davidzwirner.com

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hotelaria

Experiência luxuosa

Richard Branson deixa sua marca no Son Bunyola Hotel em Maiorca

O Son Bunyola Hotel, da Virgin Limited Edition, é um hotel boutique de luxo localizado na deslumbrante Serra de Tramuntana, em Maiorca. Inaugurado após a meticulosa restauração de uma histórica quinta do século 16, esse encantador hotel oferece uma experiência verdadeiramente excepcional para os seus hóspedes. Com quartos e suítes elegantemente decorados, o Son Bunyola Hotel proporciona um ambiente acolhedor e sofisticado. Cada detalhe foi cuidadosamente pensado, combinando elementos tradicionais com toques modernos. Os hóspedes têm o privilégio de desfrutar de vistas deslumbrantes da paisagem circundante, vivenciando uma atmosfera tranquila e serena. A gastronomia é uma parte essencial dessa experiência. Os restaurantes mediterrâneo e de tapas oferecem uma seleção excepcional de pratos deliciosos, preparados com ingredientes frescos e locais. Os hóspedes podem

saborear uma culinária autêntica enquanto contemplam as vistas panorâmicas da região.

Além disso, o Son Bunyola Hotel oferece um programa de bem-estar abrangente, projetado para satisfazer todas as necessidades dos hóspedes. Desde tratamentos de spa rejuvenescedores até atividades ao ar livre, como caminhadas e passeios de bicicleta, há algo para todos os gostos e preferências. Os hóspedes podem relaxar e se revitalizar durante a estadia. No entanto, o destaque incontestável do hotel é a sua localização ao longo de três quilômetros de costa intocada. Com acesso exclusivo a praias privadas e enseadas isoladas, os hóspedes têm a oportunidade de desfrutar do sol, mergulhar nas águas cristalinas do Mediterrâneo e desconectar-se do mundo exterior em um ambiente paradisíaco. Em suma, o Son Bunyola Hotel é uma verdadeira joia histórica em Maiorca, combinando charme, elegância e beleza natural. Se você está em busca de uma experiência luxuosa e memorável em um destino único, esse é o lugar ideal para você. Descubra a magia de Maiorca nesse novo e exclusivo hotel de luxo e permita-se ser cativado por tudo o que ele tem a oferecer.

+infos: sonbunyola.virgin.com

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design

Mesa gravitacional

A mesa de centro da empresa de design Boca do Lobo é uma homenagem às Leis da Gravidade de Newton

Uma estrutura formada por esferas e semiesferas que, juntas, completam esta mesa de centro com um visual requintado. Inspirada nas Leis da Gravidade de Newton, a empresa de design de interiores Boca do Lobo mostra o motivo de seu renome ao criar um objeto capaz de refletir a atração das esferas à medida que elas se unem com sua massa, força e energia. Essa mesa é ideal para oito a dez pessoas, que ficarão maravilhadas ao contemplar essa obra-prima em sua casa. Técnicas como fundição, laca e verniz são utilizadas na peça, com materiais como

folheado de raiz de murta, folheado de raiz de nogueira e alumínio. Ela possui três versões diferentes e todas apresentam combinações de acabamentos especiais.

A primeira versão tem esferas de alumínio com laca preta e acabamento envernizado de alto brilho, além de algumas esferas folheadas a ouro na base. O topo é composto por círculos de alumínio esculpidos com uma textura dourada semelhante à textura da madeira.

A segunda versão tem esferas de alumínio folheadas a ouro com acabamento envernizado de alto brilho na base e um tampo feito de um incrível folheado de raiz de murta, finalizado com um verniz de alto brilho.

Já a terceira versão tem esferas de alumínio com laca preta e acabamento envernizado de alto brilho na base, e o tampo é feito com folheado de raiz de nogueira, finalizado com um verniz de alto brilho.

+infos: bocadolobo.com

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museu

Must Go em Buenos Aires

Museu Evita te faz conhecer e sentir o legado de Eva Duarte de Perón

A argentina María Eva Duarte de Perón, conhecida como Evita, nasceu em 7 de maio de 1919 e morreu em 26 de julho de 1952. Ela se tornou um símbolo de reconhecimento global, associado à luta pela igualdade e pelos direitos das mulheres, que ainda hoje continua sendo um valor inspirador para as novas gerações. Como uma das mulheres mais importantes da história latino-americana, seu legado foi consagrado no Museu Evita, em Buenos Aires. Um espaço criado pela família com o desejo de perpetuar ainda mais todo o seu legado.

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Por Renata Zanoni

Localizado no bairro de Palermo, o local abriu suas portas há 20 anos, ao se completarem 50 anos da morte da homenageada, constituindo-se em um ícone cultural na capital argentina. Para se ter uma ideia, são mais de 67 mil pessoas visitando o museu por ano. O edifício que abriga o museu é uma magnífica construção de 1923 que combina elementos do Renascimento plateresco, espanhol e italiano.

O desenho dinâmico da exposição permanente oferece aos visitantes uma viagem pelos diferentes momentos da vida de Evita, recriados num ambiente de elevado valor patrimonial. Além disso, são planejadas e projetadas exposições temáticas temporárias nas quais é possível aprofundar conhecimentos sobre determinados momentos históricos e aspectos significativos da protagonista. Como oferta complementar, o espaço conta com um restaurante de mesmo nome, situado no elegante pátio que tinha pertencido originariamente à Casa/Lar de Trânsito Nº2, onde se pode desfrutar de uma excelente proposta gastronômica com cardápio variado e uma elegante loja de lembranças temáticas.

+infos: museoevita.org.ar

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livro

Arquivos Ken Adam

Explorando a genialidade por trás dos cenários e veículos icônicos do cinema

The Ken Adam Archive é uma edição de colecionador que presta homenagem ao renomado designer de produção Sir Ken Adam. Com capa dura revestida em tecido bicolor iridescente e lenticular de quatro fases, esse livro de 360 páginas apresenta uma incrível variedade de esboços, conceitos e fotografias retiradas do arquivo pessoal de Adam, mantido pela Deutsche Kinemathek. Conhecido por seu trabalho em filmes como Dr. Fantástico e os primeiros longas de James Bond, Adam é considerado o designer de produção mais influente do mundo. Suas criações marcantes, como os covis sinistros de vilões e os veículos icônicos de 007, são cuidadosamente ilustradas nesse livro, acompanhadas por fotografias de bastidores e materiais de arquivo fornecidos pela EON Productions.

Além de explorar sua colaboração com Stanley Kubrick e o design da Sala de Guerra em Dr. Fantástico, o livro apresenta entrevistas reveladoras entre Adam e o autor Sir Christopher Frayling, oferecendo insights sobre os momentos marcantes e desafiadores da carreira de Adam. Com uma edição limitada de 1.200 exemplares numerados, cada um assinado pelo próprio Sir Ken Adam, essa é uma obra essencial para os amantes do cinema e do design de produção.

+infos: taschen.com

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EDIÇÃO 272
MAGAZINE
Cultura

gastronomia

Sabores Poêle

Culinária franco-italiana em um ambiente acolhedor no coração do Jardim Europa

Localizado no charmoso Jardim Europa, o bistrô La Poêle, dirigido pelo casal Marcio Paschoal e Angelica Alves, é uma joia gastronômica. Misturando culinária francesa e italiana, oferece pratos incríveis em um ambiente dividido entre salão com bar e varanda externa, inspirado no sul da França. O brie empanado com mel e castanha e o steak tartare com azeite de carvão e torradas são entradas imperdíveis. Na seção de pratos principais, a Pasta Al

Mare homenageia a tradição italiana, e o Risoto de Mignon e gorgonzola trufado traz uma combinação intensa e harmoniosa de sabores. Para os amantes de carne, o Medalhão de Mignon ao molho roti, com batata recheada, é irresistível. Além disso, a seleção entre penne, linguine e spaghetti agrega personalização à experiência. Não podemos esquecer as sobremesas, em particular o creme de avelã com sorvete de creme e macadâmia caramelizada. Para complementar a experiência gastronômica, a carta de vinhos do La Poêle é meticulosamente selecionada, oferecendo uma variedade que agrada a diversos paladares e harmoniza perfeitamente com os pratos. O La Poêle é um encantador destino para apreciadores da boa culinária.

+infos: @lapoelerestaurante

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A CELEBRAÇÃO DO AGORA

NO TRÂNSITO, ESCOLHA A VIDA.

Made in Brazil: os 10 festivais de música sertaneja mais populares do país

32 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Cultura

DE NORTE A SUL DO PAÍS, ENTENDA A ORIGEM DO GÊNERO MAIS TOCADO NO ÚLTIMO ANO E CONHEÇA OS EVENTOS QUE VÃO ESQUENTAR DIVERSAS FESTAS PELO BRASIL

Por Thaís Mota FotosReprodução 5 min

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A retrospectiva musical de 2022, produzida pelo Spotify, mostrou – sem grandes surpresas – as preferências que dominam o gosto dos ouvintes brasileiros. O gênero mais escutado no país, segundo o serviço de streaming, é o “sertanejo pop”, seguido pelo funk carioca e pelo “sertanejo universitário”. Marília Mendonça, a eterna rainha da “sofrência”, liderou o Top 5 dos artistas mais escutados do Brasil, com as duplas Henrique & Juliano na segunda posição e Jorge & Mateus na terceira. Apesar de essas vozes dominarem o topo das paradas na atualidade, o gênero musical surgiu no século passado e carrega muitas histórias e diversas transformações técnicas até chegar à versão que mais toca nos fones dos brasileiros.

A música sertaneja tem origem no sertão rural brasileiro na década de 1910, a partir das modas de viola que tocavam, sem grande preocupação rítmica, canções sobre as vivências simplistas no campo, o contato com a natureza e os costumes caipiras. Essa primeira geração do estilo musical é conhecida por “sertanejo raiz” e representada por nomes populares como Alvarenga & Ranchinho e Tonico & Tinoco.

Transições

Com o passar dos anos, as características do sertanejo foram se transformando devido às influências de elementos trazidos pelo pop, country e rock, e a inserção de novos instrumentos musicais. Assim, surgiu o “sertanejo romântico” de Zezé Di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó nos anos 1960 – e não é possível negar as aparências, nem disfarçar as evidências do sucesso do gênero porque, com certeza, você já cantou algum hit dessas e de tantas outras duplas que marcaram o país com letras e melodias sentimentais. Entre tantas variações, o responsável pelo maior alcance nacional e internacional do estilo musical é o “sertanejo universitário”. O gênero queridinho e “superchiclete” foi consolidado nos anos 2000, trazendo uma repaginação tanto nas letras – que passaram a contar sobre relações afetivas, dinheiro, festas e álcool – quanto no visual e na vestimenta dos artistas com a modernização das referências estéticas caipiras. Entre os principais nomes desse grupo, estão Maiara & Maraisa, Luan Santana, Michel Teló e Jorge & Mateus. Vale destacar o subgênero do sertanejo conhecido como “feminejo”, integrado por cantoras e compositoras mulheres, colocadas como protagonistas dos novos enredos musicais – historicamente voltados e criados sob a perspectiva masculina. Essa segmentação deu espaço a vozes femininas no cenário e trouxe representatividade para esse público, que consegue se identificar mais com os versos cantados pelas “patroas”. Independentemente de qual variação ou geração do estilo escutado, o sertanejo é responsável por movimentar grandes festivais que unem música, agronegócio, diversão e o que o brasileiro faz como ninguém: festa! Botas lustradas, fivelas apertadas e chapéu em mãos? Então confira o guia dos dez festivais sertanejos mais populares do Brasil para se divertir e celebrar a música nacional!

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Independentemente de qual variação ou geração do estilo escutado, o sertanejo é responsável por movimentar grandes festivais que unem música, agronegócio, diversão e o que o brasileiro faz como ninguém: festa!

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Caldas Country Festival @caldascountry

Aclamado como um dos maiores festivais do país, acontece há 16 anos na cidade de Caldas Novas (GO). A edição de 2023 fará parte do Circuito Sertanejo no mês de novembro, com 30 horas de música e um lineup que promete esquentar o estado.

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Farraial @farraial

Com mais de dez horas de shows, experiências gastronômicas e muita farra, recebeu mais de 40 mil pessoas em sua última edição, na Arena Anhembi, em São Paulo. O lineup deste ano, que mistura sertanejo, pop e eletrônica, já tem atrações anunciadas e participações inéditas.

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Circuito Brahma Sertanejo

@camarotebrahmaoficial

O Circuito Brahma Sertanejo reúne mais de 50 eventos com as maiores e melhores festas do estilo, espalhados de norte a sul do Brasil, alcançando mais de seis milhões de pessoas em suas edições anteriores e uma experiência completa com a qualidade da cervejaria.

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Festa do Peão de Barretos @festadopeaodebarretos_oficial

Conhecida como “Barretão”, a festa acontece todos os anos na cidade do interior paulista, desde 1956. O maior rodeio da América Latina também traz shows musicais, feira comercial, apresentações culturais e diversas atividades temáticas em uma infraestrutura de mais de dois milhões de metros quadrados. Em 2023, a festa acontece de 17 a 27 de agosto, sendo uma das etapas do Circuito Sertanejo.

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Responsável por trazer estrelas da música nacional a Belo Horizonte, o Festival Sertanejo celebra cinco anos e acontece, pela primeira vez, no gramado do Mineirão, em Belo Horizonte, com atrações como Zé Neto & Cristiano, Maiara & Maraísa, Dennis, Guilherme & Benuto e muito mais.

Há 61 anos, a ExpoLondrina movimenta o setor agropecuário e se consagra como o maior evento de agronegócio do país, trazendotambém o melhor da festa sertaneja para o público paranaense.

ExpoLondrina @expolondrinaoficial
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Villa Country @villacountry

A casa temática paulistana possui 12 mil m² inspirados no Velho Oeste americano, e recebe grandes estrelas da música country e sertaneja. Em 2023, completa 21 anos e fará parte do Circuito Sertanejo.

Ribeirão Rodeo Music

@ribeiraorodeomusic

Mais uma etapa do Circuito Sertanejo, o Ribeirão Rodeo Music é um dos eventos mais aguardados do interior paulista. O RRM 2023 terá 15 shows em quatro dias de festa country no Parque Permanente de Exposições de Ribeirão Preto, e o público poderá assistir aos shows de Ana Castela, Bruno & Marrone, Alok e outros grandes nomes da cena musical.

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Festa do Peão de Colorado @srcolorado

Famosa pela valorização da montaria em cavalos no estilo cutiano, a “Capital do Rodeio no Paraná” é referência no país e sedia, anualmente, a Festa de Peão Boiadeiro – já em sua 47ª edição. O espaço conta com uma área de mais de 90 mil m², na qual recebe milhares de visitantes de todo o país. Vale destacar a importância da festa para a movimentação da economia local e o reconhecimento do rodeio pela alta qualidade das competições, com animais e participantes criteriosamente selecionados.

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Curitiba

Country Festival @countryfestival

Um dos eventos mais tradicionais de música sertaneja do país apresenta, em sua 14ª edição, um lineup de grandes nomes, como Maiara & Maraísa, Bruno & Marrone e Chitãozinho & Xororó. Neste ano, durante os dias 6 e 7 de maio, mais de 30 horas de entretenimento agitaram o Expotrade Convention Center, localizado na Região Metropolitana de Curitiba.

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Com mais de dez anos de carreira, a dupla

George Henrique e Rodrigo acumula músicas de sucesso, com destaque em plataformas de streaming, além de aparecer em listas de artistas mais tocados nas rádios do Brasil.

Os irmãos goianos, que cresceram no universo da música sob influência do pai, são apaixonados pelo sertanejo desde pequenos. Após cantarem juntos em eventos da família e churrascos de amigos, os dois se convenceram que poderiam fazer uma dupla de sucesso.

O jeito irreverente sempre foi a marca de George Henrique & Rodrigo, que escolheu gravar o primeiro DVD em um inusitado cenário de posto de gasolina.

Apadrinhados por Bruno & Marrone, os cantores fizeram parcerias marcantes com artistas como Jorge & Mateus, Henrique & Juliano, Zé Neto & Cristiano e Gusttavo Lima. A música Vai Lá em Casa Hoje, gravada ao lado de Marília Mendonça, foi reproduzida mais de 250 milhões de vezes no Spotify e ficou entre as mais tocadas em 2022.

Em 2023, George Henrique & Rodrigo disponibilizou o projeto completo de Influências nos serviços de streaming. O álbum traz regravações de artistas que inspiraram a dupla, como Chitãozinho & Xororó, João Paulo & Daniel e Bruno & Marrone, além de músicas inéditas. Os irmãos lançaram os singles Faz Moleque Virar Homem, com Bruno & Marrone, e A Dona da Minha Raiva, que também traz os padrinhos juntos com George Henrique & Rodrigo mais Thiago & Graciano.

Como foi a produção do EP Influências?

Nós sempre gostamos muito de cantar sertanejo, tanto o raiz quanto o mais moderno. E o nosso público cobrava que a gente fizesse um projeto de regravações, com resgate de músicas que gostamos, ouvimos e cantamos em casa. Pegamos desde duplas mais antigas até Marília Mendonça, por exemplo. Mas, no fim, teve música inédita também. Foi um trabalho bem sertanejo, gravado na fazenda, todo em um clima country.

Como vocês formaram a dupla?

O nosso pai viveu da música a vida inteira, então crescemos nesse universo. Quando íamos ficar com ele, aos finais de semana, ele, pai, não podia parar de trabalhar e levava a gente para as apresentações. Nós gostávamos. E nos acostumamos, desde pequenos, a ouvir música. Depois, nos churrascos da família e amigos, a gente tocava violão e cantava junto. O pessoal gostava, as vozes de irmãos geralmente combinam. Naturalmente, fomos virando uma dupla. Com o tempo, entendemos que dava para ganhar um bom dinheiro com a música. E é curioso que cantamos em bar, mas foram uns três, quatro anos. Logo, tivemos a oportunidade de entrar em escritório, lançar música, fazer show. Então tivemos a escola das apresentações em bares, mas não ficamos dez anos nisso.

Como é ter Bruno & Marrone de padrinhos? A responsabilidade de ser apadrinhado por Bruno & Marrone é grande. Eles têm mais de 30 anos de sucesso. Éramos fãs dos dois

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“Um dos primeiros shows, nós fizemos em troca de botas de couro de avestruz. Na época, era moda e nós tínhamos o sonho de ter uma. Para ser sincero, a bota valia mais que o nosso cachê de dupla”
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George Henrique
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bem antes disso, na infância. Quando eles lançavam álbum, a gente corria, sentava e ficava ouvindo. Um dia, o Bruno e o Marrone ouviram a gente cantando no bar. Foi emocionante para todo mundo, porque éramos muito fãs. Ele chorava, eu chorava. E falaram: “Queremos lançar vocês”. Isso sempre foi uma referência e uma responsabilidade, porque se Bruno & Marrone nos escolheu, nós devíamos cantar bem. Até hoje é gratificante.

E teve alguma permuta diferente para fazer show?

Um dos primeiros shows, fizemos em troca de botas de couro de avestruz. Na época, era moda e nós tínhamos o sonho de ter uma. Só que, depois do show, queriam levar a gente na conversa de que era só um par. Nós batemos o pé e falamos: “Não, nós somos uma dupla! Não é um pé para cada um não…” Eles deram os dois pares, mas queriam outro show. Para ser sincero, a bota valia mais do que o nosso cachê de dupla.

Como é essa coisa de, às vezes, escrever uma música sobre algo que você viveu?

Quem compõe pega qualquer história interessante para escrever. Pode ser minha, pode ser sua. Geralmente ninguém nunca fica sabendo com quem aconteceu a história e os detalhes. Mas cada compositor tem um estilo. Tem gente que gosta de inventar, outros gostam de escrever sobre o que viveram ou algo que um conhecido

passou. Somos mais desse último grupo. Coisas que vivemos na adolescência e tal. O sertanejo fala de casos normais de amor, amizade, traição, pinga e cachaça. Todo mundo vive isso. Porém, hoje, não podemos depender só de composições próprias, porque não tem como dedicar só o tempo livre para compor. E outra coisa: às vezes você não está com humor ou cabeça. Também há o fato de que é preciso considerar bastante coisa para escrever uma música. Hoje em dia, por exemplo, quem trabalha com isso acompanha o tipo de expressão que as pessoas estão falando. Se você usar uma frase, ela vai pegar só o regional ou vai pegar nacional? E é bom saber que temos ótimos profissionais que focam na composição, enquanto fazemos a outra parte do trabalho. A dupla faz gravação, faz entrevista, tem que ir para a estrada, fazer show e compor também quando é possível. Só que a gente participa do processo. Se estamos gravando um DVD, nós recebemos as músicas e sentamos no estúdio com empresário e produtor para ouvir. Conforme o grupo gosta, vai separando e assim fazemos uma peneira.

Qual é o lado positivo e negativo de fazer dupla com o irmão?

O lado bom é que é família, geralmente ambos foram criados juntos, com a parte da voz combinar também. O lado ruim é o excesso de intimidade, de misturar família com o profissional. Às vezes, você

“Um dia, o Bruno e o Marrone ouviram a gente cantando no bar. Foi emocionante para todo mundo, porque éramos muito fãs. Ele chorava, eu chorava. E falaram:
‘Queremos lançar vocês’. E isso sempre foi uma referência e uma responsabilidade”
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desrespeita mais do que desrespeitaria uma pessoa de fora, porque irmão aguenta mais coisa. E, às vezes, leva para o pessoal, porque é família e, então, isso atrapalha um pouco.

E vocês são de brigar assim?

A gente já brigou muito. Hoje, só discordamos, porque cada um tem a própria forma de ver as coisas, mas isso é bom. Por exemplo, quando estamos escolhendo música, ele tem uma opinião, eu tenho outra e nós temos que fazer as duas se completarem.

Como vocês lidam com a fama?

A exposição não nos incomoda. Porque a gente lutou e trabalhou a vida inteira para conseguir esse reconhecimento. E faz parte disso sair na rua e as pessoas quererem uma foto. Tem gente que vai te ver e querer te abraçar. Se você está comendo, é incômodo, mas nós não ligamos, porque pensamos primeiro na pessoa. Mas tem uma coisa que me deixa sem graça, que o George Henrique pensa de forma diferente. Se eu estou em um restaurante com a minha esposa, chega alguém e fala: “Canta o refrão daquela música?” Eu fico com vergonha de cantar. Está todo mundo em silêncio. Já aconteceu. Eu respondi: “Pode ser uma foto ou mandar um abraço?” Já, compartilhar a vida, nós não temos problema nenhum, mostramos bastante coisa nas redes sociais. Quando você se propõe a sair de casa, tem que saber que as pessoas vão querer falar e tirar fotos. Se você não quer ou se é um dia em que você não está legal, é melhor ficar em casa. Tem dias em que você não está bem para ficar sorrindo para todo mundo. Tudo bem. Melhor ficar em casa.

“Quando você se propõe a sair de casa, tem que saber que as pessoas vão querer falar e tirar fotos. Se você não quer ou se é um dia em que você não está legal, é melhor ficar em casa”
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KNASCIDO NA BAHIA, KEVI JONNY REVELA QUE, APESAR DE SE IDENTIFICAR MAIS COM TEMAS LIGADOS AO AMOR, GOSTA DE INOVAR E MISTURAR RITMOS NA PRODUÇÃO DE SUAS MÚSICAS

Por Camila Lourenço Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Iza Ventura 5 min
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O sonho de ser famoso fez Kevi Jonny tentar diversas atividades, porém foi na música que ele encontrou a verdadeira paixão. Tudo começou com uma brincadeira na escola: durante os intervalos, Kevi e os amigos começaram a improvisar um som para divertir os colegas. Vendo como os jovens gostavam do momento, o colégio organizou um festival de música. No entanto, para participar, o aluno precisava se apresentar com uma composição própria. Kevi aceitou o desafio e escreveu a sua primeira música.

Hoje, com uma agenda que conta com mais de 20 shows por mês, o cantor conquistou o seu espaço com a “sofrência”. O último projeto do artista foi o DVD Com Amor, Kevi Jonny. A música Te Love, que faz parte do trabalho, soma 90 milhões de visualizações no YouTube, além de virar hit e integrar as paradas dos serviços de streaming musicais.

Como foi produzir o DVD Com Amor, Kevi Jonny?

Foi bem especial. O DVD veio do álbum, em que peguei as minhas melhores músicas. Tenho muitas composições e eu pensei: “Quais dessas são as que eu mais amo?” Com isso, nós gravamos um álbum. Foi o primeiro CD inédito que fizemos, porque sempre colocamos algumas regravações de músicas de outras pessoas. A gente fez um álbum bem legal, que rodou muito. Depois veio a ideia de transformar o projeto em um DVD, gravado em Goiânia. É uma cidade que amo e tem tudo a ver com música, com “sofrência” e com as composições. Inclusive, tiveram algumas músicas feitas lá.

Quando você descobriu o seu amor pela música?

Eu sempre pedi a Deus algo que me fizesse aparecer. As pessoas me chamavam de doido, porque, desde pequenininho, eu falava: “Um dia, vou chegar em um lugar e todo mundo vai saber meu nome”. Só que eu não sabia que seria na música. Então, eu fui um cara que tentei de tudo. Fiz luta, futebol, teatro, dança, fiz muita coisa. Lembro que a minha mãe, uma época, chegou para mim e falou: “Você vai ser o quê da vida? Todo dia você está em uma coisa. Agora estou vendo você indo para show e está com esse negócio de música”. A música foi a última coisa que tentei. E começou na escola, porque, no intervalo, a gente começou a fazer um sambinha. Juntava a galera, pegava balde de lixo, batia, um amigo levava um cavaco. A gente fazia a festa. As pessoas começaram a curtir e criaram um festival na escola. Só que, para participar, você tinha que compor. Então, foi meio que tudo junto, porque tive que compor para cantar. Foi a minha primeira composição chamada Jardim Sem Flor. O festival foi tão legal que criaram um evento mesmo para disputar com outras escolas, com jurados e tal. Eu não passei, perdi, chorei bastante. Só que a minha música tinha um refrão muito bom e todo mundo cantou na hora. Era uma “sofrência”, como que canto hoje, música romântica. Depois disso, me chamaram para fazer backing vocal em uma banda e eu aceitei. Quando o cantor saiu, eu disse: “Eu vou cantar” e assim foi.

E quando você percebeu estar dando certo? Foi quando veio a internet. Eu fazia

“As pessoas me chamavam de doido, porque, desde pequenininho, eu falava:
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‘Um dia, vou chegar em um lugar e todo mundo vai saber meu nome’. Só que eu não sabia que seria na música”
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shows pela cidade e o pessoal já estava me contratando bem. Só que, quando comecei a gravar uns vídeos caseiros, começou a chamar a atenção das pessoas. Lembro que gravei cantando uma música que estava no auge, a Domingo de Manhã, da dupla Marcos & Belutti. O Belutti viu e comentou. Nisso, eu que sou de uma cidade pequena, contei para todo mundo. A partir daí, eu postava os vídeos e marcava as pessoas. A Solange, o Dorgival Dantas e vários cantores da época estavam comentando em meus vídeos. Por meio disso, apareceram pessoas querendo apostar junto comigo nesse sonho. Quando apareceu uma pessoa de Salvador, capital do estado onde moro, a minha mãe falou: “Você vai para Salvador, porque é perto, que qualquer coisa eu te busco. Você não vai para São Paulo, que fica mais difícil”. Fui para lá há oito anos e estou até hoje.

Quando está compondo, você tem um tema preferido?

Os meus fãs sempre falam que canto muito sobre ex. Gosto de falar de amor, de romance, de acreditar. É algo que me move. Mas as inspirações, às vezes, vêm de coisas que a gente ouve. Esses dias, por exemplo, eu ouvi um tema e vou fazer uma música sobre “saudade perpétua”. A saudade que não tem fim. Eu ouvi alguém falar e disso a gente vai para: “O que é uma saudade perpétua?” E você vai criando, bolando e tal, assim sai uma música. Quando a gente escreve uma música é quase como botar um filho no mundo, né?

Você fala bastante sobre amor. Você é romântico?

Eu procuro ser, mas sou de demonstrar em

atitudes. Sou bem parceiro e prestativo. A minha parte romântica está mais nisso, de ser aquele que está junto para tudo. Sou meio Cazuza, sabe? Passar e roubar algumas flores para levar para a pessoa.

Quais são suas referências musicais? Sou bastante eclético. Em meu dia a dia, eu escuto tudo. Muito pop, trap, sertanejo. “Sofrência” também. Ouço Marília Mendonça demais. Isso me ajuda na minha carreira, porque eu sempre gosto de ousar. O que falo para as pessoas é que sou um intérprete. Eu não sou um cara rotulado a um ritmo. Lancei Te Love, que não tem muito a ver com o que eu sigo. Sou um cantor romântico, mas na produção sempre tento fazer algo diferente. Colocar um piseiro, um forró, um eletrônico. Eu procuro mesclar um pouco de tudo. No último álbum, teve até uma música que coloquei um reggae no refrão. Ninguém entendeu, mas ficou muito bom.

Como foi lidar com a fama?

Tem a parte boa e a parte ruim. É bem complicado. A gente sonha muito com isso, mas, quando chega, a responsabilidade é grande. Às vezes, a gente pensa: “Será que está valendo a pena?” Principalmente na parte pessoal, porque é muito difícil manter relacionamentos. Quando você namora uma pessoa anônima, às vezes, ela não vai conseguir entender. Ela vai querer ir em um restaurante a qualquer hora e não dá. Você tem vontade de sair sozinho no seu carro, mas tem que ter um cuidado. A melhor parte são os fãs. A única tatuagem que tenho é a palavra “fã”. Eu sonhava com as pessoas que iam chegar para me conhecer, para saber

algumas flores para levar para a pessoa”

“Sou bem parceiro e prestativo. A minha parte romântica está mais nisso, de ser aquele que está junto para tudo. Sou meio Cazuza, sabe? Passar e roubar
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quem eu sou. E, em troca, ter a chance de mudar algo na vida delas. E Deus botou a música. Amo poder cantar e ver o sorriso dos fãs. A vida já é tão complicada. Então, em um show, eu procuro chegar lá sabendo que tenho que levar algo, que as pessoas têm que ir embora dali com uma sensação melhor.

Qual foi a maior loucura que um fã fez?

Antigamente, eu morava em um apart-hotel. Uma fã sabia e reservou um quarto no hotel só para ir bater na minha porta. Quando abri, pensei que fosse algum funcionário do prédio. E lá estava ela com um monte de presente na mão, toda suada, porque não podia subir para a parte de moradia, só podia ficar na parte do hotel. E ela conseguiu subindo as escadas. Eu estava sozinho, foi bem complicado, fiquei com medo. Ela entrou em casa, disse que precisava tomar água, que estava cansada, porque subiu 16 andares. Tratei

bem e foi tudo legal. Só que, depois, ela foi lá de novo, em um dia em que eu não estava e ela pegou o meu cachorro para levar embora. Foi um negócio terrível.

Quais são os próximos projetos?

Tem muita gente que grava um trabalho e pensa: “Agora eu vou relaxar”. Eu, não. Enquanto não faço outro projeto, eu fico morto. Preciso renascer. Então eu já tenho um próximo DVD para gravar no segundo semestre.

Qual é a sua relação com as mídias sociais?

Tenho uma equipe muito boa de mídias sociais, mas faço o Instagram. Eu sou bem participativo nessa parte. A galera gosta. Alguns amigos meus falam que eu sou o cantor mais blogueiro que tem, porque filmo tudo. Eu não apareço só pra pedir para ouvirem a minha música, eu apareço para dar um bom dia, desejar uma boa semana, mostrar o dia a dia. É bem legal, porque é uma forma de estar próximo dos fãs.

“O que falo para as pessoas é que sou um intérprete. Eu não sou um cara rotulado a um ritmo. Sou um cantor romântico, mas na produção sempre tento fazer algo diferente”
Assessoria de imprensa Karina Caldi 64 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Kevi Jonny
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PROJETO AO VIVO EM BRASÍLIA FOI IDEALIZADO POR LAUANA PRADO PARA SER UMA CELEBRAÇÃO À VITÓRIA APÓS OS ANOS DE PANDEMIA

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Por Camila Lourenço Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Anauê Stein Styling Veronica Schulz Ribeiro 5 min

Lauana Prado é natural de Goiânia (GO), mas foi no estado de Tocantins que ela se apaixonou pelo sertanejo. A artista começou a mostrar sua afinidade com a música ainda pequena, quando já cantava e compunha.

Nos churrascos e encontros com amigos, também já dava “palhinhas” com o violão. Com incentivo da mãe fez o seu primeiro show. Na época, a garota de apenas 16 anos já olhava para a música com seriedade e profissionalismo.

Apesar de ter se formado em Publicidade e Propaganda, Lauana preferiu investir na carreira de cantora. Participou de competições no Programa Raul Gil e da primeira edição do The Voice Brasil. Somente em 2015, após vencer o quadro Mulheres que Brilham, também do programa de Raul Gil, que a goianiense conseguiu uma projeção maior.

Em 2018, a artista lançou um EP que contava com a faixa Cobaia. Meses depois, a música virou hit e a cantora se tornou um nome conhecido nacionalmente.

Neste ano, a cantora iniciou um novo ciclo em sua trajetória musical com o lançamento da primeira parte do trabalho Lauana Prado – Ao Vivo em Brasília. Entre as nove músicas já lançadas, Tanto Faz, em parceria com Xand Avião, acumula milhões de reproduções nas plataformas. O projeto audiovisual conta ainda com participações de Guilherme & Benuto, Sorriso Maroto e Diego & Victor Hugo.

Em que momento você percebeu que era uma pessoa da música?

Comecei a me interessar por música desde muito bebê. Minha mãe conta que, em festas de família, eu sempre estava cantando ou batucando alguma coisa.

Na adolescência, comecei a me dedicar a aprender instrumentos. Primeiro foi o piano. Depois, eu me interessei pelos de corda. Tudo [o que aprendi foi] de forma autodidata, porque, na época, não tive a oportunidade de fazer aulas. A música sempre foi envolvente para mim, algo que me me calibrou muito no decorrer da vida. E eu comecei a entender que fazia parte do mundo artístico. Passei a visualizar a minha vida futura, o meu trabalho nesse meio e eu sabia que seria um caminho árduo, mas era um amor muito profundo, que eu queria realizar.

Sua família apoiou a ideia?

Minha mãe sempre foi muito entusiasta. Na adolescência, que eu comecei a dar sinais de que eu queria trabalhar com música, ela disse: “Você vai fazer um curso superior primeiro, vamos entender se isso é uma fase ou se, de fato, você quer viver disso”. Então, me formei em Publicidade e Propaganda. Hoje, vejo que o que eu aprendi na faculdade, consigo aplicar no meu cotidiano profissional.

Quando você começou a se apresentar em público?

Foi por volta dos 16 anos. Na época, a minha mãe trabalhava com recrutamento de equipes. Ela era contratada por empresas e, ao final do processo, eles faziam uma confraternização. Então dizia: “Minha filha toca violão. Se vocês quiserem, posso trazer ela para se apresentar”. Assim, eu comecei a fazer os meus primeiros shows. Foi muito bom para mim, porque eu entendi que era entretenimento e arte, mas também era trabalho e eu precisava ter o comprometimento e a responsabilidade de fazer acontecer da melhor forma

“Um show que eu lembro bastante foi em Aparecida do Taboado (MS). Era um grande sonho ir naquele rodeio e eu já fui como artista principal, com um público gigante”
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Look Hisha Store 72 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Lauana Prado

possível, porque era uma carreira que estava sendo construída.

Em que momento você passou a compor?

Lembro que, ainda criança, quando eu tinha aquelas paixões da escola, eu fazia musiquinhas – e era algo que mexia comigo. Mais tarde, quando comecei a trabalhar com música, já queria gravar algo autoral. Fui praticando e melhorando a minha composição. Então, essa esfera também passou a ser parte do meu trabalho. Depois que eu venci o Mulheres que Brilham, do Raul Gil, e fiz minha mudança para São Paulo, comecei a visitar os estúdios mostrando as minhas músicas. Compor para outros artistas me deu projeção para dar um passo maior na carreira.

Quando você pensou que “chegou lá”?

Conhecer o Fernando, da dupla com o Sorocaba, foi um divisor de águas na minha história, porque ele acreditou no meu trabalho e resolveu empresariar a minha carreira. Daquele momento em diante, nós passamos a trabalhar com muito foco o meu repertório e a minha persona, como produto mesmo. Logo em seguida, eu gravei o acústico. Foi o meu primeiro trabalho audiovisual. Depois, gravei um EP que tinha Cobaia, que foi a música que bombou e me projetou nacionalmente.

Qual é a lembrança mais marcante para você?

Eu tenho sido presenteada com muitas situações lindas, mas 2019 me marcou muito. Um show que eu lembro bastante foi em Aparecida do Taboado (MS). Era

um grande sonho ir naquele rodeio e eu já fui como artista principal, com um público gigante. Aquele ano também foi marcante por causa da demanda de trabalho. Foi quando entendi que, por mais que eu tivesse, ao longo dos anos, trabalhado bastante, aquele era um novo começo e eu teria que doar muito mais da minha disposição física, emocional e artística. Foi um desafio, já que nós tínhamos uma média de 25 shows por mês. Mas também foi um grande aprendizado.

Como você lida com a fama?

Eu tive que aprender, porque, como eu tinha essa maneira de olhar para a música como um trabalho, não entendia que ia ter que disponibilizar a minha intimidade também. No início, isso foi um pouco assustador. Não é fácil lidar com a popularidade. Às vezes, você não está bem. Tem dias que eu saio de casa sem maquiagem, com óculos de sol e é justamente nesse dia que as pessoas vêm tirar uma foto. Você nem penteou o cabelo direito… Acontece. Mas entendo que faz parte do processo. E eu recebo muito carinho das pessoas, então o mínimo que eu posso fazer é retribuir isso. O máximo que eu posso oferecer para as pessoas, eu ofereço. Acho que isso também faz toda a diferença no processo final.

Como você lida com os haters?

Eu não tenho muitos haters. Os que existem, eu não sei por que eles me odeiam. Às vezes, dá uma chateada, mas eu não sou aquela pessoa que vai para a internet e cria conflito. Pelo contrário: eu gosto

“A minha visão é: quando alguém vem com uma mensagem de ódio para mim, isso diz muito mais sobre a pessoa do que sobre mim. Então, eu não posso querer agir com a mesma violência”
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de resolver essas coisas na minha terapia, que é o melhor lugar para isso. Até porque a minha visão é: quando alguém vem com uma mensagem de ódio para mim, isso diz muito mais sobre a pessoa do que sobre mim. Então, eu não posso querer agir com a mesma violência. Não adianta. E a indiferença é o melhor remédio. O hater quer a sua atenção. Se você não dá, de nada valeu aquilo para ele.

Como foi trabalhar no projeto Ao vivo em Brasília?

Nós idealizamos o projeto depois que tudo normalizou, com as pessoas vacinadas e o número de óbitos [causados pela Covid-19] caindo drasticamente. Isso nos deu segurança. Quando pensei no Ao Vivo em Brasília, eu queria que fosse o mais simples e honesto possível. Por isso, é um projeto tão despretensioso de outras coisas que não sejam a própria música e o momento do ao vivo. A gente sabe que a gravação no estúdio traz uma beleza, mas eu abri mão da perfeição para trazer a realidade de fato. Eu queria que fosse um momento em que pudéssemos celebrar a vitória, depois do tempo ruim e difícil que foi a pandemia,

honrando as pessoas que se foram e também aquelas que optaram pela vacinação. Foi um dia que me trouxe muita alegria – isso fica claro nos vídeos. Quem assiste consegue perceber o quanto eu fiquei em êxtase, porque realmente eu olhava e dizia: “Caramba, estamos aqui de novo. Que bom!” Geramos um repertório de 18 faixas inéditas. Já temos nove lançadas.

Você gosta de fazer parcerias com artistas de ritmos diferentes. Isso te inspira?

Eu acho que o Brasil é tão rico musicalmente que seria uma falta de respeito não me permitir viver essas colaborações. Então, à medida em que a minha carreira foi crescendo, eu fui recebendo esses convites. E é incrível. É o resultado de anos de trabalho e o reconhecimento não só do público do meu segmento, mas de outros lugares. Eu gravei, por exemplo, com Edi Rock, do Racionais, com Maneva, MC Hariel, Vitão… E quero seguir fazendo isso. Eu acho que a gente precisa ter essa visão ampla de que estamos falando de um país que é muito rico, que é muito frutífero musicalmente. Então, o meu papel é esse: além do sertanejo, poder contribuir com a arte em outros estilos também.

“A gente precisa ter essa visão ampla de que estamos falando de um país que é muito rico, que é muito frutífero musicalmente. Então, o meu papel é esse: além do sertanejo, poder contribuir com a arte em outros estilos também”
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Lauana Prado
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76 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Mari Fernandez

MARI FERNANDEZ TEM APENAS 22 ANOS E JÁ SE

TORNOU UMA GRANDE REFERÊNCIA FEMININA DO

PISEIRO E DO FORRÓ. CANTORA E COMPOSITORA

CEARENSE, VIRALIZOU NAS PLATAFORMAS DIGITAIS COM O HIT NÃO, NÃO VOU, QUE ATINGIU O TOPO DAS MAIS TOCADAS NO SPOTIFY

Por Fernanda Ávila Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Well Dias Styling Luiz Plinio 5 min

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Nascida em Alto Santo, no Ceará, Mariane Fernandez começou a cantar ainda criança. Com apenas sete anos, já fazia apresentações na igreja e na escola. Depois do ensino médio, mudou-se para Fortaleza em busca de oportunidades na carreira. E foi graças às suas letras que entrou no circuito do forró, quando nomes importantes da cena musical começaram a gravar suas músicas, como Tarcísio do Acordeon e Vitor Fernandes. Em 2020, gravou seu primeiro álbum e estourou com Não, não vou, que virou trend no TikTok. Pouco tempo depois, emplacou Parada Louca e se tornou a segunda cantora brasileira mais ouvida nos streamings. Nesta entrevista, Mari fala sobre como aprendeu a lidar com a fama, conta sobre o novo DVD, além de dividir com os leitores o sonho de ser a cantora mais ouvida do Brasil.

Como foi sua infância e adolescência no interior do Ceará?

Foi uma infância muito boa. Venho de uma família simples, mas que sempre me proporcionou tudo que eu necessitava para ter uma vida boa. Eu gostava de cantar na escola, na igreja. Meu negócio era cantar e jogar bola. Na época eu jogava futsal. E pronto, era isso: estudar, jogar futsal, brincar de pega-pega, esconde-esconde na rua lá de casa e cantar.

O que a motivou a se mudar para Fortaleza e quais foram as dificuldades encontradas nessa transição?

Fortaleza sempre foi a capital do forró, onde há grandes bandas que fazem bastante sucesso. Sabia que iria ser bom pra mim, porque eu conseguiria compor, me encontrar com outros compositores e acabaria tendo espaço no mercado, oportunidade de encontrar produtores, empresários e artistas que pudessem escutar minhas composições. A maior dificuldade foi porque

eu era uma menina de interior, acostumada com outro estilo de vida. A cidade era bem maior e havia coisas novas para aprender, que devagarinho fui aprendendo. Eu ia pegar ônibus e errava a rota. Nunca tinha pegado, meu interior é o interior onde você anda a pé por todo o lugar. Então foram dificuldades assim, né? Dificuldade também porque o custo de vida era bem mais caro, então acabava que todo dinheiro que eu ganhava era para pagar as contas. Passei muito tempo comendo miojo com salsicha e ovo, porque era o que dava para comprar. Não comprava carne, porque era muito caro na época.

Como foi seu início no mundo da música e como as dificuldades enfrentadas influenciaram sua carreira?

Comecei cantando pequenininha, com sete, oito anos, na escola e na igreja. Mas o meu início profissional foi compondo. Comecei a escrever músicas minhas e, nas primeiras oportunidades, comecei a gravar algumas músicas de artistas como Victor Fernandes e Tarcísio do Acordeon. Hoje eu sou muito feliz por, além de ser compositora de algumas músicas que eles gravaram, ser também amiga deles. E em relação às dificuldades, eu levei muitos “nãos”, né?

Muita porta na cara Só que pra mim foi um aprendizado, eu sempre olhava aquilo pelo ponto de vista positivo, procurava melhorar. A minha maior preocupação era me apresentar em barzinhos e agradar desde as pessoas que eram da minha idade até as pessoas mais velhas. Eu precisava ter um repertório eclético. E isso, junto com os “nãos” e todas as críticas que eu recebia, fazia com que eu procurasse aprender cada vez mais. Hoje, quando estou no palco fazendo o meu repertório de show, independente da região, consigo puxar qualquer tipo de música, porque tenho decorado na cabeça um repertório bem variado.

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“Passei muito tempo comendo miojo com salsicha e ovo, porque era o que dava para comprar”
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Como sua carreira evoluiu de compositora para uma das principais cantoras de forró e de piseiro?

Quando eu recebi o convite, a oportunidade de cantar, a transição aconteceu. Não tem explicação, foi uma parada abençoada por Deus, que é como eu costumo dizer. E o sucesso não tem receita, né? A receita é Deus abençoar e o povo abraçar. Foi o que aconteceu comigo. Eu apenas gravei um CD, como qualquer outra pessoa que tem talento e vontade de cantar poderia ter gravado, e publiquei nas plataformas digitais de música. A galera abraçou, Deus abençoou. Desde então, estou aqui.

Pode falar mais sobre o sucesso de Não, não vou? Como essa música se tornou um hit viral?

Os compositores mandaram a música para o meu empresário, o Waguim. Ele escutou e me mandou perguntando o que eu achava. Lembro que ele mandou mais ou menos às duas horas da madrugada, por WhatsApp. Eu falei, na época: “Cara, essa música é uma ‘bala’, ela é sensacional, é diferente de todas as outras músicas que a gente está gravando no repertório”. Na época o meu CD tinha duas músicas inéditas, Amizade colorida e Agonia, e sete regravações de grandes sucessos. Faltava uma música para fechar dez. Para mim, ela era a música mais “chiclete”, aquela música que, do nada, você se pega cantando. O Wagner, meu empresário, lançou uma dancinha com a esposa dele no TikTok, que é uma das plataformas que mais gera oportunidade para quem está começando, e a música viralizou. Ele nem usou o áudio original da música, porque o áudio original não estava disponível ainda. Ele meio que soltou a dancinha para fazer uma pré-divulgação do CD. Vários artistas, vários famosos, uma galera que eu sempre admi-

rei, estava dançando e eu não acreditava que aquilo estivesse acontecendo comigo, foi inacreditável.

Como você lidou com a fama e o sucesso repentinos? Quais desafios você enfrentou e como os superou?

Aconteceu tudo muito rápido e a única coisa que eu pude fazer, por um bom tempo, foi confiar nos meus sócios, porque eu não tinha maturidade nem cabeça para entender o que estava acontecendo. As músicas viralizaram, a minha imagem, a minha carreira, tudo viralizando, e eu era uma menina, não tinha experiência nenhuma, estava começando a aprender. Acho que sociedade é como um casamento, você tem que confiar no seu parceiro e eu confiei nos meus parceiros. Eles me guiaram até um certo momento, foram me ensinando tudo o que eu sei, tudo que eu sou hoje em cima do palco, como falar, como conversar, como expressar o que eu quero passar para as pessoas. E aí, devagarinho, consegui me situar. Só comecei a entender um pouco mais da proporção das coisas que estavam acontecendo comigo depois da gravação do DVD. A dificuldade foi conseguir assimilar, conseguir juntar minha vida pessoal com a vida profissional e lidar com a saudade de casa. Eu era uma menina muito apegada com a família, com o meu canto, com minha zona de conforto, que era o meu quarto, o violão e uma cama. Do nada eu estava numa vida totalmente agitada, um dia em avião, outro dia em ônibus, outro dia em van, outro dia em carro, fazendo show, cada dia em uma cidade. A dificuldade foi isso, conseguir lidar com a rotina e com as coisas que o sucesso traz. O sucesso não traz só a música viralizada e as pessoas te amando, traz também grandes responsabilidades.

“Eu fiz terapia justamente para entender os meus sentimentos, entender o que estava acontecendo na minha carreira e que também acabava respingando na minha vida pessoal”
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Como o suporte psicológico tem te ajudado a lidar com as pressões e estresses da fama?

Você tem dicas de como lidar com isso para quem está começando?

Cada um tem a sua maneira, mas uma coisa que eu fiz logo, que não é segredo, é que eu fiz terapia na época. Indico para qualquer pessoa, porque terapia é uma coisa muito boa, independente de você ter fama ou não, de ter sucesso ou não. Eu fiz terapia justamente para entender os meus sentimentos, entender o que estava acontecendo na minha carreira e que também acabava respingando na minha vida pessoal. Cada vez mais procuro me expressar, quero mostrar para pessoas quem eu sou, quero que as pessoas conheçam a Mariane, não só a Mari Fernandez. Graças a Deus, tive apoio das pessoas que me amam, das pessoas que trabalham comigo.

Qual o impacto do sucesso de Parada Louca na sua carreira e na vida pessoal?

Parada louca foi, e é, um dos meus hits mais emocionantes, um dos principais da minha carreira. Foi a minha segunda música que viralizou e tem muita importância. Eu me perguntava: “Poxa, quando é que eu vou ver as pessoas cantando outra música minha que não seja só a Passa lá em casa tire a minha roupa?” E aí, em poucos meses, veio a Parada louca, que eu gravei com o Marcinho Sensação, grande amigo, meu parceiro. A gente gravou a música e, de repente, estava todo mundo fazendo a dancinha, todo mundo cantando, todo mundo curtindo… Sem falar que é uma composição minha, né? Foi a minha primeira composição que viralizou. E então misturou ali o sonho de cantora com sonho de compositora. É uma das músicas mais cantadas no meu show, mais pedidas, é muito especial pra mim.

O que podemos esperar do seu próximo DVD, com participações de Wesley Safadão, Luísa Sonza e Maiara & Maraísa? Esse DVD tem bastante emoção, com participações maravilhosas, pessoas com as quais eu sempre sonhei em gravar. É bem eclético. Tem “sofrência”, tem música animada, tem música para quem superou, música pra quem ainda tá sofrendo pelo ex, tem todo tipo de música. É um DVD muito bacana, muito especial, que eu gravei com todo amor, com todo carinho, trazendo um diferencial novo na minha banda, que é a bateria. Até então, nós do piseiro não usávamos bateria nos shows e eu comecei a pensar, junto com meu sócio, em colocar uma bateria na banda para ver como seria. Criamos coragem para fazer isso. Então o DVD está vindo com muita coisa nova, uma roupagem da minha carreira totalmente diferente.

Como você vê o futuro de sua carreira e quais são seus planos para se manter relevante na indústria da música brasileira?

Um dos meus maiores sonhos é me tornar a artista mais consumida do Brasil. Quero muito que as pessoas conheçam meu trabalho e só vou parar quando eu tiver a sensação de que eu me tornei a cantora mais ouvida do Brasil. E sobre meus planos para manter a minha carreira, acho que é continuar fazendo o que estou fazendo com os pés no chão, respeitando todo mundo assim como as pessoas respeitam o meu trabalho, o meu momento. E sempre aprendendo e trazendo o novo. Acho que o sucesso conta muito com o fator da novidade, então quando você traz o novo, encanta as pessoas, as pessoas gostam do diferente. O meu projeto, desde o início, tem muito isso. É um projeto diferente de tudo que as pessoas já viram. A gente, desde o início, sempre imaginou isso: “Vamos fazer diferente”.

“Um dos meus maiores sonhos é me tornar a artista mais consumida do Brasil”
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Assessoria de imprensa Katia Almeida | Novità Comunicação
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Acessórios Carlos Penna
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NNAIARA AZEVEDO ESTOUROU COM 50 REAIS, UMA RESPOSTA BEM DADA A UMA TRAIÇÃO QUE LEVOU A

CANTORA AO TOPO DAS PARADAS MUSICAIS NO BRASIL

Por Fernanda Ávila Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza e Styling Carol Gelinski 5 min
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Nascida em um sítio em Campo Mourão, no interior do Paraná, Naiara Azevedo só deixou a vida rural aos 17 anos, quando decidiu estudar Estética e Cosmetologia em Umuarama, no mesmo estado. Foi entre os estudos e o trabalho como garçonete que começou a cantar em pequenas apresentações em bares e festas universitárias. Em 2011, de brincadeira, compôs e postou no YouTube a música Coitado, em resposta a Sou foda, da dupla Carlos & Jader, que, aos olhos dela, passava uma imagem negativa da mulher. Com isso, as portas para a jovem cantora paranaense começaram a se abrir. Em 2012, impulsionada pela vontade de viver de música, mudou-se para uma cidade maior, Londrina. Gravou um DVD e começou a chamar a atenção da indústria fonográfica. Em 2016, decidiu morar em Goiânia, a capital dos sertanejos, para dar início a uma nova fase na carreira. Foi lá que nasceu o álbum Totalmente Diferente, com o hit 50 Reais, que rapidamente ganhou o Brasil, disparando na lista das músicas mais tocadas nas rádios brasileiras, além de entrar para o Top 100 mundial de vídeos mais visualizados no YouTube. Logo foi a vez de Contraste, seu terceiro álbum lançado em um show no Rio de Janeiro com as participações especiais de Ivete Sangalo, Gusttavo Lima, Wesley Safadão e Kevinho. Em 2022, Naiara participou do BBB e acabou ficando ainda mais conhecida Brasil afora. Nesta entrevista, a cantora fala sobre a sua carreira, parcerias e momentos marcantes da trajetória até aqui.

Como a experiência de crescer em um sítio influenciou sua trajetória na música?

Eu cresci no sítio e morei lá por muitos anos. Não faltava nada para mim e para a minha família, mas era tudo muito simples e humilde. Isso me ajudou a entender que não precisamos de muito para viver e para sermos felizes. Estou acostumada com a simplicidade das coisas e não sou exigente. Então tudo para mim vira festa. Isso se aplica hoje no meu trabalho. Se tem show num lugar mais simples ou num lugar com mais estrutura, é a mesma coisa, vou entregar o mesmo show com a mesma energia e amor.

Como você equilibrou seus estudos, trabalho e o início de sua carreira musical?

Meus primeiros passos na música aconteceram na faculdade, de forma bem despretensiosa. Eu cursava estética e comecei a cantar nas festinhas de faculdade, “chopada”, calourada… a galera gostava da minha voz e eu comecei a enxergar aquilo como algo profissional. Mas eu nunca deixei meus estudos de lado, até quando eu decidi seguir definitivamente no ramo musical, entreguei meu diploma de graduação e pós-graduação para meus pais. Cumpri minha missão. E aí sim fui viver da música.

Como foi a experiência de gravar seu primeiro DVD em 2013 e que impacto isso teve em sua carreira?

Foi tudo feito com muito suor e dedicação. Já estávamos fazendo shows, mas

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“Estou acostumada com a simplicidade das coisas e não sou exigente. Então tudo para mim vira festa”
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faltava um trabalho autoral, um projeto audiovisual para subirmos mais um degrau na carreira. O impacto que o DVD trouxe naquele momento foi muito positivo, eu tive o prazer de gravar uma música com o Mr. Catra, que na época foi algo inovador no mercado, porque as mulheres que cantavam naquela época seguiam um estilo mais sertanejo e eu estava vindo na contramão, misturando ritmos, ousando… Algumas portas se abriram e a minha visibilidade no mercado sem dúvidas aumentou depois desse DVD.

Você poderia falar sobre o sucesso de 50 Reais e como ele afetou sua carreira?

O que a música 50 reais fez na minha vida foi algo incrível e indescritível. Pensar que, através dessa música, eu conquistei tantas coisas que eu sonhava, fui a tantos lugares que eu nem imaginei que iria chegar um dia, sem contar todo reconhecimento dos fãs, programas de tv, rádios…

Sou muito grata à essa música e aos compositores dela que me ajudaram a fazer de um limão uma limonada com uma história verídica de traição…(Risos)

Poderia compartilhar algumas de suas experiências mais memoráveis cantando com seus fãs?

Meus fãs são o maior presente que a música me deu. Por onde eu passo, recebo um carinho incondicional deles. Já tivemos muitos momentos lindos no palco, pedidos de casamento, declarações… Os encontros no camarim também são cheios de surpresas, vira e mexe algum fã me pede pra cantar um trechinho de uma música minha antiga e fazemos isso juntos. Eu faço questão de atender meus fãs em

todos os shows que faço, porque sem eles nada disso que eu vivo hoje seria possível.

Como foi a experiência no Show dos Famosos e o que significou para você ser indicada ao Grammy Latino?

O Show dos Famosos foi um dos maiores desafios que enfrentei na minha carreira. Não só pelo nível de dificuldade de aprender todos os trejeitos, estilo musical e letras das músicas dos artistas homenageados em um prazo curto de tempo, mas principalmente pela minha logística de shows e ensaios. Eu estava cumprindo uma agenda muito intensa e tinha que ensaiar a apresentação no hotel das cidades, dentro do ônibus, aeroporto… Muitas vezes o horário que eu tinha pra dormir era também a única hora que eu tinha para ensaiar, então de fato foi desafiador! Porém, é um quadro que sou grata por ter sido convidada a participar e que até hoje trago o que aprendi no programa para os meus shows e minha vida. Já a indicação do Grammy foi um momento único que vivi na carreira. O DVD (Contraste) indicado foi um projeto muito ousado que criamos e com uma logística muito difícil por ter tantos equipamentos grandiosos para serem levados para o alto do Morro do Vidigal, em uma laje. A comunidade abraçou muito meu sonho e todos foram bem solícitos, fazendo com que esse DVD fosse realizado com muito sucesso e fosse indicado para a maior premiação de música.

Você poderia falar sobre as colaborações com outros grandes nomes da música brasileira e como elas impactaram sua carreira? Muitos artistas participaram dos meus projetos ao longo desses anos. Ivete San-

“Meus fãs são o maior presente que a música me deu. Por onde eu passo, recebo um carinho incondicional deles”
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galo, Gusttavo Lima, Wesley Safadão e Kevinho, por exemplo, participaram do DVD Contraste, que foi indicado ao Grammy Latino. Todos eles viviam um excelente momento na carreira e todos toparam de cara participar e somaram muito. Falando da nova geração, recentemente a Ana Castela também participou comigo no DVD Plural e, juntas, criamos esse hit chamado Palhaça que, desde que foi lançado, vem conquistando números incríveis! Sou grata a todos eles e passaria o dia inteiro aqui listando essas participações marcantes.

Quais foram os momentos mais marcantes e desafiadores de seus 11 anos de carreira musical?

Acredito que a pandemia foi muito desafiadora para nós que vivemos de música e da indústria de shows e eventos. Hoje o meu projeto conta com mais de 400 colaboradores direta e indiretamente, e a principal fonte de renda do projeto são os shows. Quando me vi ali dentro de casa, sem poder fazer o que eu mais amo e sabendo que muitas famílias dependiam de mim, foi desesperador. Mas o brasileiro sempre dá seu jeito pra tudo e graças a Deus todos os artistas iniciaram aquele movimento das lives que, por muitos meses, foi o que segurou as pontas, além de

arrecadarmos muitas doações para hospitais e famílias carentes que estavam passando por grandes dificuldades.

Como sua participação no BBB22 influenciou sua carreira e imagem pública? Participar do BBB foi o maior desafio que já encarei como artista. Uma experiência que só quem vive na pele consegue descrever. Eu sempre fui mais durona, não sou de chorar por qualquer coisa e, no segundo dia de programa, eu estava igual uma manteiga derretida, chorando, carente. Mexe muito com as emoções, mas ao mesmo tempo te faz enxergar as coisas com um outro olhar. Eu não sou mais a mesma Naiara que entrou lá. Você sai de lá transformado e isso é indescritível. Para a minha carreira de cantora, somou muito, porque, por mais que eu já tenha viajado por todo Brasil fazendo shows, muitas pessoas só me conheceram de verdade quando me viram no programa, se tornaram meus fãs e me acompanham até hoje.

Quais são seus planos futuros para sua carreira musical?

Estou trabalhando meu DVD Plural, gravado no fim do ano passado, mas já estou planejando meu próximo projeto pra este ano ainda. Muita coisa boa vem por aí, mas vou deixar vocês curiosos.

“Participar do BBB foi o maior desafio que já encarei como artista. Uma experiência que só quem vive na pele consegue descrever”
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SÉRGIO REIS, UM DOS MAIORES NOMES DA MÚSICA CAIPIRA, É O ARTISTA BRASILEIRO COM MAIS INDICAÇÕES AO GRAMMY

Por Fernanda Ávila Fotos Miro
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Tratamento de imagem Fujocka Beleza Iza Ventura 5 min
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Sérgio Reis nasceu Sérgio Bavini, no tradicional bairro de Santana, em São Paulo, no ano de 1940. Passou a usar o sobrenome do avô paterno aconselhado pelos produtores da gravadora Chantecler, que acharam Reis mais adequado ao sertanejo, estilo que o imortalizou como um dos seus maiores representantes no Brasil. Na década de 60 chegou a integrar a Jovem Guarda, mas foi a música caipira que o consagrou. Mesmo vivendo na cidade grande, foram os sons do interior que formaram seu repertório musical. Aos dez anos já era fã de Tonico & Tinoco. Em 1967, lançou a música Coração de Papel, seu maior sucesso, criada a partir de uma crise de ciúmes. Seu disco O Melhor de Sérgio Reis, lançado em 1981, vendeu mais de 1 milhão de cópias. Além de cantor e compositor, Sérgio Reis também construiu uma carreira como ator. Fez sua estreia na televisão na novela Paraíso (1982), na Globo, a convite do autor Benedito Ruy Barbosa. Repetiu a parceria ao atuar em Pantanal (1990), da Manchete. Esteve ainda em A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990) e O Rei do Gado (1996). Mais tarde, retornou às telas em Bicho do Mato (2006), na Record, e Paraíso (2009), novamente na Globo. Também teve participações no cinema, nos filmes A Mágoa do Boiadeiro e O Filho Adotivo. Além da carreira artística, Sérgio Reis fez uma breve passagem pela política: foi eleito deputado federal pelo estado de São Paulo, em 2014. Nesta entrevista, ele conta um pouquinho da sua trajetória e fala sobre as transformações do sertanejo.

Como começou o seu interesse pela música sertaneja? Poderia nos contar um pouco sobre a sua jornada até se tornar um dos nomes mais conhecidos do gênero? Com dez anos de idade eu era um menino do bairro de Santana, onde meu pai morava. Meu pai nasceu em Osasco, minha mãe era carioca de Laranjeiras, nenhum parente no interior e eu com dez anos já gostava de Tonico & Tinoco, no programa Na Beira da Tuia, da Bandeirantes. Pra quem não sabe o que é Tuia, é aquele barraco onde se guarda as enxadas, os milhos para dar para as galinhas. O caipira acaba de trabalhar, deixa a enxada dentro da tuia, pega a viola ali e canta. Papai tinha um rádio grande, eu ouvia toda terça e quinta. Quando fiz dez anos, meu pai me deu uma violinha que eu tenho até hoje guardada. Essa viola tem 72 anos. Está velhinha, pintadinha, aqui em casa. E, depois, eu comecei a cantar em programas de calouro. Cantei Conceição, de Cauby Peixoto, e o Tony Campello, que era produtor da Odeon, queria gravar com o Deny & Dino. Ele veio buscar uma música comigo, alguém falou que eu tinha músicas. E eu fiz.

Você compôs uma música que eles gravaram? Eu já tinha uma música, mostrei pra eles e eles gravaram, foi sucesso. “Eu só quero ver, você sorrir / Não vejo a hora, de perdão pedir / Você chorou, você sofreu / E o culpado sei que fui eu, sei que fui eu”. Passado isso, o Tony Campello pegou a gravação que eu fiz e falou: “Cara, você precisa gravar. Eu vou te levar na Chantecler”, uma gravadora caipira onde traba-

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“Quando fiz dez anos, meu pai me deu uma violinha que eu tenho até hoje guardada. Essa viola tem 72 anos”
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lhavam o Palmeira e o Teddy Vieira. Eles me perguntaram: “Qual é seu nome?”

Eu falei Sérgio Bavini. “Não, Bavini não é bom, precisa ter outro nome.” Contei que a minha mãe era Clara Reis Bavini, meu avô português é Reis. O Palmeiras olhou pro Teddy, mexendo nos arquivos, e falou: “Sérgio Reis é bom, né? Fala aí várias vezes: Sérgio Reis, Sérgio Reis, Sérgio Reis, Sérgio Reis. Então você está batizado por mim e pelo Teddy Vieira como Sérgio Reis”. Teddy Vieira é autor do Menino da Porteira e outras tantas músicas. Deus me colocou nesse caminho, pronto.

Quais foram as suas maiores influências musicais no início da carreira? E como elas contribuíram para o seu estilo musical?

No início minhas referências eram o Tonico & Tinoco, depois Cauby Peixoto. E as músicas italianas, que eram um sucesso no Brasil.

Você já lançou diversos álbuns ao longo da sua carreira. Poderia compartilhar qual deles você considera o mais marcante e por quê?

O mais marcante foi o primeiro long play Saudade da minha terra, onde eu arrisquei a minha vida, a minha carreira, com orientação do meu produtor, Tony Campello. Ele que cuidava da minha carreira musical. Foi importante, porque consegui fazer 12 sucessos. Eu gravei para todos aqueles que estavam longe de casa, que era o título do LP.

Qual a história por trás da sua música de maior sucesso? Como foi o processo de composição e gravação?

Minha composição de maior sucesso foi Coração de Papel, que eu fiz em 1976 e gravei em 77. Na época eu era casado com a minha primeira esposa, Ruth, mãe dos meus filhos, o Paulo e o Marco. E eu era muito ciumento. A gente brigava muito. Me lembro que eu estava com a mamãe na cozinha da minha casa, esperando ela fritar um ovinho. E, enquanto ela fazia meu prato para o almoço, eu peguei o violão e comecei a escrever. Não deu certo, eu amassei aquele papel, joguei num canto. Aí eu olhei o papel no chão e pensei: “Pô, meu coração tá amassado desse jeito”. A Ruth não queria mais falar comigo, não queria me atender e eu estava sofrendo, né? Eu era apaixonado por ela. Aí peguei de novo e escrevi: “Se você pensa que o meu coração é de papel, não vai pensando, pois não é / Ele é igualzinho ao seu”.

O sertanejo tem se transformado ao longo dos anos, com a ascensão do “sertanejo universitário” e outras novas tendências. Como você vê essas mudanças e qual o seu papel nessa evolução?

Essa nova música sertaneja virou sucesso por causa dos dos estudantes de medicina, os universitários. E o universitário normalmente não é da cidade onde ele está estudando. Ele tenta em três, quatro, cinco faculdades e vai para onde conse-

“Os momentos mais memoráveis da minha carreira foram as entregas dos Grammys”
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gue entrar. O Dito era um amigo meu de Tabatinga, perto de Araraquara, que saiu de lá para estudar em Machado. Só que ele era um caipira, era um fazendeiro. Então, todos os estudantes conhecem a nossa música oficial sertaneja, os cantores antigos. Só que são mais jovens e começaram a criar músicas mais modernas, com a guitarra. Quando Léo Canhoto & Robertinho puseram guitarra na música sertaneja, virou moda. Eles falam música sertaneja, mas não é sertaneja. Sertanejo é Chico Mineiro, essas coisas.. Mas é válido, eles têm o direito de fazer o trabalho, são músicas boas, tem muito sucesso e até eu canto.

Quais os maiores desafios que você enfrentou em sua carreira musical e como conseguiu superá-los?

Os desafios de uma carreira são muitos e, na verdade, eu fui pioneiro em quase tudo. Fui o primeiro artista a ter avião, primeiro artista a andar com ônibus, o primeiro a ter o som próprio. Eu chegava na feira e montava o meu som. E os outros artistas levavam a violinha só. Foi o Sérgio Reis que começou isso. Além disso tudo, eu

fui o primeiro artista a tocar no FM, na rádio. O Plínio Paiva era um amigo meu que tinha uma rádio e queria tocar músicas minhas de qualquer jeito. O programa dele era de domingo de manhã e tocava rock. Aí ele fez um especial comigo, foi um sucesso e ele mudou a programação da rádio. Nos domingos de manhã, até o meio-dia, só tocava sertanejo por culpa do Sérgio Reis. Entendeu? Então essas coisas a gente tem que dar valor.

Qual foi o momento mais memorável da sua carreira até agora?

Os momentos mais memoráveis da minha carreira foram as entregas dos Grammys.

Como você se relaciona com seus fãs e o que eles significam para você? Você tem alguma mensagem que gostaria de passar para eles? Me relaciono muito bem com os fãs, sempre trato com muito carinho! E a minha mensagem é que eles continuem comigo, venham assistir aos meus shows e matar as saudades, porque no fundo somos todos grandes amigos.

“Fui o primeiro artista a ter avião, primeiro artista a andar com ônibus, o primeiro a ter o som próprio”
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SSULA MIRANDA É A ETERNA “RAINHA DOS CAMINHONEIROS”. ÍCONE DO MOVIMENTO QUE MODERNIZOU O SERTANEJO, ABRIU MUITAS PORTAS PARA QUE O GÊNERO CHEGASSE AONDE CHEGOU

Por Ariel Marques Fotos Miro Tratamento de imagem Fujocka Beleza Iza Ventura 5 min
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Sula Miranda nasceu Suely Brito de Miranda, em 1963, filha de Dona Maria José e Seu Mário. A caçula entre as três meninas do casal nasceu com um problema grave na laringe que impedia a passagem dos alimentos. Contrariando a recomendação de uma junta de 40 médicos, que disseram que a única solução para manter a menina viva seria submetê-la a uma traqueostomia que a condenaria a passar o resto da vida com uma abertura externa na garganta, e seguindo a orientação de um pediatra amigo da família, os pais decidiram tratá-la com antibióticos fortíssimos e apostaram na fé. A menina não só sobreviveu como se tornou um dos maiores ícones da música sertaneja (e mais recentemente do gospel) no Brasil. Seus shows chegaram a reunir mais de 100 mil pessoas.

A “Rainha dos Caminhoneiros” começou a cantar com as irmãs Yara e Maria Odete (a Gretchen) em um salão grande que havia no sobrado em que moravam, no bairro Ipiranga, no Rio de Janeiro. Em função dos problemas de saúde da mais nova, os pais não permitiam que as meninas brincassem na rua e as presenteavam com muitos brinquedos musicais e estimulavam as atividades artísticas. As três, então, formaram o grupo As Mirandas que, mais tarde, virou o quarteto As Melindrosas, com a entrada da amiga Paula. O primeiro LP, Disco Baby, alcançou a marca de 1 milhão de cópias vendidas.

O sucesso estava traçado. Em 1986, Sula Miranda lançou seu primeiro disco solo pela gravadora 3M. O sertanejo vivia um movimento de renovação, misturando a tradicional música caipira com toques de modernidade e instrumentos eletrônicos. Sula, jovem e talentosa, logo tornou-se um expoente desse novo gênero, batizado de “sertanejo-urbano”. Ganhou o Disco de

Ouro, fez uma média de 25 shows por mês, foi convidada para todos os programas de rádio e televisão e conquistou o Brasil com a sua voz poderosa. Ao longo da carreira, tem gravados 17 discos, sendo 12 com músicas sertanejas inéditas e regravações, três coletâneas e dois de música gospel. Sua relação com o universo da estrada nunca parou. Hoje ela apresenta o podcast Na boleia da Sula, disponível nos principais aplicativos de streaming, que traz informações, novidades, curiosidades e muita história das estradas do Brasil. Cada episódio tem um tema e um convidado especial.

Como começou seu interesse pela música e quais foram suas principais influências ao longo da carreira?

Tudo iniciou na infância. Meus pais incentivavam a arte, me davam brinquedos musicais. Depois estudei piano e violão no conservatório, além de ter estímulo em casa. As influências na carreira foram a música country americana de Willie Nelson e, no Brasil, Nalva Aguiar.

O título de “Rainha dos Caminhoneiros” tem uma história interessante. Você poderia compartilhar como recebeu esse título e o que ele significa para você?

Recebi o título por conta da primeira música que fez sucesso, logo no primeiro LP, em 1986, Caminhoneiro do Amor. Decidi gravar música sertaneja, pois entendia que os caminhoneiros apreciavam esse estilo e, que se eu agradasse esse público, faria sucesso na música sertaneja.

Como foi a transição de cantora de música country e sertaneja para a música gospel? Quais foram as principais diferenças que você encontrou entre os gêneros?

Na verdade não houve uma transição, con-

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“Quero ter admiradores do meu trabalho, não incentivo a idolatria nem o fanatismo”
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tinuo cantando música sertaneja. A música gospel surgiu na minha vida para professar minha fé. Não tem o propósito de me engrandecer, nem que eu seja um grande sucesso ou reconhecida por isso. Quero apenas adorar a Deus e ganhar almas através das mensagens. A diferença nos estilos musicais, para mim, não é o que importa. E sim o sentido de cada estilo e o propósito de cada um na vida das pessoas.

Como você mantém o contato com seus fãs, especialmente os caminhoneiros que estão sempre na estrada?

Procuro ser natural, meus fãs sabem que faço meu dia a dia normalmente. Quero ter admiradores do meu trabalho, não incentivo a idolatria nem o fanatismo. E, por isso, tenho os fãs como amigos que me incentivam a prosseguir todos os dias em tudo que faço.

Tem alguma música ou álbum que você considera ser o ponto alto de sua carreira até agora?

A música, sem dúvida, é Caminhoneiro do Amor. Mas confesso que tenho minhas prediletas. Amo regravar sucessos de outros cantores, trazendo para meu estilo musical.

Com a evolução da tecnologia e das mídias sociais, a maneira como os artistas interagem com os fãs mudou muito. Como você adaptou sua abordagem para se conectar com os fãs nesse ambiente digital? Confesso que demorei um pouco pra me acostumar com muitas coisas novas. Estou em aprendizado e numa eterna adaptação à nova maneira de entender essa forma de

levar a música até as pessoas. Quanto aos fãs, penso que é o lado positivo, porque nos aproximou mais.

Como você vê a evolução da música sertaneja desde que começou sua carreira até agora? Foi tudo muito positivo, no sentido de sempre estar em crescimento. Me sinto privilegiada em ter participado da melhor fase da música sertaneja, onde tudo se abriu para que hoje os artistas atuais pudessem chegar ao patamar que chegaram.

Quais são seus próximos planos para sua carreira musical? Há alguma colaboração dos sonhos que você gostaria de realizar? O plano atual é lançar novas músicas que já gravei, releituras de grandes sucessos dos anos 1990 à minha moda.

Como é o processo de criação das suas músicas? Existe alguma rotina ou ritual que você segue quando está escrevendo uma nova canção?

Quando componho, escolho temas, assuntos que quero trazer para a observação das pessoas. E aí nasce a canção.

Quais conselhos você daria para jovens artistas que estão tentando encontrar seu lugar na indústria da música, especialmente no cenário da música sertaneja?

A melhor dica é humildade, perseverança, resistência e fé. Acreditar que sempre vai dar certo, que o importante é produzir sem se preocupar se irão consumir. Mas pensar que sempre pode ser uma semente que vai florescer em algum lugar e tocar alguém de alguma forma.

“A melhor dica é humildade, perseverança, resistência e fé”
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“Me sinto privilegiada em ter participado da melhor fase da música sertaneja, onde tudo se abriu para que hoje os artistas atuais pudessem chegar ao patamar que chegaram”
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Assessoria de imprensa Delviene Gurgel
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Sabor local

A GASTRONOMIA PANTANEIRA TEM UMA RIQUEZA DE SABORES QUE NÃO É ENCONTRADA EM OUTRO LUGAR. MAS O CUIDADO E O AMOR COM QUE É FEITA A TORNAM AINDA MAIS ESPECIAL 108 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 272 Gastronomia
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A cozinha costuma ser o coração de uma casa. Na novela Pantanal, por exemplo, quase todos os capítulos mostram a Filó, personagem de Dira Paes, passando um cafezinho e fazendo algum prato delicioso para alimentar sua família reunida em volta da mesa, ou algum visitante, que é sempre recebido de forma calorosa. Em seu conto A avó, a cidade e o semáforo, o grande escritor Mia Couto destaca que “Cozinhar não é serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros”. Sem dúvida, é mesmo. E quanto mais para o coração do nosso país seguimos, mais a culinária se torna afetiva e motivo de união.

“A coisa mais linda do Pantanal é realmente a maneira que o pantaneiro recebe. Ele sempre vai servir o melhor que ele tem. Vai matar uma vaca, fazer uma carneada, pegar a melhor peça de carne que ele tem ali guardada e servir, além de preparar a mesa e decorar. Você sempre será recebido com uma roda de tereré para conversar. Isso é algo muito característico da nossa cultura pantaneira”, reflete o chef Paulo Machado, especialista em cozinha pantaneira.

Natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Paulo não cresceu em uma família da área gastronômica, mas sempre gostou de comer as guloseimas feitas por sua avó, que era uma exímia cozinheira. Observava com curiosidade cada gesto dela com as panelas e alimentos e, assim, foi aprendendo e se aventurando com comidas caseiras para receber a família e os amigos. Formou-se em Direito, em São Paulo, mas não se sentia realizado profissionalmente. Aos 23 anos, passou a enxergar a gastronomia como uma possibilidade. Começou como garçom e foi pegando o gosto pelo ambiente. Virou ajudante de cozinha e decidiu fazer faculdade, onde se envolveu no centro de pesquisas em gastronomia brasileira e iniciou sua imersão na cozinha regional do Pantanal.

“Eu descobri que é uma cozinha recheada de técnicas muito particulares, ingredientes que são usados em outras regiões do Brasil, mas que quando chegam à cultura pantaneira, passam a ganhar um sabor, uma maneira de preparar, um resultado bem único. É recheada de influências de outros países, como Paraguai, Bolívia, Japão e Líbano, por conta das migrações e das fronteiras, e de outras cozinhas do Brasil, como a gaúcha, mineira e do Nordeste. Sua base tem uma simplicidade no número de ingredientes, é sempre muito resumida, mas exige tempo, paciência e cuidado. Pode soar clichê, mas é a cozinha do amor mesmo”, conta o chef.

“A coisa mais linda do Pantanal é a maneira que o pantaneiro recebe. Ele sempre vai servir o melhor que ele tem”
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Por Vivian Monicci Fotos Divulgação 5 min
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Apesar de ser o resultado de uma bela mistura, a comida pantaneira tem ingredientes característicos, como a sua carne. “A carne do Pantanal, soleada, oreada ou de sol está na espinha dorsal. É um produto com um sabor muito único. Além disso, utiliza-se muito o milho e a mandioca, que são bases da culinária guarani, dessa cozinha de fronteira e indígena.” Outros itens sempre presentes são quiabo, maxixe, banha de porco, erva-mate (usada tanto na cozinha como no preparo do tereré), coloral à base de urucum, açafrão da terra e sal boiadeiro. Mas, afinal, quais pratos típicos vamos encontrar em uma viagem ao destino? “Como entrada, temos a chipa, feita a partir do polvilho doce e de queijo fresco, e a sopa paraguaia, que é um bolo de milho salgado feito com queijo, ovos e leite. Como prato principal na comida de comitiva, o macarrão de comitiva, o arroz carreteiro ou Maria Isabel, dependendo da região, pintado a urucum, caldo de piranha, pintado na telha, arroz boliviano, arroz com pequi, feijão gordo (feito com banha de porco) e galinha caipira. Também temos porco monteiro assado, churrasco de buraco, fígado acebolado, o puchero (feito com a carne com osso), o locro (preparo de carne bovina com mandioca ou com milho), o caribéu (um guisado de carne de sol com mandioca). Nos doces, destaque para o furrundum (doce de mamão verde com rapadura), pudim ou flan e guavira (fruta local), doce de leite de fazenda, rapadura, pé de moleque de doce de leite e licor de pequi.”

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A sustentabilidade é um dos pilares fundamentais da gastronomia local. “É uma cozinha sem desperdícios e muito sustentável. Como as distâncias são longas e o acesso é mais difícil, até uma embalagem é utilizada. O bolinho de arroz cuiabano, por exemplo, é assado na forma da latinha de sardinha. A carne orgânica do Pantanal é certificada e sustentável. Estamos falando de uma cultura em que o pantaneiro consegue utilizar uma carne que tem origem ancestral, centenária, de famílias que chegaram ali e começaram a trabalhar com a sua economia local, que é a pecuária. Nas roças, tudo que é produzido também é utilizado. Esses locais suprem os mercadões e os restaurantes, então é uma cadeia muito sustentável.”

Atualmente, o chef Paulo Machado mora em Barcelona e não é proprietário de restaurante, mas assina os cardápios de dois passeios em Bonito, no Mato Grosso do Sul: o Recanto Ecológico Rio da Prata e a Estância Mimosa. “Embora Bonito seja bioma cerrado, a cultura em geral, especialmente alimentar, é pantaneira. Praticamente o estado inteiro de Mato Grosso do Sul bebe dessa fonte, o que mostra que a cozinha pantaneira traspassa a territorialidade do Pantanal.” Em 2020, lançou o livro Cozinha Pantaneira, resultado de uma pesquisa de 13 anos sobre a cozinha do Pantanal.

Além disso, dedica-se de corpo e alma ao Brasil Food Safaris, projeto de expedições de gastronomia que acontecem no Brasil e em outros países, em parceria com a operadora de turismo Bravo Brazil e com chefs de vários destinos. “O projeto surgiu da vontade de fazer com que as pessoas experimentem in loco uma gastronomia, um sistema alimentar, aprendam a fazer as comidas. É uma imersão na cultura gastronômica e é para qualquer tipo de público que goste de comer, desde os curiosos, donas de casa, estudantes de cozinha, aposentados, até os profissionais e chefs estrelados. Não é um curso de cozinha, algo maçante, é uma experiência que inclui visita aos principais mercados, acesso aos chefs locais e ao sistema alimentar completo.”

O Brasil Food Safaris completou dez anos em 2023 e, ao longo da jornada, já ganhou prêmios como o da WTM de turismo responsável. O projeto faz parte do Instituto Paulo Machado, empresa de pesquisa em gastronomia. Em parceria com o SEBRAE/MS e FUNDTUR/MS, o Instituto lançou, em dezembro de 2022, uma rota turística gastronômica no Pantanal assinada pelo chef Paulo Machado, que contemplou dez empreendimentos das regiões de Miranda, Aquidauana, Nhecolândia e Corumbá e este ano ganhará sua segunda edição.

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“É uma cozinha recheada de técnicas muito particulares e influências de outros países”
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Para fazer em casa

Macarrão de comitiva

Conhecido também como macarrão pantaneiro, macarrão frito ou macarrão boiadeiro, é uma variação do arroz carreteiro. Prepara-se da mesma maneira, substituindo o arroz pelo macarrão – da tradicional marca Liane.

O Cuca começa seu preparo quebrando o macarrão –vendido num fardo grande e comprido – em pequenos pedaços, para que possa ser cozido mais facilmente. Para ganhar seu sabor tão característico (que lembra o gosto umami), é preciso fritá-lo bem – assim como a carne que entra na receita –, até que adquira um aspecto esbranquiçado. Então junta-se a água.

Atualmente, vem aparecendo nos restaurantes de São Paulo. Aprendi esta receita com Helinho Lopes, famoso cozinheiro de comitivas e leilões, e resolvi acrescentar a laranja para dar sabor especial ao prato.

Ingredientes

100 g de carne de sol

2 dentes de alho picados

2 colheres de sopa de óleo de milho, azeite de oliva

ou banha

250 g de espaguete nº 8

água quente o quanto baste

sal a gosto

suco de uma laranja-pera

cheiro-verde picado a gosto coentro picado a gosto

Modo de preparo

Lampine a carne de sol e lave-a em água corrente abundante, para retirar o excesso de sal. Numa panela alta, refogue o alho no óleo quente. Junte a carne picada, fritando-a até dourar. Acrescente o macarrão quebrado (em no mínimo três partes) e frite mais um pouco, até que as pontas do macarrão adquiram uma coloração esbranquiçada. Adicione o suco de laranja, para soltar o fundinho da panela, e a água quente até quase cobrir a mistura. Cozinhe em fogo médio, com a panela aberta, mexendo de vez em quando para acomodar o macarrão, até que ele fique macio e a água seque. Sirva com o cheiro-verde e o coentro.

Rota gastronômica assinada pelo chef Paulo Machado

Terroir Pantanal Wine & Beer, Aquidauana @terroirpantanal

Pousada Pioneiro, entre Aquidauana e Miranda pousadapioneiro.com.br

Pantanal Experiência, Agachi, no município de Miranda pantanalexperiencia.com.br

Fazenda Refúgio da Ilha Ecolodge, Rio Salobra refugiodailha.com.br

Fazenda San Francisco, Pantanal do Rio Miranda fazendasanfrancisco.tur.br

Pantanal Jungle Lodge, Rio Miranda pantanaljunglelodge.com.br

Pousada Pequi, Aquidauana pantanaljunglelodge.com.br

Pousada Aguapé, Aquidauana pousadaaguape.com.br

Recanto Vale do Sol, Corumbá @recantovaledosol

Hotel Fazenda Baía das Pedras, Aquidauana baiadaspedras.com.br

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Atualmente, o chef Paulo Machado assina o cardápio de dois passeios em Bonito e dedica-se ao Brasil Food Safaris
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ENTRE SHOWS, VIOLAS, COMPOSIÇÕES E MUITA MÚSICA BOA, DIEGO FARIA, KAIK & ALESSANDRO, MATHEUZINHO, THIAGO & GRACIANO E AUGUSTO & ATÍLIO PASSARAM NO NOSSO STUDIO E

DERAM ENTREVISTAS INCRÍVEIS PARA VOCÊ SABER TUDO SOBRE

O BACKSTAGE DO MUNDO SERTANEJO. VENHA CONFERIR!

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O retorno de Diego Faria

CANTOR QUE BOMBOU COM O HIT ELAS FICAM

LOUCAS VOLTA AO BRASIL EM BUSCA DE UMA CARREIRA CONSISTENTE

Natural de Areia, no interior da Paraíba, aos 15 anos Diego Faria decidiu se mudar para São Paulo para seguir o sonho de se tornar um cantor de sucesso. Mesmo tendo sido selecionado no quadro Jovens Talentos, do Programa Raul Gil, a jornada na capital paulista não foi simples.

Diego relembra a época como um momento difícil, quando tentava mostrar as próprias composições para outros artistas e vender o seu primeiro CD pelas ruas da maior cidade do país. Junto com a experiência profissional de cantar em bares, o paraibano se formou em Música no Souza Lima.

O reconhecimento veio em 2013, quando a canção Elas Ficam Loucas se tornou um hit nacional, abrindo muitas portas para o músico. Foram diversas participações em programas de televisão e entrevistas para rádios e revistas. Depois de alguns anos morando na Europa, o cantor agora volta para o Brasil com vários desejos e projetos em sua terra natal.

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Por Camila Lourenço Beleza Iza Ventura Styling Ana Paula Zanuto 5 min

Como foi a produção do projeto Único não, diferenciado?

Esse nome foi um bordão que eu comecei a usar. É um projeto de músicas inéditas minhas. Foi um trabalho, em especial, voltado para o Nordeste. Além disso, eu lancei um clipe com a Melody, de Beijo Vicioso, e a música 3 Taças de Vinho, que é do DVD Sinta a Experiência – Ao Vivo em Goiânia, que conta com a participação dos meus amigos João Bosco & Vinícius.

Você começou na música bem novo. Você sempre quis ser cantor?

Minha mãe queria que eu fosse veterinário e cuidasse das coisas da família, mas eu sempre quis viver de música. Quando decidi sair de casa, eu já era músico profissional e cantava em bares à noite. Foi uma fase muito difícil. Imagina um jovem de 15 anos chegar em São Paulo sem os pais? Eu terminei o segundo grau cedo, porque sempre fui avançado na escola. Quando finalizei, fui fazer um teste no programa do Raul Gil. Eu fiquei um dia na fila e já me chamaram na outra semana. Só que a minha vida não parou por aí. Quando eu estava no Jovens Talentos, vendia os meus CDs na rua em São Paulo, eu cantava na frente de lojas e nos bairros simples.

Quando começou o seu processo de composição?

Quando eu cheguei em São Paulo, já tinha gravado o meu primeiro CD, com 14 composições minhas. Depois que eu perdi no Raul Gil, meu amigo Marcelo Melo falava que eu precisava mostrar minhas músicas para outros artistas. Várias vezes eu fui muito humilhado nos estúdios. Até que, um dia, eu mostrei A Carne é Fraca e O Coração é Vagabundo para um radialista da Paraíba e ele passou para uma

banda de forró. Pouco depois, a música foi parar na voz do Raí, do Saia Rodada, e do Wesley Safadão que, na época, era da banda Garota Safada, do Aviões do Forró e a música começou a estourar. Foi o meu primeiro sucesso como compositor. Até que recebi uma ligação do Jorge & Mateus, porque eles estavam gravando o projeto Amo Noite e Dia e tinha a minha música, com participação da Janaynna. Quando você é um compositor com uma música de sucesso, todo o mercado começa a querer músicas suas.

Quando você ouviu, pela primeira vez, sua música tocando no rádio? Eu lembro muito bem. A primeira vez que eu escutei a minha música no rádio foi Elas Ficam Loucas. O meu escritório tinha lançado a música e, quando eu estava indo para Avaré gravar o clipe dela, a música começou a tocar. Depois daquele dia, a canção começou a tomar uma repercussão muito grande, a ponto de todo lugar em que eu chegava estar tocando. Era na novela Balacobaco, no programa do Rodrigo Faro, do Geraldo Luís, no Caldeirão, na Fátima Bernardes…

E como foi o processo para se apresentar fora do Brasil?

Durante a explosão do Elas Ficam Loucas, eu comecei a participar dos programas da Record. Então, a música começou a ter uma repercussão grande em Portugal e eu comecei a fazer shows por toda a Europa. Só que a cada turnê que eu fazia lá, vinham mais pedidos e comecei a conciliar a minha agenda entre Brasil e Europa. Porém, naquele momento, eu estava tendo uma gestão que não me agradava, porque o artista tem que lançar uma música atrás da outra e os meus sócios insistiam

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“Quando eu estava no Jovens Talentos, vendia os meus CDs na rua em São Paulo, eu cantava na frente de lojas e nos bairros simples”
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em trabalhar só com uma música e eu fui sumindo do mercado. Então, eu peguei minhas malas e fui embora do Brasil e voltei só em 2021. Fiquei morando fora do país por quase seis anos.

E por que a decisão de voltar para cá?

Tudo o que eu faço, sempre tem um planejamento. Eu fui para lá para estudar e fazer shows aos finais de semana. Queria aprender coisas novas, então eu morava na Corunha e estudava violão flamenco. Em 2018, passei a me apresentar nos Estados Unidos e a minha vida era assim: quando não tinha show na América, estava na Europa – e vice-versa. Era uma loucura, estava o tempo todo viajando. Nisso, eu fui construindo a minha base de fãs. E a minha estratégia no mercado europeu foi fazer shows em cidades nas quais os grandes artistas brasileiros não iam. Montei uma apresentação em espanhol no auge do reggaeton. Fui trabalhando, repercutindo e buscando o meu projeto dentro da Europa.

Na sua carreira, teve algum momento em que você pensou em desistir?

Acho que todo mundo passa por esse processo. São 15 anos de luta, de trabalho, de dedicação e, muitas vezes, a gente pensa: “Será que eu estou no caminho certo?” Mas aí é que você tem que acordar, acreditar em Deus, trabalhar e buscar o seu momento. Eu sempre digo que existe a hora certa para tudo, mas é preciso seguir persistindo.

E qual sonho você ainda quer realizar?

O que eu busco é uma carreira consistente, que tenha mais e mais músicas conhecidas. Acho que é o sonho de todo artista: subir no palco e ver a galera cantando suas músicas – principalmente no meu caso, que escrevo muitas coisas.

Na sua playlist existe algum artista que as pessoas não imaginariam que você ouve?

Ontem eu voltei do meu show escutando Banda Eva, Netinho, Ivete Sangalo. Eu vinha ouvindo todos aqueles grandes hits do Carnaval dos anos 1990. Antes, nós estávamos ouvindo Zezé Di Camargo & Luciano. Eu escuto de tudo!

E isso ajuda no trabalho de composição?

Muito! A musicalidade desses artistas é única. Quando você entra em um lugar e ouve uma música do Djavan, que ele lançou nos anos 1980, é porque ela é eterna. Essa é uma das coisas mais difíceis hoje: ter uma música que vai durar anos.

Você se sente pressionado pela velocidade de consumo e pela internet?

Demais! Antigamente, o artista fazia um projeto por ano e trabalhava com calma para montar um repertório daquele projeto. Hoje, as músicas não duram 30 dias, então você tem que lançar single em cima de single. Da mesma forma que te acelera a lançar coisas novas, te obriga a fazer tudo rápido demais. E você tem que se adequar, senão vai ficando para trás.

“São 15 anos de luta, de trabalho, de dedicação e, muitas vezes, a gente pensa: ‘Será que eu estou no caminho certo?’ Mas aí é que você tem que acordar, acreditar em Deus, trabalhar”
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Assessoria de imprensa Caldi Comunicação
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De Piraju para o mundo

KAIK & ALESSANDRO FORMARAM UMA DUPLA EM 2008, QUANDO O “SERTANEJO UNIVERSITÁRIO”

DAVA SEUS PRIMEIROS PASSOS E AINDA ESTAVA LONGE DE REINAR QUASE ABSOLUTO NAS BALADAS DO INTERIOR DE SÃO PAULO.

Com 15 anos de carreira, Kaik & Alessandro são conhecidos como precursores do “sertanejo universitário” em Piraju, interior de São Paulo. O sonho dos amigos começou na primeira década dos anos 2000, com apresentações famosas pelo repertório com hits de Bruno & Marrone, Chitãozinho & Xororó e Jorge & Mateus. Da região que divide São Paulo e Paraná, Kaik & Alessandro trouxeram para o mercado sua identidade: timbres inconfundíveis e repertório autêntico. Juntos, eles já assinaram mais de 300 composições e já trabalharam em participações com grandes nomes do sertanejo como César Menotti & Fabiano, Guilherme & Benuto, Gian & Giovani, entre outros. Em 2022, a dupla lançou uma parceria com Murilo Huff para a música Nem Era Casal. Os amigos abrem 2023 com o projeto Ao Vivo em Goiânia, DVD, que foi gravado na capital da música sertaneja em fevereiro e conta com 17 músicas inéditas, incluindo o hit Promessa de Bar.

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Por Camila Lourenço Fotos Miro Tratamento de Imagem Fujocka Beleza Iza Ventura 5 min

Vocês sempre quiseram ter a música como profissão?

Nós temos a dupla há 15 anos, começamos em meados de 2008. Eu sempre gostei muito de música, desde a escola. Eu lembro que Mamonas Assassinas estava em alta, quando tinha sete anos. E a família do Kaik, tanto do lado do pai quanto da mãe, todos cantavam e tocavam, então ele cresceu nesse meio. Até que um dia nós fomos trabalhar juntos em uma formatura. Ele me viu cantar e achou que eu tinha uma voz comercial. Quando a formatura acabou, o Kaik me procurou e falou: “Vamos montar uma dupla?” Foi assim que Kaik & Alessandro começou. E lá em Piraju, interior de São Paulo, não tinha sertanejo. Era mais pop, rock e DJ. Tinha uma balada só na cidade. Fomos pioneiros.

Quando vocês começaram a fazer shows?

Nós começamos a nos apresentar em uma pastelaria. O nosso primeiro show foi assim, a dona disse: “Não posso pagar cachê. Vocês comem pastel e bebem refrigerante”. A gente comeu uns 30 pastéis cada. Depois passamos a fazer shows em barzinhos, clubes, Festa do Peão. E o povo começou a conhecer a gente e o sertanejo foi entrando em Piraju. Bombava de gente nos lugares em que íamos nos apresentar.

Qual foi o maior perrengue que vocês passaram?

Acho que foi em 2016 ou 2017. Nós tínhamos um show marcado em uma fazenda e, depois, íamos participar de uma apresentação da Yasmin Santos, em outra cidade. Era uma distância de uns 60 km. Nós íamos cantar uma ou duas músicas no show dela. Terminamos o primeiro show, pegamos o carro e partimos. Quando faltavam uns 15 km, o carro parou de

funcionar. Falei: “E agora?”, porque o horário estava bem apertado. Até ligar para alguém, chamar guincho, esperar chegar, nós perderíamos a participação. Aí o Kaik deu a ideia de irmos empurrando. Se andando já era difícil, imagina empurrando um carro. Mas foi o que fizemos, só nós dois. Quando chegamos na cidade, fomos para o posto de gasolina abastecer, mas ele não era 24 horas. De repente, passou um padre de carro. Ele perguntou se estava tudo bem. E nós fizemos uma gambiarra, puxando pela boca a mangueira e saiu combustível. Deu certo. Mas não dava mais tempo de fazer a participação. Um mês depois, a Yasmin viu a publicação que nós fizemos contando o que tinha acontecido naquele dia e respondeu que nós estávamos convidados para participar de outro show. Um tempo depois, nós encontramos ela na casa do nosso empresário e fomos compor juntos.

Como fizeram a produção do Ao Vivo em Goiânia?

Foi muito bacana. Até então, em 15 anos de carreira, nós só tínhamos gravado composições nossas e quisemos fazer diferente desta vez. Nós buscamos compositores lá de Goiânia e fomos para lá. Alugamos uma chácara, fizemos um camp com os compositores mais consagrados do meio. Nós temos muita expectativa, porque o projeto ficou muito bonito. Vai ser o melhor repertório da nossa carreira. Começamos a lançar o Ao Vivo em Goiânia com o single Promessa de bar. E depois, provavelmente, vamos divulgar as outras músicas em EPs. São 17 faixas inéditas, com participações incríveis de Ícaro & Gilmar, Guilherme & Benuto, Gian & Giovani e Pedro Paulo & Alex.

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“Em 15 anos de carreira, nós só tínhamos gravado composições nossas e quisemos fazer diferente desta vez. Nós buscamos compositores lá de Goiânia”
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Vocês lançaram Nem Era Casal com o Murilo Huff. Como a parceria aconteceu?

Tudo começou com o Paulinho Tardelli, que trabalha como divulgador. Ele tem muita amizade com diversos empresários e falou com a equipe do Murilo Huff sobre nós. De prontidão, o Murilo falou: “Manda a moda”. Nós passamos uma composição nossa, a Nem Era Casal. Depois de 15 dias, o Paulinho mandou mensagem para a gente: “O Murilo Huff deu ok, vamos gravar”. Nós nem acreditamos, porque, até então, não tínhamos gravado com ninguém. Depois fizemos um clipe em Goiânia. Foi a nossa primeira ida para lá.

Vocês também têm o projeto do Resenhão. Com tantos clássicos sertanejos, como escolheram o repertório?

O mais importante, para nós, era escolher músicas e artistas que nós gostamos. Porque você tem que passar verdade para o público que está ouvindo. Então nós escolhemos o repertório a dedo. Por exemplo, nós sempre cantamos João Paulo & Daniel e tem muita música boa. Como escolher uma só? Não tinha como, por isso nós fizemos um medley. Também cantamos Nechivile. E, em breve, vamos fazer o Resenhão 2. Ainda estamos pensando no repertório e detalhes do projeto, mas podemos contar que vamos cantar Matogrosso & Mathias.

O que vocês acham mais fácil: compor uma “sofrência” ou uma música alto-astral? Depende do momento que você está passando e do chifre que levou (risos). Porque uma coisa acaba puxando a outra. Se você está em uma vibe mais tristinha, sofrendo por amor, você vai escrever algo romântico. Outra coisa que influencia é

o projeto que você está compondo. Por exemplo, os compositores de hoje, que nem os que conhecemos lá em Goiânia, que vão compor para Bruno & Marrone, já têm a sua forma de escrever músicas para eles, que têm uma carreira e tal. Pela nossa experiência, acaba sendo mais difícil compor para quem ainda não tem ainda repertório e não sabe exatamente o que gosta e o que combina com a carreira.

A indústria da música foi transformada pela internet. O que vocês acham disso? O Kaik até brincou uma vez. Alguém perguntou: “Mas o que é EP?” Ele respondeu: “Espera um pouco, que o projeto inteiro já, já vai ser lançado”. É complicado, porque, hoje em dia, o tempo da música é muito rápido. Às vezes você lança uma canção que é boa, mas ela acaba tendo pouco tempo de trabalho e de consumo. Antigamente, os artistas conseguiam trabalhar por um ano em cada projeto. Hoje é diferente. No Ao Vivo em Goiânia, gravamos 17 faixas, a gente lança um single e depois vem EP com quatro, cinco músicas. Em pouco tempo, os lançamentos acabam e nós temos que planejar algo novo, que tem que ser melhor ou tão bom quanto o anterior.

Então existe essa pressão depois de lançar um projeto incrível?

Claro, isso fica na cabeça. E também existe aquele outro lado de: “Vou lançar um projeto incrível, mas será que o público vai gostar?”, porque a gente pode gostar muito, mas não dá para saber. No Ao Vivo em Goiânia, nós temos várias músicas boas, mas qual delas vai pegar? Não sei. Não dá para ter controle, é o povo que elege.

“Hoje em dia, o tempo da música é muito rápido. Às vezes, você lança uma canção que é boa, mas ela acaba tendo pouco tempo de trabalho e de consumo. Antigamente, os artistas conseguiam trabalhar um ano cada projeto”
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Do campo para os palcos

CHEIO DE SIMPATIA, MATHEUZINHO QUERIA SER FAMOSO DESDE PEQUENO MAS, MESMO SENDO UM BOM JOGADOR DE FUTEBOL, FOI A MÚSICA QUE LEVOU O VIRGINIANO DE 28 ANOS AO ESTRELATO

Nem sempre ele foi chamado de Matheuzinho. Na verdade, pegou o apelido quando virou cantor profissional. De Maceió para o mundo, ele tentou várias outras áreas, como engenharia civil e educação física, sem contar com o futebol profissional, mas foi na música que Matheus se encontrou. Nesta entrevista, ele conta como largou tudo no Nordeste, bancou do próprio bolso seu primeiro clipe e sobre a relação que teve com Marília Mendonça.

Por Marley Galvão Fotos Miro Tratamento de Imagem Fujocka Beleza Viviani Prado 5 min
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Você é chamado de Matheuzinho desde criança?

Não. Começou quando vim pra São Paulo. Chamaram assim aqui, aí pegou. Aí, quis mudar o meu nome na música, só pra Matheus, mas aí Matheuzinho ficou.

Você veio em 2018 para São Paulo. Como foi essa mudança?

Morava em Maceió, tinha uma banda de forró e viajava pelo Nordeste inteiro. Depois que eu vim pra São Paulo é que comecei a rodar o Brasil. E aí passei a ser reconhecido. Vieram as músicas como O golpe está aí. Depois veio Só sacanagem Também vieram outras músicas que não foram tão estouros, mas meio que fizeram um barulhinho. E nosso show foi sempre muito pra cima. Quando a gente ia para uma cidade, tanto o público quanto quem estava contratando a gente, gostava muito. Então, sempre voltava para fazer outro show.

Você estava com uma carreira sólida no interior, mas deu um passo para voar mais alto. Conta como foi essa história. Eu estava ali na minha zona de conforto, mas falei: “Cara, quero ser grande no Brasil. Quero ter meu trabalho reconhecido nacionalmente”. E aí vim pra São Paulo. Ainda não tinha nada certo, nem empresário, nem escritório, nada. Sabia de um cara chamado Marcelo Portuga, que lembro que todo mundo falava bem dele. Falavam que era o cara de São Paulo. Então, pensei: “Quero conhecer esse Portuga”. Na época, vim pra São Paulo, fiquei aqui uns cinco dias, marcamos uma reunião, falamos do projeto. Ele me mostrou as coisas e ele falava para fazermos um clipe. E aí eu fiz um clipe tirando do bolso, bancando mesmo.

E depois do clipe?

Ele gostou, mas demorou uns cinco, seis meses até a gente assinar o contrato. E estou com ele até hoje, que é como se fosse paizão pra mim.

Ele é um porto seguro aqui em São Paulo? Aqui em São Paulo, o que eu precisar ligo pra ele, a hora que for.

Você tem família que mora aqui em São Paulo?

Não, meus pais, hoje, moram em Aracaju, Sergipe, que foi a cidade onde eu me criei. Nasci em Brumado, na Bahia, mas fiquei lá pouco tempo. Depois fui pra Salvador até uns quatro anos de idade. Em seguida, fomos pra Aracaju, onde fiquei até uns 15 anos.

E você ainda mantém contato com seus amigos de infância, adolescência? Sempre vou lá. É só ter uma folga aqui que vou lá pra pegar uma praia.

E mudou essa relação, quando você volta pra lá? Então, com meus amigos de verdade, não, mas com pessoas que antes não me davam valor mudou muito. O povo pensava: “Isso lá vai pra frente?” Hoje sinto que essas mesmas pessoas querem estar comigo, querem me chamar para ir nos lugares.

Querem ser seu amigo agora? É. Mas, assim, meus amigos de verdade eu sei quem são, né?

Quando você saiu de lá, deixou alguém? Tinha alguma relação amorosa? Não, nem em Aracaju, nem em Maceió. Vim livre, leve e solto na cara e na coragem.

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“Eu estava ali na minha zona de conforto, mas falei: ‘Cara, quero ser grande no Brasil. Quero ter meu trabalho reconhecido nacionalmente’”
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Qual é a lembrança que você tem quando olha pra trás?

Lembrança que eu tenho? Nossa, tenho muitas saudades da época de colégio, quando jogava futebol. Tenho também lembranças de ir à praia sempre com minha família, de comer caranguejo, camarão, aquelas comidas gostosa de lá. E acho que é de sempre estar junto com meus pais. Meu pai sempre falava pra eu jogar futebol. Ele me filmava também, então acho que são essas lembranças que ficaram.

Você era um bom jogador?

Eu era. Joguei futebol a minha infância toda, até meus 15 anos, inclusive em alguns clubes do Brasil. Passei pelo Santos, pelo Vitória também da Bahia. Jogava na posição de meio de campo.

E por que a mudança?

Dediquei a minha vida inteira ao futebol, mas era uma coisa meio incerta, e eu deixava de viver, porque pra ser um grande ser jogador tem que deixar de fazer algumas coisas. Tem que dormir cedo, cuidar muito da alimentação. E sentia que não estava vivendo minha vida. Então, com 15 anos, decidi que iria parar de jogar, que iria estudar, fazer faculdade. Fiz Engenharia Civil, Nutrição e Educação Física.

Quanta coisa diversa... Sou indeciso demais...(risos).

E a música, quando começou?

Aos 15 eu já estava tocando violão. Também amava música. Aí comecei a fazer vídeo caseiro, sem pretensão. Foi quando minha mãe falou: “Filho, você canta bem. é afinado”. O meu pai também falava isso, minha irmã. Meus amigos tam-

bém foram falando a mesma coisa. Então, montei uma banda, mas era só por hobby mesmo. Mas as coisas foram dando certo.

Você é vaidoso?

Sou. Acho que de um tempo pra cá, acho que quando eu vim morar em São Paulo, ganhei oito quilos. Ia muito a restaurantes, porque todo dia tem onde ir. Então, parei e vi que precisava cuidar disso, cuidar do corpo.

E você é daquele que passa creme, faz o skincare?

Sim, passo o creme antes de dormir. Minha dermatologista fica pegando no meu pé. Então, quando chego em casa tenho um ritual de beleza, sim... (risos)

Você coleciona tênis?

Sim, tenho vários. Tenho uns 150 pares. Gosto muito. Aí, quando chego em casa limpo meu tênis. Posso chegar bêbado, a hora que for, que limpo.

Você teve uma relação com a Marília Mendonça. Quando ela se foi, enfim, que aconteceu toda a tragédia, tudo foi muito dolorido. Hoje, qual é a lembrança, o que ficou dessa história com a Marília?

A lembrança dela é de uma mulher incrível, uma pessoa forte demais e merecia tudo o que ela conquistou. Tanto da música quanto na vida pessoal. Então, foi uma perda muito triste pra todos nós, até mesmo quem não vivia perto dela ficou muito mal. O que ela deixa é saudades e um legado incrível, né? Tanto que até hoje a música dela está no Top 1 no Spotify do Brasil inteiro. Marília é incrível. Eu acho que todo mundo que conheceu a Marília é um privilegiado. Ela era foda, muito.

“Marília é incrível. Eu acho que todo mundo que conheceu a Marília é um privilegiado”
Assessoria de imprensa Caldi Comunicação
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Mais do que inspiração

THIAGO & GRACIANO, QUE JÁ TIVERAM DIVERSAS

COMPOSIÇÕES NAS VOZES DE GRANDES ARTISTAS, CONTAM O SEGREDO PARA CRIAR: “É MAIS TRANSPIRAÇÃO DO QUE INSPIRAÇÃO”

Thiago e Graciano se conheceram na infância. Eles fizeram parte do coral na igreja em que ambos frequentavam em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Mais tarde, no colégio, formaram uma banda para uma apresentação de fim de ano. Depois disso, passaram a se apresentar em outras escolas e em alguns shows regionais.

Sem muita pretensão de seguir na carreira musical, os dois começaram a faculdade: Thiago cursava Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Graciano, Publicidade e Propaganda. Em paralelo, a dupla montou um sarau, que ficou famoso na cidade. Com isso, a agenda de shows cresceu, fazendo a dupla, em 2014, se dedicar integralmente à música.

Além de cantores, os dois são compositores e já tiveram músicas gravadas por artistas reconhecidos nacionalmente. Entre eles: Bruno & Marrone, Henrique & Juliano, Luan Santana, Marília Mendonça, Marcos & Belutti, Maiara & Maraísa e Fernando & Sorocaba.

O último projeto da dupla foi Onda de amor. Gravado em Santa Catarina, o audiovisual conta com a participação de Dilsinho, Tierry, Daniel Caon, Lucca & Mateus, Lucas & Kadí e o Grupo Sem Abuso.

O vídeo de Acostamento já chegou a mais de 6,4 milhões de visualizações no YouTube.

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Por Camila Lourenço Fotos Miro Tratamento de Imagem Fujocka Beleza Iza Ventura 5 min

Como surgiu a dupla Thiago & Graciano?

Normalmente, o pessoal do sertanejo diz: “Eu conheci meu parceiro na faculdade” ou “no boteco”. Nós nos conhecemos na igreja, quando éramos crianças. E a regente do coral enxergou uma musicalidade e colocou a gente para cantar. Depois, nós estudamos juntos e tinha um daqueles projetos culturais na escola. Montamos uma banda com mais dois amigos. E a curiosidade é que ali nós só tocávamos, não cantávamos. Infelizmente, aconteceu uma fatalidade e o vocalista faleceu e, por meio de um show em homenagem a ele, nós formamos a dupla. Só que a gente dividia a música com outros afazeres, era mais como um hobby.

E quando virou uma profissão?

Um amigo nosso propôs que a gente tocasse todas as segundas-feiras no restaurante dele. Ele vendia batata recheada e falou: “Vocês vêm aqui, comem, bebem e tocam”. Na primeira noite em que nos apresentamos lá, tinha sete pessoas, quando paramos, estavam indo mais de mil. Toda segunda-feira, fechava a rua, era um evento, o Sarau do Thiago & Graciano. E virou um ponto turístico de Campo Grande. A galera de longe da cidade andava meia hora para chegar lá no nosso bairro. Ficou tão grande que quem queria divulgar alguma coisa, aparecia lá. Como foi com a gravação do DVD do Munhoz & Mariano. Os dois apareceram lá para promover o evento. Nessa época, nós também nos apresentávamos em outros bares e casas menores e a dupla foi crescendo.

É engraçado; em Campo Grande, a gente chegou a fazer inauguração de asfalto e, depois, cantar no aniversário da cidade, com público de 100 mil pessoas, na praça aberta. Em 2014, nós estávamos com uma

agenda cheia de shows e não dava mais para conciliar com a faculdade, assim decidimos virar uma dupla profissional.

Qual foi a reação da família de vocês? No começo, as nossas famílias, que são religiosas, só deixavam cantarmos na igreja. Porém, a partir do momento que eles entenderam que era um trabalho, que assumiríamos isso com seriedade, foi 100% de apoio. Nossos pais falavam: “Vocês são novos e é o sonho dos dois. Se tudo der errado, vocês têm casa e podem tentar outra coisa”.

Em que momento vocês começaram a compor?

Passamos a focar de verdade a partir de 2014. Porque, até então, a gente escrevia uma vez por mês, quando dava. Foi só depois que Munhoz & Mariano gravou Copo na Mão, que enxergamos a importância de escrever, e começamos a nos dedicar à composição em paralelo à dupla. E, antigamente, tinha aquele mito de compor quando vem a inspiração e não é bem assim. É mais transpiração do que inspiração. No dia a dia, tudo pode virar música. Então, estamos em uma conversa e alguém conta uma história ou fala uma expressão, a gente já anota. Quando combinamos de compor, nós falamos as ideias e decidimos se vai ser mais romântico, animado ou uma moda de boteco, por exemplo. Depois vamos fazendo melodia e letra ao mesmo tempo.

Vocês colocam histórias próprias nas composições?

A gente gravou uma recentemente, Vontade a mil, com o cantor Dilsinho. Um dia, eu levei a minha namorada para a cidade dela e fui embora. Quando estava vol-

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“É engraçado; em Campo Grande, a gente chegou a fazer inauguração de asfalto e, depois, cantar no aniversário da cidade, com público de 100 mil pessoas, na praça aberta”
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tando, eu anotei uma frase: “Eu já estava com saudade quando te levei embora”. Depois, contei para o Graciano e ele falou algumas coisas que iam ao encontro do que eu estava pensando. Então, na minha cabeça, eu estava fazendo a minha história ali e passando para ele. Essa música, em especial, levo como algo que vivi, mas a maioria das composições não é sobre nós. Porém, o que nós sempre tentamos fazer, por mais que tenha sido uma situação muito particular, é deixar a música o mais universal possível. Porque a gente entende que, quanto mais pessoas conseguirem se identificar, mais longe a música pode chegar. E cada pessoa entenderá a letra de uma forma.

Quais são as inspirações musicais da dupla?

No começo da carreira, nós ouvíamos bastante João Bosco & Vinícius, Guilherme & Santiago, Chitãozinho & Xororó. Até para desenvolver a nossa musicalidade. Hoje, a gente se inspira em vários artistas, inclusive nesses que escutamos bastante no início. Uma dupla que é uma grande inspiração é Bruno & Marrone, porque eles são artistas que estão há bastante tempo no mercado, mas se reinventam diariamente. Admiramos muito a carreira dos dois. Eles conseguem agradar ao público que gosta, por exemplo, de Zezé Di Camargo & Luciano, mas também aqueles que escutam Jorge & Mateus. Então, eles são bem versáteis e conseguiram se reinventar ao longo do tempo.

Como funciona a rotina de vocês?

Quando não estamos na estrada fazendo shows, estamos em casa compondo ou produzindo conteúdos para internet, uma parte fundamental, não tem como deixar de fazer. Então nós nunca estamos parados, mas a gente arranja um tempo para descansar. E é aquela coisa: a gente faz o que gosta, isso é o que mais importa.

Nas horas vagas, vocês também fazem coisas juntos?

Moramos juntos há uns 11 anos, então passamos a maior parte do tempo um com o outro. Mesmo assim, não tem muito aquilo de: “Pelo amor de Deus, saia daqui”. Gostamos de pescar, por exemplo. Mas também fazemos coisas separados. Um gosta mais de assistir filme, o outro, de ir à academia.

Vocês brigam?

Igual irmão. Briga, discute, mas sempre com respeito. São muitos anos de amizade, cada um já sabe o limite do outro.

Vocês têm um próximo lançamento?

Sempre gravamos um projeto já esquematizando o próximo. Estamos no processo final de gravação de uma música nova, que escrevemos com parceiros no Rio de Janeiro. A gente acredita que os nossos fãs vão gostar bastante. Ela fala sobre uma pessoa que conhece alguém. Tem um clima de boteco, com um pouco de “sofrência”.

“Só depois que Munhoz & Mariano gravou Copo na Mão, que nós enxergamos a importância de escrever, e começamos a nos dedicar à composição em paralelo à dupla”
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Tradição familiar

AUGUSTO & ATÍLIO, SEMPRE ORIENTADOS PELO PAI, REVELAM A CARA DO NOVO SERTANEJO SEM DEIXAR DE LADO AS RAÍZES CAIPIRAS

Por Fernanda Ávila Fotos Divulgação 5 min

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Foi dentro de casa que os irmãos Augusto & Atílio descobriram a paixão pelo sertanejo e deram os primeiros passos na carreira musical. Eles são filhos do Sr. Atílio, que integrava a dupla Atílio & Santana. Até hoje, depois de estourarem nas paradas musicais com sucessos como Caminho da Roça e Monta em Mim, os meninos ainda seguem os conselhos do pai que, desde sempre, os orientou a ter uma marca própria, não imitando o estilo de ninguém. Nascidos em Sales Oliveira, no interior de São Paulo, formaram a dupla em 2008, ainda crianças. Desde então, vêm revelando a cara do novo sertanejo, mas sem deixar as raízes de lado.

Como vocês definiriam o estilo musical de Augusto & Atílio?

Na verdade, foi algo bem natural, não tivemos uma reunião para alinhar como chegaríamos ao mercado. O estilo Augusto & Atílio veio da nossa infância. O nosso pai era cantor sertanejo, então a gente nasceu e cresceu ouvindo música sertaneja e “modões”. Ainda na nossa família, nosso avô e tio também eram sanfoneiros, então todo mundo curtia esse estilo. Com isso, eu (Augusto) comecei a cantar também aos seis anos de idade, e aí quando o Atílio começou a entrar na música, eu já cantava.

Como foi o processo de produção do primeiro álbum da dupla?

O primeiro álbum que a gente gravou foi através de patrocínios. Saíamos fechando parcerias aqui na cidade, na região, as pessoas ajudavam e fomos gravando. Fomos aos poucos, gravamos três faixas, depois juntamos com as demais, mas até chegar ao primeiro álbum completo demorou um bom tempo.

Qual foi a maior dificuldade que vocês enfrentaram ao começar a carreira?

Ah, sem dúvidas foi gravar esse primeiro álbum. Principalmente quando falamos em divulgação. Na época, a internet não era tão forte como é hoje. Então, para você aparecer, o processo era um pouco mais difícil. Sem contar a falta de investimento de empresários, que não tínhamos.

Vocês têm alguma música que consideram ser a mais significativa na carreira?

Foi a música Caminho da Roça que deu uma virada de chave na nossa carreira. Nós começamos a ganhar destaque no mercado com esse single

Quais são as maiores influências musicais de Augusto & Atílio?

Ah, a maior influência musical acho que é nosso pai, né? Ele sempre nos apoiou, deu as dicas e nos ensinou um monte de coisas desde o início. Na música mesmo, no geral, eu acho que é Milionário & Zé Rico. Eles são uma grande influência pra gente. Tem também Di Paullo & Paulino, Edy Britto & Samuel, essa turma aí.

Como o público tem recebido a música de vocês?

Tem recebido bem demais, graças a Deus. Está tendo uma abertura muito grande, a galera está tendo uma aceitação muito boa. A Caminho da Roça foi muito bem. Agora veio a Corpo Sexy que está, graças a Deus, estourada. Vai muito bem no Paraná, no Sul inteiro, está tocando muito nas rádios. Na internet está rodando muito bem também a Monta em Mim.

Como vocês enxergam a indústria musical atualmente?

De forma positiva! Hoje, temos espaços

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“O nosso pai era cantor sertanejo, então a gente nasceu e cresceu ouvindo música sertaneja e ‘modões’”
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para todos os artistas, todos os gostos. Um dos grandes exemplos é a expansão do “agro”. Esse novo formato musical, de estilo, chegou para representar uma nova geração e é legal ver o quanto nosso país é gigante em cultura.

Vocês têm um estilo musical próprio e original. Como foi o processo de construção desse estilo?

Vem através do nosso pai, né? O pai sempre falava pra gente ter uma marca, pra gente não imitar de jeito nenhum ninguém.

De onde vêm as inspirações para a criação das músicas?

Vêm do dia a dia, uma história de um chifre de amigo ou nosso mesmo. E vem da vivência, escutando conversa de um, de outro, dos detalhes.

A música brasileira tem raízes muito fortes em diferentes regiões do país. Como vocês incorporam essa diversidade no trabalho?

O Brasil é um país gigantesco e, consequentemente, temos algumas variações dentro do sertanejo. Em algumas regiões, o público adota um gênero mais jovem, em outras, um mais tradicional.

E isso é legal, porque mostra que temos espaço para todos e uma cultura muito rica. Trazendo para o nosso trabalho, todo show tentamos

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adaptar o repertório para a região que estamos indo, colocamos faixas mais modernas, e também um sertanejo mais raiz, para agradar a todos.

Quais são os planos para o futuro da carreira de Augusto & Atílio? Há algum novo projeto ou álbum sendo planejado? Estamos preparando e desenhando já o nosso próximo DVD, pensando em convidados, cidades, em tudo. Mas antes desse projeto, estamos com algumas faixas em finalização.

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“Trazendo para o nosso trabalho, todo show tentamos adaptar o repertório para a região que estamos indo, colocamos faixas mais modernas, e também um sertanejo mais raiz, para agradar a todos”

Por Trás Desta Edição

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