TOP Magazine Edição 253

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Jonathan Azevedo

pessoas / jonathan azevedo por miro / lenda da fotografia nacional: os 45 anos de carreira de miro e sua marca na história do mundo top / lifestyle / o precioso patrimônio de myanmar / a incrível saga do ferrari 225 barchetta vignale 1952 / canoagem: técnica, coragem e respeito à natureza / cultura / as novidades mais bacanas em tecnologia, design, moda e entretenimento

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Sumário 14

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PESSOAS

Sumário 30

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Jonathan Azevedo

Miro

Leitor voraz, fã de filosofia, pai, empresário e empreendedor social, o multifacetado artista mostra a que veio.

Os 45 anos de carreira desta lenda da fotografia nacional e sua marca na história do Mundo TOP.

LIFESTYLE

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Myanmar

Ferrari

Canoagem

Descubra os encantos do país, que revela um patrimônio precioso para o mundo.

A história do Ferrari 225 Barchetta Vignale 1952 se perde nas brumas do tempo e na rota Brasil-Portugal.

Os desafios deste esporte que envolve muita técnica, coragem e respeito à natureza.

20 Mundo TOP CULTURA

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A nova loja conceito da AvantGarde, séries imperdíveis e mais lançamentos em moda, design e tecnologia.


Quem Fez

Miro É só colocar uma câmera na frente dele e pronto: saem verdadeiras obras de arte da fotografia. Nesta edição, Miro nos presenteia com belas imagens de Jonathan Azevedo.

Josias Silveira Costuma dizer que aprendeu jornalismo na Escola de Engenharia Mauá. Virou jornalista em 1972, fez dezenas de revistas e foi um dos criadores de Duas Rodas e Oficina Mecânica. Tem paixão por carros e motos e até agora não descobriu se foi um hobby que virou profissão ou o contrário. Escreve sobre duas, quatro e até mais rodas há mais de quatro décadas.

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Colaboradores

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Liege

Milton Castanheira

Gaúcha de alma paulistana, bacharelada em escultura. Desenvolveu o amor pela arte influenciada por sua mãe, artista plástica e restauradora. Apaixonada por artistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Maria Auxiliadora, viu no poder das cores e formas uma maneira de se expressar e trouxe isso para a beleza.

Há 12 anos trabalha com o visual de celebridades e acredita que moda é um artifício de expressão artística. Nessa edição, assina o styling do ensaio de capa com Jonathan Azevedo.

Feco Hamburger É fotógrafo, artista e professor. Possui obras na Pinacoteca do Estado de São Paulo e na Coleção Itaú de Fotografia Brasileira. Nesta edição, ele retrata uma emocionante aventura de canoagem pelo Rio Jaguari, em Minas Gerais


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Publisher Claudio Mello Secretária Executiva Carolina Kawamura TOP Magazine | Studio Mundo TOP Editoras: Renata Zanoni e Vivian Monicci Diretora de Arte: Rosana Pereira Revisora: Letícia Ippolito Assistente de Produção e de Mídias Digitais: Diego Almeida Projeto Gráfico Marcus Sulzbacher Lilia Quinaud Paulo Altieri Fabiana Falcão Colaboradores Texto Claudia Berkhout, Érico Hiller, Feco Hamburger, Josias Silveira, Penélope Coelho Foto Andreas Heiniger, Érico Hiller, Feco Hamburger, Miro Tratamento de Imagens BVM, Fujoka, JC Silva Editora Todas as Culturas Diretores de Criação: Lucas Buled e Ricardo Polinésio Gerência Financeira: Thiago Alves Gerência de Relacionamento: Carolina Alves Produção Executiva: Camila Battistetti RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes Analista Financeira: Regiane Sampaio Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados Pré-Impressão: Centrografica Editora & Gráfica Ltda Distribuição: Dinap S.A. TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - Cep 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074 7979 As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados. /topmagazineonline

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Cultura

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Mundo Top

UMA SELEÇÃO DE TUDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO ENTRE ARQUITETURA/ CINEMA / MODA / carro

Além das quatro rodas Experiência premium na nova concept store da AvantGarde A multimarcas de carros de luxo AvantGarde percebeu que, atualmente, o mercado envolve muito mais do que a compra. Pensando em trazer uma experiência completa para seus clientes, o arquiteto Sérgio Viana e o sócio da empresa, Fernando Duran, projetaram uma inovadora concept store da marca. Eles viajaram pela Europa em busca de inspiração e usaram grandes marcas como referência, por exemplo, a Louis Vuitton. O resultado não poderia ser outro: os apaixonados por carros agora poderão vivenciar uma experiência sem igual quando forem comprar um novo veículo. A grande área de seis mil metros quadrados reúne uma loja de carros de luxo com um espaço para os clientes encontrarem amigos e tomarem café. O diferencial fica para as distintas atividades que podem ser realizadas no local, que conta com sala de cinema, estúdio fotográfico, pista de teste, piscina e muito mais. O estabelecimento fica na Av. Raja Gabaglia, em Belo Horizonte. Mais informações: @avantgardemotors.


/ ACESSÓRIOS / TECNOLOGIA E MAIS

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Mundo Top

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Cultura

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seriado

Elas estão de volta HBO Max confirmou o retorno da icônica série Sex and the City

Os fãs do seriado vencedor do Globo de Ouro e do Emmy Awards já podem separar o drink Cosmopolitan, pois Sex and the City ganhará uma nova temporada. Depois do final da série em 2004, e com dois filmes nas telonas, a plataforma HBO Max confirmou o início das novas

gravações para o meio deste ano, em Nova York. O anúncio revelou que boa parte do elenco original estará de volta, como Sarah Jessica Parker (Carrie), Cynthia Nixon (Miranda) e Kristin Davis (Charlotte). Porém, dessa vez, a atriz Kim Cattrall, que interpretou Samantha, não integrará a

produção. A temporada, intitulada And Just Like That, terá dez episódios de meia hora cada um e promete explorar a realidade e amizade dessas mulheres, que agora têm mais de 50 anos. O seriado ainda não tem data de estreia. Mais informações: hbomax.com.


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fashion

Ouvidos na moda Conheça o Chanel Connects: podcast de luxo

Em meio à pandemia do novo coronavírus, que dominou as manchetes no ano de 2020, diversas empresas e segmentos da indústria tiveram que se reinventar, o que não foi diferente com as marcas de luxo.

Uma das grifes mais icônicas do mundo, a Chanel lançou uma nova série de podcast intitulada Chanel Connects. Com sete episódios, reúne os principais nomes do setor e tem como objetivo refletir sobre o futuro

da moda e abrir um debate íntimo sobre arte e cultura. O programa já está disponível e pode ser ouvido nas principais plataformas como Spotify e Apple Podcasts. Mais informações: chanel.com


Mundo Top

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Cultura

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moda

Dior, by Christian Dior Obra que conta a história da famosa grife ganha versão online e gratuita

Escrito pelo historiador Olivier Saillard, em 2016, Dior, by Christian Dior foi lançado como uma homenagem em comemoração aos 70 anos da label francesa. A obra relata a história e as criações de Christian Dior do ano de 1947 até 1957.

Agora, os responsáveis pelo livro o disponibilizaram online e gratuitamente para os interessados. A leitura pode ser feita em inglês ou francês. Além de narrar a história da Dior em forma de texto, o arquivo de 245

páginas também traz frases marcantes do idealizador da marca e conta com fotografias incríveis assinadas por Laziz Hamani, que mostram cerca de 80 peças icônicas. Mais informações:

diorpress.com.


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série

Cidade Invisível O seriado nacional da Netflix tem elenco recheado de estrelas Em fevereiro deste ano, a gigante do streaming Netflix se prepara para o lançamento de mais uma produção audiovisual brasileira. Trata-se da série Cidade Invisível, que promete ser um sucesso. Com direção do renomado Carlos Saldanha, o seriado também conta

com grandes nomes da dramaturgia nacional no elenco, entre eles Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Jessica Córes, Fábio Lago e Wesley Guimarães. A história aborda a saga de um policial ambiental que, sem esperar, descobre uma relação no mínimo peculiar entre a

morte de sua esposa e o surgimento repentino de um boto cor-de-rosa que aparece morto em uma praia do Rio de Janeiro. A partir desta narrativa, o personagem principal se envolve em dois mundos: o visível e um reino subterrâneo

repleto de criaturas do folclore brasileiro. A série de fantasia estreia em 5 de fevereiro de 2021. Mais informações:

netflix.com.


Mundo Top

Cultura

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joia

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Pedra preciosa Tiffany & Co anuncia colar de diamantes de 80 quilates

áudio

Tecnologia de ponta O novo headphone Bluetooth da Apple traz inovação e estilo para seus usuários

Em janeiro de 2021, mais uma novidade da Apple chegou ao Brasil. Estamos falando do AirPods Max, um fone Bluetooth over-ear, que pode ser encontrado no país por R$ 6.899. Esse é o primeiro headphone da linha AirPods. O acessório acompanha as novidades do mercado e

Em comemoração à reabertura de sua principal loja, em Nova York, onde nasceu, a Tiffany anunciou o lançamento de uma peça muito especial. Trata-se de um colar de águamarinha, que pertenceu à alta joalheria da empresa, em 1939. A joia valiosa foi reformulada para ficar mais moderna, sem perder a sofisticação. O item, que faz parte da história da marca, agora recebe um

diamante oval com mais de 80 quilates, tornandose o maior diamante que a joalheria já disponibilizou em uma peça. Para Victoria Reynolds, Gemologista-chefe da Tiffany&Co, a escolha do colar é especial, já que além de celebrar esse importante marco, também reflete a herança de luxo da marca. A inauguração deve acontecer em 2022. Mais informações: tiffany.com.

faz ainda melhor quando o assunto é inovação. O fone conta com sistema de cancelamento ativo de ruído, bloqueando grande parte dos barulhos externos para que o ouvinte tenha uma experiência imersiva. Além disso, apresenta tecnologia de áudio espacial e equalização adaptativa, o

que aprimora em tempo real a qualidade do som que é emitido. O estilo do fone também é um destaque. O novo acessório vem em cinco opções de cores (cinza espacial, prata, verde claro, azul e rosa) e promete que a bateria dure até 20 horas de reprodução. Saiba mais: apple.com.br.


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shopping

CJ Shops Conheça o novo shopping do grupo JHSF, em São Paulo O bairro dos Jardins, em São Paulo, ganhou uma novidade que merece destaque. Trata-se do CJ Shops, um novo espaço na cidade pensado pelo grupo JHSF. Com quatro andares, 13.691 m², espaços a céu aberto e um projeto arquitetônico diferenciado, o shopping localizado na Rua Haddock Lobo — entre as ruas Sarandi e Vittorio Fasano —, foi planejado para proporcionar o melhor para seus clientes em um espaço que transita

relógio

No tempo certo O novo relógio da IWC Schaffhausen para a coleção TOP GUN A IWC Schaffhausen complementa sua coleção de relógios PILOT TOP GUN com um cronógrafo TOP GUN SFTI. Inspirado no modelo Strike Fighter Tactics Instructor, criado em 2018 em homenagem à comunidade de Aviação Naval dos Estados Unidos, até então era apenas disponível para graduados TOP GUN. Agora, esse modelo espetacular pode ser seu! Mas corra, pois o SFTI é limitado a somente 1.500 peças.

Com uma aparência sem igual, o Pilot’s Watch Chronograph Edição TOP GUN SFTI tem design tático em preto fosco. Além disso, o cronógrafo esportivo foi criado para resistir a grandes tensões e impactos e conta com uma grande caixa de 44 milímetros feita em cerâmica de óxido de zircônio preta. Mais informações:

iwc.com.

entre o meio digital e físico, simultaneamente. São mais de 60 lojas internacionais e nacionais, com novidades incríveis e apostas em marcas brasileiras. Além, é claro, de uma vasta opção gastronômica para os mais variados gostos e estilos. Mais informações: cjfashion.com.


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MUITO MAIS DO QUE O ATOR QUE DEU VIDA AO CÉLEBRE SABIÁ, DA NOVELA A FORÇA DO QUERER. QUEM É JONATHAN AZEVEDO? LEITOR VORAZ, FÃ DE FILOSOFIA, PAI, EMPRESÁRIO E EMPREENDEDOR SOCIAL, O MULTIFACETADO ARTISTA MOSTRA A QUE VEIO Por Vivian Monicci Fotos Miro Styling Milton Castanheira Beleza Liege

Jonathan Azevedo Look inteiro: Dolce & Gabbana

7 min


“A vida me emociona, parar e sentir o agora”

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Jonathan Azevedo Look inteiro: Balmain


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Ele é muito do bem! Ao contrário de seu personagem Sabiá, Jonathan Azevedo só quer levar alegria para o mundo e seguir a vida pelo caminho correto. Criado em Cruzada de São Sebastião, conjunto habitacional no Leblon, e frequentador assíduo do morro do Vidigal, onde mora hoje e não pretende sair, embarcou na carreira de ator para poder ler livros e acabou descobrindo sua verdadeira vocação. Hoje, aos 35 anos, já conquistou o país com seu carisma e sensibilidade e vislumbra um mundo melhor para seu filho. Com mais de dois milhões de seguidores no Instagram, usa a rede social para disseminar conteúdo relevante e informativo sobre a história negra. Fundou a produtora Carta Preta para escrever sobre tudo o que ele e sua comunidade querem falar, sem depender de nada, nem de ninguém, e transformar as reflexões em arte. Engajado em projetos e movimentos sociais, quer devolver para a sua comunidade tudo o que ela lhe deu a vida toda: amor, acolhimento e educação. 2020 foi um ano muito desafiador para todo mundo. Como lidou e qual foi o seu maior aprendizado? Foi um ano não só de reflexão, mas também de muita superação em todos os aspectos, né? Meu maior aprendizado foi a escuta. Busquei aprender sobre o feminismo, daí vem a escuta. Redobrar a atenção com a empatia e com o novo conceito de viver. Você fez um trabalho extremamente importante para ajudar a comunidade do Vidigal nos meses críticos da pandemia. Como foi isso? Esses projetos na verdade ocorrem por duas pessoas: a Roberta Rodrigues (atriz), com o Vidiga Social, e o Wagner da Silva, com o Basquete Cruzada. Quando eu cheguei no Vidigal, eu comecei a me deparar com o que o Jonathan

artista queria levar de retorno para sua comunidade. Eu sempre tive o sonho de poder dividir com as crianças tudo o que eu aprendi, porque a sabedoria é a única coisa que ninguém pode tirar da gente. Percebi que a maioria dos projetos de que eu fiz parte eram beneficentes e se eu não agisse dessa forma, seria difícil encontrar ou formar “novos Jonathans”. Fiquei mais atento às questões sociais, porque eu vim delas, eu me alimentei desses projetos e também busquei sabedoria dentro deles. Fomos atrás de cestas básicas, porque se está difícil para quem tem, imagina para quem não tem, e ainda não tem nem o Estado de fato presente. Isso é fruto da gente, da nossa essência, das pessoas com quem eu cresci, da mãe e do pai que eu tenho, que me ensinaram a sempre dividir. Por conta dessas paixões e dessas trocas, vai ficar difícil sair do Vidigal. Você criou uma produtora, a Carta Preta. Por que e com quais objetivos? Ao longo da minha trajetória, eu percebi que poucas coisas conversavam com o público de onde eu venho. Eu sempre tinha que entrar na onda do trabalho, e não o contrário. A comunicação é uma troca e quando eu vi que essa troca é um pouco difícil, por conta do racismo estrutural que nós vivemos, pensei em montar uma empresa de roteiro, na qual eu escreveria tudo o que eu queria falar, tudo o que a minha comunidade queria conversar, sem depender de nada, nem de ninguém. Convidei o Pedro e o James (roteiristas) que são dois profundos conhecedores de tudo relativo à África, à história do negro, enfim, do pensamento afro. Aí eu peguei todas essas pautas, coloquei no Instagram e comecei a navegar nesse mar de possibilidades, que é falar das questões que de fato me cercam. A função da Carta Preta é transformar tudo em arte e fazer essa laranjada de possibilidades e reflexões. Cada trabalho

“Sempre tive o sonho de poder dividir com as crianças tudo o que eu aprendi, porque a sabedoria é a única coisa que ninguém pode tirar da gente”


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Jonathan Azevedo Terno: Alexandre Won Botas: Corcel Shop


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que nós arrumamos, tiramos um recurso que é diretamente pensado nas crianças e nos projetos sociais, para levar acesso e criar possibilidades. Eu acho que criando possibilidades e compartilhando sabedoria, fica mais fácil para todos viverem em harmonia. Como é ser empreendedor no Brasil? De que forma isso está relacionado com a sua carreira como ator? Para mim está sendo uma união de fatores, porque o meu artista era tão inquieto que não dormia, e empreendedor já não dorme mesmo... (risos). Eu estudei e pesquisei um pouco por fora essa questão do empreendedorismo. Eu sou muito apaixonado por empreender, porque empreender é dar oportunidade. Comecei a entender que o oposto do empreendedor é o escravocrata, então uma forma de lutar contra o escravocrata é dar possibilidades para um povo não viver como escravo de um outro. A Carta Preta veio para trazer um pensamento, uma filosofia, e também possibilidades de trabalho em um universo onde não há oportunidade para uma jovem negra ou um jovem negro alcançar o melhor lugar em uma empresa. Queremos trazer uma esperança não só no texto e na estética, mas também dentro da vida de cada um, na maneira de cada um lutar pelo seu espaço. Se para o Jonathan deu certo, pode dar certo pra qualquer um, basta acreditar e ter oportunidades. Você tem um filho, o Matheus Gabriel. Como a paternidade transformou a sua vida? Quais são os valores que você quer transmitir para o seu filho? Me fez olhar para o futuro e viver o presente. Eu quero um futuro melhor para o meu filho, mas ao mesmo tempo

eu tenho que estar presente. Quero transmitir a humildade, o respeito, afeto e compaixão. Tudo o que eu aprendi foi no dia a dia com meu pai e minha mãe, vendo as atitudes deles, que são pessoas generosas. Eu quero mostrar para o Matheus que o pai dele tenta ser generoso com todos. Tudo nessa vida é uma troca: ser generoso e receber generosidade, ser respeitoso e receber respeito. 2020 foi um ano fundamental para a luta contra a violência com pessoas negras, e o movimento Black Lives Matter ganhou o mundo. Você é engajado em movimentos dessa natureza? Como viu todo esse processo no Brasil e no mundo? Na verdade, essa luta sempre esteve presente. Com a pandemia, ela ganhou uma lupa que deu uma visibilidade maior. Descobri que sempre fui ativista, só não sabia onde os meus irmãos estavam lutando. Todos os momentos foram muito importantes. Teve muita gente que lutou antes para que esse momento chegasse. A escravidão não é uma discussão negra, é uma discussão do branco, foi criada pelo branco. Você começa a entender o ativismo quando tem acesso à sua história. A partir do momento em que a gente traz a verdadeira história do negro brasileiro, podemos despertar o ativista dentro de cada um de nós. De fato, é uma história muito mentirosa e muito mal contada. Mas é isso que faz a gente buscar cada vez mais estar sempre presente dentro de cada luta e das conquistas. Eu amo tudo isso que está acontecendo, mas vou amar mais quando pudermos levar mais educação para as crianças, pois tudo isso só se resolverá com educação e possibilidades. De que forma a arte e o humor podem ser aliados na luta contra o racismo?

“A função da Carta Preta é transformar tudo em arte e fazer essa laranjada de possibilidades e reflexões”


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Temos que trabalhar a nossa dor de uma forma que possamos olhar para ela e refleti-la dentro de nós. Não podemos dizer que estamos todos no mesmo barco, mas estamos todos no mesmo mar. E se o mar está violento até para quem está dentro do barco, imagine para quem está de canoa ou nadando sem boia. A questão é que estamos num mar onde ou nós vamos nos ajudar, ou nós vamos afundar. A função da arte e do artista é trazer uma reflexão ou outras possibilidades de sentimento. As narrativas estão sendo mais importantes nesse momento. Então, se eu puder escolher entre contar uma narrativa alegre ou algo que foi muito triste pra mim, eu prefiro a primeira opção, porque dor, cada um já carrega a sua. Como a arte entrou na sua vida? Na verdade, eu nunca pensei em ser ator. Eu queria ler livros, que era uma coisa que me deixava em paz. Eu tinha que arrumar algum curso para poder ter acesso aos livros. Escolhi fazer o curso de teatro na Spectaculu, Escola de Arte e Tecnologia, do Gringo Cardia e da Marisa Orth, no Rio de Janeiro, mais pelos livros do que pelo ofício. Quando eu fui fazer as primeiras aulas, um professor falou para mim que se eu não quisesse passar fome ou dificuldade na minha vida, eu não deveria sair do palco nunca mais. Foi a primeira vez que alguém olhou nos meus olhos e falou que eu tinha potencial de verdade para ser alguém na vida. E falei “caraca, tá aí uma coisa, eu vou estudar”. Depois vim para o Grupo Teatral Nós do Morro, no Vidigal. Terminado o segundo grau, fui fazer prova na faculdade, passei e ganhei bolsa de 100% para fazer Artes Cênicas. Passei quatro anos da minha vida vivendo só teatro. E foi aí que eu descobri o artista que eu era, o universo de

possibilidades e respeito que existia dentro de mim, porque ser artista é respeitar não só a sua vida, mas a vida dos outros, é ter empatia. Senão, não se chega ao sucesso. Foi isso que eu escolhi para a minha vida desde então e estou muito feliz com isso. O Sabiá foi um sucesso enorme e um marco na sua carreira. O que te levou a aceitar o papel? Como foi a construção do personagem e a que atribui o sucesso dele? Depois de eu ter feito mais de 300 milhões de bandidos, eu queria conhecer a Glória Perez. A construção do personagem foi um conjunto de todos eles. Nunca pensei em construir o Sabiá dentro desse universo do crime, da boca de fumo, mas pensei na essência desse personagem tão emblemático que é o dono do morro. A única coisa que eu enxerguei nele foram quatro pilares: ética, caráter, empatia e compaixão. Sempre considerava estes fatores quando entrava em cena, mesmo que eu fosse matar alguém. O sucesso foi decorrente do texto e da visão da Glória, que é muito além do que a gente pode imaginar, e de uma equipe realmente profissional, que me dava toda a estrutura para eu chegar lá e só construir. O elenco era um time perfeito, muito olho no olho, todo mundo se ajudando. Construímos um herói criminoso por ter empatia, caráter, ética e compaixão. Mudou a percepção do público nesses anos em relação a você e ao seu trabalho? Quando a novela acabou e o Brasil foi me conhecer fora do personagem, não acreditou que eu era aquele moleque calmo. Muitos acharam que eu era gay, porque queriam que eu fosse aquele cara que entrou na casa de todo mundo e cativou. Aí eu tive que começar um novo trabalho, do Jonathan, que também vai entrar na sua

“A partir do momento em que a gente traz a verdadeira história do negro brasileiro, podemos despertar o ativista dentro de cada um de nós”


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Jonathan Azevedo Terno: Hugo Boss Sandálias: Osklen


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Jonathan Azevedo Calça: Tommy Hilfiger Botas: Corcel Shop


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“Não tem como eu querer personagens com outra estética no universo negro se eu não estou escrevendo esse personagem”

Jonathan Azevedo Calça: Tommy Hilfiger


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Jonathan Azevedo Look: Isaac Silva Botas: Corcel Shop


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“Ser artista é respeitar não só a sua vida, mas a vida dos outros, é ter empatia”


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Jonathan Azevedo Macacão e blusa: Osklen Sapato: Hugo Boss


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casa e te cativar. Esse processo começou com a minha participação no Popstar e na Dança dos Famosos. A rede social e a Carta Preta também ajudam muito. Teve essa construção do Sabiá e agora tem a construção do Jonathan Azevedo. Hoje, que as pessoas já me conhecem como Jonathan, olham para o Sabiá e falam “caraca, aí na moral, aquilo dali é construir um personagem”. E eu fico muito feliz. Para muitas pessoas eu era daquele jeito, então parece que não deu trabalho nenhum fazer o Sabiá. Foi o que me deu mais trabalho de todos, mas isso não era visível, porque as pessoas não me conheciam. Agora que elas conhecem, as respostas são diferentes, sempre enaltecem a interpretação e não o bandidão. Antes era “caraca, o bandido mais foda da novela”. E agora é “caraca, de fato tem um ator bom pra caraca mesmo”. Eu ganhei aquele prêmio (Melhor Ator Revelação, Melhores do Ano 2017), mas na verdade o reconhecimento só está vindo agora. Você considera que os trabalhos hoje oferecidos a negros ainda são estereotipados? Isso existe e a Carta Preta vem para quebrar esse pensamento. Não tem como eu querer personagens com outra estética no universo negro se eu não estou escrevendo esse personagem. Muitas vezes, a pessoa que está escrevendo não está vivendo o que eu estou vivendo, não está vendo o que eu estou vendo. Eu tenho amigos negros muito bem sucedidos, advogados, médicos, amigas pretas donas de empresa. Se eu, Jonathan, que estou vendo e convivendo com eles não escrever para eles, não tem como outra pessoa escrever. Esse trabalho já está

sendo feito, mas não se muda todo um sistema construído em 500 anos em um ano. Nós negros também ainda estamos assimilando esse processo, trabalhando e nos unindo. Você já afirmou que é um machista em desconstrução. Pode explicar melhor? Quando eu comecei a quarentena, eu conversava com diversas meninas, tenho muitas amigas. Mas ouvir é diferente de escutar. Hoje, eu ouço e escuto. Tive acesso ao livro Quem Tem Medo do Feminismo Negro, da Djamila Ribeiro, e passei a me questionar até sobre o jeito que eu olho para a minha mãe. Eu sempre a valorizei, mas não dei o devido valor por todos os anos que ela ficou aturando isso que o Brasil faz com a mulher preta. No meio educacional, não faziam a gente olhar para a mulher como sendo livre, para poder ser o que quiser. Muitos da nossa geração continuam acreditando que o lugar da mulher é na cozinha. Como desconstruir o preconceito com o negro? Talvez vendo que o lugar do negro nem sempre vai ser carregando alguma coisa para você. A desconstrução do machismo é de fato olhar para a mulher não só com mais carinho e cuidado, mas com mais liberdade para ela ser o que quiser. Gostar da mulher pelo intelecto dela, gostar porque ela é mais capaz do que você. Homem é sensível e chora? O que te emociona? Muito! Homem é sensível e chora. Choro bastante, fico até triste quando não choro. Vou chorando de pouquinho para não inundar a casa. A vida me emociona, parar e sentir o agora. Se você puder falar para uma pessoa que você a ama,

“Hoje, que as pessoas já me conhecem como Jonathan, olham para o Sabiá e falam ‘caraca, aí na moral, aquilo dali é construir um personagem’”


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Jonathan Azevedo Calça e blusa: Misci Sandália: Ugg


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“Eu não tenho preconceito nenhum com a moda. Ela me deixa falar para cada um ‘seja o que você é e seja feliz’”


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Jonathan Azevedo Look: Isaac Silva


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você tem que dizer agora. Se tiver a oportunidade de perdoar alguém, a hora é agora. Se tiver vontade de mergulhar no mar, agora é a hora. A vida é agora e ela só depende de você, isso é o que mais me emociona. Família não me emociona, me derrete. É tudo na minha vida, minha base, minha alma. Como é a sua relação com a moda? Ainda existe preconceito em relação à forma como o homem deve se vestir? Eu não tenho preconceito nenhum com a moda. Eu visto tudo e crio dentro de mim um personagem que, junto com aquela estética, quer levar autoestima. Eu também tenho essa preocupação no palco, mas a moda me deixa falar para cada um “seja o que você é e seja feliz”. Essa liberdade de poder vestir qualquer roupa, não importa se é saia ou uma calça jeans, se é azul ou rosa, e poder levar isso para o mundo. A moda é o lugar onde eu posso fazer você acreditar que você não só pode vestir o que quiser, mas pode ser o que quiser e onde quiser, basta respeitar o espaço dos outros. Você é um leitor voraz, que gosta de filosofia e tem o hábito de ler grandes filósofos. Como despertou esse interesse? No começo, eu gostava de ler Paulo Coelho e gostava muito de filosofia, então eu lia Aristóteles, Sócrates, Platão, Nietzsche, Pitágoras... Até eu descobrir a história afro-brasileira, quando uma pessoa me falou que a história da Princesa Isabel não era bem assim. Aí eu comecei a ler Laurentino Gomes, Djamila Ribeiro, Ana Maria Gonçalves, entrei nesse universo da escrita preta e daí eu não saio mais. Para uma pessoa apaixonada por

Styling

Milton Castanheira

Assistente de Styling Paulo Bernardo

Make up Liege

Produção

Camila Battistetti

Tratamento de Imagens Fujoka

filosofia como eu, é muito louco pensar que estou vivendo na mesma época que esses pensadores e de outros tantos como Mano Brown, Djonga e Sabotage. Esses dias eu estava lendo Crime e Castigo, de Dostoiévski. As pessoas olham para mim e falam “negrão, você lê Dostoiévski?” (risos). Crime e Castigo beira a perfeição e é um universo que eu gosto de desbravar. Dizem que a Grécia é o berço da filosofia, mas eu acho que é a favela. Nós temos uma arte de sobreviver, porque são poucos os pretos que sabem o que é viver. E isso tudo está dentro da nossa filosofia e que logo embarca para nossa literatura com Machado de Assis e diversos outros autores, mas vem também no samba de Cartola, de Pixinguinha, de Dona Ivone Lara, e até hoje resiste com o hip hop e com o rap. Se você pensa, logo existe, você também está filosofando. Todo mundo pode filosofar, mas nem toda filosofia é colocada em prática. Precisamos sair da caverna do Platão e achar uma luz. O Brasil ainda não apresentou essa filosofia para o povo preto, mas o povo preto está mostrando muitas filosofias de como nós podemos viver bem e unidos.

HÁ 10 ANOS Eu era: mais magro Eu sabia: que eu ia chegar Eu fazia: merda Eu sonhava: dormindo HOJE Eu sou: muito mais gostoso Eu sei: que eu vou além Eu faço: besteira Eu sonho: acordado


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Em sentido horário, a partir da seta: Jonathan Azevedo usa o seu Instagram como ferramenta para lutar contra injustiças e preconceitos; o artista se refresca em sua casa no morro do Vidigal; com as atrizes Juliana Paes e Hylka Maria, nas gravações da novela A Força do Querer; com seu filho Matheus Gabriel; no quadro Dança dos Famosos, ao lado de sua professora Tati Scarletti.


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Miro: a arte de fotografar LENDA DA FOTOGRAFIA NACIONAL, MIRO TRAZ UMA BAGAGEM DE MAIS DE 45 ANOS DE CARREIRA, COM UMA DESTACADA COLABORAÇÃO COM O MUNDO TOP Por Vivian Monicci fotos Miro

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“É através da fotografia que eu vejo o mundo e tento entender, interpretar e dividir minhas emoções”

Michelle Sampaio Edição 216

O que é preciso para transformar uma simples fotografia em uma obra de arte? Sem dúvida, o olhar sensível e apurado do fotógrafo que está por trás do clique. Ele é o grande responsável por eternizar momentos, pessoas e, por que não, determinado período da história da humanidade. “É através da fotografia que eu vejo o mundo e tento entender, interpretar e dividir minhas emoções”, explica Miro, que há 45 anos deixa a sua marca na história da fotografia nacional. E quem é Miro? “Me considero uma pessoa centrada e dedicada ao meu trabalho. Acredito no que faço e já sacrifiquei muita coisa por isso. Não consigo ver uma separação entre o Miro pessoa e o profissional. Sou um sonhador e isso serve para os dois lados.” Nascido no município paulista de Bebedouro, veio para São Paulo com 18 anos para estudar publicidade e arranjar um emprego. Mas, para nossa sorte, quis o destino que a fotografia cruzasse o seu caminho. Seu primeiro trabalho profissional como fotógrafo foi um anúncio da Tabacow para a agência Proeme, em 1974. Dois anos depois, mudou-se para Paris, onde realizou vários editoriais paras revistas do Brasil e do exterior, como Elle, Vogue e Marie Claire. “Trabalhando fora, senti uma maior liberdade criativa. Mas, hoje em dia, com o atual politicamente correto ao extremo, as imposições estéticas, o medo de errar e a celeridade imposta pelos novos tempos da internet, acredito que tanto nos editoriais como na publicidade, tudo está igualmente engessado. O mais ou menos virou ótimo”, reflete o fotógrafo, de olho nos novos tempos que estamos vivendo em meio à pandemia. “O mundo hoje está um caos. Está muito difícil trabalhar sem uma interação pessoal. Com toda esta reviravolta, a fotografia irá, com certeza, mudar daqui para a frente”, acrescenta. A parceria de Miro com o Mundo TOP começou há três anos, quando encontrou, por mais uma obra do destino, nosso Publisher, Claudio Mello. “Foi em uma ocasião em que eu estava com o Washington Olivetto em uma reunião do Bradesco. Ficamos de nos falar, mas o tempo passou e só há três anos nossa parceria se concretizou. Para minha felicidade, pois ele é um grande parceiro.” De lá para cá, fotografou para a TOP Magazine o seu primeiro ensaio sensual e recheou nossas revistas com imagens impecáveis. Além, claro, de ser o responsável por retratos de capas inesquecíveis como Fábio Assunção, Xuxa, Neymar Jr., Léo Santana, Juliana Paes, Agatha Moreira, Simone e Simaria, Paloma Bernardi e Jonathan Azevedo. “Não sou especialmente um retratista, mas trabalhando em editoriais de moda para revistas acabei fazendo vários retratos. E é um trabalho que me dá prazer. É sempre gratificante enxergar e decifrar o outro.” Mas, afinal, o que é preciso para tirar uma foto excelente? “Em uma foto externa, é preciso que a sintonia da produção e da modelo esteja sincronizada para acontecer na luz ‘certa’, que pode durar alguns minutos apenas. No estúdio é mais tranquilo, pois tenho o controle da luz, então esta sintonia deve acontecer entre o fotógrafo e o fotografado.” E qual é o fotografado que ainda não teve a oportunidade de clicar? “Ney Matogrosso, pois tenho a maior admiração por ele como artista, pela sua transgressão desde a época dos Secos e Molhados. Infelizmente, nunca cruzamos nossos caminhos.” Aos 72 anos de idade, Miro revela que sempre procura absorver tudo: pintura, cinema, viagens, andar pelas ruas. “Tudo isso são fontes de conhecimento. Na área da fotografia, especificamente, tenho como referências fotógrafos como Richard Avedon, Irving Penn, Sarah Moon, Peter Lindbergh, August Sander.”


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Neymar Jr.


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Fabio Assunção Edição 230


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Gabi Lopes


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Simone e Simaria Edição 244

Destaque em sua carreira foi o lançamento de seu livro Miro - Artesão da Luz, em 2010, pela Luste Editores. “O grande mérito do livro é do Fujocka e da mulher dele, Luciana. Que, com muita persistência e dedicação, conseguiram entrar nos meus arquivos bagunçados e nos da Lu Franciscone, da Renner, que patrocinou a empreitada. É um pequeno pedaço da minha vida como fotógrafo.” Ainda mais marcante, foi a passagem de seus 45 anos de carreira, celebrados em 2020 com a exposição Outros Retratos em Branco e Preto, com imagens dos anos 1970 e 1980. “Pessoal e profissionalmente, foi um presente o Houssein Jarouche ter me escolhido para fazer parte da sua galeria e ainda ganhar uma apresentação feita pelo meu amigo de tantos anos, Washington Olivetto. E foi do brilhante texto dele que nasceu o nome da exposição. Ela já estava montada e, dias antes da distribuição dos convites, teve início o confinamento. Adiamos um tempo até que o Jarouche, brilhantemente, fez um convite virtual e inovou com a distribuição de óculos 3D com QR Code, tornando possível visitar virtualmente a exposição. Mais tarde, as visitas foram agendadas com hora marcada. Essa sacada genial gerou mais curiosidade, o que fez com que a exposição fosse prorrogada por mais um mês.” Nessas quatro décadas e meia de muito sucesso, Miro destaca alguns trabalhos memoráveis: “Em publicidade, a foto da campanha da Smirnoff, criação do Rodolfo Vanni. Várias campanhas da W/Brasil, como por exemplo, a do perfume Insensatez, para O Boticário; campanhas da Talent, como Bonita Camisa Fernandinho, para a USTop; e da DPZT, para o Banco Itaú. Em editorial, destaco minha longa parceria com a jornalista Regina Guerreiro, em duas matérias marcantes, O Circo e Israel.” E o que Miro vislumbra para o futuro? “Espero ter futuro na vida como fotógrafo.”

“Me considero uma pessoa centrada e dedicada ao meu trabalho. Acredito no que faço e já sacrifiquei muita coisa por isso. Sou um sonhador”


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Léo Santana Edição 241


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As cores da Ásia DESCUBRA OS ENCANTOS DE MYANMAR, PAÍS QUE REVELA UM PATRIMÔNIO PRECIOSO PARA O MUNDO Texto e fotos Érico Hiller

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Um país múltiplo: eis uma maneira de explicar a maior nação do Sudeste Asiático, que tem mais de 53 milhões de habitantes espalhados por um território cujo tamanho é a soma das áreas da Alemanha e da Itália. A duplicidade começa pelo nome: Mianmá ou Myanmar para alguns. Birmânia ou Burma, pelo menos para os Estados Unidos, a Inglaterra e a Austrália — entre outros países que não aceitaram a adoção do novo nome, decidida por um dos muitos generais que governam o país desde sua independência dos ingleses, em 1948. Um lugar de natureza luxuriante e povos diversos, que falam muitas línguas e rezam para muitos deuses. Myanmar também é variada por sua história. Pertenceu à Índia por muitos séculos (só em 1932 os ingleses deram-lhe autonomia); tem origens ligadas ao budismo, parte da população é muçulmana, parte hinduísta — uma verdadeira salada asiática, no melhor sentido que esse termo pode ter. Há muito a ver, estranhar e com que se surpreender em Myanmar. Para começar, quase tudo tem dois nomes: a antiga capital chamava-se Rangoon e agora é Yangon. A mesma lógica se aplica a quase todos os nomes locais. Com o tempo, os nomes antigos tendem a desaparecer. Yangon (fiquemos com esse) foi a capital do país até 2005. Uma cidade estranha, onde as ruas têm buracos para orgulhar nossos governantes: são enormes, quase todos inundados e ninguém toma providência. A bagunça no trânsito é ainda maior, porque, depois de décadas de mão inglesa, o governo decidiu mudar para a mão francesa. Como quase todos os carros e ônibus têm o volante à moda inglesa, é fácil imaginar a confusão.

No sentido horário: Meditação na Pagoda Shwedagon, a maior do país com 90 toneladas de ouro; monge novato estuda em templo

O país tem grande variedade de povos, religiões e hábitos culturais


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Os 2200 templos de Bagan são uma das maravilhas do mundo. E podem ser apreciados de balão


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Os homens usam uma espécie de saia, chamada longui. Não se trata de mostrar a cor do clã, como na Escócia, mas de refrescar-se do tórrido calor da região. Três tesouros chamam a atenção. O centro, todo erguido com arquitetura inglesa, é até preservado. O Pagode Shwedagon é outra atração: são 90 toneladas de ouro que guardam algumas relíquias atribuídas a Buda. Mas o mais surpreendente — e incomum na região — é a paixão dos birmaneses pela leitura. Há centenas de lojas de livros usados que passam de mão em mão, na falta de produção mais recente. Os homens de Myanmar têm, em sua maioria, o rosto pintado. Não, não se trata de maquiagem. O produto que dá a cor à face é uma pasta de tanaka, um tipo de árvore local. Serve para proteger do sol, embora muitos locais aproveitem para fazer desenhos em seus rostos. A maior atração turística do país é o complexo de templos budistas de Bagan. Redescoberto, hoje ele é citado como uma das maiores atrações do mundo. Um único vale que contém 2.200 templos (pagodes), erguidos no século 11. É obrigatório visitar, porque a região também é muito bonita. Outro lugar para o qual você deve ir é Mandalay, outra antiga capital do país. Não deixe de ver a ponte de U Bein, toda feita de madeira sobre o Rio Irauádi. E, certamente, é necessário visitar o monumental templo de Mingun, que hoje é apenas uma parte do que foi a maior concentração de tijolos do mundo — e que perdeu grande parte de sua estrutura em um terremoto.

Costumes abandonados em outras partes da Ásia ainda podem ser vistos em Myanmar

As ruínas de Mingun Paya, em Mandalay


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Os birmaneses são os melhores produtores de laca em todo o planeta, apesar da concorrência da China e da Índia. Mas não é isso que os sustenta. O país produz borracha, petróleo e gás. Quase 70% de sua economia é proveniente do setor primário. Sabe-se, porém, que é o ópio, plantado como papoula e produzido em grande escala nas regiões montanhosas, o responsável por grande parte do dinheiro circulante na região. Falando em dinheiro, se você é colecionador de moedas, não vai ser fácil encontrá-las. A inflação que afligiu o país tornou-as desnecessárias. Para se ter uma ideia, um dólar vale quase 1400 kyats. Imagine o valor das antigas pias, que eram moedas em centavos. Por enquanto, só os mais aventureiros visitam o país, embora já existam resorts chiques como o Pristine Lotus Spa Resort, às margens do Lago Inie. Nesse lago pratica-se uma forma curiosa de pesca. Para poder dar atenção completa ao trabalho, os pescadores remam, habilidosamente, com um de seus pés. Mas vá com calma: para compensar o atraso, a semana birmanesa tem um dia a mais que a nossa. Na verdade, é a quarta-feira que se divide em dois dias. Na prática, é a mesma coisa. Mas, na teoria, é bom que pareça mais tempo para explorar.

Há muito ouro no lugar e ele é usado sem economia nos templos budistas


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Na pág. ao lado: Tecelãs da tribo Kayan Lahwi. Nessa pág., no sentido horário: Típica mulher fuma um cigarro de cheroot, visitantes colam folhas de ouro na estátua do Buda, no Templo Mahamuni Buddha


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Um Ferrari de dez milhões de euros A INCRÍVEL SAGA DE UM BARCHETTA VIGNALE, QUE COMEÇOU SUA VIDA EM PORTUGAL, EM 1952, PERDEU-SE PELO BRASIL E REAPARECEU NO ENCONTRO DE ARAXÁ Por Josias Silveira Fotos Andreas Heiniger

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A história deste Ferrari 225 Barchetta Vignale 1952 se perde nas brumas do tempo e na rota Brasil-Portugal. Mais de seis décadas se passaram até o Barchetta ganhar o prêmio Hors Concours no encontro de antigos de Araxá 2014. Ou seja, no Brasil simplesmente não existem competidores para o Ferrari 225. Tudo começou em Portugal, muito tempo antes desse carro italiano de competição se tornar um “Barn Find”, uma categoria criada pelos norte-americanos para carros antigos e raros achados em celeiros depois de décadas desaparecidos. Nos anos 1950, pilotos portugueses vinham para o Brasil para competir, traziam seus carros e eles acabavam ficando por aqui (veja boxe). Este Barchetta começou sua história importado da Itália para Portugal, junto com outros Ferrari 225 S. Faziam parte da equipe CSC (Covilhã, Sameiro e Casimiro), montada pelo Conde de Covilhã, o português Julio Anahory de Quental Calheiros. Os carros eram amarelos, usavam pneus especiais Mabor e competiram lá pela Terrinha. No final de 1953, o Barchetta com chassi 0180ET foi comprado pelo brasileiro Sérgio Bernardes, famoso arquiteto apaixonado por motores e velocidade.


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Sérgio — que inclusive trabalhou com Oscar Niemeyer em vários projetos — correu o circuito do Maracanã no Rio (em abril de 1954) e também participou com o Barchetta de corridas em Portugal, além de usar o Ferrari no dia a dia. Na corrida carioca, Sérgio usava o número 77 nas portas, e ganhou o primeiro lugar na categoria, sendo segundo na geral. De 1954 até 1971, quando foi reencontrado, a história deste Ferrari fica ofuscada pelo tempo. Passou por vários donos, perdeu o motor original, mas continuou pelo Rio de Janeiro. Ao contrário da maioria dos Ferrari, o Barchetta Vignale não é um esportivo de luxo. É um carro simples, quase rústico, feito para as pistas de corrida, e não para as ruas. Ou seja, um modelo de pequena série, fabricado artesanalmente, exclusivo para competições, mais raro que os Ferrari convencionais. Depois de décadas praticamente perdido, em 1971 foi reencontrado no Rio e comprado pelo colecionador paulista Flávio Marx, só que estava em mau estado, ainda sem motor, faltando detalhes... A partir daí, boa parte da história é contada por Maurício Augusto Marx, filho

Ferrari 225 veio de Portugal e ficou perdido no Brasil por décadas. Foi recuperado na fábrica em Modena, e agora vale milhões de euros


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de Flávio. Seu pai achou o Ferrari numa pequena oficina ao lado de um posto de gasolina e o trouxe para São Paulo. Junto com dezenas de outros carros, o Barchetta esperou restauração por muitos anos, o que nunca aconteceu. Flávio faleceu em 1999. No início dos anos 2000, foi vendido pela família Marx e havia boatos de que estaria fora do Brasil. Não era verdade. O Barchetta 225 estava nas mãos de outro colecionador paulista, e foi parcialmente restaurado. Finalmente, em 2008, o Ferrari ressurgiu exatamente no encontro de Araxá, ainda sem motor. Havia inclusive dúvidas sobre sua autenticidade. O Barchetta agora estava nas mãos de outro paulista, seu dono atual, que contatou a fábrica da Ferrari na Itália, já que teriam sido fabricados apenas oito destes Ferrari de competição. Segundo algumas fontes, seriam um pouco mais de 20, incluindo o modelo berlineta. A Ferrari acabou mandando um engenheiro vistoriar o carro no Brasil, pois existiam pouquíssimas unidades preservadas (falam-se em quatro), todas catalogadas na Europa ou nos Estados Unidos. Não havia registro de mais um Barchetta, ainda mais perdido na América do Sul.


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O engenheiro italiano veio ao Brasil e, emocionado, constatou a originalidade do raro Ferrari perdido. O 225 Vignale (nome do carrozziere, ou encarroçador, Alfredo Vignale) acabou indo para Modena, na Itália, onde ganhou finalmente um motor igual ao original. Trata-se de um V-12 de apenas 2,7 litros, que rende invejáveis 210 cv, com comando de válvulas único por cabeçote e três carburadores duplos. A restauração foi feita no Classic Center da própria Ferrari, que usa funcionários aposentados para o longo e caro trabalho. Ninguém exibe cifras, mas em Araxá falava-se em um milhão de euros só na restauração. Não deve estar longe da verdade: restaurar um carro na própria Ferrari não é exatamente uma pechincha. A história do Ferrari perdido no Brasil correu o mundo e colecionadores teriam feito ofertas multimilionárias pela raridade ainda durante o trabalho na fábrica italiana. Mais uma vez ninguém confirma valores, mas no encontro mineiro falava-se de uma oferta de um museu de Dubai, de dez milhões de euros. No entanto, seu dono preferiu que ele continuasse no Brasil, desta vez devidamente encontrado, autenticado por uma restauração na própria fábrica da Ferrari. Segundo vários especialistas, agora são cinco Barchetta Vignale 225 no mundo, e um deles está no Brasil.

Volante em madeira com o Cavallino Rampante, motor V-12, rodas raiadas... todos os detalhes voltaram a ser como nos anos 1950


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MENINOS, EU VI! Por Bob Sharp O que ocorreu com este Ferrari 225 — vir correr aqui e ficar — era bastante comum nos anos 1950. Vários Ferrari vieram para o Brasil. O famoso piloto português Vasco Sameiro fora convidado, junto com outros estrangeiros, pelo Automóvel Club do Brasil, organizador do XIII Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro de 1953, a tomar parte na prova em 4 de janeiro de 1954. O local era o Circuito da Gávea, onde aconteciam corridas desde 1933. Sameiro veio com outro Ferrari 225 Barchetta Vignale. O circuito de rua era majestoso: 11.160 metros percorrendo os bairros cariocas Gávea e Leblon, indo junto ao mar pela Avenida Niemeyer e depois por um belo trecho de serra — subida e descida —, hoje tomado quase totalmente pela Favela da Rocinha. No alto da serra tinha-se uma visão total da Lagoa Rodrigo de Freitas. Parecia que se estava em um trampolim, por isso o circuito há anos fora apelidado de “Trampolim do Diabo”. Boa parte do circuito era em ruas de paralelepípedo com trilhos de bonde, caso da Rua Marquês de São Vicente, onde se encontra a Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Aquela seria a última Gávea...


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O que ocorreu com este Ferrari 225 — vir correr aqui e ficar — era bastante comum nos anos 1950. Vários Ferrari vieram para o Brasil.


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Segundo o livro Circuito da Gávea, de Paulo Scali (Tempo&Memória, 2001, São Paulo), durante a corrida o português Vasco Sameiro vinha em terceiro, chovia, e na 22ª das 30 voltas da prova o Ferrari derrapou numa aproximação de curva na rua Marquês de São Vicente. Acabou batendo num poste. Felizmente, o choque não foi em alta velocidade, e ele apenas sofreu um pequeno corte no supercílio. Mas o Ferrari ficou bem danificado na dianteira, embora aparentemente sem atingir o motor V-12. A casa onde eu morava com a família ficava numa transversal da Marquês de São Vicente, a Rua Piratininga, e eu logicamente assistia à corrida, tendo presenciado a batida de Sameiro. Ele estava bastante nervoso, afinal, já tinha 48 anos de idade, e perguntou repetidas vezes aos populares à sua volta, eu entre eles, como estava a sua vista. Eu tinha apenas 11 anos, recém-completados. A prova foi vencida por um Maserati 2000 pilotado por um suíço, o Barão Emmanuel de Graffenried, seguido de quatro Ferrari: o do italiano Giulio Musitelli, o de Chico Landi, o do português Fernando de Mascarenhas e o de outro brasileiro, Annuar de Goes. Alguns dizem que esse carro teria sido vendido a Mário Valentim, de São Paulo, e numa corrida em Interlagos em 1957 capotou bem em frente aos antigos boxes que ficavam logo depois da Curva do Café, mas sem gravidade. Eu também estava lá, pois vinha muito a São Paulo para assistir a competições no autódromo paulistano, então o único do Brasil. Depois desse episódio, nunca mais descobri o paradeiro desse Barchetta.


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Rio adentro

A CANOAGEM ENVOLVE TÉCNICA, CORAGEM, COMPANHEIRISMO E, PRINCIPALMENTE, RESPEITO À NATUREZA Texto e fotos Feco Hamburger Edição Claudia Berkhout

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A imagem de um rio serve às mais diversas metáforas, provérbios e comparações com nosso dia a dia. Há várias razões para isso, como a conexão com o tempo que não volta, a mudança corrente em nossas vidas, a alternância de momentos tranquilos e turbulentos, quedas e remansos. Mesmo assim, é difícil evitar o encantamento com o poderoso fluxo de água que podemos encontrar na natureza. Ainda mais se a água for limpa. Em tempos em que enfrentamos situação crítica em relação à água do planeta, o crescente interesse pela canoagem não se dá por acaso. Também não deixa de ser curioso que as regiões de Extrema e Socorro sejam pontos altos para os praticantes do esporte. Na realização desta matéria, numa espécie de expedição, fomos literalmente rio adentro acompanhar um grupo de profissionais para compreender um pouco mais dessa prática que envolve técnica, coragem, companheirismo e, principalmente, respeito à natureza. Uma bela estrada de terra acompanha o Rio Jaguari entre as cidades de Camanducaia e Extrema, em Minas Gerais. Suas águas abastecem o sistema Cantareira e servem de palco para os praticantes da canoagem. Ali, no Bar do Régis, espécie de base informal para aqueles que se aventuram pela natureza local, encontramos uma turma de especialistas: Caio, Luís Guida, Moisés, Tista e Leandro. Para nossa surpresa, um pequeno cão, o Hércules, não titubeou em acompanhar nossa expedição, ora correndo pelas margens, ora dentro do caiaque. Caio Moreno coleciona vários títulos de campeão brasileiro e panamericano em diversas modalidades da canoagem e já participou de diversas experiências internacionais. Diz ele com a simplicidade de quem conhece o assunto: “A canoagem é onde me sinto à vontade, onde esqueço os problemas e renovo todas as energias. Assim eu não curto a natureza, eu faço parte dela...” Com traçado sinuoso, o Rio Jaguari oferece trechos tranquilos e corredeiras mais acentuadas até quedas bastante radicais. Usando um termo bastante difundido no surfe, tivemos o privilégio de conhecer o Rio Jaguari em um dia épico. As chuvas do verão, além de aliviar o sistema hídrico, aumentaram o grau de dificuldade técnica da canoagem, e nosso time aproveitou a ocasião. Se numa primeira impressão a canoagem pode parecer um esporte individual e solitário, o que aprendemos com essa turma é o oposto: a segurança de cada um depende da confiança total no outro e na prontidão em tomar medidas radicais de apoio e socorro. Além, é claro, de discutir os melhores trajetos, ajudar a carregar o equipamento morro acima e celebrar as manobras bem-sucedidas. Luiz Guida, também conhecido por Animal, é tetracampeão brasileiro de stand-up paddle e educador físico. Companheiro frequente do Caio nas descidas, valoriza os momentos de conexão com a natureza e a

“É onde esqueço os problemas e renovo as energias. Assim eu não curto a natureza, eu faço parte dela...” – Caio Moreno


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concentração no que vem pela frente: “Na corredeira, a cada trecho percorrido preciso focar no que vem adiante, em como negociar a passagem, com escolhas e reflexos rápidos em concentração total. Caiaque representa liberdade, diversão, desafios e muita adrenalina”. Em nossa aventura, Leandro Ramos fez a segurança dos canoístas e do fotógrafo que vos escreve. Pronto para agir rapidamente, com cordas e boias, Leandro, natural de Camanducaia e experiente guia de turismo e de esportes radicais, é um praticante entusiasta da canoagem. Moisés Crescente e Tista Dourado, respectivamente diretor e coordenador da Radix, empresa de passeios e aventura sediada em Extrema, são grandes conhecedores do Rio Jaguari. “O Caiaque é a busca contínua de uma sinergia entre o querer, o poder e a conquista. A cada dia uma descida diferente com uma sensação diferente”, diz Moisés. Além de promover passeios em estilo família, são os primeiros a desafiar as passagens mais radicais, batizadas com nomes bastante sugestivos. O Expresso impressiona pela quantidade e velocidade da água em um desnível considerável de alguns metros. Já o Salto Grande é o ápice de nossa expedição. Equivalente a um prédio de cinco andares, seus 15 m de altura, numa queda só, separam os praticantes dos profissionais, para não dizer os sensatos dos insanos. Ao final da descida, todos ali, inteiros e a salvo, concordam que a chave fundamental para percorrer essa estrada fluida e dinâmica está em avaliar e escolher o melhor caminho, a chamada linha, além de ter coragem e jogo de cintura para reagir ao imprevisto. Uma descrição da canoagem que carrega evidente semelhança com nossas vidas.

Avaliar e escolher o melhor caminho é a chave para percorrer essa estrada fluida e dinâmica


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Agradecimentos

Caio Moreno e radixaventura.com.br Assistente de foto Giovana Lyra


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Os 15 m do Salto Grande separam os praticantes dos profissionais, para não dizer os sensatos dos insanos


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