TOP Magazine Edição 254

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Fernanda Gentil

pessoas / o lado bom da vida com fernanda gentil / lifestyle / moab, o hotpoint dos esportes radicais / o encontro com os gorilas gigantes de uganda / novo range rover velar: vigor, potência e agilidade / paraquedismo: voar é possível / ensaio / os primórdios das corridas automobilísticas / divas e carros, sempre um final feliz

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Sumário 12

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Sumário 22

ENSAIO

LIFESTYLE

PESSOAS

Fernanda Gentil Fernanda Gentil conta, com exclusividade para TOP Magazine, sobre os desafios de enfrentar a pandemia, do novo Se Joga, da vida em família e dá uma aula de alto astral.

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Moab

Lançamento

Montanha dos Gorilas

Paraquedismo

No estado de Utah, em um cenário dos clássicos faroestes americanos, Moab é destaque entre aficionados por esportes radicais.

Range Rover Velar desembarca no Brasil em duas versões que esbanjam potência, elegância, agilidade e o luxo que é peculiar à marca.

O emocionante encontro com os primatas gigantes em Uganda.

Por dentro da rotina de três paraquedistas profissionais em saltos de tirar o fôlego.

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Vintage

Divas

Os primórdios das corridas automobilísticas são o mote de um ensaio fotográfico vintage.

Divas e carros, o duo perfeito da sedução.

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Mundo TOP A exclusiva LV Bike, um champagne que é uma verdadeira joia, São Paulo nas alturas e mais novidades em moda, beleza, séries e lifestyle.

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Colaboradores

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Quem Fez Glin +Mira Os fotógrafos de moda e publicidade Fabiano Battaglin e Camila Mira juntaram as câmeras em 2019, e assim surgiu o GLIN+MIRA. A dupla, que também é um casal, traz dois olhares artísticos distintos, mas que se complementam harmoniosamente. instagram: @glin.mira

Bob Sharp Carioca, mas radicado em São Paulo, é um misto de jornalista, técnico e piloto, além de ser formado em Construção de Motores e Máquinas. Atua na imprensa automobilística desde 1973, e já trabalhou na Fiat, Volkswagen, General Motors e Embraer, nas duas primeiras em área técnica e nas duas últimas como gerente de imprensa. Atualmente trabalha para revistas do Brasil e do exterior e é editor do site Autoentusiastas.

Renata Castro e Sandy Topfer Renata Castro é formada em design de moda no Senai e pós-graduada em modelagem do vestuário. Atua na área de figurino e produção de moda. Sandy Menasce Topfer é formada em Produção de Moda na Universidade Anhembi Morumbi. Atua na área de figurino em programas de entretenimento e em publicidades.

Bill Phelps Nascido em Minnesota, EUA, o fotógrafo já emprestou seus talentos para renomadas publicações como Vogue Itália, Marie Claire França, Condé Nast Traveller do Reino Unido, The New York Times Magazine, Fortune e Interview. É detentor de um prêmio IPA Lucie e de um Grande Prêmio de Retratos da World Press. Phelps também é co-designer, construtor e proprietário do Cafe Moto em Williamsburg, Brooklyn.

Mauro Chwarts O pernambucano viajou tanto pelo mundo que se tornou guia e, mais tarde, proprietário da Highland Adventures, uma operadora de destinos exóticos. Nesta edição, ele conta sua experiência na Montanha dos Gorilas.


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Publisher Claudio Mello Secretária Executiva Carolina Kawamura TOP Magazine | Studio Mundo TOP Editoras: Renata Zanoni e Vivian Monicci Editora convidada: Nathalia Hein Diretora de Arte: Rosana Pereira Assistente de Produção e de Mídias Digitais: Diego Almeida Projeto Gráfico Marcus Sulzbacher Lilia Quinaud Paulo Altieri Fabiana Falcão Colaboradores Texto Bob Sharp, Claudia Berkhout, Doris Bicudo, Feco Hamburger, Mauro Chwarts, Roberto Marks Foto Bill Phelps, Feco Hamburger, Glin + Mira, Gustavo Zylbersztajn, Pat Beck Editora Todas as Culturas Diretor de Criação: Lucas Buled Gerência de Relacionamento: Carolina Alves Produção Executiva: Camila Battistetti RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes Financeiro: Marcela Valente Circulação: Regiane Sampaio Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados Pré-Impressão: Centrografica Editora & Gráfica Ltda Distribuição: Dinap S.A. TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - Cep 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074 7979 As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados. /topmagazineonline

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Moda

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Mundo Top

UMA SELEÇÃO DE TUDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO ENTRE LIFESTYLE/ SÉRIES / MODA / BELE bike

Além das duas rodas Andar por Paris nunca foi tão chique Apaixonados pelos universos das bicicletas e do luxo não precisam mais abrir mão do estilo em seus passeios sobre duas rodas. Referências em seus segmentos e conhecidas pelo cuidado e primor nos detalhes, as parisienses Maison Tamboite – que desde 1912 leva às ruas da capital francesa o charme vintage e artesanal de suas bicicletas – e Louis Vuitton se unem para criar a exclusiva LV Bike. Feita à mão em aço esmaltado e cromado, o modelo é uma reformulação do clássico da Maison Tamboite Paris, com diversos elementos de design da Louis Vuitton, que levou sua expertise em couro para componentes como guidão, bagageiro e assento - que traz perfurado o icônico e desejado monograma da marca. Unindo o passado ao futuro, a madeira usada para os guarda-lamas divide lugar com luzes LED, sistema de transmissão de duas velocidades e até mesmo um rastreador. A bike-desejo está disponível nas cores vermelho, azul, amarelo e preto, e traz um opcional (e charmosíssimo) cestinho dianteiro. À venda exclusivamente sob encomenda nas lojas Louis Vuitton de todo o mundo, pelo preço de R$ 138.000 (sujeito à variação do dólar), possibilita que assento, guidão, rodas e bagageiro recebam uma placa que pode ser personalizada com as iniciais do proprietário. Mais informações: br.louisvuitton.com.


EZA E MAIS

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Moda

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Mundo Top bebida

Uma joia de champagne Bvlgari Serpenti x Dom Pérignon Rosé é edição limitada Um champagne envolto em um colar de diamantes é o resultado do encontro entre Bvlgari e Dom Pérignon. Limitada a apenas quatro unidades, Bvlgari Serpenti x Dom Pérignon Rosé estará disponível sob demanda a partir deste ano, em Londres, Milão e Tóquio. Especialmente para a parceria, o icônico colar Bvlgari Serpenti foi feito sob medida, personalizado em ouro rosa e combinado com diamantes brancos e ônix. Para homenagear a joia, a garrafa magnum de Dom Pérignon Rosé Vintage 2004 foi gravada com escamas de cobra e tem rótulo no mesmo tom de rosa. Temperado por uma lenta transformação durante quase 12 anos na adega, o champagne traz o tinto da uva Pinot Noir e aroma de frutas vermelhas frescas e intensas, complementadas por notas de feno maduro, laranja de sangue e cacau, e com pitada de cítricos verdes. Mais informações: domperignon.com.


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série

Santo Bruno Gagliasso faz sua estreia na Netflix Com gravações no Brasil e na Espanha, a série original espanhola Santo é o primeiro trabalho do ator Bruno Gagliasso com a gigante de streaming. Criada por Carlos López, a produção conta ainda com mais dois brasileiros: o diretor Vicente Amorim e o roteirista Gustavo Lipsztein. A história gira em torno de Santo, um narcotraficante cujo rosto nunca foi visto e que é investigado pelos policiais federais Ernesto Cardona (Bruno Gagliasso) e Miguel Millán (Raúl Arévalo). Radicalmente opostos, eles terão que aprender a colaborar um com o outro para resolver o caso e manter suas vidas seguras. A série policial é um thriller de intriga e de ação com algumas pitadas de terror. “Estou há mais de um ano dedicado a essa série, realizando encontros virtuais de leitura com elenco e diretores e também um mergulho profundo no perfil psicológico do meu personagem”, conta Bruno. Mais informações: netflix.com


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Moda

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Mundo Top nas alturas

Sampa Sky Caminhe sobre a cidade de São Paulo A terra da garoa vai ganhar um novo ponto turístico: Sampa Sky, uma plataforma de vidro que te permite caminhar sobre os arranha-céus. Localizada no 42º andar do Mirante do Vale, prédio mais alto de São Paulo, com 170 metros de altura, a atração tem inauguração prevista para o primeiro semestre desse ano e deve atrair turistas e moradores. Idealizado pelo chef André Berti, após visitar o Sky Deck em Chicago (EUA), o Sampa Sky terá dois decks de vidro retráteis, um voltado para o Sul e com vista do Vale do Anhangabaú

sobre o Viaduto Santa Efigênia, e outro para a Zona Leste, que fica sobre a Av. Prestes Maia. Com total de 700 m2, o espaço terá, ainda, um café logo na entrada do andar e poderá ser usado também para eventos corporativos e sociais. Mais informações: @sampasky

chuteira

Golaço nos pés Puma apresenta a nova chuteira de Neymar Jr. Em tons vibrantes de azul e rosa, a FUTURE Z 1.1 Creativity será usada com exclusividade pelo craque do PSG e da Seleção Brasileira, que é embaixador da marca. Mas ela também pode ser sua, já que está à venda no site da Puma por R$1.099,90. Sua faixa de compressão FuzionFit+ se adapta ao pé e garante ajuste e encaixe perfeitos. Além disso, o solado externo conta com a tecnologia Dynamic Motion System e o cabedal tem revestimento GripControl Pro, que permite maior controle da bola. Mais informações: br.puma.com.


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ação

Um amanhã mais feliz Lancôme lança seu programa de sustentabilidade

De olho na crítica situação ambiental do nosso planeta, a Lancôme lança o seu programa de sustentabilidade global “Caring Together for a Happier Tomorrow”, que

estabelece o conjunto de ambições da marca em relação a sustentabilidade e inclusão social. A transformação acontecerá por meio de três pilares. O primeiro, “Bring the World to Bloom”, tem como objetivo proteger a biodiversidade, reduzindo o impacto da marca através de práticas agrícolas regenerativas, química verde e biotecnologia, e do uso de materiais recicláveis nas embalagens. O segundo, “Live Responsibly”, capacita os consumidores a fazerem

escolhas sustentáveis, a partir de produtos recarregáveis e recicláveis, abrangendo, até 2025, 100% das embalagens das fragrâncias e dos produtos de cuidados com a pele mais vendidos. O terceiro pilar é “Escreva seu Futuro”, causa filantrópica da marca, com o objetivo de empoderar as mulheres por meio da educação, orientação e empreendedorismo. Mais informações: lancome.com.br.


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DETERMINAÇÃO E ALTO ASTRAL. FORÇA E CARÁTER. BOM HUMOR PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS E CORAGEM PARA ENCARAR SUAS VERDADES: FERNANDA GENTIL SABE VER O LADO BOM DA VIDA Por Nathalia Hein Fotos Glin + Mira Styling Renata Castro e Sandy Topfer Beleza Lu Rech

Fernanda Gentil Calça: Rosa Chá Body: The Blend Shop

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“Se todas fossem iguais a você, que maravilha viver”. Os versos que abrem uma das mais belas canções de Tom Jobim caem como uma luva em Fernanda Gentil. Imagine, então, se Tom a tivesse conhecido em plena pandemia de Covid-19, quando o mundo enfrenta um dos maiores desafios da história? Certamente teria dedicado a música a ela. Isso porque Fernanda é leveza, alegria e otimismo em meio ao caos. Tem o dom de ver o lado bom da vida. É alento e colo para sua família, seus amigos e para o público, tão carente de felicidade. O sorriso maroto e o alto astral não escondem, porém, sua preocupação e consciência em torno da situação. O novo formato do programa Se Joga, que Fernanda apresenta na Rede Globo, foi inclusive pensado para se ajustar à nova realidade. O tom mais leve, calmo e cheio de conteúdos interessantes, como entrevistas com famosos e interação com o público, fazem parte da nova abordagem. “O entretenimento já tem uma função social, ainda mais numa pandemia. A gente poder fazer a pessoa de casa ligar a televisão e dar um sorriso, nossa, já é uma benção”, celebra. Mãe de dois meninos, Lucas, 13, e Gabriel, 5, e casada com a jornalista Priscila Montandon desde 2016, a apresentadora conversou com exclusividade com TOP Magazine em meio à reestreia de seu programa. Em um papo aberto e descontraído (nem tem outra opção com ela), ela falou sobre o novo Se Joga, das ansiedades da pandemia, de como tem conseguido driblar as crises no casamento em plena quarentena, do sonho de ser mãe de novo e da incrível parceria no diálogo com os filhos.

Quando vocês decidiram repaginar “Se Joga”, quais foram as principais mudanças que vocês buscaram? As principais mudanças, como o público pode acompanhar, foram de formato e conteúdo. Acho que a pandemia mostrou muita coisa para o mundo todo e isso respingou em todas as áreas da nossa vida, principalmente a pessoal. O programa nos moldes antigos não cabia mais nesse momento que a gente tá vivendo. Acho que o momento agora pede, pelo menos, uns dois tons abaixo do que a gente fazia: os games deram lugar a uma série de conteúdos, de entrevistas, mais conversa. Uma linguagem mais falada, mais calma, mais informal. Qual foi o momento mais marcante do programa até agora? O programa tem permitido a gente encontrar, de certa forma, o público de novo. Eu particularmente estava com muita saudade disso. E essa volta tem permitido alguns encontros entre nós, cumprindo todo o protocolo, óbvio. Eu sempre gostei de trabalhar assim, perto de quem me acompanha. Acho que isso faz muita diferença. Adoro estar na rua e hoje em dia não é possível. Outro momento especial que o programa proporciona é a gente entrar um pouco na intimidade, na vida das pessoas. A gente teve a Sandy e o Lucas na estreia, teve também o Márcio Garcia, com a mulher, Andrea, falando do The Voice Kids. Em primeiro plano vem a entrevista, mas o pano de fundo é essa troca, olhos nos olhos, poder estar perto dessas pessoas mesmo à distância, levando alegria e leveza.

“A vontade de dar certo, os “nãos” que eu recebi, as desconfianças que eu senti, os boatos que eu ouvi com meu nome, tudo me fez ganhar coragem e seguir ainda mais meus princípios e valores.”


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“Eu espero que daqui a dez anos a gente viva em um mundo em que a as lutas de hoje já estejam mais perto de serem conquistadas.”


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O que você gosta de assistir? Atualmente eu tenho gostado de assistir, ler e ouvir coisas que me façam respirar, que me aliviem, que me divirtam. Porque o que a gente precisa acompanhar, por dever como cidadão, são as notícias do Brasil, do mundo, e tá bem difícil, né? São coisas cada vez mais pesadas, dolorosas, delicadas e trágicas. Então eu prefiro esses conteúdos leves, que me façam relaxar mesmo e que me façam esquecer, pelo menos por alguns minutos, de tudo isso. O programa se encaixa nessa proposta de relaxar, curtir? Eu acho que o nosso principal objetivo é ser esse momento. Quarenta minutos que você vai ali, dá um respiro para depois poder tocar a semana e voltar para as notícias, que a gente sabe que não estão fáceis de serem digeridas. Então a proposta do programa é bem clara e bem concreta: um respiro. Além de entretenimento, você espera que o programa tenha alguma função social? Eu acho que o entretenimento e a função social caminham muito lado a lado. O entretenimento já tem uma função social, ainda mais em uma pandemia. A gente poder fazer a pessoa de casa ligar ali a televisão e dar um sorriso, nossa, já é uma benção. Mas em tempos normais eu gostaria que o Se Joga tivesse essa veia especificamente sobre o terceiro setor, sabe? É um projeto meu, é uma vontade, acima de tudo, porque eu acho que a gente tem essa função muito nobre de ter essa visibilidade toda, de ser uma vitrine imensa. E por que não, né? Jogar isso mais ainda para o lado social, o lado bom da coisa. Agora, infelizmente, não dá para

a gente colocar nada em prática, nesse sentido, mas é sim uma vontade que eu tenho em todos os meus projetos. Se você olhar para a Fernanda de dez anos atrás, o que você diria que mudou? O que ela aprendeu sobre ela e sobre o mundo? Para a Fernanda de dez anos atrás... eu era uma menina de vinte e quatro anos - já com uma Olimpíada e uma Copa do mundo nas costas – meio não acreditando no caminho e no sonho que eu estava finalmente realizando. Na época eu achava que ia ser desafiador, mas foi quase impossível. Ao mesmo tempo, foi exatamente essa sensação que me fez chegar aonde eu cheguei. A vontade de dar certo, os “nãos” que eu recebi, as desconfianças que eu senti, os boatos que eu ouvi com meu nome, tudo me fez ganhar coragem e seguir ainda mais meus princípios e valores. Então, para a Fernanda de dez anos atrás, eu acho que o que mudou foi a determinação, a coragem, a força: essas coisas ganharam mais corpo ainda, ganharam mais verdade e tamanho dentro de mim. E se você olhar para a Fernanda de um ano atrás: 2020 valeu por uma década ou nem contou? Nesse ano de pandemia, que aliás segue em 2021, eu tento tirar alguma lição, por menor que seja. A gente tem que ter evoluído, a gente tem que ter aprendido mais coisas: aprendi a valorizar mais o tempo, a vida, a família, os amigos, as relações. E agradecer cada vez mais pelos privilégios, pela comida na mesa, pela casa em que a gente mora, pelo trabalho que a gente tem e, mais do que nunca, pela saúde. Esse tem sido um grande aprendizado, que eu tento passar também

“Ter mais filhos está nos nossos planos sim. Eu tenho cada mais vez convicção de que minha missão aqui é criar, amar e cuidar de gente”


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“Na montanha-russa que a pandemia trouxe para as relações, eu estou entendendo cada vez mais que essa mulher é para a minha vida mesmo”


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para os meninos e dividir com a minha família, sabe? Se depois que isso acabar não tivermos aprendido nada, então foi tudo em vão. E a Fernanda daqui a dez anos, vai estar onde? Cara... a gente está vivendo numa época que não dá para nem programar o dia de amanhã. Dez anos é muito tempo! Mas eu espero que a Fernanda de daqui a dez anos esteja vivendo em um mundo em que as lutas de hoje já estejam mais perto de serem conquistadas. Que esse caminho de batalhas contra o racismo, o machismo, a homofobia já tenham sido trilhados em boa parte. Eu espero que a Fernanda esteja vendo um mundo mais livre, justo, principalmente para as novas gerações... A pandemia colocou à prova muita coisa, mas as relações familiares certamente foram muito atingidas. Como você e a Priscila conseguiram driblar isso? Aqui em casa, para nós duas, foi uma montanha-russa. Mas acho que para todo mundo foi assim. Não posso dizer que a gente passou dificuldade nenhuma, graças a Deus. Somos muito privilegiadas, mas emocionalmente os efeitos da pandemia respingaram em todas as casas, aqui não foi diferente. O confinamento interfere na rotina, na convivência, mas a gente tentou driblar sempre com muita conversa, com muita troca, estando mais perto do que separadas para tentar resolver as coisas. Eu acho que os problemas a dois se resolvem a dois: a gente teve, sim, os nossos ruídos pela convivência intensa. É impossível sair ileso disso, mas eu também acho que esse momento inflamou duas estatísticas em relação aos casais: de um lado as separações, do outro os casais que

saíram mais fortalecidos. Acho que a gente tá na estatística dos casais fortalecidos. Estamos nos unindo e nos apoiando muito mais nesse processo de convivência intensa, sabe? E eu fico muito feliz por isso. Acho que eu estou entendendo cada vez mais que essa mulher é para a minha vida mesmo. Falando em família, casamento... com foi o encontro de vocês duas? Quando você soube que estava apaixonada? Ah, quando você tá apaixonada, você só sabe. Você sente, né? Não tem como estar errada. E foi isso, eu me encantei por ela, pela pessoa dela. A gente já se conhecia, eu fui cada vez mais querendo ter contato, querendo dividir as coisas e aí, quando eu vi, falei, “ih, rapaz, caminho sem volta”. Qual é a dinâmica da sua família para enfrentar isso que estamos vivendo? Quem faz qual papel? A gente não tem assim um papel determinado para o quem faz o quê. Não tem uma escala. Eu acabo abraçando mais coisas no dia a dia com eles porque sou a mãe. Mas não posso reclamar de nenhuma falta de apoio. A Priscila me ajuda muito, chega muito junto, e a família toda, né? A gente tem os avós muito presentes, meus pais estão sempre aqui, ajudando. Eu sou muito sortuda, me sinto muito especial, abençoada mesmo, por ter esse apoio de todos os lados. E os planos para ter mais filhos, continuam? Seguem como uma vontade, mas ao mesmo tempo, estacionados. Como quase tudo durante a pandemia, aliás. Vamos ver quando vamos conseguir colocar isso em prática, mas tem o plano sim, muito.

“Eu acho que ser feminista é entender que não somos melhores, nem piores do que ninguém. Mas temos plenos direitos de sermos iguais”


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“Nesse momento difícil, a gente poder fazer a pessoa de casa ligar a televisão e dar um sorriso, nossa, já é uma benção” Fernanda Gentil Blusa: Iorane


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“Eu estabeleço combinados com os meninos sobre as questões de videogame, televisão. Eu acho que eles se sentem dignos da minha confiança, que é uma arma muito poderosa para eles” Fernanda Gentil Camisa branca: Le Lis Blanc Calça jeans: The Blend


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Eu tenho cada mais vez convicção de que minha missão aqui é criar, amar e cuidar de gente. Eu sou apaixonada por esse amor que é de mãe para filho, pela função toda de educar, de criar, acho que é o maior legado que a gente pode deixar, ao mesmo tempo é a maior ferramenta para minha evolução como pessoa. Se esse amor não é capaz de te transformar, nada mais é, né? E deixe claro aqui, por favor - bom registrar -, que eu desejo filho para quem quer ser mãe, tá? Sou totalmente contra essa pressão da sociedade de que a mulher tem que ser mãe. Eu desejo esse amor para todas as pessoas, não só para as mulheres. Esse amor pode ser por um filho, um sobrinho, um afilhado, um cachorro, uma árvore, um bicho, uma casa, qualquer coisa. Acho que esse amor faz bem para todo mundo, seja lá pelo que for, mas filho mesmo é só para quem quer ter. Você tem dois meninos. Um ainda pequeno e outro já com o pé na adolescência. Como você lida com os dilemas do século 21, tais como exposição excessiva às telas, videogames, Youtube e redes sociais? Eu tento muito não lutar contra a realidade, sabe? Para mim seria gastar energia e tempo. A tela hoje é uma realidade, seja ela qual for. O que eu faço com eles aqui é sempre na base da conversa, da negociação: o nosso combinado vale mais do que qualquer regra. Não tem uma hora específica para ver, nem para parar de ver. Posso deixar jogar videogame, se meu bom senso disser que sim, desde que parem também quando meu bom senso

Styling

Renata Castro e Sandy Topfer

Make up Lu Rech

Tratamento de Imagens Glin + Mira

achar que tem que parar, sabe? Então é basicamente assim: pode ver, sempre que eu deixar, desde que desligue quando eu pedir. Eu acho que eles se sentem dignos da minha confiança, que é uma arma muito poderosa para eles. Eu sempre falo isso: não queiram perder a minha confiança em vocês, que é a pior coisa que pode acontecer enquanto vocês viverem aqui, né? Acho que isso empodera os dois, nesse sentido de pensar “pô, maneiro, ela tá confiando em mim, vai me deixar jogar videogame e eu vou retribuir isso quando ela pedir para desligar”. Então isso tem funcionado. Na sua opinião, ser feminista é... Nossa, ser feminista é tanta coisa, mas para resumir uma frase assim, eu acho que é entender que não somos melhores, nem piores do que ninguém. Mas temos plenos direitos de sermos iguais. E a gente precisa exercer esse direito.


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Em sentido horário, a partir da seta: Fernanda Gentil em momento descontraído, nos bastidores do Se Joga, sua homenagem ao Dia do Repórter, com a namorada em momento relax no mar, entre amigas e com a cachorra, Nala, brincando na praia com os filhos.


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Deserto radical CÂNIONS PROFUNDOS, PLANÍCIES DE COR LARANJA, MONTANHAS ÍNGREMES E ENORMES ROCHAS NATURAIS INCRIVELMENTE EQUILIBRADAS. MOAB OFERECE UMA IMENSA PALETA DE CORES NATURAL E ATIVIDADES INCRÍVEIS QUE VÃO DESDE A CONTEMPLAÇÃO ATÉ TRILHAS DE BIKE, ESCALADA E RAFTING Texto e fotos Gustavo Zylbersztajn e Patricia Beck * | ZylbeckTrips

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O cenário é de montanhas em tons avermelhados, descampados, sol escaldante. Se fechar os olhos, dá para imaginar índios cavalgando no horizonte. Essa é apenas uma das sensações ao conhecer Moab, Goblin Valley ou alguma outra região de Utah, nos Estados Unidos. Viajando pelo deserto, algumas cenas vão te parecer familiares. É que Moab já foi cenário de mais de 900 filmes, tanto no cinema como na televisão. A começar com os clássicos do velho oeste da década de 20, como o The Covered Wagon (1923), um filme mudo faroeste, e “The Vanishing America” (1925). Ao longo dos anos 30, 40, foram tantos bangue-bangues gravados em Utah, como o famoso Wagon Master, estrelado por John Wayne, que a região ficou conhecida como a Pequena Hollywood. De lá para cá, outras tantas superproduções, como Thelma & Louise, John Carter, Star Trek, 127 horas, Indiana Jones e a Última Cruzada e Missão Impossível, usaram o deserto como cenário de suas histórias. Moab tem mais de 2 mil arcos naturais de pedra (incluindo o símbolo do estado, o Delicate Arch, formação de 20 metros de altura), que alcançam 97 metros de extensão, além de milhares de cactos de cerca de 6 metros de altura. É a maior concentração de arcos do mundo. A região fica num vale entre penhascos de arenito vermelho e é um lugar de muita energia, muita luz e muita beleza, que ficou conhecido mundialmente pela prática de esportes radicais, como escalada, mountain

O colorido deserto fica no estado de Utah, no oeste dos Estados Unidos


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bike e também para quem curte a natureza e prefere fazer passeios por desfiladeiros em veículos 4x4, cavalgadas e rafting pelos rios. A primeira impressão de Moab é que o deserto é um dos lugares mais áridos do planeta, mas, na verdade, ele foi criado pela água, que formou uma paisagem de cânions profundos, planícies de cor laranja, montanhas íngremes e enormes rochas naturais incrivelmente equilibradas – uma imensa paleta de cor natural que ganha ainda mais brilho com os raios do sol. Na região há muitas atrações naturais, passeios históricos e vários lugares para fazer esportes. O deserto também foi cenário de confrontos sangrentos entre indígenas e colonizadores e era quase inabitado até o começo do século 20. Porém, na época da Guerra Fria, quando a indústria mineira começou a explorar as riquezas minerais da região e encontrou urânio em grande quantidade, o desenvolvimento acelerou muito. Por volta dos anos 60 e 70, Moab ganhou o apelido de Capital Mundial do Urânio e a população da região aumentou em mais de 500%. Quando a Guerra Fria esfriou por volta dos anos 80, Moab começou a ser deixada para trás. Muitas casas foram abandonadas e minas foram fechadas. Moab poderia ter se tornado mais uma cidade fantasma do oeste americano, no entanto, começou a ganhar fama entre escaladores, amantes de 4×4 e praticantes de rafting. Muitas cenas de filmes foram filmadas no local.


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Algumas cenas podem parecer familiares. É que Moab foi cenário de mais de 900 filmes


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Hoje a cidade ainda é pequena, tem pouco mais de 5 mil habitantes, mas oferece boa infraestrutura para os turistas. Ela fica a 380 quilômetros de Salt Lake City, a capital e principal cidade do Estado de Utah. É nela que você deve ficar para conhecer os Parques Nacionais de Arches e Canyonlands. São dois parques nacionais distintos, porém em locais próximos. O Goblin Valley é um dos lugares pouco visitados e pouco conhecido entre os turistas que querem conhecer a região, que normalmente optam pelo Grand Canyon ou Monument Valley, que ficam no estado vizinho, Arizona. Ali tem algumas formações geológicas bem particulares. Como se fosse um museu de esculturas a céu aberto. Você pode caminhar ao redor dessas pedras cônicas e circulares, galgadas pela erosão. Andamos por uma boa parte do parque e queríamos percorrer o máximo possível. A sensação era de estar em algum outro planeta. Não deixe de levar chapéu e água, o local com o sol a pino é bem quente. Como o próprio nome sugere, esse parece ser um vale de duendes. As criaturas de arenito fazem lembrar muitas coisas. As evidências geológicas de que essa área foi um antigo mar e sofreu com a influência das marés ficam evidentes ao vermos as pedras esculpidas. O deserto sempre nos fascinou muito, e Moab foi muito mais do que esperávamos ou víamos em fotos em nossas pesquisas. Aquela sensação de amplitude jamais vista traz uma tranquilidade e a percepção de quão pequenos e singelos somos. A estrada que nos leva até lá fica no meio do nada. Claro que paramos várias vezes para fazer mais uma daquelas fotos clássicas bem no meio da estrada, com as montanhas ao fundo e aquele céu infinito! Os passeios são longos, e vale a pena aproveitar bem as caminhadas, alugar bike, fazer horse-ride e curtir os inúmeros locais dessa região. Nossa viagem acabou não sendo focada 100% nos desertos em Utah (viemos desde Montana até a Califórnia, parando em Utah). Demos apenas uma “pincelada” mesmo por ali, então não conseguimos explorar a fundo outros locais mais famosos como os “arches”, que é uma composição de pedras que formam um arco... Fica ali um dos mais magníficos pores do sol de Utah. Ou do planeta.

Existem circuitos para os diferentes níveis de esportistas. Só os experts contam com 55 trilhas


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O silêncio e a aridez do deserto costumam ser fascinantes. Em Moab, essa sensação se renova


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Rendez-vous em Montlhéry

ENSAIO FOTOGRÁFICO ABORDA EVENTO EXCLUSIVO QUE REMETE AOS PRIMÓRDIOS DAS CORRIDAS DE AUTOMÓVEIS Texto Roberto Marks fotos Bill Phelps

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O Vintage Revival Montlhéry é atualmente um dos mais concorridos e curiosos encontros de automóveis antigos realizados na Europa. A reunião bienal, organizada desde 2011 no circuito francês de LinasMontlhéry — localizado cerca de 30 km ao sul de Paris —, procura resgatar a era heroica do automobilismo de competição, quando o talento e, principalmente, a coragem dos pilotos superava a tecnologia, em uma época em que esta ainda se encontrava em fase primitiva de desenvolvimento. Aquele circuito tem relação direta com a história, pois foi um dos primeiros construídos com a finalidade específica de ser palco para as competições de automóveis e motocicletas. Inaugurada em 1924, a pista faz parte da seleta lista dos primeiros autódromos europeus, como o de Brooklands, na Inglaterra, de 1907; o de Monza, na Itália, de 1922; e o de Sitges-Terramar, na Catalunha, Espanha, de 1923. Em todos, o destaque era o traçado “oval” de alta velocidade, construído em forma côncava definida tecnicamente como banking (inclinação), em inglês, ou relevée (levantado), em francês. Esse anel de velocidade também é considerado uma reta infinita, já que permite ao piloto andar sempre com o “pé embaixo” (flat). E quanto mais elevada é a velocidade, mais alto o carro se posiciona no paredão da pista. Assim, apesar das limitações técnicas da época, as “baratinhas” superavam facilmente os 200 km/h. Como a pista de Monza, Montlhéry também tem interligado ao anel de alta velocidade um trecho misto, plano, que inicialmente era bem mais curto do que o do circuito italiano. Assim, nessas duas pistas, as corridas disputadas na época obrigavam o carro a passar duas vezes pela linha de chegada para completar uma volta. Outra curiosidade se refere à construção da pista francesa, na qual foi utilizado de forma pioneira o sistema pré-moldado de concreto e aço e, assim, pôde ser construído no tempo recorde de seis meses. GP da França Com a desistência dos organizadores do GP da Alemanha, a nova pista foi escolhida para sediar o GP da França no que se denominaria primeiro Campeonato Mundial de Automobilismo, organizado em 1925. Um dos principais favoritos ao título era o italiano Antonio Ascari, que corria pela então poderosa equipe Alfa Romeo. Algumas semanas antes, ele havia vencido no circuito de SPA o GP da Bélgica, também válido para o campeonato. Com um Alfa Romeo P2, Ascari liderava a etapa francesa facilmente, quando, ao entrar em uma curva do trecho misto a 180 km/h, velocidade considerada excessiva para as condições da pista, que estava molhada devido à chuva intermitente, o carro deslizou e demoliu 30 m da barreira de proteção, antes de sair capotando para cair em uma vala. Ascari faleceu a caminho do hospital. Dizem que, antes da corrida, ele havia reclamado junto aos organizadores sobre o perigo da barreira. Ao receber a notícia da morte do piloto, Enzo Ferrari, que na ocasião comandava a equipe Alfa Romeo, ordenou que os outros dois carros da equipe italiana fossem retirados da corrida. Antonio era pai de um garoto de sete anos, Alberto, que mais tarde se tornaria o primeiro bicampeão mundial de automobilismo (1952/53). Mas, por triste ironia do destino, também viria a falecer em um acidente de pista, quando treinava no autódromo de Monza, em 1955, 30 anos após a morte do pai. O circuito de Montlhéry recebeu GPs válidos por campeonatos mundiais

O Vintage Revival é basicamente reservado aos automóveis fabricados no período entre as duas guerras mundiais


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por mais oito vezes, nas décadas de 1920/30. Mas, antes da Segunda Guerra Mundial, foi abandonado devido aos elevados custos de manutenção e acabou sendo estatizado pelo governo francês. Rumores apontam que, durante o conflito mundial, o circuito foi utilizado como campo de concentração, na França ocupada pelo exército alemão. Isso, juntamente com a total falta de manutenção, danificou ainda mais a pista.

Os participantes devem vestir trajes da época em que o carro foi fabricado. A única concessão é o uso obrigatório de capacete

Contrato de locação No fim de 1946, a entidade francesa Utac — União Técnica de Automóveis e Ciclomotores — fechou contrato com o governo central para arrendamento por longo prazo. Obrigou-se a gerenciar a pista e instalações do autódromo, comprometendo-se a realizar a restauração, manutenção e organização de competições. O circuito também passou a ser utilizado para testes dos fabricantes de veículos e por publicações especializadas em automobilismo, como o Auto-Journal. Para isso, o trecho misto teve seu traçado alongado. Mesmo assim, o circuito nunca mais foi utilizado na organização de GPs da França, na fase moderna do automobilismo e da Fórmula 1. No entanto, durante muito tempo, foi palco da prova 1.000 km de Paris, reservada para carros esporte. Devido à preocupação com a segurança, além dos elevados custos na necessária modernização do complexo, sua homologação para competições oficiais de automobilismo foi cancelada no começo deste século. Com o futuro do circuito em risco, criou-se uma associação para a proteção do complexo de Linas-Montlhéry. Participaram veteranos pilotos franceses de renome como Henri Pescarolo, Hubert Auriol, Jean-Claude Andruet, Jean-François Baldé, Jean-Pierre Beltoise e Patrick Tambay, além de muitos outros apaixonados por competições. Considerado patrimônio cultural, Montlhéry ganhou incentivos do governo francês para sua preservação. Eventos exclusivos E se não é mais homologado para competições oficiais, o circuito continua sendo utilizado em testes de veículos durante a semana e, em alguns fins de semana, na realização de encontros exclusivos para carros antigos. O mais charmoso deles é o Vintage Revival Montlhéry, que desde 2011 é organizado bienalmente no primeiro fim de semana de maio. Excepcionalmente no ano de 2021, por causa da pandemia mundial de Covid-19, o evento foi transferido para 2022. Focado em automóveis fabricados no período entre as duas guerras mundiais, também aceita inscrição de modelos mais modernos. Uma exigência está destacada nos cartazes de inscrição: “Tenues d’époque obligatoires”. Ou seja, o proprietário e seus acompanhantes devem estar vestidos com trajes da época em que o carro foi fabricado. A única exceção em relação a isso é a necessidade de capacete, equipamento de segurança que só passou a ser obrigatório em competições automobilísticas a partir de 1952. Antes, os pilotos utilizavam a conhecida touca de couro de aviador, que protegia o cabelo, mas não a cabeça... Apesar de a maioria dos participantes utilizar modernos capacetes integrais, alguns saudosistas ainda preferem os pioneiros “cascos” de frente aberta. Divididos em grupos, de acordo com a potência do carro, os pilotos participam de provas de curta duração. O evento chamou a atenção do renomado fotógrafo americano Bill Phelps, que fez um ensaio especial utilizando técnicas fotográficas de época para retratar muitos modelos raros de marcas míticas, que se perderam na poeira da história.


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Novo Range Rover Velar com evoluções chega ao Brasil O NOVO RANGE ROVER VELAR É REPLETO DE ATRIBUTOS, MAS O QUE MAIS CHAMA A ATENÇÃO NELE É INDISCUTIVELMENTE SEU DESIGN, EXEMPLO NOTÁVEL DE BELEZA E ELEGÂNCIA


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Por Bob Sharp Fotos Divulgação

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A Land Rover já está comercializando na sua rede de concessionárias o modelo Range Rover Velar 2021, que traz novidades como o novo motor da família Ingenium denominado P340 — P de petrol, como a gasolina é chamada no Reino Unido, e 340 a potência do motor em cv — um 3-litros de seis cilindros em linha com turbocompressor dotado de acionamento auxiliar elétrico. Essa potência é atingida a 5.500 rotações por minuto (rpm), associada ao elevado torque de 48,9 kgfm à incrivelmente baixa rotação de 1.500 rpm. Isso significa que a essa rotação, que é pouco acima daquela de marcha-lenta, já podem ser produzidos, ao se acelerar ao máximo, nada menos que 102 cv. O acionamento auxiliar elétrico ao turbocompressor virtualmente elimina a “sonolência de turbina” (turbo lag) em ganhar rotação, já que não depende exclusivamente do fluxo de gases de escapamento para isso, resultando em resposta imediata ao pedal do acelerador mesmo estando o motor em marcha-lenta. O motor tipo MHEV (semi-híbrido) conta com tecnologia alternoarranque, isto é, acoplado ao motor está um potente alternador que age também como motor de partida e sob acelerações fortes fornece cerca de 14 cv ao motor a combustão P340. A sensação ao dar partida impressiona por não se escutar o ruído característico de engrenamento do motor de partida existente desde 1912, quando o americano Charles Kettering inventou a partida elétrica. A aceleração é vigorosa, como mostra o tempo de 6,3 segundos para atingir 100 km/h saindo parado. E o SUV de 2.010 kg segue acelerando com disposição até à velocidade máxima de 240 km. O leitor ou leitora pode se perguntar para que tanto desempenho. A resposta é agilidade nas mais variadas situações de tráfego quando ela for necessária, como se afastar rapidamente de veículos ou pessoas suspeitas ao menor toque no pedal do acelerador. Isso sem precisar se preocupar com trocar marchas nesse momento, uma vez que o câmbio é o afamado automático ZF 8HP70 de oito marchas. Basta levar o acelerador ao fundo para ganho de velocidade praticamente instantâneo. Na contramão (no bom sentido) da redução cada vez maior dos tanques de combustível, o do Velar é de 82 litros, garantindo autonomia ao redor de 800 quilômetros. O Velar mede 4,79 m de comprimento, 2,04/2,14 m de largura (sem/com espelhos), 1,67 m de altura e 2,87 m entre eixos.

Apesar de Land Rover se confundir com a expressão off-road, o Velar é absolutamente competente no asfalto


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Com altura livre do solo de até 251 mm, graças à suspensão pneumática com regulagem de altura a bordo, e tração integral com sistema de ajuste ao tipo de terreno Terrain Response II, o novo Velar enfrenta qualquer condição de tráfego, inclusive passar por trechos alagados de até 580 mm de profundidade. Os ângulos de ataque e saída de 27,5º e 29,5º, e o ângulo de transposição de rampa de 23,5º garantem grande mobilidade em terrenos difíceis. As rodas são de 22 polegadas com pneus 265/40R22 e a suspensão independente é por triângulos superpostos na dianteira e multibraço, na traseira. Freios são a disco ventilado nas quatro rodas.


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Balanço dianteiro bem curto e o traseiro em ângulo proporcionam aptidão admirável nas trilhas e nos obstáculos urbanos


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Interior O volante multifuncional é revestido de couro com costuras aparentes e tela do sistema multimídia é de 12,3 polegadas. A central de configuração agora é comandada pelo sistema de infotenimento PIVI PRO em tela de 10 polegadas. A central já está à disposição do motorista logo que o carro é ativado graças ao sistema de dados e bateria independentes. Por meio de atualização a distância, a plataforma se mantém atualizada com mapas, aplicativos e funcionalidades do veículo sem necessidade de ir a uma concessionária. A conectividade é Android Auto e Apple CarPlay. Mais, o PIVI PRO controla as novas tecnologias de bordo como o sistema de câmeras 360º e o Capô Transparente, esta uma tecnologia exclusiva Land Rover que permite enxergar o caminho logo à frente das rodas dianteiras por meio de câmeras de última geração, e o sensor de profundidade, que monitora o nível de submersão em pequenos rios ou trechos alagados. O seletor de marchas deixou de ser giratório para dar lugar a uma moderna e prática alavanca estilo joy stick com manopla revestida de couro. E em toda a linha o sistema de áudio é o envolvente Meridian 3D de 750 watts de potência. O veículo conta também com monitor de ponto cego. Para o interior, há itens como tapete de borracha para o porta-malas, capas para os bancos, suporte para iPad e até uma mini-geladeira que se converte em apoio de braço no banco traseiro. Exterior O Velar conta com uma gama de acessórios luxuosos, como os estribos laterais elétricos para maior facilidade de acesso ao veículo, defletor traseiro, carcaças dos espelhos e entradas de ar laterais em fibra de carbono. Há engates para reboque removíveis e elétricos, neles podendo-se acoplar suporte para até três bicicletas, além do bagageiro de teto que pode ser instalado no estrado (rack) aumentando a capacidade de armazenamento, que já é boa, 670 litros. Versões O novo Velar é disponível nas versões R-Dynamic SE e R-Dynamic HSE, ambas com motor P340. As primeiras unidades disponíveis na rede de concessionárias estarão equipadas com o Pacote Brasil. Conclusão O Range Rover Velar constitui boa opção para quem busca um SUV premium robusto, competente e com a assinatura de um fabricante de 73 anos de existência que se notabilizou pela alta capacidade todoterreno desde o início. Mas, o que é Velar? O nome foi usado nos primeiros protótipos do Range Rover nos anos 1960 e deriva do latim velaris, que dignifica tapar com véu, cobrir. A fim de esconder a identidade dos 26 veículos pré-produção do utilitário esporte Land Rover — até então só havia o Defender — a fabricante de Solihull, Inglaterra, resolveu disfarçá-los lançando mão de outro nome, justamente o que significava pôr véu, cobrir: Velar. Foi o nome adotado no novo SUV Range Rover lançado em 2017.

O Range Rover Velar é um espetáculo de tecnologia em cada detalhe, como o “capô transparente”, em que câmeras captam o solo à frente das rodas dianteiras e mostram a imagem na central multimidia


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Em sentido horário, a partir da seta: Teto solar panorâmico, projetor de dados no parabrisa, nova alavanca seletora de câmbio tipo joy stick


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Range Rover Velar HSE 2021 MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO

6 cilindros em linha, 3 litros turbo Gasolina 340 cv e 48,9 kgfm Automático epicíclico de 8 marchas Integral 4,79 m 2,87 m 5 670 litros 82 litros 800 km 2010 kg

Rodas de 22 polegadas de diâmetro dão um ar portentoso ao Velar e “aplainam” as imperfeições do piso com maestria, contribuindo para um rodar extremamente agradável


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Happy end DIVAS E CARROS SEMPRE DERAM QUÍMICA NO CINEMA. COM OU SEM PRESSA, SÃO O DUO PERFEITO DA SEDUÇÃO NA VIDA REAL OU NAS TELONAS Por Doris Bicudo fotos Divulgação

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As feministas que me desculpem, mas quem de nós, mulheres, não suspirou, ou até mesmo foi às lágrimas, ao ver Richard Gere a bordo de uma limusine – com direito a ramalhete de flores – chegando para resgatar Julia Roberts em Uma Linda Mulher? Mais uma vez, peço perdão às minhas colegas para vir a público confessar o quanto gosto de um final feliz. Ah, Vestida Para Matar também é delicioso na tela grande. Já repararam como a trilogia divas, carros e cinema gera cenas memoráveis? No melhor estilo recordar é viver, vamos dar um rolê pela Era de Ouro de Hollywood. A primeira cena com que nos deparamos é Grace Kelly dirigindo seu Sunbeam Alpine pelas estradas do principado de Mônaco, em Ladrão de Casaca. E, de quebra, Gary Grant na carona. A deliciosa comédia Como Roubar um Milhão de Dólares, com Audrey Hepburn dirigindo e estacionando o Autobianchi Bianchina vermelho em frente a um hotel particular, em Paris. Na mesma linha também é arrebatadora (para apreciadores de belos carros e lindas mulheres) a sequência de Anouk Aimée ao volante de um big Cadillac conversível em A Doce Vida, de Federico Fellini. No filme ela vive uma socialite e contracena com Marcello Mastroianni. Sorte dela, sorte dele…


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Brigitte Bardot posa em seu Renault Caravelle S em Saint-Tropez, no início dos anos 1960


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Marylin Monroe na traseira de um carro no trânsito em Nova York com Dick Sheperd em foto histórica


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E por falar em divas ao volante, Cameron Diaz fez muito bem seu papel em O Amor Não Tira Férias, de 2006. A atriz vive uma editora de trailers americana workaholic que vai a Londres em uma troca de casas. Entre algumas trapalhadas até o final feliz ao lado de Jude Law, ela faz barbaridades ao dirigir o MINI de Iris, irmã de Jude, na mão inglesa. Fora das telas, as musas também não nos decepcionam. Rita Hayworth, por exemplo, adorava dar pinta com o Lincoln Continental que ganhou de presente de Orson Welles. Assim como Elizabeth Taylor e seu Lincoln Continental Mark II, customizado com o mítico tom violeta de seus olhos. O mimo foi encomendado pela Warner Bros. pelo excelente desempenho da atriz em Assim Caminha a Humanidade, de 1956. Sorry, mas isso é só para quem pode, mesmo. Também não faltaram suspiros à Brigitte Bardot desfilando com seu Renault Caravelle S “azulcalcinha” por Saint-Tropez nos anos 1960. Como os tempos são outros, Ellen DeGeneres presenteou a si própria com um Porsche 911Turbo prateado e ainda por cima declara que se casou com o “Portia” (em alusão ao nome de sua esposa, a atriz australiana Portia de Rossi) pelo simples motivo de gostar da velocidade. Do outro lado do mundo, no melhor momento diva-ostentação, a estrela de Bollywood Imran Khan mandou adaptar de acordo com seu way of life um Ferrari vermelho. Pagou caro, mas gostou do resultado. Beyoncé Knowles também realizou o sonho e desfilou por L.A. com seu Rolls-Royce conversível de US$ 1 milhão, hoje mais um da coleção de máquinas milionárias que mantêm ao lado do marido, Jay Z. Mais cool, Katy Perry escolheu um Audi preto avaliado em US$ 50 mil. A verdade é que carro e poder, assim como carro e liberdade, sempre

Acima, Anouk Aimée faz charme a bordo de um Cadillac no clássico A Doce Vida. Na página ao lado, Grace Kelly dirige seu Sunbeam Alpine em Ladrão de Casaca


Fotos Internet/ divulgação

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estiveram intimamente ligados. Nos anos 1990, Thelma e Louise largaram uma vida monótona e colocaram o pé na estrada em busca de algo novo. Se enrolaram, mas acharam o que buscavam: liberdade. Além de Susan Sarandon e Geena Davis, podemos dizer que o velho Ford Thunderbird conversível da dupla também foi protagonista dessa trama. Um antigo Hudson 1948 também é o fio da meada para uma das mais bonitas histórias de amizade do cinema, protagonizada por Jessica Tandy e Morgan Freeman em Conduzindo Miss Daisy. Na linha risos e lágrimas, qual seria o papel de uma Kombi? Fundamental em Pequena Miss Sunshine, lançado no cult Festival de Sundance e vencedor de dois Oscar. A família da pequena Olive faz uma verdadeira “DR” durante os três dias de viagem entre a Califórnia e o Novo México, onde ela irá participar do concurso que leva o nome do longa. Os homens não resistem quando mulheres e carros contracenam juntos. Certeza de boa química e ótima bilheteria. A receita é muito bem aproveitada na saga do agente secreto 007, James Bond. O Aston Martin DB5, dirigido por Sean Connery, participou de 007 Contra Goldfinger,

Carros lançados nas telas de cinema viram objeto de desejo de homens e mulheres


em 1964, e fez tamanho sucesso que ganhou lugar garantido no ano seguinte em 007 Contra a Chantagem Atômica. Vários anos depois, Angelina Jolie protagonizou uma de suas cenas mais calientes ao tentar seduzir o ladrão de carros vivido por Nicolas Cage em 60 Segundos. E por falar em química, a de Jack e Rose (Leonardo DiCaprio e Kate Winslet) foi tanta que até embaçou o vidro do Renault visitado pela dupla, em Titanic. Sedutora até hoje, a Pantera Cor-de-Rosa dirigiu seu Panthermobile... rosa por nada menos que oito episódios da série. Ficou milionária e nunca perdeu seu ar blasé. No início dos anos 70, os road movies marcaram época entre o público americano. Diferentemente do que se podia esperar de Hollywood, esses filmes envolviam anti-heróis fugindo da polícia ao volante de um carrão com motor V-8. Nessa época, as atrizes poderiam ganhar menos destaque do que os possantes. O Impala 1966 amarelo quatro portas de Fuga Alucinada fez muito marmanjo suspirar, assim como a atriz Susan George, que contracenou com o guapo Peter Fonda. Se o tapete vermelho é símbolo de Hollywood na tela grande, alguns carros da mesma cor fazem parte de momentos históricos, como o famoso Chevrolet Malibu conversível 1964 de Pulp Fiction, o Playmouth Belvedere 1957 de Christine, o Carro Assassino, o Ferrari 348T da série Magnum, o Corvette 1958 de Hot Rods to Hell e o Ferrari 250 GT conversível vermelho – que registrou recorde de preço em leilão, embora fosse uma réplica – de Curtindo a Vida Adoidado, só para citar alguns. Uma coisa é certa: assim como em uma boa lábia, o sexo feminino também se liga em um belo carro. E, ao que parece, não só no cinema a coisa funciona...

Fotos Internet/ divulgação

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Angelina Jolie e Nicholas Cage em cena do filme 60 Segundos, sexy e eletrizante

Alguns automóveis tornaram-se marca registrada de personagens memoráveis, como a sinergiavista entre 007 e o Aston Martin


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Encontro com os gorilas NAS ENCOSTAS DA CADEIA VIRUNGA, EM UGANDA, O EMOCIONANTE ENCONTRO COM OS GIGANTES PRIMATAS EM UMA EXPEDIÇÃO TRANSFORMADORA 7 min

foto Frans Lanting

Por Mauro Chwarts fotos Frans Lanting


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foto IStockphoto

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O coração da África é alto, é frio, é nevado, é vulcânico. Ali está a cadeia mais impressionante do continente: os Montes Virunga. Seu pico maior tem nada menos que 5.109 metros de envergadura. O Virunga separa três países: Uganda, Ruanda e Congo e cospe fogo (em geral para o lado do Congo). Também é responsável por fertilizar toda a região e sustentar uma biodiversidade enorme: o Virunga abriga a totalidade dos gorilas da montanha ainda vivos, cerca de 900 indivíduos. Espécie em sério risco de extinção, o gorila da montanha é de fato da montanha. Aliás, “dessa montanha”. Os gorilas da planície, menores e mais leves, são de outra subespécie. É difícil de imaginar um outro animal tão regional como esse. Quer ver os gorilas da montanha? Então vá para a montanha dos gorilas. Eu fui.

A mata dos Montes Virunga é o habitat do mais doce dos primatas africanos


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Acordei às 5 da manhã em Uganda. Ainda estava escuro e a temperatura media 12 graus. Tomei um banho e um café da manhã muito bom, vendo o sol tingir de rosa o pico do Monte Megahinga e depois o resto da sua encosta perfeitamente cônica, e pensei: será que os gorilas acordaram? Pouco depois, na sede do parque, o guia explicou: “Dois batedores saíram ainda no escuro com um GPS e subiram a montanha para chegar até onde os gorilas estavam ontem. Gorilas movem-se ao longo do dia, deixando um rastro claro na floresta. Os batedores rastreiam os gorilas até encontrá-los acordando, marcam as coordenadas no GPS e transmitem-nas por rádio para a base, aqui. Agora nosso grupo – oito passageiros, dois guias, um rádio, um GPS e um rifle AK-47 carregado – entrará na floresta e subirá montanha acima indo até os gorilas.


foto Frans Lanting

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O que nos aproxima dos primatas é o jeito e o carinho de todas as raças


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“Todos têm botas, calças e mangas compridas, água e luvas?”, o guia perguntou. “Luvas?”, estranhei. “Yes”, ele disse. “Estamos prestes a entrar em Biwindi, a floresta impenetrável.” Andamos na mata por uma hora e meia em fila indiana. Achei-a perfeitamente penetrável. Imaginei Stanley e Livingstone liderando suas expedições: 80 carregadores, 20 soldados, três guias, o intérprete local, o cozinheiro, uma bússola guardada a sete chaves, um diário de capa de couro guardado num baú, um mapa e eles, vestidos com um terninho de safári cáqui, botas, chapéu de couro e o peito estufado de orgulho (quando não estavam doentes e eram carregados em liteiras). De volta à realidade de nossa aventura, 150 anos depois dos exploradores originais, eis que aparecem os gorilas. Numa clareira do tamanho de uma grande sala de visitas, havia seis ou oito gorilas: os adultos faziam nada, e os filhotes faziam tudo, pulando de um lado para o outro, subindo nos arbustos e fazendo macaquices em geral, sob o olhar de gorilas de médio porte, que de imediato imaginei serem fêmeas, provavelmente as mães. E os machos adultos? Bom, é nisso que reside todo o mistério e encanto do dia. A espécie Gorilla beringei beringei foi descoberta por europeus em 1902, quando Robert Von Beringe, capitão de uma expedição militar alemã, matou dois gorilas a tiros e levou um deles para Berlim. Isso exemplifica o quão desconhecido era o coração do continente africano até recentemente. Desde então, dois ou três pesquisadores dedicaram seus estudos à nova espécie recém-descoberta. A primatologista americana Dian Fossey dedicou 18 anos de vida nas décadas de 70 e 80 ao estudo dos gorilas em Virunga, praticamente vivendo entre eles diariamente e desmistificando a crença no gorila-monstro-violento. Fossey cunhou o conceito de “salvem os gorilas”, lutando contra a caça desses animais num dos palcos militares dos mais voláteis e intricados, onde exércitos regulares, legiões de mercenários, caçadores de diamantes e minerais – além da pobreza e do isolamento – fizeram um verdadeiro vespeiro nos anos pós era colonial. Dian Fossey foi assassinada em 1985 na floresta em Ruanda em circunstâncias até hoje não esclarecidas (sua história inspirou o filme Na Montanha dos Gorilas, de 1988). Um gorila macho adulto tem 2 metros de altura e pesa 230 kg. Com a maturidade, o pelo das costas acinzenta e daí o apelido de silver back, costas prateadas. Havia dois deles, enormes. O guia disse, em inglês, “nem um passo e nem um pio”. Nunca antes nesse mundo oito brasileiros fizeram tanto silêncio. Até o discreto clique fotográfico reverberava como um trovão pela mata. Quer saber? Os gorilas não estavam nem aí. Eu estava a 3 metros de um silver back. Ele virou, me encarou, deve ter me achado magro e virou para o outro lado mastigando algo bem vegano. Preto e prata, olhos negros como no clássico russo, cara de King Kong e doce como um gorilinha de pelúcia? É.

Dian Fossey estudou o hábito dos gorilas, desmistificando a crença no gorila-monstro-violento


foto Frans Lanting

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Mas de repente, em meio ao encantamento, um momento de pânico: um filhote abraçou-se à perna de uma jovem humana que estava de calças pretas. Mamãe gorila veio em socorro – não sei exatamente de quem – e puxou o Baby-Kong que não queria soltar a perna “preta” (gorilas são pretos). De longe e só com gestos, o guia repetiu: “Nem um passo e nem um pio”. A jovem, pálida, cumpriu a ordem à risca e, depois de intermináveis 5 segundos, o filhote largou sua perna e foi brincar com outra coisa. Os dois silver backs nem piscaram, como se tivessem seguido também a ordem do guia. Durante uma hora os filhotes ulularam, as fêmeas coçaram-se e os grandes machos moveram-se daqui para logo deitarem-se ali. Numa cena especial, uma fêmea catou piolhos ou algo parecido na cabeça de um silver back e não desperdiçou nenhum: comeu todos. Durante uma hora – esse é o tempo padrão e máximo, para que os gorilas não se acostumem à presença humana – sentado no meio dos gorilas, brinquei de fotógrafo sério, de Dian Fossey, de Darwin e de todos os pioneiros que vieram à mente. Já na segunda vez, em outro dia junto aos gorilas (outra família em outra encosta), baixei a guarda, guardei a câmera e, livre da ânsia fotográfica que vitima todos nós, sentei-me no meio deles por uma hora como se eu pertencesse ao lugar. Observei muito. Os pés dos gorilas são estranhos, mas as mãos, não. São enormes, verdade, mas são como as nossas. Eles se coçam como nós. Espreguiçam-se como nós. Rolam na relva como nós devemos ter feito por milhões de anos. A experiência de estar em meio a uma família de gorilas, com ou sem câmera, foi para mim a mais profunda das experiências com o mundo selvagem.

Como em qualquer espécie, as mães-gorila são muito ciosas de seus filhos


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Mas salvar 900 gorilas tem um custo. A entrada no parque nacional custa US$ 750 por dia, fora guias, acomodação, veículos e tudo mais. Há ainda um custo humano. Em 1991, grandes áreas das encostas da cadeia Virunga foram transformadas em parques nacionais pelo governo de Uganda. Agricultura, exploração das florestas, comunidades, tudo foi proibido dentro dos parques. Os gorilas, pelo menos desse lado da fronteira, estavam salvos. Mas os pigmeus, não. O banimento de comunidades (de humanos, esclareça-se) nas áreas dos parques pegou os pigmeus em cheio. De um dia para o outro, uma reforma agrária decretou, na marra, que os pigmeus, que eram caçadores e coletores desde priscas eras, passariam a ser agricultores. Obviamente isso deu errado, e os pigmeus hoje vivem às margens da floresta, arrendando as terras que receberam e fazendo trabalhos secundários nas periferias de vilas já periféricas e empobrecidas. Encontramos os pigmeus na sede do parque nacional. Dentro de quatro paredes, os pigmeus mais pareciam com filhotes de passarinho assustados. Saímos para o mato, e a equação mudou: os brazucas viraram enormes primatas desengonçados enquanto os pigmeus, pequenos, leves e ágeis, brilhavam com luz própria no seu habitat ancestral. Com eles aprendemos a purificar água num bambu, a fazer uma armadilha eficiente (testamos em alguém), a atirar uma lança (testamos em um tronco), a encontrar mel de abelhas africanas que não picam (isso existe!). Também aprendemos como defender a porta da choupana contra animais intrusos e como fazer fogo girando uma vareta. Passamos o dia no mato com eles, visitamos uma caverna sagrada e ouvimos suas cantilenas. Nos rostos rudes dos mais velhos havia a luz oriunda da felicidade extrema de poder entrar na selva novamente (só conosco eles podem). Perguntei ao mais velho deles o que ele pensava quando, ainda na selva, via passar um avião. Ele disse que eles ficavam apavorados e escondiam as crianças nos ocos das árvores. Isso até 1991! Do outro lado, no Congo, ainda é assim. Nossa viagem continuou Uganda adentro, agora em meio a aldeias com feiras coloridas, os Montes Virunga quase sempre ao lado e uma quantidade formidável de animais africanos, com elefantes, leões, hipopótamos e outros bichos em profusão. O Canal de Kazinga foi um dos pontos altos do caminho; nele você navega lentamente a bordo de um catamarã ao longo das margens repletas de animais de grande porte, uns bebendo, outros chafurdando, e todos nos ignorando. A floresta de Kibale, por sua vez, tem a maior concentração mundial de chimpanzés. Hospedamo-nos num lodge charmoso na orla da selva e cedo pela manhã, fomos à luta. O chimpanzé é o primata mais próximo ao sapiens em termos evolutivos. Seu comportamento e sua capacidade de organização são similares aos nossos, desde que em grupos não maiores que 60 indivíduos, a partir de onde nós, humanos, tomamos ampla dianteira. Já no nosso último dia em Uganda encontramos o Lago Vitória, uma das duas nascentes do Nilo. Um lindo começo para o rio e um grande final para nós. Quem leva: a operadora Highland Adventures organiza expedições para Uganda com visita à montanha dos gorilas, interação com Pigmeus e safaris locais com segurança e conforto de bons hotéis e bons parceiros no destino. Consulte em www.highland.com.br para datas e valores. Instagram: @highland_adventures

Uganda e Ruanda são os lugares para ver os animais. O Congo também tem, mas está em meio a uma guerra


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No sentido horário: um gorila visto de muito perto, Mauro Chwarts em interação com os pigmeus e o grupo recebendo instruções do guia antes de entrar na floresta


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A ADRENALINA DA QUEDA LIVRE, APENAS UM PEQUENO PASSO SEPARA O CHÃO DA AERONAVE DE UM MERGULHO RADICAL: VOAR, ENFIM O SONHO SE REALIZA Texto e fotos Feco Hamburger Edição Claudia Berkhout

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Na Terra, a aceleração da gravidade é de 9,81 m/s2. Nossa experiência cotidiana e as intrincadas fórmulas de física na escola nos ensinam que a força da gravidade mantém nossos pés no chão. Pelo menos para a maioria de nós... A 14 mil pés de altitude, ou a mais de 4 km de altura do solo, um pequeno passo separa o chão firme da aeronave de um mergulho em queda livre. O que para alguns pode ser um pesadelo, para outros é tão somente a realização do sonho de voar. A bordo de um turbo-hélice Cessna Caravan, adaptada para a prática do paraquedismo, a porta aberta e o vento não tiram a leveza e a concentração de Anita, Domitila e René. Anita já realizou mais de 400 saltos, Domitila Aidar está na marca dos 4 mil e René parou de contar depois dos 5 mil saltos... Aliás, René trocou sua bem-sucedida carreira no mercado corporativo para se dedicar exclusivamente à sua paixão, trabalhando como instrutor de paraquedismo. Ele partilha seu conhecimento acumulado e contamina quem estiver por perto com sua séria empolgação. “Toda criança já sonhou que voava. Eu, como paraquedista, me considero um sonhador”, diz René antes de saltar para atingir velocidades superiores a 200 km/h. Num fim de semana normal, os três deixam São Paulo para trás em direção a Boituva, epicentro do esporte radical no Estado, onde se juntam a um número crescente de adeptos do paraquedismo em suas diversas modalidades. Do freestyle ao wingsuit, ambas para paraquedistas experientes, os praticantes não se cansam de explorar a vertigem da queda livre, formando um grupo bastante heterogêneo, de vários lugares do Brasil e do mundo, unidos pela emoção de voar. Mais do que um voo suave com o paraquedas aberto, o que lhes interessa é a sensação proporcionada pela atração da terra em queda livre. Segundos em que o tempo parece parar. Nas palavras de Anita, “voar é liberdade e, diferentemente do que muitos pensam, não é simplesmente sair do avião, existem várias posições e formas de voo, e o nosso corpo pode fazer coisas incríveis no céu”. E Domitila complementa: “Voar é sentir-se vivo, um sonho primitivo, uma possibilidade de estar completamente presente como em poucas situações de nossas vidas”. A adrenalina bate forte enquanto os acompanho até o momento do salto: eu seguro minha câmera fotográfica como se ela fosse capaz de recolocar os meus pés no chão. No capacete de René, uma outra câmera me representa. Quem sabe na próxima oportunidade eu troque a fotografia pela própria experiência...

“Voar é sentir-se vivo, um sonho primitivo, uma possibilidade de estar completamente presente como em poucas situações de nossas vidas” –Domitila Aidar, paraquedista


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“Aprendemos que é a força da gravidade que mantém nossos pés no chão. Pelo menos para a maioria de nós”

Agradecimentos: Fly Factory Free Fly School


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