TOP Magazine Edição 255

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MAKE LIFE A RIDE


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Sumário 10

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CULTURA

GASTRONOMIA

LIFESTYLE

PESSOAS

Sumário 58

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Capa

Sonia Guajajara

Marina Ruy Barbosa Diretora criativa convidada desta edição, ela fala sobre suas descobertas como empresária de moda e suas novas paixões: criar, agregar e transformar

O desafio de ser mulher indígena no Brasil e a luta diária pelos direitos das populações originais e pelo meio ambiente

Influencer digital e ícone de moda, ela usa seus canais para combater o racismo e enaltecer a inclusão, a representatividade e, sobretudo, a mulher negra

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Zoe E-TECH

Brasil por Marina

Noronha

Renault lança no Brasil a terceira geração de seu hatchback elétrico, o veículo racional que conquistou a Europa e vai dominar o mundo

Conheça os Lençóis Maranhenses, Alter do Chão e a Chapada dos Veadeiros eleitos entre os destinos favoritos de nossa estrela de capa

Santuário marinho do Brasil, a cobiçada ilha dá exemplo de educação ambiental e sustentabilidade

Luiza Brasil

40 Gastronomia A nova cozinha vegana abandona estereótipos e chega à alta gastronomia

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Mundo TOP

Cinema

Tiago Sant’Ana

Jota Mombaça

A revista digital da Bottega Veneta, a moda consciente da Ginger, tendências vintage, exposições virtuais e as propostas inovadoras do placemaking

Histórias de luta social, inclusão e êxito nos premiados Crip Camp e She’s Beautiful When She is Angry

Usando o açúcar como elemento essencial de suas obras, ele questiona a história e a colonização com sua arte

Destacada entre artistas latinoamericanos, a potiguar alterna seu trabalho entre escrita e performance, usando seu físico e o próprio sangue como elementos críticos


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Colaboradores

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Quem Fez Gabriela Schmidt Gabriela iniciou sua carreira como fotógrafa criando autorretratos e fotos documentais. Hoje em dia, os projetos de Gab abrangem arte, moda e trabalhos comerciais. Seu estilo fresco e vanguardista a tornou uma colaboradora das páginas de Vogue Brasil, Marie Claire, Glamour, GQ Style, Marie Claire Taiwan e mais recentemente da Vogue americana. Seus clientes de publicidade incluem Osklen, Rider, Hela, Adriana Degreas, Sauer, Tanqueray, Puma e Sony Music, entre outros. Gabi mora atualmente em São Paulo. @gabriela_schmdt

Renata Correa Stylist e consultora de imagem. Já trabalhou com grandes marcas do mercado nacional e contribuiu com publicações como Harper’s Bazaar, Elle, Vogue Brasil, Vogue Itália, FFW e CR Fashion Book. Seu interesse por design de interiores, pintura e história da arte permite aproximar estes universos e misturá-los de forma autoral com seu trabalho. @renatacorrea

Silvio Giorgio Morou em Londres e é um dos principais maquiadores do Brasil. Assina a beleza de marcas e campanhas de moda, filmes publicitários e desfiles no Brasil e no exterior. @silviogiorgio

Fabio Borges Fotógrafo e cinegrafista da natureza, paulistano morando em Noronha há 25 anos. Filma para TV Globo, Canal OFF e muito mais. Colabora com instituições de pesquisa, biólogos e etc. @FabioBorgesDocumentarista



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Publisher Claudio Mello Diretora Criativa e Editorial da Edição Marina Ruy Barbosa TOP Magazine | Studio Mundo TOP Editoras: Renata Zanoni e Vivian Monicci Editora convidada: Nathalia Hein Diretora de Arte: Rosana Pereira Assistente de Produção e de Mídias Digitais: Diego Almeida Projeto Gráfico Marcus Sulzbacher Lilia Quinaud Paulo Altieri Fabiana Falcão Colaboradores Texto Bob Sharp, Fabio Borges, Laura Lisboa, Luana Jimenez, Nathalia Hein Foto Araquém Alcântara, Fabio Borges, Gabriela Schmidt, Maiara Cerqueira Editora Todas as Culturas Diretor de Criação: Lucas Buled Redator: Bruno Souto Gerência de Relacionamento: Carolina Alves Produção Executiva: Camila Battistetti RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes Financeiro: Marcela Valente Secretária Executiva: Carolina Kawamura Circulação: Regiane Sampaio Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados Pré-Impressão: Leograf Gráfica e Editora TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - Cep 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074 7979 As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados. /topmagazineonline

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Carta da Editora

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Carta da Editora Transformação é a palavra de ordem – para as nossas vidas e para essa edição da TOP Magazine. Ao receber o convite para ser a editora e diretora criativa desse exemplar que está em suas mãos, fui presenteada com o que toda artista mais sonha: uma carta branca para propor um conceito que conversasse com o meu íntimo e com a minha visão. Não demorou muito (quase nada, eu diria)para que eu fosse buscar no passado inspirações que pudessem nos ajudar a transformar o futuro. Cheguei ao berço do feminismo, da revolução sexual e dos direitos civis para contar essa história. Fizemos uma viagem aos anos 70 para encontrar a força do feminino e a irreverência da mulher que se descobria mais independente e dona de si. As lindas referências gráficas e visuais da época, somadas ao um toque de contemporaneidade, criaram o mix perfeito. O resgate dessa década de revoluções não ficou apenas no campo imagético: fizemos questão de trazer a mesma veia transformadora para todas as páginas da revista. São pautas que trazem o que há de mais revolucionário nos campos da arte, culinária, arquitetura e tecnologia, e que vão de encontro ao espírito inovador da época. Os anos que trouxeram a defesa do meio ambiente, as revoluções comportamentais e importantes lutas políticas colorem e inspiram a TOP Magazine desse mês. Mulheres transformadoras e empoderadas ganham palco nas sessões de entrevista – Sonia Guajajara fala sobre lutas no âmbito particular e político. Artistas como Jota Mombaça e Tiago Sant’Ana trazem uma brasilidade que transpassa o campo da arte e se tornam verdadeiras mensagens de ativismo. A importância de uma vida mais consciente fica ainda mais latente nos temas apresentados nas sessão Mundo TOP – o conceito de placemaking, a culinária plant-based e a quebra de barreiras criadas pela net-art. São pessoas que despontam, marcas que transformam, narrativas que promovem discussão. Esses e outros assuntos criam a conexão com o fator disruptivo da década de 70, sem diluir a importância de discutir o futuro. Mais do que abordar o que há de melhor em 2021, a principal intenção dessa edição é promover uma reflexão única e pessoal – como nós estamos contribuindo para um mundo mais empático, justo e consciente? Que transformações internas e estruturais são necessárias para darmos esse próximo passo? Mesmo não tendo todas as soluções, precisamos estar empenhados em achar as respostas.

Marina Ruy Barbosa Diretora Criativa e Editorial dessa Edição


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TRUE FASHION


FASHION WEEK/ BACKSTAGE NEW YORK / FEV- 2020


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Mundo Top UMA SELEÇÃO DE TUDO O QUE ESTÁ ACONTECENDO ENTRE LIFESTYLE/ ARTE / MODA / TECN

design

O importante é ser ousado Bottega Veneta lança Issued, sua nova revista digital

“It’s good to be safe, but you know, it’s really important to be bold.” Esta é a frase que você escuta ao abrir a primeira edição da mais nova revista digital da Bottega Veneta, denominada Issued. A ideia da publicação é um grande passo para o mundo da moda e para a forma como ele se comunica com o público. No começo de janeiro, a marca surpreendeu ao desaparecer das redes sociais, principalmente porque tinha uma presença muito forte e reconhecida no Instagram, empenho trazido pelo designer britânico Daniel Lee, quando assumiu a casa em 2018. No entanto, não fez isso para cortar relações com sua audiência, mas sim para trazer um novo approach ao meio.


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OLOGIA E MAIS

A revista bimestral é uma mistura de ensaios, vídeos, animações e imagens que brincam com sons, texturas, cores e sentidos, e criam um storytelling diferenciado do que se estava acostumado a ver em catálogos de marcas de luxo, redes sociais e revistas em geral. Totalmente digital, ela expressa a visão da Bottega de maneira mais progressiva e inteligente do que no Instagram. Entre o conteúdo diverso da publicação, há um curta do coletivo britânico de parkour STORROR conquistando o horizonte da cidade em cores vivas e vibrantes; cenas da passarela mais recente da Bottega Veneta em Sadler’s Wells, em Londres, narradas por Neneh Cherry; e rascunhos de Barbara Hulanicki. Tudo isso intercalado

com pequenos vídeos de musicistas em roupas coloridas tocando seus instrumentos, tapeçarias de Bindi Steel, obras feitas de bexigas, peças de moda reimaginadas em meios inusitados como gelatina, pedra ou arbustos, e animações que mostram a coleção mais recente da marca sob um olhar fantasioso e criativo. O destaque da edição é, sem dúvida, o vídeo estrelado por Missy Elliott de seu hit de 1999, Hot Boyz, filmado pelo fotógrafo Derek Blanks, em que ela está vestida por completo em peças da grife e canta pela tela de maneira despreocupada e divertida. +infos: issuedbybottega.com


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Mundo Top


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moda

Vestir com consciência Conheça a Ginger, marca da atriz Marina Ruy Barbosa Para quem não sabe, além de atriz, Marina Ruy Barbosa também é empreendedora. Em julho de 2020, a nossa cover girl lançou a marca de roupas Ginger, que trouxe um conceito diferente do que se estava acostumado no mundo da moda. Contrariando os ideais de fast fashion e consumo desenfreado, a Ginger chegou ao mercado com um olhar mais consciente em relação ao processo de produção e o impacto ambiental que as coleções causam. A ideia é que as peças sejam versáteis, atemporais e duradouras, para que, assim, sejam parte de um guardaroupas sustentável. Dessa forma, a marca não segue um calendário fixo de lançamentos. “Sempre tive uma relação muito próxima com a moda desde a infância, que se transformou em uma verdadeira paixão. Construir uma marca é um sonho que venho nutrindo há muitos anos, mas nunca tive tempo de colocá-lo em prática. No momento que a minha rotina precisou desacelerar, tive a oportunidade de fazer uma

reflexão e, de certa forma, me redescobrir. Foi o que eu precisava para dar esse passo. Encontrei uma nova forma de me expressar”, comenta a atriz. A Ginger foi criada com a sócia Vanessa Ribeiro, que entra na parte de publicidade, varejo e marketing de moda. As peças são feitas com matérias-primas e produtores brasileiros, valorizando o mercado nacional, e a marca lançou algumas coleções em que todo o lucro gerado foi 100% revertido para organizações sociais. A primeira, chamada “PREFÁCIO”, teve parceria com a ONG Gerando Falcões, que trabalha em favelas do Brasil incentivando o esporte e cultura para crianças e adolescentes e qualificação profissional para jovens e adultos. A segunda, “Amazônia”, foi em apoio à Casa do Rio, que contribui para o desenvolvimento humano e territorial na região da BR 319, no estado do Amazonas, por meio da educação integral, empreendedorismo e agroecologia. Além dos materiais, as embalagens também têm um impacto mais responsável: as etiquetas das roupas são feitas de fio reciclado e papel semente, que pode ser plantado para cultivar cenouras, e as embalagens de envio dos produtos têm o selo eureciclo, que garante compensação ambiental e gera incentivos para aumentar a taxa de reciclagem no país. +infos: shopginger.com.br


Mundo Top

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nostalgia

The new old Tendências do passado reaparecem com uma cara nova Como diz o velho ditado: na arte, nada se cria, tudo se copia. E não dizemos isso em um sentido pejorativo. Conforme os anos vão passando, é natural olharmos para o passado com nostalgia. As novas gerações vêm reinventando trends de diversas décadas, principalmente de 1970 e 1980, e essas mudanças podem ser observadas em várias áreas. Tivemos a volta do cabelo repartido ao meio – depois de anos sendo regra ele jogado para o lado –, das calças boca de sino, das roupas de crochê e dos óculos de lentes grandes e coloridas. No cenário musical, vimos o revival dos discos de vinil, das vitrolas e de gêneros retrô no mundo todo. Exemplos disso são o álbum Future Nostalgia, da cantora Dua Lipa, que seguiu o conceito artístico do pop “nostálgico”; a música Blinding Lights, do canadense The Weeknd, que traz a apreciação aos anos 1980; a febre disco que BTS trouxe com seu single Dynamite; a música AmarElo, do rapper Emicida, que usa um sample da canção Sujeito de Sorte, de Belchior, lançada em 1976. Séries como Stranger Things, que se passa nos anos 1980, e Sex Education - que acontece em uma escola onde todos os alunos vestem roupas

retrô sem motivo específico -, se tornaram referências estéticas para os jovens. As polaroids, que marcaram visualmente a década de 1980, voltaram a ser um símbolo de “estar por dentro”. Pensando nisso, separamos alguns produtos que são perfeitos para te colocar em dia com essa onda revival! We Are Rewind Inspirada pelo filme Guardiões da Galáxia e a série Stranger Things, a empresa We Are Rewind decidiu reinventar o famoso cassete player, que fez grande


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sucesso nas décadas de 1970 e 1980. Por quê? Porque a fita cassete voltou! Este produto é perfeito para enaltecer a gostosa nostalgia daquela época, só que com o funcionamento mais prático do século 21. O tocador possui bateria recarregável, conector bluetooth, e uma funcionalidade surpresa que permite ao usuário gravar suas próprias mixtapes. wearerewind.fr

Instax Modelo atual mais popular de câmera instantânea, a Instax é um dos produtos mais divertidos desta lista. A linha pertence à marca japonesa Fujifilm, uma das precursoras do mercado de filmes instantâneos desde os anos 1980. Suas diversas cores fazem o produto ir além, sendo também um item de decoração ou acessório. loja.fujifilm.com.br Analogue Se você passou a infância com os olhos grudados na tela pixelada da sua televisão de tubo ou nas imagens 8-bit do seu Game Boy, talvez seja hora desenterrar seus cartuchos antigos. A Analogue é uma empresa que cria produtos para celebrar a história dos videogames, com consoles e dispositivos que rodam tanto jogos de gerações antigas quanto os mais atuais. Ainda que seja visualmente parecido com seus antecessores, ele traz tecnologias atuais como alto-falante estéreo, telas LCD e conexão bluetooth. +infos: analogue.co


Mundo Top

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arte

Passeio virtual Museus nacionais e internacionais adaptam-se ao cenário atual para que a arte não pare Mesmo que alguns museus e galerias já estejam abrindo suas portas para visitação novamente, a pandemia de Covid-19 modificou a forma de consumir arte. Foram criados espaços virtuais e plataformas para promover a acessibilidade remota dos grandes museus do mundo. Plataformas como o Google Arts & Culture já faziam esse tipo de exposição há algum tempo, mas o impedimento de sair de casa forçou que essas tecnologias fossem aprimoradas e expandidas para que o mundo das artes não ficasse estagnado. Como resultado, temos hoje inúmeros acervos e exposições disponíveis à distância de um clique, e separamos aqui quatro exibições atuais que você pode acessar gratuitamente diretamente do conforto da sua casa. LEONARDO DA VINCI - 500 anos de um gênio O MIS Experience, plataforma do Museu da Imagem e do Som de São Paulo, traz a exposição digital Leonardo da Vinci - 500 anos de um gênio. Com uma experiência de usuário que faz parecer que você está entrando em um jogo, o museu conta a história completa da vida

e legado do grande mestre renascentista italiano, com mais de 100 itens expostos, incluindo réplicas das máquinas desenhadas pelo artista, suas obras mais famosas e uma seção inteira dedicada à Monalisa. O tour oferecido é multissensorial e interativo, com partes narradas, animações gráficas, realidade aumentada, imagens, vídeos e áudios, tudo em um espaço virtual 360° que pode ser explorado como se estivesse no museu fisicamente. A exposição foi criada em parceria com o Museo Leonardo Da Vinci, de Roma, e especialistas e historiadores da Itália e França, e desenvolvida pela Grande Exhibitions, empresa sediada em Melbourne, na Austrália. Ela ficará disponível para acesso online até 18 de julho de 2021. +infos: exposicaodavinci500anos.com.br


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SETA / SILK A mais nova exposição do Museo Salvatore Ferragamo conta a história da seda, uma das principais matériasprimas da maison e muito utilizada em seus famosos lenços, que se tornaram marca registrada a partir dos anos 1970. Com esculturas em tamanho real dos animais que inspiraram os temas das estampas, e a história da Rota da Seda na instalação dos dois artistas chineses Sun Yuan e Peng Yu, você pode “caminhar” pelo museu e descobrir toda a narrativa da exposição, conduzido por textos e áudios em inglês e italiano que explicam as obras desta experiência 360°. A exibição estará disponível de forma online e presencial até 18 de abril de 2022. +infos:ferragamo.com/museo/en/virtual-tour

OSGEMEOS: segredos A Pinacoteca de São Paulo inaugurou no fim do ano passado a primeira exposição panorâmica dos irmãos e artistas Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como OSGEMEOS. Além disso, disponibilizou um tour virtual de toda a mostra, incluindo os dez espaços utilizados no museu, sete salas expositivas, o Octógono, o Hall e o Pátio, mostrando os mais de 1000 itens - com cerca de 50 inéditos ou nunca apresentados no país – exibidos tanto presencialmente quanto online. O trabalho da dupla é focado principalmente em contar histórias sobre fantasia, relações afetivas, questionamentos, sonhos e experiências da vida. Em ‘Segredos’, eles revelam ainda desenhos e cadernos de anotação de quando eram adolescentes, muito antes dos icônicos personagens amarelos e da fama mundial. A mostra ficará disponível até 9 de agosto de 2021. +infos: 60up.com.br/tourvirtual/osgemeos


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Mundo Top arquitetura

Fazendo lugares para todos Conheça o placemaking, que reinventa e reinterpreta espaços públicos Vivemos em uma realidade em que estamos mais inclinados a ocupar espaços fechados e privados do que desfrutar de um local público, que é direito de todo cidadão. O placemaking é um conjunto de processos e ferramentas que visa melhorar a qualidade e aproveitamento de espaços públicos numa cidade, bairro, comunidade ou rua, tornando-os mais atraentes e agradáveis. O “fazer lugares”, que o nome indica, se refere à essa característica de transformar e ressignificar espaços por meio do planejamento, segurança, acessibilidade e estética, para que ele possibilite um encontro de pessoas e estimule a interação entre os membros da comunidade e o lugar onde vivem. O processo do placemaking leva em conta o cidadão, pois ele fará a mudança acontecer e desfrutará de suas melhorias. São levadas em consideração as carências e potenciais do local e população, tendo em vista a felicidade e bem-estar geral. São quatro quesitos que classificam a melhoria de um espaço público: acessibilidade (como esse local se conecta com seus arredores e se possui facilidade de acesso, passagem e mobilidade); conforto e boa imagem do espaço (se ele é seguro e propício para utilização); usos e atividades (se ele possui um propósito que converse com as necessidades da comunidade); e sociabilidade do lugar (se as pessoas se sentem confortáveis com as outras e inclinadas a interagir). O movimento teve origem na década de 1960, com as ideias inovadoras de Jane Jacobs, William Whyte e Jan Gehl, que introduziram o conceito de que a projeção de cidades deve ser visando as pessoas, e não apenas carros e shopping centers. No entanto, o termo “placemaking” ganhou força principalmente nos Estados Unidos, com a criação da organização americana Projects for Public Spaces (PPS) nos anos 1980. O termo foi trazido para o Brasil oficialmente em 2014, quando foi fundada a Comunidade Brasileira de Placemakers. Um exemplo atual é o coletivo Metrópole 1:1, formado por arquitetos e urbanistas que trabalham para promover a conscientização das comunidades

sobre o uso dos locais em que habitam, através de oficinas e capacitações, intervenções urbanas, concursos e pesquisas e diagnósticos. Dessa forma, as discussões e informações sobre a cidade tornam-se acessíveis aos cidadãos. Seu projeto mais recente foi uma pesquisa em parceria com a ONG Sampapé! sobre o acesso aos espaços públicos na cidade de São Paulo durante a pandemia de Covid-19. Para saber mais sobre os resultados deste projeto, visite o Instagram @metropoleumpraum. +infos: pps.org | metropoleumpraum.com.br


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Cultura

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Crip Camp é dever de cada um assistir PRODUZIDO PELO CASAL OBAMA, DOCUMENTÁRIO INDICADO AO OSCAR 2021 LANÇA UM OLHAR IMPACTANTE SOBRE A LUTA DOS DEFICIENTES NORTE-AMERICANOS POR SEUS DIREITOS


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Cultura

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Por Laura Lisboa fotos Divulgação

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Camp Jened foi uma colônia de férias aberta a jovens com deficiência nas montanhas de Catskills, no estado de Nova York, em 1951. Uma espécie de campo de livre expressão para pessoas inseridas em um universo de ostracismo e preconceito, cientes de sua condição de invisibilidade em um mundo que não foi construído para elas. Fundado e mantido por hippies, o acampamento funcionou por 25 anos e alavancou o movimento pelos direitos dos deficientes nos Estados Unidos na década de 1970, que culminou em uma mudança sistêmica fundamental. O acampamento é o ponto de partida do documentário Crip Camp: Revolução pela Inclusão, dirigido por Nicole Newnham e James Lebrecht (ex-campista e um dos narradores), com produção executiva de Michelle e Barack Obama por meio da Higher Ground, produtora fundada pelo casal em 2018. O lugar é descrito com imagens de arquivo intercaladas com depoimentos que revelam uma espécie de porto seguro onde jovens portadores de deficiência – de poliomielite a paralisia cerebral severa – são livres e independentes para se divertir. Nessa realidade quase utópica, sem julgamentos e discriminação, eles contam piadas, namoram, fumam, cantam e tocam instrumentos. E questionam. Da superproteção da família, que ignora seu desejo de ficarem sós, minando sua privacidade, à falta de acessibilidade e mobilidade. Para quem assiste, é inevitável a satisfação em vê-los se engajar pelos próprios direitos. A figura central é a destemida ex-campista Judy Heumann. Ela lidera o movimento pelo cumprimento da seção 504 da Lei de Reabilitação de 1973, que garante a acessibilidade nos espaços subsidiados com dinheiro público: de universidades a transporte, de escolas a hospitais.


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O dia a dia em Camp Jened, onde portadores de deficiências podiam viver incluídos e começaram a articular mudanças essenciais para inclusão

Com produção do casal Obama, Crip Camp tem a inclusão de portadores de deficiências como tema central


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Cultura

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Cobrando os políticos pelo cumprimento da lei, o grupo nasce pequeno, mobiliza simpatizantes em todo o país e passa a ser acompanhado pela imprensa. Os manifestantes param o trânsito, organizam passeatas, ocupam prédios públicos e não abrem mão da conquista de seus direitos, transitando por três governos: Nixon, Carter e Reagan – neste último, a lei é finalmente posta em prática, com medidas como a adaptação de banheiros e transporte, e a criação de rampas de acessibilidade nas repartições públicas, possibilitando uma vida independente aos deficientes. Disponível na Netflix, a obra foi indicada ao Oscar de melhor documentário neste ano, premiação concedida a Professor Polvo. Envolvente, inspirador, engraçado e estimulante, fará você mudar completamente a percepção sobre a situação de portadores de deficiência. Mais do que discutir preconceitos, Crip Camp: Revolução pela Inclusão revela uma forma de mudar o mundo.

Cobrando os políticos pelo cumprimento da lei, o grupo nasce pequeno, mobiliza simpatizantes em todo o país e passa a ser acompanhado pela imprensa. Os manifestantes param o trânsito, organizam passeatas, ocupam prédios públicos e não abrem mão da conquista de seus direitos, transitando por três governos: Nixon, Carter e Reagan – neste último, a lei é finalmente posta em prática.

Mais do que inclusão, o documentário revela uma forma de mudar o mundo


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She’s Beautiful When She’s Angry O lindo e difícil caminho de libertação das mulheres nas décadas de 1960 e 1970 Com um olhar provocador e excitante sobre o nascimento do movimento de libertação das mulheres, o documentário She is beautiful when she is angry (Ela é linda quando está brava, em tradução livre) traz à tona o movimento de libertação das mulheres no final dos anos 1960. As filmagens de arquivos, inéditas, com cenas de grupos de ativistas locais pelos Estados Unidos oferecem uma reconstituição poderosa sobre esse período tão decisivo para o feminismo no mundo. A exemplo disso, o documentário retrata os primeiros dias da Organização Nacional para Mulheres (NOW), quando as mulheres usavam chapéus e luvas. Ao mesmo tempo, mulheres jovens, frustradas com seu status de segunda classe nos direitos civis e grupos de paz, iniciaram um novo movimento chamado de libertação das mulheres. Eles proclamaram que “o pessoal é político” e exigiram igualdade sexual em todas as áreas da vida diária. Apresentando entrevistas com as primeiras feministas Kate Millett, Fran Beal, Rita Mae Brown e muitos outros, She’s Beautiful When She’s Angry mostra mulheres lutando com humor, às vezes com fúria – o que se fez necessário, aliás, para que suas vozes fossem ouvidas à época. O filme revela muitos aspectos do movimento: poetas e editores em São Francisco, ativistas lésbicas, Mulheres de Chicago, que começaram um serviço de aborto clandestino, e as mulheres de Boston que escreveram Our Bodies, Ourselves, apontado pela Time Magazine como um dos livros mais importantes do século 20.


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Gastronomia 40


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Sinal verde DA EMPATIA AOS ANIMAIS ÀS PREOCUPAÇÕES COM A PRÓPRIA SAÚDE E COM O MEIO AMBIENTE, DIFERENTES MOTIVOS FAZEM AUMENTAR CADA VEZ MAIS O NÚMERO DE ADEPTOS À ALIMENTAÇÃO PLANT-BASED NO MUNDO INTEIRO – E A GASTRONOMIA ACOMPANHA O RITMO


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Gastronomia

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Por Laura Lisboa Fotos Divulgação

5 min

No início deste ano, o aclamado Guia Michelin, que concede a premiação gastronômica mais cobiçada a restaurantes no mundo inteiro, laureou com uma estrela o restaurante ONA, em Arès, perto de Bordeaux. Teria sido apenas mais um restaurante a estrear no guia, não fosse um detalhe: desde 1900, quando a prestigiada publicação foi criada, é o primeiro estabelecimento 100% vegano do planeta a ganhar uma estrela Michelin. Denominado com a sigla de Origine-Non-Animale, o ONA é comandado pela chef Claire Vallée, e seus pratos nada têm a ver com as chamadas porções naturebas e sem sabor estereotipadas como pratos vegetarianos ou veganos. Aliás, dificilmente o público em geral associa comida vegana a uma grande experiência gastronômica. Mas uma estrela Michelin pode ser o início de uma grande e positiva mudança. No salão do ONA, com atmosfera bucólica, são servidos apenas menusdegustação criados com técnicas contemporâneas da alta gastronomia. À mesa, combinações criativas e intrigantes como cogumelos com saquê, algas marinhas com capim-limão, massas preparadas com frutas e caramelo de pimentões estão entre as criações da chef que surpreendem os comensais. Também na França, a tradicionalíssima Maison Ladurée, fundada em 1862, incluiu em todas as suas boutiques versões veganas de seus famosos macarons – doces coloridos preparados originalmente com

Chocolate quente vegano, macarons idem, luxuosos doces servidos no salão de chá da Ladurée em Beverly Hills. Abaixo, um dos pratos criativos do menu-degustação do ONA. Na página anterior, hambúrguer de falafel.


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A Maison Ladurée incluiu em todas as suas boutiques versões veganas de seus famosos macarons

claras de ovo, açúcar e amêndoas trituradas – nos sabores caramelo de coco e cacau peruano. A decisão de incluir macarons sem proteína animal no menu é resultado do sucesso alcançado no badalado salão de chá da grife francesa de confeitaria em Beverly Hills. Em 2016, a loja surpreendeu ao desenvolver e comercializar somente itens plantbased, de macarons a itens clássicos da confeitaria francesa, como o Plaisir Sucré. Já em Nova York, o restaurante Eleven Madison Park, que além de três estrelas Michelin conquistou o topo do ranking do World’s 50 Best Restaurants, anunciou sua reabertura em junho deste ano com pratos exclusivamente veganos: todos à base de vegetais da terra e do mar, frutas, legumes, fungos, grãos e muito mais. O motivo da mudança? De acordo com o chef-proprietário, Daniel Humm, o sistema alimentar moderno “simplesmente não é sustentável”. Essa tendência global à alimentação plant-based vem ganhando força nos últimos anos e conquista cada vez mais adeptos nos quatro cantos do mundo. Além de não comer carne de nenhuma espécie, como acontece com os vegetarianos, os veganos não consomem nenhum tipo de alimento ou produto de origem animal: de ovos a leite, de lã a couro. Há quem garanta que comer pouca carne é o novo normal. E há quem aposte no completo desaparecimento das refeições com carne em um futuro não muito distante. Seja qual for a tendência, a onda green kitchen nunca esteve tão em alta. E gente bacana para inspirar não falta: de Brad Pitt a Beyoncé, de Bill Clinton a Ariana Grande, de Xuxa a Yasmin Brunet, são muitos os nomes que fazem o veganismo combinar com sucesso e com estilo de vida saudável e antenado com os atuais valores globais. Os fatores responsáveis pela mudança de


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Gastronomia

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mentalidade variam e podem ser complementares. Com relação à saúde, a associação do consumo de carne ao câncer pela OMS em 2015 pode ser considerada um importante divisor de águas. O mesmo com relação ao peso da pecuária no aquecimento global – responsável por 80% do desmatamento tropical, o setor produz mais gases de efeito estufa do que todo o transporte do mundo. A produção de um quilo de carne bovina demanda quase 15 mil litros de água e sete quilos de grãos. Há também um imenso grupo de adeptos do veganismo que se converteram após tomar conhecimento da crueldade a que os animais são submetidos pela indústria alimentícia. A cada ano, quase 100 bilhões de animais são abatidos em um mundo em que a carne à mesa ainda é dissociada do animal vivo. No Brasil, o nicho de produtos veganos – sobretudo de alimentos – vem ganhando um mercado cada vez maior, seja nas prateleiras dos

No Brasil, muitos dos restaurantes das grandes cidades já disponibilizam sugestões plant-based no menu


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Pizza e sanduíche de linguiça vegana são opções oferecidas hoje em dia em restaurantes plant-based

supermercados, seja em lojas especializadas. Boa parte dos restaurantes das grandes cidades já disponibilizam ao menos uma ou duas sugestões plant-based no menu. Em São Paulo, a rede de pizzarias Pizza Prime, que não é vegana, oferece no cardápio dez pizzas plant-based, utilizando ingredientes como muçarela de castanha, requeijão e calabresa veganos. Outra pizzaria paulistana, a Plant Pizza é 100% vegana. Os discos são produzidos com massa à base de farinha de trigo orgânica e fermentação natural, e as coberturas incluem versões veganas de ingredientes como bacon e muçarela, além de cogumelos, tomates assados, abobrinha e berinjela. A cozinha para o delivery funciona em uma casa espaçosa no bairro de Perdizes que abriga o projeto Green Kitchen, com pizzas, hambúrgueres, empório com produtos veganos e o delivery do restaurante Plant Made, da cadeia internacional de Matthew Kenney Cuisine, famoso por esse tipo de gastronomia.


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Gastronomia

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Outra prova de que a gastronomia plant-based pode ser surpreendente é o italiano 100% vegano Piccoli Cucina, no bairro do Sumaré, também em São Paulo. Com entradas como o antepasto de pepperoni vegetal artesanal salteado na cebola e os bolinhos de peixe vegetal, preparados com alga nori e mandioquinha, o cardápio criado pela chef Kamili Piccoli tem sugestões tentadoras. Entre os principais, a polpetta recheada com calabresa vegetal tem massa de feijão branco, servida com queijo vegano cremoso. Outro destaque é a lasanha à bolonhesa, preparada com queijo cremoso de castanhas e presunto vegetal com molho pomodoro e “a carne moída do futuro”. Por falar em futuro, as estimativas dos especialistas apontam que ele será flexitariano. Formado pela fusão das palavras “flexível” e “vegetariano”, o termo define o estilo consciente de se alimentar, com práticas vegetarianas flexíveis, como a adesão ao movimento “Segunda sem Carne”, por exemplo, ou ao consumo de apenas um tipo de carne, como aves ou peixes. Pode ser que você já seja flexitariano e ainda não tenha se dado conta.


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Texturas perfeitas, sabores criativos e apresentações primorosas surpreendem os olhos e o paladar

Lasanha bolognese Piccoli Cucina, Cheesecake do Green Kitchen e bolinho do mar 100% vegetal. Na outra página, polpetta com fetuccine do Piccoli Cucina




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Contra o esquecimento, açúcar O ARTISTA VISUAL TIAGO SANT’ANA DESTACA A SUBSTÂNCIA DERIVADA DA CANA EM SEUS TRABALHOS PARA QUESTIONAR A FORMA COMO A HISTÓRIA É TRANSMITIDA DESDE O PERÍODO DA COLONIZAÇÃO


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Por Nathalia Hein fotos Divulgação

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Tiago Sant’Ana nasceu em Santo Antônio de Jesus, principal cidade do Recôncavo Baiano, e elegeu a própria região de origem para apresentar parte de sua obra. Nos antigos engenhos de açúcar locais, o artista cria fotos, vídeos e performances que relembram histórias da violência colonial perdidas no tempo. “O açúcar é um material orgânico que nos traz muito fascínio no presente”, afirma o artista, com exclusividade para TOP Magazine. “Mas, no passado, está intimamente ligado com processos de violência, foi a mola propulsora de um sistema de exploração social e racial no Brasil que até hoje sentimos na pele”, completa. O fio condutor de seu trabalho é oferecer percepções históricas diferentes das narrativas herméticas e consolidadas de fontes geralmente privilegiadas. O açúcar, dosado com história e memória, é um elemento crucial em seu trabalho, que integra um coro formado pelas vozes de vários outros artistas e ativistas engajados na luta pela reescrita da história, ou ao menos pelo questionamento da forma como vem sendo contada desde o período da colonização. “A história que conhecemos na contemporaneidade ainda é escrita sob um ponto de vista eurocêntrico, que pensa na Europa como o centro do mundo e as outras geografias como desimportantes”, defende. Com o açúcar, Tiago recria objetos, como na série Sapatos de Açúcar - Tamancos de Forra. “Durante o período da escravidão no Brasil, os sapatos se constituíam como objetos precários que simbolizavam liberdade ou cidadania”, explica. “Às pessoas negras era vedado o direito de andarem calçadas, havia um pacto social para que estivessem


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Em sentido horário, a partir da seta: A série “Passar em Branco” foi registrada entre as ruínas de uma construção colonial Foto: Cortesia do artista

O açúcar, dosado com história e memória, é um elemento crucial no trabalho de Tiago


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descalças”. A obra resgata o imaginário baiano de que muitas mulheres negras que conseguiam libertação – muitas vezes trabalhando como escravas de ganho, ou seja, vendendo quitutes nas ruas e mantendo parte do lucro – compravam tamancos altos, com plataformas. Era a forma de demonstrar à sociedade a conquista da própria liberdade, não só por estarem calçadas, mas também pelas plataformas, que lhes traziam altivez. “Quando acontecem essas performances dentro dos antigos engenhos de açúcar, as pessoas começam a repensar esse lugar, o porquê daquele contexto”. A tensão da série, que inclui também sapatos masculinos, se concentra no fato de os sapatos estarem prestes a serem dissolvidos na água do mar – gesto que representa a fragilidade da cidadania com relação à população negra. Já na série Refino, a cor branca do açúcar contrasta com elementos arquitetônicos, livros ou gravuras antigas. Parte da obra é uma performance desenvolvida no Recôncavo Baiano em que o prédio rui 100 kg de açúcar sobre o corpo do artista, formando um véu branco contínuo que impede a visão do público a tudo o que está atrás de Tiago. “É uma metáfora para pensarmos sobre processos de invisibilização e apagamentos provocados por esses sistemas de exploração do açúcar que até hoje podem ser experienciados na sociedade brasileira”, define. Novos Significados Tiago Sant’Ana já expôs em cidades como Los Angeles, Chicago, Bogotá e Manchester. Mesmo usando materiais universais, caso do açúcar, o desafio é fazer o público local vincular a substância utilizada para adoçar com a história da escravidão no Brasil, ponto de partida de sua obra. “Há um estranhamento que considero muito positivo, porque no final estamos contando a cada pessoa uma narrativa sob uma perspectiva que não é a mesma”, afirma. Para ele, o contato do público com seu trabalho e suas distintas reações são “a grande graça em produzir arte.” Doutorando em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia, Tiago liga intimamente pesquisa e processo criativo. “Meu papel como um artista pesquisador é estabelecer diálogos entre diferentes tradições de saber”, diz o artista, que também se define como escultor de conhecimentos e cientista da arte. O resultado desse diálogo fica claro, por exemplo, em Passar em branco, em que roupas são passadas com eletrodomésticos contemporâneos. A cena é ambientada em um antigo engenho de açúcar na cidade de Cachoeira, também no Recôncavo. “Essa justaposição dos tempos é uma característica importante na obra pois discute como as relações raciais e de trabalho do passado – materializada pela estrutura em ruínas do engenho – se perpetuam no presente. O resgate de materiais documentais de uma época é também ponto de partida para reinterpretações. Um exemplo é a série Invenção da Liberdade, com a releitura de fotografias que registram a escravidão, tiradas por viajantes europeus em missões etnográficas no Brasil. “Doulhes um novo sentido na medida em que realizo bordados e atribuolhes novos títulos que remetem a um universo de insurreição”, diz. Na série, um homem negro se torna um guerreiro do orixá Ogum, uma mulher forra é retratada calçada e se torna uma espécie de santa pela liberdade, o marinheiro Dragão do Mar se torna uma bússola pelas lutas de emancipacionistas e um homem produz um incêndio na Casa Grande com uma tocha. “Assim, símbolos como o fogo e uma espada são inseridos ou destacados, propondo pensar esses símbolos como de luta”, explica.

Na pág. ao lado: Na série “Sapatos de Açúcar”, o par de calçados está prestes a se dissolver no mar: representação da fragilidade da cidadania com relação aos negros.


Foto Maiara Cerqueira

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“Meu papel como um artista pesquisador é estabelecer diálogos entre diferentes tradições de saber” , diz Sant’Ana




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UMA ESTRELA CONSAGRADA ENTRE AS MAIS TALENTOSAS ATRIZES DE SUA GERAÇÃO E UMA DAS MAIS BELAS MULHERES DO BRASIL, MARINA RUY BARBOSA TRILHA NOVOS CAMINHOS DE SUCESSO NO MERCADO DE MODA E COMO DIRETORA DE CRIAÇÃO Por Nathalia Hein Fotos Gabriela Schmidt Direção Criativa Marcelo Jarosz Styling Renata Correa Beleza Silvio Giorgio 7 min


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Na página anterior Blusa Gucci @gucci Saia Paco Rabanne @pacorabanne para NK Store @nkstore Sandálias René Caovilla @renecaovilla Broche de flor Frou Frou Vintage @froufrou.vintage Nesta página: Top de paetês B.Luxo @b.luxo Calça Frou Frou Vintage @froufrou.vintage Sandálias René Caovilla @renecaovilla Brincos Gla @glaisastateofmind Brincos de strass usados como broches na cintura Eduardo Caires @eduardocaires


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Quando aceitou o convite para fazer a direção criativa e a curadoria de conteúdo dessa edição de TOP Magazine, Marina Ruy Barbosa já tinha em mente a revista que queria construir. Seu processo criativo anda borbulhante desde que ela lançou sua marca, a Ginger, há pouco mais de um ano, e desde então sua cabeça tem se abastecido de influências das mais diversas áreas e naturezas. Temas como sustentabilidade, diversidade, inclusão social, feminismo não são apenas bandeiras passageiras, mas o mote de seu trabalho como empresária de moda e de sua influência como uma das personalidades mais admiradas do Brasil. Na entrevista a seguir, conversamos com a mulher madura, cabeça feita e despida de rótulos que a jovem atriz se tornou e, que hoje, reflete e ressignifica seu trabalho dentro das telas ou no comando de empresas. O que despertou sua relação e interesse pelo mundo da moda, sendo já a atriz jovem de maior sucesso do país? A moda sempre me interessou, desde cedo. É um universo que me permitiu sonhar, ser criativa - e eu tinha certeza de que estaria mais envolvida com ele de uma forma ou de outra. Com a minha carreira de atriz, aconteceu uma aproximação natural. Comecei a fazer parte da indústria no papel de “garota propaganda” e fiz grandes parcerias ao longo dos anos, me tornando embaixadora dessas marcas, das quais me orgulho muito. Com o passar do tempo, minha imagem foi crescendo e se consolidando e tive o privilégio de poder trabalhar com as maiores marcas do mundo, dentro e fora do país. As semanas de moda, os convites para eventos internacionais e a oportunidade de conhecer grandes direto-

Blusa Frou Frou Vintage @froufrou.vintage Hot pants Haight @haight_clothing Saiote Casa Juisi @casajuisi Mules Miu Miu @miumiu Meias Minha Avó Tinha @minhavotinha Brinco usado como cinto Eduardo Caires @eduardocaires

res criativos abriram o meu olhar e enriqueceram o meu repertório. Em 2020, decidi viver o mundo da moda de uma nova forma, dessa vez como empresária – lançamos a Ginger, a minha primeira empresa no setor. Hoje, vejo minha relação com a indústria de forma amadurecida e sólida, como algo que foi construído cuidadosamente durante anos. Sinto que consigo aproveitar o melhor que ela tem a oferecer. Como você vê a moda como negócio no Brasil hoje? A meu ver, a moda brasileira é motivo de muito orgulho para o nosso país. Temos grandes mentes criativas, uma estética alegre e ousada, além de uma bossa que é só nossa. Sinto orgulho de poder fazer parte, mesmo que de maneira tímida, do mercado nacional. Como qualquer setor, ela apresenta desafios inerentes ao negócio, somados às particularidades de ser empreendedor no Brasil. Mas há um grande potencial. Cada vez mais, os brasileiros têm apreciado e valorizado a moda, e eu acredito no crescimento e desenvolvimento do setor. Sinto também que o consumidor está aberto a rever a sua forma de consumir e a experimentar novas propostas, e é isso que estamos tentando fazer com a Ginger. Nos últimos tempos você tem focado muito em sua marca e em sua paixão pelo mundo fashion. Quando o assunto é sua outra paixão, a dramaturgia, quais sonhos você ainda não realizou? Podemos esperar um papel internacional de Marina Ruy Barbosa? Infelizmente, o audiovisual foi obrigado a parar por conta da triste situação da pandemia. Então, quando foi necessário

“Sinto que o brasileiro está aberto a rever a sua forma de consumir e a experimentar novas propostas, e é isso que estamos tentando fazer com a Ginger”


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Macacão André Betio @andrebetio Sandálias Aquazzura @aquazzura


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Blusa Miu Miu @miumiu Brincos Gla @glaisastateofmind


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Blusa e hot pants Miu Miu @miumiu Brincos Gla @glaisastateofmind


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o total isolamento, percebi que teria que “pausar” meus anseios como atriz momentaneamente. Todos os meus projetos na televisão e cinema foram adiados. Mas espero em breve, com segurança, voltar aos estúdios pra gravar e contar histórias. Não existem limites para sonhar dentro da atuação, são muitas possibilidades. Estou em busca de projetos que me desafiem e que me tirem da zona de conforto. Quero interpretar personagens interessantes e densos, contar histórias inspiradoras, me surpreender no processo. Essa veia artística está muito presente em mim, mesmo quando faço parte de um shoot. Amo entrar naquele momento, me entregar e viver aquela versão da Marina intensamente. Tenho um projeto internacional em andamento, chamado “Rio Connection” feita pela Globo em parceria com a Sony. O cronograma foi impactado pela pandemia por conta das locações dentro e fora do país, além do elenco internacional, mas é um projeto que tem feito meus olhos brilharem! Neste momento em que os temas relacionados ao feminismo e à força da mulher na sociedade ganham cada vez mais atenção, como você enxerga o seu papel neste movimento? O feminismo e as causas das mulheres sempre foram assuntos muito importantes para mim. São temas que eu procuro me profundar, pois acho que precisamos estar nos questionando constantemente. Qual é o meu lugar nessa luta? Quais são as transformações que precisamos buscar? Como posso contribuir de maneira relevante? O feminismo é uma luta de todas e eu espero, enquanto mulher e figura pública, estar fazendo o meu papel para contribuir com uma sociedade mais justa e respeitosa. Blusa NV by Nati Vozza @bynv Top Paeteh @paeteh Vestido usado como saia Theresa Montenegro @theresaoficial Hot pants Haight @haight_clothing Sandálias René Caovilla @renecaovilla Lenço Minha Avó Tinha @minhavotinha Broche Dior em Trash Chic @trashchicvintage

Com 16 anos de carreira você já percorreu o caminho de diva, passando pelo drama, ação, temáticas de época. Qual a posição em que você se sente mais confortável e qual ainda gostaria de encarar? Acho que atuar, muitas vezes, é viver no desconforto. É nesse lugar que existe a criação, a adaptação e o nascimento de uma nova persona. É uma arte que acaba no público, mas começa com uma grande transformação pessoal. Cada personagem que interpretei me ensinou alguma coisa sobre mim e mexeu comigo de alguma forma – é inevitável. Para viver o papel do outro, é preciso se entregar e se despir de preconceitos. É ser um livro aberto com páginas em branco. Atuar é se permitir e se colocar no lugar do outro. Essa incerteza e inquietude do novo me puxa para frente, e é o que eu tenho buscado nos meus projetos. Você já pensou em escrever algum roteiro de cinema ou série? Ai, se eu pudesse me desdobrar em mil... eu sou apaixonada pelo universo cinematográfico e seria impossível dizer que eu nunca tive vontade de escrever um roteiro. Mas precisamos fazer escolhas na nossa vida e sempre achei que existem pessoas muito mais talentosas para ocupar esse lugar. Por enquanto, fico mais do que satisfeita em estar do outro lado dessa construção, no meu papel de atriz. Sou muito feliz em poder me expressar dessa forma e contribuir com as construções de lindas narrativas. Sinto que escrevo histórias também, só que de outra forma. Atuar sempre fará parte da minha vida e é nesse lugar que eu me enxergo hoje.

“Estou em busca de projetos que me desafiem e que me tirem da zona de conforto. Quero contar histórias inspiradoras, me surpreender no processo”


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Top Minha Avó Tinha @minhavotinha Calça Casa Juisi @casajuisi Lenço Frou Frou Vintage @froufrou.vintage


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Top Minha Avó Tinha @minhavotinha Lenço Frou Frou Vintage @froufrou.vintage


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““O feminismo é uma luta de todas e eu espero, enquanto mulher e figura pública, contribuir para uma sociedade mais justa e respeitosa” Broches de flores Graciella Starling @graciellastarling Brincos O Pássaro Vintage @opassarovintage


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Casaco de pelúcia externo e scarpins Prada em Frou Frou Vintage @froufrou.vintage Colete de pelos Stella McCartney para Trash Chic @trashchicvintage Meias A.ROLÊ @a.role_ Luvas Gucci @gucci


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Você é linda, admirada e inteligente, mas como toda mulher deve ter alguns dias em que acorda com a auto estima baixa e sem vontade de aparecer nas câmeras e mesmo nas redes sociais. Nessas horas, você tem algum ritual especial de cuidado e beleza? Não só como toda mulher, mas como toda pessoa. Todos nós temos dias bons e ruins, não é? Inseguranças, desânimo e aquela abalada na autoestima fazem parte da vida. Comigo não é diferente. Com a pandemia, também ficamos mais sensíveis (e com razão), então é muito importante respeitamos os nossos momentos de fragilidade. Os meus rituais são menos focados em beleza e mais voltados para autocuidado. Me aproximar da natureza, ler um bom livro, até mesmo respirar fundo... São as práticas simples que têm sido minhas grandes aliadas. No fim, o ponto é sempre o mesmo: ser mais gentil e carinhoso com você mesmo. E de certa forma, não me cobrar tanto. O que a Marina de hoje diria para a Marina atriz mirim? Se tivesse que escolher apenas uma coisa, talvez diria: “Calma, Marina. Tudo tem o seu tempo”. Eu sempre fui muito focada nos meus objetivos, em alcançar os meus sonhos, em provar que eu era capaz. E, muitas vezes, isso veio a um custo pessoal alto – não conseguia comemorar as minhas conquistas pois estava sempre ansiosa, pensando nos próximos passos ou no próximo projeto. Existe o momento de trabalhar muito, de investir o seu tempo, de dar 110%... Mas também precisa existir o tempo de parar e apreciar o que foi alcançado. Sinto que não conseguir fazer isso durante a minha infância e adolescência e gostaria que a Marina de 9 anos soubesse que é possível ter os

dois. Hoje faço questão de valorizar, comemorar e me auto parabenizar por todo progresso, um trabalho de amor-próprio mesmo sabe? Você é embaixadora de muitas marcas e contribuiu em grande medida na construção não só da imagem, mas do estilo de vida por trás delas. Agora, com a Ginger, se fosse para escolher uma embaixadora brasileira para representar a sua marca, quem seria? E por quê? Não consigo dizer quem seria a embaixadora Ginger pois, para mim, ela não tem um rosto. Mas posso facilmente dizer o que ela representa e o como se coloca no mundo. Ela é uma mulher que sabe o que quer. Ela não se apega às tendências e preza por um consumo mais inteligente. Ama moda, mas se interessa muito por cultura, arte e pelo meio ambiente. Nostálgica, mas antenada nas novidades, sabe? Ela valoriza e respeita o passado, mas se esforça para contribuir para um amanhã melhor. Consciente. Sensível. Essa é a mulher Ginger, e ela pode ser tão plural e diversa quanto as lindas mulheres do nosso país. O grupo Arezzo&Co enxergou um potencial imediato na sua grife e no seu olhar para a moda. Primeiro houve a collab da Ginger com a Schutz no final do ano passado. Agora, mais recentemente, esse convite para ser diretora criativa do ZZ Mall. O que você espera construir nessa posição? O grupo Arezzo&Co foi uma das grandes empresas que notaram o nosso desempenho e os nossos diferenciais logo no começo. Foi muito gratificante ter o reconhecimento de executivos importantes e grandes empresas no país, especialmente para uma marca de moda que nasceu pequena. Fazer uma parceria com a Schutz

“Hoje faço questão de comemorar e me auto parabenizar por todo progresso, um trabalho de amor-próprio, sabe?” Vestido Andre Betio @andrebetio Brincos GLA @glaisastateofmind


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Vestido Andre Betio @andrebetio Brincos GLA @glaisastateofmind


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fazia muito sentido para a Ginger e foi uma escolha muito acertada para a nossa construção de marca. Por conta dessa colaboração, acabamos nos aproximamos mais do grupo e, depois de muita trocas, recebi o convite para assumir a direção de moda do ZZ Mall. Estou muito feliz com a oportunidade e sinto que estamos construindo um lindo caminho para o marketplace. Além de poder trabalhar com uma das maiores empresas do setor, estou tendo a oportunidade de aprender com uma equipe fantástica e de ter uma troca de experiências enriquecedora. Recentemente a Ginger lançou uma coleção cápsula cuja renda das vendas foi revertida para um projeto na Amazônia. Seu intuito ao trabalhar nesse mercado é ir além da moda? Quando decidi investir no sonho de criar minha própria marca de moda, eu sabia que não faria sentido trazer os mesmos moldes que existiam no mercado. Hoje, não cabe mais uma empresa que só se preocupa com o lucro ou com a venda de produtos – ela precisa somar, trazer soluções diferentes e agregar para a sociedade de alguma forma. Por isso, investir em transformação faz parte do DNA da Ginger e estaremos sempre em busca de oportunidades para agregar e fazer a diferença. Nascemos com uma parceria com o Gerando Falcões, onde 100% do lucro da nossa primeira coleção cápsula foi revertido para a instituição. Em seguida, nos unimos à Casa do Rio, criando uma nova coleção com lucro em prol de projetos na Amazônia. E, enquanto marca, seguiremos em busca de oportunidades como essas para engajar o publico em causas relevantes e conectá-los com instituições idôneas.

Suas peças, suas criações e suas campanhas vão trazer esse olhar sobre a diversidade, inclusão e sustentabilidade? De que maneira? Como enxerga a moda como instrumento de transformação social? Sem dúvida enxergamos a moda como um instrumento de transformação social e ser uma marca atuante nesse sentido faz parte dos nossos objetivos. Existem várias formas de contribuir, seja no casting das campanhas, na escolha dos materiais utilizados e no trabalho com causas e projetos sociais que merecem atenção. Sinto que estamos fazendo escolhas conscientes para colaborar com essa transformação, nesses e em outros sentidos. De qualquer forma, estamos empenhados em aprender cada vez mais e sempre abertos a novas ideias que façam a diferença para a sociedade. Todo mundo tem uma definição para a Marina: a atriz de sucesso, a jovem prodígio, a referência de moda, a embaixadora de grandes marcas, a empreendedora. Agora gostaríamos que você se definisse. Quem é a Marina? Olha, sinceramente prefiro não me definir. De alguma forma acho que as pessoas sempre estão buscando essas definições ou até rótulos para as outras. Sejam eles positivos ou não... E de alguma forma isso te aprisiona sabe? Porque, de forma inconsciente, você acaba se colocando numa caixinha. E eu não quero mais isso. Quero ter o direito e a liberdade de escrever minha história, sem limites, sem buscar suprir qualquer expectativa externas. Sou uma mulher como qualquer outra – que ama, que chora, que é cheia de sonhos e de vontade de viver e ser todos os dias muito feliz.

“Investir em transformação faz parte do DNA da Ginger e estaremos sempre em busca de oportunidades para agregar”


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Equipe Assistentes de fotografia:

Renato Toso, Pedro Pradella, Murilo Stabile

“Quero ter o direito da liberdade de escrever a minha história, sem suprir expectativas externas”

Assistência de styling e produção de moda:

Leopoldo Mendonça @leopoldo.Mendonca Victor Yuuki @victoryuuki Letícia Alahmar @alahmarleticia Maju Bergamaschi @mjbergamaschi Maria Fernanda Salazar @mfse Camareira: Mag Pinheiro

Tratamento de Imagens

Bruno Rezende @b_rezende




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A voz da natureza

LÍDER INDÍGENA E ÍCONE DA CAUSA NO BRASIL, SÔNIA GUAJAJARA TRAVA UMA LUTA DIÁRIA PELOS DIREITOS DAS POPULAÇÕES ORIGINAIS E PELA SOBREVIVÊNCIA DO MEIO AMBIENTE Por Nathalia Hein fotos Araquém Alcântara

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Ser mulher indígena no Brasil é um desafio que Sonia Guajajara encara todos os dias desde que nasceu. Justamente por isso, sempre muito consciente do espaço que tem direito de ocupar e das vozes que precisa ecoar, Sônia se tornou um ícone da causa indígena no Brasil. “Ser mulher indígena é esse desafio permanente de reafirmar minha cultura, a minha identidade e meu gênero”, conta ela que encontra obstáculos dentro de sua própria cultura. “A cultura indígena colonial arraigou o machismo, então meus desafios são dobrados”, diz. Dias de luta, dias de glória, dias de lágrimas: a trajetória sinuosa é parte de seu dia a dia desde muito cedo. Aos 15 anos, já absolutamente consciente das batalhas que a vida lhe impingiria, deixou a Terra Indígena de Arariboia, no Maranhão, onde nasceu, para estudar em Minas Gerais, convidada pela Funai. Hoje, aos 44 anos, é mestra em Cultura e Sociedade pelo Instituto de Humanidades, Artes e Cultura pela Universidade Federal da Bahia, além de professora do ensino fundamental, auxiliar de enfermagem e liderança indígena, posição que a levou ao status de primeira mulher indígena a concorrer numa chapa à presidência da república em 2018. Sua grande bandeira é pela garantia da sobrevivência dos povos e da cultura indígena no Brasil, existência que se vê ameaçada desde a colonização. “Todo plano de desenvolvimento, desde o descobrimento do Brasil, teve como base o extermínio dos povos indígenas”, explica. “Hoje, um dos grandes problemas está na manutenção da natureza, principalmente. Destruir a natureza é destruir os índios: somos indissociáveis”. O discurso potente de Guajajara alcançou um novo patamar quando, convidada pela cantora Alicia Keys, subiu ao palco do Rock in Rio para protestar em prol da Amazonia diante de milhares de pessoas em 2017. “Existe uma guerra contra a Amazônia. O governo quer colocar à venda uma área grande de reserva mineral. Estaremos de olho porque não existe plano B. Essa é a mãe de todas as lutas. A luta pela mãe terra”, discursou na ocasião, sendo ovacionada pelo público. O trabalho incansável e muitas vezes solitário diante do tamanho da briga por uma causa tão importante, mas ao mesmo tempo tão relegada ao esquecimento é o que, apesar de tudo, garante o fôlego para seguir em frente. Em quase duas décadas de luta pelos direitos das populações originárias, ela já viu grandes mudanças, muitas delas pelas quais foi responsável por meio de seu trabalho. Hoje ocupa cargos de destaques em diferentes organizações e movimentos. “Estamos rompendo barreiras. Um exemplo disso foi a primeira Marcha das Mulheres Indígenas que aconteceu em Brasília, em 2019, a primeira do mundo e que está servindo para inspirar outras mulheres em outros continentes”, orgulha-se. Ao todo existem no Brasil, segundo Censo de 2010, 996 mil indígenas vivendo em solo nacional, distribuídos em 305 povos diferentes em todos os estados brasileiros – 114 grupos vivem em isolamento voluntário. “Meu projeto é articular mulheres indígenas, seja na política, seja através da educação”, afirma.

Sônia foi a primeira mulher indígena a concorrer em uma chapa à presidência da república no país, em 2018


foto divulgação

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Novo Zoe E -Tech UM HATCHBACK COMPACTO PROJETADO E CONSTUÍDO PARA TER PROPULSÃO ELÉTRICA A BATERIA QUE ATENDE MUITO BEM QUEM PRECISA DE UM VEÍCULO RACIONAL


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Por Bob Sharp Fotos Divulgação

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A Renault lançou recentemente no Brasil o Zoe E-Tech, a terceira geração do modelo elétrico surgido em 2012 e que desde então já vendeu mais de 270.000 unidades mundialmente, tendo sido o carro elétrico mais vendido na Europa no ano passado. Para o consumidor isso significa ter à disposição um veículo consagrado no mercado mais disputado no mundo e que pode ser usado em qualquer lugar ou região do planeta. São duas versões, ou dois níveis de acabamento, a básica Zen (R$ 204.990) e a tipo Intense (R$ 219.990). O motor elétrico de 135 cv e 25 kgfm de torque é vigoroso, faz do Zoe E-Tech um veículo bastante ágil tanto na cidade quanto na estrada. Acelera de 0 s 100 km/h em 9,5 segundos e alcança a velocidade máxima de 140 km/h rapidamente. Por sua potência e aerodinâmica (Cx 0,25), poderia atingir 180 km/h, mas a limitação é necessária por altas velocidades imporem elevado consumo de energia elétrica. O Zoe E-Tech, apregoado como carro urbano, é perfeitamente apto para enfrentar rodovias onde o limite é 120 km/h, a velocidade máxima nas estradas brasileiras. Por exemplo, numa ultrapassagem típica em que é preciso retomar velocidade de 80 a 120 km/h, o Zoe E-Tech só precisa de 7,1 segundos, tempo muito próximo — só 1 segundo mais — de carros a combustão mais leves e potentes. Por falar em peso, é sabido que as baterias atuais de carros elétricos, as de íons de lítio, são normalmente pesadas. A do Zoe pesa 326 kg e o carro, 1.480 kg. Seu consumo de energia não é informado pela fabricante, mas num breve teste que fiz em uso urbano e rodoviário, o consumo médio indicado no excelente quadro de instrumentos foi de 6,4 km/kW·h (quilowatts·hora). Isso significa que com a bateria de 52 kW·h, tendo por base esse consumo, o Zoe pode rodar até 333 quilômetros. Vale notar que esse consumo foi em teste, com uso bem mais intenso e

Na foto ao lado: um interior bem desenhado e convidativo para se sentar ao volante


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É tudo o que o Renault Zoe E-Tech precisa para receber energia elétrica, um carregador


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Alavanca seletora da transmissão tem comando elétrico


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rápido do que se utilizasse o veículo normalmente. Portanto, o alcance informado pela Renault, 385 quilômetros, é realista e factível. O tempo de recarga da bateria varia conforme a potência do carregador e o tipo de corrente elétrica, alternada ou contínua. Carregadores vão desde 7,4 kW, como os instalados em residências (wallbox), que efetuam uma recarga completa 8 horas e 33 minutos, até uma estação de estrada de 22 kW.h corrente alternada (AC) ou 50 kW corrente contínua (DC), neste caso proporcionando carga suficiente para rodar 150 km que leva 30 minutos — uma bateria descarregada leva 77 minutos para voltar à plena capacidade com esse tipo de carregador. Todavia, a recarga de 50 kW só é disponível para a versão Intense. É óbvio que nesse aspecto de energia um carro elétrico requer certo planejamento, certa antecipação segundo os planos de uso como distância a percorrer. Diferente de um carro a combustão convencional, onde se encontra postos de combustíveis com total facilidade e a operação de abastecimento é questão de minutos. Porém, a vantagem financeira do carro elétrico em termos de custo para rodar é abissal quando comparada com o de um carro a combustão. No exemplo do meu breve teste, tomando por base o custo do kW·h em bandeira amarela e o consumo médio registrado, o custo do quilômetro foi de 12 centavos de real. Num carro de motor a combustão de mesmo porte, mas não tão pesado, fazendo 12 km por litro com a gasolina a R$ 5,50 o litro, esse custo é de 45 centavos de real. Ou seja, o custo de energia para o carro elétrico rodar, nos exemplos citados, é 26,6% do de um carro a gasolina, quase a quarta parte. Aproveitamento da energia cinética O custo para rodar do carro elétrico, na prática, é ainda menor. Isso porque neste caso há o aproveitamento da energia cinética, também chamada de energia de movimento. Como em todo carro elétrico, cada vez que se levanta o pé do acelerador ou mesmo se freia, o motor elétrico passa a funcionar como gerador acionado pelo veículo por meio de sua transmissão, desse modo carregando a bateria. Esse momento é claramente mostrado no quadro de instrumentos e permite ao motorista exercer total controle dessa útil caraterística para aproveitá-la ao máximo.

Na foto ao lado: Sensores de estacionamento traseiro e dianteiro e visão 360 graus são grandes auxílios ao motorista


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Falando de transmissão, carro elétrico não tem câmbio. No Zoe, o quadrante da alavanca seletora só tem as posições R, N e D. Combinada com a posição D está a B (de brake, freio), alternandose D e B com leves toques na alavanca para trás. O freio nesse caso consiste em aumentar a geração de energia elétrica, o que ocasiona forte efeito frenante e tem a mesma eficácia do freio-motor de um carro a combustão. É só pensar que todo gerador requer energia para produzir energia elétrica, seja hidráulica (represas), eólica (ventos) ou térmica (usinas termelétricas), além, de como visto, cinética. Nesse processo de gerar energia, freia o carro. Inclusive, no dia a dia, esse efeito frenante, menos o do D, mais o do B, o motorista passa a utilizar normalmente em vez do freio do veículo, que é a disco nas quatro rodas, na maioria das situações. Dirigindo o Zoe E-Tech Nada mais fácil. Como em muitos carros hoje, a chave é um cartão com transmissor. Motor elétrico não dá partida, no sentido estrito, ele funciona assim que recebe corrente elétrica. Então, ao se apertar o botão de partida apenas se energizam todos os circuitos elétricos do veículo, do motor inclusive. Uma vez energizado é selecionar D e acelerar, como em todo carro de câmbio automático. Ou R para dar ré, quando o motor inverte sentido de rotação. Não é preciso “aprendizado”. Como o freio de estacionamento é eletromecânico, ele atua automaticamente ao desenergizar o motor (“desligar”) e solta também automaticamente ao acelerar. No trânsito anda e para ou em subidas ou descidas o freio de estacionamento atua também de modo automático. Um bom hatchback Fora o fato da propulsão elétrica, o Zoe E-Tech é um bom hatchback. Tem bom espaço interno, o porta-malas é de 338 litros e o encosto do banco traseiro rebatível é dividido 1/3-2/3 (parte menor atrás do motorista), muito prático. A capacidade de carga é bem conveniente, 486 kg. A decoração interna é agradável aos olhos e ao tato, com a parte superior do painel de material macio. A tela tátil do multimídia, em posição elevada, é de 7 polegadas e permite espelhamento de celular Android Auto e Apple CarPlay. O rodar é seguro e obediente com pneus de medida adequada (155/55R16H) mas sem estepe, havendo kit de reparo e bomba de ar elétrica em caso de furo. As rodas de liga de alumínio têm desenho bem elaborado. Toda a iluminação e sinalização é por LED, inclusive faróis principais e de neblina. Nos principais a troca alto-baixo é automática ao vir carro em sentido contrário ou ao se aproximar de outro no mesmo sentido. As luzes de seta traseiras são dinâmicas, chamando mais a atenção do motorista do carro de trás. Não precisa comprar O Zoe E-Tech está no Renault On Demand, modalidade de assinatura em que um dos planos é de 36 meses, com franquia de 1.000 km por mês, pelo valor mensal de R$ 3.890,00. Nesse preço estão incluídos manutenção, documentação do veículo, seguro, assistência 24 horas, entrega do veículo em casa, entre outros serviços vantajosos. Informação completa no site www.renaultondemand.com.br.

Onde quer que se olhe, o Zoe E-Tech salta aos olhos pelo seu design moderno e elegante, ao mesmo tempo passando ideia de robustez, que de fato tem


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De qualquer ângulo que se olhe o novo Zoe, tem-se percepção de sua qualidade construtiva e do seu design inspirado. A foto maior mostra bem isso


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Engana-se quem pensa que o Zoe E-Tech é um carro apenas urbano. Tem total aptidão para uso rodoviário transportando cinco pessoas e levando sua bagagem no porta-malas de 338 litros. Seu alcance é de 385 quilômetros


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Renault Zoe E-Tech MOTOR POTÊNCIA E TORQUE TRANSMISSÃO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS BATERIA ALCANCE MÁXIMO PESO PREÇO

Elétrico assíncrono 135 cv e 25.0 kgfm Somente redutor Dianteira 4,08 m 2,45 m 5 338 litros Íons de lítio de 52 kW·h 385 km 1.480 kg R$ 219.990




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Luiza Brasil quer mudar o Brasil CHEIA DE ESTILO E PERSONALIDADE, A INFLUENCER USA SEUS CANAIS PARA DISCUTIR E COMBATER O RACISMO E ENALTECER, SOBRETUDO, AS MULHERES NEGRAS Por Nathalia Hein fotos Divulgação

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Carioca, filha de uma psicopedagoga e de um engenheiro, Luiza Brasil cresceu sabendo que podia conquistar seu espaço no mundo. “Sempre estudei em escola particular, estive em alguns espaços nos quais eu me senti muito solitária durante a minha infância, mas meus pais, apesar de não terem embasamento acadêmico em questões raciais, sempre me repassaram valores sobre valorização e pertencimento”, conta ela. Formada em comunicação social, encontrou na moda uma vocação e também uma ferramenta de enfrentamento e de mudança de padrões. Quando mudou para São Paulo, há quase uma década, para trabalhar como redatora em um e-commerce de marcas de luxo e, logo depois, para ser assistente da papisa da moda brasileira, Costanza Pascolato, ela começou a construir um legado precioso. Sua imagem, sua atitude e seus looks – todos queriam saber quem era e fotografar a garota estilosa que estava na fila do gargarejo dos desfiles da São Paulo Fashion Week – logo deixaram claro que Luiza tinha muito a dizer. Em 2015, lançou a plataforma Mequetrefismos como uma curadoria de informação, de moda, indústria ativa, pensamento, universo feminino – tudo englobado pela questão racial, hoje uma das bandeiras mais latentes de seu trabalho como influenciadora.


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O que é ser uma influenciadora para você? Pra mim, ser um influenciador não é uma profissão, é uma consequência de um trabalho, de uma construção que você faz pra sua vida. Eu não entrei nas redes sociais e comecei a dar um textão e as pessoas começaram a me seguir meramente por causa disso. Tem uma trajetória aí que começou em dois mil e oito, quando eu comecei a entrar no universo das redes sociais, a conversar com a indústria, a escrever pros maiores veículos de moda, a trabalhar com os grandes nomes, com grandes marcas. Porque influência não se faz só dentro do espaço da rede social, mas diz muito sobre quem é você, com quem você se senta pra conversar e debater ideias, quem você consegue articular. Há seis anos você fundou o “Mequetrefismos” e fez dele um instrumento de comunicação e militância contra o racismo. O que mudou de lá para cá sobre esse tema na sua opinião? A dor, né? De lá pra cá mudou o conceito de militância e de ativismo racial. Se antes era algo muito pautado entre negros, que são pessoas pretas e pardas do Brasil, hoje em dia - e principalmente depois 2020, com o assassinato de George Floyd nos EUA, o antirracismo virou um tema importante pra sociedade como um todo. Foi quando se percebeu que não adianta só o negro saber e dominar o assunto. Esse lugar de fala precisa ser de todo mundo, porque o racismo é uma ferramenta que viabiliza a sociedade brasileira. E aí, não é questão de raça, não é só pro negro, não é só pro branco. Todos nós saímos perdendo quando a sociedade se mantém num lugar racista.

Você já sofreu racismo? Em que circunstâncias? Acho muito difícil uma pessoa preta afirmar que nunca passou por isso. Talvez ela nunca tenha passado porque ela não teve nem conhecimento, nem sequer questionou quando foi mal atendida em um shopping de luxo, quando foi perseguida, quando as pessoas acham que ela não pode consumir alguma coisa. Todas essas são linguagens do racismo do brasileiro, que muita gente não sabe o que vive. Eu sempre fui de classe média, participei de programações e de lugares relacionados ao circuito de luxo com a minha profissão. Eu vivia isso muito naturalmente, pelas pessoas e até mesmo eu não me questionava de algumas atitudes racistas que existiam. Então, óbvio, eu fui aprendendo e fui entendendo com muita leitura, muita informação. Com as redes sociais alguns ativistas trouxeram esse diálogo de elucidação de ideias. Como você acha que a representatividade impacta a vida de quem se vê representado? Pode dar algum exemplo nesse sentido? A representatividade é muito importante porque nos dá referencial, nos dá parâmetro. Eu vim de uma infância na qual eu tive muitos acessos, porém muitas ausências de, por exemplo, como eram as apresentadoras infantis na televisão, quem eram os protagonistas de novela. A televisão sequenciava os padrões, o que era bonito, o era bacana. E eu realmente fiquei ilhada em não me reconhecer nas coisas. E quando você vê exemplos, pessoas parecidas com você, isso gera identificação, gera um lugar de potencialidade, um lugar de esperança, um lugar de se ver ali. Então, pra mim é extremamente importante o movimento

“Influência não se faz só dentro do espaço da rede social: diz muito sobre quem é você, com quem você debate ideias”


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feito nas redes sociais. Representatividade importa, mas não esse lugar de “coloca um negro aqui só pra constar, só pra bater uma cota” - apesar de eu achar que cotas são importantes sim pra gente ter alguns reparos históricos dentro da sociedade. Um dos temas polêmicos sobre os quais você já discorreu é a “apropriação cultural”. Qual é a diferença entre “apropriação cultural” e “valorização cultural”? Eu vejo a apropriação cultural como um tema muito modular. Acho que é algo vivo, que se movimenta. O que era apropriação cultural ou não há dez, vinte, trinta anos atrás, hoje em dia pode não ser. As coisas vão se flexibilizando, vão criando outros entendimentos de acordo com a nossa evolução do que é o debate racial no Brasil. Mas, quando a gente fala do que é a diferença da apropriação cultural pra valorização, eu vejo que a apropriação é quando a gente sequestra sem creditar, sem validar. E ainda assim, a gente usa disso como uma ferramenta de mercado: enriquecer, ganhar dinheiro, ganhar visibilidade e não dar esse mérito ao outro. A valorização é quando a gente dá apoio, dá suporte, a gente incentiva, a gente usa, e pra mim fica muito nítido quando as pessoas consomem de afro empreendedores. Isso é um lugar de valorização cultural. Quando se questiona assim: quanto dos empreendedores eu consumo que são pretos? Quantas estilistas, quantas marcas de moda, de pessoas negras eu dou o dinheiro? Esse movimento é muito importante.

O que é ser feminista para você? Ser feminista é assumir a régua básica de direitos iguais pra homens e mulheres dentro de uma sociedade. Eu acho que não tem nada mais simples do que isso, sabe? Nós morremos porque somos mulheres, nós deixamos de ganhar mais porque somos mulheres, nós temos menos oportunidades de emprego ou de assumir cargos porque somos mulheres. Então, é sobre direitos básicos serem garantidos para todos, independentemente do gênero. Agora voltando um pouco para a moda, quem são os novos talentos para você? Eu amo acompanhar, eu amo consumir, eu amo fazer parte da comunidade. Tem Ângela Brito, que eu amo; tem a Lane Marinho, que eu também adoro; temos Isaac Silva; uma marca chamada Aurora, da Isabel Suzarte, que também é incrível. E Misci e a Aluf são incríveis. Vale a pena conferir, amo. Como você acredita que militâncias como a sua estão influenciando a moda e o consumo? Estão influenciando a moda e o consumo, porque estão gerando a expansão da consciência. E não por um lugar unilateral, eu não estou fazendo isso só pra pessoas negras, eu faço isso com pessoas não negras também. Articular nomes, ideias, conexões, tudo isso dentro da minha militância, são os pilares que fazem com que eu consiga me pertencer a esses espaços e também outras pessoas pra essa noção de pertencimento e representatividade.

“Acho muito difícil uma pessoa preta afirmar que nunca sofreu racismo. Talvez ela não tenha identificado, porque isso aparece em muitas linguagens”


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Em suas redes sociais, Luiza compartilha seu dia a dia, seus looks e, principalmente, embasa e defende suas ideias


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Meu corpo, minhas regras DESTACADA ENTRE OS 20 ARTISTAS LATINOAMERICANOS MAIS PROMISSORES DA DÉCADA, A POTIGUAR JOTA MOMBAÇA ALTERNA SEU TRABALHO ENTRE ESCRITA E PERFORMANCE, USANDO SEU FÍSICO E O PRÓPRIO SANGUE COMO ELEMENTOS CRÍTICOS


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Por Laura Lisboa fotos Divulgação

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“Uma bicha não binária, nascida e criada no Nordeste do Brasil.” Assim se apresenta a artista interdisciplinar potiguar Jota Mombaça. Ela escreve. Ela performa. Ela faz estudos acadêmicos sobre as relações entre humanidade e monstruosidade. E também assina como Monstrx ou K-trinx Errátika. Das várias tatuagens pelo corpo – por si só um manifesto – uma se destaca, com a frase: “A gente combinamos de não morrer”. Os dizeres foram extraídos do livro Olhos d’água, da romancista negra Conceição Evaristo, um dos principais nomes da literatura contemporânea brasileira. As mesmas palavras também dão nome a uma de suas performances, uma ação duracional com facas artesanais que ela produziu com cacos de vidro, madeira e cadarços vermelhos. A obra ganha, ainda, um arquivo de textos, nomes e sons – o caráter sonoro e visual das palavras exerce papel importante nas práticas da artista –, uma forma de trazer ao espaço um coro formado por uma multidão que, por meio da voz da artista, reclama os seus corpos, suas memórias e seus modos de sobreviver, apesar da captura e da morte. É dessa forma, com manifestações em direção a resistências e lutas contra a reprodução da injustiça na sociedade, que Jota Mombaça atrai olhares internacionais e faz questão de interagir com eles. Em 2019, ela lançou um Laboratório de Ficção Visionária no Matadero Madrid Art Residency Center, na capital espanhola. O projeto reuniu um grupo de artistas e ativistas locais de diversas realidades sociais, além de colaboradores estrangeiros, com o objetivo de criar uma plataforma para o desenvolvimento de processos criativos em torno da imaginação, do ativismo, da escrita e da ficção científica. O evento também ofereceu oficinas e palestras abertas ao público. Igualmente no exterior, Jota participou, com uma leitura-performance, da 11ª Bienal de Arte Contemporânea de Berlim, que aconteceu no ano passado. Outro destaque no nível global: ao lado de mais três brasileiros – Adriano Amaral, Dalton Paula e Yuli Yamagata – foi incluída no livro 20 em 2020, Os artistas da próxima década: América Latina, lançado pela consultoria de arte Art Consulting Tool. Com pesquisa do jornalista e art advisor João Paulo de Siqueira Lopes e do curador de arte e gestor cultural Fernando Ticoulat, a publicação destaca os artistas mais promissores da América Latina, que se relacionam com o continente por meio de suas pesquisas. A edição, trilingue, concentra análises de 14 críticos e curadores de diferentes nacionalidades e lança um olhar sobre o futuro das artes visuais por meio de uma seleção cuidadosa. Jota é intensamente questionadora. Faz parte de uma nova geração de artistas ativistas que se aprofundam e debatem a descolonização – tópico que hoje vive seu ápice no meio artístico –, questionando narrativas oficiais e o legado colonial, e buscando um novo sentido para o tema no contexto atual. O processo estimula novas discussões e

Mombaça é intensamente questionadora. Faz parte de uma nova geração de artistas ativistas que debatem a descolonização


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pesquisas, além de estudos pós-coloniais. Nesse cenário, é impraticável discutir o racismo sem abordar questões como classe social e identidade de gênero. Sendo assim, a performer mergulha, por exemplo, nos estudos cuir/queer (sobre pessoas fora das normas de gênero) e aborda diáspora, violência e resiliência, justiça anticolonial e ficção visionária – movimento artístico que ajuda a compreender as dinâmicas de poder e imagina formas de cenários futuros mais justos. Em muitas de suas apresentações, Jota Mombaça usa o próprio corpo, com frequência nu. Em 2013, na performance Corpo-Colônia, por exemplo, uma amiga vestida de preto, utilizou uma pá para jogar pedras sobre o físico despido da artista – uma forma de lutar contra a colonialidade que carregava dentro do próprio corpo. O próprio sangue também é utilizado em diferentes performances como elemento crítico: na série A ferida colonial ainda dói, foi o material que ela utilizou para escrever, desenhar e sublinhar discursos e representações que reforçam a colonialidade como sistema de opressão e reprodução da guerra. Toda a luta de Jota Mombaça contra a colonialidade que carrega dentro de si é, na maioria das vezes, frustrante e contraditória, em suas próprias palavras, além de complexa e autodestrutiva. Ainda assim, é uma luta que vale a pena.


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O Brasil de Marina APAIXONADA POR VIAGENS NACIONAIS, NOSSA DIRETORA CRIATIVA E MUSA DE CAPA ELEGE TRÊS DE SEUS DESTINOS FAVORITOS NO PAÍS Por Nathalia Hein fotos Divulgação

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“Lençóis Maranhenses, um deserto todo nosso” Sob o sol escaldante do Nordeste brasileiro, a primeira impressão é estar enfrentando um deserto impetuoso. As tempestades de areia cegam temporariamente, o cansaço pode assustar logo de cara, mas bastam alguns passos para que a visão de lagoas naturais de diversos tons de azul e verde apaziguem qualquer desconforto. Afinal, são elas, verdadeiros oásis em meio às dunas, a real motivação de qualquer viagem aos Lençóis Maranhenses. O cenário é mesmo de fazer cair o queixo: 90 mil hectares de dunas livres e lagoas de água doce – onde é possível se refrescar durante os passeios – formam o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, joia mais preciosa do litoral oriental do Maranhão. A quase 300 km da capital do Estado, São Luís, a região tem algumas portas de entrada, mas as mais comuns são chegar por Barreirinhas, Santo Amaro ou Atins. A mais aprazível, no entanto, é a primeira delas: a partir da capital é possível chegar até Barreirinhas com um carro ou em um transfer contratado em pouco mais de três horas. Vencida a estrada, o pequeno vilarejo oferece estrutura de ótima qualidade para turistas que chegam do mundo inteiro em busca do “deserto brasileiro”. Restaurantes de diferentes tipos de gastronomia, agências de turismo local, bares, lojinhas e até um resort, o Porto Preguiças Resort, já integram a paisagem da cidade. Vale saber que é necessário contar com o auxílio de uma empresa ou agente local para entrar no parque, já que apenas veículos 4x4 credenciados pelo ICMBio tem autorização para atravessar as dunas. Tendo isso em mente, a melhor dica é embarcar em um passeio que combine duas ou mais

Verdadeiros oásis em meio às dunas, as lagoas são a real motivação de qualquer viagem aos Lençóis Maranhenses


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atrações juntas. Sim, os Lençóis vão muito além das dunas e lagoas. O Circuito da Lago Azul tem visita à Lagoa da Preguiça, Lagoa da Esmeralda, Lagoa Azul e Lagoa do Peixe (a única perene – as demais são sazonais, sujeitas ao período de chuvas que acontece entre fevereiro e maio) e dura metade do dia, mas sempre com direito a mergulhos nas aguas límpidas e mornas das lagoas. O Circuito da Lagoa Bonita visita as Lagoa do Descanso, do Maçarico e do Clone tem a mesma duração. Já o Circuito Vassouras, Mandacaru e Caburé dura o dia todo, mas inclui passeio de lancha pelo Rio Preguiças e faz parada em Vassouras, no povoado de Mandacaru e termina na Praia de Caburé e oferece a chance de conhecer um pouco mais sobre a cultura local e, com sorte, saborear algumas das delícias regionais em um restaurante à beira mar. Para quem não estiver satisfeito em conhecer a região por terra e por água, voar é sempre uma boa opção. O Aeroporto Municipal de Barreirinhas é ponto de partida de voos panorâmicos em helicópteros e pequenas aeronaves. Com duração de 25 a 30 minutos, sobrevoa o Rio Preguiça, Pequenos Lençóis, Farol de Mandacaru, Praia do Caburé, Foz do Rio Preguiças e Grandes Lençóis, onde é possível observar algumas das maiores e mais impressionantes lagoas e, do alto, ter dimensão da beleza e magnitude do Parque. Outro grande atrativo da região é o vento, ideal para a prática de kitesurf. A cidade de Atins, a uma hora de barco de Barreirinhas, foi, aliás, escolhida como reduto de praticantes do esporte.

www.portopreguicas.com.br


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foto @rioescolaparamotor de alexandre barbosa


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O isolamento em Alter do Chão permite criar uma nova e potente forma de se relacionar com a natureza e observar seus pequenos milagres diários

Em sentido horário, a partir da seta: Foto aerea de Arapiuns, Jovens pulando em Alter do Chão

Alter do Chão, de volta às raízes Autêntico e remoto, Alter do Chão não é o tipo de lugar que se curva à modismos e novidades trazidas pelo turismo. Estar ali é entender que é preciso fazer parte, cuidar e respeitar cada centímetro de uma terra quase sagrada. Uma vila com cerca de 800 famílias, a 40 km de Santarém, no Pará, é internacionalmente afamada por suas belezas naturais, às margens do calmo e cristalino rio Tapajós. A vila tem ritmo próprio e um isolamento que permite uma forma diferente de se relacionar com o resto do mundo. Parar para escutar o hino local, tantas vezes proferido com orgulho pelos moradores, ouvir histórias e lendas e se relacionar intimamente com a natureza fazem parte dessa vivência. Claro, há os indefectíveis passeios para apreciar o encontro das águas, onde o Tapajós encontra o Amazonas, e visita às comunidades locais, onde os ribeirinhos produzem notável artesanato em uma espécie de cooperativa que garante parte do sustento do vilarejo. Também vale aproveitar algum tempo para conhecer as iniciativas de preservação ambiental e sustentabilidade que pretendem garantir a sobrevivência da região em sua essência, que é justamente o que a faz tão especial. Para não esquecer nunca mais: nos meses de cheia, quando o rio chega a subir até oito metros, há passeios como o da Floresta Encantada, quando se pode navegar pelas copas das arvores da floresta submersa. Já de agosto a janeiro, na seca, lindas praias de água doce se formam em mais de 100 km de extensão. Passeios de lancha para comunidades vizinhas, trilhas na floresta e vivências com a comunidade vão enriquecer ainda mais uma viagem a esse paraíso intimista. Para se hospedar com estilo e conforto, a Vila Arumã não decepciona. www.vilaaruma.com.br


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Chapada dos Veadeiros: que viagem Basta fechar os olhos, respirar e o corpo logo percebe: trata-se de um lugar diferente. Um sussurro quase inaudível da natureza repete um mantra de relaxamento. Estamos em Alto Paraíso, porta de entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A própria cidade já convida a experiências místicas: parte dos moradores crê nas profecias do calendário maia e está ali à espera do fim do mundo. A outra parte vive o dia a dia num ritmo de destino turístico, sempre hospitaleiros e implementando a estrutura para receber novos viajantes. A verdade é que há, sim, algo de especial na Chapada. Tanto que se trata de uma região que pode ser avistada da órbita da Terra devido à sua luminosidade, já que está instalada sobre uma imensa placa de cristal de quartzo. Imagine a vibe! Misticismos a parte, o que impressiona a quem chega na Chapada é mesmo a natureza: abundante, crua, visceral. São tantas as opções de trilhas, passeios e cachoeiras que o ideal é reservar quatro ou cinco dias para uma viagem, pelo menos. Trekking, mountain bike, canyoning, tirolesa, escalada e até um voo de balão sobre o Cerrado estão entre as possibilidades para quem curte esportes mais radicais. Ao todo são duas mil cachoeiras no parque que, desde 2001, é considerado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco. Para não entrar em roubadas e ainda contar com todo suporte necessário, a boa dica é sempre contratar um guia local especializado. Isso porque são muitos os caminhos e estilos de atividades, seja você um aventureiro destemido ou alguém viajando em família, com crianças. Caso seu perfil seja mais audacioso, alugar uma bike e pedalar cerca de 15 km até a Cachoeira do Segredo pode ser uma boa maneira de começar a desbravar o parque. Com quedas de 100 metros de altura, desagua em um poço de água verde, um convite a um mergulho. Na volta, refrescado e revigorado, pare no mirante do Jardim de Maytreia, de onde se avista um lindo pôr-do-sol. Quem gosta de se aventurar em canyons não pode perder o canyonismo do Raizama, com um percurso total de 1 km feito dentro do rio São Miguel e um total de seis descidas de rapel, três trechos de saltos e vários de natação. A paisagem do cerrado é muito singular em comparação às demais do Brasil, o que torna as trilhas muito bonitas, porém com poucos trechos de sombra. A trilha dos Saltos tem 11 quilômetros no total. Apesar de ser curta, é mais acidentada: é ela que leva para uma das paisagens mais estonteantes da Chapada, a queda dos Saltos, de 120 metros de altura

Misticismos a parte, o que impressiona a quem chega na Chapada é mesmo a natureza: abundante, crua e visceral


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Em sentido horário, a partir da seta: Cachoeira Santa Bárbara, Cachoeira Salto 80m, no parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Goiás, Brasil

(o equivalente a um prédio de 40 andares), e a queda de Rio Preto, de 80 metros, que alimentam poços escondidos nos vales, e formam a paisagem perfeita com bromélias resistentes entre as rochas que forjam até uma piscina de borda infinita natural que parece flutuar sobre a imensidão impactante da Serra de Santana. Prepare-se para um trecho de duas horas em um 4x4 e alguns quilômetros de caminhada para chegar ao cartão-postal da Chapada dos Veadeiros. A cachoeira de Santa Bárbara tem águas tão azuis e cristalinas, que parece de mentira. Ela fica dentro da comunidade Kalunga, que é formada por remanescentes de quilombolas. Tanto Alto Paraíso quanto São Jorge (vilarejo que faz parte do município principal da região) tem estrutura turística para todos os gostos. A Casa da Lua tem luxo e conforto, com ofurô ao ar livre, ideal para relaxar o corpo cansado após um dia de passeios. www.casadaluapousada.com.br

Ao todo o parque tem mais de duas mil cachoeiras, muitas delas perfeitas para mergulhos refrescantes


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A essência de Noronha

QUEM CONHECE GARANTE QUE NÃO HÁ LUGAR MAIS BELO NO BRASIL. A ILHA MAIS COBIÇADA DO PAÍS É TAMBÉM A MAIS EXCLUSIVA, FEITA APENAS PARA RECEBER QUEM RESPEITA E ADMIRA A NATUREZA


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Texto e fotos Fabio Borges

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@FabioBorgesDocumentarista

Fernando de Noronha recebeu ao longo de sua história diversos nomes e apelidos. Aqui, citarei dois dos mais simbólicos: “Paraíso” e “Esmeralda do Atlântico”. Este último, dado pela cor de suas águas mais rasas, quando o azul do mar se junta ao dourado da areia das praias, formando um rico tom de verde. E, claro, uma referência à pedra preciosa, uma joia rara no meio do oceano. Não à toa, o arquipélago tornou-se um destino de sonhos e o turismo se firmou como a principal atividade econômica, quiçá a única. O retorno do turismo, após vários meses de fechamento da ilha em 2020 devido à pandemia, está sendo feito de forma gradual e com algumas características diferentes. A principal mudança é a vida noturna (leiase: bares, shows e grandes festas) bem limitada. Com isso, os grandes atrativos estão nas atividades diurnas. E, sem dúvida alguma, é sob a luz do sol que Noronha demonstra todo seu esplendor e exerce sua vocação essencial: a contemplação de sua natureza tão especial. Pode-se dizer que temos aqui um retorno às origens, aos objetivos mais nobres ao vivenciar o que a ilha oferece. Curtir longas baladas e se recuperar debaixo do guarda-sol (nada contra!) pode ser feito pelo Brasil todo, mas ver e curtir o que a ilha tem de melhor, só aqui, e de dia! Então, vamos focar nesse turismo consciente e de fato voltado à sustentabilidade, como deve ser. O Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha abrange mais de 70% da área do arquipélago. O restante é uma Área de Proteção Ambiental (APA). Esses dois dados já nos dão a dica: visitar Noronha é conhecer a natureza marinha preservada. Quem quer ir a fundo nesse objetivo, literalmente, pode mergulhar com cilíndro, o chamado mergulho SCUBA (sigla em inglês para os equipamentos que permitem respirar debaixo d’água). Nem é necessário já saber mergulhar, visto que as operadoras locais oferecem tanto cursos completos, como o “batismo submarino”, que é uma primeira experiência nesse mundo tão encantador, na qual cada cliente desce acompanhado por um instrutor. Posso dizer com segurança que é uma atividade memorável e transformadora. Nada se compara a ver de perto a biodiversidade submersa e à sensação de falta de gravidade, de “voar” por esse mundo de novas cores, formas e sensações. Quem já fez o curso de mergulho tem mais opções de locais para descer, em todos os níveis: do mais iniciante ao mais avançado. Os mais experientes podem se aventurar

Visitar Noronha é conhecer a natureza marinha preservada: nada se compara a ver de perto a biodiversidade submersa desse paraíso sem igual no Brasil


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na famosa Corveta Ipiranga, um belíssimo navio naufragado, com profundidade entre 45 e 60 metros. Um dos mais bonitos naufrágios do mundo. E digo isso por experiência própria, pois rodei o planeta mergulhando nos mais famosos naufrágios. Nossa Corveta, assim como muitos dos nossos mergulhos mais usuais, são lindos. Agora, se soltar bolhinhas lá no fundo não é o que te atrai, ainda assim pode dar uma espiada nas riquezas naturais submersas, fazendo mergulho livre, aquele com snorkel, o tubinho que permite respirar na superfície enquanto olha lá pra baixo. É fácil encontrar locais que alugam os equipamentos para isso: máscara, snorkel e nadadeiras. De novo, são muitas as opções para essa atividade em Noronha. Por exemplo, ir ver tartarugas e outros bichos na Baía do Sueste. Neste caso, é obrigatório o uso de colete de flutuação, para evitar o toque nos frágeis corais do fundo, e é recomendado contratar um guia, pois eles sabem exatamente onde encontrar as tartarugas. Há vários outros pontos para um bom snorkeling, como o Naufrágio do Porto ( SCUBA lá também é incrível), Baía dos Porcos, Morro de Fora, etc. O período sem ondas, mais ou menos de maio a outubro, é o ideal para o mergulho livre, mas há possibilidades boas no ano todo. Já que citei as ondas, não custa lembrar que Noronha é considerada o “Hawaii Brasileiro” pela qualidade do surfe em nossas praias, especialmente na Cacimba do Padre. A melhor época para o surfe é de dezembro a março. Um passeio que tem feito grande sucesso ultimamente e que também lhe põe em contato próximo com a Natureza, é a canoa havaiana. E, para mim, a grande dica é ir no primeiro horário, para ver o nascer do Sol.

Mergulhos com cilindro, snorkeling, contemplação de tartarugas e golfinhos e um dos melhores pontos de surfe do Brasil: Noronha é um destino completo


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Nada se compara a ver a alvorada no mar e há uma razoável chance de encontrar os golfinhos que costumam chegar à ilha de manhã cedo. A canoa permite vê-los e ouvi-los de uma maneira única. Como nem só de água se faz uma viagem ao nosso paraíso insular, que tal fazer uma trilha? Há caminhadas para todos os gostos e níveis de preparo físico. Muitas delas conciliam a trilha em si com pausas para um mergulho livre. Por exemplo, as trilhas para a Piscina da Atalaia, em sua versão curta ou longa. Essa é uma piscina de maré, ou seja, a visita se dá na maré baixa, quando a água fica represada por uma borda de corais e algas calcárias, formando um verdadeiro aquário natural. Na versão longa dessa trilha, depois da piscina o visitante caminha pela costa até a Praia das Caieiras, passando por pontos lindos como a Pontinha e Pedra Alta. É um dos meus passeios prediletos, me proporcionando a verdadeira sensação de estar em uma ilha oceânica. Outra trilha linda e razoavelmente fácil é a dos Abreus, que também permite o banho na

A ilha tem vocação para sensibilizar e educar o público sobre as questões ambientais, sobretudo as marinhas


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piscina de mesmo nome. Quem curte algo um pouco mais desafiador (não muito) e longo, pode fazer a trilha do Capim-Açu, que começa pela “mata” noronhenses, passando por mirantes maravilhosos e indo até a Caverna do Capim-Açu. A volta costuma ser feita pelos costões, terminando na Praia do Leão, um dos cenários mais marcantes da ilha. Aos caminhantes, um aviso: algumas das trilhas exigem agendamento prévio e a contratação de guias credenciados, como Atalaia longa, Capim-Açu, Piscina de São José e Pontinha-Caieiras. Outras exigem só agendamento: Atalaia curta e Abreus. Algumas, como a Trilha Costa Esmeralda (passando por quase todas as praias do Mar de Dentro) exige apenas disposição, mas, na minha opinião, um guia torna a experiência mais rica. Os agendamentos são feitos diariamente das 16 às 19 horas no Centro de Visitantes do ICMBio, vizinho ao Projeto Tamar. Lá podem ser encontrados guias da ACITUR, a associação dos condutores, que certamente darão informações valiosas.


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Em trilhas que cortam a mata e terminam em lindas praias ou pelo mar, a bordo de um barco, Noronha é um sonho sempre


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Fernando de Noronha tem a vocação clara de sensibilizar e educar o público em relação às questões ambientais, sobretudo às marinhas. De maneira coerente, a ilha também dá passos importantes para a sustentabilidade. Aqui, cito dois programas exemplares: o de redução no uso de plástico (saquinhos pequenos, copos, canudos e etc. foram banidos há alguns anos) e o de eletrificação da frota de veículos, já em andamento. O objetivo é a substituição (quase) total dos veículos com motores a combustão por elétricos já em 2030, daqui a pouco. Hoje já podemos ver algumas dezenas de carros 100% elétricos rodando na ilha, assim como um posto de carga de baterias a partir de energia solar. Ainda há muito o que caminhar para uma sustentabilidade verdadeira, mas passos fundamentais estão sendo dados. O futuro dependerá de todos nós.


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Entre as importantes ações de sustentabilidade estão a proibição do uso de plásticos e a substituição da frota por carros elétricos, que já está em andamento


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