TOP Magazine Edição 257

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Otaviano Costa

R$20,00

pessoas / Otaviano Costa por Miro / profissão: o bicampeão mundial de apneia Guillaume Néry / a potência da designer de joias carioca Paola Vilas / viagem / uma jornada dos sentidos pela Espanha / um roteiro fora do comum pela Provence / lifestyle / de moto no Alasca com Ricardo Serpa / a intrigante história do Porsche 911 / cultura / o novo filme da Gucci, uma parceria entre The Macallan e Bentley Motors, as práticas sustentáveis da Panerai

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Sumário 12

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CULTURA

VIAGEM

LIFESTYLE

PESSOAS

Sumário 28

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Profissão

Capa

Paola Vilas

O bicampeão mundial de apneia Guillaume Néry é guardião do oceano e tem até um relógio de mergulho em sua homenagem

Multitarefas, Otaviano Costa é ator, apresentador, empresário, empreendedor, pai, marido e viajante, e faz de cada uma de suas versões, a melhor possível

Conhecida por suas esculturas de vestir, a designer de joias carioca aposta também em peças de mobiliário

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Ricardo Serpa

Porsche 911

Guiando uma BMW 1200 GS Adventure, Serpa percorreu 32 mil quilômetros da Flórida até a última estrada transitável do Alasca

A história do raro carro da marca que foi abandonado e se tornou peça de museu

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Espanha

Provence

Do mar Cantábrico aos vinhedos de La Rioja pelas lentes do fotógrafo Andreas Heiniger

Os vilarejos históricos com tons pasteis se misturam ao verde e aos campos de lavanda da região

18 Mundo TOP As novidades mais quentes de cinema, hotelaria, sustentabilidade e estilo de vida


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Colaboradores

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Quem Fez Rafael Lazzini Com 19 anos de carreira e após viver 13 anos em Nova York como modelo, Rafael inicia uma nova fase agora como stylist aqui no Brasil, onde já fez trabalhos para Fila, Calvin Klein, Liberty Art Brothers e GQ. @rafaellazzini

Miro Mestre da fotografia, ele empresta seu olhar e assinatura para nosso ensaio de capa com Otaviano Costa. @miro_foto

Marcelo Skaf É documentarista de natureza desde 1993 e costuma visitar as áreas mais remotas do planeta. Nesta edição, ele assina a matéria de Guillaume Néry. @skaf.marcelo

Carlos Carrasco Maquiador e cabeleireiro com mais de 38 anos de carreira, Carrasco passeia pelo universo da moda, cinema, teatro e televisão. Ele já foi responsável pela beleza de muitas celebridades, como Gisele Bündchen, Adriana Lima, Débora Bloch, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Já assinou ensaios fotográficos com Miro, Cristiano Madureira, Bob Wolfenson, JR Duran, e no cinema trabalhou com diretores como Andrucha Waddington, Tizuka Yamasaki e Fernando Meirelles. @ccarrasco01


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Publisher Claudio Mello TOP Magazine | Studio Mundo TOP Editoras: Renata Zanoni e Vivian Monicci Diretora de Arte: Rosana Pereira Assistente de Produção e de Mídias Digitais: Diego Almeida Projeto Gráfico Marcus Sulzbacher Lilia Quinaud Paulo Altieri Fabiana Falcão Colaboradores Texto Claudia Berkhout, Fernando Salem, Marcelo Skaf, Nathalia Hein, Roland löwisch Foto Andreas Heiniger, Miro, Rafael Krötz , Ricardo Serpa Tratamento de imagens ensaio de capa Alt Retouch Editora Todas as Culturas Diretores Criativo: Bruno Souto e Lucas Buled Gerência de Relacionamento: Carolina Alves Produção Executiva: Camila Battistetti RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes Secretária Executiva: Carolina Kawamura Financeiro: Marcela Valente Circulação: Regiane Sampaio Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados Pré-Impressão: Leograf Gráfica e Editora

TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - Cep 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074 7979 As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados. /topmagazineonline

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Mundo Top UMA SELEÇÃO DE TUDO O QUE INTERESSA SOBRE LIFESTYLE / HOTELARIA / CULTURA E MUI


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TO MAIS

bike

O futuro sobre duas rodas As novas bikes da Vanmoof impressionam com design clean e funcionalidades inéditas Preparado para pedalar pela cidade? Agora sua experiência será ainda mais incrível com a bike supercool da Vanmoof. Focada no combate aos produtos de vida curta e descartáveis, a marca holandesa ficou conhecida por suas bicicletas elétricas, que unem o melhor da tecnologia com materiais duradouros. Além de seu design confortável, minimalista e moderno, os novos modelos S3 e X3 possuem um motor inteligente de 250W, que garante uma sensação natural e sofisticada ao andar sem fazer barulho. Elas contam também com marcha eletrônica automática com quatro velocidades, sistema de freios hidráulico, e uma tecnologia antirroubo integrada com alarme e rastreamento ao vivo. Elas estão disponíveis em duas cores: preto e azul claro. A X3 tem aro 24, indicada para ciclistas de 1,55 m a 2 m, enquanto a S3 possui aro 28, para ciclistas de 1,7 m a 2,10 m. +infos: vanmoof.com


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Mundo Top cinema

Glamour, cobiça, loucura e morte Filme House of Gucci traz às telas a trama por trás do assassinato do herdeiro da marca pelas mãos de sua ex-esposa

Para todos os fãs de true-crime com um toque novelístico, a estreia de House of Gucci é uma data extremamente aguardada! Com um elenco de peso que inclui Jared Leto, Salma Hayek, Al Pacino e muitos outros nomes gigantes, o filme é estrelado por Lady Gaga no papel da socialite Patrizia Reggiani, que foi condenada por orquestrar o assassinato de seu ex-marido Maurizio Gucci, herdeiro da famosa Maison italiana, interpretado por Adam Driver. O drama policial é uma adaptação do livro Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte, escrito em 2001 por Sara Gay Forden, que foi aclamado pela análise da ascensão, colapso e renascimento da marca após a morte de Maurizio, focando também nos motivos que levaram Patrizia a cometer o ato. O julgamento cativou o país inteiro com as tramas de traição, vingança e ganância que poderiam ou não ser infundadas. O lançamento de House of Gucci está previsto para o dia 24 de novembro de 2021.


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Mundo Top

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hotelaria

Beyond Green Conheça a nova marca de hotéis sustentáveis do Preferred Hotel Group

Hoje em dia, cada vez mais os viajantes pautam a escolha de sua acomodação ao redor do mundo levando em conta um elemento fundamental: a sustentabilidade. Com o objetivo de criar uma forma mais consciente de explorar o planeta, o Preferred Hotel Group, Inc. - que gerencia e opera marcas globais de turismo e hotéis, incluindo a Preferred Hotels & Resorts, Historic Hotels of America, Historic Hotels Worldwide, e PHG Consulting - anuncia o lançamento da nova marca de hotéis sustentáveis Beyond Green.

Para fazer parte do portfólio da Beyond Green, uma propriedade deve provar sua liderança nos três pilareschave do turismo sustentável: práticas que respeitam o meio ambiente que vão além do básico, proteção do patrimônio natural e cultural e contribuição para o bem estar social e econômico das comunidades locais. Deve, ainda, cumprir mais de 50 indicadores de sustentabilidade alinhados aos parâmetros globais de turismo sustentável e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Entre eles, redução das emissões de carbono, eliminação de garrafas plásticas, apoiar iniciativas de conservação de biodiversidade local, restaurar e proteger habitats naturais, apoiar a preservação do patrimônio cultural, demonstrar uma prioridade de contratar moradores do destino em que estão localizados por um salário justo e priorizar a compra de bens e serviços de empresas locais. + infos: staybeyondgreen.com


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whisky

Know-how compartilhado The Macallan e Bentley Motors unem forças em parceria inovadora para futuro sustentável A famosa destilaria escocesa The Macallan e a fabricante de automóveis de luxo britânica Bentley Motors anunciaram em julho sua mais nova colaboração. A parceria tem foco em unir os conhecimentos de ambas as marcas em questões de expertise, visão de negócios, criatividade e inovação, a fim de impulsioná-las no objetivo de um futuro mais sustentável. Tanto a Macallan quanto a Bentley

são consideradas referências em seus respectivos meios, e essa união vai garantir que os aprendizados de cada indústria auxiliem na criação de experiências e projetos que combinam o luxo e excelência de qualidade ao estado atual do mundo, que cada vez mais busca por alternativas conscientes em relação ao meio ambiente. A primeira meta das duas marcas é alcançar a neutralidade de carbono, assim como uma pesquisa conjunta em busca de materiais sustentáveis e fornecedores locais. A ideia é que a parceria proporcione um bom número de projetos nos próximos anos, incluindo eventos e produtos desenvolvidos entre a Macallan e a Bentley. + infos: themacallan.com e bentleymotors.com


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Mundo Top livro

Encontros marcantes Edição imperdível do livro Sharks, de Michael Muller, possui exemplares limitados para os colecionadores apaixonados por tubarões O livro superexclusivo Sharks, do fotógrafo Michael Muller, é um tributo ao predador mais ameaçado do oceano. Publicado pela editora Taschen, reúne cliques espetaculares de tubarões feitos por Muller ao longo da última década, diretamente das profundezas do oceano. A edição apresenta a primeira fotografia conhecida de um tubarão-branco rompendo a superfície da água ao anoitecer, e inclui ensaios do ativista e oceanólogo Philippe Cousteau Jr., da bióloga marinha Alison Kock, e do escritor Arty Nelson. O autor, que ficou conhecido por sua carreira fotografando celebridades do cinema, música e esporte em publicações famosas como Vanity Fair e Rolling Stone, mudou o foco de sua câmera em 2007 para os encontros subaquáticos, e firmou seu nome como um dos portfólios mais importantes de fotos de tubarões. Limitado a apenas 1200 cópias numeradas e assinadas pelo autor, o livro vem em sua própria gaiola de tubarão de metal, individualmente desgastada para refletir os efeitos do tempo e da água salgada. A obra conta com uma edição especial artística, chamada Art Edition, que possui apenas 200 cópias: os exemplares de número 1 a 100 são acompanhados de uma impressão da fotografia Tear You Apart, de 2009, que é também capa do livro; enquanto os de 101 a 200 vêm com o clique de 2015 intitulado Under Study, um close impressionante de um grande tubarão-martelo. +infos: taschen.com


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relógio

Consciência no pulso Com seus novos modelos reciclados, Panerai segue com a missão de trazer práticas circulares ao mundo da relojoaria

No começo de abril deste ano, a Panerai propôs uma verdadeira revolução sustentável no mundo dos relógios, ao revelar dois modelos repletos de inovações ecológicas durante a feira Watches & Wonders 2021. Composto de material reciclado, o Panerai Luminor Marina eSteel representa um novo passo no compromisso da maison na redução da necessidade de extração de material virgem e seu alto impacto ambiental associado. Ao todo, 89 gramas de seus componentes são feitos de materiais reciclados; isso

corresponde a 58,4% do peso total do relógio, que é de 152,4 gramas. Tanto a caixa quanto o mostrador contam com uma nova liga de aço reciclado, material que possui comportamento químico, estrutura física e resistência à corrosão idênticos a uma liga não reciclada. Já o Panerai Submersível eLAB-ID possui a maior porcentagem de material reciclado jamais vista no mercado relojoeiro! Com 98.6% de sua composição formada por materiais recicláveis, o lançamento é um modelo inovador criado a partir de práticas de “relojoaria circular”, reutilizando itens em sua confecção. É importante ressaltar que a Panerai e a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (IOC-UNESCO) selaram uma parceria para desenvolver atividades educacionais sobre o oceano como parte da Década da Ciência dos Oceanos e Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Ao apoiar e auxiliar a Década dos Oceanos, a Panerai reforça seus compromissos para um meio ambiente mais sustentável e um oceano vivo e saudável. + infos: panerai.com




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Profissão: Guillaume Néry COM UMA ÚNICA RESPIRAÇÃO, ELE PODE MERGULHAR A 126 METROS DE PROFUNDIDADE. BICAMPEÃO MUNDIAL DE APNEIA – E ESTRELA DE FILMES CAPAZES DE TIRAR O FÔLEGO ATÉ DE QUEM ESTÁ NA SUPERFÍCIE –, O FRANCÊS CONTA COMO MUDOU SEU ESTILO DE VIDA PARA SE TORNAR UM GUARDIÃO DO OCEANO E TER ATÉ UM RELÓGIO DE MERGULHO EM SUA HOMENAGEM


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Por Marcelo Skaf Edição Melissa Lenz Fotos Divulgação

“Estou bem, voltando a mergulhar depois dessa enorme crise. Agora que estou na água quase todos os dias, sinto-me muito mais feliz”, suspirou aliviado o francês Guillaume Néry, em entrevista exclusiva à TOP Magazine. Bicampeão mundial de apneia, campeão mundial francês de mergulho livre, ele detém quatro recordes mundiais na modalidade de peso constante. Com uma única respiração, pode chegar a 126 metros abaixo da superfície da água. Suas experiências subquáticas já renderam filmes de tirar o fôlego, como Ocean Gravity (2014) e One Breath Around The World, lançado em 2019. Nos curtas assinados pela cineasta, esposa e também atleta de apneia Julie Gautier, Néry parece correr em gravidade zero no fundo do mar, além de transitar por vários oceanos na eventual companhia fascinante de tubarões e baleias cachalotes. Também é ele o galã submerso do videoclipe Runnin’ (Lose It All), interpretado por Beyoncé, Naughty Boy e Arrow Benjamin. A grife italiana Panerai chegou a lançar um relógio de mergulho profissional inspirado em Guillaume, o Panerai Submersible Chrono – Guillaume Néry Edition 47 mm. Resistente à água até uma profundidade de 300 metros (30 bares), a peça vem equipada com um bisel rotativo unidirecional que indica com precisão o tempo de imersão. Ao fundo, encontra-se gravada a assinatura do campeão e a profundidade de um de seus recordes: 126 metros, em apneia. A cor é cinza tubarão. Confira o nosso papo com o embaixador dos mares (e da Panerai): O que você sente ao dar a primeira inspiração de ar na superfície, quando volta de um mergulho? Todas as vezes que volto à superfície, me sinto ótimo porque sou humano e não um peixe e, portanto, preciso respirar. Mesmo que o mergulho tenha sido fácil e eu não tenha tido essa necessidade, sempre fico feliz ao voltar, já que sei que a respiração é imprescindível e meu tempo embaixo d’água é limitado.

5 min

Se pudesse escolher não ter que voltar à superfície para respirar, viveria sua vida submerso? Não, porque sou muito feliz. E acredito que tenho dois caminhos: ao mesmo tempo em que sou um humano aquático que ama estar no oceano e mergulhar, a parte principal da minha vida acontece em terra, onde também me sinto muito bem. Talvez não em lugares urbanos, mas adoro estar em locais montanhosos, florestas e também gosto de interagir com os humanos. Gosto muito desta ideia de ter dois ambientes diferentes. Seus recordes são impressionantes, com 126 metros de profundidade e sete minutos sem respirar. A sensação de liberdade e harmonia quando está submerso e praticamente sem equipamentos é mais importante do que números? Na verdade, são duas coisas muito distintas. Para mim, os números são um tipo de jogo, um desafio que me faz trabalhar duro para cada vez mais melhorar minha adaptabilidade na água. Tenho conseguido bastante por conta dos meus treinos e, talvez, isso me possibilite aproveitar melhor os mergulhos mais fáceis e mais próximos da superfície. Para mim, não há como julgar que uma modalidade seja melhor que a outra, as duas são interessantes de alguma forma. E tudo junto é o jeito que vivo minha vida. Como você definiria sua preparação mental para mergulho livre? Você não sente medo? Sempre me perguntam sobre a preparação mental, mas nunca tive uma, de verdade. Minha preparação consiste em estar adaptado ao ambiente aquático e, enquanto eu estiver na água, criar uma relação com ela. Quando estou mergulhando, não me importo se o mundo está acabando, eu me torno parte desse outro mundo que se torna familiar. Porém, às vezes tenho medo, e isso é bom, já que você precisa estar atento e o medo te ajuda a continuar vivo. Por este motivo, não luto contra ele, acredito que seja normal quando você está


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“A única coisa que tento controlar [debaixo d’água] são as emoções e o medo através da respiração. Tento alcançar um estado mental de paz”


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“Se desejo ser uma voz que fale cada vez mais alto pelos oceanos, preciso ser um exemplo. Eu mudei muitas coisas no meu modo de vida”


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se adaptando. A única coisa que tento controlar são as emoções e o medo através da respiração. Tento alcançar um estado mental de paz. Você tem que criar uma determinada relação com a água para que se sinta confortável, precisa sentir como se ela fosse outra casa para você e, só assim, o medo se torna algo imaginário. Como foi a preparação de One Breath Around the World [curta-metragem dirigido e estrelado por ele e filmado também em apneia pela mergulhadora e esposa Julie Gautier] em termos de entrosamento para os planos ficarem tão fluidos, em especial com as cachalotes? Quais foram os maiores desafios? Eu tive essa ideia há muitos anos. Era uma espécie de sonho meu poder combinar nossos trabalhos. A ideia original veio em 2014, quando percebi que queria contar a história de um homem em uma jornada aquática. Sempre fui fascinado por aventuras de pessoas atravessando países e lugares em que pudessem vivenciar coisas novas. E, pensei: por que não contar a história de um homem que vive uma longa jornada na água? Mas porque com uma respiração você é limitado e não pode ir longe, tentei criar um conto de fadas na água, mostrando diferentes aspectos de estar submerso. Queria mostrar os animais, as pessoas, como é mergulhar no gelo, na água fresca; mostrar cavernas, mar aberto, o mar Mediterrâneo, águas tropicais, tudo em um filme só. Um dos principais desafios foi selecionar os locais, porque eu poderia ter feito um filme em 50 lugares diferentes, mas seria muito longo e difícil de organizar e de pensar em todas as transições desde o início. É tudo muito fluido. Este foi o principal desafio: conectar todos os diferentes lugares e criar a ilusão de que é tudo uma odisseia só, em uma única respiração. Isso que fez o filme ser mágico. O One Breath Around The World nos remete a um único oceano. Sem a divisão de um documentário clássico, ele é fluido e não estabelece fronteiras. Qual a mensagem que você gostaria que as pessoas levassem do filme?

A principal é que o oceano, o mundo debaixo d’água, é repleto de beleza. Eu queria que as pessoas compreendessem que tudo está conectado. Todos estamos ligados ao oceano, ao mar, à água. A mensagem no fim do filme, quando saio da água em uma praia cheia de pessoas, é para mostrar a maravilha, a magia que o mundo aquático tem, às vezes, na frente dos olhos das pessoas e elas não enxergam. Tem horas que estamos em lugares que nem imaginamos que a mágica está tão perto de nós. Eu quis terminar o filme saindo na praia para simbolizar minha volta à vida normal. Para mostrar que as pessoas precisam simplesmente pular na água. Quando mergulho com baleias, especialmente com as cachalotes, sinto uma troca com elas. Qual foi o seu sentimento com elas durante o filme? Foi um dos momentos mais mágicos da minha experiência com vida selvagem. Elas são mamíferas, por isso são muito inteligentes e conseguem entender que nós somos humanos e que também somos mamíferos. Você consegue ver pela maneira que elas se olham que tem algo diferente acontecendo. Algumas vezes, elas estão indo de um lugar a outro, olham para você, mas não ligam, porque têm outro objetivo. A ideia é ser aceito por elas, não dá para forçar a relação, você não pode obrigálas. É decisão delas se aquele é um bom momento ou não. É uma ótima lição para a vida, porque é necessário ser paciente, você deve esperar, esquecer seu ego. Aceitar que elas são as coisas mais importantes no momento. Quando você aceita isso, é extraordinário. Quando passei duas horas com elas na água, nadei ao redor delas, foram momentos muito especiais porque me senti aceito e, por algum tempo, torneime parte daquele grupo que abriu os braços para mim. O filme The Big Blue (Luc Besson, 1988) teve alguma influência sobre suas decisões profissionais e pessoais? Quando ele saiu nos cinemas, eu era muito novo, tinha apenas seis anos de idade. Não comecei a praticar o mergulho livre


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por causa do filme. Mas acredito que a razão pela qual o mergulho livre se tornou tão popular foi, principalmente, devido a ele. Como mergulhadores, somos muito abertos e sabemos que Big Blue teve um papel muito grande no desenvolvimento da modalidade. Quanto que o filme mostra a realidade da competição de mergulho livre? Não é exatamente a mesma coisa. É engraçado porque quando ele estreou, mergulho livre não era considerado competição. É como se o diretor tivesse inventado o conceito da competição. Quando aconteceu pela primeira vez, acho que foi inspirado nele. Depois de tantos anos mergulhando, o oceano ainda te surpreende? Claro, é sempre cheio de surpresas! E tenho muita sorte de às vezes poder viajar e observar diferentes lugares. O oceano está em constante movimento, você nunca está mergulhando na mesma água, as estações mudam, diferentes animais migram dependendo da época do ano. É fascinante! Quais são suas percepções sobre a mudança nos oceanos e o branqueamento dos corais? Mudou muito, podemos notar que a cada vez mais o oceano está sofrendo. Ano após ano é possível ver o branquemento dos corais, que é um sinal de sofrimento. Estou um pouco preocupado, porque os corais são criaturas importantes no oceano. Se eles morrem, ocasionam a morte de um ecossistema inteiro. Isso está se tornando um problema enorme. Outra questão é a pesca excessiva, há menos peixes nos oceanos e cada vez mais tráfico. Acredito que o maior problema sejam os humanos matando vidas, no oceano, na terra, em todos os lugares, as florestas, os insetos, os passarinhos, os peixes. Todas as formas de vida estão sob ameaça por causa de nossa espécie. É terrível porque se todas desaparecessem e só sobrassem os humanos, não duraríamos muito e seria o fim da humanidade. Mas seria uma coisa boa para os outros tipos de vida. O desastre seria somente para nós, mas talvez não para outras espécies, por causa do nosso comportamento.

Se você tivesse a oportunidade de convencer políticos acerca disto, quais argumentos usaria? Eu diria que a primeira coisa a ser feita é a criação de reservas marinhas para fazer com que o oceano respire novamente, para fazer pensar na maneira que estamos matando. Precisamos criar quantas forem possíveis e também mudar o sistema de pesca excessiva. Vejo que em muitos lugares que existem reservas marinhas, a vida do oceano volta rapidamente. Mesmo assim, precisamos deixar espaços para que ela consiga respirar e se recuperar. Atualmente, há somente duas reservas marinhas muito pequenas, é terrível, precisamos aumentar a quantidade de território sem humanos e fazer com que a vida volte. Como oceanógrafo aqui no Brasil, uso a fotografia como ferramenta para conservação dos oceanos. Você como pessoa pública, acredita que seu trabalho também ajude a conservá-los? Esse é um dos meus principais objetivos atualmente. No início, quando comecei a produzir filmes, eles não tinham nenhum propósito. Hoje, estou cada vez mais convencido de que eles ajudam a espalhar a mensagem. Isso se tornou um dos meus principais alvos, não somente em filmes, mas também na escrita, na fotografia, em qualquer tipo de arte com o intuito de conscientizar e de levar amor do oceano às pessoas. Também acredito que se desejo ser uma voz que fale cada vez mais alto pelo oceano, preciso ser um exemplo. Mudei muitas coisas no meu modo de vida. Parei de comer peixe produzido industrialmente, só ingiro quando estou em lugares como a Polinésia, onde faz parte da cultura dos pescadores locais. Sou vegetariano no restante do tempo. Reduzi a quantidade de viagens. Antes só viajava de avião e hoje, quando o faço, é porque tem um propósito, não viajo por viajar. Quando estou na França, uso o trem. Mudei minha maneira de pensar ao comprar algo, sempre reflito se preciso mesmo da coisa. Se sim, eu compro, e se não, penso se há outras maneiras de tê-la e se minha vida será melhor se eu a comprar. Acho que usamos muito do planeta, produzimos muito lixo, usamos muito plástico, consumimos


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“Mudei minha maneira de pensar ao comprar algo, sempre reflito se preciso mesmo da coisa e, se sim, eu compro, e se não, penso se há outras maneiras de têla e se minha vida será melhor se eu comprá-la”


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“Me agrada o espírito da Panerai que faz peças que duram a vida toda e podem até ser passadas a filhos. É um tipo de arte. Sou feliz em ter uma parceria com eles”


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demais e isso está matando a Terra e o oceano. Por este motivo, atualmente, posso falar sobre conservação dos oceanos, já que mudei minha vida.

DNA e decidimos trabalhar juntos, ainda mais porque a Panerai é uma empresa italiana e ficava muito próxima de onde eu morava.

Nós só conservamos aquilo que nós amamos. Como levar as crianças para o mar? Este é exatamente o meu objetivo, é o que eu tento fazer com o filme, conferências, livros e fotos que produzo. Tento mostrar a beleza e a fragilidade das águas para que as pessoas tenham vontade de experienciar isso. Estou muito feliz que, atualmente, o mergulho está se tornando cada vez mais popular. Porque quando as pessoas seguram a respiração e mergulham, elas criam uma relação especial com a água e, assim, começam a amar os oceanos e têm vontade de protegê-lo, mudando seus modos de vida. Sim, acredito que precisamos primeiro mostrar para pessoas que não conhecem o oceano e o mar, que ele é mágico, fazendo com que amem a água e, assim, talvez, teremos a chance de mudar as coisas.

A marca desenvolveu um relógio feito em sua homenagem. Você participou desta criação? O que mais se orgulha nele? Sim, foi um trabalho de equipe. Primeiramente, a Panerai me deu um relógio que eu pudesse levar para a água. Depois, decidimos que ele teria a minha assinatura, e falei que o ponto principal era ser submersível, porque seria perfeito para os mergulhos. É um relógio robusto e grande, mas quando você o coloca no pulso, é leve, você não sente. Mesmo não sendo pequeno, é feito de titânio e por isso você consegue sentir como se fosse parte de você. Quando você está mergulhando, é muito importante se sentir leve e puro. Nós colaboramos em termos de design e funcionalidade e, por isso, acho fundamental que um relógio de mergulho tenha um cronógrafo, já que nossa vida é muito ligada ao tempo e é imprescindível medi-lo precisamente. Fiquei muito feliz em dar meu ponto de vista e ajudar no design.

Como a parceria com uma empresa como a Panerai pode ajudar a mudar essa realidade? Panerai tem um link com os oceanos e mares desde o início. Começou fazendo equipamentos para pessoas que trabalhavam no mar. A história deles está conectada ao Mediterrâneo e estão dispostos a trabalhar e colaborar comigo para preservar os oceanos. Eu gosto também da ideia de que estão produzindo peças atemporais, que duram a vida toda. Atualmente, compramos diferentes coisas que duram somente meses ou alguns anos e são substituídos. Me agrada o espírito da Panerai que faz peças que podem ser passadas aos filhos. É um tipo de arte. Sou feliz em ter uma parceria com eles. Como começou sua parceria com a Panerai? Eles entraram em contato comigo porque estavam interessados na minha história e em um projeto em que eu trabalhava na época. A ideia era ver se tínhamos a mesma visão. Descobrimos que tínhamos o mesmo

Qual é a maior ilusão e dificuldade de um mergulhador que se espelha em você e que está começando para se tornar um profissional? É uma questão de tempo e paixão. O mundo aquático é um ambiente natural que exige respeito e que você leve em consideração o fato de que não pode controlar as coisas. O que pode fazer é dar o seu melhor, buscar a perfeição e focar nas coisas que quer conseguir. E não somente por resultados, mas pela beleza e magia. Isso é essencial porque, ter muito foco em ganhar e em ser o melhor, não precisa ser sua primeira motivação. O lugar, a conexão com o oceano e o respeito, a longo prazo, é muito mais importante.

(Tradução: Carolina Kawamura)


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Viagem

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Espanha UMA VIAGEM ATRAVÉS DOS SENTIDOS PARA VER E PROVAR Por Claudia Berkhout fotos Andreas Heiniger

5 min

Do mar Cantábrico aos extensos vinhedos de La Rioja, a Espanha nos convida a uma imersão em sua história secular, de construções barrocas a projetos arquitetônicos extremamente modernos embalados pelo acolhimento de um povo alegre e orgulhoso de sua origem. A chegada ensolarada e um mar brilhante fazem de San Sebastián a porta de entrada de um roteiro inesquecível. Berço do famoso chef basco Juan Mari Arzak, a cidade tem uma qualidade de vida invejável. Aliás, isso é perceptível em todo o trajeto: ali foi construída uma sociedade que sabe tirar o melhor de sua gente e de sua terra. Em meio à exuberância de patrimônios históricos e de uma hotelaria estreladíssima, a gastronomia de alto nível vem mais e mais atraíndo turistas do país e do mundo inteiro: em lojas de comidas, bares e restaurantes que se espalham pelas ruas e vilarejos, trazem o sabor dos produtos regionais à culinária com toques gourmet, harmonizando-se aos bons vinhos produzidos nas vinícolas de Rioja Alavesa e La Rioja.


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Viagem 42

Ruelas de San Sebastián


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Praia de Zurriola, em San Sebastián


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Viagem

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Museu Guggenheim, em Bilbao


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Centro antigo de Vitoria-Gasteiz


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Impossível não sentir o perfume da intensa religiosidade visitando igrejas, abadias e grandes catedrais como a histórica Santa Maria, em Vitoria-Gasteiz. Nesta região, encontramos releituras dessa arquitetura em projetos arrojados como os da Cidade do Vinho, com sua Bodega Marqués de Riscal, em Elciego, e o Museu Guggenheim, em Bilbao, ambos assinados por Frank Gehry; ou do arquiteto Santiago Calatrava para a Bodega Ysios, em Guardia, assim como o da também premiada arquiteta Zaha Hadid para a Bodega López de Heredia, em Haro – diferentes estilos que, em comum, mantêm e enaltecem as origens arquitetônicas da região. Já nos primeiros contatos é possível perceber que o povo basco é extremamente politizado. É Vitoria-Gasteiz que sedia o governo basco, independente do resto do país, comandando a vida da região com seu idioma particular, o euskera. Orgulhosos de sua educação de altíssimo nível, todos estudam em instituições públicas, e é esta que lidera o ranking dentro da Espanha. La Rioja nos apresenta toda sua história, cultura e filosofia por meio de suas bodegas centenárias, e é na cidade de Haro onde se encontra a maioria delas. Todos vivem para o vinho. Eles entendem do assunto e, mais que isso, sabem da importância, em suas vidas. Nas cidades, guias especializados nos levam a alguns bares para harmonizar de maneira correta o vinho e seus acompanhamentos. Contam histórias, apresentam as pessoas em volta e falam de: vinho. Hoje, o país é berço de alguns dos mais prestigiosos vinhos do mundo. Acontece todo mês de setembro a Vendimia, uma festa regional em que as famílias e amigos se juntam aos trabalhadores para colher o fruto e, no final, celebrar a nova colheita. Um país com um povo que encanta e convida para eternos retornos. Um rápido retorno.

La Rioja nos apresenta toda sua história, cultura e filosofia por meio de suas bodegas centenárias


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Bodega Marques de Riscal, em Elciego


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SEM MEDO DE ARRISCAR, OTAVIANO COSTA APOSTA NA POSITIVIDADE PARA REALIZAR PROJETOS INOVADORES, GALGAR NOVOS NEGÓCIOS, TROCAR E APRENDER COM SEU PÚBLICO E, SEMPRE, CELEBRAR O AMOR AO LADO DE SUA FLÁVIA ALESSANDRA E DAS FILHAS Por Nathalia Hein Fotos Miro Styling Rafael Lazzini Beleza Carrasco

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Sempre em voltagem máxima, Otaviano Costa pensa rápido, fala rápido, realiza rápido. Multitarefas, o ator, apresentador, empresário, empreendedor, pai, marido, viajante e tantos outros “Otavianos”, como ele costuma brincar, faz de cada uma de suas versões, a melhor possível. Por isso, aos 48 anos, e quase 35 de carreira, vive em sintonia com o sucesso. Casado há quase 15 anos com a atriz Flávia Alessandra, com quem divide a vida e seu mais novo negócio, a Agência Family, criada para administrar seus próprios negócios e imagens, forma, com ela, um dos mais admirados casais do Brasil. “Temos admiração, respeito e mostramos verdade. Aprendendo a dois, vivemos como um só”, derrete-se ele, apaixonado declarado nas redes sociais onde, além de dividir sua rotina com o público, encontrou um novo nicho. Durante a pandemia, período em que se reinventou de muitas maneiras, criou a Live Pode Shop, plataforma com conceito de um shopping center de live commerce. Na entrevista a seguir, Ota, sempre a mil, nos conta sobre esse e tantos outros projetos e conquistas, incluindo o sonho de, em breve, desbravar o extremo oriente ao lado da família. Ator, apresentador, empresário e embaixador de grandes marcas. O público está acostumado a ver você circulando em diferentes frentes. Em qual dessas você se sente mais realizado? E em qual se sente mais desafiado? Olha, definitivamente a frente que mais me deixa realizado é como comunicador. Sou eu na mais pura essência artística. É quando eu me olho no espelho e digo: eu nasci pra isso. É nesse amplo guarda-chuva de comunicação que eu posso ser quem eu quiser. Eu posso ser mil Otavianos. Eu posso ser um comunicador que traz humor, como eu posso ser um comunicador que traz informação, que fala mais sério, que brinca, que emociona, eu posso me conectar com os mais variados públicos, das mais variadas formas. Quando eu estou com o microfone na mão, em frente a uma câmera, eu me sinto iluminado e espero também trazer essa luz pra muita gente. E a segunda frente que mais me deixa, hoje, desafiado, é a frente do empreendedorismo artístico. Ou seja, hoje eu

estou fazendo a gestão da minha própria carreira, eu olho pra mim também como negócio o tempo todo - não que eu já não olhasse –, mas agora de maneira mais clínica, apurada, planejando, criando, desenvolvendo, fazendo relacionamentos, ampliando ainda mais os potenciais artísticos e especialmente dos bons negócios e isso é desafiador, mas eu estou adorando também esse lugar. Há dois anos, quando você tomou a decisão de se desligar da Rede Globo para trabalhar em novas possibilidades, o mundo era em muitos aspectos diferente do que é hoje. Todos tivemos que nos adaptar em meio à pandemia. O que você ressignificou em sua vida neste período? Eu costumo dizer que essa pandemia é dividida em três frentes tristes. A primeira, principal, a da saúde, que vitimou muita gente. A segunda, financeira, que trouxe à lona vários negócios e sonhos. E a terceira, a pandemia psicológica, que mexeu com muitas cabeças. E eu digo também que quem não entendeu ou quem não aprendeu com o que aconteceu, perdeu uma importante chance de se reinventar, de se repensar, de refletir sobre si, sobre todos, de se transformar. A ressignificação que eu fiz na minha vida e do mundo que me cerca, especialmente profissional, foi gigantesca. E eu com certeza coloquei no ponto mais alto da minha pirâmide de prioridades, de novo, a minha família. As pessoas que eu amo, que eu protejo, que graças a Deus passaram essa pandemia, que sobreviveram e, acho que assim como eu, também aprenderam muito sobre a vida. Se pudesse escolher um momento de sua trajetória profissional até aqui para reviver, qual seria? Eu adoraria reviver o meu programa da Band, o O+ (pronuncia-se O Positivo), que durante dois anos foi ao ar de segunda a sexta-feira, das oito às dez da noite, ao vivo para todo Brasil. Porém eu gostaria de revivê-lo nos tempos atuais, em total conexão com as redes, com o público ali, não só me vendo, mas comentando, repercutindo, para poder entender como é que eles perceberiam aquele conteúdo nos tempos de hoje. Ia ser muito engraçado.

“A frente que mais me deixa realizado, com certeza, é a de comunicador. Sou eu na mais pura essência artística”


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De que forma você acha que as redes sociais e a interação com o público influenciaram as mudanças na sua carreira? Nos conte um pouco sobre o surgimento da Pode Live Shop, sua nova plataforma virtual com vendas ao vivo. A rede social mudou tudo, mudou a todos. A forma como a gente se comunica com audiência hoje é maravilhosa. Imagine só: há trinta anos, era só através das revistas que esse público poderia saber um pouco mais da nossa vida íntima. Hoje, eu posso abrir o que eu quiser da minha vida pessoal e calibrar a entrada deles em minha vida. Mas mais do que isso: a rede social permite um feedback, uma resposta muito mais certeira, muito mais rápida, pro bem ou pro mal, daquilo que você tá apresentando. É no “like”, no “comentário”, que você tem um norte muito mais bacana do que sua audiência tá pensando sobre você, sobre o que você está fazendo. Isso é ouro. Em termos de negócios, então, o pensamento é total nas redes sociais. Quando você fala em uma campanha publicitária, o digital é com certeza uma prioridade absurda nessa comunicação. E isso é muito gostoso de ter, não só pela a relação artista-público, mas como pela relação entre produto, conteúdo e consumidor. E foi por tudo isso que a gente começou a pesquisar um fenômeno que surgiu de maneira fantástica durante a pandemia, as “live commerce”, algo que mudou completamente a forma de consumo do público da internet. E aí eu, a agência Bullet, do Fernando Figueiredo, e o Rocket Bank nos unimos e decidimos criar a Pode Live Shop: uma plataforma com conceito parecido com um shopping virtual de lives, onde a gente pretende dar ao consumidor uma experiência completa. A gente quer atraí-lo e entretê-lo para que ele possa comprar o produto da marca que desejar ali dentro. Uma chance da marca também poder plugar ali seu conteúdo, seus produtos e a sua audiência. E temos certeza de que esse é um negócio que veio para ficar. De onde surgiu a ideia de criar a Agência Family e quais os planos para ela? Assim que eu deixei a Globo, eu fiz três perguntas simples, mas muito objetivas,

que me deram todo o norte que precisava para colocar as minhas ideias e o meu planejamento em prática. A primeira pergunta foi: o que eu quero fazer? A segunda: com quem quero fazer? E a terceira: como eu quero fazer? Essa terceira pergunta levou também a uma óbvia reflexão, que era fundamental, sobre eu repensar minha gestão artística. Não adiantaria nada eu fazer o que eu quero fazer, com as pessoas que eu quero fazer, mas não do meu jeito. Foi quando fechei meu ciclo com meu antigo empresário e foquei todos os meus esforços na criação de uma “house” e surgiu a ideia da Agência Family, que é basicamente uma casa que administra nossas imagens e negócios para potencializar nossos talentos, ampliar relacionamentos e criar novos negócios. E deu super certo, porque eu tenho o time que eu quero, fazendo as coisas da nossa forma, com os nossos valores, a nossa cultura corporativa. E deu tão certo que, não à toa, pouco tempo depois da criação da agência, a Flávia resolveu repensar sua gestão artística e veio junto comigo. E agora, juntos, a gente está sempre de portas e janelas abertas para agências de publicidade, marcas, clientes e, especialmente, os parceiros e parceiras agentes artísticos. Juntos, você e Flávia são não só um grande casal, mas inspiram muitas famílias. De que forma você enxerga esta influência e em que medida isto influencia também vocês na escolha do que mostrar e do que deixar de mostrar aos fãs? Eu tenho muita felicidade e muito orgulho do que eu e a Flávia conseguimos construir como família e como casal durante esses 15 anos de relacionamento. E não só isso. A inspiração que a gente causa nessas pessoas para que busquem algo parecido também é muito legal. Mas mais do que causar inspiração, também é trazer a verdade. Nós somos um casal autêntico, verdadeiro e sempre fizemos questão de deixar isso muito claro. Somos um casal que também está suscetível a qualquer problema da vida, a qualquer destempero de um relacionamento. Temos nossas “DRs, nossas diferenças, nossa composição, a gestão desse casal que é do dia a dia, dos filhos, da casa, da vida profis-

“A Agência Family é, basicamente, uma casa que administra nossas imagens para potencializar nossos talentos e criar novos negócios”


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sional. Que bom que a gente inspira, mas que bom que a gente passa verdade: com altos e baixos, mas sempre tentando, com harmonia, respeito, admiração e muito, muito amor, construir algo positivo para que as outras pessoas percebam isso de maneira autêntica também. Viajar é, certamente, uma de suas maiores paixões. Qual foi a viagem mais marcante de sua vida? Realmente a gente ama viajar. Dentre tantas experiências fantásticas pelo mundo afora, eu destacaria a viagem à Tailândia, uma experiência única. Fomos eu, Flávia, as meninas e os meus sogros, no final de 2017. Conhecemos Bangcoc e as ilhas do arquipélago tailandês, que são lindas, coisa de cinema, literalmente. Conhecemos a religião, aprofundamos mais ainda nosso olhar sobre essa questão deles, que é tão valiosa e tão admirável. Um povo muito generoso, muito simpático. E a gente conheceu locais únicos, que vamos levar para o resto da vida. E além de tudo isso, nós tivemos a oportunidade de passar o réveillon lá e um casamento: eu a Flávia nos casamos mais uma vez, do jeito que ela queria, à beira-mar, pé na areia, com a presença dos pais dela, das nossas filhas. A gente naquele jeitinho todo peculiar tailandês nos long-tails, os barcos de madeira, e a gente pôde fazer o ritual de uma maneira tradicional tailandesa. Foi um espetáculo, foi memorável, inesquecível e muito emocionante. Que tipo de viajante você é: prefere destinos de aventura ou opta pelos mais tradicionais? E quais lugares do mundo você ainda quer conhecer? Eu acho que para cada viagem você tem que vestir um personagem, você tem que virar um tipo de viajante. É claro que tem algumas coisas que você preza, eu prezo muito pelo conforto. Eu penso sempre

no transporte, no hotel e no chuveiro. O resto, o que vier está beleza. E para cada dinâmica de viagem você incorpora um tipo de personagem: mais aventureiro, mais radical, mais relax, mais chique, mais cosmopolita, mas metropolitano, mais urbano, mais rural. A Flávia e eu temos essa capacidade de mudar, para a gente poder entender de maneira muito própria cada experiência, cada roteiro, cada mundo, cada povo, cada a situação. Eu acho que esse é o barato, é você se tornar diferente em cada terra diferente que você conhece. Bom, eu estou louco pra conhecer a Austrália e o Japão, talvez seja uma viagem que a gente junte ali toda aquela região do extremo oriente do mundo. Pensando no cenário atual do Brasil e refletindo sobre o futuro, o que você acha fundamental ensinar para suas filhas como cidadãs? Acho que a principal preocupação, não só minha, mas de todos os pais, é de que as crianças tenham uma educação fundamental incrível, mas não somente da pedagogia, do ponto de vista acadêmico, mas na vida, né, na educação cidadã, na educação da porta para fora, da rua. Da convivência com os outros, do respeito aos outros, do entendimento do todo. Nesse Brasil de tantas diferenças sociais, e tantos “Brasis” dentro do Brasil, o que a gente tenta deixar mais claro é: quem elas são, de onde elas vieram e pra onde e como elas têm que ir. Para não só tornar a vida delas mais valiosa, mas para tornar a nossa vida mais valiosa como um todo. Preocupando-se com outros, fazendo o bem não importando a quem, tentando ser solidário, tentando atender pedidos de ajuda, tentando estar de olho naquele que mais precisa de um carinho, de um colo, respeitando os mais velhos, e assim por diante. A educação como um todo, pra casa e pra vida.

“Eu acho que para cada viagem, você precisa vestir um personagem. Eu e a Flávia temos essa capacidade de mudar para entender melhor cada experiência”


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Aliás, como é o Otaviano pai no dia a dia? Eu tento ser o melhor pai do mundo toda hora, todo segundo. Sou aquele pai que brinca, que faz farra, que vai na montanha-russa, que deixa pintar o rosto, que deixa fazer a unha, que canta, que sai correndo em casa. Mas, ao mesmo tempo, o pai que educa, que cobra o horário, que exige estudo, que fica de olho nas notas, que fica atento ao comportamento das filhas. Eu sou esse pai que está pra lá e pra cá, de acordo com cada voltagem de cada situação do dia a dia. Eu tento ser, a cada dia que passa, um pai melhor, aprendendo com elas. E o Otaviano marido? O quanto de Flávia existe no homem que você é hoje? Caraca, eu tenho muito da Flávia. Hoje eu sou um ser melhor por causa da Flávia também. E é fundamental esse reconhecimento, porque eu acho que eu também fiz da Flavia uma pessoa melhor, eu acho a gente se complementou de várias maneiras. E se isso não acontecer num relacionamento, eu acho que não faz sentido. Você está construindo o outro, você está reconstruindo a si mesmo e ajudando a construir um alicerce para os dois. E isso é feito com admiração, com respeito, com colaboração de ideias e pensamentos. É feito às vezes com uma discussão construtiva de opiniões diferentes, mas que leva pro mesmo caminho, que deseja sempre o melhor. Aprendendo a dois é que a gente vive como um só. O que mudou do Otaviano do início da carreira para o de hoje? E como você imagina que será o Otaviano daqui 10 anos? Mudou tudo, mudamos todos. Essa evolução é necessária, fundamental. Quantas

tentativas, quantos erros, quantos aprendizados... tantas correções de rota, tantas reflexões, quantas coisas eu recodifiquei na minha vida diante de tudo o que já vivi. E só tenho que agradecer por tanta lição em vida, e tão novo ainda. Aos quase 50 anos, com maturidade, claro que a idade ajuda. Eu prefiro ser muito novo de espírito com toda compreensão do que aconteceu comigo. E se eu ainda não entendi tudo, significa que eu tenho que evoluir mais. Num momento em que precisamos tanto de esperança, uma pessoa com seu alto astral é um alento e um exemplo. Como você mantém essa alegria de viver mesmo diante dos desafios? Eu sempre acreditei na positividade e coloquei isso como um viés muito fundamental pra minha existência. Sempre fui positivo e sempre gostei de me cercar de pessoas positivas, alegres, com boas ideias. E até quando eu comecei a morar sozinho em São Paulo, aos 14 anos, distante dos meus pais, mas como todo conforto do mundo, eu entendi que eu precisava ser positivo para não desistir, pra ir atrás das minhas conquistas, para ir até a porta da rádio bater lá, pra conseguir meu emprego, pra me apresentar, mostrar meu talento, brilhar, se fosse o caso, e até para enfrentar os problemas. E é claro que com positividade, com alegria, com energia, a gente combate os problemas de uma forma melhor. Tem hora que não dá, que a gente precisa jogar a toalha, que o problema é maior que você e aí não há positividade que aguente. E eu me dou o direito de ficar triste, de ficar para baixo, mas na média da minha vida a positividade vai ser guia eterna para que eu exista e persista na minha existência.

“Eu sempre acreditei na positividade e coloquei isso como um viés muito fundamental pra minha existência. A guia para eu persista na minha existência”


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Calça Foxton @foxtonbrasil Tricot Ricardo Almeida @ricardoalmeidaoficial Parka Foxton Pulseira Liberty Art Brothers @libertyartbrothers Sapato Foxton Relógio acervo


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Uma potência feminina MUNDIALMENTE FAMOSA POR SUAS ESCULTURAS DE VESTIR QUE CELEBRAM O FEMININO, A DESIGNER DE JOIAS CARIOCA PAOLA VILAS LANÇA UM NOVO BRAÇO DE SUA MARCA HOMÔNIMA: A PAOLA VILAS HOME


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Por Vivian Monicci fotos Divulgação

Como seria uma escultura elaborada para ser utilizada como joia? Para entender, basta olhar para qualquer peça da designer de joias carioca Paola Vilas. Suas “esculturas vestíveis”, como ela mesma define, chamam a atenção não só pela beleza, mas também pela originalidade e por serem verdadeiras iniciadoras de conversa entre duas pessoas. Mais do que isso, cada peça é pensada para expressar e celebrar a potência feminina e quebrar paradigmas. Fundada em 2016, sua marca homônima tem lojas no Rio de Janeiro e em São Paulo e está presente em pontos de venda de prestígio no mundo todo. Agora, Paola comemora o lançamento de sua linha de mobiliário. Como surgiu a marca e o seu interesse por design de joias? Eu comecei muito mais conectada com o mundo de artes plásticas, escultura, pintura e desenho, como forma de expressão, de pensar a vida a partir dessa construção artística. Entrei com 16 anos na faculdade de comunicação visual, totalmente sem orientação e sem nenhum know-how. O curso era totalmente voltado para o bidimensional e eu sempre fui apaixonada pelo tridimensional, por esse pensamento mais conceitual artístico. Em paralelo, fui procurando vários cursos de artes visuais, escultura, pintura e comecei a experimentar a possibilidade de tridimensionalidade. Entrei também em um curso de ourivesaria e encontrei a possibilidade de criar mini esculturas, para depois colocar no corpo. Acho que isso explica muito a minha estética, porque são esculturas vestíveis, que causam confusão visual. Muitas vezes, as clientes não entendem exatamente se é um bracelete, se é uma escultura, e é isso

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mesmo que eu quero. Eu tenho uma peça que eu só tiro para fazer esporte, que é o Bracelete Louise. Ele já é praticamente acoplado ao meu braço. Foi a partir dele que eu tive esse grande entendimento de escultura vestível. A marca nasceu em 2016 no Rio de Janeiro com todas essas minhas experimentações. Eu penso a peça para que ela seja um ponto de contato entre dois estranhos, que seja um assunto, um iniciador de conversa. Assim, elas foram me abrindo portas e essa demanda foi acontecendo naturalmente. A marca sempre foi muito voltada para o mercado externo, porque criamos toda essa estética e linguagem próprias e viralizamos na internet. Bombamos lá fora antes do que no Brasil, onde ainda estávamos num ritmo boca a boca. Sempre fomos muito criteriosos com os pontos de venda. Começamos com um mercado muito grande em Londres, na Ásia e na Rússia, em lojas como Net-A-Porter, Moda Operandi, Selfridges, Galeries Lafayette. Depois dessa pulverização selecionada no mercado externo, decidimos investir no mercado interno também, pois sempre houve demanda. Há dois anos abrimos uma casa em São Paulo onde a pessoa consegue ter uma experiência sensorial e se conectar com a marca de uma forma mais especial. Você explora muito o corpo feminino e o feminismo nas suas peças. Qual é a sua grande mensagem para o mundo? O feminismo é totalmente necessário. Nossa sociedade foi fundada em uma base misógina, de repressão ao feminino e de ódio à mulher. O que eu quero mostrar nas minhas peças é que isso não é frágil, é uma força extremamente potente, é libertação. A minha marca é de joalheria

“Eu penso cada peça para que ela seja um ponto de contato entre dois estranhos, que seja um assunto, um iniciador de conversa”


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por acaso, porque, na verdade, ela é muito mais sobre todo esse universo que eu quero trazer de libertação do feminino, de quebrar paradigmas, repensar a sua realidade, expandir as formas de viver, tomar consciência sobre a força da energia feminina e integrá-la em homens e mulheres. Você recebe um retorno das pessoas que consomem as suas peças? Sim! Sinceramente, eu não tenho interesse que a pessoa use a minha peça porque é modismo. Eu quero que a pessoa se conecte com a peça, com a ideia, a história, não importa a forma. Eu penso cada peça para que ela circule livremente, sem gênero. E cada vez mais há homens usando e acho isso superbacana, porque eles também precisam curar essa energia feminina. Eu crio pensando nessa conexão, seja ela qual for. Óbvio que eu não tenho a pretensão de ter qualquer controle sobre isso, é apenas uma intenção. Muitas mulheres olham para as minhas peças e se sentem mais livres. Em relação à nova linha Home recémanunciada, quando decidiu que era o momento de entrar no universo de decoração? Estou super feliz com esse lançamento, pois é uma coisa que eu sempre tive vontade de fazer, de trabalhar com outras escalas, expandir esses conceitos para outras dimensões, possibilidades e formas de tocar o outro. Decidimos lançar neste ano, quando a marca completa cinco anos. Eu acredito no trabalho construído a longo prazo, de forma sólida e achei importante a consolidação primeiro como uma marca de joalheria, para poder lançar este outro braço. A ideia é que ele seja tão potente quanto a joalheria e caminhe junto, que a marca seja multidisciplinar e se desdobre para outras coisas. Todas as peças são bem especiais e

fortes. Trazem para casa mini portais que criam narrativas, levam para o mundo do lúdico, dos sonhos, onde tudo é um pouco mais possível. É sobre subverter a realidade para que você possa expandir a mente, a forma de viver. Por exemplo: a peça Mamilos de Parede transforma a casa em uma grande entidade feminina; a Mesa Seios é feita em quartzito e traz uma experiência sensorial; a Cadeira Henri tem dois olhos que giram e, quando é colocada na altura da mesa, parece que está espiando; a Luminária de Mesa Octavia tem o formato de uma mão e projeta luz com movimento. Para o mobiliário, também estamos focados no mercado externo. Eu tenho a missão e a vontade de mostrar a força do design brasileiro para o mundo, que nós temos pessoas contemporâneas pensando design de uma forma inusitada. O que mais te encanta na sua profissão? Eu batalhei muito para ter essa liberdade criativa e sempre mantive a minha verdade. Consegui criar com liberdade uma coisa muito diferente, que é totalmente verdadeira, sem precisar tirar nada de ninguém. Eu bebi da minha fonte e fiz uma marca de sucesso de forma bem inusitada. E o mercado conseguiu absorver isso. Quais são seus planos para o futuro? Eu me vejo desdobrando cada vez mais essa linguagem da marca em outras possibilidades e formas de criar e expressar. Nós já temos o Atelier aqui no Rio, mas vamos abrir este ano mais uma loja onde o cliente vai conseguir mergulhar nesse universo. Eu vejo a marca de uma forma muito global, não enxergo um limite geográfico nem conceitual. Quero que a marca se fortaleça cada vez mais lá fora e aqui no país.

“Eu quero mostrar que o feminino não é frágil, é uma força extremamente potente, é libertação”


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De moto no Alasca COM UMA MOTO OFF-ROAD E UMA CÂMERA NA MÃO, RICARDO SERPA ENCONTROU O QUE MAIS AMA FAZER: CONTAR HISTÓRIAS DO MUNDO E DAS PESSOAS


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Por Fernando Salien fotos Ricardo Serpa

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Ricardo Serpa, um bem-sucedido executivo de 60 anos, atuava abrindo novos mercados pelo mundo afora, mas o que seu coração queria era fotografar aventuras. Quando tinha 28 anos, largou o antigo emprego e foi trabalhar como fotojornalista no Jornal do Brasil. Depois de viver com paixão o jornalismo brasileiro, foi com a família para os EUA e abriu um estúdio digital muito requisitado, mas ele queria ainda mais liberdade. Serpa então decidiu mudar tudo mais uma vez e, inspirado pela biografia do motociclista inglês Ted Simon, fez sua primeira grande aventura guiando uma BMW 1200 GS Adventure saindo da Flórida até a última estrada transitável do Alasca. Foram 32 mil quilômetros ida e volta durante dez semanas, passando por paisagens fascinantes. Sempre escolhendo o máximo de off-road em cada trecho. “Eu vi ursos, alces,

A estrada vai mudando a gente, nos deixando mais abertos, e compreensivos


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passei por situações perigosas entre rios, vales e montanhas e descobri que essa era a minha motivação. Viajar sobre duas rodas, celebrando a fotografia e descobrindo a história de vida das pessoas que eu encontro pelo caminho.” Mas o sublime é raro e muitas vezes era aflitivo fotografar estando em trânsito, porque ele percebia uma luz extraordinária que iria durar apenas 15 segundos. “Era o tempo de encostar a moto, tirar o capacete e clicar aquele momento mágico”. Entretanto, passagens bem mais leves cruzaram seu caminho. Em uma moto sozinho fica-se mais vulnerável, e as pessoas percebiam essa situação de desamparo e o acolhiam oferecendo onde dormir e o que comer. Em uma região quase deserta do Alasca, Ricardo parou para abastecer logo atrás de outra moto e, quando o piloto da frente tirou o capacete, se surpreendeu ao se deparar com uma senhora de 75 anos de idade com cabelos totalmente brancos. Ela disse: “Eu sei o que você está pensando,


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que eu sou muito velha para fazer isso, né?” Ele apenas sorriu e foram tomar um café juntos. Ela contou que viajava sozinha havia cinco anos pela América do Norte. “Foi uma lição para o meu ego de Indiana Jones. Na verdade, Indy era ela.” A viagem promovia tanta emoção que ele quase não tinha fome. A adrenalina e endorfina alimentavam o seu corpo enorme de 1,94 metros, fazendo-o perder mais de dez quilos. Serpa guiou 700 quilômetros em uma estrada praticamente de terra até o último ponto transitável do Alasca, o campo de petróleo Prudhoe Bay: foram 20 horas de viagem em um ambiente solitário, chegando, inclusive, a ultrapassar o Círculo Polar Ártico. Ricardo brincou com as linhas amarelas nas estradas do sul de Utah com a moto no piloto automático enquanto clicava a 100 quilômetros por hora. Passou por paisagens desérticas e sua motocicleta foi se tornando sua casa. A sensação de proteção vinha do nível de prudência que é imprescindível ter constantemente. Foco total na estrada, mas, paradoxalmente, a visão amplia-se para a contemplação!

“Gosto muito de fazer o que eu chamo de linhas no mapa, que são fotos de estradas com camadas quase infinitas”


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POESIA CONCRETA Mês de julho na Califórnia, a estrada June Lake Loop estava repleta de estrelas e um meteoro rasgava o céu bem no meio da cena. Do lado esquerdo, montanhas em fogo e, do lado direito, a Via Láctea brilhava. Ricardo desceu da moto e, com a câmera no chão, capturou a imagem inspiradora! Ele transitou também pela Alaska Highway, uma rodovia construída em 1942 depois do ataque a Pearl Harbor. Americanos e canadenses estavam receosos dos japoneses invadirem a costa oeste e em seis meses ligaram o Alasca ao restante dos Estados Unidos, atravessando o Canadá. Uma equipe começou a construção pelo sul e outra pelo norte, e se encontraram no meio do caminho onde há o que eles chamam de “floresta das placas”. Tudo começou com um soldado com saudades de casa colocando a primeira delas, escrito “Oklahoma” e hoje há milhares de placas do mundo todo.

“É fundamental planejar todos os detalhes da viagem, mas isso não pode amarrar o viajante, e sim libertá-lo para viver improvisos”


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O 911 número 57 está vivo! A HISTÓRIA DO RARO PORSCHE ABANDONADO, QUE SE TORNOU PEÇA DE MUSEU, É SIMPLESMENTE FANTÁSTICA Texto Roland löwisch Fotos Rafael Krötz

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Otto Schulte é especialista em carros antigos e assessora um programa da emissora de TV alemã RTL sobre caçadores de antiguidades. O programa documenta a atuação de três personagens que, a pedido, visitam casas de acumuladores de coisas. A função deles é “garimpar” o porão, o sótão e o galpão procurando algo de valor que possa ser vendido e render algum lucro aos donos das casas. Geralmente as somas obtidas não superam 1.000 euros. Em alguns casos chegam, no máximo, a 4.000 euros. Mas quando Schulte foi chamado para visitar a casa de Bernd Ibold, em Bardenitz, perto da cidade de Potsdam, ficou chocado: no pátio, 19 carros estavam enferrujando – a maioria deles com mais de dez ou até 20 anos, muitos sem qualquer proteção contra as intempéries. Quase nenhum podia rodar, e poucos ainda davam a partida. O dono da casa lhe contou que sua paixão era consertar automóveis, e que guardou os carros para ter uma ocupação depois de aposentado. Problemas de saúde atrapalharam os planos desse homem simples, mecânico apaixonado de corpo e alma por carros e que tinha na oficina inúmeras ferramentas. Por questões financeiras, ele também precisava vender a casa de campo com os celeiros cheios de objetos que guardavam a história de seus automóveis. Já com 70 anos, Bernd não sabia que possuía algo de valor. Achava que não tinha nada, mas não encontrava forças para se livrar de seus velhos carros. Sapos ou príncipes Por fim, a filha dele teve a ideia de procurar ajuda no programa de TV. Mal sabia ela que no velho celeiro dois “sapos” acabariam se transformando em “príncipes”. Ao entrar no galpão, o especialista Schulte notou dois Porsche 911. A ferrugem havia destruído boa parte dos estribos e painéis laterais. Os para-lamas, bem como portas e bancos, estavam faltando. Com a poeira grossa que envolvia os velhos esportivos, mal dava para ver que um era vermelho e o outro, dourado. Mesmo assim, Schulte avaliou que aficionados poderiam ter interesse pelas carcaças e pagariam até 10.000 euros pelos “restos” dos dois carros, principalmente porque o dono lhe informou que havia guardado “em algum lugar” os componentes que estavam faltando. Enquanto procuravam o que faltava, o mecânico lhe confidenciou que certa vez tentou adquirir peças de reposição em uma concessionária Porsche, mas não deu certo porque lhe disseram que seu 911 era muito antigo, de número 57. Isso deixou Schulte perplexo...


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Um dia no museu Alexander Klein é diretor da gestão de automóveis do Museu da Porsche e costuma receber com frequência telefonemas de pessoas que pretendem lhe oferecer uma verdadeira raridade. Mas ao atender o telefonema de uma mulher que dizia trabalhar na rede de TV RTL, ficou curioso. Ela perguntou se Klein queria comprar um Porsche antigo… “Que tipo de Porsche, senhora?” “Vermelho” é a resposta do outro lado da linha. “Tipo? Carro esporte.” (Suspiros.) “A senhora pode me informar o que está escrito nos documentos?” “Porsche.” “Algo mais?” “Motor boxer de seis cilindros, 300057, 130 cv a 6.100 rpm…” A resposta deixou Klein atônito: o número 300057 lhe pareceu mágico. Poderia ser do 57° exemplar fabricado da linha Porsche 911, ainda em 1964, quando se chamava 901? Klein, que já havia desistido de procurar algum exemplar do 901, queria apenas fechar uma lacuna na exposição: encontrar o mais antigo 911 ainda existente que, conforme havia descoberto, deveria ser o de número 302503. Mas daí lhe apareceu esta oferta. Segundo o cartão de identificação, o carro foi entregue ao primeiro proprietário em 27 de novembro de 1964, na cidade de Krefeld. E dali se perdeu qualquer rastro do Porsche 911 vermelho brilhante (cor de fábrica 6407 B/P) com bancos revestidos em preto pepita. Ibold deve ter sido, no mínimo, o quinto proprietário do carro. Diante do interesse demonstrado por Klein, a mulher pediu que a Porsche fizesse uma proposta financeira imediatamente e disse que deveriam levar a quantia em dinheiro vivo para o vendedor. Mas Klein replicou que isso não poderia ser feito assim, e que, antes, seria necessária uma avaliação de peritos. Sem a opinião deles, não haveria negociação. E, dessa forma, foi agendada uma visita de funcionários da Porsche à residência de Bernd Ibold. Dieter Landenberger, diretor do arquivo da Porsche, e o chefe da oficina do museu, Kuno Werner, foram juntos até Bardenitz. Ao chegarem lá, as câmeras de TV já os aguardavam. O especialista em negociações do programa da RTL queria ouvir um valor e que o acordo deveria ser selado ali mesmo, com um aperto de mãos diante das câmeras. Mas os dois representantes da Porsche se negaram a fazer qualquer acordo antes que o carro fosse avaliado por peritos independentes. Para isso, transportaram os dois 911 até Zuffenhausen. Um verdadeiro original O nº 57 era realmente original. Isso pôde ser confirmado nas diversas numerações da carroceria e nas bases dos painéis de instrumentos, bem como nos painéis internos das portas com inscrições em giz. O estado deplorável, mas não totalmente arruinado, fez com que a Porsche decidisse comprar o carro: o valor oferecido foi de 107.000 euros. Algo raro, que deixou Otto Schulte surpreso, sobretudo porque o outro 911, dourado, ano de produção de 1967, foi avaliado como bom “doador” de peças, e a Porsche ofereceu mais 14.500 euros por ele. Bernd Ibold quase não acreditou: suas preocupações financeiras desaparecem em uma só tacada. E, melhor ainda, no futuro poderá apreciar “seu” 901 no museu da Porsche. Mas isso deverá demorar um pouco, algo em torno de dois anos. Segundo a primeira avaliação, será possível utilizar apenas 35% dos painéis metálicos da carroceria e aproximadamente metade dos componentes originais do carro. Além disso, cerca de 20% das peças originais foram perdidas. Atualmente, ele está sendo completamente

Ao procurar ajuda no programa de TV, a filha mal podia imaginar que no celeiro dois “sapos” se transformariam em “príncipes”


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desmontado. O câmbio e o motor, apesar de não pertencerem originalmente ao carro, também são de um modelo da mesma série. A pintura da carroceria será removida por um processo químico, para depois ser meticulosamente refeita – com novas chapas. Mas o teto e a seção frontal, com o número do chassi, além da base do painel de instrumentos, serão mantidos originais. Depois será instalado um novo conjunto de cabos de acionamento, nos quais serão utilizados conectores e conexões de época. Os instrumentos, o volante, os revestimentos das portas, os bancos e os vidros serão reformados cuidadosamente. Os trabalhos pesados de recuperação da carroceria e pintura não poderão ser realizados nas instalações do Museu Porsche, e ficarão por conta da fábrica. Todo o processo de restauração será realizado em conjunto com a Porsche Classic. Os trabalhos seguindo o padrão de originalidade Porsche deverão custar aproximadamente 250.000 euros. Restaurado, o Porsche 911 número 57 – como todos os outros carros do museu – também poderá “sair de casa” para determinados eventos.


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A história do zero no centro O sucessor do Porsche 356 deveria se chamar 901. Mas, ainda durante a fase inicial de produção, a Peugeot apresentou um protesto por escrito, afirmando que havia registrado todas as denominações de modelos de automóveis com o zero no centro. Assim permanece a lenda de que foram montados 82 exemplares do Porsche 901, até que o modelo fosse denominado de 911. “Mas não há nenhuma prova disso”, afirma Alexander Klein. “Ninguém sabe realmente quantos exemplares do 901 foram fabricados. Existe um livro de produção onde alguém registrou à mão cada veículo fabricado. Uma página acaba no número de produção 82 com 901 e a seguinte começa com o número de produção 83 como 911. Mas isso não significa que a carta da Peugeot tenha chegado naquele momento.” Klein também detalha que dos primeiros cem exemplares do 901/911, nenhum carro era igual ao outro. “Cada exemplar era uma peça única, e a verdadeira maturidade da série surgiu depois”, explica. Dessa forma, os primeiros clientes foram, na realidade, motoristas “cobaias”: quando surgia uma reclamação sobre a entrada de água no veículo, o próximo carro recebia outra vedação. Se a maçaneta emperrava, o modelo posterior recebia novo desenho. No primeiro ano de produção, 1964, foi fabricado um total de 232 exemplares do 901/911.

Porsche 901 Ano de construção: 1964 Motor: boxer, 6 cilindros Cilindrada: 1.991 cm³ Potência: 130 cv (96 kW) a 6.100 rpm Torque máximo: 174 Nm a 4.200 rpm Câmbio: 5 marchas, manual 0–100 km/h: 9,1 s Velocidade máxima: 210 km/h

O teto e a seção frontal, com o número do chassi original, além da base do painel de instrumentos, serão mantidos


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Provence: seus cheiros e sabores Os tons pastel e ocre dos vilarejos históricos se misturam aos aromas, gostos e paisagens neste giro por lugares fora do circuito comum


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Texto Renata Zanoni fotos Divulgação

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Vincent Van Gogh procurou as luzes da Provence, já que são quase 300 dias de sol por ano na região. O pintor chegou ali depois de um acontecimento que o tornou bem conhecido e fez parte de sua história: ele acabou cortando a própria orelha e foi internado no hospital psiquiátrico de Saint-Paul de Mausole, em Saint-Rémy-de-Provence. Foram apenas 53 semanas internado, tempo suficiente para que se tornasse a fase mais produtiva de sua vida, já que fez 143 pinturas — incluindo La Nuit Étoilée —, e mais de 100 desenhos. Atualmente, um monastério funciona no lugar do antigo hospital e conta com uma parte aberta aos visitantes, que podem conhecer os aposentos pertencentes a Van Gogh na época. Da janela do quarto, é possível ver oliveiras, ciprestes e jardins de íris, que serviram como grande inspiração ao artista. Outro importante nome do meio artístico que caiu de amores pela região foi Paul Cézanne, que nasceu, viveu e morreu em Aix-en-Provence. E, até hoje, suas cores, construções e todas as suas características encantam muitos artistas. Não é raro andar pelas cidades e pequenos vilarejos e ver artistas com seus cavaletes ou pranchetas em mãos tentando passar para o papel tamanha beleza. A Provence é rústica, tem um charme discreto e uma atmosfera para lá de envolvente. Muitos quesitos colaboram para isso, seja pela sua paisagem tomada pelos campos de lavanda em alguns meses do ano, pelo aroma ora de lavanda, ora de oliveiras que impera em muitas paradas do seu roteiro, pela gastronomia sempre elegante, pelos vinhos e azeites marcantes, ou talvez pelas cores tão inspiradoras. O ritmo da Provence parece diferente de outros lugares da França. A maioria dos moradores locais dá sequência aos negócios familiares, tentando sempre manter o padrão de qualidade e a história, trazendo toques de modernidade. Um exemplo é a produção de azeite Moulin Castelas ou o hotel familiar Château des Alpilles, cuja propriedade já pertencia à família antes de se tornar um hotel e traz um toque especial das proprietárias que estão sempre por ali. Ou mesmo ao conhecer uma banca de queijos no mercado de Les Halles em Avignon e saber mais da história da família, que oferece uma seleção com mais de 250 tipos.

Os dias ensolarados atraíram artistas do calibre de Van Gogh e continuam conquistando os viajantes


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Para conhecer a região, a melhor opção é pegar um voo em Paris e 1h15 depois chega-se a Marselha, capital da Provence. De lá, são tantas opções de lugares para conhecer que será difícil escolher. E que tal fugir do roteiro mais comum? Comece por Les Baux-de-Provence, um pequeno vilarejo para se perder por suas ruelas e lojinhas charmosas. Por ali, vivem apenas 22 pessoas e você se surpreenderá ao saber que uma delas é uma brasileira. Comece no alto pelas ruínas do antigo Castelo e tenha uma linda vista panorâmica. Entre em uma lojinha ou outra para começar a ter contato com os souvenirs, muita lavanda e derivados, como óleos, sabonetes e até mel de lavanda, e peças de cerâmica. Siga para conhecer o Carrières de Lumières — o espaço multimídia traz uma exposição imersiva pelas obras de diversos artistas, a cada temporada um deles é explorado. As exposições do momento trazem Paul Cézanne e Wassily Kandinsky e vão até janeiro de 2022. O legal desse espaço é que não tem começo ou fim, você pode percorrer por quanto tempo quiser e sair na hora que desejar. Depois, vale uma parada em uma produção de vinhos e azeites, que faz parte do DNA da Provence. A Moulin Castelas é uma das principais produtoras de azeite da região e você pode fazer um tour para conhecer melhor a produção e fazer uma degustação no final. Vale provar o azeite trufado com gengibre. Já para saborear bons vinhos e safras orgânicas, reserve uma visita na Mas de la Dame. Destaque para o vinho Rosé du Mas feito com cinco tipos de uvas, bem suave, cítrico e refrescante. Uma boa base para explorar os arredores de Les Baux-de-Provence é o Domaine de Manville, propriedade integrante da Small Luxury Collection que tem quartos muito espaçosos, jardins, além de suas villas com três ou mais quartos perfeitas para famílias, com piscina privativa, sala de jantar, cozinha e toda a privacidade possível. Além do campo de golfe com vista para as montanhas. Saint-Rémy-de-Provence já é uma cidade um pouco maior. Guarda o monastério Saint-Paul de Mausole, que serviu de morada para o pintor Van Gogh, e ruas com lojas e cafés charmosos para um passeio sem pressa. A 15 minutos de distância está o Château des Alpilles, uma propriedade familiar transformada em hotel com apenas 21 acomodações. Ter um carro é essencial para sua autonomia. Avignon está a cerca de 25 quilômetros dali e é a capital do departamento de Vaucluse. A história da cidade começa alguns séculos antes de Cristo com o povo celta. Depois fez parte do Império Romano e foi uma importante rota de peregrinos e comerciantes, que transitavam entre a Espanha e a França. Mas foi a partir de 1305, quando passou a ser sede da Igreja Católica e residência oficial dos Papas, que a cidade ganhou os olhos do mundo.

O Palácio dos Papas é o maior palácio gótico da Europa e abrigou sete papas e dois antipapas


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Gordes é a cidade mais cara da região e abriga mansões de celebridades que se tornam anônimas

O Palácio dos Papas, considerado o maior e mais importante palácio gótico da Europa, obviamente, é uma das paradas obrigatórias. A magnífica construção guarda um museu que mostra toda essa história até a mudança para o Vaticano, na Itália. Roupas, documentos, fatos históricos e fotos fazem parte do acervo e nos ajudam a remontar esse período, que teve épocas de ouro e tempos conturbados. Isso porque, ao todo, abrigou nove Papas (sendo sete Papas e dois antipapas), dado que causa estranhamento aos leigos quando o assunto é catolicismo. De forma resumida, a Igreja teve uma cisão durante o mandato do sétimo Papa de Avignon, Gregório XI, em 1378, que decidiu que o papado deveria regressar a Roma. Ou seja, nos 46 anos seguintes, a Igreja permaneceu dividida entre Avignon e Roma e, por isso, foram chamados de antipapas. Histórias à parte, é dos jardins do hotel La Mirande que se tem uma das melhores vistas para o Palácio. Seu restaurante é perfeito para um almoço e tem uma estrela Michelin. Ali, o sabor acompanha a elegância dos pratos criados pelo chef Florent Pietravalle. Além disso, os hóspedes ou interessados podem participar de uma aula de gastronomia com receitas e uso de produtos locais. Muitos desses produtos são provenientes do Les Halles de Avignon, o mercado gourmet. Frutas, embutidos, flores, verduras, azeitonas e muitas outras variedades são encontradas. A La Maison du Fromage conta com mais de 250 tipos de queijos. Vale explorar o centro da cidade — o prédio da Prefeitura é super bonito —, ver a praça central com carrossel (algo bem europeu), a ponte Saint-Bénézet — Patrimônio


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Mundial da UNESCO que tinha 22 arcos e hoje restaram apenas quatro —, e ir ao Rocher des Doms (Rochedo de Doms), um jardim estilo inglês que proporciona vistas panorâmicas e ajuda a entender a geografia da cidade. Para quem quer uma hospedagem mais afastada do centro e consequentemente mais tranquila, a Auberge de Cassagne & Spa é o lugar. São apenas 43 quartos, com um spa e um restaurante que vale a pena conhecer. Em cerca de uma hora de distância a partir de Avignon chega-se à região do Parque Natural Regional de Luberon, que guarda algumas das aldeias mais bonitas da Provence. Gordes é uma delas. Um vilarejo todo em pedras com 40 km², cerca de dois mil habitantes e classificada entre

Avignon teve grande importância para a história do catolicismo


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as Plus Beaux Villages de France, ou seja, entre os Mais Belos Vilarejos da França. Na Provence, existem seis cidades com tal classificação. Não à toa, Gordes atrai desde a década de 1950 artistas como Marc Chagall e Pol Mara e guarda a elite da região, com imensas propriedades. Dizem que nomes de Hollywood mantêm seus châteaux por lá e, obviamente, tornou-se a mais cara da região. Ande por suas ruelas, com subidas e descidas, fontes, casas e jardineiras dignas de fotos instagramáveis. Além disso, vá até o mirante no lado oposto da cidade para ter as melhores paisagens. Cerca de 20 minutos de carro separam Gordes de Oppède-le-Vieux, um vilarejo medieval pitoresco repleto de histórias e quase fantasma.


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Com casas do século 12, em pedras e cavernas escondidas, ela era uma comunidade rural nas montanhas e chegou a ter 900 habitantes em seus tempos áureos. Além disso, tornou-se morada de artistas por alguns anos até a chegada dos nazistas na época da Segunda Guerra Mundial. Por conta da ocupação dos alemães, a maior parte da população abandonou suas casas, e anos mais tarde, foram encontradas cerca de 50 pinturas, cartas e desenhos que mostravam a opressão sofrida. Hoje, vivem ali apenas dez famílias. A França é sinônimo de hotelaria de primeira, serviço atencioso e alta gastronomia, e quando você encontra todos esses predicados em um hotel é um acalento para o coração. O Coquillade Village fica em uma colina e proporciona vistas deslumbrantes para o vale de Luberon e Mont Ventoux (uma famosa montanha desta parte do país) e divide espaço com uma propriedade vinícola. Formado por seis residências antigas, uma delas do século 11, abriga quartos e suítes finamente decorados e com privacidade total, todos bem espaçosos e repletos de regalias. Além disso, conta com uma piscina externa superconvidativa, um spa completo e diversas experiências para explorar a região e os vinhedos. Mas o ponto alto fica por conta da gastronomia. O restaurante principal serve tapas contemporâneas criadas pelo chef Thierry Enderlin. Os deliciosos pães franceses e uma seleção ampla de queijos de pequenos produtores também iniciam a experiência no restaurante do chef Xavier Mathieu, no Hotel Le Phébus & Spa. A propriedade chancelada pela Relais & Châteaux pertence à família do chef, que comanda o estabelecimento há 20 anos. Faça reserva para um menu degustação, garantindo uma noite de sabores e serviço impecáveis. Roussillon pode ser sua próxima parada. Já de longe você vai ficando hipnotizado pela nuance de cores do vilarejo. Ela é toda terracota com uma paleta que varia de tons alaranjados mais forte aos mais suaves. O motivo é bem simples: ali está o maior depósito de ocre do mundo. O pigmento poderoso é formado na natureza ao longo de 100 milhões de anos e ali você pode visitar os cânions e ver de perto esse colorido. As lojas da cidade tem peças de cerâmica e os pigmentos são vendidos em muitos ateliês. Suas fotos desta região provavelmente serão as mais curtidas e o desejo de voltar e desbravar ainda mais todos os encantos ficarão acesos na sua memória e no coração.

+ infos: provence-alpes-cotedazur.com/en/

Uma região repleta de possibilidade para aguçar todos os sentidos


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Equipe nos bastidores do nosso Ensaio de capa com Otaviano Costa

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