TOP Magazine Edição 261

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R$20,00

Iza

mulheres positivas / uma edição especial com a história de grandes mulheres / iza: a cantora que com seu talento e carisma se tornou a maior estrela do brasil / fabi saad: fundadora do mulheres positivas, plataforma de desenvolvimento pessoal e profissional de mulheres / lifestyle / tic-tic-tac: os relógios mais desejados do mundo / a surpreendente arquiteta iraquiana zaha hadid / moda / histórias de estilo: quem inventou e lançou a minissaia? / cultura / mulheres que mudaram a história de seus tempos: carmen miranda, brigitte bardot, billie holiday, cleópatra, frida kahlo, leila diniz, maria quitéria, elza soares e outras!

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Sumário 14

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PESSOAS

Sumário 38

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Iza

Fabi Saad

Mulheres Positivas

Ela chega para cantar, arrebentar, criar: sua voz e sua atitude como artista musical indicam um estilo novo, repertório inteligente, arranjos surpreendentes e ação poética.

Vamos inovar o mundo com ações feministas? Ela quer. E faz. Para tanto, coordena multiplataformas digitais, escreveu três livros e fundou a plataforma Mulheres Positivas.

Escolhemos, reunimos e fotografamos 37 mulheres profissionais que agitam, inventam, propõem desafios e alteram comportamentos.

170 LIFESTYLE

Relógios Oi, que horas são? Tic-tac, tic-tac, tic-tac: relógios traduzem estilos, medições do tempo e controles múltiplos. E voltaram a brilhar nos pulsos.

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CULTURA

MODA

Mary Quant Saias curtas? Minissaias? Pernas de fora? Essa revolução do traje feminino foi criada por Mary Quant e ampliada pela top model Twiggy.

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Mundo TOP

Mulheres mutantes

Vamos nesta: entre em nosso visor de novidades para conhecer e descobrir surpresas, projetos arrojados e lances autorais.

Conheça dez personagens femininas que ainda simbolizam rupturas, audácias, estilos e ações/criações inesperadas. Ousar é avançar? Sim!

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Colaboradores

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Quem Fez Fernanda Ávila Fernanda Ávila foi a primeira editora da TOP, quando a revista foi lançada, no começo dos anos 2000. É jornalista e escritora com especialização em Leitura de Múltiplas Linguagens. Cursou Escrita Criativa em Lisboa. Autora do Guia Nova York com Crianças, coautora do portal Viajo com Filhos. Sócia e diretora de conteúdo da Pulp Edições, acaba de lançar a Amora Livros, um clube de assinatura de livros escritos por mulheres.

Mel Freese Um dos principais nomes da nova geração de profissionais de beleza, a rondoniense Mel Freese, que mora em São Paulo, é formada em Publicidade e Propaganda e já colaborou para revistas como Vogue, ELLE, Marie Claire, U+MAG, L’Officiel - entre outras além de vasta experiência no setor de publicidade. Atualmente também atua como modelo plus size buscando trazer mais diversidade para o campo da moda.

Alline Dauroiz Jornalista, roteirista e estrategista digital, Alline Dauroiz tem 17 anos de experiência como repórter e editora em grandes redações do país (Abril. com, Estadão, Revista Glamour e Garotas Estúpidas). Hoje, com a consultoria A Dona do Conteúdo, ajuda empreendedoras e marcas na web, de maneira autêntica e relevante. No perfil @adonadoconteudo compartilha diversas dicas.

Laís Rissato A jornalista de 37 anos é apaixonada por gente e por contar boas histórias, em qualquer plataforma. É heavy user de redes sociais principalmente o Instagram - e tem passagens por veículos como Quem Acontece, Caras e Manequim. Atualmente, escreve matérias de comportamento, questões de gênero e moda para o UOL e Elle Brasil.

Eduardo Logullo Jornalista, escritor, roteirista: Eduardo Logullo trabalhou seis anos na Folha de S.Paulo; depois foi diretor de portais. Escreveu roteiros na TV Cultura e no canal GNT (por cinco anos). É autor de oito livros e prepara outros trabalhos.


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Miro Mestre da fotografia, ele empresta seu olhar único em belas imagens das mulheres para essa edição especial.




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Carta da editora

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Carta da editora Comecei a escrever sobre mulheres há 17 anos, quando ainda se falava muito pouco sobre a causa de gênero. Nesse período, vi e vivi muitas transformações ao meu redor: no Brasil, no mundo e, principalmente, em mim mesma. Fui me aproximando cada vez mais de mulheres transformadoras, de diferentes formações, classes sociais, crenças e histórias de vida. O que elas e eu temos em comum? Uma enorme vontade de mudar a sociedade, tornando-a mais justa e equilibrada. Juntas somos mais fortes. Essa foi uma das lições mais importantes que aprendi nessas quase duas décadas. Foi isso que me motivou a escrever três livros, a criar o SOS Mulher em parceria com o Estado de São Paulo, a idealizar o APP e movimento Mulheres Positivas, com foco em escalabilidade e gerar resultados exponenciais através da tecnologia. Um projeto que vem progressivamente ganhando dimensão e hoje já está presente na Colômbia, México, Itália e Estados Unidos. Tudo isso me trouxe muitas realizações: fui considerada, em 2022, uma das mulheres mais influentes do Brasil pela Forbes. Mas a realização maior é ver a capacidade que eu tenho, junto com outras mulheres maravilhosas, de criar uma rede de apoio forte, capaz de promover o desenvolvimento e o crescimento de milhares de mulheres em suas vidas e carreiras. As personalidades desta edição especial da TOP foram escolhidas por mim e pela TIM por fazerem parte dessa rede: são mulheres que apoiaram o projeto Mulheres Positivas e fizeram parte da transformação que as ações concretas geraram. São mulheres que tiveram, assim como eu, a coragem de se expor e lutar por tudo que acreditam. Nos deram a permissão de colocar seus rostos na capa desta edição especial com orgulho de afirmar o que elas acreditam. Uma sociedade melhor, mais segura, igualitária e, principalmente, o seu apoio incondicional ao projeto Mulheres Positivas TIM como símbolo que a sociedade exige coragem para transformar. Especialmente positivamente. Boa leitura!

Fabi Saad Diretora Criativa e Editorial desta Edição


Publisher Claudio Mello Diretora Criativa e Editorial da Edição Fabi Saad TOP Magazine | Studio Mundo TOP Editoras: Renata Zanoni e Vivian Monicci Repórter Especial: Eduardo Logullo Diretora de Arte: Rosana Pereira Assistente de arte: Luana Jimenez Revisão: Evandrus Camerieri de Alvarenga Assistente de Produção e de Mídias Digitais: Diego Almeida Projeto Gráfico Marcus Sulzbacher Lilia Quinaud Paulo Altieri Fabiana Falcão Colaboradores Texto Alline Dauroiz, Eduardo Logullo, Fernanda Ávila, Laís Rissato, Márcia Leite Foto Miro Produção Alessandra Braga dos Santos, Aline Juliana, Bruna Pezzino, Cris Biato, Gil Alves, Mel Freese Tratamento de Imagens Estudio Bruno Rezende, Helena Colliny Editora Todas as Culturas Criativo: Bruno Souto Gerência de Relacionamento: Carolina Alves Produção Executiva: Camila Battistetti RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes Financeiro: Marcela Valente Secretária Executiva: Carolina Kawamura Circulação: Regiane Sampaio Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados Pré-Impressão: IPSIS Gráfica e Editora Distribuição: Brancaleone TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - CEP 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074-7979 As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados. /topmagazineonline

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Cultura

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Mundo Top

Entre nesta: os relatos reunidos aqui contam várias descobertas, funções, observações, ações, imaginações e realizações temáticas. Pessoas que surpreendem, inventam expectativas, arquitetam lances novos, realizam planos e conseguem dar cambalhotas sobre projetos inesperados. Vamos reinventar a vida? Sim!


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Cultura

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design

A rainha da curva O belíssimo trabalho da arquiteta iraquiana-britânica Zaha Hadid Entre as grandes mulheres que contribuíram para o desenvolvimento da arquitetura contemporânea, Zaha Hadid merece destaque especial. Nascida em Bagdá, Iraque, em 1950, ela percorreu um caminho corajoso e ousado na arquitetura, o que lhe rendeu o reconhecimento como a maior arquiteta mulher da arquitetura contemporânea.

Conhecida como “rainha da curva”, suas construções e designs não têm nada de comum. São imponentes, marcantes e futuristas, repletas de curvas e ângulos e com muito aço e concreto. Por isso, sua linha de arquitetura é considerada desconstrutivista e abstrata, apesar de ela nunca ter se encaixado em nenhuma escola de pensamento. Alguns de seus projetos mais famosos são a Guangzhou Opera House, em Guangzhou, na China; o Galaxy Soho, em Pequim, China; o Museu Riverside, em Glasgow, na Escócia, construído para os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012; e o Centro Heydar Aliyev (foto), em Baku, Azerbaijão.


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E seu trabalho recebeu o devido reconhecimento. Em 2004, Hadid foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Pritzker, considerado o “Nobel da Arquitetura”, e em 2010 e 2011, ganhou o Stirling Prize, principal prêmio de arquitetura do Reino Unido. Além disso, já foi citada como uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo e foi condecorada pela Ordem do Império Britânico pelos serviços prestados à arquitetura, tornando-se Dama Zaha Hadid. Em 2016, aos 65 anos, morreu em decorrência de um ataque cardíaco. Porém, seu legado segue vivo em suas construções eternas e através de seu escritório Zaha Hadid Architects.


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Cultura

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beleza

Muito além da beleza A maquiadora Pat McGrath é uma lenda viva em sua área de atuação Se você é apaixonado pelo universo da beleza e maquiagem e acompanha as tendências nas redes sociais, com certeza já se encantou por algum produto ou maquiagem de Pat McGrath, makeup artist britânica de 56 anos, considerada a mais influente e requisitada do mundo.

Figurinha carimbada nas semanas de moda internacionais, a cada temporada McGrath cria looks de beleza para mais de 60 desfiles de prêt-à-porter e alta costura em Milão, Paris, Londres e Nova York, para as grifes mais prestigiadas do mundo, como Dior, Prada, Burberry, Givenchy, Gucci, Louis Vuitton, Versace, Valentino, Lanvin, entre outras. Ao longo de sua carreira, já criou mais de 500 capas de revistas, maquiou mais de 190 mil modelos e passou por mais de 3 mil backstages de desfiles. Desde 2017, é editora de beleza interina da Vogue britânica. Após ter ajudado a criar as linhas de maquiagem da


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Giorgio Armani e Dolce & Gabbana, em 2015 lançou sua própria e tão esperada linha de cosméticos de alta performance, denominada Pat McGrath Labs, que fez história. Seu produto de estreia, o pigmento dourado GOLD 001, esgotou em apenas seis minutos! É também a marca de beleza mais vendida na história da Selfridges e, em 2020, sua primeira colaboração de beleza com a Supreme New York durou impressionantes 8,2 segundos no estoque. Não há dúvida: ela é um fenômeno. E é claro que com tanto sucesso e visibilidade, vieram muitos prêmios e nomeações, como o CFDA (Council of Fashion Designers of America Founder’s Award) e o The British

Fashion Council 2017 Award for Fashion Creator. Para completar, em 2021, Pat mais uma vez fez história ao se tornar a primeira maquiadora a receber da Rainha Elizabeth II o título de Dama do Império Britânico, por seus serviços prestados à indústria da moda, beleza e diversidade. www.patmcgrath.com


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Cultura

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Mundo Top livros

Para ler mulheres Saiba tudo sobre o clube de assinatura de livros escritos por mulheres

Vamos fazer um exercício: quantas obras escritas por mulheres você tem na sua casa? Provavelmente, o número é muito inferior às escritas por homens, certo? O mesmo pode ser observado nas livrarias, bibliotecas e, até mesmo, nas listas de livros exigidos nos vestibulares. Infelizmente, isso é um reflexo da nossa sociedade. Ao longo da história, as mulheres tiveram menos oportunidades de se dedicar à literatura, foram menos publicadas, premiadas e divulgadas. Os números ajudam a deixar isso ainda mais claro: em 117 edições do Prêmio Nobel de Literatura, apenas 16 mulheres foram vencedoras. Seis mulheres ocupam cadeiras entre os 40 membros da Academia Brasileira de Letras e a primeira a chegar lá foi Rachel de Queiroz, que conquistou esse espaço 40 anos depois da criação da instituição. O Prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura em Língua Portuguesa, premiou sete mulheres nas suas 33 edições. Há uma frase famosa da pensadora Efu Nyaki que diz: “Metade do mundo são mulheres, a outra metade são os filhos delas”. Contudo, ao lermos muito mais livros escritos por homens, deixamos de escutar as vozes desse

contingente maravilhoso de narradoras. Se estamos em busca de mais mulheres nas mesas de negociação, no Congresso, no Senado, nas diretorias de empresas e em profissões como Engenharia e Física para que pontos de vista e opiniões estejam mais equilibrados, o mesmo se passa na cultura e, por consequência, na literatura. Homens e mulheres precisam se acostumar a ver figuras femininas tão frequentemente quanto veem masculinas. Por mais que estejamos avançando (a passos bem mais lentos do que gostaríamos) na busca pela equidade de gênero (também) na literatura, ainda há uma estrada longa e esburacada a percorrer. O clube de assinatura Amora Livros vem ajudando a promover essa transformação. Com o objetivo de inserir grandes autoras em nossas estantes, a Amora faz uma curadoria especial de literatura produzida por mulheres no Brasil e no mundo. Todos os meses, os assinantes recebem em casa uma caixa com um livro-surpresa escrito por uma autora contemporânea e um minilivro com um conto inédito de uma escritora pouco conhecida, que esteja iniciando sua trajetória na ficção. Além disso, recebem algumas surpresas especiais como marca-páginas, adesivos, tag de porta, postal colecionável, entre outros. Para assinar, é só acessar o site e escolher um dos planos (anual, semestral ou mensal). Junto com o clube de livros, há uma loja online que vende produtos como canecas, camisetas, cadernos e ecobags com frases literárias. Mais informações: amoralivros.com.br @amoralivros_brasil


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Mundo Top

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Cultura

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aviação

Voe como uma garota A fascinante história da aviadora Amelia Earhart

Um mistério que nunca foi solucionado. Até os dias de hoje, cientistas, pesquisadores e historiadores não conseguiram desvendar o que aconteceu com a aviadora norte-americana Amelia Earhart, que desapareceu em 1937 e deixou o seu nome marcado para sempre na história. Lenda da aviação mundial, Amelia nasceu em 1897,


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no Kansas, Estados Unidos e, em 1920, teve sua primeira experiência de voo junto com um piloto na Califórnia. Foi aí que ela decidiu que aprenderia a pilotar. Em 1932, após já ter quebrado vários recordes, tornou-se a primeira mulher a sobrevoar sozinha o Oceano Atlântico. Porém, ela queria mais: seu sonho era ser a primeira mulher a dar a volta ao mundo, percorrendo uma rota de 47 mil quilômetros. Depois de uma tentativa fracassada de iniciar a aventura ao redor do globo em março de 1937, por conta de problemas técnicos – partiu de Oakland, na Califórnia, e pousou no Havaí –, Amelia finalmente realizou seu sonho em 1 de maio de 1937, no avião bimotor Lockheed Electra, ao lado do copiloto Fred Noonan. A dupla levantou voo novamente de

Oakland e conseguiu seguir viagem. Em dois meses, passaram por cinco continentes e, inclusive, fizeram paradas no Brasil, em Fortaleza e Natal. Porém, a história não teve um final feliz. O desfecho trágico aconteceu no dia 2 de julho de 1937, quando o avião decolou de Lae, na Nova Guiné, e não conseguiu chegar à Ilha Howland, no Oceano Pacífico. A aeronave desapareceu misteriosamente e até hoje não foi encontrada. Existem algumas suspeitas do que possa ter acontecido com a dupla, mas nenhuma foi confirmada. Teorias à parte, o fato é que o feito de Amelia é muito mais importante do que a sua morte. Ela foi pioneira na aviação feminina e abriu caminho para várias outras mulheres que ousaram sonhar em pilotar aeronaves.



A MAIOR COBERTURA 4G DO BRASIL. AGORA COM O 5G. REDE TIM. PODE CONTAR.

A TIM é líder brasileira no Opensignal Award: “The State of Group Video Calling Experience – North & Latin America June 2021” e ganhou “melhor experiência de vídeo” no Opensignal Award: “Brazil: Mobile Network Experience Report July 2021”. “A maior cobertura 4G do Brasil” se refere à quantidade de municípios cobertos e de população coberta. Fonte: Teleco, 30/11/2021. Clientes TIM terão acesso à rede 4G desde que possuam aparelho homologado para a frequência 4G no Brasil, TIM Chip 4G e estejam em uma área com a cobertura da rede 4G. A velocidade média de navegação no 4G, para download, é de até 5 Mbps e, para upload, de até 500 Kbps, podendo haver oscilações. O 5G DSS disponível é um estágio inicial da tecnologia 5G. Para mais informações, disponibilidade de cobertura e aparelhos compatíveis, consulte em tim.com.br/rede.


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ELA É O MOMENTO! DONA DE SI E DE CARISMA, BELEZA E VOZ INCOMPARÁVEIS, IZA É UMA DAS LÍDERES DESTA E DA PRÓXIMA GERAÇÃO. MAIS DO QUE SER UM EXEMPLO DE MULHER FORTE, CORAJOSA E BEM-SUCEDIDA, A ARTISTA QUER USAR O MICROFONE COMO INSTRUMENTO PARA INFORMAR E EDUCAR. Por Vivian Monicci

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“Deixo a minha fé guiar, sei que um dia chego lá, porque Deus me fez assim, dona de mim.” Quão maravilhoso é ver a cantora IZA, de 31 anos, arrastando uma multidão de mulheres entoando os versos de sua música “Dona de Mim”? É muito representativo e de extrema importância para várias gerações de meninas e mulheres, especialmente no Brasil, cuja sociedade ainda é marcada pelo machismo em pleno século 21. Nascida em Olaria, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, Isabela Cristina Correia de Lima Lima – sim, ela tem dois sobrenomes Lima, pois seus pais são primos de segundo grau – percorreu outros caminhos até se encontrar na música. Formou-se em publicidade, mas percebeu que não era o que gostaria de fazer o resto da vida. Que sorte a nossa! Se não fosse essa mudança de rota, o Brasil não teria sido agraciado com a IZA artista. E, sem dúvida, o mundo seria um pouquinho menos triste. Assim como as mais de 30 mulheres que recheiam as páginas desta edição superespecial, IZA também é uma mulher positiva e que faz a diferença não só em seu campo de atuação, mas na luta pelos direitos femininos. Por isso, ela é tão necessária e merece ter sua voz ouvida através da música e de suas ações diárias. Com a palavra: IZA. Em 2021, você foi eleita uma das “Líderes da Próxima Geração” pela revista norte-americana Time e a celebridade mais influente do Brasil pela Ipsos. Como você se sente sendo considerada o ícone desta nova geração? Me sinto muito honrada e, ao mesmo tempo, encorajada, porque por mais que hoje eu me sinta confortável com o meu lugar artístico, nós sempre somos levados a nos questionar e a nos comparar. E reconhecimentos como esses fazem com

que a gente se abrace, se cobre menos e veja que está tudo certo. Que, na verdade, a chave de tudo é ser você. Quero inspirar cada vez mais pessoas, quero que se sintam capazes de mudar o mundo, de serem quem são. Como mulher influente, qual mensagem você quer transmitir para outras mulheres? Como sempre diz minha mãe, nosso lugar é onde a gente quer estar. Quem são os seus grandes exemplos femininos e que moldaram a mulher que você é hoje? Sem dúvida são as mulheres da minha família. Minha avó, minhas tias e, com certeza, a minha mãe. O que te faz se sentir uma mulher empoderada? Ser eu mesma e me amar. Se eu pudesse dar um conselho, por mais clichê que pareça, é para cada um ser o que é. Isso é o mais importante. A gente lida com influências visuais diariamente e é levado a se questionar o tempo inteiro se está tudo bem sermos como nós somos. Você tem alguma participação efetiva nos movimentos para igualdade racial e de gênero? Acho que é muita hipocrisia da minha parte viver o que eu vivi, ser a menina que eu fui quando criança e não falar sobre isso, não apontar coisas que realmente são importantes e usar meu espaço privilegiado para discutir esses temas. Não falo sobre racismo porque eu gosto, falo porque é necessário, porque é injusto, porque pessoas ainda morrem por isso. Acredito que o nosso microfone é uma arma e ele precisa ser usado com sabedoria, não só para realizar sonhos ou pagar as contas, mas também para informar e educar.

“Quero inspirar cada vez mais pessoas, quero que se sintam capazes de mudar o mundo, de serem quem são”


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Como foi a sua infância? Sempre foi alegre e extrovertida? Eu tive a oportunidade de passar minha infância em um lugar seguro, onde passava muito tempo na rua brincando. Cresci no Nordeste, então vivia perto da natureza, da praia e tinha uma infância bem livre. Você tem algum hobby? Qual? Gosto muito de desenhar e fazer miniaturas. Durante a pandemia, foi um processo que retomei, porque tinha parado por conta do trabalho. O que você gosta de fazer em suas horas de descanso? Gosto de ficar em casa com a minha família, com meus amigos, fazer um churrasco e curtir com eles. Você tem uma rotina de atividades físicas? Eu faço exercícios para fortalecer a musculatura, principalmente depois que tive um problema no joelho e precisei ficar sem dançar por algumas semanas. Criei o hábito de fazer agachamentos e abdominais todos os dias. Poucos, mas sem esquecer um dia. Nem toda semana consigo malhar, então isso me dá uma rotina. Você se considera vaidosa? Que cuidados tem com sua pele, corpo e cabelo? Eu não tenho tempo para tantos passos no processo de skincare, então eu procuro otimizar os produtos que eu escolho. Gosto muito de me cuidar, de me sentir bonita. Uso sabonete para pele oleosa, hidratante com fator de proteção e muita água termal. Não durmo de maquiagem de jeito nenhum e passo água micelar

todas as noites, antes de dormir. E, claro, uso protetor solar o dia inteiro. Bebo muita água também, porque melhora nossa pele, cabelo e unhas. Você tem uma comida predileta? O que não pode faltar na sua geladeira? Minha comida predileta é churrasco. E na geladeira não pode faltar uma cervejinha gelada. Tem algum fato curioso da sua vida pessoal que gostaria de compartilhar? Sempre conto sobre o episódio da enchente que atingiu minha casa quando morávamos em Natal. Perdi todos os meus discos de criança e passei a ouvir as coisas que meu pai ouvia. Stevie Wonder, muito jazz, soul, R&B e, no final das contas, foi importante porque me influenciaram e me influenciam até hoje no meu processo de composição. Pretende ter filhos? Tenho o sonho de ser mãe, sim. Eu e Sergio queremos muito. A pandemia teve muito impacto na sua vida? Com certeza. Eu perdi pessoas da minha família para a Covid-19 e foi muito delicado. Acho que as coisas que eu mais enfrentei durante a pandemia foram a ansiedade e a insegurança. Comecei a fazer terapia pela primeira vez para lidar com isso, porque a todo momento eu achava que estava me adaptando e aí vinha uma mudança. Vi minha criatividade muito abalada no começo do isolamento e isso me deixou muito insegura.

“Acredito que o nosso microfone é uma arma e ele precisa ser usado com sabedoria, não só para realizar sonhos ou pagar as contas, mas também para informar e educar”


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A forma que encontrei para me aproximar dos meus fãs foi sendo eu mesma, falando sobre o que estava acontecendo comigo, compartilhando minhas angústias. Como e quando despertou para a carreira musical? Minha família é muito católica e era muito ativa na Igreja. Foi assim que começou meu contato com a música. Sempre gostei de cantar e dançar, mas em casa tinha muita vergonha. Gostava da música, mas nunca achei que pudesse viver disso. Ia à igreja de domingo, cantava e resolvia minha vida. Como profissão mesmo, fui estudar Comunicação. Eu tinha um emprego na área em que me formei, que é Publicidade. Mas eu não me sentia feliz com o que eu fazia. Comecei a pensar o que eu queria fazer para o resto da vida, mesmo que de graça, e a música foi a única resposta. Meus amigos me incentivavam demais a criar um canal. Pedi demissão, criei meu canal no YouTube e comecei a fazer covers. A ideia não era ser youtuber, só queria montar um portfólio e vender um show.

Qual momento foi a virada de chave na sua carreira? Uma vez me ofereci para fazer um show em um bar perto de casa, em Olaria. E deu muito certo, começou a lotar. Enquanto eu fazia esses shows pequenos, cantando em festas de casamento também, mandava as filmagens e meus vídeos no YouTube para as pessoas que eu achava importantes. Eu entrava no Facebook das gravadoras, descobria as pessoas que trabalhavam em cada uma delas e mandava meus vídeos. Até que eles me acharam. Mas, sem dúvida, foi com “Pesadão” que eu entendi que estava rolando. Eu sentia que era uma música diferente, mas ver as pessoas cantando uma música minha foi muito impactante. Quais são os seus projetos para este ano? Este ano vou lançar, finalmente, meu segundo álbum e estou ansiosa demais pela apresentação no Rock in Rio, pela primeira vez no Palco Mundo, e pelo Rock in Rio Lisboa.

Quem são suas referências na música? Beyoncé, Rihanna, Alcione, Stevie Wonder, Donna Summer, Nina Simone, Elza Soares. Todos me inspiram pela força e pelo papel que exercem na música.

“Acho que as coisas que eu mais enfrentei durante a pandemia foram a ansiedade e a insegurança. Comecei a fazer terapia pela primeira vez para lidar com isso. Vi minha criatividade muito abalada no começo do isolamento e isso me deixou muito insegura”


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“Sem dúvida, foi com ‘Pesadão’ que eu entendi que estava rolando. Eu sentia que era uma música diferente, mas ver as pessoas cantando uma música minha foi muito impactante”


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foto Rodolfo Magalhães | Retouch Telha Criativa


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“Eu acredito que uma mulher positiva é aquela que não desiste dos seus sonhos e ainda compreende que seus sonhos podem ajudar a realizar outros desejos das pessoas”


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Você é embaixadora da plataforma Mulheres Positivas. Qual é a sua definição de mulher positiva? Eu acredito que uma mulher positiva é aquela que não desiste dos seus sonhos e ainda compreende que seus sonhos podem ajudar a realizar outros desejos das pessoas. Ela também entende que juntas somos mais fortes e que, de alguma forma, talvez, você possa abrir portas para outras mulheres e ajudar a conquistar os seus lugares. É muito complicado hoje ser uma mulher positiva, que não desiste dos sonhos. A sociedade espera que sejamos guerreiras, que a gente não desista perante os obstáculos, mas, ao mesmo tempo, é a própria sociedade que impõe esses obstáculos. A partir daí, a gente se questiona se nossa vida deveria ser assim, se nossa posição no mercado deveria ser assim, se deveríamos ser vistas como frágeis, como acontece sempre, e se nossa vida deveria depender tanto dos outros. Nós não queremos

ser mais mulheres guerreiras, queremos ser realizadas. E acredito que esse projeto tem isso como objetivo, de fazer com que cada vez mais a gente viva em uma sociedade mais justa. O que seria necessário para impulsionar ainda mais o movimento? É importante demais ter uma empresa como a TIM, que realmente se preocupa com isso e entende que tem uma participação direta na forma como as mulheres se inserem no mercado de trabalho. Outras empresas poderiam fazer esse movimento também, de reparação, de ajuste mesmo, em relação ao salário da mulher, aos cargos que elas podem ocupar e aos obstáculos que já existem na sociedade, que as impedem de realizar os seus sonhos. Isso é um trabalho conjunto, que cabe a todos que cruzam a linha de chegada. Todo mundo deve olhar para trás e entender de que forma pode fomentar e contribuir ainda mais com esse movimento.

“Nós não queremos ser mais mulheres guerreiras, queremos ser realizadas. E acredito que esse projeto tem isso como objetivo, de fazer com que cada vez mais a gente viva em uma sociedade mais justa”


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FABI SAAD PODERIA SE CONTENTAR COM UMA CARREIRA BEM-SUCEDIDA, BOA FORMAÇÃO ACADÊMICA E BONS RELACIONAMENTOS. MAS ISSO É POUCO PRA ELA. FABI QUER MELHORAR O MUNDO E É ISSO QUE ESTÁ FAZENDO. O PLANO É AMBICIOSO, MUITOS DIRIAM QUE ATÉ UTÓPICO. FOCADA, ELA ARREGAÇA AS MANGAS E USA TODAS AS FERRAMENTAS QUE TEM PARA PROMOVER A TRANSFORMAÇÃO. COMUNICADORA, ESPECIALISTA EM CONTEÚDOS DIGITAIS MULTIPLATAFORMA E CAUSA DE GÊNERO, É AUTORA DE TRÊS LIVROS E FUNDADORA DO MOVIMENTO MULHERES POSITIVAS, PLATAFORMA CRIADA PARA AUXILIAR NO DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL DA MULHER. Por Fernanda Ávila Fotos Miro Beleza Mel Freese

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Mãe de dois meninos, ela adora viajar, cozinhar e praticar esportes. Fala cinco línguas e é apaixonada pelo pintor italiano Caravaggio. Mas seus olhos brilham mesmo quando ela conta sobre a conexão que tem feito com outras mulheres transformadoras, nos resultados práticos que os seus projetos estão trazendo para o dia a dia das mulheres. E do orgulho que sente em poder contribuir com uma sociedade mais justa. Fabi Saad é inspiração e referência. Me conta um pouco da sua trajetória e o que te motivou a criar projetos com foco no desenvolvimento da mulher? O machismo sempre me incomodou. E quando eu entendi que se tratava de algo cultural, comecei a escrever a respeito. Nessa época, a Ana Paula Padrão fazia alguns eventos para o projeto Tempo de Mulher. Num desses eventos encontrei com a jornalista Guta Nascimento, que era o braço direito dela na época, e falei que queria muito escrever para elas. Insisti e elas permitiram. Depois entrei para o MSN e, em seguida, fui para Oxford participar do Women’s Leadership Program, com foco em desenvolvimento de mulheres líderes. Escrevi meu primeiro livro, o “Empreendedoras.coaching” e, quando voltei, fui para a Forbes, depois pra BandNews FM e SulAmérica Trânsito. Sempre falando sobre mulheres no mercado de trabalho. Então escrevi meu segundo livro, o “Mulheres Positivas”, que conta a história de mulheres que promovem a transformação através dos seus trabalhos. Depois disso fui pro Estadão, onde fiquei dois anos e meio apresentando o Mulheres Positivas com a Sofia Patsch. Hoje estou na Jovem Pan. Durante a minha vida inteira trabalhei prestando serviço para operadoras e, há cinco anos, consegui fazer uma mistura entre o que pagava as minhas contas e

o que era a minha paixão. Lancei o Mulheres Positivas no Brasil, o Mujeres Positivas na Colômbia, no México e agora estou para lançar a start-up italiana. O Mulheres Positivas nasceu como uma dor minha e acabou virando um portfólio de produtos. Há dois anos também lancei o SOS Mulher, junto com o Governo do Estado de São Paulo, com três pilares fundamentais: saúde, independência financeira e segurança. Pouco tempo atrás lancei o meu terceiro livro, com a Rachel Polito, o “Mais do que Mulher-Maravilha… Mulher real”, onde falo sobre como as mulheres conseguem se organizar, ter uma melhor gestão de tempo e mais qualidade de vida. Quais foram as mulheres que te transformaram? Tem uma mulher que se chama Sandra Boccia, diretora da Pequenas Empresas, Grandes Negócios. Ela fez um trabalho muito importante com mulheres nas penitenciárias brasileiras. Depois de muita pesquisa e conversa, descobriu que um dos maiores problemas das detentas é a falta de modelos de referência femininos na imprensa. E isso foi algo que realmente me tocou muito, porque eu percebi que, de fato, precisamos colocar em evidência quem fomenta uma transformação positiva para a sociedade. Nós precisamos trabalhar para que a imprensa valorize outros modelos de referência para as próximas gerações. Ela transformou minha maneira de enxergar as coisas, de encarar o machismo e os preconceitos. Quando a Maju foi para a bancada do Jornal Nacional, muitas pessoas falaram que era bobagem enfatizar esta conquista. Não é bobagem. O que não é visto, muitas vezes não é percebido como uma possível realidade. É importantíssimo. A Maju é referência para muitas outras mulheres.

“Nós precisamos trabalhar para que a imprensa valorize outros modelos de referência para as próximas gerações”


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E como você chegou nesse modelo? Eu comecei a estudar outra mulher que também transformou a minha vida, a Melinda Gates. Analisei as pesquisas dela, o que a Gates Foundation fazia, e entendi que emancipar a mulher é uma alavanca muito poderosa para erradicar a fome. Ela fala que nenhum país emergiu da pobreza, nos últimos 50 anos, sem investir na mulher. Porque quando você investe na mulher, você investe na família. Comecei a utilizar essas ferramentas para o meu projeto. Os pilares eram capacitação e empregabilidade. E também saúde, portanto comecei a discutir problemas como a gravidez precoce com muitas médicas. A Dra. Albertina Duarte Takiuti, ginecologista, é outra mulher transformadora que me influencia muito. Como você vê o estereótipo da “mulher guerreira”, essa valorização do conceito de “supermulher”? Claro que eu sei que somos guerreiras, mas isso me incomoda muito. Só para você ter uma ideia, quando a gente se propôs a desenvolver o aplicativo Mulheres Positivas, fizemos uma pesquisa de mercado que durou quase um ano. Recrutamos mulheres do Brasil inteiro, mulheres completamente diferentes, para entender qual é a dor da mulher brasileira, que, na verdade, é uma dor universal. A dor número um é a sobrecarga. Então me irrita essa história de você colocar a mulher como guerreira. Porque parece que estamos aceitando o fato de que mais responsabilidades devem ser mesmo atribuídas a ela. Temos que estabelecer um novo modus operandi. Está errado dizer que a responsabilidade dos filhos ou da casa é da mulher. E as que têm menos recursos financeiros são as que mais sofrem. Chega de colocar esse troféu na cabeça da mulher. Porque, na verdade, não é um troféu, é um pepino.

Agora tentando ter uma visão otimista: o que já podemos comemorar? Parece que as pessoas estão se conscientizando mais. Certos comportamentos não são mais admitidos. Mas uma coisa é a fala e outra é a prática. O que falta é um comprometimento da sociedade em entender que a ascensão da mulher só vai acontecer se elas tiverem informação e recursos. Investir na mulher é uma medida socioeconômica que vai melhorar a qualidade de vida da sociedade como um todo. Quem é a Fabi de hoje e quem é a Fabi de 10 anos atrás? Eu parei de me preocupar com julgamentos e preconceitos. Sou uma pessoa que foca em trazer resultados práticos para que possamos observar melhorias reais na sociedade. Por muito tempo, me preocupei com críticas e deboche. Hoje eu só me preocupo com uma coisa: oferecer produtos e serviços que possam fazer o bem e, genuinamente, ajudar a vida das pessoas. Tenho certeza de que, ao ajudar outras pessoas, todos têm a ganhar, inclusive eu. Existe uma pergunta que é sempre feita para as mulheres, mas muito raramente para os homens: como você equilibra a sua carreira e a criação dos filhos? O que você pensa disso? Engraçado pensar isso. eu fiz uma live com a InfoJobs, que é uma das minhas maiores parceiras, e falei exatamente isso. É muito complicado, porque toda vez eu ouço isso: “Como você consegue? Você viaja tanto, como você faz?”. De fato, nunca perguntam isso para os homens. Eles não são cobrados por isso. Precisamos mudar esse mindset para que as pessoas entendam que as responsabilidades são compartilhadas. Por que não perguntam isso para homem? Por que não temos ainda licença-paternidade?

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Você trabalha muito com empresas grandes e altos executivos. Você está enxergando uma transformação no mundo corporativo? É difícil responder essa pergunta. Porque cada dia é um infarto diferente. Mas, tentando ser direta na resposta, eu vejo uma evolução. Hoje contamos com 57 empresas signatárias do projeto Mulheres Positivas. Desde a Globo até a Pirelli, Microsoft, Google, empresas muito grandes e com poder aquisitivo muito alto. Vejo que as empresas estão se movimentando, estão estudando a licença-paternidade, colocar crédito para creches e escolas. Mas a implementação é difícil, porque sempre acaba tirando do bolso deles. Parece que as empresas estão querendo evoluir, nem que seja para atender aos requisitos do ESG (sigla em inglês que significa Environmental, Social and Governance e tem o objetivo de melhorar a cultura de um negócio em relação aos fatores ambientais, sustentabilidade, responsabilidade social e excelência na governança corporativa para melhorar o posicionamento e a imagem perante investidores, sociedade e governo). Mas ainda existe o etarismo, as mulheres com mais de 50 anos têm uma dificuldade enorme de achar trabalho. Então existem preconceitos muito graves e muito perigosos para a emancipação da mulher, que nos prejudicam todos os dias. Por mais que exista um movimento positivo, ainda sinto falta de resultados na prática. O Mulheres Positivas é um projeto que atende mulheres que, de alguma forma, já estão em uma posição privilegiada. Mas você criou também o SOS Mulher, que atende mulheres em situação de vulnerabilidade. Pode contar um pouco mais sobre isso?

O meu trabalho é 100% pro bono, eu não ganho nem um centavo com o SOS Mulher. É um projeto que eu desenhei e doei para a Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo). Peguei parte da pesquisa desenvolvida para o Mulheres Positivas e fui conversar com o pessoal do Governo. Coloquei meu ponto de vista: “Não adianta promovermos outros movimentos em prol da mulher se não falarmos com a base da pirâmide, especialmente num país como o Brasil. Só que eu não consigo fazer isso sozinha. Eu preciso do apoio de vocês. Vocês precisam me ajudar”. E não existia nada parecido até então, o que é muito triste na minha opinião. Eu provei por A + B para eles, através das pesquisas, que precisávamos criar uma plataforma e colocar informações fáceis e rápidas que pudessem ser compartilhadas pelo WhatsApp. Porque hoje, com a democratização da tecnologia, conseguimos apoiar essa mulher que está em vulnerabilidade extrema. Que é a pessoa mais prejudicada, que, de acordo com pesquisas, é mais violentada, mais abandonada por seus parceiros, sofre abusos físicos e morais, tem uma saúde debilitada e poucos recursos financeiros para mudar isso. E qual é o resultado desses projetos? Muito positivo. Em todos os fóruns que organizamos, (online e presencial) em comunidades, através de rodas de conversa, recebo relatos de mulheres que acessaram, que assistiram os vídeos e que antes não tinham consciência de quais eram os seus direitos. Agora muitas delas passaram a entender um pouco melhor onde e como devem se mover, e o que fazer. Tratamos de temas completamente diversos, sempre

“Nenhum país emergiu da pobreza, nos últimos 50 anos, sem investir na mulher. Porque quando você investe na mulher, você investe na família”


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“Investir na mulher é uma medida socioeconômica que vai melhorar a qualidade de vida da sociedade como um todo”


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com foco na mulher, desde saúde bucal até ginecologia. Quanto ao Mulheres Positivas, há indicadores mais práticos e certeiros, de mulheres que conseguiram encontrar trabalho, que fizeram cursos, que aprenderam através da fala de outras mulheres e foram atrás dos seus sonhos. Uma das nossas ideias iniciais foi oferecer vagas de trabalho sincronizadas com o skill que elas acabaram de adquirir através do curso também disponível na plataforma. Quero que a mulher brasileira possa se capacitar e achar trabalho através da plataforma Mulheres Positivas, gerando riqueza para elas. Porque sem dinheiro, elas nunca vão conseguir sair daquele lugar. Que responsabilidade você sente sendo mãe de meninos? Como você trabalha essas questões com eles? Eles são muito pequenos ainda, mas todos os dias eu explico: “A mamãe faz isso, Dado faz aquilo, Luca aquilo lá”. Cada um tem a sua responsabilidade dentro de casa. As tarefas têm que ser compartilhadas. Eu tento fazer com que eles cresçam com esse raciocínio e com as filosofias nas quais eu acredito. E espero que eles propaguem também para os amigos, para as mães e os pais dos amigos. Eu vivo discutindo no chat da escola porque eles querem comemorar dia das mães e dia dos pais e eu sou contra. Eu sou a favor do dia da família. Aí recebo críticas e tem gente que acha que eu sou muito cabeça aberta.

O que você acha que é papel do Estado e o que você acha que é papel da sociedade civil nessa transformação? O papel da sociedade civil é evangelizar as tarefas compartilhadas dentro de casa, em primeiro lugar. Em segundo, não tolerar comportamentos misóginos e de preconceito. Em terceiro, oferecer oportunidade para as pessoas que mais precisam. Temos que entender que a responsabilidade de um país melhor é de todos nós. As pessoas precisam parar de reclamar e executar. Não está satisfeito, então faça algo a respeito. Mais do que palavras, ações. O Estado tem que focar em projetos que, de fato, possam gerar transformações para as pessoas. Parar de investir em projetos que continuam gerando resultados negativos. Parar de derrubar projetos que funcionavam. Qualquer projeto, seja público ou privado, precisa de tempo para começar a trazer resultados. Qual é o seu sonho? Que o Mulheres Positivas realmente consiga ajudar essas mulheres a ter mais segurança, saúde, poder aquisitivo e conhecimento. Meu sonho é que, de fato, meu produto seja uma alavanca para que essas mulheres possam melhorar sua qualidade de vida e a qualidade de vida dos seus filhos. Eu viso com isso uma nova geração que vai transformar o nosso país em um lugar melhor.

“Foco em trazer resultados práticos para que possamos observar melhorias reais na sociedade”


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Textos Alline Dauroiz, Eduardo Logullo, Laís Rissato, Márcia Leite, Vivian Monicci e Renata Zanoni edição Fernanda Ávila


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Elas por elas RESOLVEMOS NESTA EDIÇÃO TRANSITAR PELO UNIVERSO FEMININO, REUNINDO REVELAÇÕES E AÇÕES DE 37 MULHERES QUE CONQUISTAM AVANÇOS EM SUAS ÁREAS DE ATUAÇÕES PROFISSIONAIS E PESSOAIS. PONTOS DE LUZ, PONTOS DE EXCLAMAÇÃO, PONTOS DE REALIZAÇÕES PESSOAIS, PONTOS DE BRILHO. ELAS CONTAM TURBILHÕES DE NOVIDADES, DESCOBERTAS, EXPRESSÕES, TRABALHOS, ELABORAÇÕES, MOVIMENTOS E CONQUISTAS. CONHEÇA QUEM SÃO ESTAS SUPERMULHERES.


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Amanda Ferreira Uma das pioneiras na missão de trazer diversidade para dentro das grandes corporações do Brasil, Amanda Ferreira tem consciência de que seu trabalho se apresenta como uma tendência urgente e importante para as empresas. Ela é gerente e Embaixadora de Diversidade na gigante varejista Via, atuando diretamente na pauta de direitos humanos. Formada em administração pela Faculdade Zumbi dos Palmares e pósgraduada em gestão administrativa e finanças pela FGV, Amanda já passou pela Natura Cosméticos e atuou em projetos como a Feira Preta. Faz parte da Comissão de Mulheres do Carnaval de Rua e é membro da Coalizão Negra de São Paulo. Como mulher, Amanda sabe que o desafio de ocupar uma cadeira executiva é enorme e diário. Ela se inspira em executivas que, ainda que sejam minoria, fazem um trabalho excepcional e, justamente por isso, ocupam esses lugares. Mulheres que vieram antes dela, deixando um legado e uma ponte para todas as outras que vieram e virão. Como mulher preta, Amanda sabe que o desafio e a responsabilidade são maiores, pois ela representa uma parcela ainda menor nesses espaços e enfrenta, além do machismo, o racismo estrutural. Otimista e esperançosa com o futuro, afirma que está, ao lado de outras, criando condições para que cada vez mais mulheres estejam nessa posição. Sua receita para se manter em equilíbrio diante dos desafios profissionais e pessoais é o autoconhecimento, que, embora não seja fácil, como ela mesma afirma, é necessário para saber quem ela é e o que quer ser. Seu segredo – e conselho para outras mulheres – é direto: “Construa uma rede de apoio que sustente sua decisão”. Para Amanda, tanto no campo profissional quanto no pessoal, encontrar e contar com mulheres que já trilharam esse caminho é muito importante para lidar com os problemas do dia a dia e olhar para frente, vislumbrando um futuro melhor. “Encontrei na diversidade meu propósito de vida.”

“As mulheres têm que ocupar o lugar que é delas e se acostumar com o sucesso” Amanda Ferreira é formada em administração pela Faculdade Zumbi

dos Palmares e fez pós-graduação em Gestão Administrativa e Finanças na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com passagem pela Natura Cosméticos e atuação em projetos como a Feira Preta, Amanda faz parte da Comissão de Mulheres do Carnaval de Rua, no eixo de violência e proteção do público feminino, além de ser membro da Coalizão Negra de São Paulo.


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Ana Célia Biondi Uma líder “porta aberta”, que valoriza o diálogo e transparência nas relações. É assim que Ana Célia Biondi se define. Diretora geral da JCDecaux do Brasil, empresa de origem francesa e líder mundial em mídia OOH (Out of Home), ela está à frente de um time de 385 pessoas, cuja missão é levar informação, conhecimento e promover a comunicação por meio de mobiliários urbanos, seja nas mensagens dos relógios de rua, ou nos telões de led informativos dos aeroportos, estações de metrô e abrigos das paradas de ônibus. Economista por formação, antes de integrar a JCDecaux, Ana atuou no mercado financeiro, um espaço predominantemente masculino. Mas a criação em uma casa de cinco mulheres a impediu de conhecer o significado da palavra machismo. “Em casa eram cinco a um, portanto as mulheres sempre foram maioria”, diz. A experiência na área financeira a levou para uma vivência internacional: por cinco anos morou na Suíça, onde atuou em dois bancos. De volta ao Brasil, foi a indústria da comunicação que a conquistou. “Comunicação é tudo, podemos mudar a vida das pessoas, levar informação, esperança, entretenimento, meu trabalho me permite fazer isso. Pessoalmente procuro mostrar para as meninas que estão chegando ao mercado de trabalho que elas têm voz, e que terão cada vez mais condições de chegar aonde quiserem”, afirma a executiva. Para transitar em diferentes áreas de atuação e transformar realidades, Ana explica que a visão 360º do negócio é imprescindível. Assim como ter a mente aberta para novas oportunidades e não ter medo de errar e ousar. Ela entende que uma carreira é construída com tijolinhos e não de uma hora para a outra. É preciso muita paixão, persistência e paciência, além de formação em vários sentidos, não só no acadêmico. É no esporte que a executiva encontra equilíbrio para conduzir com maestria os desafios da vida profissional e os momentos mais complexos da vida privada. Isso porque, desde pequena exercitou o foco e a disciplina por meio do esporte, que acredita seja um dos grandes pilares da sua vida. “A filosofia do esporte é fundamental para o dia a dia de uma pessoa que ocupa um cargo de gestão, com grandes desafios e responsabilidades. O esporte foi a minha grande escola de vida, pois ensina a ter humildade, resiliência, desenvolve a autoconfiança, e ainda faz muito bem à saúde,” diz.

“Pessoalmente, procuro mostrar para as meninas que estão chegando ao mercado de trabalho que elas têm voz, e que terão cada vez mais condições de chegar aonde quiserem” Ana Célia Biondi é economista de formação e encontrou na comunicação uma grande paixão. Hoje, é diretora geral da JCDecaux do Brasil e comanda um time de 385 pessoas que leva para as ruas do país comunicação, informação e entretenimento.


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Ana Fontes Dona de uma trajetória de quase 20 anos no mundo corporativo, no início dos anos 2000, a publicitária Ana Fontes sonhava com um cargo de direção ao mesmo tempo em que vivia processos discriminatórios. Até que chegou o momento em que se deu conta de que queria viver outras possibilidades, fazendo coisas que trouxessem mais sentido. Ainda bem. Ao sonhar e experimentar viver outras possibilidades, ela fundou a primeira rede de apoio às mulheres empreendedoras do Brasil, a Rede Mulher Empreendedora (RME), e abriu caminho para quase meio milhão de mulheres. A empreendedora social é categórica ao dizer que para caminharmos rumo a uma sociedade mais justa e mais inclusiva, não podemos deixar a maior parte dessa sociedade para trás. “Embora as mulheres sejam a maioria da população do planeta, infelizmente, elas ainda não têm as mesmas condições e oportunidades oferecidas aos homens”. Seu trabalho diário está orientado para empoderar mulheres a ter sua autonomia financeira e impactar outras mulheres, gerando um círculo virtuoso capaz de permitir que as mulheres não sejam estigmatizadas e possam sonhar e realizar o que quiserem, para que seu trabalho possa ser reconhecido e para que elas sejam apoiadas em seu desenvolvimento, independentemente do campo de atuação. Frisando que o ambiente de negócios não está apartado da sociedade como um todo, Ana reforça que, se realmente queremos um mundo diferente para as mulheres, é preciso dar a elas condições e oportunidades para que possam crescer e desenvolver todo o seu potencial. Cinco anos atrás, em 2017, Ana Fontes deu mais um importante passo ao criar o Instituto Mulher Empreendedora, atendendo mulheres em vulnerabilidade social e focado em empreendedoras transgênero, com mais de 50 anos, negras ou moradoras de comunidades. Para equilibrar os desafios pessoais e profissionais, a delegada líder do W20 (grupo de engajamento do G20) e mãe de duas meninas, elenca quatro pontos fundamentais: autoconhecimento, cuidado com a saúde mental, aprendizado contínuo e buscar em outras pessoas uma rede de apoio necessária para conseguir se desenvolver plenamente.

“Se queremos realmente uma sociedade mais justa e inclusiva, não podemos deixar parte dessa sociedade – as mulheres – para trás” Ana Fontes é pós-graduada em Marketing pela ESPM e em Relações Internacionais pela USP e especialista em diversidade com foco em gênero e em empreendedorismo feminino. Fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME) do Instituto RME, é membro do Conselho da Unimed Seguros, do Instituto Avon, da Plan International e do Programa Winning Women da EY, e professora do Programa Empreendedorismo em Ação do Insper e do MBA de Economia Circular da PUC-RS.


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Ana Paula Prado Trabalhar com algo que impactava positivamente a sociedade foi o que encantou Ana Paula Prado já no seu primeiro estágio na área de RH, quando ainda era estudante de psicologia. E ela estava no lugar certo, na hora certa: viu nascer e foi parte importante do processo de transformação que o setor passou com a tecnologia. Logo após o estágio, trabalhou em um jobsite, algo completamente novo para a época. Hoje é gerente nacional da InfoJobs, plataforma líder no Brasil, com mais de 20 milhões de visitas ao mês. “Na época, era um mercado completamente novo, e pude acompanhar todos os desafios e o desenvolvimento da área”, lembra. “O propósito do InfoJobs, de ajudar pessoas a encontrar o emprego dos sonhos e empresas a encontrar profissionais ideais, com tecnologia digital e inovadora, me mostra que fui muito feliz com as minhas escolhas até aqui. Trabalhar com empregabilidade é muito gratificante, porque impacta significativamente a vida das pessoas. E trabalhar com tecnologia me faz pensar além, me tira do óbvio, aguça a curiosidade e me motiva como profissional”, explica. Já são 21 anos no mercado de RH, sendo 12 na InfoJobs. Nesse meio tempo ela se tornou mãe da Olívia, que tem 7 anos e, desde que nasceu, assumiu o topo da sua lista de prioridades. Ao longo da carreira, Ana Paula viu muita transformação, não só tecnológica mas também de comportamento. Uma delas foi o crescimento de mulheres em cargos de liderança. Mas, infelizmente, ela percebe que ainda hoje as mulheres são muito mais cobradas no quesito manter o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. “Nós lidamos diariamente com cobranças, seja por demandas profissionais ou na vida pessoal – mas existe também muita autocobrança. Por isso, para manter o equilíbrio, é preciso não se cobrar tanto e entender que está tudo bem não dar conta de tudo.”

“Somos imperfeitos, erramos mais do que acertamos. E falar sobre isso faz com que mulheres tenham coragem, arrisquem-se e tenham oportunidades” Ana Paula Prado atua há 21 anos nas maiores empresas de recrutamento e seleção online do mundo. Hoje, a paulistana de 41 anos é responsável pela operação no Brasil da plataforma InfoJobs, líder no setor.


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Ana Paula Zomer Ana Paula Zomer ingressou na Procuradoria Geral de São Paulo em 1989, quando passou a ocupar espaço em um campo profissional ainda predominantemente masculino. Mas, foi em novembro de 2021, que ela deixou a beca para vestir toga: foi nomeada Desembargadora no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Em sua trajetória de mais de 30 anos, ela observa que as mulheres estão, pouco a pouco, ganhando mais espaço pela sua competência e expertise. A desembargadora defende veementemente que os espaços de poder sejam ocupados por mulheres por suas reais qualificações, para além das convenções de gênero. Complementarmente, na mesma medida, ela aponta um paradigma: que, tendo essa qualificação, não sejam discriminadas por seu gênero. Somente dessa forma, segundo ela, é possível que o número de mulheres nesta área continue crescendo – “como já vem acontecendo e como deve ser”, diz –, garantindo assim que sejam reconhecidas e ocupem espaços concretos de poder e com qualidade. Ao falar sobre a necessidade de buscar equilíbrio diante dos desafios encontrados e vividos nos inúmeros papéis – ou personas – assumidos e desempenhados por mulheres no dia a dia, a desembargadora, reconhecida por sua postura de humildade e retidão, destaca a importância e necessidade do autoconhecimento e da plena consciência de que é preciso dividir bem o seu tempo para conseguir conciliar todas as atividades. “Quem não está bem consigo mesma não consegue desempenhar bem todos os seus papéis, o que inclui a família, a casa e o trabalho”, afirma.

“As mulheres têm de ocupar os espaços não pelo gênero, mas pela qualificação. E tendo qualificação, não podem ser discriminadas pelo gênero” Ana Paula Zomer possui Licenciatura Plena em Direito pela Universidade de Lisboa, Portugal, é Doutora em Direito Penal e Criminologia pela USP e Criminóloga pela Universidade Estadual de Milão-Itália. É membro das Sociedades Americana e Italiana de Criminologia e autora dos livros “Prevenção Criminal – Análise de Políticas Extrapenais” e “Autores de Homicídio e Distúrbios da Personalidade”.


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“A maior descoberta de todos os tempos é que uma pessoa pode mudar, simplesmente mudando de atitude.” – Oprah Winfrey


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Bárbara Neves Ela tem apenas 21 anos, já conquistou diversos títulos importantes no motociclismo e tornou-se a primeira mulher a integrar a equipe oficial da Honda Racing no Brasil. Bárbara Neves, hoje com oito anos de experiência no esporte, costuma dizer que o seu contato com as aventuras sobre duas rodas começou muito antes de seu nascimento, já que esse era um hobby de seu pai. Na infância, ela o acompanhava nas trilhas e pilotou sozinha pela primeira vez aos quatro anos. “Eu era uma criança feliz, afinal, brincar de andar de moto é diferente. Mas tive um período, entre os 6 e 12 anos, em que parei, porque era uma época confusa em que as pessoas julgavam, dizendo que não era um esporte de menina, que era perigoso. Busquei outras atividades, como natação e balé, e mais tarde entendi que nenhum julgamento me definiria. Então, voltei para as trilhas”, conta. Com tamanha intimidade e facilidade para pilotar, transformar a atividade em algo profissional aconteceu de maneira muito natural. Sempre se desafiando e procurando evoluir, começou a participar de competições, chamando a atenção de grandes marcas. Atualmente, a goiana é bicampeã latino-americana e tricampeã brasileira de Enduro. “Em um esporte tão dominado por homens, enfrentei e ainda enfrento desafios. Felizmente, hoje tenho uma equipe que me apoia e faço o que eu amo num ambiente de muito acolhimento e respeito.” Além de competir cada vez mais, Bárbara diz que seu objetivo é poder enaltecer e incentivar outras mulheres que também gostam de motociclismo e esportes radicais. “Acredito que as mulheres podem estar em diversas posições sociais e, nessa modalidade esportiva, tem sim espaço para nós. Quero ajudar quem for preciso para iniciar nessa modalidade e acho que ser a primeira mulher a estar em uma equipe grande pode servir como inspiração. Todas nós somos capazes.”

“Pilotar de forma profissional era o meu sonho de criança que se tornou real. Há espaço para as mulheres no motociclismo”

Bárbara Neves é piloto de motocicleta e foi a primeira mulher a integrar

a equipe oficial da Honda Racing no Brasil. Tem oito anos de experiência profissional, é bicampeã latino-americana, tricampeã brasileira de Enduro, campeã brasileira de Cross Country e tem quatro taças de Enduro da Independência.


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Bia Galloni Encorajar as mulheres a furar a bolha do que acreditam ser um mundo predominantemente masculino. É o que Bia Galloni acredita ser um dos primeiros passos para aumentar a participação feminina dentro do mercado financeiro e das grandes organizações. Além de inspiração, Bia é um exemplo dessa forma de pensar o papel da mulher no mundo. Antes de integrar o time executivo do Banco Safra, ocupou cargos importantes em outras corporações. Atualmente é também conselheira e mentora do programa “EY Winning Women” no Brasil. “As mulheres precisam acreditar nelas mesmas. Acreditar que podem ser o que quiserem. Isso depende muito de referências de inspiração, de ver outras crescendo, tendo sucesso, e percebendo que elas também podem fazer isso. Várias mulheres se deram bem e conseguem equilibrar a vida, trazer resultados”, explica a executiva. E boa parte desse equilíbrio vem da parceria que ela tem em casa com o marido, com quem é casada há 37 anos, é sócia no restaurante italiano Mezzogiorno e tem dois filhos, uma menina de 23 e um menino de 26 anos. “Ele é um superparceiro e sempre acompanhou o que acontecia dentro de casa, estando presente, buscando as crianças na escola. Foi fundamental para eu ter minha carreira.” Além das inspirações, a construção de uma sociedade mais igualitária começa no início da vida profissional, nas próprias faculdades. Bia acredita que é necessário haver esse chamado para que as mulheres integrem cursos que não são tradicionalmente femininos. “Depois disso, é preciso ter ações afirmativas e programas de trainees valorizando as mulheres. O que acontece é que elas acabam não subindo para a liderança, por várias questões, às vezes por escolhas pessoais, por quererem ficar com os filhos ou fazer outras coisas. Também é necessário que as organizações acreditem nas mulheres tanto quanto nos homens”, explica ela.

“Ver outras mulheres crescendo e tendo sucesso é uma referência de inspiração. Elas podem ser aquilo que quiserem” Bia Galloni é diretora do Banco Safra, responsável pelas áreas de Marketing e ESG. Tem mais de 30 anos de experiência e passou por empresas como Mastercard, TetraPak, Unilever, Quaker e Danone.


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Bianca Ondei Rizzo Convenhamos: ninguém procura o RH da empresa quando tudo vai absolutamente bem. Por isso, um bom profissional deve, acima de tudo, saber ouvir. Esse é o lema da Bianca, paulistana de 41 anos que fez carreira como Recursos Humanos no mercado financeiro e, depois de quase duas décadas, migrou para o setor de serviços de Saúde e Seguros. “Geralmente, quando as pessoas procuram o RH, querem um bom ouvido. Por isso, bato tanto na tecla da importância da escuta ativa”, explica a head de RH da Omint Saúde e Seguros. “Você tem que tentar ao máximo se colocar no lugar do colaborador e nunca dar uma resposta simples, como ‘ah, isso é assim porque está dentro da regra’.” Para ela, as regras são vivas e devem acompanhar a evolução dos tempos. “Você tem que fazer o possível para traduzir e, se necessário, buscar uma solução ou alternativa que pode estar fora daquela política ou regra escrita há tantos anos.” Hoje, na Omint, quase 60% do quadro de líderes é formado por mulheres: 30% no cargo de gerência e 70% entre os coordenadores e supervisores. Já no total de colaboradores, as mulheres correspondem a 72%. “Nossa realidade é muito positiva. Claro que sempre temos muitas ações a melhorar. É importante lembrar que quando falamos de diversidade, estamos falando de muitos temas: mulheres, idade (mais idade e menos idade), LGBTQIA+, status socioeconômico, pessoas com deficiência, raça e muitos outros...”, lembra ela. “O papel do RH é fundamental na promoção da igualdade de oportunidades e desenvolvimento, mas os líderes como um todo precisam também ter esse olhar.”

“Não adianta as empresas terem um discurso bem preparado [em relação à diversidade] sem colocá-lo em prática de verdade” Bianca Ondei Rizzo é formada em Administração de Empresas, a paulistana de 41 anos tem bagagem de duas décadas em Recursos Humanos e, hoje, atua como head de RH da Omint Saúde e Seguros. Ela é mãe da Maria Eduarda, de 9 anos, e da Maria Fernanda, de 8.


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Camille Faria Camille Loyo Faria sempre desbravou um universo de trabalho considerado majoritariamente masculino. Atuou em bancos de investimentos, na área financeira e de estratégia nos setores de telecomunicações, energia, óleo e gás. A versatilidade da profissional, que hoje é diretora financeira da Tim Brasil, fez com que ela demorasse a perceber a falta de espaço para a diversidade. “Só me dei conta dos empecilhos que as pessoas – que não são ‘exatamente como os outros’ – enfrentam, quando empaquei em uma fase da minha carreira. Olhando para cima, percebi que me faltava uma sponsor que entendesse e valorizasse uma visão e uma experiência diferente naquele mundo de iguais’’, diz. A executiva aborda sua própria história com simplicidade e retidão, mas avalia que o caminho até aqui foi de aprendizado e superação. “Olhando para trás percebo que tive que fazer sacrifícios e passar por situações para chegar onde estou, situações que espero que minha filha não precise passar.” E completa: “Na minha visão, a forma mais impactante de mudança no meu campo profissional é fazer com que líderes acreditem, de fato, que os benefícios da abordagem superam em muito o ônus da mudança nos processos e práticas”. A objetividade do perfil financeiro está presente também na forma como Camille lida com as questões mais sensíveis do dia a dia. “Só me estresso com as coisas que tenho o poder de mudar – isso já ajuda muito a navegar com relativa serenidade em um cotidiano conturbado”, explica. O olhar holístico sobre situações e papéis que desempenha na sociedade permite que Camille encare os desafios com uma premissa: nem sempre é possível ser nota 10 em todos os campos da vida, mas basta uma nota 7 para obter êxito. É preciso aprender a hora certa de priorizar cada área da vida. “Às vezes vamos ser nota 10 no trabalho, mas nota 7 como mães. Às vezes nota 10 como mães, mas nota 7 como esposas/irmãs/filhas, às vezes nota 7 no trabalho. Não dá para ser 100% em tudo e tudo bem!”, finaliza.

“Só quem percebe a riqueza na multiplicidade de abordagens pode mudar áreas como a minha e acolher quem tem outros tipos de desafios como, por exemplo, conciliar a maternidade com o desenvolvimento profissional” Camille Faria é diretora financeira da Tim Brasil. Graduada em engenharia química e com MBA em finanças, sempre ocupou lugares predominantemente masculinos. Atuou como C-Level em diversos segmentos do mercado e é especialista em operações de M&A e mercado de capitais de ações.


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Carla Pernambuco Receita? Misture uma mulher que veio do Rio Grande do Sul com o sobrenome Danesi. Depois adicione o sobrenome Pernambuco, advindo do marido/ fotógrafo Nando Buco. Misture com mil outras experiências, sensações, atuações na imprensa, noções conceituais. Acrescente litros de experiência profissional, dez livros lançados, ações midiáticas, receitas surpreendentes, o restaurante Carlota que ela abriu em São Paulo há 30 anos, matérias constantes na mídia, pessoa que se renova entre colheradas de inovações, mais pitadas de provocações e muitas gotas de sabores inesperados. Essa é a chef/cozinheira/escritora/criadora/inventora/intérprete de intenções ligadas ao paladar/misturadora de conexões gastronômicas/ feiticeira das panelas/fada dos sabores/empresária bem-sucedida. “O árduo caminho que iniciei, nunca mais parei. E farei campanha na ONG Banco de Alimentos para diminuir a fome em nosso país.” O que dizer mais? Carla Pernambuco está na energia diária do Carlota, seu caldeirão-referência, de onde comanda saraivadas de inovações, invenções, aromas, temperos, surpresas. E mais: ideias que transformam a culinária careta em algo inteligente. – E.L.

“Estou em constantes processos de mudanças: às vezes um dínamo ou uma fênix. Faço ioga para reaprender a respirar, ter calma e serenidade. Mais alimentação saudável e novos hábitos e repertório de receitas. Sem isso não há equilíbrio” Carla Pernambuco A chef gaúcha Carla Danesi Pernambuco, 62, ex-jornalista e ex-publicitária, lançou mais de 10 livros, apresentou programas de TV e prepara outra novidade: seu próximo lançamento editorial sobre receitas orientais. Ela é mãe de Floriana, Felipe e Júlia.


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Célia Leão Aos 18 anos, Célia Leão sofreu um grave acidente de carro, que deixou sequelas irreversíveis em sua coluna. Desde então, conduz sua vida sobre uma cadeira de rodas e, há 30 anos, dedica-se à vida pública. Sua história de vida foi fundamental para a escolha de suas lutas políticas em prol dos direitos das pessoas com deficiência, da defesa da mulher, do idoso, da criança e do adolescente. Mãe de três, esposa e ativista política, Célia é incansável na busca por justiça. Aos 66 anos, ocupa o cargo de Secretária de Estado na pasta da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SP) e acredita que a política tem o poder de informar, orientar e, mais importante, transformar as pessoas para a construção de uma sociedade mais justa. E é por meio da informação e do respeito que a sociedade se capacita e passa a enxergar o papel de cada indivíduo. “A política tem um viés transformador. Não me refiro à política criminosa ou partidária, mas aquela participativa, que trabalha pelo bem, que é feita de forma cuidadosa, transparente e que eleva o nível de conhecimento dando mais oportunidades e condições iguais à sociedade como um todo, em especial às mulheres”, diz. Célia reconhece e ressalta os avanços da sociedade em muitos aspectos em relação à liberdade da mulher. Hoje, o mundo corporativo promove mulheres executivas aos cargos de liderança, mas ainda é uma minoria. “Nesses últimos 30 anos, vejo o quão duro foi – e ainda é – para a mulher participar da política. Mas é preciso quebrar os estigmas. A mulher tem um dom a mais na sua desenvoltura de vida, e precisa de informação desde que nasce para que possa sair do casulo e crescer na sua individualidade”, pontua. E é com esse espírito que a Secretária gerencia as funções pessoais e profissionais, dando luz e importância iguais para essas atividades. “A sociedade precisa da força de trabalho da mulher – seja em casa ou em atividades remuneradas. Aos filhos, é preciso conscientizar, desde pequenos, que o trabalho faz parte da vida da mulher, assim como a família também ocupa um espaço primordial. Reconhecer essa força é imprescindível, e equilibrar a balança que, a depender do dia, pende mais para um lado do que para o outro, é um desafio diário que contribui para o crescimento e empoderamento feminino”, finaliza.

“Nesses últimos 30 anos, vejo o quão duro foi e ainda é - para a mulher participar da política. Mas é preciso quebrar os estigmas” Célia Leão é advogada e considerada uma das parlamentares mais atuantes de São Paulo. Tendo como base a política e luta pelos direitos das pessoas com deficiência, apresentou centenas de projetos e participou diretamente na criação de políticas públicas em todas as áreas em que atuou.


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Celia Parnes A assistência social não faz milagres, mas percorre uma estrada de mão dupla tão importante quanto necessária: o bem-estar social. Ou seja, ao mesmo tempo em que se trabalha em prol de pessoas que mais necessitam, há um retorno imensurável para toda a sociedade. É esse o valor que norteia o trabalho da atual Secretária de Estado de Desenvolvimento Social de São Paulo. Celia Parnes descobriu cedo sua vocação. Aos 14 anos começou a trabalhar como voluntária na União Brasileira Israelita do Bem-Estar Social (Unibes). Lá permaneceu por mais de 30 anos, até chegar à presidência do Conselho. Nesse meio tempo graduou-se em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (USP), com especialização posterior em Gestão, Governança e Inovação. Aliou o aprendizado acadêmico à habilidade nata e larga experiência no atendimento de crianças, adolescentes, idosos e famílias em situação de vulnerabilidade social. De lá para cá foi contabilizando reconhecimento e notoriedade. Foi homenageada pelo Conselho Parlamentar das Comunidades Estrangeiras da Assembleia Legislativa de São Paulo, condecorada com a Medalha da Casa Militar pelos serviços dignos de especial destaque prestados ao Estado de São Paulo, eleita Mulher do Ano pela Câmara Municipal de São Paulo e Paulistana Nota 10 pela Revista Veja. Como gestora pública, a Secretária tem feito a diferença ao trabalhar pela implementação de programas e projetos que visam criar e estimular recursos para que pessoas em situação de vulnerabilidade possam desenvolver suas melhores habilidades a fim de ascenderem, seja por meio do empreendedorismo, seja com políticas sociais de inclusão proativa e digital. No campo pessoal, é também por meio das relações humanas, em casa e na família, que busca o equilíbrio da vida, receita que complementa com uma rotina de práticas esportivas, boa alimentação e leitura. “Manter o equilíbrio é ter calma para enxergar todos os cenários, possibilidades e ir fazendo escolhas e opções que derivem cada vez mais positivamente,” resume.

“Creio que o desenvolvimento social, como o próprio nome diz, foge à política assistencial. É uma política de mobilidade social” Celia Parnes é paulista e, além da gestão na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, é membro ativo do Fórum Nacional dos Secretários de Assistência Social (FONSEAS) e do Comitê Intersecretarial de Desenvolvimento Regional do Centro de Equidade Racial para o Desenvolvimento Socioeconômico do Estado.


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Clarissa Mathias Médica oncologista, uma das mais respeitadas do país, a baiana Clarissa Mathias já sentiu preconceito por ser uma estrangeira nos Estados Unidos, onde morou por oito anos e fez residência em Clínica Médica, Hematologia e Oncologia. Mesmo no Brasil, sempre sentiu que precisava provar ainda mais a sua capacidade no meio em que atua. “Ainda mais por ser mulher e nordestina. Você acumula muitas tarefas e, às vezes, se desafia para conseguir desempenhar tudo com a mesma maestria.” Ao encabeçar o primeiro comitê de mulheres da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, ela percebeu que, apesar de haver um grande número de residentes, algumas desistem ou aceitam empregos não tão desafiadores para poder conciliar a profissão com a maternidade. “Nosso trabalho é entender esses percalços e criar medidas para acolher melhor as mulheres, respeitando horários e momentos de vida diferentes, sem exigir que elas performem 100%. Assim, a gente cria um espaço sem culpa”, explica ela, que teve três filhos em momentos bem diferentes da vida e pode contar com uma rede de apoio. Para encontrar equilíbrio entre tantas tarefas e a vida pessoal, ela se apoia na religião espírita e na meditação, atividade na qual se encontrou após a pandemia. Os exercícios físicos, como pilates e musculação, também fazem parte da sua rotina. “Das 5h às 7h eu tenho o meu tempo para fazer todas essas coisas. Meu segredo é me respeitar”, explica.

“Nosso trabalho é entender esses percalços e criar medidas para acolher essas mulheres, respeitando momentos diferentes da vida” Clarissa Mathias atua como Oncologista Clínica no NOB (Núcleo de Oncologia da Bahia) e no Hospital Santa Izabel. Também é integrante do Grupo Oncoclínicas e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, fez residência no Medical College of Pennsylvania, na University of Pennsylvania e doutorado em Medicina e Saúde pela Universidade Federal da Bahia.


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Claudia Charro Líder em uma área com a presença maciça de homens, a executiva da Microsoft se interessou por tecnologia graças ao Bug do Milênio, aquele medo coletivo de que, na virada de 1999 para 2000, os computadores da época não entendessem a mudança e causassem uma pane geral no mundo. “Minha irmã, que é quatro anos mais velha, estava na faculdade na época. Ela estudava e trabalhava como desenvolvedora; foi aí que comecei a ter contato. Via os trabalhos dela, ajudava no que podia, e comecei a programar”, explica. Em franca expansão, a profissão tem atraído mulheres de forma tímida, graças a empresas que fazem esforços nessa direção. “A gente tem trabalhado bastante para mostrar para as mulheres que estão em TI que é possível ter sucesso nessa área. Acho que os mecanismos são, primeiro, a formação e, segundo, o encorajamento de que é uma área bacana e diversa. Vários perfis podem ter sucesso, não só aquele programador padrão típico.” E para enfrentar tantos desafios, a busca pelo autoconhecimento tem sido primordial para Claudia. “Eu sempre lutei pra conseguir me encontrar, pra saber no que eu sou boa, qual o meu talento. Tinha que investir muito mais horas pra me manter competitiva; hoje eu vejo que se a gente se conhecer bem, saber o que gosta e onde estão nossos talentos, isso ajuda a canalizar, ter foco. Então, eu diria que isso é o que nos ajuda a equilibrar as coisas.”

“Tenho meus projetos de diversidade para mulheres na tecnologia, e a empresa me apoia para que isso evolua”

Claudia Charro é Client Technology Lead da Microsoft e também já trabalhou como Instrutora Técnica na Amazon Web Service. Tem passagens pela Ubbi/Cidade Internet, bancos Itaú e Safra e com a operadora de planos de saúde Qualicorp.


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Claudia Cohn Filha mais nova de um casal de imigrantes judeus fugidos da Segunda Guerra, Claudia Cohn foi a primeira da família a se aventurar na área da saúde. Não foi influenciada pelos pais na profissão, mas herdou deles muita coisa. Do pai, engenheiro, a dedicação, a disciplina, o caráter e o respeito pelas pessoas. Da mãe, a vivacidade, a curiosidade, o carinho e o cuidado com quem está à sua volta. Essa combinação poderosa deu origem a uma mulher apaixonada pela vida e pela profissão que escolheu. Na qual, inclusive, ela é uma grande referência: a medicina diagnóstica. Para chegar até aqui, ela estudou muito, passou por laboratórios, hospitais e hoje é CEO da Alta Diagnósticos e diretora-executiva da DASA, marca líder em medicina diagnóstica no Brasil e na América Latina. Claudia tem diploma de Conselheira de Administração pelo renomado Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), é presidente do conselho da empresa de tecnologia CTC e membro no conselho da Grape ESG, além de participar de diversos conselhos de entidades, como: da Confederação Nacional de Saúde (CNS), da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), do Instituto Coalizão Saúde (ICOS), do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEX) e do Instituto Ética Saúde. Após 30 anos de atuação na Saúde e passagens pelo Einstein, Cigna, Amil e, agora, DASA e Alta Diagnósticos, Claudia usa sua experiência também para incentivar mulheres a chegar ao topo. É conselheira e mentora de empreendedoras no Programa Winning Women (da EY) e membro da WCD (Women Corporate Directors), que atua no fomento da diversidade nos Conselhos de Administração. No PDeC, Programa de Diversidade em Conselho do IBGC, atua na busca de parcerias com empresas para sensibilização sobre o tema nos conselhos de diferentes setores. Claudia também foi uma das fundadoras do Fundo Dona de Mim, do grupo Mulheres do Brasil, que promove crédito e microcrédito a mulheres. “Meus pais são alemães, sofreram por ser judeus e fugiram do nazismo. Acredito que esse preconceito não possa existir em nenhuma instância. Por isso, abracei a diversidade e inclusão e me sinto responsável por fomentar a igualdade na Saúde e também a governança.” Para ela, é importante inspirar as pessoas pelo exemplo e não ter medo de errar. Trabalhar com amor, energia e disciplina é a base para quem quer realizar seus sonhos.

“A Saúde representa 9,2% do PIB e empregou mais de 4,5 milhões de pessoas em 2021. É um setor pujante, que estimula outros setores a trabalhar” Claudia Cohn foi eleita uma das cem pessoas mais influentes da década em Saúde, pelo Grupo Mídia, tem 55 anos e atua como CEO da Alta Diagnósticos e diretora-executiva da DASA, maior rede de saúde integrada do Brasil.


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“Eu decidi que é melhor gritar. O silêncio é o verdadeiro crime contra a humanidade.” – Nadezhda Mandelstam


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Daniela Cachich A frase “a mudança é inevitável, mas o crescimento é opcional” é uma das preferidas da executiva da Ambev, que entende que a ambição e o desejo de crescer na carreira é aquilo que a move. “Às vezes, a palavra ambição é forte quando falada por uma mulher, mas tem que estar no nosso dia a dia, essa vontade de continuar progredindo. Duas palavras que ajudam muito nesse processo são ‘oportunidade’ e ‘coragem’. Temos que ter coragem de abraçar essas oportunidades. Se tivermos clareza para onde queremos ir, isso contribui para chegarmos mais longe.” Com uma longa carreira construída na área de alimentos, bebidas e higiene pessoal, ela pensa nesse crescimento não apenas de forma individual, mas também coletivamente, envolvendo todas as mulheres e um contexto de diversidade. “O que eu, Daniela, na liderança, estou fazendo para impactar o caminho de outras mulheres? Se os cargos de alta liderança estão ocupados por homens e as mulheres chegam nesses lugares, como é possível fazer a diferença? Penso em como faço para aproveitar o privilégio de estar aqui sentada, trazendo pautas que, se fossem tratadas por um grupo homogêneo de homens brancos, como seriam discutidas?”, reflete. Formada em administração de empresas e marketing, Daniela sempre olhou para o seu trabalho buscando formas de gerar um impacto positivo, de promover alguma transformação. A executiva procura usar o privilégio da sua posição para tratar de temas e causas necessárias. Entre os movimentos que fizeram parte da sua trajetória, estão o lançamento de campanhas como a da Dove pela “Real Beleza” no Brasil, que trabalhou com questões como autoestima e beleza natural das mulheres, e a Doritos Rainbow, que lançou uma versão multicolorida do salgadinho em apoio ao público LGBTQI+, prestando auxílio a ONGs e programas de capacitação que atendem a comunidade. Aos 48 anos e mãe de duas filhas, uma de 13 e outra de 10 anos, Daniela fala também sobre a narrativa social da Mulher-Maravilha, em que as próprias mulheres também se cobram para ser perfeitas. “Eu tento o tempo inteiro entender que não serei 150% em tudo que faço, e, em alguns momentos, serei menos de 100% e está tudo bem. Não é fácil, mas quando isso acontece, você consegue gerenciar melhor as coisas e se livra de culpa.”

“A mulher precisa provocar discussões, sistemas e processos, para dar oportunidades e mostrar para a outra que ela está apta para o cargo” Daniela Cachich é President BU Future Beverages and Beyond Beer da Ambev para a América do Sul. É formada em Administração, tem pós-graduação em Marketing e mais de 20 anos de carreira trabalhando em empresas de bens de consumo. Em 2020, entrou para a lista da Forbes Brasil das 20 mulheres mais poderosas do país.


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Daniela Grelin Falar de propósito parece lugar-comum depois de tantos gurus da internet terem se apropriado da palavra, que inundou as redes e ganha cada vez mais força nos negócios. Mas, de fato, descobrir como fazer a diferença na vida das pessoas é arrebatador. E foi justamente esse o ponto de virada na carreira de Daniela. Depois de 25 anos na iniciativa privada, ela entrou para o setor de investimento social privado e assumiu o comando do Instituto Avon. “A descoberta do propósito é muito poderosa. Quando você faz do trabalho uma expressão dos seus valores e de manifestação do seu propósito, tudo te energiza e te desafia”, diz a mineira, formada em Administração de Empresas, com habilitação em Comércio Exterior. Braço de investimento social da Avon, o Instituto Avon existe há 18 anos e é dedicado ao enfrentamento da violência contra mulheres e ao combate do câncer de mama no Brasil. Lá, Daniela conduz campanhas para transformar comportamentos, levando temas tabu para discussão pública e promovendo o resgate das vítimas. Ela também articula parcerias para alavancar pesquisas científicas e produzir pesquisas proprietárias. Até 2020, foram mais de 350 projetos e programas que beneficiaram 6 milhões de mulheres. Para ela, o papel da iniciativa privada é fundamental para mudar realidades. “Observe o quanto as empresas são protagonistas em questões ambientais, sociais e até políticas. Na guerra da Ucrânia, vemos o quanto as empresas estão somando às sanções econômicas para desestabilizar a estratégia do invasor”, diz. “[No setor privado], é importante ter sensibilidade e entender os temas mais urgentes da sociedade e as principais alavancas de transformação.”

“Quando se entra na arena para fazer a diferença, você se expõe a críticas. Mas não há outro modo de transformar esperanças em algo concreto para o mundo” Daniela Grelin é Diretora Executiva do Instituto Avon, mineira de BH e também colunista da Revista Exame, onde escreve sobre equidade de gênero e direitos das mulheres. Aos 52 anos, é mãe da Julia, de 21, e do Louis, de 14.


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Ebru Semizer Ebru é movida pela coragem. Foi isso que a trouxe ao Brasil, na época com 26 anos, sem falar português, para liderar uma equipe em um ambiente majoritariamente masculino. Mas não é só isso. Ebru Semizer, hoje com 38 anos, é também uma mulher confiante, curiosa, observadora, espiritualizada e muito atenta às histórias e experiências de vida das pessoas que a cercam. Muçulmana, nascida em Istambul, dentro de uma família que sempre a incentivou a correr atrás dos seus sonhos, ela fala seis línguas, é instrutora de meditação e terapeuta holística. Uma mistura de elementos poderosos que, aliados à sua competência e carisma, a transformaram em uma das principais executivas da Mercedes-Benz no Brasil. Sua carreira se iniciou na Turquia, há 15 anos, na área de Vendas e Marketing da montadora. Gerenciou projetos digitais na Alemanha até ser transferida para o Brasil, onde participa de projetos sociais e dá aulas sobre liderança nos mercados internacionais. Mas é por meio da sua atuação como Executiva Sênior de Marketing da MercedesBenz Caminhões que ela tem feito a diferença na vida de muitas brasileiras. Ela é fundadora e mentora do Movimento A Voz Delas, criado com o objetivo de atenuar o, muitas vezes hostil, percurso diário das caminhoneiras e também das “cristais”, como são chamadas as mulheres que acompanham os motoristas de caminhão pelas estradas país afora. Essas iniciativas incluem desde o estímulo à instalação de banheiros femininos e locais seguros para descanso nas paradas necessárias, até o custeio de cursos de formação que, no ano passado, possibilitaram que 30 mulheres pudessem obter a Carteira Nacional de Habilitação na categoria C, o que ainda é considerado quase um privilégio masculino. Na esteira de ações que inspiram as mulheres no mercado de trabalho, Ebru implementou várias iniciativas de inteligência artificial na empresa e hoje as atividades de marketing são 100% Data Driven com foco no People Marketing. “Para conseguirmos mudar de modo contínuo e positivo nosso campo profissional, precisamos ter certeza de que o nosso trabalho conversa com os nossos valores pessoais. Que cada dia que a gente possa trabalhar e aprender, que a gente saiba que estamos cumprindo nosso propósito de vida”, ensina Ebru, para quem o autoconhecimento é parte fundamental do processo. “Uma vez me conhecendo melhor e conhecendo os meus sentimentos, o equilíbrio vem junto.”

“Não tem como não ter sucesso se aprendermos a respeitar as diferenças e usufruir a diversidade nos ambientes em que estamos inseridos” Ebru Semizer formou-se em administração de empresas em sua cidade natal, Istambul,

na Turquia, e complementou os estudos com mestrado em Marketing na ESMT Berlin e Executive MBA na FIA-USP. Aos 38 anos, fala seis idiomas e tem uma trajetória profissional toda construída na Mercedes-Benz, com foco em comunicação e inteligência de mercado.


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Edna Martins Transformar a vida das mulheres por meio de políticas públicas está entre as funções que Edna Martins, nascida em Araraquara, interior de SP, sabe conduzir com maestria. Filha de trabalhadores rurais, ela se apoiou na educação para realizar, mais tarde, as pesquisas e estudos sobre as questões de gênero que trouxe para o SOS Mulher, aplicativo criado para as mulheres denunciarem a violência doméstica por meio de seus celulares; e o Dignidade Íntima, que oferece um kit de higiene para alunas de escolas estaduais. À frente do programa de Políticas para a Mulher da Secretaria da Justiça e Cidadania, Edna sonha com uma sociedade mais igualitária. “Esse é o projeto da minha vida! Desejo que todos possam ter as mesmas condições para se desenvolverem. Eu lido com políticas públicas e acredito que elas são o melhor caminho para mudar a situação de todas as mulheres. Temos que ter educação, saúde e programas efetivos que permitam que essas pessoas possam disputar uma melhor condição em sociedade”, conta. Outro fator importantíssimo para equilibrar esse jogo é a representação. “Temos lutado pelos 50/50, para termos metade das mulheres nos representando. Hoje, esse número está muito aquém. Somos mais de 50% da população e não saímos dos 15% dos cargos no Congresso, e menos ainda nos cargos executivos. Precisamos melhorar essa situação de desigualdade.” Sobre sua vida pessoal, ela destaca que é apaixonada por ser mãe – Edna já tem dois filhos adultos – , e que foi criando arranjos diferentes para conseguir lidar com eles e o trabalho. “Os desafios são maiores quando eles são pequenos.”

“Temos que trazer mais mulheres para a política. Assim, conseguiremos equilibrar melhor esse jogo e ter representação”

Edna Martins é cientista social, doutora em Linguística e Coordenadora de Políticas para a Mulher da Secretaria da Justiça e Cidadania. Foi diretora regional de Assistência e Desenvolvimento Social do Governo do Estado de SP.


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Elisabete Sato Poucos cargos de liderança ocupados por mulheres chamam tanta atenção quanto aqueles nas áreas da segurança pública e de defesa nacional. Isso porque as mulheres são minoria nesse espaço. Os dados impressionam: só 28% do efetivo de 117 mil policiais civis são mulheres, e há apenas 11% entre os 417 mil policiais militares. Por isso, é de se admirar quando uma mulher chega ao topo da pirâmide – caso de Elisabete Sato, que é uma das 18 a chegar ao cargo máximo (classe especial), com 139 vagas no Estado de São Paulo. “Para se ter ideia, sou a única delegada-geral de polícia em cargo de comando da instituição”, diz a delegada-geral de Polícia Adjunta da Polícia Civil de São Paulo. Elisabete é a segunda mulher na história a ocupar esse cargo. E ela também pode se gabar por ter sido a única diretora do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). “Foi a minha realização”, confessa. Ao longo da carreira, que começou em 1989, passou pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (DENARC), pelo Grupo de Apoio e Proteção à Escola (GAPE), pelo Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DECAP) e pelas Delegacias Seccionais de Polícia das Zonas Norte e Leste da capital. A decisão de ser delegada veio quando era escriturária da Polícia Civil, uma carreira mais administrativa. Ela havia acabado de cursar Ciências Biológicas e até pensava em prestar vestibular para Direito (requisito para ser delegada). Mas a certeza veio só depois de escutar uma conversa entre investigadores do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC). “Eles falavam com brilho nos olhos que haviam descoberto a autoria de um crime a partir de um corpo na rua”, lembra. “Fiquei muito interessada em como desvendaram o mistério, e nascia ali a minha vocação.” Ao longo da carreira, a delegada participou de investigações que abalaram a opinião pública, como as mortes da menina Isabella Nardoni e da advogada Mércia Nakashima. Conhecida pela competência, disciplina e também pela forma direta com que trata assuntos muito complexos, Elisabete afirma que nunca precisou levantar a voz para ser respeitada. Para ela, as qualidades de um bom policial, independentemente do gênero, é ser legalista, respeitar os direitos humanos e a dignidade da pessoa. Além de ter persistência e foco.

“É preciso inovar e abrir caminho para que mais delegadas tenham ascensão na carreira e cheguem ao topo” Elisabete Sato virou delegada-geral de Polícia Adjunta da Polícia Civil de São Paulo em 2019. Hoje, aos 65 anos, também atua como professora da Academia de Polícia Civil de São Paulo e é coautora do livro Reflexões sobre Justiça e Violência (2002).


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Esther Schattan A mágica em torno dos alquimistas que transformavam tudo em ouro seduziu Esther Schattan. Encantada pelo processo de transformação e solução de desafios, decidiu cursar Engenharia, carreira que, apesar da racionalidade lógica, é um prato cheio para estimular o lado inventor. “É uma profissão criativa. Por isso, os engenheiros estão presentes nas mais diversas áreas de atuação, somando lógica e criatividade na resolução de problemas”, explica Esther, que fundou a Ornare, marca de mobiliário sob medida de alto padrão, em 1986 junto com o marido Murillo Schattan, engenheiro como ela. A princípio, a marca fazia móveis sob medida para quartos e closets. Depois, ganhou fama também por suas cozinhas personalizadas, pelos móveis não fixos e pelas parcerias com arquitetos e artistas, patrimônio do mercado nacional, como Patrícia Anastassiadis, Marcelo Rosenbaum, Ruy Ohtake, Guto Índio da Costa, Zanini de Zanine, Arthur Casas, entre outros. A label tem hoje 15 unidades no Brasil e showrooms espalhados por Dubai, Nova York, Miami, Dallas, Los Angeles, Houston e Hamptons. Um crescimento impressionante que agora conta também com a participação dos filhos do casal, Pitter e Stefan. Os dois, também formados em Engenharia, preparam-se para a sucessão familiar e contribuem com a inovação e a juventude necessárias para elevar a marca a outros patamares. “Sempre queremos transformar nossas iniciativas em riqueza, em algo que gere valor, que possa transformar o mundo num lugar melhor”, define a empresária, numa analogia aos alquimistas. A parte “inventora” da Ornare tem tudo a ver com o toque da Esther. “A visão tecnológica é uma marca do meu trabalho, além da delicadeza e a exigência em termos de entrega e qualidade. A soma desses atributos define bem o conceito de luxo na atualidade. ”

“Ter atitude positiva no trabalho estimula a criatividade, antecipa tendências, surpreende e deixa a nossa marca” Esther Schattan é sócia-diretora da Ornare há 35 anos e referência em liderança no setor de mobiliário mundial de luxo. Atua no Programa Winning Women Brasil, como mentora de empreendedoras selecionadas pela EY.


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Fabiola Kassin Estava tudo traçado: ela estudaria Hotelaria na Suíça e, para isso, começaria cursando Gestão de Turismo numa faculdade em São Paulo. A graduação foi concluída, mas o pai da Fabíola não esperava que o jeito cool, os amigos do mundo da moda e a paixão pela área comercial levassem a menina de Bauru, filha de plantadores de café, a outras paragens. “Fui trabalhar no Mercado Mundo Mix, onde fiquei por dez anos e aprendi tudo sobre marcas”, lembra a hoje influenciadora e dona da plataforma Hypnotique, que traz dicas de lifestyle, bem-estar, decoração, moda e cultura pop. O Mercado Mundo Mix era uma revolução: um evento mensal que reuniu, entre 1994 e 2005, diversos jovens estilistas e ações culturais ligadas à cena urbana, revelando nomes como Alexandre Herchcovitch, Marcelo Sommer, Thais Gusmão e marcas como Chilli Beans e Cavalera. “Comecei menina lá e, quando vi, estava fazendo planejamento e ativações, fechando patrocínios e cuidando de novos produtos, como a revista e o CD que lançamos”, diz. Conhecedora experiente das tendências de consumo e comportamento, Fabiola fundou no ano 2000 a consultoria de branding Conteúdo.com, trabalho que realiza até hoje. “Sempre tive sinergia com o público jovem – inclusive tenho muitos seguidores das novas gerações. E gosto de falar para eles que o mais difícil hoje é ser autêntico. E quando começamos a vida profissional, temos de ser perceptivos, entender as oportunidades que nos dão e aprender com elas. As coisas vão acontecendo. Esse é o conselho que dou para os meus filhos.” Bem, os conselhos parecem estar dando certo: Yanly, de 19 anos, e May Ly, de 17, já seguem os passos da mãe nas redes, compartilhando experiências e conquistando seguidores.

“É importante seguir a intuição e fazer algo verdadeiro e autêntico, sem olhar para o objetivo dos outros”

Fabiola Kassin tem 52 anos e é o nome por trás da plataforma Hypnotique, com dicas de lifestyle, bem-estar, decoração, moda e cultura pop. Expert em tendências, a paulista também dá consultoria de branding para marcas.


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Gabriela Cicone Multicultural e apaixonada por povos e culturas diversas, esses são os elementos que sempre permearam a vida e a carreira de Gabriela Alencar Cicone. Desde a infância, foram as viagens e as experiências em outros países que influenciaram seu olhar. Em 1992, Gabriela mudou-se para Macau, na China, em razão do trabalho do pai, engenheiro civil. No período em que esteve na Ásia, até 1997, viveu uma realidade bem diferente da do Brasil. “Tinha uma qualidade de vida incrível, podia andar na rua sem medo da violência e convivi com várias culturas”, explica. Ao escolher sua primeira faculdade, optou pelo curso de Turismo; mais tarde, ao mudar a rota para o marketing, o assunto viagem apareceu de outras formas, já que todas as empresas em que trabalhou tinham alguma relação com esse movimento. Atualmente, ele acontece sobre duas rodas, na BMW. “Sempre trabalhei em indústrias com motor: carros, aviação e, agora, estou na área de motos. Por isso, falamos muito sobre viagens, porque os clientes gostam de pegar suas motos para descobrirem um novo país a bordo delas.” Mãe de um casal, Olívia, de 8 anos, e Nicolas, de 2, ela se lembra de um episódio em que a filha levou para a escola uma revista em que Gabriela foi entrevistada e mostrou, orgulhosa, para a professora, que a mãe era chefe de uma empresa em que só havia meninos. “Foi bom para que ela abordasse o tema diversidade com os alunos; uma maneira lúdica e divertida de falar que as meninas podem fazer o que quiserem.” E como é estar em um meio majoritariamente masculino? Ela diz que lidera pelo exemplo, de forma natural. “Gerencio um departamento importante e estratégico dentro da companhia, em um setor supermasculino. É uma quebra de paradigma, e procuro fazer um trabalho para que isso não seja rotulado como algo de gênero.”

“Com dois filhos, o segredo é uma boa balança: aproveitar o horário de trabalho para ser o mais produtiva possível”

Gabriela Cicone tem 41 anos e é Executiva de Marketing da BMW. Começou sua carreira na mesma empresa, como Analista Sênior de Marketing, e passou por grandes companhias como British Airways, Copa Airlines e Eleven Financial Research.


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Gabriela Silvarolli Mais do que manter a marca atualizada, um dos desafios das empresas familiares é encontrar herdeiros dispostos a perpetuar o negócio ao longo das gerações, com a mesma visão, paixão e coerência dos fundadores. Nesse quesito, a Corello tem sorte. Depois de 58 anos no mercado, a marca de calçados, bolsas e acessórios está com sua quarta geração dedicada a levar o legado da família adiante. Bisneta de Antônio Silvarolli, fundador da companhia, Gabriela assumiu a diretoria de Marketing e Comercial, em 2019, depois de seis anos trabalhando nesse departamento. De lá para cá, também virou o rosto da label e assinou duas coleções Corello by Gabi S. Mesmo tão jovem, Gabriela leva muito a sério o que aprende com a mãe, Carla Silvarolli, CEO da marca e diretora de Produtos. Olhar para frente, mas sem deixar de valorizar e respeitar o trabalho que trouxe a marca até aqui, é um dos conselhos mais importantes. “Sempre soube que queria estar ao lado da minha mãe e do meu avô [Savério Silvarolli, morreu em outubro passado] nesse caminho.” Antenada, ela aumentou a presença da grife nas redes sociais e imprimiu sua personalidade, colocando-se como embaixadora e dividindo com os seguidores o universo Corello, em vídeos que revelam os bastidores das lojas, coleções e campanhas. O resultado? Uma marca cada vez mais próxima das consumidoras, capaz de criar uma comunidade de brand lovers. “Desde pequena, gosto de passear pelas lojas, acompanhar as vendedoras, pegar nos produtos, calçar... Lembro de ter uns 7 ou 8 anos e minha mãe me explicar por que eu não podia atender sozinha um cliente”, lembra Gabi que hoje tem também a missão de manter o DNA de inovação na marca, uma característica marcante que há quase seis décadas vem conquistando os consumidores. “Acredito que as marcas devem ter uma visão alinhada ao que o seu consumidor quer, e não necessariamente ao que o mercado dita. É preciso entender o que ele precisa, para que você consiga trazer esse produto no momento certo e da maneira certa.”

“Poucas marcas se mantêm tanto tempo no mercado e sempre tão oxigenadas. O desafio é manter nosso DNA” Gabriela Silvarolli é formada em Publicidade e Propaganda pela Faap e faz parte da quarta geração à frente da Corello. A paulistana de 25 anos também atua como diretora de Marketing e Comercial, além de ter assinado duas coleções Corello by Gabi S.


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Helena Bertho Com passagens por grandes corporações, a executiva Helena Bertho, Head Global de Desenvolvimento e Inovação no Nubank, sempre teve como prioridade promover a diversidade e a representação mínima demográfica da população brasileira – ou do país onde a fintech for operar – dentro das organizações. “O que eu faço é garantir e trabalhar, ao lado de um time de 18 pessoas, para a construção de um ambiente mais diverso e inclusivo. Pensar processos de inovação, produtos e serviços inovadores, além de uma comunicação mais plural”, conta. Otimista, Helena fala sobre a evolução contínua das mulheres e diz que a mudança passa pela intencionalidade. “A gente precisa reconhecer que vivemos num país com desafios estruturais para mulheres, e o Brasil é estruturalmente machista. Além disso, temos que pensar que, quando falamos de mulheres, estamos falando de quais mulheres? Porque ser mulher não é a mesma coisa para todo mundo. Os desafios de uma mulher branca, uma negra e uma trans, são diferentes, uma vez que existe a questão do racismo e da transfobia”, explica. Sem fazer uma divisão entre sua vida profissional e pessoal, Helena, que tem uma filha, Olívia, de 8 anos, acredita que o segredo é tentar ser a sua melhor versão. “E se não der pra tirar nota 10 em tudo, não tem problema; eu só não posso passar por cima da minha humanidade, então, preciso aprender a priorizar o que de fato é importante. E a maternidade é um divisor de águas, porque reorganizou o que era prioridade, porque quando você tem um filho, seu coração começa a bater em outro lugar.”

“Qual impacto positivo estamos gerando? Temos uma grande ambição de ter 50% de mulheres em cargos de liderança na companhia”

Helena Bertho é Head Global de Desenvolvimento e Inovação no Nubank. Publicitária, com MBA em Marketing, atuou nas áreas de Comunicação, Marketing e Diversidade em grandes empresas, como Coca-Cola e L´Oreal.


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“Sucesso é mais frequentemente alcançado por aqueles que não sabem que o fracasso é inevitável.” – Coco Chanel


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Kadu Lopes Uma apaixonada pela profissão por decisão. Assim se define Kadu Lopes ao justificar a opção que fez pela tecnologia em detrimento do sonho de ser médica. Ciente do que queria, trocou o ano e meio do curso de Medicina pelo bacharelado em Ciências da Computação, e com essa formação embarcou em uma trajetória que já dura 26 anos e a levou da engenharia de suporte técnico à vice-presidência de Alianças e Canais da Oracle do Brasil para a América Latina. Grande parte dessa carreira, Kadu Lopes dedicou à área de Customer Services com a missão de fazer com que os clientes Oracle tivessem uma experiência positiva com o uso dos produtos adquiridos. Ao longo de duas décadas e meia ocupou posições gerenciais e liderou equipes locais e regionais, experiência que a levou a encarar a realidade de que havia ingressado em um segmento em que as mulheres são uma base forte, mas não estão galgando cargos de liderança. A proporção, segundo a executiva, é de 70% para 30% no contexto geral, e a discrepância só aumenta quanto mais próxima do topo. A tomada de consciência dessa realidade levou a Kadu a atuar fortemente como champion em um programa de Diversidade e Inclusão e à liderança da comunidade local do programa Oracle Women Leadership por dois anos. De acordo com a executiva, abrir cotas não é o suficiente. A inclusão e a diversidade devem ser metas claras na gestão das empresas. E as oportunidades abertas, em contrapartida, devem ser encaradas sem medo, mas com muito preparo. “É preciso se aplicar para assumir um cargo de liderança. Hoje chego à conclusão de que tudo o que eu fiz de forma voluntária, ou por convite, foi em um campo inexplorado. Sempre deu certo, não porque tive sorte, mas porque eu me dediquei.” Buscar ser feliz com o trabalho que se realiza também é fórmula de sucesso, na opinião da executiva, que como última recomendação sugere que as mulheres aprendam a medir seus resultados e tenham sempre em mente o valor que têm dentro da empresa. Vacilar nessa hora pode significar perder a chance de atrair visibilidade para o seu perfil e a sua competência.

“Todo sim corresponde a um não, o equilíbrio está no autoconhecimento, em buscar o melhor nas duas áreas da vida” Kadu Lopes é bacharel em Ciências da Computação pela UNESP, possui MBA em Administração e Gestão Financeira pela FGV e está há 26 anos na Oracle do Brasil.


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Livia Kinoshita A formação em Publicidade e Propaganda, aliada a uma sólida experiência em Marketing exercida ao longo de 17 anos no mercado automotivo, levou Livia Kinoshita a chefiar uma das áreas mais estratégicas da Volkswagen, e com largo alcance global. Sob sua gestão no cargo de Head of Brand & Communication estão nada menos que 29 países na América do Sul, América Central e Caribe – a chamada Região SAM. A executiva, que passou pela Renault do Brasil antes de migrar para a Volkswagen, reconhece que em pleno século 21 o setor automotivo ainda é predominantemente masculino, o que torna ainda mais desafiador, e necessário, o aumento do número de mulheres em cargos de liderança nas empresas. Para mudar esse cenário, na opinião de Livia, as empresas precisam criar políticas claras de equidade de gênero e, principalmente, se comprometer com as metas estabelecidas. “Isso deve acontecer não apenas porque é o correto, e sim porque a diversidade engaja as pessoas, promove novas ideias e fomenta ações mais inovadoras. É um ativo que, além de maior riqueza cultural, gera crescimento real para quem está genuinamente aberto à diversidade”, afirma. Livia lembra, entretanto, que também as mulheres devem dar um passo adiante se quiserem acelerar a sua trajetória. “Precisamos continuar nos posicionando, acreditando na nossa competência e deixando claras as nossas pretensões, qualidades e entregas”, ensina. Dividir responsabilidades faz parte do aprendizado para que se chegue ao topo, sem prejuízo ao corpo e à mente, e é aí que Livia aponta um dos principais desafios da carreira da mulher. “Sem dúvida é conciliar o lado pessoal e profissional, principalmente para quem tem filhos pequenos. Eu não tenho a fórmula do sucesso, acredito que cada pessoa precisa encontrar a melhor forma para lidar com esse desafio.”

“Nós mulheres nos cobramos demais, também consequência de questões estruturais, em que sempre tivemos que nos provar mais que os homens”. Livia Kinoshita é formada em Publicidade e Propaganda pela PUC-PR, e

antes de migrar para a Volkswagen atuou por 16 anos na Renault do Brasil, desempenhando diversas atividades.


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Marcia Esteves Profissional respeitada no mercado publicitário, Marcia Esteves é uma das poucas mulheres no Brasil atuando como CEO de uma grande agência de comunicação. Desde 2019, ela ocupa o cargo na Lew Lara\TBWA, onde também é sócia. Sob sua liderança, a empresa já agregou mais de 17 novas marcas ao portfólio, além de abrir novas unidades de negócio, performance que levou Marcia ao TOP 10 profissionais de agência mais admirados no ranking da Scopen. Embora tenha trilhado uma carreira promissora na propaganda, sua paixão são as pessoas. Foi por esse motivo que escolheu a comunicação como ferramenta mais importante na sua trajetória pessoal e profissional. Mergulhar, viajar e tocar instrumentos musicais (mesmo sem muita habilidade, segundo ela) também são essenciais na sua vida, assim como os trabalhos que realiza para o terceiro setor. Marcia participa de ONGs e projetos que envolvem educação e moradia. Nascida em São Paulo e cidadã portuguesa, traz na bagagem a experiência adquirida em países como Austrália, Estados Unidos, Itália e Espanha, onde trabalhou, estudou e aprendeu com as diferentes culturas e nuances da comunicação. Em tudo o que faz, Marcia busca implementar modelos de cultura e operacionais disruptivos, colocando inclusão, diversidade e igualdade como palavras de ordem para que as pessoas, organizações e marcas obtenham melhores resultados. Entre estas marcas, para citar algumas que ajudou a projetar, estão: Pepsico (Pepsi, Gatorade, H2OH!), Procter & Gamble (Pantene, Downy, Gillette), M.Dias Branco (Piraquê, Vitarella, Isabela e Richester), Netflix, Camil, Omint, e Devassa. Se há lugar para a vida pessoal em meio à agenda atribulada do mundo dos negócios, a resposta é sim. Marcia garante seu equilíbrio com uma rotina de vida saudável, pautada por alimentação de qualidade, boas horas de sono e exercício físico praticado regularmente. Mais do que isso, ela afirma conhecer o momento de parar para descansar e se divertir com a família e os amigos. “Faça o que te faz feliz, sempre lembrando que a trajetória é tão importante quanto o destino final”, aconselha.

“Lutar por uma sociedade igualitária, para todos os seres humanos, não deve ser responsabilidade e agenda apenas das mulheres, mas sim de toda a sociedade” Marcia Esteves atuou em agências como Leo Burnett Tailor Made,

Wunderman e Rapp, onde enfrentou os primeiros desafios internacionais, com atuações em Barcelona e Miami. Assumiu seu primeiro cargo de presidência aos 34 anos na Grey Brasil, e atualmente é CEO e sócia da Lew’Lara\TBWA. Adora viajar pelo mundo para mergulhar.


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Maria Antonietta Russo Inspirada pela escritora estadunidense Brené Brown, Maria Antonietta Russo cita uma de suas frases mais célebres (e título de um de seus livros): “É preciso ter coragem para ser imperfeito”. É com essa coragem – e muita determinação – que a filha de agricultores do sul da Itália conduz sua vida pessoal e profissional. Desde cedo, teve como motivação garantir sua independência financeira. Em 1998, passou a integrar a equipe de Recursos Humanos no Grupo TIM e, pouco a pouco, escalou cargos de liderança que lhe permitiram a experiência internacional. Em 2019, assumiu o cargo de Vice-Presidente de Recursos Humanos da TIM Brasil. Reconhecida por dois anos consecutivos (2020/2021) entre as profissionais de RH mais admiradas do Brasil, segundo o ranking do Grupo Gestão RH, a executiva trabalha para antecipar tendências. “Para definir planos de requalificação ou recrutamento direcionados à evolução dos perfis não é preciso aguardar o momento que estes já estejam em escassez no mercado interno e externo. É preciso acompanhar e estudar antecipadamente as evoluções tecnológicas, econômicas e sociais que terão impacto no mundo corporativo, fazendo com que o contexto e as pessoas já estejam preparados para essa transformação”, diz. Maria Antonietta tem um olhar pragmático sobre o equilíbrio entre as atividades profissionais e pessoais. É enfática ao afirmar que, em contextos competitivos, há uma tendência a valorizar comportamentos como força, resiliência e perseverança, deixando pouco espaço para a expressão de sentimentos considerados de menor importância para um percurso de sucesso. Mas, levar ao extremo a resistência à pressão pela necessidade de corresponder às expectativas sociais gera estresse físico e mental. “Nos momentos em que corro o risco de entrar em crise de clareza mental, adoto técnicas de respiração”, afirma.

“Levar ao extremo a nossa resistência pressionada pela necessidade de corresponder às expectativas sociais nos vários papéis assumidos (mulher, mãe, esposa, chefe, colega, colaboradora, amiga...) só gera uma situação de estresse físico e emocional.” Maria Antonietta Russo é graduada em Psicologia pela Sapienza Università di Roma, com pós-graduação em Psicologia do Trabalho e Organizações pela Scuola Romana di Psicologia del Lavoro e dell’Organizzazione, a executiva é coautora do livro “Mulheres no RH – Volume II”, idealizado pela Editora Leader, que apresenta boas práticas do mercado por meio de vivências das principais líderes da área no país. Desde julho de 2019 é vice-presidente de Recursos Humanos da TIM Brasil.


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Marilia Rocca No cargo de CEO do Grupo Hinode desde 2018, Marilia Rocca construiu sua história profissional com passagens complementares. Iniciou na área de Operações do Walmart Brasil, gerenciou organizações do terceiro setor, como a Endeavor Brasil, ONG líder em empreendedorismo de alto impacto e fundou a Mãe Terra, empresa de produtos naturais. Foi lá que ela sentiu na pele o que era empreender. Teve medo, superou obstáculos, reinventou-se e partiu para um novo desafio na Totvs, onde ocupou a vice-presidência. Também foi Diretora Geral da Ticket Serviço. Ou seja, uma trajetória de tirar o fôlego, ainda mais se somarmos os cargos que ocupa em conselhos e comissões. Como executiva de um grupo de venda direta de cosméticos e produtos para bem-estar, ela constrói, junto com a equipe, estratégias de vendas para que os mais de 300 mil consultores ativos da marca – mulheres em sua maioria –, transformem a própria realidade. O olhar atento e comprometido da empresa com a inclusão e ascensão profissional de mulheres deu forma ao Programa Pérolas, uma iniciativa que empodera consultoras e oferece conteúdo de treinamento de vendas, recrutamento e gestão do negócio, além de trabalhar com vieses inconscientes e na desconstrução de crenças limitantes. Fundado pela ex-costureira Dona Adelaide, o Grupo Hinode tem hoje 52% dos postos de liderança ocupados por mulheres. “O DNA do Grupo Hinode já é carregado de empoderamento feminino. E estar nesse projeto, em que nos empenhamos em criar oportunidades para que nossas consultoras se atualizem e se inspirem com boas histórias e práticas do mercado, me permite reconectar com o meu lado empreendedora.” Na rotina pessoal, Marilia reforça o poder da combinação de fatores para uma vida mais equilibrada. Por isso, a educação para a divisão de responsabilidades dentro da família, o estabelecimento de uma rede de apoio e a escolha de atividades profissionais e empresas flexíveis, com mentalidade aberta para esse novo mundo, são alguns dos pontos que ela destaca. Mas é no esporte que Marilia se reenergiza. “O esporte ensina, desde muito cedo, a lidar com o ambiente que você vai encontrar na vida, porque testa a sua resiliência e te ajuda a ter um corpo são em uma mente sã.”

“Mulheres têm múltiplos interesses e assumem papéis muito diversos. Equilibrar rotinas nem sempre é fácil, porque mulheres são do ‘E’ e não do ‘OU’” Marilia Rocca é CEO do Grupo Hinode, membro do conselho de

administração do banco Santander Brasil e coordenadora do Comitê de Sustentabilidade. Atuou como diretora-geral da Ticket no Brasil e VP da TOTVS. Empreendeu na Mãe Terra entre 2008 e 2012 e é cofundadora da Endeavor Brasil e da Fundação Brava.


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Patricia Ellen Patricia Ellen passou quase mais de um ano acampada dentro do Palácio dos Bandeirantes. Recém-ingressada na vida pública, a convite do Governador João Doria, aceitou o cargo de Secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia com a missão de trabalhar em pautas nas quais já se sentia muito à vontade: empreendedorismo, qualificação profissional, investimentos. Tudo corria muito bem, até que veio a pandemia e, do dia pra noite, teve que embarcar em um dos desafios mais difíceis da sua vida: coordenar o gabinete de crise do Governo de São Paulo, habilidade que já fazia parte da sua trajetória profissional. Mas, nunca imaginou que viveria uma experiência tão impactante. O resultado, todo mundo sabe: apesar de todas as adversidades e perdas, o Estado de São Paulo tornou-se referência mundial na luta contra a Covid-19. E foi o seu olhar sensível para as dificuldades que enfrentam as populações mais vulneráveis que fez toda a diferença. Nascida na Vila das Belezas, bairro periférico da zona sul paulistana, começou a trabalhar aos 15 anos e foi a primeira pessoa da família a conquistar um diploma universitário. Seus pais trabalharam muito e conseguiram garantir comida e educação para essa menina que, mais tarde, viria a alcançar voos altos, mas sempre muito ligada às suas origens e consciente do seu papel na sociedade. “Por meio do estudo, muitas portas se abriram para mim”, conta. Além do diploma em Administração de Empresas pela FEA-USP, Patricia fez mestrado em Administração Pública pela Harvard Kennedy School, MBA pelo Insead e, hoje, continua a vida acadêmica como professora de mestrado no Centro de Liderança Pública. A vida no setor público se iniciou por idealismo. “É uma alegria saber que cada vírgula que você muda impacta milhões de vidas. O serviço público dá senso de propósito.” Antes, ela havia sido presidente da Optum no Brasil, empresa de tecnologia em Saúde do grupo United Health, e sócia da consultoria McKinsey & Company. Mas o dia a dia também atropelou muitas expectativas: “Você acha que é só pegar uma política e colocar na rua, mas tem que fazer decreto, projeto de lei, aprovar, viabilizar orçamento, tem coisa que não dá para fazer daquele jeito...” Além disso, liderar uma pasta econômica tradicionalmente masculina traz suas dificuldades. “Quero mudar esse sistema patriarcal e machista para que a gente passe da marca de 20% de mulheres na liderança. Essa é a pauta que me tira o sono, porque sou divorciada, mãe de duas meninas e tenho uma rede de amparo toda formada por mulheres.”

“Como fazer para que as pessoas não tenham de mudar de CEP para mudar de vida? A solução passa por ter mulheres na liderança” Patricia Ellen tem 43 anos e é Secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo e cofundadora do Movimento Agora. Em 2016, foi Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial.


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Patrícia Iglecias Trabalhar para garantir uma qualidade de vida melhor para as próximas gerações foi uma escolha que Patrícia Iglecias fez enquanto ainda estudava Direito, há 30 anos. Na época, falava-se muito menos de sustentabilidade, mas ela se apaixonou pelo tema e fez seu primeiro trabalho sobre responsabilidade civil por danos ambientais. A atual diretora-presidente da CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo foi a primeira mulher nomeada para assumir o cargo mais importante na maior agência ambiental da América Latina, que tem 54 anos de existência. Antes disso, Patrícia foi secretária estadual do Meio Ambiente e recebeu o Destaque Sustentabilidade – WOCA 2018 – em tributo e em reconhecimento pela carreira em prol da gestão ambiental e atuação no programa Cidades do Pacto Global da ONU, GCSM – Global Council of Sales Marketing. A paixão pela área é tão grande que costuma dizer que não foi ela que escolheu o meio ambiente e sim o meio ambiente que a escolheu. Mais uma prova de tanta dedicação é que, mesmo com uma agenda que exige muitas horas de trabalho no Estado, ela ainda arruma tempo para seguir como professora livre-docente da Universidade de São Paulo (USP). Patrícia explica que, apesar de não ser fácil equacionar a vida pessoal com o trabalho, tenta arranjar alguns espaços para reflexão e colocar em prática a sua fé. “Acho que é preciso também ter um tempo para se relacionar com Deus, poder ter equilíbrio e, ao meu ver, fazer coisas pelos outros e pela sociedade”, acredita. Entre as ações afirmativas que podem contribuir para o avanço da presença feminina nas grandes companhias, está, em primeiro lugar, a conscientização dos homens sobre a equidade e a real possibilidade de acesso e ascensão das mulheres. “Pesquisas mostram que para ter essa real equidade de gênero no que diz respeito a acesso, posições e salário, precisaríamos de uns 100 anos. Então, elas vão ser ainda muito necessárias. Se temos mulheres em cargos de direção, que eles também possam ter essa visão de trazer mais mulheres para a liderança e gerência.”

“Sempre procurei dedicar um pouco do meu tempo em projetos para melhorar a vida de pessoas mais pobres” Patrícia Iglecias tem 54 anos, é diretora-presidente da CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo -, Superintendente de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo e professora da Faculdade de Direito da USP.


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Renata Cruppi Filha de um casal que não chegou a completar o ensino fundamental, Renata percebeu desde cedo o valor dos estudos. A menina, que aos oito anos já ajudava a mãe a vender doces de porta em porta, sonhou alto. Um sonho que não incluía apenas realizações pessoais. O sonho de Renata era proteger as pessoas, em especial as que se encontram em situação de vulnerabilidade. E é isso que ela decidiu fazer quando, ainda criança, entrou pela primeira vez em uma delegacia. Vítima de um acidente, foi acolhida por policiais e descobriu, nesse dia, qual seria sua missão no mundo. Mesmo com muitos obstáculos, indo contra uma sociedade que dizia que aquele não era lugar para ela, Renata Cruppi formou-se em Direito e passou em um concurso público para tornar-se delegada, em 2008. E foi nesse lugar, ocupado por poucas mulheres, onde ela descobriu que a sua função seria mais do que proteger ou defender pessoas. Ela teria que conhecer suas histórias. Desde 2012 à frente da Delegacia da Mulher em Diadema, na Grande SP, seu foco voltou-se para as vidas de mulheres e crianças. Idealizadora do programa “Homem sim, consciente também”, criado para conscientizar homens com perfil violento e autodestrutivo, ela fala da importância de enfrentar a violência a partir da base, com conhecimento, rede de apoio e acolhimento. “Grande parte das mulheres não denunciam seus agressores porque querem que eles deixem de ser violentos, mas não por via de condenação. Então, se é algo no início do ciclo, eles são convidados, e não obrigados a participar. Muitos aceitam, ressignificam o comportamento e passam a ter uma nova visão de atuação como homem.” Para equilibrar-se em um cenário com tantas tristezas, a delegada se apega à fé e ao autocuidado. “Quando entrei para a polícia, alguns colegas falavam que eu tinha que ter um bom psicólogo ou uma fé muito grande. Peço a Deus para me dar discernimento na atuação das ocorrências.” Renata conta que ingressou na carreira antes de ser mãe, e os primeiros meses de trabalho pós-gestação foram difíceis. “A cada ocorrência que chegava envolvendo crianças, eu parava, orava, respirava e tentava me acalmar”, relembra.

“Temos que enfrentar o machismo estrutural, dando mais importância ao ensino, à saúde e cobrando o poder público”

Renata Cruppi é delegada de polícia do estado de São Paulo e coordenadora do Núcleo Especial Criminal de Diadema. Também é a idealizadora e coordenadora do programa “Homem sim, consciente também”.


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Renata Gomide de Carvalho Determinação. Essa característica, que acompanha Renata desde criança, a levou a conquistar um cargo de diretoria em uma das empresas mais admiradas do Brasil. Mas ser determinada não foi o suficiente. Renata Gomide de Carvalho, Diretora Executiva de Marcas e Comunicação do Grupo Boticário, traz para a sua vida profissional habilidades fundamentais para uma líder. Ela tem empatia, capacidade de aprender com as pessoas que a cercam e, principalmente, consciência da sua responsabilidade na indústria da beleza. Ela sabe que seu papel na sociedade também é promover mudanças necessárias. Não à toa, o Grupo Boticário vem se destacando em pautas como sustentabilidade, diversidade e equidade. O DNA da empresa ficou claro para a Renata já na sua contratação e foi determinante para que ela escolhesse deixar a trajetória sólida que vinha trilhando no Grupo Pão de Açúcar para embarcar em um novo desafio. Assim que passou no processo seletivo do Grupo Boticário, descobriu que estava grávida. E foi contratada mesmo assim. “Eles me mostraram que estavam abertos a isso, para essa evolução”, diz ela, que tem 41 anos e é mãe de duas meninas. Renata é responsável por aumentar o olhar da diversidade no Grupo, ajudando na agenda de equidade para as mulheres e desenvolvendo seus potenciais. “Sou responsável pelo marketing de todas as marcas e tenho um time com predominância feminina. Precisamos trabalhar essa agenda, estar perto das mulheres, porque cada uma tem um desafio particular”, explica. Uma das grandes forças que movem a executiva é influenciar as mulheres a ser elas mesmas. “Estimulo a sororidade e a troca entre elas, criando um ambiente de colaboração e construção. Isso contribui para que as mulheres se enxerguem nas comunicações, se sintam representadas e trabalhem a autoestima.” Feliz com as escolhas que fez e equilibrando-se entre muitas funções, Renata acredita que a evolução é entender o que é prioridade em cada momento. “Meu tempo é cada vez mais escasso, e eu foco naquilo que é mais importante. O que busco, agora, é a leveza e continuar caminhando nesta jornada de aprendizados.”

“Temos consciência do nosso papel enquanto indústria da beleza. Criamos um banco de imagens de mulheres reais, para que elas se sintam representadas” Renata Gomide de Carvalho é formada em Administração pela FAAP,

Marketing pela ESPM e MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV. Trabalhou no grupo GPA e atualmente é Diretora Executiva de Marcas e Comunicação pelo Grupo Boticário.


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Sabrine Cabral Entre tantas marcas deixadas pela pandemia, os conflitos emocionais estão entre os mais evidentes. E duradouros. Mesmo quem não foi acometido pela doença ou sofreu perdas graves, sentiu tristeza, sobrecarga, medo, angústia. A saúde mental nunca esteve tão em evidência e a terapia tem cumprido um papel fundamental nesse momento. Mas a tradicional sessão terapêutica também sofreu uma transformação importante, o que gerou um aumento considerável e uma facilidade impressionante de acesso. Até 2020, muitos profissionais de saúde mental torciam o nariz para sessões online de terapia, mas a revolução digital chegou também a essa área. Para se ter ideia, globalmente, o mercado de telemedicina movimentou US$ 45,5 bilhões em 2020, e a previsão é que esse número aumente para US$ 175,5 bilhões até 2026, segundo pesquisa da eMarketer. Foi pensando em ampliar o acesso ao atendimento psicológico nesse novo cenário, que a mineira Sabrine Cabral, juntamente com Frederico God, decidiu transformar seu consultório de Psicologia e Psicanálise na plataforma de terapia on-line Efetiva Saúde. O objetivo era fazer a ponte entre profissionais de saúde mental e quem queria fazer terapia. Deu certo. A plataforma já conta com quase 700 profissionais cadastrados, com diferentes experiências, comprovadas por exigência do registro no CRP (Conselho Regional de Psicologia), ou formação específica. Ali, o paciente tem acesso a um minicurrículo do profissional e pode escolher as abordagens da psicologia, idade, gênero e cidade. Basta agendar, fazer o pagamento e realizar a sessão em sistema de vídeochamada próprio, criptografado de ponta a ponta, o que garante segurança e sigilo. “Quando a pandemia começou, entendemos que era hora de as pessoas perderem o preconceito e aderirem de vez à terapia on-line, que é tão eficiente quanto a presencial – ainda mais num momento em que a saúde mental tem sido tão afetada”, conta Sabrine.

“É preciso falar sobre saúde mental, para que mais pessoas busquem ajuda, antes que os sintomas se tornem crônicos”

Sabrine Cabral é formada em Administração pela UFMG e só realizou o

sonho de cursar Psicologia aos 33 anos. Hoje, aos 47, essa mineira de Itabira é sócia-fundadora da plataforma Efetiva Saúde, que amplia o acesso a serviços de saúde mental no País. É mãe da Luiza, de 13 anos, e do Felipe, de 11.


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“Ninguém pode nos fazer sentir inferiores sem o nosso consentimento.”

– Eleanor Roosevelt


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Sandra Chayo Hope significa esperança. Entre tantas coisas que Sandra aprendeu com seu pai, um judeu-libanês que chegou ao Brasil com poucos centavos no bolso, fundou uma pequena fábrica de roupa íntima e transformou-se num dos mais visionários empresários do país, talvez tenha sido essa a maior lição. Falecido no começo de 2020, Nissim Hara educou suas três filhas para ser grandes mulheres. Sandra é uma delas. Ao lado das irmãs Karen e Daniela, ela dirige uma empresa que hoje tem 85% de sua força de trabalho feminina e 65% de mulheres em cargos de liderança. Quando entrou na empresa, aos 20 anos, assumiu a missão de reposicionar e transformar peças íntimas em artigos fashion. Entusiasta do empreendedorismo e conhecedora da força da indústria – o setor da moda movimenta bilhões no mundo todo –, Sandra destaca que, além de ser o setor econômico que mais emprega mulheres, essa indústria tem uma característica em particular e que, de certo modo, se espelha na própria história da marca: “Há, nesse meio, muitas protagonistas de grandes histórias, mas principalmente de pequenos negócios”. E foi pequena que a Hope começou, em 1966, com apenas uma fábrica no Brás, na capital paulista. Hoje são três, duas no estado de São Paulo e uma em Maranguape, no Ceará, que teve o parque fabril ampliado no ano passado. Um negócio familiar que envolve mais de oito mil pessoas na fabricação e distribuição de sete milhões de peças por ano. Questionada sobre os segredos para se manter em equilíbrio em meio aos desafios profissionais ultrapassados durante essa trajetória, Sandra diz que presta muita atenção em tudo que consome. “Nos alimentos priorizo os naturais que a terra oferece, sem nada de origem animal, agrotóxicos, hormônios e químicos artificiais. Também me preocupo com a qualidade da água que eu bebo, com o que leio, assisto e perfis que acompanho nas redes socais”, conta. Fora isso, Sandra diz que procura ter uma vida ativa e pratica exercícios físicos diariamente.

“Acredito muito que a disciplina me ajuda a manter o foco em todos os aspectos da minha vida” Sandra Chayo é formada em arquitetura pela FAAP e iniciou a carreira como empresária aos 20 anos no Grupo Hope, fundado pelo pai, onde se mantém até hoje como responsável pelo departamento de Estilo, Marketing e Novos Negócios.


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Viviane Duarte Viviane Duarte, 43 anos, é jornalista e uma figura inspiradora. A atual Head of Connection Planning Latin America do Facebook traz em sua bagagem muitos aprendizados e uma visão de mundo que merece compartilhamento. Vivi é também fundadora da Plano Feminino, consultoria que constrói narrativas na propaganda e nas ações corporativas para promoção da equidade de gênero e diversidade; e do Instituto Plano de Menina, um projeto social com foco em conectar meninas de comunidades com mulheres de diversas expertises. Além da capacitação, o instituto promove também a empregabilidade e, desde 2016, impactou mais de 2 mil garotas presencialmente e milhares via internet. O apetite pela transformação de realidades está no DNA da executiva, que defende sempre ter um plano e um olhar que permita observar os desafios diários, as conquistas e as possibilidades que levam a sonhos maiores. “Se queremos que a mudança ou a ação aconteça, é preciso criar um plano e perguntar: onde quero estar em 5 anos? Eu faço esse exercício. E, a cada resposta, desenvolvo um plano de ação: seja fazendo um curso de melhoria, me conectando com pessoas que possam me ajudar a ocupar esses espaços, observando as demandas do mercado e movimentos de negócios, desenhando os produtos que eu posso criar e cuidando para que o meu propósito sempre seja honrado em minha carreira. Aliás, propósito, para mim, é unir habilidades de hard skill com uma grande paixão”, diz. A clareza de onde e como seguir a fez encontrar a oportunidade de registrar suas expertises. No livro “Quem é você na fila do pão?”, lançado em agosto de 2021, pela Editora Planeta, Viviane traz um manual para quem quer tirar os planos do papel, e oferece exercícios e dinâmicas que ajudam a construir uma marca pessoal de sucesso. Focada em criar e ocupar espaços que sejam de seu interesse, Viviane ama viajar para descobrir diferentes lugares e praias, correr pela manhã e pedalar. Ela ressalta que manter uma agenda organizada e com tempo para fazer uma atividade física, ler um livro ou meditar sem interferências, permite estar 100% presente nas ações que está desenvolvendo. “Estou sempre atenta às escolhas que me fazem bem, seja na alimentação, relacionamentos pessoais e profissionais. Sabendo exatamente o que não queremos para nós, temos mais assertividade nas escolhas e a vida fica mais equilibrada”, conclui.

“O segredo é correr atrás dos seus planos! Crie uma lista de inegociáveis para você e determine limites” Viviane Duarte é CEO da Plano Feminino e do Instituto Plano de Menina

e Head of Connection Planning Latin America do Facebook. Graduada em jornalismo e pós-graduada em Marketing e Varejo, possui MBA em Comunicação e Negócios e é autora do livro “Quem é você na fila do pão?”.


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Pulso único OS RELÓGIOS SÃO MUITO MAIS DO QUE INSTRUMENTOS QUE MOSTRAM AS HORAS AO LONGO DO DIA. PARA OS APAIXONADOS PELO UNIVERSO DA ALTA RELOJOARIA, SÃO VERDADEIRAS OBRAS DE ARTE QUE DIZEM MUITO SOBRE A PERSONALIDADE E ESTILO DE CADA PESSOA. AQUI, VOCÊ ENCONTRA UMA SELEÇÃO DE CRIAÇÕES PODEROSAS DAS MARCAS MAIS DESEJADAS DO MUNDO.


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Cartier Pasha Grille A linha Pasha de Cartier se consolidou no mercado de luxo entre os fãs de peças mais voltadas para o estilo esportivo. O lançamento do modelo Pasha Grille faz referência aos Pasha de Cartier dos anos 1980, com uma grade removível no mostrador, reforçando a identidade visual do clássico da casa francesa.


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IWC Pilot’s Watch Chronograph 41 TOP GUN A IWC apresenta dois novos cronógrafos TOP GUN em cerâmica colorida, pertencentes à família Pilot’s Watches: “Lake Tahoe”, que conta com caixa de cerâmica branca e mostrador preto; e o “Woodland” (foto), que combina uma caixa e um mostrador de cerâmica em verde-escuro com botões, coroa e fundo de caixa em Ceratanium preto-fosco. Ambos são impulsionados pelo movimento do calibre 69380 fabricado pela IWC e terão produção anual limitada a mil peças cada.


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Panerai Submersible Todos os apaixonados por mergulho sabem que a Panerai é a marca referência em relógios feitos para o mundo marítimo, e sua linha Submersible é a aposta perfeita para os fãs da atividade aquática. A coleção foi inspirada pelo design de relógios da marinha egípcia, e o primeiro modelo criado para o público geral foi lançado em 1998. Suas peças possuem resistência a até aproximadamente 300 metros de profundidade, além da funcionalidade essencial para garantir segurança para a aventura pelos mares, com design inovador e luneta giratória unidirecional.


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Jaeger-LeCoultre Rendez-Vous Dazzling Star Graças ao novo calibre automático 734 da Jaeger-LeCoultre, o relógio Rendez-Vous Dazzling Star, com caixa de 36 mm e em ouro rosa, recria o lindo fenômeno da estrela cadente, que aparece aleatoriamente no mostrador de aventurina azul e cravejado de diamantes. Ativado pelo movimento do pulso, o feito da rotação é possível por conta dos três discos sobrepostos. O espetáculo também pode ser ativado girando a coroa várias vezes.


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Patek Philippe World Time O World Time é praticamente uma tradição no universo da relojoaria. Em 2011, a empresa suíça criou sua versão feminina, e este ano apresentou ao público uma reinterpretação desse modelo tão adorado em um tom verde-oliva que traz modernidade à peça. Seu mostrador apresenta motivo de cestaria finamente guilhochado à mão, emoldurado pelo contraste em branco dos nomes de cidades no disco. A caixa é de ouro rosé, embelezada por diamantes, realçando a feminilidade do relógio.


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Vacheron Constantin HISTORIQUES 222 A Vacheron Constantin relança seu lendário modelo 222, com design de Jorg Hysek, apresentado em 1977 para celebrar seu aniversário de 222 anos. De acordo com o espírito da coleção Historiques, a reedição contemporânea destaca a rica herança estética e cultural da maison. Com linhas puras e curvatura delicada, a peça tem pulseira integrada e caixa de 37 mm em forma de tonneau, com verso à mostra, e decorada com uma Cruz de Malta às 5 horas.


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Piaget Altiplano Tourbillon High Jewellery Esse modelo Tourbillon, da coleção Altiplano, é a definição de luxo e elegância, com a caixa em ouro branco 18k e mostrador em esmalte verde com motivo de raios de sol guilloché. Diferente da sua versão comum, o Tourbillon High Jewellery é emoldurado por 323 diamantes de corte brilhante, 48 diamantes de corte baguete e um diamante de corte rosa.


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Rolex Yacht-Master 42 18ct Yellow Gold A versão mais recente do Rolex YachtMaster 42 apresenta um visual novo, feito em ouro amarelo 18ct. A linha náutica da marca virou um clássico por sua funcionalidade impecável tanto no mar quanto na terra, equipada com a tecnologia da pulseira Oysterflex e fecho de segurança Oysterlock, junto à resistência incomparável da liga de ouro elaborado e moldado na fundição Rolex de Plan-les-Ouates, em Genebra.


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Curta Metragem MULHERES DE SAIAS CURTAS? ESSA REVOLUÇÃO COMPORTAMENTAL E INDUMENTÁRIA COMEÇOU EM PERÍODO HISTÓRICO DE MUITAS MUDANÇAS. E QUEM INVENTOU A MINISSAIA? CONHEÇA A ESTILISTA MARY QUANT E A MODELO TWIGGY (A PRIMEIRA MULHER A USAR A PEÇA). Por Eduardo Logullo Fotos Divulgação

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Era uma vez a minissaia. Os tempos eram outros. Tudo era grandezas vestais. Tudo era mudanças. Tudo era andanças. Tudo era “futurâncias”. Tudo era inovação, criação, motivação, ação, flutuação, buscas por solução. A década de 1960 repercutia o surgimento do rock’n’roll de anos anteriores e outras incontáveis transformações sociais. Momento de rupturas, de ansiedades por provocações, de choques culturais. Homens de cabelos longos? Sim. Mulheres de cabelos curtos? Sim. Homens de calças justas? Sim. Mulheres com perna de fora? Sim. A chegada da minissaia (que antes se escrevia mini-saia) causou escândalo e coincidiu com as viradas comportamentais daquele período histórico: sexo libertário, psicodelismo, Beatles, Rolling Stones, The Who, trajes inovadores, as modelos Twiggy e Veruschka, avanço do pensamento hippie, escritores instigadores, audácias feministas, exposições corporais, beijos, seios, anseios, sonhos, êxtases, delírios, questionamentos, realizações: mudanças. Ufa. Os enfrentamentos àquelas posições estagnadas exigiam ações provocativas, juventudes transviadas, cambalhotas estilísticas, anulações de criações tradicionais da moda? Oh, yeah. Por tantos motivos, o impacto estético do surgimento da minissaia continua a ser analisado. Sabemos que causou escândalos, ações comerciais imediatas na indústria da moda, intenções de futurismos e rupturas. Pernas de fora foram uma alteração tão impactante quanto o biquíni – surgido no final dos anos 1940 (embora adotado apenas nos anos 1960) –, trazendo visões, audácias, avanços. Foi nesse contexto que a saia de dois palmos de comprimento revelaria a criadora Mary Quant e imageticamente a modelo Twiggy. A partir da imediata conjugação criativa/profissional/industrial, a peça se tornaria obsessão estética no conceito da moda feminina.

Minissaia: o avanço criado pela estilista britânica Mary Quant na metade dos anos 1960, a partir de tecidos coloridos e modelos curtos, ausou escândalo e mudou a moda


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Pouco depois, a minissaia voltaria a ser citada de modo intenso. Desde tons neutros com Chanel e Saint Laurent, continuou a receber destaque – com relevâncias midiáticas e comerciais. Até mesmo Dior, estilista conhecido por apostar em cortes alongados nas volumosas saias do New Look (de 1947), apresentaria depois a sua versão: minissaia metalizada, inspirada na Pop Art. OK. A minissaia era idolatrada por apresentar radicalismos inéditos em estilos comportamentais. Hoje isso parece normal. Naquele tempo, não. Explodiram reações conservadoras, religiosas e caretas que confrontavam a saia como vestimenta “ousada”, “imoral” e “provocativa demais”. As tentativas de ataque deram em nada. Logo, a partir dos múltiplos projetos de Mary Quant – e pelas belas pernas de Twiggy –, a peça se tornaria obsessão mundial no mercado voltado ao público jovem. Entre os estilistas franceses da Era Espacial, como André Courrèges, a minissaia era indispensável para o imaginário futurista da moda. E, com o impulso de fabricantes nos Estados Unidos, conquistaria amplitude na estética global.

Pernas de fora? Vestir minissaia naquela época significava transgredir comportamentos conservadores: irritava, mas foi adotada com rapidez e de modo irreversível


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Ícone marcante da juventude londrina, significou um ato de libertação e rebeldia contra a geração de adultos que continuava seguidora de propostas clássicas. Tendo acompanhado a chegada do homem à Lua e a venda crescente de anticoncepcionais nas farmácias, a minissaia cobriu distâncias sociais e culturais infinitamente maiores do que seu comprimento. E, se hoje ainda continua nas passarelas e vitrines, significa que a invenção de Mary Quant ainda tem muito a dizer. Ou ainda tem muito a mostrar? Mais power, nunca mulheres frágeis. A “aldeia planetária” (inventada pelo filósofo Marcuse) conseguiu levar as mulheres contemporâneas a movimentos anticonformistas e a imensos poderes de questionarem a “fragilidade” imposta durante tempos ao gênero feminino. Por tudo isso, viva a minissaia. Sempre. As belas pernas e as belas ideias que o digam.

A estilista Mary Quant dizia: a moda é uma atuação nada simples. E que os jovens deveriam se vestir de modo bem pessoal e sem imitar estilos dos mais velhos


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MARY QUANT Mary Quant, aquariana, 92 anos, nasceu em 1930: ela é a estilista britânica que, na década de 1960, inventou a minissaia. Ainda jovem, criava vestimentas. De repente, aos 25 anos, começaria a vender suas peças de modo inédito, pois achava a moda “terrivelmente feia”. Em 1964, abriu a loja Bazaar, na famosa King’s Road, em Londres. A partir de um reduzido pedaço de tecido, ela mudou o guarda-roupa feminino: inventou a minissaia. Saias de 30cm eram combinadas com camisetas justas e botas altas. Explosão midiática, escândalo comportamental, sucesso empresarial. Na sequência, Mary Quant abriu 180 lojas na Inglaterra, mais de 300 nos EUA e milhares de pontos de venda no mundo. Sua marca Bazaar virava ícone de vanguarda das décadas seguintes. Ah, tem mais: em 1966, a rainha Elizabeth II, vestindo imensa saia longa, condecorou Mary Quant. A estilista estava como? De minissaia.


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TWIGGY A primeira supermodel da era pop: Twiggy nasceu em Londres com o nome de Lesley Lawson em 1949. E transformou-se, a partir da minissaia inventada por Mary Quant, em imenso símbolo figurativo dos anos 1960. Foi referência fashion daquele período, com incontáveis fotografias publicadas na mídia mundial. Em 1972, dividiu a capa do disco “Pin Ups” ao lado do cantor/compositor David Bowie. Pouco depois, ela atuaria como cantora profissional, com vários discos gravados. Seu visual, com imensos cílios, magreza e cabelos curtos, era considerado “andrógino” e significava referência estética de rupturas.

A minissaia se tornou um ícone futurista muito além da questão fashion: trouxe mudanças inesperadas na moda conservadora e no comportamento da liberdade feminina


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Transformar, avançar, inovar: elas ousaram mudar Uau, uau, uau. Muitas, muitas, muitas mulheres tentaram transformar o mundo, as sociedades, os comportamentos conservadores, as injustiças, a predominância do domínio machista, a liberdade de ser pessoas avançadas. Todas em busca de rupturas artísticas, políticas, feministas, criativas, inventivas, guerreadoras e surpreendentes. Escolhemos apenas algumas!


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BILLIE HOLIDAY (1915 - 1959) Lady sings the blues: em 1959, partiu do mundo a musa do jazz Eleanora Gough, que se tornou musicalmente idolatrada como Billie Holiday – nascida na Filadélfia em 1915, filha do guitarrista de jazz Clarence Holiday. Intérprete com estilo raro, suave, melancólico, em canções que traziam tristezas, amores, avanços, desamparos e mudanças – reflexos dos fatos que marcaram a sua adolescência no Harlem (NY): de violentações sexuais aos dez anos a prostituir-se aos 14 para comprar alimentos. Depois bebia, usava heroína e suportava ataques racistas. Aos 17, foi descoberta pelo produtor John Harmon. Sua carreira começaria. Mais tarde como cantora Billie ou Lady Day (apelido dado pelo saxofonista Lester Young), gravou centenas de sucessos (como os clássicos “Summertime” e “Blue Moon”). E tornou-se figura mitológica nos melhores palcos do mundo. De repente, aos 44 anos, some da vida por problemas hepáticos e cardíacos. Mas o seu legado musical ficará para sempre.


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ANGELA DAVIS (1944) Wow! Hoje com 78 anos esta personagem mitológica da pré-história do Black Power continua referência de alterações e audácias. Ativista política, pensadora, autora, uma das primeiras filósofas feministas (seguia a linha de Herbert Marcuse) e politizadas dos Estados Unidos. Tema de uma canção de John Lennon chamada “Angela”, detida por atividades de protesto, é autora de dez livros sobre gêneros, classes sociais e o sistema prisional norte-americano (esteve presa por cinco anos). Já recebeu prêmios como “Mulher do Ano” no Hall Of Fame e na revista “Time”, sendo apontada entre as 100 Mulheres Mais Influentes do Mundo. Nas duas vezes em que visitou o Brasil, suas palestras atraíram multidões.


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BRIGITTE BARDOT (1934) Atriz, ativista da causa animal e mulher que, aos 88 anos, ainda adora causar confusão, Brigitte Anne-Marie Bardot nasceu em Paris. Entre as décadas de 1950 e 1960, sua figura explodiu no mundo como símbolo sexual. Ficou conhecida por suas iniciais BB, foi a primeira a filmar de biquíni, virando referência de ousadia, avanço do poder feminino, estilo, liberdade sexual e savoir-faire. No cinema alcançou impacto midiático a partir do filme “E Deus Criou a Mulher”, dirigido em 1956 por seu então marido Roger Vadim. Até a filósofa Simone de Beauvoir a definiu como “locomotiva na história feminina”. Aquela Brigitte à frente do tempo mudou muito e, nos últimos anos, se define como “conservadora”. Porém, uma frase dela explodiu há pouco na mídia europeia: “Dei minha beleza e juventude aos homens. Agora dou minha sabedoria e minha experiência aos animais. Por isso falo melhor ‘cachorrês’ e ‘gatês’ do que inglês”.


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VERUSCHKA (1939) Ops! A Condessa Vera Grafin von Lehndorff-Steinort foi a modelo mais audaciosa da história da moda. Conhecida como Veruschka, tornou-se personagem de imenso poder imagético na metade da década de 1960. Medindo 1,90m, essa alemã nascida em 1939, ousou rupturas radicais desde o primeiro ensaio fotográfico – ao posar com o corpo despido e inteiramente pintado. Claro que protagonizou uma reviravolta estética dificilmente igualada. Filha de um nobre alemão, Veruschka foi capa de onze edições da “Vogue”, por sintetizar a liberdade feminina que agitava o planeta. Descoberta pelo fotógrafo Ugo Mulas aos 20 anos, quando caminhava pelas ruas, logo passou a brilhar nas passarelas e em centenas de editoriais de moda. Nos cabelos, cortes radicais e tinturas psicodélicas. Por vestir-se com modelos futuristas, era descrita como personagem espacial. Quase uma mulher de outro planeta. Em 1975, sai do circuito da moda e se transforma em artista plástica conceitual. Ou seja: dificilmente surgirá outra Veruschka.


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CARMEN MIRANDA (1909 - 1955) Taí: ela fez tudo pra gostarem dela. Carmen Miranda era múltipla: personagem rara, cantora, atriz e dançarina. Ficou conhecida como “Pequena Notável”, por medir 1,52m. Expandiu o Brasil e a latinidade pelo planeta afora. Mulher avançada ao surgir com referências rítmicas dos morros, da cultura emergente do samba, do rebolado, do exagero. Entre requebros, brincos, audácias corporais, figurinos loucos, balangandãs e o umbigo de fora – escândalo naquela época. Poucos sabem que ela nasceu em Portugal, chegando aqui com um ano de idade. Aos 15 anos trabalhou numa loja de chapéus onde começaria seu interesse por adereços, adornos, turbantes. Logo depois, passaria a cantar em festas, clubes e teatros. Grava seu primeiro disco em 1930, “Taí – Pra Você Gostar de Mim” – hit imediato. Em resumo: Carmen Miranda foi a primeira big star do Brasil. Gravou mais de cem canções, estrelou shows de grandes sucessos nos cassinos do Rio. Em 1939, um empresário norte-americano a convida para shows em Nova York. Carmen se transformaria, em pouco tempo, em fenômeno midiático da época e ícone musical da latinidade. Nos Estados Unidos, estrelou 14 filmes. Morreria no ápice da carreira, por problemas hepáticos. Mas imageticamente Carmen Miranda ainda vive. E bastante.


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FRIDA KAHLO (1907 - 1954) Artista plástica mexicana, conhecida por autorretratos e fotografias de influências surrealistas, Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, pai alemão e mãe mexicana, nasceu e viveu na Cidade do México (19071954). Adolescente de saúde frágil, teve poliomielite e problemas graves de locomoção. Viver restrita a levou a pintar autoimagens na cama. Escreveu: “Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?” Em 1934, Frida tem os dedos do pé direito amputados e problemas na coluna. Fragilizada, mas sempre pintando. Em seguida, expõe em Nova Iorque e Paris, conhecendo Picasso e Kandinsky. E o Museu do Louvre adquire uma de suas telas. Depois virou professora universitária de artes e defensora radical dos direitos femininos. Mas teve a perna amputada por gangrena. Depressão recorrente a fez se isolar de modo radical. Viveu os últimos anos na sua Casa Azul, que hoje abriga museu em homenagem à pintora. Foi embora sem dizer adeus. Hasta luego, Frida!


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MARIA QUITÉRIA (1792 - 1853) Upa! Maria Quitéria: figura audaciosa em seu tempo, foi personagem na guerra pela independência do Brasil. Enquanto as mulheres da época viviam cobertas por saias volumosas, Quitéria se vestiu de soldado e se alistou em um batalhão de voluntários, participando de lutas ferozes na Bahia que exigiam o fim do domínio português. Filha de fazendeiro, Maria Quitéria de Jesus nasceu na Bahia. Detestava frequentar escola, odiava a rotina doméstica e adorava caçar. A família era totalmente contrária a seu comportamento ousado. Quando resolveu assumir a alcunha de Soldado Medeiros, foi a primeira mulher a integrar as Forças Armadas. Seu pai recusou autorização para ela se alistar, porque mulheres deviam bordar, costurar, cuidar da casa e dos filhos. Quitéria fez o que queria: com a ajuda da irmã, cortou o cabelo, vestiu-se com as roupas de soldado do cunhado e foi para as batalhas. (Imaginem o escândalo que causou.) Mais tarde, seria condecorada pelo imperador. Recebeu ainda uma carta de D. Pedro I pedindo a seu pai que a perdoasse. Depois, promovida a alferes, casou-se com um lavrador e gerou uma filha. Muitos historiadores consideram que o nome de Maria Quitéria, passados 200 anos da Independência do Brasil, deveria ser melhor estudado e mais citado em livros didáticos como exemplo de emancipação feminina.


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CLEÓPATRA (69 A.C. - 30 A.C.) Apenas trinta e nove anos a mítica Cleópatra Thea Philopator viveu neste planeta. Nasceu no porto egípcio de Alexandria, cidade mediterrânea do Egito. As muitas imagens desenhadas da bela mulher se tornaram referências icônicas do país que então dominava o Norte africano. Mas Cleópatra seguiria muito além: regente poderosa, culta, liberal e politicamente atuante. Sua ancestralidade ainda é enigmática: teria descendido dos macedônios, gregos ou islâmicos? Outros aspectos dessa rainha continuam imprecisos, misteriosos e desconhecidos. A sua beleza foi fator marcante? Certamente. Teria se matado com picada de cobra ou com veneno? Ou teria sido morta? Enigma. Última monarca da dinastia ptolomaica do Egito dos faraós, Cleópatra permanece mitológica, misteriosa e cultuada. Sua chegada como primeira mandatária do trono egípcio, aos 17 anos, provocou grandes reações – que conseguiria resolver com ações inteligentes de comando. Tempos depois de sua morte, passa a ser idolatrada quase como divindade. E será que não foi? Mistérios do Egito Antigo são segredos egípcios que nem as pirâmides revelam.


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ELZA SOARES (1930 - 2022) Perdemos a grandiosa artista no começo deste ano. Mas Elza Soares jamais ficará ausente na memória artística do país. Afinal, não foi sem motivos que a emissora BBC de Londres a contemplou, em 2000, como “A Melhor Cantora do Universo”. Nascida em 1930 numa favela no Rio, sua trajetória de vida foi pontilhada por situações pesadas, dramas pessoais, problemas de saúde e desequilíbrios profissionais. Mas Elza saía vencedora, sacudindo a poeira e dando a volta por cima. Vale lembrar como respondeu ao compositor Ary Barroso, na primeira apresentação como caloura de rádio. Impactado ao ver sua performance, ele indagou: “De qual planeta você vem?”. Resposta da jovem Elza: “Do planeta fome, seu Ary”. Ainda menina, cantava acompanhada pelo pai ao violão. O mesmo pai que a obrigou a se casar aos 12 anos. Antes de fazer 30 anos, era mãe de cinco filhos. Pouco depois conheceria o jogador Garrincha, com quem teria longo envolvimento cercado por problemas ligados ao alcoolismo dele. Em seus últimos anos de trabalho, Elza Soares se transformara em intérprete de repertório sofisticado, denso, ousado e moderno. Nos palcos, era ovacionada como rainha de negritude poderosa e de densidade quase cósmica. Elza forever!


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LEILA DINIZ (1945 - 1972) Uau. Atriz de teatro, cinema e televisão, mulher de avanços, musa de poetas, musa de Ipanema, primeira grávida a posar com biquíni (causou escândalo na época), audaciosa em sua linguagem cheia de gírias, Leila Diniz agia de modo bombástico: falava palavrões, era capa de revistas, personagem referencial da cultura pop carioca, destemida, inventiva, sempre inovadora, estrela de filmes marcantes como “Todas as Mulheres do Mundo”. Viveu de modo tão surpreendente quanto a sua morte, em 1972, aos 27 anos, em desastre aéreo na Índia – ao retornar de um festival de cinema na Austrália. Leila se foi no auge de sua carreira – e será para sempre Diniz. Lastimável que essa mulher tão referencial nunca tenha virado nome de rua ou de avenida na Zona Sul carioca.

Elza Soares + Leila Diniz: talvez elas resumam a nossa investigação sobre algumas mulheres ultra-avançadas que transformaram o tempo, o país e a vida. E muitos lances mais!


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