TOP Magazine Edição 266

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Cleo | Especial Studio Mundo TOP | VW

R$40,00
pessoas / Adora, Carol Biazin, Cleo, Day Limns, Duda Beat, Elana Dara, Gustavo Mioto, Jade Baraldo, Urias e Wanessa Camargo / cultura / Lollapalooza: a história de um dos maiores eventos de música do mundo / as pinturas mais famosas de todos os tempos / lifestyle / carros coloridos para quem busca ousadia e personalidade sobre rodas / gastronomia / a paixão por Mozzarella / studio mundo top / Becca Perret / mundo top / o que está em evidência no mundo da cultura, consumo e entretenimento

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Sumário

Especial Studio Mundo

TOP |

VW

Adora, Carol Biazin, Cleo, Day Limns, Duda Beat, Elana Dara, Gustavo Mioto, Jade Baraldo, Urias e Wanessa Camargo.

Mundo TOP

A banda ABBA em um show com hologramas; a marca de beleza da Balmain; Georg Baselitz em novo livro da Taschen; Yu Restaurante é o novo point em São Paulo.

Lollapalooza

A história de 30 anos do festival que tem edições em seis países.

Obras de arte

As fascinantes histórias das pinturas mais famosas do mundo.

Carros Coloridos

Os tons fortes são para poucos e imprimem a personalidade de seus donos.

Mozza

Conheça a trajetória deste produto fresco, nutritivo e amado no mundo todo.

Becca Perret

Com sonoridade autêntica, a artista brasileira mistura MPB, bossa, groove, jazz e soul.

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Quem Fez

Priscila Brito é cofundadora do Festivalando, plataforma pioneira de conteúdo sobre festivais de música há oito anos referência no assunto. Unindo música e viagem, já cobriu dezenas de festivais no Brasil, América do Sul, Europa e EUA.

Um dos principais nomes da nova geração de profissionais de beleza, a rondoniense Mel Freese, que mora em São Paulo, é formada em Publicidade e Propaganda e já colaborou para revistas como Vogue, ELLE, Marie Claire, U+MAG, L’Officiel - entre outras - além de vasta experiência no setor de publicidade. Atualmente também atua como modelo plus size buscando trazer mais diversidade para o campo da moda.

Com certificações na área da beleza e visagismo, junto a escolas renomadas como a Madre Conhecimento Criativo, a beauty artist possui experiência nos setores de publicidade, moda, maquiagem artística e social, tendo, inclusive, atuado nos principais desfiles de moda, como o SPFW. Para a mãe paulistana de 32 anos, a naturalidade e a autenticidade são o segredo para se alcançar o melhor look e, por isso, valoriza o atendimento personalizado para revelar a melhor versão de cada cliente.

Jornalista e historiadora que pensa, respira e ingere muita comida. Drinks, vinhos e viagens também. Com tal rodagem, há mais de uma década assina pautas gastronômicas criativas nos principais veículos do país.

Jornalista e apaixonada por viagens, vive hoje entre a França e o Brasil, e sempre que pode busca novas paisagens e culturas ao redor do mundo.

Fernanda Meneguetti
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Ju Shinoda

Um dos maiores nomes da fotografia nacional, Miro retratou com seu olhar único alguns dos maiores jovens de sucesso do Brasil nesta edição especial de TOP Magazine.

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Miro

Publisher Claudio Mello

TOP Magazine | Studio Mundo TOP Editora convidada: Fernanda Ávila Redação: Renata Zanoni e Vivian Monicci Diretora de Arte: Rosana Pereira Assistente de Arte: Luana Jimenez Revisão: Evandrus Camerieri de Alvarenga Assistente de Produção e de Mídias Digitais: Diego Almeida Estagiária: Gabriela Haluli

Projeto Gráfico Marcus Sulzbacher Lilia Quinaud Paulo Altieri Fabiana Falcão

Colaboradores

Texto Camila Lara, Cristiane Batista, Fernanda Ávila, Fernanda Meneguetti e Priscila Brito Foto Miro

Produção

Leandro Milan e Paula Giannaccari (Catering), André Philipe, Andrey Batista, Beatrix Bortolai, Camila Anac, Catharina Morais, Daniella Benotti, Ela Vargas, Erick Maia, Fernanda Araujo, Gabriela Grafolin, João Ribeiro, Jonas Santos, Ju Shinoda, Isaac Negrene, Luana Almeida, Lucas Aragão, Luma Motta, Malu Costa, Maria Antonia Vallares, Mel Freese, Murilo Gracioto, ND Styling, Neto Pinheiro, Nicole Feijão, Pedro Simi, Renata Brazil, Tainá Talzi, Welida Souza

Tratamento de Imagens Fujoka, JC Silva

Editora Todas as Culturas Criativo: Bruno Souto Gerência de Relacionamento: Carolina Alves Produção Executiva: Camila Battistetti RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes Financeiro: Marcela Valente Circulação: Regiane Sampaio Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados Impressão: Hawaii Gráfica e Editora Distribuição: Brancaleone

TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - CEP 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074-7979

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados.

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Mundo Top

Nostalgia e tecnologia

Por meio de hologramas realistas, a banda ABBA volta aos palcos em Londres com um show que une modernidade e músicas atemporais

Dancing Queen , Gimme! Gimme! Gimme! e Mamma Mia são apenas alguns dos sucessos da banda sueca ABBA. Criado em 1972, o grupo musical é dono de hits atemporais que embalaram trilhas sonoras de filmes e da vida de pessoas ao redor de todo mundo e, com 40 anos de história, segue fazendo sucesso com vídeos virais em redes sociais como o TikTok. Agora, as músicas podem ser vistas pelo público de uma nova maneira, que une arte e tecnologia. Em Londres, no Reino Unido, acontece o ABBA Voyage, um show em que os cantores Anni-Frid, Björn, Benny e Agnetha são representados por avatares digitais e cantam acompanhados de uma banda ao vivo em uma apresentação de 90 minutos e sem intervalos, misturando a realidade com o mundo digital. O projeto, descrito pela imprensa internacional como “fantástico”, “inovador” e “um triunfo”, faz uso de uma moderna tecnologia para reproduzir os artistas como hologramas. O espetáculo acontece em uma arena criada especialmente para o show e localizada no Parque Olímpico de Londres. Para assistir ao novo espetáculo do ABBA, o público pode escolher entre diferentes tipos de ingresso, que variam de acordo com o preço e com o local em que estarão dentro da arena. A entrada mais barata está à venda no site abbavoyage.com por 21 libras. Os shows acontecem de quinta a segunda-feira e estão disponíveis ingressos para as apresentações que acontecem de outubro de 2022 a maio de 2023. abbavoyage.com

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beauty

Luxo das passarelas aos cosméticos

Grife de luxo francesa se prepara para lançar seus primeiros produtos de beleza

Para as apaixonadas por moda e beleza, esta notícia é um verdadeiro sonho: em 2024, a marca de beleza da Balmain chegará ao mercado internacional. Em parceria com a The Estée Lauder Companies – líder global na área de beleza de luxo –, a grife francesa irá desenvolver, produzir e distribuir de forma colaborativa uma linha inovadora e com design excepcional, denominada Balmain Beauty. Sob a liderança visionária de Olivier Rousteing, diretor criativo da maison desde 2011, a Balmain baseia-se no legado de seu fundador Pierre Balmain e defende uma moda mais inclusiva. “Por mais de dez anos, eu e minha equipe Balmain temos superado os limites do que

é possível na moda”, observa Olivier Rousteing. “Estamos determinados a refletir a maneira como a geração diversificada de hoje deseja viver e se vestir. Então, obviamente, não havia como expandir para a beleza sem garantir que havíamos encontrado o parceiro que compartilhasse da mesma visão. Desde o início, a equipe da The Estée Lauder Companies deixou bem claro que apoia a visão distinta da Balmain, bem como nosso objetivo de romper o paradigma global da beleza de luxo. Sabendo disso, e de que a Estée Lauder é um modelo de excelência, mal posso esperar para começar a trabalhar com eles”, completa.

“A Balmain e o Olivier Rousteing são forças visionárias na moda global. Estamos ansiosos para trabalhar com eles e expandir o universo Balmain para criar um novo espaço de beleza de luxo que reflita nitidamente o espírito forte, inclusivo e destemido da marca”, conta Guillaume Jesel, presidente global das marcas Tom Ford Beauty e Balmain Beauty. balmain.com

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arte

De ponta-cabeça

Obra do pintor alemão Georg Baselitz vira livro da Taschen com textos para conhecer mais o artista e o seu trabalho irreverente

No começo dos anos 1960, o alemão Georg Baselitz passou a ser conhecido como um artista desafiador e irreverente. Na primeira exposição solo que realizou, já mostrou ser uma figura controversa para o período, pois o quadro The Big Night Down the Drain foi retirado da mostra por ser considerado indecente. Desse incidente para frente, o artista continuou inovando. Com uma obra variada, ele é lembrado por pintar o mundo de cabeça para baixo, de paisagens a autorretratos de ponta-cabeça, mas nunca se limitou a um só tema ou estilo. Usando essa liberdade, pôde explorar a combinação de cores e temas pouco convencionais para a arte da época. A obra de Baselitz é extensa e compreende uma variedade de temas. O artista pintou cenas comuns, como homens comendo laranjas, lembranças de propagandas soviéticas, figuras existenciais, criou esculturas em madeira usando motosserras e, recentemente, passou a revisar obras anteriores para criar um diálogo com o tempo. Com um extenso portfólio, Georg Baselitz virou tema de um livro da Taschen, que leva seu nome. A obra conta com fotografias de mais de 400 trabalhos do alemão, além de textos para compreender melhor a figura e a arte de Baselitz. No livro, há escritos sobre a vida e o seu humor controverso, uma análise do sucesso dele na Bienal de Veneza de 1980, frases ditas por ele ao longo da vida e uma biografia ilustrada por fotos. O livro está à venda no site da editora Taschen. taschen.com

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gastronomia

Excelência japonesa

Novo restaurante do Grupo Saints é o novo point no Itaim

A gastronomia japonesa é uma obra de arte e, no Brasil, não faltam bons restaurantes que provam isso. Uma das boas novas localizada no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, é o Yu Restaurante, do Grupo Saints, detentor dos famosos Tartuferia San Paolo, Tuy Cocina, Boteco São Bento e São Conrado Bar. Em japonês, Yu significa excelência e, acredite, não poderiam ter escolhido um nome melhor.

O ambiente cria a atmosfera perfeita equilibrando o clássico e o moderno, com projeto arquitetônico de Otavio de Sanctis, e conta com detalhes industriais em harmonia com gravuras e paisagismo tradicionais, além de um jardim interno sensorial.

O menu leva a assinatura do renomado chef José Maria Azevedo – com passagens pelos restaurantes Nagayama e Ohka – e apresenta a tradicional gastronomia japonesa aliada a toques de modernidade. Na ala das entradas, destaque para Ika Furai (lula à milanesa com molho tonkatsu ) e o Tamagô Funai (ovo cozido à milanesa e temperado com ovas de salmão e molho trufado). Nos sashimis, Centolla Yu e Lagosta Yu, ambos com molho trufado e caviar. Não deixe de provar também as duplas de sushis especiais, como o Sushi do Azê

( niguiri com camarão tempura, salmão maçaricado e molho tarê servido na alga marinha) e o Toro Yu ( niguiri de tartar de Toro com gema de ovo de codorna). O cardápio inclui, ainda, Combinado Especial do Chef, pratos quentes como Merluza Negra ( black code curtido no missô e servido com molho tarê da casa) e sobremesas como a Yu (esfera de chocolate 56% de cacau de origem, recheada com brownie de matchá , geleia de frutas vermelhas, caramelo e amêndoas caramelizadas). Para completar a experiência, a carta de drinques traz criações clássicas e autorais, como Katana ( Sakê Kuromatsu, Vermut Sherry, Zacapa 23 e lâmina de açúcar com pimenta japonesa), Kasato Maru ( Sakê Kurapack, Visinata Cherry, capim-santo, chá verde e fatia de pera com infusão de Licor 43) e Kochi (Ketel One, suco Yuzu, mel, shissô e matchá ). restauranteyu.com.br

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gastronomia

Toque francês em Recife

Nez Bistrô celebra 15 anos ao lado de seu novo irmão, o Le Faux Nez, inaugurado em 2021

O tradicional bairro Casa Forte, em Recife, é uma das joias da capital pernambucana. Seu cenário recheado de núcleos culturais inclui museus, casas de escritores e a belíssima Praça de Casa Forte, projetada por Burle Marx. É nele, em um arruado de casas do século 17, tombado pelo patrimônio histórico, que está localizado o Nez Bistrô, que completa 15 anos em 2022 e que, desde 2013, faz parte da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança. Se você acompanha a empresária e influenciadora Camila Coutinho no Instagram, provavelmente já se deparou com o restaurante no perfil dela. Isso porque um dos sócios é seu pai, Marcelo Valença. Inaugurado em 2007, o Nez é um bistrô franco-italiano de clima intimista e que serve receitas com tempero de família, no estilo comfort food. É o primeiro restaurante dedicado ao vinho em Recife e sua adega dispõe de cerca de 130 rótulos de 12 países, como Argentina, Chile, Uruguai, França, Itália, Portugal, Espanha e África do Sul. A comida, claro, é pensada para harmonizar com a bebida. Na ala das entradas, os carros-chefes do Nez são o steak tartare ao duo de mostardas; petit gâteau de queijo Prima Donna; e trufas cremosas de pato. Nos pratos principais, mignon em crosta de Prima Donna; camarão crocante; nhoque ao ragu de ossobuco; e risoto de pato confit. As sobremesas mais pedidas são panelinha de brigadeiro; torta crocante de maçã; e mil folhas recheado com sorvete de doce de leite e brigadeiro de toffee No ano passado, foi inaugurado o Le Faux Nez, um café-bar também em estilo francês – no mesmo arruado de casas, parede com parede com o Nez – que serve sanduíches, saladas, comidinhas e coquetéis. “Em termos de bebida, o Le Faux Nez é vocacionado para coquetéis. Há por volta de 16 drinques com álcool e quatro sem. Nosso grande carro-chefe é o Kiev Mule (vodka, sumo de limão, xarope de gengibre, espuma de gengibre)”, explica Marcelo Valença.

“Recebemos muitos turistas porque o restaurante já tem 15 anos e os melhores hotéis de Recife nos indicam. Além disso, temos uma penetração muito grande por conta do nosso Instagram: são 35 mil seguidores na conta do Nez e 12 mil na do Le Faux”, completa. nezbistro.com.br | lefauxnez.com.br

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Veja a vida por um outro ângulo

Imagens meramente ilustrativas. Habilitado para a tecnologia 5G. A velocidade real pode variar, dependendo do país, da operadora e/ou do ambiente do usuário. Verifique com a sua operadora a disponibilidade para mais detalhes. É possível notar um vinco no centro da tela principal, que é uma característica natural do smartphone. A dobradiça suporta o modo Flex em ângulos entre 75° e 115°. Para a sua conveniência, esse modo também pode ser ativado antes ou depois dessa faixa de ângulos. Recomendamos manter o celular imóvel durante o modo Flex. Alguns aplicativos podem não suportar o modo Flex. O Snapdragon é um produto da marca Qualcomm Technologies, Inc. e/ou suas subsidiárias.

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COM ORIGEM ALTERNATIVA, E ALTOS E BAIXOS NA SUA HISTÓRIA DE 30 ANOS, O FESTIVAL LOLLAPALOOZA É HOJE UMA DAS PRINCIPAIS MARCAS INTERNACIONAIS DA MÚSICA Por Priscila Brito Fotos Divulgação 5 min 31
Do alternativo ao global

O ano era 1991. Um outro século, um outro mundo. Com uma carreira de seis anos à frente do Jane’s Addiction, Perry Farrell decidiu naquele ano fazer uma turnê de despedida da sua banda. Não foi qualquer turnê. Tinha a companhia de outros seis artistas da crescente cena de rock alternativo e hip hop dos Estados Unidos à época. E um nome: Lollapalooza.

Foi assim, concebido como uma turnê, em formato itinerante, com paradas em 20 cidades dos Estados Unidos, e para marcar o fim de uma história, que nasceu um dos maiores festivais de música da atualidade.

O nome foi escolhido por Perry e significa algo “extremamente impressionante”, conforme define o dicionário Merriam-Webster.

Dave Grohl, hoje vocalista do Foo Fighters, esteve na primeira edição do Lollapalooza, na passagem da turnê por Los Angeles em julho de 1991. Em

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O Lollapalooza foi idealizado por Perry Farrell, vocalista do Jane’s Addiction, que criou o festival para a turnê de despedida da banda
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uma entrevista de 2011 à revista Time Out, classificou como “épica” aquela noite — o então baterista do Nirvana assistiu aos shows na companhia de Kurt Cobain, em um intervalo das gravações de Nevermind, o disco que mais tarde viraria um dos maiores símbolos dessa cena alternativa que o Lollapalooza exaltava.

Já o jornal Los Angeles Times, em uma resenha dos mesmos shows na Califórnia, chamou a noite de “anticlimática”, para não trair a veia ranzinza da crítica musical tradicional.

Todas essas definições viriam a fazer sentido em algum ponto da trajetória do Lollapalooza nos anos que se seguiriam. A travessia de 30 anos no tempo que levou o evento de turnê para festival e de festival para franquia multinacional teve momentos de ascensão, queda, vazios, fracassos e sucessos.

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Itinerância

O formato itinerante do Lollapalooza prosperou com a cena alternativa dos Estados Unidos que o festival abraçou e ajudou a promover.

A boa recepção do que deveria ter sido apenas uma turnê de despedida em 1991 deu vida a um evento anual que estamparia no cartaz nos anos seguintes a explosão do grunge do Pearl Jam e do Soundgarden, a ascensão de rappers como Coolio e Ice Cube e os primeiros passos de futuros supergrupos que resistiram ao tempo, como Rage Against the Machine e Green Day.

Foi uma crescente até 1997. Nesse período, o Lollapalooza ampliou a quantidade de palcos — primeiro, dois, depois, três — para abrigar cada vez mais bandas — 30, 40 nomes — que circulavam todos os verões por cerca de duas dezenas de cidades dos Estados Unidos durante dois meses.

Hiato

Até que o mundo em movimento levou ao esgotamento dessa cena. O Lollapalooza sentiu o baque diretamente em 1998, quando deixou de acontecer pela primeira vez porque não conseguiu encontrar um headliner adequado para sua proposta musical.

Um hiato de cinco anos começaria a partir daí. O festival renasceu somente em 2003, novamente cruzando sua história com a banda de seu criador. O Jane’s Addiction estava de retorno marcado naquele ano e Perry decidiu retomar o Lollapalooza para marcar a volta da banda, com o mesmo formato itinerante pelos Estados Unidos.

Voltou discreto. O impulso que o Lollapalooza ganhou nos anos 1990 já tinha há muito se perdido com o tempo e a prova maior veio na tentativa de continuidade em 2004.

O evento foi cancelado naquele ano pela baixa venda de ingressos, uma

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Apesar do sucesso nos anos 1990, o festival foi suspenso por cinco anos e enfrentou dificuldades no seu retorno no início dos anos 2000
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dificuldade expressa abertamente por Perry no comunicado oficial aos fãs. Um cenário inimaginável para o Lollapalooza dos dias atuais, em que só a situação extrema de uma pandemia global é capaz de forçar o cancelamento do festival.

Revival

Àquela altura, o século era outro, até o milênio era outro. O Lollapalooza mantinha a mesma forma do passado, enquanto mudanças maiores no cenário da música ao vivo estavam em curso.

O historiador britânico Eric Hobsbawm, um dos principais intelectuais do século 20, já tinha afirmado naquele início de década que os festivais de música viveriam seu apogeu no século 21, atento ao movimento que observava na Europa.

Enquanto os Estados Unidos se apegaram ao mito de Woodstock, que deu mais certo na narrativa criada em torno dele do que na prática, com uma edição única em 1969 e tentativas fracassadas de revival, a Europa nunca parou de realizar grandes festivais. Muitos deles nasceram nos anos 1970 e traçaram uma linha contínua que culmina no ápice de eventos dos dias de hoje.

Os gigantes Glastonbury, na Inglaterra, e Roskilde Festival, na Dinamarca, estiveram em atividade nos últimos 50 anos, inspirando o surgimento de festivais semelhantes em grandes centros europeus, muitos deles ganhando força nos anos 1990 e início dos anos 2000, todos juntos erguendo a indústria dos festivais que movimenta grande parte do live business atual.

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A escolha de Chicago como sede fixa e mudanças no formato deram início à trajetória de expansão do Lollapalooza nos últimos anos
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O início do Lollapalooza como o conhecemos hoje começa quando ele se volta para essa realidade. Depois do vácuo de cinco anos e dos fracassos de 2003 e 2004, o festival abandona de vez as turnês pelos Estados Unidos e retorna em 2005 aderindo ao formato de festival dominante nos últimos anos.

Ele fincou raízes no Grant Park, em Chicago, passou a ter dois dias e seis palcos. Pela primeira vez, alguns desses palcos foram patrocinados por grandes marcas — cujo dinheiro é essencial para a sustentabilidade de eventos desse porte. Ao longo dos anos, foi incorporando o rock de arena, lendas do rock, grandes rappers, mega DJs e pop stars ao seu line-up originalmente de rock alternativo.

O rumo que o festival tomaria a partir de então, ao recomeçar sua história em Chicago, ilustra esse movimento histórico mais amplo de expansão dos festivais de música nas primeiras décadas deste século.

De 2005 até hoje, o festival cresceu de dois para três e, finalmente, para quatro dias, soma nove palcos e recebe anualmente mais de 170 artistas. As perspectivas para o futuro são tão otimistas que neste ano o Lollapalooza assinou um contrato com o Grant Park que garante o festival em Chicago até 2032.

A edição dos Estados Unidos atualmente tem quatro dias, nove palcos e recebe mais de 170 artistas no Grant Park, em Chicago
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Internacionalização

Paralelamente ao sucesso doméstico, o Lollapalooza deu início a um processo de internacionalização em 2011 que parece ainda não ter se encerrado. O festival que começou fazendo turnês pelos Estados Unidos hoje circula pelo mundo. São atualmente seis países em dois continentes, com edições estabelecidas que já atingiram ou caminham para uma década de existência.

A conquista de territórios começou pela América do Sul. Em 2011, o Chile recebeu a primeira edição da história do Lollapalooza fora dos Estados Unidos. O Brasil entrou para o time em 2012, e a Argentina se juntou em 2014.

No ano seguinte teve início a disseminação por grandes capitais europeias. Berlim recebe o Lollapalooza desde 2015; Paris, desde 2017; e Estocolmo, desde 2019.

Houve empreitadas no meio do caminho que falharam. A anunciada edição do Lollapalooza Israel em 2012 nunca ocorreu, e o festival nunca apresentou oficialmente as razões do cancelamento.

Em 2016, o festival estava pronto para estrear na Colômbia, inclusive com line-up já divulgado, mas a desistência de última hora de Rihanna, que seria uma das headliners da edição, obrigou o cancelamento daquela edição, e o projeto colombiano não seria mais retomado — à época, a imprensa colombiana especulou que Rihanna desistiu do show por temer o vírus da zika, que havia se espalhado por países da América do Sul. Mas na trajetória prolífica que o Lollapalooza reestabeleceu de 2005 até aqui, esses episódios são apenas parênteses que não ofuscam o sucesso da marca no mundo. Tanto que o festival começa 2023 com um sétimo país e um novo continente no seu mapa-múndi: a primeira edição do Lollapalooza Índia está marcada para os dias 28 e 29 de janeiro, em Mumbai, com dois dias, quatro palcos e cerca de 40 artistas. Como faz questão de ostentar em sua comunicação, e alinhado com o mundo contemporâneo de distâncias encurtadas, hoje o Lolla é global.

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Uma marca global, o Lollapalooza tem edições internacionais em seis países, inclusive o Brasil, e estreará na Índia em 2023
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ADORA É UMA COMBINAÇÃO DE VOZ POTENTE, VISUAL PODEROSO E UMA SONORIDADE ÚNICA QUE MISTURA POP E R&B Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Catharina Morais Beleza Mel Freese 5 min
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MAGAZINE EDIÇÃO 266 Adora
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Iniciada na música em um coral infantil e formada em canto erudito, a artista carioca Isadora se apresenta para o público com um novo conceito. O lançamento do single Intimacy marca essa nova fase da artista, que agora assina com o nome Adora. Mais madura e audaciosa, reflexo de muita pesquisa e planejamento, ela colhe os frutos de uma carreira construída com muito estudo e dedicação. Sua voz ficou conhecida pelo grande público em em 2017, com Sun Goes Down, parceria com Bruno Martini e Zeeba. Em 2020, estreou seu primeiro projeto de composições autorais, o EP Universo Particular. No ano seguinte, lançou seu segundo projeto autoral, o M21, com músicas que mergulham no universo feminino. Inspirada por divas do Pop e R&B como Whitney Houston e H.E.R., Adora dá início a uma fase de projetos inéditos e autorais, com grandes novidades para 2022.

Você começou no canto erudito, é isso? Eu comecei a ter interesse pelo canto muito nova. Isso foi explorado desde cedo com o incentivo dos meus pais. É muito importante a gente ter um incentivo dentro de casa, principalmente sendo da área artística, porque ainda existe um preconceito muito grande com esse tipo de trabalho. Minha mãe é fonoaudióloga, então ela já percebeu que eu tinha uma afinação diferente. Entrei no coral infantil da UFRJ com sete anos de idade. O coral é interessante, porque você tem que se ouvir, tem que ouvir o outro, tem que cantar em um certo volume. É um grande aprendizado para quem quer começar a cantar. A gente fazia muitas apresentações no Teatro Municipal, em igrejas, em óperas. E, com 11 anos, fui morar fora do Brasil. Eu morei na Holanda duas vezes, na Suíça e em Portugal. Minha adolescência inteira foi morando fora, dos 11 aos 18. Na Europa eles valorizam muito a arte, diferente daqui. Lá a gente tinha aula de culinária, de dança, de canto, de teatro, então isso tudo foi me incentivando cada vez mais

a seguir carreira e começar a ver a música como uma possibilidade. Eu comecei a fazer aulas de canto lá fora e me envolvi cada vez com a música.

E como foi quando você voltou ao Brasil? Quando eu voltei pro Brasil, com 18 anos, fui fazer faculdade de Música. Estudei canto erudito por quatro anos na faculdade.

E como foi sua transição para esse lado mais pop da música?

O mercado erudito é muito limitado aqui no Brasil, então conforme fui estudando e percebendo isso, pensei em voltar lá para fora. Eu ainda estava tentando entender como seria viver aqui, estava gostando de estar mais próxima do Rio. Resolvi me aventurar e entrei em uma banda. Comecei a cantar em casas noturnas, bares e eventos em São Paulo. A gente fazia cover pop, rock, um pouco de tudo.

Recentemente você mudou o seu nome, que é Isadora. Deixou só Adora. Por que decidiu fazer essa mudança?

A mudança surgiu através de muita conversa, muito diálogo com a minha equipe. Contratamos um especialista em branding e uma das primeiras coisas que ele fez foi me perguntar do meu nome. A gente estava questionando o que poderia fazer, qual seria esse nome novo. Eu falei: “acho Adora bacana porque é um fragmento do meu nome e é bonito falar, me traz uma energia boa”. Não tinha ninguém no mercado com esse nome. Por causa dos algoritmos, que são de extrema importância hoje, muitas pessoas me perguntavam: “ué, mas cadê você? não estou te achando”. Tinha uma dificuldade grande. Enfim, depois de muito brainstorming, muito debate, a gente definiu. Uma coisa importante que acontecia, e que também foi um dos motivos dessa mudança, era que em entrevistas, as pessoas me chamavam de Isa. E já tem a Iza, que é uma artista maravilhosa.

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“É muito importante a gente ter um incentivo dentro de casa, principalmente sendo da área artística, porque ainda existe um preconceito muito grande com esse tipo de trabalho”

Como você conheceu o Zeeba?

É uma história engraçada. Eu estava cantando em um bar e vi uma pessoa diferente entrando. Pensei: “caramba, que legal”. Continuei cantando e ele parecia estar gostando do repertório. Quando desci do palco, ele falou: “poxa, parabéns”. Foi instantânea a nossa conexão, começamos a conversar sobre música e ele falou que estava morando em Los Angeles na época. Eu inicialmente achei que ele era gringo. Mas ele fala português, é brasileiro. Ele falou: “tem um produtor que quero te apresentar”. Era o Bruno Martini. Fizemos a música Sun Goes Down juntos, eu o Zeeba e o Bruno Martini. Hoje o Zeeba é grande amigo, “parceiraço”, pessoa que posso sempre contar. Ele é muito talentoso, um baita compositor desse segmento de pop, eletrônico, acho que não tem igual.

Você também é compositora?

A composição veio até mim por muita persistência e prática. A composição é um exercício que a gente precisa treinar e estudar, entender como funciona. Claro que existe algo muito orgânico, mas a música pop, principalmente, tem uma estrutura. Comecei a escrever mais com mais facilidade em inglês. Depois participei do The Voice Brasil. Eu tinha 19 anos na época, faz muito tempo, foi na terceira edição do programa. Agora já vai para a décima. Aquilo foi um baita aprendizado para eu entender que queria buscar algo maior em relação a minha arte. Eu queria compor em português para o público me entender. Depois comecei a estudar, entender como funcionava. E também sempre busquei muitos parceiros para compor comigo, porque assim eu ia aprendendo junto com eles.

E como está esse novo momento da sua carreira, com o nome Adora?

A última música que eu lancei foi Intimacy.

É a primeira faixa em inglês que eu lanço sozinha. A Anitta expandiu esse mercado internacional e abriu portas para nós, artistas brasileiros, para cantarmos em outros idiomas. A música tem essa pluralidade e eu achei que era o momento ideal para cantar em inglês e me lançar com o novo nome. Eu desejo que essa jornada da música me leve justamente para momentos como esse que vocês proporcionaram aqui hoje. É sobre isso, essa união, essa cumplicidade, essa troca que eu tive com o Zeeba, que tive com o Martini. Eu só desejo mais encontros como esses para minha carreira daqui para frente.

Pode nos contar um pouquinho sobre os seus novos projetos?

Eu lancei um feat em português com o Daniel Cruz, que é um artista de R&B do Rio, e com o irmão dele, o Joker, que é o produtor musical. Também vou lançar uma música em inglês para, justamente, caminhar junto com a Intimacy. Eu vou mesclando. A ideia é essa, de ter um pouco desses dois universos, que na verdade são um só, porque trazem essa mesma energia do pop com o R&B e uma pegada mais sensual.

Quem te inspira na música? Tem tantos artistas que eu admiro. O Stevie Wonder é uma baita referência musical, eu gosto muito dessas baladas românticas. Whitney Houston é uma referência vocal impressionante, acho que foi uma das primeiras divas que me chamou atenção, entre outras como a Barbra Streisand, Céline Dion, Mariah Carey. Trazendo referências novas, eu gosto muito da H.E.R., que foi uma pessoa que me inspirou muito a compor dentro desse segmento do R&B.

“Eu desejo que essa jornada da música me leve justamente para momentos como esse que vocês proporcionaram aqui hoje”

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“Whitney Houston é uma referência vocal impressionante, acho que foi uma das primeiras divas que me chamou atenção, entre outras como a Barbra Streisand, Céline Dion, Mariah Carey”

Produção Executiva Soultime

Produtora e Assessora Artística

Fernanda Araujo

Músico Isaac Negrene

Assessoria de imprensa Novità Comunicação

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266 Carol Biazin
CAROL BIAZIN É UMA ARTISTA EM ASCENSÃO NO POP NACIONAL. SUA DISCOGRAFIA JÁ SOMA 25 MILHÕES DE REPRODUÇÕES NO SPOTIFY E MAIS DE 100 MILHÕES DE VIEWS
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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Malu Costa Beleza Pedro Simi 5 min

Nascida no interior do Paraná, Carol Biazin é cantora, multi-instrumentista e compositora. Suas letras fazem parte do cenário pop brasileiro nas vozes de artistas como Vitão, Anitta, Rouge, Negra Li e Luísa Sonza. Começou a tocar violão ainda criança e chegou à final do The Voice Brasil em 2017, com 20 anos, depois de três tentativas frustradas de participar do programa. Sua estreia nas plataformas digitais foi com a faixa Você Tem, parceria com Dreicon. Logo depois, o clipe do single Talvez foi eleito o melhor do ano pelo público nas redes sociais do TVZ. Em 2022, Carol assinou contrato com a Universal Music Brasil e lançou seu primeiro projeto audiovisual ao vivo, Beijo De Judas, com produção feita 100% por mulheres. Os singles Garota Infernal e Brinca com a…, lançados recentemente, mostram seu amadurecimento como artista.

Como você começou na música?

Meu avô era aquele cara que encostava no balcão e ficava lá cantando, todo desafinadinho, com a voz tremendo. Eu cresci tanto nesse ambiente, acho que o violão veio deste lugar. Com oito anos, já pensando em tudo o que eu queria fazer, pensei: “não vou tocar teclado ou piano, quero tocar violão”. Eu sempre fui muito prática, queria um instrumento que eu pudesse levar para baixo e para cima. Comecei a fazer aula de violão com oito anos e fiz até os 13. Depois, fui aprendendo sozinha.

Você se inspirava em quem?

Eu gostava muito da Marjorie Estiano, porque eu assistia muito Malhação. Eu tinha um DVD dela ao vivo que dava

para ver as cifras das músicas. Então, nas minhas férias, eu pegava esse DVD e ficava tirando as cifras, tocava todas. Além da Marjorie, outra inspiração é a Taylor Swift, que sempre tocou violão.

Como surgiu o The Voice na sua vida? Eu já acompanhava o programa. Mas, quando fiz 16 anos, eles abriram as inscrições para pessoas a partir dos 16. Antes era apenas para maiores de 18. A primeira inscrição que eu fiz não deu em nada. Fiz uma segunda inscrição, aos 17, que também não deu certo. Minha terceira tentativa foi com 19. Eu não tinha mandado a inscrição, mas eles me ligaram dizendo que tinham recebido uma indicação e eu teria que ir até Porto Alegre para fazer a audição. De Campo Mourão até lá, dá umas 21 horas de carro, e era no dia seguinte. Eu decidi ir. Meu irmão fazia mestrado em Porto Alegre, tinha a casa dele lá. Fui eu e meu pai, 20 horas de viagem. A audição era em um hotel. Eram várias salas com pessoas da produção do programa e tinha uma câmera me gravando. Eu levei meu instrumento para tocar e cantei uma música da Beyoncé. Aí eles me entregaram a fichinha, sai e fui para uma entrevista para eles me conhecerem melhor. No mesmo dia, voltei para casa e fiquei aguardando. Aí o programa já tinha começado e eu ainda não tinha recebido o email. Acabou o programa e nada. Meu pai falava: “será que tu colocou o email certo?” Nesse momento, eu não queria mais saber. Fui para Curitiba estudar música em uma faculdade estadual de lá. Na época, eu não ia fazer mais uma inscrição para o The Voice. Estava para acabar as inscri-

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“Acho que não tem muita regra sobre como fazer música. Do jeito que você começar está valendo. Tem que respeitar o processo”
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ções já, mas meu amigo me enviou uma mensagem falando: “por favor, faça a sua inscrição para o The Voice, você está gravando tanto cover para o seu canal, o que custa mandar um desses para eles?”

Aí eu mandei um vídeo cantando Anitta (Bang) e um cantando Adele (Send my love). Deu uma semana e me chamaram para a fase do hotel. Escolhi São Paulo, era a localização mais próxima para mim. Vim para São Paulo de ônibus e fiquei na casa de uns amigos. Eu estava pensando no que podia fazer de diferente. Eu levei meu violão exatamente para mostrar que eu tocava e toquei uma música que acho que ninguém esperava, porque é uma música totalmente desconhecida, uma música country que tocava em uma série que eu era viciada. Era uma música desafiadora. Lembro que a galera ficou um tempo em silêncio. Aí senti que alguma coisa bateu diferente. Fui para a salinha fazer a entrevista, voltei para Curitiba e eles me ligaram dizendo que eu ia participar da seletiva às cegas. Para isso, eu precisava ir para o Rio de Janeiro para eles tirarem minhas medidas. Deu um nervosismo. Eu fui para o Rio com a minha mãe e assinei contrato com o The Voice.

Como foi a sensação de subir no palco do The Voice pela primeira vez?

Eu tentei manter o máximo de calma possível, mas na hora que você pisa ali, não tem como não ficar nervosa. Escolhi mais uma vez uma música aleatória, que ninguém imaginaria, uma música country da Beyoncé. Nos primeiros segundos, o Lulu Santos virou. Em seguida, o Michel Teló. Depois, a Ivete Sangalo e

o Carlinhos Brown. Os quatro viraram, mas quando o primeiro virou, eu tirei um pedaço de chumbo das minhas costas.

Como você decidiu com qual jurado ficar? Escolhi a “Veveta” pelo fato dela ser a única mulher da temporada e por ser o primeiro ano dela ali. Pensei que isso me traria sorte. E ela estava grávida de gêmeos. Alguma coisa parecia especial. E ela é uma pessoa que eu queria muito ter mais contato.

Tem muita gente que entra na música através da internet, mas você entrou na música pela Rede Globo. É uma diferença muito grande, é uma explosão? É um público do sofá, que realmente senta para assistir TV, é muito louca a proporção que toma. Quem vê cover no YouTube é a galera mais jovem. Depois que o programa acabou, quis manter o público fiel no YouTube. Eu já gravava covers, mas decidi gravar com compromisso mesmo, toda a semana teria cover no meu canal. Vídeos curtos de músicas que estavam em alta, eu fazia uma versão mais R&B. Foi assim por mais de um ano, gravando com o celular. Por mais que eu tenha aparecido na TV, acho que a internet foi o meu meio de alcançar uma fanbase muito fiel.

Como foi a reação na sua cidade? Sabe como é Copa do Mundo? Foi daí para cima. A primeira vez que eu voltei para a minha cidade, depois de participar do programa, eu andava e as pessoas olhavam. Eu pensei: “sou a celebridade de Campo Mourão”. No final do The

“Somos parte de uma geração que consome e quer ver resultados muito rápido. Isso causa uma ansiedade absurda”

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Voice, a cidade inteira parou para ir na praça, onde colocaram um telão enorme. Eles fizeram até camiseta.

Além de cantora, você também é compositora. Como é o seu processo de composição?

Acho que não tem muita regra sobre como fazer música. Do jeito que você começar está valendo. Tem que respeitar o processo.

Quando te encomendam uma música, você já sabe para quem é?

Por exemplo, a música da Anitta com o Vitão, a gente estava escrevendo e saiu Complicado. Cada um fez um verso. Não foi nada pensado para a Anitta, mas ela ouviu depois e gostou.

Décadas atrás, as grandes bandas e compositores se isolavam em algum lugar para compor. Isso ainda acontece?

Já fizemos umas coisas assim, de se enfiar no meio do mato sem sinal. Isso ajuda, mas eu gosto do caos, eu amo estar no caos. Eu sou uma pessoa que trabalha sob pressão.

Você escuta rádio?

Eu escuto mais quando estou no carro. Infelizmente, o estilo musical que eu mais gosto não toca tanto no rádio. Eu gosto de pop com bastante produção e beat. Mas a rádio ainda tem um papel

importante no crescimento do artista, porque faz parte do offline. Para você chegar em um público que não faz parte do seu nicho, tocar em rádio significa se apresentar para muita gente. E de todas as plataformas, é uma das que melhor paga os artistas.

Ser uma pessoa querida e próxima ajuda na carreira artística?

Ajuda muito! Acho que o artista deve estar à frente de tudo. Tem que ter os representantes, mas nada melhor do que você para vender sua própria ideia.

Tem alguma música que é a sua preferida, seu xodó?

É difícil, geralmente eu digo que são as que eu ainda não lancei. Mas Brinca com a… tem sido a minha preferida ultimamente. Acho que tudo o que circulou ao redor dela me fez ter um carinho diferente por essa música.

Qual conselho você daria para quem está começando nesse meio?

Estou pensando no que eu falaria para mim antes. Acho que é muito clichê falar, mas paciência cai como uma luva. Sei que é uma coisa que você não consegue controlar. Somos parte de uma geração que consome e quer ver resultados muito rápido. Isso causa uma ansiedade absurda. Faça terapia, se proteja.

“Por mais que eu tenha aparecido na TV, acho que a internet foi o meu meio de alcançar uma fanbase muito fiel”

Assistente de styling Daniella Benotti Produção executiva/artística Luana Almeida
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Direção criativa Gabriela Grafolin Assessoria de imprensa Melina Tavares Comunicação
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68 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 266 Cleo

CLEO É CLEO PIRES, ARTISTA QUE TRANSITA ENTRE O CINEMA, A TELEVISÃO, A LITERATURA E A MÚSICA

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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling João Ribeiro Beleza Welida Souza 5 min
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Cleo Pires tem a arte no DNA. Filha de Fábio Júnior e Glória Pires, ela mostrou que tem talento e brilho próprio como atriz nas várias novelas, minisséries e filmes nos quais atuou. Mas não quis parar por aí: escreveu um livro, deu seus primeiros passos como produtora e se lançou na carreira musical. Em 2018 lançou dois EPs: Jungle Kid e Melhor que eu. Neste ano, Cleo fez uma aparição surpresa na Cidade do Rock. Ela subiu ao palco Supernova com Number Teddie, seu parceiro no single Bom ator. Nesta entrevista, Cleo fala sobre carreira, projetos e desafios.

Você já tem uma carreira de sucesso como atriz. Como decidiu ingressar na música? Foi em 2017. Eu escrevia muita coisa e tinha o sonho de trabalhar com música. Uma pessoa que trabalhava comigo na época me apresentou o Guto Guerra, que é um superprodutor, e começamos a trabalhar no meu primeiro EP. Foi tudo bem orgânico.

Como foi o processo de produção do seu primeiro EP?

Foi uma aventura. Eu ia quase todos os dias para o estúdio. Morava em São Paulo, mas viajava para o Rio de Janeiro para poder ir ao estúdio. O Guto foi muito generoso comigo. Eu também queria aprender sobre produção, então ele dava abertura para eu falar o que eu queria de textura de som e de barulho, eu mostrava referências para ele e ele ia me explicando. Produzimos juntos, foi muito legal. Eu sinto falta de produzir junto.

Atualmente, qual faceta você acha que te desafia mais: atriz ou cantora?

São desafios diferentes. Eu me sinto super desafiada o tempo inteiro em todas as coisas que faço. E é um sentimento que eu gosto muito. Como cantora, é tudo mais novo. Como atriz, apesar de já conhecer toda a dinâmica, ainda existem muitos desafios de conseguir realizar alguns personagens.

Você é atriz, cantora e produtora. Dá para unir tudo isso?

Talvez, em um musical que eu produzisse, mas eu não gostaria de ser uma artista de musical. Eu gosto de ser uma artista múltipla.

Você sabe dançar?

Eu sei dançar, sei pegar uma coreografia e fazer, me viro, mas não sou uma grande bailarina.

Você tem pai e mãe artistas. Quando você estava começando, eles te davam conselhos? Mais ou menos. Tiveram momentos de conselhos, mas nada específico, tipo: “quando você for fazer uma cena, faça isso”. Foram mais conselhos sobre a vida mesmo, coisa de pai e mãe.

Você gostava de estudar?

Eu não gostava de estudar, porque tenho TDAH. Então, o sistema da escola era muito difícil para mim, não conseguia me concentrar e entender as coisas. Me achava burra. Só fui entender que eu era inteligente muito tempo depois. E aí descobri que eu gostava

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“Eu me sinto super desafiada o tempo inteiro em todas as coisas que faço. E é um sentimento que eu gosto muito”
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sim de estudar, de ler e de aprender. Na época, não se falava em TDAH, nem em terapia.

O que passa pela sua cabeça hoje? O que você quer fazer?

Eu tenho alguns projetos. Tem um filme que eu vou produzir e atuar esse ano. Eu e o Number Teddie acabamos de lançar um single com clipe. Number Teddie é um menino que começou agora, muito talentoso, uma voz que tem muito potencial para o pop, é bem interessante. A música é a minha cara e ele me chamou para fazer esse feat. Meu empresário é amigo do empresário dele. Quando eu ouvi a música, mandei falarem para ele que ele era meu filho e não sabia, porque a música parece que sou eu falando. É genial. Lançamos dia primeiro de setembro. Tem também o meu single, que tem o mesmo nome do livro que escrevi: Todo mundo que amei já me fez chorar. Vou lançar dia 5 de outubro, dia em que vou comemorar meu aniversário.

Você mencionou o seu livro. Como foi a experiência de escrever um livro?

Foi um processo, um passo a passo. Primeiro, entender que eu queria falar sobre isso. Uma vez eu estava fazendo um desabafo nas redes sociais e muita gente me escreveu de volta, falando coisas muito parecidas. Foi quando percebi que eu realmente queria falar sobre aquilo e que podia atingir muitas pessoas. Mas eu estava totalmente bloqueada para escrever. Então, pensei em fazer uma parce-

ria, escolher uma pessoa que eu gostasse de ler, que admirasse, e ver se ela queria escrever junto comigo. Falei com a Tati Maciel, me identificava muito com a voz dela escrevendo. E ela topou. Minha autoria foi em forma de áudio, de mensagem, de trocas, e não literalmente de escrever o livro. Nós duas trocamos muito sobre experiências nossas e de pessoas próximas. Começamos a pensar no formato do livro e chegamos nos contos. Foi um processo difícil, porque quando você lembra de coisas a ponto de ter que descrevê-las para outras pessoas, você meio que revive o momento. É dolorido, mas foi um pouco curativo também.

Você pretende lançar algum outro livro?

Eu quero, tenho vontade, gostei muito do processo e do resultado. Vamos ver.

Das músicas que você já lançou, qual é a sua preferida?

A primeira música que eu compus foi Jungle Kid, então ela tem um lugar especial no meu coração. Essa música fala muito sobre a minha essência, sobre a minha infância e sobre momentos complexos que eu não conseguia elaborar quando era criança.

O que você tem ouvido?

Eu tenho ouvido muito Number Teddie, Marina Sena, King e Borges. Conte mais sobre o Lado C. Qual é o conceito por trás?

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“A primeira música que eu compus foi Jungle Kid , então ela tem um lugar especial no meu coração”

A ideia do Lado C é um mini reality. Há um tempão, quando começou os stories, as pessoas sempre pediam para ver certas coisas que não cabiam bem ali no Instagram. Então, pensei em fazer um mini reality e colocar no YouTube. A ideia surgiu em 2017. Como surgiu o Cleo On Demand? Surgiu no começo do governo atual, quando a nossa cultura ficou meio encalhada, não tínhamos mais incentivo para certos temas e certas coisas do audiovisual. Nessa época, o IGTV estava bem em alta, e eu e minha equipe decidimos colocar ali coisas que não estavam recebendo incentivo, mas que são coisas importantes.

A turma com quem você anda é sempre do seu meio?

A minha turma é muito eclética, não tem só gente do meio. Existe uma bolha, que você pode ficar dentro, mas eu tento sempre sair. Não gosto de ficar muito tempo no mesmo lugar, nem fisicamente, começa a me dar agonia.

Qual foi a viagem mais legal que você já fez na sua vida?

Capadócia, tem que ir antes de morrer.

Teve algum papel que você fez e que foi muito inesquecível?

Todos são inesquecíveis, mas acho que diria a Estela, de Araguaia, a minha primeira e única protagonista de novela. Também diria a Bianca, de Salve Jorge. O meu primeiro filme, Benjamim, também me marcou bastante.

Você é muito autêntica como influenciadora. Acha que isso te prejudicou ou te favoreceu?

Acho que por um lado me prejudicou, porque quando você é muito autêntica assusta um pouco. Mas, por outro lado, é bom, porque você faz conexões mais reais e duradouras.

“Eu não gostava de estudar, porque tenho TDAH. Então, o sistema da escola era muito difícil para mim, não conseguia me concentrar e entender as coisas”

Assistente de styling Murilo Gracioto Produção Beatrix Bortolai
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Assessoria de imprensa Melina Tavares Comunicação
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DAY LIMNS LANÇA SEU PRIMEIRO ÁLBUM E APOSTA AINDA MAIS NO ROCK ‘N’ ROLL PARA AFIRMAR SUA IDENTIDADE MUSICAL

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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Ela Vargas Beleza Pedro Simi 5 min

Dayane de Lima Nunes, mais conhecida como Day Limns, é cantora, compositora e escritora. Tornou-se conhecida do público em 2017, quando foi finalista do The Voice Brasil pelo time de Lulu Santos. Foi nesse mesmo ano que lançou seu primeiro single autoral, chamado Meu Lugar. De lá pra cá, foi encontrando sua voz, amadurecendo seu estilo e correndo atrás do sonho de colocar mais rock and roll na vida e na música. Neste momento, comemora o lançamento de seu primeiro álbum, Bem-vindo ao Clube, que mistura referências do pop, punk, metal, rap, trap e emocore. Nascida em Goiânia, em 1995, Day namorou por quatro anos a também artista Carol Biazin. Além de investir na música, ela também se arriscou na carreira de escritora e lançou o livro Esta não é apenas uma carta de amor, que traz contos e poesias que aprofundam na hist ória do seu primeiro amor e fazem um paralelo direto às canções lançadas no seu álbum.

Você esteve aqui na TOP antes da pandemia. O que mudou nesse período?

Eu perdi muito cabelo (risos). Além disso, passei por uma pandemia, lancei um disco, escrevi um livro, comecei a pensar no conceito dos próximos discos e conquistei muito mais autoconfiança. Sou uma pessoa diferente agora. Mesmo antes da pandemia, por volta de 2019, eu já estava pensando em mudar, já estava com vontade de colocar o rock nas minhas músicas, já tinha deixado o meu show mais rock. Nessa época, também comecei a pensar em fazer as músicas de estúdio como elas eram ao vivo. As minhas músicas de estúdio eram muito eletrônicas, o máximo de elemento orgânico que você encontrava

era um violão, uma guitarra e um baixo. Às vezes, até o baixo era eletrônico. Para o meu disco de Bem-vindo ao Clube, decidi gravar a bateria. É um disco de pop punk.

O que fez despertar esse rock and roll em você?

Minha infância. Em 2002, quando eu tinha de seis para sete anos, conheci a Avril Lavigne. O primeiro clipe que eu vi dela foi Skater Boy. Foi a primeira artista que eu vi e consegui encontrar alguma semelhança comigo, porque, na época, as outras internacionais que existiam eram Britney, Christina Aguilera e Madonna. E eu não me identificava tanto com elas. Então, quando veio a Avril, decidi que queria ser como ela quando crescesse. A partir dela, descobri outras bandas e outros cantores. Dos sete aos 17 anos, ouvi muito rock, pop punk e até metal. Lembro que sempre buscava bandas cristãs para ouvir por conta da minha família e da religião. O rock está presente desde sempre na minha vida. Meu pai era muito fascinado por bandas como Pink Floyd e U2. Eu não tive uma proximidade tão forte com ele. Mas, principalmente após a morte dele, canalizei ainda mais essa energia rock and roll. Parece que meu pai me ensinou algo com a morte dele. Por mais que não fôssemos próximos, eu sabia que ele curtia. Quando eu entrava no carro dele, ele sempre estava ouvindo essas músicas. Isso acabou ficando no meu inconsciente.

Atualmente, você acha que ainda tem como bandas criarem músicas como o Pink Floyd criava? Pessoalmente, eu me irrito com aquelas introduções de músicas muito longas. Sou

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“Mesmo antes da pandemia, por volta de 2019, eu já estava pensando em mudar, já estava com vontade de colocar o rock nas minhas músicas”
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ansiosa. Nossa geração é ansiosa, não damos conta. Mas tem pessoas que saem da curva. A Taylor Swift ficou em primeiro lugar do Spotify com uma música de dez minutos. Não era uma música de rock and roll, mas era uma música de dez minutos que ficou em primeiro lugar da Billboard. Então, quando existe uma identificação, uma novidade e uma certa história para contar, eu acho possível que uma música dessas faça sucesso, mas tem que ter todo um storytelling por trás. Eu acho incrível quando as pessoas decidem fazer essa disruptura, quando vão para um caminho oposto ao que as outras pessoas estão indo. Eu tenho essa dinâmica dentro de mim desde pequena. Quando estava tudo dando muito certo para mim, meu lado geminiano me mandou fazer rock and roll, algo que ninguém estava fazendo, algo autêntico. Eu não queria fazer mais do mesmo. Eu comecei a sonhar e querer viver da música porque vi uma artista de rock. Eu queria ser como ela, isso despertou o sonho em mim. Quando me vi deixando de sonhar e deixando de ter tesão no que estava fazendo, decidi fazer rock. Não decidi isso de um dia para o outro, percebi uns movimentos acontecendo nos Estados Unidos, em 2019, e optei por deixar meu show mais rock. Também voltei a me vestir de Vans, com uma estética do skate, do emo, do punk rock. Eu sempre quis isso quando era mais jovem, mas eu não podia por questões religiosas. Quando me vi nessa oportunidade, decidi ser a artista que sempre quis ser. Eu me sinto mais poderosa. O rock me traz isso.

Como o público reagiu a essa sua mudança? Eu estava caminhando para o auge, estava na minha melhor fase, 800 mil ouvintes mensais, quatro milhões de plays na música, a gravadora querendo investir em mim. Aí eu falei que eu queria fazer rock, porque senti no meu coração que precisava fazer isso. A Head Media é muito boa em relação ao artístico. Se eu tiver certeza, eles topam. Quando eu fiz a mudança, meu número de ouvintes foi de 800 mil para 100 mil mensais. Eu fiquei bem triste e mal. Naquele momento, aqui no Brasil, ninguém acreditava. Mas agora todo mundo está falando de rock. Percebi que era um movimento que dali um tempo todo mundo estaria querendo fazer, mas eu já teria começado. Foi esse o pensamento. Eu fico feliz, fui visionária e corri riscos. Apesar dos números terem diminuído, artisticamente falando, minha evolução é clara para mim.

O rock dos anos 70, 80 e 90 usava a música para mostrar a revolta da sociedade. O rock consegue ter esse lugar ainda hoje? Acho que consegue sim, tem que aproveitar esse momento em que está todo mundo falando de rock. Estou percebendo que o tipo de rock que o pessoal está consumindo agora é justamente o rock anos 80, tipo Anestesiado do Bruno Gadiol. Se o rock voltar exatamente como era, com a mesma cara, acho que não faz muito sentido, porque o rock tem que falar com a juventude. Acho que o trap e o rap têm feito bem esse papel. Quando vou nas pistas de skate, a galera está ouvindo trap. Antes, ouvia punk rock.

“Eu acho incrível quando as pessoas decidem fazer essa disruptura, quando vão para um caminho oposto ao que as outras pessoas estão indo”

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Você já conseguiu recuperar os números?

São altos e baixos, deve estar por volta de uns 300 mil ouvintes mensais. Eu fiz o álbum Bem-vindo ao Clube pensando nos shows e, quando fiz os shows, vi a galera cantando e vivendo aquilo. Percebi que era isso mesmo. Eu fiz bastante festival, onde as pessoas não me conheciam e depois vinham falar que tinham gostado muito e virado fãs. Estou me sentindo em uma fase artista underground panfletando (risos). Percebi que o ao vivo, o tête-à-tête, o olho no olho, é meu forte. Eu lembro que quando estava no The Voice me diziam: “se a sua voz falhar, olha”. O Lulu Santos falava muito do meu olhar. Depois que voltei a fazer os shows, meus números voltaram a crescer. Mas não consigo muito me moldar ao padrão da indústria de ficar lançando single toda hora e fazendo feat com “milhões” de pessoas. Para mim, tem que ser natural e orgânico.

Quais trabalhos de divulgação você está fazendo para mostrar essa nova Day do Rock and Roll?

A gente faz o que pode sem muito dinheiro (risos). Sabemos da importância da imagem do artista. Sinto que uma das coisas que mais mudou foi a minha imagem. Por mais que eu sempre tenha tido uma imagem forte, eu sentia falta de externalizar essa personalidade rock and roll. Comecei

“Nas

a ter styling nos meus shows. Antes, eu usava um camisetão e cabelo na cara. Eu fiquei mais confiante. Acho que as pessoas não entendem apenas ouvindo, elas precisam ver também. Eu tenho feito esse movimento offline, boca a boca. Quero conquistar pessoas reais e não apenas números.

Conte um pouco sobre a criação das músicas da nova Day. O jeito que eu crio música nunca mudou. Sempre fui muito pessoal, sempre quis passar a mensagem mais clichê de todas: “pode falar o que quiser, eu vou ser quem eu quero ser”. Nas músicas mais novas, desse momento em que estou mais confiante, tenho colocado elementos mais pesados e controversos. Uma coisa pela qual eu brigo muito é por religião. Eu sei que é uma discussão milenar, mas sou muito emputecida com a forma como a religião se deu, ela simplesmente existe, impregnou as pessoas de uma forma e atrapalhou meu desenvolvimento pessoal. Eu tenho escrito coisas sobre a minha história. A Bíblia foi o livro que eu mais li. Então, é natural que o vocabulário esteja presente nas minhas músicas. Quem leu meu livro, sabe o que eu sou capaz de fazer com um versículo da Bíblia, eu faço algumas analogias. Eu tenho mesclado esse vocabulário com o meu. É para dar uma cutucada mesmo.

músicas mais novas, desse momento em que estou mais confiante, tenho colocado elementos mais pesados e controversos”
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Assessoria de imprensa Musique Press Brincos MARS Jewelry Suéter UMA Top TORMENTA Saia Mantegazza
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DUDA BEAT FAZ PARTE DE UMA NOVA GERAÇÃO QUE CHEGOU PARA DITAR OS RUMOS DA MPB, INCORPORANDO O POP E OUTROS RITMOS

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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Maria Antonia Vallares Beleza Renata Brazil 5 min

Duda Beat é Eduarda Bittencourt Simões, recifense, nascida em 1987. Embora tenha sido apelidada pela mídia especializada como “rainha da sofrência pop”, pelas letras que lançou no início da carreira, sua música não cabe em rótulos. A mistura de ritmos, com influência pop, tecnobrega, manguebeat, as parcerias com músicos da cena alternativa e um swing delicioso que embala as pistas de dança, fazem dela um dos maiores fenômenos da música brasileira atual. A artista, que sonhava em ser médica, acabou cursando Ciências Políticas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e descobriu seu caminho em que os praticantes ficam dez dias sem falar. Sorte nossa que ela encontrou a música no silêncio. Sinto Muito, álbum de estreia, lançado em abril de 2018, trouxe a riqueza sonora do Nordeste e foi eleito entre os dez melhores discos nacionais do ano pela revista Rolling Stone. Seu novo álbum, Te Amo Lá Fora, também fala de amor, mas a partir de uma perspectiva mais madura, fruto do momento que vive com seu parceiro na vida e na música. Neste ano, Duda Beat participou pela segunda vez do Rock in Rio. No Palco Sunset, fez um show digno de diva pop.

Você relaciona as roupas que usa com suas músicas? Como é isso?

A moda é uma ferramenta, além de ser uma coisa divertida, eu uso para dar continuidade às coisas que falo nas canções. No primeiro álbum, Sinto Muito, eu usava muita manga bufante, rosa, que remete essa imagem romântica, porque era isso que eu passava nas letras, essa coisa da ilusão, do romantismo exacerbado, do drama. Nesse segundo disco, nessa nova era, estou usando roupas pretas, mais justas, sóbrias, mais dark mesmo, porque estou trazendo o assombro do amor. Porque o amor não é só coisa boa, tem a parte ruim também. Estou externalizando isso com as cores das roupas, com a forma como eu me coloco no palco.

De onde veio a ideia de deixar o cabelo dessa cor?

Essa é uma ótima pergunta, porque eu estava para lançar o disco e sonhei que estava loira. Eu já tinha sido loira antes e pensei: “cara, não tem ninguém nesse cenário que é loira platinada, acho que eu vou me destacar se fizer dessa forma”. E eu me amo loira!

A sua história com a música começou em um retiro espiritual. Poderia contar isso pra gente?

Eu estava há muito tempo sofrendo por amor e fui a um curso de meditação que se chama Vipassana, onde você fica dez dias em silêncio, convivendo com outras pessoas. Foi nesse momento que realmente decidi ser cantora. Eu tinha 28 anos. Esse curso foi muito importante para mim, porque eu limpei tanto a minha mente fazendo a prática da meditação, que lembrei de coisas da minha infância que tinha esquecido. Foi um momento muito louco, as coisas todas mudaram. Durante o curso, como eu sempre me apaixonava por músicas, falei que precisava desmistificar essa história do palco, tomar o lugar do palco para mim. Nunca tinha escrito uma música. Já tinha cantado para o Castelo Branco, que é um amigo meu, mas nunca tinha pensado nisso como profissão. Eu saí de lá falando: “vou escrever um disco e todo mundo vai se identificar, porque eu vou contar a minha história”.

Você curou a dor que você tinha? Com certeza, eu perdoei. Eu falei que estava tudo certo se aquele cara não quisesse ficar comigo, eu iria seguir a minha vida. Eu estava muito decidida a ser protagonista de minha vida de novo. Esse curso de meditação foi muito importante para eu entender do que era capaz. Eu me formei em Ciência Política. Eu amo essa faculdade. Somos todos seres políticos, fazemos política o tempo todo. Mas me apaixonei pela música. Entreguei meu artigo de conclusão de curso e o primeiro disco

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“A moda é uma ferramenta, além de ser uma coisa divertida, eu uso para dar continuidade às coisas que falo nas canções”
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Look Gucci 92 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 266 Duda Beat
“O recifense tem essa coisa boa de ter muito orgulho das coisas que faz, das coisas que nasceram lá”

ao mesmo tempo. Foi em 2018. No dia 27 de abril entreguei o disco e em junho eu me formei.

Você continua praticando meditação?

Quando eu consigo, sim. Por exemplo, hoje eu fiz. É impressionante como muda meu dia. Eu fico muito mais positiva, mais calma. Vem uma tranquilidade, uma paz que eu nunca encontrei em lugar nenhum.

A música Bixinho foi uma virada de chave na sua carreira?

Sim, eu acho que Bixinho foi um acerto e, ao mesmo tempo, um risco. Porque é uma composição muito esquisita. É uma música que só vai, ela não volta. Até quem me falou isso foi o Caetano. Ele falou assim: “Eu adoro sua música Bixinho, porque é uma composição que vai e nunca volta para lugar nenhum”. Sabemos que música pop é repetição, música chiclete. Bixinho foi um milagre nesse sentido, porque é fora da caixa. As pessoas amam porque é muito honesta, é muito verdadeira.

Eu queria que você comentasse um pouquinho do seu estilo musical. É “sofrência pop”?

Assim que lancei o álbum Sinto Muito, a imprensa começou a falar que eu era a “rainha da sofrência pop” e eu aceitei com o maior amor do mundo, porque eu falo sobre sofrer. Mas também falo sobre empoderar. Por isso acho delicado falar que eu faço uma coisa só. Tenho um monte de músicas de empoderamento. Agora vou fazer um disco onde quero falar sobre o momento que estou vivendo agora. Eu tenho um relacionamento estável, com um cara que sou apaixonada, que cresce comigo, que é meu produtor musical, meu companheiro, meu guitarrista, meu amigo de infância, é tanta coisa. Mas eu nunca vou deixar a história da sofrência, porque foram dez anos sofrendo por pessoas que não me queriam, então eu tenho muita coisa para falar sobre isso.

O que você mais gosta de Recife?

Eu amo a comida e a cultura de Recife. E minha família, óbvio.

Como é fazer show em Recife?

É muito maravilhoso. Eu sinto que a galera lá me abraça muito, tem orgulho. O recifense tem essa coisa boa de ter muito orgulho das coisas que faz, das coisas que nasceram lá. Temos muito orgulho do frevo, do maracatu.

Como você está enxergando o cenário musical em Recife hoje?

Está crescendo muito, temos cada vez mais artistas despontando. Mas eu sinto que o cenário, em geral, está assim. As pessoas têm parado um pouco de pensar em fórmulas e têm feito coisas que estão a fim. Eu fiz isso há quatro, cinco anos e deu muito certo para mim. Acho que, de certa forma, eu acabei inspirando outras pessoas. A gente tem que falar das coisas que fez de legal. Isso não é ser metido. Eu me sinto pioneira no meu gênero, que é esse pop alternativo.

Você fez turnê internacional este ano na Europa. Como foi essa experiência? Já tinha feito? Já tinha feito em 2019. Voltei e foi maravilhoso. Tocar para a galera lá de fora é muito legal. A maioria das pessoas que vão aos shows são brasileiras e recebem o artista de uma forma muito gostosa, porque estão há muito tempo longe da cultura. Então eu sinto que é um abraço diferente. Tipo: “caraca, estou ouvindo de novo os ritmos do meu país!” Isso é muito gostoso. Fiz sold out em nove países, todos os lugares.

O que mais você ainda quer conquistar?

Tanta coisa! Eu quero ir para lugares no Brasil com o meu show, tipo Acre e Roraima. Quero muito ir para outros países da América Latina, voltar muitas outras vezes para a Europa para cultivar meu público lá e fazer com que eles cresçam. Tenho muita vontade de cantar em outras línguas, inglês, talvez espanhol.

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“Eu estava muito decidida a ser protagonista de minha vida de novo. Esse curso de meditação foi muito importante para eu entender do que era capaz”

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266 Elana Dara
ELANA DARA É MULTI-INSTRUMENTISTA, COMPOSITORA E DONA DE UMA VOZ INCONFUNDÍVEL. COM APENAS 22 ANOS, JÁ MOSTRA QUE NÃO ENTROU NA MÚSICA PARA BRINCAR
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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Marina San Beleza Ju Shinoda 5 min
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Nascida no ano de 2000, em Curitiba, Elana Dara é uma revelação no cenário musical brasileiro. Suas composições já foram parar na voz de muita gente famosa como Luísa Sonza, Vitor Kley, Xamã e Nando Reis. Sua voz aveludada e ritmos que passeiam pela MPB, reggae, rap, pop e R&B vêm conquistando o público brasileiro. Menina de exatas, boa em matemática, com formação técnica em Mecânica, iniciou a faculdade de Arquitetura antes de largar tudo – o curso e a cidade natal – para viver em São Paulo e se dedicar à música. Autodidata, toca violão, se aventura em vários outros instrumentos e agora está aprendendo a tocar saxofone. Em 2018, criou seu canal no YouTube com o intuito de alimentá-lo com versões das músicas que gostava. Em 2019, participou do projeto Poesia Acústica #8: Amor e Samba e, no ano passado, lançou o primeiro EP de sua carreira, Teoria do Caos.

Como você começou na música? Estava fazendo faculdade de Arquitetura. Tenho técnico em Mecânica e fiz três meses de Petróleo e Gás no ensino médio. Não ia para a parte artística porque era muito envergonhada, só cantava na igreja. Quando era criança, fomos para o Paraguai e meus pais deram um dinheiro para mim e para a minha irmã. A gente foi andando pelo shopping, tinha uma loja de instrumentos, ela comprou um teclado e eu, um violão. Desde então, viramos uma dupla. Nunca cheguei a fazer aula, mas meus pais são muito católicos e a gente ia toda semana na igreja. Eu ficava entediada e prestava muita atenção nos músicos. Levava o violão e ficava tocando no canto, aprendi os acordes e fiz amizade com os caras. Comecei a tocar com a minha irmã, aprendi a fazer segunda voz. Sempre autodidata. Em paralelo, mandava muito bem em tudo o que era de exatas. Achava que não tinha nada a ver com a parte artística, desenhava só por hobby,

mas prestava atenção na aula sempre desenhando, fazia poemas, haikais.

Nessa época de exatas, você já tinha essas tatuagens?

Nada. Minha mãe não deixava eu fazer nem o segundo furo na orelha. Ninguém que eu conhecia tinha tatuagem. Quando entrei no ensino médio, fiz Mecânica e, depois de três anos, comecei a estudar para passar em Arquitetura. Passei na UTFPR (Universidade Técnica Federal do Paraná). Em paralelo, pensei em postar uns vídeos no YouTube. No meu “terceirão”, foi a primeira vez que cantei sozinha na frente da galera. Tinha 17 anos na época. Cantei Lucky com um amigo, depois cantei Addicted to You. A galera adorou. Comecei a tentar me livrar da timidez, não conseguia nem apresentar trabalho, minha mão tremia demais.

E como você foi para o rap?

No cursinho, comecei a postar vídeo no YouTube. Sempre que postava algo nacional, bombava mais no meu canal. Antes, costumava postar mais música internacional, pois era o que eu mais consumia. A referência que eu tinha dos meus pais era rock, Pink Floyd. Comecei a desenvolver melhor o violão porque queria aprender a tocar guitarra, queria tocar Fear of the Dark, curtia demais Iron Maiden. O canal começou a andar, entrei na faculdade e postava vídeos toda a semana. Alguns iam muito bem, principalmente os de rap nacional, e a Pineapple me chamou para fazer um projeto com eles. Fui lá e mostrei umas músicas autorais. Nem sabia que eu tinha elas prontas, só fui juntando um monte de poeminhas. Mostrei, eles falaram que era muito bom e me convidaram para entrar no próximo Poesia Acústica, que é um projeto gigante, com a Cynthia Luz, o Froid e o Cesar MC. O Projota ainda não tinha confirmado, mas passou uma semana e entrou também.

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“Nunca cheguei a fazer aula, mas meus pais são muito católicos e a gente ia toda semana na igreja. Eu ficava entediada e prestava muita atenção nos músicos”
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Você também cantou com a Lagum no começo. Como foi isso?

Rolou um concurso de cover da Lagum. Ganhei o concurso e pude cantar para duas mil pessoas. Quase caguei na calça. Nem lembro direito o que eu fiz. Isso foi de 2019 para 2020. O produtor da Lagum gostou muito e me chamou para produzir uma música para eles. Foi minha primeira música lançada, chamada Muda Tudo. Depois fui conhecendo cada vez mais pessoas. Foi uma coisa atrás da outra. Falei: “vou trancar a faculdade, tem várias coisas na minha mão”. O canal de covers estava grande, o perfil no Instagram estava crescendo, estava conhecendo vários cantores legais. Pensei que para trabalhar com música tinha que me mudar para São Paulo. Estava ganhando dinheiro do YouTube e decidi tentar. Estava com 19 para 20 anos. Assinei com a gravadora, mudei para São Paulo, deu 20 dias e começou a pandemia. Não queria voltar para Curitiba, para mim era um retrocesso, iria voltar no tempo. Teria sido fácil voltar para a faculdade e falar: “foi só um surto, me coloca aqui de volta”.

E o que você decidiu?

Resolvi insistir. Estava morando com um amigo em um apartamento muito pequeno. Trancada ali dentro, não conseguia ter o networking que queria em São Paulo, as gravadoras estavam todas fechadas. Não tinha como fazer nada, mas pegava o violão e ficava compondo. No final do segundo ano de pandemia, comecei a conhecer mais pessoas. Estava tendo vários problemas com a minha cabeça, descobri que meu corpo não estava produzindo serotonina, eu estava comendo mal demais. Minha saúde começou a ir para o saco, não sabia o que fazer. Fui montando projetos em paralelo, mas eram projetos um pouco tristes. Estava com depressão. Comecei a me tratar e, desde então,

emagreci 20 quilos. Comecei a correr. Decidi que precisava voltar para a vida normal. Rolou um projeto com o Nando Reis. Ele me chamou pra fazer uma regravação. Foi um cara muito sinistro, a gente se conheceu e ele apostou no meu projeto, gostou e quis contar comigo. Inclusive, já cantei com ele em show, em festival.

E a Luísa Sonza?

A Luísa me chamou para participar de um camping. Camping é uma reunião de compositores, geralmente são os artistas que precisam de mais volume de música para fazer um álbum, fazer single de sustentação. No primeiro dia a gente escreveu SentaDONA. Acabei conhecendo o Rafinha RSQ, depois fui para Bahia e comecei a escrever para tudo quanto é gente. Comecei a entender que, de fato, o meu trabalho é diferente. Comecei a me divertir com os produtores, a fazer amizade, e eles começaram a me chamar para fazer músicas. Agora, cheguei em um momento que quero entender para que lado que eu vou, para ser coerente com os meus próximos projetos e fazer uma “parada” que eu acredite.

Falta direção para você? Muito. Acho que é por isso, justamente, que precisei dar uma parada. Porque eu descobri muitos lugares que eu nem sabia que existiam dentro da composição e produção. Comecei a escrever sertanejo para a Luiza Possi. No mesmo dia, escrevi um funk e uma música sobre maternidade. As duas são extremamente maravilhosas. Falei: “caraca, pra onde eu vou?” Quero fazer uma coisa que seja cada vez mais minha.

O que você considera um artista do futuro? Hoje, fica cada vez mais difícil ser autêntico, porque temos muitas referências. Sempre escutei muito Charlie Brown e queria muito

“No mesmo dia, escrevi um funk e uma música sobre maternidade. As duas são extremamente maravilhosas. Falei: ‘caraca, pra onde eu vou?’”

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fazer um Charlie Brown feminino. Sempre que parava para escrever, pensava se o Chorão escreveria algo assim. A gente tem muita informação na internet, escuta muita música diferente, tem muita coisa rolando. Para você ser fiel ao que você realmente acha bom, precisa ter muita certeza de quem você é. E, lógico, saber se adaptar, se atualizar.

Que caminho você quer seguir?

Estou fazendo uma mistura dos elementos que gosto sem parecer uma salada. Rodei em vários produtores, fui atrás de alguém que entendesse a minha cabeça. Encontrei um produtor que gosto muito, do Rio de Janeiro. Acho que, conforme a música vai se adaptando, a gente também tem que olhar para os novos formatos e tentar deixar o mais atual possível. No meu último projeto, fiz músicas completamente orgânicas. Era tudo instrumento, era guitarra, bateria, violão. Não usei essa parte eletrônica da coisa. Agora quero usar mais eletrônico.

A roupa também se comunica com o público. Como você escolhe o figurino que usa quando vai fazer um show?

Faz muito tempo que não faço um show, mas o que quero fazer é uma “pegada street”, que conversa com o cotidiano. Gosto muito dessa “pegada” do skate, mas também gosto de um estilo praia, meu cabelo está sempre meio praia. Não quero ser uma artista muito fofa, não é a minha personalidade. Vejo muito que quando rola um violão e uma voz feminina, as pessoas já associam a uma coisa fofinha. Quero um espaço forte.

Dentro dessa mulher artista e de exatas, como é o coração?

Acho meu coração meio geladinho. Gosto de ter essa casquinha para não desfocar das coisas. Se consigo me apegar às pessoas, fico meio “lelé”. Por enquanto, estou focada no meu trabalho. Quando se trata de coração, nem lembro o que é isso.

Queria que você falasse um pouquinho de como surgiu o feat com o Vitor Kley?

Tinha feito uns covers das músicas dele no meu canal. Ele já tinha visto, me seguia no Instagram. Teve um dia que escrevi uma música, violão e voz. Quando cheguei para a gravadora, eles falaram que seria maneiro ter um feat. Parei para pensar em quem poderia fazer sentido e lembrei do Vitor Kley. Mandei uma mensagem para ele no direct do Instagram. Falei que tinha escrito uma música, que achava que era a cara dele, queria que ele ouvisse. Ele me passou o telefone dele e mandei Amor não é para mim. Foi muito curioso, porque a frase que escrevi, onde ele começaria a cantar, fala bem assim: “olha lá, o sol nascendo ao contrário e a chuva tá colorida”. Quando mandei para ele, ele já mandou: “caralho, música boa, está no tom certo”. O Vitor Kley é diferente, né? Ele é uma pessoa muito legal. Ele abraçou demais o projeto, acreditou junto comigo. A música foi bem em todas as plataformas.

Você tem alguma parceria dos sonhos? Sou apaixonada por uma galera do nacional, mas quando penso em sonho gosto de pensar no internacional: Post Malone, Billie Eilish, Justin Bieber. Também estou aprendendo a tocar saxofone, quero tocar um instrumento de sopro, porque acho legal arranhar um pouquinho de tudo. Seria uma hora boa para aprender um pouco da técnica da música, tudo que aprendi foi como autodidata. Tem um músico chamado Masego que é uma referência. Quando vi ele tocando saxofone, decidi que quero que as pessoas tenham a mesma sensação quando eu estiver no palco. É uma coisa sexy, só que tão musical. Ele estava lá cantando e, do nada, pegou o sax. Comecei a entrar na brisa do saxofone. Queria ter uma troca com ele para entender como ele consegue criar uma melodia tão maluca e genial.

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de styling Adriana Faraes

“Se consigo me apegar às pessoas, fico meio ‘lelé’. Por enquanto, estou focada no meu trabalho”

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266 Gustavo Mioto

GUSTAVO MIOTO COMPLETA DEZ ANOS DE CARREIRA COM DEZ NOVOS PROJETOS E FALA DE MOMENTOS IMPORTANTES DESSA TRAJETÓRIA DE SUCESSO

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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Neto Pinheiro Beleza Ju Shinoda 5 min
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Gustavo Mioto

Natural de Votuporanga, interior de São Paulo, Gustavo Mioto já nasceu predestinado para o sucesso. Filho de Marcos Mioto, um dos empresários mais bemsucedidos da cena musical sertaneja –responsável pela produção musical dos maiores rodeios do Brasil – cantou no palco pela primeira vez antes de completar sete anos de vida. Aos dez, compôs sua primeira música e começou a receber convites para cantar em festivais e animar festas de amigos e familiares. Com 13 anos, viajou pelo Brasil como crooner de uma banda. Em 2012, com apenas 15 anos, entrou em estúdio para gravar seu primeiro álbum, intitulado Fora de Moda O ano de 2022 marca os dez anos de carreira, que o artista celebra com novos 10 projetos. Nesta entrevista, o artista fala das parcerias com Ludmilla e Luan Santana, conta um pouco da sua trajetória, sobre como foi crescer no meio do show business e cita momentos inesquecíveis dessa caminhada.

Você completou dez anos de carreira. Fale um pouco sobre esse marco. Como são dez anos de carreira, decidimos fazer dez projetos diferentes. Tem sido enlouquecedor. Já gravamos o sem cortes de Americana, o sem cortes de Jaguariúna, o pé na areia do Rio de Janeiro e o pé na areia de Floripa. Temos mais seis para fazer, seis DVDs, single ou algo assim. Mas o ano só acaba no dia 29 de julho do ano que vem. Não daria tempo de fazer dez projetos neste ano só.

Você tem feat com a Ludmilla e com Luan Santana. Pode nos contar um pouco sobre essas parcerias?

Com o Luan, já é a segunda vez que a gente grava junto. Gravamos em 2014. E, agora, gravamos Envolvidão, em Floripa. Com a Lud, gravamos Afogado, no Rio de Janeiro. Até concorremos ao MTV Miau. Eu já queria trabalhar com a Lud há muito tempo, acho que ela é muito versátil, consegue fazer tudo muito bem. E o Luan já conheço faz uns 12 anos, estamos sempre juntos. Achei que o marco de dez anos de carreira seria uma boa ideia. Ele é uma referência na minha carreira, sempre foi.

Quantos anos você tinha quando cantou no palco pela primeira vez?

Eu tinha uns seis, sete anos. Cantei Guilherme & Santiago na cidade de Jales. Me caguei inteiro (risos), mas faz parte. Se não tiver essa adrenalina, é muito estranho. Eu sou um cara muito calmo e tranquilo, mas, naquele momento, eu não estava apenas subindo no palco, eu estava botando o pé no lugar onde eu passaria o resto da vida.

Quando você estava lá, nessa primeira vez, você já sentiu que era “seu mundo”?

Sim, porque eu já estava cantando na roda de família e com amigos. Eu gostava daquilo ali e detestava qualquer outra coisa.

E você consegue lembrar de todos esses momentos que viveu aos seis anos de idade? Eu consigo, a minha memória é incrível. Para algumas coisas, né? Por exemplo, para a data do meu primeiro show eu fico errando entre 26 e 29 várias vezes (risos).

Seu pai ficava te olhando que nem o pai do Neymar fica olhando o Neymar jogar? Não, meu pai ficava olhando e torcendo

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“Eu sou um cara muito calmo e tranquilo, mas, naquele momento, eu não estava apenas subindo no palco, eu estava botando o pé no lugar onde eu passaria o resto da vida”

pra eu não continuar com aquilo. Ele ficava torcendo para que fosse só uma brincadeira. Ele é um cara que já trabalhava no mercado, que já conhecia bastante, sabia que esse trabalho exige a vida. No meio artístico, a vida é um pouco injusta. Hoje, você está bem e a galera está ali contigo. Mas se amanhã você não estiver, vão embora. Existia essa preocupação por parte dele e da minha mãe de talvez não dar certo e eu ficar frustrado para o resto da vida.

Qual a maior lição que você tirou vendo o seu pai trabalhando no show business? Acho que a maior lição é sempre manter o pé no chão. Ouvia a frase: “está vendo essa merda aqui? Não faz”. Eu aprendi a partir do erro dos outros. E foi assim que eu aprendi a minha vida inteira. Existem muitos erros que você não pode cometer em nenhuma circunstância. Errar é humano, mas tem pessoas que insistem em errar muito.

Olhando para esses dez anos de carreira, qual é o balanço que você faz dessa trajetória?

Eu não tenho dimensão. Quando estou sozinho, eu olho e acho que ainda estou no começo, que é um trabalho embrionário. Se a gente não traçar uma meta e continuar ralando todos os dias, você não sabe até onde vai.

Quando você já estava com a carreira mais consolidada, seu pai ia dar uma olhada para ver como estava?

Sim, a partir do momento que ele e minha mãe entenderam que era isso.

Como é a sua mãe?

A minha mãe é mais racional, mais pé no chão, não tem muito conto de fadas, ela chega e te passa a real. Os dois são assim. E isso me ajuda demais. Em que momento você percebeu que estava dando certo?

Eu acho que a música Impressionando os Anjos trouxe muita coisa para a gente e me traz surpresa todos os dias. A gente chegava nos lugares e a galera estava cantando a música. Quando gravamos o DVD da Anti-amor, fiquei um tempo parado, de férias, e voltamos. E eu fui fazer show em Santa Catarina e estava uma fila no lugar, ingressos esgotados. Era o recorde na história da casa. Achei que tinha feriado no dia seguinte (risos). A galera gritava na porta. Fomos fazer a abertura do show, com vários pedacinhos das músicas, e a casa quase caiu. Eu comecei a olhar para a equipe, os músicos começaram a se emocionar. Cantamos o repertório inteiro. Depois, fizemos um show no Rio Grande do Sul e foi do mesmo jeito. Depois, Fortaleza. As coisas começaram a andar. Foi um momento de acertos, eu estava experimentando o que era o acerto.

Teve algum outro momento da sua carreira que foi inesquecível?

Chegar ao Rodeio de Americana para mim é muito importante. Eu cresci no rodeio, vi todo mundo que eu venero cantar ali. Então, estar naquele palco, vendo a galera cantar o repertório inteiro, é insano. A primeira vez em Barretos também foi inesquecível. São muitos momentos, graças a Deus.

“Em casa, sempre fomos bastante ecléticos. Eu cresci ouvindo ao mesmo tempo Bruno e Marrone, Zezé e Bon Jovi”

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Quais são as suas grandes referências na música?

Em casa, sempre fomos bastante ecléticos. Eu cresci ouvindo ao mesmo tempo Bruno e Marrone, Zezé e Bon Jovi. Sempre fui fã de Capital Inicial, Charlie Brown e Simple Plan. Sempre ouvi um pouco de tudo, sempre tive esse pezinho no pop rock. Meu pai também é guitarrista e aí não tem como não escutar o rock and roll.

Quantos instrumentos você toca?

Eu sou um cara das cordas. Toco violão e guitarra. E o resto eu engano bem. Fiz umas aulas de piano.

Você lembra qual foi o primeiro show que viu na vida?

Impossível lembrar. Eu estava na barriga da minha mãe no primeiro show de Bruno e Marrone no estado de São Paulo.

Qual música sua é a sua preferida?

Impossível escolher. Não pela arrogância de falar que todas são boas, mas por cada uma vir de um lado. São várias músicas ao decorrer da carreira que me marcaram demais. Muitas vezes eu não escrevo a música em nenhum lugar, vai na minha cabeça, porque eu gosto de escrever como se fosse uma conversa. Cantar como se eu estivesse conversando.

Sobre o que você mais gosta de conversar com os seus amigos?

Videogame, instrumento, equipamento, computador.

Tem algum outro gênero musical ou alguma outra área que você pretende investir no futuro?

Eu faço algumas coisas fora da música já. A família toda mexe com outras coisas para não depender só da música.

Você tem um hobby?

Eu tenho um time de jogos eletrônicos. É um time que joga jogos de tiro no computador.

Os seus amigos mais próximos são de onde você nasceu ou são amigos de estrada?

Eu sou um cara de poucos amigos. Eu tenho amigos que compunham comigo e estão comigo até hoje. Tenho amigos que fiz no jogo e tenho amigos que estudaram comigo na escola de Votuporanga.

Qual é a diferença de cantar em uma casa fechada e cantar no espaço enorme de um rodeio?

Você tem outro tipo de liderança de palco. Em uma casa menor, você está mais próximo das pessoas, consegue ser mais íntimo e conversar diretamente. Em um lugar maior, você fala com um “bolo” só.

O que não pode faltar para fazer um show? Na pandemia, ficou muito claro que a única coisa que atrapalha é a falta de público. Fizemos lives, e é muito chato. Live é insuportável. Eu começava já querendo acabar. Acho muito chato não ter gente junto.

“Live é insuportável. Eu começava já querendo acabar. Acho muito chato não ter gente junto”

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JADE BARALDO É TODA ATITUDE. COM UM ESTILO QUE MISTURA MPB, POP, JAZZ E TRAP, SUA MÚSICA VEM CONQUISTANDO O PÚBLICO BRASILEIRO
J 112 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 266 Jade Baraldo
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Jade Baraldo é cantora e compositora. O seu mais recente single, Desapaixonar , é tema do casal Guta e Tadeu, em Pantanal . Mas essa não foi a primeira vez que a sua voz conquista os telespectadores da Rede Globo. A versão de Believe , de Cher, foi sucesso na novela Quanto Mais Vida, Melhor! e BAM BAM BAM fez parte da trilha sonora de Malhação , em 2019. Também foi na emissora que a artista revelou seu talento ao grande público quando participou do The Voice – e chegou até a final – em 2016.

A carreira de Jade começou aos 16 anos em Brusque, em Santa Catarina, onde nasceu. Mas antes disso ela já tinha muita familiaridade com o universo musical. Filha de um casal de músicos que fazia dueto em bares, cresceu ouvindo música boa. Sua versatilidade se reflete nas parcerias que tem feito, como a banda Fresno, o grupo 3030, o cantor Davi Sabbag, o rapper Luccas Carlos e as cantoras Karol Conká e Mac Júlia. Sua voz poderosa, seu estilo ousado e as letras cheias de atitude se misturam em uma combinação que já conquistou o Brasil.

Como surgiu o convite para sua música Desapaixonar entrar na trilha da novela Pantanal ?

O convite veio do Roberto Leão, que estava fazendo a trilha da novela Quanto Mais Vida, Melhor!, uma versão de Believe, da Cher. Foi uma coisa bem inesperada. Era uma música que eu já tinha feito e, coincidentemente, deu certo para os personagens, parece que foi feito para eles, inclusive.

Qual é a sensação de ouvir a sua música na TV?

É muito estranho e é muito “massa”. Porque novela é uma coisa que faz parte da nossa vida. Eu lembro que O Clone foi uma novela que me marcou muito, eu fiz o teste para fazer a filha da Jade (interpretada por Giovanna Antonelli) na época. Comecei a praticar dança do ventre por causa da novela. Então, saber que a minha música está entrando na vida das pessoas dessa forma é muito bom.

Qual dos personagens de Pantanal que você mais gosta?

A Guta, né? Super a ver comigo. Além de estar ficando com a galera mais gata do Pantanal , ela é supersensata. Tem umas frases um pouco militantes demais, mas eu me identifico com o que ela fala, com o pensamento dela, os ideais dela. Foi perfeita essa trilha para ela!

Você falou das bandeiras feministas da Guta. Pra você essa é uma bandeira importante como cantora?

Acho que não é só bandeira, é o que eu sou. Eu sou mulher, eu vivo essa realidade e, simplesmente, canto o que eu vivo.

As minhas músicas são muito autobiográficas, acabo fazendo isso de uma forma muito natural, tanto que eu nem percebia que estava sendo feminista, mas depois eu me dei conta que sempre fui.

Como você começou na música?

A música sempre esteve na minha vida. O meu pai é violonista, minha mãe era cantora. Eles eram uma dupla de canto -

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“As minhas músicas são muito autobiográficas, acabo fazendo isso de uma forma muito natural, tanto que eu nem percebia que estava sendo feminista, mas depois eu me dei conta que sempre fui”

res de bar. Eu cresci escutando muita MPB, Elis Regina, Amy Winehouse. Cresci nesse meio musical, dormindo nas cadeirinhas dos bares. Me dei conta de que era isso que eu queria fazer da minha vida com 16 anos, quando fiz minha primeira música, Eco . Me mudei para o Rio com 17, apareceu uma oportunidade do The Voice.

Você chegou à semifinal, né? Como foi essa experiência? Mudou muito a sua vida? Completamente, foi um marco muito grande para mim. Foi no palco do The Voice que eu senti que era aquilo que eu queria da minha vida. Dava um nervoso muito grande, mas quando estava no palco, eu fechava o olho e sentia uma imensidão, me sentia muito conectada comigo mesma. O palco do The Voice me deu essa certeza. Foi uma exposição muito grande, é dos maiores programas da Globo, então foi uma experiência muito única.

E o que significa esse coração tatuado? Esse coração eu fiz quando tinha 16 anos. Foi minha segunda tatuagem. Eu tenho a lua em capricórnio, gosto muito de astrologia. O capricórnio significa que é metade pedra e metade coração. A pedra representa força para mim e o coração, a carne, a vulnerabilidade. A dualidade que eu sou, o que eu vivo.

A sua música Aguenta caladinha está estourando com a Karol Conká e a Mac Júlia. Como surgiu essa parceria? Foi muito inusitado, porque veio uma parte da Carolzinha, que é uma compo -

sitora e cantora maravilhosa. Foi quando saiu aquela notícia da menina de dez anos que foi impedida de fazer o aborto legal. Aquilo criou uma comoção muito grande entre as mulheres. A Carolzinha soltou isso que ela fez na hora e aquilo bateu profundamente em mim. Falei: “Carol, posso finalizar essa música? Vamos lançar um feat ?” Ela falou que não podia por causa da agenda de lançamentos. Então eu falei: “tá, você me dá ela que eu termino e lanço?” E ela me deu. Eu resolvi chamar a Karol porque é uma música que fala sobre muita coisa. Karol é uma mulher preta, a Mac é uma mulher que tem um gênero musical bem diferente do meu e eu quis trazer esses universos para representar as mulheres do Brasil.

Tem projetos novos que pode contar para a gente? Sou fã das grandes cantoras de pop, mas eu gosto muito de arte também. Eu acho que neste momento, depois da pandemia, estamos muito carentes de arte. Então eu quero juntar o pop com a arte, com a profundidade, com o sentimento e é isso que eu vou fazer. Sou uma pessoa muito eclética, gosto muito de compor diversos gêneros musicais e eu vou explorar muito isso daqui para frente. O resto tem que acompanhar, não posso ficar dando spoiler.

Quais são suas grandes inspirações, referência de mulheres na música? Minha mãe, primeiro. Elis Regina, fiquei fã por causa da minha mãe e escutei muito, muito mesmo. Amy Winehouse,

“A música sempre esteve na minha vida. O meu pai é violonista, minha mãe era cantora. Eles eram uma dupla de cantores de bar”

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Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan. Eu gosto muito das grandes cantoras de jazz. Lady Gaga para mim é uma referência absurda. Lana Del Rey como compositora. A Beth Hart, que é mais conhecida no segmento do blues, é uma cantora que eu admiro muito também. É uma lista imensa.

O que você tem escutado, o que está na sua playlist?

Tenho escutado muito Aguenta caladinha , que está sendo bem necessário para mim no momento. Daqui do Brasil, Rachel Reis e Marina Sena. Dos gringos, eu escuto muito Lana Del Rey e Rosalía. Essas perguntas são sempre difíceis, porque eu nunca lembro. Tenho que pegar meu Spotify e abrir.

Como Brusque te vê hoje?

Olha, não sei. É bom perguntar para a galera de lá. Tem muita gente que me admira, mas tem muita gente que acha que eu tenho opinião muito forte. Brusque é uma cidade muito conservadora, mas tem muita gente com muito talento, vontade de mudar as coisas, de fazer

as coisas acontecerem, o movimento cultural está crescendo muito. As minhas maiores referências em Brusque são meus professores, que foram os que mais me apoiaram, foram minha maior inspiração e apoiam até hoje o movimento cultural de lá. Meu professor de literatura, em especial.

Você tem feito shows?

Tenho, fiz agora no Mineirão, em setembro. E acabei de estrear um show novo também, que não é só um show, é um evento. Se chama Fetiche da Jade. Tem bailarinos, tem banda, bem completo. Vou levar para a estrada.

Você faz questão de participar da produção e direção de arte dos videoclipes também?

Sim, sempre fui assim. Gosto muito. Uma coisa interessante que eu tenho, além de levar minha vida de uma forma lúdica para o videoclipe, é que eu sonho muito. Eu anoto os meus sonhos e geralmente coloco muitas coisas deles no roteiro.

“A pedra representa força para mim e o coração, a carne, a vulnerabilidade. A dualidade que eu sou, o que eu vivo”

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URIAS, QUE JÁ MOSTROU SEU TALENTO NAS PASSARELAS E NA MÚSICA, LANÇA O SEGUNDO ÁLBUM DA SUA CARREIRA

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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling André Philipe Beleza e Cabelo Camila Anac 5 min
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“Estava trabalhando como modelo, só fazia passarelas, mas não tinha mais para onde eu ir na moda aqui no Brasil”

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Nascida em Uberlândia (MG), a modelo, cantora e compositora Urias fala sobre representatividade em suas músicas e atitudes. As ofensas que sofreu na infância e adolescência formaram um terreno fértil para que ela se tornasse uma artista com uma postura de enfrentamento em tudo o que faz. Mulher trans, ficou conhecida pela amizade e parceria com Pabllo Vittar, para quem abriu os shows na etapa europeia da turnê I Am Pabllo Global Tour. Mas seu talento alcançou voo solo. Como modelo, participou do SPFW, da Casa de Criadores e estampou a capa de várias revistas. Na música, mesmo cantando desde criança, começou despretensiosamente fazendo covers. O primeiro foi Meu Mundo é o Barro, do grupo O Rappa. Foi o início de uma jornada de sucesso. Em maio de 2021, Urias lançou seu álbum de estreia: Fúria e, neste ano, lança Her Mind. Urias foi a primeira mulher trans a colocar duas músicas do mesmo álbum simultaneamente no Top 15 do iTunes BR, e a primeira mulher trans negra a ter um álbum em primeiro lugar na plataforma.

Como você começou na música? Sempre cantei, mas não cantava para os outros, tinha vergonha de cantar.

Como você perdeu a vergonha? Mais ou menos no começo desse ano. Estava trabalhando como modelo, só fazia passarelas, mas não tinha mais para onde eu ir na moda aqui no Brasil. Comecei a tentar me jogar na música. Comecei através dos covers e joguei na internet sem muita pretensão. Deu muito certo, comecei a fazer as minhas músicas autorais, meu EP, e agora vou fazer meu segundo álbum.

Como foi essa experiência de modelo? Te ajudou de alguma forma na música?

Essa parte da moda me ajudou muito a entender sobre tudo que envolve imagem, a ter noção corporal, saber andar, sentar. Ainda faço as duas coisas, então só estou acrescentando. Conhecimento não tem como ninguém tirar de você.

E qual a mensagem que você quer passar hoje com o estilo de se vestir?

Quis apostar numa coisa que está rolando agora, mas que também está visando o futuro: o upcycling clothing

Como começou sua relação com a Pabllo Vittar, e como foi a experiência da turnê?

Conheci a Pabllo em Uberlândia. A gente sempre esteve juntas, compartilhando os mesmos sonhos, e as coisas foram andando. A turnê foi incrível. Não esperava a recepção que tive lá de fora

Vocês rodaram vários países, né? Sim. Teve Londres, Amsterdã, Paris, Dublin, mas espero muito em breve voltar lá com outra turnê. Foi uma experiência muito boa.

Vocês duas juntas param a cidade! Por isso a gente teve que vir para cá, em Uberlândia era difícil. É difícil quando estamos juntas, muita energia!

Quando você volta para Uberlândia, como a cidade te recebe? Volto escondida. Não tem como, volto quietinha.

Você gosta de viajar? Tem algum destino que sonha conhecer?

Quero muito ir para Tóquio, Nova York, Bangkok. Quero entender como são esses polos grandes, como funcionam as coisas, como é a noite, como as pessoas consomem música.

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De todos lugares que você já foi, qual mais gostou? Amsterdã.

De todas as cidades que você já passou, qual acha que é a cidade com a cabeça mais aberta?

Acho que é Salvador. Falando de desenvolvimento cultural, eles fazem música de outro jeito. Parece que vem da terra, é muito natural. Eles inventam muita coisa que não chega aqui. Quando você vai para lá, ouve muita coisa que nunca ouviu.

Como é a sua relação com as redes sociais? Tive muitos amigos e amigas que estouraram no meio do “rolê” e atrapalhou muito a vida pessoal. Não quero que aconteça comigo. Penso muito que o meu dia a dia não é tão “uau”, entendeu? Quando tem alguma coisa “uau” acontecendo, com certeza vou registrar. Minha plataforma é para o meu trabalho. Então, prefiro direcionar toda a minha energia na internet para, quando eu postar alguma coisa, as pessoas entenderem que é importante. As pessoas dão muita opinião na internet, tem comentários e comentários. Tem dias em que você não se abala, mas tem dias que se abala mais fácil. Prefiro manter uma certa distância das redes sociais para não me perfurar.

Você é uma das embaixadoras da Adidas. Como surgiu o convite para essa parceria? Sempre tive uma boa relação com a marca. De onde venho, não é muita gente que tem Adidas. Então, quando tinha, queria mostrar. Tinha um tênis da Adidas, usei na escola todos os dias durante dois anos. Já me machucava e eu usava mesmo assim. Quando comecei a fazer música, eles entraram em contato por meio da minha equipe. Acho que eles sempre estiveram

de olho em mim. Já no primeiro trabalho, me botaram como embaixadora e me levaram para a Argentina.

Com quais marcas que você trabalha hoje? Além da Adidas, trabalho muito com a Jean Paul Gaultier, com a Chivas, de whisky, e com a Baer-Mate, um chá energético natural.

Você ainda mantém as amizades de Uberlândia?

Fiz um show lá na semana passada e foram vários amigos meus, de ensino médio, cursinho, faculdade. De várias etapas da minha vida.

Se você fosse a prefeita de Uberlândia, qual a primeira coisa que faria? Não sei o que é possível fazer, mas iria fomentar a cultura e a arte. É o que abre caminho para muita coisa. Independente de recorte, a arte é o que une as pessoas. Faz girar dinheiro e muita informação.

De qual etapa da sua vida você sente mais falta?

Sinto falta da tranquilidade, da minha obrigação de só ir para a escola e estudar. Sem essa responsabilidade de ter que me sustentar.

Teve algum momento muito marcante na sua trajetória?

Teve vários. O feat que eu fiz com a Gaby Amarantos e com o Ney Matogrosso, a própria turnê pela Europa, o Afropunk.

Quando você viu seu primeiro cartaz na Europa, te deu uma tremedeira? Sabe quando você olha e não acredita que é você? Não caía a ficha, esse era o sentimento.

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“É um álbum muito importante, porque falo coisas que não necessariamente são ditas sobre pessoas como eu”

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Quais são os seus projetos, que sonhos você ainda quer conquistar?

Tanta coisa! Queria muito ter um cachorro. De projeto, estou lançando o Her Mind, que vai ser lançado em três partes, tem esse primeiro EP, depois o segundo EP e, por último, o álbum.

Como foi o processo de produção e lançamento do Her Mind?

Queria não falar, necessariamente, do meu corpo. Queria ser apreciada pela minha mente também. Entrei nesse processo de começar trazer toda a minha questão para o lado biológico e natural, para conseguir naturalizar minha existência. O Her Mind é mais ou menos sobre isso.

Vai ter algum feat?

A terceira parte vai impressionar, vai vir fechando. A minha pretensão é deixar feats mais para terceira parte. Mas, se no meio do caminho, alguma coisa cruzar com o meu trabalho, que tenha muito a ver, com certeza vou colocar.

Você se envolve na direção dos videoclipes? No meu primeiro videoclipe escrevi o roteiro, desenhei as roupas. Não tinha muita gente em volta e tive que fazer. Foi o de maior sucesso.

Conta um pouquinho também do álbum Fúria?

A partir do Fúria, começaram a levar meu trabalho mais a sério. Não que não levassem antes, mas deram uma importância maior. É um álbum muito importante, porque falo coisas que não necessariamente são ditas sobre pessoas como eu. Pude falar o que eu queria, apresentar esteticamente as coisas. É um divisor de águas.

Quais são as suas referência musicais? O que você tem escutado? Estou em uma vibe mais triste. Sabe quando você termina um relacionamento e no começo está de boa, mas depois fica: “porra, não tem mais”. Tenho escutado mais R&B, os álbuns da Beyoncé. Gosto de ouvir músicas avulsas, então crio minhas playlists de acordo com meu humor. Se estou triste, já coloco uma Lana Del Rey.

Você já recebeu uma cantada inesquecível? Sim, uma vez que eu estava em um avião, voltando de Salvador, o homem estava na minha frente, virou para trás e perguntou como eu me chamava. Ele falou que tinha uma conexão e iria esperar seis horas. Me chamou para almoçar e fui almoçar com ele. Achei corajoso ele virar para trás e me chamar para almoçar. Nem nos lugares propícios isso acontece.

Você chegou a se encontrar com ele outras vezes?

Não, nem era meu tipo. Fui só pela experiência. Ele foi muito educado, muito respeitoso, achei legal ele me chamar para almoçar no meio do voo. Bem coisa de filme.

Qual foi o maior ensinamento que a transição para a música te proporcionou?

Sem querer ser egocêntrica, mas me deu uma noção que muita coisa é possível. Não acreditava que coisas fossem possíveis. Se me falassem, há cinco anos, que iria acontecer isso na minha vida, não acreditaria jamais. Essa minha trajetória me mostrou que é possível chegar ao resultado se você corre atrás e você tem que se prender nesse resultado para chegar a outro resultado. Minha trajetória me mostrou possibilidades, ter um chão para poder sonhar.

“Entrei nesse processo de trazer toda a minha questão para o lado biológico e natural, para conseguir naturalizar minha existência”

Assistente de beleza Andrey Batista
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Assessoria de imprensa Melina Tavares Comunicação
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WANESSA CAMARGO COMPLETA 22 ANOS DE CARREIRA COM MUITA HISTÓRIA PRA CONTAR E UM PROJETO INCRÍVEL QUE MOSTRA A RELAÇÃO DE AFETO E AS INFLUÊNCIAS QUE RECEBEU DO PAI, ZEZÉ DI CAMARGO Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Erick Maia Beleza Jonas Santos 5 min
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Wanessa Camargo
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Wanessa Camargo despontou no cenário pop no ano 2000. Embora seja filha de um dos maiores expoentes da música brasileira, o cantor Zezé Di Camargo, a artista provou já no início da carreira que tem brilho próprio e muito talento. Hoje, com mais de duas décadas na estrada, continua sentindo o mesmo frio na barriga quando sobe ao palco e canta para multidões no Brasil e no exterior. Entre os seus hits mais famosos estão O amor não deixa; Amor, amor; Me engana que eu gosto; Shine It On e Eu quero ser o seu amor. Suas músicas trazem o romantismo na essência e seu som flerta com muitas vertentes: desde as raízes sertanejas até o pop, eletrônico e R&B. A cada trabalho que lança – já são 10 álbuns, dois DVDs, muitos sucessos, colaborações e premiações – ela mostra mais maturidade e autonomia musical.

Mãe de dois meninos – José Marcus, de dez anos e João Francisco, de oito – foi casada com o empresário capixaba Marcus Buaiz por 17 anos. Durante a sua trajetória, já passou pelo teatro, televisão e cinema. Recentemente, com o projeto Pai & Filha, revelou mais do que talento, encantou o público com uma história de parceria e carinho construída com seu pai e maior incentivador. Nesta entrevista, Wanessa conta um pouquinho da sua história, sonhos e projetos.

Em outubro deste ano, você completa 22 anos de carreira. Olhando para trás, qual balanço você faz desse período?

Eu tenho muita história para contar. É uma caminhada longa, mesmo que eu tenha a impressão de que comecei ontem. Parece que eu pisquei e fiz 22 anos de carreira. Existem álbuns incríveis. Conseguimos construir uma base de pessoas que me acompanha e curte meu trabalho há muitos anos. Tem gente que acompanha desde o primeiro álbum, tem

gente que começou no último. Eu fico muito feliz por essa história, mas ainda tenho muita coisa para construir. Eu também pude aprender muita coisa, porque comecei muito nova.

A minha experiência foi um “se joga”. Eu fui saber o que era palco, já estreando com uma turnê grande. Eu fui aprendendo a lidar com câmera, televisão, foto e entrevista no meio do caminho. Eu não me preparei antes. Eu não fui preparada para o sucesso. Eu me joguei e fui aprendendo durante o caminho.

Quando você começou?

Eu tinha 17 anos quando comecei, antes eu já dançava e fazia algumas coisas dentro do mundo artístico, mas não como carreira.

Na primeira vez que você pisou no palco, te deu frio na barriga?

Sim. Sinto até hoje. Graças a Deus, isso não passou. Eu tenho um respeito tão grande por aquilo que eu vou entregar no palco que bate uma ansiedade e uma preocupação para que dê tudo certo e aconteça como o planejado. É uma ansiedade saudável e gostosa, dá aquele frio na barriga bom, é como saltar de paraquedas, se jogar. Acho que o dia que essa sensação acabar é hora de parar. A entrada no palco é um extâse, é uma vibração energética, é uma troca incrível com as pessoas.

Quem é o seu fã mais fiel? Depende. Às vezes a pessoa mora longe, mas acompanha tudo. Isso não quer dizer que ela é menos fã do que o outro. Quando eu comecei, eu tinha 17 anos e meus fãs tinham uns 12, outros tinham a minha idade e poucos eram mais velhos do que eu. Éramos todos adolescentes, então às vezes tinha birra, tipo “ai, você não falou comigo”. Isso é delicado. Quando a gente começa a carreira, não sabe-

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“A minha experiência foi um ‘se joga’. Eu fui saber o que era palco, já estreando com uma turnê grande”
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“A entrada no palco é um extâse, é uma vibração energética, é uma troca incrível com as pessoas”

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mos lidar com essas coisas. A primeira menina que me pediu autógrafo foi a Denise, no Rio de Janeiro, na saída do Projac da Globo. Nunca vou esquecer. Eu fiquei tão feliz que convidei ela para me acompanhar em umas fotos que eu ia fazer. Ela me acompanhou o dia todo. Às vezes, ela aparece em alguma live e fala: “sou eu, a De”. Conforme fui crescendo e o número de fãs aumentando, isso não foi mais possível. Mas eu sempre tento dar o máximo de atenção. O mais bacana é que, com o tempo também, quando eu preciso sair correndo de verdade, eles entendem, porque sabem que eu sempre dou atenção. Se eu não parar, é porque o motivo são meus filhos ou uma reunião muito importante.

Onde foi seu primeiro show?

Em São Paulo, no Palace. Foi um show produzido pelo meu pai e casado com a ação Mundo Jovem.

Como surgiu o projeto Pai & Filha e como está sendo?

Nós já estamos finalizando esse projeto. Foi muito especial. Queríamos fazer isso há muito tempo. Na pandemia, tivemos a oportunidade de estar mais perto, estávamos na fazenda durante o lockdown e aí começamos a pensar no álbum. Junto, surgiu a ideia de documentar e mostrar os bastidores. Criamos a ideia e a Netflix fez o projeto, contando o processo e nossa vida também. Eu sou fã desse álbum, acho que é atemporal, são músicas lindas. Nesse projeto, eu pude trazer mais da minha raíz sertaneja, do meu jeitinho, cantando com o meu pai. Nós juntamos dois mundos: pai e filha + música. Não é toda a identidade do meu pai e nem toda a minha, é uma identidade misturada, nós dois nos encontramos.

Quando você está no palco com o seu pai e vocês se olham, o que você sente?

Muito amor. Penso na minha história com

ele. Ao mesmo tempo que é muito íntimo e confortável, afinal, é o meu pai. Eu também o admiro como artista, fico babando. É emocionante, ele é um dos ícones da música brasileira, mas ele nem tem ideia do tamanho dele. É uma honra. A gente troca muito, ele me trata como se eu soubesse as mesmas coisas que ele. Eu falo: “pai, você é o cara”, mas ele troca, ele quer ouvir, humildade é uma das qualidades dele.

Qual é o seu maior sonho?

Já estou realizando os meus maiores sonhos. Meu maior sonho sempre foi cantar, trabalhar com música e fazer disso a minha vida. Estou realizando isso. Outro sonho que estou realizando é ser mãe. Eu não tinha o sonho de casar, mas tinha o de ser mãe.

Como conciliar maternidade e vida profissional?

É aí que pega para mim, é difícil. Não consigo levá-los em tudo, mas acho importante levar para eles entenderem meu trabalho. Eles não compreendiam muito bem o que eu fazia. Por isso, gosto que eles vejam como funcionam os ensaios e as gravações. Acho importante eles entenderem por que eu viajo ou chego tarde e não consigo colocá-los para dormir. Mas às vezes sinto culpa por não poder acompanhar algumas atividades. Hoje, por exemplo, marquei aqui mais cedo para poder ficar com eles depois da escola. Pode não ser uma superquantidade de tempo, mas é de qualidade. Sei que não vai ser 100% perfeito.

Se seus filhos quisessem seguir no meio artístico, qual conselho você daria?

Fujam (risos). Brincadeira! Eu estaria do lado deles. A coisa que eu mais me preocupo é não cortar as asas deles, quero deixá-los sonhar e ser quem quiserem. Com uma condição: se eles forem morar fora, vou junto (risos).

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“Nesse projeto, eu pude trazer mais da minha raíz sertaneja, do meu jeitinho, cantando com o meu pai. Nós juntamos dois mundos: pai e filha + música. Eu não tinha o sonho de casar, mas tinha o de ser mãe“

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do dia OS CARROS COLORIDOS IMPRIMEM A PERSONALIDADE DE SEUS DONOS: DO MAIS EXAGERADO AO MAIS COOL. OBJETO DE DESEJO DE COLECIONADORES, ELES SÃO CAPAZES DE TRANSFORMAR SONHOS EM REALIDADE Texto Doris Bicudo Fotos Divulgação 3 min 137
Look

Uma característica de nós, humanos, é a de ter opinião. Eu, pessoalmente, tenho uma análise para tudo. E todos, na maioria das vezes. Difícil mesmo é voltar atrás. Quando surgiu a pauta de fazer uma matéria sobre carros coloridos, fiquei entusiasmadíssima. “Vou falar mal”, pensei. “Dar pinta” por aí dentro de um possante de cor vibrante na minha cabeça é como ir a uma festa vestida de outro tom que não seja o preto. Aos meus amigos fashionistas peço desculpas mas mudei meu conceito depois de iniciar minha pesquisa sobre o tema. Oh céus! Quem diria... Vamos começar pelo vermelho. Cor linda para batons e esmaltes e também para um Ferrari. Adoro “Ferraris” assim como Chanel. Já visitei até a fábrica em Maranello, na Itália. Fiquei impressionada como os carros são construídos em um paralelo entre o mais sofisticado da tecnologia com o artesanal. São tantas as opções para o comprador customizar seu carro que não saberia por onde começar. Ah, também amei os uniformes dos mecânicos: calça e camisa cáqui. Alguns ainda arrematavam o look com um lencinho amarrado no pescoço. Luxo total. Descobri também que Janis Joplin foi a feliz proprietária de um Porsche 356 C, 1965, devidamente customizado por seu amigo Dave Richards. Até então, a única ligação com o setor automobilístico que dava conta que a roqueira tinha era do desejo por um Mercedes-Benz que ela implorava a Deus em uma canção. Também fiquei sabendo que os ladrões não são capazes de roubar um carro colorido. Por motivos óbvios. Já imaginou cruzar com alguém na rua e ouvir que viu sua Ferrari “amarela gema de ovo” rumo ao desmanche? Por falar em gema de ovo, vamos dar uma popularizada, voltar no tempo e deparar com o Brasília amarelo. Confesso que tive um. Digo também que nunca me senti muito à vontade dentro dele. Escolhas que a vida faz para a gente sem se preocupar muito com a nossa opinião.

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Fiquei sabendo que ladrões não são capazes de roubar um carro colorido. Por motivos óbvios. Já imaginou cruzar com alguém na rua e ouvir que viu sua Ferrari amarela rumo ao desmanche?

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Os esportivos que me desculpem, mas os tons fortes, na minha opinião, só valem para os Porsches e Ferraris. Em contrapartida, caem superbem para os utilitários. Se fosse comprar um 4x4, não hesitaria em escolher um verde-folha ou um azul-celeste, que ornam com as aventuras radicais.

Para mim, carro colorido é como um All Star: só pode ser usado aos finais de semana ou nas férias. No mais, o pretinho básico – ou cinza metálico – é a opção. Vamos combinar que o seu sedã premium não tem nada a ver com a casa de praia. Assim como não é o caso chegar a uma festa black tie a bordo de um carro que não é de luxo. Certo? Duas regras de conduta para as quais não existem exceções.

Quantas vezes você, paulistano ou de outras cidades, já ergueu a mão para um carro branco que não fosse táxi? Eu, inúmeras. Mas não podemos generalizar o fato como um vexame urbano já que o branco – assim como o prata – é preferência nacional.

Pesquisas apontam que as tonalidades foram as mais populares em 2014. O preto, coitado, amargou apenas 13% das escolhas. Enquanto os vermelhos e os azuis ficaram com 8% e 2%, respectivamente. Na Europa o branco também predomina com 25% e o preto, em segundo lugar, com 15%. Já nos Estados Unidos os vermelhos, azuis e verdes continuam predominando entre os modelos esportivos.

Mas se você que faz a linha conservadora quiser se arriscar a novas experiências, pode customizar seu possante como bem entender. Acaba de ser lança-

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da uma tinta spray que, depois de seca, faz uma camada emborrachada sobre a pintura de seu carro. E sem danificá-la, segundo o fabricante. O produto chama-se Mundial Prime e cada lata pode ser comprada por R$ 40, aproximadamente. Uma latinha, vale lembrar, não chega a render quase nada.

As customizações, por sinal, podem ser muito perigosas e não são imunes a “micos”. Imagina no primeiro encontro se deparar com um carro ornamentado com a bandeira do time do coração? Dele, é claro. Seguindo a linha “carro-ostentação”, o milionário árabe Humaid Abdulla Albuqaish adora mostrar em seu Instagram suas duas paixões: animais ferozes e carros de luxo. Leões e tigres interagem com Ferraris vermelhas e Lamborghinis amarelos em total intimidade. Não importa o preço do sonho, o que vale é realizá-lo. De um Fusca corde-rosa a um modelo de luxo criado sob medida, os adoradores de carros coloridos fazem parte de um seleto grupo e imprimem suas personalidades de uma forma simples e direta: com apenas um olhar podemos definir o quanto vaidosos eles são de suas máquinas. Exibicionistas? Talvez. Mas, como a gente, apaixonados por carros...

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Os esportivos que me desculpem, mas os tons fortes, na minha opinião, só valem para os Porsches e Ferraris. Em contrapartida, caem superbem para os utilitários
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MONA LISA – LEONARDO DA VINCI (1503

Museu do Louvre – Paris, França

A 1519)

Leonardo da Vinci foi um artista perfeccionista e trabalhou obsessivamente em sua Mona Lisa para conquistar o olhar intenso e o sorriso enigmático que até hoje intrigam seus admiradores. É a pintura mais famosa de todos os tempos, com infinitas releituras na literatura, cinema e moda. Sua fama é enraizada em diferentes fatores, incluindo as técnicas revolucionárias que criam efeitos de sombra e luz; e o roubo de 1911 que a deixou desaparecida por dois anos e levou sua imagem a noticiários do mundo inteiro. Mas o estrelato não vem sem agruras. Mona Lisa já foi alvo de diversos ataques – de banho de ácido à borrifada de tinta vermelha. Hoje, repousa mais tranquila por trás de um vidro blindado, sob os olhares e selfies dos visitantes, que somam cerca de dez milhões todos os anos.

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Clássicos atemporais

São milhares – talvez milhões – de obras de arte que passam por nossos olhos ao longo da vida, seja nos corredores de museus renomados ou no feed do Instagram. A maioria cai inevitavelmente no esquecimento após um breve momento de admiração ou desinteresse. Algumas poucas têm o poder de penetrar a memória. Ainda mais raras são aquelas que ultrapassam todos os limites temporais e geográficos ao conquistar lugar cativo no imaginário coletivo. O que faz a fama de algumas enquanto tantas outras estão fadadas ao anonimato? A receita exata do sucesso é uma incógnita. Certamente, leva boa dose de inovação, grandes porções de primor técnico e pitadas generosas de senso estético. Porém, determinar pesos e medidas é tarefa impossível. Já que a arte é uma forma de expressar o que não cabe em palavras, é seguro dizer que quando uma obra ecoa durante séculos nas mais variadas sociedades, é porque carrega mensagens universais. Ainda que a trilha para a fama nem sempre se explique, o que se pode afirmar com convicção é que um dos grandes triunfos da arte é seu caráter inesgotável. Mesmo as pinturas mais celebradas – excessivamente reproduzidas, analisadas e observadas – podem guardar muitos segredos. Detalhes quase imperceptíveis; histórias desconhecidas sobre sua criação; novas interpretações ou, simplesmente, a emoção que desperta em você.

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A ÚLTIMA CEIA – LEONARDO DA VINCI

(1495 A 1498)

Convento Santa Maria delle Grazie – Milão, Itália Há mais de cinco séculos, o enorme afresco embeleza o antigo refeitório do convento e representa a última refeição de Jesus Cristo. Nas mãos de Da Vinci, a temática corriqueira ganha toques inovadores que a elevaram ao status de obra-prima universal. O mestre renascentista retrata o momento em que Cristo revela haver um traidor entre eles, eternizando apóstolos expressivos e uma atmosfera caótica. Da Vinci não foi tão assertivo na técnica de pintura escolhida e rapidamente a obra mostrou sinais de deterioração. Ainda assim, resistiu à inevitável ação do tempo; a duas guerras; e à tropa de Napoleão, que usou o local para treinamento de tiro. Entre trancos, barrancos e restaurações – algumas desastrosas, outras minuciosas – a obra segue firme e ainda arranca suspiros.

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Onde está Judas Iscariotes? É o quinto apóstolo, da esquerda para a direita, o único representado com o rosto parcialmente encoberto por uma sombra

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A NOITE ESTRELADA – VINCENT VAN GOGH

(1889)

Museu de Arte Moderna (MoMA) – Nova York, Estados Unidos Apesar de reconhecido hoje como um dos principais nomes da arte ocidental, Van Gogh não testemunhou o próprio sucesso. Em vida, vendeu uma única pintura e passou seu último ano em um asilo psiquiátrico em Saint-Rémy-de-Provence, no sul da França. Ali, concluiu mais de 150 pinturas, entre elas uma de suas obras mais celebradas: A Noite Estrelada. Em contraste com o céu turbulento – reflexo de seu estado psicológico agitado – e o vilarejo pacato, historiadores identificaram a representação de Vênus, à direita da árvore. Em carta a seu irmão, Van Gogh relata que passava horas admirando o brilho intenso do planeta e estudos comprovaram que, de fato, Vênus estava bem visível na primavera de 1889.

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O GRITO - EDVARD MUNCH (1893)

The National Museum – Oslo, Noruega Uma das obras pioneiras do expressionismo, O Grito transmite angústia e solidão com as cores escuras e traços sinuosos do personagem principal. Escrita a lápis no canto da tela, a frase “só poderia ter sido pintada por um louco” intrigou pesquisadores durante mais de um século: ato de vandalismo ou mensagem secreta do pintor? Após longos estudos, o mistério foi revelado em 2021. A inscrição foi feita pelo próprio Munch após a primeira exposição da obra, quando ele sofreu com as duras críticas e questionamentos sobre sua sanidade mental. Ironia ou expressão de sua fragilidade? Não sabemos. O que fica claro, porém, é que a sua representação da ansiedade humana é tão atemporal que conquistou fama mundial e diversas releituras na cultura pop contemporânea – dos filmes de terror Pânico ao emoji assustado.

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GUERNICA – PABLO PICASSO (1937)

Museu Reina Sofia – Madri, Espanha Profundamente impactado com o bombardeio na cidade espanhola Guernica, em 1937, Picasso decidiu retratar os horrores da guerra na obra que preparava para a Exposição Internacional de Paris. O sofrimento, a angústia e o desespero da população transparecem nos personagens com estética cubista em tamanho colossal – o painel tem quase oito metros de extensão. A paleta monocromática faz referência às fotografias veiculadas nos jornais da época, enquanto o touro e o cavalo simbolizam ícones da cultura popular espanhola, desrespeitados impiedosamente pelos ataques violentos. A obra se tornou símbolo mundial da paz e um potente manifesto antiguerra.

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Quando uma obra traduz com maestria um sentimento universal, pode reverberar durante séculos e permanecer sempre atual

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O BEIJO – GUSTAV KLIMT (1907 A 1908)

Museu Belvedere – Viena, Áustria Inspirado por mosaicos bizantinos, Gustav Klimt incorporou folhas de ouro em muitas de suas telas e criou a obra mais icônica de sua carreira: O Beijo. Praticamente em fusão, os dois corpos podem ser diferenciados pelas estampas de suas roupas – formas retangulares que simbolizam a masculinidade; flores e figuras arredondadas que remetem à fertilidade. A tela gera interpretações ambíguas: enquanto alguns veem a representação romântica de um casal no auge da intimidade, outros enxergam o retrato da dominação masculina. Ainda que replicada à exaustão, a tela original permanece impressionante. Seu tamanho grandioso – 1,80m x 1,80m –e o brilho inimitável das folhas de ouro exercem fascínio imediato em quem a vê pessoalmente.

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O NASCIMENTO DE VÊNUS – SANDRO BOTTICELLI (1485)

Galleria degli Uffizi – Florença, Itália

A pintura mais antiga desta seleção, ícone do Renascimento italiano, é inovadora em diversos quesitos. A começar pela técnica: foi a primeira pintura sobre tela da Toscana, que até então conhecia apenas pinturas em paredes ou madeiras. A temática é também vanguardista. Em uma época na qual cenas bíblicas eram privilegiadas, Botticelli retrata um episódio da mitologia e uma das primeiras mulheres nuas da história da arte. Emergindo de uma concha, Vênus, a deusa do amor, é recebida pela deusa da primavera com um manto florido e, à esquerda, pelos deuses dos ventos que assopram rosas em sua direção.

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A CRIAÇÃO DE ADÃO – MICHELANGELO (1508 A 1512)

Capela

Sistina – Vaticano

Exímio arquiteto, escultor e pintor, Michelangelo foi definitivamente um dos grandes gênios de seu tempo. Relutou em aceitar o convite do Papa Júlio II para adornar o teto da Capela Sistina, no Vaticano, mas acabou cedendo às insistências e pintou importantes passagens bíblicas com impressionante riqueza de detalhes. A Criação de Adão é o mais famoso dos afrescos da capela e retrata o momento exato em que Deus criou o homem “à sua imagem e semelhança”. Análises mais recentes da obra apontam que o manto vermelho tem o formato de um cérebro e poderia ser uma simbologia para o racionalismo – teoria que faz sentido, já que Michelangelo era fascinado pela anatomia humana.

154 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 266 Cultura

Pinturas grandiosas são inesgotáveis.

Ainda

MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA – JOHANNES VERMEER

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Mauritshuis – Haia, Holanda Conhecida também como “Mona Lisa holandesa”, a tela mais famosa do pintor holandês é rodeada por mistérios. Não há nenhum vestígio sobre quem seria a garota retratada, nem mesmo se ela realmente existiu. Seu traje também é uma incógnita, já que turbantes não eram comuns naquela época. Até o adereço que dá nome à pintura levanta dúvidas: escaneamentos com luz infravermelha e análises recentes realizadas por especialistas do museu Mauritshuis – que abriga a obra desde 1901 – revelam que o famoso brinco de pérola pode ser uma ilusão de ótica. A joia não tem contornos claros, apenas singelas pinceladas brancas, tampouco gancho que a pendure na orelha da moça.

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que exibidas aos montes, guardam sempre novas interpretações ou descobertas por trás de suas pinceladas
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La Vera Mozzarella

DO SUL DA ITÁLIA PARA O INTERIOR DE SÃO PAULO, A TRAJETÓRIA DE UM PRODUTO FRESCO, NUTRITIVO E ABSOLUTAMENTE AMADO – POR LÁ E PELOS GRANDES CHEFS DAQUI

Por Fernanda Meneguetti Fotos Divulgação 5 min

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Um italiano, em média, consome dois quilos de queijo por mês. Provável que um desses quilinhos seja só de mozarela, o laticínio mais consumido no país. Repete-se por lá o mito de que o oro bianco (ouro branco) da Campânia nasceu como presente de uma ninfa, Baptì-Palìa, que todos os dias tinha a tarefa de ordenhar as búfalas e entregar seu néctar aos deuses do Olimpo. Pouco importa se foi bem assim que surgiu a mozzarella, o que fica é que, como todo grande feito da humanidade, ela se apoia numa lenda.

Não à toa, muitos séculos depois, mais precisamente em 1981, ao se formar, o Consorzio di Tutela della Mozzarella di Bufala Campana DOP incluiu essa historinha em seu estatuto. Por coincidência, foi também em 1981 que as primeiras búfalas chegavam à fazenda que hoje acolhe o laticínio Búfala Almeida Prado, no interior de São Paulo.

Entre uma passagem e outra, a mozarela conquistou o paladar de camponeses e, então, de nobres. Entrou por direito nos cardápios de reis e dos papas. Espalhou-se pelas casas de todos os italianos. Na década de 1990, ganhou fama no Brasil – e, sim, virou um suprassumo junto ao famigerado tomate seco e um punhado de rúcula.

Foi então que Maria Cecília de Almeida Prado teve um insight: por que não produzir a iguaria com o leite de suas bufalinhas? Até então, toda a produção abastecia o café da manhã da família, sobrava para a manteiga, a coalhada e uns queijinhos caseiros, de vez em quando um arroz doce ou um doce de leite, sempre para o café da tarde. “Sou alérgica a leite de vaca. Quando meus filhos nasceram, eu não conseguia amamentar e fiquei muito frustrada. Não queria dar leite de vaca porque para mim já não era bom. Aí descobri o leite de búfalas e comprei duas e um tourinho”, conta a mãe de quatro e do laticínio. “Eu nem sonhava em ter uma fábrica, mas as búfalas são muito produtivas e o leite foi aumentando, foi sobrando e comecei a fazer uns queijinhos em casa. Os amigos gostavam, comecei a vender em alguns empórios e devagarinho a coisa foi crescendo.”

A bem dizer, o crescimento acompanhou a popularidade das bolas de mozarela deste lado do Atlântico. Ao pé da letra, o termo “mozza” explica o seu processo de fabricação: o leite é aquecido e centrifugado e a pasta filada resultante é cortada em pequenos pedaços à mão. A pasta é “mozzada” e, portanto, de maneira natural, guarda a conotação artesanal, intimamente ligada ao território de origem do leite de búfala do qual deriva. Isso vale para a Campânia italiana, isso vale para Bocaina, ao ladinho de Jaú, no centro paulista. Longe de querer desrespeitar uma ninfa, não custa mencionar que as origens da mozarela se vinculam à disseminação de búfalos de raça mediterrânea no sul da Itália, durante as invasões de mouros e sarracenos, no século 11. Esses animais transportaram o material para fortificar as muralhas de Salerno e, na sequência, estimularam a

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“Mozza” remete à produção: o leite aquecido até obter uma pasta filada e, então, “mozzada” – ou cortada à mão
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arte leiteira da região. Por aqui, não há lenda nem fato que sustente a associação Ilha do Marajó e mozarela brasileira, ainda que seu rebanho da raça Carabao tenha sido pioneiro no país.

Já na Fazenda Rio Pardo, onde fica a Búfala Almeida Prado, a raça não é nem uma nem outra, mas a Murrah, originária da Índia. “Fiz essa escolha por uma identificação, faço yoga, meditação, sou lactovegetariana, então, tenho uma afinidade maior. A búfala é um animal muito conectado ainda e harmônico à natureza”, justifica Maria Cecília. Todo dia cedinho, ao caminhar pelos pastos, registra suas observações: “Elas são extremamente perceptíveis e delicadas: não gostam de vento, gostam de uma sombra e isso a gente faz questão, que elas sejam tratadas como gostam, com tranquilidade”.

Nessa toada, ao som de música clássica, os animais são ordenhados e o leite A2A2, hipoalergênico e de altíssimo valor nutricional, vai direto ao laticínio. Ao comando do maestro casaro, é distribuído entre mozarelas, assim como burratas, ricota e requeijão.

Como o pai, Filipe Paulino é queijeiro desde que se entende por gente, mas foi por meio da mozarela que descobriu o orgulho pelo ofício.

“A inspiração sempre foram os queijos napolitanos da região de Caserta. Inclusive, fomos para lá, trouxemos gente de lá várias vezes e o maquinário também”, explica Cecília.

Numa dessas viagens, Filipe teve a chance de vivenciar laticínios familiares. Importou consigo mais técnicas, novos planos e sobretudo a compreensão do que é la vera mozzarella: “Não foi só entender que mozarela com leite de vaca não existe, ou melhor, tem que ser chamada

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As búfalas são extremamente perceptíveis e delicadas: não gostam de vento, gostam de uma sombra e de tranquilidade
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de fiordilatte. Foi perceber a importância de estar sempre com a mão e o coração na massa para que ela tenha o ponto certo, o frescor, a suculência. Coisas que a única máquina capaz de fazer é a do homem”. A confissão traduz o processo na Almeida Prado: leite recém-ordenhado, água “muuuuito” quente, as mãos de um artesão e paciência para deixála descansar. Nenhum refino ou conservante é necessário, mas o ideal é que ela chegue o mais rápido possível à mesa.

De tão fresca, aliás, o armazenamento da mozarela pode ser um problema. Antigamente, por exemplo, ela era consumida na hora pelos próprios produtores e por sua família nas horas seguintes. Senão, era defumada, aumentando sua vida útil e facilitando o comércio. Hoje, a potência dos refrigeradores e embalagens hermeticamente fechadas com soro dão um empurrãozinho a mais.

Claro, a tecnologia ajuda, porém, o processo é humano. À exceção da parte da massa láctea que segue às moldadeiras italianas e sai em bolotas de 10, 20, 50 ou 100 gramas. As bolonas de 200 gramas, por sua vez, são todas formatadas à mão, colocando as palmas do queijeiro à prova, literalmente, de fogo.

Esses exemplares vão parar em cozinhas de chefs exigentes, como Erick Jacquin e André Guidon, pizzaiolo da Leggera, presidente da Associação Verace Pizza Napoletana no Brasil e neto de queijeiros. Uma mozarela igualmente pelando é entrelaçada por Filipe para Antonio Maiolica, chef do Alto Cucina e natural da região da Campânia. Cada trança entregue é única e une em si os aromas das pastagens, a força da tradição e a beleza dos gestos.

A mesma pasta enfrentada pelo mestre queijeiro é esticada pelas mulheres que preparam as burratas usadas por Alex Atala, Felipe Bronze, Helena Rizzo e Carla Pernambuco e que já estão no novo Rosewood. Luca Gozzani, do Fasano, e Salvatore Loi, do Modern Mamma Osteria, por sua vez, foram à fazenda desenvolver suas próprias receitas, adequando a espessura da capa de mozarela e da quantidade de filamentos embebidos em creme de leite de seu interior.

Mais do que uma lista de poderosos chefões, ou melhor, para chegar a esse mailing, a Almeida Prado teve de trazer e manter o padrão de qualidade dos queijos italianos, o que vira e mexe é averiguado pelo consulado da Itália em São Paulo e pela Italcam (Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura).

A receita da Almeida Prado: leite recém-ordenhado, água muito quente, as mãos de um artesão e paciência para deixar a mozarela descansar

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EM UMA MISTURA DELICIOSA DE MPB E BOSSA COM GROOVE, JAZZ E SOUL, BECCA PERRET VISITOU O NOSSO STUDIO PARA CONTAR COMO COMEÇOU SUA CARREIRA, AS DIFICULDADES DA INDÚSTRIA E QUAIS SÃO SEUS PRÓXIMOS PASSOS. DESCUBRA NA PRÓXIMAS PÁGINAS MAIS SOBRE ESSA ARTISTA!

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Brasilidade na Becca

DEVOTA DE ELZA SOARES, FÃ DE SEU JORGE, INFLUENCIADA PELO JAZZ, SOUL E BLUES, BECCA PERRET MISTURA TODAS ESSAS REFERÊNCIAS PARA CRIAR UMA SONORIDADE BRASILEIRA E AUTÊNTICA

Becca Perret tem 25 anos, nasceu na zona Norte do Rio de Janeiro e teve suas primeiras experiências musicais na igreja, ainda criança. Mantendo referências do gospel, começou a misturar MPB e Bossa com groove, jazz e soul e lançou seu trabalho autoral na internet, em 2020. O resultado foi uma música autêntica e cheia de brasilidade. Há dois anos, entrou para o casting da Mousik, sendo uma das apostas da agência que une gravadora, editora, marketing e gestão de carreiras. Mesmo com tão pouco tempo de estrada, ela já acumula mais de 5 milhões de plays no Spotify. Seu primeiro EP traz um repertório de releituras nacionais que inclui sucessos de Djavan, Grupo Revelação, Anitta e Marina Lima.

Quando você percebeu que seu caminho era a música?

Foi na Califórnia, eu tinha 18 anos, fiquei um mês em um summer program. Eu não sabia falar inglês e até então só tinha contato com músi-

ca na igreja. Estava em outro país, completamente fora da minha zona de conforto. Foi um momento muito decisivo na minha vida, estava me sentindo perdida. Eu falei: “cara, por mais eu não esteja entendendo o que o professor está falando, a música quebra todas as barreiras”. Voltei para o Brasil e as coisas foram acontecendo, se desenvolvendo, até que eu encontrei o Mousik. Na verdade, foi o Mousik que me encontrou. E hoje eles são a minha gravadora, têm me apoiado, me acolhido.

Você mistura MPB, bossa nova, groove, influências do jazz, gospel, soul. Como você chegou nessa identidade? Foi quando eu estava nos Estados Unidos. Lá as pessoas vinham com toda alegria e falavam: “olha que música maravilhosa”. Eu escutava e pensava: “poxa, não conheço essa música, não conheço esse artista”. E as pessoas falavam com tanto orgulho e tanto brilho no olhar, que eu pensei: “tem alguma coisa errada, eles sabem mais do Brasil do que

Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Beleza Mel Freese Styling ND Styling 5 min
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eu”. Foi quando me dei conta que existem diversos gêneros da música e resolvi explorar esses caminhos. Fui descobrindo a bossa, o Brasil e toda a sua brasilidade. Hoje faço questão de, em todos os meus projetos, ter alguma música que seja muito característica de uma região do País. A gente precisa explorar toda essa beleza.

Quais são suas grandes referências na música?

A Elza Soares, para mim, é uma deusa. Representa a força da mulher, uma força que eu quero para minha carreira. Tem a Liniker também, maravilhosa. São diversas artistas maravilhosas que estão abrindo caminho para a gente.

Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou, como mulher, para chegar até aqui?

São coisas diárias. A gente sofre por ser mulher e, ainda mais, por ser mulher preta. São coisas sutis que ainda estão presentes no dia a dia e que fazem com que a gente precise se posicionar. Minha produtora sempre me acompanha, somos muito parceiras e, como mulheres pretas, nos ajudamos muito na estrada. Tem vezes que sou só eu e ela, o suporte uma para a outra.

Você lançou seu primeiro projeto audiovisual, Na Becca. Como foi o processo?

Esse projeto surgiu de uma forma muito genuína e está sendo decisivo na minha carreira. Estou me testando, descobrindo quem é a Becca. A gente experimenta looks, cabelos e músicas diferentes. É o meu momento criativo, a minha liberdade de ser quem eu quiser.

Quais os próximos projetos?

Estamos com uma expectativa alta para o segundo Na Becca. Já foi gravado em parceria com o Shopping Cidade Jardim. A gente está muito feliz. Vai repercutir bastante, as músicas e os clipes são maravilhosos. A primeira parte vai ser lançada em setembro e a outra em novembro.

Que momentos foram mais marcantes na sua carreira?

Já vivi algumas experiências muito bacanas. Sou muito fã do Seu Jorge, ele foi uma grande referência na minha vida. Porque, além de gospel, teve uma época em que a única música que eu conseguia escutar no dia a dia era Seu Jorge. E eu já consegui cantar com ele, foi um momento muito marcante. Também já participei de dois clipes da Elza Soares e cantei em uma sala superespecial lá nos Estados Unidos, no Kansas, uma sala histórica para o jazz e para o blues. Ter vivido essas experiências é fantástico.

Você tem uma música gravada com o Djavan. Como foi esse processo? Não é uma coisa tão simples. A gente faz o arranjo, faz a música, manda para a equipe do Djavan. A esposa dele escuta, a galera escuta, precisa passar por esse processo de aprovação. Não é tão fácil conseguir liberação para determinados artistas, mas conseguimos. Na verdade, a gente já lançou mais duas músicas com o Djavan. Eu amo o Djavan.

Como você se define? Quem é a Becca? Eu sou alegria, uma pessoa animada, aquela que chega em um lugar e fala com todo mundo, já tenta levantar o astral. Sou aquela pessoa incentivadora.

“Eu sou alegria, uma pessoa animada, aquela que chega em um lugar e fala com todo mundo, já tenta levantar o astral”
Assistente de styling Nicole Feijão Produção artística Luma Motta Gravadora Mousik
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Assessoria de imprensa Estar Comunicação Look Balmain Sandália René Caovilla
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Acessórios Ana Rocha & Appolinario

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