EXPOSIÇÃO MUSEU NACIONAL DA IMPRENSA
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Recuperar a memória para sentir a liberdade PEDRO COELHO Presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos
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No ano em que se assinalam os 40 anos (do 25 de Abril de 1974) da queda da ditadura do Estado Novo e da instauração da Liberdade em Portugal, o município de Câmara de Lobos associa-se a esta efeméride, promovendo uma exposição que recupera a memória de um dos episódios mais significativos da luta contra o antigo regime: o assalto ao navio Santa Maria. Sob a denominação de “Santa Liberdade, 1961: a Dulcineia que abalou as ditaduras ibéricas”, a exposição, que abre ao público precisamente no dia em que, há 52 anos, o capitão Henrique Galvão comandou o assalto ao navio Santa Maria, traz, pela primeira vez, ao conhecimento do público madeirense e forasteiros, dezenas de exemplares da imprensa nacional e internacional, designadamente das grandes revistas mundiais, tais como Life, Time e Paris Match, que
documentaram toda aquela odisseia que impressionou a opinião pública mundial durante duas semanas, a partir das múltiplas manchetes que o caso suscitou, até à entrega do navio a 3 de fevereiro de 1961, no norte do Brasil. A par da Revolta da Madeira, ocorrida em abril de 1931, que constituiu o primeiro ato de revolta contra a ditadura militar, o desvio do paquete Santa Maria é considerado um dos mais duros golpes aplicados ao regime que vigorava em Portugal desde 1926, especialmente devido ao impacto que teve na opinião pública internacional. Este episódio da história contemporânea de Portugal, que teve uma grande cobertura jornalística, mobilizou meios nunca utilizados até aquela altura, como foi o uso de para-quedas por jornalistas do Paris Match, internacionalizando a luta dos opositores à ditadura de Salazar. Decorridos 52 anos sobre a ocupação do navio que veio a ser denominado de “Santa Liberdade”, em especial atendendo aos desafios com que a Democracia se confronta atualmente, importa trazer para o centro do debate o papel decisivo que o jornalismo e a imprensa livre e descomprometida pode representar para a preservação da Liberdade. Sob a coordenação do Museu de Imprensa Nacional, comissariada pelo seu diretor, Luís Humberto Marcos, a exposição “Santa Liberdade 1961”, no espírito da democracia e de uma cultura de compromisso, convida os cidadãos da Madeira e do Mundo a refletirem sobre os novos caminhos que é preciso trilhar, de forma a concretizar o espírito que presidiu à instauração da democracia em Portugal.
LUÍS HUMBERTO MARCOS Curador da exposição
Durante doze dias, em janeiro/fevereiro de 1961, o paquete Santa Maria foi Santa Liberdade. Aconteceu em águas internacionais. Longe das ditaduras que a Dulcineia (nome da operação) combatia. E ecoou por todo o mundo: a ‘pirataria’ voltava aos mares! Ficou para a história como sendo o primeiro ato de pirataria marítima do século. A dulcineia tinha dois anos de gestação. Começara a ser pensada pouco depois da fuga de Galvão do Hospital Militar de Lisboa, em 1959, quando a PIDE o vigiava dia e noite. Foi uma odisseia que se afirmou contra as ditaduras ibéricas, de Salazar e Franco. Por uma revolução em favor da democracia. Proclamando os valores da liberdade, da justiça e da autodeterminação para os povos colonizados, os rebeldes tornaram-se um foco da atenção mundial, através da imprensa.
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Um hino à Imprensa na década da televisão
Henrique Galvão, qual D. Quixote dos tempos modernos, era o rosto mais visível da ação revolucionária que, ancorada no Movimento de Humberto Delgado, inquietou as forças militares dos EUA, de Inglaterra, de Espanha, do Brasil e, obviamente, de Portugal. Mais do que isso: espantou o mundo. Um punhado de rebeldes portugueses e espanhóis – apenas um quarteirão! – apossara-se de um paquete de luxo com mil pessoas a bordo, em pleno alto mar. Dissimulando-se no Atlântico durante três dias, fora do alcance dos aviões e navios de guerra americanos e sem rumo declarado, mas com Angola como hipótese. Poucos dias depois, a 4 de fevereiro, o movimento de libertação de Angola (MPLA) lançava o seu primeiro ‘ataque terrorista’, desencadeando assim a ‘guerra colonial’. Segundo Henrique Galvão: os passageiros passaram a estar em território livre! Ou seja, nos países de Salazar e Franco, aquele seria o primeiro espaço libertado. E não foram maltratados, apesar de a Censura de Salazar ter mandado cortar a palavra ‘não’ nos vários textos em que isso era referido. Ora, a realidade deveria ser relatada como o regime queria e não como realmente era. A Censura mostrava já nesta época que era uma máquina ardilosamente montada - com diferentes braços nas polícias e CTT – para violar correspondência, proibir, cortar e pintar a realidade à sua maneira. Além do seu carácter romântico, o caso mobilizou meios de reportagem até então nunca utilizados, como aconteceu com os pára-quedistas usados pela revista Paris Match para se acercarem do ‘Santa Liberdade’. Conseguiram-no com o apoio do mais célebre acrobata francês (Delamare) e enfrentando riscos, como os tubarões do Atlântico. Foi um marco mundial na reportagem, como o mostram os diferentes exemplares das revistas que integram a exposição, além dos jornais. Ousadia, coragem, singularidade, na busca da informação.
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Mais de mil jornalistas de todo o mundo foram mobilizados para Recife, local onde terminou a ‘1ª fase’ (na expressão de Galvão) de uma operação revolucionária que não teve segunda parte. Só 13 anos depois (1974) surgiria o golpe militar do ’25 de abril’. Com ele, o fim da ditadura portuguesa e o prenúncio impulsionador da queda da ditadura franquista, em Espanha. Durante dias a fio, Portugal foi manchete e algumas publicações fizeram editoriais sobre o tema. Terá sido a primeira vez em que Portugal entrou nos editoriais. Como aconteceu na famosa revista Life. ‘Aventura no mar: uma parábola’, é o título do editorial de 3 de Fevereiro de 1961. Partindo de uma alusão a piratas (de 1668), o editorialista fala da legislação internacional sobre os oceanos, toca na convenção de Génova de 1958, relembra a ‘lei de Jefferson’ (qualquer povo tem o direito de opor-se a um regime opressivo), refere as atitudes oposicionistas de Galvão e Humberto Delgado e termina dizendo que o ditador Salazar não precisaria de recear pelos seus navios,“se os seus opositores tivessem liberdade de expressão em Portugal”. Este era o cerne da questão. A ditadura continuava teimosa, prendendo, censurando e procurando fazer esquecer a vitória democrática do general Humberto Delgado (nas eleições de 1958), apagada por Salazar com a conhecida burla eleitoral. Anos mais tarde, Natália Correia aludia ao fracasso da aventura, no seu famoso e longo ‘Cântico do país emerso’. Duramente poética, como sempre: Enquanto que no mar das Caraíbas Os albatrozes os peixes-voadores Os sargaços a bússola a espuma E a nossa senhora dos Navegadores Se punham ao serviço de uma Nação acabada de nascer,
(…) Tudo chegava pelo lado da sombra, do terror, da pegajosa ignomínia. Os esbirros amordaçavam a luz. Com as mãos mergulhadas nas estrelas que escondia nos bolsos o poeta assobiava uma pátria de brancura e paz. E deu flor: um poema para ensinar risadas de camélias aos animais do medo. O poema foi arrastado para a treva onde os estranguladores da palavra constroem o silêncio da sala de espelhos onde o tirano se masturba. O poema atravessou o inferno e alguns dos seus sons ficaram queimados. Como o documenta a exposição, pode dizer-se que o ‘Santa Liberdade’ mostrou a verdadeira força da imprensa no mundo. Emparceirando com outras grandes novidades da época: os democratas Kennedy (na Casa Branca) e Jânio Quadros (no Brasil) começavam a exercer os seus mandatos. Kennedy disse ‘não’ a Salazar. Jânio Quadros defendeu Galvão e deu-lhe asilo político, negando-se a entregá-lo a Portugal para ser julgado, como o pretendia a ditadura. Tratou-se, possivelmente, da única revolta romântica do Século XX (contra a ditadura) que mais atraiu as primeiras páginas da imprensa mundial. Durante quase duas semanas foram páginas e páginas espalhadas pelo mundo. A reportagem (impressa) ganhou como género. E a reportagem fotográfica também. Na altura, a televisão ainda começava a dar os primeiros passos em Portugal, depois da primeira emissão em 1958. Independentemente dos resultados políticos, a ‘dulcineia’ transformou-se, assim, na grande aventura que serviu de hino à imprensa, na década da massificação da televisão. Depois, só o ‘25 de abril’ de 1974 viria a pôr o mundo inteiro a falar de Portugal. Já lá vão 40 anos, quase. Para a história, o ‘Santa Liberdade’ ficou como uma ‘aventura quixotesca’ que abalou profundamente a imagem das ditaduras ibéricas, através da imprensa.
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Ecos naImprensa
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JORNAL DO “SANTA MARIA”. [S/l], 1956 Jornal do “Santa Maria”: viagem n.º 27/1889. – n.º 517 - 532 (Out./Nov. 1956). – [S/l]: Companhia Colonial de Navegação, 1956
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COMÉRCIO DO PORTO (O). Porto, 1961 O Comércio do Porto. / dir. F. Seara Cardoso. – a. 107, n.º 23 (24 Jan. 1961). – Porto: [s/n], 1961
DIÁRIO DA MANHÃ. Lisboa, 1961 Diário da Manhã. / dir. Barradas de Oliveira. – a. 30, n.º 10622 (24 Jan. 1961) DIÁRIO DE LUANDA. Luanda, 1961 Diário de Luanda. / dir. Francisco da Silveira Pinto – a. 31, nº 94321 (24 Jan. 1961). – Luanda: [s/n], 1961
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ADULCINEIAQUEABALOUASDITADURAS IBÉRICAS DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6569 (24 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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OGGI. Itália, 1961 Oggi. – (1961). – Itália: [s/n], 1961
REPÚBLICA. Lisboa, 1961 República. / dir. Carvalhão Duarte. – a. 50, n.º 10800 (24 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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SÉCULO (O). Lisboa, 1961 O Século. / João Pereira da Rosa. – a. 81, nº 28 303 (24 Jan. 1961). – Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografia, 1961
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VOZ (A). Lisboa, 1961 A Voz. / dir. Pedro Correia Marques. – a. 34, n.º 12104 (24 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
ABC. Madrid, 1961 ABC. – (25 Jan. 1961). – Madrid: [s/l], 1961 AÇORES. Ponta Delgada, 1961 Açores. / dir. Cícero de Medeiros. – a. 17, n.º 4693 (25 Jan. 1961). – Ponta Delgada: [s/l], 1961
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DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Lisboa, 1961 Diário de Notícias. / dir. Augusto de Castro. – a. 97, n.º 34090 (25 Jan. 1961)
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Madeira, 1961 Diário de Notícias Independente. / dir. Alberto de Araújo. – a. 85, n.º 27975 (25 Jan. 1961). – Madeira: [s/n], 1961
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DIÁRIO DE LISBOA. Lisboa, 1961 Diário de Lisboa. / dir. Norberto Lopes. – a. 40, n.º 13692 (25 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6570 (25 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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ADULCINEIAQUEABALOUASDITADURAS IBÉRICAS INTRANSIGENTE (O). [S/l], 1961 O Intransigente. – (25 Jan. 1961). – [S/l: s/n], 1961
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JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro, 1961 Jornal do Brasil. – a. 70, n.º 21 (25 Jan. 1961). – Rio de Janeiro: [s/n], 1961
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VOZ (A). Lisboa, 1961 A Voz. / dir. Pedro Correia Marques. – a. 34, n.º 12105 (25 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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ÚLTIMAS NOTÍCIAS. Caracas, 1961 Últimas Notícias. – a. 20, n.º 8124 (25 Jan. 1961). – Caracas: [s/n], 1961
DIÁRIO DE NATAL. Natal, 1961 Diário de Natal. – a. 21, n.º 6508 (26 Jan. 1961). – Natal: [s/n], 1961
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DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Lisboa, 1961 Diário de Notícias. / dir. Augusto de Castro. – a. 97, n.º 34091 (26 Jan. 1961)
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DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Madeira, 1961 Diário de Notícias Independente. / dir. Alberto de Araújo. – a. 85, n.º 27976 (26 Jan. 1961). – Madeira: [s/n], 1961
DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6571 (26 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961 JORNAL DE BENGUELA. Benguela, 1961 Jornal de Benguela. / dir. Joaquim da Silveira – a. 49, nº 3619 (26 Jan. 1961). – Benguela: [s/n], 1961
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PRIMEIRO DE JANEIRO (O). Porto, 1961 O Primeiro de Janeiro. / dir. Manuel Pinto de Azevedo – a 93, n.º 25 (26 Jan. 1961). – Porto: [s/n], 1961
COMÉRCIO DO PORTO (O). Porto, 1961 O Comércio do Porto. / dir. F. Seara Cardoso. – a. 107, n.º 26 (27 Jan. 1961). – Porto: [s/n], 1961
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JORNAL DE NOTÍCIAS. Porto, 1961 Jornal de Notícias. – a. 73, n.º 234 (26 Jan. 1961). – Porto: [s/n], 1961
DIÁRIO DE LISBOA. Lisboa, 1961 Diário de Lisboa. / dir. Norberto Lopes. – a. 40, n.º 13694 (27 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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DIÁRIO DE LUANDA. Luanda, 1961 Diário de Luanda. / dir. Francisco da Silveira Pinto – a. 31, nº 9434 (27 Jan. 1961). – Luanda: [s/n], 1961
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DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Lisboa, 1961 Diário de Notícias. / dir. Augusto de Castro. – a. 97, n.º 34092 (27 Jan. 1961)
DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6572 (27 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961 DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6572 (27 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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DIA (O). S. Paulo, 1961 O Dia. – (28 Jan. 1961). – S. Paulo: [s/n], 1961
DIÁRIO DA MANHÃ. Lisboa, 1961 Diário da Manhã. / dir. Barradas de Oliveira. – a. 30, n.º 10626 (28 Jan. 1961)
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COMÉRCIO DO PORTO (O). Porto, 1961 O Comércio do Porto. / dir. F. Seara Cardoso. – a. 107, n.º 27 (28 Jan. 1961). – Porto: [s/n], 1961
DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6573 (28 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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ILLUSTRATED LONDON NEWS (THE). Londres, 1961 The Illustrated London News. – (28 Jan. 1961). – Londres, 1961
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REPÚBLICA. Lisboa, 1961 República. / dir. Carvalhão Duarte – a. 50, nº 10801 (28 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
SÉCULO (O). Lisboa, 1961 O Século. / João Pereira da Rosa. – a. 81, nº 28 307 (28 Jan. 1961). – Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografia, 1961 VOZ (A). Lisboa, 1961 A Voz. / dir. Pedro Correia Marques. – a. 34, n.º 12108 (28 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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CORREIO DA MANHÃ. Rio de Janeiro, 1961 Correio da Manhã. / dir. M. Paulo Filho. – (29 Jan. 1961). – Rio de Janeiro: [s/n], 1961
DIÁRIO DE LISBOA. Lisboa, 1961 Diário de Lisboa. / dir. Norberto Lopes. – a. 40, n.º 13696 (29 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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CLARÍN. Buenos Aires, 1961 Clarín. – a. 16, n.º 5457 (29 Jan. 1961). – Buenos Aires: [s/n], 1961
PRIMEIRO DE JANEIRO (O). Porto, 1961 O Primeiro de Janeiro. / dir. Manuel Pinto de Azevedo – a 93, n.º 28 (29 Jan. 1961). – Porto: [s/n], 1961
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SÉCULO (O). Lisboa, 1961 O Século. / dir. João Pereira da Rosa. – a. 81, n.º 28308 (29 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6575 (30 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
JORNAL DE BENGUELA. Benguela, 1961 Jornal de Benguela. / dir. Joaquim da Silveira – a. 49, nº 3620 (30 Jan. 1961). – Benguela: [s/n], 1961 JORNAL DE NOTÍCIAS. Porto, 1961 Jornal de Notícias. – a. 73, n.º 238 (30 Jan. 1961). – Porto: [s/n], 1961
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DIÁRIO DA NOITE. Recife, 1961 Diário da Noite. / dir. F. Pessoa de Queiroz. – a. 15, n.º? (31 Jan. 1961). – Recife: [s/n], 1961
DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6576 (31 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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VOZ (A). Lisboa, 1961 A Voz. / dir. Pedro Correia Marques. – a. 34, n.º 12110 (30 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
JORNAL DO COMÉRCIO. Manaus, 1961 Jornal do Comércio. / dir. Frederico Barata e Epaminondas Barahuna. – a. 57, n.º 17481? (31 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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RE-NHAU-NHAU. Funchal, 1961 Re-Nhau-Nhau, Trisemanário Humorístico. / dir. Gonsalves Preto. – a. 32, n.º 1017 (31 Jan. 1961). – Funchal: Tip. do Re-Nhau-Nhau, 1961
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VOZ (A). Lisboa, 1961 A Voz. / dir. Pedro Correia Marques. – a. 34, n.º 12111 (31 Jan. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
AVANTE. 1961 Avante. – a. 30, n.º 297 (1.ª Quinzena Fev. 1961). – [S/l: s/n], 1961 NACIONAL (EL). Caracas, 1961 El Nacional. – (1 Fev. 1961). – Caracas: [s/n], 1961
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DIÁRIO DA MANHÃ. Lisboa, 1961 Diário da Manhã. / dir. Barradas de Oliveira. – a. 30, n.º 10631 (2 Fev. 1961)
DIÁRIO DE LISBOA. Lisboa, 1961 Diário de Lisboa. / dir. Norberto Lopes. – a. 40, n.º 13700 (2 Fev. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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SÉCULO (O). Lisboa, 1961 O Século. / dir. João Pereira da Rosa. – a. 81, n.º 28311 (1 Fev. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6578 (2 Fev. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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DIÁRIO POPULAR. S. Paulo, 1961 Diário Popular. / dir. Rodrigo Soares Júnior/José Maria L. W. Seng. – a. 77, ns.º 24495 (2 Fev. 1961) e 24496 (3 Fev. 1961). – S. Paulo: [s/n], 1961
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JORNAL DE NOTÍCIAS. Porto, 1961 Jornal de Notícias. / dir. M. Pacheco de Miranda. – a. 73, n.º 243 (2 Fev. 1961). – Porto: [s/n], 1961
PRIMEIRO DE JANEIRO. Porto, 1961 O Primeiro de Janeiro. / dir. Manuel Pinto de Azevedo – a 93, n.º 32 (2 Fev. 1961). – Porto: [s/n], 1961 DIÁRIO DE LISBOA. Lisboa, 1961 Diário de Lisboa. / dir. Norberto Lopes. – a. 40, n.º 13701 (3 Fev. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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JORNAL DE PIRACICABA. Piracicaba, 1961 Jornal de Piracicaba. / dir. Losso Netto. – a. 61, n.º 19340 (3 Fev. 1961). – Piracicaba: [s/n], 1961
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SÉCULO (O). Lisboa, 1961 O Século. / João Pereira da Rosa. – a. 81, nº 28 313 (3 Fev. 1961). – Lisboa: Sociedade Nacional de Tipografia, 1961
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DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Madeira, 1961 Diário de Notícias Independente. / dir. Alberto de Araújo. – a. 85, n.º 27986 (5 Fev. 1961). – Madeira: [s/n], 1961 (substituir por novo)
CORREIO BRAZILIENSE. Brasília, 1961 Correio Braziliense. – a. 153, ns.º 243 (7 Fev. 1961) e 246 (9 Fev. 1961). – Brasília: [s/n], 1961
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FRANCE-SOIR. Paris, 1961 France-soir. – (8 e 10 de Fev. 1961). – Paris: [s/n], 1961
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SÉCULO ILUSTRADO (O). Lisboa, 1961 O Século Ilustrado. / dir. Carlos Pereira da Rosa. – a. 24, n.º 1206 (11 Fev. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
PARIS MATCH. Paris, 1961 Paris Match / dir. Marcel Lebreton – n 618 (11 Fev. 1961), Paris, 1961 DIÁRIO POPULAR. Lisboa, 1961 Diário Popular. / dir. Martinho Nobre de Mello. – a. 19, n.º 6590 (15 Fev. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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ADULCINEIAQUEABALOUASDITADURAS IBÉRICAS DIÁRIO DA MANHÃ. Lisboa, 1961 Diário da Manhã. / dir. Barradas de Oliveira. – a. 30, n.º 10645 (17 Fev. 1961)
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Lisboa, 1961 Diário de Notícias. / dir. Augusto de Castro. – a. 97, n.º 34113 (17 Fev. 1961)
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DIÁRIO DA MANHÃ. Lisboa, 1961 Diário da Manhã. / dir. Barradas de Oliveira. – a. 30, n.º 10644 (16 Fev. 1961
SÉCULO (O). Lisboa, 1961 O Século. / dir. João Pereira da Rosa. – a. 81, n.º 28326 (17 Fev. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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ILLUSTRATED LONDON NEWS (THE). Londres, 1961 The Illustrated London News. – (18 Fev. 1961). – Londres, 1961
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Madeira, 1961 Diário de Notícias Independente. / dir. Alberto de Araújo. – a. 85, n.º 28000 (20 Fev. 1961). – Madeira: [s/n], 1961 SÉCULO ILUSTRADO (O). Lisboa, 1961 O Século Ilustrado. / dir. Carlos Pereira da Rosa. – a. 24, n.º 1208 (25 Fev. 1961). – Lisboa: [s/n], 1961
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PROVAS DE CENSURA DO JORNAL “O SÉCULO” imagens cedidas pelo ANTT
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1a PROCLAMAÇÃO REVOLUCIONÁRIA DA JUNTA PORTUGUESA DE LIBERTAÇÃO
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LIDA POR GALVÃO, EM NOME DO GENERAL HUMBERTO DELGADO E DELE PRÓPRIO, NO DIA 3 DE FEVEREIRO, À NOITE, EM RECIFE
imagens cedidas pelo ANTT
DIVERSOS
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Não cairemos nos mesmos erros dos opositores que têm medo de irritar o ditador e que se refugiam em fórmulas vagas. A nossa linguagem é diferente: preferimos o concreto ao abstracto. O nosso programa é simples e muito radical. Queremos uma profunda, autêntica, humana e total revolução. Começaremos por destruir a injusta ordem social e as bases serão as reformas, agrária e urbana. As nossas propostas serão: terra para quem a trabalha e uma casa para quem a habita. Acabaremos com os grandes latifúndios e com a especulação estagnada. Destruiremos implacavelmente os privilégios da plutocracia Portuguesa que separa à nascença os ricos dos pobres. Estamos longe de Lisboa e do ditador. Mas tudo nos encoraja para a certeza que entraremos em Lisboa vitoriosos, implantando a revolução Portuguesa do século XX, revolução que abrirá também as portas da liberdade além-mar, do progresso e da independência. Estas são as palavras que tenho a dizer-vos neste momento em que procedemos, de forma vitoriosa, à primeira acção militar sob o meu comando, núcleo do futuro exército de libertação de Portugal e Espanha.
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Em nome do General Humberto Delgado e como Comandante do Santa Maria, em plena posse do poder que Sua Excelência o Senhor General me conferiu, dirijo ao Povo Português a primeira Proclamação Revolucionária da Junta de Libertação Nacional. O Santa Maria não foi capturado por uma atitude romântica e muito menos foi apenas para chamar a atenção do mundo para o drama Português. A conquista deste belo e grande navio, que durante onze dias cruzou o oceano Atlântico perseguido por aviões e navios de várias nacionalidades, carrega uma lição de grande significado para todos nós. Pretendíamos provar, e fizemo-lo, que o ditador Salazar não era invulnerável. Vencemo-lo e ridicularizamo-lo e à sua Marinha, perante o mundo livre e cristão. Amanhã, e sempre que o enfrentemos, vencê-lo-emos outra vez. Não seríamos, porém, aquilo que somos, e vossos interlocutores, se pararmos no campo das acções militares. Nós estamos, de facto, em guerra com a Ditadura Portuguesa, da mesma forma que estamos com a de Espanha, através da integração na DRIL (Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação). Estamos a agir em consonância com um objectivo bem definido. Não é a queda de Salazar o que mais nos interessa. Procuramos um objectivo revolucionário: a reconstrução da sociedade Portuguesa em novos pilares. Nunca, por várias circunstâncias, foi oferecida ao povo Português esperança no futuro, à medida das suas aspirações. O que nos propomos é, acima de tudo, dar esse passo decisivo. Sabemos que ninguém luta por promessas vagas e palavras bonitas. Falar de liberdade, igualdade e fraternidade não leva a lado algum.
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OS DIAS DA REVOLTA CRONOLOGIA
todos juraram, sob sua honra, obedecerem-nos com zelo e lealdade” – H. Galvão – A rota do navio - agora designado ‘Santa Liberdade’ - é desviada para o canal entre Martinica e Sta Lucia. 23 janeiro Alteração aos planos por causa do estado de um tripulante ferido e de um passageiro muito doente. A duas milhas da ilha de Sta Lucia, os doentes são enviados, de manhã, para terra, numa lancha a motor. A seguir, o ‘Santa Liberdade’ ruma para a costa africana. À noite, começam a chegar notícias do assalto, com base nas informações dos feridos desembarcados de manhã.
21 janeiro (sábado) Galvão entra clandestinamente no Santa Maria, em Curaçao ( ilhas holandesas). O paquete navega em direção a Miami, com data de chegada marcada: dia 24. Total de rebeldes no navio: 25 Passageiros: 600 Tripulantes: 350
24 janeiro O rumo para África continua. As coordenadas do ‘Santa Liberdade’ são desconhecidas. Galvão lança mensagem ao mundo para contrariar as acusações de pirataria. Diz que há tranquilidade a bordo e que o Santa Maria é “a primeira parcela liberta do território português”. Acrescenta que lutam contra o “governo tirânico de Salazar” e que procuram “atingir objectivos políticos de natureza meramente democrática anti-totalitária, opostos a todas a formas de governo arbitrário”. No final da mensagem, Galvão afirma: “desembarcaremos os passageiros no primeiro porto neutro que garanta a nossa segurança e a do navio”.
22 janeiro (domingo) À 1h45 dá-se o ataque ao controlo do navio, através de dois grupos: um comandado pelo capitão Galvão; o outro pelo capitão Sotomayor, ex-oficial da marinha de Espanha. Há troca de tiros na ponte de comando: um morto; dois feridos. “Depois de uma breve conferência com o capitão (do navio)
25 janeiro A posição do paquete continua fora da detecção dos navios de guerra e aviões americanos e ingleses enviados em perseguição do ‘Santa Liberdade’, a pedido de Salazar. Deputado trabalhista britânico (Hugh Gaitskel) põe em causa a intervenção inglesa, situando o assalto numa tentativa de libertação de um regime ditatorial.
20 janeiro 1961 (sexta-feira) A maior parte do grupo de rebeldes entra no Santa Maria, no porto de La Guaira, Venezuela. Como simples passageiros, mas com armas nas malas.
27 janeiro Esquadra americana sugere desembarque dos passageiros em Belém (Brasil), porto que todavia não tem condições para o calado do navio. Galvão pede conferência a bordo do ‘Santa Liberdade’ com as forças americanas. Aviões americanos sobrevoam o paquete que se dirige ainda em direcção a Angola. 28 janeiro Diálogo com a esquadra americana intensifica-se. A Belém é contraproposto o porto de Recife. Para lá se encaminha o ‘Santa Liberdade’. 29 janeiro (domingo) É anunciado o encontro, no dia seguinte, com o contraalmirante Allen Smith, a bordo do ‘Santa Liberdade’. Aviões continuam a sobrevoar o paquete.
31 janeiro O paquete está ancorado em águas internacionais, em frente de Recife. Jânio Quadros toma posse hoje como Presidente do Brasil. Pequenas embarcações com centenas de jornalistas e o torpedeiro americano de Smith estão próximas do ‘Santa Liberdade’. O torpedeiro está de canhões descobertos e apontados ao paquete. Galvão protesta contra esta atitude e os canhões são ‘recolhidos’. O contra-almirante americano Alen Smith chega numa lancha às 10 horas. Muitos jornalistas sobem também, aguardando pelos resultados da conferência. Há honras militares e a conferência decorre de forma satisfatória para os rebeldes. De um avião privado desce um para-quedas com Gil Delamare, paraquedista francês ao serviço da revista Paris Match. Desce outro com o fotógrafo …. Falhando o alvo caem ao mar, habitualmente cheio de turbarões, o que provoca emoção a bordo. Impaciência a bordo pela demora no desembarque.
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26 janeiro (quinta-feira) O Presidente dos EUA, John Kennedy, reconhece em conferência de imprensa que os rebeldes não são piratas. Os navios de guerra americanos não têm ordem para abordar o “Santa Liberdade”.
30 janeiro Chegam ao navio boas notícias sobre a consideração do recém-eleito presidente do Brasil, Jânio Quadros, pelo capitão Galvão. Aos rebeldes será dado asilo político. Jantar de despedida de Galvão e Sotomayor aos passageiros. Nas ementas ficam autógrafos de ambos, assinalando a “viagem do Santa Maria para a liberdade”.
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Às 18h um avião militar americano localiza o Santa Liberdade. Galvão recusa-se a indicar o destino do paquete e pede o reconhecimento de “rebeldes políticos em estado beligerante”. Recusa a rendição pedida pelo avião americano e justifica: ”Somos rebeldes políticos em território português, em oposição ao governo tirânico e ilegítimo do nosso país e, nestas condições, não admitimos ordens de uma potência estrangeira”.
1 fevereiro Jânio Quadros envia mensagem para o capitão Galvão, garantindo o direito de asilo. Galvão recebe a bordo o almirante Dias Fernandes das forças locais da marinha brasileira. Durante a noite, Humberto Delgado vai a bordo do ‘Santa Liberdade’ e fala a sós com Henrique Galvão. 35
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3 fevereiro (sexta-feira) Álvaro Lins, ex-embaixador do Brasil em Lisboa que concedera asilo político a Humberto Delgado, chega ao ‘Santa Liberdade’, vindo de Rio de Janeiro. Durante a manhã, Galvão e Sotomaior concordam com a entrega do navio às autoridades brasileiras. Os rebeldes recebem o reconhecimento do asilo político. O Prefeito de Recife e a Assembleia Legislativa recebem Henrique Galvão. Termina a ‘1ª fase’ da operação Dulcineia.
OS REBELDES Henrique Galvão (comando político) Jorge Sotomayor (comando naval) António de Almeida Frutuoso Augusto Romara Rojo Basilio Losada Camilo Mortágua Tavares Fermin Soares Fernandez Filipe Aleixo Viegas Francisco Rico Leal Graciano Esparrinha Joaquim da Silva Paiva Jorge Pestana de Barros José da Cunha Ramos José Frias de Oliveira José Perez Martinez Júlio da Costa Mota Júlio Ferreira de Andrade Júlio Rodrigues Junqeira de Ambia Leonardo Luiz Fernandez Ackeraman Luis Manuel Mota de Oliveira Manuel Perez Rodrigues Rafael Ojeda Henriquez Os rebeldes actuam em nome da DRILDirecção Revolucionária Ibérica de Libertação, cuja composição resulta da junção do Movimento Nacional Independente, liderado por Humberto Delgado, e da União dos Combatentes Espanhois.
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2 fevereiro O dia amanhece com vários barcos de guerra ao largo de Recife. Às 9,30, o ‘Santa Liberdade’ levanta a âncora para se dirigir ao porto de Recife. Detem-se a 350 jardas do cais. Os passageiros começam a sair cerca das 12 horas para rebocadores. O desembarque dura até à noite. As condições do navio, com avarias e falta de tripulantes, dificultam a retoma da viagem. A devolução do navio à Companhia Nacional de Navegação ainda está em equação com a hipótese do seu afundamento.
Esperávamos assim despertar as consciências dos governos que, até à data, tinham apoiado persistentemente as tiranias de Salazar e de Franco. Contávamos que os ditadores nos acusassem de pirataria, mas contávamos também com a opinião mundial, livre e atenta, a qual nos olharia como aquilo que realmente éramos: rebeldes políticos lutando legitimamente pela liberdade dos nossos países escravizados. Além disso, pretendíamos reavivar as esperanças dos povos ibéricos relativos à sua libertação e predispô-los para um levantamento futuro. Pretendíamos, finalmente, reunir à nossa volta, unidos num único propósito, todos os grupos da oposição democrática, espalhados por ambos os países. Henrique Galvão
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Entre os navios que vinham a La Guaira e podiam ser considerados para a operação, o Santa Maria, pelo seu prestígio como paquete de luxo e pela sua velocidade e outros recursos, era de longe o melhor candidato. Não conseguiríamos o mesmo efeito na opinião mundial e os mesmos resultados operacionais com um navio pequeno e menos aparatoso. O Santa Maria seria pois o navio para a operação a que chamámos DULCINEIA porque também éramos românticos lutando por nossa dama – a Liberdade. Henrique Galvão
Mesmo que a batalha se perdesse, resultaria sempre numa vitória para a nossa causa e numa derrota para Salazar, para o seu regime e para a sua oligarquia. Acontecimentos posteriores provaram que tínhamos razão e que não estávamos tão loucos como outros que teriam condenado a operação, se tivéssemos sido suficientemente estúpidos para os consultar. Henrique Galvão
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HENRIQUE GALVÃO SÍNTESE BIOGRÁFICA
santa liberdade 1961 Henrique Galvão é também autor de mais de 30 obras, com destaque para romances, estudos antropológicos e zoológicos sobre África, além de peças de teatro. 38
Com o General Humberto Delgado (à esq.) a bordo do Santa Maria
1935 1947
1951 1952 1959
1960
1961
1962 - 1968 1970 1991
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1934 1934
Nasce a 4 de Fevereiro no Barreiro. Participa no ’28 de Maio’, golpe de Gomes da Costa que abre a porta à implantação do ‘Estado Novo’ de Oliveira Salazar. 1º Diretor da Emissora Nacional, dada a confiança que tinha do regime. Comissário Geral da Exposição Colonial Portuguesa, realizada no antigo Palácio de Cristal do Porto. É Governador de Huíla e eleito deputado independente por Angola, na Assembleia Nacional. Apresenta, na Assembleia Nacional, um relatório sobre Problemas dos Nativos nas Colónias Portuguesas, considerado demolidor para a política colonial da ditadura de Salazar. Integra a comissão do candidato oposicionista Quintão Meireles. Em Janeiro é preso e condenado a vários anos de prisão. A 15 de Janeiro foge do Hospital Santa Maria (Lisboa), onde estava detido e era vigiado por agentes da PIDE. Um mês depois da fuga, entra na Embaixada da Argentina (Lisboa), disfarçado de carregador, e pede asilo político. A 13 de Maio recebe o salvo-conduto do governo português que o autoriza a sair do país e toma o avião para Buenos Aires. Em Novembro muda-se para a capital da Venezuela. Escreve uma “Carta aberta a Salazar”. Em Janeiro é constituída a Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação (DRIL), resultado da aliança do Movimento Nacional Independente, de Humberto Delgado, com a União dos Combatentes Espanhóis. Principia a organização da ‘Operação Dulcineia’. No dia 20 de Janeiro, embarca clandestinamente no Santa Maria, no porto de Curaçau. De 22 de Janeiro a 3 de Fevereiro comanda a Operação Dulcineia. A 3 de Fevereiro recebe asilo político do Estado brasileiro. Em Novembro participa no desvio de um avião da TAP e distribui panfletos antifascistas sobre Lisboa. Trabalha no Jornal “O Estado de S. Paulo”, apoiado pelo Diretor, Júlio Mesquita Filho. A 25 de Junho, morre pobre e abandonado, num hospital de S. Paulo. Em Novembro, os restos mortais vieram para Portugal. A 7 de novembro é agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
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1859 1926
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Documentos audiovisuais A exposição apresenta documentos audiovisuais das notícias e reportagens feitas na altura pela RTP e Emissora Nacional. O documentário ‘Santa Liberdade’ (2004), da cineasta galega Margarita Ledo Andión, e com vários depoimentos de participantes no Assalto, também está disponível durante a exposição, num ecrã especial.
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Organização Museu Nacional da Imprensa, Câmara municipal de câmara de lobos e and Museu de Imprensa - Madeira Comissário Luís Humberto Marcos Apoio
MUSEU DE IMPRENSA - MADEIRA Avenida da Autonomia, nº 3 9300 Câmara de Lobos
Investigação Luís Humberto Marcos e José Miguel Neves Design Pedro Marques Montagem José Miguel Neves e Lourenço Freitas Legendagem Vânia Meleiro
Conservatório - Escola das Artes
Colaboração
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RENASCENÇA GRÁFICA
Logística e Secretariado Helena Paiva, Isabel Gonçalves e Leonel Correia de Silva MUSEU NACIONAL DA IMPRENSA Estrada Nacional 108, nº 206 4300-316 Porto Tel. +351 225 304 966 E-mail mni@museudaimprensa.pt Website www.museudaimprensa.pt
Impressão Gráfica do Estreito ISBN: 978-972-8806-26-2 janeiro january 2014