a cooperação parental 2.0 Torres Novas e Aalborg numa parceria internacional em educação
índice 1. A cooperação parental 2.0 2. Três mil quilómetros de distância? 3. Quem é quem, o quê e para quê? 4. Conversas sobre Nós 5. Do it again, do it yourself or don`t do it at all!
extra Multilevel parental cooperation? A Portuguese approach. Cronologia de um projeto
A cooperação parental 2.0
São inúmeras as abordagens à cooperação que se estabelece, ou que se deve estabelecer, entre escola e família. Algumas, centradas nos agentes educativos, reclamam uma maior participação dos pais na vida escolar dos seus filhos. Outras, associadas a grupos de apoio à família ou a movimentos organizados de pais, exigem uma escola mais aberta à participação parental. O mais consensual será considerar que este é um diálogo em que ambos os sentidos da discussão estão certos e que é necessário encontrar o ponto de equilíbrio que melhor contribua para o sucesso educativo e para o bem-estar da comunidade. Foi neste contexto que se desenvolveu, entre 2012 e 2014, o projeto PASCRI – Parent-School Cooperation in Relation to Inclusion, uma parceria bilateral entre os municípios de Torres Novas (Portugal) e Aalborg (Dinamarca), apoiada pela Comissão Europeia no âmbito do Programa Aprendizagem ao Longo da Vida. Um conjunto de pais que funciona bem como grupo, e que procura resolver problemas comuns, contribui decisivamente para um bom ambiente entre alunos, com impacto na diminuição de situações de conflito e na obtenção de melhores resultados. Surge desta observação a ideia central do projeto: debater e fomentar um renovado processo colaborativo entre pais e escola, não centrado no percurso educativo de cada aluno, mas antes nas mais-valias que podem ser geradas através de uma relação escola-pais mais permanente e global. Ainda que a perspetiva individual seja importante, com o tradicional acompanhamento de cada pai sobre a vida escolar do seu filho, entendemos fundamental que ela seja complementada com uma vivência efetiva e mais ampla sobre todo o dia a dia da escola, o seu planeamento, os seus problemas, a sua dinâmica, as suas conquistas. O conjunto destas duas perspetivas traduz o que designamos de cooperação parental 2.0, e cujo desenvolvimento pressupõe que os pais sejam considerados como elementos da escola e atores efetivos de todo o sistema educativo, numa lógica de dinâmica partilhada. É sabido que o centralismo não favorece a participação e, que no caso da educação em Portugal, são ainda muitas as resistências a uma verdadeira descentralização do sistema. Não estando o nível de decisão no local, na escola ou na comunidade, quem quer participar, e neste caso os pais que querem participar, não veem muitas vezes refletidas as suas opiniões, sugestões, reclamações ou propostas. 3
Assim, e na ausência de um caminho claro que contrarie esta situação no país, cabe-nos, enquanto agentes locais, procurar alternativas. O projeto PASCRI representa isso mesmo, uma iniciativa do município e das escolas do concelho de Torres Novas, em colaboração com o município de Aalborg e as suas escolas, para tentar desenvolver a cooperação parental 2.0, chamando os pais a virem mais à escola, a fazer outras coisas que não apenas receber as notas ou outras informações do seu filho, a falar uns com os outros, a festejar, trocar experiências ou debater problemas comuns.
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Três mil quilómetros de distância?
A distância física entre Torres Novas e Aalborg é talvez menos significativa do que as distâncias económicas e sociais existentes entre os dois municípios e sistemas de ensino, e ainda assim, nesta questão, foram consensuais os pontos de vista partilhados na construção do projeto PASCRI. A caracterização dos dois territórios não deixa qualquer margem para equívocos: são distantes, são diferentes, assim como os respetivos contextos nacionais. Localizado no norte da Dinamarca, Aalborg é o terceiro maior município do país (a seguir a Copenhaga e Aarhus), com aproximadamente 206.000 habitantes1, dimensão que resulta já do processo de redução do número de municípios que se efetivou em 1 de janeiro de 2007, e que alterou o número de municípios do país de 270 para 982. A cidade de Aalborg, sede do município tem cerca de 130.000 habitantes, e segundo um estudo de 2013 da Comissão Europeia3 sobre a perceção da qualidade de vida nas cidades europeias, Aalborg é mesmo a cidade europeia onde os cidadãos se sentem mais felizes com o local onde residem. Por seu lado, Torres Novas é um município português, localizado no centro do país, a aproximadamente 100 km a norte de Lisboa, e com cerca de 37.000 habitantes, o 78.º mais populoso entre os 308 municípios do país, segundo os Censos de 20114. A Dinamarca é um país com metade da área de Portugal, e que tem também praticamente metade do número de residentes, apresentando, contudo níveis de desenvolvimento e riqueza substancialmente mais elevados do que o nosso país. Atente-se, por exemplo, aos valores do Índice de Desenvolvimento Humano de 2013, que colocam a Dinamarca como 10.º país mais desenvolvido do mundo, contra a 41.ª posição de Portugal5. Ou nas diferenças ao nível do PIB (Produto Interno Bruto), que atribui à Dinamarca o 9.º maior produto per capita do mundo (56.363 US$), numa distribuição em que Portugal aparece no 45.º lugar (20.175US$)6.
1 http://en.wikipedia.org/wiki/Aalborg 2 http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_municipalities_of_Denmark 3 http://ec.europa.eu/regional_policy/sources/docgener/studies/pdf/urban/survey2013_ en.pdf 4 http://www.pordata.pt/Municipios 5 http://www.un.org 6 http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.PCAP.CD/countries?display=default
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Ainda no que se refere a distâncias simbólicas, é importante salientar as principais diferenças existentes entre os dois sistemas de ensino. Por um lado, constata-se que o sistema dinamarquês é mais completo, iniciando-se com uma pré-escolaridade universal logo no final do primeiro ano de vida. Por outro, trata-se de um sistema menos dividido, com menos transições. Tem uma escolaridade obrigatória de 10 anos, com início aos seis anos de idade, frequentando os alunos, neste período, apenas uma escola, a Folkeskole que, sendo regulada pelo Ministério da Educação, é totalmente gerida pelos municípios e pelas direções das escolas. folkeskole DENMARK ages PORTUGAL
pre-school 0
1
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upper secondary
primary and lower secundary 5
pre-school
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primary and lower secundary 1 cycle
2 cycle
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upper secondary
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post secondary 19
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post secondary
3 cycle
basic education
adaptado da Rede Eurydice7
Em Portugal, a educação pré-escolar inicia-se aos três anos de idade, a escolaridade obrigatória é de 12 anos, com início também aos seis anos, e inclui nove anos de ensino básico, dividido em três ciclos, seguidos de três anos de ensino secundário. O papel dos municípios, para além do planeamento e gestão da rede da educação pré-escolar e 1.º ciclo, cinge-se praticamente aos tempos extraescolares (prolongamentos de horário no pré-escolar e atividades de enriquecimento curricular no 1.º ciclo), ação social escolar e aprovisionamento das escolas até ao final do 1.º ciclo. De forma voluntária, nos 2.º e 3.º ciclos, o fornecimento de refeições escolares, a disponibilização de pessoal não docente e a manutenção do edificado podem ser asseguradas através de contratualização, município a município. O centralismo que caracteriza a gestão da educação no nosso país, já referido no ponto anterior, manifesta-se quer na reduzida autonomia e capacidade decisória das escolas, formatada em normas nacionais, quer na inexistência formal dos municípios em qualquer decisão com implicações pedagógicas. Segundo a OCDE, na Dinamarca, ao nível dos 2.º e 3.º ciclos (lower secondary education), 44% das decisões está nas escolas, 34% com os municípios e apenas 22% com a administração central. Em Portugal, a mesma distribuição indica-nos que as escolas são responsáveis por 22% das decisões tomadas, sendo os restantes 78% atribuição dos serviços do Ministério da Educação e Ciência.8
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7 http://eacea.ec.europa.eu/education/eurydice/eurypedia_en.php 8 Percentage of decisions taken at each level of government in public lower secondary education (2011). Educationat a Glance 2012. www.oecd.org/edu/eag2012
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Quem é quem, o quê e para quê?
Constatamos que localmente nos cabe sobretudo uma intervenção que sai da esfera da organização formal do sistema educativo. Assim, os nossos conhecimentos e criatividade são os limites para as possibilidades de trabalho conjunto entre município, escolas e outros intervenientes do tecido social, na procura de soluções para as dificuldades encontradas e qualificação dos ambientes de aprendizagem disponíveis na comunidade. O projeto PASCRI é apenas um exemplo disto mesmo. Nos últimos anos, a participação dos serviços de educação do município de Torres Novas em várias iniciativas e programas internacionais visou essencialmente a recolha de experiências comparadas e a melhoria das capacidades de intervenção dos serviços. É neste contexto que encontramos a génese do PASCRI, através da participação conjunta dos municípios de Aalborg e Torres Novas numa atividade do Programa Aprendizagem ao Longo da Vida (PROALV), da Comissão Europeia, ainda no final de 2011. Decorre daqui uma candidatura ao programa Comenius, sub-ação Comenius Regio, e que, tal como ficou definido, incluiu, em cada município parceiro, um consórcio local responsável pela prossecução das atividades planeadas para 24 meses. No caso de Torres Novas participaram o município, as três escolas públicas com 2.º e 3.º ciclo do ensino básico no concelho e a associação de pais da escola Artur Gonçalves, como parceiro externo9. Em paralelo, a mesma estrutura de parceria foi estabelecida em Aalborg, com três folkskole e a participação da associação nacional de pais da Dinamarca. Seguindo o repto do Município de Aalborg, que assumiu formalmente a coordenação da parceria, cada uma das escolas trabalhou diretamente com uma escola do município parceiro. Em cada escola, participaram o diretor ou um elemento designado pela direção, um professor e um encarregado de educação.
9 Estiveram envolvidos: Jorge Salgado Simões, Luísa Grais Martins e Marta Trigueiro (Município de Torres Novas); Paulo Renato, Lúcia Antunes e Luís Bento (Escola Manuel de Figueiredo); Maria João Martins, Paula Ribeiro, Sérgio Parreira e Maria de Fátima Lopes (Escola Chora Barroso); Acácio Neto, Maria Clara de Matos, António Lucas de Lemos, Paulo Dias (Escola Artur Gonçalves); José Nicolau Faria (Associação de Pais da Escola Artur Gonçalves).
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partner regions
schools
external partners
Aalborg Komunne
Município de Torres Novas
Ferslev Skole
Escola Manuel de Figueiredo
Vesterkaerets Skole
Escola Chora Barroso
Tofthjskolen
Escola Artur Gonçalves
Skole og Foraedre
Associação de Pais da Escola Artur Gonçalves
De salientar que o tema da cooperação parental é trabalhado já há vários anos em Aalborg, através do projeto designado “The Good Class” com várias iniciativas associadas, como encontros de pais, a criação dos conselhos de alunos, a designação dos embaixadores do bem-estar10 ou ainda a realização de reuniões professor-pais, em casa dos alunos. Em Torres Novas, e ainda que de forma autónoma, as escolas também já desenvolviam várias atividades neste âmbito, quer formais, como as reuniões previstas entre escola e encarregados de educação, quer informais, com a realização de eventos, festas e conferências, convidando os pais a participar. Do ponto de vista da comunidade, o próprio município já havia desenvolvido vários encontros de pais, chamando vários especialistas nacionais ao seu desenvolvimento. Assim, o job-shadowing e a partilha destas preocupações e atividades desenvolvidas entre os dois municípios foram os objetivos centrais definidos, alargados à possibilidade de encontrarmos e divulgarmos propostas passíveis de replicação noutros contextos. No documento em que sintetizamos as ideias dos dois municípios, os parceiros dinamarqueses assumiam o seguinte: “O conhecimento e a cooperação entre pais têm uma relevância vital para o bem-estar dos alunos. E também reconhecemos que a familiaridade entre pais, e entre os pais e os filhos dos outros, é igualmente necessária”. Do ponto de vista nacional, Torres Novas defendeu que a cooperação parental tem de ser desenvolvida a uma escala multinível, ou seja, a uma escala em que todos os tipos de cooperação parental (pai-aluno, pai-professor, pai-turma, paiescola ou pai-comunidade) são importantes e devem ser promovidos em conjunto, dando exemplos de como cada um destes níveis se manifesta no quotidiano e como pode ser trabalhado. Neste intuito, todas as atividades planeadas no PASCRI visaram essencialmente dois objetivos: fomentar a participação dos pais, nesta perspetiva da cooperação parental em torno de todo o grupo de alunos, ou seja, menos individual e mais centrada no bem-estar de toda a escola; experimentar práticas já implementadas no município parceiro, no sentido ����������������������������������������������������������������� Do original “Ambassador in charge of the welfare in the class”.
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da promoção da participação dos pais na vida social da escola, verificar e debater os resultados obtidos. Para o efeito, no âmbito do planeamento geral do projeto, foram executadas mobilidades entre os dois municípios, apresentações e visitas a escolas, reuniões de trabalho, conferências públicas, e procurou-se facilitar a comunicação, com a aquisição e disponibilização de tablets às entidades parceiras. Ainda em referência aos objetivos, cada escola e cada parceiro envolvido desenvolveu as ações que entendeu mais necessárias e adequadas ao seu contexto de intervenção. Também, consoante a proximidade que conseguiram construir com os parceiros dinamarqueses, os caminhos seguidos foram de facto diferentes, o que só enriquece a experiência do trabalho desenvolvido. Na escola Manuel de Figueiredo a opção de intervenção recaiu sobre a adoção de uma das práticas dos parceiros de Aalborg. A título experimental, desenvolveu-se numa turma do 8.º ano o projeto “cooperação dos pais na turma”, incluindo a realização de encontros de natureza informal entre a diretora de turma, alguns professores e os pais, que permitiram criar uma ligação saudável de partilha e intervenção nos assuntos relacionados com o grupo e de forma a desenvolver as potencialidades de cada turma. Segundo a escola, os pais participantes consideraram a experiência interessante, porque os aproximou à escola, e os aproximou entre eles, fazendo refletir sobre assuntos do interesse dos seus educandos. O espírito deste grupo de pais reflete-se na mensagem deixada por uma das mães envolvidas: “Aprendemos sempre com experiências alheias, partilhamos as nossas preocupações e anseios e o resultado foi muito positivo. Para além disso, estas sessões tiveram impacto positivo nos nossos filhos, foi sempre com curiosidade que eles olharam para estes encontros e perceberam que estávamos reunidos porque nos preocupamos com eles e porque queremos encontrar estratégias que os façam sentir bem na escola. Oxalá este projecto se mantenha nesta turma e se estenda a outras turmas também (…), pais, alunos e professores beneficiarão certamente com isso.” A opção da Escola Chora Barroso passou por aprofundar os convites aos pais para participação em atividades da vida social da escola, como festividades, eventos, momentos de promoção dos hábitos de leitura, entre outros, também com a participação de outras entidades e instituições da comunidade local. No âmbito do já desenvolvido em Aalborg e na perspetiva inclusiva do projeto PASCRI, foram experimentadas as atividades “The Good Chair”, em turmas dos 5.º e 6.º anos, incluindo a realização de um pequeno-almoço partilhado, que se revelou favorecedor de um bom relacionamento entre pares, e instituído o “The Student Council”, que permitiu que todos os delegados de turma na escola se juntassem, para discutir problemas da escola e apresentar propostas.
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Com o projeto PASCRI, a Escola Chora Barroso reconhece ter sido possível estreitar o relacionamento com pais e encarregados de educação, sendo as atividades de promoção da leitura e de realização de leituras partilhadas com os filhos um dos exemplos significativos desta aproximação dos pais à vida escolar dos seus educandos e ao próprio quotidiano escolar. A Escola Artur Gonçalves e a sua Associação de Pais, parceira neste projeto, desenvolvem, já há vários anos e em conjunto, atividades relevantes de promoção da participação de pais na vida da escola, como por exemplo, a ação “Os Pais são Professores”, realizada durante a Semana da Escola. Assim, e para contrariar os reduzidos níveis de participação que se iam registando, a opção, também no âmbito do PASCRI, foi de reforço da mobilização, diretamente através dos professores diretores de turma, e através de contactos com os pais com recurso a correio eletrónico, telefone, plataforma eletrónica e marcação de reuniões individuais. Além disso, desenvolveu-se um conjunto de sessões abertas, de esclarecimento sobre temas de interesse geral para os pais, entre outras, nas áreas da educação alimentar, segurança na internet, bullying, prevenção do consumo de drogas ou educação sexual. Mesmo considerando que a participação dos pais continuará a centrar-se nas preocupações sobre a vida escolar dos seus filhos, e não obstante subsistir o problema dos níveis de participação, com o total afastamento de alguns pais da escola, a implementação do projeto é apontada como elemento promotor de uma participação crescente dos pais, quer na perspetiva da cooperação com os professores, quer na disponibilidade para participar nas atividades da escola. Especificamente no que respeita às Associações de Pais, representadas no projeto PASCRI como parceiros externos, de acompanhamento e colaboração das atividades, é de salientar que as organizações de pais na Dinamarca são representadas por um organismo nacional que tem uma participação assegurada na estrutura governamental do país ligada à educação, emanando instruções e recomendações para municípios e escolas e informações para todos os pais. Em Portugal, as associações de pais não têm este carácter institucional, sendo um movimento voluntário e muito dependente da organização interna de cada uma. Como salientou o representante da Associação de Pais da Escola Artur Gonçalves, a abrangência da sua intervenção e os resultados que podem obter, depende sobretudo da capacidade de mobilização dos pais e da abertura e proximidade que conseguem estabelecer com as direções das escolas.
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Conversas sobre Nós
No âmbito da intervenção do município de Torres Novas, para além da coordenação geral do projeto PASCRI, coube o desenvolvimento, em 2014, de um ciclo de conferências aberto a toda a comunidade e com o propósito de contribuir para a reflexão sobre a escola e a educação, e sobre os desafios da parentalidade e da cooperação parental. As “Conversas sobre Nós” incluíram quatro sessões públicas na Biblioteca Municipal Gustavo Pinto Lopes, com oradores de projeção nacional, e pretenderam salientar esta dimensão coletiva que é preciso imprimir à educação, onde todos NÓS: pais, professores, alunos, funcionários, educadores, terapeutas, autarquias, coletividades, etc…, temos um papel diferente a desempenhar. Não havendo receitas únicas para os problemas com que o sistema educativo se vai confrontando, pedagógicos, logísticos, comportamentais ou outros, é das complementaridades que conseguimos mobilizar que podem resultar as oportunidades para a sua superação. Ao todo, as “Conversas sobre Nós” envolveram cerca de 450 participantes, tendo sido efetuada uma avaliação muito positiva (média de 4,48 numa escala de 1 a 5, com recolha de 196 inquéritos), que demonstra o interesse e a necessidade com que este tipo de iniciativas, de carácter mais geral e de acesso universal, é acolhido pela comunidade local. O ciclo iniciou-se com a jornalista Bárbara Wong (20 de março), do jornal Público, que desde sempre esteve ligada às questões educativas, acompanhando de perto todas as principais transformações que o sector conheceu ao longo dos tempos, no nosso país. É autora de vários livros, e sintetizou, em Torres Novas, inúmeras possibilidades de interação, formais ou não formais, mais ou menos institucionais, dos pais com a escola dos seus filhos. Também jornalista, mas num registo mais pessoal, Isabel Stilwell dinamizou a segunda sessão (3 de abril), refletindo sobre as questões entre gerações, as atuais políticas de educação e da família e o lugar dos direitos das crianças. A terceira sessão ficou a cargo de Daniel Rijo (28 de abril), psicólogo e professor na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade de Coimbra, que abordou diferentes perspetivas em torno do sucesso escolar, as causas de insucesso, a pressão dos pais, os rankings das escolas, entre outras problemáticas associadas e que incluíram notas sobre como construir uma Educação com futuro. Por fim, Paulo Oom, doutor em Pediatria, e conhecido do público pela intervenção em vários órgãos de comunicação social com rúbricas de aconselhamento aos pais, 11
deixou-nos vรกrias notas de como podemos transformar a complexa tarefa de educar em algo mais fรกcil e eficaz (16 de maio).
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Do it again, do it yourself or don’t do it at all! Um dos principais objetivos do projeto PASCRI, depois da troca de experiências que queríamos desenvolver entre os dois municípios, era concluir sobre as atividades que podem ser desenvolvidas em qualquer contexto europeu, com possibilidades de sucesso no desenvolvimento da cooperação parental. Assim, salvaguardando-se a complexidade inerente ao trabalho entre duas realidades tão distintas, são de salientar as seguintes ideias-chave e resultados: •
Associada ao acompanhamento individual que os pais devem fazer da vida escolar dos filhos, há uma participação dos pais na vida da escola que pode ser fator de sucesso e de melhoria do ambiente escolar.
•
Esta participação, que aqui identificamos de cooperação parental 2.0, é o conjunto de perspetivas de interação dos pais com a escola na atualidade, pressupondo diferentes níveis de cooperação e que são complementares entre si.
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Os pais manifestam interesse e participam em ações que visam debater e refletir sobre temas globais que respeitam à parentalidade, aos novos comportamentos, à escola e à organização do sistema educativo.
•
Chamados para encontros informais, e com uma agenda que favoreça a possibilidade de intervirem de forma efetiva na superação de dificuldades conjuntas, os pais mobilizam-se e sentem-se mais integrados.
•
Convidar os pais a participar na vida social da escola, em encontros, festas, competições desportivas, demonstrações várias, fazendo-os sentir que a sua presença é útil e valorizada, favorece a cooperação paisescola.
•
Chamar os pais à escola, numa perspetiva passiva, sem uma intencionalidade clara de favorecer a sua participação, ou para os confrontar apenas com os problemas dos filhos, pode ser fator desmobilizador e desencorajador de qualquer tipo de aproximação.
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A educação é um dos campos mais complexos da nossa vida em sociedade e decisivo ao nível das possibilidades de crescimento individual e coletivo que oferece. Todos os seus intervenientes devem ter papéis bem definidos e possibilidades de participação conformes, incluindo os pais. Do PASCRI e das experiências partilhadas, concluímos que as escolas estão despertas e recetivas para uma cooperação parental mais intencional, e que também os pais, quando genuinamente encorajados, não rejeitam este papel mais ativo que aqui se perspetivou.
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extra Multilevel parental cooperation? A Portuguese approach.11 It is well known that Education keeps extremly centralised in Portugal and that the distance from where decisions are taken to where they are applied is directly connected to the level of parental engagement. Countries where Education decision-making process is more in the school or at a local level, and where parents opinions, suggestions and activities can be adopted without difficulties, can manage to get a more effective parental cooperation. As considered in an OECD study from 200612, the question here is how do we regard parents in education: are they partners in the school? Or are they external? In Portugal, central government is in charge of choosing the best teachers to each public school; to guarantee the precise fulfilment of the national curriculum and other national rules; and the bureaucracy around education is so heavy that cooperation between schools and local community is really discouraged. To the municipalities, central government releases part of the education logistics. Buildings, equipment, meals at schools, transports, after school activities, social aid, support staff, and other special duties related to planning the local education system, are the main education activities in the local government, and even those, mainly related to preschools and primary schools. It is our global perception that in Portugal parents are still viewed as external to schools. But besides this centralized system that resulted in a cultural low level of parental cooperation in education, schools and local communities in Portugal always try to contradict this reality, promoting a more effective relationship with parents. And they did so not only by formal connections with parents, regarding school results, students behaviour or other school information, but also by an informal enrolment, like the special events in schools, parties, open days or specific workshops for parents.
11 Texto originalmente incluĂdo no documento orientador do projeto. 12 “Demand-Sensitive Schooling? Evidence and Issuesâ€?, OECD Publishing 2006, p.83-101.
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The first reason why parents contact schools is still about the school results of their own kids. They also play a great role in what concerns to school special days and events, but are less effective regarding meetings about their kids’ class or group, even less participating on global aspects about school function, and they are rarely enrolled in parental workshops or seminars on specific education themes that schools and local community organize. Means of school-parents communication, and the individual contact parent – teacher are still fundamental to parental cooperation. In Portugal, we still have the general idea that participation on parents’ organisations, activities organised by parents or other parental information sessions, is something peripheric to education. The aim is to wipe out the idea of parents being external to schools and develop the conscious of parents being part of the school. Out from a formal or legal way to deal with the subject, we defend that parental cooperation must be developed at a multilevel scale, in order to be successful in what concerns to school results and the promotion of a good learning environment, also regarding inclusion and local sustainability. The multilevel parental cooperation approach:
parent-student
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teacher
class
school
community
In other words, all kind of parental cooperation can make the difference, and all levels should come together. This is a kind of holistic approach to parental cooperation, and includes in the same concept different things: formal cooperation and informal cooperation, direct and indirect cooperation, concrete parent/student cooperation and cooperation regarding the relationship between parents and teachers, parents and the class, parents and school, parents and the community.
parent-student Definitely school can’t keep all the responsibilities concerning education. In order to provide students a successful and normal schooling time, it’s crucial to consider the role that parents play, at home, directly with their own kids. There are some basic things that parents should do as a daily routine: be aware of school timetables, watch the work done at school or if there are any special notes from teachers, test results, verify homework or even the need to do some extra study time. One example of being cooperative could be the mutual definition of a daily afterschool study timetable, where the parent and the student are both responsible to attend, the student does it homework and test preparations, and the parent keeps monitoring the accomplishment of these duties. The whole thing is to keep in touch with everything that concerns the student’s school life, promote an open parent/student relationship and don’t forget that as a parent there is always an important role model being played.
parent-teacher Parents and teachers must keep a permanent and trustable link. By formal or informal means, it’s important that parents know what is happening at school and also that teachers get to know if something special is taking place at home. Parents must be open mind to go forward with teachers’ orientations, on study methods, behaviour or other social aspects. Besides the regular and formal meetings during the school year, there are easy digital means that can help teachers and parents to keep always in touch. A simple e-mail account, managed by the coordinator teacher of the group, allows the information exchange between teacher and parents. Teachers should not restrict contacts with parents to problematic situations, promoting also the positive aspects of the student learning 17
process or the social integration process at school. It’s everything about building a mutual and shared relationship between parents and teachers.
parent-class There is a temptation to restrict the “parent eyes” to the situation of their own children. The discussion here is that is also important getting to know everything about their class or school group. Nowadays is well known that social life in the group, the relationships among students and the way students interact each others, is closely linked to the quality of the learning environment at school or even to the school results. Parents should attend the group meetings and get to know the other parents and their kids, their different family contexts. An informal way to deal with this issue is to participate actively in special events organised by the class, celebrations, sports competitions, drama or other artistic exhibitions. If there is something wrong in the group, it will probably affect all the students, rather if it is about social aspects or a school question. Parents need to know it on time, in order they can help their kids and the class to work out for solutions. For example, if there is someone new that needs to be integrated, a good relationship between parents among the class, can avoid exclusion feelings and promote a peaceful way to deal with it.
parent-school In order to be completely involved in their children’s life parents should be aware of the activities that are developed in school. So, participate dynamically in schooling activities seems to be one of the most important aspects in the partnership between parents and school. These activities can go from attending meetings with teachers and other parents to being involved with parental associations, whether in its organization or by participating in its activities. Parents also have place on the school board or other management areas, where they must make an effort to play an important role. But parents can go even further, participating as an inside player. What it seems to be a good example of staying cooperative with school is taking part in the organization of some projects and activities, such as the conception of the document that establish the annual activities that will take place in school during the year. 18
parent-community School is a living organism that is directly related with the society where it is integrated. What happens in school have impact in the community and vice-versa. Parents’ actions are fundamental to achieve the balance and welfare that allow a better and sustainable way of life among local communities. Open days, conferences or fund raisings are some of the examples that demonstrate the cooperation that can be developed between parents and the community. Local policies must keep education among the intervention priorities, permanently looking for a good and equal learning environment.
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extra Cronologia de um projeto nov. 2011 Identificação de necessidades e acordo entre os municípios para desenvolvimento do projeto. jul. 2012 Aprovação da parceria.
out. 2012 Assinatura de contrato financeiro de suporte à parceria.
dez. 2012 Deslocação de parceiros locais a Aalborg, entre 3 e 6 de dezembro.
fev. 2012 Apresentação da candidatura conjunta ao programa Comenius Regio. ago. 2012 Reunião entre coordenadores de cada município, em Aalborg, entre 22 e 24 de agosto. Calendarização de atividades da parceria. nov. 2012 Definição de logótipo do projeto. Reunião de consórcio local. Contributo de Torres Novas para documento orientador da parceria. Aquisição e distribuição de tablets. jan. 2013 Reunião de consórcio local.
fev. 2013 Receção de comitiva de Aalborg em Torres Novas, entre 4 e 6 de fevereiro. mai. 2013 Reunião de consórcio local, avaliação intermédia. jun. 2013 Apresentação de relatório de progresso. jul. 2013 Reunião de consórcio local. set. 2013 Reunião entre coordenadores de cada município, em Torres Novas, entre 17 e 19 de setembro. Atividades até final da parceria e avaliação.
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out. 2013 Reunião de consórcio local. Deslocação de parceiros locais a Aalborg, entre 29 de outubro e 2 de novembro. Reunião de parceiros com Embaixada de Portugal em Copenhaga. mar. 2014 Primeira sessão do ciclo “Conversas sobre Nós”, com Bárbara Wong.
mai. 2014 Apresentação da comunicação “A cooperação parental 3k. Torres Novas e Aalborg numa parceria internacional em educação”, no Seminário Internacional Investigação, Práticas e Contextos em Educação, realizado no Instituto Politécnico de Leiria. Quarta sessão do ciclo “Conversas sobre Nós”, com Paulo Oom.
jul. 2014 Apresentação da comunicação “Municípios e cooperação internacional em educação? Os 3000 km entre Torres Novas e Aalborg”, no Congresso Internacional Territórios, Comunidades Educadoras e Desenvolvimento Sustentável, realizado na Universidade de Coimbra. Final da parceria.
out. 2014 Apresentação de resultados, discussão sobre ações futuras.
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jan. 2014 Reunião de consórcio local.
abr. 2014 Segunda sessão do ciclo “Conversas sobre Nós”, com Isabel Stilwell. Receção de comitiva de Aalborg em Torres Novas, entre 27 e 30 de abril. Terceira sessão do ciclo “Conversas sobre Nós”, com Daniel Rijo.
jun. 2014 Reunião de consórcio local.
set. 2014 Entrega de relatórios finais.
ficha técnica título. A cooperação parental 2.0 Torres Novas e Aalborg numa parceria internacional em educação, 2012-2014 texto. Jorge Salgado Simões - Departamento de Educação e Cultura - Município de Torres Novas revisão de texto. Luísa Grais Martins - Divisão de Educação - Município de Torres Novas composição gráfica. Cláudia Barroso - Comunicação, Audiovisuais e Imagem - Município de Torres Novas impressão.
tiragem.
Gráfica Almondina
300 exemplares
©Município de Torres Novas, 2014
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