título O ensino secundário em Torres Novas. Um contributo nos 60 anos da Escola Industrial e Comercial de Torres Novas textos Ana Maria Monteiro Marques coordenação editorial Gabinete de Estudos e Planeamento Editorial Pesquisa de fotografias e documentos da época Cláudia Plácido Arquivo Municipal de Torres Novas capa e grafismo Cláudia Barroso Comunicação, Audiovisuais e Imagem revisão Ana Maria Monteiro Marques, João Carlos Lopes Gabinete de Estudos e Planeamento Editorial fotografias Arquivo Municipal de Torres Novas, Comissão Organizadora do XXIX Encontro de ex-alunos EICTN/Escola Maria Lamas impressão Gráfica Almondina ©Município de Torres Novas, 2014
parte
1.
Quando o Ministério de Educação Nacional determinou, por decreto n.º 39700 de 18 de junho de 1954, a criação da Escola Industrial de Torres Novas, recuperava-se um projeto já antigo de ensino técnico secundário no concelho. A antecessora Escola de Desenho Industrial de Vitorino Damásio, criada na sequência do decreto de 3 de janeiro de 1884 e inaugurada em maio de 1885, no edifício do Conde de Torres Novas1, na rua que tem hoje o nome do seu antigo proprietário (António César de Vasconcelos Correia), teve bastante sucesso nos primeiros anos de funcionamento, mas acabaria por ser transferida para Lagos, por decreto de 4 de julho de 1905, face ao reduzido número de alunos inscritos2. O sucesso inicial contrastava com a fraca frequência dos últimos anos, insuficiente face à média legal estabelecida.3 Durante quase 50 anos não tinha havido, portanto, ensino técnico em Torres Novas. O concelho que, no princípio do século XX, era ainda predominantemente agrícola, em que o figo, o azeite e o vinho tinham lugar de destaque, sustentava já uma importante atividade industrial, sobretudo nas pequenas indústrias das fundições, destilarias, marcenarias e carpintarias, tanoarias e correarias.4 A grande indústria, surgida logo nos finais do século XVIII e continuando a crescer em importância durante o século seguinte, tinha, na primeira metade do século XX, um papel de relevo na economia e na sociedade torrejanas. Os sectores têxtil, de metalurgia ligeira, de curtumes e de papel alimentavam o mercado interno e externo e empregavam, em 1911, cerca de 18% da população5. Destes, cerca de 1/3 estavam empregados nas quatro fábricas de têxteis que então existiam6. Em 1960, quatro anos após a criação da Escola Industrial de Torres Novas, o concelho ainda era claramente agrícola, com a maior parte da população ativa empregada no setor primário (cerca de 44%, número idêntico ao da média nacional), em contraste gritante com os atuais 2% (menos ainda do que os 3% calculados para a totalidade de pessoas a trabalhar na agricultura em Portugal7). Era expressiva a percentagem de pessoas a trabalhar na indústria (cerca de 32%), e até superior aos números nacionais, que apontam para os 29%8. Essa 1
O mesmo edifício é hoje a casa dos Paços do Concelho que ali foram instalados em 1908 Artur Gonçalves (1937), Memórias de Tôrres Novas, Torres Novas: edição do jornal O Almonda, 1990, pp. 108,109 3 Idem, ibidem 4 Turres [catálogo da exposição], Torres Novas: Município de Torres Novas, 2010 5 Francisco Canais Rocha, Para a História do Movimento Operário em Torres Novas, Torres Novas: Município de Torres Novas, 2009, p. 21. 6 Idem, ibidem, p. 31. Uma dessas fábricas foi uma das maiores do país e a maior em funcionamento ainda no princípio do século XX. A Companhia Nacional de Fiação e Tecidos de Torres Novas encerrou as suas portas em agosto de 2011 e era, à época, a mais antiga do ramo ainda em funcionamento. [http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=509&id=76817&idSeccao=8355&Action=noticia#. VClm3Lfwtok] – página visitada em 29 de setembro de 2014 7 Segundo os dados dos censos de 2011 8 Recorremos aos dados da Pordata [http://www.pordata.pt/Municipios/Populacao+empregada+segundo +os+Censos+total+e+por+sector+de+actividade+economica-145] visitada em 29 de setembro de 2014 2
evolução da população operária, a partir dos finais do século XVIII, inicialmente acentuada, prosseguiria, em ritmo mais brando, no terceiro quartel do século XX, altura em que começa a inverter-se, sendo em 2011 de apenas 27%9 seguindo, aproximadamente, a tendência do país. Condições de ordem diversa têm sido indicadas por alguns autores como favoráveis ao crescimento industrial que se verificou até aos anos 80: a existência do rio Almonda e da sua bacia hidrográfica, a proliferação de pequenas ferrarias, saboarias e uma intensa atividade comercial, bem como a existência de uma importante comunidade judaica com considerável importância económica.10 Não admira, portanto, que as forças vivas do burgo se preocupassem com a educação técnica, numa terra em que cada vez mais pessoas se empregavam nas fábricas e oficinas. Estes polos industriais sofriam a natural evolução tecnológica que lhes alargava a produção e os horizontes comerciais. Ora, era na burguesia que se encontravam os agentes desta mudança, uma burguesia liberal que reconhecia o «papel civilizacional da escola»11.
Vista aérea da escola primária, hoje primeiro ciclo, e Escola Maria Lamas no Bairro das Tufeiras, em Torres Novas – Séc. XX
Inauguração da Escola Industrial e Comercial de Torres Novas, hoje Escola Maria Lamas, pelo Ministro das Obras Públicas, Eng. Arantes de Oliveira e o Ministro da Educação, Dr. Lopes de Almeida – 16.07.1961
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Idem, ibidem. Ver, igualmente, Jorge Salgado Simões, A população de Torres Novas (1864-2005), Torres Novas: Município de Torres Novas, p. 59 10 Francisco Canais Rocha, ibidem, pp. 37, 38 11 António Mário Lopes dos Santos, «O ensino no concelho de Torres Novas na 2.ª metade do século XIX (4)», publicada em O Almonda de 18 de outubro de 2013
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2.
A Escola de Desenho Industrial de Vitorino Damásio deve ter deixado boa memória. Antes dela, algumas experiências avulsas e pouco consistentes resumiam o ensino dito “secundário” na vila. Resultavam de iniciativa particular e estavam entregues a eruditos que lecionavam determinadas disciplinas, como gramática latina (caso do Padre José Mendes Ruivo, desde 1813 e até ao seu falecimento em 1833, do professor Nicolau da Costa Waldgrave, que lhe sucedeu, e, mais tarde, de José Inácio da Silva Pimenta)12. No Colégio da Enfermaria o Padre Joaquim Correia da Silva lecionou, de 1861 a 1870, latim, francês, desenho, português «e outras matérias de instrução secundária».13 Em 1887 era criado o Colégio de Valverde, após petição assinada por algumas personalidades de relevo do burgo, que consideravam urgente retomar o ensino de gramática latina. A nova escola duraria menos de um ano.14 E houve mais iniciativas do género, igualmente com pouco êxito. Outros casos seriam mais bem-sucedidos, como o Colégio de Jesus, Maria e José, dedicado à educação feminina, tendo como primeira diretora Bárbara Balbina de Paula Correia (D. Bárbara15), mas que era dirigido pelas irmãs teresianas e funcionava na casa Mogo de Melo16. O colégio fecharia as suas portas por decreto de 8 de outubro de 1910, diploma que vinha impor a aplicação do decreto de 28 de maio de 1834 (extinção das ordens religiosas)17. É já em pleno século XX que o ensino de nível secundário começa a ser ministrado em escolas mais sólidas e estruturadas. Duas, em especial, haveriam de sobreviver até aos nossos dias: o Colégio de Andrade Corvo e o Colégio de Santa Maria, tendo ambas nascido de iniciativa particular. O Colégio de Andrade Corvo terá sido fundado em 1928, por ação de Augusto Azevedo Mendes, que juntou os alunos dos três professores que, na altura, lecionavam disciplinas de ensino secundário: os do padre João Gomes Duque (da escola de Ensino Livre, a funcionar desde 1901 e que chegou a chamar-se Colégio João de Deus), os de Armando Jorge Gonçalves Calado e os de António Raimundo dos Santos. Inicialmente sedeado no edifício do largo dos Combatentes da Grande Guerra, onde, em 1937, eram inaugurados a biblioteca e o museu municipais, mudou-se em 1934 para a avenida Gago Coutinho e Sacadura Cabral (atual avenida João Martins de Azevedo), onde ocuparia um edifício próprio. Embora não habite, atualmente, essas instalações18, sabe-se que o investimento terá então sido considerável, dado que a escola se abriria a outras valências como o internato, semi-internato e externato, para as quais foi necessário adaptar o edifício.19 12 13
Artur Gonçalves, ibidem, p. 95
Idem, ibidem Idem, ibidem, p. 96 15 Que antes tinha dirigido um colégio com o seu nome, também dedicado à educação de meninas, Idem, ibidem, pp. 98, 99 16 Atualmente o edifício alberga o Museu Municipal Carlos Reis 17 Artur Gonçalves, ibidem, p. 100 18 Ocupa atualmente um edifício na rua de Santo António 19 Artur Gonçalves, ibidem, pp. 100-103 14
O Colégio de Santa Maria, com instalações na Quinta de São José, próximo do largo General Humberto Delgado20, começou a funcionar em 1936. À frente da direção surgia, de novo, o nome de Augusto de Azevedo Mendes, embora estivesse a cargo das irmãs de S. José de Cluny, e era dedicado à educação feminina, com ensino primário e secundário. Antes da data da sua acomodação no referido edifício, já as irmãs de S. José de Cluny ensinavam (desde 1926) as meninas vindas da extinta escola de João de Deus, no Colégio de João de Deus (retomando a designação do colégio que antes tinha sido do padre João Gomes Duque). Passou a chamar-se Colégio de Santa Maria depois de 193621. Apenas em 1997 encerraria as suas portas. Estas escolas, particulares, não estariam, naturalmente, ao alcance de todos os potenciais interessados. O acesso ao ensino, pelo menos até um determinado nível, continuava a ser vedado a uma parte significativa da população. Em 1930 ainda a taxa de analfabetismo se situava nos 62,7% (em 1960 desceria para 25,5%). Embora não nos tenha sido possível apurar os dados relativos ao ensino secundário para os anos 30 do século XX, sabe-se que, mesmo em 1960, a percentagem de alunos com o ensino secundário ainda não deveria atingir os 2%.22 O anseio de criar, em Torres Novas, um liceu, dedicado ao ensino público de nível secundário, remonta a 1871, quando a câmara delibera adquirir a casa do falecido Conde de Torres Novas para a sua instalação. Como se viu mais acima, em vez do liceu era criada, 14 anos mais tarde, no mesmo edifício, a Escola de Desenho Industrial Vitorino Damásio. Em 1917, sob a presidência de Pedro Gorjão Maia Salazar e por iniciativa do vereador Francisco Antunes dos Santos Trincão, que presidia a Comissão Executiva, surge novamente uma deliberação camarária pela qual a edilidade procura reativar o ensino industrial em Torres Novas, mas a pretensão do executivo também não se concretizará23. O assunto do liceu volta a despertar o interesse da administração do concelho em 1933, sob a presidência de Gustavo de Bivar Pinto Lopes, fundador da biblioteca e do museu municipais. Para Pinto Lopes, fundar o liceu era um assunto da maior prioridade, que terá defendido, contra ventos e marés, de forma corajosa e emocionada. Mal havia ainda tomado posse, já o presidente em exercício estava a propor a criação de um liceu municipal24. O espaço de funcionamento seria o próprio edifício dos Paços de Concelho onde os serviços da administração local haviam sido alojados após a transferência da escola Vitorino Damásio para o Algarve. Antes da reforma de 1930, do ministro Cordeiro Ramos, «só 9,39% dos alunos liceáveis estava no ensino oficial». Esta reforma, baseada nos princípios ideológicos que iriam presidir à política do Estado Novo, determinava que a educação deveria basear-se na «na família, na fé, na autoridade, na firmeza dos jovens e no respeito da hierarquia» (Decreto 21130, de 7/4/1932). O aumento da procura deste tipo de ensino, que então se fazia sentir, era resolvido pelo incentivo à expansão dos colégios privados.25 20
Topónimo atual Artur Gonçalves, ibidem, pp. 103-106 22 Jorge Salgado Simões, ibidem, pp. 57, 58 21
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José Tomé, Memórias da Escola. 50 anos de Escola Industrial de Torres Novas , Torres Novas: Escola Secundária de Maria Lamas, 2005, pp. 7, 8 24 Manuela Poitout, «Carlos de Azevedo Mendes: religião e poder em Torres Novas na primeira metade do século XX» in Nova Augusta, n.º 24, Torres Novas: Município de Torres Novas, 2012, pp. 19-60 25 Fernanda Maria Veiga Gomes, «Os municípios e a expansão do ensino liceal no Estado Novo», Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, 2014 [http://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/ viewFile/3913/2946] – visitada em 29 de setembro de 2014
Quando a Comissão Administrativa da Câmara de Torres Novas, nas sessões de 21 de janeiro e 8 de fevereiro, acordou a criação de um liceu na vila, constituiu-se uma Comissão Pró-Liceu que começou a trabalhar para conseguir a almejada autorização do Ministério da Instrução26. O liceu não seria criado nessa altura, apesar da boa aceitação por parte da opinião pública, chegando a ser colocada a hipótese de criação de uma escola mista, a partir de um «entendimento entre as classes operárias e a comissão pró-liceu municipal».27 Mas nem escola técnica nem liceu veriam, nessa altura, a luz do dia. A necessidade de proteger as escolas particulares da “ameaça” do ensino público fez com que, nos bastidores do poder político, outros interesses prevalecessem. Uma parte relevante da sociedade civil torrejana veria gorados todos os seus esforços, perdendo a batalha contra gente mais poderosa. Pressentindo este desfecho, Gustavo Pinto Lopes chega mesmo a afirmar que a Câmara iria «para um palheiro», se preciso fosse, para libertar o edifício para a instalação do liceu. Esta frase revela bem a importância do projeto para o presidente da comissão administrativa que, mais tarde, lamentaria o facto de nunca ter conseguido levar a bom termo tal pretensão.28 1.
2.
3.
1. Vista aérea da Escola Industrial, já com os pavilhões pré-fabricados onde primeiro se instalou a Escola Manuel de Figueiredo (cerca de 1968/69) 2. Escola Industrial, edifício principal, anos 60 3. Primeira página do jornal O Almonda, 16 de julho de 1961, anunciando a inauguração do novo edifício da Escola Industrial e Comercial de Torres Novas 26
Artur Gonçalves, Memórias de Tôrres Novas, Torres Novas, p. 98 Manuela Poitout, ibidem, p. 52 28 José Marques, no discurso de homenagem a Gustavo Pinto Lopes, por altura das comemorações do XXV aniversário da biblioteca e do museu municipais, publicado na Nova Augusta, n.º 2, refere: «Na cerimónia da sua posse e ao apresentar o seu programa, logo Pinto Lopes revela a sua grande preocupação com os problemas do espírito, esboçando uma ideia que nunca conseguiu realizar, mas de que nunca desistiu. Refiro-me ao Liceu Municipal, que tantos serviços poderia ter prestado à nossa terra.» (Nova Augusta, N.º 2, Torres Novas: Biblioteca e Museu Municipal, 1963, pp. 106,107) 27
Excursão de finalistas de 1971. Dois professores acompanhavam o grupo: o professor Ramalhosa (segundo da esquerda, em baixo) e o mestre Fernando (o quarto da esquerda, última fila, em cima)
Mesmo grupo de finalistas de 1971, em visita ao templo do Sagrado Coração de Jesus em Santa Lúzia, Viana do Castelo
Grupo de alunos acompanhados pelo mestre Fernando e pelo Diretor da escola, o escultor Rebelo Júnior, diretor da escola durante cerca de 20 anos
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3.
O decreto da fundação da Escola Industrial de Torres Novas (18 de junho de 1954) contém uma alusão à velha escola de desenho industrial, há tanto extinta. Refere-se, igualmente, o número de indústrias em funcionamento e as «exigências de mão-de-obra qualificada». Concretizava-se, finalmente, a pretensão já antiga de ensino público secundário, mas não como Pinto Lopes e outros haviam desejado. Seria uma nova escola técnica, agora com o apoio já garantido por parte da Câmara, o que aumentava as suas possibilidades de sucesso, mas não propriamente um liceu.29 O contexto era efetivamente favorável porque a Câmara Municipal, sob a presidência de Alves Vieira, se comprometeu a construir para a escola instalações próprias, o que acabou por concretizar, no largo do Salvador, no edifício que, mais tarde, de 1962 a 2008, seria a casa da Biblioteca Municipal. A escola abriu com dois cursos: o curso complementar de aprendizagem de eletricista e o ciclo preparatório, sendo, nos anos seguintes, criados outros cursos: aperfeiçoamento de serralheiro (em 55/56), formação de serralheiro e formação feminina (56/57), formação de montador eletricista, aperfeiçoamento de montador eletricista, formação geral de comércio e aperfeiçoamento geral de comércio (58/59).30 No final dos anos 50 começam a desenvolver-se esforços para a construção de um novo edifício. Este ficaria concluído em 1961 e tinha capacidade para 1100 alunos, número que se justificava, face à quantidade de inscritos. Era então presidente da Câmara Evaristo de Matos Branco.31 Nessa altura, a procura dos cursos industriais ainda superava a dos cursos comerciais, tendência que começaria a inverter-se a partir do final dos anos 60.32 Mas, só com o 25 de Abril a separação elitista entre escolas técnicas e liceus deixaria de existir. O novo regime democrático introduzia, assim, o ensino unificado.33 A escola passaria, então, a assumir a designação de Escola Secundária Polivalente de Torres Novas e os cursos de caráter comercial e industrial teriam cada vez menos interessados, até acabarem de vez no ano letivo de 81/82.34 Também com o 25 de Abril aumenta exponencialmente a procura e o edifício volta a revelar-se subdimensionado, sendo necessário complementar as instalações com pavilhões pré-fabricados.35 Com a criação da Escola Secundária N.º 2 29
José Tomé, ibidem, p. 11 Idem, ibidem, pp. 16, 17 31 Idem, ibidem, pp. 21, 22 32 Idem, ibidem, pp. 23, 24 33 Para lá de algumas exceções, em localidades onde os municípios terão conseguido contornar obstáculos e empenhar-se na fundação destas escolas, os liceus eram quase exclusivos das capitais de distrito 34 José Tomé, ibidem, p. 24 35 Já anteriormente, quando em 68/69 a escola tinha albergado no seu interior a escola preparatória (desde 1981 com instalações próprias), o recurso aos pré-fabricados tinha sido a opção para a falta de espaço. Ver José Tomé, ibidem, pp. 24-27) 30
(atual escola Artur Gonçalves) resolve-se parte do problema da sobrelotação e a antiga escola industrial passa a ser conhecida como Escola Secundária N.º 1.36 A Escola Secundária N.º 1 passou a Escola Secundária de Maria Lamas, por portaria (n.º 452/89) de 17 de junho de 1989. O nome foi escolhido, após longo debate, primeiramente na própria escola, aprovado pela Câmara Municipal e pela Assembleia Municipal e finalmente pelo Ministério da Educação. Hoje a designação completa é Escola ES/3 de Maria Lamas, por lecionar o 3.º ciclo do ensino básico e o ensino secundário.
Edifício da Escola Industrial e Comercial de Torres Novas, antes da instalação dos pavilhões pré-fabricados (entre 1961 e 1968)
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4.
Atualmente a Escola Maria Lamas é dotada, para além das salas de aulas, de um parque oficinal, laboratórios, biblioteca escolar, salas de informática, refeitório, bar e papelaria, ginásio e campos de jogos descobertos. No 3.º ciclo do ensino básico, para além do currículo regular, os alunos podem frequentar cursos vocacionais. Ao nível do ensino secundário a escola oferece cursos científico-humanísticos e profissionais: cursos de Ciências e Tecnologias, Línguas e Humanidades, Artes Visuais, Francês, Inglês, Espanhol, Cerâmica e Teatro, Cursos Profissionais e Ensino Noturno37. A Escola ES/3 de Maria Lamas é, desde o ano letivo de 2013/2014, sede do Agrupamento de Escolas Gil Paes.
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O problema dos pré-fabricados apenas seria resolvido no ano de 2002/2003 em que a escola passou a contar com uma nova ala o que permitiu a remoção daquelas instalações “provisórias”, Idem, ibidem, p. 27 37 Informações obtidas a partir de um relatório de inspeção do Ministério da Educação (http://www.ige. min-edu.pt/upload/AEE_2008_DRLVT/AEE_08_ES_Maria_Lamas_R.pdf) e confirmadas verbalmente, junto da direção do agrupamento
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5. Maria Lamas
atual patrona da escola
Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas nasceu em Torres Novas, no dia 6 de outubro de 1893. Filha de um comerciante de tecidos, maçon e republicano, foi educada segundo princípios pouco comuns entre as meninas do seu estrato social.38 A família proporcionou-lhe o acesso ao ensino, à leitura, às artes: «tocava piano, bordava, falava e escrevia francês e português corretamente»39 Após o ensino primário que fez na escola do Conde Ferreira, prosseguiria os estudos no colégio das teresianas (Colégio de Jesus, Maria e José). Em 1911 casou pelo civil com Teófilo José Ribeiro da Fonseca, oficial da Escola Prática de Cavalaria de Torres Novas, e partiu ainda nesse ano para Angola, onde nasceria a primeira filha do casal. Em julho de 1913 nascia, em Torres Novas, em casa dos pais, a sua segunda filha. Divorciou-se deste primeiro marido em 1920, numa altura em que os pais enfrentavam dificuldades económicas. Maria da Conceição foi para Lisboa e ali iniciou a sua vida profissional, na Agência Americana de Informação. A sua carreira dividia-se entre o jornalismo e a escrita literária. Em 1929 começou a trabalhar no jornal O Século, onde foi redatora e, mais tarde, diretora do Modas e Bordados. Então conheceu um grande número de personalidades de relevo na vida pública portuguesa, desde artistas e intelectuais a políticos. Foi também nessa altura que começou a ter um papel ativo na luta pelos direitos das mulheres e das crianças. Em 1921 casou de novo, com Alfredo da Cunha Lamas, cujo nome adotaria para sempre, mesmo após nova separação. Deste casamento nasceu a sua terceira filha. Organizou eventos culturais como «Mulheres Portuguesas – Exposição da obra feminina antiga e moderna de caráter literário e científico», nos salões do jornal O Século, em 1930. A partir de 1940 começou a ser bastante ativa a sua intervenção política, através do Conselho Nacional de Mulheres Portuguesas e do Movimento Democrático de Mulheres. Por causa da ligação ao Movimento de Unidade Democrática viu-se obrigada a sair do país em 1961 (havia sido presa, pela primeira vez, em 1949). Foi presa diversas vezes. A obra As mulheres do meu país resultou do seu empenho na luta pelos direitos das mulheres. Para a escrever viajou pelo país inteiro, contactando diretamente as suas protagonistas e complementando as observações escritas com fotografias que a própria fazia. No exílio, em Paris, recebia intelectuais, a família, os amigos, exilados políticos e emigrantes que procuravam alguém que os ajudasse a arranjar trabalho. Participou em congressos pela paz, em vários países do mundo. Viajou inúmeras vezes e, depois do 25 de Abril, não deixou de marcar a sua posição na vida política nacional, tendo sido militante do Partido Comunista Português. Antes e depois da sua morte, em 1983, foi alvo de várias homenagens e «concedeu-se o seu nome a ruas, jardins e escolas».
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O dados biográficos sobre Maria Lamas foram recolhidos em Margarida Moleiro, «”Sempre mais alto”. Maria Lamas (1893-1983)», in Nova Augusta, n.º 25, Torres Novas: Município de Torres Novas, 2013, pp. 129-149 39 Idem, ibidem, p. 132