Especial Educação
Por Murilo Melo Foto Divulgação
Escola modelo
nem sempre é a ideal Só ter fama de aprovar no vestibular e no Enem não é o único critério viável para eleger o local onde o seu filho irá passar os próximos anos da vida dele
A
s escolas mais disputadas de Salvador iniciam seus processos seletivos em outubro. Por nome, tradição ou por liderarem o ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), certos colégios competem não apenas pelas novas matrículas, mas pelo título de “melhor da cidade” ou até mesmo “melhor do estado”. Educadores, no entanto, afirmam que não existe ensino “top”. Escola ideal é a que responde às demandas do presente e futuro do aluno e do bolso e filosofia de vida da família. A quantidade de opções é imensa. Na hora de visitar as instituições de ensino e decidir qual deve receber seu filho, o número de possibilidades às vezes mais atrapalha do que ajuda. Há escolas de todo tipo: linhas-duras ou liberais, imparciais ou religiosas, com ensino bilíngue ou integral, com anos ou séculos de tradição ou antenadas no futuro, que investem na tecnologia. Cada uma segue um projeto pedagógico – e a escolha será acertada se a linha educacional coincidir com os perfis do aluno e da família. “O primeiro passo, portanto, é fugir da tentação de matricular o filho na mesma escola do sobrinho que ‘se deu bem’ ou do filho da amiga. O que é bom para um pode não ser para o outro. O essencial é investigar o tipo de formação pretendida e o que cada escola oferece, fazendo visitas e até acompanhando a rotina lá dentro”, diz a psicopedagoga Márcia Dantas. Em geral,
50
n
NB Plus
setembro’2014
a importância dada ao vestibular funciona como divisor de águas. Há escolas que priorizam o preparo para a prova e outras que focam habilidades para a vida, como autonomia e pensamento crítico. Entre elas, várias tentam conciliar os dois aspectos. Tão relevantes quanto a linha pedagógica são as regras de comportamento adotadas. “Como se dá a segurança e disciplina? Beijar na boca nos corredores pode? Precisa usar uniforme? O que a escola oferece além da educação básica”, orienta a psicopedagoga sobre as perguntas que os pais podem fazer durante a investigação. Também é possível filtrar as escolas de acordo com qualidades específicas que tenham grande significado para determinado aluno. Os muito tímidos, por exemplo, podem ser beneficiados por características que favoreçam seu desenvolvimento, como classes enxutas e salas horizontais – nas quais se evita a famosa turma do fundão. Escolher a escola é a arte de levar em conta tudo isso, sem fechar os olhos para aspectos como infraestrutura e organização – e atentos para reconhecer quando o discurso não se verifica na prática. “Algumas escolas são lindas por fora, têm um bom marketing, mas o que se encontra nelas são professores preguiçosos, mal pagos, diretores inacessíveis e alunos mal preparados para a vida”, diz Márcia. Para a dona de casa Magali Cerqueira, 32 anos, é grande o desafio de procurar a primeira escola para seu filho Vinícius, de
três anos, e, como mãe de primeira viagem, teme não encontrar um ensino que valha a pena. “Eu e o pai dele queremos uma escola que explore a criatividade, que tenha disciplina, que o faça enxergar aquilo como segundo lar”, conta. Magali explica que tamanha preocupação é porque Vinícius é filho único e apegado à família. “Já imagino a choradeira no primeiro dia de aula. Mas acho que vai ser bom para ele dividir atenções e não se tornar um adulto individualista”, considera. Poupar a criança do desgaste de congestionamentos diários também é uma das medidas a se considerar. Uma escola perto de casa permite treinar a liberdade e a independência de ir e vir, importante principalmente na adolescência. “Facilita a convivência com os colegas e a participação dos pais na escola”, diz o professor de educação infantil, Eduardo Macedo. Para fugir da dificuldade de analisar a linha pedagógica, muitos pais optam direto pelas escolas mais famosas e concorridas, onde, desde a educação infantil, as crianças são submetidas a testes para obter uma vaga. “É recomendável, nesses casos, que a família não viva a eventual reprovação como um fracasso da criança, que num momento tenso como um teste dificilmente pode mostrar todo o seu potencial. É desejável ainda que, se o estresse for inevitável, que ele seja vivido em nome de uma escolha clara e não de um medo de escolher”, pede o professor. l