Revista Yacht - Seção Saúde e Nutrição

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SAÚDE E NUTRIÇÃO POR MURILO MELO | FOTOS DIVULGAÇÃO

ALERTA CONTRA

O EMAGRECIMENTO RÁPIDO ADOTADAS POR MILHÕES DE PESSOAS, AS DIETAS DA MODA PROMETEM PERDA DE PESO RELÂMPAGO, MAS PODEM DEIXAR O CORPO SEM NUTRIENTES ESSENCIAIS AO BEM-ESTAR Dona de um corpo escultural e considerada um dos maiores símbolos sexuais da história, a diva americana Marilyn Monroe (1926-1962) cultivava hábitos alimentares peculiares para não engordar. Todos os dias, pela manhã, tomava dois ovos crus batidos em um copo de leite quente. No restante do dia, passava fome e só à noite comia um pedaço de carne, fígado ou cordeiro, acompanhado de cinco cenouras cruas. A dieta parece loucura, mas, ainda nos dias de hoje, tal como Marilyn, para muita gente vale tudo na busca pelo peso ideal, de preferência em tempo recorde. Desde chá verde ou de hibisco, até dietas mirabolantes como a da lua e a do abacaxi. A diferença é que atualmente as dietas da moda deixaram de ser receitas de comadre, estão mais sofisticadas, invadem academias e trazem o aval de especialistas, personal trainers e celebridades. Todas prometem perda de peso em pouco tempo, por isso fazem sucesso com a turma que sonha em ter um corpão da noite para o dia. O problema é que alterações radicais na alimentação sem ter o acompanhamento nutricional podem colocar a saúde em risco e trazer complicações piores do que o excesso de peso. Isso porque, quando um nutricionista planeja o programa alimentar do paciente, aspectos de sua individualidade devem ser respeitados, como história clínica, familiar e social, exames laboratoriais, preferências, aversões e intolerâncias alimentares, doenças associadas, interações medicamentosas, nível de atividade física e questões psicológicas. Mas há quem

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ainda faça pouco caso dessas recomendações. “Pouca gente leva isso a sério e não procura um profissional capacitado. Mas essa conta é cobrada mais tarde, quando aparece osteoporose, anemia, doenças cardíacas, diabetes e fragilidade imunológica”, diz a nutricionista Olga Anunciação, especialista em obesidade e emagrecimento. Promessa engarrafada – Um dos regimes da temporada atende pelo nome de detox, dieta liquida de chás e sucos específicos que promete livrar o corpo das toxinas adquiridas durante o dia a dia e, principalmente, em períodos de festas. Essas toxinas aparecem devido aos excessos na alimentação e também com o consumo exagerado de bebida alcoólica e de alimentos muito calóricos, como os açúcares de absorção rápida em refrigerantes e doces, por exemplo. Gordura saturada é igualmente prejudicial porque se deposita no fígado, causando o que os médicos chamam de esteatose hepática. Toxinas em excesso no organismo, como consequência, favorecem ainda o aparecimento da obesidade, inflamam as articulações – o que causa reumatismo e artrite –, dificultam a circulação do sangue – trazendo o surgimento de problemas cardíacos, problema de pressão alta, varizes, tromboses – e atrapalham o funcionamento do sistema nervoso, sendo a principal causa do estresse. Apesar de não existir uma dieta específica, os adeptos do detox dizem que tanto o chá quanto o suco ajudam a aumentar a ingestão de vitaminas e antioxidantes, dão descanso ao aparelho digestivo e, o mais milagroso: fazem perder até um


quilo por dia. “Com menos toxinas, tudo no organismo funciona melhor: digestão dos alimentos, absorção dos nutrientes, eliminação de líquidos. Até os hormônios cumprem suas funções de maneira adequada, sem prejudicar o metabolismo, a pele, o cabelo e até a libido”, diz o médico clínico Vítor Borba. Os supostos benefícios fizeram do detox líquido uma unanimidade entre celebridades e blogueiras fitness. A oferta da bebida também cresceu, inclusive na indústria de sucos prontos. E empresas especializadas passaram a investir em kits ‘daytox’: um dia em que só é permitido beber os sucos, além de chá e água. É o caso do Tempero e Saúde, na Pituba, que vende sucos detox em garrafinhas que trazem em sua composição ingredientes como beterraba, colágeno, gengibre, óleo de coco, pepino japonês, entre outros. Há embalagens que contêm apenas 86 calorias e 4,9 gramas de fibras. O preço de cada garrafinha varia e custa em média de R$ 6 a R$ 10. No restaurante, também é possível fazer parte de um programa chamado detoxificação, uma espécie de dieta com cardápio elaborado por nutricionistas da casa, que envolve sucos e sopas com frutas e vegetais frescos. O adepto pode escolher fazer o detox durante 10, 15, 21 ou 30 dias. Na Barra, o Ramma aposta no copão de suco verde detox feito na hora. O líquido leva ingredientes como limão, agrião, salsa, couve e hortelã. O diferencial é que por lá a clientela pode montar o próprio sabor do suco, que custa R$ 9. “A procura aumentou bastante depois que surgiu a moda do suco detox. Pessoas de todas as faixas etárias consomem porque querem se sentir bem, mas virou febre principalmente entre os jovens e adeptos do esporte”, diz Eduardo Toledo, chefe de cozinha e gerente operacional do restaurante. A Greenpeople também vende garrafinhas de sucos detox. As bebidas são prensadas a frio – ou seja, o líquido é extraído prensando a fruta, em vez de liquidificando –, coadas, e não pasteurizadas. A empresa, que começou em fevereiro de 2014, vende 4.000 garrafas por dia – há seis meses eram cerca de 1.000. Cada garrafinha com 350 ml custa R$ 15. Já a Urban

Remedy oferece três níveis de desintoxicação: iniciante, intermediário e habitué. O pacote mais avançado tem 815 calorias, divididas em seis sucos, a maioria feita com verduras e legumes. No terceiro nível, por exemplo, há quase um quilo de verdura em cada bebida. Por isso é indicado apenas para quem já está acostumado e gosta de sabores amargos. A esteticista Camila Fernandes, 40, diz-se aficionada pela dieta líquida. “Os que têm pepino eu tampo o nariz para beber, mas eu sei que o resultado compensa”, conta. Em outubro, para entrar em um vestido de festa, ela fez uma semana de dieta líquida. Perdeu cinco quilos. “Não sinto fome, mas quem gosta de uma torta sofre. O primeiro dia que fiz foi horrível, minha cabeça ficou explodindo. No segundo dia já estava mais leve e no terceiro dia flutuei. Dormi muito melhor, minha energia disparou”, relata. O produtor cultural Cleber Sandes, 27, toma suco verde todos os dias há um ano e meio e faz o daytox uma vez por mês. “Eu tenho problema com retenção de líquido. Sinto que desincho nesse dia e durmo muito melhor, porque fico sem tomar café”, diz. Os fabricantes admitem que a dieta líquida pode causar efeitos adversos como náuseas e dor de cabeça. “Se uma pessoa que tem uma alimentação desequilibrada faz um dia de sucos, o corpo pode ter um choque, o organismo não entende”, diz Claudia Amaral, sócia da marca Detox Vida Saudável. Mas, para a nutricionista Gisele Dias, a explicação para o malestar é outra. “Em um dia, a pessoa pode ter hipoglicemia, porque o suco tem baixo índice glicêmico, e isso pode causar dor de cabeça e fraqueza”, diz. Para quem pensa em seguir a dieta líquida por um longo período, a nutricionista adverte que só tomar sucos poderia levar à desnutrição, porque vão faltar grupos de alimentos essenciais – além de carboidrato, não tem proteína nem gordura. O recomendado, de acordo com o nutrólogo Fernando Sotero, é inserir os sucos em uma dieta completa, com refeições sólidas. Uma ideia seria trocar o lanche da manhã por um copo de suco verde. “Faz bem porque aumenta a ingestão de vitaminas e de fibras que ajudam no funcionamento do intestino”, diz.

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SAÚDE E NUTRIÇÃO A bebida também tem diferentes antioxidantes que ajudam a combater radicais livres, mas não dá para dizer que ela limpa o organismo. “É um argumento marqueteiro. Nosso corpo tem mecanismos naturais de desintoxicação. Fígado, pulmões, rins, intestinos e pele já fazem um trabalho perfeito na eliminação das toxinas. Uma dieta detox não vai fazer um trabalho que já é perfeito ficar melhor. E nosso sistema digestivo não precisa de descanso”, diz Sotero.

TODOS CONTRA O GLÚTEN

quilos já na primeira semana e até 15, 20 e 30 quilos meses depois. A apresentadora Luciana Gimenez, por exemplo, comemora cerca de 32 quilos a menos que diz ter perdido depois de aderir à restrição do glúten e aliar a estratégia a uma rotina intensa de exercícios. Juliana Paes reduziu a ingestão da substância depois do nascimento do filho. A tática ajudou a atriz a voltar à bela forma e a mantê-la. Na contabilidade dos especialistas que estão indicando o regime, o saldo também é positivo. “A pessoa percebe uma mudança imediata, para melhor, em todo o seu estado geral, além do declínio do peso corporal”, afirma o endocrinologista Júlio Amaral. “Após duas semanas já é possível notar nitidamente uma redução de inchaço”, diz a nutricionista Olga Anunciação, especialista em obesidade e emagrecimento. “E o emagrecimento torna-se bem visível 45 dias depois do início da dieta”, completa.

Os relatos de sucesso de quem se submeteu a esse método alimentar são impressionantes: dão conta da perda de cinco

O glúten é uma proteína sem valor nutricional e sem calorias. Está presente no trigo, na cevada, no centeio e no malte. É ele que proporciona o aspecto viscoso e confere elasticidade a bolos, pães e massas. Na indústria de alimentos, é adicionado a embutidos e até aos chocolates, justamente por conta dessa propriedade. A dieta consiste em diminuir sua ingestão, ou bani-lo do cardápio. Portanto, seus seguidores ficam sem comer a maioria dos carboidratos presentes à mesa, devem se manter longe da cerveja e do

Mas, ainda assim, quem deseja se aventurar precisa prestar atenção ao tipo de bebida. Os prensados a frio conservam mais vitaminas, minerais e antioxidantes, mas há menos fibras. Já os feitos na centrífuga ou no liquidificador têm mais fibras, o que pode ajudar a dar saciedade e melhorar o funcionamento do intestino. Todos devem ser consumidos logo depois de feitos ou abertos. Basta um teste rápido para identificar outra febre mundial no que diz respeito a regimes de emagrecimento. Uma conversa no trabalho, com os amigos, na academia e com certeza você ouvirá que alguém está fazendo, fez ou pretende fazer a dieta do glúten. Retirar o nutriente do cardápio tornou-se uma das soluções mais propagadas do momento para perder peso, manter a silhueta desejada e ter mais saúde.

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SAÚDE E NUTRIÇÃO uísque e, na dúvida, precisam ficar de olho nos ingredientes contidos nos alimentos vendidos nos supermercados. “No Brasil é obrigatória a indicação, no rótulo, da ausência ou da presença da substância”, diz o nutrólogo Fernando Sotero. Em substituição ao glúten, a orientação é usar outras fontes de carboidrato, como a farinha de mandioca, arroz e tubérculos como o inhame. Há algumas explicações para o êxito desse plano alimentar. A primeira é a mais óbvia: as pessoas emagrecem porque, ao riscar do cardápio os alimentos que contêm glúten, deixam de comer pães, bolos e massas brancas. Desse modo, não ingerem mais uma enorme quantidade de calorias. “Grande parte desses alimentos é bastante calórica”, explica a nutricionista Gisele Dias. A segunda razão – e as outras também – é mais complexa. A proteína está associada a reações de intolerância. A mais intensa é provocada pela doença celíaca. Trata-se de uma resposta genética grave ao composto que pode deflagrar diarreia crônica, desnutrição, fadiga e, em crianças, também pode levar a distúrbios do crescimento e com o tempo produz danos na mucosa do intestino delgado, causando má absorção de nutrientes. Os defensores da exclusão argumentam que a troca elimina eventuais desconfortos abdominais provocados pela substância. “O glúten é uma proteína grande e de difícil digestão. Ele altera a bioquímica do intestino, pode levar à diarreia ou constipação e prejudica a absorção de nutrientes”, diz a nutricionista funcional Tatiana Vasconcelos de Oliveira. O endocrinologista Júlio Amaral também recomenda a retirada do glúten da alimentação. “Pesquisas provam que o nível de inflamação do organismo – maior nos obesos, que se eleva por reação ao glúten – aumenta a predisposição à manifestação de problemas cardiovasculares e de doenças autoimunes, entre elas a diabetes tipo 1”, diz. Tirar o nutriente, para ambas as especialistas, equivale a remover um fardo do metabolismo, que passa a trabalhar mais rapidamente. O músico Leonardo Soares, por exemplo, começou uma dieta sem glúten após um check-up revelar colesterol elevado e alto risco de diabetes. “Estranhei a retirada do glúten porque adoro comer. Mas a mudança regularizou meus índices de risco”, diz. Ele emagreceu mais de 17 quilos em seis meses. “Sofre quem gosta de comer um pãozinho quando acorda”, diz. O casal Ana Rosa Pinho, 33 anos, e Amenar Alberto Pinho, 41, decidiu mudar por conta própria as refeições da família devido ao sobrepeso da filha de 14 anos, que chegou a quase oitenta quilos. Agora, não há mais alimentos com glúten na dispensa. Com o regime e uma rotina de exercícios de duas a três horas por dia, a adolescente perdeu 22 quilos. Ana e Amenar acabaram adotando a estratégia. Eles também consomem a mesma alimentação que a filha e dizem sentir o corpo mais leve. “É mais saudável, não tenho mais inchaço”, explica Ana Rosa. Mas há também quem seja contra essa dieta. “As únicas pessoas para quem a retirada do glúten é recomendada são os celíacos”, afirma a endocrinologista Marieta Boaventura, especialista em nutrição, diabetes e hipertensão. Outro argumento contra a dieta é que ela priva o organismo de uma boa parte de carboidratos, fonte importante de energia. Sem ela, o corpo pode acabar recorrendo às fontes da gordura e da proteína para obter o combustível de que necessita. “Quebrar a proteína da gordura, por exemplo, para transformá-la em energia, tem um custo alto para o organismo”, afirma o nutrólogo Fernando Sotero. Há um gasto metabólico desnecessário aplicado para essa função.

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LONGE

DO LEITE Na esteira da moda sem glúten surgiu também a dieta zero lactose, o açúcar do leite. Portanto, a recomendação é não consumir leite, ou, se beber, ingerir os produtos que não contenham a substância. E um número incalculável de pessoas no mundo está fazendo isso. O raciocínio é parecido com o aplicado para justificar a retirada do glúten da alimentação. A lactose também provocaria intolerância em muita gente, sendo responsável por sintomas desconfortáveis, como diarreia, inchaço e dor abdominal. Há de fato uma condição de saúde caracterizada pela intolerância à lactose. O composto é metabolizado no organismo pela enzima lactase. O problema é que com o passar dos anos sua produção diminui, o que, consequentemente, reduz a quebra da lactose. Esse processo pode resultar no surgimento dos sintomas. Além disso, há algumas circunstâncias transitórias, como intoxicações alimentares, e a presença de enfermidades como a doença de Crohn que também prejudicam a fabricação da enzima, facilitando o acúmulo de lactose no organismo. A primeira crítica a esse modismo é que a intolerância ao composto estaria sendo superdiagnosticada, embora existam testes que forneçam uma resposta concreta. E, por conta disso, muita gente estaria desnecessariamente prescindindo de um alimento essencial para a saúde. “O leite tem alto valor nutricional”, explica o pediatra Rodrigo Villar. Sua proteína participa de processos do crescimento, da síntese de outras proteínas e hormônios e também alguns relacionados à imunidade. “Além disso, é a melhor fonte de cálcio, ajudando no fortalecimento ósseo”, diz a endocrinologista Marieta Boaventura. Na opinião dos especialistas contrários à exclusão da lactose, a suplementação de cálcio feita por meio de comprimidos não apresenta os mesmos benefícios proporcionados pela ingestão do mineral por meio da alimentação. Eles ponderam ainda que, também a exemplo do glúten, as opções sem lactose costumam ser mais caras, o que pode afastar o indivíduo do consumo. No entanto, é importante ressaltar que os derivados lácteos, como o iogurte, possuem os mesmos benefícios do leite, mas com menor teor de lactose (o açúcar acaba sendo quebrado durante o processo de fabricação). Por isso, podem servir de boa alternativa para quem não consome o leite em sua forma natural.


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