À Luz dos Castelos Envidraçados

Page 1

À LUZ CASTELOS

DOS

A LA LUMIÈRE DES CHÂTEAUX VITRIFIÉS

ENVIDRAÇADOS IN THE LIGHT OF GLAZED CASTLES

EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE COLLAGES SURREALISTAS INTERNATIONAL EXHIBITION OF SURREALIST COLLAGES EXPOSITION INTERNATIONAL DE COLLAGES SURREALISTES






FICHA TÉCNICA EXPOSIÇÃO À Luz dos Castelos Envidraçados | In The Light of Glazed Castles | A La Lumière des Châteaux Vitrifiés PROPRIEDADE E EDIÇÃO Município da Figueira da Foz PRODUÇÃO Museu Municipal Santos Rocha | Debout Sur l’Oeuf (DSO). COORDENAÇÃO Margarida Perrolas CONCEPÇÃO DA EXPOSIÇÃO Miguel de Carvalho & Rik Lina APOIO TÉCNICO Ana Paula Cardoso, Anabela Zuzarte, José Matos, José Santos Silva, Maria José Gomes, Rosabela Silvano DESIGN GRÁFICO Eduardo Oliveira TRADUÇÃO Manuela Marques, Maria Sousa, Miguel de Carvalho IMPRESSÃO SERSILITO Empresa Gráfica, lda | Maia TIRAGEM 400 ex. setembro 2016 DEPÓSITO LEGAL 415154/16

ISBN

978-989-8903-29-7 NOTAS Os textos originais em francês apenas foram traduzidos para português. Os textos deste catálogo não respeitam o actual acordo ortográfico.

© Museu Municipal Santos Rocha | © Autores [Imagem e Texto]


ÍNDICE

6 | Citações de Max Ernst TEXTOS 7 | António Tavares 8 | Miguel de Carvalho 9 | Rik Lina PARTICIPANTES 11 | ALBERTO ASSUMPÇÃO | Portugal 15 | ARNOST BUDIK

| República Checa

19 | CRISTINA VOUGA | Portugal 23 | DAVID COULTER | EUA 27 | FLORENT CHOPIN | França 31 | GIORDANO BRUNO | Espanha 35 | GREGG SIMPSON | Canada 39 | GUY DUCORNET | França 43 | GUY GIRARD | França 47 | JAN GILIAM | Holanda 51 | JEAN-PIERRE PARAGGIO | França 55 | JOHN RICHARDSON | Inglaterra

71 | LOU DUBOIS | França 75 | LUIZ MORGADINHO | Portugal 79 | MIGUEL DE CARVALHO | Portugal 83 | PEDRO PRATA | Portugal 87 | RICHARD MISIANO-GENOVENSE | EUA 91 | RICHARD WAARA | EUA 95 | RIK LINA | Holanda 99 | SEIXAS PEIXOTO | Portugal 103 | SERGIO LIMA | Brasil

59 | JOHN WELSON | Inglaterra

107 | CABO MONDEGO SECTION OF PORTUGUESE SURREALISM

63 | JORGE LEAL LABRIN | Chile

111 | CAPA [Collective Automatic Painting Amsterdam]

67 | KATHLEEN FOX | África do Sul

115 | CORNUCOPIA


MAX ERNST em PARA LÁ DA PINTURA: MAX ERNST in BEYOND PAINTING:

A collage é um instrumento hipersensível e rigoroso, como um sismógrafo, capaz de registar a quantidade exacta de possibilidades de felicidade humana em cada época. A quantidade de humor negro que cada collage autêntica apresenta é inversamente proporcional à das possibilidades de felicidade.

Collage is a hypersensitive and rigorously true instrument, like a seismograph, capable of registering the exact quantity of possibilities of human happiness in each epoch. The quantity of black humor contained in each authentic collage is found there in the inverse proportion of the possibilities for happiness.

A collage é a exploração de um encontro acidental entre duas – ou mais – realidades distintas num avião desconhecido. Trata-se de uma cultura de deslocação sistemática e seus efeitos, e da centelha poética que se liberta da brecha quando as duas realidades convergem.

Collage is the exploitation of a chance meeting of two -or more- distant realities on an unfamiliar plane. It is a culture of systematic displacement and its effects, and the spark of poetry that leaps across the gap as the two realities converge.


cinquentenário da morte de André Breton constitui um pretexto para a presente exposição de trabalhos de colagem, a qual envolve vinte e quatro artistas e três grupos, cuja estética se enquadra nos ditames do movimento surrealista. Saído para a luz do dia em 1924, o Manifesto Surrealista reflecte uma sociedade de grandes transformações e inovações, sobretudo ao nível das artes. Os seus aderentes comprometem-se com a expressão pura e simples associada à máxima liberdade, isto é, aquela que se manifesta despida de preconceitos e condicionalismos, sejam estes da ordem da razão ou da moral. O pensamento à solta que pudesse reconciliar os antagonismos - sonho e realidade, razão e emoção, morte e vida, freudismo e materialismo - constituía o objectivo duro deste núcleo de incondicionais amantes da liberdade; assim se atingia a realidade absoluta, aquela que se afirmava eliminando todas as contradições. A colagem, por seu turno, constitui uma forma de expressão que permite preencher os cânones do movimento. Colar, no caso, significa misturar, sobrepor, combinar o já existente. A liberdade está no elemento intuitivo posto na composição e o resto é o assumir da contradição dos opostos. Vinda do fundo do tempo, esta arte ou técnica, possui um conteúdo ingénuo assente desde logo no gesto colativo. Importa reter, como ideia de força, que o surrealismo é um humanismo; nele, o homem é chamado a pôr e a dispor, a ser o centro do acto criativo na sua essência mais primitiva e livre. E parece-me que é por isto que o surrealismo continua vivo, como nesta exposição se dá a perceber. A linguagem foi concedida ao homem para fazer dela um uso surrealista.

O Vereador da Cultura

António Tavares

The fiftieth anniversary of André Breton’s death is a pretext for the present exhibition of collage works, which involves twentyfour artists and three groups, whose aesthetic fits the dictates of the Surrealist movement. Came out to the light of day in 1924, the Surrealist Manifesto reflects a society of great changes and innovations, particularly in terms of arts. Its followers are committed to the pure and simple expression associated with the maximum freedom, that is, one that manifests itself free from prejudices and constraints, whether from the order of reason or morality. The “loose” thinking who could reconcile antagonisms - dream and reality, reason and emotion, life and death, Freudianism and materialism - was the aim of these freedom lovers; thus they would reach the absolute reality, the one that would appear after all contradictions were eliminated. The collage, in turn, is a form of expression that fills the complete canons of the movement. To paste, in this case, means mixing, overlap, combine what already exists. Freedom lies at the intuitive element present in the composition and the rest is no more than accepting the contradiction of opposites. Coming from the bottom of time, this art - or technique, has a naive content based in the collage gesture. We should retain as a major idea that surrealism is a humanism; in it, man is called to do what he likes and to be the centre of the creative act in its most primitive and free essence. And I think that’s why surrealism is still alive, as this exhibition is given may clearly show. Language was given to man to make a surrealistic use of it.


sta reunião de amigos que expõem as suas collages pretende homenagear André Breton a dias do cinquentenário da sua morte. E porquê apenas com collages de execução manual com e sobre papel? Porque, inventada por protagonistas do movimento surrealista no primeiro quartel do séc. XX, a collage constitui, ainda hoje, e por excelência, o método de subversão surrealista do pensamento racional, graças à sua constante busca do aleatório por inversão dos significados das palavras e imagens, constituindo uma prática criadora da transformação pelo reencontro de elementos heterogéneos. Breton produziu, ao longo da sua vida, dezenas de collages, utilizando-as por vezes como uma forma de comunicação pessoal com a sua esposa e filha (algumas reproduzidas em 1991 em Je vois, j’imagine). E porque a vida pessoal de Breton se fundia ocasionalmente com a do grupo surrealista em torno dele criado, as grandes forças estruturais que o distinguiam (o culto da amizade, da poesia e da revolta) caracterizaram a aventura colectiva do surrealismo pela via da subversão, da transgressão e do insólito com recurso também à nova linguagem poética que a sustentava – a collage. É bem conhecido o fascínio e a emoção de Breton quando, pela primeira vez, tomou contacto com as collages de Max Ernst, autor da célebre citação “Se são as plumas que fazem a plumagem, não é a cola que faz a colagem.” A invenção-definição de collage ultrapassa a simples prática do corte-e-cola verbal ou pictórico e chega a outro plano que é o da invenção de uma nova concepção de poesia, que foi, é e será a dos surrealistas. A esta singela homenagem intitulada À LUZ DOS CASTELOS ENVIDRAÇADOS, imagem retirada de um verso do poema Fata Morgana de Breton, juntam-se as obras produzidas por 24 amigos (sem distinção de género) do movimento surrealista mundial, oriundos da África do Sul, do Brasil, do Canadá, do Chile, de Espanha, dos Estados Unidos da América, da França, da Holanda, de Inglaterra, de Portugal e da República Checa, assim como as de três grupos colectivos internacionais. Na origem, durante a vida activa do grupo surrealista em Paris, sob orientação bretoniana, as exposições colectivas do surrealismo eram sempre orientadas em função dos problemas do momento. Também a realização da presente exposição o pretende ser, aproveitando o momento de efeméride, focando, de uma certa forma, os problemas da usurpação e manipulação via tecnológica que a imagem levanta hoje em dia e em que os seus autores (na maioria designers e gráficos) se apropriam caricaturalmente da designação de “imagens surrealistas”. Este momento da exposição pretende mostrar a nossa fidelidade às propostas primitivas na definição da collage pondo também em causa os códigos tradicionais da mimésis e da coerência verbal.

This group of friends, who have joined together to exhibit their collages, wishes to pay tribute to André Breton, on the occasion of his death’s 50th anniversary. Why handmade collages in paper support, we wonder. Invented by distinguished Surrealists on the first quarter of the XXth century, collage is up until now, and par excellence, the method of subverting rational thought, due to its permanent pursuit of chance, shifting the meaning of words and images. This results in a creative practice of transformation through the recombination of heterogeneous elements. Breton produced dozens of collages, which he sometimes used as a means of communication with his wife and daughter (some were reproduced in Je vois, j’imagine, in 1991). And because Breton’s life and his group’s occasionally merged, the great structural forces which distinguish him (friendship, poetry and revolution) characterised the collective adventure of Surrealism through subversion, transgression and the bizarre, by using the new poetical language it sustained – the collage. We have all heard of Breton’s dazzlement and emotion when he first came across Max Ernst’s collages, the author of the famous quote: “While feathers make plumage, glue does not make collage”. The invention-definition of collage is more than plain cut and paste, verbal or pictorial, and reaches another level, that of the advent of a new concept of poetry by the Surrealists. This simple homage entitled “In the Light of Glazzed Castels”, an image drawn from one verse of Breton’s Fata Morgana, gathers works of 24 friends (without gender distinction) from South Africa, Brasil, Canada, Chile, Spain, USA, France, Holland, England, Portugal and Czech Republic, as well as three international collective groups. Originally, during Paris Surrealist Group’s active life, under Breton’s guidance, the collective Surrealist exhibitions were always moved by current affairs. So is the present exhibition, based on the mentioned event, dealing with technological manipulation and usurpation issues risen by image today, in which authors (mainly designers and graphic designers) seized the designation “Surrealist images”. This exhibition wishes to show our fidelity to the primitive proposals of collage definition, also questioning the traditional codes of mimesis and verbal coherence.

Miguel de Carvalho [Coimbra, Agosto, 2016]


COLLAGES

brilho incandescente da poesia. Terá de ser mais que uma união de imagens incompatíveis e de possuir propriedades que penetram fundo em mundos totalmente separados para incutir uma sensação de deslumbramento surpresa.

Esta exposição pretende celebrar o momento especial que foi o nascimento da collage, há cerca de 100 anos, no ano do 50º aniversário da morte de André Breton, o grande guerreiro da causa da poesia, amor e liberdade. Convidámos para esta exposição amigosartistas que trabalham convictamente dentro da tradição surrealista, explorando as fronteiras do real e do imaginário, tal como os amigosartistas de André Breton se ocupavam das mesmas no seu tempo, fazendo desta pesquisa uma tradição sua. É obvio que a propriedade mais notável da tradição surrealista significa o desvio dessa tradição. É esta qualidade que agora procuramos. Hoje o nosso mundo está inundado de aplicações surrealistas, collage feitas por todos como uma indústria caseira e um campo fértil para designers. Inicialmente um atalho para a pintura por parte dos cubistas, passando pelas foto-montagens dadaístas, as técnicas automatistas surrealistas da tesoura e do acaso, a sua fortuita construção e desconstrução, fixas com a cola da surpresa, a collage generalizou-se a todos os campos da arte moderna. Parafraseando o poeta e colagista holandês Theo van Baaren: “O colagista é o parente pobre do pintor”. As collages apresentadas aqui são audaciosas. Elas são revelações enquanto descobertas fortuitas feitas por exploradores nas suas viagens, num terreno sem mapas nem sinais, a “terra incógnito” da mente. O Abismo do inconsciente do qual descende o artista surrealista, fazendo uso d’o sino de mergulho do automatismo – uma metáfora usada por Breton – à qual gostaria de acrescentar a ideia de que no nosso tempo este sino de mergulho torna-se uma curiosidade da bibliofila tendo sido substituída pelo moderno escafandro e providenciando assim ao mergulhador uma liberdade para se mover nas profundezas do oceano, em todas as direcções. Estas collages são a prova desta mudança, lúdica ainda que misteriosa, ocasionalmente chocante, mas fascinante e, indubitavelmente, feitas por artistas bem treinados e com experiência nas técnicas e modos de pensar próprios do universo surrealista. Usam a técnica da collage com convenções da criação plástica completamente distintas, em vez de reproduzir, inventar ou descobrir um mundo, elas encontram um outro que reclama um dinâmico envolvimento criativo. Convenções do olhar e do trabalho são substituídos pelos padrões do acaso que emergem subitamente para romper com expectativas e reorganizações ao encontro de uma união nova e surpreendente entre as imagens mais incompatíveis. A este respeito, damos especial atenção a vários esforços colectivos. André Breton insistiu sempre na ideia que o surrealismo é uma aventura espiritual que foi e continua sendo colectiva na sua essência fazendo lembrar as experiências de Marselha em 1940, mas agora com um plano de acção mais ousado. Uma restrição que fomos obrigados a fazer é a técnica: devido à limitação de espaço, excluímos toda a fotografia digital, uma vez que a sua popularidade teria duplicado o número de participantes. Assim, a ênfase recai toda sobre o trabalho manual puro, onde a ligação com a pintura ainda subsiste. Uma boa collage surrealista tem que causar curto-circuito, tem de ser de uma beleza convulsiva (novamente Breton), tem que ser poética, possuída pelo

This exhibition wants to celebrate the special moment of the birth of collage about a hundred years ago, in the year of the 50th anniversary of the death of André Breton, great warrior for the cause of poetry, love and freedom. For this exhibition we invited artist-friends who are consciously working within the surrealist tradition, exploring the boundaries of the real and the imaginary, just like the artist-friends of André Breton were active discovering these in their time, making this research their tradition. It is obvious that the most striking property of surrealist tradition means the deviation of tradition. This is the quality we are looking for today. Today our world is filled with the surrealist applications, collages made by everybody as home industry and the easy playground for designers. Started as a short-cut for painting by the Cubists, followed by the Dadaïst photo-montage, the Surrealist automatist techniques with scissors and chance, its random construction and de-construction fixed with the glue of surprise, the collage became common in all fields of modern art. To use the words of Dutch surrealist poet and collagist Theo van Baaren: “The collagist is the poor nephew of the painter”. The collages presented here are adventurous. They are revelations as random discoveries on journeys by explorers in a terrain without maps or landmarks, the “terra incognito” of the mind. The abyss of the unconsciousness in which the surrealist artist descents, using the diving bell of automatism - a metaphor used by Breton - to which I would like to add that in our time this diving-bell became history-book curiosity, to be replaced by modern scuba-gear, providing the diver freedom to roam around in the oceans depths in all directions. These collages are proof of this change, playful but mysterious, sometimes shocking but fascinating, and without doubt made by artists well trained and experienced in the techniques and ways of thinking belonging to the surrealist empire. They are using the collage-technique with totally different creative painterly conventions; instead of reproducing, inventing or discovering a world, they find one that asks for active creative involvement. Conventions of vision and work are broken down in behalf of patterns of chance emerging at once to disrupt expectations and re-arrangement to find a new surprising unity between the most incompatible images. In respect of this we give special attention to several collective efforts - André Breton always insisted surrealism to be a spiritual adventure that was and remains collective in nature - reminding the 1940 Marseille-experiments but today with a much more daring plan of action. One restriction we were forced to make is technical, because of limited space we excluded all digital photography, just because of its popularity it would have doubled the number of participants. So the emphasis lies on pure handwork where the connection with painting still survives. The good surrealist collage causes a short-circuiting, it must be of a convulsive beauty (Breton again), it has to be poetic, possessed by the magic spark of poetry. It will be more than a union of incompatible images, and have properties penetrating deeply into totally separate worlds to infuse a surprising sense of wonder.

PRINCÍPIOS DA SURPRESA

RIK LINA [Tavarede 2016]



ALBERTO ASSUMPÇÃO


ALBERTO ASSUMPÇÃO N. 1956 | Lisboa, Portugal

ALBERTO ASSUMPÇÃO

12

Filho do pintor Manuel D’Assumpção expõe com regularidade, individual e colectivamente, desde 1989, dedicando-se em exclusivo à pintura em 1990. É membro da Royal Society of Arts (RSA), de Londres. Com os artistas Adrian Bayreuther, Constantin Severin, Harriette Lawler, Izabella Pavlushko e Olga Dmytrenko constitui o Grupo Internacional “3º Paradigma”. É igualmente membro da Sociedade Portuguesa de Autores, do grupo “Artists For Peace” e do “Archetypal Expressionism”, fundado pelo escritor, pintor e crítico de arte romeno Constantin Severin. É artista residente da Galeria KontemporaryArt, Calgary, Canadá. Participa desde 2013 nas actividades de pintura colectiva do Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism.

Son of the painter Manuel d’Assumpção, Alberto Assumpção has been regulary holding individual and collective exhibitions since 1989. In 1990 he dedicated himself exclusively to painting. He is a member of the Royal Society of Arts (RSA) in London. He belongs to the International Artist Group “3rd Paradigma”, together with Adrian Bayreuther, Constantin Severin, Harriette Lawlr, Izabella Pavlushko and Olga Dmytrenko. He is also a member of Portuguese Authors Society (SPA – Sociedade Portuguesa de Autores), the group “Artists for peace” and “Archetypal Expressionism”, founded by the Romanian writer, painter and Art critic Constantin Severin. He is an artist in residence at the KontemporaryArt Gallery in Calgary, Canada. Since 2013 he has been participating in the colective painting activities held by the Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism.

Depoimento do artista | Artist Statement O grande contributo que o surrealismo - principalmente Ernst - trouxe à colagem foi a compreensão de que o processo não se dá apenas no acto de colar, mas na relação com a imagem e na descoberta da poética desta. É este encontro simultaneamente ocasional e intencional que constitui para mim o verdadeiro desafio da técnica: o caos e o acaso harmoniosamente pensado e declamado.

Catálogo | Catalogue Sem título, 2015 | 25x43 cm Exposição | Exhibition Sem título, 2015 | 25x43 cm If you want to wear me, 2016 | 28x40 cm A Esfinge, 2015 | 29x38 cm Sem título, 2016 | 50x39 cm

The greatest contribuition Surrealism - mainly Ernst has given to collage is to understand collage is not a mere gluing act but a relationship with an image and its poetic discovery. For me, this meeting, at the same time ocasional and intentional, is the real technical challenge: chaos and chance thought and declaimed in harmony.


13 ALBERTO ASSUMPÇÃO

SEM TÍTULO | 2015 25x43 cm



ARNOST BUDIK


ARNOST BUDIK

N. 1936 | República Checa Poeta, colagista e teórico de História da Arte. Foi co-fundador do Grupo Lacoste. Vive e trabalha em Bruxelas. Participa em numerosas manifestações surrealistas internacionais.

Poète, collagiste, historien d’art. Cofondateur du Groupe Lacoste. Vit et travaille à Bruxelles. Il a participé à de nombreuses manifestations surrealistes internationales.

ARNOST BUDIK

16

Depoimento do artista | Artist Statement Do meu ponto de vista a collage não se contenta com os meios de transformar o mundo, mas sim de o traduzir. Descende de uma lógica dadaísta sem esquecer que se apropria de uma dimensão metafórica suplementar.

Catálogo | Catalogue Tant ce que nous reste, 2002 | 08x13 cm Exposição | Exhibition Tant ce que nous reste, 2002 | 08x13 cm Sem título, 2011 | 11x9 cm

D’aprés mon avis le collage ne se content pas d‘inventer au liens de transformer le monde, le collage permet de le traduir. Est issu de l’illogisme dadaiste mais il ne faut pas oublier qu’il s’apprope une dimension métaphiorique supplementaire.


17 ALBERTO ASSUMPÇÃO

TANT CE QUE NOUS RESTE | 2002 08x13 cm



CRISTINA VOUGA


CRISTINA VOUGA N. 1969 | Luanda

É licenciada em artes plásticas e escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e Mestre em Historia da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Tem o seu trabalho criativo centrado sobretudo no desenho e escultura contando com inúmeras exposições individuais e colectivas nacionais. Participa das actividades de pintura colectiva do Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism e colaborou na revista A Phala.

Cristina Vouga graduated in Fine Arts and Sculpture at the Faculdade de Belas Artes – Universidade de Lisboa and she has a master’s degree in History of Art from Faculdade de Letras – Universidade de Coimbra. She is devoted to drawing and sculpture and she has held many individual and collective exhibtions. She has recently started participating in the collective paintings of Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism and colaborated in A Phala’s magazine.

CRISTINA VOUGA

20

Depoimento do artista | Artist Statement Amorosamente os elementos visuais da collage dialogam e encontram-se para desnudar a sensualidade da sua poética.

Catálogo | Catalogue Conceição IV, 2016 | 28x26 cm Exposição | Exhibition Conceição IV, 2016 | 28x26 cm Conceição – a condição da mulher III, 2016 | 20x32 cm Conceição – a condição da mulher I, 2016 | 20x32 cm Sem título, 2016 | 20x27 cm

The visual elements of collage communicate with each other in na affectionate way, and they come together to reveal the sensuality of their poetry.


21 CRISTINA VOUGA

CONCEIÇÃO IV | 2016 28x26 cm



DAVID COULTER


DAVID COULTER N. 1951 | EUA

Nasci no 7º ano da presidência de Harpo Marx. O mundo estava em paz desde que metade da população dos Estados Unidos fora declarada insana pelo Presidente Marx, equipada com coletes-deforças de alta costura e forçada a praticar braço de ferro. As pessoas estavam autorizadas a casar com as suas armas. Vivo actualmente em Berkeley, Califórnia, com frequentes licenças sabáticas no Cabo Mondego, Coimbra.

I was born in the seventh year of the Harpo Marx presidency. The world was at peace since President Marx declared half the population of the United States insane, fitted with haute-couture straightjackets and forced to armwrestle. People were allowed to marry their guns. I currently reside in Berkeley, California with frequent sabbaticals in Cabo Mondego, Portugal.

Depoimento do artista | Artist Statement

DAVID COULTER

24

Considerações Acutilantes

Cutting Remarks

O Método da Interpretação é uma conhecida forma de arte dramática, mas pouco se sabe sobre o Método da Collage. Em primeiro lugar, a armadura sensorial e física deve ser derrubada até restar apenas o olhar. Ouço as pessoas perguntarem: “Mas então e o cérebro? Ele não representa um papel importante?” Ao que eu respondo:” Não precisas de um cérebro, os olhos têm o seu próprio cérebro”. O cérebro e os olhos são uma só realidade. A collage é a óptica do coito e a criação do ovo cósmico. Este ovo pode ser colocado por cima de um hamburguer, mexido para adquirir a forma da Indonésia ou ainda espalhado numa parede para criar uma paisagem Boshiana, graças ao olho hermético. O Método da Collage não crê apenas na colisão de realidades, mas sobretudo na união de opostos.

Method Acting is a renowned form of the dramatic art but little is known about Method Collage. First the physical and sensorial armor must be broken down until there is nothing but the Eye. I hear people ask “But where is the Brain? Surely the Brain plays an important role?” And I say “You don’t need a brain, the Eye has its own brain.” The Brain and the Eye are one and the same thing. Collage is coitus optica and the creation of a cosmic egg. That egg can be placed atop a hamburger or scrambled to create the shape of Indonesia or splattered on the wall to create a Boschian landscape thanks to the Hermetic Eye. Method Collage does not believe only in the collision of realities but even more the embrace of opposites.

Encantam-me as ilustrações científicas de reacções bioquímicas, mares coagulados de linfa, lagoas de bile, as cordilheiras de proteínas, o sistema nervoso da lula, os esqueletos hipnóticos. Fascina-me a ingenuidade dos posters de filmes antigos e dos dicionários infantis. Acima de tudo, “Umor”. Concordo com Breton (in “Pára-Raios”, Antologia do Humor Negro), “O Humor é o que faz falta aos caldos, às galinhas e às orquestras sinfónicas. Por outro lado, os calceteiros, os elevadores e os chapéus de molas têm-no”. Munido apenas de uma lâmina, cola e rolo, gostaria de criar posters para filmes como: O épico felino “Miados na Bounty”, “O Bom, o Mau e o Maravilhoso” ou o infame “Por um punhado de X-Actos”.

I am enchanted by scientific illustrations of biochemical reactions, coagulating seas of lymph, bile lagoons, the cordilleras of proteins, the nervous system of squids, and hypnotic skeletons. I am fascinated by the naivete of ancient film posters and children’s dictionaries. Above all Umor. I agree with Breton (in “Light-ning Rod” from Anthology of Black Humor), “Humor is what soup, chickens, and symphony orchestras lack. On the other hand, road pavers, elevators, and crush hats have it . . .” Armed with only a blade, glue, and a roller I wish to create posters for such films as: The cat epic Mewing on the Bounty, or The Good, the Bad, and the Marvelous, or the infamous A Fistful of X-Acto Knives.


25 DAVID COULTER

Catálogo | Catalogue French Kiss, 1996 | 33x28 cm Exposição | Exhibition French Kiss, 1996 | 33x28 cm Under the Eernal Disguise, 2016 | 23x19 cm Tavern on the Borderland, 2016 | 19x25 cm

FRENCH KISS | 1996 33x28 cm



FLORENT CHOPIN


FLORENT CHOPIN N. 1958 | França

FLORENT CHOPIN

28

É pintor e poeta. Cursou Ciências Sociais e Belas Artes. Começa a desenhar em 1985, passando pela colagem e a pintura. Conta já com numerosas exposições individuais em França e Espanha, desde 1998. Vive em Paris onde tem frequentes contactos com elementos do Grupo do Movimento Surrealista de Paris e em especial com Guy Girard.

He is a painter and a poet. He studied Social Sciences and Art. He started drawing in 1985 and he has also done painting and collage. Since 1998 he has held numerous individual exhibitions in France and in Spain. He lives in Paris, where he is regularly in touch with the Group of the Surrealist Movement, especially with Guy Girard.

Depoimento do artista | Artist Statement

Le Rocher de Cancale

Mundo-fragmento. Fragmentos do mundo, corte sobre corte instantâneo, turbilhão de palavras e imagens, sinais criptados, decriptados e reticulares, inventando outras linguagens na mesma surpresa de se comunicarem, de se inventarem e de se criarem; o que encontraram na bolsa do kanguru? Kafka a moldar o seu terrier? Uma outra carta – espaçamento – remoção – transferência – pausas – clareiras – aproximações, hesitamos, mudamos de opinião, aproximamo-nos, estamos em nós mesmos: colagem, montagem, mesclando, agitador, hibrido, dispositivos e assemblagens. Papel, ousar as transparências, amostragem, descolagem, descolar, recolar, encolar, bricolagem de sempre, montar, desmontar, remontar, elevação, rasgamento, antecipação, causa medo fazer incisão, descolagem iminente, procurar as bordas, as percorrer, as explorar, tesouras, recortar, desviar, contornar, pontilhar, estampar. Novas orlas, quer dizer caminhos, passo a passo, jardim, de pé, frágil, ao inverso, passagens, estas Passagens maravilhosas. De pé, local, em volta, no acidente, no que não funciona, aquilo que se coloca, se recoloca, perdese, constrói-se, escava-se, procura-se nos rastos duma imagem, é isto uma imagem, ainda é uma imagem, será que ela não existe? Geologia enraizada na terra da sua poeira, as telas mortas, uma renda quase imaculada num barquinho de papel ao sabor das ondas, origamis de pequenos nadas, origamis de rasgões, de mata-borrões e de toalhas de motivos embaraçosos e que não absorvem nada, confettis maiores que as ilhas, labirintos de texturas, tramas onde a musica se aureola e se agadanha o bico do chapim azul, cosmogonias amachucadas que batem com o meu coração, nesse instante agarro a tua mão, nós entramos pelo Passage du Caire…

Monde-fragments. Fragments du Monde, cut-up sur cut-up instantanés, tourbillon des mots et des images, des signes à peine cryptés, décryptés et déjà réticulaires, inventant d’autres langues dans la même surprise de se parler, de s’inventer, de se créer ; que trouverait-on dans la poche d’un kangourou ? Kafka façonnant son terrier ? Une autre carte- écartementsdéplacementstransfertspausesclairièresrapprochements, on hésite, on change d’avis, on se rapproche, nous sommes en nous : collage, montage, mixage, shaker, hybride, dispositifs et assemblages. Papier, oser les transparences, sampling, décollage, décoller, recoller, encoller, bricolage de toujours, monter, démonter,remonter, arrachage, lacérage, prélèvements, inciser ça fait peur, décollage imminent, chercher les bords, les parcourir, les explorer, ciseaux, découper, détourer, entourer, pointillés, estamper . Nouvelles lisières, c’est-à-dire chemins, pas à pas, jardin, debout, fragile, à l’envers, passages, ces merveilleux Passages. Debout, endroit, envers, dans l’accident, dans ce qui ne marche pas, ce qui se pose, se repose, se perd, se construit, se fouille, se cherche dans les traces d’une image, est-ce une image, estce encore une image, est-ce qu’elle n ’existe pas ? Géologie retranchée dans le terreau de sa poussière, les écrans morts , la dentelle presque immaculée d’un papier où l’on chaloupait dans le mouvement des vagues, origamis de petits riens, origamis de déchirures, de papiers buvards et de nappes aux motifs déroutants et qui n’absorbent rien, confettis plus grands que des îles, labyrinthes de textures, trames dont la musique s’auréole et se griffe du bec des mésanges bleues, cosmogonies froissées qui battent avec mon cœur, à cet instant je prends ta main, nous entrons Passage du Caire …


29 FLORENT CHOPIN

Catálogo | Catalogue Dans les lignes de la main, 2016 | 30x21 cm Exposição | Exhibition Dans les lignes de la main, 2016 | 30x21 cm Sem título, 2016 | 30x21 cm Sem título, 2016 | 30x21 cm Sem título, 2016 | 30x21 cm

DANS LES LIGNES DE LA MAIN | 2016 30x21 cm



GIORDANO BRUNO


GIORDANO BRUNO N. 1963 | Badajoz, Espanha

Pseudónimo de Pedro Pólo Soltero em homenagem ao frade morto na fogueira por heresia na Idade Média. Foi perseguido político. Poeta, objectualista, colagista, pintor e desenhador, foi membro do Grupo Surrealista de Madrid. Colabora nas revistas espanholas Salamandra (Madrid) e Menu (Cuenca). Realiza vários livros de Artista e objectos feitos com lixo, reflectindo o seu anarquismo anti-franquista. Suas obras estão bem representadas nas colecções particulares de Cruzeiro Seixas e Mario Cesariny, agora integrantes das colecções do Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda em Famalicão. Vive em Madrid.

Pseudonyme of Pedro Pólo Soltero as a tribute to the friar burned at the stake for heresy in the Middle Ages. He was persecuted for his political beliefs. Poet, object maker, collagist, painter and drawer, Giordano Bruno was a member of the Surrealist Group in Madrid. He cooperates with the Spanish magazines Salamandra (Madrid) and Menu (Cuenca). He has produced several artist books and objects made from waste materials, which reflect his anti-Franco anarchism. His work is represented in private collections of Cruzeiro Seixas and Mario Cesariny, now belonging to the Centro de Estudos do Surrealismo of the Fundação Cupertino de Miranda, in Famalicão (Portugal). He lives in Madrid.

GIORDANO BRUNO

32

Depoimento do artista | Artist Statement El collage es un método poético de investigación y análisis introspective del Yo y la Consciencia a través de emtamorfosis de imágenes encontradas, desmembradas, yuxtapuestas y reinventadas. En cada imagen hay una vision oculta de nuestro Inconsciente, que al interactuar con otros pedazos de imágenes azarosas van liberando energía generadora de un Nuevo Universo. Nuestra verdadera Identidad.

Catálogo | Catalogue La Danza de los Pescadores, 2006 | 36x21 cm Exposição | Exhibition La Danza de los Pescadores I, 2006 | 36x21 cm La Danza de los Pescadores II, 2006 | 36x21 cm La Danza de los Pescadores III, 2006 | 36x21 cm La Danza de los Pescadores IV, 2006 | 36x21 cm

Collage is a poetic method of introspective investigation and analysis of Self and Consciousness through the metamorphosis of found, dismembered, juxtaposed and reinvented images. In each image there is a concealed vision of the Unconscious, which interacts with other fragments of random images generating energy for a whole new universe. Our true identity.


33 GIORDANO BRUNO

LA DANZA DE LOS PESCADORES | 2006 31x21 cm



GREGG SIMPSON


GREGG SIMPSON N. 1947 | Ottawa, Canada

Membro do Grupo Surrealista da Costa Oeste. Pintor desde os anos 60, desde cedo começou a estabelecer contactos com os surrealistas de Paris, como Edouard Jaguer (que expôs os seus desenhos na mostra Dessin Automatistes), José Pierre (incluído na sua importante obra L’Univers Surréaliste, 1983) e Sarane Alexandrien que engloba a sua obra na revista Superieur Inconnu (1999). Colabora com a revista do movimento surrealista A PHALA (São Paulo). Organizou em 2005 na Fundação Eugénio Granell em Santiago de Compostella a exposição Surrealismo Costa Oeste. Vive em Bowen Island.

GREGG SIMPSON

36

Gregg Simpson is a member of the West Coast Surrealist Group. He started painting in the 60’s and he soon established contacts with the Surrealists in Paris, like Edouard Jaguer (who exhibited his drawings at the show Dessin Automatistes), José Pierre (included in his masterpiece L’Univers Surréaliste, 1983) and Sarane Alexandrien, who included his work in the magazine Superieur Inconnu (1999). He cooperates with the Surrealist magazines Debout Sur l’Oeuf and A Phala. He has often participated in the collective paintings of Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism. In 2005 he organized the exhibition West Coast Surrealism at the Eugenio Granell Foundation in Santiago de Compostella. He lives in Bowen Island.

Depoimento do artista | Artist Statement O meu período principal de produção de collages foi entre 1965-1980, mas mais recentemente, devido a ter pouco acesso ao tipo de livros que usava para esses trabalhos: ilustrações de textos médicos ou de cultura física, livros de instrumentos científicos, etc., comecei a utilizar o meu próprio trabalho, maioritariamente desenhos a tinta ou fotografias de pinturas antigas, como material de collage. Frequentemente combino também esta prática com imagens retiradas da internet. A combinação dos dois produz um abalo sísmico, tal como de uma paisagem colide com um pormenor de uma pintura ou um fragmento rasgado de um desenho a tinta. Este processo influencia as telas e desenhos que estou presentemente a fazer, pois acredito que a mudança de formas e a recombinação de elementos é o que torna tudo verdadeiramente interessante.

My main period of doing collages was between 19651980, but more recently, having little access to the type of books I used for these works: illustrations from medical or physical culture texts, scientific instruments publications, etc., I have begun using my own work, mainly ink drawings or old painting photos, as collage material. Often I will combine this practice with imagery taken from the internet. The combination of the two produces a seismic shift, the same way a landscape collides with a detail from a painting or an ink drawing fragment. This process ultimately affects the canvases and drawings I am currently doing, as I am aware of the fact that shape shifting and recombination of elements is what keeps things interesting. Catálogo | Catalogue Stake Out, 2016 | 25x18 cm Exposição | Exhibition Stake Out, 2016 | 25x18 cm The Visionary, 2016 | 23x16 cm Party Time , 2016 | 28x22 cm Seige Perilous, 2016 | 29x25 cm


37 GREGG SIMPSON

STAKE OUT | 2016 25x18 cm



GUY DUCORNET


GUY DUCORNET N. 1937 | La Capelle, França

GUY DUCORNET

40

Pintor, colagista, ceramista, poeta, pedagogo e tradutor, Ducornet partilhou a sua vida entre os Estados Unidos, o Canadá, a Algéria (independente), Vale de Loire (França) e a Rua Fontaine em Paris. Participou na formação do Grupo Surrealista Norte Americano centrado em Chicago em 1967. Integrou no movimento Phases em 1972, publicou diversos livros de poemas e dois ensaios de crítica incisiva contra o academismo no surrealismo (Le Punching-Ball & La Vache à Lait, 1992; Ça va chauffer! Et les parasites du Surréalisme, 2001). É autor de Surréalisme & Athéisme, reimpressão do texto de luta anti-clerical “À La Niche Les Glapisseurs de Dieu” da autoria de André Breton (1948) e subscrito na época por 50 surrealistas sendo agora nesta reedição traduzido para diversas idiomas e subscrito novamente por 175 surrealistas de todos os países. Na sua exposição de estreia, viu-se ao lado de Corneille, Baj, Hundertwasser, Henricot, etc… Conta já com dezenas de exposições individuais e colectivas na Europa, África e América. É colaborador das principais revistas em torno do surrealismo Phases, Ellébore (Paris), Melmoth, Manticore, (Londres), Styx (Praga), Temps Mêlés, Gradiva (Bruxelas), La Tortue-lièvre (Montreal), Debout Sur l’Oeuf (Coimbra), Hydrolith (USA), A Phala (Brasil),etc. Em 2013 participa no Seminário sobre Livro-Objecto ou Não-Livro em São Paulo. Reparte o seu tempontre Paris e Puy-notre-Dame.

As a painter, collagist, ceramist, poet, teacher and translator, Guy Ducornet has lived in the United States, Canada, Algeria (independente), Loire Valley (France) and Rue Fontaine, Paris. He helped creating the North-American Surrealist Group which was based in Chicago in 1967. He joined the movement Phases in 1972 and published several poetry books and two essays of sharp criticism against academism in Surrealism (Le Punching-Ball & La Vache à Lait, 1992; Ça va chauffer! Et les parasites du Surréalisme, 2001). He is the author of Surréalisme & Athéisme , a reprint of André Breton’s anticlerical text “À La Niche Les Glapisseurs de Dieu” (1948) subscribed at the time by 50 surrealists and now translated into several languages and again subscribed by 175 Surrealists from all over the world. His first exhibition also included Corneille, Baj, Hundertwasser, Henricot and others. He has held individual and collective exhibitions in Europe, Africa and America. He cooperated with the main Surrealist magazines: Phases, Ellébore (Paris), Melmoth, Manticore, (London), Styx (Prague), Temps Mêlés, Gradiva (Brussels), La Tortue-lièvre (Montreal), Debout Sur l’Oeuf (Coimbra), Hydrolith (USA), A Phala (Brazil), etc. In 2013 he participated in the Seminar on Book-Object or Non-Book in São Paulo. He lives in Paris and Puy-Notre-Dame.

Catálogo | Catalogue Histoires 100 Paroles – Retour de flamme, 2015 | 30x20 cm Exposição | Exhibition Histoires 100 Paroles – Retour de flamme, 2015 | 30x 20cm Histoires 100 Paroles – Naissance d’un monde II, 2013 | 30x20 cm Histoires 100 Paroles – Miroirs II, 2012 | 30x20 cm


41 GUY DUCORNET

HISTOIRES 100 PAROLES – RETOUR DE FLAMME | 2015 30x20 cm



GUY GIRARD


GUY GIRARD

N. 1959 | La Hague, França

GUY GIRARD

44

Nascido na Normandia em 1959, descobre-se surrealista em 1977. Depois disso não deixou de escrever, de pintar, de fazer collages, de registar os seus sonhos e de preferir esta forma de preguiças criadoras do que toda uma actividade socialmente útil ao funcionamento da sociedade capitalista que tanto o aborrece como a realidade das relações mercantilistas que o imaginário miserabilista e sempre obstruído por fantasmas religiosos e autoritários. Ele participa desde 1990 nas actividades do Grupo Surrealista de Paris. Publicou textos e imagens nas diferentes revistas do movimento surrealista (SURR, Analogon, Salamandra, Brumes blondes, Phosphor, A Phala, Debout Sur l’Oeuf, etc) e mostrou as suas pinturas em diversas localidades (França, Coreia do Sul, China), de preferência em exposições colectivas surrealistas (Dunganon at large, Sjöbo, Suède, 1986, Terre intérieure, Paris, 1993, Svatokradez, Prague, 1999, O reverso de Olhar, Coimbra, 2008, El Umbral secreto, Santiago du Chili, 2009, Towards the fifth sun, Reading, U.S.A, La Chasse à l’objet du désir, Montréal, 2014, Las Llaves del deseo, San José,Costa Rica, 2016). Ele publicou alguns livros de poesia Les coulisses du plomb (ed. Le Grand Tamanoir, 2015) e de subversão surrealista Insoumission poétique, tracts, affiches et déclarations du groupe de Paris du mouvement surréaliste 1970-2010 (éd Le Temps des cerises et éd.Sonambula, 2011).

Né en Normandie en 1959, Guy Girard se découvre surréaliste en 1977. Depuis il n’a cessé d’écrire, de peindre, de faire des collages, de noter ses rêves et de préférer cette forme de paresse créatrice à toute activité socialement utile au fonctionnement de la société capitaliste dont il abhorre autant la réalité des rapports marchands que l’imaginaire misérabiliste et toujours encombré de fantasmes religieux et autoritaires. Il participe depuis 1990 aux activités du groupe surréaliste de Paris. Il a publié textes et images dans les diverses revues du mouvement surréaliste (SURR, Analogon, Salamandra, Brumes blondes, Phosphor, A Phala, Debout Sur l’Oeuf, etc) et a montré ses peintures en divers lieux et pays (France, Corée du sud, Chine), de préférence dans les expositions collectives surréalistes (Dunganon at large, Sjöbo, Suède, 1986, Terre intérieure, Paris, 1993, Svatokradez, Prague, 1999, O reverso de Olhar, Coimbra, 2008, El Umbral secreto, Santiago du Chili, 2009, Towards the fifth sun, Reading, U.S.A, La Chasse à l’objet du désir, Montréal, 2014, Las Llaves del deseo, San José,Costa Rica, 2016. Il a publié quelques livres de poésie, dont Les coulisses du plomb (éd Le Grand Tamanoir, 2015), et de subversion surréaliste, telle Insoumission poétique, tracts, affiches et déclarations du groupe de Paris du mouvement surréaliste 1970-2010 (éd Le Temps des cerises et éd.Sonambula, 2011).

Depoimento do artista | Artist Statement

imaginário não perdeu nada do seu valor operacional tanto que o colagista exige-se a ele próprio dentro da sua forma e na sua escolha dos seus meios de encantamento. Esta finalidade afirmada à dialéctica da collage confere-lhe o seu valor poético, que depende agora menos da surpresa resultante desta associação posta em evidência durante uma etapa concreta dum pensamento tipo onírico ou analógico. A imagem criada por uma collage afirma a sua própria realidade que é a do maravilhoso, nem tanto porque ela nega o mundo objectivo fragmentado em que lhe tira os recursos de significados da sua linguagem, mas porque ela exacerba as atitudes visionárias do espírito chamadas a estar em constante metamorfose.

Quando em adolescente eu descobri o surrealismo, senti bem o fascínio das collages de Max Ernst ou de Jacques Prévert e, ao mesmo tempo que me iniciava na escrita e nos desenhos automáticos, comecei a fazer collages: aparentemente nada de mais fácil que recortar fotografias ou velhas gravuras e reunir os fragmentos para obter uma imagem insólita, encontrando os domínios do maravilhoso, do erotismo e do humor. No decorrer do tempo não me dediquei a outra coisa que não esta, a esta prática tanto poética como lúdica. Certo, apesar da inflação neste domínio como noutro, de imagens sem magia, eu insisti em pensar que este meio de realizar um momento do


UN SOUVENIR D’ENFANCE DE LEONORA CARRINGTON | 2016 21x30 cm

45

de l’association d’éléments hétérogènes, comme ce fut le cas aux premiers temps du surréalisme, que de la justesse de cette association dans la mise en évidence d’une étape concrète d’une pensée de type onirique ou analogique. L’image créée par un collage affirme sa propre réalité qui est celle du merveilleux, non plus tant parce qu’elle nie le monde objectif fragmenté dont elle tire les ressources signifiantes de son langage, que parce qu’elle exacerbe les aptitudes visionnaires de l’esprit appelées à être en permanente métamorphose. Catálogo | Catalogue Un souvenir d’enfance de Leonora Carrington, 2016 | 21x30 cm Exposição | Exhibition Un souvenir d’enfance de Leonora Carrington, 2016 | 21x30 cm Quelques amis d’André Frédérique, 2016 | 21x30 cm Un dimanche chez Julien Gracq, 2016 | 21x30 cm Roger Caillois ôtant son masque, 2016 | 29x25 cm

GUY GIRARD

Lorsqu’adolescent j’ai découvert le surréalisme, je ressentis bien sûr la fascination des collages de Max Ernst ou de Jacques Prévert et tandis que je m’initiais à l’écriture et au dessin automatiques, je me mis également à faire des collages : en apparence, rien de plus facile que de découper photos ou vieilles gravures et d’assembler ces fragments pour obtenir une image insolite, entrouvrant les domaines du merveilleux, de l’érotisme ou de l’humour. Puis au fil du temps, je ne me suis plus adonné que de ci, de là, à cette pratique d’autant plus poétique qu’elle est ludique. Certes, malgré l’inflation dans ce domaine comme ailleurs, d’images sans magie, je persiste à penser que ce moyen de réaliser un moment de l’imaginaire n’a rien perdu de sa valeur opérative tant que le collagiste luimême se veut exigeant dans ses buts et dans le choix de ses moyens d’enchantement. Cette fin assignée à la dialectique du collage lui confère sa valeur poétique, qui dépend maintenant moins de la surprise résultant



JAN GILIAM


JAN GILIAM N. 1965 | Holanda

Jan Giliam cresceu em Curaçao, uma ilha nos mares do sul das Caraíbas. Estudou Artes Visuais em Amesterdão formando-se em 1988. Giliam é hoje um artista visual independente que vive e trabalha em Amesterdão. Desenha geralmente em papel e em tela, mas também se encontra a produzir painéis em vidro fundido. Trabalha em colectivo com os artistas Rik Lina (Holanda), Daniel Gaemperle (Chile) e os elementos ligados ao Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism.

JAN GILIAM

48

Jan Giliam grew up on Curaçao, an island in the southern Caribbean Sea. He studied Visual Arts in Amsterdam (NL) graduating in 1988. Today Giliam is a independent visual artist living and working in Amsterdam. He usually makes drawings on paper and canvas but he is also making fused glass panels. Giliam likes to work with other artists like Rik Lina (NL), Daniel Gaemperle (CH) and artists of Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism.

Depoimento do artista | Artist Statement O lado fascinante de criar collages reside na constante reorganização do trabalho. Eu corto e colo vezes sem conta. Nunca sei dizer como vai ser a collage. Parece-se com uma brincadeira, mas uma brincadeira séria. Este método de criação está cheio de surpresas. A integração do estilo é um processo de deslumbramento, uma vez que cada trabalho carrega a sua própria forma de linguagem e assinatura. Como se fosse a criação de uma outra pessoa. A dado momento, o toque final está lá. E uma vez que todas as peças têm o seu próprio impacto, há que existir uma espécie de consenso sobre a qualidade. O resultado final parece muitas vezes feio mas é, no entanto, excepcional. Qualquer coisa entre “”eureka” e serendipidade. Catálogo | Catalogue Ma-Donna, 2014 | 17x33 cm Exposição | Exhibition Ma-Donna, 2014 | 17x33 cm LINDA, 2013 | 23x33 cm INNERCITY, 2015 | 16x32cm

The fascinating thing about creating collages is that your work is constantly reorganized. I cut and paste over and over again. I can never tell what the collage will be like. It’s much like fooling around, but serious. This method of creating is full of suprises. Because every piece brings in his own form-language and signature, the style integration is a stunning process. As if somebody else had been creating instead. At a certain moment the finishing touch is there. Since all pieces have their own impact, there has to be a kind of consensus about quality. The result often seems ugly but outstanding though! Anything between eureka and serendipity.


49 JAN GILIAM

MA-DONNA | 2014 17x33 cm



JEAN-PIERRE PARAGGIO


JEAN-PIERRE PARAGGIO N. 1955 | Chambéry, Savoie

Vive em Toulouse desde 2011. Autodidacta e diletante; pintura, desenhos, collage, desvios, técnicas mistas, micro-publicações. A luz negra dos Cantos de Maldoro, em 1969, cruza irrevogavelmente a falha que o conduz às raias da poesia: mantendo na fronteira, a poesia talvez não exista, mas a pulsação está lá, no coração do enigma universal que opõe o Absurdo e o Maravilhoso. Animador da Colection de l’Umbo desde 1996, dos Cahiers de l’Umbo entre 2004 e 2010 (em Annemasse) e depois L’Impromptu 2001/2014 em Toulouse. Soapbox, nasceu em 2013 e está disponível em http://lesminutesdelumbo.com/.

JEAN-PIERRE PARAGGIO

52

Vit à Toulouse depuis 2011. Autodidacte et dilettante: peinture, encres, dessin, collage, détournements, techniques mixtes, micro-publications. La lumière noire des Chants de Maldoror, en 1969, creuse irrévocablement la faille qui le conduit aux lisières de la poésie: campe sur la frontière, la poésie n’existe peut-être pas, mais la pulsation est là, au coeur de l’énigme universelle qui oppose l’Absurde et le Merveilleux. Animateur de la Colection de l’Umbo depuis 1996, des Cahiers de l’Umbo entre 2004 et 2010 à Annemasse, puis de l’Impromptu 2001/2014 à Toulouse. Soapbox, feuillet déposé sur un fil de la toile, est né en 2013, disponible sur http://lesminutesdelumbo.com/.

Depoimento do artista | Artist Statement ENIGMA-ENCAIXE Sete entradas de aproximação

ÉNIGME-GIGOGNE Sept seuils d’approche

A poesia é o lugar invisual da imagem pictórica, a pedra negra da imaginação da retina, o vértice de um mundo novo, a pulsação subjectiva da sua expansão indeterminada. A poesia exerce-se deixando livre curso a todos os instrumentos do seu cumprimento, lá onde se processa a fragmentação e a unidade da matéria. A poesia é o enigma-encaixe alojado no coração do enigma universal. A beleza da imagem poética é inefável, mas ela é também tão real quanto o canto do rouxinol à noite, evidente e absoluto. O homem inventa e reinventa a collage como ele inventa e reinventa todos os seus instrumentos. A collage abre um caminho que empresta o pictopoema que se procura no labirinto da desordem e da cólera, da melancolia e da voluptuosidade. A collage é uma teoria do maravilhoso, o caldeirão do impensável.

La poésie est le point aveugle de l’image picturale, la Pierre noire de l’imagination rétinienne, l’umbo d’un nouveau monde, la pulsation subjective de son expansion indéterminée. La póesie s’exerce en laissant libre cours à tous les instruments de son accomplissement, là se jouent la partition et l’unité de la matière. La poésie est l‘énigme-gigogne logée au coeur de l’énigme universelle. La beauté de l’image poétique est ineffable mais elle est aussi réelle que le chant de ce rossignol dans la nuit, évidente et absolue. L’homme invente et réinvente le collage comme il invente et réinvente tous ses instruments. Le collage ouvre le chemin qu’emprunte le pictopoème qui se cherche dans le labyrinthe du désarroi et de la colère, de la mélancolie et de la volupté. Le collage est une théorie du merveilleux, le chaudron de l’impensé.


53 JEAN-PIERRE PARAGGIO

SEM TÍTULO | 2016 29x20 cm

Catálogo | Catalogue Sem título, 2016 | 29x20 cm Exposição | Exhibition Sem título, 2016 | 29x20 cm Sem título, 2016 | 29x20 cm Sem título, 2016 | 30x21 cm Sem título, 2016 | 30x21 cm



JOHN RICHARDSON


JOHN RICHARDSON N. 1958 | Inglaterra

JOHN RICHARDSON

56

Agora com 58 anos, era adolescente quando encontrei pela primeira vez o Surrealismo, numa altura em que empunhava a bandeira do Marxismo, como um anti-capitalista convicto, internacionalsita, antiestalinista, ateísta e socialista. Resumido, as minhas crenças e actividade políticas estavam ao serviço da liberdade e emancipação humanas. Recentemente tive a sorte de encontrar e partilhar a aventura surrealista com Jogn Welson. A experiência desta colaboração (ver, por exemplo, o nosso “Alice: The looking Glass Threw” publicado em 2014) – impregnada de afecto, espírito de camaradagem, humor negro e reciprocidade – tem sido verdadeiramente libertadora, estimulando novos pensamentos e abordagens e aprofundando a minha adesão à ideia de que “o Surrealismo e o pensamento de André Breton são talvez esse ponto ideal, esse supremo lugar mental, onde a trajectória libertária se encontra com o Marxismo revolucionário” (Michael Lowy). Assim possa prosseguir esta viagem, à medida que enveredamos por novas estradas para revelar vislumbres do Maravilhoso.

Now aged 58, I first encountered surrealismo as a teenager at a time when I had taken my place behind the banner of Marxism as a convinced anti-capitalist, internationalist, anti-Stalinist, atheist and socialista. In short, my political beliefs and activity served the cause of freedom and human emancipation. In recente years I have been fortunate to meet and share the surrealist adventure with John Welson. The experience of our collaboration (see, for exemple, our Alice: The Looking Glass Threw, published in 2014) – suffused with warmth, the spirit of comradeship, black humour and reciprocity – has been truly liberating, stimulating new ideas and approaches, and deepening my adherence to the idea that ‘surrealism and the thought of André Breton are perhaps that ideal point, that supreme mental location where the libertarian trajectory meets revolutionary Marxism’ (Michael Lowy). May the journey continue as we take new roads to reveal glimpses of the Marvellous. All Power to the Imagination.

Todo o poder à imaginação.

Depoimento do artista | Artist Statement Estes trabalhos não são apenas uma prova (modesta) da actividade surrealista contemporânea, mas também da contínua relevância da crítica surrealista ao mundo enfadonho do princípio da realidade referido no primeiro Manifesto do Surrealismo como “a inaceitável condição humana”. Os surrealistas procuram transformar a nossa visão do “que é” e do “que pode ser” e pôr a descoberto uma realidade mais profunda, escondida. Especificamente, a collage, ao juntar duas ou mais imagens não relacionadas entre si no mesmo plano, pode gerar uma faísca, criando uma surrealidade nova e enigmática, e revelar-nos assim um tentador vislumbre do Maravilhoso.

Ao colocar em oposição o chamado senso comum, a ideologia capitalista, delírios religiosos e o miserabilismo do quotidiano com a revolta total e uma imaginação impregnada de amor pelo irracional e da irracionalidade do amor, o surrealismo é, acima de tudo, uma aventura da mente que assegura que “nós não deixaremos que os caminhos do desejo cresçam demasiado” (Amor Louco, André Breton). Para evitar o surgimento de qualquer dúvida, é importante realçar em particular que o surrealismo não pode ser reduzido a um movimento artístico ou literário, muito menos um que tenha existido “entre a primeira e a segunda guerra mundial”. Fomos, somos e seremos antes “especialistas em revolta”. E é a isto que aspira a minha contribuição para “a sedução infinita” (Fata Morgana, André Breton).


57

Surrealists seek to transform our view of ‘what is’ and ‘what can be’, and to uncover a deeper, hidden reality. In particular, collage, in bringing together two or more unrelated images on a single plane can generate a spark, creating a new, enigmatic surreality, and thus can reveal to us a tantalising glimpse of the Marvellous. Opposing so-called common sense, capitalist ideology, religious delusions and the miserabilismo of eve-ryday life, with total revolt and an unfettered imagination suffused with the love of the irrational and the irrationality of love, Surrealism is above all an adventure of the mind which ensures ‘we (will) not let the paths of desire become overgrown’ (André Breton, Mad Love). To ensure the avoidance of any doubt it is, in particular, to be stressed that Surrealism cannot be reduced to a literary or a atistic movement – and still less one that existed ‘between the first and second world wars’. Rather we were, are and will be, ‘specialists in revolt’.

JOHN RICHARDSON

These works provide (modest) evidence not only of contemporary surrealist activity, but to the continuing revelance of the surrealist critique of the dull world of the reality-principle, referred to in the First Surrealist Manifesto , as ”the unacceptble human condition”. A SECRET NO MORE | 2014 21x25 cm

And that is all that my contribution to ‘the infinite seduction’ (André Breton, Fata Morgana) aspires to.

Catálogo | Catalogue A Secret no more, 2014 | 21x25 cm Exposição | Exhibition A Secret no more, 2014 | 21x25 cm Na Average House, 2011 | 26x16 cm Absolute Liberty, 2011 | 25x17 cm Inside the Stone, 2016 | 30x21 cm



JOHN WELSON


JOHN WELSON N. 1953 | Wales, Inglaterra

JOHN WELSON

60

Pintor, escritor, curador de exposições, John Welson começou a pintar com 12 anos (1965), quando descobriu um livro sobre o surrealismo na biblioteca da escola. Em 1967, já tinha pintado os seus primeiros quadros surrealistas. Em 1968, pintava obras figurativas surrealistas com os quais viria a ser identificado nos vinte e cinco anos seguintes. Essas imagens representam interiores claustrofóbicos, cheios de figuras, objectos, animais. Todos num estado de “desconstrução inclinada”, ou reconstrução, como animadores de uma actividade representando os aspectos latentes da sua própria realidade. Em 1994, começou outra aventura na sua viagem visual. As imagens tornam-se mais líricas e abstractas. Edouard Jaguer, o líder do movimento Phases, com quem Welson expôs inúmeras vezes pelo mundo inteiro, refere-se às obras de Welson como “abstrações viscerais”. Os quadros são inspirados no ambiente Celta onde Welson vive: formas botânicas, rochas, serras, imbuídas de explosões de cor e a libertação do mito Celta. Desde 1974, Welson expôs em mais de 350 exposições em todo o mundo. Expôs em exposições surrealistas internacionais, desde “Vigilance of Desire” (Chicago, 1976) até “Las llaves del deseo” (Costa Rica, 2016). Foi curador de mais de vinte exposições surrealistas de amigos surrealistas provenientes do mundo inteiro. Welson tem participado activamente em trabalhos colectivos com Rik Lina e Gregg Simpson (Cornucopia), John Richardson (“Alice, the looking glass threw”), Wedgwood Steventon, Kathy Fox e neste momento está a trabalhar num projecto conjunto com Guy Girard que pretende comemorar o trabalho de Henri Fuseli. Recentemente organizou um grande evento comemorativo do “Arcane 17” de André Breton com obras co-lectivas de Michael Lowy, Patrick Lepetit, Michel Remy e David Nadeau, entre outros. Welson foi sempre um acérrimo defensor da ideia de que o surrealismo é uma celebração internacional da liberdade humana.

Painter, writer, exhibition curator, John Welson started painting at the age of 12 (1965) when he found a book on Surrealism in the school library. By 1967 he was painting his first Surrealist paintings. By 1968 he was painting the figurative Surrealist paintings that he was identified with for the next twenty five years. These pictures depicted claustrophobic interiors, full of figures, objects, animals all in a state of “inclined deconstruction” or reconstruction as animators in an activity depicting the latent aspects of their own reality. By 1994 another adventure is taken in his visual journey. The pictures become more lyrical and abstracted. Edouard Jaguer, the leader of the Movement PHASES whom Welson exhibited with over twenty times throughout the world, refers to Welson’s painting as “visceral abstractions”. The paintings are inspired by the Celtic landscape that Welson lives in. They are drawn from the forms of plants, rocks, mountain ranges, in-vested with bursts of colour and the release of the Celtic Myth. Since 1974 Welson has exhibited in over 350 exhibitions around the world. From International Surrealist exhibitions, “Vigilance Of Desire”, Chicago, 1976, to “ Las Llaves Del Deseo”. San Jose, Costa Rica, 2016. He has curated over twenty Surrealist exhibitions including Surrealist friends from around the world. Welson has been an enthusiastic participator in collaborative works with Rik Lina and Gregg Simpson (“Cornucopia”), John Richardson (“Alice, The Looking Glass Threw”), Wedgwood Steventon, Kathy Fox and is currently working on a joint project with Guy Girard celebrating the work of Henri Fuseli. Recently, Welson has organised a large celebration of Andre Breton’s “Arcane 17”, including joint works with amongst others, Michael Lowy, Patrick Lepetit, Michel Remy and David Nadeau. Welson has always been a committed advocate of the unshaken belief that Surrealism is an international celebration of human liberty.


AT THE LIGHT OF A GLAZED CASTLE - I | 2016 21x30 cm

“Esta manhã a filha da montanha segura nos seus joelhos um acordeão de morcegos brancos”. (André Breton, Fata Morgana)

“This morning the daughter of the mountain holds on her knees an accordion of white bats”. (Andre Breton, Fata Morgana)

Quando tinha dezassete anos, fui a Birmingham na Inglaterra para visitar uma grande livraria que vendia literatura de esquerda e comunista. Passei a manhã à procura de livros sobre o Surrealismo. Finalmente encontrei um livro fininho na secção de poesia, era em francês, na capa “Ode a Charles Fourier” de André Breton, enfiada dentro do livro estava a edição em inglês da Black Swan Press da “Fata Morgana”, repleta de ilustrações de Wilfredo Lam. Tanto o poema como as ilustrações têm povoado a minha imaginação nos últimos cinquenta anos. Cinquenta anos volvidos desde a morte de André Breton, quarenta desde a exposição “Vigilance Desire”, em Chicago, oitenta anos após a primeira exposição Internacional Surrealista em Londres, a seiva vital, a energia vital da imaginação, o impulso motivador da emancipação humana, o cálice de sangue pulsante da lucidez, o Surrealismo, continua a celebrar a liberdade humana.

When I was seventeen years of age I travelled to the city of Birmingham, England, to visit a large book shop that sold Left wing and Communist literature. I spent the late morning combing the bookshelves for books on Surrealism. Finally, I found a small thin volume in the poetry section, it was in French, on the front “Ode a Charles Fourier” Andre Breton, tucked inside this publication was the Black Swan Press edition, in English, of “Fata Morgana”, complete with the illustrations by Wilfredo Lam. Both the poem and the illustrations have been the constant companion of my imagination for almost fifty years. Fifty years since Andre Breton’s death, forty years since the exhibition “Vigilance Desire”, in Chicago, eighty years since the first International Surrealist exhibition in London, and the vital sap, the life-force of imagination, the motivating energy of human emancipation, the pulsing blood vessel of lucidity, Surrealism, continues to celebrate human liberty.

JOHN WELSON

Depoimento do artista | Artist Statement

61

Catálogo | Catalogue At the light of a Glazed Castle - I, 2016 21x30 cm Exposição | Exhibition At the light of a Glazed Castle - I, 2016 21x30 cm At the light of a Glazed Castle – II, III, IV, 2016 21x30 cm



JORGE LEAL LABRIN


JORGE LEAL LABRIN N. 1953 | Santiago do Chile, Chile

JORGE LEAL LABRIN

64

Artista Visual, Profesor de Historia del Arte y Estética, Ensayista. Estudió en la Escuela Experimental Artística, en la Escuela de Arte de la Universidad Católica de Chile, para luego trasladarse a Italia y Francia, donde realizó un Magister en Arte en La Sorbonne, Paris. A partir de los años 1980, se vincula con los movimientos surrealistas internacionales na Europa. Ha realizado diversas exposiciones en museos, galerías, y centros culturales, individuales como colectivas. Desde su larga estadía en Francia recorre Europa exponiendo sus obras, organizando múltiples muestras y performances. Ha expuesto entre otros en Italia, Francia, Alemania, Portugal, Estados Unidos, Checoslovaquia, Brasil y Chile. Entre las principales muestras figuran: Prima Mostra Citta di Roma (Italia, 1980), Salon d´Automne (París, 1982) - Exposição Internacional Surrealismo e Pintura Fantástica-Grupo Phases (Lisboa, 1985), Galeria Enrico Bucci (Santiago do Chile, 1987), La Galerie (Aeropuerto de Orly, París, 1988), Espacio Lucernaire (París, 1989), Dechiphrage Surrealisten heute (Galerie 13, Hannover, 1991) Organización de las colectivas Fibre Surréaliste (París, 1991), Châlon dans la Rue - Festival Europeo de los Creadores (Châlon sur Saône, 1991), A la búsqueda de la mujer en un desierto de alucinaciones (Hannover, 1992), America Latina y el Surrealismo (Museo de Bochum, 1993), L´Artiste fait son cinema (Bienal de Artes Plásticas, Pierre Bénite, Lyon, 1994) La Estación del Infinito (Santiago, 1995), La Imagen que devuelve la image (Universidad Católica de Chile, 1996). Participó en el Simposio Internacional “Phases Surrealismo y Contemporaneidade”, Grupo Astral do Brasil e Cono Sul, y en una performance colectiva, Museu de Arte Contemporanea Universidade de Sao Paulo, Brasil, 1999, Surrealismus a Svoboda - La parenté n´est pas héréditaire - Surrealismo y libertad Ostrava Rep. Checa, 2000), De lo fortuito y del azar (Santiago, 2001), O Reverso do Olhar (Coimbra 2008),A Voz Dos Espelhos - Surrealismo Actual (Amadora, 2008), Vanguardias del Arte (Santiago, 2011). Trabajó varios años como docente en universidades chilenas. Escribe artículos y ensayos relacionados con la actividad artística para diversas revistas internacionales y nacionales. Publicó en 2013 “Pastiche: El Arte del siglo XX en cuerpos pintados”.

Visual artist, Art and Aesthetics History teacher and essayist, he studied at the Escuela Experimental Artística and Escuela de Arte de la Universidad Católica de Chile, and then moved to Italy and France, where he held a Master’s degree in Art at Sorbonne in Paris. He joined the international surrealist mouvements in Europe in the 80’s. He has held several individual and colective exhibitions in museums, galleries and cultural centres. After spending long years in France, he exhibited his works and organized multiple showings and performances all accross Europe. He held exhibitions in Italy, France, Germany, Portugal, USA, Czech Republic, Brazil and Chile (among others). He took part in: Prima Mostra Citta di Roma (Italiy, 1980), Salon d´Automne (Paris, 1982) - Exposição Internacional Surrealismo e Pintura Fantástica- Phases (Lisbon, 1985), Galeria Enrico Bucci (Santiago do Chile, 1987) , La Galerie (Orly Airport, Paris, 1988), Espace Lucernaire (Paris, 1989), Dechiphrage Surrealisten heute (Galerie 13, Hannover, 1991) - OrganizaTion of the colective Fibre Surréaliste (Paris, 1991), Châlon dans la Rue - Festival Européenne des Créateurs (Châlon sur Saône, 1991), A la búsqueda de la mujer en un desierto de alucinaciones (Hannover, 1992), America Latina y el Surrealismo (Museo de Bochum, 1993) , L´Artiste fait son cinema (Bienal de Artes Plásticas, Pierre Bénite, Lyon, 1994) La Estación del Infinito (Santiago, 1995), La Imagen que devuelve la image (Universidad Católica de Chile, 1996). He also participated in the Internacional Symposium “Phases Surrealism y Contemporaneity”, Grupo Astral do Brasil e Cono Sul with a colective performance at the Museu de Arte Contemporânea Universidade de São Paulo, Brasil, 1999, Surrealismus a Svoboda - La parenté n´est pas héréditaire - Surrealismo y libertad Ostrava Rep. Checa, 2000), De lo fortuito y del azar (Santiago, 2001), O Reverso do Olhar (Coimbra 2008), A Voz Dos Espelhos - Surrealismo Actual (Amadora, 2008), Vanguardias del Arte (Santiago, 2011).


65

Depoimento do artista | Artist Statement Los “COLLAGES”, para mí, son espejos partidos y repartidos por el mundo. Ellos son lo más parecido a la vida misma, por sus analogías y eventualidades, donde los tiempos se mezclan con imágenes tanto del pasado como del presente. Los “collages” son fragmentaciones de la memoria, es un juego inteligente jugado por los niños, quienes pueden inventar liberados de toda lógica. Son como una conversación con el amigo invisible. Catálogo | Catalogue Rito sin Omisión, 2016 | 60x42 cm Exposição | Exhibition Rito sin Omisión, 2016 | 60x42 cm Instante - Instinto – Flash, 2016 | 60x42 cm

For me, collages are shattered looking glasses scattered around the world. They resemble life, with all their analogies and possibilities, mixing time and images from past and present. Collages are fragments of memory, a smart game played by small children, which they can truely improvise. Like a dialogue with an immaginary friend.

JORGE LEAL LABRIN

RITO SIN OMISIÓN | 2016 60x42 cm



KATHLEEN FOX


KATHLEEN FOX N. 1948 | África do Sul

Nascida na África do Sul e incapaz de tolerar a situação política que aí se vivia, mudei-me para Inglaterra em 1987. Tenho participado em actividades surrealistas desde 1991. O meu trabalho constitui uma reflexão sobre questões de identidade e de exílio exploradas através de processos criativos que usam o jogo, o acaso e o acidente para evitar o pensamento racional, numa tentativa de imersão no reino fluido do inconsciente.

KATHLEEN FOX

68

Born in South Africa and unable to tolerate the political situation there, I moved to England in 1987. I have been participating in Surrealist activities since 1991. My work is a reflection on issues of identity and exile explored through creative processes that use play, chance and accident to by-pass rational thought in an attempt to immerse myself in the fluid realm of the unconscious.

Depoimento do artista | Artist Statement Estes processos incluem o uso de texturas criadas ao acaso e a adição de collage a fim de desenvolver uma narrativa emergente. Existe um sentido de aventura quando uma imagem que poderia potencialmente usar como uma collage se revela inesperadamente, uma alteração da realidade passa entre mim e a imagem num diálogo silencioso. As possibilidades são empolgantes. A obra de collage fornece um surto de energia a um trabalho lançando a narrativa emergente numa direcção imprevista, ainda que alicerçando também uma mitologia pessoal reveladora.

Catálogo | Catalogue A Slow Ride at Sunrise, 2006 | 31x42 cm Exposição | Exhibition A Slow Ride at Sunrise, 2006 | 31x42 cm A Whale of a time, 2006 | 31x42 cm Foul play, 2006 | 30x42 cm

These processes include the use of randomly created texture, and the addition of collage to develop an emerging narrative. There is a sense of adventure when an image I could potentially use as collage unexpectedly reveals itself to me, a shift in reality as a silent dialogue passes between the image and myself. The possibilities are thrilling. The collage piece provides a surge of energy to a work, directing the emerging narrative in an unpredictable direction, yet also supporting an unfolding personal mythology.


69 KATHLEEN FOX

A SLOW RIDE AT SUNRISE | 2016 31x42 cm



LOU DUBOIS


LOU DUBOIS N. 1953 | França

Colagista, objectualista e poeta. Nos últimos cinco anos, tem realizado umas largas dezenas de exposições colectivas e individuais em França, Bélgica e Espanha. É autor de diversos livros com collages. Colabora com diversas revistas de literatura e arte e foi membro do comité de redacção da revista Superieur Inconnu em torno de Sarane Alexandrien. Colaborou também na revista A Phala entre outras revistas. Também na arte postal moderna, Dubois apresenta uma enorme criatividade com collages adaptadas à personalidade dos seus destinatários. Vive em Paris e parte do ano na Andaluzia.

Collagist, object maker and a poet. In the last five years, he has held dozens of individual and collective exhibitions in France, Belgium and Spain. He is the author of many collage books. He cooperates with several art and literature magazines and he was a consultant editor of the magazine Superieur Inconnu, close to Sarane Alexandrien. He also cooperated with A Phala, among other magazines. As far as Mail Art is concerned, Dubois also shows his enormous creativity in collage, adapted to his receivers´ personality. He lives in Paris and part of the year in Andaluzia.

LOU DUBOIS

72 Depoimento do artista | Artist Statement As escolhas de Lou Dubois estão ligadas aos eixos que lhe são queridos: o tempo e a collage são meios de o suspender; a literatura e a poesia e a collage tornam-se poemas visuais; o sonho e o erotismo ou exibição, transvestimento, subversão de imagens, convulsão da beleza torna-se num jogo; o humor; as referências ao dadaísmo e ao surrealismo. Lou Dubois diz-nos: “Se se comemora André Breton, não se pode esquecer que Dada faz este ano cem anos, mesmo que ele tenha sempre vinte anos!”

Le choix des collages de Lou Dubois est lié à des axes qui lui sont chers: le temps et le collage est un moyen de le suspendre; la litteráture et la poésie et le collage se fait poème visuel; le rêve et l’erotisme où exhibition, travestissement, subversion des images, convulsion de la beauté deviennent un jeu; l’humour; les références au dadaisme et au surréalisme. Lou Dubois nous dit: “Si l’on commémore André Breton, il ne faut pas oublier que Dada a cent ans cette année, même s’il aura toujours vingt ans!”

Catálogo | Catalogue A la recherche de l’or du temps, 2016 | 38x28 cm Exposição | Exhibition A la recherche de l’or du temps, 2016 | 38x28 cm La maison était close et Delaroche posait, 2006 | 45x31 cm Sem título, 2016 | 37x25 cm Masque de rêveet de beauté, 2016 | 40x30 cm


73 LOU DUBOIS

A LA RECHERCHE DE L’OR DU TEMPS | 2016 38x28 cm



LUIZ MORGADINHO


LUIZ MORGADINHO N. 1964 | Portugal

Dedica-se às artes plásticas desde muito jovem e tem integrado as actividades do colectivo Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism desde 2010. Participa nas revistas DEBOUT SUR L’OEUF, A PHALA, DERRAME e colaborou para o Almanaque do Movimento Surrealista Internacional Ce qui sera – What will be – o que será.

LUIZ MORGADINHO

76

He has painted since his youth and he has been participating in the activities of Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism since 2010. He cooperates with the magazines DEBOUT SUR L’OEUF, A PHALA, DERRAME and with the Almanach of the International Surrealist Mouvement Ce qui sera – What will be – o que será.

Depoimento do artista | Artist Statement “Collage é um desafio à pintura” (Louis Aragon)

“Collage is a challenge to painting” (Louis Aragon)

Ao rasgar e fragmentar exorcizo as imagens reais, para me deleitar com a criação de composições oníricas objectivamente perceptíveis de representações anti natura e anti mercantilistas. Em oposição à herança reguladora do classicismo canónico, das formas e técnicas plásticas, conjuntamente com a pintura e desenho, solto um grito da libertação das imagens na sua plenitude poética.

By tearing and fragmenting I exorcise images of reality to compose dreamlike artpieces objectively perceptible of “anti-natura” and mercantile representations. Opposed to the regulative heritage of the classicism canon of artistic types and techniques, together with painting and drawing, I burst out the release of images in their poetic plenitude.

Catálogo | Catalogue Sem título, 2014 | 20x15 cm Exposição | Exhibition Sem título, 2014 | 20x15 cm Sem título, 2014 | 20x15 cm Pausa na viagem, 2016 | 30x18 cm Sem título, 2016 | 40x30 cm


77 LUIZ MORGADINHO

SEM TÍTULO | 2014 20x15 cm



MIGUEL DE CARVALHO


MIGUEL DE CARVALHO N. 1970 | Luxemburgo

MIGUEL DE CARVALHO

80

É livreiro antiquário, editor de DEBOUT SUR L’OEUF (edições DSO), poeta, criador de objectos e colagista. Publicou poemas, ensaios e imagens no estrangeiro nas revistas ligadas ao movimento surrealista A PHALA (Brasil), QUIMERA QUE PASSA (Brasil), HYDROLITH (EUA), BRUMES BLONDES (Holanda), INFOSURR (França), SUPÉRIEUR INCONNU (França), CAHIER DE L’UMBO (França), TORTUELIÈVRE (Canada), STYXUS (Rep. Checa), THE ANNUAL (EUA), PATRICIDE (Reino Unido), PECULIAR MORMYRID (EUA) e DERRAME (Chile). Em Portugal publicou também poemas, ensaios e imagens nas revistas DEBOUT SUR L’OEUF, CÃO CELESTE, TELHADOS DE VIDRO e A IDEIA. É co-fundador na criação do colectivo de pintura automática e poesia Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism de poetas e pintores nacionais e internacionais. Participa desde 2005 em exposições colectivas internacionais ligadas ao movimento surrealista e integrou a última exposição do grupo PHASES em Santiago do Chile (2005). Organizou três exposições internacionais do surrealismo em Portugal (2008 a 2009). Realizou exposições individuais de collages em Praga (JARDINS NOCTURNOS, 2011) , em Coimbra (NO PRINCÍPIO ERA O VERBO, 2015; FARÓIS DE SANGUE, 2016) e no Porto (FARÓIS DE SANGUE, 2016). Colaborou para o Almanaque do Movimento Surrealista Internacional Ce qui sera – What will be – É o que será e com Arturo Schwarz para o seu Il Surrealismo Ieri e oggi (ed. Skira, 2014). É autor de diversos plaquetes de poesia visual e escrita. Vive em Coimbra e Figueira da Foz

Depoimento do artista | Artist Statement Realizar uma collage constitui o mesmo que um acto suicida de se deitar na linha do comboio e provocar inadvertidamente o seu descarrilamento.

Miguel de Carvalho is an antiquarian bookseller, publisher of Debout Sur l’Oeuf (DSO editions), poet, object maker and collagist. He has published poems, essays and images in the Surrealist magazines A PHALA (Brasil), QUIMERA QUE PASSA (Brasil), HYDROLITH (EUA), BRUMES BLONDES (Holland), INFOSURR (France), SUPÉRIEUR INCONNU (France), CAHIER DE L’UMBO (France), TORTUE-LIÈVRE (Canada), STYXUS (Rep. Checa), THE ANNUAL (USA), PATRICIDE (UK), PECULIAR MORMYRID (USA) and DERRAME (Chile). He also published in the Portuguese magazines DEBOUT SUR L’OEUF, CÃO CELESTE, TELHADOS DE VIDRO and A IDEIA. Along with Rik Lina, he is a founding member of the collective automatic painting and poetry group Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism, which gathers national and international poets and painters. Since 2005 he has participated in International Collective exhibitions connected to the Surrrealist movement and took part in the last exhibition of the group PHASES in Santiago (Chile, 2005). He organized three international exhibitions on Surrealism in Portugal (2008 and 2009). He held individual exhibitions of collages in Prague (JARDINS NOCTURNOS, 2011), in Coimbra (NO PRINCÍPIO ERA O VERBO, 2015; FARÓIS DE SANGUE, 2016) and in Porto (FARÓIS DE SANGUE, 2016). He participated in the Almanach of the International Surrealist Movement Ce qui sera – What will be – É o que será and with Arturo Schwarz for the large book Il Surrealismo Ieri e oggi (ed. Skira, 2014). He also published several written and visual poetry schapbooks. He lives in Coimbra and Figueira da Foz. Making a collage is the same as the suicidal act of throwing yourself under a train and inadvertently cause its derailment.

Catálogo | Catalogue Trabalho I da série No Princípio não era o verbo, 2014 | 14x09 cm Exposição | Exhibition Trabalho I da série No Princípio não era o verbo, 2014 | 14x09 cm Trabalho II da série No Princípio não era o verbo, 2014 | 14x09 cm Trabalho III da série No Princípio não era o verbo, 2014 | 14x09 cm Trabalho IV da série No Princípio não era o verbo, 2014 | 14x09 cm


81 MIGUEL DE CARVALHO

TRABALHO I DA SÉRIE NO PRINCÍPIO NÃO ERA O VERBO | 2014 14x09 cm



PEDRO PRATA


PEDRO PRATA

N. 1967 | Coimbra, Portugal

PEDRO PRATA

84

Desde muito cedo desenvolveu as suas aptidões naturais pela pintura e a arte em geral com o desejo de transformar as emoções em fenómenos capazes de ultrapassar o que consideramos uma realidade objectiva e linear, marcando em todo o seu trajecto a sua tendência surrealista, facto este bem presente nas suas obras. Desde 2008 tem realizado diversas exposições colectivas e individuais tendo em 2010 integrou o colectivo do The Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism. Colaborou nas revistas DEBOUT SUR L’OEUF, A PHALA e DERRAME. Colaborou para o Almanaque do Movimento Surrealista Internacional Ce qui sera – What will be – É o que será.

Since an early age Pedro Prata showed a natural aptitude for painting and art in general willing to transform emotions into phenomena capable of overtaking a reality we find objective and linear. The surrealist tendency is well printed in his path and this is shown in his works. Since 2008 he has held several collective and individual exhibxitions and in 2010 he joined the group Cabo Mondego section of Portuguese Surrealism. He particiapted in the magazines DEBOUT SUR L’OEUF, A PHALA e DERRAME and in the Almanac of the International Surrealist Mouvement Internacional Ce qui sera – What will be – É o que será.

Depoimento do artista | Artist Statement A colagem é para mim um processo criativo através do qual o recorte de imagens já impressas me desperta para novos mundos do inconsciente. O poder criativo emerge dando origem a novas imagens subversivas, poéticas, muito próximas do mundo dos sonhos. É nesta nova realidade que caminho irracionalmente para um novo desconhecido.

Catálogo | Catalogue O assumir de um rosto, 2016 | 30x21 cm Exposição | Exhibition O assumir de um rosto, 2016 | 30x21 cm Fuga para o incerto, 2016 | 30x21 cm Ajuda envenenada, 2016 | 30x21 cm

For me collage is a creative process in which I discover new worlds of the Unsconscious by cutting up previously printed images. The creative power emerges giving rise to new, subversive, poetic images, very close to the world of dreams. This is my walk towards the unknown.


85 PEDRO PRATA

O ASSUMIR DE UM ROSTO | 2016 30x21 cm



RICHARD MISIANO-GENOVENSE


RICHARD MISIANO-GENOVENSE N. 1947 | Nova York, EUA

Colagista, fotógrafo, pintor e teórico, MisianoGenovense está pró-activamente mergulhado no pensamento surrealista desde os anos 60. Criador e proponente dos métodos de Litografia Alterada e Collage de Escavação, fixou-se na contínua investigação e reinvenção da forma feminina. Está representado em numerosas publicações internacionais, incluindo GRASP, THE EXHIBITIONER, HYDROLITH, PATRICIDE, LOUP-GAROUP, APPEARANCES e PUNTO SEGUIDO. Expôs internacionalmente com obras suas em colecções particulares e museus, e artigos em bibliotecas especiais.

Collagist, photographer, painter and theorist, MisianoGenovense is proactively immersed in surrealist thought since the 1960’s. Originator and proponent of the methods of the Altered Lithograph, and Excavation Collage, fixed on the continual reinvention and investigation of the human female form. Featured in numerous international publications including GRASP, THE EXHIBITIONER, HYDROLITH, PATRICIDE, LOUP-GAROUP, APPEARANCES and PUNTO SEGUIDO. Exhibited internationally, with artworks in private and museum collections, papers in special library collections.

Depoimento do artista | Artist Statement

RICHARD MISIANO-GENOVENSE

88

O mistério e o processo mágico da collage.

The mysteries and magic process of collage

Procurando explorar desejos, sonhos e pensamentos através do acto criativo – arte, poesia, escrita, cinema – por outros meios, o processo aparentemente simples da collage oferece respostas imediatas, do mesmo modo que levanta muitas questões. Para mim, a descoberta da collage como uma ferramenta manual para procurar o maravilhoso através da junção de imagens díspares foi um passo óbvio, de diferentes maneiras: dando-me a oportunidade de experienciar diferentes revelações. Mais ainda, depois de imensos anos a ver e a realizar collage, deparei-me por acaso com o método de escavação de collages a partir da sobreposição de imagens. Esta passagem do alter-ego para o desconhecido proporcionou-nos um outro modo de “colar” imagens. A escrita, a pintura, a assemblage, a cinematografia, todas são exercícios maravilhosos na busca daquilo que se revela apenas através da nossa exploração persistente e a collage representa a oportunidade mais pura para se atingir o estado poético da consciência. Como um instrumento de revelação, a collage será sempre e, acima de tudo, uma arma escolhida – como num duelo de pistolas em que um se sagra vencedor. Com a collage, o duelo visual é ganho ao colocar mais questões e não menos.

Seeking to explore desires, dreams, and thoughts via the process of making something – art, poetry, writing, cine-ma and by any other means, the deceptively simple process of collage offers immediate answers as well as pre-senting many more questions. For me, the discovery of collage as a handy tool for seeking out the marvelous in assembling disparate imagery was an obvious step, in a two-fold manner: it gives me the chance to experience unexpected revelations. Further, over the course of many, many years of viewing and making collage I chanced upon the profound method of exca-vating collages from layered imagery. Having opened this alter-ego doorway to the unknown, it provided another way of “glueing” images together. Writing, painting, assembling, cinematography are all marvelous exercises in the quest for seeking that which is only revealed through our persistence of exploration, and collage provides the purest chance of reaching the poetic state of consciousness. As an instrument of revelation, collage will always be a weapon of choice, first and foremost – as in dueling with pistols, one emerges the victor. With collage, the duel is won by raising more questions, not fewer, when presented with a visual dueling.


89 RICHARD MISIANO-GENOVENSE

Catálogo | Catalogue Lady in waiting, 2015 | 19x16 cm Exposição | Exhibition Lady in Waiting, 2015 | 19x16 cm Mechanical Woman in a State of Grace, 2015 | 23x17 cm

LADY IN WAITING | 2015 19x16 cm



RICHARD WAARA


RICHARD WAARA

N. 1944 | Grand Rapids, EUA Colagista dos mais originais das últimas décadas centra a sua actividade em indagar as cubomanias com resultados surpreendentes. Como poeta publicou diversos livros e celebra em 1984 a sua primeira exposição de collages denominada Fata Morgana. Tem animado de forma entusiastas as edições surrealistas Rève à Deux.

One of the most original collagists in the last decades, Richard Waara has focused his attention on questioning cubomania with striking results. As a poet he has published several books and his first collage exhibition, called Fata Morgana, took place in 1984. He has actively participated in the Surrealist editions Rève à Deux.

Depoimento do artista | Artist Statement

RICHARD WAARA

92

Nasci em Grand Rapis, no estado do Minnesota em 1944. Esta pequena cidade foi também a terra natal de Judy Garland e hoje em dia atrai os turistas com a sua yellow brick road (estrada dos lingotes de ouro). Só em 1970 obtive o primeiro contacto com a ideia dum surrealismo vivo. Na altura, descobri ao mesmo tempo o livro Blood of the Air de Philip Lamatia e o primeiro número da revista Arsenal numa livraria situada em West Bank junto da Universidade de Minnesota. A guerra do Vietnam foi a minha transição Dada. Hoje em dia não me diz nada pertencer a um “grupo” organizado. Mas eu sou todo pela fraternidade e pela irmandade. O surrealismo para mim continua a respirar o mundo em que vivemos. Eu continuo a acreditar que o surrealismo é o único “jogo que vale a pena jogar”. Recentemente encontrei um novo papel para mim enquanto jogador. É o papel de editor. Contudo os meus propósitos são tranquilos, eu sinto que “publicar” tem um retorno com implicações sociais e culturais.

Catálogo | Catalogue Antonin Artaud, 2016 | 16x12 cm Exposição | Exhibition Antonin Artaud, 2016 | 16x12 cm Roger Gilbert-Lecomte, 2016 | 16x12 cm Aimé Césaire, 2016 | 16x12 cm

I was born in Grand Rapids, Minn., in 1944. This small city was also the birthplace of Judy Garland and today attracts tourists with its own yellow brick road. I first came into contact with the idea of a living surrealism around 1970. I discovered both Philip Lamantia’s Blood of the Air and the first issue of Arsenal around the same time at a bookstore on the West Bank near the University of Minnesota.The Vietnam War was my Dada transition. As of today I am somewhat wary of belonging to an “organized” group. But I am all for fraternity and sisterhood. Surrealism for me continues to breathe in the world we live in. I still believe surrealism is the only game in town worth playing. I have recently found a new role for me as a player. That role is as a publisher.Although my means remain meek, I feel that “to publish” has self-gratifying social and cultural implications.


93 RICHARD WAARA

ANTONIN ARTAUD | 2016 16x12 cm



RIK LINA


RIK LINA

N. 1942 | Valkenburg, Holanda

RIK LINA

96

Viveu e trabalhou em diversos continentes na busca da natureza primordial. Como modo de vida, utiliza o adágio de Odilon Redon: “Fechar-se na Natureza”, tendo para o efeito, dedicado a sua vida e arte ao deserto, às montanhas, às florestas tropicais e aos bancos de corais. Emigrou para Bonaire (Caraíbas) em 1975 tendo adquirido uma experiência essencial à sua obra, com mais de 1000 horas de mergulho. A maioria dos seus desenhos, pinturas e obra gráfica representam a poesia da vida das profundezas marítimas. Após os estudos académicos em Amesterdão, Lina contactou com os surrealistas através da revista Brumes Blondes e do movimento Phases que passou a integrar desde 1973 (Homenagem a César Moro, Lima – Peru). Conta internacionalmente com dezenas de exposições colectivas e individuais. Em Portugal manteve estreitas relações de amizade com Artur Cruzeiro Seixas e Mário Cesariny. Foi fundador da revista anarco-surrealista Droomshaar (1990-94). É um dos responsáveis pelo grupo CAPA (1990-2016). Nos últimos dez anos, Rik Lina participou nas revistas poética surrealistas Debout Sur l’Oeuf, A Phala, Soapbox, The Annual e Peculiar Mormyrid. Participou na importante exposição Phases, Surrealismo e Contemporaneidade (São Paulo – 1997). Participou na mostra colectiva Sonâmbula, Inconscientes para una Geografia Onírica na Fundação Eugénio Granell (Santiago de Compostella, 2007) onde teve também exposições individuais (“Carribean Jungle”, em 2005 e “Birdsong” em 2007 e “Humid Landscapes”). Expôs no Porto na Fundação José Rodrigues (A Bigorna e o Anjo, 2007), no espaço cultural CAE na Figueira da Foz (Constelação Rikliana, 2010) e em Famalicão no Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda (2015). Colaborou recentemente em A Phala, Hydrolith, The Annual e Debout Sur l’Oeuf, entre muitas outras revistas do movimento surrealista. Reparte a sua vida entre Figueira da Foz e Amesterdão.

Rik Lina lived and worked on different continents, preferably in wild nature, as a way of life using Odilon Redon’s sentence: “Immerse yourself into nature!”. For this he dedicated life and art to study the deserts, the mountains, tropical rainforest and coral reef jungles. In 1975, emigration to the Caribbean island of Bonaire became an essential experience for his work with more than a thousand hours of scuba-diving. A major part of his drawing, painting and graphic work represents poetry and life of the deep oceans. After studies at the Rietveld Academy of Amsterdam (1961-1966) he made countless individual and collective international exhibitions. In 1968 he made contact with the surrealists by the “Brumes Blondes” magazine of Laurens Vancrevel; and joined the “Mouvement Phases” of Edouard Jaguer since the 1972 exhibition in Peru: “Homage to César Moro” resulting in his friendship with Portuguese artists Artur Cruzeiro Seixas and Mário Cesariny. Founder of the anarchist/surrealist magazine “Droomschaar” (1990-1994) and the CAPA-collective (1990-2016), during the last ten years Rik Lina participated in the surrealist poetical magazines Debout sur L’Oeuf, A Phala, Hydrolith, Soapbox, The Annual and Peculiar Mormyrid, and showed his work in Spain at the Fundación Eugenio Granell: “Carribean Jungle” 2005 and “Birdsong” 2007 and “Humid Landscapes” in Santiago de Compostela; and in Portugal (among others) at the Fundação José Rodrigues in Oporto: “The Anvil and the Angel” 2009; “Constellation Riklina” at the cultural center CAE in Figueira da Foz 2010; “Jungles” at the municipal museum of Espinho in 2011; and “Imaginative Configurations” in Famalicao, at the Center of surrealist studies of the “Fundação Cupertino de Miranda” in 2015. Since 2007 he divides his life between Figueira da Foz and Amsterdam.


97 RIK LINA

ENTER THE RACOON | 2012 28x02 cm

Depoimento do artista | Artist Statement Como pintor utilizo diariamente esta grandiosa técnica surrealista. A corrente interminável de imagens que flui pelo estúdio não pode ser interrompida. Assim, para mim, a collage é algo (de) natural, é parte integrante do trabalho, e dá-nos um olhar sobre o mundo libertando-nos das imagens de percepção imediata. É a alquimia do acaso e, nas palavras de Gaston Bachelard: “Sem um encontro inesperado de imagens, não há imaginação, não há acção imaginativa”.

As a painter I am using this pre-eminent surrealist technique every day. The never-ending stream of images flowing through my studio cannot be interrupted. So for me collage is something natural, it is part of the work, and gives us a regard on the world liberating us from the immediate images of perception. It is the alchemy of chance, and in the words of Gaston Bachelard: “Without an unexpected union of images there is no imagination, no imaginative action”.

Catálogo | Catalogue Enter the Racoon, 2012 | 28x02 cm Exposição | Exhibition Enter the Racoon, 2012 | 28x02 cm Spare Moments, 2001 | 38x26 cm Ligeia (homage to Edgar Allan Poe), 1998 | 30x25 cm Mohusai, 1996 | 32x24 cm



SEIXAS PEIXOTO


SEIXAS PEIXOTO N. 1960 | Porto

SEIXAS PEIXOTO

100

Conta com 60 exposições individuais, mais de 100 coletivas, algumas esculturas públicas, presença em bienais e performances de pintura. Está representado em diversas coleções particulares e de organismos públicos nacionais e estrangeiros. Em 2015 completou 30 anos de carreira artística. É membro fundador do Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism. Ligado ao movimento surrealista, expôs em Reverso do Olhar (Coimbra, 2008), Iluminações Descontínuas (Amadora, 2008), A Voz dos Espelhos (Lagoa, 2009), London Surrealist Festival (UK, 2008), El Umbral Secreto (Valparaiso, Chile, 2009), Toward the World of the Fifth Sun (Reading, 2012), Little Boy Blue (Aveiro, 2016), Faróis de Sangue (Coimbra, 2016), Renegados da Baixa - Museu Temporário de Memórias (Coimbra, 2016). Colaborou nas revistas DEBOUT SUR L’OEUF, DERRAME, A PHALA e ainda para o Almanaque do Movimento Surrealista Internacional Ce qui sera – What will be – É o que será. Publicou poemas e imagens em “ Lugares Sombras e Afectos” (2005) , “Solstício de dezembro”(2014), “Little Boy Blue” (2015). Vive em Coimbra.

Seixas Peixoto has done 60 individual exhibitions, more than 100 colectives exhibitions and a small number of public sculptures. He has participated in biennals and painting performances. He is represented in several private and public collections, both national and foreign. In 2015 he reached the 30th year of his career in Art. He is a founding member of Cabo Mondego Section of Portuguese Surrealism. He took part in the following exhibitions: Reverso do Olhar (Coimbra, 2008), Iluminações Descontínuas (Amadora, 2008), A Voz dos Espelhos (Lagoa, 2009), London Surrealist Festival (UK, 2008), El Umbral Secreto (Valparaiso, Chile, 2009), Toward the World of the Fifth Sun (Reading, 2012), Little Boy Blue (Aveiro, 2016), Faróis de Sangue (Coimbra, 2016), Renegados da Baixa Museu Temporário de Memórias (Coimbra, 2016). He participated in the magazines DEBOUT SUR L’OUF, DERRAME, A PHALA and also in the Almanach of the Surrealist Mouvement Ce qui sera – What will be – É o que será. He published his poems and images in “ Lugares Sombras e Afectos” (2005), “Solstício de Dezembro”(2014), “Little Boy Blue” (2015). He lives in Coimbra.

Depoimento do artista | Artist Statement Fala-se então do que os meus olhos vêem.

Let us talk then of what my eyes see.

Bate-se à porta. Abraça-se o mundano mundo. Escopro erecto saído do peito esculpindo almofadas em espelhos de ouro em busca de catalogados tempos de Monsieur B. Mas … da sua alma.

We knock at the door. We embrace the worldly world. An erected chisel drawn from the chest, sculpting pillows over golden mirrors in search for Monsieur B’s catalogued times. But… from his soul.

Catálogo | Catalogue IMPORTACULISMO I, 2016 (almofada em madeira) | 22x28 cm Exposição | Exhibition IMPORTACULISMO I, 2016 (almofada em madeira) | 22x28 cm IMPORTACULISMO II, 2016 (almofada em madeira) | 22x33 cm IMPORTACULISMO III, 2016 (almofada em madeira) | 22x33 cm IMPORTACULISMO IV, 2016 (almofada em madeira) | 45x22 cm


101 SEIXAS PEIXOTO

IMPORTACULISMO I | 2016 (almofada em madeira) 22x28 cm



SERGIO LIMA


SERGIO LIMA

N. 1939 | Pirassununga, Brasil Desde 1955 encontra-se envolvido com o cinema e o surrealismo. Participa dos primeiros anos da Cinemateca Brasileira (1957-1966) e do movimento surrealista do grupo parisiense no café La Promenade de Vénus. Tem as suas primeiras collages reunidas no álbum As Aventuras da Máscara Negra (1957/58), collages estas que retoma nas suas exposições individuais 1971-1976 e 1978 (São Paulo) e publica em 1984 o grandioso ensaio Collage... em nova superfície. Mais recentemente publicou O Olhar selvagem – o cinema dos surrealistas (2008), o segundo tomo da cronologia crítica A Aventura Surrealista (2010; está no prelo o seu terceiro tomo 1921-1930) e O rasgo absoluto – livro de bolso da collage (2016).

He has been involved in cinema and Surrealism since 1955 . He took part in the first years of Cinemateca Brasileira (1957-1966) and in the surrealist mouvement group at the cafe La Promenade de Vénus. His first collages are gathered in the album As Aventuras da Máscara Negra (1957/58), which he again uses in his individual exhibitions (1971-76 and 1978 (São Paulo). In 1984 he publishes the great essay Collage … em nova superfície. He has recently published O Olhar selvagem – o cinema dos surrealistas (2008) and the second volume of the cronological essay A Aventura Surrealista (2010; the third volume 1921-1930 is in press) and O rasgo absoluto – livro de bolso da collage (2016).

Depoimento do artista | Artist Statement SERGIO LIMA

104

NOTAS SOBRE A COLLAGE, ESSE MAIS-ALÉM DA PINTURA Meses atrás o diretor de um importante Instituto de Arte em Berlim, deparou-se com um questionamento sobre a collage, colocado pelo Diretor do Departamento de Artes Plásticas. Sua resposta foi rápida: “Collage é dos anos 20!”. E a réplica também: “Perdão, mas penso que o senhor está equivocado. Sua linguagem de ruptura permanece além do formal e é uma das que mais atravessam a nossa atualidade”. “Faits divers”, carta do arquivo de Vilen Flusser/ Berlim de Maio 2013. A collage desenvolveu a sua vocação de escândalo e se faz presente hoje em vários suportes. Sempre uma linguagem radical de choc, uma linguagem plástica específica do Surrealismo. Embora confundida por generalizações gráficas, dos papiers collés cubistas e outras, nem por isso a collage deixou de ser única e singularmente transgressora, linguagem da beleza convulsiva da imagem. A linguagem perversa por definição. Pois, como o próprio movimento, atravessou todo o século XX e se tornou largamente vista. Inclusive na sua prática de subverter os limites da representação, da pintura e da fotografia. Enquanto que para Louis Aragon, “collage é um desafio à pintura”, para o seu creador Max Ernst, expressamente, “collage é o maisalém da pintura”.

Pode-se sinalizar seus pontos de partida tanto no “belo como” quanto nas “iluminações” dos poetas, vindo a fixarse decisivamente na seguinte máxima bem conhecida: “A imagem é uma creação pura do espírito. Ela não pode nascer de uma comparação, mas da aproximação de duas realidades mais ou menos distantes entre si.” Tanto mais as relações de duas realidades justapostas serão longínquas e contudo justas, mais a descoberta da imagem será forte, mais ela terá poder emotivo e realidade poética, como conclui Pierre Reverdy. A imagem, sublinho portanto, não pré-existe à sua revelação. A imagem é um acontecimento. Não se trata de uma figura de metáfora ou de similitude, nem da simples comparação, mas sim do choc de duas realidades, da conjunção de suas diferenças gerando uma terceira ou uma mais-realidade que se chama imagem. Portanto, o relâmpago da conjonctio oppositorum provocado pelas diferenças de dois corpos gera um terceiro, um fascínio. Entre outros nomes decisivos a respeito da collage, a colocação de Bellmer já sinalizava que a constatação ou identificação de algo, um mero retrato é pois fatal para a imaginação. Por exemplo, quando uma perna é só uma perna, não há sonhação/rêverie e tampouco sua transformação em maisrealidade. O que nos leva a dizer que a collage não se ocupa da perna porém, isso sim, da sua sonhação, da sua imaginação como excesso, como o mais-querer do desejo que se estende no desejo-desejante. Collage é arte da descontinuidade e não um mosaico. Collage apresenta a imagem em abismo.


NOTES ON COLLAGE, THAT BEYOND PAINTING Months ago the head of an important Art Institute in Berlin, when questioned about the collage by the director of the Department of Fine Arts, answered swiftly: “Collage is from the 20’s!” To which the latter replied: “I believe you are mistaken, sir. Its rupture language goes beyond the formal and it is utterly up-to-date”. “Faits divers”, letter from Vilen Flusser’s archive/ Berlim May 2013. The collage has developed his vocation of scandal and it reveals itself today in many forms. A radical language of choc at all times, a plastic language specific to Surrealism. Even though confounded by graphic generalizations, from cubist “papiers collés” to others, collage has always been transgressive in a singular way, the language of convulsive beauty. A perverse language by definition. Like the movement itself, it got across the whole XXth century being widely spread, including in its practice of subverting the limits of representation, painting and photography. While for Louis Aragon, “collage is a challenge to painting”, for its creator Max Ernst “collage is the beyond painting”. We can set its

starting points at the as gorgeous as, as much as in the enlightments of the poets, clearly ending in the following wellknown maxim: “An image is a creation of the spirit. It does not rise from a comparison but from the approximation of two different realities, more or less apart”. The more relationships between two juxtaposed realities are apart, the stronger the discovery of the image will be , the greater its emotional power and poetic reality, as Pierre Reverdy concludes. An image does not precede its revelation, I say. An image is an event. It is neither a metaphor nor a comparison , it is the choc between two realities, the conjunction of their differencs which generates a third one, a bit more reality we call image. For that reason, the lightining of the conjonctio oppositorum caused by the differences of two bodies generates a third one, a dazzlement. Among other names relevant to collage, Bellmer’s collocation already stated that the identification of reality, a mere portrayal, is thereupon fatal to imagination. For instance, when a leg is only a leg, there is no dreaming/ rêverie, let alone its transformation in a bit more reality. What brings us to say collage does not deal with the leg, rather with its dreaming, its imagination as an excess. Collage is the art of discontinuity, not a mosaic. Collage presents the image in abyss.

Catálogo | Catalogue Sem título, sem data 48x70 cm Exposição | Exhibition Sem título, sem data 48x70 cm La promenade des Misses, 2016 32x21 cm Nefertiti e o Hieróglifo da Tour Abelie, 2016 33x25 cm

SERGIO LIMA

SEM TÍTULO 48x70 cm

105



CABO MONDEGO SECTION OF PORTUGUESE SURREALISM


CABO MONDEGO SECTION OF PORTUGUESE SURREALISM

CABO MONDEGO SECTION OF PORTUGUESE SURREALISM

108

Por ocasião da exposição colectiva A Voz dos Espelhos na Amadora em 2008, dois poetas e dois pintores decidiram iniciar actividades colectivas centradas no automatismo. Miguel de Carvalho e João Rasteiro, Rik Lina e Seixas Peixoto denominaram este “grupo” com o topónimo dado pela proximidade de um cabo, conhecido há muito pelo farol que nele se encontra e que ilumina o caminho aos navegadores nocturnos. Pouco tempo depois, juntaram-se pintores amigos de cidades vizinhas tais como Luiz Morgadinho e Pedro Prata com os quais se realizam com regularidade encontros destinados à produção de colectivas de pintura automática em locais abandonados, zonas florestais da Serra da Boa Viagem ou urbanas de que a título de exemplo se refere os claustros de uma igreja na Nazaré. Também realizam performances nas inaugurações de exposições quando aí se reúnem amigos pintores ou poetas. Alguns estão agora representados nesta exposição como Sergio Lima, Gregg Simpson, Jan Giliam, David Coulter. Será possível afirmar-se que a última collage poderá ser realizada pela acção conjunta de diversos criadores? O colectivo é bastante activo hoje em dia, sendo esta exposição o testemunho disso mesmo. Nos últimos dois anos juntaram-se novos amigos criadores às actividades tais como Cristina Vouga, Alberto Assumpção e Alexandre Magno que, em breve terão já nova acção colectiva agendada com os artistas convidados desta exposição vindos da Holanda, dos EUA e da França nas conhecidas grutas regionais Buracas de Casmilo, numa serra situada relativamente perto das Ruínas Romanas de Conímbriga e assim dar continuidade à aventura das cores nas investigações aleatórias da surpresa.

In 2008 during the surrealist exhibition “A Voz dos Espelhos – The Voice from the Mirror” in AmadoraLisboa, two poets and two painters decided to start a workshop in collective automatism. Miguel de Carvalho and João Rasteiro – Rik Lina and Seixas Peixoto named this group after the cape, famous for ages by international sailors as a beacon on the Portuguese coast. Soon they were joined by several painter-friends from other cities, like Luiz Morgadinho and Pedro Prata, in these experiments, which are often carried out in deserted places in the country, like the Serra Boa Viagem - or in the city, like an empty church-hall in Nazaré. They started also to make performances during the openings of their personal or collective exhibitions, often joined by visiting friends, painters or poets from abroad. Several are present in this exhibition: Sergio Lima, Gregg Simpson, Jan Giliam, David Coulter. Isn’t it possible to say that the ultimate collage could be the one made by several creators? The collective is active full speed today, in a way this exhibition being a sign of this, and several other Portuguese painters joined during the last year, such as Cristina Vouga, Alberto Assumpção, Alexandre Magno, they shall come together, a couple of days after the opening, in the caves of Casmilo close to the old Roman city of Conímbriga, again joined by several artists-friends, this time from Holland, USA and France, to continue this colorful adventure in random investigation and wonderful surprise. Catálogo | Catalogue The Lusiadas Egg, 2010 | 80x60 cm Exposição | Exhibition The Lusiadas Egg, 2010 | 80x60 cm Red Shoe in Gold Flame, 2010 | 50x65 cm Devil’s Music, 2010 | 70x50 cm

[Luiz Morgadinho, Marta Peres, Miguel de Carvalho, Pedro Prata, Rik Lina, Seixas Peixoto]


109

CABO MONDEGO SECTION OF PORTUGUESE SURREALISM

THE LUSIADAS EGG | 2010 80x60 cm



CAPA

[Collective Automatic Painting Amsterdam]


CAPA

[Collective Automatic Painting Amsterdam] 1990-2016 [Jan Giliam, Rik Lina]

CAPA | COLLECTIVE AUTOMATIC PAINTING AMSTERDAM

112

Por iniciativa de Rik Lina (Holanda), em conjunto com os amigos pintores provenientes do Chile, Jorge Leal Labrin e Fredy Flores Knistoff, em Paris, no ano de 1990, fizeram de Amesterdão o lugar onde rapidamente se juntaram os pintores Miguel Lohlé da Argentina, Dave Bobroske e Paul Goodman ambos do Canada e, por fim, Gerda van der Krans, Geert van Mulken e Jan Giliam da Holanda. Muitos outros pintores de outras nacionalidades juntaram-se para trabalhar com o colectivo nos anos seguintes. Muito próximo dos ateliers de cada um, todos eles se encontravam semanalmente para explorar as possibilidades da pintura colectiva, entre 1991 e 1997, tendo resultado em diversas exposições e performances pela Europa. A última exposição decorreu no Brasil por ocasião da grande mostra do Movimento Phases “Surrealismo e Contemporaneidade” (São Paulo, 1997). O grupo separou-se e deu lugar a outros quatro novos colectivos em Berlim, Santiago do Chile, Bruxelas (agora mudou-se para a Costa Rica) e Amesterdão, sendo este último grupo o que continua as suas investigações até à actualidade.

Catálogo | Catalogue Dragon-coat, 2012 | 67x90 cm Exposição | Exhibition Dragon-coat, 2012 | 67x90 cm Incharted Territory, 2015 | 50x75 cm Cracked Cosmos, 2013 | 50x35 cm

An initiative of Rik Lina(Netherlands), together with his Chilean painter-friends Jorge Leal-Labrin and Fredy Flores Knistoff in Paris, 1990, found a home for many years in Amsterdam, there soon to be joined by Argentinian painter Miguel Lohlé, Canadians Dave Bobroske and Paul Goodman, and the Dutch sculptor Gerda vander Krans, graphic artist Geert van Mulken, and painter Jan Giliam. Many visiting artist-friends from other countries worked together with them during the years. Next to their own creative work they met almost every week to explore all possibilities of the painterly collective during the years 1991-1997 making many exhibitions and performances all over Europe, the last one in Brazil at the Mouvement Phases exhibition “Surrealismo e Contemporaneidade” in São Paulo 1997. The group bifurcated into four others: Berlin –Santiago de Chile – Brussels (later Costa Rica) Amsterdam, the last continuing its research till today.


113

CAPA | COLLECTIVE AUTOMATIC PAINTING AMSTERDAM

DRAGON-COAT | 2012 67x90 cm



CORNUCOPIA


CORNUCOPIA [Gregg Simpson, John Welson, Rik Lina]

AUTOMATISMO COLECTIVO PELO CORREIO

COLLECTIVE AUTOMATISM BY POST

A diferença entre a espontaneidade da pintura colectiva automática e realizá-la por correio (ou seja: o trabalho pára, é enviado ao autor seguinte que o transforma e envia ao seguinte, etc.) consiste no factor tempo. Tem-se assim tempo para contemplar o trabalho antes de intervir, algo que não é possível nos processos de pintura automática, onde todos os pintores trabalham juntos e ao mesmo tempo. O resultado mostra isto mesmo: as diferentes mãos estão muito mais à mostra, como se os pintores estivessem muito mais à vontade em contraste com o sentimento de caos que ostenta a maioria das obras de pintura colectiva automática. A noção do acaso é menos destacada, contudo as interferências aleatórias são fortes. Talvez isto tenha a ver com a escolha dos materiais ou a combinação das cores sobre os quais o pintor tem mais tempo para reflectir. Para mim, é sempre uma grande surpresa olhar para trás para uma obra que eu comecei antes do tratamento do pintor anterior e que o modificou radicalmente. À semelhança do conjunto de “processos de composição instantânea” do freejazz, é completamente impossível fazer sozinho um trabalho como este. Os três pintores John Welson, Gregg Simpson e Rik Lina iniciaram esta experiência em 2010.

The difference with spontaneous collective automatic painting, and doing this by post (meaning that the work is started - is send on to the next painter - who changes it and send it on again to the next - etc.) is the aspect of time. One has the time to contemplate the work before making changes, something not possible in the automatic painting process where all painters work together in the same place and at the same time. The results show this: the several “hands” are often much more visible, it is as if the painters are more at ease, in contrast with a certain feeling of chaos that most works by collective automatism possess. The notion of chance is less prominent, although the random interferences may be as strong. Maybe this has to do with the choice of materials or colorcombinations upon which the painter has more time to reflect. For me it is always a big surprise to look back at a work that I started after the treatment it went through by the others to change beyond recognition. It has this in common with the collective “instant-composingprocesses” of free-jazz music: that it is absolutely not possible to make a work like this on your own. The 3 painters John Welson – Gregg Simpson – Rik Lina started this experiment in 2010.

(em torno de Cornucópia)

CORNUCOPIA

116

(about Cornucopia)

Catálogo | Catalogue Holy Smoke, 2014 | 27x29 cm Exposição | Exhibition Holy Smoke, 2014 | 27x29 cm Moth Myth, 2016 | 21x45 cm Chateau Lacoste de Marquis de Sade, 2014 | 21x15 cm


117 CORNUCOPIA

HOLY SMOKE | 2014 27x29 cm




PARTICIPANTES

ALBERTO ASSUMPÇÃO | Portugal ARNOST BUDIK | República Checa CRISTINA VOUGA | Portugal DAVID COULTER | EUA FLORENT CHOPIN | França GIORDANO BRUNO | Espanha GREGG SIMPSON | Canada GUY DUCORNET | França GUY GIRARD | França JAN GILIAM | Holanda JEAN-PIERRE PARAGGIO | França JOHN RICHARDSON | Inglaterra JOHN WELSON | Inglaterra JORGE LEAL LABRIN | Chile KATHLEEN FOX | África do Sul LOU DUBOIS | França LUIZ MORGADINHO | Portugal MIGUEL DE CARVALHO | Portugal PEDRO PRATA | Portugal RICHARD MISIANO-GENOVENSE | EUA RICHARD WAARA | EUA RIK LINA | Holanda SEIXAS PEIXOTO | Portugal SERGIO LIMA | Brasil

CABO MONDEGO SECTION OF PORTUGUESE SURREALISM CAPA [Colective Automatic Painting Amsterdam] CORNUCOPIA


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.