LEQUES - A Arte da Sedução

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leques a arte da sedução COLEÇÃO DO MUSEU MUNICIPAL SANTOS ROCHA



leques a arte da sedução


exposição

catálogo

título leques - a arte da sedução

título leques - a arte da sedução

Organização Município da Figueira da Foz Divisão de Cultura - Museu municipal santos rocha

Propriedade e Edição Município da Figueira da Foz

Coordenação Margarida Perrolas curadoria Anabela Bento gestão de coleções Ana Margarida Ferreira conservação e restauro Ana andrade, Eva armindo, salvarte Apoio Técnico Carlos batista , José Santos Silva luísa matias, Marco Penajoia Maria José Gomes, Rodrigo Pinto Rosa Bela Silvano , Rosário Fadigas fotografia arquivo fotográfico municipal da figuiera da foz Divulgação Natércia Simões

coordenação Margarida Perrolas coordenação editorial Anabela Bento textos Anabela Bento, ana andrade, eva armindo, SalvArte fotografia paulo matos | arquivo fotográfico municipal eva armindo, pág. 126 eduardo oliveira design e composição Eduardo Oliveira produção gráfica OFFSETARTE - ARTES GRÁFICAS, LDA Tiragem 300 ex. novembro 2018 Depósito legal ISBN 978-989-8903-31-0


índice

05 06 08 12 19 21 31 39 53 73 87 113 129 149

mensagem abertura Leques - a arte da sedução Glossário catálogo anatomia e tipologia origens oriente natureza império história e sedução belle Époque conservação e restauro memória da exposição


leques a arte da sedução

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Mensagem


LEQUES: NAS ASAS DA SEDUÇÃO, VOANDO PELA HISTÓRIA

Reza a lenda que quem primeiro inventou o leque, num Oriente então ainda longínquo, ter-se-á inspirado no bater das asas de um pássaro e no suave vento que este movimento produz. Terá sido esta origem a determinar que, ao longo dos séculos, este adereço utilitário, usado sobretudo por mulheres, e de que esperamos alívio em momentos de calor, nunca deixasse de transportar consigo uma aura de leveza, sedução, beleza e até mistério.

O próprio António dos Santos Rocha ter-se-á dado conta da multiplicidade de significados e histórias que um simples leque pode abrir, ao incorporar estes objetos nas primeiras coleções do Museu Municipal.

Olhar estes leques é viajar no tempo, é encontrar nos motivos que os decoram o pulsar de tempos diferentes e as leituras das realidades de então. Fazê-lo sem nostalgia é um desafio que não importa vencer.

O Presidente da Câmara Municipal

Dr. João Ataíde

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Os exemplares que agora o Museu Municipal Santos Rocha, no âmbito do seu 125º Aniversário, apresenta, dão bem conta da dedicação, criatividade e perfecionismo que os criadores de leques colocavam em cada um, sabendo de antemão a capacidade destes artefatos virem a guardar muitas memórias e a passar de geração em geração, como, numa adaptação livre do poema de Manuel Alegre, prova do vento, e do tempo, que passa.

Nesta exposição podemos apreciar leques com mais de 300 anos, que refrescaram, ocultaram o rubor ou disfarçaram a sedução de mulheres que viveram no tempo das avós das avós das avós das nossas avós… quando estas eram jovens.

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abertura Existiria desafio maior a lançar à equipa do Museu Municipal Santos Rocha do que resgatar das reservas do Museu “velhos leques históricos” pondo-os em relevo, dando-lhes novas leituras e contextos, promovendo a sua valorização? Uma viagem por mais de trezentos anos de arte que permite uma abordagem a objetos raramente mostrados, contextualizando razões, entre emoções e sensibilidades artísticas. A génese da coleção de leques do Museu Municipal teve início com a sua fundação – 1894 – demonstrando o valor histórico e artístico que Santos Rocha lhe reconheceu e permitindo, hoje, uma nova leitura sobre estes objetos de tempos remotos, mas que fazem parte do nosso imaginário. Dependendo da época e lugar de origem, os leques podem assumir diversas formas e decorações, incorporando ou retomando novas funções. Havia-os em folha ou disco, plissado, franzido e em forma de bandeira ou ventoinha; de plumas, penas, papel; em marfim, madrepérola e tartaruga, muitas vezes esculpido, perfurado e ornamentado com prata, ouro e pedras preciosas e com folhas que passaram a ser, também, alvo de

tratamento de excelência, pintadas por artistas de renome. O seu valor ainda é maior ao agregar a esta valência artística, aspetos capazes de relacioná-lo a uma determinada cultura do passado. Como elemento comunicador, que representa um suporte de memória e significado das tradições e costumes de uma época, o leque é um objeto museológico que importa manter, recuperar e expor. De carácter meramente funcional, o leque alcança ao longo dos tempos variadíssimos papéis: de simples souvenir de viagem, artístico ou romântico, ele assume também um cunho político, publicitário e comemorativo. Em meados do século XX, quando começa a cair em desuso, torna-se objeto de coleção. Os exemplares da coleção reunida no Museu são verdadeiras obras de arte, objetos de desejo e sedução que retratam temas do quotidiano, mitos ou paisagens. A exposição exibe cerca de oitenta leques, muitos deles nunca antes expostos ao público, apresentando os elementos da sua anatomia e as diferentes tipologias. Porque expor uma coleção é apenas a “ponta do iceberg”, ela traz consigo, também, a questão da salvaguarda e da preservação desses mesmos objetos. As decisões entre expor ou guardar (em reserva) sempre suscitaram discussão.


Nesta exposição, conciliou-se, de forma responsável, a decisão de conservar e expor, estabelecendo-se um permanente diálogo entre os profissionais das duas áreas. Foram, igualmente, implementadas medidas de conservação e restauro que permitiram a salvaguarda destes objetos culturais, assegurando a sua acessibilidade às gerações atuais e futuras, respeitando o seu significado e as suas caraterísticas. O trabalho da equipa do Museu Municipal é sempre um misto de arte, ciência, pesquisa, estudo, dedicação e paciência. Com um grande espírito de missão, esta equipa rege-se por um elevado sentido do dever e respeito para com os objetos museológicos. Só assim o Museu cumpre a sua função de preservar bens culturais, reforçando a sua memória dentro do seu acervo.

“Leques – A Arte da Sedução” surge, então, como: Uma expressão de vaidade pelos objetos que cuidamos e que habitam as reservas do nosso Museu Municipal; Um desejo da validação pelo público da importância de uma coleção capaz de transmitir sentimentos e emoções, despertando memórias e valores de outros tempos; Um desejo altruísta de partilha de uma coleção ímpar, fonte de conhecimento e cultura; Um ato de confiança ao nosso público permitindo que se aproprie da narrativa da coleção e que esta ganhe, assim, uma nova dimensão pública. Pelas mãos dos curadores, a coleção escreve uma nova história. Aos olhos do público, muitas outras surgirão... Margarida Perrolas (Chefe da Divisão de Cultura)

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Um leque antigo, por si só, possui uma importância histórica que justifica plenamente a sua correta preservação e, quando necessário, o seu restauro.

Ficam, assim, bem evidentes as razões que nos levam a expor uma coleção como esta.

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«Leque: pequeno abano que se traz na mão em tempos calmosos para com o seu movimento agitar, e refrigerar o ar. He vocábulo da Asia chineza, e nós conjecturamos que nos veio das ilhas Lequias, aonde se fabricavão excelentes abanos. Em Ormuz, e outras partes da Persia corria huma moeda com o nome de leque.»1

A génese do acervo de leques do Museu Municipal remonta à sua fundação, 06 de maio de 1894, tendo sido o próprio António dos Santos Rocha, no “Catálogo Geral do Museu Municipal da Figueira da Foz”, em 1905, a registar a incorporação dos primeiros exemplares, informando que “N’Este catálogo geral seguimos a ordem que nos pareceu mais conforme com as indicações da sciencia.”2 Facto que nos permite concluir que o fundador deste Museu teve a clara noção de que o leque se incluía na categoria dos objetos museológicos, coadunando-se com a ideia de que estes, fruto da criação humana, estão imbuídos de significados e de história, encerrando em si inequívocos indícios da vivência das sociedades, permitindo-nos vislumbrar os seus modos de vida, a sua cultura e descodificar saberes ancestrais. Do mesmo modo que, ao integrar os leques no espólio fundacional do Museu Municipal seria, certamente, conhecedor do valor artístico destes suportes criativos onde se retratam, entre outros, momentos históricos, cenários bucólicos, cenas do quotidiano oriental e ocidental, trajes e hábitos coevos de outrora. Desde épocas imemoriais que este objeto, de uso pessoal, faz parte do imaginário quotidiano, sendo reproduzido pelas mais variadas formas de arte e descrito na literatura,

perpetuando-se na memória coletiva. Instrumento versátil que tão bem soube conjugar a expressão artística com a multiplicidade de funções, não obstante a sua natureza primária ser a de refrescar, agitando o ar, foi utilizado para afastar insetos, espevitar o lume, ocultar olhares indiscretos, como acessório de moda, como forma de comunicação e, indubitavelmente, na arte da sedução, “(…) dando corpo a considerável variedade de códigos de linguagem protocolar, amorosa, ou lúdica – como verdadeiro telégrafo de cupido, desafiando a rigidez de costumes, (…) nos salões aristocráticos dos seculos XVIII e XIX.” 3 Se no Oriente o leque revelava o prestígio de um oficial, era usado como arma, ou na corte imperial, no Ocidente converteu-se num indispensável adereço da moda feminina, símbolo de elegância e recato, e um precioso arauto do estatuto social da sua portadora. Na verdade, “Há tantos modos de se servir de um leque que se pode distinguir, logo à primeira vista, uma princesa de uma condessa, uma marquesa de uma plebeia. Aliás, uma dama sem leque é como um nobre sem espada.» 4 Peças exóticas que se ocidentalizaram, e a que não é alheio o significativo papel dos portugueses que as importaram em grande número, através das rotas comercias com a

1 “Glossario de Vocabulos Portuguezes Derivados Das Linguas Orientaes e Africanas, Excepto A Arabe”, por D. Francisco de S. Luiz, Bispo Reservatario de Coimbra, Conde de Arganil, Socio da Academia Real das Sciencias, etc., Lisboa, 1837, p. 63. 2 Rocha, António dos Santos, “O Museu Municipal da Figueira da Foz – Catálogo Geral”, Figueira da Foz, 1905, p. 2. 3 Pinto, Paulo de Campos, “Ensaio sobre leques comemorativos portugueses”, Revista de Artes Decorativas, nº 3,

Universidade Católica Portuguesa, Porto 2009, p.124. 4 Frase proferida, a respeito do leque, por Madame de Stäel (1766-1817), romancista, crítica literária e ensaísta francesa.


Palco de uma intensa atividade cultural e recreativa, a Rainha das Praias de Portugal viveu, à data, o seu período áureo, tendo em pleno funcionamento seis casinos, animatógrafo e diversos teatros; organizavam-se passeios lúdicos, reuniões sociais, tertúlias, bailes e soirées, numa agitada vida social em que as veraneantes primavam pela elegância dos seus trajes e, decerto, ostentavam os mais requintados leques. Efetivamente, o núcleo inicial foi sendo enriquecido e aumentado, por meio de doações e legados5 de ilustres famílias figueirenses, ou com ligações à cidade. Aquando da nossa abordagem inicial a este acervo, imediatamente intuímos que possuía assinalável qualidade, não só no contexto patrimonial e histórico, como também no artístico e no iconográfico. Devidamente acondicionados em reserva, os leques, na sua totalidade, nunca haviam sido exibidos, somente alguns exemplares, conforme folha de sala, figuraram na Sala de Traje6, aberta em 1984 e encerrada em 1994. Encetámos, então, a tarefa de analisar este espólio museológico e de estudar a temática do leque, com o intuito de o expor para fruição do público – o conhecer e o dar a conhecer. Deste modo, e no âmbito das comemorações do 125º Aniversário do Museu Municipal Santos Rocha, propusemo-nos expor, pela primeira vez, estas delicadas peças, apresentando uma seleção representativa de cerca de oitenta leques, tendo em conta, por um lado, o seu estado de

5 Coleção de Leques do Museu Municipal Santos Rocha - Legados, Doações e Depósitos: 1894 - António dos Santos Rocha, José António de Souza, Lucrécia Viana Ferreira, Luís de Borja Duarte Santos, Susana Eugénio de Morais Sarmento; 1896 – João Francisco Branco; 1905 - Sociedade Arqueológica; 1940 - Maria Eugénia Ladley Lima; 1945 - Alice Bastos da Costa e Silva Rebelo; 1951 - Maria Elisa Matos Dória Nazaré Santos; 1954 - António Mesquita de Figueiredo; 1967 - Conde de Vinhó e Almedina; 1969 - Edla Santos Cunha; 1970 – Mário Dias Mendes; 1975 – Cristina Torres; 1986 – Ana Maria Xavier Varela Alves; S/data - Eugénia Santos Rocha Fera, Maria da Luz Salinas Calado, Rui Marcelo Gaspar de Lemos Amorim. 6 Pereira, Isabel, “Museu Municipal – Notícia Histórica”, Caderno Municipal Nº 17, Figueira da Foz, 1986, p. 65.

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Ásia, nomeadamente com Macau, contribuindo, a partir do século XVI, para a sua popularidade na Europa. O uso do leque atingiu o seu período áureo durante os séculos XVIII e XIX. Todavia, o advento da Revolução Industrial, o enriquecimento de uma classe média cosmopolita, disposta a consumir produtos e bens, até então apanágio das elites aristocráticas, levou à sua produção em massa e à banalização deste objeto. E, se nas primeiras décadas do século XX foi ainda um acessório de moda por excelência, com a sua gradual democratização deixou de ser símbolo de elevação social, caiu em desuso e perdeu o fulgor de outrora. O leque passou, então, a desempenhar um diferente papel, convertendose num objeto de coleção, reconhecido pela sua importância patrimonial e valor histórico-artístico. Nesta qualidade, paulatinamente, integrou coleções de arte, públicas e privadas, sendo adquirido quer por museus, quer por colecionadores. A coleção de leques do Museu Municipal Santos Rocha reúne, atualmente, cerca de uma centena de exemplares, abrangendo um amplo período cronológico, que vai do século XVII ao século XX. Na formação deste acervo não podemos ignorar que a Figueira da Foz, de finais do século XIX e ao longo das primeiras décadas do século XX, se afirmou como estância balnear atraindo, no período estival, a aristocracia e as mais altas e ilustres elites nacionais e espanholas, que desfilavam pelos locais de sociabilidade.

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conservação, a sua fragilidade e as condições de preservação e, por outro, o seu interesse artístico, originalidade e representatividade. Para a sua concretização foi estratégia deste Museu assegurar o restauro de alguns exemplares, limpeza e estabilização de outros. Essência da nossa cultura e da nossa história, os objetos desta coleção são de diferentes proveniências, executados numa multiplicidade de materiais, de diversas tipologias, com a primazia dos brisé e dos plissados ou de folha dobrada. Quanto às gramáticas decorativas, impera a variedade, retratando momentos histórico-sociais, cenas de género, galantes ou campestres, mitológicas, ocidentais e orientais. Os leques, no seu conjunto, patenteiam um carácter algo eclético pelo que, na nossa abordagem, optámos por os agrupar em unidades formais e ou decorativas, dando a conhecer, em primeiro lugar, os componentes estruturais, identificando as principais tipologias e, de seguida, alguns exemplares que nos remetem para as suas mais remotas origens etnográficas os abanos de fibras vegetais, de penas e de pele. No núcleo consagrado ao Oriente, destacam-se os exemplares provenientes do Japão, importados da China e de Macau, com decoração mandarim, os conhecidos Leques das Carinhas, produtos exóticos muito admirados e cobiçados no continente europeu.

Os pequenos e delicados leques Império, conhecidos como os marotinhos7, suscitaram cuidados adicionais, dada a fragilidade das matérias da sua manufatura, pelo que selecionamos uma amostra de apenas dez, dos cerca de vinte que integram o acervo. Nas folhas destes leques, o papel e a pele deram lugar a delicados tecidos, como a renda, a seda e o tule, sendo ornamentadas com minuciosos bordados, aplicações de lantejoulas e lâminas de metal, sempre em tons dourados. No conjunto dedicado à Natureza predominam aprimoradas decorações florais e vegetalistas, ladeando com a representação de aves, insetos ou outros animais, e o colorido de belas paisagens. Dos figurativos, que nos remetem para idílicas cenas de História e Sedução, minuciosas pinturas ornamentam as suas folhas, umas reproduzindo acontecimentos do reino, outras cenas galantes e de enamorados, em ambientes palacianos e, outras ainda com cenas de género e do quotidiano, cenas campestres, de passeio ou pastoris. Deste grupo, datado do século XVII, destaca-se o mais antigo e um dos mais peculiares espécimes desta coleção, não só pela forma pentagonal das suas palmetas, mas também pelo material em que foram produzidas, mica, mineral resistente e translúcido, utilizado em leques plissados como elemento acessório, contido em pequenas secções, mas que neste leque brisé surge como o componente de eleição. Assinalamos, igualmente, dois outros leques, não menos relevantes, e que assinalam importantes

7 Dantas, Júlio, “O leque arma de guerra”, Illustração Portugueza – Edição Semanal do Jornal O Século, nº 141, Lisboa, 2 de novembro de 1908.


Estando cientes de que no panorama nacional existem notáveis e valiosos acervos de leques, este, que agora se apresenta, não é de somenos importância, na medida em que reúne as principais tipologias, proveniências, temáticas e gramáticas decorativas. Mais do que um acessório indispensável da indumentária feminina, o leque está intimamente ligado à elegância, ao mistério e à arte da sedução.

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momentos histórico-políticos. O leque D. João Príncipe Regente de Portugal (1799), futuro D. João VI, retratado num medalhão central que evoca a sua nomeação como Príncipe Regente do Reino, e o leque com a Alegoria da aclamação de D. Pedro IV de Portugal, Imperador do Brasil, com o Juramento da Carta Constitucional (1826). Este evoca a aclamação do monarca, representado ao centro, ladeado por um Indígena que lhe outorga a Coroa e por uma figura feminina - a alegoria ao juramento da Carta Constitucional de 1826. Deste último, de manufatura oriental, provavelmente Macau, o autor terá sido o pintor Cut Qua ou Sun Qua, que assina a caixa do leque. Ambos se inserem na temática dos leques comemorativos que assinalavam momentos históricos, factos políticos ou acontecimentos marcantes, sendo utilizados pelo poder político com propósitos propagandísticos e de afirmação do poder, principalmente em conjunturas politicamente conturbadas. Por último, a Belle Époque, época propícia à evolução de estilos que refletissem e acompanhassem as inovações da sociedade industrial, a Art Noveau, com a sua exuberância decorativa, formas ondulantes e elegantes e a Art Déco, de linhas estilizadas, geometrismo, e abstracionismo. Neste período, os leques assumem múltiplos estilos e inovadores formatos, decorrentes da invenção e aplicação de novos e mais baratos materiais. São agora mais ousados, e mesmo extravagantes, tal como as temáticas decorativas das suas folhas.

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Glossário ABANO

CARTELA

ANVERSO

COLO

Objeto com que se agita o ar, constituído por um cabo e por um painel plano e fixo que pode apresentar diversas configurações: circular, retangular, oval, entre outras. Designa a face principal do leque - o lado da frente - que, normalmente, ostenta maior riqueza decorativa, revestindo-se de maior importância e visibilidade.

ARGOLA

Forma ornamental, em jeito de moldura ou enquadramento, destinada a receber: uma pintura, uma inscrição, um símbolo, um elemento heráldico ou monograma, ou qualquer outro motivo decorativo. Parte central da armação de um leque, imediatamente inferior à folha, situando-se entre a cabeça e o ombro.

CORNO

Argola, por norma, semiaberta e unida ao rebite do leque.

Material constituído por queratina e utilizado na manufatura das armações de leques, principalmente a partir do século XIX, como imitação de tartaruga.

ARMAÇÃO

FITILHO

BORLA

FOLHA (ou pano)

Estrutura basilar do leque, formada pelas varetas, pelas guardas e pelo rebite. Adorno que se prende à argola do leque, normalmente, em fio de seda.

BRISÉ , LEQUE

Palavra francesa que designa o leque dobrável rígido, composto apenas por varetas e guardas, que por sua vez são unidas por um fio ou fitilho, habitualmente, de seda.

CABO

Pega por onde se seguram os abanos e ventarolas.

CABRIOLET, LEQUE

Designa o leque de folha dobrada ou plissado, que possui duas ou três folhas concêntricas, aludindo à imagem de uma roda de carruagem.

Fio, que une as varetas do leque brisé, regulando a sua abertura. Parte superior do leque plissado ou de folha dobrada, que recebe a decoração, podendo ser simples ou dupla, aplicada à armação e de uma grande variedade de materiais, como papel, pergaminho, couro, tecido, renda, entre outros.

FONTANGE, LEQUE

Leque plissado ou brisé, cujas varetas centrais são mais longas que as laterais, apresentando uma forma elíptica, quando aberto.

GUARDAS

As duas varetas que ficam na extremidade do leque, quando aberto, cumprindo a função de proteção deste, quando fechado. Por norma são mais robustas que as varetas e ricamente decoradas.


LEQUE

Objeto com a função de agitar o ar, transportável e dobrável, composto por um conjunto de varetas e guardas (armação), nas quais é aplicada a folha (ou pano), simples ou dupla.

MANDARIM, LEQUE

Modelo chinês de leque, para exportação, cuja folha ostenta decoração de acordo com o padrão mandarim. Este modelo é também designado por Leque de Carinhas, de Cabecinhas, de Cem Faces ou Mil Faces, dado que os rostos das figuras são pequenas aplicações em marfim e depois pintadas. Com o aumento do comércio de exportação entre a China e a Europa, este modelo tornou-se muito popular durante todo o século XIX.

MICA

Mineral que pertence ao grupo dos silicatos, permitindo a separação em lâminas muito finas, sendo flexível e translúcido. Pelas suas características, esta matéria-prima foi utilizada no fabrico de leques plissados, como elemento acessório, contido em pequenas secções, ou em leques brisé, cujas folhas translúcidas são pintadas e aplicadas na armação.

PALMETAS, LEQUE DE

Leque brisé, formado por folhas individuais, de uma grande variedade de materiais e formatos, que são aplicadas nas varetas da armação.

PENAS, LEQUE DE

Leque brisé, em que as penas de diversas aves (avestruz, pavão, pombo, etc.) são aplicadas nas varetas da armação.

PLISSADO, LEQUE

Composto pela armação e folha plissada, simples ou dupla, aplicada nas varetas. É também designado por leque de folha dobrada.

REBITE

Pequeno cilindro de metal, ou outros materiais, que atravessa o orifício perfurado ao centro da cabeça da armação, de modo a fixar o leque em torno do seu eixo.

VARETAS

Associadas às guardas, compõem a armação do leque.

VENTAROLA

MONTAGEM À INGLESA

VERSO (ou reverso)

Montagem de leque plissado, com folha dupla que oculta as varetas, particularidade da produção francesa de leques. Montagem de leque plissado, de folha simples, ficando a armação visível no verso, particularidade da produção inglesa de leques.

Objeto com que se agita o ar e semelhante ao abano, constituído por um cabo e por um painel dobrável, com formato circular, plissado ou brisé.

Designa a face posterior do leque que, por norma, ostenta menor riqueza decorativa, ou mesmo nenhuma, revestindo-se de menor importância e visibilidade.

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MONTAGEM À FRANCESA

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Fan

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uês

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Inglês

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ês

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おうぎ Árabe

LEQUE

Indonésio

abanico

ανεμιστήρα χεριών

go

Ventaglio éventail

हाथ का पंखा

Kipas Tangan

Gre

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ja

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ês Chin

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Acompanha-me...

Aberto ocultando parte do rosto

Amo-te!

Aberto sobre o coração

Não!

Fechado sobre a face esquerda

Encontramo-nos lá fora...

Aberto mostra lentamente o verso

Gosto de ti!

Aberto junto à face esquerda

Telefona-me.

Fechado junto à orelha direita

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Sim!

Fechado sobre a face direita

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anatomia

folha

remate guardas varetas

colo eixo e rebite


tipologia

plissado

plumas

cabriolet

palmetas

ventarola/ palmeta

cocade

fontange

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brisé

telescópico

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As entradas do catálogo obedecem à seguinte estrutura: Número de ordem Descrição Data Materiais Dimensões em centímentros: comprimento por altura, ou diâmetro Proveniência Doação ou legado Número de inventário Inscrições


catรกlogo



anatomia e tipologia


A

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1AeB Varetas de Leque Cabriolet, Guarda e Contra-guarda Século XIX

Marfim e bambu 32,5 X 18,5 China Nº Inv.: 93-F-066 Nº Inv.: 02-E-051

Todo o leque, em marfim rendilhado, foi ornamentado com diversas cenas do quotidiano chinês e motivos vegetalistas. Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 5002.


B

2

3

2 Guarda ou Contra-guarda de Leque Século XIX

Marfim, vestígios de renda e papel 2 X 8,4 Nº Inv.: 02-E-052

Século XVIII (Final) Marfim, metal, vestígios de tecido 2 X 14,3 Nº Inv.: 02-E-053

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3 Guarda ou Contra-guarda de Leque Estilo Império

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4 Varetas de Leque Século XIX (Final)

Madeira, marfim, vestígios de papel 39,3 X 25 Nº Inv.: 99-E-075


5AeB Caixa de Leque com Motivos Orientais, Florais e Zoomórficos

6A

5A

Século XIX

Madeira, cartão, seda, tinta, metal 26,5 X 7,8 China Doação do Conde de Vinhó e Almedina Nº Inv.: 93-F-059

6B

6AeB Caixa de Leque com Decoração Floral e Zoomórfica

Inscrições: Cut Qua, tendo ainda inscritos três caracteres chineses. Caixa de Leque incorporada no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4983, pertencendo ao Leque com o Nº Inv.: 99-E-101.

Século XIX

Madeira, seda, tinta, metal 33 X 4,5 Macau Nº Inv.: 99-E-101/A

5B

7AeB Caixa de Leque com Embutidos em Marfim Representando Figuras Orientais

Inscrições: nº 11; VOCHON / Faz Leques

Século XIX

Madeira, marfim, seda, tinta, papel 31 X 4,6 Macau Doação de Maria Eugénia Laidley Lima Nº Inv.: 99-E-099/A

7A

7B

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Esta inscrição revela-nos um fabricante oriental, que terá tido uma assinalável produção, porquanto está identificado em diversas coleções e acervo de museus. A caixa pertence ao leque com o Nº Inv.: 99-E-099.

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8AeB Abano com Motivos Florais e Cenas Campestres Século XIX

Madeira, tinta 23 X 35,5 Doação de Eugénia dos Santos Rocha Fera, irmã de António dos Santos Rocha, fundador do Museu. Nº Inv.: 98-E-119

A

B


B

1982

Tecido, madeira, linha 19 X 22,8 Nº Inv.: 98-E-118

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A

9AeB Abano Bordado Comemorativo da Europeade

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A

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10 A e B Folha de Leque Plissado Isabelino com Cenas Galantes e Pastoris 1850

Papel, marfim, madeira, metal 52 X 22 Nº Inv.: 99-E-119


B

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Este modelo popularizou-se durante o reinado de Isabel II de Espanha (1843-1868), sendo largamente produzido em Espanha, mas também em França, de onde era exportado. Habitualmente, a folha é dupla, impressa litograficamente e pintada com profusa decoração, por vezes, as cenas constantes das cartelas são aplicadas pelo método de Découpage, as varetas são largas e ricamente decoradas.

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origens


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11 Abano

Século XX Madeira e penas de alcatraz 27 X 32,5 Legado de Mesquita de Figueiredo Nº Inv.: 12-F-002

12 Abano

Século XX Madeira e penas de alcatraz 16,5 X 42 Doação de Rui Marcelo Gaspar de Lemos Amorim Nº Inv.: 12-F-001 Este tipo de abanos era usado nas povoações do litoral.

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12


13 Abano

Século XIX (Final)

14

Fibra vegetal 18,7 X 24 Timor Nº Inv.: 98-F-031 Abano incorporado no acervo do Museu, em 1900, por António dos Santos Rocha, com o Nº 7104.

Século XIX (Final)

13

Fibra vegetal 14 X 18,3 Timor Nº Inv.: 98-F-032 Abano incorporado no acervo do Museu, em 1900, por António dos Santos Rocha, com o Nº 7105.

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14 Abano

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15 Ventarola Século XIX

Folha de palma e madeira ∅ 24,7 Brasil


Século XIX

Folha de palma e madeira ∅ 51 Brasil

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16 Ventarola

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17 Abano

Século XIX Fibra vegetal ∅ 20 Congo Abano incorporada no acervo do Museu, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4045.


18 Abano

Pele e madeira ∅ 18 Doação de João Francisco Branco Lagos, Nigéria Nº Inv.: 11-F-017 Abano incorporado no acervo do Museu, em 1896, por António dos Santos Rocha, com o Nº 3545.

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Século XIX

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Oriente


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19

Leque Plissado com Paisagem e Motivos Orientais 1815

Madeira, seda, madrepérola, metal 27 X 19 Japão Doação de Edla Antunes dos Santos Cunha Nº Inv.: 99-E-124 Inscrições: De Edla Antunes Cunha / Figueira da Foz


Século XX (Início)

Bambu, papel, tinta 28 X 16 Legado Cristina Torres Japão Nº Inv.: 99-E-080

coleção do museu municipal santos rocha

20 Leque Plissado

41


A

leques a arte da sedução

42

21 A e B Leque Plissado com Motivos Florais e Zoomórficos Século XIX (Final)

Bambu, papel, seda, tinta, metal 51 X 30 Japão Nº Inv.: 99-E-096


B

coleção do museu municipal santos rocha

43


leques a arte da sedução

44

22 A e B Leque Brisé de Penas com Motivos Florais e Zoomórficos

A

1850

Osso, penas de pombo, metal 42 X 25,5 China Nº Inv.: 99-E-115 Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4998.

B


23 A e B Abano com Motivos Florais e Figura Feminina Oriental Século XIX

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 5456.

A

B

coleção do museu municipal santos rocha

Penas de ganso, bambu, seda, madrepérola, metal 25 X 30 China Nº Inv.: 93-F-065

45


A

leques a arte da sedução

46

24 A e B Leque Plissado Decoração Mandarim com Cenas da Vida de Corte e do Quotidiano Chinês Século XIX

Marfim, madeira, papel, seda, latão dourado 52,5 X 27 China Doação do Conde de Vinhó e Almedina Nº Inv.: 01-E-061


B

coleção do museu municipal santos rocha

Este leque é também designado por Leque de Carinhas, dado que as caras das figuras são pequenas aplicações em marfim, sendo as roupas aplicações de seda. Com o aumento do comércio de exportação entre a China e a Europa, este modelo tornou-se muito popular durante todo o século XIX.

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A

leques a arte da sedução

48

25 A e B Leque Plissado Decoração Mandarim com Cenas da Vida de Corte e do Quotidiano Chinês Século XIX

Bambu, papel, marfim, seda, latão 50,5 X 27 China Doação de Maria Eugénia Laidley Lima Nº Inv.: 99-E-099


B

coleção do museu municipal santos rocha

Este leque é também designado por Leque de Carinhas, dado que as caras das figuras são pequenas aplicações em marfim, sendo as roupas aplicações de seda. Com o aumento do comércio de exportação entre a China e a Europa, este modelo tornou-se muito popular durante todo o século XIX.

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leques a arte da sedução

50

A

26 A e B Leque Plissado com Motivos Orientais e Cena de Esgrima Século XIX

Madeira, papel, madrepérola, metal 53 X 30 China Doação de Maria da Luz Salinas Calado Nº Inv.: 99-E-106

A sua originalidade prende-se com o formato assimétrico da folha e do colo.

B


Século XX (Início)

Madeira, papel, latão 38,5 X 21,5 Nº Inv.: 99-E-109 Inscrições: WITH BEST COMPLIMENTS / FROM / POHOOMULL BROS., (INDIA) / MUSEU DE ARTIGOS, / ORIENTAES. / CAIXA POSTAL 31 / BEIRA, A. O. P.

Leque de recordação de viagem ou leque souvenir, muito comum nos inícios do século XX. A firma Pohoomull Brothers importava uma grande variedade de indumentária e acessórios de moda da Índia para os mercados do Mediterrâneo.

coleção do museu municipal santos rocha

27 Leque Plissado com Motivos Orientais

51



natureza


leques a arte da sedução

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28 Leque Plissado com Motivos Florais Século XX (Início)

Osso, madeira, tecido, lantejoulas, tinta, latão 46 X 24,5 Nº Inv.: 99-E-113


1890

Marfim, madeira, crepe de seda, latão 66 X 36 Fábrica d’Éventails, França Doação do Conde de Vinhó e Almedina Nº Inv.: 02-E-044 Inscrições: Almedina

Leque pintado pela Condessa de Vinhó e Almedina, representando diversos motivos florais e o Castelo da Pena, em Sintra.

coleção do museu municipal santos rocha

29 Leque Plissado com Motivos Florais e Arquiteturas

55


leques a arte da sedução

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30 Leque Plissado com Motivos Florais Século XX (Início)

Bambu, papel, tinta, latão 40 X 25 Nº Inv.: 99-E-094


Século XX (Início)

Madeira, tecido, renda, seda, latão 45 X 23 Espanha Doação de Maria Elisa Matos Dória Nazaré Santos Nº Inv.: 99-E-103

coleção do museu municipal santos rocha

31 Leque Plissado com Motivos Florais

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leques a arte da sedução

58

32 Leque Plissado com Motivos Florais Século XIX

Marfim, tecido, madeira, metal 40,5 X 21 Nº Inv.: 99-E-085


Século XX (Início)

Madeira, tecido, lantejoulas, metal 45 X 24,5 Nº Inv.: 99-E-083

coleção do museu municipal santos rocha

33 Leque Plissado com Motivos Florais

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leques a arte da sedução

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34 Leque Plissado com Paisagem e Motivos Florais Século XIX

Madeira, papel, tinta, metal 41,5 X 23 Nº Inv.: 99-E-082 Os leques pretos, por norma, eram utilizados em situações de luto.


Século XIX

Madeira, seda, madrepérola, latão 62 X 35,5 Doação do Conde de Vinhó e Almedina Nº Inv.: 02-E-043

coleção do museu municipal santos rocha

35 Leque Plissado com Motivos Florais e Zoomórficos

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leques a arte da sedução

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37 Leque Brisé com Motivos Florais, Zoomórficos e Arquiteturas Orientais 1810

Tartaruga, seda, latão 30 X 18,8 Doação de Susana Eugénio de Morais Sarmento Nº Inv.: 93-F-067


Século XIX

Tartaruga e latão 29,5 X 20 Nº Inv.: 99-E-078

coleção do museu municipal santos rocha

37 Leque Brisé com Recorte de Motivos Florais

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leques a arte da sedução

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38 Leque Brisé Século XX

Celulóide, seda, metal 24,5 X 13,5 Nº Inv.: 93-E-084


Século XIX (Início)

Queratina, seda, latão 29 X 15 França Nº Inv.: 99-E-092

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4993.

coleção do museu municipal santos rocha

39 Leque Brisé com Pintura e Recorte de Motivos Florais

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leques a arte da sedução

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40 Leque Brisé

Século XIX (Final) Madrepérola, seda, latão prateado 33,5 X 19,5 China Nº Inv.: 93-E-058

Este leque terá sido feito a partir do colo de um leque chinês. De modo a parecer um leque brisé, as varetas foram arredondadas e, para entrelaçar o fitilho, abriram-se rasgos na madrepérola.


Século XIX

Osso, seda, metal 32,5 X 19 Nº Inv.: 99-E-090

coleção do museu municipal santos rocha

41 Leque Brisé com Recorte de Motivos Florais

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leques a arte da sedução

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42 Leque Brisé com Recorte de Motivos Florais Estilizados Século XIX

Madeira, seda, metal 30,5 X 21,5 Nº Inv.: 99-E-070 Inscrições: J.


Século XIX

Cartão, madeira, seda, ferro, madrepérola 38,5 X 21 Nº Inv.: 99-E-074

coleção do museu municipal santos rocha

43 Leque Brisé com Recorte e Pintura de Motivos Florais

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leques a arte da sedução

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44 Leque Brisé com Recorte e Pintura de Motivos Florais Século XIX

Cartão, madeira, seda, latão, madrepérola 40,5 X 22 Nº Inv.: 99-E-091


Século XIX

Madeira, seda, metal 43 X 23,5 Nº Inv.: 99-E-073

coleção do museu municipal santos rocha

45 Leque Brisé com Recorte e Pintura de Motivos Florais

71



impĂŠrio


leques a arte da sedução

74

46 Leque Plissado Império Século XIX (Início)

Osso, madeira, tecido acetinado, tule, lantejoulas, prata 36 X 20 França (?) Nº Inv.: 98-E-125

Leque incorporado no acervo do Museu, por António dos Santos Rocha, com o Nº 8417.


Século XIX (Início)

Queratina, seda, tule, lantejoulas, canotilho e palmetas douradas, prata, madeira 32 X 17,5 França (?) Nº Inv.: 03-E-006

coleção do museu municipal santos rocha

47 Leque Plissado Império

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leques a arte da sedução

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48 Leque Plissado Império Século XIX (Início)

Osso, seda, tule, lantejoulas, madeira, prata 35,8 X 18,5 França (?) Nº Inv.: 03-E-005


Século XIX (Início)

Madeira, organza, lantejoulas, madrepérola, latão 34 X 17,5 França (?) Nº Inv.: 03-E-004

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4994.

coleção do museu municipal santos rocha

49 Leque Plissado Império

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leques a arte da sedução

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50 Leque Plissado Império Século XIX (Início)

Osso, tecido acetinado, lantejoulas, madeira, prata, ferro, latão 35,5 X 18,5 França (?) Nº Inv.: 98-E-130


Século XIX (Início)

Osso, tecido, lantejoulas, madeira, madrepérola, latão 31,5 X 17 França (?) Nº Inv.: 98-E-124

coleção do museu municipal santos rocha

51 Leque Plissado Império

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leques a arte da sedução

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52 Leque Plissado Império Século XIX (Início)

Osso, organza, lantejoulas, palmetas de metal, madeira, prata, ferro, latão 40 X 21 Doação de Lucrécia Viana Ferreira Nº Inv.: 03-E-002

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 5466.


Século XIX (Início)

Osso, seda, tule, lantejoulas, madeira, madrepérola, latão 36 X 18,5 Doação de Lucrécia Viana Ferreira Nº Inv.: 98-E-128

coleção do museu municipal santos rocha

53 Leque Plissado Império

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leques a arte da sedução

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54 Leque Plissado Império Século XVIII

Osso, madeira, seda, tule, lantejoulas, prata 32,5 X 17 Nº Inv.: 03-E-003

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 5000.


Século XIX (Início)

Marfim, seda, tule, lantejoulas, palmetas de metal, madeira, metal 31 X 17 Doação de António dos Santos Rocha Nº Inv.: 02-E-045

coleção do museu municipal santos rocha

55 Leque Plissado Império

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leques a arte da sedução

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56 Leque Plissado Império Século XIX (Início)

Tartaruga, organza, lantejoulas, vidrilho, madeira, ferro, latão 35,5 X 20 Doação de António dos Santos Rocha Nº Inv.: 02-E-046


Século XIX (Final)

Marfim, madeira, seda, renda, metal 54 X 29 Nº Inv.: 99-E-125

coleção do museu municipal santos rocha

57 Leque Plissado com Decoração Floral e Aves

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história e sedução


leques a arte da sedução

88

O mais antigo e um dos mais peculiares leques desta coleção, não só pela forma pentagonal das suas folhas, como também pelo material com que foram manufaturadas: mica. Este mineral, resistente e translúcido, foi usado em leques plissados como elemento acessório, contido em pequenas secções, contudo, neste Leque Brisé surge como o componente de eleição.


Século XVII

Mica, tartaruga, têmpera, metal 41,5 X 20,5 Doação de José António de Souza Nº Inv.: 99-E-102

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4986.

coleção do museu municipal santos rocha

58 Leque Brisé de Palmetas com Pintura de Figuras, Motivos Florais e Zoomórficos

89


B

leques a arte da sedução

90

59 Leque Plissado com a Alegoria da aclamação de D. Pedro IV de Portugal, Imperador do Brasil, e do Juramento da Carta Constitucional 1826

Marfim, papel, têmpera, bambu, metal 58 X 31 Macau Nº Inv.: 99-E-101

Leque incorporado no acervo do Museu, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4982 e a respetiva caixa com o Nº 4983 (Nº Inv.: 99-E-101/A).


A

Leque evocativo da aclamação de D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil, representado ao centro, ladeado por um indígena que lhe outorga a Coroa e por uma figura feminina - a Alegoria ao Juramento da Carta Constitucional de 1826.

coleção do museu municipal santos rocha

Leque de manufatura oriental, provavelmente Macau, cujo autor terá sido o pintor Cut Qua ou Sun Qua, dado que assina a respetiva caixa, e que se insere na temática dos Leques Comemorativos, que assinalavam momentos históricos, factos políticos ou acontecimentos marcantes, frequentemente utilizados pelo poder político com propósitos propagandísticos e de afirmação do poder, principalmente, em conjunturas politicamente conturbadas.

91


leques a arte da sedução

92

60 Leque Plissado com Cena de Temática Clássica Século XIX

Osso, madeira, seda, papel de arroz, lantejoulas, metal 45,5 X 24,5 Doação de Maria Elisa Matos Dória Nazaré Santos Nº Inv.: 99-E-116


Leque evocativo da nomeação de D. João como Príncipe Regente, que se enquadra na temática dos Leques Comemorativos, e que assinala este momento histórico-político, legitimando e afirmando o poder do Príncipe e futuro rei, D. João VI.

1799

Osso, papel, madeira, metal 41 X 22 Nº Inv.: 99-E-100

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 5001.

coleção do museu municipal santos rocha

61 Leque Plissado Império D. João Príncipe Regente de Portugal

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leques a arte da sedução

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62 Leque Plissado com Cena do Quotidiano Século XX

Madeira, papel, prata 45,5 X 24,5 Nº Inv.: 99-E-089


Século XIX

Osso, papel, metal 29 X 16 Nº Inv.: 99-E-110

coleção do museu municipal santos rocha

63 Leque Plissado com Cena Galante

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B

leques a arte da sedução

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64 A e B Leque Plissado com Cena Equestre Século XX (Início)

Madeira, papel, metal 72 X 39 Nº Inv.: 99-E-088 Inscrições: dzr / 300


A

coleção do museu municipal santos rocha

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B

leques a arte da sedução

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65 A e B Leque Plissado com Motivos Florais e Passeio Campestre Século XX (Início)

Madeira, papel, ferro, latão 43 X 23 Nº Inv.: 99-E-105

Inscrições: Deixaste d’amar é porque nunca amaste / Um homem de bem deve ter as mesmas attenções para sua mulher que teve para com a sua noiva / O amor que desponta repentinamente é mais difícil de amar / 7-8-1908 / 20-111908 / O / L


A

coleção do museu municipal santos rocha

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leques a arte da sedução

100

66 Leque Plissado com Cena Galante Século XIX

Osso, papel, madeira, lantejoulas, metal 41,5 X 21,5 Nº Inv.: 98-E-126 Inscrições: K 508

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4999.


Século XIX (Final)

Madeira, seda, metal 45 X 27,5 Doação de Maria Elisa Matos Dória Nazaré Santos Nº Inv.: 99-E-104 Inscrições: A. Cliviaty

coleção do museu municipal santos rocha

67 Leque Plissado com Cena Galante de Passeio

101


B

leques a arte da sedução

102

68 A e B Leque Plissado com Cena Campestre (anverso) e Paisagem com um Edifício Religioso e outro Fortificado (verso) Século XIX (Início)

Osso, papel, madeira, ferro 30,5 X 16,8 Nº Inv.: 02-E-054


A

coleção do museu municipal santos rocha

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leques a arte da sedução

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69 Leque Plissado com Cena Galante Século XIX

Madeira, tecido, lantejoulas, madrepérola, metal 43,5 X 23 Doação de Maria Elisa Matos Dória Nazaré Santos Nº Inv.: 98-E-127


Século XX (Início)

Madeira, seda, lantejoulas, ferro, latão 43,5 X 23,5 Nº Inv.: 99-E-108 Inscrições: Ard (ou Ars?) /bral

coleção do museu municipal santos rocha

70 Leque Plissado com Figura Feminina

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leques a arte da sedução

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71 Leque Plissado com Cena de Noivado ou Casamento Século XVIII

Marfim, madeira, papel, tinta, metal 39 X 20,5 Nº Inv.: 03-E-007

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4997.


Século XX

Madeira, renda, seda, lantejoulas, metal 44 X 25 Nº Inv.: 99-E-122

coleção do museu municipal santos rocha

72 Leque Plissado com Anjos Músicos

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leques a arte da sedução

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A

73 A e B Leque Plissado Isabelino com Cenas Românticas Século XIX

Osso, papel, madeira, seda, metal 51,8 X 27 Espanha Nº Inv.: 99-E-114

B


A

C

D

B

Século XIX (Início) Osso, seda, latão 26 X 16,5 Nº Inv.: 99-E-095

Nesta tipologia, que prima pela originalidade, o leque pode abrir-se da esquerda para a direita e vice-versa, revelando quatro cenas distintas, duas no anverso e outras duas no verso.

coleção do museu municipal santos rocha

74 A, B, C e D Leque Brisé Reversível com Cenas Românticas e Campestres

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leques a arte da sedução

110

75 Leque Brisé com Figura Feminina a Fiar e Motivos Florais Século XIX

Madeira, tinta, metal 44,4 X 25 Nº Inv.: 99-E-072


Século XX

Celulóide, tinta, metal 24,5 X 13,5 Legado de Cristina Torres Nº Inv.: 99-E-077

coleção do museu municipal santos rocha

76 Leque Brisé com Bailarina

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belle époque


leques a arte da sedução

114

77 Leque Brisé de Penas de Pavão Século XX (Início)

Plástico a imitar tartaruga, penas de pavão, seda, metal 22 X 17,5 Nº Inv.: 98-E-129


B

A

Século XX (Início)

Penas, madeira, seda ∅ 20 Doação de Ana Maria Xavier Varela Alves India (?)

Este leque pertenceu a Maria Joana dos Santos Pereira Jardim, cônjuge de António dos Santos Rocha, fundador do Museu.

coleção do museu municipal santos rocha

78 A e B Abano de Penas de Pavão

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leques a arte da sedução

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79 Leque Brisé de Penas de Avestruz Século XX (Início)

Plástico a imitar tartaruga, penas, ferro, seda 52 X 35 Doação de Alice Bastos da Costa e Silva Rebelo Nº Inv.: 98-E-123


Século XX (Início)

Madeira, penas, latão, seda 51 X 35,5 Doação de Ana Maria Xavier Varela Alves Nº Inv.: 98-E-131

Este leque pertenceu a Maria Joana dos Santos Pereira Jardim, cônjuge de António dos Santos Rocha, fundador do Museu.

coleção do museu municipal santos rocha

80 Leque Brisé de Penas de Avestruz

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leques a arte da sedução

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81 Leque Brisé de Penas de Avestruz Século XX (Início)

Tartaruga, penas, seda, latão 54,5 x 32,5 Doação de Mário Dias Mendes Nº Inv.: 03-E-001


Século XIX (Final)

Osso, tela, madeira, seda, latão, ferro 34 X 19,5 Doação de José António de Souza Nº Inv.: 99-E-117

Leque incorporado no acervo do Museu, em 1894, por António dos Santos Rocha, com o Nº 4984. A temática floral da folha é muito característica do período Arte Nova/Art Déco.

coleção do museu municipal santos rocha

82 Leque Brisé de Palmetas

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leques a arte da sedução

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83 Leque Brisé Século XX

Cartão, madeira, cambraia, metal 40 X 22 Nº Inv.: 99-E-111


Século XIX (Final) Celuloide, seda, latão ∅ 14 Nº Inv.: 99-E-093 Inscrições: Bussaco

Igualmente conhecido por Leque Violino porque, quando fechado, a sua forma se assemelha a este instrumento musical.

coleção do museu municipal santos rocha

84 Leque Cocade

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leques a arte da sedução

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85 Leque Plissado Fontange Século XX

Osso, madeira, seda, lantejoulas, ferro 31 X 21,5 Nº Inv.: 99-E-112


Século XIX

Pergaminho, seda acetinada, pau-preto, marfim, latão 59 X 32 Doação do Conde de Vinhó e Almedina Nº Inv.: 99-E-087

Nos finais do século XIX e inícios do século XX, uma nova tendência estética, o Neoclassicismo, predominou nas criações artísticas europeias e, baseando-se no revivalismo dos cânones da antiguidade clássica, ilustrou temas da história antiga ou da mitologia.

coleção do museu municipal santos rocha

86 Leque Plissado com Figuras Femininas, Grifos e Esfinges da Mitologia Grega

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leques a arte da sedução

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87 Leque Plissado de Souvenir com Cenas Tauromáquicas Século XX

Madeira, tecido, latão 49 X 27 Nº Inv.: 02-E-042

Inscrições: “Recuerdo” de excursão a Badajoz, Sevilha, Ára- / cena e Zafra – de 3 a 6 de Outubro de 1954- / dos funcionários da Câmara Municipal da / Figueira da Foz, sendo Presidente o Ex.mo Sr. / Eng.o Fernando Muñoz de Oliveira.


Século XIX (Final) Madeira, tecido, seda, metal 27 X 22 Nº Inv.: 99-E-081

coleção do museu municipal santos rocha

88 Leque Brisé

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leques a arte da sedução

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89 Leque Plissado com Cena de Cupido Século XX

Osso, madeira, tecido acetinado, seda, lantejoulas, latão 42 X 21 Nº Inv.: 99-E-107


Século XX

Madeira, papel, metal 41 X 21,5 Legado de Mesquita de Figueiredo Nº Inv.: 99-E-076

coleção do museu municipal santos rocha

90 Leque Brisé com Busto Feminino

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leques a arte da sedução

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Conservação e Restauro

coleção do museu municipal santos rocha

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leques a arte da sedução

130

Conservação de leques da coleção do Museu Municipal Santos Rocha Ana Andrade

Conservadora-Restauradora

Durante a preparação da exposição “Leques: A arte da sedução”, no Museu Municipal Santos Rocha, verificou-se a necessidade de proceder a uma intervenção de conservação e restauro sobre os leques da coleção. A relevância desta coleção reside na beleza dos leques que a constituem, e na diversidade de tipologias, materiais e técnicas que estas peças apresentam. O conjunto de leques apresenta exemplares de elevada qualidade (de marfim, madeira lacada, madrepérola, tartaruga), de qualidade intermédia, e de menor qualidade e valor, normalmente em materiais baratos (plástico, cartão e madeira) que pretendiam imitar os materiais mais caros.

MATERIAIS

Os leques são compostos por vários materiais diferentes, correspondendo às diferentes partes. As varetas são em marfim, tartaruga, madrepérola, madeira lacada, madeira, osso, corno, cartão pintado, e materiais plásticos como o celulóide e a baquelite. As folhas são em pergaminho, penas, papel e tecido. Nos leques brisé, o fitilho é em seda. As borlas e cordões pendentes também são em seda. Os rebites e as argolas são em metal: ferro ou latão. As anilhas são em madrepérola, ferro, latão, celulóide, baquelite, marfim e osso. O marfim utilizado é proveniente dos segundos dentes incisivos superiores do elefante africano (macho e fêmea) e do elefante indiano (macho). É um material calcificado, sendo composto maioritariamente por hidroxiapatita (fosfato de cálcio), e algumas proteínas. É um material relativamente macio e fácil de trabalhar.

A tartaruga mais usada é proveniente da carapaça da tartaruga-de-pente, embora também possa ser retirada de outro tipo de tartarugas. É composta por escamas de queratina, sendo um material leve e resistente, fácil de trabalhar, translúcido, e com manchas de vários tons, do amarelo ao castanho escuro. A madrepérola ou nácar é um material duro e irisado, composto por carbonato de cálcio e conchiolina (proteína), produzido por alguns moluscos, revestindo o interior da sua concha. Obtêm-se normalmente pequenas peças, sendo muito raras as varetas de uma só peça, com as dimensões das existentes no leque brisé desta coleção (Fig. 12). A madeira usada é geralmente de folhosa, existindo alguns exemplares de paupreto e de bambu. As folhosas são árvores nativas da Europa, enquanto o pau-preto é uma pequena árvore tropical nativa de regiões de África secas sazonalmente (Senegal, Eritreia e África do Sul), e o bambu é uma planta nativa de todos os continentes excepto da Europa e da Antártica. Nesta coleção existe um leque com varetas em bambu lacado, feito para exportação para o Ocidente (Fig. 1). Apresenta uma laca preta (normalmente retirada da seiva da árvore Rhus vernicifera), com decoração a ouro (duas tonalidades diferentes), e pormenores a vermelho, em dois tons. As várias tonalidades do ouro obtêm-se misturando no ouro outros metais, como a prata e o cobre. Um dourado menos amarelado corresponde a mistura com prata e um dourado mais avermelhado corresponde a mistura do ouro com um pouco de cobre. O osso usado provém dos ossos maiores do corpo de animais de grande porte. É constituído maioritariamente por fosfato de cálcio (hidroxiapatita) e colagéneo, sendo um material com alguma dureza. O corno é usado desde sempre, mas foi um material particularmente usado no século XIX, para imitar a tartaruga. É um material constituído por queratina (como a tartaruga), retirado de animais como o boi, o búfalo, o carneiro, a cabra e o antílope. É um material resistente, a óleos e ácidos, com bastante plasticidade,


penas de avestruz negras (do macho), penas de avestruz brancas (da cauda do macho), penas de ganso brancas, penas de pavão, e uma mistura de penas de faisão, pavão e perdiz (Fig. 2). O papel é composto por elementos fibrosos de origem vegetal, sobretudo celulose, um polissacarídeo de monómeros de β-D-glucose. Contém também lignina (confere ao papel maior resistência, mas também escurece a cor) e alguns compostos em reduzida quantidade (minerais, proteínas, ácidos gordos e ácidos resínicos). Os tecidos usados nesta coleção são maioritariamente de seda, havendo também alguns de algodão. Alguns tecidos são cetim, outros são tafetá, gaze e renda. A renda usada em alguns leques é feita com máquina, de dois tipos: de bobine; e renda com a forma já apropriada para o leque. É renda de algodão, material que se começou a usar com muita frequência no século XIX.

TÉCNICAS Alguns materiais são esculpidos em baixo relevo, como a madeira, o marfim e a tartaruga. No caso da madeira, as varetas são esculpidas em baixo relevo e podem ser douradas em várias tonalidades. No caso do marfim e tartaruga, as varetas apresentam um fundo com nervuras vazadas (linhas finas verticais e paralelas), do qual se destacam algumas formas de flores, folhas, aves e cenas emolduradas em forma de círculo ou escudo. Num leque de tartaruga também se observa uma reserva sólida de forma oval, que se destinaria a receber pintura (Fig. 3). As guardas dos leques apresentam motivos esculpidos com maior profundidade (Fig. 4). A técnica da incisão é utilizada na madeira e no osso, escavando-se o desenho com um instrumento pontiagudo, numa superfície plana. O desenho pode ser preenchido com cor.

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podendo ser trabalhado de diferentes formas, através do aquecimento e da pressão. Submergindo o corno em água quente este material amolece, e permite que se dêem formas bastantes nítidas, recorrendo à pressão. Mesmo a decoração recortada é feita deste modo, no século XIX. Este tipo de tratamento deixa o corno com uma cor amarela esverdeada e translúcido. Depois, o corno pode ser trabalhado com aquecimento a gás, para o tornar maleável e dar a forma geral que se deseja. Mais uma vez é colocado na prensa, para arrefecer sob pressão. Depois o corno é mergulhado numa solução ácida (mistura de vários ácidos) para o tornar mais macio, e pode ainda ser mergulhado em várias soluções para lhe alterar a cor para castanha ou negra. O plástico é um material orgânico polimérico sintético, com elevada maleabilidade, facilmente transformável com calor e pressão. Ao primeiro plástico produzido em 1862, à base de nitrato de celulose, chamou-se “Parkesine”. Este material tenta imitar o corno, sendo mais barato e menos trabalhoso do que este. Um outro plástico, também à base de nitrato de celulose, foi inventado em 1869, dando-selhe o nome de celulóide. Este material pretendia imitar o marfim. A baquelite é o primeiro plástico completamente sintético, produzido comercialmente em 1910, usado para imitar tartaruga ou âmbar. Nesta coleção existem leques com varetas nestes três tipos de plástico. O pergaminho utilizado em leques era normalmente proveniente da pele de crias ou fetos por nascer (de ovelha, cabra ou vaca), que soava como o papel, e era muito fino, quase transparente, mas resistente. A pena é uma estrutura epidérmica das aves, constituída por queratina, leve e mais ou menos flexível, mas resistente. Existem vários tipos de pena conforme a função a que se destinam. As penas usadas para os leques são penas menos flexíveis e mais longas, usadas para o voo, na asa e na cauda. Na maioria dos leques usaramse penas de uma só espécie de ave, mas noutros misturaram-se penas de várias espécies, para melhorar o efeito decorativo. Nesta coleção existem leques com

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O vazado é também usado em alguns materiais, nomeadamente: madeira; tartaruga; osso; cartão; e plástico. Obtêm-se formas decorativas recortando o material e deixando espaços vazios (Fig. 5). A decoração em piqué é uma técnica aplicada em marfim e tartaruga, onde eram embutidos pequenos discos de ouro e prata, que brilhavam. Nos leques desta coleção foi usada uma variação mais pobre desta técnica, em varetas de osso e corno, com embutidos de discos lisos em aço, fixos com adesivo. Esta técnica decorativa foi usada nos leques Império (Fig. 6). Uma técnica semelhante à anterior, também usada nos leques Império, é a incrustação de lâminas de prata, com vários formatos (folhas, flores, grinaldas e festões), formando composições clássicas (Fig. 7). O lacado é realizado sobre uma base de madeira, sobre a qual é aplicada uma camada de preparação argilosa (nas lacas de melhor qualidade), sendo então aplicadas muitas camadas de laca, efetuando-se o polimento das mesmas, para se obter um efeito final de elevado brilho. A decoração a ouro é aplicada nas últimas camadas de laca, ficando normalmente protegida por uma fina camada de laca. A secagem de cada camada de laca demora cerca de 24 horas, pelo que o processo todo de produção leva pelo menos três semanas (Fig. 1). A pintura é a técnica aplicada sobre uma maior diversidade de suportes (madeira, cartão, osso, corno, celulóide, pergaminho, penas, papel e tecido). Usam-se as técnicas a óleo e têmpera, representando-se uma grande diversidade de motivos e cenas (Figs 4, 8 e 9). Algumas folhas em papel apresentam gravuras aguareladas, ocupando toda a folha ou constituindo pequenas cenas recortadas e coladas, emolduradas por cartelas douradas (Fig. 8). Dentro das folhas em papel pintado existem dois leques especiais, produzidos no Oriente para exportação, nos quais foram aplicados outros materiais, além da pintura. As vestes das figuras pintadas são constituídas por tecidos em seda colados e com pormenores pintados, e as caras das figuras são constituídas por aplicações ovais de marfim coladas e pintadas. Estes leques são conhecidos como “leques de faces aplicadas” (Fig. 9).

O tecido em seda dos leques Império é bordado com lantejoulas de variados tamanhos e formas (circulares, retangulares, folhas, conchas, flores), em diversas tonalidades (dourado, prateado, rosado, azulado), formando motivos decorativos diversos (Fig. 10).

ESTADO DE CONSERVAÇÃO Os materiais constituintes dos leques apresentam algumas alterações, algumas inevitáveis, fruto do passar do tempo e da influência das condições do ambiente (como a luz, a temperatura e a humidade relativa), outras já fruto da ação humana. As guardas, varetas e costelas apresentam algumas fraturas e descolagem (quando constituídas por dois elementos colados). Algumas destas alterações levaram a intervenções antigas mal executadas, em posições erradas e com colas impróprias (não eficientes, de difícil remoção, que alteraram os materiais originais). Em alguns casos levaram também à colagem de varetas uma à outra ou às guardas. Em alguns leques a fratura de guardas e varetas levou à perda das partes fraturadas, existindo atualmente lacunas em alguns suportes. Nas decorações de metal (aço e prata) embutidas e incrustadas observam-se algumas lacunas e destacamento de decorações ainda existentes. Os metais encontram-se oxidados (pontualmente). Nos leques brisé com fitilho em seda, este estava frequentemente rasgado, por perda de coesão da seda. Em alguns leques não existia qualquer vestígio do fitilho. Nos leques com penas a formar a folha do leque, o fio de ligação entre as penas encontrava-se partido (pontualmente), ou tinha sido mal aplicado em intervenção anterior, não permitindo a correta distribuição das penas. As folhas de papel e tecido mostravam alguns rasgões e algumas lacunas de suporte. Nos leques com bordados com lantejoulas, existiam algumas lantejoulas soltas ou mal posicionadas.


De uma forma geral, todos os leques apresentavam uma camada de poeiras depositada sobre a superfície. Alguns leques tinham colocado o número de inventário antigo na frente da peça.

INTERVENÇÃO REALIZADA

1 Esta operação foi realizada pelas técnicas do museu Maria José Gomes, Rosabela Silvano e Rosário Fadigas sob orientação da conservadora-restauradora. 2 Em alguns leques, esta colocação foi realizada pela técnica Luísa Matias.

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Esta intervenção teve como objetivo estabilizar as peças, devolvendo-lhes a sua leitura e coesão, de modo a permitir a sua exibição durante o tempo da exposição. Inicialmente, procedeu-se à limpeza mecânica de todas as peças, com a remoção de poeiras com trincha, e à limpeza com água destilada (só as varetas), removendo-se a sujidade mais aderente1 (Fig. 11). No caso das varetas em marfim e osso a limpeza foi realizada com uma solução de água destilada e etanol (1:1). Toda esta limpeza foi efetuada com cotonetes humedecidos (com pouca água). Seguidamente, descolaram-se os elementos indevidamente colados: varetas e guardas coladas umas às outras; partes de varetas e guardas mal coladas. Esta descolagem foi executada com extremo cuidado, para preservar o material original, e com solventes adequados às colas existentes (acetona para colas vinílicas, acrílicas ou à base de nitrato de celulose, e água morna para colas proteicas). As varetas e guardas fraturadas e descoladas foram então coladas com colas próprias para cada tipo de material, tendo sempre em consideração a reversibilidade, a compatibilidade com o material e o envelhecimento natural das colas. As varetas e guardas em marfim, osso e madrepérola foram coladas com Paraloid B 72 (Fig. 12), as varetas e costelas em madeira foram coladas com cola vinílica, e as varetas em osso descoladas das costelas em madeira foram coladas com cola de peixe. Pontualmente, nos casos em que a superfície de colagem era muito reduzida, foi aplicado um pequeno reforço na zona posterior das costelas. Nas costelas de madeira o reforço colocado foi de bambu, material flexível e bastante resistente, que reforça a colagem mesmo com elementos de espessura reduzida (Fig. 13). Num leque com folha em renda, que apresentava falta de duas costelas e parte

de outra, foi necessário refazer estas partes em falta para suportar a folha de forma segura. Estes preenchimentos de lacunas foram também feitos em bambu, posteriormente tonalizado ao tom da madeira com aguarela (Fig. 13). As decorações metálicas (aço e prata) em destacamento foram fixas ao osso com Paraloid B 72. Recorreu-se a este adesivo pelo seu bom envelhecimento e reversibilidade, e por não ser um adesivo aquoso, já que a água poderia acelerar a oxidação dos metais. Pontualmente, foi feita uma limpeza mecânica sobre a superfície do aço da decoração em piqué, removendo os produtos de corrosão, já que o recurso a outro tipo de limpeza colocava em risco o material envolvente (osso ou corno). Nos leques brisé que ainda possuíam fragmentos de fitilho, estes foram preservados, tendo sido aplicada uma linha da cor do fitilho, a unir as varetas do leque2. Nos leques brisé sem fitilho, foi colocado fitilho de seda novo, com tonalidade próxima da do suporte (madeira, osso, celulóide, madrepérola). Este tipo de intervenção permite fixar a abertura máxima do leque, promovendo a sua estabilidade, sem interferir com a leitura estética do mesmo (Fig. 12). Nos leques com penas, em que o fio de ligação estava partido ou mal colocado, foi aplicado um fio da mesma cor para corrigir estas alterações, fomentando a segurança dos leques e a sua correta leitura. Nas folhas de papel e tecido foram realizadas intervenções pontuais para colar os rasgões, de modo a estabilizar estas deteriorações e permitir a exibição dos leques. Nas folhas muito deterioradas, a necessitar de uma intervenção mais profunda que uma estabilização, foi efetuada a intervenção mínima possível de modo a não dificultar um futuro restauro. Nas folhas em papel os rasgões foram colados com tylose e reforçados com papel japonês no interior da folha dupla (Fig. 14), e nas folhas em tecido os rasgões foram colados com tylose e reforçados com organza de seda natural de tom neutro, também no interior da dupla folha. Por fim, os números de inventário antigos foram retirados da frente dos leques e colados no verso.

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BIBLIOGRAFIA

Armstrong, N. (1984). Fans: A collector’s guide. London: Souvenir Press. Armstrong, N. (1984). The book of fans. New York: Mayflower Books, Inc. Ferreira, J. C. da S. (2015). Biografia de uma coleção: Os leques da Casa-Museu Medeiros e Almeida. (Dissertação de Mestrado). Disponível em runRepositório Universidade Nova (http://hdl.handle.net/10362/18244).

Fig. 1 Pormenor do leque 99-E-099, observando-se a decoração lacada. Fig. 2 Leque 98-E-129, observando-se a utilização de penas de várias aves. Fig. 3 Pormenor do leque 93-F-067, observando-se a técnica de baixo-relevo e a reserva oval, que seria pintada. Fig. 4 Pormenor do leque 01-E-061, observando-se a técnica de baixo-relevo na guarda em marfim. Fig. 5 Pormenor do leque 99-E-090, observando-se a técnica do vazado em osso. Fig. 6 Pormenor do leque 03-E-006, observando-se a os pequenos discos em aço brilhantes, da decoração em piqué. Fig. 7 Pormenor do leque 98-E-125, observando-se a técnica de incrustação de lâminas de prata nas varetas. Fig. 8 Pormenor do leque 99-E-114, observando-se as gravuras aguareladas recortadas e coladas, emolduradas por cartelas. Fig. 9 Pormenor do leque 99-E-099, observando-se a aplicação de tecidos nas vestes e de formas ovais de marfim nas caras das figuras. Fig. 10 Pormenor do leque 98-E-125, observando-se a técnica do bordado com lantejoulas de várias formas. Fig. 11 Pormenor do leque 98-E-124, durante a limpeza das varetas. Fig. 12 Leque 93-F-058 em madrepérola, observando-se a colagem da primeira vareta a seguir à guarda e o fitilho colocado nesta intervenção. Fig. 13 Verso do leque 99-E-122 durante a intervenção, observando-se os reforços das colagens e as costelas feitas de novo, antes da tonalização ao tom da madeira original. Fig. 14 Pormenor do leque 99-E-119, observando-se reforços de papel japonês colocados no interior da folha dupla, durante a colagem de rasgões em papel.

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Tratamento de conservação e restauro de um leque em tecido Eva Armindo

Conservadora-Restauradora de Têxteis

IDENTIFICAÇÃO

O leque, plissado, tem folha de tecido em tafetá, provavelmente de seda de cor creme e estrutura em madeira com um total de 26 varetas e uma guarda, revestida exteriormente com madrepérola. A união de todas as varetas faz-se por uma arruela metálica. A decoração da folha, pintada à mão, representa uma paisagem bucólica, com um curso de água ao centro e um barqueiro, ladeados por vegetação com flores vermelhas, uma árvore à direita e, ao fundo, paisagem de montanha com nuvens. As varetas apresentam decoração pintada junto à folha, representando uma grinalda de flores prateadas. No verso das varetas, ao centro, surge manuscrito a tinta preta: De Edla Antunes Cunha Figueira da Foz.

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

As formas de degradação do leque estão directamente associadas ao seu uso e manuseamento repetido. Simultaneamente, a sua fisionomia com dobras e contradobras, cria áreas de maior fragilidade nos vincos, zonas preferenciais para ocorrer perda de material. Neste sentido, era evidente a degradação da folha em tecido, onde além da deposição superficial de poeiras, se verificava a perda de material têxtil e pictórico nos remates superior e inferior da folha e nas zonas de vinco, que levou à sua quebra em três partes. A folha estava ainda pontualmente descolada das varetas e tinha vincos e deformações.

As varetas apresentavam-se com sujidade, depósitos de cola, e deformações pontuais que impediam a abertura total do leque, impossibilitando a sua leitura decorativa.

INTERVENÇÃO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO

Através de vários processos que tiveram como base os princípios da intervenção mínima e reversibilidade que devem reger qualquer trabalho desta natureza, a intervenção de conservação e restauro efectuada no leque teve como objectivo a sua recuperação estrutural, que o beneficiou esteticamente permitindo a melhoria da sua leitura decorativa. Todo o processo foi acompanhado por um cuidado e exaustivo registo gráfico e fotográfico, que contemplou o leque antes, durante e após tratamento (Fig. 1). Procedeu-se à limpeza da frente e verso do leque por via mecânica, através de aspiração com microponteira, sucção controlada e pincel suave (Fig. 2). Como a degradação abrangia a folha do leque praticamente em toda a sua totalidade, optou-se pelo seu levantamento integral, com o auxílio de cotonete humedecido em água destilada para dissolver o adesivo que a unia às varetas. Para possibilitar o processo de estabilização, procedeu-se à planificação da folha do leque recorrendo a humidificador ultrassónico de vapor de água destilada fria e pesos de vidro (Fig. 3). Deste modo, a introdução de humidade foi gradual,


COMO PRESERVAR O LEQUE

Os cuidados de conservação preventiva deverão ser considerados para prolongar ao máximo o tempo de vida do leque. Após o tratamento o leque apenas deverá voltar a ser fechado em situações excepcionais, pois as zonas de dobra poderão ficar coladas devido ao recurso ao adesivo usado na estabilização do tecido. Por outro lado, o manuseamento de peças com esta fragilidade acarreta variados riscos de dano. Deverá ser acondicionado num local que o preserve da sujidade e luz, como uma caixa de polipropileno alveolar ou cartão sem ácido, e mantido em condições de Temperatura (18ºC) e Humidade Relativa (50%) o mais estáveis possível.

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permitindo às fibras uma absorção lenta da humidade e uma maior plasticidade sem riscos de rupturas. A estabilização das lacunas do tecido da folha foi feita com a aplicação pelo avesso de um suporte total de crepeline de seda tingida de cor creme com corante sintético, previamente impregnada de adesivo termoplástico usado em conservação de têxteis. Com ajuda de espátula quente, o adesivo foi reactivado e aderiu à folha do leque de modo uniforme, possibilitando novamente a formação dos vincos (Figs. 4 e 5). Seguiu-se a limpeza das varetas com cotonete humedecido com água destilada e a aplicação de adesivo termoplástico para reaplicação da folha nas varetas, que foi feita recorrendo novamente a espátula quente (Fig. 6); O remate da folha do leque foi completado através da dobra de uma fina tira de crepeline excedente.

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Fig. 1 Vista geral da frente do leque, antes e depois do tratamento de conservação e restauro. Fig. 2 Limpeza por via mecânica do leque, com aspiração controlada e ajuda de pincel. Fig. 3 Planificação gradual da folha do leque com humidificação e pesos de vidro. Fig. 4 Estabilização do tecido da folha, recorrendo a espátula quente que permitiu aderir a crepeline de suporte reactivando o adesivo. Fig. 5 Imagens gerais da folha do leque, antes e depois da planificação e estabilização. Fig. 6 Pormenores do processo de montagem da folha nas varetas, pelo avesso e pela frente.

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Conservação e restauro de dois leques

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SalvArte

Conservação e restauro de obras de arte em papel e livro

Leque em suporte de papel Inv. 99-E-101

IDENTIFICAÇÃO

Trata-se de um leque plissado em papel, provavelmente de exportação oriental, podendo-se tratar de uma encomenda régia, representando como motivo central o Infante D. Pedro IV de Portugal (leque comemorativo/alegórico do Imperador do Brasil). [Fig. 01; Fig. 02] O leque, de folha dupla, apresenta policromia a têmpera na frente e no verso. Na frente, a policromia foi aplicada sobre folha de prata, representando sobre uma paisagem de fundo, o Infante D. Pedro IV ladeado por um Índio (indígena a entregar uma coroa) e, por figura feminina mitológica. Uma cercadura com policromia azul com cerca de 3 cm em toda a volta do leque decorada com motivos de ornato pintados a dourado enquadra o motivo central representado. Na periferia da margem superior do leque, foi aplicada uma fita dourada de remate que dobra na extremidade ficando à vista 2 mm para cada lado da folha. No verso, a folha, foi decorada com pintura a têmpera sobre folha de ouro, apresentando ao centro uma ave do paraíso entre flores e folhas ao estilo oriental. Também no verso, a enquadrar o motivo central foi pintada uma cercadura ornamentada sobre um fundo encarnado mas ligeiramente mais larga. A armação foi efectuada em marfim e madeira, sendo a gorge executada no primeiro material, vazado com recorte rendilhado representando motivos vegetalistas, pagodes e figuras da vida quotidiana oriental. As guardas, também em marfim trabalhadas em baixo relevo retratam igualmente cenas da vida quotidiana oriental. As dezoito varetas são em

madeira leve e resistente (provavelmente bambu) assentes entre os dois suportes de papel de finíssima espessura que formam a folha1. O leque aberto apresenta as dimensões máximas de 580 mm x 315 mm.

ESTADO DE CONSERVAÇÃO ANTES DO TRATAMENTO

Tratando-se este leque de uma peça de maiores dimensões e respectivamente mais pesada que o comum para esta tipologia de obra, provavelmente o manuseamento efectuado, deu origem às inúmeras fragilidades que apresentava, com características de degradação que passamos a designar: NA FOLHA

• Sujidade geral superficial na frente e no verso, como sendo poeiras soltas e aderentes; • Pontualmente alguns pingos de cola animal tanto na frente como no verso;[Fig. 03] • Rasgões, quebras e desgaste em toda a zona da margem superior, tornando o suporte de papel muito frágil e susceptível ao aumento dos rasgões que apresentava;[Fig. 04] • As zonas dos vincos de dobragem do plissado, apresentavam-se muito fragilizadas e com rasgões, sendo que três já se apresentavam integralmente abertas e separadas;[Fig. 05] •Também nas zonas de dobragem observou-se abrasão e desgaste superficial da camada cromática na frente e no verso; • Rasgão transversal (à folha) localizado entre duas varetas; • Perfurações pontuais; • Intervenções anteriores em restauros de rasgões, nos quais se observaram fitas adesivas oxidadas e sobrepostas ao desenho original [Fig. 06; Fig. 07]. Outras consolidações de rasgões, provocaram resíduos

1 A folha dupla é composta por dois suportes de papel que se encontram colados entre si com as varetas no meio. São as varetas que dão estrutura ao leque, apenas esta zona não apresenta cola.


de cola animal observando-se pingos e escorrências na frente. Estes pingos deram origem a abrasão e ao levantamento da flor de papel, quando o leque foi fechado e as folhas aderiram entre si; • Lacunas e desgastes, pontuais, a nível da camada cromática tanto na composição pictórica como no dourado nas zonas de remate da decoração. • A fita decorativa dourada que remata a margem superior da folha apresentava fragilidades e rasgões, bem como algum desgaste;

NA ARMAÇÃO

• Sujidade geral em todas as zonas do marfim. As guardas apresentamse mais escuras e com maior deposição de sujidade. O marfim da guarda do verso apresenta-se bastante mais amarelecido que nas restantes zonas. • O Botão ou Rivê apresenta-se em bom estado de conservação.

TRATAMENTO EFECTUADO

O tratamento de conservação e restauro incidiu sobretudo em devolver estabilidade física à obra respeitando a estrutura original, utilizando para o efeito materiais estáveis e compatíveis com a peça de acordo com os seguintes procedimentos:

igualmente humedecida gradualmente rebatendo apenas uma das margens, para que após o reforço esta pudesse ser novamente fixa preservando o suporte original;[Fig. 10] Após a separação entre os suportes, foi aplicado papel japonês no interior dos mesmos de modo a consolidar a folha sobretudo nos vincos de dobragem, zonas estas, anteriormente fragilizadas e destacadas [Fig.11]. • Consolidação pontual da fita dourada de remate com cola de amido; • Reintegração cromática pontual a aguarela, tanto dos desgastes superficiais das zonas de dobragem como da zona de composição e dos ornamentos de enquadramento (frente e verso); [Fig. 08; Fig. 09] NA ARMAÇÃO

• Limpeza do suporte de marfim com água desionizada. • Execução de um fundo em cartão neutro (com a dimensão da caixa de transporte) onde por meio de fitas de melinex o leque foi fixo. Dada a fragilidade deste leque devido aos materiais, dimensão e peso, o manuseamento deve-se restringir ao mínimo possível. A fixação do leque à referida base permite a sua observação sem o manuseamento directo, mas como as fitas de melinex são removíveis, este poderá ser observado também pelo verso, na medida que apresenta uma composição pictórica muito rica ou transitar para outra acomodação quando necessário. [Fig. 12; Fig. 13; Fig. 14]

NA FOLHA

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• Limpeza superficial geral da frente e verso do suporte com trincha macia; • Destacamento de fitas adesivas e remoção dos respectivos resíduos; • Consolidação de rasgões: neste procedimento foi necessário a aplicação de humidade pontual para a separação entre suportes de papel (frente e verso do leque). Nesta fase verificou-se uma grande dificuldade na separação destes suportes dada a fina espessura dos papéis constituintes. De modo a não fragilizar o papel e a composição pictórica optou-se por abrir e consolidar apenas as margens, superior e inferior, correspondentes à cercadura de ambos os lados. Durante este procedimentos de consolidação foi necessário ter em atenção a fita dourada de acabamento da margem superior. Esta foi

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RECOMENDAÇÕES

• Para este leque, aconselha-se uma Humidade Relativa não inferior a 50 %; • Um leque restaurado deverá ser manuseado apenas o estritamente necessário (abrir/fechar). Nestas peças, dada a tipologia de fragilidades e espessura do suporte de papel, foram utilizadas consolidações com papel japonês de fina espessura, sendo assim este terá uma melhor maleabilidade, no entanto o leque não deverá ser muito manuseado, devendo permanecer aberto, no novo acondicionamento. No caso desta peça, devido a sua grande dimensão e peso exercido sobre as varetas e folha mais se reforça a importância nos cuidados relativos ao manuseamento.

Fig. 01 Frente antes de tratamento. Fig. 02 Verso antes de tratamento. Fig. 03 Pormenor de zona de colas na frente antes de tratamento. Fig. 04 Pormenor de zona de lacunas e fragilidades da frente antes de tratamento. Fig. 05 Pormenor de zona de rasgão total no verso antes de tratamento. Fig. 06 Pormenor de zona de colas e fitas adesivas, no verso antes de tratamento. Fig. 07 Pormenor de zona de lacunas e fragilidades na margem inferior da folha do verso, antes de tratamento. Fig. 08 Verso depois do tratamento. Fig. 09 Frente depois do tratamento. Fig. 10 Pormenor de margem superior destacada para posterior consolidação. Fig. 11 Pormenor de consolidação da margem superior das folhas. Fig. 12 Pormenor da frente depois do tratamento. Fig. 13 Pormenor do verso depois do tratamento. Fig. 14 Pormenor do verso depois do tratamento.

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Leque em suporte de mica Inv. 99-E-102

IDENTIFICAÇÃO

Trata-se de um leque brisé 2 provavelmente europeu do séc. XVII, com armação

de tartaruga e folhas em suporte translúcido (folhas de mica3). Apresenta como decoração policromia a tempera na frente e verso4 representando

figuras alternadas com motivos florais e aves. O leque é constituído por onze folhas em mica de forma pentagonal, e duas guardas unicamente em tartaruga [Fig. 01; Fig. 02]. Cada folha é composta por duas lâminas de mica unidas ao centro de forma quase imperceptível e fixas à vareta de tartaruga pelo verso. Na união das micas e em toda periferia de cada folha foi aplicada uma fita dourada com barras pretas e alguns motivos geométricos simples. A fita dourada na união das micas delimita em cada folha duas zonas decorativas do leque, uma zona superior e uma zona inferior. O leque aberto tem de dimensão exterior 41,5 x 20,5 cm. Apresentava uma etiqueta em papel muito oxidado com o n.º “4986” fixa com cola animal na zona superior da nona vareta. A estrutura apresentava como forma de união entre varetas uma costura com linha preta.

ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Tratando-se este leque de uma peça invulgarmente delicada e frágil, apresenta um risco maior de alteração como aliás já se observava antes do tratamento, designadamente: FOLHAS

• Grande deposição de sujidade geral superficial e entranhada na frente e no verso do suporte; • As folhas encontravam-se com quebras, destacamentos, sendo que: - A 3ª e a 5ª folhas 5 estavam totalmente destacadas das respectivas varetas; - A 2ª folha apresentava-se incompleta , faltava a metade superior; [Fig. 03] - A 6ª folha estava incompleta e estava colada por baixo da 7ª folha; - A 10ª folha, além de uma lacuna diagonal inferior, apresentava igualmente uma pequena lacuna no vértice; - A 4ª folha apresenta quebras no interior da mica; • Abrasão e desgaste superficial da camada cromática; • A fita de remate da margem da folha, tanto na frente como no verso encontra-se com fragilidades, desgastes, destacamento e inúmeras lacunas;

2 O leque brisé, ao contrário do leque plissado apresenta uma folha por vareta. 3 Mica: pertence ao grupo dos silicatos que constituem a maior e mais importante classe de minerais constituintes das rochas. A mica tem uma alta rigidez excelente estabilidade química. Grande resistência ao calor. A palavra “mica” pensa-se ser derivada do latim micare, significando brilho, em referência à aparência brilhante deste mineral. 4 Provavelmente aproveitando a transparência do suporte foram feitos retoques pelo verso para realçar os motivos pictóricos da frente. 5 Lendo da esquerda para a direita.


• As fitas douradas transversais aplicadas no verso, que além da função decorativa encontram-se a fixar a vareta de tartaruga à mica, apresentavam-se em destacamento e algumas já inexistentes. No que diz respeito a Intervenções anteriores, verifica-se a aplicação de fitas douradas de remate sem decoração e de tom muito diferente do original bem como, pingos de cola animal tanto na frente como no verso.[Fig. 04; Fig. 05; Fig. 06] ESTRUTURA EM TARTARUGA

• Limpeza da goma laca com álcool na frente e verso das varetas e guardas; • Destacamento das varetas que se encontravam coladas entre si, com especial enfoque na zona do rivê; • Limpeza com água quente da cola animal no interior das guardas e no verso de algumas varetas; • Remoção de restauros anteriores inadequados (frente e verso), principalmente as fitas douradas; • Fixação das varetas, que se encontravam destacadas, às folhas de mica; • Consolidação de fitas douradas originais, de zonas fragilizadas de mica e de tartaruga com cola animal; • Preenchimento das fitas de fixação das varetas às folhas de mica, no verso, que se encontravam em falta; • Preenchimento do remate dourado, em falta, nas margens das folhas de mica tanto na frente como no verso; • Preenchimento das três das folhas de mica que se encontravam incompletas com material compatível e estável o mais idêntico possível ao original; • Reintegração cromática dos elementos novos aplicados e pontualmente de lacunas do original; [Fig. 07; Fig. 08] • Execução de um fundo em cartão neutro (com a dimensão da caixa de transporte) onde por meio de fitas de melinex o leque foi fixo. Dada a fragilidade deste leque devido aos materiais que o compõem, o manuseamento deve-se restringir ao mínimo possível. A fixação do

coleção do museu municipal santos rocha

• Sujidade geral no suporte de tartaruga varetas e guardas; • A aplicação de goma laca dada como acabamento nas varetas e guardas, possivelmente com a intenção de conferir maior brilho à tartaruga, deu origem a pingos e escorrências por ter sido aplicada muito heterogeneamente e provocou a colagem entre as varetas sobretudo na zona do botão. • Resíduos muito densos de cola depositada no verso das guardas; • A parte interna das guardas apresentava uma grande espessura de cola animal; • Varetas muito fragilizadas, riscos superficiais e pequenas lacunas provocadas por insectos; • O Botão ou Rivê apresenta-se em bom estado de conservação, embora estivesse colado com a goma laca como já foi referido anteriormente, impedindo a livre movimentação das varetas.

TRATAMENTO EFECTUADO

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leques a arte da sedução

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leque à base referida permite a sua observação sem o manuseamento directo e como as fitas de melinex são removíveis, este poderá transitar para outra acomodação quando necessário. [Fig. 09; Fig. 10; Fig. 11; Fig. 12]

Fig. 01 Frente antes de tratamento. Fig. 02 Verso antes de tratamento. Fig. 03 Pormenor de folha de mica incompleta antes do tratamento. Fig. 04 Pormenor de intervenções anteriores, na frente, antes do tratamento. Fig. 05 Pormenor de intervenções anteriores, na frente, antes do tratamento. Fig. 06 Pormenor de intervenções anteriores, no verso, antes do tratamento. Fig. 07 Frente depois do tratamento. Fig. 08 Verso depois do tratamento. Fig. 09 Pormenor da frente depois do tratamento. Fig. 10 Pormenor da frente depois do tratamento. Fig. 11 Pormenor da frente depois do tratamento. Fig. 12 Pormenor do verso depois do tratamento.

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memória da exposição Estando cientes de que no panorama nacional existem notáveis e valiosos acervos de leques, este, que agora se apresenta, não é de somenos importância, na medida em que reúne as principais tipologias, proveniências, temáticas e gramáticas decorativas. Mais do que um acessório indispensável da indumentária feminina, o leque está intimamente ligado à elegância, ao mistério e à arte da sedução.






O Leque Na perfumada alcova a esposa estava, Noiva ainda na véspera. Fazia Calor intenso; a pobre moça ardia Com fino leque as faces refrescava. Ora, no leque em boa letra feito Havia este conceito: «Quando, imóvel o vento e o ar pesado, Arder o intenso estio, Serei por mão amiga ambicionado; Mas volte o tempo frio, Ver-me-eis a um canto logo abandonado.» Lê a esposa este aviso, e o pensamento Volve ao jovem marido. «Arde-lhe o coração n′este momento (Diz ela) e vem buscar enternecido Brandas auras de amor. Quando mais tarde Tornar-se em cinza fria O fogo que hoje lhe arde, Talvez me esqueça e me desdenhe um dia.»

De-Tan-Jo-Lu

(Tradução de Machado de Assis, Lira Chinesa, “Phalenas”, 1870).



A génese do acervo de leques do Museu Municipal remonta à sua fundação, 6 de maio de 1894, tendo sido o próprio António dos Santos Rocha, no Catálogo Geral do Museu Municipal da Figueira da Foz, de 1905, a registar a incorporação dos primeiros exemplares. 125 anos depois a coleção reúne cerca de uma centena de leques, datados do século XVII ao século XX, cuja memória histórica nos remete para as mais longínquas origens etnográficas e orientais. Peças exóticas que se ocidentalizaram, aqui representadas em diversos materiais e tipologias, com diferentes proveniências e gramáticas decorativas, retratando momentos histórico-sociais, cenas orientais, mitológicas, galantes e campestres.


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