LISBOA CAPITAL REPÚBLICA POPULAR # 2009

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ABRIL, 2009

ENTREVISTAS A MÚSICOS

José Mário Branco, J. P. Simões, Manuel João Vieira, Janita Salomé, Camané, Tó Trips (Dead Combo), Luanda Cozetti (Couple Coffee), Tiago Santos (Cool Hipnoise), Sérgio Godinho.

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

LIBERDADE E INTERNET

Por entre direitos e deveres: um olhar sobre a polémica em torno da nova lei Criação e Internet que promete pôr fim aos downloads ilegais.

A CANTIGA É UMA ORGANIZAÇÃO ARMA POPULAR

As novas formas de censura e a censura na música: deambulações sobre o lápis azul em 2009.

Qual é a tua causa? Dezenas de pessoas responderam ao nosso repto e explicam por que causas lutam.

ESTE JORNAL NÃO FOI VISADO PELA COMISSÃO DE CENSURA


02 I ABRIL, 2009

FICHA TÉCNICA: DIRECÇÃO DO PROJECTO: ALEXANDRE CORTEZ E GONÇALO RISCADO DIRECÇÃO EDITORIAL: MAFALDA LOPES DA COSTA E SANDRA SILVA COORDENAÇÃO EDITORIAL: FERNANDA BORBA ASSISTENTE EDITORIAL: PATRÍCIA RAIMUNDO PRODUÇÃO EDITORIAL: 101 NOITES

REDACÇÃO: FERNANDA BORBA, MAFALDA LOPES DA COSTA, PATRÍCIA RAIMUNDO, SANDRA SILVA, C. SÁ DESIGN: PAULO ARRAIANO E JOSÉ DA PAZ AGRADECIMENTOS: MÁRIO ZAMBUJAL, IMPRESSÃO: GRAFEDISPORT - IMPRESSÃO E ARTES GRÁFICAS, S. A. TIRAGEM: 10 MIL EXEMPLARES

WWW.MUSICBOXLISBOA.COM MUSICBOX OFFICE TEAM: GONÇALO RISCADO, ALEXANDRE CORTEZ, JOÃO TORRES, JOÃO RISCADO, BÁRBARA VISEU, PEDRO AZEVEDO MUSICBOX VENUE TEAM: FERNANDA GONÇALVES, ANDRÉ PEREIRA, BRUNO MARINHEIRO, DINO CHAINHO, LEONARDO OLIVEIRA, TERESA SOUSA, LUÍSA DAMÁSIO, LEONEL PARIS, EMÍLIA ALVES, TERESA MOREIRA, JULIE PERRINOT, JOÃO PEDROSO


ABRIL, 2009 I 03

EDI TO RIAL Será que hoje, volvidos 35 anos sobre a revolução dos cravos, em plena era digital em que as novas velocidades da comunicação alteraram, quer a ordem mundial, quer a forma como vemos e nos vemos no mundo, ainda farão sentido as palavras de ordem que foram apanágio do 25 de Abril? Será que o combate pela Liberdade, Igualdade e Democracia ainda está na ordem do dia? Será que, neste momento da história em que se questionam todos os sistemas políticos, os ideais humanistas e o desejo de criar uma sociedade mais justa, ainda prevalecem como razões para a luta? Será que os ideais que moveram os Capitães de Abril ainda se justificam como motor de um qualquer movimento social? Apesar de nas últimas três décadas a nossa sociedade ter assistido a um desenvolvimento crescente, e de actualmente o acesso à saúde, à educação e à cultura- e a muitas das outras chamadas conquistas de Abril - serem um facto adquirido para a generalidade da população, é inegável o desconforto social vigente, tenha ele origem nas crescentes assimetrias, desigualdades e falta de oportunidades, ou no colapso do “el dourado” sistema

económico liberal. Numa era em que se vislumbram novas formas de controlo do tecido e contestação social, em que alguns agentes nos impõem novos formatos de censura, em que a profusão de informação torna por vezes difícil descortinar as verdades faz, ainda e como é óbvio, sentido falar de liberdade; dessa liberdade que nos urge a não deixar apagar da memória colectiva as lutas e os combates travados por ideais que são de sempre. Mas, mais do que lembrar Abril, há que dar-lhe vida e fazer da revolução que elegeu uma flor o motivo e o mote para uma reflexão permanente e actual. Aqui lançamos o debate: quais são hoje as grandes causas? Como nos relacionamos com elas? Como é que as comunicamos? Como, e para quê, se mobilizam as novas gerações? Como se motivam as mais velhas? Aqui estamos prontos para o combate e a nossa arma é uma das mais poderosas: a canção. Eis pois Lisboa, Capital, República, Popular! Um evento para lembrar Abril e os seus arquitectos, um acontecimento que queremos como inspiração para pensar e agir. Alexandre Cortez Gonçalo Riscado

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04 I ABRIL, 2009

OUTRO NADA TANTO A DENAVE- CLAGAR RAR !!! !!!

PARA PÔR FIM À PIRATARIA NA INTERNET, O GOVERNO FRANCÊS APROVOU NO PASSADO MÊS DE MARÇO O PROJECTO-LEI “CRIAÇÃO E INTERNET” QUE PREVÊ COMBATER OS DOWNLOADS ILEGAIS COM A APLICAÇÃO DE SANÇÕES AOS CIBERNAUTAS QUE OS REALIZEM. APLAUDIDO COMO O PRIMEIRO GRANDE PASSO PARA A PROTECÇÃO DOS DIREITOS DE AUTOR NA INTERNET E VAIA DO NO CIBERESPAÇO POR QUE CONSIDERADO COMO O PRINCÍPIO DO FIM DA LIBERDADE NA NET, AFINAL, DE QUE FALAMOS QUANDO FALAMOS DA LEI “CRIAÇÃO E INTERNET”? A lei “Criação e Internet”, sobre a difusão e a protecção da criação na Web, instaura o princípio de punição gradativa para lutar contra a pirataria na Internet. Com a nova lei, o internauta que pratique downloads ilegais de filmes ou música, ou de qualquer outro conteúdo protegido, passa a poder ser legalmente responsabilizado e punido. Para fazer cumprir a lei, será criada a Alta Autoridade para a Difusão de Obras e a Protecção dos Direitos na Internet (HADOPI). Este novo organismo congregará todas as informações relativas às partilhas ilegais de ficheiros e terá o poder de sancionar os actos de pirataria. Na prática, a lei será aplicada do seguinte modo: quando vítimas de um download ilegal, os detentores dos direitos vão passar a poder enviar uma queixa para esta Alta Autoridade com a indicação do IP do pirata. Com este dado, a Alta Autoridade contacta o fornecedor de acesso à Internet do suspeito de pirataria e, recolhidos os dados necessários à sua identificação, a Alta Autoridade envia a esse utilizador um primeiro e-mail de advertência. Caso este internauta cometa novamente, e no espaço de seis meses, mais algum download ilegal, receberá uma segunda advertência, desta vez por carta registada. Depois da segunda advertência, em caso de reincidência, a Alta Autoridade procede à suspensão do serviço de internet do utilizador por um período que poderá ir até um ano. Mas, sendo esta antes de mais uma lei que se quer preventiva e não punitiva - daí a fórmula gradual de sucessivas advertências prévias à sanção final – a lei

prevê ainda que o corte de acesso à internet possa ser atenuado de um ano para um a três meses no caso do utilizador se comprometer a não voltar a descarregar material ilegal da Internet. Apresentada como “uma medida de emergência” para salvaguardar a cultura num país em que, segundo o governo francês, os downloads ilegais de música e de filmes têm sido responsáveis por uma quebra de 50% nos últimos cinco anos na facturação destas indústrias culturais, a lei têm, no entanto, inúmeros detractores em França. Do parlamento – onde os Deputados do partido socialista, na oposição, votaram contra o texto por este desrespeitar a liberdade individual - ao jornal Liberation que, juntamente com as associações de defesa da liberdade na Internet, denunciou o “quixotismo” da lei face à realidade da World Wide Web, passando, claro está, pelos inúmeros defensores da liberdade de partilha de dados que vêem nesta lei o advento de um Big Brother punitivo à escala global e aplicado ao único espaço verdadeiramente livre dos nossos dias. Mas, para além das críticas centradas na intrusão no espaço e liberdade individuais, há ainda quem aponte na lei a sua falta de aplicabilidade. Segundo alguns especialistas em matéria de controle e gestão de internet, não só o impacto de uma lei nacional num contexto global, como o da Internet, é nulo, como a própria mutação permanente das técnicas de pirataria tornam a tarefa inglória, senão mesmo impossível, a qualquer organismo de regulamentação.

“NÃO SE TRATA NEM DE VIGIAR, NEM DE CRIMINALIZAR, NEM DE SUPRIMIR AS LIBERDADES FUNDAMENTAIS, A MENOS QUE CONSIDEREMOS O ROUBO COMO UMA LIBERDADE FUNDAMENTAL.” Christine Albanel, Ministra francesa da Cultura e da Comunicação

O DEBATE EM TORNO DO PROJECTO DE LEI “CRIAÇÃO E INTERNET” ESTÁ NA ORDEM DO DIA E A POLÉMICA JÁ SE INSTALOU EM FRANÇA E NO MUNDO, MAS TAMBÉM NA BLOGOSFERA E NA IMPRENSA. ESTA É UMA QUESTÃO QUE DIZ RESPEITO NÃO SÓ AOS CRIADORES, ARTISTAS, PRODUTORES E EDITORES, MAS A TODOS AQUELES QUE DESEJEM COMPREENDER ESTE MUNDO EM PLENA MUTAÇÃO EM QUE AS TROCAS CULTURAIS ALIMENTAM A GIGANTESCA REDE QUE POR SEU LADO POSSIBILITA A CRIAÇÃO DE NOVAS FORMAS DE ARTE E EXPRESSÃO. AQUI FICAM DUAS SUGESTÕES DE LEITURA DE DUAS OBRAS ESSENCIAIS PARA PERCEBER O CERNE DO DEBATE E PODER FORMULAR UMA OPINIÃO PESSOAL SOBRE UM ASSUNTO QUE IRÁ DECERTO MARCAR INDELEVELMENTE O FUTURO DA ARTE E DA CRIAÇÃO:

INTERNET & CRÉATION INTERNET & CRIAÇÃO DE PHILIPPE AIGRAIN, EDITORA IN LIBRO VERITAS. PVP 10 € À VENDA NA AMAZON.COM Philippe Aigrain, informático e investigador, especialista em ferramentas livres para o debate público sobre a internet, trabalha já há algum tempo na pesquisa de soluções futuras para remunerar a criação na rede. No seu último livro, Internet e Criação, analisa detalhadamente uma solução original que denomina de “contribuição criativa” (Creative Commons). Disponível simultaneamente em versão papel e digital através de download gratuito, o livro é distribuído em França pela editora In Libro Veritas, de Mathieu

Pasquini, pioneiro juntamente com Michel Valensi da distribuição em papel de livros de licenças livres. Enquanto alguns vêem na internet a destruição e enfraquecimento da criação, o autor propõe-nos uma visão singular desta problemática defendendo a liberdade das trocas entre internautas e um financiamento da criação. As suas propostas estarão obrigatoriamente no centro dos debates futuros sobre os direitos de autor e a criação na internet.

LA RÉVOLUTION MUSICALE IA REVOLUÇÃO MUSICAL

DE PHILIPPE AXEL, COM PREFÁCIO DE JACQUES ATTALI, EDITORA VILLAGE MUNDIAL PVP 22 € À VENDA NA AMAZON.COM A obra do artista independente e blogger Philippe Axel (philaxel.com) vai contra do projecto de lei de Nicolas Sarkozy (ver artigo na mesma página). Philippe Axel considera inelutável a gratuidade da música na internet visto o ficheiro de música digital, ao contrário do CD, poder ser partilhado e consumido várias vezes. Dito isto, o autor não acredita no modelo de download à unidade que se impôs com o iTunes. O autor oferece aqui um vasto panorama da música actual abordando questões que passam pelos aspectos jurídicos — nomeadamente a famosa lei DADVSI sobre o direito de autor e os direitos conexos na sociedade de informação — mas também pelas acções de

marketing que Axel afirma não estarem ao serviço da arte musical e dos músicos. Uma das sugestões propostas por Axel — que trabalhou largos anos na indústria discográfica e foi director de uma estação de rádio francesa — passa pelas bandas editarem CD´s de música interactivos que possam estabelecer uma ligação entre o consumidor (e somente ele) e o site do artista, bem como uma ligação bilateral com o espectáculo ao vivo: na compra do CD o consumidor pode obter um desconto no bilhete do concerto ou mesmo uma entrada gratuita, ou vice-versa, na compra do bilhete receber o CD gratuitamente.


ABRIL, 2009 I 05

PERFIL JOSÉ MÁRIO BRANCO

RESISTIR É VENCER

POR NÃO QUERER FAZER A GUERRA COLONIAL, EM 1963 PARTIU PARA FRANÇA À SOCAPA COM 3 CONTOS DE RÉIS NO BOLSO, SEM DIZER NADA A NINGUÉM. HOMEM DE CONVICÇÕES FIRMES, JOSÉ MÁRIO BRANCO FEZ DA MÚSICA UMA ARMA PARA COMBATER O SOFRIMENTO DO EXÍLIO E PARA ACORDAR CONSCIÊNCIAS POLÍTICAS. Cantava canções tradicionais ou de resistência à ditadura em reuniões de amigos, no Porto e em Coimbra, mas foi só em Paris, a partir de 1965, que José Mário Branco começou a fazer música. “Alguém se esqueceu de uma viola em minha casa e eu comecei a tocar de ouvido”, recorda. Como muitos jovens rapazes da época, José Mário Branco fugiu para França para escapar à Guerra Colonial: “Nem os meus pais nem a minha namorada da altura souberam que eu ia fugir”. Levava 3 contos de réis emprestados por dois amigos, o suficiente para a viagem, e nada mais. Longe da família, dos amigos e de uma vida muito activa, José Mário Branco encontrou na música um escape: “Foi para exprimir o sofrimento do exílio e pela necessidade de intervenção política que eu comecei a fazer umas canções. As primeiras que fiz eram em francês, porque se referiam ao meu quotidiano, só depois comecei a inventar cantigas em português”. Para além das canções, o músico teve de encontrar outras formas de suportar a dor da fuga forçada para França: “Disse cá para comigo: ‘vou adoptar um princípio que é contraditório nos seus termos, mas com o qual vou ter de viver’. Por um lado, vou-me comportar em França como se estivesse aqui para sempre, não só de passagem. Por outro, no dia – na hora! – em que eu puder voltar ao meu país, eu volto”. E assim foi. Em busca de alguma estabilidade emocional, apressou-se a casar, teve filhos, encontrou emprego e fez amigos como se nunca pensasse em regressar. Ao mesmo tempo que construía a sua vida em França, José Mário Branco começou a ter um papel activo de agitação política junto das comunidades imigrantes. “Só em França, éramos cerca de 80 mil jovens desertores portugueses! Esta juventude, que incluía muitos universitários traumatizados, começou a ser muito activa no meio de uma imigração que não era política, era económica. Estes jovens politicamente

motivados contra a ditadura e a guerra colonial começam a ter influência junto dos emigrantes portugueses pela Europa fora”. José Mário Branco e outros cantautores que nessa altura também estavam exilados em França começaram a percorrer todos os países europeus com comunidades de portugueses em sessões musicais e de agitação política: “Houve um período em que não havia um fim-de-semana em que eu não fosse cantar, algures na Europa, numa associação de imigrantes”, recorda. Com experiência de estrada e um reportório já constituído, José Mário Branco estreou-se nos discos em França. Em 1967 gravou o EP Seis Cantigas de Amigo, um conjunto de poemas da tradição trovadoresca musicados com uma sonoridade contemporânea, e, em 69, A Ronda do Soldadinho, um pequeno disco com duas canções contra a Guerra Colonial, financiado por associações de imigrantes, grupos de refractários espalhados pela Europa e pela própria Frente de Libertação Portuguesa sedeada em Argel. “Conseguimos meter cerca de 3.000 exemplares deste disco em Portugal clandestinamente. Passavam debaixo das mesas dos cafés, a 20 escudos, com uma capa branca, para escapar à polícia política. A Ronda do Soldadinho chegou mesmo – soube depois – à Angola em guerra! A canção foi transmitida uma vez numa rádio de Luanda. Não passou uma segunda, claro”. Depois dos EPs vieram os dois primeiros álbuns, Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, de 1971 e Margem de Certa Maneira, de 73. Na mesma altura, José Mário Branco começou também a dirigir e orquestrar discos de outros autores, como Sérgio Godinho ou Zeca Afonso, que conheceu em França. “As pessoas que queriam trabalhar comigo iam até Paris, gravávamos lá e depois era editado em Portugal”. Quando a Revolução dos Cravos estalou em Portugal, José Mário Branco cumpriu a segunda parte da promessa que fez a si mesmo onze anos antes, quando chegou a França. Ao

princípio da tarde de 30 de Abril de 74, o músico aterra no aeroporto de Lisboa. Nessa mesma noite, um grupo de cantautores onde José Mário Branco se incluía, reuniuse na casa de um deles e aí nasceu o Grupo de Acção Cultural (GAC), os cantores ao serviço da Revolução. “O GAC, nos finais de 74, chegou a ter 60 pessoas, cantores e tocadores. Às vezes conseguíamos fazer duas ou três sessões simultâneas, em vários sítios com as mesmas canções. Foi uma época gloriosa: corremos o país todo a cantar, nas mais diversas circunstâncias. Não era só na colectividade ou associação, tocámos no meio de praças, em cima de tractores, em palanques de comícios, dentro de fábricas ou de empresas. Nós servíamos como grupos de cantores de agitação política e de apoio às lutas”, explica José Mário Branco, o líder natural do grupo. O GAC pegava na aparelhagem e na carrinha velha e lá ia. Em três anos fizeram mais de 900 sessões, todas gratuitas. Os telefonemas para actuarem em festas de apoio a greves e manifestações choviam por aqueles dias: “Portugal estava a ferver. As pessoas, sobretudo as mais pobres – mais nas cidades do que nos campos – acreditaram que a vida tinha mudado, que poderiam tomar o destino nas suas mãos, que iam resolver os problemas com que se confrontavam. Havia um forte movimento social no país, com características até proto-revolucionárias, de contestação não só do regime que foi deposto e da guerra colonial que pouco depois foi obrigada a acabar, mas também contra o capitalismo pós-revolução”, recorda. Em 1978, José Mário Branco afasta-se do GAC por razões políticas e começa a trabalhar em nome próprio. A ditadura tinha terminado há já alguns anos, mas nem por isso as coisas ficaram mais fáceis. “Os cantores que estiveram muito presentes no período revolucionário, sobretudo aqueles que tomaram posições mais radicais como eu, foram sistematicamente silenciados não

só nas editoras mas também na rádio e na televisão. Havia uma atmosfera geral contra ‘esses cantores radicais’, o processo revolucionário já estava em refluxo, o movimento social estava a recuar. Nas elites mandantes havia uma grande má vontade contra nós”. Foi o que aconteceu com o projecto Ser Solidário/FMI, em 1980. Nenhuma editora aceitou gravar os discos, então José Mário Branco teve de encontrar uma solução: pôr o álbum que queria fazer em palco, num concerto ao vivo que esteve um mês seguido no Teatro Aberto, sempre esgotado. “À entrada cada espectador recebia uma carta minha que dizia: ‘Se você confiar em mim, deixe-me 500 escudos para que eu possa fazer o disco que eu depois mando-lho para casa’. O álbum, que sai em 82 juntamente com o maxi-single FMI, foi financiado pelo público, foi pré-comprado. Com o dinheiro dessa pré-compra eu tive dinheiro para pagar o estúdio, os músicos e a edição do disco”, explica o cantautor. Em 1985 a história repete-se com A Noite, álbum também recusado pelas editoras. José Mário Branco colocou cupões em jornais para que as pessoas interessadas pudessem financiar a produção do disco. Em Maio, encheu por duas vezes o Coliseu dos Recreios com um espectáculo auto-produzido onde apresentou o disco a quem tinha feito a pré-compra. “Gastei tudo o que tinha, mas depois ainda ganhei uns 500 ou 600 contos”, recorda. Apaixonado pela criação musical, José Mário Branco nunca abriu mão da liberdade criativa, e ainda hoje preferiria qualquer outra coisa a ceder às vontades de terceiros. “Por causa desta maneira que eu tenho de lidar com a produção e edição musical, fui sempre bastante intratável com as editoras. Fui sempre muito chato, discuti cada alínea dos contratos, não deixei que me pusessem a pata em cima do pescoço. Grande parte da minha obra foi produzida de forma alternativa, sem me sujeitar a nada nem a ninguém”.


06 I ABRIL, 2009

A NOITE PASSADA Com a queda do Regime, a liberdade de expressão e de reunião tornou obsoletas muitas das tertúlias que marcaram a vida dos bares e cafés até ao 25 de Abril. A discussão política fazia-se agora abertamente. As sedes dos partidos e as ruas passaram a acolher discussões acesas outrora apenas sussurradas por entre bicas e copos de whisky. A revolução dos cravos trouxe novos hábitos boémios e novos locais à noite lisboeta. Das tardes do

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célebre Café Gelo dos anos sessenta transitava-se agora para as madrugadas do Procópio com Natália Correia, para as notícias em primeira mão apanhadas ao balcão do Snob ou, ainda e sempre, para o copo de fim de noite num dos bares do Cais do Sodré. Democracia e liberdade impunham uma nova geografia à noite. Entre o Príncipe Real e o Cais do Sodré, eis alguns dos locais da noite dos longos dias do pós-revolução.

SNOB RUA DO SÉCULO, 178 {PRÍNCIPE REAL} PROCÓPIO ALTO DE S. FRANCISCO, 21 A { JARDIM DAS AMOREIRAS} BAR AMERICANO RUA BERNARDINO DA COSTA, 35 {CAIS DO SODRÉ} BRITISH BA RUA BERNARDINO COSTA, 52 {CAIS DO SODRÉ} RESTAURANTE FAZ FRIO RUA D. PEDRO V, 96 {BAIRRO ALTO} RESTAURANTE BOTA ALTA TRAVESSA DA QUEIMADA,37 {BAIRRO ALTO} TEXAS BAR RUA NOVA DO CARVALHO, 24 {CAIS DO SODRÉ} BAR DOM PEDRO V RUA D. PEDRO V,14 {BAIRRO ALTO}

RITMOS IMITADOS DOUTRA DANÇA EM TEMPOS LUGAR DE ELEIÇÃO DE MUITOS INTELECTUAIS, MARINHEIROS E ESTIVADORES QUE ALI BUSCAVAM UM REFÚGIO E UM PORTO DE ABRIGO, O TEXAS, HOJE MUSICBOX, GUARDA INÚMERAS HISTÓRIAS SECRETAS. Por entre o amarelo que o tempo imprimiu ao papel espreita sobranceiro a negro o traçado da tinta. O olhar perde-se em linhas rectas e vislumbram-se alçados. Em nota explicita-se a planta: “Prospecto de cazas que o illustrissimo e excellentissimo senhor marquês de Pombal manda edificar na Rua Nova de S. Paulo”.

Voltando ao tracejado, percorrem-se de novo as linhas à procura de um pormenor de reconhecimento, do elemento que faça a ponte entre o passado e o presente. É então que o olhar pára estupefacto: a meio, um pequeno edifício destoa do conjunto. Muito mais baixo, este parece compor-se apenas de uma enorme porta. Com o tempo como testemunha, dois séculos e meio passados, reconhecemos nesta porta a actual entrada do MusicBox, recordamos a néon o cinematográfico Texas e deixamo-nos levar em sonho pela visão da passagem dos cavaleiros do Reino que, por esta mesma porta, largavam a galope para o Terreiro do Paço.

Mandado construir pelo Marquês de Pombal aquando da edificação da zona adjacente à então Rua Nova de São Paulo, tudo indica que o actual espaço do MusicBox na Rua Nova do Carvalho tenha sido inicialmente destinado a cavalariças e, mais tarde, dada a proximidade com o Cais das Colunas, a armazéns. Ligada ao Tejo, e ao frenesim portuário, esta zona foi, ao longo dos tempos, acompanhando as mutações de Lisboa e dos lisboetas; ora crescendo com a cidade, e o comércio ditado pela proximidade do porto, ora vendo-se encurralar pelo emaranhado tecido urbano de uma capital em crescimento que lhe dita a periferia com a construção da “novíssima” Rua do Alecrim. Talvez porque preterida por esta ligação mais directa ao Bairro Alto, então coração de Lisboa, as ruas adjacentes à Igreja de São Paulo fecham-se sobre si próprias e, como que aproveitando o ter perdido o formigueiro do dia, vão lentamente tirando partido desta condição de “traseiras” do Tejo e abrem-se à noite e ao divertimento nocturno. Crescem prostíbulos anónimos que, na segunda metade do século XX, se transformam num autêntico mapa múndi de bares à imagem e semelhança das peregrinações portuárias: por entre Liverpool, Jamaica, Tóquio, Oslo, Roterdão e Hamburgo não há São Paulo que resista na rua transformada em convite à viagem. É neste cenário virado para a noite que nasce, em Outubro de 1950, sem nome de porto

mas igualmente apelando ao imaginário de uma travessia, a Discoteca Clube Texas. Era para se chamar Tejo mas, existência de um bar com o mesmo nome em Alcântara ditou-lhe o cunho americano. O gerente, José da Silva, alcunhado Zé Brasileiro por ter vivido no Brasil, é então uma das figuras mais carismáticas da noite do Cais do Sodré. Congregando marinheiros, mulheres “de má vida” e intelectuais, o Texas ganha fama e proveito em texto e película; entre muitos outros, João Botelho e Fernando Vendrell escolhem-no como cenário, e o editor, e exímio boémio, Manuel Hermínio Monteiro imortaliza-lhe o ambiente para a Revista K: “ Entra-se como no obscuro mistério das catacumbas. A seguir à porta, o mesmo corredor estreito em que Jonas escorregou até ao ventre da baleia. As vértebras são aqui uma sucessão de pétreos arcos de volta perfeita até ao fundo onde, como em vitral, se vê colorida a grande estrela do Xerife e, em menor escala, as carruagens, os cowboys e os cactos texano. As movimentadas luzes que dão nos globos de espelhos distribuem rodelas luminosas sobre os objectos e pelo espaço. Mal nos sentámos e logo a sedução nos rondou com habilidade de serpente. Ainda a primeira bebida demorava e já uma perna roçava a nossa perna.” De cavalariças, a armazém, a Texas, a MusicBox, uma mesma porta de “ritmos imitados doutra dança” a fazer a ponte do tempo no Cais do Sodré.

“A ESTUPIDIFICAÇÃO DOS MAIS FRACOS” MANUEL JOÃO VIEIRA (POSSÍVEL CANDIDATO ÀS PRÓXIMAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS) “Este país nunca foi nada de especial. Não está pior nem melhor do que sempre foi. As pessoas morrem menos à fome e têm uma miséria material relativamente menor, mas, quanto à miséria moral, provavelmente até poderá ter avançado um pouco. A alienação sempre existiu, mas neste momento transformou-se num outro tipo de alienação, uma alienação que infantiliza as pessoas e as aliena dos problemas da vida. E isso é a própria ideologia do sistema. Não estou a falar da exploração dos mais fracos, mas, sim, da estupidificação dos mais fracos. Da infantilização de toda a gente, de se tratar toda a gente como bebés. A televisão, por

DEPOIMENTO

exemplo, é um excelente instrumento para partir a união entre as pessoas, para partir o pensamento das pessoas e para partir a capacidade das pessoas poderem pensar. É possível mudar este sistema e não precisamos sequer de saber qual o sistema alternativo que queremos. Não precisamos de construir nenhum sistema teórico, mas, para começar, é preciso mudar este sistema económico e esta maneira de pensar. Porque é o sistema económico que está já há algum tempo a provocar alguns desequilíbrios a nível dos próprios recursos do planeta. E sem recursos… é chato, acabamos por morrer. É o chamado tiro no pé! Só que, agora, as pessoas já têm o pé dormente. E, portanto, não sentem.”


ABRIL, 2009 I 07


08 I ABRIL, 2009

VENHAM MAIS CINCO!

ATÉ QUE PONTO VIVEMOS HOJE EM DEMOCRACIA?

JP SIMÕES Até ao ponto de encontro: a democracia ou é participativa ou não é democracia. Os meus vizinhos de baixo vivem em ditadura e a minha vizinha de cima em anarquia: o governo é um país distante que envia telegramas perfumados com más notícias. TÓ TRIPS (DEAD COMBO) Vivemos numa tecnocracia onde uma geração de tachistas ocupam lugares de poder desde o 25 de Abril e alguns deles estão envolvidos em grandes casos de corrupção e nada se passa além de umas manchetes nos jornais. A falta de pressa na justiça revela um terceiro mundismo atroz. LUANDA COZETTI (COUPLE COFFEE) A questão da democracia em si não se põe. A questão põe-se em relação à percepção actual da liberdade enquanto facto adquirido, em relação à geração que já nasceu com a liberdade como facto adquirido e que tem da ditadura uma visão de distanciamento. SÉRGIO GODINHO A Democracia é uma coisa por definição imperfeita. Pelo que, há que lutar, muitas vezes sectorialmente, para que depois as coisas se conjuguem numa noção global de democracia. Democracia é também uma grande palavra que muitas vezes não é cumprida. Formalmente, há uma democracia no sentido em que podemos votar, em que não há censura formal dos órgãos de comunicação (ou dos livros, ou dos filmes) mas, esta democracia não se traduz em certos sectores da sociedade; basta pensar nas desigualdades sociais que continuam absolutamente tremendas. A desigualdade social continua a ser, infelizmente, quase que um motor da sociedade portuguesa. JOSÉ MÁRIO BRANCO É evidente que este regime em que vivemos, e que se intitula democrático, é dife-rente do regime fascizante que foi derrubado em 1974. Mas considero que continuamos, de certa forma, numa ditadura. É uma ditadura de uma classe dominante, de uma elite social que se manifesta em todos os campos – da economia à política, passando pela educação e pela comunicação –, e que assenta no exercício do poder por representação. Porque é que eu chamo ditadura a este sistema em

que vivemos? Porque ele tem o seu alicerce numa mentira: nós damos o nosso voto a uma pessoa – porque acreditamos que ela vai exercer o poder da forma como anunciou – e quando essa pessoa chega ao poder faz tudo ao contrário e nós não temos nenhuma maneira de lhe pedir contas. E nas eleições a seguir, ele vai continuar a mentir, a prometer o que não tenciona fazer e nós vamos ser enganados outra vez. Nas campanhas eleitorais, os políticos põem-se à venda como qualquer detergente. Nós votamos no político como votamos na coca-cola quando ela está no escaparate de um supermercado. Já não há cidadãos, há consumidores. Por isso é que eu me permito a ousadia de chamar a este regime em que nós vivemos uma ditadura. Claro que há sempre um espaço para o protesto. Ninguém me prende por eu dizer estas coisas, mas este espaço para o protesto é muito condicionado, porque a maior parte do espaço para as pessoas se encontrarem está ocupado por poderosos meios de comunicação, sobretudo televisivos, que são propriedade dessa elite. CAMANÉ Podemos exprimir livremente o que pensamos sem termos medo de sermos punidos por isso. Nesse sentido, podemos dizer que vivemos em democracia. TIAGO SANTOS (COOL HIPNOISE) Vivemos numa democracia sim, onde os seus diversos aspectos formais estão devidamente garantidos, mas a sua expressão material de concretização dos direitos está ainda adiada. O povo não acredita na justiça, sabe que ela não é igual para todos, que isso depende do poder económico. Mesmo os direitos de expressão são hoje condicionados pelas pressões que os poderes exercem sobre os mais fracos. Ou alguém tem dúvidas que um trabalhador precário está seriamente condicionado na sua liberdade de expressão e actividade política? Além de que muitas das garantias constitucionais dedicadas aos direitos sociais e económicos são diariamente violadas. O acesso à cultura, a arma maior da construção de um povo, que lhe permite questionar, inventar, criticar e criar, é uma miragem, fechada que está nos meios da elite. Vivemos uma democracia dos ricos e poderosos, dos grupos ligados aos círculos do poder. Depois existe o resto do país, que pode votar sim, mas a quem o Mercado não oferece os meios de concretização dos seus direitos, mas sim cartões de desconto.

JANITA SALOMÉ Vivemos o totalitarismo do politicamente correcto, sendo o politicamente correcto algo de contornos muito pouco definidos. A cada momento esta dúvida assalta a mente de qualquer cidadão que no seu quotidiano profissional ou social pretenda manifestar o seu descontentamento. Nos dias que correm não é difícil serse apodado de comunista, anarquista, desestabilizador, verde... enfim, um ror de adjectivos que “justificam” ou podem justificar o despedimento, a suspensão, ou o silenciamento do indivíduo. Só não há tortura ou prisão, mas aqui que venha o diabo e escolha. É esta a democracia em que vivemos e na qual eu ponho muitos pontos de interrogação. Podemos manifestar-nos, é certo (mas os governos são cegos e surdos); as mulheres podem sair do país sem autorização dos maridos (embora no regresso possam levar um tiro ou uma carga de porrada); um aluno já não chumba por faltar às aulas de religião e moral, mas é excomungado por defender o uso do preservativo (o que irá acontecer ao bispo de Viseu?). Passámos de país colonizador a colonizado... mas agora aqui para nós, sem humor nem ironia, temos que ser mais activos e solidários se queremos melhorar a qualidade da nossa democracia.

APESAR DA CENSURA TER ACABADO, EXISTEM OU NÃO NOVAS FORMAS DE CENSURA?

JP SIMÕES Não. Permanecem as velhas formas de censura, sem a carga policial de outros regimes. Mas a censura maior e mais subtil, que permanece e permanecerá, é a auto-censura: é ela que nos permite ir vivendo sem rebentar de raiva face a tanta imoralidade. Chama-se-lhe civilização. TÓ TRIPS Censura existe todos os dias, o que passa ou não passa nos meios de comunicação. O que não rende dinheiro não é convidado, aonde a polícia manda retirar uns livros por tem uma pintura famosa do Gustave Courbet. LUANDA COZETTI Existe uma censura de mercado que dita o que se vende e o que não se vende. Nunca fomos tão informados e nunca fomos tão desinformados. As pessoas têm muita informação e, se por um lado, parece estar tudo à vista, há muita informação vedada e, isto reflecte-se em tudo, deste as escolhas individuais ao que as crianças vêem

na televisão. Trata-se de uma censura mais subtil. SÉRGIO GODINHO Para além das novas formas de censura, existem também formas de autocensura preocupantes, quer nos meios de comunicação social, quer nas artes. É algo que se traduz numa certa maneira de “não estar demasiado mal” com certos poderes. Mas, não existindo, neste caso, um “grande espírito” por detrás disso e, estando essa autocensura na cabeça de cada um de nós, cabe também a cada um de nós o não pactuar com isso. Há que não pactuar com formas de nos minimizar, de nos retrair, de nos autocensurar. JOSÉ MÁRIO BRANCO Tudo o que te impeça de seres ouvido é censura. Na nossa época, com todo o desenvolvimento tecnológico, já não há outro impedimento que não esse. A auto-censura também foi um fenómeno muito comum no antigo regime e ainda o é no actual. As pessoas pensam duas vezes quando o que têm para dizer vai contra o sistema, ponderam o que é que estão a arriscar com isso. Há pessoas que quando fazem essa pesagem decidem calar-se ou suavizar aquilo que queriam dizer. Por isso é que Marx disse que um dia a revolução ia ser feita por aqueles que não têm mais nada a perder. A censura é um jogo perverso entre a margem que o sistema te dá para comunicar e a tua própria auto-censura. A coragem de falar tem um preço, que negociamos connosco próprios, e das duas uma: ou se está disposto a pagar ou não. CAMANÉ Há sempre pressões e tentativas políticas de controlo e manipulação dos media. Mas penso que não se pode falar em censura nos termos em que se falava antes do 25 de Abril. Penso que seria até insultuoso para quem sentiu a censura na pele. TIAGO SANTOS Existem, de facto. A auto-censura é hoje escandalosamente praticada, motivada por razões económicas, de sobrevivência. Os meios de comunicação estatais não exprimem todos os pontos de vista da sociedade. As mensagens de intervenção na música ou nas artes foi banidas da rádio, da televisão, mas é real na sociedade. Vive em guetos consentidos mas inofensivos. Eu sei que, à partida, se a minha música focar determinados assuntos, se tiver determinadas palavras não vai passar, não vai chegar ao público. Só há músicas de amor em Portugal! É bonito… mas


ABRIL, 2009 I 09

CAMANÉ,SÉRGIOGODINHO,JPSIMÕES,JOSÉMÁRIOBRANCO, LUANDACOZETTI,TÓTRIPS,TIAGOSANTOS,JANITA SALOMÉ não é real. Mas os pequenos poderes que alimentam esta estrutura piramidal baseada no lambe-botismo também exercem a sua censura discricionária, sem controlo nem responsabilização. Isto associado à falta de uma cultura de competência e de qualidade e à generalização da cunha e do favoritismo cria um quadro verdadeiramente negro que dispensa qualquer lápis azul. Os meios privados respondem aos interesses dos seus proprietários e do Mercado. Mas o interesse do desenvolvimento cultural do país, das suas gentes e da sua capacidade de exigir mais e melhor, é marginal na nossa sociedade. JANITA SALOMÉ Não há censura no sentido formal do termo mas, sendo tenebrosamente imprevisível o resultado da manifestação de opiniões ou acções de protesto de qualquer cidadão, existe algo igualmente tenebroso que é a auto-censura.

NA MÚSICA GANHOU--SE LIBERDADE, SERÁ QUE SE PERDERAM DIREITOS?

JP SIMÕES A música sempre foi a mais livre das expressões humanas e, como tal, não tem direitos nem deveres. TÓ TRIPS Começa se a assistir a uma perda e direitos em questões de trabalho. LUANDA COZETTI É inevitável. Já o era. Não adianta tentar combater. No meu caso, e de outros músicos como eu, somos uma geração ensanduichada entre a nova forma de divulgação e acesso à música e a forma a que estávamos habituados que passava pela existência do produto físico – o disco (até o longplay!). Tudo isso acabou mas, por outro lado, e falando de democracia, também temos que pensar que esta é uma forma de democratizar a arte. Há uma nova forma, porventura mais aberta de comunicação, de chegar às pessoas que, se dependesse apenas do mercado, não existiria. É duro pensar que a música circula sem os direitos mas, há que encontrar esses direitos associados a essa nova forma e não procurar fixar-se na velha fórmula. SÉRGIO GODINHO Penso que se perderam direitos, penso que estamos mais nas mãos de certos poderes, nomeadamente, nas mãos das grandes multinacionais. Perdeu-se também autonomia. Nas rádios perdeu-se autonomia com o fenómeno das playlists - que é um fenómeno assustador em que acabam por ser os chamados “assessores” que, comanditados por poderes mais altos, e muitas vezes sem conhecerem a realidade nacional, impõem o que passa ou não passa na rádio. Por outro lado, o advento da Internet e, sobretudo, do buraco negro que houve na legislação até agora, ajudou a que se perdessem muitos dos direitos. Foi um momento bastante negro o facto de todos estes meios de difusão pela internet se terem generalizado sem que houvesse uma adaptação e uma reacção atempada dos autores, dos artistas, dos produtores, dos editores e todos os intervenientes na cena musical. Depois, há também que pensar que o digital fez com que as cópias possam ser iguais ao original e, aí, a pirataria teve a sua carta de alforria! É inegável que se perderam direitos mas, agora há que responder a isso com novas formas de apresentar os chamados “produtos culturais”. JOSÉ MÁRIO BRANCO A Internet não mudou só o acesso à escuta da música, mudou também o processo de produção, que já tinha mudado muito com o aparecimento do digital. Agora, quase sem investimento nenhum, qualquer jovem pode ter um estúdio em casa. Isto é, a meu ver, um

avanço enorme: a produção democratizouse. O que complica tudo é que o consumo também se democratizou, com todos os meios de reprodução privada. No mundo da música editada, isso veio atingir de forma violentíssima o negócio das editoras tal como ele existiu sempre, o que traz, por arrasto, o problema do direito de autor. Filosoficamente – e contra mim falo – eu sou contra o direito de autor. O criador quando fala, canta ou escreve, já não é bem ele, é a humanidade toda que se está a exprimir através dele, porque a obra vai ser vista por outros que vão tomá-la como sua. Isto é típico da arte. Neste contexto, a pessoa que quer comungar com o criador dessa obra deve pagar por isso? O direito de autor tal como é entendido é típico de uma sociedade capitalista que explora as pessoas. Eu recebo os meus direitos de autor porque tento entendê-los como uma forma desviada de a comunidade me sustentar, de dizer que gosta do meu trabalho e que quer que eu continue. Isto não precisava de ser assim, se tivéssemos um Estado justo e colectivista. CAMANÉ Ganhou-se liberdade e, com isso, só se podem ganhar direitos. Não creio que se tenham perdido direitos. O caminho é longo mas é de evolução. TIAGO SANTOS A música atravessa momentos de grandes desafios. A referida falta de cultura, ou seja a falta de capacidade de uma grande parte da população de exigir qualidade, em vez do ilusionismo inofensivo que lhe dão a toda a hora, é na verdade o seu principal problema. Porque revela no fundo uma falta de liberdade de escolha. Uma amputação da democracia. Há liberdade para criar. Mas para ouvir, para exigir, para desejar algo mais, é preciso compreender, saber e conhecer o objecto do nosso desejo. É preciso experimentar. É claro que rejeitamos tudo o que não conhecemos, que à partida é estranho, porque temos medo da nossa incompreensão. Ela é a fonte do nosso medo. Ora, se andamos sempre a ouvir o mesmo, as mesmas canções melosas de sempre, os mesmos autores que passam sempre nas mesmas novelas e rádios, nem sequer nos questionamos sobre o que anda a ouvir o resto do mundo. O que será que nos pode dar mais? Diria então que o direito fundamental que perdemos foi o direito de sermos provocados. O direito de sermos mais nós, seres mais vivos, activos e responsáveis. O resto são questões conjunturais que fazem parte do momento que vivemos. JANITA SALOMÉ Se a palavra ganhou liberdade, certamente a música também, embora a opressão tenha igualmente estimulado o engenho e o génio criativo. Estou a lembrar-me neste momento do Zeca Afonso que, preso em Caxias, compôs um dos mais belos temas da música portuguesa de todos os tempos, “Era um redondo vocábulo”, entre outras. Dentro ou fora da prisão, criou e deixou-nos o seu precioso legado. Perde-se no tempo a memória de lutas por direitos, cujas conquistas custaram incontáveis sacrifícios, mortes, prisões, torturas na história da humanidade e, neste tempo virado do avesso, muitos dos mais elementares têm-se vindo a perder e outros estão em vias de seguirem o mesmo caminho. Estamos quase a chegar ao limite e a consciência da gravidade da situação que vivemos é cada vez mais generalizada e aguda. Avizinham-se tempos de grande tensão e violência, o desespero aumenta e já pouco há a perder. G20? Vamos ver...

QUE EXPECTATIVAS SOCIAIS FICARAM POR CUMPRIR?

JP SIMÕES Todas, visto que ainda estamos vivos. TÓ TRIPS Criaram se expectativas que se podia ter tudo a crédito, agora está aí o resultado.

LUANDA COZETTI Nenhuma! O 25 de Abril cumpriu o seu papel. Cabe a cada um de nós assegurar essa continuação. Mas, acho que a questão deve ser posta ao contrário: e nós? Será que nós cumprimos as expectativas em relação às coisas pelas quais se lutou? Em relação às expectativas do 25 de Abril? É injusto dizer que a sociedade está menos politizada. A política é uma atitude diária, passa pelo “bom dia” que se dá ao vizinho. Existem hoje milhares de grupos alternativos de intervenção. E de intervenção política! Basta abrir a Internet para ver isso. A Internet tem sido um enorme motor para essa intervenção e um instrumento fabuloso. Pensar que a sociedade está menos politizada é, para mim, um comodismo da chamada “velha forma” de ver as coisas; está diferentemente politizada mas, a grande maioria do mundo interessa-se pelo mundo. SÉRGIO GODINHO A injustiça da justiça em Portugal é algo a que eu sou particularmente sensível. Mas há também a situação dos velhos, dos reformados, das pensões de reforma... Acho que se está a regredir. Acho que uma pessoa tem direito de, ao fim de anos e anos de trabalho, a viver o resto da vida com dignidade e, ter dignidade é ter acesso às coisas e ter condições, não é ter que viver num sufoco. JOSÉ MÁRIO BRANCO Todas, excepto a liberdade de expressão, com aqueles limites censórios de que já falei. CAMANÉ Ficaram muitas. Parte do ideal de uma sociedade igualitária ficou obviamente por cumprir. TIAGO SANTOS Penso que a construção de uma sociedade mais justa, solidária e desenvolvida foi historicamente um objectivo do 25 de Abril que foi rapidamente reprimido. JANITA SALOMÉ Estas perguntas parecem afirmações, quase diria, respostas às perguntas anteriores. Muitas expectativas ficaram por cumprir mas o sonho anda à solta e, se tempos de grande tensão e violência se aproximam, também muitos sonhos se hão-de realizar!

HOJE A SOCIEDADE É MENOS POLITIZADA, MAS SERÁ QUE É MENOS INTERVENTIVA?

JP SIMÕES Sem dúvida: belo o dia em que a intervenção se resuma às pequenas tarefas administrativas nos intervalos do amor. Quando o Estado cumprir a sua função de mero tarefeiro das necessidades dos cidadãos e assim ficar claro para todos que a dignidade de um varredor do lixo que faça bem o seu trabalho e respeite os outros é maior do que a de um ministro que só faça disparates, tudo será mais suportável. TÓ TRIPS Espero que seja, quando se chegar a um ponto de não retorno, em que as pessoas tem que sair para a rua. LUANDA COZETTI É injusto dizer que a sociedade está menos politizada. A política é uma atitude diária, passa pelo “bom dia” que se dá ao vizinho. Existem hoje milhares de grupos alternativos de intervenção. E de intervenção política! Basta abrir a Internet para ver isso. A Internet tem sido um enorme motor para essa intervenção e um instrumento fabuloso. Pensar que a sociedade está menos politizada é, para mim, um comodismo da chamada “velha forma” de ver as coisas; está diferentemente politizada mas, a grande maioria do mundo interessa-se pelo mundo. SÉRGIO GODINHO Não sei se a sociedade está menos politizada, nem se as pessoas deixaram de se rever nos partidos: ainda na semana passada houve uma manifestação que juntou 200 mil pessoas! O que aconteceu

é que, de repente, depois do 25 Abril foi permitida a formação de partidos e, é verdade que eles surgiram com uma enorme pujança ocupando todo o espaço e que agora parecem ter perdido esse espaço. Mas, quanto a mim, ocuparam, e já nessa altura, talvez um bocadinho de espaço demais. JOSÉ MÁRIO BRANCO A capacidade de intervenção aumentou, mas ao mesmo tempo também diminuiu, porque é contida pelo condicionamento feito através dos media. CAMANÉ Há outras formas de intervenção, que não existiam na época. A internet social, as novas plataformas para troca de ideias, os blogs, os sites. Tudo isso são formas de intervir, que não implicam necessariamente sair para a rua .TIAGO SANTOS Hoje, assistimos a um grande número de pessoas que se mobiliza através do associativismo, nos mais diversos planos da vida. Nesse aspecto, estamos bem. Mas, ainda assim, existe uma grande marginalização de determinadas ideias. Embora as próprias circunstâncias tenham demonstrado que ficar à espera que o poder resolva os nossos problemas pode dar mau resultado, sobretudo para a generalidade da população. É por isso que hoje as pessoas se manifestam às centenas de milhares na rua. Porque acreditaram e foram enganadas. JANITA SALOMÉ Menos politizada? Não sei bem... Sei, isso sim, que o efeito aparentemente paralizante de três décadas de recuos a diversos níveis, principalmente social e económico, sustentados por uma informação manipulada, escamoteada, mentirosa, culminando com o estrondoso estoiro desta selvajaria neoliberal, deu lugar a um imparável movimento de contestação em toda a Europa e não só.

DE UM PONTO VISTA PESSOAL, QUAL FOI A MAIOR CONTRIBUIÇÃO DO 25 DE ABRIL?

JP SIMÕES Matar o que já estava morto. TÓ TRIPS A Liberdade e acabar com meio século de estagnação, a qual ainda hoje se reflecte na sociedade portuguesa. A minha geração ainda levou por tabela. LUANDA COZETTI O alívio de uma sociedade inteira. SÉRGIO GODINHO A grande contribuição foi a liberdade mas, também, o fim de um regime de “amarfanhamento” e o fim de uma guerra colonial que exauriu completamente este país. JOSÉ MÁRIO BRANCO Ter conhecido muitas pessoas com vontade de viverem melhor. Possivelmente já todas essas pessoas desistiram de lutar. Eu nunca me iludi, o 25 de Abril foi um golpe de estado para transformar um regime atrasado e mono-partidário numa democracia do tipo ocidental. De facto houve uma descompressão social, mas foi uma amostra do que pode ser um processo revolucionário. Falo sempre da experiência vivida, nunca falo do que se conseguiu ou deixou de conseguir. CAMANÉ A vida dos meus pais melhorou substancialmente depois do 25 de Abril. Eu era muito novo para perceber isso mas, hoje, olhando para trás percebo isso. TIAGO SANTOS O facto de ter existido por si só é uma inspiração para todos. A sua dimensão de sonho, de momento de grande mudança e transformação numa sociedade mais justa para todos, é parte inalienável da nossa carga genética enquanto corpo social colectivo. JANITA SALOMÉ A vontade de viver os sonhos de 48 anos de sono.


10 I ABRIL, 2009

A CANTIGA É UMA ARMA

O QUE É QUE OS BEATLES TÊM EM COMUM COM SERGE GAINSBOURG OU BRITNEY SPEARS? O QUE UNE OS SEX PISTOLS A CHICO BUARQUE OU OS NIRVANA A ZECA AFONSO?

Quando, em 1967, os Beatles lançaram Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, a cadeia britânica BBC apressou-se a banir o álbum das suas rádios. Em causa estavam supostas referências ao consumo de drogas em temas como “A Day in the Life” e o polémico “Lucy In The Sky With Diamonds”. Apesar de John Lennon ter dito em entrevistas que a canção surgiu a partir e um desenho feito pelo filho Julian, a BBC continuou a insistir que o título era afinal um código para LSD e que a música incitava ao consumo do ácido… Histórias como esta não são tão raras quanto se possa pensar. Nos anos 60 ou em pleno século XXI, em regimes ditatoriais ou em sociedades ditas livres, a censura existe e continua a ensombrar a liberdade dos artistas por esse mundo fora. Avançamos no tempo e as situações repetemse. No início deste ano, o 3º single de Circus, o último álbum de Britney Spears, fez estalar a polémica em algumas rádios norteamericanas. “If U Seek Amy” está em vias de não rodar nas rádios porque alegadamente a forma como a cantora interpreta o refrão soa a “fuck me”. Os responsáveis pelas estações dizem que os versos nem sequer tentam fazer sentido (“But all of the boys and all of the girls are begging to if you seek Amy”) e apontam a “responsabilidade pública” para justificar a decisão de banir a música. Consta que Spears vai contornar o assunto e aligeirar a provocação inicial ao substituir a palavra “seek” por “see”. Nos jornais de todo o mundo uma palavra encabeça a polémica: censura. Já nos anos 90 os Nirvana tinham tido o mesmo problema. As grandes cadeias de lojas K-Mart e Wal-Mart recusaram-se a vender o álbum In Utero porque a contra-capa mostrava imagens de fetos “inapropriadas a uma loja orientada para a família” e continha uma canção chamada “Rape Me”. A banda de Kurt Cobain cedeu às pressões do gigante, alterou o grafismo do disco e mudou o título da música para “Waif Me”. No CD, porém, a letra continuou intacta e com a ironia de “Radio Friendly Unit Shifter” – uma faixa composta por ruídos de feedback – os Nirvana piscaram o olho à censura radiofónica. Tentar fintar a censura foi uma preocupação dos artistas que viveram períodos de ditadura.

No Brasil, Chico Buarque foi um dos músicos que tentou, em vão, driblar a censura com canções como “Cálice”. Mais sucesso teve José Carlos Ary dos Santos, que conseguiu levar ao Festival da Canção as revolucionárias “Desfolhada Portuguesa” pela voz de Simone de Oliveira e “Tourada”, interpretada por Fernando Tordo. Os temas encapotados passaram intactos pelo lápis azul e lançaram o descrédito no regime. Em 2009, o Festival Eurovisão também não escapa às polémicas. “We Don’t Wanna Put In”, a música que representa a Geórgia no concurso, incomodou Moscovo por fazer um trocadilho provocador com o nome do presidente russo Vladimir Putin. Depois de muita polemica, a organização do festival decidiu mesmo afastar a Geórgia da competição. Palavras substituídas por ruídos ou por outras menos ofensivas, listas de canções desaconselhadas ou mesmo banidas fazem parte da história recente da censura na música. Um dos episódios mais caricatos aconteceu nos EUA, logo após os atentados de 11 de Setembro. A cadeia Clear Channel preparou uma lista gigantesca de temas a evitar, por serem “de mau gosto” face aos acontecimentos. Entre outras canções estavam “Ob-la-di Ob-la-da” dos Beatles, “Knocking On Heaven’s Door” de Bob Dylan, “Another One Bites The Dust” dos Queen ou mesmo “New York, New York” de Frank Sinatra. Temas que referem aviões ou que de alguma forma ironizam as desgraças - como “Aeroplane” dos Red Hot Chili Peppers, “Ironic” de Alanis Morissette ou “It’s The End Of The World As We Know It (But I Feel Fine)”, dos R.E.M., foram automaticamente excluídas. Canções com conteúdos políticos, sexuais ou expressões politicamente incorrectas continuam a causar celeuma, mesmo nas sociedades mais modernas. Aconteceu em 1930 com “Love For Sale” de Cole Porter, nos anos 60 com “Je T’Aime Moi Non Plus” de Serge Gainsbourg, e mais recentemente com “I Wanna Fuck You”, de Akon. Artistas que veicularam fortes mensagens políticas, como os Sex Pistols em Inglaterra, Zeca Afonso em Portugal e tantos outros pelo mundo fora, viram as suas canções banidas das rádios. Ainda hoje a discografia dos Rage Against The Machine não passa em algumas estações norte-americanas e a Chinese Democracy (2008), tão prometida pelos Guns ‘n’ Roses, não chegou, por razões óbvias, ao país em questão…

E DEPOIS DO ADEUS A MUSICA FOI SENHA E CRONTRA-SENHA DA REVOLUÇÃO. AQUI SE REPRODUZ A ORDEM DE OPERAÇÕES ELABORADA POR OTELO SARAIVA DE CARVALHO

1 – A confirmação do início das operações é determinada por qualquer dos seguintes sinais indicados nos parágrafos 2 e 3. 2 – Às vinte e duas horas e cinquenta e cinco minutos (22H55) do dia 24 ABR 74 será transmitida pelos “Emissores Associados de Lisboa” uma frase indicando que faltam cinco minutos para as vinte e três horas (23H00) e anunciado o disco de PAULO DE CARVALHO, “E depois do Adeus”. 3 – Entre as zero horas (00H00) e a uma hora (01H00) do dia 25 ABR 74, através do programa da Rádio Renascença, será transmitida a seguinte sequÊncia: A. Leitura da estrofe do poema: “ Grândola Vila Morena”

GRÂNDOLA VILA MORENA TERRA DA FRATERNIDADE O POVO É QUEM MAIS ORDENA DENTRO DE TI Ó CIDADE.

B. Transmissão do mesmo nome interpretada por José Afonso. 4 – Qualquer um dos sinais referidos nos parágrafos 2 e 3, aquele que for ouvido primeiro, confirma totalmente, por si só, o início das operações, que a partir de então se tornam irreversíveis para todas as unidades. 5 – TODAS AS UNIDADES devem munir-se de rádios que permitam manter uma escuta perfeita das emissões de Lisboa do Rádio Clube Português a partir da uma hora (01H00) do dia 25 ABR 74, embora não se prevejam comunicações antes da hora H. 6 – Se porventura houver alguma unidade que não tenha conseguido receber qualquer dos sinais referido nos parágrafos 2 e 3: deverá escutar a emissão de Lisboa do Rádio Clube Português, a partir da uma hora (01H00) do dia 25 ABR 74, até às quatro horas e trinta minutos (04H30) do mesmo dia, no mínimo. G R U P O D A T A H O R A * 25 03h00 ABR 74* S E N H A C O N T R A S E N H A CORAGEM – PELA VITÓRIA SECRETO Folha 1 de uma folha FONTE: ARQUIVO DO SITE DA FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES WWW. FMSOARES.PT


ABRIL, 2009 I 11

ENTREVISTA SERGIO GODINHO

A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR AQUI DEPOIS DO 25 ABRIL, QUANDO REGRESSOU DO EXÍLIO, QUE AMBIENTE VEIO A ENCONTRAR? Era uma alegria que se respirava no ar. Eu tinha vivido o Maio de 68, e tinha-o vivido mesmo por dentro, em Paris. No Maio de 68 havia uma espécie de troca de criatividade, de informações e de debates permanentes, não acho que isso tenha sido assim tão patente aqui mas, de facto, havia um ambiente de grande libertação, de alívio, de grande esperança. Estava em Vancouver quando veio o 25 de Abril, era refractário, não podia voltar para Portugal, estava do outro lado do mundo, estava na costa do Pacífico, e vim cá no princípio de Maio. Foi uma emoção muito grande mas, curiosamente, essa emoção vivi-a de uma maneira muito natural; estava contente, simplesmente contente. Senti o ambiente à minha volta de grande alegria e integrei-me naturalmente nessa alegria, mas de uma forma muito natural, quase assustadoramente natural. Tinha dois discos de antes do 25 de Abril (Os Sobreviventes, 1971 e Pré-histórias, 1972) e as minhas canções eram conhecidas. Muitas delas passaram incessantemente a seguir ao 25 de Abril: “Maré Alta”, “A Liberdade Está a Passar por Aqui”. Cantei nesses dias em que estive cá em Maio em vários espectáculos improvisados e foi, evidentemente, uma espécie de comunhão muito intensa entre mim e o público que sabia as minhas canções... sabiam as nossas canções, de nós todos, do Zeca (Afonso)... E, ver o Zeca ali, o Zeca que só tinha visto em Paris... E, também, ver os outros companheiros, o Zé Mário (Branco), o Luís Cilia, e os outros... Foi uma experiência muito intensa. Mas, ao mesmo tempo, muito natural. Nesse Maio, voltei ao Porto, à minha cidade, retomar os cheiros, as pessoas, os lugares, as esquinas. Quando voltei definitivamente de Vancouver, em Setembro – e não gosto da palavra definitivamente – o ambiente continuava

com uma efervescência particular e assim continuou durante o chamado PREC. Talvez por causa dessa efervescência, desse ambiente emocionante desses dias, se tenha depois sentido mais a desilusão, o sentir que não correspondeu precisamente, que as coisas não continuaram tão perfeitas como naqueles dias. Mas, é inevitável... la vie reprend ses droits, a vida retoma os seus direitos e, como diria o O’Neill, a vidinha também. HOUVE ALGUM MOMENTO CHAVE EM QUE SENTIU QUE PORTUGAL TINHA MESMO MUDADO? Houve um momento em que tudo se conjugou em algo de único, irrepetível, mágico: estávamos todos em palco no Pavilhão dos Desportos e o Carlos Paredes atacou – e, digo atacou porque o Paredes atacava com a sua guitarra – os “Verdes Anos” e eu lembrei-me que tinha uma paixão por esse tema quando tinha 18 anos. Nessa altura, tinha um discozinho com os “Verdes Anos” e ouvia-o incessantemente. Naquele momento, em palco, ao ouvir o Paredes revi os meus verdes anos e apercebi-me que o meu estar ali, ao lado do Paredes, depois de ter passado por tanta coisa – algumas delas horríveis – que agora eu estava ali numa nova realidade e que Portugal tinha mudado porque estávamos os dois ali. Esse momento foi a emoção máxima. Chorei. Esse momento foi sentir que Portugal tinha mudado e que fazíamos todos parte de uma mesma realidade que, a partir daí, tínhamos que construir entre todos. A FASE DO PREC É TAMBÉM VISTA COMO UM PERÍODO DE EXCESSOS... Houve excessos, houve gente que esteve presa por razões absolutamente ridículas, houve poderes que abusaram de outros poderes, nomeadamente o COPCON que, com o Otelo à frente, reprimiu outros grupos políticos. E houve também excessos de uma certa direita. No entanto, devo também dizer que fomos muito brandos em

relação aos agentes da ditadura, da polícia política, nomeadamente da PIDE. Acho que aconteceu uma coisa que é muito portuguesa e que consiste numa espécie de apagar o passado para promover uma reconciliação ainda que, no fim de contas, isso tenha um aspecto de paz podre. Mas, por outro lado, ainda bem que não se fuzilou ninguém! É verdade que a certa altura se perdeu o pé à realidade e a revolução se voltou contra si própria; foram avanços que geraram recuos. Mas, uma revolução não é uma coisa que dura, é um momento que transforma as coisas e que depois deixa um caminho aberto – até para poder ser desvirtuada. Não há revoluções permanentes. NESSA ALTURA, AO ARTISTA É TAMBÉM PEDIDO QUE PARTICIPE DE UMA FORMA MUITO CONCRETA E INTERVENTIVA NA CONSOLIDAÇÃO DOS VALORES DA REVOLUÇÃO, COMO EM CAMPANHAS DE DINAMIZAÇÃO CULTURAL… Eu não fui um grande adepto das Campanhas de Dinamização Cultural. Sempre achei que era preciso que existissem pessoas bem preparadas para fazerem essas acções e que não bastava apresentarmo-nos simplesmente como artistas. A única acção em que eu realmente participei foi nos Açores. E tive algumas más surpresas – que não foram surpresas, foram confirmações. É claro que havia pessoas excelentes, havia um enorme voluntarismo e havia pessoas que realmente comunicavam com as populações mas, havia também muito paternalismo e, sobretudo, uma espécie de pedagogismo muito pouco sustentado que me fez alguma comichão, ou melhor, bastante comichão. MAS, E O LADO DA INTERVENÇÃO? DA CANÇÃO DE DE INTERVENÇÃO... Eu nunca percebi muito bem essa palavra “intervenção”. O que é que isso quer dizer?

Tudo é intervir – passe a banalidade – tudo é intervir; de maneiras diferentes, em pontos diferentes da sensibilidade das pessoas, numa consciência mais social, numa consciência mais íntima, numa consciência mais lúdica, numa consciência mais transmissível, mais interrogativa… Tudo isso são formas de intervir. Esse rótulo, as canções que podem configurar esse rótulo, tanto em mim, como no Zeca Afonso, como em outros, correspondem, quanto muito, a dez por cento do trabalho. E, não estou a renegar nada, até porque ainda canto o “a paz, o pão, habitação”. Canto porque acho que faz sentido. Há muitas e diferentes maneiras de intervir. Por exemplo, o Hip Hop, um certo Hip Hop, é uma das vozes desse lado mais social, de tocar as feridas, mas chamar a isso, rotular isso de interventivo? É um disparate! FACE À MÚSICA QUE SE FAZIA E À MÚSICA QUE SE FAZ HOJE, QUAL A SUA VISÃO DA ACTUAL CRIAÇÃO MUSICAL EM PORTUGAL? A música portuguesa tem uma pujança especial. Acho que nessa altura se desenvolveram vários géneros que continuaram a existir e, agora, a coexistir. Fenómenos que, dentro do classificável, vão desde o Rock, ao Jazz, ao Fado, à música de cariz mais tradicional, aos chamados géneros híbridos, passando por coisas que têm uma marca mais autoral… Mas, isto são etiquetas e, eu não gosto de etiquetas. O que é interessante, é que apareceram aquilo a que se chamam pomposamente “novos valores” em cada um destes géneros e, sobretudo, o que é interessante, é que não há medo de criar: as pessoas experimentam, as novas gerações experimentam.


12 I ABRIL, 2009

ENTRE O SOL ACORDEM AS E A TERRA GUITARRAS 1974 NO MUNDO

13 DE FEVEREIRO EXPULSÃO DO ESCRITOR SOVIÉTICO SOLJENITSYNE DA U.R.S.S. 22 DE FEVEREIRO O PAQUISTÃO RECONHECE O BANGLADESH. 6 DE ABRIl ESTREIA EM NOVA IORQUE DO FILME LADIES AND GENTLEMEN: THE ROLLING STONES. 18 DE ABRIL MORTE DO ESCRITOR FRANCÊS MARCEL PAGNOL DA ACADEMIA FRANCESA. 12 DE MAIO ESTREIA DO FILME PARADE DE JACQUES TATI. 15 DE MAIO ESTREIA, EM FRANÇA, DO FILME TOUTE UNE VIE DE CLAUDE LELOUCH. 24 DE MAIO MORTE DO MÚSICO DE JAZZ DUKE ELLINGTON AOS 75 ANOS. 16 DE JUNHO BJORN BÖRG, AOS 18 ANOS, TORNA-SE O VENCEDOR MAIS JOVEM DE ROLLAND GARROS. 29 DE JUNHO O CANTOR FRANCÊS CHARLES AZNAVOUR ALCANÇA O N°1 DOS TOPS NOREINO UNIDO COM O SINGLE SHE. 5 DE JULHO EM FRANÇA, A MAIORIDADE PASSA A SER ALCANÇADA AOS 18 ANOS. 11 DE JULHO LEGALIZAÇÃO DO DIVÓRCIO POR MÚTUO CONSENTIMENTO EM FRANÇA. 29 DE JULHO PRIMEIRA CONVENÇÃO DOS FÃS DOS BEATLES. 24 DE JULHO FIM DA DITADURA NA GRÉCIA. 8 DE AGOSTO O PRESIDENTE NIXON DEMITE-SE, GERALD FORD TORNA-SE O 38º PRESIDENTE DOS ESTADOS-UNIDOS. 12 DE AGOSTO NOVA OFENSIVA TURCA NO CHIPRE. 16 DE AGOSTO PRIMEIRO CONCERTO DO GRUPO AMERICANO THE RAMONES; O CONCERTO TEVE LUGAR NO CLUB CBGB’S EM NOVA IORQUE. 12 DE NOVEMBRO SURGIMENTO DO MOVIMENTO HIP HOP. 21 DE DEZEMBRODEPOISDEUMA LONGA E DIFÍCIL DISCUSSÃO A LEI “VEIL” SOBREA INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIADAGRAVIDEZ (IVG – INTERRUPTION VOLONTAIRE DE LA GROSSESSE) FOI ADOPTADA PELO PARLAMENTO FRANCÊS.

ALBUNS EDITADOS EM 1974 WATERLOO ABBA BUTTERFLY BALL ROGER GLOVER HIGH VOLTAGE AC/DC AWB AVERAGE WHITE BAND GET YOUR WINGS AEROSMITH GRACIAS A LA VIDA (HERE’S TO LIFE) JOAN BAEZ SECRET TREATIES BLUE ÖYSTER CULT DIAMOND DOGS DAVID BOWIE FEAR JOHN CALE SOON OVER BABALUMA CAN 461 OCEAN BOULEVARD ERIC CLAPTON PARADISE AND LUNCH RY COODER INTRODUCING THE ELEVENTH HOUSE LARRY CORYELL GET UP WITH IT MILES DAVIS DOWN BY THE JETTY DR. FEELGOOD BEFORE THE FLOOD BOB DYLAN PLANET WAVES BOB DYLAN ELDORADO ELECTRIC LIGHT ORCHES TRA TAKING TIGER MOUNTAIN (BY STRATEGY) BRIAN ENO GARCIA JERRY GARCIA THE LAMB LIES DOWN ON BROADWAY GENESIS YOU GONG DARK HORSE GEORGE HARRISON LOOSE ENDS JIMI HENDRIX HANGIN’ AROUND THE OBSERVATORY JOHN HIATT CREATURES OF THE STREET JOBRIATH ROCKA ROLLA JUDAS PRIEST KISS KISS HOTTER THAN HELL KISS WALLS AND BRIDGES JOHN LENNON FEAT’S DON’T FAIL ME NOW LITTLE FEAT SECOND HELPING LYNYRD SKYNYRD MO’ROOTS TAJ MAHAL

NATTY DREAD BOB MARLEY GOOD OLD BOYS RANDY NEWMAN TOO MUCH TOO SOON THE NEW YORK DOLLS THE END NICO SILK TORPEDOES THE PRETTY THINGS SHEER HEART ATTACK QUEEN QUEEN II QUEEN ROCK ‘N’ ROLL ANIMAL LOU REED I WANT TO SEE THE BRIGHT LIGHTS TONIGHT LINDA ET RICHARD THOMPSON COUNTRY LIFE ROXY MUSIC TODD TODD RUNDGREN ILLUMINATIONS SANTANA FLY TO THE RAINBOW SCORPIONS OLD NEW BORROWED AND BLUE SLADE MANHOLE GRACE SLICK KIMONO MY HOUSE SPARKS POPAGANDA SPARKS CRIME OF THE CENTURY SUPER TRAMP SWEET FANNY ADAMS SWEET DESOLATION BOULEVARD SWEET ZINC ALLOY AND THE HIDDEN RIDERS OF TOMORROW MARC BOLAN & T. REX PHENOMENON U.F.O. VEEDON FLEECE VAN MORRISON 1969: VELVET UNDERGROUND LIVE Vol 1 E 2 THE VELVET UNDERGROUND THE HEART OF SATURDAY NIGHT TOMWAITS THERE’S THE RUB WISHBONE ASH FULFILLINGNESS’ FIRST FINALE STEVIE WONDER ROCK BOTTOM ROBERT WYATT RELAYER YES ON THE BEACH NEIL YOUNG RED KING CRIMSON


ORGANIZAÇÃO POPULAR

POR QUE CAUSA LUTARIAS ATÉ VENCER OU SER VENCIDO? LANÇÁMOS O REPTO A ALGUNS AMIGOS; EIS AS RESPOSTAS. E TU, QUAIS SÃO AS TUAS CAUSAS?

RUI VENTURA, 31 ANOS. MARKETING E COMUNICAÇÃO CAUSA: FAZER UMA REVOLUÇÃO MAIS PICANTE. Os cactos são plantas lutadoras, que sobrevivem em condições inóspitas. Conseguem transformar uma simples gota de orvalho em vida. Por outro lado, possuem uma dura couraça de esporos capaz de ferir os mais incautos. Apesar da sua espartana aparência, de quando em vez, os cactos dão flores, semelhantes a pequenos cravos. Não têm a fragrância e a energia dos cravos, mas são símbolos de esperança, de vida e de luta. A revolução dos cravos murchou e gerou um enorme deserto de cactos. Cactos com capacidade de luta, com capacidade de vida mas que ao contrário dos cravos não têm uma natureza gregária. Cactos que se juntam apenas em pequenas tribos, espécies e subespécies, em pequenas corporações que lutam pelos interesses dos seus iguais mas que não têm capacidade colectiva, nem capacidade de lutar por algo maior. Reguemos estes cactos com esperança para que um dia os mesmos se possam juntar e fazer uma revolução mais picante. A revolução dos cactos. I. TORRES, 57 ANOS.. PROFESSORA CAUSA: VOLTAR A LUTAR . Eu ainda lutaria (lutarei) por... se... Mas, a verdade é que estou farta e cansada e, sobretudo, deixei de Acreditar... E, escondime com medo! Não que eu alguma vez pudesse ter a veleidade de pensar que os anos não me teriam roubado já aquela inocência que noutros tempos me mantinha alerta e lutadora, mas... fartei-me da corrupção institucionalizada! Cansei-me de tantos crimes sem castigo! Deixei de acreditar que a verdade ainda exista. Já nada é transparente! E, nós todos, que condescendemos ou silenciamos ou que somos silenciados. E eu, que digo baixinho que já não vale a pena lutar. Fui perdendo tudo isso sem saber bem como. Parece que já ninguém se importa, que já ninguém se indigna ou grita de indignação e eu deixo-me arrastar pela multidão nesta inexplicável impotência e apatia de Abril adormecido! Se eu voltaria a lutar? Claro que sim! Levantar-me-ia de novo e desfraldava todas as minhas bandeiras invisíveis, se conseguisse romper a opacidade que nos esconde o sol e visse surgir uma verdade - uma única que fosse - que não se tivesse perdido nos impenetráveis, tenebrosos e labirínticos bastidores que regem o mundo de hoje. Já quase não espero que alguém me prove que isso ainda seja possível. É que eu deixei de Acreditar e também não me perdoo por isso! Mas, de vez em quando, tenho estes ataques de nitidez, e não tenho a quem contá-los. DIOGO ALMEIDA, 24 ANOS. AGENTE CULTURAl CAUSA: A ABOLIÇÃO DO

PSEUDO-INTELECTUALISMO E ELITISMO. A abolição do pseudo-intelectualismo e elitismo que ainda perdura no pensamento cultural português, heranças de uma revolução que também trouxe as suas injustiças e incongruências. Por oposição, louvar o pensamento cultural apolítico e/ou apartidário, sem preconceitos estéticos e próximo da identidade cultural portuguesa. Exaltar o sentir profundo das belas artes, respeitando o que a nossa intuição nos diz e desvalorizando quem assina o que estamos a ouvir, ler ou ver. Parafraseando Eça de Queirós: “nada influencia mais profundamente o sentir do homem do que a fatiota que o cobre”. ISABEL MARQUES, 56 ANOS. MÉDICA RADIOLOGISTA CAUSA: PERSEGUIR A UTOPIA VENCER É LUTAR por LIBERDADE VENCER É LUTAR por IGUALDADE VENCER É LUTAR por FRATERNIDADE VENCER É LUTAR por CULTURA VENCER É LUTAR por PAZ São lugares comuns. SÃO. Fazem todo o sentido. FAZEM. HOJE e SEMPRE . DIA a DIA. TODOS NÓS e UM A UM. Tudo o que conquistámos é já PASSADO. O FUTURO é perseguir a UTOPIA. ESTA passa por AQUI! Vem nos livros, e sente-se no coração. JOSÉ LUÍS FERREIRA, 41 ANOS. RELAÇÕES INTERNACIONAIS CAUSA: A REVOLUÇÃO NA CRIAÇÃO ARTÍSTICA É muito curioso que estejamos agora, aqui no TNSJ, metidos com Brecht, esse autor que finalmente pôde ser feito e visto em Portugal por alturas de Abril. O que Brecht nos propõe é a utilização do Teatro (essa arte colectiva da palavra) para nos observarmos, criticarmos e posicionarmos face a um mundo que precisamos de reinventar permanentemente. Infelizmente, o debate das artes e da cultura enquanto missão central de um Estado moderno e civilizado está, trinta e cinco anos depois, muito longe de estar ganho. Pelo contrário! A ideia normalizadora de uma vidinha de produtor, consumidor e contribuinte tem afastado sempre mais um pouco a possibilidade de nos interrogarmos seriamente e de percebermos como nos tornamos mais humanos através dessa prática ancestral que é a criação artística. Aqui está, portanto, um dos mais importantes territórios contemporâneos da revolução. Faça-se! TIAGO GONÇALVES, 36 ANOS. PUBLICITÁRIO CAUSA: TER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO. - Eu sou do Belenenses. - Eu tenho um lugar cativo na Luz. - Eu sou despojado. - Eu tenho umas havaianas. - Eu sou apaixonado. - Eu tenho garrafa no Lux. - Eu sou carente. - Eu tenho um IPhone - Eu sou ciumento. - Eu tenho o Gold Card da American Express. - Eu sou distraído. - Eu tenho um Rolex. - Eu sou teu amigo. - Eu não tenho amigos. ANGELA RELVA, 65 ANOS. PROFESSORA UNIVERSITÁRIA

(REFORMADA) CAUSA: O DESENVOLVIMENTO CULTURAL. Escolher uma causa porque lutar? Difícil. Existem muitas. Todas elas lugares comuns que se propagandeiam e nada mais. Aos 65 anos diria que me apetece “depor armas”. Espera! Posso oferecer-me para distribuir o jornal. Vem-me então à memória o tempo em que vendia o Esquerda Socialista à porta do Quartel-general das Forças Armadas. Acontece que, da política à ciência, dos fazedores de opinião à pessoa comum, são cada vez menos as pessoas que pensam e mais as que papagueiam, tentando levar os outros a entender os problemas de forma tendenciosa. Vencer é lutar pelo desenvolvimento cultural que nos tornará imunes à retórica, à maledicência, à intriga e à inveja permitindo-nos formar serenamente o nosso juízo, baseado no nosso próprio discernimento informado. MARTINA FONSECA. 18 ANOS. ESTUDANTE UNIVERSITÁRIA CAUSA: LUTA CONTRA O CANCRO Como futura Engenheira Biomédica, uma causa com a qual me identifico muito é a luta contra o Cancro. Têm sido muitos os avanços científicos e tecnológicos feitos a nível do seu diagnóstico e tratamento, no entanto falta o mais essencial: a consciencialização social. Como pessoas livres, temos a responsabilidade de lutar pelo nosso bem-estar e saúde, tomando conhecimento das medidas preventivas, fazendo consultas de rotina e alertando outros. Dever-se-ia apostar na consciencialização e informação porque, em primeira instância, tudo depende de nós.

SOLANGE MÉSONNIER, 49 ANOS. PROFESSORA CAUSA: A MINHA FILHA Lutar por um ideal? Primeiro é preciso ter um ideal! Maio de 68 em 2009 é do domínio da utopia. O que é que se passou? O cansaço, a solução fácil, o estar farto de uma sociedade onde já nada funciona, onde toda a gente se vende, onde o comportamento de cada um é “salve-se quem puder”, onde a palavra “solidariedade” mete medo porque se não tenho o suficiente para mim como poderei dar aos outros? O mundo adormece, os sindicatos desaparecem... Mas creio que, se tivesse que lutar por alguma coisa, lutaria por um ser querido, pela minha filha que é a coisa mais importante da minha vida. Talvez seja egoísta, e tenho plena consciência disso, mas é o que conta para mim. LURDES CASSOLONGO, 37 ANOS. DOMÉSTICA E ESTUDANTE CAUSA: DIREITO DE MORRER Eutanásia é uma forma de apressar a morte de um doente incurável sem que este sinta dor ou sofrimento. Muitas pessoas são contra a eutanásia, favorecendo a Distanásia. Distanásia é a forma de atrasar o mais possível a morte, usando todos os meios, ainda que não haja esperança de cura. Não acham que é imoral alguém impor ou aceitar o sofrimento de outra pessoa? Haverá alguma razão para prolongar esse sofrimento? É correcto permitir que alguém viva no estado vegetativo, com dor e sofrimento? Para mim não. Do meu ponto de vista,

ABRIL, 2009 I 13

a eutanásia é a forma de aliviar a dor e o sofrimento das pessoas com doença incuráveis e em estado moribundo. Mas, apesar de tudo, levantam-se muitas questões. Será que alguém tem direito de pôr fim a própria vida? Ou de decidir pôr fim à vida de outra? É correcto permitir que o doente viva no estado vegetativo com dor e sofrimento? Esse é um dilema que todos enfrentamos. Eu sou a favor da eutanásia mas, antes de mais, deveríamos legislar: deveria ser sempre escrita uma carta com a vontade do doente ou, no caso da impossibilidade da pessoa se mover ou falar, com essa vontade expressa através de testemunhas e um parecer médico. Desta forma, evitar-se-iam “assassínios” em nome da eutanásia e, evitar-se-ia que amigos e familiares praticassem esses actos por razões financeiras ou peso emocional ou, mesmo, noutras situações, para se apoderarem dos bens dos doentes. Por tudo isto, vou lutar pelo direito de morrer. PATRÍCIA BRITO, 40 ANOS. JORNALISTA/VIAJANTE As minhas causas são: a intolerância, a indiferença, a apatia, sacos azuis, tachos sem fundo, mãos sujas, fronteiras políticas e económicas, pavões e pigmaleões, falsos ideais, idiotas, uma liberdade controlada, a solidão global, descriminação, pessoas atiradas ao mar, judeus sem memória, terroristas de pacote, inteligentsias, moralistas, fundamentalistas... inacabável lista digna de miss Portugal, mas neste mundo eu não gosto de viver. ISABEL ABOIM INGLÊS, 37 ANOS. REALIZADORA, PROFESSORA CAUSA: LIBERDADE Falar de liberdade é construí-la a todo o instante, é desfrutá-la a todo o instante e, isso é um processo de “luta”. Não há que ter medo das palavras, elas não são pregões, são acções. Acções “revolucionárias” que são as do dia-a-dia, da nossa prática quotidiana e solidária. A luta em si já é uma vitória, uma vitória conquistada pela liberdade. Assim “Lutar é vencer”, pois lutar é tentar, é ter um ideal pelo qual lutar. Até errar, ou perder, mas sempre um exercício dessa mesma liberdade, nunca abdicando dela. Liberdade que é e deve ser, condição para sermos Mulheres e Homens (com letra grande!). A luta continua! MÓNICA MARQUES, 38 ANOS. BLOGGER E JORNALISTA, CAUSA: O FANTÁSTICO DIREITO DE ESCREVER O fantástico direito de escrever, cartas, notas, recados, bilhetes, listas de supermercado, histórias verdadeiras ou inventadas. Toda a gente devia escrever, músicas, poesias, quadras, bulas de remédios, receitas culinárias, receitas médicas. Qualquer coisa que fosse, qualquer coisa que seja, por mais parva, mais insignificante, mais obtusa, mais excêntrica, mais genial. E cartas de amor. E fazer cem revoluções por minuto, letra a letra, com virgulas ou sem virgulas, enormes pontuações, interrogações à brava e exclamações à bruta. Escrever é a maior cura, a melhor forma de entender e resolver o mundo. Escrever é a melhor coisa do mundo.


14 I ABRIL, 2009 RITA FONSECA, 32 ANOS. ENGENHEIRA. CAUSA: OS MEUS FILHOS A minha Causa são os meus filhos. E acho que devia ser a Causa de Todos! Pedante!... A minha causa é vê-los: - sentirem orgulho dos que contam histórias. Aquelas Histórias. Daquele tempo. Do dos avós. - evoltarem-se contra as injustiças. Gritarem! - serem generosos. - emocionarem-se ao ouvir Aquela música, ao ver Aquele filme. EMOCIONAREM-SE! - continuarem a ter Causas de Todos e Lutarem por elas. Os meus filhos estão a ser educados convosco e com os vossos filhos e filhos de filhos. E por isso eu peço: colegas, pais de colegas, professores, família, patrões, empregados, políticos, amigos. Todos! A minha Causa são os meus Filhos! E a vossa?

entravam por um ouvido e saíam por outro. Contudo, penso que já estou a ganhar esse hábito, porque no meu tempo, o presente, devia existir “obrigada”, “de nada”, segurar a porta, dar o nosso lugar nos transportes… entre muitos outros gestos. Porque afinal, o tempo muda, as gerações vão passando, mas o civismo é para ficar.

BERNARDO TELES FAZENDEIRO, 24 ANOS. ASSISTENTE ESTAGIÁRIO DA FAC. DE ECONOMIA DA UNL. CAUSA: PORTUGAL ROCHA NA CORRENTE E NÃO AREIA SOMENTE! Pelo mundo, as rochas de cada nação erodemse com o peso da maré. Os traços anteriores, distintos e originais, moldam-se para grãos iguais de areia – praias homogéneas de Lisboa a Seattle. Que haja praias, de facto, mas de areal e de pedra, e que se lute para que Portugal seja Rocha na corrente e não areia somente!

PEDRO RAMOS PINTO, 31 ANOS. HISTORIADOR CAUSA: VÍCIOS PÚBLICOS, VIRTUDES PRIVADAS? Todas as causas são importantes, mesmo aquelas de que discordamos: só através delas podemos participar na construção do nosso próprio futuro. Desesperar dos vícios públicos e virar-lhes as costas abraçando as virtudes privadas é deixar que outros façam o nosso futuro por nós. Todos temos ideias sobre o que devia ser, e o que devia deixar de ser. Essas esperanças só alguma vez se concretizarão se nos empenharmos pelas nossas causas, tentarmos compreender as dos outros e, juntos, construirmos uma nova virtude pública.

MARIA TERESA RELVA, 52 ANOS. PROFESSORA CAUSA: A ESCOLA Para passar a ser o antónimo de depósito de crianças mal-educadas, de famílias e burocratas incompetentes, de professores descontentes e de local de experimentação para políticos mal esclarecidos. Para uma escola tranquila e rigorosa, local fundamental de crescimento, onde as famílias se encarregam da educação, os professores do ensino, os alunos da aprendizagem, os burocratas da administração e os políticos, longe, porém atentos à promulgação e aplicação de legislação simples, contudo eficaz, que promova a harmonia e, essencialmente, o sucesso dos alunos. HUGO CARVALHO, 22 ANOS. ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO CAUSA: SIDA Apesar dos programas de prevenção através da distribuição de métodos contraceptivos e de troca de seringas, existem hoje: mais de 15 000 pessoas infectadas por dia em todo o mundo, 33 milhões actualmente infectadas, e 3 milhões que morrem em cada ano e os números não parecem diminuir! É pois preciso que se haja ainda com mais determinação e de forma coordenada entre todos os intervenientes, nomeadamente a Igreja Católica - cujo Papa, denegriu e desmoralizou com a sua última intervenção a luta que várias organizações de saúde têm desenvolvido ao longo de décadas devido à sua posição irredutível contra o uso de métodos contraceptivos . Por tudo isto vejo a luta contra a Sida não como uma causa perdida mas como uma luta inadiável e premente na qual se devem envidar todos os meios possíveis JOANA TELES FAZENDEIRO, 21 ANOS. ESTUDANTE UNIVERSITÁRIA CAUSA: SER CÍVICO Provavelmente, conseguem pensar em alguém que recorda com alguma frequência “No nosso tempo…”: que a vida era assim com ideias para lá ou com atitudes mais para cá. E nós ouvíamos por hábito e respeito, mas na realidade o tempo muda e esses comentários

ANABELA GALHARDO, 20 ANOS. INVESTIGADORA CAUSA: EM DEFESA DE UMA RETÓRICA DA DIFERENÇA Mais do que lutar por uma causa interessa-me disseminar uma causa. Mais do que conquistar uma acção, interessame difundir a receptividade a uma acção: Contaminação Global da Generosidade; Propagação da atitude de Abertura ao Outro; Impregnação do Princípio da Coexistência Pacífica com o Diferente; Insinuação dos mais doces valores da Humanidade no círculo azul do tempo.

PAULO TAVARES E LUÍS SILVA, 20 E 19 ANOS. ESTUDANTES ENSINO SECUNDÁRIO CAUSA: RÉPLICA DO MUNDO A cultura portuguesa ao longo dos tempos tem-se extinto do quotidiano português e da vida das pessoas devido a falta de divulgação da mesma. Das poucas coisas que são mais apreciadas são a gastronomia e pouco mais e, isto, pelas gerações mais velhas visto que no seu tempo não tinham o mundo das tecnologias em suas mãos - ao contrário das novas gerações que dispõem de todo o material tecnológico actual incluindo o computador que antigamente era para gente com posses e que hoje em dia é um instrumento comum a qualquer cidadão. O nosso povo tem vindo a perder a sua identidade ao longo dos tempos porque Portugal não é um país influente no mundo como, por exemplo, os Estados Unidos da América. O factor que faz com que tal suceda é o fenómeno da globalização que faz com que as pessoas de todas as partes do mundo interajam entre si na música, no lazer, no desporto e na gastronomia. Portugal foi abandonado culturalmente pelos jovens que não gostam do que é nacional, por falta de criatividade e iniciativa de um país que tem por hábito não criar nada de importante mas sim recriar o que já foi feito no estrangeiro (como é o caso da música e do cinema que tem pouca qualidade, não por o produto ser mau, mas sim por ser muito repetitivo e sem os mesmos recursos financeiros que os outros possuem). Uma das coisas que nós, povo português deveríamos mudar era a nossa atitude de conformismo, começar a ter mais iniciativa própria e parar de esperar que o mundo faça as coisas por nós. Só assim poderemos levar o nome do país mais longe, mudando assim a imagem que a Europa e o mundo têm de nós.

PUTOS A ROUBAR MAÇÃS

QUAL PUTOS A ROUBAR MAÇÃS, NESTA EDIÇÃO ROUBÁMOS AS MAÇÃS AOS MÚSICOS: PARA QUEM NÃO TENHA AINDA REPARADO TODOS OS TÍTULOS DESTE JORNAL ESCONDEM UMA CANÇÃO.

CAPA

PÁGINA 10

Sérgio Godinho

José Mário Branco

“VENCER É LUTAR”

“A CANTIGA É UMA ARMA”

PÁGINA 4

“E DEPOIS DO ADEUS”

Verso de “só mais um samba” JP. Simões

PÁGINA 11

Cool Hipnoise

Verso de maré alta” Sérgio Godinho

“OUTRO TANTO NAVEGAR” “NADA A DECLARAR”

Paulo de Carvalho

“A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR AQUI”

PÁGINA 5

PÁGINA 12

José Mário Branco

Cool Hipnoise

“RESISTIR É VENCER”

PÁGINA 6

“A NOITE PASSADA” Sérgio Godinho

“RITMOS E IMITADOS DOUTRA DANÇA”

Verso de “Lisboa que Amanhece” Sérgio Godinho

PÁGINA 8 E 9

“VENHAM MAIS CINCO” Zeca Afonso

“ENTRE O SOL E A TERRA” “ACORDEM AS GUITARRAS” Camané

PÁGINA 13

“ORGANIZAÇÃO POPULAR” Sérgio Godinho

PÁGINA 14

“PUTOS A ROUBAR MAÇÃS” Dead Combo

PÁGINA 15

“LEMBRA-TE DE MIM” Cool Hipnoise

QUESTIONÁRIO REVOLUCIONÁRIO O CANTAUTOR J.P. SIMÕES ACEITOU O NOSSO DESAFIO E RESPONDEU “À LETRA” ÀS PERGUNTAS INSPIRADAS NO FAMOSO QUESTIONÁRIO DE PROUST

A TUA VIRTUDE POLÍTICA PREFERIDA? A DESISTÊNCIA O PRINCIPAL TRAÇO DE CARÁCTER DE UM REVOLUCIONÁRIO? INSUBORDINAÇÃO A QUALIDADE QUE MAIS APRECIAS EM MARX? NÃO CONHECI PESSOALMENTE. UM HOMEM PARA A REVOLUÇÃO? QUE REVOLUÇÃO? UMA MULHER PARA A REVOLUÇÃO? A QUE HORAS? O PRINCIPAL DEFEITO DO 25 DE ABRIL? PARECER UM DOMINGO. A TUA OCUPAÇÃO FAVORITA EM 1974? A MINHA MÃE. O TEU SONHO DE LIBERDADE? AINDA NÃO ACABOU. O TEU PESADELO DE SOCIEDADE? RUANDA. SE FOSSES UM POLÍTICO, QUEM GOSTARIAS DE TER SIDO? JESUS CRISTO. GOSTARIAS DE VIVER NUM PAÍS SOCIALISTA? MAS ENTÃO EU NÃO VIVO NUM PAÍS SOCIALISTA? QUE OUTRA FLOR PODERIA TER SIDO O SÍMBOLO DO 25 DE ABRIL? A PÊRA. OS TEUS MÚSICOS DE INTERVENÇÃO PREFERIDOS? NÃO CONHEÇO MÚSICOS DE INTERVENÇÃO: SÓ BONS OU MAUS MÚSICOS. QUE COR ASSOCIAS À REVOLUÇÃO? O VERDE DAS FARDAS FRALDIGUENTAS DO EXÉRCITO. QUE TIPO DE CENSURA MAIS ABOMINAS? A VELADA. O TEU LIVRO DE INTERVENÇÃO? O QUE ESTIVER MAIS À MÃO PARA ATIRAR. O QUE GOSTARIAS QUE A REVOLUÇÃO TIVESSE ALTERADO E NÃO ALTEROU? A NATUREZA HUMANA. QUAL DEVERIA SER A DIVISA DE QUALQUER REVOLUCIONÁRIO? ORA PORRA!


ABRIL, 2009 I 15

TOP 25 ABRIL E DEPOIS DO ADEUS

PAULO DE CARVALHO / MÚSICA JOSÉ CALVÁRIO/ LETRA JOSÉ NIZA

GRÂNDOLA JOSÉ AFONSO

TROVA DO VENTO QUE PASSA ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA / MANUEL ALEGRE

ORGANIZAÇÃO POPULAR SÉRGIO GODINHO

PODER POPULAR JOSÉ AFONSO

NO DIA DA UNIDADE

JOSÉ AFONSO / CHULINHA/ JOSÉ MÁRIO BRANCO

LIBERDADE SÉRGIO GODINHO

FMI

JOSÉ MÁRIO BRANCO

TOP REVOLUCIONÁRIO I CAN GET NO SATISFACTION ROLLING STONES

REVOLUTION BEATLES

JE T´AIME MOI NON PLUS

JANE BIRKIN E SERGE GAINSBOURG

+

TANTO MAR

CHICO BUARQUE

A LIFE ON THE OCEAN WAVE HENRY RUSSEL (MARCHA DO MFA)

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES GERALDO VANDRÉ

CÁLICE

CHICO BUARQUE

APESAR DE VOCÊ CHICO BUARQUE

ALEGRIA, ALEGRIA CAETANO VELOSO

GOD SAVE THE QUEEN SEX PISTOLS

LEMBRA-TE DE MIM PERGUNTAS SO-

BRE O 25 DE ABRIL 1. DE QUE COR ERA O LÁPIS DA CENSURA? a) azul b) vermelho c) preto 2. QUAL DOS SEGUINTES ARTISTAS ERA ABSOLUTAMENTE PROIBIDO NAS RÁDIOS ANTES DO 25 DE ABRIL? a) Amália Rodrigues b) Zeca Afonso c) Paulo de Carvalho 3. QUEM FOI O PRINCIPAL ESTRATEGA E COMANDANTE OPERACIONAL DO 25 DE ABRIL? a) Salgueiro Maia b) Otelo Saraiva de Carvalho c) Vasco Lourenço 4. ÀS 22H50MIN DO DIA 24 DE ABRIL FOI EMITIDA A CANÇÃO QUE MARCOU O INÍCIO DAS OPERAÇÕES MILITARES QUE DERAM ORIGEM À REVOLUÇÃO DE ABRIL, QUAL FOI A CANÇÃO? a) E depois do Adeus b) Grândola Vila Morena c) Trova do vento que passa 5. A COLUNA MILITAR QUE NO DIA 25 DE ABRIL PARTIU DA ESCOLA PRÁTICA DE CAVALARIA DE SANTARÉM ERA COMANDADA POR? a) Otelo Saraiva de Carvalho b) Vasco Lourenço c) Salgueiro Maia 6. O 1º COMUNICADO DO MFA FOI LIDO AOS MICROFONES DE: a) RTP1 b) Rádio Clube Português c) Rádio Renascença 7. EM QUE LOCAL SE REFUGIOU MARCELO CAETANO NO DIA 25 DE ABRIL? a) Quartel do Carmo b) Palácio de Belém c) Quartel da Graça 8. NO DIA 26 DE ABRIL, DE QUAL DAS SEGUINTES PRISÕES FORAM LIBERTADOS OS PRESOS POLÍTICOS? a) Tires b) Caxias c) Pinheiro da Cruz 9. QUAL DESTES HOMENS OCUPOU O CARGO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA EM 1974? a) Costa Gomes b) Ramalho Eanes c) António de Spínola 10. QUAL DOS SEGUINTES POLÍTICOS REGRESSOU A PORTUGAL APÓS O 25 DE ABRIL ? a) Vasco Gonçalves b) Álvaro Cunhal c) Salgado Zenha 11. AS PRIMEIRAS ELEIÇÕES LIVRES REALIZARAM-SE EM? a) 1974 b) 1976 c) 1975 12. QUEM PRESIDIU AO 1º GOVERNO PROVISÓRIO? a) Vasco Gonçalves b) Álvaro Cunhal c) Adelino da Palma Carlos. 13. QUAL O PARTIDO POLÍTICO A ORGANIZAR A PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO DE BOICOTE DE SOLDADOS PARA AS COLÓNIAS A 4 DE MAIO DE 1974? a) MRPP b) PS c) PCP 14. ATÉ ÀS PRIMEIRAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS, QUANTOS GOVERNOS PROVISÓRIOS SE FORMARAM? a) Três b) Cinco c) Seis 15. NAS PRIMEIRAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, QUE DERAM A VITÓRIA A ANTÓNIO RAMALHO EANES, QUAL FOI O SEGUNDO CANDIDATO MAIS VOTADO? a) Pinheiro de Azevedo b) Octávio Pato c). Otelo Saraiva de Carvalho Respostas: 1) a 2) b 3) b 4) a 5) c 6) b 7) a 8) b 9) c 10) b 11) c 12) c 13) a 14) c 15) b

ESTATÍSTÍCAS SOBRE OS HÁBITOS DE CONSUMO DOS PORTUGUESES EM 1974 E EM 2007 1974 2007 POPULAÇÃO

8.663.252

10.617.575

MENORES DE 20 ANOS

36,7%

26,9%

MAIORES DE 60 ANOS

14,3%

17,1%

NATALIDADE

20,8%

9,7%

62,5%

18,1%

ESPERANÇA DE VIDA HOMENS

64

75

ESPERANÇA DE VIDA MULHERES

70

81

ELEITORES INSCRITOS

1.800.000

8.784.959

ANALFABETOS

(PERCENTAGEM MAIORES DE 10 ANOS)

26,6%

7,8%

AUTOMÓVEIS LIGEIROS MATRICULADOS

558.738

7.690.019

CASAS COM RECEPTORES DE TELEVISÃO

1,3%

99,9%

DISCO DE OURO

20.000

10.000

BILHETES DE ESPECTÁCULOS VENDIDOS

2.341.000

8.800.000

(POR MIL HABITANTES)

MORTALIDADE INFANTIL (ATÉ 1 ANO/1000 PARTOS)

(ANOS)

(ANOS)

(Nº EXEMPLARES)

(AO VIVO)

SOPA DE LETRAS

“Ó meu, pá, bué...” Localize entre as letras do quadro algumas das palavras que a partir da revolução entraram para o vocabulário comum e calão. Tenha em conta que neste quadro podem ser lidas em qualquer direcção ou sentido. PÁ | MANINGUE | CURTIR | FIXE | MEU | MOCA | CHAVALA | TRANSA | BUÉ | JANADO | MACONHA | GARINA | COTA



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