Na Cuia #4

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Edição 4

“CINÉ-CLUB”

O CONCEITO FRANCÊS, EXECUÇÃO PAPA-CHIBÉ

ENTREVISTA COM JOVENS FOTÓGRAFOS: JONAS AMADOR, MILLER FARIAS E RAFAEL CARDOSO

I SEMANA DE FOTOGRAFIA ANALÓGICA EM BELÉM

FLORES DE KAHLO E BELÉM INVISÍVEL CULTURA SOLIDÁRIA

E MUITO MAIS...

JUVENTUDE CRIATIVA


Editorial A

transformação faz parte da vida em sociedade. O novo que chega às linguagens artísticas é o que possibilita essa mutação. Por causa disso, é bom dar uma olhada em quem está fazendo coisas novas: além de saber qual o tipo de produção que promete perpetuar o cenário cultural paraense, acabamos nos permitindo enxergar o mundo por outros olhos. Uma visão não somente nova, mas completamente diferente. Nós da Na Cuia começamos agora. Somos estudantes, sim, e acredito que exatamente por isso conseguimos enxergar os primeiros passos de quem tá fazendo coisas legais pela cidade. Jovens, como nós, que se interessam pela fotografia, pelas intervenções urbanas, pelo audiovisual, que utilizam de novas plataformas para experimentar formatos artísticos com os quais ainda não nos acostumamos. Os personagens das matérias que vocês vão ver dentro dessa edição podem não ter anos de experiência nos campos que escolheram, mas seus primeiros trabalhos trazem uma esperança. Tem uma nova geração de gente que ama arte por aí. E nós estamos inclusos nela.

Juliana Araujo - Editora-chefe


~ Ediçao 4 - Colaboradores 6 - Esclarecimento por Vitória Mendes

8 - Amor analógico ~ por Bianca Brandao

16 - A experiência para além da tela

por Luciana Vasconcelos e Caio Jesus

22- A cultura de ONGs independentes em Belém por Stéfanie Olivier

28 - Jovens que escrevem ~ por Madylene Barata e Bianca Brandao

34 - Os postes também falam por Matheus Botelho

40 - Sob o olhar de jovens fotógrafos por Alana Menezes

Foto: Miller Farias


1-Juliana - Editora-Chefe 2-Matheus - Repórter 3-Lorena - Diretora de arte Diagramdora 4-Vítoria - Repórter 5-Madilene - Repórter 6-Stéfanie - Repórter 7-Luana - Arte 8-Ana Luiza - Social - Media 8-Mariana - Social - Media 10-Alana - Repórter 11-Luciana Moraes - Repórter

Amores de Colaboradores Izadora Louise Andreson Bianca Brandão caio de jesus


cola bora dores

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Por Vitória Mendes

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a edição passada, houve um equívoco na minha matéria sobre a Casa das Artes. Um dos projetos abordados nessa reportagem é a Incubadora Pará Criativo, uma parceria entre a Fundação Cultural do Pará e o Ministério da Cultura.

que já foi assessora de comunicação do Pará Criativo, percebeu que alguns esclarecimentos nos foram passados de maneira equivocada ou incompleta e imediatamente entrou em contato com o Ministério da Cultura. O MinC, por meio de sua assessoria de comunicação, publicou uma nota com as Assim que a seguintes informações: revista saiu, nossa leitora Juliane Frazão, - Houve um problema

na prestação de contas dos recursos repassados, que ocasionou a impossibilidade de novos repasses e, consequentemente, da renovação do contrato da equipe; -O responsável pela contratação da equipe é o convenente, no caso a Fundação Cultural do Pará; - Não há necessidade de renovação da


parceria MinC-FCP. O Lamento por não Convênio está em vigor ter entrado em contato até o dia 31/12/2015; com o Ministério da Cultura antes do Procuramos a fechamento da edição. FCP para confirmar Peço, em nome da tais esclarecimentos e equipe da Na Cuia, através da assessoria desculpas a você, leitor de comunicação, a (a), por esse erro. Por Fundação Cultural do fim, agradeço a Juliane, Pará informou que “a pela gentileza ao tratar prestação de contas do assunto conosco e ao do Programa Pará assessor do MinC João Criativo está em fase Pedro Martins, pelo de finalização para ser contato e disposição enviada para o órgão de prestar maiores competente.”. esclarecimentos.

Leia a íntegra da nota do MinC aqui: http://www. c u l t u r a . g o v. b r / noticias-destaques/-/ asset_publisher/ O i K X 3 x l R 9 i Tn / content/id/123838


“Compartilhando Experiências” com Bob Menezes e Mário Guerrero. Foto: Bianca Brandão


Por Bianca Brandão

Amor analógico I Semana da Fotografia Analógica em Belém. Mesmo vivendo inseridas em um mundo digital, muitas pessoas ainda são entusiastas da fotografia de filme. A Na Cuia acompanhou o evento criado especialmente para esses verdadeiros apaixonados pelo estilo de vida analógico.

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otografar com película é, para muitos, algo apaixonante e até mesmo mágico. A relação íntima entre fotógrafo e câmera, a ansiedade da espera pelo filme a ser revelado e a possibilidade de aperfeiçoar o olhar fotográfico são alguns dos motivos que levam cada vez mais pessoas ao redor do mundo a se tornarem adeptos da fotografia analógica mesmo estando cercadas pela comodidade do

mundo digital. E se engana quem pensa que apenas fotógrafos profissionais seutilizam das técnicas analógicas. A fotografia de filme é, sim, trabalho para muitos, mas também é hobby de pessoas dos mais diversos tipos, idades, profissões e nacionalidades, apaixonadas não só pela estética, mas também pelo estilo de vida que o analógico imprime.


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1 - Passeio Fotográfico pelas ruas do Reduto. Foto: Bianca Brandão. 2 - “Compartilhando Experiências” com Bob Menezes e Mário Guerrero. Foto: Bianca Brandão. 3 - Workshop Laboratório Fotográfico com Yan Belém. Foto: Bianca Brandão.

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foi a partir dessa paixão mundial que, desde 2013, passou-se a comemorar o Dia Mundial da Fotografia Analógica em 12 de abril. Em Belém, a data teve sua primeira comemoração em 2014 com uma programação organizada em parceria pelos coletivos Sala Livre e Olhar Analógico, que envolveu uma oficina e um bate papo para mais de 70 pessoas no dia em questão. Em 2015, os coletivos organizadores resolveram ir além: por que não fazer do dia da fotografia analógica uma semana? E assim surgiu a I Semana da Fotografia Analógica em Belém, que contou com mesas de debate, workshops e um passeio fotográfico no final. A Na Cuia acompanhou a Semana bem de perto e conversou com seus organizadores. O resultado você confere a seguir. A Semana foi iniciada com a mesa de debate “Um amor que permanece”, que teve a participação do laboratorista e professor César Sarmento, da artista visual e fotógrafa Cinthya Marques e do fotógrafo Faustino Castro no Museu da UFPA. César iniciou a programação falando de seu trabalho como educador e laboratorista e, explorando os múltiplos aspectos dessa

última ocupação, discorreu sobre os diversos tipos de películas, químicos e processos de revelação e empliação de fotografias, complementando a fala com imagens de sua própria autoria. Por sua vez, Cinthya Marques falou sobre sua formação artística e acadêmica, apresentou trabalhos autorais e informou a respeito dos projetos que desenvolve na Associação Fotoativa, em especial o Pinhole Day. Já Faustino Castro, que além de fotógrafo é formado em Tecnlogia da Informção, falou sobre a reinvenção da fotografia analógica por uma nova geração de entusiastas que, em geral, a vêem como forma de lazer e consideram esteticamente interessantes certos “erros” fotográficos antes vistos de forma negativa, a exemplo das entradas excessivas de luz pelo diafragma da câmera, os chamados lightleaks. Segundo ele, enquanto o digital tem como característica a precisão, “o analógico aceita gentilmente o erro”, o que permite diversas experimentações impossíveis em uma imagem digital. Além disso, falou a respeito do atual aumento da disponibilidade de informações técnicas sobre fotografia em comparação com o cenário de algumas décadas atrás. Lorena Costa e Yan Belém: duas visões Lorena Costa tem 20 anos e fotografa desde os 14. No começo, a fotografia era apenas um hobby da estudante de Ciências Sociais, até que ela percebeu que realmente gostava da coisa e deciciu levar a sério. “Por volta dos 16 ou 17 anos, comecei a procurar oficinas, cursos e tudo mais que me levasse a fotografar. Foi assim que um dia descobri a fotografia analógica e as diversas possibilidades que ela poderia me proporcionar. E várias vezes, ouvi que uma das melhores escolas de fotografia era uma câmera analógica, pois ela te permitia compreender melhor os controles e para


4 que cada coisa servia. Em 2013, o ano em que decidi começar a trabalhar com fotografia, comecei a pesquisar mais sobre fotografia de filme. Foi quando ganhei uma Olympus Trip 35 (câmera analógica compacta comercializada entre as décadas de 60 e 80) e comecei a experimentar” conta Lorena. Hoje, além de divulgar profissionalmente suas fotografias sob o selo Lorygrafia, ela é integrante do Sala Livre, coletivo formado em 2008 por um grupo de estudantes de Ciências Sociais da UFPA e um dos organizadores da Semana, onde trabalha como produtora. Yan Belém ingressou na fotografia através da música. Apesar do interesse pelo assunto vir desde a infância, ele só começou a fotografar de fato quando comprou uma câmera digital pela necessidade de registrar o seu trabalho como músico. No entanto, a música falou mais alto e ele deixou a fotografia de lado até que, durante uma viagem, ganhou uma câmera analógica de um tio 5

e não parou mais de fotografar. “Comprei alguns rolos de filme e comecei a estudar, a ver como tudo funcionava. Com isso, acabei me viciando e gastando todo o dinheiro da viagem em filmes”, conta Yan. Voltando a Belém, ele se deparou com um cenário de falta de informação a respeito das técnicas analógicas e de poucos adeptos dela, cenário este que o levou a, em 2013, juntar-se a duas amigas para formar o Coletivo Olhar Analógico, objetivando mobilizar pessoas em torno da fotografia de filme. À medida que, buscando melhorar seu trabalho, Yan pesquisava e aprendia cada vez mais sobre a fotografia artesanal, foi surgindo nele a vontade de transmitir esse conhecimento adquirido. Assim, como parte das ações do Coletivo, ele começou a organizar oficinas, as quais ministra periodicamente em Belém e já levou para a cidade de Fortaleza, onde, segundo ele, existe um cenário forte, mas com poucos multiplicadores. Durante a Semana, ele ministrou o


workshop de Laboratório Fotográfico em preto e branco, onde falou dos diferentes tipos de filmes, químicos e da interação entre eles durante o processo de revelação. Além disso, apresentou aos participantes as técnicas de montagem de um laboratório e os materiais necessários para tal e ensinou-os a preparar químicos de revelação caseiros. Por fim, mostrou o processo na prática, revelando o negativo exposto pela turma. Sobre sua visão, Yan diz que “A fotografia analógica é vivência; ela envolve o sentimento da espera, do saber respeitar o seu tempo próprio. Mas é também a oportunidade de gerar algo com as suas próprias mãos.”

de Estúdio Fotográfico com 35mm na Casa das Artes. Enquanto apresentava os elementos que compõem um estúdio e os variados tipos de iluminação, Faustino compartilhava, também, várias experiências de sua carreira. Em ambos os encontros, ele pediu aos participantes que montassem seu próprio set de luz (organização espacial dos diversos equipamentos de iluminação em um estúdio) e que fotografassem naquelas condições efetivamente, analisando se o resultado fora o esperado por cada um. No segundo dia, ele também introduziu noções de fotometria, relacionando-as com fatores como a distância entre modelo e fonte de luz Estúdio Fotográfico com 35mm e os aspectos de cor e textura por Faustino Castro do fundo fotogáfico. Durante o workshop, os participantes Foi de modo puderam aprender na prática descontraído que o fotógrafo a dinâmica de um estúdio com 30 anos de carreira Faustino fotográfico e ainda tiveram Castro conduziu seu workshop a experiência de estar não só

atrás das lentes, mas também em frente a elas, sendo modelos uns dos outros. Experimentação Fotográfica por Evna Moura A Casa das Artes também recebeu a Experimentação Fotográfica de Evna Moura. Em dois encontros, a arte educadora e fotógrafa premiada apresentou diversas técnicas de experimentação com o filme fotográfico em si e com as câmeras analógicas. Combinando teoria com suas experiências pessoais, Evna conduziu os participantes do workshop em direção a processos de manipulação da película como o redscale (quando o filme negativo comum é exposto “do avesso” e as imagens adquirem coloração alaranjada) e até mesmo experimentos envolvendo o congelamento da bobina de filme. Com relação às câmeras, ela apresentou desde as


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técnicas mais simples, como as múltiplas exposições, chegando em processos de maior complexidade, como filtros coloridos para as lentes e o chamado splitzer (que consiste em uma éspecie de “tampa” que cobre parte da lente, expondo, assim, apenas metade de um frame, o que permite ao fotógrafo criar imagens surrealistas). Evna também propôs aos participantes uma breve saída fotográfica pelos arredores da Casa das Artes, com o intuito de que eles pudessem pôr em prática aquilo que aprenderam. Lomografia Rodrigues

por

Eduarda

O universo das câmeras de plástico foi o tema do workshop ministrado por Eduarda Rodrigues na sede do Sindicato dos Jornalistas do Pará. Durante duas horas, a fotógrafa e estudante de Moda apresentou as características, funcionalidades e peculiaridades de cada uma das câmeras lomográficas clássicas. Além disso, Eduarda

falou sobre a história do termo lomografia, a formação da Sociedade Lomográfica Internacional e os tipos de filme e os diversos técnicas artesanais de experimentação e truques com câmeras lomográficas. A respeito do seu gosto especial pela lomografia, ela comentou que ele provém da possibilidade de deixar de lado o rigor técnico da fotografia em geral e permitir-se experimentar variados processos. Encerramento democrático Depois de uma programação voltada para aqueles que se interessam efetivamente pelo analógico, a Semana encerrou com eventos que reuniram todos os tipos de fotógrafos: profissionais, amadores, amantes do analógico e do digital. Após o término do workshop de Lomografia, a sede do SINJOR-PA também recebeu o bate papo “Compartilhando Experiências”, que teve a participação dos fotógrafos Bob Menezes e Mário Guerrero. Os dois falaram sobre suas

trajetórias dentro da fotografia desde o início e relembraram vários momentos de suas carreiras, como as dificuldades enfrentadas por ambos durante o Regime Militar e e trabalhos premiados em salões como o Arte Pará. Já no domingo de manhã, dezenas de pessoas reuniram-se no Espaço Oficina Assim, local de saída do passeio fotográfico que, organizado em parceria com os coletivos Capture e Retrago, encerrou a Semana. Debaixo de um céu nublado, fotógrafos, entusiastas e curiosos caminharam pelas ruas do Reduto munidos de suas câmeras analógicas, digitais e celulares, registrando os cenários do bairro histórico e fotografando também uns aos outros. A s s i m , democraticamente, teve fim a I Semana da Fotografia Analógica em Belém, com eventos que reuniram todos os tipos de interessados em fotografia, seja ela analógica ou digital. “É muito importante que, pelo menos anualmente, sejam realizados eventos


4 - Participantes fotografando durante o passeio. Foto: Bianca Brandão.

Editorial

5 - Concentração do Passeio Fotográfico no Espaço Oficina Assim. Foto: Bianca Brandão. 6 - Foto: Lorena Costa

que reúnam essas pessoas que ainda utilizam filme apesar das dificuldades. Essas reuniões são uma excelente oportunidade de alcançar novos interessados, pessoas que ainda não conhecem ou que pretendem voltar a fotografar

com câmeras analógicas”, diz Lorena Costa. E ela não poderia estar mais certa. Nesse sentido, a Semana cumpre não apenas o seu papel de reforçar o carinho que os entusiastas da fotografia analógica têm por ela, mas também o de difundir

Conheça Lorena Costa http://lorygrafia.com/ Yan Belém http://cargocollective.com/yanbelem Evna Moura http://cargocollective.com/evnamoura Cinthya Marques http://cargocollective.com/cinthyamnascimento Coletivo Capture http://kaiosauma.wix.com/capture Coletivo Sala Livre http://coletivosalalivre.wordpress.com/

esse sentimento e apaixonar cada vez mais pessoas. Pois, como disse Bob Menezes no Compartilhando Experiências, “fotografia é paixão”. Ano que vem tem mais.


Tiago Freitas (APJCC) no Centro AcadĂŞmico de Cinema (ICA UFPA). FOTO Luciana Vasconcelos


Por Luciana Vasconcelos e Caio Jesus

A experiência para além da tela Diante da grandeza do público, de milhões de experiências sensoriais e consciências críticas, os filmes perdem dimensão. Ficam até pequenininhos assim, ó, frente a tanta humanidade. E os cineclubes têm lá sua parcela de culpa.

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embra das vezes em que você assistiu àquele filme incrível e quis comentar, opinar e até sair filosofando sobre ele para todo mundo? Tem gente que faz isso com uma certa frequência. Nos grupos

de cinéfilos, conhecidos como cineclubes, várias pessoas se reúnem para assistir a filmes e discutir sobre eles. Esse tipo de iniciativa já é bem antiga. Teve origem por volta da década de 1920, alémmar: na França.


CinĂŠfilo e filmes da locadora FOX. FOTO Luciana Vasconcelos


Acontece que no Brasil, no final da década de 1910, cinco amigos cariocas, entre 18 e 20 anos, já se reuniam aos moldes de um cineclube. Eles, que se autointitulavam Big Five, faziam mais ou menos assim: depois de sair das salas de cinema, os jovens iam para as encostas de um paredão argumentar sobre as temáticas dos filmes assistidos. Por esse motivo, o grupo também ficou conhecido como Paredão. Mas foi só em junho de 1928 que se fundou o reconhecidamente primeiro cineclube do país tupiniquim: o Chaplin Club, também no Rio de Janeiro, que logo em seguida publicou a revista “O Fan”, a fim de ampliar as discussões. A partir de então, a proposta de fazer cineclubes e produzir cinema no Brasil foi definitivamente posta em prática. Em Belém, os cineclubes sempre foram responsáveis - porém não os únicos - por difundir, valorizar e popularizar a cultura cinematográfica na (e da) região. O primeiro cineclube genuinamente “papa-chibé” se chamou Os Espectadores, organizado pelo advogado cinéfilo Orlando Teixeira da Costa. Nasceu em 1955, exibindo filmes fora do circuito comercial, e enfrentou muitas dificuldades para se manter, uma vez que lidava com falta de equipamento e interrupção nas exibições. Por causa dos problemas, Os Espectadores chegou ao fim logo no primeiro ano de idade, mas suas contribuições para o cenário do cineclubismo paraense são muito importantes. Em 1967, o Cine Olympia apresentava sessões matinais, exibindo películas clássicas. E, pretendendo substituir o movimento cineclubista, o Cine Líbero Luxardo foi inaugurado. Desde então, os cineclubes paraenses só ganham mais força, pipocando nas mentes, nas universidades e nas comunidades do estado. Ainda hoje, os cineclubes impulsionam e prestigiam as produções cinematográficas regionais. Um bom exemplo é a

Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema, a APJCC. Tiago Freitas, um dos curadores da Associação, lembra: “O Cine CCBEU começou exatamente com uma sessão daqui [do Pará], na gestão nossa - do Max [Andreone] e minha que começou em março de 2012. No início, muitas pessoas mandavam vídeo pra gente, ou sugestão de pauta pra programação do CCBEU, de filmes paraenses”. Ele afirma que, com o tempo, o contato com produtores ficou mais difícil e as sessões regionais começaram a diminuir. “Então, como é que a gente faz? É através desse networking, mesmo, as pessoas vão conversando. [...] Aí eu vejo o material do cara, vejo se é legal, interessante, se cabe dentro da proposta e a gente conversa com o cara, marca uma data. E a gente faz”. De acordo com Max Andreone - um dos fundadores da APJCC, junto com Mateus Moura e Miguel Haoni, personagens fundamentais para a existência e, principalmente, para a resistência da Associação -, a APJCC surgiu, há sete anos, “da intensidade que o cinema provocava. Onde a maioria alugava filmes, a gente foi se conhecendo aos poucos. Com o tempo a gente começou a se encontrar nos fins de semana pra tomar uma cerveja e falar dos filmes. O que provocou o nascimento real era a falta de espaços onde se debatia os filmes”, explica. “Acho que esse foi o ponto que gerou a APJCC [o debate]. Discutir os autores, revisar as obras. O público alvo são pessoas interessadas no cinema como discurso artístico”. Mas nunca foi fácil falar sobre cinema em Belém. Max afirma que a APJCC enfrentou algumas dificuldades para atrair público com pouco patrocínio. “No início, o patrocínio vinha das instituições que davam o equipamento e o espaço para a exibição. Não existia nem um apoio financeiro. Era bem complicado às vezes. Principalmente nas questões que envolvem equipamento. No


início, era mais uma questão de ocupar os espaços e difundir o discurso”. Ainda hoje, um dos maiores desafios é o reduzido público. Tiago chegou a produzir “um vídeo, com o coletivo Quadro a Quadro [chamado “Panorama”, de 2013. Está disponível no YouTube], tentando diagnosticar qual o problema desse esvaziamento dos espaços que desenvolvem atividades culturais. [...] E, na verdade, o problema não tá no filme que a gente exibe. Às vezes é o público, cara, que tá muito… nem sei se a palavra ‘sedentário’ seria adequada, mas… é, acho que seria acomodado”, lamenta. Max compara e incentiva: “Estamos vivendo um panorama bem diferente. As pessoas estão baixando mais filmes. A qualidade dos filmes e a proporção das TVs de hoje fornece uma experiência bem próxima, porém nunca igual. No início existiam bem poucos cineclubes na cidade. Com o passar desses anos foram surgindo cada vez mais. O importante é resistir”. Segundo Tiago, a internet é uma grande aliada para a difusão da cultura cinematográfica, ao mesmo tempo em que pode causar uma preocupante inércia. “É legal essa questão do download porque ela é democratização da cultura, também te dá a oportunidade de ver filmes que dificilmente viriam para o circuito comercial aqui. [...] Mas perde a perspetiva do encontro, né? Pô, eu não vou lá pra assistir só o filme. Eu vou lá pra encontrar amigos, eu vou lá pra conversar sobre o filme, pra ter essa troca de ideia e essa construção de conhecimento coletivo. [...] Então, essa questão do olho no olho, trazendo pro cineclubismo, é uma questão que tá sofrendo bastante, cara”. Para ele, a solução para atrair um público mais engajado aos cineclubes ainda é uma incógnita: “Na verdade, a gente tá vivendo um momento em que a nossa geração tá talvez interessada em outras coisas”, analisa.

Ainda de acordo com Tiago, a verdadeira proposta do cineclubismo é estimular uma discussão, capaz de expandir nossas mentes e culturas, logo após a exibição do filme. “Só que, de uma porcentagem de 100% que vier para assistir, ficam 30%, 40%, já sendo otimista. A gente não pode forçar as pessoas a ficarem, né, mas acho que talvez a parte mais interessante do cineclube é o debate. Eu fico muito feliz, às vezes, de pessoas que chegam depois [do início da exibição] e nem vão entrar. ‘Pô, tu não veio pra assistir o filme? Tá passando filme’. ‘Não, mas eu vim pro

pesquisador capixaba Felipe Macedo, no texto “Cinema do Povo, o primeiro cineclube”, os clubes de cinema podem ser chamados por muitos nomes. De círculo de cinema a coletivo, passando por clube de amigos, sociedade de cinema e núcleo. Além disso, Felipe reafirma o reconhecimento global e quase instantâneo do conceito de “cineclube” em qualquer língua. É provável que o termo tenha sido usado pela primeira vez em 1907, originado para designar uma associação participativa e democrática. Em 1920, surgia o Cinéclub, fundado pelo crítico e

DVDs e Encartes na Fox. FOTO: Luciana Vasconcelos debate’. Porra, eu fico feliz pra caramba, entendeu? Eu já assisti o filme, eu quero vir pro debate, eu quero conversar sobre ele. Eu acho que é essa a proposta, dessa troca de conhecimento mesmo”. E finaliza: “Engraçado essa questão do conceito de sucesso. Conceito, pra mim, de sucesso, não é o público encher. Pra mim é ter um debate bem bacana e saber que em algum momento a gente trocou ideia, construiu um conhecimento que é bom pra gente”.

cineasta francês Louis Delluc. Há quem afirme, inclusive, que antes mesmo desta data nascia em Paris o Cinéma du Peuple, criado em 1913 e que se preocupava especialmente em abranger um cinema mais próximo ao público. O Cinéma du Peuple já ofertava sessões periódicas, debates e conferências: características essenciais aos clubes de cinema. Mas foi só alguns anos depois, na década da 1920, que ocorreu efetivamente uma multiplicação dos cineclubes, Cine-o-quê?! Uma breve história. como consequência direta da necessidade de participação e De acordo com o envolvimento do público com


o meio cinematográfico. Principalmente no Brasil, as atividades cineclubistas foram incentivo para a emergência de novos cineastas e artistas, além de terem contribuído para a democratização e legitimação do cinema enquanto arte. Apesar disso, as primeiras sessões de cineclube no país exibiam clássicos europeus e norte-americanos. O ano de 1948 contribuiu fortemente para o surgimento de vários cineclubes brasileiros, característica que se multiplicou nos anos seguintes. Duas décadas mais tarde, durante a Ditadura Militar, os clubes de cinema passam a

TUTORIAL: COMO CRIAR UM CINECLUBE E aí, ficou a fim de ter essa experiência também? Deixa que a gente ensina uns passos básicos para montar direitinho um clube e reunir todos os seus amigos cinéfilos. A melhor parte: pode ser com todo o conforto da sua casa mesmo. Só não esquece de fazer aquela pipoquinha, comprar o refrigerante (ou o suco pra galera da dieta) e chamar toda a equipe da Na Cuia! Vamos adorar, com certeza. #SomosLegais Você vai precisar - em ordem completamente aleatória - de: - Equipamentos de vídeo e áudio (Pode ser TV, telão - ou até uma parede branca, DVD, pen-drive, computador, projetor, caixinha de som... Você é livre!) - Paixão pela sétima arte (Se você chegou até aqui, deve ter paixão de sobra.); - Criatividade (Pelo menos uma pitadinha, vai.); Sociabilidade (Não rola ser antissocial, amigos. Tem que gostar de juntar a galera.); - Curiosidade e respeito (É fundamental ter interesse por outras opiniões. E nada de sair no tapa se alguém discorda das suas impressões sobre o filme, viu?); - Muita vontade (Sempre!); Modo de fazer:

sofrer repressão por seu cunho particularmente contestatário. Durante as sessões, discutia-se política e se elaboravam formas de resistência. Essa permanece sendo uma das características intrínsecas aos cineclubes: estimular o debate, lutando pela preservação de um espírito comunitário quando se trata da natureza e essência da arte cinematográfica. As bases de um cineclube são, historicamente, construídas com materiais sólidos, permanentes e inegociáveis: a reflexão crítica e a experiência coletiva.

- Passo 1: primeiramente, pegue a sua criatividade e concentre todo o Ki na escolha de um nome para o cineclube. Aproveite para desenvolver uma identidade também - aqui você está livre para usar seu Chackra. De quebra, é importante pensar em um público-alvo. O clube vai restringir faixa etária e interesses ou será aberto para todos? Essa parte envolve muito planejamento: decida o local de exibição e qual é o melhor dia para as sessões. - Passo 2: se necessário, monte uma curadoria. Os participantes se comprometem a escolher os filmes, pesquisar sobre eles e desenvolver o debate. Além disso, ele deixam as sessões mais lúdicas e montam a programação. Lembrem sempre de divulgar as atividades do clube. Dá para usar as redes sociais e até criar um blog para isso. É trabalho pra caramba, né? Então não vai deixar os amigos sozinhos nessa. - Passo 3: pesquise um pouco sobre a Lei do Direito Autoral. É bacana ao menos conhecer esse aspecto. Se possível, entre em contato com produtores locais e peça autorização para o uso dos filmes. Você pode até conseguir parceria e contar com a presença deles em uma sessão. Particularmente, acho isso bem legal. Inclusive, tenha sempre em mente três características essenciais a um cineclube: não ter fins lucrativos, possuir uma estrutura democrática e manter um compromisso cultural e ético com a comunidade onde está inserido. - Passo 4: calma, tá quase acabando. Agora só falta checar os equipamentos para começar. Veja se vocês têm todos os cabos e aparelhos necessários. Feito isso, monte tudo direitinho. Depois que todo mundo chegar, se quiser, apresente o filme. Aí é só apagar a luz para dar aquele clima de cinema e apertar o play. - Passo 5: por fim, não esqueça de estimular a discussão. Ela não é obrigatória, mas com certeza é enriquecedora e divertida. Você pode até programar alguma atividade cultural para antes ou depois da sessão: teatro, dança, música ao vivo, festinha temática. - Passo 6: Ah! E divirta-se. Essa é a etapa principal e permeia todas as demais.


Equipe do Flores de Kahlo na ação Espalhe Amor por onde Flores, na Estação das Docas.


Por Stéfanie Olivier

A Cultura de ONGs independentes em Belém Saiba como jovens de duas ONGs independentes de Belém tomaram a iniciativa de começar e como desenvolvem seus projetos, além de conciliar com a vida estudantil e social Uma vez li a seguinte frase: haverá maior fonte de inspiração do que a humanidade. Algo assim. Diante disso, certo dia me peguei sentada na sacada e observando meus vizinhos de outros prédios, o que eles faziam, o jeito que estendiam a roupa, como brincavam com seus

cachorros ou trabalhavam na varanda tomando um chá. Aí me veio o seguinte pensamento: se eu estivesse ali, intervindo na vida deles, o que fariam de diferente? Se eles soubessem que eu estava olhando, eles seriam tão naturais assim?


Depois dessa volta ao mundo que fiz no parágrafo anterior, pensei em pessoas que levam ao pé da letra o termo: intervenção social. Logo lembrei de alguns belenenses que tem o maior prazer em fazer o bem para o próximo: moradores de ruas, pessoas que moram em regiões periféricas da capital paraense ou aquelas que o único meio de chegar em Belém, e nas oportunidades, é o barco. Fui falar com os criadores do Flores de Kahlo e do Belém Invisível, dois projetos que têm equipes 100% jovens. Essa cultura infelizmente ainda não é comum em Belém, por isso que aqueles que fazem chamam a atenção e ganham um destaque. E não é apenas fazer, é fazer tudo organizado, com atenção e amor.

Flores de Kahlo

O fundador do Flores de Kahlo é o Raidol Saldanha, ele tá no terceiro semestre de Direito e tem 18 anos. Utiliza a educação e gentileza com todo mundo, até com os repórteres da vida. Ele me contou que, antes de tudo, o Flores (jeitinho carinhoso como eles são conhecidos) é uma ONG independente que surgiu em Dezembro de 2013 e caminham pra oficialização. Logo depois que ele prestou vestibular começou aquela vibe relax do pós-vestibular. Certo dia estava devaneando sobre humanidades e começou a pensar sobre a nossa querida cidade. Percebeu o quanto ela era bonita, mas esquecida tanto pelo governo, quanto pela população. Foi então que ele pensou: por que eu não faço a minha parte? A premissa do projeto é pregar a realização dos sonhos. Independente da idade, condição social, orientação sexual...sonhos são possíveis. Acreditar nos seus e contagiar as pessoas à acreditar nos seus, também. Até aquelas que não tiveram uma oportunidade à boa educação, não deixem de acreditar que um dia podem ser aquilo que sempre

sonharam. Nada melhor que o Natal para dar partida em um projeto assim. Bastou muita força de vontade, e um grupo no whatsapp para em uma semana, ele e um grupo de amigos, organizarem tudo e arrecadarem brinquedos o suficiente para, no dia 22 de dezembro de 2013, ajudar 500 crianças. Um ponto bacana é que o Flores começou com ações pontuais, distribuindo brinquedos, cestas básicas e assistência médica. Hoje realizam Um exemplo foi quando eles organizaram palestras de assuntos de vestibular e ofereceram metade das cadeiras para alunos de Ensino Médio público do estado do Pará. A outra metade venderam para poderem conseguir dinheiro e arriscar na primeira ação deles com pessoas ribeirinhas, onde foram até Fazendinha, uma parte da Ilha de Cotijuba, onde levaram estudantes do ramo da saúde, direito, comunicação social e muitos outros cursos para ajudarem as crianças do local com consultas (feitas por jovens estudantes da área) e também mostraram outros caminhos para aquelas crianças, que têm uma realidade que não estimula o estudo. No início, a gestão era dividida apenas em Arte, Marketing e Diretoria. Hoje, além da Diretoria (onde o Raidol é o presidente), do Marketing (que a Tainá Cavalcante, 20 anos é a coordenadora) e da Arte (Lays Lago, 18 anos, coordena), tem também Tesouraria, responsáveis pelo controle do dinheiro arrecadado, o Conselho Fiscal que fiscaliza a Diretoria e a Tesouraria, para colaborar em um trabalho mais organizado. O Flores conta também com o Grupo Jurídico, onde são responsáveis pelos envios de pedidos de patrocínios e documentos para empresas. Quando precisam recolher alimentos, normalmente escolhem duas casas dos membros da equipe,

para serem os pontos oficiais de entregas. Sempre escolhem distantes um do outro pra ficar mais fácil de pessoas que querem ajudar na colaboração entregarem. Quando acontece de não ter como alguém ir entregar, eles correm atrás e vão buscar. A divulgação e a arte são feitas pelo Grupo de Marketing. Eles mandam várias datas para o grupo da Arte com antecedência, para que todos possam se organizar e dividir bem quem vai fazer a arte para cada data e não acontecer de ter a sobrecarga em alguém. Agora, o grupo artístico é composto por 16 jovens e cada um com sua habilidade: de desenho em aquarela, passando por ilustrações digitais e até artes com grafite. Se você se interessou e quer fazer parte do Grupo da Arte, manda um e-mail para: floresdekahlo@ gmail.com Em novembro do ano passado, o Flores de Kahlo resolveu arriscar e construir uma biblioteca em uma escola/ creche no 40 Horas, chamada Lar Espiritual da Criança. O nome do projeto é Cultivando o Saber. A biblioteca foi construída com os Três R’s: Reduzindo gastos, Reutilizando e Reciclando materiais. Além de ser um projeto lindo, que estimula as crianças a ler, é totalmente sustentável. Caixotes de verdura do VerO-Peso se transformaram em estantes e caixas para guardar brinquedos, tintas que aparentemente estavam vencidas e iam para o lixo, deram uma renovada no visual das paredes do lugar. Além de ter sido um dos trabalhos mais difíceis de fazer, conta o presidente da ONG, foi extremamente cansativo. Todas as vezes que iam lá, chegavam de manhã e saíam às 20h, com farpas nas mãos, mas muito satisfeitos. Como o pessoal do Flores é super jovem, gera um pouco de incerteza sobre o futuro. Depois de alguns anos eles se formam e bate aquela vontade de explorar outros


Equipe da primeira ação do Belém Invisível (acima). Cestas Básicas coletadas pela equipe do Flores de Kahlo (ao lado).


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1 - João Entrevistado do Belém Invisível . 2 - Dona Maria Entrevistada Belém Invisível. 3 - Marcelo Silva dos Santos Entrevistado Belém Invisível. 4 - Luciana Entrevistada Belém Invisível.

horizontes, outros estados e até países, então dá aquele medo de um possível fim. A maior ambição da gestão é ter um Flores de Kahlo em cada estado e até país. Hoje, o grupo tá com a agenda lotada de ações. Uma imperdível é a Tardes Florias, no Gold Mar, nas quais, pelo menos duas vezes no semestre, eles vão levar música, rodas de debates sobre temas atuais e muita, mas muita cultura.

Belém Invisível

O projeto Belém Invisível só teve uma ação grande, mas isso não faz o trabalho menor e nem menos prestigiado. Surgiu em novembro de 2014, quando a dona Letícia Oliveira viu iniciativas parecidas em outras capitais, como São Paulo e Nova York. Mas o Belém Invisível é um trabalho pouco mais completo, além de escutar histórias dos moradores de ruas, também leva até eles uma ajuda médica, comida e até cultura através de livros. A premissa, diz a dona, é “tornar-nos visíveis”. É muito simples ir à rua e tornar comum o pensamento de que todas as pessoas que estão ali fazendo dela a sua própria

casa sejam “vagabundas”. A desmistificação do ser humano que há dentro daquele corpo, muitas vezes sujo, é o foco. Mostrar a história de cada um. Muitos que vivem na rua não conseguem um trabalho com carteira assinada porque perdem documentos e não conseguem tirar uma segunda via. O ponto alto do projeto Belém Invisível é conseguir o apoio da prefeitura pra facilitar o processo deles, fazer com que criem uma oportunidade para novas oportunidades à quem realmente precisa delas. Outro ponto tocado foi o da falta de cultura nas escolas em situações precárias, onde muitas crianças sem boas condições financeiras estudam. A ideia de implementar cursos de até seis meses é um objetivo a ser

alcançado também. Mostrar a elas a cultura e fazê-las perceber que a vida vai muito além daquilo que elas têm alcance. Desde que o Belém Invisível começou, todas as expectativas têm sido correspondidas e, como o projeto é um bebê ainda, qualquer retorno positivo, mesmo que seja na fanpage do Facebook, é algo que estimula. Admito que fiquei surpresa quando a Letícia me falou que o Belém Invisível, até a última ação, era feito apenas por ela. Mas com a divulgação da ação que foi feita pela página do Facebook, ela conseguiu mais de 100 inscrições de voluntários e agora a equipe só tende a crescer. A ação consistiu em levar alimentos, cuidados médicos


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4 (feitos por estudantes da área da saúde), livros e conversas para vários moradores. Ela diz que a partir de todos os inscritos, fez uma tabela com nome, bairro e curso da cada um. Depois escolheu 9 pessoas que demonstraram muito empenho na campanha e cada uma ficou responsável por subdivisões, para poder organizar melhor. Os grupos foram separados por bairros, para um poder ajudar o outro com carona e arrecadação de colaborações de moradores. Sem falar no grupo dos estudantes de Medicina que se responsabilizaram pelos primeiros socorros. Quem faz as artes e folders pro Belém Invisível é uma amiga da Letícia, a Catarina Nefertari, que estuda Publicidade e Propaganda na

UFPA. E depois ela divulga no Instagram pessoal e no Facebook do projeto, que conta com mais de 3 mil curtidas. Quando vai ter uma ação grande, os voluntários também costumam divulgar em suas redes sociais pessoais, para atingir o máximo de pessoas possíveis. No fundo eles sabem que ela só quer ajudar e têm cuidado, mesmo que seja pra dizer um “não”. Mas em geral são receptivos, gostam de conversar e de contar as suas histórias. Normalmente a Letícia leva medicamentos e comida para eles e a experiência cultural que é trocada entre eles é incrível. Quem nunca tentou imaginar um morador de rua com uma condição de vida diferente? Então, a Letícia quer muito

fazer isso pra gente, quer escolher um deles e levar pra dar um banho, cortar cabelo, colocar uma roupa nova... e mostrar que tudo o que eles precisam são cuidados, ajuda do próximo. Esse Antes & Depois ia ser um choque de realidade para aqueles que não são tão ligados assim com causas sociais, não é? A gente sabe que o projeto tá no começo e a bagagem ainda é pouca, mas o ponta-pé inicial já foi dado e parar não está nos planos da nossa querida entrevistada. Ela vai fazer agora em abril uma ação igual a que já foi citada aqui, levando medicação, livros, brinquedos e comida para os moradores. Vamos nos inspirar. Para mudar o mundo basta existirmos. E os jovens que compõem essas ONGs são prova viva disso.


Arthur Ribeiro concentra suas escritas sobre o teatro com o objetivo de estimular debates sobre o assunto. FOTO: Madylene Barata


Por Bianca Brandão Madylene Barata

Jovens que escrevem

O impulso independente de jovens autores

Renée, Arthur e Lucas são jovens com idade entre 19 e 22 anos que se permitem mergulhar no universo da escrita e compartilham com o mundo suas impressões e pensamentos com projetos indenpendentes.


A coragem e o desafio de Renée Agora, seus trabalhos são divulgam mais ainda. Costa divulgados principalmente via Arthur Ribeiro, 22 anos, Se lançar para o mundo da literatura é uma escolha prazerosa e particular. Escrever nem sempre é só uma escolha, é, muitas vezes, um impulso involuntário. É a busca, dentro de si, de uma resposta que ainda não se viu e não se leu. Renée Costa tem 19 anos e escreve desde os 13. Apaixonouse pela escrita quando, em seu primeiro conto, percebeu que podia estender um pouco mais de seus pensamentos para o mundo, através da palavra. Teve mais certeza que se encontrava na escrita ao ver o grupo de teatro de sua escola encenar o seu segundo conto e, os personagens que criou, tomando vida no palco. Ela contou que seu estilo ronda pela natureza do sobrenatural: “Eu escrevo sobre vampiros, lobos, fadas, bruxas e etc...Eu, particularmente, sou fascinada por esse tema. Antes de começar uma história, penso onde eu vou ambientá-la, que nome eu vou colocar em cada personagem. E tudo isso eu pesquiso muito na internet, em livros e em outros locais de acesso.” Decidiu sempre escrever. Nunca achou que as limitações físicas, causadas pela paralisia cerebral, também fosse limitações para percorrer o universo da linguagem, fantasiar outras maneiras de existir e criar seres com características insólitas. Diz que com o passar dos anos foi aprimorando sua escrita e suas histórias foram evoluindo. Renée está escrevendo o segundo livro de uma série que pretende fazer. Hoje faz cinema e audiovisual na Universidade Federal do Pará (UFPA). Pretende criar um blog para divulgar mais seus escritos. Mantinha um blog de fanfic’s (http://goo.gl/zn86EE), que tratava de suas opiniões sobre os livros que leu, mas precisou parar de escrever para o blog, para escrever sua série, que pretende publicar em breve.

facebook.

bem pouco tínhamos muito recorrer quando algo. No máximo para um amigo,

ator e professor de Língua Portuguesa, criou um blog chamado “O Teatro como ele é” (http://goo.gl/HV2dzw) porque reconhecia a falta de uma plataforma que discutisse o assunto. O objetivo não é só de difundir suas opiniões sobre o teatro, mas de ter um retorno do público. “Não tinha um

familiar ou professor. Não tínhamos muitos receptores e nem tínhamos tanta liberdade/ autoridade para publicar, divulgar e dinamizar nossos devaneios ou, simplesmente, impressões sobre coisas do mundo. Mas com tantas plataformas quantos as atuais, os textos produzidos por qualquer pessoa podem chegar nas mãos de muito mais receptores. Estes podem somente ler e descartar ou se tornarem leitores assíduos, que se identificam com o que leem, gostam, compartilham e

suporte para conversar sobre o assunto e também, para mim, como ator, não tinha um espaço que me dissesse coisas que eu queria saber sobre a minha atuação, sobre a poética dos meus espetáculos. Era uma forma de impulsionar o pensamento fazer com que as pessoas expressassem o que elas pensavam sobre a cena”, comentou Arthur Ribeiro. Sim, há uma facilidade maior para divulgar o que se escreve e a quantidade de receptores também é maior, mas isso não revela alguma falta de rigor estético no que é

Plataformas que materializam impressões Até tempo não para quem escrevíamos era levado


apresentado. Nem pela idade, nem pela rapidez. Lucas Moraga, de 20 anos, se permitiu imergir em produções literárias há três anos. Em 2012, começou a escrever Hospedaria das Cinzas, “um livro voltado para a mitologia grega e romana,aliada a alguns preceitos familiares”. Divulgava notas sobre o livro em plataformas como o

e publicar, não só por ser um meio instantâneo, mas por ser o mais viável, justamente porque eles não encontram espaço no mercado.

Facebook e no Wattpad (http:// goo.gl/o7M6pQ -rede social de escrita) e conseguiu um grande público. Não conseguiu parceria para publicar seu livro e acreditou que não era o momento mais propício, “depois de algumas decepções, optei por deixar um pouco de lado para amadurecer enquanto pessoa e autor, e voltar quando eu realmente vislumbrar que estou pronto para o mercado”, esclareceu. Hoje, muitos jovens comungam dessa prática de escrever e publicar, escrever

precisa de muitos prêmios para que um escritor sinta que seu texto foi compreendido. O diálogo com o público pode se tornar um dos principais estímulos e responsável de um amadurecimento na escrita. Arthur Ribeiro percebe esse amadurecimento no seu texto e conta: “agora eu já consigo perceber mais elementos, acho que eu já consigo observar os espetáculos sobre o qual eu escrevo de uma forma menos subjetiva e mais vinculada a um pensamento crítico de teatro mais sólido e fundamentado.”

Publicações, receptividade e consequências: gerando efeitos à vontade. O reconhecimento vem à passos lentos e não se

O professor teve seu texto publicado na revista “A tribuna do Cretino” (uma revista paraense de crítica teatral), para ele foi um resultado inesperado e uma consequência positiva. Não é tão fácil chegar próximo ao gosto da maioria, mas hoje já não é difícil chegar a maior parte do público. “Escrever e divulgar foi de uma tacada só, eu não escrevia e guardava pra mim, eu queria escrever mesmo para as pessoas lerem ou simplesmente pra divulgar para quem quiser ler, não para fazer sucesso e ser compartilhado por milhões de pessoas, mas para ter um lugar onde eu pudesse fazer isso simplesmente”, comenta Arthur Ribeiro. Lucas Moraga, depois de 7 meses escrevendo um livro e do término do processo de revisão, tentou publicá-lo e até recebeu propostas ilusórias, mas no final percebeu que era muito difícil que as editoras publicassem seu livro porque era um iniciante. “O meio editorial brasileiro na época estava em desenvolvimento para iniciantes, as oportunidades eram camufladas e bastante negadas e isso me desestimulou bastante, apesar de, na época, eu possuir um público consideravelmente grande, visto que o livro não fora publicado”, explicou. Os livros da Renée Costa são revisados pela sua irmã. Depois do processo de correção, ela e sua mãe vão patentear e buscar editoras que possam se interessar por suas história e publicá-las. Foi com impulso independente e subjetivo que René Costa, Lucas Moraga e Arthur Ribeiro resolveram materializar seus pensamentos. Com coragem e vontade, estes três jovens, cada um com sua característica e estilo, decidiram compartilhar suas impressões sobre mundo transformando-as em palavras e textos que logo terão muitos leitores. Mas será que o “mercado” está preparado para


produtores novos? Quais os lugares lhes são reservados, além dos ciberespaços? Talvez não tenhamos as respostas desses questionamentos, porque falta um olhar atento para o que está sendo produzido pelos jovens, no âmbito da escrita, da arte ou qualquer outro campo de produção. Precisase de novos espaços, de novas oportunidades e de parceiros. Onde encontrar?



Fotos: divulgação do poste arte


Por Matheus Botelho

Os Postes também falam Você já sentiu a cidade se comunicar com você? Já teve a sensação de conversar com os muros, postes e paredes da sua cidade?

A

o caminhar pelas ruas de qualquer cidade, nós podemos encontrar faixas, pichações, placas que nos transmitem informações, notícias e/ou conhecimento.

São cartazes, outdoors, sinalizações, panfletos, grafites... Ufa! O fôlego já acabou. São pequenos e grandes mensageiros que, de alguma forma, nos atingem em nosso dia a dia (às vezes nos pegam de surpresa!).


Como eles nos atingem? Eles nos chamam. Alguns apenas sussurram já outros.. Gritam desesperadamente. Sim, as paredes e muros das cidades ganham vozes através das infinitas formas que já citamos aqui. E, assim como as paredes e os muros, os postes também falam. Sobre tudo um pouco: sobre aluguel de quartos, sobre cursos de informática, sobre trazer a pessoa amada em “x” dias, etc. Mas um dos assuntos que os postes nunca deixaram de abordar é a arte. Sobre esse tema, um grupo de jovens colabora para que não saia da pauta dessas colunas de concreto. Esses jovens organizam um projeto que busca divulgar arte nos postes das cidades. É o Poste Arte. O Poste Arte nasceu em Minas Gerais e depois de alguns percursos veio parar em Belém, na mão de quatro amigas. Hoje, 12 pessoas fazem parte da organização, sendo a maioria jovens menores de 20 anos. Esse projeto tem como principal objetivo divulgar literatura, poesias e músicas em forma de cartazes pelos postes das cidades. Mas não se restringe apenas a Belém. Através das redes sociais eles têm um grande alcance de público, principalmente jovens e adolescentes, em todo o Brasil. O Murillo Lima, 21 anos, estudante do 5º semestre do curso de história e um dos integrantes do projeto, contou para a gente sobre o funcionamento, a organização e as ações do projeto.

desconhecidas para que as pessoas que acompanham o projeto possam conhecer. “Ano passado, no dia de finados, a gente fez uma homenagem a todos os poetas e músicos mortos. A gente fez uma espécie de mutirão, não só aqui em Belém. A gente reuniu, fez comunicado no Brasil todo, de colar postagens só com artistas e poetas mortos”, conta Murillo.

A escolha dos lugares e as intervenções na cidade

A meta é sempre fazer as colagens em pontos movimentados da cidade, como nas paradas de ônibus. E sempre avisar nas redes sociais a data, a hora e o local onde acontecerão as colagens. Quem quiser participar, basta seguir as coordenadas e levar seu cartaz. Para manter um padrão os cartazes devem ser impressos com a logo do Poste arte e sempre em papel branco. Assim, se dividem em grupos e cobrem maior território. “Quando a gente está colando sempre percebemos olhares curiosos, principalmente, na frente de cursinhos e colégios. A gente cola e nem percebe, vai andando e quando olha para trás fica um mutirão ao redor do cartaz. É uma coisa gratificante. Não tem dinheiro que pague isso”. E entre muitas histórias, enquanto colavam os cartazes nas ruas, Murillo contou sobre alguns policiais que os interromperam em uma dessas intervenções. O horário era pela tarde numa rua do centro de Belém: “eles pararam e perguntaram o que a gente tava A escolha das frases fazendo. A gente explicou e quando eles leram os cartazes, a No começo, as escolhas gente pensou que ia ouvir uma das frases eram só por gosto, mas bronca, mas eles elogiaram a com o tempo e a divulgação do gente e um dos policiais, ao projeto, as pessoas começaram ler um dos cartazes, falou que a pedir músicas e eles sentiram se lembrava do pai, porque era a necessidade de catalogar: uma música da Sayonara”. aniversário de poetas, feriados, músicas. Um dos critérios é O custeamento dos cartazes e a não usar frases de músicas poluição na cidade clichês e, assim, divulgar os autores e cantores ou músicas Tudo é feito pelos

Fotos: divulgação do poste arte



Fotos: divulgação do poste arte

integrantes do projeto. O processo é na base do revezamento: se alguém tem impressora em casa é lá que os cartazes serão impressos. Além disso, as impressões são feitas em papéis reciclados e não mais colados com fitas adesivas ou colas a base d’água, pois saem com facilidade. “E o que a gente faz também é depois de uma ou duas semanas, retornar ao local e retirar as postagens justamente por causa disso. Porque querendo ou não, é uma poluição tanto visual quanto pros esgotos” explica Murillo. Os 12 organizadores do projeto mantêm uma espécie de caixinha para esses custos com impressões dos cartazes e também para manter as ações filantrópicas que o grupo faz nos asilos e creches de crianças carentes. Dessa forma, levar um pouco de literatura e conhecimento através dos livros para essas pessoas. Além disso, eles costumam fazer arrecadações na praça da república, no que eles chamam de manhã literária: “cada um oferece alguma coisa: uma pessoa traz brigadeiro, outra traz pão com queijo e presunto, traz o suco e a gente faz uma troca. A pessoa vem, doa um livro pra gente e ela pode se servir a vontade. E esses livros que a gente pega,


usamos justamente pra fazer essas doações para asilos, para creches e estocar. Fazer uma espécie de bibliotecas pra eles”.

Conversando com o concreto Quando nós voltamos do trabalho, da faculdade ou da escola, de qualquer lugar, e paramos um momento, percebemos que há uma voz te perguntando “você já sorriu hoje?”. Frases como essa são capazes de mudar o estado de espírito de quem lê. É isso que o Poste Arte e vários outros tipos de vozes da cidade querem te passar. “Na vida, a gente precisa transbordar e repassar aquilo que temos de melhor e mais rico. Experimente! Muita gente não faz ideia da pedra que há no meio do caminho, talvez o poste possa contar...”, nos contou o Poste Arte.


FOTO: Jonas Amador, Rafael Cardoso e Miller Farias.


Por Alana Menezes

Sob o olhar de jovens fotógrafos

A ânsia pelo novo, por descobrir o mundo que está por trás das lentes de uma câmera, a cada ensaio uma nova descoberta, um novo aprendizado. Jovens universitários, futuros publicitários que buscam na fotografia mais que um simples hobby, uma maneira de se sentir realizado. Jonas Amador, Miller Farias e Rafael Cardoso, contaram para a Na Cuia um pouco de suas particularidades e histórias com a fotografia.


Na Cuia: Considerando que vocês são jovens e por serem, existe uma curiosidade de conhecer afundo aquilo que os interessa, pensando assim, o que chamou a atenção de vocês para a fotografia? O que fez vocês se interessarem a ponto de leva-la para um lado mais sério, que de forma alguma deixa de ser um hobby, e por vocês estarem a cada novo ensaio se reinventado e renovando? Jonas Amador: Sempre fui o “fotografo da família”, aquele que sempre batia as fotos nas comemorações e datas especiais. Desde então comecei a pegar o costume e me interessar cada vez mais. Antes de ir pra fotografia digital, eu me arriscava com analógico, mas nada muito sério era mais pra entender como melhor funcionava a fotografia antigamente. No começo era tudo por hobby ou trabalhos da faculdade, até que finalmente no início de 2015, juntei o dinheiro pra poder comprar minha câmera e lente e foi aí que tudo começou a ficar mais sério. A parte de tentar se reinventar é a mais complicada. Se você parar pra pensar, todo mundo já fez aquela sua ideia que você julgava ser “genial” e “original”. Na maioria das vezes tento fazer readaptações na hora de buscar temas aos meus ensaios. Miller Farias: Quando eu era bem novinho, minha mãe sempre andava uma Canon analógica na bolsa. Talvez esse interesse pela fotografia tenha surgido daí e ficado preso no inconsciente. Anos depois, quando eu estava no começo do ensino médio, lembro de ter procurado sobre cursos de fotografias, porque me interessava pelo assunto, mesmo não sabendo bem a origem e razão desse interesse. Nessa ocasião, eu não cheguei a ter aulas, mas a vontade de estudar sobre ficou guardada. Cheguei à faculdade de Publicidade e lá estava a oportunidade de ter aulas de fotografia. Me animei,

FOTOS: Jonas Amador

né? Mas juro, ainda não sei te dizer exatamente o que me faz ter o interesse pela fotografia. Talvez seja essa busca pelo o que me faz querer fotografar que mantém acesa a chama de sempre procurar novos caminhos e me renovar. Mesmo já estando a criar um estilo e uma pegada mais subjetiva, vejo a fotografia com olhares despreocupados, até. Mesmo eu sendo muito neurado e perfeccionista, encontro a cada ensaio uma forma de representar visualmente o que se passa na minha cabeça. É como se cada ensaio fosse uma tela em branco, que eu vou pintando e vendo no que vai dar. Rafael Cardoso: Eu sempre gostei de registrar momentos, mas isso era mais presente no desenho, registrava expressões, situações, poses, momentos e etc. Quando eu comprei um celular com uma câmera boa, comecei a ver que a fotografia era exatamente aquilo que eu fazia com rabiscos nos papéis, só que mais fiel, mais realista, mais concreto. O legal é que na fotografia eu vejo muito mais do que nos rabiscos, porque, analisando, ela traz mais profundidade por não só abordar aquilo que eu vejo, minha perspectiva, mas traz a situação num geral, em um clique. Sobre se reinventar e renovar, eu acho que é um processo natural. A circunstância é complexa, o momento da fotografia é um



Aguiar e o Antônio Rodrigues, que recentemente tive a oportunidade de fotografa-lo. Miller: Queria poder dizer os nomes de grandes fotógrafos que já fizerem exposições nos maiores salões de arte contemporânea de Paris, mas meus conhecimentos sobre fotografia são mais intuitivos que concretos. Recentemente, conheci a historia de um (polêmico) fotógrafo chamado Robert Mapplethorpe. Achei incrível o trabalho dele e não tem saído da minha cabeça no momento. Eu gosto muito também de uma galera jovem que usa o Instagram pra mostrar o trabalho. O meu favorito é o Léo Augusto. Mas, na verdade, eu me inspiro mais em livros, filmes e séries do que em outros fotógrafos. Rafael: Como influência eu cito o Gianfranco Briceño, Nir Arieli, João Guedes, Luísa Fontan, Lauren Withrow, entre outros. Bom, eles me inspiram momento que é influenciado por x fatores. A modelo, eu (o fotógrafo), a luz, o lugar, tudo isso. Tudo isso faz com que um ensaio seja diferente do outro. E como todo ser humano é esse constante devir, eu acho que cada momento é um momento e que cada fotografia é uma nova fotografia, mesmo que em minúsculos detalhes. Na Cuia: Quem são as grandes influências de vocês no meio fotográfico e o que ela mais inspira em vocês? O que vocês mais admiram nela? Jonas: Tenho certa facilidade e afinidade por fotografar mulheres, e uma das minhas maiores inspirações é a fotografa Júlia Trotti, lá da Austrália. Ela é incrível! Ela trabalha com modelos femininas e ensaios externos (o que eu mais me identifico). Outros fotógrafos do Brasil mesmo me inspiram bastante. Desde edição das imagens até os temas dos ensaios. Posso citar alguns nomes, Marcos Feittosa, Leo Augusto, Mateus


FOTOS: Miller Farias


na profundidade da fotografia porque eles comunicam sentimentos, emoções, sensações. Seja nas fotografias de homens nus do Gianfranco (que aborda um tema que me fascina: o nudismo), nas sutis garotas da Luísa ou na questão da complexidade da essência presentes nas fotos da Lauren. Eu me sinto inspirado principalmente pela questão humana de simplesmente ser, e do ato de registrar isso. Na Cuia: Nota-se nas fotografias de vocês certa simplicidade, sem perder a essência do que vocês pretendem repassar em suas fotos. Por qual motivo vocês optam por essa fotografia com um ar mais sereno? Jonas: Na verdade ainda estou tentando me achar dentre as inúmeras áreas da fotografia. Acredito que a “simplicidade” ainda seja uma zona de conforto ou então o ditado “menos é mais” nunca foi tão verdadeiro (risos). Miller: Não existe um motivo racional ou científico que explique o “ar” das minhas fotos. É algo mais subjetivo mesmo. É esse tipo de foto que

eu gosto de ver, é o que mais me comove. Eu li uma vez que a gente é produto daquilo que deixamos nos influenciar, do que está ao nosso redor. Então, eu procuro fazer o que me agrada ver. Rafael: Eu acho que a simplicidade vem, inicialmente, pelo fato de eu não investir muito em produção. Não que eu nunca faria isso, mas, por hora, acho que me basta só fotografar os modelos como eles são nas situações que propomos. Porém também me agrada a ideia de simplicidade para deixar mais claro que não se trata apenas de uma representação de signos visuais e para as pessoas não se perderem na ideia que eu quero passar.

variar pra evitar ficar na mesmice de sempre. Antes eu gostava muito de fotos na natureza, mas ultimamente tenho me apegado mais ao lado urbano. É algo muito instável, depende da ideia que pretendo passar.

Na Cuia: Quando vocês pensam em um ensaio para fazer, o que vocês mais levam em consideração? E qual é a preferência de vocês em relação ao ambiente em que serão feitas as fotografias?

Miller: Eu levo em consideração o perfil da(o) modelo - não gosto de colocar eles em situação muito distante da própria personalidade. E tento deixar eles o mais confortável possível. Então, é meio que uma troca, do que eu planejo com o que eles se sentem a vontade de fazer. Se eles não se sentirem seguros com aquela situação, a foto certamente não sairá boa. Os lugares variam muito de acordo com o que eu busco com as fotos. Já fotografei na garagem do meu prédio, em uma quadra, em um terraço, na sala da casa de uma amiga... Ultimamente tenho fugido dos pontos turísticos e buscado esses lugares alternativos, com boa luz natural.

Jonas: Normalmente eu procuro fazer fotos que não foram feitas antes. Locações diferentes e conceitos diferentes. Tento

Rafael: A pessoa, em primeiro lugar. Eu gosto de conversar muito com o/a modelo para sentir a vibe dela e pra ver


se ela se enquadra na ideia. Já perdi muita vontade de fotografar por achar que a pessoa não correspondia a minha proposta. Segundo a ideia, eu considero a ideia tão importante quanto á pessoa, mas não há ideia sem pessoa e vice-versa. Minhas fotografias são feitas por causa de pessoas, por causa da complexidade humana e/ou pelo simples ato de ser (humano). Quanto ao cenário, eu prefiro lugares calmos. É importante se sentir confortável e fazer com que a/o modelo também se sinta, principalmente para ele se abrir para a câmera e passar a mensagem. Na Cuia: Falando em preferencia, qual o tipo de fotografia que vocês mais gostam de fazer? E por que vocês gostam mais? O que vocês acreditam que seja o grande diferencial de suas fotografias? Jonas: Ensaios fotográficos é a minha grande paixão! Já tentei fotojornalismo, fotografar festas, aniversários, eventos, paisagens etc., mas não me enchem os olhos. Curto muito fazer foto externa. Acredito que o ambiente influencia 50%

FOTOS: Rafael Cardoso


nas fotos. Gosto da luz natural e dos efeitos proporcionados naturalmente. Sabe aquele vento que bate na hora certa? Ou aquela composição de sombra e luz? Então. Já tive uma experiência com um editorial e gostei muito também. Fora que algumas pessoas próximas sempre me dizem “suas fotos estão cada vez mais editorial”. Gosto de moda então não vejo problemas com isso. Talvez um diferencial seja que as minhas fotos fogem um pouco do regional. Não gosto muito de fotos em pontos turísticos. Penso muito antes de fotografar alguém e se tal pessoa se encaixa no que pretendo fazer. Meu público alvo é outro. Busco referencias do we heart it, tumblr, etc.

posado e mais produzido, o onde você pode encontrar que dá esse toque editorial. todos os meus ensaios. A internet influenciou muito! Rafael: Eu gosto de portrait. Minha divulgação é totalmente Dá pra capturar exatamente virtual, não consigo pensar em os detalhes faciais das pessoas, formas de divulgação off-line, a a expressão. Li uma vez que não ser por boca-a-boca. o rosto, a expressão, a forma como o sujeito olha para os Miller: Eu divulgo no meu blog, outros e para as coisas, diz o millerfarias.blogspot.com, e muito sobre ele. Acho que o no Instagram, @Millerando. portrait é a forma da gente São plataformas que te dão conhecer e entender alguém. uma visibilidade muito boa. Entretanto, em um dos últimos Eu prefiro o blog, por ser algo ensaios que fiz, abordei o mais completo e que te permite nudismo masculino e é algo que colocar um maior numero de eu quero realmente investir. informação. Aí uso o Instagram Não é pra ser sexy, erótico, como apoio (além de ser uma pornográfico, é simplesmente fonte incrível para referências, pra ser verdadeiro. como eu já disse).

Na Cuia: Vocês divulgam os seus trabalhos em alguns sites para que mais pessoas possam Miller: Eu sempre falo que ter acesso a eles, onde vocês faço fotografias que mesclam acham que a internet mais ajuda o lifestyle com o editorial. na divulgação do trabalho de Acredito que mesclando vocês? essas duas vertentes, posso conseguir um resultado que me Jonas: Minha principal fonte diferencie. Eu gosto muito do de divulgação é o Instagram (@ lifestyle por essa simplicidade fotografoamadorrr). Lá posto e espontaneidade que coloco fotos frequentemente e tenho nas minhas fotos. Mas, muitas um feedback legal. Além disso, vezes, procuro fazer algo tenho um portfólio online

Rafael: Nossa, a internet é realmente uma das melhores coisas já inventadas! Eu criei um wordpress por confiar na plataforma e ela me permitir postar as fotos na qualidade que eu gosto. Eu creio que o Facebook lhe dá mais visibilidade, ou o Instagram, mas não sei se é essa a minha proposta. Eu deveria investir mais nisso, sim, mas não tenho um comprometimento tão grande na divulgação maciça


FOTOS: Jonas Amador


das minhas fotografias.

damos vez para defeito, estamos simplesmente conectados por Na Cuia: Como vocês definem algo que nos cria uma boa a fotografia de vocês? O que sensação. vocês pretendem passar com elas? Rafael: Eu definiria com registros de momentos em Jonas: Defino por fotografia que a/o modelo estão sendo a digital, voltada para o mercado. coisa mais óbvia do mundo: Aquela foto que usam em eles mesmos. São homens e/ revistas ou anúncios. Sabe? ou mulheres se permitindo Sempre temáticas. Tenho certa registrar toda uma história. dificuldade em me expressar Meu objetivo é que as poses, as e encontrei na fotografia um expressões, os corpos passem “atalho”. algum sentimento, alguma emoção, e que se comunique Miller: Eu defino como a com quem as vê – é como se eu tentativa de produzir fotos quisesse criar um elo que fosse que, quando alguém ver, diga: além do plano físico. “Eu quero ser amigo dessa pessoa”. Eu sempre faço isso Na Cuia: O que mais inspira quando gosto de uma foto! vocês a fotografarem? Como Sério. Eu realmente crio uma vocês imaginam a relação de relação de admiração pela foto, vocês com a fotografia daqui pelo fotógrafo e pela pessoa alguns anos? fotografada. E criar uma relação afetiva com algo é a melhor Jonas: Tem uma frase que uso forma de relacionamento. muito: “eternizamos momentos Quando estamos realmente e chamamos de fotografia” ligados a algo/alguém, não não sei quem é o autor, mas

FOTO: Miller Farias.

ela representa muito pra mim. Tenho uma paixão que não consigo explicar, consigo aliar um hobby com trabalho, então sempre fotografo com muito amor! Pode ser até num feriado às 7 da manhã que estarei disposto. Pretendo seguir o ramo da fotografia, fazer outros cursos e levar pra vida. Assim que eu me formar em publicidade, quero fazer uma especialização em fotografia. Miller: A fotografia surgiu na minha vida ao acaso e se tornou parte dela de forma inconsciente. É como se ela tivesse me escolhido, e não eu ter a escolhido. Dessa forma, sei que os meus conhecimentos sobre fotografia são limitados, muitas vezes intuitivos, e que tenho muito a aprender. E eu acredito, com todas as minhas certezas (mesmo sendo um cara de poucas certezas), que nós só aprendemos e melhoramos com a prática. Uma das coisas que me move é a sede do


FOTO: Miller Farias

conhecimento. Eu sempre quero aprender coisas novas, fazer o que eu nunca fiz, mesmo que o resultado não saia do jeito que eu imaginava. Então, o que me motiva é saber que o mundo da fotografia é enorme, e eu tenho muito a aprender. No futuro, quero continuar com a visão de uma criança ou um turista, que está sempre curioso com as novidades e atrás de conhecimento. E, assim, produzir algo novo, que as pessoas se identifiquem e criem afeição. Rafael: O que mais me inspira e o que me leva a querer mais e mais fotografar são as pessoas. Eu não sei se tenho planos, ainda não parei para pensar nisso, só quero simplesmente registrar, por hora.

FOTO: Rafael Cardoso



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