Catálogo da mostra de cinema Mr. Faker - Orson Welles e a autoria na indústria do cinema

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Sesc | Serviço Social do Comércio

Orson Welles e a autoria na indústria do cinema

Mostra de cinema




Sesc | Serviço Social do Comércio Presidência do Conselho Nacional ANTONIO OLIVEIRA SANTOS

Departamento Nacional Direção-Geral MARON EMILE ABI-ABIB

Coordenadoria de Educação e Cultura NIVALDO DA COSTA PEREIRA

CONTEÚDO Gerência de Cultura MARCIA COSTA RODRIGUES

Assessoria de Cinema MARCO AURÉLIO LOPES FIALHO NADIA MORENO

Texto MARCO AURÉLIO LOPES FIALHO FRANCESCO TROTTA

PRODUÇÃO EDITORIAL Assessoria de Comunicação PEDRO HAMMERSCHMIDT CAPETO

Supervisão editorial, edição e preparação FERNANDA SILVEIRA

Projeto gráfico ANA CRISTINA PEREIRA (HANNAH23)

Revisão de texto CLARISSE CINTRA

Produção gráfica CELSO MENDONÇA

Estagiário de produção editorial DIOGO FRANCA

DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

©SESC DEPARTAMENTO NACIONAL, 2015

Sesc. Departamento Nacional. Mr. Faker : Orson Welles e a autoria na indústria do cinema : mostra de cinema / Sesc, Departamento Nacional. -- Rio de Janeiro : Sesc, Departamento Nacional, 2015. 76 p. ; 27 cm.

AV. AYRTON SENNA, 5.555 — JACAREPAGUÁ RIO DE JANEIRO — RJ CEP 22775-004 TEL.: (21) 2136-5555 WWW.SESC.COM.BR

Bibliografia: p. 64-67. ISBN 978-85-8254-045-9.

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. IMPRESSO EM OUTUBRO DE 2015.

1. Welles, Orson, 1915-1985. 2. Diretores e produtores de cinema – Estados Unidos. I. Título. CDD 791.430233

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS E PROTEGIDOS PELA LEI NO 9.610/1998. NENHUMA PARTE DESTA PUBLICAÇÃO PODERÁ SER REPRODUZIDA SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA POR ESCRITO DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO SESC, SEJAM QUAIS FOREM OS MEIOS E MÍDIAS EMPREGADOS: ELETRÔNICOS, IMPRESSOS, MECÂNICOS, FOTOGRÁFICOS, GRAVAÇÃO OU QUAISQUER OUTROS.


Mostra de cinema

Orson Welles e a autoria na indústria do cinema Sesc | Serviço Social do Comércio Departamento Nacional Rio de Janeiro 2015


Criado e administrado há mais de 60 anos por representantes do empresariado do comércio de bens e serviços e destinado à clientela comerciária e a seus dependentes, o Sesc vem cumprindo com êxito seu papel como articulador do desenvolvimento e bem-estar social ao oferecer uma gama de atividades a um público amplo, esforço que conjuga empresários e trabalhadores em prol do progresso nacional. Dentre suas diversificadas áreas de atuação, a cultura se caracteriza como um democrático disseminador de conhecimento, importante ferramenta para a educação e transformação da sociedade, levada ao público de grandes e pequenas cidades por meio da itinerância de espetáculos, exposições e mostras de cinema. Ao possibilitar o livre acesso aos movimentos culturais, seja no cinema como também nas artes plásticas, no teatro, na literatura ou na música, o Sesc incentiva a produção artística, investindo em espaço e estrutura para apresentações e exposições, mas, acima de tudo, promovendo a formacão e qualificação de um público que habita os quatro cantos do Brasil. A credibilidade alcançada pelo Sesc nesse âmbito faz da entidade uma referência nacional, o que revela a reciprocidade entre suas ações e políticas e as atuais necessidades de sua clientela.

Antonio Oliveira Santos Presidente do Conselho Nacional do Sesc

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O Sesc é uma entidade de prestação de serviços de caráter socioeducativo que promove o bem-estar dentro das áreas de Saúde, Cultura, Educação e Lazer, com o objetivo de contribuir para a melhoria das condições de vida da sua clientela e facilitar seu aprimoramento cultural e profissional. No campo da cultura, a atuação do Sesc acontece no estímulo à produção cultural, na amplitude do conhecimento e no fortalecimento de sua identidade nacional, condições essenciais ao desenvolvimento de um país. Nesse cenário, a mostra de cinema Mr. Faker – Orson Welles e a Autoria na Indústria do Cinema oferece um amplo panorama desse multifacetado homem da comunicação e do cinema: diretor, ator, produtor, entre outras funções realizadas por Orson Welles, que protagonizou uma das mais polêmicas películas do cinema mundial: Cidadão Kane, filme que faz parte desta mostra, e autodenominou-se um “impostor”, um “ilusionista”. O caráter histórico e documental desse projeto viabiliza a proposta do Sesc dentro da ação programática de cultura ao se constituir como uma ferramenta de enriquecimento intelectual dos indivíduos, propiciando-lhes uma consciência mais abrangente e aberta a meios mais estimulantes e educativos de aquisição da cultura universal.

Maron Emile Abi-Abib Diretor-Geral do Departamento Nacional do Sesc

Mr. Faker - Orson Welles e a autoria na indústria do cinema


“A palavra gênio foi a primeira que ouvi, quando ainda estava no berço. Assim, até chegar à meia-idade, nunca pensei que não fosse um gênio. Os adultos, então, esperavam que eu fizesse alguma coisa extraordinária. Tentei fazê-las. Sempre achei, porém, que não estava correspondendo.”


(WELLES, 1986)


SUMaRIO


Introdução 10 Um artista transbordante

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Welles: um demiurgo contemporâneo

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Filmes da mostra

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Verdades e mentiras de Welles

20

Verdades e mentiras 24 Cidadão Kane 27 Grilhões do passado 30 W(elles) Shakespeare

32

Falstaff – o toque da meia-noite 37 Macbeth 38 Welles noir

40

O estranho 45 A marca da maldade 46 A dama de Shanghai 49 Welles literato

52

Soberba 57 O processo 58 Dom Quixote 61 Filmografia

62

Referências 64 Anexo: Extra! Extra! Morre Charles F. Kane!

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O Sesc apresenta a mostra de cinema Mr. Faker – Orson Welles e a Autoria na Indústria do Cinema com uma ampla oferta de 11 filmes desse enfant gâté do cinema norte-americano: Cidadão Kane, Soberba, O estranho, A dama de Shanghai, Macbeth, Grilhões do passado, A marca da maldade, O processo, Falstaff – o toque da meia-noite, Verdades e mentiras e Dom Quixote. Orson Welles (1915-1985) ainda hoje é figura singular e polêmica na história do cinema. Por ter uma personalidade provocadora, teve sua carreira associada a uma filmografia produzida com muitas dificuldades. Hoje é impossível dissociá-lo da própria história: homem, cineasta e ator se confundem com seus personagens. O traço que une os filmes de Welles é a ânsia de liberdade, a abominação pelo conservadorismo e pelo servilismo humano. Ao trabalhar em um universo tão movediço, Welles optou por ser um “impostor”, não em um viés criminoso, mas para nos fazer ver que tudo que envolve o humano é sujeito à manipulação. Welles utilizou os recursos de câmera para fazer filmes de visual incomparável, com ângulos surpreendentes e narrativas inovadoras. Em 1941, ao realizar seu primeiro filme, Cidadão Kane, concebeu-o como seu manifesto inconteste e o inscreveu entre as obras máximas já realizadas na história do cinema. Ao abrir espaço para esse singular cineasta em sua programação, o Sesc oferece ao público mais uma oportunidade de encontro com obras clássicas que até hoje conseguem dialogar vigorosamente com nosso mundo.

Equipe de Cinema do Departamento Nacional do Sesc

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Mr. Faker - Orson Welles e a autoria na indústria do cinema


Chamar Orson Welles pela alcunha faker (impostor) não che-

seus filmes, o que conferia uma particularidade a seus trabalhos; sua

ga a ser, nesse caso específico, incriminador, tampouco soaria

presença servia para dar o tom na construção dos personagens. Dirigir e

como elogioso, mas seria justo. Todo cineasta deveria se or-

protagonizar lhe conferia esse benefício artístico.

gulhar de ser chamado de prestidigitador, pois que no fim das

Corpulento e alto, de olhar confiante e afirmativo, Welles tinha uma

contas todos eles acabam o sendo. Welles nada mais fez do

presença imponente. Logo em seu primeiro longa-metragem, Cidadão

que dignificar essa obviedade profissional, e buscou ao longo

Kane (1941), deixou perplexo o meio cinematográfico da época. Apesar de

de sua tumultuada carreira criar um conceito estético em suas

criticado nos Estados Unidos, o filme foi descoberto pelos franceses após

obras, nas quais o uso do falso fosse compreendido como in-

o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e, desde então, está presente

trínseco ao próprio fazer artístico. O falso como essência da

em praticamente todas as listas elaboradas por críticos de todo o mundo

própria arte, como pilar construtivo irrevogável e inevitável

como o mais relevante filme da história do cinema. Surpreendentemente,

desse processo.

Welles realizou o filme com apenas 25 anos de idade.

A genialidade de Welles, tão propalada por seus contemporâ-

Ao relacionarmos Welles com transbordamento, o fazemos no intuito de

neos, e incluindo nesse contexto os críticos de cinema de todos

melhor compreender seu universo artístico a partir de sua personalidade

os tempos, ganhou força graças à sua visão audaciosa e às

marcante, que se derrama por todo o seu trabalho de um impulso autoral

vezes exagerada e transbordante sobre o cinema. Mesmo sua

insinuante, como se fora uma mácula irrefreável e irreprimível.

faceta de ator sempre fora enigmática e barroca, capaz de pro-

Transbordante talvez seja uma boa palavra para definir Orson Welles.

vocar assombros no espectador, ele funcionava como um ímã

Identifica-se nele a existência de algo para além do artista criador, que

para os espectadores, roubando a ação, como frequentemente

resvala ali e se amplia na sua personalidade. Diretor de cinema e teatro,

se costuma dizer. Quase sempre atuava como protagonista em

radialista, ator de cinema e teatro, roteirista, prestidigitador, artista múltiplo. Pela imponência de sua presença e de suas ideias cultivou muitos inimigos, em especial em Hollywood, mas também uma imensidão de

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admiradores que não cansam de vê-lo como gênio, excêntrico e polemista. Welles esforçava-se em fazer um cinema autoral em meio à maior indústria do cinema mundial e pagou um alto preço por essa escolha. O transbordamento não é aqui utilizado tão somente para definir sua obra, mas também como um ponto referencial e de integralidade. Assim, a personalidade de Orson Welles está rigorosamente presente em tudo o que fez na carreira, e até fora dela, isto é, sua aparição deve ser entendida sempre como um acontecimento, seja como diretor seja como ator ou em qualquer outra função que tenha desempenhado ao longo de sua vida. Nesse enfoque do transbordamento, a busca da verdade não pode ser considerada como essencial na concepção de seus filmes, pois ela tende ao exato, à precisão, à crueza. Já o falso não, ele precisa ser convicentemente over para poder ser aceito, não precisamente como ele é, falso, mas para poder parecer indubitável e inequivocamente verdadeiro. Quando relacionamos Welles com transbordamento o fazemos pensando que nele reside certa insanidade advinda de sua não aceitação do processo de produção dos estúdios hollywoodianos, sua inconformidade ao status quo. Em uma observação superficial, Welles nada mais é que um lunático, um derrotista a enfrentar ingloriamente os poderosos estúdios e seus produtores. Mas quando imergimos em seus projetos e compreendemos sua visão artística, construímos outra concepção a seu respeito. É notória sua predileção por certas obras, como Dom Quixote (Miguel de Cervantes), O processo (Franz Kafka) e O coração da selva (Joseph Conrad), que materializam a luta de homens contra processos de aprisionamento do indivíduo. Assim, as diversas batalhas de Welles contra donos de estúdios devem ser analisadas a partir de seu imaginário político e filosófico, da sua visão ontológica, mesmo sabendo que elas se assemelham às de Davi contra Golias. Essas relações eram penosas e inglórias realmente, mas refletiam bem sua obsessão em realizar plenamente seus anseios artísticos e não era só uma questão de terminar seus projetos a todo o custo. O pensar wellesiano não era propriamente finalístico, e sim processual. No decorrer de sua carreira, quem mostrou maior dificuldade em lidar com a personalidade marcante de Welles foram os produtores de Hollywood, que dificilmente conseguiam dobrá-lo. Welles sabia o que queria e era constantemente acusado de ser intolerante, lutava para ter o controle artístico de sua obra, o que é bem compreensível para um criador.

ISTA 13


UM ARTISTA TRANSBORDANTE Quanto ao seu espírito inconformado, certa vez ele mesmo disse: “Os santos e os artistas não se evidenciaram na história pelo seu conformismo, e é um fato evidente, mas esquecido, de que não existe arte ou artista domado, dominado ou posto de quatro” (WELLES, 1986, p. 84).

Definitivamente, Welles não abria mão do domínio artístico das suas

Welles chegou a declarar sua visão acerca da arte e que contrastava radicalmente com o modus operandi praticado pelos estúdios. Sua fala é bem clara a respeito:

obras e, como consequência disso, travava embates fervorosos contra os donos de estúdio. Essa era uma questão realmente fundamental, constituidora mesmo. Hollywood se consolidou economicamente por

Hollywood trata todo mundo mal. Tudo que alguém seja capaz de declarar sobre Hollywood é verdade.

meio da intervenção dos produtores nos filmes, vistos como seus pro-

Mas eu me sentia melhor, mais à vontade, quando

dutos finais, sua fonte de maior ou menor lucro, ou de um possível

Hollywood era uma cidade-fábrica, os grandes estú-

fracasso. A briga era de caráter classista: de um lado os objetivos do

dios, com os grandes dinossauros sentados atrás de suas escrivaninhas. (WELLES, 1986)

artista em salvaguardar sua liberdade de criação, e de outro os empresários, esforçando-se em ter um produto final rentável. Por isso, os artistas estão sempre propensos a correr risco enquanto os empresários tendem à estabilidade de seus negócios. Esses embates impregnam a obra de Welles e não podem ser desvinculados dela. Sua obra nos interroga o tempo todo sobre a

possibilidade de realização autoral dentro do processo produtivo de uma grande indústria, repleta de chefões poderosos e endinheirados. A análise atenta de seu processo criativo deve esbarrar inevitavelmente nessa tensão entre artista/ criador e indústria.

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E

Orson Welles foi um artista que conseguiu refletir como poucos o século 20, em especial seu país, os Estados Unidos; mas também soube envolver sua obra em meandros filosóficos ao incluir questionamentos profundos sobre o papel do homem no mundo contemporâneo. A busca ou o questionamento do sentido da vida pelos indivíduos permeia suas tramas e seus personagens. Personagens em situação-limite, imersos em encruzilhadas advindas de suas ambições políticas e econômicas podem ser considerados centrais na construção da obra wellesiana. Como desdobramento, podemos também desmembrar outros temas adjacentes, tais como os da traição, do assassinato,

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da inveja e das crises de consciência. Ressalta-se sua visão crítica acerca de como os poderosos exercem seu macro e micropoderes, como os organizam e os estruturam. Pelo seu humanismo radical, de colocar usualmente o indivíduo como elemento central de sua obra, muitos críticos definem Welles como um renascentista, o que não chega a ser um exagero. A influência do dramaturgo William Shakespeare também reforça essa característica. A relação entre poder, crise de consciência e traição são temas congruentes nas obras dos dois artistas. No cinema, Welles filmou três peças de Shakespeare e, no teatro, montou desde a adolescência

que foram adaptados, quando analisados em conjunto, mais do que simples referências, compõem um quadro de influências substantivas, formadoras mesmo do seu caráter e de seus princípios artísticos e humanísticos. São eles: Joseph Conrad, Franz Kafka, Miguel de Cervantes e, sem surpresa, William Shakespeare.

incontáveis adaptações. Muitas vezes apontado como prodígio, Welles teve uma formação muito sólida e desenvolveu um gosto pelas artes desde a adolescência. A literatura sempre o seduziu, basta ver as adaptações literárias que realizou no cinema. Os escritores

Poucos artistas antes dos 25 anos conseguiram dois feitos atingidos por Welles. O primeiro foi causar, aos 23 anos, uma comoção geral ao narrar em um programa de rádio da CBS (Columbia Broadcasting System) uma invasão de marcianos, inspirada no livro A guerra dos mundos, de H. G. Wells. Várias pessoas, desesperadas, tomaram o que ouviram como verdade e abandonaram suas casas em fuga, causando um grande alvoroço em várias cidades norte-americanas. A ação não foi impensada: a emissora interrompeu a programação musical para dar uma notícia extraordinária, tudo muito bem calculado pelo então l’enfant terrible. O segundo foi realizar um filme de estreia até hoje defendido pelos críticos como o mais relevante da história do cinema: Cidadão Kane.

Esse tema, o da construção da verdade ou, se alguém preferir, da mentira, é constante em sua carreira. De Cidadão Kane a Verdades e mentiras esse tema permeou toda a sua obra. Welles devotou uma boa parte de sua vida a des-

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vendar o papel do cinema nesse processo cognitivo de colocar o espectador em uma posição de questionar os artifícios que possibilitam a construção tanto da verdade como da mentira. Ao falar de Orson Welles é impossível não mencionar Cidadão Kane. Sua obra máxima e importante do ponto de vista estético fornece contribuições para além do universo cinematográfico ao propor uma análise pertinente sobre seu tempo. Com Cidadão Kane, Welles discute a questão da importância da riqueza para o indivíduo e mexe diretamente com os elementos formadores da sociedade capitalista norte-americana, enaltecendo o enriquecimento individual como força motriz da dinâmica social. Inteligentemente, a discussão encaminha-se para a infelicidade do protagonista, que apesar de detentor de poder econômico, e até político, não consegue substituir a maior perda de sua vida, a subtração de sua infância feliz. O filme foi reconhecido como uma obra genial, mas Welles pagou um alto preço pela sua ousadia temática. William Randolph Hearst, famoso plutocrata dono de um poderoso jornal da época, e uma das inspirações para a construção do personagem Kane, investiu de forma sistemática contra o filme e a carreira de Welles.

WELLES UM DEMIURGO

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FILMES DA MOSTRA Sesc | Serviço Social do Comércio

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