Naturale 9a edição Agosto/Setembro - 2011
2 O cavalo como recurso terapêutico 5 Um pequeno imã contra o câncer 8 Vivências permaculturais 9 É hora de falar das florestas 10 Orientações ortodônticas 12 Cuidador 13 Senac Móvel promove cursos de culinária 14 Saúde, Enfermidade e Doença: um olhar contemporâneo 17 Vinhos, um prazer saudável 18 Saúde & estresse ocupacional 19 A engenharia e o desenvolvimento sustentável
Caro leitor Observamos no dia a dia o quanto o corre-corre rotineiro produz todo o tipo de males, em todas as faixas etárias. Hoje, saber parar para dedicar algum tempo a si mesmo é sinal de grande sabedoria. Atividades lúdicas tornaram-se de suma importância. A equitação por exemplo, vista como atividade terapêutica, tanto para quem sofre de estresse como para pessoas com necessidades especiais, proporciona equilíbrio, vivacidade, desenvolvimento do tônus muscular, além da integração com o meio entre outros benefícios. Cuidar de si e de nosso entorno é algo muito mais amplo do que imaginamos. Para alcançarmos a tão sonhada harmonia precisamos ser coerentes, ter respeito e estar em sintonia com tudo o que nos cerca. Assim, sem perceber estaremos trabalhando para a cura, proporcionando saúde. Afirma a regra de ouro da permacultura: “cuidado com a terra, cuidado com as pessoas e reaproveitamento dos recursos disponíveis, energia e dinheiro para melhorar o planeta e seu povo”. Podemos ver que esta regra de ouro se estende a tudo, o cuidado com a terra, hoje se aplica também ao cuidado que temos com o local onde moramos e trabalhamos; o cuidado com as pessoas inclui o cuidado consigo mesmo, com os que estão ao nosso entorno, com funcionários e clientes; o reaproveitamento de toda a energia disponível, seja no seu uso correto e reciclando ou encaminhando para reciclagem o que não utilizamos. Todo este conjunto de atitudes positivas melhora e muito a vida das pessoas, do local onde vivemos e consequentemente a vida do planeta. Como já dizia Madre Tereza de Calcutá “cada gota d’água forma o oceano, se ela não existir, o oceano também não existirá”, visto dessa maneira cada ação de um indivíduo repercute positiva ou negativamente no todo. É interessante vermos como a filosofia desta regra básica de cultivo da terra ampliou-se para todos os setores. Pesquisas e emprego de tecnologia para criar cidades sustentáveis, formas de redução de gases do efeito estufa, fazem-nos refletir sobre todos estes pontos. Vamos conhecer também a pesquisa que está sendo desenvolvida na Universidade Federal de Itajubá (MG), que acende uma luz para a cura do câncer. Desejamos a você uma ótima leitura!
Elaine Pereira
20 Cidade com neutralização na emissão de carbono. É possível?
expediente Naturale é uma publicação da DIAGRARTE Editora Ltda CNPJ 12.010.935/0001-38 Itajubá/MG Editora: Elaine Cristina Pereira (Mtb 15601/MG) Colaboradores Articulistas: Adriano Heber Oliveira, Alex Baptista, Alvaro Antonio Alencar de Queiroz, Bill Souza, Célio Gentil, Dra. Gracia Costa Lopes, Hélio Brasil, Márcia Regina Podix Peleteiro, Marco Aurélio Magalhães Paiva, Maria Lígia Mohallem Carneiro, Paulo J. B. Rosas, Sandra Regina Schultz, Thiago Ribeiro Mendes. Revisão: Marília Bustamante Abreu Marier Projeto Gráfico: Elaine Cristina Pereira Foto da Capa: Cleber Miranda (35) 9816-9565 Vendas: Diagrarte Editora Ltda Impressão: Gráfica Novo Mundo Ltda Tiragem: 2.500 exemplares impressos e 10.000 eletrônico Distribuição Gratuita em mídia impressa e eletrônica Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados. Para reproduzir é necessário citar a fonte. Venha fazer parte da Naturale, anuncie, envie artigos e fotos. Faça parte desta corrente pela informação e pelo bem. Contate-nos: (35) 9982-1806 e-mail: revistanaturale@diagrarte.com.br Acesse a versão eletrônica: www.diagrarte.com.br/naturale_9ed.pdf Impresso no Brasil com papel originado de florestas renováveis e fontes mistas.
Apoio
O cavalo como recurso terapêutico Por Marco Aurélio Magalhães Paiva, Sandra Regina Schultz e Adriano Heber Oliveira
A equoterapia não é uma descoberta recente como recurso terapêutico. Na antiguidade Hipócrates (458-370 a.C.) já utilizava para prevenção da insônia e na recuperação de militares acidentados na guerra. Asclepíades da Prússia (124-40 a.C.) aconselhava a equitação como tratamento para epilepsia. No século XVI, Goethe a considerava benéfica na distensão da sua coluna vertebral em razão das oscilações a que era submetido na marcha do cavalo. Após período de indiferença pelo seu emprego terapêutico, ao final da I Guerra Mundial o cavalo volta a ser lembrado. Os primeiros a utilizarem são os escandinavos. No Brasil, este recurso terapêutico começou a ser valorizado em 1989, na Granja do Torto, em Brasília, não por coincidência, residência do então presidente João
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Batista Figueiredo, um militar da cavalaria. Atualmente, a modalidade é adotada em pelo menos 30 países. De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia, ANDE-BRASIL, Equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais. A equoterapia permite ao terapeuta interagir em múltiplos sistemas orgânicos, oferecendo uma oportunidade ímpar para atingi-los num ambiente que pode enriquecer o movimento durante o seu desenvolvimento. No dorso do cavalo consegue-se tratar a musculatura corporal global de forma natural, modulando o tônus, melhorando a postura, o equilíbrio, o ritmo, a coor-
denação, realizando alongamentos e possibilitando integração em atividades sociais. O cavalo possui três andaduras naturais, instintivas, que são: Passo, Trote, Galope. O trote e o galope são andaduras saltadas, portanto, só podem ser usadas em equoterapia com praticantes em estágios mais avançados. O passo é a andadura básica da equitação e com ela se executa a maioria dos trabalhos de equoterapia. Existem algumas características que a tornam a mais indicada: a andadura rolada ou marchada, em que sempre haverá um ou mais membros em contato com o solo; a andadura simétrica, em que todos os movimentos produzidos de um lado do animal, se reproduzem de forma igual e simétrica do outro lado; um andar mais lento permite uma melhor observação e análise por parte da
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equipe que acompanha o praticante e, por fim, a característica mais importante para a Equoterapia é o que o passo produz no cavalo e transmite ao cavaleiro: uma série de movimentos sequenciados e simultâneos, culminando num movimento tridimensional que no plano vertical produz movimento para cima e para baixo, no plano horizontal movimento da direita para a esquerda, segundo o eixo transversal do cavalo e um movimento para frente e para trás, segundo seu eixo longitudinal. Além da mecânica descrita, podemos aproveitar as influências à integração sensorial e ao esquema corporal, originados pela sensibilidade superficial (tato, pressão, temperatura) e mais profunda (discriminativa e vibratória), além da sensibilidade proprioceptiva e a identificação visual e olfativa que o movimento do animal e o ambiente provocam. Como em toda terapia existem as indicações e as contra indicações. Ela é indicada para os que possuem distúrbios motores/sensoriais; problemas ortopédicos; distúrbios de comportamento e distúrbios de aprendizagem, entre outros. É contra indicado para os que têm osteoporose; luxação de quadril; epilepsia; quadros inflamatórios e infecciosos, entre outros. Uma equipe terapêutica voltada para a prática de Equoterapia é composta por fisioterapeuta, psicólogo e equitador, como também fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos, entre outros. Daremos ênfase às funções do psicó-
logo, fisioterapeuta e equitador, neste momento. O psicólogo atua de forma direta com o praticante, sua família e seu meio ambiente, ele pode ser o primeiro agente de acolhimento ao praticante e sua família, através da entrevista inicial em que provê informações sobre a equoterapia, seu significado, metodologia, instrumentos e limitações. Ele é responsável, também, pelo acompanhamento familiar e pela coordenação do processo dinâmico da equipe. No exercício dessas atribuições, sobressaem os aspectos psicoterapêuticos, focados nos distúrbios emocionais e comportamentais do praticante e da sua família. Cabe ao psicólogo, na direção das questões emocionais, explorar o cavalo como mediador terapêutico e capitalizar a presença e atuação da equipe multiprofissional. A consciência da integridade, a melhora nas relações interpessoais e socialização ou ressocialização são alguns dos objetivos psicoterapêuticos na Equoterapia. O fisioterapeuta é o profissional generalista habilitado à prevenção, diagnóstico e tratamento de problemas fisio-funcionais, trabalhando com métodos que utilizam de recursos físicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade corpórea humana. Na Equoterapia ocorre o movimento que pode ser conduzido de forma terapêutica, ou seja, a cinesioterapia. Os objetivos fisioterápicos na Equoterapia são melhorar o tônus muscular; facilitar o ganho de
equilíbrio e de postura do tronco ereto e produzir dissociações corporais. O equitador, além dos predicados de “homem do cavalo” é possuidor de conhecimentos sobre ele e sua utilização na equoterapia. O Profissional de Equitação para Equoterapia (PEE) deve dispor de qualidades morais específicas e de procedimentos claros e definidos na condução do seu trabalho. O PEE é a alma da equipe de atendimento equoterápico na condução dos programas de equoterapia. A higiene veterinária, o trato, o manuseio e o treinamento e adequação do cavalo às necessidades do praticante e dos equipamentos utilizados na equoterapia são conhecimentos necessários ao profissional de equitação. O programa de Equoterapia tem duração de aproximadamente 12 meses com sessões semanais de 40 minutos, podendo o praticante permanecer nele após esse período ou receber alta antes, dependendo da evolução de cada caso. A evolução de cada praticante depende do grau de comprometimento de sua patologia, bem como dos estímulos oferecidos pela equipe que o assiste. A sessão começa no momento em que o praticante e sua família chegam à hípica e são acolhidos pela equipe. Após esse momento, o psicólogo incentiva o paciente a “raspar” (escovar) o animal, como forma de aproximação, proporcionando segurança suficiente para alimentá-lo. Vencida esta etapa, o próximo desafio é a montaria, onde são propostos exercícios, ativos
Cleber Miranda
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Centro Hípico Sapucaí
e/ou passivos, supervisionados pelo fisioterapeuta, com auxílio de argolas, bastões, cestas e bolas de basquete, thera-band, entre outros brinquedos que estimulem o desenvolvimento psicomotor do praticante, seja ele criança, jovem ou adulto. Como fisioterapeuta e membro de uma equipe de Equoterapia pude acompanhar a trajetória do paciente N, que com seis anos de idade ainda não experimentara a sensação de deambular sozinho e após iniciar seu tratamento equoterápico ganhou força e equilíbrio suficiente para fazê-lo. Além dos benefícios físicos alcançados por esse praticante pode-se notar uma grande evolução no seu quadro psicológico. No início do tratamento, N apresentava-se apático e pouco participativo, mas com a melhora do seu desempenho físico, ele tornou-se mais colaborativo e suas sessões repletas de sorrisos e brincadeiras. O animal ideal para a prática da Equoterapia deve ser dócil, não pode se assustar facilmente, ou seja, deve estar habituado a movimentos bruscos e ruídos, não fazer distinção entre pacientes. A importância histórica do cavalo tornou-o um dos arquétipos mais significativos do inconsciente coletivo, de enorme carga simbólica, representativa de força, potência, liberdade, transcendência e prazer. A Equoterapia vem ganhando espaço no cenário tera-
pêutico nos últimos anos devido a sua eficiência, sobretudo pelos excelentes resultados obtidos com seus praticantes. Cada vez mais as pessoas se preocupam com o bem estar físico e mental e este método que mistura a terapia com o lúdico torna-se atraente para aquelas que buscam maneiras alternativas para tratarem as mazelas do corpo e da alma. Marco Aurélio Magalhães Paiva, Fisioterapeuta formado pelo Centro Universitário do Sul de Minas; Sandra Regina Schultz, Psicóloga formada pela Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI; Adriano Heber Oliveira, Equitador com formação pela Associação Nacional de Equoterapia
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Um pequeno imã
contra o câncer Pelo Prof. Dr. Alvaro Antonio Alencar de Queiroz
Pesquisa que utiliza a nanobiotecnologia coordenada pelo prof. Dr. Alvaro Antonio Alencar de Queiroz da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), desenvolve uma terapia de combate ao câncer baseado na nanotecnologia que é capaz de destruir apenas as células doentes do organismo, preservando as saudáveis. Isso poderá reduzir os graves efeitos colaterais provocados pela quimioterapia e melhorar sua eficiência o que proporciona um aumento significativo da qualidade de vida do paciente. As bases desse tratamento são pequenas partículas transportadas por nanoesferas que contém em sua superfície um agente capaz de distinguir e destruir as células cancerosas. Nano é um prefixo grego que significa “anão”. Um nanômetro é igual a 1 bilionésimo de metro. Para termos uma idéia desta escala de comprimento, um fio de cabelo possui o diâmetro de 100.000 nm. Dessa forma, a nanobiotecnologia está relacionada à manipulação da matéria ao nível molecular, visando à criação de novos materiais para a área da saúde, tais como, substâncias e produtos aplicados em processos biológicos. Uma ilustração comparativa da escala de tamanho das nanoesferas desenvolvidas pelo grupo de pesquisa da UNIFEI é apresentada nas micrografias do microscópio eletrônico de varredura apresentadas na figura abaixo.
Escala nanométrica de sistemas biológicos naturais e das nanoesferas magnéticas sintetizadas na UNIFEI.
As nanoesferas transportando minúsculos imãs são camufladas imitando as células vermelhas do sangue (eritrócitos) o que as tornam biocompatíveis com o corpo humano. É de fundamental importância que as nanoesferas sejam compatíveis com o sangue. Nesse caso, as nanoesferas magnéticas não ativam as plaquetas ou leucócitos inibindo assim discrasias sanguíneas, o que poderia levar o paciente a óbito. Uma vez injetadas na corrente sanguínea do paciente as nanoesferas magnéticas enganam o sistema imunológico, daí sua biocompatibilidade com o sangue. Como o tamanho das nanoesferas é menor que 50 nm (50 milionésimos de um milímetro) atravessam as paredes dos vasos capilares e atingem qualquer órgão interno do corpo humano, fixando-se nos órgãos que possuem as células ma-
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lígnas devido à sua elevada afinidade com as células tumorais. As nanoesferas magnéticas carregam também pontos quânticos que emitem uma luminosidade em determinadas condições. Anunciada como uma nova revolução tecnológica na medicina, os pontos quânticos estão sendo utilizados como marcadores biológicos fluorescentes para o diagnóstico por imagem de células cancerígenas. Uma grande variedade de pontos quânticos baseados no sulfeto de cádmio (CdS) e sulfeto de zinco (ZnS) tem sido testados pelo grupo de pesquisa da UNIFEI como marcadores fluorescentes para o mapeamento de neoplasias. Pontos quânticos são minúsculos cristais medindo não mais do que 10 nanômetros cada um. Sua principal característica é o fato de serem fluorescentes, podendo ser fabricados para brilhar em diversas cores. A cor do brilho de um ponto quântico varia, dependendo do seu tamanho, passando do vermelho para o azul à medida em que se tornam menores. A figura abaixo mostra a detecção de nanoesferas magnéticas capazes de mapear uma célula tumoral. Observa-se uma intensa fluorescência indicando que as nanoesferas magnéticas podem ser utilizadas como um biomarcador efetivo para aplicações na medicina diagnóstica.
As nanoesferas produzidas nos laboratórios da UNIFEI além de exibirem magnetismo são fluorescentes, o que permite a identificação das células malígnas (pontos amarelos). [
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Uma vez fixadas na superfície do tumor maligno, a simples aplicação de um campo magnético externo, semelhante ao que é feito atualmente na ressonância magnética nuclear, eleva a temperatura das nanoesferas magnéticas o suficiente para destruir as células tumorais, deixando intactas as células sadias. Quando expostas ao campo magnético, as partículas magnéticas no interior das nanoesferas fixas no tumor geram calor devido à sua rotação que eleva a temperatura do tecido maligno entre 42ºC e 45ºC desnaturando suas proteínas e consequentemente causando sua morte. Essa é a técnica denominada de hipertermia magnética, ainda não utilizada no Brasil. Nossos trabalhos confirmam que as nanoesferas magnéticas apresentam as propriedades desejadas para a medicina diagnóstica e terapêutica para o tratamento do câncer. Verificou-se sua ação sobre linhagens de câncer de mama (células MCF-7) em condições in vitro, quer dizer, no laboratório e não em experimentação animal. A figura a seguir ilustra a incorporação da nanoesfera magnética fluorescente a uma linhagem celular tipo MCF-7. Após aplicação do campo magnético observou-se que as células de câncer de mama ofereceram alterações morfológicas significativas, provavelmente associadas à sua morte celular.
(A)
Nanoesfera magnética fluorescente ligada a células da linhagem MCF antes (A) e após aplicação do campo magnético (B).
(B)
Embora os estudos biofísicos das nanoesferas magnéticas se apresentem promissores no tratamento de um tipo agressivo de tumor mamário reconhece-se o fato de que há ainda um longo caminho a ser trilhado. Para que as nanoesferas magnéticas sejam incorporadas em aplicações biomédicas deve existir ainda uma avaliação exaustiva dos possíveis danos que possam causar em organismos vivos. Desta forma, torna-se necessário que sejam realizadas pesquisas de toxicidade e biocompatibilidade em longo prazo, talvez no prazo de uma década ainda; nas quais sejam avaliados a habilidade e o desempenho desse material em meios biológicos reais a exemplo das validações clínicas. Os testes in vitro e computacionais que efetuamos apenas mimetizam as condições biológicas do ser humano. Ressaltamos que as atividades relacionadas com o ciclo de pesquisa e desenvolvimento das nanoesferas magnéticas envolvem o aperfeiçoamento dos
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processos de síntese em escala industrial, testes de eficácia, toxicidade, potencial teratogênico, testes farmacológicos, estudos farmacotécnicos e ensaios clínicos. Portanto, este ciclo complexo é de longa duração e demanda elevados investimentos financeiros. Somos cientistas e nossa principal preocupação atual é fazer ciência para que o setor produtivo o transforme em tecnologia e inovação. E é isso que aumenta a capacidade produtiva e a riqueza de um país, dando condições para o desenvolvimento social e econômico. O moderno sistema de ciência e tecnologia é um circuito virtuoso onde a pesquisa gera novas aplicações, e as aplicações geram novas tecnologias que alimentam a pesquisa. É exatamente isso que permite aos países industrializados se distanciarem cada vez mais daqueles denominados em desenvolvimento. Entretanto, também como cientistas, nosso espírito está em paz. Esperamos apenas que esta pesquisa forneça a semente para o desenvolvimento de sistemas extremamente versáteis quanto ao seu tipo de aplicação na área da oncologia. Buscamos não somente a satisfação intelectual; trabalhamos arduamente para a construção da ferramenta inicial que contribuirá para que nossa universidade volte seus olhos para aqueles que são nossa mais forte e pura motivação de existir academicamente: os excluídos de nossa sociedade. Dr. Alvaro Antonio Alencar de Queiroz, Coordenador Científico do Centro de Estudos e Inovação em Materiais Biofuncionais Avançados, Universidade Federal de Itajubá.
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Vivências permaculturais Por Hélio Brasil
A APOMM (Associação de Produtores Orgânicos Montanhas da Mantiqueira) criada em julho de 2005, em São Lourenço/MG, por um grupo de pequenos agricultores, visa à integração socioeconômica solidária e o trabalho com todas as camadas sociais para o desenvolvimento e prática da agricultura orgânica, integrando os municípios do complexo da Serra da Mantiqueira. Em 2009, a APOMM reviu seu ideário e ampliou sua atuação: mudou sua denominação para ASSOCIAÇÃO PERMACULTURAL MONTANHAS DA MANTIQUEIRA e criou a Feira Permacultural, aos sábados, em São Lourenço, para a comercialização de seus produtos. Além desta atividade, a APOMM promove e participa de dias de campo nas propriedades rurais de seus associados. Refletindo sobre minhas vivências nestes anos, fixei minha atenção em momentos do curso promovido pela APOMM em parceria com o SENAR-MG e com o apoio do Sindicato Rural de Carmo de Minas/MG, “Trabalho na Olericultura Básica – Cultivo Orgânico” que aconteceu em abril de 2011. “Logo no primeiro dia de atividade, seu ministrante, o Agrônomo, Agricultor e Ecologista Luis Francisco R. Macedo, nos levou a um ambiente de floresta, pedindo para tocarmos e cheirarmos a terra e nos disse: “este é o nosso modelo para qualquer plantio em agricultura orgânica, a terra enriquecida com o húmus natural de restos de folhas, galhos, etc, que apodrecem e se integram, formando outras camadas...” Então pensei: “isto é permacultura”, me lembrando de que este é um de seus pilares: o cuidado com a terra. Convidei para participar desse curso nosso colaborador, que nos auxilia na produção permacultural, para promover sua capacitação e atualizá-lo nos fundamentos que praticamos e acreditamos. Minhas reflexões fizeram-me lembrar do segundo pilar da permacultura: o cuidado com as pessoas. Em nossa propriedade, procuramos introduzir no cotidiano as práticas da permacultura: na separação do lixo em sete categorias, na captação de água de chuva para rega das plantas, na separação, ainda que não totalmente, das águas cinzas (de lavatórios, cozinha e chuveiros) das águas negras (das bacias sanitárias); as primeiras seguem curso que promove sua aeração e
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regam nosso pomar e as águas negras são naturalmente tratadas em recipientes e condições adequadas passando por três fases, finalizando seu curso em uma “roda de bananeira” ou bacia de evapotranspiração, sem poluir a terra ou as águas do bairro e possibilitando ainda que, a médio e longo prazos, obtenhamos material orgânico para nossa compostagem. Outras práticas adotamos gradativamente: a construção de um minhocário para enriquecer nossa compostagem; contenção de encostas e construção de escadas no terreno com pneus usados; princípios da bioconstrução na continuidade da construção da residência da chácara (paredes de pau a pique nas quais são incrustadas garrafas coloridas, para obtenção de luz natural e efeito estético), que já integra peças de demolição e móveis usados. Assim vivenciamos o terceiro pilar da permacultura que é o cuidado com os recursos excedentes da natureza. Vivenciar a permacultura, que se conhece como um conceito aberto, nas palavras de seu criador Bill Mollison, é não ser dogmático, sem abrir mão da coerência entre o que a gente fala e o que a gente faz. A observação da Natureza e o trabalho com ela nos remetem à conclusão de que tudo está conectado com tudo! Pensando nisso, reflito sobre a interconexão de pessoas com objetivos comuns e na força do trabalho em rede: a APOMM foi convidada pela EMATER-MG, Regional Pouso Alegre a participar do Circuito de Fruticultura “Frutificaminas”, etapa Pouso Alegre. Lá estivemos presentes com um stand da Associação e participamos da discussão de um dos temas: “Certificação — Sistema Participativo de Garantia”. Nosso interesse no tema se fundamenta na necessidade de promover a saúde e o bem estar das pessoas — produtores, consumidores, prestadores de serviço. Quem produz quer ter seu trabalho reconhecido como diferenciado e comprometido, quem consome quer ter garantias de que os alimentos e produtos são de origem confiável. Com esta preocupação participamos destas discussões, tendo como objetivo a autocertificação, com maior autonomia e responsabilização de produtores e consumidores. Quando vivemos em sintonia com nosso meio, atraímos a sincronicidade que nos conduz para os caminhos de solução dos nossos problemas e questionamentos. O “agir e pensar permacultural” nos facilita isso, aumenta e melhora nossa criatividade, e contribui para tornar nossa vida mais feliz e agradável! Hélio Brasil, Produtor rural e Permacultor, presidente da APOMM.
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É hora de falar das
florestas Por Thiago Ribeiro Mendes
Durante séculos, a humanidade percebeu a natureza como uma fonte inesgotável de recursos. Água, madeira, minérios eram explorados sem a percepção de que pudessem, um dia, se extinguir. O ritmo das atividades econômicas permitia um relacionamento sustentável com o meio ambiente. A Revolução Industrial, iniciada nos últimos decênios do século XVIII, modificou profundamente esse quadro. A sociedade industrializada se tornou muito mais interventora e destruidora do ambiente do que as sociedades que a precederam. A natureza passou a demonstrar seus sinais de esgotamento e a humanidade, a se preocupar em preservá-la. A percepção de que a natureza precisa ser preservada e de que há limites para sua exploração têm gerado tanto ações individuais quanto coletivas. Nesse sentido, a ONU (Organização das Nações Unidas), organismo supranacional criado na década de 1940, tem promovido conferências sobre meio ambiente e outras ações de caráter mundial com intuito de promover um desenvolvimento econômico cada vez mais aliado à preservação ambiental. Seguindo essa trajetória de promoção do desenvolvimento sustentável, a ONU declarou 2011, oficialmente, o Ano Internacional das Florestas. O propósito é promover, durante este ano, atitudes que levem à conservação e à exploração sustentável de todos os tipos florestais do planeta, enaltecendo os impactos nocivos ao ambiente, de curto, médio e longo prazo, das ações predatórias do ser humano. Entre esses impactos, pode-se citar: a perda da biodiversidade, o esgotamento das nascentes, a aceleração das mudanças climáticas e uma série de outras ameaças à natureza e à vida humana na terra. Espera-se que, neste momento especial de reflexão, a sociedade perceba que cada indivíduo deve dar sua contribuição para a preservação das florestas e do meio ambiente como um todo. Respeitando as legislações e agindo com consciência ambiental. Atuando coletivamente. Participando e ajudando a promover os diversos eventos que ocorrerão neste ano, especialmente dedicado às florestas. Thiago Ribeiro Mendes, Prof. de História do Curso G9
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Orientações
ortodônticas Pela Dr. Gracia Costa Lopes
Para o correto posicionamento dos dentes durante o crescimento da criança, é importante o equilíbrio da atividade dos músculos da mastigação, da língua e da face. Desta forma, a mastigação, a respiração, a deglutição e a fala devem ser realizadas de maneira adequada. O equilíbrio na atividade destes grupos musculares é alcançado, inicialmente, através da alimentação da criança, quando ela é amamentada no seio materno. O leite materno é considerado o melhor alimento para o recém-nascido. Vários estudos destacaram a importância da amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida. Além dos benefícios nutricionais, imunológicos e emocionais, o aleitamento materno promove a saúde do sistema estomatognático. Este estímulo propicia o correto estabelecimento da respiração nasal e o desenvolvimento normal de todo o complexo craniofacial. Quando a criança mama no peito, ela estará executando exercício físico importante para o desenvolvimento ósseo e muscular da boca e face. Quando a criança usa a mamadeira, esse exercício é quase inexistente, e a preferência do bebê pela mamadeira vem pela facilidade com a qual ele ganha o leite, principalmente quando este flui por um furo maior no bico. A amamentação prepara a criança para a mastigação, que continuará a tarefa de exercitar ossos e músculos. Maxilares desenvolvidos propiciarão melhor alinhamento da dentição, diminuindo a necessidade futura do uso de aparelhos ortodônticos. Músculos firmes ajudarão na fala. Durante a amamentação aprende-se a respirar corretamente pelo nariz. Alguns fatores são determinantes para o desenvolvimento de problemas na oclusão: Problemas respiratórios como alergias, rinites alérgicas,
bronquites e sinusites; desvio de septo nasal; amígdalas e adenóides, podem causar a respiração pela boca podendo não desenvolver corretamente os ossos da face e arcadas dentárias para que caibam todos os dentes. A hereditariedade na deformação das arcadas dentárias e
bases ósseas (maxila e mandíbula) que se perpetua de pai para filho. A mistura de raças faz com que as
bases ósseas da face fiquem comprometidas e os dentes grandes de um tipo de raça não caibam no arco dentário de outra. Hábitos deletérios realizados com grande frequência, de elevada intensidade e por tempo prolongado são possíveis causadores de alterações na oclusão. A maioria surge a partir da repetição de um ato, ou um reflexo, que proporciona certa satisfação. No início é realizado de forma consciente, mas, pela constante repetição, torna-se inconsciente. A sucção não nutritiva (chupar o dedo ou lábio e chupeta), a onicofagia (roer unha), bruxismo (ranger os dentes), a deglutição atípica, a respiração bucal e a má postura (dormir com a mão embaixo do rosto) são exemplos comuns de maus hábitos (hábitos deletérios) que podem ser desenvolvidos pelas crianças. Traumatismo na face, perda precoce de “dentes de leite” e cáries, também podem ser determinantes para o desenvolvimento de problemas na oclusão. Algumas crianças exibem precocemente sinais de problemas no crescimento e desenvolvimento dos ossos da face que suportam os dentes superiores (maxila) e inferiores (mandíbula), podendo assim desenvolver problemas de oclusão.
Quando algum destes problemas for diagnosticado em uma idade precoce, a criança pode ser candidata a uma primeira fase do tratamento ortodôntico. Como nesta fase elas crescem em um ritmo intenso, o profissional pode aproveitar para interferir no processo de crescimento dos ossos através da ortopedia, podendo evitar a necessidade de tratamento ortodôntico fixo futuro ou minimizar a movimentação dos dentes com aparelho fixo. Entretanto, quando este ainda assim se fizer necessário, poderá ter o tempo de tratamento reduzido, além de evitar tratamentos orto-cirúrgicos, os quais são considerados mais complexos.
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Cuidador Por Marcia Regina Podix Peleteiro
Quero trazer para o debate a questão do trabalho informal. Estou falando do então chamado “CUIDADOR de Idosos, Familiar, Social ou Acompanhante”. Trata-se de uma ocupação reconhecida e inserida na Classificação Brasileira de Ocupações – SEU do Ministério do Trabalho e Emprego, “é uma pessoa capacitada para auxiliar o idoso que apresenta limitações para realizar as atividades e tarefas da vida quotidiana, fazendo elo entre o idoso, a família e serviços de saúde ou da comunidade, geralmente remunerada” (Brasil, 1999). No entanto, a dimensão do ato de cuidar pode ir além de momentos de atenção, pois na verdade é uma ocupação, uma responsabilização e envolvimento com o ser cuidado (Refém, 1993; Boff, 1999; Silva ET al., 2001). Esta é uma profissão de grande responsabilidade, pois estes profissionais cuidam de bebês, crianças, jovens, adultos e idosos, a partir de objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis diretos (famílias), zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida. As atividades são exercidas com alguma forma de supervisão, na condição de trabalho autônomo ou assalariado. Os horários de trabalho são variados: tempo integral, revezamento de turno ou períodos determinados. Cuidadores de pessoas idosas podem ser definidos como pessoas que cuidam de idosos com dependência, desenvolvendo ações que promovam a melhoria de sua qualidade de vida em relação a si, à família e à sociedade. Suas ações fazem interface principalmente com a saúde, a educação e a assistência social e devem ser pautadas pela solida-
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riedade, compaixão, paciência e equilíbrio emocional. As áreas de atividades e suas especificações envolvem: cuidar da pessoa idosa; promover o bem-estar; cuidar da alimentação; cuidar da saúde: observar temperatura, urina, fezes e vômitos; controlar e observar a qualidade do sono; ajudar nas terapias ocupacionais e físicas; ter cuidados especiais com deficiências e dependências físicas; observar alterações físicas; observar alterações de comportamento; lidar com comportamentos compulsivos e evitar ferimentos; controlar armazenamento, horário e ingestão de medicamentos em domicílios; acompanhar a pessoa idosa em consultas e atendimentos médico-hospitalares; relatar a orientação médica aos responsáveis; seguir a orientação médica; cuidar do ambiente domiciliar e/ou institucional; cuidar dos afazeres domésticos; manter o ambiente organizado e limpo; promover adequação ambiental; prevenir acidentes; fazer compras para a casa e para a pessoa idosa; administrar finanças; cuidar da roupa e objetos pessoais; incentivar a cultura e a educação; estimular o gosto pela música, dança e esporte; selecionar jornais, livros e revistas; ler histórias, textos e jornais. Especialistas da área de gerontologia preconizam que o cuidador profissional deve ter, pelo menos, o ensino fundamental. Em vista da situação de desamparo em que se encontram muitos idosos dependentes, o treinamento e a disponibilização de pessoas para seu cuidado são urgentes e imprescindíveis. Marcia Regina Podix Peleteiro, Enfermeira Especialista em Educação em Saúde, UFMG e em Enfermagem do Trabalho, EEWB. Instrutora do Curso de Cuidador de Idosos do CVT Itajubá.
Acontece Centro Vocacional Tecnológico de Itajubá (CVT) com o objetivo de proporcionar a inclusão digital e social, através da capacitação e qualificação, oferece mais de 40 cursos gratuitos à distância e 06 cursos presenciais. Informações: (35) 3622-4651. Colégio Millennium promove no dia 27 de agosto, das 14h às 17h30, a Feira “A teia da vida: sustentabilidade e qualidade de vida”, em Itajubá/MG. Curso G9 realiza Feira do Conhecimento, dias 5 e 6 de setembro, com o tema “Mata Atlântica e a química da vida”, em Itajubá/MG. Veja a programação na página 9. Senac Móvel promove de 8 a 11 de setembro vários cursos, em Itajubá/MG. Informações: (35) 3623-1766. Veja na página 13. Fábrica de Águas São Lourenço está aberta à visitação, às quartas-feiras, das 14h às 15h30, para grupos de 10 a 25 pessoas. Agendar com o RH: (35) 3339-3150. Associação Resgacti promove a campanha adote um animal (cão ou gato). Você também pode contribuir com parte do custo de uma castração (R$60,00), doar ração ou contribuir mensalmente para a manutenção dos animais recolhidos da rua. Deposite no Bradesco, Ag. 1275, c/c 06591507. Informações: (35) 9945-0494.
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Senac Móvel promove cursos de
Culinária durante a FRICI Evento será realizado em Itajubá entre os dias 8 e 11 de setembro Por Bill Souza
Cultura, culinária, troca de informações e receitas, todas juntas e no mesmo lugar. Assim será a permanência da carreta do Senac Móvel durante a 11ª edição da FRICI (Feira Regional Industrial, Comercial e de Turismo de Itajubá), que acontecerá entre os dias 8 e 11 de setembro, em Itajubá/MG. “Vamos promover uma série de cursos rápidos em nossa unidade móvel. Os cursos de educação profissional têm o mesmo padrão de qualidade oferecido pelas unidades fixas do Senac”, explica a diretora de escola do Senac Itajubá, Marilena Riêra Caridade. Os cursos são na área de Culinária, mas as unidades móveis — oito em atividade em Minas Gerais — estão preparadas para ofertar cursos nas áreas de Turismo e Hospitalidade, Informática, Administração, Saúde e Beleza. Cada carreta tem 14 metros de comprimento, 2,6 metros de largura e são totalmente adaptadas para ser uma verdadeira escola. “A unidade que virá a Itajubá reproduz internamente o ambiente real de trabalho de uma cozinha profissional”, ressalta a diretora. Esta é a quarta incursão da carreta na microrregião de Itajubá em 2011: ela já esteve presente em festas e festivais de inverno realizados em São Lourenço, Maria da Fé e Caxambu. Mais informações sobre os cursos que serão oferecidos podem ser obtidas na própria unidade do Senac Itajubá ou pelo telefone (35) 3623-1766.
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Saúde, Enfermidade e Doença:
um olhar
contemporâneo
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Por Maria Lígia Mohallem Carneiro “Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se sabe: isso se chama pesquisar. Vem talvez agora a idade de uma outra experiência, a de desaprender, de deixar trabalhar o remanejamento imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes, das culturas, das crenças que atravessamos. Essa experiência tem, creio eu, um nome ilustre e fora de moda, que ousarei tomar aqui sem complexo, na própria encruzilhada de sua etimologia: Sapientia: nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria, e o máximo de sabor possível”. - Roland Barthes -
As constantes indagações das pessoas “você deixou de exercer a enfermagem, tão militante era com os seus alunos, com suas causas em favor da enfermagem?” me fazem crer, ao escrever este artigo, ser esta uma oportunidade de responder a contento, aprofundando inclusive como eu vejo a saúde, a enfermidade e a doença como fenômenos da vida e como me sinto, hoje ainda mais, uma profissional a favor da saúde e, sobretudo, da vida. Desde meu curso de graduação, sempre trouxe comigo uma inquietação plantada em mim por uma professora da época, em suas tão proveitosas aulas de Sociologia2. Explicando pela etimologia das palavras ENFERMO, ENFERMAGEM e ENFERMIDADE (do latim in firmus: “aquele que não está firme”) e a maior inerência da enfermagem com a promoção da saúde, a reflexão sobre isso me acompanhou e a transmiti a meus alunos, no decorrer de minha prática docente. Com a experiência profissional, surgiu a necessidade de ir mais além: distinguir enfermidade de doença: como forma de buscar por este caminho, uma justificativa que recolocasse a enfermagem como profissão no lugar que lhe foi dado pela precursora da enfermagem moderna, Florence Nightingale. Desde os tempos em que atuou na Guerra da Criméia, no século 19, Nightingale reconheceu a supremacia do ambiente e da ação da Natureza, no cuidado e na cura dos feridos de guerra e, posteriormente, nos hospitais ingleses em que atuou e ensinou a cuidar. Sua afirmação, feita naquela época, é de atualidade incontestável:
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“O que a enfermagem tem a fazer é colocar o cliente em tal condição para que a Natureza possa agir sobre ele.”
Voltando minha prática profissional para a área de Saúde Coletiva, esta distinção tornou-se ainda mais necessária. Por influência familiar, reforçada por alguns de meus docentes durante o curso de graduação, sempre tive e procurei despertar em meus alunos, um enorme interesse nas práticas naturais de saúde, chamadas por um tempo de “práticas alternativas de saúde”, hoje mais adequadamente denominadas de práticas integrativas e complementares de saúde3. Isto sempre me fez ver nas práticas tradicionais, aquelas oriundas do saber das parteiras, benzedeiras e raizeiros e nas demais embasadas na concepção holística, um caminho na necessária distinção entre enfermidade e doença. No meu processo de capacitação, em 1982, encontrei um “gancho” para minhas reflexões, em uma obra do Dr. Mário Chaves, renomado sanitarista brasileiro. No livro “Saúde: uma Estratégia de Mudança” em que o autor defende a atenção básica como caminho para que a saúde pública brasileira se encontre na estruturação de políticas de saúde4, Chaves coloca a enfermagem como profissão de vanguarda na promoção da saúde. Afirma inclusive que seria pleonástica a expressão “enfermeira de cuidados primários”. Por ser este seu papel original, toda enfermeira é naturalmente uma profissional formada para atuar na área de atenção básica de saúde, promovendo e prevenindo agravos à mesma. Dois fatos sincrônicos foram determinantes no encaminhamento mais profundo destas questões: a necessidade de continuar minha capacitação docente cursando o doutorado em enfermagem e o cuidado de minha mãe, repentinamente acometida de uma doença terminal, sem nenhuma possibilidade de intervenções terapêuticas convencionais que mudassem o prognóstico de morte no prazo máximo de três semanas. Por decisão em âmbito familiar, minha mãe passou a receber cuidados e práticas de cura de um sistema à época denominado BIOENERGIA. Este sistema integrava práticas de fitoterapia, geoterapia, práticas corporais e espirituais que já me eram familiares e as que muita estranheza me causaram: a urinoterapia
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e o diagnóstico através do “bi-digital o-ring test”5. A necessidade de cuidar de minha mãe, de proporcionar-lhe cuidados paliativos de qualidade em sua passagem para outro plano de vida, me fizeram ver nesta única e rica experiência, a oportunidade de estudar mais profundamente as crenças, os valores e os pressupostos dos profissionais que empregavam esta forma de cuidado e de cura. Assim, direcionei meu projeto de pesquisa para um estudo de natureza antropológica, visto que a enfermagem, desde a década de oitenta, já vinha buscando alternativas metodológicas para além do positivismo e do método estatístico, para dar conta de fenômenos humanos tão complexos como os que permeiam o seu ethos. No processo do estudo e na análise dos dados de um trabalho de campo que durou cerca de 18 meses, observando e fazendo anotações sobre estes profissionais e suas práticas, concluí que os mesmos se identificam culturalmente de modo diferente de quem pratica sistemas de cura e de cuidado do sistema oficial: suas buscas, suas crenças, seus valores não se contentam com a visão de mundo fragmentada e reducionista... Assim, identifiquei o que denominei de “nove passos” que estes profissionais percorrem, quando decidem adotar as práticas de saúde hoje denominadas de integrativas e complementares. São eles: No caminho destas práticas, os profissionais tiveram que mudar conceitos em relação à sua profissão; Estes profissionais necessitam promover mudanças em si mesmos para suportarem as pressões externas à que estão sujeitos. Isto demanda abertura para uma nova maneira de ver o mundo; Abraçar estas práticas como caminho na forma de atender as suas necessidades de saúde e da clientela não é uma escolha simples, de base pragmática; Trilhar este caminho demanda dos profissionais coerência entre sua visão de mundo e o que ensinam. Isto demanda compartilhar com o cliente o que ele acredita e o que ele faz; A preocupação destes profissionais é mais de compreender os clientes para promover sua autotransformação,
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do que de prescrever-lhes tratamentos. A ênfase é dada ao processo centrado no cliente e não ao resultado das ações profissionais; A saúde e os processos de cura que a restabelecem, pressupõem atos de decisão e de vontade do profissional e do cliente; As questões espirituais influenciam concepções e ações de cuidado e de cura dos profissionais; As práticas integrativas e complementares de saúde são um caminho de educação para a saúde e de resgate do saber popular em saúde, no qual as pessoas são vistas como sujeitos; Levar em conta a diferença entre enfermidade e doença, é um caminho pelo qual o grupo pode rever e identificar a marca de sua atuação, no campo das práticas integrativas e complementares de saúde. De onde, pois, o estranhamento diante de minha opção em estar mais perto da Natureza, para aprender com ela a cuidar, sobretudo, de mim mesma, nesta etapa da vida em que optei por isto? Hoje reflito que o que me moveu foi principalmente, a busca por mais coerência entre o que eu acredito e o que eu faço e ensino... O encontro com a Permacultura como conceito, colocou-me diante de práticas de saúde coletiva, que ensinei durante os últimos 25 anos de minha vida acadêmica, como docente de enfermagem, podendo implementá-las agora de forma mais livre, ampliada e criativa, mais condizente com o que constatei em meu estudo. Retomo, pois, a questão etimológica: “estar enfermo” é diferente de “estar doente” e, nesta diferença, reside a inerência da enfermagem com a promoção da vida e da saúde, muito mais até que na prevenção de doenças, no cuidado dos doentes quando as doenças se instalam, na reabilitação dos mesmos. O radical latino in-firmus significa “fraco, com pouca capacidade, que não está firme”: isto não significa doença, mas uma predisposição a ela. Expliquemos melhor, baseado na afirmação de Fritjof Capra, no capítulo 10 – Holismo e saúde, de sua obra “o Ponto de Mutação”. Para este autor, a doença é a “manifestação biológica da enfermidade”, ou seja, antes de adoecermos no plano físico, perdemos firmeza em ou[
tros planos mais sutis: na emoção, na espiritualidade, nas crises provocadas pelas mudanças das etapas naturais da vida das pessoas (nascimento, adolescência, gestação, senectude, morte, vivência de perdas...). Em outro lócus eu me sinto tão enfermeira como antes, talvez até mais, quando pelas práticas da Permacultura, busco praticar e ensinar a praticar ações de promoção da vida ambiental, cuidando dos reinos animal, vegetal e mineral, buscando contribuir para que a vida no planeta enfermo seja recuperada e promova sua saúde, antes que a doença irreversível se instale. Utopia? Sonho? Ingenuidade? Visão polianesca da vida, do mundo? Isto para mim hoje, não tem a menor importância: vale a consciência de que no meu cotidiano, estou fazendo a minha parte! Enfim, Madeleine Leininger, enfermeira teorista e autora da Teoria do Cuidado Transcultural, na qual me embasei para desenvolver meus estudos, já afirmava: “Cuidar é assistir, apoiar ou habilitar as pessoas e grupos para adotarem comportamentos ou experiências que evidenciem ou antecipem suas necessidades, tendo em vista melhorar seu estilo de vida (...)”
Associar saúde com qualidade e estilo de vida: é isto que procuro fazer hoje, no laboratório vivo da Natureza! Por mim e por aqueles de quem pretensamente, escolhi cuidar! Maria Lígia Mohallem Carneiro, Enfermeira, graduada pela Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá (MG), docente aposentada da Escola de Enfermagem da UFMG. Atualmente é secretária da APOMM (Associação Permacultural Montanhas da Mantiqueira), São Lourenço/MG. _____________________________ . Texto baseado na Tese de Doutorado da autora, intitulada: “A bioenergia como caminho: do processo saúde-doença ao processo saúde-enfermidade”, EEUSP, 1999.
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2 . Refiro-me a Irmã Maria Alice Bernard Robbe, a “Madre Marie Ange”, fundadora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá (MG).
. O gradual reconhecimento da legitimidade destas práticas levou o Ministério da Saúde a aprovar, em maio de 2006 a PNPIC (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementas de Saúde), no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde).
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. Nesta época, o mundo inteiro discutia saúde à luz da Conferência Sobre Cuidados Primários de Saúde, promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em Alma-Ata, cidade da extinta União Soviética.
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5 . Atualmente o Bi-Digital O-Ring Test é mais difundido e praticado em várias áreas da medicina oficial, inclusive no Hospital das Clínicas da FMUSP.
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Desde a antiguidade, o vinho está intimamente ligado à medicina, desempenhando papel de destaque. Os primeiros praticantes da arte da cura, na maioria das vezes curandeiros ou religiosos, já o utilizavam como remédio. Papiros do Egito antigo e tábuas dos antigos Sumérios (cerca de 2.200 a.C.) traziam receitas baseadas em vinho, o que o torna a mais antiga prescrição médica documentada. Hoje, sabe-se que beber uma taça de vinho durante as refeições faz bem para a saúde porque: Tem alto poder antioxidante, podendo colaborar no combate com os radicais livres e no rejuvenescimento; O etanol possui efeito cardioprotetor; Diminui o risco de doenças vasculares; É bom para o colesterol; Graças ao resveratrol e aos flavonóides, diminui o risco de doenças cardíacas;
É um antiagregante plaquetário, melhorando a circulação sanguínea; Diminui os danos causados pelo cigarro. Os benefícios à saúde são tantos que poderia ficar discorrendo sobre eles por páginas a fio, o que seria por demais enfadonho. Portanto, lhes convido a erguer uma taça e brindar por uma vida prazerosa, saudável e feliz. E lembrem-se! Os melhores vinhos encontram-se próximos a você. Tchim Tchim!!
Alex Baptista, atua na área de alimentos e bebidas desde 1999, com formação acadêmica no SENAC, enófilo auto didata. Consultor enogastronomico da Future Wine em São Paulo.
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Saúde & estresse ocupacional Por Célio Gentil
Com a evolução da Gestão de Pessoas nas organizações, e as exigências legais cada vez mais intensas, o tema “Saúde e Segurança no Trabalho” deixou de ser uma utopia ou departamentos secundários, tornando-se áreas estratégicas, sedimentando a cultura necessária para a evolução de muitos conceitos organizacionais. Quando falamos nas exigências legais, citamos a “Lei nº 6.514, de 22 de Dezembro de 1977”, que altera o Capítulo V do Título II da C.L.T – Consolidação das Leis do Trabalho e também a Portaria nº 3.214 de 8 de Junho de 1978, que aprova as NRs – Normas Regulamentadoras, norteando processos de melhoria continuada nos temas relacionados a Saúde e Segurança ocupacional. Podemos contextualizar dentro deste tema o “ambiente de trabalho” que deve proporcionar proteção ao corpo físico e saúde psicológica e sociológica aos seus colaboradores, evitando descontroles emocionais e estresse ocupacional. As organizações devem incentivar relacionamentos saudáveis, atividades motivadoras e liderança participativa além de um bom programa de higiene e segurança no trabalho com espaço físico adequado, áreas com Iluminação correta, processo em ergonomia, ventilação correta, temperatura e ruídos dentro dos padrões normais aprovados pela legislação. A “Segurança e Qualidade de Vida” no trabalho, aumenta a produtividade, a qualidade nos serviços ou produtos, proporcionando ainda, redução nos custos. Vejamos algumas considerações importantes sobre este tema: A prevenção de doenças ocupacionais está vinculada e amparada na Lei nº 24/94 que instituiu o PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional.
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O PCMSO determina que as empresas façam exames em seus colaboradores. São eles: admissional – antes do início das atividades na empresa; periódico – realizado periodicamente para monitorar a saúde do colaborador; retorno ao trabalho – nos casos de afastamentos superiores a 30 dias; mudança efetiva de função – antes da transferência de atividades; demissional – antes do desligamento do colaborador. Podemos citar alguns riscos e consequências de um programa ineficiente: aumento das indenizações por acidentes de trabalho ou doenças adquiridas através da “Lesão por Esforço Repetitivo – LER”; perdas auditivas; aumento da frequência de afastamentos por doenças; aumento do absenteísmo; comprometimento na produção; e finalmente pressão sindical. Algumas ações objetivam qualidade de vida, segurança e maior produtividade, as empresas devem desenvolver programas de saúde preventiva, realizar os exames médicos exigidos por lei, palestras de medicina preventiva, elaborar mapas de riscos ambientais, preparar indicadores das ocorrências para estabelecer metas de melhorias, desenvolver programas de controle do estresse e utilizar os processos eficazes de ergonomia. Sobre o estresse ocupacional, algumas literaturas mostram que trata-se de uma condição normal e saudável do organismo, pois é uma resistência a uma pressão e uma defesa contra esta pressão, que pode ser de origem física ou emocional. Uma pequena dose de estresse mobiliza a criatividade e impulsiona o homem na busca de seus objetivos ou para defender-se. O estresse ocupacional pode trazer algumas consequências, tais como: ansiedade, depressão, problemas de relacionamento,
angústia, distúrbios gástricos e cardiovasculares, dores de cabeça, palpitações, aumento do uso de medicamentos, álcool, e outras drogas. Algumas causas do estresse ocupacional: o autoritarismo do chefe, o excesso de horas trabalhadas, o nível de responsabilidade e resultados de metas, as cobranças e pressão de tempo, as dificuldades de relacionamentos, a falta de perspectivas para desenvolvimento profissional e comunicações falhas e divergentes. Como proporcionar melhor qualidade de vida? As empresas devem desenvolver um programa de controle e combate ao estresse orientando seus funcionários sobre o planejamento de vida, desde as atividades diárias, projetos pessoais e da carreira profissional à prática de exercícios físicos regulares, adoção de uma dieta saudável e eliminação do uso de álcool e cigarro. A prática de meditações e técnicas de relaxamento, psicoterapia, tempo reservado para o lazer, a implantação na empresa da ginástica laboral, criando áreas de lazer dentro da produção, incentivando projetos que proporcionem melhor “Qualidade de Vida”, são caminhos utilizados para maior eficiência. Para concluirmos, recomendamos uma apreciação maior ao tema ergonomia que é a ciência do conforto humano, a busca do bem estar, a promoção da satisfação no trabalho, a maximização da capacidade produtiva e a segurança plena. Ela deve proporcionar um ambiente de trabalho favorável, produtivo, saudável e seguro, minimizando os desgastes físicos e emocionais que podem causar doenças ocupacionais e gerar o estresse. Célio Gentil, CG – Consultoria Empresarial e Recursos Humanos
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A engenharia e o desenvolvimento sustentável Por Paulo J. B. Rosas
O desenvolvimento econômico sustentável deixou de ser uma bandeira de ecologistas para ser um conceito importante nas comunidades. Ele pressupõe a preocupação não só com o presente mas com a qualidade de vida das gerações futuras, protegendo recursos vitais, incrementando fatores de coesão social e equidade, garantindo um crescimento econômico amigo do meio ambiente. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. A sustentabilidade assenta-se em três dimensões essenciais: o desenvolvimento econômico, a coesão social e a proteção ambiental. A sustentabilidade econômica é um conjunto de medidas que visa à gestão mais eficiente dos recursos naturais de forma a garantir sua exploração sem colocar em risco o seu esgotamento. A sustentabilidade sócio-política é a humanização da economia e, ao mesmo tempo, do desenvolvimento do tecido social nos seus componentes humanos e culturais. A sustentabilidade ambiental consiste na capacidade que o ambiente natural tem de manter as condições de vida, levando em conta a habitabilidade, o meio ambiente e a sua função como fonte de energias renováveis. Mesmo com os avanços obtidos na economia, o mundo atual ainda enfrenta grandes desafios: o meio ambiente continua deteriorando-se, os desastres naturais e os causados pelo homem são mais frequentes, alguns recursos naturais se aproximam do esgotamento, o hiato entre
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ricos e pobres, entre nações desenvolvidas e não desenvolvidas, continua crescendo. A Engenharia tem uma participação importante neste contexto, por estar sempre presente na vida do homem desde os primórdios da civilização humana e por ter consciência da necessidade de se obter um contrapeso entre o uso dos recursos naturais e as necessidades das futuras gerações, preservando o meio ambiente e os ecossistemas. A Engenharia promove a ferramenta para o desenvolvimento econômico, como ciência produtora de conhecimento e de inovação tecnológica, que são fundamentais para o crescimento. Ela provê soluções para necessidades básicas dos seres humanos, como por exemplo: água, saneamento, habitação e energia, de forma a proteger a cultura e a diversidade natural. É função da Engenharia aliviar os endêmicos e aflitivos problemas que afetam as comunidades em desenvolvimento. A complexidade do mundo moderno exige dos profissionais de engenharia uma visão sistêmica e uma postura ousada com espírito inovador e empreendedor. Com talento e conhecimento técnico, os engenheiros transformam inteligência em tecnologia, serviços, produtos, desenvolvimento social e econômico. Aplicam análise científica e síntese holística para desenvolver soluções sustentáveis. O crescimento sustentável é intrínseco a sua função uma vez que ele concebe, projeta, cria e inova, sempre com a visão de longo prazo.
Cidade com neutralização na emissão de carbono. É possível? Por Elaine Pereira
Fotos: Masdar divulgação
Muitos pesquisadores têm trabalhado para viabilizar tecnologias utilizando energia limpa, sem emissão de CO2. As cidades do futuro que víamos em desenhos animados ou em filmes de ficção retratavam um mundo tecnológico e árido, devido à extinção dos recursos naturais, hoje se projetam para um formato sustentável, mas felizmente e à tempo, procurando preservar o meio ambiente. Em 2008 um estudo da ONU (Organização das Nações Unidas) constatou que mais da metade da população do mundo vive em cidades, totalizavam na época 3,3 bilhões de pessoas e que em 2030 chegariam a 5 bilhões, impondo uma pressão sobre o meio ambiente. As cidades têm sede, fome de energia,
Vistas do Instituto Masdar
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e produzem a maior parte do lixo e dos gases de efeito estufa. Neste mesmo ano no emirado de Abu Dhabi, no Golfo Pérsico, construtores lançaram a proposta da “primeira cidade com neutralidade na emissão de carbono”. Na apresentação do projeto o governo local disse: “Masdar irá produzir zero emissão de dióxido de carbono, nenhum lixo e será abastecida com energia renovável – uma cidade moderna com consumo de energia per capita nove vezes inferior ao que se tem nos Estados Unidos. Os planejadores a concebem como um núcleo para o desenvolvimento de tecnologia ‘verde’ – o próprio nome Masdar significa ‘a fonte’, na língua árabe”. Com investimentos em torno de US$ 1,4 bilhão, a cidade atualmente conta com seis prédios, uma rua principal, 101 apartamentos pequenos, uma imensa livraria eletrônica e o Instituto Masdar. Entre os recursos disponíveis aos residentes estão: carros elétricos que se movimentam sem o auxílio de motoristas; ruas resfriadas por uma gigantesca torre eólica responsável por gerar eletricidade a partir dos fortes ventos da região; painéis solares responsáveis pela produção de grande parte da energia consumida; gás natural que garante o isolamento térmico de alguns dos edifícios da cidade; e está sendo desenvolvida também uma usina de dessalinização da água movida a energia solar. Para produção de eletricidade utiliza ainda espelhos como
Vista de Masdar, no Emirado Abu Dhabi
forma de concentrar os raios de sol para aquecimento de grandes quantidades de água, que geram energia elétrica. Masdar nasceu com uma concepção correta, mas e as cidades atuais? Como vimos na edição anterior da Naturale as grandes metrópoles mundiais estão colocando em prática alguns projetos para diminuir a emissão dos gases de efeito estufa e têm obtido bons resultados. Tudo isso nos mostra que é possível termos menor emissão de CO2, mas é necessário investimento em pesquisas de tecnologia e no sistema de produção para uma maior eficiência e baixo custo dos equipamentos. Infelizmente, ainda hoje, tudo que se refere a materiais ecologicamente corretos têm um preço elevado, o que não estimula ao consumidor o acesso a eles. Creio serem necessários incentivos e vontade política para que este panorama possa mudar e a produção de equipamentos, construções, bens de consumo e alimentos, e o planejamento urbano possam estar a favor da vida e da preservação do planeta.
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