Dossier Entrevista, Depoimentos e Artigos
Variedades Violência, Educação e Livro.
Artes e Letras Poesia, Desenho, Literatura e Fotografia.
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Foto: Silene Ramalho
Equipe Revista CACINF UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UNB FACULDADE DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - FCI NÚCLEO DE EDITORAÇÃO E COMUNICAÇÃO - NEC FACULDADE DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO DIRETORA DA FCI
Elmira Simeão
NÚCLEO DE EDITORAÇÃO E COMUNICAÇÃO - FCI COORDENADORA
Claudia Neves Lopes
EQUIPE Mayara Felix Pierre Pamela Souza Lordes CAPA Projeto César Roberto Criação Equipe NEC Mayara Felix Pierre Pamela Souza Lordes ILUSTRAÇÕES DE INÍCIO DE SESSÃO Claudia Neves Lopes Pamela Souza Lordes PESQUISA ICONOGRÁFICA Gabriella Oliveira
PROJETO GRÁFICO
Claudia Neves Lopes EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Pamela Souza Lordes CENTROS ACADÊMICOS DA FCI CABIBLIO, CAARQ, CAMU CONSELHO EDITORIAL
César Roberto Henrique Sertão Gabriella Oliveira Júlia Venâncio
CONTATOS: NÚCLEO DE EDITORAÇÃOE COMUNICAÇÃO NEC/ FCI Campus Universitário Darci Ribeiro Brasília - DF Asa Norte 70.000.000 55 - 61- 3107-2643 - nec.fci@unb.br revista.cacinf@gmail.com
Henrique Sertão
O projeto da CACINF era o de justamente refletir nossa cara (de pau? :), nossos rostos e faces; para muito além de um livro de faces. O facebook está dado ( é somente requentar e usar (Zé, Tom)). Quero dizer que esta edição - como todas as outras - é made in a partir da FCI. Made in a partir do NEC/ UnB/BsB/Bra. Foi feita como sempre superando dificuldades. Ainda com o necessário apoio técnico do NEC, fundamental para materialização da revista. A CACINF mantém uma autoconsciência de seu lugar de criação. Sempre é a partir de estudantes. O conteúdo condiz com experiências de ser e fazer estudantil. Nesta edição temos greve, arte, poesia, entrevista, depoimento, utopia, pesquisa, corpos, informática, kombis, cárceres, conto, culturas. Questões. A CACINF se mantém como espaço conquistado. Para quê? Pois é. O que querem xs estudantes nestas páginas? Refletir-se nas páginas da revista? Virar memória? Exercitar habilidades?
contradições como fator crítico que desencadeia a autoconsciência de ser e fazer estudantil. Reparem que isto é distinto de um projeto que visa definir (dar finalidade?) ao ser e fazer estudantil. Uma tentativa de esboçar possibilidades a partir da academia com recursos da academia desde o grau graduando. Possibilidades de culturas acadêmicas. Possibilidades de laboratórios e interações. Assim temos este produto final. Algo a mostrar: nosso reflexo no espelho! Ou seria nossa caricatura tratada digitalmente? A analogia de uma biblioteca universal em função do projeto de unidade do conhecimento de algum modo está como chão nesta utopia que percebe se aproximar do topos ou da ilha desconhecida.A biblioteca universal simboliza a unidade do conhecimento humano – composto por singularidades-, não como simples reunião de artefatos, e este conhecimento por sua vez só se realiza quando alguém se apropria dele, ou de outra forma, toma autoconsciência dele. Não posso deixar de cair num profetismo quando Darcy esboça uma missão para esta UnB; cavalgar este conhecimento e assessorar o governo no que tange ao diagnóstico dos problemas sociais e propor as soluções, é claro sem submeter-se ao poder governamental. Eu já tinha dito isto? Acho que sim... estou parecendo um velho que conta as mesmas histórias e sempre acha que é a primeira vez.
Tudo isso sim. Mas há algo mais, sempre algo mais. Há o vazio... o silêncio. Onde estão as inquietações e inquietudes? Contestadores e contestações? O silêncio da grande parcela estudantil que não colabora (seja como for) com este espaço conquistado seria devido a uma ausência ou a uma impossibilidade/limite do que pode ser exposto? Parece-me que não. Vemos nestas três edições que a CACINF é plasticamente bonita! Tem uma Boa leitura amores. Sugiro uma boa xícara de proposta editorial para além do seer(!) editorial. É leve. Mesclada com arte e acadêmica.Ainda semente um bom café espresso para acompanhar. Seria até que começa a quebrar a dormência. melhor que lessem num bom Café! Com tempo a perder... Nesta edição temos a sistematização do projeto Bibliutópico como locus de unidade das
DOSSIER MOVIMENTO ESTUDANTIL E CENTRO ACADÊMICO DE BIBLIOTECONOMIA
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ENTREVISTA JAYME LEIRO
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BIBLIUTOPIA DOS TRÓPICOS
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DEPOIMENTO JOSÉ PAULO
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O PROFISSIONAL ARQUIVISTA NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS
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VARIEDADES UMA RESPOSTA AO LIVRO A GERAÇÃO SUPERFICIAL
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A BIENAL BRASIL DO LIVRO
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A VIOLÊNCIA DO CORPO DO CONDENADO E O ENGODO DO SISTEMA PRISIONAL ATUAL
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O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INDÍGENA
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PRISÕES E AFETIVIDADES: CONCEITOS DESCRITOS NAS LETRAS DE RAP
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ARTES E LETRAS POEMA DE EDVAN AQUINO
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DESENHOS TIAGO ALMEIDA
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POEMA MARIA ALENCAR
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O FRIO DA NAVALHA
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INFORMATIVO NOTÍCIAS DO MUNDO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
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Cesar Roberto Gonรงalves de Souza
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No meio do ano letivo na UnB a greve dos docentes é declarada junto com outras universidades federais, um movimento integrador a favor da melhoria de salários e da educação. Na greve da Universidade de Brasília diferente de muitas outras instituições educacionais os alunos apoiaram a greve aumentando a luta contra o status quor da educação brasileira e mostrando a feição política que os alunos da UnB têm de melhor. O apoio dos estudantes surgiu dos centros acadêmicos e se espalhou nos corredores do campus de boca em boca, de panfleta a panfleto e também com as redes sociais, onde como era de se esperar os centros acadêmicos mostrando sua real importância na luta pela educação e na manutenção das estruturas educacionais. O centro acadêmico de Biblioteconomia também fez sua parte, sendo um dos primeiros CAs a aderir à greve estudantil determinada de forma democrática em assembleia dos estudantes de graduação definida por maioria dos votos, onde passamos a defender firmemente o movimento tendo até um representante no comando local de greve, mostrando o surgimento de lideranças em nosso curso que por muito tempo caminhava na inércia do conservadorismo. A luta
do CABIBLIO na greve ultrapassou o território da capital federal chegando aos solos mineiros no XXXV ENEBD 2012 onde junto com outras lideranças estudantis do curso de biblioteconomia discutimos políticas estudantis e a greve nacional que preocupava todos os estudantes da área. O encontro dos estudantes de biblioteconomia ajudou a entender o panorama do curso em todo território nacional, onde foram discutidas as mudanças temáticas que deveriam ser feitas nos encontros, sendo por muito tempo esquecido o verdadeiro sentido político dos encontros no curso de biblioteconomia, retomando essa preocupação com a difusão da greve das universidades. Com esses acontecimentos e preocupações caminhamos para um novo horizonte onde os acontecimentos nos da à responsabilidade da luta por espaço e poder de representação estudantil nas universidades, aonde a hierarquização educacional vai dando espaço aos verdadeiros interesses conjuntos sem diferenciação entre docentes e graduandos melhorando a resolução de problemas e caminhando rumo ao crescimento.
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Foto: Cesar Roberto Gonรงalves de Souza
ENTREVISTA JAYME LEIRO Por: Cesar Roberto Gonçalves de Souza
importantes para se chegar a um conjunto de disciplinas a partir do qual os três cursos derivem sua especificidades. Não acredito que seja possível chegar nele a curto prazo mas acho que é um caminho que vale a pena percorrer.
Qual a sua posição em relação ao tronco comum dos currículos dos três cursos da FCI? R: depende muito do significado da expressão “ tronco comum“, para mim faz mais sentido falar agora em disciplinas comuns e compartilhamento de disciplinas, acredito que sejam etapas
Como o graduando deve se preparar para o mercado de trabalho atual na área? R: com qualidade. Um bom curso faz com que o aluno possa adquirir um leque maior de habilidades conforme sua carreira vai evoluindo. Não podemos esquecer que a graduação é uma base sobre a qual são
Como o curso de biblioteconomia pode se adaptar as novas tecnologias da informação? R: vai depender muito do quadro de professores, um dos erros do currículo atual foi criar disciplinas obrigatórias de tecnologia sem professores para ministrá-las, ou com poucos professores preparados para fazê-lo. Temos que ser mais realistas a fazer esta evolução de uma forma diferente.
acrescentados conhecimentos práticos, a partir dos estágios, treinamentos e especializações, e também teóricos, permitindo que o profissional chegue até o mestrado e doutoramento. 11
O senhor gostaria de fazer mais algum comentário sobre os temas abordados? R: não, só tenho a agradecer a oportunidade deste espaço importante de comunicação com a comunidade.
Fonte: www.cid.unb.br
Quais são os seus objetivos como coordenador do curso de biblioteconomia da UnB? R: mais de 10 anos depois de ser Coordenador de Biblioteconomia pretendo simplificar a gestão da Coordenação e fazer algumas alterações urgentes no atual currículo, além disso, pretendo iniciar o processo de revisão curricular entre outras coisas. Quais os obstáculos enfrentados pelo curso de Biblioteconomia? R: são vários: a defasagem do currículo atual, a renovação dos professores devido as aposentadorias compulsórias, a articulação dos conteúdos das disciplinas entre outros.
Henrique Mascarenhas Sertão¹ Cesar Roberto G. Souza²
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Lançamento da revista Cacinf - 2012
Resumo Este artigo relata o resultado do esforço para avançar rumo a um ambiente livre e democrático de expressão desenvolvido por meio da elaboração de uma revista dos estudantes da Faculdade da Ciência da Informação e Documentação (FCI) da Universidade de Brasília. O texto conta como foi formada a revista CACINF e a importância dela como instrumento de expressão da inquietação estudantil, em que os alunos possuem um ambiente democrático e livre para manifestar suas ideias e seus conhecimentos adquiridos na vida acadêmica, debatendo os anseios que envolvem estudantes perante a universidade. Palavras-chave: Movimento Estudantil. Centro Acadêmico. Revista eletrônica. ¹ Henrique Mascarenhas Sertão graduando da 6ª fase de Biblioteconomia da Universidade Brasília e representante do centro acadêmico. E-mail: revista.cacinf@gmail.com ² Cesar Roberto Gonçalves de Souza graduando da 6ª fase de Biblioteconomia da Universidade de Brasília, representante do centro acadêmico e estagiário do superior tribunal de justiça. E-mail: cesarbiblio@gmail.com
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1 INTRODUÇÃO
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Os movimentos estudantis caracterizam-se Expõe-se neste trabalho a experiência de por serem protagonizados por estudantes. É um uma tentativa de estruturar um projeto coletivo com vistas a organizar um corpo de estudantes, dentre diversos movimentos sociais. Identificade três segmentos, distintos entre si, mas com se com causas relacionadas à educação, política, S Movimentos elementos comuns. São estudantes de graduação cidadania, direitos civis dentre outras. E sociais é um tema bastante amplo e complexo, pois em biblioteconomia, arquivologia e museologia D trama envolve n sujeitos sociais em uma de relações A da Faculdade de Ciência da Informação e D nas diversas Documentação-FCI da Universidade de Brasília-UnB. desses sujeitos com a Isociedade relações de poder. Para Castells V O projeto coletivo agregador consistia em elaborar Isocial Um movimento nasce do encontro de T uma revista eletrônica em linha dos três segmentos E uma dada combinação estrutural, que acumula estudantis. Tal revista seria um vetor dos estudantes F várias contradições, com um certo tipo de A para veicularem informações que julgassem organização. Todo movimento social provoca, E pertinente para a classe. Um espaço fluídico em que porSparte do sistema, um contra-movimento ideias circulassem livremente sem pagar pedágio E nada mais é do que a expressão de uma que sofrer amputações editoriais, condizentes com ATUALnem Õ do aparelho político (integraçãoa .vida e o espaço acadêmico. A principal vantagem IS intervenção repressão) visando à manutenção da ordem. era o fato de a revista ser hospedada de graça na R (CASTELLS, 1983, p.386), internet e por isso desfrutaria dos benefícios que P Nesta gênese de um movimento social a rede de redes possui, tais como livre acesso a devemos entender o que este autor, neste contexto qualquer hora, abrangência mundial, baixo custo dentre outros. A ideia da revista, ou de um meio estrutural, entende por organização: Uma organização se define, estruturalmente, de comunicação para circular entre estudantes, era como uma intervenção, a partir de uma anseio de alguns, porém sem encontrar recursos certa combinação estrutural (horizonte para dar andamento, não saía da condição de de filiação definido como combinação das verbo voando. Quando no primeiro semestre de características dos agentes de intervenção) 2011 a diretoria da faculdade sugeriu aos Centros sobre uma outra combinação estrutural acadêmicos que fizessem uma revista, porém com diferente e que a integra (horizonte de apoio da faculdade. referência soma das combinações dos
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carĂĄter que Milton Santos chama de perverso. Este quadro, no caso em relato da revista, ajuda adensar na problemĂĄtica de se trabalhar com informação no mundo contemporâneo. ReflexĂľes do grande geĂłgrafo brasileiro que ajudam a embasar o trabalho com a informação, dissolvendo as ingenuidades e os contos de fadas. Santos continua e afirma que um dos traços marcantes do atual perĂodo histĂłrico ĂŠ, pois, o papel verdadeiramente despĂłtico da informação... as novas condiçþes tĂŠcnicas deveriam permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que o formam, das sociedades que o habitam e dos homens em sua realidade intrĂnseca. Todavia, nas condiçþes atuais, as tĂŠcnicas da informação sĂŁo principalmenteS utilizadas por um punhado ISTEM A RISIO de atores em função de seusPobjetivos NAL A particulares. (SANTOS, 2010, p. 38-9). Avançando no relato desta experiĂŞncia, percebeu-se que a revista encontra-se no que Castells chama de “... nĂvel 0 da organização (coordenação da espontaneidade)â€? (CASTELLS,1983). Uma explicação seria o fato de os textos contidos na primeira edição terem sido recolhidos por uma chamada genĂŠrica, ou seja, foi coletado “o que tinhaâ€?. Quando se decidiu criar a revista houve uma corrida por contribuiçþes, fosse qual fosse, tanto na parte de textos quanto na editoração, caracterizando a espontaneidade e a falta de um cerne ou objetivo norteador sĂłlido e vigoroso, podendo-se dizer que a revista ficou “muito livreâ€?. Depois de discorrer brevemente sobre a gĂŞnese de um movimento social, Castells (1983, p. 388-9) aponta condiçþes de existĂŞncia de tais movimentos, assim “... para que exista movimento social, ĂŠ preciso necessariamente a concatenação de um encadeamento de contradiçþes em profundidade...â€? e conclui sua anĂĄlise ao dizer: HaverĂĄ movimento social na medida em que a prĂĄtica e o discurso da organização unam as contradiçþes sustentadas pelos agentes sem desuni-las de forma fracionada (ideologia reformista) e sem fundi-las numa Ăşnica oposição globalizante (utopia revolucionĂĄria). (CASTELLS, 1983, p. 389). Ă€ luz destas exposiçþes sobre movimentos sociais, vĂŞ-se de forma ainda mais clara que a revista pode um dia vir a deixar ĂƒOde ter continuidade editorial, Ç isto, porĂŠm, nĂŁo A chega nem perto de dizer que o Z I movimento estudantil corre o risco de deixar de ser AR social.A revista seria um fator chave na L um movimento CO facilitando a articulação do movimento. organização, S E Movimento ainda pouco estudado em comparação com outros movimentos sociais. HĂĄ sociĂłlogos ainda
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agentes que a compĂľe, se os objetivos da organização sĂŁo realizados). (CASTELLS, 1983, p.388) Trazendo mais para perto, a revista aqui estudada, por intervir no social, pode ser considerada nossa organização; o horizonte de filiação ĂŠ tanto a combinação acima descrita como o prĂłprio associativismo estudantil representado pelos Centros AcadĂŞmicos ou outra agrupação de estudantes. Esta organização tem um papel fundamental na formação de um movimento social que ĂŠ o de “unir as diferentes contradiçþes presentes nas combinaçþes estruturais com as quais se relacionaâ€? (CASTELLS, 1983, p.388). Assim como “destruir o movimento social ĂŠ... desunir as contradiçþesâ€? (CASTELLS, 1983, p.388). Vemos agora mais claramente o papel da revista como agente agregador das contradiçþes estruturais, e nĂŁo como mero meio de comunicação que veicula notĂcias. Milton Santos, analisando a tirania e a violĂŞncia da informação, aponta “entre os fatores constitutivos da globalização, em seu carĂĄter perverso atual, encontram-se a forma como a informação ĂŠ oferecida Ă humanidade.â€? (SANTOS, 2010, p.38). ViolĂŞncia central e alicerce do “sistema ideolĂłgico que justifica as açþes hegemĂ´nicas e leva ao impĂŠrio das fabulaçþes, a percepçþes fragmentadas e ao discurso Ăşnico do mundo, base dos novos totalitarismos – isto ĂŠ, dos globalitarismos – a que estamos assistindoâ€?, assim “o que ĂŠ transmitido Ă maioria da humanidade ĂŠ, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde.â€? (SANTOS, 2010, p.38). Esta perspectiva nos amplia o horizonte em se tratando de uma revista eletrĂ´nica, considerando que nela trabalhamos com informação. Para tanto, ĂŠ importante sempre ter em mente que a informação veiculada na revista pode tomar este
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que não consideram o movimento estudantil como movimento social, embasando-se em definições muito restritivas do que seria caracterizado com um movimento social de fato¹.
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Lá trabalha a servidora Cláudia Lopes, responsável pela editoração gráfica do Núcleo, foi de extrema presteza ao auxiliar a condução da confecção da revista, sabemos que sem ela não seria possível concretizar o projeto, uma vez que só ela possuía 2.1 Principais Dificuldades os conhecimentos de editoração necessários e o domínio do aplicativo usado na editoração S eletrônica, E No decorrer do processo de construção da frise-se também a ótima vontade em ajudar. D revista perceberam-se algumas dificuldades como: A falta de conhecimento técnico de editoração, falta de 2.3 Sugestões de integração do Projeto ID distribuição de tarefas, baixa participação do corpo Coletivo com o Ensino IV estudantil tanto na montagem da revista quanto nos T E é um local de produção e artigos das seções da revista, tempo escasso para A universidade F novos conhecimentos. Este preparar edições semestrais. disseminação Ade conhecimento E é produzido por alguém. Este Entende-se que o conteúdo em si da revista é alguém passou por uma educação formal antes S o bem mais valioso. Por isso a maior dificuldade foi/é de serElegitimamente habilitado para produzir ATUALangariar Õ contribuições intelectuais. Poucos realmente conhecimento. . O estudante, porém, ainda não S I se desprendem da timidez para se mostrarem nas é bacharel ou licenciado. Mas pode o estudante páginas da revista. Sabe-se que todos têm algo a di- PR produzir conhecimento? Ora, o que se propõe zer, principalmente em relação à vida acadêmica, no com este projeto coletivo agregador é justamente entanto na hora de formalizar críticas escondem-se agregar as atividades de ensino pesquisa e extensão na massa, deixam o direito de voz à produção da revista. Muitas passar entre os dedos. Escrever disciplinas geram trabalhos Um espaço fluídico ajuda a concatenar ideias e é imescritos ou não, quer dizer, algum em que ideias circulasportante sempre frisar que a revistipo de material, por parte dos sem livremente sem pata é um espaço de exercício, podeestudantes. E o que acontece gar pedágio nem sofrer ria dizer, um laboratório disponível com este material? Traz-se à amputações editoriais, àqueles mais engajados que ousam luz mais uma função da revista, condizentes com a vida e tocar o projeto editorial. que seria divulgar os trabalhos o espaço acadêmico. acadêmicos produzidos em sala 2.2 Contornos Técnicos de aula, dando um horizonte mais amplo para aquele que irá Contornou-se a falta órgão técnicos por parte dos produzir o trabalho, pois, antes de começar a fazêde conhecimentos s púbfundamental do Núcleo lo e já com a perspectiva de que há um canal de estudantes com a ajuda lico divulgação estudantil, a pessoa poderia considerar de Editoração e Comunicaçãos – NEC da FCI. alguns aspectos referentes a publicar ou não o Este núcleo dispõe de computadores preparados trabalho, assim não se perde por completo a energia para algumas tarefas editoriais. empregada. Com uma perspectiva mais elevada, Lá trabalha a servidora Cláudia Lopes, o estudante tem um incentivo a mais para sair da responsável pela editoração gráfica do Núcleo, foi de mediocridade da obrigação de “tirar nota boa” para extrema presteza ao auxiliar a condução da confecção passar a ter uma função autoral, extrapolando os da revista, sabemos que sem ela não seria possível limites da sala de aula e horizontalizando o acesso concretizar o projeto, uma vez que só ela possuía aos meios de disseminação, uma vez que a revista os conhecimentos de editoração necessários e o é aberta a qualquer estudante dos três segmentos domínio do aplicativo usado na editoração eletrônica, citados acima, e também a qualquer estudante de frise-se também a ótima vontade em ajudar. outro curso e de outra universidade. Esta gestão é facilitada pelas ferramentas de mensageria, permitindo receber contribuição praticamente do mundo todo. _________ Para tanto é necessário envolvimento por parte do corpo discente, uma vez que, neste modelo vertical ¹ CF. BOUDON, Raymond(Org.). Tratado de Sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995. Especialmente o capítulo 7, em que de ensino da universidade brasileira, a proposta das François Chazel aborda os problemas de se ampliar ou reduzir tarefas parte, em sua maioria do professor.
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muito o conceito de Movimentos Sociais.
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2.4 Memória
REFERÊNCIAS
Outro aspecto deste projeto coletivo é a memória. Memória aqui entendida como documentação deste movimento editorial rumo a uma participação mais efetiva nos contextos acadêmicos. A revista, ao conseguir resgatar pelo menos uma pequena parte dos trabalhos feitos em sala de aula, ao veicular os textos dos estudantes, fotos, desenhos e etc., transforma-se também em memória estudantil. Assim trabalhamos com a ideia histórica. Agentes históricos da própria realidade. Caberia ressaltar muitos atributos da função histórica da revista, porém pelo curto espaço, não se ressaltará tais atributos. Apenas sublinha-se a necessidade da continuidade deste projeto editorial. Se estudantes quisessem saber o que as antigas gestões dos centros acadêmicos fizeram, onde pesquisariam? Em algum centro de documentação? Com a revista eletrônica aperfeiçoam-se as fontes de busca, este anseio de saber o que faziam aqueles que, antes de nós, já se deparavam com os mesmos tipos de problemas.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 19. ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. CASTELS, Manuel. A questão urbana. Tradução de Arlene Caetano. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. Revista CACINF. Disponível em: <http://issuu.com/ revistacacinf/docs/cacinf0> Certificado da apresentação de trabalho no XIV EREBD SUL
3 CONCLUSÃO 18
A revista ainda está longe do ideal, mas já possui certa consistência e atende as necessidades dos alunos de graduação de se expressarem diante da universidade, que é o local onde influenciará sua vida profissional e de reivindicações em que a humanidade sempre vai buscar, onde pessoas com cabeças e ideologias diferentes vão propor seu modo de ver a vida. Na revista podemos ver como a educação e ensino do curso de biblioteconomia está caminhado, pois a maioria dos textos são trabalhos ou resumos de trabalhos acadêmicos.Ainda estamos longe de uma estabilidade de publicações, pois esperamos ter mais colaboradores fixos para facilitar o fechamento da revista. Procuramos incentivar os graduandos para publicar e mostrar o espaço livre que eles possuem e o privilégio que poucas pessoas tem de mostrar suas ideias e pensamentos diante de um mundo cada vez mais bombardeado de informações. Não sabemos em que vai dar isso tudo, mas sabemos que tem sido muito divertido o processo de construção, além de ser gratificante ver a revista pronta e ler os amigos em suas linhas. Esperamos que esta pequena experiência, que é uma semente, ajude a apontar caminhos possíveis dentro das controvérsias da realidade universitária. Lançamento da revista Cacinf - 2012
JOSÉ PAULO EX ALUNO BIBLIO Acadêmico, o CAB. Nos dois anos em que fui membro da sua diretoria, nós organizávamos viagens para os EREBDs e ENEBDs. Planejávamos as recepções aos calouros, participávamos das reuniões do colegiado do curso, discutíamos seu currículo... O dia-a-dia com os professores e técnicos contribuiu para que percebêssemos nossa responsabilidade pela consEsse resuminho diz muito pouco dos seis anos que trução do curso e da universidade. Foi uma grande exjá se passaram desde que eu e outros 50, quase, periência e creio que todos os alunos de Biblioteconoconseguimos ingressar na UFSC para cursar Biblio. mia deveriam participar ativamente dessas entidades. Posso dizer que tive sorte, porque caí numa turma de pessoas muito compromissadas, gente que A sala de aula não é o único espaço de formação logo no início curtiu a ideia de ser bibliotecário e profissional. Considero importante fazer estágios, se esforçou para fazer valer a pena estar em sala de participar de centro acadêmico, de cursos, de evenaula. Outros colegas não estavam muito motivados tos, relacionar-se com estudantes de outras graduacom o que aprendiam no decorrer das primeiras ções... Ser crítico, mas solidário também. Todas são fases, mas, ao longo do curso, a maioria descobriu experiências que nos constroem. um campo de atuação de seu interesse e seguiu em Ao final de 2011, eu passei num concurso da prófrente. Outros, ainda, desistiram, mas faz parte. pria UFSC. Hoje sou bibliotecário de “biblioteca Desde o começo da graduação eu queria aproveitar universitária”. as oportunidades para aprender mais sobre a área. Na primeira fase eu fui bolsista na Biblioteca Cen- Em 2012, eu ingressei na diretoria da Associação tral da UFSC, depois bolsista de iniciação científica Catarinense de Bibliotecários (ACB). É uma institui(bolsa PIBIC) e estagiário em setor de arquivo. Tudo ção criada na década de 1970, considerada de utidentro da própria universidade. Ao final da gradua- lidade pública, que congrega bibliotecários de todo ção, estagiava no Laboratório de Novas Tecnologias o estado e tem como responsabilidade a promoção (LANTEC), atuando como designer instrucional para de eventos, cursos e o fortalecimento da classe proo curso de especialização à distância em Gestão de fissional. Bibliotecas Escolares. Depois de formado, eu conti- Os desafios se sucedem, aprendo constantemente e nuei no LANTEC, mas atuando em outros cursos. espero que os próximos seis anos sejam tão ricos Olá! Meu nome é José Paulo Speck Pereira. Eu tinha 21 anos quando iniciei o curso de Biblioteconomia na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2006. Formei-me em 2010. Um ano depois, passei num concurso para bibliotecário que ocorreu na mesma universidade.
Ainda na minha época de estudante, além da sala de aula e dos estágios, também me dediquei ao Centro
quando foram meus anos de graduação.
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O Profissional arquivista nos órgãos públicos Lara Caroline Porto Silva – 10/0014861 Náthalli Campelo dos Santos – 10/0018491 Raíza Cristina – 10/001
BREVE HISTÓRICO
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Dos órgãos que não possuem arquivistas, temos:
• Reconhecimento legal tardio das atividades profissionais arquivísticas, em 1978 • Estagnação das alterações legais • Imagem do arquivista ofuscada, mas não inexistente • Os órgãos reconhecem a importância do arquivista? Como ele pode ser bem sucedido na iniciativa pública? Ainda existem oportunidades para futuros profissionais?
Sem arquivistas
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Possuem técnicos e/ou estagiários Possuem apenas profissionais de outras áreas
O ARQUIVISTA NA INICIATIVA PÚBLICA • O arquivista ainda não é prioridade nos quadros Dos órgãos que admitem arquivistas temos: funcionais públicos • Contratação de profissionais com mão-de-obra Com arquivistas mais barata, como técnicos e estagiários, para realizarem os trabalhos arquivísticos Análise entre 29 órgãos chegou as seguintes conclusões:
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Possuem técnicos e/ou estagiários Possuem apenas profissionais de outras áreas
Arquivistas por Órgão
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Possuem Arquivistas Não Possuem Arquivistas
Por menor que seja a diferença, as instituições que possui arquivistas tendem a somarem a suas atribuições, profissionais que tenham entendimento na área. • Sobrecarga das atividades do arquivista
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Foto: Acervo do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF).
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UMA CARREIRA DE SUCESSO
• I Em quatro anos foram ofertadas 226 vagas, sendo R três do total para portadores de necessidades • Ser bem sucedido x Reconhecimento Profissional P especiais • A luta pelo o espaço do arquivista nos órgãos • Obteve-se uma média de 56,5 vagas ao ano públicos • Confira a seguir um comparativo entre a relação • A retribuição é a satisfação profissional de vagas por concursos em cada região
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• Concursos públicos: ainda são boas opções para ingresso no mercado de trabalho? • No total de 67 concursos públicos com vagas para arquivista e técnicos em arquivo analisados, tem-se:
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• Crescimento notável do número de concursos entre os anos de 2010 – 2011 • Dos 67 concursos analisados, a região que • Apesar da quantidade de concursos realizados, disponibilizou maior número de vagas foi a o número de vagas se sobressai, como podemos Centro-Oeste • Já das que mais lançaram oportunidades, a região notar a seguir: Sudeste tem a liderança
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BIBLIOGRAFIA
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SOUZA, Katia Isabelli Melo de. O mundo do trabalho e a visibilidade do profissional de arquivos. In: Arquivista, visibilidade profissional: Formação, associativismo e mercado de trabalho. Brasília: Starprint, 2012. Cap. 1, p. 37-41.
MOVIMENTO ESTUDAN TIL 51
Concursos
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CACI(N)F
Resposta à resenha do livro ‘’A geração superficial - o que a internet está fazendo com os nossos cérebros‘’, de Nicholas Carr (ed. Agir), publicada no blog www.obatomdeclarice.com.br. Texto escrito para a avaliação na disciplina Museologia e Comunicação 2, cujo programa engloba Teorias da Comunicação e Comunicação em Museus.
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Descrição do livro no site da Ediouro: ‘’O jornalista Nicholas Carr traz de forma bem-embasada a seguinte constatação: estamos ficando mais burros, e a culpa é da internet.Temos acesso quase ilimitado a informações na grande rede, mas perdemos a capacidade de focar em apenas um assunto. A mente do internauta está caótica, poluída, impaciente e sem rumo, e Carr faz um manifesto destacando a importância da calma e do foco, faculdades esquecidas neste mundo turbulento. ‘’
Fonte: blog http://mochileiro-das-galaxias.blogspot.com.br
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Caro(a) leitor(a), não estariam os textos online aprisionados em uma imagem técnica? Abstração sobre abstração, os olhos convido-lhe a me acompanhar em um agora se deparam com um texto que é imagem, e exercício imaginativo.Voltaremos no tempo e veremos que por ser imagem é passível de scanning. A tela do o mundo - não, não o mundo; veremos a Europa letrada computador só é decifrada quando o olho vagueia pela sua superfície de forma circular. Agora, porém, algumas décadas após a invenção de Gutenberg. o olhar não é apenas contemplativo: ele é interativo. Naquele tempo-espaço, encontramos E talvez essa interatividade seja o que McLuhan (eu avisei que se tratava de uma jornada tanto assusta na internet. Tendo em mãos o aparato imaginativa). McLuhan, incapaz de se comunicar com a nova geração que já nasceu em uma época de tecnológico, a internet é democrática. Não é preciso abundância de livros, brada: "os meios são extensões concessão estatal para criar um site, questão que do homem! Os livros nos formatam! Daqui a pouco, Melo nos traz sobre os meios de comunicação de 3 nenhum jovem conseguirá interpretar uma imagem!" massa . Ela é pouco, quase nada, regulada pelo Estado. A internet propicia tanto o diálogo (Eu daria os devidos créditos, porém de Hannah Arendt, político, quanto o McLuhan só publicará algo vagamente Vejo alguns 1 de Buber, íntimo, segundo o recorte similar a isso em 1964 ) argumentos de de Brayner4. Ela é revolucionária que a internet Ele não estava completamente por te deixar ocupar a posição de favorece a falta de errado. Afirma Flusser que a imprensa produtor, ator, diretor, escritor, editor, concentração e a e a escola obrigatória tiveram como leitor e crítico, numa lista incompleta. leitura superficial consequência o barateamento dos A democratização dos meios de textos, o surgimento dos textos produção da televisão com que Tiburi herméticos e a marginalização das sonha5 é realidade na internet. imagens, agora protegidas em museus Essas possibilidades não precisam, contudo, e sem afetar o cotidiano2. Não mais a imagem ficar restritas ao mundo virtual. Podemos nos impera; inicia-se o reinado da escrita. utilizar das nossas mudanças neurológicas em nossas Hoje ouço os mesmos profetas da linhagem profissões.Os museus,por exemplo,podem aproveitar de McLuhan clamando por atenção ao descortinar a desenvoltura da nova geração em serem tanto o Mal chamado internet. A internet nos tornaria leitores quanto escritores para criar exposições mais superficiais, nos fragmentaria. Ela planeja tomar o participativas.A crítica à fragmentação da informação lugar do livro e, acima de tudo, nos emburrece. esquece que, em exposições não-lineares, o público acostumado à fragmentação construirá a sua própria Concordo, sim, que os meios mudam e narrativa. E, claro, podemos usar os canais da internet moldam nossa forma de pensar. E por isso questiono (YouTube, Facebook, Twitter) como ferramentas de os alarmistas: não é a internet que nos confere a comunicação e criação coletiva com a comunidade, habilidade de lidar com várias tarefas simultaneamente? esta não mais definida geograficamente. Não são os computadores - e a internet, e os jogos online - que desenvolvem alta velocidade de reação e Se a internet faz bem ou mal, acredito que melhor coordenação motora fina? só a História dirá. Até lá, a pergunta deve ser: como participar dessa revolução? Vejo alguns argumentos de que a internet favorece a falta de concentração e a leitura superficial. Atenciosamente, Isso não me surpreende, porém não me parece Águeda Macias de Oliveira prova da natureza macabra da world wide web. Se a escrita é metacódigo da imagem, como diz Flusser,
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Referências 1 MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. Tradução Décio Pignatari. São Paulo: Editora Cultrix, 1964, p. 17-37. 2 FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Apresentação Norval Batiello Junior. São Paulo: Annablume, 2011, p. 1-36. 3 MELO, José M. de. Para uma leitura crítica da comunicação. São Paulo: Edições Paulinas, 1985, p. 7-54. 4 BRAYNER, Flávio Henrique Albert. Homens e mulheres de “palavra”: diálogo e educação popular. Rev. Port. de Educação. [online]. 2009, vol.22, no.1 [citado 01 Abril 2011], p. 207-224. Disponível em: http://www.scielo.oces.mctes. pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S087191872009000100009&lng=pt&nrm=iso>. 5 TIBURI, Márcia. Olho de vidro: a televisão e o estado de exceção da imagem. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2011, p. 1-61.
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A BIENAL BRASIL DO LIVRO Júlia Venâncio
A Bienal Brasil do Livro e da Leitura foi desenvolvida para despertar o gosto das pessoas pelos livros e pela leitura. A Primeira Bienal ocorreu entre os dias 14 e 23 de abril de 2012 durante dez dias e foi realizada no canteiro central da Esplanada dos Ministérios, em comemoração aos 52 anos de Brasília Como o principal evento de comemoração do aniversário da capital brasileira e para ressaltar a integração com outros países o evento trás o prêmio nobel nigeriano Wole Soyinka, : a poeta Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), o engenheiro e romancista Abdulai Sila (Guiné Bissau),Paulina Chiziane (Moçambique), Kangni Alem
(República do Togo), Germano Almeida (Cabo Verde) e Ondjaki (Angola). E em Jornada organizada pelo escritor Eric Nepomuceno: Sergio Ramírez (Nicarágua), Mario Bellatin (México), Hector Abad Faciolince (Colômbia), Antonio Skármeta (Chile) e Mempo Giardinelli, Samanta Schweblin e Jual Gelman (Argentina). E em resultado a esta integração foram homenageados Wole Soyinka e Ziraldo além de grande programação cultural com shows e encontros, seminários, exposições, teatro e contação de história, foram lançados 200 livros, 20 filmes foram exibidos, 10 seminários em várias áreas do conhecimento, duas homenagens a escritores, 20 contações de
histórias, 20 apresentações teatrais, 17 shows musicais além de palestras e recitais tudo isso em 200 estandes, para seus 500 mil visitantes entre crianças, jovens e adultos. A Bienal ainda conta com o site que aparenta ser muito interessante , trás músicas da livroterapia e o “Livrômetro”, uma espécie de relógio da leitura no Brasil retirado do Blog do Galeno (http://www. blogdogaleno.com.br/) Referência http://www.bienalbrasildolivro. com.br/
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Fonte: http://ricandrevasconcelos.blogspot.com.br
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VIOLENCE AND CONVICTED BODY CON CURRENT PRISON SYSTEM
RESUMO
ABSTRACT
O sistema carcerário tem passado por diversas críticas desde que a percebemos sua falha no que lhe é inicialmente proposto. As prisões da maneira como se apresentam na contemporaneidade não conseguem fazer justiça ou reformar um indivíduo como o Estado presume. A violência inerente ao instinto hostil do ser humano não permite ao corpo do condenado uma reavaliação de seus atos e sim uma perda constante deste corpo para a própria instituição, fazendo assim com que este corpo reproduza tal violência internalizada física e afetivamente mesmo dentro do corpo social, ou seja, fora da prisão. Refletir e por em prática uma nova maneira de se lidar com a punição é de extrema importância para o desencadeamento da produção material da realidade da vida cotidiana no que se diz respeito a uma vontade de quebrar o estigma de que uma vez condenado dificilmente um cidadão outra vez.
The prison system has undergone several critical since their failure to realize that it is initially proposed. The arrests of the way they have in contemporary or fail to do justice reform as an individual state guarantees. The violence inherent in the hostile instinct of the human being does not allow the body of the convict a reassessment of his acts but a steady loss of this body for the institution itself, thereby making this body plays such a physically and emotionally internalized violence even within the social body outside the prison. Reflect and implement a new way of dealing with the punishment is extremely important for triggering the production of the material reality of everyday life as it relates to a desire to break the stigma that once a citizen sentenced hardly again. Keywords: Prisons. Affectivity. Total Institution. Violence. Justice. Citizen.
Palavras-Chave: Prisões. Afetividade. Instituição Total.Violência. Justiça. Cidadão. *Graduando do Quarto Período de Ciências Sociais pela Universidade de Brasília e Cursando Tópicos Especiais em Sociologia 1- Prisões e Afetividade Ministrada por Analía Batista Soría.
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A VIOLÊNCIA DO CORPO DO CONDENADO E O ENGODO DO SISTEMA PRISIONAL ATUAL Eduardo de Castro C. Pereira*- 10/0099114
1 Introdução Ao falarmos de privação de liberdade na que a que ele proporcionara cometendo o crime. Este artigo visa entender a distribuição contemporaneidade encontramos o discurso do da violência do corpo do condenado no mundo estado burocrático de preservação e manutenção da ordem. A justiça punitiva é utilizada como modo de contemporâneo da sua forma de punição atual, a garantir que a sociedade caminhará de forma justa e privação de liberdade, em presídios.A instituição total preservará seus cidadãos. Mas será que é apenas dessa que é garantida pelo estado como meio de efetuar maneira que a punição age no mundo contemporâneo? a justiça punitiva. Esta violência em que os punidos Para responder a este pergunta devemos nos são submetidos de forma física que não pode ser ater a discussão da definição de punição e de justiça, legitimado pela garantia dos direitos fundamentais analisando uma linha temporal que começa na discussão e a violência psíquica atrelada à afetividade na definição psicológica da palavra de anseios, desejos, da criação da sociedade civil e todas instintos e motivações. as suas particularidades ao longo do Se pensarmos bem tempo. 2 Necessidade da Justiça Hobbes (1651) diria que quem são os cidadãos de Punitiva a necessidade da formação de bem? Antes de cometer uma sociedade civil se daria pelo à infração a pessoa não Quando nos perguntamos fato do medo da morte violenta por que punir, a resposta parece em estado de natureza onde era do bem? Depois que vir de um esforço mínimo e quase para ele só existira uma lei a de é punida esta volta a ser? natural de que punimos, pois é “auto-preservação” em indivíduos necessário, para que pessoas ruins atomizados. Esses tomados pelo não interfiram de forma negativa medo da violação da lei da natureza se unem em prol do estabelecimento de um cargo máximo na vida de cidadãos de bem. Se pensarmos bem de poder “Leviatã” para manutenção dessa união quem são os cidadãos de bem? Antes de cometer estabelecendo leis a serem cumpridas para que esta à infração a pessoa não era do bem? Depois que é punida esta volta a ser? A nossa resposta anterior nova sociedade viva em paz. Assim a legislação que garante justiça e não parece tão adequada agora. A questão é embasa punição se daria no âmbito de submeter essa punimos e pronto, pois desde que existe sociedade sociedade a sua forma de governo, ou seja, depois civil direitos são estabelecidos, deveres devem ser que estabelecido os valores a serem mantidos em compridos e todos devem produzir dentro de sociedade, os que violem esses valores são punidos. nossa individualidade de certa maneira para que Em “Vigiar e Punir” de Michel Focault (1975) exalta- este Estado seja mantido. De acordo com Goerge H. Mead (1997), a se a punição em suplícios de tortura em praça pública justiça punitiva tem uma psicologia inerente, dotado muitas vezes para servir de exemplo a sociedade a soberania de seu governante, neste caso a violência de nossos instintos, que preservam a necessidade exposta ao condenado é ás vezes muito maior do quase que “animalesca” da punição aos que
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Fonte: http://sem--hipocrisia.blogspot.com.br
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merecem, construindo assim um corpo social de ação aos seus “inimigos”. Ou seja, quando se viola um bem considerado importante a este corpo social queremos que o criminoso sofra o que fez o outro sofrer. De fato a punição vem com a nossa forma hostil de dizer que aquele ato não é bem vindo, mas sabemos que não é tão simples. Na Idade Média, por exemplo, pessoas eram torturadas em praça pública quando punidas, os instintos referidos anteriormente eram correspondidos aos anseios populares ou até aos anseios do governante demonstrando seu poder contra o inimigo, mas temos hoje um sistema carcerário de privação de liberdade, que é regido por lei e que reafirma o justo e o injusto tratandose das conjunções sociais aos quais estão inseridos. As instituições totais de cárcere na contemporaneidade deveriam suprir a nossa necessidade de fazer justiça aos inimigos, só pelo fato de excluí-los de nosso convívio social, mas sabemos que não se sucede dessa maneira, justamente por nosso instinto de hostilidade, que nos faz querer que aquele que violou nossos valores sofra o tanto ou mais do que fizeram sofrer. Permitindo um excesso de violência ao corpo do condenado que não se resume ao físico, mas transcende ao psíquico e suas particularidades, violência essa que por direito fundamental não pode ser legitimada.
3 Realidade da Punição Atual nas Instituições Totais Para entendermos como a realidade prática das instituições totais presidiárias não funciona como deveria em sua teoria, devemos nos ater a definição destas. Segundo Goffman (1974, p.11),“uma instituição total pode ser definida como um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada.” Excluindo todos os presentes do mundo exterior e moldando um comportamento específico em sua área restrita, onde papéis são desempenhados para sua manutenção. No caso dos presídios temos os condenados e os carcereiros, que devem representar suas funções atreladas à instituição, cumprindo suas atividades visando atender aos objetivos da instituição. O objetivo das prisões é reeducar este criminoso para que depois que cumprida sua pena justa este possa voltar ao convívio social como um cidadão normal, sabemos que não é assim que funciona. Na realidade estas casas de retenção estão impregnadas de violência e de transformação dos internos, e do lado de fora existe uma sociedade que cria um estigma a este presidiário que nunca
variedades conseguirá depois de cumprida sua pena, ser um cidadão livre de julgamentos e visto de forma comum. O detento vive uma realidade de submissão e perda do seu corpo a um sistema rígido com regras específicas, que na maioria das vezes acabam impossibilitando a chamada reabilitação. Psicologicamente internalizam sua condição de viver às margens e retém tanta violência que não percebem a situação vivida como justa, ao contrário da maioria do corpo social. Então o estigma criado ao ex-presidiário atrelado a uma violência ao corpo desse condenado dificulta ao sentimento de “dívida paga”, pois também exerce seu instinto hostil que agora pode estar muito mais revoltado com o sistema social vivido, não se sente culpado em retribuir a violência sofrida, mas sofreu essa violência por causar uma anterior e assim por diante, ou seja, acaba-se entrando em um ciclo vicioso de dar e receber instintivamente o sofrimento causado de ambas as partes. Mas se a punição não está funcionando como deveria o que devemos fazer?A análise é muito complexa e não existe resposta certa até que possamos entender o que esperemos e o que realmente queremos as estas pessoas e a nossa produção social. 4 Conclusão De acordo com o artigo quinto da declaração dos direitos humanos ninguém será submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. De acordo com a distribuição atual das instituições prisionais sabemos que este artigo é totalmente ignorado. Tendo posto desde o início deste que a violência no sistema carcerário é algo inerente às instituições que se encarregam da privação de liberdade vimos às repercussões que tais atos podem representar no comportamento de quem é submetido à punição. Vivemos um momento de reforma do código penal brasileiro, que no ano de 2012 embasou amplas discussões no âmbito político-institucional e também na reprodução de senso comum do corpo ninguém será submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Declaração dos direitos humanos.
social. Mas se pararmos para entender esta reforma, fica claro que só relata o aumento ou redução de pena para certos crimes, ainda não foi proposto uma reforma do sistema prisional em si. Ora se está mais do que claro no que diz respeito à produção intelectual-científica, que o sistema penal não funciona como deveria e que as prisões da maneira como são inseridas na atualidade só reproduzem o status quo, está mais do que na hora de pensarmos novas direções a serem tomadas neste sistema. A fiscalização do Estado para que os direitos fundamentais fossem garantidos seria de extrema importância para que o corpo do condenado fosse garantido com base nas leis de qualquer cidadão, pois este não pode deixar de sê-lo. Entendendo cidadão como membro de um corpo social que produz materialmente, gozando de direitos e deveres. No Brasil se repudia, perante a lei, a idéia de pena de morte, mas o que fazemos se não matar socialmente aquele que sofre o estigma de ser punido, se deixamos que aquele não seja mais um cidadão mesmo fora da instituição total, se afetivamente o condenado não se sente parte da sociedade a qual está inserido. A análise punitiva é muito complexa e necessita de um estudo mais aprofundado com o olhar mais apurado, para que haja também repercussão na prática da aplicação punitiva e que não fique apenas na teoria assim como o sistema penal atual que diz prezar por uma ressocialização (sic) que nunca existiu e nunca existirá entendendo o modo como é dada à punição na contemporaneidade. Referências Bibliográficas FOUCAULT, Michel.Vigiar e Punir. Petrópolis:Vozes, 1977. (cap. 1: O corpo do condenado). GOFFMAN, Erving, “Sobre las características de las instituiciones totales: Introducción”, em Internados, Buenos Aires, Amorrortu Ed., 1984. HOBBES, Thomas. LEVIATÃ. Ícone Editora Ltda. – Coleção Fundamentos do Direito, Copyright 2003. 2ª. Ed. MEAD, George, H. La psicologia de la justicia punitiva. (American Journal of Sociology, Vol. XXII, March 1918, number5. Publicado em Delito y Sociedad. Revista de Ciências Sociales, n.9/10, 1997).
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O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INDÍGENA Monise Glauce da Silva Brasileiro
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RESUMO
ABSTRACT
O presente estudo teve como finalidade analisar o processo de escolarização da Educação Indígena, entendida como um processo de transformação social e buscou compreender suas características. Entende-se que a educação indígena vai além da sala de aula no momento da aprendizagem, envolve situações culturais e identitárias. De abordagem qualitativa, a pesquisa partiu da concepção etnográfica e teve como instrumentos de coleta de dados o questionário de perguntas abertas e a entrevista semi-estruturada (criança indígena). Os sujeitos da pesquisa foram 1(um) especialista, 02 (dois) indígenas e 01 (uma) criança indígena interpelada na FUNAI. Este estudo teve como fundamentação teórica o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (BRASÍLIA, 1998), Silva e Grupioni (1995), Laplantine (2007), Maffesoli (2002) e Sousa (2009). A pesquisa foi importante, pois foi possível conhecer como o processo de escolarização indígena é estruturado e constituído e como as características culturais dependem desse processo diferenciado, mesmo com a verificação de obstáculos e problemas em relação à formação dos docentes, material didático e adequação maior às necessidades desses povos.
This study aims to analyse the schooling process of Indian Education, which is understood as a process of social changing. It will also try to understand its features. We understand that indian education goes beyond the classroom on learning process. It involves culture and identity situations. This study, which is a qualitative approach, starts from ethnographic conception. A questionnaire of opened questions and a semi-structured (indian child) interview will be the tools. The subjects of this work are: 1 (one) specialist, 2 (two) Indians and 1 (one) indian child challenged at FUNAI, both sexes. Its theorical reference is “National Curricular Reference to Indian Schools (BRASILIA, 1998)”. The search was incredibly important because it was possible to know how the indian schooling process is structured and composed and also how the cultural features depends on this differentiate process, even with problems related to teachers education, didactic material and better adaptation to these people needs. Keywords: Indian Education; Indian, Schooling Process.
Palavras-Chave: Educação Indígena; Escolas indígenas; Processo de escolarização. Monise Glauce da Silva Brasileiro, graduada em Pedagogia pela Faculdade Anhanguera de Brasília (1º/2011). Profª. M. Sc. Joeanne Neves Fraz, graduada em História pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. Franca, SP (1996). Mestre em Educação pela Faculdade de Educação, Universidade de Brasília - UnB (1º/2004).Atualmente, professora das disciplinas Trabalho de Conclusão de Curso I e II no curso de Pedagogia da Faculdade Anhanguera de Brasília (FJK/DF).
Fonte: http://pib.socioambiental.org
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1 INTRODUÇÃO Os indígenas brasileiros foram apresentados aos europeus por meio da carta de Pero Vaz de Caminha. Baseados nas informações trazidas pela referida carta, os europeus acreditavam que esses povos eram seres inferiores, e que deveriam ser civilizados e emancipados. Desde então, principiou-se a perda da identidade e da cultura indígena, uma vez que uma nova civilização lhes era imposta. Viviam eles da caça, da pesca e da agricultura familiar e, no entanto, diante dessa nova situação e da invasão estrangeira, viram aniquilados os seus recursos naturais, base de sobrevivência. Em face disso, os povos indígenas, com fins de garantir a sobrevivência, buscaram novas formas de enfrentamento e luta. Dessa maneira puderam manter um padrão de vida que lhes permitiu existirem até os dias de hoje. Objetivando resguardar o direito e a cultura da nação indígena brasileira, criou-se em dezembro de 1967 a FUNAI - Fundação Nacional do Índio - pela Lei n. 5.371, órgão que substituiu o antigo SPI – Serviço de Proteção ao Índio. A FUNAI tem por objetivos resguardar a cultura dos nativos brasileiros, prepará-los para ingressar na sociedade, aclimá-los e, ainda, definir os limites territoriais que a eles são de direito. Em conjunto com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), a Funai promove também a educação básica a essa
nação, cuja população hodiernamente gira em torno de 500 mil nativos, distribuídos em 554 reservas. Reconhecidos como cidadãos, aos povos indígenas foram garantidos os direitos e a identidade, assegurados pela Constituição Federal (Art. 231) que reconhece “[...] sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. (BRASIL, 1988, p. 130). Resguardados os seus direitos, outra conquista importante foi a mantença da educação de acordo com a cultura e as características indígenas, seu modo de vida e organização social tribal. Para tanto, o MEC criou projetos e programas que deram autonomia a esses povos no sentido de decidir sobre a formação educacional de suas tribos (BRASIL, 1998a). Tais projetos foram baseados em ações que buscavam tornar os próprios índios professores em suas comunidades. Programas diferenciados permitiram aos indígenas o reencontro de seus princípios, cultura, valorização da natureza e socialização entre os membros da tribo e,além disso,a formação cultural das crianças de acordo com os seus costumes. Foi então necessária a produção de matérias bilíngues e a adequação de currículos e calendários escolares compatíveis com a realidade de cada povo indígena,
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uma vez que a educação indígena vai além da sala de aula no momento da aprendizagem. Segundo o professor indígena Gersen Santos, “todo projeto escolar só será indígena se for pensado, planejado, construído e mantido pela vontade livre e consciente da comunidade.” (BRASIL, 2001, p. 25), cabendo ao Estado dar apoio, incentivo e reconhecimento ao projeto comunitário. Deste modo, portanto, as comunidades foram se adaptando e fazendo com que a língua materna fosse novamente apresentada às crianças, de acordo com suas características e costumes, de modo a que aos índios não se perdesse seus conceitos e nem sentissem eles excluídos da sociedade como um todo. Nesta perspectiva, a Educação Indígena brasileira fundamenta-se no respeito e no conhecimento da história dos diferentes povos, seguindo o que é disposto pela Lei nº 11.645/08, que possibilitou processos de reconhecimento, resgate e valorização dos saberes e das práticas tradicionais dos povos africanos, afro-brasileiro e indígenas. A articulação de toda a sociedade neste processo torna-se imprescindível, pois ainda são necessárias mudanças na Educação Indígena para que esta, de fato, corresponda às carências daquelas comunidades, pois, a partir do comprometimento mútuo os preconceitos que cercam o tema poderão ser quebrados, buscando-se alternativas que façam com que esses povos se sintam valorizados no Brasil e em sua história. 2 OBJETIVOS O objetivo geral presente estudo é analisar o processo de escolarização da Educação Indígena, entendida como um processo de transformação social, buscando compreender suas características. Sendo assim, quanto aos objetivos específicos, buscou-se conhecer a qualidade da Educação Indígena; identificar as características interculturais, que são apresentados nas Escolas Indígenas; conhecer as práticas pedagógicas (trabalho escolar/ estratégias, didáticas) da escolarização indígena; verificar as mudanças no processo de escolarização da educação indígena ao longo dos anos; identificar as dificuldades existentes para o processo de ensino da aprendizagem da escolarização indígena. 3 METODOLOGIA
os significados que os outros dão às suas práticas (ações e comportamentos). Apresenta-se também como estudo etnográfico, pois compreende o estudo da educação indígena, visando enfatizar o significado do processo de escolarização no contexto social e cultural desses povos. Por isso, foi necessário que a pesquisadora se colocasse “[...] diante de diferentes formas de interpretações da vida, formas de compreensão do senso comum, significados variados atribuídos pelos participantes às suas experiências e vivências [...]” (ANDRÉ, 2002, p. 20). Os sujeitos da pesquisa foram: uma criança indígena de uma tribo de Pernambuco, interpelada na Fundação Nacional do Índio - FUNAI (DF), pois neste local há um fluxo de crianças em fase de escolarização. Importante destacar que a criança indígena obteve permissão de seus responsáveis para fazer parte dessa investigação científica (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) e o local onde houve a entrevista não foi utilizado como locus de pesquisa, apenas lugar de fácil acesso aos sujeitos envolvidos. Responderam aos questionários propostos, um Cacique Indígena de uma tribo do Mato Grosso (S.X), o indígena J.M de Pernambuco e uma especialista em escolarização indígena da FUNAI, N.J. Os instrumentos de coleta de dados adotados foram: questionários de perguntas abertas com especialistas/indígenas e entrevista semi-estruturadas, visto que tal procedimento foi a melhor maneira de se chegar à criança indígena, e baseia-se no diálogo, o que deu mais segurança e liberdade ao aluno para responder os questionamentos propostos. Os dois instrumentos de pesquisa tiveram os mesmos questionamentos, porém com a devida adequação aos sujeitos (alunos e especialistas/ indígenas de comunidades de todo território nacional). Assim, questionário e entrevista tiveram perguntas relacionadas ao Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEI), sobre as diretrizes nacionais para o funcionamento dessas escolas, os elementos básicos que norteiam a organização, a estrutura e o funcionamento da escola indígena, considerações sobre o currículo proposto, os princípios e características da educação indígena. Aos professores, especificamente, foi levantada a problemática da educação superior a eles proposta, a organização do trabalho escolar e aos alunos. 4 REFERENCIAL TEÓRICO
A pesquisa apoiou-se no cunho qualitativo, Os professores indígenas insistentemente analisando questões e problemas da escolarização indígena em seu aspecto totalizador, considerando enfocam a necessidade de contarem com escolas e currículos mais próximos de suas realidades e
variedades mais condizentes com as novas demandas de seus povos. Tal reivindicação tornou-se fundamental à elaboração de políticas públicas propriamente direcionadas ao povo indígena. Foi então que em 1998 se criou um Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígena – RCNEI (BRASILIA, 1998b), onde se encontram disponíveis todas as noções curriculares, voltadas a sua realidade, respeitando sua cultura. Este referencial pretende servir como instrumento auxiliar nesta discussão e reflexão. Assim, “Este documento foi escrito na expectativa de que possa contribuir para diminuir a distância entre o discurso legal e as ações efetivamente postas em prática nas salas de aula das escolas indígenas” (BRASILIA, 1998b, p. 11). Os povos indígenas buscavam conquistar a autonomia, fundamental para o desenvolvimento intelectual, cultural e social de suas etnias, há uma diversidade cultural entre as comunidades indígenas, pois cada uma delas adota seus meios próprios, tanto na comunicação, quanto socialmente. Segundo RCNEI (BRASILIA, 1998b), “[...] cada povo indígena que vive hoje no Brasil é dono de universos culturais próprios. Sua variedade e sua originalidade são um patrimônio importante não apenas para eles próprios e para o Brasil, mas de fato, para toda a sociedade” (p. 22). Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394 de 1996), no artigo 79 das Disposições Gerais. A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino provimento da educação intercultural ás comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa. § 1º os programas serão planejados com audiência das comunidades indígenas. § 2º os programas a que se refere este artigo, incluídos no Plano Nacional de Educação, terão os seguintes objetivos: - fortalecer as práticas sócio-culturais e a língua materna de cada comunidade indígena; - manter programas de formação de pessoal especializado, destinado a educação escolar nas comunidades indígenas; - desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes ás respectivas comunidades; - elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e diferenciado. (BRANDÃO, 2005, p.160) A partir da LDB, a União teria como obrigação e dever, apoiar e manter a educação indígena, como mantém a não indígena, com o diferencial de que a educação indígena deveria ter relevado seu aspecto
intercultural, pois enfatiza a necessidade de se estabelecer um diálogo entre as várias manifestações culturais dos diversos povos e por assegurar a seus alunos acesso aos saberes universais, produzidos historicamente pela humanidade articulando-os aos saberes locais/tribais. As comunidades indígenas pensam e se organizam de maneira diferenciada seu processo de escolarização, respeitando e obedecendo a sua cultura. Com a promulgação da LDB (1996), todos os aspectos foram pensados, da formação do educador ao material didático. No bojo da LDB, tem-se a Resolução CEB n.º 3, de 10 de novembro de 1999, do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 1999, p. 19), que fixa diretrizes nacionais para o funcionamento das escolas indígenas e define os elementos básicos para a estrutura e o funcionamento da escola indígena: I. Sua localização em terras habitadas por comunidades indígenas, ainda que se estendam por territórios de diversos Estados ou Municípios contíguos; II.Exclusividade de atendimento a comunidades indígenas; III. O ensino ministrado nas línguas maternas das comunidades atendidas, como uma das formas de preservação da realidade sociolingüística de cada povo; IV. A organização escolar própria. (Art. 2º). Quanto à gestão e organização, é o Art. 3º que versa sobre suas definições. Desta forma, este determina que: Na organização de escola indígena deverá ser considerada a participação da comunidade, na definição do modelo de organização e gestão, bem como: I. suas estruturas sociais; II. suas práticas socioculturais e religiosas; III. suas formas de produção de conhecimento, processos próprios e métodos de ensino-aprendizagem; IV. suas atividades econômicas; V. a necessidade de edificação de escolas que atendam aos interesses das comunidades indígenas; VI. o uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena. (BRASIL, 1999, p. 19) A Resolução supracitada é completada com o Plano de Desenvolvimento Educacional de 2001, para assegurar o processo de escolarização indígena, dividindo-a em três partes, com o objetivo de assegurar as características indígenas no momento de transmissão de seus conhecimentos e modos de vida.
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Para que todos os alunos se sintam iguais e se Assim, o Plano Nacional de Educação (2001), Lei conheçam melhor, é necessário que o professor nº 10.172, tem a proposta de respeitar a utilização da língua materna e suas peculiaridades, também utilize como base de seu trabalho escolar a herança atribui a União a proteção e resguardo da educação cultural, afim de que os alunos consigam identificar indígena, com a intenção de aumentar a oferta todas as formas de culturas existentes, sabendo de ensino, catalogando as escolas indígenas para o compreender, conhecer e respeitar todas elas. Para reconhecimento e garantias da União. Segundo PNE: Laplantine (2007, p. 120), “A cultura por sua vez não [...] a proposta de uma escola indígena diferen- é nada mais que o próprio social, mas considerado ciada, de qualidade, representa grande novida- dessa vez sob o ângulo dos caracteres individuais dos de no sistema educacional do País e exige das membros desse grupo, bem como suas produções instituições e órgãos responsáveis definição de originais (artesanais, artísticas, religiosas...)”. Os indígenas ainda sofrem muito devido a falta novas dinâmicas, concepções e mecanismos, de conhecimento, por parte dos não indígenas, tanto para que estas escolas sejam de fato incorporadas e beneficiadas por sua inclusão no em relação a sua cultura. Esta, ainda que milenar, sistema oficial, quanto para que sejam respei- continua restrita ao conhecimento dos interessados tadas em suas particularidades. (BRASIL, 2001, no assunto, inclusive dos próprios indígenas. Por isso, p. 133)Portanto, o processo de escolarização a necessidade de se levar esses conhecimentos para indígena vem promovendo o ensino dentro da dentro das escolas brasileiras e dada a importância sua comunidade de forma autônoma e buscan- de preservar toda essa história, promulgou-se a do qualidade, respeitando os valores culturais. Lei nº 11.645 de 2008, que busca a Educação das Atualmente existem aproximadamente 1.591 Relações Étnico-Raciais em um país a cuja formação escolas indígenas e 76.293 alunos matricula- e a identidade de seu povo são marcadas pela dos no ensino de 1º ao 5º anos, e não mais plurietnicidade. Esta lei altera o artigo da Lei de algumas dezenas de escolas dos anos finais do Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) e estabelece a obrigatoriedade da inclusão Ensino Fundamental (6º ao 9º anos). A própria escola indígena tem autonomia da História e Cultura Indígena e Afro-brasileira no para preparar e elaborar seu currículo, levando em currículo do ensino fundamental e médio público e consideração todos os pontos que julgue relevantes, privado (BRASIL, 2008). Entretanto, cabe pontuar que “Para que a para o melhor aproveitamento das vivências e da educação escolar indígena seja realmente específica rotina de sua tribo. Esta educação tem como características: ser e diferenciada, é necessário que os profissionais que comunitária, específica, diferenciada, intercultural atuam nas escolas pertençam às sociedades envolvidas no processo escolar” (BRASIL, e multilíngue (SILVA; GRUPIONI, 1998b, p. 42), e o RCNEI reconhece 1995). Deverá propiciar aos os povos indígenas, a ausência de especialistas com povos indígenas acesso aos com fins de garantir a experiência na formação de conhecimentos universais a partir sobrevivência, buscaram professores para o campo da da valorização de suas línguas novas formas de educação escolar indígena. maternas e saberes tradicionais, enfrentamento e luta. Segundo o RCNEI (1998b, p. 42), contribuindo para a reafirmação Dessa maneira puderam os cursos oferecidos pelos estados de suas identidades e sentimentos manter um padrão de vida e municípios não se baseiam em de pertencimento étnico, por que lhes permitiu existirem diagnósticos educacionais feitos isso específica e diferenciada, até os dias de hoje. em diálogo com as comunidades pois possibilita o exercício da e com seus professores, também cidadania indígena. Neste sentido, não oferecem uma abordagem cabe ressaltar: consistente para a questão da [...] esforço de projetar uma nova educação interculturalidade e da diversidade linguística. O escolar indígena só será realmente concretizado com a participação direta dos que resulta no não planejamento e não produção de principais interessados — os povos indígenas, materiais didáticos específicos para uma educação através de suas comunidades educativas. Essa escolar indígena de qualidade. Para o professor participação efetiva, em todos os momentos Enilton, Wapixana (Roraima), “[...] é importante do processo, não deve ser um detalhe técnico que o MEC e os demais sistemas de educação do ou formal mas, sim, a garantia de sua realização país invistam na formação de professores indígenas, dando ênfase ao Magistério Indígena Parcelado e (BRASIL, 1998b, p. 24).
variedades à Universidade Parcelada, no período de recesso escolar. (BRASIL, 2001, p.42) Entende-se que, devido às peculiaridades e à carência dos professores indígenas, o governo deveria empenhar-se mais na formação de educadores indígenas, e proporcionar àqueles que têm interesse em lecionar em escolas indígenas as condições básicas para tanto, fazendo com que seja facilitado o processo de aprendizagem ao corpo docente. Neste contexto, para o desenvolvimento do trabalho pedagógico nas escolas indígenas, os professores têm que, diariamente, fazer escolhas e tomar decisões que exigem ações de planejamento, registro e avaliação. Segundo RCNEI, as comunidades indígenas não só tem o interesse em conhecer e como praticar sua cultura. Assim, “[...] os objetivos vão levar em conta não só a diversidade cultural, base da noção de interculturalidade assumida nos fundamentos gerais, mas também a diversidade individual dentro de uma mesma escola, mesmo que sejam todos, professor e alunos, membros de uma mesma comunidade educativa” (BRASIL, 1998b, p. 60) Em termos de orientações didáticas, o professor deve basear seu trabalho didático nas características de sua comunidade educativa de origem. Por isso, os conteúdos devem contribuir na busca de respostas e soluções para os problemas que ela enfrenta “[...] colocando a escrita a serviço de uma nova expressão, buscando inspiração no patrimônio intelectual de seu povo, adicionando novos saberes aos conhecimentos ancestrais” (BRASIL, 1998b, p.43). o que leva a necessidade de se colocar no currículo das escolas indígenas atividades sobre a cultura e os costumes desses povos. Ao professor indígena, inserir o idioma da sua comunidade no currículo, é estritamente importante, com fins de se evitar a perda de suas características durante a escolarização. As crianças devem sentir-se motivadas em aprender a língua materna, valorizando sua origem e herança cultural. Mesmo assim, o RCNEI (BRASIL, 1998b) explica que, “[...] há comunidades indígenas que reivindicam a inclusão de uma língua estrangeira em suas escolas, de modo a possibilitar a entrada dos alunos nas universidades brasileiras (p. 124). Assim, os indígenas não somente se interessam em aprender a sua língua e a Língua Portuguesa, pois facilita sua inclusão na sociedade não indígena e acesso às universidades. Nesta perspectiva, o trabalho escolar procura: [...] ajudar na apropriação, re-interpretação e criação de práticas pedagógicas próprias às escolas em geral, assim como apoiar a decisão de incorporação, na escola, de práticas de uma ou muitas pedagogias indígenas, conforme a
situação e as orientações de cada comunidade. (BRASIL, 1998b, p. 80). Tomar como base o fortalecimento da prática do dia-a-dia do professor em sala de aula é ponto também importante no processo de escolarização indígena. Deste modo, todas as práticas pedagógicas e os conteúdos trabalhados são vivenciados pelos alunos de forma concreta, pois eles aprendem com tudo que está a sua volta, tornando assim a aula mais prazerosa e condizente com sua cultura. 5 ANÁLISE DE DADOS 5.1 QUESTIONÁRIOS (INDÍGENAS E ESPECIALISTA) O primeiro questionamento direcionado a especialista e aos indígenas abordava suas formações escolares. A especialista N.J tem magistério/ administração, pós-graduação em educação escolar indígena e línguas brasileiras, o Cacique S.X e o indígena, ensino médio completo. A educação indígena passa por constantes e importantes mudanças, para se apresentar como uma educação de qualidade e respeitada em seu universo, espera-se uma formação melhor desses povos, incluindo especialistas com boa qualificação acadêmica. Por isso, foi fundamental questionar, como eles avaliam a situação da escolarização indígena hoje. Para S.X “Regular, precisa melhorar mais ainda, criar uma universidade indígena em todo Estado Brasileiro, além que já existe, o turno de pedagogia nos professores indígena, deve ser criada outros cursos, capacitá-los e qualificação p/ministrar nas escolas municipais e estaduais aos alunos não indígenas” (sic). J.M ressaltou que valoriza “porque é mais avançado e tem aula diversas tem o português e tem o nosso indioma yacithê” (sic). Segundo N.J: “na legislação está contemplada a especificidade, a cultura e seus costumes etc, mas na implementação ainda falta o estado brasileiro assumir de fato a escolarização nas aldeias com qualidade” (sic). Apesar de estar avançando em termos de legislação e conhecimento, o processo de escolarização indígena ainda merece alguns ajustes no que se refere a possibilidades maiores de qualificação deste profissional. Assim, a LDB (1988) pontua o desenvolvimento de currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às especificidades de cada comunidade e a elaboração, bem como a publicação, sistemática de material didático específico e diferenciado (BRANDÃO, 2005). Diante disso, foi perguntado se os indígenas sofrem com a falta de material pedagógico e um corpo docente especializado. E as respostas dos três
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sujeitos envolvidos ressaltaram que falta uma melhor distribuição por parte dos órgãos responsáveis (Governo e FUNAI). As comunidades indígenas (no caso, as dos dois indígenas aqui questionados) ainda alegam que falta interesse por parte das políticas públicas na formação dos docentes. Uma vez que se falou sobre situações mais abrangentes, a quarta questão incidiu sobre o conhecimento da legislação indigenista, e se esta atende às necessidades dos docentes e discentes. O cacique S.X respondeu: “sim, a legislação indigenista não está atualizada ela precisa ser discutida pela organização indígena e liderança, como tendo que não atende, como se deveria ter no currículo na formação bilíngüe” (sic). J.M: “eu não conheço. Eles atende, mas não por completo” (sic) e N.J respondeu que ”sim, a legislação como principio atende, mas a aplicação e a falta de um sistema específico de educação escolar indígena é o que empata” (sic). Verifica-se que a um conhecimento por parte do Cacique e da Especialista, porém mesmo não conhecendo a legislação da escolarização indígena, o indígena J.M. a vivencia, por isso sentir que ela não atende de fato às necessidades de professores e alunos. O que é confirmado pelo/no RCNEI (1998b, p.28), quando informa que todos os documentos finais dos encontros de professores indígenas citam os princípios impostos a seu processo de escolarização, estes “[...] criticando, de uma forma ou de outra, o modelo de escola até então existente”. Perguntou-se ainda aos dois indígenas em qual processo acadêmico a educação indígena se encontra, respectivamente responderam: Cacique S.X, “se encontra em péssimo estado (carência), deveria ser exigida a cota” (sic) e J.M,“eu acho que o ensino é básico, mas ele atende sim” (sic). Pelos relatos, percebe-se que a questão organizacional ainda tem deficiências, pois os indígenas se sentem desamparados com a falta de planejamento e organização. Já em termos de conteúdos, o RCNEI (BRASIL, 1998b) ressalta que os conhecimentos das áreas de estudo devem ser relacionados aos conhecimentos desenvolvidos e acumulados por muitas gerações no cotidiano dos povos indígenas. Quando questionado, o Cacique S.X respondeu que é essa articulação que por vezes confunde os envolvidos no processo. Porém, os conteúdos são reconhecidos como bons e que asseguram a cultura deles (LAPLANTINE, 2007).
escolarização, o aceitar o indígena como sujeito de pesquisa. Assim, ela se viu valorizada e inquieta para responder perguntas que seriam gravadas. Perguntou-se a ela quais os idiomas que são ministrados na sua escola. A CI respondeu: “o nosso idioma, o yacithê e o português” (sic). A formalização de um idioma é muito significante para os indígenas, as escolas devem respeitar o idioma de cada tribo, porque esse sim é a forma de preservação de sua cultura. O que vai ao encontro do que é ressaltado por Laplantine (2007) e pelo próprio RCNEI (1998b), quando mencionam que se assegura uma forma de se perpetuar social e culturalmente ao longo do tempo. A escola não é o único ambiente que permite uma aprendizagem, por outros meios e outras formas adquire-se conhecimento, o cotidiano, aquilo que é passado de geração em geração, a escola é apenas um ambiente mediador (BRASIL, 1998b). Por isso, foi perguntado ao aluno indígena o que é de fato importante aprender em uma escola indígena e se ela supre todas as necessidades deles. Para ele, “a escola atende sim, nós aprende português para o cabra vim aqui trabaiá” (sic). A própria opinião do aluno vai ao encontro da necessidade de uma contextualização do aprendizado indígena, uma adequação de conhecimento ás características culturais indígenas.E,mais especificamente, aos costumes de cada tribo (RCNEI, 1998b). CONSIDERAÇÕES FINAIS
Relevante a importância da pesquisa, pois permitiu saber como o processo de escolarização indígena é estruturado e constituído. Como as características culturais dependem desse processo diferenciado, mesmo com a verificação de obstáculos e problemas em relação à formação dos docentes, material didático e adequação maior às necessidades desses povos. Ressalta-se também que as políticas públicas deverão ser mais alinhadas ao que esse processo de escolarização precisa, que melhorem as condições educacionais das escolas indígenas, com fins de garantir uma vaga uma sociedade, ainda que esta esteja recheada de preconceitos em relação ao povo indígena, salientando também o direito de as crianças adquirir um conhecimento de qualidade, que respeite sua cultura e a sua diversidade. Constata-se que no processo de escolarização 5.2 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS JUNTO indígena as características interculturais e as práticas AO ALUNO INDÍGENA pedagógicas devem estar articuladas, por isso que Percebeu-se, pela agitação da criança indígena, mudanças ainda precisam ser feitas nas escolas e o nervosismo desta em responder ao interesses no próprio processo de ensino e aprendizagem da dos brancos em conhecerem seu processo de Educação Indígena.
variedades
Fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br
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PRISÕES E AFETIVIDADES: Fonte: http://bases-rap.musicasgratis.org/
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CONCEITOS DESCRITOS NAS LETRAS DE RAP1
Vesna Simões2
RESUMO
ABSTRACT
A instituição total prisão é amplamente pensada na contemporaneidade, tanto nos campos das políticas públicas, quanto na sociologia e também no direito. Isso se deve ao fato de que esta instituição, mesmo sendo problematizada por várias vertentes, em relação a pena aplicada, assim como as formas de punição em geral, ainda deixa dúvidas quanto à sua efetividade nos mais diversos casos. O que se observa é a hostilidade dada na relação entre presidiários, carcereiros e policiais.
The total prison institution is nowadays widely thought, both in the fields of Public Policy, as also in Sociology and Law. This is due to the fact that this institution, despite being questioned several aspects in relation to punishment, as well as forms of punishment in general, still leaves doubts as to its effectiveness in several cases.What is observed is given the hostility in the relationship between inmates, guards and police.
Palavras Chave: Hostilidade. Afetividades. Ressocialização
Keywords: Hostility. Resocialization
Prisons.
Affectivity.
Prisões.
1 Artigo recebido e aprovado com mensão SS em setembro de 2012 pela professora Analía Soria Batista do departamento de Sociologia. 2 Graduanda do 6º semestre do curso de Ciências Sociais, cursando a disciplina “Prisões e afetividades”, lecionada pela Professora Doutora Analía Soria Batista.
variedades A existência de prisões deve-se muito à necessidade de que exista certa repulsa a criminalidade, tal comportamento está pautado no sentido de solidariedade de grupo e sentimento de cidadania, que exclui os transgressores para inibir os atos criminais, desencadeando o respeito às leis como uma organização social de defesa contra os inimigos do grupo. A sociedade civil, de certa forma ainda acredita que a prisão é um meio de equilibrála, mantê-la segura e em ordem. O ato de punir, ou de castigar está ligado a alguns fatores, dentre eles o poder para exercê-lo, que deve ser construído, apropriado e aceito como legítimo, logo é um poder de tipo institucional, uma violência de direito que se diferencia das demais porque é legítima, apoiada na lei. Essas leis são criadas e definidas não pela sociedade de forma geral, mas sim por grupos dominantes com diferenças sociais e econômicas, fazendo com que a lei não seja um artifício “neutro”, pelo contrário demonstra sempre que a noção de vingança ainda não foi apagada do código penal, segundo Pegoraro(1997) não há uma lógica simples onde para cada crime determinada pena, e sim uma lógica de desigualdade com os que estão abaixo dentro da hierarquia, uma relação de forças que representa e reproduz interesses de determinados estamentos. Um dos esforços por parte do direito penal moderno é apagar o sentido de vingança presente nas penas de correção, característica essa dos Estados Democráticos de Direito, que acreditam na ressocialização da pessoa humana, no entanto ainda há resquícios de vingança demonstrados claramente na relação entre anos de pena a serem cumpridos e o crime cometido, observa-se que os anos aumentam em relação à crueldade do crime.A vingança também está presente no sentimento das pessoas, quando as mesmas agridem um condenado na entrada ou saída de determinado juizado, quando se incomodam com as regalias dos presos dentro da prisão, pois acham que eles devem sofrer muito, para pagar com o sofrimento e não somente com a reclusão.
o que transgrediu a lei e deve pagar por isso. Essas relações são dotadas de afetividades, pois nas prisões encontram-se corpos a minguar, devido às condições materiais e afetivas em que os presos se encontram, trancados em salas com várias pessoas, com as quais deve conviver e dividir os espaços e objetos, com várias restrições, de forma que o presidiário não pode de forma alguma fazer o que deseja na hora quiser, pois há o artifício da burocratização, uma das principais características das instituições totais, que consiste em uniformizar os indivíduos, causando uma diminuição da própria individualidade de cada um, facilitando o “manuseio” das pessoas. Qual a reação destes corpos diante de tais situações? Talvez esteja aí a origem da hostilidade dentro dos presídios. O presidiário encontra-se restrito ao seu direito de ir vir, tendo que seguir à risca os horários para todas as suas atividades, e toda essa lógica exercida pelos policiais e carcereiros de forma muitas vezes violenta e truculenta, desenvolvendo no detento a vontade sair dali, ou de apenas entrar em confronto por ter sido humilhado, ou por já trazer de “fora” uma má ideia do que seja a polícia, uma relação anteriormente dada pela contrariedade, que faz com que o mesmo já encare a polícia ou os carcereiros como inimigos. O sentimento de vingança também está presente nas práticas repressivas dentro dos presídios, o que consistiria em um local apenas para reclusão e cumprimento de pena, é na realidade um lugar que demonstra a vingança através das mais variadas formas e práticas, muitas vezes a prática menos humanizada acontece devido a quantidade de pessoas, outras apenas por arbitrariedade para causar medo. Uma delas é o “confere”, que é a prática 2 A Prisão e os fatores que determinam as de conferir se não há nada de errado nas celas, após a várias formas de afetividade saída dos presos para alguma atividade, que é um ato muitas vezes violento e performático, onde apenas A prisão se mostra como um campo onde para checar celas, os policiais vão armados, soltam as desigualdades são reproduzidas, a começar pela tiros de bala de borracha e vão com cachorros, para relação entre policial e presidiário e carcereiro e mostrar que o clima lá dentro é pesado, que a pena a presidiário, onde de um lado está o aparelho de ser paga vai além da reclusão, deve ser sofrida, e com repressão legal, dotado de direito à violência, e de outro isso objetiva causar o sentimento de trauma para
Fonte: globotv.globo.com
1 Introdução: Problematização da Instituição total Prisão
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que não queira voltar a cometer crime, para que não tenha que ir para a prisão novamente. Ao pensar sobre as prisões, é de extrema importância que se pense as afetividades dadas lá dentro. As opiniões dos presidiários assim como as dos policiais e carcereiros são importantes para traçar o perfil de tal instituição total, por um lado categorias que estão lá como cidadãos trabalhadores e dignos dotados de poder legítimo para serem violentos, e de outro o que deve apenas pagar por ter cometido crime. Os relatos de ambos são importantes para se pensar o lugar discutido aqui, no entanto como a prisão é um local de poder exercido sobre os presos, torna-se mais interessante pensá-la através deles, pois serão estes os possíveis “ressocializados”, que experimentarão de fato a essência da prisão, a sensação do que é ser preso, pois o carcereiro ou policial está ali e também tem determinada experiência, mas não é a mesma, eles estão a trabalho, voltam para casa quando terminam o trabalho, o presidiário ao contrário deve fazer desse lugar seu novo lar, com várias restrições, como por exemplo ver a família somente com determinação jurídica, ou, mesmo da instituição. Os presidiários demonstram seus afetos em relação à prisão através das mais variadas formas, com poemas escritos lá dentro, ou fora quando o mesmo sai, livros e músicas. No trecho da música a seguir, o autor demonstra as várias formas de afetividades dentro da prisão, assim como a hostilidade: Sinto uma grande vontade de chorar ao ver a minha mãe
mano, na rua no presidio uma pá de mano, 15 anos pra puxa de detenção latrocínio na ficha de um ladrão sinto uma grande vontade de chora ao ver minha mãe aqui vindo me visitar. Mãe como vai lá em casa, como anda os manos da quebrada, diga pros mano que mandei lembranças, da um abraço bem forte nas crianças (2x) Rã veja só como é este lugar eu sinto cheiro de morte no ar, aqui raramente se fala de amor, aqui constantemente é puro sofrimento e dor, desespero ódio vingança aqui não tem criança nem me ligo nas lembranças, um regime cruel interno pra dentro do muro um verdadeiro inferno Treta toda hora no meu pavilhão seguro não, não é lugar de ladrão não, sinto uma grande vontade de chora ao ver minha família aqui vindo me visita, visita, visita, visita...
aqui vindo me visita talvez se eu tivesse pensado um
Meu filho vem correndo e me abraça eu já não contenho
pouco mais, talvez hoje eu não estaria atrás de uma cela
as lagrimas todo dia na cela eu mesmo digo mas para de
num pátio de um presidio numa triste tarde de domingo
pensa é impossível em liberdade fugir deste lugar
é foda mano você não sabe é triste pra sobreviver em
cadeia nunca mais detenção nem pensar lá em cima fica a
paz aqui tem que ser firme veja as fotos penduradas na parede
minha janela a minha bíblia a minha jega eu devia ter
de madrugada quem deve aqui treme, chora, sofre,
pensado na hora agora é tarde parceiro é foda eu lá
pede para não morre na lei da cadeia é matar ou
com revolver na mão dentro da mansão cara a cara com a
morrer, eu agradeço pela visita graças a Deus ainda
vitima e o patrão meu parceiro se aproxima e fala
tenho família, tenho uns conhecidos, tenho uma pá de
senta o dedo sem dó maluco mete bala cata o dinheiro e
variedades as jóias que esta no cofre carro ligado lá fora a gente sai no pinote tudo certo na sequência tudo combinado plano bolado tudo esquematizado cena trágica correria imagina a minha agonia e ai a reação mano eu nem
“(...) Aqui se joga na cadeia, não é pra se regenerar, é pra ver detento se matar se joga crack na favela, e se espera o resultado Abracadabra, chove finado,já assinei um 12, sei como é lá dentro, aqui fora descobri que detendo tem rótulo na testa tatuagem, carimbo pra sempre detento, eu sou o detento que mata o carcereiro com o intuito de fugir(...)”.
pensei sangue frio até a alma eu bum atirei 3 Conclusão: A distorção dos conceitos e veja só propostas na prática. até que ponto que o dinheiro sinto na pele que agora a As prisões têm sido problematizadas na contemporaneidade, no entanto não é possível mão de Deus pesa minha mãe minha família enxerga-la cumprindo uma de suas propostas, a meu filho de ressocializar, mas sim seu funcionamento no numa triste tarde de domingo sinto uma modo de justiça punitiva pautada ainda na vingança, grande vontade demostrando que o código penal encontra-se arcaico de chorar ao ver minha mãe aqui vindo me neste ponto. A contradição que reforça a pouca visita efetividade das prisões é o próprio conceito no Na letra da música é possível identificar vários qual esta instituição se reafirma que é o conceito de fatores importantes para se entender como é o ressocialização. O que é ressocializar um indivíduo? real funcionamento da prisão, e o sentimento do Como ressocializar um indivíduo? Seguindo quais presidiário em relação a isso. Quando na letra se regras? Sendo estas impostas por quem? Percebe-se que a sociedade através das fala da sela “lá em cima fica a minha janela, a minha instituições totais, tem a necessidade de criar o bíblia a minha jega”, é como se o preso tivesse o sentimento de sentir-se incorporado ao local, estaria indivíduo que será submetido à prisão isso é mais aí sendo descrito o conceito de “corpo ampliado”, visível ainda, pois a noção de que lá é um lugar de de modo que aqueles utensílios ou móveis citados, ressocialização existe somente na proposta, no não somente fazem parte do local, mas sim do campo das idéias, pois na prática se torna um local preso, do corpo dele, como se a mente já não fizesse também de crueldade. O que os outros sofrem separação do que faz parte do corpo humano, e ao lá dentro deve servir de exemplo para os demais. Essa lógica produz do ponto de vista da sociedade, que esse corpo recorre a todo momento. A família do presidiário segundo Goffman equilíbrio e segurança, já que as leis pressupostas é uma ameaça para instituição total, por isso ela à sociedade devem ser cumpridas, do contrário o também é submetida às práticas semelhantes indivíduo será punido e isso resultará não somente á do próprio presidiário, como a fila de espera em uma pena que ele próprio terá de pagar, mas retida, a cor da roupa para o dia de visita e o também o sentimento de que aquele lugar não é “confere”. Os presos e os familiares encaram desejável, logo não se deve cometer crime para não como humilhação tais práticas, como é descrito ser encaminhado para lá. O fato de a prisão criar uma idéia de horror no trecho dessa música: “pra minha mãe ser em torno dela para que isso seja exemplar através da humilhada na revista na entrada”. É evidente nas letras das músicas, certa prisão do indivíduo, também não é capaz de impedir desilusão em relação à função ressocializadora totalmente o acontecimento dos crimes, porque da prisão, assim como a marca que tem o corpo o ato de cometer um crime está ligado à vários do presidiário, a qual ele leva para o resto da vida outros fatores externos que são independentes do e o que dificulta seus caminhos futuros fora da resultado que isso trará para quem o cometeu. prisão, mesmo estando em um Estado Democrático de Direito, onde deveria prevalecer o princípio da dignidade humana, o de se acreditar de fato na ressocialização da pessoa humana, como nos trechos á seguir :
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Referência bibliográfica GOFFMAN, Erving, “Sobre las características de las instituciones totales: Introducción”, em Internados, Buenos Aires, Amorrortu ed., 1984. MEAD, George, H. La psicologia de la justicia punitiva. (American Journal of Sociology, Vol. XXII, March 1918, number5. Publicado em Delito y Sociedad. Revista de Ciências Sociales, n. 9/10, 1997) PEGORARO, Juan. Notas sobre el poder de castigar. Letras das músicas: Grupo Realidade Cruel- Dia de visita e Mais cruel que nunca; Grupo Facção Central- Brincando de marionete.
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Fonte: http://eusr.wordpress.com
variedades
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Fonte: http://bibliocomics.blogspot.com.br/
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ESTE POEMA É BASEADO NAS 9 MUSAS GREGAS QUE, SEGUNDO A TEORIA OCIDENTAL, DERAM ORIGEM AOS MUSEUS.
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Edvan Aquino A 10ª musa A eloquente Calíope Se passou por míope E, assim como Clio Fez que nem me viu O erotismo de Erato Me seduziu, de fato Já Euterpe, essa então Musicou meu coração Nele, Melpômene, afinal Encravou o seu punhal Polímnia, quem diria? Enviou-me uma poesia Quanto zelo pra dizer: - É melhor me esquecer! Tália ria tanto, tanto De meu desencanto Terpsícore dançava Como quem nem notava Que Urânia, com dó Ao me ver tão só Fez amanhecer E me enviou você
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Tiago Almeida
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Maria Alencar
Tiago Almeida
Fonte: http://metamorficus.blogspot.com.br
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Rafael Augusto Não acreditei quando vi. Mesmo vendo ele deitado ali, naquele caixão, com o nariz tampado por algodão, não consegui acreditar. Minha idade, minha altura, e lá, esticado imóvel, sem existir. A morte de Julio Fertucci arrepiou todos os pelos do meu corpo. Equipes de TV, um cortejo de fãs. Claro que o meu funeral não causará tanto alvoroço... Mesmo assim, a espinha gela e trinca. Não é medo de morrer... É algo diferente. Não consigo explicar. Muita gente gostava dele. Não era loucura de fã. O que falar de um cara que escalou o monte Everest, correu a maratona do Ártico, fazia gestos de caridade com cheques gordos; Fez mais pelas crianças, sozinho, do que toda a Legião da Boa Vontade. Sempre levando a bandeira do país onde quer que fosse, dizendo que aqui era o melhor lugar do mundo pra se viver. Uma fatalidade ter sido baleado no sinal de transito. Uma verdadeira ironia do destino. Mas não seria de se espantar em ver seu assassino no meio do cortejo fúnebre se martirizando “matei o melhor homem que já pisou sobre a terra!”. Deve se sentir como Judas agora. Muito ao contrário da vida do Dr. Fertucci, a minha não tem nada de extraordinário. Eu sou o que se poderia classificar de “ranço pessimista”. Um caractere chato do que sobrou do século XX. Ando sempre resmungando. Onde estou é sempre o pior lugar do Universo. Isso é normal também. Contas e contas para pagar e eu sequer consigo me mover da frente da televisão. Mas não sou do tipo preguiçoso. Apenas desisti. Não sei de quê. Desisti. Minha esposa me largou depois que fui ao mercado pela manhã e só voltei à noite, sem ao menos uma sacola na mão. Ela não aguentava mais. Eu também não me aguento mais. Seria isso culpa do ócio? Sofri um acidente e me aposentei por invalidez. Além de uma aposentadoria, recebo do estado uma pensão depois que um trator de uma obra pública ma atingiu. Antes disso, era diretor de uma fábrica de farinha trigo. Não consigo me lembrar do acidente. Nem como fui parar perto de uma obra.
Não preciso trabalhar. Nem teria coragem para isso. As pessoas me falam “Saia desse marasmo!” ou então: “Faça uma viagem, algo do tipo”. O problema é que não consigo mover um átimo do meu corpo. Nada me anima. Viagens, mulheres, livros, futebol, música. Nada mais tem sentido depois que vi no caixão do Dr. Cararrara minha imagem. Quer dizer, tem sentido alguma coisas na perspectiva da morte? Depois que me aposentei li muitos livros. Dostoievski, Santo Agostinho, Nietzsche, Kant, Platão, Sócrates, Confúcio, Hume etc. procurando uma resposta para tudo isso e percebi que pensar agora é apenas capricho. Confesso. Na verdade eu estou à beira de cometer suicídio enquanto você lê minha mente. Minha mulher me abandonou quando mais precisei. Eu tentava explicar-lhe o que sentia ela apenas repetia: “Deixe de frescura!”. É fácil falar quando sua maior preocupação é o que será servido no jantar, ou o que seu chefe vai lhe pedir amanhã no serviço. Mas não a culpo. A paciência se vai mesmo. E esse último mês foi decisivo. Não tinha ânimo sequer pra sair de casa, o que eu fazia com até certa frequência antes dela se mandar. E agora aqui segurando essa arma. Prateada. Brilha como a lua cheia. Os motivos pelos quais escolhi a Colt 45 Magnum são óbvios: não há chance de esse suicídio falhar e uma sequela deixar a vida pior do que já é. Woody Allen disse em um dos seus filmes: “a vida se divide entre infeliz e miserável, onde os infelizes somos nós, pessoas comuns, e os miseráveis são os deficientes, esfomeados etc.”. Foi isso, ou alguma coisa parecida com isso. Não estou com muita cabeça (e em breve, nenhuma) para pensar nesse tipo de... - O que tu tá fazendo com essa arma na mesa? Isabela irrompeu na sala com tamanha força de estrondo na porta, que talvez morreria antes de susto! - Comprei pra me matar depois que você foi embora. - Eu não te abandonei. Você me abandonou! Tava dando vacilo demais! – tirou a arma de perto de mim. –
- Sua filha: só quero que pense bem, Toni. Meu Deus! Esqueci-me completamente de Ana. E pensar que a distância a apagou de minha memória. E pensar que foi em homenagem a Anna Karenina que a batizei assim... - Minha pequena Karenina... - Ela nunca se esquece de tu! Isabela despejava verdades em mim. E eu que achava que tinha ficado esperto ao ler tudo aquilo. Mal conseguia retrucar uma dona de casa que sequer lia mais que receitas de bolo. Ela adorava me fazer bolo de mandioca. Que bolo gostoso! - Tem como você fazer aquele bolo gostoso? - O quê? - Bolo de mandioca, lembra? Depois de uns minutos refletindo, ela parecia compreender. - Vou buscar minhas coisas. - Ei, antes de ir, lembra-se daqueles dias de bolo de mandioca com café, aqui aos fins de tarde? A luz do sol ficava bonita demais quando refletia no seu rosto. – Ela olhou para a janela que dava pra varanda. E viu a mesma luz, fechou os olhos e chorou. – Aqueles momentos faziam a vida toda valer a pena. Pelo menos enquanto a gente não pensava neles. Ela saiu rindo, com os olhos aquipiscando. Ela ia voltar. Isabela me fez reconhecer: muito barulho por nada. O silêncio falou por todos nós. 55
Foto: Silene Ramalho
Fazia tempo que eu não vivia mais com meu marido. Ele foi embora e deixou uma carniça que rasteja pela casa toda. Achou que a vida não tinha sentido, e agora? Tem menos ainda! - Você não tá me entendendo... - Claro que estou! Você acha que porque a vida não tem sentido, não vale a pena ser vivida. Vive sem vontade de fazer nada, mas é justamente por não fazer nada que essa falta de vontade lhe vem. Pensou que seria muito mais na vida e agora anda frustrado, mas aposto que muita gente se mataria para ter a vida que tu tem! - A desgraça dos outros não me consola. - Não, mas deveria! - Talvez eu não estivesse assim se tivesse uns problemas mais graves, eu acho. - Quem sabe? Você só tem uma vida e não é capaz nem de esperar a morte chegar. Viu como é frustrado? Não consegue nem esperar a própria morte: acha que tem o direito de antecipar sua morte! - Tenho todo o direito sobre a minha vida. - Não tem não... Se você tivesse algum direito sobre sua vida, tentaria fazer algo por ela. Seu único compromisso é com a liberdade de Cuba, no balcão de um bar. Isabela tinha razão. Desde que me aposentei virei um beberrão de primeira. Será que não tenho nada mais pra conquistar? E o ridículo de tentar resgatar nossas aspirações juvenis?
Carol Matias
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Arquivologia O PROJETO “ALBUM CHOROGRAPHICO MUNICIPAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS (1927): ESTUDOS CRÍTICOS” A Fundamar – Fundação 18 de Março está lançando um site com a reedição de uma obra rara da cartografia brasileira. O projeto “Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Gerais (1927): Estudos Críticos” traz os municípios mineiros em mapas aquarelados e desenhos a bico de pena. Através do site estes mapas tornam-se agora acessíveis tanto aos especialistas quanto ao cidadão comum interessados na história e na geografia de Minas Gerais da década de 20. Site da Fundamar: www.albumchorographico1927.com.br Fonte: http://revistaacervo.an.gov.br/seer/index.php/info/announcement/view/26
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UNIRIO LANÇA EDITAL PARA PRIMEIRO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE DOCUMENTOS E ARQUIVOS NO BRASIL São oferecidas até 20 vagas para o segundo semestre de 2012, nas linhas de pesquisa «Arquivos,Arquivologia e Sociedade»,e «Gestão de Arquivos na Arquivologia Contemporânea». As inscrições estão abertas desde 17 de abril, e os interessados têm até o dia 18 de maio para se inscrever no Protocolo do Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCH - Av. Pasteur, 458, Urca), das 9h às 12h e das 16h às 19h30. Também serão aceitas inscrições pelo Correio, via SEDEX, em envelope contendo a
documentação exigida no edital e que deverá ser encaminhada para o Protocolo do CCH, no seguinte endereço:Av. Pasteur, 458 - Urca, CEP 22290-240 - Rio de Janeiro - RJ, com carimbo de postagem até o último dia de inscrição. O processo seletivo será composto por quatro etapas: análise de documentos e três fases de realização de provas, divididas em Prova Escrita de Conhecimentos Específicos, Prova Oral e Prova Escrita de compreensão de texto em língua estrangeira. Fonte: http://revistaacervo.an.gov.br/ seer/index.php/info
Biblioteconomia CRB-1 E DEPUTADO CHICO LEITE ELABORAM PROJETO DE LEI PARA PISO SALARIAL DE BIBLIOTECÁRIO. O Conselho Regional de Biblioteconomia, com a parceria e apoio do Deputado Distrital Chico Leite e da Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal, elaborou a minuta para o texto base do Projeto de Lei que estabelece o piso salarial para o profissional Bibliotecário empregado em instituições privadas, no âmbito do Distrito Federal. Esta iniciativa, que é baseada no parâmetro utilizado pela Ordem dos Advogados do Brasil para seus profissionais, estipula o valor salarial médio para o profissional que exerce função em bibliotecas privadas, uma vez que não há equivalência mínima para esta categoria. Desta forma, o texto estabelece inicialmente em seu parágrafo 1º os valores de R$1.500,00 para quatro horas diárias de trabalho ou de 20 horas semanais e de R$2.500,00 para o caso de dedicação exclusiva em jornada de
oito horas diárias ou para 40 horas semanais. Quanto ao reajuste salarial, este deverá acontecer anualmente, sempre no dia 1º de janeiro e corrigido pela variação do Índice Nacional de Preços do Consumidor – INPC. A minuta ainda encontra-se em processo de discussão antes de ser enviada ao GDF, porém, de acordo com o presidente do CRB-1,Antônio Silva, seu texto ainda deve sofrer modificações quanto aos valores, uma vez que estes foram tomados apenas como base referencial, seguindo o padrão utilizado pela OAB. Ele destaca ainda o lançamento do abaixo-assinado on-line, disponibilizado no site http://www. peticaopublica.com.br/?pi=P2012N31163, para arrecadar assinaturas, contando com o apoio e participação da categoria no envio e aprovação dessa proposição. Fonte: http://www.abdf.org.br/principal/ index.php/notas-mainmenu-77/928-crb-1-edeputado-chico-leite-elaboram-projeto-delei-para-piso-salarial-de-bibliotecario
CAPES APROVA CURSO DE BIBLIOTECONOMIA À DISTÂNCIA No último dia 29 de outubro, o CFB protagonizou um momento histórico para a Biblioteconomia brasileira.A Presidente do CFB, Nêmora Rodrigues, assinou, juntamente com o Prof. Dr. Jorge Almeida Guimarães, Presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, um Acordo de Parceria para a implantação do Curso de Biblioteconomia na modalidade a distância no Brasil. Estiveram presentes à solenidade o Prof. Dr. Celso José da Costa, Diretor de Educação a Distância, e a equipe de implementação do acordo, as bibliotecárias Lucia Alves e Silva, e Fabíola Ferigato. O Acordo resulta de uma discussão conjunta que se iniciou em outubro de 2008. Fonte: http://www.abdf.org.br/principal/index.php/notas-mainmenu-77/927-capes-aprova-curso-debiblioteconomia-a-distancia
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