IV Seminario Hispano Brasileito de Pesquisa em Informação, Documentação e Sociedade
Políticas de informação, universidade e desenvolvimento
Coordenação:
Profa. Dra. María Aurora Cuevas Cerveró (UCM) Profa. Dra. María Teresa Fernández-Bajón (UCM)
Reitor Ivan Marques de Toledo Camargo Vice – Reitora Sônia Nair Báo Decanato de Pesquisa e Pós-graduação Decano: Prof. Dr. Jaime Martins de Santana Faculdade de Ciência da Informação Diretora: Elmira Luzia Melo Soares Simeão
Rector Carlos Andradas Heranz Faculdad de Ciencias de la Documentación Decano: José Maria de Francisco Olmos Departamento de Biblioteconomia y Docuentación Directora: Dra. Mª Teresa Fernández Bajón
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Coordenador: Fernando Cesar Lima Leite
Reitor Julio Cezar Durigan Faculdade de Filosofia e Ciências Diretor: Dr. José Carlos Miguel Departamento de Ciência da Informação Chefe: Edberto Ferneda Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Coordenadora: Dra. Maria Cláudia Cabrini Grácio
Faculdade de Ciência da Informação FCI Biblioteca Central, entrada leste Campus Universitário Darcy Ribeiro Brasília - DF - Brasil - CEP: 70.910.900 email: necfci@unb.br, fone: 3107-264
Diretor Cecilia Leite Oliveira Coordenação Geral de Pesquisa e Manutenção de Produtos Consolidados Coordenadora: Lillian Alvares Coordenação de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação Coordenador: Ricardo Crisafulli Rodrigues
IV Seminario Hispano Brasileito de Pesquisa em Informação, Documentação e Sociedade
Políticas de informação, universidade e desenvolvimento
Coordenação:
Profa. Dra. María Aurora Cuevas Cerveró (UCM) Profa. Dra. María Teresa Fernández-Bajón (UCM)
Brasília Faculdade de Ciência da Informação Universidade de Brasília 2015
Copyright © 2015 Elmira Luzia Melo Soares Simeão
Equipe Editorial
Conselho Editorial e Científico
Faculdade de Ciência da Informação - FCI Diretora
Dra.Cecília Leite de Oliveira (IBICT)
Elmira Luzia Melo Soares Simeão
Profa. Dra. Georgete Medleg Rodrigues (UnB)
Núcleo de Editoração e Comunicação - NEC Coordenadora
Profa. Dra. María Aurora Cuevas Cerveró (UCM)
Claudia Neves Lopes Diagramação Bruna Ribeiro de Freitas Capa
Faculdade de Ciência da Informação FCI Núcleo de Editoração e Comunicação – NEC/ FCI Biblioteca Central, entrada leste Campus Universitário Darcy Ribeiro Brasília - DF - Brasil - CEP: 70.910.900 email: necfci@unb.br, fone: 3107-264
Profa. Dra. Elmira Luzia M. Soares Simeão (UnB)
Profa. Dra. Mª Teresa Fernández Bajón (UCM) Profa. Dra. Marta Lígia Pomim Valentim (Unesp) Profa. Dra. Regina Célia Baptista Belluzzo (Unesp)
SUMÁRIO 1
Líllian Maria Araújo de Rezende Álvares, Kira Maria Antonia Tarapanoff, Tainá Batista de Assis, Bianca Amaro de Melo, Washington Ribeiro Segundo SOFTWARES LIVRES E A DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO CIENTÍFICA: ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DO CONHECIMENTO ABERTO
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Luzia Zorzal, Georgete Medleg Rodrigues A INFORMAÇÃO NA PERSPECTIVA DA TRANSPARÊNCIA: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DA INFORMAÇÃO NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E NAS CIÊNCIAS CONTÁBEIS
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Jayme Leiro Vilan Filho, Uriane Moreira Costa PERIÓDICOS ESPANHÓIS E LATINO-AMERICANOS MAIS CITADOS NOS ARTIGOS DE PERIÓDICOS BRASILEIROS DAS ÁREAS DE INFORMAÇÃO (2009-2010)
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Larissa de Mello Lima, João Batista Ernesto de Moraes, Mariana da Silva Caprioli FROHMANN E O REGIME DE INFORMAÇÃO NO BRASIL: APORTE TEÓRICO DISCURSIVO
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5
Agostinha Maria Rodrigues, Márcio Bezerra da Silva O USO DO TESAURO NA ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO EM WEBSITES
65
6
Pollyana Ágata Gomes da Rocha Custódio, Ely Francina Tannuri de Oliveira CONTRIBUIÇÕES PARA O ENTENDIMENTO DE UM DOMÍNIO: UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA APLICADA ÀS TESES DA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UNESP DE MARÍLIA (2004-2013)
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Ana Cristina de Albuquerque ELEMENTOS COMPARATIVOS DA CLASSIFICAÇÃO DE FOTOGRAFIAS NO ÂMBITO DA ARQUIVOLOGIA, BIBLIOTECONOMIA E MUSEOLOGIA
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Dunia LLanes Padrón, Manuela Moro Cabero LA ARCHIVÍSTICA DEL CANON. PRESENCIA Y PRESCIENCIA EN LA FORMACIÓN UNIVERSITARIA DE BRASIL Y ESPAÑA
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Elaine da Silva, Bárbara Fadel, Marta Lígia Pomim Valentim A INFLUÊNCIA DA CULTURA ORGANIZACIONAL PARA A GERAÇÃO DE INOVAÇÃO ENFOCANDO PROCESSOS DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO
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José Antonio Frías, Carlos Díaz Redondo LA PARTICIPACIÓN DE LOS INVESTIGADORES BRASILEÑOS EN LOS CONGRESOS ACADÉMICOS ESPAÑOLES DE CIENCIA DE LA INFORMACIÓN: CARTOGRAFÍA DE UN FENÓMENO EMERGENTE
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Alfonso López Yepes PATRIMONIO AUDIOVISUAL EN BIBLIOTECAS Y SERVICIOS
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UNIVERSITARIOS A PROPÓSITO DEL SERVICIO DE DOCUMENTACIÓN MULTIMEDIA DE LA UNIVERSIDAD COMPLUTENSE: ACCESO ABIERTO Y PROYECCIÓN IBEROAMERICANA 12
Letícia Gorri Molina, Juliana Cardoso dos Santos, Diana Bernal MÍDIAS DIGITAIS, MEMÓRIA E O COMPARTILHAMENTO DA INFORMAÇÃO
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Ana Paula Alves Teixeira van Erven Louzada, Ana Cristina Pinho Oliveira Roque A BIBLIOTECA COMO INSTITUIÇÃO – MEMÓRIA DO SABER MICROBIANO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)
204
14
Valéria José Silva Santos, Marcos Galindo, Sandra Maria Veríssimo Soares GUARDA MEMORIAL ARQUIVÍSTICA: TRAÇOS CULTURAIS DE PRAXIS E EPISTEMOLOGIA CUSTODIAL ENTRE NOVA DISCUSSÃO PARADIGMÁTICA.
216
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Marcia Rosetto, Dina Elisabete Uliana ACESSO A MEMÓRIA BRASILEIRA EM ARQUITETURA E URBANISMO: DIGITALIZAÇÃO E ACESSO ONLINE À REVISTA ACRÓPOLE ELETRÔNICA
234
16
María de los Ángeles Pérez Macuil LA FUNCIÓN DEL ARCHIVISTA EN LA ADMINISTRACIÓN PÚBLICA EN MÉXICO
245
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Maria do Rosário de Fátima Portela Cysne, Adriana Nóbrega Silva, Gabrielly Pamela Lopes Soeiro MEMORIAIS E CENTROS DE MEMÓRIA NO ACESSO À INFORMAÇÃO E AO PATRIMÔNIO: EXEMPLOS DE FORTALEZA
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APRESENTAÇÃO É com muita alegria que publicamos as três edições com os trabalhos apresentados no IV SEMINÁRIO HISPANO-BRASILEIRO DE PESQUISA EM INFORMAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E SOCIEDADE e IV SEMINÁRIO DE COMPETÊNCIA INFORMACIONAL realizado na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Unesp – Câmpus de Marília- SP, entre 24 e 26 de junho de 2015. O evento reuniu especialistas em Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia, Comunicação e Tecnologia da Informação, e pesquisadores em Competência em Informação do Brasil, Espanha, México e da Austrália. Além da Universidade de Brasilia (UnB), Universidad Complutense de Madrid (UCM) e Unesp, o evento tem apoio permanente do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT. O principal objetivo do SEMINÁRIO HISPANO-BRASILEIRO DE PESQUISA EM INFORMAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E SOCIEDADE é promover o intercâmbio acadêmico e científico entre instituições brasileiras e espanholas, além de outras instituições em âmbito internacional, consolidando a cooperação e o vínculo estabelecido pelas universidades brasileiras e seus representantes com instituições de outros países. O Seminário também reforça os conhecimentos dos participantes em relação às novas perspectivas e incentiva o conhecimento de outras realidades acadêmicas e científicas que podem contribuir para a convergência cultural e linguística entre os países integrantes. Trata-se da quarta edição desse evento, que surgiu como fruto de um acordo de cooperação científica entre a Universidade de Brasília e a Universidade Complutense de Madrid e que, a partir dessa edição, amplia a parceria institucional para a Unesp buscando um formato desafiador e cooperativo. Tem como principal característica a criação e sustentabilidade da comunidade educativa das instituições com a compreensão mútua e criando sinergias que podem levar a projetos conjuntos de pesquisa, ensino, inovação, publicações, mobilidade e excelência na prestação de serviços nas áreas de Informação, Documentação e Sociedade. O Vol. I da IV edição do seminário que trata "Competência em Informação: teoría e praxis", é coordenado pelas Professora Dra. Elmira Luzia Melo Soares Simeão (UnB) e Professora Dra. Regina Célia Baptista Belluzzo (Unesp). Apresenta uma significativa produção científica revelando pesquisas e o estado da arte da Information Literacy, em um movimento que tem crescido no contexto da Ciência da Informação da Ibero-américa, merecendo destaque por ter ocupado a agenda de muitos profissionais interessados em temáticas com Estudo de usuários e atividades bibliotecárias vinculadas com capacitação. Pela demanda de trabalhos pôde-se realizar paralelamente o IV SEMINÁRIO DE COMPETÊNCIA INFORMACIONAL. 7
No segundo volume apresenta-se o debate sobre "Gestão da informação, comunicação e tecnologia", sob a coordenação das professoras Dra. Marta Lígia Pomim Valentim (Unesp) e Dra. Cecília Leite de Oliveira (IBICT); e o Vol. III apresenta os trabalhos sobre "Políticas de Informação, universidade e desenvolvimento" coordenado pelo professor Dr. Antonio Lisboa Carvalho de Miranda, pela professora Dra. María Aurora Cuevas Cerveró (UCM) e professora Dra. María Teresa FernándezBajón (UCM). O evento também conjuga esforços dos Programas de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília e Unesp e Departamento de Biblioteconomía y Documentación da UCM buscando promover a aproximação entre pesquisadores da Ibero - américa e de outras latitudes, para a troca de experiências, mediante o debate e posterior publicação de textos relevantes que espelhem as linhas de pensamento e ação, tanto no campo acadêmico quanto profissional e empresarial. Temas relacionados com a comunicação científica, comunicação organizacional e comunitária, arquitetura da informação, gestão do conhecimento, infodiversidade e inclusão digital, epistemologia e metodologias em curso na área da Ciência da Informação, assim como as questões que estão sendo propostas e discutidas em escala internacional sobre a Sociedade da Informação e do Conhecimento. Destacamos que um esforço de tal envergadura só é possível com a participação de uma rede ampla de colaboradores e, nesse sentido, gostaríamos de agradecer o apoio de pesquisadores nas ações programadas de atuação na Comissão Científica (peer review) do evento encarregada da seleção de textos, parte deles também selecionada para publicação na Revista Iberoamericana de Ciência de la Información) – RICI. Também agradecemos a equiepe de apoio das instituições e os alunos da pós-graduação da Unesp que se envolveram fortemente nas ações operaciponais. Para a próxima edição (V SEMINÁRIO HISPANO-BRASILEIRO DE PESQUISA EM INFORMAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E SOCIEDADE), a ser realizada na espanha em 2016, a rede virá ainda mais fortalecida. Todos os parceiros prometem todo o empenho para que o evento se torne uma referência brasileira como edição internacional notável na área.
Os autores
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1 SOFTWARES LIVRES E A DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO CIENTÍFICA: ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DO CONHECIMENTO ABERTO
Líllian Maria Araújo de Rezende Álvares
lillianalvares@unb.br Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Universidade de Brasília (UnB). Kira Maria Antonia Tarapanoff ktarapanoff@gmail.com Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília. Tainá Batista de Assis taina@ibict.br Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Bianca Amaro de Melo bianca@ibict.br Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Washington Ribeiro Segundo washingtonsegundo@ibict.br Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).
Resumo: A reutilização dos dados de pesquisa é uma forma de compartilhamento que se insere na gênese da ciência aberta para o uso de conhecimentos, recursos educacionais e informacionais que são viabilizados por poderosas infraestruturas eletrônicas, transpondo fronteiras institucionais de disciplinas científicas e de nações. Supõe-se que isso pode ser um passo importante para estimular, desde cedo, professores e alunos em suas carreiras de pesquisadores. Deriva também da aprendizagem social construcionista, que tem como filosofia o uso de recursos não sujeitos a licenças excessivamente restritivas. O trabalho pretende analisar o uso de software livre como a possibilidade de oportunidades iguais para todos, indo ao encontro de agendas internacionais de sustentabilidade. Destaca que apesar das diferenças filosóficas entre o movimento do software livre e o movimento do código aberto, basicamente caracterizada pelo lado social da FSF e pelo lado técnico e de mercado da OSI, as definições oficiais de ambas se referem basicamente ao mesmo ideal. Demonstra que ao tratar de software livre, estamos tratando efetivamente de conhecimento livre ou conhecimento aberto, que na definição da Open Knowledge Foudation, é o conhecimento que pode ser adquirido, interpretado e aplicado livremente. Ele pode ser reformulado de acordo com as necessidades de alguém, e compartilhado com os outros para benefício da comunidade. Diz respeito a quaisquer conteúdos, informações ou dados que as pessoas são livres para usar, reutilizar e redistribuir, sem qualquer restrição legal, tecnológica ou social. Deve capacitar a todos, permitindo que as pessoas trabalhem em conjunto para enfrentar os desafios locais e globais, compreendendo o mundo, expondo ineficiências, combatendo a desigualdade e ainda, responsabilizando governos e empresas a prestar contas de suas ações. A convicção por trás do movimento do conhecimento livre é de que ele deve ser acessível e compartilhável, sem restrições. Está baseado no entendimento de que ativos intangíveis
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
são propulsores de mudanças sociais. Estas propiciadas pelo tipo de conhecimento que conduz à descoberta, onde o processo de aprendizagem é continuo; onde o conhecimento é produzido na interação com o mundo; onde cada um de nós é produtor de conhecimento; e onde a finalidade do conhecimento é transformar o mundo e cada um de nós.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
1 INTRODUÇÃO 1.1 Software Livre e Software de Código Aberto Um software é considerado de livre uso quando respeita a liberdade de executar, copiar, distribuir, estudar, mudar e melhorar. Ele garante ao usuário o acesso ao código fonte (source code), a fim de modificar e compartilhar o programa. Para a Free Software Foundation (1983, em edição consultada de 2006) este deve respeitar quatro liberdades essenciais: a liberdade de executar o programa como desejar, para qualquer propósito; a liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo às suas necessidades; a liberdade de redistribuir cópias originais e; a liberdade de distribuir cópias das versões modificadas. A disseminação do software livre promove a possibilidade de oportunidades iguais para todos, indo ao encontro de agendas internacionais de sustentabilidade. Podemos citar como exemplo o documento ‘Década das Nações Unidas’ para um desenvolvimento sustentável 2005-2014, que tinha como objetivo integrar valores inerentes ao desenvolvimento sustentável, em todos os aspectos da aprendizagem, com o intuito de fomentar mudanças de comportamento que permitissem criar uma sociedade sustentável e justa para todos1. Vale ressaltar que software livre não significa necessariamente um software sem custo. Nem sempre as soluções apresentadas vão se adequar plenamente às necessidades
institucionais,
devendo,
para
tanto,
ser
customizadas
e
complementadas. Igualmente, nem sempre será fácil a sua implantação, exigindo a participação de especialistas. Essas considerações levam a refletir sobre as vantagens financeiras do uso do software livre. Em princípio, pode-se afirmar que sua utilização é vantajosa, pois no mínimo terá a garantia da licença perpétua, que os softwares proprietários raramente oferecem. Também se deve considerar a customização perfeita, que minimiza custos adicionais com outros elementos de ajuste. E, finalmente, a questão da responsabilidade social, uma vez que a comunidade se beneficia com as novas versões melhoradas, ampliadas e ajustadas a interesses diversos. A história do software livre tem início com Richard Stallman por ocasião do anúncio do Projeto GNU nos anos de 1980. Stallman, intensamente dedicado à liberdade na computação, fundou a Free Software Foundation (FSF), lançando o 1
Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001399/139937por.pdf>.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Movimento do Software Livre que, com o tempo, transformaria a indústria de software (STALLMAN et al., 2006). Nos Anos 1990, o movimento intensificou-se com o lançamento do Linux, de Linus Torvalds. Centenas de desenvolvedores se juntaram ao projeto para integrar o sistema GNU ao Linux. Na mesma década, Eric Raymond e Bruce Perens criam a Open Source Initiative (OSI), defendendo a adoção do software livre também por razões técnicas e sugerindo o uso da expressão open source ao invés de free software, evitando a ambiguidade do termo free, que pode significar tanto livre quanto gratuito na língua inglesa. Em português é traduzido como software livre, software de código aberto ou software aberto. Apesar das diferenças filosóficas entre o movimento do software livre e o movimento do código aberto, basicamente caracterizada pelo lado social da FSF e pelo lado técnico e de mercado da OSI, as definições oficiais de ambas referem-se basicamente ao mesmo ideal: a filosofia de desenvolvimento da OSI está centrada no que Raymond (1999) chamou de Modelo Bazar, com inúmeras e diferentes abordagens no desenvolvimento do software, ao contrário do tradicional modelo de engenharia de software, desenvolvido de forma centralizada e isolada. O modelo Bazar, resumidamente, compreende que os usuários devem ser tratados como codesenvolvedores, incentivados a apresentar adições ao software, correções de código, relatórios de bugs e documentação, entre outros. Acredita que com mais desenvolvedores, a evolução do software acontece aceleradamente, incluindo a identificação de erros e as soluções de correção. Cabe destacar que cada ambiente de desenvolvimento significa mais ambientes de testes, maximizando a identificação de latentes problemas nos programas. O modelo defende que a primeira versão do software deve ser lançada tão cedo quanto possível, de modo a aumentar as chances de encontrar codesenvolvedores. Deve, também, disponibilizar pelo menos duas versões do programa, uma com mais recursos (e, portanto, mais erros, também chamada de versão de desenvolvimento) e uma mais estável, portanto com menos recursos sem validação e menos erros. A primeira, para aqueles usuários que desejam usar imediatamente os recursos mais recentes e estão dispostos a aceitar o risco de usar um código que ainda não está completamente testado. Alguns softwares livres também são utilizados pela sociedade atual para a organização, armazenamento e disseminação da informação científica, como os 12
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
artigos de periódicos, livros, capítulos de livros, trabalhos apresentados em eventos, teses, dissertações, entre outros. Nesse contexto, citam-se aqui três tecnologias livres utilizadas amplamente pelas instituições de ensino e pesquisa: o DSpace, VUFind e o software para gerenciamento de bibliotecas, Koha. Tais sistemas serão melhor apresentados a seguir.
1.2 Arquivos Abertos Em julho de 1999, foi realizada a reunião chamada de Universal Preprint Service (USP) que tinha o intuito de promover a discussão sobre a cooperação entre os arquivos acadêmicos de e-prints (VAN DE SOMPEL; LAGOZE, 2000) o que levou à criação da Open Archives Initiative (OAI). A razão apontada para o surgimento da OAI foi a crença de que a interoperabilidade entre os arquivos e-prints seria de fundamental importância para o aumento do impacto e o estabelecimento de alternativas viáveis para o modelo de comunicação científica (VAN DE SOMPEL e LAGOZE, 2000). A base da Iniciativa de Arquivos Abertos é o protocolo Open Archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting (OAI-PMH), tendo sido a sua primeira versão lançada em 2001. O protocolo fornece uma interface simples para que os provedores de dados tornem seus metadados disponíveis para a coleta por parte dos provedores de serviços, com base no Protocolo HTTP (Hypertext Transport Protocol) e na linguagem XML (ASSIS, 2015). A partir de então, diversos desenvolvedores, de forma colaborativa, criaram softwares baseados na utilização do Protocolo OAI-PMH. O DSpace é definido como um software open-source disponível livremente. Segundo informações do Directory of Open Access Repositories (OPENDOAR, 2015), o DSpace é, hoje, o software mais utilizado em todo o mundo para a criação de repositórios digitais de acesso aberto à informação científica. Tal software é mantido pelo DURASPACE que é apresentada como uma organização não-lucrativa independente. O VUFind é um software pensado para o gerenciamento do catálogo de bibliotecas, substituindo os tradicionais Online Public Access Catalogue (OPAC). Também desenvolvido em código aberto de livre utilização, modificações e repasse.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Por fim, o software Koha é um sistema integrado de bibliotecas. O Koha é mantido como fonte aberta para que outros possam usar, modificar e redistribuir.
1.3 Conhecimento Livre ou Conhecimento Aberto e o Acesso Aberto à Informação Científica De fato, ao tratar de software livre, estamos tratando efetivamente de conhecimento livre ou conhecimento aberto. Na definição da Open Knowledge Foudation2 (2006), é o conhecimento que pode ser adquirido, interpretado e aplicado livremente. Ele pode ser reformulado de acordo com as necessidades de alguém e compartilhado com os outros para benefício da comunidade. Diz respeito a quaisquer conteúdos, informações ou dados que as pessoas são livres para usar, reutilizar e redistribuir, sem qualquer restrição legal, tecnológica ou social. Deve capacitar a todos, permitindo que as pessoas trabalhem em conjunto para enfrentar os desafios locais e globais, compreendendo o mundo, expondo ineficiências, combatendo a desigualdade e, ainda, responsabilizando governos e empresas a prestar contas de suas ações. A convicção por trás do movimento do conhecimento livre é de que ele deve ser acessível e compartilhável, sem restrições. Esta orientação baseia-se no entendimento de que ativos intangíveis, como o conhecimento, são propulsores de mudanças sociais. Estas propiciadas pelo tipo de conhecimento que conduz à descoberta, onde o processo de aprendizagem é continuo; onde o conhecimento é produzido na interação com o mundo; onde cada um de nós é produtor de conhecimento; e onde a finalidade do conhecimento é transformar o mundo e cada um de nós (LEV, 2001). O acesso aberto e irrestrito ao conhecimento impulsiona, dentre outras ações, a geração de pesquisas científicas e, com isso, o avanço da ciência. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) (1982) a assimilação da informação técnica-científica é considerada como uma pré-condição essencial para o progresso dos países em desenvolvimento. A mesma Open Knowledge defende que dados abertos são os blocos da construção do conhecimento aberto. De fato, outras iniciativas importantes relativas ao conhecimento livre são os dados abertos da pesquisa científica, entendidos como 2
Organização não governamental sem fins lucrativos, fundada em 2004 na cidade de Cambridge (Inglaterra) na St. John's Innovation Centre (SJIC), incubadora de negócios em ciência e tecnologia, que promove o conhecimento aberto, os dados abertos e os conteúdos abertos, hoje com o nome de Open Knowledge.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
aqueles que estão disponíveis gratuitamente na internet, permitindo a qualquer usuário baixar, copiar, analisar, reprocessar, fazer a captura por software ou utilizá-los para qualquer outra finalidade, sem barreiras financeiras, legais ou técnicas além daquelas que dizem respeito à própria internet. Para este fim, os dados que dão origem às publicações científicas devem ser explicitamente colocados em domínio público (MURRAY RUST et al., 2014). A reutilização dos dados de pesquisa é uma forma de compartilhamento que se insere
na
gênese da
ciência
aberta como
o
compartilhamento
ideal de
conhecimentos, recursos educacionais e informacionais que são viabilizados por poderosas
infraestruturas
eletrônicas,
transpondo
fronteiras
institucionais
de
disciplinas científicas e de nações. Supõe-se que isso pode ser um passo importante para estimular, desde cedo, professores e alunos em suas carreiras de pesquisadores. Deriva da aprendizagem aberta, a aprendizagem social construcionista, que tem como filosofia o uso de recursos não sujeitos a licenças excessivamente restritivas (XAVIER, 2005). O termo é associado a visões da liberdade de aprender, que seja considerada adequada aos países onde os sistemas de ensino não são capazes de atender a todas as necessidades da sociedade, e incentivam a sociedade civil a tomar a iniciativa de aumentar a oferta e a qualidade dos sistemas de ensino público. Uma breve e não exaustiva linha do tempo com manifestações sobre o conhecimento livre pode ser apresentada, entre tantas iniciativas ocorridas, da seguinte maneira: -
1909: a publicação Hind Swaraj de Mahatma Gandhi é reconhecida como o projeto intelectual do movimento de libertação da Índia. No livro, o autor afirma que não há direitos reservados para o conhecimento (THE SWARAJ FOUNDATION, 1999);
-
1948: o artigo 27 da Declaração dos Direitos Humanos assegura que todos têm o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios e que toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948); 15
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
-
1954: na coletânea Selected poems, Mark Van Doren defende o direito do homem
ao
conhecimento
e
ao
uso
livre
do
mesmo
(POETRY
FOUNDATION, 2015); -
1995: a Knowledge Ecology International, organização não governamental, defende o movimento A2K3 (Acesso ao Conhecimento) que se preocupa com leis de direitos autorais e outros regulamentos. Tem a perspectiva social, tratando o tema como acesso aos bens de conhecimento, incluindo acesso à informação, à educação, à saúde pública (em torno de patentes e medicamentos) (KNOWLEDGE ECOLOGY INTERNATIONAL, 1995);
-
1999: realizada a Convenção de Santa Fé, no México, que levou à criação da Open Archives Initiative (OAI). Segundo Van de Sompel e Lagoze (2000), o motivo para o seu desenvolvimento seria a crença de que a interoperabilidade entre os arquivos e-prints é de grande importância para o desenvolvimento de outros meios viáveis para o modelo de comunicação científica;
-
2000: Lawrence Lessig inicia a publicação de uma série de livros sobre o conhecimento aberto: Code and other laws of cyberspace (2000); The future of ideas (2001); free culture (2004); Code: version 2.0 (2006) (HARVARD LAW SCHOOL, 2015);
-
2001: criação da Creative Commons, com o lançamento do seu primeiro conjunto de licenças gratuitas de direitos autorais. As licenças são inspiradas na Licença GNU da Free Software Foundation (GNU GPL) ao lado de uma plataforma de aplicações Web (SCIENCE COMMONS, 2015);
-
2001: criação por Patrick Brown da Public Library of Science4 (PLOS), projeto sem fins lucrativos que tem o objetivo de criar uma biblioteca de revistas
científicas e
licenciamento
publicações
de conteúdo
aberto,
afins fazendo
dentro uso,
do
modelo
de
especificamente,
da Creative Commons (PUBLIC LIBRARY OF SCIENCE, 2015); -
2002: editoras acadêmicas começam a pensar em acesso aberto e muitos lançam conteúdo científico sob a licença Creative Commons. O Directory of Open Access Journals enumera muitos, mas com variados graus de liberdade de acesso (DIRECTORY OF OPEN ACCESS JOURNALS, 2015);
3 4
Access to Knowledge. Biblioteca Pública de Ciência.
16
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
-
2002: a Budapest Open Access Initiative (BOAI) formaliza o movimento do acesso aberto à informação científica em todos os campos. Este pequeno grupo de indivíduos é reconhecido como fundadores do movimento de acesso aberto para a ciência, por meio da distribuição mundial eletrônica da literatura científica revisada por pares, e acesso totalmente gratuito e irrestrito a ele para todos os cientistas, estudiosos, professores, estudantes e outras mentes curiosas. Segundo a Declaração, a única restrição prevista é o direito de que aos autores das pesquisas devem ser dadas as devidas citações. Por ocasião do 10º aniversário da iniciativa, em 2012 os compromissos foram reafirmados (BAILEY JR., 2006);
-
2002: Peter Suber dá início a uma série de publicações sobre acesso aberto ao conhecimento como Open access to the scientific journal literature (2002); Open access: other ways (2003); Open access, impact, and demand (2005) (HARVARD OPEN ACCESS PROJECT, 2013);
-
2003: Berlin Declaration on Open Access to Knowledge in the Sciences and Humanities, a mais significativa iniciativa internacional de acesso aberto ao conhecimento. Em 2007 mais de 240 organizações científicas haviam assinado a declaração e em 2013, 451 (BAILEY JR, 2006);
-
2003: Bethesda Statement on Open Access Publishing se une à Budapest Open Access Initiative e à Declaração de Berlim sobre o Acesso Livre ao Conhecimento nas Ciências e Humanidades e reafirma o acesso aberto como o termo para descrever iniciativas para tornar a informação mais ampla e facilmente disponível.
Ela complementa as declarações e
acrescenta a condição de que os praticantes do acesso aberto poderão reutilizar o conhecimento, incluindo o direito de fazer obras derivadas (BAILEY JR., 2006); -
2004: Yochai Benkler publica dois títulos para falar do novo modelo de produção: Coase's penguin or, Linux and the nature of the firm (2004) e The wealth of networks (2006) (HARVARD LAW SCHOOL b, 2015);
-
2006: divulgada a definição de conhecimento livre, inspirada na definição de software Livre e por uma postagem no blog de Jimmy Wales (cofundador e promotor da Wikipedia) que afirma que conhecimento livre requer software
17
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
e arquivos livres (JIMMY WALES: FREE KNOWLEDGE FOR FREE MINDS, 2015); -
2007: Charlotte Hess e Elinor Ostrom editam uma coletânea intitulada Understanding knowledge as a commons que discute o movimento de acesso aberto, a estrutura de código aberto ao conhecimento científico, e os efeitos sobre comunicação científica, entre outros temas relativos (P2P FOUNDATION, 2015);
-
2007: Kim Tucker lança o Say Libre ensaio que trata dos Recursos Educacionais Abertos. Cabe destacar a visão que o autor quer compartilhar: conhecimento para todos, liberdade de aprender, no sentido de sabedoria coletiva, permitir que as pessoas se fortaleçam com o conhecimento e compartilhá-lo para o benefício da comunidade5 (SAY LIBRE, 2015);
-
2011: Aaron Hillel Swartz disponibiliza livremente os arquivos da editora científica JSTOR na internet, por não acreditar no modelo das grandes revistas científicas que compensam financeiramente as editoras, e não os autores, e de cobrar o acesso aos artigos, limitando assim o acesso para finalidades acadêmicas. Por esse crime foi preso e não chegou a ser julgado, pois as acusações contra ele foram retiradas após sua morte por aparente suicídio (REMEMBER ASRON SWARTZ, 2015).
Feita a contextualização do cenário em que se insere o trabalho, seu foco recai na identificação de softwares de acesso livre e código aberto com objetivo de promover o conhecimento aberto e o aprendizado contínuo no tratamento e análise de informações estruturadas em bases de dados.
2 BASES DE DADOS DE ACESSO ABERTO Os defensores do conhecimento aberto acreditam que a liberdade de acesso ao conhecimento está sob ameaça em virtude das tentativas de se restringir ou controlar o compartilhamento de informações na internet. Hoje existem bases de dados que dão acesso a grandes e valiosos recursos de informação. Para mantenedores de iniciativas de acesso aberto, pode ser valioso usar este recurso para melhorar seu desempenho ou incluir complementos de informação, e ao mesmo tempo, aumentar o valor e a consistência do que está compartilhando. 5
Knowledge for all, freedom to learn, towards collective wisdom, enabling people to empower themselves with knowledge, and to share it for community benefit.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Aqui serão descritas brevemente quatro bases de dados, de fundamental importância para promoção do conhecimento aberto.
2.1 Plataforma Lattes A Plataforma Lattes de currículos vitae de pesquisadores brasileiros se tornou um sistema imprescindível para a ciência nacional. Foi uma estratégia engenhosa disponibilizar a produção científica brasileira a baixo custo. Ela se baseia no modelo 2.0, onde cada pesquisador registra e mantém atualizada sua produção científica, de forma descentralizada, sem grande controle externo. Hoje ela contempla mais de 1.5 milhões de currículos, somente de doutores. A identificação personalizada de cada currículo, com um número único (ID Lattes) a torna um recurso valioso para interação com outros sistemas e para análise dela própria, que contém conhecimento variado e não analisado sistematicamente, da pesquisa produzida no país. Além das ferramentas de busca e visualização disponíveis na Plataforma Lattes, conta-se com algumas outras que permitem o processamento e compilação de relatórios, com destaque para o Scriptlattes, ferramenta para extração e visualização de conhecimento. Foi desenvolvida para a extração e compilação automática de: produções bibliográficas, produções técnicas, produções artísticas, orientações, projetos de pesquisa, prêmios e títulos, grafo de colaborações, mapa de geolocalização, coautoria e internacionalização, do conjunto de pesquisadores cadastrados na plataforma Lattes. O ScriptLattes coleta automaticamente os currículos Lattes em formato HTML de um grupo de pessoas de interesse, compila as listas de sua produção, tratando apropriadamente as produções duplicadas e similares. São geradas páginas HTML com listas de produções e orientações, separadas por tipo e colocadas em ordem cronológica invertida. Adicionalmente são criados automaticamente vários grafos (redes) de coautoria entre os membros do grupo de interesse e um mapa de geolocalização dos membros e alunos (de pós-doutorado, doutorado e mestrado) com orientação concluída. Os relatórios gerados permitem avaliar, analisar e documentar a produção de grupos de pesquisa (SCRIPTLATTES, 2015).
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2.2 Wikipedia A Wikipedia é uma enciclopédia multilíngue, colaborativa e livre que contém entradas (artigos) em mais de 300 línguas, sendo o inglês o mais representativo, com quase 3 milhões de entradas. Os 10 idiomas em ordem de ocorrência são inglês (2.826.000); alemão (888.000); francês (786.000); polonês (593.000); italiano (576.000); japonês (556.000); holandês (528.000); português (470.000); espanhol (460.000) e russo (376.000). Interessante notar que a Wikipedia não é a tradução de um artigo em várias línguas, mas sim, cada artigo criado de forma independente por diferentes usuários (OTERO & LÓPEZ, 2010). Ela representa um enorme avanço para o conhecimento aberto, ainda que o sistema colaborativo possa levar a algumas informações imprecisas. A renomada revista Nature escolheu artigos da Encyclopedia Britannica e da Wikipedia e enviou para a revisão por pares. Ao final do processo, o jornal encontrou apenas oito erros graves nos artigos. Destes, quatro veio de cada uma. No entanto, descobriram uma série de erros pontuais, omissões ou declarações imprecisas, somando ao todo 162 da Wikipedia e 123 da Encyclopedia Britannica. Isso dá em média de 2,92 erros por artigo para a Britannica e 3,86 para a Wikipedia, o que leva à conclusão por parte da Wikipedia de que o resultado foi razoavelmente favorável (TERDIMAN, 2005). O modelo adotado pela Wikipedia se assemelha ao da comunidade de software de código aberto, onde o código é acessível a todos e milhares de pessoas colaboram para sua realização. A diferença reside no fato de que no software aberto, uma versão final emerge como oficial, mas o conteúdo da Wikipedia nunca está finalizado, nunca há uma versão oficial de um artigo (BERINSTEIN, 2006). 2.3 Classificação Internacional de Patentes6 (IPC)7 A Classificação Internacional de Patentes (IPC), mantida pela WIPO8 (Organização Internacional de Propriedade Intelectual) desde 1968, é um sistema complexo de descrição do conteúdo das patentes e modelos de utilidade, de acordo com as diferentes áreas tecnológicas a que pertencem, sendo utilizada por mais de 100 países. Seus objetivos são criar uma ferramenta de organização, busca,
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International Patent Classication. Disponível em: <http://www.wipo.int/classifications/ipc/en/>. Acesso em: 30 de jan 2015. 8 World Intellectual Property Organization. 7
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recuperação e disseminação de documentos de patentes e ser a base para investigação do estado da arte em inovação. A IPC é mantida em duas línguas (inglês e francês), disponível para consulta online e para download. Todos os arquivos podem ser livremente baixados, armazenados, copiados, modificados (layout ou formato), impressos, usados para criar produtos derivados e publicamente apresentados. Dentre os recursos de suporte à IPC está a ferramenta de categorização, especialmente projetado para auxiliar o processo de classificação. Outra ferramenta, a IPC Inventory Green, fornece previsões da classificação com base na análise estatística dos documentos de patentes que contêm os termos de pesquisa especificados, facilitando a procura por informações sobre patentes relativas a tecnologias ambientalmente saudáveis. 2.4 Portal Brasileiro de Publicações Científicas em Acesso Aberto (OASISBR) 9 O Portal Brasileiro de Publicações Científicas em Acesso Aberto (OASISBR) é uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) com o objetivo de reunir, organizar e disseminar a produção científica nacional em acesso aberto. O oasisbr é desenvolvido em plataformas livres e segue os preceitos da Iniciativa de Arquivos Abertos (OAI), utilizando, portanto, o Protocolo OAI-PMH que viabiliza a interoperabilidade com outros sistemas de informação mantidos pelas instituições de ensino e pesquisa, nacionais e internacionais. Trata-se de um mecanismo de busca multidisciplinar que permite o acesso gratuito à produção científica de autores vinculados a universidades e institutos de pesquisa brasileiros. Como exemplos de produções científicas disseminadas pelo oasisbr têm-se, os artigos científicos, livros, capítulos de livros, trabalhos apresentados em eventos, teses, dissertações, entre outros.
3 CONCLUSÃO As soluções aqui apresentadas atendem aos requisitos de código aberto e software livre e são em sua maioria desenvolvidos na esfera acadêmica. A utilização dos softwares relacionados neste trabalho, nem sempre representam o investimento mais econômico, mas as despesas associadas a sua utilização, em seu conjunto, são 9
OSISBR.ibict.br.
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seguramente menores. Além disso, é preciso considerar as questões relacionadas à responsabilidade social associada à decisão. Para contribuir com o ideal do conhecimento aberto, e valorizar o esforço daqueles que estão construindo soluções e compartilhando o seu conhecimento com a sociedade, esse trabalho encerra destacando que os autores aqui apresentados, tanto da perspectiva política, quanto da perspectiva tecnológica, têm um papel singular na sociedade contemporânea: são eles que contribuem com suas iniciativas para o fortalecimento do conhecimento aberto, preparando o mundo para ser mais justo e equânime.
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2 A INFORMAÇÃO NA PERSPECTIVA DA TRANSPARÊNCIA: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DA INFORMAÇÃO NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E NAS CIÊNCIAS CONTÁBEIS
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Luzia Zorzal luzia.zorzal@gmail.com Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Universidade de Brasília(UnB) Professora do Curso de Ciências Contábeis Universidade Federal do Espírito Santo, Bolsista Capes.
Georgete Medleg Rodrigues medleg.georgete@gmail.com Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília (UnB)
Resumo: A centralidade da informação no mundo contemporâneo indica que ela ocupa uma dimensão planetária e num espaço social que é inerentemente dinâmico. A transparência e o acesso à informação pública devem ser socializados e democratizados. Proporcionar à sociedade informações de qualidade para que os stakeholders possam aproveitar todo o potencial que os dados podem oferecer é crucial para os gestores públicos. Em contrapartida, a contabilidade dispõe de um arcabouço normativo com vistas ao registro, mensuração e evidenciação das informações contábeis que são requeridas tanto para efeito da prestação de contas dos gestores (accountability) quanto para a tomada de decisões. Nesse sentido, esta comunicação parte de uma pesquisa de doutorado em Ciência da Informação em andamento, investiga as características qualitativas da informação contábil, no setor público, com base nos instrumentos normativos emanados dos órgãos controladores que disciplinam a matéria comparando-as com as características qualitativas da informação segundo a Ciência da Informação. A pesquisa, embora de natureza qualitativa, compreende etapas exploratória e descritiva. Os dados são explicados com base nos procedimentos da análise de conteúdo. Os resultados parciais apontam que a maioria das características qualitativas atribuídas à informação é similar e/ou equivalente nas duas áreas. No entanto, observa-se que algumas características qualitativas da informação não são equivalentes nos dois campos. A Ciência da Informação possui atributos de qualidade da informação que poderão beneficiar as características qualitativas da contabilidade e viceversa. A melhoria da qualidade da informação do setor público consequentemente favorecerá a transparência ativa, a accountability e o controle social. Palavras-Chave: Qualidade da Informação; Transparência; Accountability; Acesso à Informação; Setor Público.
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1 INTRODUÇÃO Para as entidades públicas a disponibilização de dados completos, atuais e com qualidade além de promover a transparência ativa, colabora com a participação social, para a promoção da eficiência da gestão pública e do combate à corrupção. Rodrigues (2013) destaca que o conceito de transparência com a configuração que lhe é atribuída atualmente faz parte da agenda política tanto em nível internacional quanto nacional desde os anos 1970. No Brasil, os entes públicos são obrigados pela Constituição Federal (CF) de 1988 (BRASIL, 1988) a prestar contas do uso de recursos públicos e a respeitar o princípio da publicidade, entre outros. Portanto é de cumprimento obrigatório para todos os entes governamentais. A cobrança por mais transparência pública, nos últimos anos, tem avançado de forma progressiva. Constitui tema de importância social e gerencial, que vem recebendo destaque em muitos eventos e também em várias legislações recentes. A transparência e o acesso à informação estão previstos como direitos do cidadão e dever do Estado, na CF/1988 e normativos, como: Lei Complementar (LC) nº 101, de 4 de maio de 2000 (BRASIL, 2000), denominada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF); Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011), denominada Lei de Acesso à Informação (LAI), entre outros. Outra referência para o desenvolvimento da transparência é a convergência com as International Public Sector Accounting Standards (IPSAS ou Normas Internacionais de Contabilidade aplicadas ao Setor Púbico – NICSP), editadas pela International Federation of Accountants (IFAC ou Federação Internacional de Contadores). É possível inferir importantes contribuições e estímulos por parte de organismos multilaterais, com destaques para a Organisation for Economic Cooperation and Development (OECD ou Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), o World Bank (Banco Mundial), a IFAC e, no caso do Brasil, o Tribunal de Contas da União (TCU) dentre outros, com a finalidade de incentivar a boa governança mundial e, em consequência, mais transparência nas informações. A transparência poderá ajudar a promover uma administração pública mais aberta à participação social e a colaborar na transição da cultura do segredo para a cultura de acesso à informação, com disponibilização proativa de dados e 29
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informações. A LAI é um instrumento a mais para promover o governo aberto (open government), a transparência, a accountability, além de auxiliar na luta contra a corrupção. No entanto, para isso, será necessário assegurar a sua efetividade. Nesse sentido, proporcionar à sociedade informações governamentais de qualidade para que os stakeholders (partes interessadas) possam aproveitar todo o seu potencial é crucial para os gestores públicos. Ademais, verifica-se que há, no setor público (SP), grande volume de dados de interesse dos stakeholders e com potencial de gerar informações úteis para a tomada de decisões, e que, apesar do vasto volume de informações, a transparência permanece restrita, principalmente com relação aos dados e informações contábil-financeiras. Em contrapartida, a contabilidade dispõe de um arcabouço normativo com vistas ao registro, mensuração e evidenciação das informações contábil-financeiras e não financeiras, de eventos econômicos e outros fenômenos, que são requeridas tanto para efeito de accountability quanto para a tomada de decisões. Embora exista a obrigatoriedade de as grandes corporações publicarem seus relatórios contábil-financeiros o mesmo não ocorre com todas as instituições do SP, e, consequentemente, estudos acerca da divulgação dessas informações também são bem mais limitados. Dessa forma, essa comunicação, parte de uma pesquisa de doutorado em Ciência da Informação (CI) em andamento, investiga as características qualitativas (CQs) da informação contábil, no SP, com base nos instrumentos normativos emanados dos órgãos controladores que disciplinam a matéria, comparando-as com as CQs da informação segundo a CI.
2 METODOLOGIA A pesquisa de doutorado cujos resultados parciais são aqui apresentados é de natureza qualitativa e compreende etapas exploratória e descritiva. Foi realizada uma análise comparativa entre as CQs da informação na CI e nas Ciências Contábeis (CCs). Os dados textuais das CQs da informação nos dois campos de estudo – Ciência da Informação e Ciências Contábeis – foram analisados com o objetivo de compreender, comparar e explicar os dados com base nos procedimentos da análise de conteúdo (BARDIN, 2004). Para se se comparar as CQs da informação nas duas áreas, organizou-se um quadro sintetizando essas CQs na CI e nos aspectos normativos das CCs, com foco no SP. 30
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3 RELEVÂNCIA DA INFORMAÇÃO E TRANSPARÊNCIA A informação é apenas um dos elementos para o exercício do direito de cidadania e democracia. A CF/1988 elevou o acesso à informação pública como um dos direitos fundamentais para os cidadãos brasileiros. A disseminação da informação faz parte de um conjunto de direitos ratificados pelas sociedades modernas. O acesso a informações é um direito humano fundamental previsto no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Na perspectiva de Wersig e Nevelling (1975), a CI desenvolveu-se historicamente, porque os problemas de informação modificaram completamente sua relevância para a sociedade: "Atualmente, o problema de transmitir conhecimento para aqueles que dele necessitam é uma responsabilidade social, e essa responsabilidade social parece ser a verdadeira origem da ciência da informação” (WERSIG; NEVELLING, 1975, p. 28, grifo do autor, tradução nossa). Muitos são os conceitos de informação. Na sociedade contemporânea o conceito de informação desempenha um papel central. O conhecimento e a sua comunicação são fenômenos básicos de toda a sociedade humana e o surgimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs) e seus impactos globais caracterizam a sociedade atual como uma sociedade da informação. A CI tem-se voltado para os fenômenos de relevância e interpretação como aspectos básicos do conceito de informação. À medida que os sistemas de informação tornam-se mais globais e interconectados, a informação implícita é, na maioria das vezes, perdida. Isto faz com que a CI seja mais receptiva aos impactos sociais e culturais dos processos interpretativos e às diferenças qualitativas entre diferentes contextos e mídias. É uma tarefa essencialmente multi e interdisciplinar (CAPURRO; HJORLAND, 2007). O termo informação como um possível objeto da CI, como salientado por Wersig e Nevelling (1975) é um dos casos mais extremos de polissemia na comunicação técnica de informação e documentação e eles destacam a ambiguidade do termo informação como sua maior dificuldade. Sugerem que ao se utilizar o temo informação deve-se deixar claro seu significado. Considerando a inter-relação que se deseja estabelecer entre CI e CCs selecionou-se, no âmbito da CI, a definição de Le Coadic (2004) por esta possuir mais compatibilidade com as CCs. 31
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A informação é um conhecimento inscrito (registrado) em forma escrita (impressa ou digital), oral ou audiovisual, em um suporte. A informação comporta um elemento de sentido. É um significado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacialtemporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc. (LE COADIC, 2004, p.4).
Essa definição também foi escolhida por Valente (2014), que a transpôs para o campo das CCs enunciando-a da seguinte forma: [...] informação contábil é um conhecimento inscrito, tanto de forma impressa como digital, comportando elemento de sentido. É também um significado transmitido a seres conscientes através de mensagens inscritas em suportes espaços-temporais impressos e digitais, materializados pelas Demonstrações Contábeis e relatórios adicionais publicados ou disponibilizados pelas organizações por diferentes meios (VALENTE, 2014, p.43).
A definição de informação pública merece destaque neste estudo uma vez que seu foco recai sobre as CQs da informação no SP. Batista (2010) formulou o conceito de informação pública, como resultado de sua pesquisa de mestrado sob o título Informação pública: entre o acesso e a apropriação social da seguinte forma: Informação pública é um bem público, tangível ou intangível, com forma de expressão gráfica, sonora e/ou iconográfica, que consiste num patrimônio cultural de uso comum da sociedade e de propriedade das entidades /instituições públicas da administração centralizada, das autarquias e das fundações públicas. A informação pública pode ser produzida pela administração pública ou, simplesmente, estar em poder dela, sem o status de sigilo para que esteja disponível ao interesse público/coletivo da sociedade. Quando acessível à sociedade, a informação pública tem o poder de afetar elementos do ambiente, reconfigurando a estrutura social (BATISTA, 2010, p.40).
No contexto dos poderes públicos toda informação gerada, recebida ou acumulada por eles, deve ser difundida aos cidadãos, como meio de transparência de seus atos, para permitir a participação da cidadania na vida pública e potencializar a confiança da sociedade nas instituições públicas que a servem (RAMOS-SIMÓN; CARMONA; AVILÉS, 2009) Esses autores assinalam as características que as informações públicas deverão ter: a) informação completa: sistematizada, protegida de acessos não desejados; b) informação objetiva, confiável; c) informação acessível em distintos formatos e ao alcance de seus potenciais destinatários; d) difusão proativa, além de permitir o acesso, a administração pública deve dar publicidade aos documentos facilitando seu conhecimento e localização; e) acesso individual (a criação de canais individuais de comunicação como Internet, propicia que a administração favoreça o consumo individual de informação); f) Informação de qualidade (que cumpra padrões técnicos); g) relevante, fácil de encontrar, integrada, organizada e fácil de usar (a 32
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informação é um direito e um bem econômico que goza da característica de bem público, de modo que o uso por uns, não exclui o dos demais). São exemplos de tipos de informação e documentos públicos produzidos ou custodiados pelos entes públicos: informes, publicações oficiais, boletins, relatórios, atas, arquivos e registros administrativos, recursos Web, etc. O conjunto de informações e documentos detidos pelas instituições públicas foi denominado de ativos de informação, sendo tais ativos o conjunto de elementos com valor informativo de propriedade de uma empresa, instituição ou indivíduo e reflexo de sua atividade (RAMOS-SIMÓN; CARMONA; ÁVILÉS, 2009; MENDO et al., 2013). Os cidadãos podem acessar a informação produzida pelos entes públicos de duas formas: a) a instituição divulga informações por força de uma política de comunicação ou procedimento legalmente exigido, isto é, divulgação proativa ou como na LAI, transparência ativa; b) o cidadão solicita informações ou documentos a uma instituição pública, ação definida na LAI como transparência passiva, ou, como denominou Mendo et al. (2013), informação reativa. O tratamento automatizado da informação pública faz com que os dados sejam convertidos em unidade de informação básica, pois permite combinar, agregar e desagregar para elaborar novas informações, gerando assim grande interesse para que as instituições possibilitem seu livre acesso para gerar novos conhecimentos e riqueza em um contexto em que a informação e conhecimento tornaram-se um importante ativo econômico (MENDO et al., 2013). Os princípios do Governo aberto incluem a produção, a organização e a disseminação da informação, ações favorecidas pelas TICs, para a transparência e o acesso à informação. As informações públicas, nesse contexto, devem ser democratizadas. A dimensão social do acesso à informação resulta da responsabilidade social que as entidades públicas têm de transmitir informação à sociedade. Para que a informação seja obtida pela sociedade ela deve ser, em primeiro lugar, disponibilizada, ou melhor, divulgada tempestivamente, com dados abertos (open data), ser compreensível, apresentar elevado grau de precisão, ser transparente, dentre outras características para uma eficaz accountability.
O termo transparência assumiu novos significados e ganhou popularidade nas duas últimas décadas, embora, após os anos 1970, tenha tido lugar de destaque no discurso administrativo na América do Norte e na Europa ocidental, tornando-se um dos valores essenciais da administração pública, configurando-se como um eixo privilegiado do reformismo administrativo que fez da transparência, o princípio, e do segredo a exceção (JARDIM, 1999; RODRIGUES, 2013).
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Para Speck (2002) a transparência é uma arma simples e eficiente para evitar arranjos antes tolerados sob o véu da desinformação e para Tapscott e Ticoll (2005) a transparência é uma antiga força com novo poder que tem implicações de longo alcance para todo mundo. Para esses últimos, a transparência vai além da obrigação de revelar informações financeiras básicas e a definem “como a acessibilidade, para os stakeholders, às informações institucionais referentes a assuntos que afetem seus interesses” (TAPSCOTT; TICOLL, 2005, p. 23). Rodrigues (2013, p.424) argumenta que na atualidade “[...] a noção de transparência já está incorporada – embora não inteiramente praticada pelos governos e instituições – como uma premissa para o bom funcionamento da Administração Pública”. Assim, a transparência pode ser definida como a qualidade percebida de informação intencionalmente compartilhada de um emissor. Ela é uma função do disclosure (evidenciação), clareza e acurácia da informação (SCHNACKENBERG; TOMLINSON, 2014). Segundo a Transparency International (2009, p. 44) “a transparência é a qualidade de um governo, empresa, organização ou pessoa de serem abertos na divulgação de informação, normas, planos, processos e ações”. E os funcionários têm a obrigação de atuar de maneira visível, previsível e compreensível na promoção da participação social e accountability. 4 CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DA INFORMAÇÃO NAS CCs E NA CI O órgão normatizador da contabilidade norte-americana Financial Accounting Standards Board (FASB ou Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira), em maio de 1980, por meio do Statement of Financial Accounting Concepts (SFAC ou Pronunciamento de Contabilidade Financeira) nº 2, definiu as CQs da informação contábil como os atributos que tornam essa informação útil e as qualidades que devem ser buscadas quando as decisões são tomadas. Em setembro de 2010, o FASB com a colaboração do International Accounting Standards Board (IASB ou Conselho Internacional de Normas Contábeis) elaborou o SFAC nº 8 – Conceptual Framework for Financial Reporting (Estrutura Conceitual de Informações Financeiras) que substituiu o SFAC nº 2 e apresenta a seguinte perspectiva acerca da utilidade da informação financeira e suas características qualitativas: Se a informação financeira é para ser útil, ela deve ser relevante e representar fielmente o que ela pretende representar. A utilidade da
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informação financeira é ampliada se for comparável, verificável, tempestiva e compreensível (FASB, 2010, p. 16, tradução nossa).
As CQs fundamentais, apontadas pelo FASB são relevância e representação fiel. Na versão de 2010 foi utilizada a expressão representação fiel (faithful representation) em substituição ao termo confiabilidade (reliability), usado na versão anterior (1980). Nessa última versão foram sugeridas também as seguintes características qualitativas da informação financeira: transparência; alta qualidade; consistência interna; apresentação justa, verdadeira e apropriada e, credibilidade. No entanto, para o FASB (2010), essas características da qualidade são palavras diferentes para descrever a informação que tem as características qualitativas de relevante
e
fidelidade
representacional
realçada
por
compreensibilidade,
tempestividade, comparabilidade e verificabilidade. Para o SP, a IFAC, por meio da Conceptual Framework for General Purpose Financial Reporting by Public Sector Entities (Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro com Propósito Geral aplicada às entidades do setor publico), na edição de 2014, apresenta seis características qualitativas: relevância, representação fiel, compreensibilidade,
oportunidade
(ou
tempestividade),
comparabilidade
e
verificabilidade. As CQs são atributos que tornam a informação útil e apoiam a consecução dos objetivos dos relatórios contábil-financeiros. Tais objetivos são fornecer informações úteis para os propósitos da accountability e tomada de decisões (IFAC, 2014). A definição dessas CQs encontra-se no Quadro 1: Além das CQs, a IFAC (2014) aborda também as restrições dominantes sobre as informações incluídas nos relatórios financeiros: a) materialidade ou importância relativa; b) custo versus benefício; e c) equilíbrio entre as CQs. Cada uma das CQs é parte integral de outras características e atuam de forma conjunta para proporcionar nos relatórios financeiros informação útil para alcançar os objetivos da informação financeira. No entanto, na prática, todas essas CQs podem não ser alcançadas plenamente e pode ser necessário um equilíbrio (ou trade-off) entre algumas delas (IFAC, 2014). Igualmente, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em observância aos princípios e às Normas Brasileiras Aplicadas ao SP, por meio das Resoluções CFC nºs 1.132/2008 e 1.366/2011 (CFC, 2008, 2011) estabeleceu as características da informação contábil no SP, conforme Quadro 2. 35
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Quadro 1 – Características qualitativas da informação contábil do SP segundo a IFAC Características
Definição segundo a Estrutura Conceitual da IFAC (2014)
Relevância
A informação financeira e não financeira é relevante se é capaz de influenciar na consecução dos objetivos dos relatórios financeiros. A informação financeira e não financeira é capaz de influenciar quando tem valor confirmatório (se ratifica ou altera expectativas passadas – ou presentes), valor preditivo ou ambos.
Representação fiel
Para ser útil a informação financeira deve ter representação fiel do fenômeno que se propõe representar. Representação fiel se alcança quando a descrição dos fenômenos é completa, neutra e livre de erros significativos.
Compreensibilidade Compreensibilidade é a qualidade da informação que permite aos usuários compreender seu significado. A compreensibilidade é melhorada quando a informação se classifica, caracteriza e apresenta de forma clara e concisa. A comparabilidade também melhora a compreensibilidade. Presume-se que os usuários têm um conhecimento razoável a respeito das atividades da entidade e o ambiente em que ela atua, são capazes e estão preparados para ler, revisar e analisar as informações dos relatórios financeiros com razoável diligência. Oportunidade (ou tempestividade)
Significa ter informação disponível para os usuários antes que ela perca sua capacidade para ser útil para fins de prestação de contas (accountability) e tomada de decisões. Uma ausência de tempestividade pode tornar a informação menos útil.
Comparabilidade
A comparabilidade permite aos usuários identificar similaridades e diferenças entre dois conjuntos de fenômenos. A comparabilidade não é uma qualidade de um item individual de informação, mais sim uma qualidade da relação entre dois ou mais itens de informação. Para que a informação seja comparável, coisas similares devem ver-se parecidas e coisas distintas devem ver-se diferentes. A aplicação consistente dos princípios, políticas e base de preparações contábeis de informação financeira e não financeira com resultados prospectivos e reais melhorará a utilidade de qualquer comparação de resultados reais e projetados.
Verificabilidade
Ajuda a assegurar aos usuários que a informação nos relatórios financeiros representa fielmente o fenômeno econômico e de outros fenômenos que se propõe representar. Para ajudar a assegurar aos usuários que a informação quantitativa financeira e não financeira prospectiva e explicações incluídas nos relatórios financeiros representem fielmente os fenômenos econômicos e de outros tipos que pretendem representar, as suposições que sustentam a informação revelada, as metodologias adotadas para reunir essa informação e os fatores e circunstâncias que apoiam as opiniões expressadas ou reveladas devem ser transparentes. Isto permitirá aos usuários formar julgamentos sobre a adequação dessas suposições e o método de compilação, mensuração, representação e interpretação da informação.
Fonte: Elaboração própria, com base na Estrutura Conceitual da IFAC (IFAC, 2014, p. 50-68).
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Quadro 2 – Características da informação contábil do SP segundo o CFC Características
Definição segundo as Resoluções CFC nºs 1.132/2008 e 1.366/2011
Relevância
Entendida como a qualidade que a informação tem de influenciar as decisões de seus usuários auxiliando na avaliação de eventos passados, presentes e futuros. As infor-mações apresentadas devem conter todos os aspectos relevantes.
Fidedignidade
Referente à qualidade que a informação tem de estar livre de erros materiais e de juízos prévios, devendo, para esse efeito, apresentar as operações e acontecimentos de acordo com sua substância e realidade econômica e, não, meramente com a sua forma legal. Os registros e as informações devem representar fielmente o fenômeno contábil que lhes deu origem.
Compreensibilidade As informações apresentadas nas demonstrações contábeis devem ser entendidas pelos usuários. Deve permitir o detalhamento das informações em razão das diferentes expectativas e necessidades informacionais das diversas unidades organizacionais e seus respectivos usuários. Os fenômenos patrimoniais devem ser registrados no momento de sua ocorrência e Tempestividade divulgados em tempo hábil para os usuários. Qualidade de a informação estar disponível no momento adequado à tomada de decisão. Comparabilidade Os registros e as informações contábeis devem possibilitar a análise da situação patrimonial de entidades do setor público ao longo do tempo e estaticamente, bem como a identificação de semelhanças e diferenças dessa situação patrimonial com a de outras entidades. Entende-se a qualidade que a informação deve ter de registrar as operações e acontecimentos de forma consistente e uniforme, a fim de conseguir comparabilidade entre as distintas instituições com características similares. Verificabilidade Confiabilidade
Imparcialidade Integridade Objetividade
Utilidade
Visibilidade
Especificidade
Granularidade
Os registros contábeis realizados e as informações apresentadas devem possibilitar o reconhecimento das suas respectivas validades. As informações contábeis devem reunir requisitos de verdade e de validade que pos-sibilitem segurança e credibilidade aos usuários no processo de tomada de decisão. As informações devem ser apresentadas de modo a não privilegiar interesses específicos e particulares de agentes e/ou entidades. Os registros contábeis e as informações devem reconhecer os fenômenos patrimoniais em sua totalidade, não podendo ser omitidas quaisquer partes do fato gerador. O registro deve representar a realidade dos fenômenos patrimoniais em função de critérios técnicos contábeis pré-estabelecidos em normas ou com base em procedimentos adequados, sem que incidam preferências individuais que provoquem distorções na informação produzida. Os registros contábeis e as informações apresentadas devem atender às necessidades específicas dos diversos usuários. Deve ser útil à gestão tendo a sua relação custo benefício sempre positiva. Os registros e as informações contábeis devem ser disponibilizados para a sociedade e expressar, com transparência, o resultado da gestão e a situação patrimonial da entidade do setor público. Deve proporcionar maior transparência e evidenciação do uso dos recursos públicos. Informações de custos devem ser elaboradas de acordo com a finalidade específica pretendida pelos usuários. Sistema que deve ser capaz de produzir informações em diferentes níveis de detalhamento, mediante a geração de diferentes relatórios, sem perder o atributo da comparabilidade.
Fonte: Elaboração própria, com base nas Resoluções CFC nºs 1.132/2008 e 1.366/2011(CFC, 2008, 2011)
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Com a finalidade de intercâmbio e enriquecimento recíprocos com outras áreas do conhecimento buscou-se sintetizar no Quadro 3 as características elencadas nos Quadros 1 e 2 da área de CCs, para o SP e acrescentar-se as CQs segundo a CI, com base nos estudos de Valente e Fujino (2012). A justificativa para a escolha da CI como parâmetro é que ambas – Ciências Contábeis e Ciência da Informação - têm a informação como elemento fundamental. Ademais, na vasta revisão de literatura de Valente e Fujino (2012, 2014) foram constatadas similaridades e também diferenças entre as CQs nas duas áreas de conhecimento. As características que não apresentaram similaridade literal foram inseridas no Quadro 3, entre parênteses, buscando-se a equivalência por meio da análise de conteúdo (BARDIN, 2004), com base nos termos presentes nas suas próprias definições. Dessa forma, o Quadro 3 apresenta as CQs elencadas pela IFAC (2014) e pelo CFC (2008, 2011) para as CCs e, as CQs apresentadas por Valente e Fujino (2012) para a CI. Quadro 3 – Comparativo entre as CQs da informação nas CCs e na CI Características
IFAC (2014)
Resolução CFC nºs 1.132/2008 1.366/2011 Representatividad Relevância e
Relevância
Relevância
Representação fiel
Representaçã o fiel
Fidedignidade
Fidedignidad e
Compreensibilidade
Compreensibilida de
(Adaptabilidade)
Tempestividade (Oportunidade) Comparabilidade
Oportunidade
Compreensibilida de Tempestividade Comparabilidade/ (Uniformidade) Verificabilidade Confiabilidade
Comparabilidad e
Verificabilidade Confiabilidade Imparcialidade Integridade Objetividade Utilidade Visibilidade Especificidade Granularidade Segurança no acesso Facilidade de manipulação/operação Ineditismo/raridade
Comparabilidad e Verificabilidade
Imparcialidade Integridade Objetividade Utilidade Visibilidade
Oportunidade
CI (VALENTE; FUJINO, 2012) Relevância/(Quantidade de informação apropriada/ Contextualização / Redundância/Representação concisa) (Acurácia/ Perfeição)
(Interpretabilidade/Facilidade de entendimento) Oportunidade/(Temporalid ade) (Representação consistente) Confiabilidade/(Credibilidade/Identidade) Integridade/(Completeza)
Utilidade (Valor Social) Especificidade Granularidade
Objetividade (Valor agregado/Eficácia) (Acessibilidade)
Segurança no acesso Facilidade de manipulação/ Operação Ineditismo/Raridade
Fonte: Elaboração própria, com base na IFAC (2014), CFC (2008, 2011) e Valente; Fujino (2012).
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Comparando-se as CQs da informação nas CCs e na CI evidenciadas no Quadro 3, não obstante as diferenças de nomenclatura dos termos, dez das características presentes na CC (relevância, representação fiel, compreensibilidade, tempestividade, comparabilidade, confiabilidade, integridade, objetividade, utilidade e visibilidade) são similares e/ou equivalentes às da CI e quatro (verificabilidade, imparcialidade, especificidade e granularidade) não possuem similaridade e/ou equivalência com a CI, e a CI possui três características que não possuem similaridade e/ou equivalência com a CC (segurança no acesso, facilidade de manipulação/operação e ineditismo/raridade). Nessa perspectiva, constata-se que muitas das características da informação apontadas nas duas áreas (CI e CC) são termos diferentes para descrever as CQs da informação, conforme destacado pelo FASB (2014). Em uma análise comparativa entre as CQs da informação nas CCs e na CI é possível observar que cinco das seis (83%) CQs da informação contábil no SP (relevância, representação fiel, compreensibilidade, tempestividade, comparabilidade e verificabilidade) estabelecidas pela IFAC (2014) são arroladas também pela CI. Apenas a característica verificabilidade não foi identificada entre as destacadas pelos estudos de Valente e Fujino (2012) para a área da CI. No que diz respeito as quatro CQs da CC que não possuem similaridade e/ou equivalência com a CI, tem-se: a verificabilidade (as informações devem permitir o reconhecimento de suas validades), a imparcialidade (não privilegiar interesses específicos e particulares de agentes e/ou entidades); a especificidade (informação que visa a atender finalidade específica dos stakeholders); e a granularidade (característica de um sistema que gera informação em diferentes níveis de detalhamento). Granularidade é definida como “o nível de detalhe em que um objeto de informação ou recurso é visto ou descrito” (WOODLEY; CLEMENT; WINN, 2005, tradução nossa). Apesar de a pesquisa de Valente e Fujino (2012) não abordar a especificidade e a granularidade, essas são características também presentes na CI, como se depreende do estudo de Alves et al. (2012). Essas duas últimas características também possuem conexão entre si, uma vez que a granularidade está relacionada com o nível (ou grau) de especificidade pretendida pelos usuários (ALVES, 2012). Inferência válida também para as CCs. Portanto, em vez de quatro, apenas duas CQs da informação não possuem equivalências das CCs com a CI. Quanto às três características que estão presentes na CI e não na CC segurança no acesso (manter segurança no acesso à informação); facilidade de 39
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
manipulação/operação (relaciona-se com dados abertos – open data) e ineditismo/ raridade (representa o novo, o recente) - para as duas primeiras acredita-se que, futuramente, serão incorporadas nos instrumentos legislativos das CCs, haja vista os avanços das TICs.
De acordo com a definição da Open Knowledge Foundation
(2012), dados são abertos quando qualquer pessoa pode livremente usá-los, reutilizálos e redistribuí-los, estando sujeito a, no máximo, a exigência de creditar a sua autoria e compartilhar da mesma licença. O Brasil já dispõe de legislação tornando obrigatória a abertura de dados governamentais (Decreto Presidencial, de 15 de setembro de 2011). Não se trata de mera alternativa de viabilização da transparência pública, mas um dever a ser cumprido pelo gestor público. Para a última característica Ineditismo/raridade, pressupõe-se atendida pelas CCs de forma implícita uma vez que seus registros englobam indistintamente todos os fatos de uma entidade, quer sejam inéditos, raros ou não. 5 CONCLUSÕES A comparação demonstrou o intercâmbio e enriquecimento recíprocos entre as duas áreas – Ciência da Informação e Ciências Contábeis – uma vez que ambas têm a informação como elemento fundamental. Os resultados parciais apontam que a maioria das CQs atribuídas à informação é similar e/ou equivalente nas duas áreas. No entanto, observa-se que algumas CQs da informação não são equivalentes nos dois campos. Os atributos de qualidade da informação da CI poderão beneficiar as CQs da contabilidade e vice-versa. A melhoria da qualidade da informação contábil consequentemente favorecerá a transparência ativa, a accountability e o controle social e dessa forma permitirá que os stakeholders façam avaliações da gestão das entidades públicas. Entende-se que este trabalho contribui para a literatura das duas áreas – CI e CCs – a respeito das CQs da informação assim como para as instituições profissionais que ditam as normas contábeis técnicas da profissão contábil, ao se identificar as CQs que estão ausentes na contabilidade, mas que fazem parte do arcabouço da CI. No que concerne às limitações do estudo, as CQs das informações, na área das CCs, referem-se apenas ao SP, um setor bastante específico e centrou-se apenas
nos
instrumentos
legislativos
da
área
contábil.
Portanto,
qualquer
generalização fica restrita ao SP e não a todas as instituições indistintamente.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
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3 PERIÓDICOS ESPANHÓIS E LATINO-AMERICANOS MAIS CITADOS NOS ARTIGOS DE PERIÓDICOS BRASILEIROS DAS ÁREAS DE INFORMAÇÃO (2009-2010)
Jayme Leiro Vilan Filho e-mail: jleiro@unb.br Uriane Moreira Costa urimoreira@gmail.com Faculdade de Ciência da Informação Universidade de Brasília (UnB) Grupo de Pesquisa Comunicação Científica do PPGCINF.
Resumo: Estudo bibliométrico que utilizou análise de citação para identificar a importância da literatura científica periódica espanhola e latino-americana nos artigos de periódicos brasileiros das áreas de Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação, Documentação e Museologia. O universo foram 622 artigos de periódicos das áreas de informação publicados no Brasil entre 2009 e 2010, de onde se obteve uma amostra aleatória de 113 artigos que citaram pelo menos um periódico estrangeiro. Destes foram analisadas 660 referências a artigos de periódicos estrangeiros. Elaborado no SPSS e Excel, o estudo apresenta tabelas que mostram, entre outros resultados: a) o espanhol é o segundo idioma mais citado; b) a Espanha é o terceiro país mais citado, atrás apenas de Estados Unidos e Reino Unido; c) foram citados 20 periódicos espanhóis; d) os periódicos Revista Española de Documentación Científica e El Profesional de la Información foram os citados em maior número de artigos; e) Cuba, Colômbia, México e Peru são os países latino-americanos mais citados; f) foram citados 11 periódicos latino-americanos; g) os periódicos Acimed (Revista Cubana de Información em Ciencias de la Salud) e Biblios foram os títulos latino-americanos citados em maior número de artigos. Palavras-Chave: Periódico Científico; Bibliometria; Análise de Citação; Brasil; Espanha.
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1 INTRODUÇÃO A comunicação científica é a troca de informações entre membros da comunidade científica, incluindo atividades associadas à produção, disseminação e uso da informação, desde o momento em que o cientista concebe uma ideia para pesquisar, até que os resultados de sua pesquisa sejam constituintes do conhecimento científico. (GARVEY, 1979). O periódico científico, objeto de estudo deste trabalho, é um dos canais da comunicação científica que pode ser entendido por Publicações científicas realizadas a partir dos textos criados por pesquisadores, reunidos num mesmo exemplar, publicados regularmente, funcionando como principal instrumento de comunicação em meio formal. Sua função, seja em formato impresso ou eletrônico, consiste na divulgação de resultados das pesquisas pelos cientistas, possibilitando a integração e a colaboração entre as áreas do saber científico, favorecendo a disseminação e recuperação de informações (BARBOSA et al., 2013, p.6).
Quanto ao prestígio dos periódicos, a citação bibliográfica é uma maneira de identificá-la, estando o prestígio relacionado à qualidade de arbitragem, ao criterioso processo de avaliação por pares (peer-review); à qualidade dos artigos publicados (originalidade e rigor) e à visibilidade da publicação que é alcançada através das indexações em bases de dados e por meio do fator de impacto (MENDES, 1996, p.12). Como um dos principais meios da comunicação formal, os periódicos são alvos de muitos estudos bibliométricos como o de Mueller (2005), Arruda (2011), Santos (2013) e Lucas et. al (2013). Um estudo bibliométrico mais específico relacionado com a presença e a visibilidade da literatura hispanófona na comunidade científica brasileira foi realizado por Nascimento (2007). Usando análise de citação e produção, investigou a presença da literatura publicada e citada em espanhol em quatro revistas brasileiras de Biblioteconomia, Documentação e Ciência de Informação no período de 1990 a 2006. As revistas estudadas foram Ciência de Informação, Perspectivas em Ciência da Informação, Transinformação, e Informação & Sociedade: Estudos. O estudo destacou a revista Ciência da Informação como a mais produtiva de artigos e citações em espanhol, e a Espanha responsável pelo maior número de artigos publicados (21), seguida de Argentina (12), Cuba (6) e México (5), entre outros países (NASCIMENTO, 2007, p.35).
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Um trabalho mais recente de Costa (2014) fez uma análise quantitativa das citações bibliográficas aos periódicos estrangeiros em artigos de periódicos brasileiros das áreas de informação publicados entre 2009 e 2010. O objetivo foi identificar os periódicos estrangeiros mais citados nos artigos de periódicos brasileiros, por meio da análise de citações bibliográficas. Foram selecionados aleatoriamente 113 artigos de periódicos de uma base de dados da FCI/UnB (base ABCDM) que evidenciaram os seguintes resultados: (1) elaboração de um ranking de títulos de periódicos científicos estrangeiros em ordem decrescente de frequência de citação; (2) identificação de um grupo de seis títulos de periódicos estrangeiros de maior prestígio entre os autores de artigos de periódicos brasileiros das áreas de informação entre 2009 e 2010: JASIST, ARIST, Scientometrics, Journal of Documentation, Library Quarterly e Journal of Information Science. O presente estudo é um aprofundamento do estudo de Costa (2014), a respeito dos periódicos espanhóis e latino-americanos, utilizando os mesmo dados. Pretende estabelecer parâmetros para tomadas de decisões de pesquisadores, professores, estudantes, agências de fomento e de avaliação, em relação ao prestígio de periódicos espanhóis e latino-americanos na comunidade científica brasileira das áreas de informação. Além disso, vai permitir comparações com outras pesquisas sobre o mesmo tema de forma a descrever mais detalhes da dinâmica do prestígio dos periódicos estrangeiros, especialmente dos espanhóis e latino americanos. Assim, este estudo se propõe a responder a seguinte pergunta: - Quais os títulos de periódicos científicos espanhóis e latino-americanos mais citados, ou de maior prestígio, nos artigos de periódicos científicos brasileiros das áreas de informação? Para dar resposta a essa pergunta, pretende-se cumprir o seguinte objetivo: identificar os periódicos científicos espanhóis e latino-americanos de maior prestígio na comunidade brasileira das áreas de informação entre os anos de 2009 e 2010, determinando o grau de prestígio de cada periódico por meio da elaboração de rankings.
2 MÉTODOS Utiliza como método a bibliometria, uma técnica que “permite análises quantitativas das propriedades, do comportamento e dos efeitos da informação ao 46
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
examinar relações entre unidades produtoras e unidades produzidas, que evidenciam relações entre ideias, indivíduos, instituições, países e áreas de pesquisa” (LIMA,1984, p. 61). Mais especificamente, foi utilizada a técnica de análise de citações em artigos de periódicos. As referências bibliográficas indicam que o periódico foi citado pelo menos uma vez no respectivo artigo, ou seja, para efeito prático cada referência indica uma citação. De forma resumida, o trabalho consistiu em identificar os periódicos científicos estrangeiros mais citados fazendo a contagem automática das referências a cada título de periódico científico. Como fonte de dados para a escolha da amostra, o trabalho utilizou-se de uma base de dados desenvolvida na Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília (UnB), a ABCDM. A base contém artigos, artigos de revisão, relatos de pesquisa e trabalhos apresentados no principal evento científico das áreas de informação. Assim, os periódicos utilizados como fonte dos artigos a serem analisados foram os seguintes títulos indexados na base ABCDM: 1. Acervo: Revista do Arquivo Nacional; 2. Anais do Museu Histórico Nacional; 3. Arquivística.net (ANET); 4. Arquivo & Administração; 5. Brazilian Journal of Information Science (BJIS); 6. Cadernos de Biblioteconomia; 7. Ciência da Informação; 8. Ciências em Museus; 9. DatagramaZero; 10. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação; 11. InCID:Revista de Ciência da Informação e Documentação (INCID); 12. Informação & Informação; 13. Informação & Sociedade; 14. Informare: Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação; 15. Museologia e Patrimônio: Revista Eletrônica do Programa de PósGraduação em Museologia e Patrimônio – PPG/PMUS; 16. Perspectivas em CI; 47
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17. Perspectivas em Gestão & Conhecimento (PGC); 18. Ponto de Acesso: Revista do Instituto de Ciência da Informação da UFBA; 19. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina (RACB); 20. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação (RBBD); 21. Revista Brasileira de Museus e Museologia (MUSAS); 22. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG (REBU); 23. Revista de Biblioteconomia & Comunicação (RBC); 24. Revista de Biblioteconomia de Brasília (RBB); 25. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação (RDBCI); 26. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (RPHAN); 27. Revista Eletrônica Jovem Museologia (REJM); 28. Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação (RICI); 29. Revista Museu (RM); 30. Transinformação. As referências dos artigos de periódicos científicos brasileiros acima citados publicados em 2009 e 2010 compõem o universo dessa pesquisa. A amostra é composta por 660 referências de periódicos científicos estrangeiros de 113 artigos selecionados aleatoriamente no universo. A variável utilizada no estudo é o título do periódico cujo indicador é a frequência do número de citações de cada título de periódico ou o número de artigos citantes. A unidade de análise é a referência, considerando-se apenas aquelas relativas aos periódicos científicos espanhóis e latino-americanos. Para o cálculo da margem de erro dos percentuais, foi utilizada a fórmula de Babbie (1999, p. 128) calculada para cada percentual encontrado. Foram utilizados os sistemas SPSS e MS-Excel na análise estatística e elaboração de tabelas.
3 RESULTADOS Os resultados são mostrados por meio de tabelas organizadas por diversos critérios, exibindo as frequências (F) e percentuais (%), bem como as margens de erro (S).
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Tabela 1 - Citações estrangeiras por região geográfica (2009-2010) REGIÃO F % EUA/Canadá 356 53,94% Europa 268 40,60% América Latina 18 2,73% Outras regiões 18 2,73% TOTAL 660 100% Fonte: autores.
Na Tabela 1 podemos verificar a supremacia da literatura periódica dos Estados Unidos e Canadá, que representam mais da metade das citações (53,94%), seguidos da Europa (40,60%). Ambos representam mais de 93% das citações a periódicos estrangeiros. Os países latino-americanos, apesar de índices bem menores, representam a terceira região com mais citações (2,73%). Tabela 2 – Citações estrangeiras por país (2009-2010) 1 2 3 4 5 6 7 8
PAÍS EUA Reino Unido Espanha Holanda Hungria Canadá Alemanha França Outros Países TOTAL
F 337 135 37 29 27 19 16 14 46 660
% 51,06% 20,45% 5,61% 4,39% 4,09% 2,88% 2,42% 2,12% 6,97% 100%
S 1,95% 1,57% 0,90% 0,80% 0,77% 0,65% 0,60% 0,56% 0,99% -
%AC 51,06% 71,52% 77,12% 81,52% 85,61% 88,48% 90,91% 93,03% 100% -
Fonte: autores. Notas: F=frequência, S=margem de erro, %AC=percentual acumulado.
A Tabela 2 mostra claramente a supremacia da literatura científica dos Estados Unidos (51%) seguidos do Reino Unido (20%) sendo a literatura periódica espanhola a terceira mais citada (5,61%), ou seja, aproximadamente o dobro da literatura periódica latino-americana que somou 2,73% (ver Tabela 1).
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Tabela 3 – Citações estrangeiras por idioma (2009-2010) IDIOMA F.CIT %CIT S Inglês 567 85,91% 1,35% Espanhol 54 8,18% 1,07% Francês 31 4,70% 0,82% Português 3 0,45% 0,26% Catalão 3 0,45% 0,26% Alemão 2 0,30% 0,21% Total 660 100% Fonte: autores. Notas: F.CIT=frequência de citações, S=margem de erro; os dados do idioma português incluem apenas autores de Portugal.
Em relação ao idioma, o espanhol é o segundo mais citado (8,18%), a frente do francês (4,70%). Pode-se destacar ainda a ocorrência de citações em catalão que marcam a presença das comunidades autônomas espanholas. Tabela 4 – Periódicos espanhóis citados (2009-2010) Nr. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
PERIÓDICO F.CIT. % CIT. S F.ART. % ART. Revista Española de Documentación Científica 4 0,61% 0,30% 4 3,54% El Profesional de la Información 3 0,45% 0,26% 3 2,65% Documentación de las Ciencias de la Información 5 0,76% 0,34% 2 1,77% Anales de Documentación 2 0,30% 0,21% 2 1,77% Scire 2 0,30% 0,21% 2 1,77% Quark 6 0,91% 0,37% 1 0,88% Revista Hispana para el Analisis de Redes Soc. 2 0,30% 0,21% 1 0,88% Boletín de la Anabad 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Biblioteconomia i Documentació 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Ciencia, Tecnología, Sociedad e Innovación 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Cybermetrics 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Educación y Biblioteca 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Infancia y Aprendizaje 1 0,15% 0,15% 1 0,88% No Solo Usabilidad Journal 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Pasos: Revista de Turismo y Patrimonio Cultural 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Revista Iberoamericana de Educación 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Revista Digital d'Humanitats 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Revista de Univ. y Sociedad del Conocimiento 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Serie Bibliotecología y Gestión de Información 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Treballs de la Societat Catalana de Geografia 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Outros títulos (não espanhóis) 623 94,39% 0,90% TOTAL 660 100% 113 -
Fonte: autores. Notas: F.CIT=frequência de citações, %CIT=percentual de citações, S=margem de erro, F.ART=frequência de artigos citantes, %ART= percentual artigos citantes; os dados estão em ordem decrescente de número de artigos citantes.
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Na Tabela 4 podemos ver os 20 periódicos espanhóis citados destacando-se a Revista Española de Documentación Científica e o periódico El Profesional de la Información, as duas citadas em maior número de artigos, embora a Quark tenha obtido maior número de citações, neste caso, todas em um mesmo artigo. Tabela 5 – Periódicos latino-americanos citados (2009-2010) NR. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
TÍTULO Acimed Biblios Revi. Interam. de Bibliotecología Ciencias de la Información Interciencia Información, Cultura y Sociedad Revista Theomai Revista Interam. de Nuevas Tecnol. Cuicuilco Investigación Bibliotecológica LIBER: Revista de bibliotecología Outros títulos (não hispanoameric.) TOTAL
PAÍS F.CIT. %CIT. S F.ART. % F.ART. Cuba 3 0,45% 0,26% 3 2,65% Perú 3 0,45% 0,26% 3 2,65% Colômbia 3 0,45% 0,26% 2 1,77% Cuba 2 0,30% 0,21% 2 1,77% Venezuela 2 0,30% 0,21% 1 0,88% Argentina 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Argentina 1 0,15% 0,15% 1 0,88% Colômbia 1 0,15% 0,15% 1 0,88% México 1 0,15% 0,15% 1 0,88% México 1 0,15% 0,15% 1 0,88% México 1 0,15% 0,15% 1 0,88% 641 97,12% 0,65% 660 100% 113 -
S 1,51% 1,51% 1,24% 1,24% 0,88% 0,88% 0,88% 0,88% 0,88% 0,88% 0,88% -
Fonte: autores. Notas: F.CIT=frequência de citações, %CIT=percentual de citações, S=margem de erro, F.ART=frequência de artigos citantes, %ART= percentual artigos citantes; títulos em ordem decrescente de número de artigos citantes.
Cuba é o país mais citado (5), seguido de perto pela Colômbia (4), Perú (3) e México (3). Em relação aos 11 periódicos latino-americanos citados, somam 2,88% das citações a periódicos estrangeiros, com destaque para os cubanos Acimed e Ciências de la Información, o peruano Biblios, e o colombiano Revista Interamericana de Bibliotecología. Nota-se que no seu conjunto, foram citados quase o dobro de periódicos espanhóis (20) do que periódicos latino-americanos (11).
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Tabela 6 – Periódicos espanhóis e latino-americanos mais citados (2009-2010) Nr. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
PERIÓDICO F.CIT. % CIT. Revista Española de Documentación Cient. (Esp.) 4 0,61% Acimed (Cuba) 3 0,45% Biblios (Perú) 3 0,45% El Profesional de la Información (Espanha) 3 0,45% Documentación de las Ciencias de la Info. (Esp.) 5 0,76% Revi. Interam. de Bibliotecología (Colômbia) 3 0,45% Ciencias de la Información (Cuba) 2 0,30% Interciencia (Venezuela) 2 0,30% Anales de Documentación (Espanha) 2 0,30% Scire (Espanha) 2 0,30% Quark (Espanha) 6 0,91% Rev. Hispana para el Analisis de Redes Soc.(Esp.) 2 0,30% Outros periódicos 623 94,39% TOTAL 660 100%
S F.ART. % ART. 0,30% 4 3,54% 0,26% 3 2,65% 0,26% 3 2,65% 0,26% 3 2,65% 0,34% 2 1,77% 0,26% 2 1,77% 0,21% 2 1,77% 0,21% 2 1,77% 0,21% 2 1,77% 0,21% 2 1,77% 0,37% 1 0,88% 0,21% 1 0,88% 0,90% 113 -
Fonte: autores. Notas: F.CIT=frequência de citações, %CIT=percentual de citações, S=margem de erro, F.ART=frequência de artigos citantes, %ART= percentual artigos citantes; títulos em ordem decrescente de número de artigos citantes e número de citações.
A Tabela 6 permite observar os 12 periódicos espanhóis e latino-americanos com mais de 1 citação. Neste ranking a Espanha conta com 7 periódicos e Cuba 2 periódicos, sendo os demais periódicos divididos entre Peru, Colômbia e Venezuela.
4 CONCLUSÕES Em relação à literatura científica periódica brasileira das áreas de informação publicada em 2009 e 2010 pode-se constatar: a) o espanhol foi o segundo idioma estrangeiro mais citado (8,18% das citações estrangeiras), depois do inglês (85,91% das citações estrangeiras) e antes do francês (4,70% das citações); Nascimento (2007, p.35) obteve resultados semelhantes em período anterior (1990-2006) quando o espanhol também foi o segundo idioma estrangeiro mais citado e também seguido do idioma francês; b) a Espanha foi o terceiro país mais citado, atrás apenas de Estados Unidos e Reino Unido; c) foram citados 20 periódicos espanhóis com destaque para Revista Española de Documentación Científica (4 citações em 4 artigos) e El Profesional de la Información (3 citações em 3 artigos), além de Quark (6
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citações em 1 artigo) e Documentación de las Ciências de la Información (5 citações em 2 artigos); d) Cuba, Colômbia, México e Peru foram os países latino-americanos mais citados; e) foram citados 11 periódicos latino-americanos com destaque para os periódicos Acimed (Revista Cubana de Información em Ciencias de la Salud) e Biblios (ambos com 3 citações em 3 artigos), e Revista Interamericana de Bibliotecología (3 citações em 2 artigos). O estudo permitiu dimensionar a influência e o prestígio relativos das literaturas periódicas espanhola e latino-americana na literatura periódica brasileira das áreas de informação em 2009-2010. Estudos complementares podem a profundar as particularidades da relação entre estas duas literaturas científicas, a espanhola e a latino-americana, com a literatura científica brasileira das áreas de informação abordando, por exemplo, relações entre instituições, questões temáticas, áreas e disciplinas, coautorias, entre outros aspectos.
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4 FROHMANN E O REGIME DE INFORMAÇÃO NO BRASIL: APORTE TEÓRICO DISCURSIVO Larissa de Mello Lima larissalima.unesp@gmail.com Graduanda do Curso de Biblioteconomia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) João Batista Ernesto de Moraes jota@marilia.unesp.br Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Universidade Estadual Paulista (Unesp) Mariana da Silva Caprioli mariana.caprioli@gmail.com. Graduanda do Curso de Biblioteconomia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Bolsista PIBIC/CNPq
Resumo: Diante da multiplicidade de agentes responsáveis por fomentar a Ciência da Informação em contexto nacional, como a Unesco, a Fundação Getúlio Vargas e o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD, atual IBICT), há a caracterização de instâncias de validação científica propriamente discursivas e institucionais que impulsionaram o nascimento da Ciência da Informação no Brasil na década de 1970. Desta forma, buscou-se interligar a perspectiva institucional com a discursiva e se ater ao conceito de “Regime de Informação” apresentado por Frohmann (1995). Para tanto, será apresentada a interlocução deste conceito com o contexto brasileiro da Ciência da Informação à luz da matriz teórica da Análise do Discurso de origem Francesa. Como resultado preliminar sinaliza-se que o conceito de “Regime de Informação” de Frohmann (1995), em relação a Ciência da Informação, relaciona dinâmicas de poder propriamente discursiva a partir do aporte institucional que começou a ser delineado na década de 70. Conclui-se, desta forma, que o conceito de Regime de Informação de Frohmann (1995) interliga a perspectiva institucional com a discursiva ao tornar possível a compreensão das instâncias de validação científica da Ciência da Informação no Brasil situadas enquanto atores que relacionam dinâmicas de poder. Palavras-Chave: Regime de Informação; Ciência da Informação; Análise do Discurso de Matriz Francesa.
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1 INTRODUÇÃO Frohmann (1995) sinaliza para o fato de como a informação é materializada através do meio institucional. Ele introduz o conceito de “Regime de Informação” explicando que este possui uma estrutura polêmica na medida em que é formada por grupos sociais, artefatos científicos, tecnológicos e discursos. Ele denomina esta estrutura como híbrida na medida em que carregam olhar discursivo e social simultaneamente. Este viés é importante de ser explorado na medida em que a Ciência da Informação também convive com uma multiplicidade de agentes de caráter híbrido, responsáveis por fomentar a área em contexto nacional. Exemplos destes agentes podem ser caracterizados a partir da Unesco, da Fundação Getúlio Vargas e do então Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD, atual IBICT). Ou seja, a partir deste respaldo institucional há a caracterização de instâncias de validação científica propriamente discursivas e institucionais que impulsionaram o nascimento da Ciência da Informação no Brasil na década de 1970. Interligar a perspectiva institucional com a discursiva é se ater ao conceito de “Regime de Informação” apresentado por Frohmann. A partir de Frohmann (1995), González de Gómez (2012) pontua que a criação do então IBBD, atual IBICT, indicou o surgimento de um novo regime de informação no Brasil, uma vez que sua criação foi oriunda de uma parceria da Unesco com a Fundação Getúlio Vargas, por intermédio de seu representante no Brasil, Paulo Carneiro, o qual indicou Lydia de Queiroz Sambaquy, juntamente com Jannice MonteMór, para percorrerem as principais bibliotecas e centros de documentação da Europa e Estados Unidos durante quase um ano, viagem essa, que tinha a finalidade de fomentar o estabelecimento de centros bibliográficos nacionais, se beneficiando da política da Unesco. Tal ação contou com o apoio da Fundação Getúlio Vargas e serviu para ampliar as ideias de Lygia de Queiroz Sambaquy sobre a estruturação que um órgão que fosse dedicado a trabalhos bibliográficos deveria possuir para impulsionar atividades cientificas e tecnológicas do país. Tal criação confirma a teoria de regime de informação, que se trata de: Um regime de informação seria o modo informacional dominante em uma formação social, o qual define quem são os sujeitos, as organizações, as regras e as autoridades informacionais e quais os meios e os recursos preferenciais de informação, os padrões de excelência e os modelos de sua organização, interação e distribuição, enquanto vigentes em certo tempo, lugar e circunstância (GÓMEZ, 2012).
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O novo regime de informação que surgia, caracterizado pela centralidade do fenômeno informacional, apenas viria a se desenvolver plenamente ao longo das décadas seguintes, mas nesse momento já definia suas diretrizes, pautado no surgimento do IBBD e nas novas posturas profissionais. Este trabalho visa mostrar que a Análise do Discurso de matriz Francesa, preocupada com o contexto em que tal discurso está sendo construído, com os atores e entidades envolvidas, se relaciona com o Regime de Informação, uma vez que (...) pode-se concluir que o regime de informação seria aquele que reúne atores e artefatos em práticas de informação que giram em torno de um interesse comum e em cujas relações se legitimam políticas explícitas ou implícitas que direcionam e ordenam essas práticas. Representa um conceito estrutural e estruturante para a Ciência da Informação porque não se prende à informação em si mesma, mas ao real objeto de estudo da disciplina, ou seja, ao conjunto de relações que a informação estabelece ao redor dos múltiplos interesses de atores e pela adoção específica de artefatos direcionados pelas práticas informacionais desses sujeitos (MAGNANI; PINHEIRO, 2011, p.16).
2 METODOLOGIA A metodologia utilizada utiliza o aporte da Análise do Discurso de matriz Francesa que apresenta uma definição extremamente estruturada segundo Orlandi: A Análise de Discurso, como seu próprio nome indica, não trata da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando (ORLANDI, 1999, p.15).
De tal forma, a autora nos leva a observar que a Análise do discurso não trabalha com a língua como um sistema abstrato, mas com ela no mundo, levando em consideração a produção desses sentidos em suas vidas, enquanto sujeitos ou enquanto membros de uma sociedade. Entende-se que a linguagem não é um instrumento que se encontra facilmente visível e transparente, por tal motivo a Análise do discurso, procura detectar como um texto significa, indo muito além de padrões e de como cada objeto em seu contexto significa. Então a Análise do discurso, busca compreender não somente a pratica de linguagem, mas também a parte simbólica e em como isso constrói o ser humano enquanto pessoa. A matriz francesa tem suas características pautadas no tipo de discurso escrito, doutrinário e institucional, tem seus objetivos de propósitos textuais, de explicação,
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forma e construção do objeto, construída sobre o estruturalismo, envolvendo, dessa forma, a linguística e a história. Dessa forma, Brandão (2004) procurou entender a Análise do discurso de matriz Francesa em seu ponto de surgimento, quando suas bases iniciais se debruçavam sobre os discursos políticos com posições bem definidas, como os debates entre direita e esquerda, e era definida como “o estudo linguístico das condições de produção de um enunciado”. A partir deste procedimento, passou-se a entender que a Análise do discurso de matriz Francesa, não se limita a estudos linguísticos, se tratando da parte de analisar somente a parte gramatical da língua, como também leva em conta os aspectos externos a língua como os elementos históricos, sociais, culturais, ideológicos que permeiam a produção de um discurso e que por tal motivo, nele se reflete. Tais elementos externos são partes essenciais de uma abordagem discursiva. Tem-se então: Um conceito fundamental para a AD é, dessa forma, o de condições de produção, que pode ser definido como o conjunto dos elementos que cerca a produção de um discurso: o contexto histórico-social, os interlocutores, o lugar de onde falam, a imagem que fazem de si, do outro e do assunto de que estão tratando. Todos esses aspectos devem ser levados em conta quando procuramos entender o sentido de um discurso (BRANDÃO, 2004, p.6).
O discurso está em constante influência, como visto, de elementos que o cercam, e dessa forma, observa-se que o contexto institucional é de grande relevância no momento da análise de um discurso. Pontuando acerca desta perspectiva Pêcheux (1997) nos lembra que se ater ao contexto é levar em conta uma sequência linguística flexível na medida em que É impossível analisar um discurso como um texto, isto é, como uma sequência linguística fechada sobre si mesma, mas [que] é necessário referilo ao conjunto de discursos possíveis a partir de um estado definido de condições de produção (PÊCHEUX,1997, p.74).
Estar sofrendo constante influência do contexto em que se está inserido levase a definição de Formação Discursiva e Ideológica, tão presentes na A.D. e que leva a melhor compreensão acerca do tema. Dessa forma, Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que, em uma formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada em uma conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina "o que pode e o que deve ser dito" (articulado sob a forma de uma alocução, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.) (PÊCHEUX 1997, p.160).
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Baseado em um determinado contexto, pautado em determinada Formação Ideológica, a Formação Discursiva determina o que pode ou não ser dito, levando a concluir que um discurso construído irá depender do contexto inserido, ou seja, de quem o fala, como o fala, em que época o fala, entre outros para expressar o que se deseja. Interligar o olhar discursivo com o viés institucional que consolida as práticas científicas, é se ater ao conceito de Regime de Informação proposto por Frohmann (1995). Ou seja, o regime de informação trata-se de um modo informacional em uma organização social, o qual define quem são, neste contexto, as organizações e em qual contexto estão inseridos. Ou seja, o regime de informação trata-se de um modo informacional em uma organização social, o qual define quem são, neste contexto, as organizações e em qual contexto estão inseridos. Partindo dessa definição, tem-se que (...) um regime de informação seria o modo informacional dominante em uma formação social, o qual define quem são os sujeitos, as organizações, as regras e as autoridades informacionais e quais os meios e os recursos preferenciais de informação, os padrões de excelência e os modelos de sua organização, interação e distribuição, enquanto vigentes em certo tempo, lugar e circunstância (GÓMEZ, 2012, p.43).
Assim, observa-se que tanto a Análise do discurso de Matriz Francesa, quanto o regime de informação tratam do discurso impresso em um determinado contexto, a primeira se importando com os elementos que permeiam a formação do discurso, sendo o âmbito histórico-social ou qual a instituição de onde fala esse discurso, ou seus interlocutores, o assunto de que se está tratando, enquanto o regime de informação se trata de um modo informacional em uma organização social, ao qual define quem são, nesta situação, as organizações e em qual contexto estão inseridos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES No que tange ao delineamento do conceito de Regime de Informação, Carvalho (2009, p. 214) nos explica que: Frohmann (1995) introduz o conceito de regime de informação - qualquer sistema ou rede que permite o fluxo de informação, através de estruturas específicas, de canais e produtores a consumidores, e este conceito passa a ser entendido como um elemento passível de ser utilizado como ponto de partida para a elaboração de políticas nacionais de informação. A partir de vários regimes de informação, pode-se pensar na discussão de uma política nacional de informação.
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A partir desta sinalização, em linhas gerais, dos aspectos teóricos que formam um regime de informação é possível entender este enquanto uma rede formada por atores que interagem em uma estruturação hierárquica de poder. Tal rede delimitada a partir da estrutura hierárquica de poder é formada através do contorno institucional possuindo viés discursivo na medida em que as instituições legitimam determinas instâncias enunciativas em detrimento de outras. A validação faz parte de um jogo complexo em que decisões repercutem em escalas em relação as instâncias de poder. Ou seja, trazendo tal configuração para o contexto da Ciência da Informação à nível nacional, é possível dizer que o conceito de regime de informação de Frohmann (1995), relaciona dinâmicas de poder propriamente discursivas, a partir do aporte institucional que começou a ser delineado na década de 70 com a criação do IBBD pela fundação Getúlio Vargas por incentivo da Unesco. O IBBD pode ser caracterizado então como um ator fundamental para a área em contexto nacional. A partir dele, pode-se dizer que a estruturação hierárquica de poder da área em contexto nacional começa a ser delineada. Neste processo é importante situar dois veículos de divulgação científica que nascem a partir do mesmo: O periódico Ciência da Informação é considerado um dos periódicos mais importantes da área e foi criado em 1972 pelo IBBD que no mesmo ano também criou a Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG. Essa iniciativa por parte do órgão, IBBD, pode ser entendida como reflexo da criação do primeiro curso de mestrado em Ciência da Informação em 1970. Ou seja, a partir do momento em que são formados pesquisadores na área passam a ser necessários veículos para divulgar as pesquisas científicas da mesma. É possível dizer que a conjuntura histórica da Ciência da Informação no Brasil possui alicerces estruturados sob o viés institucional. Denominamos por instâncias de validação científica da Ciência da Informação no Brasil as instituições que caracterizam e até mesmo determinam a história da área no país.
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Figura 1 - Instâncias de validação científica da Ciência da Informação no Brasil UNESCO/ FGV
IBICT (IBBD) REVISTA DA ESCOLA DE BIBLIOTECONOMIA DA UFMG
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Fonte: Elaborada pelos autores.
Através da figura acima, torna-se possível notar a relação hierárquica que há entre as instâncias de validação científica. Tal relação não é aleatória representando uma série de decisões que foram tomadas e repercutiram posições na esfera de institucionalização da área. Sendo assim é possível dizer que tais órgãos funcionam como atores que formam um regime de informação da área em contexto nacional. Estas características são discursivas e refletem o “jogo” que se remete à ação ideológica e às instituições que legitimam a atuação desta ideologia, na medida em que o discurso é uma instância que registra essa atuação. 62
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4 CONCLUSÕES É possível pontuar que o conceito de Regime de Informação de Frohmann (1995) relaciona a perspectiva institucional com a discursiva. Ela torna possível a compreensão das instâncias de validação científica da Ciência da Informação no Brasil situadas enquanto atores que relacionam dinâmicas de poder da área no país. Fica claro que a informação científica também se materializa através do viés institucional. Através da caracterização do IBBD por meio da iniciativa da Unesco em parceria com Fundação Getúlio Vargas, e a partir dele dos primeiros periódicos fundacionais da área (Ciência da Informação e Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG), torna-se viável afirmar que estes se firmam enquanto agentes de caráter híbrido que fomentam a área no Brasil. A relação hierárquica entre estes órgãos, caracterizada na figura 1 do trabalho, pode ser dita como pautada em dinâmicas de poder na medida em há a caracterização de instâncias de validação científica propriamente institucionais e discursivas que deram suporte para o nascimento da Ciência da Informação no Brasil na década de 1970. Buscou-se interligar a perspectiva institucional com a discursiva ao fazer um paralelo entre o conceito de “Regime de Informação” apresentado por Frohmann (1995) com o contexto brasileiro da Ciência da Informação à luz da matriz teórica da Análise do Discurso de origem Francesa. Entendeu-se que tanto a Análise do discurso de Matriz Francesa, quanto o regime de informação tratam do discurso impresso se atendo a determinado contexto. Como resultado sinalizou-se através da figura 1 responsável por caracterizar as instâncias de validação científica da área, que o conceito de “Regime de Informação” de Frohmann (1995), em relação a Ciência da Informação, relaciona dinâmicas de poder que são discursivas a partir do aporte institucional que começou a ganhar seu primeiro delineamento na década de 1970 em contexto nacional. Conclui-se que o conceito de Regime de Informação de Frohmann (1995) interliga a perspectiva institucional com a discursiva ao tornar possível a compreensão das instâncias de validação científica da Ciência da Informação no Brasil situadas enquanto atores que tornam possível a relação entre instâncias de poder na área.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
RREFERÊNCIAS BRANDÃO, N. H. H. Introdução a análise do discurso. 2.ed. Campinas: Ed. da Unicamp, 2004. CARVALHO, A, M, A. Novos enfoques no campo da Ciência da informação: uma discussão sobre a aplicabilidade do conceito de regime de informação em arranjos produtivos locais. Perspectivas em Ciência da Informação, v.14, n. especial, 2009. Disponível em:<http://www.scielo.br/readcube/epdf.php?doi=10.1590/S141399362009000400015&pid=S141399362009000400015&pdf_path=pci/v14nspe/a15v1 4nspe.pdf>. Acesso em: 01. Jun. 2015. FROHMANN, B. Taking information policy beyond information science: applying the actor network theory. 23rdAnnual Conference: Canadian Association form Information, 1995. GÓMEZ, M. N. G. Regime de informação: construção de um conceito. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v.22, n.3, 2012. MAGNANI, M. C. B.; PINHEIRO, M. M. K. “Regime” e “Informação”: a aproximação de dois conceitos e suas aplicações na Ciência da Informação. Liinc Em Revista, v.7, n.2, 2011, p. 593-610. ORLANDI, E.L.P. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999. PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de Eni Pulcinelli Orlandi et al. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1997.
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5 O USO DO TESAURO NA ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO EM WEBSITES
Agostinha Maria Rodrigues agostinharm@gmail.com Márcio Bezerra da Silva marciobdsilva@unb.br Universidade de Brasília (UnB).
Resumo: Objetiva verificar a utilização do tesauro na representação e organização da informação em Websites pelos arquitetos da informação. Disserta a partir de uma fundamentação teórica que abrange conceitos sobre representação temática da informação, linguagens documentárias, tesauro e arquitetura da informação em Website com ênfase nos sistemas de rotulação e organização. Constituise de um estudo exploratório no qual foi adotada a técnica de pesquisa bibliográfica e abordagens de coleta de dados quantitativa e qualitativa. Resulta que a maioria não conhece e não utiliza o tesauro nos sistemas de rotulação e organização na arquitetura da informação em Website, que a falta de conhecimento do tesauro é a principal causa para a não adoção da arquitetura da informação em Website, e que as vantagens são representadas pelo fato de proporcionar uma melhor organização e navegabilidade no Website, gerar eficiência na recuperação da informação e permitir interação entre os conteúdos, enquanto que a desvantagem destacada foi a falta de flexibilização do tesauro. Conclui-se que o tesauro não é um instrumento popular entre os pesquisados e para que seja mais uma opção de metodologia na elaboração dos sistemas de rotulação e organização se faz necessária a sua integralização nos cursos de arquitetura da informação, assim como a própria arquitetura da informação deve ser discutida nos cursos de graduação em biblioteconomia, acreditando que a intercepção gerada pela presente proposta resultará em estudos e pesquisas empíricas que contribuirão no aprimoramento de ambos os sistemas aqui enfocados e na utilização do tesauro na arquitetura da informação em Websites. Palavras-Chave: Arquitetura da Informação; Sistema de Organização; Sistema de Rotulação; Tesauro.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
1 INTRODUÇÃO Os Websites, ao longo do tempo, foram apresentando diferentes layouts e formas de interação, inicialmente em propostas estáticas com organização de informação rígida, enquanto ação exclusiva dos proprietários dos ambientes, e posteriormente passando por modelos mais flexíveis, permitindo a inserção (criação) de termos pelos próprios usuários, resultados de buscas por ranque de acesso entre outras características. Neste contexto, na busca em compreender a citada mudança na Web e consequentemente apresentar melhorias em seus ambientes, elencamos a Arquitetura da Informação (AI), compreendida como a arte de organizar e rotular Websites, Portais, Intranets etc., para que as informações sejam de fácil acesso e organizadas de maneira compreensível aos usuários. A AI surgiu como uma aplicação de técnicas para estruturar as informações em ambientes digitais, especialmente Websites, constituídas por áreas como a Ciência da Informação (CI), Biblioteconomia, Ciência da Computação (CC), Jornalismo, Design, Psicologia entre outras. Conforme Alves e Viana (2010), especificamente na CI e Biblioteconomia, as áreas que podem contribuir para a melhoria na disponibilização de informação em Website são planejamento
estratégico,
marketing,
estudos
de
usuários,
comunicação,
representação da informação, indexação, interação humano-computador (IHC). Ainda segundo as autoras, o arquiteto da informação precisa lidar com questões de usabilidade, taxonomia, tesauros e vocabulário controlado. Entre as questões citadas, justificando o presente trabalho, elencamos o tesauro enquanto uma linguagem documentária (LD) utilizada na indexação de documentos com a finalidade de possibilitar uma eficiente recuperação da informação e que possui uma estrutura de relacionamentos entre os termos que podem, enquanto um pressuposto hipotético, ser útil na AI em Website. Por ser uma estrutura de representação e organização tradicionalmente estudada na Biblioteconomia e vislumbrando o seu uso em ambientes digitais pelos arquitetos da informação, especialmente em Websites, surgiu os nossos problemas da pesquisa: Como se dá o uso do tesauro na AI em Website? Como se dá a popularidade do tesauro entre os arquitetos de informação? Para respondê-las o presente estudo objetivou verificar a utilização do tesauro na representação e organização da informação na AI em Websites pelos arquitetos da informação.
2 TESAURO 67
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A informação considera-se essencial para o indivíduo, pois é a partir dela que se cria/edita/aumenta o seu conhecimento, compreende melhor o mundo e direciona a tomada de decisões. Porém, para que a informação seja absorvida pelo homem, se faz necessária a adoção de representação compostas por objetos e propriedades que geram produtos. Citamos então a representação da informação, compreendida da seguinte forma: Atribui-se o conteúdo informacional dos documentos e permite identificação do tema ou do assunto a que se refere, através de ações de indexação, elaboração de resumos, classificação, disseminação, recuperação e busca. [...] O processo de Representação Temática da Informação permitirá a recuperação da informação, ação esta intimamente relacionada às formas de armazenamento, que por sua vez está relacionada ao tratamento/indexação e a organização/classificação da informação, em um sistema (DA SILVA; NEVES, 2010, p.4, grifos dos autores).
Também chamada de indexação, a forma de representação em discussão pode ser encarada como a ação na qual são definidos os termos que rotulam o assunto de um documento, que por sua vez, quando reunidos, formam as LD, apresentadas como ferramentas (sistemas de símbolos) utilizadas para fazer a representação temática da informação, conforme a tradução dos conceitos que foram identificados em um documento e selecionados de maneira sintética. A consequência desse processo é a otimização nos processos de busca e posterior recuperação relevante de informações. Conforme Vogel (2007, p. 11), LD é um “instrumento para o uso em contexto específico, que pretende sintetizar e agrupar documentos, tendo em vista a sua recuperação, e, portanto, a circulação das informações que os formam”. Também entendida como vocabulário controlado, a LD, segundo Kobashi (2008), é composta por um conjunto de termos (descritores) que tem a função de representar a informação ou conhecimento, controlá-las e padronizá-las nos sistemas de recuperação da informação (SRI). Entre os tipos de LD destacamos o tesauro por se apresentar como um instrumento de controle terminológico para facilitar a comunicação entre a linguagem do SRI e a do usuário. Conceitualmente o tesauro é uma LD construída a partir da seleção de termos da linguagem natural (LN) ou literatura especializada. É formado por um conjunto de termos, ou vocabulário controlado, que possui relações semânticas e hierárquicas na qual abrange uma ou mais área do conhecimento. Sales e Café (2009, p. 102) apresentam o seguinte conceito de tesauro elencando duas formas de estruturá-lo: 68
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[...] são vocabulários controlados formados por termos-descritores semanticamente relacionados, e atuam como instrumentos de controle terminológico. Os tesauros podem estar estruturados hierarquicamente (gênero-espécie e todo-parte) e associativamente (aproximação semântica), e são utilizados principalmente para indexar e recuperar informações por meio de seu conteúdo.
Em suma, tesauro é uma LD baseada numa estrutura conceitual de relacionamento entre termos que representam conceitos, ou seja, relações conceituais. Seguindo a ideia das autoras supracitadas e complementando-a, as relações mais comuns no tesauro são as hierárquicas (que se subdividem em relações genéricas e partitivas), associativas (conceitos que são coordenados ou tem uma proximidade semântica) e de equivalência (sinônimos ou quase sinônimos). As hierárquicas são relações em que os conceitos gerais aparecem primeiro que os específicos, ou seja, estão no nível superior na hierarquia de conceitos. O conceito específico possui todas as características do geral e mais uma característica que o diferencia. Neste modelo, o termo superior, geral ou genérico, é representado pela sigla termo geral (TG) e o termo subordinado, ou específico, é representado pela sigla termo específico (TE), por exemplo: TG é árvore; enquanto que as TE são raízes, tronco, galhos, folhas e frutos como partes da “árvore”. A segunda relação citada é a denominada associativa, que ocorre entre conceitos cujos significados sejam similares ou próximos devido a um contexto específico. São relações entre conceitos consideradas coordenadas e relacionadas entre si semanticamente, mas que não podem ser estabelecidas como relações de hierarquia e/ou equivalência. Segundo Gomes (1990, p. 31), a relação associativa ocorre quando dois ou mais termos “são tão associados mentalmente que se deve tornar essa ligação explícita no tesauro”, por exemplo, podemos relacionar os termos tecelagem e tecidos, abastecimento de água e irrigação, frio e calor etc. A relação de equivalência ocorre quando dois ou mais termos são ou quase sinônimos e representam o mesmo conceito. Conforme Austin (1991) é “[...] a relação entre o termo preferido e o termo não preferido onde dois ou mais termos são considerados para fins de indexação, como referentes para o mesmo conceito”. Nos tesauros as relações são representadas pelas siglas USE (use) e UP (usado para), por exemplo, professor USE docente, docente UP professor, países em vias de desenvolvimento USE países desenvolvidos, países desenvolvidos UP países em vias de desenvolvimento etc. 69
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Vale salientar que, apesar da definição de tesauro estar muito próxima de vocabulário controlado, como exposto anteriormente, a encaramos como uma estrutura que adota uma metodologia de construção (levantamento e categorização) mais rigorosa em relação aos termos e os conceitos do sistema. Nesta linha, o tesauro, mais especificamente sobre sua metodologia de construção, foi abordado por alguns autores como um instrumento que pode auxiliar na representação e organização da informação na AI em Website, entre os quais destacamos Rosenfeld e Morville (2006). Os autores consideram o tesauro, além do vocabulário controlado, um recurso útil para encontrar rótulos, tanto em outros Websites, como também no próprio. Além disso, ambos recomendam os arquitetos da informação à consultarem tesauros existentes na Web para auxiliar na elaboração do sistema de rotulação, principalmente se o projeto for de uma área especializada (ROSENFELD; MORVILLE, 2006). Relacionado a ação de representação, o tesauro pode ser utilizado como fonte de opções de termos para o sistema de rotulação da própria AI, que por sua vez será organizado de forma a estabelecer uma comunicação com o usuário segundo aspectos de interesse, língua e cultura.
3 ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO EM WEBSITE AI é uma área formada por técnicas de organizar e alocar os conteúdos nos ambientes digitais a partir de questões relacionadas a representação, ordenação, navegação e pesquisa em Website. Rosenfeld e Morville (2006, p. 15) definem AI da seguinte forma: 1. A combinação dos esquemas de organização, rotulação e navegação dentro de um sistema de informação; 2. O design estrutural do espaço informacional para facilitar a completude das tarefas e acesso intuitivo ao conteúdo; 3. A arte e a ciência de estruturar e classificar websites e intranets para ajudar as pessoas a encontrar e gerenciar informação; 4. Uma disciplina emergente e uma comunidade de prática focada em trazer princípios do design e arquitetura ao espaço digital.
A AI é composta pelos sistemas de organização, rotulação, navegação e busca. Rosenfeld e Morville (2006) explicam que os sistemas são interdependentes, utilizados para organizar as informações disponíveis nas páginas e proporcionar mais facilidades e agilidade na localização de informação pelos usuários. Conforme o objetivo da pesquisa se fez necessário abordar os dois primeiros sistemas citados anteriormente. No caso da rotulação são definidas as formas de 70
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representação e apresentação da informação. São decididos os rótulos entre título de menu, título de página e ícones para cada elemento informativo do Website. O rótulo é um termo ou símbolo linguístico utilizado para representar um conceito. Seu objetivo é comunicar um conceito sem ocupar muito espaço na página e sem exigir maiores esforços cognitivos do usuário para compreendê-lo. Para Bustamante (2004) é uma forma
de
representação
usada
assim como
as palavras
para
manifestar
pensamentos. Os rótulos apresentam um conjunto de informações em um Website e assim possibilitam uma comunicação com os usuários. O processo de produção dos rótulos pelos arquitetos da informação é semelhante ao de indexação realizado pelos bibliotecários na atribuição de termos representativos aos assuntos e conteúdos dos materiais bibliográficos. Nonato et al. (2008, p.133) acredita que uma “contribuição da Ciência da Informação e da Biblioteconomia para a implementação do sistema de rotulagem é a utilização das técnicas de indexação de assuntos”. Segundo Rosenfeld e Morville (2006) os vocabulários controlados e tesauros podem ser fontes de informação na localização de rótulos para o Website. Os tesauros são úteis por conter termos de uma determinada área com o objetivo de eliminar ambiguidades, controlar sinônimos e representar a informação de maneira exata e consistente. O tesauro pode auxiliar na escolha de rótulos que contém sinônimos ou vários significados. Para os autores, ambos podem ser licenciados para serem utilizados como sistema de rotulagem de um Website. Além disso, ambos recomendam que a consulta deve ocorrer antes de iniciar o processo de criação do sistema de rotulação. O sistema de organização, segundo citado entre os que compõe a AI e contemplado pelo objetivo da pesquisa, tem por função estruturar toda a informação do Website por meio da ordenação de conteúdos (agrupados e categorizados) e modelagem do espaço para inserção destes conteúdos. De forma ampla o sistema de organização tem como objetivo tornar o Website compreensível ao usuário, tornando a localização de informações, desejadas por ele, uma tarefa fácil e intuitiva. Rosenfeld e Morville (2006) afirmam que o sistema de organização é o componente da arquitetura de Website que tem por função definir as regras de classificação e ordenação de informações, categorizando todos os conteúdos oferecidos. Neste sistema deve-se ter um agrupamento lógico das informações e para isso são definidos os tipos de relação de itens de um grupo. Organizar o conteúdo do Website é colocar uma ordem lógica e compreensível na quantidade de conceitos, símbolos e informações que se encontram disponíveis. A classificação é utilizada no Website para disponibilizar o conteúdo de uma página dentro de um mesmo menu ou categoria de acordo com seus assuntos semelhantes. 71
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Páginas com conteúdos semelhantes ou relacionados ficam dispostos dentro de uma mesma categoria ou menu no Website. 4 METODOLOGIA A contextualização apresentada neste trabalho nos motivou a conhecer o uso do tesauro pelos arquitetos de informação e devido a produção quase nula sobre o empirismo em discussão, a presente pesquisa pode ser considerada como exploratória. Quanto aos procedimentos técnicos adotamos a pesquisa bibliográfica. No que se refere as abordagens de coleta de dados, o trabalho modela-se entre quantitativa e qualitativa. Para tanto, o instrumento de coleta adotado foi o questionário, confeccionado na ferramenta Google Docs, especificamente o serviço Google Forms, aplicação direcionada à criação de formulários. A pesquisa foi aplicada nos grupos de AI (quadro 1) mapeados nas redes sociais,
especificamente
no
e
LikedIn,
variando
entre
grupos
abertos/público e fechados. A escolha de ambas as redes sociais se deram pelos fatos de nos permitirem encontrar pessoas que trabalham ou pesquisam sobre AI em espaços específicos da Internet, nossa familiaridade (perfil pessoal) com as ferramentas e disponibilização do questionário de maneira online e sem custo. Quadro 1 – Grupos de AI nas redes sociais Facebook e Linkedin. Rede Social
Nome do Grupo Arquitetura de Informação para Bibliotecários Arquitetura da informação 2.0 Arquitetura da informação Arquitetura da informação Arquitetura da Informação / Luciana Manfroi InFace-Usabilidade, Arquitetura da informação, Design de Interfaces TI, Arquitetura da Informação, Desenvolvimento e Futilidade Arquitetura da Informação AI & UX (Arquitetura de Informação e User Experience) BibliotecomIA (grupo relacionado a AI) Instituto de Arquitetura de Informação
Tipo de grupo Fechado Público Fechado Fechado Fechado
Quantidade membros 142 400 18 11 18
Aberto
411
Aberto
38
Aberto
110
Aberto
2969
Fechado Aberto
14 1051
Fonte: Da pesquisa, 2014.
Depois do mapeamento solicitamos permissão de acesso aos grupos fechados, havendo retorno dos administradores dos grupos “Arquitetura da Informação para Bibliotecários”, do Facebook, e “Arquitetura da Informação”, do LinkdIn. A partir dos
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aceites, o campo de pesquisa constitui-se de oito (8) grupos que representaram um montante de 31 pessoas enquanto nossa amostragem: Facebook: Abertos (3): Arquitetura da informação 2.0; InFace-Usabilidade, Arquitetura da informação, Design de Interfaces; TI, Arquitetura da Informação, Desenvolvimento e Futilidade; Fechado (2): Arquitetura da Informação para Bibliotecários; Arquitetura de Informação; LinkedIn: Abertos (3): Arquitetura da Informação; AI & UX (Arquitetura de Informação e User Experience);Instituto de Arquitetura de Informação. Em suma, o percurso metodológico da presente pesquisa foi constituído das seguintes etapas de realização: 1. Realização da pesquisa bibliográfica e produção da fundamentação teórica conforme os assuntos abordados; 2. Mapeamento, nas redes sociais, de grupos de AI em Website; 3. Confecção e aplicação do questionário semiestruturado no período de 20 de outubro até quatro (4) de novembro 2014; 4. Coleta e tratamento dos dados; 5. Interpretação dos dados e considerações. 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Na pesquisa buscou-se verificar como se dá o uso do tesauro pelos pesquisados que se consideram arquitetos da informação. No caso deste trabalho, com ênfase nos sistemas de rotulação e organização, na questão um (1) foi feita a seguinte pergunta: Você conhece e/ou usa algum Website que utiliza o Tesauro na Arquitetura da Informação? A tabela um (1) demonstra que a maioria dos respondentes não conhece ou usa Website que possua o tesauro na AI do ambiente, correspondendo a 87% da amostra, enquanto que 21% conhece ou usa Website que implementou o tesauro. Tabela 1 – Websites que utilizam o tesauro na AI. Utilização do tesauro em Websites
Respondentes
Porcentagem (%)
Não
27
87%
Sim
04
13%
Total
31
100%
Fonte: Da pesquisa, 2014.
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Caso a resposta da questão um (1) fosse positiva, o item 1.1 solicitou que o pesquisado informasse qual(quais) é(são) esse(s) Website(s). Os indivíduos que conhecem ambientes digitais e que usam o tesauro foram os respondentes de número cinco (5), 17 e 19, elencando SENAC, Zona Sul Atende e Walmart respectivamente. Na questão dois (2) foi feita a seguinte questão: Conforme a sua opinião, o Tesauro é conhecido pelos Arquitetos da Informação? Conforme a tabela dois (2), a maioria dos profissionais pesquisados, correspondendo a 87%, acham que o tesauro não é conhecido, divergindo dos demais 13% da amostra. Tabela 2 – Conhecimento do tesauro pelos arquitetos da informação. Conhecimento pelos arquitetos da informação
Respondentes 27 04 31
Não Sim Total
Porcentagem (%) 87% 13% 100%
Fonte: Da pesquisa, 2014.
Ainda na questão dois (2), correspondendo ao item 2.1, solicitamos que os pesquisados justificassem suas respostas quanto ao conhecimento, ou não, sobre tesauro. Conforme o quadro dois (2), dentre os que acreditam que o tesauro não é conhecido, destacamos as seguintes justificativas: Quadro 2 – Conhecimento do tesauro na opinião dos profissionais.
Sim (é conhecido) P2:Dei aula sobre isso. A maioria conhece; P13:Só ouvi falar; P17:Sendo parte da disciplina é natural que os profissionais conheçam, ainda que nem sempre dominem; P26:Se o profissional estudar sobre AI, saberá. Se o profissional se acomodar com o que usa no dia a dia, provavelmente não saberá.
Não (é conhecido) P3:Baixa utilização; P4:Não tinha ouvido falar P5:Tesauro é um tipo de vocabulário controlado extremamente complexo usado para centros multinformacionais, talvez não seja necessário para sites; P7:Há poucos comentários sobre isso entre os profissionais e mesmo na internet não há muito resource sobre o assunto; P10:Nunca ouvi falar até então e já trabalhei com diferentes profissionais; P19: Há poucos arquitetos de informação com background em biblioteconomia; P21:Pouca divulgação; P24:A maioria conhece o nome e sabe que existe, no entanto não sabe como funciona, o que é ou como usar; P27:Além da bibliografia, não há muita a divulgação ou uso no dia a dia; P28:Pouco utilizado; P31:Os poucos que conheço não vi fazerem uso. Fonte: Da pesquisa, 2014.
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Na questão três (3) foi feito o seguinte questionamento: Como você avalia o seu conhecimento sobre a Linguagem Documentária Tesauro? Como pode ser visto na tabela três (3), a maioria dos profissionais não conhece o tesauro, correspondendo a 71% da amostra, enquanto que 10% tem conhecimento básico, 16% intermediário e apenas 3% tem conhecimento avançado. De acordo com as respostas constatamos que o tesauro não é um instrumento popular entre a maioria dos arquitetos da informação, provavelmente pelos poucos bibliotecários nessa área. Além disso pode ser vislumbrado que nos cursos de Biblioteconomia exista pouca ênfase nos estudos sobre AI em Website e, consequentemente, pouco aprofundamento na utilização do tesauro em ambientes digitais. Tabela 3 – Conhecimento sobre a LD tesauro na AI. Conhecimento sobre o tesauro
Respondentes 22 05 03 01 31
Não conheço Intermediário Básico Avançado Total
Porcentagem (%) 71% 16% 10% 03% 100%
Fonte: Da pesquisa, 2014.
Na questão quatro (4) foi perguntado se os investigados utilizam tesauro nos sistemas de rotulação e organização de Website. A tabela quatro (4) mostra que 87% dos profissionais não utilizam o tesauro nesses sistemas, em oposição a 3% dos pesquisados. O resultado mínimo desta questão, ou seja, 3% dos profissionais é representado por um (1) respondente. Tabela 4 – Utilização dos sistemas de rotulação e organização de AI Website. Utilização dos sistemas na AI de Website
Respondentes 27 03 01 31
Não Não respondeu Sim Total
Porcentagem (%) 87% 10% 03% 100%
Fonte: Da pesquisa, 2014
Nesse sentido, o resultado em discussão pode ser justificado pelo fato do tesauro ser tradicionalmente estudado, desenvolvido e utilizado para indexar documentos e possibilitar uma melhor recuperação da informação na Biblioteconomia. 75
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Por outro lado, comumente a metodologia de tesauro da Biblioteconomia não é estudada em consonância com os sistemas de rotulação e organização da AI. No sistema de rotulação o tesauro é indicado por Rosenfeld e Morville (2006) para fazer consultas de quais rótulos podem ser utilizados no Website. Já no sistema de organização, este permite uma melhor visualização das relações associativas entre os rótulos, afastando-se um pouco do escopo das relações hierárquicas das taxonomias. O presente resultado pode ser também compreendido devido ao fato dos pesquisados enxergarem a metodologia de construção do tesauro de maneira pragmática sem saber que o processo de agrupamento de rótulos são aspectos comuns na confecção do mesmo, isto é, quando o agrupamento de rótulos nas categorias, ou menus, são reunidos de forma relacionada (por alguma característica) e não apenas hierarquizada. Pretendendo identificar, dentre os profissionais que utilizam o tesauro nos sistemas de rotulação e organização em Website, como se dá uso da citada LD e qual é o seu objetivo e função no respectivo ambiente digital, de forma a complementar a quarta pergunta, na questão de número 4.1 foi realizada a seguinte solicitação: Fale brevemente sobre o uso, objetivo e função do Tesauro no ambiente. Apenas o pesquisado de número 19 respondeu a essa pergunta: “[...] portal uol, indexação de notícias antigas para o novo publicador [...]”. A questão de número cinco (5) é um complemento da interrogativa anterior, perguntando, entre os investigados que utilizam tesauro nos sistemas de rotulação e organização, quais são as relações (hierárquicas, associativas ou equivalentes) usadas em seus Websites. Essa pergunta teve apenas dois (2) respondentes, ou seja, os de números 16 e 19. Neste item vale salientar que na questão de número nove (9), o décimo sexto respondente afirmou que não conhece o tesauro, apesar de identificar relações do tesauro em Website. Por outro lado, o respondente de número 19 apresentou coerência em suas respostas, pois afirmou conhecer o tesauro na questão nove (9) e citou as relações associativas nos sistemas de rotulação e organização em Website. Na sequência foi perguntado, na questão seis (6), também como complemento à pergunta de número quatro (4), se os investigados que empregaram tesauro nos sistemas de rotulação e organização fizeram algum tipo de adaptação para o uso do mesmo. Nesta pergunta, três (3) pessoas responderam, correspondente aos 76
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pesquisados de números 16, 19 e 22. Os respondentes de números 16 e 22 afirmam não fazer nenhuma adaptação, entretanto estes respondentes, na questão nove (9), afirmaram não conhecer o tesauro, constatando-se afirmações contraditórias. Para o respondente de número 19, que afirmou conhecer o tesauro na questão nove (9), houveram adaptações em seu ambiente, pois “[...] era menos rígido. E usamos 'tags', locais e ano eram 'tags'”. A questão sete (7), de múltipla escolha e que permite a seleção de mais de uma opção, pretendia saber quais são os motivos de os arquitetos da informação não implementarem o tesauro nos sistemas de organização e rotulação da AI em Website. Como pode ser visto, segundo a tabela cinco (5), o principal motivo dos respondentes é a falta de conhecimento do tesauro, sendo essa opção marcada por 67% das pessoas. Tabela 5 – Motivos de não implementar o tesauro na AI. Motivos de não implementar o tesauro Não conhece (não visto na formação acadêmica e/ou no trabalho)
Não responderam Não ser viável (funcional) ao projeto do Website Não ter profissional com conhecimento adequado É oneroso (exige vários profissionais, de várias áreas Total
Respondentes Porcentagem (%) 21 11 06 02 01 31
67% 35% 19% 06% 03% 100%
Fonte: Da pesquisa, 2014.
Com base nos dados coletados na questão, acreditamos que se o tesauro começar a ser divulgado entre os arquitetos da informação pode ser que a sua utilização ocorra e/ou seja mais acentuada futuramente nos sistemas de organização e rotulação da AI em Website, especialmente entre os bibliotecários. Por fim, nas questões oito (8) e nove (9) foram perguntadas sobre as contribuições e/ou vantagens e as desvantagens da aplicação da metodologia do tesauro nos sistemas de organização e rotulação da informação, conforme pode ser observado no quadro três (3).
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Quadro 3 – Vantagens e desvantagens do tesauro na AI. Vantagens
Desvantagens
Em instituições que vão utilizar de fato;
Engradamento dos termos que na web não são;
Melhor organização e recuperação de conteúdo; Melhorias nos resultados de busca, na indexação da informação, navegabilidade, interação entre os conteúdos;
Extremamente complexo e mão-de-obra especializada;
demanda
Falta de flexibilidade e não adaptação a tesauro na rede; Flexibilização.
Garantia da uniformidade da informação e aumento da eficiência dos sistemas de recuperação da informação; Padronização, organização. Fonte: Da pesquisa, 2014.
As vantagens resumem-se ao fato do tesauro proporcionar uma melhor organização e navegabilidade do Website, gerar eficiência na recuperação da informação e permitir interação entre os conteúdos. Por sua vez, as desvantagens são a falta de flexibilização do tesauro Em suma, na análise constatamos que o tesauro não é conhecido e/ou utilizado por grande parte dos pesquisados e apenas um (1) respondente utiliza-o nos sistemas de rotulação e organização em Website. A falta de conhecimento do tesauro é a principal causa para que o mesmo não seja adotado na AI em Website, Além disso, as vantagens de uso do tesauro se resumem nas possibilidades de melhorias na organização e navegabilidade no Website, gerar eficiência na recuperação da informação e permitir interação entre os conteúdos, enquanto que as desvantagens estão sintetizadas na falta de flexibilidade da estrutura do tesauro. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O tesauro representa uma forma de organização, uma LD, isto é, um vocabulário controlado formalizado pelas relações hierárquicas, associativas e equivalentes. Tradicionalmente sua finalidade é ser um instrumento de controle terminológico que visa possibilitar uma recuperação da informação mais precisa conforme a especialização do conteúdo disponibilizado, atuando como uma ponte entre a linguagem do documento e a do usuário. Seu objetivo é estruturar os termos por meio de um sistema de conceitos conforme uma área do conhecimento. Além 78
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disso, quando visualizado de maneira inovadora, o tesauro pode ser utilizado como uma fonte de termos (rótulos) na qual os arquitetos da informação podem iniciar ou complementar o sistema de rotulação e melhorar a metodologia de construção do sistema de organização por categorias fidedignas aos assuntos abordados segundo a linguagem da Instituição, como também de seus usuários. Verificou-se que a maioria dos arquitetos da informação não conhece o tesauro, enquanto que uma pequena parte tem conhecimento avançado, indo ao encontro da fundamentação teórica no vislumbre do mesmo ser usado no sistema de rotulação, sendo uma fonte de termos ou recurso para encontrar rótulos de determinada área temática. No caso do sistema de organização, a metodologia de construção do tesauro pode contribuir na criação de categorias por meios das relações hierárquicas e associativas entre os conceitos. Além disso o tesauro pode proporcionar uma navegação intuitiva por meio da criação de mapas de assuntos no Website e dos relacionamentos entre os rótulos. Apesar do número ínfimo de pesquisados que utilizam a metodologia de construção do tesauro nos sistemas de rotulação e organização, acreditamos que estes profissionais empregam os princípios de categorização e agrupamento de termos da LD em questão de maneira pragmática, pois muitos Websites não adotam apenas relações hierárquicas, com rótulos gerais/genéricos e específicos, ou conceitos superordenados e subordinados, mas também relações associativas. De forma ampla, quando um Website agrupa, no mesmo menu, conceitos relacionados e não apenas hierárquicos, deflagra-se o princípio de agrupamento de termos do tesauro para representar a informação no ambiente. Neste sentido acreditamos que os pesquisados não sabem que estão utilizando a citada metodologia devido ao fato dos mesmos atuarem comumente com a taxonomia, entretanto esta última LD organiza os rótulos apenas no sentido genérico ao mais específico. Conclui-se que o tesauro não é um instrumento popular entre os arquitetos da informação e para que seja mais uma opção de metodologia na elaboração dos sistemas de rotulação e organização se faz necessária a sua integralização nos cursos de AI, assim como a própria AI deve ser discutida nos cursos de graduação em Biblioteconomia, acreditando que a intercepção gerada pela presente proposta resultará em estudos e pesquisas empíricas que contribuirão no aprimoramento de ambos os sistemas aqui enfocados e na utilização do tesauro na AI em Websites.
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6 CONTRIBUIÇÕES PARA O ENTENDIMENTO DE UM DOMÍNIO: UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA APLICADA ÀS TESES DA PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UNESP DE MARÍLIA (2004-2013)
Pollyana Ágata Gomes da Rocha Custódio pollyanaagata@hotmail.com Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Universidade Estadual Paulista (Unesp) , Bolsista CAPES. Ely Francina Tannuri de Oliveira etannuri@gmail.com Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Resumo: Um domínio poder ser considerado como o entendimento de uma disciplina, área, especialidade, contexto científico ou domínio de conhecimento. Esta pesquisa objetiva analisar o domínio científico aplicado ao universo das teses defendidas na linha de “Ensino, Aprendizagem Escolar e Desenvolvimento Humano”, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP de Marília, no período de 2004 a 2013. Entre os procedimentos bibliométricos, os estudos da análise de citação e cocitação permitem conhecer os autores mais influentes e mostrar aqueles de maior destaque em relação às citações recebidas e suas relações de cocitações, adotadas pela comunidade citante. Como procedimento de pesquisa, do conjunto de referências presentes nas 44 teses de doutorado, levantou-se um total de 4.880 referências. Foi gerado um banco de dados para a análise das variáveis: autores mais citados e autores mais cocitados. Neste universo, foram considerados como autores mais citados aqueles que receberam pelo menos 11 citações. Para a análise de cocitação, foi construída uma matriz simétrica contendo as frequências de cocitação entre os autores mais citados. Para a visualização da rede de cocitação, utilizou-se o software Pajek. Como resultados, foram destacados 36 autores mais citados, no âmbito das teses de doutorado. Conclui-se sobre a importância da análise de cocitação para a caracterização de um domínio científico e verticalização para a pesquisa em Educação. Palavras-Chave: Análise de Domínio; Educação; Estudos Bibliométricos; Análise de Citação; Análise de Cocitação de Autores.
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1 INTRODUÇÃO A produção e a organização do conhecimento de uma determinada área se constituem por meio da pesquisa científica, compreendendo a cada campo de conhecimento: linguagens próprias, tendências de pesquisa, fundamentação teórica, linguagens características, interesses científicos, concepções, associações e proximidades teórico-metodológicas estabelecidas, que permitem definir o campo, seus desdobramentos e a forma pela qual o conhecimento é construído e socializado. No âmbito da pós-graduação, as teses são consideradas importantes canais de comunicação científica, uma vez que constituem o principal conjunto da produção científica que registra o conhecimento novo gerado e já impregnado por um processo de maturidade teórica. Esta pesquisa propõe um estudo bibliométrico das teses do Programa de PósGraduação em Educação da UNESP de Marília, a partir da análise de citação e cocitação das referências bibliográficas contidas nos trabalhos científicos, no período de 2004 a 2013, tendo por objetivo analisar as teses produzidas na linha “Ensino, Aprendizagem Escolar e Desenvolvimento Humano”. Entre os procedimentos bibliométricos, a análise de citação permite conhecer os autores mais influentes em um domínio. A análise de cocitação de autores evidencia as relações cognitivas e sociais entre os mesmos, estabelecidas pela comunidade citante do domínio estudado, por meio da representação gráfica de rede.
2 ANÁLISE DE DOMÍNIO COMO PERSPECTIVA METODOLÓGICA PARA A VERTICALIZAÇÃO DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO
No âmbito da Ciência da Informação, a análise de domínio tem sido abordada por alguns pesquisadores, como Birger Hjørland e Hanne Albrechtsen (1995); Hjørland (2002), Tennis (2003), Smiraglia (2012), entre outros, que estabelecem uma abordagem significativa para caracterização e avaliação da ciência, indicando aspectos, tendências, padrões, relações sociais e cognitivas, processos e agentes que nela estão envolvidos. Birger Hjørland foi o primeiro a utilizar o conceito de domínio, e, em 1995, em parceria com Hanne Albrechtsen, desenvolveu o paradigma da análise de domínio. Nesta pesquisa, entende-se a análise de domínio como uma possibilidade ou um 83
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caminho metodológico para verticalização da pesquisa em Educação, considerando como ponto de partida o entendimento de uma disciplina, área, especialidade, contexto científico ou domínio de conhecimento, que determinado campo científico tem adotado como mais significativo. O conceito de análise de domínio, introduzida por Hjørland (2002), sugere um conjunto de 11 abordagens para o estudo e o entendimento de um domínio: (1) Produção de guias de literatura – que são documentos de mapeamento e sistematização da estrutura de um domínio (classificação, seleção, levantamento, descrição). (2) Construção de linguagens de indexação – que consiste na elaboração e organização das estruturas lógicas e os conceitos de um domínio, bem como suas relações semânticas entre os conceitos. São propriamente os vocabulários específicos e terminologias de um domínio. (3) Indexação e recuperação da informação – que pressupõe que domínios diferentes requerem demandas diferentes, assim a indexação e a recuperação da informação buscam organizar os documentos, de modo a otimizar sua recuperação. (4) Estudo de usuários – que fornece informações sobre as diferentes necessidades informacionais em diferentes comunidades, podendo ser organizados de acordo com a preferência, comportamento e modelos mentais de seus usuários, de modo que a necessidade é o feedback do usuário. (5) Estudos bibliométricos – que constituem uma abordagem consistente para analisar e caracterizar um domínio científico, permitindo perceber de forma detalhada a dinâmica do domínio analisado, suas associações e relações. (6) Estudos históricos – que contextualizam e expressam o universo em análise (surgimento, desenvolvimento, evolução). (7) Estudos de documentos e gêneros – que demonstram como se organizam e se estruturam os diferentes tipos de documentos de um domínio e oferecem elementos importantes para os serviços de informação. (8) Estudos epistemológicos e críticos – que consistem no estudo da produção do
conhecimento
científico,
sua
natureza,
influências,
correntes
filosóficas,
paradigmas que contribuem para a organização dos conceitos e a episteme de uma área.
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(9) Estudos terminológicos – que estão estritamente ligados à noção da construção de linguagens de indexação, terminologias próprias da área, identificandoas. (10) Comunicação científica – que explicita como determinada área se define enquanto ciência, como se comporta, se caracteriza, suas associações, relações, fluxos de conhecimento, linguagens, com fins de conhecer e compreender o campo em questão. Considera, ainda, a produção que a comunidade científica tem elegido para ser socializada, adotado como relevante e considerado como significativo para área. (11) Cognição científica, conhecimento especializado e inteligência artificial – que destacam quais modelos mentais específicos são compartilhados, construídos e socializados na área. Do conjunto de abordagens proposto por Hjørland (2002), destacam-se os estudos bibliométricos por sua significativa contribuição para se evidenciar, visualizar e caracterizar um domínio científico, permitindo perceber de forma detalhada sua dinâmica e enriquecer aspectos da investigação, em especial aqueles relativos às associações e relações estabelecidas no domínio. Associados aos estudos epistemológicos e históricos, os estudos bibliométricos permitem maior abrangência e profundidade do objeto investigado, conforme aponta Hjørland. Assim, sugere-se que as abordagens sugeridas na análise de domínio devem ser empregadas de maneira conjunta, duas ou mais, para maior abrangência e profundidade. O conceito de domínio, portanto, sustenta-se a partir da constituição teórica do objeto investigado, seu contexto e a relação com os entornos dos demais contextos. Esta pesquisa requer compreender o universo do domínio analisado para verticalização e o entendimento da pesquisa em Educação. Ampliando o conceito de análise de domínio, Tennis (2003) acrescenta, à proposta de Hjørland, dois eixos de abordagem para análise de domínio: as áreas de modulação e os graus de especialização. As áreas de modulação constituem a delimitação de um domínio; os graus de especialização estabelecem a profundidade e especificam um domínio. Essas duas concepções complementam-se e esta pesquisa procura estabelecer um diálogo entre elas, mostrando que não são excludentes, mas que uma completa e suplementa a outra.
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No caso da presente pesquisa, considera-se como domínio a investigação do conjunto de teses da pós-graduação em Educação da Unesp de Marília, tendo em vista que a área de modulação corresponde ao estudo da linha “Ensino, Aprendizagem Escolar e Desenvolvimento Humano”, no período de 2004 a 2013 (universo contextual), e como níveis de especialização, a análise de citação e cocitação de autores a partir do estudo bibliométrico, de modo a compreender as tendências investigativas que se fazem presentes na construção do conhecimento, por meio desses dois procedimentos bibliométricos citados. A análise de citação considera a frequência de citações recebidas por um documento, pesquisador, instituição ou país, evidenciando os principais autores e identificando várias características do comportamento, conforme apontam Vanz e Caregnato (2003). A partir das citações, busca-se evidenciar os autores cujos métodos, conceitos ou teorias serviram de embasamento ou subsidiaram o desenvolvimento de um o trabalho científico. Isso significa que um trabalho científico não se faz sozinho, mas sempre absorve a literatura já existente sobre aquele assunto (NORONHA; FERREIRA, 2000, p.249). Agregado aos estudos de análise de citação, os estudos de cocitação, por meio da análise da frequência com que dois documentos ou autores são citados conjuntamente em uma literatura, constitui um indicador relevante da proximidade teórico-metodológica de dois documentos ou autores. Desse modo, esta pesquisa requer compreender o universo do domínio estudado ao analisar e destacar os autores de maior visibilidade e suas inter-relações na área da Educação, na linha de pesquisa “Ensino, Aprendizagem Escolar e Desenvolvimento Humano”, além de trazer elementos epistemológicos, teóricos e históricos que contribuam para maior compreensão do contexto na linha de pesquisa em análise.
2.1 Contextualizando o Domínio: o Programa de Pós-Graduação em Educação da Unesp de Marília Os estudos de Castro (2010), em seu relatório final de pós-doutorado − “A PósGraduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília (19882008) e suas contribuições para a pós-graduação no Brasil” −, apontam para o envio, em 9 de setembro de 1985, do primeiro projeto destinado à instalação do Curso de 86
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Pós-Graduação em Educação, pelo então Diretor da Faculdade de Educação, Filosofia, Ciências Sociais e da Documentação¹ (FEFCSD), UNESP/Câmpus de Marília, Prof. Dr. Alvanir de Figueiredo, para tramitação competente. Com base na proposta de criação, o Programa de Pós-Graduação em Educação, na UNESP de Marília, passou a funcionar a partir de agosto de 1988. Considerado pioneiro em nível de pós-graduação, esse programa iniciou suas atividades de formação em nível de mestrado acadêmico em 1988, e em 1993, as atividades de formação em nível de doutorado. As atividades foram iniciadas com uma única área de concentração − Ensino na Educação Brasileira − e quatro linhas de pesquisa: 1) Educação Brasileira: História,
Política
e
Administração;
2)
Ensino,
Aprendizagem
Escolar
e
Desenvolvimento Humano; 3) Educação Especial no Brasil; 4) Ensino: Abordagem Técnico-Pedagógica. Em 1992, foi criada a linha “Comunicação, Informática e Educação”, e em 1995, a linha “Educação e Filosofia” (CASTRO, 2010). Um fato peculiar e inovador do PPGE/Marília foi a oferta de disciplinas pautadas nas linhas de pesquisa e não mais nas áreas de concentração, como era praticado até então nos programas de pós-graduação do Brasil, conforme aponta Santos (2000). Ainda de acordo com Santos (2000), como os cursos de pós-graduação existentes à época, no Estado de São Paulo, concentravam-se na capital (USP e PUC), em Campinas (Unicamp) e em São Carlos (UFSCar), uma pós-graduação em educação na região de Marília seria geograficamente de extrema relevância, pois contemplaria o Centro-Oeste e o Norte do estado de São Paulo, além das regiões do Norte do Paraná e das regiões mais próximas do Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul) e de Goiás. Segundo Castro (2010), as principais alterações na proposta inicial do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP de Marília foram provocadas, em 1998, a partir dos resultados apresentados pela avaliação da CAPES referente ao ano 1997, quanto aos aspectos referentes ao corpo docente, atividades de formação, corpo discente, teses e dissertações em desenvolvimento e concluídas, que foram avaliados entre irregular e inadequado quanto às atividades de pesquisa, à produção intelectual e proposta do Programa.
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Foram tomadas algumas decisões para a reorganização da sua proposta, dentre as quais: a desativação da linha de pesquisa “Comunicação, Informática e Educação” e a proposta de reorganização de linhas de pesquisa e de áreas de concentração. Em 1999, o programa ficou constituído por duas áreas de concentração: Área 1- Ensino na Educação Brasileira, com as linhas “Ensino, Aprendizagem Escolar e Desenvolvimento Humano”; “Educação Especial no Brasil”; e “Abordagens Pedagógicas do Ensino de Linguagens”; Área 2 - Políticas Públicas e Administração da Educação Brasileira, com as linhas “Políticas Educacionais, Gestão de Sistemas e Organizações Educacionais” e “Filosofia e História da Educação no Brasil”. Atualmente, o Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP de Marília é estruturado e regido sob as normas fixadas pelo Órgão Federal competente e pelo Regimento Geral de Pós-Graduação da UNESP. De acordo com última avaliação trienal (2013) da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES), o programa apresentou conceito 5, para os níveis mestrado e doutorado acadêmicos, visando à formação de pesquisadores para a área de Educação, docentes para o ensino superior e profissionais especializados para a área de Educação. Como proposta do programa (2012) está a extinção das áreas de concentração e a reorganização das linhas de pesquisa, estabelecendo que a linha “Ensino, Aprendizagem Escolar e Desenvolvimento Humano” (1988-2012) seja redefinida, a partir
de
2013,
como
“Psicologia
Desenvolvimento Humano”,
da
Educação:
Processos
Educativos
e
com base nos estudos sobre ensino-aprendizagem,
desenvolvimento humano, vulnerabilidades, processos educativos e de avaliação, formação de educadores e profissionais, nas perspectivas da Psicologia e Epistemologia
Genética,
da
Neuropsicologia,
da
Psicologia
Cognitiva
e
Comportamental.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A primeira etapa do desenvolvimento da pesquisa consistiu no levantamento do conjunto de teses no portal da base de dados digital de teses da própria instituição da UNESP. Com base neste levantamento, foi composto o universo da pesquisa, 88
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constituído por 45 teses de doutorado referentes ao período de 2004 a 2013. Nesta pesquisa, desconsiderou-se apenas uma tese referente à discente Regina Keiko K. Miura (2006) − “Comportamento de obedecer em pessoas com necessidades educacionais especiais: efeitos do ensino de habilidades para mães” − por não conter arquivo válido para download de sua pesquisa. Para cada conjunto de referências de cada tese, foi realizado um processo de tratamento das referências, pelo qual os traços sublineares foram substituídos pelo nome dos autores, e realizada uma padronização e limpeza nas citações, a fim de se deixar somente as informações (variável) a serem trabalhadas: autores das referências. O banco de dados gerado reuniu os conjuntos de referências, a partir das 44 teses e um total de 4.880 referências, correspondendo a uma média de, aproximadamente, 111 citações por tese. Para a análise dos autores mais citados, nos bancos de dados para o nível doutorado contendo os autores das referências, as autorias múltiplas foram desdobradas, para que se contemplassem os nomes de todos os autores citados, que, colocados em ordem alfabética, possibilitaram verificar os que foram citados em maior número de trabalhos e o número de citações recebidas. A partir desse universo, foram destacados 36 autores, com pelo menos 11 citações no conjunto de referências, considerando que nesta situação o pesquisador foi citado em pelo menos 25% das teses, presença considerada significativa. Construiu-se, na Planilha do Excel, a matriz simétrica com o registro das frequências de cocitação, dois a dois, entre os 36 autores mais citados. Para a visualização da rede de cocitação entre estes autores, foi utilizado o software livre Pajek, inserindo o bloco de notas construído na ferramenta rede do sistema. 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A Tabela 1 apresenta os 36 autores mais citados nas teses analisadas, que totalizam 730 citações, correspondentes a 15% do total de citações analisadas.
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Tabela 1: Autores mais citados com pelo menos 11 citações. Pesquisador (país) 1. PIAGET, Jean (Suíça) 2. DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira (Brasil) 3. SKINNER, Burrhus Frederic (Estados Unidos) 4. DEL PRETTE, Almir (Brasil) 5. CAPELLINI, Simone Aparecida (Brasil) 6. MARTURANO, Edna Maria (Brasil) 7. GIMENIZ-PASCHOAL, Sandra Regina (Brasil) 8. RYAN, Richard (Estados Unidos) 9. FOUCAULT, Michel (França) 10. BOLSONI-SILVA, Alessandra Turini (Brasil) 11. HABERMAS, Jürgen (Alemanha) 12. MOREIRA, Marco Antonio (Brasil) 13. BORUCHOVITCH, Evely (Brasil) 14. WEINER, Bernard (EUA) 15. LA TAILLE, Yves de (Brasil) 16. BOTOMÉ, Silvio Paulo (Brasil) 17. DE ROSE, Julio Cesar Coelho (Brasil) 18. DECI, Edward (Estados Unidos) 19. MATOS, Maria Amélia (Brasil) 20. MANZINI, Eduardo José (Brasil) 21. ZANOTTO, Maria de Lourdes Bara (Brasil) 22. SILVARES, Edwiges Ferreira de Mattos (Brasil) 23. COLL, César (Espanha) 24. CARLINI, Elisaldo Luiz de Araujo (Brasil) 25. BOURDIEU, Pierre (França) 26. MANTOAN, Maria Teresa Égler (Brasil) 27. MARTINS, Raul Aragão (Brasil) 28. TOGNETTA, Luciene Regina Paulino (Brasil) 29. GRAHAM, Sandra (Estados Unidos) 30. MENIN, Maria Suzana de Stefano (Brasil) 31. COZBY, Paul Chris (Estados Unidos) 32. FREIRE, Paulo Reglus Neves (Brasil) 33. POZO, Juan Ignacio (Espanha) 34. OMOTE, Sadao (Brasil) 35. PEREIRA, Liliane Desgualdo (Brasil) 36. DESSEN, Maria Auxiliadora (Brasil)
Nº de citações
Nº de teses em que foi citado
96 40 39 39 29 27 24 23 20 20 19 19 19 19 18 18 17 17 16 15 15 15 14 14 13 13 12 12 12 12 12 11 11 11 11 11
13 6 11 5 5 7 3 2 6 3 2 3 5 3 7 5 7 3 4 11 10 2 9 2 5 2 6 3 3 7 12 7 3 1 1 4
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A partir da análise da Tabela 1, quanto à procedência dos pesquisadores, destaca-se que 24 deles (aproximadamente 67%) são provenientes de instituições brasileiras, indicando, em nível de doutorado, o destaque para a citação de autores nacionais. Observa-se que autores como Piaget, Coll, Skinner, (re)conhecidos na área, sugerem abordagens teóricas de aprendizagem diferenciadas, como o construtivismo e behaviorismo. De modo geral, pertencem a diferentes linhas de pensamento. Do rol dos mais citados, verifica-se a presença de pesquisadores não específicos do campo em análise, mas que fazem interface com a Educação, como aqueles da Filosofia, da Fonoaudiologia e da Sociologia, que possuem contribuições científicas teóricas oferecendo subsídios para as diferentes áreas do conhecimento. Dos autores mais citados, pode-se dizer que a fundamentação se baseia em duas vertentes: área da Psicologia, com respaldo para o desenvolvimento moral, social e escolar e distúrbios de aprendizagem; e área das Ciências da Saúde, com destaque para a Fonoaudiologia, Audiologia, Psiquiatria, distúrbios de aprendizagem e a questão das drogas e do álcool na educação de crianças e adolescentes. Uma terceira vertente intermediária as duas primeiras aparecem em menor grau: Educação Especial. Há um dado histórico no Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP de Marília que ratifica a presença significativa de estudos voltados à Saúde: o fato da redefinição da linha de pesquisa da área de concentração “Ensino na Educação Brasileira”, em 2003, com a extinção da linha de pesquisa “Educação, Saúde e Comunidade” e a decorrente migração dos docentes a ela vinculados para a linha “Ensino, Aprendizagem Escolar e Desenvolvimento Humano”. Esse novo processo foi respaldado, sobretudo em 2004 e nos anos subsequentes, por discussões sobre as especificidades da linha, em busca de medidas para sua maior articulação e aprimoramento (CASTRO, 2010, p.74). Jean Piaget, autor mais citado, considerado um clássico teórico na área, aparece com 96 citações e configura-se como personagem científico específico e significativo da área, conseguindo entrelace teórico entre Educação, Psicologia, e, sobretudo, da linha em análise “Ensino, Aprendizagem Escolar e Desenvolvimento Humano”. Destaca-se, ainda, que Piaget foi o autor que apareceu em maior número de teses: em 13 (30%) das 44 teses analisadas. 91
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A Figura 1 apresenta a rede de cocitações entre os pesquisadores mais citados nas teses defendidas no período de 2004 a 2013. Os círculos são proporcionais à frequência de citações, e a espessura das ligações é proporcional à frequência de cocitação entre os dois autores cocitados. A cor verde foi usada para autores brasileiros, a cor azul para autores internacionais e a vermelha para pesquisadores que enquadram como docentes da linha de pesquisa.
Figura 1: Rede de cocitação entre os pesquisadores mais citados nas teses.
Fonte: Elaboração própria.
A partir das citações registradas e da visualização da rede de cocitações entre os autores mais citados nas teses produzidas, verifica-se a ausência de alguns estudiosos da área, tais como Ausubel, Pedro Demo, Fernando Becker e Vygotsky, que não são contemplados. Justifica-se a ausência destes pesquisadores pelo fato de se tratar de uma rede relacionada a um corpus específico, representando, portanto, as relações de um campo em que se identificam perfis teóricos específicos. Assim, a rede destaca, por exemplo, Piaget e Skinner, estudiosos clássicos, mas contempla 92
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também pesquisadores da própria instituição, como Eduardo Manzini, Raul Martins, Simone Capellini, e Sandra Gimenez. A partir das redes de cocitação geradas, identificam-se grupos de pesquisadores que permitem aproximações de representações das tendências teóricas ou metodológicas na área da Educação: a) tendência empirista, positivista e behaviorista; b) tendência do construtivismo piagetiano, e a inclusão de uma nova tendência, somadas às anteriores, a saber: c) tendência intermediária entre as duas primeiras, nas teses analisadas Em um universo mais amplo, outras correntes teóricoconceituais estariam se explicitando. Entre as duas tendências mais fortes observadas na rede de cocitação estão o Behaviorismo (teoria behaviorista) de Skinner (1904 – 1990) e suas implicações para o ensino e a aprendizagem por meio do chamado Behaviorismo radical de Skinner, que trata do condicionamento operante, abordando a concepção de aprendizagem enquanto uma resposta-alvo por meio de aproximações sucessivas. Nessa perspectiva teórica, Skinner contribui para a investigação das leis que governam as relações entre organismo e ambiente e que determinam o comportamento. A forte influência piagetiana deriva da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget (1896 – 1980) e o escopo da pesquisa do autor configura o cunho construtivista do desenvolvimento cognitivo humano – a cognição humana. Seus trabalhos datam da década de 1920, mas ganham força na década de 1970, período em
que
incide
a
ascensão
da
teoria
construtivista
ou
cognitivista
e,
consequentemente, o declínio do behaviorismo e a influência da teoria piagetiana no ensino-aprendizagem. Algumas implicações na teoria de Piaget são fundamentais para o desenvolvimento, o ensino e a aprendizagem, como os quatro períodos de desenvolvimento cognitivo da criança: sensório-motor, pré-operacional, operacional concreto e operatório formal. No entanto, existem outras visões construtivistas. Em suma, “mais do que apontar apenas quais os autores mais citados, buscouse identificar a maneira como vem se dando essas citações: considerando-se que tipo de obras, de que época, incidindo sobre quais teorias, com que tipo de contribuição” (ARAÚJO, 2009, p.20).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa procurou contribuir para a caracterização da pesquisa científica na linha de pesquisa analisada, o modo pelo qual o conhecimento da literatura é construído e socializado para a comunidade científica da área. Os resultados desta pesquisa relacionam-se aos aspectos políticos, históricos, sociais e culturais do contexto local, do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP de Marília. Conclui-se, desse modo, que a análise de citação e cocitação de autores constitui um procedimento bibliométrico relevante para a análise da estrutura intelectual e social de um domínio do conhecimento científico. Ainda, os estudos que mapeiam as redes científicas devem ser desenvolvidos em associação com análises epistemológicas, críticas e históricas, a fim de se compreender um domínio de forma mais plena e aprofundada.
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7 ELEMENTOS COMPARATIVOS DA CLASSIFICAÇÃO DE FOTOGRAFIAS NO ÂMBITO DA ARQUIVOLOGIA, BIBLIOTECONOMIA E MUSEOLOGIA Ana Cristina de Albuquerque albuanati@uel.br Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Universidade Estadual deLondrina (UEL).
Resumo: A organização da informação e do conhecimento não pode ser ao acaso: é o resultado de todas as transformações e influências sociais, econômicas e culturais que se dão no ambiente em que circula. A ordem, dada por seus produtores ou detentores, enquanto objetos de uso fora de um arquivo, biblioteca ou museu reflete o sentido de uma época, de uma cultura. Neste contexto, este artigo propõe um estudo sobre a classificação de documentos fotográficos no âmbito da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia sendo estes, frutos muitas vezes das coleções particulares, de registros institucionais, documentação pessoal, etc. O foco do estudo são os elementos de semelhanças ou não (alguns elementos comparativos) que cada campo contém quando a abordagem está em tratar e disponibilizar estes documentos que têm tantas particularidades. Palavras-Chave: Documento Fotográfico. Classificação Arquivística. Classificação – Biblioteconomia. Classificação – Museologia. Organização do Conhecimento.
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1 INTRODUÇÃO A documentação produzida, de diferentes tipos, tem o papel não só de comprovar, lembrar, testemunhar fatos, mas também de, através de estruturas complexas, refletir universos específicos, condensados em características e contradições que irão apresentar uma identidade própria, escrita por seus detentores que, ao conferir à sua documentação, ou coleção, uma disposição particular, apresentará os modos e relações com o mundo e com pessoas da época. Acumular e guardar tesouros para oferecer ao olhar, mesmo que sua função útil seja uma questão que fique em segundo plano, é uma prática que atravessa séculos. Esses objetos, coletados e diferenciados trazem a possibilidade de formar uma classificação que, por sua vez, deve ser explicada e entendida de acordo com seu contexto histórico. Uma coleção mostra a relação existente entre as coisas colecionadas, o colecionador e seu contexto. Um colecionador conserva, divulga e transmite o que há de precioso. Uma unidade informacional institucionaliza, classifica, descreve e disponibiliza. O tratamento de acervos nasce juntamente com o desenvolvimento das ciências e com a necessidade de dar a uma determinada coleção, dentro de um ambiente próprio, o acesso às suas informações. Organizar o volume de informações que estão disponíveis é um desafio. A organização da informação e do conhecimento não pode ser ao acaso: é o resultado de todas as transformações e influências sociais, econômicas e culturais que se dão no ambiente em que circula. A ordem, dada por seus produtores ou detentores, enquanto objetos de uso fora de um arquivo, biblioteca ou museu reflete o sentido de uma época, de uma cultura. Neste contexto, este artigo propõe uma reflexão sobre a classificação do documento fotográfico no âmbito da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia. O foco do estudo é levantar alguns elementos comparativos que cada campo contém quando a abordagem está em tratar e disponibilizar estes documentos que têm tantas particularidades. No âmbito de nossa pesquisa, abordamos a fotografia como um documento repleto de peculiaridades que acompanhou as mudanças sociais e consolidou inúmeros usos dentro desta. As coleções de fotografias acumuladas durante a vida de uma pessoa ou de uma instituição se transformaram posteriormente em documentos acumulados em instituições que também sofrem modificações e influências sociais. 99
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A organização e classificação dadas às coleções de fotografias que vão se formando, sejam estas coleções de natureza institucional ou pessoal, refletem o pensamento de uma época.
As formas de organizar e classificar documentos
devem ser mantidas e respeitadas pelas instituições que os recolhem, a fim de “não apagar os traços da sua organicidade, traduzida no modo como ela foi acumulada, reunida e, ainda, naquilo que foi intercambiável nessa reunião” (GONÇALVES; MARCONDES, 2005, p.263). Tarefa difícil e que exige um trabalho de pesquisa dos profissionais envolvidos no processo de tratamento das instituições que possuem acervos fotográficos, pois, “quanto mais uma classificação se adaptar a uma determinada época, menos adequada será para outra” (VICKERY, 1980, p.187). O artigo se divide em três sessões, incluindo esta introdução e as considerações. A classificação em cada campo com ênfase no documento fotográfico é abordada na sessão a seguir mostrando-se alguns elementos de cada campo baseados no levantamento bibliográfico da pesquisa.
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SOBRE
A CLASSIFICAÇÃO
DE
FOTOGRAFIAS
NA ARQUIVOLOGIA,
BIBLIOTECONOMIA E MUSEOLOGIA O termo classificação se caracteriza pelo processo de agrupar e dividir o conhecimento por suas semelhanças, dispor as informações de modo que suas relações de analogia se sobressaiam, para que as ciências, o saber ou documentos possam ser apreendidos de forma precisa. A classificação é um fenômeno social e nela cada fato impulsiona a criação de novas formas de classificação entre os seres e os saberes. Dessa forma, as ações apresentadas no domínio das relações sociais são atos classificatórios. É uma maneira que permite que semelhanças e diferenças sejam agrupadas para distinguir características de algo, assim como para arrumar fisicamente objetos. O conceito de classificação é definido por muitos autores como sendo um processo que possibilita dispor conjuntos de elementos de forma que possam estar ordenados para fins pragmáticos, como organização, disponibilização, posterior recuperação e também para entender e conhecer melhor um determinado objeto ou pessoa. “Classificar, na acepção mais simples do termo, é reunir coisas ou idéias que sejam semelhantes entre si, e separar as que apresentam diferenças” (VICKERY, 1980, p. 23). Através da classificação é possível escolher dentro de diversas 100
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entidades — que, de acordo com Vickery (1980), são seres concretos e conceituais — as características que melhor têm relação com a entidade que foi determinada anteriormente. Na perspectiva de Peña (2003) classificar incide em um processo dicotômico que leva a diferenciar coisas e objetos agrupando-os em classes ou grupos com características comuns. Com as classificações, tem-se a pretensão de organizar o universo do conhecimento em uma ordem sistemática, pois se agrupa não só o conhecimento, mas também objetos em uma classe comum. Para entender o conceito e o processo da classificação, é preciso percorrer sua história, que é cheia de diferentes manifestações, tanto como parte da vida do homem como fator do desenvolvimento das ciências, quanto como elemento utilitário para organizar a imensidão de documentos e informações que circulam de forma intensa em nossas áreas do conhecimento. Fundamentada em semelhanças e contrastes, a classificação pode reunir a síntese e a análise, pois é “o meio mais simples de, simultaneamente, discriminar os elementos de um conjunto e agrupá-los em subconjuntos — isto é, de analisar e sintetizá-lo” (BUNGE apud GIL, 2001, p.91). Dessa forma, percebe-se também a relação com o desenvolvimento do conhecimento, pois, com a organização deste em classes, sua função se estende à de unificar e sistematizar os fatos e dados, com espaços que permitem crescer a partir do exterior, ou seja, nível a nível, de acordo com a hierarquia. De acordo (GIL, 2001), em Aristóteles já era recomendado que a classificação fosse por opostos. Aristóteles tem enorme contribuição no entendimento do conceito de classificação , pois, de acordo com San Segundo Manuel (1996), o filósofo responde pela reflexão mais completa e mais bem elaborada sobre a classificação do conhecimento e é com ele que os primeiros indícios de uma classificação sistemática em relação às ciências aparecem. As ciências investigam causas e princípios que estão envolvidos com a natureza dos seres, por isso ela só se concretiza quando há conhecimento dessas causas, sejam elas observadas em seres ou objetos de estudo de qualquer área do conhecimento. Com esse pensamento, o filósofo contribui para as bases das investigações científicas ocidentais, tendo como fundamentos de sua obra a pretensão de buscar uma articulação entre os diferentes saberes e procurar, através de unidades, as estruturas que sustentam os ramos dos conhecimentos múltiplos existentes. 101
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O conceito de classificação entendido pelos campos da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia vêm ao encontro das concepções filosóficas quando pretendem, cada uma ligada à sua especificidade, dar bases teóricas a uma atividade que poderia ser considerada apenas de caráter prático. O conceito de classificação na Arquivologia tem em seu cerne e concepção nos princípios da proveniência e de respeito à ordem original. O princípio da proveniência ou respeito aos fundos se refere aos interesses externos, ou seja, demanda que os profissionais se atentem ao organismo produtor, englobando suas funções, fato que determinará o porquê da criação daquele documento, seu conteúdo e seu posterior uso como documento histórico. Já o princípio de ordem original incide no fato de resguardar os documentos com sua ordem original nos fundos e evitar que esses sejam tratados à luz de classificações por temas ou matérias, o que dificulta e mesmo acaba com as verdadeiras origens dos documentos. Dessa forma, com os relacionamentos entre documentos e seu produtor e os documentos entre si, os arquivos têm assegurado seu caráter orgânico que, através desses princípios, demonstram a importância das relações de natureza administrativa que vão se desdobrar em algumas características que fazem com que o documento se mostre como arquivístico. Assim, entende-se a classificação como uma atividade que preservará a ligação entre a cadeia hierárquica da instituição para maior facilidade de recuperação das informações, e demonstrará como aqueles documentos se constituíam dentro de cada órgão produtor. Classificar é realizar uma série de atividades que dividem ou juntam elementos diferentes e semelhantes, com o intuito de conhecer, entender e dispor esses elementos de forma que possam ser encontrados, mas também compreendidos dentro de determinado período ou esquema. A perspectiva da Arquivística Integrada defende a ideia de realizar concomitantemente as atividades de classificação, avaliação e descrição, parte de algumas fases para contemplar o resultado. Uma destas fases é o tratamento inicial do documento, definido por etapas de pesquisa por Lopes (1996). Estas etapas vão influenciar posteriormente na elaboração e adequação do Plano de Classificação de Documentos, produto que materializa todo o processo. Descreve-se a seguir as
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etapas de pesquisa propostas por Lopes (1996) por considerar de fundamental importância para a classificação.
Quadro 1: Síntese das etapas da pesquisa para futuras classificação, avaliação e descrição de documentos. Lopes (1996, p.90-97). 1ª Etapa
2ª Etapa
3ª Etapa
- levantar estruturas políticoadministrativas das funções e das atividades das organizações – considerar a origem, evolução e a situação atual da instituição – estudar a historia da instituição e de suas estruturas - levantamento da documentação e do meio físico de guarda - mensuração dos dados sobre o acervo – diferenciar quantidade, suporte, estado de conservação - definir tipologia documentais - elaboração do método de arquivamento e de recuperação das informações
- pesquisas - entrevistas - consulta a documentos ou tudo o que fale sobre a documentação.
- pesquisa junto ao acervo e pelo - estudo das tipologias documentais
- pesquisar nas práticas arquivisticas o método mais adequado.
Fonte: Elaborado pela autora
As etapas de pesquisa levarão à elaboração da classificação mais adequada ao acervo e dos procedimentos que resultarão na recuperação das informações. Lopes (1996), escreve que é defendida uma classificação que possa gerar dossiês dos documentos que devem ser unidos efetivamente sob “o ponto de vista intelectual” (LOPES, 1996, p. 99), pois podem estar separados fisicamente por conta de seus suportes mas têm de refletir a estrutura da organização. O relacionamento entre documentos e seu produtor e dos documentos entre si, têm assegurado seu caráter orgânico e informacional através da Arquivística Integrada, por ser demonstrada a importância de compreender a natureza de um documento a partir do momento de seu nascimento com características de documento arquivístico, com valores e informações que façam sentido a seu produtor e a seus pesquisadores e que a classificação corresponde a uma fase que, sistematizada com o restante do tratamento, é essencial para a recuperação das informações. As circunstâncias do tratamento dos documentos fotográficos em arquivos são bem discutidas na literatura da área e o esforço para elaborar metodologias condizentes com a teoria arquivística é visível neste sentido, mesmo que por vezes ainda não seja executado. Para Heredia Herrera (1993) o tratamento do documento 103
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fotográfico se dá através da classificação logo em sua entrada no acervo e para a sua recuperação é indicado a elaboração de um índice ou tesauro (HEREDIA HERRERA, 1993). A autora também indica que a seleção deve ser realizada a partir dos elementos e circunstancias de sua produção. Para Lacerda (2008), há o problema das técnicas vigentes na biblioteconomia, fato que faz com que arquivistas se espelhem e utilizem estas técnicas, o que em seu entendimento, acaba criando abordagens equivocadas do documento fotográfico ao ponto de não desenvolverem uma teoria própria sobre o assunto, já que este é terreno fértil para discussões na área. Lacerda (2008, p.78) enfatiza que: Essa abordagem equivocada, consubstanciada no tratamento isolado de cada fotografia, tendo em vista extrair apenas seu valor informativo, ligado aos fatos visuais que representa, alimenta um círculo vicioso que culmina com a naturalização dessas fontes, por parte dos pesquisadores em geral, no sentido de as considerarem os melhores registros capazes de veicular de forma mais “fiel” uma realidade exterior a eles. Documentos descontextualizados, assim como fontes descontextualizadas, devem se constituir num problema de primeira ordem a arquivistas, historiadores e pesquisadores em geral no desenvolvimento de seu trabalho.
Assim, a autora toca em um ponto polêmico sobre o tratamento do documento fotográfico sob a ótica arquivística. Principalmente em relação à classificação destes documentos não há quase nada estabelecido e a base por muitas vezes acaba sendo os tratamentos dados aos materiais na biblioteconomia. É importante referenciar Lopez (2010), pois esta parte do princípio de que uma das principais diferenças entre os documentos de uma biblioteca e de um arquivo é a produção. Em um arquivo os documentos são produzidos em série pelo órgão produtor e não se caracterizam pelo tratamento individual, neste sentido o autor questiona, como Lacerda (2008), o tratamento individualizado e “especial” dado aos documentos fotográficos, fato que o separa totalmente da atividade de classificação. De acordo com Lopez (2010), quando a imagem está junto a outros documentos principalmente textuais, não há a possibilidade de ter uma unidade documental, pois está associada a um determinado conjunto e já classificada a partir dele. O tratamento então se dá através da separação física, por conta do diferente tipo de tratamento de conservação (LOPEZ, 2010, p. 221). No caso de documentos produzidos por acessoria de comunicação dentro de um determinado órgão, Lopez (2010) explica que é possível atribuir a espécie documental, pois o documento fotográfico estaria ligado à funções exercidas na instituição e seria fruto de uma ação. Por último, referente a coleções adquiridas pelos arquivos, é que tem possibilitades 104
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de maior dificuldade na aplicação de normas arquivísticas visto que chegam aos arquivos sem uma organzação e por vezes sem informações de sua proveniência. Neste caso, Lopez (2010) indica que a descrição, sem contemplar a contextualização de produção, pode ser a única alternativa de tratar estes documentos para sua posterior recuperação. Lopez (2010) alerta que qualquer tratamento deve, como colocado também por Heredia Herrera (1993), vir antes de tudo ser “direcionada pela classificação” (LOPEZ, 2010, p. 224). É ela que vai garantir a total contextualização dos documentos que não podem ser tratados de forma diferente dos outros documentos do arquivo (LOPEZ, 2010, p. 224). No entendimento da classificação voltada aos documentos fotográficos Damián Cervantes (2008), explica que ao ter uma quantidade de documentos é necessário estabelecer agrupamentos que os diferencie e isto se faz do geral ao particular, ou seja, a gênese do documento é imprescindível para a identificação do fundo, o geral, e as atividades realizadas neste fundo, o particular (DAMIÁN CERVANTES, 2008). Desta forma, o quadro de classificação reflete as seções, subseções e séries que compõe aquele fundo e possibilita uma estruturação hierárquica evidenciando as funções e atividades sem dar possibilidades de ambiguidade em relação ao lugar de um documento dentro de um fundo, já que este está refletido no quadro de classificação . Entendida dessa maneira, a atividade de classificação está intrinsecamente relacionada à recuperação final do documento de arquivo, e o documento fotográfico como qualquer outro documento de um arquivo necessita de contextualização correta para que suas informações possam ser recuperadas. No âmbito de um arquivo permanente, estas atividades por vezes podem ser realizadas tendo de ser feitas algumas adaptações, pois, na prática, uma série de questões surgem e dificultam o trabalho dos especialistas. As classificações bibliográficas, como as conhecemos atualmente, são fruto do final do século XIX, quando foram elaboradas tabelas sistemáticas que pretendiam dividir o conhecimento de forma a ser funcional para encontrar informações e documentos. Tem-se aqui o terceiro e quarto nível da problemática das classificações discutido por Pombo (2002). A classificação dos livros e das informações representa, para a autora, um novo domínio no mundo das ciências, já que se propõe a
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especificamente tratar dos sistemas de classificação para organização de documentos . Com a finalidade de estabelecer as relações devidas entre os documentos, mantendo as características intelectuais de sistemas de pensamento que foram desenvolvidos até o momento, os sistemas de classificação se tornaram instrumentos imprescindíveis para as funções dentro de uma unidade informacional. Desta forma, a classificação bibliográfica pode ser definida como: [...] la agrupación u orden de libros y outro tipo de documentos según su contenido, formando grupos dentro de los campos de conocimiento humanos en que estos campos resultan ser compartimentos conceptuales (SAN SEGUNDO MANUEL, 1996, p.69).
O ordenamento de documentos de acordo com o assunto de que tratam e sua separação ou junção que leva em consideração as semelhanças e diferenças é a base das classificações bibliográficas, pois, “Na verdade, quando nos referimos á classificação bibliográfica, subentendemos uma classificação que tem por base os assuntos tratados nos documentos”. (PIEDADE, 1983, p.65). Em relação ao conceito de classificação bibliográfica, San Segundo Manuel (1996, p. 70) escreve que estas: [...] se basan prioritariamente en las clasificaciones del conocimiento, pero añaden a éstas distintas características que las conforman como tales. En las clasificaciones documentales las consideraciones de orden práctico priman sobre los fundamentos filosóficos, aunque éstos sean la base de su estructura, además estas clasificaciones son aplicadas indistintamente a bibliografías y bibliotecas. Así la practicidade de las clasificaciones documentales conlleva características o critérios que determinan la adecuación y utilidad del sistema.
A autora explica que as classificações bibliográficas têm o objetivo de ordenar os grupos temáticos de uma determinada unidade documental e elaborar catálogos e bibliografias sistemáticas que sejam úteis à recuperação das informações, sendo que toda a documentação seria regida por uma ordem que se inter-relaciona (SAN SEGUNDO MANUEL, 1996). Nesta direção, Tálamo et al (1995), escrevem que o acesso à informação sempre é realizado através de intermediações, ou seja, sempre terá um meio para ser transmitida, sendo assim, as intermediações, em uma biblioteca, se materializam nas figuras dos catálogos e bibliografias onde as informações podem se relacionar de forma a dar acesso a documentos que estariam eventualmente dispersos. Como outros autores, San Segundo Manuel (1996), também aponta algumas características e requisitos para que uma boa classificação seja realiza sendo que em 106
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primeiro lugar é necessário envolver de forma geral os diversos assuntos, em toda a sua extensão, para que sejam contemplados os diferentes ramos do conhecimento e deve ser expansiva, tendo espaço para novos assuntos e conceitos; deve ser lógica e compreensível e ter um esquema de facetas, para conseguir chegar a todos os assuntos mesmo os menos específicos; deve incluir aspectos como divisões que se remetem a forma, lugar e tempo para a classificação se tornar mais completa; deve conter uma notação adequada à organização e representação dos assuntos; deve ter o cuidado de relacionar e combinar conceitos a partir do desenvolvimento de símbolos documentais, onde é possível expressar por exemplo, pontos de vista sobre um assunto; o índice alfabético deve ser claro e funcional para localização mais rápida de assuntos e por último deve explicar de forma clara como o instrumento pode ser utilizado (SAN SEGUNDO MANUEL, 1996). Com o documento fotográfico os elementos ordenadores, no sentido que este estudo relata que é o de classificar suas informações, se dão no processo de Indexação, onde as informações são retiradas a partir da análise e da síntese de seu assunto. Instrumentos de organização do conhecimento também são utilizados para dar acesso aos documentos como os vocabulários controlados, listas de cabeçalhos de assunto, tesauros e ontologias. Em um museu a principal atividade que alimenta e conduz sua existência são as coleções. O colecionismo tem um papel fundamental na formação e na condução de um museu, aliás, para manter estas coleções preservadas e organizadas com o objetivo de mostrar ao público, é necessário um lugar onde, além do espaço físico, seja possível o tratamento destes objetos. Meneses (1994) explica que estamos num universo onde a cultura material é indispensável para nossa sobrevivência, seja ela biológica, social ou psíquica e que esta participa da “[...] produção e reprodução sócia [...]” (MENESES, 1994, p.12), sendo que se pode não perceber totalmente os mecanismos que esta produção e reprodução se dão, contudo estas estão refletidas nas apropriações sociais que se fazem da natureza física das coisas. Respeitando as tradições e fazeres de cada campo, o conceito de classificação se mostra por vezes diverso, quando pensado apenas pela ótica da diversidade de acervo e guarda de documentos em cada instituição, mas também se mostra próximo quando visto sob a ótica da organização das informações em cada um destes campos. 107
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É importante destacar em relação aos documentos de um museu o papel do curador diante da aquisição e posterior tratamento das coleções fotográficas que são adquiridas. Carvalho e Lima (2000), falam da importância do papel do curador em um acervo que adquire coleções fotográficas. As autoras escrevem que em primeiro lugar o curador deve perfilhar sobre como aquela coleção irá contribuir para a sociedade, qual seu potencial de conhecimento e como será utilizado para gerar novos conhecimentos (CARVALHO; LIMA, 2000, p.19). Em seguida é preciso contextualizar o objeto por meio da reconstituição de sua biografia e por último, não esquecer de que qualquer organização feita a partir de um olhar, mesmo que o de curador e profissional, vem munido de valores culturais, portanto, os critérios para o tratamento destas coleções devem estar bem definidos e muito claros (CARVALHO; LIMA, 2000, p.19). Na reflexão de Milton Guran (2011), o curador é a ponte entre a possibilidade da reflexão intelectual sobre a obra e o mercado, podendo esse mercado se caracterizar de vários modos inclusive o informacional, que vão incidir em sua circulação social. O autor explica que: [...] uma das mais importantes atribuições do curador é propor e organizar coleções públicas e privadas de fotografias, que se constituem, pela própria natureza da fotografia, em reservas culturais de formação de identidade, de autoconhecimento e de autocrítica de uma sociedade. As fotografias são meios de memória e suportes de imaginação (GURAN, 2011, p.02).
A atividade de curadoria em um museu demonstra os resultados dos estudos em relação ao acervo, dão a compreensão dos esforços referentes à organização, em todos os sentidos dos documentos iconográficos. Lima e Carvalho (2005), escrevem que é necessário compreender a “natureza histórica” da produção de imagens para que resulte num maior aperfeiçoamento dos sistemas de documentação em descrever de forma que leve ao entendimento de um processo social e sua disponibilização dê conta de pesquisas científicas voltadas a estas práticas. As atividades de curadoria e pesquisa em um museu levam à percepção que há um cuidado em sempre manter os objetivos das instituições bem delimitados. Isso se reflete na análise dos campos de sua ficha e na observação das coleções
que
compõe o acervo. É possível observar que a classificação está implícita nas atividades documentais realizadas desde o momento da escolha e da aquisição dos documentos que farão parte do acervo.
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3 CONSIDERAÇÕES Em qualquer aspecto que se encontrem, a partir do momento em que estão em uma instituição, os documentos fotográficos necessitam de métodos e tratamentos que façam refletir, da forma mais objetiva possível, as informações, por vezes claras e facilmente perceptíveis, por vezes, devido a sua contextualização e produção, de difícil acesso aos profissionais envolvidos em seu tratamento. Sendo assim, parte-se da questão de que, apesar do número significativo de trabalhos e discussões apresentadas à área de Organização da Informação e do Conhecimento sobre o tratamento do documento fotográfico em unidades de informação, este ainda impõe desafios aos profissionais que atuam junto a bibliotecas, arquivos e museus e questionamentos que, se devidamente levantados, poderão contribuir para melhorar e elucidar dúvidas tanto como estabelecer um maior aprofundamento na questão técnica e intelectual desse documento. Outra questão observada, no caso específico do assunto classificação de documentos fotográficos, é a escassa bibliografia acadêmica dos campos da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia que não contemplam discussões nem tratam profundamente este tema. A classificação, nestes campos, é muito discutida a respeito de sua teoria, suas formas de execução, seus sistemas, no entanto, quando passamos ao estudo de documentos específicos como os não textuais, a literatura não dá base suficiente para que possam ser considerados os processos que documentos diferentes dos escritos têm de passar. Assim, a classificação não se resume a atribuir números, códigos e subdivisões a atividades e documentos, e sim é um processo de organização intelectual em que as características, as informações e o contexto de cada documento tratado refletem, com maior ou menor grau de complexidade, as funções e atividades desenvolvidas por uma instituição, a vida de uma pessoa ou os fatos de uma cidade ou país. A principal função de um documento de arquivo é a informação a respeito de determinado fato. Fica claro que os estudos sobre a classificação arquivística, assim como os estudos gerais da classificação no campo da Ciência da Informação, devem ser aprofundados no sentido de dar mais subsídio teórico aos profissionais, isso refletirá no momento da chegada dos documentos ao usuário. Na Biblioteconomia a ênfase recai sobre os processos que permitem a posterior recuperação das informações. Os instrumentos de organização do 109
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conhecimento dão a possibilidade de trabalhar conceitos e conteúdos importantes e dão base a reflexões acerca do aperfeiçoamento do tratamento destes documentos. Na Museologia, seguindo uma “herança” do passado e tentando estabelecer relações com as funções e objetivos da instituição, há uma contextualização e um entendimento de como a documentação pode ser utilizada como símbolo do desenvolvimento de uma época e de uma determinada cidade, assim como pode tentar manter uma unidade e coerência com os modos de organização atuais, e a classificação permeia todo este processo de tratamento da documentação. A fotografia é um meio tecnológico de criação e reprodução de imagens em série. Pelo fato de ser determinada por essas condições materiais de produção, ela desenvolve consequentemente, sua própria linguagem expressiva, isto é, forma e conteúdo se imbricam de maneira inseparável. Por esses motivos, a fotografia, por um lado, apresenta condições únicas que determinarão seu tratamento em unidades de informação. De maneira que, seja em um arquivo, em uma biblioteca ou em um museu ela sempre apresentará os mesmos traços constitutivos sendo diferentes as funções que serão dadas às suas informações nesses acervos (ALBUQUERQUE, 2006). Dependendo dessa função, sua classificação tem um papel essencial tanto para o profissional quanto para o usuário pesquisador.
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8 LA ARCHIVÍSTICA DEL CANON. PRESENCIA Y PRESCIENCIA EN LA FORMACIÓN UNIVERSITARIA DE BRASIL Y ESPAÑA
Dunia LLanes Padrón Prof. Asistente Doctora Universidad de La Habana, Cuba Posdoctorado, UNESP. Marília. Brasil Manuela Moro Cabero Prof. Titular Doctora Universidad de Salamanca, España Profesora invitada Curso de Posgraduación.UNESP. Marília. Brasil
Resumen: En los último años, la comunidad archivística ha desarrollado un conjunto de normas destinadas a la representación y la recuperación de los contenidos, a la preservación de recursos digitales, a la gestión de la calidad y la excelencia empresarial, a la coordinación del riesgo, seguridad y continuidad de negocio, a la administración de sistemas de gestión para los documentos, entre otras. Los estándares publicados facilitan la realización de los procesos archivísticos y la gestión de servicios, productos y unidades de información, en general. El estudio que se presenta tiene como objetivo analizar la presencia de disciplinas vinculadas a temas normativos en los cursos de archivos de universidades de España y Brasil e investigar la presencia de estas normas en los contenidos de las disciplinas de Archivística. Para ello, se realiza un análisis detallado de los planes de estudio de las universidades donde se oferta esta graduación. Los resultados obtenidos revelan la necesidad de implementar en los grados propuestas formativas e investigadoras que incluyan el conjunto de normas identificadas en esta área profesional, y para ello, se realiza una propuesta de competencias, objetivos y contenidos curriculares formativos para su aprendizaje y presencia en las titulaciones. Palabras-Clave: Archivística; Normalización; Formación Universitaria; Cursos de Archivos; Currículo; Perfil Profesional.
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1. INTRODUCCIÓN La Archivística, en las últimas décadas del siglo pasado, ha experimentado mutaciones importantes en su concepción como ciencia. Numerosos especialistas confirman un cambio paradigmático, de la archivística custodial a la pos-custodial. Durante esta transición, la Disciplina ha basculado de la inactividad en la normalización de sus tareas a la acción reguladora de la mayoría de sus procesos. Como consecuencia, se puede aseverar que la Archivística posmoderna está marcada por la influencia directa de cánones que orientan, regulan y facilitan el quehacer de los archivos como centros, así como la gestión documental de la que son responsables. La Archivística y sus profesionales han afrontado la llamada “Revolución Electrónica” y para ello se han visto abocados a mudar los métodos de actuación; en este orden de sistematización del ejercicio profesional, resulta esencial la creación de metodologías uniformes para abordar la problemática del documento electrónico y la capacidad para recuperarlo, conservarlo, gestionarlo y reproducirlo en entornos diferentes. Sin lugar a dudas, ante los numerosos cambios experimentados, el tiempo de los profesionales de archivos viene marcado por nuevas dinámicas reguladoras que rigen su trabajo; por tanto, es un deber y una necesidad que los futuros profesionales del área adquieran los conocimientos sobre la temática en cuestión pues sólo así conquistarán el rol operativo y estratégico que la sociedad les exige. El estudio que se presenta tiene como objetivo analizar la presencia de disciplinas vinculadas a temas normativos en los cursos de archivos de universidades de Brasil y España o, en su caso, investigar la presencia de las normas en los contenidos de las disciplinas de Archivística. Para ello, se realiza un análisis detallado de los planes de estudio de dichas universidades con el fin de identificar en los currícula el estudio, análisis y aplicación de las normas, atendiendo a categorías previamente establecidas. La finalidad manifiesta de los hallazgos de la investigación ha sido la de establecer una radiografía sobre el empleo de las normas en la formación universitaria de modo cuantitativo y cualitativo. La sociedad moderna demanda profesionales de la información que sean capaces de actuar en heterogéneos contextos de trabajo, supeditados a un cambio continuado. Dicha demanda exige moldear nuevos modelos de gestión normalizados y, por tanto, innovar en perfiles profesionales dado que, ante 115
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todo, su ejercicio laboral expande sus límites de actuación a los espacios de la “infoesfera” y a los requisitos de continuidad digital exigidos por los administradores: empresa digital y e-gobierno. La introducción en los currículos de estos conocimientos favorece un ejercicio profesional
competitivo a la par que el desarrollo de la
Archivística, sin desestimar, también, la oportunidad que representa para los estudiantes su dominio desde la óptica de la inserción en los mercados laborales. Este ensayo se estructura presentando, en primer lugar, los estándares publicados que atienden a las categorías establecidas (representación de contenidos, continuidad y preservación de recursos digitales, calidad y excelencia empresarial y sistemas de gestión normalizados para documentos). Posteriormente, se presenta una panorámica general del empleo de estas normas en la formación universitaria de los archiveros de Brasil y España para, finalmente, concluir con los resultados que revelan la necesidad de implementar en los cursos de archivos propuestas formativas e investigadoras que incluyan el conjunto de normas identificadas en esta área profesional, así como la de establecer competencias, objetivos y contenidos curriculares formativos para su aprendizaje y presencia en las titulaciones.
2. NUEVOS CÁNONES ARCHIVÍSTICOS PARA REPRESENTAR, PRESERVAR Y GESTIONAR INFORMACIÓN. La administración de centros, el logro de eficiencia en los servicios que ofrece y la planificación, diseño, implementación y evaluación de los procesos de tratamiento y conservación de documentos se regula en la actualidad mediante códigos cuyas siglas representan al conjunto de estándares que rigen las actividades de esta Disciplina. A finales del siglo XX, instituciones de prestigio como el International Council on Archives (ICA), el International Organization for Standardization (ISO) y prestigiosas asociaciones de archiveros del mundo entero comenzaron a desarrollar normas para simplificar los métodos de trabajo, ahorrar tiempo y garantizar mayores garantías en los resultados de los procesos, en principio, para los descriptivos y de referencia y con posterioridad para buena parte de los requisitos derivados de los entornos electrónicos. En la tabla 1 se incluyen agrupadas por áreas las diferentes normas que se consideran de vital importancia para el aprendizaje y su aplicación efectiva en los centros de trabajo. Para su conformación se tuvieron en cuenta aquellas tareas 116
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tradicionales y se confrontaron con los nuevos requisitos en entornos de eficiencia y digitales. En primer lugar, han sido categorizadas normas vinculadas a la representación y recuperación de contenidos archivísticos por considerar que la descripción y recuperación de la información de archivo es una función tradicional del tratamiento documental y por ende presente en la mayoría de los currícula. Algunas de ellas han sido pioneras en el empleo de códigos. En segundo término, se observan otras categorías derivadas de los entornos electrónicos y específicas a áreas funcionales
tradicionales
como
son
la
conservación
y almacenamiento
de
documentos. En este sentido, se incluyen normas vinculadas a la preservación de recursos digitales –con especial incidencia en las normas de digitalización, conservación a largo plazo, migración y conversión, digitalización, así como normas de metadatos y otras especificaciones de interoperabilidad y preservación como METS o PREMIS- y normas de importancia para la construcción, mantenimiento y evaluación de repositorios institucionales digitales. En tercer lugar, se consideraron normas vinculadas a programas específicos de gestión; esto es, programas muy caracterizados en la Archivística custodial y pre-poscustodial. En este sentido se estimaron aplicaciones básicas de reconocimiento de riesgos y normas para facilitar la continuidad de negocio, así como normas de gestión y certificación de riesgos en entornos documentales o para la implantación de sistemas de gestión de riesgos; Igualmente, se consideraron normas específicas para la implementación de un sistema de seguridad de la información. En esta línea se habían venido trabajando tradicionalmente programas de prevención de desastres, de calificación de documentos esenciales, de seguridad, etc. Asimismo, se ha creado una categoría específica vinculada al ciclo de vida y a los programas de gestión tradicionales, para la normalización de sistemas de gestión para los documentos. Se enlazan dos posiciones bien diferenciadas: de programas a sistemas. Finalmente, desde la perspectiva de gestión de centros, se estimó un conjunto de modelos y normas orientadas al despliegue de sistemas de calidad y excelencia que son empleadas por numerosos archivos para demostrar calidad y excelencia de su trabajo.
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Tabla 1- Normas publicadas por áreas de aprendizaje Áreas de aprendizaje clásico
Áreas de aprendizaje pos-custodial
Función clásica de Tratamiento técnico: describir documentos
Representación recuperación contenidos archivísticos.
y de
Relación de normas ISAD(G), ISAAR(CPF)), ISDF, ISDIAH, MAD3, DACS, RAD2, ODA, NOBRADE, NEDA, MDM, NODAC, NOGADA, NUDA, NEPAN, RCPPCN, EAD, EAC,MARC, ARANOR, IGAD. ISO/TR 1791:2014, ISO 13008: 2012; ISO 19005-1; ISO 32001, ISO/TR 13028:2010.
Preservación recursos digitales.
de
Especificaciones METS y PREMIS Metadatos, tales como ISO 23081-1 a 3; MoReq; e-ARQ-Brasil.
Función clásica Conservación documentos
de de Construcción y mantenimiento de repositorios digitales.
ISO-14721:2012, ISO/TR 17068:2012, ISO/16363:2012, ISO 16919: 2014. Aplicaciones: DRAMBORA, DAF-Data-Audit, Proyecto Néstor.
Continuidad digital Continuidad negocio
de
ISO 22301:2010; ISO 22301:2014, UNE-ENISO 22301: 2015
Continuidad digital
Función clásica de programas especiales
Gestión y certificación de riesgos en entornos digitales
ISO/TR 18128:2014, ISO 31000:2009, ISO 313010:2010;
Continuidad digital y de la
ISO 27001:2005, ISO 27002:2005, 27003:2010, ISO 27000: 2009, ISO 27004:2009, ISO 27007:2011. 2ª Ed, ISO 27005:2011, 2ª Ed.
Creación y verificación de sistemas de gestión documental
ISO 30300:2011, ISO 30301:2011, ISO 30302:2016; ISO 15489 Partes 1 y 2:2001, ISO 26122: 2007, ISO 16175 Partes.1 a 3, ISO 23081 Partes 1 a 3,
Construcción certificación seguridad de información Función clásica de Gestión del ciclo de vida de los documentos en programas de gestión Función clásica de Administración de Centros
Creación y verificación de sistemas de calidad y de excelencia empresarial
ISO 9000:2015, ISO 9001:2008, ISO 9004:2009, ISO 19011:2011, ISO 17021:2011. EFQM; FUNDIBEQ
Fuente: Elaborada por las autoras
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La aplicación práctica de esta relación aproximada de normas es de vital importancia en los actuales contextos de una sociedad marcada por la globalización de la información. Las instituciones de información tienen que ser capaces de crear sistemas de información diseñados a partir del respeto a las normas anteriormente citadas. Es imposible pensar en la integración de sistemas de descripción procedentes de instituciones y países diferentes sin utilizar las normas de estructuras de datos, contenidos, presentación y codificación que rigen la representación y la recuperación de las entidades archivísticas (documento, productor, funciones, institución, temas). La utilización de estos estándares en los sistemas de información garantiza el acceso, uso y apropiación de la información en beneficio de la toma de decisiones en las administraciones y favorece la consolidación de pensamiento crítico en la sociedad. La producción ilimitada de recursos heterogéneos en los entornos electrónicos y su vulnerabilidad para mantener sus propiedades significativas; la dificultad que conlleva mantenerlos a corto y medio plazo y preservarlos a largo plazo, mediante estrategias diversas de etiquetado, refresco, emulación, conversión, migración a otros sistemas, etc.; la necesidad de mantener su autenticidad, integridad y disponibilidad en el tiempo, así como de gestionar el requisito de interoperabilidad y de seguridad que precisan, todos estos factores implican una enorme preocupación para todos los profesionales. A este respecto, el manejo de las normas, que facilitan la preservación y la gestión de los recursos digitales, representa -en el presente- una garantía para certificar y gestionar la información en los contextos de las administraciones pero, también, debe ser contemplado como un factor estratégico para asegurar,-en el futuro- una memoria mundial que, indiscutiblemente, será digital. Los archiveros deben conocer estrategias y políticas de conservación física de recursos analógicos, de seguridad informática y de información, de acceso, de gestión de riesgos, de interoperabilidad, almacenamiento y conservación de los recursos en repositorios digitales. La mayoría de estos saberes, y su aplicación en los sistemas de información, están regulados en los cánones archivísticos que la comunidad – integrada por representantes de diversos sectores profesionales- ha publicado paulatinamente tras un esfuerzo ingente de reflexión y debate. Además, las normas son actualizadas a la luz de las experiencias, hecho que facilita su adaptación a cualquier signo de mudanza. 119
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El archivero posmoderno gestiona activos desde un enfoque estratégico y operativo. Este potencial de desarrollo estratégico facilita y repercute en su faceta de rendición de cuentas como gestor y auditor en las organizaciones; para ello es preciso disponer de un amplio dominio de los estándares vinculados a la planificación, diseño, implementación y evaluación de la calidad y la excelencia empresarial. Así mismo, su cualidad de gestor de activos de información es vital para entender y desplegar su visión holística y, por tanto, sistémica y sistemática de la gestión documental, construyendo, administrando y certificando sistemas regulados por lo que resulta imprescindible el conocimiento y manejo de los códigos reguladores de sistemas de gestión (MSS), entre los que destacamos la serie de normas ISO 30300:2011 de gestión documental, dado que implica adoptar una hoja de ruta mediante la que se unifica la gestión documental con la gestión estratégica de las organizaciones colaborando como soporte de información y documental con todos los sistemas normalizados
MSS:
calidad,
seguridad
de
la
información,
riesgos,
gestión
medioambiental, etc.
3. LA FORMACIÓN UNIVERSITARIA DE ARCHIVISTAS EN BRASIL Y ESPAÑA. PRESENCIA DE CÁNONES ARCHIVÍSTICOS. En Brasil y España se percibe una vasta experiencia en la formación universitaria de archiveros. España es uno de los países europeos con mayor tradición en la Archivística, vinculada en principio al Archivo Nacional y con posterioridad y desde la década de los años 80 impartida como formación oficial en la Universidad, aunque integrada bajo los estudios del Área de Biblioteconomía y Documentación. Por su parte, Brasil es uno de los países latinoamericanos que más ha invertido en la formación e investigación en esta área del conocimiento. En la década de 1970 se crearon, en el gigante suramericano, los primeros cursos universitarios de archivo pero no es hasta los años 90 del siglo pasado y los primeros años de este siglo que se observa una mayor proliferación de contenidos formativos específicos en las universidades brasileñas. En la actualidad, existen 16 universidades públicas en Brasil que ofertan formación en archivos en los estudios de Grado, mientras que en España son 11 universidades públicas las que incluyen en sus ofertas académicas esta titulación. (Véase tabla 2). 120
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Tabla 2. Universidades públicas de Brasil y España que ofertan Grados en Archivística UNIVERSIDADES PÚBLICAS CON GRADUACIONES EN ARCHIVÍSTICA BRASIL
ESPAÑA
Universidad Federal de Rio De Janeiro
Universidad de A Coruña
Universidad Federal de Santa Maria
Universidad de Barcelona
Universidad Federal Fluminense
Universidad Carlos III de Madrid
Universidad de Brasilia
Universidad Complutense (Madrid)
Universidad Federal de Bahía
Universidad de Extremadura
Universidad Estadual de Londrina
Universidad de Granada
Universidad Federal de Espíritu Santo
Universidad de León
Universidad Federal de Rio Grande del Sur
Universidad de Murcia
Universidad Estadual Paulista
Universidad de Salamanca
Universidad Estadual de Paraíba
Universidad de Valencia
Universidad Federal de Rio Grande
Universidad de Zaragoza
Universidad Federal de Paraíba Universidad Federal de Minas Gerais Universidad Federal de Santa Catarina Universidad Federal de Pará Universidad Federal de Amazonas Fuente para Brasil: http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=183&sid=65.
Para alcanzar la finalidad de este estudio se realizó un análisis curricular de los cursos que publican en la Web tanto el plan de estudios como el académico o docente, donde se especifica con detalle el programa de sus asignaturas. Los programas del conjunto de las asignaturas específicas a archivos y actuaciones normalizadas se revisaron en su totalidad en España, alcanzando una cifra de 11 títulos de Grado y 63 asignaturas específicas con contenidos de administración de centros, tratamiento técnico, conservación de recursos, gestión de recursos digitales y evaluación, dirigidos a archiveros. Se desestimaron otras tantas orientadas al profesional de bibliotecas y que, efectivamente, una vez consultadas se observaba un 121
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marcado contenido y referencial bibliográfico de normas. No fue posible realizar con idéntica profundidad el análisis para el caso de Brasil, debido a la dificultad de la consulta por la ausencia de dichos programas en la Web. Se señala, dadas las limitaciones espacio-temporales de la investigación, que no se obtuvieron de todas las universidades brasileñas los contenidos de las materias, ausencia que se pretende paliar en posteriores investigaciones mediante el empleo de formularios y entrevistas directas con los docentes responsables de las mismas. En Brasil, de las 16 universidades anteriormente relacionadas, sólo fue posible estudiar el plan de estudios de 14 de ellas. Los cursos de la Universidad Federal de Pará y de la Universidad Federal del Amazonas no publicitan en la web las materias y sus contenidos, por tanto, fueron excluidas y por esa razón aparecen en la tabla 2 en diferente grafía, dado que no forman parte de la muestra. A partir del análisis se pudo identificar que en todas las universidades de ambos países se incluyen disciplinas vinculadas a las categorías normativas establecidas en este estudio, salvo la específica a la gestión de riesgos que por conformarse recientemente como nuevo requisito formativo no ha sido contemplada en los currícula vigentes de las universidades. Es decir, los cursos de archivo en Brasil y España están impartiendo contenidos vinculados con la representación, recuperación, preservación, gestión de información en los contextos digitales, así como en gestión y certificación de sistemas. Son variadas las materias que se ofertan y hacen referencia a estos contenidos. La tabla siguiente (tabla 3) muestra un resumen de las asignaturas que se identificaron en los proyectos académicos de las universidades estudiadas.
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Tabla 3. Disciplinas en los Grados de Brasil y Españas vinculadas con temas normativos DISCIPLINAS
ÁREAS DE APRENDIZAJE
BRASIL
ESPAÑA
Descripción Archivística (UFBA, UNESP, UFRGS, FURG, UFSC, UFMG) Clasificación y descripción de documentos (UNIRIO, UFSM, UFES) Descripción de documentos (UEL) Normas y padrones para el tratamiento y la recuperación de la Información (UFF)
Normalización para la organización de la información (UGR)
Archivos permanentes (UnB, UEPB, UFF)
Tratamiento de fondos de archivo (UGR)
Elaboración y manutención de tesauros (UnB)
Archivística Parte I (UM) y (UCO)
Vocabularios controlados en archivos (UNESP) Representación recuperación contenidos archivísticos.
y de
Reproducción y descripción de la información archivística (UFPB) Descripción y organización de documentos especiales (UFMG) Recuperación de Información en archivos (UFSC) Procesamiento de información digital (UFSM) Análisis documental y recuperación de la información (UFF)
Descripción de documentos de archivo (UZAR) Archivística (UC3M) y (UEX) Archivística I y II (UVA) Descripción de documentos de archivo (UVA) Catalogación de archivos (ULE) Introducción a la información y documentación (USAL) Descripción y recuperación de documentos de archivo (USAL) Clasificación, descripción de documentos de archivos (UBA)
Lenguajes documentales nacionales (UFF) Organización de conceptos y lenguajes documentales (UNIRIO) Técnicas de recuperación de información y diseminación (UNIRIO) Tópicos en indización (UFMG, UFSC)
Continuidad y preservación de recursos digitales.
Preservación digital (UFSM, UFBA, UEL, UNESP) Tecnología para reproducción y almacenamiento de documentos (UNIRIO) Tecnologías de información y
Documentación digital (UGR) Conservación del patrimonio documental (UM) Prevención y conservación de documentos (UCO)
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ÁREAS DE APRENDIZAJE
DISCIPLINAS BRASIL
ESPAÑA
procesos (UFPB, UNIRIO)
Preservación preventiva (UZAR)
Tecnologías de reproducción de documentos (UEL)
Archivos de la Administración pública (UVA)
Documentos digitales (UFRGS, UEPB)
Colecciones digitales (ULE)
Metadatos de objetos digitales (UNESP)
Preservación, conservación y restauración de documentos (USAL)
Producción de documentos electrónicos (FURG)
Preservación y conservación (UBA)
Conservación preventiva (ULE)
Preservación de unidades de información (UFES, UNESP, UFPB) Conservación preventiva de archivos (UFSM, UNIRIO) Preservación y conservación de acervos documentales (UFF, UnB, UFBA, UEL, UEPB, UFMG, UFSC) Políticas de Preservación y conservación de acervos documentales (UEPB, UFSC) Fundamentos de preservación y conservación de documentos (FURG, UFRGS) Restauración de (UFSM, UNIRIO
documentos
Repositorios archivísticos digitales (UFSM) Repositorios digitales (UNESP) Gestión de documentos archivísticos digitales (UEL, UFMG)
Gestión de documentos digitales, construcción y mantenimiento de repositorios digitales.
Gestión archivística de documentos electrónicos (UNIRIO, UFSC, UNESP)
Bibliotecas digitales (UM) Aplicaciones para recursos de información digital (UZAR)
Gerenciamiento electrónico de documentos (UFBA, FURG)
Digitalización, biblioteca digital y repositorios documentales (UCM)
Documentos digitales (UFRGS, UEPB)
Colecciones digitales (ULE) Archivos electrónicos (UGR)
Automatización de archivos (UNESP) Informática en archivos (UFSC) Tecnología de la Información Archivística (UNIRIO,UFBA, UFES, UEPB, UFPB) Plataformas digitales aplicadas a
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DISCIPLINAS
ÁREAS DE APRENDIZAJE
BRASIL
ESPAÑA
las ciencias de la información (UEL) Informática documentaria (UnB) Práctica (UFSC) Gestión de riesgos en entornos digitales Construcción certificación seguridad de información
y de la
en
archivos
digitales
-
-
Seguridad de datos archivísticos (FURG)
Gestión de procesos (UNIRIO, UFSM)
Instituciones y unidades documentales (UM)
Gestión de documentos archivísticos (UNIRIO, UFF, UFRGS, UEPB, UFPB, UFMG)
Archivística II (UVA)
Gestión de servicios archivísticos (UNIRIO, UFF, UFBA, UEPB) Gestión de archivos y servicios archivísticos (UEL) Archivos empresariales (UFBA, UNESP) Organización, sistemas y métodos para archivos (UNESP, UFMG) Sistemas integrados de gestión (UNESP) Ciclo de vida y sistemas de gestión de documentos.
Protección de datos (USAL)
Autenticidad digital (UNESP)
Gestión de Información y del Conocimiento (UNIRIO, UEL, UFRGS, UNESP, UFPB, UFMG, UFSC) Planificación y gestión de unidades, redes y sistemas de archivo (UFMG) Proyecto de implementación de Sistemas Archivísticos (UnB) Valoración de documentos (UFF, UFSM, UNIRIO, UEL, UFES, UFRGS, UEPB, FURG, UFPB)
Gestión de documentos (UGR) Archivística. Parte II (UM) Organización y gestión de archivos (UZAR) Gestión técnica de documentos de archivo (UCM) y (UC3M) Gestión de documentos de archivo (USAL) Archivos y bibliotecas especiales (UGR) Archivos de empresa (UCO) Archivos de empresa y gestión de documentos electrónicos (UC3M) Organización de fondos archivísticos (ULE) Organización y valoración de documentos (USAL) Políticas y sistemas archivísticos (USAL) Sistemas de gestión de la información de la empresa(SGID) (ULE) Gestión de documentos administrativos (UCO)
Archivos corrientes I y II (UnB, UFBA)
Gestión de documentos en las organizaciones (UBA)
Archivos corrientes e intermediarios (UNESP, UFSC)
Gestión de documentos y archivos (UEX)
Tópicos en funciones archivísticas (UFMG)
Planificación de unidades y sistemas de información (UGR)
Difusión
en
archivos
(UEL,
Difusión de archivos (USAL)
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ÁREAS DE APRENDIZAJE
DISCIPLINAS BRASIL
ESPAÑA
UFRGS, FURG, UNESP) Gestión de instituciones archivísticas (UNIRIO, UFF, UNESP, UEPB, FURG, UFPB, UFMG, UFSC, UnB) Gestión de archivos (UFSM, UFBA, FURG) Sistemas de información gerenciales para archivos (UFSM, UFBA, UFRGS) Gestión organizacional (UFES) Gerencia de consultorías de sistemas de información (UFRGS) Creación y verificación de sistemas de calidad, excelencia empresarial
Gestión de Calidad en Unidades de Información (UFSC) Gestión Estratégica en Unidades de información (UFSC) Información para la empresa (UFSC) Evaluación de sistemas de información (UFMG)
Información para la empresa (UGR) Evaluación y gestión de calidad en unidades de información (UGR) Auditoría de gestión del conocimiento (UM) Evaluación de sistemas de información (UVA) Planificación y evaluación para unidades de información (UZAR) Dirección de unidades de información (UZAR) Planificación y gestión de unidades de información (UCM) Administración y evaluación de unidades de información (ULE) Gestión de calidad en organizaciones documentales (UCO) Administración de archivo histórico (UCO) Auditoría y Evaluación de Archivos (usal) Dirección de unidades de información (USAL) Evaluación y calidad (UBA) Planificación, auditoría y evaluación de unidades de información (UEX) Gestión de unidades de información (UGR)
Fuente: Elaborada por las autoras
Como se puede observar, la cantidad de disciplinas varía considerando tanto el área de aprendizaje como el país. En ambos países se aprecia una amplia representación de disciplinas específicas a la descripción y representación de contenidos documentales. En los programas estudiados de Brasil y España se incluyen como contenidos específicos las normas internacionales, nacionales y locales de descripción y representación. No siempre es posible verificar en las referencias bibliográficas dichas normas. Tanto el peso de las asignaturas como la presencia de las normas son equiparables en ambos países. En lo referente a la gestión de archivos electrónicos y a la preservación digital se aprecia una diferencia entre ambos países, si bien cabe mencionar un sesgo informativo para el caso 126
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español, dado que por tratarse de estudios integrados no se han estimado en este análisis aquellas asignaturas impartidas por Departamentos de Informática dado que su alcance es para archiveros, bibliotecarios y documentalistas. Por ende, únicamente aparecen aquellas asignaturas que tienen una orientación y contenidos específicos de archivo y gestión documental, aunque se debe considerar que la presencia de las TIC es evidente en todas las titulaciones. En cuanto a la gestión de documentos digitales y repositorios, únicamente se han estimado en ambos casos aquellas materias centradas en los repositorios digitales. Seguridad y riesgos son áreas de aprendizaje no reconocidas suficientemente en los currícula de ambos países. En lo relativo al ciclo de vida y los sistemas de gestión construidos en torno al mismo, se observa que existe una amplia base formativa en ambos países. Analizados en España los programas de las asignaturas es posible señalar que la presencia de las normas en contenidos y referencias es insuficiente, si bien, se establece en la tabla 4 la relación de normas citadas en contenidos y se señala para el caso español el número de veces de aquellas que igualmente aparecen en referencias. Finalmente, en lo referente a la gestión de calidad y excelencia, se observa mayor consolidación de este aprendizaje en las asignaturas de los curricula de España, cuya explicación más evidente es que son numerosas las unidades de información evaluadas o interesadas por la certificación o/y reconocimiento de su excelencia. Asimismo, sorprende el número de asignaturas en los que la calidad está presente en los contenidos de los programas. Curiosamente, la presencia de las normas como tal no se registra salvo en contadas excepciones. La presencia de las categorías normativas en las disciplinas impartidas en los cursos de archivos de ambos países es una realidad objetiva. Sin embargo, ¿qué sucede con respecto al uso y análisis de las normas publicadas para cada una de estas temáticas? Los datos del estudio develan que tanto en España como en Brasil las normas de descripción son profusamente citadas en los contenidos y no tanto en las bibliografías de las asignaturas. En el caso de España, los datos desvelan que los conceptos de calidad y de excelencia son abundantes en los contenidos de las asignaturas con referencia a literatura específica sobre calidad pero con una marcada ausencia de las normas y modelos de criterios con los que se construyen, tanto la calidad como la excelencia. Interesante, igualmente, resulta constatar, como las 127
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normas de gestión de sistemas para los documentos aparecen como contenidos bajo el detalle descriptivo de su codificación, aunque en la mayoría de las asignaturas no se incluye su referencia, excepción hecha del código de buenas prácticas ISO 15489. Con excepción de algunas especificaciones sobre metadatos y la referencia al modelo OAIS, el resto de las normas no se recogen en contenidos ni en referencias bibliográficas específicas. Esta investigación de tendencias sobre el aprendizaje muestra una realidad evidente: las disciplinas vinculadas a la gestión electrónica de documentos, a la seguridad de información, a la gestión y certificación de riesgos o a los repositorios digitales a penas incluyen los estándares que son referencias básicas para su construcción y aseguramiento. Incluso es posible afirmar que aún estando presentes contenidos específicos a la construcción de sistemas para la calidad, la excelencia o los documentos en las asignaturas las normas y modelos empleados están ausentes en la literatura de referencia, por lo que se entiende que se construyen los contenidos informativos y formativos a partir de referenciales teóricos y no de fuentes directas y primarias de trabajo como son las normas. Resulta de interés para este trabajo, conocer cuáles son las normas más estudiadas y analizadas en las disciplinas de estos cursos pues estás serán las más difundidas y aplicadas por los profesionales en el mercado laboral. A partir de las informaciones referenciadas en los proyectos pedagógicos de Brasil y España se elaboró la siguiente tabla que recoge algunos datos de interés para la investigación. La tabla demuestra que las normas de descripción archivística publicadas por el ICA y por los sistemas nacionales brasileños y españoles (incluidos los autonómicos) son las más citadas, estudiadas y analizadas en los cursos de archivo; demostrando este resultado el impacto positivo que ha tenido, en el área, la publicación de normas internacionales que regulen el proceso de representación de información de las entidades archivísticas. Coincide que estas se vinculan a la representación y descripción de los contenidos. La comunidad demuestra con ello, haber comprendido la necesidad del uso y aplicación de estos estándares para la comunicación e interacción de recursos archivísticos entre instituciones diversas y, por ello, lo está implementando en la enseñanza y la investigación a nível universitario. No obstante, no se están incluyendo en las asignaturas de descripción todas las normas nacionales de contenido y codificación publicadas y que, 128
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Tabla 4. Normas citadas en los planes de estudio de los Grados de Brasil y España ÁREAS APRENDIZAJE
NORMAS CITADAS EN PLANES DE ESTUDIO
DE BRASIL
ESPAÑA ISAD(G) (9 asig.) ISAAR(CPF) (5 asig.)
Representación y recuperación de contenidos archivísticos.
NOBRADE
ISDF (4 asig.)
ISAD(G)
ISDIAH (3 asig.)
ISAAR(CPF) ISDF
NEDA y (NODAC, NOGADA, MDM, ARANOR) (5 asig.)
ISDIAH
EAD (2 asig.) EAC (3 asig.) AACR2 (1asig.)
HTML Normas ENI (2 asig.)
XML Continuidad y preservación de recursos digitales.
Esquemas de metadatos Modelo de Referencia OAIS Normas nacionales e internacionales (no citadas en bibliografía) Referencia general las normas de intercambio de sistemas.
Construcción mantenimiento repositorios digitales.
y de
Gestión y certificación de riesgos en entornos digitales. Construcción y certificación de seguridad de la información.
-
ISO 23081-1 A 3 (2asig.) ISO 13028:2011 (2 asig.) ISO/TR 18492:2008 (2 asig.) ISSO 16175 1 a 3. (1 asig.) UNE-ISO 22301:2015 (1 asig)
ISO 14721:2012 (1 asig.) ISO 16363.2012 (1 asig.)
-
ISO 31000 (1 asig.) ISO 31010 (1 asig.)
-
ISO 18128:2014 (1 asig.) ISO 27000 (1 asig.) Normas nacionales de Seguridad de la información (1 asig.) ISO 15489-1 y 2. (7 asig.)
Ciclo de vida y gestión de documentos y sistemas para los documentos e información
ISO 30300:2011 (3 asig.) ISO 30301:2011 (2 asig.) UNE-ISO 26122:2008 (3 asign.) -
ISO 9000 (en título contenido) Modelo EFQM (en título contenido)
Creación y verificación de sistemas de calidad, excelencia empresarial
ISO 9000 (1 asig.) ISO 19011:2011 (1 asig.) ISO 17021:2011 ( 1 asig.) Fuente: Elaborado por las autoras
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igualmente, son importantes para su dominio y aplicación en la práctica, como es el caso de las normas EAD y EAC. Asimismo, se pudo constatar la referencia de algunos modelos y esquemas que ayudan a introducir los conocimientos necesarios para la gestión de archivos electrónicos, su continuidad digital, su preservación, su seguridad y gestión del riesgo, así como aquellos contenidos vinculados a la gestión normalizada de sistemas (calidad, riesgos, seguridad de la información, gestión para los documentos, entre otros), aunque, a tenor de los datos resultan insuficientes las referencias y los estándares incluidos en los currículos para el aprendizaje de esta materia que tanta importancia alcanza en la actualidad, dado que su presencia en las asignaturas se ha demostrado muy poco relevante. Particular atención merece la ausencia de referencias a las normas y fuentes de modelos de calidad y excelencia, a pesar de constatar su reiterada presencia en los enunciados de los contenidos. En el caso de Brasil, los cursos que publicitan los contenidos de las disciplinas, escasamente hacen referencia a normas de certificación, repositorios, seguridad de información y gestión por lo que se deduce que se basan más en bibliografías teóricas que en referencias prácticas.
4. PROPUESTA FORMATIVA PARA CURSOS DE ARCHIVOS DE BRASIL Y ESPAÑA. Tal y como se viene explicando en este trabajo, la sociedad demanda profesionales idóneos para ejercer en contextos laborales híbridos marcados por la presencia incondicional de las tecnologías y por métodos y modelos que regulan los procesos de trabajo. Los estudiantes de los cursos de archivo deben tener un amplio dominio de todos los estándares publicados en el área pues deben estar preparados para actuar con eficacia y eficiencia profesional en las diferentes instituciones. Las universidades que ofertan formación reglada deben considerar este aspecto y realizar actualizaciones constantes de sus programas académicos. En las titulaciones se deben impartir contenidos que ayuden a desarrollar competencias y habilidades relacionadas con los cánones archivísticos. Se recomienda que en cada disciplina se trabaje con las normas específicas que rigen las políticas, procesos e instrumentos. 130
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
A continuación se describen cuáles son las principales competencias que se deben adquirir sobre las temáticas estudiadas:
Comprender los aspectos teóricos-conceptuales vinculados a temas de
representación, recuperación de información, continuidad y preservación digital, construcción y mantenimiento de repositorios digitales, gestión y certificación de riesgos en entornos digitales, construcción y certificación de seguridad de la información, creación y verificación de sistemas de calidad, excelencia empresarial y sistemas de gestión de documentos.
Analizar y aplicar todas las normas internacionales, nacionales y
regionales publicadas para la descripción de entidades archivísticas.
Aplicar el uso de normas de descripción conjuntamente con software
diseñados para la representación y recuperación de la información.
Estudiar, analizar y aplicar las normas desarrolladas por ISO para la
preservación digital, elaboración y mantenimiento de repositorios digitales, análisis y evaluación de riesgos, seguridad de información, continuidad de negocio y meta-descripción para la preservación.
Conocer y estudiar el marco MSS de ISO para la certificación de la
calidad y la excelencia empresarial (serie ISO 9000), para la seguridad de la información (serie ISO 27000) y para la gestión de riesgos (serie ISO 31000).
Estudiar y aplicar el modelo de diseño, implementación y evaluación de
los sistemas de gestión para los documentos en las entidades que está regido bajo la serie ISO 30300:2011 y sus normas de desarrollo y complementarias.
Elaborar, a partir de los estándares, instrumentos de gestión,
certificación, evaluación y uso de sistemas de información.
Realizar operaciones de descripción, preservación, certificación y
gestión usando los estándares adecuados. Para finalizar, incluimos en la tabla siguiente (tabla 5) una propuesta de normas para trabajar en los cursos de archivos atendiendo a las asignaturas.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Tabla 5. Propuesta de normas a considerar por disciplinas NORMAS PARA TRABAJAR EN LOS GRADOS SEGÚN LAS DISCIPLINAS DISCIPLINAS
NORMAS
Descripción Archivística Recuperación de Información en archivos Archivos permanentes Elaboración y manutención de vocabularios controlados y tesauros
ISAD(G), ISAAR (CPF), ISIHA e ISDF DACS, RAD2, MAD3, ODA, NOBRADE, NEDA, NODAC, NOGADA, ARANOR, IGA y NUDA
Lenguajes documentales e Indización
RCPPCN, NEPAN
Procesamiento de información digital
MARC, EAD y EAC
Normalización para la organización de la información
MODELOS CONCEPTUALES ESPAÑOLES, FINLANDESES Y AUTRALIANO.
Tratamiento de fondos de archivo Preservación digital
ISO/PDTR 1791:2014
Documentos digitales
ISO 13008: 2012
Metadatos de objetos digitales
ISO 19005-1
Tecnología para reproducción y almacenamiento de documentos.
ISO 32001
Tecnologías de información
ISO/TR 13028:2010
Automatización de archivos
ESPECIFICACIONES METS
Gestión de documentos archivísticos digitales Informática en archivos Producción de documentos electrónicos
ESPECIFICACIONES PREMIS MODELO DE FICHEROS ABIERTOS OAIS ISO 17421:2012
Digitalización de recursos de archivo Estrategias de preservación Colecciones digitales
ISO 22301:2010, ISO 22301:2014 UNE-EN-ISO 22301: 2015 ISO-14721:2012 ISO/TR 17068:2012
Repositorios digitales Preservación digital
ISO/16363: 2012
E-depósitos
ISO 16919: 2014
Repositorios institucionales
APLICACIONES DRAMBORA, DAF-
Auditoría y certificación de archivos
DATA – AUDIT PROYECTO NESTOR
Gestión de documentos archivísticos digitales Preservación digital
ISO/TR 18128:2014
Documentos digitales
ISO 31000:2009
Gestión y evaluación del riesgo en entornos electrónicos
ISO 31010:2010
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ISSO 27001:2005, ISO 27002:2005, Seguridad de datos archivísticos
ISO 27003:2010, ISO 27000: 2009
Protección de la información ISO 27004:2009, ISO 27007:2011. 2ª Ed
Seguridad de la información
ISO 27005:2011, 2ª Ed. Normas específicas de seguridad de la información, nacionales Gestión de documentos archivísticos Gestión de servicios archivísticos
ISO 30300:2011, ISO 30301:2011
Gestión de instituciones archivísticas
ISO 30302:2016
Sistemas de información para archivos
ISO 15489 Partes1 y 2: 2001
Archivos empresariales Sistemas de información gerencial
ISO 26122: 2007
Organización y gestión de documentos
ISO 16175 Partes1 a 3
Tratamiento de fondos y gestión documental, organización y valoración de archivos
ISO 23081 Partes 1 a 3,
Planificación y gestión de unidades, redes y sistemas de archivo Gestión de procesos Gestión organizacional Gerencia de consultorías de sistemas de información Sistemas de información gerencial Organización, sistemas y métodos para archivos
ISO 9000:2015, ISO 9001:2008
Sistemas integrados de gestión Gestión de Información y del Conocimiento
ISO 9004:2009,
Gestión de Calidad en Unidades de Información
IISO 19011:2011
Gestión Estratégica en Unidades de información
ISO 17021:2011
Información para a empresa
ESPECIFICACIONES EFQM y FUNDIBEQ
Auditoría y certificación de unidades de información o archivo Planificación, gestión de calidad en unidades de información Certificación de Archivos Fuente: Elaborado por las autoras
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5 CONCLUSIONES La revisión de las titulaciones de Grado en Brasil y España en las que se recoge formación de archivos desvela la presencia de numerosas materias en las que se precisa el empleo de normas. El análisis de su presencia en los contenidos de los programas se ha observado de modo detallado en España, donde se pone de manifiesto su conocimiento y tratamiento en los enunciados y subenunciados de temas y lecciones. Si bien, esta presencia no es correlativa en las referencias bibliográficas donde es marcadamente llamativa su ausencia. Se comprueba, además, que el conjunto de normas cuya presencia es más numerosa se relaciona con la función de descripción y recuperación de los contenidos, resaltando la cita de normas internacionales y nacionales y omitiendo algunas de las más significativas para la representación de los contenidos en entornos electrónicos. Se subraya el enorme interés, dado su número y referencia en contenidos, de materias vinculadas a calidad y excelencia en la gestión de los centros y sus sistemas de información, apoyadas con referencias teóricas y salvo excepciones sin citar las normas de base que las hacen posible. Se constata, a su vez, que las normas vinculadas a los sistemas normalizados de gestión documental, salvo el código de buenas prácticas ISO 15489:2001 no son todavía suficientemente citadas y trabajadas. Se destaca la notable ausencia de normas que se orientan a los entornos electrónicos desde el enfoque de su gestión de la continuidad digital y de su mantenimiento y preservación. Con idéntico rango en la omisión subrayamos la ausencia de normas -y contenidos- que contribuyen a la seguridad de la información y la gestión de los riesgos.
REFERENCIAS Relación de guías académicas y planes de estudios de Grado analizados en España: Universidad A Coruña. Disponible en: https://guiadocente.udc.es/guia_docent/index.php?centre=710&ensenyament=710G0 2&consulta=assignatures. Acceso en: 03 Jun. 2015. Universidad de Barcelona. Disponible en: http://www.ub.edu/web/ub/es/estudis/oferta_formativa/graus/fitxa/I/G1030/index.html. Acceso en: 03 Jun. 2015. 134
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Universidad Carlos III de Madrid. Disponible en: http://portal.uc3m.es/portal/page/portal/titulaciones_grado/info_doc/plan. Acceso en: 03 Jun. 2015. Universidad Complutense. Madrid. Disponible en: http://documentacion.ucm.es/programas-del-grado-en-informacion-y-documentacion. Acceso en: 03 Jun. 2015. Universidad de Extremadura. Disponible en: http://www.unex.es/conoce-lauex/centros/alcazaba/titulaciones/grado/info_titulacion?idTitulacion=G52&idPlan=1706 &idCentro=17. Acceso en: 03 Jun. 2015. Universidad de Granada. Guía académica. Disponible en: http://grados.ugr.es/documentacion/pages/titulacion/guiatitulacion/%21. Acceso en: 01 Jun. 2015. Universidad de León. Grado en Información y Documentación. Plan de estudios Disponible en: https://www.unileon.es/estudiantes/estudiantes-grado/oferta-deestudios/planes?titula=0415. Acceso en: 01 Jun. 2015. Universidad de Murcia. Disponible en: http://www.um.es/web/comunicacion/contenido/estudios/grados/documentacion/201415/guias. Acceso en: 01 Jun. 2015. Universidad de Salamanca. Disponible en: http://www.usal.es/webusal/files/Grado_%20%20Informaci%C3%B3n_y_Documentaci %C3%B3n_PF.pdf. Acceso en: 30 Mayo 2015. Universidad de Valencia. Disponible en: http://www.uv.es/uvweb/universidad/es/estudios-grado/oferta-grados/ofertarados/grado-informacion-documentacion285846094474/Titulacio.html?id=1285847456671&plantilla=UV/Page/TPGDetaill&p2= 2. Acceso en: 30 Mayo 2015. Universidad de Zaragoza. Disponible en: http://titulaciones.unizar.es/informaciondocumentacion/cuadro_asignaturas.html. Acceso en: 30 Mayo 2015. Relación de Guías académicas y planes de estudios de los Grado analizados en Brasil: Conselho Nacional de Arquivos – CONARQ. Disponible en: http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=183&sid= 65 .Acceso em: 07 Jun. 2015. Universidade de Brasília – UNB. Disponible en: http://www.unb.br/aluno_de_graduacao/cursos/arquivologia. Acceso en: 26 Mayo 2015. Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. http://arquivologiauepb.com.br. Acceso en: 05 Jun. 2015.
Disponible
en:
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Universidade Estadual de Londrina – UEL. Disponible en: http://www.uel.br/ceca/cin/. Acceso en: 26 Mayo 2015. Universidade Estadual Paulista UNESP/MARÍLIA. Disponible en: http://www.marilia.unesp.br/#!/graduacao/cursos/arquivologia/. Acceso en: 05 Jun. 2015. Universidade Federal da Bahia – UFBA. Disponible https://www.ufba.br/cursos/arquivologia. Acceso en: 26 Mayo 2015.
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Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Disponible en: http://dci.ccsa.ufpb.br/?Gradua%E7%E3o:Arquivologia. Acceso en: 25 Mayo 2015. Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Disponible http://www.eci.ufmg.br/ensino/arquivologia. Acceso en: 25 Mayo 2015.
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Disponible en: http://www.ufrgs.br/arquivologia/institucional/doc.php?u=/principal. Acceso en: 28 Mayo 2015. Universidade Federal Fluminense – UFF. Disponible http://www.uff.br/iacs/site/grad_arquiv.html. Acceso en: 28 Mayo 2015. Universidade Federal http://arquivologia.ufsc.br/.
Santa Catarina – Acceso en:
UFSC. 25
en:
Disponible en: Mayo 2015.
136
9 A INFLUÊNCIA DA CULTURA ORGANIZACIONAL PARA A GERAÇÃO DE INOVAÇÃO ENFOCANDO PROCESSOS DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO Elaine da Silva elainesilva2108@icloud.com Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Universidade Estadual Paulista (Unesp), Câmpus de Marília. Bárbara Fadel ba.fadel@terra.com.br Marta Lígia Pomim Valentim valentim@marília.unesp.br Docentes do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Universidade Estadual Paulista (Unesp), Câmpus de Marília.
Resumo: Discute a necessidade de promover a inovação em ambientes organizacionais no atual contexto socioeconômico, relaciona os elementos da cultura organizacional e identifica quais aspectos culturais levam uma organização a estar mais ou menos propensa à inovação. Evidencia maneiras de buscar a revaloração da cultura organizacional para que esta seja uma cultura voltada à inovação, em especial, por meio da aprendizagem organizacional e processos de gestão da informação e do conhecimento. Palavras-Chave: Inovação; Cultura Organizacional; Aprendizagem Organizacional; Gestão da Informação; Gestão do Conhecimento.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
1 INTRODUÇÃO A inovação vem ocupando lugar de destaque na sociedade a partir das últimas décadas e se tornando tema recorrente em organizações públicas e privadas, nos setores da manufatura, serviços, institucionais e acadêmicos. Gibson (2008) declara que a capacidade de inovar é o grande diferencial que uma organização pode conquistar atualmente, comparada ao papel ocupado na Década de 1960 pela gestão da qualidade. Evidencia-se que há algumas décadas a sobrevivência e a competitividade organizacionais estavam fortemente vinculadas à capacidade de oferecer serviços e produtos de qualidade, entretanto, a partir do momento em que parte significativa das organizações alcançaram esse status, a inovação surgiu como o novo elemento capaz de promover a sobrevivência e o desenvolvimento organizacionais. Relacionada a esse contexto, a sociedade em rede (CASTELLS, 1999), possibilitada entre outros fatores pelos avanços das tecnologias da informação e comunicação (TIC) e a abertura de mercados globais, acelera a velocidade de acesso e, até mesmo, de obsolescência de produtos e serviços lançados no mercado. Nesse contexto, as organizações têm pressa por tornarem-se mais inovadoras. De maneira geral, inovação pode ser entendida como a implantação de algo totalmente novo ou significativamente melhorado, podendo ser um produto, um serviço, um processo, um método de marketing ou um método organizacional. Entre os vários fatores capazes de levar uma organização a se tornar mais ou menos inovadora, destaca-se a cultura organizacional compreendida como “[...] o elemento que permite que a organização encontre formas de adaptação e de integração ao entorno para sobrevivência” (DIAS, 2012, p.33). Apresenta-se
uma
análise
das
características
nucleares
da
cultura
organizacional indicando a respectiva propensão ou não propensão à inovação, a partir de uma breve análise bibliográfica acerca dos temas: inovação em contextos organizacionais; cultura organizacional voltada à inovação; e informação e conhecimento em culturas organizacionais voltadas à inovação. Nessa perspectiva, considera-se que elementos periféricos da cultura organizacional, tais como ritos, rituais, cerimônias, estórias, mitos, heróis, normas e artefatos podem atuar como elementos determinantes para a revaloração cultural, assim como são essenciais para que
novos
valores
adjacentes
sejam
inseridos
e
incorporados
à
cultura 139
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
organizacional, contribuindo para a construção de uma cultura organizacional voltada à inovação, focada em processos de gestão da informação e do conhecimento, que priorizem o aprender, a pesquisa e a busca criativa.
2 A INOVAÇÃO EM CONTEXTOS ORGANIZACIONAIS O conceito de inovação como a possibilidade de combinar recursos e forças de trabalho de distintas maneiras e, assim, obter novos produtos, serviços e processos surge no início da Década de 80 do Século XX, com a descrição dos sistemas de produção por Schumpeter (1982). O mesmo autor destacava que as novas combinações poderiam surgir diante de novas demandas e, também, gerar novas demandas. De acordo com Silva (2013), a partir da Década de 1990, com a denominada Escola Evolucionista da Economia, pesquisadores como Lundvall, Nelson, Edquist, chamam a atenção para o fato de que o conhecimento é o elemento mais importante para a geração de inovação e, portanto, é possível obter melhores resultados em inovação caso se promova a interação entre agentes como universidades, institutos de pesquisa, agências de fomento e financiamento, fornecedores e outros tipos de empresas, levando ao surgimento do conceito de Sistemas de Inovação (SI), introduzindo a ideia de que inovar não se constitui em ato isolado de uma pessoa ou organização, mas ao contrário o esforço conjunto de várias organizações por meio do compartilhamento de informações e conhecimentos. Nesse contexto, é preciso que a organização integrante de um SI seja voltada à inovação e preparada para compartilhar informação e conhecimento no âmbito do SI, ou seja, é preciso tornar-se uma organização do conhecimento, conforme explica Choo (2006, p.32), destacando que deve ser capaz de:
Adaptar-se às mudanças do ambiente no momento adequado e de maneira eficaz;
Empenhar-se na aprendizagem constante, o que inclui desaprender pressupostos, normas e crenças que perderam validade;
Mobilizar o conhecimento e a experiência de seus membros para gerar inovação e criatividade;
Focalizar seu conhecimento em ações racionais e decisivas.
Defende-se
que
a
estrutura
organizacional
influencia
favorável
ou
desfavoravelmente as organizações quanto à atuação voltada ao conhecimento e à inovação. Da mesma maneira, a estrutura organizacional pode revelar a propensão 140
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
ou não propensão da organização para a inovação, como evidenciado nas configurações de estruturas organizacionais delineadas por Mintzberg (1979) (Quadro 1). Observa-se que as organizações classificadas pelo autor como diversificadas e inovadoras reúnem melhores condições para inovar, do que as classificadas como organizações empresariais, máquinas, profissionais ou missionárias. Quadro 1: Estruturas organizacionais. Configuração
Organização empresarial
Organização máquina
Organização profissional
Organização diversificada
Organização inovadora
Organização missionária
Principal mecanismo de coordenação Supervisão direta
Padronização dos processos de trabalho
Parte chave da organização Cúpula estratégica
Tecnoestrutura
Parâmetros de delineamento
Fatores situacionais
Centralizada vertical e horizontalmente.
Pequena e jovem; ambiente dinâmico, sistema técnico não sofisticado, poder conferido ao gerente do topo. Madura e grande; sistema técnico regulado e não automatizado; ambiente simples e estável.
Centralização vertical e descentralização horizontal limitada; formalização do comportamento. Padronização Núcleo Descentralização Ambiente estável e de operacional horizontal e complexo; sistema técnico habilidades vertical; não regulado e não especialização do sofisticado. trabalho horizontal. Padronização Linha Descentralização Mercados diversificados; de resultados intermediária vertical limitada; madura e grande; poder sistema de para os gerentes da linha controle de intermediária. desempenho; agrupamento por mercado. Adaptação Assessoria de Descentralização Ambiente complexo e mútua apoio seletiva; dinâmico; jovem; sistema agrupamento técnico sofisticado e funcional e por muitas vezes produto. automatizado. Padronização Ideologia Descentralização; Não muito jovens e de normas divisão de pequenas; sistema técnico trabalho difusa, simples. com pouca especialização de trabalho. Fonte: Elaboração própria e adaptada a partir de Mintzberg (1979, p.22).
Estruturas organizacionais mais centralizadas e com forte padronização dos processos de trabalho tendem a ter mais dificuldades para inovar porque não 141
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
promovem o compartilhamento de conhecimento entre os envolvidos no processo. Ao passo que estruturas organizacionais descentralizadas, e que promovem o agrupamento por produto ou por mercado são mais propensas a inovar. Entretanto, uma análise mais aprofundada se faz necessária. Não basta desenhar uma estrutura organizacional que propicie a descentralização e a especialização horizontal, é necessário que a inovação seja incorporada à cultura organizacional em todos os níveis.
3 CULTURA ORGANIZACIONAL VOLTADA À INOVAÇÃO Ao destacar o papel da criatividade para a inovação, Valentim (2008, p.4) chama a atenção para o fato de que “A sociedade ocidental culturalmente prestigia os sujeitos que usam a lógica e a racionalidade, e a criatividade é oposta à lógica e à racionalidade, pois vale-se da percepção, da intuição, da emoção, da subjetividade etc.”. A assertiva da autora encontra sustentação em modelos tradicionais de sistemas de produção e administração. Como exemplos pode-se destacar o Fordismo e o Cartesianismo, marcados pela centralização e padronização de processos, métodos, produtos e serviços, presentes em muitas organizações ainda nos dias atuais. Para que se tornem organizações do conhecimento, capazes de inovar e manter-se no mercado contemporâneo é preciso que tais organizações modifiquem os modelos mentais e os comportamentos dos sujeitos organizacionais não promotores de inovação. Segundo Marchiori (2008, p.16), “[...] a única forma efetiva de modificar uma organização é por meio de sua cultura. Sua sedimentação está ligada ao processo de conhecimento e relacionamentos por intermédio da construção de significado”. É preciso, portanto, buscar uma cultura orientada para a inovação. Cultura sempre reflete a sabedoria coletiva que vem das lições que as pessoas aprendem à medida que se adaptam e sobrevivem juntas ao longo do tempo, milhares de rotinas interligadas costuram o tecido da empresa e traduzem o conhecimento atemporal em uma ação temporal cotidiana. Os hábitos e costumes tradicionais que mantiveram a empresa viva e bem falam em alto e bom som, e quando a incerteza ressurge ameaçadora, a cultura reina! Todos os membros da tribo corporativa tendem a recorrer a seus métodos consagrados a fim de resistir a tempestade (DENISON, 2012, p.1).
Em tempos de mudança e diante da necessidade de inovar, “[...] a cultura organizacional em particular importa porque os elementos culturais determinam a estratégia, os objetivos e o modo de operação da empresa” (SCHEIN, 2007, p.28). 142
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Nesse sentido, é oportuno destacar os elementos que integram a cultura de uma organização: valores; crenças e pressupostos; ritos, rituais e cerimônias; estórias, mitos e heróis; tabus e normas; e processo de comunicação. A cultura organizacional é compreendida por Fadel (2009) como uma interpretação coletiva da realidade, é por sua natureza estável, mas não é estática. Conhecer e interpretar a cultura organizacional são processos fundamentais para que sejam estabelecidas ações no sentido de reforçar ou modificar a cultura existente. Collins e Porras (1998) alertam para a existência de elementos centrais e periféricos na cultura organizacional. Segundo os autores, é possível identificar um núcleo central da cultura composto pelo self organizacional, entendido como o ponto central e complexo que surge a partir da cristalização de um conjunto de atitudes; pela ideologia central, formada por valores que norteiam o destino e as decisões; e pela força motriz, impulso modelador da cultura, decorrente de sua fundação (JOHANN, 2006). Diante do exposto pode-se inferir que as crenças e pressupostos participam, com os valores, do núcleo da cultura de uma empresa. São elementos base de todo comportamento, do jeito de ser e da personalidade da empresa. Entretanto, as crenças e pressupostos, muitas vezes, não são divulgados claramente aos seus integrantes, uma vez que não se apresentam em uma estrutura formal, mas sim por ações, posições e visões. Por isso, são elementos críticos da cultura organizacional, pois além de definir o que os tomadores de decisão percebem como relevantes, ainda orientam na identificação de problemas, nos processos de escolha e nos percursos de mudança na empresa. Portanto, se não são compartilhados e absorvidos pelos demais integrantes da empresa possivelmente não haverá adesão ao plano de ação estabelecido no processo decisório para manutenção, crescimento ou na resolução de problemas e não contribuirá no fortalecimento da cultura da organização (SMITH, 2013, p.119).
Valores, crenças e pressupostos são elementos associados ao núcleo da cultura corporativa, e se mesclam em elementos conscientes, presentes na força motriz e ideologia central e, possivelmente inconscientes, presentes no self e também em zonas de sombra, nas quais “[...] residem os medos inconfessos, os tabus, os preconceitos e até mesmo os chamados contratos psicológicos, sejam eles positivos ou não” (JOHANN, 2006, p.29). Nessa perspectiva, o núcleo da cultura organizacional abriga seu inconsciente coletivo, diagnosticá-lo leva a compreensão de seu modo de trabalho e, logo, de sua propensão ou não a inovação. Morgan (1996) estabelece uma metodologia que permite diagnosticar as organizações a partir do self da cultura organizacional,
143
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
classificando-as em oito tipos organizacionais, aos quais foram acrescidas a análise do nível de propensão à inovação (Quadro 2). Quadro 2: Classificação das organizações mediante seu núcleo cultural. Tipos organizacionais
Descritores
Propensão à inovação
Máquina
Rotina; ênfase nas tarefas; controle.
Baixa
Organismo
Ecologia social; sistemas abertos; orientadas para o mercado; interação com o meio.
Sistema Político
Manipulação; jogos de poder.
Cérebro
Informação; comunicação; flexibilidade; aprender a aprender; inteligência.
Prisão Psíquica
Prisão em passado de glória; comodismo; inflexibilidade.
Baixa
Instrumento de Dominação
Exploração de trabalho em benefício de poucos; domínio da elite; endogenia; burocracia.
Baixa
Fluxo e Transformação
Ausência de planejamento; egocentrismo; falta de diretriz.
Variável
Cultura
Valores; país de origem.
Variável
Alta Variável Alta
Fonte: Elaboração própria e adaptada a partir de Morgan (1996).
Diante dos descritores dos tipos organizacionais, é possível afirmar que devido ao reforço de rotinas, burocracia e inflexibilidade, organizações caracterizadas como ‘Máquina’; ‘Prisão Psíquica’ e ‘Instrumento de Dominação’ são menos sujeitas a adaptar-se à dinamicidade da sociedade atual, altamente competitiva, que necessita de conhecimento e informação para inovar e manter-se no mercado. Por outro lado, as organizações do tipo ‘Sistema Político’; ‘Fluxo e Transformação’ e ‘Cultura’; por estarem geralmente atreladas a outras culturas ou sazonalidades, apresentam propensão variável à inovação. Por fim, organizações caracterizadas como ‘Organismo’ e ‘Cérebro’, têm alta propensão à inovação, porquanto são sistemas abertos e flexíveis. Ainda que se tenha clareza de que o núcleo constitui a camada mais sólida e estável da cultura organizacional é imprescindível considerar que O desenvolvimento e a consolidação da cultura corporativa de alto desempenho permitem que uma empresa alcance, ao longo do tempo, incomparável vantagem competitiva [...]. A conquista dessa vantagem competitiva requer que a cultura de uma empresa se torne densa, com alto
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
grau de valores compartilhados pelas pessoas, e, ao mesmo tempo, flexível e capaz de internalizar continuamente valores que levem a organização aos crescentes desafios que o ambiente externo lhe impõe. Na terminologia adotada, trata-se de preservar o núcleo da cultura da empresa – self, força motriz e ideologia central – e, simultaneamente, estimular a absorção de novos valores adjacentes que o revitalizem (JOHANN, 2006, p.55).
A absorção de novos valores adjacentes e, por consequência, a revaloração da cultura,
é
imprescindível
às
organizações
que
apresentam
uma
estrutura
organizacional e um núcleo da cultura menos propensos a inovação. É preciso garantir que a organização construa um núcleo cultural sólido, que lhe assegure identidade, mas que seja flexível e permita a absorção de novos valores, necessários para que se adapte às demandas mercadológicas e sociais, promovendo um movimento de revaloração da cultura organizacional. Johann (2006) afirma que o processo de revaloração deve ser realizado mediante um programa estruturado de gerenciamento da cultura organizacional, que se inicia pela “[...] sensibilização da alta administração da empresa, continua com a capacitação dos gestores da mudança e prossegue com a correta ativação de vários mecanismos de gerenciamento da cultura no dia a dia da empresa” (JOHANN, 2006, p.58). Elementos periféricos da cultura organizacional atuam como mecanismos na revaloração cultural. Assim, elementos tais como ritos; rituais; cerimônias; estórias; mitos; heróis; normas e processos de comunicação são essenciais para que os novos valores adjacentes sejam inseridos e incorporados à cultura organizacional. Ritos, rituais e cerimônias, estórias, mitos e heróis constituem-se em elementos com o poder de incutir ou reforçar valores, crenças e pressupostos na organização. A ação repetida de um rito ou ritual leva as pessoas a interiorizarem valores de maneira dogmática, sem cogitar a validade e ou pertinência. Cerimônias especiais, como distribuição de prêmios e honrarias, jantares, reuniões anuais etc., podem simbolicamente exprimir valores e prioridades organizacionais. Mitos e tabus podem inibir a manifestação, a criatividade e, por consequência, a possibilidade de geração de inovação em ambientes organizacionais. São presenças não declaradas, mas que determinam muitas vezes os limites invisíveis na estrutura organizacional, porquanto mesmo que a organização mantenha, no nível de artefatos uma estrutura organizada por projetos e competências, caso hajam mitos ou tabus que reforcem uma hierarquia rígida, é provável que funcionários da linha operacional não se sintam a vontade para defender uma posição contrária à já declarada por outro funcionário, detentor de um cargo hierarquicamente superior, 145
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
inibindo atitudes e ações criativas. A figura do herói corresponde ao exemplo a ser seguido, logo, pode estimular a atividade criativa e potencialmente inovadora caso o exemplo esteja associado a tais práticas. A promoção de uma revaloração da cultura organizacional orientada para inovação deve preconizar elementos periféricos voltados ao compartilhamento de informação e conhecimento com foco na inovação, que levarão, ao longo do tempo, à adaptação do núcleo da cultura a um tipo organizacional mais flexível, orientado para o mercado e com foco na aprendizagem contínua. Atuar de maneira planejada sobre os elementos periféricos da cultura de uma determinada organização pode contribuir para sua revaloração, no entanto, é preciso considerar a dinamicidade da cultura organizacional, pois “Embora possa ser estudada e caracterizada num determinado espaço de tempo, ela se modifica constantemente. O indivíduo a adquire, interioriza e reafirma com sua conduta, mas também pode transformá-la” (DIAS, 2012, p.50). A cultura é reafirmada e ou transformada o tempo todo, sendo sua construção uma constante. Sua revaloração deve, portanto, considerar sua complexidade e dinamicidade, pois como afirma Johann (2006) pode implicar em quebra de paradigmas e reciclagem de valores estabelecidos. Para Johann (2006) “Revalorar a cultura de uma empresa equivale a quebrar os moldes das velhas crenças e costumes, e fazer incessantemente a reciclagem de seus valores antes que a velocidade da mudança fora da organização torne-se muito maior que o seu ritmo interno”. A revaloração da cultura organizacional com foco em inovação deve priorizar o estabelecimento de valores e crenças voltados ao compartilhamento de informação e conhecimento, e os elementos periféricos como ritos, rituais e cerimônias devem reforçar esse novo direcionamento da organização. 4 INFORMAÇÃO
E
CONHECIMENTO
EM
CULTURAS
ORGANIZACIONAIS
VOLTADAS À INOVAÇÃO Estabelecer elementos periféricos que promovam a inovação é relevante pois indica a direção que a organização pretende adotar, entretanto, deve-se agregar a esse contexto ações que levem a organização ao desenvolvimento de uma cultura voltada ao aprendizado constante, pois como afirma Delors (1996), a compreensão do 146
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
mundo e, por conseguinte, a compreensão das organizações passa pela compreensão das relações entre o sujeito e o meio. Razão pela qual “[...] cresce cada vez mais a demanda por profissionais flexíveis, multicapacitados, capazes de aprender ao longo da vida” (DUDZIAK; BELLUZZO, 2008, p.45). Para podermos compreender a crescente complexidade dos fenômenos mundiais, e dominar o sentimento de incerteza que suscita, precisamos, antes, adquirir um conjunto de conhecimentos e, em seguida, aprender a relativizar os fatos e a revelar sentido crítico perante o fluxo de informações (DELORS, 1996, p.47).
Partindo do pressuposto de que inovação consiste na implantação eficaz de algo novo ou significativamente melhorado, seja um produto, um serviço ou um processo, pode-se afirmar que promover a aprendizagem significativa dos profissionais é vital para organização que deseja tornar-se e manter-se inovadora, pois é ela, a aprendizagem, que permite que se desvende e acompanhe as rápidas transformações na sociedade atual e suas respectivas demandas, latentes ou já declaradas. Tal assertiva é ratificada por Dudziak e Belluzzo (2008), que ressaltam a relevância de estabelecer uma cultura focada no aprender a aprender, que priorize a pesquisa e a busca criativa. Segundo Fadel (2009, p.4), “[...] a cultura organizacional fomenta, também, a gestão do conhecimento na organização, pois envolve, principalmente, o trabalho com o relacionamento humano e seus vários elementos intangíveis”. Segundo a autora, Considerando a cultura organizacional como uma interpretação coletiva da realidade, ela deve oferecer os caminhos para se trabalhar a gestão do conhecimento na organização, que, nesta ultima década, tem sido tão discutido pela maioria dos gerentes e executivos empresariais. A sua estrutura, incorporada aos recursos humanos da organização, ofereceria as condições necessárias à geração, ao uso e ao compartilhamento do conhecimento, possibilitando a sua gestão. Os elementos que possibilitariam a gestão do conhecimento podem ser detectados através das crenças, pressupostos, posturas, atividades que se caracterizam por uma postura proativa, aberta, abrangente e atuante (FADEL, 2009, p.4).
Nesse contexto, destaca-se a relevância de processos de gestão da informação e do conhecimento como subsídios para a inovação, e confirma-se a centralidade da cultura organizacional para que tais processos sejam de fato incorporados na organização e proporcionem os resultados esperados no que tange à inovação. [...] com a gestão dos processos de informação e de conhecimento é possível impelir-se na aprendizagem constante, o que inclui o desuso de pressupostos, normas e crenças que perderam validade e também mobilização do conhecimento e da experiência de seus membros para gerar
147
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
inovação e criatividade e, portanto, promove intervenções nos elementos da cultura organizacional (VALENTIM, 2008 apud SMITH, 2013, p.117).
Corroborando com o postulado de Lundvall (1992) que afirma ser a aprendizagem [o processo] e o conhecimento [o recurso] mais importantes para a geração da inovação, ratifica-se a extrema relevância dos processos de gestão da informação e do conhecimento estarem integrados à estrutura organizacional e suas práticas e atividades incorporadas à cultura organizacional. Várias abordagens para a gestão da informação e do conhecimento vêm sendo discutidas nos meios acadêmicos e organizacionais, fato que reforça a convicção de que as organizações já percebem a informação e o conhecimento como elementos vitais para sua sobrevivência, porquanto devem buscar revalorar suas culturas de maneira a serem orientadas à gestão da informação e do conhecimento. Valentim (2004) apresenta de forma sintética as atividades base para a gestão da informação e do conhecimento (Quadro 3). Quadro 3: Atividades base da gestão da informação. Gestão da Informação
Gestão do Conhecimento
Âmbito: Fluxos formais
Âmbito: Fluxos informais
Objeto: Conhecimento explícito
Objeto: Conhecimento tácito
Atividades Base
Atividades Base
- Identificar demandas informação.
necessidades
de
- Identificar demandas conhecimento;
necessidades
de
- Mapear e reconhecer fluxos formais.
- Mapear e reconhecer fluxos informais;
- Desenvolver a cultura organizacional positiva em relação ao compartilhamento/ socialização de informação.
- Desenvolver a cultura organizacional positiva em relação ao compartilhamento/ socialização de conhecimento;
- Proporcionar a comunicação informacional de forma eficiente, utilizando tecnologias de informação e comunicação.
- Proporcionar a comunicação informacional de forma eficiente, utilizando tecnologias de informação e comunicação;
- Prospectar e monitorar informações.
- Criar espaços criativos dentro da corporação;
- Coletar, selecionar e filtrar informações.
- Desenvolver competências e habilidades voltadas ao negócio da organização;
- Tratar, analisar, organizar, armazenar informações, utilizando tecnologias de informação e comunicação.
- Criar mecanismos de captação de conhecimento, gerado por diferentes pessoas da organização;
- Desenvolver sistemas corporativos de diferentes naturezas, visando o compartilhamento e uso de informação.
- Desenvolver sistemas corporativos de diferentes naturezas, visando o compartilhamento e uso de conhecimento;
- Elaborar produtos e serviços informacionais.
- Fixar normas e padrões de sistematização de conhecimento;
- Fixar normas e padrões de sistematização da informação.
- Retroalimentar o ciclo.
- Retroalimentar o ciclo.
Fonte: Valentim (2004, p.1).
148
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Cumpre destacar o papel dos líderes no processo de revaloração da cultura organizacional. Segundo Alves (2010), o posicionamento da liderança no sentido de orientar ou reorientar o comportamento desejado, tanto em relação à integração interna, quanto ao alinhamento às demandas externas são de extrema relevância. Da mesma maneira, Valentim (2008) ao explorar a conexão entre a criatividade e a cultura, afirma que a inovação exige criatividade, e esta exige condições organizacionais favoráveis, para tanto a gestão da cultura organizacional e em especial o papel das lideranças é fundamental. Destaca-se a cultura organizacional, por meio dos valores, crenças e atitudes, como principal elemento influenciador da criatividade. Dessa forma, os chefes e líderes têm papel fundamental no processo criativo. É a partir dos valores, crenças e atitudes disseminadas por eles, no ambiente de trabalho, que as pessoas serão influenciadas positiva ou negativamente a serem criativas (VALENTIM, 2008, p.7).
Assumindo o postulado de Smith (2013, p.116.), que declara ser a cultura organizacional
“[...]
um
poderoso
mecanismo
capaz
de
moldar
condutas,
homogeneizar maneiras de pensar e participar na organização”, acredita-se que organizações cujas culturas sejam orientadas para a inovação e atentas à gestão da informação e do conhecimento reúnem, de fato, condições e características para serem chamadas de organizações do conhecimento, que segundo Choo são aquelas que, [...] mantêm os olhos fixos no horizonte, observando que o mercado muda dia a dia, as empresas lutam por posições, as inovações tecnológicas abrem novos terrenos e as políticas governamentais estabelecem e restabelecem limites. Mais do que nunca, as organizações estão conscientes de que sua sobrevivência e sua evolução dependem de sua capacidade de dar sentido ou influenciar o ambiente e de renovar constantemente seu significado e seu propósito à luz das novas condições. A capacidade de adaptação a um ambiente dinâmico apresenta um duplo desafio, pois requer que a organização seja capaz não só de perceber, mas também de criar significado (CHOO, 2006, p.123).
A cultura organizacional é fundamental para todos os processos de atribuição de significado como, por exemplo, perceber mudanças, atribuir significado às informações e aos conhecimentos que circulam no ambiente organizacional, identificar o que de fato é relevante para o negócio da organização, entre outros. Esses processos influem diretamente sobre os sujeitos organizacionais, propiciando condições para que possam gerar inovações incrementais ou radicais.
149
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5 CONSIDERAÇÕES Em um contexto socioeconômico em que inovar revela-se uma prioridade e é considerada um elemento responsável pela sobrevivência e desenvolvimento das organizações, conhecer e interpretar a cultura organizacional é tarefa fundamental para manter, reforçar ou transformar comportamentos e padrões inovativos. Desvendar o núcleo de uma cultura organizacional, pode levar a identificar propensões ou limitações no que tange à atividade inovativa na organização. Acredita-se que, muitas vezes, embora a organização reconheça a necessidade de inovar, impede o comportamento inovativo dos sujeitos organizacionais, por meio de uma cultura centralizadora, excessivamente burocratizada e impositora de rotinas. Nessa perspectiva, é necessário promover a revaloração da cultura organizacional estabelecida. A cultura organizacional é dinâmica e vai sendo reafirmada ou transformada ao longo do tempo de existência de uma organização. É preciso estar atento às transformações e tendências do mercado, e buscar a inserção de novos valores adjacentes que, por sua vez, são apresentados e introduzidos na cultura por meio de elementos periféricos como cerimônias, ritos e rituais, redefinição da missão e visão, a partir de um programa de revaloração cultural que comece pela sensibilização da alta direção, mas seja dirigido também aos níveis gerenciais e operacionais. Destaca-se que um programa de revaloração da cultura organizacional deve ser pautado em exigências sociais e econômicas, e para entender e acompanhar o acelerado ritmo das mudanças na sociedade atual, a organização precisa estar voltada à aprendizagem constante e à implantação de programas de gestão da informação e do conhecimento, elementos essenciais também para a geração e gestão da inovação.
REFERÊNCIAS CASTELLS, M. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v.1 CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimentos e tomar decisões. 2.ed. São Paulo: Editora SENAC, 2006. DELORS, J. et al. Educação um tesouro a descobrir: Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez, 1996. 150
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
DENISON, D. et. al. A força da cultura organizacional nas empresas globais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. DIAS, R. Cultura Organizacional. 3.ed. Campinas: Alínea, 2102. DUDZIAK, E. A.; BELLUZZO, R. C. B. Educação, informação e tecnologia na sociedade contemporânea: diferenciais à inovação?. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v.4, n.2, p.44-51, jul./dez. 2008. FADEL, B. Identidad cultural y gestión de la información y del conocimiento en las organizaciones en cambio. Ibersid: Revista de Sistemas de Información y Documentación, Zaragoza, v.3, p.1-8, 2009. Disponível em: <http://ibersid.eu/ojs/index.php/ibersid/article/view/3723/3484>. Acesso em: 29 nov. 2013. FREITAS, M. E. Cultura organizacional: formação, tipologias e impacto. São Paulo: Makron, McGraw-Hill, 1991. JOHANN, S. L. Gestão da cultura corporativa. São Paulo: Saraiva, 2006. LUNDVALL, B. A. (Ed.). National systems of innovation: Towards a theory of innovation and interactive learning. London: Pinter, 1992. MARCHIORI, M. Cultura e comunicação organizacional: um olhar estratégico sobre a organização. 2.ed. São Caetano (SP): Difusão, 2008. MINTZBERG, H. Criando organizações configurações. São Paulo: Atlas, 1995. 304p.
eficazes:
estruturas
em
cinco
MINTZBERG, H. The structuring of organizations: A synthesis of the research. New York: Prentice-Hall, 1979. SCHEIN, E. H. Guia de sobrevivência da cultura corporativa. 2.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2007. SILVA, E. da. Gestão do conhecimento e da informação como subsídios para a geração de inovação. 2013. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação – Faculdade de Filosofia e Ciências – Universidade Estadual Paulista, Marília (SP), 2013. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/PosGraduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/SILVA_E_da_Dissertacao.pdf>. Acesso em: 15 set. 2013. SMITH, M. S. J. A cultura informacional como alicerce de gestão contábil nas pequenas e médias empresas. 2013. Tese (Doutorado) – Programa de PósGraduação em Ciência da Informação – Faculdade de Filosofia e Ciências – Universidade Estadual Paulista, Marília (SP), 2013. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/PosGraduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/Smith_Maria_Santana_Justo.pdf>. 151
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Acesso em: 5 nov. 2013. VALENTIM, M. L. P. Criatividade e inovação na atuação profissional. CRB-8 Digital, São Paulo, v.1, n.1, p.3-9, jul. 2008. Disponível em: <http://revista.crb8.org.br/index.php/crb8digital/article/viewFile/36/37>. Acesso em: 3 dez. 2013. VALENTIM, M. L. P. Gestão da informação e gestão do conhecimento: especificidades e convergências. Londrina: Infohome, 2004. (Artigo em Web) Disponível em: <http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=88>. Acesso em: 12 dez. 2013
152
10
LA PARTICIPACIÓN DE LOS INVESTIGADORES BRASILEÑOS EN LOS CONGRESOS ACADÉMICOS ESPAÑOLES DE CIENCIA DE LA INFORMACIÓN: CARTOGRAFÍA DE UN FENÓMENO EMERGENTE
José Antonio Frías frias@usal.es Carlos Díaz Redondo charlierdiaz@usal.es Universidad de Salamanca.
Resumen: Se analiza la participación de los investigadores brasileños en congresos académicos ibéricos de Ciencia de la Información (celebrados en España y Portugal) en los últimos diez años (2005-2014). Se determina el porcentaje de investigadores brasileños que han presentado sus trabajos en dichos congresos, las características de esta participación (identificación de los investigadores más participativos, universidades de procedencia, etc.) y su evolución a lo largo de estos años. Asimismo se estudia la colaboración entre investigadores españoles, portugueses y brasileños en dichos eventos. Palabras-Clave: Movilidad Internacional; Congresos Científicos; Ciencia de la Información; Investigadores Brasileños.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
1 INTRODUCCIÓN: COOPERACIÓN CIENTÍFICA Y MOVILIDAD INTERNACIONAL El proceso de creación de conocimiento científico ha atravesado por diversas fases a lo lago de la historia y esta última etapa se caracteriza por una creciente tendencia a la internacionalización. Se trata de un proceso insoslayable en el que cada vez mayor volumen de conocimiento fluye con velocidades inimaginables, desde y hacia todos los rincones del planeta. Si bien no es algo nuevo, la intensidad y el alcance de este proceso se han visto incrementados en los últimos veinte años y en la actualidad la cooperación y la colaboración científicas y la movilidad internacional constituyen un componente fundamental de la carrera de los investigadores. El volumen global de conocimiento científico se ha acrecentado, e hipotéticamente su disponibilidad también ha aumentado, y si bien podemos observar incentivos gubernamentales en distintos países para la internacionalización del conocimiento a través de la colaboración entre personas e instituciones (acuerdos bilaterales, proyectos colaborativos bajo el paraguas de consorcios internacionales de investigación, co-publicaciones y movilidad de estudiantes e investigadores), ello no se produce sin tensiones. Puede haber procesos de dispersión, segmentación y a la vez concentración del conocimiento; puede haber campos disciplinarios más aptos y con más adeptos a la colaboración internacional; pueden aparecer nuevos grupos de élite y campos emergentes así como pueden descuidarse o abandonarse otros. El espectro de instrumentos promotores de la cooperación científica y tecnológica internacional se ha ampliado, tanto por acuerdos bilaterales entre países como por programas multilaterales como los de la Comisión Europea, CYTED, IDRC, BID y Banco Mundial. Los flujos de conocimiento y saberes Norte-Norte y Norte-Sur no han cesado, pero han aparecido intercambios Sur-Sur y más recientemente SurNorte. Es decir que hoy podemos hablar de multi-direccionalidad o multilateralidad del flujo de conocimiento, ya sea materializado en publicaciones o a través de la movilidad de personas, y más particularmente a través de los intercambios intangibles que ofrecen los medios electrónicos como Internet. Entre las modalidades más observables y por tanto más estudiadas se encuentran la movilidad y las co-publicaciones entre autores ubicados en distintos países, que tienen implicaciones que rebasan el simple resultado de la colaboración materializada en un artículo o el conocimiento que adquiere un doctorando cuando realiza una estancia en el extranjero. La captación de conocimiento foráneo que 155
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
puede tener una comunidad científica cuando recibe estudiantes e investigadores extranjeros, depende de su aptitud y actitud a la apertura, a la absorción de contenidos y la exploración de incógnitas y problemas hasta el momento no identificados. La movilidad no solo permite construir puentes para el intercambio de doble sentido, sino que además, permite acrecentar el capital social y cognitivo de todas las partes.
2 OBJETIVOS Un tipo singular de movilidad es la que realizan los investigadores participando en congresos y eventos científicos disciplinares celebrados en otros países. Centrándonos en el campo de la Ciencia de la Información, nuestro trabajo pretende cartografiar la participación de los investigadores brasileños en congresos académicos ibéricos (celebrados en España y Portugal) de esta disciplina en los últimos diez años (2005-2014). Este período temporal se corresponde con la llegada al poder del Partido dos Trabalhadores en Brasil y la puesta en marcha de una serie de políticas educativas que han favorecido la movilidad internacional de los docentes e investigadores
rocedência os.
Específicamente, el objetivo del análisis realizado ha sido determinar el porcentaje de investigadores brasileños que han presentado sus trabajos en dichos congresos,
las
características
de
esta
participación
investigadores más participativos, universidades de
(identificación
de
los
rocedência, etc.) y su evolución
a lo largo de estos años. Asimismo se estudia la colaboración entre investigadores españoles, portugueses y brasileños en dichos eventos.
3 METODOLOGÍA Concretamente, se han analizado la participación de investigadores brasileños en los siguientes congresos: Encuentros Internacionales sobre Sistemas de Información y Documentación (IBERSID). Se trata de un foro internacional de
eminários ia anual, organizado por
la Universidad de Zaragoza, cuyo objetivo es facilitar el encuentro entre profesionales, investigadores, docentes y estudiantes de las Ciencias de la Documentación y de otras disciplinas relacionadas rigurosa, interdisciplinar,
eminários i en identificar, analizar y discutir de forma
eminá y distendida los problemas de nuestro ámbito 156
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
eminários i y científico. Concretamente se han analizado los Encuentros IBERSID X a XIX, celebrados entre 2006 y 2014 (se ha haber sido posible
eminári el
eminário de 2005 por no
eminá a las actas ni al programa).
Congreso del Capítulo Español de ISKO. Se trata de un
eminário bianual
organizado por el Capítulo Español de ISKO (International Society of Knowledge Organization), que reúne a investigadores y especialistas en organización del conocimiento. Concretamente se han analizado los congresos celebrados en 2005 (Barcelona), León (2007), Valencia (2009), Ferrol (2011) y Oporto (2013). Encuentro del Grupo Regional Ibérico de EDICIC. Se trata de un encuentro bianual del grupo regional ibérico de la Asociación de Educación e Investigación en Ciencia de la Información de Iberoamérica y el Caribe (EDICIC), que aglutina instituciones y personas del área de la educación e investigación dedicadas a la formación
eminários ia de profesionales en los campos científicos de Ciencia de la
Información (Bibliotecología, Documentación y Archivística) de Iberoamérica y el Caribe. Concretamente se han analizado los encuentros celebrados en Salamanca (2008), Coimbra (2009), Badajoz (2011) y Oporto (2013). Seminario Hispano Brasileño de Investigación en Información, Documentación y Sociedad. Se trata de un evento, fruto de un acuerdo de cooperación científica entre la Universidade de Brasília y la Universidad Complutense de Madrid, que viene celebrándose anualmente desde el año 2012. Concretamente se han analizado los eminários celebrados en Madrid en 2012 y 2014.
4 RESULTADOS Mostramos a continuación los resultados obtenidos en cada congreso y, finalmente, se presentan en conjunto. a.
Participación de investigadores brasileños en IBERSID.
En IBERSID, entre los años 2006-2014, se han presentado un total de 402 ponencias y comunicaciones, de las cuales 122 (30,3 % del total) fueron de autores brasileños. De las 122 aportaciones realizadas por autores brasileños, hasta 102 (el 83,6 %; 23,5% del total) estaban firmadas por docentes e investigadores vinculados a la Universidade Estadual Paulista. Entre estas 102 aportaciones, hasta 25 fueron firmadas en solitario por autores de esta universidad, 49 estaban firmadas en 157
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colaboración por miembros de la misma universidad, 7 en colaboración con miembros de la Universidade de São Carlos, y 3 con la Universidade Fluminense. El resto se reparten entre la Universidade Federal do Ceará, Universidade do Rio Grande do Sul, Universidade do São Paulo, Londrina, Federal de Pernambuco, Federal de Santa María, el Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, y el Centro Universitario Eurípides de Marilia.
Gráfico 1:Participación de autores brasileños en IBERSID (2006-2014), por centros de procedência. PUC MINAS 2% UFAL 2% UFSC 2% UEL 2%
ETEC 2%
OTRAS 9%
UNESP
USP
UFSCAR
FATEC GARÇA
UEL
UFC
UFSC
UFAL
ETEC
PUC MINAS
UFC 2%
FATEC GARÇA 3% UFSCAR 4% USP 7%
UNESP 65%
OTRAS
En lo que respecta a los cinco investigadores brasileños que han presentado más trabajos en IBERSID en estos años nos encontramos con los datos de la siguiente tabla:
# 1 2 3 4 5
APELLIDOS, NOMBRE Fujita, Mariângela Spotti Lopes Moraes, João Batista Ernesto de Guimarães, José Augusto Chaves Oliveira, Ely Francina Tannuri de Boccato, Vera Regina Casari
UNIVERSIDAD DE PROCEDENCIA Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Federal de São Carlos
Nº C. 20 19 16 11 7
En cuanto a la colaboración entre Brasil y España, entre las 122 aportaciones de autores brasileños, sólo 6 (el 4,9%; 1,4 % del total) estaban firmadas en colaboración
por
autores
brasileños
y
españoles.
Concretamente,
las
6
colaboraciones estaban firmadas por miembros de la Universidade Estadual Paulista 158
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(2 veces José Augusto Chaves Guimarães, 2 veces João Batista Ernesto de Moraes, 1 vez Fabio Assis Pinho, 1 vez Mariângela Spotti Lopes Fujita). En 3 colaboró personal de la Universidad de Salamanca (2 veces Ana Belén Ríos Hilario; 1 vez Carlos García Figuerola Paniagua), en 3 la Universidad de Zaragoza (las 3 veces Francisco Javier García Marco; 1 vez Francisco Javier Nogueras Iso), en 2 la Universidad Complutense (2 veces Blanca Gil Urdiciain), en 1 la Universidad de Murcia (1 vez Isidoro Gil Leiva), y en 1 la Universidad Carlos III de Madrid (1 vez Daniel Martínez Ávila). b. Participación de investigadores brasileños en el Congreso del Capítulo Español de ISKO. En el Congreso del Capítulo Español de ISKO, entre los años 2005-2013, se han presentado un total de 328 ponencias y comunicaciones, de las cuales 123 (37,5 % del total), estaban firmadas por autores brasileños. De las 123 colaboraciones realizadas por autores brasileños, 31 de ellas (el 25,2 %; 9,4 % del total), fueron realizadas por docentes e investigadores ligados profesionalmente a la Universidade Estadual Paulista. Entre estas 31 aportaciones, hasta 15 estaban firmadas en colaboración por miembros de la misma universidad, 4 por autores en solitario de la misma universidad, y 2 en colaboración con la Universidade Fluminense. El resto se reparten entre la Universidade de São Carlos, Federal do Ceará, Londrina, Brasilia, Santa Catarina, São Paulo, Federal Fluminense, el Instituto Politécnico do Porto, el Instituto Brasileiro de Informação Ciência e Tecnologia y la Fundação Capes.
159
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Gráfico 2: Participación de autores brasileños en el Congreso del Capítulo Español de ISKO (2005-2013), por centros de procedencia.
En lo que respecta a los cinco investigadores brasileños que han presentado más trabajos en el Congreso del Capítulo Español de ISKO en estos años nos encontramos con los datos de la siguiente tabla:
# 1 2 3 4 5
APELLIDOS, NOMBRE Guimarães, José Augusto Chaves Fujita, Mariângela Spotti Lopes Simeão, Elmira Luzia Melo Soares Barros, Thiago Henrique Bragato Moraes, João Batista Ernesto de
UNIVERSIDAD DE PROCEDENCIA Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Nº C. 8
Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade de Brasilia
7 6
Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Estadual Paulista (UNESP)
4 3
En cuanto a la colaboración entre Brasil y España, entre las 123 aportaciones de autores brasileños, sólo 12 (el 9,7%; 3,6% del total) fueron colaboraciones entre autores brasileños y españoles. Destacan las colaboraciones de la Universidade Estadual Paulista (5 veces J. Augusto Chaves Guimarães, 3 veces Mariângela Fujita Spotti Lopes). En 4 de las aportaciones había colaboración con la Universidad de Granada (las 4 veces Juan Carlos Fernández Molina). El resto se reparten con las Universidades de Zaragoza (2 veces María del Carmen Agustín Lacruz), Complutense de Madrid (2 veces Aurora Cuevas Cerveró), Carlos III (1 vez José Antonio Moreiro 160
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
González; 1 vez Daniel Martínez Ávila, 1 vez Rosa San Segundo), Murcia (1 vez Isidoro Gil Leiva; 1 vez Pedro Díaz Ortuño), Rey Juan Carlos (1 vez Juan C. Calvi) y Salamanca (1 vez Raquel Gómez Díaz). c. Participación de investigadores brasileños en el Encuentro del Grupo Regional Ibérico de EDICIC. En el Encuentro del Grupo Regional Ibérico de EDICIC, entre los años 20082013, se han presentado un total de 346 ponencias y comunicaciones, de las cuales 162 (46,8 % del total) estaban firmadas por autores brasileños. De las 162 aportaciones realizadas por autores brasileños, 38 de ellas (el 23,4 %; 10,9 % del total) fueron realizadas por docentes e investigadores ligados profesionalmente a la Universidade Estadual Paulista. De estas 38 participaciones, 24 están firmadas en colaboración por autores de esta misma universidad. 7 están firmadas en solitario por autores de esa universidad. 2 en colaboración con la Universidad de São Carlos. El resto de reparten entre São Paulo, Estadual de Londrina, Universidad Nacional de Mar de Plata (Argentina), y la Escola Técnica Estadual de São Paulo. Gráfico 3: Participación de autores brasileños en el Encuentro del Grupo Regional Ibérico de EDICIC (2005-2013), por centros de procedencia.
161
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
En lo que respecta a los investigadores brasileños que han presentado más trabajos en el Encuentro del Grupo Regional Ibérico de EDICIC en estos años nos encontramos con los datos de la siguiente tabla:
# 1 2 2 2 3 3 3 3 4 5
APELLIDOS, NOMBRE Oliveira, Ely Francina Tannuri de Filho, Claudio Marcondes de Castro Fujita, Mariângela Spotti Lopes Vidotti, Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Albuquerque, Ana Cristina de Almeida, Marco Antônio de Casarin, Helen de Castro Silva Costa, Reginaldo da Silveira RESTO DE AUTORES CON 2 COLABORACIONES RESTO DE AUTORES CON 1 COLABORACIÓN
UNIVERSIDAD DE PROCEDENCIA Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade de São Paulo
Nº C. 7 5
Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Estadual Paulista (UNESP)
5 5
Universidade Estadual de Londrina Universidade de São Paulo Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade de Brasilia
3 3 3 3
Entre las 162 aportaciones brasileñas, sólo 5 (el 2,9 %; 1,4 % del total) fueron colaboraciones entre autores brasileños y españoles. Concretamente, están firmados por la Carlos III (2 veces Elías Sanz Casado; 1 vez María Luisa Lascurain Sánchez; 1 vez Daniela de Filippo; 1 vez José Antonio Moreiro González), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1 vez Ida Regina Stumpf); São Carlos (1 vez Cláudia Daniele de Souza; 1 vez Leandro Innocentini Lopes de Faria); Universidade Eduardo Mondlane de Mozambique (1 vez Manuel Valente Mangue); Federal de Minas Gerais (1 vez André de Souza Pena; 1 vez Helena Maria Tarchi Crivellari), Universidad de Valencia (1 vez Adolfo Alonso Arroyo), la Universidade Estadual Paulista (1 vez Maria Cláudia Cabrini Grácio; 1 vez Ely Francina Tannuri de Oliveira), 1 entre la Complutense de Madrid (1 vez Aurora Cuevas Cerveró), la Federal do Ceará (1 vez Maria Cleide Rodrigues Bernardino) y la de Brasilia (1 vez Emir José Suaiden). d. Participación de investigadores brasileños en las ediciones del Seminario Hispano Brasileño de Investigación en Información, Documentación y Sociedad celebradas en España. En las ediciones del Seminario Hispano Brasileño de Investigación en Información, Documentación y Sociedad celebradas en España los años 2012 y 2014, se han presentado un total de 115 ponencias y comunicaciones, de las cuales 53 (46 % del total), fueron colaboraciones de autores brasileños.
162
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
De las 53 aportaciones realizadas por autores brasileños, 22 (el 41,5 %; el 19,1% del total) fueron realizadas por docentes e investigadores ligados profesionalmente a la Universidade de Brasilia. Concretamente, 11 estaban firmadas en solitario por miembros de este centro. 5 estaban firmadas en colaboración entre miembros de este centro. 3 estaban firmadas junto con personal del Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. El resto se reparten entre la Universidade Federal do Espírito Santo y la Universidad de Cuenca (Ecuador).
Gráfico 4: Participación de autores brasileños en SHB (2012-2014), por centros de procedencia.
En lo que respecta a los investigadores brasileños que han presentado más trabajos en las ediciones del Seminario Hispano Brasileño de Investigación en Información, Documentación y Sociedad celebradas en España nos encontramos con los datos de la siguiente tabla:
163
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
# 1 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 4
APELLIDOS, NOMBRE Simeão, Elmira Luzia Melo Soares Linhares, Ronaldo Nunes Barbosa, Marilene Lobo Abreu Cruz, Jorge Alberto Soares Ferreira, Evandro A. de Abreu Filho, Jayme Leiro Vilan Gerlin, Meri Nadia Marques Hedlund, Dhion Carlos Miranda, Antonio Neto, Benedito Medeiros Paixão, Pablo Boaventura Sales Pinto, Mariane Costa Rodrigues, Georgete Medleg Rodrigues, Ricardo Crisafulli Roncaglio, Cynthia Santos, Henrique Machado dos Souza, Claudia Daniele de Varela Varela, Aida RESTO DE AUTORES CON 1 COLABORACIÓN
UNIVERSIDAD DE PROCEDENCIA Universidade de Brasilia
Nº C. 4
Universidade Tiradentes–Sergipe Universidade Federal da Bahia Universidade Federal de Santa Maria Universidade Federal de Santa Maria Universidade de Brasilia Universidade Federal do Espírito Santo Universidade Federal de Santa Maria Universidade de Brasilia Universidade de Brasilia Universidade Tiradentes–Sergipe CEPArq Universidade de Brasilia Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tenologia (IBICT) Universidade de Brasilia Universidade Federal de Santa Maria Universidade Federal de São Carlos Universidade Federal da Bahia
3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
En cuanto a la colaboración entre España y Brasil, entre las 53 aportaciones brasileñas, sólo 5 (el 9,4%; 4,3% del total) fueron colaboraciones entre autores brasileños y españoles. Concretamente, 3 de ellas estaban firmadas por la Universidad Complutense de Madrid (2 veces Aurora Cuevas Cerveró; 1 vez María Antonia García Moreno), 2 por la Universidad de Brasilia (1 vez Elmira Simeão, 1 vez Benedito Medeiros Neto). 1 por la Universidad Federal de Sergipe (1 vez Acácia Ríos). 2 de ellas estaban firmadas por la Carlos III de Madrid (2 veces Daniela de FIlippo; 2 veces Elías Sanz Casado; 1 vez Maxima Bolanos-Pizarro; 1 vez Esteban Fernandez Tuesta; 1 vez Sergio Marugán Lázaro). 1 de ellas por la Universidade Federal de São Carlos (2 veces Claudia Daniele de Souza). e. Participación de investigadores brasileños en los congresos españoles y portugueses de Ciencia de la Información. Así pues, en todos los congresos analizados, IBERSID, ISKO, EDICIC, SHB, entre el periodo de tiempo comprendido entre 2005-2014, se han presentado un total de 1191 colaboraciones, de las cuales 460 (38.6 %) fueron colaboraciones de autores brasileños. Entre las 460 aportaciones realizadas por brasileños, 28 (el 6%; 2,3% del total) fueron colaboraciones entre autores brasileños y españoles.
164
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Gráfico 5: Participación de autores brasileños en IBERSID, ISKO, EDICID y SHB (2005-2014), por centros de procedencia.
En conjunto, los investigadores brasileños que han presentado más trabajos en los congresos celebrados en España y Portugal estos años son los siguientes:
# 1 2 3 4 5 5 5
APELLIDOS, NOMBRE Fujita, Mariângela Spotti Lopes Moraes, João Batista Ernesto de Oliveira, Ely Francina Tannuri de Guimarães, José Augusto Chaves Boccato, Vera Regina Casari Grácio, Maria Cláudia Cabrini Madio, Telma Campanha de Carvalho
UNIVERSIDAD DE PROCEDENCIA Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Federal de São Carlos Universidade Estadual Paulista (UNESP) Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Nº C. 32 23 20 25 11 11 11
Respecto a los escasos autores españoles que han presentado trabajos en colaboración estos años con investigadores portugueses, pueden observarse en la siguiente tabla, ordenados por el número de contribuciones:
165
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
# 1 2 2 3 3 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5
APELLIDOS, NOMBRE Cuevas Cerveró, Aurora Fernández Molina, Juan Carlos Sanz Casado, Elías García Marco, Francisco Javier Filippo, Daniela de Agustín Lacruz, María del Carmen Gil Leiva, Isidoro Gil Urdiciain, Blanca Martínez Ávila, Daniel Moreiro González, José Antonio Ríos Hilario, Ana Belén Bolanos Pizarro, Máxima Calvi, Juan C. Díaz Ortuño, Pedro Fernández Tuesta, Esteban García Figuerola Paniagua, Carlos García Moreno, María Antonia Gómez Díaz, Raquel Lascurain Sánchez, María Luisa Marugán Lázaro, Sergio Nogueras Iso, Francisco Javier San Segundo, Rosa
UNIVERSIDAD DE ADSCRIPCIÓN Universidad Complutense de Madrid Universidad de Granada Universidad Carlos III de Madrid Universidad de Zaragoza Universidad Carlos III de Madrid Universidad de Zaragoza Universidad de Murcia Universidad Complutense de Madrid Universidad Complutense de Madrid Universidad Carlos III de Madrid Universidad de Salamanca Universidad Carlos III de Madrid Universidad Rey Juan Carlos Universidad de Murcia Universidad Carlos III de Madrid Universidad de Salamanca Universidad Complutense de Madrid Universidad de Salamanca Universidad Carlos III de Madrid Universidad Carlos III de Madrid Universidad de Zaragoza Universidad Carlos III de Madrid
Nº C. 5 4 4 3 3 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Finalmente, en este gráfico puede observarse la evolución de la participación de investigadores brasileños en los congresos académicos españoles y portugueses durante el periodo analizado:
Gráfico 6: Evolución de la participación de investigadores brasileños en los congresos académicos españoles y portugueses (2005-2014).
5 CONCLUSIONES Los resultados ponen de manifiesto que en los últimos diez años ha habido un incremento muy notable de la movilidad de los investigadores brasileños del área de 166
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la Ciencia de la Información y nos ofrecen una cartografía de su participación en los congresos académicos celebrados en España y Portugal así como de las redes de colaboración existentes entre las universidades españolas y brasileñas: - La participación de los investigadores brasileños en los congresos académicos celebrados en España y Portugal es extraordinariamente alta en el período estudiado, siendo especialmente llamativos los porcentajes del 81% del Congreso del Capítulo Español de ISKO, celebrado en Valencia en 2009, y de más del 67% de los congresos del Grupo Regional Ibérico de EDICIC y el Capítulo Ibérico de ISKO, celebrados en Oporto en noviembre de 2013. - No se observa una relación directa entre la temática de las distintas ediciones de los congresos de ISKO y EDICIC y la participación de investigadores brasileños, por el contrario parece que el lugar de celebración de los eventos sí influye en la participación, observándose los porcentajes más bajos en los conbresos celebrados en Ferrol y Badajoz, ciudades más periféricas en el circuito académico de España y Portugal. - Dejando a un lado el Seminario Hispano Brasileño de Investigación en Información, Documentación y Sociedad, que se ha puesto en marcha de forma colaborativa entre la Universidade de Brasília y la Universidad Complutense de Madrid, hay un predominio claro de la Universidade Estadual Paulista (UNESP) como centro de procedencia de los investigadores brasileños, seguida de la Universidade de São Paulo (USP). - En el caso del Seminario Hispano-Brasileño, a pesar de estar patrocinado por la Universidade de Brasília, los investigadores de esta universidad no alcanzan el 40% del total de investigadores brasileños que han participado en los congresos celebrados en España. No obstante, la UNB es la universidad más representada ya que la procedencia de los demás participantes es muy diversa. - El fenómeno de la participación de investigadores brasileños en congresos españoles y portugueses, aun denominándose a sí mismos de ámbito ibérico, ha sido muy notoria en los últimos años para los organizadores, hasta el punto de hacer coincidir las fechas de celebración de los congresos de ISKO y EDICIC en Oporto en 2013 para facilitar su desplazamiento. De igual forma se ha previsto que en noviembre de 205 se celebren en la misma semana el congreso de EDICIC y de ISKO (en Madrid y en Murcia, respectivamente). 167
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- Pese a la alta participación de investigadores brasileños, el nivel de colaboración con españoles y portugueses es muy escaso y se concentra en determinados profesores de la UNESP y unas pocas universidades españolas (Universidad de Zaragoza, Universidad Complutense de Madrid, Universidad Carlos III de Madrid y Universidad de Salamanca).
BIBLIOGRAFÍA Russell Barnard, Jane Margaret; Robertson, Stephen E.: “Comunicación y colaboración científica a través de los años sabáticos”, En: Memorias del Simposio Internacional Investigación sobre la Comunicación Científica: Un Enfoque Multidisciplinario. México, D.F.: UNAM, Centro Universitario de Investigaciones Bibliotecológicas: Facultad de Psicología, 2002, p. 39-53. Tognoli, Natália Bolfarini; Milani, Suellen Oliveira; Barros, Thiago Henrique Bragato: “International Society for Knowledge Organization (ISKO): identificação de redes sociais a partir dos anais de seus eventos (1991-2010)”. En: Pérez Pais, Carmen; González Bonome, Mª Ángeles (eds.): 20 años del Capítulo Español de ISKO: actas del X Congreso ISKO-España, Ferrol, 30 de junio - 1 de julio de 2011. A Coruña: Universidade de A Coruña, 2012, p. 145-156. Travieso Rodríguez, Críspulo; Lascurain Sánchez, Mª Luisa; Sal Agüero, Alberto; Sanz Casado, Elías:“La Organización del Conocimiento en España a partir del análisis bibliométrico de los Congresos ISKO-Capítulo español”. En: Pérez Pais, Carmen; González Bonome, Mª Ángeles (eds.): 20 años del Capítulo Español de ISKO: actas del X Congreso ISKO-España, Ferrol, 30 de junio - 1 de julio de 2011. A Coruña: Universidade de A Coruña, 2012, p. 127-141. Villavicencio, Daniel; Kleiche-Dray, Mina (coords.): Cooperación, colaboración científica y movilidad internacional en América Latina. Buenos Aires: CLACSO, 2014.
168
11 Patrimonio audiovisual en bibliotecas y servicios universitarios a propósito del servicio de documentación multimedia de la universidad complutense: propuestas de colaboración hispano-brasileña en el acceso a la información y memoria.
Alfonso López Yepes alopez@ucm.es Departamento Biblioteconomía y Documentación Servicio Documentación Multimedia Facultad Ciencias de la Información Universidad Complutense Madrid
Resumen:Actuaciones del Servicio de Documentación Multimedia-Multidoc 3.0 de la Universidad Complutense durante los años 1993-2015 en el ámbito del patrimonio sonoro y audiovisual universitario, con referencias también al ámbito iberoamericano, para enfocar a continuación el estado de la cuestión que presenta actualmente el acceso abierto a la información; presencia del Servicio en redes sociales y sus realizaciones en formación e investigación y producción-publicación-difusión informativa; se alude a los desarrollos más recientes de Multidoc, en 2013-2014, y finalmente al ámbito audiovisual-multimedia en abierto en bibliotecas y servicios universitarios a propósito de la creación de Bibliored 3.0 en 2015; se mencionan algunas actuaciones brasileñas relacionadas. Se justifica el trabajo por el escaso acceso abierto al patrimonio audiovisual de bibliotecas y servicios universitarios (de documentación, información, investigación) en formato video, apostando por una difusión muy amplia de dicho patrimonio para conocimiento de usuarios reales y potenciales. La metodología para ello está basada en la producción propia y acceso a la producción estrechamente relacionada con la temática planteada, por parte de otras instituciones especializadas, mediante herramientas adecuadas de hardware y software para la difusión pertinente de los contenidos generados (portales, redes sociales, plataformas virtuales…). Como resultado de todo ello se propone un proyecto de investigación en colaboración hispano brasileña, materializado en el establecimiento de un grupo de trabajo y las publicaciones que genere dicha connivencia. Finaliza el trabajo con unas breves conclusiones y una bibliografía que incluye publicaciones del autor que remiten a grabaciones de video sobre patrimonio documental iberoamericano, como consecuencia de actividades docentes e investigadoras llevadas a cabo por el Servicio de Documentación Multimedia en Iberoamérica. Palabras-clave: Acceso abierto; patrimonio audiovisual; servicio documentación multimedia; ucm; unesp.
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1 INTRODUCCIÓN 23 años de historia (1993-2015) del Servicio Documentación Multimedia El Servicio de Documentación Multimedia de la Universidad Complutense de Madrid se crea en 1993 en el marco del Departamento de Biblioteconomía y Documentación de dicha universidad, obteniendo patente número M 2202582 registrada con fecha 20.5.1999 en el Boletín Oficial de la Propiedad Industrial -BOPI, 1.7.1999- (Servicio Documentación Multimedia, 1993-2015). Desde entonces, de forma ininterrumpida hasta la actualidad ha seguido desarrollando numerosas actividades académicas: proyectos de investigación, publicaciones electrónicas, revistas, portales, canales, blogs, presencia en redes sociales generales y especializadas; con actuaciones en todos estos años en el ámbito de la formación, congresos, asociaciones, producción multimedia propia, difusión informativa, gozando de un buen posicionamiento. Así como sus actuaciones más recientes, 2013-2015 (RTVDoc, Cinedocnet, Redauvi, Youtube, Bibliored), con mención en todo ese tiempo a las relacionadas estrechamente con el entorno latinoamericano, y recientemente y más concretamente con algunas referencias al ámbito brasileño (López, 2007-2013/2015). Conviene destacar que los primeros vestigios de presencia del Servicio de Documentación Multimedia en actividades académicas relacionadas con Brasil se remonta a 1996 con motivo de la grabación en video del acto académico de defensa de la tesis doctoral de Angela María Cavalcanti Mourâo Crespo (Cavalcanti, 1996). La tesis doctoral, con el título “Tecnología magneto-óptica y almacenamiento de la información documental: la utilización en la gestión electrónica de documentos” estuvo dirigida por el Dr. Félix Sagredo Fernández y fue presentada en soporte CD-ROM en el marco del Programa de Doctorado del Departamento de Biblioteconomía y Documentación de la UCM Documentación: Teoría, Aplicaciones, Tecnologías. Algunos otros ejemplos, más recientes, de manifestaciones brasileñas con presencia del Servicio son: VI Muestra de cine brasileño: presentada en Casa de América de Madrid el jueves día 16 de noviembre de 2012 la VI Muestra de cine brasileño, también denominada Novo cine brasileño, lo mejor del cine brasileño actual (Casa de América Madrid, 2012). VII Edición de Novocine, Muestra de Cine Brasileño, en Madrid y Salamanca: días 7-14 noviembre de 2013 Sala Berlanga de Madrid, VII edición de la Muestra de Cine Brasileño NovoCine (Sala Berlanga Madrid, 2013). Servicio de Documentación Multimedia de la Universidad Complutense y Patrimonio documental iberoamericano: congresos, conferencias, cursos, 170
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
proyectos, publicaciones, seminarios, tele-seminarios, talleres, formación, posgrado, bibliografía… (España, Argentina, Brasil, Colombia, Chile,Costa Rica, Cuba, Ecuador, Guatemala, El Salvador, México, Paraguay, Perú, Uruguay, Venezuela: 1997- 2014, una muestra panorámica. [Estudio documental multimedia del Servicio de Documentación Multimedia, Sección Departamental de Biblioteconomía y Documentación-Departamento de Biblioteconomía y Documentación]. (López, 2014a). Y estas otras aportaciones, las más recientes, con motivo de la celebración de este IV Seminario Hispano-Brasileño de Investigación en Información, Documentación y Sociedad, fotografiadas y grabadas en video a través de RTVDoc, canal propio que administra y mantiene el Servicio, con presencia-canal en YouTube. Cuarta edición del Seminario Hispano Brasileño de Información, Documentación y Sociedad, celebrado durante los días 24 a 26 de junio de 2015 en el campus de Marilia (Universidade Estadual Paulista - UNESP), fruto del acuerdo de cooperación científica entre la Universidad de Brasilia y la Universidad Complutense de Madrid. En esta edición se amplía la asociación institucional a la UNESP/Campus de Marília. Tiene como principal característica la creación y sostenibilidad de la comunidad educativa de las instituciones y de los participantes, promoviendo la comprensión mutua y creando sinergias que pueden llevar a proyectos conjuntos de investigación, enseñanza, innovación, publicaciones, movilidad y excelencia en la prestación de servicios en las áreas de Información, Documentación y Sociedad (Bibliored 3.0, 2015a; RTVDoc, 2015a). La referencia RTVDoc incluye, además de información sobre el seminario, numerosas imágenes y grabaciones sobre el patrimonio informativo-documental, histórico, artístico, arquitectónico, cultural... brasileño, obtenidas durante los días 27 a 30 de junio de 2015 en Río de Janeiro y Ouro Preto-Mariana (estado Minas Gerais). Las actuaciones académicas del Servicio se enmarcan en el ámbito del Departamento de Biblioteconomía y Documentación de la Universidad Complutense a lo largo de su trayectoria investigadora previa, presente y futura en ciencias de la información y documentación, como se ha puesto claramente de manifiesto y expuesto por el profesor David Carabantes Alarcón con motivo de la conferencia de inauguración el 24 de junio de 2015 de este IV Seminario Hispano Brasileño con el título “Análisis y evaluación de la investigación en Ciencias de la Información y Documentación” / “Análise e avallaçâo da pesquisa em Ciência da Informaçâo e Documentaçâo” (RTVDoc, 2015b).
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2 MÉTODOS Se justifica desde nuestro punto de vista esta aportación al IV Seminario Hispano-Brasileño por el escaso, y fundamentalmente disperso, acceso abierto al patrimonio audiovisual en bibliotecas y servicios especializados universitarios, tanto españoles como brasileños. Sobre la actualidad y consolidación del acceso abierto destacamos algunas manifestaciones sobre acceso abierto en España, entre otras: a) Acceso abierto: difusión Ley de la Ciencia, la Tecnología y la Innovación (universidades y centros de investigación) en España. Ley 14/2011, de 1 de junio, de la Ciencia, la Tecnología y la Innovación: ¿Concernidos o implicados en el acceso abierto en España? Una hoja de ruta para éstos últimos (Blok de BiD, 2014). b) Red repositorios latinoamericanos universitarios: acceso abierto publicaciones electrónicas, tesis latinoamericanas. Mediante la utilización del protocolo de Open Archives Initiative (OAI) es posible la interoperabilidad entre los diferentes servidores y repositorios, además de la normalización del formato de intercambio de los metadatos. Esta normalización permite que aplicaciones informáticas compatibles con el protocolo OAI puedan reunir y diseminar los metadatos de distintos repositorios mediante un método denominado "cosecha de metadatos" (metadata harvesting) (OAI, 2014). c) Fesabid 2015: XIV Jornadas Españolas de Documentación, Gijón-Asturias 28, 29 y 30 mayo 2015 (Fesabid, 2015). En el ámbito iberoamericano cabe destacar, con motivo de la celebración del VIII Coloquio Sobre Brecha Digital “Gobierno Abierto y Transparencia”, la aportación de Cecilia Leite de Oliveira , directora de Directora del IBICT-Instituto Brasileño de Información em Ciencia y Tecnologia, sobre “Acesso aberto a informação cientifica no Brasil: a contribuição do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT” (Leite, 2015). Por otra parte, existe una Red repositorios latinoamericanos universitarios: acceso abierto publicaciones electrónicas, tesis latinoamericanas. El portal tiene como objetivo proporcionar una herramienta de fácil acceso a las publicaciones electrónicas publicadas en texto completo en diferentes repositorios latinoamericanos. Es una poderosa herramienta de consulta, que permite realizar búsquedas simultáneas a través de una sola interfaz web, y recuperar las publicaciones electrónicas almacenadas en los diferentes servidores y repositorios universitarios del continente. Cada repositorio es responsable de producir, archivar y diseminar sus publicaciones. Mediante la utilización del protocolo de Open Archives Initiative (OAI), ya mencionado, es posible la interoperabilidad entre los diferentes servidores y repositorios, además de la normalización del formato de intercambio de los 172
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metadatos. Esta normalización permite que aplicaciones informáticas compatibles con el protocolo OAI puedan reunir y diseminar los metadatos de distintos repositorios mediante un método denominado "cosecha de metadatos" (metadata harvesting). Se ha utilizado un sistema de indexación de los metadatos desarrollado por el Public Knowledge Project. El PKP Harvester OAI permite crear un índice de búsqueda de los metadatos y es actualmente compatible con las versiones 1.1 y 2.0 del Protocolo de Open Archives Initiative OAI.La Universidad de Chile, a través del Sistema de Servicios de Información y Bibliotecas (SISIB), ha desarrollado diversos servicios de información que permiten la interoperabilidad entre repositorios universitarios, entre los que destacan los siguientes portales web: tesis chilenas y tesis latinoamericanas (Universidad de Chile, 2015). Ya más concretamente en relación con el patrimonio documental audiovisual puede señalarse que es muy escaso el acceso abierto al mismo en bibliotecas y servicios universitarios (de documentación, información, investigación) en formato video, apostando por una difusión muy amplia de dicho patrimonio para conocimiento de usuarios reales y potenciales. La metodología para ello está basada en la producción propia y acceso a la producción estrechamente relacionada con la temática planteada, por parte de otras instituciones especializadas, mediante herramientas adecuadas de hardware y software para la difusión pertinente de los contenidos generados (portales, redes sociales, plataformas virtuales…). Otra metodología desarrollada en la elaboración de este documento ha sido estudiar y destacar la presencia constante, producción y difusión informativa desplegadas en el ámbito de las redes sociales, como instrumentos colaborativos de compartición y distribución del conocimiento audiovisual (y multimedia). En este sentido debe mencionarse el protagonismo que el Servicio despliega en dicho entorno en cuanto a formación e investigación y producción-publicación-difusión informativa tanto en redes sociales generales como especializadas, profesionales y académicocientíficas. Con esa finalidad el Servicio ha creado grupos de trabajo, de debate, propios, en Facebook como es el caso de Audiovisual 3.0 (Audiovisual 3.0, 2014), Bibliocineradiotv (Bibliocineradiotv, 2015) y Multimediabolivia (Multimediabolivia, 2014). Y participa asiduamente en otros, como Somos 2.0-Evaluación de la investigación científica (Somos 2.0, 2015). 3 RESULTADOS
Como consecuencia de lo expresado en epígrafes anteriores, puede señalarse que es escasa y dispersa la bibliografía sobre información audiovisual en bibliotecas y servicios especializados universitarios. Aun así, la información audiovisual bibliotecaria en su conjunto está presente en blogs, boletines electrónicos, e-prints, 173
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revistas multimedia, canales IPTV y portales propios, y en redes sociales y tabletas y teléfonos inteligentes (López, 2014b). Debe destacarse que las universidades y sus diversos servicios disponen de un apreciable patrimonio audiovisual que no se encuentra accesible o está poco referenciado. El futuro de la web bibliotecaria universitaria española se orienta en actuaciones como por ejemplo “La Universidad Responde”, de los Servicios Audiovisuales de las Universidades Españolas-SAVUES (SAVUES, 2012). En el ámbito universitario brasileño también existen televisiones universitarias como es el caso de la Universidad del Estado de Sâo Paulo-UNESP (UNESP, 2015). Como se apuntaba más arriba el Servicio de Documentación Multimedia ha desplegado a lo largo de su historia una serie de desarrollos tendentes a paliar las carencias detectadas, puestas de manifiesto por publicaciones diversas (Arratia, Brausin, De Giusti, López, Martínez, Rodríguez, Suárez, 2013; López, Arratia, Brausin, De Giusti, Martínez, Rodríguez, Suárez, 2014; López, Romero, Cámara, Cetina, 2011; López, Cámara, 2013) que remiten a abundantes contenidos audiovisuales de producción propia, con algunas referencias al ámbito brasileño. A las realizaciones más recientes Cinedocnet (Cinedocnet, 2010), Redocom (Redocom, 2009), Redauvi (Redauvi, 2014), RTVDoc (RTVDoc, 2015c) hay que sumar ahora la que viene a integrar y remitir (en 2015), en un sitio único, toda la producción generada en años anteriores, la dispersión existente y la canalización de la producción de otras instituciones con contenidos relacionados. Se trata de Bibliored 3.0-Multimedia sobre información-comunicación en bibliotecas y servicios universitarios (Bibliored3.0, 2015b), web creada en noviembre de 2014 que remite como decimos a todas las actuaciones del Servicio: publicaciones, portales, blogs…, presencia en jornadas, congresos, seminarios iberoamericanos y demás actividades académico-científicas. La difusión informativa de Bibliored 3.0 está siendo bastante amplia, a través de sitios especializados como son Biblogtecarios espacio web colaborativo sobre información y documentación (Biblogtecarios, 2015) o Biblogsfera (Biblogsfera, 2014) y Researchgate.net (Researchgate.net, 2015). O El documentalista audiovisual (EDA, 2015) y Universo Abierto, blog de la biblioteca de la Facultad de Documentación y Traducción de la Universidad de Salamanca (Universo Abierto, 2015). Y también a través de E-Prints Complutense (López Yepes, A. 2007) (RTVDoc, 2015), accesibles asimismo vía REBIUN y su directorio de repositorios (REBIUN, 2015). Y en redes sociales tanto de ámbito general con el establecimiento de grupos de trabajo, de debate, propios, tal y como se mencionaba en el epígrafe anterior. A los que añadir, en fin, otras redes sociales como Twitter (Twitter, 2015), profesionales como Linkedin (Linkedin, 2014) y académico-científicas y especializadas como Academia.edu 174
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(Academia.edu, 2014), Researchgate.net (Researchgate.net, 2014) y Cero en Conducta/Educación y Cine (Cero en Conducta, 2014). A destacar asimismo la difusión informativa de Bibliored 3.0 en ámbitos docentes y de investigación, y foros profesionales como, en octubre de 2014, el VI Congreso Internacional de Bibliotecología, Documentación, Archivística y Museología /Bolivia-La Paz (Centro Cultural España La Paz, 2014). En fin, presencia de las realizaciones del Servicio de Documentación Multimedia en Hispana-Europeana (Hispana-Europeana, 2015) (Ramos, Arquero, 2015). Como resultado de todo ello, planteado en el Grupo de Trabajo (GP4) del Seminario, compuesto por aportaciones relacionadas con “Acceso a la Información y Memoria”, se detallan a continuación los títulos de las mismas, incluyendo la correspondiente al autor de estas páginas (Seminario Hispano-Brasileño, 2015a). Y grabaciones efectuadas por canal RTVDoc del Servicio de Documentación Multimedia durante la presentación de los trabajos (Seminario Hispano-Brasileño, 2015b). Guardia memorial archivo: rasgos culturales de la praxis y la epistemología de custodia entre nueva discusión paradigmática. Midias Digitais, memòria e o compartilhamento da informaçâo. Accesso a la memòria de Brasil en arquitectura y urbanismo: preservación y acceso en línea a la revista Acrópole Electrónica. A biblioteca como instituiçâo – memoria do saber microbiano na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). La función del archivista en la administración pública en México. Memoriais e centros de memoria no acceso a informaçâo e ao patrimonio: exemplos de fortaleza. Patrimonio audiovisual en bibliotecas y servicios universitarios a propósito del servicio de Documentación Multimedia de la Universidad Complutense: acceso abierto y proyección iberoamericana. Se facilita a continuación el Resumen de reflexiones del Grupo de Trabajo GT4 “Acceso a la información y memoria”: Puntos fuertes y Debilidades relacionados com el tema y Estrategias de acción en ambos casos; y Recomendaciones. Resumen elaborado, tras presentación de los trabajos y en reunión posterior, por la coordinadora Cynthia Roncaglio y los relatores Eliana Braga de Oliveira y Alfonso López Yepes. GT 4 - Acceso a la información y memoria. Resumen de reflexiones: Puntos fuertes relacionados con el tema 175
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1. Los compromisos y esfuerzos de los profesionales e investigadores en la búsqueda de soluciones a los problemas relacionados con el acceso y la preservación de las colecciones y la información. 2. Desarrollo y uso de metodologías para producir y proporcionar información institucional. 3. Usabilidad de páginas web para la visibilidad institucional y disponibilidad de información para diversos usos sociales. 4. Visión crítica sobre el uso de las tecnologías de información y comunicación (TICs).
Estrategias de acción Compartir acciones y soluciones adoptadas en los espacios institucionales. La opción por los sistemas abiertos, evitando la dependencia tecnológica en software propietario etc. Incluir en la formación educativa y profesional contenidos relacionados con el uso de las tecnologías. Incluir temáticas pertinentes para mejorar esta visión crítica en la formación educativa y en eventos del área.
Debilidades relacionadas con el tema 1. Poca reflexión sobre el concepto de memoria en las ciencias de la información polisémico y transversal por naturaleza. 2. Falta de políticas de información en las instituciones. Iniciativas procedentes de profesionales, investigadores o incluso usuarios. 3. La mala visibilidad de los profesionales y las dificultades para establecer los límites y el diálogo entre los profesionales que trabajan en el campo de la información y la documentación. Estrategias de acción Inversión e investigación actualizadas en relación con el tema. Compromiso profesional por parte de gestores de las instituciones de promover y difundir sus políticas de información. Desarrollo de actividades conjuntas. Cooperación en la producción de conocimiento (co-autorias). 176
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Intercambio de conocimientos. Recomendaciones 1. Incentivar la discusión sistemática del tema en el ámbito del Seminario Hispano-Brasileño y de colaboración entre universidades brasileñas y españolas. 2. Estimular la producción y difusión de contenidos audiovisuales y multimedia para difundir más ampliamente el ámbito de la información y la documentación (eventos, colecciones, fondos documentales etc.). 3.Generar estudios teóricos más consistentes sobre la relación entre la memoria, la tecnología, la información y la documentación. GT 4 - Acesso à informação e memória. Síntese das reflexões: Pontos fortes relacionados ao tema 1. Compromissos e esforços dos profissionais e pesquisadores na busca de soluções para os problemas relativos ao acesso e à preservação de acervos e informações. 2.Desenvolvimento e uso de metodologias para produzir e disponibilizar informações institucionais. 3.Usabilidade de páginas eletrônicas para visibilidade institucional e disponibilidade de informações para usos sociais diversos. 4.Visão crítica sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação.
Estratégias de ação Compartilhamento de ações e soluções adotadas nos espaços institucionais. Opção por sistemas abertos, evitando a dependência tecnológica de software proprietário, etc. Contemplar na formação educacional / profissional os conteúdos relacionados ao uso das tecnologias. Contemplar na formação educacional e em eventos da área temas relevantes para o aprimoramento desta visão crítica. Pontos fracos relacionados ao tema 1. Pouca reflexão sobre o conceito de memória – termo polissêmico e transversal, por natureza. 177
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2.Ausência de políticas de informação nas instituições. Iniciativas partem dos profissionais, pesquisadores ou até mesmo usuários. 3.Pouca visibilidade dos profissionais e dificuldades em estabelecer os limites e o diálogo entre os profissionais que atuam na área de informação e documentação. Estratégias de ação Investimento e atualização em pesquisas sobre o tema. Engajamento dos profissionais para que os gestores das instituições promovam e divulguem suas políticas de informação. Realização de eventos comuns. Compartilhamento de conhecimentos. Recomendações 1.Incentivar a discussão sistemática do tema no âmbito do Seminário e do acordo de cooperação entre UCM e UnB. 2.Estimular a produção e difusão de conteúdos audiovisuais e multimídias que divulguem mais amplamente a área de informação e documentação (eventos, acervos, etc.). 3.Aprofundar os estudos teóricos sobre as relações entre memória, tecnologias, informação e documentação. 4 DISCUSIÓN
Centrándonos en la más reciente producción multimedia del Servicio de Documentación Multimedia, debe señalarse que a pesar de la difusión informativa realizada en torno a Bibliored 3.0 en ámbitos profesionales especializados, no hemos detectado que ello haya provocado una intensa discusión en dichos medios. Desconocemos a qué es debido ese escaso debate que el tema debería desde nuestro punto de vista suscitar, tal y como se encuentran de evolucionadas y accesibles las tecnologías aplicadas a la información y documentación. Es un hecho, además, que los profesionales interesados se encuentran en un proceso inevitable y en constante modernización en plena era digital, además de las nuevas tendencias ya en desarrollo como son el transmedia, crossmedia y multiplataforma. Nuevos avances tecnológico-informativos de próxima aplicación de alguna u otra forma en la gestión de información en bibliotecas y servicios especializados universitarios (Scolari, 2013). 178
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De hecho, abundando más en ello, se están proponiendo números monográficos sobre esta temática en medios especializados (Icono 14, 2015). En cuanto a la discusión que está provocando la propuesta del Servicio de Documentación Multimedia en relación con el patrimonio documental audiovisualmultimedia de bibliotecas y servicios especializados universitarios en acceso abierto, se destaca la planteada por Javier Leiva el 27 febrero 2015 (Noticias ANABAD y ThinkEPI) y comentada por el autor de estas páginas el 2 marzo 2015 (en Bibliored 3.0 y referencia también en ThinkEPI-Javier Leiva): “… La pregunta en este sentido es: ¿qué papel de esta obra están interpretando las bibliotecas? La respuesta, en general, es que casi siempre son meras espectadoras, en algunas ocasiones actúan como extras, a veces se apuntan a algún papel de actor de reparto y solamente en casos puntuales actúan como verdaderos actores protagonistas” … “Sin embargo, sería injusto no reconocer que en muchas bibliotecas sí se está usando Youtube y en algunos casos de forma satisfactoria. A continuación expongo algunos ejemplos de videos, la mayoría de ellos identificados durante un trabajo de benchmarking sobre usos de medios sociales que realicé el año pasado para el Servei de Biblioteques de la Generalitat de Catalunya (quienes, por cierto, tienen su propio canal)…” (Leiva, 2015). “Por nuestra parte queremos destacar algunas aportaciones -se relacionan también al final- que sobre el tema hemos ido desarrollando en el ámbito del mencionado Servicio de Documentación Multimedia (en colaboración en ocasiones con otros ámbitos), y que se han ido difundiendo a través de Bibliored 3.0 y otros foros informativos especializados. Aunque, todo hay que decirlo, y prueba de ello es este Iwetel-Thinkepi, la producción audiovisual en el ámbito bibliotecario español (universitario en nuestro caso) e incluso su difusión informativa, no sólo referida a YouTube sino también a otros entornos de producción videográfica, es bastante escasa” “Algunas aportaciones al tema en el ámbito de la Universidad Complutense Complumedia: gestor multimedia UCM; Biblioteca Facultad Ciencias de la Información; Servicio Documentación Multimedia-Dpto. Biblioteconomía y Documentación. Universidad Complutense (1993-2015) (cf. contenidos del Servicio en relación con audiovisual en bibliotecas universitarias). Y además publicaciones sobre audiovisual-multimedia en revista Icono 14, e-prints y canal RTVDoc en YouTube” (López, 2015a). Como resultado de ello y con objeto de contribuir y hacer aportaciones al estado de la cuestión en el sentido planteado, avanzamos una propuesta de colaboración hispano-brasileña en el acceso a la información y memoria. Concretada por parte española a los desarrollos del tipo Bibliored 3.0 y sus ámbitos referenciados y por 179
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parte brasileña actuaciones de ilustres investigadores especializados como Antonio Miranda y Elmira Simeâo (Miranda, Simeâo, 2014; Peres, Miranda, Simeâo, 2015). O también por ejemplo instituciones como el Grupo de Estudos sobre Cultura, Representaçao e Informaçao Digitais (CRIDI), que precisamente ha cumplido 10 años de existencia el 13 de junio de 2015, y cuyas investigaciones sobre preservación digital audiovisual es conveniente destacar: el repositorio - en pleno desarrollo en estos momentos- abierto, multilingüe y colaborativo Legatum y su investigación actual “Desafios e alternativas digitais para a salvaguarda e difusão do patrimônio público documental arquivístico audiovisual” (CRIDI, 2015) (Legatum, 2015). O la producción audiovisual y multimedia que se están llevando a cabo en el ámbito universitario brasileño por parte, entre otras universidades, de la Universidad de Brasilia, a través la radio y televisión, y su centro de producción audiovisual, o sus centros de investigación como el Centro de Memoria Histórica (CDM) (Universidad de Brasilia, 2015). O también el Observatorio Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), en relación con sector cine, audiovisual y multimedia (OCA, 2015). Como consecuencia del estado de la cuestión así planteado, consideramos que es conveniente, necesaria y oportuna la propuesta de establecimiento, mediante un proyecto de investigación conjunto hispano-brasileño, de una “Red de patrimonio audiovisual-multimedia en acceso abierto” en el ámbito bibliotecario, archivístico, de información, documentación e investigación universitarios. Dicho proyecto que contemplaría asimismo las nuevas tendencias tecnológicas mencionadas y sus parámetros (García, Valle, 2015) presentaría una estructura y sistematización de contenidos en cuanto a producción, recuperación y difusión informativa, en la siguiente línea o parecida, abierta a actualización permanente, en la idea de convertirse como fin último en una red social especializada: 1. Temáticas, tipologías y ámbitos de aplicación: videos sobre bibliotecas y servicios universitarios e instituciones estrechamente relacionadas. 2. Diseño de herramientas-instrumentos para producción audiovisual-multimedia propia y acceso a producción de otras instituciones relacionadas: 3. Difusión informativa: presencia en redes sociales generales y especializadas. 4. Publicaciones especializadas: blogs, portales, redes…plataformas virtuales iberoamericanas. 5. Centro de documentación para la conservación, preservación y difusión del patrimonio sonoro y audiovisual: justificación y fases de establecimiento (planificación).
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5 CONCLUSIONES Las actuaciones académico-científicas, concretamente la producción audiovisual propia que desarrolla el Servicio de Documentación Multimedia de la Universidad Complutense, son consecuencia --para contrarrestarla- de la escasa presencia del patrimonio audiovisual en acceso abierto, también denominado acceso a la ciencia, en bibliotecas y servicios especializados universitarios. Aunque existen iniciativas en España como SAVUES (Servicios Audiovisuales de Universidades Españolas), así como radios y televisiones universitarias (también en universidades brasileñas, como la Universidad de Brasilia), apenas si aparece reflejada en dichos ámbitos universitarios de producción audiovisual la presencia y actividades de las bibliotecas y servicios especializados universitarios. El futuro de la web bibliotecaria universitaria en España se orienta en actuaciones como por ejemplo “La Universidad Responde”, del mencionado SAVUES, a las que deben acogerse también las bibliotecas universitarias para difundir sus realizaciones en documentación audiovisual. La información audiovisual en bibliotecas universitarias está presente en blogs, boletines electrónicos, e-prints, revistas multimedia, canales IPTV y portales propios, y en redes sociales –YouTube, Vimeo, Facebook, Pinterest, Google+…- y tabletas y teléfonos inteligentes. Se utilizan plataformas y sistemas –no ubicados en las instalaciones de las bibliotecas y servicios- para la producción, recuperación y difusión de contenidos multimedia: webinars, hangouts, canales youtube, livestream, ustream, skype… Aunque lo más adecuado sería que bibliotecas y servicios universitarios hicieran uso de configuraciones propias, como es el caso, por ejemplo de RTVDoc y BiblioTV. Es escasa y muy dispersa la bibliografía sobre información audiovisual en bibliotecas y servicios audiovisuales universitarios: consecuencia de que se trata de una temática que apenas se plantea y debate en los ámbitos y foros profesionales del área de biblioteconomía-bibliotecología y ciencias de la información y documentación. Las universidades y sus diversos servicios disponen de un apreciable patrimonio audiovisual sobre su creación, evolución histórica y realizaciones, que no están accesibles o poco referenciadas. Debe destacarse la problemática derivada de la preservación, conservación y restauración del patrimonio documental audiovisual y el riesgo de desaparición o pérdida parcial, así como la dispersión de información al respecto. En este sentido debe mencionarse, como ejemplo español la trayectoria del Servicio de Documentación Multimedia, o como ejemplo brasileño las labores investigadoras que está llevando a cabo por ejemplo el Grupo de Estudos sobre Cultura, Representaçao e Informaçao Digitais (CRIDI). 181
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El debate sobre el estado de la cuestión es muy reducido. Como consecuencia es conveniente provocar la discusión en torno al tema y el establecimiento de una web que se ocupa de localizar, integrar y difundir en acceso abierto y proyección iberoamericana, contribuyendo con ello a contrarrestar la dispersión existente: BIBLIOred 3.0. En fin, propuesta de un proyecto conjunto hispano-brasileño para la configuración de una “Red de patrimonio audiovisual-multimedia en acceso abierto” en el ámbito bibliotecario, archivístico, de información, documentación e investigación universitarios. BIBLIOGRAFÍA
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MÍDIAS DIGITAIS, MEMÓRIA E O COMPARTILHAMENTO DA INFORMAÇÃO Letícia Gorri Molina leticiamolina@uel.br Professora Assistente do Departamento de Ciência da Informação Doutora em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação da Unesp de Marília Universidade Estadual de Londrina Juliana Cardoso dos Santos julimath21@gmail.com Profª Assistente/Colaborador do Depto. de Ciência da Informação Doutoranda em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação da Unesp de Marília Universidade Estadual de Londrina Diana Bernal dimabera@yahoo.es Mestranda em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação Universidade Estadual de Londrina.
Resumo: Hoje mentes e máquinas se integram, sendo que as mídias digitais nos permitem experimentar interferindo no fazer humano na memória e no compartilhamento da informação. A ecologia destas mídias forma um ambiente de tecnologias semânticas e cognitivas que nos leva a entender as propriedades e comportamentos da informação. Quando falamos em mídias digitais, falamos de um conjunto de veículos e aparelhos de comunicação baseados em tecnologias que permitem a acumulação, transmissão ou compartilhamento da informação. O objetivo do presente trabalho é discutir, de forma teórica, como as mídias digitais têm modificado o fazer humano, com foco, na memória e no compartilhamento da informação. O trabalho é de cunho teórico, utilizando-se como método a pesquisa bibliográfica. Como principal resultado, percebe-se que a memória pode ser considerada precursora destas tecnologias e muitos são os desafios à memória na era das mídias digitais, visto que a memória é composta de lembranças e esquecimentos. Palavras-Chave: Mídias Digitais; Memória; Compartilhamento da Informação.
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1 INTRODUÇÃO Mentes e máquinas integram-se com uma velocidade jamais vista, alterando profundamente o modo pelo qual o homem nasce, vive, realiza seu trabalho e suas conexões na sociedade, estabelecem suas redes de relacionamento, assim como, as formas de aprender e produzir são impactadas pelas mídias digitais que interferem ‘positiva ou negativamente’, na memória e no compartilhamento da informação. O desenvolvimento da sociedade e das tecnologias são processos que se realimentam constantemente, e tem-se nas mídias digitais a ampliação das possibilidades para “experimentos”, pois estas ferramentas suportam a exteriorização, a diversificação e a ampliação de pensamentos. A ecologia das mídias digitais adentrou o cotidiano da sociedade no século XXI formando um ambiente de tecnologias semânticas e cognitivas que se tornaram parte do ambiente. Pode-se inferir que todo indivíduo, e/ou sociedade é capaz de produzir informações que gerem conhecimentos, porém este processo só será eficiente se transformado em ação, capaz de gerar diferencial seja ele, social, cultural ou econômico. A memória faz parte deste processo, pois é pautada na coletividade estando presente nas pessoas, na sociedade, nas instituições, etc. Para Crippa (2010) a memória permite o resgate de algo pertencente ao passado, ela é considerada o único instrumento através das quais ideias e palavras podem ser reunidas, portanto, é um desafio às humanidades e aos estudos de informação compreender a influência das mídias digitais, na memória humana e no compartilhamento da informação. Objetiva-se nesta pesquisa, iniciar reflexões teóricas, buscando identificar como as mídias digitais, podem ou têm modificado o fazer humano, com foco na memória humana e no compartilhamento da informação. A pesquisa é composta por uma revisão de literatura de natureza básica, objetivando gerar reflexões e novos conhecimentos para o avanço da ciência, sendo que para o presente trabalho foram pesquisados os termos Mídias Digitais, Memória Humana e Compartilhamento da Informação. A discussão ainda está em andamento, visto que faz parte do projeto de pesquisa ‘A memória e a constituição de bases de conhecimento nos ambientes institucionais’. 2 METODOLOGIA 190
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Como metodologia de pesquisa, de cunho teórico e de natureza básica, foi utilizada a pesquisa bibliográfica, que segundo Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 60) “[...] procura explicar um problema a partir de referências teóricas [...] busca-se conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado sobre determinado assunto, tema ou problema”. Para o presente trabalho foram pesquisados os termos Mídias Digitais, Memória Humana e Compartilhamento da Informação em periódicos e livros. O levantamento dos termos apresentados e discutidos permitirá uma melhor compreensão dos conceitos utilizados pelas várias áreas do conhecimento científico, entre elas, História, Informática, Exatas, Neurociências, Psicologia, Ciência da Informação, etc., propiciando um enriquecimento no embasamento teórico da pesquisa em questão.
3 MÍDIAS DIGITAIS Com o desenvolvimento das áreas de exatas e da informática, e com o surgimento dos computadores, Shannon, na década de 1940, desenvolveu uma teoria, no qual a informação é considerada como um conjunto de sinais carregados de mensagem; essa mensagem é carregada de informação, que, por sua vez, reduzirá a incerteza. Nessa visão, a informação é vista “[...] a partir do estudo do sinal elétrico, suporte físico mensurável, necessário para a introdução e circulação dessa pretensa moeda” (TENÓRIO, 2003, p.64). Considerada como uma teoria dos sinais, essa visão tem sua explicação alicerçada na época em que os Estados Unidos, com a Segunda Guerra Mundial, tiveram necessidade de criar mecanismos para trocar informações com pessoas que estavam fora do país, além de controlar as informações que eram disseminadas entre seus opositores. Além disso, tem origem “[...] nas telecomunicações e cibernética, de medir quantidades de informações [...] área altamente especializada, baseada na matemática das probabilidades” (MCGARRY, 1999, p.4). Esta é uma análise que traz como consequência, uma sociedade que considera a informação no seu aspecto técnico, quantitativo; com o entendimento de que a informação é um dispositivo estatístico e de controle e, não, um dispositivo de melhoria social, de uma sociedade mais justa, que tem no homem e nas suas relações, o seu foco de análise. 191
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Partindo-se do pressuposto de que a informação é um conjunto de sinais, como defende Shannon, em outra visão diferenciada da informação, apresentada por Weltner, verifica-se que o autor usa o conceito de “[...] informação subjetiva [...] determinada empiricamente a partir da probabilidade que um determinado sujeito (receptor) espere certa sequência de sinais, sendo, portanto, dependente do sujeito e de seu estado cognitivo em um determinado momento” (TENÓRIO, 2003, p.71). Aqui, a informação também tem um conteúdo probabilístico e de estatística, visto que, não se considera seu conteúdo ou a interpretação desse conteúdo, mas a lógica existente nos sinais enviados. Porém, nesse caso é acrescentado o grau de recepção dos sinais, de acordo com o nível cognitivo do indivíduo. Isto é, os sinais serão recebidos de acordo com o grau de cognição que o indivíduo apresenta em determinado momento. Seguindo o mesmo pensamento de Shannon, Devlin sugeriu o conceito de informação semântica. Esse conceito foi desenvolvido, pelo fato do computador, um instrumento que trabalha exclusivamente com a lógica, ser incapaz de lidar com informações. O computador considerado apenas como um armazenador de dados, não possuindo capacidade de realizar análise ou filtragem desses dados (TENÓRIO, 2003). Assim, “[...] o autor procura [...] desenvolver uma outra ‘lógica’, uma ciência do raciocínio e do pensamento [...] envereda pela caracterização de percepção e cognição em termos respectivamente de informação analógica e digital” (apud TENÓRIO, 2003, p.72-73). Em relação a esse contexto, Morin (1999, p. 154) menciona também que A organização do conhecimento humano necessita do tratamento binário (digital) das informações em todos os níveis da computação cerebral. No momento da percepção ou da concepção, a alternativa binária da exclusão ou da aceitação de uma analogia impõe-se quando há incerteza na identificação de uma forma.
A analogia feita por Morin (1999) está relacionada à construção do conhecimento por meio da semelhança, isto é, um evento semelhante a outro já ocorrido e internalizado pelo indivíduo é imediatamente acessado pela sua memória, sendo trazido à sua consciência para ser usado. Essa estratégia ocorre durante todo o processo cognitivo do indivíduo, visto que, a memória trabalha com as similaridades e associações dos conteúdos internalizados recentemente.
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A mente humana trabalha por associações de conteúdos semelhantes, relacionados ou complementares, isto é, quando o sujeito tem contato com um conteúdo, seu processo cognitivo analisa o referido conteúdo com o que ele já possui internalizado. Caso haja um conteúdo internalizado semelhante, relacionados ou complementares ao conteúdo recente, a mente faz uma associação entre os conteúdos existentes, e novos conhecimentos são construídos. Tenório (2003) trabalha com os conceitos de processos analógicos como imprecisos, ambíguos, existenciais, isto é, sujeitos, experimentações, erros e dúvidas. O autor também analisa os processos digitais como sendo precisos, inequívocos, absolutos, isto é, como dotados de certeza e pouca possibilidade de erros. Nesse contexto, informação analógica está relacionada com os processos analógicos, podendo ser considerada como aquela com significado empírico; e informação digital, relacionada com processos digitais, considerada como aquela ideal, pressupõe-se que não há erros ou dúvidas. Esse processo é que possibilita a complexidade da estrutura cerebral humana. A relação digital/analógica é constante, isto é, num dado momento o processo ocorre de forma digital, em outro, de forma analógica. Retomando Tenório (2003), o processo digital é preciso e se relaciona com a informação digital, aquela que se apresenta sem erros ou dúvidas; o processo analógico é impreciso e ambíguo, e está relacionado à informação analógica, que se estrutura através das experimentações que o indivíduo tem contato. Segundo Mariz (2012, p.21), “[...] a informação é elemento essencial e determinante de todos os campos do conhecimento, e isso faz com que ela seja dotada de enorme diversidade de conceitos”. A maioria das coisas que se faz nas atividades cotidianas está cheia de informação, o que se é comunicado, o que se é escrito, tudo contém informação, a qual tem como objetivo, ser transmitida para outra pessoa ou para um receptor, que pode gerar seu próprio conhecimento (internalização). No entanto, para que essa comunicação seja exitosa, é necessário e muito importante que o receptor tenha a capacidade de ler e compreender o que está sendo comunicando, com o propósito de receber do emissor a mensagem corretamente, mas dependendo da compreensão de experiências anteriores do receptor, a interpretação da mensagem pode ser diferente.
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Assim, de acordo com a teoria de Devlin, o sujeito obtém informação, primeiramente, por meio de sua percepção (seus sentidos) e contato com suas experiências, nesse contexto a informação é considerada de forma analógica; segundo, através da cognição, onde conteúdos da informação são selecionados, e a informação é considerada de forma digital (TENÓRIO, 2003). Porém, essa visão apresenta os processos de cognição humana de modo simplista, sendo que esses processos apresentam uma estrutura complexa. O processo digital pode estar ligado aos processos que o computador utiliza para estruturar uma informação; enquanto que o processo analógico está relacionado aos processos complexos do cérebro humano. Como defende Castells (2005) o espírito humano não deve subestimar a importância das integrações a partir de pontos múltiplos como texto, imagens e sons no mesmo sistema, pois esta multiplicidade altera de forma fundamental o caráter da comunicação. Agora todos podem produzir e receber informações por meio da maior rede de comunicação do planeta: a Internet. "Mídia" são os meios e "Sociais" são os relacionamentos, o que produz o processo da comunicação, onde se apresenta novas maneiras de difundir a informação e documentá-la, o que suporta a construção da sociedade do conhecimento onde a matéria prima é a informação. Segundo Gutiérrez Valencia (2006), mais de 90% da informação é produzida em nível mundial, a qual está em formato digital, sendo que é a Internet muda os modelos de transferência do conhecimento e da informação, e são os dispositivos tecnológicos os que possibilitam a armazenagem desse conhecimento.
4 O VIRTUAL E A MEMÓRIA HUMANA No virtual há um compartilhamento de tudo, ou quase tudo “[...] é virtual o que existe em potência e não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado, no entanto à concretização efetiva ou formal. [...] Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao real, mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes” (LÉVY, 1996, p.15). Mesmo receosos temos que inferir que o virtual já faz parte da memória humana e impacta o saber pensar para saber fazer e saber que sabe para saber agir,
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pois ele não é oposto ao real uma vez que o fato de não estar em algum lugar não quer dizer que algo não exista. Castells (2005) utiliza o termo virtual para o que não é real, no sentido físico, mas que existe em outro plano da realidade; o digital está relacionado às mensagens na forma de sons, imagens e dados. Para Lévy (1993, p.22) “[...] diversos sistemas de registro e de transmissão (tradução oral, escrita, registro audiovisual, redes digitais) constroem ritmos, velocidades ou qualidades de história diferentes. Quando nos referimos ao sistema de memória humana, Foster (2011, p. 31) defende que, para ser eficiente, “[...] precisa desempenhar bem três funções: 1.codificar (isto é, receber ou adquirir) informações; 2.armazenar ou reter essas informações de maneira fiel e, no caso da memória de longo prazo, durante um grande período de tempo; 3.recuperar ou acessar as informações armazenadas”.
Quadro 1: Modelo Modal de Memória
Fonte: Atkinson e Shiffrin (1968) apud Foster (2011, p. 33)
O Modelo Modal de Memória representado acima no quadro1 pressupõe um Depósito Sensorial: parece operar abaixo do limite da consciência, recebendo informações dos sentidos e mantendo-os por cerca de um segundo enquanto decidimos ao que daremos atenção. Neste nível, o que decidimos ignorar é rapidamente perdido, não podendo ser recuperado; Memória de Curto Prazo: nível no qual as informações são guardadas por alguns segundos, que tem capacidade para cerca de 7 itens. Como tem capacidade limitada, assim que está “cheia” a informação antiga é substituída por uma nova entrada e a Memória de Longo Prazo: é o nível onde as informações consideradas mais importantes ficam registradas, que parece ter capacidade quase ilimitada; são armazenadas principalmente de acordo com seu significado (FOSTER, 2011).
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Além disso, outra distinção defendida por pesquisadores que estudam a memória são as memórias explícita e implícita. A primeira é definida como “aquela que envolve o conhecimento consciente, no momento da lembrança, da informação, experiência ou situação que está sendo lembrada”. A segunda “refere-se à influência do comportamento, sentimentos e pensamentos resultante de uma experiência anterior, mas que se manifesta sem a recordação consciente dos eventos originais” (FOSTER, 2011, p.48). Lieury (1997, p.18), em seus estudos a respeito do cérebro, defende que ele apresenta uma complexidade tão grande, que não pode ser compreendido por pesquisadores pertencentes a somente uma especialidade, mas sim, deve envolver diferentes disciplinas, abrangendo técnicas refinadas e de última geração. Aqui se inserem as Neurociências, sendo que a Psicologia faz parte desta especialidade, propondo modelos de funcionamento cerebrais, e psicológicos. O mesmo autor descreve a estrutura cerebral como tendo três grandes estruturas especializadas no processamento das informações: “o tálamo é de certa forma o computador da percepção, os corpos estriados organizam e comandam os movimentos com o cerebelo, ao passo que o hipotálamo conduz nossa vida vegetativa” (LIEURY, 1997, p. 20, grifo nosso). Não queremos aqui, nos aprofundar no assunto, mas sim apresentar a complexidade do funcionamento cerebral humano. Dessa forma, com a existência de tal estrutura, na qual estão presentes o tálamo, os corpos estriados e o hipotálamo, a memória se divide em duas: declarativa e procedimental. A primeira está voltada à memória no sentido corrente do termo, possibilitando a rememoração e o reconhecimento de palavras, imagens etc., estando presente aqui, o hipotálamo. A segunda é a parte inconsciente, que permite as aprendizagens perceptivas e motoras, que dão sustentação aos nossos automatismos, como andar e dirigir. Neste caso, é imprescindível a presença dos corpos estriados (LIEURY, 1997, p.29). Neste momento, se faz uma importante distinção: a memória declarativa está relacionada à parte consciente do homem, quando ele atua de forma pensada; a memória procedimental, à parte inconsciente, quando a atuação é realizada de forma automática, ou seja, a aprendizagem já ocorreu, e o indivíduo não precisará pensar muito para realizar uma ação.
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Nessa perspectiva, o fato da memória humana não conseguir registrar com exatidão toda informação e conhecimento constituídos, o uso da escrita possibilita o registro de parte desse conteúdo, sendo que outra parte será perdida, esquecida. Deixará de fazer parte da memória daquele indivíduo ou sociedade. Porém, a memória aparece não somente como um mecanismo que copia informação e guardaa em nossa cabeça; ela também possibilita a recuperação dessa informação e combina-a para formar novos pensamentos (FENTRESS; WICKHAM, 2003, p.34). Este processo de combinação e recuperação de informações somente o ser humano possui, e que foi descrito anteriormente, por Lieury (1997), quando apresenta a estrutura cerebral do homem. Assim sendo, os terminais sensoriais vão lhe possibilitar tomar contato com sensações que lhe transmitirão informações, captadas pelo meio; e princípios e regras que permitem continuamente (como defende Piaget no seu princípio de continuidade funcional) a organização do seu conhecimento, através de suas estruturas cognitivas (estabelecidas biologicamente). Muitas das dificuldades clássicas dos tratamentos filosóficos e psicológicos da memória surgem da intenção de conciliar os 2 aspectos acima citados, ou seja, a memória como um mecanismo de recuperação de informação e também de combinação, para formar novas ideias. Dessa forma, Lévy (1993, p.78) defende que a memória humana não pode ser comparada a um equipamento de armazenamento e recuperação fiel de informações. Além disso, a Psicologia Cognitiva contemporânea defende que não temos apenas uma memória, e sim várias, com sua estrutura funcionando de forma distinta. Ou seja, a memória de curto prazo (ou memória de trabalho) estaria voltada a atenção; e a memória de longo prazo estaria relacionada a uma única e imensa rede associativa, no qual os elementos diferenciariam em relação ao conteúdo informacional, e também quanto à força e número das associações por eles realizadas. Para este autor, a memória humana possibilita o armazenamento e recuperação de informações, porém, não de forma exata, assim como não pode ser comparada a um sistema baseado em tecnologia, visto que podem ocorrer algumas falhas neste processo de armazenamento e recuperação pelo fato de o cérebro humano ter seu funcionamento de forma complexa. Além disso, o homem possui
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diferentes formas de memória: auditiva, visual, sensorial, emocional, etc., estudadas pela Psicologia e pela Neurociência. Fentress e Wickham (2003) defendem que a memória está dividida em dois segmentos: uma parte objetiva que serve como repositório de fatos, podendo ser guardados em lugares externos, ou seja, podem ser externalizados e registrados; e uma parte subjetiva, que inclui informações e sentimentos que fazem parte integral de todos nós, localizados internamente. Os autores defendem que a parte objetiva da memória é passiva, visto que apenas guarda conteúdo/informação. Já a parte subjetiva é mais ativa, pois passa pelo processo de experimentação e análise de consciência. O que se observa com o contexto defendido pelos autores, é que a parte objetiva da memória depende da parte subjetiva e vice-versa, visto que o processo subjetivo gera o conhecimento que será registrado pela parte objetiva da memória. A memória objetiva é o melhor veículo para a transmissão da informação; é o aspecto de nossa memória que os demais podem contar com maior facilidade. Porém, essa distinção nada tem a ver com sua estrutura, visto que é um fato social. Assim posto, o que surge na articulação não é a parte objetiva da memória, senão seu aspecto social (FENTRESS; WICKHAM, 2003). Podemos perceber que, na atual sociedade, três grandes transformações ocorreram e modificaram as tecnologias de mídia de massa nos tempos modernos: 1.século XIX - introdução das impressoras a vapor e do papel de jornal mais barato; 2.introdução da transmissão por ondas eletromagnéticas - o rádio em 1920 e a televisão em 1939; 3.mídia de massa - transição para a produção, armazenagem e distribuição de informação e entretenimento estruturadas em computadores (DIZARD JUNIOR, 2000). Esta terceira transformação nos leva aos dias atuais, pois é o mundo dos computadores multimídias, compact discs (CD), bancos de dados portáteis, redes nacionais de fibras óticas, mensagens enviadas por fax de última geração, páginas de Web e outros serviços que não existiam há vinte anos (DIZARD JUNIOR, 2000).
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5 COMPARTILHAMENTO DA INFORMAÇÃO Quando falamos de compartilhamento da informação o mesmo está intrinsecamente relacionado ao fluxo da informação e para Alcará et al. (2009) o compartilhamento apresenta quatro fatores: motivação para o compartilhamento; barreiras no compartilhamento; obrigatoriedade em compartilhar e formas e meios de compartilhamento. Compartilhamento de informações é essencial para aumentar a produtividade e gerar benefícios significativos. Melhora a capacidade das organizações e contribui para a aprendizagem [...]. Coletivamente, os benefícios que decorrem da partilha de informação contribuem fortemente para a democratização de oportunidades (TOMAÉL, 2012, p. 13). O compartilhamento da informação impacta no fazer humano, é construído pelas pessoas com base na interação com pessoas e tecnologias, portanto, perceber o contexto onde a mesma se insere é fundamental. O uso estratégico da informação gera novos conhecimentos por meio da aprendizagem, organização, processamento e, por fim, a avaliação destas informações infere no negócio organizacional o que oportuniza a valoração da informação como negócio/commodity/mercadoria/matéria prima. Para Buckland (1991) a informação se destaca como processo; como conhecimento e como coisa e podemos inferir que quando falamos do impacto das mídias digitais no fazer humano a memória na era digital pode ser entendida como recurso, processo ou produto. Segundo Vitoriano (2011) memória pode ser considerada um sistema capaz de armazenar as coisas percebidas, experimentadas ou vividas no ambiente organizacional, é o conhecimento de como fazer algo e está relacionada ao conceito de
aprendizagem
organizacional/experiências
prévias/acervo
de
conhecimento/experiências e práticas retidas pela organização ao longo da sua existência e para Choo (2011) a criação de significado começa quando ocorre alguma mudança provocando perturbações ou variações. Quando falamos de memória na era digital estamos falando basicamente destas provocações, perturbações e desafios às humanidades, uma vez que, o grande volume de informação pode ter interpretações ou usos “malignos ou benignos”. 199
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Parafraseando
Choo
(2011)
podemos
inferir
que
a
construção
do
conhecimento é conseguida quando há relacionamento sinérgico entre conhecimento tático e explícito, pois o valor da informação reside no relacionamento que o usuário constrói com a informação e conhecimento. A sociedade da informação é baseada no uso de tecnologias de informação e comunicação, nessa perspectiva a informação torna-se um elemento essencial. A informação só é útil quando o usuário lhe infunde significado, quando a mesma impacta no fazer humano, visto que, a busca de informação é um processo social e humano por meio do qual a informação se torna útil e o uso da informação assim como o valor informação como negócio/commodity é um conceito de difícil compreensão. Para Choo (2011) a criação de significado é continua e um processo social onde os indivíduos observam os fatos passados recortam pedaços de experiências e selecionam determinados pontos de referência para tecer significados. A redução da ambiguidade proposta por Choo (2011) proporciona uma visão mais clara do valor da informação como um processo cíclico de interação constante onde administrar o conhecimento é fomentar capacidades. A sociedade atual sofre influência recorrentemente das TIC. Os impactos causados por elas são sentidos nos diversos ambientes em que os indivíduos transitam,
ou
seja,
no
trabalho,
em
casa
e
nas
redes
sociais
que
participam/vivenciam. Falar de memória suscita muitos caminhos e quando falamos de memória na era digital a mesma esta pautada na coletividade pode ser vista como resultado de fatores sociais, econômicos e políticos, pois é pela memória que se puxam as conexões. Quando falamos de memória falamos de tempo que é criador de experiências e realidades sendo assim a memória é base do conhecimento que nos proporciona adentrar em espaços outros (COSTA, 1997). O compartilhamento é uma forma de externalizar e com isso cria novos conhecimentos e significados por interações espontâneas, ele movimenta a era digital e movimenta a rede impactando o fazer humano, pois exige cooperação/interação. Com as mídias digitais temos um aliado da memória para guardar informações, porém temos também um algoz se o compartilhamento da informação não for eficiente, pois a quantidade valoração e dinamicidade nunca foram tão evidentes. 200
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6 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS Muitos são os desafios quando abordamos mídias digitais, memória e compartilhamento da informação, visto que, o volume de informações a serem compartilhados e mediados é descomunal. Cabe ao ser humano prever o impacto dessa dinâmica de informações e conhecimentos acelerados no fazer humano visto que a memória é composta de lembranças e esquecimentos. Neste século XXI a ecologia das mídias digitais baseada em recursos tecnológicos e no virtual faz parte da nossa ciência, denominada Ciência da Informação, que tem na informação e no conhecimento objetos de estudo. Sabe-se que a forma como nossa memória é usada, evolui ou não, é modificada sofre influências do contexto social, político e econômico no qual estamos inseridos, portanto é fundamental pensar o papel da memória neste contexto e na era digital, pois ela é um desafio às humanidades e aos estudos da informação e do conhecimento. A tecnologia digital coloca à nossa disposição, diferentes ferramentas interativas que na tela do computador mostram objetos dinâmicos e manipuláveis e a convergência digital é caracterizada pela difusão, aprofundamento e utilização da tecnologia de informação em ambientes de crescente interconexão, propiciados pelo desenvolvimento e propagação da internet. Desta forma, mentes e máquinas estão se integrando e alterando profundamente os comportamentos sociais, culturais, econômicos da sociedade. Portanto é plausível inferir que as mídias digitais interferem no fazer humano, na memória e no compartilhamento da informação. Além disso, o acesso ilimitado da informação e a troca dos conhecimentos admitem a preservação dos saberes, e se criam novos saberes relacionados com a tecnologia digital. O diálogo entre sociedade e tecnologia, que sempre existiu na história do homem, hoje se faz notadamente mais difuso, e na era digital a informação é componente intrínseco de quase tudo, portanto, é evidente e importante compreender os processos pelos quais a informação se transforma em percepção, conhecimento e ação (CHOO, 2011). A cultura é o resultado da atividade humana, o que implica um sistema simbólico com o qual se representam as crenças, costumes, valores, ajudando ao mesmo tempo com a criação de produtos de produtos (entendendo que por cultura 201
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pode se entender o conjunto de conhecimentos, normas, crenças e valores, que todas em conjunto podem se qualificar de ideio-produtos). Com o novo conceito de cultura digital ou cibercultura, com a qual se pode acessar a qualquer tipo de documentos (dados pelos mesmos usuários) que põe disponível para aos outros usuários da web os saberes de culturas de outras etapas da história, sem a necessidade de ter uma movimentação física, já que o formato virtual do ciberespaço o permite, surgindo, compartilhando e aprendendo saberes novos relacionados com a tecnologia digital, o que tem como caraterística principal, o trabalho colaborativo. A geração digital tem caraterísticas próprias originadas pela tecnologia como a maneira de aprender o adquirir cultura, assim como a maneira de como funciona o cérebro, portanto acredita-se que a discussão teórica de como as mídias digitais tem modificado o fazer humano com foco na memória e no compartilhamento da informação é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. Como principal resultado, percebe-se que o termo compartilhamento pressupõe reciprocidade, partilha e mutualidade, ou seja, é a ação ou efeito de partilhar, experimentar, etc., portanto, o compartilhamento da informação é essencial para a construção de novos conhecimentos que por meio de interações proporcionam aprendizados contínuos. Inserido neste contexto e focando as mídias digitais, a memória pode ser considerada precursora destas tecnologias e muitos são os desafios à memória na era das mídias digitais, visto que a memória é composta de lembranças e esquecimentos.
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
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A BIBLIOTECA COMO INSTITUIÇÃO MEMÓRIA DO SABER MICROBIANO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ) Ana Paula Alves Teixeira van Erven Louzada apteixeira@micro.ufrj.br Ana Cristina Pinho Oliveira Roque anacrisroque@micro.ufrj.br Centro de Ciências da Saúde Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPPG) Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Resumo: Objetiva-se configurar a biblioteca do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPPG) como espaço de organização da memória da trajetória do saber microbiano da Universidade Federal do Rio de Janeiro a partir das comemorações do centenário do professor Paulo de Góes ocorridas em 2013. O trabalho fundamenta-se em pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida a partir do levantamento de fontes orais e impressas referentes ao IMPPG e fonográficas de Paulo de Góes. Através de objetos textuais, imagéticos e tridimensionais é realizado um trabalho de contextualização da formação do IMPPG e da correlação memória e informação microbiana. As ações buscam consolidar a memória do Instituto de Microbiologia. Como resultado parcial, três totens com o resumo da vida e obra de Paulo de Góes, um vídeo sobre a exposição “Um olhar memorialista sobre a Ciência”, parte das comemorações, e o livro: centenário do Professor Paulo de Góes, 1913-1982 são produtos de resgate da memória do fundador e de sua obra, o IMPPG. A biblioteca da unidade é escolhida como espaço de preservação, representação e divulgação desse passado, pois de forma paralela a arquivos e museus, é também Instituição-memória. As comemorações do centenário tornamse um marco e possibilitam desdobramentos que visam à valorização das atividades um grupo social. Palavras-Chave: Lugares de Memória; Memória e Informação; Organização do Conhecimento.
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1 INTRODUÇÃO Um ato mnemônico se dá por meio de uma função social, ou seja, a comunicação a outrem de uma informação, a partir de um objeto que constitua o seu motivo. Isto significa dizer que a memória pode ultrapassar os limites físicos do nosso corpo para ser entreposta em diferentes formatos ou lugares, graças à utilização de imagens ou linguagens faladas e escritas. O material constante da memória é formado pelos documentos, resultados de ação cultural mnemônica que podem ser escritos, ilustrados, transmitidos por som, imagem, ou em qualquer outro formato. Datas simbólicas, acontecimentos e biografias definem-se a partir desses fenômenos. A busca em registrar a memória sob o ponto de vista social pode ser entendida como um esforço de recuperação do passado pela memória individual ou coletiva. A materialização da memória é formada por documentos, resultados de ação cultural topográfica, monumental ou simbólica, através de recursos escritos, ilustrados, imagéticos, sonoros ou em qualquer outro formato. Como as memórias vividas no interior necessitam de suportes exteriores, existe a necessidade de criar lugares que salva guardem as memórias. Lugares de memória não são ambientes de recolhimento da poeira dos manifestos da sociedade, mas espaços que proclamam os testemunhos de uma época. Esses locais se dão, portanto por meio das InstituiçõesMemória. Bibliotecas, arquivos e museus são instituições depositárias de documentos de informação e memória. A origem dessas instituições está na ação humana de expressar ideias, fatos, sentimentos e pensamentos e que implica no instinto de preservação do homem. Os registros dessas memórias acabam por ser a mola propulsora para o desenvolvimento das atividades de organização e guarda, e condição preeminente para a recuperação dos objetos informacionais nos variados formatos, que tomam sentido de acordo com a finalidade de cada espaço. Para Halbwachs (2006) a memória coletiva de um grupo identifica-se no quadro espacial, não há gênero de atividade coletiva que não tenha relação com o lugar e o lugar recebe a marca de cada grupo que passou por aquele espaço. As ações do grupo microbiano da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estão marcadas no Instituto Professor Paulo de Góes (IMPPG) em objetos, em documentos, em laboratórios e nos prédios nos quais se instalou. Para consolidar sua identidade, o IMPPG fez o movimento de reunir o material de memória que se encontrava em seus espaços e identificou a biblioteca como lugar para preservação e divulgação de diferentes objetos que representam a trajetória do Instituto Paulo de Góes. 206
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Considerando que o IMPPG vem sendo campo de investigação para contextualização de seu patrimônio cultural, histórico e científico, a Biblioteca do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPPG) tem como proposta, para além de armazenamento dessa materialidade, identificar, organizar e divulgar informações de diferentes objetos que compõem a temática microbiana, e por fim, constituir-se espaço de memória da trajetória do IMPPG na UFRJ.
2 METODOLOGIA A Biblioteca do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPPG) foi espaço para exposição “Um olhar memorialista sobre a Ciência”, referente ao centenário do professor Paulo de Góes, fundador do IMPPG e um dos expoentes das Ciências da Saúde na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Categorizada em documentos textuais, objetos imagéticos e artefatos tridimensionais, a exposição foi disponibilizada em estantes e mesas expositivas com livre circulação para a comunidade acadêmica durante o mês de setembro de 2013. Ao final da exposição, a equipe apontou a necessidade de criação de um espaço de memória do grupo microbiano da UFRJ. Portanto, os documentos/ objetos da exposição: diplomas, certificados; agendas de compromissos anuais, caneta, porta-tinteiro, livro com temática escravocrata de autoria do avô paterno de Paulo de Góes, quadros, documentos e fotografias relacionados ao campo da Microbiologia na antiga Universidade do Brasil e atual Universidade Federal do Rio de Janeiro demandam uma representação. Uma primeira reunião foi realizada com a equipe técnica do SiBI – Sistema de Bibliotecas – da Universidade para orientar nas ações de organização dos objetos, que em principio, serão seriados por categoria: textuais, imagéticos e tridimensionais. Em seguida, os objetos serão analisados pela equipe da biblioteca e pela historiadora do Instituto, que aplicarão um formulário de inventário, elaborado no SiBI, espelhando alguns campos dos formulários bibliográficos do sistema Aleph para a descrição, análise e tradução dos dados para as representações documentais de um Fundo intitulado Paulo de Góes. Para contextualização de informações, a equipe composta pelas bibliotecárias e uma historiadora consultarão as fontes orais da família de Paulo de Góes e colegas de profissão que na convivência com o professor, colaborem com informações que possam agregar valor a parte dos objetos disponibilizados na exposição. O 207
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Cruzamento de elementos pode confrontar ou corroborar com as informações levantadas nas fontes documentais para a exposição. Serão revisados documentos do Fundo Paulo de Góes salvaguardado na Instituição Fiocruz/RJ e nas próprias bibliotecas da UFRJ por meio dos Anais do Instituto de Microbiologia, publicação idealizada por Paulo de Góes e originada por volta dos anos 50 durante a fundação do referido Instituto. A partir de novos elementos, outras informações serão coletadas com base em extenso levantamento documental, referenciado em fontes de conteúdo histórico, jornalístico, científico na Biblioteca Nacional e nos acervos da Imprensa em geral, além do depoimento fonográfico gravado no Museu da Imagem e do Som pelo Professor Paulo de Góes sobre a trajetória científica por ele construída. Os fundos arquivísticos Paulo de Góes da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), os Anais da Microbiologia produzidos pelo IMPPG, o arquivo fonográfico do Museu da Imagem e do Som correlacionarão informação e memória às tipologias documentais do instituto. As atas do Conselho Universitário – CONSUNI e a Academia Brasileira de Ciências também se constituem fontes e espaço de consulta que podem possibilitar interseção de documento, informação e memória. O formulário, Instrumento de pesquisa para coleta de dados permitirá um levantamento sistematizado de informações que possam agregar valor aos artefatos do Instituto de Microbiologia. As ações de grupo marcadas nos espaços do Instituto, chamadas memórias projetadas: por escrito e imagens serão objetos de investigação adicionais que enriquecem esse trabalho de pesquisa. Em uma primeira e segunda etapa de trabalho, através da categorização dos documentos e o levantamento e obtenção das fontes, os profissionais propõem-se a planejar, analisar e traduzir dados em informações que contextualizem a memória do Instituto de Microbiologia. Paralelamente a essas ações, vem sendo debatido em reuniões com o SiBI a implantação e gerenciamento de software que atenda as necessidades de representação de documentos que fogem ao escopo da Biblioteconomia, mas que na realidade compõe o acervo de algumas bibliotecas da UFRJ. As coleções das bibliotecas da Universidade estão representadas na Base Minerva, 22a edição. Entretanto, como o sistema Aleph não objetiva atender a politica de representação de documentos não bibliográficos, pensou-se na implantação ICAAtoM, o qual é distribuído sob a política de Software Livre e customizado no âmbito do projeto de digitalização do acervo. O ICA-AtoM é um aplicativo de descrição arquivística
integralmente
voltado
para web,
encomendado
pelo
Conselho 208
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Internacional de Arquivos (CIA) e abrange normas internacionais de descrição arquivística. AtoM é um acrônimo para Access to Memory [Acesso à Memória]. (FLORES, 2014).
3 RESULTADOS Das parcerias com a Coordenadoria de Comunicação e Comunicação (CoordCOM) e da Editora Gráfica da Universidade surgem os seguintes produtos das comemorações: Três Totens, em poliestireno, tridimensionais em formato de prisma. Os totens contêm imagens, fotografias e textos subdivididos nas seguintes temáticas: Vida: biografia; Obra: Currículo; Origem: histórico e atuação acadêmica do Instituto de Microbiologia. O departamento de Web designers da editora gráfica da Universidade converteu o material em programa especifico para ser posteriormente plotado por uma gráfica contratada pela Direção do Instituto. Os totens atualmente ambientam a biblioteca; Um Vídeo referente à exposição foi realizado em parceria com a CoordCOM para ser disponibilizado no Portal do IMPPG e o livro “Centenário do Professor Paulo de Góes, 1913-1982” editado com o apoio financeiro da Pró-Reitoria de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças (PR-3) da UFRJ, que disponibiliza recursos financeiros para a organização de eventos através da submissão de editais. Documentos procedentes da exposição e outros objetos materializados demandam continuidade de investigação para constituição de um trabalho de memória. O Instituto de Microbiologia por si só, constitui-se um espaço de memória, tendo assumido a sua materialidade desde o Hospital dos Alienados, primeiro polo dos estudos de microbiologia da UFRJ, datado de 1950 até o que se conhece hoje como Instituto de Microbiologia Paulo de Góes. Desdobramentos nas áreas tecnológica, industrial e de alimentos representam progressos no ensino e na pesquisa, sendo o IMPPG responsável pela garantia da vitalidade profissional dessa ciência. Ações para materialização do espaço e as fontes documentais relativas ao tema microbiologia na Universidade expressam o anseio permanente na continuação de um ambiente de destaque para ciência no Brasil. A consolidação do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, unidade pioneira no ensino dessa Ciência no Brasil, possibilita a formação de um espaço memorial, e a biblioteca, pelo seu caráter social é a organização recomendada para a preservação do legado microbiano.
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4 DISCUSSÕES A memória é fenômeno atual, age no que foi vivido e eterniza o presente. Memória é manter o passado constantemente presente, mas se o objeto que lhe dá sentido não está no lugar que deveria abrigá-lo, então não há como provocar a presença do passado, nem por meio da memória, nem por meio da história. Os fenômenos da memória são resultados de sistemas dinâmicos de organização e existem na medida em que arquivos, bibliotecas e museus os mantêm ou reconstitui. O artigo de Serrai (1975) apresenta o cenário da história das bibliotecas a partir dos registros da escrita. No decorrer dos séculos, a evolução desses espaços é influenciada pelos diferentes suportes que comportam registros e que interferem nas atividades de bibliotecas e na criação de arquivos e museus. Arquivos comprovam, bibliotecas instruem e museus preservam. O conceito memória é elemento comum que aproxima tais instituições, devido à proximidade etimológica, institucional e histórica entre os campos científicos (THIESEN, 2009). A relação entre Memória e documento ocasiona aproximação com a Ciência da Informação (CI), devido ao aspecto informacional contidos nos documentos. A teoria da informação, objeto de estudo da CI é também escopo das pesquisas nas áreas correlatas: Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia. Na contemporaneidade essas áreas têm buscado agregar conceitos e práticas que reconfiguram a teorização dos três campos, sendo a informação o elemento comum a essas áreas. Na história social do conhecimento (2002), Peter Burke percorre a origem da história do conhecimento e mostra que seu desenvolvimento sempre esteve atrelado às atividades de apoio ou ciências auxiliares encontradas nas Instituições-memória, sendo a informação o elemento que perpassa todo o processo. Habitualmente, a palavra informação é imediatamente associada à notícia, acontecimento, conhecimento. Trata-se de um fenômeno básico da sociedade humana desde antiguidade, mas para definir epistemologicamente a palavra informação vale examinar os artigos de Matheus (2005) e Capurro (2007) que traçam extensa visão panorâmica do conceito informação, como o que circula no campo da Ciência da Informação e nas áreas interdisciplinares. Matheus (2005, p.143) informa que: [....] Por ser uma área interdisciplinar, a história da CI sofreu e sofre influência da história de várias outras áreas do conhecimento científico. Os destaques sobre as raízes históricas da CI feitos por Capurro estão presentes em duas vertentes principais: análise da história da CI, que tem suas raízes na documentação, na biblioteconomia, na tecnologia.
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Dentre as variadas considerações, destacam-se dois conceitos básicos intimamente relacionados à informação explicitados por Capurro (2007, p.155) “o ato de comunicar conhecimento e o ato de moldar a mente”. Estes se apresentam no universo tangível e intangível. Para o escopo desse trabalho nos interessa essa definição de informação contextualizada por Ribeiro (2002, p.37) que a molda como: Um conjunto estruturado de representações mentais codificadas (símbolos significantes) socialmente contextualizadas e passíveis de serem registadas num qualquer suporte material (papel, filme, banda magnética, disco compacto, etc.) e, portanto, comunicadas de forma assíncrona e multidirecionada.
Além da memória e informação, o terceiro elemento que representa ponto em comum entre as Instituições é o documento. Matheus (2005) menciona importantes nomes dedicados ao documento como Paul Otlet, fundador da documentação e sua contemporânea Suzanne Briet. Capurro (2003) cita as entidades profissionais ligadas à CI, à biblioteconomia e à documentação, que evoluíram na Europa e nos Estados Unidos, desde o final do séc. XIX até o início do séc. XXI. Paul Otlet (1934) amplia o entendimento do conceito documento e promove ainda o deslocamento da ênfase no suporte físico para o assunto e conteúdo dos documentos, independente de seu suporte e formato. Uma das principais contribuições foi
a
consolidação
do
conceito
de
documento:
“documentos
bibliográficos” (folheto, monografias, ensaios, livro, enciclopédias, dicionários entre outros); “documentos gráficos que não são obras impressas” (manuscritos, mapas e plantas, estampas, partituras musicais, moedas, medalhas etc.) e “documentos chamados substitutos do livro” (filmes, discos, obras de arte e outros) De acordo com Ortega e Lara (2010) o Traité de Documentation, publicado por Paul Otlet, em 1934 sugere uma cooperação entre as Instituições-Memória. Arquivos, bibliotecas e museus são responsáveis pela transmissão da informação via documento em suas diversas manifestações. Diante da concepção objeto/documento firmada por Otlet, Buckland (1998, p. 216) aponta que “objetos em si mesmos podem ser considerados documentos se por observá-los você recebe informação”. No âmbito da Ciência da Informação, Rendón Rojas (1999) apresenta para o conceito documento as seguintes características: objetivação, ou materialização, do pensamento e em qualquer suporte; criado para informar o que desmaterializa o pensamento; constitui-se instrumento de conservação da memória social pela função comunicativa social, sintaxe reconhecível e lógica. 211
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Aprofundar a questão acerca do conceito documentação e sua relação com a Ciência da Informação não é objeto desse trabalho, visto possuir estudos mais complexos, entretanto alguns elementos aqui abordados podem colaborar na compreensão da tríade documento – Memória – Informação, pois esses conceitos perpassam arquivos, bibliotecas e museus. A relação memória contextualizada em suportes informacionais distintos: artefatos, monumentos e documentos, instrumentos de representação de identidades culturais e reafirmação de cidadania, viabilizam os processos sociais de transferência da informação (LE GOFF, 2003). As Bibliotecas, os Arquivos e os Museus armazenam, tratam e disponibilizam informações organizadas dessa memória e promovem a construção do conhecimento. (CHANGEUX apud LE GOFF, 2003). Instituições que não se definem apenas como lugares onde se organizam e preservam insumos físicos que retratam a memória de um segmento social, devem ser também espaços de socialização e de práticas culturais. Instituições assim se transmutam em locais que buscam o despertamento científico para que sua memória, adquiram força, legitimem-se e se propaguem na Sociedade. A divulgação das atividades científicas de uma Instituição é também atividade de preservação de um grupo social. A biblioteca, na atualidade, constitui-se de espaço para disseminação da informação, para constituição dessa nova proposta cultural está implícito o seu papel de instituição cultural. Como instituição cultural e educativa, a biblioteca deve possuir a vocação para a sustentabilidade de projetos que ampliem o acesso ao conhecimento por meio de diferentes formas de manifestação (CALVANTE, 2010). Segundo Dudziak (2001, p.102): A consonância entre as atividades desenvolvidas pela biblioteca e os programas de ensino, pesquisa e extensão implementados pelas instituições educacionais é o fator que determina o seu real sentido. Essa consonância é alcançada por meio do entendimento das estruturas curriculares, bem como a interação com a comunidade e integração ao modelo político-educacional almejado pela instituição. A clareza com relação aos objetivos e às atividades pertinentes à biblioteca, como serviço de informação que é, dentro de sua comunidade, também fatores determinantes nessa integração.
Nesse caso, incluiu-se a uma biblioteca universitária dedicada a formação científica pela difusão dos repositórios de memória da produção intelectual à memória das experiências culturais históricas do Instituto de Microbiologia. A biblioteca do Instituto propôs-se atender ao imperativo de sua comunidade quanto à inquietação 212
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com a preservação e a difusão de uma memória institucional às futuras gerações da Universidade. Pretende-se evidenciar é que a biblioteca do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes se configura como um lugar que mantém íntima relação com os universos da memória, e que, por esta razão, deve participar ativamente de todas as etapas que garantem sua preservação, sua organização e sua socialização.
5 CONCLUSÕES O registro humano impresso na multiplicidade de suportes caminha ao lado do conceito de documento e informação em diferentes áreas como Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia. Para a preservação da memória, as Instituiçõesmemória através da representação de objetos informacionais, são também espaços de divulgação e importantes fontes de inspiração dos legados sociais. Os documentos fontes de informação, constituintes da memória microbiana, possibilitam as novas gerações conhecer e revisitar marcos históricos do Instituto. A Biblioteca do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, dentro do cenário universitário cumpre diariamente o papel de suporte à infraestrutura bibliográfica e documental a sua comunidade acadêmica, sendo indispensável no processo de pesquisa, estudo e na produção de conhecimento. Sobretudo, no contexto das comemorações do centenário funcionou também como um centro para exposição do saber acumulado e principalmente de irradiação de informação em formato criativo de atuação. A exposição potencializou o espaço da biblioteca e ofereceu ao Instituto mais um local de difusão cultural, entretenimento e motivou novas propostas de trabalho. REFERÊNCIAS BUCKLAND, Michael K. What is a “Document”? Historical Studies in Information Science. Medford, 215-220, 1998. Disponível em <http://people.ischool.berkeley.edu/~buckland/whatdoc.html>. Acesso em: 01 jun. 2015. BURKE, P. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. CAPURRO, R. Epistemologia e Ciência da informação. In: V ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 5., Belo Horizonte, 2003. Anais... Belo Horizonte: Escola de Ciência da Informação da UFMG, 2003. 213
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GUARDA MEMORIAL ARQUIVÍSTICA: TRAÇOS CULTURAIS DE PRAXIS E EPISTEMOLOGIA CUSTODIAL ENTRE NOVA DISCUSSÃO PARADIGMÁTICA.
Valéria José Silva Santos vjssantos@hotmail.com Mestre em Ciência da Informação UFPE Marcos Galindo galindo@gmail.com Doutor em Ciência da Informação Professor do Dep. De Pós-Graduação em Ciência da Informação UFPE. Sandra Maria Veríssimo Soares. sandra.verrissimo9@gmail.com. Mestre em Ciência da Informação UFPE. Arquivo Público Estadual João Emerenciano (APEJE).
Resumo: Esse artigo descreve ocorrências da guarda memorial arquivística como prática social construída e as ressignificações culturais, dessa realidade, no tempo e no espaço da produção do conhecimento. Enfoca, contudo, o pensamento hegemônico da Modernidade na organização da informação, como motor ao saber científico. Busca delinear traços culturais de praxis e episteme da preservação memorial na contemporaneidade, como a memória disposta em rede de colaboração e a permanência do custodialismo. A análise tem por objetivos qualificar as naturezas das práticas de custódia memorial, identificar permanências de ações que impõem esquecimento aos estoques memoriais arquivísticos e explorar a guarda memorial, ao modo pós-custodial Rede Memorial Pernambuco. Esse estudo utilizou como instrumentos de pesquisa: revisão bibliográfica, documentação não verbal, midiática e institucional, além entrevistas não estruturada. A análise de conteúdo foi o método adotado para dar sentido ao significado dos dados coletados, que ancorada na abordagem sociocognitiva contemplou a complexidade da realidade de guarda memória arquivística observada. Palavras-chave: Guarda memorial. Arquivística. Custodialismo. Pós-custodial Rede Memorial Pernambuco (RMP).
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1 INTRODUÇÃO “Saber é poder” (CHAUI, 2010) foi uma abstração que se tornou senso comum, prenúncio de uma regra – axioma social – à medida que validou a expansão do conhecimento como ideal humano, desde as primeiras práticas individuais e coletivas, mesmo antes de se tornar utopia hegemônica na Modernidade. Reflexão como a citada
vem
transformando,
por
meio
de
processo
contínuo,
experiências
contextualizadas em memórias ao longo dos séculos. Essa aptidão “fisiológica” reflete-se mais veloz na contemporaneidade pelo quantitativo de artefatos tecnológicos disponíveis à diminuição do tempo gasto com os processos de articulações cognitivas. Nesse contexto o alargamento da capacidade de produção e armazenamento
do
conhecimento
deveu-se,
entre
outras
ocorrências,
pela
“desmaterialização do documento e partilha dos saberes no ciberespaço” (HOLANDA, 2012). É pressuposto elencado a essa análise que o sistema biológico humano tem por natureza fisiológica habilitar o indivíduo à construção de ferramentas – “técnica e lógica” (GALINDO, 2009) – que possibilitam, otimizando estrategicamente a evolução de a espécie, o caminhar da existência desde as cavernas à realidade nos sítios virtuais da contemporaneidade. Ratifica-se que o desejo humano por conhecimento é anterior ao ideal moderno, não constitui novidade, pois se encontra na natureza evolutiva do ser humano, por entre os nós da “teia da vida”. “Na aventura humana [...], com os primeiros descendentes humanos dos símios antropóides, [...] por volta de 2 milhões de anos atrás [...]. Era o Homo habilis (ser humano habilidoso)” (CAPRA, p. 203 - 205). Como objetivo geral esse artigo visa qualificar os fenômenos sociais que categorizam a natureza de as práticas de custódia memoriais arquivísticas situadas, não raro, entre ação de guarda para colecionar, ou para esquecer, em detrimento de a guarda compartilhada para lembrar. Por objetivos específicos busca explorar permanência de prática de guarda “danosa”, verdadeira “Tragédias da Memória” (GALINDO, 2005, p. 4), como ações que podem levar esquecimento aos estoques de informação memorial arquivística e também, “outra”, ou “nova” possibilidade de custódia por meio do conhecimento da praxis e epistemologia da Rede de Cooperação interinstitucional Memorial Pernambuco.
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Esse é um recorte de pesquisa desenvolvida na Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (PPG CI UFPE), que enfoca questões ligadas à autoridade da posse do conhecimento, esquadrinhando a realidade na qual a guarda de registros memoriais arquivísticos reflete-se como prática social construída.
2 METODOLOGIA. Esta pesquisa qualitativa descreve os significados de uma realidade com objetivo de qualificá-los, ampliando o conhecimento sobre os fenômenos sociais de guarda memorial, em tela. Assim, o estudo adota a concepção construtivista social (CRESWELL, 2010, p.30) que pressupõe sentido às práticas coletivas de vida e trabalho, que interagem no fenômeno social de preservação de um bem arquivístico memorial, em Pernambuco. Os indivíduos desenvolvem significados subjetivos de suas experiências, significados dirigidos para alguns objetos ou coisas, (...) levando o pesquisador a buscar a complexidade dos pontos de vista em vez de estreitálos em algumas categorias ou ideias. (CRESWELL, 2010, p. 31).
Richardson (2011) corrobora a categorização dessa pesquisa quando diz que a análise de uma realidade se valida por meio de uma abordagem qualitativa, pois é a “forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social” (RICHARDSON, 2011, p. 79). As estratégias de investigação da pesquisa, assim, fazem-se por meio da análise de conteúdo dos dados coletados, segundo Bardim (2009), utilizando uma abordagem sociocognitiva (HJØRLAND, 2000, p. 39) para ampliar o conhecimento da complexidade do objeto, frente às filigranas dos eventos e ocorrências possíveis. O corpus da pesquisa foi por escolha intencional, como teoriza Creswell (2010, p. 212): “seleção intencional das fontes”. O resultado pela análise de conteúdo das informações coletados nas entrevistas e nos documentos midiáticos e normativos faz triangulação didática com a revisão bibliográfica. O procedimento de entrevista começou com a escolha não aleatória dos entrevistados, sendo os mesmos gestores de memória ligados às instituições partícipes da Rede Memorial Pernambuco, ou profissionais envolvidos em projeto de resgate de massa documental e gestão de estoques de informação (BARRETO, 2000). São atores sociais ligados ao tema – problema da pesquisa, seja pela afinidade disciplinar com os registros memoriais, seja pela representatividade sociopolítica em lugares de memória arquivísitica. O modelo de entrevista é aberto e 219
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não estruturado (CRESWELL, 2010), categoria de entrevista que possibilita liberdade narrativa aos entrevistados frente à constituição de suas próprias reflexões. A revisão bibliográfica fundamenta e alinhava as concepções da arquivologia no paradigma moderno, frente aos desdobramentos deste na realidade pós-custodial. Para contemplar o proposto o texto foi tecido por teóricos como: Cook (1998), Fonseca (2005), Silva et al (2009) e Ribeiro (2014). As reflexões voltam-se também à Teoria da Complexidade com Capra (2013), Morin (2011) para alargar do entendimento da realidade observada. Essa estratégia de análise torna-se pertinente frente à subjetividade dos processos sociais envolvidos e pela natureza de crise dos estoques de informação memorial (BARRETO, 2000). Há também a utilização das acepções do pensamento sistêmico com Vasconcelos (2013), Uhlmann (2002), Kasper (2000) e Prado (2014), Bertalanffy (2012) à medida que se reflete sobre “novos” saberes aos domínios da memória, a partir da ideia da guarda dessa informação em “sistemas memoriais” (GALINDO, 2014). Os métodos de análises desse estudo, assim, atam-se aos objetivos, por meio dos instrumentos de investigação supracitados exploraram o significado do fenômeno social dotando de sentido os dados coletados e, subsidiado pelos resultados, descortinam nova perspectiva de realidade memorial à moda da preservação memorial em rede de cooperação, mais especificamente, a Rede Memorial Pernambuco.
3 MODERNIDADE OCIDENTAL E OS TRAÇOS CULTURAIS DA GUARDA MEMORIAL ARQUIVÍSTICA CONTEMPORÂNEA . O conhecimento – como matéria produzida pela razão – foi natureza de iluministas como Bacon (1561 – 1629) e solidificou a construção do homem na modernidade ocidental tendo o saber como motor ao poder. Nesse “regime de historicidade” (HARTOG, 1996) o “conhecimento científico daria ao homem poder sobre a natureza” (VASCONCELOS, 2013, p. 60) e a visão de mundo não se faria apenas pela necessidade curiosa dos seres humanos pelo saber, mas para atender demandas sociais políticas e econômicas vigentes. A busca por saberes formalizados nos séculos XVII, XVIII e XIX – fundamentou-se na “Teoria para o Progresso” para forjar o projeto de conquista e desenvolvimento humano para: controle da natureza, produção em larga escala de bens e serviços e estímulo ao consumo. Era necessário, 220
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destarte, ter autoridade – domínio – sobre as informações produzidas para guardar registros, preservar informação e produzir conhecimento. A larga produção de registros do conhecimento científico, como lastro da sociedade moderna, fez emergir – em profusão – demanda pela informação contida nos documentos arquivísticos. Arquivistas, bibliotecários, historiadores, não raro, todas as competências em um só profissional – tido como o “guardião” dos registros do conhecimento – passam a representar a erudição, tornam-se os custodiadores da matéria prima do conhecimento científico. Esses protetores do saber formal tecem-se como representação social, contextualizados com Reforma Protestante; a “Revolução de Gutemberg” – tempo da Bíblia de 42 linhas, das oficinas e corporações dos tipógrafos da Mongúncia da (LYONS, 2011, p. 55-59) – e da Contra Reforma. Foi a temporalidade das Histórias intocadas dos monastérios da Idade Média tornaram-se “reveladas”, pois: “desse momento em diante, a caça aos documentos da história eclesiástica incrementou-se, com alegria atiram-se a elas os eruditos”(GLÉNISSON, 1977, p.88). A Era Moderna inaugurou uma nova missão à instituição arquivo, entendendose, arquivo, como uma extensão da burocracia do Estado laico e, dessa realidade de guarda demandou-se ordenação e controle estratégico da matéria do arquivo – os registros – como fonte as pesquisas. Nunca é demais reiterar que essa conjuntura ganhou rigor científico, no fim do século XIX, com a publicação do Manual do Holandês. Essa obra é tida como “clássico” da arquivologia, “marco inaugural do que se poderia chamar de uma disciplina arquivística, como campo autônomo do conhecimento” (FONSECA, 2005, p. 32). Destarte, por natureza o arquivo pode ser conceituado como “princípio” – arkhê – (DERRIDA, 2001), situa-se como lugar de guarda onde se depositavam registros das práticas humanas na antiguidade, “pois não há arquivo sem um lugar de consignação, sem uma técnica de repetição e sem certa exterioridade, não há arquivo sem exterior”. (DERRIDA, op.cit., p. 22). Nesse contexto de tempos moderno que o arquivo passou a agregar também o “valor secundário da documentação” (SILVA, 2009, p. 95). Assim, os recursos de informação (HJØRLAND, 2000, p. 35) arquivísticos: arquivo e documento saíram do status de informação – in natura –, matéria para ser guardada, esquecida, ou silenciada, e se torna conhecimento científico em potência. 221
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A arquivologia apesar de habitar um lugar de disciplina auxiliar – subordinada à História – tornou-se domínio de privilegiados, frente às dinâmicas de controle social vigente. Revestiu-se de prestígio e autoridade, mas também provocou ações destoantes e premonitórias à natureza de um arquivo, pois, “o Iluminismo deu veste cultural à Arquivística foi também germe de consideráveis desvios” (SILVA, 2009, p. 96). O Arquivo moderno funda-se “guardião” das representações administrativas dos Estados nações, um laboratório às substâncias da História; uma instituição aparentemente “neutra” e fechada – como suas séries documentais (COOK, 1998, p. 134). Assim, como um local para guardar “essências”, tesouros e segredos o arquivo constituiu-se como braço dos Estados Nacionais, mas nem sempre acompanhou às dinâmicas e ressignificações da sociedade no percurso até a contemporaneidade. O que impulsionou à arquivística na modernidade como campo profissional e “disciplinar”, também a conduziu para um “fazer” desatrelado da discussão do “saber” epistemológico. Persistiu a cultura do “saber-fazer”, pois: “os princípios tradicionais da arquivísitica derivaram quase que exclusivamente das experiências pessoais dos autores (como: os do manual holandês, Casanova, Schellenberg, Jenkinson, ...), como custodiadores de arquivos institucionais de governo e dos problemas com que se defrontaram na organização e descrição de tais documentos” (COOK,1998,p. 133). A crise da Modernidade não desconstruiu os processos culturais vigentes, consolidando outros, ainda persistem e se mesclam às práticas sociais da contemporaneidade, ações individuais e coletivas do tempo em xeque. Desdobrandose a questão para o âmbito da cultura de guarda arquivística memorial observa-se que não houve a eliminação do velho paradigma – custodialista –, por um novo. Ocorreram descontinuidades de alguns processos sociais, e, a ressignificação de outros, modelados por abstrações humanas pertinentes à conjuntura vigente, pois “o modernismo tem sido a ampliação esquizofrênica da transformação de pedras, plantas e animais em produtos do homem e em sua civilização moderna” (BUARQUE, 2014). É relevante dizer que os entrevistados selecionados no âmbito da gestão de estoques memoriais, descobriram-se em totalidade historiadores. Essa observação à primeira vista pode suscitar conflito, mas propõe contexto interdisciplinar à realidade à medida que houve trânsito entre saberes afins pela competência em História, seja pela formação continuada em curso de Pós-graduação Ciência da Informação (CI). 222
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Diz uma gestora: aqui mesmo, eu tenho mestrado em CI, mas não tenho doutorado. Estou buscando isso. Acho que a capacitação é muito importante para que as pessoas, primeiro saibam o que fazer e tenham consciência de como fazer, depois saber onde e como buscar os conhecimentos necessários. Em contraponto, mas na mesma realidade, vêm à tona permanências custodialistas “danosas” à memória que por costume, ou concessão, impõem atuação profissional a quem da práxis e epistemologia arquivística na gestão de um estoque memorial, seja por descaso, seja pela não compreensão da natureza de um arquivo hoje. “Há tempo, um ilustre escritor foi convidado para dirigir o Museu Nacional de Belas Artes (Brasil- grifo nosso) e, ao saber que não teria carro oficial, recusou o cargo” (GASPARI, 2015). Abstrai-se também como, politicamente, os recursos memoriais são entendidos por meio do seu valor de bens patrimoniais a serem protegidos e partilhados, pela sociedade. Agrega-se à reflexão o pressuposto de que não é senso comum tal reconhecimento, pois é campo de produção de conhecimento e aprendizado afeito aos domínios da memória. São os cientistas que, interdisciplinarmente, devem travar essa cruzada, militar para alargar o entendimento de consciência cultural que protege e valoriza a memória como valor patrimonial das sociedades. Destarte, observa-se que é necessário o comprometimento efetivo dos que possuem fé de ofício, “esforços da arquivística centrada na formação da memória da sociedade” (COOK, 1998, p.132) e de modo determinante a presença do Estado como gestor maior. Das discussões acima é possível ter como desdobramento que a guarda memorial arquivística não tem tido prioridade nas agendas governamentais. Contudo, tem-se como resultado de análise documental que houve mudanças no tratamento dessa questão cultural no âmbito da governança nacional, pois, identifica-se que no Brasil os investimentos para preservação arquivística memorial acenderam nos últimos anos. Segundo documento institucional de levantamento técnico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na última década os financiamentos para cultura no âmbito da preservação de acervos memoriais cresceram (BALBI, et. al. 2014). No caso do BNDES, esse novo panorama de ação política positiva vem decorrendo da aprovação de projetos, via seleção pública e da progressão de valores monetários oferecidos pelas “operações não reembolsáveis para economia da cultura” 223
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(BALBI, op. cit.). Há como observação de pesquisa dados que apontam nessa “nova” realidade a percepção, ou sensibilização do “gestor maior” da memória nacional também por meio do Ministério da Cultura (Minc), em realce, via Edital Afro-brasileiro (2014). Essas ações estão longe do caráter de proteção, amparo e seguridade pertinentes aos entes memoriais nacionais, mas são passíveis de abrirem jurisdição, pois: o que eu vejo (diz uma gestora – grifo nosso) nessa questão de nova realidade do Brasil são os editais, que antes não existiam. Depois da Lei Sarney você vê a questão de investimento do BNDES, da Petrobras, da Caixa Econômica, o Itaú Cultural, Vê toda uma questão de política cultural no país. É uma realidade que eu tenho visto crescer. O próprio FUNCULTURA em Pernambuco apesar de ter só uma linhazinha (para arquivo- grifo nosso) existe. Conclui a especialista: mas também é necessário que as pessoas exijam da FUNDARPE que melhore essa linha de financiamento para a questão do arquivo, não é? As análises postas abrem ao entendimento de que, concomitante as parcimoniosas políticas públicas descritas, às práticas arquivísticas custodialistas são dinâmicas também em curso. Expressam-se como conjunto de fenômenos sociais que atua de forma não linear, em processo contínuo e, raramente, conduzem à informação memorial via fluxo colaborativo, interoperativo e acesso multiusuário. Há, portanto, a permanência do custodialismo em trânsito com modelo pós-custodial de expertise técnica e lógica de preservação memorial como o caso da RMP. É testemunho: a questão do profissional, a capacitação de pessoas para trabalhar nessas áreas (acervo memorial- grifo nosso), a questão da tecnologia é uma coisa muito séria. Se gasta muito dinheiro fazendo o mesmo serviço, com práticas mal elaboradas, sem um padrão. Então, são várias coisas que passaram a ser discutidas como problemas comuns (às instituições - grifo nosso). O que fazer? Iríamos ficar de braços cruzados? Cada um trabalhando em sua própria instituição, o tempo passava, um conseguia uma coisa, ou outra, mas no todo, ficava a mesma coisa. E se passou a pensar na criação da Rede Memorial, que iniciou em Recife – PE. As reflexões emergiram como produto da análise e aponta leque de causasefeitos que traça um horizonte de crise agravada pela natureza custodialista da praxis de guarda memorial arquivísitica, ainda impregnada da epistemologia historicista. A emergência dessa discussão é real e clama por diálogo interdisciplinar, por entre as fronteiras das ciências do conhecimento, como a CI. No âmbito da guarda memorial 224
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arquivística a CI vem ponteando “outros” e “novos” contextos de epistemologia e praxis frente à possibilidade de uma gestão memorial compartilhada, interoperativa e mais segura às vicissitudes do homem e do tempo para com a memória.
4. DISCUSSÃO POSSÍVEL: REDE MEMORIAL PERNAMBUCO. Uma existência em crise, como a realidade da preservação memorial arquivística, precisa ser enfrentada com um “regime de exceção” (GALINDO,2014). Reitera-se que, quiçá, com mudança de paradigma cultural, com transformação da obsolescência em algo novo e inusitado. Trabalhar uma crise, portanto, é ter em mente que a realidade não se resume a relação de causa e efeito, tecida por respostas simplistas como a “falta de espaço” para abrigar uma massa documental e por isso se tem que descartar. Bom, ao impossível ninguém é obrigado, mas alpendre com prateleiras de cimento ela (instituição judiciária – grifo nosso) pode pagar, disse um profissional da área de pesquisa quando analisava a gestão documental de determinada instituição judiciária federal. Toda realidade tem natureza complexa e em crise os efeitos são potencializados, requerem atitudes planejadas, pensadas estrategicamente, não apenas abrandadas com ações de resgates. A militância no âmbito de ações de salvaguarda é sempre louvável, senão muitas memórias já teriam sido esquecidas. Mas, historicamente, o custodialismo – entendendo o também como colecionismo – pode ser prática consuetudinária, uso e costume individual ou coletivo, realidade social construída de subjetividades que chega à atualidade como arquétipo de gestão institucional à moda tradicional, risco à memória. Expõe-se, entre rupturas e permanências, em descompasso com a concepção epistemológica pós-custodial imprescindível ao gerenciamento de uma memória arquivística. “É, sobretudo, com mais frequência do que podemos imaginar a decidida vontade de fazer com que eles (os recursos de memória – grifo nosso ), jamais tivessem existido” (POLASTRON, 2013, p. 12). A reflexão sobre a natureza custodial como uma prática “danosa” à memória é uma realidade contemporânea cujos debates tomam cursos interdisciplinares, balizados na premissa de que: poder de guarda deve ser substituído pela necessidade de difusão e acesso da informação. Essas reflexões sugerem mudança de paradigma vislumbra o fluxo da memória de um contexto de privilégio, 225
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exclusivismo, ao uso e aceso da informação de forma democrática. A recuperação da informação através de estratégias técnicas e lógicas é no tempo presente matéria da Ciência da Informação, já que nessa perspectiva disciplinar o valor de um acervo arquivistico é sistêmico e processual. É fluxo que se desloca com os processos de hominização e humanização frente ao desenvolvimento cognitivo, perpassando a subjetividade de cada indivíduo ou coletividade. É memória – informação como fenômeno social – que desde as incertezas da modernidade vem movendo-se da totalidade do conteúdo ao partilhamento social, pois é nesse locus onde se operam as trocas de significados e a produção de conhecimento. É também registro do conhecimento que se transforma em meio e forma a partir do processo de dessacralização, tanto pela perda do valor de chancela da verdade documentada, quanto pela desmaterialização do suporte de impressão e do espaço de guarda. Registro do conhecimento arquivístico é “saber patrimonial” (HOLANDA, 2012). Esse pressuposto justifica e reitera o diálogo da guarda arquivística memorial pelo crivo da CI, campo produtor de conhecimento onde o conceito de documento é múltiplo e polimórfico, é informação, que fermenta o fenômeno social de guarda arquivística memorial ao modo pós-custodial na contemporaneidade. Desde que a informação passou a referendar os sistemas vivos por códigos, ou signos, desencadeou-se a perspectiva de guarda pós-custodial como realidade social, que não deixa dúvidas sobre a necessidade de se apreciar continuamente o caráter, a composição e a interferência da informação na vida cotidiana como um direito de todos e dever do Estado. Há referências de que Terry Cook (1998) foi o pioneiro – “pai” – das reflexões acerca da realidade “pós-custodial” (FONSECA, 2005, p.60), ao discutir o necessário (re) alinhamento da arquivística no tempo presente frente às práticas tradicionais. Suas análises criticizaram o ideal Moderno frente ao paradigma da Pós-modernidade, na instituição “arquivo”, no fim do século passado. Abordou o conceito de póscustodia pela premência do documento eletrônico, pois: “o que se precisa agora é de uma perspectiva teórica bem diferente: já que existem bilhões de séries correntes de registros em multimídia a serem avaliados dentro de organizações instáveis” (COOK, 1998, p. 138). Hoje essa perspectiva já solidificada se lastreia nas discussões teóricas de Ribeiro (2005) e Silva (2009) que também vão de encontro à prática custodialista
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historicista e possibilitam o alargamento do entendimento da natureza de documento, informação e memória a partir das concepções científicas emergentes da CI. As reflexões pós-custodiais respondem demandas sociais de um “novo” entendimento de preservação da informação arquivística, nessa conjuntura a produção, conservação, distribuição, acesso e consumo da informação perpassa “novos”
conceitos
como:
velocidade,
fragmentação,
multiplicidade,
desterritorialização, virtualidade, simulação (HOLANDA, 2012). Essas definições colidem com as práticas de custódia arquivísitica tradicional afeitas ao tecnicismo, guarda, colecionismo e subserviência profissional de “disciplina auxiliar” que a arquivologia, não raro, adota, por quase dois séculos. Um “novo” ou “outro” diálogo possível vem se tornando imperativo, para dar conta de questões pertinentes à realidade custodialista que agudizada, no tempo presente, seja pelo volume de documentos produzidos, pelos critérios técnicos adotados de seleção/avaliação, ou pela perspectiva de acesso à informação como direito do cidadão. Para além de uma existência natural de adversidade dos estoques de memória, o documento tomou diferentes configurações e se tornou informação armazenada em suporte físico, ou não, frente ao desempenho tecnológico do século XX. Com efeito, a simbiose entre a informação e a tecnologia digital veio por em causa a noção estática e clássica de documento como conceito operatório e como objeto de conhecimento e assinalou a entrada dos Arquivos e das Bibliotecas na chamada “era pós-custodial”. (RIBEIRO, 2005, p. 80).
As práticas arquivísticas institucionais e a fala dos gestores de memória arquivística qualificam o custodialismo como ação humana presente, apesar da obsolescência declarada desse. Tem-se relatado o parecer de um profissional da área se conservação documental: esse acervo deveria ficar guardado até que fosse digitalizado, porque ele está se acabando, daqui a pouco vai cair os pedaços todo. Com indignação, responde uma gestora, mestre em CI: ele vai ser sim acessado (o acervo – grifo nosso) Ele está aqui para isso, para ser pesquisado, senão prá que eu estou aqui? Para guardar um tesouro dentro de um cofre? A apreciação crítica suscita resposta à questão do que impede a adoção de “boas práticas”10 de guarda arquivística memorial, mesmo diante da nova visão
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A expressão idiomática - “boas práticas (de preservação)” - utilizada na pesquisa é o termo adjetivado para fazer a relação com práticas arquivísticas pós-custodial, nas quais se podem identificar técnicas eficazes para contemplar às demandas da guarda memorial na contemporaneidade.
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paradigmática de caráter pós-custodial. Insta saber quais os trâmites sociais que, não raro, inviabilizam o cumprimento da função social dos registros de memória. São reflexões que carece alargamento epistemológico que possa dar ao cientista social visão e habilidade para desatar os nós dessa realidade complexa. Para conceder à custódia arquivística memorial fluidez e existência compatível com as demandas sociais vigentes. A realidade é de emergência paradigmática e de proposituras à nova perspectiva de preservação memorial que, adotando as novas tecnologias, possam clarear os domínios da memória. Foi, portanto, nesse cenário de dificuldades e necessidades – tempos de crise – que se fez o “Momento Zero da RMP” (GALINDO, 2015), quando em 2005 surgiu o Clio, como resultado dos primeiros diálogos entre a Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ) e a UFPE11. Foi uma problematização sobre como somar esforços – no âmbito de recursos humanos e tecnológicos – para “juntos” e de forma sistêmica cuidar dos recursos memoriais institucionais do Estado. O enfoque do texto, assim, buscou alargar os conhecimentos acerca da existência lógica e instrumental da RMP, que mesmo não tendo “natureza orgânica”, não sendo um ente institucional, há quase uma década produz ações efetivas na área da preservação memorial (GOUVEIA, et, al, 2015) ao modo pós-custodial. O não (re) conhecimento pleno da RMP – mesmo no âmbito acadêmico – pode ser sinalizado pela dificuldade e falta de visão na concepção fundante da rede como um sistema aberto. A ideia de memória em rede de colaboração incita reformulação paradigmática e epistemológica e não pode ser adotada sem sair de zona de conforto do status quo, sem trabalhar o conflito, sem repartir dúvidas, ou deixar de buscar o bem da coletividade por meio de ações cooperativas. E “cooperação pode ser definida, sucintamente, como uma troca em que as partes se beneficiam” (SENNETT, 2012, p. 15). Esse é um dos fios-guias da RMP, mas que pode encontra blindagens seja pela natureza (des) habilitada à cooperação do sujeito na contemporaneidade (SENNETT, 2012), seja pelo efetivo (des) conhecimento do que a RMP, pois, há problemas políticos, testemunha um representante de uma instituição partícipe da RMP. Segue narrando: acho que a questão do conhecimento e a visão do que é (a Rede – grifo nosso). O que é a Rede? A Rede? Está institucionalizada? A gestora diz 11
CLIO – gerenciamento de acervos digitais. Disponível em: http://www.liber.ufpe.br/clio/. Acesso em: 24/05/2015.
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que lhe perguntam: o que isso? Uma reunião para tomar chá e café? Concluindo seu testemunho, é incisiva: as pessoas não entendem o que é isso, é tudo muito novo. Ela é nova (a Rede – grifo nosso), a ideia é nova. Ai vai dar um tempo para amadurecer.
5 CONCLUSÕES Por meio dos desdobramentos das análises considera-se que os objetivos foram atingidos e contemplaram a natureza do problema. A hipótese levantada de que as práticas custodialistas são ações e também “costumes” promotores de esquecimento à memória arquivísitica foi conhecimento alargado, em algumas perspectivas. Foi também observado que esse fenômeno social não se expressa de forma homogênea, pois há ocorrências multifacetadas que coexistem na presença de outras práticas, ou, outro modelo de custódia memorial. Os instrumentos de investigação, portanto, mostraram-se eficientes na proposta da análise de conteúdo para que os resultados desse sentido aos significados do corpus da pesquisa. Este artigo visou incitar o leitor, especialista, ou não, à reflexão de que o valor da guarda arquivística memorial está na no acesso, realidade possível por meio das práticas de guarda ao modo pós-custodial. A perspectiva foi ir às origens históricas da arquivologia para qualificar o fenômeno, identificando as possíveis causas-efeitos, ou saídas, como a RMP. Também foi observado que a validação da memória como “bem patrimonial” não é senso comum, é campo de abstração, ou de produção de conhecimento e aprendizado afeito aos domínios da memória. São os cientistas que interdisciplinarmente devem travar essa cruzada para alargar a consciência da proteção e valorização da memória com constructo cultural das sociedades. O texto dista-se de uma conclusão pelas problematizações que derivaram da pergunta norteadora, sobre a quem cabe à autoridade de gerenciar um fluxo de informação memorial arquivística? Os resultados deixam evidente que a ação do poder público é característica determinante à persistência dessa realidade de cultura de descaso e omissão para com a memória arquivística e que a concepção de memória disposta em rede de colaboração é uma realidade. RMP é uma ambiência lógica, portanto, que vem lastreando mudanças culturais no âmbito da guarda arquivística e se deixa refletir como manual às boas práticas de preservação memorial, já que tem como princípio, ou missão “promover cooperação interinstitucional através da realização de programas estratégicos de 229
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promoção, preservação e acesso ao patrimônio memorial e informação de interesse histórico, custodiados por instituições de missão memorial de Pernambuco” (CARTA DO RECIFE, 2011).
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15 ACESSO A MEMÓRIA BRASILEIRA EM ARQUITETURA E URBANISMO: DIGITALIZAÇÃO E ACESSO ONLINE À REVISTA ACRÓPOLE ELETRÔNICA
Marcia Rosetto mrosetto@usp.br 1
Dina Elisabete Uliana uliana@usp.br Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo (USP).
Resumo: A revista Acrópole (1938-1971), publicação especializada e pioneira na área de arquitetura do país, é considerada como um dos mais importantes registros documentais de uma época da cultura brasileira. Pretendeu-se com a digitalização garantir a preservação e conservação desta memória, tanto no formato impresso como no digital, e expandir o acesso aos pesquisadores e público em geral por meio da rede Internet a conteúdos de significativa importância em âmbito nacional e internacional. A consolidação de conhecimentos e desenvolvimento de competências específicas de uma prática de documentação nesse âmbito também foi um dos objetivos, propiciando as condições necessárias para a continuidade de digitalização de outros títulos de revistas brasileiras relevantes nessa área. Palavras-Chave: Revista Acrópole; Digitalização; Acesso Online; Arquitetura e Urbanismo.
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1 INTRODUÇÃO As coleções que compõem o acervo das Bibliotecas da Universidade de São Paulo (USP) se entrelaçam com a própria história de São Paulo. A instalação da Biblioteca Pública em 1825, terceira do País e incorporada à Faculdade de Direito quando instituída em 1827, teve um valor significativo naquele momento do Brasil (DEACECTO, 2011). Posteriormente, outros acervos bibliográficos foram sendo constituídos em função da organização de instituições de ensino e pesquisa no Estado, e incorporados à USP quando de sua criação em 1934 (ANNUARIO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1936).12 Com a expansão da Universidade, outras coleções foram incorporadas oriundas de segmentos governamentais, instituições de pesquisa, entre outros. Desde sua instalação, a USP estruturou inúmeras faculdades e institutos, incluindo nesse contexto a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo criada em 1948, mas cujo curso já existia conjuntamente com o de Engenheira da Escola Politécnica no período de 1894 a 1931. Nesse sentido, o acervo acumulado ao longo dos anos nessa temática é centenário e relevante para o ensino e pesquisa, sendo compreendido como um patrimônio cultural e, conforme Carsalade (2104, p.183), “Uma das primeiras funções que se associam ao patrimônio é a nossa necessidade psicológica de lembrar. ‘Preservar a memória de fatos, pessoas ou ideias, por meio de constructos que as comemoram, narram ou representam, é uma prática que diz respeito a todas as sociedades humanas’. Assim, os objetos e práticas que sobrevivem ao tempo seriam importantes referências vivas para a nossa lembrança e, como tal, seria bom que continuassem sobrevivendo ao tempo”. Nesse caso especificamente, considera-se como sendo um patrimônio informacional que pode ser entendido como um legado recebido de conhecimentos que depende não somente da memória, mas principalmente da sua preservação, recuperação e acesso para uso futuro (HISTÓRIA, Memória e Patrimônio Universitário, 2012). 13 12
Em sua concepção a USP incorporou: Faculdade de Direito (1827), Escola Politécnica (1893), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (1901), Faculdade de Medicina (1912), Faculdade de Farmácia e Odontologia (1919), Escola de Belas Artes (1925), Instituto de Educação (1933), Faculdade de Medicina Veterinária (1934, originária do Instituto de Veterinária de 1919), Faculdade de Ciências Econômicas e Comerciais (1940), e criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (1934) considerada como um marco em termos de estrutura universitária existente até aquele momento no Brasil. 13 A questão do patrimônio informacional está necessariamente relacionada ao documento que tem o significado de prova, instrumento, testemunho. Segundo Le Goff (2003), há dois tipos de materiais considerados como produtos da memória coletiva construída pelas sociedades e que podem subsidiar
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Acompanhando essa tendência, em 2012 a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP (PRCEU) lançou o Edital de Preservação de Acervos e Patrimônio Cultural com o propósito de institucionalizar ações e estratégias para aprimorar as condições de preservação e acesso ao acervo especial e memória institucional, o acondicionamento e conservação de revistas técnico-científicas, e formulação de metodologias que favorecessem a pesquisa e a capacitação continuada visando à formação de competências, geração e disseminação de conhecimento dentro e fora da Universidade. A partir dessas proposições, a Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAUUSP), que possui um rico acervo incluindo os principais periódicos nacionais, encaminhou o projeto de “Digitalização e Acesso Online à Revista Acrópole: Conservação e Preservação da Memória da Arquitetura e Urbanismo”. A arquitetura como tema autônomo manifestou-se nos anos de 1950-1960 com a circulação de quase uma dezena de periódicos especializados, incluindo a Acrópole, que foi uma revista pioneira na divulgação da arquitetura paulista e brasileira e caracteriza-se atualmente como uma fonte significativa pela sua raridade, pelo seu conteúdo e subsidia estudos historiográficos, epistemológicos e culturais (SEGAWA, 2002). A Revista Acrópole foi lançada como periódico mensal em maio de 1938 sob a direção de Roberto A. Corrêa de Brito, e a partir de 1953, Max M. Gruenwald a dirigiu até a última edição nº 390/391 de novembro/dezembro de 1971. Contando com a colaboração de arquitetos, consultores e colaboradores, foram sendo delineadas durante esse período as diversas linhas editoriais da revista compondo um importante testemunho de época (ALMEIDA, 2008). Nesses pouco mais de 34 anos de publicação ininterrupta, a revista trouxe em suas páginas realizações desenvolvidas por arquitetos de todo Brasil e principalmente de São Paulo, servindo como suporte para um diálogo de alcance nacional e internacional e uma fonte extremamente importante de artigos e números especiais sobre projetos brasileiros.
pesquisas: os monumentos e os documentos. A significação da palavra documento transformou-se ao longo dos anos até alcançar o significado de prova, amplamente usado no vocabulário legislativo e, a partir do século XVII já se difundia na linguagem jurídica francesa com a expressão Titres et Documents. Com o sentido moderno de “testemunho histórico”, dataria a partir do início do século XIX, e as informações sobre o passado são a base de pesquisas e podem estar em diferentes tipos. Do ponto de vista da documentação, tradicionalmente o documento é definido como resultante de uma inscrição em um suporte, com ênfase na inscrição textual e um suporte de papel, e associa a noção de registro (SMIT, (2008).
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Segundo Segawa (2014), a Acrópole foi uma revista pioneira na divulgação da arquitetura brasileira e sobre as tendências e a evolução em direção aos preceitos do moderno. A revista caracteriza-se também como uma importante fonte para pesquisadores de várias áreas do conhecimento e com alcance multidisciplinar e, além disso, é objeto de estudos em pesquisas realizadas em cursos de pósgraduação em diversas universidades. Ao longo de suas edições registrou projetos e obras de edifícios, urbanização, paisagismo, desenho industrial, comunicação visual, arquitetura de interiores e detalhamento arquitetônico; textos teóricos, divulgação de pesquisas, resenhas de livros e revistas e noticiário de interesse para a categoria profissional; informes técnicos sobre sistemas construtivos, especificações de materiais e temas relacionados ao desempenho dos edifícios. O conjunto das propagandas veiculadas pela revista é um registro para o conhecimento do quadro industrial e tecnológico da construção civil brasileira ao longo de três décadas. Graças ao zelo de muitos arquitetos e seus descendentes, que doaram suas coleções, ou de pacientes aquisições em livrarias de usados, a revista repousa em acervos no país e até no exterior. Se a Biblioteca da FAUUSP guarda uma coleção completa da revista, isto se deve à generosidade de seus professores, ex-alunos e outros benfeitores que permitiram realizar tal façanha (SEGAWA, 2014). Em sintonia com esse contexto da preservação de acervos, a Biblioteca da FAUUSP, uma das contempladas com os recursos advindos do Edital da PRCEU, desenvolveu o projeto para a digitalização da Revista Acrópole elaborando uma metodologia que proporcionasse as condições adequadas à preservação dessa documentação e proporcionasse o acesso à coleção completa dos textos e imagens em formato digital, através de um Website especifico para esse fim. O projeto contou com o apoio desde o seu início das herdeiras do diretor-proprietário da Revista Acrópole, pertencente à Editora Max Gruenwald & Cia., cientes da importância desse legado e da disponibilização digital como subsídio à pesquisa científica.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Nos últimos anos a comunicação e a divulgação científica ganharam uma amplitude exigindo novas formas de organização e disseminação da informação, sendo elaborados, com o apoio de tecnologias de informação e comunicação (TIC), sistemas e redes de informação, bases de dados, incluindo-se nesse contexto as 238
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bibliotecas digitais e virtuais, portais de revistas eletrônicas e os repositórios institucionais que propiciam o acesso online ao imenso volume de registros bibliográficos e textos completos. De acordo com Sayão (2012), o conhecimento existente sobre preservação e acesso a recursos digitais já resultam num conjunto de estratégias, abordagens tecnológicas e atividades que são coletivamente conhecidas como ‘curadoria digital’. Esse conhecimento propicia as condições necessárias para a realização de iniciativas que visam promover o acesso a conteúdos existentes em acervos bibliográficos, coleções especiais e repositórios de informações considerados como parte do universo patrimonial e cultural (tangíveis e intangíveis) e conectados às práticas de conhecimento, ensino e pesquisa (HISTÓRIA, memória e patrimônio universitário, 2012). Tendo como uma das linhas de ação a “Preservação de Acervos e Patrimônio Cultural”, o edital lançado em dezembro de 2012 pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da USP (PRCEU), proporcionou as condições necessárias para a realização do projeto para a digitalização da revista Acrópole conforme os procedimentos exigidos. Com base nesses recursos o projeto foi constituído das seguintes etapas:
Análise dos direitos autorais.
Realização de licitação de acordo com normas da Universidade.
Reprodução integral em meio digital da revista.
Tratamento das imagens digitalizadas com foco na preservação e acesso público.
Elaboração de arquivos matriz em alta resolução.
Tratamento dos documentos digitais para instalação do banco de dados da coleção.
Organização de Website para a busca e acesso em microcomputadores e plataformas móveis como tablets e smarthphones.
Aquisição de servidor exclusivo para o projeto.
Elaboração de procedimentos para a preservação dos arquivos digitais.
Instalação do aplicativo Google Analytics para acompanhar o acesso e obter dados estatísticos de visitação à coleção digital.
Além das etapas acima indicadas, o projeto pretendeu também desenvolver um modelo metodológico de digitalização para esse tipo de material com a intenção de consolidar competências e elaboração de diretrizes técnicas e operacionais que 239
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propiciassem condições para a realização de novos projetos de digitalização para a disponibilização de outros conteúdos de publicações especializadas de igual relevância para as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
3 RESULTADOS E CONCLUSÕES Conforme Pinheiro (2011), os periódicos propiciam informações valiosas para as pesquisas, e nesse universo encontram-se os periódicos brasileiros que consolidam, de uma maneira plural, as tendências arquitetônicas e informações profissionais realizadas no país. Com a implementação das etapas delineadas para o projeto, a partir de junho de 2014 foi aberto o acesso ao rico repositório informacional da Revista Acrópole em meio digital através de Website especialmente realizado para esse fim, como pode ser visto na Figura 1. Os procedimentos elaborados para a digitalização desse tipo de documento proporcionaram a consolidação de competências e diretrizes técnicas e operacionais que vão possibilitar a orientação de novos projetos para a disponibilização de outros conteúdos de igual relevância tanto na USP, como em outras instituições da esfera da educação e de pesquisa. A concepção metodológica e os processos decorrentes propiciaram as condições para:
Preservar os originais durante o processo de digitalização, garantindo a integridade física da coleção.
Produzir representantes digitais de qualidade de modo a garantir legibilidade e também permitir a geração de produtos tais como fac-símiles de paginas e de fascículos.
Substituir as consultas, pesquisas e cópias reprográficas a partir dos originais da revista por representantes digitais, permitindo a preservação dos originais.
Criar um Website para acesso aos 391 fascículos da revista Acrópole Eletrônica que representa um conjunto de aproximadamente 23 mil arquivos digitais com acesso rápido e de fácil navegação.
Ter um padrão estético compatível para posteriores customizações.
Além das etapas acima relacionadas, o projeto previa também a inserção de links, já efetivados, nos registros indexados no Índice de Arquitetura Brasileira,14 14
Disponível em: https://bibfauusp.wordpress.com/biblioteca-virtual/indice-de-arquitetura-brasileira/
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mantido pela Biblioteca da FAUUSP desde 1960, oferecendo para os usuários as facilidades de consulta e uso a esse acervo especializado. Complementarmente, foram elaborados para o Website textos que orientam sobre a Revista Acrópole e formas de pesquisa. Durante a sua implantação inúmeros testes e ajustes foram realizados para a operacionalidade adequada. Quanto aos aspectos de gestão, procedimentos metodológicos foram elaborados para a preservação das imagens matriz em seus vários padrões, realização de back-up em nuvem e hard disk (HD), e manutenção de servidor e suas conexões em rede, conforme representação da arquitetura na Figura 2. Figura 1 - Website da Revista Acrópole 15
Fonte: http://www.acropole.fau.usp.br
15
Disponível em: http://www.acropole.fau.usp.br
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Figura 2 - Configuração da Arquitetura da Acrópole Eletrônica
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Recuperar e abrir a coleção completa da revista Acrópole em formato digital é, primeiramente, trazer de corpo inteiro um testemunho de período à espera de desvendamentos por parte de pesquisadores das mais distintas disciplinas. Desde a abertura do acesso online em 25 de junho de 2014, o Website registra mais de 140 mil visualizações conforme dados estatísticos proporcionado pelo sistema Google Analytics (Figura 3). Além disso, o atendimento de solicitações pessoais também foi ampliado com o fornecimento de imagens em alta resolução para inúmeros tipos de aplicação.
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Figura 3- Dados estatísticos quanto ao acesso e visualização de páginas da Acrópole Eletrônica (período: 25.06.2014 - 07.06.2015)
Fonte: https://www.google.com/analytics/
Pode-se afirmar que esse produto traz benefícios à comunidade usuária e é um modelo conceitual para a digitalização de outros títulos de igual relevância para a pesquisa em arquitetura e urbanismo e áreas afins. A metodologia construída pode favorecer a capacitação continuada, visando à formação de competências, geração e disseminação de novos conhecimentos. A partir da realização do projeto foi ampliado de forma significativa o acesso à revista Acrópole aos pesquisadores e o público em geral, considerada pelos especialistas como um dos principais acervos de um importante período de desenvolvimento de novos conceitos na área de Arquitetura e Urbanismo em São Paulo e no país.
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16 LA FUNCIÓN DEL ARCHIVISTA EN LA ADMINISTRACIÓN PÚBLICA EN MÉXICO
María de los Ángeles Pérez Macuil mapema1077@hotmail.com Doctorado en Ciencias de la Documentación Universidad Complutense de Madrid (UCM) Facultad de Ciencias de la Documentación
Resumen:El presente trabajo es un estudio sobre la función del archivista en la administración pública en México bajo dos ejes de análisis: la formación profesional y el perfil requerido para poder desempeñar su función en este siglo XXI es primordial, garantizar el acceso a la información. A través de una revisión de la oferta educativa a nivel superior por un lado y, por otro el desarrollo propio de la profesión mediante la inserción de tecnologías de la información y la comunicación y su regulación a través de un marco legal, plantear si la formación y el perfil del archivista en México son los requeridos para desempeñar su función primordial el acceso a la información, con ello garantizar la transparencia y rendición de cuentas de la administración pública gubernamental. A partir de este análisis comprender que el archivista debe verse como un profesional de la información, capaz de desarrollar habilidades y competencias para desarrollar sus funciones. La posición de ese profesional es central, porque es el responsable de la intermediación entre la institución y la búsqueda de la información, entre el usuario y el acervo, entre el documento y la representación de la información derivada de las acciones del gobierno. Se utilizó el método de investigación bibliográfica para localizar información en diferentes portadores especializados en la materia como: Redalyc.org, ENBA, BOE, entre otros, así como buscadores de Internet, que permitieron reflejar lo relacionado con el tema tratado. Palabras-Clave: Formación; Perfil; Administración Pública; Acceso a la Información; Archivista.
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1 FUNCIÓN DEL ARCHIVISTA Para iniciar este estudio hay que responder la siguiente pregunta ¿Cuál es la función del archivista en la administración pública hoy en día? en este caso en México y así después de un análisis considerar si la formación profesional y el perfil del archivista son los adecuados para desempeñar su función en una administración pública.
1.1 Función Tradicional La función tradicional del archivista ha sido desde que se creó la escritura y el hombre comprendió que los escritos son testimonio de su actuar, es decir, el Archivero (España) o archivista (México) “se presenta, en primer lugar, como el responsable del Patrimonio Documental de la comunidad humana a la que presta sus servicios. Pero, ¿qué es exactamente el Patrimonio Documental de una comunidad humana?, lo podemos definir como el conjunto de testimonios documentarios que constituyen el soporte de su memoria colectiva. Pero, ¿hasta dónde llega la responsabilidad del archivero de cara al Patrimonio Documental? Dos funciones le son universalmente reconocidas en ello como las principales: velar por la correcta conservación y tratamiento apropiado de esta parcela del Patrimonio, y garantizar el acceso al mismo por el mayor número posible de usuarios y en las mejores condiciones posibles”.16 La segunda función hace referencia un actuar más activo por parte del archivista.
1.2 Función Activa El Archivista paso de una función tradicional (pasiva) a una función (activa). Si antes estaba sobre todo ocupado en el tratamiento de la documentación de “segunda edad” esto es, histórica, hoy, por los factores mencionados, la principal preocupación de cualquier Sistema de Archivos y del personal que lo integra, es la documentación de “primera edad”, todavía viva administrativamente hablando.17 En México este cambio se dio a partir de la segunda mitad del siglo XX cuando el Estado mexicano comprendió y asumió la responsabilidad de hacer frente a esta responsabilidad, en buena parte porque la condición en la que se encontraban los 16
Aguinagalde Olaizola, Francisco Borja de (1984) Archivero: pasado, presente y futuro de una profesión en constante evolución. Cuadernos de Sección. Historia-Geografía (4). P. 15 17 Ibídem, P. 17
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
documentos se hacía cada vez más caótica como consecuencia de diversos factores, entre los que destacan el uso cada vez mayor de la tecnología, formas más ágiles de reproducción de documentos e incremento del aparato burocrático, por mencionar solo algunos.18 Así la función del archivista demandaba una gran labor, no solo por la de los tratamientos de los documentos, sino la de administrar los documentos generados por la administración gubernamental, le correspondía subsanar el rezago en que se encontraban los archivos de la administración pública en sus distintos niveles, federal, estatal y municipal,
que de hecho el peor de ellos lo tenía el
municipal, su función ahora consistía en la gestión y administración de los documentos que consiste en la implantación y gestión correcta del Sistema de Archivos de la administración se basa en la articulación perfecta de las transferencias de documentación de un depósito a otro (de los de gestión (archivo corriente y de depósito) al intermedio y de este al histórico) y de los expurgos a realizar, con el subsiguiente control de cada una de las operaciones (Aguinagalde Olaizola, 1984). A raíz de Ley Federal de Transparencia y Acceso a la Información Pública Gubernamental del 2002 de México, la función activa del archivista en México, se le agregaría una acción más, brindar un servicio de calidad en los archivos, no privilegiar, ni discriminar, tampoco ocultar información a los usuarios y a satisfacer sus necesidades de información, así garantizar la transparencia y rendición de cuentas de la administración pública en sus distintos niveles. Resumiendo el archivista en la administración pública su función se divide en dos: 1. El tratamiento de los documentos 2. Servir de enlace entre los ciudadanos y el gobierno. Una vez entendida la función de manera general del archivista en la administración pública en México, nos lleva una pregunta ¿realmente podrá cubrir esta función el Archivista en México?, la respuesta posible a dicha pregunta es que el archivista no puede llevar a cabo dicha función por su escaza preparación en archivos administrativos, posiblemente la pasiva si, por los historiadores que han ejercido esta función desde hace mucho tiempo y no profesionales en archivística, debido a que la formación profesional en nuestro país es mínima como se explica en el punto 2.
18
Ramírez Aceves, Merizanda M.C., Sánchez Espinoza, Ariel, Birrichaga Gardida, Diana, Beltrán Cabrera, Luz del Carmen., (2011). “El devenir histórico de la cultura Archivística en México” en Información, Cultura y Sociedad, vol. 1, núm. 1, junio-octubre, P. 46
248
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
2 LA FORMACIÓN PROFESIONAL DEL ARCHIVISTA Una de las constantes quejas que escuchamos no solo en los foros Académicos, sino que también leemos en distintas publicaciones tanto del ámbito Jurídico como del doctrinal, es la
ibliote de profesionales especializados en el
manejo de los documentos de archivo. Esto no puede ser otra cosa más que el inequívoco de la
ibliot
iblio atención que se ha puesto en los archivos, pues para nadie es
desconocido la situación sombría a la que los hemos llevado. 19 En México los archivos, han sufrido a través de la historia de nuestro país, catástrofes ( ibliotec, guerras, inundaciones, terremotos), transformaciones sociales (desarrollo de las instituciones, crecimiento poblacional, modernización administrativa) e inventos tecnológicos (aparición de la imprenta, invención de la máquina de escribir y de las computadoras, uso indiscriminado de
ibliotecár), por mencionar solo
algunos. En este dispendioso trayecto, que situamos desde el nuestros días, podemos percibir no solo las
ibliot colonial hasta
ibliotecári contra las que han bregado
los documentos sin que exista aun una solución definitiva que los rescate de la indiferencia social sino que, además, corroboramos la tardía aparición del archivista profesionalizado, como su más importante defensor. Insistamos pues, en que las instituciones no subsisten sin que
ibliote
generación de documentos que son el registro que da testimonio de sus acciones ibliot. Sin documentos no queda
ibliotecá del
ibliotecário institucional, mejor aún,
sin documentos organizados por la mano del hombre no es posible garantizar el acceso a la información, concepto que, hoy por hoy y sin lugar a dudas, conlleva al logro de sociedades
ibliotecá más desarrolladas en lo económico y más estables en
lo social; por lo que se requieren archivistas no historiadores que hacen de archivistas que ese es el común denominador en México, La razón tal vez por la que se da esta situación, es debido a que la educación archivística, por lo menos en México, se ha caracterizado por su los planes y programas de
ibliot presencia en
ibliot en las Universidades, en contraste con la
Bibliotecología que ha demostrado tener una mayor consolidación. Incluso el origen de aquella lo podemos situar a comienzos del siglo XX, lo que significa un
ibliotecá
ibliot en contraste con las escuelas europeas que datan sus inicios incluso antes del siglo XIX (Ramírez Aceves y otros, 2011). 19
Ibídem, P. 56
249
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Además si le agregamos que antes de la aparición de la formación académica de archivistas, se evidenciaba su
ibliote, los
ibliote que se ofrecían eran
ibliotecá,
haciendo inoperante y, sobre todo, inaceptable su desempeño en el interior de las instituciones. Como
ibliotecá para superar esta situación, se pensó entonces en la
formación de especialistas que asumieran la tarea de administrar los archivos del país.
2.1
Instituciones Educativas Como muestra se hace un revisión por la corta historia de la formación
ibliotecári del archivista en México, iniciando este recorrido por la primera institución que ofreció una formación Archiveros, la cual se siendo su primer
ibliotecári
iblio Escuela Nacional de Bibliotecarios y
ibliote en 1916 y estuvo adscrita a la Biblioteca Nacional,
ibliot el Profesor Agustín Loera Chávez (Yáñez, 2010).
Diversas transformaciones ha experimentado esta institución por diversos ibliotecário
sociales y políticos desde su creación en 1916 hasta 1966 cuando es
llamada Escuela Nacional de Biblioteconomía y Archivonomía (ENBA), tal y como se le conoce hoy en día. Sin embargo, no sería sino hasta 1975 cuando los cursos impartidos en la Escuela, que hasta ese momento se habían caracterizado por ser eminentemente
prácticos,
adquirirían
el
rango
de
Licenciaturas,
quedando
ibliotecário cuatro formaciones académicas, a saber: Profesional Asociado en Archivonomía, Profesional Asociado en Biblioteconomía, Licenciado en Archivonomía y Licenciado en Biblioteconomía. Finalmente y
iblio objetivo de formar un mayor
número de personas y descentralizar la educación que la Escuela impartía, al pretender
ibliote el rezago existente en las instituciones
archivísticas, en 1997 se impulsaría la
ibli de
ibliotecário
y
ibliotecá a distancia originando hasta el día
de hoy cifras alentadoras20. Otra institución que se
ibliote por la profesionalización de los archivistas
iblio
Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) también se estaba gestando la idea de formar profesionales en estas disciplinas. El antecedente más longevo ibliotecá que el primer curso que se ofreció fue en Biblioteconomía en el año de 1924 y treinta y dos años más tarde (1956) se ofertarían también en Archivonomía (Sotelo Linares, 2008). 20
Ibídem, P. 56
250
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Pero esto no sería suficiente, pues en 1954 se creaba en la Facultad de Filosofía y Letras (anteriormente Escuela Nacional de Altos Estudios) de la UNAM y el Colegio de Biblioteconomía y Archivonomía,
iblio fin de elaborar los planes de
ibliot
para la creación de ambas carreras. Después de un análisis terminológico exhaustivo fue en el año de 1966 cuando el nombre de esta institución cambiaría por el de Colegio de Bibliotecología y Archivología (UNAM, 2011). En 1975 el Colegio cambiaría su denominación a Colegio de Bibliotecología, el cual mantuvo hasta el 2002, año en que pasó a ser Colegio de Bibliotecología y Estudios de la Información. En
ibliot de investigación, en 1973 se había creado el Centro de
Investigaciones Bibliotecológicas y de Archivología (CINBA) en la misma Facultad de Filosofía y Letras de la UNAM,
iblio fin de formar investigadores y profesionales
especializados en ambas disciplinas. A pesar de lo anterior, el Centro
ibliotecário
ibl años más tarde, surgiendo de nueva cuenta en 1981 pero esta vez bajo el nombre de Centro Universitario de Investigaciones Bibliotecológicas (CUIB) el cual subsiste hoy en día (Fernández de Zamora, 2010).
1.2 Instituciones Gubernamentales Sin embargo, pareciera ser que el esfuerzo de profesionalizar estas instituciones no era suficiente, pues mientras se esperaba el
ibliot de las primeras
generaciones, el volumen documental en las oficinas administrativas ibliotecário
iblio creciendo
y sin ningún control. Para subsanar un poco esta situación, en la
década de los ochenta se dio a conocer el Programa de Modernización Archivística del Gobierno Federal. En este documento se asumía la
ibliotecário
e de capacitar
a los servidores públicos que trabajaran en ese momento en los archivos y que estuvieran a cargo del manejo y
ibliotecá de los documentos en ellos contenidos
(Ramírez Aceves, 2004). De esta manera, sin esperar
ibliotecá la formación
ibliotecári, se avanzó en
la capacitación de los servidores públicos que ya se encontraban lidiando con los problemas ocasionados por la
ibliotecá actividad documental. Para llevar a cabo
este cometido, se le asignó al AGN la tarea de instrumentar programas educativos acordes con la
ibliotec que en ese momento demandaba el país. El primer
ibli fue
diseñar una serie de cursos que estuvieron orientados a dos sectores de la administración pública fundamentalmente. Sin embargo, los cursos aislados que se 251
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
ofertaron tampoco fueron suficientes y en su lugar se tomó la decisión de elaborar una propuesta que no
ibli fructificar denominada Plan de
ibliote para la formación
ibliotecári en administración de documentos. Sus objetivos se encaminaron al control y
ibliotecá de los documentos que la propia administración pública generase.
1.3 Nuevas Instituciones Educativas Además del entusiasmo que
iblio en ese momento el AGN por capacitar al
personal encargado del manejo de los documentos, otras instituciones de corte académico principalmente como la ENBA y la UNAM, se sumaban el Colegio Nacional de Educación Profesional Técnica (CONALEP) en 1982 creo una carrera para formar técnicos en Archivonomía, la cual se enfocaba tan solo al históricos,
ibl años después se los
administrativos, que desapareció poco la deserción paulatina de los
ibliote se
ibliot de los archivos
enfocaron en los archivos
ibli después debido a la
iblio inscriptos. Una década después, la Universidad
Autónoma del Estado de México (UAEMex) creaba un plan Licenciatura ibliotecário
denominada
ibliot demanda y a
Ciencias
de
la
Información
ibliote, surgió la
Documental,
a esta carrera sería una formación integral basada en el
lo
que
ibliot de
ibl
disciplinas fundamentales, a saber: Archivística, Bibliotecología y Documentación. Se sumó catorce años después la Universidad Autónoma de San Luis Potosí (UASLP), creo en el 2006 la Licenciatura en Archivología. La decisión de crear esta carrera estuvo inspirada en las
ibliotecá que establecía la Ley Federal de
Transparencia y Acceso a la Información Pública Gubernamental, creando métodos para la organización y conservación de los archivos de la administración pública federal. A la par de la UASLP, en el centro del país se inauguraba la Escuela Mexicana de Archivos,
iblio objetivo de crear una institución educativa que ofreciera
una enseñanza y capacitación integral en basado en
ibliot de archivos con un modelo educativo
ibliotecári laborales. Hoy por hoy, la Escuela está dedicada a
ibliote
cursos a las personas encargadas de administrar documentos, ya sean públicos o privados. Entre los cursos destacados se encuentran los siguientes: Archivística y disciplinas auxiliares para historiadores, Archivos eclesiásticos y Paleografía y Diplomática, entre otros. 21
21
Ibídem, P. 62
252
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
No obstante lo que hasta
ibl se ha expuesto, es importante señalar que la
Bibliotecología es una disciplina que
ibli superar a la Archivística en número de
programas en todo el país y en cantidad de que la
iblio inscriptos, logrando ser más visible
ibliot de los Archivos, debido a que se ha
destacadas, tanto de los planes educativos a
ibliotecár en una de las líneas ibli nacional, como de los de
investigación científica y desarrollo tecnológico desde finales de la década de los ochenta. A pesar de ello, estas carreras han
ibliote asignaturas relacionadas con la
Archivística, (Hernández Salazar, 2008) El desarrollo de la Bibliotecología en México ha sido tal, que hasta se han creado programas de posgrado en esta disciplina en instituciones como la UNAM, el Instituto Tecnológico de Estudios Superiores de Monterrey y El Colegio de México, A.C., situación que no ha logrado alcanzar la Archivística en nuestro país. Lo que hace que surja una
ibliotecá, si en México, como se
ibliote en líneas anteriores
prolifero la Bibliotecología más que la archivología, entonces quienes y que perfil tienen los que están a cargo de un archivo, siguen siendo los historiadores u otros, posiblemente hasta un
ibliotecário, cuestión que se explica en el siguiente punto.
3 EL PERFIL DEL ARCHIVISTA El tema de la capacitación y de la propia formación archivística ha sido reflexionado en diversos foros en México, quizás en muchos de ellos, con un acento de queja o reclamo, o quizá de lamentación, por la falta de apoyos, pero sin lograr nada efectivo. Desde luego, existen ejemplos de planteamientos sistemáticos y estructurados para establecer un perfil y una currícula que pudieran satisfacer las exigencias planteadas por sus promotores. Instituciones como la Escuela Nacional de Biblioteconomía y Archivonomía, formar personas profesionales y especializadas en el uso de los procedimientos y técnicas propios de la archivonomía para la administración de las unidades y sistemas de información, con el fin de satisfacer las necesidades de información de los usuarios” y la Universidad Autónoma del Estado de México, a través de la licenciatura en Ciencias de la Información Documental “persigue una formación integral de la especialidad bajo el principio de la homogeneidad y la universalidad en el control y el tratamiento de la información” por mencionar algunos (Aguilera y Nacif, 2010).
253
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Otro estudio referente al perfil del archivista es el realizado por la universidad de Oviedo sobre la identificación de competencias, tomando en consideración las áreas funcionales, y el hecho de contar con la participación de diferentes ámbitos productivos, pese a la importancia de aquellos que desempeñan su actividad en relación con las administraciones, ha permitido establecer la identificación de dos perfiles profesionales diferenciados (Castaño Fernández-Raigoso, 2010): 1. El gestor de archivos y documentos 2. El administrador de archivos y documentos.22 Las tendencias actuales sobre los temas archivísticos relacionados con la información y la documentación, como todos sabemos, han provocado un cambio importante en el papel del archivista. Este último no puede ser un simple receptor y custodio de papeles arrinconado en los sótanos de un edificio, sino más bien, debe ser un actor dinámico e interactivo. Su presencia en la toma de decisiones es importante sobre todo, en el diseño de la arquitectura documental y en la planificación de los flujos documentales que evidencian los trámites internos y externos de los organismos públicos y privados. Con estas ideas, el perfil de archivista hoy en día, tendría que fundamentarse en una enseñanza integral que permita formar personas que puedan interactuar con otras disciplinas y áreas de la administración, pero como actores que influyan con sus opiniones en los procesos administrativos. El rol del archivista en México debe cambiar pues a partir de la publicación de la Ley de Transparencia y Acceso a la Información Pública del 2002, se exige una organización y conservación de expedientes, al encargado de los archivos de las oficinas de la administración pública, quienes deben estar preparados en el manejo y administración de los archivos administrativos (en México de trámite y concentración) e históricos, incluyendo las ciencias y materias auxiliares que ayuden a la organización, valoración, descripción y difusión de expedientes, aquellos que han sido considerados a nivel mundial como unidades de instalación archivística, y que son el fundamento de la información, ya que contienen todos los documentos que se generaron para un procedimiento o trámite administrativo, legal, contable, fiscal o técnico. (Aguilera y Nacif, 2010) 22
Las áreas funcionales en las que se especifican un mayor nivel de competencias, tanto para un perfil como para otro, se relacionan con las de clasificación, coordinación, descripción, difusión y seguridad, por lo que deben ser identificadas como aquellas que constituyen un referente básico en la definición de procesos formativos.
254
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
En suma, el perfil del archivista en México, en la era del derecho a la información, debe considerar un rol más activo, más propositivo y que pueda estar en los niveles de decisión, para lo cual se requiere preparación en la materia, nos referimos no solo a los mandos medios y superiores, sino de manera especial a los trabajadores de archivo que no han tenido oportunidad de capacitarse y obtener una acreditación de sus conocimientos, y ahora, con la Norma de Institución Educativa para la organización y conservación de archivos administrativos e históricos, se podrá entrar en la capacitación integral y continua en materia archivística en México, y así se lo presentamos al mundo de los archivos. (Aguilera y Nacif, 2010) Deberá ser creativo para utilizar las herramientas que le proporcionan las nuevas tecnologías de información para preservar los documentos, cintas sonoras y videos así como los soportes que garanticen su resguardo e integridad para estar en posibilidad de reconocer los que pudiesen ser modificados o eliminados, de aquellos que representan un momento de importancia histórica. Debe ser capaz de diferenciar entre la importancia del sustento de la información y de la información misma (Flores Méndez, S/F).
3.1 La Administracion Publica Carece de un Perfil de Archivista Con estas ideas, el perfil de archivista hoy en día, tendría que fundamentarse en una enseñanza integral que permita formar personas que puedan interactuar con otras disciplinas y áreas de la administración, pero como actores que influyan con sus opiniones en los procesos administrativos. Es por ello que en la definición del perfil competencial del archivero se hace referencia a aquellos profesionales que llevan a cabo actividades específicas relacionadas con la ocupación de archivero, y no las que nada tienen que ver con su perfil profesional. Como sucede en México, el archivista no cumple del todo este perfil definido por los estudios citados anteriormente, generalmente archivos de la administración pública son manejados por empleados de la institución con escasos o nulos conocimientos de archivística. (Núñez, 2010). A diferencia de otros países como España o Estados Unidos, “quien se ocupa de los archivos cursó una carrera profesional; aquí [en México] las dependencias públicas mandan al archivo al empleado castigado, al todólogo, al desempleado que
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
acepta ‘cualquier chamba”.23En el mejor de los casos, las actividades archivísticas se le encomiendan al personal secretarial o se designa a “funcionarios y servidores públicos encargados de los servicios generales como de los recursos materiales a cuyo cargo están las unidades de archivo”24 que tenga un perfil cercano al de archivista o cuyas actividades se relacionan con los servicios de correspondencia y archivo. En México mientras no se comprenda la importancia de la función del archivista, en este caso por parte de la administración pública, la situación de sus archivos continuará como hasta hora, medio organizada, sin dar respuesta efectiva a los usuarios, para que esto cambie, se debe contar con un personal con una formación profesional, para cubrir el perfil de un archivista de acuerdo a los estudios citados en el presente texto, y por fin el archivista cumpla con la función que le corresponde dentro de administración pública a nivel federal, estatal y municipal.
4 CONCLUSIONES Los archivos administrativos requieren de personal preparado para enfrentar los nuevos retos que plantea el desarrollo informático, su conservación, utilización y sobre todo que sea capaz de establecer los criterios adecuados para distinguir aquella documentación que posea valor histórico de la que solo tiene fines de carácter administrativo o informativo; al respecto los intentos por profesionalizar a quienes estén a cargo de un archivo en México han sido varios sobre todo a nivel educativo. Las funciones sustantivas de la gran mayoría de las instituciones de educación superior contempla formar profesionistas útiles para la sociedad y, pese a ello, las instituciones de educación superior que en algún momento se han impuesto la tarea de formar archivistas, no han sido capaces de impulsar el desarrollo de la disciplina, así como de apoyar a los profesionales para establecer los vínculos con la sociedad que, a su vez, coadyuven a mostrar la utilidad y el beneficio social que resulta del trabajo inherente a la preservación de la memoria de las instituciones. (Flores Méndez, S/F).
23
Mónica Mateos Vega. “Negligencia y descuido afectan el resguardo de archivos oficiales”, entrevista con Ramón Aguilar Murguía; Diario la Jornada, viernes 09 de junio de 2006, en: http://www.jornada.unam.mx/2006/06/09a1n1cul.php , fecha de consulta: 03/10/2006 24 Amanda Rosales Bada. Cultura Archivística y Formación Profesional, en: www.adabi.org.mx/investigacion/anteriores/2004/art_arb01.htm fecha de consulta: 25/10/2006
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Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
Muestra de ellos es la baja demanda que no logra cubrir la matrícula aceptada, razón principal por la que las instituciones educativas han tenido que cerrar sus puertas. Lo que causa una ausencia de archivistas y los pocos que hay están medio organizados en los departamentos de archivos de los diferentes despachos de la administración pública federal y estatal, esto produjo la incorporación de personas habilitadas en el oficio. Dichos “archivistas habilitados” fungían como tales, compartiendo o alternando sus funciones con otra actividad como la de chofer, vigilante, encargado de un almacén o como personal de limpieza (Aguilera y Nacif, 2010). Por otro lado, la publicación en la primera década del siglo XXI de la Ley Federal de Transparencia y Acceso a la Información Pública Gubernamental constituyó otro aspecto importante para que la sociedad volteara la mirada una vez más hacia los archivos y se diera cuenta de las condiciones tan lamentables en las que siguen inmersos, insistiendo nuevamente en la necesidad de formar archivistas profesionales. Los historiadores han hecho lo posible por cubrir la demanda de archivistas, aunque no sea su profesión, ni perfil, es decir, que la cultura archivística en el contexto mexicano ha sido protagonizada más por profesionales de la historia, que por los pocos archivistas profesionales que existen en el país y cubran el perfil requerido de un archivista,25que se exige hoy, en este siglo XXI. De tal manera, si queremos una archivística nacional organizada y regulada por archivistas, debemos procurar la formación de profesionales que nutran precisamente a un raquítico gremio existente y que necesita urgentemente alimentarse de los profesionales que egresen de las instituciones de educación superior para planificar y establecer las directrices que el país necesita en la materia. Este especialista es antes que todo, un gestor de información, y todas sus tareas las realiza con la finalidad de preservar y difundir el acervo documental de la nación que garantice el acceso de las personas a la información, la transparencia de la gestión administrativa y sustentar la toma de decisiones, a través de una gestión eficiente (Alí Sánchez y otros, 2007)
25
Perfil de un archivista: Administrador de archivos y documentos, gestor de archivos y documentos, propuesto de acuerdo al estudio de la Universidad de Oviedo.
257
Políticas de Informação, Universidade e Desenvolvimento
BIBLIOGRAFÍA Aguilera Murguía, Ramón, Nacif Mina, Jorge, La competencia laboral del archivista, una propuesta de formación normalizada, s/f, Escuela Mexicana de Archivos, A.C. [en línea], Disponible en: <http://www.escuelamexicanadearchivos.edu.mx/.> Aguinagalde Olaizola, Francisco Borja de (1984) “Archivero: pasado, presente y futuro de una profesión en constante evolución” en Cuadernos de Sección. HistoriaGeografía, núm. 4, sin meses, pp. 9-27 Alberch, Ramón, Corominas, Mariona, Martínez, M. Carmen, El personal de los archivos. La función archivística y su repercusión en la plantilla, (1998) Rev. Catalana d'Arxivística [en línea], Disponible en: <https://www.um.es/adegap/docsinfo/archivistica.pdf> Alí Sánchez, Jandy, Fernández Peña, Cecilia, González Sánchez, Ana Leonor, Rodríguez Ochoa, yoel, De Zayas Pérez, Ma. Rosa., (2007) “Algunas reflexiones sobre la importancia del Archivo y el Archivero como eslabón para el conocimiento” en Ciencias Holguín, vol. XIII, núm. 4, octubre-diciembre, pp. 1-7 Castaño Fernández-Raigoso, Marcelino, Perfil Competencial archivero/administrador de documentos, (2010) ANABAD, [en línea] Disponible en: < www.anabad.org/home/1-informacion-general/587-perfil-competencial.html> Fernández de Zamora, R. M. (2010) Investigación y docencia en Bibliotecología e Información en México. Una mirada a sus características. En Potencialidades de investigación y docencia iberoamericanas en Ciencias Bibliotecológica y de la Información. México: UNAM, CUIB. p. 297-312 Flores Méndez, Joaquín, El perfil del licenciado en archivonomía ante los nuevos retos, s/f, Escuela Nacional de Biblioteconomía y Archivonomía, [en línea], Disponible en: <www.agn.gob.mx/menuprincipal/archivistica/reuniones/.../4r_cm_02.pdf> Mateos Vega, Mónica. Negligencia y descuido afectan el resguardo de archivos oficiales, entrevista con Ramón Aguilar Murguía, (2006) Diario la Jornada, [en línea], Disponible en:<http://www.jornada.unam.mx/2006/06/09a1n1cul.php> Núñez, Jorge. Los archivos administrativos en México, (2010) ADABI [en línea], Disponible en:<http://www.adabi.org.mx/content/servicios/archivistica/articulos /civilarticulos/archivosadmin.jsfx> Ramírez Aceves, Merizanda M.C., Sánchez Espinoza, Ariel, Birrichaga Gardida, Diana, Beltrán Cabrera, Luz del Carmen., (2011). “El devenir histórico de la cultura Archivística en México” en Información, Cultura y Sociedad, vol. 1, núm. 1, juniooctubre, pp. 39-68 Rosales Bada, Amanda. Cultura Archivística y Formación Profesional, (2004) ADABI [en línea], Disponible en: < www.adabi.org.mx/investigacion/anteriores/2004/art_arb01.html> 258
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Sotelo Linares, S. 2008. Panorama de la enseñanza de la Bibliotecología en la UNAM. México: UNAM, Facultad de Filosofía y Letras, Colegio de Bibliotecología Yáñez, B. K. 2010. Potencialidades en docencia e investigación en ENBA. Em Potencialidades de investigación y docencia iberoamericanas en Ciencias Bibliotecológica y de la Información. México: UNAM, CUIB. p. 393-411
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17 MEMORIAIS E CENTROS DE MEMÓRIA NO ACESSO À INFORMAÇÃO E AO PATRIMÔNIO: EXEMPLOS DE FORTALEZA
Maria do Rosário de Fátima Portela Cysne fatimaportela@unilab.edu.br Doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará Professora adjunta Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) Adriana Nóbrega Silva adriufc.nobrega@gmail.com Mestra em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba Professora assistente Universidade Federal do Ceará Gabrielly Pamela Lopes Soeiro gpls4892@gmail.com Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará.
Resumo: Aborda a importância dos memoriais e centros de memória da cidade de Fortaleza no acesso à informação e memória. Primeiramente abordando os conceitos de memória, patrimônio e preservação apresentando as diferenças e similaridades entre os dois tipos de instituição: o memorial e o centro de memória. Os objetivos desse trabalho são: identificar na literatura conceitos relacionados à memória e acesso à informação e analisar o nível de atuação dos memoriais e centros de memória de Fortaleza. A pesquisa é de cunho exploratório e a metodologia utilizada foi o estudo de casos múltiplos. Como instrumento de coleta de dados foi aplicado um formulário com um funcionário da instituição, análise de conteúdo em sites além de visitas nas instituições. Como resultados vemos que os projetos realizados por essas instituições além são ferramentas importantes para possibilitar o acesso à informação para a sociedade, além de atividades de gestão realizadas regularmente por seus gestores. Palavras-Chave: Memoriais; Centro de Memória; Acesso à Informação; Patrimônio.
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1 INTRODUÇÃO A construção da memória é uma atividade constante e não depende de uma razão ou vontade estabelecida, pois, ocorre no cotidiano. Em outras palavras, é um fenômeno social que se inicia a partir de um processo histórico e todo esse conhecimento deve ser preservado, pois temos o entendimento de que delas provem a identidade da comunidade. Este trabalho tem como proposta abordar os centros de memória, sua importância para a preservação do patrimônio e seu papel junto à sociedade no que compete ao acesso à informação. A criação dos tipos móveis, o crescimento e evolução da imprensa e o aumento da produção documental, até a mudança dos registros para o suporte eletrônico e digital, nos levou à preocupação com as informações contidas nesses diferentes meios de registro do conhecimento. Devido ao aumento no volume e na velocidade de transmissão dessas informações, a sociedade da informação convive com o fenômeno do esquecimento. E isso se torna preocupação ao tratarmos de preservação do patrimônio cultural. Por esse motivo, também devemos entender que a preservação das informações contidas nos diferentes suportes é vista como uma necessidade, já que devemos “resguardar o passado, no intuito de entender o presente e fazer prospecções ao futuro com base nas experiências vivenciadas anteriormente” (MENDES; SANTOS; SANTIAGO, 2010, p. 2). Nesse sentido, a garantia do direito à memória e acesso a essas informações pela sociedade é um preceito fundamental, sendo concebida por meio de políticas e ações governamentais. Para tanto, temos a colaboração de órgãos como bibliotecas, arquivos
e
museus.
Diante
da
realidade
expressa,
trazemos
o
seguinte
questionamento: Qual o papel dos memoriais e centros de memória no acesso ao patrimônio informacional? A motivação para a pesquisa se deve às contribuições que o tema preservação e acesso à informação e à memória trazem para a sociedade, além de possíveis contribuições relacionadas aos instrumentos teórico-metodológicos do ponto de vista histórico, social e científico. Nesta conjuntura, entendemos que a pesquisa se justifica pelas contribuições da teoria e das práticas proporcionadas. Acerca da metodologia, o trabalho será de cunho exploratório (GIL, 2002). No que diz respeito à abordagem do problema o estudo expressa aspectos predominantemente qualitativos e a metodologia utilizada foi o estudo de casos 263
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múltiplos, (YIN, 2001) fornecido pelas instituições através do preenchimento de um formulário, de visitas nas instituições, da observação de suas atividades, ações sociais e projetos desenvolvidos. Como resultados, podemos observar a necessidade de maiores incentivos, de políticas voltadas e de maior divulgação dessas instituições. Muitas vezes, dependendo da organização, existem critérios a ser modificados. Mudanças estas que são necessárias para que assim se faça cumprir a missão para a qual os memoriais e os centros de memória e documentação foram designados. Dessa forma, os objetivos desse trabalho são: identificar na literatura conceitos relacionados à memória e acesso à informação e analisar o nível de atuação dos memoriais e centros de memória de Fortaleza.
2 A MEMÓRIA DE TODOS Ao tratarmos da memória - na maioria das vezes - não podemos deixar de pensar em como ela estabelece relação com a sociedade. E se analisarmos por um momento, perceberemos que esta relação está intrinsecamente ligada ao fato de que há muito tempo a sociedade vem mantendo, por necessidade, o registro de fatos, fenômenos e informações no decorrer da história. Com o aumento do volume de informações, de suportes e, consequentemente, de registros do conhecimento, tornou-se necessária uma estruturação da memória social criada e registrada até então. Como apresentado por Louzada (1992, p. 16) “o domínio técnico contribuiu para ampliar os suportes de memória e torna-los cada vez mais acessíveis a diferentes grupos sociais”. Sendo assim, a memória se encontra disposta no cotidiano dos indivíduos e, de forma estruturada, nos lugares de memória onde ela se dispõe de maneira simbólica, monumental, funcional dentre outras formas. (LE GOFF, 2003). Analisando a memória de forma mais aprofundada, temos uma das classificações mais conhecidas que diferencia a memória individual - aquela que se refere ao próprio indivíduo, sua vivência, experiência e assim por diante - da memória coletiva, que é de relevância para o presente trabalho e será explanada mais a seguir, e que é o momento em que determinado grupo de indivíduos estabelece uma relação, de forma simbólica, com uma peça de caráter monumental para aquele grupo.
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Historicamente, esse processo ocorre comumente no cerne da sociedade, pois, quase que de maneira inconsciente, existe uma necessidade desse vínculo, desse estabelecimento de uma identidade com todos esses elementos. Segundo Halbwachs (2006), a expressão que define este fenômeno é “quadros de referência”, onde a estruturação da memória coletiva é uma atividade que ocorre geralmente em grupo, e que o individuo também realiza esse trabalho ao mesmo tempo. E em relação à relevância da memória coletiva para a sociedade temos como reflexão que A memória é um elemento essencial do que se costumava chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades [...]. Mas a memória coletiva é não somente uma conquista é também um instrumento e um objeto de poder. (LE GOFF, 2003, p. 469).
Aqui, observamos que existe o fator de sobrevivência das tradições e desses grupos sociais, o que coloca a memória como um elemento crucial para a existência e a permanência de costumes, hábitos e modos. E depois de constituído todos esses cenários, nos dias de hoje as discussões sobre o tema suscitam mais ainda o tema da preservação dessa memória, devido às considerações de que preservar é um dos passos para se gerar o acesso.
2.1 Preservação da Memória e do Patrimônio Quando abordamos os temas sobre patrimônio e memória os conceitos ficam quase que interligados, quando não, muitas vezes um tema remonta ao outro. Isso porque direta ou indiretamente a memória está contida no patrimônio, seja ele material ou imaterial. Dessa forma, A memória é vasta, livre, plural e envolve a figura do patrimônio como um dos seus elementos estruturantes fundamentais. Sabe-se que a etimologia da palavra patrimônio quer dizer “em nome do pai”, isto é, em nome da herança simbólica. A memória por outro lado, não se funda em nome de uma figura específica (CORRÊA, 2008, p.38).
A memória contribui na apropriação desse significado, pois memória e cultura estão ligadas, e a memória é algo fluido manifestado pelo consciente e inconsciente dos indivíduos. Como afirma Laraia (2001, p. 45): O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade (LARAIA, 2001, p.45).
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E quando tratamos da questão do patrimônio, temos envolvido a atribuição de valor simbólico. Ele se constitui em uma determinada motivação e tem de apresentar um significado que seja coerente para aquele registro (FONSECA, 2009, p.42). Assim, vemos que é necessária a preservação da memória, que se encontra estampada nos bens materiais e imateriais. Os bens patrimoniais detém um valor cultural, histórico, social e tem sua justificativa por questões que podem ser de cunho ideológico ou até mesmo legal, pois o acesso às informações e aos bens patrimoniais se configura como direito e acesso à cidadania. Com isso, houve o processo de preservação sistematizada, ocorrendo através do desenvolvimento das políticas públicas, onde o estado assume seu papel de contribuição para que a memória seja preservada. E para que o processo de preservação aconteça, é preciso muito mais do que a criação de políticas de Estado, pelo contrário, abrange uma série de outros fatores que precisam ser analisados: É imprescindível ir além e questionar o processo de produção desse universo que constitui um patrimônio, os critérios que regem a seleção de bens e justificam sua proteção; identificar os atores envolvidos nesse processo e os objetivos que alegam para legitimar o seu trabalho; definir a posição do Estado relativamente a essa prática social e investigar o grau de envolvimento da sociedade (FONSECA, 2009, p.37).
Por mais que nos dias de hoje a ideia de patrimônio como algo imutável, parado no tempo, ainda persista, é importante pensarmos que isso deve ser mudado. Hoje percebemos o inverso, que é o patrimônio como algo dinâmico, ligado de forma direta à sociedade que o integra, desde que saibamos colocar e transpor a identidade para o objeto para que a sociedade possa se “ver” e se sentir fazendo parte desse processo, como um agente. A ideia de que preservação é sinônimo de guarda de bens excepcionais, para serem objetos de contemplação e fonte de conhecimento, é, hoje, considerada uma postura museológica anacrônica, elitista, tanto de um ponto de vista puramente mercadológico quanto do ponto de vista político. A ideia de democratização do patrimônio implica, qualquer que seja a perspectiva, o fato de que o estado não deve ser o único ator social a se envolver na preservação do patrimônio cultural de uma sociedade (FONSECA, 2009, p.71).
E quando tratamos de preservação, não nos detemos à disciplina, ciência ou campo de estudo, mas sim a ação de preservar e à criação de medidas para manter algum patrimônio. Segundo Nogueira (2008, p. 326) “Nesse caso, é preciso que a sociedade e, sobretudo os produtores e criadores, aqueles que estão envolvidos no processo 266
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dinâmico de produção, circulação e consumo, sejam igualmente os agentes desta empreitada.” Por essa razão, acreditamos que cada vez mais tem sido estimulado o estudo do patrimônio cultural e o ensino, visando iniciar essa sensibilização cada vez mais cedo para o assunto.
2.2 Memória e Acesso à Informação Depois de abordados alguns tópicos a respeito de memória e patrimônio chegamos ao tópico onde é tratado em relação a outros assuntos como o acesso as informações e, em especial, às informações expressas pelos bens patrimoniais. Atualmente, o acesso à informação, de modo geral, é uma exigência cada vez maior da nossa sociedade. Depois de relatada a forma como o patrimônio e a memória estão inseridos na sociedade, podemos ver que o modo pelo qual podemos mantê-los é através da preservação, difusão e ainda permitindo o seu acesso. Em outras palavras, toda a produção desse grande acervo da sociedade não deve ser escondida e, muito menos esquecido por todos, afinal o aspecto cultural é uma das visões porque pode ser analisada uma sociedade. E o fator cultural é um fator de muita influência, chegando a ser abordado por alguns autores como um direito à cidadania. Por isso, a popularização desse direito não só ao patrimônio, mas à cultura em geral é de suma importância e ainda mais porque Envolve a democratização da produção cultural, seja do ponto de vista de possibilitar sua produção cultural autônoma [...]. Pensada como uma diretriz geral, a cidadania cultural envolve também questões pertinentes à preservação e registro da memória (FENELON, 1992, p.31).
E quando pensamos em direitos, pensamos muitas vezes em leis e políticas, entretanto não vamos nos ater aqui a legislações. Existe outro personagem envolvido nesse cenário que são as intuições criadas com esse intuito e que tomam a preservação em seus discursos. Esses ambientes são os arquivos, bibliotecas e, principalmente, museus que representam os locais que ficaram incumbidos da tarefa de salvaguarda. Na visão de Lara Filho (2006, p. 2) “são eles os depositários da memória coletiva, o que não se resume apenas à manutenção e conservação das coleções.” Essas instituições, no contexto recente, são o elo, a ponte capaz de tornar acessíveis os bens patrimoniais através de sua linguagem, que tem como preocupação realizar essa ligação e estabelecer esse diálogo. 267
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3 MEMORIAIS E CENTROS DE MEMÓRIA Aqui buscamos uma definição aprofundada a respeito das tipologias museológicas, principalmente instituições como memoriais e centros de memória. O que ocorre na maioria das vezes é que devido à falta de precisão nessas definições, os conceitos e as funções desses espaços variam. A verdade é que memoriais e museus são facilmente confundidos, sendo considerados às vezes a mesma coisa. Para Leitão (2001) “os Memoriais são monumentos à memória onde a cultura material seria, portanto meio e não fim”. O acervo de que é composta essa instituição “reverencia” a memória de uma personalidade ou a memória de determinado fato considerado histórico para a sociedade. Em alguns trabalhos como os de Barcellos (1999) e Leitão (2011), alguns memoriais funcionam como grandes centros culturais, onde ocorrem atividades de todos os tipos, muitas vezes não tendo relação com a temática do local. Muitas dessas instituições como no caso até mesmo de arquivos, bibliotecas e museus tem de explorar o papel social a ser desempenhado por elas. Organizações que não visam lucro se concentram nesse ponto, quase como uma justificativa para sua razão de “ser”, o que demonstra uma questão muito interessante que são de que as relações as quais o memorial se constitui tem mais variáveis do que aparenta. [O] Memorial revela que o campo museológico é um campo de competição e luta. Um campo onde se exerce poder, que são tecidas através de relações intrainstucionais e extra-institucionais (dentro e fora do Legislativo). Significa isto que o caminho para a constituição de um Memorial para pelo arranjo e rearranjo de poder no interior da própria instituição com os demais setores e atores envolvidos, e com as instituições do sistema cultural mais próximo (BARCELLOS, 1999, p.13).
Já para os centros de memória (CM), os conceitos apresentados são os de que eles estão vinculados à questão institucional. Eles são muito conhecidos também como centros de documentação e memória. As empresas se viram perdendo muitas informações no meio do volume da massa documental, então a preocupação de manter essa memória ganhou destaque. Segundo Gagete e Totini (2004, p. 124), os centros de memória: [...]constituem-se como setores responsáveis pela definição e aplicação de uma política sistemática de resgate, avaliação, tratamento técnico e divulgação de acervos e, principalmente, pelos serviços de disseminação do conhecimento acumulado pela empresa e de fontes de interesse histórico [...] (GAGETE; TOTINI, 2004, p.124).
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Podemos observar que os dois tipos de instituição possuem pontos de convergência entre si. Os dois tem sua funcionalidade voltada para retratar a memória, ressaltando que no caso dos CM a literatura ressalta a parte institucional. Até determinado momento estamos tratando somente do que são essas instituições, que é uma discussão relevante, mas há também outras questões que circundam esses espaços em relação à atualidade e ao seu desempenho a serem discutidos. Para Fontanelli: Tanto quanto as bibliotecas, arquivos e centros de memória, o museu e seus profissionais devem analisar o contexto no qual estão inseridos e procurar realizar trabalhos que permitam a integração do museu com a população de seu entorno (FONTANELLI, 2005, p.68).
O fator social é um ponto em que essas instituições se apoiam firmemente. Talvez por essa razão ocorra o exemplo dado anteriormente em que os centros culturais venham se difundindo muitas vezes com o memorial ou o centro de memória o integrando. É uma maneira de facilitar isso. Além destes, temos os desafios que hoje trouxeram mudanças não somente para os memoriais e centros de memória, mas para as unidades que trabalham com informação, que envolvem os que trabalham nesses ambientes. Para Fontanelli (2005, p.53) “os profissionais devem ser perseverantes e conscientes da importância da interdisciplinaridade para desenvolver suas tarefas e cumprir sua missão social”. 4 METODOLOGIA A pesquisa caracteriza-se como exploratória, que segundo Gil (2002, p.41) tem como objetivo aproximar o pesquisador do objeto, contribuindo para formular e aprimorar ideias sobre o tema. Adota como metodologia o estudo de caso (YIN, 2001) tendo como fonte de evidência os sites das instituições além da aplicação de um formulário com um funcionário de cada instituição. A elaboração deste trabalho foi dividida em três etapas. Primeiramente foi realizada uma busca no site institucional do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM)26. O órgão possui o cadastro relativo às entidades museais filiadas e colabora desenvolvendo ações norteadoras e atividades para esses locais. Foram selecionadas, a partir do site, apenas as instituições que foram encontradas na publicação “Guia de Museus” usando os termos “memorial” e “centro
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Disponível em: < http://www.museus.gov.br/guia-dos-museus-brasileiros-2/>.
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de memória”, na cidade de Fortaleza. Foram encontrados cinco espaços, sendo quatro memoriais e um centro de memória, como podemos ver na lista a seguir: 1 Memorial do Tribunal Regional do Trabalho da 7a região 2 Memorial do Poder Judiciário do Estado do Ceará 3 Memorial da Cultura Cearense 4 Memorial do Décimo Grupo de Artilharia de Campanha 5 Centro de Memória da Educação do Ceará
Na segunda etapa foi feita uma análise dos sites de cada instituição buscando informações históricas, as atividades realizadas em cada espaço, além dos programas e projetos que são desenvolvidos. Na terceira etapa, a partir da necessidade de mais informações sobre as instituições, foi produzido um questionário e enviado por e-mail para os responsáveis de cada instituição. As duas primeiras perguntas tratam sobre as atividades realizadas pela instituição, a terceira pergunta sobre políticas institucionais e a quarta questionava o planejamento das atividades de cada espaço. Assim, os resultados que serão explicitados a seguir têm como base as informações dos sites das instituições como também as respostas dos questionários com os responsáveis de cada espaço.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Com base nos instrumentos de coleta de dados obtidos a análise dos mesmos será realizada da seguinte forma: cada pergunta corresponde ao um eixo que a pesquisa deseja apresentar, as respostas recolhidas de cada instituição serão verificadas em conjunto, ou seja, todas as respostas obtidas serão apresentadas no eixo correspondente. A primeira pergunta do formulário corresponde a um resumo das atividades que são realizadas pelas instituições atualmente. Todos eles exercem atividades voltadas para pesquisadores, exposições do seu acervo e visitações, que são considerados “carros-chefes” nessas organizações.
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O segundo ponto aborda mais detalhadamente se a instituição possui algum projeto/programa voltado para área de informação patrimonial. Como podemos ver na Tabela 1: Tabela 1 – Programas realizados pelas instituições Instituição
Memorial do Tribunal
Memorial da Cultura
Memorial do Poder
Regional do Trabalho da 7a
Cearense
Judiciário do Estado do
região Projeto/programa
Ceará
Mundo do trabalho na
Museu e cidadania
Justiça e Cidadania
praça* Oficina experiências e
Projeto acesso
apropriações em Patrimônio e Memória* Elaborado pelo autor *Essa instituição apresentou os seus programas, entretanto, avisou que não estão ocorrendo no momento.
Os projetos apresentados pelas instituições em sua totalidade têm como foco ações sociais e educativas e de educação patrimonial de acordo com o perfil do público. O terceiro tópico trata a respeito da existência de políticas de preservação do acervo na instituição. Todas as instituições afirmaram que possuem políticas para seus acervos. No caso do Memorial do Poder Judiciário do Estado do Ceará e do Memorial do Tribunal Regional do Trabalho da 7a região eles seguem diretrizes do Conselho Nacional de Justiça que realiza um programa de gestão documental do poder judiciário. O Memorial da Cultura Cearense apresenta diretrizes próprias. O quarto ponto trata sobre a realização de atividades de planejamento e gestão realizados nas instituições. Uma delas realiza atividade de gestão especificamente para o setor, já as outras realizam a atividade de forma indireta. Para elas (Memorial do Poder Judiciário do Estado do Ceará e do Memorial do Tribunal Regional do Trabalho da 7a) a atividade é desempenhada pelo setor de planejamento. Desde o ano de dois mil e treze o Memorial da Cultura Cearense mudou sua tipologia para Museu da Memória Cearense, no entanto, as atividades que foram apresentadas desde sua fundação em dois mil e seis. 271
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O Centro de Memória da Educação do Estado do Ceará não informou nenhuma atividade. O Memorial do Décimo Grupo de Artilharia de Campanha, durante o período desta pesquisa encontrava-se fechado. Por essa razão, não apresentamos os dados relativos a essa instituição.
6 CONCLUSÕES Com base nos objetivos deste trabalho, podemos observar que o nível de atuação dessas instituições na cidade de Fortaleza é satisfatório. Também podemos constatar que os programas e projetos desempenhados por esses espaços são essenciais para abranger o seu nível de atuação. Além desses, a realização das atividades de gestão são fundamentais para o planejamento das atividades a serem exercidas. Porém sempre vai haver maneiras de aprimorar esse processo e deve-se também aumentar a divulgação destes trabalhos. As atividades realizadas são a forma de mediação e de comunicação com seu público. Vale também lembrar que é importante sempre continuar na busca de insumos para realização dessas atividades para mantermos a memória coletiva viva. Pois essa é verdadeira razão social dessas instituições. A literatura já nos prova isso, agora resta garantirmos isso por meio de ações. REFERÊNCIAS
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