Neomondo 16

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NeoMondo

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um olhar consciente

Ano 2 - Nº 16 - Novembro 2008 - Distribuição Gratuita

Impactos da

Educação

Valores Humanos

Avanços Tecnológicos 12

Nova Ferramenta

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Formação do Ser

Família e Escola 24

Em Descompasso


m e s a c i t รก r P e d Espaรงo Real para sua empresa em urto o caminho mais c

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: e d a d i l i b a t n e t s Su .

bilidade a t n e t s u s à o ã ç e dir

bilidade para icas em Sustenta át Pr de al Re ço gócios que Criamos o Espa a em busca de ne ad rn jo a ss no de longo histórias de e aprendemos ao além de conhecer , te si o N . is compartilhar o qu ta en e também sociais e ambi e de empresas qu dos econômicos, a lta di su are adi m u ra se lib ui eq informações entabilidade em r cursos on-line, o aplicando a sust ra tã nt es co e en qu i s va oa cê ss pe ualizado por zer negócios, vo inião num blog at do seu jeito de fa op an a nt su ve o in re nd o ca tã lo es participar co com nossos tícias e vai poder esmos objetivos no m s, ra os st do le an pa e ilh rt br so . Compa sociedade neste movimento r um banco, uma ui tr ns co de s líderes engajados ze seremos capa rios e parceiros, clientes, funcioná hor para todos. ancial Times. e um planeta mel el do Ano”, pelo Fin ntáv RI). Banco mais Suste rting Iniciative (G lmente como “O dia un m ido ec ”, pelo Global Repo nh do un M � Reco do al”. e ad bie ilid cnologia Am nt ório de Sustentab oria “Projeto de Te teg ca � ”2º Melhor Relat na , ” 08 20 Technology êmio “The Banker � Vencedor do pr

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Seções Perfil O déficit da educação brasileira... O reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, faz uma análise da educação brasileira.

ESPECIAL - Educação 12 Avanços Tecnológicos Tecnologia a serviço da educação.

10 ESPECIAL - Educação 16 Família e escola: Diálogo possível A família precisa reforçar sua voz nas escolas.

18 Artigo: Educação e Desenvolvimento Do indivíduo à coletividade.

15 Artigo: Educação no Japão Como funciona o sistema de ensino japonês.

Valores humanos na educação A educação com a missão de formar o Ser.

24 Família e Escola no descompasso 23 Artigo: Educação e Meio ambiente da Educação Conexão para um futuro sustentável. Quem educa nossas crianças? 26 O Brasil precisa ler mais Pesquisa aponta déficits da leitura e apresenta soluções.

28 Os tecnólogos estão chegando Capacitação garante vantagens profissionais. Espaços Verdes Urbanos Parque Ecológico do Tietê. 36 Empresas investem em educação A educação continuada na formação profissional.

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Diretor Executivo: Oscar Lopes Luiz Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Livi Carolina e Eduardo Sanches Redação: Liane Uechi (MTB 18.190), Livi Carolina (MTB 49.103) e Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) Estagiário: Caio César de Miranda Martins Revisão: Professor Antonio Colavite Filho Diretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo Colaboração: Ilustração - Priscila de Paula Dias

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38 Ler e escrever: direito de todos, privilégio de poucos Ainda entre as nações com maior taxa de analfabetos.

46 Dica de Livro e Sem dúvida

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Expediente

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32 Escolas (d)eficientes Incluir alunos com necessidades especiais ainda é um desafio.

Artigo: Educação e sustentabilidade empresarial Boas práticas valorizam a marca.

40 ECA chega à maioridade, mas precisa de maturidade Com 18 anos de atuação o Estatuto ainda passa por alterações.

44 Coluna: Um olhar consciente da Amazônia De olho nas ações e nos descasos da Amazônia Legal.

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Publicação Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 Santo André – SP Cep: 09190-000 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br classificadosolidario@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neo Mondo: oscar@neomondo.org.br

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 20 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.


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Editorial Impactos da Educação

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sta edição da Revista Neo Mondo traz a Educação no Brasil como objeto central. O tema é constantemente abordado nas nossas publicações, por considerá-lo inesgotável e de um argumento óbvio: é incompatível uma Nação desenvolvida e um povo desprovido de boa educação. Dessa vez, nos eximimos de focar análises quantitativas e nos concentramos em prospectar informações que nos indiquem caminhos possíveis de participação nas melhorias educacionais; afinal, ela é considerada pela Constituição, direito de todos e dever do Estado e da família. Há muita lição de casa a ser realizada para propiciar o aprimoramento de instalações, infra-estrutura, equipamentos, currículo, acesso ao livro didático, alimentação escolar, informatização das escolas, adequação e capacitação ao atendimento de alunos com deficiência e uma política de valorização do professor. Precisamos ainda desocupar o vergonhoso ranking dos países com maior número de analfabetos. É preciso reconhecer, no entanto, avanços no acesso ao ensino básico, que vem sendo protegido por instrumentos como o ECA, o Código Penal e o FUNDEF, além de programas compensatórios como o Bolsa-Família. Infelizmente, os esforços para garantir o acesso à educação fundamental não contemplam com a mesma evolução a qualidade do ensino

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oferecido, provocando sérios desajustes no desempenho, na evasão escolar e na inclusão no sistema de chances reais. Outros aspectos da educação também foram focalizados nessa edição. Dentre eles, os papéis da escola e da família; alternativas e métodos que tentam inserir valores humanos ao conhecimento; as novas tecnologias que trabalham a favor do ensino e a participação das empresas e do Terceiro Setor na formação profissional, assim como novas profissões. Nossos articulistas internacionais revelam detalhes de como a educação é tratada nos países desenvolvidos. O reitor da Unicamp, professor José Tadeu Jorge, com a autoridade de quem comanda uma das melhores universidades do mundo, faz uma análise bem lúcida dos déficits e lacunas da educação brasileira. Todo esse conteúdo não tem a intenção de estabelecer verdades, mas de propor a reflexão sobre o papel de cada um na Educação, termômetro incontestável do grau de desenvolvimento de uma Nação e fiel depositário da igualdade, patamar maior da cidadania. Boa Leitura.

Liane Uechi Diretora e Redação liane@neomondo.org.br


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Perfil

Antônio Scarpinetti- ASCOM- Unicamp

O Déficit da

EDUCAÇÃO Professor José Tadeu Jorge, reitor da Unicamp - considerada uma das melhores universidade do mundo faz uma análise da educação brasileira. José Tadeu Jorge, reitor da Unicamp

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um momento de tantos questionamentos sobre a qualidade do ensino público brasileiro, algumas universidades federais se destacam no cenário mundial como uma das melhores do mundo. É o caso da Unicamp, que reúne um elenco com grandes nomes da pesquisa e do conhecimento cientifico nacional. No comando dessa equipe, o reitor, Professor Doutor, José Tadeu Jorge, mostra a Neo Mondo que é possível sim, oferecer educação e qualidade no país. A receita é simples, segundo ele, mas a vontade política e os investimentos são imprescindíveis.

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Liane Uechi

Neo Mondo: Como está a educação no Brasil hoje? Reitor: Temos no processo educacional sérios problemas. No sistema público, a educação infantil (creche e pré-escola) ainda tem um grande déficit de vagas a ser resolvido. No Fundamental, houve um esforço do governo para inserir as crianças na escola, o que promoveu avanços quantitativos, mas não houve uma preocupação nem investimentos em qualidade desse ensino, o que gerou outro tipo de déficit. O mesmo esforço de inserção não se deu ainda no nível médio e técnico, o que, mais uma vez, gera uma

Não há país desenvolvido sem uma base consistente em educação Neo Mondo - Novembro 2008

lacuna importante na formação educacional da população. Já no nível universitário público, temos qualidade, mas não quantidade de vagas suficiente, o que dificulta o acesso à maioria dos brasileiros. No Brasil, 75% das universidades são particulares contra 25% de vagas públicas. Ainda assim, se considerarmos as universidades particulares, veremos que a região Nordeste tem um déficit crítico por vagas de nível superior, enquanto que, no estado de São Paulo, a oferta é maior que a demanda. Neo Mondo: Não é incoerente a diferença de qualidade do ensino público nos níveis fundamental, médio (considerado com baixa qualidade) e superior (de alta qualidade)? Reitor: Sim, é incoerente, mas a questão da quantidade de vagas em cada um desses níveis também é muito diferente. Isso não justifica, mas é um dos fatores


que precisam ser considerados na análise. Um ensino de qualidade está baseado em três pilares: - Infra-estrutura física, constituído pelas instalações, recursos educacionais, equipamentos, biblioteca, recursos audiovisuais, etc - Projeto Pedagógico, que deve ser consistente e adequado a cada região onde está inserido e, por fim, - Professores qualificados: os profissionais que atuam desde o planejamento até a sala de aula precisam ser capacitados e atualizados para a função que exercem. As universidades federais são bons exemplos, pois os professores são doutores e pós-doutores. No Brasil, no ensino público fundamental e médio, há uma diversidade de condições muito grandes, conforme a região, Há casos com deficiência de estrutura, outros de produção de conteúdo ou de suporte. Por exemplo, o letramento exige aula e leitura para a consolidação do hábito. Sem uma biblioteca com conteúdo adequado a cada estágio, apropriado a cada idade, a estrutura já está falha. Da mesma forma que uma escola ruindo ou profissionais não preparados Neo Mondo: O senhor acredita que solucionar a questão da qualidade de ensino no país é algo difícil ou complexo de ser realizado? Reitor: Não é difícil nem complexo. Com certeza, não será rápido, pois deverá ser um processo de melhoria, como, por exemplo, a qualificação dos profissionais que atuam nessa área, e isso requer algum tempo. Serão necessários inves-

timentos e vontade política de realizar essa reforma, considerando os três pilares já citados. Sem eles, não há melhorias. Enquanto universidade, digo que somos os maiores interessados em obter qualidade no níveis fundamental e médio, pois só assim receberemos nas universidades alunos cada vez mais preparados, que, por sua vez, exigirão cada vez mais melhores professores e conteúdos. Neo Mondo: Como a Unicamp mantém seu nível de qualidade? Reitor: São necessários dois componentes: a pesquisa, que propicia um ambiente na ponta do conhecimento, colaborando para a qualificação do ensino e para a formação de bons profissionais. Esse clima de inovação é motivador para os alunos. O outro é o relacionamento com a sociedade (empresas, governo e comunidade). É nessa relação, hoje prio-

rizada na Unicamp, que a universidade coloca o aluno em contato direto com a realidade nacional. Ele pode detectar e questionar dúvidas de forma prematura. Desse modo, antes de sair da universidade, ele já pode nivelar seus conhecimentos e pesquisas com as necessidades reais, o que obriga também os professores a se manterem alinhados e atualizados. Neo Mondo: De que modo o desenvolvimento de um país está relacionado à qualidade da educação? Reitor: Está totalmente relacionado à educação. Não se discute quanto a isso, é um fato. Não há país desenvolvido sem uma base consistente em educação. Se analisarmos a história das nações desenvolvidas, verificaremos que essa condição só foi alcançada quando investiram forte em educação: em estrutura, em projeto pedagógico e em professores qualificados.

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Especial - Educação

Avanços tecno

Laboratório de robótica

Processo complexo afastou de crianças e adolescentes a palavra Não. Gabriel Arcanjo Nogueira

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ousa e sites interativos, cursos a distância, portal do professor, escola online. Foram-se os quadronegros, chegaram os “quadros mágicos”. A parafernália tecnológica parece interminável e tudo o que há de mais avançado em ferramentas do ensino está disponível em colégios de centros mais avançados do País. Na Baixada Santista do litoral paulista, em sala de aula do Ensino Médio do Liceu Santista, o smart board é exemplo de avanço tecnológico. Alunos dessa classe e de outras séries, ao simples toque de mãos, podem mover objetos e interagir com outros ambientes. “Além dessa super-

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fície sensível, a lousa possui software que traz um banco de imagens e várias outras possibilidades para o professor”, afirma Alcielle dos Santos, coordenadora pedagógica do nono ano e do Ensino Médio. Para a especialista, seria impossível enumerar as possibilidades que a tecnologia coloca à disposição do ensino, mas se arrisca a classificá-las: “Há avanços eletrônicos, em telefonia, mídia, entre outros, com mudanças para o espaço educacional”. E cita a internet como a mais impactante no setor. A escola que não souber entender os novos tempos corre o risco de se tornar um espaço enfadonho, acredita.

Alcielle, técnica em Informática e bacharel em Administração de Empresas, conclui Pedagogia e faz Pós-Graduação em Aprendizagem Cooperativa. É bom prestar atenção no que ela diz, sobretudo a atônitos pais, como os que a procuram em busca de ajuda para organizar a vida dos filhos. “A internet, por romper o paradigma do texto linear, enfeitiça todos nós”, constata, para alertar: “Por ausência de imposição de limites, que piorou com os avanços tecnológicos que inundam os quartos de meninos (e meninas), um processo bastante complexo afastou do mundo da criança e do adolescente a palavra Não”. O País precisa pensar – e muito – a melhor maneira de ver a Educação em um mundo ao mesmo tempo rico de possibilidades, por isso mesmo complexo e desafiador. No que diz respeito a avanços tecnológicos, o momento que Alcielle enxerga é de muita oferta; à frente, a inclusão seria bem-vinda.


ológicos

na Berlinda

Oficina de leitura com crianças

Vencendo o ceticismo Em outra baixada, a dos Campos e Lagos Maranhenses, jovens moradores de municípios menos desenvolvidos desse Estado só há bem pouco tempo passaram da situação de ceticismo e descrença sobre suas expectativas de cidadania plena para uma realidade mais de acordo com algum toque de modernidade. Iniciativas educacionais com o apoio do Unicef, Unesco, Fundação Kellog em parceria com prefeituras e outras instituições são desenvolvidas com bons resultados. Uma delas, a ONG Formação - Centro de Apoio à Educação Básica, mediante o Conjunto Integrado de Projetos (CIP) Jovem Cidadão. Fábio Alessandro Souza Cabral, coordenador de Comunicação da ONG, explica que o que se pretende ali é “romper com o ciclo de pobreza existente”. Por isso, “nosso objetivo é melhorar a realidade de jovens

que vivem nesses territórios com ações que visam promover o fortalecimento e a mobilização das organizações juvenis existentes em 10 municípios, até o fomento do debate entre a sociedade civil e o poder público, para a proposição de políticas públicas de educação, saúde, esporte e cultura que contribuam para o desenvolvimento sustentável”. De 2003, quando tudo começou em apenas um município, até 2008, o Formação ganhou em consistência e parcerias com atividades de educação para crian-

ças, adolescentes e jovens. Na caminhada, “mapeamos as necessidades educacionais do Estado e concebemos os Centros de Ensino Médio e Educação Profissionalizante (CEMPs)”. Fábio classifica de inovador o conjunto de ações, iniciadas no município de São Bento, que visam formar cidadãos conscientes mediante a assimilação de conceitos em áreas como educação, trabalho, arte, esporte, cultura, lazer, saúde, ecologia, políticas públicas. Estendido inicialmente o seu alcance para

No País dos contrastes, especialista defende a educação reflexiva como prioridade

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Especial - Educação

mais sete municípios, o CEMP chegou em 2007 à zona rural. A região de presença da ONG tem, entre suas características, a predominância de municípios com grande extensão territorial, baixa densidade populacional com concentração no campo e baixo IDH, de acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano. Entre as práticas que contribuem para a elevação do nível de consciência das pessoas, o coordenador de Comunicação ressalta atividades, dentro e fora das escolas. “Por meio de leitura, arte e esporte, envolvemos crianças, famílias e professores em situações de aprendizagem ampliada”, explica. “Hoje, podemos garantir que temos uma educação tridimensional: integral, integrada e contextualizada - com um diferencial revolucionário que articula ensino, pesquisa e extensão. Contamos para isso com bibliotecas e laboratórios específicos para cada curso: informática, enfermagem e físico-química. Nossos alunos estão capacitados para desenvolver idéias e projetos.” Ênfase na promoção humana A tecnologia pela tecnologia não adianta, se não levar em conta o contexto social do País. Para não se correr o risco de acentuar a exclusão e aumentar ainda mais a desigualdade social brasileira. O alerta é do professor-doutor Walter

Professor-doutor Walter Antonio Bazzo

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Antonio Bazzo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no Departamento de Engenharia Mecânica. Ele entende que muitas vezes falta estabelecer melhor a orientação e determinação de prioridades, em vez de apenas aceder ao argumento da inexorabilidade do progresso tecnológico. Não faz sentido, para o especialista, o avanço tecnológico se não se der “ênfase para convergir à promoção humana, expressa em qualidade de vida”. Antes de mais nada, cabe aos governos definirem com mais reflexão os caminhos da modernização, defende Bazzo. Vivência não lhe falta porque trabalha no Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT) da própria UFSC, além de ser coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica (NEPET) com atuação em Educação Tecnológica, relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Se não bastasse, é orientador de Doutorado em Educação pela mesma Universidade, com atuação em Ensino-Aprendizagem, ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino no CNPq.

Valores éticos e objetivos sociais O professor-doutor apresenta a Proposta de Trabalho Educativo, que leva em conta “alternativas que socializem as tecnologias e amenizem os efeitos de possíveis malefícios na vida humana”. Bazzo alerta para uma distorção comum ao Brasil, que é: apresentar mudanças e não definir que rumo seguir. A alternativa é avançar de uma modernidade técnica para a modernidade ética, alicerçada em valores éticos e objetivos sociais que levem em conta 10 prioridades, onde encabeça a lista cuidar da Educação. Depois, vêm Alimentação; Saúde; Cultura; Tecnologia adaptada; Meio Ambiente; Descentralização; Eficiência; Estado; Soberania. Bazzo tem certeza de uma coisa: a educação aí deve ser vista como “um caminho para a mobilização, para a formação de uma consciência crítica”, como algo que “extrapole os muros da escola em todos os níveis, alcançando a sociedade na sua plenitude, de modo a envolver tanto aqueles que têm acesso quanto aqueles que não têm acesso a bancos escolares”. Quem dirá a recursos tecnológicos de última geração!


A educação no

Dilma de Melo Silva

Japão

Correspondente especial de Quioto – Japão

A educação foi um dos pilares para a edificação do Estado Moderno no Japão e um sustentáculo para sua modernização.

A

restauração Meiji, que teve lugar em 1868, terminou com o sistema feudal de duzentos e cinqüenta e seis anos da familia Tokugawa. Os antigos feudos foram extintos e os privilégios pessoais foram eliminados através de uma reforma agrária e da reformulação de todo sistema educacional no país. A partir desse período, a escola deixou de ser privilégio de um segmento social, tornando-se obrigatória para todos. O governo do Japão priorizou a educação e instituiu “a educação para todos” no início da década de 70 do século XIX, o que foi um dos pilares para a edificação do Estado Moderno no Japão e um sustentáculo para sua modernização. O sistema educacional japonês consiste em seis anos de shogakko (corresponde ao ensino fundamental de 1ª a 4ª série), três anos de chugakko (corresponde ao ensino fundamental de 5ª a 8ª série), três anos de koko (corresponde ao curso médio), quatro anos de universidade ou curso de dois anos chamado de tanki daigaku. Além disso, na fase pré-escolar, existem o jardim da infância e a creche. No Japão, as crianças ingressam ao shogako no mês de abril, assim que com-

pletam seis anos. O shogakko e chugakko são cursos obrigatórios. Para ingressar ao koko e universidade, é necessário prestar um exame de seleção. Após o chugakko e koko, existem escolas de especialização e escolas profissionalizantes. As escolas se dividem em federal (administrada pelo governo federal), provincial (administrada pela província) ou municipal (administrada pela prefeitura local). Existem também escolas particulares em todos os níveis; todas elas são pagas, mesmo as escolas públicas, e bem caras. Assim, é comum a família começar uma poupanca logo que o filho nasce para garantir recursos para seus estudos. Assim, a pressão sobre os jovens torna-se muito grande para que ingressem no nível universitário em uma universidade de bom nível; não raro, muitas vezes cometem suicídio por não conseguirem aprovação nos exames de seleção. Mas, uma vez aprovado, o aluno universitário deixa de preocupar-se e aproveita os quatro anos dessa fase para desfrutar o que pode, porque sabe que depois sua vida terá um ritmo intenso de trabalho.

O ano letivo é intenso com atividades até nos finais de semana; os estudantes devem participar dos chamdos “clubes educativos”, onde ocorre uma verdadeira socialização, através do esporte, teatro, música, cultura, viagens e comemorações das festas do calendário cultural do país. Praticamente, os estudantes ficam o dia todo nas escolas. O sistema escolar prioriza a memorização, a aceitação do que o mestre diz, a repetição do que é considerado como certo; poucas vezes os alunos são estimulados a criticarem ou questionarem durante as aulas. Aqui em minha Universidade, poucas vezes os(as) alunos(as)fazem perguntas e sempre se surpreendem quando pergunto a opinião deles sobre determinados assuntos

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros. Neo Mondo - Novembro 2008

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Especial - Educação

Família e Escola Diálogo Possível A família precisa reforçar sua voz e vez nas escolas. Gabriel Arcanjo Nogueira

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ecente estudo realizado pela Fundação Itaú Social constata que o contexto familiar responde pela expressiva parcela de 70% do desempenho do estudante, restando 30% para o ambiente escolar propriamente dito. O nível de escolaridade dos pais e o de renda familiar, de acordo com o estudo, são decisivos na aferição da relação entre fatores familiares e sucesso escolar. Tamanha influência só comprova que o diálogo escola & família só traria ganhos para a qualidade do ensino, o que, no entanto, não é uma verdade nem cultural nem histórica no Brasil . O fato, porém, é que pais e mães de alunos, além das demais pessoas que compõem o núcleo familiar, muitas vezes nem imaginam o quanto poderiam influenciar na educação formal de crianças e adolescentes. Há caminhos institucionais para essa aproximação, como os Conselhos escolares, que permitem aos familiares colaborar na definição da política educacional; ajudar na efetivação do projeto pedagógico e na definição dos

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modos de interação com o meio social em torno da unidade de ensino. Desconhecimento ou desinteresse? É comum ouvir a queixa de educadores de que muitas pessoas ainda vêem as unidades de ensino básico e fundamental como “depósitos de crianças”, não se importando a mínima pelo que vier a acontecer com esses seres em formação. Nesse sentido, na visão da “acomodada da família”, a educação é direito do cidadão e dever do Estado, que deve oferecer o que de melhor existe em termos de ensino. Por outro lado, essa possibilidade ampla de participação nem sempre é estimulada e divulgada pelas escolas. PESSOAS VALORIZADAS A pedagoga Consuelo Carvalho, diretora-geral do Cresça - Centro de Realização Criadora, em Brasília (DF), faz valer sua experiência de mais de 30 anos de educadora para avaliar que “as escolas precisam mostrar, acima de tudo, competência”, no que implica cuidar de pessoas, e não ape-

nas do patrimônio físico, por mais avançado que seja. A começar do suporte à equipe de educadores, no sentido de investir na formação deles, remunerá-los de maneira digna, respeitando as peculiaridades socioeconômicas de cada um. “Devemos, acima de tudo, valorizá-los, incentivá-los, facilitar as suas vidas, reconhecendo-os como pessoas que têm direito a uma vida digna. Diretores, coordenadores, psicólogos precisam andar de mãos dadas com os professores”, afirma. Com especializações em Orientação Educacional, Administração Escolar, Educação Inclusiva, Psicologia da Educação e Magistério, Consuelo é prova do que defende como ideal para os profissionais da educação. Sua análise da conjuntura educacional brasileira corrobora em parte o diagnóstico da Fundação Itaú Social. “Durante aproximadamente dois séculos, escola e família não dialogavam. As famílias não questionavam o posicionamento das escolas. O que o professor dizia tornava-se regra indiscutível. As famílias apoiavam”, pura e simplesmente.


Sem nunca perder de vista que os alunos são as pessoas mais importantes no processo educacional, a diretora-geral do Cresça reforça a relevância da participação das famílias. Para ela, se “pais, de um lado, devem acompanhar e zelar para que os filhos recebam da escola o tratamento e a educação esperados e sonhados, cabe, do lado da escola, resgatar-lhes a confiança, viver e reviver um relacionamento harmonioso com as famílias, promovendo encontros periódicos e particulares com os pais”. A educadora recomenda que pais e escola não alimentem impasses, estando à vontade para se encontrarem sempre que surgirem dúvidas, descontentamentos, queixas. “Esses encontros é que tornam os pais mais confiantes, uma vez que eles têm a oportunidade de conhecer mais profundamente a equipe. A confiança dos pais aparece na medida em que eles conhecem e reconhecem a competência da equipe”, conclui.

GESTÃO DEMOCRÁTICA Uma proposta para impactar positivamente o envolvimento familiar na educação formal foi desenvolvida pelo Instituto Paulo Freire (IPF), com sede em São Paulo. É a gestão democrática. O Instituto pode ser contatado para desenvolver atividades de disseminação dessa prática em escolas públicas com participação de educadores, aí entendidos profissionais das unidades de ensino e representantes de familiares. A gestão democrática é algo que se coloca como um convite à reflexão e à prática. Associações de Pais e Mestres e Conselhos de Escola podem ser a cabeça-de-ponte que vai permitir atingir os objetivos, como acontece na EMEB Cecília Meireles, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. A participação das famílias ali ganhou novos contornos desde que uma educadora e um conselheiro da escola freqüentaram seminário coordenado pelo prof. Luizinho, do IPF. Um meio de ampliar o alcance da gestão democrática foi criar um jornal, de boa aceitação na Emeb.

O esforço ali desenvolvido começou pela conscientização de familiares sobre a importância e o alcance dessas instituições, que nem sempre são bem-entendidas A assessora pedagógica da diretoria do La Salle Instituto Abel de Niterói (RJ), Mary Rangel, alerta que não se deve generalizar sobre pouca participação de famílias na educação formal de crianças e adolescentes. Ela lembra que estatísticas a respeito do assunto são incipientes e diz: “Numa observação empírica, pode-se até dizer que há crescente atenção das famílias em relação à educação escolar”. O que a especialista defende é que se aperfeiçoem o diálogo e a participação das famílias. Um dos recursos, a seu ver, para que isso se efetive seria a criação de ouvidoria, prática disseminada em outros segmentos com bons resultados. Serviço Sites úteis : www.fundacaoitausocial.org.br www.institutopaulofreire.org.br www.cresca.com.br www.abel.org.br

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Educacao e desenvo C

omo conceito amplo, educação é um processo de formação que pretende assegurar o desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano. Através de práticas diversas, cada povo procura transmitir às suas futuras gerações tanto o conhecimento do mundo quanto os valores sociais que construiu ao longo de sua história. Nesse processo, evidencia-se a virtude da natureza humana, que se manifesta na vontade e no esforço consciente de alcançar estágios melhores em seu modo de existência. E deve-se reconhecer aí não só a força da razão mas também “a imperecível necessidade humana de viver em beleza”, enfatizada pelo filósofo Johan Huizinga em seu Homo Ludens. Educar, no melhor sentido da palavra, significa propiciar as condições necessárias ao pleno desenvolvimento do indivíduo, possibilitando assim a afirmação da personalidade assentada no cultivo consciente do corpo e do espírito. Na história da humanidade, há um fenômeno educativo absolutamente notável e de fundamental importância ainda hoje para nós: a paideia, que constituiu o ideal de formação do homem na Grécia antiga. O helenista alemão Werner Jaeger analisou profundamente o tema numa obra de investigação histórica, que rapidamente se tornou referência entre os cultores da An-

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tiguidade clássica. Sua “Paidéia”, publicada em 1936, é um estudo que procura ressaltar a ação recíproca entre o processo histórico através do qual se chegou à formação do homem grego e o processo espiritual por meio do qual os gregos puderam elaborar seu ideal de humanidade. Segundo o autor, paideia é um conceito que não se traduz facilmente nas línguas modernas. Implicaria expressões como “civilização”, “cultura”, “tradição”, “literatura” ou “educação”, sem contudo se deixar reduzir a nenhuma delas. Cada um desses termos exprimiria apenas um dos diversos aspectos daquele conceito integral que os gregos entendiam por paideia e, para abranger sua acepção total, seria preciso empregálos todos de uma vez. Aulo Gélio, um romano do século II d. C., pensando na educação de seus filhos, escreveu uma coleção de breves ensaios a respeito de assuntos variados. Denominada “Noites Áticas”, essa obra traz inúmeros tópicos versando sobre língua, gramática, filologia, literatura, ciência, história, filosofia, direito e religião, entre outros saberes. Um desses textos (XIII, 17) pretende esclarecer o significado da palavra humanitas (que normalmente traduzimos por “humanidade”). Encontra-se aí um parágrafo que nos ajuda a compreender melhor o termo grego que destacamos:

Os que criaram as palavras latinas e aqueles que as usaram bem não pretendiam que “humanidade” significasse o que popularmente se considera (com esse sentido, os gregos usam filantropia, que quer dizer certa solicitude e boa vontade para com todos os homens, sem distinção), mas pretendiam que “humanidade” significasse mais ou menos aquilo a que os gregos chamam paideia – e ao que nós corretamente chamamos “educação e cultura”. Os que realmente desejam e alcançam tal formação, esses são humanos ao máximo grau possível. Com efeito, entre todos os seres viventes, a guarda e transmissão desse saber foi dada exclusivamente ao homem e, por isso, chamou-se “humanidade”. Tanto na Grécia quanto na Roma antigas, meninos e meninas recebiam uma educação formal, quer fosse em casa ou em escolas. De um modo geral, a saúde e a vitalidade do corpo e do espírito orientavam a instrução das crianças e dos jovens. A despeito das peculiaridades e limitações que caracterizaram o sistema de ensino em cidades como Atenas ou Roma, tratava-se sempre de uma educação para a coletividade, de uma preocupação com a formação do indivíduo a fim de inseri-lo no contexto social de modo a que pudesse se tornar útil e responsável,


Márcio Thamos

lvimento

do indivíduo à coletividade fortalecendo ao mesmo tempo sua capacidade de arbítrio, isto é, sua liberdade essencial como ser que se descobre a si próprio na experiência do mundo. Ainda hoje, quando se fala em educação para todos, não pode ser outro o objetivo de qualquer Estado democrático. Embora não se deva exagerar na idealização do antigo mundo grego e romano, o fato é que, como passado modelar da civilização ocidental, mesmo para nós brasileiros, ele continua sendo uma referência inteiramente legítima para refletirmos sobre problemas da atualidade, sobretudo no que diz respeito a questões de caráter fundamentalmente humano. Isso porque, muito do que somos hoje se deve à herança cultural greco-romana que, através da colonização européia, contribuiu para nos formar o espírito. Não pode haver dúvida de que o bem comum é finalidade primordial da educação. E para que ela alcance seus melhores resultados, gerando desenvolvimento social duradouro, é preciso que o indivíduo que se educa possa reconhecer-se como parte ativa e representativa da coletividade em que se insere. E é só através da educação que os autênticos valores sociais cobram sentido e criam raízes em cada um de nós. É preciso que haja identificação do indivíduo com os

valores da comunidade em seus vários níveis: local, regional, nacional e mundial – sem que nenhuma dessas instâncias seja negligenciada. Não sendo assim, qualquer processo de educação se vê prejudicado, pois perde muito de seu fundamento. Por isso, quando boa parte dos jovens brasileiros parece hoje interessar-se mais por costumes dominantes de países estrangeiros do que pela riqueza de sua própria cultura, tem-se um claro indício da crise da educação no país. O desenvolvimento social que se espera obter através da educação só pode acontecer a partir do desenvolvimento humano de cada membro que compõe a comunidade. É preciso pensar no coletivo, mas não de forma abstrata, compreendendo que esse processo, que é afinal o da conquista de uma cidadania plena, tem em cada indivíduo o seu sujeito. Uma compreensão menos superficial do processo educativo exige antes de tudo a clara distinção entre verdadeiro conhecimento e mera informação. A aquisição do conhecimento é um ato criativo de descobrimento pessoal e não arquivamento passivo de dados. O conhecimento pressupõe sua apreensão através da reflexão e da vontade; exige uma postura crítica, dialógica, que não prescinde da experiência própria de cada um. A informação

pura e simplesmente dada tende a tornarse objeto de memorização mecânica, ato que, em última instância, conduz à desumanização do indivíduo, uma vez que se assemelha mais ao adestramento do que propriamente ao ensino. O conhecimento não pode ser “dado” ou “transferido” simplesmente, ele tem que ser construído, ele tem que ser, de certo modo, recriado em bases pessoais. É preciso sempre lembrar, com Paulo Freire, que a educação se faz permanentemente e que não há uma separação entre indivíduos educados e não educados. Existem graus de educação, mas estes não se definem de forma absoluta: ao interagir em sociedade, de um modo ou de outro, estamos todos nos educando mutuamente. Nesse sentido, uma educação ambiental, que hoje tornou-se indispensável, tem a virtude de levar o indivíduo a preocupar-se permanentemente com o coletivo.

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas junto ao Departamento de Lingüística da FCL-UNESP/CAr. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.

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Especial - Educação

U

ma relevante questão vem sendo levantada por educadores: a urgente necessidade da inserção de valores humanos na educação. O que significa isso? Para eles, significa uma tentativa de agir diante de quadros cada vez mais assustadores de violência, de banalização da vida, de posturas antiéticas, de corrupção, de desrespeito pelo próximo e de uma seqüencia de degradações que se tornam públicas nas notícias diárias. Significa também exercer o verdadeiro sentido da educação, que é formar pessoas. Durante uma palestra sobre o tema, ocorrida há alguns anos, o educador Ubiratan D’Ambrósio, considerado pelo célebre Paulo Freire como “um pensador da educação atual”, lançou para uma platéia formada

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por professores a seguinte reflexão: “Para que serve um profissional altamente qualificado e capacitado se ele utiliza seu conhecimento para o mal?” – Diante do silêncio, ele prosseguiu com a afirmação: Um bom físico é capaz de descobertas importantes para a ciência como a manipulação do átomo, mas serão os seus valores que o farão desenvolver, com esse conhecimento, uma nova fonte energética que beneficiará a humanidade ou uma bomba destruidora. Outros exemplos se seguiram mostrando que a formação educacional deve preparar não apenas profissionais competentes, mas formar pessoas e inserir ao conhecimento delas valores humanos, que nortearão sua conduta. A título de apresentação, do vasto currículo de Ubiratan D’Ambrósio, nacional

Para que serve um profissional altamente qualificado e capacitado se ele utiliza seu conhecimento para o mal?

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e internacional, destacamos tratar-se de um doutor matemático, professor emérito da Universidade de Campinas (Unicamp), pai da Etnomatemática, com mais de 200 obras, entre livros e artigos publicados, e que ainda hoje é um incansável divulgador e aplicador da Educação em Valores Humanos. Ele explicou que isso significa voltarse ao aprimoramento das qualidades morais, intelectuais e sociais, que englobam questões como cidadania, relacionamento com o meio ambiente e saúde e geram, como conseqüência, o comportamento ético. “Esses valores já existem nos seres humanos, mas cabe à educação estimulálos” – disse ele. Para D’Ambrósio, a verdadeira função de um educador é reconhecer o potencial, as tendências, as inclinações genéticas, as aptidões já existentes no aluno e aprimorar essas potencialidades. Defende ainda que o ensino deve considerar a realidade sociocultural do aluno, o ambiente em que ele vive e o conhecimento que ele traz de casa. Segundo ele, lamentavelmente, isso


V alores humanos

na Educação A educação com a missão de formar o Ser. Liane Uechi

não acontece atualmente, uma vez que a educação aplicada na maioria do sistema de ensino está focalizada apenas no repasse de conteúdos acadêmicos, muitas vezes, obsoletos. D’Ambrósio crê que a metodologia é algo dinâmico, onde o fundamental é ser um bom ouvinte. Cada educador é capaz de criar suas próprias técnicas de aplicar a educação em valores humanos. NOVE ANOS DE APLICAÇÃO A empresária e pedagoga Fernanda Mesquita Berkovitz desenvolve há nove anos um trabalho de Educação em Valores Humanos, no município de Amparo, em São Paulo, experiência que rendeu inclusive um livro sobre o tema. Seguindo os passos do pai, Luiz França de Mesquita, idealizador do projeto, Fernanda mantém o Núcleo de Educação em Valores Humanos Gentil Pessoa de Mesquita, que funciona como uma escola complementar, atendendo gratuitamente crianças e adolescentes

de 5 a 17 anos da área rural; adultos da comunidade em cursos técnicos e ainda treina professores em cursos básicos de Valores Humanos. As crianças freqüentam o espaço em horário contrário à escola e recebem ali os conceitos dessa metodologia sintetizada pelo educador indiano Sathya Sai Baba. “Realizamos a educação do Ser, que passa pela reflexão e pelo autoconhecimento. São os valores de uma pessoa que formam a estrutura do seu caráter” – informou ela. Fernanda defende que a educação não é mera transmissão de conhecimento, mas sim, a aplicação de ações diárias, que devem apresentar coerência entre pensamento, palavra e ação. “Deve haver unidade entre coração, cabeça e mãos” - sintetizou. O método aplicado no Núcleo utiliza, segundo ela, a educação amorosa, através da vivência dos Valores Humanos: Verdade, Retidão, Paz, Amor Universal e Ação Correta. “Utilizamos uma técnica de aplicação dessa metodologia, que é muito sim-

Antônio Scarpinetti- ASCOM- Unicamp

Professor Ubiratan D’Ambrósio

ples e pode ser adotada em qualquer escola, desde os primeiros anos. O que é muito importante é que esses valores também sejam vivenciados pelos educadores. A mais eficaz educação ocorre pelo exemplo” - orientou.

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Especial - Educação

Trabalhos de reciclagem em Pet promovem consciência ambiental

O resultado desse trabalho, que já educou centenas de crianças, que hoje estão cursando faculdades ou já inseridos no mercado de trabalho (alguns voltaram ao Núcleo como voluntários), se revela no entendimento que deixaram registrados em seus trabalhos e passagem pelo Núcleo, como: “... nosso futuro depende da perspectiva de nosso olhar” ou ainda, “descobrimos que existe esperança na vida e um futuro melhor”. Para Fernanda, esses depoimentos, guardados com cari-

Atividades no NEVH Gentil Pessoa de Mesquita.

nho, são as melhores recompensas desse trabalho e uma demonstração de que valeu a pena acreditar e dar continuidade ao sonho do pai. “Ele possuía muita visão, compreensão de mundo e humanidade. Ele foi a grande luz destas crianças” – explicou Fernanda. O atendimento no Núcleo é mantido atualmente com recursos próprios e auxílio de voluntários. Apesar das dificuldades comuns nesses empreendimentos, o projeto irá completar 10 anos, em 2009, e estão

previstos a manutenção do atendimento das crianças; a realização de cursos técnicos profissionalizante para adolescentes, já com estágios garantidos; cursos técnicos para adultos, como massagem básica e avançada e, ainda, cursos de artesanato e reciclagem; um projeto cultural; eventos, como as Semanas Abertas, quando recebem escolas da região para visita; atendimento médico de acupuntura e fitoterapia e ainda o lançamento de um livro e de um site sobre o trabalho realizado.

Exemplo da aplicação da metodologia no Núcleo de Educação em Valores Humanos 2ª Feira

3ª Feira

Chamada

4ª Feira

5ª Feira

6ª Feira

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Chamada

Harmonização

Harmonização

Harmonização

Harmonização

Reflexão de valores – Roda da Novidade²

Reflexão de valores – Roda da Novidade

Reflexão de valores – Roda da Novidade

Reflexão de valores – Roda da Novidade

Apresentação e desenvolvimento dos Valores Relativos³

Desenvolvimento dos Valores Relativos

Desenvolvimento dos Valores Relativos

Desenvolvimento dos Valores Relativos

Reflexão de valores – Roda da Novidade Desenvolvimento e Encerramento dos Valores Relativos

Harmonização¹

Lanche Tarefa de Casa (Apoio à escola) Módulo do Dia Aula de Informática

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Tarefa de Casa (Apoio à escola) Módulo do Dia Aula de Capoeira

Tarefa de Casa (Apoio à escola) Módulo do Dia Aula de Meio Ambiente

Tarefa de Casa (Apoio à escola) Módulo do Dia Aula de Ioga

Tarefa de Casa (Apoio à escola) Módulo do Dia Aula de Valores

¹Harmonização: Exercício para serenar o nível emocional, mental e físico, com controle da respiração. Tem o objetivo de desenvolver a atenção concentrada. ²Roda da Novidade: Momento de conversar com a criança e ouvir seus problemas em casa e na escola, conhecer suas dificuldades, suas conquistas. Leva em torno de 20 min. ³Desenvolvimento dos Valores Relativos: Conforme um planejamento prévio, os valores relativos (por exemplo: respeito às diferenças, solidariedade, amizade etc) são propostos como temas de discussões, vivências e reflexões junto às crianças. Cada valor relativo é trabalhado por duas semanas.

VALORES HUMANOS ABSOLUTOS VERDADE

Discernimento, sinceridade, otimismo, atenção, lealdade, justiça, coerência, etc.

RETIDÃO

Disciplina, ética, respeito, ordem, vida salutar, bondade, coragem, dignidade, etc.

PAZ

Calma, contentamento, paciência, tolerância, concentração, autoconfiança, autocontrole, etc.

AMOR UNIVERSAL NÃO-VIOLÊNCIA

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VALORES RELATIVOS OU SUBVALORES

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Dedicação, perdão, caridade, compreensão, igualdade, alegria, generosidade, devoção, etc. Cooperação, fraternidade, altruísmo, força interior, patriotismo, respeito às diferenças.


Natascha Trennepohl

Educação e

Correspondente especial de Berlim – Alemanha

meio ambiente: conexão para um futuro sustentável

A

educação ambiental já aparecia na década de oitenta como um princípio norteador da Política Nacional de Meio Ambiente brasileira, tendo como objetivo capacitar a comunidade para uma participação ativa na defesa do meio ambiente, de modo que esta pudesse exercer a cidadania ambiental e atuar como sujeito central do desenvolvimento social. O ápice em termos de legislação aconteceu com a publicação da Lei 9.795/99, a qual conceitua, incentiva e operacionaliza a prática da educação ambiental no país. Nela estão presentes os fundamentos da política educacional em matéria ambiental, pois há a previsão da sua implementação nos três níveis de ensino e de forma integrada entre escolas, comunidade e órgãos públicos. Há, ainda, a exigência de colaboração dos meios de comunicação de massa na disseminação de informações e práticas educativas. Diversos países possuem legislações e programas específicos para fomentar a educação ambiental em seus territórios. Essas práticas têm como objetivo desenvolver comportamentos e valores que promovam a proteção ambiental. Tais abordagens não ficam restritas às salas de aulas, mas também se manifestam em atividades extracurriculares e domésticas. O governo da Austrália criou um programa de iniciativas sustentáveis nas escolas (Australian Sustainable Schools Initiative) que promove de modo ho-

lístico o ensino, integrando questões ambientais, econômicas, educacionais e sociais. O programa não está voltado apenas para o desenvolvimento da consciência ambiental dos alunos, abrangendo também a própria forma como a escola gerencia seus recursos, como energia, água, resíduos, etc. Programas de educação sustentável também estão em andamento na União Européia através da iniciativa conhecida como EEE (European Environmental Education Initiative) com o fim de aumentar a sensibilidade da população para as questões ambientais. Reino Unido, Alemanha e França destacam-se como os países com o maior número de projetos em andamento. São ações destinadas a todas as idades e com o objetivo de demonstrar que a proteção ambiental é um problema global e que precisa da participação de todos. Vários dos projetos focados no público infantil possuem alguma forma de interação online. Um exemplo deles é o jogo de separação de resíduos para reciclagem disponível no site do Ministério do Meio Ambiente alemão, no qual a criança deve ajudar o sapo ‘Willy’ a separar o seu lixo e a colocá-lo nas lixeiras corretas, aprendendo, assim, um pouco sobre a coleta seletiva. Alguns programas interessantes são desenvolvidos pela Agência de Meio Ambiente e de Gestão da Energia francesa (Agence de l’Environnement et de la Maîtrise de l’Energie), a qual utiliza uma

linguagem acessível para abordar diversos temas, tais como mudanças climáticas, gestão de resíduos e energia. Existem, ainda, jogos e testes para despertar o interesse de crianças e adultos, inclusive calculando a quantidade de gases de efeito estufa que foi emitida pelo indivíduo nos últimos meses (Le test CLIMAcT) e quais medidas ele pode tomar para diminuir o seu “impacto climático” no ambiente. No entanto, as iniciativas da União Européia não estão direcionadas apenas para a conscientização de crianças e adolescentes. Um exemplo é o programa desenvolvido pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (Centre for Research into Sustainability) no Reino Unido, que trabalha de forma interdisciplinar com estudantes de graduação e pós-graduação, visando diversificar o debate sobre as questões ambientais e difundir a responsabilidade social corporativa. A educação ambiental é muito importante para a manutenção do equilíbrio ecológico, na medida em que visa melhorar o relacionamento entre o homem e a natureza. Partindo-se do pressuposto de que o amanhã começa a ser moldado hoje, a educação ambiental é um fator indispensável para se ter um futuro sustentável. Natascha Trennepohl Advogada e consultora ambiental Mestre em Direito Ambiental (UFSC) Doutoranda na Humboldt Universität (HU) em Berlim

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Especial - Educação

Família e Escola no descompasso da Educação Quem educa nossos filhos? Liane Uechi

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falta de tempo é um dos principais argumentos utilizados para justificar, atualmente, as deficiências e lacunas na educação dos filhos. Afinal, os pais saem cedo para o trabalho e ficam fora durante todo o dia. Um cenário diferente do vivido por gerações anteriores onde no núcleo familiar havia funções mais claramente definidas. Especialistas afirmam que as mudanças ocorreram rápido demais, incluindo-se ai novas tecnologias, acesso à informação, assimilação da mulher no mercado de trabalho e estímulo à sociedade de consumo. Surgiu então um novo dilema. Nesse contexto atual, quem deve assumir a tarefa de formar os valores e princípios da educação das crianças, antes atribuição prioritária da família? Para a professora e psicopedagoga Isabel Parolin, a estrutura familiar pode ter mudado, mas não suas responsabilidades. Isabel, que é autora do livro: “Quem tem tempo de educar?” garante que o grande problema não é a falta de tempo, mas a falta de clareza e

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autoridade dos adultos, o que provoca desperdício de um tempo valioso na educação e no desenvolvimento de crianças e jovens. A autora revela que essa questão do tempo tem um aspecto mais psicológico do que real. Isso pode ser verificado nos diversos e-mails que ela recebe, pedindo sugestões e conselhos sobre como conciliar essa carência de tempo e a educação dos filhos. “Há pessoas que me enviam mensagens enormes, escaneiam documentos, anexam fotos. Fico imaginando o tempo que gastaram e como ele poderia ter sido direcionado à reflexão ou solução do problema” – considera ela. Mas o fato é que, com essa pseudo falta de tempo, muitos pais acabam transferindo para as escolas e o Estado a responsabilidade de cumprir seu papel. As escolas, por sua vez, também cobram dos pais questões que deveriam ser resolvidas pela própria instituição de ensino. A especialista alerta que, apesar do consenso de que a escola e a família pre-

O aluno é responsabilidade da escola e o filho, da família Neo Mondo - Novembro 2008

cisam ser parceiras e complementares, há uma falta de clareza das funções de cada uma e a confusão tem alvo certo: as crianças e adolescentes, que demonstram dificuldades e inabilidades para lidar com questões de hierarquia, respeito às diferenças, organização, responsabilidade... A FAMÍLIA MUDOU Isabel, autora de diversos livros de educação voltados aos pais e educadores, explica que o núcleo familiar, antes composto pelas figuras do pai, mãe e filhos, hoje está diferente. Um lar hoje pode ser constituído por uma avó, um neto, uma mãe e um tio. “Que seja, isso não é ruim. Continua a ser uma família” – afirmou. O descompasso, segundo ela, acontece porque, mesmo com a mudança na organização familiar, suas obrigações precisam ser mantidas. “São três os papéis da família: provedor (sustento), cuidador e autoridade. Não importa quais os membros que assumirão ou acumularão essas funções, mas elas precisam estar presentes” – garantiu a psicopedagoga. Segundo ela, diante da realidade atual, a escola, que sempre foi uma instituição educadora, também passou a ser exigida como formadora de valores, o que não é ainda uma prática comum e que também jamais


isentará a família do intransferível papel de educar seus filhos. Na era do conhecimento e da aprendizagem, espera-se das escolas a construção de instrumentos que viabilizem ao aluno o bom convívio social e o essencial exercício da cidadania. “Sendo assim, a escola também precisa assumir o papel que lhe cabe, de filtrar informações, promover o conhecimento e favorecer a socialização e os relacionamentos” – disse. EMPURRA-EMPURRA O que a especialista constata nas palestras que profere e nos atendimentos clínicos é um jogo de empurra-empurra, a escola responsabilizando a família por questões que ela própria deveria solucionar. “Um exemplo é cobrar dos pais, quando o aluno não faz a lição de casa. Ou ainda chamar os responsáveis pelo aluno para resolverem problemas de descumprimento das regras escolares” explicou. Ela salienta que essas questões dizem respeito ao aluno e, portanto, devem ser resolvidas pela escola. O inverso também ocorre. Cita como exemplo, o caso de uma criança que estava sofrendo com a separação dos pais e que se recu-

sou a vestir o uniforme da escola. A avó o levou à escola sem uniforme e pediu que a professora intercedesse junto à criança para que a mesma o utilizasse. “Isso deveria ser resolvido no âmbito familiar e não pela escola” – esclareceu. ENTENDENDO OS PAPÉIS Conforme a psicopedagoga, há uma dificuldade de refletir sobre os papéis que cabem a cada instituição. A escola tem caráter público, atende a um grupo. Enquanto que a família tem conotação particular. “O aluno é responsabilidade da escola e o filho, da família”. Numa longa lista de exemplos, há ainda os casos de inversões de critérios como o pai que reclama da escola, que instituiu a recuperação aos sábados, alegando que este é o único dia que ele tem para dormir um pouco mais. “Ele deveria reclamar é com o filho que precisa de recuperação e o fará acordar no sábado, cedo”. Há também os casos de mães que levam os filhos atrasados à escola, justificando que a culpa não é da criança, mas dela. “Ela não é a aluna. Quem deve se justificar com a escola é a criança, por-

que dessa forma irá criar responsabilidade e cobrar da mãe o cumprimento dos horários.” – explicou. Isabel analisa que, com a desculpa da falta de tempo, não há espaço também para refletir sobre as ações. Assim, o grande volume e a rapidez das informações disponíveis, fizeram surgir a figura do “homem light”, que recebe uma enorme carga de informações gerais, através dos meios de comunicação, mas que tem um conhecimento superficial sobre os assuntos e não se mostra preparado nem confiante para discernir sobre questões importantes como seu papel na educação dos filhos. ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS Mas nem tudo está perdido; a especialista é otimista e concorda que as transformações foram realmente muito rápidas e geraram esses desajustes, mas que a grande procura e o questionamento das famílias e da escola para abordar essas questões mostram um desconforto da sociedade que já dá sinais de entendimento de que é hora de encontrar soluções de adaptação ao novo contexto da vida moderna.

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Especial - Educação

O Brasil

precisa ler mais

Uma pesquisa realizada pelo IBOPE mostra os déficits da leitura do brasileiro e apresenta soluções. Livi Carolina

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ra uma vez um povo que precisava ler mais para, com sabedoria, fazer valer a democracia de seu País. De acordo com a socióloga Verônica Cortes, se o hábito da leitura fizesse parte da realidade brasileira, o Brasil seria bem diferente. Com senso crítico e habilidade de relacionar os fatos, a população teria mais condições de cobrar seus direitos, teria profissionais mais capacitados e aptos para melhorar o Brasil. Contudo, longe dos contos de fadas, a realidade dos brasileiros é outra, como confirmam os dados da segunda pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada no final de 2007, pelo Ibope Inteligência, por solicitação do Instituto Pró-Livro, que tem como objetivo principal o fomento à leitura e à difusão do livro. Os resultados do estudo apontaram que o brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano, sendo que 100 milhões declararam ter lido ao menos um livro no último ano. Enquanto em países como Espanha, Argentina e França a média per capita é de 5, 5.8 e 7 livros por ano, respectivamente. Entretanto, estes números são ainda mais alarmantes se forem analisados somente os

dados daqueles indivíduos que já concluíram os estudos e não estão mais na escola. Esta média cai para 1,3 livros por ano. Segundo a gerente executiva de projetos do Instituto Pró-Livro e membro da comissão de trabalho da pesquisa, Zoara Failla, esta segunda edição da pesquisa foi realizada para avaliar os resultados das ações investidas no período entre 2001 (primeiro levantamento) e 2007. “Mesmo que de maneira ainda tímida, no intervalo desses seis anos houve muitas mudanças e melhorias no acervo de medidas que favoreceram a educação, a cultura e a leitura. Estas questões passaram a ter maior espaço na pauta dos governantes” – destaca. Ela explica que, dessa vez, foi inclusa toda população maior de cinco anos, enquanto na primeira edição foram ouvidas pessoas com ou acima de 15 anos, com três anos de escolaridade. “Mas, se pegarmos somente esta parcela da população e compararmos com os dados levantados em 2007, veremos que houve uma melhora de 1,8 para 3,7 por habitante no índice da leitura” – ressalta.

Uma pessoa assim (que lê) conhece melhor seus direitos e se destaca no mercado de trabalho por sua visão estratégica e capacidade de análise

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Mas ainda é pouco Diferente de um noticiário no rádio ou na televisão, a leitura de um livro, jornal ou revista permite à pessoa compreensão, pois se leu e não entendeu, ou se esqueceu, pode voltar e reler o conteúdo formando uma opinião própria a respeito. “Se você mesmo for atrás das informações, e não se satisfizer com aquilo que ouve, vai formar o seu juízo sobre o assunto. Uma pessoa assim conhece melhor seus direitos e se destaca no mercado de trabalho por sua visão estratégica e capacidade de análise” – enfatiza. Por que o brasileiro não lê mais? Um entrave para a leitura é o analfabetismo funcional. Conforme afirma a socióloga, 70% da população têm dificuldade de interpretar o conteúdo lido. Então, como gostar de ler se não for estimulado da maneira adequada? Para Zoara, este estímulo precisa partir da história contada, motivando as crianças a recontarem a história, inventarem outras... “E por que não começar com o gibi? Tem que despertar com algo que lhe agrade” - sugere. Ambas concordam que a escola é o principal fomentador da leitura, mas, quando a leitura é obrigatória, o resultado será o inverso da motivação. “A leitura precisa ser prazerosa, com fundamentos que conquistem, por isso, o aluno deveria escolher o que ler” – alerta a gerente. Outro equívoco é a maneira com a qual esta leitura é geralmente avaliada. Na maior

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parte dos casos, os alunos são obrigados a responder um questionário sobre o livro, enquanto a apresentação por meio da montagem de uma peça, por exemplo, poderia ser bem mais interessante e estimulante. A família também tem a sua parcela de culpa. A pesquisa mostra que aqueles que têm o hábito da leitura foram influenciados pela mãe. Havia livros em casa e quando pequenos foram presenteados com alguma literatura. A biblioteca também tem um papel importante neste estímulo e, portanto, deveria ser vista pelas crianças e jovens como espaço cultural, com atividades atraentes para a comunidade. A começar por um acervo multimídia que pode auxiliar o jovem na escolha da leitura, livrando-se do estigma de lugar silencioso e escuro. Se há estímulo, há resultado Cleiton Apolinário da Silva, 18 anos, morador de Francisco Morato, na Zona Leste da cidade de São Paulo, conheceu a biblioteca aos treze anos quando visitava o espaço multimídia para acessar a internet. Ficava mexendo no computador e vendo de longe aquele monte de livros que ele tanto achava estranho. Até que um dia a curiosidade falou mais alto e finalmente entrou no espaço em que eles ficavam. “Por coincidência, estavam precisando de voluntário para trabalhar lá e me candidatei. Tinha que ajudar as pessoas a escolherem os livros,

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mas eu não tinha lido nenhum. Via as pessoas cultas conversando sobre várias coisas e não sabia de nada, foi então que comecei a ler” – conta ele. Um tempo depois, apareceu a oportunidade de fazer um curso de Contador de História, oferecido pela Fundação Volkswagem. Ele não só fez o curso, como multiplicou tudo o que aprendeu com os colegas. Em cinco anos de voluntariado, contou histórias para crianças de 32 escolas e formou 20 contadores.

“Quando vejo uma criança com um livro na mão, sinto uma felicidade porque sei o quanto aquilo será importante para ela. Ainda encontro na rua pais que me agradecem, pois, depois que seus filhos começaram a freqüentar a roda de leitura, passaram a ter melhor comportamento em casa e na escola” – relata. Por causa da sua experiência com a leitura ele também passou a gostar e se interessar pelo estudo. Hoje, trabalha numa transportadora, mas já decidiu que vai cursar a faculdade de biblioteconomia.

O que a leitura significa para os brasileiros (resposta espontânea e única)

Conhecimento Algo Importante Crescimento profissional

26%

45,2 milhões 14 milhões 13 milhões

8% 8%

Sabedoria 9,2 milhões 5% Desenvolvimento cultural Importância social

5% 8,1 mil 6,9 mil 4%

Prazer

6,8 mil

4%

Melhora a educação

6,5 mil

4%

Tudo na vida do homem

2%

Inteligência

1%

Informação

1%

Atualização

1%

Lugares novos Comunicação

1% 1%

Outras respostas

1%

Citações negativas

1%

A leitura tem significado positivo para 3 em cada 4 pessoas. 1 entre cada 4 pessoas não faz a menor idéia sobre o papel de leitura.

45,7 milhões

Não sabe ou não opinou

26%

FONTE: IBOPE

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Especial - Educação

Os Tecnól estão

Quem tiver melhor capacitação sai com vantagem no mercado, seja empresa, seja empregado. Gabriel Arcanjo Nogueira

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exemplo dos alquimistas, da música de Jorge Ben Jor, os tecnólogos também estão chegando e, como os primeiros, são discretos e silenciosos. Isso porque quem faz barulho mesmo são os produtos e serviços que esses profissionais conseguem idealizar e desenvolver. O mercado e a sociedade agradecem. O Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia, do Ministério da Educação e Cultura, pode ser acessado no endereço http://portal.mec. gov.br/setec/index.php?option=content& task=view&id=575. O objetivo do MEC é, por meio do catálogo, disponibilizado na internet, ajudar o aluno a se orientar, ter mais segurança na hora de escolher o curso e certificar-se de que terá a formação adequada. Para o doutor em Sociologia, Valmor Bolan, reitor do Centro Universitário Ibero-Americano (Unibero), diretor de Relações Institucionais da Anhangüera Educacional e consultor institucional do MEC/Inep, “cursos tecnológicos representam para o Brasil superar uma defasagem que já foi vencida por europeus e, de modo particular, pelos Estados Unidos.” Para se ter uma idéia, Bolan cita que, por se tratar de cursos de curta 28

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ogos

chegando... duração, com foco no mercado, nos Estados Unidos em torno de 65% do total dos concluintes universitários em cursos dessa duração são de especialidades que atendam demandas de profissionais em nível inicial e intermediário, seja em nível de linha de produção seja de gerenciamento. Atraso de meio século Para superar o atraso de meio século nesta área, a abertura a esse segmento de cursos, de modo especial os tecnológicos, acontece a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ainda no governo do Fernando Henrique Cardoso, na gestão do ministro Paulo Renato de Souza, lembra o reitor. Não obstante, logo de cara, “a opinião pública e o mercado não se emocionaram com a novidade. Os acadêmicos, sobretudo das universidades públicas, chegaram a vêla como subcursos universitários. Por conta da visão elitista do ensino superior brasileiro, habituado a parâmetros ultrapassados de qualidade”, argumenta Bolan. Para estes, importa levar em conta a duração do curso (na visão deles, quanto mais longo melhor); conteúdo do curso (quanto mais acadêmico, melhor; e quanto mais afastado da orientação de mercado melhor, sempre na visão dos acadêmicos. A verdade é que, pouco a pouco, os cursos tecnológicos, cuja integralização curricular varia de dois a três anos, conseguem se impor. Isso porque “a sociedade descobre a importância de cursos mais focados para especialidade (tecnológicos) do que os generalistas, como é o caso dos bacharelados (de maior duração)”, avalia Bolan. O sociólogo-reitor reconhece, que apesar de ser “indiscutível que os bacharelados atenNeo Mondo - Novembro 2008

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Especial - Educação

Prof.-Dr. Valmor Bolan

dem necessidades de segmentos estudantis diferenciados e, em certos casos, indispensáveis, como a Medicina, entretanto, nesta área quem desejar apenas uma especialidade procurará um tecnológico, a exemplo do curso de Tecnologia em Radiologia. Na área do bacharelado em Administração, por exemplo, o estudante poderá procurar um curso tecnológico na especialidade de Gestão de Recursos Humanos ou Gestão Logística”. Clamor empresarial Salta aos olhos que sobram funções nas empresas que não são adequadamente preenchidas por falta de profissionais qualificados, caso de especialidades em Informática que, pela abrangência de seu alcance, permeia outros segmentos de produção. Por

esse aspecto, os cursos de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Geoprocessamento, Eletrônica Industrial, Serviços de Saúde, Química Ambiental, entre outros, atendem ao citado clamor empresarial por especialistas mais bem qualificados. Bolan ressalta que ninguém chegaria ao ponto de defender que se crie um país só de tecnólogos. “Precisamos de médicos, engenheiros, pesquisadores em ciência pura e aplicada, de acadêmicos que se dediquem ao rico processo de inovação científico-tecnológica. E são necessários também dos tecnólogos.” Emerson Moraes Vieira, gerente de Educação Empreendedora do Sebrae-SP, explica que “novas demandas de mercado exigem qualificações diferentes e haverá, por isso, cada vez mais espaço para pessoas com a devida capacitação, principalmente com ênfase em tecnologia”. Para ele, o que vale para empregado vale também para empregador, isto é, quem tem a preocupação de estar em dia com as qualificações tende a encontrar as maiores oportunidades no mercado. A seu ver, empresas que abrem vagas para tecnólogos ganham em produtividade, melhoria nos processos e aumento de sua competitividade. “Somente empresas que investem em pessoas qualificadas mostram ganhos significativos. O custo inicial das que contribuem para que essa capacitação aconteça pode até parecer maior, mas o retorno é correspondente”, afirma. Em Itu, no Sudoeste paulista, a Primar Equipamentos é exemplo de empresa atendida pelo Sebrae-SP que não abre mão de profis-

Vinicius Fonseca

Emerson, do Sebrae-SP: espaço crescente para profissinais qualificados

sionais capacitados em cursos que sejam, no mínimo, profissionalizantes. Depois de passar por um processo de capacitação tecnológica, quadruplicou o número de funcionários, em dois anos. O profissionalismo da empresa permitiu que chegasse a bons resultados, como crescimento médio variável de 80% a 120%, de 2006 para cá, 70% em produtividade e 0% de erro na linha de montagem de produtos sofisticados na área hospitalar, entre eles autoclaves e bombas de vácuo. As instituições de ensino superior, entende o reitor da Unibero, em sua maioria, têm cursos de boa qualidade, com exceções que infelizmente se vêem em outros setores, seja empresarial seja institucional, que “não cumprem a função social e econômica a que foram destinadas”.

Do que se trata Tecnólogo - o curso visa um novo tipo de formação. Mas não se trata de curso técnico nem algo ligado especificamente à área de tecnologia, pois abrange outras áreas. O termo dá nome a um curso superior (graduação) que demora, em média, dois anos. Instituições de ensino superior, além do mercado, têm dado atenção crescente a eles, por essas características voltadas a gestão entre elas, a ambiental -, comércio, turismo e comunicação. Houve uma expansão do conceito de tecnólogo, originalmente voltado para o setor de tecnologia. Há 98 graduações tecnológicas organizadas em dez eixos: Produção Alimentícia; Recursos Natu-

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Neo Mondo - Novembro 2008

rais; Produção Cultural e Design; Gestão e Negócios; Infra-estrutura; Controle e Processos Industriais; Produção Industrial; Hospitalidade e Lazer; Informação e Comunicação; Ambiente, Saúde e Segurança. Em Recursos Naturais, estudam-se Agronegócio, Aqüicultura, Cafeicultura, Horticultura, Irrigação e drenagem; Produção de grãos; Produção pesqueira; Rochas ornamentais; e Silvicultura. Em Ambiente, Saúde e Segurança, estudam-se Gestão ambiental, Gestão de segurança privada, Gestão hospitalar, Oftálmica, Radiologia, Saneamento ambiental, Segurança no trabalho e Sistemas biomédicos. Fonte: Portal Universia Brasil (www.universia.com.br)/MEC


Leitura Socioambiental

da

PaulaLyn Carvalho

Fotografia Urbana

Ricardo Veneziani

Espaço Verde Urbano

Pesquisa para identificar e reeducar uma sociedade de risco. PaulaLyn

O

Fotos: PaulaLyn Carvalho

projeto do Parque Ecológico do Tietê foi elaborado em 1976 pelo arquiteto Ruy Ohtake e, embora apenas dois núcleos tenham sido implantados (Tamboré e Engenheiro Goulart), a idéia inicial era que ele ocupasse uma área de mais de 100 quilômetros na extensão do rio Tietê, passando por diversas cidades. O núcleo Engenheiro Goulart, abordado nas imagens, foi fundado em 1982 e está localizado em uma região posteriormente cortada pela Rodovia dos Trabalhadores (atual Ayrton Senna), a caminho do Aeroporto de Cumbica. Uma das maiores áreas de lazer e ecológica da cidade de São Paulo, é necessário reservar um dia inteiro para conhecer o parque e usufruir de todas as atividades oferecidas: acessar à história do rio no Museu do Tietê, consultar os mais de 14.000 títulos da biblioteca, visitar a sala de maquetes, assistir aos espetáculos, fazer passeios de barco a remo, pedalinho e trenzinho, caminhar por várias trilhas: a trilha ecológica, a das águas, a do Tietê e a do viveiro (Centro de Educação Ambiental), visitar a ilha dos macacos, além de participar de oficinas. Como todo lugar público, o Parque Ecológico do Tietê também precisa de cuidados para que haja preservação da fauna e flora, bem como a despoluição das águas e um destino adequado para o lixo depositado nas margens do rio. Responsabilidade ambiental por parte dos visitantes, como dos responsáveis pela sua manutenção.

Os quatis ficam escondidos até a chegada de alguém, “sinônimo” de alimento. As crianças são atraídas pela proximidade que elas conseguem com o animal.

O parque oferece um espaço para a apresentação de grupos musicais, teatrais etc., o que proporciona lazer e cultura para os visitantes.

Antes de visitar o parque, consulte o sítio oficial para ver a programação, obter dicas de como chegar, o que levar etc. http://ecotiete.sites.uol.com.br/

É somente a partir de uma paisagem como essa, que é possível lembrar que o parque está dentro de uma megalópole: São Paulo

PaulaLyn Carvalho é Diretora de Arte, Fotógrafa e Pesquisadora. Graduada em Comunicação: Design Gráfico, Pós-Graduada em Arte Integrativa e graduanda em Ciências Sociais. Pesquisa e registra o socioambiental nos parques urbanos de São Paulo (Estaduais, Ecológicos etc.), Parques Nacionais e Ecológicos, APAs e Reservas do Brasil. contato@paulalyn.com.br www.paulalyn.com.br Neo Mondo - Novembro 2008

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Especial - Educação

Escolas

(d)eficientes

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Incluir alunos com necessidades especiais ainda é um desafio aos gestores. Livi Carolina

M

esmo sendo a diferença a força motriz que alavanca o mundo rumo à evolução, pois dá chance ao desenvolvimento de novos métodos e formas, a humanidade ainda está despertando para lidar com o diferente. Da mesma forma, a população muitas vezes encontra dificuldade em lidar com o que não se enquadra em um padrão. E esta mentalidade estereotipada se arrasta para dentro dos núcleos familiares e das escolas, barrando direitos fundamentais como o acesso à educação para todos, previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBN 9.394/96 – Artigo 58: “... acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular...”. De acordo com a professora doutora da Faculdade de Educação da UnB, da Área de Educação Especial e Inclusiva, Amaralina Miranda de Souza, o princípio da Educação como direito de todos pressupõe não só a escola, mas todo o Sistema de Ensino esteja preparado para atender a diversidade das demandas apresentadas pelos alunos. “Embora essa premissa pareça óbvia, constata-se que a grande maioria das escolas brasileiras ainda não está completamente preparada para atender as especificidades das demandas dos alunos que apresentam algum tipo de deficiência” – destaca. Felipe Torres, 22 anos, perdeu a audição ainda muito pequeno e teve que encarar todo o período escolar sem este sentido. Como na época a própria legislação segregava os alunos deficientes, estudou em uma escola especial da educação infantil até a 8ª série, onde aprendeu a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e desenvolveu a habilidade da leitura labial. Embora estes anos tenham sido fundamentais para o desenvolvimento da linguagem própria dos deficientes auditivos, eles também o afastaram do mundo ouvinte.

Somente no ensino médio Felipe, foi direcionado para uma escola regular, onde não foi disponibilizado o auxílio de um intérprete. Esta assistência só foi obtida nos cursos que ele realizou, já adulto, no SENAI. Apesar dos contratempos, hoje ele ministra alunas de LIBRAS, mas ainda enfrenta dificuldades em manter relacionamentos sólidos com ouvintes, pois eles têm receio de não conseguir se comunicar com ele. Os primeiros passos O exemplo de Felipe mostra que a história está mudando a mentalidade e incluindo a pessoa com deficiência, mas ainda falta muito para chegar a um patamar ideal. “Tendo em vista o histórico constitucional que apoiava um ambiente escolar nada incluso, a avaliação é que o processo de inclusão está em andamento. Hoje a educação separada é vista como uma violência contra a criança, mas nenhuma escola está preparada para a inclusão até que ela se depare com a matrícula de um aluno especial” – declara Martinha dos Santos, da Secretaria de Educação Especial – SEESP. Para Daniele Torres, irmã de Felipe, pedagoga, formada em deficiência áudio-comunicação e intérprete, este método gera polêmica entre as escolas. “As coisas acontecem de cima para baixo, dando a entonação de uma obrigatoriedade, e muitos não concordam ainda. A inclusão está imposta e, estando ou não preparadas, as escolas devem aceitar a todos. Mas infelizmente não vemos adequação quanto à estrutura física, nem recursos materiais e humanos. Já algumas instituições têm um melhor preparo e estão realmente se esforçando para melhor atender”. Conforme relata a coordenadora do Setor Escolar da Associação de Assistência à Criança Deficiente – AACD, Aparecida L. Benatti, esta discussão acontece porque muitos professores não estão

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Especial - Educação

preparados e têm medo de lidar com uma situação que desconhecem. “Muitos educadores até estão sensíveis, mas precisam de um apoio por parte dos coordenadores e diretores” – destaca. Para mudar este quadro, a AACD tem o programa de Formação Básica para Professores da Rede Regular de Ensino que já havia treinado mais de três mil profissionais, até 2005. O Ministério da Educação – MEC, por meio das secretarias estaduais e municipais, também está investindo na capacitação dos profissionais da rede de ensino. Martinha alerta sobre a necessidade dos gestores estarem ligados às secretarias para atualizarem-se e reivindicarem as adequações devidas para a recepção de alunos com necessidades especiais. “Cabe à escola exigir a capacitação, estruturação acessível dos prédios, materiais próprios e profissionais como intérpretes e escribas. Tudo de acordo com cada caso. Ela (escola) tem autonomia e uma legislação que a apóia e financia esta mudança” – alerta. Em setembro deste ano o ministro da educação Fernando Haddad assinou o decreto 6.571/08 que repassa os recursos do Fundo da Educação Básica - FUNDEB ao atendimento de necessidades específicas do segmento. A partir de 2010, as escolas públicas de en-

sino regular que oferecem atendimento educacional especializado no contraturno das aulas terão financiamento dobrado por aluno com necessidades especiais matriculados. Isso possibilita o investimento na formação continuada de professores, na implantação de salas de recursos multifuncionais e na reformulação do espaço físico. A importância da inclusão A presença dos alunos com necessidades educacionais especiais, por deficiências ou não, nas salas regulares de ensino, é fundamental para a vida da escola e para o desenvolvimento da própria sociedade, pela questão do direito, do respeito às individua-

lidades, “mas, sobretudo pela riqueza do processo educativo, que deve ser plural, dinâmico, e criativo. De forma a se traduzir na vida harmônica em sociedade, onde o respeito ao outro nos torne mais humanos e mais fraternos” – enfatiza a doutora Amaralina. Para Martinha, a escola precisa transmitir a valorização da diferença e cabe à família exigir seus diretos, pois eles existem e precisam ser cobrados. Serviços Para obter melhores informações sobre a legislação e repasse do MEC às instituições de ensino, acesse: www.mec.gov. br - Educação Especial.

Total Geral

Com deficiência

Com deficiência em escola ou classe comum

Educação Infantil

6.574.369

24.634

64.501

Ensino Fundamental

32.346.623

239.506

224.350

Ensino Médio

8.372.175

13.306

2.806

Ed. de Jovens e Adultos

5.034.606

28.295

49.268

Educação Profissional

1.402.310

790

15.090

FONTE: Censo Escolar MEC/INEP, 2007

População estudantil com necessidades educativas especiais por tipo de deficiência e instituição educativa que freqüenta Tipo de instituição que freqüenta Comum ou regular Especial

Público

População estudantil com deficiência Visual*

Auditiva**

Física

Mental***

Múltipla****

48.241

32.755

28.092

106.552

14.204

TOTAL 229.844

Privado

2.406

2.070

2.831

8.153

1.559

17.019

Público

6.453

19.093

3.545

73.645

13.824

116.560

Privado

4.835

10.232

10.111

157.287

38.914

221.379

61.935

64.150

44.579

345.637

68.501

584.802

TOTAL FONTE: Censo Educacional MEC/INEP, 2007.

9.* Dado corresponde à soma entre as categorias cegueira e baixa visão. 10.** Dado corresponde à soma entre as categorias surdez e deficiência auditiva. 11.*** Nesta categoria estão incluídos 42.016 alunos (as) com Síndrome de Down. 12.**** Nesta categoria estão incluídos 682 alunos (as) com Surdocegueira. 13. Somam ao total da população estudantil com deficiência 90.528 alunos (as) com Transtornos Invasivos de Desenvolvimento e 2.988 alunos (as) com Altas Habilidades/Superdotação. Com isso, chega-se ao universo de 678.318 alunos (as), destes, 23.712 estão registrados mais de uma vez porque possuem mais de um tipo de N.E.E, quando excluída a duplicidade das 23.712 matrículas chega-se ao total de 654.606 conforme o Censo Escolar (MEC/INEP/2007).

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Neo Mondo - Setembro 2008

A


Especial - Educação

N

a era do conhecimento, onde a competitividade exige a agilidade e eficiência, a atualização e a especialização continuada dos profissionais têm sido visto pelas empresas como um componente que agrega valores aos negócios. O subsídio e estímulo à educação tem sido foco de investimentos por parte das grandes empresas, que assim motivam seus colaboradores, reduzem a rotatividade de seu quadro funcional ao mesmo tempo em que atendem às necessidades do mercado. As empresas começam a perceber também ganhos por otimizar tempo e custos que seriam gastos com longos processos seletivos. A estratégia que já é prática comum a diversas organizações no Brasil mostra uma tendência a ampliação. Um exemplo são

as universidades coorporativas, onde são ministrados e administrados os cursos de capacitação oferecidos pelas empresas, que passaram a ocupar cada vez mais maiores espaços no mundo do empreendedorismo. De acordo com a Associação Brasileira de Educação Corporativa – ABEC, existem cerca de 250 universidades corporativas em empresas públicas, privadas e outras instituições. A Associação calcula que uma corporação, com um quadro entre cinco mil e dez mil funcionários, invista por ano em torno de mil reais por trabalhador. Segundo o Eimar Fonseca Magalhães, gerente de comunicação da ArcelorMittal, siderúrgica produtora de aço, com esta valorização a empresa passa a contar com empregados qualificados para atuar frente aos desafios

precisamos que nossos profissionais cresçam junto conosco, (...), adquiram experiências e conquistem novos conhecimentos

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definidos pelo negócio e pelo mercado. Antenado a este cenário, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas inaugurou em setembro deste ano a Universidade Coorporativa SEBRAE em sua sede, em Brasília. “A formação continuada dos nossos colaboradores é indispensável para a evolução do conhecimento e as exigências do mercado, traduzindo nossa missão. Pois precisamos de profissionais habilitados para atender a demanda de auxílio à formação às pequenas e microempresas” – relata a responsável pela Universidade, Alzira Vieira. Em um mês de funcionamento da Universidade, foram alcançadas 500 matrículas, 400 em cursos online, recurso utilizado para que todas as unidades da rede tenham o mesmo conteúdo e atendam o maior número de pessoas. “Por enquanto, temos somente dois cursos em andamento: negociação e gestão orientada. A partir do próximo ano, ampliarmos os cursos e as parcerias com instituições de ensino superior já estarão em andamento” – explica Alzira.


Empresas investem

em educação Exemplos de grandes empresas que estimulam seus funcionários à capacitação contínua. Da Redação

A mineradora Vale também tem despertou para este investimento, através da Universidade Corporativa Vale – VALER e para a corporação este método deixa claro que as pessoas são chave para o alcance de resultados. “Nos próximos anos cresceremos ainda mais. Para isso, precisamos que nossos profissionais cresçam junto conosco, (...), adquiram experiências e conquistem novos conhecimentos” – ressalta o diretor-presidente, Roger Agnelli. Além dos cursos de continuidade, a Valer atua também na escolarização básica a cursos de aperfeiçoamento técnico, especializações, MBAs, mestrados ou doutorados, programas de idiomas, formação gerencial, treinamentos para elevar a segurança das operações e disseminar práticas responsáveis nos âmbitos econômico, social e ambiental e até mesmo atividades culturais e artísticas. Fora dos portões da empresa Além de oferecer educação formal, que inclui apoio e subsídio de cursos de formação regular, como por exemplo, o ensino médio para praticamente todo o quadro de empregados (mais de 15 mil empregados no Brasil), os investimentos em educação também alcançam a comu-

nidade, com programas que fortalecem a qualidade de ensino, o que, conseqüentemente, também qualificará a mão-de– obra necessária pelas empresas. A ArcelorMittal desenvolve o Programa Ensino de Qualidade – PEQ, um trabalho para o aperfeiçoamento da gestão escolar, com foco na melhoria dos processos de gestão e pedagógicos do ensino público, cujo objetivo é estimular as potencialidades dos estudantes, contribuindo para um aprendizado de qualidade. Atualmente, o programa contempla os municípios de João Monlevade, Carbonita, Senador Modestino Gonçalves, em Minas Gerais, Cariacica, no Espírito Santo, e Feira de Santana, na Bahia. A metodologia já foi aplicada também nos municípios de Vespasiano (MG) e Piracicaba (SP). A empresa também viabiliza o programa Formação de Educadores, o PEQ contribui para o desenvolvimento da capacidade analítica e crítica dos professores, incentivando discussões sobre problemas e práticas cotidianas do ensino. Com estes objetivos, o programa promove a capacitação dos educadores, utilizando metodologia participativa e interativa, com a qual são reconstruídos conceitos e desenvolvidas habilidades para compreender e reelaborar o trabalho pedagógico.

Renúncia Fiscal Conforme a Lei 9249/95, a empresa que investe na educação pode obter benefícios fiscais. Para tanto, seguem algumas informações importantes. A renúncia fiscal é baseada na Lei Federal 9249/95, artigo 13, é aplicável apenas nas empresas de lucro real e consiste basicamente em: • destinação de 1,5% do lucro real, antes das deduções, para educação e pesquisa; • destinação de 2% do lucro real, antes das deduções, para trabalhadores da empresa doadora, seus dependentes e a comunidade onde atuar. Esta poderá ser captada apenas pelas instituições que possuem título de Utilidade Pública Federal ou que tenham registro como OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público junto ao Ministério da Justiça. Fonte: SIAI

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Especial - Educação

Ler e escrever:

U

ma das primeiras coisas que um indivíduo recebe ao nascer é uma certidão de nascimento, onde são registrados seu nome, suas características físicas, os nomes de seus progenitores... Mais tarde, ela precisará de um novo documento, o RG, que lhe garantirá a comprovação da sua identidade. No entanto, mesmo contendo dados tão simples e importantes, milhares de brasileiros não conseguem decifrar aquilo que seus documentos dizem a seu respeito. Não conseguem nem mesmo legalizá-lo por meio de sua assinatura, pois não reconhecem as junções de letras que formam seus nomes. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 2005 existiam cerca de 14,9 milhões de pessoas analfabetas acima de 15 anos, número que correspondia a 11% da população brasileira. Entre os países latino-americanos, o Brasil é o 9º no ranking da taxa de analfabetismo. Números que o colocaram no grupo das 11 nações com mais de 10 milhões de não-alfabetizados, ao lado do Egito, Marrocos, China, Indonésia, Bangladesh, Índia, Irã, Paquistão, Etiópia e Nigéria. Grupo, para o qual a Unesco criou um programa de metas de erradicação de analfabetismo até 2015. De acordo com ele, o Brasil deverá reduzir a taxa para cerca de 6,7%.

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Conforme dados da Agência Brasil, por meio dos governos municipais e estaduais e da iniciativa da sociedade civil, o País tem conseguido reduzir este percentual, porém ainda em ritmo lento, segundo constatação da coordenadora do Relatório de Monitoramento de Educação para Todos Brasil 2008, Angela Rabelo Barreto. Alfabetizando o Brasil Com um passo de cada vez, o Ministério da Educação – MEC, junto com parceiros da sociedade civil, está investindo em novas ações para reverter este quadro. Entre eles, entrou em vigor este ano o Plano de Desenvolvimento da Educação que visa favorecer programas voltados para uma educação básica de qualidade, para o sucesso e a permanência do aluno na escola. Em meio a estes projetos, o MEC oferece também atenção especial à Educação de Jovens e Adultos – EJA, através do Programa Brasil Alfabetizado, atendendo brasileiros com dificuldades de escrita e leitura ou que nunca freqüentaram uma escola. O que não gera dúvidas é que investir na alfabetização de jovens e adultos é transformar vidas e dar mais força à sociedade. “Muitos, principalmente idosos, procuram o programa para se sentirem aceitos e acolhidos em uma sociedade letrada” – declara Salete

Valesan Camba, diretora de Relações Institucionais do Instituto Paulo Freire, organização fundada por Paulo Freire, educador responsável pela inovação do método para EJA. Conforme explica o diretor de Políticas da Educação de Jovens e Adultos do MEC, Jorge Teles, o programa Brasil Alfabetizado atua por meio de convênios com instituições alfabetizadoras de jovens e adultos. “O MEC não efetua os trabalhos de alfabetização em sala de aula, mas viabiliza recursos através do FUNDEB para os estados e municípios, disponibiliza materiais didáticos e acompanha e avalia todas as ações dos conveniados” – ressalta Teles. Segundo o diretor, a estratégia dos governos municipais e estaduais é formar parcerias com as organizações da sociedade civil para incentivar o retorno de jovens maduros e adultos para a sala de aula. “Muitos têm vergonha de retomar os estudos em um ambiente escolar onde seus filhos ou netos freqüentam” – diz ele. Mas, na tentativa de quebrar barreira da vergonha e da baixa auto-estima, o governo tem investido em campanhas institucionais para atrair a retomada aos estudos. O programa Brasil Alfabetizado já alcançou 5 milhões de pessoas, no entanto, este ainda é um número insuficiente, tendo em vista que existem, segundo o diretor, 40 milhões que não terminaram os


direito de todos... ... privilégio de poucos

O Brasil está no ranking das nações com maior taxa de analfabetos, mas, aos poucos, tem criado soluções para formar uma nação mais letrada. Livi Carolina

estudos. Por isso, a participação de instituições nesta luta pela alfabetização tornase fundamental neste processo. Quebrando barreiras Luciane, 34 anos, aluna da EJA, faz parte desta estatística. Ela abandonou a escola ainda criança, depois de sucessivas reprovações. Ela lembra como se sentia numa sala de aula da 4ª série: “Eu tinha medo de ir à escola, me dava um frio na barriga. Tentava prestar atenção na aula, mas entendia tudo pela metade. Tentei participar das aulas, algumas vezes, mas minhas perguntas sempre causavam risos e a professora nunca falava nada. Tinha vergonha de não saber!”. Este depoimento, retirado do material: Cadernos Trabalhando Com a Educação de Jovens e Adultos do MEC*, retrata a realidade de 1/3 dos alunos da EJA que já passaram pela escola, mas, por algum motivo, romperam o trajeto estudantil. De acordo com a diretora Salete, Luciane é um exemplo entre milhares. Mas, além destes que passaram por algum trauma no período escolar, existem aqueles que nunca estiveram em uma instituição de ensino. “Geralmente, estes jovens são moradores da zona rural, onde existe uma grande distância entre suas residências e a escola ou são oriundos de famílias pobres que não podem

abrir mão do trabalho destes jovens. Este caso também se assemelha aos motivos de jovens da periferia das grandes cidades, onde a infra-estrutura de transporte e assistência educacional não acompanha o crescimento dos novos bairros” – destaca a diretora. Ela esclarece que, além da frustração por não ter conseguido concluir ou iniciar os estudos, esses alunos já carregam uma bagagem histórica e cultural que deve ser valorizada para motivação da continuidade dos estudos para que não seja gerada uma nova frustração. B + A = BA Diferente da criança que está iniciando o processo de conhecimento, o adulto já tem familiaridade com o mundo, suas letras, histórias e números. Afinal, ele trabalha, faz compras, se locomove pela cidade, assiste e ouve notícias. Segundo o método Paulo Freire de educação, este conhecimento deve ser levado em consideração para que o aluno sinta-se à vontade na sala de aula. “Antes de Paulo

Freire, as cartilhas utilizadas na EJA eram as mesmas da educação infantil. No Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos - MOVA, nosso principal programa de alfabetização, a idéia é misturar idades e conhecimentos dos alunos para produzir uma busca constante de conhecimento desde o aletramento até o conhecimento específico de cada matéria” – relata a diretora. Para Salete, o Brasil poderia sair do topo da lista dos países com maior índice de analfabetos capacitando profissionais do ensino para este trabalho e abrindo mais espaços nas redes municipais e estaduais de ensino para esta atuação. No entanto, “a totalidade da rede de ensino ainda não está adequada para lidar com alunos com problemas escolares, sejam eles, adultos, crianças ou adolescentes”. Material de referência para maiores Informações: Site do MEC - Publicações da Secad

Investir na alfabetização de jovens e adultos é transformar vidas, transformar a sociedade Neo Mondo - Novembro 2008

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Especial - Educação

ECA chega

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Neo Mondo - Novembro 2008


à maioridade, mas precisa de maturidade Este ano, o ECA completou 18 anos de atuação e, embora tenha melhorado o atendimento às crianças e jovens, ainda passa por alterações. Livi Carolina

A

o completar a maioridade o jovem passa por um período de transição para a fase adulta, muitas vezes, sem estar maduro para responder por seus próprios atos e cumprir deveres impostos pela legislação a partir de então. No entanto, esta é uma mudança necessária para o seu desenvolvimento e para a garantia de sua estabilidade futura. Do mesmo modo, transitar de uma fase em que a criança e o adolescente eram vistos como seres sem vozes para uma fase em que há uma legislação específica, que rege como a sociedade, a família e o governo devem tratá-los, não é uma tarefa de fácil adaptação, mas importante para a evolução da sociedade. Mesmo tendo completado 18 anos em vigor, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA ainda enfrenta barreiras na aplicação dos direitos estabelecidos

no Artigo 4º da Lei 8.069/90 referentes à vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária. Criação do ECA De acordo com a presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA, Maria Luiza Oliveira, o Brasil tem um histórico anterior ao Estatuto de cinqüenta anos de um código redigido em uma época em que não havia diálogo entre pais e filhos. Fazendo com que a história traçada ao longo desses anos tivesse como base a tutela de desvalorização da identidade do menor, fortalecendo a cultura do descarte e do distanciamento da família, costumes que ainda estão impregnados na atualidade. Não é difícil encontrarmos crianças e adolescentes sendo criados por fami-

liares longe dos pais, com a alegação de que longe eles poderão ter um futuro melhor. Ou pais que optam por gerar o sentimento de medo nos filhos em detrimento do respeito como forma de impor sua autoridade. Estes, entre outros fatores, criaram um ambiente favorável à concepção de leis que mudassem essa trajetória e oferecessem maior segurança a estes indivíduos. O primeiro passo foi dado, com o estabelecimento do ECA que transformou a criança e o adolescente em agentes ativos da sociedade, exigindo-lhes atenção e cuidado. No entanto, segundo a presidente, “uma lei não alcança de uma vez só vez a sua totalidade. O Brasil já está avançado neste sentido, aos poucos temos adaptado o Estatuto para atender melhor a esta parcela da população. E, embora hoje a criança já seja vista como indivíduo que merece respeito, isso é só o início. Ainda temos muito trabalho“. Neo Mondo - Novembro 2008

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Especial - Educação

Embora hoje a criança já seja vista como indivíduo que merece respeito, isso é só o início. Ainda temos muito trabalho

Está no papel, mas... Ainda há uma grande discrepância entre a lei redigida e a aplicada. Um dos fatores que atrapalham sua efetivação é a dificuldade de discutir com os pais a melhor maneira de cuidar dos filhos. “Isto é um desafio, mas vivemos um momento de mais solidez no caminho para ajudar a família a compreender estes cuidados. Estamos buscando potencializar a família em sua capacidade de educar, por isso é importante o envolvimento dos Governos e de instituições na discussão do ECA” – alerta a Maria Luiza. Hoje já existe maior divulgação da legislação que protege os menores de idade, porém, se há regras, como alertou a presidente, “há quem as quebre”. Enquanto estas brechas não forem solucionadas, milhares de crianças continuarão a ter suas vidas marcadas. Brechas na rede de assistência Em setembro deste ano, a população ficou chocada com o caso dos irmãos Igor Giovani e João Victor dos Santos Rodrigues, de 12 e 13 anos, mortos pelo pai e pela madrasta em Ribeirão Pires, no Grande ABC Paulista. Os irmãos já haviam passado cerca de nove meses em um abrigo da cidade por alegação de maus-tratos e abandono, mas foram levados de volta para a casa do pai, onde foram assassinados após algumas semanas do retorno. Segundo Maria Luiza, esse caso evidencia a necessidade de maior integração da rede

de auxílio, com profissionais capacitados que identifiquem qual a real situação de aparência e vivência para o atendimento e acompanhamento desses casos. “É preciso que haja amarra entre as ações dos assistentes sociais, dos conselhos tutelares e da vara da infância, porque se um agir bem, o trabalho do outro não é comprometido e a situação não chega a este ponto” – destaca a presidente. Outra brecha neste caso, assim como em tantos outros, foi o tempo em que as crianças aguardaram a resolução do caso no abrigo, fato que aumentou ainda mais o distanciamento afetivo. O princípio do Eca é que o melhor lugar para criança e o adolescente crescer é no seio de sua família, de preferência a natural. Caso já tenham se esgotado todas as chances de reaproximação com os responsáveis, o ideal é que sejam encaminhados para a adoção, passando o menor tempo possível em um abrigo, uma vez que, as conseqüências de uma institucionalização prolongada podem ser irreversíveis à criança, criando o sentimento de rejeição, culpa, solidão e dificuldade de relacionamento. Serviços de acolhimento De acordo com o resultado de uma pesquisa realizada em 2003 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA: 50,1% das crianças e dos adolescentes foram abrigados por motivos relacionados à pobreza e 24,1% exclusivamente em função da situação de pobreza de suas famílias; 86,7% tinham família, sendo que 58,2% mantinham vínculos fami-

liares, com contato regulares; apenas 43,4% tinham processo na justiça; e somente 10,7% estavam em condição legal de adoção; 20% estavam no serviço há mais de 6 anos. Estes resultados mostraram que grande parte das crianças e adolescentes em situação de abrigo se encontra desta maneira por causa da pobreza em que vive suas famílias. Como resposta aos resultados dessa pesquisa foi elaborado um “Plano Nacional de Promoção, Defesa e Garantia do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária” por uma Resolução Conjunta, formada pelo CONANDA, pelo Conselho Nacional de Assistência Social, pelo Poder Público e por representantes da sociedade civil. O documento prevê, entre outras adaptações, a excepcionalidade do afastamento do convívio familiar e a provisoriedade do afastamento do convívio familiar de no máximo dois anos. Já o CNAS abrangeu seu atendimento a famílias de baixa renda, melhorando as condições de proteção às famílias com deficiências, unindo as esferas Federal, Estadual e Municipal, como afirma a diretora do – Sistema Único de Assistência Social - SUAS, Simone Albuquerque. Segundo ela, o principal aliado deste trabalho de assistência às famílias tem como principal aliado os Centros de Referência de Assistência Social – CRAS. “Com o CRAS estamos tentando mudar a forma de atingir a assistência social com um sistema de prevenção da violação dos direitos. Sua função é encaminhar a população local para as demais políticas públicas e sociais, possibilitando ações intersetoriais” – diz a diretora. Para a presidente do CONANDA, a melhor forma de erradicar os problemas na fase infanto-juvenil é investir na assistência ao adulto, dando a ele condições de trabalho, educação e informação, por isso é importante que essa relação seja intensificada.


Educação

Terence Trennepohl

e sustentabilidade empresarial

A

o longo do tempo, vem aumentando sensivelmente a participação da iniciativa privada na condução de políticas públicas. O Estado é responsável por planejar as políticas de desenvolvimento sem descurar da preservação ambiental. O correto seria dar incentivos às empresas - àquelas que se adaptassem às políticas públicas menos poluentes ou menos agressivas, pela via dos produtos, bens e/ou serviços comercializados - um prêmio, uma contrapartida proveitosa. Ao menos assim seria o mais sensato. Como essa prática é pouco adotada, as empresas partiram para o mercado em busca do feedback necessário para reger as diretrizes comerciais e saber a maneira mais lucrativa que estivesse em consonância com padrões mínimos de dignidade para o ser humano. Nesse contexto, surgiu a figura do stakeholder, que em seu viés empresarial significa a integração dos agentes internos e externos que se relacionam com a empresa, sejam eles empregados, consumidores, fornecedores, sócios, imprensa, enfim, o que puder dar um retorno – positivo ou negativo – às atividades por ela desenvolvidas. Esse lineamento da atividade empresarial, que exige da iniciativa privada a adaptação a alguns ícones de proteção (do homem e da natureza), está na Constituição Federal, tratado no Capítulo da Ordem Econômica e Social (art. 170). Quando a empresa extravasa seu objeto social e busca atuar também na melhoria da qualidade de vida e do desenvolvimento sustentável, sua função social está plenamente atingida e sua imagem amplamente divulgada, como sinônimo de ‘empresa sustentável’ e ‘empresa ambientalmente correta’. Todos ganham com isso! Também está comprovado que o consumidor preocupado com a questão ambiental dará prioridade cada vez mais a produtos e serviços que estejam de acordo com a proteção do meio ambiente. Para tanto, inúmeros são os exemplos de empresas que adotaram em suas atividades a

educação ambiental como forma de reforçar o marketing ambiental ou seu apelo ecológico. Assim, a necessidade de implantação (ou incremento) de algumas práticas (como a certificação de produtos e serviços, a educação ambiental e a adoção da responsabilidade social, manifestada de outras inúmeras formas), poderá ser, ainda que não totalmente original, ao menos um auxílio à proteção ambiental, no alvorecer de um novo século, em que o tema está sendo intensamente debatido. Esse tipo de sistema, pró-ativo, quando adotado por uma empresa, geralmente é seguido pelas demais, no que se costuma chamar de benchmarking. O benchmarking é a busca pelas melhores práticas industriais que conduzem a um melhor desempenho. Esse processo se dá quando uma empresa compara práticas e performances negociais, a fim de melhorar a mesma ou uma função semelhante dentro de sua atividade. Com a educação ambiental dentro das empresas é assim. Ela serve para valorizar a ‘marca’. Para ilustrar isso, é de se relembrar que em 2005 a Bolsa de Valores do Estado de São Paulo criou o ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE/BOVES-

PA). Esse ‘selo’ de sustentabilidade conta com a participação de várias empresas de grande porte – multinacionais – e se assemelha ao Dow Jones Sustainability, da Bolsa de Nova York. Ainda é cedo para concluir se será suficiente. O certo é que a iniciativa privada está tomando as rédeas na condução de políticas educacionais, que, em sua origem, pertencem ao Estado. Diz a Constituição Federal, em seu art. 205, que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Saber se isso dará certo ou não, ou se será suficiente ou não, trata-se de antever o futuro. O que importa é que algo está sendo feito e caracteriza-se como um novel paliativo apontando para o século XXI. Por enquanto, os alunos agradecem!

Advogado de Martorelli e Gouveia Advogados Professor da UFPE Mestre e Doutorando em Direito (UFPE) E-mail: tdt@martorelli.com.br Neo Mondo - Novembro 2008

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Fiscal da Floresta

Um Olhar consciente da Amazônia A Revista Neo Mondo vasculha as ações e devastações da Amazônia Legal Brasileira e traz as principais novidades sobre a região. Da Redação

Programa “Um bilhão de árvores para a Amazônia” O governo do Pará implantará um programa florestal chamado de “Um bilhão de árvores da Amazônia”. O programa busca diminuir ou, na melhor das hipóteses, acabar com o passivo ambiental (danos causados ao meio ambiente pelas empresas, representando a obrigação das mesmas

de cuidar dos aspectos ambientais da floresta) proveniente da degradação da mata. A idéia do programa é criar formas de restaurar áreas de reserva legal e preservação ambiental a curto, médio e longo prazos, visando o desenvolvimento social e econômico do espaço.

Queda no Desmatamento em Setembro O sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), do Inpe, indicou uma queda de 22% no desmatamento da Amazônia em comparação a agosto. Foram 587 km² desmatados, sendo este valor também menor em relação ao mesmo mês em 2007 (2,7% menor). No acumulado do ano, a região amazônica

sofreu uma destruição da mata de 6.268 km². As áreas devastadas em setembro estão espalhadas pelos estados do Mato Grosso (216 km²), Pará (127 km²), Maranhão (97 km²), Rondônia (91,5 km²) e Amazonas (46 km²). Os demais estados da Amazônia Legal tiveram pouco ou nenhum desmatamento registrado.

Expedição Amazônica Uma expedição na Amazônia, denominada Expedição MariuáJauaperi, está sendo feita pelos profissionais do WWF-Brasil. A aventura, que começou em outubro, partiu de Manaus e irá até o médio rio Negro, coletando informações e dados sobre as áreas

por onde passar. Belas paisagens e uma rica biodiversidade, biológica e sociocultural, são alguns dos atrativos dos locais. Algumas belas espécies de aves já foram notificadas, como o “dançador de cauda fina”, um pássaro de olhos brancos e pernas escuras.

Vazio Cartográfico O Sipam, Sistema de Proteção da Amazônia, liberou dados de que 1,8 milhão de km² da Amazônia Legal não tem informações cartográficas de seu terreno. Isso corresponde a 35% da área amazônica, que tem um total de 5,2 milhões de km². Esse vazio cartográfico prejudica ações de desenvolvimento nos locais, além de dificultar o

monitoramento das fronteiras, comprometendo a segurança e defesa nacional. As áreas mais carentes de cartografia são Amazônia, Pará, Amapá, Mato Grosso e parte do Acre, Maranhão e Roraima. O governo está estudando esses terrenos para preencher os espaços e poder, mais para frente, criar projetos de infra-estrutura na região.

Tijolo Sustentável Um projeto de tijolo sustentável, desenvolvido pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), ficou em segundo lugar na categoria “Econômica – Tecnológica” do prêmio Professor Samuel Benchimol 2008. O material para construção civil é feito a partir da mistura de resíduos natu-

rais de frutas da Amazônia. Após oito meses de desenvolvimento, a novidade, que tem como base o ouriço, a casca da castanha-do-brasil e fragmentos vegetais do tucumã, poderá construir casas populares com aproximadamente cinco mil tijolos e edifícios de até quatro andares.

21 em 2021 Um estudo sobre o Fundo Amazônia prevê que as arrecadações que visam acabar com o desmatamento da mata chegarão a 21 bilhões até 2021. Mesmo com a crise mundial, o governo afirmou, durante a primeira reunião do Fundo Amazônia, feito na Sede do

BNDES (Rio de Janeiro), que a crise não afetará as doações de outros países para projetos sustentáveis. O governo ainda espera anunciar três doadores privados na Conferência das Partes sobre mudanças Climáticas, que acontecerá na Polônia, em dezembro.

Amazonas Film Festival Entre os dias 7 e 13 de novembro, aconteceu a 5ª edição do Amazonas Film Festival. Durante o evento, cerca de 200 filmes, na maioria sobre assuntos ambientais, foram exibidos. Destaque para os filmes produzidos na Amazônia, que tiveram um espaço A 44

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especial na festa. Neste ano, 53 produções participaram na parte competitiva, em cinco premiações diferentes, três nacionais e duas internacionais. O objetivo do festival foi promover as diferentes culturas, já que filmes de 27 países participaram da mostra.


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Dica

Sugestões de Livros VALORES HUMANOS NA EDUCAÇAO Autor: MARIA FERNANDA NOGUEIRA MESQUITA Editora: Gente Sinopse: Diante do grande desafio que é educar, sempre nos vemos diante da mesma dúvida: qual é a melhor maneira de fazê-la? “Valores Humanos na Educação” oferece ao leitor uma proposta de aplicação prática do Programa de Educação em Valores Humanos, criado pelo mestre e educador indiano Sathya Sai Baba, e implantado com suces-

so em mais de 150 países. Ele propõe um método de trabalho com crianças, fundamentado em cinco valores - verdade, ação correta, paz, amor e não-violência. Suas técnicas podem ser adotadas em qualquer escola, independentemente do sistema pedagógico, e em casa, pelos pais e por outros educadores informais.

ANALFABETISMO NO BRASIL Autor: Ana Maria Araujo Freire Editora: Cortez Sinopse: Em “Analfabetismo no Brasil”, Ana Maria Araújo Freire desvenda as raízes de uma pesada herança que o Brasil carrega para o século XXI: o analfabetismo. No País ele continua se reproduzindo com a representação da sociedade injusta, dialeticamente articulado com a concepção discrimina-

tória da educação das elites brasileiras. A autora, com base em documentos primários, descreve a ideologia da interdição do corpo, associada à noção de pecado, dificultando o acesso de mulheres, índios e negros, a ambientes que lhes facilitassem a aquisição do saber.

ATLAS AMBIENTAL BEBEDOURO, SP, BRASIL Organizadores: Basf e Coopercitrus Editora: Vistadivina O “Atlas Ambiental Bebedouro, SP, Brasil” é uma ferramenta pedagógica inovadora, que visa estimular o raciocínio, a reflexão e a participação de alunos em discussões de interesse global e local. Através de imagens espaciais via satélite, as 88 páginas do livro revelam informações sobre matas, oceanos, animais, urbanidade, clima, cultura, sociedade, história e política do Brasil e do Mundo, dando ao aluno a possibilidade de fazer uma leitura em diferentes escalas de um mesmo fato. Seu lançamento faz parte de um projeto desenvolvido através do Programa Mata Viva de Adequação e Educação Ambiental da BASF, que contou com a parceira da Credicitrus - Cooperativa de Crédito Rural Coopercitrus; FISC - Fundo de Investimento

Social da Coopercitrus e Credicitrus e da Fundação Espaço ECO. Por meio do Atlas Ambiental, é oferecido um material completo, inovador e personalizado para os estudantes de 15 escolas da rede pública de ensino, além da Escola SESI e do Educandário Santo Antônio, no município de Bebedouro Para a elaboração do conteúdo pedagógico foram entrevistados 56 especialistas de conceituadas instituições de ensino do país. O Atlas é interdisciplinar e tem um entrelaçamento de diferentes áreas do conhecimento que são trabalhadas na escola. Os professores, por sua vez, receberão uma versão exclusiva da publicação, com textos e sugestões de atividades para aplicação nas aulas.

Sem dúvida A nalfabetismo Funcional: É o termo usado para pessoas que sabem escrever seu próprio nome, assim como ler e escrever frases simples e efetuar cálculos básicos, porém são incapazes de interpretar o que lêem e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas, impossibilitando o desenvolvimento pessoal e profissional.

C idadania: É o conjunto de direitos e deveres que uma pessoa está sujeita, em relação à sociedade em que vive. Essa pessoa goza do direito de participar da vida

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política de seu Estado, intervindo na direção de negócios públicos, sendo isso de forma direta (votando) ou indireta (concorrendo a um cargo público).

I nterdisciplinar: Corresponde à integração de dois ou mais componentes curriculares na construção do conhecimento educativo.

N íveis infantil, fundamental e médio: A educação infantil é destinada a crianças de 0 a 6 anos de idade, o ensino fundamental a

crianças entre 7 e 14 anos e o ensino médio a adolescentes entre 15 e 18 anos.

P olíticas Educacionais: Referem-se às diretrizes tomadas pelo governo que visam resolver problemas ligados à educação. Planejam e organizam as estruturas educacionais, desde o ministério até as salas de aula.


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