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Ano 10 - N0 76 - Setembro/ Outubro 2016
Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida
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HIDROPIRATARIA Executivas Sustentáveis
Uma viagem
Pelos biomas brasileiros
Hidropirataria
Denúncias recorrentes sobre tráfico de água
MATRIZ CERRO CORÁ
UNIDADE ACLIMAÇÃO
PROJETO TATUAPÉ
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Proteção e respeito a todos os animais 6
Neo Mondo - Julho 2008
Neo Mondo - Julho 2008
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Seções
ÍNDICE Perfil
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Executivas Sustentáveis As executivas do momento e a sustentabilidade Lazer e Turismo
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26 anos de um paraíso Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha
Meio ambiente
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Mata Atlântica Um dos biomas mais ameaçados do planeta Educação
30 Meio ambiente
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Tábua de plástico ecológica O polietileno de baixa densidade
Para de me zoar Bullying: violência mascarada de brincadeira
EDITORIAL Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br
É como prova de otimismo que a revista NEO MONDO traz em suas páginas questões polêmicas e que exigem atitudes urgentes, mas sempre com o viés de discussão, conscientização e engajamento. Nesta edição, abordaremos como destaque o bioma mais devastado do Brasil e um dos mais ameaçados do planeta, a Mata Atlântica. Outro assunto que merece nossa atenção é a hidropirataria no rio Amazonas: mito ou boato? Por fim, conheça nesta edição as Executivas Sustentáveis, quatro mulheres de destaque no meio empresarial que também lideram iniciativas de sustentabilidade nas empresas que presidem. Tenha uma ótima leitura! NEO MONDO, tudo por uma vida melhor!
EXPEDIENTE Publisher: Oscar Lopes Luiz
Diretora de Relações Internacionais: Marina Stocco
Diretora de Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794)
Diretora de Educação - Luciana Mergulhão (mestre em educação)
Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Lopes, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794), Andreza Taglietti (MTB 29.146), Lilian Mallagoli Revisão: Instituto NEO MONDO Direção de Arte: Editora Caramujo Diretora Jurídica - Enely Verônica Martins (OAB 151.575)
Diretor de Tecnologia - Roberto Areias de Carvalho Correspondência: Instituto NEO MONDO Rua Ministro Américo Marco Antônio n0 204, Sumarezinho - São Paulo - SP - CEP 05442-040 Para falar com a NEO MONDO: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@ neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 4303-0491 / 98234-4344 Presidente do Instituto NEO MONDO: oscar@neomondo.org.br
PUBLICAÇÃO A Revista NEO MONDO é uma publicação do Instituto NEO MONDO, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça - processo MJ n0 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70.000 exemplares distribuídos por mailing VIP e assinaturas em todo o território nacional. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização. Neo Mondo - Setembro/ Outubro2016
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Perfil
por Eleni Lopes
Recentemente, o jornal Valor Econômico publicou o suplemento especial “As dez melhores executivas do Brasil”. A escolha foi feita com base na metodologia desenvolvida pela Egon Zehnder International e pelo Valor Econômico, seguida por uma eleição das finalistas por um júri especializado composto por consultores e representantes da academia e do mercado. Atraída por esta seleção, a revista Neo Mondo quis conhecer um pouco mais sobre quatro destas mulheres e sobre as iniciativas de sustentabilidade das empresas por elas lideradas.
Luiza Helena Trajano presidente do Magazine Luiza
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uiza Helena Trajano é presidente do Magazine Luiza. Formada em Direito e Administração de Empresas, é responsável pelo desenvolvimento do grupo. Dentre inúmeros prêmios já recebidos, em 2007, 12
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foi eleita a 4a executiva mais importante da América Latina, pela Revista América Economia. Em 2008, foi homenageada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade com o Prêmio ANEFAC Mulher 2008.
Em maio de 2009, Luiza Helena recebeu o prêmio Executivo de Valor: Os Executivos mais Competentes de cada setor da Economia. Luiza também é vice-presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo) e ocupa uma das cinco vicepresidências do Conselho Diretor do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016™. Conhecida por manter uma relação diferenciada e humanizada com seus colaboradores e clientes, o crescimento da empresa está alicerçado em uma diretoria inovadora e atitudes ousadas. A aquisição de grandes redes é um dos trunfos para a multiplicação do número de lojas. O Magazine Luiza possui hoje 24 mil funcionários, 736 lojas e oito centros de distribuição, em 16 estados. Um dos valores mais presentes
na empresa é colocar as pessoas em primeiro lugar, esse é o fruto do investimento e crença da presidente do grupo. O retorno desse trabalho é que há 17 anos, Magazine Luiza figura entre as “Melhores empresas para Trabalhar”, nos rankings da revista Exame e do Instituto Great Place to Work. Em 2010, foi considerada a melhor na prática de Falar com seus Funcionários, e, em 2011, integrou a lista das 20 melhores na edição da América Latina, sendo a terceira
brasileira mais bem colocada. Na edição brasileira de 2012, foi considerada a melhor na Prática de Escutar, além de ter sido eleita uma das Dez Melhores para se Trabalhar no Brasil. Em 2014, foi eleita a 5a Melhor Empresa para Trabalhar na lista das 70 melhores empresas na categoria “Grandes”. A sustentabilidade, no Magazine Luiza, é cuidar do sucesso do negócio e ser uma empresa com sólidos valores éticos e humanos, praticando o Triple Bottom Line, ou seja, considerando que é possível ser rentável e contribuir para o desenvolvimento social e ambiental. Oficializando publicamente a crença de que o sucesso de seus negócios depende da valorização da diversidade e da vida, a empresa publicou em 2014, pela primeira vez, suas informações não financeiras no Relatório Anual Financeiro, baseadas em indicadores do Relatório de Sustentabilidade GRI. As pessoas são o principal foco das ações sociais e ambientais. Todas as iniciativas e práticas de
sustentabilidade visam elevar o valor de seus relacionamentos, por meio do diálogo permanente com fornecedores, acionistas, colaboradores, clientes, parceiros, comunidades, sindicatos, entidades governamentais, instituições sociais, meios acadêmicos, concorrentes e formadores de opinião. A empresa é altamente comprometida com a qualidade do atendimento aos seus clientes e ao fortalecimento da cultura entre seus colaboradores internos. Internamente, seus colaboradores são mobilizados pelo programa de voluntariado Rede do Bem - um modelo em que as equipes de cada unidade têm autonomia para escolher o tipo de ação social que querem desenvolver, e as próprias equipes utilizam os canais internos de comunicação para divulgar e estimular outras unidades a realizarem suas ações voluntárias. A empresa incentiva ainda, em todo o Brasil, projetos que melhoram a educação de crianças e adolescentes, por meio da cultura e do esporte. Os valores da empresa são explicitados e formalizados também no Código de Conduta Ética, assinado por todos, na sua Missão e Visão, no Credo, e em todos os canais de comunicação. Associando o negócio aos seus valores, foi aberta em 2013 a primeira loja virtual na comunidade de Heliópolis, na zona leste de São Paulo (SP). Participa do comitê da comunidade em questões relevantes, como o auxílio de jovens para continuar aprimorando sua formação, e o apoio ao Instituto Baccarelli, que forma mais de 3 mil crianças e jovens de Heliópolis para a música. Neo Mondo - Setembro/ Outubro2016
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Perfil
Marise Barroso presidente da Masisa no Brasil
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arise Barroso é presidente da Masisa Brasil, subsidiária do Grupo Masisa, empresa multinacional e uma das líderes na produção e
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comercialização de painéis de madeira para a fabricação de móveis e arquitetura de interiores. A empresa é reconhecida por sua inovação, design e gestão de sustentabilidade. No Brasil, a Masisa possui duas fábricas e, em 2012, suas vendas líquidas totalizaram R$ 578,8 milhões. Marise tem 50 anos, é comunicadora social formada pela UFRJ, com Mestrado em Comercialização pela Universidade Metropolitana, em Caracas (Venezuela). Com mais de 30 anos de experiência nas áreas de comunicação, marketing, vendas, desenvolvimento de novos negócios e gestão de sustentabilidade, Marise desenvolveu sua carreira como líder nestas áreas em importantes empresas internacionais de cinco segmentos: varejo, tecnologia, produtos de consumo, mídia e serviços, na Venezuela, na Colômbia, no México e nos Estados Unidos, regressando ao Brasil em 1999, como Diretora Comercial da AOL Brasil. Em 2005, ingressou na Amanco, como Diretora de Marketing. Assumiu a presidência da empresa em junho de 2009, cargo que desempenhou até dezembro de 2011, ingressando na Masisa em março de 2012. Em dezembro de 2012, tomou posse no Conselho Estratégico da Rede de Mulheres Líderes pela Sustentabilidade, rede instituída pelo Ministério do Meio
Ambiente para promover a equidade de gênero e empoderamento da mulher brasileira. É também membro do Conselho do MBA Executivo Internacional da FIA-USP. Desde o início de 2012, quando Marise Barroso assumiu a presidência, a Masisa Brasil estabeleceu como uma de suas metas promover a diversidade, com destaque para a equidade de gênero. A empresa acredita que os valores do feminino, assim como a própria sustentabilidade, flexibilidade, clareza de propósito e visão de longo prazo são fundamentais para o equilíbrio dos negócios. Para isso, a Masisa visa aumentar a participação das mulheres, que ainda é deficiente nos cargos de liderança nas empresas do país, por meio da modificação de alguns procedimentos – como ter sempre em entrevistas candidatos que sejam 50% mulheres e 50% homens, e reavaliando políticas e processos. Entre os desafios está o alinhamento conceitual com a participação de representantes das diferentes áreas da organização. A Masisa também vai além das certificações e dos indicadores internos, ao implantar o novo modelo de sustentabilidade conhecido como Cadeia de Prosperidade. Trata-se de um novo modelo de sustentabilidade que a empresa adotará e buscará compartilhar com todos os agentes impactados de sua cadeia. O objetivo será o de gerar crescimento nos públicos da empresa, para que ocorra a prosperidade de toda a cadeia. Baseado em políticas e processos internos, o projeto foi dividido em duas grandes fases, que podem ocorrer de forma simultânea: a Básica e a Estratégica. Na fase Básica, a empresa buscará o cumprimento da legislação local, a obtenção da licença social com a comunidade vizinha, o gerenciamento preventivo do risco social, além do controle dos impactos ambientais e sociais das operações nas áreas de influência. Na fase Estratégica, por sua vez, o objetivo da Masisa será o de buscar oportunidades de negócio para solucionar problemas sociais e/ou ambientais, bem como programas de diferenciação do mercado.
Sônia Regina Hess de Souza presidente da Dudalina
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ônia Hess de Souza, 6ª filha de uma família de 16 filhos, herdou de sua mãe Adelina, o caráter arrojado, visionário e empreendedor. De seu pai Duda, herdou a confiança, o carisma e a capacidade de liderar, fazer amigos e a certeza de que a vida é significativa se for profunda e generosa. Desta forma, a Dudalina S.A., uma das maiores camisarias da América Latina, com sede em Blumenau (SC), tem à sua frente uma mulher com extrema capacidade de decisão. Sônia iniciou sua história na pequena cidade de Luiz Alves, no interior de Santa Catarina, onde nasceu. Na adolescência, mudou-se para Blumenau (SC) para completar os estudos. Sua experiência profissional começou cedo, trabalhando nas lojas da família em Balneário Camboriú (SC). A vontade de ir além a levou à Espanha, onde realizou um estágio na UNYL, maior fábrica de camisas da época, especializando-se em confecção. Ao retornar foi convidada para trabalhar em Minas Gerais. Em 1984, foi convidada por seus irmãos para abrir o mercado paulista e administrar o escritório da empresa em São Paulo. Desafio aceito, Sônia tomou-se de amores pela cidade onde fixou residência. Apaixonada convicta e realizada pelo trabalho, o ritmo de Sônia impressiona. Sua rotina inclui viagens semanais a Blumenau, sede da empresa, além das viagens pelo Brasil em visita a clientes, e ao exterior para, além de atender clientes, visitar feiras e realizar pesquisas de mercado com sua equipe. Em 2003, 19 anos após seu retorno à empresa, tendo passado por diversas áreas como: produção, marketing, produto e comercial, Sônia assumiu a presidência
da Dudalina, a convite do Conselho de Administração. Sob seu comando estão mais de 2.600 funcionários atuando em um complexo de cinco fábricas em Santa Catarina e uma no Paraná. Do total de colaboradores, 75% são mulheres. Possui 96 lojas de varejo, sendo 62 próprias e 34 franquias, 1 showroom em São Paulo, 1 shop in shop em Milão (Itália) e 1 franquia no Panamá. Além da dedicação à empresa, Sônia faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), do Conselho Curador da Fundação Dom Cabral, atua como Conselheira Vice-Presidente da ABIT; é membro do grupo LIDE; é conselheira da Winning Women Brasil da Ernst & Young Terco; Vice-presidente do Conselho da ADVB de Santa Catarina; é mentora da Endeavor Brasil; e uma das cinco juradas da América Latina do Cartier Women´s Iniciative Awards. Entre suas conquistas, Sônia foi indicada para o Prêmio Veuve Clicquot de Mulher de Negócios (2005); foi eleita por duas vezes Líder Empresarial de Santa Catarina pela Gazeta Mercantil (2005 e 2008); conquistou o “Prêmio Cláudia” – na categoria Negócios (2005); foi eleita Personalidade de Vendas da ADVB/SC (2006), através d a
votação de mais de 12 mil pessoas, sendo a primeira mulher a receber este prêmio, atualmente na sua 13ª edição; foi finalista no prêmio Líder Empresarial Feminino promovido pelo LIDE (2008); foi eleita uma das 15 melhores Gestoras de Empresas do Brasil pelo Valor Econômico (2010 e 2011); recebeu a Medalha do Mérito ABIT (2012); foi eleita Mulher Empreendedora LIDE (2012); e recebeu a medalha Ruth Cardoso – Conselho Estadual da Condição Feminina SP (2013). Desde 2009, a Dudalina elabora o Inventário de Emissões dos GEE - Gases de Efeito Estufa - de suas atividades e de terceiros. Para isso, participa, desde 2013, do Programa Brasileiro GHG Protocol, uma ferramenta utilizada para entender, quantificar e gerenciar emissões de GEE, originalmente desenvolvida nos Estados Unidos, em 1998, pelo World Resources Institute (WRI) e é hoje mundialmente a metodologia mais usada pelas empresas. A partir dos resultados, desenvolve um programa de compensação ambiental baseado nos resultados do inventário, ou seja, no total de emissões de gases de efeito estufa. A partir da quantidade de CO2e emitida, utiliza a proporção em que 1 árvore, ao longo de 15 anos, consegue neutralizar em média 160 kg de CO2. Assim, programa atividades de sensibilização, educação ambiental e plantios com a quantidade de mudas de árvores nativas necessárias. Até hoje foram mais de 23 mil mudas de árvores nativas.
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Perfil
Ghislaine Dubrule CEO da Tok&Stok
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hislaine Dubrule é francesa, formada em Ciências Políticas pelo Instituto de Estudos Políticos (IEP) em Grenoble (França) e em Decoração de Interiores pelo Instituto Espade. Iniciou sua carreira na Tok&Stok, empresa que fundou junto a Régis Dubrule, seu marido, à frente da primeira loja e do desenvolvimento de fornecedores. Após assumir a Gestão das Lojas e do Planejamento Comercial, assumiu a Vice-Presidência, responsável pelas áreas de Planejamento Comercial, TI, RH, Logística, Atendimento ao Cliente, Jurídico. Em janeiro de 2013, assumiu a posição de CEO da empresa. A empresa, sob sua gestão, como VicePresidente e como CEO, foi reconhecida e homenageada inúmeras vezes, em relação ao Atendimento ao Cliente, Design de Produtos, Gestão de Pessoas, Responsabilidade Social, dentre outros, tendo recebido inúmeros prêmios de Top of Mind e reconhecimento de gestão. Dentre suas principais conquistas à frente da Tok&Stok, estão o crescimento da rede ao longo dos 36 anos de história, a
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consolidação da marca, que hoje, além de líder de mercado como uma das maiores redes de móveis e decoração do Brasil, é reconhecida no País, não apenas pelo público consumidor, mas também pelo público especializado das áreas de Design e Arquitetura. A Tok&Stok, por exercer seu papel de empresa socialmente responsável, mantém um relacionamento de forma ética e transparente com seu público interno, a comunidade ao seu entorno, seus fornecedores e os agentes governamentais. Realiza, ainda, ações voltadas à comunidade ao seu entorno. Atualmente apoia 25
entidades sociais pulverizadas em diversas regiões no Brasil, que beneficiam mais de 5.500 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e risco pessoal. As doações em produtos e em dinheiro, revertidos para as instituições totalizaram, em 2013, o montante de R$ 2.434.117,48. A Tok&Stok destina o valor da venda dos recicláveis, arrecadado através do programa Tok 3Rs, para cobrir parte dessas doações. Em 2013 foi arrecadado o valor de R$ 104.525,79 correspondente a 852 toneladas de recicláveis. Com o objetivo de conscientizar funcionários, fornecedores e clientes sobre a importância do correto manejo das florestas brasileiras, a Tok&Stok realiza o Programa Madeira Certificada de forma pioneira desde 1999. A madeira certificada é extraída de florestas reconhecidas como corretamente manejadas pelo FSC - Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal).
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Lazer e Turismo
26 ANOS DE UM PARAÍSO Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha corresponde a cerca de 70% do arquipélago de Fernando de Noronha. por Eleni Lopes
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Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha completou 26 anos em setembro. Há três anos como chefe do parque, Ricardo Araújo ressalta as melhorias conquistadas desde então. Entre elas, o fortalecimento na relação com a comunidade da ilha e a implantação do serviço de concessão, como enfatiza Araújo, possibilitaram novas instalações para os visitantes. “Hoje temos uma comunidade muito participativa na preservação da unidade. Esta integração ocorreu desde a criação do Parque”, pontua o chefe. A criação do Parque tinha como objetivo a preservação do exuberante cenário natural e a riqueza histórica que tornam o arquipélago um destino cobiçado por turistas de todo o mundo. A gestão é realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) desde sua criação, em 2007. “Estamos dando continuidade a um trabalho de equipe que trouxe importantes mudanças, como a implantação da concessão do parque, um maior diálogo com a comunidade noronhense, a implantação
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de um sistema de monitoramento de atividades de uso público, além de outras pequenas atividades do dia a dia que mudam a vida dos usuários”, comenta Araújo. Ao longo destes 26 anos, foram realizados investimentos em Noronha que possibilitaram melhoria na infraestrutura do parque, assegurando melhor qualidade para os visitantes, requalificação das trilhas, equipamentos para acessibilidade e ações voltadas para a redução do impacto ambiental. Ainda, o ICMBio está constantemente promovendo projetos de reforma e manutenção de trilhas, folheteria, sinalização interpretativa, implementação e manutenção do Centro de Visitantes etc.
CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO O Parque está localizado num dos mais belos destinos turísticos do Brasil, com grande beleza cênica, seja pelos recursos naturais existentes no arquipélago ou pelos sítios arqueológicos que contam mais de 500 anos de história do País. Diante de um patrimônio tão rico, o controle e gestão da visitação é um dos objetivos do ICMBio. Uma das maiores áreas marinhas protegidas do Brasil, Araújo lembra a singularidade da biodiversidade presente no Parque. “A fauna aquática é composta por uma grande diversidade de espécies de peixes, corais e vida associada. Temos também várias espécies endêmicas no Parque, como as aves Sibito e a Cocoruta, a Mabuya, que é um lagarto muito comum em todos os lugares”. A área de educação ambiental para as crianças da ilha é apontada como o desafio para os próximos anos. “As crianças são os futuros agentes sociopolíticos do arquipélago. Devem ter maior acesso a programas extracurriculares e outras iniciativas que auxiliem na sua formação. São os futuros agentes de transformação da ilha”, finaliza Araújo.
A PRAIA MAIS BONITA DO MUNDO
A
Baía do Sancho, praia do arquipélago de Fernando de Noronha, foi escolhida como a mais bela do mundo no prêmio Traveller's Choice, do site especializado Trip Advisor. A pesquisa é divulgada todo ano e leva em conta as praias mais bem avaliadas por seus usuários nos últimos 12 meses. Localizada dentro da área do Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha, é famosa pelas areias brancas e água cristalina. Somente nos últimos
12 meses, foram registrados 82.323 acessos à praia, no Posto de Informação e Controle (PIC) Golfinho Sancho. Além do Sancho, outra praia de Fernando de Noronha que aparece na lista mundial de 25 destinos é a da Baía dos Porcos, vizinha da Baía do Sancho.
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INSTITUTO NEO MONDO AMPLIA ATUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA Sempre inovando para disseminar o conceito de sustentabilidade, o Instituto NEO MONDO amplia sua rede de atuação e lança três núcleos: Branded Content, Educação e Tecnologia. Da Redação
Foto: Divulgação
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esde sua fundação, o Instituto NEO MONDO acredita que somente pessoas conscientes podem transformar o presente para garantir o futuro de um planeta sustentável. Para isso, é necessário unir esforços individuais e agir coletivamente. Em consonância com sua missão, NEO MONDO comemora seus novos núcleos de atuação: Branded Content, Educação e Tecnologia. De acordo com Oscar Lopes Luiz, presidente do Instituto NEO MONDO e publisher da revista, “sempre buscamos a vanguarda da comunicação para disseminar a sustentabilidade. Fomos a primeira revista do Brasil a usar a realidade aumentada e, hoje, continuamos investindo em ferramentas inovadoras para nos consolidarmos como agentes transformadores da socidade, por meio da edução, tecnologia e conteúdos diferenciados”.
Conheça mais sobre estas novidades a seguir: Núcleo de edução O poder da edução na transformação da sociedade é inquestionável. Por isso, o Instituto NEO MONDO reforçou sua atuação em educação por meio de uma parceria com a autora Alda de Miranda e o ilustrador Ricardo Girotto para a promoção de livros e projetos infanto-juvenis. Alda é autora consagrada e, em 2014, foi homenageada pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo com o Colar do Centenário, por sua contribuição à literatura infantil. E Girotto também é profissional reconhecido, tendo ganho o prêmio HQMix de ilustração infantil, pelos livros da coleção “Castelo Rá-Tim-Bum”. O primeiro fruto desta parceria é a obra Um reino sem dengue, voltado para crianças de 07 a 11 anos. O livro surpreende por sua abordagem totalmente inovadora sobre como educar as crianças a respeito da importância do combate à dengue. Numa história que trabalha o imaginário infantil, os autores
transportam a garotada para um reino que, para surpresa geral, é invadido pelo mosquito Aedes aegypti. O Rei fica misteriosamente doente e é preciso descobrir o que está acontecendo. A partir daí, numa aventura desafiadora, as personagens envolvem-se no aprendizado sobre a dengue e decidem combater o invasor inimigo. Com lindas imagens coloridas, o livro mergulha no universo infantil para conseguir transmitir o aprendizado de forma criativa e envolver as crianças na prevenção da dengue, usando, para isso, as ferramentas da leitura e da imaginação. Núcleo de Tecnologia A tecnologia também pode ter um papel transformador na sociedade, basta ver as mudanças trazidas pela disseminação das redes sociais. Pensando nisso, o Instituto NEO MONDO firmou uma parceria com a Eyemotion, hoje, a maior empresa de tecnologia para eventos do Brasil.
Aumentada, Realidade Virtual, Holografia e Projetos Especiais. Cada uma destas unidades possui uma equipe de desenvolvimento qualificada especificamente para a tecnologia produzida. Todos os produtos são patenteados em território nacional para garantir a exclusividade dos projetos desenvolvidos para nossos clientes. Brandend Content Antenado com as mais recentes tendências em comunicação, o Instituto NEO MONDO passa a contar também com o núcleo de Branded Content, ou conteúdo de marca. Isto é, são formas diversas de entrar em contato com o público-alvo de uma empresa,
Foto: Divulgação
A empresa possui 4 unidades produtivas internas: Realidade
oferecendo conteúdo relevante, diretamente relacionado ao universo macro daquela marca. No caso de NEO MONDO, o foco é a sustentabilidade e o que as empresas estão fazendo para disseminar este conceito dentro de suas práticas e vivência corporativa, por meio de textos, infográficos, vídeos, fotos, ações de guerrilha, cartilhas, aplicativos, blogs, sites etc.
Meio Ambiente
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UMA VIAGEM PELOS BIOMAS BRASILEIROS: AMEAÇAS AO PATRIMÔNIO NACIONAL Segundo bioma mais ameaçado de extinção do planeta, a Mata Atlântica abriga uma das maiores biodiversidades do mundo da Redação
A
Mata Atlântica, segundo bioma mais ameaçado de extinção do planeta (ficando atrás apenas das florestas de Madagascar), é a região do Brasil que se estende por 17 estados e mais de 3 mil municípios. Considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Federal, ocupa cerca de 102 mil km2 do território nacional. Isso representa apenas 8% do total de mata que existia na chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500 (a área de florestas ocupava 15% do território brasileiro, ou seja, 1.306.421 km2). Apesar de tais dados, levantamentos recentes divulgados pelo Governo Federal apontam um crescimento de 12% na área florestal do bioma. Isso porque a Mata Atlântica possui uma alta propriedade de regeneração. Outros
dados, divulgados pela fundação SOS Mata Atlântica, mostram uma queda no desmatamento da floresta em oito estados brasileiros. No entanto, alguns estados, como Santa Catarina e Paraná, continuam com altos níveis de destruição. Esse desmatamento e degradação mostram-se como grandes problemas, principalmente porque as 120 milhões de pessoas que vivem na região do bioma dependem da manutenção e dos serviços ambientais prestados tanto na proteção de nascentes e fontes que abastecem as cidades e comunidades do interior, como na regulação do clima, da temperatura, da umidade e das chuvas, na fertilidade do solo ou na proteção das escarpas e encostas de morros de eventuais processos erosivos.
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Meio Ambiente
Mata Atlântica Florestal Independente da área reduzida, a Mata Atlântica continua na lista dos biomas mais ricos do mundo em diversidade de plantas e animais. Entre os vegetais, levando em consideração apenas o grupo das angiospermas (plantas que possuem sementes protegidas dentro dos frutos), acredita-se que a Mata Atlântica possua cerca de 20.000 espécies, ou seja, aproximadamente 35% das existentes em todo o Brasil. Desse total, cerca de 8 mil são endêmicas (exclusivas do bioma). Esses dados fazem com que a floresta seja a mais rica do mundo em árvores. Um exemplo da tamanha diversidade está no sul da Bahia. Em apenas um hectare de terra, foram encontradas 454 espécies distintas de árvores (Veja o quadro comemorativo ao Dia da Árvore). Entre as espécies de frutas exclusivas da Mata Atlântica, destaca-se a jabuticaba (Myrciaria trunciflora), cujo o nome vem da palavra tupi iapoti-kaba, que significa “frutas em botão”. Outras frutas típicas do bioma são a goiaba, o araçá, a pitanga e o caju. Já entre as árvores, o destaque fica para a erva-mate. A partir de suas folhas é produzido o chimarrão, popular bebida da Região Sul do país. No entanto, da mesma maneira que há o lado positivo de se encontrar tantas plantas endêmicas no bioma, há também o lado negativo: grande parte das espécies está ameaçada de extinção. Entre os fatores que contribuem para o desaparecimento das plantas está o consumo exaustivo, como é o caso do pau-brasil, espécie que deu origem ao nome do nosso país. Outros fatores são as queimadas dos terrenos para a criação de gado, o desmatamento e o comércio ilegal. Este último é um dos principais causadores da destruição da vegetação, mesmo com leis que proíbem o plano de manejo. Espécies como o palmito-juçara, as orquídeas e 24
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as bromélias, quase entraram em extinção por causa da exploração intensiva. Plantas medicinais também sofrem muito com o comércio ilegal, sendo retiradas sem quaisquer critérios e planos de reposição. Mata Atlântica Animal A Mata Atlântica possui uma grande diversidade de fauna. Vivem no bioma aproximadamente 1,6 milhão de espécies de animais, incluindo os invertebrados. Grande parte dessas espécies é endêmica, ou seja, não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do planeta. Ao todo, estão catalogadas 270 espécies de mamíferos (73 endêmicas), 849 espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 de répteis e cerca de 350 espécies de peixes. O destaque entre os animais fica para o mico-leão-dourado. Confira sobre esse animal no quadro. Extinção Animal Os anos passam e as espécies ameaçadas de extinção aumentam. Em 1989, a lista publicada pelo Ibama já trazia dados impressionantes, mostrando que 202 espécies de animais eram consideradas oficialmente ameaçadas no Brasil, sendo que 171 viviam nas florestas atlânticas. Em 2003, dados ainda piores foram liberados pelo Ministério do Meio Ambiente. O total de espécies ameaçadas no país subiu para 633, sendo que a maioria reside na região da Mata Atlântica. Das 265 espécies de vertebrados ameaçados, 185 ocorrem nesse bioma (100 endêmicas). Das 160 aves da lista, 118 vivem na região atlântica (49 endêmicas). Das 69 espécies de mamíferos, 38 residem no bioma (25 endêmicas). Dos anfíbios da lista, todas as 16 espécies ameaçadas são exclusivas da Mata Atlântica. Exemplos de animais ameaçados são o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga
tridactyla) e o muriqui, também conhecido como mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides). Os motivos para essa ameaça variam muito. Um dos principais é o tráfico de animais. O comercio ilegal no Brasil movimenta cerca de 10 bilhões de dólares por ano. A cada 10 animais traficados, apenas um resiste às pressões da captura e cativeiro. Outro problema é a perda do habitat para outras espécies. Estes “estrangeiros” invadem regiões de onde não são nativos por terem perdido seu próprio lar. Em outra situação, o próprio homem solta espécies não-nativas em locais inapropriados, prejudicando o desenvolvimento das espécies locais. Isso porque os animais de outras regiões multiplicam-se de maneira muito mais acelerada, pois não têm predadores e encontram alimentos abundantes. Um exemplo da soltura indevida aconteceu no Parque Estadual da Ilha Anchieta, em São Paulo. Foram soltas pelo governo, em 1983, 8 cutias e 5 micos-estrelas. Essas espécies multiplicaram-se muito rápido, chegando a ter populações de 1.160 e 654 indivíduos, respectivamente. Como consequência, cerca de 100 espécies de aves, cujos ninhos são predados por esses animais, foram extintas na ilha.
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Meio Ambiente
Mata Atlântica Social A Mata Atlântica abriga quase 65% de toda a população do Brasil, ou seja, cerca de 120 milhões de pessoas. Isso porque foi na área original do bioma que os primeiros aglomerados urbanos, pólos industriais e principais metrópoles foram formados. Além da população urbana, nela vivem diferentes tribos com culturas tradicionais, o que faz com que a área tenha uma das maiores diversidades culturais brasileiras. Entre os indígenas, destacam-se os Guaranis. Já entre as culturas tradicionais não-indígenas, o destaque fica com os caiçaras, os quilombolas, os roceiros e os caboclos ribeirinhos. Mesmo possuidora de tal patrimônio cultural, a Mata Atlântica também é muito excludente. Muitas vezes as comunidades ficam marginalizadas da sociedade. Isso ocorre por causa do processo de desenvolvimento desenfreado das redes urbanas, que acabam por deixar de lado essas populações e até, muitas vezes, acabam expulsando os moradores de seus territórios originais. Desmatamento e Degradação Muitos são os fatores que implicam na destruição da Mata Atlântica. Um deles é o avanço das cidades espontâneas, ou seja, aquelas que não são planejadas e acabam por crescer “desgovernadamente”. Esse tipo de crescimento não leva em conta os remanescentes florestais, o que faz com que o bioma seja destruído. Além disso, sem um prévio estudo da melhor maneira de se expandirem, muitos desastres acabam por ocorrer, como deslizamentos e enchentes. Outro fator é o da construção de hidrelétricas, em especial em duas regiões: na da Bacia do Rio Uruguai, que fica na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, e na da Bacia da Ribeira de Iguape, divisa de São Paulo com Paraná. Quando foram construídas, as hidrelétricas alagaram grande parte das áreas ao redor, acabando com a biodiversidade daqueles pontos. 26
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Um terceiro fator é a atividade mineradora. As regiões do sul de Santa Catarina e as áreas de Minas Gerais e Espírito Santo têm essa atividade ocupando um alto número de hectares da floresta, o que significa que os montantes de impactos ambientais negativos também são grandes. Outra questão importante é o avanço das monoculturas de árvores exóticas e da própria agricultura feita sem planejamento, ordenamento ou controle dos governos estaduais. O desmatamento feito para o plantio de exóticas e de grãos é responsável pela maior parte da atividade destruidora dessas áreas.
21 de setembro: Dia da Árvore No dia 21 de setembro, comemoramos o Dia da Árvore. Formalizada há 30 anos no Brasil, esta data relembra os laços do nosso povo com a cultura indígena. Um desses laços é o amor e respeito pelas árvores. Dia 21 marca também a chegada da primavera no hemisfério sul. Uma das mais belas estações assinala um novo ciclo para o meio ambiente, na qual se recupera a vida na natureza, após os meses de silêncio do inverno.
Fontes: Almanaque Brasil Socioambiental - ISA 2008 - Mundo de Sabores - www.mundodesabores.com.br WWF Brasil - www.wwf.org.br Instituto Ambiental Nova - www.diadaarvore.org.br
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Meio Ambiente
CURIOSIDADES
A
cobertura florestal da Mata Atlântica já ocupou quase 15% do território nacional. Hoje, apenas 8% da cobertura original está intacta. Segundo as metas da Conservação da Biodiversidade, precisamos ter 10% de cada bioma preservado em unidades de conservação para que este não entre em extinção em poucos anos. No entanto, o índice da Mata Atlântica mal chega a 3%. A Reserva Biológica de Uma, na região sul da Bahia, possui a maior diversidade de árvores do mundo: cerca de 450 espécies diferentes em apenas um hectare de mata. (dados obtidos através de um estudo realizado por técnicos do Jardim Botânico de Nova Iorque, em 1993) A Mata Atlântica abriga o primeiro parque nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia. Criado em 14 de junho de 1937, entre os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, abriga 360 espécies de aves e 67 espécies de mamíferos.
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A UNESCO reconheceu, no começo da década de 90, parte da Mata Atlântica como Reserva da Biosfera. Com uma área total de 290 mil km2, a Reserva estende-se por cerca de 5 mil quilômetros ao longo da costa brasileira. Ao todo, existem quatro espécies de micos-leões, todas exclusivas do Brasil: o mico-leão-dourado, residente da Mata Atlântica de Baixada Costeira do estado do Rio de Janeiro; o mico-leão-dacara-dourada, que mora na região cacaueira do sul da Bahia; o mico-leão-preto, residente do Morro do Diabo, Pontal do Paranapanema (SP); e o mico-leão-da-cara-preta, encontrado na região do Lagamar (Paraná e São Paulo). Destaque para o último, que foi descoberto apenas em 1990.
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Educação
PARA DE ME ZOAR Bullying: violência mascarada de brincadeira que atrapalha, entre outras coisas, o rendimento escolar. da Redação
P
or quantas vezes diálogos como este, em que se busca menosprezar alguém por sua característica intelectual ou física, acontece diariamente no ambiente escolar, com a alegação de tratarse de uma brincadeira? São atitudes corriqueiras, já comuns nas salas e nos corredores das escolas. Principalmente para os jovens, é engraçado apelidar um de gordinho, outro de magrela, ferrugem, cabelo ruim... Enfatizar aquilo que evidencia a diferença, com o intuito de incomodar o outro. De acordo com a psicóloga e professora universitária Luiza Ricotta, quando este comportamento de violência psicológica ou física torna-se constante e sem limites é denominado bullying, o que caracteriza uma agressão travestida de brincadeira, mas mostra a intolerância frente às diferenças. “Diferente de um comportamento violento explícito, como um tapa, o bullying é também agressivo, mas com outra roupagem. No entanto, é capaz de oprimir, subjugar e ferir a vítima tanto ou mais que um ato físico” – destaca Luiza. Segundo ela, a tendência é que a vítima tenha a autoestima afetada, sinta-se excluída, depressiva, reduza o rendimento escolar, recuse-se a ir à escola, podendo chegar a casos extremos 30
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de suicídio ou de reação violenta aos ofensores. Segundo uma pesquisa realizada em 2002 pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência – Abrapia, com 5.875 estudantes, entre a 5a e a 8a série, em onze escolas no município do Rio de Janeiro, mostraram que 40,5% dos alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying naquele ano. Sendo 16,9% vítimas, 10,9% vítimas e agressores e 12,7% agressores. Por que isso acontece? A maior incidência de casos de bullying acontece na escola, pois a instituição escolar é o primeiro contato com o ambiente social. É na mistura de diferenças que as características individuais se tornam evidentes: se a criança aprende mais rápido, se usa óculos, se é mimado... Com base nisso, a psicóloga afirma que é importante os pais prepararem seus filhos para a convivência social, pois as reações que têm diante da sociedade remetem aos valores que adquiriram com a família. Ou seja, se criança tem uma estrutura familiar forte que o ensina a respeitar as diferenças e tem firmada sua identidade, possivelmente não terá problemas com o bullying.
Algu ém d á um p edala nele aí!
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De n o Profe vo! ssora não e x mais plica não!
PARA! Ao contrário, o indivíduo bully tem baixa percepção do que é certo – por isso não consegue se sensibilizar com o outro -, mostra dificuldade em estabelecer vínculos afetivos e apresenta baixa referência pessoal, adverso daquilo que tenta transparecer com suas atitudes. Entretanto, na família, ele pode ser visto como alguém crítico, competitivo e seletivo. Como reduzir os casos de bullying? Para Luiza, cabe aos pais ficarem atentos se a criança se nega constantemente a ir à escola. Caso isso aconteça, é importante descobrir o porquê deste comportamento e buscar, junto com o professor, uma solução. Já os professores, ao perceberem o bullying devem intervir sem tomar partido pela vítima ou pelo agressor. “Os educadores têm que trabalhar com a reflexão, sem tomar partido por ninguém, mostrando as causas e as consequências do bullying, trabalhando com a percepção do bem e do mal e como as diferenças são benéficas” – destaca a psicóloga. Caso de sucesso! Durante uma conversa sobre o rendimento escolar na sala dos professores da E.E. Walfredo Arantes Caldas, em São Paulo, foi levantada a questão do quanto às brincadeiras fora de hora atrapalhavam o aprendizado dos alunos. Para melhoria do ensino, desde então, os professores se empenharam em reduzir os casos de bullying. Depois de
algumas semanas de pesquisas e reuniões, o resultado foi o projeto interdisciplinar (filosofia, geografia, língua inglesa e matemática) intitulado “Lições de Cidadania e Direitos Humanos: Escola sem Bullying”. Foi desenvolvido um projeto piloto e aplicado em uma classe do primeiro ano do ensino médio. “Iniciamos as atividades de pesquisa e apresentação sobre bullying com os alunos. Cada professor se responsabilizou por inserir o tema durante as aulas” –
Eles conseguiram resignificar as relações humanas destaca o coordenador do projeto, Jayson Magno da Silva. Os resultados foram a redução de 90% dos casos de bullying, a mobilização de toda a escola e o aumento do rendimento dos alunos. “Notamos que as aulas ficaram mais leves, sabíamos que haveria resultados, mas não esperávamos tanto. Eles conseguiram resignificar as relações humanas” – diz o coordenador. Neo Mondo - Setembro/ Outubro2016
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Educação O Escola sem Bullying tem continuidade em uma comunidade do orkut onde os alunos contam seus casos, ganhou repercussão e deu base ao Projeto de Lei 350*. Além disso, o professor Silva, que se especializou na área, hoje é convidado pela Secretaria de Educação do Estado de
Projeto de Lei 350
O
projeto de lei autoriza o Programa de Combate ao Bullying à ação interdisciplinar e de participação comunitária nas escolas públicas e privadas, no Estado de São Paulo. Dentre os objetivos, destacam-se: prevenir e combater a prática de bullying nas escolas; capacitar docentes e equipe pedagógica para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema; observar, analisar e identificar eventuais praticantes e vítimas de bullying nas escolas; valorizar as individualidades, canalizando as diferenças para a melhoria da autoestima dos estudantes; estimular a amizade, a solidariedade, a cooperação e o companheirismo no ambiente escolar; orientar pais e familiares sobre como proceder diante da prática de bullying e outros. 32
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São Paulo para transmitir sua experiência em palestras de capacitação para educadores. E, mesmo após dois anos do projeto, os alunos do Walfredo Arantes Caldas continuam levantando a bandeira da Escola SEM BULLYING!
desArME-se
NEO MONDO não pretende explicar a violência urbana. Apenas faz um apelo às pessoas para que não se isolem à frente de um computador; saiam de si mesmas e convivam mais; eduquem-se para o Bem; cerquem-se de pessoas sempre melhores do que elas próprias; busquem o conhecimento na pesquisa, no estudo, na troca de ideias e de experiências positivas seja no campo pessoal seja no coletivo; cuidem-se e cuidem dos mais fracos, dos mais carentes, das crianças e adolescentes, dos idosos, das plantas, dos animais. Somente pessoas de mentes e corpos sadios saberão salvar o Planeta do fim dos tempos. O gênero humano e a Terra agradecem!
Núcleo de Educação
NEO MONDO www.neomondo.org.br
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Sair da mesmice, transmitir informação de um jeito divertido e diferente. Mais que um norte, um compromisso.
Sustentabilidade, criatividade e educação de mãos dadas com o futuro. É a partir desse conceito que surge o novo núcleo do Instituto NEO MONDO, voltado para o desenvolvimento de projetos especiais de cultura e educação infantil. A criança é multiplicadora de informação e, sempre, o cidadão do amanhã. É para este público que desenvolvemos conteúdos diferenciados capazes de promover o aprendizado de forma lúdica, divertida e com tecnologia de ponta. - Livros que podem ser desdobrados em múltiplas ações em salas de aula.
- Projetos educativos para empresas que desejam aliar sua imagem à educação, cultura e temas específicos. - Projetos especiais de livros para os governos Federal, Estadual e Municipal sobre temas relevantes para a sociedade em geral. - Tecnologias disponíveis a serviço da educação: REALIDADE AUMENTADA, 3D, GAMEFICAÇÃO, IMERSÃO VIRTUAL, HOLOGRAFIA, APLICATIVOS, entre outros.
Fábrica de Brinquedos – Livro referencial quando o assunto é diversão e aprendizado. A partir da construção de brinquedos temáticos, e sempre por meio da utilização de material reciclável, os leitores são sensibilizados para a importância cada vez maior de se construir um futuro que tenha como base o respeito aos recursos naturais. Fábrica de Brinquedos também é um projeto maior, que permite a adaptação e a personalização de uma série de ações para empresas e prefeituras, por exemplo. Fábrica de Comidinhas – Projeto derivado da Fábrica de Brinquedos com foco na necessidade crescente de divulgar informações relevantes sobre alimentação infantil saudável. Além de divulgar conteúdos sobre o tema, receitas e divertimentos, a Fábrica de Comidinhas (que já está perto de ser inaugurada) também prevê a publicação de livros personalizáveis e uma série de outras ações de branded content.
Projeto
O Núcleo de Educação NEO MONDO é liderado por profissionais capacitados e entusiasmados com a construção de um mundo melhor. Oscar Lopes Luiz – Publicitário, pós-graduado em Marketing. É presidente do Instituto NEO MONDO Eleni Lopes – Diretora de Redação da revista NEO MONDO. Ricardo Ditchun – Sociólogo especializado em comunicação corporativa, jornalista e editor. Valéria Cabrera – Jornalista e relações públicas. Ricardo Girotto – Publicitário e ilustrador de livros infantis. Alda de Miranda – Publicitária e autora de livros infantis.
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Saúde
HIDROPIRATARIA
Denúncias recorrentes sobre tráfico de água doce na foz do rio Amazonas levam a crer que não são parte do imaginário fantástico dos que buscam defender a área. Artigo sobre hidropirataria em revista jurídica cobra as autoridades. da Redação
A
Amazônia ainda fica tão, tão longe do Sul Maravilha que as notícias sobre ela aqui ainda ganham contornos fantasiosos no imaginário comum. Pois não é que agora retomam-se denúncias recorrentes de que há um bom tempo vem ocorrendo o tráfico de... -suspense- ...sim, tráfico de água doce a partir da foz do rio Amazonas? Pois isso saiu nos jornais de lá e corre a Internet há 2 meses depois que uma Agência de Notícias da região, mas com sede em Brasília, resolveu repercutir a denúncia veiculada em um insuspeito veículo especializado em temas forenses, a revista Consulex, n0 310, de dezembro último. Em artigo intitulado “A Organização Mundial de Comércio e o mercado internacional de água”, a advogada capixaba Ilma de Camargo Pereira Barcellos (ler “Não é fantasia”, na página 12), de forma clara e sem juridiquês, fala 38
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em navios-tanque fazendo a captação no ponto em que o rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico. Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa e Oriente Médio. Diz a revista ser grande o interesse pela água farta do Brasil, considerando que é mais barato tratar águas usurpadas (US$ 0,80 o metro cúbico) do que realizar a dessalinização das águas oceânicas (US$ 1,50). NOTÍCIA RECORRENTE A Agência Amazônia, com sede em Brasília, dirigida por um amigo acreano, o jornalista Chico Araújo, também denunciou a prática há três anos, utilizando o termo “hidropirataria”. Agora Chico retoma o tema, reproduzindo o artigo da advogada, logo acatado pelos assinantes da agência entre os jornais amazônicos e também muito replicado na Internet.
Para a revista Consulex, essa prática ilegal, no entanto, não pode ser negligenciada pelas autoridades brasileiras, uma vez que são considerados bens da União os lagos, os rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio (CF, art. 20, III). Outro dispositivo, a Lei n0 9.984, de 17 de julho de 2000, atribui à Agência Nacional de Águas (ANA), entre outros órgãos federais, a fiscalização dos recursos hídricos de domínio da União. A lei ainda prevê os mecanismos de outorga de utilização desse direito. A Agência, consultada por NEOMONDO nem respondeu ao e-mail. Para a advogada Ilma de Camargo Pereira Barcellos, a água é um bem ambiental de uso comum da humanidade. É recurso vital. Dela depende a vida no planeta. Por isso mesmo impõe-se salvaguardar os recursos hídricos do País de interesses econômicos ou políticos internacionais.
O MERCADO INTERNACIONAL DE ÁGUA A organização Mundial do Comércio, em declarações específicas, busca forçar a privatização internacional dos serviços ambientais, aí incluindo a venda de água, segundo especialista.
O
trabalho divulgado pela revista Consulex não é centrado na denúncia da hidropirataria em si. Começa chamando a atenção para o fato de que “a Organização Mundial do Comércio (OMC) tem tratado a água como mercadoria que merece regulamentação internacional. Elevar a água à categoria de mercadoria e submetê-la às regras do comércio internacional é expressão da realidade com que se trata o assunto”. Ilma entende que, desde a reunião realizada no Catar, em 2001, a Declaração de Doha incluiu nas leis do comércio todos os chamados “serviços ambientais”, os quais abrangem o fornecimento de água, o que pode significar mais uma iniciativa, no entender de Ilma, para forçar a privatização desses serviços. Assim, diz ela, “não é de se estranhar que a OMC tenha como pauta de discussões o comércio mundial de águas, pois se trata de um serviço essencial à vida e altamente lucrativo nos últimos anos”. CONTROLAR OS CONTROLES A Organização Mundial do Comércio administra regras comerciais internacionais, aí incluído o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), que define as águas naturais, artificiais ou gasosas como sendo uma mercadoria negociável. Assim, o artigo XI do acordo proíbe especificamente o uso de controle de exportação para qualquer fim e elimina as restrições quantitativas sobre importação e exportações. De forma didática, Ilma explica que “se um País rico em água, como o Brasil, impusesse uma proibição ou até mesmo uma cota sobre as exportações do produto em grande volume por razões ambientais, essa decisão poderia ser questionada sob a ótica da OMC como uma medida comercialmente restritiva e uma violação das regras do comércio internacional”. A Associação Norte-americana de Livre Comércio (Nafta) também já declara a água como uma “mercadoria negociável”, classificando-a como um bem comercial, um serviço e um investimento. BOLSÕES DE ÁGUA Só após essas premissas jurídicas sobre comércio exterior é que o artigo de Ilma passa então a informar especificamente
sobre o transporte internacional de água, realizado através de grandes petroleiros que saem do pais de origem com petróleo e voltam com tanques especiais cheios de água doce. O líquido nos tanques petroleiros, claro, pode funcionar como lastro mas seria reaproveitado depois, ou como ela diz na entrevista abaixo, “uniu-se o útil ao agradável”. O primeiro país a permitir a exportação de água doce, com destino à China e ao Oriente Médio, é o Alasca, na informação da advogada. Dali saem navios-tanque carregando milhões de litros. Uma nova tecnologia já foi introduzida nesse transporte interoceânico: são os bolsões-de-água, water bags, técnica já utilizada na Inglaterra, Noruega e EUA (Califórnia). O tamanho dessas bolsas, segundo Ilma, excede o de muitos navios juntos, com capacidade muito superior ao dos superpetroleiros. Tais bolsões podem ser projetados de acordo com a necessidade e quantidade de água, puxadas por embarcações rebocadoras convencionais. NEOMONDO pesquisou alguns sites sobre o tema e lá estão informações adicionais em inglês e com fotos. PERDIDAS NO OCEANO As gigantescas water bags, segundo os sites, não seriam, ainda, um método comum, usual de transporte de água mas um sistema que começa a chamar a atenção, comparando-se com os custos, digamos, de transportá-la por foguetes. Mais de uma companhia está começando a desenvolver o método, alegando que elas podem ser úteis em situações de desastres naturais (os recentes terremotos no Haiti e Chile, por exemplo), levando água fresca até as zonas sinistradas ou então em áreas sob forte estiagem. Essas bolsas são descritas como muito “semelhantes às usadas por fazendeiros americanos para estocar grãos. Medem cerca de 200 metros ou 2 campos de futebol e podem carregar até 35 mil toneladas do líquido (35 milhões de litros). São feitas de poliéster, costuradas com linha plástica, resistente.” Uma das companhias que teriam usado tais bolsões é a Nordic Water Supply, da Noruega. Comentando sobre a segurança destes equipamentos, um dos executivos da empresa comparou o sistema com os cintos de segurança dos Neo Mondo - Setembro/ Outubro2016
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carros ou seja, eles salvam vidas mas também têm seus riscos. Bolsões deste tipo desgarraram-se dos rebocadores em pleno oceano. Então foram equipados com alarmes ou balizas eletrônicas luminosas - homing beacon - para evitar colisões com navios e possibilitar sua localização. Nota da redação: Aparentemente o negócio do transporte de água só deu prejuízos, pelo menos, à empresa citada na matéria. Na mesma pesquisa via Internet verificamos que a Nordic Water Supply teria decretado falência (bankruptcy) por volta de 2003, quando planejava desenvolver water bags para até 100 mil toneladas. Ficou nesse mercado só cinco anos, tendo saído da lista de companhias ligadas à Oslo Stock Exchange. Não confirmamos se retomou às atividades posteriormente. Há outras empresas no ramo.
IMAGINÁRIO AMAZÔNICO? A notícia de que existiria um tráfico internacional de águas amazônicas surpreende mesmo jornalista escolado na região. Mas o histórico local sempre foi depredação.
A
primeira reação de quem já conhece a Amazônia é perguntar se uma informação tão esdrúxula - tráfico de água doce, hidropirataria não estaria entre os surtos do imaginário sulista sobre a região, sempre abordada (há trabalhos acadêmicos sobre isto) como um mundo fantástico, de imensidões despovoadas e ainda fornecedora de notícias e documentários sobre o exótico. A denúncia-base, no entanto, não saiu em nenhuma publicação engajada na defesa daquela região. Com periodicidade quinzenal, a revista Consulex, instalada num daqueles endereços complicados de Brasília, busca destacar-se no cenário das publicações jurídicas pela análise de temas relevantes mas sem a aridez própria da linguagem técnica inerente ao Direito, isto é, sem juridiquês. De leitura agradável, a publicação se propõe a abordar assuntos nacionais e internacionais que implicam em análise jurídica, bem como da evolução doutrinária e jurisprudencial. PROVOCANDO A MARINHA Mas a denúncia não encontrou guarida na grande imprensa do Sudeste. Por isso busquei contato com o Ministério da Marinha, em Brasília. A Marinha, através de sua assessoria de Comunicação, 40
informou que sim, já tinha tomado conhecimento de tal noticiário. A tenente que me atendeu disse que a Instituição nunca foi “provocada” diretamente, e que eu teria sido o primeiro jornalista a contatar quem de direito. Mostrava-se com um pé atrás quanto à história. Teria encaminhado as questões ao Comando de Operações Navais e ainda aguardava uma resposta até o fechamento desta matéria. Mas pela Internet verifica-se que não fui o único a “provocar”, vale dizer, a entrar em contato com a instituição. No dia 3 de março último, um internauta preocupado com o tema, Eduardo Fróes, também cobrava posição da Marinha. Teve uma resposta formal de um oficial da Inteligência, Marcelo Palma, dizendo que “o assunto constante de sua denúncia já foi informado aos órgãos competentes e que providências estão sendo tomadas, a fim de apurar a responsabilidade e coibir práticas ilícitas como as mencionadas na carta” Palma termina agradecendo “em nome de comandante e em meu nome a preocupação nacionalista de nos informar a respeito de tão importante assunto. Respeitosamente, CF(FN) Palma (Oficial de Inteligência).” Marcelo Palma é do 10 Comando Naval, que fica no Rio de Janeiro.
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O problema ocorre a 6 mil km de distância, na foz do Amazonas. A “AMAZÔNIA AZUL” Em artigo especial publicado no site do Yahoo em 11 de março último, assinado por Danilo Almeida, a manchete dizia que “Marinha tenta superar defasagem para vigiar a Amazônia Azul”. Em contraste com a Amazônia verde, das matas, a azul estaria esparramada por 4,5 milhões de quilômetros quadrados da superfície marítima brasileira, uma riqueza incalculável; nos 55 mil quilômetros quadrados de bacias, a capacidade hídrica é pujante e a reserva de água doce é a maior do planeta. Enfim, um patrimônio inestimável para se tomar conta, uma vastidão a ser vigiada”, dizia o artigo. E prosseguia lembrando que “para quem almeja protagonismo entre as grandes potências, exercer soberania nesse terreno é lei. É o fator determinante por trás da retomada dos investimentos e dos planos de modernização da Marinha”. O artigo falava do reaparelhamento da Força, aí incluindo um caro submarino nuclear esperado para o longinquo 2.024, ao custo total de R$ 15 bilhões, dentro de um pacote francês que inclui mais 4 submarinos convencionais.
HIDRO OU BIOPIRATARIA? Há quem questione a viabilidade econômica do tráfico de água pela água. Pesquisadores acreditam que o interesse maior está em organismos aquáticos que vão com o líquido, peixes ou plantas.
C
hico Araújo, da agência Amazônia, lembra que um artigo do jornalista Erick Von Farfan já tocava no tema da hidropirataria há seis anos atrás. Numa reportagem no site Eco21 Fartan lembrava que, depois de sofrer com a biopirataria, com o roubo de minérios e madeiras nobres, agora a Amazônia está enfrentando o tráfico de água doce. Farfan ouviu Ivo Brasil, à época Diretor de Outorga, Cobrança e Fiscalização da Agência Nacional de Águas - ANA. O dirigente disse saber desta ação ilegal. Contudo, como a Marinha, aguardava - lembre-se, 6 anos atrás - uma denúncia oficial chegar à entidade para poder tomar as providências necessárias. Ivo Brasil insistia que “são necessários amparos legais para mobilizar tanto a Marinha como a Polícia Federal, que necessitam de comprovação do ato criminoso para promover uma operação na foz dos rios de toda a região amazônica próxima ao Oceano Atlântico. Tenho ouvido comentários neste sentido, mas ainda nada foi formalizado”, insistiu. Pela NEOMONDO, voltei a cobrar isso da agência dias atrás, perguntando se a “denúncia oficial” deveria chegar através do bispo do Amapá, do Comando da Marinha ou de quem? O mail não foi respondido. Claro, a mobilização fiscalizadora no local seria dispendiosa. A captação seria feita por petroleiros na foz do rio Amazonas ou já dentro do curso de água doce. Somente o local do deságue do Amazonas no Atlântico tem 320 km de extensão e fica dentro do território do Amapá. Neste lugar, a profundidade média é em torno de 50 m, o que suportaria o trânsito de um grande navio cargueiro. O contrabando é facilitado pela ausência de fiscalização na área. Essa água, apesar de conter resíduos pesados, a maior parte de origem mineral, pode ser facilmente tratada. Para empresas engarrafadoras, tanto da Europa como do Oriente Médio, trabalhar com essa água mesmo no estado bruto representaria uma grande economia. O custo por litro tratado seria muito inferior aos processos de dessalinizar águas subterrâneas ou oceânicas. Além de livrarse do pagamento das altas taxas de utilização das águas de superfície existentes, principalmente, dos rios europeus
Um processo de baixo custo para países com grandes dificuldades em obter água potável. Assim levar água para se tratar no processo convencional é muito mais barato que o tratamento por osmose reversa. A COLA DO GURIJUBA Erick von Farfan, citando pesquisadores brasileiros, questionava também se sob o tal tráfico de água doce não se esconderia, na verdade, a prática de biopirataria, ou tráfico de organismos vivos aquáticos, a linha de raciocínio usada pelo professor do Departamento de Hidráulica da Universidade Federal do Paraná, Ary Haro para quem “o simples roubo de água doce está longe de ser vantajoso economicamente”. Um navio petroleiro, segundo ele, armazenaria o equivalente a meio dia de água utilizada pela cidade de Manaus, de 1,5 milhão de habitantes. “Desconheço esse caso, mas podemos estar diante de outros interesses além de se levar apenas água doce”, comentou. Um outro colega de jornadas amazônicas, o jornalista Elson Martins, que morou longo tempo no Amapá, também mostra-se surpreso com a denúncia de tráfico de água doce mas confirma a biopirataria. Diz que “a pirataria ali na foz do grande rio corre solta há seculos! Nem parece mais pirataria, mas sim prática legal”. “Eu não sabia do lance da água doce, mas não me surpreendo com o saque”, enfatiza Elson. O choramingão do Ludwig levou fortunas em madeiras do sul do Amapá, enquanto alegava prejuízo com seus dólares investidos numa fábrica de celulose. E pergunta: “já ouviu falar da cola do peixe Gurijuba? Japoneses e norte-americanos a exploram há décadas recolhendo toda a produção de pescadores da costa do Amapá. É usada em produtos com tecnologia de ponta, instrumentos farmacêuticos sofisticados e até em astronaves”. Exótico?. Para o Elson não há nada de exótico. Elson explica que é Belém a sede do saque e não o Amapá. Tudo ali é permitido e nossos caboclos não resmungam. Bah! Essa da água dói no saco!”. E aconselhava a procurar fontes em Belém pois no Amapá ninguém iria falar. Neo Mondo - Setembro/ Outubro2016
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Água
“NÃO É FANTASIA” Em entrevista a advogada Ilma Barcellos diz que a hidropirataria no Brasil não é novidade nem é notícia fantasiosa. O que ocorre é só omissão das autoridades.
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revista encaminhou algumas perguntas à advogada Ilma Barcellos questionando justamente se não há algo fantasioso na denúncia. Veja abaixo as respostas: NEOMONDO: “tomamos conhecimento de seu artigo na revista Consulex (“A OMC e o mercado internacional de água”) e gostaríamos que nos brindasse com algumas considerações extras sobre o tema, seguindo as perguntas abaixo: O que a rodada Doha classifica, exatamente, como serviços ambientais e onde entra a água aí? ILMA: Tais serviços ambientais são classificados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, sigla em inglês), basicamente em três grupos: manejo de poluição; tecnologias e produtos mais limpos (bens mais eficientes no uso de recursos do que as alternativas já existentes); bens que contribuem para o manejo sustentável de recursos florestais, pesqueiros ou agrícolas. Resumidamente são aqueles provenientes da natureza, o ciclo hidrológico, abastecimento de água, aí incluindo tratamento de águas residuais industriais e urbanas, a diversidade biológica, as funções do solo, a descontaminação e recuperação de áreas degradadas; o transporte e gestão de resíduos sólidos e perigosos; resumindo: são águas residuais, eliminação de lixo e dejetos e saneamento e a proteção da biodiversidade. Porém a OMC apenas indica os tipos de serviços acima citados não definindo uma lista de tais serviços. Pelo que tenho lido, no meu ponto de vista, na realidade, 42
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a finalidade da OMC em 2001 quando incluiu os serviços de água na rodada de Doha, a intenção era forçar a privatização dos serviços de água, uma iniciativa já altamente lucrativa em vários países. Até mesmo porque a água é matériaprima básica para praticamente tudo, carro, geladeira, computador, plástico, alumínio, móveis, roupas, indispensável para qualquer agricultura, lazer, e enfim, a própria vida. Sem mencionar a quantidade de “água virtual” incorporada na produção e comércio de alimentos e produtos de consumo que são exportados. Somando-se a estes fatores, podemos citar os países ricos em petróleo e extremamente carentes de água potável. Se hoje, nós vivemos num país com abundância de água, já pagamos no litro de água quase o mesmo valor de um litro de gasolina ou álcool. O que você acha, qual é a sua conclusão? NEOMONDO: Segundo o artigo, a comercialização da água é negócio corrente no mundo. Mas a novidade em seu trabalho é a denúncia de que águas brasileiras estão sendo “furtadas”, milhões de litros são levados sorrateiramente em navios-tanques para a Europa e Oriente Médio. A notícia não é um tanto fantasiosa como muitas envolvendo a Amazônia? ILMA: Desculpe Antônio, mas a hidropirataria em nosso país não é uma novidade, nem tampouco se trata de uma notícia fantasiosa. O que ocorre é o silencio e a omissão das nossas autoridades. No site onde busquei tais informações, vi o que o jornalista Erik von Farfan publicou (ver citações dele acima). Também o recentemente quando da publicação do meu artigo na Consulex, o jornalista
Chico Araujo, assim como você, também ficou curioso e contactou um funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no Amazonas. Também foi contactado por uma advogada de São Paulo que após ler o artigo lhe informou que, há 5 anos, fez sua tese de mestrado exatamente sobre o tema. Chico Araujo fora informado ainda que, o Departamento de Estado dos Estados Unidos encomendou em 2004 um relatório a uma consultoria independente, afirmando que em decorrência de a água ser futuramente o motivo de guerras regionais, o Rio Amazonas evidentemente faz parte deste cenário. NEOMONDO: No caso dos petroleiros, a água não funcionaria como “lastro”? Porque até agora autoridades policiais (Marinha, principalmente) não denunciaram ou coibiram? As tais bolsas transportadoras parecem bem fáceis de serem detectadas, são visíveis... ILMA: A água de lastro serve para manter a estabilidade e integridade estrutural do navio em alto mar. Foram sempre carregados com água do mar. No entanto agora estão carregando tais navios com água doce, ou seja, uniram o útil ao agradável, por motivos já esclarecidos no artigo da Consulex. Conforme dito acima, acredito que muitas autoridades já têm conhecimento de tais fatos, no entanto, em muitos casos nossas autoridades preferem se omitir. Na época o dirigente da ANA alegou que para tomar providências junto à Marinha e Policia Federal precisava de amparos legais. Como, se era um dos diretores da ANA (Agência Nacional de Água), sendo
responsável pela “outorga”, “cobrança” e “fiscalização” de assuntos relacionados à água? Pelo pouco que entendo, para fiscalizar algo não precisa de nenhum tipo de denúncia. E se tais embarcações não tinham as devidas autorizações para tal, pois sabemos que “a água é um recurso limitado, dotado de valor econômico”, porque não houve nenhum tipo de providência? Com relação às bolsas para transporte de água, não tenho conhecimento do seu uso em nosso país.
A advogada Ilma de Camargo Pereira Barcellos
NEOMONDO: Se ainda não há legislação a criar mecanismos específicos para reprimir esse, digamos, “tráfico”, essa dita “usurpação” não é legal? E quem deve criar essas leis, o Brasil ou a OMC? ILMA: Conforme publicado no artigo, existem sim leis que proíbem tais atos e estão na Constituição Federal, no art. 21, inciso XIX, que indica a competência da União para “instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos
e definir critérios de outorga de direitos de seu uso”. No que tange à competência formal, o art. 22, inciso IV, determinou a competência privativa da União para legislar sobre água. Já na Lei 9.984 de 17 de julho de 2000, estão definidas as atribuições da ANA, que são de supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da legislação federal pertinente aos recursos hídricos, compete à ANA dentre outros, a fiscalização da água, controlando o mecanismo de gerenciamento das águas incluindo a outorga e cobrança. Existe também a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que regulamentou parcialmente o art. 21, inciso XIX, através da criação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e outras, ou seja, leis existem, e muitas. “Deus nos livre e guarde de algum dia a OMC legislar sobre tal bem ambiental.”
A MISTERIOSA EQUA WATER
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m outro artigo de Chico Araújo, a Agência Amazônia conta a saga do empresário americano Jeff Moats. Ele também descobriu que vender água é um negócio lucrativo. Investiu US$ 12 milhões para lançar uma nova marca de água mineral, a Equa Water. E adivinhem da onde vem essa água, pergunta Chico? A fábrica está sendo construída em uma área de 1.500 hectares nos arredores de Manaus, no coração da Amazônia. Jeff quer extrair a água de um aquífero muito antigo situado 200 metros abaixo da superfície, cujo o grau de pureza é o maior do mundo. O motivo é estar envolto por quartzo rosa, que atua como um guardião da pureza da água. A idéia é posicionar a marca como a mais pura dentre as águas da terra e explorar na comunicação justamente o mistério que envolve a Amazônia. Jeff irá construir sua marca com base em três pilares: pureza da água, design da garrafa (minimalista) e no branding, este último fundamental. Competirá com marcas já bem estabelecidas no mercado, entre as quais a Evian, a Tynant, a Fiji e a Vittel. Contudo, acredita-se, Jeff não terá muitos problemas para emplacar seu produto. A primeira vantagem é o exotismo da origem da água. Americanos adoram a Amazônia e, pelo menos na terra do Tio Sam, as chances de sucesso são boas. O mercado de água mineral cresce a uma taxa de 25% ao ano e já é um mercado que movimenta US$ 60 bilhões no mundo. Que tal você tomar a água mais pura, mais cristalina e mais misteriosa do mundo, conclui o amigo Chico Araújo?
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NEO MONDO INFORMA Por Eleni Lopes
Manifesto por ruas mais humanas e sustentáveis, por uma cidade melhor
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or meio do site Mobilize Brasil www.mobilize.org.br, um grupo de coletivos de espaço públicos, urbanistas e organizações da sociedade civil estão divulgando um Manifesto que exige ruas mais humanas e sustentáveis. Segundo o ativista Lincoln Paiva, autor da iniciativa, trata-se de um posicionamento sobre a ocupação de espaços públicos em sinergia com a implantação de ciclovias e melhorias nos passeios públicos, em busca de uma cidade mais humana. Conheça, abaixo, a íntegra do Manifesto: Manifesto por ruas mais humanas e sustentáveis, por uma cidade melhor Em 2008, a humanidade cruzou um limite histórico: pela primeira vez, mais pessoas passaram a viver em áreas urbanas do que nas rurais. Tornamo-nos seres predominantemente urbanos. O que milhares de pesquisadores, urbanistas, coletivos, ONGs, artistas e cidadãos ao redor do globo estão tentando descobrir é: como construir cidades mais humanas e sustentáveis? Se hoje a vida acontece nas cidades – e não há como impedir esse crescimento –, será possível impedir o seu declínio? Até a segunda metade do século 20, criaram-se, em volta das cidades,
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áreas suburbanas com bairros distantes, de baixa densidade, mal servidos de transportes públicos e com fraco desenvolvimento social. Esse modelo estimulou a demanda por deslocamentos de automóvel. Uma solicitação muito superior ao que as cidades poderiam suportar. Aos poucos, as metrópoles foram se transformando em grandes estacionamentos de veículos particulares e as pessoas perderam a conexão com as ruas, o contato humano, encapsuladas em seus carros, respirando um ar de péssima qualidade. Um dos grupos demográficos mais afetados por esse modelo foi o das crianças, pois a consciência cívica, ou a ausência dela, está estritamente vinculada com a experiência temporã do coletivo. A falência dessa matriz trouxe um novo conceito de desenvolvimento urbano, cada vez mais discutido em todo o mundo: o urbanismo caminhável, que cria novas centralidades e valoriza a curta distância entre moradia, trabalho, educação, saúde e lazer. Uma organização urbana baseada em alta densidade, com diversos tipos de imóveis ligados por áreas de lazer, bem conectados por sistemas de transportes coletivos e alternativos não motorizados. Ou seja: as melhores cidades do mundo são aquelas cujos bairros dependem cada vez menos de transporte individual motorizado, com ruas arborizadas e fácil acesso a pé ou de bicicleta para os
deslocamentos cotidianos. Desenvolver esses novos padrões é um desafio de todos: governo, empresas privadas, sociedade civil e universidades. Em São Paulo, chegamos ao ponto de mutação: um limite do qual não é mais possível voltar atrás. Temos de caminhar no sentido de uma cidade pensada para as pessoas, que reorganize seus espaços de modo a torná-los mais agradáveis e habitáveis, para propiciar melhor qualidade de vida. Mas, para que as pessoas caminhem mais, é preciso tanto criar melhores caminhos, bairros bastante atrativos como investir em caminhos seguros, iluminados e com infraestrutura adequada para pedestres e ciclistas. É necessário estimular a população a ocupar ruas e praças e incentivar a formação de mais espaços de convivência. O conhecimento e a apropriação do espaço em que vivemos nos faz desenvolver pontos de referência e sentido de pertencimento. Viver ativamente a cidade promove uma atitude positiva e de respeito pelo espaço público – um espaço de aprendizagem e convívio para todos. Lutamos por ruas de escala humana, coletiva, criativas e com maiores oportunidades para todos. Instituto Mobilidade Verde - Boa Praça -Sampapé - Café na rua - Bela Rua - A Batata Precisa de Você – Red Ocara – Conexão Urbana - Virada Sustentável - Zoom Urbanismo Superlimão - H2C Arquitetura - Contain (IT) - Muda - Mobilize Brasil
Brasil precisa investir R$ 1 trilhão em transporte até 2030
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m trilhão de reais até 2030. Esse é o valor estimado para ajustar a infraestrutura nacional de transportes a níveis mínimos encontrados em países de potência e de dimensões continentais, como Rússia, Canadá e Austrália. A conta sugere uma maior participação do setor privado nos investimentos de infraestrutura – frente ao esgotamento de recursos do governo – e foi calculada em um estudo coordenado pelo professor Cláudio Tavares de Alencar, do núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP, em coautoria com o professor João da Rocha Lima Júnior, do mesmo Núcleo, e o mestrando Flávio Abdalla Lage. Um dos fatores mais importantes para se definir a pujança econômica de um país de dimensões continentais como o Brasil são as condições oferecidas para se mover grandes quantidades de cargas de um lugar para o outro usando rodovias, ferrovias, hidrovias e rotas aéreas. Carros produzidos no sudeste, por exemplo, precisam ser transportados para outras
regiões do País, eletrônicos manufaturados na Zona Franca de Manaus devem ser enviados de norte a sul. Produtos de exportação precisam encontrar a via mais rápida e barata até os portos, de modo que o frete não tenha impacto negativo na competitividade dos preços lá fora. De acordo com o trabalho, as melhores opções em termos de custo e eficiência para transporte de grandes cargas são os trens e navios. Países de grandes proporções geográficas, como é o caso da Rússia e do Canadá, priorizaram esses dois sistemas. O estudo da USP aponta que além de depender da pior alternativa, o Brasil possui apenas 14% de suas rodovias pavimentadas, o menor índice dentre os países usados como base na pesquisa - que inclui os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), além dos Estados Unidos, Canadá e Austrália. O segundo país com a média mais baixa de estradas asfaltadas é a Austrália, mas o valor é três vezes superior ao do Brasil.
USP lança a campanha #vocetambempode
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Pró-Reitoria de Graduação (PRG) da USP criou a campanha #vocetambempode, cujo objetivo é aumentar e estimular os estudantes de rede pública a ingressar na Universidade. A campanha será divulgada antes e durante o período de inscrições do exame de vestibular da Fuvest. No site da campanha www.prg.usp.br, os estudantes encontram informações sobre como ingressar na USP, as mudanças na bonificação no vestibular da Fuvest 2015 e os programas de permanência e formação estudantil. Na página, também há depoimentos de alunos da USP oriundos de escolas públicas, contando desafios e superações.
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Redução do desmatamento é considerada “sem precedentes”
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elatório produzido pela associação de cientistas norte-americanos Union of Concerned Scientists (UCS) destaca iniciativas brasileiras para a redução do desmatamento e da emissão de gases de efeito estufa. “Muitos países tomaram providências para conter ameaças às mudanças climáticas, e alguns conseguiram que suas emissões parassem de crescer, mas não há dúvida de que o Brasil obtém maiores resultados”, afirma o documento intitulado “Histórias de sucesso: países tropicais onde políticas de proteção e reflorestamento deram resultados”. “Entre 2005 e 2010, o país reduziu as emissões em 38%, um significativo decréscimo anual de 800 milhões de toneladas de CO2 equivalente principalmente às reduções do desmatamento na Amazônia”, relata a coordenadora de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Josana Lima, referindo-se à medida padrão do potencial de aquecimento global dos vários gases de efeito estufa, comparados ao dióxido de carbono, que é o principal deles. O relatório cita que as reduções começaram com a criação de unidades de conservação e de terras indígenas que colaboraram com a proteção das florestas e, em seguida, com a criação do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm). Também são destacadas as iniciativas de governos dos estados e do Ministério Público que influenciaram nos resultados positivos. “O desmatamento chegou ao pico em 20042005, movido pela expansão da produção da soja e da carne, em resposta aos altos preços do mercado internacional, mas começou a cair mesmo quando os preços atingiram níveis recorde”. O documento
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cita a parceria do governo com ONGs e com os movimentos sociais e ambientais, favorecendo a aceitação voluntária das moratórias da carne e da soja por empresários. A associação de cientistas norte-americanos também enfatiza que os resultados positivos foram alcançados por causa dos apoios e dos compromissos internacionais do Brasil. O documento da UCS destaca a decisão brasileira de reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020 e ainda as parcerias com países como Alemanha, Reino Unido e Noruega, esse considerado o maior programa do mundo para a redução das emissões por desmatamento e degradação florestal (REED+). Para acessar o relatório, acesse www.ucsusa.org/assets/ documents/global_warming/deforestation-successstories-2014.pdf
Primeiro curso online grátis sobre mobilidade sustentável
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IFP School, a escola de pós-graduação para as profissões de energia e transporte, está lançando seu primeiro curso online grátis sobre mobilidade sustentável. A iniciativa é oferecida em inglês e será distribuída ao longo de quatro semanas, de 3 a 30 de novembro de 2014. Se desejar saber mais sobre o projeto de motor para os veículos de amanhã ou questões socioambientais relacionadas com a mobilidade, inscreva-se hoje em http://mooc.sustainable-mobility.ifp-school.com Durante quatro semanas, os participantes vão abordar questões sobre a forma como os motores funcionam, produção e especificações de
combustível, formação de poluentes e os sistemas de pós-tratamento, tecnologias para reduzir o consumo e as emissões e, por fim, motorizações e energias alternativas. Vão assim estar totalmente preparados para entender os desafios tecnológicos, econômicos e ambientais enfrentados pela indústria automotiva no contexto da transição energética. Este curso foi projetado para qualquer pessoa, com um mínimo de dois anos de ensino superior, que esteja interessada nos desafios da mobilidade, especialmente estudantes da área de energia e profissionais que trabalham na indústria automotiva.
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Sustentabilidade ainda é desafio para a economia mundial
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eis anos após o início das crises econômica e financeira mundial, os países ainda não encontraram um caminho de crescimento sustentável, diz o Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2014, divulgado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Segundo o estudo, os principais problemas no período pós-crise são a demanda agregada insuficiente - demanda total de bens e serviços - e a contínua instabilidade financeira. O estudo considera fraco o crescimento de 2,5 a 3% da economia esperado para 2014, um pouco melhor do que o registrado em 2012 e 2013 - 2,3% -, e culpa as políticas inadequadas adotadas pelos países influentes. “O retorno às políticas de sempre não foi capaz de lidar com as causas profundas da crise,” diz o relatório. “A continuidade do domínio financeiro sobre a economia real e a persistência do declínio da participação do salário no produto são simbólicos da incapacidade de enfrentar as causas da crise e sua recuperação anômala.” Somente o fortalecimento da demanda agregada por meio de crescimento real dos salários e a distribuição de renda mais igualitária poderão romper com o longo período de baixo crescimento econômico, defende a Unctad. O relatório prevê que a tendência das economias em desenvolvimento é repetir o desempenho de anos anteriores, crescendo entre 4,5 e 5%. Nesse grupo, o crescimento será superior a 5,5% em países da Ásia e da África Subsaariana, mas permanecerá fraco, em torno de 2%, no Norte da África, na América Latina e no Caribe. Enquanto isso, espera-se que economias em transição desacelerem ainda mais, para cerca de 1%,
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após um desempenho fraco em 2013. O Unctad demonstrou preocupação com o aumento das desigualdades e as bolhas especulativas nos preços dos ativos na atual política internacional, condições semelhantes às que levaram à crise financeira global em 2008. Além das políticas de incentivo para aumentar a demanda dos consumidores, inclusive de políticas de redistribuição, o relatório aponta que alguns países devem aumentar os níveis de investimentos domésticos públicos e privados, além de políticas industriais para diversificar e ampliar a capacidade produtiva. Assim será possível atender ao crescimento da demanda sem excessivas pressões sobre preços domésticos ou saldos comerciais.
SOS Mata Atlântica aponta redução de 70,7% no trecho de rio “morto” do Tietê
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m quatro anos, o trecho considerado “morto” do rio Tietê foi reduzido em 70,7%. Hoje, localiza-se entre os municípios de Guarulhos e Pirapora do Bom Jesus, no estado de São Paulo, um segmento de 71 quilômetros onde os índices ainda variam de ruim a péssimo. O resultado é parte do relatório “O Retrato da Qualidade da Água e a Evolução Parcial dos Indicadores de Impacto do Projeto Tietê”, divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica. No início do projeto de despoluição, em 1993, o rio estava morto em 530 quilômetros, de Mogi das Cruzes até o reservatório de Barra Bonita. No fim de 2010, ao término da segunda etapa do Projeto Tietê, o trecho de rio morto compreendia uma extensão de 243 quilômetros, de Suzano até Porto Feliz. Com a mancha atual, entre Guarulhos (132 km da nascente) e Pirapora do Bom Jesus (203 km da nascente), a redução foi de 86,6% em relação a 1993 e de 70,7% em relação a 2010. “Apesar de boa notícia, é importante destacar que, para recuperar o Tietê em São Paulo, da forma que a população espera, é preciso aprimorar a legislação e fazer o controle de lançamentos de efluentes
industriais e domésticos. Houve um desmonte da fiscalização e hoje os lançamentos são declaratórios e ainda ocorrem muitos clandestinos e irregulares”, afirma Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica. O relatório é resultado do monitoramento da qualidade da água dos rios das bacias hidrográficas do Alto e Médio Tietê, que abrangem 68 municípios paulistas, num trecho de 576 quilômetros, entre Salesópolis e Barra Bonita. No total, 82 pontos foram analisados entre setembro de 2013 a setembro de 2014. O monitoramento é realizado por grupos de voluntários. As secas e as chuvas no Estado de São Paulo impactaram a qualidade da água do rio Tietê, especialmente no trecho de 38 quilômetros entre o município de Guarulhos, passando pelas Marginais na capital paulista, até a divisa com o município de Osasco. Já no Alto Tietê, mesmo com a crise hídrica, a qualidade da água saiu de regular para boa em dois pontos por conta da existência de unidades de conservação e áreas protegidas, em Salesópolis e Biritiba-Mirim.
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