Revista Neo Mondo - Edição 03

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NEOMONDO NEOMON

www.neomondo.com.br

UM OLHAR CONSCIENTE

Ano1 / Nº 3 / Agosto - Setembro 2007 / Distribuição Gratuita

H2O

a química

DO BEM 04

Fábio Feldmann Causas Ambientais

ICmS Ecológico 10

mundial de Cegos 12- Setembro 2007 Agosto

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Divirta-se 1com

Neomondo

a nossa Turma



Seções

Editorial

perfil 04 Pela conquista das causas ambientais Fábio Feldmann aponta o desmatamento na Amazônia como o maior problema ambiental no Brasil.

A Sustentabilidade é uma das Instituto palavras mais citadas nessa terceira edição da Neo Mondo. O termo parece ter virado uma Neo Mondo febre em todos os segmentos Um olhar consciente da sociedade, o que é um bom sinal, pois significa que estamos avançando e partindo das discussões preliminares para a busca de soluções efetivas. A água é outro tema que dá um banho nos outros assuntos dessa edição. Primordial e indispensável para a vida, ela também é fundamental nos processos industriais. O leitor poderá conhecer o maior projeto nacional de reuso de águas industriais, que vai utilizar água de esgoto tratado, nos processos produtivos, uma iniciativa de forte impacto ambiental positivo e com ganhos para todos os envolvidos. Mais água na polêmica discussão sobre a transposição do Rio São Francisco, em que procuramos, com neutralidade, mostrar suas duas margens, seus prós e contras. Somos, todos nós, formados por 70% de água. Diante dessa constatação, um grupo de artistas desenvolveu o espetáculo Ambiente Inteiro, que pretende sensibilizar através da arte, a importância da água como elemento presente em tudo e em todos. Com pautas que buscam elucidar questões sobre o Balanço Social, ICMS ecológico, materiais reciclados e muita informação sobre Terceiro Setor e desenvolvimento social, disponibilizamos mais esta edição. Boa leitura!

economia & Negócios 06 Balanço Social e Ambiental O Balanço Social está inserido na Norma Brasileira de Contabilidade e tem força de lei.

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Contrata-se A profissionalização no Terceiro Setor 10 Preservação Legal Unidades de Conservação ganham reforço do ICMS ecológico

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esportes Brasil Paraesportista Mundial de Cegos acontece na região do ABC Saúde 14 Bate Coração Tecnologia traz esperança na cardiologia

Social 16 Sustentabilidade em Pauta Evento da ABA discute o papel da comunicação nas questões sociais.

especial 24 Esgoto: Solução Ambiental Indústrias do ABC desenvolvem projeto Aqu’apolo.

23 De vilã à protagonista Fiesp promove I Mostra de Responsabilidade Social Neo Mondo no ar Instituto Neo mondo participa do programa Nossa Cidade

meio ambiente 26 Sustentáveis chegam ao mercado Produtos reciclados já fazem parte do cotidiano

liane Uechi

Os dois lados do Velho Chico A polêmica discussão da transposição do Rio São Francisco 30 Educação Ambiental O respeito ao meio ambiente é uma questão de educação

34 educação 36 Mudando de atitude Qual a melhor forma de chamar a pessoa com algum tipo de deficiência?

Expediente

28 turismo 32 Seja bem vindo! O setor se especializa na atuação ecológica Cultura KAH-HUM-KAH Grupo de artistas utiliza a arte como veículo para discussões sociais. 37 Dicas 38 Classificado Solidário

ConHEÇa o rEstantE Da nossa turma...

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...e continue participando do concurso

Diretor Executivo: Oscar Lopes Luiz Diretor de Comunicação: Ivan Lima Santos Diretor de Planejamento: Luís Gustavo Carvalho Cunha Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Ivan Lima Santos, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Livi Carolina, Eduardo Sanches e Luciana Stocco de Mergulhão Diretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) e Livi Carolina (MTB 49.103-59) Revisão: Instituto Neo Mondo Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo e Linking Propaganda Diretor de Arte: Adriano Ferreira Barros Diagramadores: Adinam Ern e Marcel Burim Diretor de TI: Ivo F. P. C. Siqueira Fotógrafo: Élcio Moreno Correspondência: Instituto Neo Mondo Rua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 - Santo André – SP Cep: 09190-000 Para falar com a Neo Mondo: assinatura@neomondo.com.br redacao@neomondo.com.br trabalheconosco@neomondo.com.br classificadosolidario@neomondo.com.br Para anunciar: comercial@neomondo.com.br Tel. (11) 4994-1690 Presidente do Instituto Neomondo: oscar@neomondo.com.br

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Perfil

Pela conquista das causas

AM

A defesa do meio ambiente possui alguns nomes que inerentes a causa. Fábio Feldmann é um deles. Ele ap problema ambiental brasileiro, o desmatamento na

Divulgação

Liane Uechi

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ambientalista e ex-deputado federal Fábio Feldmann escreveu seu nome nas páginas da defesa do meio ambiente, atuando junto a ONGs e como legislador. onde inseriu parte significativa da legislação brasileira na atual Constituição. É portanto, uma autoridade no assunto. Em entrevista a Revista Neo Mondo ele cita como grande desafio ambiental, o desmatamento na Amazônia¹. Um problema antigo e conhecido dos brasileiros, cuja solução passa, segundo ele, necessariamente, pela pressão dos diversos segmentos da sociedade, de modo a exigir políticas públicas eficientes. “Somos o quarto país em emissão de carbono e precisamos impedir que o desmatamento continue” – afirmou Feldmann. Aponta ainda que possuímos uma constituição muito avançada e moderna, que assegura a preservação ambiental, porém sem uma fiscalização adequada, as leis não resolvem. Para Feldmann, a questão social também está envolvida no desmatamento e é o retrato de um Brasil arcaico. Nesse contexto, enquadram-se a grilagem, o trabalho escravo, a violência e todo tipo de criminalidade contido nesse contexto, que mostra a cara de um Brasil que precisa mudar. As causas ambientais passaram a delinear a vida desse advogado e administrador há mais de vinte anos. Ele nos conta que o primeiro contato importante com o tema ocorreu na Fundação Getúlio Vargas, no curso de administração. O interesse o

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A consciência mundial e a percepção de que ela deve ser considerada de forma estratégica na condução de políticas e gestões é o grande ganho dessa luta

levou a atuar como consultor de algumas ONGs. A vida política foi uma extensão natural dessa atuação e mesmo achando inviável a eleição com uma plataforma eleitoral voltada para a defesa ambiental, candidatou-se e foi eleito exatamente por causa dela. “Fiz o caminho inverso: não foi pela política que enveredei para as questões ambientais, foram elas que me levaram à política” - disse. Passados alguns anos, o tema “sustentabilidade” ocupa espaço privilegiado nas discussões nacionais e internacionais, com a implementação de diversos mecanismos que incluem: gestão, commodities ambientais e mercado de carbono². “Hoje, a discussão ambiental tem extrema importância. A consciência mundial e a percepção de que ela deve ser considerada de forma estratégica na condução de políticas e gestões é o grande ganho dessa luta” – comemora ele. Desenvolvimento x Meio Ambiente Na sua opinião há uma conceituação mais clara, que vislumbra caminhos para a compatibilização das questões de desenvolvimento econômico e social e a preservação ambiental. “Todo desenvolvimento passa obrigatoriamente pela sustentabilidade. As empresas que não a considera-

rem não terão condições de sobreviver” – afirmou Feldmann. O aquecimento global, tão comentado, é uma mostra de que o desenvolvimento sem critérios não é viável pois deixa um legado que terá que ser pago pelas futuras gerações. Mas alguns avanços já podem ser considerados. Ele percebe que o próprio empresariado tem hoje uma visão mais madura sobre o tema. “Há uma compreensão mais clara da realidade, como provam os altos investimentos do setor privado para atender as exigências, também cada vez mais rigorosas da legislação ambiental” - disse. Atuação Verde Feldmann atua hoje como Secretário Executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas³ e é conselheiro do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV e de diversas ONGs no mundo, inclusive do Greenpeace International. Para ele, a instituição é um mode lo que deveria ser seguido pelas entidades não governamentais brasileiras, pois demonstra uma gestão independente, com capilaridade na sociedade, até porque possui dois milhões e 800 mil associados, o que lhe garante legitimidade e um papel relevante na sociedade. Fonte: Greenpeace


BIENTAIS se tornaram onta como principal Amazônia.

1 - Desmatamento na Amazônia A Amazônia não é apenas a maior floresta tropical do mundo, mas um estoque de biodiversidade sem igual em todo o planeta, com várias espécies animais e vegetais ainda desconhecidas. A taxa anual de desmatamento na Amazônia Legal no período agosto/2003-agosto/2004 foi de 26.130 km2 (segunda maior da história e equivale a mais de 8,6 mil campos

de futebol por dia). De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a destruição em apenas um ano da floresta com a maior biodiversidade do planeta foi maior do que a área total do Estado de Sergipe e pouco menor do que a Bélgica. Nos últimos três anos, os índices de desmatamento têm se mantido acima de 23 mil km2.

2 - Mercado de Carbono Os créditos de carbono são certificados de redução de emissões de poluentes lançados, negociados no âmbito do MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) — um instrumento do Protocolo de Quioto para auxiliar a redução de gases poluentes na atmosfera. Cada projeto que reduzir o impacto ambiental e for aprovado pelo MDL poderá lançar papéis no mercado. Os países desenvolvidos que não cumprirem suas metas de redução de emissões podem compensar

o problema comprando créditos de países em desenvolvimento (que não são obrigados a atingir metas). A iniciativa já foi criticada por por alguns setores que a consideram uma: “autorização para poluir”. Para Feldmann, trata-se de um instrumento muito criativo de compensação das emissões de carbono. Mas entende que não é uma solução, apenas mais um mecanismo de conscientização e de colocar na agenda dos países, o importante tema ambiental.

3 - Fórum Paulista O Fórum é uma tentativa de unir os diversos segmentos da sociedade em torno das discussões sobre as mudanças climáticas. Foi instituído pelo decreto 49.369/05 de 11/02/2005 e sua principal missão é conscientizar e mobilizar a sociedade pau-

lista para a discussão e para a tomada de posição sobre o fenômeno das mudanças climáticas globais, a necessidade da conservação da diversidade biológica do planeta e a promoção da sinergia entre as duas temáticas.

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Economia & Negócios

Balanço SOCIaL & a

O documento faz parte das normas Brasi Liane Uechi

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Balanço Social ainda é motivo de dúvidas e confusões conceituais. Um dos grandes disseminadores brasileiros do conceito de Responsabilidade Social (RS), o Sistema de Apoio Institucional – SIAI, vem realizando um trabalho intenso de divulgação para desmistificar a concepção de que o Balanço Social é apenas um relatório, formulário ou instrumento de marketing. Conforme Takashi Yamauchi, do SIAI, trata-se de um documento contábil para compilação financeira dos atos e dos investimentos sociais, diante de um faturamento. Ele deve permitir a visibilidade e identificação da responsabilidade corporativa, da responsabilidade com os investidores e da responsabilidade social e ambiental da empresa. Essas informações devem ser apresentadas em dados apurados e consolidados como itens do balanço social. “Não se trata apenas de um demonstrativo da benemerência da empresa com o meio ambiente ou com a comunidade. Envolve aspectos muito mais complexos e conceituais” – disse o especialista. Da mesma forma, o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, Oded Grajew, durante fórum de Responsabilidade Social, em São Paulo, defendeu a concepção de que o Balanço Social não é mecanismo de propaganda, mas sim, um demonstrativo de investimento social. “No balanço financeiro de uma empresa, não há descritivos sobre as atuações, o que existe são números: ativos e passivos. Pois bem, o Balanço Social também deve ser assim” – defendeu Grajew

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Exigência de Mercado Yamauchi explica que a OIT, Organização Internacional do Trabalho, por intermédio de suas resoluções e recomendações, fomentou a criação da certificação social SA 8000 (norma baseada nos direitos humanos e na OIT para manutenção e verificação de condições dignas de trabalho) e os procedimentos AA 1000 (Account Ability 1000, ferramenta de gestão da responsabilidade social corporativa), instituindo um novo valor sobre a questão do balanço social, como uma nova moeda globalizada. Aspectos para a elaboração do Balanço Social De acordo com orientação do SIAI, antes de elaborar o balanço social, a empresa deve adotar uma normalização sobre Responsabilidade Social. Nela, devem estar contidos os procedimentos internos e externos. Do contrário, o balanço social passa a ser apenas um formulário preenchido. “Não basta contratar uma consultoria e levantar resultados. É necessário alterar a conceituação da prática de todo o processo” – disse Yamauchi. Quando utiliza o termo Responsabilidade, ele refere-se aos aspectos legais (respeito às legislações); econômicos (resultado econômico); éticos (equilíbrio, justiça, imparcialidade), discricionários (benemerência, doação, filantropia) e ambientais (respeito ambiental). Esses itens podem ser verificados através de alguns indicadores básicos: de produ-


mBIeNtaL

i leiras de Contabilidade desde 2004

ção, produtividade e de qualidade; de valor adicionado bruto; de rentabilidade; de indicador social externo e indicador ambiental. Dentre outros dados, o Balanço Social e Ambiental deve apresentar os investimentos com tecnologia, com encargos e tributos, investimentos sociais e ambientais. Terceiro Setor Neste processo, a utilização de entidades do Terceiro Setor faz a diferença, pois evita comprometer a estrutura de hierarquia e do capital da empresa e inicia a fundamentação e a conceituação da responsabilidade social da empresa. A participação e a coordenação dos trabalhos por intermédio de uma instituição do Terceiro Setor, externo à empresa, garante a forma adequada, transparente e imparcial, agregando uma nova imagem para o empreendimento e suas atividades. A discussão da responsabilidade social e ambiental de uma empresa deve interagir com os fornecedores, clientes, comunidade e funcionários. O resultado deve propiciar ganhos para todos os envolvidos.

Obrigatoriedade César Sussumu Kavassaki, secretário executivo da Mundo Social, entidade que presta serviços de consultoria e assessoria para organizações, explicou que o Balanço Social está inserido na Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 15, de 06.09.2004, que tem força de lei, ou seja, deve ser cumprida. Kavassaki disse, no entanto, que a norma não prevê penalidade para o não cumprimento, o que não a fragiliza, pois a exigência será ditada pelo próprio mercado. A norma considera como informações de natureza social e ambiental as seguintes ações: a geração e a distribuição de riqueza; os recursos humanos; a interação da entidade com o ambiente externo e a interação com o meio ambiente. Ela também especifica quais são as informações desse documento, que precisa ter como responsável técnico um contabilista registrado no Conselho Regional de Contabilidade. Ainda conforme a norma, os dados extraídos de fontes não-contábeis devem ser indicados, de modo a evidenciar o critério e o controle utilizados para garantir a integridade da informação.

Balanço social é obrigatório Legislação: Resolução CFC nº 1003/04 De 19 de agosto de 2004 aprova a NBC t 15 - informações de natureza social e ambiental. Normas brasileiras de contabilidade

NBC t 15 – Informações de natureza social e ambiental 15.1.1 – Esta norma estabelece procedimentos para evidenciação de informações de natureza social e ambiental, com o objetivo de demonstrar à sociedade a participação e a responsabilidade social da entidade...

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Contrata-se!

Divulgação

Economia & Negócios

Instituições do Terceiro Setor tornam-se mais uma opção de mercado de trabalho Livi Carolina

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or uma questão histórica, imagina -se que a estrutura e o desenvolvimento de instituições do Terceiro Setor ainda são embasados na atuação de voluntários que dedicam parte do tempo livre para fazer bem ao próximo. No entanto, esta concepção antiquada tem passando por mudanças. Com a evolução das atividades do Terceiro Setor, as entidades procuraram se profissionalizar para assim, atender com mais qualidade seus públicos. E o que antes era desenvolvido, em grande parte, por voluntários, tem se aprimorado, abrindo um novo ramo de atuação para profissionais, principalmente, das áreas de assistência social, administração, marketing, pedagogia e psicologia. Segundo uma pesquisa, realizada em 2002, em parceria entre o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a Associação Brasileira de Organizações não Governamentais (ABONG) e

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Agosto Agosto -- Setembro Setembro 2007 2007

O trabalho do artista só é eficaz quando

sua qualidade gera transformação no público

o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), as fundações privadas e associações sem fins lucrativos, oficialmente cadastradas, empregam 1,5 milhão de assalariados. Estes dados mostram que as organizações não governamentais estão passando por uma nova fase, em que para crescer é preciso estabelecer uma estrutura profissional capacitada para lidar como as peculiaridades de uma instituição, como a gestão dos recursos, de forma que as ações desenvolvidas tragam resultados eficazes a todos os envolvidos neste processo: a própria entidade, a investidora e a comunidade. De acordo com Stéfano Carnevalli, gerente executivo do Instituto para Desenvolvimento do Empreendimento Social Sustentável, as ONGs estão percebendo

que precisam ser mais profissionais, pois os investidores começaram a questionar o que tem sido feito com as doações. “Há uma preocupação maior principalmente vinda por parte dos departamentos jurídicos, que verificam se as instituições parceiras estão de acordo com a legislação. Hoje são necessários documentos e garantias para fazer o repasse, e isso tem feito com que as ONGs tenham uma visão empresarial e, portanto, é natural que absorvam mais profissionais do segundo setor” - acrescenta. Embora a remuneração do Terceiro Setor ainda seja mais baixa, para Carnevalli o que motiva os profissionais a migrarem para esta área, é sentir que seu trabalho não é em vão, sentimento que o próprio já experimentou.


Pessoal ocupado assalariado e salários das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos, segundo classificação das entidades sem fins lucrativos Brasil - 2002 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2002. (1) O valor médio mensal do salário mínimo em 2002 foi de R$ 195,38 (cento e noventa e cinco reais e trinta e oito centavos).

DOUTORES DA ALEGRIA “O trabalho do artista só é eficaz quando sua qualidade gera transformação no público”, afirma Luis Vieira da Rocha, diretor executivo do Doutores da Alegria. A organização tem o objetivo de amenizar o sofrimento por meio da alegria às crianças hospitalizadas, aos pais e aos profissionais de saúde, alterando o ambiente de tensão hospitalar, por meio da arte do palhaço. Com a diferença que estes palhaços são palhaços de verdade! A equipe do Doutores da Alegria, formada por 53 médicos ‘besteirologistas’, é composta por artistas com registro na DRT (Delegacia Regional do Trabalho) que, obrigatoriamente necessitam estar atuantes em um projeto paralelo. Medida que, segundo Rocha, gera uma constante inquietação no palhaço em aprimorar seu desempenho, além de oferecer um trabalho fixo aos atores. “Da mesma forma que ele se prepara para tirar risos da platéia em uma comédia teatral, também se dedica em buscar novas técnicas para atingir o objetivo de tirar a tristeza das crianças e transformá-la em gargalhadas” – explica. Este profissionalismo protege a criança de ser ‘atendida’ por um palhaço que está apenas interessado em se sentir bem. Por isso os atores que são indicados pela Cooperativa Paulista de Teatro, passam por um processo seletivo rigoroso de cursos e palestras, que termina com a ‘residência’ de três meses em um hospital conveniado.

Classificação das entidades sem fins lucrativos

Salário médio mensal (salário mínimo) (1)

Saúde Esportes e recreação Educação e pesquisa Estudos e pesquisas Educação profissional Assistência social Meio ambiente e proteção animal Desenvolvimento e defesa de direitos Associação de moradores Centros e associações comunitárias Desenvolvimento rural Defesa de direitos de grupos e minorias

Depois de aprovados, uma dupla de ‘besteirologistas’ fazem as visitas duas vezes por semana, durante aproximadamente seis horas por dia, havendo o revezamento semestral de artistas entre os hospitais. Atuante em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, a equipe nacional realiza cerca de 50 mil visitas por ano às crianças hospitalizadas.

4,2 3,5 6,0 5,4 3,4 2,8 5,2 4,1 2,0 4,5 3,0 3,3

Segundo o diretor executivo, toda a estrutura do Doutores da Alegria é composta por profissionais capacitados para subsidiar as necessidades de uma instituição sem fins lucrativos, devendo-se a esta profissionalização o reconhecimento do trabalho desenvolvido e as parcerias com grandes empresas.

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Economia & Negócios

Preservação

LEGAL

Criação de ICMS Ecológico impulsiona o desenvolvimento de unidades de conversação do meio ambiente Livi Carolina

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uscar novos meios para garantir a restauração e a continuidade de áreas com biodiversidade - responsável pelo equilíbrio natural e pela qualidade da vida humana - deixou de ser foco somente de entidades não-governamentais, formadas por estudiosos das áreas de biologia e geologia, e passou a ser tema central de reuniões de cúpulas governamentais e empresariais. O assunto que uniu os três setores da sociedade – público, privado e civil – proporcionou alterações na legislação para subsidiar programas de preservação do meio ambiente. É o caso da lei que instituiu o ICMS Ecológico, que destina uma parte do ICMS (a porcentagem varia conforme o Estado) para ações de preservação ambiental. A medida foi implantada inicialmente, em 1991, no Estado do Paraná, ganhando proporção maior ao ser adotada também por mais sete estados brasileiros: São Paulo (1993),

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Minas Gerais (1995), Rondônia (1996), Rio Grande do Sul (1998), Mato Grosso do Sul (2001), Mato Grosso (2001) e Pernambuco (2001), tendo também legislação já aprovada no Amapá e em fase de discussão, em mais oito estados: Goiás, Espírito Santo, Paraíba, Ceará, Bahia, Santa Catarina, Tocantins e Pará. O ICMS Ecológico, implantado pelo Instituto Ambiental do Paraná, referese a critérios ambientais para o repasse de 5% dos recursos financeiros arrecadados de impostos federais e estaduais, garantidos pelo artigo 158, da Constituição Federal. Sua inserção no Estado se deu a partir da necessidade de suprir a demanda das Unidades de Conservação que se concentram na região - em função da degradação evolutiva das áreas nativas do Estado, para incentivar novos programas de preservação e de modernizar a ação pública na região.

Segundo o engenheiro agrônomo do Instituto Ambiental do Paraná, coordenador dos Programas: ICMS Ecológico por Biodiversidade e Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Estadual do IAP, Wilson Loureiro, esta medida contribuiu para a conservação da biodiversidade no Paraná e para a melhoria na qualidade dos parques e reservas. “O início de sua atuação tinha tudo para se transformar numa ferramenta estéril, mas, felizmente foi possível transformá-lo em um instrumento de incentivo e contribuição complementar à conservação ambiental” – disse o engenheiro. Para ele, o ICMS Ecológico é um instrumento meio, não fim, sendo necessária uma estrutura de boa qualidade, inclusive para captar adequadamente sua contribuição, bem como a de outros instrumentos - ações de educação, recreação e pesquisa - que devem ser disponibilizados simultaneamente.


Estado Mato Grosso do Sul Pernambuco Minas Gerais Paraíba Paraná Espírito Santo Alagoas São Paulo Mato Grosso Bahia

Decreto Estadual Decreto n.º 7.251, de 16 de julho de 1993 Decreto n.º 19.815, de 02 de junho de 1997 Decreto n.º 39.401, de 21 de janeiro de 1998 Decreto n.º 5.436, 12 de novembro de 2002 Decreto n.º 4.890, de 31 de maio de 2005 (*) Decreto n.º 1.633, de 10 de fevereiro de 2006 Decreto n.º 3.050, de 09 de fevereiro de 2006 Decreto n.º 51.150, de 3 de outubro de 2006 Decreto n.º 7.279, de 22 de março de 2006 (*) Decreto n.º 10.410, de 25 de julho de 2007

Reservas Particulares As Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN), ou seja, áreas particulares protegidas por iniciativa dos proprietários, também podem receber o incentivo do ICMS Ecológico, por serem consideradas Unidades de Conservação. Categoria prevista pela Lei 9.985/2000 do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), que pode ser instituída no todo ou em parte de imóveis de domínio privado, no qual a iniciativa em preservar parte do proprietário. No Brasil, cerca de 730 RPPNs protegem uma área de aproximadamente 580 mil hectares, porém este número poderia ser maior se houvesse mobilização dos Estados para garantir mais benefícios. “Os incentivos por parte do governo ainda são pequenos e foram poucos os Estados que adotaram o ICMS Ecológico” – declara a coordenadora da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica, Erika Guimarães. ICMS - Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços O ICMS é o imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação de competência dos Estados e do Distrito Federal. De onde vem e para onde vai o ICMS? Artigo 158 da Constituição Federal - Pertencem aos municípios (entre outros): IV – Vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre as operações relativas à circulação de mercadoria e sobre as prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

Ano 1993 1997 1998 2002 2005 2006 2006 2006 2006 2007

Fonte: Legislações Estaduais. Notas: (*) Os Estados do Paraná e Mato Grosso já tiveram Decretos anteriores sobre Programas Estaduais de RPPN, que foram revogados para dar lugar a normas mais modernas. No Paraná, foi revogado o Decreto nº 4.262, de 21 e novembro de 1994 e, no Mato Grosso, o Decreto nº 5.436, de 12 de novembro e 2002.

foi possível transformá-lo (ICMS Ecológico) em um instrumento de incentivo e contribuição complementar à conservação ambiental

Outro agravante em que essas reservas particulares esbarram é a burocracia. A proprietária da RPPN Santa Fé, no Rio de Janeiro, Deise Moreira, conta que para conseguir o registro de Reserva Particular em suas terras, foi preciso esperar por mais de dois anos a aprovação de cada uma. “O processo é muito lento, o pedido de criação, no Rio de Janeiro, é Federal, então até ser analisado por todos os órgãos responsáveis o processo se alonga” – diz a proprietária. Para agilizá-lo foi organizada a Associação Patrimônio Natural (APN) para inserir a RPPN Municipal, que em 2002 procurou as secretarias do Meio Ambiente do Rio de Janeiro para expor a importância da conservação, da proteção aos recursos hídricos e a possibilidade do município e dos proprietários receberem ganhos reais com a criação

de RPPN. “O empenho da APN está sendo muito grande. Começamos a criar parcerias com outras entidades e fazer a divulgação deste instrumento de conservação. Não é fácil! Mas vencemos a primeira fase: acreditar no instrumento a nível municipal” – declara Deise. Hoje, o Estado carioca já conta com o RPPN nos municípios de Miguel Pereira, Paulo de Frontim, Vassouras, Mendes, Quissamã e Paracambí. O Paraná também saiu à frente com o Programa Estadual de RPPN, reivindicando agilidade procedimental na criação de suas Reservas e apoio junto aos poderes públicos, municipal e estadual. O Estado possui 187 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), distribuídas em 82 municípios, somando um total de 37.149,77 hectares de área conservada sob responsabilidade dos proprietários privados.

relativas à circulação de mercadorias e Parágrafo único – As parcelas de renas prestações de serviços, realizadas ceita pertencentes aos municípios, menem seus territórios; cionados no inciso IV, serão creditadas II – até um quarto, de acordo com o conforme os seguintes critérios: que dispuser a lei estadual ou, no caso I – três quartos, no mínimo, na prodos territórios, lei federal. porção do valor adicional nas operações Distribuição do ICMS no Paraná A partir de Até Critérios Critérios 1991 (%) 1992 (%) Valor adicionado Valor adicionado 80 75 Produção agropecuária Produção agropecuária 8 8 Habitantes na zona rural Habitantes na zona rural 6 6 Nº de propriedades rurais Nº de propriedades rurais 2 2 Superfície municipal Superfície municipal 2 2 Fixo ou igualitário Fixo ou igualitário 2 2 Mananciais de abastecimento 2,5 Ambiental 5,0 (ICMS Ecológico) Áreas Protegidas 2,5 Total 100 100

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Esportes

BRaSIL

pARAESpORTISTA!

Além do Pan, Brasil também é sede dos Jogos Paraolimpícos e do Mundial para Cegos, que aconteceu em São Caetano Da redação

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ste ano o verde e amarelo brasileiro está em destaque no quadro de eventos esportivos mundiais. O país que já sediou os Jogos Pan-Americanos, também cedeu espaço para o ParapanAmericano e a terceira edição do “Jogos Mundiais para Cegos”, que aconteceu na capital de São Paulo e em São Caetano do Sul, uma das sete cidades que compõem o Grande ABC Paulista, entre os dias 28 de julho e 08 de agosto. Competição classifi-

catória para as Paraolimpíadas de Pequim (Beijing), em 2008. Com um destaque mais tímido que os Pans, o Mundial, organizado pela Confederação Brasileira de Desportos para Cegos (CBDC) e pela Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA), trouxe à terra da garoa 62 delegações internacionais e mais de 1.600 atletas que se dividiram em seis competições: atletismo, judô, levantamento de peso, que se concentra-

Estrutura Foram necessários 900 voluntários para auxiliar na organização do evento. Segundo a responsável pelo Comitê de Voluntariado, Regina Matsui, as inscrições para trabalhar no Mundial foram iniciadas no começo do ano em faculdades e escolas, próximas aos locais das competições, no site oficial dos

jogos (www.ibsabrasil2007.org.br) e em seguida em escolas de idiomas, para atender as delegações internacionais. Após a seleção, os candidatos escolhidos passaram por um treinamento de capacitação para condução de deficientes visuais, curso de acessibilidade e postura.

Público São Caetano incentivou os moradores a prestigiarem as competições. De acordo com o secretário do Comitê Organizador, Antônio Menescal, alunos das escolas próximas foram levados para assistirem aos jogos com o intuito de valorizar o esporte e de aprender a lidar com as diferenças. Os moradores também compareceram e vibraram com as disputas. “Moro aqui ao lado e quando

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soube que haveria uma competição mundial ao lado de casa não pensei duas vezes. Assisti a todos os jogos com a minha filha”, revela a moradora Márcia Maria. No encerramento dos jogos o presidente da CBDC, David Farias Costa, citou a cidade como referência no esporte paraolímpico. “São Caetano mostrou que o esporte é acessível ao deficiente, facilitando e valorizando sua inclusão social” – declarou.

ram na cidade de São Paulo, e natação, futebol e goalball, que aconteceram em São Caetano. Segundo o presidente da CBDC e do comitê organizador dos Jogos, David Farias Costa, as cidades foram escolhidas de acordo com a infra-estrutura necessária para abrigar uma competição desse porte. São Paulo por ser a maior cidade da América do Sul e São Caetano por apresentar os melhores índices sociais do país.


Divisão por grau de deficiência visual* B1 – Atletas totalmente cegos ou que têm alguma percepção de luz;

B2 – Possuem acuidade visual (aquilo que se vê em determinada distância) reduzida. São capazes de reconhecer a forma de uma mão;

B3 – Têm maior acuidade visual que o atleta B2.

Esta classificação esportiva é aplicada somente a atletas. Modalidades Adaptadas Atletismo As provas são divididas por grau de deficiência. Os B1* e B2* correm com um “guia”, unidos por uma corda presa às mãos. Já os competidores B3 seguem as mesmas regras do atletismo regular. Levantamento de peso Os atletas cegos seguem as mesmas regras que os competidores com visão. A competição consiste em levantamento de três movimentos: supino, agachamento e terra. Para cada atleta são permitidas três tentativas e a melhor é válida para o final da competição. Judô É a única arte marcial dos Jogos Paraolímpicos e a modalidade que mais tem regras parecidas com a disputa convencional. A diferença é que os atletas cegos não são punidos quando saem da área de

combate e a luta é interrompida quando os competidores perdem o contato, mas o sistema de pontuação é o mesmo.

minutos. Ganha quem fizer mais gols nas traves de 9m de largura por 1,3m de altura. Os três jogadores atacam e defendem.

Natação Os deficientes visuais disputam os quatro estilos: livre, costas, peito e borboleta, sempre divididos pelo grau da deficiência. Um auxiliar fica à beira da piscina com um bastão para tocar nas costas ou na cabeça do atleta avisando o momento da virada ou chegada.

Futebol B1*: A quadra tem as mesmas medidas do futsal, 38 x 18m até 42 x 22m. São dois tempos de 25 minutos, com intervalo de 10 minutos. Cada time tem um “chamador”, pessoa que fica atrás do gol adversário orientando seu ataque. O goleiro, único do time que enxerga perfeitamente, orienta a defesa. O jogador também se orienta de acordo com o barulho da bola, que tem guizos dentro.B2*/B3*: As regras não diferenciam muito do futsal regular, têm apenas algumas adaptações e uma preocupação com a luz, que não pode ter variações. A bola pode ter cor chamativa, para facilitar a localização. O goleiro não pode sair da área de seis metros.

Goalball É a única modalidade criada especialmente para deficientes visuais, ao contrário das outras que foram adaptadas. O jogador se orienta de acordo com o barulho da bola, que tem guizos dentro. Por isso o silêncio é importante. No goalball participam duas equipes de 3 jogadores. Cada equipe joga a bola, com a mão, na direção do gol adversário, em dois tempos de 10

Infra-estrutura do Parapan é a mesma do Pan Diante da proximidade de datas entre o Pan e o Parapan-Americano, o Brasil saiu na frente ao construir a Vila Olímpica de acordo com as normas de acessibilidade, equiparando as modalidades de esportes. “Estamos certos de que, ao adotar para

Divulgação

Geral de Medalhas do Mundial

Fonte: Site da Federação Internacional de Esportes para Cegos

os Jogos Parapan-americanos o mesmo formato que se aplica aos Jogos Olímpicos e aos Jogos Paraolímpicos, o Brasil e o Rio de Janeiro abrem novas perspectivas para que essa iniciativa se repita nas próximas edições dos Jogos Pan-americanos” – declarou o presidente do Comitê Organizador Rio 2007, Carlos Arthur Nuzman.

Ouro

Prata

Bronze

Total

1º Rússia

28

15

11

54

2º Bielorrússia

18

13

7

38

3º Brasil

17

22

19

58

4º Espanha

16

23

23

62

5º China

12

7

10

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Saúde

Bate Cora Próteses cardiovasculares geram vida a quem não mais tinha esperança de sobreviver Livi Carolina

A

Responsabilidade Social e as questões de sustentabilidade estão presentes em qualquer área. O investimento em pesquisas fornece novas tecnologias, que na sua maioria promovem desenvolvimento não apenas econômico, mas acima de tudo de cunho social, mudando a história de regiões, alterando fontes energéticas, viabilizando novas oportunidades alimentares. Na saúde, a pesquisa mostra sua face mais solidária. O corpo humano é uma máquina de sofisticada e complexa “tecnologia”. Criar peças de reposição para ele é um dos grandes desafios da ciência. O coração, um dos primeiros órgãos vitais a ser formado, é responsável pelo bombeamento de sangue, oxigênio e nutrientes para o todo o organismo, a este fato deve-se a preocupação quando há alguma anormalidade em seu funcionamento. São veias, artérias, ventrículos que, se comprometidos, levam o paciente ao risco fatal. Partes do coração que, ao contrário de outros órgãos - como o próprio coração - não são transplantados, exercem papel fundamental ao bom desempenho do corpo. Por isso, há anos a medicina tem pesquisado a criação de próteses para estes importantes auxiliadores do bombeamento sangüíneo, quando não for mais possível fazer reparos cirúrgicos. Um aneurisma em uma das válvulas foi o que levou Vanderlei Sanches, 60

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Agosto Agosto -- Setembro Setembro 2007 2007

anos, a realizar o implante da primeira prótese em seu coração. Em substituição à válvula dilatada, foi colocado um tubo valvar biológico, produzido a partir do pericárdio (saco membranoso que envolve o coração) bovino. O segundo implante aconteceu logo após essa cirurgia, quando houve uma endocardite, inflamação do revestimento interior liso do coração (endocárdio) e das válvulas cardíacas, causada por uma infecção, que destruiu outra de suas válvulas e, por conseqüência, debilitou parte de seus órgãos. Dessa vez, foi usada na operação a prótese metálica. “Se não fosse esse implante, teria morrido. Meu fígado inchou a ponto de não caber mais em mim, já não mais falava, minhas pernas estavam inchadas, por isso digo que nasci de novo depois que coloquei essa nova prótese”, revela Sanches. Ele lembra que a recuperação foi rápida, em cinco dias já estava andando. Hoje, oito anos após os implantes, Sanches leva uma vida normal, mas mantém o cuidado necessário com a saúde para prolongar o período útil das próteses - 10 a 20 anos, sendo necessário, após este período, fazer um novo implante. A cada seis meses, faz acompanhamento médico e diariamente toma o anticoagulante, que, de acordo com o professor de cardiologia da FMABC, José Luis Aziz, tem a função de afinar o sangue e evitar a formação de coágulos.

Vanderlei Sanches, esbanjando saúde


ação! “

por isso digo que renasci depois que coloquei essa nova prótese

“O paciente com prótese metálica terá que tomar este remédio por toda a vida. Já o paciente que tem a prótese biológica não precisa se preocupar com isso, porém, não são todos os casos que se pode usá-la”, afirma. Segundo o cardiologista, o uso destas próteses valvárias prolonga a vida, enquanto as intervenções cirúrgicas têm efeito de dois anos, em média. Outra vantagem para o uso das próteses está no fato de raramente haver rejeição no implante, completa o médico. Pioneirismo em pesquisas Exemplos como o de Vanderlei, mostram que investir na tecnologia em favor da saúde é necessário. Porém, segundo o diretor da Braile Biomédica, Alberto Camim, falta apoio do governo. “Nossas pesquisas são custeadas pela própria empresa, assim também temos mais liberdade de trabalho” – acrescenta. Especialista em tecnologias cardiovasculares de eletromédicos, biológicos e descartáveis, a Braile Biomédica é considerada centro de referência da indústria e

da medicina nacional. Localizada em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, há mais de 30 anos, a Braile fabrica diferentes formatos de próteses valvárias, bombas de circulação extracorpórea, oxigenadores de membrana, reservatórios e filtros de sangue, entre outros produtos, que têm 15% de seu total destinado a mais de 23 países, espalhados pela América do Sul e Norte, Europa, Ásia e África. De acordo com o diretor, as pesquisas se concentram no sistema endocárdio e em criar próteses de partes do coração que possibilitam a restauração do funcionamento cardíaco nas opções metálicas e/ou biológicas. Além das próteses menores, o produto que mais se assemelha a um coração total, e já tem sido fabricado e usado comercialmente, é a bomba peristáltica, máquina não descartável que desempenha o papel do coração durante a cirurgia cardiovascular, quando é preciso parar o coração natural. No entanto, a Braile tem investido em pesquisas do coração artificial, que ainda encontra-se em fase de testes.

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Social

Sustenta

em pauta I Fórum ABA de Responsabilidade So acontece em São Paulo para discutir o Liane Uechi

A

contribuição do marketing e da Comunicação nas questões que envolvem a preservação ambiental, as ações sociais e a sustentabilidade envolvendo: consumidores, empresas, negócios, mercado e o planeta foram discutidos no I Fórum de Responsabilidade Socioambiental da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes), ocorrido no dia 8 de agosto, em São Paulo. O evento reuniu

profissionais renomados envolvidos nos processos de divulgação, conscientização e mobilização da sociedade nessas questões. Os temas discutidos abordaram a sustentabilidade das organizações; de que forma a mídia abre espaço para esses assuntos; a importância da responsabilidade socioambiental no consumo e a governança corporativa. Os convidados para debater foram: Rosa Maria Fischer,

Aerton Paiva, José Pascowitch, Alexandre Mansur, Célia Rosemblum, Denise Juliani, Angela Crespo, Ricardo Voltolini, Aron Belinky, Fernando Rossetti, Valdir Cimino, Arleu Aloisio Anhalt, Carlos Eduardo Lessa Brandão, Oded Grajew, e Percival Caropreso. As conclusões apontam para a necessidade de um amadurecimento do tema, ainda repleto de dúvidas. A seguir alguns trechos do Fórum:

A sustentabilidade social passa longe da dependência de patrocínios e apoios. Essa foi a mensagem da professora Rosa Maria Fisher, titular da Faculdade de Economia e Administração da USP e coordenadora do CEATS (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor). Ela defende que qualquer organização, seja ela empresa ou ONG, precisa adotar preceitos básicos de administração, onde se incluem: competências técnicas, capacitação humana e sobretudo, ferramentas de gestão. Segundo ela é preciso ficar claro o que vai além da responsabilidade corporativa. Por uma influência religiosa muito forte, a caridade e o altruísmo são as bases de ações sociais. Diante de um quadro de desigualdade social, esses atos muitas vezes se confundem, com Responsabilidade Social.

“A caridade cria uma dependência perene entre doador e beneficiado” – explicou. Com a evolução do conceito de Responsabilidade Social a visão está se clareando e hoje, muitas organizações a inserem dentro do Planejamento Estratégico, criando uma sinergia com os negócios e conquistando espaços importantes na comunidade. “Outro ganho importante é que a empresa aprende com a comunidade. Havia uma cisão na Responsabilidade Social e na Ambiental. Por vezes, a empresa desenvolvia uma ação social, mas descartava resíduos no rio, ou o inverso” – exemplificou. A professora cita ainda outra dissonância muito comum, que é manter uma atuação social externa de monta e nenhuma preocupação com o funcionário, o que para ela é ilógico.

Caridade x Responsabilidade

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abilidade

a

cioambiental para a sutentabilidade papel da comunicação

Distribuindo o Poder “Imagine que estamos todos num grande navio. Há 50 anos descobriram que iríamos bater num grande iceberg. Desde então os passageiros se reuniram em diversos grupos, discutiram as causas desse acidente, fizeram congressos, publicaram sobre o assunto, prepararam documentários.... Mas quem irá mudar o leme (poder) dessa embarcação? Ora, isso leva tempo pois envolve mudanças e quebras de paradigmas. Porém, se demorar muito teremos um novo passageiro a bordo: o iceberg”. Versão resumida na metáfora apresentada por Aerton Paiva. O presidente da APEL (Pesquisa e Desenvolvimento de Projetos de Sustentabilidade), Aerton Paiva, definiu como sustentabilidade a condição de atender as necessidades do presente, sem comprometer às futuras gerações atenderem sua capacidade de sustentabilidade. Para tanto é necessário compartilhar o poder com os stackholder (partes envolvidas). Para ele, todas essas questões estão vinculadas à necessidade de uma grande mudança de paradigma e passa pela condição inicial de indignação frente a situação atual. Como exemplo, ele afirma que é necessário entender a corrupção como um “genocídio”. “Como alguém pode desviar dinheiro público, quando há mortes no país por falta de recursos na

saúde pública?” – disse. Paiva acredita que o consumidor ainda não consegue fazer pressão suficiente junto aos empresários, até porque confunde questões de responsabilidade com filantropia. Já em relação às políticas públicas entende que estão travadas nas suas burocracias e interesses próprios. Cita como estratégias necessárias: as campanhas – que devem estimular o comportamento do consumidor; Produtos e Serviços – com dimensão social, ambiental e econômica; Relatórios e Balanços – que devem conter e reportar apenas o que efetivamente tem importância e a comunicação interna – que deve esboçar a coerência entre as estratégias e as ações concretas. “Do contrário é dar um tiro no próprio pé” - afirmou. Agosto - Setembro 2007

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Social

Consumo Consciente O consultor de pesquisas do Instituto Akatu, Aron Belinky, disse que o consumo consciente é um fator comportamental que precisa ser compreendido pelo setor da comunicação. “Não se trata de deixar de consumir, mas sim, de consumir de forma diferente”. Isso significa que cada pessoa precisa entender que seu consumo gera um impacto nas seguintes dimensões: o próprio indivíduo, nas relações sociais, na natureza e na economia.

Para ele, o mais importante é que o consumidor perceba que ele não é objeto de estímulo, mas sim, aquele que tem o poder de pressionar o mercado para consumir o que deseja. Atualmente, pesquisas da Akatu mostram que há um grande ceticismo na sinceridade das atuações social das empresas. A impressão é que elas usam essas ações apenas com o objetivo de melhorar a imagem dos seus produtos ou serviços.

Aron Belinky: Consumir de forma diferente

Estratégias Importantes

Fernando Rossetti acredita que o tema ainda é desconhecido

O secretário geral do GIFE – Grupo e Institutos, Fundações e Empresas, Fernando Rossetti, acredita que as discussões sobre o tema da responsabilidade socioambiental ainda representam uma temática nova na sociedade, com terminologias ainda desconhecidas do público em geral como, por exemplo: o investimento social e a responsabilidade corporativa. Ele cita como estratégias importantes na adoção de práticas das empresas:

• Comunicar resultados, não intenções; • Conhecer os objetivos sociais antes de iniciar um processo de comunicação; • Priorizar a divulgação de causas, não da empresa e de suas ações sociais; • Produzir conhecimento, com oficinas e pesquisas; • Diversificar mídias e estratégias de divulgação dessas idéias.

Baixa Credibilidade das Instituições Públicas Para o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, Oded Grajew, a Responsabilidade Social é uma escolha sobre como realizar a gestão empresarial. Não é definir uma lista de princípios, mas sim, uma tradução em atos concretos, que podem ser verificados por meio de

Oded Grajew aponta crise na credibilidade pública.

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indicadores, de números, de processos, enfim, o que pode ser declarado como investimento social. A Responsabilidade passa ainda pela relação da empresa com os empregados, com os clientes, com os fornecedores e com a comunidade. “Imaginem uma casa no meio da floresta, que podemos usar para dormir, descansar, nos alimentar. A única solicitação é que a deixemos, no mínimo, nas mesmas condições, para o próximo que for utilizar. Não é o que estamos fazendo hoje com o planeta” – disse Grajew.

Ele diz que nunca antes esteve tão baixa a credibilidade das instituições públicas. “Isso é um fator muito grave, pois elas deveriam ser a aspiração mais nobre de qualquer profissional, de qualquer carreira, porque significa trabalhar para o bem público” – disse. O desinteresse geral do cidadão também é outra agravante. “As pessoas desconhecem o orçamento do seu município, do seu estado. Desconhecem quanto cada setor recebe de verba. São os nossos impostos.... nosso dinheiro..” – disse ele.

Nossa São Paulo Essas constatações foram o pontapé inicial de uma nova ação chamada Nossa São Paulo, que pretende reunir a sociedade para a análise das pautas do governo. Entender cada indicador de saúde, educação, transporte... ”estamos nos baseando numa experiência revolucionária ocorrida em Bogotá, na Colômbia, e que mudou a cara da política, eliminou a corrupção e representou até mais recursos espontâneos para o Estado”. Segundo Grajew, a iniciativa trouxe ganhos imensos para o

país. Hoje, o candidato a prefeito precisa apresentar um plano de governo que deve ser seguido passo a passo, com metas, objetivos e indicadores para cada área. Se ele sair fora do programa está sujeito ao impeachment, mesmo sendo honesto. Isso nada mais é que um modelo de gestão empresarial, onde o CEO avalia os indicadores e resultados de um plano de negócios. A idéia é iniciar o programa em São Paulo, com a esperança que a idéia contamine outros estados.


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Boa DIVErsร o! Agosto - Setembro 2007

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ConHEÇa o rEstantE Da

nossa turma Neoau apresenta a outra parte dessa turminha que irá ajudar a construir um novo mundo junto com nosso mascote NEOMINHO Calmo, tranqüilo, nunca se atrasa para nada. É o melhor amigo da Neoflora, adora todas as plantas.

a Olha aqui! a r e l ga

NEOPIS Sempre contente, adora desenhar, é o mais otimista da turma. Suas anotações são cheias de idéias produtivas.

NEOQUIVO É um velhinho simpático, sempre disposto a ajudar a turma a pesquisar o passado. A idade às vezes compromete sua memória. Vamos ajudá-lo?

ajude a escolher um nome para ele e descubra como De um monte de lixo, embalagens vazias, sucatas, surgiu nosso amigo. De uma composição química ainda desconhecida, certos materiais, caixinhas, latinhas, isopor, papelão, fizeram aparecer nosso mascote. Por sua origem, ele defende, com todas as suas forças o meio ambiente, a coleta seletiva de lixo e o uso correto dos recursos naturais. Ele foi encontrado por nosso amigo Henrique, quando este voltava da escola, estava escondido e assustado perto de um saco de lixo rasgado.

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Regulamento 1.O concurso Neo Mondo Kids será realizado no período de 5 de agosto a 10 de setembro de 2007. 2.Poderão participar crianças matriculadas do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, com até 14 anos. 3.Para participar, basta criar um nome para o mascote Neo Mondo Kids. O autor do nome mais criativo ganhará um MP3. 4.Envie o nome sugerido à Redação do Instituto Neo Mondo no e-mail concurso@neomondo.com.br, junto com seus dado (nome, idade, filiação, endereço e telefone). 5.As sugestões serão avaliadas pelo Conselho Editorial da Neo Mondo Kids. 6.O participante pode encaminhar quantas sugestões desejar até 5 de setembro de 2007. 7.A escolha será no dia 10 de setembro de 2007, no Instituto Neo Mondo.


teen

Palavra

Neotoco Emburrado por natureza, vive criticando toda a turma. Acha que nada vai dar certo.

Neoclica Sempre ligada, é a melhor amiga do Neoquivo. Registra tudo o que acontece em sua volta.

surgiu nosso mascote: Passado o susto inicial e feitas as apresentações, nova surpresa: ele não estava sozinho, diversos outros amiguinhos saíram do saco: Neoflora, Neomiau, Neomujo, e muitos outros, que agora fazem parte dessa divertida turminha. Henrique apelidou o novo amigo de E.T., mas precisamos agora encontrar um nome para ele. Você pode nos ajudar? Envie sua sugestão para o e-mail: concurso@neomondo.com.br. O melhor nome receberá um MP3 e terá sua foto publicada na edição nº4 da revista Neo Mondo. 8.O nome do vencedor será publicado na edição nº4 da Revista Neo Mondo Kids. 9.O prêmio será retirado no Instituto Neo Mondo. 10.A participação é restrita a leitores da região metropolitana de São Paulo. 11.Não podem participar familiares de funcionários do Instituto Neo Mondo. 12.Os casos não previstos neste regulamento serão decididos pela comissão julgadora, cuja decisão será soberana. 13.Após 60 dias contados a partir da data de publicação do nome escolhido, o contemplado que não retirar o prêmio, perderá seu direito. 14.Esta é uma promoção cultural, sem qualquer modalidade de sorte ou pagamento por parte dos participantes, de acordo com a lei º 5.768/71 e decreto nº 70.951/72 – artigo30.

A BC

por Marina Mergulhão Luiz

Saindo

da rotina

Quando falamos na cidade de São Paulo, pensamos em toda a violência, poluição, desigualdade social, mas nunca nos lugares históricos, nos centros de exposições, nas coisas boas que a cidade tem a oferecer. Na semana retrasada, fui com o meu colégio ao Museu da Língua Portuguesa, que fica na Praça da Luz. Ao pensar num museu, ainda mais de Língua Portuguesa, você imagina que vai ser mais um passeio careta e chato, mas logo ao entrar, você muda de idéia, porque lá tudo interage com o visitante por meio de recursos audiovisuais e tecnologias de ponta. Na minha opinião, os melhores lugares do museu são: “O beco das palavras” e o “cinema”, onde passa um filme de 10 minutos na voz da Fernanda Montenegro. Após o término do filme, o telão sobe e os visitantes entram em uma sala com vários projetores que ficam passando imagens que estimulam a imaginação, enquanto são declamadas poesias nas vozes de grandes nomes da televisão e da música brasileira. Eu recomendo este passeio, porque além de você adquirir cultura e conhecimento das palavras, sairá da rotina.

Marina Mergulhão Luiz Tem 13 anos, está cursando 9º ano do ensino fundamental do Colégio Stocco Agosto - Setembro 2007

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rEIZInHo DE

PaPEL JornaL MATERIAl: • Argila para moldar • Margarina • Papel jornal • Cola branca • Tesoura (sem ponta!) • Pincel • Tintas (branca e de outras cores)

2 Comece a moldar na argila o rosto do reizinho. Faça uma cara grande, destacando bem os olhos, o nariz e a boca.

4 Espere o molde secar. Depois, com o dedo, passe uma camada de margarina sobre ele, lambuzando bem toda a argila.

7 Espere a cola secar e desgrude do molde de argila a máscara de papel.

5 Com água, vá molhando com cuidado algumas folhas de papel e revestindo com elas o molde de argila. É preciso fazer o papel grudar direito, tomando a forma do rosto do reizinho.

8 Com a tesoura, recorte as bordas da máscara (as pontas de papel que sobraram) para dar um acabamento mais caprichado.

1

Pegue um bom pedaço de argila e amasse bem.

3 Os detalhes você pode fazer com um palito de sorvete.

6 Agora vá colando 4 ou 5 camadas de papel, uma sobre a outra. Procure manter os detalhes do rosto (as partes arredondadas, por exemplo, podem ser cobertas com pedaços menores).

9 Com o pincel, passe uma camada de tinta branca por toda a máscara. Depois você pode colorir como quiser o rosto do reizinho.

Expediente: Diretor Executivo: Oscar Lopes Luiz - Diretor de Comunicação: Ivan Lima Santos - Diretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190) Coordenadora Pedagógica: Luciana Stocco de Mergulhão (Mestre em Educação) - Revisão: Instituto Neo Mondo - Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo e Linking Propaganda Diretor de Ilustração: Ricardo Girotto - Diretor de Arte: Adriano Ferreira Barros - Correspondência: Instituto Neo Mondo - Rua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 - Santo André – SP Cep: 09190-000 Para a Neo Mondo: assinatura@neomondo.com.br - Agosto Neomondo - Setembro 2007 - redacao@neomondo.com.br - Para anunciar: comercial@neomondo.com.br - Tel. (11) 4994-1690 - Presidente do Instituto 22 falar com Neomondo: oscar@neomondo.com.br


Social

de Vilã

a Protagonista Amostra da FIESP mostra o investimento de empresas em ações socioambientais que as livraram da imagem de poluidoras Da redação

D

e 02 a 04 de agosto o Pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera, São Paulo, abriu espaço para a exposição de ações socioambientais de empresas ligadas à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. A Mostra Fiesp de Responsabilidade Social, iniciativa do Comitê de Responsabilidade Social (CORES) e do Conselho Superior de Responsabilidades Social (CONSOCIAL), reuniu cerca de 40 empresas com o objetivo de mostrar o que elas estão fazendo em favor das comunidades e do

meio ambiente onde atuam e ainda de provocar a discussão de ações mais eficazes por parte do Poder Público. Segundo Luciano Rodrigues Coelho, especialista em Meio Ambiente da FIESP, há anos a Federação premia empresas que desempenham soluções para a população, mas era preciso criar um meio para divulgar estas ações. O evento foi dividido em duas fases, no período da manhã, simultaneamente em três salas, aconteciam os congressos, onde as empresas apresentaram

Neo mondo

O programa “Nossa Cidade” recebeu a diretoria da

seus cases de sucesso, e à tarde, a feira de exposições oferecia melhores informações sobre os projetos apresentados. De acordo com Nelson Pereira dos Reis, diretor titular do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp, esta feira comprova que as empresas estão fazendo a sua parte. “As indústrias perderam a imagem de vilã ecológica e desempenham um trabalho sustentável em parceria com a comunidade. Hoje, grande parte da poluição produzida irresponsavelmente não vem da indústria” – destaca.

no ar!

Neo Mondo para tratar do tema responsabilidade socioambiental Da redação

C

onvidados para discutir as ações da responsabilidade socioambiental, os diretores do Instituto Neo Mondo estiveram presentes no programa ao vivo ‘Nossa Cidade’, do Canal ABC 3 (canal 3 da Vivax), apresentado por Leopoldo Inglez, no dia 19 de julho. O presidente do Instituto Oscar Lopes Luiz, o vice Ivan Lima Santos e a diretora de redação da revista Neo Mondo Liane Uechi, abordaram os projetos do Instituto, entre eles, a revista editorial que leva o mesmo título da entidade. Segundo a diretora, a revista Neo Mon-

do é um meio de divulgar informações, ainda dispersas, sobre o Terceiro Setor. O projeto ‘Somos Amigos da Terra’, para levar educação ambiental às escolas e conscientizar as crianças quanto ao cuidado com a preservação do meio ambiente, também recebeu destaque. Já a ação de inclusão social por meio do esporte, o Ferinhas do Basquete, foi relatado por Lima Santos, ex-jogador de basquete, que há dois anos está no comando do projeto, realizado no Clube Panelinha, em Santo André, que tem o objetivo de gerar a responsabilidade cívica nos jovens entre 8 e 16 anos.

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Especial

ESGOTO: Solução Ambie Indústrias do ABC paulista desenvolvem projeto inovador, transformando esgoto em água industrial Liane Uechi

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om um investimento que pode alcançar a casa dos 100 milhões, nove indústrias do Pólo de Capuava, no ABC Paulista, através de um consórcio que envolverá também a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), estão desenvolvendo o projeto Aqu´apolo Ambiental. Por sua dimensão já pode ser considerada a maior iniciativa do gênero no Brasil e consiste basicamente em transformar esgoto em

água para uso industrial. A grande motivação tem como apelo os ganhos ambientais e a sustentabilidade do próprio negócio, já que a água é um bem cada vez mais escasso e que deve ser priorizada para o consumo. O gerente de projetos da Petroquímica União, Jorge Rosa, que lidera esse projeto, explicou que o aspecto de redução de custos, só poderá ser considerado a longo prazo, quando o alto investimento for amortizado.

Como Funciona Hoje A água é um insumo indispensável em processos industriais. No caso do Pólo Petroquímico de Capuava é utilizada principalmente nas torres de resfriamento e produção de vapor. Para atender todas as indústrias do Pólo, estima-se uma necessidadade de captação de 500 litros por segundo. Desde 1972, a Recap (Refinaria de Capuava – Petrobrás), que detém a autorização para captação da água do Rio Tamanduatei, a redistribui, após processamento e tratamento, para as demais empresas do pólo. No entanto, o rio Tamanduatei atingiu um grau tão elevado de poluição - similar ao esgoto in natura, que tem dificultado sua utilização, pois exige uma série de adaptações, inclusive a adição de água potável, para sua diluição e condição de uso. Rosa relatou que em 1994, por motivo de uma forte estiagem, a vazão do rio foi reduzida drasticamente, levando ao risco de parada das plantas industriais, o que representaria um prejuízo de cerca de 2 milhões de dólares. Essas condições conduziram a uma tomada de decisão, com o objetivo e encontrar novas alternativas de captação . Estudos e Engenharia Uma empresa foi contratada e apontou 21 opções de aproveitamento de rios. O mais viável seria buscar a água do rio Tietê, num ponto em Suzano, pois assim seria possível ocupar a “faixa de servidão” da Petrobrás (espaço reservado para pas-

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ental sagem dos dutos da refinaria), para instalação das tubulações, que transportariam essa água até a indústria. “Caso contrário seria necessário efetuar desapropriações, inviabilizando o projeto” – explicou o gerente. Porém, com a implantação da ETE ABC – Estação de Tratamento de Esgoto da SABESP, que fica em Heliópolis, São Paulo, próximo a São Caetano, vislumbrou-se uma nova solução, que seria comprar o esgoto já tratado pela Sabesp. Esse efluente será enviado através de tubulações (cerca de 16 km) para a Recap, que já possui a experiência em processar esgoto, e após novo tratamento para retirada de sais, amônia e outros produtos que poderiam danificar os equipamentos, seria utilizada no processo industrial. Um item importante é que não será mais necessária a adição de água potável. Iniciaram-se então, segundo Rosa, os procedimentos para dar andamento ao projeto. Foi necessário obter junto às prefeituras dos municípios de São Paulo, São Caetano do Sul, Santo André e Mauá, a autorização do uso dessa “água”, pois a concessão da mesma pertence aos municípios. A licença ambiental é outra exigência para esse tipo de empreendimento. Rosa informou que já foi obtida a licença prévia e que tão logo tenham a licença de instalação, as obras serão iniciadas, utilizando a “faixa de servidão” da Petrobrás. O tempo previsto para o início da operação é de cerca de 18 meses.

Ganham Todos Conforme explicou Sidney dos Santos, gerente executivo da Apolo (Associação das Indústrias do Pólo Petroquímico do Grande ABC), a solução encontrada contempla uma série de benefícios: ganham todos os envolvidos: a empresa que garante sua sustentabilidade em relação a um dos seus importantes insumos- a água; ganha o poder público, que passará a comercializar um esgoto tratado, que do contrário, seria descartado e voltaria para o rio Tamanduateí e ganha a comunidade, para quem a água deve ser priorizada. O investimento das indústrias nesse projeto será rateado conforme a necessidade de utilização de cada uma delas. Santos informou que hoje o custo para tratamento da água utilizada do Tamanduatei é muito alto. “Pela péssima qualidade precisa passar por processos de dessalinização, clorificação, clareamento, etc. O mais importante é que obteremos uma fonte segura desse recurso, afinal a água mais cara é a que não se tem” – concluiu.

a água mais cara é a que não se tem

Impactos ambientais Com as discussões e conscientização da importância de preservação do meio ambiente e da necessidade de sustentabilidade, muitas empresas estão fazendo a lição de casa e buscando alternativas viáveis e processos que permitam a redução de impactos ambientais. Conforme explicou Jorge Rosa, que lidera o projeto Aqu’apolo Ambiental, não há uma obrigatoriedade legal para o reuso de águas industriais. “Mas não queremos usar água potável nos processos industriais, porque há uma escassez de água na região e, portanto, ela deve ser direcionada para o consumo” – disse. Nesse projeto, não será mais necessário adicionar água potável. Consórcio As empresas Petrobrás (Recap); Petroquímica União; Unipar Química; Polietilenos União, Suzano Petroquímica; Oxiteno; Cabot, White Martins e Air Liquid juntamente com a Sabesp farão parte do consórcio, para a implantação e utilização do projeto Aqu´apolo.

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Meio Ambiente

SUSTENTÁVEIS chegam ao mer Cada vez mais produtos ecologicamente corretos tomam Livi Carolina

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São descartados no mundo mais de 2 bilhões de pneus, destes, somente de 20% são reciclados

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ustentabilidade é o tema em voga. Mas afinal, o que significa isso? Este é um termo usado para designar a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade. Em termos práticos, desenvolver serviços e produtos que atendam às necessidades do ser humano e do meio ambiente ao mesmo tempo. Sendo as-

sim, especialistas, cada vez mais, se dedicam a recriar fórmulas que sejam capazes e eficazes aos limites do homem e da natureza. Veículos bicombustíveis, energia solar e papel reciclado são alguns exemplos de produtos ecologicamente corretos. No entanto, para o homem, quais as vantagens em adquirir um produto sustentável?

Ecologia na cidade Muitas vezes a resposta a esta pergunta está embaixo dos nossos pés, e não se percebe. Como é o caso do asfalto ecológico. Milhares de pessoas utilizam diariamente a rodovia Anchieta, que liga o litoral a São Paulo, porém desconhecem que passam por uma via ecológica - que como base usa o pó da borracha de pneus velhos, e ignoram os benefícios que este material pode lhe gerar. O resíduo do pneu é o que mais dano causa a natureza, são necessários cerca de 600 anos para sua decomposição. No entanto, os números são alarmantes. Segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), são descartados no mundo mais de 2 bilhões de pneus, destes, somente de 20% são reciclados. Entre esta pequena porcentagem reciclada estão os asfaltos ecológicos, que ajudam a diminuir o número de pneus jogados na natureza. Sendo que, para cada dois quilômetros de asfalto ecológico, foram usados cerca de dois milhões de pneus. O engenheiro da Greca Asfalto, Paulo Francisco Fonseca, explica que o pó da borracha moída é adicionado a fórmula de ligantes (mistura elástica - como goma de mascar - que dá resistência ao asfalto, a qual se adiciona as pedras) e confere a este material uma memória

elástica, ou seja, se esticado, ele retorna ao formato normal. Característica que gera durabilidade ao pavimento, aumento da flexibilidade, redução da deformação causada pelo peso dos veículos, garantindo melhor aderência em pista molhada e maior resistência às intervenções naturais (calor e chuva), o que aumenta sua vida útil. Além disso, o asfalto ecológico possibilita utilizar camadas menores de pavimento, economizando petróleo na aplicação do material. De acordo com o engenheiro, o desenvolvimento deste produto exige um processo minucioso de pesquisas e formulação, o que deixa o asfalto um pouco mais caro que o convencional, porém o seu custo-benefício supera o valor inicial. Para tentar combater o descaso com os pneus velhos, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) determinou pela Resolução 258, de 26 de agosto de 1999 que de cada quatro pneus novos, fabricados no país ou importados, um terá que ser reciclado.


cado lugar na cidade

Telhas Ecológicas Quem poderia imaginar que aquela embalagem longa vida poderia se transformar em telha? A empresa Ibaplac, especializada em produtos recicláveis, imaginou! As telhas são produzidas a partir da retirada da celulose (papel), usando o plástico e o alumínio como matéria-prima para a fabricação do produto. De acordo com o representante da empresa, Eduardo Gomes, o grande diferencial deste produto é o conforto térmico, pois o alumínio usado para revestimento da peça transmite 30% menos calor, se comparado às telhas convencionais. Além disso, o produto é mais leve, não há registro de quebra e, portanto, possibilita um maior número de peças por transporte. Construção sustentável Um dos grandes desafios da concepção sustentável é a construção civil, o setor é responsável pelo consumo de grande parte da energia global, chegando hoje a 40% do total, além se ser um dos vilões responsáveis por 30% da emissão de C02 do planeta. O tema já foi foco de discussão na 2ª Conferência Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente - Rio 92, buscando soluções alternativas para construções sustentáveis.

Principalmente, a partir desta reunião, alguns construtores e arquitetos iniciaram pesquisas para criar um sistema construtivo que incorporasse o próprio conceito de ecologia e desenvolvimento em seus processos. O resultado de uma das análises foi feito pelo arquiteto Hélio Dias, que tem se dedicado ao projeto Casa Verde. Com área aproximada de 80 m², distribuídos em sala de estar, cozinha, suíte, dormitório, mezanino, sanitário, área de serviço e varanda, a obra está sendo construída utilizando todos os materiais ecologicamente corretos, obedecendo a critérios de preservação, recuperação e responsabilidade ambiental. E serve como exemplo de como é possível usar a sustentabilidade no processo de evolução das metrópoles. De acordo com o arquiteto, a construção sustentável desta obra reduziu os custos em 30%, comparado a uma construção tradicional. Veja os materiais usados: Tijolo modulares solocimento compactado – o material é feito a partir da mistura de terra, argila e cimento que vai à prensa, onde toma forma de tijolo. No processo, não é necessário fazer a queima do material, como é feito com os tijolos convencionais. Tinta látex PVA acrílica linha ecológica – isenta de solventes

•Madeira certificada pelo Ibama •Madeira sintética – geralmente usa-

da para pisos, é produzida a partir da reciclagem de garrafas pet e revestida com tintura que simula a aparência da madeira Telhas de cobertura para a casa – produzida com microconcreto, material retirado da caçamba de construções, triturado e moído Telhas para cobertura de garagem e área de lazer – criadas com material reciclado, a partir da embalagem longa vida Coletores solares – responsáveis pelo aquecimento da água

• •

tódromo, a avaliação foi feita com três tipos de asfalto, entre eles, o ecológico. Serão verificados requisitos como a permeabilidade do produto, aderência e a durabilidade, para isso está sendo realizado o levantamento topográfico do autódromo. O objetivo da diretoria é também rea-

proveitar o asfalto que será retirado de toda a pista, com aproximadamente 6 cm de camadas. Segundo o gerente, os testes estão sendo finalizados, mas até o fechamento dessa edição não houve divulgação do resultado.

Durante o mês de julho o palco da emoção dos admiradores de corridas automobilísticas, fez testes com materiais asfálticos para que o mais adequado seja usado no recapeamento total do local. De acordo com Francisco Rosa, gerente técnico do au-

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Divulgação

Autódromo de Interlagos


Meio Ambiente

Os dois lados do

Velho Chico

C

ontrastando com a escassez de algumas regiões nordestinas está a generosa exuberância do Velho Chico, alcunha carinhosa dada ao Rio São Francisco, nome que homenageia São Francisco de Assis, jovem italiano que renunciou a rica herança da família para dedicar-se aos desamparados. Tal como o homônimo, o brasileiro distribui sua riqueza aos povos da região mais seca do país. São cerca de 2.700 km de água entre a nascente na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até sua foz, na divisa de Sergipe e Alagoas, passando por mais dois Estados: Bahia e Pernambuco, percurso pelo qual é abastecido por 168 afluentes, sendo 99 perenes (de característica perpétua). É ele o responsável pelo abastecimento de água para o consumo e agriculturas, pela produção de energia da região e por uma das maiores e mais prolongadas polêmicas envolvendo um projeto do governo: a Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, mais conhecido como Transposição do Rio São Francisco - iniciativa do Governo Federal, sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional. Apresentado pela primeira vez em 1985, o programa prevê a retirada de 26,4 m³/s de água - 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850 m³/s), na Bahia, trecho onde será feita a captação - para transferência às bacias dos rios temporários do semi-árido, por meio do bombeamento da água e por canais artificiais ou naturais, com o objetivo de abastecer a população de 390 municípios do agreste e sertão de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

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o projeto é desnecessário, uma vez que o Nordeste possui água, falta, porém, vontade política

O programa, com custo estimado de 4,5 bilhões e tempo de conclusão da obra previsto para 10 anos, presume o fornecimento de águas para as bacias: Brígida, Terra Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias do Agreste em Pernambuco; Jaguaribe e Metropolitanas no Ceará; Apodi e PiranhasAçu no Rio Grande do Norte; Paraíba e Piranhas na Paraíba, permitindo a chegada de água para a população que depende da agricultura familiar para sobreviver, mas que sofre com o período de estiagem. Esta medida adotada pelo governo, não acaba com a seca na região. Mas, de acordo com o engenheiro e coordenador do Departamento de Hidráulica e Saneamento da USP, e também responsável pelos estudos do programa em 1994, Swami Marcondes Villela, seria uma fonte segura de água para os estados beneficiados, permitindo uma estocagem adequada, para suprir os período de estiagem.

Para o Ministério da Integração, a transposição dará garantia de água para o desenvolvimento socioeconômico dos estados mais vulneráveis às secas, ao mesmo tempo em que garante o abastecimento por longo prazo de grandes centros urbanos da região (Fortaleza, Juazeiro do Norte, Crato, Mossoró, Campina Grande, Caruaru, João Pessoa) e de centenas de pequenas e médias cidades inseridas no Semi-árido. Segundo Villela esta é a única solução para a seca no Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, pois estes estados não têm nenhum rio naturalmente perene em seus territórios nem em suas fronteiras. No entanto, estas avaliações não são aceitas por parte dos especialistas que estudam as causas e efeitos da seca. Do outro lado do Rio Para o engenheiro agrônomo, especialista em Planejamento Florestal e pesquisador


A polêmica em torno da Transposição do Rio São Francisco se estende junto com a desertificação da região

Fábrica de

Brinquedos

Livi Carolina

da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, João Suassuna, o projeto é desnecessário, uma vez que o Nordeste possui água. Falta, porém, vontade política para investir nas possibilidades que a própria região oferece. De acordo com Suassuna, uma das alternativas seria seguir o exemplo de programas que tem dado certo, como o Açude Castanhão, obra do Governo Federal, junto com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), em parceria com o Governo do Estado do Ceará. Sua capacidade permite acumular 6,7 bilhões de m³ de água o que aumentou a vazão regularizada do Rio Jaguaribe de 22 para 57 m³/s, acréscimo que viabilizou a irrigação de 43.000 ha*. “O Ceará mostra que há alternativas para o abastecimento da população com base em estudos de suas bacias, hoje o Castanhão resolve, sozinho, o problema de Fortaleza” - afirma. Em oposição à transposição, ele aponta dados como o estudo da Gerência da Divisão de Planejamento da Geração Elétrica, da Companhia de Eletricidade da Bahia-COELBA, que releva uma redução

de 218 Mw por ano na oferta de energia elétrica, na primeira etapa do projeto, nas Regiões Norte e Nordeste. “A questão é que ao final das etapas, este número chega a 920 Mw anual, ultrapassando os requisitos da companhia e comprometendo a distribuição energética” – diz. Aliado a este fato, ele cita o potencial evaporimétrico da região, que pode diminuir a capacidade do bombeamento da água pelos canais, acarretando problemas a exemplo do Rio Amarelo, na China. “Ele reduziu e deixou de chegar à foz por 226 dias, a água doce se misturou com a do mar e provocou um desequilíbrio ecológico e econômico na região” - alerta o pesquisador. No entanto, de acordo com o Ministério da Integração, o Velho Chico não corre esse risco, pois a evaporação nos açudes será minimizada em até 50%, já que, por causa da distribuição, estarão menos cheios.

Brincando de fazer brinquedos de sucata!

E no meio... Em meio a esta polêmica, mais de 20 milhões brasileiros do semi-árido sofrem com a estiagem. A falta de solução para a seca prolongada dá força à desertificação processo que transforma uma região fértil em deserto - e intensifica a pobreza da população, que necessita da terra para colher o seu sustento. Junto com o prolongamento das discussões quanto a melhor alternativa, os desertos avançam e já atingem quatro áreas do Nordeste: Irauçuba, no Ceará; Seridó, entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba; Cabrobó, em Pernambuco e Gilbués, no Piauí, dando origem ao maior núcleo de desertificação da América Latina. *alqueire - unid. de medida agrária equivalente, em Minas Gerais, a 4,84 hectares.

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www.fabricadebrinquedos.com.br

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esta (transposição) é a única solução para a seca

a partir de agora você vai trabalhar na


Meio Ambiente

Educação

Eduardo Sanches

ambiental

O respeito ao meio ambiente também é uma questão de educação e deveria ser considerada como prioritária no ensino formal.

N

a semana passada, em meu trajeto diário para o trabalho, deparei com uma situação tão deprimente quanto constrangedora. Do carro à minha frente, de um padrão elevado, saiu um copo de refrigerante arremessado à calçada. No momento fiquei extremamente incomodado com a atitude, logo em seguida saiu um papel amassado em formato de bola, quase do tamanho de uma de futebol. Após a bola, saiu uma caixa de papel, provavelmente que estava acondicionando o alimento, ou servindo de gol. Fiquei espantado e preocupado pelo que poderia vir no próximo arremesso: o garçom ou o juiz talvez. A comparação pode ser engraçada, mas para quem presencia é deprimente, ao ver tamanha falta de respeito com o meio ambiente e consequentemente, com o próximo. Também considero a situação como constrangedora, pois faço parte desse sistema educacional que não consegue acompanhar as mudanças comportamentais da sociedade. Não estou me referindo a uma instituição ou outra, mas ao sistema que consolida as diretrizes educacionais e não considera a questão ambiental como prioritária na educação fundamental, tal como a matemática, português e outras disciplinas importantes. Vejo com bons olhos a iniciativa privada investindo na conscientização de seus colaboradores, através de material didático que acaba sendo pulverizado para as respectivas famílias, mas grande parte da sociedade não é absorvida por iniciativas desse tipo. Os veículos de comunicação descobriram importante filão na educação ambiental, refletindo a “sede” de informações da sociedade, que quer consumir esses conhecimentos, sem descartar o copo pela janela do carro, é claro. 30

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As pessoas gostam de observar campanhas ambientais e é elegante dizer que é uma pessoa ecologicamente correta, mas entre deixar o lixo dentro do carro ou jogá-lo pela janela, já vi o resultado. É uma questão de valores e princípios. Duas coisas que adquirimos, em grande parte, em casa e na escola. Não podemos considerar que fatos como este refletem a postura da maioria, mas temos que imaginar que esta minoria pode criar impactos significativos em suas áreas de atuação profissional. Se um simples papel, tão fácil de guardar, é arremessado pela janela, o que poderia acontecer dentro dos processos burocráticos para a disposição de resíduos perigosos? Quero pensar que aquele motorista seja apenas um ignorante bem distante dos produtos perigosos e que o tema faça parte das discussões das autoridades responsáveis, no estabelecimento de políticas e diretrizes do nosso sistema educacional.

Abre também um espaço para as empresas repensarem seus processos seletivos, questionando valores e princípios. A aprovação dessas disciplinas extrapola as fronteiras de uma instituição e permite que a sociedade seja o fiel da balança, através do próprio mercado de trabalho. Tenho certeza que o motorista ignorante conhecia o local adequado para a disposição do lixo, mas não estava devidamente conscientizado ou interessado nisso. Será que as empresas querem profissionais qualificados, mas desinteressados em atuar com ética e respeito ao meio ambiente e ao próximo? É claro que a maioria não!

Eduardo Sanches Gerente de Meio Ambiente, Segurança, Saúde e Qualidade de Grupo Petroquímico. Professor universitário de Gestão Ambiental e de Pós-Graduação (MBA).


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Turismo

Seja Bem Vindo!

Programa ensina empresários a aplicarem o turismo sustentável, junto com a comunidade, e os insere no mercado internacional Livi Carolina

E

m uma simples caminhada por uma trilha no sul de Minas com um grupo de visitantes, pode-se notar que a relação dos profissionais do turismo com o meio ambiente está se estreitando. Indignado por que a sola da bota de borracha se descolou - e sem imaginar qual seria a reação daquilo que estava prestes a fazer - um dos turistas que seguia pela trilha, não teve dúvidas em arremessá-la à mata fechada. De repente a caminhada parou e o silêncio deu ênfase à voz do guia que dizia: - A borracha leva anos para se decompor na natureza, não podemos deixar esta sola lá. Fiquem aqui! Preciso pegá-la! 32

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No paraíso ecológico do Pantanal Matogrossense o guia se apressava a instruir os passageiros do bote a não descartarem nenhum objeto no rio, pois poderia ser ingerido pelos animais: jacarés, lontras e outros, podendo levá-los à morte. No litoral norte paulista, os mergulhos monitorados em águas cristalinas são um grande atrativo, com a condição de que tudo pode ser visto, mas nada pode ser levado como souvenir, nem uma simples estrela do mar. Estas poderiam ser fábulas, caso não tivessem realmente acontecido. Hoje, não só a diversidade e a exuberância da beleza

das terras tupiniquins atraem a migração turística. Mas também a forma com que a sociedade local convive com a natureza. Percebendo este fenômeno, o país está adaptando a sustentabilidade ao ramo que acrescenta mais de 30 milhões na economia e empregou cerca de 2 mil pessoas em 2003 - segundo pesquisa realizada pelo IBGE, junto com o Ministério do Turismo e o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR). O Instituto Hospitalidade (IH), o Ministério do Turismo e o SEBRAE, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Agência de Promoção de


Como receber bem? Com o intuito de gerar um círculo vicioso entre o homem e a natureza - o homem precisa da natureza para seduzir visitantes e a natureza precisa dos cuidados do homem para continuar existindo e oferecendo a ele subsídios para o desenvolvimento, o projeto Bem Receber desperta diferenciais competitivos que envolvem o turista ao clima sustentável que se cria no local onde é aplicado. O trabalho de reeducação começa nos hotéis e pousadas, mas os empreendimentos e a população do entorno também são estimulados a se desenvolver de forma sustentável para que se crie um ambiente ecologicamente correto e lucrativo para todos. Após uma palestra de sensibilização, aberta a toda a comunidade, e a definição do grupo de hotéis que serão beneficiados com o programa – cerca de 15 meios de hospedagem, para que haja uma maior mobilização, inicia-se a capacitação de multiplicadores e a avaliação dos empreendimentos. “Com o diagnóstico do local, inserimos um consultor capacitado para conduzir a implementação dos requisitos que garantem aos estabelecimentos a sustentabilidade, baseado a NBR 15.401” – explica o consultor do IH e coordenador do Bem Receber, André Sá. Tendo a orientação de qual a melhor maneira de implantar programas que amenizem o seu impacto à natureza e que envolvem funcionários, hóspedes e todo o entorno, a visão comercial dos hoteleiros tem mudado. “Aprendemos a trabalhar em parceria com a comunidade, pois é ela quem gera atrativos para o turismo, cabe a nós somente oferecer hospedagem” - diz o proprietário da Pousada Solar Don Ramon em Canela (RS), Vicente Atz. O empreendedor que investiu na instalação de um sistema de aproveitamento da água da chuva, em displays e manuais para informar e ensinar os procedimentos sustentáveis da região, intensificou a relação com a comunidade, entre outras medidas, e sente a diferença no comportamento dos hóspedes. “Percebemos que

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Exportações e Investimentos (APEX-Brasil), desenvolveram o programa Bem Receber que beneficia hotéis e pousadas com até 50 unidades habitacionais, visando a qualificação sustentável, e para tanto, a assistência técnica e a certificação profissional.

houve mais procura, frutos de indicações dos nossos clientes, que por sua vez, se tornaram mais fiéis ao Don Ramon” – destaca Atz. Envolver o hóspede na consciência ambiental, na qual funcionários e sociedade local estão engajados, permite que o turista sinta-se colaborando com a preservação da natureza, medida que atrai o público europeu, que já tem esta consciência ecológica embutida nos vários níveis da sociedade. Programa O local onde o programa aplica-se é determinado pelo Comitê formado pelos parceiros, que avaliam número de empresas do setor, ocorrência de exploração sexual infantil, potencial de crescimento de várias regiões brasileiras. “Analisados estes critérios, definimos o local onde o

programa irá atuar e, havendo interesse por parte dos empreendedores da região, iniciamos os trabalhos de implantação, que leva cerca de sete meses” – diz o consultor André Sá. A atuação do Bem Receber está fundamentada na Norma Brasileira 15401:2006 que especifica os requisitos relativos à sustentabilidade de meios de hospedagem, especificando critérios mínimos de desempenho sustentável e certificando os empreendimentos. Segundo Sá, embora o Bem Receber esteja em vigência há apenas um ano, já existe uma grande demanda ao órgão certificador do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), e acredita -se que até outubro parte das empresas tenham recebido a certificação, propiciando melhores possibilidades de ampliação e visibilidade internacional.

Percentual da receita operacional líquida das empresas pertencentes às Atividades Características do Turismo, por setores de serviços.

2,23%

2,11%

7,13%

1,19%

7

,36%

11,12%

31,18%

13,24%

24,44%

Legenda Serviços de alimentação Transporte aéreo Auxiliares dos transportes Transporte rodoviário

31,18% 24,44% 13,24% 11,12%

Serviço de alojamento Transporte aquaviário Agências de viagens Aluguel de automóveis Serviços desportivos e de lazer

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7,36% 7,13% 2,23% 2,11% 1,19%

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Cultura

KaH

- Hum

- KaH

Grupo mistura estilos e

modalidades artísticas em visão social e ambiental Liane Uechi

A

regra é a mistura, a diversidade, a espontaneidade e a multiplicidade. O Kah-Hum-Kah (se lê: carranca) é um grupo de artistas que propõe uma nova modalidade artística, com uma visão social e ambiental. Trabalhando temas como a água, o meio ambiente e as necessidades primitivas e viscerais, essa trupe nascida no ABC Paulista está conquistando o mundo e mostrando que a convivência com as diferenças pode ser harmônica e de uma imensa riqueza cultural. Suas oficinas e espetáculos já foram vistos por centenas de pessoas, incluindo empresários, ministros e outras autoridades. Após a visibilidade conquistada com a participação no Fórum Social Mundial, o grupo foi convidado para apresentações no exterior como a Semana contra o Racismo, em Quebec (Canadá), no International Arts Festival, em New Orleans (EUA) e no Enlace-D, em Córdoba (Espanha). Esse último é um Encontro Mundial de organizações que acreditam que a arte, a cultura e a educação são instrumentos de transformação individual e do coletivo. O mais interessante é que o grupo encontrou tanta aceitação lá que, já estão formando “discípulos”. Foi formada uma rede de mais de 80 jovens, divididos em 6 organizações e que aplicam o conceito

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O meio ambiente está em cada um de nós. A transformação do mundo é a transformação de cada um

misturalista apresentando pela Kah-Hum-Kah. Para entender um pouco mais dessa história, vamos voltar 11 anos, quando se formou um duo musical, com Jefferson Sooma e Denise Coelho. No ABC, sem muita pretensão, participaram e venceram um festival estudantil de música. Motivados, deram continuidade aos ensaios e iniciaram, na favela Cata Preta, em Santo André, o primeiro trabalho social, com oficinas para 50 crianças e adolescentes. “Lá, desenvolvemos e sistematizamos uma nova metodologia de trabalho, com base nos conceitos do misturalismo e da sinestesia¹. ”Toda espécie é resultado de uma mistura” – justificou Sooma. Hoje, o grupo é composto por sete integrantes e mantém a mesma proposta do misturalismo e sinestesia, que na prática significam a mistura de todos os estilos musicais, bem como das diversas expressões artísticas que passam pela música, artes plásticas, teatro, dança, literatura, folclore, etc, buscando despertar sensações também variadas. Conforme afirmou Sooma, apesar da intrincada explicação teórica, na prática, o trabalho é

facilmente compreendido. No palco, que pode ser uma sala, a rua, ginásios ou qualquer outro espaço, o Kah-Hum-Kah apresenta-se com dança, música, performances de teatro, cenários coloridos, formas e linguagens diferentes. É uma sinergia do samba com mantra e tupiguarani, mas ao contrário do que se imagina, com muita harmonia, como se tivessem estreita relação. A participação e integração do público também é uma característica desse trabalho artístico e, segundo Sooma, ajuda a realizar o espetáculo. Em 18 de setembro, o show poderá ser visto durante o evento: Encontro dos Povos da Floresta, em Brasília. Em Setembro partem para a Espanha, desta vez com escalas em Córdoba, Sevilha e Madri onde gravarão um cd com a rede de artistas misturalistas. Também promoverão o Encontro de Tambores (oficina para aulas de construção de tambores como o surdo e a alfaia). Em novembro, a trupe segue para o Chile. Mesmo com as apresentações nas Américas e Europa, o Kah-Hum-Kah luta para sobreviver no Brasil. Os shows continuam a acontecer e a encantar o público, mas nas horas vagas seus integrantes desempenham outros papéis profissionais para garantir a sobrevivência, conforme contou o sociólogo Jefferson Sooma.


Divulgação

Papel Social da Arte As oficinas com cunho educativo fazem parte do papel social e ambiental do grupo. Lá se propõe uma reflexão sócio ambiental com o objetivo de inverter os valores atuais. “Quem participa das oficinas tem a oportunidade de mudar sua percepção. Hoje há um esquecimento global das necessidades básicas e uma supervalorização do supérfluo. Propomos uma leitura dos excessos para que se possa perceber o que é essencial na vida”. Com essa experiência, o grupo acredita que contribui para uma mudança de postura, que permite maior auto-respeito e por conseqüência, respeito com o outro e com o meio em que vivemos. Atualmente realizam oficinas culturais gratuitas e itinerantes nas periferias do ABC Paulista. Em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica desenvolvem o novo show: Ambiente Inteiro, que sensibiliza e educa pela preservação da vida. Espetáculo Ambiente Inteiro “O meio ambiente está em cada um de nós. A transformação do mundo é a transformação de cada um” A água foi a inspiração poética desse novo espetáculo. Com base em estudo publicado no livro “A Vida Secreta da Água”, do pesquisador japonês Masaru Emoto, que analisou cristais de água submetidos a vibrações de pensamentos, sentimentos, palavras, idéias e músicas, obtendo resultados surpreendentes e cujas imagens rodaram o mundo pela internet, o Kah-Hum-Kah mon-

tou o novo espetáculo “Ambiente Inteiro”. Na experiência, o cientista japonês expôs copos de água a diversos tipos de ambientes e situações: hostis e pacíficos, estressantes e harmônicos ou ainda a músicas como heavy metal e clássica. Cada amostra foi congelada e depois analisada microscopicamente. As imagens são esclarecedoras e mostram moléculas de águas perfeitas em contrapartida a outras totalmente distorcidas e deformadas. “A água é o elemento de maior concentração no corpo humano. Qual o efeito dessas mesmas freqüências em toda água que há em nosso corpo?” – questiona o grupo. Com a expectativa de influir positivamente no público e chamar atenção para esse recurso tão precioso e cada vez mais escasso, o Kah-Hum-Kah elaborou seu novo show, que busca obter esses efeitos e reflexões. Além do show, são propostas oficinas de Sensações e de Expressão, que pretendem sensibilizar e informar, através da arte, sobre a importância da água como elemento presente em tudo e em todos. KAH-HUM-KAH – (pronuncia-se carranca) O som proveniente da pronúncia remete ao idioma tupi-guarani e pode ser traduzido como uma forma de pedir licença para entrar na mesma freqüência. Misturalismo 1. Diálogo íntimo entre linguagens diferentes e/ou complementares. 2. Arte mescla, livre,

diversa e sem fronteiras. 3. Miscelânea; Misturado; Mexido 4.Ruptura com rótulos estéticos estáticos. 5. Movimento; Trânsito; Fluxo. Sinestesia Relação subjetiva que se estabelece espontaneamente entre uma percepção e outra que pertence ao domínio de um sentido diferente; 2. Sensação, em uma parte do corpo, produzida pelo estímulo em outra parte. (Novo Aurélio – Dicionário da Língua Portuguesa - Século XXl) Integrantes do Kah A designer e professora de línguas Denise Coelho, o sociólogo Jefferson Sooma, o engenheiro e artista gráfico Rogério Amorim, o professor de música Ívan Taraskevicius, o engenheiro ambiental Rangel Arthur Mohedano, a atriz, dançarina e arte educadora Rosana Ribeiro e o micro-empresário e pesquisador de folclores Raifah Monteiro. Todos são músicos, instrumentistas e possuem diversas vivências em variadas modalidades artísticas.

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Educação

mudando

Luciana Stocco de Mergulhão

DE ATITUDE Um processo inclusivo começa por uma mudança de atitude diante do outro

“ N

o artigo anterior, afirmei que a escola é o local para iniciarmos uma proposta inclusiva, desta forma, proponho uma reflexão sobre quais mudanças são possíveis e necessárias para acontecerem nos espaços educacionais. Estou consciente de que vários obstáculos enfrentamos para a construção de uma escola inclusiva, dentre os quais, os arquitetônicos são os mais fáceis de serem solucionados, enquanto que os atitudinais, os quais revelam a verdadeira inclusão, são os que apresentam maiores dificuldades de serem transformados, porque dependem de uma modificação interna, individual de cada um dos atores envolvidos no contexto escolar. Conhecer e estudar sobre a inclusão escolar é estar diante de mudanças significativas e profundas como ser humano. Um primeiro e grande passo é revermos nossas palavras. Quando iniciei a pesquisa sobre a inclusão de crianças com síndrome de Down na escola regular, o que me incomodou bastante foi a maneira de referir-me às crianças, utilizando o termo “crianças com necessidades educacionais especiais”. Pri-

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qual é a melhor maneira de nos referirmos a pessoa que tem algum tipo de deficiência? A melhor maneira é chamá-la pelo seu nome

meiramente, porque todos nós temos necessidades especiais. A primeira pessoa que me fez enxergar isso foi minha filha quando tinha cinco anos, perguntandome por que a Maíra (uma das crianças de minha pesquisa) era especial e ela não. Naquele momento, ficou muito claro que todos nós somos especiais. Depois, entrevistando Maria Teresa Eglér Mantoan, profunda conhecedora da deficiência mental e que também acredita e luta pela causa da inclusão no cenário brasileiro, percebi a necessidade de assumir com mais veemência a minha posição. Segundo Mantoan, estes seres apaixonantes perderam a chance de mostrar o melhor de si, como seres humanos. Expressei à autora minha vontade de não ter que usar a nomenclatura “crianças com necessidades educacionais especiais” para falar das crianças. Ela disse exatamente o que eu precisava ouvir para ir em frente com esta idéia: “Você está trabalhando com seres humanos, com gente, e essas pessoas são muito mais do que sua deficiência. Graças a Deus! Para mim, o outro é parte de mim mesma, porque é por ele que eu me reconheço”. Este aprendizado levo para minhas aulas, no ensino superior, mostrando que é fundamental desconstruirmos as expressões, a maneira como nos referimos aos alunos com deficiência e sem deficiência. Pois, o universo escolar está permeado por rótulos como: aluno lento, aluno bagunceiro, aluno PC (paralisia cerebral), aluno DM (deficiente mental), aluno DA (deficiente auditivo). Nomenclaturas que discriminam as pessoas. Então, qual é a melhor maneira de nos referirmos a pes-

soa que tem algum tipo de deficiência? A melhor maneira é chamá-la pelo seu nome. Vamos nos desfazer de todo e qualquer preconceito. Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, procuradora da República, ensina-nos em seu livro: “Direito das Pessoas com Deficiência. Garantia de igualdade na diversidade”, que “quanto mais natural for o modo de nos referirmos à deficiência, como qualquer outra característica da pessoa, mais legitimado é o texto”. Outra expressão que aparece muito em minhas aulas é o meu aluno de inclusão, em seguida acrescento, e os outros são de exclusão? A inclusão nos ensina que todos, mas, realmente, TODOS são aceitos incondicionalmente. Um processo inclusivo começa por uma mudança de atitude diante do outro, tendo ou não deficiência. Finalizo, retomando as palavras da professora Mantoan e acrescentando que não apenas as pessoas com síndrome de Down perderam a chance de mostrar o melhor de si, como seres humanos, muitos de nós e de nossos alunos estão ainda hoje, perdendo a chance de mostrarem o melhor de si. Este é um aspecto que pode ser modificado, mas depende do desejo de cada um em iniciar uma transformação nas atitudes que transitam em nossas escolas. Luciana Stocco de Mergulhão Mestre em Educação, Especialista em Psicopedagogia pela UMESP, Licenciada em Pedagogia: Administração Escolar para Exercício nas Escolas de I e II Graus e Orientação Educacional pela UMESP. Professora em cursos de Pedagogia e Psicopedagogia


Glossário A idético: Termo discriminador dos portadores do vírus da Aids, ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV). O correto é chamar a pessoa nessa condição de HIV positiva ou soropositiva, quando não apresenta os sintomas associados à doença, e pessoa com Aids ou doente de Aids, quando ela já tem aqueles sintomas. C anceroso: Forma grosseira, indelicada, usada para estigmatizar o portador de câncer, nome genérico de diversas doenças caracterizadas pela proliferação incontrolável das células. Digno é chamá-lo de portador de câncer ou doente de câncer. De menor: De menor ou menor são expressões carregadas de forte preconceito e discriminação, geralmente associadas às crianças e adolescentes pobres, negras, em situação de rua ou que cometem atos infracionais. O termo menor constava do antigo Código de Menores, substituído em 1990 pelo Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA). Desde então, a palavra foi banida do vocabulário dos defensores dos direitos da infância. Palavras adequadas: criança, adolescente, garoto (a), guri (a), moço (a), menino (a), jovem, piá etc. P essoas especiais: Eufemismo inadequado para se referir às pessoas com deficiência. Do ponto de vista dos direitos humanos, todas as pessoas, sem exceção, são especiais. P essoa não cega: A pessoa que não apresenta cegueira pode ser chamada de vidente P rostituição infantil: Expressão inadequada para caracterizar a exploração sexual infantil, por atribuir um nível de consciência e voluntariedade que nem sempre a criança ou o adolescente tem diante de uma situação de que é vítima. Isso não quer dizer, evidentemente, que a prostituição adulta também não implique exploração. Fonte: Organização dos Direitos Humanos (www.dhnet.org.br)

Dicas de Livros “Responsabilidade social impossível ficar de fora” de Lucimar Reetz e Etienne de Castro Tottola. Livro Pronto Editora

“Para além do capital” de István Mészáros, Ed. Boitempo

Este livro é o resultado de anos de estudo e experiências de seus autores. Representa, de forma simples e objetiva, a responsabilidade social como um elemento essencial para o sucesso das organizações nas comunidades em que estão inseridas. Por que impossível ficar de fora? A responsabilidade social, bem mais que filantropia, é uma atitude própria do contexto organizacional. É a busca da harmonia entre as estruturas produtivas e a comunidade em que está inserida. É preciso mais. É preciso conhecer os problemas e doenças sociais para poder tratá-los. Este livro é o primeiro passo de um longo caminho para a evolução de uma parceria entre organizações e sociedade em busca de equilíbrio e harmonização, visando a melhoria da qualidade de vida

Obra de maior envergadura do filósofo húngaro, o livro, fruto de duas décadas de trabalho intenso, é uma das mais aguçadas reflexões críticas sobre o capital em suas formas, engrenagens e mecanismos de funcionamento. Influenciada por Marx, Lukács e Rosa Luxemburgo, a obra de Mészáros é o desenho crítico e analítico mais ousado contra o capital e suas formas de controle social. Mészáros define o sistema de metabolismo social do capital como poderoso e abrangente, tendo seu núcleo formado pelo tripé capital, trabalho e estado. Não tendo limites para expansão, o sistema de metabolismo social do capital mostra-se um sistema incontrolável. Fracassaram na tentativa de controlá-lo tanto as tentativas efetivadas pela social democracia quanto a alternativa de tipo soviético. Agosto - Setembro 2007

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Classificado Solidário

Precisa-se Santo André Associação dos Voluntários do Centro Hospitalar Voluntários para: atender às necessidades do paciente em seu leito. Doações: Camisetas, bermudas, moletons e roupas de frio (adulto e criança). Qualquer tipo de leite. Rua Joaquim Távora, 118 – Vila Assunção - Santo André Cep: 09030-390 Telefone: 4437-1346 Em caso de dúvida, falar com: Cidinha FEASA – Federação das Entidades Assistenciais de Santo André Voluntários para: Jardinagem, manutenção, limpeza e serviços gráficos. Doações: Cartuchos para impressora, 06 latas (18 L) de massa corrida. Rua Tamarutaca, 250 – Vila Guiomar Cep: 09071-130 Telefone: 4436-7477 Fax: 4436-7492 E-mail: feasa@terra.com.br Em caso de dúvida, falar com: Nice

São Bernardo do Campo AMAS – Associação Metodista de Ação Social Creche “Mamãe Albininha” Voluntários para: Cozinha, auxílio em sala de aula e serviços gerais. Doações: Alimentos em geral, principalmente leite, arroz e feijão. Rua Sétimo Guazelli, 99 – Jd. Trieste Cep: 09760-600 Telefone: 4330-1712 E-mail: crechemamaealbininha@terra.com.br Em caso de dúvida, falar com: Andresa Aldeia Infantis SOS Brasil São Bernardo do Campo Voluntários para: Limpeza de terreno, recreação infantil aos finais de semana e limpeza interna. Doações: Calçados e roupas para o inverno (criança e adolescente). Leite, carne, produtos de higiene pessoal e produtos de limpeza. Estrada Ernesto Zabeu, 200 – Riacho Grande Cep: 0935-000 Telefone: 4354-0340 / 4354-0272 Fax: 4354-8640 E-mail: sbcampo.sp@aldeiasinfantis.org.com Em caso de dúvida, falar com: Enéas

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A seção “Classificado Solidário” é um espaço gratuito, destinado a divulgar as necessidades de doações ou serviços voluntários de instituições sociais. Não é permitida a solicitação de valor em espécie. A veracidade das informações aqui prestadas são de total responsabilidade da entidade solicitante. Mande seu anúncio para classificadosolidario@neomondo.com.br, até o dia 15 de cada mês, com nome da instituição, responsável, endereço, telefone ou e-mail. A publicação passa por análise do Conselho Editorial.

ASSISBRAC - Assistência Social Beneficente de Resgate ao Amparo à Criança Voluntários para: Masculino – serviços gerais como: cuidar do jardim, pequenos reparos, lavagem de vidros, limpeza externa Feminino – para trabalho com crianças de 0 a 4 anos de idade e limpeza interna. Com nível superior: Psicólogo, fonoaudiólogo, médico (preferencialmente pediatra). Doações: Alimentos em geral, materiais de escritório, materiais de informática, materiais pedagógicos, materiais de limpeza, brinquedos, roupas e móveis. Rua:dos Macucos, 14 - Parque dos Pássaros - São Bernardo do Campo – SP Cep: 09861 – 350 Telefone: (11) 4343-8632 ou 4392-7492 E-mail: assisbrac@assisbrac.org.br Em caso de dúvida, falar com: Sérgio Gutierrez Associação Beneficente Raios de Sol Voluntários para: Monitores de informática, recreação e esportes. Doações: Alimentos em geral, material didático, produtos de limpeza e roupas (crianças e adolescentes). Av. Max Mangels Sênior, 454 – Planalto São Bernardo Cep: 09895-510 Telefone: 4390-0236 / Fax: 4101-8585 E-mail: casaraiodesol@hotmail.com Em caso de dúvida, falar com: Silvia APAE - Associação de Pais e Amigos dos Exepcionais Doações: Material de construção em geral: pedra, areia, cimento, piso antiderrapante e lavatório. Rua Assunção, 132 – Bairro Assunção - São Bernardo Cep: 09810-410 Telefone: 4104-3468 / Fax: 4352-4295 E-mail: reabilitareapaesbc@ig.com.br Em caso de dúvida, falar com: Valmir

São Paulo Ação Comunitária Beneficente do Jardim São Carlos Voluntários para: Trabalhos de teatro e artesanato. Doações: Roupas, brinquedos e sapatos. Avenida César Augusto Romaro,172 - S. Carlos Cep: 08062-000 Telefone: 6545-1875 E-mail: rimartins@ig.com.br Em caso de dúvida, falar com: Rita

Fundação Comunidade da Graça Voluntários para: Auxilio médico e especialistas, costureiras, professores e artesões. Doações: Roupas, sapatos, brinquedos, alimentos não perecíveis. Rua Salvador do Vale, n° 09 - Vila Formosa Cep: 03362-015 Telefone: 6672-3232 E-mail: fcg@fcg.org.br Em caso de dúvida, falar com: Vlademir

Mauá Associação Beneficente de Assistência às Famílias Carentes Doações: Macarrão, arroz, óleo, feijão e carne. Rua Espírito Santo, 464 – Jd. Cruzeiro – Mauá Cep: 09330-630 Telefone: 4576-4642 Em caso de dúvida, falar com: Sebastião Martins Associação Beneficente Casa do Amparo às (aos) Viúvas (os) de Mauá Voluntários para: Atendimento geral. Doações: Arroz, feijão e açúcar. Rua Remo Luis Corradini, 224 – Jd. Zaíra - Mauá Cep: 09321-440 Telefone: 4519-4150 Em caso de dúvida, falar com: Teresinha. CELIVRE – Centro de Libertação de Vidas Rejeitadas Doações: Arroz, feijão, óleo, açúcar e leite. Rua Antonio Alves, 83 – Jd. Zaíra Mauá Cep: 09321-370 Telefone: 4547-2366 / Fax: 4546-0507 E-mail: avelino-joana@ig.com.br Em caso de dúvida, falar com: Joana Centro de Recuperação Camille Flamarion Voluntários para: Limpeza e auxílio à enfermagem. Doações: Qualquer tipo Av. Amaro Branco da Silva Branco a Silva, 282 – Jd Mauá Mauá Cep: 09340-090 Telefone: 4576-2783 E-mail: c.flamarion@ig.com.br Em caso de dúvida, falar com: Kelly



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