Revista NeoMondo Ed. 72 - janeiro/fevereiro

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Ano 9 - No 72 - Janeiro/Fevereiro 2016

Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida

R$ 16,00

RETROSPECTIVA 2015 DAMA DAS ARTES PLÁSTICAS Tomie Ohtake

MÉDICOS SEM FRONTEIRAS Ajuda médico-humanitária para quem precisa

100 ANOS DE AUGUSTO RUSCHI

O cientista dos beija-flores


Núcleo de Educação

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Sair da mesmice, transmitir informação de um jeito divertido e diferente. Mais que um norte, um compromisso.

Sustentabilidade, criatividade e educação de mãos dadas com o futuro. É a partir desse conceito que surge o novo núcleo do Instituto NEO MONDO, voltado para o desenvolvimento de projetos especiais de cultura e educação infantil. A criança é multiplicadora de informação e, sempre, o cidadão do amanhã. É para este público que desenvolvemos conteúdos diferenciados capazes de promover o aprendizado de forma lúdica, divertida e com tecnologia de ponta. - Livros que podem ser desdobrados em múltiplas ações em salas de aula.

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O NĂşcleo de Educação NEO MONDO ĂŠ OLGHUDGR SRU SURČ´VVLRQDLV FDSDFLWDGRV H HQWXVLDVPDGRV FRP D FRQVWUXŠ¼R GH XP mundo melhor. Oscar Lopes Luiz – PublicitĂĄrio, pĂłs-graduado em Marketing. É presidente do Instituto NEO MONDO Eleni Lopes – Diretora de Redação da revista NEO MONDO. Ricardo Ditchun – SociĂłlogo especializado em comunicação corporativa, jornalista e editor. ValĂŠria Cabrera – Jornalista e relaçþes pĂşblicas. Ricardo Girotto – PublicitĂĄrio e ilustrador de livros infantis. Alda de Miranda – PublicitĂĄria e autora de livros infantis.

O rio que ri – Que tal tratar do tema da ĂĄgua, dos rios, das lagoas, dos mares? Esta obra alia poesia infantil Ă construção de personagens com materiais reciclados para ensinar a criança a utilizar a ĂĄgua de forma responsĂĄvel e a respeitar o meio ambiente. Um reino sem dengue – Passando longe da forma habitual de abordar a questĂŁo da dengue, este livro leva a criança a se envolver numa historinha divertida, com rei e princesas, num formato recheado de ilustraçþes. Aprender a combater o mosquito Aedes aegypt deixou de ser uma complicação. Ă“tima ferramenta para pais, professores, empresas e prefeituras.

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Seções

ÍNDICE 12

Retrospectiva

Tomie Ohtake A dama das artes plásticas brasileiras

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Retrospectiva

Cuidados de saúde essenciais onde eles são mais necessários

Augusto Ruschi foi cientista, agrônomo, advogado, naturalista e ecologista

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Médicos sem Fronteiras

O cientista dos beija-flores

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Retrospectiva

Retrospectiva

Raias gigantes são encontradas no Parcel Dom Pedro Formação rochosa submersa localiza-se entre a Costa de Mongaguá

Retrospectiva

Instituto Neo Mondo amplia atuação em educação e tecnologia Sempre inovando para disseminar o conceito de sustentabilidade


EDITORIAL Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br

Prezado leitor, é com satisfação que elaboramos mais uma edição da NEO MONDO para você. Como fazemos há 9 anos, trazemos, nesta edição, uma retrospectiva especial das principais matérias que foram destaque no ano de 2015, tais como: A dama das artes plásticas brasileiras, TOMIE OHTAKE, nossa homenagem a uma das principais representantes das artes plásticas brasileiras. Sua obra abrange pinturas, gravuras e esculturas. Foi premiada no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1960; e em 1988, condecorada com a Ordem do Rio Branco pela escultura pública comemorativa dos 80 anos da imigração japonesa, em São Paulo. Médicos sem Fronteiras, vencedora do Prêmio Nobel da Paz, ONG leva ajuda médico-humanitária em meioa a conflitos armados, epidemias, desastres naturais, desnutrição e exclusão do acesso a cuidados de saúde. 100 anos de Augusto Ruschi, o CIENTISTA DOS BEIJA-FLORES, sua paixão pela natureza já corria no seu sangue muito antes dele nascer. Sua família tem mais de 2 mil anos de tradição no trabalho com ciência e plantas, cultivando-as e estudando-as, sendo inclusive o nome da família originário da espécie Ruscus aculeatus, ou azedinho do campo. Ruschi foi cientista, agrônomo, advogado, naturalista e ecologista de renome internacional. Sua vida foi dedicada às descobertas, defesa e estudo das espécies brasileiras. Tudo isso e muito mais você encontrará em nossas páginas recheadas de sabedoria e a defesa do meio ambiente e da responsabilidade social. Para 2016, já estamos a todo vapor na elaboração de pautas para brindarmos nossos leitores com reportangens especiais, abordando as principais questões que envolvem o tema sustentabilidade no Brasil e no mundo, sempre na esperança da construção de um futuro melhor para nós e nosso planeta. Tenham uma ótima leitura! NEO MONDO, tudo por uma vida melhor!

EXPEDIENTE Publisher: Oscar Lopes Luiz Diretora de Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794) Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Lopes, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794), Andreza Taglietti (MTB 29.146), Lilian Mallagoli Revisão: Instituto NEO MONDO Direção de Arte: LabCom Comunicação Total Projeto Gráfico: LabCom Comunicação Total

Diretora Jurídica - Enely Verônica Martins (OAB 151.575) Diretora de Relações Internacionais: Marina Stocco Diretora de Educação - Luciana Mergulhão (mestre em educação) Correspondência: Instituto NEO MONDO Rua Ministro Américo Marco Antônio n0 204, Sumarezinho São Paulo - SP - CEP 05442-040 Para falar com a NEO MONDO: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 2619-3054 98234-4344 / 97987-1331 Presidente do Instituto NEO MONDO: oscar@neomondo.org.br

PUBLICAÇÃO A Revista NEO MONDO é uma publicação do Instituto NEO MONDO, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça - processo MJ n0 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70.000 exemplares distribuídos por mailing VIP e assinaturas em todo o território nacional. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização. 11


Retrospectiva

A DAMA DAS ARTES PLÁSTICAS BRASILEIRAS Tomie Ohtake começou a pintar aos 40 anos e ficou conhecida do grande público com as enormes esculturas que mudaram a paisagem urbana de São Paulo. NEO MONDO presta aqui uma homenagem a esta grande artista. Por Eleni Lopes

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omie Ohtake nasceu em 1913, em Kioto, no Japão. Veio para o Brasil em 1936, aos 23 anos, para visitar um irmão que já morava aqui, e acabou ficando. Ela se impressionou "com a intensidade da luz amarela, do calor e da umidade ao desembarcar no Porto de Santos", conta a biografia da artista no site do Instituto Tomie Ohtake. Com a iminência da Segunda Guerra Mundial, permaneceu em São Paulo, onde se casou com o engenheiro agrônomo Ushio Ohtake e teve dois filhos, o arquiteto Ruy e Ricardo Ohtake, 12

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diretor do Instituto Tomie Ohtake. Ficou viúva em 1961. O interesse por desenho vinha desde criança. Mas só aos 39 anos começou a fazer suas primeiras pinturas. Foi incentivada pelo pintor japonês Keisuke Sugano, que deu aulas quando de passagem pelo Brasil. "Quando comecei a pintar, já era muito evidente o meu espírito brasileiro, ou ocidental, portanto já distante da origem oriental, mas devo ter tido sempre, até hoje, influência da terra em que nasci e cresci", contou Ohtake à revista "ArtNexus", em 2005.


Muito discreta, raramente falava sobre a vida familiar ou pessoal. “Não tinha ateliê, nada. Empurrava a mesa da sala e achava um espaço para pintar” , relembrou numa entrevista à revista Brasileiros. Fez parte do então prestigioso grupo Seibi, que reunia artistas plásticos na Zona Sul de São Paulo (SP). Além de Tomie, aderiram ao grupo Flávio-Shiró, Minoru Watanabe, Manabu Mabe, entre outros conterrâneos – a associação só aceitava artistas japoneses ou descendentes. Nos anos 50 e 60, participou de salões nacionais e regionais, tendo sido premiada na maioria deles. Foi convidada a participar da Bienal de Veneza em 1972, pela própria instituição. Recebeu o Prêmio Panorama da Pintura Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

"O trabalho faz bem sempre." Sobre as obras que planejava perto do seu aniversário de 100 anos, em 2013.

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Retrospectiva A cara de São Paulo Tomie é uma das principais representantes das artes plásticas brasileiras. Sua obra abrange pinturas, gravuras e esculturas. Foi premiada no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1960; e em 1988, condecorada com a Ordem do Rio Branco pela escultura pública comemorativa dos 80 anos da imigração japonesa, em São Paulo. A seu respeito escreveu o crítico Clarival do

Prado Valladares: “De acordo com alguns críticos, a pintura de Tomie Ohtake corresponde a um dos pontos mais elevados do abstracionismo já produzido no Brasil.” Tomie se destacou também com o trabalho com esculturas de grandes dimensões em espaços públicos, sendo que na 23ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1995, teve uma sala especial de esculturas. Atualmente, 27 de suas obras são públicas e estão em várias cidades brasileiras.

"Tudo o que tenho a dizer está dito

no meu trabalho. Nunca planejei de forma racional as minhas formas, elas simplesmente surgiam."

A paisagem da cidade de São Paulo tem hoje a cara de Tomie Ohtake. São criações dela as curvas coloridas das grandes esculturas que dividem os dois lados da via expressa da Avenida 23 de Maio (homenagem aos 80 anos da imigração japonesa no Brasil); os quatro painéis de 2 metros de altura por 15 metros 14

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de comprimento que representam as estações do ano, no metrô Consolação; as ondas vermelhas de gesso da obra presa ao teto do Auditório do Ibirapuera; o arco vermelho de 3 toneladas e 12,5 metros de altura, no Brooklin; e o painel de 23 metros de altura na lateral do prédio que leva seu nome, em Pinheiros.


"Minha obra

é ocidental, porém sofre grande influência japonesa, reflexo de minha formação. Esta influência está na procura da síntese: poucos elementos devem dizer muita coisa."

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Foto: si sitee msf.o msf.o sf.org.b rg.b g r

Retrospectiva

MÉDICOS SEM FRONTEIRAS: CUIDADOS DE SAÚDE ESSENCIAIS ONDE ELES SÃO MAIS NECESSÁRIOS Vencedora do Prêmio Nobel da Paz, ONG leva ajuda médico-humanitária em meio a conflitos armados, epidemias, desastres naturais, desnutrição e exclusão do acesso a cuidados de saúde. Da Redação

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uem nunca se emociou ao ver a imagem dos profissionais do Médicos Sem Fronteiras (MSF) cuidando de pacientes em meio a conflitos armados, epidemias, desastres naturais? As imagens são sempre fortes, mas a dedicação dos profissionais e voluntários é a marca registrada desta ONG, símbolo de seriedade e imparcialidade política na vasta e complicada seara de ajuda humanitária internacional. 16

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Situações de emergência pedem resposta rápida, com atendimento médico especializado e apoio logístico, mas, falhas crônicas no sistema de saúde local, como a escassez de instalações de saúde, de profissionais qualificados e a inexistência da oferta de serviços gratuitos para populações sem recursos financeiros, também podem motivar a atuação do Médicos Sem Fronteiras. A organização foi criada em 1971, na França, por jovens


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importando as circunstâncias, nem quem são os beneficiários.

Não temos região prioritária porque isso significaria, de alguma forma, priorizar o sofrimento das pessoas.

médicos e jornalistas que atuaram como voluntários no fim dos anos 60, em Biafra, na Nigéria. Enquanto socorriam vítimas em meio a uma guerra civil brutal, os profissionais perceberam as limitações da ajuda humanitária internacional: a dificuldade de acesso ao local e os entraves burocráticos e políticos, que faziam com que muitos se calassem, ainda que diante de situações gritantes.

encontram. A ONG existe para levar cuidados de saúde essenciais onde seus serviços são mais necessários – em meio a conflitos armados, epidemias, desastres naturais e exclusão do acesso a serviços de saúde. A entidade também administra projetos de longo prazo, combatendo crises e prestando suporte às pessoas onde há enormes necessidades e falta assistência adequada. Atualmente, atua em cerca de 70 países.

O MSF surgiu, então, como uma organização humanitária que associa ajuda médica e sensibilização do público sobre o sofrimento de seus pacientes, dando visibilidade a realidades que não podem permanecer negligenciadas. Em 1999, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Em situações em que a atuação médica não é suficiente para garantir a sobrevivência de determinada população – como ocorre em casos de extrema urgência –, a organização pode fornecer água, alimentos, saneamento e abrigos.

Desta forma, a atuação de Médicos Sem Fronteiras é, acima de tudo, médica. A organização leva assistência e cuidados preventivos a quem necessita, independentemente do país onde se

A atuação de MSF respeita as regras da ética médica baseada no direito de que ninguém pode ser punido por exercer uma atividade médica de acordo com o código de ética profissional, não

Apesar de imparcial, quando diante de determinadas situações, o MSF pode criticar abertamente ou denunciar a ruptura de convenções internacionais e violação de direitos, como o deslocamento forçado de populações, o retorno obrigado de refugiados, atos de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. Em entrevista recente ao jornal Estado de Minas, Susana de Deus, diretora-geral da organização no Brasil explica: "antes de enviarmos uma equipe para qualquer país, fazemos um diagnóstico no qual é analisada a capacidade do Estado de intervir naquela situação e identificados quais os outros atores que lá atuam, bem como as reais necessidades da população. O primeiro passo é enviar uma equipe pequena, em geral de duas ou três pessoas, para fazer um levantamento das condições de saúde da população em questão e da ajuda oferecida por outras instituições, organizações ou governos. Com base nesses dados, avaliamos se o nosso trabalho é realmente necessário. Em caso positivo, as informações coletadas são utilizadas para traçar um plano de atuação, que inclui as atividades que serão realizadas, a equipe, os suprimentos médicos necessários etc. NEO MONDO - janeiro/fevereiro 2016

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Foto: site msf.org.br por Matthias Steinbach

Retrospectiva

Só depois disso é que tomamos uma decisão quanto a intervir ou não na região. Um detalhe importante: a decisão sobre os locais onde teremos projetos é sempre baseada nas necessidades de saúde da população; não em opiniões políticas,

ideológicas ou religiosas quaisquer”. Susana esclarece ainda: “não temos região prioritária porque isso significaria, de alguma forma, priorizar o sofrimento das pessoas. O que acontece é que os

contextos humanitários têm picos difíceis de serem controlados. Este ano, por exemplo, poderia destacar os conflitos na República Centro-Africana, as várias crises no Sudão do Sul e o surto de ebola na Guiné, em Serra Leoa e Libéria”.

CARTA DE PRINCÍPIOS DO MÉDICOS SEM FRONTEIRAS “A organização Médicos Sem Fronteiras leva ajuda médico-humanitár áriia às populações em perigo e às vítimas de catástrofes es de origem natural ou humana e de situações de confl flit ito, sem qualquer discriminação racial, religiosa, filo osó sófica ou política.

Os membros da organização se empenham em respeitar os princípios deontológicos de sua profissão e em manter total independência em relação a todo poder, bem como a toda e qualquer força política, econômica ou religiosa.

Trabalhando com neutralidade e imparcialidade, Médicos Sem Fronteiras reivindica, em nome da ética médica universal e do direito à assistência humanitária, a liberdade total e completa do exercício de suas atividades.

Voluntários, eles compreendem os riscos e os perigos dos trabalhos que realizam e não reclamam para si qualquer compensação que não seja aquela oferecida pela organização.”

CRIADA EM 1971, PRESENTE EM MAIS DE 70 PAÍSES Mais de 34 4 mil profissionais de diferentes áreas e nacionallid idad ades.

doenças negligenciadas como a doença de Chagas, a doença do sono e a malária.

Mais de 80% de seu financiamento é proveniente de doações individuais ou da iniciativa privada. Hoje, aproximadamente 5 milhões de pessoas contribuem com a entidade no mundo; cerca de 86 mil destes doadores estão no Brasil.

O MSF chegou ao Brasil em 1991, para combater uma epidemia de cólera na Amazônia. Após o controle do surto, a organização permaneceu na região até 2002, promovendo um trabalho de medicina preventiva com tribos indígenas.

Recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1999 e o valor recebido com o prêmio foi utilizado na estruturação do Fundo para Doenças Negligenciadas, para prestar suporte a projetos-piloto voltados para o desenvolvimento clínico, produção, aquisição e distribuição de tratamentos para

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A primeira intervenção urbana de MSF no Brasil aconteceu em 1993, no Rio de Janeiro, com um projeto de assistência a crianças em situação de rua. Até hoje, foram desenvolvidos 15 projetos no Brasil. Atualmente, cerca de 100 brasileiros trabalham na ONG.


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“A decisão sobre os locais onde teremos projetos é sempre baseada nas necessidades de saúde da população; não em opiniões políticas, ideológicas ou religiosas quaisquer.”

MSF NO BRASIL Entre 1991 e 2009, o Médicos Sem Fronteiras desenvolveu projetos que envolveram o combate a uma epidemia de cólera na Amazônia, a oferta de cuidados a pessoas sem acesso a serviços de saúde na Favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro (RJ), e a vítimas da violência no Complexo do Alemão, também no Rio. Em 2006, o Médicos Sem Fronteiras estabeleceu um escritório da organização no Brasil; em 2007, foi estruturada a Bramu - Unidade Médica Brasileira. Os profissionais da Bramu são especializados em doenças tropicais negligenciadas, como dengue e Chagas, em outras doenças infecciosas e em antropologia. Eles prestam suporte técnico a diversos projetos de MSF, contribuindo com estudos científicos, pesquisas, identificação de possíveis melhorias nos protocolos de diagnóstico e tratamento de doenças e realizando

treinamentos tanto para profissionais internacionais de MSF quanto para profissionais contratados localmente ou a serviço dos Ministérios da Saúde dos países onde atua. Parcerias estabelecidas localmente também permitem a troca de informações visando o enriquecimento das práticas relacionadas com doenças tropicais. No Brasil, MSF trabalha, muitas vezes, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Com o início do surto de Ebola em março de 2014 na África Ocidental, MSF-Brasil passou a enviar profissionais brasileiros aos projetos em campo e é papel da Bramu assessorá-los. Antes de partir, eles recebem informações sobre a doença e, na medida em que retornam, foram acompanhados pelo período de 21 dias. A Bramu é referência no escritório de Brasil também para assuntos relacionados a esta doença.

SEJA UM DOADOR

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Foto: site msf.org.br por Karel Prinsloo

Doadores Sem Fronteiras são pessoas que fazem doações mensais e recorrentes para MSF. É graças a essas contribuições constantes que a entidade pode se planejar, agindo rapidamente em situações de emergência, como no terremoto do Nepal ou no conflito da Síria, tratando pacientes com doenças que exigem cuidados de longo prazo. Para doar, acesse o site do Médicos Sem Fronteiras: https://www.msf.org.br/doador-sem-fronteiras

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O CIENTISTA DOS BEIJA-FLORES Augusto Ruschi foi cientista, agrônomo, advogado, naturalista e ecologista de renome internacional. Sua vida foi dedicada às descobertas, defesa e estudo das espécies brasileiras. Descreveu cinco espécies e onze subespécies de beija-flores. Sua segunda paixão foram as orquídeas, das quais ele identificou 45 novas espécies. Por Eleni Lopes

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paixão pela natureza já corria no sangue de Augusto Ruschi muito antes de ele nascer. Sua família tem mais de 2 mil anos de tradição no trabalho com ciência e plantas, cultivando-as e estudando-as, sendo inclusive o nome da família originário da espécie Ruscus aculeatus, ou azevinho do campo. Augusto Ruschi nasceu em 13 de dezembro de 1915, em Santa Teresa, uma pequena cidade de colonização italiana nas montanhas do Espírito Santo. Foi o oitavo entre os doze filhos do casal de imigrantes Giuseppe Ruschi e Maria Roatti. Sua vida foi dedicada às descobertas, defesa e estudo das espécies brasileiras. Foi o pioneiro do manejo sustentável das florestas tropicais, da agroecologia, do controle biológico de doenças tropicais e zoonoses e das denúncias sobre o uso irresponsável dos agrotóxicos. Deixou uma vasta obra escrita, com 450 trabalhos, 22 livros e 2 instituições científicas - Museu de Biologia Professor Mello Leitão e Estação Biologia Marinha Ruschi - e a Fundação Brasileira de Conservação da Natureza, várias reservas, entre as quais o Parque Nacional do Caparaó e um dos maiores acervos de informações existentes sobre a floresta Atlântica. NEO MONDO - janeiro/fevereiro 2016

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Retrospectiva Foi o maior especialista mundial sobre beija-flores, deixando a maior obra escrita no mundo sobre o assunto. Descreveu cinco espécies e onze subespécies deste pássaro. Sua segunda paixão foram as orquídeas, das quais ele também foi capaz de identificar 45 novas espécies. Também foi a principal autoridade mundial sobre ecologia da floresta Atlântica, sendo o único cientista no mundo a viver 50 anos no interior da floresta. Também deixou significativas contribuições em estudos de morcegos, macacos, bromélias e impacto ambiental. Polêmica com o governador Augusto Ruschi começou a lecionar na Universidade Federal do Brasil (atual UFRJ), em 1937, com apenas 22 anos. Neste período, Augusto Ruschi esteve sob orientação direta do professor José Cândido Mello Leitão, um grande cientista brasileiro, principal especialista em aracnídeos no mundo. Com sede de conhecimento, Ruschi não demorou muito em esgotar a sua permanência no Rio de Janeiro. Dizia que o trabalho de campo que realizava antes, nas matas virgens do Espírito Santo, seu Estado natal, era muito mais relevante para a ciência do que o trabalho nos laboratórios.

em que se aprofundava no assunto. Enfrentava autoridades, empresas e até a própria justiça para defender as matas virgens e as reservas ecológicas. Ganhou notoriedade ao enfrentar, em 1977, o governador do Estado do Espírito Santo, que baixara um decreto determinando que na Reserva de Santa Lúcia fosse implantada uma fábrica de palmitos enlatados, que seriam extraídos da própria reserva. Logo em Santa Lúcia, uma Estação Biológica do Museu Nacional, com milhares de orquídeas catalogadas e

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Ruschi recebeu os fiscais do governo que vieram fazer a topografia da reserva com uma espingarda na mão. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, contou detalhes do episódio: "Aquele safado quis destruir a estação biológica de Santa Lúcia para favorecer amigos

Não é maravilhoso existir um "mundo tão vasto que jamais consigamos desvendar todos os seus mistérios? E, além disso, não parece apaixonante viver não só para admirar os seus prodígios, como também, sobretudo, para tentar descobrir os enigmas de que o homem está ainda rodeado?

Foto: www.rotascapixabas.com

Para suas pesquisas, realizou 259 excursões científicas por todos os lugares do mundo, da Patagônia ao Alasca, sempre registrando em publicações repletas de fotografias e slides, além de todas as suas observações sobre a natureza, os animais e as plantas. Em suas andanças pelas florestas, Ruschi testemunhava as agressões que estas sofriam. “Cortam as matas ignorando tudo o que está dentro. Ninguém quer saber que lá têm milhares de animais, centenas de milhares de espécies de insetos, de plantas, que fazem o seu equilíbrio. E o equilíbrio natural é complexo, onde, às vezes, a ausência de um elemento pode causar uma falha muito grande. O homem é que perturba e desequilibra”, dizia. A indignação dele aumentava à medida

20 mil árvores numeradas com plaquetas de identificação, reconhecida como uma das regiões mais ricas do mundo em flora epífita, trabalhada por Ruschi durante mais de 40 anos.


seus, industriais. Queriam plantar palmito lá. Chegou a tentar me tirar da direção da reserva para facilitar sua intenção. Falei que mataria este homem se fizesse este crime e acho que mataria mesmo. Lembro que, na época, o jornal Movimento foi o primeiro a ficar do meu lado. Os jornais do Espírito Santo, comprometidos com o bandido, se omitiram". O governador avisou a Polícia Federal e, Ruschi, as imprensas nacional e internacional. A pequena cidade de Santa Teresa foi invadida por jornalistas, que divulgaram para todo o país um dramático e realista apelo de Ruschi pela preservação da Reserva. O governador, diante de tamanha repercussão, recuou.

O número de “ homens na terra não será determinado pelas leis do homem, mas sim pelas leis da natureza.

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Ruschi foi também um defensor da cultura e dos direitos das minorias indígenas, que ele conheceu bem de perto

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Retrospectiva

Estou muito " decepcionado com as coisas do futuro. Num país em que até os letrados ignoram a importância do meio ambiente é difícil ficar otimista, ter esperança. Mas continuo brigando.

nas suas andanças pelas florestas, pelo afluentes do Amazonas, pelos Andes e pelos vales do Peru e da Colômbia. Durante a ditadura militar, foi uma das poucas vozes que se ergueram no período do Governo Militar para denunciar a derrubada de áreas na Amazônia. Foi abraçando a cultura indígena que Ruschi sensibilizou novamente o país, no ano de 1986. Gravemente enfermo devido a sequelas deixadas por doenças como esquistossomose e malária, que contraiu durante suas pesquisas pelas florestas, e abatido pelo veneno de sapos dendrobatas que tinha sido absorvido pelo seu organismo durante uma coleta de material no Amapá, Ruschi resolveu submeter-se a um ritual indígena na esperança de que esta medicina, baseada em ervas e raízes, o ajudasse a enfrentar a doença. Já havia se submetido a todos os tratamentos médicos convencionais. Ruschi morreu pouco depois, de cirrose hepática. Atendendo a um desejo seu, foi enterrado nas matas da Reserva Biólogica de Santa Lúcia. Coincidentemente, no dia 05 de junho de 1986, Dia Mundial do Meio Ambiente.

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Uma frase de Augusto Ruschi resume sua preocupação com as ameaças à natureza: “A capacidade de destruir do homem partiu do arco e flecha, chegou à bomba atômica e irá muito além dela. Mas a Natureza lhe cobrará tributos cada vez maiores, e se desejarmos continuar como elementos integrantes dessa mesma Natureza, a quem devemos uma grande parcela de nossa existência, façamos-lhe justiça, conservando-a”.

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Retrospectiva

INSTITUTO NEO MONDO AMPLIA ATUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA Sempre inovando para disseminar o conceito de sustentabilidade, o Instituto NEO MONDO amplia sua rede de atuação e lança três núcleos: Branded Content, Educação e Tecnologia. Da Redação

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Foto: Divulgação

esde sua fundação, o Instituto NEO MONDO acredita que somente pessoas conscientes podem transformar o presente para garantir o futuro de um planeta sustentável. Para isso, é necessário unir esforços individuais e agir coletivamente. Em consonância com sua missão, NEO MONDO comemora seus novos núcleos de atuação: Branded Content, Educação e Tecnologia. De acordo com Oscar Lopes Luiz, presidente do Instituto NEO MONDO e publisher da revista, “sempre buscamos a vanguarda da comunicação para disseminar a sustentabilidade. Fomos a primeira revista do Brasil a usar a realidade aumentada e, hoje, continuamos investindo em ferramentas inovadoras para nos consolidarmos como agentes transformadores da socidade, por meio da edução, tecnologia e conteúdos diferenciados”. 26

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Conheça mais sobre estas novidades a seguir: Núcleo de edução O poder da edução na transformação da sociedade é inquestionável. Por isso, o Instituto NEO MONDO reforçou sua atuação em educação por meio de uma parceria com a autora Alda de Miranda e o ilustrador Ricardo Girotto para a promoção de livros e projetos infanto-juvenis. Alda é autora consagrada e, em 2014, foi homenageada pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo com o Colar do Centenário, por sua contribuição à literatura infantil. E Girotto também é profissional reconhecido, tendo ganho o prêmio HQMix de ilustração infantil, pelos livros da coleção “Castelo Rá-Tim-Bum”. O primeiro fruto desta parceria é a obra Um reino sem dengue, voltado para crianças de 07 a 11 anos. O livro surpreende por sua abordagem totalmente inovadora sobre como educar as crianças a respeito da importância do combate à dengue. Numa história que trabalha o imaginário infantil, os autores


transportam a garotada para um reino que, para surpresa geral, é invadido pelo mosquito Aedes aegypti. O Rei fica misteriosamente doente e é preciso descobrir o que está acontecendo. A partir daí, numa aventura desafiadora, as personagens envolvem-se no aprendizado sobre a dengue e decidem combater o invasor inimigo. Com lindas imagens coloridas, o livro mergulha no universo infantil para conseguir transmitir o aprendizado de forma criativa e envolver as crianças na prevenção da dengue, usando, para isso, as ferramentas da leitura e da imaginação. Núcleo de Tecnologia A tecnologia também pode ter um papel transformador na sociedade, basta ver as mudanças trazidas pela disseminação das redes sociais. Pensando nisso, o Instituto NEO MONDO firmou uma parceria com a Eyemotion, hoje, a maior empresa de tecnologia para eventos do Brasil.

Aumentada, Realidade Virtual, Holografia e Projetos Especiais. Cada uma destas unidades possui uma equipe de desenvolvimento qualificada especificamente para a tecnologia produzida. Todos os produtos são patenteados em território nacional para garantir a exclusividade dos projetos desenvolvidos para nossos clientes. Brandend Content Antenado com as mais recentes tendências em comunicação, o Instituto NEO MONDO passa a contar também com o núcleo de Branded Content, ou conteúdo de marca. Isto é, são formas diversas de entrar em contato com o público-alvo de uma empresa,

oferecendo conteúdo relevante, diretamente relacionado ao universo macro daquela marca. No caso de NEO MONDO, o foco é a sustentabilidade e o que as empresas estão fazendo para disseminar este conceito dentro de suas práticas e vivência corporativa, por meio de textos, infográficos, vídeos, fotos, ações de guerrilha, cartilhas, aplicativos, blogs, sites etc.

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A empresa possui 4 unidades produtivas internas: Realidade

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UM OLHAR SOBRE A ÁGUA NO PLANETA Água é vida, é o recurso natural mais abundante do planeta. Faz parte do dia a dia dos 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta. Nesta data especial, traçamos um panorama da situação hídrica. Por Eleni Lopes 30 30

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Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que, em 2030, a população global vai necessitar de 35% a mais de alimento, 40% a mais de água e 50% a mais de energia. Água e energia estão entre os desafios globais mais iminentes, segundo a organização, e estão profundamente interligadas. Ainda de acordo com a entidade, atualmente, 768 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada, 2,5 bilhões não melhoraram suas condições sanitárias e 1,3 bilhão não tem acesso à eletricidade. A situação é considerada inaceitável pela ONU. Outro agravante é que as pessoas que não têm acesso à água tratada e a condições de saneamento são, na maioria das vezes, as mesmas sem acesso à energia elétrica. No entanto, hoje o Brasil vive uma crise hídrica sem m precedentes na sua história. Apesar da ampla divulgação n na imprensa sobre a falta de água em São Paulo, esse não é um problema somente paulistano. Há uma crise de abastecime mento que já castiga ccinco das dez maiores regiões metropolilitanas do país. Nem ta ampouco é um flagelo brasileiro. Estima--se que cerca de 40% d da população global viva hoje sob a situ uação de estresse hídrico o. Essas pessoas habitam regiões ondee a oferta anual é inferio or a 1.700 metros cúbicos de água por habitante, limite mínimo o considerado seguro pela Organização o das Naçõess Unidas (ONU)). Um relató tório divulgado em fevereiro pela ON NU alerta: muitos paísees estão perto de enfrentar situações de desespero e conflito por falta d'água. Isso seria uma barreirra não só à saúde das populaç ações, mas

também ao crescimento econômico e à estabilidade política. Segundo os pesquisadores, daqui a apenas dez anos, 48 países não terão água suficiente para as suas populações. Isso atingiria quase três bilhões de pessoas. E até 2030, a demanda por água doce no planeta deverá ser 40% maior do que a oferta. O estudo aponta como a corrupção é um enorme ralo de dinheiro que chega a absorver 30% do que poderia ser usado sado em projetos de abastecimento e saneamento básico. O levantamento evantamento foi f feito em dez países, entre eles Bolívia, Canadá, Uganda, Paquistão e Coreia C do Sul. Mas as conclusões valem para o mundo inteiro. Corinne Wallace, uma das aut u oras a do relatório, explica que autoras a água deve ser uma prioridade dee para par a a indivíduos, in ndiiví indústrias, políticos, sociedade civil. “Tod do mundo mu m un nd do precisa prrec p e is i a fazer faaze a sua “Todo agora”. parte”, diz el eela. a. “E a hora raa é agora ra”.

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Panorama A água é um elemento composto por dois átomos de hidrogênio (H) e um de oxigênio (O), formando a molécula de H2O. É uma das substâncias mais abundantes em nosso planeta e pode ser encontrada em três estados físicos: sólido (geleiras), líquido (oceanos e rios) e gasoso (vapor d’água na atmosfera). Cerca de 80% de nosso organismo é composto por água. Aproximadamente 70% da superfície terrestre encontra-se coberta por água. No entanto, menos de 3% deste volume é de água doce, cuja maior parte está concentrada em geleiras (geleiras polares e neves das montanhas), restando uma pequena porcentagem de águas superficiais para as atividades humanas. A água está distribuída no planeta Terra da seguinte forma:

97,5% da disponibilidade da água do mundo está nos oceanos. 2,5% de água doce e está distribuída da seguinte forma: 29,7% aquíferos; 68,9% calotas polares; 0,5% rios e lagos; 0,9% outros reservatórios (nuvens, vapor d’água etc.). O Brasil é um país privilegiado com relação à disponibilidade de água. Detém 53% do manancial de água doce disponível na América do Sul e possui o maior rio do planeta (o rio Amazonas). A água doce disponível em território brasileiro está irregularmente distribuída: aproximadamente, 72% dos mananciais estão presentes na região Amazônica, restando 27% na região Centro-Sul e apenas 1% na região Nordeste do país.

Reaproveite água em casa Por Instituto Akatu Evitar o desperdício de água é importante não apenas nos momentos de crise. Adotar um estilo de vida e uma produção com uso racional da água é necessário não só hoje, como sempre. Isso porque as crises de água e energia que brasileiros têm enfrentado não são apenas resultado da seca. Há diversos outros fatores como problemas na estrutura de distribuição, desmatamento e desperdícios no agronegócio, na indústria e no uso residencial. O desperdício de água deve ser combatido com ajuda de todos: governo, indústria/agronegócio e população. De acordo com o Instituto Akatu, as residências, apesar de serem responsáveis por um percentual baixo do gasto

total de água (10,6%), também podem contribuir para que esse recurso não se esgote, pois o ganho de escala é significativo. Para ilustrar: se todos os moradores do Brasil fecharem a torneira ao escovar os dentes, a água economizada durante um mês equivalerá a um dia e meio do volume de água da queda nas Cataratas do Iguaçu! No entanto, existem riscos em atitudes que parecem inofensivas como acumular água em vasilhames reaproveitados, em piscinas descobertas ou em beber água da chuva. Conheça, a seguir, dicas do Instituo Akatu de como reutilizar a água com segurança:

1. Use a ág gua do aquário para regar as pla antas as as Vai limpar o aquário? Pois use a água “velha” para outras finalidades, como regar o jardim. A água do seu aquário pode ser uma fonte rica em nitrogênio, essencial para a fotossíntese, além de fósforo e potássio, que fortalecem as plantas, agindo como fertilizantes. Mas lembre-se: as plantas não se dão bem com água salgada ou sem controle de pH. E se estiver muito suja no aquário, utilize só um pouco da água misturada com água limpa. 2. Enquanto a água do chuveiro esquen squenta, encha o balde Seu chuveiro tem aquecimento a gás? Deixar correr para o ralo a água do banho enquanto esquenta pode desperdiçar uma grande quantidade de água limpa. Use um balde para coletar a água limpa que ainda não chegou à temperatura ideal. 3. Colete a água enquanto toma banho Colete também a água que respinga enquanto você toma banho de chuveiro. Essa água pode ser reutilizada para dar descargas, lavar o próprio banheiro ou as áreas externas, como quintais e varandas. Em um ano, uma família pode reutilizar água suficiente para usar a descarga diariamente durante quase 5 meses. Você pode também coletar a água utilizada para lavar as mãos em um pequeno recipiente e acumular o líquido em um balde, para usar nas descargas. 32

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4. Colete a água da chuva, mas não a beba Construir uma cisterna em casa ou usar algum recipiente para coletar a água da chuva é uma ótima dica para economizar. É importante que o recipiente esteja bem tampado, para evitar a proliferação de mosquitos que propagam doenças como a dengue. Nada de tampas soltas, lona, madeiras ou telhas. A água da chuva pode ser utilizada para descarga, limpeza do quintal, do carro e do chão de casa, por exemplo. Porém, não é apropriada para consumo humano ou de animais, pois a água da chuva traz resíduos da atmosfera – fervê-la simplesmente não adianta. Se passa pelo telhado e pela calha antes de cair no recipiente onde será armazenada, é ainda pior. O período máximo de armazenamento da água da chuva é de quatro dias, pois é uma água com muitos resíduos orgânicos. 5. A água do preparo das refeições é nutritiva, reaproveite! Quando se está cozinhando, um dos segredos para consumir água com consciência é seguir as receitas à risca. Para cozinhar macarrão para uma pessoa, por exemplo, você não precisa de uma panela totalmente cheia de água, assim como não há necessidade de muita água para preparar legumes no vapor. Além disso, se usar a quantidade adequada, você vai preservar melhor os nutrientes dos alimentos. E, em alguns casos, a água pode até ser usada novamente. Se você cozinhou legumes e sobrou água, reutilize-a para fazer sopas, ou espere que esfrie e regue as plantas. 6. Gelo derretido deve ser aproveitado Se precisar descongelar a geladeira ou o congelador, remova as placas de gelo e reutilize essa água para regar as plantas e o jardim. E se por acaso derrubar cubos de gelo no chão, coloque-os num recipiente para depois reaproveitar a água. Já quando comprar um saco de gelo, use-o com inteligência: não o deixe derretendo no tanque ou no chão, e sim ponha-o dentro de um balde, para depois reutilizar a água que derreter. 7. Na pressa, descongele alimentos usando um balde com água Se não puder se planejar ou usar o micro-ondas, a comida congelada pode ficar de molho na água, usando uma tina ou uma bacia – e essa água pode ser reutilizada para lavar a louça ou regar as plantas. Descongelando na bacia ao invés de em água corrente, você economizará em um ano, uma quantidade de água equivalente a 300 lavagens de louça, abrindo a torneira apenas para molhar e enxaguar. 8. A água da máquina de la ava ar deve ser re ea apro ov vei eita tad da a A água que sai da máquina de lavar roupa pode ser aproveitada direcionando o cano de despejo da máquina para um balde. A cada ciclo de uma máquina de cinco quilos são gastos 145 litros. Essa água pode ser coletada e usada na descarga dos vasos sanitários, para lavar o quintal ou o carro. E veja que prático: essa água já vem com um pouco de sabão! Esse reaproveitamento da água da lavadora de 5kg gera uma economia de água suficiente para reduzir em 5% o consumo mensal de uma casa. O segundo enxague da máquina, “a água do amaciante”, mais limpa, pode abastecer a próxima lavagem.

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11 FATOS QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A CRISE HÍDRICA NO BRASIL Por NQM Comunicação

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á um ano quase não se falava em crise hídrica e, hoje, não passa um dia sem que o assunto seja pauta em pelo menos um veículo da mídia brasileira. Mas, o que aconteceu de lá para cá para essa mudança radical? Será que a problemática não deu sinais de que estava chegando? Para entender melhor esse contexto, especialistas da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que atua há 25 anos na proteção da biodiversidade brasileira, elencaram 11 fatores que influenciam a questão da crise da água no Brasil. De rios voadores à água virtual!

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1. A crise da água é apenas em São Paulo Não, a escassez de recursos hídricos não é um problema exclusivo da maior cidade brasileira. Tanto que, enquanto só se falava em São Paulo, os níveis dos reservatórios do Rio de Janeiro estavam ainda piores. Agora, Belo Horizonte também já sinalizou que, se a seca continuar, precisará racionar água. Como essas três capitais estão no Sudeste, pode parecer que a crise está restrita a essa região, o que também não é verdade. O Sul do país está sendo considerado como ‘livre da crise’, mas já passou por situação parecida em 2006, quando uma estiagem atingiu o Paraná, ocasionando falta de água para milhares de pessoas. A seca chegou até mesmo a Curitiba, cidade reconhecida como capital ecológica do país. Isso nos leva a refletir se estamos tratando o problema atual de forma isolada, quando deveríamos agir e pensar em âmbito nacional. E na sua cidade, que tal verificar como a situação está?

2. Sem floresta não vai ter água, mas o poder público talvez pense que sim A proteção das florestas nativas nas regiões de mananciais, nas margens dos rios e reservatórios é essencial para a produção de água. Sem cobertura florestal, a água não consegue penetrar corretamente nos lençóis freáticos, causando diminuição na quantidade. Mais do mesmo? Todos sabem disso? Em 2012, grande discussão foi levantada quando o Código Florestal foi revisto. As alterações aprovadas implicaram na redução das Áreas de Proteção Permanente previstas em lei para as margens de rio dentro das propriedades rurais: as matas ciliares (aquelas que protegem as margens dos rios) agora devem ter 15 metros, metade do que era obrigatório antes. Especialistas da área ambiental foram veementemente contra, pois apontavam para a importância da conservação dessas áreas que influenciam a produção de água. Mas, mesmo assim o projeto foi aprovado. Durante as discussões para aprovação do novo código, processo que durou 13 anos, instituições de proteção ao meio ambiente como a Fundação Grupo Boticário, a SOS Mata Atlântica e a The Nature Conservancy investiram em ações na ordem inversa, garantindo a conservação de áreas-chave para a produção de água em diversas regiões. Investiram no Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), iniciativa que premia financeiramente proprietários de terra que conservam a mata nativa em suas propriedades, protegendo as nascentes, além do exigido por lei.

3. Falta de infraestrutura e investimento Às vezes, costumamos deixar algumas atitudes para a última hora, quando se está "com a corda no pescoço". Nesse caso, não foi diferente. Obras importantes como a construção do Sistema São Lourenço, previsto para 2011, traria água do interior até a Grande São Paulo. As obras começaram apenas em 2014 e têm previsão de ficar prontas em 2017. Isso quer dizer que, se tivessem começado em 2011, provavelmente teriam sido entregues em 2014, quando a crise estava se intensificando. Outro ponto importante é que, segundo o Plano Metropolitano de Água III da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a empresa não investiu nem 37% do previsto em obras.

4. Um mar de desperdício Presente na cadeia produtiva de qualquer insumo, o desperdício é dura realidade também na distribuição e no consumo de água. Estima-se hoje que em torno de um quarto da água tratada é perdida no trajeto entre as represas e as torneiras. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que 110 litros por dia são suficientes para atender às necessidades de uma pessoa. Parece bastante, mas não é tanto assim. A cada dois minutos no banho, consumimos em média 12 litros de água. Se você é daquelas pessoas que gosta de refletir sobre os problemas do mundo num longo banho, saiba que se demorar 16 minutos terá consumido em torno de 96 litros. Isso sem contar o que usamos para escovar os dentes, dar descarga, lavarmos as mãos, cozinhar, lavar a roupa, além de matar a sede. Quando colocamos na ponta do lápis, percebemos a importância de cada um economizar ao máximo na sua rotina diária.

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5. Racionar por quê? Mesmo sem muita cobertura da mídia em anos anteriores, em 2014 muito já se falava em falta de água e em uma possível crise hídrica bastante grave. Apesar disso, o racionamento oficial pelos órgãos competentes não aconteceu. Por quê? Será que interesses políticos influenciaram as tomadas de decisão relacionadas à crise hídrica? Mais uma dúvida sem resposta exata para os tantos questionamentos que envolvem a situação. Independente das razões, o fato é que essa atitude piorou ainda mais um cenário já bastante complicado.

6. Com a palavra, São Pedro: falta chuva, sim, mas não é de hoje Claramente a falta de chuva é um fator importante na equação da crise. Mas não veio tão de repente assim. Desde 2012, e principalmente no ano seguinte, a quantidade de chuvas foi caindo vertiginosamente. E muitas pessoas sabiam disso. O relatório 20–F da Sabesp, de 2012, afirmava que há anos observava-se a redução nos níveis pluviométricos. Diversas instituições ambientalistas também alertavam sobre a falta das chuvas, fruto de mudanças climáticas e desmatamentos que prejudicam o ciclo da água. Mesmo assim, quase nada foi feito. Por isso, não podemos apenas culpar São Pedro por ter sido econômico demais nas chuvas ou por errar na pontaria.

7. O clima muda sem pedir permissão A poluição e os Gases do Efeito Estufa (GEEs) que jogamos na atmosfera diariamente, têm alterado o clima e, consequentemente, as chuvas. Ainda não temos condições de saber exatamente os reais efeitos das mudanças climáticas, mas já estamos sentindo os efeitos extremos, com grandes secas em algumas regiões e fortes tempestades em outras, bem como os resultados para nossas vidas. As mudanças climáticas, que comprovadamente foram aceleradas pela ação do homem, tornam o clima irregular. Dessa forma, mesmo os especialistas acabam tendo dificuldade em prever quando, onde e quanto vai chover.

8. A água virtual que vai embora do país Você já ouviu falar em água virtual? É um conceito muito interessante criado pelo professor britânico John Anthony Allan, que calcula a quantidade de água utilizada na produção de bens de consumo. Leva em consideração não apenas a água contida no produto, mas a que foi usada em todas as etapas do processo de fabricação. Por exemplo, na produção de uma xícara de café são utilizados cerca de 140 litros de água. Para a produção de um quilo de carne de gado, esse número chega a 15 mil litros de água. Essa quantidade astronômica de água, na maioria das vezes, nem fica para o consumo do brasileiro, pois o país é o maior exportador de carne bovina do mundo. De acordo com dados da Unesco, se somarmos todas as commodities que o Brasil exporta, enviamos ao exterior aproximadamente 112 trilhões de litros de água doce por ano, o equivalente a 45 milhões de piscinas olímpicas.

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9. Rios voadores regulam chuva em todo o país Na natureza, tudo está interligado buscando um equilíbrio. Apesar de não parecer, mas um ecossistema a cerca de três mil quilômetros de distância pode ser fundamental para garantir a produção de água em outro. No caso do Brasil, existe o fenômeno chamado ‘rios voadores’: grandes massas de vapor de água se formam no Oceano Atlântico – na altura do litoral nordestino - e ao chegarem à região amazônica aumentam de volume ao incorporar a umidade evaporada pela floresta. Levadas pelas correntes de ar em direção ao Sul do país, são importantes para a formação de chuvas em diversas regiões, como a Sudeste. Portanto, o aumento no desmatamento da Amazônia, que após quatro anos em queda voltou a subir em 2013, pode reduzir os índices pluviométricos em outras regiões.

10. O Brasil tem uma imensa caixa d’água Da mesma forma que temos a caixa d’água em nossas casas para garantir que não haja falta, o Brasil também possui uma região essencial para que o recurso continue sendo produzido. É o Cerrado, que ocupa 22% do território nacional e concentra oito das 12 bacias hidrográficas do país (67%), além de possuir alta concentração de nascentes de rios que abastecem outras regiões brasileiras (veja matéria especial sobre o Cerrado nesta edição, a partir da página 30). Apesar da sua importância, esse é o segundo bioma mais ameaçado do país e sofre com as pressões da agricultura e principalmente da pecuária e das queimadas não naturais. Além disso, o Cerrado possui menor porcentagem de unidades de conservação de proteção integral, tendo apenas 8,21% do seu território legalmente protegido, sendo apenas 2,85% de proteção integral. Vale lembrar que não estamos fazendo nossa tarefa de casa: esse índice é muito abaixo da meta com a qual o Brasil se comprometeu com a ONU, em 2010, ao se tornar signatário das Metas de Aichi. O compromisso diz que, até 2020, o país deve ter 17% de áreas terrestres de grande importância ecológica protegidas por meio de sistemas estruturados de unidades de conservação.

11. “Águas, são muitas, infindas” Esse é um pequeno trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, relatando à corte portuguesa a incrível quantidade de água que o recém-descoberto Brasil tinha. Realmente somos um país privilegiado, com a maior reserva de água doce do mundo. Possuímos a maior bacia hidrográfica do planeta (Amazônica), bem como a maior planície alagável do mundo (Pantanal), entre outros recordes de água doce. O Brasil é referência em água no mundo. Porém, é preciso conservação, tecnologia e interesse político para que esse recurso seja revertido em benefício para os brasileiros. É necessário que aprendamos com a natureza a busca pelo equilíbrio. Nenhum desses onze fatos deve ser encarado de modo isolado ou como se fosse mais importante que os demais. Todos estão interligados e fazem parte de um contexto que nos trouxe até a maior crise hídrica da história, porque descuidamos de nosso patrimônio natural. O problema da água existe, mas a realidade sobre o que o causou e sobre como revertê-lo também está aí.

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ESTUDO BUSCA REDUZIR DESPERDÍCIO DE ÁGUA EM IRRIGAÇÃO Por Agência USP

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o Programa de Pós-graduação em Sistemas Agrícolas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pesquisa avaliou o consumo de água de um canavial e as relações com as variáveis micrometeorológicas. O principal objetivo do trabalho do engenheiro agrônomo Daniel Nassif foi estudar o consumo hídrico da cana, separando o consumo de água em evaporação e transpiração, relacionando-o com os fenômenos meteorológicos e simulação dos processos envolvidos. Os resultados apontam que o uso de água é elevado, mas pode ser reduzido a partir de estimativas de consumo. Atualmente, no Brasil, o etanol é um produto com grande potencial comercial e sua demanda está aumentando muito. O preço do açúcar está em alta e mudanças climáticas poderão interferir, dependendo da região, na matéria-prima desses 40

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produtos, a cana-de-açúcar. Em regiões como o Centro-Oeste e Nordeste, o clima não é muito favorável e, por isso, torna-se essencial a irrigação nos canaviais. Na região Sudeste, apesar de não ser essencial, em um ano como o de 2014, a irrigação tornou-se interessante, para ajudar a reduzir a perda de produção da cana. Porém, a forma como é realizado o processo de irrigação tem resultado em algum desperdício de água e, portanto, a diminuição dessa utilização em excesso é necessária. Consumo hídrico Para analisar o consumo hídrico da cana-de-açúcar, Nassif utilizou diferentes técnicas de estudo. O projeto teve orientação de Fábio Marin, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas. A proposta do projeto foi verificar a quantidade necessária de água

em um canavial, para tentar reduzir a utilização desse elemento no processo de irrigação. “A partir da análise dos dados, foi possível afirmar que o uso da água nos canaviais pode ser reduzido e, com base nas simulações realizadas em laboratório pode-se predizer a demanda de água de um canavial de acordo com as condições climáticas e características do solo, por exemplo”, reforça o autor da pesquisa. A pesquisa foi desenvolvida na fazenda Areão, em área experimental da Esalq, e foi utilizado um pivô central de irrigação. Entre os resultados obtidos, destaca-se que é possível reduzir o uso de água pela irrigação em canaviais, evitando o desperdício. “O maior benefício da pesquisa foi o aumento no conhecimento do consumo de água pela cana, com intuito de avaliação da real necessidade de irrigação da cultura”, conclui Nassif.


Preservação de recursos naturais Por Conselho de Informações sobre Biotecnologia Para preservar recursos naturais como água, solo, florestas e biodiversidade, o uso de tecnologia na agricultura é fundamental. É necessário, no entanto, fazer com que essas tecnologias cheguem facilmente aos agricultores que mais

precisam delas. Para tanto, instituições públicas, privadas e os governos devem se unir para disseminar o conhecimento atual sobre as mais modernas técnicas agrícolas.

Água O uso inteligente da água é a base da manutenção da vida no planeta Terra. Um estudo do Water Resources Group p mostra que a agricultura é responsável por cerca de 70% da água consumida no planeta ou 3,1 bilhões de m³. O restante é formado por consumo industrial (800 milhões de m³) e doméstico (600 milhões de m³). Sem ganhos de eficiência, a agricultura irá consumir cerca de 4,5 bilhões de m³ em 2030. Este aumento, somado à elevação do consumo industrial para 1,5 bilhão de m³ e doméstico para 900 milhões de m³, fará com que o total chegue a 6,9 bilhões de m³. Dar aos agricultores acesso às tecnologias que permitem o uso mais eficaz da água disponível (irrigação por gotejamento, sementes transgênicas etc.) é uma maneira inteligente de caminhar em direção à sustentabilidade. Biodiversidade Ao permitir que a agricultura produza mais na mesma área, diminui-se a necessidade de novas terras para plantações e, consequentemente, a derrubada de florestas para tal fim. Entre as tecnologias que oferecem esse ganho estão o plantio direto, a irrigação por gotejamento, o rodízio de culturas e as sementes transgênicas. A preservação de áreas verdes também é fundamental no combate ao aquecimento global. Segundo estudo publicado na revista Sciencee, as florestas são responsáveis pela captura de mais de 10% do gás carbônico emitido por diversas atividades humanas. Solo Para tornar realmente sustentável o uso do solo a longo prazo, é preciso utilizar em larga escala as modernas técnicas agrícolas que minimizam o impacto, a exemplo do plantio direto, da rotação e do consórcio de culturas, das sementes transgênicas, entre outras. No Brasil, dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura revelam que o uso da técnica diminuiu em cerca de 90% a erosão do solo e, em aproximadamente 80% a perda de água em um período de 17 anos nas culturas de milho e soja.

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A HORA E A VEZ DOS OCEANOS WWF-Brasil lança Programa Marinho com o objetivo de desenvolver ações em temas como sobrepesca, turismo e poluição. Da Redação, com comunicação da WWF-Brasil

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om 10,8 mil km de extensão, a costa brasileira percorre 395 cidades, em 17 Estados. Uma imensidão azul que abriga ¼ da população brasileira em um ecossistema único, com 3 mil km de recifes de corais e 12% dos manguezais do mundo. É também um habitat com alta relevância econômica

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para o Brasil, tendo no turismo, na pesca e na exploração mineral seus principais alicerces, mas também com grande potencial biotecnológico e energético. Apesar dos recentes avanços de sua conservação no País, apenas 2% de toda essa biodiversidade está protegida. Preocupado com a situação e motivado pela necessidade de mudança, o WWFBrasil lançou, em 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos, o Programa Marinho. “Vivemos um momento crítico na conservação dos recursos marinhos do Brasil, que sofrem com a pesca excessiva, fraca fiscalização, poluição, exploração mineral, necessidade de políticas públicas adequadas para o bioma; a forte especulação imobiliária e consequente ocupação desordenada das cidades costeiras. Nossa atuação nos mares brasileiros visa chamar a atenção da sociedade para essa triste realidade, a importância da saúde dos oceanos para nossas vidas e como podemos nos mobilizar para protegêlos”, explica a coordenadora do Programa Marinho e Mata Atlântica, Anna Carolina Lobo.

Segundo ela, a baixa conservação do mar e da costa brasileira se agrava com a falta de conhecimento sobre o universo marinho. “A população e o governo de uma forma geral consideram que preservar os oceanos é menos urgente do que as florestas. O desconhecimento sobre o que existe debaixo da água leva a uma não priorização dos mares. Mas isso é um engano. Para se ter ideia, 54,7% de todo o oxigênio da Terra é produzido nos oceanos por algas marinhas”, justifica.

no Rio de Janeiro (RJ), local que sediará algumas provas esportivas nas Olimpíadas ano que vem.

Inicialmente, o Programa Marinho contribuirá para a compreensão e o atendimento dos impactos de três áreas: sobrepesca, turismo e poluição. O trabalho será desenvolvido a partir de quatro estratégias: gestão da qualidade de destinos costeiros; engajamento da sociedade; valorização da pesca sustentável; e o fomento a políticas públicas. “Pretendemos trabalhar por meio de parcerias para alcançarmos nossas metas de conservação. No caso do turismo, por exemplo, faremos cooperações com o setor turístico para trabalharmos a qualidade dos destinos costeiros e para engajamento da sociedade no tema”, avalia Lobo.

Inicialmente, as atividades do Programa serão desenvolvidas nas seguintes regiões: Parque Nacional (Parna) Marinho e Área de Proteção Ambiental (APA) Fernando de Noronha; Costas Centro e Sul do Rio de Janeiro, com destaque para o Monumento Natural das Ilhas Cagarras; Reserva da Juatinga e APA Cairuçu.

Para o tema da poluição, assunto tem preocupado o governo e o Comitê Olímpico, será desenvolvido um projeto-piloto de coleta de plásticos flutuantes na Baía da Guabanara,

Segundo Marco Lambertini, diretorgeral do WWF-Internacional, os oceanos se equivalem em riqueza aos países mais ricos do mundo, mas têm alcançado as profundezas de uma economia fracassada. "Como acionistas responsáveis, não podemos manter de forma imprudente a extração de valiosos ativos do oceano sem investir em seu futuro”, afirma.

Para a pesca, as ações terão enfoque na implementação de boas práticas e valorização da pesca sustentável desenvolvida por comunidades tradicionais. Nesse sentido, o Programa já iniciou uma parceria com chefs e restaurantes, por meio da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrael).

No Estado de São Paulo, os trabalhos serão desenvolvidos em unidades de conservação do litoral Norte, incluindo: a APA Marinha Litoral Norte e os Parques Estaduais Ilhabela, Ilha Anchieta e Serra do Mar; além da Estação Ecológica (Esec) Tupinambás, onde está localizada a ilha de Alcatrazes.

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Retrospectiva

SITUAÇÃO DOS OCEANOS NO BRASIL Um relatório divulgado pela OHI-Brasil (Ocean Healthy Index) apresentou o Índice de Saúde do Oceano no Brasil. Dez critérios foram utilizados para avaliar os mares brasileiros. O País recebeu nota baixa em três deles: produtos naturais (não utilização de seus recursos de maneira apropriada); turismo e recreação (falta de infraestrutura) e provisão de alimentos (desenvolvimento da pesca artesanal e aquicultura).

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NOVO ACORDO CLIMÁTICO A PASSOS LENTOS A reunião de Bonn, em que líderes de 190 países discutiram, no início de junho, os textos para o novo acordo climático global, terminou com uma contraposição entre a vontade explicitada por representantes do mundo todo de um planeta mais sustentável e o que realmente entrou no documento que deve ser assinado em Paris.

Representante do WWF-Brasil em Bonn, o especialista em negociações de clima Mark Lutes destaca que a “reunião construiu confiança e abriu caminho para um texto claro de negociação, esclarecendo as principais controvérsias e permitindo negociações reais para começar o acordo de Paris”. Segundo ele, as ações pré2020 receberam atenção considerável, mas a questão crucial de como os países desenvolvidos vão intensificar o seu apoio financeiro não foi abordada.

Foto: Rich Carey / Shutterstock.com

Se, por um lado, Bonn trouxe grandes avanços, como a promessa do G7 de reduzir 40% a 70% das emissões até 2050 e um tão sonhado consenso para o texto sobre as emissões por desmatamento e degradação ambiental, por outro, faltou o compromisso do grupo de países mais importantes do mundo de diminuírem suas emissões até 2020.

O coordenador do programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, André Nahur, ressalta a necessidade de uma maior rapidez nas decisões e prazos mais curtos para que a mudança para uma economia livre de carbono seja possível. “As decisões de Bonn são importantes e mostram uma boa vontade política dos representantes, porém planos para 2050, como anunciou o G7, podem estar longe demais”.

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Foto: Divulgação

Retrospectiva

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PELA PRIMEIRA VEZ, RAIAS GIGANTES SÃO ENCONTRADAS NO PARCEL DOM PEDRO Formação rochosa submersa localiza-se entre a costa de Mongaguá e Itanhaém e é conhecida por pescadores e praticantes de caça submarina. Da Redação

Tratam-se dos primeiros registros históricos da espécie (Manta birostris) naquela área. Os animais já foram

catalogados no Banco Brasileiro de Mantas (BBM). A mais recente avistagem ocorreu no início de junho. Trata-se de um macho de quase 5 metros de envergadura (tamanho de uma 'asa' a outra) . Além do registro fotográfico, os pesquisadores realizaram a coleta do muco que fica envolto ao animal. A substância contém material genético (DNA) e serve para que os cientistas façam uma análise biológica do indivíduo. A equipe composta por mergulhadores, biólogos e oceanógrafos já havia conseguido encontrar uma raia manta fêmea no mesmo lugar, localizada

Foto: Leo Francini - Mantas do Brasil

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esquisadores localizaram quatro raias mantas gigantes em uma região conhecida como Parcel Dom Pedro II, na costa do litoral Sul de São Paulo. Localizado entre a costa de Mongaguá e Itanhaém, a formação rochosa submersa, que oferece risco à navegação, reúne diversidade de vida marinha. No entanto, não é uma área preservada e está sujeita à pesca e à caça submarina.

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Retrospectiva a quase 25 quilômetros da costa. Com comportamento dócil, ela permaneceu próxima da superfície: em alguns momentos foi possível observar as pontas das nadadeiras para fora da água. "A imagem em que verificamos as nadadeiras da manta acima da linha d'água é inédita em nosso litoral", afirma o biólogo do Projeto Mantas do Brasil, Eric Comin. Respectivamente, as mantas foram batizadas como “Oceanográfo”, em homenagem ao dia do profissional, e “Magini”. Dois primeiros registros Os pesquisadores encontraram as duas primeiras raias mantas da história no Parcel Dom Pedro II no início de junho. Ambos animais são fêmeas e possuem envergadura superior a 5 metros de comprimento. A primeira foi batizada como “Juju” e, a outra, como “Maroca”. Os animais estavam

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aparentemente saudáveis, mas apresentavam diversos ferimentos devido ao enrosco em linhas e redes de pesca. Eles ainda não tinham sido catalogados. Caso o aparecimento dessas raias se mostre típico, os estudos do Projeto poderão comprovar um novo ponto de agregação da espécie na costa brasileira. Primeira da temporada Com os quatro registros do Parcel Dom Pedro, chegam a cinco o número de raias gigantes avistadas nesta temporada na costa brasileira. A primeira delas ocorreu no final de março na Ilha da Queimada Grande, em Itanhaém. Batizada de “Help”, trata-se de um macho de aproximadamente quatro metros. Ele tinha cicatrizes ocasionadas por linhas de pesca.

Todas as raias foram identificadas e registradas pelas manchas que possuem no ventre (barriga) - elas funcionam como as digitais humanas. A fotoidentificação permite, por exemplo, delimitar rotas migratórias da espécie na costa brasileira, a partir de um eventual novo registro. Todos estão concentrados na plataforma do BBM, que é de acesso universal. Risco de extinção Completam-se em 2015 dois anos da proibição da pesca predatória de raia manta no Brasil. Foram os integrantes do Instituto Laje Viva, realizador do Projeto Mantas do Brasil, que auxiliaram na intermediação de conversas com o governo federal, fornecendo informações técnicas que demonstram que a espécie gigante está em risco de extinção.


raias mantas da história no Parcel Dom Pedro II

Há 5 anos, o Projeto Mantas do Brasil auxilia na preservação das raias mantas. Entre outras ações realizadas pelos pesquisadores, biólogos e voluntários, está a de educação ambiental, que alcança estudantes de toda a Baixada Santista, bem como

a formação gratuita de mergulhadores, profissionais ou amadores, para a fotoidentificação (a partir de uma foto do ventre) durante eventual encontro subaquático com um animal da espécie por toda a costa brasileira. Os trabalhos de pesquisa e reconhecimento têm o patrocínio oficial da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental desde 2009 e, mais recentemente, com o patrocínio da Companhia Docas de Santos (Codesp), empresa administradora do Porto de Santos, o maior e mais importante complexo portuário da América Latina.

Foto: Leo Francini - Mantas do Brasil

As duas primeiras

"A lei prevê sanções aos pescadores que trouxerem a bordo de suas embarcações o animal morto, ainda que por acidente”, ressalta a coordenadora geral do Projeto, Ana Paula Balboni Coelho.

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MATRIZ CERRO CORÁ

UNIDADE ACLIMAÇÃO

PROJETO TATUAPÉ

PROJETO MOEMA

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