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Ano 8 - No 66 - Janeiro/Fevereiro 2015
RETROSPECTIVA
2014
Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida
R$ 16,00
Doutor Fantástico Dráuzio Varella
Mata Atlântica Paraíso Ameaçado
Pantanal
Patrimônio natural da humanidade
COMER PIMENTÃO TODOS OS DIAS, AJUDA A PREVENIR DOENÇAS CARDIOVASCULARES NA VELHICE.
MAS PODE TE CAUSAR DISTÚRBIO DO RITMO CARDÍACO BEM ANTES. 100
91,8%
DOS PIMENTÕES ESTÃO CONTAMINADOS 0
POR AGROTÓXICOS
PREFIRA ALIMENTOS ORGÂNICOS
Seções
EDITORIAL
ÍNDICE
Oscar Lopes Luiz Presidente do Instituto Neo Mondo oscar@neomondo.org.br
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2014 foi um ano conturbado, mais do que qualquer outro recente. Perdemos os escritores Gabriel Garcia Marques, Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, homens únicos que marcaram a nossa cultura. EUA e Cuba retomaram relações diplomáticas após 53 anos, mas a situação política no Oriente Médio e na África continua nos enchendo de preocupações. Tivemos Copa do Mundo, eleições, Operação Lava Jato, surtos de ebola e dengue, crise hídrica, num mix de avanços e retrocessos nos mais diversos cenários sociais, econômicos e ambientais.
Perfil Doutor Fantástico Médico, escritor, comunicador de sucesso
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Meio ambiente Uma viagem aos biomas brasileiros Pantanal - a maior planície alagada do mundo
Meio ambiente Mata Atlântica Um dos biomas mais ameaçados do planeta
E, como fazemos há 8 anos, nesta edição trazemos em uma retrospectiva especial, para presentearmos nossos leitores, o que de mais relevante abordamos nas páginas no ano anterior. Neste número, relembraremos as primeiras paradas das fantásticas viagens pelos principais biomas brasileiros em 2014: Pantanal, Mata Atlântica e Mangues. Recordaremos também o início da maior crise hídrica de nossa história, quando, ingenuamente, achávamos que o pior cenário já havia sido alcançado. E, para começar esta releitura de 2014, republicamos a entrevista com o médico, escritor e apresentador Drauzio Varella, por nós carinhosamente apelidado de Doutor Fantástico. Para 2015, já estamos a todo vapor na elaboração de pautas para brindarmos os leitores com reportagens especiais abordando as principais questões que envolvem o tema da sustentabilidade no Brasil e no mundo, sempre na esperança da construção de um futuro melhor para nós e nosso planeta. Não deixa de ser curioso relembrar que, para quem se recorda do filme De Volta para o Futuro, lançado em 1989, o futuro era outubro de 2015! Chegamos então ao futuro, mas com muito ainda a conquistar e celebrar! Tenham uma ótima leitura!
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Especial
NEO MONDO, tudo por uma vida melhor!
8 objetivos do milênio 20% da população mundial não tem água
EXPEDIENTE Publisher: Oscar Lopes Luiz Diretora de Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794)
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Água Até a última gota São Paulo vive a maior crise hídrica dos últimos 84 anos
Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Lopes, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794), Andreza Taglietti (MTB 29.146), Lilian Mallagoli Revisão: Instituto NEO MONDO Direção de Arte: LabCom Comunicação Total Projeto Gráfico: LabCom Comunicação Total Foto de Capa: Cortesia do fotógrafo Adriano Gambarini Diretora Jurídica - Enely Verônica Martins (OAB 151.575)
Diretora de Relações Internacionais: Marina Stocco Diretora de Educação - Luciana Mergulhão (mestre em educação) Diretor de Tecnologia - Roberto Areias de Carvalho Correspondência: Instituto NEO MONDO Rua Ministro Américo Marco Antônio n0 204, Sumarezinho São Paulo - SP - CEP 05442-040 Para falar com a NEO MONDO: assinatura@neomondo.org.br redacao@neomondo.org.br trabalheconosco@neomondo.org.br Para anunciar: comercial@neomondo.org.br Tel. (11) 2619-3054 98234-4344 / 97987-1331 Presidente do Instituto NEO MONDO: oscar@neomondo.org.br
PUBLICAÇÃO A Revista NEO MONDO é uma publicação do Instituto NEO MONDO, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça - processo MJ n0 08071.018087/2007-24. Tiragem mensal de 70.000 exemplares distribuídos por mailing VIP e assinaturas em todo o território nacional. Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização. 8
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Perfil
C
ena rotineira: Drauzio Varella entra no saguão do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP), para mais uma visita a seus pacientes internados. Imediatamente, um grupo de pessoas o reconhece e iniciam-se os pedidos de autógrafo, fotos ou até mesmo um conselho médico. Quem presencia a cena, impressiona-se com sua timidez e constrangimento nestas situações. Mas quem tem o prazer de conviver com o profissional alto, sério, de fala mansa, sabe do desconforto genuíno em ocasiões como essa, quando faz questão de ressaltar que não é um astro de TV, mas sim um médico que se aproveita dos meios de comunicação em massa para contribuir, de alguma forma, para o esclarecimento da população em questões relacionadas à saúde. A carreira de escritor de sucesso, por outro lado, começou com a paixão pela leitura. Nota desta repórter que vos escreve: tive a satisfação de conviver por mais de 3 anos com o Dr. Drauzio Varella, por ser o profissional que tratou do câncer da minha mãe. Pediatra, ela sofria com a frieza e distanciamento dos médicos ao tratar de colegas. Após ler o livro o Médico Doente, em que Drauzio conta seu sofrimento ao se ver na condição de paciente grave ao ser acometido por uma febre amarela, identificou-se fortemente com a situação e pediu para conhecê-lo. Por ele e sua equipe, foi acolhida e tratada com carinho e atenção raros na oncologia. Além do médico competente, que não troca o exame clínico pela mais moderna tomografia, conheci um ser humano único.
FANTÁSTICO Por Eleni Lopes
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TV Globo/Zé Paulo Cardeal
DOUTOR
Médico, comunicador e escritor A exposição pública de Drauzio Varella causa uma certa controvérsia, especialmente entre os colegas médicos. Muitos o acusam de oportunismo, mas sem qualquer fundamento prático, talvez até com uma pontada de inveja por seu sucesso e reconhecimento como comunicador e escritor. Quando conduziu recentemente uma série no Fantástico sobre plantas medicinais, muitos o acusaram de estar advogando em prol das indústrias farmacêuticas, desconhecendo seu longo histórico em pesquisas com plantas amazônicas. Casado com a atriz Regina Braga, Drauzio Varella é médico cancerologista, formado pela USP. Nasceu em São Paulo, em 1943. Foi um dos fundadores do Curso pré-vestibular Objetivo, onde lecionou química durante muitos anos. Por 20 anos, dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer, em São Paulo (SP) e, de 1990 a 1992, o serviço de Câncer no Hospital do Ipiranga. NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Perfil Foi um dos pioneiros no tratamento da AIDS, especialmente do sarcoma de Kaposi, no Brasil. Em 1986, sob a orientação do jornalista Fernando Vieira de Melo, iniciou campanhas que visavam ao esclarecimento da população sobre a prevenção à AIDS, primeiro pela rádio Jovem Pan AM e depois pela 89 FM, de São Paulo. Tornou-se famoso ao participar das séries da Rede Globo, sobre o corpo humano, primeiros socorros, gravidez, combate ao tabagismo, planejamento familiar, transplantes e diversas outras, exibidas no Fantástico. Em 1989, iniciou um trabalho de pesquisa sobre a prevalência do vírus HIV na população carcerária da Casa de Detenção do Carandiru, onde também trabalhou como médico voluntário até a desativação do presídio, em setembro de 2002. Isso resultou no best seller Estação Carandiru, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti e inspirou o filme Carandiru. Atualmente, faz o mesmo trabalho na Penitenciária Feminina de São Paulo. É também autor de outros sucessos literários, como Por um Fio e O Médico Doente. Como seu tempo parece render mais que o dos simples mortais, faz pesquisas, participa de congressos internacionais, tem uma coluna quinzenal no jornal Folha de S. Paulo e ainda escreve artigos periódicos para outras publicações. Farmácia amazônica O potencial da biodiversidade brasileira na descoberta de novos fármacos a partir de plantas é imenso. Por isso, Drauzio Varella conduz, na Amazônia, região do baixo rio Negro, um projeto de bioprospecção de plantas brasileiras com o intuito de obter extratos para testá-los experimentalmente em células tumorais malignas e em bactérias resistentes aos antibióticos. Esse projeto, apoiado pela FAPESP, é realizado nos laboratórios da UNIP (Universidade Paulista), em colaboração com o Hospital Sírio-Libanês. O trabalho teve início em 1995, quando ele e o colega Riad Younes decidiram começar uma busca pelo conhecimento de extratos de plantas e árvores em uma região que contém uma das maiores biodiversidades do mundo, até hoje sub-pesquisada. Além dos dois médicos, formam a equipe farmacólogos, biólogos, técnicos e mateiros. O trabalho foi o primeiro projeto de bioprospecção a solicitar autorização junto ao Ibama, e um dos poucos projetos autorizados a conduzir a extração nas áreas sob a responsabilidade do órgão governamental. Ainda de acordo com a autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, órgão que conta com representantes de vários Ministérios,
o projeto não visa nenhum lucro e as eventuais descobertas reverterão em divisas para a sustentabilidade da própria Amazônia. Estão previstas ainda pesquisas com plantas da Mata Atlântica. Trabalho árduo Em entrevista recente Drauzio contou o progresso do projeto pioneiro. “Conseguimos 2,2 mil extratos. Metade foi testada contra células malignas. Cento e noventa demonstraram alguma atividade. Vinte apresentaram bastante atividade. Separamos oito extratos para estudar profundamente. É um processo muito lento. O extrato é um chá. É preciso fazer exames de cromatografia e ressonância magnética para separar as frações”, explicou. “Aí temos que testar cada fração para ver qual delas é a responsável pela atividade. Essa fração é que vai em frente. Vai ser testada em animais, depois em humanos etc. É tudo muito complexo”. Na pesquisa, são avaliadas drogas contra os tumores mais comuns no Brasil: pulmão, mama, colo retal, cérebro e próstata.
LIVROS PUBLICADOS •
Aids Hoje: 3 volumes em colaboração com os médicos Antonio Fernando Varella e Narciso Escaleira.
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Estação Carandiru (Companhia Prêmio Jabuti de 2000.
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Macacos (Publifolha): Faz parte da série Folha Explica.
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Nas Ruas do Brás (Companhia das Letrinhas): Literatura infantil; Prêmio Novos Horizontes da Feira Internacional do livro de Bolonha, Itália, e revelação de autor de literatura infantil na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2001.
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De Braços Para o Alto (Companhia das Letrinhas): Literatura infantil, publicado em 2002.
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Florestas do Rio Negro: Coordenou a elaboração do livro que, sob a editoria científica de Alexandre de Oliveira e Douglas C. Daly, reúne trabalhos de vários colaboradores sobre a biodiversidade botânica da região amazônica e foi indicado para o Prêmio Jabuti em 2002.
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Maré – Vida na favela (Casa das Palavras): Co-autoria: Paola Berenstein, Ivaldo Bertazzo, Drauzio Varella, Pedro Seiblitz (imagens).
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Por um Fio (Companhia das Letras): Publicado em 2004.
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Borboletas da Alma (Companhia das Letras): Publicado em 2006.
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NEO MO NEO NE ONDO O - Jan J eir eiro/F o eve o/F verei reiiroo 201 0155
Letras):
O Médico Doente (Companhia das Letras): Publicado em 2007. •
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das
Globo / Zé Paulo Cardeal
Cabeça do Cachorro (Editora Terrabrasil): Drauzio Varella, Araquém Alcântara e Jefferson Peixoto; ensaio publicado em 2008. NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Ecossistema
NO QUINTAL DO NOSSO
MANGUE Por Andreza Taglietti
Considerado um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, os manguezais contribuem para a biodiversidade, mas são menosprezados pelos projetos de conservação
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uando se fala em ecossistemas ameaçados pela ação humana, logo vêm à mente a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, que sofrem desmatamento acelerado. Menos lembrados são os manguezais, embora tenham importância crucial para a manutenção da vida na costa de forma geral. Considerados um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, contribuem para a biodiversidade de relevância mundial, asseguram a integridade ambiental da faixa costeira e são responsáveis pelo fornecimento dos recursos e serviços ambientais que sustentam atividades econômicas. O Brasil abriga a terceira maior área de manguezais do planeta (162 mil km2). Cerca de 26 mil km2 (cerca de 16% do total) estão distribuídos por 16 estados do território brasileiro, desde o Amapá até Laguna, em Santa Catarina, e são a base da biodiversidade no litoral. Em Pernambuco, existem cerca de 270km2, espalhados por Goiana e Megaó, Itapessoca, Jaguaribe, Canal de Santa Cruz, Timbó, Paratibe, Beberibe, Capibaribe, Jaboatão e Pirapama, Massangana e Tatuoca, Ipojuca, Macaraípe, Sirinhaém, Ilhetas e Mamucabas, Uma e Meireles e Persinunga. Na costa do Amapá, Pará e Maranhão, os manguezais chegam a ter 40 quilômetros de largura e suas árvores alcançam mais de 40 metros de altura. Apesar de sua importância, esse ecossistema é cada vez mais vulnerável a uma série de ameaças, tais como a perda e fragmentação da cobertura vegetal, a deterioração da qualidade dos habitats aquáticos, devido, sobretudo, à poluição e à mudanças na hidrodinâmica, o que tem promovido a diminuição na oferta de recursos dos quais muitas comunidades tradicionais e setores dependem diretamente para sobreviver. Outros fatores que causam alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do manguezal são: aterro e desmatamento; queimadas; deposição de lixo; lançamento de esgoto e de efluentes industriais; dragagens; 14
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construções de marinas; pesca predatória. Estima-se que 25% dos manguezais brasileiros tenham sido destruídos desde o começo do século 20. Além disso, muito dos que ainda existem são classificados como vulneráveis ou ameaçados de extinção. A situação é particularmente séria no Nordeste e no Sudeste, que apresentam um grande nível de fragmentação. Estimativas recentes sugerem que cerca de 40% do que foi um dia uma extensão contínua de manguezais foi suprimido. Hoje, no Brasil, a faixa mais ameaçada é a área conhecida como apicum, palavra de origem tupi que significa “brejo de água salgada”. Os apicuns ocorrem geralmente nas regiões onde as marés têm dificuldade em avançar na costa por encontrar terras elevadas. A água que chega a essas terras se evapora rapidamente e o chão acumula tanto sal que nele sobrevive apenas a vegetação rasteira. Ecossistema-chave Manguezais são inquestionavelmente considerados como uma das organizações mais produtivas do planeta. Na América Tropical, na qualidade de zonas úmidas, são reconhecidos como “ecossistemachave”, cuja preservação é crítica para o funcionamento de outros grupos maiores e mais diversos que se estendem além dos limites de um bosque de mangue. Desempenham importante papel como exportador de matéria orgânica para o estuário, contribuindo para a produtividade primária na zona costeira. Cerca de 70% das espécies de peixes, moluscos e crustáceos pescados comercialmente no litoral brasileiro têm relação com os manguezais em alguma fase de sua vida. É nessa área que encontram as condições ideais para reprodução, berçário, criadouro e abrigo para várias espécies de fauna aquática e terrestre, de valor ecológico e econômico. É comum a coleta dessas espécies que vivem enterradas
na lama para o comércio. A manutenção é vital para a subsistência das comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno. Esse ecossistema também serve de refúgio para aves migratórias. Os mangues do Maranhão e Pernambuco, e também os da região de Cubatão, no litoral paulista, recebem batuíras e maçaricos, aves típicas do norte do Canadá e Estados Unidos, que se recuperam ali após a longa viagem. A vegetação dessas áreas serve para fixar as terras, impedindo assim a erosão e, ao mesmo tempo, estabilizando a costa. As raízes do mangue funcionam como filtros na retenção dos sedimentos. Constitui, ainda, importante banco genético para a recuperação de áreas degradadas. Falta de projetos de preservação O manguezal é considerado, no Brasil, área de preservação permanente, incluído em diversos dispositivos constitucionais (Constituição Federal e Constituições Estaduais) e infraconstitucionais (leis, decretos, resoluções, convenções). Mas sua deterioração é também resultado da ausência de iniciativas, em escala nacional, que visem à sua preservação e ao uso sustentável. Durante muito tempo, os únicos trabalhos produzidos sobre o tema eram de cunho científico, com circulação limitada às universidades e com foco em regiões restritas. O primeiro mapeamento nacional foi feito apenas em 2008, pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Um projeto lançado há três anos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), batizado de Manguezais do Brasil, recebeu financiamento do PNUD, órgão das Nações Unidas que cuida do combate à pobreza e também lida com questões ambientais. Foram escolhidas cinco regiões na costa brasileira, no Pará, Maranhão, Piauí, Paraíba, São Paulo e Paraná, onde serão feitas experiências de gestão e preservação dos recursos. O mapeamento do ecossistema também será atualizado, em parceria com o Ibama e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Espera-se que a iniciativa ajude a preservar os berçários da vida do litoral brasileiro.
Erro conceitual Em outubro de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou 32 modificações no Código Florestal. Determinou que os manguezais de todo o País passassem a ser Área de Preservação Permanente (APP) e também vetou os dois parágrafos da lei que permitiam a municípios e estados decidir sobre a proteção de manguezais e dunas. Os vetos da presidente Dilma Rousseff, no entanto, ao Código Florestal não incluíram o trecho da nova lei que tratava da carcinicultura, a técnica de criação de camarões em viveiros. Segundo especialistas, esta falha é desastrosa para o manguezal no Nordeste, que terá 35% de sua área suscetível a aterros para a implantação de fazendas de camarão. No texto aprovado pelo Congresso Nacional em setembro de 2012, que não sofreu interferência do executivo federal, a prática é permitida em até 10% na Amazônia e até 35% nas demais regiões, inclusive no Nordeste, em apicuns. Para especialistas em ecossistema, um erro conceitual possibilitou a abertura de uma “brecha” para parlamentares que defendiam os interesses dos carcinicultores. Devido a esta falha, a crescente conversão de apicuns em viveiros de camarão reduzirá a produtividade dos estuários. Um exemplo claro é quando consideramos o caso de crustáceos como os caranguejos, que fazem as tocas nestes locais, revolvendo o solo e trazendo nutrientes para a superfície. Quando a maré enche, esse material é transportado para o estuário, contribuindo para a manutenção da cadeia alimentar do estuário e dos mares.
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Ecossistema
O MANGUEBEAT E A MANGUETOWN
O Porto do Capim é uma comunidade de baixa renda localizada às margens do rio Sanhauá, em João Pessoa, na Paraíba. São cerca de 350 famílias pobres vivendo sob condições precárias, morando em casas simples de alvenaria ou barracos de madeira à beira do mangue. Os moradores, em geral, trabalham em oficinas mecânicas e madeireiras próximas, ou como descarregadores de caminhão, entre outras ocupações. Muitos recebem o Bolsa Família, que, porém, não é suficiente para o sustento das famílias. Na comunidade não há posto de saúde, quadra poliesportiva ou equipamentos culturais. E a única escola pública atende apenas alunos da primeira à quarta série do ensino fundamental. A total ausência de opções de lazer e cultura e a necessidade de complementar a renda se traduzem numa triste realidade que acompanha o Porto do Capim há anos. Crianças e adolescentes passam horas coletando caranguejos-uçás e guaiamuns – outro tipo de caranguejo – nos mangues locais para depois vendê-los para a população da cidade. Durante o ano inteiro, eles armam a ratoeira pela beira do mangue para pegarem o guaiamum e depois comercializarem. Durante a andada do caranguejouçá, há muitas crianças dentro do rio. A andada é o período em que há o acasalamento e a desova dos caranguejos-uçás, o que os leva a ficarem mais tempo fora da toca, tornando-os presas fáceis. A cata desses crustáceos é proibida durante essa época. Os meninos também pegam os caranguejos para comer. Muitas vezes precisam levar alguma comida para casa. Mas Porto do Capim é uma amostra da realidade de um universo muito maior. E um problema também. A atividade em mangues é considerada uma das piores formas de trabalho infantil, de acordo com o decreto presidencial 6.481, de 2008. Segundo o documento, nesse tipo de trabalho, crianças e adolescentes são expostos à umidade e excrementos, ferimentos ocasionados por caranguejos, perfurações e picadas de serpentes. Além disso, podem contrair doenças como rinite, resfriado, bronquite, dermatite, leptospirose e hepatite viral. Por isso, é importante reforçar a fiscalização da incidência de trabalho infantil nos mangues, para que as crianças sejam encaminhadas, por exemplo, ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras), ambos do governo federal.
Um estilo musical muito interessante e cheio de ideias inovadoras surgiu no Recife por volta dos anos 1990: o Manguebeat (algo como “ritmo do mangue”, “batida do mangue”). Uma mistura de rock, hip hop e música eletrônica, quase uma música de contestação, para protestar sobre o descaso sofrido pela cultura local, a desigualdade entre as pessoas e também sobre o abandono sofrido pelo mangue. Apesar das raízes do Manguebeat existirem desde a década de 70, com discos do guitarrista Robertinho de Recife, o estilo foi associado à figura do músico Chico Science (1966-1997), que era vocalista da banda Nação Zumbi, em atividade até os dias de hoje. Mesmo depois da morte de Chico Science, o movimento continua vivo e forte, sempre ligado ao seu papel social e representado por bandas como Mundo Livre S/A, Nação Zumbi, Sheik Tosado e Eddie. Inclusive, muitas homenagens foram prestadas a esse ritmo tão especial, como é o caso da estátua do caranguejo - animal símbolo do movimento - construída na rua da Aurora, bairro do Recife.
PROJETO MANGUEZAIS DO BRASIL O Projeto Manguezais do Brasil foi criado pelo Ministério do Meio Ambiente com o objetivo de melhorar a capacidade do Brasil de promover a efetiva conservação e uso sustentável dos recursos em ecossistemas manguezais, baseado no fortalecimento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e na designação de áreas de preservação permanente a todos os manguezais do Brasil. O projeto é executado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade que, para cumprir tal objetivo, busca elaborar uma estratégia de gestão de áreas protegidas para a conservação efetiva de uma amostra representativa dos ecossistemas manguezais no Brasil.
UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DOS MANGUEZAIS Muitas atividades podem ser desenvolvidas no manguezal sem lhe causar prejuízos ou danos, entre elas: • • • • •
Pesca esportiva e de subsistência, evitando a sobrepesca, a pesca de pós-larva, de juvenis e de fêmeas ovadas Cultivo de ostras Cultivo de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias) Criação de abelhas para a produção de mel Desenvolvimento de atividades turísticas, recreativas, educacionais e pesquisa científica
Para celebrar a riqueza deste ecossistema, a revista NEO MONDO desenvolveu um aplicativo especial de Realidade Aumentada, em que você terá a oportunidadede se surpreender com o equilíbrio existente nos mangues. Acesse http://trinitymidia.com.br/ meioambiente.html
Antonio Cícero/FotoArena/AE
Lixo, caranguejos e urubus O manguezal foi sempre considerado um ambiente pouco atrativo e menosprezado. No passado, as manifestações de aversão eram justificadas, pois a presença do mangue estava intimamente associada à febre amarela e à malária. Embora estas enfermidades já tenham sido controladas, a atitude negativa em relação a este ecossistema perdura em expressões populares em que a palavra mangue adquiriu o sentido de desordem, sujeira ou local suspeito. A destruição gratuita, a poluição doméstica e a química das águas, derramamentos de petróleo e aterros mal planejados são os grandes inimigos do manguezal. Nessas regiões, as condições físicas e químicas existentes são muito variáveis, o que limita os seres vivos que ali habitam e as frequentam. Os solos são formados a partir do depósito de siltes (mineral encontrado em alguns tipos de solos), areia e material coloidal trazidos pelos rios. Estes solos são muito moles e ricos em matéria orgânica em decomposição. Em decorrência, são pobres em oxigênio, totalmente retirado por bactérias que o utilizam para decompor a matéria orgânica. Como o oxigênio está sempre em falta nos solos do mangue, as bactérias se utilizam também do enxofre para processar a decomposição. O fator mais importante e limitante na distribuição dos manguezais é a temperatura. Um fato interessante de se observar é a altura das árvores. Na região Norte, podem alcançar até trinta metros. Na região Sul, dificilmente ultrapassam um metro. Quanto mais próximas da linha do Equador, maiores. As plantas se propagam a partir das plantas filhas, chamadas de propágulos, que se desenvolvem ligadas à planta mãe. Esses propágulos soltam-se e se dispersam pela água, até atingirem um local favorável ao seu desenvolvimento. As plantas típicas do mangue se originaram na região do Oceano Índico e se espalharam a partir daí para todos os manguezais do mundo.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHAM NA CATA DE CARANGUEJOS
Divulgação
Além disso, os apicuns, da forma como está no novo Código Florestal, não são considerados Área de Preservação Permanente (APPs), apenas o mangue. Mas o manguezal não é só a floresta de mangue - é nos apicuns que se espraia a água no estuário, na maré alta. Com a ocupação deles, essa água vai invadir as áreas habitadas.
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Meio ambiente
UMA VIAGEM AOS BIOMAS BRASILEIROS Considerado como a maior planície alagada do mundo, o bioma tem a importante função de corredor biogeográfico entre as duas maiores bacias da América do Sul Da Redação
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antanal, maior planície alagada do mundo, se estende por diversos países da América Latina, entre eles Brasil, Bolívia e Paraguai, ocupando uma área total de 210 mil km2. Com a maior parte no território nacional (cerca de 70%), o bioma está presente nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Considerado como um elo de ligação entre as duas maiores bacias da América do Sul (do Prata e da Amazônia), a região pantaneira tem a importante função de corredor biogeográfico, permitindo assim a dispersão e a troca de espécies de fauna e flora entre os lugares. Por esse e por outros motivos, grande parte do Pantanal (e da Bacia Hidrográfica do Prata) é considerada Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, além de estar presente na Constituição Brasileira como Patrimônio Nacional.
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1 Mesmo não possuindo um número muito grande de espécies endêmicas (exclusivas), o bioma tem qualidades de uma “ecorregião”, ou seja, possui características específicas por englobar diversos outros biomas, como o Cerrado (leste, norte e sul), o Chaco (sudoeste), a Amazônia (norte), a Mata Atlântica (sul) e o Bosque Seco Chiquitano (nordeste). Essas peculiaridades, somadas ao regime de cheias e secas, faz com que o Pantanal possua uma variabilidade muito grande de espécies. Em relação ao clima, a região possui temperaturas quentes e úmidas no verão (média de 32 graus) e frias e secas no inverno (em torno de 21 graus). Já a umidade varia de acordo com os meses do ano, sendo, de junho a outubro, a época de secas e, de novembro a maio, a época das cheias. Desta forma, sua precipitação anual gira em torno de 1.000 e 1.400 milímetros.
Pantanal Florestal O Pantanal possui uma vegetação muito rica, com cerca de 1.650 espécies de árvores e arbustos. Por ter a mistura de vários biomas, sua paisagem varia de acordo com a estação e/ou local. Por exemplo, nos períodos de seca, os campos pantaneiros são predominantemente cobertos por gramíneas e vegetações típicas do cerrado. Já nos pontos mais altos, como picos e morros, há o predomínio da flora típica da caatinga, com barrigudas, gravatás e mandacarus, além da ocorrência da vitóriarégia, planta típica da Amazônia. Nas partes alagadas, as v e g e t a ç õ e s flutuantes, como o aguapé e a salvinia, são predominantes. Essas, quando carregadas pelos rios, formam ilhas verdes, chamadas de camalotes. Outra flora existente é a de mata densa e sombria, normalmente encontrada em volta das margens mais elevadas dos rios.
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3 Entre as plantas mais famosas do Pantanal está o Carandá (Copernicia australis), planta da família das arecáceas, de rápida germinação e abundante na forma silvestre, principalmente por ser muito resistente ao frio. Podendo chegar aos 20 metros de altura e 40 centímetros de diâmetro, seu tronco é muito utilizado na indústria madeireira para construção de postes para linhas telefônicas e elétricas.
Tuiuiú (Jabiru mycteria): é uma ave pernalta da família Ciconiidae. Considerada a ave-símbolo do Pantanal, o tuiuiú tem pernas de coloração preta, com plumagem do corpo branca, pescoço nu e preto, e papo nu e vermelho. Chega a ter 1,4 metro de comprimento e mais de 1 metro de altura, além de pesar 8 quilos. Sua alimentação é basicamente composta por peixes, moluscos, répteis, insetos e pequenos mamíferos. Também se alimenta de pescado morto, ajudando a evitar a putrefação dos peixes que morrem por falta de oxigênio nas épocas de seca.
Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus): é um mamífero ruminante da família dos cervídeos. Maior veado da América do Sul, o cervo-do-pantanal tem uma galhada bifurcada, com cinco pontas em cada haste. Muito arisco durante o dia, ficando escondido na maior parte dele, sai à noite às clareiras em grupos de cinco ou mais para alimentar-se de capim, juncos e plantas aquáticas. Embora sua carne não sirva para comer, o cervo-do-pantanal é caçado por causa do couro e galhada.
4 Colhereiro-comum (Platalea leucorodia): é uma ave pernalta da família Threskiornithidae. O nome deriva-se de sua habilidade de colher, através do bico, animais aquáticos para alimentação. Vive em pequenos bandos ou solitariamente e se alimenta de peixes, crustáceos, insetos e moluscos.
Pantanal Animal Assim como a flora, a diversidade da fauna pantaneira também é muito grande, sendo, inclusive, considerada umas das mais ricas do planeta. São cerca de 656 espécies de aves (no Brasil inteiro estão catalogadas cerca de 1.800), 1.132 de borboletas, 122 de mamíferos, 263 espécies de peixes e 93 de répteis. Conheça alguns dos animais do bioma:
Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus): é uma ave da família Psittacidae, que possui plumagem azul com um anel amarelo em torno dos olhos. Reproduz-se a partir dos 3 anos de idade, dando cria a dois filhotes por vez. Alimenta-se, basicamente, de sementes, frutas, insetos e pequenos vertebrados.
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Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare): é um réptil que mede entre dois e três metros de comprimento e seu padrão de coloração é bastante variado, sendo o dorso particularmente escuro, com faixas transversais amarelas, principalmente na região da cauda. Alimenta-se de peixes, moluscos e crustáceos. Suas fezes servem de alimento para muitos peixes. Uma característica interessante sobre este animal é a temperatura corporal, que varia de 25 a 30 graus.
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Pantanal Social e Econômico Roberto Tetsuo Okamura / Shutterstock.com
Com uma população aproximada de 1,1 milhão de pessoas, o Pantanal apresenta uma distribuição geográfica muito desigual, com cidades variando de 12 mil habitantes, como Porto Murtinho (MS), até 500 mil habitantes, como Cuiabá (MT). Entre as atividades econômicas desenvolvidas por essa população, destaca-se a pesca, que tem ligação direta com o turismo e com a sobrevivência da área. Esse tipo de estimulo econômico é o maior gerador de renda dos residentes da região, dividido em três categorias: a pesca de subsistência, que é fonte de alimento das populações ribeirinhas;
A pesca profissional, cuja função é gerar renda aos pescadores, principalmente, na venda de espécies nobres, como pintado, dourado e pacu; e a pesca esportiva, maior atrativo turístico do Pantanal, que recebe, em média, 450 mil pescadores de fora por ano. Outra atividade é a pecuária, que expandiu-se no final do século XIX. Em sua maioria, é feita de maneira extensiva, ou seja, de maneira livre, sem cuidado de manejo. Estes animais (calcula-se que existam cerca de 3,2 milhões de cabeças na área pantaneira) dependem do período de cheia e seca para serem criados, já que, quando há o alagamento das partes baixas, os animais têm que ser levados aos locais mais altos para se alimentar e procriar. Outras atividades econômicas são a mineração e a siderurgia. Expandidas, principalmente, na bacia do Alto Rio Paraguai, estas formas de arrecadação de verbas têm uma importante função no crescimento não só da economia regional, mas também do resto do Brasil. Entre os principais minérios retirados destacam-se o manganês, o ferro, o calcário, o ouro e o diamante, encontrados nos complexos minerais de Maciços do Urucum e de Cuiabá-Cáceres.
Degradação do Pantanal Assim como todos os outros biomas já vistos, o Pantanal também sofre com problemas ambientais de degradação. Um dos processos mais acelerados de destruição está ligado a uma grande fonte de renda da região e do País como um todo: o gasoduto Brasil-Bolívia. A grande necessidade de carvão vegetal para abastecimento dos fornos desses gasodutos faz com que a taxa de desmatamento cresça de forma impressionante. As queimadas são outro problema da região pantaneira.
Além de destruirem o solo, que perde todos os nutrientes, atingem a própria população, que fica contaminada pela fumaça, lotando os postos de saúde com problemas pulmonares, e também os pássaros, que acabam se afastando, também por causa da fumaça. Um terceiro problema é a exploração incessante de algumas espécies de animais e de plantas nativas do bioma, que causa a extinção das mesmas. Além disso, há o comércio ilegal de madeira, que destrói e acaba com as árvores do território.
Curiosidades • A maior cobra do Pantanal, a sucuri amarela mede até 4,5 metros e se alimenta de peixes, aves e pequenos mamíferos. • O tuiuiú, ave-símbolo do Pantanal, tem mais de 2 metros de envergadura com as asas abertas. • Com 1,5 metro de comprimento e 120 quilos, o jaú (bagre gigante) é o maior peixe do Pantanal. • As cheias anuais dos rios da região atingem cerca de 80% do Pantanal e transformam a região em um impressionante lençol d’água, afastando parte da população rural que migra temporariamente para as cidades ou vilas. • O Pantanal brasileiro possui 144.294 km2 de planície alagável, 61,9% dos quais se encontram em Mato Grosso do Sul e 38,1% em Mato Grosso. • O Pantanal atrai cerca de 700 mil turistas por ano, 65% dos quais são pescadores. • Os 210 mil quilômetros quadrados do Pantanal equivalem à soma das áreas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça, Portugal e Holanda. • A onça pintada do Pantanal chega a pesar 150 quilos, alimentando-se de, aproximadamente, 85 espécies de animais que vivem na região. • O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000 como Reserva da Biosfera. Essas reservas, declaradas pela Unesco, são instrumentos de gestão e manejo sustentável integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizadas. • O reduzido desnível da região produz a inundação periódica do Pantanal. Além disso, o relevo faz com que o Rio Paraguai flua bem devagar. Uma canoa à deriva no rio demoraria cerca de seis meses para atravessar o Pantanal. • A cada 24 horas, cerca de 178 bilhões de litros de água entram na planície pantaneira. • Existem mais espécies de aves no Pantanal (656 espécies) do que na América do Norte (cerca de 500) e mais espécies de peixes do que na Europa (263 no Pantanal contra aproximadamente 200 em rios europeus).
Receita Típica p do Pantanal: Furrundum
Ingredientes: • 2 cidras médias (cerca de 1 kg) • 1 rapadura com cerca de 400 gramas de raspadas ou 3 xícaras de açúcar mascavo • 1 colher (sopa) de gengibre fresco ralado • 1 coco grande ralado fino
Preparo: 1. Lave bem as cidras e rale a casca no ralador grosso sem atingir a polpa; 2. Deixe a casca ralada de molho em uma tigela 22
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O quarto problema vem do mar. O tráfico, a caça e a venda de peixes, chamados de sobrepesca, acabam com esses animais, o que influencia diretamente na cadeia alimentar da região, já que muitos outros bichos, inclusive terrestres e voadores, se alimentam da fauna aquática. Outro problema é o assoreamento dos rios, decorrente da pecuária no planalto, fazendo com que diversos sedimentos rolem terreno abaixo até chegaram aos leitos de água. O sexto problema está ligado às atividades mineradoras, que acabam contaminando os lençóis freáticos.
com água fria, trocando a água várias vezes, por algumas horas ou até eliminar o sabor amargo; 3. Escorra e esprema bem; 4. Coloque a casca ralada em uma panela e junte a rapadura ou açúcar mascavo, misturando bem o conteúdo. Acrescente o gengibre e leve ao fogo brando; 5. Deixe cozinhar, mexendo de vez em quando, até o fundo da panela começar a aparecer; 6. Acrescente o coco ralado e continue cozinhando, mexendo sempre, por mais alguns minutos; 7. Tire do fogo e deixe esfriar; 8. Retire pequenas porções da massa e modele formando bolinhas; 9. Coloque em um prato de servir e leve à mesa. Rendimento: cerca de 30 doces. NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Cultura
Exposição "Pantanal: natureza, conservação e cultura”, uma parceria do WWF-Brasil com Adriano Gambarini
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Meio Ambiente
UMA VIAGEM PELOS BIOMAS BRASILEIROS: AMEAÇAS AO PATRIMÔNIO NACIONAL Segundo bioma mais ameaçado de extinção do planeta, a Mata Atlântica abriga uma das maiores biodiversidades do mundo da Redação
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Mata Atlântica, segundo bioma mais ameaçado de extinção do planeta (ficando atrás apenas das florestas de Madagascar), é a região do Brasil que se estende por 17 estados e mais de 3 mil municípios. Considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Federal, ocupa cerca de 102 mil km2 do território nacional. Isso representa apenas 8% do total de mata que existia na chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500 (a área de florestas ocupava 15% do território brasileiro, ou seja, 1.306.421 km2). Apesar de tais dados, levantamentos recentes divulgados pelo Governo Federal apontam um crescimento de 12% na área florestal do bioma. Isso porque a Mata Atlântica possui uma alta propriedade de regeneração. Outros
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dados, divulgados pela fundação SOS Mata Atlântica, mostram uma queda no desmatamento da floresta em oito estados brasileiros. No entanto, alguns estados, como Santa Catarina e Paraná, continuam com altos níveis de destruição. Esse desmatamento e degradação mostram-se como grandes problemas, principalmente porque as 120 milhões de pessoas que vivem na região do bioma dependem da manutenção e dos serviços ambientais prestados tanto na proteção de nascentes e fontes que abastecem as cidades e comunidades do interior, como na regulação do clima, da temperatura, da umidade e das chuvas, na fertilidade do solo ou na proteção das escarpas e encostas de morros de eventuais processos erosivos.
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Meio Ambiente
Mata Atlântica Florestal Independente da área reduzida, a Mata Atlântica continua na lista dos biomas mais ricos do mundo em diversidade de plantas e animais. Entre os vegetais, levando em consideração apenas o grupo das angiospermas (plantas que possuem sementes protegidas dentro dos frutos), acredita-se que a Mata Atlântica possua cerca de 20.000 espécies, ou seja, aproximadamente 35% das existentes em todo o Brasil. Desse total, cerca de 8 mil são endêmicas (exclusivas do bioma). Esses dados fazem com que a floresta seja a mais rica do mundo em árvores. Um exemplo da tamanha diversidade está no sul da Bahia. Em apenas um hectare de terra, foram encontradas 454 espécies distintas de árvores (Veja o quadro comemorativo ao Dia da Árvore). Entre as espécies de frutas exclusivas da Mata Atlântica, destaca-se a jabuticaba (Myrciaria trunciflora), cujo o nome vem da palavra tupi iapoti-kaba, que significa “frutas em botão”. Outras frutas típicas do bioma são a goiaba, o araçá, a pitanga e o caju. Já entre as árvores, o destaque fica para a erva-mate. A partir de suas folhas é produzido o chimarrão, popular bebida da Região Sul do país. No entanto, da mesma maneira que há o lado positivo de se encontrar tantas plantas endêmicas no bioma, há também o lado negativo: grande parte das espécies está ameaçada de extinção. Entre os fatores que contribuem para o desaparecimento das plantas está o consumo exaustivo, como é o caso do pau-brasil, espécie que deu origem ao nome do nosso país. Outros fatores são as queimadas dos terrenos para a criação de gado, o desmatamento e o comércio ilegal. Este último é um dos principais causadores da destruição da vegetação, mesmo com leis que proíbem o plano de manejo. Espécies como o palmito-juçara, as orquídeas e 28
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as bromélias, quase entraram em extinção por causa da exploração intensiva. Plantas medicinais também sofrem muito com o comércio ilegal, sendo retiradas sem quaisquer critérios e planos de reposição.
tridactyla) e o muriqui, também conhecido como mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides). Os motivos para essa ameaça variam muito. Um dos principais é o tráfico de animais. O comercio ilegal no Brasil movimenta cerca de 10 bilhões de dólares por ano. A cada 10 animais traficados, apenas um resiste às pressões da captura e cativeiro. Outro problema é a perda do habitat para outras espécies. Estes “estrangeiros” invadem regiões de onde não são nativos por terem perdido seu próprio lar. Em outra situação, o próprio homem solta espécies não-nativas em locais inapropriados, prejudicando o desenvolvimento das espécies locais. Isso porque os animais de outras regiões multiplicam-se de maneira muito mais acelerada, pois não têm predadores e encontram alimentos abundantes. Um exemplo da soltura indevida aconteceu no Parque Estadual da Ilha Anchieta, em São Paulo. Foram soltas pelo governo, em 1983, 8 cutias e 5 micos-estrelas. Essas espécies multiplicaram-se muito rápido, chegando a ter populações de 1.160 e 654 indivíduos, respectivamente. Como consequência, cerca de 100 espécies de aves, cujos ninhos são predados por esses animais, foram extintas na ilha.
Mata Atlântica Animal A Mata Atlântica possui uma grande diversidade de fauna. Vivem no bioma aproximadamente 1,6 milhão de espécies de animais, incluindo os invertebrados. Grande parte dessas espécies é endêmica, ou seja, não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do planeta. Ao todo, estão catalogadas 270 espécies de mamíferos (73 endêmicas), 849 espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 de répteis e cerca de 350 espécies de peixes. O destaque entre os animais fica para o mico-leão-dourado. Confira sobre esse animal no quadro. Extinção Animal Os anos passam e as espécies ameaçadas de extinção aumentam. Em 1989, a lista publicada pelo Ibama já trazia dados impressionantes, mostrando que 202 espécies de animais eram consideradas oficialmente ameaçadas no Brasil, sendo que 171 viviam nas florestas atlânticas. Em 2003, dados ainda piores foram liberados pelo Ministério do Meio Ambiente. O total de espécies ameaçadas no país subiu para 633, sendo que a maioria reside na região da Mata Atlântica. Das 265 espécies de vertebrados ameaçados, 185 ocorrem nesse bioma (100 endêmicas). Das 160 aves da lista, 118 vivem na região atlântica (49 endêmicas). Das 69 espécies de mamíferos, 38 residem no bioma (25 endêmicas). Dos anfíbios da lista, todas as 16 espécies ameaçadas são exclusivas da Mata Atlântica. Exemplos de animais ameaçados são o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Meio Ambiente
Mata Atlântica Social A Mata Atlântica abriga quase 65% de toda a população do Brasil, ou seja, cerca de 120 milhões de pessoas. Isso porque foi na área original do bioma que os primeiros aglomerados urbanos, pólos industriais e principais metrópoles foram formados. Além da população urbana, nela vivem diferentes tribos com culturas tradicionais, o que faz com que a área tenha uma das maiores diversidades culturais brasileiras. Entre os indígenas, destacam-se os Guaranis. Já entre as culturas tradicionais não-indígenas, o destaque fica com os caiçaras, os quilombolas, os roceiros e os caboclos ribeirinhos. Mesmo possuidora de tal patrimônio cultural, a Mata Atlântica também é muito excludente. Muitas vezes as comunidades ficam marginalizadas da sociedade. Isso ocorre por causa do processo de desenvolvimento desenfreado das redes urbanas, que acabam por deixar de lado essas populações e até, muitas vezes, acabam expulsando os moradores de seus territórios originais. Desmatamento e Degradação Muitos são os fatores que implicam na destruição da Mata Atlântica. Um deles é o avanço das cidades espontâneas, ou seja, aquelas que não são planejadas e acabam por crescer “desgovernadamente”. Esse tipo de crescimento não leva em conta os remanescentes florestais, o que faz com que o bioma seja destruído. Além disso, sem um prévio estudo da melhor maneira de se expandirem, muitos desastres acabam por ocorrer, como deslizamentos e enchentes. Outro fator é o da construção de hidrelétricas, em especial em duas regiões: na da Bacia do Rio Uruguai, que fica na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, e na da Bacia da Ribeira de Iguape, divisa de São Paulo com Paraná. Quando foram construídas, as hidrelétricas alagaram grande parte das áreas ao redor, acabando com a biodiversidade daqueles pontos. 30
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21 de setembro: Dia da Árvore
Um terceiro fator é a atividade mineradora. As regiões do sul de Santa Catarina e as áreas de Minas Gerais e Espírito Santo têm essa atividade ocupando um alto número de hectares da floresta, o que significa que os montantes de impactos ambientais negativos também são grandes. Outra questão importante é o avanço das monoculturas de árvores exóticas e da própria agricultura feita sem planejamento, ordenamento ou controle dos governos estaduais. O desmatamento feito para o plantio de exóticas e de grãos é responsável pela maior parte da atividade destruidora dessas áreas.
No dia 21 de setembro, comemoramos o Dia da Árvore. Formalizada há 30 anos no Brasil, esta data relembra os laços do nosso povo com a cultura indígena. Um desses laços é o amor e respeito pelas árvores. Dia 21 marca também a chegada da primavera no hemisfério sul. Uma das mais belas estações assinala um novo ciclo para o meio ambiente, na qual se recupera a vida na natureza, após os meses de silêncio do inverno.
Fontes: Almanaque Brasil Socioambiental - ISA 2008 - Mundo de Sabores - www.mundodesabores.com.br WWF Brasil - www.wwf.org.br Instituto Ambiental Nova - www.diadaarvore.org.br
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Meio Ambiente
CURIOSIDADES
A cobertura florestal da Mata Atlântica já ocupou quase 15% do território nacional. Hoje, apenas 8% da cobertura original está intacta. Segundo as metas da Conservação da Biodiversidade, precisamos ter 10% de cada bioma preservado em unidades de conservação para que este não entre em extinção em poucos anos. No entanto, o índice da Mata Atlântica mal chega a 3%. A Reserva Biológica de Uma, na região sul da Bahia, possui a maior diversidade de árvores do mundo: cerca de 450 espécies diferentes em apenas um hectare de mata. (dados obtidos através de um estudo realizado por técnicos do Jardim Botânico de Nova Iorque, em 1993)
A UNESCO reconheceu, no começo da década de 90, parte da Mata Atlântica como Reserva da Biosfera. Com uma área total de 290 mil km2, a Reserva estende-se por cerca de 5 mil quilômetros ao longo da costa brasileira. Ao todo, existem quatro espécies de micos-leões, todas exclusivas do Brasil: o mico-leão-dourado, residente da Mata Atlântica de Baixada Costeira do estado do Rio de Janeiro; o mico-leão-dacara-dourada, que mora na região cacaueira do sul da Bahia; o mico-leão-preto, residente do Morro do Diabo, Pontal do Paranapanema (SP); e o mico-leão-da-cara-preta, encontrado na região do Lagamar (Paraná e São Paulo). Destaque para o último, que foi descoberto apenas em 1990.
w w w. n e o m o n d o. o r g . b r
A Mata Atlântica abriga o primeiro parque nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia. Criado em 14 de junho de 1937, entre os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, abriga 360 espécies de aves e 67 espécies de mamíferos.
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Especial
METAS DO MILÊNIO Outro destaque do relatório é a correlação entre a água e as 8 metas de desenvolvimento do milênio. Conheça, abaixo, os principais pontos:
ERRADICAR A EXTREMA POBREZA E A FOME A água é fator crucial de produção, desde a agricultura até o setor de serviços. Segurança alimentar e nutrição adequada reduzem a suscetibilidade às doenças, incluindo diarreia, HIV/AIDS, malária e outras. O acesso à eletricidade é essencial para aprimorar a qualidade de vida. Um dos principais alvos é reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção de pessoas cuja renda diária é inferior a US$ 1 e alguns indicadores estão diretamente relacionados ao emprego de recursos hídricos.
ATINGIR O ENSINO BÁSICO UNIVERSAL A promoção de um ambiente escolar saudável é primordial para atingir o ensino básico universal. Neste aspecto, o acesso à agua potável e saneamento básico nas escolas é essencial.
A ÁGUA E OS 8 OBJETIVOS DO MILÊNIO DA ONU por Eleni Lopes
Relatório Water, a Shared Responsibility traça paralelo entre o uso da água e as Metas de Desenvolvimento Global do Milênio Foto: Shutterstock, Copyright: Klemen Misic
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erca de 20% da população mundial ainda não tem acesso à água potável em razão de políticas fracassadas, afirma o Relatório “Water, a Shared Responsibility” (Água, uma Responsabilidade Compartilhada), desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O documento afirma ser preciso melhores lideranças para que se cumpram as metas de diminuição do número de pessoas sem água até 2015. Descrito como o mais amplo levantamento já feito sobre as fontes de água potável no mundo, o relatório afirma que políticos, empresas e agências de ajuda humanitária têm todos um papel a cumprir para sanar o problema. A ONU alerta ainda que, a não ser que exista um aperfeiçoamento, 34
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PROMOVER A IGUALDADE ENTRE OS SEXOS E A AUTONOMIA DAS MULHERES Garantir a participação feminina nas decisões relacionadas aos recursos hídricos é um dos requisitos levantados pelo relatório da ONU para o alcance desta meta, especialmente pela sua representividade nos esforços pelo desenvolvimento.
regiões como a África subsaariana não vão alcançar as Metas de Desenvolvimento Global do Milênio de cortar pela metade a proporção de pessoas sem acesso à água potável entre 1990 e 2015. As mudanças climáticas globais também estão tendo impactos. O relatório descobriu que rios e depósitos de água de muitas regiões estão secando devido à pouca quantidade de chuva e índices de evaporação mais altos. A rápida urbanização em países em desenvolvimento está afetando a habilidade de seus moradores de conseguirem água, segundo o relatório. Governos e autoridades locais não conseguiram expandir rapidamente as redes de distribuição de água para atender a todos que se mudam para as cidades.
REDUZIR A MORTALIDADE INFANTIL Melhorias no acesso à água potável e saneamento básico são fundamentais na prevenção da diarreia, uma das principais causas da mortalidade infantil, bem como da esquitossomose e outras doenças infantis.
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Especial
CURIOSIDADES E ESTATÍSTICAS MELHORAR A SAÚDE MATERNA Complicações na gravidez ou no parto matam mais de meio milhão de mulheres por ano e cerca de 10 milhões ficam com sequelas. O relatório destaca a importância da água limpa no pré e pós-parto, além da alimentação adequada e do saneamento básico na gravidez.
COMBATER O HIV/AIDS, A MALÁRIA E OUTRAS DOENÇAS E, mais uma vez, água potável, alimentação adequada e saneamento básico são essenciais para que este objetivo seja alcançado.
Irrigação e produção de alimentos constituem as maiores pressões sobre os recursos de água doce. A agricultura é responsável por cerca de 70% do emprego mundial de água doce. O custo de adaptação aos impactos de um aumento de 2°C na temperatura média global pode variar de US$ 70 a US$ 100 bilhões por ano entre 2020 e 2050, segundo o Banco Mundial.
De acordo com o Relatório Mundial de Desenvolvimento da Água da ONU, é por meio da água e sua qualidade que as pessoas vão sentir o impacto da mudança climática mais drasticamente.
A coleta de água deve se tornar cada vez mais difícil devido às mudanças climáticas. As pessoas que vivem num raio de 60 quilômetros da costa marítima - um terço da população do mundo - serão especialmente atingidos, pois são mais suscetíveis ao aumento da salinidade das fontes de água potável costeiras.
Para o Programa Mundial de Avaliação da Água, a variabilidade climática, a gestão dos recursos hídricos e o desenvolvimento econômico estão intimamente ligados. Vulnerabilidade aos desastres naturais que afetam o abastecimento de água prejudica o desempenho econômico.
Segundo a Unesco, existem 276 bacias hidrográficas transfronteiriças no mundo (64 na África, 60 na Ásia, 68 na Europa, 46 na América do Norte e 38 na América do Sul). O volume total de água na Terra é de cerca de 1,4 bilhão de km³. O volume de recursos de água doce é de cerca de 35 milhões de km³ , ou cerca de 2,5% do total. Desses recursos de água doce, cerca de 24 milhões de km³, ou 70%, estão na forma de gelo e cobertura de neve permanente em regiões montanhosas, na Antártida e no Ártico.
A ONU sugere que cada pessoa precisa de 20 a 50 litros de água por dia para garantir suas necessidades básicas. Hoje 2,5 bilhões de pessoas - quase um bilhão de crianças - vivem sem saneamento básico. A cada 20 segundos, uma criança morre por complicações decorrentes da falta de saneamento. Cerca de 90% das águas residuais nos países em desenvolvimento flui sem tratamento para rios, lagos e zonas costeiras.
GARANTIR A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Ecossistemas saudáveis são essenciais para a manutenção da biodiversidade e do bem-estar humano. Dependemos deles para água potável, segurança alimentar e uma grande gama de bens e serviços.
ESTABELECER UMA PARCERIA MUNDIAL PARA O DESENVOLVIMENTO A importância estratégica dos recursos hídricos deve ser fator-chave nas decisões governamentais, uma vez que contribuem para o desenvolvimento social, ambiental e econômico. Parcerias para o desenvolvimento devem reconhecer o papel fundamental da água potável e do saneamento básico para o desenvolvimento social e econômico.
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015 Foto: Shutterstock, Copyright: Gary Yim
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Água
ATÉ A ÚLTIMA
GOTA Olivia Alonso | Valor
Represa Jaguarí - Sistema Cantareira
Por Lilian Mallagoli
São Paulo vive a maior crise hídrica dos últimos 84 anos. Ainda que a falta de chuva tenha contribuído, poluição, vazamentos, falta de planejamento e a cultura de abundância são causas determinantes para esse panorama
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os 43,6 milhões de habitantes do estado de São Paulo, 9,8 milhões, ou mais de 22%, recebem água do reservatório do Sistema Cantareira. Em maio, sua capacidade chegou a apenas um dígito pela primeira vez na história: 9,2%, segundo a Companhia de Saneamento Básico (Sabesp). Um ano antes, esse índice era de 60%. A taxa em constante declínio passou a ser acompanhada diariamente pela população, como em uma contagem regressiva. Chegando a zero, como será o abastecimento? O que houve para o estado mais rico do Brasil perder o controle sobre um dos seus principais reservatórios em um período tão curto? De fato, choveu menos no sistema formado principalmente pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A média histórica de chuvas é de 259 mm em janeiro e, este ano, foram registrados 87 mm. Nunca choveu tão pouco desde o início da medição, há 84 anos. Especialistas afirmam, contudo, que a chuva não pode ser a única culpada. Outros países passam por estiagens e seus cidadãos não ficam sem água potável. “O fenômeno meteorológico ocorrido faz parte dos ciclos naturais de variação da frequência e intensidade das precipitações que não podem ser ignorados nos projetos dos sistemas de abastecimento de água, que devem ter capacidade para atender os usuários”, divulgou em seu blog o engenheiro e consultor em saneamento e meio ambiente Julio Cerqueira Cesar Neto, um dos maiores nomes na área. “A seca no Cantareira se deve à ausência de investimentos pelo governo estadual (Sabesp) em novos mananciais para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) após a conclusão do próprio Sistema Cantareira, há 30 anos, período no qual a população aumentou de 12 milhões para 22 milhões de habitantes”, completou. Pelo ralo O Brasil é o quarto maior consumidor de água no mundo, atrás da China, Índia e Estados Unidos. Pode-se dizer que o País tem posição de vantagem – concentra 12% da água doce do globo, mas apenas 3% da população mundial. Porém, boa parte dessa água está em
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- JJan Jaaneeir irro/F Feeve evvvere reeiiroo 20 rei 201 201 015
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Água
FERNANDO DE NORONHA: PROBLEMAS NO PARAÍSO www.ulbra.br/gravatai
Volume morto Em março, a Sabesp iniciou obras de R$ 80 milhões para a captação do “volume morto”, água que fica no fundo do reservatório, abaixo dos tubos que puxam e mandam água para as estações; serão 200 bilhões de litros retirados dos 400 bilhões existentes. Começou a ser usado em 15 de maio, quando o nível do sistema pulou de 8,2% para 26,7%. Porém, chegou a 25,7% no dia 19, mesmo depois de ter chovido no sistema. Técnicos afirmaram que a chuva não recuperaria a água porque o solo, totalmente seco, a absorveria no primeiro momento. Até o chão tem sede.
Também em março, foi anunciado que a ilha de Fernando de Noronha sofria a pior seca dos últimos 50 anos. A região estava sem chuva desde junho de 2013, o que secou seu principal açude, e os mais de 3 mil habitantes e turistas estavam sujeitos a cortes de água e sobreviviam com o que vinha da única usina dessalinizadora do local, que transforma água do mar em potável, insuficiente para todos. A prefeitura dividiu o território em oito áreas, e cada uma passou a receber água a cada nove dias. Houve protestos e o bloqueio da única estrada da ilha. Com produção de 27 m3 por hora, a água da dessalinizadora é distribuída por caminhões-pipa nos 17 km da ilha. A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) propôs então uma obra emergencial de ampliação, com custo de R$ 4,7 milhões, que permitiria a dessalinização de 60 m3 por hora, e que acabaria com o problema. A obra tem previsão de ficar pronta em setembro. Mas talvez São Pedro seja mais amigo do administrador-geral de Noronha do que do governador de São Paulo: do fim de março a 15 de abril, choveu 240 mm na ilha, o correspondente a 85% da média para todo o mês.
Açude do Xaréu
Divulgação
Marcelo Jorge Loureiro
regiões remotas, e áreas urbanizadas são consideradas propensas a enfrentar escassez e exigem mais planejamento e ação, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). Ainda que haja bacias em volta da capital, a água tem péssima qualidade devido ao esgoto não tratado e lançado diretamente em rios próximos. Esses rios também correm para o interior, espalhando poluentes. A saída é buscar o bem em regiões ainda mais distantes. Técnicos estimam que entre 20% e 25% de toda a água produzida no estado não chega a ser consumida por ninguém: simplesmente se perde em vazamentos nas tubulações. A quantidade parece razoável quando comparada à média brasileira de 40%, mas está longe das de outros países: 10% na Europa e Estados Unidos e 8% no Japão. Um levantamento da Sabesp mostrou que o sistema de abastecimento tem mais de trinta anos de uso. Para atualizar essa rede, é preciso investimento, os custos podem se tornar incalculáveis quando se considera a interrupção de circulação e a quebra das vias. Trazer água de cada vez mais longe pode ser o meio mais barato de prover abastecimento, mas é também o mais atrasado e, agora, o menos possível. Assim, o primeiro passo para economizar é evitar o desperdício e reeducar a população brasileira acostumada à abundância. É necessário trocar equipamentos hidráulicos antigos: os vasos sanitários, por exemplo, foram projetados para eliminar 20 litros de água por descarga; em 1982, uma norma passou a recomendar seis litros. Em larga escala, o reúso da água é a melhor solução para a crise. É possível tratar a água usada no chuveiro ou na máquina de lavar para usar em carros e quintais. Pode-se também purificar o que vai para o esgoto; apesar de soar anti-higiênica, a técnica funciona e leva água potável para as torneiras. Os 3 milhões de habitantes de Orange County, na Califórnia (EUA), bebem dessa água há décadas, além dos turistas que visitam o local e que não são poucos: a cidade abriga a Disneylândia.
Estação de Dessalinização
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Reuters | Paulo Whitaker
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Aquecimento global
DESESPERO NO GELO De acordo com o Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o século XX foi o mais quente dos últimos cinco, com aumento de temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C Por Eleni Lopes
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Onda de calor? Culpa do aquecimento global. Esfriou demais? Debita na conta do efeito estufa. Tsunamis? Furacões? Seca? El Niño? Aumento do nível dos mares? O responsável é sempre o mesmo.
P
ara melhor entender este cenário, imagine a Terra como um carro estacionado sob o Sol. Os raios solares entram pelas janelas do carro; uma parte do calor é absorvida pelos assentos, painel, carpete e tapetes. Quando esses objetos liberam o calor, este não sai pelas janelas por completo. Uma parte é refletida de volta para o interior do carro. O calor irradiado pelos assentos é de um comprimento de onda diferente do da luz do Sol que entrou pelas janelas. Então uma certa quantidade de energia entra e menos quantidade de energia sai. O resultado é um aumento gradual na temperatura interna do carro. No nosso paralelo com a Terra, quando os raios solares chegam à atmosfera
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Aquecimento global e à superfície do planeta, aproximadamente 70% da energia fica no planeta, absorvida pelo solo, pelos oceanos, pelas plantas e outros. Os 30% restantes são refletidos no espaço pelas nuvens e outras superfícies refletivas. Mas, mesmo os 70% que passam, não ficam na Terra para sempre (se isso acontecesse ela se tornaria uma bola de fogo). Parte vai para o espaço e o resto é refletido em gases ao redor da atmosfera, tais como dióxido de carbono, gás metano e vapor de água (conheça mais no box). O calor que não sai pela atmosfera terrestre mantém o planeta mais quente do que o espaço sideral, porque mais energia está entrando pela atmosfera do que saindo. Isso tudo faz parte do chamado efeito estufa. Desta forma, o aquecimento global é uma consequência das alterações climáticas ocorridas no planeta. De acordo com o Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o século XX foi o mais quente dos últimos cinco, com aumento de temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C. Esse aumento pode parecer insignificante, mas é suficiente para modificar todo clima de uma região e afetar profundamente a biodiversidade, desencadeando vários desastres ambientais.
Cenário alarmista? Em 1997, em busca de alternativas para minimizar o aquecimento global, 162 países assinaram o Protocolo de Kyoto. Nele, as nações desenvolvidas se comprometiam a reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990. Essa meta teria que ser cumprida entre 2008 e 2012. Dezessete anos depois da assinatura, uma certeza: muito pouco foi feito. Qual o impacto de promessas não cumpridas, iniciativas que não saíram do papel? Alguns exemplos: - O derretimento das calotas polares é um fenômeno verificado nas últimas décadas e está diretamente relacionado ao aquecimento global. Estudo recente divulgado pela
também merece atenção. No Nordeste, o aumento das temperaturas poderá oscilar, nas próximas décadas, entre 2ºC e 4ºC. De acordo com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o principal e mais alarmante efeito possível do aquecimento global no Brasil é a redução da Floresta Amazônica, que poderá perder entre 30% e 50% de seu território durante o século XXI. Um estudo do Banco Mundial, intitulado “Impactos da Mudança Climática na Gestão de Recursos Hídricos: Desafios e Oportunidades no Nordeste do Brasil”, aponta ainda que a variabilidade das chuvas e a intensidade das secas no Nordeste continuarão aumentando até 2050, com graves efeitos para a população, caso os governos locais não invistam em infraestrutura e gestão hídrica.
Gases tóxicos Conheça um pouco mais dos gases que contribuem para o aumento do efeito estufa:
revista Science mostra que o derretimento anual de 4.260 bilhões de toneladas de gelo na Antártida e na Groenlândia, em um período de quase 20 anos, aumentou em 11 milímetros o nível do mar — o equivalente a um quinto do aumento observado no período. - Os efeitos mais devastadores e também os mais difíceis de ser previstos são aqueles na biodiversidade. Muitos ecossistemas são delicados e a mais sutil mudança pode matar várias espécies. E mais: a maioria dos ecossistemas são interconectados então a reação em cadeia dos efeitos é hoje imensurável. - Outras consequências do aquecimento global são a desertificação, alteração do regime das chuvas, intensificação das secas em determinados locais, escassez de água, abundância de chuvas em algumas localidades, tempestades, furacões, inundações, alterações de ecossistemas, redução da biodiversidade, perda de áreas férteis para a agricultura, além da disseminação de doenças como a malária, esquistossomose e febre amarela. - O IPCC estima que o nível do mar tenha subido 17 centímetros durante o século 20. Projeções feitas por cientistas mostram que até 2100 o nível do mar vai subir de 18 a 55 cm.
Impacto no Brasil O Brasil, por ser um país com dimensões consideradas continentais, acaba, inevitavelmente, ficando mais exposto aos riscos provocados pelo aquecimento global. Além disso, uma considerável parte de seu território encontra-se próxima à Linha do Equador, zona da Terra que recebe os raios solares de forma mais intensa. Além disso, o fato de o território brasileiro apresentar uma extensa faixa litorânea
- Dióxido de carbono (CO2): gás incolor, subproduto da combustão de matéria orgânica. A atividade humana bombeia enormes quantidades de CO2 na atmosfera. O aumento de sua concentração é considerado o fator primário no aquecimento global, porque o CO2 absorve radiação infravermelha.
- Óxido Nitroso (N2O): embora as quantidades liberadas pela atividade humana não sejam tão grandes quanto as de CO2, o óxido nitroso absorve muito mais energia do que CO2 (cerca de duzentas e setenta vezes mais). Por esse motivo, os esforços para que sejam reduzidas as emissões de gás estufa têm sido direcionados para o N2O também.
- Metano: principal componente do gás natural, ocorre naturalmente, oriundo da decomposição de material orgânico. Atividades desenvolvidas pelo homem produzem o metano de várias formas, como, por exemplo: • extração do carvão; • a partir de grandes rebanhos de gado (por exemplo, gases digestivos); • decomposição do lixo em aterros.
Urso polar: vítima inocente Habitante das terras geladas do Ártico, o urso polar sobrevive a uma temperatura que varia de -37°C a -45°C, graças a duas camadas de pele e uma camada de gordura de 11,5 cm de espessura que fazem o isolamento térmico de seu corpo. O animal é encontrado apenas em cinco países: Estados Unidos, Canadá, Rússia, Noruega e Groenlândia. Carismáticos, são considerados os símbolos do aquecimento global. A espécie está classificada como “vulnerável” pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), com oito das dezenove subpopulações em declínio. O principal perigo causado pela mudança climática é a desnutrição e inanição devido à perda do habitat. Os ursos-polares caçam focas nas plataformas de gelo, e a elevação da temperatura pode fazer com que o gelo do mar derreta mais cedo a cada ano, levando os ursos para a costa antes de terem constituido reservas de gordura suficientes para sobreviver ao período de carência alimentar no final do verão e início do outono. A redução da cobertura de gelo também força os ursos a nadarem
longas distâncias, o que esgota ainda mais seus estoques de energia e, ocasionalmente, leva ao afogamento. Além de criar estresse nutricional, o aquecimento climático afeta vários outros aspectos da vida do ursopolar, como a capacidade das fêmeas grávidas em construir tocas de maternidade adequadas devido às mudanças nas plataformas de gelo. Doenças causadas por bactérias e parasitas também podem se estabelecer mais rapidamente num clima mais quente, afetando a espécie.
China, Estados Unidos, Rússia, Índia, Brasil, Japão, Alemanha, Canadá, Reino Unido e Coreia do Sul são os principais emissores dos gases do efeito estufa. 44
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À NOVA FASE DE ABROLHOS Localizado no extremo sul da Bahia, na região de maior biodiversidade do Atlântico Sul e um dos principais berçários de baleias jubartes do mundo, o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, com 880 km², recebe recursos para consolidação das unidades de conservação Por Andreza Taglietti
A
quisição de botes e lanchas. Manutenção de motores. Equipamentos de vigilância. Segurança. Poluição ambiental. Mudanças climáticas. Reservas extrativistas. Pesca predatória. Peixe budião-azul. Baleia jubarte. Fiscalização. Uso sustentável dos recursos naturais. Conservação de uma extensão de 880km2. Medida certa do turismo. Legislação. Mobilização da
sociedade civil. Colaboração. Pessoas. Mais pessoas. Como faz? Todos esses itens estão no dia a dia dos gestores do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, localizado no extremo Sul da Bahia - em uma das regiões de maior biodiversidade do Atlântico Sul e um dos principais berçários de baleias jubarte do mundo. O Parque é um Posto Avançado
da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica desde 2003 e Sítio RAMSAR desde 2010, títulos que evidenciam a importância do local mundialmente. Há três meses, outro assunto entrou na pauta dos gestores de Abrolhos - uma fatia do investimento de US$ 116 milhões que serão destinados às áreas protegidas costeiras e marinhas do País nos próximos cinco anos por um programa chamado GEF Mar. O valor inclui R$ 18 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e US$ 98 milhões em recursos de contrapartida da Petrobras e do governo brasileiro (US$ 90 milhões da empresa e US$ 8 milhões somados do ICMBio e do Ministério do Meio Ambiente). De acordo com Ricardo Jerozolimski, chefe do Parque, esse investimento será muito importante para o apoio à consolidação das unidades de conservação (UCs) envolvidas no programa. Ajudará também na aquisição de mais embarcações, instalações e manutenção de centro de visitantes, contratação de serviços e nos projetos de ampliação da proteção das áreas marinhas.
Abrolhos Hoje Em 2013, Abrolhos recebeu 4.344 visitas, 6% a mais que no ano anterior. Foram realizadas doze pesquisas científicas, sendo duas expedições para realização do monitoramento recifal (Reef-Check). Além disso, o Conselho Consultivo foi renovado e foi publicada a Portaria de Autorização de Uso para as empresas que operam turismo no Parque.
expedições e os monitoramentos acontecem já há muitos anos, como a observação de aves, baleias e corais”.
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Meio Ambiente
que recebe estudantes do ensino médio e superior de várias escolas brasileiras e do exterior para atividades de, no mínimo, vinte dias acompanhando os monitores no arquipélago e no continente. “Além do turismo, nós prestamos apoio para a realização de pesquisas científicas e monitoramentos da biodiversidade ao longo de todo ano”, conta Jerozolimski. “Mantemos um alojamento no arquipélago, o que possibilita a realização de diversas
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Hoje, o conselho é formado por 22 instituições que representam diferentes setores da sociedade civil e governo. Ao longo dos 30 anos de existência, as relações com a população local tiveram diferentes momentos. “Atualmente, temos desenvolvido e apoiado diversas atividades de educação ambiental e comunicação comunitária junto à comunidade local, buscando uma
Segundo Jerozolimski, o ICMBio tem investido bastante na capacitação de seus servidores em diversas áreas do conhecimento. Para trabalhar no Parque, o profissional deve ter afinidade com assuntos relacionados ao bioma marinho, principalmente turismo, pesquisa e fiscalização. As unidades de conservação marinhas da região estão iniciando um planejamento integrado de ações que possibilitará aumentar a efetividade dos resultados da gestão.
Pesca A equipe é composta hoje por três servidores, sendo dois analistas ambientais e um técnico ambiental. Há também funcionários terceirizados que dão suporte para as atividades que são desenvolvidas - vigilantes patrimoniais, serviços gerais, monitores ambientais e tripulação, somando cerca de vinte funcionários. O parque conta também com o Programa de Voluntariado,
A crise mundial da pesca está forçando pescadores a recorrer a soluções questionáveis em busca dos melhores peixes. Em Abrolhos, a pesca ilegal e a sobrepesca são constantes, os pescadores se arriscam bastante e há populações marinhas que estão sendo reduzidas a menos de 50%. “A comunidade local trabalha muito e ajuda a manter e criar as reservas. O grande problema são os pescadores que não fazem parte desse grupo. Eles têm a filosofia de “pescar até acabar” e não estão interessados num diálogo mais amplo”, diz Guilherme Dutra, diretor do Programa Marinho da organização Conservação Internacional (CI Brasil). “Colaboração e incentivo são necessários para que as pessoas entendam que manter algumas áreas onde a pesca seja proibida pode ser benéfico, pois, esses locais, ao serem protegidos, permitem às espécies terem lugares para se alimentar, abrigar e reproduzir”, ressalta Jerozolimski. O peixe budião-azul, por exemplo, corre risco de
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Algumas atividades são realizadas em conjunto com a Resex do Corumbau e com a Resex do Cassurubá, o que permite a integração de planejamentos para otimizar a infraestrutura e de pessoal nas unidades de conservação marinhas da região. As parcerias com instituições colaboradoras também fortalecem a gestão destas unidades.
aproximação cada vez maior”, conta Jerozolimski. Esse relacionamento deve se intensificar com a retomada das discussões sobre a ampliação e criação de novas unidades de conservação federais na região. O ICMBio tem também uma grande aproximação com a população local, por meio da gestão das reservas extrativistas da região, que possuem o objetivo principal de manter áreas para as populações tradicionais beneficiárias fazerem o uso sustentável dos recursos naturais.
extinção. “Ele é um peixe importante porque se alimenta de algas que crescem nos corais. Sem o budião-azul, há um desequilíbrio nos recifes, as algas crescem muito, sufocam e matam os corais”, explica Guilherme Dutra.
mais tempo debaixo d´água - o tempo que quiserem. E traz à tona uma série de riscos para os pescadores, tais como mortes, ferimentos e outras sequelas, por conta da respiração coordenada de forma incorreta.
Pesca de mergulho ou pesca de compressor. O porto de Alcobaça é o maior centro dessa prática na região. O pescador mergulha em altas profundidades, com apenas um arpão na mão e uma mangueira de ar entre os dentes, em busca de badejos e garoupas entocados nos recifes, os quais nem as redes e nem os anzóis conseguem levar para a superfície - e praticamente já desapareceram de água mais rasas, pescados à exaustão. O ar é bombeado da superfície por compressores acoplados ao motor do barco, em vez de carregado nas costas de um cilindro. Isso permite que os pescadores passem muito
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Meio Ambiente
O problema no caso das garoupas e
badejos, o alvo favorito dessa atividade, é que os peixes mais visados pelos caçadores são justamente aqueles que não se deveria matar. Eles são hermafroditas. Todos nascem fêmeas e apenas alguns indivíduos se tornam machos dentro de uma população. São os peixes maiores e, portanto, os mais cobiçados pelos caçadores. Nessas espécies, a proporção é de um macho para cada dez fêmeas. Quando um macho é removido da população, uma
região e de outras partes do país para atividades de Educação Ambiental.
Turismo
O mergulho autônomo no interior do Parque pode ser realizado em recifes ao redor das ilhas, chapeirões (que são estruturas recifais que só existem em Abrolhos), naufrágios e mergulho noturno. Para isso, a presença de condutores de mergulho é obrigatória. Eles são mergulhadores profissionais da comunidade local treinados para levar os turistas para mergulhar no Parque, contribuindo para uma maior segurança e controle de possíveis impactos ambientais. O turista também pode fazer uma caminhada em uma das ilhas do arquipélago e ver de perto colônias de aves marinhas, a vegetação e a geologia do local.
A visibilidade e temperatura da água, aliada a grande diversidade de vida, fazem do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos um dos melhores lugares para a prática do mergulho contemplativo do Brasil. O Parque está aberto à visitação e lá o turista tem a oportunidade de conhecer e mergulhar num local repleto de vida e história. De julho a novembro, a região recebe a visita de milhares de baleias jubarte, que vêm dos mares da Antártida para se acasalar e reproduzir e se tornam a grande atração para os turistas, que podem vê-las a cem metros de distância. O Centro de Visitantes em Caravelas é uma grande atração do extremo sul baiano e recebe escolas da
O turismo pode gerar, além de empregos e renda para a população local, a conscientização das pessoas e motivar a vontade de conhecer cada vez mais e se engajar na conservação do meio ambiente. Todavia, como qualquer outra atividade, precisa ser controlada e bem administrada. Para isso o Parque tem um Plano de Uso Público desde 2005, que organiza e define os locais para visitação, as normas e as atividades. As operadoras estão alinhadas com os gestores e estão passando pelo momento de credenciamento, segundo as novas prerrogativas da Portaria de Autorização de Uso. Os barcos privados que levam os turistas partem de Caravelas
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Perspectivas
fêmea dominante muda de sexo para ocupar seu lugar, mas a transformação não é imediata, e só terá efeito prático na reprodução do ano seguinte.
Os profissionais envolvidos na gestão do Parque têm boas perspectivas para o novo momento de Abrolhos. Em janeiro, foi lançada a campanha “Adote Abrolhos” (vide box), além do investimento anunciado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Ricardo Jerozolimski diz que o pior momento de uma unidade de conservação é quando ela não tem perspectivas de curto, médio ou longo prazos. “No caso do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, com a perspectiva
“A expectativa é mudar o que temos hoje e adotar um modelo de pesca sustentável na região. Para isso, o primeiro passo é fazer um diagnóstico – como está a pescaria hoje? Como mudar a prática da pesca dentro de um equilíbrio considerando estoque e capacidade de reposição das espécies?”, diz Guilherme Dutra.
atual da entrada de recursos, com a vinda prevista de mais dois servidores, com a crescente gestão integrada entre as áreas protegidas da região e com o grande apoio das ONGs envolvidas em campanhas como a Adote Abrolhos, vejo a unidade em um momento bem promissor”. Guilherme Dutra aposta numa mudança de realidade. Segundo ele, também é preciso olhar para a ampliação da proteção das unidades, criar outras reservas e fazer uma gestão integrada das áreas protegidas.
Vale visitar: Acervo Museu da Pessoa O Museu da Pessoa, que há 20 anos registra histórias de indivíduos para transformá-las em fontes de conhecimento, destacou em seu acervo histórias de quem cultiva uma estreita ligação com o mar e, desde cedo, aprendeu a respeitar as espécies marinhas. O Museu da Pessoa é um museu virtual e colaborativo de relatos de vida. Toda e qualquer pessoa é convidada a contar histórias e a explorar o acervo de narrativas em textos, imagens, vídeos e áudios. http://www.museudapessoa.net/
(Bahia) e têm dispositivos para minimizar a poluição ambiental. “O turismo é uma atividade muito importante para Abrolhos e gera renda para a região. Temos conversado muito com as operadoras para incentiválo e fomentá-lo de forma responsável. Precisamos viabilizar outras maneiras de acesso ao parque. Hoje o aeroporto mais próximo é o de Porto Seguro”, diz Guilherme Dutra.
Saiba Mais: Campanha Adote Abrolhos
Os hotéis da região, restaurantes e postos de gasolina contribuem para que o turista faça um bom passeio ao Parque. Os governos municipais e estaduais estão mostrando cada vez mais interesse em impulsionar o turismo no local, como a implementação da Câmara de Turismo da Costa das Baleias pelo Governo do Estado da Bahia, as parcerias com o SEBRAE e os programas do Ministério do Turismo.
Com o objetivo de aumentar a proteção da região de Abrolhos, importante para a biodiversidade e a economia brasileiras, a Aliança para a Conservação Marinha – uma parceria entre as ONGs Conservação Internacional (CI) e Fundação SOS Mata Atlântica – lançou em janeiro a campanha “Adote Abrolhos – É do Brasil. É do mundo. É nosso”.
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A pesca de mergulho com compressor tem potencial para ser a forma mais seletiva e sustentável de pescaria no mar, desde que a seleção dos peixes seja feita de forma ecologicamente correta, sem prejuízo para a reprodução das espécies. Do ponto de vista legal, a pesca de compressor não é regulamentada, mas também não é proibida explicitamente em nenhuma lei para a captura de peixes, apenas de lagosta.
Por meio de ferramentas online, como um álbum de figurinhas virtual e um concurso cultural que selecionará quatro ganhadores para visitar a região, a iniciativa tem o objetivo de engajar o público em ações que contribuam para a conservação de Abrolhos, para apoiar a implementação e criação de áreas marinhas protegidas e para o desenvolvimento sustentável da pesca e do turismo. A campanha foi criada para aumentar a proteção da região com a maior biodiversidade marinha de todo o Atlântico Sul. No entanto, a área sofre diversas ameaças, como a pesca excessiva, o desmatamento nas bacias hidrográficas, as mudanças climáticas, entre outras. “Criamos a campanha pela necessidade de ampliar a proteção da região, melhorar a saúde do nosso oceano e tornar a pesca uma atividade sustentável. Os ambientes marinhos oferecem inúmeros serviços para a sociedade. Por isso, criamos o mote ‘É do Brasil. É do mundo. É nosso’. Precisamos protegê-los com urgência”, afirma
Guilherme Dutra, diretor do programa marinho da Conservação Internacional (CI-Brasil). O público-alvo da campanha são jovens conectados com as mídias sociais, pessoas sensibilizadas pela causa ambiental, moradores de grandes centros urbanos e da zona costeira, turistas de verão e formadores de opinião. A ação informará e sensibilizará a sociedade por meio de campanha publicitária e um concurso cultural que selecionará quatro ganhadores para visitar Abrolhos. Haverá ainda uma petição para pedir apoio dos internautas pelo efetivo funcionamento das Unidades de Conservação (UCs) na região e retomada do processo de ampliação da proteção de Abrolhos com a criação de outras reservas. “Adote Abrolhos – É do Brasil. É do mundo. É nosso.” conta com o apoio de diversas organizações, como a Foundation Veolia Environment e o The Pew Charitable Trusts, além de doadores individuais. Empresas que investem na conservação da região, como a Alpargatas/Havaianas, também ajudaram a tornar possível a realização da campanha. A agência de publicidade Africa foi a responsável pela concepção da campanha e a fez de forma pro bono, como as atrizes Camila Pitanga e Maitê Proença, que também abraçaram a causa. Preocupado com a qualidade do bem natural que é base do esporte que pratica, o velejador Torben Grael gravou um vídeo. Com isso, a campanha já começa com o apoio de um importante grupo, como diversas instituições parceiras: Instituto Baleia Jubarte (IBJ), Movimento Cultural Arte Manha, Ecomar, Patrulha Ecológica, Instituto Amigos Reserva da Biosfera, Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia, Pangea e da operadora de turismo de Caravelas, Horizonte Aberto. Diversos fotógrafos participarão da iniciativa, publicando galerias de fotos da região. NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Lazer e Turismo
26 ANOS DE UM PARAÍSO Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha corresponde a cerca de 70% do arquipélago de Fernando de Noronha por Eleni Lopes
CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO O Parque está localizado num dos mais belos destinos turísticos do Brasil, com grande beleza cênica, seja pelos recursos naturais existentes no arquipélago ou pelos sítios arqueológicos que contam mais de 500 anos de história do País. Diante de um patrimônio tão rico, o controle e gestão da visitação é um dos objetivos do ICMBio. Uma das maiores áreas marinhas protegidas do Brasil, Araújo lembra a singularidade da biodiversidade presente no Parque. “A fauna aquática é composta por uma grande diversidade de espécies de peixes, corais e vida associada. Temos também várias espécies endêmicas no Parque, como as aves Sibito e a Cocoruta, a Mabuya, que é um lagarto muito comum em todos os lugares”. A área de educação ambiental para as crianças da ilha é apontada como o desafio para os próximos anos. “As crianças são os futuros agentes sociopolíticos do arquipélago. Devem ter maior acesso a programas extracurriculares e outras iniciativas que auxiliem na sua formação. São os futuros agentes de transformação da ilha”, finaliza Araújo.
A PRAIA MAIS BONITA DO MUNDO
A Ba Baía ía do Sa Sanc ncho ho,, pr p ai aiaa do arq rqui uiipé péla laago o de Fe Fern rnan a do an d Nor de oron onha ha, fo foii es esco colh lh hid idaa co como mo o a mai a s be bela la do mu mund nd n do no o prê r mi m o Tr Trav avel elle ler' r'ss Ch hoi o ce ce,, do o sit itee es esp pecial peci aliz izad ado o Tr Trip ip Advi Ad viso sorr. A pe pesq squi uisa sa é div i ul ulga gada da tod odo o an ano o e leeva v em m co ont ntaa as pra raia iass ma mais is bem ava valiadas as porr seu euss ussuá u ri rios os nos últi úl t mo moss 12 mes eses es.. Lo Loca ca aliliza zadaa den entr t o da áre reaa do o Parqu ue Naci Na cion nal a Mar a in i ho Fer erna nand ndo o de Nor oron onha ha,, é fa famo mosa sa pellas a eias ar as bra ranc ncaas e águ gua crris i taalilina na. So Some ment ntee no noss últi t mo moss
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Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha completou 26 anos em setembro. Há três anos como chefe do parque, Ricardo Araújo ressalta as melhorias conquistadas desde então. Entre elas, o fortalecimento na relação com a comunidade da ilha e a implantação do serviço de concessão, como enfatiza Araújo, possibilitaram novas instalações para os visitantes. “Hoje temos uma comunidade muito participativa na preservação da unidade. Esta integração ocorreu desde a criação do Parque”, pontua o chefe. A criação do Parque tinha como objetivo a preservação do exuberante cenário natural e a riqueza histórica que tornam o arquipélago um destino cobiçado por turistas de todo o mundo. A gestão é realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) desde sua criação, em 2007. “Estamos dando continuidade a um trabalho de equipe que trouxe importantes mudanças, como a implantação da concessão do parque, um maior diálogo com a comunidade noronhense, a implantação
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de um sistema de monitoramento de atividades de uso público, além de outras pequenas atividades do dia a dia que mudam a vida dos usuários”, comenta Araújo. Ao longo destes 26 anos, foram realizados investimentos em Noronha que possibilitaram melhoria na infraestrutura do parque, assegurando melhor qualidade para os visitantes, requalificação das trilhas, equipamentos para acessibilidade e ações voltadas para a redução do impacto ambiental. Ainda, o ICMBio está constantemente promovendo projetos de reforma e manutenção de trilhas, folheteria, sinalização interpretativa, implementação e manutenção do Centro de Visitantes etc. NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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