Ingredient Odyssey S.A. investe 10,7 milhões de euros em Santarém para a criação de unidade bioindustrial pioneira

ENTREVISTA A DANIEL MURTA, FUNDADOR DA EMPRESA Ingredient Odyssey S.A. investe 10,7 milhões de euros em Santarém para a criação de unidade bioindustrial pioneira

A empresa Ingredient Odyssey S.A. viu aprovada a sua candidatura ao Portugal 2020 que lhe vai permitir dar corpo ao projeto EntoGreen, nascido em 2011. A empresa vai criar no concelho de Santarém uma unidade pioneira de valorização de subprodutos de origem vegetal, provenientes das indústrias agroalimentares, com vista à produção de soluções sustentáveis de nutrição animal e vegetal. Em 5 anos, a empresa prevê investir cerca de 10,7 milhões de euros e criar 63 postos de trabalho.

Em que contexto surge a candidatura ao Portugal 2020 no âmbito da inovação produtiva?

A candidatura ao Portugal 2020 no âmbito da inovação produtiva surge como um resultado natural das atividades de I&D da Ingredient Odyssey SA. A nossa empresa tem apostado fortemente em I&D desde a sua gênese com vista à aplicação dos processos em desenvolvimento à escala industrial. Das várias atividades de I&D que permitiram obter os conhecimentos que suportam esta candidatura encontra-se um projeto em co-promoção, também ele aprovado pelo Portugal 2020, mas em 2016, e que foi determinante, o projeto EntoValor.

O projeto EntoValor, liderado pela Ingredient Odyssey, mas com mais quatro parceiros, três empresas, a Consulai, a Rações Zêzere e a Agromais Plus, e um centro de investigação, o INIAV, permitiu suportar alguns dos desenvolvimentos base e fazer a prova de conceito para a criação de uma nova bioindústria em Portugal, a bioconversão de subprodutos agroindustriais em novas soluções de nutrição para plantas e animais. Esta bioindústria, assente nos princípios da economia circular, tem o seu motor na mosca soldado negro, Hermetia illucens, um inseto que é caracterizado por uma grande capacidade de ingestão, convertendo em poucos dias dezenas de toneladas de subprodutos em novas fontes nutricionais para plantas (um fertilizante orgânico), e animais (um concentrado proteico e óleo de inseto), ambos utilizados em rações.

Porém, o que mais se destaca neste projeto é ser 100% assente em I&D nacional e alavancado já anteriormente por outro projeto de I&D financiado pelo mesmo programa, o Portugal 2020, com uma forte componente de colaboração entre empresas e com um centro de investigação, o INIAV, demonstrando que o suporte obtido nos últimos anos resultou na criação de uma unidade industrial pioneira na Europa, existindo apenas - que seja do nosso conhecimento, à data - uma semelhante a esta em funcionamento neste continente, e única em Portugal.

A que se propõe a Ingredient Odyssey com esta candidatura? Quais os objetivos da mesma?

O principal objetivo deste projeto é implementar, em Santarém, uma unidade bioindustrial pioneira, equipada com equipamentos de topo ao nível do estado da arte, sendo capaz de se assumir como um modelo a nível tecnológico, mas também em termos de diferenciação, diversificação e inovação. Iremos dispor de um quadro de pessoal devidamente qualificado para as funções a desempenhar (serão contratados 55 colaboradores, 11 dos quais com mestrado ou doutoramento, que vão trabalhar diretamente na unidade), num total de 63 postos de trabalho. A unidade a construir terá capacidade para converter aproximadamente 36.000 toneladas de subprodutos vegetais por ano, convertendo-os em cerca de 2500 toneladas de concentrado proteico, 500 toneladas de óleo e 7000 toneladas de fertilizante orgânico.

Quais os valores de investimento envolvidos nesta candidatura?

Esta candidatura prevê um investimento de cerca de 7.6 milhões de euros, num investimento global de aproximadamente 10.7 milhões de euros durante os próximos 5 anos.

Esta candidatura já foi aprovada. O que significa esta aprovação, não só para a Ingredient Odyssey, mas para o distrito de Santarém?

A obtenção de aprovação nesta candidatura vem permitir a concretização do principal projeto empresarial da Ingredient Odyssey, o projeto EntoGreen. A EntoGreen, marca da Ingredient Odyssey, vê assim nascer a sua primeira unidade industrial que será não só uma marca histórica para a empresa mas também para o setor. A seleção da cidade de Santarém para a instalação desta unidade prendeu-se com as excelentes condições oferecidas pela região, não só do ponto de vista de obtenção de matérias-primas, mas também de comunicação e de suporte de I&D, encontrado na Estação Zootécnica Nacional no Vale de Santarém.

Esperamos contribuir fortemente para a região, criando sinergias com o setor agroindustrial, através da valorização de subprodutos da sua atividade, mas também com o setor pecuário e agrícola, fornecendo novas soluções nutricionais mais sustentáveis, o que poderá contribuir para a sua diferenciação no mercado. Porém, um dos maiores impactos será a criação de 63 postos de trabalho diretos, dos quais 11 altamente qualificados, quer na unidade fabril, quer na unidade de I&D que iremos instalar no concelho.

Que outros projetos de investimento tem a empresa na manga?

A principal aposta da Ingredient Odyssey é o projeto EntoGreen. Este projeto, além da bioconversão de subprodutos, inclui ainda o desenvolvimento de outras soluções circulares para o sector agroalimentar, pelo que a empresa tem apostado fortemente na submissão de novos projetos de I&D, quer a nível nacional como europeu. Nas linhas de I&D a desenvolver encontram-se temas como a circularidade de subprodutos, mas também o tratamento da água e o desenvolvimento de novos plásticos biodegradáveis (a empresa já conta com um H2020 aprovado nesta linha e outro recentemente submetido). Porém, a empresa tem ainda outros projetos empresarias na manga, como o Thunder Foods, no âmbito do qual pretendemos criar produtos alimentares assentes no princípio da sustentabilidade, nutrição e saúde. Comente o percurso da Ingredient Odyssey desde a sua fundação.

A Ingredient Odyssey S.A., é uma empresa fundada a 4 de Março de 2014 e que tem a I&D no seu DNA, sobretudo no desenvolvimento da EntoGreen, marca registada que muitas vezes é apresentada como o nome da própria empresa. Apesar, do projeto empresarial da EntoGreen ter nascido em 2011, foi só em 2014 que foi possível criar uma empresa e se iniciou um programa de submissão de projetos e procura de financiamento para a realização de I&D, estando à data a empresa já instalada na Estação Zootécnica Nacional. Inicialmente o projeto previa o uso de um outro inseto (o Tenebrio molitor) e os objetivos eram essencialmente assentes na nutrição animal e humana.

Contudo, em 2015 a empresa encontra um novo sócio e co-fundador, o Rui Nunes, que tinha ideias relativas ao uso de insetos bem diferentes mas que quando adicionadas às pré-existentes resultaram num contribuindo efetivo para a empresa, que passou a trabalhar com outra espécie de inseto (a mosca soldado negro) e com um maior foco na sustentabilidade ambiental.

Desde então a Ingredient Odyssey fez um caminho essencialmente assente em I&D, subsistindo de financiamentos e de capitais próprios dos sócios, tendo 2016 sido marcado pela aprovação do primeiro projeto de I&D e que foi determinante para o seu percurso. Em 2019, depois de anos de investigação e de investimentos, a empresa vê a sua tecnologia reconhecida e inicia os esforços para financiar a implementação da primeira unidade industrial, iniciando 2020 com a submissão de um projeto ao Portugal 2020 no âmbito da inovação produtiva e que viria a tornar possível a concretização do principal objetivo da empresa. 