NESTA magazine - Março 2012

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nº01 • www.nestamagazine.com

Contamos-lhe como nasceu o StartMeUp no ano passado e como vai ser a edição de 2012 Mais... Beija-Flor Pelcor Mo.Ca Manjerica Boca do Lobo ...e outras tendências

Conheça a NESTA magazine! // Em foco, NESTA agora, Observatório de Startups, Opinião, Out of the box, Tendências, e muito mais!


Indíce

MARÇO ‘12

12 Start Me Up 20

Out of The Box Boca do Lobo

22 Observatório de Startups Beija-Flor

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Em Foco Manjerica

8 Em Foco Pelcor

18 Out Of The Box Mo.Ca


NESTA Edição

editorial A 15 de março de 2012 não se assiste apenas ao nascimento de uma revista sobre empreendedorismo, mas também à realização de um sonho e o culminar de um trabalho bem feito durante os últimos meses por esta equipa. Este é, sem dúvida, um projeto ambicioso e bastante ciente do seu potencial, talvez por isso mesmo, desperte um misto de sensações, como um grande orgulho, e ao mesmo tempo uma imensa responsabilidade. Sendo esta uma primeira edição, queremos deixar de lado qualquer insegurança e expor a razão da nossa existência: também assim se define o empreendedor. Sir Ken Robinson, numa das conferências TED, deixou bem presente a ideia de que o mundo necessita de criatividade para avançar. Acusou o atual modelo de ensino de matar a criatividade nas pessoas, de estandardizar as escolhas e até mesmo, em última instância, as opções. A crise que hoje vivemos é em si mesma a prova viva de que o paradigma atual precisa de uma reformulação, de novas soluções e caminhos. Agora, mais do que nunca, é uma responsabilidade social ou cívica fazer o que está ao nosso alcance para marcar a diferença: e isso materializa-se, também, no empreendedorismo. E apesar do tamanho desta palavra, e da dificuldade que natu-

ralmente poderá surgir em dizê-la, todos somos empreendedores nas nossas vidas: desde a forma como gerimos o nosso orçamento mensal até às soluções que levamos às nossas empresas. Em Portugal assistimos a casos de sucesso em diversas áreas: seja na visão de Sandra Correia, considerada a melhor empresária da Europa, que lançou um guarda-chuva em pele de cortiça em 2003, e desde então não mais parou de reinventar o visual tradicional desta matéria-prima, levando-a além-fronteiras; seja na irreverência das meninas da Beija-flor em utilizar algo tão nosso como os azulejos portugueses; no sentido de oportunidade de Carlos Elavai e Teresa Bettencourt ao unirem esforços e valências para singrar num meio tão difícil quanto a moda; ou até mesmo na brilhante ideia de Jorge Sá e Filipa Carrêtas ao produzirem mobiliário em cartão. Cria-se, reinventa-se, simplifica-se. Aqui, ali no bairro, na cidade ao lado, noutro país, no mundo todo. Neste espaço falamos em bom português e relatamos casos de sucesso nacional. Fomos aos sítios, estivemos com as pessoas e aqui iremos contar as suas histórias. A verdade é que está um pouco de cada um de nós nesta edição e nestas pessoas. Porque é de pessoas e para

pessoas que esta revista é feita. Porque nós nos revemos em cada um de vós e esperamos que da vossa parte isso também aconteça. E porque urge tomar a decisão sensata de arriscar, nós procuramos ser uma plataforma onde projetos de referência se agrupam, mas queremos também provar que uma das maiores conquistas do nosso sistema de ensino é esta: a de juntar pessoas. E de que, juntos, podemos trabalhar nos nossos sonhos. Aqui, vamos contar as histórias que estão por trás dos negócios, fazê-las chegar ao público e inspirar. Vamos dar a grupos em formação a oportunidade de aceder facilmente a informação essencial. Vamos passar contatos e ser contatáveis. Temos uma equipa jovem, criativa, competente e trabalhadora. Somos designers, jornalistas, fotógrafos, marketeers, escritores, engenheiros, advogados, atletas, gestores… e muito empreendedores. Em jeito de dever cumprido, aproveito para agradecer a todos aqueles que nos têm ajudado neste projeto e também a quem trabalha diariamente nos seus sonhos. Por isso mesmo, inspiram os nossos. Muito obrigado,

Design Mariana Fernandes José Armando

Sede de Redação NOVA Entrepreneurship Society Campus de Campolide Residência Alfredo de Sousa, piso-1 1099-032 Lisboa

A equipa NESTA magazine

Ficha Técnica Proprietário NOVA Entrepreneurship Society Director Pedro Sampaio Planeamento Estratégico e Edição de Conteúdos João Abiul Menano Redação José Guimarães Margarida Reis Sónia Gomes Costa

Fotografia Ricardo Teixeira Comunicação Externa Maria João Abreu Periodicidade Mensal

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“A Manjerica surge como a companhia perfeita” Carlos Elavai e Teresa Bettencourt, licenciados em Economia pela Universidade Nova de Lisboa e em Design de Moda pela Universidade Técnica de Lisboa, respetivamente, são os criadores da mais recente marca de carteiras ‘Manjerica’, cuja loja online pode ser visitada em www.manjerica.com. O economista e a designer de moda uniram esforços e conjugaram talentos para concretizar um projeto que promete dar muito que falar nos próximos tempos.

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Em foco

Teresa Bettencourt e Carlos Elavai, os jovens criadores da Manjerica

A NESTA foi ao encontro destes jovens empreendedores, naturais da ilha açoriana da Terceira, atualmente a residirem em Lisboa, para descobrir os detalhes e processo de criação da marca, bem como os objetivos futuros. O exotismo da selva serviu de inspiração para a primeira coleção da marca e entre cores vibrantes e padrões arrojados, transpira elegância e sofisticação, encaixando na definição de objeto de desejo. Os diferentes modelos foram pensados para diversas ocasiões e estilos, desde o casual ao trabalho, dos eventos às viagens, sempre com algum pormenor especial e arrojado, como aliás referem os criadores na entrevista que se segue.

Quais os passos que tiveram de dar para chegar à implementação? Tudo começou com a idealização do projeto, a ideia base de criação de uma marca de malas, em seguida foi necessário definir o conceito do produto, onde identificámos as necessidades de produção, para depois selecionarmos uma fábrica adequada que produzisse as nossas malas. Após verificarmos que seria possível avançar com o projeto, passámos à fase mais processual de seleção do modelo legal a constituir (envolvendo pesquisa e alguns telefonemas para contabilistas), registo nas Finanças e a criação legal da marca. Quando completados estes passos, foi possível então iniciar a atividade corrente da Manjerica.

Como surgiu a vossa ideia de lançar a Manjerica? A Manjerica começou a ser desenvolvida em 2010, em resposta ao sonho e desejo de construirmos a nossa própria empresa e, através dela, poder ter algum impacto no desenvolvimento da Moda e m Portugal. No fundo, quisemos ver concretizadas as nossas ideias e criatividade, através da junção da veia empreendedora de um com a veia artística do outro. Assim, neste contexto, a Manjerica foi lançada em setembro de 2011.

E como está organizada a vossa empresa? Este projeto tornou-se um desafio para nós, dado que a situação económica atual nos obrigou a um planeamento rigoroso dos investimentos e a uma contenção da nossa ambição. Assim, acordámos que seríamos apenas nós os dois a tratar de todos os assuntos – estratégia, marketing, relação com fornecedores, entre outros, mesmo o website fomos nós que o desenhámos e construímos – o que nos forçou a estudar e a aprender à medida que os eventos se desenrolavam. Desta forma, foi possível erguer este projeto apenas com base nas nossas poupanças. Realçamos também a importância do papel complementar de cada um de nós na concretização da Manjerica: a Teresa lida com tudo o que está relacionado com o produto, eu com a parte da gestão, e ambos lidamos com o marketing – contribuindo aqui cada um com as suas diferentes valências.

As malas são desenhadas pelos dois jovens empreendedores, uma colecção inovadora e moderna

Qual é a estratégia? Propomos um produto de elevada qualidade, tanto ao nível do design como dos materiais utilizados, ou ainda ao nível das técnicas de produção artesanais, que tornam o produto exclusivo e o diferenciam. Pretendemos atuar num nicho de mercado ainda pouco desenvolvido em Portugal, através de um produto português, alavancando nas potencialidades do setor da Moda nacional para nos internacionalizarmos.

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Em foco

E o conceito da marca? A Manjerica propõe malas com um design distinto e sofisticado, confecionadas a partir de materiais nobres, seguindo as técnicas artesanais de fabrico. As malas são dedicadas a mulheres urbanas e confiantes, que gostam de aliar a elegância à funcionalidade, através de um estilo próprio. Para quem gosta de se sentir especial e viver cada dia com muito glamour, a boutique Manjerica surge como a companhia perfeita para qualquer ocasião, quer seja para o dia-a-dia, para o trabalho, ou para um look mais arrojado. De que forma têm divulgado os produtos Manjerica? Temos sobretudo quatro grandes meios de divulgação da nossa marca e produtos: as redes sociais (nomeadamente o Facebook), o word-of-mouth (através de amigos e clientes satisfeitos), blogs de moda (como o Minissaia ou Vogue.pt) e as revistas da especialidade.Dado termos um orçamento reduzido, o nosso enfoque inicial tem sido sobretudo nos primeiros três. Mas contamos poder ter a médio-prazo uma presença mais consistente nas revistas de moda. Como pretendem desenvolver a marca? Sendo a Manjerica uma marca muito recente, estamos ainda focados no produto mala e na expansão da sua atividade no mercado português, tanto ao nível da notoriedade da marca, como também da consolidação das nossas operações e processos comerciais. Neste momento, temos as nossas carteiras na nossa loja online, mas também nas lojas Incanto nos Açores e Muuda no Porto. Além disso, estamos também em fase de negociações para colocar a Manjerica em lojas em Lisboa. Mas, num futuro próximo, o caminho passará pela internacionalização da marca. A médio prazo gostaríamos de expandir a linha da Manjerica para o calçado, continuando a apostar em produtos cujo fabrico português tem qualidade e é reconhecido. Qual o papel do empreendedorismo no contexto económico atual? A aposta das pessoas em atividades empreendedoras é, não só, uma forma de tentarem ultrapassar a difícil conjuntura atual, como também, apostarem nas suas qualidades e competências individuais, fazendo algo que gostam, ao mesmo tempo que contribuem para uma maior e melhor atividade económica baseada

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na iniciativa privada. Porém, é necessário acautelar e mitigar o risco acrescido que um projeto próprio acarreta, por exemplo, desenvolvendo-o paralelamente a um emprego mais estável. Aqui as universidades terão um papel decisivo a três níveis: incutir aos jovens uma atitude positiva sobre a sua capacidade de criar um projeto próprio; dotá-los das ferramentas e conhecimento necessário (Know-How); e promover a integração de diferentes disciplinas (Moda, Economia/Gestão, Engenharia, etc.) complementares neste processo empreendedor. Consideram que existe potencial para criar em Portugal? Sim sem dúvida. Portugal tem muita qualidade e potencial nos diversos setores da sua Economia, para o qual têm contribuído diversas marcas que, nos últimos anos, se internacionalizaram e asseguraram o reconhecimento do mercado, por exemplo, na área do design e moda, a Boca do Lobo e Luís Onofre. O que parece faltar para uma maior concretização dessas oportunidades é uma atitude positiva, a organização dessa atitude em projetos estruturados e a valorização no mundo (e em primeiro lugar em Portugal) da qualidade dos produtos portugueses. De qualquer forma, cada vez mais se vê a junção dos “ingredientes” necessários nos jovens, que apesar de compreenderem os riscos que um projeto de empreendedorismo acarreta, têm a dose certa de motivação e força para sonharem e construírem o seu próprio projeto. Texto: Pedro Sampaio Fotografia: Ricardo Teixeira

Link http://www.manjerica.com/


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O poder de sonhar em grande 8


Em foco

A loja da Pelcor, em pleno coração da cidade de Lisboa, fica na Rua das Pedras Negras, nº 32

Precisamente no Dia Internacional da Mulher, a NESTA magazine entrevistou Sandra Correia, criadora da marca Pelcor, empresa que se dedica à criação de artigos de moda em cortiça, a quem recentemente o Parlamento Europeu distinguiu com o prémio de Melhor Empresária da Europa. Responsável pela empresa Novacortiça – sediada em São Brás de Alportel, Algarve – e detentora da marca Pelcor, Sandra Correia reconhece que o prémio de Melhor Empresária da Europa, recentemente atribuído pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho Europeu das Mulheres Empresárias é fruto do trabalho conjunto que tem vindo a ser desenvolvido ao longo dos últimos anos no mundo tradicional da cortiça. Mas tais distinções já não constituem propriamente novidade para a empresária. Já há cerca de dois anos que a empresa Novacortiça havia sido distinguida também pelo Parlamento Europeu como uma empresa-exemplo em Portugal para a igualdade de género e paridade e, com base nessa distinção, o acompanhamento que o Parlamento Europeu tem vindo a fazer “é motivo de orgulho para o país, uma forma de dizer que apesar das dificuldades, continuamos a ter muito potencial”, reconhece. Apesar do muito trabalho que teve de levar a cabo para fazer da Pelcor a marca que é hoje, Sandra Correia afirma que “este não é um prémio em meu nome, mas sim em nome das mulheres, da empresa e de todo o trabalho que desenvolvemos juntos, porque a empresa não sou eu, mas sim uma equipa, e eu sou o rosto dessa equipa.”

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A loja da Rua das Pedras Negras permite aos clientes um olhar exclusivo e em primeira mão sobre os modelos que vão surgindo nas novas colecções Mais do que a filha do patrão Depois de se ter licenciado em Comunicação Empresarial, Sandra Correia iniciou a sua atividade profissional na Novacortiça, onde começou a aplicar na prática os recém-adquiridos conhecimentos de marketing. “Quando entrei não percebia nada do negócio”, recorda, “mas não tinha qualquer tipo de tratamento especial por trabalhar na empresa do meu pai e ser filha do patrão”. Tanto foi que “uma das primeiras coisas que fiz para perceber mais do produto foi aprender a trabalhar com as máquinas ao lado dos outros trabalhadores”. Mesmo ocupando uma posição relativamente confortável na empresa, a empresária recorda-se que “naquela altura tinha duas opções: ou ficava acomodada à posição de assessora do meu pai e não me preocupava, ou seguia a opção que segui”, conta lembrando que “as situações da própria vida assim o ditaram e minha maneira de ser assim escolheu encontrar soluções para que a empresa pudesse continuar a ter sucesso, mesmo nos momentos menos bons… o que, de facto, veio a acontecer”. E foi assim que, entre o ano 2001 e 2002, a Pelcor surgiu como a solução ideal para um excedente de stock de produto, em que as vendas escasseavam e a Novacortiça não conseguia escoar a matéria-prima que armazenava em excesso. Assim sendo, a Pelcor acabou por nascer da oportunidade de fazer algo de novo com a cortiça que tinham a mais em casa, numa ótica de “vamos experimentar e fazer coisas novas. E assim surgiu o primeiro guarda-chuva de cortiça, e a marca Pelcor”, revela a responsável. Da crise nasce a oportunidade Atualmente, numa época em que salta à vista o pessimismo com que de uma forma geral a sociedade portuguesa encara o presente, e o futuro, a empresária afirma que “os portugueses têm de deixar de ser pessimistas e passar a ser mais otimistas. Temos de ir em frente, contra as contrariedades”, alerta recordando o seu caso como um exemplo sobre como é possível criar uma oportunidade de negócio a partir de uma situação à partida menos positiva. Tendo sido a responsável pela criação de um novo nicho de mercado, Sandra Correia observa que “dizem que sou a mãe das novas aplicações da cortiça”, realçando que no fundo o que fez foi pegar numa matéria-prima artesanal, a partir da qual criou um novo estilo de tendências de moda, design e lifestyle.

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“Começámos de forma muito amadora”, assume a CEO da Pelcor. “No início não tínhamos qualquer conhecimento sobre a criação de marcas, além de que não existiam muitas possibilidades de investimento”. Sandra Correia recorda ainda que o primeiro catálogo de produtos foi feito em casa, com modelos muito simples, fotos caseiras e recorrendo aos serviços de “uma amiga designer”. Mais revela que a marca foi ganhando maior visibilidade através da criação de um site e também do trabalho de assessoria de imprensa profissional. É com orgulho que a responsável da marca afirma que “tudo o resto foi conseguido à custa de muito esforço e dedicação de todos os envolvidos no projeto, desde a participação nas feiras, deslocações, vendas e todo o trabalho que era necessário fazer, por muito que custasse”. Ao fim ao cabo, “a Pelcor cresceu devido a todo esse trabalho e só assim é que se consegue criar aquilo que se pretende”, justifica. Ambição, sonho e trabalho No que toca à fórmula para o sucesso, Sandra Correia faz questão de salientar que as pessoas não se podem acomodar. Mesmo com excelentes ideias, capacidades empreendedoras e até mesmo um bom apoio financeiro, a empresária acredita que quem quer ter sucesso “tem que arriscar, ir em frente, ir à luta, sair da casca e ir lá para fora”. A CEO da Pelcor defende mesmo que qualquer coisa é melhor do que ficar sentado no sofá à espera que algo aconteça, porque assim com certeza não vai acontecer.

Alguns produtos da Pelcor, da melhor cortiça nacional


Em foco

Presentemente, fruto também de uma maior experiência e maturidade, a Pelcor está numa fase de maturação e a cimentar a sua existência, encontrandose um pouco por todo o mundo, inclusive com peças no MOMA de Nova Iorque e Tóquio. A CEO da marca não esconde que a estratégia da marca passa por aceitar os novos desafios e encará-los sempre como oportunidades, projetandose num futuro próximo como uma marcareferência no mundo dos acessórios de moda. O objetivo é que, a longo prazo, “quando no mundo se falar de Pelcor, se fale de Portugal e de inovação no contexto da moda”, revela Sandra Correia reconhecendo que ter esta capacidade de ambição, sem a levar ao extremo é importante para qualquer atividade. E é este o conselho que deixa para quem quer ser empreendedor: “ter ambição, sonhar e acreditar… e trabalhar muito”.

Texto: José Guimarães Fotografia: Ricardo Teixeira Links http://www.pelcor.pt http://www.novacortica.pt

Sandra Correia, o espírito empreendedor por trás da Pelcor, faz desta marca um símbolo da inovação na área.

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antídoto para a crise!

Contamos-lhe como nasceu o StartMeUp no ano passado e aproveitamos para lhe apresentar uma antevisão do que irá ser a segunda edição deste evento de, e para, empreendedores 13


Capa

Investias 5 euros em pessoas como tu? Estávamos a 16 de Março do ano da graça de 2011, e o antigo ENOVA estava oficialmente em rampa de lançamento: o Start Me Up dava à luz o Clube de Empreendedores da Universidade NOVA de Lisboa, o agora NOVA Entrepreneurship Society, numa quarta-feira fria e escura, onde a única luz que emanava saía da reitoria da NOVA. Após quase um ano de trabalho no backstage, a orquestra tocava e abria-se o pano para se conhecer o único Clube da NOVA transversal a todas as suas Faculdades: desde a NOVASBE (na altura ainda Faculdade de Economia) passando pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Escola Nacional de Saúde Pública e pelo Instituto de Tecnologia Química e Biológica, todos os caminhos foram dar à reitoria. Levantaram-se alunos da NOVA, de fora da NOVA, de Empresas de Institutos Públicos, todos para assistir ao nascimento do ano. E foi formidável. Partilha de experiências Apoiados pelo que de melhor havia de speakers no fantástico mundo do empreendedorismo, todas as áreas do conhecimento vieram trazer um pouco do que anos de experiência souberam fazer de melhor: Miguel Pina, conhecido pelo exemplo justificado de alguém que “torce o pepino desde pequenino”, foi o primeiro dos empreendedores a pisar as luzes da ribalta deste evento; Paulo Maló partilhou a sua vasta experiência a trilhar caminho neste mundo; Daniela Couto, trouxe a esperança e a garra de quem começou há pouco e tem sangue na guelra; Manuel Forjaz presenteou quem o ouviu com a sua fantástica carteira de histórias e experiências; Ivo Pereira, ex-aluno da casa, fez viajar até ao espaço sideral quando mostrou o seu projeto Lusospace e deixou bem claro que o céu não é o limite; Nuno Artur Silva das Produções Fictícias (também ex-aluno) mostrou que é possível

fazer negócio mesmo em áreas como a produção (fictícia aqui); e Mário Martins trouxe a já consolidada Javali ao mundo livre do conhecimento. Mas este evento não se limitou a mostrar o que se faz, também mostrou como se faz, nomeadamente com os contributos de Mark Wolters – que captou o público com a sua apresentação sobre Networking – e de João Gonçalves – que falou sobre a importância da liderança e das equipas. Como o capital é imprescindível, também a temática de Private Equity teve lugar, sendo que a ASK – Advisory Services Kapital foi pioneira neste palco. Também não poderia faltar a prata da casa com o Madan Parque. No final, em jeito de “venha a nós o capital”, a Caixa Geral de Depósitos atribuiu um prémio de 500€ ao melhor “60 second elevator pitch”, um projeto de empreendedorismo social. Atualmente, o Inpakt, na pessoa de Bernardo Macedo, é um amigo fiel às nossas causas e assistimos todos os dias a novos desenvolvimentos deste projeto. Com a chegada da noite, e a culminar – já para lá da exaustão e da adrenalina acumulada desde os preparativos – apagaramse as luzes do palco, e nos bastidores o trabalho tornou-se ainda mais sério: Agora havia um motivo pelo qual continuar a lutar. É que o trabalho estava validado. Assim nasceu o sonho Voltando um pouco atrás, a ideia havia nascido ainda no ano de 2010 quando alguns dos empreendedores que viriam a fundar o NES assistiam a uma conferência do MIT em Reiquiavique na Islândia. O evento deu-lhes a possibilidade de estarem em contacto com outros empreendedores e Clubes de Empreendedores da Europa e do Mundo. Chegaram a Portugal cheios de planos para trazer para a NOVA o que já haviam visto funcionar, com a promessa de ajuda daqueles que já o tinham conseguido.

Os fundadores da NOVA Entrepreneurship Society, da esquerda para a direita: Diogo Campos, Ricardo Teixeira, Pedro Fonseca, Pedro Sampaio, Maria João Abreu, Joana Mendonça, Filipe Rodrigues, Diana Fernandes, Madalena Cruz, Tiago dos Santos Carlos, Nuno Ferreira, Helena Gameiro, Aleksandar Temelkov, Hussein Cassamo, João Jerónimo e Ana Rita Rodrigues

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Capa Cartaz do StartMeUp: no evento, a ideia será que cada elemento do púlico invista uma parte do seu bilhete em cada startup.

Formaram o (então) ENOVA com o intuito de pegar em projetos que nascem na universidade, ajudar estudantes que tenham ideias, formar equipas multidisciplinares e dar-lhes apoio. Nesse âmbito, o clube acaba por funcionar como uma plataforma unificadora que congrega em si um pouco de todas as faculdades. Antevisão do StartMeUp 2012 Quase um ano depois, o NOVA Entrepreneurship Society volta a organizar a segunda edição do evento que marcou o lançamento oficial do clube e promete, desde já, ser inovador na medida em que por cada bilhete vendido, 5€ reverterão para as Startups. Assim, o público também é investidor, aumentando a interatividade e dinâmica do evento. Por outro lado, o StartMeUp 2012 também se diferencia por não tomar o formato de uma conferência convencional, mas sim de um concurso de Startups. O formato segue o estilo da série da BBC “Dragon’s Den”, onde equipas de jovens empreendedores apresentam os seus projetos através de breves e objetivas apresentações a um painel de investidores de renome em busca de obter o tão cobiçado financiamento. Os participantes também poderão assistir a uma primeira parte do evento em que se debaterão os temas: “Como criar uma Startup” e “Como convencer um investidor” para, de certa forma, introduzir o público no ambiente que decorrerá na sessão da tarde. Como não poderia deixar de ser, esta segunda edição conta já com grandes nomes do panorama nacional. No primeiro painel do evento, poderão contar com a Espírito Santo Ventures (Venture Capital do Grupo Espírito Santo), a Associação Portuguesa de Business Angels, representada por Filipe Castro Soeiro, a Seed Capital, representada por Mario Valente, a Change Partners (também uma Venture Capital), representada por Mário Pinto e a Novabase. Já o segundo painel, será composto por nomes como Santiago Salazar também da APBA, João Bourbon da ASK – Advisory

Services Kapital (uma Venture Capital espalhada por países como o Brasil e a Angola) e António Murta (Managing Partner e Cofundador da Pathena, uma Venture Capital focada em investimentos na área da tecnologia). Também Cláudia Ranito, vencedora do Portugal Entrepreneur Award 2011, será oradora no evento onde vai explicar como se cria uma startup. Além das intervenções de todos estes especialistas, terão lugar também as Startups concorrentes que, não podendo ser divulgadas antes da data do evento, criam ainda mais curiosidade aos interessados no evento. É caso mesmo para dizer que não poderá perder o StartMeUp 2012 que promete ser inesquecível para todos os envolvidos neste rumo contra a crise, já no próximo dia 24 de março na Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa. À lupa com Pedro Gabriel Fonseca, Presidente da NOVA Entrepreneurship Society O que mudou no clube neste último ano? O NES mudou radicalmente. Pode dizer-se que passou de um clube de empreendedorismo para um clube de empreendedores. Crucialmente passámos a pensar mais no que empreendedores precisam, e menos em conferências e eventos que apenas nos fazem sentir bem connosco próprios, que já há suficientes. Concentramo-nos em ter eventos regulares (as pizzanights e workshops) e transformá-los em parte da rotina dos jovens empreendedores. Em que medida o StartMeUp inovou nesta segunda edição? O StartMeUp é a realização de um sonho pessoal, ver um Dragon’s Den em Portugal. Há algo de incrível, da mesma forma que se sente a emoção de um jogador de futebol no Mundial, que se vê naqueles jovens a enfrentar o desafio mais incrível da sua vida, e tentar realizar os seus sonhos. Via na BBC e davame arrepios, e sempre imaginei o quanto adorava fazer parte e estar naquela sala. Quando o resto da equipa do NES viu do que se tratava o entusiasmo contagiou-se, e lançámo-nos ao trabalho. Parecia de loucos, mas nunca começámos nada que

Dica: Correr riscos Os estudantes responsáveis por esta iniciativa acreditam que ser empreendedor é criar alguma coisa de novo, uma oportunidade de gerarem o seu próprio emprego e responder a desafios. Mas não é um caminho fácil. Um empreendedor é um ‘risk-taker’, é uma pessoa que gosta de correr riscos, sendo que o maior risco de todos pode mesmo ser não arriscar. Por vezes, basta olhar à volta e descobrir as oportunidades que existem.

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Capa

Nesta edição do StartMeUp a ideia é passar à acção, deixando o modelo de conferência que vive apenas dos oradores, e passando a um modelo dinâmico e interactivo.

fosse fácil. Não teria o mesmo valor. Quais são os maiores desafios na organização deste evento? Fácil: a necessidade que a maioria dos humanos tem de dormir mais de cinco horas por dia. Inicialmente foi transformar uma ideia louca num plano exequível, e depois dividir tarefas para executá-la. A resposta foi tão incrível que nunca perdemos o momento, desde os investidores que acolheram a ideia imediatamente, às empresas que nos patrocinaram com o maior dos gostos. Mas principalmente as Startups. Tenho recebido feedback incrível, tanto das Startups semi-finalistas como de projetos que não se candidataram e já perguntam se para o ano há outro. É uma sensação maravilhosa. Sendo o NES uma organização sem fins lucrativos, o que é que vos motiva realmente enquanto empreendedores? Dinheiro em troca de trabalho é um péssimo motivador, porque só se fazem os mínimos para o ter. Penso que todos trabalhamos por paixão, porque queremos que exista algo que não existe, e sentimos que temos o poder de fazer as coisas acontecer, e tomar em mão os nossos destinos e ajudar outros em simultâneo. Pode soar a megalómano, mas pela minha parte é o principal agente motivador. Tenho uma ideia do mundo em que quero viver, tenho pessoas à minha volta que pensam da mesma forma, e cumulativamente conseguimos fazer mais diferença do que a soma das partes conseguiria. Qual a proposta de valor, do ponto de vista da organização, para o público- alvo deste tipo de evento? Não vou usar eufemismos: pode mudar vidas. Sei do que falo, porque ver Dragons’s Den até às tantas da manhã mudou a minha, e fez-me não só acreditar que podia mudar o mundo mas, muito mais importante, mostrou-me como fazê-lo. O mo-

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mento em que jovens com ideias encontram experiência com capital é o momento em que nasce algo com um potencial gigantesco, é de onde vêm as empresas e projetos que mudam o mundo onde vivemos. E são uns quantos minutos, extremamente intensos, com tanta promessa, tanta emoção, nos quais será, sem dúvida, uma honra tomar parte e uma experiência que pode mudar vidas. O StartMeUp deste ano é sem dúvida um grande passo na vida do clube. Resta perguntar qual será o próximo grande passo? Dormir? Não, a sério, voltar a focar na restante rotina do NES, nas Startups Internas, nas Pizzanights, nos Workshops com a Embaixada dos Estados Unidos e, em particular, no IdeaLab. Penso que este último vai ser o ponto focal do NES para o próximo ano, porque vai juntar ideias a empreendedores, que é a fase anterior ao investimento que muitas vezes é deixada ao acaso (a quem se conhece) e queremos tentar aumentar a probabilidade de fazer acontecer. Como tanto mais no NES, é forçar coincidências.

Texto: Pedro Sampaio e Joana Mendonça Fotografia: Ricardo Teixeira

Links http://startmeup2012.com/ http://workingondreams.com/


Opinião

Ideias: quem dá mais?

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uitos pensam que o segredo do sucesso do empreendedor está na ideia. Mas afinal o que é isto da ideia? Qual é o seu verdadeiro valor? Antes de mais, convenhamos que a ideia é usada como sinónimo de conceito ou, num sentido mais lato, como expressão que traz implícita uma presença de intenção. Pois é, mas “de boas intenções está o inferno cheio” (leia-se in: sabedoria popular, há já muitas centenas de anos). Por outras palavras, boas intenções por si só nunca levaram ninguém a lado nenhum. A verdade é que a ideia, o conceito, a vontade de fazer algo novo tem importância, é fundamental para qualquer projeto, para qualquer empreendedor, e é no fundo a faísca que faz despoletar a ação. Mas vamos ser honestos, quantas ideias acabam inalteradas depois de alguma ação? Para que uma ideia se aproxime da realidade é preciso trabalhar sobre ela. Do meu ponto de vista a coisa funciona com o seguinte encadeamento: idealização; tentar/trabalhar; acertar/errar; melhorar; adaptar ideia (ou criar uma nova); voltar a tentar/trabalhar, e assim sucessivamente. Pode então concluir -se que ter ideias brilhantes (ou ser-se idiota) não cria valor. O valor é criado na execução, trazendo a ideia do mundo da fantasia para o mundo real. Assim sendo qual é o valor da ideia? Em primeiro lugar, o valor de uma ideia isolada é nenhum, zero, nada, niente. E em segundo lugar, o valor de uma ideia quando executada ou concretizada, qual é? Pois, a verdade é que mesmo aqui o seu valor é muito próximo de zero (imagino que estarão a pensar no fundador do Facebook que teve uma ideia brilhante que agora vale biliões, mas pensem também em quantas outras pessoas terão imaginado a mesma coisa antes dele, ou tido uma ideia semelhante?) É que as ideias são criaturas que só sobrevivem, se hospedadas em executantes capazes. São elas as sanguessugas dos empreendedores, que lhes roubam noites de sono, energia, e tiram tudo o que podem vivendo às custas do trabalho árduo, da perseverança e da resiliência do seu hóspede. Os ditos sábios, responsáveis por capitais de riscos e investidores, apregoam o seguinte: “É preferível investir numa má ideia que seja executada por uma boa equipa do que numa ótima ideia executada por uma má equipa” Porque será? É por isso que vos conto uma história que aconteceu comigo há uns tempos: Um conhecido meu veio ter comigo garantindo que tinha uma ideia brilhante que nos iria fazer milionários. “Conta lá, essa ideia”, respondi-lhe com um ar cético de quem já ouviu muita coisa. “Vamos recolher sapatos velhos e aproveitar a borracha da sola”, lançou ele ao que ripostei: “Ok”, verificando que efetivamente há muitos sapatos velhos e que conseguir recuperar toda essa borracha poderia ter um valor muito interessante. “Mas o que é que faríamos com a borracha?”, questionei. “Eu agora já te dei a ideia, isso agora é contigo!”, concluiu o idiota. Pergunta para queijinho: Ficámos ricos?

João Abiul Menano Co-fundador da NOVA Entrepreneurship Society 17


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um exercício de criatividade

Na sua oficina na cidade do Porto, atarefados entre bocados de cartão, tintas, cola e tesouras, Jorge Sá e Filipa Carrêtas deram uma entrevista à NESTA magazine sobre a sua aventura na criação da tão original quanto criativa marca registada Mo.Ca. – Mobiliário de Cartão. Felizes, ativos e com muita vontade de vencer, os dois empreendedores iniciaram o projeto no ano de 2011, tendo conseguido o financiamento que necessitavam através de um apoio na plataforma de crowdfunding Massivemov. E assim se estrearam nesta atividade. Irrequietos e sempre em processo criativo, assumem que não conseguem evitar produzir sempre mais e mais, sendo esta a forma que encontraram para cortar a rotina e sugar a vida. Como é que surgiu a ideia de fazer mobiliário em cartão? Tudo começou por uma questão de necessidade. Precisávamos de uma mesa de centro de sala que não ocupasse muito espaço, sem ser pequena, e fácil de arrumar, leve e resistente. Como tínhamos restos de cartão em casa, decidimos brincar um pouco e criar a mesa puzzle. Tinha um bom tamanho e como eram peças de puzzle, estas podiam transformar-se em bancos e resolviam o problema do espaço. A partir desse momento, as ideias começaram a saltar como pipocas.

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Out of the box

Alguns exemplares dos móveis Mo.Ca, construídos a partir de cartão.

E quando é que a brincadeira de criar esta peça evoluiu para a marca registada Mo.Ca? A brincadeira tornou-se mais séria a partir do momento em que os nossos familiares e amigos gostaram dela e começaram a incentivar-nos a ir mais além. O recurso a créditos ou outro tipo de financiamento que implicasse juros ou gastos avultados sempre esteve posta de parte. O crowdfunding apareceu por acaso, graças ao nosso amigo Flávio Gart da Bazooka que nos convenceu a ir a uma reunião da Massivemov enquanto ainda estavam em fase embrionária. Saímos de lá curiosos com o crowdfunding, investigamos melhor este tipo de financiamento e pareceu-nos ser (e ainda hoje achamos o mesmo) a única forma sustentável e justa. Tentamos a nossa sorte, trabalhamos com todas as nossas forças e arriscamos introduzir o projeto mo.ca. na plataforma. A experiência foi maravilhosa pois fomos forçados a aprender muito sobre marketing, ganhamos consciência das nossas limitações e verificamos a recetividade do projeto perante o público em geral.

E já vos encomendaram peças mais excêntricas, fora do normal? Felizmente sim! Na verdade, a Mo.Ca. é muito virada para o cliente individual. Estamos todos cansados de ser tratados como mais do mesmo, por isso, pareceu-nos pertinente que a Mo.Ca. distinguisse cada potencial cliente. Ao tratarmos as situações individualmente, temos a felicidade de perceber o que aquela pessoa em particular precisa e como utiliza o mobiliário. Isto faz aumentar exponencialmente a diversidade de pedidos de produtos. Uma sapateira para sapatos de salto alto foi das primeiras sugestões fora do normal que nos fizeram e ainda hoje pensamos em concretizar.

Porquê o crowdfunding? Somos fãs de crowdfunding porque é a única forma saudável de conseguirmos um financiamento para projetos que estão a começar e que são alérgicos a dívidas. Além de ser uma exposição total do produto, uma aprendizagem tremenda em comunicação e marketing, a aprovação ou não do projeto permite ao empreendedor aperceber-se se esse mesmo projeto tem viabilidade ou não.

Que conselhos podem dar a potenciais empreendedores que queiram passar da ideia à ação? Arriscar! Organizar ideias, trabalhar muito e com prazer! Lutar, ser genuíno, confiante, autêntico e muito otimista. Até ao momento, e segundo a experiência da Mo.Ca., são estes os truques a utilizar. Texto: José Guimarães Fotografias Mo.Ca.

Quais são os próximos passos da mo.ca.? Arranjarmos mais “lenha para nos queimarmos”!!! Isto é, pretendemos continuar a criar peças distintas das demais, com um tratamento Mo.Ca., e que nos permitam criar uma identidade própria. O plano é ir devagar, com muita atenção e imaginação.

Como é lançar uma marca em tempos de crise? Um desafio. As pessoas estão assustadas, não querem gastar dinheiro, foram habituadas a pagar muito pouco pelo que querem e a desvalorizar a mão- de-obra. Estamos a falar de peças artesanais, que demoram muitas horas a serem feitas. Às vezes, quando falamos no preço da peça e no tempo que demora a ser feita, dizem frequentemente: “é muito caro”. Quando lhes perguntamos quanto querem ganhar por hora pelo trabalho que fazem, rapidamente mudam o discuros de caro para justo. (risos) Isto tudo para dizer que a experiência está a ser deveras interessante, motivadora e desafiante. Andamos a lutar contra a corrente da desvalorização da matéria-prima e do consumo inconsciente. Não há nada melhor do que um bom desafio para apimentar qualquer projeto. De que forma é que o público tem respondido ao mobiliário de cartão? Regra geral a primeira dúvida passa pela resistência da mobília. Mas depois de se sentarem num banco de cartão ficam encantados e imediatamente a seguir apresentam sugestões para novas peças. O nosso público tem sido uma fonte de inspiração, força e motivação. Estamos muito gratos a todos.

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Out of the box

boca do lobo

Estes móveis não são para arrumo

Produtos de nicho, com um look irreverente e a qualidade portuguesa de outros tempos: foi esta a fórmula encontrada pela Boca do Lobo para singrar no mercado do mobiliário, em 2005. Amândio Pereira, CEO do grupo que detém esta marca, ajuda-nos a perceber o que está por trás do êxito destes móveis especiais que se impuseram à escala mundial. 20


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A ligação Lisboa-Washington D.C. via Skype fez-se sem dificuldade. Do outro lado, na capital norte-americana, Amândio Pereira reservara alguns minutos para uma conversa com a NESTA Magazine, em torno da marca cabeça de cartaz do grupo Menina Design: a Boca do Lobo. “É a partir daqui que coordeno a minha equipa em Portugal; estamos sempre em contacto”, explicou-nos o CEO da empresa, que conhece bem o poder da web, também no que diz respeito à comunicação do negócio. É com a rede – instantânea, eficaz, global – que as suas marcas têm conseguido chegar aos quatro cantos do mundo, mesmo sem a presença de representantes e lojas físicas nos diferentes locais em que semearam admiradores. “É a única forma que se tem de lutar com os titãs.” Tudo começou com o design de interiores. Depois, a necessidade de implementar obras nesse contexto levou Amândio Pereira e o sócio Ricardo Magalhães a virarem-se para as madeiras e a criarem a Preggo – uma marcenaria, apoiada em profissionais com vasta experiência, para a produção de peças à medida de cada cliente. A ambição de ir mais além acabou por ser o rastilho para a colocação em marcha de um projeto de maior envergadura. “Percebemos que as obras não eram bem o nosso futuro, que Portugal não iria ter muito mais caminho por aí. E que tínhamos de nos lançar à escala mundial”, conta Amândio. Era tempo de criarem produtos standard que lhes dessem uma margem maior, rentabilizando os recursos da empresa. Nascia assim a Boca do Lobo – no entanto, ainda sem pretensões de se tornar uma marca exclusiva. O próprio mercado teve muita influência no modelar dessa identidade e ditou grande parte da irreverência da marca. O famoso aparador Soho, munido de várias gavetas coloridas, foi a primeira das tão extravagantes como dispendiosas peças da marca, propositadamente criado para uma apresentação da coleção de arranque. Fez-se luz: “Reparámos não só que o preço não era problema mas também que havia um espaço para produtos realmente muito diferentes.” Hoje, o mercado premeia a marca por fazer “estas peças um bocadinho ‘esquisitas’, que se estranham mas depois se entranham”, constata Amândio Pereira, sem reservas. A Boca do Lobo faturou perto de 1,4 milhões de euros em 2011, um valor que sobe para os quatro milhões se falarmos do grupo Menina Design, na globalidade das marcas que lhe estão associadas. E sempre, sem exceção, a produzir móveis que não foram feitos com a função principal de albergar toalhas ou serviços de loiça, ainda que também possam servir estes propósitos.“Quem compra está a adquirir uma peça de arte com passado, algo que já não está assim tão disponível no presente”, revela o responsável realçando a exigência na produção das peças. Mais diz que quem procura a Boca do Lobo “é alguém que está à espera de se satisfazer emocionalmente em casa. Não queremos mobilar a casa de ninguém, queremos embelezar a casa de todos”, assume. Atualmente, a Boca do Lobo já

mora em casas de 52 países espalhados pelo mundo. Investir em inovação O Menina Design foi criado com capitais próprios, num financiamento de dez mil euros recuperados em três meses graças a projetos na área de interiores. A partir daí, tem sido sempre a somar: “Construímos a empresa a pulso. Tudo o que temos hoje foi feito com o dinheiro que o negócio gerou e tudo o que ganhámos voltámos a investir na empresa.” O objetivo dos sócios é atingir uma estrutura e portefólio de marcas que lhes permitam encarar o futuro com segurança e continuar a empregar. Com cerca de 40 colaboradores, a empresa conta fechar o ano com 60 trabalhadores. “Ter a capacidade de ajudar o País é um bom prémio para quem é empreendedor”, afiança Amândio Pereira, que não se refere apenas a empregar pessoas. É que uma das missões fundamentais do grupo passa por melhorar a imagem do design português, objetivando com a insígnia Portugal Brands a promoção de marcas nacionais de excelência. Se empreender compensa? “Todo o empreendedorismo é compensador quando temos a capacidade de acrescentar alguma coisa ao mundo. Com um projeto que realmente vai mudar as vidas das pessoas, muita capacidade de trabalho e inovação, não há que ter medo de investir.” E o grupo Menina Design vai continuar a fazê-lo, perspetivando a abertura de uma loja Boca do Lobo – a primeira de muitas – em Nova Iorque, possivelmente ainda este ano. Também a crescer está a Delightfull, a marca de iluminação que tem dado que falar com os seus candeeiros inspirados em ícones como Amy Winehouse e outros artistas. Podiam os dois empresários abrandar no ímpeto de criar coisas novas? Poder podiam, mas não era a mesma coisa. “Não somos muito adeptos daquela ideia de que mais do que trabalhar muito é preciso trabalhar bem. Somos mais da ideia e trabalhar muito e bem.” Texto: Margarida Reis Fotografia: Boca do Lobo

Amândio Pereira, o jovem CEO da Boca do Lobo, a marca de móveis de luxo portugueses

Links www.bocadolobo.com www.meninadesign.pt

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Observatório de Startups

beija-flor

Do papel para as pessoas Produzir cadernos de forma artesanal, juntando o design a elementos tipicamente portugueses, é para as designers Raquel Graça e Susana Gomes mais um meio de evasão ao trabalho no escritório do que um negócio. Mas o Beija-flor já ganhou projeção internacional, tendo vendido desde novembro passado centenas de peças. Foi o hábito de fazerem os seus próprios cadernos e de muitas vezes receberem pedidos de amigos e família que levou duas designers de comunicação – que passam naturalmente os dias entre pixéis – a pôr em marcha um projeto feito com papel, linha, bisturi, muita paciência e dores de costas. Ainda assim, Raquel Graça e Susana Gomes garantem não se arrependerem. Afinal, trata-se de uma oportunidade de trabalharem uma ideia própria, de comunicarem e ainda de ganharem dinheiro extra com algumas das suas paixões. Destaque para os padrões de azulejos, protagonistas da primeira coleção de cadernos que criaram: “Se em crianças os achávamos aborrecidos e sem graça, hoje já os apreciamos de uma outra forma, e a verdade é que existem azulejos mesmo

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bonitos nas nossas ruas”, dizem as mentoras do Beija-flor à NESTA magazine. E se a inspiração começou com os azulejos de Lisboa, Aveiro e Porto, presentes na primeira coleção, pedidos especiais de clientes já as levaram por exemplo a Gaia, tendo desenhado os da Igreja de Mafamude. “Recebemos todo o tipo de pedidos, uns mais interessantes do que outros, mas acreditamos que isso faz parte do trabalho”, afirmam Raquel e Susana, adeptas de uma relação estreita com os clientes e de produtos personalizados. “Trabalhamos cada encomenda individualmente, o que nos faz perder mais tempo. Mas o facto de receber pedidos de pessoas que gostam mesmo do projeto deixa-nos muito satisfeitas e com vontade de responder sempre, e da melhor forma.” Depois dos padrões de azulejos seguiram-


Observatório de Startups

Susana Gomes (esq.) e Raquel Graça (dir.), as jovens criativas responsáveis pela Beija-flor, uma inovadora marca de cadernos artesanais.

se as ilustrações, por serem elementos que conseguem fazer e reproduzir facilmente. Voo rasante, mas pouco O Beija-flor nasceu em outubro de 2011, essencialmente do desejo das designers de ter um escape ao emprego a tempo inteiro, em que têm “quase sempre imensas limitações” e a “obrigação de fazer o que lhes é pedido”, assumem. Ao tornar-se público, o projeto começou por exigir trabalho a nível de imagem gráfica da marca, de conceção de maquetas que as levassem a encontrar a melhor forma de produção e de planeamento de toda a logística de vendas, com a decisão de preços, formas de envio e empacotamento dos cadernos. “Como tínhamos todo o dia ocupado, precisávamos de ter uma organização que nos permitisse fazer tudo isto de forma rápida. Muitas vezes o trabalho do Beija-flor começa depois do jantar”, contam as designers. O negócio é baseado num blogue e a sua promoção, feita quase exclusivamente na Internet, já lhes rendeu centenas de vendas e encomendas do Reino Unido, Espanha, Luxemburgo e Brasil. A publicação do trabalho num conhecido blogue brasileiro provocou uma “chuva” de e-mails vinda do outro lado do Atlântico: “Levou-nos a crer que conseguimos comunicar bem o projeto e, claro, funcionou como um incentivo.” Quais são os

planos para o negócio crescer? A ideia é “continuar a fazer o trabalho que temos feito até agora, trazendo novidades, mas acima de tudo mantendo o cuidado na produção de cada caderno que enviamos”, afirmam. Além disso, as mentoras deste projeto admitem colocar os cadernos em mais pontos de venda, o que exigirá mais tempo disponível para a produção dos mesmos. Neste momento, Raquel e Susana estenderam a oferta, disponibilizando não só cadernos de bolso em A6 mas também em A5 e com mais páginas, no intuito de darem resposta aos novos pedidos que têm recebido. No final de contas, verem a ideia materializada na prática acaba por ser a compensação relativamente ao trabalho que têm tido. “Sabemos que fomos capazes de a passar do papel para as pessoas, e isso motiva-nos enquanto profissionais”, observam assumindo que foi um desafio. “E termos conseguido superar as expetativas revela muito acerca do nosso trabalho como designers e criativas. Ser empreendedor é importante em qualquer área de trabalho, e hoje todos nós sabemos isso”, rematam. É que as asas servem para voar, sejamos uma sumptuosa águia ou um pássaro de pequeno porte como o beija-flor. Texto: Margarida Reis Fotografia: Fred Gomes fredgomes.com

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Tendências

tendências

O Pinterest é uma rede social de partilha de fotos e foi eleito um dos melhores websites de 2011 pela revista Time. Esta rede social funciona como um painel de avisos virtual que ajuda a organizar e a partilhar o que de maior interesse se encontra na web. O melhor de tudo é que é possível navegar pelos painéis criados pelas outras pessoas e descobrir coisas novas e assim obter inspiração de pessoas que partilham os mesmos interesses.

Links: www.pinterest.com

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NESTA agora

NESTA agora Eventos

StartMeUp 2012 Sábado, 24 de Março, 10:30 – 24:00 Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Campus de Campolide Descrição: http://startmeup2012.com/ Seminários “SER EMPREENDEDOR – atitude e competência” – IAPMEI 8 a 29 de Março de 2012 CECOA – Rua da Sociedade Farmacêutica, 3 (ao Marquês de Pombal), Lisboa Descrição: http://www.iapmei.pt/ iapmei-evt-02.php?eventoID=1521 iUP25k – Concurso de ideias de negócio da UP Inscrições até 27 de março Universidade do Porto Descrição: http://iup25k.up.pt/ Entrepreneurs Dinner Break Terça-feira, 27 de Março Descrição: http://tableandfriends. com/lisboa/item/entrepreneursdinner-break Programa Futuro Connosco – Para empreendedores à procura de uma oportunidade Terça-feira, 27 de Março Onde Auditório ANJE – Lisboa Descrição: http://www.primaveraacademy.com

Workshops & Concursos Movimento mf24 Quando 30 e 31 de março de 2012 Onde Auditório do Instituto Superior de Engenharia (ISEC), Coimbra Descrição http://mf24.org/c/coimbra.html Energia de Portugal Quando Inscrições até 31 de Março Descrição http://aeiou.expresso.pt/energiaportugal Concurso MASTER.SPITCH Quando Inscrições de 16 de março a 16 de abril Descrição http://cdp.portodigital.pt/newsletter/meet-themaster-spitch/apresentacao/ So You Think You Can Pitch? Quando Domingo, 1 de Abril de 2012 Onde Braga Descrição http://www.soyouthinkyoucanpitch.org/ III Bootcamp IES powered by INSEAD Quando 13-15 de abril de 2012 Onde Cascais Descrição http://www.ies.org.pt/formacao/ies_powered_ by_insead/bootcamp/ MFBootcamp 2012 Quando De 20 a 22 de Abril de 2012 Onde Zmar Eco-Camp Resort & Spa – Zambujeira do Mar Descrição http://mfbootcamp.com/ Concurso Cidadania e Empreendedorismo Social, UA – 2012 Quando Inscrições até 30 de Maio de 2012 Onde Universidade de Aveiro Descrição http://www.ua.pt/voluntariado/

POWER EMPREGO – InnovMark 27 de Março de 2012, 14:30-17:30 (Braga); 29 de março de 2012, 14h30-17h30 (Porto) Hotel Melia Braga, Braga e Hotel Vila Galé, Porto Descrição http://www.innovmark. com/poweremprego

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