theHemisphere edição 3 • junho de 2012
theHemisphere
I
edição 3 • junho 2012
Luxur y and Lifestyle around the world
capa_lombada_ed3.indd 1
7/3/12 9:18 AM
2
ESTE AVIÃO É CONECTIVIDADE DESEMPENHO INSPIRAÇÃO ESTILO ESTE É O LEARJET.
EstE é o LEarjEt www.learjet.bombardier.com
3
NOVAk DJOkOVIC
APRESENTAMOS OS NOVOS LEARJET 70 E O LEARJET 75 Mais rápidos, incrivelmente ágeis e seguros em cada movimento. Estes são os novos Learjet 70 e Learjet 75. Estes aviões conectam Novak Djokovic a pessoas, lugares e suas paixões. Os novos Learjets possuem o revolucionário Vision* Flight Deck da Bombardier, novos interiores que tornam sua viagem mais produtiva e velocidade que deixa a concorrência para trás. Conecte-se com seu momento. Conecte-se com seu mundo através dos novos Learjet 70 e Learjet 75.
*Bombardier, Learjet, Learjet 70, Learjet 75 e Vision são marcas registradas da Bombardier Inc. ou suas subsidiárias. 2012 Bombardier Inc. Todos os direitos reservados.
6
7
8 the hemis phere Capa: Detalhe do broche Golden Leaf, Fabergé
Celso Pinto Jr
Denilson Milan
FELIPE MAIA
Rosane Aubin
ELENA CORRÊA
JULIANA SAAD
ALÊ STAUT
CAROL GHERARDI
NINA FRANCO
Um passeio pelas vanguardas O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que criou toda uma teoria sobre a fluidez das relações no mundo contemporâneo, diz que, pela primeira vez na história, Estado e poder estão separados. Daí vem, segundo ele, a confusão em que estamos todos metidos, com o surgimento de novas formas de relações de trabalho e afetividades, uma verdadeira revolução nos costumes. Como achamos que chacoalhar os hábitos pode ser muito bom, reunimos nesta edição vários exemplos de vanguardistas inteligentes e cheios de ideias para tornar o mundo melhor. A repórter Juliana Saad, uma especialista em gemologia, mostra a importância de três marcas de joias que criam verdadeiras obras de arte com diamantes, ouro e pedras preciosas. Elena Corrêa faz uma entrevista deliciosa com a artista Adriana Varejão, a brasileira que atualmente é recorde em leilões. Alexandre Staut, jornalista gourmet com incursões bem-sucedidas na literatura, conta a história de um jovem chef que estagiou com Ferran Adrià e Heston Blumenthal e criou um bufê com potencial para agradar aos cinco sentidos. E tem ainda a trajetória bemsucedida da marca de chocolates Amma, uma parceria entre um jovem baiano e um americano que conquistou o universo dos produtos finos aqui e no mundo. Detalhe: isso tudo preservando a natureza e criando novas relações que promovem a qualidade de vida dos trabalhadores. Nessa mesma linha, a Hermès, conhecida por produtos de luxo, também criou um programa para aproveitar sobras de material a partir de um desejo da herdeira, Pascale Mussard. E temos as ideias revolucionárias de Sou Fujimoto, um arquiteto japonês que ousou construir uma residência inspirada nas árvores, com vários aposentos e recantos que se comunicam como se fossem galhos.Tudo isso amarrado com bom gosto e graça por nossa diretora de arte, Nina Franco, responsável pela harmonia de nossas páginas. Boa leitura! A stroll through the vanguards What The Polish sociologist Zygmunt Bauman, who developed a theory of the fluidity of relations in the contemporary world, stated that for the first time in history, State and power are separate. Which, according to him, has produced the confusion in which we are all involved, and the consequent development of new forms of affectionate and working relations, a true revolution of habits. Since we believe that shaking up habits can be very good, in this edition we have brought together several examples from intelligent avant-garde thinkers, full of ideas to make the world a better place.The reporter, Juliana Saad, a specialists in gemology, illustrates the importance of three names in jewelry that create real works of art using diamonds, gold and precious stones. Elena Correa interviewed the artist Adriana Varejão, a Brazilian, who today is selling her art for record levels at auctions. Alexandre Staut, a gourmet journalist, with successful forays into literature, tells the story of a young chef who trained with Ferran Adrià and Heston Blumenthal and created a buffet service with the potential to please the five senses. And we also have the success story of the Amma chocolates, a partnership between a young man from Bahia and an American, that has conquered the universe of fine products here and abroad. A detail: all of this whilst preserving Nature and creating new relations that encourage the well being of employees. Along the same lines, Hermès, known for its luxury products, has also created a program to use left over materials, based on a desire of its heiress, Pascale Mussard. And we have the revolutionary ideas of Sou Fujimoto, a Japanese architect, who was bold enough to build a residence inspired by trees, with several rooms and nooks that are connected as if they were branches. All of this brought together with good taste and elegance by our art director, Nina Franco, responsible for the harmony of our pages. Enjoy the read!
Para anunciar:
Office: + 55 11 3521.7329 www.fortunacom.com.br The Hemisphere é uma publicação trimestral da FortunA - Gestora em Comunicação de Luxo em parceria com a Sotheby’s International Realty Brasil - São Paulo Conselho Editorial: Celso Pinto Jr., Denilson Milan, Rosane Aubin e Nina Franco Diretor Executivo/Comercial: Denilson Milan Publisher: Rosane Aubin Projeto Gráfico e Direção de Arte: Nina Franco (inspiredesignlab.com.br) Relações públicas: Ivo Feliciano
Marketing Sotheby’s Realty: Felipe Maia Colaboradores: Alexandre Staut, Elena Corrêa e Juliana Saad (texto), Carolina Gherardi e Marcio Blauth (foto), Susan Carol Albert (tradução), Silvana Marli (revisão) Parceiro digital para versão iPad: Trupi Interativa Impressão gráfica: IBEP Gráfica Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam a opinião da revista e das empresas FortunA – Gestora em Comunicação de Luxo e Sotheby’s International Realty Brasil - São Paulo. A reprodução das matérias e dos artigos somente será permitida se previamente autorizada por escrito pela Publisher.
O Grama por Araquém Alcântara: acesse o acervo de fotos em www.fazendadagrama.com.br
O MUNDO ESTÁ TÃO ACELERADO QUE, QUANDO VOCÊ PERCEBE, OS SEUS FILHOS JÁ CRESCERAM.
Como fa3er o tempo parar?
terrenos em condomínio de padrão internacional, natureza, lazer e campo de golfe de 18 buracos.
REALIZAÇÃO:
VENDAS:
venha viver um green day nO fazenda da grama. infOrmações e reservas: (11) 4591-8013. heliporto: lAtitude 23º 03’ 33” sul | longitude 47º 03’ 45” oeste | cód.: ssiZ Acesso pelAs rodoviAs AnhAnguerA e dos bAndeirAntes. A 70 km de são pAulo.
28 AT H O ME
12 Sketches
Hermès aproveita sobras com criatividade, spa baiano com aromas provençais e a suíte dos Campana em Paris Hermes creatively uses leftovers, Bahia spa with aromas from Provence and the Campana suite in Paris
16 Gallery
Adriana Varejão bate recorde com sua arte de contrastes Adriana Varejão breaks a record with her art of contracts
26 On the spot
Os próximos leilões da Sotheby’s The next auctions at Sotheby’s
28 At home
As casas futuristas de Sou Fujimoto The futuristic houses of Sou Fujimoto
36 FLAVOUR
Bufê para os cinco sentidos Buffet for the five senses
42 Terroir
Receitas para esquentar o cafezinho Recipes to warm up your cup of coffee
48 Landscape
Pinguins, guanacos, geleiras e cordilheiras no sul das Américas Penguins, guanacos, glaciers and mountain ranges in South America
56 Concept
Joias com status de arte Jewelry with the status of works of art
66 IDENTITY
O jovem chocolate Amma conquista o mundo The young chocolate Amma conquers the gourmet world
72 EVENTOS
Um dia de sol e mar na ilha Almada A day of sun and sea on Almada Island
74 realty
Oportunidades de investimento pelo mundo Investment opportunities around the world
82 Pinacotheca
O sucesso de Garota Dormindo The success of the Sleeping Girl
>>
10 sumá rio
11
48 lands cape
>>
>>
36 F L AV OUR
>>
56 c o ncept
photo: Vincent
Leroux
12 sketche s
GRIF E O bjeto s poé tico s
P
ascale Mussard, diretora artística e herdeira da maison Hermès, gostava de brincar com as sobras e com os retalhos dos ateliês de alta-costura do Faubourg Saint Honoré, em Paris. Criava objetos e roupinhas, tentando deixar tudo bonito e harmonioso. Quando cresceu, assumiu a empresa e continuou a utilizar resíduos onde era possível, incluindo vitrines e decoração das lojas. Já nos anos 2000, num seminário interno, alguém comentou que em breve a grife não poderia mais descartar as sobras, por causa do meio ambiente. Aí surgiu a ideia de criar o petit h, para aproveitar cacos de porcelanas, retalhos de couro, pedaços de seda e todo tipo de material que a grife de luxo antes descartava. Pascale convidou designers, inclusive os brasileiros Gustavo Lins, Fernanda Yamamoto e Rodrigo Ohtake, montou um ateliê em Patin, no subúrbio de Paris, e passou a lançar coleções do petit h em temporadas especiais de venda em várias cidades do mundo. Com preços entre 25 e 110 mil euros, as peças também servem de inspiração para os criadores da Hermès, servindo como um laboratório de ideias. Os “objetos poéticos não identificados”, como foram batizados, pelo fato de terem várias utilidades, são criados pelos designers convidados e confeccionados pelos artesãos da petit h: dois especialistas em couro, dois em prata e uma costureira. Ainda não há previsão de vendas no Brasil, mas com o sucesso que as peças têm obtido, é provável que logo a Hermès traga sua grife sustentável para São Paulo. (por rosane aubin)
photo: Coco Amardeil
photo: Vincent
Leroux
photo: Vincent
Leroux
13
As sobras da Hermès são usadas para confeccionar peças variadas, como a girafa de couro de crocodilo pela designer Marjolijn Mandersloot; além de serem vendidas, essas criações servem de laboratório de ideias para a grife The leftovers from Hermès collections are used to make a variety of pieces, such as the giraffe made from crocodile leather, by the designer Marjolijn Mandersloot; these creations, as well as being sold, act as a laboratory for ideas for the brand name.
Poetic objects ascale Mussard, artistic director and heiress to the Hermès maison, enjoyed playing with the leftovers and scraps of material from the Faubourg Saint Honoré couture ateliers in Paris. She created objects and little clothes, trying to leave everything pretty and harmonious. When she grew up, she took over the company and continued to use leftovers whenever possible, including in shop window displays and shop decorations. And in 2000, during an internal seminar, someone commented that the brand could no longer throw away its scraps because of the environment. And thus, the idea to create the petit h was born, using broken pieces of porcelain, pieces of leather, pieces of silk and all types of material that the luxury brand previously threw away. Pascale invited designers, including the Brazilians Gustavo Lins, Fernanda Yamamoto and Rodrigo Ohtake, and set up an atelier in Patin, in the Parisian suburbs, and launched the petit h collections in special sales seasons in various cities around the world. With prices between 25 and 110 thousand euros, the pieces were also inspirational for the creators of Hermès, and acted as a laboratory of ideas. The “unidentified poetic objects”, as they were baptized, given that they had various different uses, are created by guest designers and made by the workers of petit h: two specialists in leather, two in silver and a seamstress. There is still no date for sales to be made in Brazil, but given the success of the pieces, it is likely that Hermès will soon bring its sustainable brand to São Paulo.
P
14 sketche s
Exclusividade: a natureza da região cria um espaço privilegiado para aproveitar os mimos do spa, agora adepto da filosofia L’Occitane Exclusivity: the nature in the regional creates the privileged space to enjoy the pampering offered by the spa, which has adopted the L’Occitane philosophy
SPA C heiro da P rov enç a na Bahia
Q
uem for ao resort Kiaroa, na Península de Maraú, na Bahia, para as férias de julho, encontrará novidades nos quartos e no Spa Armonia. Uma parceria com a L’Occitane trouxe os produtos e a filosofia da marca francesa, que é quase um sinônimo da Provença, aos tratamentos oferecidos no spa e aos produtos de higiene e beleza à disposição nos quartos. “A grife francesa tem tudo a ver com o Kiaroa, pois acreditamos na harmonização do corpo e da mente por meio do toque manual e das técnicas das massagens tradicionais, realizadas com óleos e essências da Provença”, diz Sandra Lopes, diretora do spa e uma das proprietárias do resort. A equipe de massoterapeutas passou por um intenso treinamento para aprender as manobras das massagens e aproveitar de forma correta os componentes dos produtos. Em julho, o Kiaroa, único resort brasileiro com pista de pouso privativa para os hóspedes, oferece pacotes especiais de férias, com direito a atividades recreativas para as crianças.
The Smell of Provença in Bahia Whoever has been to the Kiaroa resort in the Maraú Peninsula de, in Bahia, for holidays in July, will find exciting new things in the suites and at the Armonia Spa.A partnership with L’Occitane has brought the products and philosophy of the French brand, almost a synonym for Provença, as part of the treatments offered at the spa and the beauty and hygiene products made available in the suites. “The French brand complements and fits in perfectly with Kiaroa, since we believe in balancing body and mind through delicate and traditional massage techniques using the oils and essences from Provença”, said Sandra Lopes, director of the spa and one of the owners of the resort. The team of massage therapists received intensive training in order to learn the art of massage and the correct use of the products’ components. In July, Kiaroa, the only resort in Brazil that has a private runway for guests, offers special Holiday packages, including recreational activities for children. (por rosane aubin)
photos: Fabrice
Rambert
15
Mistura: os designers ainda estão finalizando a decoração, que tem o tapete Sushi e peças da coleção da Trousseau ao lado de objetos vintage do hotel Mixture: the designers are still finalizing the decoration, which includes the Sushi carpet and pieces from the Trousseau collection, together with vintage objects from the hotel.
hOT EL C ampana s na R i v e Gauche
O
Lutetia, primeiro hotel Art Déco de Paris, no distrito Saint-Germain-des-Prés, já hospedou alguns dos artistas mais famosos do mundo, incluindo a eterna musa Catherine Deneuve, o pintor Picasso e o escritor Antoine de SaintExupéry, o do Pequeno Príncipe. Recentemente, o cineasta David Lynch cedeu litografias de sua autoria para uma das suítes, que foi batizada com seu nome. Em maio deste ano, foi a vez de os irmãos Campana inaugurarem, em soft open, a suíte que decoraram. “Gosto muito da Rive Gauche, me identifico com a cara mais cultural, com o tipo de pessoa que anda por lá”, diz Fernando Campana. Foi nessas caminhadas pela região que ele descobriu o Lutetia. Sempre que passava na frente, tinha vontade de hospedar-se lá. “Quando vi, estava fazendo algo para o hotel”, ri. Ele e Humberto usaram muita coisa do acervo do hotel, peças vintage misturadas a criações suas como o tapete Sushi, que cobre o chão e sobe pelas paredes. Ou as roupas de cama que desenharam para a Trousseau. Os designers ainda estão finalizando a decoração, que deverá ficar pronta em agosto, mas já entraram para a renomada galeria de artistas habitués do Lutetia. Campanas at Rive Gauche The Lutetia, the first Art Deco Hotel in Paris, in the Saint-Germain-des-Prés district, has hosted some of the most famous artists in the world, including the eternal muse, Catherine Deneuve, the painter, Picasso and the writer, Antoine de Saint-Exupéry, author of the Little Prince. Recently the film director, David Lynch gave lithographs that he had created to one of the suites, which was baptized with his name. In May of this year, the Campana brothers inaugurated, in soft open, a suite they had decorated. “I like Rive Gauche very much, I identify with the more cultural side, with the type of person who comes from there”, commented Fernando Campana. It was during his strolls through the region that he discovered the Lutetia.Whenever he passed in front of it, he always wished he were a guest there. “Before I knew it, I was doing something for the hotel”, he laughs. Him and his brother Humberto used a lot of things from the hotel’s collection, vintage pieces mixed with their own creations such as the Sushi carpet, that covers the floor and climbs up the walls, or the bed linen that they designed for Trousseau. The designers are also finalizing the decoration, which should be ready in August, but they are already included in the renown gallery of regular artists at the Lutetia. (por rosane aubin)
16 GA LLERY i A driana Varej 達 o
17
Vermelho sangue e azul do céu A obra cheia de contrastes de Adriana Varejão, uma das maiores artistas da atualidade Por Elena Corrêa fotos marcio blauth e Vicente de Mello (obras)
“
Toda criança já nasce artista, a gente que desaprende a fazer arte.” A frase dita por Adriana Varejão, a artista plástica brasileira contemporânea considerada uma das mais bem-sucedidas no circuito mundial, tem tudo a ver com sua história. Quando menina deliciava-se lendo os fascículos da série Gênios da Pintura, que sua mãe colecionava. Aos 9 anos, pintou sua primeira tela a óleo. Mas logo deixou os pincéis de lado e acabou indo cursar engenharia. Descobriu que o mundo das ciências exatas não era o seu. E foi por acaso, aos 18 anos, depois de largar a faculdade, que o chamado de volta ao mundo artístico veio enquanto assistia, na televisão, ao filme Adeus às Ilusões, de 1965, no qual Elizabeth Taylor interpreta Laura, uma pintora com ideais modernos para sua época. “Fiquei muito impressionada por aquele filme e no dia seguinte fui me matricular num curso de arte”, lembra Adriana, hoje com 48 anos de idade e 26 de carreira. O tempo mostrou que fez certo ao seguir sua inspiração, ou intuição. No ano passado, uma tela sua pintada em 2001, Parede com Incisões à La Fontana II, passou a ser considerada a obra mais cara de um artista vivo do Brasil ao ser leiloada por R$ 2,97 milhões na casa Christie’s, de Londres. O feito, no entanto, não tirou de Adriana o ar de menina nascida em Ipanema, bairro moderninho da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde cresceu e frequentava a feira hippie de artesanatos aos domingos. Seu tom de voz e gestos são suaves. Já sua obra tem uma marca forte, impactante, com referências ao barroco português, pinturas viscerais de carnes expostas, e ainda traz o contraponto da azulejaria. “Mais recentemente comecei uma série de pratos gigantes, baseados na obra de um ceramista português do século XIX, Bordalo Pinheiro”, conta Adriana. Entre os locais em que já expôs estão os conceituados MoMA, em Nova York, Bienal de São Paulo, e Tate Modern, em Londres. Sua mais recente exposição individual aconteceu ano passado em Londres, na galeria Victoria Miro. A próxima será uma retrospectiva de todo seu trabalho, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), em setembro. A obra de Adriana está presente em acervos de importantes instituições, entre elas a Fundação Cartier, em Paris, o Stedelijk Museum, em Amsterdã, o Guggenheim, em Nova York, e o Hara Museum, em Tóquio. Além de um pavilhão próprio com exposição permanente no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, um complexo museológico de galerias e jardins localizado em Brumadinho, interior de Minas Gerais. Ela chegou a ser chamada de “Princesa de Inhotim”, por ter sido casada de 2005 a 2011 com o idealizador do Centro, Bernardo Paz. Da união, nasceu Catarina, hoje com 6 anos de idade. Em seu amplo ateliê localizado no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, a artista conta com uma equipe para tratar de assuntos administrativos, jurídicos e da comercialização de sua obra. Foi lá que, em meio a obras em produção, ela deu esta entrevista. >>
18 GA LLERY i A driana Varej ã o
the Hemisphere >> Como a arte entrou na sua vida? Adriana Varejão >> Desde pequena sempre desenhei, aquelas coisas que todas as crianças fazem. Com 8 anos, entrei para o Instituto Souza Leão, um colégio dos anos 1970 superbacana que valorizava muito isso, e também tinha aulas de arte no Tablado. Lembro de folhear os fascículos de uma série sobre história da arte chamada Gênios da Pintura, vendidos em banca, que minha mãe colecionava. Guardo eles até hoje. Fora isso, não costumava ir a museus, galerias, não frequentava nada do circuito. O que eu conhecia de arte eram quadros da feira hippie perto de onde eu morava. Eu adorava uns que eram fachadas de casas, simulando sobrados antigos, tridimensionais, com telhas, varandinha, uma coisa meio alto-relevo. Com 9 anos fiz minha primeira pintura de óleo sobre tela. Depois fui seguir outros caminhos. Você chegou a cursar faculdade de engenharia. Como retornou às artes? >> No meio da faculdade, devia ter uns 18 anos, eu não estava satisfeita. Por acaso, estava vendo na televisão um filme chamado Adeus às Ilusões, com Elizabeth Taylor e Richard Burton. Achei a personagem dela incrível, uma pintora com ideais libertários, tinha uns amigos hippies artistas, morava numa praia. Fiquei muito impressionada e no dia seguinte fui me matricular num curso de arte. Nos anos 1980, entrei para a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Depois de trabalhar em ateliê livre, aluguei um, aos 21 anos. E em 1986 ganhei o Prêmio de Aquisição no Salão Nacional de Arte, por três obras: A Praia, O Universo e Rastejarás. Sua obra costuma mostrar opostos ou fazer contrapontos: vermelho sangue e azul do céu, limpeza e sujeira. São questionamentos pessoais, subjetivos, ou apenas uma fonte na qual você resolveu beber? >> Eu comecei desde muito cedo, no final dos anos 1980, a trabalhar sobre a herança barroca. Fiz uma pesquisa grande em cima do barroco português, no qual existe toda uma ideia de drama, de exacerbação dos opostos, de tensão, teatralidade, tudo isso passou a permear a minha obra no início. A partir dos anos 1990 adquiriu um caráter mais político, comecei a me interessar por história, antropologia e a usar o barroco mais como uma forma de catequese cultural, de perceber jogos que aconteceram no período colonial brasileiro. A azulejaria, por exemplo, é um elemento que sempre esteve presente nesse período, é uma herança que a gente tem de Portugal. Por outro lado, o azulejo pavimenta uma rota que vai ao mundo inteiro, desde a China, o Islã e Portugal. Sempre procurei cobrir com a minha obra esses cruzamentos culturais do mundo. Isso aconteceu muito forte nos séculos XVI, XVII, XVIII. Tenho muitas referências desse período. Que paradoxos você descobriu lidando com relações entre sensualidade e dor, violência e exuberância? >> Cada um tem uma aproximação com o trabalho de determinada maneira. Na verdade, nunca faço uma obra com uma função, sigo um caminho que a própria obra me dá. Ela fala mais. Não acontece de eu decidir: “Vou fazer isso deliberadamente com esse objetivo”. A obra desperta nas pessoas o que cada um vê, mas existe essa história dos cortes, da presença da carne, do sangue. Para mim tem várias interpretações, o barroco tem isso muito presente: a exposição >>
"Achei a personagem dela incrível, uma pintora com ideais libertários,tinha uns amigos hippies artistas, morava numa praia. Fiquei muito impressionada e no dia seguinte fui me matricular num curso de arte" “I thought her character was incredible, a painter with libertarian ideas, she had hippy friends, who lived on a beach. I was really impressed and the next day I signed up for an art course”
19
Exacerbação barroca e frieza dos azulejos: os opostos marcam a obra de Adriana, que trabalha em seu ateliê do Jardim Botânico, no Rio Baroque exacerbation and coldness of the tiles: the opposites mark the art work of Adriana, who works in her atelier in Jardim Botânico, in Rio
Red blood and blue sky The artwork full of contrasts by Adriana Varejão, one of the world’s leading contemporary artists
“
Every child is born an artist, but as we grow up, we forget how to be artistic”. This phrase by Adriana Varejão, a contemporary Brazilian artist, considered to be one of the most successful on the international circuit, speaks of her own story. As a child she adored reading the issues from the Painting Geniuses series that her mother collected. When she was 9 she painted her first oil painting. But she soon abandoned her paintbrushes and ended up studying engineering. She discovered that the world of sciences was not for her. And it was by accident, that at 18, after giving up college, a call from the artistic world came whilst she was watching the 1965 film “The Sandpiper” on television, in which Elizabeth Taylor interprets Laura, a painter with modern ideas for her time. “I was really impressed by this film, and the next day I signed up for an art course”, Adriana remembers, who today, aged 48, has a career that spans 26 years. Time has shown that she made the right decision to follow her inspiration or intuition. Last year, one of her paintings, finished in 2001, Parede com Incisões à La Fontana II, was considered the most expensive painting to be sold by a living artist from Brazil, when it was auctioned for R$ 2.97 million, at Christie’s, in London. Nevertheless, this has not resulted in Adriana losing her air of a girl born in Ipanema, a modern neighborhood in the South of Rio de Janeiro, where she grew up and where she used to go the arts and crafts hippy fairs on Sundays. Her voice and gestures are delicate, whilst her works of art make strong impacts, with their references to Portuguese baroque, visceral paintings of exposed flesh, and which also bring the counterpoint of tile work. “Recently, I started a series of gigantic plates, based on the work of a Portuguese ceramist from the XIX century, Bordalo Pinheiro”, Adriana tells. She has exhibited her work at such places as the highly acclaimed MoMA, in New York, Biennial São Paulo, and the Tate Modern, in London. Her most recent individual exhibition was last year in London, at the Victoria Miro gallery. Her next will be a retrospective of all of her work at the São Paulo Museum of Modern Art (MAM), in September. Adriana’s work is included in the collections of the most important institutions, such as Cartier Foundation, in Paris, the Stedelijk Museum, in Amsterdam, the Guggenheim, in New York, and the Hara Museum, in Tokyo. As well as her own emblem in the permanent exhibition at the Inhotim Center of Contemporary Art, a museum complex of galleries and gardens, located in Brumadinho, in the State of Minas Gerais. She was even called the “Inhotim Princess”, when she was married to the creator of the Center, Bernardo Paz, from 2005 to 2011, and with whom she had a daughter, Caterina, who today is six years old. At her extensive atelier located in the neighborhood of Jardim Botânico, in the South of Rio, the artist has a team to deal with administrative, legal and commercial questions related to her work. It was there, in the middle of the work being produced, that she gave this interview. The Hemisphere >> How did art come into your life? AdrianaVarejão >> I started to draw when I was very young, those things that all children do. When I was 8, I started at the Souza Leão Institute, an excellent school, which in the 1970s, valued art, and I also had art classes >>
20 GA LLERY i A driana Varej ã o
Açougue: a obra Ruína de Charque Santa Cruz, de 2002, óleo sobre madeira e poliuretano Butcher: the painting Ruína de Charque Santa Cruz, from 2002, oil and wood and polyurethane
“Guardei muitas obras. Não é que não venderia, mas para mim é mais importante ter a obra do que o dinheiro” “I have kept a lot of works of art. It’s not that I won’t sell them, but for me it is more important to have the work that the money“
da matéria exacerbada, a profusão quase erótica de tão apaixonada, a exposição das feridas. E não é de hoje que os pintores têm uma atração pela carne. Goya e Rembrandt, pintaram carnes. Théodore Géricault levava pedaços de carne para pintar Jangada da Medusa. Eu faço parte dessa tradição. Acho que a carne pode até gerar essa espécie de dor ou corte, mas às vezes pode transmitir uma pulsão erótica. Ou, se colocar a carne em contraponto com uma azulejaria fria, geométrica, ela pode representar uma pulsão de vida, quente, enquanto o azulejo pode dar a sensação de morte, frio, previsível. Quando se juntam opostos, cria-se uma tensão dramática que gera muitas interpretações. É um jogo recorrente dentro do barroco. Trabalhos recentes trazem referências inspiradas em espaços como açougues, botequins, saunas. Por que escolheu esses lugares? >> Foi por causa da azulejaria. Minha obra tinha muitos elementos históricos presentes e começou a vir para o mundo contemporâneo. Quis pesquisar alguns aspectos tridimensionais. Os azulejos antes desses trabalhos tinham uma narrativa histórica, baseada na tradição portuguesa. Comecei a tirar isso e ficar mais com geometria, a entrar mais numa pesquisa de espaço. Aí a pintura passou um pouco para o campo tridimensional, comecei a construir quase esculturas, pinturas esculturas, como As Ruínas de Charque, que era carne por dentro e uma parede de azulejaria por fora. Comecei a fotografar muito um lado do Rio que são os botequins, açougues e, a partir das minhas fotografias, a fazer uma série de pinturas das saunas, espaços labirínticos que projeto mentalmente, ambientes que não existem, mas baseados nessa arquitetura carioca de botequim, que é meio tosca. Comecei a criar esses ambientes na tela. Eles são exercícios puros de pintura e geometria que lidam com cor, perspectiva, questões tradicionais. Mais recentemente, a partir de 2009, comecei uma série de pratos gigantes, que são baseados na obra de um ceramista português do >>
21
Perspectivas: O Sedutor, de 2004, óleo sobre tela Perspectives: O Sedutor, from 2004, oil on canvas
at Tablado. I remember leafing through the issues of a series about the history of art called Painting Geniuses, sold in newsagents, which my mother collected. I still have them today. I didn’t go to museums, galleries; I didn’t go to anything related to the art world. What I knew about art were the paintings at the hippy markets near where I lived. I loved the paintings of house facades, simulated old houses, three dimensional, with tiles, verandas, a type of embossed work. When I was 9 years old, I painted my first oil painting. Then I ended up taking different paths. You started to study Engineering at college, how did you get back into art? >> During college, I must have been around 18, I was not very happy. By chance, I was watching a film on television called The Sandpiper, with Elizabeth Taylor and Richard Burton. I thought her character was fascinating, a painter with libertarian ideas, I had some hippy artist friends, who lived on a beach. I was fascinated, and the next day I signed up for an art course. During the 80s I joined the Parque Lage Visual Arts School. When I was 21, after having worked in an open atelier, I decided to rent one. And in 1986 I received the Acquisition Award at the Salão Nacional de Arte, for three pieces of work: The Beach, The Universe and Rastejarás. Your work often illustrates opposites or makes counterpoints: red blood and blue sky, clean and dirty.Are they personal, subjective questions, or only a source that you decided to use to be creative? >> From very early on, at the end of the 1980s, I started to work on the Baroque heritage. A did extensive research into Portuguese Baroque, in which there is an idea of drama, of exacerbating the opposites, tension, theatrical, all of this started to permeate my work at the start. During the 1990s, it started to acquire a more political slant, I became interested in history, anthropology and to use baroque more as a source of cultural catechesis, in order to perceive games that occurred during the Brazilian colonial period.Tile making, for example, is an element that always existed
during this period, it is something we have inherited from Portugal. On the other hand, tiles pave a route that covers the whole world, from China, Islam, Portugal. I always tried to cover my work with these cultural intersections from around the world. This was very evident in the XVI, XVII and XVIII centuries. I have a lot of references from this period. What paradoxes did you discover from dealing with the relationships between sensuality and pain, violence and exuberance? >> Each one is related to the work in a certain way. In fact, I never create a work with a function, I follow the path that the art offers me. It knows better than me. It is not the case that I decide: “I am going to deliberately do this, for this purpose”.The works of art awakens in each person what he or she sees, but there is this story of cuts, of the presence of flesh, of blood. I believe there are several interpretations, this is very evident in baroque: the exacerbated exposure of material, the almost erotic profusion of such passion, the exposure of wounds. And it is not just today that painters are attracted to flesh. Goya and Rembrandt painted flesh.Théodore Géricault took pieces of flesh to paint The Raft of Medusa. I am part of this tradition. I think flesh can create this type of pain, but sometimes it can transmit an erotic energy. Or, if you place the flesh in contrast with cold geometric tiles, it can represent a warm life force, whilst the tiles can give the sensation of death, cold, predictable.When opposites are brought together, they create a dramatic tension that generates various interpretations. It is a recurrent theme within Baroque. Your more recent work has introduced references inspired on areas such as butchers, bars, saunas. Why did you choose these places? >> It was because of the tiles. My works of art have a lot of historic elements present and started to include the contemporary world. I wanted to research some tridimensional aspects. Before these works, the tiles had a historic narrative, based on Portuguese tradition. I started to remove this part and retain more the geometry, and started to research space. As a >>
22 GA LLERY i A driana Varej ã o
século XIX, Bordalo Pinheiro. Não interrompi a série das saunas, mas comecei a me ocupar dos pratos. Já fiz duas individuais dos pratos, uma em São Paulo, em 2009, e uma em Londres, na galeria Victoria Miro, em 2011. A próxima exposição vai ser uma grande retrospectiva do meu trabalho no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, em setembro, que vai juntar obras de mais de 20 anos. O meio da arte também é competitivo. Você acha que as dificuldades para uma artista mulher são maiores do que para os homens? >> No meio de arte o valor está na obra que você faz, não interessa o jeito que você é. Todo mundo está interessado no valor do trabalho. Uma carreira em arte se constrói a partir de uma qualidade dos trabalhos, uma presença em exposições importantes, a obra ser selecionada. Não acredito em outra maneira de se construir uma carreira. Como sua obra conseguiu transpor fronteiras e ganhar o mundo? >> Uma tendência da arte internacional é os curadores viajarem
Mistura: Olho D’Água, de 2010, óleo sobre tela e poliuretano em suporte de madeira e alumínio Mixture: Olho D’Água, from 2010, oil on canvas and polyurethane on a wood and aluminum support
e fazer exposições que incluam artistas de vários países. No início da carreira participei da minha primeira Bienal de São Paulo, em 1994. Daí fui para a Bienal de Joanesburgo e a outra em Veneza. Quando participamos de Bienais, curadores e galeristas do mundo todo veem o trabalho, e chamam para participar de outras exposições importantes. Desde muito cedo, início dos anos 1990, comecei a trabalhar com galerias internacionais. A que eu trabalhava na Holanda, por exemplo, vendeu trabalhos meus para o Stedelijk, em Amsterdã. Em meados dos anos 1990 começaram a surgir no Brasil galerias mais estruturadas. Desde muito cedo trabalhei na Thomas Cohn, em Ipanema, que fazia feiras de artes internacionais. Depois mudei para a Camargo Vilaça, que tinha um trânsito internacional muito grande, com colecionadores e feiras, ia abrindo portas. É um conjunto de coisas. E como é o seu dia a dia, dentro e fora do trabalho? >> Eu trabalho todo dia. Venho para o ateliê sempre, mesmo que >>
23
Sensualidade: Pérola Imperfeita, de 2009, um óleo sobre fibra de vidro e resina Sensuality: Pérola Imperfeita, from 2009, oil on glass fiber and resin result, the paintings moved more towards the three dimensional field, and I started to create almost sculptors, sculpted paintings, such as As Ruínas de Charque (Jerked-Beef Ruin), which was flesh inside and a wall of tiles outside. I started to photograph a part of Rio that consists of the bars, the butchers, and based on my photographs, I created a series of paintings of saunas, labyrinth areas that project, mentally, environments that do not exist, but are based on this Rio architecture that exists in bars, which is slightly rough. I started to create these environments on screens.These are pure exercises of painting and geometry that deal with color, perspective, traditional questions. More recently, as from 2009, I started a series of gigantic plates, which are based on the work of Portuguese ceramists, from the XIX century, Bordalo Pinheiro. I did not interrupt the series of saunas, but I started to get involved with the plates. I have made two individual exhibitions of plates, one in São Paulo, in 2009, and the other in London, at the Victoria Miro gallery, in 2011. The next exhibition is going to be a large retrospective of my work at the São Paulo Museum of Modern Art (MAM), in September, which will exhibit works from the past 20 years. The art world is also competitive. Do you think that female artists face more difficulties than male artists? >>In the art world, it is the work that you do that is valued, the way
you are or who you are is not important. Everyone is interested in the value of the work. A career in art is built up based on the quality of the work, being present in important exhibitions, and the work being selected. I don’t believe there is any other way to build up a career. How did your work manage to cross borders and conquer the world? >>International art tends to involve curators who travel and organize exhibitions that include artists from various countries. At the start of my career, I participated in my first São Paulo Biennial, in 1994. From there I went to the Johannesburg Biennial, and to another in Venice. When we participate in Biennials, curators and gallery owners from around the world come to see the work, and invite us to participate in other important exhibitions. From very early on, in the early 1990s, I started to work with international galleries. After working in Holland, for example, I sold my work to Stedelijk, in Amsterdam. In the mid 1990s, more structured galleries started to appear in Brazil. From very early on I worked at Thomas Cohn, in Ipanema, which held international art fairs. Later I moved to Camargo Vilaça, which had a very large international public, with collectioners and fairs, and doors started to open up. It is a variety of things. What is your daily routine, both at work and outside work? I work every day. I always come to the atelier, even if I am not creating >>
24
Carne viva: Folds, de 2001, em óleo sobre poliuretano em suporte de alumínio e madeira Raw flesh: Folds, from 2001, in oil on polyurethane on aluminum and wood support
não esteja criando nada, fico pensando no que fazer. Muitas vezes trabalhos novos surgem totalmente por acaso, quando vejo um livro ou leio alguma coisa. Quando não estou no ateliê eu fico muito em casa, tenho uma filha pequena, gosto de ir ao cinema, às vezes viajo nos fins de semana. Pelo menos duas vezes por ano vou a Nova York ver exposições, visitar museus. Há pouco fiz uma viagem longa, de Londres fui ver duas Bienais, a de Veneza e a de Istambul. Como administra sua obra? >> Tenho uma equipe formada por uma pessoa no ateliê para me ajudar na produção, uma que vem duas vezes na semana lidar com arquivo, imagens, localização das obras, que são quase 400, parte fotográfica de acervo, e tem uma gerente que negocia com galerias, faz contratos, consignações. Como trabalho com galerias internacionais, tenho que exportar obras, são operações complicadas, então tenho uma assistente administrativa para cuidar de tudo isso. Tenho duas empresas, uma de serviço, outra comercializadora. E para lidar com as galerias eu preciso de uma pessoa jurídica. Como se sente quando uma obra sua bate recorde em um leilão, como aconteceu com Parede com incisões à La Fontana II, vendida por quase R$ 3 milhões, em Londres, no ano passado? >> O que acontece é que a gente vende, colecionadores compram, colocam em leilão e revendem. Não foi sempre assim. Antes não atingiam valores tão altos. E esses valores que a gente acha estratosféricos são considerados normais para qualquer artista inglês, americano da minha idade, entre 45 e 50 anos. Não são artistas jovens. Eu comecei minha carreira em 1986, são 26 anos de trabalho.
Há alguma de suas obras que não venderia por valor algum? >> Várias! Todas que estão comigo, como: Mapa de Lopo Homem, Quadro Ferido, Figura de Convite, Voyeur, Linha Equinocial, e dois azulejões da primeira série. Guardei muitas obras. Não é que não venderia, mas para mim é mais importante ter a obra do que o dinheiro. Você não gostou de ter sido chamada de “Princesa de Inhotim”, por ter inaugurado em 2008 uma exposição permanente no Centro de Arte Contemporânea localizado em Brumadinho, interior de Minas Gerais. Ainda incomoda? >> Não. O que acontece é que na época eu era casada com o Bernardo (Paz, idealizador do museu), fomos casados seis anos. Aí a revista Veja fez uma reportagem comigo e deu esse título. Não ligo mais para isso. Vários artistas são convidados a expor seus trabalhos em Inhotim, inclusive projetar seu próprio espaço lá. Cildo Meireles, Doris Salcedo, Hélio Oiticica, vários. Durante dois anos trabalhei intensivamente no pavilhão, foi um projeto que nasceu antes de o museu existir, antes de ser aberto ao público. Então, eu vi todo o processo de expansão de Inhotim. Você e o Bernardo Paz têm uma filha, Catarina, que está com 6 anos de idade. Ela já manifesta alguma tendência artística? >> Ela pinta bem, e muito, como toda criança que é estimulada nessa parte. Ela vive à vontade dentro do museu de Inhotim, é como se fosse a casa dela, domina o espaço. Nasceu lá, desde pequena frequenta, mas quando eu convido para ver uma exposição, ela responde na hora: “Não, mãe, não vamos ver exposição, pelo amor de Deus! Detesto exposição”. Achei melhor parar de levá-la, senão eu vou traumatizar a menina (risos). S
25
anything, I think about what I am doing. Often new work arises totally by accident, when I see a book or read something. When I am not at the atelier I am often at home, I have a small daughter, I enjoy going to the cinema, sometimes I travel at the weekends. I go to New York at least twice a year to visit exhibitions, and museums. Recently I travelled to London and from there I went to two Biennials, one in Venice and the other in Istanbul. How do you administer your work? >> I have a team that comprises one person at the atelier to help me with the production, another person who comes twice a week to help with the filing, images, location of works of art, which amount to almost 400, the photographic part of the collection, and I have a manager that negotiates with the galleries, agrees contracts, consignments, etc. Since I work with international galleries, I have to export works, these are complicated operations, so I have an administrative assistant who looks after this area. I have two companies, one a service company the other a commercial entity. And to deal with the galleries I have to a have a legal firm. How do you feel when a work of art breaks a record in an auction, as in the case of Parede com incisões à La Fontana II (Wall with incisions a la Fontana II), sold for almost R$ 3 million, in London last year? >> What happens is that we sell art, collectioners buy it, put it in auctions and resell it. It wasn’t always like that. In the past, works of arts never reached such high values. And these prices that we think are stratospheric are considered normal for any English or American artist of my age, between 45 and 50. They are not young artist, I started my career in 86, that’s 26 years work.
Do you have any works of art that you wouldn’t sell for any price? >> Various! All of them that I have kept with me, such as: Mapa de Lopo Homem, Quadro Ferido, Figura de Convite,Voyeur, Linha Equinocial, and two tile pieces from the first series. I keep my works. It is not that I wouldn’t sell them, but for me, it is more important to have the works of art than the money. You were not happy to be called the “Inhotim Princess”, when, in 2008, you inaugurated a permanent exhibition at the Center of Contemporary Art in Brumadinho, in the state of Minas Gerais. Does it still bother you? >> No.What happened was that at the time, I was married to Bernardo (Paz, creator of the museum), we were married for six years. And the magazine Veja interviewed me and gave it this title. It doesn’t bother me any more.Various artists are invited to exhibit their works at Inhotim, and even to project their own space there. Cildo Meireles, Doris Salcedo, Hélio Oiticica, and several others. I worked extensively for two years on the pavilion, the project was born before the museum existed, before being opened to the public. So, I accompanied all of the expansion process of Inhotim.
You and Bernardo Paz have a daughter, Catarina, who is six years old. Has she expressed any artistic talent? >> She paints a lot and paints well, like any child that is encouraged to do so. She feels at home at the Inhotim museum, it is like a home to her, she dominates the space. She was born there, and has always spent time there, but when I invite her to see an exhibition, she immediately says: “oh no, mum, please, I don’t want to go to an exhibition, I hate exhibitions”. I think it is better not to take her, if not, she will become traumatized (laughter). S
Veias abertas: Mapa de Lopo Homem, em óleo sobre madeira e linha de sutura Open veins: Map of Lopo Man, in oil on Wood and thread?
26 ON T HE S P OT
próximos leilões/ Upcoming auctions Para saber mais/ For more information: www.sothebys.com/en/auctions/list.html
Au Pays Des Soviets, 1929 édition numérotée 477/ 500 Estimate: 40,000 - 45,000 EUR
Sotheby’s PARIS
J UL
10
Hergé Georges Rémi dit (1907-1983) tintin
jul
English Literature, History, Children’s Books and Illustrations WILLIAM SHAKESPEARE
Estimate: 80,000 - 120,000 GBP
The History of Script: Sixty Important Manuscript Leaves from the Schøyen Collection Carolingian Lectionary, In Latin, Illuminated Manuscript
On Vellum [Most Probably Northern France Or Low Countries, Second Half Of The Ninth Century] Estimate: 20,000 - 30,000 GBP
Sotheby’s London
10 >>
JUL
>>
04 >>
Bande Dessinée - Comics
JANE AUSTEN A Gold And Gem Set Ring Estimate: 20,000-30,000 GBP
Sotheby’s London
27
24/25 SEP
PROPERTY FROM THE ESTATE OF BROOKE ASTOR Exhibition opens 17 September Emerald and diamond necklace, Bulgari, 1959 Estimate: $250,000 - 350,000
>> Sotheby’s NEW YORK
28 AT HOME i sou fuj i m oto
29
Um edifício como f l o r e s ta O premiado Sou Fujimoto imagina um futuro orgânico e harmonioso para a arquitetura, com prédios que tenham a complexidade de uma mata
photo: Iwan
Baan
Por Juliana A. Saad
photo: ed reeve
30 AT HOME i sou fuj i m oto
O
arquiteto japonês Sou Fujimoto criou o escritório que leva seu nome em 2000 e desde então acumula prêmios (RIBA International Fellowships em 2012 e o Best New Private House da Wallpaper Design Awards de 2009, pela sua Final Wooden House, entre outros), vence concursos (arrebatou o 1º prêmio da Taiwan Tower em Taichung, Taiwan, em 2011 e o The Rice Design Alliance Prize em 2010), participa de bienais (Bienal de Arquitetura de Veneza, 2010), conquista a admiração de seus pares (Carlos Jimenez, da Rice School of Architecture, diz que “em um curto espaço de tempo, Fujimoto conseguiu construir a sua própria posição inconfundível por meio de obras que surpreendem com sua simplicidade multifacetada”) e coleciona fãs por todo o mundo devido ao trabalho que soma o retorno à simplicidade arquitetônica às formas puristas japonesas. Seus projetos são criados a partir de observações sobre como as pessoas vivem e se relacionam no século XIX, o que gera a busca de novas formas de distribuir e criar espaços tanto para a interação quanto para a intimidade. O resultado são construções aéreas e integradas, com uso de transparências, vidro, interligações, patamares
e aberturas que tornam a convivência mais dinâmica e a circulação muito mais livre. Propostas que alinham o lúdico com a forma e a força de acomodar pessoas, realizar funções e quebrar tabus. O arquiteto ainda encontra tempo para produzir livros como: El Croquis 151: Sou Fujimoto 2003-2010 (El Croquis / 2010); Sou Fujimoto: Musashino Art University Museum & Library (Inax / 2010); 2G 50 Sou Fujimoto International Architecture Review (Editorial Gustavo Gili, SL / 2009) e Primitive Future (Inax / 2008) Nascido na ilha de Hokkaido, em agosto de 1971, Fujimoto formou-se em arquitetura pela universidade de Tóquio, em 1994, e estabeleceu seu próprio escritório, que leva seu nome, em 2000. Desde 2007 é conferencista da Universidade de Kioto e dá palestras ao redor do mundo. Pesquisador da história da arquitetura, Fujimoto é informado pelo presente e transformado pelo futuro. O resultado pode ser visto em pensamentos arquitetônicos convertidos em construções que surpreendem pela pretensa simplicidade do espaço único e integrado e questionam a relação de ocupação. É um trabalho cerebral de reflexão da forma e do espaço contemporâneos preocupado com a essência da vivência que leva o usuário a perceber uma saudável >>
31
House N, 2008.
A casa tem cerca de 150 metros quadrados construídos em um terreno de 236,57 metros quadrados em Oita, no Japão. Quem passa pela rua vê uma parede com aberturas lúdicas nas paredes e no telhado, uma imagem que desperta curiosidade. Projetada como uma reinterpretação de uma casa simples, tem como base três caixas, uma dentro da outra, como as tradicionais bonequinhas russas. A maior forma um muro e abriga o jardim; a de tamanho médio tem ambientes mais sociais da casa; e a pequena contém um espaço mais íntimo. Ao mesmo tempo que a casa oferece a sensação de proteção e segurança cria uma interação com o exterior e a cidade, já que a grande caixa que funciona como muro tem aberturas.
Baan
consists of approximately 150 square meters, on a piece of land of 236.57 square meters, in Oita, Japan. Whoever walks along the street can see a wall with recreational openings on the walls and roof, an image that provokes curiosity. It was projected as a reinterpretation of a simple house, and is based on three boxes, one inside the other, like the traditional Russian dolls. The largest form is a wall and surrounds the garden; the middle box contains the more sociable areas of the house; and the smaller one, comprises the intimate space. At the same time that the house offers the feeling of protection and security, it creates an interaction with the exterior and the city, since the large box that acts as a wall, has openings. photo: Iwan
photo: Iwan
Baan
House N, 2008. The house
A building like a forest The award-winning Sou Fujimoto imagines an organic and harmonious future for architecture, with buildings that have the complexity of a Forest.
I
n 2000, the Japanese architect Sou Fujimoto created the office that takes his name, and since then has accumulated awards (RIBA International Fellowships in 2012 and the Best New Private House from Wallpaper Design Awards in 2009, for his Final Wooden House, amongst others), has won contests (conquered 1st prize for Taiwan Tower in Taichung, Taiwan, in 2011 and The Rice Design Alliance Prize in 2010), he has participated in biennial ( Venice Architecture Biennial, 2010), won the admiration of his peers (Carlos Jimenez from Rice School of Architecture said that “in a short space of time Fujimoto has managed to create his own unmistakable position with works that surprise you with their multifaceted simplicity”) and has gained fans throughout the world due to the work that unites the return to architectural simplicity with Japanese purist forms. His projects are created based on observations as to how people live and relate in the XIX century, which resulted in the search for new forms for the distribution and creation of space for both interaction and intimacy.
The results are aerial buildings that are integrated, through the use of transparencies, glass, interconnections, different levels and openings that make living together more dynamic and offer greater freedom of circulation. Proposals that align recreation with form and the strength to accommodate people, perform functions and break taboos. The architect also finds time to write books such as: El Croquis 151: Sou Fujimoto 2003-2010 (El Croquis / 2010); Sou Fujimoto: Musashino Art University Museum & Library (Inax / 2010); 2G 50 Sou Fujimoto International Architecture Review (Editorial Gustavo Gili, SL / 2009) e Primitive Future (Inax / 2008) Fujimoto was born on the Island of Hokkaido in August 1971, graduated in architecture from the University of Tokyo in 1994, and set up his own office, which takes his name, in 2000. Since 2007 he has been a lecturer at the University of Kyoto and gives lectures around the world. Fujimoto is a researcher of the history of architecture, he is informed by the present and transformed by the future. The result can be seen in architectonic thoughts converted into constructions that surprise you with their alleged simplicity of space that is unique and integrated and question the relation of occupation. It is intellectual work that reflects on contemporary form and space concerned with the essence of living that enables the user to perceive a healthy ambiguity in the use of space. What units it is what separates it, and the beauty is connecting use to necessity. The beauty of the forms resides, perhaps, in the fluidity of the buildings. In an exclusive interview, Fujimoto explains his innovative architecture and said that he images buildings of the future as forests, with various organisms and plants interacting and creating spaces with light and shadow, chaos and order. THE HEMISPHERE >> Why architecture? What & whom inspired you to become an architect? Sou Fujimoto >> Before I decided to become an architect, I was fascinated by physics. I wanted to do work that would transform the framework of the world, like Einstein. It was almost by chance that I came to be interested in architecture. As I learned more about architecture and found out about Le Corbusier and Mies van der Rohe, I discovered that it is possible in the field of architecture to create new values and build new worlds; and that has had a major influence on my own architectural design.
>>
photo: Daichi Ano
32
ambiguidade no uso do espaço. O que une é o que separa, e a beleza está em ligar o uso à necessidade. A beleza das formas reside, talvez, na fluidez das construções. Em entrevista exclusiva, Fujimoto explica sua arquitetura inovadora e diz que imagina os edifícios do futuro como florestas, com vários organismos e plantas interagindo e criando espaços de luz e sombra, caos e ordem. the Hemisphere >> Por que arquitetura? O que e quem o inspirou a se tornar arquiteto? Sou Fujimoto >> Antes de decidir, era fascinado pela física. Queria fazer algum tipo de trabalho que transformasse a estrutura do mundo, como Einstein. Foi quase por acaso que me interessei por arquitetura. À medida que aprendi mais sobre o assunto e descobri Le Corbusier e Mies van der Rohe, percebi que, no campo da arquitetura, é possível criar valores e construir novos mundos. Isso exerceu uma enorme influência na concepção do meu próprio conceito de design arquitetônico. O que move você hoje em dia? Como você descreve o seu método de trabalho e suas influências e aspirações?
>> Ultimamente, acho que sou movido por qualquer coisa que seja diferente. Por coisas que são ao mesmo tempo complexas e simples, por inúmeras interações de escala, e pela coexistência de caos e ordem. No meu trabalho, tenho uma abordagem muito simples e direta de cada projeto. Ouço com atenção o que os clientes dizem sobre as condições, o local, o ambiente exterior, e escuto suas sutis intuições sobre o futuro. Com isso em mente, procuro maneiras de realizar as ideias surpreendentemente novas que inevitavelmente emergem desse processo em relação a novos espaços arquitetônicos, novas atividades humanas e a um novo senso de riqueza (ele se refere ao novo conceito que alia qualidade de vida e excelência). Você pode descrever a evolução de seu trabalho e destacar o projeto de que mais gosta? >> No meu primeiro projeto, eu ainda estava experimentando as possibilidades, não havia descoberto qual era a minha direção. No entanto, desde muito cedo, interessei-me em criar formas arquitetônicas que tivessem o tipo de complexidade e riqueza que caracterizam uma floresta ou a cidade de Tóquio, e em explorar >>
33 MAU Library ‘Daichi Ano’, 2010. Projetada para a
Musashino Art University, uma das mais respeitadas escolas de arte de Tóquio, é uma mistura de biblioteca com galeria de arte. Ela propõe uma nova relação entre o leitor e os livros, criando uma floresta de volumes abrigados em uma espiral infinita de estantes que, colocadas em camadas, atinge nove metros de altura. Essa sequência de espirais cresce e expande-se até o lado externo do edifício. Surpreendente.
MAU Library ‘Daichi Ano’, 2010. Projected for the Musashino Art University, one of the most respected art schools in Tokyo, it is a mixture between a library and art gallery. It proposes a new relationship between the reader and books, creating a forest of volumes housed in an infinite spiral of shelves that, placed in layers, reach nine meters in height.This sequence of spirals grows and expands to the outside of the building. Amazing.
What moves you nowadays? How do you describe your work´s method, influences and aspirations? >> Lately, I find that I am moved by anything that is diverse, by things that are both complex and simple, by countless interactions of scale, and by the coexistence of chaos with order. In my own work, I take a very straightforward approach to each project. I listen carefully to what the clients are saying about the conditions, the site, the surrounding environment, and their subtle intuitions about the future; and I look for ways to realize the surprising new ideas that inevitably emerge from that process in relation to new architectural spaces, new human activities, and a new sense of richness. Can you describe the evolution of your work, from your first projects to the present day, and tell us what project has given you the most satisfaction? >> In my first project, I was just feeling my way; I had not yet figured out which direction I was headed. However, from quite an early stage, I became interested in creating architectural forms that have the kind of complexity and richness that characterizes a forest or the city of Tokyo, and in exploring a new approach to architecture that integrates the natural with the artificial. In addition, I have been interested in shedding new light on the relationship between the internal and the external, which is a fundamental aspect of architecture, as well as the interactions between human activities and spaces. These interests of mine have become more clearly defined in recent years, and are being expressed within buildings in increasingly diverse forms. I hope to continue to generate an even greater variety of discoveries and innovations in the future. How do you perceive the tags Primitivism, Future, Green and Sustainability and how do you bring these concepts into your projects? What message do you intend to pass you through your work? >> I think back to the origins of architecture, to a primordial place for humans, something prior to the rich lifestyles of future people and the separation of the contradictory elements of the natural and the artificial, or a new kind of relationship between the natural and the artificial.These considerations always pull architecture back to its beginnings and provide a new starting point, one that is both fundamental and fresh. I believe that this is the only path to truly innovative architecture. >>
“Era fascinado pela física. Queria fazer algum tipo de trabalho que transformasse a estrutura do mundo, como Eisntein” “He was fascinated by physics. He wanted to do some sort of work that would transform the structure of the world, like Einstein“
photo: Iwan
Baan
34 AT HOME i sou fuj i m oto
uma nova abordagem para a arquitetura que integrasse o natural com o artificial. Além disso, tenho interesse em lançar luz nova sobre a relação entre o interno e o externo — que é um aspecto fundamental da arquitetura —, bem como explorar as interações entre atividades humanas e espaços. Esses meus interesses tornaram-se mais claramente definidos nos últimos anos e estão sendo expressos em edifícios de formas cada vez mais diversificadas. Espero continuar a gerar uma variedade ainda maior de descobertas e inovações no futuro. Como você percebe os rótulos primitivismo, futuro, verde e sustentabilidade e como executa esses conceitos em seus projetos? >> Eu penso na volta às origens da arquitetura, o retorno a um lugar primordial para o ser humano, algo anterior aos ricos estilos de vida das pessoas do futuro. E também na separação dos contraditórios elementos natural e artificial, buscando descobrir novas formas de relação entre eles. Essas considerações sempre puxam a arquitetura de volta às suas origens e fornecem um novo ponto de partida, que é tão fundamental quanto revigorante. Acredito que esse é o único caminho para uma arquitetura realmente inovadora. Você mora em casa projetada por você? Hipoteticamente quem escolheria para projetar a sua casa e por quê? >> Eu não vivo em uma casa criada por mim. Tenho medo de que se me dispor a projetar minha própria casa, isso se tornaria um processo interminável. Sinto que continuaria a ter ideias desenfreadas que eu gostaria de incorporar ao projeto, e talvez não conseguisse juntar todas elas. Se eu pudesse escolher qualquer arquiteto para projetar minha casa, gostaria que fosse Frank O. Gehry, porque aprecio o seu trabalho. Você é um conferencista famoso e convidado para dar palestras pelas mais prestigiadas instituições do mundo. O que você ensina e aprende com essas experiências? >> Eu acho que se há algo que eu possa ensinar é apenas a minha paixão pela arquitetura. Transmitir o quão maravilhoso, agra-
dável, e profundamente significativo é o trabalho de projetar edifícios, isso é algo precioso. Se eu consigo compartilhar esse entusiasmo, eles vão querer virar arquitetos. Ao mesmo tempo, ao interagir com alunos, sou capaz de voltar ao básico de uma maneira nova. Também sou inspirado por suas ideias inesperadas, inocência de valores de referência e imaginação exuberante. Dar aulas renova a minha percepção da diversão encontrada na arquitetura. Como você percebe a arquitetura brasileira? Qual é a sua opinião sobre o país? >> Nunca fui ao Brasil, infelizmente, mas é um país que eu definitivamente gostaria de visitar. Tenho certeza de que o Brasil tem algo de diferente da Europa ou da Ásia. No que diz respeito aos arquitetos, mesmo correndo o risco de fazer um comentário pouco original, devo confessar que gosto da postura generosa das obras de Oscar Niemeyer. Também estou realmente impressionado com a cultura brasileira, o estilo de vida do seu povo, as cidades e a natureza do país. Qual é o seu destino preferido no mundo? >> É sempre emocionante visitar qualquer lugar pela primeira vez. Isso inspira o meu próprio pensamento arquitetônico, sempre. Como você vê o futuro da arquitetura? O que vem por aí para Sou Fujimoto? Os seus projetos são… >> Eu realmente não sei como a arquitetura será no futuro. No entanto, acredito que ela será ainda mais diversificada, complexa e rica. Espero que um edifício do futuro seja um lugar parecido com uma floresta. Um lugar onde vários organismos e plantas interagem entre si para criar uma harmonia complexa e diversificada. Um lugar de tolerância que seja ao mesmo tempo protegido e aberto. Imagino um lugar de luz e sombras, que tenha tanto caos quanto clareza. Isso pode ser algum tipo novo de conceito que está entre uma cidade e um edifício. Estou imaginando a arquitetura do futuro todos os dias, guiado por esse tipo de intuição. S www.sou-fujimoto.com
35
Localizada em Tóquio, Japão, a casa em um bairro tranquilo da cidade foi dividida em quatro seções. São 914 metros quadrados compostos por 21 placas de piso individuais, todas situadas em diversas alturas, que dão a sensação de viver em uma árvore. As diferentes escalas e a transparência colaboram para criar um cenário de integração e privacidade desejado pelos proprietários, que romperam com os muros típicos das áreas residências do país para dar lugar à liberdade e fluidez.
House NA, 2010. Located in Tokyo, Japan, this house is in a peaceful neighborhood of the city, and has been divided into four sections. It comprises 914 square meters consisting of 21 individual floor boards, all located at different heights, which give the sensation of living in a tree. The different scales and the transparency collaborate to create an integrated scenario and the privacy required by the owners, who knocked down the typical walls in residential areas of the country to give room to liberty and fluidity.
Do you live in house projected by you? Hypothetically whom would you choose to design your own house and why? >> I do not live in a home of my own design. I’m afraid that if I did set out to design my own home, it would become a never-ending process. I feel that I would keep on coming up with unbridled ideas that I’d want to incorporate, and I might not be able to draw them all together. If I could choose any architect to design my home, I would ask Frank O. Gehry, because I appreciate his work. You are a celebrated lecturer and invited to give lectures by the most prestigious venues of the world, what do you teach and learn thru those experiences? >> I think that if there is anything I can teach, it is only my passion for architecture, to convey how wonderful, enjoyable, and deeply significant I find the work of designing buildings to be. If I can share that enthusiasm, people will want to become architects themselves. Meanwhile, by interacting with students, I myself am able to get back to the basics in a fresh way. I am also inspired by their unexpected ideas, innocent frame of reference, and exuberant imagination. It gives me a renewed awareness of the fun of architecture. How do you perceive Brazilian architecture? What is your take on the country? >> I have never been to Brazil, unfortunately, but it is a country that I would definitely like to visit. I feel sure that Brazil has something that is different from either Europe or Asia. Concerning its architects, this may be a typical comment, but I like the generous-hearted attitude of the works of Oscar Niemeyer. I am also really impressed by Brazilian culture, its people’s lifestyles, and the cities and nature of Brazil, in addition to its architecture. What is your preferred destination in the World >> It is always exciting to visit any place for the first time. That is something that inspires my own architectural thinking every time. How do you see the future in architecture? What´s next for Sou Fujimoto? Your projects are… >> I do not really know what architecture will be like in the future. However, I believe that it will become even more diverse, complex, and rich. I expect that a building of the future will be a place like a forest. It will be a place where various organisms and plants interact with each other to create a complex and diverse harmony, and a place of tolerance that is both protected and open. It will be a place of both light and shadows, and of both chaos and clarity. This may be some kind of new concept that is between a city and a building. I am imagining the architecture of the future every day, led by this kind of intuition. S photo: David Vintiner
House NA, 2010.
36 FLAVOUR i rojo criatividade gourmet
Bombom de queijo de cabra com gelatina de cassis e macadâmia Goat’s cheese balls with cassis jelly and macadamia
37
F esta d o s sent i d o s Depois de estagiar com Adrià, Blumenthal e Arzak, Vinícius Rojo revoluciona o serviço de bufês Por Alexandre Staut Fotos Carol Gherardi
P
ense em esferas multicoloridas de caipirinha, bombom de queijo de cabra com macadâmia, pirulito de cordeiro com calda de chocolate, foie gras em três texturas caramelizado em mel trufado, croque monsieur com chantilly de gruyère, canapé de morango com balsâmico de maçã e texturas de chocolate. A seleção de petiscos bem que poderia fazer parte do menudegustação de uma mesa estrelada de um desses chefs que têm revolucionado a gastronomia com criações para lá de inventivas. A novidade aqui é que os pratos citados têm dado nova cara ao serviço de bufês em São Paulo. As criações são de Vinicius Rojo, jovem chef que tem surpreendido ao servir gastronomia ultramoderna em festas de casamentos e eventos corporativos. O trabalho é desenvolvido na Rojo Criatividade Gourmet, uma grande cozinha experimental, em que Vinícius se utiliza de tendências da gastronomia contemporânea, por meio da recriação e desconstrução de pratos tradicionais, trabalho que tem instigado comensais, seja pelo sabor ou pela forma lúdica em que são apresentados. Para citar um exemplo, a tradicional porção de provolone à milanesa dos botequins, transforma-se em quadradinhos líquidos, que derretem
na boca; a salada caprese vem com tomate e uma esfera líquida de mussarela e manjericão. A inspiração não poderia vir de outro lugar, senão da cozinha do catalão Ferrán Adrià. Para aprender a usar as técnicas do chef, considerado um dos melhores do mundo, Vinícius não teve dúvidas. Comprou uma passagem de ida à Europa, bateu a porta do El Bulli, pedindo para passar uma temporada na casa. Fez o mesmo no inglês The Fat Duck, do também inventivo Heston Blumenthal, e no espanhol Arzak, de Juan Mari, casa que ganhou três estrelas no guia Michelin recentemente. Foi lá que Vinícius diz ter experimentado uma das melhores refeições de sua vida. “Só perde para a comida de minha avó”, declara ele, que ainda passou por cozinhas mais tradicionais, algumas italianas, outras francesas, aprendendo a fazer molhos, massas, tortas, assados, purês. “A ideia do bufê é apresentar uma seleção de petiscos que saiam do tradicional e que possam ser degustados com os cinco sentidos”, diz ele, que não se esquece de adaptar os pratos que conhece nas grandes mesas para o gosto nacional, atento que é aos ingredientes e à diversidade da nossa culinária regional. >>
38 FLAVOUR i rojo criatividade gourmet
Sorte na TV: Vinicius Rojo ganhou 100 mil reais em um programa do SBT e agora prepara uma atração para donas de casa Luck on the TV: Vinicius Rojo won R$ 100 thousand reais on a SBT program and is now preparing an attraction for home cooks
Vinícius aprendeu a lição da importância da exploração dos sabores nacionais na cozinha de Alex Atala, com quem também já estagiou. “Fiz questão de passar uma temporada com o Alex e também com o Tsuyoshi Murakami, do Kinoshita, para ver como trabalham, quais os ingredientes usam, como montam os pratos.” A apresentação, conforme o chef, é essencial. Fato que ele parece ter aprendido à época em que trabalhava como consultor financeiro e analista de sistema. Isso durou até 2004, quando criou o Bun Café, casa de cafés especiais. Logo depois, passou a organizar serviços de catering. Mas, sem dinheiro para criar a cozinha dos sonhos, resolveu participar do programa de TV Topa ou Não Topa Tudo por Dinheiro, apresentado no SBT por Roberto Justus. “Tinha nas mãos uma maleta com míseros 50 centavos, quando sugeriram que eu a trocasse por outra.” Para sua surpresa, ganhou uma com R$ 100 mil, com os quais montou a estrutura com que tanto sonhava. Em pouco tempo, a cozinha experimental cresceu e Vinícius passou a ser convidado para fazer o serviço de catering de eventos importantes, como o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 e o Salão Nacional de Automóveis. Nesses eventos, ele usa e abusa das técnicas modernas, mas não abre mão de recriar pratos de sua infância. É o caso de um creme de baunilha, do receituário da sua mãe. “Faço a mesma receita, mas sirvo numa taça de Martini, finalizando a sobremesa com espuma de vinho tinto e canela.” Vinícius diz que uma das dificuldades de criar pratos inventivos assim em bufês é que um serviço de catering funciona da mesma forma que um jogo de futebol. Pura adrenalina e eficiência. Mas o negócio vai tão bem que ele já criou festas para até 4 mil convidados. “Supervisiono cada prato que vai para o salão, tudo passa pelas minhas mãos”, diz. Ele conta que, nesses eventos, faz questão de circular pelos salões para saber como suas criações são recebidas. Naturalmente, ele ouve muito elogio.“Mas, vez ou outra, ouço alguém dizer que preferiria comer coxinhas e rissoles”, diz, entre risadas. E como ele recriaria esses salgadinhos? O chef pensa um instante e diz que o quitute traria os mesmos ingredientes do tradicional, mas que seria servido num prato com calda de molho barbecue. “Talvez fosse apresentados não como os conhecemos, mas em outro formato”, diz ele, que procura agora patrocínio para um programa de TV – ainda surpresa –, em que vai mostrar às donas de casa como pode ser simples fazer uma cozinha lúdica com base em ingredientes do nosso dia a dia. S
39
Dry martini de camarão com espuma de coco e castanha Dry martini of prawns with coconut froth and nuts
“A ideia do bufê é apresentar uma seleção de petiscos que saiam do tradicional e possam ser degustados com os cinco sentidos” "The Idea of buffets is to present a selection of snacks that are not the traditional ones and can be enjoyed by the five senses"
Minimedalhões de cordeiro com musseline de funghi Mini medallions of Lamb with mushroom mouse
Feast for the Senses After training with Adrià, Blumenthal and Arzak, Vinicius Rojo revolutionizes Buffet services Think of multicolored layers of caipirinha, goat’s cheese balls with macadamia, Lamb lollipops with chocolate sauce, foie gras in three textures caramelized in truffle honey, croque monsieur with gruyere cream, strawberry canapé with apple balsamic and chocolate textures. This selection of snacks could well be part of the tasting menu from one of the star tables of one of the chefs who has revolutionized gastronomy with what are more than inventive creations. What´s new, is that these dishes have given a new dimension to buffet services in São Paulo. These are the creations of Vinicius Rojo, a young chef who has surprised guests by servicing ultramodern food at weddings and corporate events. The work is developed at Rojo Criatividade Gourmet, a large experimental kitchen, where Vinícius adopts trends for contemporary cuisine, by recreating and deconstructing traditional dishes, work that has intrigued guests, both by the flavor and playful way in which they are presented. For example, the traditional deep fried provolone, served in bars, has been transformed into soft little squares that melt in the mouth; caprese salad comes with a tomato and a soft layer of mozzarella cheese and basil . The inspiration can only come from one place, the kitchen of the Catalonian Ferrán Adrià. Vinícius did not have any doubt that he had to earn to use the techniques of this chef, considered one of the world’s best. He bought a one way ticket to Europe, and knocked on the door of El Bulli, and asked to stay for a while. He did the same at the English restaurant The Fat Duck, which also belongs
to the inventive Heston Blumenthal, and in Spain, at Arzak, with Juan Mari, with this restaurant recently receiving three Michelin stars. It was there that Vinícius said he experienced one of the best meals of his life. “It was second only to my grandmother’s food”, he declared. He has also spent time in more traditional kitchens, some Italian, others French, learning to make sauces, pasta, pies, roasts and purees. “The idea of a Buffet is to present a selection of snacks that are not so traditional and which can be enjoyed with the five senses”, he says, and he hasn’t forgotten to adapt the dishes he discovered at important restaurants to local tastes, using the ingredients and diversity of our regional cuisine. Vinícius learnt the importance of exploring national flavors in Alex Atala´s kitchen, with whom he also trained. “I made sure I spent some time with Alex and also with Tsuyoshi Murakami, from Kinoshita, to see how they work, which ingredients they use, and how they present their dishes”. According to the chef, presentation is essential. This he seems to have learnt during the time he worked as a financial consultant and systems analyst. This lasted until 2004, when he then created the Bun Café, which offers special coffees. Soon after, he started to organize catering services, but, without the money to create the kitchen of his dreams, he decided to participate in the TV Program “Will you do anything for money”, presented on SBT by Roberto Justus. “I had in my hands a small case with a measly 50 cents, when they suggested I exchange it for another”. To his surprise he won a case with R$ 100 thousand, which he used to set up the structure he had dreamed of for so long. Within a short time, the experimental kitchen grew and Vinícius was invited to provide catering services at important events, such as the Formula 1 Brazil Award and the National Automobile Salon. At these events, he uses and abuses modern techniques, but does not forget to recreate dishes from his childhood, for example, the vanilla crème, from his mother’s recipe book. “I make the same recipe, but serve it in a Martini glass, and finish off the desert with red wine froth and cinnamon”. Vinícius Said that one of the difficulties in creating inventive dishes for buffets is that a catering service works in the same way as a game of football. Pure adrenaline and efficiency. But the business has done so well that he has created parties for up to four thousand guests. “I supervise every dish that is served, everything goes through my hands”, he says. He confirms, that at these events, he makes time to walk around the reception rooms to discover how his creations are being received. Obviously, he receives a lot of compliments. “But sometimes I hear someone saying they would prefer to eat drumsticks and rissoles”, he says laughing. And how would he recreate these savory dishes? The chef thinks for a minute and then says that the delicacy would have the same ingredients as the traditional recipe, but it would be served on a plate with barbecue sauce. “Perhaps it would be presented not as we know it, but in a different format”, he says. Now he is looking for a sponsor for a TV program – still a surprise – in which he will demonstrate to home cooks that it is easy to have a creative kitchen based on our regular daily ingredients. S
41
Fl達 de baunilha com calda aerada de vinho tinto e canela Vanilla flan with aired red wine sauce and cinnamon
42 Terroir i D RI N K S
43
C af Ê na ta ç a Barista cria receitas especiais para turbinar o expresso neste inverno por rosane aubin Fotos Carol Gherardi
44 Terroir i D RI N K S
O
consumo de cafés finos no Brasil cresceu em média 30% ao ano nos últimos tempos. Os brasileiros, em especial os paulistanos, cada vez mais apreciam um expresso bem tirado ou mesmo o uso de técnicas mais caseiras, como o antigo coador, que vem sendo reabilitado com glamour em mesas gourmets. No inverno, uma boa opção é incrementar o expresso com ingredientes que o deixam ainda mais quentinho e saboroso. “Café é prazer. Cada um tem de tomar da maneira que mais lhe agrada”, diz Sanny Patrícia dos Santos, barista da marca Café do Centro. Especialista em treinar equipes Brasil afora, ela criou quatro receitas de drinques para fazer em casa. Sanny ensina: tudo começa com a escolha de um bom café. Depois, é preciso usar água mineral ou filtrada e saber misturar. Como acompanhamento, ela sugere biscoitinhos amanteigados ou chocolate com menta. Para juntar ao café, caldas, bebidas ou fondues. A barista conta que uma de suas paixões é ler sobre a história da bebida, desde que foi descoberta por pastores de cabras no mundo árabe — eles decidiram provar a iguaria porque notaram que os animais ficavam mais espertos e resistentes depois de comer o grão — até hoje. Essa trajetória, aliás, tem o Brasil como destaque na atualidade. O país é o maior produtor mundial, com 30% do total. “Pena que ainda exportamos como matéria-prima, não como produto final. Quem fatura são outros países, já que o Brasil cai para a 27a posição quando se trata de vender o café já industrializado”, diz Rafael Branco Peres, um dos diretores do Café do Centro, que faz parte do Grupo Branco Peres, produtor do grão desde os anos 1950. S
S cotch Co ffee
50 ml de uísque 50 ml de expresso 10 ml de licor de cacau chantilly PREPARO Colocar o uísque, o licor e o café em uma taça. Flambe e depois decore com chantilly e suaves raspas de limão
Scotch Coffee
Ingredients 50 ml whiskey 50 ml expresso 10 ml cacao liquor Whipped cream Method place the whiskey, liquor and coffee in a glass. Flambé and then decorate with the Whipped cream and grated lemon rind
45
Ci o co l atto Espresso INGREDIENTES 20 ml de calda de caramelo 20 ml de licor de chocolate 120 ml de leite 50 ml de expresso calda de chocolate PREPARO Numa taรงa, colocar a calda de caramelo, o licor de chocolate, acrescentar o leite vaporizado e completar com expresso. Decorar com calda de chocolate
Ciocolatto E spresso
Guardanapos de linho: Maria Flor Casa
Ingredients 20 ml caramel sauce 20 ml chocolate liquor 120 ml of Milk 50 ml expresso Chocolate sauce Preparation in a glass, place the caramel sauce, chocolate liquor, added the steamed Milk and finish off with the. Decorate with the chocolate sauce
E xpr esso Fo nd u e INGREDIENTES 50 ml de fondue de chocolate 20 ml de creme de menta 50 ml de expresso chantilly PREPARO Colocar os ingredientes em uma taça, na ordem citada acima, sem misturá-los, e decorar o topo com chantilly.
Expresso Fondue Ingredients
50 ml chocolat fondue 20 ml mint crème 50 ml expresso Whipped cream Preparation
Place all of the ingredients in a glass, in the order stated above, without mixing them, and decorate and top with whipped cream.
47
Coffee in a glass Barman creates special recipes to boost express coffee this Winter
T
he consumption of fine coffees in Brazil has increased on average by 30% per annum in recent years. Brazilians, particularly, those from São Paulo, increasingly enjoy a good expresso coffee or even the use of more homemade techniques, like the antique strainer, which is being recovered with a certain glamour at gourmet tables. In Winter, a good option is to complement the expresso with ingredients that make it even hotter and tastier. “Coffee is a pleasure. Everyone has to drink it the way they enjoy it most”, says Sanny Patrícia dos Santos, the barman for the brand name Café do Centro. He is a specialist in training Brazilian teams overseas, and has created four recipes for drinks that can be made at home. Sanny says: everything begins with selecting a good coffee. Then, you have to use mineral water or filtered water, and know how to mix it. He suggests that the coffee be accompanied by little butter biscuits or mint chocolate. To add to the coffee - sauces, drinks or fondues. The barman says that one of his passions is to read about the history of the drink, since it was discovered by goat shepherds in the Arab world – they decided to try the delicacy because they noticed that the animals became smarter and more resistant after eating the grains — until today. This story, in fact, includes Brazil as one of the highlights today. The country is the largest producer worldwide, with 30% of total production. “ It is a pity we still export it as a raw material, not as a final product. Other countries earn income, since Brazil drops to 27th position in terms of sales of industrialized coffee”, says Rafael Branco Peres, one of the directors of Café do Centro, which is part of the Branco Peres Group, a grain producer since 1950. S
C afé c o m chá de ma ç ã t u r ca
Co ffee wi th T u r ki sh Appl e tea
INGREDIENTES 30 ml de café 220 ml de água 60 g de chá de maçã turca 12 g de gelatina em pó sem sabor PREPARO Coloque 220 ml de água quente em cima do chá de maçã turca e deixe descansar por 20 minutos. Em outro recipiente, dissolva a gelatina em pó em 50 ml de água fria, leve ao fogo para dissolver até chegar a uma consistência de calda. Coe o chá, misture com a calda, despeje no sifão e use gás para chantilly (N20), agitando até ganhar consistência. Coloque em cima do expresso
Ingredients 30 ml coffee 220 ml water 60 g Turkish Apple tea 12 g gelatin - no flavor Preparation Place 220 ml of hot water to the Turkish Apple tea and leave to cool for 20 minutes. In another bowl, dissolve the gelatin in 50 ml of cold water, bring to the boil until it dissolves and has the consistency of a sauce. Strain the tea, mix with the sauce, pour into the siphon and use gas for whipped cream (N20), shaking until it obtains a consistency
photo: Mc
Manus
48 land scape i A m é rica do S ul
Tão perto, tão longe Navegar pelos canais do extremo sul do continente e caminhar no Parque Torres del Paine: um roteiro próximo, pouco conhecido e cheio de encantos Por Rosane Aubin
49
Paisagens ancestrais e animais simpáticos: pinguins, picos nevados, lagos azuis, guanacos, líquens e frutas como o calafate formam o cenário do extremo sul das Américas Ancestral landscapes and friendly animals: penguins, snowy peaks, blue lakes, guanacos, lichens and fruits such as calafate berries create the scenary in the extreme south of the Americas
Q
uando recebi o convite para navegar entre Ushuaia, pertinho do Fim do Mundo, na Argentina, e Punta Arenas, no Chile, e passar três dias em um hotel de frente para o parque Torres del Paine, logo fiquei cheia de dúvidas. Será que vou passar muito frio? Vou me entediar no cruzeiro? Terei de ficar em acomodações rústicas, pouco confortáveis? Qual será a base da gastronomia local? A verdade é que sabemos bastante sobre ursos polares, auroras boreais e esquimós, e muito pouco sobre nossos vizinhos da América. Quem aproveita mais essa região pouco explorada do nosso continente são escandinavos, europeus em geral, canadenses e americanos. E que região! O extremo sul das Américas tem geleiras azuis, montanhas de picos nevados, os fofos e simpáticos guanacos, os carismáticos pinguins e condores planando nas alturas. Isso sem falar numa infinidade de frutas vermelhas e nas miniflorestas de líquens e musgos, um espetáculo que deixa os turistas confusos, sem saber se olham para a grandeza do céu ou para as pequenas maravilhas da terra. Antes de começar a viagem é preciso preparar uma mala especial. Roupas impermeáveis para usar por cima e quentinhas para usar por baixo, cachecóis, calçados próprios para trekking e também impermeáveis, além de gorros e luvas são imprescindíveis. Tanto no cruzeiro, feito no navio Stella Australis, quanto nas caminhadas no parque, é preciso estar protegido para ficar seco e aquecido nos botes que levam os passageiros até os passeios e sob as rajadas de ventos de quase 80 quilômetros por hora do Torres del Paine. Com as roupas certas, você não vai sentir frio, mas com certeza vai sonhar, em vários momentos, com uma cama quentinha e comidinhas especiais. Calma: tudo isso, com o conforto de hotéis de primeira linha e serviços atenciosos, está garantido no Stella Australis e no >> hotel butique Tierra Patagônia.
50 land scape i A m é rica do S ul
Três noites, pinguins e geleiras Embarcamos no Stella Australis, novo navio da companhia Cruceros Australis, com capacidade para apenas 200 passageiros, às 17 horas, em Ushuaia. Depois do coquetel de boas-vindas comandado pelo capitão, conhecemos os guias, que orientam os passeios em terra, dão palestras sobre a flora, a fauna e a história do lugar e ainda têm uma capacidade inesgotável de fazer piadas o tempo todo. Mas nada de brincadeiras clichês: ali cada um tem seu estilo. “Não queremos que todos cantem a mesma canção”, brinca Maurício Alvarez, um espanhol especialista em cartografia e roteiros ecológicos que chefia a equipe de expedições do navio. E não cantam mesmo. Um é especialista em pinguins, outro entende de formações geológicas... É com eles que os passageiros aprendem antes de cada excursão sobre a fauna e flora que vão visitar. Logo na primeira noite, aprendemos que a terra que cobre as rochas dessa ponta do continente é muito jovem, daí ter plantas como musgos e líquens, que são algumas das mais antigas e fazem parte dos primórdios da Terra. As florestas, também com árvores ancestrais e arbustos diferentes, lembram um pouco os cenários dos filmes da série O Senhor dos Anéis. Depois do coquetel, descemos para o piso em que está localizado o restaurante do navio. Lá são servidos os almoços e jantares, com direito a deliciosas sobremesas, preparados pelos 11 cozinheiros e patissiers chefiados por José Gomez, um chileno que gosta de temperar os pratos com “sabor de mano”. O chef, com vasta experiência, explica que sua cozinha é baseada mais em sabores naturais do que em cremes e condimentos. Quando perguntei se essa preferência excluía a famosa pimenta chilena, que eles chamam de ají, ele riu e disse que mais natural que ela, impossível. O serviço de gastronomia inclui pratos típicos como o cordeiro patagônico, mas sempre reserva uma opção para quem tem gosto mais universal. A harmonização de vinhos também é caprichosa, feita por um enólogo que dá aulas e comanda uma degustação. As cabines, espaçosas e confortáveis, têm janelas panorâmicas que permitem apreciar as paisagens a partir da cama. Com alguma sorte, e este foi o meu caso, é possível ver as baleias-francas austrais nadando calmamente e expelindo jatos de
“Não queremos que todos cantem a mesma canção” diz
Maurício Alvarez,
sobre o estilo irreverente
Stella Australis
dos guias do
“We don´t want everyone to sing the same song”, said
Maurício Alvarez,
about the irreverent style of the guides from
Stella Australis >>
51 So near, so far Navigate through the canals in the extreme South of the continent and walk in the Torres del Paine Park: a route that is nearby, little known and full of surprises When I received an invitation to navigate between Ushuaia, close to the end of the world, in Argentina, and Punta Arenas, in Chile, and then spend three days in a hotel facing the Torres del Paine Park, I was initially filled with doubts. Will I freeze? Will I get bored on the cruise? Will I have to stay in very rustic, uncomfortable accommodation? What will the local food be like? The truth is that we know a lot about polar bears, Northern Lights and Eskimos, but very little about our American neighbors. The Scandinavians, Europeans in general, Canadians and Americans enjoy this little explored region of our continent. And what a region! The extreme South of the Americas has blue glaziers, snow covered peaks, cuddly, friendly guanacos, charismatic penguins and condors soaring in the heights. All this, without mentioning the infinite types of red fruits and mini forests of lichens and mosses, a spectacle that leaves tourists confused, not knowing whether to look at the greatness of the skies, or the little wonders of the earth. Before starting to travel, you have to pack a special case. Impermeable outer clothes and warm under garments, scarves, good trekking trousers, also impermeable, as well as caps and gloves, are indispensible. Both on the cruise, taken on the ship Stella Australis, and for the walks in the park, you have to be protected to ensure you stay warm and dry on the boats that take passengers to the tours and from the gusts of wind that can reach almost 80 kms per hour in the Torres del Paine. With the right clothing you wont feel the cold, but for sure, several times a day you will dream of a warm bed and special food. Stay calm: all of this is guaranteed on the Stella Australis and at the boutique hotel Tierra Patagonia, which provide top quality services.
Conforto e ventania: as cabines do navio têm vista para as montanhas; abaixo, vista das torres e uma das cachoeiras do parque, onde ventos de até 80 quilômetros por hora esperam os trekkers Comfort and wind: the ship’s cabins have a view of the mountains; below, view of the mountains and one of the park’s waterfalls, where winds of up to 80kms per hour await trekkers
Three nights, penguins and glaciers At 17:00, we boarded the Stella Australis in Ushuaia, the new ship belonging to the company Cruceros Australis, which has capacity for only 200 passengers. After a welcome cocktail, offered by the Capitan, we were introduced to the guides, who guide the walks on land, give lectures on the flora and fauna and the history of the place and also have an inexhaustible capacity to constantly tell jokes. But none of the cliché jokes, here everyone has their own style. “We don’t want everyone to sing the same song”, joked Maurício Alvarez, from Spain, who is specialized in mapping and ecological tours, and who heads the ship’s expedition team. And they really don’t sing the same song! One is a specialist in penguins, another understands geological formations... and with them the passengers learn before each excursion about the flora and fauna that they are going to visit. On the first evening we learnt that the earth that covers the rocks at this point of the continent is very young, and that is why there are plants like mosses and lichens, which are some of the oldest found on Earth. The forests, which also have ancestral trees and different shrubs, remind us a little of scenes from the Lord of the Rings films. After the cocktail we went downstairs to the floor where the ship’s restaurant is located, where lunch and dinner are served, together with the delicious deserts, prepared by the 11 cooks and pastry chefs headed by José Gomez, a Chilean, who likes to season his dishes with “individual flavors”. The chef, with his vast >>
52 land scape i A m é rica do S ul
água. Emocionante! No trajeto Ushuaia-Punta Arenas (a Cruceros também faz o retorno, por outro caminho) a primeira parada é já na manhã (por volta de 7h) seguinte ao embarque, no Cabo Horn, mais conhecido como o Fim do Mundo. A única companhia que tem autorização para desembarcar no local é a Cruceros, que em contrapartida toma todas as providências para que o delicado ecossistema não sofra abalos. Depois de um café no salão superior, às 6h, nos preparamos para entrar nos botes. Ainda era escuro, o que deixou mais ameaçador o céu cinza de nuvens carregadas. Apesar do vento, do frio e da garoa, valeu a caminhada pelo local, que tem um farol com museu e casa, onde vive um casal com a filha (a cada ano um militar é designado para morar no lugar) e o cachorro. De volta ao navio, o café da manhã teve ares de banquete, com pães quentinhos e chocolate. À tarde, após o almoço, desembarcamos na baía Wulaia, sob um céu azul que parecia estar a milhares de quilômetros da paisagem que enfrentamos pela manhã. O passeio, com uma caminhada de mais de uma hora, inclui explicações dos guias sobre a fauna e flora e sobre os indígenas que moravam ali à época em que o cientista Charles Darwin visitou a Terra do Fogo, em 1832, com o barco Beagle, convidado pelo capitão FitzRoy. Todos eternizados nos mapas do Chile, com a Cordilheira Darwin, o Canal Beagle e o Monte Fitz-Roy. Antes de voltar ao Stella, tomamos uísque com gelo milenar dos glaciares. Na manhã seguinte, folga para dormir um pouco mais. À tarde, descemos no Glaciar Áquila, que pudemos observar bem de perto, e fizemos uma caminhada por uma floresta patagônica. Líquens, musgos e fungos à beira da trilha cheia de lama formam uma minifloresta. Não dá para resistir: é obrigatório parar e admirar a riqueza de detalhes e tons de verde. À noite, nos esperava uma
palestra sobre um dos carismáticos bichos locais: o pinguim de magalhães. Ficamos sabendo que impermeabilizam suas penas com a gordura que eles mesmo produzem e que viram a cabeça quando querem olhar para cima porque suas pálpebras são laterais, para que possam servir de cortina no mar salgado. Na manhã seguinte, desembarcamos na Ilha Magdalena, lar de pelos menos 160 mil pinguins durante o verão — no inverno, eles partem para águas menos geladas para sobreviver. Curiosidade: no verão seguinte retornam, para reproduzir-se, e os casais voltam a ficar juntos para ter outro pinguinzinho. A ida até a casa que abriga uma espécie de museu com informações da flora e da fauna, no centro da ilha, foi difícil: o vento, que soprava de frente, exigia um bom fôlego. Mas a visão dos pinguins, quase sempre em duplas na entrada de seus ninhos cavados no solo, valeu. Era a nossa última aventura a bordo do cruzeiro: desembarcamos em Punta Arenas às 11h30, de onde partimos para a região do Torres del Paine em uma van.
Arte e natureza A paisagem arrebata. No primeiro plano, o prado patagônico, com arbustos que parecem encolhidos para proteger-se do vento e formam pequenas esculturas grudadas ao chão. No segundo, o Lago Sarmiento, cujas águas azuladas parecem flutuar. E ao fundo a imponente Cordilheira Paine, com o famoso Los Huernos e os três picos do Parque Torres del Paine. Construir um hotel num cenário como esse poderia terminar de duas maneiras: como um desastre de vários pisos e vidros fumês, para ficar no mais batido; ou como um espaço harmônico, em constante interação com a natureza do entorno. >>
53 experience, explains that his cooking is based more on natural flavors than on creams and spices. When I asked if this preference excludes the famous Chilean pepper, which they call ají, he laughed and said that more natural that this, was impossible. The gastronomic service includes typical dishes such as Patagonian lamb, but there is always an option for those that prefer a more universal flavor. The wines are also carefully selected to harmonize with and complement the meals, and are the responsibility of an enologist who gives classes and offers wine tasting. The cabins, which are spacious and comfortable, have panoramic views, and enable these views to be enjoyed whilst lying in bed. If you are lucky, and I was, it is possible to see the Southern right whales calmly swimming and expelling jets of water. A thrilling experience! On the route Ushuaia-Punta Arenas (Cruceros returns, but takes a different course) the first stop is in the morning, (at around 07:00 am) after the departure, at Cape Horn, better known as the End of the World. The only company that is authorized to land at this place is the Cruceros, which at the same time takes all of the measures necessary to ensure that the delicate ecosystem is not affected. After a coffee in the top room, at 06:00am, we get ready to get into the boats. It was still dark, which made the grey sky, laden with heavy clouds even more threatening. Despite the wind, the cold and the drizzle, it was worth the walk around the place, which has a light house, with a museum and house, where a couple live with their daughter (every year an army soldier is sent to live here) and a dog. Back on the boat, the breakfast had the air of a banquet, with hot bread and chocolate. In the afternoon, after lunch, we landed at the Bay of Wulaia, under a blue sky, which seemed like a thousand kilometers from the landscape we faced in the morning. The tour, which consisted of an hour long walk, includes explanations by the guides of the flora and fauna and the indigenous people that lived here at the time that the scientist Charles Darwin visited Terra do Fogo, in 1832, in his boat the Beagle, invited by Capitan Fitz-Roy. All of them eternalized in the maps of Chile, with the Darwin Mountain range, the Beagle Channel and Mount Fitz-Roy. Before returning to the Stella, we had a whiskey with ancient ice from the glaciers. The following morning we managed to have a lie-in. In the afternoon, we got off at the Aquila Glacier, which we were able to see close up, and then we went for a walk through a Patagonia forest. Lichen,
mosses and fungus at the edge of the mud path form a mini forest. It is impossible to resist: you have to stop and admire the beauty of the details and detail of the all the different shades of green. In the evening we listened to a lecture on the charismatic local animal: the Magellanic penguin. We found out that they make their legs waterproof with the fat they themselves produce and they turn their heads when they want to look up because their eye lids are lateral, in order to serve as a curtain against the salty sea water. The following morning we landed at Magdalena Island, the home of at least 160 thousand penguins during the summer; in winter, they leave for warmer waters to survive. A curiosity: in the following summer they return, to reproduce, and the couples get back together again to have another baby penguin. The path to the house that is a type of museum with information on flora and fauna, in the center of the island, was difficult: the wind, blowing towards us, required a great deal of effort on our part. But the view of the penguins, almost all in couples at the entrance to their nests dug in the ground, was worth it. It was our last adventure on board the cruise: we landed at Punta Arenas at 11:30, from where we boarded a van and headed to the region of Torres del Paine. Art and Nature The sweeping landscape. In the forefront, the Patagonian fields, with shrubs that appear curled up to protect them from the wind and which form little sculptors stuck in the ground. In the background, the Sarmiento Lake, whose blue waters appear to float. And in the far background the imposing Paine mountain range, with the famous Los Huernos and the three peaks of the Torres del Paine Park. Building a hotel in this type of environment can have two different endings: as a disaster consisting of various floors and fume windows, at the lowest point; or as a harmonious area, in constant interaction with the surrounding nature. The Tierra Patagonia, fortunately, falls within the latter option. The architects were inspired by a wooden fossil found in the lake to create the undulated structure for the building. All of the rooms have enormous windows with a view of the countryside, lake and mountain range. The water comes from the mountains, natural and ready to drink – what is more, one of the delicacies that the hotel reserves for its guests is a bottle that can be filled up from the tap >>
Vida de gaúcho: passeios a cavalo, lanches com direito a vinho e, nesta página, a Lagoa Amarga e vista da Cordilheira Darwin Life of a gaucho: horse riding, lunches which include wine and, on this page, the Amarga Lake and view of the Darwin mountain range
54 land scape i A m é rica do S ul
O Tierra Patagônica, felizmente, está inscrito na segunda opção. Os arquitetos inspiraram-se num fóssil de madeira encontrado no lago para criar a estrutura ondulante do prédio. Todos os quartos têm janelas enormes com vista para o prado, o lago e a cordilheira. A água vem das montanhas, natural e pronta para beber — aliás, uma das delicadezas que o hotel reserva aos hóspedes é uma garrafa que pode ser abastecida na torneira e levada nas caminhadas. O cuidado com os resíduos, com o uso de materiais que não comprometem o meio ambiente e com o ecossistema é percebido em cada detalhe. O jardim, por exemplo, é feito com as próprias plantas que foram removidas na época da construção. A decoração é de matéria-prima local, como as peles de ovelhas alvas, macias e quentinhas que envolvem poltronas e almofadas. Mas o que mais impressiona é mesmo o prédio: é todo construído em madeira de lenga, árvore da região, que foi trabalhada por 60 carpinteiros durante a execução do projeto. Como a madeira ainda está nova — o Tierra Patagônia foi inaugurado em dezembro de 2011 — é comum escutar estalos no silêncio das suítes. O cuidado com as instalações, que incluem uma piscina com hidromassagem, spa, lareira sempre acesa e outros mimos, também pauta a atuação dos recepcionistas, guias e garçons. O hotel oferece mais de 30 roteiros de passeios pelo parque, incluindo o trekking
Equilíbrio frágil
Os ecossistemas da Patagônia e da Terra do Fogo exigem cuidado constante. Os fofos castores, que encontramos na Baía de Wulaia, e chegaram pelas mãos dos homens nos anos 1960, são uma verdadeira catástrofe para o ambiente. Eles abrem imensos clarões nas florestas, e derrubam árvores com a voracidade de uma serra elétrica. Maurício Alvarez, chefe de expedições do navio Stella Australis, não tem meias palavras. “Meu sonho para o futuro da Terra do Fogo é erradicar os castores.” A Cruceros Australis participa de vários projetos de preservação ao lado de universidades e centros de estudos. O Torres del Paine hoje tem uma espécie de cicatriz gravada na paisagem. No final de 2011, mochileiros acenderam uma fogueira e provocaram um incêndio de proporções gigantescas que queimou grande parte de sua vegetação. Natureza delicada: arbustos que levam décadas para crescer podem ser devastados em minutos por causa do vento Delicate nature: shrubs that take decades to grow can be devastated in minutes because of the wind
até a base das torres, para quem está com bom preparo físico, ou caminhadas leves. Fica a apenas 15 minutos de uma das entradas do Torres del Paine, patrimônio da Unesco que é considerado um dos mais importantes parques do mundo. A fauna e a flora da região são ricas. Os temidos pumas são mais de 50, e vivem dentro dos limites do parque. Já os guanacos, animais mansos de cílios compridos e olhar doce, estão por todo lado, em bandos. Desde que uma lei proibiu sua caça, voltaram a ser numerosos. Os condores, nhandus e flamingos são mais difíceis de avistar, mas aparecem. Na geografia de barulhentas cachoeiras, plácidos lagos e montanhas vertiginosas, o céu também disputa as atenções: nuvens de diferentes formatos recortam o azul. Depois de um dia caminhando, nada melhor que apreciar o céu pelo vidro da van. E preparar-se para as delícias do jantar. As gastronomia, é bom avisar (especialmente para quem faz dieta), é outro dos motivos que atraem pessoas exigentes do mundo inteiro ao Tierra Patagônia. Assados patagônicos, tortas com frutinhas de calafate, peixes frescos e vinhos da melhor qualidade fazem parte do menu. S A jornalista viajou a convite da Cruceros Australis, Tierra Patagônia e LAN. Mais informações: www.cruceros.com, www.tierrapatagonia.com e www.lan.com
55
Harmonia por dentro e por fora: o Tierra Patagônia integra-se à paisagem e permite que os hóspedes apreciem a paisagem a partir de todos os ambientes Harmony inside and outside: the Tierra Patagonia is integrated with the landscape and enables guests to appreciate the landscapes from all of the environments.
and taken on walks. The care taken of residues, the use of materials that do not affect the environment or with the ecosystem is evident in every detail. The garden, for example, is made up of plants that were removed at the time of the construction. The decoration is from local raw materials, such sheepskins, soft and warm that cover armchairs and cushions. But what is most impressive, is the building: it is built totally of beech wood, a regional tree, and was worked by 60 carpenters during the Project. Since the wood is still new— the Tierra Patagonia was inaugurated in December 2011 – you can often hear the wood snapping in the silence of your suite. The care taken with the facilities, which include a swimming pool with whirlpool, spa, fireplace that is always lit and other treats, is also evident in the friendliness of the receptionists, guides and waiters. The hotel offers more than 30 trails through the park, including trekking to the base of the mountains, for those who are in good physical condition, or lighter walks. It is located only 15 minutes from one of the entrances to the Torres del Paine Park, property belonging to Unesco which is considered to be one of the most important parks in the world. The flora and fauna from the region is very rich. There are more than 50 wild cougars that live within the limits of the park. Whilst guancos, tame, sweet animals with long eyelashes, roam in bands throughout the park. Since a law was enacted that prevented them from being hunted, they have recovered in numbers. The condors, rheas and flamingos are more difficult to sight, but they do appear. Within the landscape of the noisy waterfalls, placid lakes and breathtaking mountains, the sky also competes for your attention: clouds in different formats silhouette the blue sky. After a day walking, nothing better than enjoying the sky through the windows of the
van. And get ready for the delicious supper. It is worth remembering (specially for those on diets) that the gastronomy is another reason that attracts people with high expectations from around the world to Tierra Patagonia. Patagonian roasts, pies with calafate berries, fresh fish and top quality wines are part of the menu. Fragile balance The Patagonia and Terra do Fogo ecosystems require constant care. The cute beavers, that we found in the Bay of Wulaia, and arrived as a result of man’s intervention in the 1960s, are a real disaster for the environment. They open up great holes in the forests, and knock down trees with the voracity of an electric chainsaw. Maurício Alvarez, head of the expeditions from the ship Stella Australis, says quite bluntly: “My dream for the future of Terra do Fogo is to eradicate the beavers.” Cruceros Australis participates in several preservation projects together with universities and study centers. Today, the Torres del Paine Park has a scar marked into its landscape. At the end of 2011, backpackers lit a campfire and caused a fire of unimaginable proportions that burnt a significant part of the vegetation. S The journalist traveled at the invitation of Cruceros Australis, Tierra Patagonia and LAN For further information: www.cruceros.com, www.tierrapatagonia.com, www.lan.com
56 concept i A LTA J OA LHE RI A
Ponto de fusão As coleções de alta joalheria que se confundem com obras de arte Por Juliana A. Saad
Clássico da Van Cleef & Arpels: o colar Oriane, em diamantes e rubis, é feito à mão e envolve uma série de especialistas em cada etapa Classics from Van Cleef & Arpels: the Oriane necklace, in Diamonds and rubies, is handmade and involved several specialists during at each stage
photos: Š Van
Cleef & Arpels
57
photos:
© Van Cleef & Arpels
58 concept i A LTA J OA LHE RI A
Cenas de um ateliê: o design em guache, a seleção das gemas, a cravação das pedras e o controle de qualidade para checar se a peça segue o desenho. Scenes from an atelier: the painted design, a selection of gems, the setting of the Stones and the quality control to check that the piece follows the design.
59
A
alta joalheria é para as joias aquilo que a alta-costura representa para a moda: um mundo à parte, uma esfera em que a competência da produção artesanal, a originalidade do design e a nobreza dos materiais fundem-se para criar verdadeiras obras-primas. Apesar das tecnologias de ponta em uso na indústria de joias, a alta joalheria permanece um reduto dos mestres da ourivesaria e da lapidação, cujo talento e destreza são essenciais para a elaboração de peças altamente intricadas. Adornadas pelas mais raras gemas e confeccionadas em metais exclusivos, são feitas à mão e consomem meses de trabalho envolvendo uma série de especialistas e etapas — que vão da escolha da pedra até a elaboração do design, passando pela fundição do metal, lapidação, cravação e polimento. Essas peças extraordinárias moldam a reputação inigualável e a aura de sofisticação que circundam o mercado particularmente exigente da alta joalheria. Ultrapassam o status de joias e resistem rarefeitas em meio às preocupações mundanas. O tempo só lhes acrescenta valor, transformando-as em itens de colecionador. A seguir, uma seleção de três maisons que calcaram sua história em safiras, brilhantes, rubis, esmeraldas... E fundiram o design de joias à arte. São joalherias cuja simples menção se confunde com a história da alta joalheria mundial. >>
Apesar da tecnologia de ponta, a alta joalheria permanece artesanal e exige profissionais extremamente competentes
Point of merger The exquisite jewelry collections that are mistaken for works of art
E
xquisite jewelry is to jewels what haute couture is to fashion: a separate world, an area where the skills of crafted production, original designs and the nobility of the materials are joined to create real works of art. Despite the cutting edge technologies used in the jewelry industry, exquisite jewelry making remains a stronghold of the masters of goldsmith and lapidary, whose talent and skills are essential for making highly intricate pieces. Adorned with the most rarest of gems and made in exclusive metals, they are handmade and take months of work involving a series of specialists and different stages -— that range from selecting the stone to preparing the design and passing through the metal casting, cutting, mounting and polishing stages. These extraordinary pieces shape the unmatched reputation and aura of sophistication that surround the highly demanding market of exquisite jewelry These pieces go beyond the status of jewelry, and remain exclusive amid mundane concerns. Time only increases their value, transforming them into collectors’ items.. Presented below are three houses that have built their own stories on sapphires, diamonds, rubies, emeralds…... And have turned jewelry design into an art. They are jewelers, whose names are connected with the story of international exquisite jewelry. Van Cleef & Arpels The Van Cleef & Arpels story began in 1896, when Alfred Van Cleef, a Dutch jeweler specialized in cutting precious stones, married Estelle Arpels, daughter of a diamond Merchant. The marriage, followed by the couple moving to Paris, produced the jewelry store that became synonymous with luxury and prestige worldwide. Since its foundation in Paris, in 1906, the house has gained an excellent reputation for its ability to handle rare stones and metals. All of this expertise is evident in its collection of exquisite jewelry, such as the magnificent Bals de Légend, consisting of five sets of jewelry– The Winter Bal, Le Bal du Siècle, The Black and White Ball, The Oriental Bal and The Proust Ball – inspired by five extraordinary balls during the XX century. Formidable creations together with precious metals and rare gems. The first Brazilian shop will be inaugurated in Shopping JK and there will be exclusive niches for the exquisite jewelry. www.vancleefarpels.com
Despite the cutting edge technology, exquisite jewelry continues to be handmade and requires highly competent professionals.
Cartier Founded in Paris in 1847, by Louis-François Cartier, the company has a long history of services provided to European royalty. It received the nickname of “joaillier des rois, roi des joailliers” (jeweler of kings, king of jewelers) from Edward VII, the Prince of Wales at the time. The collections of the French house offer the essence of timeless luxury and beauty of precious stones and metals in designs that are inspired from different areas, such as nature, flowers, the animal kingdom, including its famous registered brand the Panthère de Cartier. Revered for its consistent production of superior quality articles, Cartier is part o the elite group of international exquisite jewelers. The Cartier collections are sold in its shops worldwide. www.cartier.com.br e http://fondation.cartier.com
© Elliott Erwitt/ Magnum Photos
60 concept i A LTA J OA LHE RI A
Van Cleef & Arpels A história da Van Cleef & Arpels começa em 1896, quando Alfred Van Cleef, um joalheiro holandês especializado em lapidação de pedras preciosas, casou-se com Estelle Arpels, filha de um mercador de diamantes. A união, seguida da mudança do casal para Paris, deu início à joalheria que se tornou sinônimo de luxo e prestígio em todo o mundo. Desde sua fundação, na Paris de 1906, a maison angariou alta reputação por sua habilidade no manejo de pedras e metais raros. Toda essa expertise se traduz em suas coleções de alta joalheria, como a magnífica Bals de Légend, composta por cinco conjuntos de joias – The Winter Bal, Le Bal du Siècle, The Black and White Ball, The Oriental Bal e The Proust Ball – inspirados em cinco bailes extraordinários do século XX. Criações formidáveis concatenadas com metais preciosos e gemas raras. A primeira loja brasileira será inaugurada no Shopping JK e terá nichos exclusivos para a alta joalheria. www.vancleefarpels.com
Cartier Fundada em Paris em 1847 por Louis-François Cartier, a empresa tem um longo histórico de serviços à realeza europeia. Recebeu a alcunha de “joaillier des rois, roi des joailliers” (joalheiro dos reis, rei dos joalheiros) de Edward VII, o então Príncipe de Gales. As coleções da maison francesa trazem a essência do luxo e a beleza atemporal das pedras e dos metais preciosos em designs que se inspiram em motivos diversos, como a natureza, as flores e o reino animal, incluindo sua famosa marca registrada, a Panthère de Cartier. Reverenciada por sua consistente produção de artigos de qualidade superior, a Cartier faz parte do grupo de elite da alta joalheria mundial. As coleções de alta joalheria da Cartier são vendidas em suas lojas em todo o mundo. www.cartier.com.br e fondation.cartier.com
>>
© Cecil Beaton/Conde Nast/Corbis © Archives Maison Boucheron - Photo Yannick Le Merlus
Grandes bailes de Van Cleef & Arpels Na página ao lado, a festa Black and White, organizada por Truman Capote em Nova York, em 1966, e o broche Black Apples, em ônix, pérolas e diamantes. Acima, a musa Marisa Berenson e o broche Rosemunde, em degradê de safiras, pérolas, lápislazuli e diamantes. Ao lado, a imperatriz Alexandra Féodorovna e o anel Providence, da coleção Bal D’Hiver, de 1903. A peça é feita com uma rara esmeralda da Colômbia, safiras e diamantes. The Grand Parties of Van Cleef & Arpels On the opposite page, the Black and White party, organized by Truman Capote in New York in 1966, and the Black Apples brooch, in onyx, pearls and diamonds. Above, the muse Marisa Berenson and the Rosemunde brooch, in sapphires, pearls, lapis lazuli and diamonds.To the left The Empress Alexandra Féodorovna and the Providence Ring, from the Bal D’Hiver collection, from 1903. The piece is made from a rare emerald from Columbia, sapphires and Diamonds.
62 concept i A LTA J OA LHE RI A
Fabergé Em maio de 2012, a maison comemorou os 166 anos de nascimento de seu fundador, Peter Carl Fabergé, um artista joalheiro que capturou o extraordinário momento de sua época em peças e joias que se tornaram obras-primas de habilidade artesanal, beleza e perfeição raras. Todos os anos, em maio, ocorre a Semana da Rússia em Londres, época em que as grandes casas de leilões realizam vendas de peças de arte do país e, invariavelmente, incluem peças Fabergé. Não foi diferente em 30 de maio deste ano, quando a Sotheby’s vendeu um porta-retratos Fabergé feito em 1869 para a mulher do príncipe Vladimir Anatolievich Bariatinsky, general e amigo do czar russo Alexandre Romanov III. A história da dinastia russa Romanov se confunde com o início da Fabergé. A lendária série de opulentos e engenhosos ovos de Páscoa imperiais feitos sob encomenda por Fabergé, de 1885 a 1917, para os czares da Rússia, é um dos emblemas da época. Nos dias de hoje, as coleções de alta joalheria da Fabergé – como as Les Fabuleuses, Le Carnet de Bal, Les Saisons Russes – refletem o refinamento técnico e as referências estilísticas que fizeram a fama da joalheria como criadora de peças de arte. www.faberge.com
Dos faraós às estrelas de Hollywood A ligação entre arte e joalheria começou há milênios. Em 3000 a.C os egípcios já usavam ouro e pedras preciosas para fazer elaborados adornos. Na tumba do faraó Tutankamon foram encontradas máscaras mortuárias, braceletes, colares e outros artefatos considerados obras de arte. Sua importância é tamanha que fazem parte da coleção permanente do British Museum, em Londres. Ao longo da história a categorização das joias como objetos de arte se confirmou abundantemente e, em alguns momentos, atingiu ápices. Como em 300 a.C, com as peças em filigrana elaboradas pelos gregos, verdadeiros bordados em ouro. Oito séculos antes de Cristo foi a vez de os etruscos deixarem sua marca permanente em solo italiano com adornos de ouro granulado que muito contribuíram para a herança da alta joalheria italiana. Nunca faltaram membros da realeza para atestar o poder das joias — das rainhas europeias aos marajás indianos, passando pelos príncipes árabes.A pompa e ostentação das cortes tiveram Maria Antonieta e Josephine (para citar apenas duas) como embaixadoras natas da alta joalheria. Nos séculos XVIII e XIX, as Parures — conjuntos coordenados que geralmente incluíam um colar, um pente para cabelo, uma tiara, uma diadema, brincos e cintos elaborados com gemas preciosas e ouro — foram o emblema máximo da alta joalheria nas cortes de todo o mundo. O movimento das artes decorativas no final do século XIX e início dos XX deu origem a peças maravilhosas. Curvas sinuosas e formas orgânicas foram modeladas por verdadeiros mestres da ourivesaria, como René Lalique, que produziu algumas das mais belas joias Art Nouveau com motivos de fauna e flora e muita assimetria e fluidez. A produção de joias de arte continuou ao longo das primeiras décadas do século XX, e só foi interrompida nos períodos de guerra. Nos anos 1940 e 1950 encontrou terreno fértil em Hollywood, por meio de suas estrelas. Atualmente, as coleções são elaboradas apenas pelas mais reputadas joalherias do planeta, que detêm o know-how e apresentam obras preciosas. Um dos principais palcos para a apresentação das coleções do gênero é a Bienal des Antiquaires. O evento deste ano ocorrerá de 14 a 23 de setembro, em Paris, e terá ninguém menos que Karl Lagerfeld como cenógrafo. Um dos pontos altos da bienal é justamente as coleções de alta joalheria. S
63
Fabergé In May 2012 the house commemorated 166 years since the birth of its founder, Peter Carl Fabergé, a jewelry artist who captured the extraordinary moment of his time in pieces and jewelry that became works of arts with their amazing craftsmanship, beauty and rare perfection. Every year, in May, the Russian week is held in London, when the important auction houses sell works of art from the country, and which invariably include Fabergé pieces. It was no different on May 30 of this year, when Sotheby´s sold a Fabergé frame made in 1869 for the wife of Prince Vladimir Anatolievich Bariatinsky, a general and friend of the Russian Czar Alexandre Romanov III. The history of the Romanov Dynasty is joined with the beginning of Fabergé. The legendary series of opulent and ingenious imperial Easter eggs made to order by Fabergé, from 1885 to 1917, to the Czars of Russia, is one of the emblems of the time. Today, the collections of Fabergé exquisite jewelry – such as Les Fabuleuses, Le Carnet de Bal, Les Saisons Russes – reflect the technical refinement and the stylistic references that make the jeweler famous as a creator of works of art. www.faberge.com
From pharaohs to Hollywood stars The relation between art and jewelry began thousands of years ago. In 3000 AC, the Egyptians used gold and precious stones to make elaborate adornments. In the tomb of pharaoh Tutankhamen, death masks, bracelets, necklaces and other artifacts were found, and considered to be works of art. The discoveries are considered so important that they are part of the permanent collection at the British Museum, in London. Throughout history, the categorizing of jewelry as works of art has been abundantly confirmed, and at certain times, reached peaks, as in 300 B.C, with the pieces in filigree made by the Greeks, embroidered in real gold. Whilst 800 BC, it was the Etruscans who left a permanent mark on Italian soil with adornments in gold granules that made an important contribution to the heritage of Italian exquisite jewelry. There has never been a shortage of members of royalty to confirm the power of jewels – from European queens to Indians Maharajas, through to Arabian princes. The pomp and ostentation of the courts included Maria Antoinette and Josephine (to cite only two ) as innate ambassadors of exquisite jewelry. In the XVIII and XIX centuries, the Parures — matching sets, that usually included a necklace, a comb for the hair, a jewel, earrings and belts made with precious gems and gold — were the highest symbol of exquisite jewelry in the courts throughout the world. The decorative arts movement at the end of the XIX century and beginning of the XX century produced wonderful pieces. Sinuous curves and organic forms were modeled by true masters of jewelry, such as René Lalique, who produced some of the most beautiful Art Nouveau jewelry with flora and fauna motifs, movement and asymmetry. The production of artistic jewels continued throughout the first decades of the XX century, and was only interrupted during the war years. In the 1940s and 1950s Hollywood was fertile land, given the variety of stars. Today, the collections are made only by the most reputed jewelers in the world, who retain the know-how and offer precious works of arts. One of the main stages for presenting the collections of this nature is the Bienal des Antiquaires. This year the event will be held between September 14 and 23, in Paris, and will include no less than Karl Lagerfeld as the set designer. One of the high points of the biennial is the collection of exquisite jewelry. S
Excelência nos detalhes Na página ao lado, os anéis Diamond Scarab e Nimphea, e a aliança Charmand Rose, todos da Fabergé. Acima, brincos em diamantes e platina da Cartier. Excellence in details On the opposite page, the Diamond Scarab and Nimphea ring, and the Charmand Rose wedding ring, all from Fabergé. Above, diamond and platinum earrings, from Cartier.
Leo Tailor Made
64
Morumbi: Av. Giovanni Gronchi, 4.321 - Fone: 11 2122-0800
Respeite a sinalização de tRânsito. Preço de R$ 179.900,00 à vista válido para o modelo Chrysler 300C V6 ano/modelo 2011/2012, sujeito à variação do ICMS de acordo com a legislação de cada Estado. Oferta válida até 30/06/2012 ou enquanto durar o estoque. *Frete de R$ 800,00 a R$ 2.800,00. Garantia de três anos, conforme o manual de garantia e manutenção do veículo. CAC 0800 7037 130. Chrysler é marca registrada do Chrysler Group LLC. www.chrysler.com.br
• Motor 3.6L V6 Pentastar de 286 cv • GPS Garmin integrado • 7 airbags com 9 pontos de proteção
A partir de
R$ 179.900,00 ch screen de tou 8,4 y a pl
s ada leg po
Di s
à vista + frete*
Câmbio com
tra n
Shi ão E- ft de 8 ve iss lo sm
s ade cid
Vo lan to te c om aquecimen
Jardins: Av. Europa, 615 - Fone: 11 3062-8526
CAC 0800 7037 130
w w w. c o m a r c v e i c u l o s . c o m . b r
www.chrysler.com.br
66 identity i A M M A
Com a força e o sabor da floresta
Amma conquista o universo dos chocolates finos em apenas três anos graças ao cacau produzido na Mata Atlântica Por ROSANE AUBIN
67
P
ara quem vê de fora é um verdadeiro fenômeno: lançada em 2010, a marca Amma hoje figura nos principais restaurantes do país, em lojas especializadas em produtos finos pelo mundo e na seleta lista de melhores do livro Chocolate Unwrapped — Taste and Enjoy the World’s Finest Chocolate, de Sarah Jane Evans. O fenômeno é difícil de explicar, já que hoje adquirir credibilidade e espaço no mundo da gastronomia é uma tarefa árdua. Mas é fácil de sentir: basta morder um pequeno pedaço de uma das barras, especialmente as com maior percentual de cacau. O chocolate dissolve-se sobre a língua, e seu sabor intenso e cítrico, sem nada de amargor, espalha-se pela boca e desce pela garganta, macio e envolvente. Poucas marcas no mundo chegam a esse equilíbrio de sabores tão fino, já que a fórmula para fazer um bom chocolate tem muitas variáveis. No caso da Amma, tudo começa na riqueza da biodiversidade da Mata Atlântica do sul da Bahia, de onde saem as amêndoas orgânicas processadas na fábrica de Salvador, e continua no cuidadoso processo de secagem e torrefação. Tudo começou no início dos anos 2000, quando Diego Badaró, formado em comércio exterior, sentiu o desejo de voltar a tomar conta das fazendas de sua mãe. Ela, aliás, foi a única da família, produtora de cacau há cinco gerações, a conservar as terras depois que as plantações foram atingidas pela vassoura-de-bruxa, um fungo que reduz drasticamente a produção.“Foi um chamado ancestral. Fui aos poucos voltando para as fazendas, introduzindo o manejo orgânico e mudando os métodos de trabalho. A agricultura convencional tem produtividade maior, mas debilita, enfraquece e desequilibra
>>
68 identity i A M M A
Diego Badaró e Frederick Schilling
O olho do dono faz o melhor cacau: Diego Badaró acompanha de perto a produção e orienta os trabalhadores no uso de técnicas orgânicas The owner’s (keen) eye produces the best cacao: Diego Badaró closely accompanies production and trains workers in the use of organic techniques
o meio ambiente”, diz Diego. Com as novas técnicas orgânicas, a vassoura-de-bruxa foi perdendo força, e o cacau começou a ter mais qualidade a partir de 2005, quando passou a ser vendido por preços melhores que as cotações da bolsa. Nesse mesmo ano, Diego participou do Salon du Chocolat, mais importante evento do setor, em Paris, onde conheceu o mestre chocolateiro François Pralus. O francês visitou Ilhéus e passou a comprar as amêndoas. No ano seguinte, Diego foi ao salão de Nova York e deixou alguns grãos no estande da Dagoba, maior fábrica de chocolates orgânicos dos Estados Unidos na época. Frederick Schilling, CEO da companhia, veio ao Brasil um mês depois e então o brasileiro o convidou a participar do projeto Amma. Os dois fundaram a empresa em 2007, em 2009 fizeram os testes de produção e em março de 2010 lançaram a marca no mercado. No primeiro ano, fabricaram 20 toneladas; em 2011, 60; e em 2012 deverão chegar a 100. “O segredo do chocolate está na fazenda, no cacau. Você não encontra chocolates com alto teor de cacau nas prateleiras porque a indústria não usa matéria-prima de qualidade. Você não consegue fazer um chocolate com 70% de cacau porque ele ficaria muito ruim, teria de ser muito queimado para uniformizar o sabor”, explica Diego. Ele conta que, num processo normal, o cacau vai da plantação à prateleira em sete dias. “No nosso caso, leva até 60 dias. Colhemos, deixamos descansar, fermentamos num processo cuidadoso, secamos ao sol e depois levamos para a fábrica, onde torramos, processamos e deixamos parado para concluir a cristalização”, diz. São esses cuidados que permitem que o chocolate da Amma, preparado com frutos no ponto certo, seja considerado premium ou gourmet. O sistema de gestão também é diferenciado. Os trabalhadores das fazendas, que são cerca de uma centena, são incentivados a cuidar bem da terra e dos cacaueiros porque 50% do que produzem é deles. “Metade da produção de nossas fazendas fica para a Amma, a outra metade é dos trabalhadores. Compramos deles esses 50% a preço de cacau fino (mais alto do que a cotação das bolsas). O que não usamos na Amma vendemos para o mercado interno, grandes moageiras”, conta Diego. A fábrica de Salvador tem 25 funcionários, sendo que um está desde a construção do prédio. De ajudante de pedreiro, ele passou a operário especializado. “Aprendeu a fazer chocolate lindamente, tem um paladar apurado. Temos uma estrutura muito amigável, de aconchego.” A terra também é tratada com carinho. Diego Badaró introduziu técnicas de agricultura orgânica no dia a dia dos trabalhadores, que aprenderam a recuperar a natureza. O cuidado começa na escolha das mudas, segue no plantio e na nutrição da terra, feita com biofertilizantes feitos com água do mar e do mangue e caldos biológicos. Com isso, até mesmo a vassoura-de-bruxa ficou menos agressiva. “Lidamos com ela de forma pacífica”, diz Diego. Com plantas e terras saudáveis, fica mais difícil a praga prejudicar as colheitas. Na fábrica, o processo minucioso continua com o uso de equipamentos especialmente desenvolvidos para a Amma, que permitem mais de 50 variações para definir a torrefação. “Temos uma máquina única no mundo. Com ela, podemos realizar variações no ar, na pressão, no calor e na rotação, entre outros. É como se fosse uma composição musical, uma sinfonia que cria um sabor especial, que é a magia do produto”, afirma Diego. >>
69
With the strength and flavor of the forest In only three years, Amma has conquered the universe of fine chocolates, thanks to the cacao produced in the Atlantic forest
F
or those who are witnessing this for the first time, it is a true phenomenon: the brand name Amma, launched in 2010, is today, available in the country`s most important restaurants, in shops specialized in fine products throughout the world and in the select list of best chocolates in the book Chocolate Unwrapped — Taste and Enjoy the World’s Finest Chocolate, by Sarah Jane Evans. The phenomenon is difficult to explain, given that today, to acquire credibility and space in the world of gastronomy is an arduous task. But it is easy to feel: it’s enough just to bite into one of the chocolate bars, particularly if it is one with a higher percentage of cacao. The chocolate dissolves in your mouth, and its intense, citric taste, without being bitter, spreads through your mouth and goes down your throat, soft and involving. Very few brands in the world achieve this balance of such fine flavors, given that the formula to make good chocolate includes numerous variables. In the case of Amma, it begins with the richness of the biodiversity of the Atlantic Forest in the South of Bahia, from where the organic almonds come that are processed in the factory in Salvador, and continue in the careful drying and roasting process. It all began in the year 2000, when Diego Badaró, a graduate in foreign trade, decided to return and manage his mother’s farms. In fact, she was the only one from the family, that had produced cacao for five generations, to preserve the lands after the plantations had been destroyed by a weed, witch’s broom, a fungus that drastically reduces production. “It was an ancestral calling. I slowly returned to the farms, introducing organic management and changes in working methods. Conventional agriculture is more productive, but debilitates, weakens and creates instability in the environment”, said Diego. With the new organic techniques, the fungus was slowly wiped out, and the quality of the cacao production began to improve as from 2005, when it started to be sold at higher prices on the commodities exchanges. During this same year, Diego participated in the Salon du Chocolat, the most important event for this sector, in Paris, where he met the master chocolatier, François Pralus. The Frenchman visited Ilhéus and started to buy almonds. The following year, Diego went to the New York salon and left some grains on the Dagoba stand, the largest organic chocolate factory in the United States at the time. Frederick Schilling, the company’s CEO, came to Brazil a month later and then the Brazilian invited him to participate in the Amma Project. The two of them founded the company in 2007, in 2009 they performed production tests and in March 2010 they launched the brand on the Market. In the first year, they produced 20 tons,; in 2011, 60 tons; and in 2012, they should reach 100 tons. “The secret of the chocolate in in the farm, the cacao. You can’t find chocolates with a high level of cacao on the shelves because the industry does not use quality raw materials. You can’t make a chocolate with 70% cacao because the quality is terrible, it would have to be burnt in order to standardize the flavor”, Diego explains.
He says that in a normal process, the cacao goes from the plantation to the shelf within seven days. “In our case, it takes up to 60 days. We harvest, leave to rest, we ferment them in a careful process, dry them in the sun and then take them to the factory, where we toast, process and leave them to conclude the crystallization process”, he says. It is this care that ensures that the Amma chocolates, prepared with fruits at the right moment, are considered premium or gourmet. The management system is also differentiated. The farm workers, almost one hundred employees, are encouraged to look after the land and the cacao trees because 50% of what they produce is theirs. “Half of the farm production goes to Amma, the other half to the workers. We buy this 50% from them at the price of fine cacao (higher than the exchange price). What we don’t use at Amma, we sell on the domestic market, to large mills”, says Diego. The factory in Salvador has 25 employees, and one employee has been with the company since the building was constructed. From being a builder’s assistant, he has become a specialized operator. “He learnt to make chocolate perfectly, he has a refined taste. We have a very friendly, cozy structure.” The land is also treated with care. Diego Badaró introduced organic agricultural techniques in the workers daily routine, who have learned to recover nature. The care begins with the selecting of the seedlings, and continues with the plantation and nutrition of the land, treated using bio-fertilizers, made with seawater and mangroves and biological mixtures. As a result, even the witch’s broom became less aggressive. “We deal with it in a peaceful way”, says Diego. With healthy plants and land, it is more difficult for the weed to affect the harvests. At the factory, the thorough process continues with the use of equipment specially developed for Amma, which permit more than 50 variations for defining the toasting. “We have a machine that is unique in the world. With this machine we can make variations in the air, in the pressure, heat and rotation, amongst others. It is like a musical composition, a symphony that creates a special flavor, which is the magic of the product”, confirms Diego. >>
70
A linha de barras coloridas tem diferentes percentuais de cacau; em breve, a Amma vai lançar a Origens, com chocolates safrados e numerados de origem controlada The line of colored bars has different percentages of cacao: Amma will soon launch “Origins”, limited, numbered chocolates from controlled origins
E a Amma não para de crescer. Além da linha colorida com vários percentuais de cacau e das barras de cinco quilos exportadas para chocolateiros do mundo todo, a marca está lançando uma linha chamada Origens. “Serão chocolates safrados e numerados com a produção de várias fazendas. Vamos começar com seis a oito, mas queremos chegar a 100”, adianta o empresário. A capacidade de juntar pessoas em torno de ideias é uma das características de Diego Badaró, que este ano ajudou a organizar a realização do Salon do Chocolat na Bahia, no início de julho. É a primeira vez que o salão, com 17 anos de existência e mais de 90 edições ao redor do mundo, é realizado em um país produtor de cacau. Com o evento, chocolateiros, cientistas e empresários poderão conhecer a qualidade do cacau brasileiro e os cuidados que os produtores nacionais têm para preservar e recuperar a natureza, cujo equilíbrio é essencial para a produção de grãos saborosos. “Quero divulgar ao mundo o potencial aromático que a Bahia e o Brasil têm”, diz Diego. Com isso, ele quer aumentar a demanda de cacau, seu preço, a qualidade de vida dos trabalhadores e a preservação da floresta, já que as plantações só obtêm boas safras quando as árvores podem usufruir de um ecossistema saudável. “Ele traz a flora e a fauna de volta, gera empregos com qualidade de vida e coloca o chocolate, um alimento completo, na dieta das pessoas. Faz bem ao coração e ao humor.” S
And Amma doesn’t stop growing. Besides the colored line with varying percentages of cacao and the five-kilo bars exported to chocolatiers around the world, the brand is launching a new line called Origins. “It will be limited numbers of vintage chocolates produced from various farms. We will start with six or eight, but we want to reach 100”, confirmed the businessman. The ability to attract people to his ideas, is one of the characteristics of Diego Badaró, who this year helped to organize the Salon do Chocolat, to be held in Bahia, at the beginning of July. It is the first time that the salon, which has existed for the last 17 years, with more than 90 editions around the world, is held in a country that produces cacao. As a result of the event, chocolatiers, scientists and business people can get to know the quality of Brazilian cacao and the care that the Brazilian producers take to preserve and recover Nature, ensuring the balance which is essential for the production of tasty gains. “I want the world to know about the aromatic potential that Bahia and Brazil has”, said Diego. As a result, he wants to increase demand for cacao, its price, the quality of life of the workers and preserve the forest, since the plantations only produce good quality harvests when the trees are part of a healthy ecosystem. “It brings the flora and fauna back, creates jobs with good quality of life and places chocolate, a complete food, in people’s diets. It is good for the heart and humour.” S
71
CLASSIC VINTAGE BICYCLE
Victoria Ballon
WHEN DESIGN MATTERS DANISH DESIGN | MADE IN GERMANY WWW.VELORBIS.COM
Velorbis Bicycles & Fashion Brasil contato@velorbis.com.br t.:+55.21.3281.0607 t.:+55.11.9932.0022
72 e vents i sotheby ’s
Fotos por marketing Sotheby’s Realty Brasil – São Paulo
1
2
3
4
5
73
7
6
5 13
01.Vista da ilha Almada. 02. AW109 Power (SynerJet Brasil) 03. Test Writing Montblanc 04. Tamara, Dag, Eloy Silva, Cristina Cerny, Walter Rabe e Denilosn Milan 05. Tela Anita Malfatti 06. Aliro Prado Jr, Denilson Milan, Claudio Cantamessa e Vinicius Leal 07. Stephanie Skok, Cristina Cerny e Marly Skok 08. Degustação orientada Johnnie Walker Blue Label 09. Espaço vip Spa Hara 10. Louis XIII 11. Degustação orientada Louis XIII: Sidnei Rodrigues, Esther Schattan, Peter Schattan, Jéssia Lobo, Giancarlo Ambrosino e Christian Deutschmann 12. Rafael e Cristina Klein 13. Sucrier Sucré Et Chocolat
12
8
9
11
10
S ot heby’ s In te rnat ional Re a lty
74
75
76 la nça men to s
Praia das Pitangueiras
SGV3144
A felicidade possui diversos caminhos. No boulevard mais sofisticado da Praia das Pitangueiras, ao lado do Shopping La Plage e a 50 metros da praia mais desejada do Guarujá. Todos os apartamentos com terraço gourmet. Segurança, sofisticação e lazer completo no melhor endereço. Boulevard La Plage. Happiness has several paths. Located on Pitangueiras beach’s most sophisticated boulevard, this site sits next to La Plage Mall, 50 meters from the most sought-after beach in Guaruja. All apartments feature a dining balcony. Total safety, sophistication and leisure at the best address. Boulevard La Plage.
Comercialização:Venda Área útil: 100 a 110m² Dormitórios: 3 Vagas: 2 Valor: Sob consulta
Vila Madalena
SGV3149
Dizem que morar em um apartamento é mais prático e seguro, mas que morar numa casa é muito mais gostoso. Para que você não precise escolher, Fidalga 800 reúne o melhor dos dois num projeto de Henrique Reinach e Mauricio Mendonça com paisagismo de Maria Helena Cruz. Todos os apartamentos ficam de frente e têm uma vista linda. They say living in an apartment is more practical and safer, but living in a house is far more pleasant. To avoid having to make this choice, Fidalga 800 brings together the best of both worlds in a Project developed by Henrique Reinach and Mauricio Mendonça, with landscaping by Maria Helena Cruz. All of the apartments have a beautiful view looking out over the front.
Comercialização:Venda Área Privativa: 141 a 335m² Suítes: 3 a 4 i Vagas: 3 a 4 Valor: Sob consulta
Fazenda SerrAzul
SGV3125
Condomínio fechado de loteamento. Conta com uma infraestrutura completa, que inclui hípica, campo de Golfe e um moderno sistema de acabamento subterrâneo, oferecendo o máximo de comodidade a seus moradores e reforçando o valor paisagístico do empreendimento.
This is a closed condominium with individual lots. It comprises complete infra-structure, including a golf course, horse riding, and a modern system of underground finishing, offering the maximum comfort to its residents and improving the landscaping value of the enterprise. Comercialização:Venda Área do Terreno: De 1000 a 5600m² Valor: Sob consulta
la nça m e n tos 77
Campinas
SGV3218
O Parque Empresarial Campinas foi concebido segundo as mais avançadas técnicas urbanísticas, arquitetônicas, funcionais e sustentáveis, buscando conciliar objetivos relativos à produtividade, economia e conforto de seus usuários. Conta ainda com um espaço composto por café, restaurante e uma série de serviços de conveniência que agrega ainda mais valor ao Parque Empresarial Campinas. The Campinas Business Park was conceived based on the most advanced urban, architectural, functional and sustainable techniques, aimed at reconciling objectives related to productivity, economy and the comfort of its users. It also has an area with a coffee bar, restaurant and a series of convenience services that provide added value to the Campinas Business Park . Comercialização:Venda Área do Terreno: 17000m² Área Construída: 22000m² Área dos conjuntos: 123 a 194m² Vagas: Mais de 550
Oscar Freire
SGV3211
Localizado na Rua Oscar Freire, na região mais nobre de São Paulo, o Oscar Freire Office Design conta com projeto arquitetônico inovador e com infraestrutura completa. São 51 salas comerciais aconchegantes e bem distribuídas. Located at Rua Oscar Freire, in one of the most illustrious regions of São Paulo, the Oscar Freire Office Design consists of an innovative architectural Project and complete infra-structure. It comprises 51 comfortable and well distributed commercial rooms. Comercialização:Venda Área das salas: De 38 a 440m² Área do Terreno: 1200m² Vagas: 88 Valor: Sob Consulta
Quinta da Baroneza
SGV 3175
O mais importante empreendimento de campo do Brasil está na sua última fase de terrenos, Quinta da Baroneza é um empreendimento consolidado e em pleno funcionamento, com intensa atividade esportiva e social. A 90 quilômetros de São Paulo. The most important rural development in Brazil is in its final phase. Quinta da Baroness is a consolidated venture that is up and running, with numerous sports and social activities. 90km from Sao Paulo.
Comercialização:Venda Valor: Sob Consulta Área dos terrenos: De 3000 a 5084m² Prontos para construir.
78 f ora de s ão paulo i D E S TAQ U E S
Reserva da Baroneza
SGV3175
Trazer a mata para o redor das casas. Essa foi a inspiração e o ponto de partida para Isabel Duprat e Gui Mattos criarem os projetos de paisagismo e arquitetura. Cada casa, implantada em total harmonia com as paisagens, será cercada por intensa vegetação, ganhando isolamento e privacidade. Todas as casas contam com piscina com deck, lareira, churrasqueira, living com pé direito de 3,65m e suítes voltadas para os jardins. Bring the countryside to your gardens. This was the inspiration and starting point for Isabel Duprat and Gui Mattos to create landscape and architectural projects. Each house, constructed in total harmony with the landscape, will be surrounded by lush vegetation, offering privacy and isolation. All of the houses come with swimming pool and deck, a barbeque area, fireplace, living room with ceiling height of 3.65m and suites looking out on to the garden.
Comercialização: Venda Área útil: De 429 a 533m² Suítes: De 4 a 5 Valor: Sob consulta
79
80 são paulo i D E STAQUE S
Casa João Armentano
SGV3175
Casa exclusiva projetada pelo arquiteto João Armentano, localizada no condomínio fechado da Quinta da Baroneza, na Bragança Paulista - SP. Casa de alto padrão, moderna e com projeções exclusivas, obras iniciadas. Exclusive casa projected by the architect João Armentano, located in the closed condominium at Quinta da Baroneza, in Bragança Paulista - SP. A high standard, modern home with exclusive projects, construction has begun.
Comercialização: Venda Área construída: 537m² Área do Terreno: 3652m² Suítes: 4 Vagas: 4 Valor: Sob consulta
D E S TAQ U E S i sã o paulo 81
Praça Villa-Lobos
SGV3111
Oportunidade única para viver em um alto padrão com vista permanente para o parque Villa-Lobos. Em uma localização excepcional no Alto de Pinheiros, este belíssimo projeto integra arquitetura e natureza em perfeita harmonia. Apartamento decorado por Esther Giobbi. Pronto para morar. A unique opportunity to live in a high standard apartment, with a permanent view of the Villa Lobos Park. In an exceptional location in the neighborhood of Alto de Pinheiros, this beautiful project integrates architecture and nature in perfect harmony. Apartment decorated by Esther Giobbi. Available to live in..
Comercialização: Venda Área privativa: 364m² Suítes: 4 Vagas: 5
82 Pi nacot he c a
ROY
LICHTENSTEIN Garota Dormindo, pintada em 1964 por Roy Lichtenstein, bateu o recorde do artista em leilões ao ser vendida por 44,88 milhões de dólares na Sotheby’s Nova York, dia 9 maio. Sleeping Girl, painted in 1964 by Roy Lichtenstein, reached a record sales value for the artist, when it was auctioned for US$ 44.88 million, at Sotheby’s New York, on May 9.
83
Novo conceito de Assessoria Náutica, com suporte completo a seus clientes: • Consultoria especializada; • Negociação de embarcações novas e seminovas; • Compra de acessórios; • Manutenções; • Sistema Boat Care - conceito inédito desenvolvido para renovação de detalhes internos, em especial os itens de conforto, como acabamentos, materiais nobres, manutenção de higiene e customização de acessórios. Tudo cuidadosamente pensado para facilitar suas escolhas.
Revendedora autorizada: Princess Yachts Parceiros: TG3 Náutica – BB Náutica – Jetonline www.bboat.com.br São Paulo: +55 11 5542 8155 Guarujá: Iate Clube de Santos
84