Nippon Koma 2003

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Nippon Koma Festival de Cinema JaponĂŞs


1 de Dezembro

2 de Dezembro

4 de Dezembro

5 de Dezembro

18h30

18h30

18h30

18h30

A de Mori Tatsuya

A2 de Mori Tatsuya

21h30

21h30

Parasite Dolls de Yoshinaga Naoyuki e Nakazawa Kazuto

Opening title of HIROSHIMA’96 What on earth is he? Made in Japan Japonese Pica Don The last air raid – Kumagaya Frame of Mind - self portrait Ending title of HIROSHIMA’96 de Kinoshita Renzo

Parasite Dolls de Yoshinaga Naoyuki e Nakazawa Kazuto

Opening title of HIROSHIMA’96 What on earth is he? Made in Japan Japonese Pica Don The last air raid – Kumagaya Frame of Mind - self portrait Ending title of HIROSHIMA’96 de Kinoshita Renzo

18h30

Your choice! VIBE-ID Jubilee MT. Head Pieces de Yamamura Koji

21h30

Your choice! VIBE-ID Jubilee MT. Head Pieces de Yamamura Koji

3 de Dezembro 18h30

The New God de Tsuchiya Yutaka J-Star 03 de vários realizadores

DE 1 A 6 DE DEZEMBRO DE 2003 • 18H30 E 21H30 • PEQUENO AUDITÓRIO Entrada: 2 Euros • Filmes legendados em inglês

21h30

A de Mori Tatsuya

21h30

A2 de Mori Tatsuya

6 de Dezembro J-Star 03 de vários realizadores 21h30

The New God de Tsuchiya Yutaka


Nippon Koma FESTIVAL DE CINEMA JAPONÊS

O Japão apresenta um percurso fascinante de produção de cinema documental, um facto talvez pouco surpreendente se tivermos em conta o seu passado recente, bastante turbulento e pleno de momentos de instabilidade e de significativa transformação. Durante um longo período, até bem perto dos anos 80, era apenas necessário sair à rua para encontrar situações a documentar, dados os frequentes tumultos políticos e sociais. Aliás, inúmeros realizadores foram acusados de cruzar a linha entre observação e intervenção, de se deixarem influenciar e instrumentalizar pelos inúmeros movimentos de acção política. Actualmente e de forma paradoxal, os projectos de cinema documental centram-se sobretudo na descrição dos estados de imobilismo e estagnação, bastante sintomáticos da sociedade japonesa contemporânea. É devido a este marasmo, que persiste, que a geração mais jovem tem abordado temas mais pessoais e introspectivos, essenciais à reflexão e à consequente promoção de acções de mudança e transformação. Contrariamente, os filmes de animação têm-se tornado mais estranhos a todo este processo, explorando temáticas cada vez mais fantásticas e futuristas, envolvendo frequentemente dimensões não humanas,

cheias de refinamentos tecnológicos e de ficção científica. Não obstante resultarem de uma tradição pictórica japonesa, contudo fortemente influenciadas pelos filmes norte americanos do mesmo género, as animações japonesas são crescentemente um produto e uma forma de alienação entre as gerações mais jovens. Enquanto que no Ocidente podem ser entendidas como um simulacro, no Japão elas evocam uma dimensão ilusória e onírica, a criação de um estado imaginário comum. Talvez pela insularidade da programação dos canais de televisão, ou talvez pelos caprichos do sistema de distribuição cinematográfica demasiado centrado na exibição dos mais vulgares estereótipos e imagens simplistas, a percepção destas realidades tem estado arredada da maioria dos públicos de cinema em Portugal. É sobretudo por essa razão, a de proporcionar um olhar e uma reflexão sobre os desafios que uma sociedade opaca como a nipónica enfrenta, que a Culturgest realiza esta mostra de animações e documentários japoneses. João Paulo Silva Curador


que procura lidar com tudo isto. À medida que acompanhamos estes dois homens, um atrás e outro diante das câmaras, cada qual a debater-se com as contradições da sua causa, vemos também emergir uma imagem desse esmagador sistema chamado Japão.

Manifesto do realizador

A

A 1998 • Duração 2h16 Realização Mori Tatsuya Fotografia Mori Tatsuya, Yasuoka Takaharu Montagem Mori Tatsuya, Yasuoka Takaharu Produtor Yasuoka Takaharu

Em Setembro de 1995, o realizador de televisão Mori Tatsuya abordou Araki Hiroshi, porta-voz do grupo religioso Aum Shinrikyo, propondo-lhe filmar a realidade por detrás das portas fechadas do culto Aum. Seis meses antes, líderes do culto haviam levado a cabo um violento ataque ao metro de Tóquio, libertando gás venenoso, e surgiam agora indícios de outros crimes hediondos. A objectiva de Mori capta o frenesim voraz e implacável da comunicação social, as tácticas cruéis dos polícias à paisana e a ira da população local, que quer expulsar a seita pela força, perante os inábeis esforços do pacato Araki,

À medida que o processo criminal de que era alvo a seita Aum pesava cada vez mais sobre as vidas dos seus membros, eu próprio não consegui evitar envolver-me em toda a questão. No entanto, era para mim imperativo que o olhar da câmara se prendesse não com questões do passado mas com as do presente; não enveredar pelo “Porque razão se deram os crimes?” mas antes por “Como é que os seguidores conseguem manter a fé no culto depois daqueles crimes?”. O principal objectivo deste filme foi retratar a psicologia colectiva dos japoneses, através das realidades dos seguidores do culto Aum.

O que é o Aum Shinrikyo? Asahara Shoko (nascido Matsumoto Chizuo, em 1955) criou a sua própria seita religiosa, a Aum Shinrikyo, em 1989. Sob as ordens de Asahara, membros do núcleo duro da seita atacaram um advogado que se preparava para desmascarar a organização como um logro fraudulento. A família do advogado foi raptada e assassinada. No entanto, o envolvimento da seita neste crime não passou de um rumor na época. Em 1994, gás venenoso Sarin foi lançado na cidade

de Matsumoto. Seguidamente, em Março, as sobrelotadas ligações suburbanas do metro de Tóquio foram alvo de um ataque com gás venenoso. A maioria dos membros da Aum possui educação superior e, no entanto, rejeitou a ‘via prometida’ reservada às elites intelectuais, para se juntar à seita. Como puderam estes indivíduos cultos e bem formados acreditar que Asahara tinha poderes sobrenaturais? Como foram capazes de participar em homicídios enquando adoravam o salvador das suas almas? A maior parte dos seguidores continuaram ligados à seita apesar dos crimes. Na verdade, o número de membros tem continuado a crescer até à data. O culto Aum Shinrikyo continua a ser considerado um dos mais perigosos e ‘incompreensíveis’ grupos organizados do Japão.


What on earth is he?

Made in Japan

Opening title of HIROSHIMA ’96

Made in Japan

1996 • Duração 45’’ Realização Kinoshita Renzo

1972 • Duração 9’ Realização Kinoshita Renzo

What on earth is he?

Argumento Kinoshita Sayoko, Tabe Hajime Animação Kinoshita Renzo, Kinoshita Sayoko

1971 • Duração 3’ 40’’ Realização Kinoshita Renzo

Música Taro Saito Produção Studio Lotus, Inc.

Argumento Kinoshita Sayoko Animação Kinoshita Renzo,

Esta curta-metragem de animação é uma paródia do espírito mercantilista nipónico. Numa pequena sala está um japonês típico. Uma a uma, vão entrando várias personagens, numa reconstituição em miniatura da sociedade japonesa contemporânea: um actor de Kabuki, uma bailarina nua, a poluição, o predador económico, ‘Mr. Yokoi’, etc...

Kinoshita Sayoko Música Uno Seiichiro Câmara Takahashi Sumio, Kitagawa Takashi Produção Studio Lotus, Inc.

Na liderança dos países com o maior produto interno bruto, o Japão vê-se, por outro lado, a braços com numerosas formas de poluição. Muitos japoneses morrem de doenças nos órgãos respiratórios. O que lucra com a natureza e o que lucra com o nosso corpo... Afinal o que é que ele é?

Japonese 1977 • Duração 6’ Realização Kinoshita Renzo Argumento Kinoshita Sayoko Animação Kinoshita Renzo, Kinoshita Sayoko Música Nakane Akira Câmara Isobe Satoru, Inatani Shoichiro Produção Studio Lotus, Inc.

Japonese

Sátira do Japão moderno. Quando o Japão é invadido pela civilização ocidental... ou o invasor invadido... * O título Japonese é um termo cunhado pelo autor/realizador, que juntou o inglês com línguas europeias.

Pica Don 1978 • Duração 10’ Realização Kinoshita Renzo Argumento Kinoshita Sayoko Animação Kinoshita Renzo Música Koroku Reijiro Câmara Isobe Satoru, Inatani Shoichiro Produção Studio Lotus, Inc.

Uma animação que descreve as trágicas consequências da explosão da bomba atómica em Hiroshima. O clarão da bomba atómica, com uma intensidade 100 vezes superior à do sol, é chamado ‘PICA’, e a enorme onda de choque que se lhe seguiu é chamada ‘DON’. À data da sua conclusão, este filme foi a primeira tentativa de abordagem do delicado tema de Hiroshima, utilizando a animação.


Pica Don

The last air raid – Kumagaya

Your choice!

The last air raid – Kumagaya

Frame of Mind - self portrait

Animação, Designer, Montagem Yamamura Koji

1993 • Duração 28’ Realização Kinoshita Renzo

1988 • Duração 2’ Realização Kinoshita Renzo

Efeitos sonoros Kitazato Reiji, Kasamatsu Koji Música

Argumento Kinoshita Sayoko Animação Kinoshita Renzo,

Argumento Kinoshita Renzo Animação Kinoshita Renzo

Sawa Shigeki Assistentes de produção Kawakami

Kinoshita Sayoko Música Koroku Reijiro Câmara Fujita

Música Sato Mikio Câmara Nagashima Tetsuo

Masataka, Mochizuki Mariko Produção Dentsu,

Masaaki Produção Kinoshita Sayoko, Studio Lotus, Inc.

Produção Kinoshita Sayoko, Studio Lotus, Inc.

Yamamura Animation Inc.

A 14 de Agosto de 1945, na noite que antecedeu o fim da Segunda Guerra Mundial, o último bombardeamento aéreo do Japão atingiu a cidade de Kumagaya, perto de Tóquio. Sachiko, uma menina de 7 anos que perdera a família no anterior bombardeamento de Tóquio, vem para Kumagaya para viver com a família do tio. No entanto, na noite seguinte, Sachiko terá de reviver a experiência com o ataque a Kumagaya, onde acaba por morrer... O bombardeamento fez milhares de vítimas em poucas horas e os sobreviventes ouviram o discurso de rendição do Imperador por entre os escombros. Esta animação é baseada em escritos, documentos e em entrevistas a testemunhas do bombardeamento aéreo de Kumagaya.

Recorrendo à técnica tradicional japonesa de tinta sobre papel, esta curta-metragem de animação retrata a mente do autor: “Apesar de a minha vida estar preenchida com todo o tipo de actividades quotidianas, perco-me em meditação por breves e estranhos instantes, e sinto calma e alívio...”

Raoul, um crocodilo, tem um dente estragado e também está a precisar de um corte de cabelo. Será que ele vai ao barbeiro ou ao dentista ou a nenhum dos dois? Madillo, um tatu, pergunta-se se deve levar chapéu de chuva ou não. Então, o que é que escolhe?

Ending title of HIROSHIMA’96

1999 • Duração 2’ Realização Yamamura Koji

1996 • Duração 35’’ Realização Kinoshita Renzo

Your choice! 1999 • Duração 10’ Realização, Yamamura Koji

Sudo Takashi Técnico de Som Takagi Kouhei Produtor

VIBE-ID Argumento, Animação, Montagem Yamamura Koji Som Kitazato Reiji , Kasamatsu Koji Música Kitazato Reiji Produtor Terai Hironori Produção Music Channel Co., Ltd


VIBE-ID

Curtas-metragens realizadas para o canal de televisão, exclusivamente musical, VIBE. Um conjunto de três animações da série The Suiteman e quatro da série The Madog. O logotipo do VIBE aparece sob várias formas.

Jubilee

Jubilee

MT. Head

MT. Head

Som, Música Kitazato Reiji Produtor Yamamura Koji

2002 • Duração 10’ Realização Yamamura Koji

Produção Yamamura Animation, Inc.

Animação, Designer, Montagem Yamamura Koji

Alguns fragmentos de animações cómicas e imagens em tenakisticope.

Narração, Shamisen* Kunimoto Takeharu Argumento Yonemura Shoji Som Kasamatsu Koji Música Kunimoto Takeharu, Syzygys Produtor Yamamura Koji

1999 • Duração 5’ 35’’ Realização Yamamura Koji

Produção Yamamura Animation, Inc.

Designer Yamamura Koji Animação Yamamura Koji,

Um homem muito avarento come alguns caroços de cereja e eis que lhe nasce uma cerejeira na cabeça, o que lhe vai trazer inúmeros problemas. Passada na Tóquio dos nossos dias, esta animação é a interpretação moderna de uma história tradicional japonesa, rakugo, intitulada Atama-yama.

Nakata Kazumi, Arai Chie Assistentes Kiyose Sumire, Yata Miho, Yamamura Sanae Montagem Yamamura Koji Câmara Yamamura Koji Música Kazuyoshi Nakamura Produtores Miyoshi Shin, Yamamura Koji Produção Mercury Music Entertainment Co., Ltd. & Yamamura Animation, Inc.

*Instrumento tradicional de cordas

Um vídeo clip feito totalmente em animação, Jubilee foi concebido para a promoção de um CD single de Kazuyoshi Nakamura. Personagens excêntricas desfilam em comemoração do milénio.

Pieces 2003 • Duração 2’ 16’’ Realização Yamamura Koji Animação, Designer, Montagem Yamamura Koji


A2

A2 2001 • Duração 2h11 Realização Mori Tatsuya Fotografia, Montagem Mori Tatsuya, Yasuoka Takaharu Produtor Yasuoka Takaharu

Um olhar sobre os diversos relacionamentos humanos ligados ao grupo religioso Aum. Deparamo-nos com uma outra faceta da sociedade japonesa, enquanto a televisão continua a debitar a fórmula: Aum = inimigos públicos. Setembro de 1999. Estamos em Yokohama. Por entre hesitações, Araki Hiroshi, responsável pelas relações públicas do grupo, começa a falar das suas impressões posteriores à filmagem de A. Um ano após os incidentes com o gás Sarin, agravaram-se o ódio e a rejeição pública de que são alvo os membros do grupo. “Vivem-se tempos bem difíceis”, admite. Os

comentários e explicações de Araki estabelecem um paralelo com o que é retratado em A2. Um ano após a abertura. Cidade de Fujioka, Prefeitura de Gunma. Nas instalações de uma falida oficina fabril de impressão, muitos membros do culto mudaram-se para a casa do chefe da fábrica. Antes da abertura da oficina, a polícia não abandonava o local. A população montou um posto de observação. De todos os líderes da seita, H, o responsável pelas instalações, é o que se mostra mais assustado com todas estas movimentações. Enquanto nos faz uma visita guiada, perde por vezes a paciência com as insistentes perguntas de Mori. “Se me tivessem mandado lançar o Sarin? Tinha-o feito. O que o Guru ordena, tem de ser cumprido.” A alguns quilómetros de distância da fábrica fica a casa do chefe. Dois elementos da seita não põem a hipótese de sair. Nas imediações, um grupo de vigilantes instalou um posto avançado. Numa barraca não muito afastada está um contingente ‘voluntário’ de controlo da seita; os seus membros são considerados radicais por terem investido contra os carros de antigos membros da seita, apedrejando-os. Mas nesse dia em particular, os seguidores Aum estão na barraca rindo descontraidamente. O riso não lhes basta e começam a tirar fotografias de recordação. À distância, vigilantes civis e polícias observam-nos com olhares reprovadores. O governo e as actuações silenciosas da sociedade civil exerceram pressão sobre a seita e aproxima-se o dia em que a barraca será desmantelada.

“Desde que a seita chegou a esta zona, vejo claramente as contradições existentes nas nossas leis” comenta um indivíduo. Janeiro de 2000 na cidade de Yokohama. Nakaku, um antigo líder libertado da prisão Joyu Umihiro, é cercado por habitantes locais. Um grupo de radicais de extrema-direita procura negociar junto da polícia um encontro com ele. “Não queremos falar através da comunicação social, queremos falar directamente com o Aum”, mas por razões de segurança o grupo é dispersado. A carrinha de propaganda que havia sido bloqueada entra na fileira da polícia de choque. Alguns dias mais tarde, na cidade de Yokohama, elementos de um grupo de extrema-direita iniciam um protesto no meio de uma marcha pacífica organizada pelos habitantes locais. Anteriormente, os seus participantes haviam estabelecido evitar o uso de expressões como “Morte ao Aum! Aum, vão-se embora!” e impropérios similares, visto que não era sua intenção expulsá-los. No meio de todas estas confusões e circunstâncias inesperadas, os membros não quebram as normas da sua hierarquia. Prefeitura de Ibaraki, cidade de Daigochô. Uma empresa local contratou alguns dos membros da seita para trabalhar com caldeiras de água, o que fez estalar a revolta na cidade. Durante a noite, a coberto da escuridão, H aparece. Ameaçado pela comunicação social e pela população local, não mostra sinais da sua atitude contestária habitual. H foi insultado por


membros da administração local. “As pessoas não percebem nada. Temos simplesmente de pedir desculpas, compensar as vítimas e seguir em frente”, acrescenta. Os membros do culto Aum abandonaram a casa do chefe da fábrica. São visitados por um jovem jornalista, que é seu conhecido desde os tempos da universidade, graças a um clube de actividades de que todos faziam parte nessa época. Mas as divergências surgem quando os seguidores Aum começam a falar das suas famílias e amigos da universidade. “Porque escolheram trabalhar para a comunicação social, de entre tantas coisas que podiam fazer?” perguntaram eles. A cena seguinte mostra a mesma casa. A câmara está colocada no chão. Mori expressa a sua crítica contra a crescente desintegração da nossa sociedade, o próprio culto Aum e o nosso alheamento e falta de acção. Araki concorda em silêncio. “Que devemos fazer? Devemos desaparecer, simplesmente?” Prefeitura de Gunma, cidade de Sanwa. Araki é rodeado por cidadãos locais que se opõem ao culto Aum. Está prestes a responder às suas iradas queixas quando é rechaçado entre insultos. Por fim, os habitantes abandonam o local em triunfo. Até quando assistiremos a este tipo de cenas?

Manifesto do Realizador A seguir à estreia de A, afirmei que não haveria sequela. Mas desde 1997, data do fim das

filmagens, a nossa sociedade parece ter perdido toda a noção dos limites. Cometeram-se actos atrozes, avançaram-se propostas para a revisão das políticas orientadoras para as forças de segurança e da legislação relativa à bandeira nacional; as legislações sobre o controlo e intercepção das comunicações e a criação de um registo nacional para a população foram implementadas com o apoio popular. A Lei de Prevenção da Subversão, que havia sido rejeitada anteriormente, surgiu como o novo enquadramento legal que rege as associações (nova lei para o Aum Shinrikyo). Vários políticos da linha dura ganharam notoriedade e apoio público e têm-se assistido a comentários em defesa da posição japonesa na Guerra do Pacífico. Tudo isto se seguiu aos incidentes com gás Sarin no metro. Quero que recordem. Logo após o incidente, todos nós, incluindo eu próprio, deveríamos ter ficado muito mais perturbados. Confrontados com a questão “Porque razão é que uma organização religiosa comete um acto semelhante?”, gerou-se inevitavelmente um autoquestionamento. Hoje, 6 anos volvidos, o culto Aum ainda se questiona mas eu estou certo que a nossa sociedade já cessou de o fazer. Hoje em dia, o nosso sentido crítico enquanto nação desapareceu, assim como qualquer preocupação de fundo. Os argumentos morais sobre o Bem e o Mal exercem sobre nós a sua influência e, diante deste único estímulo à reflexão, todos adoptam uma posição de apatia. (Não era

suposto já termos aprendido a questionar os actos irreparáveis dos nossos antecessores?) É necessário manter uma medida saudável de discordância. É necessário um questionamento permanente. Parece não termos aprendido nada com o incidente do culto Aum e é por essa razão que não podemos agora deixá-lo apagar-se da nossa mente. Não podemos permitir que o nosso país retorne à normalidade deste modo. Quando começámos a filmar A2, não era verdadeiramente minha intenção enveredar pela crítica social. Mas depois de mais de um ano de filmagens e meses de montagem, quando concluímos a primeira versão do filme, deu-se o trágico acidente envolvendo o culto. Isso fez-me ponderar seriamente sobre o significado do filme. “O mundo é mais próspero e as pessoas mais simpáticas.” Esta frase foi um potencial subtítulo para A2, mas acabámos por eliminá-la. Gostaria de reflectir seriamente sobre o seu significado. Nós que não podemos reviver o passado deveríamos ter consciência de que nos aproximamos gradualmente da apatia e gostaria que todos percebêssemos isso. Isto não é difícil de entender, temos apenas de adoptar uma atitude diferente da que temos agora e manter-nos atentos ao que nos rodeia. Qualquer pessoa que observe a nossa sociedade chegará às mesmas conclusões.


no branch, ou seja, no estado alternativo da A. D. Police, pondo em evidência os desejos humanos, sexual e psicologicamente, através dos Boomers.

The New God 1999 • Duração 1h39 Realização Tsuchiya Yutaka Argumento, Som, Montagem Tsuchiya Yutaka Fotografia Tsuchiya Yutaka, Amamiya Karin, Ito Hidehito Narração Amamiya Karin, Ito Hidehito, Parasite Dolls

Parasite Dolls 2002 • Duração 1h25 Realização Yoshinaga Naoyuki e Nakazawa Kazuto Produtor Executivo Fukui Masafumi Argumento Chiaki Konaka Som Toshiki Kameyama Música Kazushi Miyakoda

Tóquio em 2034 D.C. A cidade é habitada por Boomers, construções mecânicas “sub-humanas”, desenvolvidas e produzidas segundo tipologias concebidas para diferentes funções, que vivem em simbiose com os humanos. Mas há muitas pessoas que tentam usar os Boomers para fins errados como o terrorismo, o crime e a prostituição. Para controlar estes Boomers nefastos, a força anti-terrorista de grande mobilidade A. D. Police cria Branch, uma unidade de intervenção especial. Parasite Dolls é uma trilogia. Por entre múltiplas peripécias, cada episódio é definido

Tsuchiya Yutaka Música Kato Takeshi (Rebel Blue)

Um excitante duelo entre um realizador progressista de esquerda e uma banda de punk-rock ultra-nacionalista, fiel ao Imperador! A tecnologia de gravação digital regista um peculiar diálogo entre extremos políticos. Uma abordagem actual e inovadora à mudança de valores no seio da juventude japonesa dos nossos dias. Na adolescência, Karin teve sérias dificuldades em encontrar um sentido para a sua existência na sociedade e tentou suicidar-se várias vezes. Foi a filosofia dos nacionalistas de extrema-direita que a salvou. Juntamente com o seu companheiro Ito, Karin formou uma banda e começou a tocar música punk de inspiração nacionalista. Tsuchiya, o realizador, homem da esquerda e anti-imperialista irredutível, decide dar uma câmara de vídeo a Karin para que ela se filme a si própria e à sua vida quotidiana, iniciando assim um estranho triângulo relacional com o

The New God

casal de punk-rockers. Com a câmara a bordo, Karin viaja até à Coreia do Norte e encontra-se com um antigo terrorista do Exército Vermelho, que havia fugido do Japão há trinta anos num avião desviado. Karin e a câmara estão sempre em movimento. A jovem decide abandonar a organização política e dar os primeiros passos para a construção de uma personalidade mais independente. Um documentário de grande honestidade e sentido de humor sobre os novos jovens japoneses, que foca assuntos controversos como a oposição Estado-indivíduo e dependência-autonomia.

Manifesto do Realizador Andei sempre à procura de um escape. Um escape a esta atmosfera que envolve o Japão, esta sensação de vazio como se nos abandonássemos à resignação, esta necessidade de fixar a mente em qualquer coisa excepto em


nós próprios, em qualquer coisa aparentemente estéril. O que é que nos está a acontecer? Impelidos por um capitalismo desenfreado, será que nos tornamos partículas à deriva desesperadamente à procura de algo firme a que nos agarrar? Se calhar foi mesmo isso que aconteceu. Os contos de fadas modernos - Nação, Empresa, Escola e Família - entraram em colapso e os sistemas individuais de valores começam a ser testados. Neste momento, limitamo-nos a andar à deriva. E, no entanto, porque é que ninguém o diz? Que não precisamos de uma tábua de salvação, que o Grande Conto de Fadas acabou. Não precisamos de nenhuma história fantasista sobre a qual não temos qualquer controlo. O escape reside nas mais simples relações entre indivíduos autónomos. É a única forma de a nossa história começar. A personagem principal do filme, Karin, diz que foi salva pela ideologia nacionalista de direita, através da qual foi capaz de criar um laço entre si própria e a sociedade e escapar ao niilismo. Mas a Karin nacionalista não é a verdadeira Karin. A partir do momento em que aderimos a qualquer ‘-ismo’, perdemo-nos a nós próprios. Karin começou a aperceber-se disso ao enfrentar a câmara. The New God é um filme sobre a comunicação através da câmara de filmar. Fiz este filme porque queria reflectir juntamente convosco, os espectadores. De direita, de esquerda, dos ‘-ismos’, o que quer que sejam. Elaborei uma honesta e sincera carta em vídeo, dirigida a vós.

Mama, until we meet again... + 68 Titles

Mama, until we meet again... + 68 Titles

J-Star 03 de vários realizadores

Mama, until we meet again...+ 68 Titles

2002 • Duração 1h21 Produção O estilo contemporâneo mais original cheganos do Japão pela mão dos melhores construtores de imagem em movimento, unindo anime, motion graphics, vídeos musicais e outros trabalhos audaciosos, até agora inéditos fora do Japão. Trata-se de uma mistura ecléctica das últimas inovações, num trabalho criativo marcante e de grande impacto. A qualidade e diversidade das obras continuam a inspirar, surpreender e divertir, à medida que a cena criativa, altamente competitiva, continua a impulsionar os talentos, quer jovens quer consagrados, a superar todas as metas. O talento está agora a chegar além-fronteiras: estes artistas geram cada vez mais interesse fora do seu país. Mas foi lá que os viram primeiro!

de Nakamura Takeshi [Caviar] Séries de animações curtas do sempre-inventivo ‘Caviar’, sob a direcção de Nakamura Takeshi, protagonizando as perigosas aventuras do ‘super assalariado’ Daisuke. Acção e surpresa abundam nesta louca história – realizada para o recente programa de TV sobre curtas-metragens, 68 – que mistura magistralmente ilustrações 2d e computer graphics a 3d com títulos em cores vibrantes.

Audio Sex / Tei Towa de Ukawa Naohiro Realizador multi-disciplinar, designer, escritor, artista de computer graphics e Vj (video jockey), os cenários e ambientes visuais de Ukawa estão profundamente marcados pelas arte pop e analógica, possuindo ainda um sentido cómico um pouco descarado. Este promo para o mestre do groove Tei Towa, feito em animação 3d, trans-


Airline + Prelude

Mushi-no-ne / No.9

Prelude

borda de auscultadores excitados, cabos áudio à procura de orifícios e botões de controlo descontrolados. É o som do sexo.

vamente à seu anterior animação, produzida por Furi Furi. Tratando-se, em essência, de uma meditação sobre a natureza e o cair das flores de cerejeira – que no Japão simbolizam a Primavera - esta suave e agradável animação esvoaça oniricamente entre os ramos de uma árvore, entre o céu e a terra, ao som de uma ligeira música ambiente, The sound of insects, dos No.9.

Warp + Cut Out de Kojima Junji [Teevee Graphics] A partir do trabalho de Kojima e do recente programa de gráficos televisivos ‘video victims’ – uma recolha conjunta de projectos audiovisuais, apresentadas em pequenos sketches cómicos, animações e imagens gráficas de movimento – estes clips experimentais foram apresentados em projecções na exposição Cut Out em Tóquio, e exploram as descobertas na desconstrução das zonas urbanas.

Mushi-no-ne / No.9 de Osamucom / dv4 [Furi Furi] O carácter sonhador deste novo trabalho de Osamucon assinala um distanciamento relati-

Adidas + MTV: Ninja & Space de Nakao Hiroyuki [p.i.c.s.] O característico estilo da fotomontagem colorida e o sentido de humor excêntrico das suas primeiras idents (imagens de marca) para a MTV Japão, tornaram-se a especialidade de Nakao. Mais recentemente, tem concentrado todo o seu talento no imaginário do futebol americano, na criação de anúncios publicitários para uma campanha da MTV e da Adidas.

de Sei Hishikawa [Drawing+Manual] Uma presença frequente nos programas J-Star, o talento criativo e a diversidade de Sei Hishikawa revelam-se mais uma vez nesta nova compilação de excertos contemplativos e atmosféricos, realizado em colaboração com o animador Jogano Nobuhiro, da D+M. Estas animações de forma e contorno fluidamente coreografadas, foram inspiradas pelas tonalidades da natureza, juntamente com os sons da passagem do vento, da água e do ar, são acompanhadas por uma banda sonora de piano e orquestra, o que lhes confere uma qualidade intemporal.

Reflection of Nowhere de Hori Seiji Hori, criador de imagem gráfica e som, explora as perspectivas fragmentárias de paisagens e iluminações urbanas, em planos abstractos e transitórios. Semelhante a uma viagem através de um caleidoscópio vídeo, esta complexidade visual multi-nível é realçada por uma mistura de som minimal, que é perturbadoramente eficaz.

All around / Oe Tatsuya de Ikuta Koji [Paradise Jam] Da autoria de Ikuta Koji e Oe Tatsuya (também conhecido por Captain Funk), colaboradores regulares em promos, esta é a sua mais recente encomenda para um cliente privado, apresen-


tada num show de cabeleireiros. Ikuta adopta um estilo despojado, com uma paleta tricolor, utilizando formas e blocos com componentes animados, enquanto uma silhueta se passeia numa passagem metamórfica construída em motion graphic.

Boxbox de Ii Miki [6nin] Ii Miki e o grupo 6nin têm colaborado em animações e curtas-metragens promo desde 2001. Este novo trabalho mostra uma enérgica e aguerrida luta de rua ‘até às últimas consequências’ entre duas personagens expulsas de uma caixa de pixels, fundindo os estilos dos gráficos de jogos e dos gráficos de transformação.

Chiwawa: Soccer + Summer

para um futuro projecto, baseado na história de Crimson Labyrinth (labirinto vermelho), um jogo de sobrevivência disputado por sete personagens num ambiente misterioso e hostil.

Andante / Asln

23-34.org #1 + #2

de Raf / Kloma As referências às deambulações nómadas presentes nas letras de Andante, conjugadas com o efeito dos materiais têxteis, padrões de tecido e tecelagem, inspiraram esta animação ilustrada ao estilo tradicional. A equipa do laboratório de design Raf produz design gráfico para impressão, web design e anúncios de publicidade, actuando regularmente como Vjs sob o nome de Kloma.

de Steve Nakamura [23-34] A unidade criativa 23-34 desenvolveu-se a partir dos projectos de colaboração entre os artistas Steve Nakamura e Dextro, que recentemente se juntaram para a execução de animações interactivas com minuciosos pormenores, assim como projectos de web design e design gráfico, para uma clientela em franca expansão.

Crimson Labyrinth (Pilot)

Chiwawa: Soccer + Summer

de Inoue Taku [p.i.c.s.] Inoue, animador/realizador em ascensão, completou recentemente este episódio piloto

de Nishioka Junya O cãozinho está de volta, no mais recente episódio da série Chiwawa, frequentemente

exibida na metrópole japonesa em ecrãs de vídeo gigantes. Manifestando um aumento de capacidade técnica desde o seu trabalho original sobre a dança para-para e os homens de negócios de meia-idade, Chiwawa: Soccer + Summer tornou-se um grande êxito no Japão, estando na origem de uma série de produtos de merchandising. A presença dos realizadores no circuito dos festivais arrancou com as delirantes aventuras do bamboleante Chiwawa que decide atacar o campo de futebol americano – um cruzamento entre o Jogo do Dia e as coreografias de Busby Berkley – e surfar na praia, numa mistura da série Baywatch com o Canil de Battersea.

Echo / Word de Shimada Daisuke Tendo recentemente criado o seu próprio estúdio independente, Yatsuba Kakkou (trevo de quatro folhas), o primeiro promo musical de Shimada para os Word combina a monótona reprodução das plantas de arquitectura e das fotografias dos centros urbanos com desenhos animados à base de linhas que recriam as estruturas da cidade, num estilo grunge e ‘em bruto’.

Nakamura Taikou: Sento de MTV Japão ‘idents’: Kizu Hiroshi, Ddddd Dj Seitokaicho Uma selecção dos trabalhos de idents (imagens de marca) mais inteligentes e visualmente


Chiwawa: Soccer + Summer

apelativos, da autoria de Kizu e Nakamura, realizadores residentes da MTV Japão. Estas criações vêm comprovar a intenção deste canal de televisão de dar a conhecer as novas tendências na promoção e no branding televisivo japonês.

e Sasaki Yasuyuki criaram a Aerostitch como uma etiqueta de produção totalmente techno. Colaboraram em música, efeitos visuais e eventos regulares em discotecas. Esta nova obra consiste num guia visual de uma das grafias do alfabeto japonês, executada em formato de linhas de contornos de maior dimensão.

Fortunate 1mark / Omodaka

I hate hate / Cornelius

Jane + The Akiyama

de Tsujikawa Koichiro Este conceituado e inventivo realizador participou já em vários promos de destaque, nomeadamente na criação de efeitos visuais para espectáculos ao vivo do artista Cornelius. Baseado num fluxo constante de ideias, o seu trabalho criativo atinge excelentes resultados a partir de abordagens por vezes simples, a exemplo deste excelente trabalho de pintura montado e sincronizado com um tema de guitarra.

de Tanida Ichiro [jjd] A lógica distorcida e a componente lúdica dos anteriores trabalhos de Tanida em 3d são aprofundadas nesta vibrante compilação cheia de acção – produzida para o SMA, conhecido programa televisivo dedicado ao anime – e realçadas por uma modelação mais sofisticada das personagens, edição e movimentos de câmara. Está de regresso também a sua imagem de marca, a enérgica personagem feminina (Jane Doe), que luta com um ex-namorado na silhueta de Tóquio, recortada contra o céu nocturno. As lutas de poder não costumam acontecer desta forma, com flashbacks de cenas na praia e absurdas peripécias cómicas.

Dispatch / M-flo de Elecrotnik Vencedor de alguns prémios, este promo de CD concebido para M-flo, é da responsabilidade de Nakane Hirishe e Sayaka – o duo Elecrotnik – que se ocuparam da animação e realização. O seu trabalho gráfico é influenciado por diversas referências visuais e musicais, misturando os estilos low-fi e high-end.

Hiragana 50-4 de Aerostitch Naturais de Sapporo, uma ilha do Norte reconhecida como pólo criativo, Oguro Junichi

Ski Jumping Pairs de Mashima Riichiro Esta paródia dos desportos de inverno começou por ser o projecto de licenciatura de Mashima na universidade de animação e arrecadou já vários prémios criativos nacionais e internacionais. Mashima Riichiro começou recentemente a trabalhar em novos episódios de Ski Jump e está ainda a desenvolver outro projecto intitulado Toy Story Adult.

de Power Graphixx Assinalando uma mudança de estilo do talento multifacetado da equipa Power Graphixx, esta peça é acompanhada pela segunda parte do projecto de colaboração criativa Omodaka, numa fusão de música e motion graphics.


informações / Bilheteira 21 790 51 55

Programação

Horário de funcionamento De segunda a sexta-feira, das 10:00h às 19:00h;

culturgest@cgd.pt www.cgd.pt/culturgest/index.htm

sábados, domingos e feriados, das 14:00h às 20:00h.

Edifício Sede da Caixa Geral de Depósitos Rua Arco do Cego, 1000-300 Lisboa

Nos dias de espectáculo, até à hora do início do mesmo.

Metro Campo Pequeno Autocarros 1, 21, 27, 32, 36, 38, 44, 45, 47, 49, 56, 83, 90, 91, 108


Culturgest, uma casa do mundo


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