Covid-19 e a Santa Casa de Curitiba: um capítulo da medicina no Paraná

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e a Santa Casa de Curitiba

um capítulo da medicina no Paraná

Patrocínio
Realização

Ficha catalográfica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

C o v i d - 1 9 e a S a n t a C a s a d e C u r i t i b a : u m c a p í t u l o

d a m e d i c i n a n o P a r a n á / N ú c l e o d e M í d i a e

C o n h e c i m e n t o ; [ p e s q u i s a e t e x t o ] F á b i o A n d r é

C h e d i d S i l v e s t r e , F e r n a n d a C h e f f e r M o r e i r a ,

K i m A l a n V a s c o , M a r i a V i t ó r i a L i m a d e A r a ú j o . - - C u r i t i b a , P R : F a r o l d o s R e i s , 2 0 2 4 .

B i b l i o g r a f i a

I S B N 9 7 8 - 8 5 - 6 9 1 2 6 - 1 6 - 4

1 . C O V I D - 1 9 - P a n d e m i a ( M e d i c i n a ) 2. M e d i c i n a -

H i s t ó r i a - B r a s i l 3 S a n t a C a s a d e M i s e r i c ó r d i a -

S a n t o s ( S P ) - H i s t ó r i a I C o n h e c i m e n t o , N ú c l e o d e

M í d i a e . I I . S i l v e s t r e , F á b i o A n d r é C h e d i d .

I I I M o r e i r a , F e r n a n d a C h e f f e r I V V a s c o , K i m A l a n

V A r a ú j o , M a r i a V i t ó r i a L i m a d e

2 4 - 2 0 3 6 8 7

C D D - 3 6 2 1 1 0 9 8 1 6 2

Índices para catálogo sistemático:

1 . S a n t a C a s a d e M i s e r i c ó r d i a d e C u r i t i b a : P a r a n á : H i s t ó r i a 3 6 2 1 1 0 9 8 1 6 2

E l i a n e d e F r e i t a s L e i t e - B i b l i o t e c á r i a - C RB 8 / 8 4 1 5

Expediente

Coordenação e produção editorial

Núcleo de Mídia e Conhecimento

Editor

Fábio André Chedid Silvestre

Pesquisa e texto

Fábio André Chedid Silvestre

Fernanda Cheffer

Kim Alan Vasco

Maria Vitória Lima de Araújo

Projeto gráfico e diagramação

Danielle Dalavechia Chedid Silvestre

Revisão

Valéria Stüber

Imagens

A Escola de Fotografia

(Eduardo Kimmel e Guilherme Bressan)

Fábio André Chedid Silvestre

Fernanda Cheffer

Kim Alan Vasco

Santa Casa de Misericórdia de Curitiba

Apoio institucional Associação Médica do Paraná

Santa Casa de Misericórdia de Curitiba

Sumário PREFÁCIO...................................................................... 8 PRÓLOGO.......................................................................... 10 CARTA AO LEITOR........................................................................14 1. Covid-19: o grande desafio de salvar vidas..................16 1.1 MISSÃO GIGANTESCA...............................................................................................................................19 1.2 SURPRESA EM UMA CASA EM ORDEM 20 1.3 NOVO VÍRUS................................................................................................................................................................21 1.4 A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO.......................................................................................................................23 1.5 OS PRIMEIROS CASOS EM CURITIBA........................................................................................................24 1.6 REORGANIZAÇÃO GERAL......................................................................................... 25 1.7 VACINAÇÃO................................................................................................................................................................... 29 1.8 TRANSPARÊNCIA...................................................................................................................................................... 30 1.9 IMPACTO PESSOAL................................................................................................................................................. 30 1.10 LEGADO.........................................................................................................................................................................34 1.11 EQUIPE ENTROSADA.........................................................................................................................................34 2. Histórico geral das Santas Casas.....................................37 2.1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 39 2.2 PREÂMBULO DE UMA INSTITUIÇÃO CENTENÁRIA................................................................... 42
2.3 AS CONFRARIAS DA MISERICÓRDIA........................................................................................................47 2.4 AS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS............................................................................................................51 2.5 CARIDADE, SALVAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS MISERICÓRDIAS...............................................57 2.6 DE PORTUGAL PARA O MUNDO...................................................................................................................61 2.7 AS MISERICÓRDIAS NO BRASIL.....................................................................................................................66 3. Crises sanitárias..........................................................................72 3.1 OS PRIMÓRDIOS ........................................................................................................................................................75 3.3 A SAÚDE E A DOENÇA NO BRASIL............................................................................................................84 3.4 O PARANÁ.........................................................................................................................................................................87 4. Covid-19 na Santa Casa de Curitiba.....................................99 4.1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................................101 O HOSPITAL.................................................................................................................................104 O ESPAÇO CULTURAL.............................................................................................................146 4.2 O MUSEU DA HISTÓRIA DA MEDICINA DO PARANÁ NA PANDEMIA......................149 4.3 EXPOSIÇÃO “VIVENDO A PANDEMIA NO AMBIENTE HOSPITALAR"...........................154 4.4 EVENTOS VIRTUAIS..............................................................................................................................................158 4.5 EXPOSIÇÃO “O SORRISO POR TRÁS DA MÁSCARA"....................................................................160 4.6 NOVAS PARCERIAS................................................................................................................................................162 5. Cronologia da pandemia da covid-19..............................165 REFERÊNCIAS..............................................................................193

Prefácio

Provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba

Nos últimos anos, vivemos momentos marcantes, permeados de incertezas, com o surgimento de novas enfermidades, seguidos de períodos de renovação, fé e esperança. O novo coronavírus revelou que somos capazes de mudar drasticamente, em questão de dias, o que acreditávamos não conseguir reverter até o final das nossas vidas. Nesse tempo, passamos a dar atenção à nossa saúde e à imunidade, reconsideramos nossas prioridades e nos unimo-nos ainda mais com a espiritualidade, abrindo mão de apegos e nos tornando-nos seres mais presentes.

Em toda sua história, a Santa Casa de Curitiba enfrentou outras pandemias e epidemias com coragem e fé em Deus, que sempre nos sustentou, com seu poder e sua misericórdia. Neste período, superamos com êxito os surtos de cólera e febre amarela e triunfamos sobre a perigosa pandemia da gripe espanhola. Em todas as situações, fomos desafiados a preparar profissionais e encarar algo desconhecido, mas com coragem, sabendo que, além da excelência em saúde, teríamos a esperança de vivermos dias melhores.

Com a chegada da pandemia da covid-19, não foi diferente. Nós, que habitualmente ofertamos atendimento médico a todos os que nos procuram, mais uma vez fomos desafiados a oferecer um acolhimento aos pacientes dessa nova doença. Com grande experiência, nos estruturamo-nos para sermos um dos hospitais paranaenses que mais atendeu enfermos nessas condições e que soube, além disso, captar o que era necessário para proteger nossos heróis que estavam na linha de frente.

Destaco com afinco o esforço conjunto, para o bem comum, da Pastoral da Saúde Nacional, que desenvolveu e articulou trabalhos pautados na valorização da vida e da dignidade. Com esses princípios, a ação procurou ser referência no suporte de humanização no atendimento aos enfermos e seus acompanhantes.

A realização da Santa Missa é o ápice de todas as atividades, assim como eucaristia diária nos serve como alimento espiritual e físico para os enfermos e colaboradores, reanimando-os e colocando-os em comunhão com a comunidade. Com o advento da pandemia, foi primordial transmitir as celebrações pelas redes sociais, por isso, iniciamos o projeto de transmissão das missas diárias na Capela em parceria com o setor da comunicação da Santa Casa.

Atualmente, mais de 700 missas foram transmitidas com acompanhamento de uma equipe qualificada e o uso de equipamentos especializados. Saliento, ainda, o aumento considerável no número de pessoas que passaram a participar presencialmente das Celebrações Eucarísticas após a melhora nos casos de covid-19.

A Santa Casa de Curitiba orgulha-se em ter feito parte da assistência aos enfermos da pandemia da covid-19. Cumprimos nossa missão como complexo hospitalar que oferece atendimento a todos, adaptando-nos e compreendendo que estamos aqui para servir o Contexto, pedindo a Deus, todos os dias, pelas suas vidas e as de todos os enfermos que procuram nossas unidades em busca de acolhimento e cura para suas necessidades.

Boa leitura!

9 PREFÁCIO

Prólogo

Associação Médica do Paraná: unidos para vencer a covid-19

Integrar o projeto de um museu significativo, com causa, propósito e execução planejados e com uma perspectiva de longo prazo não é tarefa trivial e exige visão.

Foi assim que a Associação Médica do Paraná (AMP), nutrindo os antecedentes do Museu da História da Medicina do Paraná desde a década de 1970, participou (e participa) desta iniciativa cultural, desenvolvido em sintonia com a Santa Casa de Curitiba.

A Santa Casa de Misericórdia de Curitiba viu nascer, em seu magnífico prédio, ainda em 1933, esta associação de pares, médicos heroicos, que entrecruzam-se com a história da medicina no Paraná. Agora, todos esses elementos estão reunidos, tanto os objetos quanto o próprio edifício, abraçados em um museu.

Desta maneira, o museu consolida-se, organizando e difundindo o conhecimento, que evolui com o tempo e molda-se em um mundo sujeito a constantes crises sanitárias.

O Brasil sofreu a pandemia da peste negra entre 1900 e 1907, vinda de Portugal, por meio de navios de comércio, que vitimou 200 milhões de pessoas em todo o mundo, ao longo de sua trajetória, desde o século XIV. Sofremos, em 2009, o surto da influenza A H1N1, também conhecida como gripe suína. As manifestações clínicas de virose, como febre, mialgia, fadiga, coriza e dor no corpo, eram agravadas pela infiltração nos tecidos pulmonares, causando hipóxia e morte. A Associação Médica do Paraná (AMP) intercedeu junto ao Governo Federal, que é a vacinação fosse antecipada na Região Sul do país, em razão do início do inverno, mais precoce do que nas demais regiões do país. Esse calendário até hoje se mantém.

O mundo viveu um período de incertezas quando, no início de 2019, foram divulgados dados de uma virose denominada covid-19, que estava se espalhando no Oriente. A progressão de casos fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertasse sobre a proximidade de uma pandemia, que nos assolou a partir de março do ano de 2020.

Tratava-se de uma variante do vírus SARS (SARS-CoV-2), porém com características e comportamento diferentes, que, ao invadir a espécie humana, mostrou uma agressividade maior, além de não existir tratamento previsto ou estabelecido.

Desde o início de março de 2020, a Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa) realizou reuniões diárias de acompanhamento, nas quais eram apresentados boletins do número de casos, internamentos e óbitos, e elaboradas notas técnicas, alinhando condutas no Estado. Os dados coletados eram centralizados na Sesa, pois ainda não existiam programas de informação integrados que permitissem acompanhar diariamente, de maneira automática, os

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11 PRÓLOGO

casos notificados, o que foi desenvolvido pelo Governo Federal no decorrer da pandemia via Datasus, departamento de informática do Sistema Único de Saúde (SUS).

Desde o início, a Associação Médica do Paraná, a convite da Sesa, esteve presente em todas as reuniões nos meses de março, abril e maio. A partir de junho, os encontros passaram a ser a ocorrer por meio da internet.

Ainda no mês de março, o governador Ratinho Júnior, solicitou a presença da AMP em reunião, ocorrida em um domingo pela manhã, a fim de somar esforços no combate à pandemia. Pelo receio da sobrecarga no sistema de saúde do Estado, a AMP foi protagonista em elaborar uma lista de voluntários médicos, médicos residentes e acadêmicos que pudessem trabalhar nos atendimentos à população. A lista foi organizada e colocada à disposição das autoridades.

A pandemia evoluía e o país, bem como o mundo, estava com escassez de equipamentos de proteção individual, os EPIs (máscaras, luvas e aventais) e medicação, devido ao esgotamento na produção. A AMP rapidamente desenvolveu um projeto e criou um protetor facial (face shield) de fácil montagem, distribuído aos profissionais da saúde – médicos plantonistas, enfermeiros e fisioterapeutas dos hospitais, das UTIs e dos prontos-socorros. Nessa produção, foram confeccionadas 5.000 unidades.

Do mesmo modo, o Sistema Nacional de Atendimento Médico (Sinam), pertencente à AMP, marcou presença, oferecendo gratuitamente à população máscaras de proteção confeccionadas em tecido lavável, o que permitia sua higienização e reutilização. Milhares de unidades foram entregues em nossa sede e à sociedade em geral.

Em outubro de 2020, a Associação Médica Brasileira (AMB) encaminhou à AMP um lote 4.000 kits de máscaras N95 PFF2 e luvas cirúrgicas. O material foi integralmente doado para a Santa Casa de Curitiba e para a Sesa.

Os jornais e as emissoras de rádio e TV, como CBN e RPC, procuravam fontes para seus noticiários, e a AMP participou ativamente de entrevistas e manifestações em nome da classe médica e pela saúde da população. Nossos posicionamentos sempre foram alinhados com as sociedades de especialidades.

A Universidade Corporativa da Associação Médica do Paraná (Ucamp), fundada em 2012 com o propósito de criar conteúdos complementares na área médica e no ensino a distância, prestou importante contribuição à sociedade na pandemia, por meio da criação de vídeos orientativos para os médicos e a população. Dezenas de vídeos, foram produzidos e divulgados através do canal do Sinam no YouTube. Especialistas de diversas áreas contribuiram, incluindo Infectologia (Dr. Jaime Rocha), Epidemiologia (Dr. João Bosco Strozzi), Psiquiatria (Dr. Glauber Higa Kaio), Clínica Médica e Cirurgia Vascular (Dr. José Fernando Macedo).

A população mais desassistida, cuja situação foi agravada com a pandemia, em razão da retração de segmentos da indústria e do comércio,

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 12

recebeu a doação de cestas básicas, atendendo ao pedido realizado pelo então secretário da Justiça, Família e Trabalho, Ney Leprevost. A entrega foi feita para o Instituto Ney Leprevost, representado pela presidente, Carina Zanier, e os alimentos destinados à Associação dos Pais e Amigos do Autista de Colombo (APAAC).

O Jornal da Associação Médica do Paraná (Jamp) e a revista Medicina & Companhia, informativos impressos da AMP, publicaram matérias a respeito da covid-19, que também foram divulgadas no portal AMP.

Infelizmente, a pandemia ceifou a vida de milhares de pessoas. A classe médica sofreu, somente no Paraná, a perda de 100 médicos até outubro de 2021, deixando um profundo sentimento de tristeza, saudade e uma lacuna irreparável. No evento em homanegem ao Dia do Médico (18 de outubro), organizado pela AMP naquele ano, todos os profissionais foram lembrados e homenageados.

Ao escrever o texto, lembrando os fatos ocorridos, a Associação Médica do Paraná destaca sua atuação em todas as frentes, buscando fazer seu principal papel: defender e orientar os profissionais da classe médica e cuidar da saúde da população.

O Museu da História da Medicina do Paraná, dedicado à preservação e divulgação da memória médica do estado, lutará para que todo este esforço não seja esquecido.

Efígie do Dr. Murici, localizada na escadaria central do Hospital da Santa Casa de Curitiba

13 PRÓLOGO

Carta ao Leitor

É com grande satisfação que apresentamos a você a obra “Covid-19 e Santa Casa de Curitiba: um capítulo da medicina do Paraná", que registra, de maneira profunda e significativa, os desafios e triunfos vivenciados na pandemia que abalou o mundo. Este livro é um testemunho do espírito humano em face da adversidade e uma homenagem à resiliência da Santa Casa de Curitiba.

Nas páginas a seguir, você será convidado a percorrer uma jornada que vai além dos eventos, explorando a essência das lutas, das esperanças e dos esforços coletivos que marcaram este período desafiador. O primeiro capítulo, intitulado “covid-19: o grande desafio de salvar vidas", apresenta uma visão detalhada da missão gigantesca que Curitiba abraçou. Desde os primeiros casos, que coincidiram com o início da pandemia, até a reorganização e o legado que permanece, cada página é uma ode à coragem e dedicação da equipe que enfrentou essa crise.

O segundo capítulo, “Histórico geral das Santas Casas", transporta você ao passado, explorando as origens e evolução das instituições de saúde comprometidas com a caridade e o cuidado. Da tradição das misericórdias portuguesas à presença da Santa Casa de Curitiba, essa história é uma parte vital do contexto mais amplo da busca pela saúde e pelo bem-estar.

O terceiro capítulo, “Crises sanitárias", mergulha na história das lutas pela saúde no Brasil, estabelecendo as raízes das respostas à pandemia no Paraná e no país. A compreensão dessas crises ao longo do tempo oferece um panorama mais amplo das respostas atuais.

O quarto capítulo, “Pandemia covid-19 na Santa Casa de Curitiba", narra os desafios específicos enfrentados pela instituição neste período tumultuado. A gestão eficaz em tempos críticos, os impactos pessoais e o significado duradouro deste momento são abordados em detalhes, ilustrando não apenas a complexidade da situação, mas também o profundo compromisso com a comunidade. A unidade da equipe entrosada e o valor da transparência são aspectos que se destacam, mostrando a força coletiva diante da adversidade. Desde eventos virtuais que mantiveram a conexão com a comunidade até a tocante exposição "O Sorriso por Trás da Máscara", as páginas revelam a perseverança, solidariedade e humanidade que prevaleceram neste momento.

No quinto capítulo, "Linha do tempo", os eventos são dispostos de maneira cronológica, oferecendo uma perspectiva vívida da evolução da pandemia e das medidas tomadas para superá-la.

Esta obra não seria possível sem a colaboração incansável de muitas pessoas, desde as equipes médicas até os pesquisadores e os dedicados membros do Museu da História da Medicina do Paraná. Agradecemos a todos que compartilharam suas histórias e contribuíram para este registro histórico.

Convidamos você, caro leitor, a embarcar nessa jornada de conhecimento, reflexão e esperança. Que esta obra inspire confiança nas capacidades humanas de superação e solidariedade, reafirmando a importância da dedicação à saúde e ao bem-estar de todos.

15 CARTA AO LEITOR

1 1 COVID-19: O GRANDE DESAFIO DE SALVAR VIDAS

Foto: A Escola de Fotografia, 2021.

17

Secretária Municipal de Saúde de Curitiba entre 2017 e 2022

Mestre em Planejamento e Financiamento em Saúde e Deputada Estadual desde 2023

Márcia Huçulak recebe o primeiro lote de vacinas que chegaram a Curitiba: momento especial Foto: Daniel Castellano/SMCS

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 18

1.1 MISSÃO

GIGANTESCA

No início de abril de 2023, com o período mais crítico da pandemia tendo ficado para trás, a situação da covid-19 em Curitiba era a seguinte: 568.368 mil casos registrados da doença, com 576.708 recuperados e 8.707 óbitos. A vacinação, que continua a ser feita para controle do vírus, chegou a 5.335.595 doses aplicadas, em suas diferentes fases e reforços, naquela que se constituiu a maior campanha de vacinação da história de Curitiba – e da humanidade, no cenário mundial.

A população da capital, neste período, beira os 2 milhões de habitantes. A estrutura da saúde pública diretamente ligada à Secretaria Municipal da Saúde, responsável por um sistema reconhecidamente de alta qualidade muito antes da pandemia, inclui: 108 Unidades de Saúde, 9 Unidades de Pronto Atendimento, 1 laboratório municipal, 13 centros de atenção psicossocial, 1 unidade de estabilização psiquiátrica, 15 equipes multiprofissional de atenção domiciliar, entre outras estruturas da saúde e de outras áreas da prefeitura. O número de servidores municipais na saúde gira em torno de 9.600 profissionais e trabalhadores. Uma das decisões do passado, muito importante e fundamental nas estratégias de enfrentamento à pandemia, foi o sistema de prontuário eletrônico implantado em 1999 – o e-saude. Tínhamos informações para tomar decisões e acompanhar cada caso confirmado e os riscos envolvidos. Assim, embora as pessoas permanecessem em casa, foi possível acompanhar os grupos de risco com assertividade e qualidade.

A frieza dos números de uma estrutura robusta ganha sua real dimensão na medida em que expõe o porte do trabalho realizado em decorrência da pandemia de covid-19 na capital paranaense – e que envolveu uma ampla parceria com a rede particular e com todos os prestadores de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).

No cargo de secretária municipal de Saúde de Curitiba, tive o maior desafio pessoal e profissional, que já somava, na chegada da covid-19, quase 35 anos de experiência em diversas funções ligadas à gestão de Saúde Pública, nas três esferas de governo, na Prefeitura de Curitiba, na Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) e em Brasília (como assessora técnica do Conselho Nacional de Secretários de Saúde [Conass]).

O desafio moem umental representado pela covid-19 ocorreu, felizmente, em um cenário local onde a ampla experiência adquirida ao longo dos anos se mostrou de utilidade ímpar. Além disso, foi fundamental contar com trabalho realizado por uma equipe altamente profissional e uma estrutura que figura entre as melhores – senão a melhor – entre as capitais brasileiras, tanto em termos de prédios e equipamentos, quanto em qualificação dos servidores e corpo técnico. Por óbvio, o trabalho realizado em Curitiba fez parte de um cenário mundial que também se mostrou o mais desafiador para as autoridades de saúde desde, pelo menos, a gripe espanhola, que nos idos de 1920 ceifou a vida de milhões de pessoas na Europa.

19 COVID -19: O GRANDE DESAFIO DE SALVAR VIDAS

Os impactos causados pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 são bem conhecidos em todo o mundo. Até abril de 2023, o número de casos confirmados chegava a 277 milhões em todo o planeta, com 5,4 milhões de mortes.

Ao longo da pandemia, as medidas de saúde para conter o vírus incluíram ações raramente vistas e tampouco imaginadas em escala global: uso de máscaras, distanciamento social (com lockdowns realizados em vários momentos em muitos países), restrições de atividades nas cidades, e campanhas de vacinação em massa. E em muitos países, como o Brasil, houve a dificuldade extra de lidar com o negacionismo da ciência, campanhas contra vacinação e disseminação de fake news

Como não poderia deixar de ser, a pandemia teve também impacto significativo em todos os setores da vida em sociedade, especialmente na economia, levando os governos a adotar medidas de apoio às empresas e pessoas. Na área da educação, com escolas e universidades interromperam aulas presenciais e migraram para o ensino à distância. Essas restrições foram implantadas em muitos países, e em Curitiba não foi diferente.

A partir deste ponto, destaco o que considero ter sido diferente em Curitiba na área da Saúde e que proporcionou à cidade resultados que foram fruto de muito esforço, empenho de muitas pessoas, respeito à ciência, transparência, diálogo aberto com muitas áreas e cargas de trabalho intermináveis. No final das contas, acredito que o melhor resumo de todo esse processo– e motivo de orgulho para a saúde curitibana – pode ser resumido desta maneira:

1) não faltou atendimento a nenhuma pessoa infectada pela covid-19;

2) a taxa de letalidade da doença ficou entre as menores do país (1,5%). Nos períodos mais críticos da pandemia, Curitiba chegou a registrar 2,5% de letalidade, muito inferior a outras capitais, que registravam de 5% a 8% de letalidade;

3) não faltou equipamentos de proteção aos profissionais e trabalhadores da saúde.

Ou seja, as pessoas receberam o devido atendimento,vidas foram salvas e nossas equipes tiveram apoio não só de materiais e equipamentos, mas também de suporte psicológico, além da possibilidade de se afastar quando apresentavam comorbidades ou outras condições de risco. Para quem trabalha com saúde, isso é o mais importante.

1.2 SURPRESA EM UMA CASA EM ORDEM

No final de 2019, eu ocupava o cargo de secretária municipal de Saúde de Curitiba havia quase três anos. Nesse período, trabalhamos intensamente para corrigir uma área que estava totalmente desestruturada: grandes dívidas com prestadores de serviços e fornecedores, escassez de insumos e medicamentos, estruturas das unidades em mau estado e uma série de outros problemas que foram encarados com urgência desde a posse da nova gestão municipal, em 2017.

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 20

Por meio do empenho e da determinação do prefeito Rafael Greca, o trabalho começara de imediato e foi desenvolvido em um cenário de recuperação geral da cidade. Curitiba havia implementado um ambicioso plano de recuperação fiscal, e a manutenção da cidade havia voltado a patamares adequados, como novos projetos e obras sendo anunciados em diversas áreas da administração.

Na área da saúde, elaboramos um planejamento estratégico com projetos bem definidos para o melhorar o cuidado dos curitibanos, com protocolos de atendimento implantados e toda a equipe capacitada e alinhada com os objetivos da instituição. Nossos serviços de apoio diagnóstico e terapêutico, assim como hospitais que atuam de maneira complementar no Sistema Único de Saúde também estavam em consonância com as diretrizes da gestão desse sistema em Curitiba.

Dessa forma, conseguimos respirar com um pouco mais de tranquilidade. Já havíamos implantado ações importantes nas áreas de vigilância em saúde, assistência e gestão do sistema, como a nova regulamentação das normas de vigilância sanitária, os protocolos na atenção às urgências para diminuição do tempo de espera nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), mutirões de especialidades médicas e cirurgias eletivas sendo realizados e diminuindo filas e a implantação do aplicativo Saúde Já para melhorar o acesso à atenção primária.

A casa estava, finalmente bem organizada, com as dívidas herdadas quitadas, remédios disponíveis nas unidades, o trabalho fluindo bem e os insumos à disposição. Havíamos retomado o padrão dos serviços aos quais os curitibanos e as curitibanas estavam acostumados.

Era visível uma nova fase se aproximando, na qual poderíamos alavancar com mais vigor nossos projetos e programas – aquelas ações que ao longo dos anos fizeram de Curitiba uma referência nacional de saúde pública, um exemplo para o Sistema Único de Saúde. O sentimento de uma equipe muito unida e entrosada na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) era o mesmo: íamos começar a voar.

1.3 NOVO VÍRUS

Em meio às festas de fim de ano uma notícia de que um novo vírus havia aparecido na China. Ninguém sabia como nem por que. Para os profissionais da saúde pública , isso acionou um sinal de alerta. No entanto, como em outras oportunidades, ninguém imaginava o que viria a ser a covid-19.

Com a notícia circulando, logo no dia 6 de janeiro de 2020, uma segunda-feira, a equipe da vigilância epidemiológica da secretaria emitiu um alerta aos profissionais de saúde sobre eventuais casos respiratórios em pessoas que tivessem estado na China. Olhando para trás, posso afirmar que essa foi a primeira medida de combate à covid-19 em Curitiba. Ainda incipiente, mas já

21 COVID -19: O GRANDE DESAFIO DE SALVAR VIDAS

atenta, como manda as boas práticas epidemiológica. Começava, no entanto, a se formar uma tempestade que iria crescer como poucas e só se acalmaria mais de dois anos depois. A partir de janeiro, a escalada da covid-19 foi crescente e, em muitos sentidos, assustadora, mesmo para profissionais experimentados de todo o mundo.

Em Wuhan, o epicentro da pandemia, foi construído um hospital com mil leitos em tempo recorde (dez dias). As imagens divulgadas em ritmo acelerado do trabalho de engenharia correram o mundo, despertando a curiosidade de todos. Logo em seguida, outra unidade hospitalar, com 1.600 leitos, foi construída também em regime de urgência (15 dias). Para os profissionais de saúde pública, o sinal de alerta estava mais forte do que nunca.

No dia 24 de janeiro de 2020, a França registrou o primeiro caso de covid19 da Europa. Já se sabia que o vírus se espalhava muito facilmente. Diante das conexões mundiais de intenso trânsito de pessoas entre os mais diversos países e a facilidade da transmissão do novo vírus, ficou mais claro o que poderia vir a ocorrer e a pressão que poderíamos ter no nosso sistema local. Era hora de começar a agir com mais intensidade. A única certeza que tínhamos naquele momento era a de que precisávamos estar preparados. É importante comentar que, nesse aspecto, a equipe de vigilância epidemiológica e sanitária da SMS é muito preparada. Desde o primeiro alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), passamos a nos reunir semanalmente – ou sempre que algum novo informe era emitido – para discutir o impacto e as medidas que deveríamos adotar, sejam alertas aos profissionais de saúde e instituições de saúde, ou seja de planejamento para o que poderia ocorrer em nossa cidade.

Na área da saúde, é essencial estar sempre pronto para enfrentar situações fora da normalidade. Todo o serviço de saúde deve ter um plano de contingência para situações anormais. Em muitas ocasiões, nós, do setor público, enfrentamos cenários que demandam a tomada de medidas rápidas para responder a momentos de crise. Já no início de fevereiro, nas várias reuniões que fazíamos, fomos construindo o Plano de Contingência para enfrentamento do novo coronavírus em Curitiba, baseado em quatro eixos: vigilância, assistência, gestão e comunicação. Para cada um desses eixo, foram definidos fluxos, orientações para os profissionais de saúde e a sociedade e medidas a serem adotadas de acordo com a evolução da doença em nosso meio. Em 6 de fevereiro, todos os secretários de saúde das capitais e dos estados foram convocados para participar, em Brasília, de uma reunião, na sede da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), com o Ministério da Saúde, então liderado pelo médico Luiz Henrique Mandetta, que no cargo honrou as responsabilidades com a saúde pública. A reunião tinha pauta única: o novo coronavírus. Informei para a plenária dos secretários das capitais e estaduais e para a equipe ministerial as ações que Curitiba já havia implantado, incluindo nosso Plano de Contingência, o fluxo e a nota técnica elaborada pela equipe para orientação aos serviços de saúde da cidade. Solicitei, ainda, ao ministro

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 22

que a vacinação da influenza para os estados do Sul fosse adiantada, por conta do aumento dos quadros respiratórios que normalmente ocorrem no outono e inverno.

No fluxo estabelecido pela SMS de Curitiba, destacamos a importância de se implantar no Brasil o isolamento domiciliar para os casos suspeitos do novo coronavírus, a fim de diminuir a transmissão do vírus e não superlotar os leitos hospitalares com quadros leves. Foi também abordada a questão do suprimento de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) e a necessidade de o Governo Federal atuar na regulação do mercado de insumos e equipamentos e na disponibilização desses recursos para os municípios. Curitiba foi a única capital que já dispunha de um plano de contingência nesta ocasião, prevendo os possíveis avanços. Fiquei um pouco perplexa, pois, de duas, uma: estávamos preocupados demais ou os colegas estavam preocupados de menos. Ouvi de um secretário de saúde que eu estava exagerando, que a covid não seria mais do que foi a epidemia de H1N1, a primeira pandemia do século XXI, popularmente conhecida como gripe suína, que entre 2009 e 2010 causou a morte de cerca de 18 mil pessoas no mundo. Não dei ouvidos nem relatei, no retorno a Curitiba, essas considerações a minha equipe, já que sabemos que planejar é se antecipar aos fatos. Como ensina Peter Drucker, em muitas situações “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. Então, nunca é demais estar bem preparado. Talvez por trabalhar dessa maneira, o sistema de saúde de Curitiba é considerado o melhor do Brasil – consideração feita pelo então ministro Mandetta em entrevista na época. Esse reconhecimento foi concebido pelo histórico de excelência que a saúde da capital construiu ao longo dos anos. Certamente, os colegas estavam atentos ao problema, mas Curitiba procurava manter seu histórico, ou seja, fazer mais e melhor.

1.4 A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO

Cito essa passagem para reforçar uma ideia que julgo importante: não se faz nada no improviso, muito menos quando se fala em saúde. Embora seja verdade que não podemos prever catástrofes ou grandes acidentes, é nossa responsabilidade estar preparados para eventuais situações de anormalidade, como uma superlotação de serviços por surtos ou outras razões. Um bom plano de contingência serve para isso. A pandemia não veio com manual de instruções; exigiu uma série de ações rápidas e mudanças em vários setores da sociedade, enquanto a comunidade científica procurava entender o comportamento do vírus e as melhores estratégias para combatê-lo. A necessidade de lidar com uma situação completamente nova e desconhecida, no entanto, exige que se compreenda o problema e como ele se apresenta, além de elaborar métodos e boas técnicas de gestão, já que sem elas não há resultados satisfatórios. Em saúde, isso pode significar vidas salvas.

23 COVID -19: O GRANDE DESAFIO DE SALVAR VIDAS

Por mais que tenhamos – como tivemos – de tomar decisões rápidas e fazer mudanças constantes, isso sempre foi feito com critérios baseados na ciência e na observação atenta: como se dava o contágio, como evoluía o quadro clínico das pessoas etc. Para tomada das decisões, atuamos sempre em sintonia com os profissionais da linha de frente, não dando espaço para o “achismo” que, em momentos como esses, costuma ocorrer em muitos lugares.

Em situações que tiram as pessoas da zona de conforto, é muito comum que o ser humano reaja mais com a emoção do que com a razão, e que líderes sejam levados a tomar medidas na pressão do momento, sem levar em conta uma avaliação mais bem embasada, o real impacto ou a validade de alguma medida.

1.5 OS PRIMEIROS CASOS EM CURITIBA COINCIDIRAM COM INÍCIO DA PANDEMIA

Em 11 de março de 2020, ocorreu uma grande coincidência: foram confirmados os dois primeiros casos de covid-19 em Curitiba, e na mesma data, havia 118 mil casos em todo o mundo, levando a Organização Mundial da Saúde a declarar o surto como uma pandemia.

O primeiro lockdown (como se convencionou informalmente chamar as restrições de circulação de pessoas, mesmo que parciais) foi decretado na Itália dois dias antes. Nos Estados Unidos, restrições de circulação entraram em vigor no dia 20 de março. Com isso, não precisava mais sinal de alerta nenhum. A tempestade havia chegado.

Em Curitiba, mais por questões emocionais do que racionais, setores decidiram, no dia 16 de março de 2020, decretar lockdown nas instituições, sem que ainda tivesse ocorrido nenhum caso de transmissão comunitária na cidade. O comitê instalado na secretaria para tratar da covid, no entanto, havia advertido que ainda não era hora de parar tudo. O lockdown adotado por comércio, escolas e universidades e outros setores foi prematuro naquele momento. Passaram-se quase dois meses até que o vírus tivesse sua transmissão comunitária (aquele na qual não é mais possível rastrear qual foi a origem da infecção). Dessa maneira, não foi possível mais estabelecer o caso índice na capital. A exemplo de todas as cidades afetadas, Curitiba entraria em uma espiral de batalhas contra a doença, tendo desenvolvido ações concretas que mudaram completamente o sistema de saúde ao longo da pandemia – e a maneira como os serviços de saúde trabalham.

Fomos uma das primeiras capitais a orientar o uso de máscaras como forma de proteção contra o vírus e a criar uma central de atendimento remoto para atender casos suspeitos de covid-19, que chegou a realizar cerca de 1.500 atendimentos diários – com avaliação por equipe de profissionais de saúde, orientações, emissão de receita e medida de isolamento e agendamento do exame PCR-RT para a confirmação de infecção, além de encaminhamento,

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sempre que necessário, aos pontos de atendimento físico. Esse volume equivale ao atendimento de duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

Medidas eram tomadas diariamente e não poucas vezes definidas tarde da noite para serem implementadas já na manhã seguinte –, de acordo com as observações e os relatos que recebíamos nas várias reuniões online e por WhatsApp das equipes de UTIs e infectologistas dos serviços de saúde que eram nosso guia para a tomada de decisão.

Por adotar postura de seguir a ciência e tomar decisões ouvindo os profissionais da linha de frente e instituições, como a Sociedade Brasileira, de Infectologia, os conselhos de medicina e enfermagem, e os epidemiologistas, a equipe gestora da SMS assumiu a liderança na coordenação das ações de todo o sistema de saúde da capital, o que incluiu parcerias também com os hospitais particulares e a rede de prestadores de serviço do SUS.

Já fundamental no cenário municipal, a SMS tornou-se o epicentro da gestão de todo o sistema. Era necessário coordenação para desenvolver ações conjuntas e evitar o desperdício de recursos humanos e materiais. Acredito que isso foi fundamental para que pudéssemos atender a todos que necessitaram de cuidados. O sistema de saúde de Curitiba chegou ao limite em vários momentos da pandemia, mas, felizmente, não tivemos cenas inimagináveis de pessoas morrendo asfixiadas nas portas dos serviços de saúde.

A parceria encampada pelos hospitais filantrópicos, pilar do nosso SUS, como a Santa Casa de Curitiba é um dos grandes exemplos, foi fundamental para os resultados que obtivemos e para o atendimento qualificado da população.

A articulação normalmente realizada pela SMS com os setores de saúde precisou ser expandida, não só com outras áreas da prefeitura (educação, defesa social, administração, transporte, entre outras) como também com uma enorme gama da sociedade civil (associações comerciais e empresariais, grupos representantes de setores, entre outras). Tivemos muitas reuniões com vários setores: primeiro, para acalmar os ânimos exaltados que não concordavam com medidas restritivas decorrentes da necessidade de conter a transmissão do vírus; segundo, para ajustar protocolos que permitiam o funcionamento de certas atividades, ainda que parcial e com uma série de cuidados. Essas reuniões criaram sinergia entre a equipe da saúde e, os setores do comércio, serviços, e educação – o que permitiu que aprimorássemos nossos protocolos. Isso foi um grande aprendizado para todos. Apesar das dificuldades, conseguimos construir pontes, com diálogo intenso e amplo.

1.6 REORGANIZAÇÃO GERAL

Fizemos inúmeras mudanças de fluxos e no modelo de atendimento nas unidades de saúde, UPA e hospitais, a fim de ampliar, os leitos e a capacidade

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de atender a população. A reorganização foi geral e refeita tantas vezes quanto fossem necessárias para dar conta da demanda.

Como citado anteriormente, a secretaria tem uma ampla estrutura, distribuída por toda a cidade. Por isso, nossa maior preocupação era garantir leitos e otimizar as equipes de saúde. Embora pudéssemos ter estrutura, o número de profissionais poderia não ser suficiente para atender aos novos leitos, especialmente aqueles de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A covid-19 gerava cerca de 10% de casos moderados e graves entre os infectados, ou seja, aqueles com alguma necessidade de internação. Cerca de 90% dos casos eram leves, que, com algum suporte de medicamentos sintomáticos, teriam boa evolução, apesar de ser assustador naquele momento receber o diagnóstico da doença.

O grande problema é que ninguém podia prever como cada caso leve, moderado ou grave evoluiria. Todos, no entanto, buscavam e exigiam atendimento. Havia imponderabilidade da evolução do quadro e muita ansiedade, que atingia pacientes e profissionais da saúde. Em muitos momentos, não tínhamos respostas para a maioria das perguntas.

Nos períodos mais agudos da pandemia, havia mais de 14 mil casos ativos da doença em Curitiba, causando uma sobrecarga descomunal na rede. Os casos ativos representavam potencial de internamento, e não havia possibilidade de nenhum doente deixar de ser atendido por falta de vagas no sistema. O grande desafio era viabilizar o número de leitos necessário para os doentes. Consequentemente, cada leito demandava mais equipamentos e mais profissionais. Por isso, era necessário correr atrás de respiradores, EPIs para as equipes, criar protocolos e fluxos, além de toda a logística envolvida. Resistimos a enorme pressão para instalar “hospitais de campanha”, de iniciativa implementada em outras cidades que ganhou a mídia – com resultados questionáveis. Trata-se de estruturas provisórias, precárias e caras, mas que em Curitiba simplesmente não víamos a necessidade de serem instaladas em razão da boa estrutura dos hospitais e serviços de saúde que dispomos.

Conseguimos abrir, com parcerias, três hospitais “de verdade”: Vitória, Instituto de Medicina e Victor Ferreira do Amaral, além de mais de 300 leitos para casos moderados nas UPAs. Esse trabalho nos fez chegar a mais 1.400 leitos disponíveis exclusivamente para atender aos casos de covid-19, entre UTIs e leitos regulares.

O trabalho de viabilizar leitos e promover o atendimento adequado (que significou estabelecer fluxos que dificultassem a contaminação do vírus) incluiu uma ampla reorganização de toda a rede municipal. Inicialmente, transformamos 11 Unidades Básicas de Saúde (de atendimento geral, portanto) em postos exclusivos de vacinação de rotina e para atender gestantes e crianças, a fim de que mantivessem o acompanhamento de rotina. Em outras 74 unidades, implantamos o fluxo em Y, com a separação de pacientes (evitando o encontro dos atendimentos de rotina com os pacientes com sintomas respiratórios que poderiam ser resultado da covid-19).

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Essa reorganização permitiu o remanejamento das equipes para outros pontos de atenção da rede pública, priorizando aquela que era nossa maior demanda, ou seja, a covid-19.

Em outros momentos da pandemia, como no angustiante primeiro trimestre de 2021, mudamos o funcionamento das UPAs, que normalmente dedicam-se ao atendimento de urgência e emergências clínicas, situações que se reduziram imensamente na pandemia.

Algumas UPAs passaram a funcionar em sistema híbrido, parte como centro de internamento para casos moderados de covid-19 e parte para atendimento de outras emergências médicas. Algumas, ainda, passaram a funcionar 24 horas apenas como unidades de internamento hospitalar, para pacientes encaminhados pela rede.

Como, em média, 80% dos atendimentos de uma UPA são casos pouco urgentes, essas mudanças também acarretaram na diminuição do fluxo de pessoas com quadros leves na rede, diminuindo o risco de infecção pela covid-19, além de garantir as internações necessárias. Era a hora de concentrar-se totalmente no atendimento aos casos de covid.

Toda essa reestruturação foi uma das maneiras que encontramos para evitar o colapso do sistema, como vinha ocorrendo em outras cidades. Um dos meus orgulhos dessa fase é ter evitado este tipo de situação. O redesenho de uso da rede foi permanentemente adaptado de acordo com o comportamento da pandemia na cidade, de modo a dar eficácia ao atendimento da população até voltarmos a uma situação de normalidade.

Essas iniciativas deram resultado, já que ninguém ficou sem atendimento, inclusive muitos clientes de planos de saúde particulares que encontraram portas de hospitais privados fechadas por superlotação. Todos foram acolhidos nos serviços públicos de Curitiba.

Márcia Huçulak recebe o primeiro lote de vacinas que chegou a Curitiba: momento especial Foto: Daniel Castellano/ SMCS

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Márcia Huçulak vacina a colega enfermeira Silvana Maria Bora, no início da vacinação contra covid-19 em Curitiba Foto: Ricardo Marajó/SMCS

1.7 VACINAÇÃO

A vacinação foi um capítulo importante da pandemia. A chegada da vacina era aguardada com muita expectativa e representou um feito da ciência, pela rapidez com que o imunizante foi desenvolvido.

Em Curitiba, aplicamos a primeira dose em 20 de janeiro de 2021, no Pavilhão da Cura, montado no Parque Barigui. Como enfermeira, coube a mim aplicar a primeira dose na colega Silvana Maria Bora. Foi um momento muito especial, de emoção para todos aqueles que estavam envolvidos na luta contra a covid-19. Sabíamos que a partir daquele momento a pandemia teria um novo rumo – e vidas seriam salvas.

O Pavilhão da Cura gerou uma imagem emblemática, que simbolizou a luta pela imunização da população e nosso posicionamento combativo contra o negacionismo que tanto prejudicava o trabalho.

Além disso, claro, tratou-se de uma estrutura que contribuiu muito na logística da vacinação, que, de maneira geral, utilizou-se de toda rede disponível na cidade, incluindo o modelo drive-thru (importante para vacinar pessoas idosas e com deficiência).

Nos oito meses em que ficou aberto, a Pavilhão da Cura, com uma estrutura de 3 mil metros quadrados e 52 boxes, foi responsável por 20% dos imunizantes aplicados na capital – foram mais de 413 mil doses no local nesse período, com organização, fluxo constante, conforto, e segurança. Foi um sucesso, no melhor sentido epidemiológico do termo.

O local chegou a imunizar 500 pessoas por hora. A equipe de, aproximadamente, 500 pessoas, entre servidores municipais, voluntários, estagiários e parceiros, teve uma união poucas vezes vistas em torno de uma missão tão especial, que se repetiu em todos os pontos de vacinação da cidade.

Com 5,3 milhões de doses aplicadas (até abril de 2023), foi a maior campanha de vacinação da história de Curitiba.

Esse foi um momento lindo. Guardo um orgulho muito grande de toda a equipe de saúde de Curitiba, que não mediu esforços e operou um verdadeiro milagre no volume de aplicação de doses.

Infelizmente, no entanto, nunca recebemos doses em quantidade suficiente para que pudéssemos operar com toda nossa capacidade de aplicação de vacinas. Dispusemos de uma equipe muito bem treinada e apta para aplicar 100 mil doses por dia, mas nunca recebemos essa quantidade.

Outro ponto importante: Curitiba foi uma das poucas cidades que manteve o registro adequado das doses aplicadas de cada vacina em cada cidadão, o que nos permite até hoje saber quem completou o esquema vacinal e qual imunizante recebeu, e nenhuma dose foi desperdiçada. A qualidade e o carinho com o cidadão são as marcas que ficaram na memória de cada curitibano que recebeu a vacina.

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1.8 TRANSPARÊNCIA

A Secretaria Municipal da Saúde não poupou esforços para promover transparência, explicações e orientações à população, em um trabalho em que a Secretaria de Comunicação da prefeitura foi fundamental.

Cientes do impacto da covid-19 e das medidas que tomávamos para a população, fazíamos lives diárias nas redes sociais (amplamente acompanhadas pela imprensa e comunidade), publicávamos orientações, concedi inúmeras entrevistas ao longo de muitos meses, e fizemos diversas entrevistas coletivas. Além disso, atendi várias audiências e reuniões para responder aos questionamentos e às dúvidas dos vários setores (Câmara dos Vereadores, Ministério Público, Assembleia Legislativa, associações de representantes dos vários setores do comércio, serviços e da educação, entre outros).

Toda a equipe diretiva da SMS participou desse esforço permanente para promover esclarecimentos e informações corretas – o que foi especialmente importante frente às inúmeras fake news, ao negacionismo e às versões distorcidas e estapafúrdias espalhadas ao longo da pandemia contra a vacina, as máscaras, e o isolamento, e a favor de remédios “milagrosos” e, que até até hoje inexistentes.

Essa situação, movida por convicções e interesses desconhecidos, causou pressões extras que só prejudicaram o trabalho árduo e responsável que precisava ser feito. Não raro justificavam suas posições com mentiras ou falsos estudos, que demandavam esforço permanente de esclarecimentos voltados a reduzir os danos.

1.9 IMPACTO PESSOAL

A pandemia mudou completamente a rotina de todos na SMS. Por um longo período, não havia mais fim de semana nem horário fixo de expediente. Já, normalmente e muito ativos, meu telefone, meu WhatsApp e minha caixa de e-mail passaram a receber dezenas de mensagens com assuntos diversos: pedidos, ofertas de ajuda, dúvidas, entre outras. Havia uma demanda enorme e muita angústia, já que o mundo estava atrás de respostas. Quase todos os dias, colegas secretários de outros municípios entravam em contato pedindo opinião e solicitando nossos decretos e protocolos para servir de referência em suas cidades.

Uma das coisas mais difíceis no enfrentamento da pandemia foi a necessidade de administrar a ansiedade das pessoas. Todos queriam respostas, datas, e previsões quando isso ainda não era possível de ser feito. Também havia queixas, cobranças, incompreensões, grupos defendendo o “fecha-tudo” na cidade, e grupos defendendo o “abre-tudo”. Era pressão de todos os lados.

Na angústia e ansiedade para acharem uma solução mágica que permitisse voltar à normalidade, surgiu no mercado um certo “kit-covid", que

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chegou a ser divulgado e prescrito por profissionais médicos, que alegavam que esses remédios, se não curassem, também não agravariam o quadro clínico dos pacientes. No início da pandemia, chegamos a distribuir um quantitativo de cloroquina, mas logo as equipes das UTIs e os infectologistas observaram que essa medicação não mudava o quadro. Pelo contrário, algumas pessoas tinham complicações renais e hepáticas em consequência do uso. Surgiram os defensores ferrenhos desse kit, apesar de a ciência avançar na observação que demonstrava os efeitos nocivos de tal medicação. Era necessário, mais uma vez, esclarecer que a doença seria leve em 90% dos casos, independentemente, portanto, do que o paciente tome ou faça. Existe a coincidência do uso de qualquer medicação ou terapia com a melhora, mas os 10% que evoluíam com a piora e o agravamento do caso não voltavam aos médicos que prescreveram o kit, já que iam direto aos serviços de saúde, muitas vezes em um quadro pior, com comprometimento pulmonar importante, porque postergaram a procura por assistência adequada, acreditando em um milagre que não ocorria.

Essa guerra de grupos anticiência perdura até hoje em nosso meio, ainda incentivada por fake news. Infelizmente, outro grande desafio que tive de enfrentar foram as críticas e ameaças desses grupos – defensores do uso de medicamentos sem nenhuma evidência científica, e opositores ao uso de máscaras, às medidas restritivas e a vacina. Apesar das inúmeras cobranças e pressões que recebi para adotar medidas contrárias ao melhor interesse público de saúde, procuramos seguir a ciência e as orientações dos especialistas e infectologistas.

Em vários momentos, quando, por exemplo, via imagens de corpos carregados por uma empilhadeira em Nova York, batia a sensação de medo. Nessas horas, pensava na minha família (meus pais com mais de 80 anos isolados, e meu filho que passei a ver muito pouco) e no senso de responsabilidade como secretária de uma das principais capitais do país.

Sou profissional de saúde, e escolhi defender e cuidar da vida. Portanto, nos momentos mais críticos, o que devemos fazer é proteger a vida. Como secretária de saúde, cabia a mim isso: defender a vida em um momento que muitas delas, estavam em risco real, em uma situação em toda atípica, complexa e grave. Recebi inúmeras críticas que não nos preparamos, que bastaria simplesmente deixar a sociedade viver normalmente e abrir 2 mil leitos de UTI – soluções aparentemente “simples”, mas completamente fora da realidade mais elementar.

Sempre tive a certeza de que as minhas decisões sempre seriam em prol da vida e dos profissionais de saúde, os verdadeiros heróis dessa guerra que vivemos contra um vírus. Tive pesadelos e fiz listas, projeções e contas nos períodos de insônia. Nos momentos de insegurança, precisava respirar em busca de algum alívio, convicta de que o Universo conspira a favor das pessoas que procuram fazer o bem. Encontrava segurança na certeza de que tínhamos – como temos agora – uma grande equipe na Saúde, estrutura, experiência, competência e vontade de vencer a covid-19.

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Fonte https://imunizaja. curitiba.pr.gov.br/ painelcovid Maio, 2023.

Nessas horas, vinha a convicção de que seríamos capazes de passar por essa situação com sucesso. Acredito que conseguimos, sem deixar de lamentar e pedir a Deus pelos que pereceram nessa jornada. Sempre tive muita preocupação com a equipe da saúde. Mantive com eles uma conexão muito forte, sempre procurando estar presente nos momentos mais difíceis. Procurei também manter a equipe unida, reforçando a esperança na certeza de que esses tempos sombrios iriam passar. Uma das primeiras mensagens que escrevi foi no dia 19 de março de 2020. Reproduzo aqui.

Escrevo essa mensagem a nossa equipe da SMS: Estamos vivendo dias de preocupação, obviamente temos motivos de apreensão e dúvidas. Ao mesmo tempo, temos o conhecimento e os meios do que precisamos fazer. Estamos recebendo apoio e incentivo de muitas instituições e pessoas. Muita gente emanando boas energias e orações por nós. Nossas equipes têm sido guerreiras e disponíveis. Nossos profissionais têm atuado de maneira impecável. Os 8620 profissionais da SMS e FEAS juntos são mais fortes que os desafios que vamos enfrentar. Agora é tempo de solidariedade, tempo de agir, tempo de união. Que o bom Deus nos proteja. Que o Espírito Santo nos guie!

Márcia Huçulak

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No dia 1º de maio de 2020, escrevi aos profissionais de saúde da cidade:

Hoje é Dia do Trabalho

O ano de 2020 é diferente, já que estamos enfrentando um inimigo invisível, e, nessa batalha, os soldados do front vestem jalecos ao invés de fardas. A minha homenagem em especial para esses trabalhadores, que diariamente guardam para depois seus medos, suas incertezas, a saudade da família, vestem seus uniformes e vão para unidades de saúde, UPA, hospitais, laboratórios, farmácias, clínicas e na vigilância em saúde para cuidar da saúde daqueles que precisam. Graças a vocês nós temos uma certeza: isso vai passar.

Vocês são anjos sem asas, velando pelos que precisam. Vocês são pulmões, respirando por aqueles que não conseguem. Vocês são pernas e braços, movimentado os incapacitados. Vocês são o tratamento para as doenças para as quais não há medicamento. Vocês são a família daqueles que vivem só. Vocês são a crença para os que perderam a fé. Como secretária da Saúde de Curitiba, rezo para tomar decisões pelo melhor para as pessoas, e na condução das estratégias e ações tenho a certeza que elas serão realizadas com maestria por profissionais de excelência e humanidade. Como enfermeira, tenho orgulho e compaixão aos colegas trabalhadores da saúde que, nesse momento, pausaram suas vidas pessoais em prol da saúde dos curitibanos. Como cidadã, confiança e gratidão por saber que vocês estão lá nos serviços de saúde 24 horas por dia, prontos para atuar quando a saúde exigir cuidados.

Parabéns e obrigada a todos os trabalhadores que atuam nos serviços de saúde contribuindo para que a vida siga seu curso. #estamosaquiporvoce #fiqueemcasa #vaipassar #curitibacontracoronavírus

Nossos cidadãos confiam e são gratos por saber que vocês estão nos serviços de saúde 24 horas por dia, prontos para atuar quando a saúde exigir cuidados. Faço minha a letra dessa canção do Gonzaguinha.

“Ontem um menino que brincava me falou que hoje é semente do amanhã... Para não ter medo que este tempo vai passar... Não se desespere não, nem pare de sonhar Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs. Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar Fé na vida, fé no homem, fé no que virá! Nós podemos tudo, nós podemos mais Vamos lá fazer o que será”. Que Deus nos ilumine,

Márcia Huçulak (Secretária Municipal de Saúde de Curitiba)

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1.10 LEGADO

Tamanho esforço ao longo de tantos meses deixou legados que ajudaram a melhorar o sistema de saúde. Acredito nisso e trabalho para que as melhorias sejam implementadas. A pandemia deixou muito clara a importância da saúde pública eficaz, assim como a necessidade de se investir em infraestrutura e preparar os profissionais e gestores públicos para lidar com situações de exceção, que pode ser uma epidemia, um surto, uma nova pandemia ou uma grande catástrofe. Todos os dias, enfrentamos desafios no sistema de saúde que demandam respostas rápidas, mas que precisam ser assertivas e eficazes.

Ficou muito claro também o papel fundamental dos profissionais de saúde, muitos deles foram verdadeiros heróis na luta contra o vírus, além da necessidade de cooperação global, nacional e regional. Do ponto de vista mais prático, a covid-19 acelerou enormemente o uso de tecnologia, como a telemedicina, e o para monitoramento e tomada de decisões. Nesse sentido, é crucial equipar o sistema de saúde com tecnologias que estejam a serviço da vida. Nossa Central Coronavírus, por exemplo, implantada no início da pandeia transformou-se rapidamente na central Saúde Já, que agenda exames, intermedeia consultas especializadas priorizando casos pela clínica da pessoa, envia mensagens para ajudar as pessoas a monitorar sua saúde, entre outros, tudo isso sem sair de casa. O futuro da saúde está na melhoria do vínculo e da conexão com as pessoas, e não apenas em mais estruturas. Cito com orgulho a Central Coronavírus. Nos momentos mais críticos da pandemia, ela chegou a atender 1.500 pessoas por dia, o que corresponde ao atendimento de duas UPAs, com orientações, prescrições e monitoramento dos casos de covid-19. O grande legado da pandemia foi a robustez do SUS curitibano, que precisa continuar a missão de cuidar das pessoas não só quando estão precisando de cuidados, mas ao longo da vida, para que tenham vida longa e saudável.

1.11 EQUIPE ENTROSADA

Não poderia terminar este relato sem citar os colegas e as colegas mais próximos da SMS que estiveram comigo em toda a pandemia. Sem o apoio, o conhecimento, a entrega e a parceria deles, não teríamos conseguido o resultado que tivemos.

Estendo meu agradecimento aos servidores da Saúde de Curitiba.

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Equipe de saúde no encerramento das atividades no Pavilhão da Cura

Foto: Daniel Castellano/SMCS

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2 2 HISTÓRICO GERAL DAS SANTAS CASAS

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2.1 INTRODUÇÃO

A história da saúde é longa e complexa, e tem evoluído ao longo do tempo em resposta às necessidades e aos avanços da sociedade. Desde a pré-história até hoje, as pessoas têm procurado maneiras de prevenir doenças, curar feridas e aliviar o sofrimento humano.

Sucintamente, na pré-história, os primeiros grupos de hominídeos eram, majoritariamente, caçadores e coletores. Eles viviam em grupos nômades e enfrentavam uma série de desafios relacionados à saúde, incluindo ferimentos decorrentes da caça e das infecções. Entretanto, com o passar do tempo, eles descobriram a cura natural para muitas doenças, usando plantas e ervas medicinais para o tratamento. Contudo, quando essas não eram suficientes para a cura, as doenças desconhecidas eram atribuídas a manifestações de forças sobrenaturais, surgindo, assim, lideranças espirituais, a quem eram atribuídas uma suposta capacidade e um conhecimento para lidar com o sobrenatural, realizando processos de cura de enfermidades ou agradecimentos por dádivas recebidas, o que possibilitou o início de um pensamento mágico-religioso.

Com o tempo, as sociedades tornaram-se mais complexas e organizadas, o que levou a avanços significativos na medicina. Na Grécia Antiga, por exemplo, Hipócrates tornou-se um dos pais fundadores da medicina moderna, criando um código de ética médica e desenvolvendo uma série de teorias sobre saúde e doença. Além disso, outras teorias e respostas para as questões enfermas eram relacionadas ao estado de espírito do indivíduo. Ademais, no Egito Antigo, existia uma visão mágico-religiosa, onde as doenças eram resultadas de forças alheias ao corpo, causadas por maldições, questões espirituais e manifestações divinas. Portanto, haviam feitiços e rituais que buscavam tratar essas questões de saúde, onde as práticas de cura eram realizadas por líderes espirituais. Um ponto interessante a se destacar é a simbiose mágica e científica: enquanto esse processo de mumificação era permeado de rituais místicos, o tratamento post mortem do cadáver

B.C.E.,

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Página do Livro dos Mortos Book of the Dead of Hunefer, c. 1275 Thebes, Egypt © Trustees of the British Museum.

exigia conhecimento e técnicas sobre anatomia, possibilitando, assim, um início de um conhecimento pré-científico acerca da saúde e do corpo humano. Portanto, ao longo da história, houve uma relação entre saúde e religião, tanto para a cura quanto na criação de hábitos de higiene, já que estar limpo e livrar-se das impurezas do corpo perante os deuses era, além de um ritual sagrado religioso, um hábito de higiene e saúde.

Essa simbiose mágico-religiosa-científica continuou na Idade Média, época na qual a medicina se desenvolveu ainda mais, com a abertura das primeiras universidades médicas e a disseminação do conhecimento médico em toda a Europa, iniciando as primeiras medidas de higiene para a manutenção de uma saúde pública. No entanto, ainda se mantinham, mesmo em âmbito acadêmico/científico, tratamentos baseados em superstições e práticas religiosas, delimitando uma linha tênue entre a cura por meio da fé e do combate ao pecado e à cura como concebemos atualmente. Ademais, a partir da influência da religião cristã, foram criadas inúmeras ordens religiosas que tinham como finalidade o cuidado de doentes e a cura de enfermidades. Com a chegada da Renascença e da Idade Moderna, a medicina deu um salto significativo, incluindo a descoberta de novas drogas provenientes de boticários e alquimistas e técnicas cirúrgicas. No entanto, embora já existissem universidade que estudavam as dinâmicas entre saúde e higiene, os conhecimentos ainda não eram suficientes, pois a falta de higiene pública e urbanização em muitas cidades levou a epidemias devastadoras de doenças como cólera e peste bubônica.

Os tratamentos da área da saúde continuaram a evoluir ao longo dos séculos XVIII e XIX, agora com a descoberta de vacinas para doenças como varíola e a percepção da existência de germes e agentes externos (não sobrenaturais) como a causa de muitas infecções. Cada vez mais a medicina avançava, com a introdução de novas técnicas cirúrgicas, antibióticos e novos equipamentos. A partir de uma aproximação da saúde com o academicismo e cientificismo, bem como com a produções de fármacos químicos, partiu-se a uma concepção de que os processos que ocorrem no corpo são químicos. Dessa maneira, os melhores remédios para sanar as moléstias seriam produtos de uma química, por exemplo: por meio da administração de pequenas doses de minerais e metais, notadamente o mercúrio, tratava-se a sífilis. Hoje, a medicina continua a evoluir, com novas descobertas e inovações que prometem melhorar ainda mais a saúde e o bem-estar humano. No entanto, muitos desafios permanecem, desde a resistência crescente aos antibióticos até o aumento da obesidade e das doenças crônicas, o que não deixa de ser influenciado pela forma que a sociedade se organiza social e economicamente em cada época. À medida que a história da saúde continua a se desenrolar, é importante lembrar o passado, destacando algumas trajetórias que foram realizadas por instituições centenárias, como as Irmandades das Santas Casas de Misericórdia.

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41 H ISTÓRICO GERAL DAS S ANTAS C ASAS
REMBRANDT, A Lição de Anatomia do Dr. Tulp. 1632. 1 óleo sobre tela. 169,5 cm x 216,5 cm. Mauritshuis. Haia. Paixes Baixos.

2.2 Preâmbulo de uma instituição centenária

Um ponto de partida para a gênese da criação das Irmandades das Santas Casas de Misericórdia pode ser sintetizada por meio de dois pontos: a da Idade Média e a disseminação da pandemia peste negra na Europa.

A Idade Média foi um período da história da Europa que se estendeu dos séculos V ao XV. Nessa época, a Europa passou por grandes mudanças políticas, sociais, econômicas e culturais, incluindo a queda do Império Romano, as Cruzadas, a queda de Constantinopla, a ascensão do cristianismo como religião dominante, o surgimento de novos reinos e estados, a grande crise sanitária da pandemia de peste negra e o movimento do Renascimento.

A religião cristã teve um papel fundamental na Idade Média, com a Igreja Católica tornando-se uma das instituições mais poderosas e influentes da Europa. A conversão de reis e nobres ao cristianismo ajudou a difundir a religião por toda a Europa, enquanto a Igreja desempenhava um papel central na vida das pessoas, oferecendo assistência espiritual, educacional e social.

A peste negra, ou peste bubônica, foi uma das epidemias mais devastadoras da história da humanidade. Ela surgiu na Ásia Central, no século XIV, e espalhou-se rapidamente pela Europa, matando mais de 40 milhões de pessoas, quase um terço da população europeia. A doença foi causada por uma bactéria chamada Yersinia pestis, que era transmitida por pulgas de ratos infectados.

Essa moléstia teve um impacto na história europeia, levando a uma queda na população, crises econômicas e sociais e mudanças significativas na cultura e na religião. Além disso, houve um aumento no sentimento religioso, com as pessoas buscando conforto na igreja e em práticas religiosas para se protegerem da doença. A peste negra também serviu como um lembrete da vulnerabilidade da humanidade a doenças infecciosas e da importância da medicina e da saúde pública no combate a pandemias.

A partir desses dois pontos gerais, podemos então aprofundar um pouco sobre o preâmbulo da criação de instituições medievais de assistencial social e de saúde. Na Idade Média, surgiram as confrarias ou irmandades, formadas por religiosos e cidadãos leigos preocupados com a caridade às populações mais pobre e o bem-estar de seus pares e famílias, sendo uma resposta a uma situação de assistencialismo urbano decorrente das pestes e da migração e adensamento populacional das cidades.

Muitas dessas confrarias administravam albergarias e hospitais. Os albergues eram usados como pousadas e hospedarias para viajantes, sejam eles peregrinos ou pessoas deslocadas de suas áreas de residência, enquanto os hospitais passaram a ser concebidos como casas de internamento e cura de doentes. O hospital podia ser uma simples casa de acolhimento, um lugar para morrer ou um verdadeiro estabelecimento de saúde, desempenhando um papel sanitário e profilático na cidade. Cada centro urbano tinha, pelo menos, um hospital, gerido pelo cabido dos cânones nas cidades sede de

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Navios genoveses infectados chegaram ao porto de Messina, na Sicília. A partir daí, a doença espalhou-se rapidamente pela Itália e, em seguida, para outras partes da Europa. A doença era altamente contagiosa e mortal, matando rapidamente suas vítimas. Os sintomas incluíam febre, calafrios, dores de cabeça e dores musculares, seguidos por inflamação dos gânglios linfáticos e hemorragias internas.

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diocese, e um número interessante de pequenos hospitais administrados por comunidades religiosas.

A partir do século XIII, houve uma transição na administração do hospital medieval, saindo das mãos dos religiosos e passando para a jurisdição secular, especialmente nas cidades. Embora monges e freiras tenham continuado a cuidar dos enfermos, a responsabilidade administrativa passou para as autoridades leigas, não implicando, no entanto, a completa substituição do clero.

De acordo com Rosen (p. 68), “desde o século VII e até o século XII, o hospital monástico representou quase a única instituição, na Europa, cuja função principal residia no cuidado do doente”.1

O tratamento medieval, inicialmente centrado em aspectos religiosos e espirituais, gradualmente descobriu a importância da higiene, da alimentação saudável, das condições sanitárias, da roupa e, por fim, do conforto das instalações. Na segunda metade do século XV, com o aumento do número de pessoas vulneráveis em virtude do crescimento demográfico e das profundas mudanças econômicas, essas estruturas ganharam novo fôlego, divulgando sua missão como um dever cristão caritativo para a remissão da alma e dos pecados.

Em Portugal, a situação não foi diferente da Europa como um todo. Na Idade Média, fome, guerras e doenças espalharam-se pelo reino, em grande parte causadas pelas invasões mouriscas e o retorno dos cruzados. A expansão marítima no século XV só piorou as coisas, levando ao despovoamento agrário e a um aumento do desequilíbrio social. As comunidades urbanas e o poder real começaram a assumir gradualmente a responsabilidade pelas instituições hospitalares, reconhecendo sua importância tanto para as pessoas das cidades quanto para aquelas do campo. Esse movimento foi motivado, em grande parte, pelas transformações econômicas e sociais, mas também por novos modelos culturais que foram incorporados em textos teológicos, vocabulário jurídico e discursos normativos. Esses quadros de referência foram fundamentais para a nova ordem social, que se buscava promover, com ideias que redefiniram os parâmetros de elegibilidade para acesso aos recursos assistenciais, separando as necessidades dos doentes daquelas dos pobres, apesar de manterem uma proximidade entre ambos.

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1 ROSEN, G. (1994) in CHAVES, Cleide de Lima (2011).

Em a “Assistência a doentes e peregrinos num hospital medieval", 1455-1464, é possível ter um vislumbre do funcionamento dos equipamentos de saúde da época, que atendiam de acordo com os preceitos de acolhimento cristão. Hotel Dieu, un hospital medieval. 1632. 1 óleo sobre tela.

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Confrarias medievais: O papel das Confrarias

Religiosas na arte medieval e moderna

2.3 AS CONFRARIAS DA MISERICÓRDIA

As Misericórdias têm suas raízes nas primeiras formas de participação dos cidadãos na vida da comunidade, que receberam o nome de Confrarias. No entanto, é na Idade Média que essas formas de agregação assumem uma identidade mais definida, a partir do século X, nos seguintes tipos:

• Confrarias de Devoção, que permitem uma participação mais direta dos leigos na liturgia.

• Confrarias dos Penitentes, que enfatizam a necessidade do arrependimento e da penitência com rigor.

• Confrarias de Profissão, que unem os membros da mesma profissão em torno do culto do padroeiro e oferecem serviços de “ajuda mútua” a seus membros.

• Confrarias da Caridade, como as Misericórdias da Toscana, da Espanha e de Portugal, que oferecem serviços específicos de assistência na prática da caridade, administrando hospitais e cuidando do enterro dos mortos, entre outras atividades.

Esse movimento de criação de Confrarias se expandiu na Europa devido à combinação trágica da peste, da fome, da guerra e do despovoamento agrário. Sob a perspectiva cristã, a doença foi vista como uma oportunidade para refletir sobre o pecado, a culpa, o arrependimento e a redenção, destacando a importância da caridade como um papel social fundamental e, em última instância, enfatizando a necessidade de obedecer às leis que regem o pacto entre Deus e os seres humanos. Esta visão teológica é reforçada em momentos de calamidade, como foi o caso da peste negra. Deus é visto como um ser paciente e misericordioso, mas também sujeito a surtos de cólera, que são vistos como uma expressão de sua indignação legítima, devido a sua natureza como Juiz justo. A dialética entre punição e redenção é fundamental para a compreensão da piedade divina, e é vista como uma lei que deve ser obedecida.

Consequentemente, a maior expressão de caridade e amor é considerada como sendo a disposição de dar a vida pelos outros, seguindo o exemplo extremo do próprio Cristo como o maior mártir.

Por muito tempo, as pessoas foram ensinadas que a peste negra era um castigo divino pelos pecados cometidos pelos seres humanos na terra, o que levou a um aumento da adesão ao cristianismo como forma de apaziguar a ira de Deus. Essa visão levou os cristãos a adotarem várias medidas religiosas para garantir que pudessem salvar suas almas e obter a vida eterna no purgatório. As ideologias pregadas pela Igreja foram amplamente aceitas por

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um grande número de pessoas, devido ao medo e pânico que dominavam a sociedade na época, seguindo fielmente as narrativas difundidas pelos membros do clero e colocando-as em prática, o que resultou em várias adesões às Confrarias Caritativas, que frequentemente lideraram o assistencialismo no nível religioso e civil. Com doações e legados, essas instituições tornaram-se a forma de associação voluntária mais difundida na Europa. Com estas raízes e nestas premissas começa o fenômeno das Misericórdias.

Em Florença, a Misericórdia foi reconstituída de maneira autônoma em 1490, com estatutos que modificaram profundamente seu corpo social, tornando-o substancialmente diferente da antiga associação, com maior participação popular. A partir do século XVI, as companhias puderam se expressar apenas nos limites paroquiais como irmandades sacramentais ou sociedades assistenciais distantes do povo para serem sujeitos políticos autônomos. Cada Confraria continuou a viver concentrada em uma determinada forma de devoção ou no serviço a sua própria comunidade.

Em seu tempo de existência, elas realizaram obras de assistência social e sanitária, tanto de maneira independente quanto em colaboração com os diferentes governos. Além do transporte de doentes e do enterro de mortos, a Confraria também assumiu tarefas específicas em diferentes épocas, como assistência a condenados à morte e visitas a detentos.

Atualmente, existem Misericórdias em todo o território nacional italiano, agrupando-as em uma Confederação Nacional das Misericórdias da Itália, com sede em Florença e que reúne mais de 700 Misericórdias. Além disso, hoje o serviço de ambulância equivalente ao SAMU na Itália é competência das Misericórdias. Segundo A.J.R. Russell-Wood (1981, p. 3), “em nenhum lugar as irmandades fundadas para fins caritativos se multiplicaram tão profusamente quanto na Itália do norte e central.”2

Coincidência ou não, foi na Idade Média e na região onde foi a porta de entrada da peste negra para a Europa que floresceram essas Confrarias da Misericórdia, prestando valorosos serviços nessa crise sanitária. Da mesma maneira, nos próximos capitulos, iremos apresentar a atuação da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, na pandemia de covid-19. Desta maneira, é possível afirmar que as crises sanitárias impulsionam a atuação do assistencialismo na área da saúde.

ACESSE O QR CODE E CONHEÇA O MUSEU DA MISERICÓRDIA DE FLORENÇA:

https://museo.misericordia.firenze. it/?lang=en

2 ATALLAH, Claudia C. Azeredo (2019).

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A primeira Misericórdia foi de Florença, Aos poucos, nasceram as outras, Siena (1250), Volterra (1290), Pisa (1330), Pistoia (1492), Prato (1588), e Livorno (1595). Frequentemente, as Companhias solicitavam legislação especial que favorecesse suas associações e eram regularmente beneficiárias de heranças e legados de cidadãos abastados.

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Cidade de Florença Carta della Catena . séc. XV

Mapa das Misericórdias portuguesas no início do século XVIII, de acordo com as informações da corografia do padre Carvalho da Costa (dados recolhidos por Ana C. N. da Silva). Embora as fontes não sejam inteiramente confiáveis, parece certo que as Misericórdias se encontravam assimetricamente distribuídas no conjunto do território continental do reino. Considerando sua relação com o volume da população, verifica-se que eram muito mais em umerosas no sul e no centro-litoral e interior a norte do rio Mondego, e particularmente escassas em uma parcela da Beira e no interior do norte.

SANTA CASA DE CURITIBA:
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2.4 AS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS

No reinado de D. Afonso IV, em 1348, a peste negra chegou a Portugal, atingindo, principalmente, os centros urbanos, onde a contaminação era intensa devido às condições precárias de higiene e saúde. A partir desse momento e até o século XVI, o território português foi afetado, de modo intermitente, por diversos surtos de peste. Naquela época de intenso fluxo populacional entre áreas rurais e urbanas, o deslocamento constante carregava consigo uma série de doenças e epidemias, desencadeando crises sanitárias.

Os tratamentos para essas crises de peste consistiam, principalmente, na purificação da alma por meio de atos religiosos, tendo a Medicina e a Farmacologia um papel secundário. Os tratamentos incluíam ainda o domínio sobre a ciência dos astros, magia, receitas e mezinhas variadas, sangrias, purgas e cirurgias.

Dessa maneira, os hospitais medievais eram pequenas instituições economicamente independentes, sustentadas pelas rendas de pequenas Confrarias que tinham regulamentos de funcionamento que garantiam, principalmente e, os direitos dos doentes e pobres. Existiam diversas nomenclaturas relacionadas com as funções: os hospitais tratavam doentes, as albergarias acolhiam pessoas de passagem, as gafarias, lazaretos ou leprosarias recolhiam leprosos e as mercearias e hospitais de meninos abrigavam idosos, inválidos ou crianças. Havia ainda hospitais de banhos, destinados exclusivamente às crianças ou aos “incuráveis”, alguns albergando apenas um dos sexos, enquanto outros eram mistos. Pensando nessa estrutura, a Lisboa medieval, contava com, aproximadamente, 70 instituições hospitalares, segundos os models apresentados. Ou seja, instituições que tinham, no máximo, 5 leitos por entidade, cada uma funcionando de maneira independente. Essa pluralidade de instituições que agiam de maneira não coordenada era insuficiente para controlar as crises sanitárias de maneira satisfatória, ou seja, a função dessas instituições era voltada mais para um acolhimento dos doentes que passaram por ali por poucos dias do que para cumprir uma função de cura. É nesse contexto que se dá uma intensa remodelação na assistência. Situação que levou ao desejo de reforma iniciado por D. Afonso V e, posteriormente, concretizado por D. João II, pela rainha D. Leonor e D. Manuel I, que se expressa na construção do Hospital das Caldas da Rainha e do Hospital de Todos os Santos, este último que agregou e centralizou 43 dos hospitais medievais de Lisboa, criando assim as primeiras instituições de saúde portuguesa em moldes modernos, próximo ao que conhecemos como hospital nos dias de hoje.

Lisboa era o ponto de partida tanto comercial quanto de largada para desbravar o além-mar, sendo a principal cidade do reino. Portanto, no século XV, Lisboa, sofreu ainda mais com as crises sanitárias, tornando-se centro de irradiação de uma reforma assistencial e hospitalar, que viu na figura do casal real, o modelo de zelo e cuidado pela saúde do reino, tanto espiritual

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quanto corporal. Ou seja, foi na figura do casal perfeito Dom João II e Dona Leonor que criaram uma centralização efetiva dos cuidados de saúde, combinando práticas modernas de grandes instituições de saúde com a tradição medieval de caridade e ajuda aos pobres, considerados como representantes de Cristo. Dom João II foi reconhecido pela criação régia do Hospital Real de Todos os Santos, em 1492, e Dona Leonor, pela criação do Hospital das Caldas da Rainha, em 1485, e da Misericórdia de Lisboa em 1498.

Como apresentado anteriormente sobre a Misericórdia de Florença, podemos traçar um paralelo de influência para a Misericórdia de Lisboa, mostrando alguns fatores que indicam uma relação entre as duas instituições. O primeiro é a semelhança de nome e função entre a Misericórdia de Lisboa e a Misericórdia de Florença. O segundo é uma cláusula no testamento de D. João II, que elogia a administração do hospital de Florença como modelo para o novo Hospital de Todos os Santos em Lisboa. É importante notar que, posteriormente, este hospital foi administrado pela Irmandade da Misericórdia de Lisboa. Segundo Russel-Wood, a instituição lisboeta “prosseguiu uma tradição já existente dentro do quadro mais genérico da filantropia social da Europa3” demonstrando assim uma continuidade a partir da italiana, além disso, outros pesquisadores apontam para a ligações entre Dona Leonor e o convento das Clarissas em Florença.

Outro vestígio que corrobora para a influência da misericórdia italiana na portuguesa é o fato da rainha manter contato com o cardeal Dom Jorge da Costa, o “Cardeal Alpedrinha”, que estava na Itália e acompanhou a reorganização dos serviços assistenciais, tendo ele próprio participado na remodelação do Hospital de Santo António dos Portugueses, em Roma. Dessa maneira, a rainha Leonor teria buscado o apoio do cardeal para uma análise do compromisso do Hospital das Caldas Da Rainha e anuência do Vaticano para com este empreendimento. Logo, alguns historiadores verificam uma influência no compromisso do Hospital de Caldas da Rainha com o compromisso da Misericórdia de Florença. Portanto, o intercâmbio institucional foi apresentado, muito provavelmente, pelo cardeal Dom Jorge da Costa, logo, também indicou para a rainha como modelo a adotar e ser aplicado na Misericórdia de Lisboa.

Pode-se especular que a influência das Misericórdias italianas em Portugal não foi apenas devido às conexões entre a Coroa portuguesa e a italiana, mas também em razão das relações comerciais estabelecidas entre Lisboa e a Itália. No entanto, não se pode afirmar com certeza que a Misericórdia em Portugal foi uma cópia exata da que existia em Florença. É possível que tenha havido influências diretas ou indiretas, mas não se pode descartar a possibilidade de não ter ocorrido influência alguma.

3 Elites, Poder e Caridade: a Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro (séc. XVII-XVIII) (Karoline Marques, p. 4) 3.

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Além disso, as irmandades atendiam a diferentes sociedades e faziam parte de projetos políticos distintos, o que pode ter levado aos distanciamentos. De comum ficaram apenas com o nome. Aprofundando um pouco essa questão, confrontando o compromisso e comparando as duas misericórdias, fica evidente que a portuguesa diverge estruturalmente da italiana em, pelo menos, dois pontos:

• 1º Enquanto a Santa Casa de Lisboa tinha o propósito, como vimos, de praticar todas obras de caridade e, quanto espirituais como corporais, a Misericórdia de Florença tinha em vista apenas o transporte de doentes aos hospitais, a assistência moral e religiosa aos enfermos e o enterro dos mortos.

• 2º A Irmandade lisboeta era formada unicamente por leigos, cujo número, a princípio de 100, foi depois elevado para 300. Já na Confraria florentina, o número de irmãos era de 72, devendo 30 deles serem sempre sacerdotes. Não era, portanto, reservada só a leigos.

Desde seu início, a Irmandade de Misericórdia de Lisboa foi viabilizada economicamente pela expansão do capital mercantil e expansão ultramarina. Isso ocorreu em um momento em que as relações sociais estavam passando por transformações profundas e a demanda por serviços assistenciais estava crescendo. A Irmandade da Misericórdia Portuguesa distinguia-se das demais instituições caritativas da época, tanto por sua origem monárquica quanto pelo interesse demonstrado pela Coroa em fazer dela um instrumento para centralizar os serviços hospitalares e outras formas de filantropia em um organismo único. Isso acompanhava e fundamentava outros esforços no sentido de centralizar o poder nas mãos do monarca.

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Fachada Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

O Compromisso da Confraria de Misericórdia (1516).

No que se refere à transformação das sociabilidades e das formas de expressão da religiosidade, a Irmandade sinalizava a emergência de novos elementos de negociação entre o cristão e seus interlocutores divinos.

Esses elementos eram próprios da transição que se operava entre a crise do feudalismo e a emergência de novos modos de organizar a fé e as obras. A caridade no Antigo Regime caracterizava-se por uma relação tríplice envolvendo os doadores, os receptores e Deus. Nessa relação, os doadores poderiam ser considerados pobres “pela distância que estavam de Deus”. Dessa maneira, aparentemente, a caridade combinava em um único propósito as hierarquias sociais e as desigualdades econômicas. Na verdade, o controle da assistência pelas elites era uma maneira imprescindível de manutenção do poder e da ordem.

Se considerarmos a instituição desde suas origens, constatamos que as Santas Casas constituíram um prolongamento do exercício da virtude pessoal da caridade, marcada pelo laicismo filantropista, e essa nova instituição devia ainda ser suscetível de ser ampliada em todo o Reino.

O Museu de São Roque

é um dos mais importantes símbolos do patrimônio cultural da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, possuindo uma importante coleção de arte sacra portuguesa. A instituição ocupa a área central do edifício da antiga casa professa da Companhia de Jesus, espaço residencial contíguo a uma das mais importantes obras de arquitetura religiosa portuguesa e uma das três mais antigas igrejas da Companhia de Jesus em Portugal, inaugurada em 1573.

ACESSE O QR CODE E CONHEÇA O MUSEU SÃO

ROQUE DE LISBOA:

https://g.co/arts/ W6TCsZNodLVfYc2h9

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2.5 CARIDADE, SALVAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS MISERICÓRDIAS

A caridade era vista não apenas como um exercício da virtude, mas também como um testemunho de fé e uma oportunidade de auxiliar os menos afortunados.

A existência do purgatório pressupunha que o ser humano tinha livre arbítrio e era individualmente responsável pelos pecados cometidos em vida. Isso gerava um conflito entre apegar-se às coisas terrenas e ser condenado à morte eterna ou abrir mão delas e salvar a alma. O purgatório, por sua vez, intermediava essa relação entre o indivíduo e o julgamento divino, criando uma mediação que estabelecia vínculos de solidariedade entre vivos e mortos. A partir desse acordo, era possível perpetuar na eternidade o usufruto das conquistas terrenas e, ao mesmo tempo, salvar as almas por meio do sufrágio dos vivos.

O testamento e as missas tornaram-se instrumentos importantes nesse acordo. Por meio do legado às irmandades, aos hospitais, aos pobres e à igreja, entre outros, tornou-se possível salvar a alma sem renunciar totalmente aos bens conquistados em vida. As instituições caritativas pagavam com moeda espiritual: os sufrágios. Essa prática ganhou espaço entre os segmentos mais destacados da sociedade, como nobres e comerciantes, que buscavam reconciliar a prosperidade econômica com a prática religiosa. Além das missas, os sufrágios incluíam jejuns, preces, esmolas e outras obras pias. A caridade, como uma expressão do amor a Deus, fazia parte dos sufrágios e era considerada um dever de todas as almas cristãs. Associado à pompa das cerimônias fúnebres, o testamento resolveu o conflito entre a suntuosidade da vida terrestre e a salvação da alma. Não se limitava aos legados deixados às instituições piedosas a prática da caridade pelos proeminentes cidadãos. Uma atividade assistencial ainda mais importante era a prática diária da caridade, por meio da prestação voluntária de serviços assistenciais meio de alcançar a salvação eterna. Além dos legados, a participação ativa como membro de uma irmandade e como responsável direto pela ação caritativa era um ativo valioso no balanço individual que determinaria a sentença final para a eternidade. Na Idade Média, os seres humanos utilizaram a passagem bíblica do Juízo Final do Evangelho de Mateus, que explicitamente associa as práticas de caridade à salvação da alma, para desenvolver a doutrina das sete obras corporais de Misericórdia, que fundamentam a ação caritativa católica. De acordo com o evangelho:

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A Palavra de Deus

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Quando o Filho do Homem vier na sua glória, com todos os seus anjos, estará sentado no seu trono majestoso e todos os povos da terra se juntarão diante dele. Então ele há-de separá-los uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas das cabras. Porá as ovelhas à sua direita e as cabras à sua esquerda. E dirá aos que estiverem à sua direita: “Venham, abençoados de meu Pai! Venham receber por herança o Reino que está preparado para vocês desde a criação do mundo. Porque tive fome e vocês deram-me de comer, tive sede e deram-me de beber, era um estranho e hospedaram-me, andava nu e deram-me que vestir, estive doente e visitaram-me, estive na cadeia e foram lá ver-me.” Então os justos hão-de responder: “Senhor, quando é que nós te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando é que nós te vimos como um estranho e te hospedámos, ou nu e te demos que vestir? Quando é que nós te vimos doente ou na cadeia e te fomos visitar?” E o rei lhes responderá: “Saibam que todas as vezes que fizeram isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizeram.” Mateus 25, 31-40

Este trecho indica que a ação caritativa era vista como um meio de “negociação” entre o ser humano e os poderes divinos, razão pela qual o primeiro Compromisso da Misericórdia de Lisboa resgatou as 14 obras de Misericórdia (7 corporais e 7 espirituais) como base para as ações caritativas da irmandade. Essas obras incluem:

• Espirituais: (1) Ensinar os ignorantes; (2) Dar bom conselho; (3) Punir os transgressores com compreensão; (4) Consolar os infelizes; (5) Perdoar as injúrias recebidas; (6) Suportar a deficiência do próximo; (7) Orar a Deus pelos vivos e mortos;

• Corporais: (1) Resgatar cativos e visitar prisioneiros; (2) Tratar dos doentes; (3) Vestir os nus; (4) Alimentar os famintos; (5) Dar de beber aos sedentos; (6) Abrigar os viajantes e pobres; (7) Sepultar os mortos.

Cerca de 50 anos depois da criação da Misericórdia de Lisboa, aconteceu o Concílio de Trento, que foi um importante evento ecumênico da Igreja Católica Romana realizado entre 1545 e 1563 na cidade de Trento, na Itália. O Concílio foi convocado para responder às críticas da Reforma Protestante e para reformar a Igreja Católica, e nele houve o reconhecimento papal de que as misericórdias estariam sobre proteção régia, ou seja, ficavam fora da alçada da Igreja, exceto para as questões ligadas as suas igrejas e ao culto. Então, sobre a total proteção régia, as misericórdias assumiram quase que um monopólio das questões assistenciais.

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A Irmandade da Misericórdia de Lisboa recebeu constantes privilégios régios, como a isenção de impostos e o recebimento de fundos do erário régio. No entanto, isso não se deveu necessariamente à bondade do rei D. Manuel, mas sim à necessidade da Coroa de centralizar a caridade, retirando-a das mãos das irmandades religiosas e transferindo-a para as leigas. Embora a irmandade tenha, o nome de uma santa, ela era controlada e gerida por homens leigos, estando distante da autoridade da Igreja, principalmente após o Concílio de Trento. Em pouco tempo, a Irmandade obteve o monopólio da administração dos hospitais e funerais, além de administrar a casa dos expostos, conceder dotes e cuidar dos presos. Não foram apenas os privilégios que ligaram a Coroa e a Misericórdia, mas também o fato de o rei tornar-se irmão da irmandade, o que concedia importante status a quem dela participava. A Irmandade da Misericórdia parecia estar no lugar certo e na hora certa para servir aos interesses da Coroa, e a nova instituição deveria ser suscetível de expansão em todo o Reino.

Enfim, o poder Régio controlava por completo as diretrizes da Santa Casa de Lisboa, criando assim uma política oficial sobre a assistência caritativa, logo tinham o monopólio de uma faceta da salvação. Dessa maneira, podemos ver as Santas Casas como uma instituição de controle político e social de Portugal nesse período. A preocupação com a salvação da alma era constante na sociedade portuguesa da época, o que reforçava a importância das ações caritativas para alcançar esse objetivo. Essa ideia foi amplamente disseminada e levou à criação de várias Santas Casas em inúmeras cidades de todo Portugal.

Em apenas um século, foram estabelecidas cerca de 250 Misericórdias em Portugal, as quais mostravam-se como uma experiência fraternal verdadeiramente moderna, capaz de atender às necessidades sociais reais do período histórico em que surgiram.

PEGADO, Bernado Pereira. Bandeira processional da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa. 1784, 1 óleo sobre tela. S/I.

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Essas instituições formaram uma rede que abrangeu todo o território português, constituindo-se, assim, no mais importante e estruturado sistema institucional de assistência entre os séculos XVI e XVIII, embora sejam independentes administrativa e economicamente umas das outras.

As Misericórdias são o nome português da Caridade e o rosto lusitano do Cristianismo.

As Misericórdias são o espelho e o retrato lusíada! Encerrou-se o ciclo do Império? Não. O Império de Portugal teve a sua maior afirmação, porque imperecível se manteve a alma dos povos que descobrimos nas Santas Casas da Misericórdia.

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2.6 DE PORTUGAL PARA O MUNDO

As Misericórdias têm três dimensões que as definem enquanto instituições. A primeira é sua origem hospitalar, presente tanto na sua génese institucional quanto arquitetônica. Embora algumas delas tenham sido criadas em locais não ideais para hospitais, muitas foram instaladas em capelas hospitalares ou hospitais preexistentes.

A segunda dimensão é a administração de instituições locais de assistência social além das enfermarias. As Misericórdias expandiram suas atividades para além da saúde, assumindo a gestão de outras atividades assistenciais, como os cemitérios. A terceira dimensão é a complementação das enfermarias e atividades assistenciais com funções culturais e administrativas. As Casas da Misericórdia eram multifuncionais, com espaços para a realização de celebrações culturais e administrativos, servindo até de espaços para as câmaras municipais, conferindo-lhes uma tripla dimensão funcional.

As Misericórdias promoveram uma arquitetura específica, sintetizada no conceito “Casa da Misericórdia”, composto por vários espaços interligados, criando uma planimetria, espacialidade e volumetria próprias. Esses espaços incluíam uma igreja para as celebrações litúrgicas diárias, uma casa do despacho para reuniões dos oficiais que governavam a confraria, uma sacristia para apoio à igreja, um cemitério para enterrar de falecidos, uma enfermaria para atendimento à doentes e aos peregrinos, além de outros espaços. Elas coexistiam como instituições autônomas e partilhavam ações caritativas, mas também unificavam-se em um só conjunto liderado pela Misericórdias de Lisboa. O patrimônio edificado das Misericórdias são relevantes enquanto reveladores de uma prática e identidade institucional próprias, subsistindo como testemunhos de toda esta institucionalização do assistencialismo e da caridade a partir da sua matriz de Lisboa.

Portanto, verificamos que a Misericórdia tornou-se uma instituição moderna e completa, a qual expandiu-se para além das fronteiras de Portugal, em consonância com a formação e o fortalecimento do Império português. Com o desenvolvimento de rotas comerciais e a constituição de colônias portuguesas na Índia e no Extremo Oriente, surgiram as primeiras Santas Casas nesses territórios.

Na formação e expansão do Império Português, as filiais da Misericórdia de Lisboa foram estabelecidas nas colônias portuguesas em todo o mundo, com o objetivo de reproduzir o modo de vida das comunidades em Portugal. Embora tenham preservado o estatuto e os privilégios da matriz em Lisboa, essas irmandades fizeram algumas modificações mínimas para se adaptarem às condições locais, dada a diversidade cultural entre as colônias portuguesas e a metrópole. No entanto, o interesse comercial que orientou a colonização portuguesa conferiu às Misericórdias estabelecidas nas colônias um aspecto contraditório ao sentido da colonização e, ao mesmo tempo, uma especificidade em relação às Santas Casas estabelecidas em Portugal.

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Em outras palavras, embora tenham sido um dos pilares do Império Colonial Português, as Misericórdias também representavam uma contrapartida à exploração colonial. Além das Misericórdias, outras instituições portuguesas também se estabeleceram na rota, para o Oriente. Abreu (2001) relata um extenso levantamento das Misericórdias estabelecidas nessa rota iniciando pelos Açores, as Misericórdias de Angra e Praia são estabelecidas em 1498; Ponta Delgada, em 1500; Velas, em 1543; Vila Franca do Campo, Vila de São Sebastião, Vila Nova, Horta, Santa Cruz, Vila do Porto e Lajes do Pico, antes de 1570; Madeira e Funchal, em 1511; Faial, em 1528; Santa Cruz (Funchal), em 1529; outros “lugares de além” (Arzila, Tanger, Alcácer Ceguer e Ceuta), em 1502; Mazamor e Safim, antes de 1520; Goa, em 1519; Cochim, em 1527; Diu, em 1535; Baçaim, em 1540; Malaca, já em atividade 1547; Ormuz, Chaul e Cananor e Damão, na década de 1550; Bengala, Colombo, Jafanapatão, Mahim, Manar, Mangalor, Manila, Mascate, Mombaça, Moçambique, Negapatão, Onor, Suma, Taná, São Tomé e Trapor; Macau, em 1569; e as misericórdias do Japão: Funai, em 1561; Hirado, em 1562; Nagasaki, em 1583; Shimabara, em 1584; e Misericórdia de Kyoto em 1600.

Posteriormente, as irmandades de Misericórdia estabeleceram-se no Brasil. De acordo com Russell-Wood (1981)4, quando o comércio com o Oriente deixou de ser vantajoso, o interesse voltou-se para o Brasil, onde a fundação das Misericórdias frequentemente coincidiu com o estabelecimento das primeiras cidades. Dessa maneira, a Irmandade da Santa Casa, por meio do apelo ideológico à caridade cristã, tornou-se um instrumento de transmissão do poder metropolitano às colônias portuguesas e, especialmente, ao Brasil.

Dois modelos de implantação de Misericórdias foram estabelecidos no ultramar: de um lado, as Misericórdias estabelecidas no Oriente, contemporâneas do estabelecimento de Misericórdias em Portugal, que acompanharam o estabelecimento do Estado português nestes territórios ainda precariamente dominados; de outro, as Misericórdias estabelecidas no Brasil e na Costa Africana, que foram fundadas somente após esses territórios terem sido valorizados e a exploração econômica viabilizada, com o estabelecimento da estrutura administrativa e institucional.

A relação entre a centralização política em Portugal, a expansão ultramarina e a propagação das Irmandades de Misericórdia pelo Império Colonial Português pode ser confirmada pelo interesse metropolitano em incentivar a presença de comerciantes portugueses nas Mesas Diretoras da Irmandade e nas Câmaras Municipais do ultramar, especialmente nas áreas mais distantes, como África, Brasil e Índia.

Embora os estatutos das Misericórdias coloniais previssem a existência de duas classes de irmãos, os nobres e os mecânicos (a que os comerciantes pertenciam), não raras vezes, fizeram parte das Mesas Administrativas das Irmandades.

4 ROCHA, Leila Alves (2005)

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Santa Casa de Macau, na China

Isso aconteceu, principalmente, porque a Coroa portuguesa tinha interesse em manter os comerciantes lusitanos à frente das instituições coloniais. A Santa Casa da Misericórdia, sob a proteção real, foi um espaço onde os mais abastados, tanto do Reino como do ultramar, exerceram sua caridade em prol das almas. Ela se tornou uma confraria carregada de símbolos de poder e prestígio, que buscava tomar para si o lugar de Maria, virtuosa e piedosa intercessora perante o Todo Poderoso, promotora da Misericórdia Divina e ordenadora da caridade humana. Em resumo, a Santa Casa da Misericórdia era um lugar onde era possível atender aos fracos e fortes, tanto em termos terrenos quanto divinos, já que todos eram mortais perante Deus.

As Irmandades de Misericórdia chegaram à América portuguesa junto com a exploração colonial e espalharam-se por todo seu território. Apesar da importante ação no campo da filantropia social e na congregação de fiéis, as Misericórdias constituíram-se como a presença permanente do elemento metropolitano no mundo colonial, ou seja, como elemento de legitimação da relação metrópole-colônia em todo o Império Português. Isso aconteceu porque as Santas Casas, ao lado das Câmaras Municipais, garantiam uma continuidade que governadores, bispos e magistrados transitórios não podiam assegurar. Seus membros provinham de estratos sociais idênticos ou semelhantes e constituíam, até certo ponto, elites coloniais. Por essa razão, a fundação de Irmandades de Misericórdia no ultramar era intensamente incentivada pela Coroa portuguesa, que mantinha a instituição sob controle estrito, exigindo que os estatutos fossem mandados a Lisboa para aprovação.

A reprodução das demandas socioeconômicas na Mesa Administrativa da Irmandade metropolitana no período colonial estabeleceu um padrão no qual o poder administrativo da Irmandade ficou restrito aos membros de uma elite econômica local ou, pelo menos, aos cidadãos de condição econômica superior. Em muitos casos, essa elite econômica estava associada ao poder político colonial. Por essa razão, os provedores da Irmandade eram frequentemente capitães-mores, vice-reis, governadores, ministros de Estado, dignatários da Igreja e outros expoentes destacados na economia colonial. Essa associação entre o poder econômico e a administração da Santa Casa atendia, principalmente, aos interesses da Coroa, que, sem incorrer em

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gastos, transferia o ônus da assistência social às elites do mundo colonial. Desde os primeiros tempos da colonização, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia foi a instituição privada mais prestigiada pelo poder real e pela sociedade colonial. Por essa razão, o ingresso na instituição tornou-se um objetivo para todos aqueles que visavam à elevação do status social.

No contexto hostil do mundo colonial, estabelecer laços com a metrópole conferia ao colono um status diferenciado, afastando-o da condição de simples colono e aproximando-o da posição de colonizador a serviço da Coroa. Nesse sentido, ocupar uma cadeira na Mesa Administrativa da Irmandade rivalizava com um cargo na Câmara ou no conselho municipal como uma prova de integridade e prestígio. No período colonial, as Misericórdias recebiam legados de colonos e colonizadores que, juntamente aos sacramentos, às relíquias, às imagens e aos ex-votos, eram usados como último recurso para obter o perdão das faltas cometidas em vida e a salvação da alma. Em troca dos legados, a Irmandade era obrigada a celebrar um certo número de missas pela alma do doador na igreja da irmandade. O legado caritativo pelo testamento expressava os laços sociais e o papel desempenhado pelo moribundo na sociedade. Os legados recebidos pelas Misericórdias eram, principalmente, em dinheiro ou sob a forma de propriedades, sendo estes últimos de valor muito superior. Os legados imobiliários tornaram as irmandades proprietárias de grandes propriedades urbanas, o que resultou em sua participação direta em todos os setores da vida urbana, desde habitação, educação, hospedagem, enterro dos mortos, empréstimos de dinheiro e, até mesmo, o aviso das horas através dos sinos. Além de investir em bens imóveis, as Misericórdias concediam empréstimos a juros para minimizar a depreciação do patrimônio. A irmandade estabeleceu um controle rigoroso sobre os empréstimos, exigindo garantias adequadas dos tomadores de empréstimos e imóveis situados nos limites da cidade. Assim, além de suas ações caritativas, a Irmandade também prestava serviços financeiros, emprestando dinheiro a juros acessíveis e garantindo o pagamento dos legados aos herdeiros dos comerciantes, viajantes e outros homens dispersos pelo mundo colonial em qualquer parte da cristandade. Essas práticas foram possíveis graças à grande credibilidade das Misericórdias em todo o Império Colonial Português.

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Santa Casa de Goa, na Índia.

2.7 AS MISERICÓRDIAS NO BRASIL

Na época colonial, as Irmandades da Santa Casa de Misericórdia foram estabelecidas em várias partes do Império Ultramarino Português. Muitas dessas instituições foram fundadas antes de um verdadeiro povoamento da região. Dessa maneira, diversas documentações pretéritas acerca das primeiras Santas Casas e de suas fundações acabaram perdidas no tempo. Por isso, muitos pesquisadores e historiadores tem dificuldade em estabelecer uma cronologia absoluta acerca das fundações das Santas Casas.

Conforme o império português voltou seus interesses para o Brasil, as Misericórdias seguiram o ritmo e o fluxo da exploração econômica do território, no projeto colonial português. Ao longo dessa expansão, houve a necessidade de adaptação da Santa Casa de acordo com as especificidades das realidades locais. Um exemplo é a busca para adequar seu compromisso com essas novas realidades bem diferentes da sua matriz lisboeta, por exemplo: fornecer o assistencialismo da saúde para pessoas escravizadas, realizar o enterro dos cativos, receber pagamentos ou realizar alguns pagamentos de dividendos/juros em forma de açúcar, entre outros.

Dessa maneira, a Coroa portuguesa conferiu às filiais coloniais os mesmos privilégios concedidos à matriz em Lisboa, incluindo a exclusividade na prestação dos serviços de caridade. Entre eles, um dos privilégios mais importante era o monopólio dos enterros, o qual era uma fonte de renda muito lucrativa para as Santas Casas, tanto que, para que outra irmandade pudesse realizar sepultamentos, havia a necessidade de pedir permissão à Misericórdia local. A extensão desses privilégios deu à Santa Casa uma posição semiburocrática, ou seja, uma instituição com poder deliberativo reconhecido pelo Estado. Criando, assim, um espaço de ascendência e poder, em comparação com as outras irmandades menores.

As Misericórdias no Brasil eram, inicialmente, dirigidas pela elite local, por exemplo: a aristocracia açucareira no Nordeste; os primeiros povoadores, bandeirantes e comerciantes nas áreas das bandeiras paulistas; os donas das minas de ouro na região de Minas Gerais; entre outras elites pelo Brasil. A participação dos colonos nas Misericórdias foi incentivada pela metrópole ao longo do período colonial, como no caso de São Paulo, onde a Coroa exigia a participação dos bandeirantes em funções públicas e religiosas. Em Salvador, a disputa entre os cidadãos proeminentes da sociedade pela administração da Mesa da Misericórdia, a instituição mais rica da América colonial portuguesa, muitas vezes, era mais acirrada do que as disputas pelos cargos na Câmara.

Apesar das diferenças regionais, a relação entre os interesses da Coroa portuguesa e das elites locais permitiu o estabelecimento de elementos comuns em todas as irmandades da Misericórdia na América portuguesa. Independentemente das condições econômicas, localização geográfica, densidade demográfica e especificidades étnicas e culturais das regiões, as Misericórdias coloniais compartilhavam motivações e objetivos que faziam

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1540

Um exemplo conflitante ocorre aqui no Brasil, onde muitos pesquisadores dizem que a primeira Santa Casa foi a de Olinda, fundada em 1540 e; outros dizem que é a de Santos, criada em 1543. Por ter essa incerteza, muitas datas apresentadas são aproximações. De todo modo, foram fundadas inúmeras Santas Casas em todas as regiões do Brasil, tais como Salvador (1549), Espírito Santo (aprox.1551), Ilhéus (aprox.1560), Rio de Janeiro (aprox. 1582), São Paulo (aprox.1562), Porto Seguro (final do século XVI), Paraíba (1602), Sergipe (1604), Itamaracá (1611), Belém (1619), Igarassu (1629), São Luís do Maranhão (aprox.1653), São João Del Rei (1783) e Campos (1791), entre centenas de outras.

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parte do fenômeno mais amplo: a exploração colonial. A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia foi uma parte importante do projeto português, combinando as necessidades de colonização, comércio e evangelização. Apesar de seu papel como mediadora entre a Coroa e a colônia, nem sempre sua relação com o Estado português foi de entendimento e colaboração, devido aos interesses e às alianças das elites locais que, muitas vezes, não estavam alinhadas com os objetivos da Coroa.

A transição do século XVIII para o XIX foi um período de enormes dificuldades para as Misericórdias portuguesas, que foram afetadas indiretamente por diversos fatores. A exaustão das minas de ouro, as guerras europeias e a invasão napoleônica abalaram as estruturas sociais, políticas e econômicas de Portugal. A queda da nobreza, prejudicada pelas políticas do Marquês de Pombal em seu ministério, refletiu-se na inadimplência de suas dívidas com as misericórdias, que eram tanto lugares de ascensão social quanto credoras dessas elites. Como resultado, as misericórdias empobrecidas perderam prestígio e importância aos olhos dessas elites. A falta de interesse administrativo, combinada com as preocupações sociais desses grupos afetados pela conjuntura da época, resultou na redução das práticas assistencialistas. Os ecos dessa mesma crise, consequente da vinda da família imperial para o Brasil, começaram a se espalhar para as misericórdias brasileiras.

No século XIX, com a crise do sistema colonial e a independência do Brasil, as irmandades brasileiras destacaram-se como instrumento do complexo movimento de preservação dos interesses das elites regionais e do processo de modernização das instituições da nação em formação. Ou seja, decorrente da independência do país, a elite local tomaria o total controle da Mesa Administrativa da Santa Casa, cortando vínculos com as instituições portuguesas, em específico, a Misericórdia de Lisboa.

No Primeiro Reinado no Brasil (1822-1831), as Misericórdias brasileiras passaram por um evidente processo de renovação, especialmente na elaboração

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Santa Casa de Olinda, em Pernambuco

de um novo estatuto que não mais estava sujeito à aprovação da matriz lisboeta em Portugal, mas sim ao governo imperial brasileiro. Essa transformação foi especialmente notável nas áreas mais remotas do país, onde as Misericórdias buscaram reivindicar sua própria identidade nacional. Nessa nova organização, as Santas Casas, juntamente a outras instituições assistenciais, passaram a ser símbolo de assistência médico-hospitalar. Embora as demais atividades não fossem deixadas de lado, o hospital passou a ter predominância em suas atividades caritativas.

No início do Império do Brasil, em 1823, com a centralização do poder, vemos o início de mudanças, por exemplo: uma comissão composta por bacharéis, médicos e autoridades foi organizada pelo governo brasileiro para avaliar o estado das diversas repartições da Santa Casa do Rio de Janeiro. Relatórios subsequentes destacaram a precariedade dos serviços prestados pela Irmandade e a necessidade de regulamentar o tratamento dos doentes de acordo com as práticas médicas da época. Além disso, os prédios da Santa Casa foram considerados como fontes de contaminação física e moral, levando a uma reestruturação da arquitetura da instituição para melhorar sua eficiência e higiene. Esse movimento fazia parte da emergente agenda sanitária da década de 1830, impulsionada pelos surtos epidêmicos de febres intermitentes na região do Rio de Janeiro, e a Santa Casa tornou-se frequentemente um objeto de pesquisa médica e um indicador da saúde pública da época.

As novas medidas de higiene introduzidas pela medicina, como o uso de caixões fechados e o transporte em carros, em vez de redes ou esquifes pertencentes às irmandades, foram gradualmente adotadas. Essas mudanças encontraram apoio no poder público, que via a modernidade na nova forma de bem morrer. Com as transformações nos rituais fúnebres, as irmandades, incluindo a Santa Casa, perderam uma de suas importantes frentes de ação. Em vez disso, passaram a enfocar na assistência aos vivos, com hospitais e orfanatos tornando-se frentes privilegiadas da benemerência no século XIX.

A nacionalização da Santa Casa de Misericórdia resultou em mudanças na natureza dos serviços prestados pela Irmandade. Houve uma diminuição das atividades caritativas rituais, como cerimônias fúnebres e concessão de dotes de casamento às órfãs, e um aumento na atenção às atividades de assistência social, como hospitais para pobres enfermos e a roda dos expostos para rejeitados na primeira infância. Essas mudanças foram parte de um processo de modernização institucional que envolveu a administração financeira da irmandade, com diminuição das responsabilidades da tesouraria e mudanças na forma de emprego dos recursos, como a substituição de empréstimos a juros por investimentos em imóveis e dívida pública. Além disso, houve modernização nas exigências de admissão dos membros, permitindo a admissão de mulheres como irmãs beneméritas e abolindo a distinção entre irmãos de condição superior e inferior.

No Império no Brasil, a prática das loterias intensificou-se como uma forma de captação de recursos, iniciada ainda no período colonial, para

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complementar os rendimentos das Misericórdias. Além dos prêmios destinados à instituição, em algumas ocasiões, as irmandades também foram autorizadas a usufruir dos prêmios das loterias não reclamados pelos ganhadores dos bilhetes. Embora as loterias tenham sido importantes para as Misericórdias em termos de recursos captados, sua relevância residia menos na quantidade de recursos arrecadados e mais no fato de serem talvez a única ajuda efetiva prestada em caráter extraordinário à Santa Casa nos primeiros anos do século XIX.

Outras práticas das Misericórdias coloniais, como a concessão de dotes a moças órfãs, e assistência aos presos e pobres, caíram em desuso ou perderam importância para as novas formas de assistência próprias do século XIX. Um exemplo disso é a substituição progressiva de certos tipos de intervenção sobre as crianças abandonadas, como a roda dos expostos, por novas formas de assistência com a reconfiguração dos orfanatos e o encaminhamento profissional dos órfãos. A responsabilidade da assistência aos presos, que antes era deixada aos familiares e à caridade privada (assumida pela Misericórdia desde os primeiros tempos de sua fundação), foi transferida para instâncias governamentais durante no período imperial, embora não se possa garantir a qualidade dos serviços e o volume de verbas destinadas à assistência. No período imperial no Brasil, a situação epidemiológica piorou devido às epidemias de febre amarela e cólera em várias províncias do Brasil. Isso levou o governo imperial a criar, em 1850, a Junta Central de Higiene Pública, a primeira iniciativa estatal para lidar com questões de saúde pública. As práticas funerárias também passaram por mudanças devido às ameaças epidemiológicas, com a proibição de sepultamentos nas igrejas e nos conventos em 1850. No ano seguinte, a secretaria dos negócios do Império proibiu a fundação de novas casas de saúde sem consulta prévia à Junta de Higiene Pública. Nesse mesmo período, os vínculos entre as Faculdades de Medicina do Império e os Hospitais da Misericórdia foram fortalecidos, permitindo que estudantes de medicina concorressem a vagas de funcionários nos hospitais. Nesse momento, a Santa Casa ampliava seu atendimento para diversos tipos de pacientes, adotando diferentes sistemas de cuidados. Isso incluía a aceitação de doentes indigentes, pensionistas e pessoas escravizadas, cujo tratamento era pago pelos senhores. Além disso, o governo contratava os serviços da Santa Casa para tratar de soldados enfermos em razão da falta de instalações adequadas no Hospital Militar. Também era comum a polícia encaminhar doentes à Santa Casa quando os encontrava em estado de abandono nas vias públicas. Outro desafio era em relação à legitimidade da instituição servil. A Irmandade, composta em sua maioria por pessoas ligadas à exploração do trabalho escravo, adotou uma posição neutra em relação a esse tema. As pessoas escravizadas, mesmo sendo propriedade da Irmandade, não eram mantidas, uma vez que seu trabalho no hospital era considerado ineficiente sem a supervisão de um senhor. Além disso, a Santa Casa tinha um enfoque patrimonial, investindo em propriedades alugadas,

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dívida pública e ações, e vendendo as pessoas escravizadas recebidas por legado. No entanto, a demanda por serviços hospitalares para escravizados aumentou devido à manutenção e expansão da mão de obra escravizada. Os senhores também eram obrigados a contribuir financeiramente com a Irmandade, a fim de garantir a assistência médica de seus escravizados. Após a abolição da escravidão, em 1888, e o crescente número de negros livres e pobres aumentou a demanda por assistência da Irmandade, que não contava mais com os recursos financeiros dos senhores, resultando em um ônus adicional para a instituição.

As elites do século XIX demonstraram interesse nas Santas Casas como uma forma de atenuar as dificuldades urbanas. Na segunda metade desse século, as tendências de modernização e racionalização da assistência social, observadas desde o início do período imperial, foram intensificadas, principalmente devido aos contatos mais estreitos com as pesquisas e dinâmicas aplicadas em centros urbanos europeus, impulsionados pelo desenvolvimento da economia e industrialização. Outro ponto de progresso foi evidenciado pela aceitação progressiva do trabalho feminino, com a contratação de irmãs de caridade para a administração de hospitais, asilos e escolas, e a busca pela profissionalização das órfãs, em específico, as Irmãs de São José, que atuavam como enfermeiras e escriturárias.

A assistência hospitalar, na Idade Moderna, não era vista como dever ou obrigação do Estado, cabendo às irmandades religiosas e leigas exercer essa função, impulsionando toda a estrutura das Santas Casas de Misericórdia. Agora na contemporaneidade, vemos, principalmente, por meio das mudanças anteriormente comentadas, apresentadas pela gestão imperial brasileira, questões profundas de obrigação estatal para com a higiene e saúde pública.

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Santa Casa de Santos, em São Paulo

CRISES SANITÁRIAS 3 3

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Reconstituição de Ötzi

Fonte: iceman.it

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3.1 OS PRIMÓRDIOS

As doenças e os seres humanos caminham lado a lado na história desde os primórdios da nossa espécie. Apesar parecer estranho, elas tem seu propósito em nossa existência, uma delas é o controle populacional. Antes de termos meios de higienização e esterilização eficazes, e conhecimentos avançados da química e da microbiologia, elas espalhavam-se facilmente quando a população de uma comunidade aumentava.

No entanto, nossa relação com as doenças mudou. Nossos ancestrais primitivos, assim como os demais primatas, conviviam com patógenos em seus organismos, como os parasitas, os quais faziam parte da vida dessas populações. As helmintoses, por exemplo, coexistiam com seus hospedeiros, apresentando-se como um problema majoritariamente quando o corpo era atingido por algo maior, como ferimentos, outras doenças, fome, e climas extremos, uma vez que uma somatória de fragilidades levava o indivíduo a um estado insustentável. A dificuldade de tratar uma doença e a facilidade de adquiri-la faziam com que a convivência fosse inevitável. Isso não quer dizer que os seres humanos não formulassem remédios para a cura das enfermidades que os afligiam. Um caso notável é o de Ötzi, um homem mumificado encontrado nos Alpes, em 1991, na montanha de Similaun, na fronteira entre Áustria e Itália, que viveu por volta de 5300 anos atrás. Ötzi foi encontrado com uma sacola de couro contendo cogumelos, em seu estômago tinham samambaias e em seu corpo havia tatuagens. Ao estudar cada um destes detalhes, cientistas perceberam que as tatuagens estavam em pontos de inflamação e degeneração no corpo de Ötzi, como uma espécie de acupuntura. Os cogumelos encontrados tem propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, antibacterianas e antifúngicas, já a samambaia tem propriedades antiespasmódicas, analgésicas, antiparasitárias e diminuem enjoos. Os tratamentos que Ötzi possivelmente fazia estão de acordo com alguns de seus problemas de saúde, segundo os arqueólogos: inflamação nas articulações, presença de Helicobacter pylori, Doença de Lyme e parasitas no trato digestivo.

Dos tempos de Ötzi para cá, muita coisa mudou, inclusive os patógenos.

Não somente os seres humanos evoluíram, mas os vírus, as bactérias, os fungos e os parasitas nos acompanharam nessa jornada. Há uma adaptação mútua nessa relação entre nós, e essa evolução é observável,, por exemplo, na bactéria Helicobacter pylori, causadora de enfermidades estomacais; na bactéria Mycobacterium tuberculosis, causadora da tuberculose; e no HPV (papiloma vírus humano), um agente cancerígeno.

Mas um exemplo didático e mais recente é a gripe espanhola, ou H1N1. Este vírus foi detectado em 1918, quando varreu milhões de vidas em diversos locais do mundo. Em 1977, outra cepa do H1N1 fez novamente diversas vítimas, epidemia conhecida como gripe russa. Outra muitos lembrada é a recente é a gripe suína, de 2009, também cepa desse mesmo vírus.

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Detalhe de uma das tatuagens de Ötzi.

Apesar de muitas vítimas, hoje ainda convivemos com o H1N1 todos os anos, essa é a chamada gripe comum, contudo, temos vacinas para conter a contê-la e manejar suas novas cepas rapidamente. O ciclo permanece, outras doenças surgem e nos adaptamos a elas hoje com ajuda da ciência e da medicina.

Apesar da pandemia covid-19 ter sido um evento inesperado, não é de hoje que sofremos com crises sanitárias que instauram o caos e transbordam fronteiras. A história da humanidade repleta de epidemias e pandemias, das quais podemos ver que as angústias de nossos antepassados foram muito semelhantes às que passamos o surto do novo coronavírus.

A epidemia de Atenas

É na Grécia que temos o mais antigo relato de uma crise sanitária no mundo antigo ocidental, em que o historiador ateniense Tucídides (460 AEC–390 AEC), narra a epidemia de Atenas (430 AEC–427 AEC).

Tucídides descreve os sintomas da doença, da qual ele mesmo fora infectado, para que no futuro outros saibam identificá-la e proteger-se desta. Após um período de incubação, a infecção de súbito se manifestava. No primeiro estágio, o enfermo começava a sentir calor na cabeça, apresentava, em seguida, vermelhidão e inflamação nos olhos, na faringe e na língua, passando a exalar um hálito desagradável. Em uma segunda fase, vinham espirros e rouquidão; descendo ao peito, a moléstia provocava tosse forte, e chegando ao estômago causava vômitos de bile, mal-estar geral, ânsias de vômito e convulsões violentas mais ou menos duráveis. O corpo tornava-se rubro e recoberto de pústulas e úlceras; e padecendo de uma febre interna terrível, o paciente não suportava roupas, desejava banhos frios e sofria de uma sede insaciável. Insônia e inquietação somavam-se à agonia dos doentes,

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430 AEC

Na obra, Tucídides comenta aspectos que, para nós, são familiares, principalmente após a covid-19, como a falta de conhecimento sobre a doença e, meios para tratá-la, a alta taxa de mortalidade sem precedentes, a observação de que os contaminados que sobreviviam não voltavam a ficar doentes – lembrando que não existia a noção de imunidade nesta época – e o contágio dos físicos (médicos) com os doentes e consequente morte – contaminação por exposição contínua ou prolongada, conceito também inexistente neste período pela ausência de conhecimentos de microbiologia.

SWEERTS. Michiel. Peste na Cidade Antiga. 1652-1654, 1 óleo sobre tela. 46,7 cm x 67,2 cm. Museus de Arte da Cidade de Los Angeles, Estados Unidos. A pintura representa uma pandemia na Antiguidade, muito provavelmente em referência à peste de Atenas

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que podiam resistir conservando algum vigor até o sétimo ou oitavo dia, período fatal para a maioria dos casos. Se a pessoa sobrevivesse a este período crítico, em sua última fase, a doença descia aos intestinos, produzindo nele violenta ulceração e uma diarreia incontrolável, que levava a maior parte dos doentes à morte pela astenia que causava. A infecção, portanto, descia da cabeça e tomava todo o corpo (SILVA: 2020, p. 2).

Com o rápido alastramento da doença, o desespero e a desordem social generalizada instaurou-se na cidade. Leis eram quebradas e muitos decidiram por gozar dos prazeres da vida antes da, aparente, inevitável morte. Podemos dar destaque para uma desordem de particular lástima: a dos ritos funerários. Estes não eram mais cumpridos de acordo com as leis divinas e civis, já que os corpos eram largados nas ruas e nos templos, amontoados, uma vez que a rapidez em que faleciam era maior do que a capacidade de absorver adequadamente a quantidade de cadáveres. Em meio a tudo isso, a população, sem explicações e respostas para a desesperadora situação, procurava culpados e voltou-se para superstições. Aos poucos, os atenienses sequer tentavam lutar contra a enfermidade, já assumindo-a como uma sentença de morte.

Peste negra

Talvez a primeira imagem que nos vem à mente quando pensamos em uma grande crise sanitária seja a peste negra na Europa do século XIV. Contudo, a primeira vez que a doença causada pela bactéria Yersinia pestis adentrou o continente Europeu foi no século VI EC, a qual ficou conhecida como a Peste de Justiniano. O pico desta crise deu-se no ano de 542, em que um terço da população da cidade de Constantinopla foi morta pela doença. Tamanha quantidade de mortos afetou severamente a administração e manutenção do Império Romano Oriental, alterando profundamente o tecido social e a economia, sendo um dos grandes fatores para as mudanças que marcaram a transição da Antiguidade para a Idade Média.

Uma das mais célebres obras literárias a descrever a peste bubônica é Decameron, do italiano Giovanni Boccaccio, em que um grupo de jovens se isola no campo na tentativa de escapar dos horrores da epidemia. Segundo o autor, os sintomas da peste consistiam no surgimento de inchaços na região da virilha ou das axilas, variando de tamanho. Aos poucos, estes bulbos espalhavam-se pelo corpo, depois, surgindo manchas negras nestes mesmos locais. Os efeitos sociais da peste foram sentidos de maneira semelhante à epidemia de Atenas. O papa Clemente VI concedeu indulgência universal, permitindo que leigos pudessem realizar funerais e ouvir confissões, para que todos pudessem ter um fim devidamente cristão. Isso culminou em uma maior taxa de infecção pelo contato com os doentes, principalmente de padres, que

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1346

A peste bubônica continuou a ter surtos em diversos pontos da Europa, Ásia e África. No entanto, por volta de 1347, temos o maior surto desta enfermidade no continente europeu. Em 1346, rumores de uma doença vinda do oriente já protagonizavam as conversas nos portos. No ano seguinte, a peste chega por meio das tropas tártaras na Crimeia, em um cerco na cidade de Kaffa, espalhando-se então pela Ucrânia. A partir deste momento, o alastramento segue em diante, principalmente, pelas de rotas comerciais, nomeadamente pelos navios e portos. Em meados de 1350, toda a Europa está tomada pela peste negra, que continuou a propagar-se em direção à Índia.

WOLGEMUT, Michael. Dança macabra. 1493. Gravura. No final da Idade Média, surgiu uma alegoria sobre a inevitabilidade da morte, chamada Danse macabre, fortemente influenciada pelos traumas da peste negra

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representavam grande autoridade para as comunidades no medievo. Apesar dos esforços para que todos tivessem um fim digno para seu corpo e sua alma, nas cidades mais afetadas, corpos eram deixados nas casas ou empilhados nas ruas e famílias inteiras eram dizimadas. O clima desolador levou muitas pessoas a adotarem o Carpe Diem (expressão latina que designa “desfrutar do presente") como perspectiva para seus possíveis últimos dias. Outras renderam-se ao desespero, questionando o intuito de Deus para com a situação, aumentando o já grande descrédito que a Igreja Católica enfrentava, uma vez que as curas prometidas pela Igreja mostraram-se inúteis e considerou-se que absolutamente nada nem ninguém tinha o poder de parar a peste. Também houve uma onda de preconceito e julgamentos, principalmente contra judeus, os quais têm normas religiosas que prezam por uma higiene e dieta que contribuem para uma menor chance de contaminação com patógenos. Isso levou os cristãos a desconfiarem dessa população, uma vez que eles foram menos afetados pela peste, em meio a tantas mortes de cristãos. Ataques e assassinatos por parte da população, aterrorizaram a comunidade judaica, tanto no período a peste quanto depois.

A peste negra provocou diversas mudanças na Europa. Alguns historiadores consideram inclusive que ela foi o ponto de partida para o surgimento do capitalismo. Diversas mudanças políticas e econômicas foram aceleradas pela crise sanitária,

como o fim do feudalismo, as rebeliões camponesas e o descrédito da Igreja Católica. Nas artes, vemos o crescimento de um ar melancólico e pessimista. Na ciência, temos a decadência da alquimia, que mostrou-se pouco útil para os enfermos.

A epidemia que grassou o mundo medieval ceifou, no mínimo, 25 milhões de vidas, mas a estimativa média é de 50 a 70 milhões de mortos na Europa. Ao ultrapassar as fronteiras europeias é possível chegar em 100 a 200 milhões

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de vítimas. Houve locais em que vilas inteiras foram dizimadas, não restando sequer um sobrevivente. É interessante ressaltar que a bactéria Yersinia pestis não tem o humano como o hospedeiro ideal, tampouco ratos, sendo esta doença incomum em ambos os seres vivos. Estudos sugerem a possibilidade da doença ter saltado para ratos e seres humanos como consequência de alterações climáticas e no meio ambiente. Isso nos mostra como a história pode nos ajudar com modelos preditivos para o melhor enfrentamento de desafios globais atuais e

de BRUEGEL. Pieter. O triunfo

1562.

81 C RISES SANITÁRIAS
da morte. 1 óleo sobre tela. 117 cm x 162 cm. Museu do Prado, Madri, Espanha.

3.2 OS ESFORÇOS SANITÁRIOS

Alguns fatores favorecem o surgimento de surtos de doenças. Uma boa parte deles encontramos em cidades portuárias. Com a maior facilidade do transporte e comércio marítimo, contato com outros povos e locais distantes e grandes surtos na transição entre a Idade Média e a Era Moderna, levaram a Europa e ter uma maior preocupação com a propagação das pestes. A partir dos séculos XV e, principalmente, XVI, as autoridades realizaram reformas relacionadas ao estado de salubridade das cidades, especialmente com relação a Lisboa e Porto. Uma dessas medidas no reinado de D. João I foi a instauração de controles de entrada de estrangeiros na cidade de Lisboa por meio porto. Isto é, assim que uma embarcação chegasse, autoridades verificariam a existência de doentes e falecidos no interior do navio. Em caso positivo, o navio seria proibido de atracar e obrigado a sair do estuário do rio Tejo. Posteriormente, é instaurada a quarentena para embarcações vindas de locais de risco ou com suspeita de infectados entre a tripulação. A quarentena também passou a ser aplicada para as mercadorias. Em caso de descumprimento das regras, a carga seria dividida entre metade para a Coroa e metade para as obras da cidade, e seus integrantes seriam açoitados e condenados ao degredo.

No reinado de D. Manuel I, foi instaurado a medida de evacuação da cidade por alguns dias, a fim de manter um controle de entrada nas portas da cidade. A Torre de Belém, construída neste período, adotou esta função de controle sanitário, além do militar. Uma resolução que marcou uma grande mudança em Portugal foi a criação de novos cemitérios, para que as vítimas não mais fossem enterradas nas igrejas, constituindo um risco para a salubridade da cidade. Outras medidas foram tomadas pela Coroa portuguesa devido à propagação de doenças. No século XV, grande preocupação com o saneamento urbano e esgoto de Lisboa, principalmente devido à peste de 1486. Isso estendeu-se nos séculos seguintes, em que, no século XVI, sob o governo de D. João III, cirou-se um sistema de limpeza urbana, mantendo as ruas limpas, trabalho esse realizado por homens e mulheres negros.

Na cidade também foram criadas casas de saúde específicas para o tratamento de doentes de pestes, separadamente dos hospitais que tratavam enfermidades gerais, visando a não propagação de doenças para os demais debilitados. Além disso, foram criadas fiscalizações, inspeções e regimentos de saúde pública. Estes regimentos consistiam em práticas contra a propagação das doenças muito semelhantes à que empregamos ainda hoje, como detecção prévia e isolamento de doentes, não permissão de perambulação, determinação de locais específicos para tratamentos de doenças infecciosas, e quarentenas, desinfecção de roupas e objetos, obrigação de manter ambientes arejados, entre outras. Um regimento de 1693 menciona que os documentos que a tripulação deveria apresentar para os fiscais tinham de ser entregues por uma espécie de vara, e limpos com vinagre e fumo. Apenas após esta desinfecção o inspetor poderia pegá-los com as mãos.

Um
exterior
de
Portugal, Arquivo Nacional, 1928. 83 C RISES SANITÁRIAS
trecho
da torre
Belém

3.3 A SAÚDE E A DOENÇA NO BRASIL

Antes da chegada dos europeus no continente americano, as doenças eram tratadas por curandeiros e pelas mulheres das comunidades nativas. Com remédios à base de plantas e partes de animais, a medicina tradicional também contava muito com a religião e a crença no sobrenatural. Apesar de limitada, a medicina natural servia seu propósito de manter a população local saudável. Entre algumas doenças já presente nas américas, podemos citar a sífilis, que causou grande caos na Europa após o início das grandes navegações. O quadro muda com a chegada dos europeus ao continente americano, trazendo novas doenças das quais os nativos jamais tiveram contato, que não tinham nenhum tipo de anticorpo para combatê-las, estando assim, extremamente vulneráveis. Algumas destas enfermidades são a varíola, a gripe, o tifo e a coqueluche, altamente contagiosas. É certo que muitas vidas indígenas foram ceifadas por conflitos militares e pela escravização, no entanto, os surtos epidêmicos foram também grandes responsáveis pelo desaparecimento de comunidades inteiras. Alguns deles foram propositadamente provocados, onde jogavam-se corpos de infectados ou seus pertences dentro em comunidades ou nas fontes de água que abasteciam a população, prática que já ocorria desde a Antiguidade, principalmente os cercos. Aos poucos, as tradições medicinais dos indígenas, europeus e africanos foram se misturando. No entanto, o acesso à saúde era restrito. Os indígenas contavam com os pajés; os africanos, com os curandeiros; e os europeus. com médicos particulares e barbeiros-cirurgiões. Os indígenas, africanos e mestiços que precisassem de hospitalização ou algum tratamento mais incisivo deviam voltar-se às Santas Casas de Misericórdia, as quais deviam, pelo seu regimento, atender a todos, sem distinção.

Assim como no caso de Lisboa, os portos brasileiros costumavam ser a porta de entrada dos surtos, assim sendo, as populações litorâneas padeciam de diversas doenças. Na sua viagem ao Brasil, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, em 1820, comenta sobre sua passagem em Paranaguá, em que a população tinha um aspecto doente, pele amarelada, “vísceras obstruídas” e pouca expectativa de vida. Ele ainda impressionou-se com o costume de comer terra, cupinzeiros e louças de barro, fator que sugere um quadro de doença. No momento de compra de pessoas escravizadas, muitos certificavam-se da ausência deste tipo de hábito, a fim de garantir sua longevidade. Pelo problema da propagação de doenças por meio dos portos, no reinado de Dom Pedro I, ocorreu a criação da Inspeção de Saúde dos Portos (1829), o qual permitia a inspeção de navios e decreto de quarentena para embarcações suspeitas. Contudo, foi no reinado de Dom Pedro II que veremos a maior mudança, nomeadamente com a criação do Instituto Vacínico do Império (1846) e a Junta de Higiene Pública (1850), esta criada, principalmente, para controlar o estado de salubridade da capital do império, tomada de epidemias e endemias.

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1808

Com o passar dos anos, principalmente após a chegada da família real no Brasil, em 1808, uma série de medidas relacionadas à saúde e ao saneamento foram adotadas no território, como a criação da Escola de Cirurgia da Bahia e a Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, ambas de 1808.

85 C RISES SANITÁRIAS

DEBRET JeanBaptiste. Cirurgião negro colocando ventosa.

1826. SI.

As novas medidas na área da saúde no Brasil foram de grande importância para a população do império. No entanto, muitos problemas persistiam, principalmente fora dos centros urbanos e nas populações desassistidas. Os brasileiros padeciam, principalmente, por questões relacionadas à alimentação inadequada e condições insalubres de habitação. Pela grande extensão territorial nacional, o acesso à saúde permaneceu restrito e dificultoso para muitos, ocasionando o sucesso de manuais de medicina popular, principalmente o do médico polonês Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, lançado em 1841. O Formulário ou Guia Médico, ou Chernoviz, como ficou conhecido no Brasil, continha a descrição de sintomas, remédios, doses, como aplicar, plantas brasileiras e seus usos pelos indígenas, as diferentes águas minerais, fórmulas farmacêuticas, receitas e outros aspectos que dotassem o leitor de meios para diagnosticar e tratar um doente.

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3.4 O PARANÁ

“A tropa pedia instantemente ao Governador (Dom Álvaro) para conceder-lhe alguns dias de descanso, mas ele não quis consentir, porque a experiência já tinha ensinado que os soldados cairiam doentes. [...] os doentes eram em crescido número e não podiam caminhar. Decidiu-se Dom Álvaro a mandar os doentes pelo rio, em balsas, confiando-as a um chefe índio chamado Iguaron. Álvaro Nunes mandou, pois, meter nas balsas 30 doentes com 50 arcabuzeiros e besteiros para servir-lhes de escolta. [...] Do Piquiri a expedição tomou uma direção completamente diversa de que mais ou menos ia seguindo rumando para o sul, foi alcançar as margens do Baixo Iguaçu, tendo deixado no Piquiri 14 soldados, que haviam adoecido.” (Moreira: 1953, p. 8-9).

O trecho anterior trata-se da provável primeira crise sanitária registrada em terras paranaenses, no caso, nas tropas do explorador espanhol Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, ou como referido no trecho, Dom Álvaro. O documento são de registros feitos pelo escrivão da tropa, em 1541, quando Cabeza de Vaca fez a travessia litoral de Santa Catarina até Assunção, no Paraguai. A doença não é muito bem descrita, constando apenas causar febre nos soldados.

Este é, até o momento, o primeiro registro escrito de um cenário que se repetiu incessantemente ao longo da história do estado do Paraná. Com uma ocupação mais tardia, a maior parte dos registros históricos do estado se referem ao litoral, principalmente Paranaguá. Por ser uma cidade portuária e, por muito tempo, a mais populosa da região, Pernaguá, como era chamada sofria com surtos anuais de diversas doenças.

Ao longo da história do estado, temos relatos e notícias de diversas doenças, algumas que hoje permanecem sem um diagnóstico específico. Em 1629, nas regiões de Pirapó e Santo Inácio, houve um surto de uma doença denominada “cambras de sangue”, uma espécie de diarreia hemorrágica, matando cerca de 2 mil indígenas na região afetada. Em 1686, também há relatos da peste grande ou bicha, em que os doentes vomitavam “lagartas” e tossiam sangue, atingindo o Paraná diversas vezes, sendo relatada pela última vez no início do século XIX.

Esses registros históricos são fundamentais para entendermos como as doenças moldaram a história da região, com destaque para as frequentes epidemias em cidades costeiras como Paranaguá. Esses eventos ressaltam a importância da vigilância sanitária e do avanço da medicina ao longo dos séculos para proteger a saúde pública.

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“Vítima da varíola apresentando as típicas cicatrizes das pústulas na pele" Autor desconhecido, litografia, século XIX-XX.

Varíola

O surto mais presente na história do estado foram as bexigas. Na época, o termo designava a varíola, mas, muitas vezes, o povo, e até mesmo as autoridades, a confundiam com a varicela (também chamada de varioloide). Não se tinha os conhecimentos e tecnologias laboratoriais de hoje para poder detectar com precisão a causa da enfermidade, sendo comum a falta de acuidade para os diagnósticos e, consequentemente, os censos. Os sintomas consistem, inicialmente, de febre, fadiga e mal-estar intensos, dores de cabeça e no corpo, náuseas e vômitos, seguindo por manchas vermelhas pelo corpo. Após esse período, estas manchas transformam-se em pústulas, que, quando curadas, deixam cicatrizes profundas na pele. A doença tem uma alta taxa de mortalidade por conta de uma severa resposta inflamatória, resultando na falência múltipla dos órgãos.

Essa não era característica especial do Paraná, pois era uma doença altamente contagiosa que grassava o Brasil todo, mostrando-se como um dos grandes problemas de saúde pública, sendo enfrentada desde a instalação da Corte portuguesa no território, que criou a Junta Vacínica da Corte sob o reinado de Dom João VI. Mas a inoculação da vacina só passou a ser abrangente após o reinado de Dom Pedro II, com a criação do Instituto Vacínico do Império, em 1846, o qual previa a vacinação de todos os brasileiros, sem distinção. Não há um consenso de quando surgiu o conhecimento acerca da inoculação de pus contendo varíola em pacientes saudáveis como medida de prevenção da doença. Há relatos, desde a Antiguidade, sobre esta prática tanto no Ocidente quanto no Oriente, sendo aplicada esporadicamente na Europa em diversos momentos. No entanto, é na segunda metade do século XVII que o médico Inglês Edward Jenner utilizou o pus de vacas contaminadas com varíola bovina para inocular em seres humanos saudáveis, obtendo resultados positivos de imunização. A vacina provocava erupções locais, semelhantes aos sintomas da varíola, e do pus destas erupções eram feitas novas vacinas, portanto, e método de braço a braço. Mais tarde, o sanitarista Oswaldo Cruz foi indicado para chefiar os serviços sanitários da república e implementou uma lei pela obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, instaurou a revacinação, aplicação de multas para aqueles que não se vacinassem e a exigência de atestado de vacinação para frequentar escolas, ir a casamentos, viajar e assumir cargos públicos. Consideradas uma invasão de privacidade e afronta à moralidade, a lei não foi bem-recebida pelo povo, principalmente pela parcela mais pobre, que tiveram suas casas – consideradas insalubres – demolidas em uma tentativa de higienização da cidade do Rio de Janeiro. Impopulares, as medidas culminaram na Revolta da Vacina, em 1904. Apesar dos choques entre as autoridades e a população, aos poucos, o programa de vacinação foi tendo êxito.

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Em 1804, a vacina chegou ao Brasil....

Seis meninos escravizados foram enviados a Lisboa, vacinados e trazidos de volta ao Brasil. Pelo sistema braço a braço, a vacinação foi levada ao Rio de Janeiro e seguidamente para São Paulo. Mais tarde, uma nova técnica de cultivo da vacina surgiu, sendo trazida ao Brasil pelo médico Pedro Affonso Franco, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, montando um serviço de vacinação do hospital que fabricava e distribuía as vacinas para outras Inspetorias.

Charge ironizando Oswaldo Cruz na sua empreitada de vacinar a população do Rio de Janeiro em 1904.

89 C RISES SANITÁRIAS
1904
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“Representação da transformação da aparência de uma pessoa enferma por cólera."

Gravura italiana da primeira metade do século XIX

Febre amarela

A febre amarela é uma das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, em que o vírus causa, entre os principais sintomas, febre, náuseas, dores no corpo e ataca o fígado, podendo causar complicações, conferindo um aspecto amarelo para a pele do paciente, dando origem ao nome da doença. Essa enfermidade esteve presente nos registros históricos do Brasil desde o século XVII. No entanto, a primeira epidemia foi entre 1849 e 1861, em que a doença atingiu quase todas as províncias do Império. No Paraná, ela chegou por meio do Porto de Paranaguá, levando a criação de uma comissão extraordinária de saúde pública para combater a epidemia, em que o médico José Cândido da Silva Murici é enviado ao litoral para dar assistência aos doentes, onde a epidemia foi mais intensa. Já em Curitiba, foi montado um hospital provisório. No surto entre 1877 e 1878, as quarentenas foram amplamente aplicadas nos navios, assim como o isolamento no lazareto da Ilha das Cobras. Além disso, houve também um grande fluxo das parcelas mais abastadas do litoral para Curitiba, na tentativa de fugir da febre.

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Cólera

Mais tarde, a cólera somou-se às preocupações sanitárias da população e autoridades. Bastante comum no mundo Ocidental do século XIX, a cólera viu terreno propício nas crescentes populações das cidades que se formavam, pela sua íntima relação com a insalubridade somada às fontes de água. As más condições das habitações e a falta de saneamento e higiene criavam um ambiente propício para a propagação de uma bactéria que tem o ser humano como único hospedeiro.

A doença, em que a bactéria Vibrio cholerae ataca o sistema digestivo, causava uma imagem de verdadeiro horror, já que o paciente adquiria um aspecto cadavérico e, muitas vezes, a pele era tomada por um tom azulado, devido à desidratação. Alguns permaneciam assintomáticos, apenas transmitindo a doença adiante, sem se dar conta; outros morriam no mesmo dia em que os sintomas se agravavam.

O medo desta doença foi uma das propulsoras para a criação de um braço da Irmandade da Misericórdia em Curitiba, já que ela grassava o litoral do Brasil. Consta no jornal Dezenove de Dezembro que a epidemia chegou por Guaratuba por meio de um navio (“palhabote’’) argentino chamado Obligado, com procedência do Rio de Janeiro. O surto estava já presente em diversos pontos no Império do Brasil e especialmente crítico no Rio de Janeiro, no Pará e na Bahia. Dr. Murici foi incumbido da tarefa de atentar-se para o surto em Curitiba, juntamente a Joaquim José Pinto Bandeira, Filippe Sarty, João Silveira de Miranda e Francisco de Paula Guimarães, partes da comissão referente a Curitiba.

A vice presidencia do Exm. Sr. tenente-coronel Beaurepaire, que tantos benefícios tem feito, já attendendo ás necessidades de todas as estradas, principal movel da prosperidade da provincia, já passando-se ao littoral para um bem dispôr os meios de prevenir e minorar o mal do cholera, quando, por infelicidade nossa, se propague nesta provincia, acaba de dar todo o impulso à decahida irmandade da Santa Casa de Misericórdia desta cidade. S. Ex. não satisfeito de promover todos os meios para pôr em andamento os trabalhos da irmandade, dignou-se a dar a quantia de 280$000 para o concerto da capellinha de S. Francisco, onde a mesma celebra seus actos religiosos. A irmandade, com esmero, acompanha o S. Ex., e ante-hontem em mesa, depois de ter approvado a admissão de mais de cincoenta irmãos e irmãs das pessoas mais gradas desta comarca, resolveu que o irmão thesoureiro o sr. Manoel José da Cunha Bittencourt mandasse proceder, com urgencia, aos reparos da capellinha, e nomeou uma comissão composta dos snrs. inspector da thesouraria João Caetano da Silva, e negociantes Antonio Gonçalves Ribeiro e Francisco Ignacio da Rocha para estabelecerem um hospital de charidade.

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Louvores, pois, a S. Ex. o sr. tenentecoronel Beaurepaire e actuaes directores da Santa Casa pelo charidoso zelo a bem da pobreza. Confiamos plenamente que a nobre comissão ha de bem cumprir o seu dever.

Consta-nos que os respeitaveis irmãos de uma loja maçonica desta cidade, que ha muito tempo não trabalha, se reunirão hoje em sessão para dissolverem e fazerem doação da casa, bens moveis que possue, dinheiro e dividas activas ao novo hospital da Santa Casa, que se vae crear. Muito louvamos a tão beneficentes maçons por um procedimento que os torna dignos filhos da verdadeira luz [sic] (DEZENOVE DE DEZEMBRO, 1855).

Curiosamente, havia um debate sobre este surto tratar-se mesmo de cólera ou não. No jornal Dezenove de Dezembro, temos o seguinte trecho escrito por um médico

Eu estou convencido (e comigo muitos collegas) de que nunca tivemos, não temos, nem teremos nunca cholera: a enfermidade que hoje domina me parece uma especie de diarrhéa, da qual só não terá escapado quem não tiver querido curar. Eu tive mais medo da febre amarella em 1849, desta nenhum tenho [sic] (DEZENOVE DE DEZEMBRO, 1855).

Apesar das confiantes afirmações do médico, ele estava equivocado. As autoridades consideraram ser, de fato, um surto de cólera, o qual continuou circulando pelo território brasileiro e ainda fez muitas vítimas na Guerra do Paraguai.

1918

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Gripe espanhola

Após a peste negra, a crise sanitária mais conhecida na história é a gripe espanhola, flagelo que atingiu a humanidade aos finais da Primeira Guerra Mundial, em 1918. O fato desta epidemia ter coincidido com a Primeira Grande Guerra resultou em duas particularidades: o rápido e generalizado alastramento vindo dos soldados que voltavam para seus locais de origem e a imprecisão no número de mortos, que se confunde com as vítimas da guerra. Estima-se que as fatalidades globais da gripe tenham sido entre 20 e 50 milhões.

Na época, a cidade de Curitiba tinha recentemente se recuperado de uma epidemia de febre tifóide, doença endêmica no Paraná, causada pela bactéria Salmonella enterica. Pelo precário saneamento da capital, a moléstia causava surtos anuais, mas em 1917 o estado foi mais crítico do que nos anos anteriores. Com 120 óbitos pela enfermidade naquele ano, a epidemia foi vencida, após uma série de medidas governamentais, entre elas um esquema de vacinação realizado na Santa Casa de Misericórdia de Curitiba.

No entanto, o alívio da população pouco durou. Em maio de 1918, os jornais da cidade já noticiavam sobre uma nova gripe detectada na Espanha, que contava com 50 mil casos na capital castelhana. Em setembro do mesmo ano, a nova gripe chega ao Brasil com a tripulação do navio inglês Demerara, que atracou em diversos portos do litoral do país.

Os jornais do Paraná divergiam em suas abordagens no início da epidemia. Alguns reportavam a situação do Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo como alarmante; outros noticiaram apenas como uma gripe comum, sem necessidade de preocupação. Um colaborador para esta perspectiva foi o médico Carlos Seidl, Diretor Geral de Saúde Pública, que defendia a tese de que a gripe que grassava no Brasil não era a mesma da Europa. No entanto, o crescente número de vítimas fez esta vertente de pensamento cair rapidamente.

A partir de outubro, no Rio de Janeiro, os impactos podiam ser vistos a todo lado. O comércio, as fábricas, os transportes, os bancos e as repartições públicas funcionavam com dificuldades pela quantidade de funcionários doentes. Os hospitais já encontravam-se lotados, mesmo com os esforços de todos os profissionais da saúde que se organizaram para tratar dos pacientes. As notícias vindas da capital chegavam com atraso e brevidade na descrição, pois os correspondentes também encontravam-se enfermos. Serviços que necessitavam de mobilidade, como os Correios, passaram a ser vistos com desconfiança e receio. Em algumas cidades, como Guaratuba, muitos recusavam-se a receber correspondências e telegramas. Boatos correram nos jornais, mais uma vez, procurando por culpados, chegando ao ponto de acusações acusar a Alemanha de provocar a epidemia com a finalidade de guerra biológica.

Foi a partir deste momento que as autoridades no Paraná passaram a tomar atitudes para evitar a chegada da gripe no estado. Assim, entradas

Estudante de máscara indo para a aula de na pandemia de gripe espanhola, em 1918 na Flórida

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terrestres e marítimas suspeitas ou chegadas de locais onde a epidemia encontrava-se em estado grave passaram por desinfecção e observação por cinco dias. Pouco tempo depois, foi registrado o primeiro caso oficial no estado, então propagando-se por meio de aglomerações e viajantes.

A situação no litoral do Paraná chegou ao ponto de as autoridades enviarem reforços, uma vez que faltavam profissionais da saúde pelo adoecimento destes. Até então, a princípio, não existiam casos de gripe espanhola em Curitiba, apenas gripe comum, mas tal afirmação das autoridades causava suspeitas e angústias na população, que não acreditava nestas estatísticas. Apesar dos médicos negarem que os casos de gripe fossem referentes a nova doença em circulação, medidas foram tomadas, em nome da precaução. Em 16 de outubro de 1918, circulou nos jornais da cidade uma publicação do médico Trajano dos Reis, Diretor Geral do Serviço Sanitário do Estado.

1.Não se communiquem com os doentes, nem frequentem casas infectadas; 2. as pessoas, residentes em casas infectadas, tenham a caridade de não frequentar aquellas que o não estão; 3. evitem todas as causas de resfriamento; 4. não frequentem locaes onde haja agglomeração de pessoas; 5. mantenham rigoroso asseio nas habitações, quintaes, etc., fazendo incinerar o lixo e extinguindo todos os depositos de aguas estagnadas ou servidas; 6. mantenham os apparelhos sanitarios bem desinfectados com creolina ou leite de sal; 7. isolem os doentes das pessoas da familia, desinfectando diariamente todos os aposentos e dependencias, com creolina ou outro qualquer desinfectante; 8. bebam agua filtrada e fervida; 9. usem de alimentos leves e bem cosidos; 10. não usem fructos verdes, e os maduros lavem muito bem antes de se servirem d’elles; 11. só usem verduras cosidas; 12. fervam o leite e o refervam antes de o ingerir; 13. evitem os gelados; 14. não façam excessos de qualquer natureza; 17. fervam as roupas retiradas da cama e do corpo dos doentes; 16. desinfectem todas as excreções dos doentes; 17. mantenham o mais escrupuloso asseio corporal, lavem a boca, garganta e fossas nasaes com um desinfectante, diversas vezes por dia e principalmente antes das refeições, que nunca devem fazel-as nos aposentos infectados; 18. lavem frequentemente as mãos, sobretudo antes de usar qualquer alimento; 19. façam-se vaccinar e revaccinar, contra a variola; porque se tal vaccina beneficiar contra a influenza, tanto melhor, e, se não produzir effeito, pelo menos ficará a população preparada para resistir á referida variola; 20. usem do chá de eucalyptus e de qualquer sal de quinina [sic] (A REPÚBLICA, 1918)

Até esse momento, não se sabia como lidar com a nova gripe. Em o caso, as recomendações eram generalistas, as quais visavam proteger a população tanto da gripe quanto de outros tipos de doenças. Trajano dos

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Reis inclusive recomenda a vacinação contra a varíola, como precaução. A lógica da época seguiu a mesma linha de raciocínio que vimos durante na crise do novo coronavírus: tomar as medidas que já se sabem eficazes para outras doenças semelhantes e prevenir-se o máximo possível de contrair quaisquer outras moléstias, pois assim teria o corpo em condições de lutar contra o patógeno e evitar-se-ia que leitos nos hospitais fossem ocupados com doentes de outras enfermidades.

Outro aspecto interessante que podemos verificar nas recomendações do médico é referente ao sal de quinina. Este remédio é proveniente da casca de uma árvore nativa da América do Sul, do gênero Cinchona Suas propriedades são conhecidas pela eficácia no tratamento da malária. Atualmente ainda se usa derivados desta substância como o principal tratamento para esta parasitose, mas a que temos hoje são suas derivações, sintetizadas e um tanto modificadas, conhecidas como cloroquina e hidroxicloroquina. A indicação do sal de quinina foi uma das tentativas de dar uma solução para a população, mesmo sem fundamentos para seu uso. No entanto, em pouco tempo, a recomendação do medicamento caiu por terra, posto que não mostrou eficácia no combate à gripe espanhola, causando fortes danos colaterais, alguns inclusive irreversíveis. No dia 20 de outubro, a cidade de Curitiba foi notificada com seu primeiro caso confirmado da nova gripe. Três dias depois, foi decretado o fechamento de escolas, proibição de missas noturnas e romarias em cemitérios e exigida a notificação às autoridades de casos em estabelecimentos coletivos. Mais uma vez, vemos a impossibilidade de dar aos mortos um rito religioso adequado. Para dar conta de atender a todos os doentes no Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, as irmãs da congregação de São José de Chamberry improvisaram enfermarias nas salas do antigo Colégio São José. Diversos postos médicos foram criados e hospitais de campanha abertos. A força-tarefa para conter o alastramento da nova gripe também contou com a realização de constantes desinfecções dos espaços. Houve uma grande subnotificação desta epidemia no Paraná (e não somente isso) pela falta de profissionais da saúde no interior, o que dificultava a contagem dos casos. Não se sabe ao certo qual foi a taxa de mortalidade dos profissionais da saúde na época no estado, sabe-se, no entanto, que o médico Rodolpho Pereira Lemos, diretor do Hospício Nossa Senhora da Luz, pertencente à Santa Casa, faleceu de complicações agravadas pela gripe, em 1918. Mais tarde, em 1919, seu filho, Cláudio Lemos, também faleceu pelo mesmo mal. Pela baixa dos casos, em dezembro de 1918 alguns postos de socorro foram encerrados e o transporte público voltou a circular. Entretanto, a volta ao normal na capital fez os casos do interior – que, em sua maior parte, não contavam com atendimento médico profissional – aumentarem rapidamente. Aos poucos, a gripe foi controlada e o a vida dos curitibanos voltou à normalidade, mas as cicatrizes sociais deixadas por ela jamais foram esquecidas.

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2009

Gripe suína

Após a gripe espanhola de 1918, o vírus da Influenza A (H1N1) voltou a causar pânico no mundo em abril de 2009, quando fomos surpreendidos por um surto de uma nova cepa do vírus, detectada no México.

No dia 27 de abril daquele ano, a então Diretora Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) Margaret Chan, elevou o grau de alerta pandêmico para 4, e três dias depois para 5, indicando a possibilidade de uma pandemia. A incerteza relacionada a este surto dava-se, sobretudo, à rapidez com que vírus influenza podia se espalhar ou não, e seu grau de mortalidade e de mutagênese, fatores que trouxeram dúvidas acerca das medidas a serem tomadas. Contudo, a OMS enviou medicamentos para 72 países na tentativa de frear o surto, resultando em 123 embarcações levando medicamentos entre os dias 3 e 21 de maio.

Dia 11 de junho, a OMS sobe para grau de risco 6 o surto de gripe suína, o nível máximo na escala, indicando a declaração de uma pandemia. Neste momento, a transmissão interna do vírus já era sistemática em quatro continentes. No início de julho, os dados da pandemia começaram a tornar-se mais imprecisos. À medida que os contágios subiam, os laboratórios se viam sobrecarregados e sem condições de continuar os testes para reportar o número de infectados às autoridades.

Rapidamente, notícias falsas se alastraram pelos países, começando pelas sugestões de que o vírus teria sido criado em laboratórios no intuito de aumentar os lucros da indústria farmacêutica ou de que os números divulgados pelas autoridades seriam falsos. Circulavam na internet receitas caseiras com chás milagrosos que prometiam combater o vírus, levando às autoridades a criarem canais de esclarecimentos para desmentir as notícias falsas que surgiam constantemente. E-mails disparados em massa informaram do fechamento de supermercados, fazendo com que estes ficassem cheios de compradores desesperados para obter suprimentos. Também esteve presente a xenofobia contra mexicanos, principalmente aos habitantes da Cidade do México, e o medo do consumo de carne de porco, pela falsa correlação que o nome da gripe sugeria.

No Brasil, a resposta à pandemia da gripe suína foi rápida. No dia 25 de abril de 2009, quando a OMS declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional, o governo federal criou um gabinete dedicado ao a acompanhar a epidemia. Houve um foco muito grande em informar a população e esclarecer dúvidas, disponibilizando diretrizes e medidas de precaução, como higienizar as mãos, evitar aglomerações, manter ambientes ventilados, cobrir a boca ao tossir e espirrar. As medidas não tinham como se estender, além disso, uma vez que não se sabia a origem do vírus e não havia remédios para tratar a doença. Em 25 de junho, foi registrado o primeiro caso notificado de transmissão interna no Brasil. Já no mês seguinte, iniciou-se o controle no fluxo de pessoas nos aeroportos, portos e fronteiras. No Paraná, o vírus alastrou-se rapidamente,

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tornando-se um dos estados mais afetados proporcionalmente no país, em especial pelo rigoroso inverno de 2009, que contou com temperaturas mais baixas que as médias anuais do estado. As medidas preventivas causaram uma mudança na rotina: adiamento de eventos, fechamento de estabelecimentos, alterações no calendário escolar, máscaras em hospitais, disponibilidade de dispensadores de álcool em gel em toda parte, filas nas calçadas para evitar aglomerações, cuidados adicionais com mulheres grávidas e pessoas com comorbidades, evitamento redução da utilização de transportes públicos, cinemas e shoppings vazios – um cenário que nos é vívido na memória no mundo pós-covid 19. Algumas mudanças foram emblemáticas, como a suspenção da água benta nos cultos católicos.

O impacto da pandemia da H1N1 no sistema de saúde foi significativo. Aflita, a população procurava estes serviços no caso de qualquer sintoma gripal, sobrecarregando hospitais e postos de saúde, levando à suspensão de consultas e cirurgias eletivas, assim como procedimentos não urgentes. Profissionais da saúde cumpriram quarentena em seus domicílios por conta do contato sistemático com doentes ou infecção.

A medicação mais indicada para os doentes era o oseltamivir (Tamiflu), que chegou a ter problemas de distribuição, restrição de venda e escassez no mercado. O protocolo restritivo da OMS com relação a medicação deu-se por questões de receio da possível resistência à medicação, a qual tinha se mostrado a mais eficaz contra a nova gripe, assim como o esgotamento de estoques, consequentemente aumentando o número de mortes.

Após meses de pandemia, em julho, a OMS anunciou e agradeceu Estados Unidos, Brasil, Austrália, França, Itália, Nova Zelândia, Noruega, Suíça e Reino Unido pelos esforços conjuntos na criação de uma vacina, iniciando sua doação e distribuição internacional.

Até o dia 7 de fevereiro de 2010, 212 países, territórios além-mar ou comunidades reportaram casos confirmados da nova Influenza A H1N1 2009. No entanto, no dia 10 de agosto de 2010, a OMS declarou oficialmente o fim da pandemia de H1N1, permanecendo ainda diretrizes para o processo póspandêmico, algumas como o monitoramento de surtos e casos severos, assim como mudanças nas características microbiológicas do vírus, continuidade dos programas de vacinação, notificação à OMS em caso de infecção por novas cepas de Influenza circulando entre seres humanos ou mudança nos sintomas da doença.

Até então, a pandemia da gripe suína tinha sido a pandemia mais bem acompanhada e documentada da história. Contudo, no relatório desta crise sanitária, a OMS ressaltou que o mundo não está preparado adequadamente para responder a uma crise sanitária global, o que confirmamos em 1º de

Manchete do jornal Gazeta do Povo noticiando o primeiro óbito pela gripe A H1N1 no Paraná

97 C RISES SANITÁRIAS

COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIBA 4 4

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

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4.1 Introdução

Com a pandemia de covid-19, declarada oficialmente pela Organização Mundial de Saúde em 11 de março de 2020, o mundo entrou em alerta, e não é exagero afirmar que todas as sociedades globalizadas foram afetadas e modificadas de maneira permanente, o que se traduz em novos hábitos, perdas e recomeços. Estas consequências estão relacionados aos eventos epidêmicos e pandêmicos ao longo da história.

No século XIV, a peste negra mudou a forma como os indivíduos se enxergavam no mundo e a percepção que tinham de um poder superior, trazendo uma crise ao cristianismo. Foi a partir disso que abriram-se os caminhos para o desenvolvimento do Renascimento, colocando o ser humanocomo figura central do Universo, empoderado pelo livre-arbítrio. Decorrente disso, o conhecimento científico e a busca por novas respostas ganharam importância.

Com a pandemia de covid-19 não foi diferente. Observamos um grande movimento de descrença com a capacidade de propagação do vírus, seguida de um intenso receio de todos, levando o mundo todo ao isolamento social. A disseminação de informações errôneas, de maneira proposital e ingênua, marcou o período. No Brasil, e em outros países, isso acarretou a busca por medicamentos sem eficácia comprovada e que, posteriormente, mostraram-se até mesmo nocivos no tratamento dos infectados por covid-19.

A ciência foi imensamente valorizada e desacreditada ao mesmo tempo. Enquanto os laboratórios empenhavam-se para buscar uma vacina capaz de deter o vírus, nas redes sociais e nos fóruns de internet propagavam-se teorias da conspiração sobre o assunto. Infelizmente, quando a vacinação em massa foi liberada no Brasil, em janeiro de 2021, uma grande parte da população optou pela não imunização. No Paraná, onde residem, aproximadamente, 11,6 milhões de pessoas, uma intensa campanha a favor da vacinação foi organizada pelas secretarias estadual e municipais de saúde, alcançando os seguintes números de imunização:

5.369.734 5.024.290 3.968.846 116.215 252.651 15.950.331 Feminino 13.930.991 Masculino 4.943.869 4.496.896 3.143.320 223.671 213.505 1ª dose 2ª dose Única Reforço Adicional 279 Sem informação 142 69 38 1 2 Doses aplicadas por gênero Fonte: Coronavirus PR. Disponível em: https://www.coronavirus.pr.gov.br/Vacinacao-numeros. Acesso em: 11 abr. 2024.
Foto:
Guilherme Bressan, 2021.

Apesar das fake news sobre o assunto, é possível afirmar que a ciência ganhou um lugar de destaque, especialmente com o surgimento de novos hábitos que foram eficazes na contenção e disseminação do vírus da covid-19. Se no Paraná o hábito do álcool em gel já era conhecido desde as crises de H1N1, na década de 2000 e 2010, agora tornou-se item obrigatório e indispensável: está presente na maioria bolsas, das mochilas, dos painéis de automóveis e dos estabelecimentos abertos ao público. No entanto, as mudanças são muito mais profundas e transformadoras. Com mais de 700 mil vidas perdidas em solo brasileiro, somados a milhões de internamentos e tratamentos à doença, a pandemia alterou também as rotinas de saúde.

No Hospital Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, a covid-19 trouxe uma corrida pela abertura de novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), transformando a rotina de trabalho que, anteriormente, era concentrada em apenas uma zona.

Com a pandemia, foi necessário dividir as UTIs e áreas do hospital em zona fria e zona quente, sendo que, nesta última, concentrava-se os pacientes com suspeita e confirmados para covid-19. O pronto-socorro também mudou rapidamente: a ordem de atendimento dava-se por gravidade, mas, com a pandemia, foi necessário organizar de acordo com o fluxo de pacientes covid e não covid.

A rotina hospitalar é permeada por projeções de um futuro a média distância, como modo de garantir o cumprimento das atividades em níveis adequados. A covid-19 varreu todo o planejamento, inclusive ressignificou a maneira de planejar, tornando todas as previsões de curto período. As cadeias de abastecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs), medicamentos, e insumos a frequente alteração de protocolos e os picos altíssimos de casos registrados trouxeram uma falta de previsibilidade nunca antes vivenciada na Santa Casa de Curitiba, exigindo ainda mais dos colaboradores e chefes de setores, que precisavam estar atentos a todas estas variáveis.

Além dos novos leitos na sede histórica da Santa Casa de Curitiba, foi aberta uma unidade hospitalar de tratamento especializado, o Instituto de Medicina – Hospital de Campanha covid-19, com 110 leitos de UTI totalmente dedicados ao tratamento de pacientes acometidos pelo vírus. A abertura aconteceu graças aos esforços hercúleos e conjuntos de todos os setores da Santa Casa, que, após 17 de dias de trabalho intenso, implementou espaço em julho de 2020.

Nas rotinas hospitalares, cada unidade tende a se especializar em alguma ou algumas modalidades de atendimento, o que é normal e beneficia a população com tratamento qualificado, especializado e ágil. O Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, por exemplo, é referência em tratamento de doenças cardíacas, e na covid-19 continuou sendo um ponto de apoio para as emergências deste tipo.

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Uma parcela dos leitos de UTI criados no período pandêmico também foi destinada ao recebimento de pacientes com diversos problemas de saúde, muitas vezes encaminhados de outros hospitais. Apesar do foco na pandemia, as emergências de outras naturezas médicas continuavam acontecendo, e um direcionamento adequado entre as unidades hospitalares fez-se essencial para não engarrafar o sistema de saúde.

A organização e triagem dos pacientes covid e não covid só foi possível graças a rápida resposta dos setores públicos, que atuaram lado a lado com os hospitais em busca de salvar o maior número de vidas, além de proteger a população e os profissionais da saúde. Neste ponto, é impossível não reconhecer o apoio que a Santa Casa de Curitiba prestou à população curitibana, sendo uma das unidades hospitalares protagonistas neste período pandêmico.

A maioria dos atendimentos de covid-19 ocorreu por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo valor social se faz necessário reconhecer e enaltecer, especialmente após uma crise de saúde pública como esta. Considerando 2020 e 2021, 1290 pacientes foram tratados de covid-19 na Santa Casa de Curitiba, e 896 receberam alta e uma nova chance, ou seja, uma oportunidade de recomeçar.

O sentimento de recomeço é inevitável e está muito presente nas percepções daqueles que atuaram incessantemente no enfrentamento à covid-19 no Santa Casa de Curitiba, seja na linha de frente, seja nos setores de apoio ao trabalho dos médicos e enfermeiros intensivistas, responsáveis por manter a estrutura funcionando de maneira segura para todos.

Entre os saldos da pandemia, é essencial pontuar a união da equipe na Santa Casa de Curitiba, fundamental para que o hospital pudesse se dedicar a seu objetivo primordial: recuperar, cuidar e salvar vidas. Foram dias intensos, com reunião de setores muita vezes diárias, buscando o equilíbrio entre atendimento, número de leitos disponíveis, segurança dos colaboradores, insumos farmacêuticos, entre outros. Uma demonstração da capacidade de resiliência e reinvenção de todos os setores.

A seguir, iremos apresentar um retrato da área da saúde neste período, pontuado a partir das percepções dos resultados de alguns setores do hospital, ainda que a cada cidade e unidade hospitalar caiba um recorte próprio acerca da pandemia. No caso de Curitiba e da Santa Casa de Curitiba, podemos afirmar que a reação foi muito mais rápida do que em outros lugares. Esta reatividade trouxe ações pontuais e eficazes, que foram essenciais para a prestação de serviços de saúde de excelência, oportunizando salvar o maior número de vidas possível.

103 COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

O HOSPITAL

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Provedoria

A Provedoria é um setor existente desde a fundação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, em 1852.
COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 106

“A SANTA CASA DE CURITIBA ESTEVE SEMPRE DE PORTAS E CORAÇÕES ABERTOS PARA ATENDER ÀS NECESSIDADES QUE EMERGIRAM NA PANDEMIA. LEMBRO-ME DO DIA DE FINADOS DE 2022, QUANDO TROUXEMOS NA CAPELA UM PAINEL COM TODOS OS NOMES DAQUELES QUE NÃO CONSEGUIMOS SALVAR, PARA SEREM RECORDADOS DIANTE DE DEUS E ASSIM DEUS PUDESSE ACOLHER A NOSSA PRECE EM FAVOR DE TODOS. TAMBÉM LEMBRAMOS DAS FAMÍLIAS ATINGIDAS, SOBRETUDO NA NOSSA

SOLIDARIEDADE, PELA PERDA DOS SEUS ENTES QUERIDOS. LAMENTAMOS TAMBÉM QUE MUITAS PESSOAS, MESMO NÃO TENDO

SOFRIDO DA PANDEMIA, SOFRERAM NA PELE O DESEMPREGO, O SALÁRIO MAIS BAIXO, OS ATRITOS E ATÉ AS VIOLÊNCIAS DOMÉSTICAS. TUDO ISSO SÃO CONSEQUÊNCIAS DE UMA SITUAÇÃO PANDÊMICA QUE LEVOU MUITA GENTE A PERDER ATÉ O SENTIDO DA VIDA E QUE, NORMALMENTE, NÓS SEMPRE PUDEMOS TER UMA PALAVRA DE INCENTIVO E ESPERANÇA. AFINAL, A ESPERANÇA, COMO DIZIA PAULO FREIRE, NÃO É UMA ESPERANÇA PASSIVA, É UMA ESPERANÇA ATIVA. ESPERANÇAR QUE PARA ALÉM DA TEMPESTADE VIRÁ A BONANÇA."

Dom Diamantino

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

107 COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A

O cargo de provedor sempre foi ocupado por aqueles que compreendiam a dimensão da ação filantrópica proposta, assim como os preceitos católicos ligados às sete misericórdias, que norteiam a atuação assistencial, humanizada, beneficente e sem fins lucrativos desta instituição de saúde.

Em 2020, o provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba era Dom Carmo João Rhoden, que deixou o cargo em agosto de 2021, sendo substituído por Dom Frei Diamantino Prata de Carvalho. Para além das atividades administrativas, atualmente a ação da provedoria também está muito ligada à Pastoral, com suporte espiritual aos pacientes e acompanhantes que transitam pelo hospital. Tais ações, porém, ficaram suspensas no início da pandemia, até a adaptação para o formato virtual. Aos poucos, as bençãos nos leitos foram sendo retomadas, com todo o cuidado necessário.

No entanto, no Instituto de Medicina – Hospital de Campanha covid-19, as ações da Pastoral ficaram totalmente suspensas, por precaução aos envolvidos. Ainda assim, algumas ações de procissão, que incluíam a Santa Casa de Curitiba, passaram em frente ao instituto, onde foram realizadas bênçãos a todos os colaboradores e pacientes que estavam no local. Gestos como este, de partilha fraterna e atitude samaritana, são sinais de misericórdia para todos aqueles que lá encontravam-se, independentemente de suas crenças religiosas. Por meio da internet, a provedoria implantou ações de aproximação com a comunidade de dentro e fora do hospital. As missas e celebrações religiosas realizadas na capela do hospital passaram a ser gravadas ou transmitidas ao vivo nas redes sociais e no circuito interno de televisão, atendendo salas de espera, quartos e escritórios da instituição. Um destaque também é o programa Gotas de Esperança, onde Dom Diamantino responde perguntas enviadas, muitas vezes por pacientes do hospital.

A Provedoria e a Pastoral reconheceram que aliar-se à tecnologia e à ciência são maneiras de perpetuar o lema da Santa Casa de Curitiba, “Inovando e humanizando, e permanecer presente na vida um das pessoas. Ainda assim, Dom Diamantino não esconde sua saudade dos tempos de paróquias lotadas, pré-pandemia, motivo pelo qual, após a celebração da Santa Missa, ele sempre percorre os corredores do hospital, visitando quartos e UTIs, lendo a benção e oferecendo a unção aos enfermos. A figura da Provedoria no dia a dia do hospital perpetua a missão das santas casas e da Pastoral, sendo uma presença que consola, reanima e santifica.

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COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: MHMPR, 2021.

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Diretoria Técnica

A Diretoria Técnica é responsável por gerenciar as práticas médicas assistenciais do hospital, garantindo seu pleno funcionamento, bem como as condições adequadas de trabalho para as equipes assistenciais.

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“A SANTA CASA CUMPRIU SEU PAPEL DESDE SUA FUNDAÇÃO, QUE FOI MOTIVADA TAMBÉM POR UMA EPIDEMIA DE CÓLERA, POIS ELA MANTEVE AS PORTAS ABERTAS. ACHO QUE ISSO FOI O MAIS IMPORTANTE. ELA NÃO DEIXOU DE CONTRIBUIR COM A SOCIEDADE. ENTÃO, ENTENDO QUE FOI FUNDAMENTAL. AS PESSOAS QUE ESTAVAM AQUI DENTRO PERCEBIAM ISSO. ELAS NÃO ESTAVAM TRABALHANDO POR TRABALHAR, ELAS ESTAVAM TRABALHANDO PELAS FAMÍLIAS, PELOS CONHECIDOS, E PELOS AMIGOS. TODOS FORAM AFETADOS. PARA QUALQUER PESSOA QUE PRECISASSE DE UM LEITO, NÓS ESTÁVAMOS AQUI PARA ATENDER."

Dr. Altemar Paigel

111 COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A
Foto: Eduardo Kimmel, 2021.

A Diretoria Técnica é um setor que cuida de quem cuida, das pessoas que estão na linha de frente do atendimento hospitalar, com as mãos diretamente nos pacientes.

Na pandemia, um dos principais desafios do setor foi a constante mudança do planejamento, que acontecia de acordo com as ondas de propagação do vírus da covid-19, e traziam incertezas ao que estava programado. Antes, o setor trabalhava com um horizonte de um a dois anos, mas, com o avanço da pandemia, o planejamento foi sendo alterado para dias e até mesmo horas, de acordo com as informações de estoque de medicações e outros fatores.

Diante da criticidade e impalpabilidade do momento, a medicina baseada em evidência ganhou mais destaque do que nunca, sendo o pilar que norteou as ações técnicas. O setor desenvolveu então um Manual de Manejo da Covid-19, como referência para os médicos, as equipes técnicas, e de enfermagem, entre outros. Ao longo da pandemia, o manual teve sete versões, sempre readequando-se ao momento e às novas evidências científicas.

A grande escassez de medicamentos usados no tratamento da covid-19, como bloqueadores neuromusculares e sedativos, também foi um grande desafio. A partir de testes e evidências que garantiam a segurança dos pacientes, foram adotados novos protocolos de dosagem e diluição, alguns perduram até hoje. A prevenção também ganhou protagonismo, com o monitoramento dos riscos de infecção, uma ação voltada ao cuidado especial com a equipe. Entre os momentos mais críticos, o Dr. Altemar Paigel, Diretor técnico do Hospital da Santa Casa de Curitiba, pontua os altos índices de mortalidade dos pacientes de covid após o procedimento de ventilação mecânica, que estendia-se como efetivo até então. No Instituto de Medicina, cerca de 80% a 90% dos pacientes que eram submetidos a este tratamento faleceram nas UTIs.

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 112
113 COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: Eduardo Kimmel, 2021.

Foto: Eduardo Kimmel, 2021.

Direção Clínica

A Direção Clínica é responsável pelo

atendimento

direto aos pacientes que entram no hospital, inclusive aqueles das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).
COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 114

“TODO O PERÍODO DA PANDEMIA FOI MUITO PESADO. DURANTE UM ANO E MEIO, EU ESTAVA NA SANTA CASA DE DOMINGO A DOMINGO. PARA NÓS, FOI UM CENÁRIO DE GUERRA, FOI MUITO DIFÍCIL. NO ENTANTO, O PESSOAL DA ENFERMAGEM FOI UMA GRATA SURPRESA. CHAMAMOS FUNCIONÁRIOS DE OUTROS SETORES DA ENFERMARIA, QUE NUNCA TINHAM ESTADO EM UMA UTI, E ELES SE DISPUSERAM, QUERIAM APRENDER, DOAVAM-SE. ENTRETANTO, DEPOIS DE UM TEMPO, TODOS NÓS FADIGAMOS. FOI UM BURNOUT COLETIVO. ACHO QUE O MAIOR DESAFIO DO PONTO DE VISTA DE GESTÃO FOI ESSE: EMOCIONAL. VOCÊ PERDER O TEMPO TODO É CANSATIVO. NO AUGE DA PANDEMIA, EU, DANILO, PAREI DE DISCUTIR COVID COM PESSOAS QUE NÃO TINHAM PERDIDO ALGUÉM POR ISSO OU NÃO TINHAM FICADO INTERNADAS, PORQUE QUEM ESTAVA DE FORA NÃO TINHA A MENOR IDEIA DO QUE ESTAVA ACONTECENDO AQUI DENTRO DOS HOSPITAIS."

Dr. Danilo Pompermayer

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Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Como o Hospital da Santa Casa de Curitiba não era referência em tratamentos respiratórios, por muito tempo ele atuou como um suporte ao sistema público de saúde, recebendo pacientes emergenciais encaminhados de outros hospitais, já que o objetivo era não mesclar pacientes com e sem covid-19 nos mesmos hospitais e manter um atendimento de qualidade aos que necessitavam. Na pandemia, as cirurgias eletivas foram suspensas, ficando o atendimento clínico totalmente vocacionada para covid-19 e casos de emergência.

Inicialmente, o hospital mantinha uma taxa de 30% a 40% de leitos para covid-19, sendo as demais vagas de UTI dedicadas aos pacientes graves de outras enfermidades. A divisão dos leitos, porém, era assertiva até o que era possível controlar no hospital. Algumas pessoas eram encaminhadas devido a problemas cardíacos, por exemplo, mas quando eram testadas na Santa Casa, apresentavam covid. A gravidade destes acontecimentos levava ao fechamento de toda uma UTI, para que pudesse ser descontaminada. Estes riscos, infelizmente, fizeram parte da realidade hospitalar de maneira generalizada na pandemia.

Um dos principais desafios da gestão médica foi a ampliação das UTIs. Antes da pandemia, a Santa Casa de Curitiba contava com três Unidades de Tratamento Intensivo; durante, novas UTIs foram abertas no prédio principal, assim como no Instituto de Medicina – Hospital de Campanha covid-19, ampliando para oito UTIs. Foi necessário treinar novas equipes, ou remanejar e lidar com os desfalques por afastamento devido à contaminação. Ainda assim, é importante ressaltar que nenhum colaborador da linha de frente da Santa Casa de Curitiba faleceu em consequência da covid-19, o que comprova a seriedade com a qual os novos protocolos foram adotados pelas equipes de atendimento direto ao paciente. Mesmo com novas UTIs totalmente dedicadas para covid, o médico intensivista Dr. Danilo Pompermayer, ex-chefe da direção clínica, ressalta que, até a aplicação massiva das vacinas da covid-19, esta foi uma batalha perdida. Em 2019, antes da pandemia, a Santa Casa de Curitiba atendeu mais de 4 mil pacientes, com registro de 297 óbitos. Em 2020, este número foi para 578, enquanto em 2021 foram 859 óbitos. Estes números só não foram maiores devido à vocação da Santa Casa para outros atendimentos, sem causa respiratória: em 2019, apenas 6,9% pacientes foram internados com sintomas respiratórios; em 2020, 19%; em 2021, 23,4%.

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 116
117 COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Direção Geral Hospitalar

A pandemia de covid-19 transformou os hospitais. Na Santa Casa de Curitiba, os setores organizavam-se de acordo com um planejamento estratégico e o perfil de atendimento clínico. Da noite para o dia, isso mudou.

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 118

“CURITIBA FOI UMA DAS CAPITAIS QUE MELHOR ENFRENTOU A PANDEMIA NO BRASIL POR CONTA DA SINERGIA E PARCERIA QUE TIVEMOS ENTRE HOSPITAIS FILANTRÓPICOS, PÚBLICOS, PRIVADOS E OS ÓRGÃOS PÚBLICOS. EU NÃO POSSO DEIXAR DE FALAR QUE TIVEMOS UM COMANDO MUITO IMPORTANTE POR PARTE DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, QUE FOI O GRANDE MAESTRO E ARTICULADOR, A NÍVEL SISTÊMICO. DO PONTO DE VISTA DO HOSPITAL, EU ACREDITO QUE HOJE ESTAMOS MUITO MAIS

PREPARADOS PARA ATENDER UMA CRISE, TANTO EM CAPACIDADE DE LEITOS OPERACIONAIS, QUANTO NA NOSSA CAPACIDADE DE REAGIR. ESTAMOS AINDA MAIS FOCADOS NA MEDICINA CENTRADA

NA NECESSIDADE DA POPULAÇÃO, ENTENDENDO QUE AS PESSOAS

PRECISAM SER ATENDIDAS COM DIGNIDADE, HUMANIDADE, COMPAIXÃO E QUE MERECEM TUDO DE MELHOR QUANDO VÊM PROCURAR SOCORRO DENTRO DAS NOSSAS INSTITUIÇÕES."

Dra. Nivia Pereira de Souza

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Foto: Guilherme Bressan, 2021.

A Santa Casa, historicamente da área cirúrgica, foi transformada em um grande hospital clínico. Os pacientes críticos ocupavam a UTI com uma média de permanência muito longa, impondo a criação de novos leitos e aquisição de novos equipamentos, como respiradores mecânicos. Para garantir que o funcionamento hospitalar acompanhasse a velocidade da pandemia, a Direção Hospitalar criou o comitê emergencial, do qual participavam os chefes de setores do hospital. A principal função do comitê era monitorar itens e leitos disponíveis, decidir mudanças de protocolo e acompanhar as alterações impostas via decretos públicos. Nos picos de pandemia, o comitê reunia-se diariamente, mas atualmente opera apenas de acordo com a demanda, conforme novos índices de propagação do vírus.

A Direção Hospitalar integrou também os comitês de rede, especialmente da Secretaria Municipal e Estadual de Saúde, onde a Santa Casa de Curitiba foi ouvida e opinou de maneira determinante sobre diversos encaminhamentos que atenderam toda a população curitibana. Internamente, a Direção Hospitalar também recebeu o apoio do Conselho de Administração, que esteve presente tanto nas tomadas de decisão quanto na formulação de estratégias.

O impacto econômico foi uma das principais sequelas da pandemia na Santa Casa de Curitiba, devido ao aumento significativo de todos os itens consumidos nas unidades hospitalares, tornando a operação muito mais cara. Equipamentos de proteção individual (EPI), por exemplo, que são essenciais para o dia a dia dos hospitais, como máscaras e luvas, atingiram inflação de até 1700%.

O absenteísmo da mão de obra causado pelos afastamentos de profissionais em decorrência da covid-19, devido a contágio ou distúrbios emocionais, como o burnout, também encareceu a prestação de serviços. Com a carteira de funcionários comprometida, a Santa Casa, buscando sempre cumprir com excelência suas obrigações com os pacientes, investiu no pagamento de horas extras e novas contratações. No entanto, os financiamentos e as entradas de recursos não acompanharam os custos elevados da pandemia, evidenciando, na atualidade, a gestão médica e o debate franco com os parceiros do hospital, em busca do equilíbrio econômico.

Outra sequela evidente é o represamento de pacientes que se encontravam nas filas para a realização de procedimentos cirúrgicos eletivos, que foram suspensos no período pandêmico. Com um delay de dois anos, a fila para cirurgias está extensa na Santa Casa de Curitiba, que atende por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e particulares. O agravante nesta situação é aquele doente cirúrgico, que precisa realizar seu procedimento o quanto antes, sendo a prioridade atual do hospital.

Uma das soluções para este problema vem em forma de legado da própria pandemia, de acordo com a diretora médica corporativa Dra. Nivia Pereira de Souza. Os leitos de UTI abertos na Santa Casa de Curitiba não vão ser reduzidos e aqueles abertos no Instituto de Medicina – Hospital de Campanha covid-19 estão sendo mantidos com uma nova estratégia: como leitos de longa permanência e de retaguarda para pacientes que não demandam um tratamento intensivo, agilizando o giro de leitos e, consequentemente, ampliando o volume cirúrgico da Santa Casa.

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COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Núcleo de Epidemiologia e Controle de Infecção Hospitalar

O monitoramento e a prevenção fazem parte da rotina do Núcleo de Epidemiologia e Controle de Infecção Hospitalar da Santa Casa de Curitiba.

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 122

“COM AS MEDIDAS SANITÁRIAS INTERNAS, BUSCAMOS TRABALHAR DA MANEIRA MAIS SEGURA POSSÍVEL.

QUANDO O PACIENTE É INTERNADO, ELE COMPARTILHA

A ENFERMARIA COM OUTROS PACIENTES, ENTÃO

FOI PRECISO MAIS RIGIDEZ EM TERMOS DE MEDIDAS

SANITÁRIAS E PROTOCOLOS PARA GARANTIR QUE ELE

NÃO TENHA COVID-19 AQUI DENTRO, OU QUE ELE NÃO

TRANSMITA PARA OUTROS PACIENTES, CASO TENHA

VINDO COM COVID. ESSA RIGIDEZ FOI NECESSÁRIA

PARA A PROTEÇÃO DOS COLABORADORES E PACIENTES. HOUVE MUITA SERIEDADE, COMPROMETIMENTO E RESPONSABILIDADE COM A CONDUÇÃO DA COVID

DENTRO DA SANTA CASA DE CURITIBA."

Dra. Viviane de Macedo

123 COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A
Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Antes mesmo do primeiro caso de covid-19 ser notificado oficialmente no Brasil, em 26 de fevereiro 2020, o setor já estava se preparando para o avanço inevitável do vírus. Nos dias 29 e 30 de janeiro daquele ano, a equipe realizou o primeiro treinamento para a equipe assistencial. Nesta primeira abordagem, o setor apresentou os aspectos gerais da doença conhecidos até então, e indicou os equipamentos de proteção individual necessários para o atendimento dos pacientes. Em seguida, novos protocolos de rotina foram estabelecidos, restringindo visitantes e acompanhantes. Em março, foi lançado a primeira versão do manual de medidas sanitárias, com orientações que consideravam o fluxograma da equipe assistencial nas etapas de diagnóstico, tratamento e demais questões operacionais.

O período da pandemia trouxe maior evidência ao setor de epidemiologia, especialmente na triagem de enfermos de covid-19 e aqueles com síndromes respiratórias aguda grave. O mesmo aconteceu com o setor de infectologia, que elaborou orientações aos colaboradores, pacientes e visitantes permitidos para evitar surtos de propagação no ambiente hospitalar. Novos protocolos sanitários foram criados para todos os processos hospitalares, inclusive o descarte de lixo. Entre as principais orientações aos visitantes, estava o uso da máscara, que inicialmente poderia ser simples, depois foi adotado o uso da máscara cirúrgica, do tipo N95 ou PFF2. As visitas foram suspensas e os acompanhantes só eram permitidos em casos de pacientes com dependência física, mental, ou risco de suicídio.

Os dados do setor revelam que o ano mais crítico da pandemia na Santa Casa de Curitiba foi 2021. Em 2020, 1.255 pacientes foram investigados para covid-19 e 218 confirmados; em 2021, 2.349 investigados e 1.321 investigados; em 2022, 725 investigados e 282 confirmados. Estes números também revelam a eficácia da vacinação contra o vírus, cuja primeira dose foi inciada em 25 de janeiro de 2021.

Priorizando grupos de risco, a vacinação avançou pelo Brasil especialmente a partir de abril de 2021, mesma época em que ocorreu um novo boom de casos de covid19. O momento exigiu cuidado, mas também forçou a população a abraçar a vacina, independentemente do ceticismo reforçado pela propagação de informações falsas.

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COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Arquitetura e Projetos

A demanda de criação de novos espaços para atendimento dos pacientes covid e não covid tornou o setor de Arquitetura e Projetos um dos mais procurados.

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“TEM ESSE PEQUENO DITADO: ‘A UNIÃO FAZ A FORÇA’. ELE FEZ TODO SENTIDO, PORQUE ERAM VÁRIAS DISCUSSÕES NA PANDEMIA. MUITAS VEZES, O SETOR DE ARQUITETURA INTERMEDIAVA ESSAS QUESTÕES DE APOIO COM OUTROS SETORES PARA PODER ENTENDER AS DEMANDAS DE CADA UM. ENTÃO, EU TENHO UM ORGULHO IMENSO DE FAZER PARTE DISSO, DA MINHA EQUIPE, MAS TENHO UM ORGULHO MAIOR AINDA DE CONTRIBUIR PARA TUDO ISSO ATRAVÉS DE APOIO E DEBATES COM DIVERSOS OUTROS COLABORADORES DA SANTA CASA, QUE RESULTARAM NESTE TRABALHO DE AMPARO À SOCIEDADE."

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Daniel Silva Foto: Eduardo Kimmel, 2021.

A urgência da pandemia demandava prazos até então impossíveis do setor, que, muitas vezes, precisava criar espaços para a alocação de leitos de UTI de um dia o outro.

Com os atendimentos eletivos cancelados, espaços de hemodinâmica e tomografia, por exemplo, foram desativados e tornaram-se Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). Os projetos arquitetônicos, que anteriormente demoravam até 30 dias para finalização, passaram a ser concluídos em até quatro dias. Devido aos prazos curtos, a forma de criar os projetos de arquitetura mudou e o foco passou a ser o atendimento das normas, como prioridade essencial.

Entre setembro de 2020 e março de 2021, quando a Santa Casa de Curitiba viveu o ápice da pandemia de covid-19, o setor elaborou 20 projetos arquitetônicos, entre unidades de internação, UTIs, estudos de viabilidade e relatórios para a vigilância sanitária. Alguns projetos, porém, não foram entregues de maneira completa, de modo que o setor recorria a orientação técnica em campo para garantir que a obra fosse concluída.

Em 2020, em uma das ondas mais fortes de covid19 daquele ano, a equipe recebeu a solicitação para criar o Instituto de Medicina – Hospital de Campanha de covid-19, com capacidade para 110 leitos de UTI, em 14 dias: foram sete dias de planejamento e sete dias de execução. Todo o projeto do Instituto foi realizado pela equipe interna do setor, sendo que, em tempos normais, um projeto desta dimensão teria um prazo de sete meses para elaboração.

O esforço ininterrupto foi capaz de abrir espaços onde vidas foram salvas. Com muita responsabilidade, o setor não renunciou a sua tecnicidade e ao cumprimento das normas, afinal, estas trazem segurança aos pacientes e colaboradores da equipe assistencial que, diariamente, estavam expostos ao vírus.

Este direcionamento faz parte da corrente de humanização vivenciada na Santa Casa de Curitiba no período de pandemia. Para o chefe do setor de Arquitetura e Projetos, Daniel Silva, foi o momento de entender cada pessoa, cada aspecto e as relações hospitalares para, por meio dos projetos, atender e contribuir para melhorar os espaços e garantir a prestação de atendimento de excelência aos pacientes.

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COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Suprimentos

O setor de Suprimentos é responsável por garantir que o Hospital da Santa Casa de Curitiba tenha todos os itens necessários para seu funcionamento, desde a área hospitalar até a administrativa.

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“UMA LIÇÃO QUE EU TIRO DESSE PERÍODO FOI A QUESTÃO DO TRABALHO E DA RELAÇÃO ENTRE

SETORES, ENTRE PROFISSIONAIS, FORMANDO UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: O FARMACÊUTICO

COMPLETANDO O MÉDICO, OU O MÉDICO

ACOMPANHANDO UMA AVALIAÇÃO TÉCNICA DA

PARTE ADMINISTRATIVA. QUAL É A IMPORTÂNCIA

DAQUELA PESSOA QUE É O COMPRADOR E ESTÁ LÁ NA

PONTA? ELE ESTAVA INTERAGINDO COM O MÉDICO

PARA MONITORAR A QUESTÃO DA PREVISIBILIDADE DE CONSUMO DOS RECURSOS. O FISIOTERAPEUTA

QUE ESTAVA LÁ DENTRO DA UTI TAMBÉM, A EQUIPE DE ENFERMAGEM, OS ENFERMEIROS, TODOS ESTAVAM MONITORANDO A VAZÃO. ENTÃO, EU ACHO QUE ESSA

RELAÇÃO MULTIDISCIPLINAR ENTRE SETORES FOI O QUE APRENDEMOS, QUE NOS FORTALECEU, E É ALGO QUE SE MANTÉM PARA OS DIAS ATUAIS."

Eder Stadler

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Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Todo o ciclo logístico da cadeira de suprimentos passa por este departamento, como levantamentos internos, cotações, aquisição, recebimento e dispensação.

A área de suprimentos sempre está atenta às movimentações de mercado e questões sanitárias ao redor do mundo, que podem afetar o segmento hospitalar e o valor dos insumos. Na Santa Casa, este é um setor muito estratégico, que compreende a importância de antecipar crises para garantir o pleno funcionamento do hospital sem grandes alterações orçamentárias.

Ainda assim, a pandemia de covid-19 trouxe um cenário nunca previsto por meio da média histórica, ainda que a Santa Casa de Curitiba tenha, sim, antecipado-se em muitas questões da área de suprimentos. A distorção orçamentária vivenciada na pandemia afetou a previsibilidade do planejamento interno, comprometendo a disponibilidade dos itens consumidos no hospital por meio do inflacionamento exacerbado dos produtos e serviços decorrente da alta demanda e baixa oferta. Nos picos mais severos da pandemia, como em junho de 2020, a elevação no valor de determinados insumos indispensáveis ultrapassou a marca de 1.000%.

Mesmo nos momentos mais críticos, o setor de Suprimentos garantiu o abastecimento do hospital. Uma das ações implantadas por meio do Comitê de Crise da Santa Casa de Curitiba foi o uso racional e controlado dos insumos hospitalares, que eram diariamente monitorados, especialmente os itens de natureza farmacêutica, tão necessários para o atendimento aos pacientes das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).

A inflação pós-covid, porém, não tende a retornar ao padrão de antes. Mesmo com a redução no valor da maioria dos insumos, os patamares anteriores estão bem longe de serem alcançados. Por este motivo, a Santa Casa de Curitiba adotou como medida permanente o uso racional de medicamentos e outros itens, balanceando sempre o bem-estar dos pacientes versus o equilíbrio financeiro da instituição.

De acordo com Eder Stadler, diretor de compras do setor de Suprimentos, a Secretaria de Saúde de Curitiba foi uma grande apoiadora da Santa Casa na pandemia, auxiliando nas reformas estruturais para abertura de novos leitos de UTI e abastecendo os medicamentos de maneira justa entre os hospitais da rede.

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COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Segurança do Trabalho

O setor de Segurança do Trabalho sempre atuou com foco na proteção dos colaboradores, a fim de reduzir os riscos de acidentes na instituição e doenças ocupacionais.
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“NA PANDEMIA, O SETOR DE SEGURANÇA DO TRABALHO GANHOU EVIDÊNCIA, DE MANEIRA ATÉ MUNDIAL, COM A RELEVÂNCIA DOS PROCESSOS DE PREVENÇÃO. NO INÍCIO, AS EQUIPES PEDIAM MÁSCARA, ÓCULOS, FACE SHIELD, E AVENTAL. NO ENTANTO, OS PRÓPRIOS COLABORADORES TORNARAM-SE MAIS CONSCIENTES E PREOCUPADOS COM OS PROTOCOLOS DE PRECAUÇÃO, QUE JÁ TINHAM DESTAQUE ANTES DA PANDEMIA, MAS COM CERTEZA INCENTIVOU O COLABORADOR A PREZAR MAIS AINDA PELA PRÓPRIA SEGURANÇA. ISSO PERMANECEU NO PÓS-PANDEMIA, E PERCEBEMOS QUE OS COLABORADORES CONTINUAM ATENTOS PARA AS QUESTÕES DE SEGURANÇA DO TRABALHO."

Natalia Rente

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Foto: Eduardo Kimmel, 2021.

Na pandemia de covid-19, o setor precisou crescer em tamanho e atuação, a fim de disponibilizar pessoal em todos os plantões e as áreas da instituição, garantindo a entrega e o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI), protegendo a saúde e a integridade física do trabalhador por meio de fiscalização constante. Ter equipe disponível mesmo fora dos horários comerciais foi uma mudança implantada neste período de pandemia que se mantém até hoje.

É prática do setor entregar os EPIs de acordo com o ambiente de exposição, a categoria do profissional e a atividade desempenhada. No período pandêmico, a Segurança do Trabalho implantou e vistoriou o cumprimento de todas as normas, orientações técnicas e condutas indicadas para áreas hospitalares. Constantemente, novas orientações eram repassadas aos funcionários, visto que o setor acompanhou o fluxo contínuo da doença, que avançava de maneira rápida e forçava a elaboração de novas diretrizes sanitárias.

Um grande desafio foi a estrutura física. Unidades e UTIs de atendimento exclusivo aos pacientes covid precisaram ser isoladas, levando a categorização de zonas frias e zonas quentes, que eram identificadas de maneira clara. Para entrar nas zonas quentes, os funcionários seguiam todas as recomendações de paramentação, e, após o atendimento aos pacientes, realizavam a desparamentação de acordo com o protocolo passado pela Segurança do Trabalho e em uma área indicada para tal.

As áreas comuns aos colaboradores, como refeitórios, e de acesso a todos que transitam no hospital, como as recepções, ganharam demarcações físicas, e adesivos indicando o distanciamento e as barreiras de acrílico. Com a flexibilização das regras de convívio e a queda acentuada dos casos de covid-19 a partir de 2022, muitas divisórias e demarcações foram retiradas, porém, as barreiras de acrílico nas áreas de atendimento ao público foram mantidas, como prevenção aos colaboradores para qualquer tipo de vírus, inclusive o da gripe.

Vários recursos foram utilizados para a propagação das novas diretrizes de segurança, como vídeos interativos, treinamentos em parceria com o Núcleo de Epidemiologia e Controle de Infecção Hospitalar, encontros e comunicação visual. Estes mecanismos reforçavam o distanciamento, como os colaboradores deveriam se portar nas zonas quentes e frias, como higienizar as mãos, e limpar e acondicionar os EPIs.

Em 2020, a Segurança do Trabalho entregou 189.719 EPIs de rotina e precaução direta à covid-19; já em 2021, foram 59.940 EPIs; e em 2022 foram 59.552. Os principais itens entre os EPIs distribuídos foram máscaras cirúrgicas, como a PFF2 e cirúrgicas, luvas para higienização, óculos de segurança, face shields e calçados. De maneira constante, na pandemia, a Santa Casa de Curitiba recebeu doações de kits de EPIs, além de álcool em gel e álcool líquido, sendo responsabilidade da Segurança do Trabalho realizar a distribuição entre os colaboradores.

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COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Farmácia

A Farmácia é responsável por análises de prescrições, intervenção farmacêutica, conciliação medicamentosa, orientações sobre o uso seguro de medicamentos e acompanhamento farmacoterapêutico com o paciente.

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“COM A PANDEMIA, NÓS DESENVOLVEMOS UMA

ESTRUTURA CAPAZ DE CONDUZIR O AMBIENTE

HOSPITALAR EM SITUAÇÕES QUE FOGEM DO NORMAL, DA NOSSA REALIDADE. VIVENCIAMOS SITUAÇÕES

MUITO COMPLICADAS ENQUANTO HOSPITAL, COM UMA

QUANTIDADE DE ÓBITOS FORA DO NORMAL, A FILA DE ESPERA, A NECESSIDADE DE TER LEITOS DISPONÍVEIS, FOI MUITO INTENSO. O SENTIMENTO QUE FICA DISSO

TUDO É DE MISSÃO CUMPRIDA. APESAR DE TUDO, FOI UM PERÍODO DE MUITO APRENDIZADO E CONSEGUIMOS

REVERTER ALGUMAS COISAS PARA LADO POSITIVO, COMO A SUBSTITUIÇÃO DOS MEDICAMENTOS.

ENTREGAMOS TUDO O QUE PODÍAMOS AOS PACIENTES, E É GRATIFICANTE SABER QUE EM NENHUM MOMENTO FECHAMOS AS PORTAS."

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Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Antes da pandemia de covid-19, o setor revia suas projeções sobre fluxo de compras a cada 45 dias. No entanto, a contaminação com o vírus leva o paciente a um quadro muito grave de saúde, onde o consumo de medicamentos é alto, o que trouxe instabilidade constante ao setor.

Nos piores picos da pandemia, ocorreu o apagão da indústria farmacêutica, com falta de insumos e medicamentos essenciais para o tratamento dos pacientes infectados. Uma crise no abastecimento de sedativos, analgésicos e bloqueadores musculares foi observada em nível mundial. Neste ponto da pandemia, era necessário traçar novas projeções de compras até três vezes ao dia, a fim de garantir que os pacientes não fossem atingidos.

Na Santa Casa de Curitiba, o setor buscou alternativas seguras e capazes de melhorar o quadro terapêutico dos pacientes. Por meio de pesquisas e testes, foi possível realizar a substituição de medicamentos, em alguns casos diluição e novas formas de aplicação, entre outros. Estas medidas foram essenciais para garantir o atendimento pleno de todos os pacientes, apesar da hiperinflação que acometeu o setor farmacêutico de maneira global. A autonomia para negociar diretamente medicamentos, sem o intermédio do setor de compras/suprimentos, tornou-se parte da rotina na pandemia e determinou a disponibilidade de estoque.

O uso racional de medicamentos foi um dos legados da pandemia, que tornou-se efetivo no setor de Farmácia. Antes, o Hospital Santa Casa de Curitiba consumia até 150 ampolas de sedativo por dia; durante a pandemia, o uso do medicamento saltou para 1.200 ampolas por dia. Não era possível operar da mesma forma de antes. De maneira ágil e eficaz, o setor organizou um guia de diluição e estabilidade dos medicamentos e monitorava a vazão até três vezes ao dia, com previsões de consumo para as próximas 12 ou 24 horas.

O trabalho realizado surtiu efeitos positivos em todas as frentes, mas especialmente para o paciente. Foi possível observar que, não usar uma dose maior ou por mais tempo do que o necessário ajudou o paciente com o desmame do medicamento e na desospitalização, além de evitar a geração de dependências após a retirada da sedação em casos de intubação.

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COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: Guilherme Bressan, 2021.

Recursos Humanos

Desde o início da pandemia, em março de 2020, o departamento de Gestão de Pessoas e SESMT teve suas necessidades internas voltadas ao atendimento do colaborador e paciente.

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“FORAM GRANDES OS DESAFIOS NA ÁREA DE PESSOAS PARA MANTER O EQUILÍBRIO EMOCIONAL E A SAÚDE FÍSICA DAS PESSOAS, MAS TAMBÉM TIVEMOS

VÁRIOS

APRENDIZADOS E ADAPTAÇÕES QUE LEVAREMOS

PARA O RESTO DE NOSSA CARREIRA, A EXEMPLO

DAS ENTREVISTAS ONLINE, DA TELEMEDICINA

PARA ATENDIMENTO A COLABORADORES COM PROBLEMAS DE DESLOCAMENTOS, E DO SISTEMA

AVA COMO FERRAMENTA DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS."

Guilherme Bressan, 2021.

143 COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A
Foto:

Entre as primeiras demandas, foi ampliado o quadro de atendimento da Medicina do Trabalho e abertas quase 400 vagas de trabalho, a maioria para o Instituto de Medicina. Para a nova unidade hospitalar, aberta especialmente para o enfrentamento da covid-19, foi necessário buscar novos profissionais por meio de anúncios das vagas em rádios e jornais.

Na área de Segurança do Trabalho, onde está contemplado as áreas de Medicina e Segurança do trabalho, o grande desafio foi cuidar dos nossos colaboradores. Para isso, foram realizados testes de covid19, afastamentos temporários, implantação da telemedicina e atendimento específico para atendimento de síndrome gripal reservado. Além disso, entregamos, fiscalizamos e orientamos sobre equipamentos de proteção individual (EPIs). Após setembro de 2021, com a vacinação contra covid-19 na segunda dose para os profissionais de saúde, houve uma diminuição considerável de casos internos e, consequentemente, de afastamentos destes profissionais.

As mudanças das Medidas Provisórias (MP) e dos protocolos testaram a dinamicidade do setor, especialmente no que tange a Segurança do Trabalho. As MPs delineavam regras e ações que deveriam ser adotadas pelas instituições para preservarem a saúde dos colaboradores neste período, por meio de ações como afastamentos de colaboradores pertencentes ao grupo de risco, antecipações de férias, trabalho remoto, entre outras ações pontuais. Para tornar o ambiente de trabalho mais seguro, implantamos barreiras para evitar a contaminação nas recepções, no refeitório, nos vestiários e em outras áreas comuns, além de tornar obrigatório o uso de EPIs, como máscaras N95 ou PFF2, pijamas e outros.

Acolher e apoiar os colaboradores foi essencial para manter as equipes unidas no enfrentamento ao vírus. Com esta finalidade, o setor implantou o Programa Santa Casa Acolhe, com atendimento psicológico aos colaboradores que sofreram perdas ou traumas durante a pandemia de covid-19. Em parceria com a captação de recursos, o setor angariou vários brindes para os colaboradores, a fim de motivar e agradecer o trabalho desenvolvido neste período de difícil estabilidade emocional.

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COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A Foto: Guilherme Bressan, 2021.

O ESPAÇO CULTURAL

4.2 O Museu da História da Medicina do Paraná na pandemia

Desde 28 de janeiro de 2019, o prédio histórico do Hospital da Santa Casa de Curitiba também é a sede de um espaço cultural: o Museu da História da Medicina do Paraná. Antes mesmo de completar um ano, a instituição teve que restringir suas atividades devido à pandemia de covid. Ainda que a emergência só tenha sido decretada em março de 2020, as tensões no ambiente hospitalar já começaram a se desenvolver antes disso, afetando as atividades do MHMPR.

Nesse período, fomos os primeiros a fechar e os últimos a reabrir para o público externo. Ser uma instituição cultural tão jovem, que ainda estava construindo seu público, estando dentro de um hospital em uma das maiores crises de saúde da história foi um imenso desafio. Em meio ao caos causado pela pandemia, novas soluções precisaram ser formuladas para impedir que o museu “saísse de cena".

Um movimento natural no setor cultural, quando percebeu-se que a crise não se resolveria de maneira breve, foi levar ações online. Até então, o MHMPR era essencialmente um físico, que ocupava um espaço na internet, por meio de suas redes sociais e site. Era virtualizado, mas não virtual. Com a equipe do museu em home office, novas ações foram planejadas para manter o público próximo no período de isolamento social.

A ampliação dos meios de conectividade online com o público já estava na pauta do setor museal há muito tempo, mas a busca por tal finalidade marcou as ações dos espaços culturais em tempos de pandemia. Ainda em 2020, o Iber Museus realizou uma pesquisa com 434 instituições de 18 países, a fim de entender como os museus estavam enfrentando a crise sanitária. Naquele momento, os dados revelaram que 73% ajustaram suas atividades como resposta às medidas restritivas e 60% precisaram reduzir seu quadro de funcionários, sendo que os setores mais afetados foram o de visita guiada, mediação, educação, loja e serviços terceirizados.

Como um museu jovem, o quadro de colaboradores do MHMPR é pequeno, e as atividades de manutenção são realizadas pela própria Santa Casa de Curitiba, de modo que não foi necessário renunciar funcionários, mas sim alterar as formas de trabalho. Começamos a produzir, com mais afinco, conteúdo para nossas redes sociais; um novo site institucional foi desenvolvido, mais acessível, responsivo e moderno; um tour virtual foi preparado, oportunizando ao museu receber visitantes de todas as localidades; eventos online tornaram-se periódicos e o “novo normal", além de nos permitir perpetuar nossa missão, levava conhecimento, cultura e debates ao público.

Uma das ações mais relevantes deste período foi o processo de documentar a pandemia de covid-19. O Hospital da Santa Casa de Curitiba triplicou seu número de leitos para atender às demandas, e o museu, como um setor que opera no prédio histórico da unidade hospitalar, testemunhava este capítulo da história da saúde pública em tempo real.

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Visitantes na Sala Dr. Wittig. Foto: MHMPR, 2023.

Acesse o QR Code para conhecer o Museu da História da Medicina do Paraná https://museudamedicinadoparana.com.br/

Este trabalho deu origem a uma exposição virtual e física, instalada nos corredores do museu. Todas as atividades desenvolvidas na pandemia buscaram enfatizar o valor histórico e atual da ciência e do conhecimento. Aliada ao desenvolvimento da exposição, estas ações tinham o objetivo central de conscientizar a população sobre a importância de seguir as normas de saúde então vigentes em momentos tão críticos e delicados.

Cientes de que não é possível caminhar sozinho, especialmente jovens museus, o MHMPR busca, de maneira contínua, estreitar laços com outras instituições culturais e educacionais, criando parcerias pontuais para beneficiar a todos os envolvidos. Para o MHMPR, tais laços amplificam o alcance para novos públicos, potencializando e tornando o espaço cultural cada vez mais (re)conhecido.

As parcerias oportunizam ainda que novos visitantes transitem pelos corredores do museu, que os universitários se interessem pelo acervo e desenvolvam pesquisas sobre ele, que eventos diversos sejam realizados no nosso espaço, e que setores até então distantes da temática do museu aproximem-se e encontrem correlações e oportunidades. Enfim, as amizades institucionais nos ajudam a construir algo que é fundamental para qualquer espaço cultural: uma comunidade.

Este foi, com certeza, um período de testes. E o público foi justamente o principal desafio do MHMPR, assim como da maioria dos espaços culturais do mundo, na pandemia de covid-19. Para a equipe do museu, ainda dois agravantes nesta situação: ser uma instituição tão recente, que ainda estava construindo seu público; ser um museu dentro de um hospital em uma das maiores crises de saúde da história.

O aniversário de 140 anos da Santa Casa de Curitiba foi celebrado, de maneira cautelosa e silenciosa durante a pandemia de covid-19. Além das ações institucionais, o Museu da História da Medicina do Paraná lançou a obra Santa Casa de Curitiba: Presente para o Futuro, onde a história do hospital é contada em detalhes, com ênfase aos principais personagens que tornaram a iniciativa possível, como o Dr. Murici. O livro está disponível para leitura online e download no site do museu.

Todas estas atividades desenvolvidas na pandemia buscaram enfatizar o valor histórico e atual da ciência e do conhecimento, tão presentes na jornada colecionista do Dr. Ehrenfried Othmar Wittig, médico neurologista que deu vida ao Museu da Medicina da Associação Médica do Paraná, instituição precedente e da qual derivou o MHMPR.

Em 2021, novos equipamentos de realidade virtual foram adquiridos, a fim de possibilitar que um tour 360° do museu fosse realizado no mundo todo. Estes equipamentos são usados especialmente em experiências de imersão, e ações educativas e culturais fora do ambiente do museu. Além dos óculos de VR, o tour está disponível no site do museu e é complementado com hyperlinks, conteúdo multimídia e de informações, fazendo com que a visita remota fique ainda mais completa.

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Montagem da Exposição Vivendo a Pandemia no ambiente hospitalar.

Foto: MHMPR, 2021

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Contrapartida

social: o museu nas escolas. Foto: MHMPR, 2022

Apesar das dificuldades impostas pela pandemia a todo o setor cultural, o Museu da História da Medicina do Paraná segue crescendo desde sua fundação. O MHMPR já recebeu aproximadamente 9 mil visitantes e atendeu mais de 700 alunos da rede pública de ensino, por meio de ações educativas realizadas nas escolas. Hoje, vemos a concretização da visão inicialmente concebida por seus idealizadores na AMP e ISCMC: preservar, comunicar e expor fatos e objetos sobre o desenvolvimento da Medicina no estado do Paraná.

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Contrapartida social: o museu nas escolas. Foto: MHMPR, 2022

Stand do Museu da História da Medicina na Feira de Inovação Vale do Pinhão recebeu a visita de Rafael Greca, Prefeito de Curitiba. Foto: Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, 2023

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4.3 Exposição “Vivendo a Pandemia no Ambiente Hospitalar"

A pandemia provocada pela covid-19, desde o início de 2020 até maio de 2023, quando foi oficialmente declarada como encerrada pela Organização Mundial de Saúde, tensionou ao máximo a eficiência hospitalar, os profissionais de saúde, os equipamentos, os medicamentos e as técnicas, exigindo grande capacidade de adaptação. Este momento nos remete às origens da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, ainda na metade do século XIX, quando uma epidemia de cólera em Paranaguá provocou esta iniciativa hospitalar em Curitiba, originando-a e legando um patrimônio inestimável à sociedade nestes quase 143 anos de existência.

Nesta exposição fotográfica encomendada pelo Espaço Cultural da Santa Casa de Curitiba, para tornar-se acervo histórico e documental, alguns instantes desta angustiante jornada de combate aos efeitos nefastos, decorrentes da disseminação viral, podem ser observados através das lentes dos fotógrafos voluntários Eduardo Kimmel e Guilherme Bressan. Com sua ação corajosa e perspicaz, nos diversos espaços em que circularam, puderam explorar o movimento humano que decorre da dinâmica hospitalar em pleno enfrentamento à pandemia.

O resultado é um conjunto documentário valioso e sutilmente personificado pela arte imanente ao profissional da fotografia, que sempre permite que o seu olhar encaminhe a lente e o clique. Integrando-se como primeira exposição de curta duração do MHMPR, a Exposição ‘Vivendo A Pandemia

No Ambiente Hospitalar’ promove interação cultural sobre a realidade médica e da saúde pública, base do acervo de todo museu de medicina.

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Foto: Eduardo Kimmel, 2021.

A exposição encontra-se nas alas do Museu da História da Medicina no Paraná, bem como no site www.exposicaovivendoapandemia.com.br, onde é possível apreciar o esforço de manter vivo e respeitável o trabalho de mulheres e homens, que, praticando a melhor medicina, protegeram a saúde de milhares de conterrâneos que se quedaram adoecidos.

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Foto: Guilherme Bressan, 2021.
2021

Totens da exposição “Vivendo a Pandemia no Ambiente Hospitalar", que estão disponíveis também em www.exposicaovivendoapandemia.com.br COVID-19

TOURS VIRTUAIS JÁ ERAM FERRAMENTAS USADAS PARA POTENCIALIZAR A DEMOCRATIZAÇÃO DE ACESSO AOS MUSEUS E ESPAÇOS CULTURAIS MUITO TEMPO ANTES DA PANDEMIA DE COVID-19.

Acesse o QR Code para conferir a tour virtual do Museu da Medicina do Paraná https://museudamedicinadoparana.com.br/visite/

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TOUR VIRTUAL

Assim como outros equipamentos culturais, o MHMPR fez uso deste recurso como uma opção de manter suas portas “abertas" para todos no período de pandemia. O processo foi realizado a partir de um escaneamento em todos os andares visitáveis, que ocorreu no segundo semestre de 2021, e a inserção das informações relacionadas a cada ambiente. Esta segunda etapa buscou reproduzir o conteúdo oral e visual que os visitantes têm acesso no museu, atualmente disponível a partir dos painéis, da mediação dos monitores e do guia impresso da exposição de longa duração. Em 2022, o passeio virtual recebeu 1.200 visitantes no total.

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4.4 Eventos virtuais

As atividades culturais de um museu são um importante elo entre a instituição e seus mais variados públicos, além de tornar o espaço cultural mais democrático, aberto a todos os tipos de debate e aproximações. Um movimento natural do setor foi a virtualização dessas atividades na pandemia, com o desenvolvimento de trabalhos para as mais diversas plataformas, como redes sociais, sites próprios e streaming de vídeos e áudio.

Com o Museu da História da Medicina do Paraná fechado pela pandemia, as redes sociais foram um canal de divulgação do acervo. A equipe dedicou-se na produção de conteúdo sobre o patrimônio histórico e artístico do espaço cultural, com publicações sobre peças em exposição, os principais personagens da medicina no Paraná, as curiosidades sobre as substâncias da nossa farmácia, entre outros.

As primeiras transmissões ao vivo aconteceram na 19° Semana Nacional de museus, evento do Instituto Brasileiro de Museus. Este recurso foi explorado pelo Museu com foco na contribuição à sociedade, levando a ciência e o conhecimento como fatores transformadores e essenciais para ultrapassarmos as dificuldades do momento pandêmico. As lives também possibilitaram o debate com outras instituições culturais e projetos virtuais.

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Museu da História da Medicina do Paraná
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NA SANTA CASA DE CURITIB

4.5 Exposição “E O Sorriso por Trás da Máscara"

Em parceria com o setor de Comunicação do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, o MHMPR também viabilizou a exibição fotográfica “E O Sorriso Por Trás Da Máscara?”, com painéis expositivos que promovem o autocuidado e incentiva todos a sorrirem, mesmo que por trás da máscara. A ação tinha o intuito de humanizar e ampliar nosso entendimento sobre os profissionais da saúde que, na pandemia, ficavam escondidos sob as máscaras de proteção. Essa ação foi premiada durante o 4° Prêmio Femipa de Melhores Práticas e Criatividade na categoria Gestão de Pessoas e teve vazão, sendo exposta na AMP em 2022.

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Da Máscara?”: Santa Casa De Curitiba

Inaugura Exposição

De Arte

E o Sorriso po

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 160
Apresenta Patrocínio

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Química no museu

4.6 Novas parcerias

A partir de 2022, o MHMPR estreitou laços com a comunidade acadêmica de Curitiba. Em parceria com o Programa de Extensão Meninas e Mulheres na Ciência, da Universidade Federal do Paraná, inauguramos em 2022 a exposição de curta duração artigo “Maria Falce (de Macedo): pioneira e protagonista".

A equipe da ChimicArte Projetos Educacionais também realizou ações em parceria com o museu, como a Oficina de Fundamentos da Química para Conservação em Papel, com carga horária total de 12 horas de prática, realizada na 20° Semana Nacional de Museus. A ChimicArte também debruçou-se sobre o vasto acervo bibliográfico do museu, a fim de elaborar diagnósticos sobre o estado dos volumes, bem como sugerir intervenções com finalidade conservativa.

A partir destas pesquisas de campo, também foram emprestados alguns do acervo do museu para que a ChimicArte utilizasse em seus cursos, ministrados em todo o território nacional. Ao entender melhor as complexidades do acervo bibliográfico e a realidade do MHMPR, foi possível também que a ChimicArte elaborasse uma capacitação para os colaboradores do museu, instruindo-os sobre as melhores práticas de manejo, higienização e acondicionamento. Um e-book, relatando a imersão e os resultados destas pesquisas no acervo, foi lançado em maio de 2023, e está disponível para leitura e download online.

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 162

2022

A exposição contou com curadoria da equipe do MHMPR e da Profª Dra. Camila Silveira, e ocupou os ambientes da farmácia e jardins frontais do prédio histórico.

163 COVID-19 NA SANTA CASA DE CURITIB A

CRONOLOGIA DA PANDEMIA DE COVID-19

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Cronologia da pandemia de covid-19: da globalidade à realidade localUma jornada visual de 2019 a 2023

Este capítulo oferece uma representação visual da trajetória temporal da pandemia de covid-19, a partir de dezembro de 2019 até 2023. O formato vertical nos guia por meio de uma sequência cronológica de eventos significativos, começando a nível global e, em seguida, focando progressivamente no Brasil e, especificamente, em Curitiba.

À medida que exploramos essa linha do tempo, testemunharemos os marcos cruciais da pandemia, desde os primeiros indícios do novo coronavírus em Wuhan, China, até sua propagação pelo mundo. No entanto, nosso olhar detalhado estará ancorado no Brasil e em Curitiba, permitindo-nos entender as etapas de resposta, as medidas tomadas e os desafios enfrentados.

Ao seguir essa linha do tempo vertical, seremos levados por uma jornada que reflete os esforços conjuntos, a resiliência da sociedade e a adaptação em face da adversidade. Esta representação visual encapsula a evolução de uma crise global e local, incentivando a reflexão sobre os momentos marcantes que definiram nossa trajetória coletiva nesse período desafiador.

Ciência e pesquisa Tecnologia

Dados covid-19

Organizações de saúde

Repatriados

Testes diagnósticos

Vacina Máscaras

Recuperados

Óbitos

Insumos e equipamentos Profissionais

Lockdown

COVID-19 E A SANTA CASA DE CURITIBA: UM CAPÍTULO DA MEDICINA NO PARANÁ 166

LINHA DO TEMPO DA COVID-19

2019

1º de dezembro: O médico chinês Li Wenliang alerta o governo da China sobre um novo vírus.

8 de dezembro de 2019: São registrados os primeiros casos de coronavírus em um hospital de Wuhan, na China.

167 CRONOLOGIA DA PANDEMIA DE COVID -19
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2020

5 de janeiro: A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata 44 casos de “pneumonia de causa desconhecida” na cidade de Wuhan, na China.

28 de janeiro: OMS admite que o risco de uma epidemia mundial é alto.

9 de fevereiro: Trinta e quatro brasileiros que viviam na cidade de Wuhan retornam ao Brasil.

26 de fevereiro Confirmado o primeiro caso de covid-19 no Brasil. O paciente é um homem de sessenta e um anos que viajou à Itália, e deu entrada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo (SP), no dia anterior.

2 de março: O Ministério da Saúde distribui em território nacional 30 mil kits para teste diagnóstico específico para a covid-19.

5 de março: É registrada a primeira transmissão interna no Brasil de coronavírus. Sobe para oito o número de casos confirmados no Brasil: seis em São Paulo, um no Espírito Santo e um no Rio de Janeiro. Em edição extra do Diário Oficial da União, são publicados contratos de aquisição de 500 mil máscaras do modelo N95 e quase 19 milhões de máscaras cirúrgicas para os profissionais de saúde que atuam na rede pública, além de óculos, álcool em gel e luvas.

9 de janeiro: É divulgado o primeiro código genético do coronavírus

6 de fevereiro: O médico chinês Li Wenliang morre de covid-19.

20 de fevereiro: O Ministério da Saúde monitora casos suspeitos de infecção do coronavírus em todo o território nacional.

27 de fevereiro: O Ministério da Saúde monitora 132 casos suspeitos de coronavírus.

29 de fevereiro: O Brasil confirma segundo caso importado de coronavírus. O paciente é um homem de 32 anos, de São Paulo, internado após chegar da região da Lombardia, na Itália.

4 de março: Confirmado mais um caso de coronavírus no Brasil. Um homem, residente em São Paulo, esteve na Itália nos 14 dias anteriores.

6 de março: O Brasil tem 13 casos confirmados. O Ministério da Saúde anuncia a ampliação de medidas para reforçar a assistência hospitalar no enfrentamento ao coronavírus no Brasil, com reforços na Atenção Primária, a fim de evitar que as pessoas procurem hospitais em um cenário de grande circulação da doença; ampliação do número de unidades de saúde que ficam abertas até às 22h e aos finais de semana; convocação de médicos para o programa Mais Médicos; organização de rotina de pacientes com doenças crônicas; disponibilização da telemedicina no auxílio ao atendimento de doentes graves; e ampliação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva.

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8 de março: Confirmado primeiro caso de coronavírus em Minas Gerais e Alagoas e o terceiro no Rio de Janeiro.

11 de março: A OMS declara a pandemia do coronavírus. No Brasil, são confirmados 52 casos de infecção por coronavírus. O Ministério da Saúde negocia com o Poder Legislativo a liberação de até R$ 5 bilhões para ações de enfrentamento à pandemia. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Curitiba e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná informam o primeiro caso provável do novo coronavírus em Curitiba.

13 de março: O primeiro paciente brasileiro diagnosticado com coronavírus é curado. O Ministério da Saúde regulamenta critérios de isolamento e quarentena que deverão ser aplicados pelas autoridades sanitárias em pacientes com suspeita ou confirmação de infecção por coronavírus.

19 de março: Boletim atualizado às 17h indica 621 casos confirmados de coronavírus, com maioria dos casos em São Paulo (286) e Rio de Janeiro (65). Morre a primeira vítima da covid-19 no estado do Rio de Janeiro, subindo para cinco o número de mortos pela doença no Brasil.

20 de março: O Brasil registra 904 casos confirmados e 11 mortes por covid-19. O Ministério da Saúde reconhece a transmissão comunitária em todo o território nacional e torna-se a autoridade diante de todos os gestores nacionais, que devem adotar medidas que promovam distanciamento social e evitem aglomerações.

9 de março: Confirmados 25 casos de coronavírus no Brasil. No total, quatro por transmissão local e 21 casos importados. Os estados com casos confirmados são São Paulo (16), Rio de Janeiro (3), Bahia (2), Alagoas (1), Espírito Santo (1), Minas Gerais (1) e Distrito Federal (1).

12 de março: Curitiba entra em lockdown até dia 31 de março. O Brasil registra 60 casos confirmados de coronavírus, sendo 9 por transmissão local e 51 importados. O Ministério da Saúde lança edital com 5811 vagas para médicos com CRM Brasil para atuarem nos postos de saúde por meio do programa Mais Médicos.

16 de março: Sobe para 234 o número de casos confirmados no Brasil. Capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo registram transmissão comunitária.

17 de março: Morre a primeira vítima de covid-19 no Brasil, um homem de 62 anos que tinha histórico de diabetes e hipertensão e estava internado na rede de hospitais Prevent Senior. O estado do Rio de Janeiro decreta situação de emergência e define medidas temporárias para conter a transmissão do vírus, como suspensão de eventos e redução da capacidade de atendimento em estabelecimentos comerciais e de serviços. O Governo Federal torna crime passível de detenção e multa a recusa ao isolamento e à quarentena quando determinada pelas autoridades.

21 de março: 1.128 casos confirmados de covid-19. Sobe para 18 o número de mortes, sendo 15 em São Paulo e 3 no Rio de Janeiro.

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2020

22 de março: 1.546 casos confirmados e 25 mortes. Roraima registra dois casos de covid19, de modo que a transmissão agora está confirmada em todo o território nacional.

24 de março: 2.201 casos confirmados e 47 mortes. O Ministério da Saúde anuncia ampliação para 22,9 milhões no total de testes disponíveis para diagnosticar contaminação por coronavírus. O ex-presidente Jair Bolsonaro critica em pronunciamento o pedido para que as pessoas fiquem em casa, contrariando o que especialistas e autoridades sanitárias de todo o mundo têm recomendado.

26 de março: 2.915 casos confirmados e 77 mortes. São Paulo lidera em número de óbitos, com 58 falecimentos. O Ministério da Saúde disponibiliza canal exclusivo para receber doações de insumos, materiais e equipamentos para o enfrentamento ao vírus, além de divulgar um número para atendimento à população por meio do WhatsApp.

27 de março: 3.417 casos confirmados e 92 mortes. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) participa do Estudo Solidariedade, da Organização Mundial da Saúde (OMS), para testar a eficácia de quatro tratamentos para a covid-19. O Ministério da Saúde destina R$140 milhões para a construção do Centro Hospitalar para a Pandemia da covid-19, no Rio de Janeiro, onde os testes foram realizados.

29 de março: 4.309 casos confirmados e 139 mortes. É confirmado o primeiro caso de covid-19 em uma criança.

2020

23 de março: 1.891 casos confirmados e 34 mortes. Começa a valer restrição do governo brasileiro à entrada de estrangeiros no país. Após críticas, o presidente Jair Bolsonaro revoga trecho de Medida Provisória que autorizava a suspensão de salários por 4 meses. O Governo Federal publica nova MP que suspende prazos de pedidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) enquanto durar a pandemia.

25 de março: 2.433 casos confirmados e 57 mortes. O Ministério da Saúde anuncia repasse de R$ 600 milhões para estados e municípios reforçarem o plano de contingência de enfrentamento ao novo coronavírus. O então ministro Luiz Henrique Mandetta anuncia também a distribuição de 3,4 milhões de unidades de cloroquina e hidroxicloroquina para uso em pacientes com formas graves do novo coronavírus. O Ministério da Saúde publica o Guia para Manejo de Corpos no Contexto do Novo Coronavírus, que orienta que os corpos das vítimas fatais da covid-19 devem ser enterrados ou cremados; velórios e funerais devem acontecer em espaço aberto ou ventilado, com, no máximo, 10 pessoas, com distância mínima de dois metros entre elas, e caixão fechado.

28 de março: Os dados das secretarias estaduais de Saúde e do Ministério da Saúde divergem pela primeira vez. De acordo com as secretarias, são 3.928 casos confirmados e 113 mortes. Para o Ministério da Saúde, 3904 casos e 114 óbitos. Um estudo do Imperial College de Londres estima que Brasil poderia ter mais de 1.150.000 mortes decorrentes do novo coronavírus se nenhuma estratégia de isolamento fosse adotada.

30 de março: 4.579 casos confirmados e 159 mortes. O Brasil recebe as primeiras 500 mil unidades de testes rápidos, entre o total de 5 milhões adquiridos pela Vale e doados ao Ministério da Saúde. É iniciada a distribuição da terceira remessa de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para profissionais de saúde que atendem pacientes com o novo coronavírus. Residentes da saúde ganham bonificação de 20% sobre o valor da bolsa, equivalente a R$ 667,00, por trabalharem no enfrentamento à epidemia.

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31 de março: 5.812 casos confirmados e 202 mortes. O Ministério da Saúde atualiza o aplicativo Coronavírus SUS para oferecer mais serviços de combate à covid-19, com novos dados que qualificam o usuário nos grupos de risco e informações sobre unidades básicas de saúde mais próximas dele.

2 de abril: 7.910 casos confirmados e 299 mortes. Os estados do Espírito Santo e de Sergipe registram os primeiros óbitos por covid-19. O Brasil muda os protocolos e passa a recomendar que todos devem usar máscaras de proteção, que podem, inclusive, ser de modelos de pano, com duas camadas de tecido de algodão, tricoline ou TNT, desde que cubram totalmente o nariz e a boca e estejam bem ajustadas ao rosto. O Ministério da Saúde lança um painel online, tornando pública as informações sobre quantidade de leitos, testes, máscaras e luvas disponíveis em cada estado.

5 de abril: 11.281 casos confirmados e 487 mortes. Acre e Tocantins seguem sem registrar óbitos decorrentes da covid-19.

6 de abril: 12.056 casos confirmados e 553 mortes. O estado do Acre registra seu primeiro óbito em consequência da covid-19. O Governo Federal publica orientações sobre a adoção de medidas diferenciadas quanto ao distanciamento social, a fim de promover o retorno gradual das atividades laborais sem levar a uma explosão de casos.

8 de abril: 15.927 casos confirmados e 800 mortes. Um recém-nascido de 4 dias morre em Natal (RN), tornando-se a vítima mais nova da doença. Amazonas, São Paulo, Ceará, Rio de Janeiro, Amapá e Distrito Federal apresentam taxas de casos 50% acima da média nacional.

1º de abril: 6.386 casos confirmados e 241 mortes. Estudantes de medicina, enfermagem, fisioterapia e farmácia são convocados para atuação no enfrentamento ao novo coronavírus por meio do programa “O Brasil conta comigo", que estabelece carga horária de 20h e 40h e remunerações de R$ 522,50 e R$ 1.045,00, respectivamente.

3 de abril: 9.216 casos confirmados e 365 mortes. Três estados não registraram óbitos até esta data: Acre, Amapá e Tocantins. Em boletim, o Ministério da Saúde indica que Distrito Federal, São Paulo, Ceará, Rio de Janeiro e Amazonas podem estar na transição para fase de aceleração descontrolada da disseminação do vírus. Morre o radiologista Nelson Martins Schiavinatto, o primeiro médico do Paraná a falecer em decorrência do vírus.

4 de abril: 10.361 casos confirmados e 445 mortes. O estado do Amapá registra o primeiro óbito da doença. Para incrementar as redes pública e privada de saúde, que contam com 65 mil respiradores mecânicos, o Ministério da Saúde anuncia a aquisição de mais 15 mil equipamentos deste tipo.

7 de abril: 14.049 casos confirmados e 688 mortes. Nesta data, o Ministério da Saúde já havia distribuído em todo o território nacionais 53,1 milhões de equipamentos de proteção individual (EPIs), 15,8 milhões de máscaras, 23,9 milhões de luvas 742 mil aventais, 60 mil óculos e mais de 180 mil unidades de álcool em gel, além de 137,4 mil testes RT-PCR. No Brasil, nove ensaios clínicos estão em desenvolvimento para testar a eficácia e a segurança de alternativas ao tratamento da covid19, mobilizando mais de 100 centros de pesquisa, 5 mil pacientes com quadros variados e o uso de cloroquina e hidroxicloroquina associadas ao azitromicina.

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2020

9 de abril: 18.176 casos confirmados e 957 mortes. O estado do Tocantins, até então com 23 casos registrados, é o único a não contabilizar óbitos por covid-19. O Ministério da Saúde publica portaria que libera mais de R$ 4 bilhões para estados e municípios, que recursos deverão ser utilizados para aquisição de materiais e insumos médicos, abertura de leitos e custeio de profissionais de saúde.

11 de abril: 20.964 casos confirmados e 1.141 mortes. A taxa de letalidade do novo coronavírus é de 5,4%. De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, 25% dos óbitos são pacientes fora dos grupos de risco e sem fatores agravantes.

14 de abril: 25.684 casos confirmados e 1.552 mortes. O estado do Tocantins registra a primeira morte por covid-19. Agora, todos os estados brasileiros têm óbitos em decorrência do vírus.

16 de abril: 30.891 casos confirmados e 1.952 mortes. O presidente Bolsonaro anuncia o médico Nelson Teich como novo Ministro da Saúde. Completa um mês da primeira morte pelo novo coronavírus no Brasil. É confirmada a primeira morte por covid-19 em Curitiba.

17 de abril: 34.221 casos confirmados e 2.171 mortes. O Ministério da Saúde anuncia a distribuição de mais 10,9 milhões de equipamentos de proteção a profissionais de saúde, como álcool em gel, aventais, luvas, máscaras, óculos e toucas. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) registra, ao menos, 30 mortes de profissionais de enfermagem decorrentes da covid-19 e, aproximadamente, 4 mil profissionais afastados pela doença, sendo que 552 já têm diagnóstico confirmado.

10 de abril: 19.638 casos confirmados e 1.074 mortes. É registrada a primeira morte de um indígena por covid-19. O jovem Alvanei Xirixana, de 15 anos, pertencia à etnia Yanomami e estava internado em Roraima desde o dia 3 de abril. O Hospital Delphina Aziz, principal unidade de enfrentamento à covid-19 em Manaus (AM), entra em colapso devido à escassez de profissionais.

13 de abril: 23.753 casos confirmados e 1.355 mortes. Manaus (AM) é primeira cidade a receber profissionais de saúde para reforçar o combate à doença. O Ministério da Saúde adquire 4,3 mil ventiladores da empresa brasileira Intermed Equipamento Médico Hospitalar, alavancando para 10,8 mil o número de ventiladores pulmonares comprados desde o início da epidemia no Brasil. O Ministério também está monitorando uma pesquisa com plasma sanguíneo de pacientes curados da covid-19.

15 de abril: 28.912 casos confirmados e 1.760 mortes. Fortaleza (CE) é a capital com maior incidência de casos no Brasil, registrando 1.845 casos confirmados. Nesse período, 3,4 mil médicos são autorizados a iniciar atendimento em 1,2 mil municípios de todos os estados, do Distrito Federal e dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas. O uso de máscara passa a ser obrigatório em espaços públicos e comerciais de Curitiba.

19 de abril: 39.144 casos confirmados e 2.484 mortes. São Paulo registra mais de mil mortes causadas por covid-19.

21 de abril: 43.361 casos confirmados e 2.761 mortes. A taxa de letalidade é de 6,3%. Em pouco mais de um mês desde o início da pandemia, mais de 3,1 mil denúncias registradas por médicos relatam a falta de equipamentos de proteção individual.

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2020

22 de abril: 46.195 casos confirmados e 2.924 mortes. Os estados do Amazonas e Ceará estão com 100% dos leitos ocupados. O ministro da Saúde, Nelson Teich, afirma que o Brasil enfrenta problemas logísticos na distribuição de equipamentos e testes e compara a situação brasileira à europeia, onde muitos países enfrentaram o pico da epidemia. Enquanto no Brasil a taxa de mortos por milhão de pessoas é 8,17, a Itália registra 135 e a Espanha 255.

25 de abril: 58.509 casos confirmados e 4.016 mortes

27 de abril: 67.410 casos confirmados e 4.603 mortes. O Ministério da Saúde afirma que também acompanhará os registros de óbito em cartório.

29 de abril: 79.685 casos confirmados e 5.513 mortes. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estima que o número de casos e mortes decorrentes da covid-19 deve continuar crescendo em ritmo acelerado.

3 de maio: 101.826 casos confirmados e 7.051 mortes. O Ministério da Saúde destina 267 profissionais de saúde ao estado do Amazonas, devido ao colapso local por causa da falta de mão de obra e leitos.

5 de maio: 114.715 casos confirmados e 7.921 mortes. Após o Brasil registrar o número recorde de 600 novas mortes por coronavírus em 24 horas, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, faz a seguinte declaração sobre os dados: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre”.

2020

23 de abril: 50.036 casos confirmados e 3.331 mortes. O Ministério da Saúde divulga a aquisição de 35,3 milhões de equipamentos de proteção individual (EPIs). Apesar do constante avanço da doença, sinalizado pelo número de casos e óbitos que atingem novos recordes semanalmente, o Ministro da Saúde, Nelson Teich, diz que não é possível interpretar os dados e concluir se há indicativo de avanço da doença.

24 de abril: 54.043 casos confirmados e 3.704 mortes. Dessas, 27.655 pessoas são consideradas recuperadas e 21.670 permanecem em acompanhamento. Os brasileiros que estavam no Equador são repatriados.

28 de abril: 73.235 casos confirmados e 5.083 mortes. Quase 200 brasileiros inscrevemse na plataforma 1 Day Sooner para participar de testes de vacinas para a covid-19. Em caráter emergencial, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprova a realização de testes rápidos de covid-19 em farmácias e drogarias.

30 de abril: 87.187 casos confirmados e 6.006 mortes. O Brasil tem mais casos confirmados do que a China e, de acordo com um estudo do Imperial College London, também apresenta a maior taxa de contágio em todo o mundo. A Justiça do Maranhão decreta lockdown por 10 dias, a partir de 5 de maio, na capital São Luís e nas cidades de São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa.

6 de maio: 125.218 casos confirmados e 8.536 mortes. O Ministério da Saúde lança programa “Diagnosticar para Cuidar", com realização de 46 milhões de testes ainda em 2020. A ideia é avaliar o comportamento do vírus no país em duas frentes: a “Confirma covid-19", com uso do teste RT-PCR, e a “Testa Brasil", com uso dos testes rápidos. O Brasil registra novo recorde de óbitos: 615 pessoas em 24 horas.

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7 de maio: 135.106 casos confirmados e 9.146 mortes. Seis estados brasileiros atingem 100% da ocupação de leitos de UTI: Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Amazonas, Maranhão e Pará.

9 de maio: 155.939 casos confirmados e 10.627 mortes. O Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal decretam luto oficial de três dias devido aos mais de 10 mil mortos pela covid-19

12 de maio: 178.214 casos confirmados e 12.461 mortes. Das 20 cidades com maior mortalidade, 13 estão no Amazonas. Em um estudo realizado com 1.438 pessoas internadas por covid-19, a revista JournaloftheAmericanMedicalAssociation aponta que não há evidências de que a cloroquina reduza a mortalidade dos pacientes. Já a revista The Lancet aponta que a infecção pelo vírus pode causar lesões anatômicas na retina.

13 de maio: 188.974 casos confirmados e 13.149 mortes. O presidente Jair Bolsonaro defende novamente o uso da cloroquina no tratamento de covid-19, mesmo após o ministro da Saúde, Nelson Teich, alertar sobre os efeitos colaterais da substância e sugerir que os pacientes que desejam utilizá-la assinem um termo de consentimento. Para acelerar os diagnósticos de covid-19, a Anvisa autoriza que os laboratórios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também realizem a testagem.

16 de maio: 233.142 casos confirmados e 15.633 mortes. O Brasil supera a Itália (224.760) e a Espanha (230.698) em número de casos confirmados, de acordo com a Universidade Johns Hopkins. O estado de São Paulo ultrapassa a China em número de mortes: 4.688 registrados em SP contra 4.637 no país asiático.

8 de maio: 145.328 casos confirmados e 9.897 mortes. São Paulo prorroga a quarentena até 31 de maio e Rio de Janeiro considera a possibilidade de lockdown em todo o estado. O Brasil alcança mais um recorde: são 751 óbitos confirmados em 24 horas

11 de maio: 168.331 casos confirmados e 11.519 mortes. O governo de Pernambuco decreta lockdown na capital, Recife, e em quatro cidades da região metropolitana. Essas cidades são responsáveis por 77% dos casos confirmados e 68% das mortes registradas no estado. O Presidente da República, Jair Bolsonaro, inclui atividades industriais, construção civil, salões de beleza, academias e barbearias na lista de atividades essenciais, possibilitando que estes estabelecimentos funcionem na pandemia. Apesar da decisão, os estados e municípios têm a prerrogativa de ignorar a determinação federal.

14 de maio: 202.918 casos confirmados e 13.933 mortes. Sem previsão de estabilização ou redução no número de casos e diante de 89% dos leitos de UTI ocupados, o Ministério da Saúde institui o Gabinete de Crise para enfrentamento da covid19 no Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de definir ações e debate dos três entes federativos (municípios, estados e Governo Federal).

15 de maio: 218.223 casos confirmados e 14.817 mortes. O Ministério da Saúde está investigando 2,3 mil mortes atribuídas ao novo coronavírus. O Rio de Janeiro é o estado que mais registra óbitos em 24 horas: 191 pessoas. Nelson Teich deixa o Ministério da Saúde. De maneira interina, a pasta passa a ser chefiada pelo General do Exército Eduardo Pazuello.

18 de maio: 254.220 casos confirmados e 16.792 mortes. A farmacêutica americana Moderna anuncia que obteve sucesso na primeira fase de testes de uma vacina contra a covid-19. Oito pessoas receberam duas doses do imunizante em março e produziram anticorpos capazes de impedir a replicação do vírus. A Food and Drug Administration (FDA) autoriza a segunda fase de testes. O Brasil ultrapassa o Reino Unido e torna-se o terceiro país do mundo com maior número de pessoas contaminadas.

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2020

19 de maio: 271.628 casos confirmados e 17.971 mortes. O Brasil ultrapassa a marca de mil mortos pelo coronavírus em 24 horas, e a doença torna-se a maior causa de óbitos no país. Em live, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, anuncia um novo protocolo para uso da cloroquina e faz piada sobre o medicamento: “Quem é de direita toma cloroquina; quem é de esquerda, tubaína”.

21 de maio: 310.087 casos confirmados e 20.047 mortes. Em alerta, a Fiocruz afirma que mais de 7,8 milhões de brasileiros não têm acesso a atendimento adequado para a covid-19.

23 de maio: 347.398 casos confirmados e 22.013 mortes.

24 de maio: 363.211 casos confirmados e 22.666 mortes. O avanço acelerado da pandemia é usado como argumento pelo presidente americano Donald Trump para proibir a entrada de estrangeiros que tenham partido do Brasil. O Governo do Pará decreta o fim do lockdown na Região Metropolitana de Belém.

27 de maio: 411.821 casos confirmados e 25.598 mortes. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil registra 143 indígenas mortos e 1.256 infectados por covid-19. Os dados diferem do que foi divulgado anteriormente pelo governo, que apontava 40 mortes e 824 diagnósticos da doença.

29 de maio: 465.166 casos confirmados e 27.878 mortes. O Brasil torna-se o quinto país do mundo com maior número de vítimas fatais de covid-19.

20 de maio: 291.579 casos confirmados e 18.859 mortes. Apesar de estudos científicos contestarem a eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina no combate à covid-19, além da OMS divulgar que o uso destes medicamentos pode trazer mais efeitos colaterais do que benefícios, o Ministério da Saúde publica um protocolo de uso das substâncias para tratamento de casos leves da doença. O uso só é liberado a partir do consentimento do paciente, via assinatura em um termo de responsabilidade, onde os médicos e hospitais ficam isentos da responsabilidade decorrente de possíveis reações adversas.

22 de maio: 330.890 casos confirmados e 21.048 mortes. O Brasil torna-se o segundo país do mundo com maior número de infectados, atrás apenas dos Estados Unidos. A OMS reconhece que o Brasil é o país mais afetado pela pandemia na América do Sul e critica a ampliação do uso de cloroquina para o tratamento da doença. Em relação a outros países, é no Brasil que a covid-19 é mais letal para os jovens e indivíduos das classes econômicas mais baixas, que têm mais dificuldade em cumprir o distanciamento social.

28 de maio: 438.238 casos confirmados e 26.754 mortes. O Brasil registra mais de mil óbitos em 24 horas por três dias consecutivos, sendo que 190 mil pacientes se recuperaram da doença no Brasil As capitais Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Manaus planejam a reabertura das atividades econômicas a partir de junho, mesmo sendo os estados brasileiros com a situação mais crítica em número de casos e mortes.

30 de maio: 498.440 casos confirmados e 28.834 mortes. O Brasil é o quarto país do mundo com maior número de vítimas fatais de covid-19, atrás apenas dosEstados Unidos, do Reino Unido e da Itália. Entre os estados brasileiros, São Paulo (107.142), Rio de Janeiro (52.420) e Ceará (46.506) registram o maior número de casos confirmados. Em relação aos óbitos, o ranking se repete: São Paulo (7.532), Rio de Janeiro (5.277) e Ceará (2.956).

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31 de maio de 2020: 514.849 casos confirmados e 29.314 mortes. O Brasil ultrapassa a marca de 500 mil casos confirmados. Apesar das recomendações de distanciamento social, atos antidemocráticos e anti-Supremo Tribunal Federal ocorrem em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília, onde o presidente Jair Bolsonaro também participa da manifestação pública.

3 de junho: 584.016 casos confirmados e 32.568 mortes. Um novo recorde no número de óbitos em 24h é registrado no Brasil: 1.349.

5 de junho: 645.771 casos confirmados e 35.026 mortes. O Brasil recebe o primeiro lote de vacina contra a covid-19 desenvolvida na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Dois mil voluntários serão vacinados nas próximas três semanas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

7 de junho: 685.427 casos confirmados e 36.463 mortes. O Ministério da Saúde anuncia uma nova plataforma para divulgação de dados da pandemia.

9 de junho: 739.503 casos confirmados e 38.406 mortes. Os casos se concentram nas regiões Sudeste (246.151) e Nordeste (243.676). O Ministério da Saúde volta a apresentar dados consolidados de diagnósticos e óbitos da covid-19, em conformidade com a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

10 de junho: 772.416 casos confirmados e 39.680 mortes. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, o Brasil é líder na média diária de mortes: em sete dias, foram registradas 7.197 mortes; enquanto os Estados Unidos tiveram 5.762, e o Reino Unido, 1.552.

2 de junho: 555.383 casos confirmados e 31.199 mortes. O Brasil registra o maior número de mortes em 24h desde o início da pandemia: 1.262. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul divulga um estudo onde estima que o Brasil atingirá as marcas de um milhão de infectados e 50 mil óbitos ainda em junho.

4 de junho: 615.870 casos confirmados e 34.039 mortes. O Brasil registra o maior número de mortes em 24h pelo terceiro dia seguido: 1.473. Com isso, torna-se o terceiro país do mundo com mais óbitos em decorrência da covid-19, ficando atrás apenas do Reino Unido (39.904) e dos Estados Unidos (110.144). Um balanço divulgado pelo Portal G1 indica que 72% das cidades brasileiras têm casos da doença e 30% delas registram mortes.

6 de junho: 676.494 casos confirmados e 36.044 mortes. A plataforma online do Ministério da Saúde para divulgação de informações sobre a pandemia é retirada do ar pelo Governo Federal.

8 de junho: 707.402 casos confirmados e 37.134 mortes. O Ministério da Saúde apresenta dois balanços divergentes, causando desconforto na maneira como a pandemia vem sendo investigada. O Congresso Nacional decide também acompanhar os números de diagnósticos e óbitos por meio das secretarias estaduais de Saúde. Os veículos de imprensa brasileiros G1, O Globo, Extra, Estadão, Folha de São Paulo e UOL criam um consórcio para averiguação dos dados da pandemia.

11 de junho: 805.649 casos confirmados e 41.058 mortes. A pandemia de covid-19 segue crescendo em ritmo alarmante no Brasil. O estado do Ceará acumula 4.708 óbitos e São Paulo já passa de 10 mil vítimas fatais. Em 12 estados brasileiros são registrados mais de mil novos casos em 24 horas: São Paulo (6.204), Ceará (2.745), Maranhão (2.172), Pará (1.746), Rio de Janeiro (1.402), Paraíba (1.338), Bahia (1.206), Amazonas (1.140), Distrito Federal (1.074), Pernambuco (1.059), Espírito Santo (1.037) e Alagoas (1.024).

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12 de junho: 829.902 casos confirmados e 41.901 mortes. O Brasil torna-se o segundo país com mais número de óbitos por covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos (114 mil). O presidente Jair Bolsonaro pede que seus apoiadores invadam os hospitais públicos e de campanha para verificar se os leitos de emergência realmente estão ocupados.

17 de junho: 960.309 casos confirmados e 46.665 mortes.

20 de junho: 1.070.139 casos confirmados e 50.058 mortes. Os dados desta data não incluem as estatísticas do estado de Rondônia, que não foram repassados devido a manutenção elétrica.

22 de junho: 1.111.348 casos confirmados e 51.407 mortes. Os estados do Centro-Oeste apresentam índice de novos diagnósticos acima da média nacional de 24,65%. Em Goiás, a taxa de crescimento é de 65,33%, o Mato Grosso registra 60% e o Mato Grosso do Sul 51,82%. O Mato Grosso também apresenta a maior taxa de progressão de óbitos, de 76,68%. Em sete dias, o estado foi de 223 mortes para 394.

25 de junho: 1.233.147 casos confirmados e 55.054 mortes. A taxa de letalidade nacional é de 4,5%, e, pelo terceiro dia consecutivo, o Brasil registra mais 1,1 mil novas mortes diárias. São Paulo registra 407 mortes, seu segundo maior número de óbitos em 24 horas. Mesmo com este cenário preocupante, o governo estadual anuncia a volta às aulas e continuidade do processo de retomada econômica.

28 de junho: 1.345.254 casos confirmados e 57.658 mortes. O Nordeste concentra 44% dos óbitos confirmados nas últimas 24 horas. Outro destaque é o Sudeste, com 32%.

16 de junho: 928.834 casos confirmados e 45.456 mortes. De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 10,5% da população brasileira, equivalente a 22,1 milhões de pessoas, apresentou pelo menos um dos 12 sintomas associados ao novo coronavírus.

19 de junho: 1.038.568 casos confirmados e 49.090 mortes. A alta de casos em 24 horas é recorde desde o início da pandemia: 55.209. A Região Sudeste assume novamente a liderança no número de casos de covid-19, com 364.320 diagnósticos. Na sequência, a Região Nordeste apresenta 362.242. Também é no Sudeste o maior número de vítimas fatais, 22.694 óbitos, 7 mil a mais que o Nordeste, que acumula 15.699 mortes.

23 de junho: 1.151.479 casos confirmados e 52.771 mortes. O Estado de São Paulo registra 434 mortes em 24h, o maior número de óbitos por covid-19 desde o início da pandemia.

24 de junho: 1.192.474 casos confirmados e 53.874 mortes. O país volta a registrar aceleração no número de mortes por covid-19 e avanço de 22% no índice de novos casos da doença.

27 de junho: 1.315.941 casos confirmados e 57.103 mortes. Após investigações, o Ministério da Saúde divulga que a primeira morte por covid-19 no Brasil aconteceu em 12 de março, e não no dia 15 daquele mês, como divulgado anteriormente. A vítima do dia 12 era uma mulher de 57 anos, que faleceu em São Paulo. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) firma uma parceria com a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade Oxford, do Reino Unido, para desenvolvimento e produção de vacinas contra a covid-19. A tecnologia será desenvolvida pela Fiocruz e, caso a vacina seja eficaz, serão disponibilizadas 100 milhões de doses ao Brasil. Caso não, o país terá acesso aos insumos para produção nacional de vacinas.

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29 de junho: 1.370.488 casos confirmados e 58.385 mortes. De acordo com a OMS, o Brasil é responsável por um a cada quatro óbitos e um a cada quatro diagnósticos registrados no continente americano em decorrência do novo coronavírus. O estado de Sergipe contabiliza 33 mortes em 24 horas, o maior número diário desde o início da pandemia.

1º de julho: 1.453.369 casos confirmados e 60.713 mortes.

4 de julho: 1.578.376 casos confirmados e 64.365 mortes. Pelo quinto dia consecutivo, o Brasil registra mais de mil mortes diárias em decorrência do coronavírus: 1.111.

7 de julho: 1.674.655 casos confirmados e 66.868 mortes. O presidente Jair Bolsonaro é diagnosticado com covid-19.

10 de julho: 1.804.338 casos confirmados e 70.524 mortes

15 de julho: 1.970.909 casos confirmados e 75.523 mortes.

16 de julho: 2.014.738 casos confirmados e 76.822 mortes. A data registra o segundo maior número de óbitos em um único dia: 1.299. Na primeira, em 23 junho, foram 1.374 mortes.

20 de julho: 2.121.645 casos confirmados e 80.251 mortes. Em alta, a Região Nordeste registra 320 óbitos por covid-19, seguida pelo Sudeste (159), Centro-Oeste (110), Sul (72) e Norte (57).

30 de junho: 1.408.485 casos confirmados e 59.656 mortes. No mês de junho, o Brasil registrou uma crescente incisiva no número de casos e óbitos por covid-19. De acordo com o Ministério da Saúde, junho detém mais da metade dos óbitos já registrados desde o início da pandemia. Na região Centro-Oeste, o número de mortes triplicou neste mês, partindo de 547 para 1783.

2 de julho: 1.501.353 casos confirmados e 61.990 mortes

5 de julho: 1.604.585 casos confirmados e 64,9 mortes. A Universidade Johns Hopkins informa que o Brasil superou a marca de 1 milhão de recuperados da covid-19, registrando 1.013.951 pessoas que se curaram da doença.

8 de julho: 1.716.196 casos confirmados e 68.055 mortes.

13 de julho: 1.887.959 casos confirmados e 72.921 mortes. Todas as regiões brasileiras, exceto o Centro-Oeste, registram crescimento no número de óbitos.

18 de julho: 2.075.246 casos confirmados e 78.817 mortes. O estado do Rio de Janeiro não divulga o balanço epidêmico com número de diagnósticos e óbitos nesta data.

21 de julho: 2.166.532 casos confirmados e 81.597 mortes. A Anvisa autoriza que as empresas de biotecnologia BioNTech e a farmacêutica Pfizer realizem testes de vacinas contra a covid-19 no Brasil.

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22 de julho: 2.231.871 casos confirmados e 82.890 mortes. O Brasil registra novo recorde no número de notificações em 24 horas: 65.339. De acordo com dados da OMS, 166 vacinas contra o novo coronavírus estão sendo desenvolvidas mundialmente. Os estudos que encontram-se mais avançados são da Sinovac, Instituto Biológico de Wuhan/Sinopharm e Instituto Biológico de Pequim/Sinopharm, todas da China, além da Oxford/AstraZeneca (Reino Unido) e Moderna/NIAID (EUA).

31 de julho: 2.666.298 casos confirmados e 92.568 mortes. O mês de julho se encerra com um total de 32.912 óbitos por covid-19, a maior média mensal registrada desde o início da pandemia.

2 de agosto: 2.733.622 casos confirmados e 94.130 mortes.

6 de agosto: 2.917.562 casos confirmados e 98.644 mortes. O Governo Federal anuncia um crédito extraordinário de R$ 1,9 bi para a produção e aquisição de 100 milhões de doses da vacina do laboratório AstraZeneca e da Universidade de Oxford, caso a mesma se mostre bem sucedida no combate ao novo coronavírus. A vacina está na última fase de testes em humanos. Em São Paulo, o Instituto Butantan também divulga que a vacina desenvolvida está sendo testada em 9 mil voluntários e, caso seja comprovada sua eficácia, poderá ser distribuída por meio do SUS em outubro de 2020.

13 de agosto: 3.229.621 casos confirmados e 105.564 mortes. A Prefeitura de Shenzhen, metrópole chinesa, informa ter encontrado traços do novo coronavírus em amostras de asas de frango importadas do Brasil.

23 de julho: 2.289.951 casos confirmados e 84.207 mortes. O balanço da pandemia apresenta o segundo dia de recorde de novos casos da doença em 24 horas: 58.080. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1% da população brasileira foi infectada pelo covid-19.

24 de julho: 2.348.200 casos confirmados e 85.385 mortes

29 de julho: 2.555.518 casos confirmados e 90.188 mortes. Os dados apontam alta da pandemia em Goiás, no Mato Grosso do Sul, em Roraima, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Tocantins. Em desaceleração, estão Amazonas, Alagoas, Amapá, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte. Acre, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo e Sergipe apresentam estabilidade.

4 de agosto: 2.808.076 casos confirmados e 96.096 mortes.

8 de agosto: 3.013.369 casos confirmados e 100.543 mortes. O Brasil ultrapassou a marca de 3 milhões de pessoas infectadas e 100 mil óbitos por covid-19.

11 de agosto: 3.112.393 casos confirmados e 103.099 mortes. Mesmo sem a chancela de aprovação da OMS, a vacina russa contra o covid-19 foi anunciada por Vladimir Putin. O desenvolvimento não cumpriu todos os testes da fase 3, quando a vacina deve ser aplicada em milhares de pessoas, fazendo com que a comunidade científica veja com ceticismo o anúncio do imunizante.

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17 de agosto: 3.363.235 casos confirmados e 108.564 mortes. O Brasil está no rankingdos três países com maior número de óbitos em decorrência da covid-19, junto aos Estados Unidos (170 mil) e o México (57 mil). Com o constante registro de aglomerações, o estado do Rio de Janeiro adia a possível flexibilização das medidas restritivas.

25 de agosto: 3.674.176 casos confirmados e 116.666 mortes. O consórcio de veículos de imprensa divulga que 4.061 dos 5.570 municípios brasileiros registraram casos do novo coronavírus. A capital São Paulo é a cidade com maior número de óbitos: 11 mil. China, Holanda e Bélgica divulgam casos de reinfecção por covid-19. Para a OMS, a reinfecção em pacientes já curados não se trata de um evento regular.

31 de agosto: 3.910.901 casos confirmados e 121.515 mortes. O Brasil encerra o mês de agosto com queda na média móvel de óbitos de -12% nos últimos 14 dias. O ministro da Saúde da Rússia anuncia que a vacinação contra covid-19 no país será iniciada em outubro. O imunizante utilizado será o Sputnik V. O Cacique Raoni, da etnia Kayapó, é diagnosticado com covid-19 e internado em Cuiabá. O líder de 89 anos é reconhecido no mundo todo por seu trabalho em defesa dos povos indígenas. O Ministério da Saúde divulga que, desde o início da pandemia, já distribuiu 6,3 milhões de testes RT-PCR (biologia molecular) e 8 milhões de testes rápidos (sorologia).

5 de setembro: 4.121.230 casos confirmados e 126.230 mortes. Pela primeira vez desde o início da pandemia, o Brasil registra queda na média móvel de mortes, com uma variação de -17% nos últimos 14 dias. O estado do Amazonas é o único a registrar alta no número de óbitos.

18 de agosto: 3.411.872 casos confirmados e 110.019 mortes. O Brasil registra mais de 1,3 mil casos em 24 horas.

23 de agosto: 3.605.726 casos confirmados e 114.772 mortes. Rio de Janeiro, Distrito Federal, Goiás, Tocantins, Bahia e Rio Grande do Norte registram aceleração no número de óbitos.

26 de agosto: 3.722.004 casos confirmados e 117.756 mortes. Em Pernambuco, uma menina de 11 anos falece em decorrência da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), doença rara associada ao coronavírus. Em todo o país, 10 crianças foram a óbito por conta da síndrome e outras 117, entre sete meses e 16 anos, foram diagnosticadas.

2 de setembro: 4.001.422 casos confirmados e 123.899 mortes. O Brasil da um grande passo na pesquisa científica sobre o vírus com a publicação do estudo “Coalizão covid-19 Brasil", no The JournaloftheAmericanMedicalAssociation (JAMA), onde foi demonstrado os benefício do uso da substância Dexametasona na diminuição do tempo de ventilação mecânica.

4 de setembro: 4.092.832 casos confirmados e 125.521 mortes. Dezessete estados brasileiros registram queda de novos óbitos e 7 apresentam estabilidade. O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, declara que as vacinas para covid19 devem ser distribuídas no início de 2021, caso demonstrem eficácia contra o vírus. A CoronaVac, que vem sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan, ampliará o número de participantes nos testes em setembro.

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8 de setembro: 4.165.124 casos confirmados e 127.517 mortes. Um novo recorde de queda na média móvel de falecimentos: -26% nos últimos 14 dias. A Rússia declara que a vacina Sputnik V passou nos testes de eficácia e será liberada para o público geral em breve.

15 de setembro: 4.834.299 casos confirmados e 133.207 mortes. A Anvisa autoriza a ampliação do número de participantes do estudo para a vacina de Oxford no Brasil, de 5 mil para 10 mil voluntários. O Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) investiga 28 casos de reinfecção. De acordo com a direção, o que chama a atenção é o intervalo entre a primeira e a segunda reinfecção, de dois a quatro meses.

30 de setembro: 4.813.586 casos confirmados e 143.886 mortes. O Instituto Butantan anuncia que iniciará a fase de testes da vacina CoronaVac em crianças e adolescentes. O Brasil adere ao plano Covax Facility e libera de R$ 2,5 bi para o programa global de vacinas, que permitirá o acesso a 9 vacinas em desenvolvimento.

5 de outubro: 4.940.499 casos confirmados e 146.773 mortes. Próximo dos 5 milhões de infectados, o Brasil permanece como o segundo país com o maior número de casos, atrás apenas dos Estados Unidos (7,4 milhões). 30 milhões de doses da vacina de Oxford tem a entrega para o Brasil adiada de dezembro para janeiro de 2021. Para acelerar o processo de vacinação da população, a Anvisa já inicia a análise do imunizante.

29 de outubro: 5.496.402 casos confirmados e 159.033 mortes. O Brasil registra 25% de queda no número de óbitos por covid-19 nos últimos 14 dias redução de 10% no número de novos casos. O governo brasileiro anuncia um o investimento de R$ 1,5 bi no Programa Vigiar SUS, com o objetivo de armazenar e distribuir corretamente as vacinas contra a covid-19. A vacina russa Sputnik V tem seu processo de registro na Anvisa iniciado.

11 de setembro: 4.283.978 casos confirmados e 130.474 mortes. O Brasil completa 30 dias com a média móvel de óbitos abaixo de 1 mil.

14 de setembro: 4.349.544 casos confirmados e 132.117 mortes. Após sete dias registrando queda na média móvel de mortes, Brasil volta à estabilidade. Entre os estados que registram alta, estão o Acre e o Ceará.

18 de setembro: 4.497.434 casos confirmados e 135.857 mortes. Após autorização da Anvisa, a farmacêutica Pfizer e a empresa alemã BioNTech ampliam de mil para dois mil o número de voluntários na fase 3 de estudos clínicos para o desenvolvimento de um imunizante contra a covid-19.

2 de outubro: 4.882.231 casos confirmados e 145.431 mortes. Oscilando entre tendência de queda e estabilidade desde 14 de setembro, o Brasil completa 10 dias com a média móvel de mortes abaixo de 700. O estado de São Paulo registra 35.956 óbitos, superando a Itália em número de falecimentos.

23 de outubro: 5.355.650 casos confirmados e 156.528 mortes. Com coordenação da Fiocruz e participação de seis Centros Nacionais de Pesquisa e Conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), é lançado um guia de recomendações para o uso público e desenvolvimento de pesquisas em ambientes naturais, a fim de reduzir os riscos de contaminação pelo coronavírus para mamíferos selvagens, comunidades tradicionais e funcionários e demais visitantes de unidades de conservação.

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4 de Novembro: 5.590.941 casos confirmados e 161.170 mortes. Recorde global no número de óbitos diários por covid: 11.002

11 de Novembro: 5.749.007 casos confirmados e 163.406 mortes. Novo recorde global de óbitos diários por covid-19: 11.617.

15 de Novembro: 5.863.093 casos confirmados e 165.798 mortes. Em meio aos recordes mundiais de mortes diárias por covid-19, o Brasil oscila entre 128 e 921 óbitos por dia na primeira quinzena de novembro.

30 de Novembro: 6.336.165 casos confirmados e 173.165 mortes. A segunda quinzena de novembro foi marcada por uma tendência de aumento no número de casos de covid-19 em 21 estados brasileiros. De acordo com especialistas, o país está na segunda onda de contágio pelo vírus. Fabricantes estimam que a vacinação contra covid-19 no Brasil deve ser iniciada em janeiro de 2021.

17 de Dezembro: 7.111.527 casos confirmados e 184.876 mortes. O Supremo Tribunal Federal decide por 10 votos a 1, que a vacinação contra covid-19 será obrigatória para a população brasileira. A decisão foi criticada pelo presidente Jair Bolsonaro, que, citando a não responsabilização dos fabricantes por efeitos colaterais afirmada nos contratos, declarou: “Se você virar um jacaré, é problema de você, pô. Se você virar um super-homem, se nascer barba em alguma mulher ou algum homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso. E, o que é pior, mexer no sistema imunológico das pessoas”.

9 de Novembro: 5.675.766 casos confirmados e 162.638 mortes. Após a divulgação da morte de um voluntário que participava dos testes para a vacina Coronavac, desenvolvida pela chinesa Sinovac e o Instituto Butantã, com apoio do Estado de São Paulo, a Anvisa suspende os testes, que estavam na fase 3. O diretor do Butantã, Dimas Covas, argumenta que a suspensão teve motivos políticos, pois a morte do voluntário não teve nada a ver com os testes clínicos. O presidente Jair Bolsonaro comemora a suspensão nas redes sociais. Alguns dias depois, em razão da ampla mídia em cima do caso, é divulgado que o voluntário em questão cometeu suicídio e os testes foram retomados com autorização da Avisa.

10 de Dezembro: 6.781.799 casos confirmados e 179.765 mortes. A Anvisa divulga regras para uso emergencial das vacinas contra a covid-19, restrita aos imunizantes que já estivessem em testes clínicos no Brasil. O Governo Federal divulga o Plano Nacional de Imunização, que deverá ser realizado em quatro etapas, de acordo com os grupos definidos como prioritários. Alguns dias antes, em 7 de dezembro, o governo paulista divulgou que a vacinação para a população do estado será iniciada em 25 de janeiro de 2021.

26 de Dezembro: 7.464.620 casos confirmados e 190.815 mortes. O Ministério da Saúde exclui os cilindros de oxigênio dos produtos contemplados com tarifa zero de importação. Na mesma lista de itens prioritários enviados ao Ministério da Economia para manutenção da alíquota zero, a pasta da saúde inclui a cloroquina e ivermectina.

31 de Dezembro: 7.675.781 casos confirmados e 194.976 mortes. Em comunicado extra-oficial, o Instituto Butantan divulga que a CoronaVac atingiu o limiar mínimo de eficácia requerido pela OMS, de 50%. Agora, a vacina poderá ser autorizada para uso emergencial. A vacina de Oxford teve seu uso emergencial aprovado no Reino Unido. O imunizante foi testado na fase 3 no Brasil e a expectativa é que seja a primeira vacina aprovada no país.

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7 de janeiro: 7.930.943 casos confirmados e 200.163 mortes. O Brasil atinge a marca de 1.841 mortes em 24 horas Os estados com maior número de óbitos são São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

15 de janeiro: 8.133.833 casos confirmados e 203.617 mortes. Após dezenas de pacientes de covid-19 de Manaus irem a óbito por asfixia devido à falta de oxigênio no sistema de saúde, a Secretaria de Saúde do estado solicita a 17 empresas o fornecimento do gás na modalidade administrativa, já que os principais fornecedores não são capazes de suprir a demanda.

18 de janeiro: 8.512.238 casos confirmados e 210.328 mortes. Iniciando sua campanha de imunização contra o coronavírus, o Paraná recebe 265.600 doses da CoronaVac. A enfermeira parnanguara Lucimar Josiane de Oliveira, de 44 anos, é a primeira paranaense a ser imunizada

21 de janeiro: 8.699.814 casos confirmados e 214.228 mortes. O Ministério da Saúde retira do ar o aplicativo TrateCov, lançado no dia 11 de janeiro pelo ministro Eduardo Pazuello. Na plataforma, os usuários relataram os sintomas e recebiam instruções para medicação, a maioria indicando o tratamento precoce com medicamentos como a azitromicina, ivermectina e cloroquina, todos sem eficácia comprovada. Em nota, o Ministério divulga que a plataforma foi ativada indevidamente e que não funcionava de maneira oficial.

9 de março: 11.125.017 casos confirmados e 268.568 mortes. O Brasil registra número recorde de óbitos diários desde o início da pandemia: 1.972

11 de janeiro de 2021: 8.133.833 casos confirmados e 203.617 mortes. Manaus, um dos estados brasileiros mais afetados no início da pandemia, volta a viver momentos críticos com a explosão de casos e falta de insumos básicos para o atendimento hospitalar, como oxigênio. Em visita a capital amazonense, o ministro da Saúde Eduardo Pazuello recomenda o tratamento precoce, com insumos sem eficácia comprovada, e anuncia a destinação de verbas para contratação de mais profissionais de saúde. A alta dos casos deve-se, principalmente, às aglomerações e festas clandestinas realizadas no final do ano.

17 de janeiro: 8.133.833 casos confirmados e 203.617 mortes. A Anvisa autoriza o uso emergencial das vacinas CoronaVac e de Oxford/Astrazeneca. A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, é a primeira brasileira a receber o imunizante, além daqueles que participaram dos testes clínicos. Além de Mônica, outras 111 pessoas são imunizadas na ocasião, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

22 de janeiro: 8.755.133 casos confirmados e 215.299 mortes. O primeiro lote de vacinas da AstraZeneca chega ao Brasil.

29 de janeiro: 9.119.477 casos confirmados e 222.775 mortes. O Brasil recebe o primeiro lote de vacinas da Pfizer.

23 de fevereiro: 10.260.621 casos confirmados e 248.646 mortes. O imunizante da Pfizer recebe o registro definitivo da Anvisa, porém o governo brasileiro não tem acordo para compra da vacina Em caráter de uso emergencial, as vacinas da CoronaVac e AstraZeneca são as únicas que estão sendo aplicadas no Brasil. Há 34 dias o país registra média móvel de mais de 1.000 mortes por dia.

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10 de março: 11.205.972 casos confirmados e 270.917 mortes. Novo recorde diário: 2.349 óbitos.

15 de março: 11.525.477 casos confirmados e 279.602 mortes. O médico Marcelo Queiroga assume o Ministério da Saúde, tornando-se o quarto ministro da pasta desde o início da pandemia. O general Eduardo Pazuello deixa o cargo após nove meses conturbados, marcados pela defesa do tratamento precoce e sem comprovação de eficácia contra a covid19, além de graves crises de abastecimento de oxigênio em Manaus e a lentidão na vacinação da população brasileira.

18 de março: 11.787.600 casos confirmados e 287.795 mortes. A capital paulista, que tem a maior infraestrutura hospitalar da América Latina, registra a primeira morte por falta de leitos na cidade A vítima era um homem de 22 anos.

24 de março de 2021: 12.183.338 casos confirmados e 301.087 mortes. O Brasil tornase o país com o maior número diário de óbitos, responsável por 11% das mortes no mundo, de acordo com a Universidade John Hopkins.

26 de março: 12.407.323 casos confirmados e 307.326 mortes. O pior dia da pandemia no Brasil até então, com 3.600 óbitos e 82.558 novos diagnósticos.

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5 de abril: 13.023.189 casos confirmados e 333.153 mortes.

12 de março: 11.368.316 casos confirmados e 275.276 mortes. Com o alarmante crescimento da média móvel de novos casos e óbitos, a Prefeitura de Curitiba decreta lockdown e a cidade entra em bandeira vermelha pela primeira vez desde o início da pandemia. A vacina de Oxford recebe o registro definitivo da Anvisa, porém não há disponibilidade para compra de lotes do imunizante. A agência também aprova o uso do antiviral Remdesivir, primeiro medicamento a ter recomendação em bula contra o SARS-CoV-2.

16 de março: 11.609.601 casos confirmados e 282.400 mortes. O Distrito Federal e outros 24 estados registram taxa de ocupação de leitos de UTI igual ou superior a 80%. De acordo com a Fiocruz, o Brasil vive o maior colapso de saúde da sua história.

23 de março: 12.130.019 casos confirmados e 298.976 mortes. Pela primeira vez, mais de 3 mil mortes por covid-19 são registradas em 24 horas. Apenas no estado de São Paulo, são contabilizados 1.021 óbitos.

25 de março: 12.324.765 casos confirmados e 303.726 mortes. De acordo com o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass), 6.370 pessoas infectadas pelo novo coronavírus esperavam por um leito de UTI no Brasil.

30 de março: 12.664.058 casos confirmados e 317.936 mortes. Após registrar novo recorde diário de óbitos, com mais de 3.780 falecimentos, março torna-se o mês mais letal da pandemia até então, somando 62.918 mortes.

184

6 de abril: 13.106.058 casos confirmados e 337.364 mortes. Novo marco da pandemia no Brasil: em 24 horas, foram registradas 4.195 mortes por covid-19. A América Latina e o Caribe ultrapassam a marca de 800 mil óbitos e 25 milhões de infectados, de acordo com a OMS. O Brasil é responsável por 41% das mortes da região. No mundo, apenas os Estados Unidos superam o número absoluto de mortes do Brasil, com 551 mil registros.

27 de abril: 14.446.541 casos confirmados e 395.324 mortes. Diante denúncias de atraso por negligência na vacinação contra a covid-19, reforço midiático e investimentos em medidas de saúde sem eficácia comprovada, entre outras agravantes, o Senado brasileiro instala uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar e investigar as ações do Governo Federal no enfrentamento à pandemia.

10 de maio: 15.214.030 casos confirmados e 426.436 mortes. Em nota técnica, a Anvisa suspende a vacina de Oxford/AstraZeneca para gestantes, em acordo com a bula do imunizante, que não inclui este grupo entre os indicados para a imunização.

1 de junho: 16.547.674 casos confirmados e 462.966 mortes. OMS aprova uso emergencial da CoronaVac. Este é o sexto imunizante aprovado pela Organização Mundial da Saúde, que afirma a segurança e eficácia da CoronaVac após duas doses.

28 de julho: 19.797.516 casos confirmados e 553.272 mortes. A variante delta do SARSCoV-2, surgida na índia, tornou-se uma ameaça global, alcançando 132 países em algumas semanas. Apesar de registrar queda de 59% a menos de óbitos em relação a abril de 2021, pior mês da pandemia no Brasil, julho já detém mais falecimentos do que o mesmo mês de 2020.

18 de abril: 13.279.957 casos confirmados e 345.025 mortes. Em menos de 24h, 4.249 pessoas perderam a vida para o coronavírus, número mais alto já registrado no Brasil até então.

26 de abril: 14.370.456 casos confirmados e 392.204 mortes. O número de óbitos por covid-19 de 2021 (195.949) já supera o total registrado em 2020 (194.976), no Brasil. Antes de seu término, abril se torna o mês mais letal da pandemia até então, com 67.723 mortes confirmadas.

3 de maio: 14.791.434 casos confirmados e 408.829 mortes. De acordo com um estudo da Universidade Federal de Pelotas, a morte de idosos com 80 anos ou mais era de 28% em janeiro e, após o início da vacinação, caiu para 13% em abril de 2021

24 de maio: 16.121.136 casos confirmados e 450.026 mortes. A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba prevê o retorno da bandeira vermelha para os próximos dias.

29 de maio: 16.471.009 casos confirmados e 461.142 mortes. Pela segunda vez, Curitiba entra na bandeira vermelha. As restrições estendem-se até o dia 9 de junho seguinte.

16 de junho: 17.629.714 casos confirmados e 493.837 mortes. O Instituto Butantan entrega 50 milhões de doses da CoronaVac para o Ministério da Saúde.

30 de junho: 18.559.164 casos confirmados e 518.246 mortes. Junho chega ao fim com queda no número móvel de diagnósticos e óbitos. Ainda assim, foi o segundo mês mais mortal no estado de São Paulo.

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2021

31 de julho: 19.914.578 casos confirmados e 556.437 mortes. Com o avanço vacinal, o Brasil registra queda de 42% de óbitos por covid-19. Dados do Ministério da Saúde apontam que 96 milhões de brasileiros já receberam, ao menos, uma dose da vacina contra o vírus.

31 de agosto: 20.777.867 casos confirmados e 580.525 mortes. Agosto terminou com um total de 24 mil óbitos, o menor registrado desde dezembro de 2020. Especialistas apontam, porém, que novas variantes do novo coronavírus e a vacinação parcial ainda trazem riscos para a população brasileira.

6 de agosto: 20.108.448 casos confirmados e 561.807 mortes. De acordo com o Ministério da Saúde, 50% da população brasileira tomou ao menos, uma dose da vacina, contra a covid-19, enquanto 22% já está com o esquema vacinal completo.

15 de setembro: 21.032.268 casos confirmados e 588.640 mortes. A média móvel de óbitos por covid-19 está em torno de 600 por dia.O Butantan encerra o contrato com o Ministério da Saúde, após a entrega das 100 milhões de doses de CoronaVac solicitadas para o Programa Nacional de Imunizações.

22 de setembro: 21.282.612 casos confirmados e 592.357 mortes. O Ministério da Saúde recomenda a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos, com prioridade aos jovens com deficiência e comorbidades

30 de setembro: 21.425.777 casos confirmados e 596.749 mortes. setembro foi o mês menos letal de 2021 até o momento.

31 de outubro: 21.810.855 casos confirmados e 607.824 mortes. O mês de outubro registrou o menor número de mortes por covid-19 de 2021, com o registro de 11.075 óbitos.

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2021

25 de novembro: 22.055.608 casos confirmados e 613.697 mortes. A OMS identifica uma nova variante do SARSCoV-2 na África do Sul. A cepa foi batizada de Ômicron e é considerada mais transmissível que a original.

29 de novembro: 22.083.034 casos confirmados e 614.428 mortes. O Instituto Butantan publica em artigo científico os resultados consolidados do Projeto S na revista The Lancet. O estudo concluiu que a imunização de todos os adultos no Brasil provocou proteção até na população não vacinada, reduzindo em 80,5% o número de casos de covid-19 e em 94,9% as mortes causadas pela doença.

16 de dezembro: 22.203.136 casos confirmados e 617.521 mortes. A Anvisa aprova o uso de imunizantes contra a covid-19 em crianças de cinco a 11 anos, mas ainda não há data para o início da vacinação.

23 de dezembro: 22.223.910 casos confirmados e 618.223 mortes. Após 14 dias de instabilidade e apagão de dados, além dos relatos de secretarias estaduais apontando dificuldades na captação e divulgação dos índices de diagnósticos e óbitos, o Brasil registra média móvel diária de 95 mortes por covid19, a menor desde 11 de abril de 2020. Acre, Alagoas, Roraima e Sergipe não registraram nenhum falecimento em decorrência do novo coronavírus. Diversas entidades médicas solicitam a aceleração da vacinação infantil, recomendando, inclusive, o uso da CoronaVac para tal público.

14 de novembro: 21.955.471 casos confirmados e 611.318 mortes. De acordo com a plataforma Our World in Data, que reúne dados em tempo real da vacinação e incidência de covid-19 no mundo, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos em porcentagem de população com a vacinação completa contra o vírus, sendo que 59,8% dos brasileiros completaram o esquema vacinal contra 57,6% dos estadunidenses.

30 de novembro: 22.093.195 casos confirmados e 614.754 mortes. O Brasil completa 30 dias com média móvel de óbitos abaixo de 300 por dia. Novembro foi o mês com menor índice de óbitos por covid-19 desde abril de 2020: foram registrados 6.894 óbitos.

22 de dezembro: 22.220.714 casos confirmados e 618.128 mortes. Com crescimento expressivo de novos casos nos Estados Unidos, a América do Norte registra aumento de 36% de diagnósticos, fazendo com que a região das Américas atingisse a marca de 100 milhões de casos, de acordo com a OPAS.

28 de dezembro: 22.252.231 casos confirmados e 618.723 mortes. De acordo com o Ministério da Saúde, 80% da população brasileira receberam duas doses da vacina contra a covid-19. O número corresponde a 172 milhões de brasileiros com mais de 12 anos.

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2021

2022

22 de janeiro: 23.960.207 casos confirmados e 622.979 mortes. Com tendência de alta por 14 dias seguidos, o Brasil registra média móvel diária de 282 óbitos por covid-19.

28 de fevereiro: 28.786.072 casos confirmados e 649.446 mortes. Registrando mais de 3,3 milhões de novos diagnósticos, fevereiro foi o mês com maior índice de contágio desde o início da pandemia no Brasil

22 de abril: 30.334.301 casos confirmados e 662.628 mortes. O Brasil atingiu a menor média diária de óbitos de 2022, 94 por dia. Ao todo, são 55 dias seguidos com tendência de queda no número de casos e falecimentos em todo o território nacional. Em abril, os estados brasileiros flexibilizaram o uso de máscaras, tornando opcional mesmo em locais fechados. O Ministério da Saúde determina o fim, a partir de 22 de maio, da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional pela covid-19.

28 de julho: 33.752.376 casos confirmados e 678.147 mortes. Os índices de média móvel de óbitos estão há um mês acima das 200 ocorrências por dia.

12 de setembro: 34.580.412 casos confirmados e 684.951 mortes. O Governo Federal altera as regras para entrada de viajantes no Brasil. A partir desta data, os ingressantes poderão optar por apresentar o comprovante de vacinação ou um teste negativo para covid-19. Não haverá restrições à entrada de pessoas não vacinadas, desde que estejam negativadas.

3 de fevereiro: 26.099.735 casos confirmados e 629.995 mortes. Novo recorde de diagnósticos em um único dia no Brasil, com 298.408 casos confirmados. Nenhum estado brasileiro apresenta queda nos índices de covid-19, todos estão em alta ou estabilidade.

30 de março: 29.912.417 casos confirmados e 659.570 mortes. O mês de março encerra com tendência de queda nas médias diárias de diagnósticos e óbitos desde o dia 11. Acre, Amapá, Maranhão, Rio Grande do Norte e Rondônia não registram falecimentos por covid-19 nas últimas 24 horas.

31 de maio: 31.016.354 casos confirmados e 666.727 mortes. Com o registro total de 3.179 falecimentos, o mês de maio torna-se o menos letal no Brasil desde o início da pandemia de covid-19.

30 de junho: 32.358.541 casos confirmados e 671.466 mortes. Junho termina com média móvel de 215 óbitos por dia, com tendência de alta no número de casos. Diante do cenário, cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo voltaram a recomendar o uso de máscaras em lugares fechados.

17 de agosto: 34.220.103 casos confirmados e 682.074 mortes. A média móvel de mortes diárias atinge a marca de 175 óbitos por dia, a menor em 55 dias. Com a tendência de queda no número de diagnósticos e vítimas fatais, a Anvisa retira a obrigatoriedade do uso de máscara em voos e aeroportos.

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13 de setembro: 34.591.362 casos confirmados e 685.057 mortes. Com a proximidade da campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, declara se arrepender de falas polêmicas na pandemia como quando disse que não poderia fazer nada em relação a pandemia, pois não era coveiro, além de negar que tenha imitado um paciente de covid-19 morrendo asfixiado.

24 de outubro: 34.834.815 casos confirmados e 687.713 mortes. Um painel de 20 metros é inaugurado na Avenida Paulista, em São Paulo, em homenagem aos brasileiros que faleceram em decorrência do novo coronavírus. A iniciativa é da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas de covid-19 (Avico).

22 de novembro: 35.094.130 casos confirmados e 389.223 mortes. A Anvisa comunica a volta da obrigatoriedade do uso de máscaras em aeroportos e voos. A medida dá-se em razão do atual cenário epidemiológico, cuja média móvel de casos por dia é de 18 mil, o maior em 77 dias, e como precaução à proximidade das festas de final de ano.

23 de dezembro: 36.080.427 casos confirmados e 692.572 mortes. O Instituto Todos pela Saúde divulga, com base nos dados do Ministério da Saúde, que dos 5.297 municípios brasileiros, 2.552 cidades tiveram mais de 100 casos de covid-19 a cada 100 mil habitantes apenas na semana passada. A Fiocruz também faz um alerta, com base em levantamento próprio, que há uma tendência no aumento das hospitalizações nos próximos dias.

30 de setembro: 34.715.147 casos confirmados e 686.097 mortes. De acordo com um boletim da FioCruz, o Brasil está no patamar mais baixo de síndrome respiratória grave desde o início da pandemia. Os dados referem-se ao período de agosto a 24 de setembro. O boletim aponta também estabilidade no número de internações por covid-19, sendo o grupo etário idoso o mais afetado.

13 de novembro: 34.955.820 casos confirmados e 688.738 mortes. Com o aumento expressivo da média móvel diária de novos diagnósticos em 24 horas, o Ministério da Saúde volta a recomendar o uso de máscaras. O ministro Marcelo Queiroga também faz um apelo para que os brasileiros completem o quadro vacinal, visto que 69 milhões de pessoas ainda não tomaram a primeira dose de reforço.

7 de dezembro: 35.529.611 casos confirmados e 690.635 mortes. Após protestos da população, a China abandona algumas regras de sua política de “covid zero", apesar da preocupação dos outros países com o surgimento de novas variantes. No Brasil, a Anvisa aprova o uso do imunizante da Pfizer em crianças a partir dos cinco anos de idade.

28 de dezembro: 36.275.146 casos confirmados e 693.604 mortes. De acordo com um estudo da Fiocruz e da Universidade Federal de Minas Gerais, cerca de 40.830 crianças e adolescentes perderam suas mães para a covid-19 nos dois primeiros anos de pandemia.

30 de dezembro: 36.343.686 casos confirmados e 693.604 mortes. Com o aumento de casos na China, cientistas do mundo todo alertam para o possível surgimento de novas variantes.

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2022

2023

7 de janeiro: 36.500.341 casos confirmados e 694.900 mortes. Os profissionais de saúde do sistema público brasileiro apresentam índices negativos de saúde e bem-estar após a sobrecarga de trabalho na pandemia. De acordo com um estudo da Universidade Federal de São Carlos, que abordou 125 funcionários do SUS de todo o Brasil, 86% tiveram síndrome de Burnout, 81% manifestaram estresse, 74,4% afirmam ter uma qualidade de sono ruim, enquanto 22% manifestam sintomas de depressão leve e 16% moderada.

28 de fevereiro: 37.052.936 casos confirmados e 699.074 mortes. A população brasileira começa a receber, de acordo com a ordem de grupos prioritários, a vacina bivalente contra a covid-19, que protege contra a cepa original do vírus e as subvariantes ômicron.

10 de janeiro: 36.560.497 casos confirmados e 695.031 mortes. O Banco Mundial divulga que espera um crescimento global do PIB de 1,7%, o terceiro menor em quase três décadas.

28 de janeiro: 36.809.608 casos confirmados e 696.809 mortes. O Consórcio de Veículos de Imprensa é encerrado após 965 dias ininterruptos de trabalho em prol da divulgação transparente dos índices e informações sobre a covid-19.

13 de fevereiro: 36.932.830 casos confirmados e 697.974 mortes. Pela primeira vez desde o início da pandemia, o Brasil tem um dia com zero mortes por covid-19. Os dados, porém, podem estar desatualizados, visto que mais de 15 estados brasileiros não atualizam suas informações aos finais de semana.

1º de março de 2023:

37.063.464 casos confirmados e 699.184 mortes. Mais uma vez, a Anvisa retira a obrigatoriedade do uso de máscaras em aeronaves e aeroportos. Permanece a recomendação do uso para pessoas com sintomas respiratórios.

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11 de março:

A pandemia de covid19 completa três anos, e o Brasil contabiliza 699.300 vítimas.

28 de março: 37.258.663 casos confirmados e 700.239 mortes. Completando anos da primeira vítima de covid-19 no Brasil, o país atinge a marca de 700 mil mortos, sendo que abril de 2021 foi o mês mais letal.

4 de maio: 37.511.921 casos confirmados e 702.116 mortes. A Polícia Federal investiga adulteração no cartão de vacinação do expresidente Jair Bolsonaro e de seus familiares. Bolsonaro, que teve seu celular apreendido pela PF, declara que não se vacinou contra a covid-19 e nega ter adulterado seu histórico vacinal. O chinês Fang Bin, responsável por documentar a compartilhar com o mundo a realidade inicial do surto de covid-19 em Wuhan, contradizendo as informações oficiais, é libertado após três anos preso pelo governo chinês.

14 de março: 37.145.514 casos confirmados e 699.634 mil mortes. O Ministério da Saúde divulga que, aproximadamente, 39 milhões de doses de imunizantes contra a covid19 precisaram ser descartadas desde 2021, devido ao prazo de validade ter expirado. De acordo com a nova gestão da pasta, a administração anterior negou informações sobre os estoques e prazos de validade na transição.

3 de abril: 37.358.092 casos confirmados e 700.811 mortes.

A Anvisa flexibiliza o uso de máscaras em serviços de saúde, passando a recomendar apenas em casos específicos, como pessoas com sintomas respiratórios, que tiveram contato com positivados, profissionais da área de triagem e pacientes, acompanhantes e profissionais em áreas de internamento.

5 de maio: A OMS declara o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional referente à covid-19. A notícia não significa que a pandemia acabou, apenas que os governos devem trabalhar em medidas de transição entre as ações emergenciais e de manejo da doença.

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2023
Foto: Guilherme Bressan, 2021.

REFERÊNCIAS

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