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Agentes de deterioração

Forças físicas

Um dos fatores que mais interferem na degradação dos acervos é a ação do homem, seja pelo manuseio incorreto (como tocar os documentos com as mãos sujas e sem proteção, riscar, dobrar, colocar grampos ou clipes metálicos, fitas adesivas, entre outros), seja pela intervenção inadequada ao higienizar o ambiente e retirar objetos de prateleiras ou com “boas intenções de conservação” que podem acarretar piora no estado de conservação. É sempre importante treinar funcionários para que saibam realizar acondicionamentos simples adequados, manutenção e higienização do acervo periodicamente. Outras recomendações bastante úteis são as de não usar fitas adesivas para remendar folhas, assim como clipes e grampos de metal, evitando a oxidação. Deve-se evitar fazer anotações, mas, se necessárias, usar lápis em vez de caneta. Também é fundamental a utilização de luvas para manusear qualquer objeto do acervo (TEIXEIRA; GHIZONI, 2012).

Forças Criminosas

A falta de política de controle e de segurança no museu leva o acervo a ser vítima de furtos e vandalismos. A mutilação e o desaparecimento de documentos são mais comuns do que se imagina e nem sempre são percebidos com rapidez. O ideal é que se tenha um sistema de segurança que funcione durante e fora do expediente, com câmeras e alarmes. Além disso, manter o cuidado de sempre fazer um pequeno registro de quem entra na exposição e evitar ao máximo que se carreguem bolsas, casacos e afins, oferecendo-se guarda-volumes. O melhor é que se mantenha o pessoal especializado somente para essa função (MELLO; SANTOS, 2004).

E Gua

No decorrer dos anos, presenciamos grandes acervos e construções históricas se extinguindo devido a incêndios ou inundações. Perícias e investigações normalmente acusam a falta de manutenção na infraestrutura dos museus, que apresentam diversas infiltrações, fios elétricos expostos, rachaduras, entre outros defeitos, além de grande quantidade de materiais inflamáveis mal-armazenados, facilitando que incêndios se expandissem. No caso das inundações, normalmente são causadas pelo excesso de chuvas nas regiões somado à falta de manutenção do sistema de drenagem de águas pluviais, de calhas e encanamentos, podendo haver rompimento.

Para evitar qualquer risco de acidentes, é necessário que todos os prédios e as construções se mantenham dentro das regularizações em relação às Normas de Segurança Contra Incêndios (NSCI) e ao Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), com o objetivo de preservar a vida das pessoas e o patrimônio material. Por isso, a legislação define regras de instalação de extintores, alarmes, hidrantes, saídas e iluminações de emergências que devem ser seguidas, além de manter a manutenção dos equipamentos.

Também é necessário que haja vistoria e manutenção no sistema pluvial, nas calhas e nos encanamentos. Os ambientes devem ser sempre monitorados para que, no primeiro sinal de infiltração ou problemas de qualquer área, adversidades possam ser revertidas antes que aumentem (SPINELLI; PEDERSOLI, 2010).

Pragas: insetos, roedores e microrganismos.

A) Insetos

Normalmente se proliferam em ambientes de pouca higiene, com UR elevada e pouca circulação de ar. Insetos como baratas, brocas, cupins e traças são os que mais atacam acervos e arquivos sem a devida preservação. Cada um deles exige um controle específico, de acordo com ciclo de vida e hábitos.

As baratas podem ser facilmente detectáveis pelas manchas e extremidades roídas que deixam na superfície do papel, escondem-se em pequenos orifícios e fendas, ralos, lixo e diversos lugares sem iluminação. Assim como as baratas, as traças também deixam manchas e extremidades roídas, escondendo-se entre papéis velhos e enrolados, livros, gavetas, caixas e lugares com pouca iluminação e ventilação. Cupins e brocas vivem em sociedades organizadas em colônias, alimentam-se de madeira e papel e vivem em túneis onde constroem seus ninhos, atacando quando ainda estão na fase larval.

Portanto, necessário manter o ambiente sempre limpo, obstruir qualquer abertura que seja propícia para a entrada de insetos (piso, paredes, batentes) e umidade, remover o lixo diariamente, manter uma rotina periódica de higienização e verificação dos objetos, manter móveis afastados das paredes ou diretamente apoiados no chão. A utilização de produtos químicos inadequados pode prejudicar o acervo, sendo indicado que se utilize iscas para combater baratas e traças, enquanto cupins e brocas precisam do acompanhamento de especialistas para tratar a infestação (SPINELLI; PEDERSOLI, 2010).

B) Roedores

Ratos geralmente são atraídos principalmente por restos de alimentos e umidade. É sempre conveniente que seja terminantemente proibido o consumo de alimentos no local de acervos, arquivos e exposições. O ambiente deve ser sempre higienizado e verificado, assim como as lixeiras esvaziadas diariamente para tapar possíveis aberturas que possam facilitar a entrada de animais, principalmente insetos. Se houver uma infestação de roedores, é necessária a intervenção de profissionais habilitados na área. (MELLO; SANTOS, 2004).

C) Microorganismos

Alimentam-se de substâncias orgânicas e se desenvolvem em condições de temperatura e umidade elevadas. Atacam todos os tipos de suporte, promovendo rasgos, manchas, deterioração das estruturas, descoloração, fragilidade, apodrecimento e perda total do objeto. Sua disseminação é através dos esporos (células reprodutoras), que podem ser carregados em correntes de ar, insetos, gotas de água, entre outras maneiras.

Por isso, é indispensável manter o mais próximo possível do ideal os índices de temperatura, umidade relativa e circulação de ar. Além de instruir funcionários sobre o manuseio, assim como a constante verificação do estado dos materiais. Evitar proximidade de recipientes com água e, em caso de acidentes, secar o mais rápido possível.

Se houver material contaminado, este deverá ser separado dos demais e encaminhado para um ambiente limpo e com UR abaixo de 45%. Em caso de infestações com fungos, todas as decisões e providências devem ter acompanhamento de especialistas (SPINELLI; BRANDÃO; FRANÇA, 2011).

Poluentes

Considerada uma causa extrínseca, a poluição gasosa é causada principalmente pela queima de derivados de petróleo, indústrias, áreas urbanizadas e semelhantes. Contribui consideravelmente para a deterioração química dos materiais de acervos, que são atacados pelos ácidos presentes no ambiente, mesmo que haja um acondicionamento adequado. Já a poeira é uma mistura de resíduos orgânicos e não orgânicos, fuligem, gordura e agentes biológicos tidos em suspensão e carregados pelas correntes de ar; além disso, tem ação abrasiva sobre os objetos, facilitando o desenvolvimento de fungos, bactérias e manchas. Apesar de ter partículas inertes, a poeira é ácida e, ao ter contato com o material, ocasiona danos químicos.

Por isso, a troca de ar constante é essencial para manter o ar do ambiente o mais limpo possível; evitar a proximidade de portas e janelas de áreas com poluição aparente, como grandes vias ou estacionamentos fechados; utilizar equipamentos que possam filtrar e absorver os gases poluentes; manter sempre o ambiente e o acervo higienizados periodicamente. (MELLO; SANTOS, 2004).

Luz

De acordo com Conservação Preventiva de Acervos (TEIXEIRA; GHIZONI, 2012), a exposição inadequada à luz natural ou artificial pode resultar em danos cumulativos e irreversíveis – como a fragilização, a modificação das cores e o amarelecimento, que afetam a resistência mecânica e aceleram o envelhecimento dos objetos. Portanto, devemos adotar procedimentos que colaborem para redução dos danos causados pela exposição descontrolada à luz, tais como: cortinas, persianas e blackouts para reduzir a luz solar direta sobre os objetos; filtros apropriados aderidos aos vidros para uso em museus e que sejam capazes de barrar a entrada de radiação, diminuindo os efeitos fotoquímicos; cobrir vitrines com objetos sensíveis à iluminação; diminuir a iluminação artificial, utilizar iluminação indireta sempre com distanciamento dos objetos de acordo com a necessidade e manter as luzes desligadas quando não houver visitação ou atividade.

Temperatura e Umidade Relativa (UR) inadequadas

A umidade relativa é a relação entre a quantidade de vapor de água existente no ar em determinada temperatura e o máximo de vapor de água que pode haver nessa mesma temperatura no ambiente. Sendo o controle de temperatura e o de UR fundamentais para a preservação dos acervos, a falta desse cuidado pode ocasionar aceleração da deterioração, proliferação de fungos e ataque de insetos.

É necessário controlar os índices aceitáveis nas áreas, sendo próximo de 21º e 30% ou 50% de UR, evitando oscilações. O monitoramento pode ser registrado por meio de equipamentos de controle de climatização (psicrômetro, higrômetro mecânico, termo higrômetro eletrônico, entre outros) e deverá permanecer ligado durante 24h, inclusive em dias que o museu estiver fechado.

Ações mais simples e necessárias podem ser adotadas para amenizar danos, preferencialmente junto ao sistema de climatização, como a colocar corretamente os objetos na exposição, evitando correntes de ar, portas e janelas; afastar os objetos das paredes, mantendo a circulação do ar; limitar a quantidade de visitantes por sala e evitar que entrem com roupas ou calçados molhados; evitar higienizar o piso com pano úmido; realizar inspeções periódicas nas paredes e nos telhados observando a entrada de umidade – para áreas menores, podem ser usados ar-condicionado e desumidificadores (SPINELLI; PEDERSOLI, 2010).

Dissociação

A dissociação é o agente de degradação é um processo considerado raro e catastrófico, esporádico, de impacto moderado e que ocorre continuamente. (SPINELLI; PEDERSOLI, 2010). Ocorre devido à deterioração de etiquetas e rótulos, inexistência de cópias de segurança, de inventários, entre outros. É um processo de desorganização dos sistemas.

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