Amizade com Deus Um diรกlogo incomum
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Título Original: Friendship With God. Copyright © 1999 Neale Donald Walsch All rights reserved including the right of reproduction in whole or in part in any form. This edition published by arrangement with G.P.Putnam’s Sons, a member of Penguin Group (USA) Inc. Todos os direitos reservados pela Editora Nossa Cultura Ltda, 2012. Editor: Paulo Fernando Ferrari Lago Coordenação Editorial: Claudio Kobachuk Coordenação Gráfica: Renata Sklaski Tradução: Helena Marcia Passarelli Revisão: Claudia Cabral Oliveira, Adriana Gallego Mateos e Valquíria Molinari Capa: Ceó Pontual Diagramação: Cláudio R. Paitra e Marline M. Paitra Contato comercial: Rosângela Britto Nota: A edição desta obra contou com o trabalho, dedicação e empenho de vários profissionais. Porém podem ocorrer erros de digitação e impressão. Grafia atualizada segundo o acordo ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009. EDITORA NOSSA CULTURA LTDA Rua Grã Nicco, 113 – Bloco 3 – 5.º andar Mossunguê Curitiba – PR – Brasil Tel: (41) 3019-0108 – Fax: (41) 3019-0108 http://www.nossacultura.com.br Dados internacionais de catalogação na publicação Bibliotecária responsável: Mara Rejane Vicente Teixeira Walsch, Neale Donald. W222 Amizade com Deus / Neale Donald Walsch.— Curitiba : Nossa Cultura, 2012. 512 p. ; 18 x 13 cm. Tradução de: Friendship with God. ISBN 978-85-8066-088-3 1. Espiritualidade. 2. Deus. I. Título. CDD 211 CDU 211 IMPRESSO NO BRASIL/PRINTED IN BRAZIL
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Neale Donald Walsch
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Agradecimentos
Antes de tudo, quero agradecer novamente ao meu melhor amigo, Deus. Sou profundamente grato por ter encontrado Deus em minha vida e, finalmente, ter feito amigos com Ele. Sou profundamente grato por tudo que Deus tem me dado – e proporcionado a oportunidade de dar. Em um plano um pouco diferente, embora não menos celestial, encontra-se a minha amizade com Nancy, esposa e parceira, que é uma definição viva da palavra “bênção”. Tenho sido abençoado desde o momento em que nos conhecemos, e em todos os momentos desde então. Nancy é uma pessoa surpreendente. Ela irradia, do seu coração, uma sabedoria serena, infinita paciência, compaixão profunda e o mais puro amor que já conheci. Em um mundo de trevas, às vezes ela é uma fonte de Luz. Conhecê-la foi me ligar novamente às ideias que sempre tive sobre tudo que é bom, amável e belo; com toda a esperança que já realizei sobre companheirismo gentil e auxiliador; e com as fantasias que nutri sobre amantes verdadeiramente apaixonados.
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Estou em dívida com todas as pessoas maravilhosas que impactaram minha vida e me ajudaram em meu trabalho, demonstrando comportamentos, atributos e maneiras de ser que têm me inspirado e instruído. Que inestimável dádiva contar com tais professores que indicam o caminho! Dentre eles, sou muito grato a... Kirsten Bakke, por definir confiança absoluta, mostrando que se encarregar de uma espetacular liderança não significa jamais deixar para trás compaixão, sensibilidade ou cuidado. Rita Curtis, por demonstrar de maneira formidável que poder pessoal não diminui a feminilidade, mas acrescenta a ela. Ellen DeGeneres, por ser um modelo de coragem que a maioria das pessoas não acha ser possível e, desta maneira, tornar isso possível a todos nós. Bob Friedman, por me mostrar que integridade existe, de fato. Bill Griswold e Dan Higgs, por darem o exemplo do que uma amizade ao longo da vida era para ser. Jeff Golden, por me mostrar que convicção firme e gentil persuasão podem andar lado a lado. Patt Hammett, por demonstrar que amor, lealdade e compromisso inabalável são tudo. Anne Heche, por ser um modelo de absoluta autenticidade e de como não desistir por nada. Jerry Jampolsky e Diane Cirincione, por me mostrarem que quando os humanos estão dispostos a amar, não há limite para o que pode ser criado compassivamente – e ignorado com mansidão. Elisabeth Kübler-Ross, por me mostrar que é possível fazer uma surpreendente contribuição ao planeta inteiro sem que você mesmo fique impressionado por isso.
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Kaela Marshall, por dar sempre exemplo de perdão quando confrontada com o imperdoável, permitindo-me acreditar na promessa de Deus de que existe redenção para todos nós. Scott McGuire, por demonstrar assombrosamente que sensibilidade não diminui a masculinidade, mas acrescenta a ela. Will Richardson, por me mostrar que você não tem que ter a mesma mãe para ser um irmão. Bryan L. Walsch, pelo exemplo de firmeza do papel importante da família. Dennis Weaver, por me mostrar tudo que há para saber sobre a graça do sexo masculino e sobre o uso dos talentos de pessoas comuns e de celebridades para melhorar a vida dos outros. Marianne Williamson, por demonstrar que lideranças espirituais e temporais não são mutuamente exclusivas. Oprah Winfrey, por ser um modelo incomum de determinação pessoal e bravura, e do que significa colocar tudo na linha para o que você acredita. Gary Zukav, por ser um exemplo de sabedoria suave e de como encontrar o Centro e a importância de permanecer nele. Esses professores, e muitos mais, foram os que eu tive e com quem tenho aprendido. Por isso, eu sei que qualquer coisa boa que possa proceder de mim veio, em algum grau, deles, que me ensinaram, e eu apenas passo adiante. Estamos aqui para fazer isso um para o outro, é claro. Somos todos professores uns dos outros. Não somos verdadeiramente abençoados?
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Para Dra. Elisabeth Kübler-Ross Que mudou o entendimento do mundo sobre a morte e a vida, sendo a primeira a ousar falar de um Deus de amor incondicional de quem poderíamos ser amigos. E para Lyman W. (“Bill”) Griswold Cuja amizade de trinta anos me ensinou aceitação, paciência e generosidade de espírito, e tantas coisas que as palavras não podem expressar, mas as almas nunca podem esquecer.
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Introdução
Tente dizer a alguém que você acabou de ter uma conversa com Deus e veja o que acontece. Não importa. Eu posso lhe dizer o que acontece. Sua vida inteira muda. Primeiro porque você teve a conversa; segundo, porque você contou sobre isso para alguém. Para ser justo, eu devia dizer que fiz mais do que ter uma conversa, eu tive um diálogo durante seis anos. E fiz mais do que “contar” para alguém, pois mantive um registro escrito do que foi dito e o enviei para uma editora. As coisas têm sido muito interessantes desde então. E um pouco surpreendentes. A primeira surpresa, na verdade, foi que o editor leu o material e o transformou em um livro. A segunda surpresa foi que as pessoas; de fato; compraram o livro, e até mesmo o recomendaram aos seus amigos. A terceira surpresa é que
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Amizade com Deus seus amigos o recomendaram aos amigos deles, e ele se tornou um best-seller. A quarta surpresa é que agora o livro é vendido em 27 países. E a quinta é que nenhuma delas é uma surpresa, considerando-se quem é o coautor. Quando Deus diz que Ele vai fazer algo, você pode contar com isso. Deus sempre abre o caminho. Deus me disse, em meio ao que eu achava ser um diálogo particular, que “um dia isto se tornaria um livro.” Eu não acreditei Nele. É claro, eu não acreditava em dois terços do que Deus me dizia desde que nasci. Isso era um problema. Não apenas comigo, mas com toda a raça humana. Se nós apenas ouvíssemos... O livro publicado foi intitulado, sem originalidade suficiente, Conversando Com Deus. Você pode não acreditar que eu tive tal conversa, e não preciso que você acredite. Isso não muda o fato de que eu a tive. Fica simplesmente mais fácil, se você optar por fazê-lo, rejeitar o que me foi dito nessa conversa – o que algumas pessoas têm feito. Por outro lado, têm havido muitas pessoas que não apenas concordam que tal conversa é possível, mas também fazem da comunicação com Deus uma regularidade em suas próprias vidas. Não é uma comunicação de mão única, mas, sim, de mão dupla. Entretanto, essas pessoas aprenderam a ser cautelosas sobre quem disse isso. Acontece que, quando uma pessoa diz que conversa com Deus todos os dias, é chamada de devota, mas quando outra pessoa diz que Deus fala com ela todos os dias, é chamada de louca.
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Um diálogo incomum No meu caso, isso é perfeitamente normal. Como eu disse, não tenho necessidade de que ninguém acredite em nada do que eu digo. De fato, prefiro que as pessoas escutem seus próprios corações, encontrem suas próprias verdades, busquem seus próprios conselhos, acessem sua própria sabedoria e, se desejarem, tenham suas próprias conversas com Deus. Se alguma coisa do que eu digo as leva a fazer isso – provoca o questionamento de como têm vivido e do que acreditavam no passado, trazendo-as para um lugar de maior exploração de suas próprias experiências, motivadas a se comprometerem mais profundamente com suas próprias verdades –, então, partilhar minha experiência será uma ideia muito boa. Acho que essa foi a ideia o tempo todo. De fato, estou convencido disto. É por isso que Conversando Com Deus se tornou um best-seller, assim como os livros II e III, que se seguiram. E creio que o livro que você está lendo agora se encontra em suas mãos para fazer com que mais uma vez você admire, explore e busque a sua própria verdade – mas, desta vez, sobre um tema ainda maior: É possível ter mais do que conversar com Deus? É possível que se tenha uma verdadeira amizade com Deus? Este livro diz que sim, e ensina como. Com as próprias palavras de Deus. Pois neste livro, felizmente, nosso diálogo continua, levando-nos a novos lugares, e poderosamente reitera algo do que me foi dito anteriormente. Tenho aprendido que é dessa forma que as minhas conversas com Deus prosseguem. Elas são circulares, revendo o que já foi dito, depois, de maneira estonteante, vão se 3
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Amizade com Deus espiralando para um novo território. Esta abordagem de dois passos à frente e um para trás, me permite manter em mente uma sabedoria previamente compartilhada, plantando-a firmemente em minha consciência a fim de formar uma base sólida para o melhor entendimento. Assim é o processo aqui. Não é desprovido de projeto. Enquanto, a princípio, esse processo é um pouco frustrante, eu acabei por apreciar profundamente o seu funcionamento. Pois ao plantar a sabedoria de Deus firmemente em nossa consciência, nós a afetamos. Nós a despertamos e a elevamos. E ao fazê-lo, entendemos melhor; chegamos a recordar de Quem Realmente Somos, e começamos a demonstrar isso. Nestas páginas, pretendo partilhar um pouco do meu passado e sobre como minha vida mudou desde a publicação da trilogia Conversando Com Deus. Muitos amigos têm me perguntado a respeito de tudo isso, o que é compreensível. Querem saber algo sobre esta pessoa que diz ter bate-papos casuais com Aquele no Andar de Cima. No entanto, não é por isso que eu incluo algumas anedotas. Fragmentos da minha “história pessoal” consumiram parte deste livro, não para satisfazer a curiosidade das pessoas, mas para mostrar que a minha vida testemunha como é ter uma amizade com Deus – e como todas as nossas vidas demonstram a mesma coisa. Essa é a mensagem. É claro, todos nós temos uma amizade com Deus, quer saibamos disso ou não. Eu era um daqueles que não sabia. Nem sabia para onde essa amizade poderia me levar. Esta é a grande surpresa aqui, a maravilha. Não tanto o que nós podemos fazer para ter uma 4
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Um diálogo incomum amizade com Deus, mas no que essa amizade foi concebida para nos oferecer – e para onde ela pode nos levar. Estamos em uma jornada nesta vida. Há um propósito para a amizade que fomos convidados a desenvolver, uma razão de ser. Até recentemente eu não conhecia a razão, não me lembrava dela. Agora que me lembro, não mais temo a Deus, e isso mudou minha vida. Nestas páginas (e em minha vida) eu ainda faço muitas perguntas, mas agora também dou respostas. Essa é a diferença aqui, e essa é a mudança. Agora eu falo com Deus, não meramente para Ele. Estou caminhando ao lado de Deus, não simplesmente seguindo. É o meu desejo mais profundo que sua vida seja transformada da mesma maneira que a minha; que você também, com a ajuda e orientação deste livro, desenvolva uma amizade muito real com Deus e que, como resultado, você também possa falar sobre sua conversa e viver sua vida com uma nova autoridade. É minha esperança que você não mais seja um buscador, mas um portador da Luz. Pois o que você traz é o que vai encontrar. Parece que Deus não está procurando tanto seguidores quanto líderes. Podemos seguir a Deus, ou podemos conduzir outros a Deus. A primeira direção nos faz mudar, a segunda transformará o mundo. —Neale Donald Walsch Ashland, Oregon Julho, 1999 5
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Lembro-me exatamente quando eu decidi que devia ter medo de Deus. Foi quando Ele disse que minha mãe ia para o inferno. Tudo bem, Ele não disse isso claramente, mas alguém disse em Seu nome. Eu tinha cerca de seis anos e minha mãe, que se considerava uma espécie de mística, “lia as cartas” em nossa mesa da cozinha para uma amiga. As pessoas sempre vinham em casa para ver quais tipos de adivinhações minha mãe conseguia extrair de um baralho de cartas comum. Ela era boa nisso, elas diziam, e a notícia de suas habilidades secretamente se espalhou. Enquanto minha mãe lia as cartas nesse dia específico, sua irmã nos fez uma visita surpresa. Lembro-me que minha tia não ficou muito feliz com a cena que encontrou, quando, após bater só uma vez, irrompeu pela porta de tela dos fundos.
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Um diálogo incomum Minha mãe agiu como se tivesse sido apanhada em flagrante, fazendo alguma coisa que não devia estar fazendo. Ela fez uma apresentação desajeitada para sua amiga e rapidamente recolheu as cartas, metendo-as nos bolsos de seu avental. Nada foi dito a respeito disso naquele momento, porém, mais tarde, minha tia veio dizer adeus no quintal onde eu tinha ido brincar. “Você sabe”, disse ela enquanto eu a acompanhava até o seu carro, “sua mãe não devia estar prevendo o futuro dessas pessoas com aquele baralho dela. Deus vai castigá-la.” “Por quê?” eu perguntei. “Porque ela está negociando com o demônio” – Eu me lembro dessa frase arrepiante por causa do seu som peculiar em meu ouvido –, “e Deus vai levá-la direto para o inferno.” Ela disse isso animadamente, como se estivesse anunciando que ia chover amanhã. Até hoje me lembro de ficar tremendo de medo à medida que ela se afastava, morrendo de medo que minha mãe tivesse irritado tanto a Deus. A partir dessa hora, o medo ficou incorporado em mim. Como seria possível que Deus, que devia ser o criador mais bondoso no Universo, quisesse punir minha mãe, que era a criatura mais bondosa em minha vida, com condenação eterna? Minha mente ansiava saber e, então, do alto dos meus seis anos, cheguei a uma conclusão: se Deus era cruel o bastante para fazer algo assim para minha mãe que, aos olhos de todos que a conheciam, era praticamente uma santa, então devia ser muito fácil enfurecê-Lo – mais fácil do que ao meu pai. Portanto, nós todos nos comportávamos de forma adequada. 7
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Amizade com Deus Tive medo de Deus durante muitos anos porque o meu medo era continuamente reforçado. Lembro-me que me disseram, no segundo ano de catecismo, que, a menos que um bebê seja batizado, ele não irá para o céu. Parecia tão improvável, mesmo para os do segundo ano, que costumávamos passar a rasteira na freira fazendo perguntas intrigantes como, “Irmã, Irmã, e se os pais estiverem levando o bebê para ser batizado, e a família inteira morrer num acidente de carro? Esse bebê não conseguiria ir para o céu com seus pais?” Nossa freira deve ter vindo da Velha Escolha. “Não”, ela suspirou pesadamente, “Receio que não.” Para ela, doutrina era doutrina, não havia exceções. “Mas para onde o bebê iria?”, um dos meus colegas perguntou seriamente. “Para o céu ou o purgatório?” (Em boas famílias católicas, nove anos é uma idade suficiente para saber o que exatamente é o “céu”.) “O bebê não iria nem para o céu nem para o purgatório.” A Irmã disse. “Ele iria para o limbo.” Limbo? Limbo, a Irmã explicou, era para onde Deus enviava os bebês e outras pessoas que, embora não tivessem cometido nenhuma falta, morriam sem ser batizados na única fé verdadeira. Eles não estavam sendo punidos, exatamente, mas jamais conseguiriam ver a Deus. Esse é o Deus com quem eu cresci. Você pode achar que estou inventando, mas não estou. O temor a Deus é criado por muitas religiões e é, de fato, incentivado por muitas delas. 8
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Um diálogo incomum Mas eu lhe digo que ninguém teve que me incentivar. Se você acha que eu fiquei atemorizado com a questão do limbo, espere até saber sobre a questão do Fim do Mundo. Em algum período do início dos anos 1950, ouvi a história das Crianças de Fátima. Fátima é uma aldeia no centro de Portugal, ao norte de Lisboa, onde disseram que a Virgem Maria apareceu em ocasiões repetidas para uma menina e seus dois primos. Aqui, relato o que me disseram sobre isso: A Virgem Maria deu às crianças uma Carta para o Mundo, que devia ser entregue, em mãos, para o Papa. Ele, por sua vez, devia abri-la e ler seu conteúdo, mas depois selar a carta de novo, revelando sua mensagem ao público anos mais tarde, se necessário. Disseram que o Papa chorou durante três dias após ler a carta, por conter notícias terríveis sobre a profunda decepção de Deus conosco, e detalhes de como Ele teria que castigar o mundo se não observássemos essa advertência final e mudássemos nossos caminhos. Seria o fim do mundo, haveria lamentações e ranger de dentes e um tormento inacreditável. Deus, disseram-nos no catecismo, estava zangado o bastante para infligir o castigo ali mesmo, mas devido a sua misericórdia nos daria mais uma chance, por conta da intercessão da Santa Mãe. A história de Nossa Senhora de Fátima encheu o meu coração de terror. Corri para casa e perguntei a minha mãe se era verdade. Ela explicou que se os padres e freiras assim o diziam, devia ser verdade. Nervosas e ansiosas, as crianças em nossa sala bombardearam a Irmã com perguntas sobre o que poderíamos fazer. 9
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Amizade com Deus “Vá à Missa todos os dias,” ela aconselhou. “Reze o terço às noites e faça o Sinal da Cruz frequentemente. Vá ao confessionário uma vez por semana. Faça penitência e ofereça o seu sofrimento a Deus como prova de que você saiu do pecado. Receba a Santa Comunhão. E reze o Ato de Contrição antes de dormir toda noite, para que se você for levado antes de acordar, seja digno de se juntar aos santos no céu.” Na verdade, nunca me ocorreu que eu poderia não viver na manhã seguinte até me ser ensinada a oração... Agora eu me deito para dormir, Peço a Deus para guardar minha alma. E se eu vier a morrer antes de acordar, Rezo para que o Senhor leve minha alma. Depois de algumas semanas de oração, fiquei com medo de ir para cama. Chorava todas as noites, e ninguém conseguia descobrir o que estava errado comigo. Até hoje eu tenho uma fixação com morte súbita. Muitas vezes, quando saía de casa para um voo fora da cidade – ou, às vezes, quando vou ao mercado – eu digo à minha esposa Nancy: “Se eu não voltar, lembre-se que as últimas palavras que eu disse a você foram: eu te amo.” Isto se tornou uma piada corrente, mas existe certa dose de verdade nisso tudo, o que é um problema grave. Minha segunda briga com o medo de Deus aconteceu quando eu tinha treze anos. Minha babá da infância, Frankie Shultz, que morava do outro lado da nossa rua, estava se casando e me convidou – bem eu – para ser o pajem em sua 10
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Um diálogo incomum festa de casamento! Uau, que orgulho. Até eu chegar à escola e contar para a freira. Foi assim: “Onde vai ser o casamento?”, ela perguntou desconfiada. Eu falei o nome do lugar. Sua voz se transformou em gelo. “É uma igreja luterana, não é?” “Bem, eu não sei. Não perguntei, eu suponho que...” “É uma igreja luterana, e você não vai.” “Por quê?”, perguntei. “Você está proibido,” ela declarou, e isso parecia definitivo. “Mas por quê?”, insisti assim mesmo. A Irmã olhou para mim como se não acreditasse que eu estava fazendo mais perguntas. Então, extraindo paciência de uma fonte profunda, ela piscou duas vezes e sorriu. “Deus não quer que você entre numa igreja de pagãos, meu filho,” a freira explicou. “As pessoas que vão lá não creem como nós cremos. Elas não ensinam a verdade. É um pecado frequentar qualquer outra igreja que não seja a católica. Lamento que sua amiga Frankie tenha escolhido se casar lá. Deus não vai consagrar o matrimônio.” “Irmã,” eu pressionei muito, muito além do ponto de tolerância, “e se eu for o pajem do casamento, afinal?” “Bem, então,” ela disse com genuína preocupação, “ai de vós.” Ufa! Barra pesada. Deus era um homem durão. Não tinha como sair da linha.
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Amizade com Deus Bem, eu saí da linha. Gostaria de poder relatar que eu baseei meu protesto nas mais altas razões morais, mas a verdade é que eu não conseguia suportar a ideia de não poder usar meu casaco branco esportivo (com um cravo vermelho – bem como Pat Boone cantava!). Decidi não contar a ninguém o que a freira dissera, e fui àquele casamento como pajem. Rapaz, eu estava com medo! Você pode achar que estou exagerando, mas pelo dia inteiro, de fato, esperei que Deus fosse me atacar. E durante a cerimônia fiquei vigilante com as mentiras luteranas sobre as quais eu havia sido advertido. Porém, tudo o que o ministro disse eram assuntos animados e interessantes fazendo com que todos na igreja se emocionassem. Mesmo assim, no final do culto, eu estava encharcado de suor. Naquela noite eu implorei a Deus, ajoelhado e com as mãos juntas, que perdoasse minha transgressão. Recitei o mais perfeito Ato de Contrição que já se ouviu. (Oh meu Deus, eu sinceramente me arrependo por ofendê-Lo...) Deitei-me na cama por horas, com medo de adormecer, repetindo várias vezes, e se eu morrer antes de acordar, rogo ao Senhor que leve a minha alma... Decidi contar essas histórias da minha infância – e existem muitas – por um único motivo. Quero que você fique impressionado de como era real o meu temor, pois minha história não era a única. E, como eu disse, não são apenas Católicos Romanos que ficam com medo de se colocarem diante do Senhor. Longe disso. Metade das pessoas no mundo acredita que Deus vai “puni-los” se não forem bonzinhos. Fundamentalistas 12
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Um diálogo incomum de muitas religiões impingem o medo nos corações de seus seguidores. Você não pode fazer isto. Não faça aquilo. Pare, ou Deus vai castigar. E nós não estamos falando sobre proibições aqui, como Não Matarás. Estamos falando sobre um Deus que fica aborrecido se você comer carne na sexta-feira (entretanto, Ele mudou de ideia sobre isso), carne de porco em qualquer dia da semana ou obter o divórcio. Este é um Deus que faz você ficar zangado se sua mulher deixar de cobrir o rosto com um véu, por não visitar Meca durante sua vida, por não parar todas as atividades, desenrolar seu tapete e se prostrar cinco vezes por dia, por não se casar em um templo, por deixar de ir ao confessionário ou frequentar a igreja todos os domingos, ou seja lá o que for. Temos que ser cautelosos com Deus. O único problema é que é difícil saber todas as regras, pois existem tantas. E a coisa mais difícil é que as regras de todos estão certas. Ou pelo menos é o que dizem. Contudo, todos eles não podem estar certos. Então, como escolher, como saber? É uma pergunta incômoda, mas não é insignificante, dada a aparentemente pequena margem de erro que temos. Assim surge um livro chamado Amizade com Deus. O que isto pode significar? Como pode ser? É possível que Deus não seja o Santo Bandido, afinal de contas? É possível que bebês não batizados vão para o céu? Que usar um véu ou se curvar para o Oriente, permanecer celibatário ou se abster de carne de porco não tenha nada a ver com nada? Que Alá nos ama incondicionalmente? Que Jeová vai escolher todos nós para estar com Ele quando os dias de glória estiverem próximos? 13
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Amizade com Deus Fundamentalmente, mais do que fazer tremer a terra, não deveríamos nos referir a Deus como “Ele”? Poderia ser “Ele” uma mulher? Ou, até mesmo mais inacreditável ainda, sem gênero? Para uma pessoa educada como eu, até cogitar tais pensamentos podia ser considerado um pecado. No entanto, temos que pensar sobre eles. Temos que desafiá-los. Nossa fé cega nos levou a um beco sem saída. A raça humana não progrediu muito nos últimos dois mil anos em termos de evolução espiritual. Ouvimos professor após professor, mestre após mestre, lição após lição e ainda estamos exibindo os mesmos comportamentos que têm produzido penúria para nossa espécie desde o início dos tempos. Nós ainda matamos o próximo, governamos nosso mundo com poder e ganância, reprimimos sexualmente nossa sociedade, maltratamos e deseducamos nossas crianças, ignoramos o sofrimento e, na verdade, o criamos. Passaram-se dois mil anos desde o nascimento de Cristo, e dois mil e quinhentos desde a época de Buda, e mais tempo desde que ouvimos as palavras de Confúcio pela primeira vez ou a sabedoria de Tao. Entretanto, ainda não conseguimos descobrir as Questões Principais. Haverá, ainda, uma maneira de transformar as respostas que já recebemos em algo viável, algo que possa funcionar em nosso dia a dia? Eu acho que sim. E me sinto muito certo disso, uma vez que discuti bastante a esse respeito em minhas conversas com Deus.
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