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Os comeテァos
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1877 A 1º de novembro, chegam a Paranaguá e se fixam em Porto de Cima, integrando um grupo de imigrantes italianos, os pais do futuro artista, Giovanni Battista Turin e Maria Angela Zanin Turin, naturais de Feltre, no Vêneto.
Feltre - Cidade italiana de onde emigraram os pais de João Turin. 4
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1878 A 21 de setembro, conforme a certidão de batismo - o registro de nascimento perdeu-se num incêndio - nasce em Porto de Cima/Paraná, João Zanin Turin.
Giovanni Battista Turin Arquivo João Turin
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João Turin apontando para a casa onde nasceu, em Porto de Cima - 1944 Em sua companhia: Theodoro De Bona, Sinibaldo Trombini, Marcos De Bona e José Buzetti Arquivo João Turin
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Após
1890 Depois de uma infância feliz e de aprender com o pai a arte da forja, o menino João passa a ajudar no sustento da família, empregando-se com “patrões desalmados (que) me maltratavam a tal ponto que fui obrigado a fugir”. Sucessivamente marceneiro e torneiro, continua trabalhando para maus patrões, que inclusive o espancam. Aprende com o italiano Lorenzini a entalhar em madeira, e nos intervalos do seu trabalho de ornamentista numa fábrica de móveis, entalha cabeças de Cristo, do pai e de Garibaldi, entre outras primícias artísticas.
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Jo達o Turin aos 15 anos
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1896 Nos anais da Escola de Artes e Indテコstrias, fundada em 1890 em Curitiba pelo portuguテェs Antonio Mariano de Lima, Joテ」o Turin aparece como aluno-professor.
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Curitiba em 1900
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1902-1903 Fascinado pela experiência anarco-socialista de Giovanni Rossi na Colônia Cecilia, em Palmeira, integra o grupo anarquista curitibano, em cujas reuniões se discutia Hegel, Marx e outros teóricos. Toma parte nas passeatas do grupo, dispersadas pela polícia.
João Turin e Ângelo Sampaio
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1905 A 12 de março submete à Assembleia Estadual petição na qual solicita ajuda oficial para estudar escultura no Rio de Janeiro ou na Europa. Graças ao decisivo apoio dos deputados estaduais ROMÁRIO MARTINS, que integrava a Comissão de Instrução Pública, e JOSÉ DAVID PERNETA, da Comissão de Finanças, a Turin, que na ocasião já contava 27 anos, é-lhe concedida uma bolsa de 100 mil reis mensais a ser desfrutadanos próximos cinco anos na ACADEMIE ROYALE DES BEAUX ARTS DE BRUXELAS, onde já se encontrava o escultor paranaense Zaco Paraná.
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Romário Martins
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David Perneta
Na Academia em Bruxelas
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1906 Em começos do ano chega a Bruxelas, com 20 mil reis no bolso; doente e em depressão, é acolhido por Zaco Paraná:
“A miséria, a fome e o frio me puseram em tal situação que, se não fora o amparo do meu querido amigo Zaco Paraná, que lá estava estudando e foi ao meu encontro, auxiliando-me e me comprando um sobre tudo, certamente eu teria morrido”.
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Joテ」o Turin e Zaco JOテグ Paranテ。 TURIN
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Bruxelas em 1900
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Academia Real de Belas Artes de Bruxelas Acadテゥmie Royale des Beaux-Arts de Bruxelles JOテグ TURIN
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Matricula-se na Academia Real de Belas Artes de Bruxelas, onde nos prรณximos anos serรก, aluno de Paul Dubois, Victor Rousseau e do grande estatuรกrio Charles Van der Stappen.
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Registro de matrテュcula de Joテ」o Turin na Academia Real de Belas Artes de Bruxelas JOテグ TURIN
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Academia Real de Belas Artes de Bruxelas AcadĂŠmie Royale des Beaux-Arts de Bruxelles 22
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Turin, em um de seus manuscritos, revela como lhe foi penoso ter de por de lado tudo quanto até então lhe fora ensinado e a luta que se desenrolou dentro de si para se adaptar aos novos ensinamentos:
Na Academia, ficou conhecido como o “sauvage brésilien”, por sua elevada estatura.
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“Entrei na Escola. Ah! Ilusão – comecei a luta e logo senti que não sabia nada do que era a escultura. Acabrunhado física e moralmente, me senti quase perdido. Tive que recomeçar tudo, e o mais difícil – esquecer o que eu tinha aprendido. Não é assim que se desenha, não é assim que se modela uma forma, não é assim que se constrói uma figura. Não sabia absolutamente nada. Tudo o que eu achava sublime os professores me diziam: não presta, e me apontavam as obras que eu achava ruins... Lia todos os críticos e fazia perguntas aos mestres, que me respondiam no fim todos a mesma coisa: leia muito, mas sobre tudo trabalhe muito e estude as obras mais belas do original...”
Em uma de suas anotações, Turin refere-se a uma jovem estudante de Belas Artes, rica e de grande beleza, por quem se apaixonou perdidamente, sendo correspondido com igual intensidade, mas de quem acabou por se afastar para não prejudicar a carreira:
“Tudo teria mudado em minha vida se tivesse casado com aquela encantadora menina, filha de um rico negociante de jóias na Praça Principal de Bruxelas. Sete anos depois foi me visitar em Paris, já era casada e tinha filhos. Casou logo que saí, disse-me ela, para se consolar. Choramos e no meio de beijos e lágrimas, despedimonos para sempre”.
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Em 1910, em consequência dos prêmios obtidos na Academia, foilhe concedido por Van der Stappen, tal como anunciara no início do ano letivo, um ateliê na própria academia, ao mesmo tempo em que a Municipalidade de Bruxelas lhe ofereceu 300 francos e modelo para que produzisse uma obra de livre imaginação. Apesar dos protestos de alguns alunos, que contestaram a premiação alegando sua condição de estrangeiro, Van der Stappen a confirmou, em poucas e nobres palavras: “Aqui são todos alunos. Não há estrangeiros.”
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Resultado da premiação foi a obra “No Exílio”, imponente figura de dois metros, menção honrosa no Salon des Artistes Français de 1912, que teria sido ofertada à Municipalidade de Bruxelas. JOÃO TURIN
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Em Paris
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1910 Com o diploma da Académie em mãos, dirige-se a Paris, onde nos primeiros tempos enfrenta dificuldades. Contratado por duas ricas paranaenses, durante alguns meses serve-lhes de cicerone numa viagem à Itália: “Quem não sofreu fome e miséria não pode saber o estado de um jovem numa riquíssima mesa tendo à sua disposição as mais finas iguarias, litros de frascati e um garçon às costas para tirar os talheres” – anotará mais tarde em seus cadernos.
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Visto de Turin para Paris
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1911-1913 Emprega-se num ateliê de decoração, onde sua primeira função é recolher o lixo. Mas, tendo sabido seus superiores que, aquele humilde lixeiro, era de fato um escultor premiado com menção honrosa no Salon des Artistes Français de 1912, passa a produzir baixos relevos, dois dos quais, As Artes e As Ciências, exibidos na Exposição Universal de 1913 em Gand, e dois outros, representando crianças, feitos para um clube de Buenos Aires.
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Participa do Salon des Artistes Français de 1913 com o busto do Barão do Rio Branco e a obra “Le Feu Sacré”.
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Joรฃo Turin e Zaco Paranรก na Escola Superior de Belas Artes de Paris 36
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1914 Aluga com o pintor João Ghelfi ateliê em Montparnasse, à Rua Vercingétorix 52 – uma “rua sinistra como o diabo, não muito longe do cemitério”, como a definiria em 1926 Antônio de Alcântara Machado. Foi nesse ateliê que, a rigor, deu início às suas atividades de escultor independente.
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Participa do Salon des Artistes Français de 1914 com o busto de Leòn-Mac-Auliffe.
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Esculpe obras de conteúdo patriótico, como o baixo relevo Mis pour defendre le droit et la liberté des peuples, com os retratos de George V, Alberto I e Poincaré.
E uma placa com as efígies dos reis belgas Elizabeth e Albert, doado pelo artista, em 1916, ao Museu de Clamecy para fazer parte da coleção da guerra. JOÃO TURIN
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1917
Executa em pedra, para a Igreja de Saint Martin em Condé-sur-Noireau, na Baixa Normandia, uma Pietà, dedicada aos cidadãos mortos na conflagração. Em 6 de junho de 1944, por ocasião da invasão aliada da Normandia, 95% de Condé-surNoireau foi destruída; a igreja de Saint Martin sofre pesados danos, mas a Pietà, como que por milagre, escapa íntegra aos bombardeios. Sob os traços da Virgem, Turin teria se inspirado nos da célebre dançarina ISADORA DUNCAN, que também foi tema a muitos outros artistas, entre eles Roudin e Bourdele, como principalmente porque ela perdeu seus dois filhos afogados no Sena, perda imensa que a aproximaria da de outra mãe: Maria, ante o filho morto.
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1919 Integrando a equipe do escultor Eugène Molineau, trabalha em várias cidades francesas na execução de monumentos aos mortos da Guerra de 1914-1918. Turin, segundo suas anotações, teria passado um mês em Nîmes, trabalhando num monumento de três metros de altura dedicado ao soldado francês: “1919 – Fui fazer uma figura de 3 metros com Molinau (modelo do escultor Bitter) em Nime (sic) – figura soldado francês de pedra, numa praça. 6 da manhã 10 da noite 30 dias. Visitou (sic) mais Arles, Avignon (e) Marselha.“
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1921
Expテオe no Salon des Artistes Franテァais o gesso Le Chien, possivelmente sua primeira incursテ」o como escultor animalista.
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1921 Expõe a estátua Tiradentes no Salon des Artistes Français, que foi aclamada pela crítica.
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Turin fez tambテゥm, em seu テコltimo ano em Paris, os bustos de Emiliano Pernetta, Emilio de Menezes e Domingos Nascimento.
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Embarca para o Rio de Janeiro, cedendo ao jovem escultor VICTOR BRECHERET a utilização de seu ateliê da Rue Vercingétorix (por cujo aluguel continua responsável), e lhe confiando a guardadas muitas esculturas, quase todas em gesso, nele existentes, pois tencionava regressar brevemente a Paris.
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De volta ao Brasil
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1922 Na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, a obra Tiradentes participa da grande exposição comemorativa do Centenário da Independência, sendo-lhe concedido um prêmio de um conto de reis. No mesmo ano, acontece a Semana de Arte Moderna em São Paulo, também chamada de Semana de 22, evento que marcou o início do modernismo no Brasil e tornou-se referência cultural no Século XX.
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1923 Insistentemente convidado a se fixar no Rio, onde já residia o amigo fraterno Zaco, Turin, ao contrário dele, preferiu regressar ao Paraná, premido pelas saudades da terra natal. Em janeiro de 1923 ei-lo de novo em Curitiba, a princípio recebido com relutância e até com certa hostilidade pelos meios artísticos e culturais, antes de que as autoridades municipais lhe pusessem à disposição uma casa, no Alto do São Francisco, onde montar seu ateliê.
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Turin com amigos em seu aniversテ。rio em 21/09/1926
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Reconhecido finalmente como o grande escultor da cidade e passando a ocupar no ParanĂĄ o mesmo e privilegiado lugar do veterano Rodolfo Bernardelli na capital federal, Turin, a partir de entĂŁo, passou a se desincumbir de vĂĄrias comissĂľes e encomendas.
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Turin trabalhando no busto de Carlos Gomes
Busto de Carlos Gomes
General Gomes Carneiro JOテグ TURIN
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Pedagogia – 1927 – Instituto Estadual de Educação do Paraná
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Inauguração do Busto a Júlia Wanderley Praça Santos Andrade – 1927
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Inauguração do Monumento ao General Gomes Carneiro – 1928 Lapa, Paraná
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Inauguração do Monumento a Carlos Gomes – 1926
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Em 1927, ano em que se comemorava o cinqüentenário da imigração italiana para o Paraná, Turin recebeu convite de Nicolo Freschi, presidente do Comitê Pró-Monumento a Tiradentes, para fazer uma estátua do herói, que a colônia pretendia oferecer ao Estado. Como já havia feito em Paris uma estátua com esse mesmo motivo, Turin acabou doando a estátua à colônia italiana, que por sua vez a ofereceu à cidade de Curitiba -, o que lhe valeu, no ano seguinte, a comenda da Ordem da Coroa Italiana, no grau de Cavaleiro Estrangeiro.
Inauguração Monumento a Tiradentes 21.04.1927 – Praça Tiradentes Curitiba
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João Turin e o Consul italiano na inauguração da escultura de Tiradentes em Curitiba 68
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A dテゥcada de 30
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1930-1934 Período de enormes dificuldades financeiras para Turin, que perdeu todas as suas economias na crise mundial originada em 1929 com a quebra da Bolsa de Nova York. Por outro lado, a situação política em que mergulhou o Paraná com as revoluções de 1930 e 1932 motivoulhe páginas amargas, como essa, de 5 de outubro de 1934: “Acreditei nas promessas e não acreditei que pudesse sair uma revolução tão cedo. Não acreditando fiquei em Curitiba, esperando executar tantas obras prometidas. Quando menos
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esperava vi cair por terra o meu grande sonho e vi-me perdido para sempre. No dia 5 de outubro apareceu-me a realidade. Sem dinheiro e sem trabalho compreendi que estava morto para sempre o meu ideal. Só poucas semanas depois, a 27 de outubro, em novo texto pinçado em seus escritos, percebe-se que a esperança lhe voltara: Chega de sofrimento e de torturas que passei nesses quatro anos de neurastenia. Hoje me sinto quase bom. As forças voltaram e a sombra penosa que cobriu meu cérebro está quase que iluminada. Sinto reviver em mim a chama que perdera por longos anos”.
“Acreditei nas promessas e não acredite Não acreditando fiquei em Curitiba, e Quando menos esperava vi cair por te sempre. No dia 5 de outubro apareceu compreendi que estava morto para sem a 27 de outubro, em novo texto pinçad lhe voltara: Chega de sofrimento e de neurastenia. Hoje me sinto quase bom cobriu meu cérebro está quase que ilum perdera por longos anos”.
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1935 Participa em Porto Alegre, como representante do Paraná, da Exposição do Centenário Farroupilha, motivando comentários entusiásticos da imprensa gaúcha. Angelo Guido, por exemplo, diz a seu respeito, em artigo de 1º de janeiro de 1936:
“Não sei de outro escultor que seja mais expressivamente brasileiro, na sua obra, do que João Turin.”
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No mesmo ano, para comemorar o cinquentenário da inauguração, a 2 de fevereiro de 1885, da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, João Turin foi incumbido de concretizar numa escultura a façanha sobre-humana, por muitos julgada inexequível, de, em obediência ao traçado original de André Rebouças, plantar mais de 100 quilômetros de trilhos em plena Serra do Mar, através de túneis, pontes e viadutos. Turin elaborou o baixo-relevo “O ÚLTIMO TÚNEL”.
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1930-1934 Executa em Curitiba os monumentos...
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Monumento a Ruy Barbosa – Praça Santos Andrade - Curitiba
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Busto do Barテ」o do Cerro Azul Curitiba
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Monumento à República Praça Tiradentes - Curitiba
...além de considerável número de estátuas, bustos e baixos-relevos de políticos, militares e personalidades. Entre eles, o baixo-relevo, de 1934, do aviador polonês Stanislas Jakub Skarzinski, que no ano anterior realizara um pioneiro vôo solo num pequenino monomotor sem rádio sobre o Atlântico Sul, entre Dakar e Maceió e o busto, de 1938, do poeta simbolista Dario Vellozo, falecido no ano anterior.
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Dedica-se com maior assiduidade também à pintura, tendo realizado exposições de seus óleos em 1934 e 1936. 84
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Turin e o Paranismo
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1926 Em sucessivos encontros mantidos no ateliê de João Ghelfi, junto a esse pintor e mais Lange de Morretes, João Turin é um dos criadores e maior representante em artes visuais do Paranismo, um estilo regional baseado na estilização do pinheiro, do pinhão, da erva mate e de outros elementos simbólicos do Paraná, a ser empregado na ornamentação arquitetônica, em esculturas, móveis, pinturas, design de modas etc. O Paranismo teria duração efêmera, esgotando-se praticamente em 1930.
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Visando recuperar antiga tradição ou, segundo outros, criar uma tradição num Estado que delas carecia, se plasmou o PARANISMO. Como escreveu Adalice Araújo:
“Com a chegada dos imigrantes europeus no século XIX, o Paraná, envergonhado de ser caboclo, perde a sua memória. Sob os chapéus de bloude passa a ser um Paraná francês. Assim, exilados de Paris, os jovens curitibanos de finais do século XIX e inícios do século XX, obrigados a viverem nesse lado de cá do mundo, curtindo a angústia existencial, em meio à névoa de Curitiba, ao frio, aos banhados e aos sapos, tornam-se simbolistas (.....) ou, ainda, refugiam-se no mundo helênico, transformando a Curitiba do Templo das Musas na Atenas Latino-Americana”.
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Em 19 de outubro de 1926, contrariando todas as expectativas dos círculos conservadores paranaenses, Turin concede à Gazeta do Povo entrevista na qual apoia com entusiasmo as ideias de renovação artística propostas pelo jovem jornalista Jurandir Manfredini dias antes, no discurso Renovação ou Morte, proferido no Clube Curitibano:
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“Eu há muito que venho em palestras falando (afirmou) da necessidade de deixarmos de copiar servilmente o que ficou para trás, isto é, o passado, a Europa portanto. É preciso, o quanto antes, que abandonemos as ideias e fórmulas do Velho Continente. Somos um povo novo, em formação, e devemos cantar coisas nossas, do nosso povo, da nossa história, dos nossos costumes, da nossa natureza (....) É melhor errar procurando alguma coisa de novo, do que se perpetuar na rotina”.
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O Paranismo, surgiu, em grande parte devido à pregação incessante de ROMÁRIO MARTINS (1874-1948), o qual, numa série de livros iniciada em 1899 por uma História do Paraná, logo oficializada pelo Estado, destaca na paisagem paranaense o que tem de mais típico – o pinheiro – tornado-o símbolo do Paraná, mesmo porque o próprio nome da capital, como aventou num livro de 1926, pode ter se originado da junção dos vocábulos indígenas cory, pinheiro, e tiba, muito, ou seja, muitos pinheiros, pinheiral. 96
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Numa sucessão de encontros mantidos em 1923 no ateliê de João Ghelfi, ele, João Turin e Lange de Morretes, todos três significativamente filhos de imigrantes, discutiram longamente sobre como aplicar os princípios do Paranismo às artes visuais, chegando, após vários cálculos, a determinar graficamente a forma estilizada do pinhão:
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Foi Ghelfi, por conseguinte – no dizer insuspeito de Lange de Morretes – o pioneiro do paranismo em arte, embora sua morte, ocorrida apenas dois anos depois, o tenha impedido de lhe dar maior contribuição; em consequência, coube a Turin e a Lange levar adiante a missão, tendo cabido ao primeiro, inspiradona coluna jônica, desenhar a coluna paranista, com pinhas e pinhões no capitel, e ao segundo a estilização da caruma (folha do pinheiro), até hoje visível no calçamento de alguns logradouros de Curitiba.
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Artes Gráficas REVISTA ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE Foi uma revista mensal de artes e atualidades que circulou no Paraná entre 1927 e 1930. Na capa do primeiro número da Ilustração Paranaense – mensário então fundado pelo cineasta João Batista Groff estampa o desenho do Homem-Pinheiro – um índio de braços abertos, flanqueado por pinheiros, tendo embaixo um friso de pinhões -, que se tornaria uma espécie de logomarca do movimento.
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Ornamentação Arquitetônica Sobre a fachada da casa, demolida na década de 70, do Dr. Bernard Leinig à Rua José Loureiro, 245, no centro de Curitiba, que Turin logrou em dar forma à sua imaginação paranista, comentou:
“os únicos que tiveram a audácia de aceitar a minha proposta de decorar com estilização, inspirando-me no gigantesco pinheiro”.
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Mobiliário Ornamentação das estantes feitas para a biblioteca do Clube Curitibano, desenhada por João Turin e realizada por Félix Szabo. Atualmente se encontram no Clube Duque de Caxias.
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Design de Moda
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Desenhos e Ilustraçþes
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Pinturas
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Esculturas e Baixos-relevos
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Além da estilização do pinheiro, do pinhão, da erva mate em suas obras, Turin também valorizou as cenas com índios, um dos elementos simbólicos do Paraná.
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Em 1927, porém – ano de fundação do Centro Paranista, Romário Martins definiu mais amplamente paranista e paranismo, possibilitando que os dois conceitos abrangessem não só os nascidos no Paraná, mas também os imigrantes e, em geral, todos os que tivessem algum vínculo afetivo com o Estado: “Paranista é todo aquele que tem pelo Paraná uma afeição sincera, e que notavelmente a demonstra em qualquer manifestação de atividade digna, útil à coletividade paranaense. (.....) É simbolicamente aquele que em terra do Paraná lavrou um campo, vadeou uma floresta, lançou uma ponte, construiu uma máquina, dirigiu uma fábrica, compôs uma estrofe, pintou um quadro, esculpiu uma estátua, redigiu uma lei liberal, praticou a bondade, iluminou um cérebro, evitou uma injustiça, educou um sentimento, reformou um perverso, escreveu um livro, plantou
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uma árvore. Paranismo é o espírito novo, de elação e exaltação, idealizador de um Paraná maior e melhor pelo trabalho, pela ordem, pelo progresso, pela bondade, pela justiça, pela cultura, pela civilização. É o ambiente de paz e solidariedade, o brilho e a altura dos ideais, as realizações superiores da inteligência e dos sentimentos. Nós, que aqui estamos nos esforçando muito por fazer germinar e florir e frutificar esse ideal entre as gentes que estão povoando e afeiçoando aos surtos de uma maior grandeza, este trecho lindo e dadivoso das terras da nossa Pátria – pretendemos que o “paranismo” seja a fé constante nas nossas realizações, a confiança no nosso futuro, a ufania do nosso passado, o dinamismo de nossa vitalidade, o heroísmo pacifico do nosso trabalho, a confraternização dos nossos elementos sociais de todas as origens, para a formação desse espírito de brasilidade que nos há de salvar de nós mesmos.”
No texto O Pinheiro na Arte, publicado em dezembro de 1953 na Ilustração Brasileira, Lange de Morretes explicou o começo de tudo: “Quando um artista paranaense está só, ele pensa no pinheiro, quando está em companhia de outro artista, fala do pinheiro; e quando os artistas reunidos são mais de dois, discutem sobre o pinheiro. Não era pois de se estranhar a conversa ter se encaminhado para o pinheiro. Discutíamos as suas qualidades, as suas dificuldades e as suas novas possibilidades para o campo da arte. Ghelfi, sempre, entusiasmado e sonhador, tomou de um pedaço de carvão e na parede de seu ateliê traçou, do tronco do pinheiro, um fragmento de fuste, sobre o qual compôs um grupo de pinhas como capitel. (.....) Depois cada um foi para sua casa, com um pinheiro na cabeça envolto na bruma do chope. Turin e eu estávamos com uma semente no peito a germinar. E, curioso, o semeador Ghelfi contentou-se com a semeadura. Talvez, devido à sua morte prematura.” JOÃO TURIN
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Os anos finais
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O ateliĂŞ de JoĂŁo Turin
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1941 Exposição da Sociedade dos Amigos de Alfredo Andersen
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1944 Turin passa vários meses no Rio de Janeiro, convidado a participar de uma exposição organizada pela Sociedade dos Amigos de Alfredo Andersen. Na ocasião, passa para o bronze seu gesso TIGRE
ESMAGANDO A COBRA, que exposta no Salão Nacional de Belas Artes daquele ano merece medalha de prata e acaba adquirida pela Prefeitura da capital, que a instala na Quinta da Boa Vista.
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1945 Sentindo o declínio de suas forças, num texto autobiográfico traça o seu testamento artístico:
“Não realizei tudo o que desejava o meu sonho de artista. Era grande demais para as minhas forças e pelas pedras que encontrei no caminho. Fiz o que pude com os meios que tive. Creio ter cumprido o meu dever, bem ou mal, perante a minha consciência e da minha gente que sempre amei”.
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1947 Com um busto de Dario Vellozo é premiado com medalha de ouro no Salão Paranaense, e com medalha de prata no Salão Paulista de Belas Artes.
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No mesmo ano, o bronze O Rugir do Tigre, ou LUAR DO SERTÃO, garante-lhe, no Rio de Janeiro, a medalha de ouro no Salão Nacional de Belas Artes. Obra que hoje se encontra na Praça General Osório, no Rio de Janeiro e na rótula do Centro Cívico, em Curitiba.
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1947-1949 Além das encomendas costumeiras, retoma um projeto iniciado na década de 1920, e que deixaria inconcluso: a série de 16 baixos relevos destinados a ornamentar as portas da Catedral de Curitiba. Deixa também inacabados quatro baixos relevos representando as Quatro Estações.
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1948
Turin テゥ homenageado, por seus amigos, pelos prテェmios recebidos no Rio de Janeiro.
JOテグ TURIN
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1948
É convidado a integrar o corpo docente da recém-criada Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Participa do programa do Professor Erasmo Pilotto, para professoras normalistas, na cidade de Palmeira.
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Vida, obra, arte
1949
Falece a 9 de julho de 1949 no Hospital da Cruz Vermelha em Curitiba, apテウs sofrer dias antes um infarto quando subia as escadarias da igreja onde se realizava o casamento do filho de um amigo.
JOテグ TURIN
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Vida, obra, arte
JOテグ TURIN
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