João Turin - Vida, Obra, Arte

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Os Oscomeรงos comeรงos

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Entre os imigrantes italianos desembarcados em 1º de novembro de 1877 no porto paranaense de Paranaguá,

“Afirmo que foi uma surpresa, pois Turin tinha uma constituição

em busca de melhores condições de vida

de homem robusto, sempre alegre

no Brasil, estavam Giovanni Battista Turin,

e otimista, sabendo disfarçar,

de 41 anos, e sua mulher Maria Angela Zanin Turin, dez anos mais moça, ambos naturais de Feltre, no Vêneto; acompanhados das duas filhas pequenas, Fiorenza e Angela, fixaram-se em Porto de Cima, um dos núcleos da recém-criada colônia da Nova Itália em Morretes. Foi ali que nasceu João Turin, a 21 de setembro de

com natural arte, a sua idade, que suponho devia ser provecta. Nunca consegui saber a idade certa de Turin. Confesso, também, que nunca lha perguntei, tanto ele aparentava uma eterna mocidade.”

1878, como se pode ler em sua certidão de João Turin apontando para a casa onde nasceu, em Porto de Cima - 1944 Em sua companhia: Theodoro De Bona, Sinibaldo Trombini, Marcos De Bona e José Buzetti Arquivo João Turin

batismo e no livro de matrículas do Seminário Arquidiocesano São José onde estudou, pois o registro de nascimento perdeu-se em 1921, num incêndio. Mas existem outras datas, menos prováveis, aventadas como a de seu nascimento; assim, no inventário de seus bens consta que ao falecer, a 9 de julho de 1949,

Certidão de Batismo de João Turin Arquivo João Turin

teria 74 anos, o que o daria nascido em 1875,

O pai de Turin, após ter trabalhado na perfuração de túneis

portanto ao tempo em que seus pais ainda

da ferrovia Paranaguá-Curitiba que então se construía (1880-

viviam na Itália, enquanto ao se matricular na

1885), transferiu-se a Curitiba com a família, instalando-se

Academia de Bruxelas ele se disse nascido em

numa chácara onde, em 1887, Maria viria a falecer deixando

1879; aliás, Turin desconversava quando o

sete filhos menores. Exceção feita desse triste episódio, que

assunto vinha à baila, ora dizendo-se nascido

evocaria mais tarde no baixo-relevo Último Adeus, João Turin

em 1880, ora afirmando ser “da idade de

foi uma criança feliz, em contato com a natureza, correndo livre

Cristo”, isso quando não retrucava furioso

por campos e matas, caçando, pescando, armando arapucas,

ao indiscreto, ele que tinha horror à velhice:

em gostosos banhos no Rio Nhundiaquara ou em divertidas

“O que é que o senhor tem com isso?”. Vale

estrepolias com outros meninos. Data dessa época um remoto

a pena citar a respeito o que escreveu Túlio

contato com a escultura: recobria pernas, tronco, mãos e

Mugnaini, por ocasião da morte do grande

braços com lama, deixava-a secar ao sol e depois a removia,

escultor, que conhecera em 1920 em Paris:

para brincar com os moldes do próprio corpo assim obtidos.

Giovanni Battista Turin Arquivo João Turin Bengala esculpida em madeira por João Turin 92,3 x 4,3 cm Acervo João Turin Foto: Maringas Maciel

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Os tempos de total despreocupação findaram quando, aos 12 anos, teve de trabalhar para ajudar no sustento da família como explicou, pouco antes de morrer, numa entrevista a Valfrido Pilotto,

“... vivi, até os doze anos, vida verdadeiramente primitiva, seminu, solto aos meus próprios instintos infantis, feito bugre... Depois voltamos para a cidade. Aqui meu pai me fez aprender a arte da forja, e fiquei ferreiro. Porém, criança ainda, patrões desalmados me maltratavam a tal ponto que fui obrigado a fugir. Passei-me, então, para outros ofícios: marceneiro e, mais tarde, torneiro. Eu continuava, todavia, a padecer da infelicidade de só encontrar patrões maus, que me espancavam bastante para compensar a pouquíssima comida que me davam... Novamente fugi, e dessa vez fui aprender o ofício

Imigrantes

de entalhador de madeira. Disso vivi até 1906.”

Escultura em bronze 25,5 x 12 x 21 cm Acervo João Turin

Quem o ensinou a entalhar foi um italiano de nome

Foto: Maringas Maciel

Lorenzini, também o primeiro a lhe falar em arte. Trabalhava numa fábrica de móveis, ganhando mil réis por dia mais comida, quando surgiu a vocação artística. Daí em diante, nas poucas horas vagas, passou a entalhar em cedro ou peroba cabeças de Cristo, do pai, de Garibaldi e outras primícias (algumas das quais ainda existem) para, em seguida, matricular-se na Escola de Artes e Indústrias, aberta em 1890 na capital paranaense pelo pintor português Antônio Mariano de Lima: nos anais da referida Escola relativos a 1896 ele aparece como aluno-professor, o que revela o alto conceito em que o tinham seus mestres. Cursava ainda a Escola quando sentiu a necessidade de se instruir, ele que aprendera a ler e a escrever sozinho, e pouco

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tempo tivera então para aprimorar intelectualmente.Para Paratanto, tanto, matriculou-se matriculou-se em tempo tivera atéaté então para se se aprimorar intelectualmente. em janeiro de 1902 curso regular mantido peloSeminário SeminárioMenor MenorArquidiocesano Arquidiocesano São José, janeiro de 1902 no no curso regular mantido pelo José, frequentou 1904, tempo durante qualrecebeu recebeuaulas aulasde deportuguês, português, francês, francês, latim, queque frequentou atéaté 1904, tempo durante o oqual latim, história, geografia e matemática, além tidoa aoportunidade oportunidadede de ler ler na na biblioteca biblioteca obras história, geografia e matemática, além dede tertertido obras da literatura nacional e estrangeira, o que contribuiusobremodo sobremodopara para alargar alargar seus seus horizontes da literatura nacional e estrangeira, o que contribuiu horizontes e pode estar na origem de certo pendor literário que revelaria nos muitos escritos que e pode estar na origem de certo pendor literário que revelaria nos muitos escritos que deixou, inclusive em francês e em italiano; mais tarde, se Waldemar Freyesleben não exagera, deixou, inclusive em francês e em italiano; mais tarde, se Waldemar Freyesleben não exagera, teria decorado o Larousse Ilustrado, de tanto o consulta-lo! teria decorado o Larousse Ilustrado, de tanto o consulta-lo! Episódio curioso desses anos de formação foi um breve namoro de adolescente com o Episódio curioso desses anos de formação foi um breve namoro de adolescente com o anarquismo, ideologia que desde 1890, com a experiência anarcossocialista de Giovanni anarquismo, ideologia que desde 1890, com a experiência anarcossocialista de Giovanni Rossi na Colônia Cecília em Palmeira (que, aliás, contou nos primórdios com o discreto Rossi na Colônia Cecília em Palmeira (que, aliás, contou nos primórdios com o discreto apoio intelectual de Dom Pedro II), continuava atraindo adeptos e simpatizantes no Paraná, apoio intelectual de Dom Pedro II), continuava atraindo adeptos e simpatizantes no Paraná, mormente entre os imigrantes italianos e seus descendentes. Turin não perdia as reuniões mormente entre os imigrantes italianos e seus descendentes. Turin não perdia as reuniões do grupo durante as quais se discutia Hegel, Marx, Philippe Buonarroti e Louis Blanc, e – do grupo durante as quais se discutia Hegel, Marx, Philippe Buonarroti e Louis Blanc, e – bandeira vermelha em punho –, era presença constante nas passeatas que volta e meia bandeira vermelha em punho –, era constante nas passeatas que volta e meia – tiravam da pasmaceira habitual as presença ruas da pacata capital antes que a polícia as dispersasse

tiravam da pasmaceira as ruas da pacata capital antes que a polícia as dispersasse – pretexto, mais tarde,habitual para ruidosas comemorações. pretexto, mais tarde, para ruidosas comemorações. Esse flerte com o anarquismo não teria desdobramentos futuros, a não ser que se

Esseconsidere flerte com o anarquismo não teria desdobramentos futuros, a não como tal a desconfiança que Turin demonstrou pelo resto da ser vidaque parasecom a política,como os políticos e as ideologias, por exemplo, pelo nestaresto anotação empara que revela considere tal a desconfiança quevisível, Turin demonstrou da vida com a ceticismo quanto eaos propósitos quepor moviam os signatários do Tratado política, os políticos as reais ideologias, visível, exemplo, nesta anotação em de queVersalhes, revela a seu ver, meraaos ação entre amigos: que moviam os signatários do Tratado de Versalhes, ceticismo quanto reais propósitos

a seu ver, mera ação entre amigos:

“Aquele banquete na fronteira da França com a Alemanha, dois dias depois do armistício, de todos os magnatas banqueiros dois das cinco partes “Aquele banquetebanquete na fronteira da França com aeAlemanha, dias depois do mundo, banquete deveria abrir os olhos dos povos infelizes que sedas apaixonam por do armistício, de todos os magnatas e banqueiros cinco partes esta ou aquelaque ideologia preparada.” do mundo, deveria abrir os olhos dos povos infelizes se apaixonam por

esta ou aquela ideologia preparada.”

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Igreja de Porto de Cima, ao fundo o Marumbi Foto: Maringas Maciel

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O animalista O animalista

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A temĂĄtica O animalista indĂ­gena O animalista

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O animalista Baixos-relevos O animalista

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O animalista Baixos-relevos O animalista

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