Inova Alimentos-Ed.111

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MERCADO

Puro lucro

Consumo de azeite de oliva cresce ano a ano e importações da versão virgem atingem 48 mil toneladas em 2011, animando as empresas a investirem em novas versões Por Nani Soares

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brasileiro está refinando seus hábitos e aproveitando para incrementar a mesa com novos produtos. Uma das categorias beneficiadas com essa mudança foi a de azeite de oliva, que perdeu a aura de produto pouco acessível e passou a ser cada vez mais consumida em diferentes ocasiões e por diferentes classes sociais.

Contribuíram para este cenário fatores como o aumento do poder de compra do brasileiro e a crise econômica europeia, que tornou o mercado nacional especialmente atraente para países como Grécia, Espanha, Itália e Portugal, grupo que detém mais de 70% da produção mundial.

O mercado brasileiro fica atrás apenas de Europa e Estados Unidos e entre os integrantes do BRIC, é o que registra o maior aumento no consumo, 325% desde 2005. Dados da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva) indicam que o volume de azeite virgem importado em 2011 foi de 48 mil toneladas, ante 39 mil toneladas em 2010, um aumento de 21,28%. Os principais importadores foram Portugal (47,12%) e Espanha (29,52%). No topo da lista de preferências dos consumidores está o azeite extra virgem, mas há versões para todos os gostos e bolsos. Com as empresas apostando em um portfólio mais variado, as gôndolas dos supermercados ganharam diferentes opções, que vão do azeite de oliva comum às versões mais elaboradas, como saborizadas e da categoria premium. Toda essa movimentação pode ser traduzida em números: o volume consumido aumentou 22% entre setembro de 2010 e setembro de 2011 e o Estado com maior consumo per capita é o Rio de Janeiro. Segundo os especialistas, o consumo de azeite de oliva aumentou não só em quantidade, mas também em qualidade, já que os processos estão sendo aprimorados.

A mudança na apresentação do produto foi oportuna e acompanhou a nova realidade econômica do País. Assim como os óleos vegetais, que há algumas décadas eram comercializados em latas de aço quase em sua totalidade, os azeites acabaram se rendendo a materiais considerados mais modernos, como o vidro e o plástico. No entanto, embora as empresas assegurem que sim, ainda pairam dúvidas se eles são os melhores na conservação do produto. Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) comparou a ação da luz em cinco tipos de embalagens (lata, vidro nas cores clara e escura, PET incolor, na cor âmbar) e concluiu que as latas ainda são as melhores opções quando se trata do azeite extravirgem. Isso porque o material preservaria melhor os compostos nutricionais peculiares do azeite de oliva, como os antioxidantes e a clorofila.

Apesar de conhecer o produto, o brasileiro não tinha o hábito de consumi-lo. Para reverter esse quadro, as empresas investiram em versões diferenciadas, divulgação dos atributos e inovação nas embalagens. Uma das últimas novidades foi a incorporação do vidro, que ficou mais escuro para preservar melhor o produto, e o bico dosador retrátil. Popularmente chamado de "vai e vem", o bico dosador foi incorporado por muitas fabricantes e logo caiu nas graças da população, por facilitar o manuseio.

A expectativa no aumento do consumo é tão grande que algumas empresas já estão apostando em novidades como as garrafas de 250 ml e de 750 ml, o que seria impensável há alguns anos, quando o consumo ainda era baixo. Uma que está apostando nas embalagens maiores é a marca Andorinha, do Grupo Sovena, que preferiu se valer da máxima de que mexer com o bolso do consumidor é sempre uma boa estratégia para alavancar as vendas. A partir de uma parceria com o Grupo Walmart Brasil, a empresa lançou o azeite extravirgem em embalagem de 750 ml, que permite que o preço por litro de produto fique 10% mais barato, segundo a empresa. Mesmo com a oferta de opções, a embalagem de 500 ml de vidro ainda 15


MERCADO presas se movimentando, o mercado de azeite conseguiu dobrar seu volume nos últimos seis anos. A mudança também teve reflexos na sazonalidade que marcava a categoria, até então consumida mais em épocas como a Páscoa e o Natal. Com a disponibilidade financeira da população, o brasileiro passou a comprar durante todo o ano, chegando a levar duas ou três garrafas quando há promoção. "Existe alguma sazonalidade nestas datas, mas falando de sell out, as vendas não chegam a ser 15% superior ao registado nos restantes meses. Cada vez mais é um produto consumido ao longo de todo o ano", garante Miranda.

Nuno Miranda, da Andorinha: aposta na embalagem de 750ml

é a mais vendida, admite Nuno Miranda, gestor da marca Andorinha para a América Latina, por ser o volume que mais se enquadra no consumo médio dos brasileiros. Já a escolha do vidro seria uma questão estética. O executivo atribui o aumento do consumo à união dos aspectos saudabilidade e sabor, características cada vez mais apreciadas pelos consumidores. A baixa de preço também contribuiu, pois tornou o produto mais acessível, bem como o comportamento das marcas, que passaram a investir mais em inovação e comunicação, colocando o produto em evidência. Em 2011, a própria Andorinha resolveu estreitar os laços com os consumidores e lançou a mascote Dorinha, inspirada no logotipo da marca. Com as em16

O fator preço ganha traços peculiares justamente no Rio de Janeiro, Estado que detém cerca de 23% do total de azeite consumido em todo o País. Região marcada pela disputa acirrada entre as redes varejistas, os preços do varejo na região são mais agressivos, especialmente no caso do azeite, o que resulta em um produto mais acessível e um consumo maior. Em pleno processo de consolidação no mercado brasileiro, é natural que algumas mudanças ainda sejam incorporadas, ressalta ele. A exemplo da substituição da lata pelo vidro e, posteriormente, do vidro transparente pelo escuro, novos formatos e opções de embalagem devem surgir, principalmente para o azeite extravirgem, carro-chefe da categoria. No entanto, com o consumidor mais

exigente, só os produtos de melhor qualidade devem permanecer no mercado, principalmente porque as marcas menores - muitas vezes de qualidade duvidosa - têm perdido market share, ressalva ele. Como quase todas as grandes empresas do setor, a Andorinha compra o azeite já envasado e pronto para ser distribuído. Miranda explica que algumas empresas ainda compram o produto a granel, envasando o produto no Brasil, mas a prática é mais comum em empresas menores. Trazer o azeite embalado de origem é mais seguro e garante a qualidade, afirma. No Brasil desde 2004, quando adquiriu a marca de azeite Andorinha, o Grupo Sovena importa o produto diretamente de Portugal, que aqui é distribuído pela Bunge Alimentos. Faturando mais de 1 bilhão de euros e movimentando mais de 500 mil toneladas de óleo em oito fábricas em todo o mundo, no Brasil o grupo cresceu 23% em 2011 e para este ano estima crescer em torno de 20%. Com a demanda nacional aquecida, o desempenho da marca tem melhorado ano após ano, com o crescimento muitas vezes chegando a triplicar de um ano para outro, assegura Miranda. Com isso, o Brasil passou a ser um mercado estratégico para a Andorinha, que é comercializado em dezenas de outros países, como Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Alemanha e Japão. Por aqui, a marca registrou um cres-


Rita Bassi, da Gallo do Brasil: pioneirismo e versões premium, como a edição de azeitonas colhidas ao luar

cimento de 25% só nos últimos quatro meses (em relação ao mesmo período de 2011) e por conta da embalagem em versão econômica, a expectativa é aumentar as vendas em 30% nos próximos meses."O mercado brasileiro, é, de longe, o mercado mais relevante para a marca. É o País onde temos investido mais e prevemos que vá continuar a ser assim no futuro".

Tradição e inovação Para não perder território em um mercado cada vez mais disputado, a aposta da Gallo para atrair o consumidor é a tradição. No Brasil desde 1930, a empresa se vale da liderança de mercado para reforçar seu pionei-

rismo, já que apostou no mercado brasileiro quando o azeite de oliva tinha consumo baixo e era considerado um produto de elite. Rita Bassi, Corporate Relations da Gallo Brasil, explica que a marca foi construindo uma relação de cumplicidade e proximidade com o consumidor brasileiro, acompanhando sua evolução e de seus hábitos. Foi assim que a Gallo, que importa o azeite de Portugal, incorporou um pouco das tradições portuguesas no dia a dia dos brasileiros, ajudando a popularizar o produto. A executiva ressalta que muito do dinamismo que se vê hoje no setor foi desenvolvido a partir da atuação da marca, que aos poucos foi divulgando os benefícios do azeite ao mesmo tem17


MERCADO

po em que trazia inovações como o bico dosador e embalagens de diferentes variedades e formatos. Mesmo com o consumo tendo aumentado, Rita afirma que o azeite ainda é um produto altamente marcado pela sazonalidade. Páscoa e Natal ainda são os períodos que mais contribuem para o aumento nas vendas, que no caso da Gallo ainda são maiores na região Sudeste. Entretanto, é provável que ocorra uma mudança em breve, diz ela, já que a economia brasileira passa por um momento favorável. O mesmo aumento da renda média da população, que permitiu o ingresso de novos consumidores no segmento, deve garantir sua expansão. "O conhecimento sobre azeites no Brasil vem aumentando e o consumidor está cada vez mais atento à qualidade dos azeites. Notamos isso no grande crescimento do Azeite Extra Virgem, que hoje corresponde a mais de 60% das vendas de Gallo", afirma. A aposta da marca na categoria extra virgem inclui o lançamento de versões premium, como o Azeite de Oliva Reserva, com 0,4% de acidez e textura aveludada; o Colheita ao Luar, produzido a partir de azeitonas verdes colhidas à noite (o que preservaria melhor suas propriedades organolépticas) e com 0,3% de acidez; e o Azeite 18

Novo, produto com apenas 0,2% de acidez e extraído a frio, técnica que define as condições térmicas ideais para que o azeite não se deteriore e serve de base para as categorias extra virgem, virgem finos e os semifinos. O Azeite Novo ganhou o primeiro prêmio da edição de 2010 do Prêmio de Qualidade Mário Solinas, promovido anualmente pelo Conselho Oleícola Internacional (COI).

"O Brasil é um mercado estratégico para a marca, pois tem um enorme potencial de crescimento devido ao baixo consumo per capita de azeite apenas cerca de 250 ml anuais. Nos países produtores, são consumidos, per capita, cerca de 7 litros em Portugal, 11 litros na Espanha, 14 litros na Itália e 21 litros na Grécia", ressalta.

Com laranja Mas com tanta oferta no mercado, será que o brasileiro já aprendeu os diferentes tipos de azeite existentes e o uso adequado para cada ocasião? Muita gente diz que na dúvida, basta ler o rótulo e checar dados como a acidez, o tipo de extração (mecânica ou a frio), a origem e a classificação. Na prática, porém, a coisa não é tão simples assim. Há uma infinidade de opções e nem sempre o azeite escolhido é adequado para o que se pretende, como cozinhar, por exemplo, mas o consumidor nem sempre sabe. Para Paulo Geovanelli, diretor comercial da Alimentos Zaeli, desenvolver esse conhecimento sobre o produto é a próxima etapa do mercado brasileiro. Embora não desconheça totalmente os benefícios e uso do azeite, o brasileiro não tem conhecimento pleno do assunto e ainda está em fase de assi-


Paulo Geovanelli, da Alimentos Zaeli: "O consumidor brasileiro está em processo de descoberta do azeite e aprendendo a distinguir os melhores"

milação acerca de suas possibilidades de uso, mas revela-se cada vez mais interessado e disposto a aprender mais. "O consumidor brasileiro está em um processo de descoberta do azeite de oliva extra virgem e à medida que aumenta a valorização do produto em nossa cultura gastronômica, aumenta a capacidade de distinguir os melhores azeites e adquirir um bom produto", destaca. Assim, reconhecer as características e diferenças entre o azeite extra virgem, puro e refinado, por exemplo, ou mesmo manter o teor de acidez que indica o melhor azeite tem sido uma tarefa cada vez menos árdua. A preocupação das empresas em divulgar e informar melhor o consumidor também abriu as portas para explorar novos nichos de consumidores, inclusive nas classes D e E. Para Geovanelli, com o aumento do poder de compra e ascensão de classes há inúmeras oportunidades para as empresas, que abriram espaço para diferen-

tes tipos de azeite. "Na medida em que aumenta o poder de compra dos brasileiros, assim como as informações sobre o produto, azeites de oliva com preço mais acessível têm maior giro", diz. Para atender a um público mais sofisticado, a Zaeli lançou o Azeite de Oliva Extra Virgem com sabor de Laranja. Composto por 70% de azeite de oliva e 30% de azeite de casca de laranja, o produto é voltado para um público já habituado a consumir azeite de oliva, mas busca versões diferenciadas. Como toda a linha de azeites, o novo produto é importado da Espanha, na qual é obtido a partir de processo artesanal, com as azeitonas e laranjas sendo prensadas juntas, o que permite uma inserção natural do gosto da fruta. Comercializado em embalagem escura de 250 ml, o azeite chega para reforçar a linha saborizada da Zaeli, que já mantém em seu portfólio os sabores Manjericão, Limão, Trufa Branca e Orégano. 19


MERCADO Sendo um produto importado, a variação cambial acaba influenciando nas negociações e no preço final, mas isso não tem sido um problema. Geovanelli explica que o aumento no consumo permite um alto volume de negociação, garantindo a acessibilidade do produto. Além disso, embora o preço ainda seja determinante para o giro no PDV, os consumidores têm demonstrado mais disposição para experimentar novidades, o que tem ajudado a categoria. Ao contrário de antes, quando as opções em vidro eram mais caras que os azeites em lata, hoje os preços estão nivelados, o que fez o consumidor migrar para o vidro, que tornou as embalagens mais atrativas e refinadas, além de possibilitar ver o produto. Atualmente, a versão mais vendida é o azeite de oliva extra virgem em garrafa de vidro de 500 ml, declara Geovanelli. A nova "roupagem" dos azeites, com embalagens específicas para cada linha do produto, reforça a mudança de posicionamento das marcas, que atualmente oferecem versões em diferentes tipos de embalagens e gramaturas. Além do vidro e PET, a última novidade são os azeites em formato spray que, mesmo ainda não sendo tão populares no Brasil como 20

são no exterior, já podem ser encontrados em lojas de produtos importados e podem indicar o caminho a ser seguido pelas empresas também no Brasil.

tunidades estão em todo lugar: as classes mais baixas estão descobrindo o produto agora, enquanto nas classes altas a procura é por variedade e versões diferenciadas.

"A tendência é o aumento de diferentes tipos de embalagens reforçando o mix, oferecendo aos mercadistas e consumidores mais opções de consumo", afirma o executivo. Atuando há mais de 40 anos e mantendo um portfólio de 24 linhas de produtos, a Zaeli projeta um crescimento de 30% em 2012.

"Temos regiões de poder aquisitivo elevado e que podem ter o hábito melhor explorado, como a região Sul do País. Também temos o mercado de food service que vem crescendo muito nos últimos anos e é um excelente mercado para ser explorado", aponta ela, ressaltando que os destaques no consumo têm sido as regiões Norte e Nordeste.

Acessível sim, barato não Mesmo apresentando números significativos de expansão, o azeite de oliva ainda tem um longo caminho a percorrer no Brasil. Sem o devido conhecimento, na hora da compra o consumidor acaba considerando principalmente o preço, ainda a variável mais comum para distinguir produtos de qualidade superior. Apesar disso, ele está cada vez mais familiarizado com as diferentes versões. Para Janaína Coutinho, gerente de Marketing da Vida Alimentos, em um País com vasta extensão territorial como o Brasil e um potencial de consumo tão elevado, as opor-

Como tendência, ela indica os azeites de oliva extra virgem monovarietais, obtidos de apenas uma variedade de azeitona e que possuem características muito singulares entre si. Perfeitos para harmonização com preparações culinárias, por realçar o sabor de diferentes tipos de alimento, esse tipo de azeite tem aumentado sua participação no mercado. Mesmo considerando o momento atual como positivo, Janaína frisa que algumas barreiras precisam ser derrubadas. Um dos empecilhos para um avanço m ais rápido do azeite de oliva é o preço. Mesmo sendo reconhecido como um produto nutritivo, saboroso e benéfico para a saúde, o azeite ainda custa caro, principalmente aqueles de melhor qualidade. O Brasil não tem cultivo de azeitonas e todo o volume consumido é importado, o que deixa o produto muito suscetível a influência do câmbio, impactando diretamente no preço final. Só em 2011, o Brasil gastou US$ 225 milhões em importação de azeite de oliva virgem, ante US$ 179 milhões gastos em 2010, de acordo com dados da Oliva. Enquanto o azeite pron-


to vem principalmente de países como Portugal, Espanha e Itália, as azeitonas são importadas principalmente da Argentina. Mesmo estando mais acessível, o produto ainda não é exatamente barato, salienta Janaína, e ainda é considerado um produto nobre, principalmente porque sua produção mundial ainda é pequena quando comparada a outros óleos vegetais, como soja, girassol, milho e canola. As regiões que mais consomem o produto são aquelas com forte influência da colônia portuguesa, já que foram os portugueses que trouxeram o azeite para o Brasil, o que torna o Rio de Janeiro (sob forte influência portuguesa) o principal mercado de azeite da Vida Alimentos, seguido de São Paulo, Minas Gerais e demais Estados. A executiva não revela os números relativos às vendas de 2011, mas diz que eles ficaram dentro do esperado. "Este mercado tem crescido cerca de 10% por ano, em volume, por isso nossas expectativas de crescimento para 2012 também são boas".

Produção nacional Com as altas expectativas diante do potencial de consumo, começaram as especulações de que o Brasil já estaria se preparando para investir em uma produção própria e ganhar inde-

pendência na categoria. Embora o assunto seja abordado com cautela pelas empresas do setor e até um desconforto seja notado (seria mais um concorrente mundial), a verdade é que pesquisas estão sendo feitas e indicam que isso pode se tornar uma realidade. O consultor Marcelo Scofano, especialista em azeites e proprietário da escola gastronômica Estilo Gourmet, garante que as chances de o País se tornar um produtor mundial são grandes, já que pesquisas sobre o cultivo da oliveira em solo brasileiro ocorrem há pelo menos 50 anos (a oliveira exige temperaturas mais baixas que as apresentadas na maioria dos Estados brasileiros). À frente delas está a Epamig, empresa do governo de Minas Gerais voltada para pesquisas agronômicas, que mantém o Núcleo Tecnológico para Azeitona e Azeite. Há pouco mais de cinco anos os trabalhos se intensificaram e os investimentos aumentaram. Desde 2011, pequenas produções são mantidas e comercializadas regionalmente e, a partir do know how adquirido e a expec-

tativa de crescimento do consumo, a meta é suprir 5% do mercado nacional até 2015. "No que concerne à condições climáticas, com o desenvolvimento das pesquisas, o processo de adaptação da planta e a enorme diversidade ambiental que temos, tendo em vista o enorme potencial de consumo, estou certo que os investimentos aumentarão nos próximos anos e estaremos em pouco tempo entre o grupo de países produtores", estima Scofano. Segundo ele, o consumo do produto ainda é relativamente novo e o que diferencia o Brasil de outros mercados é justamente a falta de conhecimento sobre as inúmeras possibilidades de utilização do azeite de oliva. Na Europa e nos Estados Unidos, o azeite vai muito além do consumo gastronômico e serve de base para diversos produtos da indústria de cosméticos, em virtude de suas propriedades medicinais. Com o interesse do brasileiro pelo produto, a indústria de cosméticos nacional já começa a aderir ao movimento, principalmente por ser uma das mais fortes do mundo. A falta de conhecimento do consumidor é atribuída a décadas de consumo de azeites de baixa qualidade, afirma Marcelo, o que resultou em uma memória sensorial equivocada. Além disso, houve

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MERCADO uma combinação de fatores atuando contra, como o forte lobby da indústria de óleo de sementes, o alto custo do produto no País e pouca diversidade de produtos. Ainda hoje, há uma série de informações distorcidas a respeito do consumo e benefícios do azeite. "Os consumidores sabem dos benefícios que o uso do azeite traz à saúde, mas não que é qualquer azeite. Azeites de oliva não devem ser usados nas finalizações dos pratos, por exemplo, mas são encontrados sobre a mesa de inúmeros restaurantes em todo País, pois o próprio comerciante não sabe discernir sobre a diferença de um extra virgem para um azeite de

oliva e tem o custo como principal critério de escolha", diz. A expansão dos portfólios também não é sinônimo de que os produtos necessariamente ganharam qualidade e revelam apenas que as empresas estão investindo em apelos comerciais para seduzir o consumidor, alerta o especialista. Assim, novas embalagens e versões saborizadas não são propriamente tendências e embora representem mais opções para o consumidor é bom desconfiar dos exageros nesse sentido. Dentre todos os avanços, a principal tendência do consumo será pela qualidade, assegura.

Os restaurantes brasileiros ainda não sabem a diferença entre os azeites, o que prejudica o consumidor, segundo Marcelo Scofano, especialista em azeites 22

De fato, para o consumidor, também é extremamente difícil reconhecer a pureza de um azeite, o que dá margem a fraudes. A adição de outros óleos em doses quase imperceptíveis é muito comum em todo o mundo. Uma pesquisa na Espanha revelou que 80% dos azeites extra virgens comercializados mundo afora são adulterados. No final de 2011, o jornalista Tom Mueller publicou o livro Ex-

tra Virginity: The Sublime and Scandalous World of Olive Oil, denunciando a falsificação na indústria mundial de azeite de oliva que, segundo o escritor, é tão lucrativa quanto a indústria de drogas. A situação seria tão grave que no final da década de 1990, o produto chegou a ser considerado o produto agrícola mais adulterado na União Européia. "Temos que conhecer sensorialmente um bom azeite, observar o rótulo, sua origem, suas denominações e principalmente saber que um bom azeite deve ser fresco, aromático, com fragrâncias verdes, frutadas, com amargor e picância em harmonia", indica Scofano, que em sua escola forma profissionais da área - chamados "sommelier de Azeites" - para conhecerem a fundo as propriedades e características do azeite de oliva, sendo capazes de transmitir esse conhecimento ao consumidor. É assim que o brasileiro vai, aos poucos, apurar o paladar e adquirir discernimento necessário para fazer suas próprias escolhas.


EMBALAGEM

Lata ref Ancoradas pelo conceito reciclagem, latas de aรงo podem recuperar espaรงo perdido para outros materiais no setor de alimentos Por Nani Soares

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forรงada orรงada

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epois de anos sofrendo com índices de inflação altíssimos e sem muito poder de compra, o brasileiro agora está indo à forra. O aumento da renda média permitiu novas possibilidades de consumo, mas foi na mesa que a população brasileira tratou de incrementar. O setor de Alimentos e Bebidas nunca esteve tão aquecido, o que provocou uma corrida das companhias para reunir o maior número de atrativos possível para conquistar o consumidor. Nas batalhas travadas no varejo, as embalagens tornaram-se armas ainda mais poderosas na hora de o consumidor optar por um produto.

vegetais, hoje praticamente dominada pelo PET. As latas de aço, que já chegaram a responder por 100% do total, atualmente têm pouco mais de 2% de participação na categoria. Thais Fagury, gerente-executiva da Abeaço, diz que infelizmente a maior parte dos consumidores desconhece os benefícios das latas de aço, como a

preservação dos produtos bem próxima ao natural ou mesmo o shelf life maior. Também surgiram embalagens mais baratas, como as próprias stand up pouches, e nem sempre o brasileiro está disposto a pagar mais caro por um produto em lata, cenário bem diferente dos mercados mais maduros, onde a maioria dos alimentos é envasada em latas.

Este dinamismo no grupo de Alimentos e Bebidas trouxe à tona uma velha discussão: a escolha da embalagem ideal e os critérios do consumidor, principalmente quando considera o material utilizado. Lata de aço, plástico, cartonada ou vidro, qual o melhor? Um dos grupos que mais perdeu mercado nos últimos anos foi o de embalagens de aço. Mesmo com todos os atributos - preservam melhor os alimentos, por exemplo - as latas de aço ainda têm um custo alto e em tempos onde o mercado é disputado palmo a palmo e a necessidade de investimentos é alta, cada centavo economizado é válido. Um bom exemplo de como as latas de aço perderam participação é o segmento de atomatados. A chamada "bola da vez" são as embalagens flexíveis tipo stand up pouch (sachê), que na categoria molhos já respondem por 67% do total ante 22% das latas de aço. O avanço preocupa a Associação Brasileira das Embalagens de Aço (Abeaço), que teme uma migração similar ocorrida na categoria de óleos 26

Thais Fagury, da Abeaço: "Não adianta destinarmos produtos recicláveis para a revalorização se ela, de fato, não exite"


"São várias as vantagens das latas de aço: elas dispensam o uso de conservantes químicos - o nome conserva surgiu justamente por conservar melhor os alimentos -; é barreira total contra a ação da luz que degrada produtos com alto teor de gordura, por exemplo, já que a incidência da luz acelera as reações de rancidez; e ainda é barreira total contra ações do meio externo como micro-organismos, oxigênio, entre outras", ressalta. Apesar de ter perdido participação para algumas categorias, as latas avançaram em outras, assegura ela, muito em função dos avanços ocorridos e valorizados por certos consumidores, como os novos formatos e aumento do uso de tampas de fácil abertura (Easy Open Ends e Pell Off Ends).

utilizadas no leite condensado Moça e no achocolatado Nescau, ambos da Nestlè. Mesmo com as novas opções de materiais, a retomada das latas de aço em algumas categorias de alimentos deve se sustentar no conceito reciclagem, um dos pilares da tão difundida sustentabilidade. Isso porque elas são 100% recicláveis, podendo retornar infinitamente ao processo de fabricação de aço. Em julho desde ano, o parlamento europeu aprovou uma nova categoria de embalagens de materiais de fonte infinita, na qual as latas de aço são enquadradas. No Brasil, é a nova Política

de Resíduos Sólidos (PNRS) que deve provocar mudanças. Sancionada em agosto de 2010, a nova lei prevê a responsabilidade compartilhada no pós consumo e vai promover mudanças no descarte por abordar temas como ciclo de vida do produto, coleta seletiva, destinação final ambientalmente adequada, gestão integrada, rejeitos e reutilização. Com a lei, as latas de aço saem na frente. O Brasil consome cerca de 7 milhões de toneladas de aço pós-

Houve também mudanças imperceptíveis para os consumidores, como a alteração dos revestimentos das latas para revestimentos elásticos, podendo a embalagem amassada ser consumida, a lata para microondas (já utilizada na França) e as latas com shapes diferenciados, como as latas

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EMBALAGEM consumo e produz 600 mil toneladas para o mercado total de embalagens, ou seja, está plenamente apto a absorver 100% do total consumido. Thaís explica que a partir da aplicação da PNRS o consumidor entenderá a real diferença entre a embalagem reciclável e aquela que efetivamente é reciclada. "Não adianta nada destinarmos produtos recicláveis para a revalorização se ela de fato não existe. A embalagem de aço retorna para o próprio processo siderúrgico", frisa a executiva.

O mesmo conceito deve nortear as tendências do setor de embalagens, aponta ela. Além de atender às políticas de resíduos e aos princípios de eco design, Thais aposta em um novo tipo de embalagem, mais adequada ao novo perfil do consumidor moderno, e que ela classifica como "embalagem do futuro". São justamente as embalagens diferenciadas, mais práticas e de menor volume, como as latas para micro-ondas e com tampas do tipo abrefácil, já encontradas no segmento de molho de tomate.

Menor e personalizada Para Augusto Seoane, diretor comercial da JBS, além das latas de fácil abertura, devem despontar no mercado as latas de tamanho menores para o consumo individual e as de formato exclusivo, que identificam as marcas. Essas três características têm marcado as inovações das embalagens na Europa, Japão e Estados Unidos.

Fábrica da JBS: aposta em inovações como formatos exclusivos e individuais

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Ele explica que no Brasil qualidade e preço passaram à condição de pressuposto enquanto inovação, design e sustentabilidade consolidaram-se como diferenciais. No caso das latas de aço para alimentos, o País carece de inovação, com muitas empresas ainda utilizando maquinário antigo e com capa-

cidade ociosa. Apesar disso, avanços importantes foram consolidados, como as próprias tampas abre fácil adotadas em muitas linhas da empresa. "Na JBS, temos o exemplo da nova lata de Fiambre Kitut, que modernizou um ícone de categoria. O sucesso é tão grande que estamos fazendo o Fiambre Bordon também em Easy Open. As latas de feijoada Swift e a salsichinha Viena são outros excelentes exemplos de que o consumidor quer latas de fácil abertura", conta. A diminuição gradual da participação das latas de aço no setor de alimentos ocorreu pela falta de uma política de resíduos sólidos e não pela preocupação das empresas em reduzir os custos de produção, opina o executivo. A despeito dessa hipótese, Seoane destaca que a escolha de um material ocorre a partir do objetivo estratégico de um produto e seu posicionamento no mercado. A escolha deve respeitar as quatro funções básicas da embalagem: proteção, conservação, informação e a função associada ao serviço ou à conveniência na utilização e consumo final. Por atender plenamente a todos estes conceitos, a lata de aço é a ideal para quem deseja preservar a qualidade do conteúdo, fomentar a sustentabilidade e ter uma apresentação bonita, leve, inviolável e resistente, diz ele. Dependendo da logística e distribuição do produto, a lata de aço ainda tem outras grandes vantagens por ser leve e resistente, mesmo em condições adversas de clima, transporte e manuseio. No quesito segurança, os sistemas que evidenciam a abertura ou intrusão da embalagem, e que previnem adulteração e perda de integridade são a grande vantagem.


Segundo ele, é crítico manter a qualidade e segurança dos conteúdos das embalagens, prolongando a sua vidaútil e diminuindo as perdas de produto devido a sua deterioração. Aqui também a lata de aço ainda se destaca por proteger os alimentos por períodos superiores a dois anos, mantendo suas propriedades naturais inalteradas. Por último, as latas de aço são eficientes quando se trata de ter uma boa acomodação nas prateleiras dos supermercados - a conveniência é vital para o consumidor - e ainda chamar a atenção nas gôndolas. As propriedades gráficas da lata de aço, tanto para informar como para chamar a atenção, somadas às suas propriedades de estanqueidade acabam destacando-a das demais embalagens, assegura ele. "Nenhum produto concorre no mercado, todo produto concorre em uma categoria e a embalagem define qual a sua proposição na categoria. O consumidor não separa a embalagem do conteúdo. Para ele, beleza e estética, conveniência, praticidade, diferenciação e segmentação clara definem o produto junto com seu conteúdo", explica.

Portfólio de aço Fundada no Rio Grande do Sul em 1879 pelo alemão Adolfo Oderich, a Conservas Oderich manteve um crescimento de 11% em 2011 e estima crescer em torno de 20% em 2012. A empresa tem como característica básica manter um portfólio mais tradicional no que concerne às embalagens, no qual as latas de aço reinam praticamente absolutas. À frente do negócio centenário está a quarta geração da família Oderich,

"O consumidor não separa a embalagem do conteúdo", afirma Augusto Seoane, da JBS (foto) sendo que a quinta já se prepara para assumir. Em comum, a preocupação dos membros com a preservação do meio ambiente e a manutenção da saúde do consumidor, o que justifica a preferência pelas latas de aço que, na comparação com materiais como PET, plástico ou o alumínio, são superiores. É o que assegura Marcos Oderich, diretor da empresa, que ressalta as qualidades das latas de aço. Além da segurança em relação a microorganismos, há a preservação do sabor (diferente do plástico, por exemplo) e a eliminação de conservantes químicos. Ainda tem a praticidade (é resistente e fácil de transportar, além do armazenamento ser eficiente contra a ação de roedores e insetos) e o forte caráter ambiental, já que não precisa ser refrigerada depois de aberta e é totalmente reciclável. "Pesquisas revelam que o aço inspira confiança em fabricantes de alimentos, consumidores e ambientalistas. Ela volta inúmeras vezes para as fábricas onde ganha formas diferentes como outras latas, fogões e geladeiras, entre outros. Há muito tempo o

caráter sustentável da lata de aço deixou de ser apenas uma possibilidade. Não existe mais dúvida sobre sua posição na escala de preservação do meio ambiente e saúde do consumidor", enaltece o executivo. Apesar dos atributos, Oderich admite que o custo é um fator importante a ser considerado pelas empresas na escolha da embalagem, que acabam escolhendo aquelas que melhor se adaptem à tecnologia empregada, capazes de manter as propriedades organolépticas do produto e que tenham o melhor custo-benefício ao longo da cadeia logística. Foi com base nesses critérios que a empresa optou por utilizar latas de aço padrão, que necessitam do bom e velho abridor. Oderich explica que as tampas abre fácil são muito caras e podem representar até 10% de aumento no preço final do produto. Embora tenha ficado mais exigente, o brasileiro ainda reluta em pagar a mais por este benefício. Assim, o foco da empresa continuará sendo as latas tradicionais, com os sachês sendo utilizados apenas em alguns produtos. 29


EMBALAGEM

Entre os produtos enlatados mais vendidos estão os de origem vegetal como milhos, ervilhas, seletas de legumes e frutas em calda. Os milhos, por exemplo, são mais tenros e saborosos que os milhos verdes frescos vendidos em feiras livres e supermercados por serem fruto de sementes forrageiras, iguais as utilizadas para alimentação animal, explica ele. Já as frutas em lata têm 100% de aproveitamento, sem podridões e com sanidade garantida, o que garante um maior custo benefício para o consumidor. "Estimativas prevêem que nos próximos anos o consumo desse metal deve ultrapassar os 120/130 quilos por habitante, ou seja, a utilização das latas de aço também crescerá em percentual elevado", reforça, atribuindo uma volta por cima do material à forte onda de educação ambiental, sustentabilidade e inovação tecnológica que tomou conta do País.

Espaço para todas Com um portfólio composto por mais de 200 itens e exportando para mais de 50 países, a Predilecta é uma das integrantes do time que aposta alto nas embalagens tipo sachê. Em 2011, a empresa expandiu a linha de atomatados e lançou a linha Molhos Saudáveis, embora continue utilizando as latas de aço em muitos produtos. Leonardo Bolzan Gonçalves, diretor industrial da Predilecta Alimentos, 30

explica que o critério das empresas para escolher a embalagem envolve questões técnicas aliadas a um bom custo, o que explica o sucesso dos sachês diante das empresas e do próprio consumidor. Mesmo quando se avalia o fator reciclabilidade, que poderia ser o ponto fraco das embalagens flexíveis, a desvantagem não é tão grande, já que a constante evolução tecnológica dos flexíveis tem permitido o desenvolvimento de versões que podem ser recicladas - embora a Abeaço assegure que ainda faltem mecanismos para o descarte correto destas. "No caso dos atomatados, a lata teve um recuo de mais de 90%. O mercado brasileiro está muito competitivo e a tendência é evoluir cada vez mais em embalagens alternativas que tenham sempre a condição técnica aprovada e um atrativo de redução de custo", avalia Gonçalves. Ainda assim, ele afirma que com o dinamismo da economia e o novo perfil do brasileiro, há espaço para todos os tipos de embalagem no mercado, inclusive as mais simples e baratas, principalmente porque a diferença de preço das que adotam o sistema abre

fácil ainda é um problema para os consumidores, embora a dificuldade de abertura ainda seja uma reclamação constante. Além disso, enquanto algumas categorias podem utilizar diferentes tipos de embalagens, outras precisam ser acondicionadas em materiais específicos. O creme de leite, por exemplo, um dos mais tradicionais na utilização de lata de aço, é um produto que necessita ser esterilizado em alta temperatura e não são muitas as industrias que detém um processo seguro para este tipo de processo em embalagens flexíveis, mesmo com a tecnologia já disponível no mercado, esclarece Gonçalves. "As maiores oportunidades para as latas de aço, são justamente onde o produto requer uma proteção física, pois pelo fato de serem rígidas, acabam protegendo melhor o produto", diz.

Falta informação Para Sílvia Tondella Dantas, gerente de embalagens metálicas e de vidro do Centro de Tecnologia de Embalagens (Cetea) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), a escolha do consumidor por determinada embala-

Categoria perdeu no segmento atomatados e óleos vegetais, mas continua firme em creme de leite


gem se baseia em diversos fatores. O preço é um deles e geralmente é o principal critério adotado pela maioria, mas há casos em que o consumidor só se dispõe a pagar mais caro se reconhecer ou identificar alguma vantagem no produto, como as embalagens metálicas com fechamento por encaixe, que podem ser reaproveitadas, mas que ainda constituem um nicho pequeno. Em produtos de baixo valor agregado, o custo da embalagem tem importância fundamental e como a visualização tem um apelo importante para o consumidor, é muito explorada pela indústria de alimentos. "Em qualquer mercado é normal haver competição entre segmentos. A diversificação de embalagens para produtos de consumo é motivada pela disponibilidade de alternativas, por programas de marketing e pelo custo, entre outros fatores", explica. Atualmente, os setores de embalagem estão se movimentando em função da sustentabilidade, na qual a reciclagem é fundamental para o tratamento de resíduos sólidos. Com a implantação da PNRS, as empresas precisam agora avaliar cuidadosamente suas escolhas, para não correrem o risco de serem multadas no futuro. Nesse aspecto, a vantagem competitiva das latas de aço é inquestionável,

"Há muita precariedade de informação e esclarecimento para o consumidor sobre as diferenças e vantagens de cada material", afirma Silvia Dantas, do Cetea

em função de suas propriedades mantidas mesmo com inúmeros ciclos de reciclagem e a própria facilidade para separação em decorrência da propriedade de magnetismo. Apesar do tema sustentabilidade já ser uma realidade na pauta das empresas e um dos itens cada vez mais considerados, ainda não é o mais relevante, garante Sílvia. Além de fatores como custo, conservação, armazenamento, logística e vida de prateleira, as empresas consideram variáveis como a complexidade para o desenvolvimento de protótipos e a quantidade mí-

nima a ser adquirida. Como em geral várias opções de embalagem atendem aos requisitos mínimos estabelecidos, a decisão acaba se baseando mais naquela que oferece o menor custo, garante Sílvia. Na outra ponta está o consumidor que sem conhecimento adequado para fazer uma escolha mais criteriosa, acaba entregue à própria sorte e comprando "no escuro". Falta informação adequada sobre os diferentes aspectos que envolvem as embalagens ou mesmo sobre as diferenças e vantagens de cada material, por isso a escolha geralmente acaba ocorrendo em função das campanhas publicitárias e ações de marketing das empresas alimentícias. "Há ainda muita precariedade de informação e esclarecimento para o consumidor. Além disso, muitas vezes ele é submetido a informações parciais, que resultam em percepções não necessariamente corretas", observa a especialista.

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