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ALIMENTOS E TECNOLOGIA
nova Alimentos Editora Aden Ano XIV Nº 112
Vencendo a sazonalidade Consumo de sorvete cresce mais de 70% e abre novas oportunidades
De grão em grão
A procura da aveia perfeita
Consumo de proteína de soja pode reduzir acúmulo de gordura corporal
Desenvolvimento de melhores variedades de aveia pode reduzir importação
CAPA
V encendo a Vencendo
sazonalidade Consumo de sorvete cresce mais de 70% e abre novas oportunidades para fabricantes de todos os portes Por Nani Soares
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S
orvete sabor cerveja. A novidade da multinacional AmBev reúne dois produtos muito apreciados pelos consumidores e ilustra a nova cara dos sorvetes brasileiros. Seguindo a cartilha de outros produtos que ganharam espaço na mesa do consumidor, o lema do mercado de sorvete é diversificar o portfólio e oferecer o maior número de opções possíveis. Se antes a variedade estava restrita às sorveterias, agora a realidade é outra: há dezenas de versões e para todos os gostos e bolsos. Há sabores como passas ao rum, panettone, papaia com cassis, pistache, banana com nozes, banana com chocolate, paçoca, abacaxi ao vinho, entre outras inovações, além de linhas voltadas para frutas brasileiras como açaí, graviola e cupuaçu. De quebra, foram lançadas as chamadas "versões especiais", como as sem lactose, sem açúcar ou light. Para garantir liberdade ao consumidor, as embalagens também mudaram e as empresas estão investindo em versões menores, on the go. No cha-
mado take home, quando os consumidores compram os potes em supermercados para o consumo familiar, chegaram as embalagens de 1,5 litro e até de 7 litros, que vieram para somar aos tradicionais potes de 2 litros. O momento é especialmente favorável ao setor em virtude do aumento do poder aquisitivo, que permitiu aos consumidores explorar mais as novidades que chegam com frequência ao mercado. O resultado tem sido um aumento gradual no consumo que, entre 2003 e 2011 cresceu 70,36%, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Sorvetes (Abis) e que chegou a 1,167 bilhão de litros só no ano passado. O consumo per capita subiu para 6 litros por pessoa/ano, ante 3,82 litros registrados em 2003. A produção de sorvetes de massa, picolé e "soft" também aumentou (vide gráfico na página 16) e a meta agora é alavancar o consumo no inverno. O momento é tão positivo que até a famosa rede americana de sorvetes Coldstone Creamery, que tem quase duas mil lojas espalhadas pelo mundo, aportou no Brasil e espera abrir cerca de 30 unidades franqueadas no País.
Eduardo Weisberg, da Abis: "Setor cresceu mais de 70% e empresas sofrem cada vez menos com a sazonalidade" 15
CAPA Produção Massa, Picolé e Soft em milhões de litros
Fonte: Abis
Consumo per capita em litros / ano - Crescimento de 58,90%
Fonte: Abis
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Apesar disso, o caminho a ser trilhado nem de longe demonstra ser fácil. O sorvete ainda é considerado uma guloseima, sendo muitas vezes associado a problemas como a obesidade e até doenças triviais, como gripe e resfriado. O açúcar presente na fórmula tradicional também o coloca na lista negra de produtos a serem abolidos de uma dieta alimentar considerada saudável, ao lado de refrigerantes, biscoitos e salgadinhos, os outros "vilões" da turma. Assim, o desafio das empresas é duplo: desenvolver produtos com fórmulas mais saudáveis e estratégias para manter o consumo em alta durante todo o ano. Embora tenha aumentado, o consumo de sorvete no Brasil ainda é baixo quando comparado a países como Estados Unidos e Europa. Enquanto os brasileiros consomem apenas seis litros por ano, os europeus consomem de 12 a 18 litros. E nos Estados Unidos o consumo é quatro vezes maior do que por aqui. Neste cenário, o momento é de oportunidade para as empresas, que esperam colher os frutos do aumento na renda do brasileiro. Para ajudá-las,
Consumo em milhões de litros - Crescimento de 70,36%
Fonte: Abis
a estratégia da Abia é desmitificar o conceito de produto engordativo e convencer os consumidores de que o sorvete não só é alimento como pode ser incluído na dieta sem medo, desde que esta seja equilibrada. "De acordo com os especialistas, devemos consumir de 2 a 3 porções
por dia do grupo dos laticínios, o que equivale a aproximadamente 3 bolas de sorvete. Essa é apenas uma das razões para que o sorvete torne-se um alimento recomendado para todas as idades", defende Eduardo Weisberg, presidente da entidade, lembrando que o produto é um alimento completo, por
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CAPA conter proteínas, açúcares, gordura vegetal e/ou animal, vitaminas A, B1, B2, B6, C, D, K, cálcio, fósforo e outros minerais essenciais em uma nutrição balanceada. A sazonalidade ainda é o maior empecilho para as empresas do setor, que registram melhores índices de venda entre os meses de setembro e abril. No restante do ano, há uma redução no consumo, especialmente nas estações mais frias, e que pode variar entre 30% e 50%, dependendo da região do País. Apesar disso, as empresas sofrem bem menos com sazonalidade do que
antes, garante Weisberg. Nos últimos 10 anos, ela não só tem influenciado menos nos resultados finais das empresas como o consumo tem caminhado para índices similares ao de mercados desenvolvidos. O resultado foi um faturamento de R$ 4 bilhões em 2011, com destaque para as regiões Norte e Nordeste e uma performance cada vez melhor dos fabricantes menores. "Muitas empresas que eram consideradas pequenas hoje podem ser consideradas de médio porte. Tudo depende da gestão do negócio, escolha de mercado, lançamentos e inovações. Ho-
je existem muitas empresas regionais que estão expandindo a sua atuação no País", explica Weisberg, que considera estar havendo uma miscigenação de sabores em todo o Brasil. Embora as regras do setor ainda sejam ditadas pelas líderes Nestlé, Kibon (Unilever) e Häagen Dazs (General Mills), o mercado brasileiro tornou-se um mar de oportunidades para investimentos em diversas áreas da cadeia produtiva. Mas ser competitivo em um mercado dominado por grandes marcas e ainda conseguir emplacar um produto novo não é tarefa fácil. Contudo, foi valendo-se de conceitos como iniciativa e criatividade que fabricantes menores passaram a se destacar.
De olho no turista Criada há quase 30 anos em São Sebastião, litoral norte paulista, a Rochinha é uma das empresas que virou marca registrada da região. Apostando em sabores diferenciados e fórmula artesanal, a empresa cresce 30% ao ano. O negócio que começou de forma despretensiosa, com picolés sendo vendidos em carrinhos nas praias, atualmente conta com cerca de 1000 pontos de vendas, distribuídos na região litorânea de São Paulo e mais a capital e o Rio de Janeiro. Só os carrinhos (ainda mantidos) totalizam 350, além de 12 lojas franqueadas.
José Lopes, da Rochinha: crescimento de 30% e aposta em fórmula artesanal 18
José Lopes, fundador e presidente da empresa, atribui o sucesso da marca à maneira quase artesanal com que a Rochinha fabrica seus sorvetes, o que inclui a adição de frutas frescas e ingredientes de alta qualidade, como açúcar e leite. "Nossos produtos são diferenciados e atualmente o brasileiro preza por qualidade de vida. Isso fez com que a Rochinha se destacasse no mercado, como um produto saudável e gostoso", justifica.
Dois produtos ilustram bem o DNA inovador da marca: picolé de jaca, feito à base de fruta e água, sem gordura, conservantes e corantes, e que tem apenas 55 calorias; e o frutamix, uma espécie de "vitamina de frutas" no palito. Otimista, o executivo diz que vários estudos indicam um aumento no consumo de sorvetes no País, principalmente com a ascensão da classe C para a B, que possibilitou às pessoas degustarem mais sorvetes de massa e picolés. Uma das alternativas para vencer a sazonalidade foi fisgar este público, oferecendo os produtos em locais estratégicos, de forma a tentar manter as vendas lineares durante todo o ano. Com o aumento na demanda, o desafio da Rochinha é conciliar a elevação da produção com o sistema artesanal, característica que ajudou a popularizar a marca. Para isso, a empresa utiliza equipamentos modernos, como a máquina para sorvetes de massa, com capacidade para produzir até 1500 litros de sorvete por hora e que vai ajudar a suprir a demanda das novas embalagens de 500 ml e 150 ml, lançadas no verão. Lopes explica que todo o processo tem que ser exclusivo e cada mudança é cuidadosamente pensada junto aos fornecedores de equipamentos, que ajudam a estudar cada etapa de produção.
O objetivo é tentar adequar as máquinas para preservar as características artesanais dos produtos, mesmo sendo feitos em escala industrial. "Nossa maior dificuldade é porque escolhemos não utilizar saborizantes e aromatizantes sintéticos, então dependemos do sabor e, como consequência, de fatores como o tempo de maturação e safra das frutas. Cada vez maior o número de consumidores que optam por produtos naturais e saudáveis, de baixa caloria e livres de gordura trans", reforça. Produzindo 70 mil picolés por dia e 2 mil litros de sorvete de massa, o próximo passo é triplicar a produção e, para isso, a Rochinha investiu R$ 8 milhões na inauguração de uma nova fábrica em São José dos Campos, interior de São Paulo. A meta agora é não só ampliar as vendas no mercado interno, mas também para Portugal, Estados Unidos e Emirados Árabes.
Mais por menos A mineira Tarumã é outra que tem conseguido aumentar a participação no mercado nacional, tarefa que começou na própria cidade de Uberlândia (MG), onde fica a sede da empresa. Produzindo 16 sabores de sorvete de massa e 15 de picolé (mas mantendo uma es19
CAPA trutura capaz de desenvolver qualquer outro a critério do cliente), a Tarumã registrou um crescimento de 5% em 2011, e ao redor de 20% em 2012. Com capacidade para 24 milhões de litros de sorvete por ano, a Tarumã abastece quase todo o País, com exceção do Norte e Nordeste. Além da própria Tarumã Sorvetes, a empresa também produz outras marcas e é a responsável pela produção de sorvetes de grandes redes varejistas, como Carrefour, Pão de Acúcar, Wall-Mart, Econ, Carone, Bretas, Supermax, Sinhá, Leal, D'eville e EPA, entre outros. À frente do negócio, Leonardo Ribeiro Cunha, presidente da Produtos Tarumã e sobrinho do fundador da empresa, que faz questão de ressaltar que estratégias bem elaboradas foram fundamentais para garantir a competitividade dos fabricantes regionais. No caso da Tarumã, a opção foi por um produto de qualidade a um preço justo. "Geralmente há resistência de mu-
dança pelos consumidores, então uma das formas mais baratas e eficientes de conquistar o consumidor é através de degustacões nos pontos de venda", diz. As parcerias também permitem à empresa driblar a sazonalidade, minimizando a queda de faturamento no inverno. O executivo esclarece que o processo de crescimento da empresa está diretamente ligado à expansão das grandes redes de supermercados parceiros, mas também ao acelerado aumento no consumo em todo o País, em virtude das temperaturas que sobem mais a cada ano. Por tratar-se de um produto sensível às variações de temperatura e que demanda veículos específicos, de alto custo, um dos maiores desafios para os fabricantes é distribuição, segundo ele. A Tarumã atua com frota própria, mas durante o verão reforça o número de veículos com caminhões ter-
Tarumã: degustação nos PDVs para vencer a resistência do consumidor 20
ceirizados, contratados durante a alta temporada. Para entregas mais próximas, como Uberlândia e região, usamos nossa frota, terceirizando apenas as regiões mais distantes". "Além da entrega do produto, outra preocupação é fazer com que o cliente mantenha a qualidade, conservando o produto em temperatura ideal no PDV." O take home (consumo familiar) amargava índices menores justamente pela dificuldade de armazenamento em boa parte dos lares brasileiros, explica o executivo. Isso porque muitos consumidores não tinham freezer e terminavam por desistir da compra por não conseguirem preservar o sorvete. Só a partir do aumento da renda e possibilidade de aquisição de freezers, o consumidor passou a ficar mais atraído pelo produto. Diante da expectativa do consumidor em relação ao produto, as empresas tiveram que investir em melhorias para oferecer diferentes opções de consumo, o que ficou mais fácil a partir dos avanços tecnológicos. Cunha explica que com os avanços na área as empresas puderam aumentar seus volumes, além de criarem fórmulas diferenciadas, como Premium, intermediárias e a chamada "primeiro preço", e as famosas edições limitadas, ainda um grande trunfo da categoria. Muitas já contam com laboratórios internos de análises de produto. Tudo isso permitiu atender diferentes classes sociais e, de quebra, tornou o produto mais acessível, conta ele. Ao analisar o mercado nacional - e considerando que o consumo europeu ultrapassa os 20 litros/ano por pessoa, enquanto no Brasil este número ainda é bem menor -, o empresário acredita que as perspectivas para a categoria são boas. Para ele, a grande novidade deverá ocorrer no portfólio de embalagens,
que devem ficar maiores, em virtude da importância que o consumidor atual tem dado à relação custo/benefício. "Desde o chamado 'apagão', o mercado em geral trabalha em favor do consumo individual focando o consumo imediato do produto. As embalagens maiores têm seus destinos voltados para eventos, mas já estamos sendo procurados por grandes redes para desenvolvimento do produto em embalagens maiores. Isso porque pesquisas detectaram uma tendência para a relação custo x benefício, onde o consumidor opta por levar mais produto por um menor preço", explica ele, lembrando que a fórmula já é utilizada com sucesso pelo setor de higiene e limpeza, no qual embalagens de produtos como papel higiênico (em packs de 32 unidades), e produtos de limpeza (em embalagens de 5 litros) conquistaram o consumidor.
De guloseima a sobremesa Para Felippe Montoro, diretor comercial da Sorvetes Jundiá, a sazonalidade está sendo combatida a partir de uma mudança conceitual: além de
"Ações sugerem o sorvete como sobremesa e não apenas guloseima", afirma Felippe Montoro, da Jundiá, que mantém 25 mil pontos de venda ações incisivas nos pontos de venda, os novos sabores no mercado sugerem o sorvete como uma sobremesa, como as próprias linhas Max e Bombom, marcadas pela cobertura de chocolate. Em 2012, a empresa colocou no mercado sabores como brownie e torta de limão (os mais vendidos), além de maçã do amor e cappuccino. Fundada em Jundiaí, interior de São Paulo, e com um portfólio com
mais de 80 sabores em mais de 12 linhas, a Jundiá já é a terceira marca mais vendida no País, tendo registrado um superávit de 10% no volume de vendas, em relação a 2010. Mantendo 25 mil pontos de venda em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a empresa investiu em novos equipamentos para a produção contínua de picolés, copos e potes, além de um sistema digital de controle.
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CAPA
Laçamentos da Nestlé: inspirados em chocolates e biscoitos clássicos da marca O maior investimento, porém, foi em uma nova fábrica em Itupeva, interior de São Paulo, que demandou um aporte de R$ 10 milhões e vai concentrar as operações da empresa. A meta é duplicar a capacidade de produção para 16 milhões de litros de sorvete por ano e avançar em outras regiões do País. Otimista, Montoro diz que o segmento está em plena ascensão e o brasileiro tem incorporado cada vez mais o sorvete no dia a dia. Entretanto, ele também está mais exigente, o que obriga as empresas a aprimorarem suas fórmulas e receitas com frequência, visando sempre surpreender. "Para atender a demanda e obter a fidelização do consumidor pela marca, é importante que as indústrias se preocupem com o visual, a qualidade e a variedade do mix. Ou seja, embalagens mais modernas e atraentes, contendo informações e sabores diversificados e bem elaborados, que respeitem as tendências de consumo", salienta. Como tendências, o executivo aponta os sorvetes elaborados com frutas regionais e embalagens individuais, como forma de atender aos novos modelos de família, que estão menores. Mas o principal conceito a nortear o segmento será a saudabilidade, uma exigência cada vez mais apontada em estudos com consumidores. 22
Sem medo dos pequenos Foi justamente de olho na preocupação do consumidor com a saúde que a Nestlé lançou a linha Wellness. Disponível nas versões picolés e potes, a linha tem menos gordura e caloria e ainda é certificada pela Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD). Na embalagem, há um guia nutricional disposto de forma clara e visível, indicando a quantidade de nutrientes conforme as recomendações estabelecidas pelos órgãos de nutrição e saúde. A empresa admite que a população está cada vez mais atenta a necessidade de manter hábitos saudáveis, o que fez aumentar a demanda por linhas com o apelo de saudabilidade, como a redução de gorduras e açúcar, mas garante que ainda há nichos a serem explorados, como a categoria Premium, que tem um público que prefere as opções gourmet, mais encorpadas e elaboradas. Nenhuma estratégia, porém, está relacionada ao avanço dos fabricantes menores, garante a empresa, que se vale da fidelidade do consumidor para permanecer na liderança. Presente no País há mais de 90 anos, a Nestlé e suas empresas coli-
gadas estão em 99% dos lares brasileiros, segundo pesquisa da Kantar Worldpanel. O portfólio amplo garante uma posição confortável, com um crescimento em volume de vendas uniforme, sem dados mais expressivos em relação a determinada linha ou sabor, segundo a empresa. Apesar da relativa estabilidade do consumo durante todo o ano, a Nestlé já percebe algumas mudanças no comportamento do brasileiro que está começando a entender que o sorvete pode ser consumido também em estações mais frias. Com isso, a expectativa é que em breve o consumo assemelhe-se ao de países da América do Norte (como Estados Unidos e Canadá) e Europa (como Inglaterra, França e Alemanha). "Existem alguns movimentos dentro do mercado que indicam novas oportunidades e que podem ser consideradas como uma mudança cultural do brasileiro em relação ao consumo de sorvete. Um dos principais fatores é o aumento da renda do consumidor. Outra questão está relacionada à sazonalidade, pois começa a ocorrer um consumo maior de sorvetes também no inverno, comportamento que levou a Nestlé a lançar produtos específicos para a época", declarou a empresa, em nota.
SAÚDE
De
grão em grão Novo estudo sugere que consumo de proteína de soja pode reduzir acúmulo de gordura corporal e hepática e manter a saúde do cólon Da Redação
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E
mbora boa parte das pesquisas sobre proteína de soja tenham se concentrado em suas propriedades para a redução de colesterol, uma pesquisa recente sugere que o consumo de soja pode ser benéfico no controle de peso e na saúde do fígado e cólon, uma revelação interessante especialmente para indivíduos obesos. O estudo, recém-publicado na PLOS One (revista científica de acesso livre on-line) foi realizado em ratos com o objetivo de explorar os efeitos nutricionais da proteína de soja ou da caseína nos hormônios séricos associados à saúde do cólon e deposição de gordura corporal. Os autores já haviam mostrado anteriormente que a inclusão de proteína de soja nas dietas de ratos resultou na diminuição da gordura corporal e promoveu crescimento celular normal nos cólons dos animais. Os resultados mostraram que ratos alimentados com proteína de soja, em comparação com dietas à base de caseína (uma proteína do leite), apresentaram redução significativa de gordura corporal, níveis de insulina no sangue, tamanho das células adiposas e
manifestação do gene associado com crescimento celular cólico anormal. Também ocorreu uma tendência de menor acúmulo de gordura nos fígados de ratos normais alimentados com uma dieta rica em gordura que continha proteína de soja em comparação com uma dieta rica em gordura que continha caseína.
“Os resultados sustentam evidências crescentes que ligam dietas saudáveis a estados metabólicos alterados e biomarcadores potencialmente favoráveis para prevenção de doenças crônicas”, disse Frank Simmen, professor no Departamento de Fisiologia e Biofísica da Universidade de Arkansas de Ciências Médicas em Little Rock.
A pesquisa, liderada pelo Dr. Frank A. Simmen, em colaboração com a Dra. Rosalia C.M. Simmen e suas equipes, também resultou em algumas indicações sobre como o consumo de proteína de soja leva a esses benefícios, por meio de comparação com ratos normais, que receberam uma alimentação rica em gordura com proteína de soja, com uma linhagem de ratos que, por conta de uma ocorrência natural, não possuem uma enzima importante para o acúmulo de gordura no corpo. Esses ratos são saudáveis e tendem a ser menores e ter menor quantidade de gordura corporal do que camundongos sem essa alteração. Como a proteína de soja apresenta menor efeito nesses ratos, sugere-se que o gene que sofreu mutação pode estar na rota metabólica que é afetada quando os ratos normais consomem proteína de soja.
“Estamos animados com o que encontramos, pois os resultados continuam a sustentar e ampliar as observações de outros pesquisadores que têm demonstrado o benefício da proteína de soja na manutenção de níveis saudáveis de gordura nos fígados de outros animais”, comentou Elaine Krul, membro do Conselho Científico e líder da área de Nutrição e Pesquisas na Solae LLC. “Estamos ansiosos para confirmar essas observações em estudos com humanos”. O estudo foi financiado pelos National Institutes of Health (Instituto Nacional de Saúde) e pelo Arkansas Biosciences Institute-Arkansas Children's Hospital Research Institute (Instituto de Biociências do Arkansas - Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil do Arkansas), e a Solae LLC forneceu a proteína de soja utilizada nas dietas dos animais.
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PESQUISA
A procura da aveia perfeita Pesquisadores brasileiros desenvolvem variedades superiores às importadas e contribuem para a redução das importações do grão Da Redação
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uitas são as qualidades da aveia, mas poucas pessoas conhecem os reais benefícios que este simples grão pode proporcionar quando adicionado na dieta diária de uma pessoa. De acordo com o pesquisador de aveia, professor e fundador do Instituto de Ciências Agronômicas (INCIA), Elmar Luiz Floss, além de ser um alimento nutritivo e funcional por nature-
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za, é rico em proteínas de alto valor biológico e bom balanceamento de aminoácidos, ou seja, é altamente indicado na alimentação infantil, quando a criança precisa mais de proteína do que de energia. Segundo Floss, as vantagens de consumir aveia não param por aí. Ela apresenta em sua composição flavonóides (avenantramidas), que atuam na prevenção do câncer. Além disso, possuem fibras solúveis, que são as responsáveis pela diminuição do co-
lesterol ruim e pela prevenção de doenças do coração, e fibras insolúveis, que aceleram os movimentos peristálticos do intestino, fazendo com que o bolo fecal permaneça menos tempo no intestino, diminuindo a possibilidade de que suas toxinas gerem tumores. Para o pesquisador, muitos aspectos relacionados a saúde humana mudam quando a pessoa passa a consumir aveia. “Há muitos fatores envolvidos como o bem estar, a regularidade do funcionamento do aparelho digesti-
vo, o controle dos teores de açúcar no sangue, a diminuição dos riscos de alta pressão arterial e, a longo prazo, a prevenção de doenças como tumores no intestino e doenças do coração”, afirma o professor, que desde 1977 realiza pesquisas com aveia e recentemente lançou o livro “Aveia, memória de uma vida de trabalho e paixão”. Floss destaca que, atualmente, o consumo médio de grãos de aveia na alimentação humana no Brasil chega a aproximadamente 65 mil toneladas/ ano. “Isso representa um consumo de menos de 300 gramas per capita/ano, ou seja, apenas 10% do consumo médio dos países europeus, que gira em torno de 3 quilos por ano”, diz, e informa: “É importante salientar que a quantidade ideal de consumo diário varia de acordo com a idade da pessoa, seu peso e objetivo”. O estudioso salienta que é preciso mudar este cenário e para isso defende a disseminação das informações sobre a aveia e seus benefícios para que as pessoas reconheçam seu valor. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul desenvolve pesquisas com aveia branca desde 1974. O principal objetivo é o desenvolvimento de variedades que atendam as necessidades dos produtores rurais, das indústrias e dos consumidores. Para criar uma variedade de aveia na Universidade são trazidas as linhas de aveia com a melhor genética disponível no mundo. “Na UFRGS através das técnicas de genética e melhoramento clássicos são criadas novas variedades. Do cruzamento até os testes finais, são necessários de 10 a 12 anos para a obtenção de uma nova variedade”, conta o professor da faculdade de Agronomia da instituição, Luiz Carlos Federizzi.
As variedades criadas pela Universidade, antes de serem disponibilizadas aos produtores, são testadas por três anos em vários locais nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Somente aquelas linhagens que apresentam rendimento de grãos superiores as melhores existentes no mercado e que apresentam atributos agronômicos e de qualidade superiores são então distribuídas aos agricultores. Por sua vez a indústria testa com seus equipamentos quais as variedades que apresentam melhor rendimento industrial e comunica esta informação aos agricultores parceiros. Durante os testes são avaliados mais de 30 aspectos, como rendimento, qualidade, adaptação a diferentes ambientes, teor de fibras, teor de proteínas, altura da planta, entre outros. A oferta de grãos de aveia de alta qualidade no mercado interno eliminou, desde a década de 90, a necessidade de importação de grãos de aveia da Argentina e de outros países para suprir o mercado interno. Assim, o País deixou de ser um importador sistemáti-
co de grãos de aveia com dispêndio de divisas. “Não só a produção nacional atende a demanda interna, como as cultivares desenvolvidas no Brasil nas ultimas décadas permitiram um aumento no rendimento e principalmente na qualidade dos grãos produzidos, que melhoraram o rendimento industrial e propiciaram o melhor aproveitamento pela indústria dos grãos”, diz Federizzi. As variedades desenvolvidas no País apresentam desempenho agronômico e qualidade de grãos muito superior às variedades importadas. Os agricultores do Sul do Brasil têm na aveia uma grande aliada para o sistema de rotação de cultura utilizado no plantio direto. Para o consumidor, a aveia é um dos poucos produtos que é integral por sua natureza. Os grãos de aveia que chegam à mesa do consumidor têm exatamente a mesma composição da variedade original, porque no processamento nada é tirado, perdido ou adicionado aos grãos, no caso de flocos de aveia. A empresa Naturale, de Lagoa Vermelha, é uma das parcerias da UFRGS. “A Universidade desenvolve as cultivares e realiza todos os testes em laboratórios e a campo, a Naturale realiza em primeira mão a avaliação das mesmas em processo industrial, retornando os resultados diretamente para a pesquisa, além de recomendar o plantio dos melhores materiais a seus produtores parceiros.” O empresário salienta a importância das pesquisas já realizadas. “Os avanços das pesquisas têm sido extraordinários, hoje temos cultivares iguais as melhores dos principais produtores mundiais. Quem ganha com isso? Todos nós, a indústria, pesquisadores, os apaixonados por aveia, a economia e principalmente os consumidores”, avalia de forma positiva. 35