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6º Bunkyo Rural 5ºSeminário Gepura

Mensagem Uma crise anunciada, mas poucos acreditaram na real gravidade da escassez, bem como nas consequências que isso poderia provocar em nosso cotidiano. Hoje, vivemos essa crise e as soluções não podem tardar. Falamos de um tema que, repentinamente, fomos obrigados a incorporar na pauta de nossas prioridades: água, sua conservação e seu uso racional. Nesse sentido, é com grande satisfação que saudamos esta feliz parceria com a Esalq - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" / Gepura Grupo de Estudos e Práticas para o Uso Racional da Água, para a realização deste seminário "Água: Desafios para Conservação". O Bunkyo, ao criar esta Comissão Bunkyo Rural, buscou, entre outros objetivos, proporcionar aos seus associados, bem como à sociedade em geral, o acesso às mais recentes tecnologias e estudos relacionados à área agrícola. Trata-se, de certa forma, de se dar continuidade à tradição intimamente relacionada à trajetória de nossos pioneiros e que, ainda hoje, está sendo praticada por uma parcela da comunidade nipo-brasileira. Nestas seis edições, a Comissão Bunkyo Rural, além de percorrer diversas localidades para sediar os encontros, buscou tratar de temas que pudessem atender às necessidades do público-alvo e indicar caminhos para possíveis soluções. Assim, acreditamos que as palestras e debates, bem como os minicursos desta edição também se constituirão em valiosas informações aos participantes. Ao finalizar, gostaria de agradecer a dedicação de todos para o sucesso deste evento, ao apoio a Esalq/USP e seus grupos de estudos, bem como a inestimável colaboração dos patrocinadores. Muito obrigada. Harumi Arashiro Goya Presidente Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social

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Mensagem A Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", ESALQ, se sente honrada em abrigar o 6º Bunkyo Rural em consonância com o 5ª Seminário GEPURA, com o tema definido como prioritário para 2015: "Água: Desafios para conservação". Além de toda a reflexão decorrente da crise hídrica que enfrentamos, o destaque para o evento será a importância da contribuição da Imigração Japonesa no Desenvolvimento da Agricultura Brasileira, especialmente em celebração dos 120 anos do Tratado de Amizade entre Brasil e Japão. São inúmeros descendentes em nosso quadro docente e discente, que já se espalharam por todo o Brasil aumentando a contribuição ímpar da comunidade nipo brasileira na produção agrícola de nosso país.

Luiz Gustavo Nussio Diretor ESALQ/USP

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ÍNDICE Palestrantes ..................................................................................... 6 Programação do 6º Bunkyo Rural ........................................................... 10 Contribuição da Imigração Japonesa no Desenvolvimento da Agricultura Brasileira João Carlos de Souza Meirelles ............................................................. 11 O Cenário Hídrico do Brasil Consuelo Franco Marra ....................................................................... 31 Desafios Hídricos na Bacia do Piracicaba Eduardo Cuoco Leo ........................................................................... 43 Uso da Água no Processo Produtivo Agrícola Keigo Minami .................................................................................. 71 Água na Agricultura Marcos Folegatti .............................................................................. 89 Minicursos ................................................................................... 133 Uso de Barras LED na Horticultura Simone da Costa Melo ...................................................................... 135 Uso da Moringa Oleífera no Tratamento da Água Hiroshi Nozawa ............................................................................. 147 Uso de Sensoriamento em Estudos Ambientais Silvio Frosini de Barros ..................................................................... 167 Instalação de Tanques para Piscicultura e Hidroponia Marcelo Castagnolli ......................................................................... 183 ESALQ USP, Gepura, Bunkyo e Bunkyo Rural ........................................... 211 Fotos coloridas do evento ................................................................. 217

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PALESTRANTES João Carlos de Souza Meirelles Engenheiro civil, formado pela Universidade de São Paulo. Com experiência nos setores legislativo e executivo, Meirelles foi vereador de São Paulo, onde ocupou o posto de presidente da Câmara. No executivo, foi secretário estadual de Agricultura e Abastecimento de 1998 a 2002, de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo entre 2003 e 2006, além de Assessor Especial de Assuntos Estratégicos do governador do Estado de São Paulo em 2013. Desde 2015 é Secretário de Estadual de Energia. Foi presidente da Associação de Empresários da Amazônia (AEA), presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, coordenador do Fórum da Cadeia Produtiva de Pecuária Bovina do Mercosul, vice-presidente do Secretariado Mundial de Carnes (IMS) e diretor da Fronteira Norte Engenharia e Desenvolvimento.

Consuelo Franco Marra Geóloga pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Especialista em Gestão Pública pela Escola Nacional de Administração Pública ENAP Especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas - ANA, desde 2012 Trabalhou por mais de vinte anos na área ambiental Passou pelo Ibama; Ministério do Meio Ambiente; Ministério das Cidades e Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal Contribuiu para esta questão também como funcionária de empresas e consultora em vários estudos. Na ANA sempre fez parte do corpo técnico que trabalha com o Programa Produtor de Água, voltado a ações, no meio rural, que tenham como objetivo o aumento da oferta de água de qualidade. Acompanha projetos em vários municípios de Minas Gerais e de Goiás, particularmente nas bacias do Paranaíba, do Grande e do São Francisco.

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Eduardo Cuoco Léo Gestor Ambiental, formado pela Escola Superior de Agricultura 'Luiz de Queiroz' - ESALQ/USP. Mestre em Ciências com área de concentração em Ecologia Aplicada pela ESALQ/ USP - 2014. Coordenador de Sistemas de Informações na Agência das Bacias PCJ (Agencia das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí). Atua na entidade desde fevereiro de 2011. A Agencia das Bacias PCJ desenvolve projetos envolvendo sistemas de monitoramento hídrico, apoio à cobrança pelo uso de recursos hídricos, sistemas para disponibilização de informações e suporte à decisão e elabora relatórios técnicos e o desenvolvimento de estudos para subsídios ao enquadramento dos corpos d'água e ao planejamento de recursos hídricos nas bacias PCJ. Participou da elaboração dos últimos Planos de Bacias e Relatórios de Situação confeccionados na região das Bacias PCJ. É colaborador na cooperação internacional denominada "Eco Cuencas", onde gerencia a implementação de projeto piloto no Brasil.

Keigo Minami Formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo, em engenharia agronômica, em 1969. Em 1970 iniciou profissionalmente no Departamento de Agricultura e Horticultura da ESALQ, como Auxiliar de Ensino, sendo efetivado em junho de 1971, no Setor de Horticultura na área de Olericultura. Em 1973 obteve o título de Master of Science pela Ohio State University, Estados Unidos. Em 1977 obteve o título de Doutor em Agronomia. Em 1979 obteve o título de Livre Docente em Horticultura. Em 1981 foi promovido para Professor Adjunto do Departamento de Agricultura e Horticultura da ESALQ. Em 1991 obteve o título de Professor Titular do Departamento de Horticultura da ESALQ. Em 2015 aposentou-se e está no Departamento de Produção Vegetal da ESALQUSP como Professor Senior. Durante o período exercido na USP, exerceu várias funções e cargos. Publicou 40 livros sobre culturas hortícolas e técnicas agrícolas. Publicou cerca de 150 trabalhos em diversas revistas brasileira e internacionais.

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Marcos Vinicius Folegatti Formado em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da Universidade de São Paulo (1981), Mestrado em Irrigação e Drenagem - pela ESALQ (1985), Doutorado em Agronomia Solos e Nutrição de Plantas pela ESALQ (1988). Pós Doutoramento na University of Utah - Logan (1990/91), Pós Doutoramento na University of California - Davis (1992/93). Prof. Livre Docente em 1996 e professor titular da Universidade de São Paulo em 2006. Tem experiência na área de Engenharia Agrícola, com ênfase em Engenharia de Água e Solo, atuando nas áreas de irrigação, evapotranspiração, manejo da água em agrossistemas e gestão da água de bacias hidrográficas em comitês de bacias. Coordenador do Programa de Pós Graduação em Irrigação e Drenagem (19942002), Presidente e Vice Presidente da Comissão de Pós Graduação da ESALQ (1997-2003).Coordenador da Câmara Técnica de Uso e Conservação da Água no Meio Rural do Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí CBH-PCJ- CT Rural (2005-2007), membro da CT-Rural (2005-atual). Membro da Câmara Técnica de Plano de Bacias do CBH-PCJ - CT PB (2011 - atual), membro do Grupo de Trabalho - GT Cobrança do CBH-PCJ CT-PBl (2010 - atual), e membro do GT de Pagamentos por Serviços Ambientais - PSA do CBH-PCJ CTRural (2010-atual). Vice Presidente da Associação Brasileira de Engenharia Agrícola - SBEA (200506), Presidente da SBEA (2007-09), Coordenador do Projeto de Intercâmbio Brasil - França BRAFAGRI- CAPES(2008-atual), Membro do Comitê de Assessoramento de Engenharia Agrícola do CNPq (2010-2012), Diretor do Polo de Ensino a Distância Semipresencial de Jaú USP-Univesp (2013-atual) e Chefe do Departamento do Engenharia de Biossistemas - ESALQ/USP.

Hiroshi Nozawa Presidente da Coordenadoria Eco e Recursos Latino-Americanos (CERLA), consultor da JICA - Japan Internacional Cooperation Agency no Brasil e consultor em Agricultura e Piscicultura na Colômbia e no Paraguai Foi Consultor do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia do Peru, e em Agricultura e Piscicultura do Ministério da Agricultura da Nicaragua. Participou como consultor de projetos para a América Latina da JAIDO - Japan International Development Organization, no Japão.

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Marcelo Carrão Castagnolli Engenheiro Agrônomo pela UNESP e pós-graduado em aquacultura pela mesma universidade. Foi gerente de desenvolvimento de produtos e responsável pelas vendas da área de aquanegócio da Sansuy S.A. Indústria de Plásticos. Desde 2010 é gerente nacional de produtos e responsável pela equipe de gestão de vendas do segmento aquanegócios da Sansuy S.A.

Silvio Frosini de Barros Ferraz Formado em Engenharia Florestal pela Universidade de São Paulo em 1998, concluiu doutorado em Recursos Florestais pela Universidade de São Paulo em 2004 e fez pos-doutorado pela Universidade de São Paulo em 2005. Foi professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências - UNESP Rio Claro de 2006-2008, e desde 2008 é professor do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP. Publicou 45 artigos em periódicos especializados e mais de 100 trabalhos em anais de eventos. Possui 8 capítulos de livros publicados, 5 softwares desenvolvidos e recebeu 5 prêmios e/ou homenagens. Atua na área de Manejo de bacias hidrográficas e ecologia da paisagem com ênfase em planejamento da conservação de floresta e recursos hídricos. Em suas atividades profissionais interagiu com 50 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: SIG, incendios florestais, Ecologia de paisagem, desmatamento, Rondônia, Amazônia, hidrologia florestal, Corumbataí e modelagem hidrologica.

Simone da Costa Melo Professora do Departamento de Produção Vegetal, especializada em tecnologias de produção de hortícolas, coordenadora do GEPOL - Grupo de Estudos e Práticas em Olericultura e do Grupo de Estudos "Luiz de Queiroz" GELQ

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PROGRAMAÇÃO

Dia 08/10/2015 - Quinta-Feira 08:00 09:30

Recepção e Credenciamento Cerimônia de abertura com apresentação do Grupo Vocal Luiz de Queiroz

10:30

Apresentação inicial sobre a Relevância da Imigração Japonesa na USP e na ESALQ Luiz Gustavo Nussio, diretor da ESALQ, e Antonio Roque Dechen, professor do Departamento de Ciência do Solo (LSO-ESALQ).

11:00

Palestra Magna: "Contribuição da Imigração Japonesa no Desenvolvimento da Agricultura Brasileira" - João Carlos de Souza Meirelles, Secretário de Energia do Estado de São Paulo.

12:00

Discussão da Plenária e orientações para o período da tarde

ALMOÇO 14:00

"O Cenário Hídrico do Brasil" - Consuelo Franco Marra, especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA).

14:45

"Desafios hídricos na Bacia do Piracicaba" - Eduardo Leo, Agência PCJ (Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí).

COFFEE BREAK (30 minutos) 16:30

"Uso da água no processo produtivo agrícola" - Keigo Minami, Professor Senior em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas), mestre em Horticulture pela Ohio State University.

17:15

"Água na Agricultura" - Marcos Folegatti, Prof. Titular do Departamento de Engenharia de Biosistemas da Universidade de São Paulo.

18:00

Orientações finais

Dia 09/10/2015 - Sexta-Feira MINICURSOS (40 vagas)

Os minicursos acontecem simultaneamente. Cada participante deverá optar por um tema no período da manhã e outro no período da tarde.

Período da Manhã (09:00 às 11:30) l

"Uso de Barras de LED na Horticultura" - Grupo de Estudos e Práticas em Olericultura - GEPOLESALQ/USP

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"Uso da Moringa Oleífera (moringaceae) no tratamento da água" - Hiroshi Nozawa, engenheiro de pesca e consultor da JICA.

ALMOÇO

Período da Tarde (14:00 às 17:30)

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"Métodos e Práticas para a racionalização na irrigação" - Grupo de Práticas em Irrigação e Drenagem - GPID-ESALQ/USP

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"Instalação de tanques para Piscicultura e Hidroponia" Marcelo Carrão Castagnolli, engenheiro agrônomo e gerente comercial aquanegócio da Sansuy S. A. Indústria

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"Uso de sensoriamento em estudos ambientais" - Prof. Dr. Silvio Frosini de Barros Ferraz, Departamento de Engenharia Florestal da ESALQ/USP


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CONTRIBUIÇÃO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA BRASILEIRA Palestrante: João Carlos de Souza Meirelles, Secretário de Energia do Estado de São Paulo Quero cumprimentar o nosso diretor Luis Gustavo Lucio, diretor da nossa queridíssima ESALQ; a sra. Harumi Arashiro Goya, presidente da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social Bunkyo; Takeshi Aihara, vice-cônsul do departamento de economia do Consulado Geral do Japão em São Paulo; Tomio Katsuragawa, presidente da comissão Bunkyo Rural; Carlos Kenji Fukuhara, presidente da comissão de Relações Governamentais do Bunkyo; prof. Antonio Roque Dechen, ex-diretor da ESALQ e professor do Departamento de Ciências do Solo; prof. Celso Omoto, do Departamento de Entomologia; prof.dr. Plínio Barbosa de Camargo, coordenador do Grupo de Estudos e Práticas do Uso Racional da água GEPURA, meus caros professores, alunos, membros da comunidade japonesa que nos honram aqui com a sua presença. Eu tenho muita honra de estar aqui com os senhores, pois temos uma longa história com o Japão e recentemente rememoramos, que por ocasião das vésperas do centenário da imigração, nós fomos ao Japão em uma missão especial com o governador Geraldo Alckmin. Carlos Kenji era o nosso assessor especial para essas relações, para fazer uma visita do governo, como uma missão econômica ao Japão, liderada pelo governador Geraldo Alckmin. Nessa visita foi extremamente importante uma entrevista que nós tivemos com o primeiro-ministro do Japão. Essa entrevista, com todo o protocolo japonês, naquela circunstância, a entrevista era para demorar 11


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15 minutos, e ela demorou 1 hora e meia, porque o primeiro-ministro resolveu realmente obter informações sobre o Brasil, especificamente sobre São Paulo. Ele lembrou que tinha um primo dele aqui, agricultor no Estado de São Paulo, próximo a Ribeirão Preto, na cidade de Pitangueiras. O objetivo nosso era convidar o primeiro-ministro para vir, logicamente ao Brasil, mas especificamente a São Paulo. E ele, nessa longa conversa, agradeceu o convite, só que nos pediu com total reserva, porque evidentemente o primeiro-ministro do Japão não pode sair do país senão depois de ter aprovada pelo parlamento japonês a sua possibilidade de viagem. Mas já estava acertado, e a vinda do primeiro-ministro ao Brasil foi fundamentalmente para visitar São Paulo. Eu queria dizer aos senhores o quão emblemático foi essa visita nossa ao Japão, e a visita do primeiro-ministro aqui, porque ela selou um entendimento histórico, um respeito profundo que a comunidade brasileira tem pela comunidade japonesa que veio nos ajudar. Vieram no momento de dificuldades para o Japão. Em 1908, chegou o Kasato-maru em Santos, trazendo uma leva de imigrantes de primeira ordem que vieram constituir o embrião de futuras levas de imigrantes que vieram nos ajudar. Os japoneses ficaram absolutamente marcados na nossa história pela sua contribuição, não só na parte agrícola, que foi apenas o início. Em seguida, na produção de produtos especiais, a comunidade japonesa se destacou na cultura de algodão, por exemplo, na história de São Paulo. Depois, o desenvolvimento da olericultura, que permitiu que nós tivéssemos uma qualidade extraordinária na fruticultura e assim por diante, mas essa qualidade é tão importante que ela extrapolou esses limites da agricultura. Como se já não bastasse estar na agricultura, já seria uma imensa contribuição, mas passaram a contribuir em todos os outros setores, da engenharia eletrônica, cultura e medicina. Portanto, esta homenagem que nós viemos aqui prestar a essa comunidade, não em meu nome pessoal apenas, estou em meu nome pessoal sim, mas principalmente em nome do Governo de São Paulo, e do governador Geraldo Alckmin. Uma homenagem muito especial à comunidade japonesa, 12


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e estou muito feliz, porque esta homenagem é feita, prof. Nussio, aqui na nossa ESALQ, eu acho que a ESALQ na verdade pode representar bem a acolhida a essa comunidade, porque a ESALQ já existia quando essa comunidade chegou ao Brasil em 1908. Já existia produzindo uma enorme revolução na agricultura brasileira, a partir do conceito em que ela foi criada. Era uma fazenda particular que seu proprietário doou para que se fizesse o ensino da ciência e tecnologia, para essa ciência e tecnologia agregar valor e responsabilidade à agricultura, o cuidado do trato da terra, a produtividade que a mãe Terra tem de dar aqui para as fazendas. Então, neste momento, é um orgulho enorme estarmos aqui na ESALQ, o berço da grande agricultura brasileira, a grande pesquisa de desenvolvimento, no momento em que mais do que nunca é necessário que a gente desenvolva novas tecnologias. Na vinda para cá, estávamos tratando do problema da crise hídrica e da crise energética, nós temos que pensar em como usar a água adequadamente na agricultura, como são preservadas as águas para consumo humano e agricultura, e para tratamento dos animais. E, no complemento disso estejamos produzindo energia hidrelétrica. Hoje passamos por uma crise enorme. O ano passado, de 2014, a partir do final de 2013, nós tivemos um período que foi o mais seco em 84 anos. Não foi o ano mais seco, foi o mais seco em todos os meses do ano. Qual foi o mais seco fevereiro dos últimos 84 anos? Em 2014. Qual foi o outubro mais seco? Em 2014. E, assim por diante, todos os meses, e nós conseguimos, graças ao empenho pessoal do governador Geraldo Alckmin, da eficiência e competência da Sabesp e seus engenheiros, onde grande número de japoneses, descendentes de japone13


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ses colabora, atravessar esse período. Eu ainda, chegando aqui, passei ao largo do rio Piracicaba, menos triste do que eu vi no ano passado, quando estava absolutamente seco, mostrando as suas pedras, o seu fundo, mas hoje mostrava aquilo que sempre foi um orgulho da cidade e da região. Portanto, nós temos que usar a competência que nós temos aqui instalada nesta faculdade para produzir também, com interação, a energia hídrica que nós temos que gerar. Hoje, por falta de água, nós tivemos que interromper a navegação do rio Tietê, e interrompendo a navegação do rio Tietê, nós interrompemos a navegação do rio Paraná, desde o Paranaíba na divisa de Minas com Goiás, até a usina de Avanhandava aqui em São Paulo. Não podemos sequer transportar os produtos de Mato Grosso do Sul, que sobem para o Paraná e pelo Tietê, um pólo hoje produtor de celulose de Três Lagoas, porque está interrompido. Então é preciso que a gente use o talento desta faculdade, para junto com aqueles que vão trabalhar com recursos hídricos, para estar, não apenas regulando melhor as águas. Isso pode ser fácil de fazer, mas suprindo a demanda de energia e de repente passa a ser reduzida nos reservatórios hidrelétricos do país. A região Sudeste, não foi só São Paulo que passou essa seca, a região Sudeste, São Paulo, Minas Gerais, a Bahia, todos hoje estão em um estado caótico. Na represa do Sobradinho, uma das maiores do Rio São Francisco, hoje sequer passa água, porque não há condições de passar quando você chega ao nível zero do reservatório. Aqui no rio Paraná, o gigantesco rio Paraná, nós estamos na usina de Ilha Solteira, que é a primeira nessa cascata de usinas: Ilha Solteira, Jupiá e depois Porto Primavera. Em Ilha Solteira, hoje nós estamos com 36% negativos na cota normal da usina, ou seja, é preciso que a gente trabalhe de uma forma mais ampla, não para retornar essas águas, que isso será possível fazer, mas para garantir segurança energética dos grandes centros de consumo. Uma das missões fundamentais será aumentarmos o potencial das energias renováveis, sobretudo da biomassa de cana, que esta faculdade da nossa gloriosa Universidade de São Paulo, trabalha novas variedades de cana, cana energia, para que tenhamos a mesma quantidade de açúcares, mas muito mais massa para a geração de energia elétrica. Produzimos nesse processo nos últimos 10 anos, graças às providências que tomou a Grande São Paulo lá atrás. Introduzimos a proibição da queima da palha de cana, e isso produziu um novo insumo. Hoje nós temos uma quantidade de palha suficiente para aumentar em até 30% a geração de energia elétrica, e 14


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é isso que nós precisamos estar tratando, só que ainda nós temos apenas 8-9 meses de safra de cana no máximo. É preciso que a gente tenha insumos para nos outros 3-4 meses fazermos essas turbinas estarem sendo acionadas com caldeiras modernas para a geração de energia elétrica. Eu acho até os desafios importantes para que a gente possa enfrentar em conjunto, isso significa também todo um sistema elétrico capaz de estar recebendo energia gerada pelas usinas de cana de açúcar. Nós fizemos um esforço muito grande com as concessionárias de energia, e aqui exatamente em Piracicaba acaba de ser instalada, já está operando a partir de julho, uma subestação de energia elétrica de altíssima tensão. Ela tem capacidade para abastecer o crescente pólo industrial do Piracicaba, e de algumas cidades aqui da região. Hoje nós temos essa capacidade, mas aqui no entorno do Piracicaba nós temos cerca de 9 usinas de cana de açúcar, usinas sucro-alcooleiro-energéticas, e é preciso que a gente trabalhe para maximizar a geração de energia elétrica, porque hoje não há mais impedimento no despacho dessa energia. Então, o que eu sinto é que essa oportunidade de vir à ESALQ por conta de um convite extremamente honroso do Bunkyo que nos fez para estar aqui é um momento mágico na história. Primeiro a homenagem à comunidade japonesa, segundo a homenagem ao Bunkyo, que na verdade conserve esses valores, essas tradições, e valorize essa relação das pessoas, como eu vi, premiando notáveis no dia de hoje. Mas, nesta casa, eu acho que nós temos hoje um potencial enorme para desenvolver uma série de outras possibilidades potenciais. Hoje há por exemplo, a utilização de outros energéticos para complementação da safra de cana de açúcar. Produzimos um subproduto que nós temos da indústria florestal, a melhoria de outros cultivares que permitam o aumento do potencial energético, ou seja, o conjunto de ações que nós poderíamos estar desenvolvendo. Acho que a crise energética nacional só não está mais grave porque houve uma redução na atividade econômica e, infelizmente, nós que neste momento precisamos estar atentos a isso no sentido de nos prevenir, estamos hoje numa dificuldade que o país todo passa. Não estamos aqui tentando culpar ninguém, esse é um fato, mas nós temos que usar dessas dificuldades como uma enorme oportunidade. Hoje pela manhã, professor, eu estive vinha visitando uma usina de lixo que está instalada aqui em Piracicaba. Essa usina coleta todo o lixo do município de Piracicaba e está por receber as suas últimas licenças ambientais. As primeiras já tem, e ela está coletando todo o lixo da cidade, fazendo a sua reciclagem, e produzindo subprodutos extremamente importantes. 15


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Inclusive um desses subprodutos, exatamente, são os chamados CDRs, são resíduos combustíveis derivados de resíduos e podem ser utilizados na geração de energia elétrica. O restante está reduzindo progressivamente a produção de lixo orgânico, o que significa que se usa mais racionalmente os alimentos, aumenta mais o lixo de plástico e outros resíduos. E tudo isso, digamos assim, nós precisamos estar acompanhando, porque uma usina como essa que é feita pela primeira vez no país, o município de Piracicaba fez, é um orgulho para São Paulo ter Piracicaba fazendo isso. Fez isso através de uma parceria público-privado, uma PPT, então o privado está fazendo esses investimentos, junto com o município que garante, o município dá a química correta do transporte desse lixo que é todo transformado aqui. Isso pode ser transformado não apenas em energia elétrica, mas pode ser transformado também em vapor de alta pressão. Ele pode ser considerado um subsídio para indústrias que estão próximas. Eu fui visitar lá a usina que está próxima, por exemplo, de uma fábrica da Mercedes Benz ali perto. Ou seja, são fatos novos que estão surgindo, como é que nós podemos estar integrando isso no sistema produtivo moderno, no sistema potencial do nosso agronegócio. Não se trabalha mais apenas com especificidade de um produto agrícola, mas com o conceito de cadeias produtivas. Como é que nós podemos, e a ESALQ sempre foi precursora nesse sentido, a partir até mesmo da indústria sucroalcooleira, que na verdade é um dos melhores exemplos de integração. Hoje há um potencial resultante desse processo, nós já assinamos há cerca de 1 mês com uma subsidiária da Petrobrás, que é responsável pela distribuição de gás aqui na região noroeste de São Paulo. É gás brasileiro, nós já assinamos o acordo com uma usina da cidade de Itápolis, que vai produzir biogás a partir de linhaça, ou seja, que é um dos outros subprodutos que nós não utilizávamos. Linhaça foi um problema, você tem que distribuir linhaça, que tem limitações por conta de lençol freático, ou seja, há um complexo de oportunidades. Esse estudo nós estamos estimulando que seja feito junto com a Petrobrás e essa usina para, inclusive, utilizar esse biogás na alimentação de toda a frota de transporte de cana desta usina, ou seja, hoje nós já temos motores do ciclodiesel que pode perfeitamente estar alternando com biogás. A Petrobrás que tem já um duto de distribuição nessa região já fez um acordo com essa usina, o Estado de São Paulo foi avalista desse acordo. Esse biogás poderá ser misturado ao gás natural que é distribuído pela rede de gasodutos que o Estado de São Paulo tem. Ou seja, eu acho que esta visita nossa, aqui à ESALQ Piracicaba, atendendo ao convite do Bunkyo, 16


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para uma homenagem especial à comunidade japonesa, é uma oportunidade para se pensar num alargamento de parcerias e atividades da ESALQ enquanto maior centro de pesquisas de agronomia que nós temos no país. O melhor formador de cérebros deste país. De modo que eu queria, homenageando a comunidade japonesa, dizer que é extremamente oportuno que esta homenagem seja feita aqui na ESALQ, porque se nós estamos homenageando o passado, a vinda dos primeiros imigrantes, a memória daqueles que são os ancestrais daqui da nossa comunidade, nós estamos no dia de hoje, sobretudo olhando para a frente. Quais são as oportunidades que nós temos para novos negócios, novos desenvolvimentos, novas pesquisas, e nada melhor do que estar comemorando este sólido alicerce do passado, para estarmos construindo uma sólida perspectiva de futuro. Agradeço muito ao Bunkyo à honra deste convite, quero agradecer muito à ESALQ, ao diretor. Que esta oportunidade de estarmos aqui e dizer já que, nos próximos 100 anos, a ESALQ possa estar repetindo, em forma permanente, isto que está fazendo no dia de hoje. E obrigado.

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Patrocínio

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O CENÁRIO HÍDRICO DO BRASIL Palestrante: Consuelo Franco Marra, Agência Nacional de Águas (ANA)

O assunto é desafiador e muito além daquilo que eu tenho como experiência dentro da Agência Nacional de Águas. Mas, como a gente acaba tendo acesso às informações e às pessoas que estão ali na agência, eu procurei chegar um pouquinho mais perto do tema proposto, que foi esse cenário hídrico do Brasil. Isso é uma coisa muito grande, uma coisa muito complexa e bastante além da minha capacidade de contribuir para o debate, mas eu tentei fazer alguma coisa para contribuir aqui com o debate no seminário. Como eu sei que aqui nós estamos com um público de universitários, eu vou pedir desculpas se por vezes eu for redundante ou eu trouxer informação aí que talvez até vocês tenham mais atualizada, e se tiver, por favor, podem se manifestar e eu agradeço. Esse é um cenário que a gente tem de disponibilidade de água no mundo, sendo que azul é a mais escura é pouca ou nenhuma escassez, e o laranja é escassez física e o amarelo é escassez econômica, e o vermelho é escassez física. O mapa retrata bem o que a gente vê na realidade, inclusive, relacionado a questões não só de água, mas de fome, de desenvolvimento e tudo mais. E essa é a parcela de contribuição dentro dos 44 mil km³, a parcela de contribuição do Brasil de 5.660, ou 12%, quando abrange aquilo que o Brasil recebe, dá 8427, e o Brasil mais territórios estrangeiros dão 18% desses 44 mil. Este é um Brasil político, e este é o Brasil hidrológico, que existe alguma coincidência, mas nem tanto. E essa é a nossa situação em relação ao 19


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percentual de recursos hídricos. Você pode ver que aqui é percentual, ou seja, 68% dos recursos hídricos para o nosso território estão na região Norte, onde está 45% do nosso território e 7% da nossa população. Aí a gente compara isso com isto, e vê que 43% da população tem apenas 6% do recurso hídrico disponível. Ou seja, uma demanda muito grande onde não tem água, uma demanda muito pequena onde tem bastante água. Então, aqui também, né? Demanda grande, mas não tem nada. Então, esse continua sendo o cenário que a gente tem que lidar em nível de Brasil. Então nós temos o São Francisco com 2.800 m³ por segundo de vazão, o Paraná com 11.800 m³/s, o Tocantins 3.700 m³/s, e o Amazonas com 132.000 m³/s. Essas são as vazões médias das principais bacias do Brasil. Só para a gente visualizar de uma outra forma, nós temos o grosso da população aqui, e o grosso da água aqui. O jeito é pegar esse povo e trazer para cá, ou pegar essa água e trazer pro outro lado, aí a gente equilibra isto aqui. Da água retirada, 46% é para irrigação, 7% para o animal, 3% para a área rural, 26% circula na área urbana e 18% no uso industrial. Isso daí consta

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dos relatórios de conjuntura da Agência Nacional da Água - ANA e podem ser acessados lá no nosso site. E do consumo de 841 m³ por segundo, 69% é para irrigação. Se você somar o animal mais o rural, você vai ter quase 80% do consumo de água do Brasil no meio rural, principalmente na irrigação. O panorama de uso da água por setor, isso no mundo, e a gente vê aqui a

predominância do uso agrícola. Esse verde aqui. Agrícola com industrial é o laranja; predominante agrícola com considerável uso industrial; uso agrícola com doméstico; uso doméstico; industrial; industrial e agrícola. Ou seja, este aqui este aqui que é o grande usuário, né? Se você perguntar: predominância de agrícola, predominância de agrícola, predominância de agrícola, você pega o verde, o laranja e o amarelo. Isso praticamente cobre o Hemisfério Sul. O dado que eu acho que é uma das coisas mais preocupantes que a gente precisa trabalhar a nível mundial: isto aqui é captação, o escuro. O claro é consumo, a diferença é o desperdício. Isto é desperdício, é a água que é captada e jogada fora. Veja que o desperdício é muito maior no uso doméstico. Eu não tenho nada a ver com isso, mas está faltando água por aí, não é mesmo? 22


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Se você pegar o consumo doméstico, e aí a gente tem a famosa crise da área urbana. Olha o que é desperdício aqui: tanto o desperdício doméstico como no setor industrial, este percentual é uma coisa quase absurda. Nós temos que levar em consideração que o volume captado, a outorga concedida para o irrigante ou para o industrial, ou mesmo para a concessionária de abastecimento, às vezes é ainda maior do que ela faz de captação. Ou seja, se você for pensar como desperdício o que ela tem entre o que foi outorgado e o que ela efetivamente consumiu, esta faixa aqui ainda é maior. Aqui nós temos dados até 2000, e uma projeção: se a gente continuar no rítmo que está, em 2025 nós vamos ter isto um déficit no abastecimento. Vale lembrar que o consumo de água doméstica em países desenvolvidos é seis vezes maior que em países em desenvolvimento. Bom, aí com todos esses cenários nós temos que encontrar agora no que pode ser feito para tentar de certa forma administrar e reverter as situações que são diagnosticadas. A Lei 9433 estabeleceu que no Brasil, a gestão de recursos hídricos é feita de forma compartilhada, levando em consideração os usos múltiplos, e aí a gente tem alguns exemplos. Então nós temos aí, por exemplo, um comitê, uma agência, ou simplesmente os usuários de água de uma bacia, com diversos interesses. O pescador, o que 23


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pratica natação, aquele que usa para recreação, usa a água na agricultura para irrigação, e aquele que precisa daquela água para a cidade ou indústria. Então essa gestão compartilhada pressupõe que todos esses que têm 24


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interesse nesse recurso se reúnam e decidam como vai ser feita a gestão, como é que vai ser a questão dos usos múltiplos nessa bacia e todos têm o direito de opinar. É importante isso que estou falando, porque é legal, muito legal, a gestão compartilhada é muito legal. A unidade de gestão é tudo muito democrático, muito republicano, muito interessante, mas isso gera uns problemas. E como o tema aqui envolve muito mais do que a água, envolve recurso, envolve a gestão, eu preciso trazer isso para o debate do que está acontecendo nessa área. Então a unidade de gestão de recursos hídricos é pela bacia hidrográfica. Aqui nós temos o exemplo, dos rios de domínio do Estado, no caso aqui acho que é do Paraná, e estes não estão nas áreas protegidas de domínio da União, porque elas também seriam, mesmo que o rio seja só estadual, elas seriam de competência, no caso, da ANA. Então essa é a realidade, isto aqui é o que o Estado gerencia, isto aqui é o que a União gerencia. A carga, digamos assim, a carga de trabalho dos Estados é tudo isso que está em verdinho, e em vermelho é uma gestão feita pela Agência Nacional de Águas. Gestão de competência, ou seja, a maior parte é feita pelos Estados, em que pese a coordenação é da ANA. Isso parece nada, isso parece tranqüilo, uma coisa democrática. Acontece que cada um tem sua forma de trabalhar, seus parâmetros, sua ciência, seu corpo técnico, seus políticos, suas decisões. Muitas vezes a 25


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União segue uma linha e o Estado segue outra, a ANA segue uma linha e a agência estadual ou a agência de bacias uma outra linha. Isso gera conflito na administração. Aí você tem um plano de bacia, você tem uma agência de bacia com um entedimento, você tem uma agência estadual com outro entendimento e você tem agência nacional com outro entendimento. Isso gera conflito, isso afeta a gestão de recursos hídricos, isso pode causar escassez. Então a escassez, ela pode vir da falta de água, da falta de chuva, mas ela pode vir da falta de gestão, então é importante que se monitore, que se veja a questão de chuva, que se faça dança da chuva, que se faça orações e tudo mais, mas é importante que se veja também esses outros aspectos, eles também afetam bastante. Aqui é só mesmo essa questão de competência da ANA que, em que pese que a gestão seja compartilhada, em que se deve ouvir as pessoas diretamente interessadas naquele recurso hídrico, naquela água, a ANA é que tem a responsabilidade de implantar e gerenciar todo esse sistema. Isso não significa ter a última palavra, por exemplo, em uma questão de conflito, não significa. Isso, para quem estiver interessado, a ANA contratou o CDE para fazer um levantamento sobre essa questão de gestão de recursos hídricos no Brasil e o relatório foi publicado no princípio de setembro e está disponível no site da ANA para quem quiser consultar. Várias dessas 26


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RIOS DOMÍNIO ESTADUAL

coisas que estou dizendo aqui aparecem nesse relatório. Então, essa é uma informação pública que está disponível para quem quiser verificar se estou mentindo. Bom, alem das questões de gestão de competência, digamos assim, a gen-

RIOS DOMÍNIO FEDERAL

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te enxerga a gestão de recursos hídricos por dois aspectos, uma gestão da oferta do recurso hídrico, uma gestão da demanda, ou seja, qual é a equação? Nós temos que trabalhar com existir uma oferta maior e uma demanda menor, ou uma demanda no mínimo com menos desperdício, digamos assim. Você reduzir aquela quantidade que, por exemplo, é outorgada ou quantidade que é captada daquela que não é efetivamente usada, ou seja, você realmente captar apenas aquilo que você vai usar, você ter outorga realmente daquilo que você vai usar, de uma forma, digamos assim, mais democrática, lembrando sempre que é esse o entendimento da ANA que é complicado porque os Estados são aqueles que gerenciam a maior parte dos cursos hídricos das bacias e nem sempre trabalham bem essa questão de digamos, interferência da ANA. E permeando essas duas coisas vêm as questões de reuso, aqui nós temos o uso racional e a parte de conservação, que é a menina dos olhos do meu chefe, e que a gente vai acabar entrando um pouquinho mais por ser exatamente a área em que eu atuo lá dentro da ANA. Então aqui a gente tem como conceito da água sendo um resultado das interações de clima, recursos naturais, atividade humana, tanto naquilo que se refere à qualidade, quanto naquilo que se refere à quantidade, principalmente a disponível para uso. 28


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Alguns problemas que a gente enfrenta no dia-a-dia são os que direcionam as nossas ações efetivas, o que de efetivo a gente pode fazer para coibir esse tipo de situação. De assoreamento, das enchentes, da seca, do pasto degradado, e etc. Bom, seguindo essa linha de tentar trabalhar a equação pela parte da oferta, e que a gente entende que tem um pouquinho mais a ver com este seminário, que é um seminário voltado principalmente para quem está envolvido com a área rural. A ANA tem um programa desde 2001 chamada Programa Produtor de Água, que junta alguns químicos que pegam moléculas de hidrogênio e de oxigênio e produzem água. Mas na verdade é um programa que apóia projetos que tenham pagamento por serviço ambiental de proteção hídrica. Esse programa tem alguns pressupostos, o primeiro deles é que exista um recurso hídrico que seja prioritário mesmo, ou que seja de importância, mesmo que seja em um contexto mais local, não precisa necessariamente ser um contexto nacional, ele pode ser um recurso hídrico de interesse de uma determinada comunidade, de uma determinada região, de uma cidade, de um Estado, e ele é voltado para a área rural. Ele é voltado para produtores rurais, que de forma voluntária aceitam adequar as suas propriedades para que ela passe a ser uma propriedade produtora de água. Ou seja, ele vai 29


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fazer ações de conservação de água e solo, manter vegetação, recompor vegetação, recompor ou mudar suas metodologias de produção, passando dessa forma, adequando a sua propriedade a ser uma propriedade mais adequada para o ponto de vista de captação e filtração de água. Aí existem vários programas, principalmente vinculados aos órgãos de discussão, ou até de institutos de floresta e tal que fazem programas semelhantes. Adequa a estrada, vai fazer terraços, que são as práticas aí. O que diferencia esse programa dos outros é que ele tem o pressuposto do pagamento por serviço ambiental, Ou seja, aquele grupo de parceiros que tem interesse naquele determinado recurso hídrico, que hoje está em uma condição que não é adequada, ou por escassez, ou por irregularidades ou seca. Ou, tem água demais, ou está assoreado, com diversos problemas, e até contaminado de alguma forma. Esses parceiros se reúnem, montam um projeto e algum ou alguns desses parceiros se dispõem a pagar aos produtores rurais que aceitarem regularizar as suas propriedades. Então esses proprietários vão aderir ao projeto, vão adequar as suas propriedades, normalmente a custo zero, e ainda por cima vão, mediante resultados, receber um pagamento em espécie dinheiro pelo serviço ambiental prestado. No caso, um serviço ambiental de proteção hídrica, isso tudo devidamente mensurado, com relatórios técnicos que comprovam que realmente fez, que tanto que fez, quanto faz jus para receber, uma transação comer30


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cial. Algumas questões são relevantes: O pagamento por serviço ambiental, por exemplo, se ele envolve uma instituição pública, uma prefeitura, um governo de estado, necessariamente tem que ser uma contratação via licitação. Você tem que usar as regras da Lei 8666 porque você está contratando um serviço a ser prestado a um órgão público e vai ser remunerado com recursos públicos. Então ele não pode ser simplesmente eu chego naquela região ali, tem cinco propriedades, eu contrato as cinco e pago . Você só pode fazer isso se você não envolver a administração pública nessa transação, se envolver administração pública, tem que ser via edital. Envolver em que sentido? A administração pública colocar recurso para adequar as propriedades, colocar recurso para pagar o serviço ambiental, colocar o recurso, mesmo que não seja recurso dela, mas que ela seja o agente pagador. Vai receber o dinheiro de alguém e vai fazer o pagamento então todas essas são circunstâncias que, em se envolvendo um órgão público precisa ter Lei e precisa ter um edital de contratação, se for particular não precisa, não seria tão necessário assim. Todas as ações nesses projetos são via uma unidade que administra, então ele não é um projeto de uma administração, é municipal por exemplo, ah não, é do governo do Fulano de Tal , não é assim, ele é de um grupo de instituições interessadas naquele recurso hídrico. Usualmente, o poder público é um dos que estão interessados. E para receber recurso financeiro,

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por exemplo, a ANA, de origem federal, só pode ser para órgão de administração pública, ou consórcio municipal, talvez, não sei, mas, uma organização social. Para essa ainda existe controvérsia. Então este aqui é, a grosso modo, um passo-a-passo de como se faz um projeto nessa linha, lembrando sempre que, para pagamento por serviço ambiental a Agência Nacional de Águas não entra. A Agência Nacional de Águas pode entrar em várias ações, mas para pagamento por serviço ambiental, elaboração de projetos, ou realização de estudos, a agência não coloca recurso. Ela entra normalmente para ações concretas, e a gente está querendo entrar um pouquinho mais a fundo na parte de monitoramento, porque acho que a gente já tem massa crítica o suficiente para avançar nisso daí. Então as práticas que normalmente são feitas nos projetos são conservação de solo, no caso das estradas; construção de barragem de infiltração, as barragenzinhas; terraço em nível. Há aí a adequação de culturas, e

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nisso aí vocês sabem muito mais do que eu, isso não é a minha área. Aqui a gente tem só uma forma de ilustrar o que se faz nesse projeto, você pega uma propriedade como esta, e aí você faz um projeto de adequação dela, para que ela se transforme, digamos assim, em uma produtora de água. Você faz barragenzinha, você faz terraço, você faz melhoria de pastagem... Aí você tem as outras partes, uma parte de reflorestamento, restauração de nascente, recomposição de mata ciliar, reserva legal, aqui uma adequação do café orgânico e tal. Então você transforma uma propriedade que hoje já produz, uma propriedade que já tem certa adequação, como é este caso aqui, mas você faz um projeto para que ela se transforme em uma propriedade produtora de água. E todas essas áreas onde foram feitas melhorias que o proprietário aceitou, ele passa a ter o direito de receber pelo serviço ambiental que essas partes da propriedade estão gerando, ela passa a gerar contribuições para o curso hídrico: água de melhor qualidade, questão de quantidade, que nós estamos aí obtendo alguns resultados de monitoramento que a gente futuramente pretende usar para mostrar que realmente essas adequações, essas coisas realmente repercutem na qualidade e na quantidade de água. 33


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Existem três, digamos assim, três módulos em que é possível calcular e efetuar o pagamento por serviço ambiental, que é a recuperação. Aqui a gente usa APP, mas é recuperação de área protegida, manutenção, então você tem a recuperação onde, é... recuperação de APP, digamos assim. Se o custo por hectare é x, aqui você recebe x, aqui você pode receber até 2x, e aqui você pode receber até (1/2)x. Por que (1/2)x? Porque aqui continua sendo área produtiva, você vai adequar sua propriedade, mas você vai continuar produzindo, inclusive com ganho de produção. Então você recebe, mesmo assim, recebe pagamento por serviço ambiental porque você aceitou adequar a propriedade. E como pagamento você recebe menos do que aquela área que estava ou degradada ou com algum tipo de cultura e você aceitou isolar e recuperar, e aquela que já era de mata e você aceita continuar mantendo ela como mata. Então, esses são os módulos ou as categorias de pagamento por serviço ambiental, os serviços que são feitos aqui são serviços que têm outros projetos que fazem parte também. Eu disse que a diferença é que no nosso caso tem que existir o pagamento pelo serviço ambiental prestado pela propriedade. Um dos modos de mensurar o quanto pode ser pago pelo serviço ambiental que a propriedade presta é usando o batimento de erosão com a equação universal de perda de solos. Aqui é o exemplo dos parâmetros, acho que vocês têm até mais conhecimento disso daí do que eu. Esse aí é o que a gente tem hoje nos nossos projetos de um pagamento por serviço ambien34


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tal, isso aqui é por hectare. Então a gente tem um mínimo de 145 por hectariano, máximo de 1900 por hectariano, a média gira entre 180 e 350. Isso é o que é praticado em projetos que já estão em andamento. Isto não é dado de estimativa ou coisa parecida não, isso aí é coisa que existe. Aqui estão alguns projetos que a gente tem: Rio de Janeiro, DF, São Paulo, Extrema, este aqui eu não sei onde é porque tem vários produtores de água. Mas aí nós temos Goiás, Tocantins, Minas, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, 38 projetos, o grosso está aqui: Minas e São Paulo, mas nós temos projetos no Brasil inteiro, até mesmo no Acre. Não tínhamos até o final do ano passado, até foi um dado

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que a gente revelou lá naquele seminário do Rio de Janeiro. Não tinha nenhum e na chamada do ano passado, a gente acabou e agora nós estamos com sete projetos que são no São Francisco. Não tinha nenhum e agora nós temos vários. Aqui nós temos, São Paulo aí, PCJ aí, são alguns dos mais antigos.

ÀREA

Este aqui é o número de produtores rurais, em 2012. Estamos atualizando essa informação, isto aqui já está girando em torno de 2000 e um pouquinho. Não estamos divulgando ainda porque ainda não foi verificada se a informação está precisa, mas em 2012 já existiam 1016 produtores rurais recebendo. Hoje esse número já é maior, já deve estar girando em torno de uns 2000. 31.500 hectares até 2012 de área efetivamente trabalhada. Isso significa que a área de projeto é, a gente usa uma mais ou menos quatro vezes o tamanho disto aqui de área trabalhada, mas este aqui é de área de intervenção efetiva. Este é investimento da agência, da ANA, até 2015. A ANA tinha investido 10,5 milhões de reais, a gente faz a mesma conta: para cada 1 da ANA os parcei37


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ros entram com mais ou menos 4, então se a ANA entrou com 10, provavelmente os parceiros entraram com mais 40. É mais ou menos a conta que a gente faz e com essa simulação a gente chega próximo a esse número.

INVESTIMENTO

Acho que o tema é muito grande, eu procurei dar uma pincelada desde os problemas no geral, até indicar uma das soluções que a ANA trabalha. Não é a única, não é a única linha de atuação da ANA, a ANA atua em várias frentes. Como a gente trabalha nessa área, que é uma área rural, e que tem um pouco mais a ver com o público, eu procurei dar uma ênfase um pouquinho maior nisso, espero ter adicionado alguma coisa aí ao debate. Estou à disposição para tentar responder aí perguntas. P: Eu queria saber quais são os maiores desafios da ANA com relação a esse quadro no Brasil hoje. R: Qual deles? Qual quadro, qual deles? P: Que a gente se encontra, com relação à água, que a gente não tem água e quais são os maiores desafios para vocês. R: Você está falando da questão da escassez? P: Isso. R: É como eu disse, são várias frentes de atuação. Existe uma frente técnica, por exemplo, de trabalhar as questões de regulação, de outorga, e distribuir melhor, digamos assim, a água que existe. E existe uma linha na atuação que é na questão de gestão, que é uma questão mais política, de articulação, com os comitês de bacias, as agências de bacia, e definí-los, os usos prioritários e toda essa questão que envolve as negociações. Existe a parte de trabalhar a questão de reuso, questão de uso racional, de diminuir aquela curva do desperdício; e essa outra linha, que é de remunerar quem, por exemplo, produz a água, para quem retém, para quem trata na nascente, onde a chuva cai, onde ela pode penetrar o solo e tal. Então, são algumas linhas que a gente trabalha, agora, são situações históricas, não são situações de uma hora para a outra. Não é uma questão que se resolve, são situações negociadas, são situações trabalhadas. Porque como 38


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a gente frisou, a questão da gestão de recursos hídricos no Brasil, optou-se em lei para que ela seja democrática, participativa, compartilhada, descentralizada, e isso gera umas dificuldades para se resolver quando os problemas aparecem. Então, existem alguns problemas que poderiam, digamos assim, ser resolvidos se a gente não tivesse que ouvir todo mundo. Poderia ser uma decisão democrática pá-pum, vai ser resolvido deste jeito, mas não é assim que se optou por trabalhar a questão. P: Boa tarde, meu nome é Saúne, eu sou filha de produtor rural, e uma das questões que a gente tem lá é justamente, eu estou aqui justamente por causa disso. Nós temos 15 nascentes dentro da propriedade, sendo que 10 estão razoavelmente protegidas, e 5 em vias de recuperação, e uma das coisas que eu vim ver é justamente como fazer isso. Eu estou sabendo agora desse produtor rural, e depois eu preciso saber no Estado de São Paulo um nome para eu começar a procurar. Eu acho que assim como eu, acho que muito pouca gente conhece esses projetos. Então a questão da própria divulgação, pelas agências estaduais pelo que eu estou entendendo, mas a política nacional vem da ANA. Não deveria ter uma coesão e uma coerência, apesar da gestão democrática participativa, de você olhar localmente, mas a diretriz tinha que ser de cima para baixo de alguma forma. Não de uma forma autoritária, porém o referencial tem que ser traçado e divulgar de uma forma melhor, porque eu não estou sabendo, assim como deve ter vários produtores rurais na minha região ali que não estão sabendo. E é uma coisa super importante, porque está tudo drenado, eu tenho nascente que vou ter que ver como é que vou fazer para recuperar, e a gente praticamente não sabe como. Então assim, como fazer esse processo de divulgação, como eu como uma produtora rural que quer, não por causa do dinheiro, nem sabia que tinha remuneração por isso não, era mais por uma questão de você saber que hoje você recusa um recurso e ele pode não ser perene. Ele pode acabar se você não tomar cuidado, então assim, como ajudar os produtores rurais nesse sentido também de divulgar melhor, porque a gente não sabe, muitas vezes a gente está perdendo um tesouro dentro da nossa propriedade. E a segunda coisa, que eu gostaria de perguntar, só de curiosidade: a 39


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gente tem vasos comunicantes, na física a gente viu esse negócio, que eu me lembre existe. A gente tem tanto recurso hídrico em uma região, você não tem como canalizar e jogar isso para as áreas que não estão sendo feitas? Na Califórnia tem isso, tem tantos lugares com deserto que estão hoje produzindo por causa de um uso e uma gestão da água. Eu sinceramente não entendo como ao invés de ficar construindo as Belo Montes da vida e ficar inundando áreas, a gente não faz justamente a drenagem dessas áreas. Fazer capilares para poder jogar para o Nordeste, para poder jogar para o Ceará, não sei, eu às vezes não entendo as políticas públicas, que não estão ajudando a população. Estava o pessoal em Rondônia boiando outro dia de tanta água que tinha por causa de enchente. Assim, são duas coisas, divulgação para os produtores para eles saberem que eles até são remunerados, e a questão da gente ter um pouco mais de engenharia da ANA para resolver os problemas. R: Bom, vou começar respondendo pela segunda. A gente podia fazer o inverso, eu te proponho que a gente faça o inverso: em vez de trazer a água de lá para cá, a gente leva o povo daqui para lá. P: Vai degradar, é mais fácil. R: Mas trazer a água de lá para cá vai degradar da mesma forma. Veja a transposição do São Fracisco, é isso, a transposição do São Francisco é isso, você pegou a água de um manancial que tem teoricamente água sobrando e levou para uma região que não tem água. E deu a polêmica que deu. Imagina trazer, drenar lá o Pantanal, Amazônia, e trazer para o Sudeste. P: Mas os técnicos é que vêem a quantidade de água. R: É, não, o que eu estou dizendo é o seguinte: é uma solução que passa muito além das questões meramente técnicas, são questões políticas, são questões de pensar Brasil, são questões de pensar nação. São questões de altíssima relevância para todos, e no sistema democrático brasileiro, onde as pessoas têm direito a opinar nos fóruns, porque sempre são abertos fóruns para que as pessoas opinem, diversas opiniões são apresentadas, contrárias, a favor, porque acham que é a solução, porque acham que é a pior solução, e todas essas idéias são colocadas e são ponderadas, tanto do ponto de vista técnico, e aí, por exemplo, envolvendo o social e o ambiental, quanto do ponto de vista político, que são aquelas pessoas que estão ali em situações de poder decidir, porque nós eleitores colocamos elas lá. Elas estão em posição de decidir, e em síntese é o que faz a diferença da 40


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democracia, então assim, é um jogo de vários aspectos. Em relação à primeira, da divulgação, a gente faz essa divulgação no site da ANA, tem o site do produtor; a gente participa de eventos da área de recursos hídricos, onde a gente expõe esse programa; a gente faz palestras no Brasil inteiro, você vê, eu vim de Brasília aqui especificamente para fazer esta palestra. Há duas semanas eu estava em uma palestra parecida com esta em Goiânia, tem três colegas em outros lugares do Brasil também fazendo uma palestra parecida com esta, então a gente faz isso. Além disso, nós estamos trabalhando com os Estados para a gente repassar o programa para os Estados de forma que os Estados é que vão conduzir, e não mais apenas ou somente a ANA. O Paraná já recebeu competência para fazer, está mais adiantado, se eu não me engano a negociação com Santa Catarina, e acho que Goiás, eu não tenho certeza, mas acho que Mato Grosso, são os Estados que estão mais avançados nessa questão. A gente está repassando para eles e aí fica um pouco mais próximo para, por exemplo, divulgar em microrregiões, em bacias, sub-bacias ou municípios. Fica um pouquinho mais fácil, a questão é o Brasil que é muito grande. Muito difícil você ter acesso para divulgar isso dessa forma, e principalmente, qual é o problema de se divulgar demais uma coisa que você não tem condição de executar. Nós temos uma capacidade limitada de executar, se a gente tiver uma demanda muito superior à nossa capacidade de executar, começa a ter um novo problema, a gente está gerando um novo problema ao invés de resolver um problema que já existe. Então a gente busca caminhar com equilíbrio, e aí às vezes essa informação pode demorar a chegar, como no seu caso aí em um lugar que é importante e que você está com uma demanda legal.

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DESAFIOS HÍDRICOS NA BACIA DO PIRACICABA Palestrante: Eduardo Cuoco Léo PCJ se refere às bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que eu vou tomar liberdade um pouquinho para lançar em breves palavras, vou fazer uma contextualização sobre o que são as bacias PCJ. Bom, as bacias PCJ na verdade é um conjunto de recortes hidrográficos que foi transformado numa unidade de gerenciamento de recursos hídricos. Não por coincidência é a unidade de gerenciamento de recursos hídricos na qual estamos inseridos agora. Então, olhando pelo ponto de vista hídrico, nós estamos aqui no município de Piracicaba, na porção final da bacia hidrográfica do Rio Piracicaba. Mas eu destaco que essa bacia hidrográfica do rio Piracicaba era uma bacia razoavelmente extensa e envolve outras sub-bacias, outros rios formadores do Rio Piracicaba. Aqui nós temos algo em torno de 12.000 km² de área de contribuição para a formação desses rios, e temos aqui, com um certo destaque, uma porção, uma parte das nascentes do Rio Piracicaba que estão localizadas no estado de Minas Gerais. Aqui na bacia do Rio Piracicaba nós temos uma região interestadual na porção mediana. Aqui estão as nascentes do Rio Piracicaba e aqui mais a parte da foz, na porção mediana das bacias PCJ, nós vamos notar que tem um grande centro, do ponto de vista industrial, do ponto de vista econômico e do ponto de vista demográfico. Esta é a região metropolitana de Campinas. Então, do ponto de vista hídrico, nós estamos aqui, numa bacia hidrográfica que abriga uma região metropolitana bastante expressiva. Aqui podem notar também que em paralelo à bacia do rio Piracicaba nós temos a bacia do rio Capivari. É uma bacia hidrográfica que não está natu43


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ralmente interligada com a bacia hidrográfica do rio Piracicaba, mas do ponto de vista humano, do ponto de vista antrópico, nós temos aí uma série de interligações hidráulicas entre essas bacias. Por exemplo, temos abastecimento de água que é captado aqui na região da bacia do rio Piracicaba, e é lançada aqui na bacia do rio Capivari. É uma bacia um pouquinho menor, com cerca de 1500-2000 km², que corre também em paralelo aqui ao rio Piracicaba. No mesmo sentido, nós temos a bacia do rio Jundiaí, na porção mediana e aqui nós temos a região da cidade de Jundiaí, também demograficamente muito expressiva, economicamente muito expressiva, e muito próxima da região metropolitana de São Paulo. O rio Jundiaí também é um rio naturalmente separado do Piracicaba, mas do ponto de vista antrópico nós temos a mesma situação, nós temos interligações hidráulicas entre essas bacias, o que nos faz considerar toda essa região uma única unidade de gerenciamento de recursos hídricos. Todos esses três rios drenam e são formadores do rio Tietê, nós estamos nas margens aqui do rio Tietê. Essa região tem algo em torno de 76 municí44


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pios, contabilizamos aqui algo em torno de 5,5 milhões de habitantes dessa nossa região. Eu vou fazer um destaque aqui porque se nós visualizarmos com um pouco mais de cuidado essa porção de cabeceira do rio Piracicaba, nós vamos ver aqui um conjunto de represas que nada mais é do que o tão falado, o tão comentado ultimamente, sistema Cantareira de abastecimento. Esta aqui é uma foto, vocês podem ver, de uma época já um pouco distante, de uma época que esse reservatório do sistema Cantareira estava cheio. Mas o que eu quero destacar aqui para os senhores é o seguinte, isto é algo que inclusive acaba sendo pouco discutido, a gente vê muita matéria, muita discussão sobre sistema Cantareira, mas isto acaba sendo pouco discutido, pouco visualizado. O sistema Cantareira é um sistema de reservatórios, de represas hídricas e interligado artificialmente por meio de canais ou por meio de túneis. Ele possui também uma estação de bombeamento, e para a gente aqui, o principal fator de percepção é entender que esse sistema se divide em duas bacias hidrográficas, de forma que a maior parte do sistema está nas bacias PCJ. Tem uma pequena parte do sistema na bacia do Alto Tietê, uma outra bacia hidrográfica, uma outra unidade de gestão hidrográfica, que é onde está a região metropolitana de São Paulo. O principal fator é que essa maior parte do sistema Cantareira é onde você tem a maior parte da produção de água. Aqui se produz água e com esses mecanismos de interconexão, com esse bombeamento, você tem uma transposição de água. Então você tem uma bacia doadora, e uma bacia receptora de água. Isso para a gente é um conflito muito grande, eu queria até voltar um pouquinho neste mapa para ver, porque, aqui você tem uma região produtora de água, e a maior parte dessa água é desviada para uma bacia hidrográfica que se encontra numa outra região. Vou voltar a lembrar, destacar para vocês que aqui nós temos um centro urbano, bastante industrializado, economicamente muito ativo, com uma população demográfica muito expressiva, que obviamente consome água, produz resíduos. Essa água da transposição configura o que nós chamamos de um conflito pelos recursos hídricos, então, uma vazão de até 31.000 L/ s pode ser levada das bacias PCJ para abastecer a região metropolitana de São Paulo. Para entender um pouquinho melhor os recursos hídricos dessa nossa região, eu queria destacar alguns números aqui. E para falar dessa questão 45


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de disponibilidade hídrica, para fins de planejamento, para fins de gestão, a gente sempre mantém atenção, para uma continha básica que a gente faz, que é o balanço hídrico, que é basicamente uma conta do tanto de água que eu tenho disponível e o tanto de água que eu consumo na mesma região que essa água está disponível. Volto a destacar que, quando nós vamos fazer uma conta da disponibilidade de água nas bacias PCJ, existem

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dois pontos bastante importantes que vão ser destacados. Primeiro, eu preciso contabilizar o efeito da retirada de água do sistema Cantareira. Essa água, principalmente das regiões da represa a jusante (o ponto mais baixo para quem observa), da região da represa para baixo, ela não é mais uma água disponível nas bacias PCJ. Segundo, por tradição a gente sempre faz essa conta para o cenário pensando na seca, pensando na estiagem. Vocês vão ver, por exemplo, essas contas que foram feitas aqui, elas ocorreram no ano de 2009, e inclusive nós fomos considerados como conservadores, por fazer as nossas contas de balanço hídrico sempre pensando em uma situação de seca. Eu acho que depois do que aconteceu em 2014, ficam bem claras as razões de por que nós fazermos essas contas com um princípio mais conservador. E trazendo aqui a grosso modo essa questão, só para ilustrar o tamanho do nosso desafio, eu lhes traria o seguinte: Quando a gente faz essas contas de todos os efeitos, da contabilidade da água disponível, efetivamente disponível nas bacias PCJ numa situação de seca, a gente contabiliza que algo em torno de 37,9, vamos arredondar para 38 mil L de água por segundo disponível. E quando nós somamos o conjunto de captações para as indústrias, para agricultura, para principalmente o abastecimento público, lá em 2009 essa conta já perfazia 34,5, ou seja, o comprometimento de mais de 80, quase 90% aí aproximadamente da água disponível sendo utilizada para algum fim. Eu até destaco aqui uma situação para uma sub-bacia 47


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que nós temos aqui dentro do Piracicaba, que é o do Atibaia. Essa conta fica bastante curiosa, porque nós temos uma disponibilidade na ordem de 8,5 mil litros por segundo. E e eu faço a conta das captações dessa região, vocês podem ver que essas captações já somavam em 2009, quando essa conta foi feita, em mais de 10 mil litros por segundo de consumo. Vocês perguntam, como é que se sustenta em uma situação como essa, primeiro, a seca não ocorre todo tempo, 100% do tempo. Um segundo fator, eu contabilizo o lançamento do esgoto lançado, tratado ou não, como uma fonte de abastecimento de água. E esse é um fator bastante crítico, porque em algumas regiões aqui do PCJ, dada a nossa conjuntura estrutural, dada a nossas características naturais e antrópicas, a gente precisa do esgoto para poder fechar contabilidade. Para poder suprir água aos usuários que existem na bacia com maior segurança. Nesse mesmo documento do qual eu tirei essas informações a gente tem duas projeções, algumas delas eram para o ano de 2014 e algumas para o ano de 2020 de como ficaria o consumo de água com uma população crescendo. Mas levando em contrapartida em consideração que a gente pode

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melhorar a eficiência do consumo de água, e, sobretudo olhando a disponibilidade e primeiro fato. A princípio, a menos que você tenha uma obra de regularização hídrica para você ter garantia, a disponibilidade continua constante, e é tendência. Se eu pegar a conta, por exemplo, aqui, para o ano de 2020, é de que para a bacia como um todo a gente tenha uma quantidade de consumo de água superior à quantidade de água disponível no período de seca, ou seja, oficialmente a bacia como um todo precisa de esgoto para poder fechar o seu balanço, os seus balanços hídricos. Isso é uma situação, claro, que indica criticidade. A gente tem como um parâmetro de gestão, que a partir de 50% de comprometimento da água disponível com algum tipo de consumo, já seria uma situação crítica, em 2020. É certo que a gente vai passar de 100% de consumo de água, ou seja, a gente vai depender literalmente de reuso para poder fechar as nossas contas. Eu quis abrir esse parêntese com certa brevidade, mas acho que é importante destacar esses números para se dar uma dimensão dos desafios que a gente tem que enfrentar para a gestão das bacias PCJ. Então quero chegar agora, quero me aproximar um pouco mais do tema desta minha fala aqui hoje, que é destacar alguns pontos que são desafiadores para a gestão da água aqui nessa nossa região. Primeiro, desse documento que a gente extraiu essas contas do balanço líquido, a gente faz esse tipo de avaliação de balanço hídrico com uma determinada freqüência num instrumento que a gente considera os mais importantes na gestão de recursos hídricos, que é o plano da bacia hidrográfica. Eu queria até abrir um parêntese aqui, porque a gente viu uma 49


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falta muito grande de planejamento, toda essa crise hídrica que se avizinhou, mas, por outro lado, a gente tem uma tarefa que eu acho considerável no sentido de enxergar estrategicamente esses problemas. Pode ser uma dificuldade de gestão, a gente conseguir mobilizar as ações necessárias, articular os instrumentos e as saídas para melhorar a nossa vida, o nosso dia-a-dia, mas a gente teve um esforço considerável aí no sentido de identificar os problemas e propor soluções. E aqui, para fazer um breve retrato desse documento, eu vou deixar um link aqui para quem quiser conhecer um pouco mais desse documento ou de documentos de avaliação desse nosso planejamento. Para fazer um destaque do principal ponto, eu diria que nós temos aqui um conjunto de programas de investimentos identificados traçando estratégias, identificando soluções e necessidades em ações envolvendo racionalização do uso da água, melhoria da oferta hídrica, recuperação da qualidade da água, conservação de mananciais. Só por falar a grosso modo, a gente tem um conjunto de ações aí que parar esse período projetado que a gente tem até 2020. Nós identificamos uma necessidade de no mínimo 4,4 bilhões de investimento em ações e programas e iniciativas para a gestão de recursos hídricos na região das bacias PCJ, ou seja, nós temos uma lição de casa. E essa lição de casa está razoavelmente identificada dentro desse nosso plano de bacias. Só que daí vem os nossos desafios. Fazer um plano, identificar as ações, definir as estratégias é parte da tarefa, mas isso não a conclui, pelo contrário, é a parte inicial da tarefa.

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Eu queria destacar aqui alguns pontos que são realmente desafiadores como foi sugerido que eu falasse nesta apresentação. Eu queria discutir alguns tópicos que aí de certa forma fazem parte também do nosso dia-a-dia da gestão da água dessa nossa região. Primeiro, a gente tem uma política e um sistema de gestão no Brasil, que são do ponto de vista legal, muito bem estruturados, muito modernos, a gente tem mecanismos e instrumentos que são realmente admiráveis do ponto de vista, por exemplo, da legislação. Mas esses mecanismos, essas políticas, é tudo muito recente, e ele lida com umas situações muito complicadas. Esse sistema que nós temos de gestão, ele não veio do nada, primeiro eu queria destacar isso com muita clareza, nós temos um histórico de busca de integração nesse nosso sistema de gestão de recursos hídricos. A nossa lei de recursos hídricos data de 1997. Até o período anterior, fora legislações estaduais, nós tínhamos uma prevalecência setorial da gestão de recursos hídricos, nós temos um histórico de momentos diferentes com setores consumidores de água de recursos hídricos que tinham mais destaque, vamos dizer assim, nas ações, na composição de política, na organização do sistema de gestão. E a nossa política vai reafirmar com muita certeza essa questão dos usos múltiplos, vamos olhar todos, não vai se priorizar nenhum setor. A gente tem que priorizar e procurar defender os múltiplos usos da água de uma forma mais harmônica. Isso é um desafio gigantesco, porque como foi dito até aqui na palestra anterior, isso envolve muita democracia, muito diálogo, e a gente precisa entender de que esses processos democráticos, esses processos de diálogo demoram, esses proces-

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sos de diálogo a gente costuma dizer que têm um custo de transação. Eu até de certa forma procurei dizer que há um investimento de transação de tempo para você consolidar soluções, estratégias, que estejam niveladas entre os diversos setores que usam água numa bacia hidrográfica. Segundo ponto de destaque: a água, isso está na nossa constituição, ela é um bem que está sobre o cuidado, sobre a tutela, da União ou dos Estados. Ou seja, sobre gestão de água, nós temos aí legislações, entendimentos legais distintos entre União e os Estados. Não são completamente desconexos, mas também não são plenamente integrados, isso é um desafio do ponto de vista de gestão porque, sobretudo, como nós temos uma bacia hidrográfica, como eu disse para vocês, localizada em mais de um Estado, pode ser PCJ está em MG, SP, nós temos portanto águas mineiras, águas paulistas e águas da união. A gente até brinca, a água não tem H2O-SP, H2O-MG, é uma coisa só, então a gente tem que tentar buscar uma forma de gestão integrada dentro da bacia hidrográfica, mas é um desafio porque algumas vezes as legislações são diferentes, têm prioridades diferentes. Politicamente, Estados têm prioridades diferentes. Estados e União muitas vezes não têm conversa tão fluida como a gente deseja, ou seja, o domínio de água, a tutela de água, conforme o corpo hídrico. A gente fala que o rio Piracicaba é um rio federal, mas na gestão, a gestão por bacia hidrográfica, e no rio Piracicaba, você também tem rios estaduais, então você tem as duas tutelas dentro de uma mesma unidade de gestão. É claro que a convivência institucional é um desafio muito grande, governo

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PLANO DAS BACIAS 2010 A 2020 PROGRAMA DE INVESTIMENTOS

ANA: SITUAÇÃO DO ABASTECIMENTO URBANO DE ÁGUA

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federal, governo estadual, setores ligados à gestão de quantidade de água, gestão de qualidade de água, a gente tem muita dificuldade nesse sentido. Olhando o Brasil como um todo, existe uma heterogeneidade muito grande, eu estou falando aqui coisas da experiência da nossa realidade aqui das bacias PCJ. Pode ter variáveis muito mais importantes, por exemplo, quando você vai pensar a gestão da água do semi-árido, os instrumentos que nós temos para gestão da água ainda são pouco desenvolvidos, então nós temos excelentes instrumentos de gestão, inovadores, uma legislação muito bacana, mas eles são muito pouco desenvolvidos. Nós temos pouca práti-

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ca. A gestão do território como um todo é um desafio, sobretudo na escala regional. Hoje, na maior parte dos casos, a gestão do território é um cuidado do município, e quando a gente olha a perspectiva da bacia hidrográfica, a gente vê a necessidade de se pensar a gestão do território para uma região de mais de um município. A gente não tem instrumentos legais hoje no Brasil para fundamentar uma gestão do território intermunicipal, e, sobretudo, isso aqui faz parte da nossa realidade, do nosso dia-a-dia, nós temos no Brasil imensos passivos de infra-estrutura. A gente não consegue sequer afastar o esgoto da casa das pessoas. No Brasil como um todo, até pouco tempo atrás a maioria das pessoas não tinha afastamento de esgoto das suas casas, não é tratamento, é afastamento de esgoto. Abastecimento de água tratada aqui no Esta55


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do de São Paulo, na região Sudeste, isso é um pouquinho mais confortável, mas a gente ainda tem indicadores péssimos quando a gente olha a questão da nossa infra-estrutura sanitária e da nossa infra-estrutura hídrica. O segundo tópico faz parte do nosso dia-a-dia, que é um desafio para o nosso sistema de gestão: lidar com a estiagem e encarar uma conversa que está ocorrendo agora, que é a renovação da outorga do sistema Cantareira. Esse cenário que a gente está vivendo, a estiagem realmente é algo bastante excepcional. Para se ter ideia, os usuários de água de determinadas regiões da bacia do rio Piracicaba, por exemplo, hoje operam em um sistema de alerta. Um agricultor opera da seguinte forma hoje: primeiro ele tem que ter o direito dele garantido de acesso à água. Como se garante direito de acesso à água? Por meio de um instrumento de gestão chamado outorga que é aquilo que dá, entre aspas, não é garantia, mas dá maior segurança no acesso a recursos hídricos. Ou seja, numa situação de estiagem, de crise, quem não tem esse direito colocado por meio de uma outorga de uso de 56


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água, hoje está sofrendo sanções muito grandes, porque a hora que faltar água começa a ficar mais evidente os conflitos que você tem. Uma das soluções para o conflito é regularizar a situação de todos os usuários de água que existem na região conflituosa, e a primeira pergunta que vai se fazer para se tentar administrar essa situação é se você tem o direito garantido ou não por meio de uma outorga. Aqueles que têm outorga hoje na bacia do Piracicaba e em determinadas regiões da bacia do rio Piracicaba operam em aberto, ou seja, ele tem lá instruções que ele recebe semanalmente, com uma freqüência até um pouquinho maior do que semanal, que derivam do monitoramento do rio. Quando o nível do rio abaixa, a partir de um certo nível, todo mundo é obrigado a diminuir o seu consumo de água. Aquele que não tinha o direito garantido, não tinha a outorga garantida, está sofrendo sanções, punições, e os órgãos gestores ficam em cima porque o uso não regulamentado da água acaba sendo um problema na situação de estiagem. E falando em outorga, a gente tem uma outorga especial com direito de uso de água, com regras para o uso de água muito importante que a gente está

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encarando com uma discussão muito grande, que é a do sistema Cantareira. Antes, eu queria destacar aqui alguns pontos, aqui eu estou tirando uma informação da ANA, ela fez em 2010 uma avaliação da situação do abastecimento urbano de água do Brasil inteiro. Publicou esse estudo muito interessante, que se chama Atlas do abastecimento urbano de água . Você tem municípios onde foi identificada uma situação de baixa garantia hídrica, são municípios que precisam de intervenções estruturais, de investimento de infra-estrutura para ter maior segurança hídrica. Se a gente for olhar aqui para a nossa regiãozinha, região de Campinas, situação de baixa garantia hídrica, precisa de investimento para melhorar a infraestrutura hídrica. Em 2010, na região de São Paulo, a mesma situação já estava identificada, já sabia desse problema. Até a ANA nesse estudo de 2010 previu isso. Ela tem uma projeção para 2015, que é a população que precisaria de investimentos para melhoria nos sistemas de abastecimento. Quando nós vemos por exemplo o Estado de São Paulo, a gente vê que isso quebra a escala do gráfico, dada a quantidade de pessoas identificadas numa situação de necessidade de investimento para a melhoria na infraestrutura hídrica. Aqui se contabiliza a região metropolitana de Campinas,

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região metropolitana de São Paulo, por exemplo, onde se esperava essa estiagem que a gente tem assistido desde o ano de 2014. Outro relatório da ANA que é o relatório de conjuntura traz o conjunto de gráficos que mostra bem essa situação. Aqui nós temos a criticidade das chuvas observadas para os meses de janeiro, fevereiro e março. Aqui na nossa região são os meses aonde se produz mais água , chove mais, onde enche o reservatório, vamos dizer assim, de forma mais crescida. Em 2014, pode-se ver aqui com bastante clareza que toda essa região foi colocada aqui nesse estudo como a região onde a seca foi maior do que todas as secas observadas nos últimos 100 anos. De fato, tivemos a pior seca da história diante do momento onde o passivo da infra-estrutura era passivo realmente muito expressivo. Esse assunto da renovação da outorga do sistema Cantareira é um assunto bastante extenso. Eu imagino que alguns de vocês tenham curiosidade para tratar desse tema, mas não dá para a gente saturar ele hoje aqui, até porque, para se ter uma noção do que está ocorrendo hoje, diante dessa dificuldade que a gente tem da gestão, a gente aguarda, vamos dizer as59


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sim, um entendimento entre os órgãos gestores de recursos hídricos do Estado e da União. A gente vê aí literalmente no dia-a-dia o gerenciamento de conflitos e estamos no aguardo aí de uma visualização mais clara de quais vão ser as guias, as diretrizes para o processo de renovação dessa outorga. Qual vai ser a regra para qual se propõe operar esse novo sistema? A gente ainda não tem esse documento, mas aqueles que tiverem curiosidade vou deixar aqui essa apresentação, na página da ANA tem sido atualizada com certa freqüência a situação dessa questão da renovação da outorga do sistema Cantereira. E para encerrar essa conversa eu queria trazer um destaque muito importante também, porque eu acho que aqui é a nossa lição de casa. Aqui eu reputo uma importância muito grande dessa tarefa para a gestão dos nossos próximos anos. É uma tarefa que a gente tem de revisar esse plano de bacias que nós tivemos. Nós construímos nossa agenda, identificamos nossos programas, dimensionamos os nossos esforços, e agora, como a gente teve um cenário para 2014, o nosso esforço aqui então é avaliar o que a gente conseguiu fazer dentro daquilo que era necessário. Que tipo de dificuldade foi identificada nesse caminho. Essa é uma avaliação muito importante para a gestão e organização do sistema como um todo. A gente tem um panorama de tentar elencar uma série de ferramentas, uma série de variáveis nesse processo de revisão, mas basicamente nós temos aí desafios para equacionar a gestão de oferta de água, ou seja, pensar medidas para melhorar a disponibilidade hídrica da bacia hidrográfica. Isso envolve o sistema Cantareira, outros reservatórios, a proteção dos mananciais, por aí adiante. Outro conjunto de ação para gerenciar a demanda de água, porque o que hoje a gente consome de água não é pouco e a gente pode também ter ações para tentar minimizar essa demanda. Para ser mais eficiente na gestão da água, e só para abrir um parêntese de forma bastante breve, não sei se vocês sabem, mas hoje, de forma geral, aqui nos municípios da nossa bacia, cerca de 40% da água que a gente tem é distribuída para abastecimento público. Ela é perdida no

SISTEMA E POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS: UMA VISÃO DE PROCESSO

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meio do caminho, e nesses 40% cerca de metade é vazamento. Então a gente pode investir para ter uma gestão sobre a demanda de água, para tentar consumir menos água, consumir água de forma mais racional, e sobretudo, gerenciar a qualidade da água, falar em tratamento de esgoto e começar a falar de tratamento de esgoto de alta performance, que é o tratamento de esgoto para ser captada novamente para servir de consumo novamente. Tudo isso exige investimento, planejamento muito grande, tem aqui algumas discussões importantes, a gente está abrindo nesse processo de revisão que vai começar dentro do nosso comitê de bacias uma linha de atuação para a conservação da água no meio rural e reflorestamento. Queremos discutir principalmente a infra-estrutura verde, a recuperação da qualidade das águas. Queremos discutir principalmente a infra-estrutura sanitária. A gente está começando a discutir o reuso direto de água, tratar a água e já circular de novo para reuso. Isso, a legislação hoje não permite, mas a gente está estudando os mecanismos porque no futuro isso vai ser certamente necessário. E discutir, sobretudo, a locação de água, como distribuir água entre bacias hidrográficas e como melhorar a infra-estrutura hidráulica. Nós temos aí uma série de desafios de representatividade, de financiamento, de investimento e medidas estruturantes que não são obras. É investindo na água nos sistemas de informações, por aí adiante, aprimorar os nossos instrumentos econômicos, integrar sistemas de informações, com uma desfragmentação dos esforços institucionais. Melhorar a governança por gestão territorial, estruturar melhor os processos de planejamento. Enquanto nós temos umas iniciativas importantes, temos aí investimento com monitoramento, construção de modelos que nos ajudam a tomar decisões, e criação de uma sala de acompanhamento da situação da bacia. Estamos fazendo um plano aí com diversos temas para não perder o destaque de alguns temas, estamos nos empenhando com comunicação, tem um projeto bastante interessante que nós estamos desenvolvendo chamada Ecoquentas, que é uma colaboração internacional. Nós queremos aprender com experiências internacionais, como lidar com situações de conflito no gerenciamento de recursos hídricos. Estamos apoiando a estruturação dos processos de planejamento e continuamente negociamos arranjos e parcerias institucionais para melhorar a gestão da água. Um ambiente para toda essa construção de política são os comitês de bacia hidrográfica. Então, toda nossa tarefa de continuamente montar esse que61


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bra-cabeça da gestão, e para finalizar, nossa visão é de que a gente tem uma construção. A gente começou lá na década de 70 aqui nas bacias PCJ, identificamos usos e tendo conflitos, principalmente no sistema Cantareira, construímos um sistema de gestão. Agora, a gente está em uma fase de implantar, integrar o sistema e a política de gestão em que todos esses atores da bacia, aqueles que tiverem curiosidade de saber um pouquinho mais de informações, devem acessar as fontes que estão postadas aqui. Vocês podem procurar essas fontes que estão por aqui, e eu agradeço por estar aqui, extrapolei um pouquinho do tempo, peço desculpas, mas eu me coloco aqui à disposição para também dar qualquer tipo de esclarecimento que eu posso prover para vocês, muito obrigado. P: Boa tarde a todos, vou fazer a pergunta para o Leo. Leo, eu achei interessante a sua colocação referente à água de reuso. Gostaria de saber se existe algum plano para de repente estar utilizando nas residências, dentro das cidades.

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Eduardo Leo: Olha Alexandre, é o seguinte, o reuso de água é um tema que tem ganhado destaque, bastante destaque nos últimos tempos. Mas aqui no Brasil a gente tem uma legislação de reuso que é uma legislação bastante exigente, sobretudo quando você trata do tema de abastecimento. A gente tem algumas experiências, por exemplo, incentivo à reserva de água para fins residenciais, mas essas águas têm algumas limitações do ponto de vista do tipo de uso que pode ser feito. Acabou servindo mais para efeitos de diminuir um pouco aquele efeito da urbanização sobre as vazões de pico. Ou seja, do ponto de vista de estudos e iniciativas para a recuperação da qualidade da água para reuso, o que a gente tem de estratégia mais bem colocada dentro do nosso planejamento ainda é envolvendo estações de tratamento de esgoto mesmo. Mas mesmo assim existe essa dificuldade da legislação, por exemplo, o reuso direto é uma coisa que é virtualmente impossível de ser feito com a legislação atual. A gente está fazendo uma parceria lá no comitê, tem até um laboratório da USP chamado CIRRA, que é um laboratório de referência em reuso, a gente vai fazer um estudo visando o reuso direto para tentar provocar discussões sobre essa questão de política pública. Agora, eu acho que tem um ponto bastante importante que é o seguinte: para se alcançar esse nível, o investimento e a tecnologia a serem utilizadas para se cumprir os parâmetros legais são certamente bastante avançadas, e hoje nós temos dificuldade com o tratamento, com lidar essa questão dos efluentes, mesmo no mais básico. Mesmo nos tipos de tratamento mais tradicionais, o último comentário que eu quero fazer para você é o seguinte: a gente vive a questão do reuso da seguinte maneira, a gente tem reuso direto que tem que ser planejado necessariamente. A gente tem reuso indireto planejado. O reuso direto é quando você fecha o circuito, reuso indireto planejado é quando você tem um planejamento de você dispor o resíduo em um corpo hídrico e fazer com que ele volte a ser utilizado. Por exemplo, o que se faz na Califórnia hoje. Eles tratam o esgoto e injetam esse esgoto no subsolo e depois eles captam de novo essa água de reuso misturada, vamos dizer assim, com a água do subsolo, e você tem a situação que a gente fala que é o reuso indireto não planejado. A situação em que a gente está hoje na bacia é de reuso direto não planejado, então hoje o lançamento do esgoto de Campinas acaba ajudando a suprir uma demanda de Piracicaba, só que o tratamento do esgoto de Campinas não está preparado para essa realidade, então para a gente chegar no reuso direto a gente tem que subir aí alguns degraus e certamente esse não é um processo muito rápido ou muito fácil. 63


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P: Minha pergunta é para Consuelo. Eu queria saber em relação à fiscalização dessas propriedades produtoras de água, como é realizada. E pensando na conjuntura dos recursos hídricos atuais, pelo menos aqui na região Sudeste, você acha que esse programa tende a se tornar obrigatório e não mais voluntário com o tempo? Consuelo Franco: A experiência que a gente tem do apoio federal a projetos locais, ela demonstra que o grande pecado é a sustentabilidade da coisa, depois que o governo federal sai, o dinheiro federal sai, o projeto morre. Então, a diferença desse projeto para o produtor de água é que ele é local, então são as pessoas que têm interesse naquela água é que fazem o projeto acontecer, não é um projeto federal, é um projeto local que recebe apoio federal, mas ele deve ser construído numa base tal que se o governo federal sair, ele continua. E isso mexe também com a questão do próprio produtor participar do projeto, ele tem que querer, ele tem que ter interesse, porque experiência também mostra que quando você é forçado ou obrigado, vide recuperação de APP, você não faz, tem muitos que não fazem, tem muitos que fazem, mas tem muitos que não fazem, ah, eu sou obrigado, mas não tenho de onde tirar dinheiro, não vou fazer , ah, mas você vai ficar ilegal? Vou ficar ilegal, não tenho dinheiro, o que posso fazer? . E isso a gente vê no Brasil inteiro, eles não têm de onde, você sabe quanto custa, talvez você saiba, para se recuperar um hectare de APP, cercar e revegetar? Mata atlântica, cerrado, pantanal, quanto custa isso? Será que os produtores rurais realmente têm recurso para fazer isso, e principalmente depois que ele recuperar, que ele isolar a área, ele não vai mais explorar aquela área, aquilo ali não vai gerar retorno financeiro para ele? É uma área que vai ficar lá parada e ele não vai poder produzir, não vai poder mexer, ele vai estar lá reservado para gerar benefício a quem está lá precisando da água, para quem está precisando ar limpo, a quem precisa da fauna, ele está prestando serviço para todos nós. Ele vai gerar e nem vai receber nenhum benefício, no entanto, é propriedade dele, quer dizer, essa é só uma das visões para explicar para você por que a gente entende que tem que ser voluntário, por que a gente entende que a única coisa que ele vai ter que fazer é manter para ele poder receber. Aí chegando na sua primeira pergunta, o que a gente chama de UGP, que é a Unidade de Gestão do Projeto, que é composta por representantes de todas as instituições que têm interesse naquela água que formaram parceria, ela tem grupos técnicos ou técnicos que vão às propriedades rurais e vão aferir se tudo aquilo que o produtor se comprometeu em projeto, em contrato (porque ele assi64


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na um contrato), se ele tiver cumprido tudo que ele assinou no contrato, ele recebe, se ele não tiver cumprido, aí existe uma ponderação, ah, cumpriu-se 50% recebe 50%, cumpriu 80% recebe 80%, aí a unidade de gestão é que resolve. Então existe um corpo técnico que vai lá, analisa o resultado obtido naquela propriedade e diante desse laudo autoriza que seja feito o pagamento ao produtor. P: Há uma provocação, ainda dentro do tema, alguém falou aí da água do Amazonas, é uma provocação, os meus amigos eles ficam bravos quando eu falo isso, eu vivo no Amazonas, amo muito lá. A descarga do rio Amazonas, a vazão, aquele número de 173.000 m³ por segundo do rio Amazonas, em menos de 2 meses, exatamente 54 dias e meio, abastecem o mundo inteiro. 7 bilhões de pessoas com uma só descarga, então vai faltar água no mundo? Claro que não, que nem você falou, faz um cano, faz alguma coisa, vai faltar água nos lugares que precisa, esse é o problema. Então é uma provocação, aí vem alguém e fala assim, não, então a gente tem que deslocar as pessoas , tudo isso é para fazer vocês pensarem, lá não vai faltar água e não vai faltar no mundo nunca. Se faltar água lá na Califórnia, eles põem tubinho no rio Amazonas e levam para lá na mesma hora. É só querer e a gente autorizar, e nem autorização eles precisam, eles vão lá e vão fazer alguma coisa, essa é a verdade. Tá, essa é só uma provocação, a outra provocação está dentro do tema da bacia do Piracicaba. Eu sou técnico, ele é gestor, ele fala bonito, não, nós temos que gerenciar o reuso da água e as nossas regiões aqui de Campinas, por exemplo, estão devendo . Campinas fala que trata 100% da água de esgoto, meus amigos! Inclusive é o melhor gerenciador de estações de tratamento de esgoto que eu conheço no país, porém, eles nunca falam quantos por cento desse tratamento é efetivo. Então não adianta você falar que coleta 100%, que trata 100%, mas o índice de efetividade de tratamento é 50%, então na verdade você trata 50%, então essa é uma coisa da realidade numérica, eu sou aquele cara que vai lá e mede, então quando ele fala bonito, nós temos que melhorar, enquanto ainda não mexer, a gente tem que chegar e melhorar a tecnologia, não estou falando que eles estão errados de maneira nenhuma. O Piracicaba fala tratamos 100% do nosso esgoto na verdade não é 100% é 95% e alguns quebrados, só que a eficiência do nosso tratamento é 40%, então o que é que adianta, você coleta tudo, aí eu confesso que nós mesmos, inclusive eu me incluo nisso, nós técnicos temos que melhorar muito ainda para poder dar para os gestores números melhores. É coisa nossa, 65


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então só uma provocaçãozinha para estimular algumas perguntas. P: Bom, acho que tem gente que não me conheceu, chegaram agora, né? Tem público novo aqui. Meu nome é Tomio Katsuragawa, sou do Bunkyo Rural, eu não estava querendo falar, mas não agüentei jogar umas perguntas. O que eu ouvi aqui do meu chefe aqui atrás, uma palavra assim, essa questão é muzukashii , o que quer dizer é muito difícil até de entender o que esses palestrantes estão falando. Então veja só, realmente é difícil, mas eu acho que algumas questões simples têm que ser colocadas e começar a resolver. Eu quero fazer uma pergunta aqui. A atual crise hídrica vem da crise de gestão de São Pedro, que não manda água, ou é crise de gestão pública, gestão do negócio através das autoridades? Você falou desse projeto de que há uma lei agora que concede incentivos para quem tem propriedades que começam a reflorestar, que começam a plantar, aqui na região, onde está a represa, onde começa a represa do Jaguari, toda aquela região lá onde estão as represas que foram mostradas aqui. Faz mais de 1 ano já foi divulgado lá esse plano aí de plantar 1 milhão de árvores naquela região, através de empresas que queiram investir lá. Não sei bem como é que chama esse tipo de parceria, mas eu li esses dias no jornal, que passado 1 ano, nem 5% se efetivou. Então, ou essa proposta está errada ou é uma coisa que nunca vai ser realizada. Eu me lembro que há 10 anos houve uma crise parecida com esta, crise hídrica, faltou água, então inúmeras discussões foram levantadas, inclusive transposição de água até do rio Ribeira de Iguape para cá, daqui da água da Barra Bonita, dali da Capital, alguns falaram até em mudar a capital. Mas passado esse tempo, 10 anos e não se fez nada para melhorar essa crise, então veio agora essa crise. Como puderam ver não tem nada concreto, mas alguma coisa está mudando. Hoje o secretário de energia, conversando com a gente na hora do almoço, disse Olha, há 10 anos, 20 anos atrás, 20% da população era urbana e 80% era rural. Hoje 3% apenas da população é rural . Ninguém está vivendo mais na área rural, estão todos na cidade porque ninguém agüenta viver sem segurança, e estão mudando, então nas cidades e estão consumindo além do possível. Então, essas pequenas soluções talvez, de diminuir a água de uso das descargas sanitárias da cidade, tem que mudar as bacias, aquele que gasta a cada descarga 50 litros tem que desaparecer, tem que ficar só as que gastam 3-5 litros, não sei. São algumas medidas assim, simples. 66


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O uso da água da chuva tem que mudar, tem que colocar, se der, em todo quanto é lugar na hora de recolher a água da chuva. São pequenas soluções que começam, e a gente não vê isso, não vê nenhum incentivo quanto a isso, enquanto isso se discute grandes soluções que nunca ocorrem. Então eu fico pessimista que não sei como ficará equacionado isso. Quer dizer, especialistas estão aqui, por isso que a maioria de nós está aqui para poder ouvir a palestra. P: Boa tarde, o meu nome é Kenji, eu sou consultor ambiental e trabalhei 30 anos na Cetesb, e também trabalhei no comitê de bacias no Sorocaba e médio Tietê. Então, a pergunta seria para os dois, com relação ao conflito de interesses nessa falta de água. Então eu queria que vocês comentassem um pouco mais, porque ora a gente ouve nos jornais que existe esse conflito da União com o Estado. E uma segunda pergunta, há 20 anos atrás eu fiz um estágio no Japão, eu vi que eles utilizam muitas vezes o resíduo das estações de tratamento de esgoto para construção, por exemplo, agregar tijolos e tudo mais. Eu, quando estava na Cetesb, tinha uma professora chamada Dione Morita, que ela estava tentando fazer isso em uma cerâmica de Tatuí, agregar aquele resíduo na confecção dos tijolos. Para a minha surpresa, a própria Cetesb não estava dando muito apoio para incentivar isso, então eu queria saber em que pé que anda isso de você também aproveitar esses resíduos, porque a discussão era poxa, mas tem metal pesado, como é que vai ficar isso aí? . Trabalhando dentro do governo eu senti que há um conflito entre as próprias organizações para um desenvolvimento mais sustentável. Consuelo Franco: Eu acho que assim, a situação de crise, ela pode ser vista como uma oportunidade, eu acho que a gente já teve situações de crise, aprendemos com ela, estamos passando por uma outra, estamos aprendendo com ela. Essa situação de crise de escassez na principal região habitada, porque a estação de escassez, por exemplo, no Nordeste a gente já convive com elas, vocês estão aqui falando de reuso. Eu só consigo me lembrar de uma coisa que eu vi agora quando eu fui lá no Piranhas-Açu, você estava falando aqui da questão do esgoto tratado de Campinas. Sendo usado, eu vi isso lá, esgoto bruto sendo usado para irrigar pastagem de bode, bruto, bruto, bruto! Imagina o cheiro, mosca, a situação lá, aqui vocês estão no paraíso perto do que estão vivendo lá. Aqui agricultor ainda consegue tirar a água, lá já foi proibido, Piranhas-Açu é na Paraíba, Rio Grande do Norte. 67


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P: E não existe fiscalização sanitária? Consuelo Franco: Existe tudo, existe gente morrendo de fome, existe gente em situação de extrema pobreza, então assim, a situação de crise aqui, o interessante nela é que ela está acontecendo numa região onde se concentra grandes tomadores de decisão, pessoas que realmente têm capacidade de contribuir para o debate, de buscar soluções, isso é um, digamos assim, um aspecto positivo nessa crise que está atingindo principalmente a região Sudeste. É possível nessa situação de crise que problemas que estão às vezes latentes, ou estão sendo trabalhados, surjam com mais intensidade. E aí têm aspectos técnicos, aspectos políticos, aspectos de gestão que começam a aparecer, como sendo contribuintes para agravar uma situação. Ó ótimo porque elas provavelmente serão resolvidas, e numa próxima situação de crise, se vier a acontecer, provavelmente elas já terão sido mais bem resolvidas. Talvez não sejam elas mais, ou talvez a crise não se apresente com tanta intensidade. Eu acho que as instituições estão fazendo o seu dever de casa, as instituições, eu acho que elas estão reconhecendo seus papéis e suas contribuições nessa situação, e buscando soluções, eu acho que isso é o que precisa realmente aparecer do fundo desse problema. Agora, a situação da crise hídrica em si, da escassez de água é como eu disse, tem lugares que estão muito piores e as pessoas estão se virando. Aqui as pessoas vão se virar também, existe muita capacidade técnica, administrativa, política instalada aqui capaz de resolver esse problema, as pessoas, as instituições são capazes de resolver, agora, vão aprender com isso, todos nós vamos aprender com isso. Eduardo Leo: Eu acho que a minha partida é na mesma linha que a colega comentou, eu acho que a crise é uma oportunidade. No outro dia eu vi uma apresentação onde alguém falava na verdade a gente não pode perder uma crise como essa, amanhã é oportunidade, não pode perder . Eu estou faz algum tempo já acompanhando o comitê, faz uns 7-8 anos, e já vi bastante conflito, tanto que a gente fala lá que a gente administra, que a gente gerencia conflito, você falou que teve uma experiência conflitante, porque você deve ter visto situações semelhantes. Eu acho que essa crise hídrica trouxe mais as coisas à flor da pele, evidenciou mais problemas, problemas até mesmo as dificuldades que são estruturais, mas eu não posso deixar de, primeiro, ver isso como uma oportunidade de colocar na mesa as questões importantes, dar uma maior impor68


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tância para essas variáveis. Eu acredito nisso que é uma propriedade emergente, você ter algum sistema onde você junta um monte de atores heterogêneos, eventualmente com ações fragmentadas, tem um certo nível de conflito, mas na verdade, isso para mim é uma parte do processo, do entendimento. Eu fico aliviado pelo fato de a gente ter um espaço onde esse tipo de situação pode ser ao menos discutido, e de tudo o que eu já vi passar de conflito, desde a cheia de 4 anos atrás, a gente estava discutindo o sistema Cantareira vertendo água de tão cheio, a gente conseguiu resolver, estruturamos inclusive uma solução bastante interessante. Quando eu falo estruturamos, meio que falando em nome do comitê,conseguimos solucionar os nossos problemas, então eu acho que é importante ter esse espaço de diálogo e sobretudo aproveitar esse momento que o tema ganha mais destaque.

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USO DA ÁGUA NO PROCESSO PRODUTIVO AGRÍCOLA Palestrante: Prof. Keigo Minami Como vocês souberam, eu sou muito técnico, então, eu peço desculpas porque eu vou falar tentando amenizar alguma coisa para falar desse assunto. Muitas coisas que eu vou falar, na verdade, às vezes não está em prática, outros já existem há muito tempo, e eu vou falar de uma coisa que no mundo inteiro já se falava há muito tempo. Sabia-se que um dia ia faltar água, e, nisso, alguns técnicos desenvolveram uma forma de se pensar, de economizar água na agricultura, e é isso que eu vou tentar falar. Como um bom professor, eu vou começar com as premissas. O manejo e a qualidade mineral da irrigação são as principais responsáveis dentre os fatores de pré-colheita, os quais determinam a produção e a qualidade do produto da horticultura. Outra coisa, atualmente isto aqui não é só no Brasil não no mundo inteiro, a maioria dos sistemas que nós estamos usando não são, infelizmente, sustentáveis. São tecnologias, às vezes, usando muito o que a gente chama de inputs, ou insumos, principalmente água depois eu vou dar um exemplo aqui no Brasil, a quantidade de água que se usa em determinada cultura, o manejo sustentável da área agrícola e do adubo pode ser realmente economicamente viável. Muita gente fala não, não é, se a gente reduzir vai acontecer alguma coisa , não, não vai, e essa sustentabilidade começa a aparecer como está acontecendo agora. Agora talvez pela falta de água houve um estresse muito grande, é agora que começa-se a pensar mais seriamente. A economia de água na agricultura, não adianta a gente fazer economia se vai diminuir a produção. Nós temos que diminuir a quantidade de água a ser fornecida, mas mantendo a produção, pelo menos mantendo a produ71


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ção. Mas a ideia é reduzir e aumentar a produção. E na agricultura nós devemos levar a economia de água sob dois pontos de vista. O administrativo e pela eficiência do uso dessa água que nós aplicamos. E é assim, o pessoal faz um ano, e acha que está fazendo o negócio de outro mundo, ele acha que a ideia é o cultivo protegido. Então, na parte administrativa é aquele que tá, tá, eu vou tentar , para nós entrarmos em um sistema altamente eficiente, a fazenda, a propriedade também tem que estar tinindo, tem que estar funcionando bem, então nós temos que fazer armazenamento de água para evitar vazamentos. A calibração é uma prática que muitos produtores têm feito, para evitar o uso desnecessário de água, economizar água fazendo o uso correto numa propriedade. Não irrigar nas horas mais quentes do dia e aumentar a capacidade de armazenamento da água 72


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de chuva. Essa é uma outra coisa que nós temos que começar a pensar. Em algumas regiões do mundo houve problema de falta de água, com água, esse é um problema. Tem água, mas houve um problema. É algo que nós estamos passando agora aqui no Brasil, então nós vamos ter que fazer isso daí. Através de que, aumentos de matéria orgânica no solo, isso aqui são algumas práticas de mulching vertical (técnica de manejo de enxurradas). Muito pouca gente conhece e eu ouvi aí uma conversa de alguém falando é, na Califórnia . Na Califórnia nos anos de 1900 a 1910 foi feito uma estrutura que hoje nós chamamos de mulching vertical, polímero. Aqui já um negócio mais moderno, polímero absorvedor de água, e enfim, o mais importante é principalmente a conscientização dos funcionários que ele deve economizar água. Bom, então esse daí é a parte administrativa, a parte que a gente chama de farming. Não tem cabimento, olha como se usa a água, quase que não se dá para ver, mas... olha, aqui é tomate, água aqui, isto aqui é uma câmara úmida, é doença por tudo quanto é lado, além do problema da dengue. Então, nós vamos levar o nosso pensamento, a nossa ideia através da eficiência do uso de água. Hoje em diversas publicações no mundo inteiro se fala muito nisso aí. A eficiência de uso da água é baseada em uma equaçãozinha: - Eficiência de uso de água = (produção)/(evapotranspiração), ou seja, eva-

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potranspiração é evaporação mais transpiração. E essa forma como a gente mede a quantidade de água que uma cultura gasta em uma determinada área, é evapotranspiração. O que nós vamos fazer? É justamente tentar diminuir isto, todo mundo sabe que em uma equação, olha, para aumentar isto daqui, é só diminuir isto daqui. Se aumentar este daqui vai diminuir a eficiência. Então, nós vamos tentar através disso daí. Agora, o aumento da eficiência de água pode ser feito através de, primeiro, plantas eficientes, e essa é uma coisa, cada planta, cada espécie tem variedades que são mais eficientes. Nós temos que tentar descobrir isso, o que eu lamento muito é que principalmente o melhoramento genético no Brasil, de um modo geral, caiu bastante, nós não temos tantos profissionais nessa área, nós temos que começar a incentivar principalmente através do melhoramento mendeliano. Vou tentar voltar nisso daí. Manejo ambiental, cultivo protegido, hidroponia, semi-hidroponia, aeroponia, por quê? Porque a produção em ambiente fechado pode ser bastante eficiente por uma série de motivos. Porque nós controlamos evaporação, dentro do ambiente protegido não há movimentação de ar, a umidade relativa pode ser mantida, mantendo a umidade relativa alta, há menor trans-

USO EXCESSIVO DE ÁGUA

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piração, e assim por diante. O uso de método mais eficiente de produção com controle melhor de doença, então, por exemplo, em um ambiente fechado, teoricamente não é para ter pragas. Ou seja, inseto não pode entrar, plantas daninhas não é para ter, e todas essas técnicas que nós usamos na produção vegetal, ela pode ser controlada, ela pode ser toda administrada e monitorada eficientemente. Então por exemplo, aqui até houve o exemplo da irrigação localizada, hoje nós temos a tal da irrigação deficitária, não é deficitária, é só um nome que foi colocado, na verdade é menos água. Outro ponto além do melhoramento e da parte do manejo, nós também podemos usar através da redução da evaporação, reduzindo o e aqui, reduz a equação, e a eficiência aumenta. Essas técnicas de redução da evaporação já existem faz muito tempo, não é novidade. Só algumas técnicas que estão aparecendo aí podem ser novas. Por exemplo, cobertura de solos de mulching. O uso de mulching na verdade no Brasil já existe desde 1966, quando o professor Uchimoto trouxe do Japão essa técnica para o Brasil. O uso de substrato em cultivo em recipi-

IRRIGAÇÃO POUCO RECOMENDADA

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ente, vasos plásticos etc., esse já não é um cultivo moderno, e que nós, eu diria, não é para qualquer um. Quem for trabalhar com isso tem um certo conhecimento de algumas determinadas técnicas, porque recipientizar a produção significa que você vai diminuir o volume disponível para o substrato, é diferente do solo que o volume é infinito. Entender bem essa redução, trabalhar em um volume reduzido, quem souber bem, pode fazer, senão ele pode ter problemas piores ainda. Só para dar um exemplo, a minimelancia produzida em hidroponia, aquele negócio de produzir muda em canteiro é assim. Aqui em Piracicaba este produtor de mudas chegou a produzir semanalmente 5 milhões de mudas. Outra técnica que pode ser usada, redução nas outras perdas que ocorrem na cultura, é a redução na água de drenagem. É muito comum entre os produtores jogar água, tem que jogar mais 10% de água, deslixivar por excesso de nutriente, por exemplo, que pode estar salinizando. Então por que não usa menos sal para não salinizar? Usa aquela quantidade e joga mais água para lixivar, deslixivando ele vai parar no lençol freático. Então, esse tipo de estudo, um aluno meu, orientado, foi para a Itália. E soube que 20 anos atrás eles já faziam isso, já estavam estudando isso daí. Reciclagem de parte da água que a gente joga e cai em excesso, então, por exemplo, em uma hidroponia, a água vai, recolhe-se, volta, recolhe-se, ou em algum sistema que nós acabamos de fazer, por exemplo, em um recipiente. Você coloca água e recolhe embaixo do recipiente, e essa pode voltar a ser usada. Alguns produtores preferem jogar essa água, mas é um desperdício. E naquela equação tem a transpiração, este já é um método de futuro, embora já tenham algumas coisas como o uso de antitranspirantes, mas nós verificamos a necessidade de água da planta através dessa equação evapotranspiração. Mas principalmente através da evaporação, mas a evaporação é da água do solo, não da planta. Quem sabe que está faltando água é a planta que tem que dizer, essa é uma nova idéia. Então a planta vai dizer assim eu estou com sede . No sistema convencional é naquela área, nós determinamos a evaporação daquela área, e nesse método não. É a planta vai dizer se ela está com sede ou não, muitas vezes por isso que nós temos aí uma irrigação deficitária. Deficitária porque é baseada nesse método usando principalmente a evaporação do solo. A perda por evaporação, mas na verdade a planta pode dizer assim eu estou com sede , ou eu não estou com sede . No método convencional, quando a gente vê que a planta está murcha, a sede já acon76


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teceu há muito tempo. É um método muito ruim essa de verificar se a planta está murcha ou não, porque já aconteceu muito tempo atrás. Agora, esse novo método não, a planta, principalmente a raiz, vai dizer assim preciso de água . Ela sinaliza aqui, manda um sinal para a folha e diz a ela, fecha o estômato, não perca água, fecha o estômato e é através desse sinalizador. Com análise desses sinalizadores nós vamos saber se a planta pode ou não, aí têm determinados métodos, mas não posso ficar esperando a planta dar esse sinal, então o que se faz é o seguinte. Você irriga metade e a outra metade não, como este lado aqui que está seco. Ele vai dar um sinal, se a planta toda secar, aí na próxima irrigação irriga aqui. Seca aqui e irriga deste lado, e aí a planta mantém totalmente sua transpiração. Pessoal, o que eu disse aí é uma coisa teórica, mas já existe alguma coisa sendo feita na prática. É o cultivo em slab , totalmente protegido, não se perde água totalmente. E aí nós podemos usar o mulching de uma cor, e cores diferentes então. Preto provavelmente para o calor que se concentra, então ela pode adoecer o solo, ou se é branca ela reflete, fica mais frio, e assim por diante. Nós vamos poder começar a trabalhar até com manejo da temperatura do solo. Este aqui não é pesquisa feita por doutores. É comercial aqui no Brasil, 77


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MINIMELANCIA PRODUZIDA EM HIDROPONIA

então a produção é feita em recipientes e dentro tem um substrato. Essa ideia do substrato é bastante complicada, não é para qualquer um fazer uso, e por outro lado, simultaneamente à confecção do substrato, ele está sendo feita ambientalmente correta. Isto é, o uso de resíduos de vegetais, e pode ser usada aí resíduos de bicho e de esgoto. Futuramente nós vamos usar isso daí. É o que eu sempre falo para os alunos: a hora que a região de Piracicaba, todas as prefeituras começarem a fazer tratamento de esgoto, nós vamos ter por dia, por dia, aproximadamente, 100 toneladas de lodo de esgoto. Se pegar canteiros na região de Campinas e de Piracicaba, são mais ou menos, calcula-se, aproximadamente 5000 toneladas de lodo de esgoto que vão ser produzidos por dia, isso sem contar lixo. Então aqui, só para dar um exemplo, aqui é uma eficiência de uso de água, teoricamente se a gente usar aqui no plano do tomate industrial, 1100, 550 mm, 300 mm 150mm. 1100 mm significa uma irrigação de muita ação, de baixo para cima, é bastante feito lá em Mogi das Cruzes com alface. Mas essa é uma quantidade bastante grande. 300 mm é por gotejamento, e aqui a produtividade média hoje do tomate de indústria no Brasil é isto aqui, 60 toneladas por hectare. No Brasil, com a irrigação subsuperficial (inundação), se gasta cerca de 1100 mm de água durante todo o ciclo de tomate. Na aspersão se gasta 550 mm, e por gotejamento, se gasta 300 mm. Com mais tecnologia, poder-se78


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ia reduzir o consumo para apenas 150 mm de água. Para a produção de 1.800.000 toneladas de tomate industrial, que é a necessidade atual de tomate no Brasil, imagine a água que está sendo utilizada. Recentemente, nós fizemos um trabalho com um produtor aqui de Guairá. Nós chegamos nisto daqui, e uma proposta dos pesquisadores da Califórnia, vai chegar a isto daqui, no tomate industrial. Então a eficiência de uso de água em grama por litro de água, na produção de 60 toneladas usando esta quantidade, nós conseguimos o índice de 5,5. Enquanto que podemos usar somente 150 mm de água, numa produção de 200 toneladas, ou seja, se produz muito mais. Agora, o interessante é este número: hoje o Brasil produz 1.800.000 toneladas de tomate para a indústria e os outros 2.200.000 é para consumo de mesa. Então, se nós pegarmos aquela quantidade de água que é usada com essa produtividade, usando a inundação com produtividade 60, para produzir isto daqui nós vamos precisar de 370 bilhões de litros de água, enquanto que no sistema, vamos chamar assim moderno, são 13,5 bilhões para produzir isto daqui. Outra coisa é que tudo é condição de produção de campo. Para produzir 79


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1.800.000 toneladas, nós vamos precisar de uma determinada quantidade de área. Se nós trabalharmos com essa produtividade, provavelmente nós podemos fazer esta produção desta quantidade em cultivo protegido, isto é, na estufa. Só que estufa nessa produtividade, nós podemos produzir 4 vezes por ano, enquanto que no campo é 1 vez só. Então nós podemos reduzir por 4 essa área em cultivo protegido. Aí um técnico fala ah, mas produzir em cultivo protegido não produz isso daí . Um tempo atrás, quando nós fizemos o lançamento da produção de

CULTURA RECIPIENTIZADA

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mudas, dessa de bandeja, eu sou um dos produtores. Numa palestra que dei lá em Sete Lagoas para os produtores, eu falei vocês têm que usar muda e não semeadura direto de tomate . O pessoal lá quase me bateu, falando onde já se viu falar em produzir mudas para plantar tomate de indústria . Hoje, 100% do tomate de indústria é através de muda, e se eu falar que nós podemos produzir isto aqui, eu acho que pode ser produzido em estufa também. Outra coisa, o tomate para mesa na Europa hoje, em estufa, produz na média de 400 toneladas por hectare. É o dobro de Campinas. Na Holanda, tem gente produzindo 700 toneladas por hectare. Oras, por que não usar 400 toneladas para mesa e o restante 300 toneladas para indústria? Por que não? Então, recentemente eu fiz um desafio para os meus alunos. Quem for meu aluno e assistiu essa aula deve estar lembrado. Por que não fazer produção de muda de algodão? Ah, professor, tem que ser semeadura direta para sair a flor, professor . Só o Maeda produz 40.000 hectares de algodão por ano e metade do arroz do mundo inteiro é plantio de muda, ou não é? Outro exemplo que eu gosto de dar é com relação a alface. No Brasil, consome-se 5 cabeças de alface por ano por pessoa. Como somos em 200 milhões pessoas, são necessários um bilhão de alface por ano. Mas, perdese 20% na produção mais 30 % em pós-colheita, ou seja, são necessários 1,5 bilhões de alface por ano. Considerando que uma cultura de alface tem 80 mil plantas por hectare, seriam necessários 18.750 ha para produzir todas as alfaces que o Brasil precisa. No sistema convencional, o gasto com água é de 7 mm dia-1 para a cultura. A cultura leva 45 dias no campo, ou seja, gastar-se-ia cerca de 59 bilhões de litros de água. Se reduzir o tempo de produção (usando-se mudas de alta qualidade) temse as seguintes reduções de uso de água: 40 dias 52,5 bilhões L 35 dias - 46 bilhões L 30 dias 39 bilhões L 25 dias 33 bilhões L Mais 500 milhões de L de água para lavar 1 bilhão de alface 81


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Não esqueçam que esse 1 bilhão de alface que vai para a cozinha precisa ser lavada ainda. Não vou colocar 1,5 bilhão porque na verdade nós estamos com 1 bilhão aqui em baixo na mesa, mas são necessários mais 500 milhões de água. Vamos fazer esse exercício aqui. Se nós reduzirmos para 5% a perda e para

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10% a de pós-colheita, no Japão hoje se perde aproximadamente 3% após a colheita, os americanos estão perdendo 10%, e eles estão reduzindo a perda. Estão fazendo uma pesquisa aqui, tendo que reduzir 1% por ano até 2020, ou seja, daqui a 5 anos vão perder somente 5%. Nós vamos economizar só aí, reduzindo essas perdas. Agora, vamos dizer que nós vamos gastar 3 mililitros por dia, usando o método que muitos produtores hoje no Brasil já estão conseguindo com 30 dias. Ou seja, 10,5 milhões de litros de água. E, se nós fizermos minimamente processados, quer dizer, tratado lá no campo a alface, para chegar no consumidor, nós não precisamos lavar mais. São mais 500 milhões de litros de água que estaremos economizando. Com as técnicas que existem, se nós pegarmos e introduzirmos 3 ou mais técnicas, esta é a quantidade de água que nós podemos reduzir. Eu concluí isso. Eu não sei se vocês concordam comigo, mas, o que eu sempre digo para os produtores, os meus alunos, é isto aqui. Olha, o investimento paga isso é caro, é não sei o que , falam muito isso, mas não é, ele se paga. Economizar 1 bilhão de água não paga? É só isso, obrigado.

P: O senhor falou do efeito dos custos, do investimento que se faz nessa questão de ter um ambiente controlado. Eu acho que hoje em dia cada vez mais se tem a agricultura de precisão, e a questão de sensores, disso daquilo. O senhor tem uma noção de custo, eu não sei o tamanho normal de uma estufa assim, uma determinada produção, mais ou me83


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nos quanto tempo se dá para isso. Keigo: Vamos pegar uma produção de tomate de mesa. Hoje para uma produção de 1 hectare de tomate de mesa, de campo, você gasta na verdade 50.000 a 60.000 reais. Só que a produtividade no Brasil não chega a 80 toneladas por hectare. Se você for fazer estufa, você pode atingir a 100.000 reais. Só que a produção hoje, por exemplo, nós fizemos recentemente na ESALQ um experimento e nós chegamos a 200 toneladas por hectare. Outra, a estufa você não joga fora no recipiente, mantém, por muitos anos. Você pode amortizar e reduzir isso, então se você consegue de 80 passar para 200, eu acho que compensa. Ah, e outra, eu venho lutando para que a gente chegue pelo menos nos 300, e não nos 400, que acho que vai ser um pouco difícil para nós. Pelos meus conhecimentos não vai dar, precisa ter outro jeito, mas estudando mais, então nós podemos chegar a 300 toneladas pelo menos. Se os europeus estão com 400, eu acho que nós também podemos chegar nisso. P: Boa tarde professor, muito obrigado pela magnífica palestra. Realmente eu fiquei assustado com esses dados que o senhor colocou. A gente vê que são várias linhas que o senhor coloca, tem o lado da pesquisa científica que vai trazer melhoramento da semente, e tem a questão da administração que é uma coisa mais direta no campo. Em tempos de custo-benefício, eu sei que a pesquisa científica é bastante complicada, e por outro lado, a prática é só questão de adotar. Já existe. Enquanto que o melhoramento precisa de uma pesquisa para evoluir. Pelo que o senhor tenha estudado aqui de longa data, o que é que tem ajudado mais a incrementar a otimização da produção agrícola? Keigo: Então, esse é um problema bastante complexo dentro da agricultura. Se a gente fizer uma comparação indústria-agricultura, a indústria passou pela mecanização, melhorou lá bastante coisa e depois foi indo para a automatização e novos sistemas de produção estão sendo desenvolvidos na indústria. Na agricultura, nós estamos na primeira fase ainda, nós estamos melhorando muito a parte de mecanização, mas muito pouco na parte de automatização e essas coisas.

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Nós temos esse sistema de produção que já tem mais de 1000 anos. É sempre a mesma coisa, é adubar, plantar e fazer muda. Então, na nossa visão, nós temos que evoluir para ter um método de produção, ou um sistema de produção mais avançado, e eis que está sendo difícil para, principalmente para o produtor. Tentar convencer o produtor que ele tem que mudar o sistema, tentar partir para uma evolução como aconteceu com a indústria. Pode ver, toda a parte, vamos dizer mecanizada, depende do fator externo, depende muito do fator externo, aí depende da habilidade dele. Outra coisa também, essa área de bens melhorou muito para o conforto, mas ainda nós temos que começar a pensar em sistema, como eu disse para vocês, nós usamos muitos inputs, nós precisamos pensar em um sistema que use menos inputs e com mais produção. P: Para colher em 1 hectare com bastante tomate, qual é a adubação? Keigo: Eu vou só dar um exemplo para você. Como é que nós fazemos a análise do solo? Não é pegando amostra? Você tira a média, mas até que ponto essa média representa o todo realmente? Na verdade é uma média assim que você pega, agora, você tem que começar a pensar que cada planta tem a sua necessidade. Não é a área, mas começar a pensar em, no caso do tomate, em cada planta o que ele pode oferecer. É essa maneira. P: Eu estou perguntando é porque tomate é geralmente de ciclo curto, e com tantos dias já está maduro, enquanto quiabo pode ir fazendo cobertura, porque ele dura 1 ano, então o que precisa aplicar para agir de uma vez na planta? Keigo: Isso é que tem que começar a mudar. Você tem que adubar em cada momento em que ela precisa e necessita desse adubo. Esse é o sistema normal: você cava e joga todo aquele adubo para o ciclo inteiro. Só que, na primeira vez que você coloca a planta no solo, a muda tem este tamanho, só que uma quantidade disto de adubo, é 300-400, será que isso não está salinizando demais? Depois o professor pode explicar isso também, ele vai falar uma coisa. P: O que eu estava perguntando é se o excesso de adubo da planta, muitas vezes prejudica, é isso que estou perguntado. Keigo: É então, essa quantidade. Pode ver, as curvas de crescimento nos estudos mostram um crescimento assim, olha, por que é que é assim, nes85


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sa fase é assim, em? Mas por quê? Em minha opinião deve estar salinizando, porque o crescimento tem que ser assim, e não assim. Aí quando a planta atinge um determinado tamanho, já sinaliza salinização na alta. Teoricamente a planta tem que crescer assim, não assim, então isso significa que a cada momento nós vamos ter que colocar aquela quantidade. É por isso que a fertigação hoje é uma coisa importante na cultura do tomate. P: Se um tomate gasta tanta água, como o senhor falou, por que já não foi criada alguma coisa, alguma medida, para melhorar essa quantidade que ele gasta tanto, devido à escassez de água que nós estamos passando agora. Keigo: Eu já falei para vocês, mudando o método, por exemplo, fazendo a adubação localizada ao invés de aspersão, por exemplo. Não significa que nós estamos dando menos água para a planta. Nós estamos dando a mesma quantidade, seja aspersão ou localizada, nós estamos dando a mesma quantidade de água, só que na aspersão nós damos a água para a planta estar aqui, e nós estamos dando água aqui, não tem como, não tem raiz. Está desperdiçando aqui, então nós vamos colocar água aqui. Esse negócio de deficitário é modo de dizer, porque nós estamos na verdade dando a mesma quantidade de água que a planta precisa. E outra, será que estamos dando água no momento que ela precisa? É comum os produtores me perguntarem, até colegas nossos, quantas vezes por semana tem que irrigar? , não é quantas vezes, é quando ela precisa, às vezes todo tem que irrigar todo os dias, às vezes pode ficar uma semana sem irrigar. Choveu, não precisa irrigar, concorda comigo? É naquele momento. E outra, esse negócio de portfólio único é muito perigoso. No cerrado, o solo é de um tipo, aqui em Piracicaba, pegando aí um determinado solo roxo, que nós temos aqui em Piracicaba, com bastante matéria orgânica, é outro tipo de solo. Esse negócio de dizer aduba duas vezes por semana e irriga eu acho que é muito perigoso. E isso eu tenho a dizer: nós vamos ter que começar a pensar em um sistema diferente de produção, coisa que ainda não temos na agricultura como um todo. Ainda nós estamos na fase de mecanização. P: Haveria um perigo, soube que em alguns lugares na Grande São Paulo está se pegando água de esgoto para fazer irrigação devido à proibição de fazer irrigação. 86


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Keigo: Esse negócio de usar lodo de esgoto, por exemplo, nós vamos ter que usar, mas tem que ser tratado. Por causa dos metais pesados. É comum, eu falo sempre para os meus alunos, não se deixe enganar pelo dinheiro, porque os políticos vão ter que dar um jeito nesse lodo de esgoto. E eu vou usar uma frase que até lá fora já usaram jogou lixo na agricultura, ele vem pior , ele vai vir, e o pior é que mata gente. É preciso tomar muito cuidado com isso.

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ÁGUA NA AGRICULTURA Palestrante: Prof. Marcos Folegatti Eu nasci em um sítio, eu falo isso para os meus alunos e eles não acreditam, é verdade, lá no bairro Vila Moraes, na Avenida do Cursino, vizinho do Jardim da Saúde. E ali nós tínhamos uma comunidade japonesa muito forte, então eu passei a minha infância. Fui um "gaijin" em contato com a comunidade japonesa, minha mãe freqüentava a Seicho-no-Ie e eu freqüentava junto com ela. Até hoje eu faço meu "shinsokan". Quem é praticante tem essas questões todas, e teve uma pessoa que foi muito importante na minha vida, que foi o sensei Nagawa. Pode não parecer com o meu corpinho mas eu já fui praticante de judô. O sensei Nagawa tinha 1,60m, eu tenho 1,80m. Ele dizia "kun, você tem que aprender". Meu sensei era japonês: "você tem que aprender a usar as suas pernas que são compridas, então você tem que aprender "oosoto gari", "harai goshi", "uchimata", que eram os golpes. Ele vivia me derrubando com o "seoi nage", que era um golpe que se pessoas mais baixas aplicam em pessoas mais altas. Mas eu tive esse contato muito importante na minha infância em São Paulo. E por ter convivido nesse sítio, descobri minha aptidão para o estudo da engenharia agronômica. Eu estou aqui nesta escola há 33 anos, e a minha área de ensino e pesquisa tem sido muito racional na agricultura, sobretudo para o manejo da água aplicada através da irrigação. Nos últimos 15 anos, 89


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tenho participado do comitê de bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, principalmente na época que nós estávamos implantando aqui a cobrança pelo uso da água. Implantar cobrança pelo uso da água não é uma coisa muito simpática, principalmente quando se trata da agricultura, mas naquela época eu fui fundador e coordenador da câmara técnica de uso racional da água no meio rural, no comitê PCJ. Muito bem, então a minha palestra aqui sobre o tema da água na agricultura vai versar até alguns pontos de sombreamento, com os temas já discutidos pelos meus colegas que precederam aqui, e eu vou aproveitar a oportunidade para tecer alguns comentários, principalmente em função das perguntas que foram feitas sobre esse tema da água no país. Veja, a agricultura sempre será o segmento mais cobrado sobre o uso da água, sempre será. Por quê? Porque para produzir alimentos nós precisamos de um grande volume de água quando comparado com outros segmentos. Quando nós falamos que para produzir 1 kg de cereal nós precisamos de 1 tonelada de água, essa é a relação, em um sistema 100% eficiente, sem perdas de água, e para produzir 1 kg de carne bovina nós precisamos de 15 toneladas de água em um sistema 100% eficiente, sem perdas. Como o professor Keigo mostrou aqui, existem vários sistemas e é possível pro-

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duzir com menos. O mundo deve investir em pesquisa cada vez mais para produzir mais por unidade de área, então esse é o grande desafio para a agricultura no mundo, produzir mais por menos. Em 1969, quando o homem foi à Lua, olhou lá de cima a Terra e falou, a Terra é o planeta, aquela bola azul, essa esfera maravilhosa onde 70% de sua superfície está coberta com água. Muito bem, mas quanto efetivamente nós temos de água na Terra, à disposição para as nossas atividades? Quando nós separamos essa água da superfície da Terra, e este pontinho aqui, vocês não estão com problema de vista, é verdade. É a água doce que está à nossa disposição, então na verdade o planeta está coberto por uma película de água. Quando nós analisamos em termos de massa a água que está no planeta em relação à massa da Terra, nós estamos falando de 0,02%. Portanto, uma fração muito pequena e cabe a nós gerir essa água com muita racionalidade. A boa notícia é que no território brasileiro temos 12% de toda essa água doce do planeta, então veja a nossa responsabilidade, que é exatamente de gerir esse patrimônio. A questão é se nós tivéssemos que separar a água, a Terra tem 12.000 km² e nós temos na esfera de 1300 km² representando a água toda do planeta. Se quisermos contabilizar, a água não desaparece, ela faz parte do ciclo 91


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hidrológico, o homem sim tem uma capacidade grande de disponibilizar a água através de suas atividades, o homem polui essa água, ela fica indisponível ou é necessária muita energia para torná-la utilizável. Quando nós analisamos toda essa água disponível no planeta, que são 1.386.000.000, 1,3 milhão de km³, e separamos aqui o que é água doce, então tenho aqui na cabeça 10.000.000 km³ que é a água que está à disposição do homem. Mas o que é retirado pelo homem é apenas 3.800 km³. Ou seja, uma parcela pequena de toda água doce é utilizada na agricultura. A agricultura utiliza 70%, veja que a agricultura utiliza 70% da água doce do planeta. Significa que 70% da água que é retirada dos mananciais, dos rios, dos aquíferos e dos lagos, não significa que agricultur está usando toda água. Em termos de água no planeta existe ainda muita água, esse é tudo o que nós utilizamos. Agricultura utiliza 70%, a indústria 20%, e o abastecimento das pessoas 10%. Existe a água no planeta, existe. Se nós estivéssemos distribuídos na superfície da Terra de maneira mais uniforme, ou seja, onde tivesse água tivesse mais gente, onde tivesse menos água tivesse menos gente, todos nós poderíamos viver e a população do planeta pode aumentar que não teríamos problema. Acontece que não é assim que estamos, nós estamos amontoados em grandes cidades no intenso processo de urbanização e portanto temos enormes problemas de água.

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Associado ao que já foi dito aqui, claro, imagine a bacia do Piracicaba, Capivari e Jundiaí que tem uma precipitação média de 1400 mm por ano. Nos últimos 2 e 3 anos nós tivemos 700-800 mm por ano. Claro, são eventos, foi dito aqui pelo nosso secretário, esse é um dos eventos mais críticos dentro da nossa série de 120 anos. Nunca tivemos secas seguidas como esta que está ocorrendo aqui. Isto é uma mudança, isso veio para ficar, temos que nos organizar melhor daqui para frente, tendo em vista esses cenários e por estarmos amontoados, eu não tenho dúvida. A gestão em função da água que está disponível passa a ser uma questão chave. Veja, a questão do crescimento populacional do planeta. É algo que nós vamos ter que enfrentar. Hoje são 7 bilhões. Em 2050 eu terei 93 anos, nós vamos ter 9,5 bilhões, portanto mais 2,5 bilhões de pessoas na Terra, e haverá sem dúvida uma grande pressão pelos recursos naturais. E aí vejo vocês, que interessante, o mesmo exercício que eu faço para os meus alunos, é possível colocar até 10 pessoas em 1m². Mas se nós colocássemos toda a população do planeta, 7 bilhões, um do lado do outro, mas aprontando 5 pessoas por m², nós colocamos toda a população do planeta na cidade de São Paulo. Isso mostra que uma pequena porcentagem da superfície do planeta nós podemos ocupar um do lado do outro, nós podemos viver por longo tempo dessa maneira. Mas, isso mostra a nossa capacidade e as nossas necessidades em função do que nós consumimos de impactar o que está no nosso entorno. Em termos de espaço não é um problema, mas em termos de água pode ser um problema.

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Vejam vocês, já foi dito aqui que esse crescimento populacional está ocorrendo no mundo e cada vez mais as pessoas moram nas áreas urbanas. Isso é uma tendência mundial. 80% das pessoas do planeta em 2050 estarão nas áreas urbanas, e o Brasil estará com 85% das pessoas nas áreas urbanas, mas com uma população que crescerá menos do que nós tínhamos previsto há duas décadas. O Brasil já era para ter 200 milhões de habitantes, mas em 2050 deverá estabilizar com 230 milhões. Isso é um aspecto muito importante diante da questão do planejamento. Esses 100 formam um país e sem crescermos muito, sem visar mais escolas, mais hospitais, nunca demos conta de pormos tudo isso em dia. Essa é uma perspectiva muito mais interessante para o cenário brasileiro tendo em vista o crescimento populacional do mundo, que tem muito a ver com a água, conforme nós vamos discutir aqui. A Índia não aparece aqui mas ela terá, em 2050, 1,6 bilhão de habitantes, seguido da China com 1,4 bilhão fazendo parte aí dos países da ordem de 1,4 bilhão, seguidos pelos países EUA, Nigéria, Indonésia, todos dentro da ordem 350 milhões, e o Brasil estará junto com Bangladesh, República Democrática do Congo, Etiópia, dentro dos países com 230 milhões, duzentos e poucos milhões de pessoas, mas ainda seremos um país bastante populoso. Veja, de cada 10 pessoas em 2050, 2 serão indianos e 2 serão chineses 94


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tendo em vista o crescimento populacional dessas cidades. É claro, enfrentarão um enorme problema pela demanda de água. E quando se analisa essas questões todas dos impactos relacionados ao que o homem consome. Hoje existem estudos aí mostrando isso. Uma pessoa que trabalha bastante nesse tema, o professor que aborda a questão econômica desses impactos todos. Mas hoje o homem, em função de tudo que ele retira dos recursos naturais, se todos fossem viver, o planeta Terra não será mais o suficiente. Nós estamos em um ponto em que nós teremos que discutir como vamos produzir e consumir de tal maneira que a Terra não caminhe nessa direção que seria o caos. E sim, que a gente possa viver em função dos recursos naturais existentes. Esse era o grande desafio da ciência e do ensino, e das práticas. Voltando à questão do Brasil, eu quero dar um enfoque a essa grande riqueza brasileira. 12% da água doce do planeta, nós temos aqui os nossos 26 Estados, as 5 regiões, uma República e o Distrito Federal. Foi mencionada aqui a questão do Brasil que tem de fato 12% da água doce, mas 70% dessa água doce está na bacia amazônica onde tem pouca gente. Mesmo quando se olha para esses 30% de água que o Brasil tem, ainda temos muita água. Então onde é que está o problema? Vejam vocês, já foi mostrado inclusive pela minha colega aqui da ANA, que o Brasil está dividido em regiões hidrográficas em que nós sabemos os volumes de água que estão ali disponíveis. A grande pergunta que nós teremos que fazer frente ao grande potencial de avanço da agricultura brasileira, que hoje tem aí 65 milhões de hectares cultivados. 95


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O Brasil tem em torno de 5 milhões e 200 mil hectares irrigados, mas poderá facilmente, nas próximas décadas, chegar a 100 milhões de hectares cultivados e 10 milhões de hectares irrigados. A pergunta é: vamos conseguir planejar isso adequadamente para que isso ocorra, para que os agricultores tenham suas produções em função da água disponível? Esse é que é o grande desafio, e eu acredito que sim, porque temos uma estrutura à nossa disposição. Mas é muito importante, é claro. Toda vez que perguntamos qual é a necessidade de água de cada um de nós, nós pensamos nos 2 litros que nós temos que beber por dia, não é verdade? Precisamos beber 2 litros, nós precisamos de água para escovar dente, para tomar banho, e quando juntamos isso, isso dá em média 50 litros por dia. Nosso asseio para escovar os dentes, essas coisas, só que o homem precisa de muito mais água que isso, e a grande quantidade de água que o homem precisa é para a sua alimentação, que é da ordem de 1000 a 1100 m³/habitante-ano, levando em conta uma dieta de 20% de proteína. Para aqueles que comem mais carne, o volume de água necessário é maior, o que consome menos carne o volume de água é bem menor.

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Einstein já dizia que será muito mais fácil ser alimentado pelos vegetais do que através da proteína animal. Talvez a gente caminhe para umas coisas desse tipo. Mas tem um número aqui que é muito interessante muito importante. Para classificar as bacias hidrográficas, toda bacia hidrográfica, quando apresenta uma disponibilidade, que é o índice de Falkenmark, uma pesquisadora sueca. Quando esse índice é abaixo de 500 m³/habitante-ano nós estamos em uma situação de escassez, quando é entre 500 e 1700 nós estamos em uma situação de estresse, e quando é acima de 1700 nós estamos em uma situação confortável. Só para vocês terem uma idéia, a bacia do Piracicaba - Capivari - Jundiaí, no seu período mais crítico tem 400 m³/habitante-ano. Só para ver a gravidade de que é gerir água nesta bacia, que é responsável por 7% do PIB do país. E uma bacia ainda pior que a bacia do que a Piracicaba Capivari Jundiaí é a do Alto Tietê, que tem uma disponibilidade da ordem de 200 m³/ habitante-ano. Essa classificação é muito importante para que a gente identifique o tamanho do problema e de quanto de água é necessário trazer para aquela região, para que as pessoas sobrevivam. Houve uma pergunta na parte da manhã sobre a questão das transposições de água. Cada vez que nós caminhamos para a situação de escassez, cada vez mais nós temos que transpor água de outras bacias para esta bacia, esse é um indicativo. Mas nós sabemos que isso é muito caro. Em um país que tem 12% da água doce do planeta, trabalhar com transposições... Não digo que elas não possam e não são feitas, muitas transposições são feitas no mundo inteiro - mas é muito mais barato você gerir a água nas bacias e criar mecanismos para que ela ocupe aquele espaços, do que fazer transposições. O sistema Cantareira deixa isso bem claro para a gente. Em 1975, quando foi criado o sistema Cantareira, a necessidade de água era uma, hoje enfrentamos uma realidade muito diferente, e, portanto estamos duelando através do enorme conflito de água por uma transposição, então as transposições precisam mesmo ser olhadas com muito detalhe, com muito debate. Hoje tem um grau de dificuldade, amanhã pode ser muito maior. Por exemplo, o que está acontecendo aqui através da transposição do sistema Cantareira. Bom, e quando analisamos aqui o país, isso tudo está maquiado, está claro que nós estamos aqui em termos de disponibilidade de água, com uma situação muito confortável quando olhada por outras regiões do mundo. Mas, aqui nós precisamos tomar cuidado. Quando nós pegamos a média e dividimos para todos, tem água suficiente para todo mundo, mas quando 99


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nós olhamos ao nível da bacia e sub-bacia, essas coisas são muito diferentes. A exemplo do que estamos citando aqui da bacia do Piracicaba e da bacia do Alto Tietê, quando se muda a escala de quando você olha para as coisas, não é verdade. Os grandes usos de água nós sabemos. No país isso é muito importante, se a Agência Nacional de Águas emite um relatório anual de como está sendo utilizada a água por todos esses segmentos para abastecimento, indústria, irrigação e geração de energia, todos os anos ela atualiza esse relatório. Aqui nós temos mais 12 regiões hidrográficas do país, quanto de água é utilizado para cada uma das atividades, agricultura, indústria e o abastecimento? Veja, nós estamos aqui na região hidrográfica do Paraná, onde o maior uso não é na agricultura, o maior uso aqui é o abastecimento seguido da indústria. Nesta região hidrográfica falta água? Não, ela tem muita água, mas tem muito conflito? Tem inúmeros conflitos. Porque, quando se analisa dentro das sub-bacias, nós estamos amontoados, seja pelo conflito da agricultura com a indústria, da agricultura com o abastecimento, ou da agricultura com a própria agricultura. Então isso requer um planejamento para que a gente tenha sucesso. E quando analisamos esta situação brasileira, nós fizemos a ocupação através do processo de colonização de 7300 km de costa. Nós estamos concentrados na costa brasileira com um grande número de bacias caminhando para o nível de escassez. Isso porque estamos concentrados, há um grande problema da poluição hídrica, há regiões em que se detecta um grande déficit líquido, como a região do semi-árido, principalmente na região Nordeste. E mesmo na região Sul, que é uma região muito rica em água, nós estamos observando recentemente mudanças e observando déficit. Na região central, que é onde se encontra a expansão da fronteira agrícola, é uma região que já apresenta déficits hídricos muito claros e que essa agricultura dependerá, para o seu sucesso, da irrigação. E aqui, como os senhores sabem, na bacia Amazônica existem mais de vinte projetos para instalação de usinas hidrelétricas já prontas. Estão passando por um enorme debate ambiental para serem instaladas. Os senhores sabem que se o Brasil hoje estivesse crescendo a 5% ao ano, nós não teríamos energia para manter esse crescimento. Fica claro que várias fontes alternativas de energia serão necessárias para se colocar nessa matriz energética do país. Mas mesmo a expansão da própria agricultura em função dessa limitação da energia, poderá ser limitada se a questão da energia não for resolvida conforme vou comentar um pouquinho mais para a 101


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frente. Embora estejamos falando de período de escassez, de falta de água, nós vamos observar este ano mais uma vez as enchentes nas cidades por conta da falta de planejamento e por conta do mau uso do solo, nós vamos voltar a enfrentar essa situação pela questão do planejamento. Então, muitas vezes, nós costumamos dizer, a água para a agricultura é uma, para a área urbana é outra. Isso é o que nós precisamos mudar. A água toda gerada nas grandes cidades será colocada nos rios e a agricultura vai utilizar essa água poluída para suas produções. Uma pergunta que eu faço para os meus alunos é se eles comeriam uma verdura irrigada com água de esgoto. Qual é a resposta dos meus alunos? Eles dizem que não. Mas em um país que coleta 50% do esgoto, veja, 250 milhões de habitantes, o esgoto de 250 milhões de habitantes é coletado e nós tratamos apenas 30% do que é coletado. O que é feito com os outros 50% do esgoto? É lançado nas calçadas e nas ruas. Então esse é um país, quero enfatizar isso mais uma vez, já foi colocado pelos colegas, o país que é a 7ª economia do mundo não resolveu o problema do saneamento. Na Europa, vários países do mundo resolveram isso logo depois da guerra. A questão do saneamento, mas nós ainda estamos debatendo esse tema. Então, em um país que trata ao redor de 20-25% do seu esgoto, e os centros de produção de hortaliças estão em torno das cidades, nós estamos sim irrigando hortaliças com água de esgoto, está certo? O grande problema disso, nós não temos que ter preconceito com a água residual gerada pelo homem, que nós usamos esterco de vaca, esterco de coelho, esterco de frango, não é verdade? Mas quando se fala em usar esterco humano, é um crime. Mas para isso, tem que haver normas por conta da disseminação de doenças. Nós sabemos, existe um trabalho da ONU que mostra, para cada centavo utilizado no saneamento, nós vamos economizar 5 na saúde. Nós nos perguntamos "por que é que nós não resolvemos assim o problema?", Não é? Mas aí existe uma grande possibilidade para a agricultura participar disso. Como? Com esta figura. Eu quero apenas lembrar que o meu pai nadou nesse rio de São Paulo, o rio Pinheiros. Quer dizer, em 70 anos nós podemos mudar muita coisa, nós precisamos tomar cuidado para não mudar para pior, nós precisamos mudar para melhor. Mas o Brasil hoje tem instrumentos para permitir que isso não aconteça? 103


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Tem, eu tenho debatido isso com os alunos e com os professores aqui nesta escola e tenho certeza que se nós tivermos coragem de usarmos instrumentos hoje da lei das águas nº 9433, aprovada em 1997. A lei tem apenas 18 anos, esse é o problema de uma lei muito jovem, ela está se estruturando. Nós vamos ter que trabalhar muito para aperfeiçoá-la, mas nós pode104


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mos mudar esse cenário, em um país tão grande e tão amontoado. Bom, e vejam vocês. Na década de 1950 nós tínhamos 33 milhões de pessoas nas áreas rurais, e hoje nós temos praticamente o mesmo número de pessoas nas áreas rurais, isso não mudou, ou seja, estamos cada vez mais concentrados com um agravante. Estamos na cidade, mas não, isto não significa que estão morando na cidade com mais qualidade de vida. Não ficamos na área rural por falta de estrutura, por falta de escolas, por falta de hospitais, por falta de estradas, e nós vamos para onde achamos que as coisas deveriam ser melhores. E toda vez que nós vamos falar de gestão de água, nós estamos falando de gestão de conflitos. Tem algumas perguntas nesse sentido, é claro, principalmente quando essa água se torna escassa, haverá um interesse da indústria, haverá um interesse da agricultura, e haverá um interesse do abastecimento que é muito importante para a nossa vida. Gerir conflitos é uma parte essencial da gestão da água. Onde ninguém ganha, e quem ganha perde. Temos que aprender esse diálogo. Os colegas que me precederam, a colega Consuelo da Agência Nacional de Águas, o Leo que esteve aqui, que é aluno desta escola, foi meu orientado de mestrado, mostrou bastante, falou bastante sobre as questões relacionadas à gestão no Comitê dos rios Piracicaba Capivari Jundiaí. Esse comitê de bacias é muito importante para o país. Por quê? Porque é um comitê que tem todos os instrumentos da gestão da água previstos na lei instalados. Ele tem um instrumento do plano de bacias que é muito importante, ele disse aqui que o plano foi aprovado para 2020 e o PCJ está discutindo o plano para 2035. Imaginem o plano, aqueles que tiverem curiosidade e entrarem no site do comitê PCJ que está disponível, vão ver que o plano de bacias do PCJ tem mais de 1000 páginas. São 1000 páginas com estudos sobre a cobertura vegetal, da qualidade da água, da vegetação, da declividade, do potencial de erosão e das necessidades de tratamento de esgoto. Existe uma quantidade enorme de estudos que foram feitos para que esse plano pudesse ser realizado e foram estabelecidas prioridades para melhorar a qualidade da água. No rio Piracicaba a água está boa? Se você me joga lá eu pulo que nem um gato. Eu não entro ali dentro porque a água não está boa, nós estamos tratando em média 40% do esgoto. O professor comentou hoje que falar que trata 40% não significa que efetivamente está tratando 40%, que as estações podem não estar operando adequadamente.

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É claro, nós futuramente vamos ter que certificar essas estações para ter certeza que elas estejam operando, esse é um desafio enorme, mas o plano de bacias é um instrumento fantástico. Imagine vocês se os nossos municípios tivessem planos estabelecidos para 2020, se o Estado tivesse estabelecido um plano para 2020, se a nação tivesse um plano desenvolvido junto com a sociedade, e que nós elegêssemos para dar continuidade a um plano estabelecido pela sua sociedade. Então eu considero que essa lei, a lei das águas brasileiras chama a sociedade para discutir o problema da água com a grande possibilidade de planejamento. O instrumento do licenciamento, de acordo com a legislação brasileira, toda a água pertence ao povo brasileiro e, portanto precisa de licença para uso. Claro que existe uma enorme burocracia para requerer esse licenciamento, e se hoje for requerer uma outorga na bacia PCJ a resposta é não, porque como mostrou aqui o Leo, toda a água praticamente já é utilizada. Então, como outorgar para novos usos para uma bacia fechada, ou seja, toda água já conta inclusive com o reuso. A água quando chega em Piracicaba já foi utilizada 3 ou 4 vezes. É claro que a questão, mas é um instrumento importantíssimo saber quanto usa e onde está esse uso, para que os licenciamentos futuros não sejam vazios. Por exemplo, se todos tirarem água de um só ponto não adianta nada o país ter 12% da água do planeta. O enquadramento dos corpos hídricos é outro fato muito importante, que você mede a qualidade da água, estabelece metas para que essa água melhore ao longo do tempo, com investimentos e com plano e com datas préestabelecidos. Isso é um sistema de informações, que coloca à disposição das pessoas dados reais de vazão, de qualidade, de matas e de estudos para que as pessoas tenham acesso a todo e qualquer momento. Isso aí já faz parte do sistema brasileiro, nós escolhemos o modelo de gestão de água francês, após de mais de 20 anos de discussão com o sistema adotado. E o último fala da cobrança pelo uso da água, ou seja, da água quando se retira do rio, do lago, do aquífero, quanto que deveria se cobrar dos usos, seja da indústria, da agricultura ou do abastecimento. Aqui do PCJ, só para resumir a conversa, se paga 1 centavo pelo m³ retirado, e 2 centavos pelo efetivamente consumido, e a agricultura paga em média 10% disso. A agricultura paga menos em função de um grande acordo que ocorreu nesse comitê. Muito bem, então veja, tendo instrumentos como esse, debatidos com a sociedade para que sejam implantados, é claro que a possibilidade do planejamento é muito importante para um país que não tem planejamento, 107


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que cresce desordenadamente. Então isso é muito importante para o crescimento de tudo isso. Gira em torno desse plano, seja a outorga, a cobrança, o sistema de informações de enquadramento em torno do plano que é um documento básico do comitê. Bom, o primeiro desafio é exatamente de mudar essa lei e implantar seus instrumentos. Por que o comitê PCJ é avançado na gestão das águas? É avançado em resolver os seus problemas? De maneira nenhuma, ele é avançado por uma necessidade, por uma demanda altíssima em relação à disponibilidade, em função dos conflitos que aqui foram gerados por conta dessa briga da indústria, agricultura, e abastecimento de água. Esse é um dos maiores instrumentos para implantar essa lei, que faz 18 anos, e lembremse senhores, o código de 1934, que era o antigo código das águas brasileiras, ele versava somente a geração de energia. É muito recente hoje dialogar sobre os usos multiusos da água, essa é uma questão muito recente. Em 18 anos, ainda é muito pouco tempo para que tudo isso seja disseminado para a sociedade, muita gente desconhece a Lei 9433 e a que ela veio e o que ela propõe para ser feito. Reconhecer a bacia hidrográfica como unidade básica de planejamento é algo fundamental. Eu brinco para os meus alunos, a primeira pergunta que eu faço na aula para eles "qual o rio mais próximo da sua residência e como você se identifica com ele?" Nós infelizmente não fomos educados a reconhecer o rio e olhar de uma maneira mais pessoal, como nós interferimos nessa qualidade da água desse rio, nós sempre estivemos de costas para os rios, os rios nossos estão sempre tampados. O rio Itapeva, aqui em Piracicaba, quando se passa na Armando Sales, foi um rio um dia, está tampado porque ele era mal cheiroso e tudo mais, nós tampamos o rio, só não tampamos o rio Tietê em São Paulo porque explode. Porque a produção de gás metano ali é tão grande, senão nós já teríamos tampado para passar mais carro em cima. Quer dizer, e nunca conseguimos resolver um problema básico que é do saneamento. Antes de crescer e dizer de onde vem essa água e para onde vai esse esgoto, parece uma questão básica. Então nós continuamos crescendo sem responder essa pergunta básica. Portanto precisamos mudar esse paradigma, reconhecer a bacia hidrográfica como unidade básica de gestão é muito importante. Então, eu sou um morador da região hidrográfica do Paraná, vivo na bacia hidrográfica do Piracicaba, na sub-bacia do rio Beirão-Piracicaba e na rua Maria Tarcio 121. Essa identificação é muito importante, porque o Brasil não é rico em lagos. Outros países têm a grande riqueza da sua fonte 109


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hídrica nos lagos, o Brasil é rico em rios. Tem uma pequena porcentagem da água doce do planeta, nós tivemos essa dádiva, a grande fonte hídrica do Brasil está nos nossos rios. É claro que também existem os grandes aquíferos evidentemente. Então veja, senhores, quando nós analisamos o país, apesar dessa grande espolidade, agora mudando a escala, olhando a sub-bacia, os senhores vão ver que aqui, quanto mais marrom, é por causa daquilo mesmo, quanto mais marrom é porque tem mais esgoto e portanto nós temos mais problemas. Nós caminhamos aqui, várias bacias brasileiras caminham para um nível de situação crítica, às vezes porque a água está ali, mas ela não está disponí110


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vel porque é caro tratá-la. Claro que nós temos que mudar esse cenário. Um ponto importantíssimo é a questão do saneamento, na agricultura vocês hão de convir comigo, um dos grandes problemas da agricultura é a erosão. Temos várias bacias hidrográficas derretendo por falta da conservação de solo, e nós podemos depois debater por que isso não ocorre na velocidade que deveria, mas isso é um cenário brasileiro, isso é um mapa feito anualmente pela Agência Nacional de Águas. Um segundo desafio que foi muito mencionado aqui é a questão da dominalidade, quer dizer, nos Estados e na Federação existem legislações diferentes. Rios federais estão sujeitos à lei da Federação e os rios estaduais estão sujeitos à lei do Estado. Nós crescemos dessa maneira, importamos a lei francesa, que não tem leis estaduais, e estamos nos ajeitando em função da situação. Mas o comitê PCJ é formado por três comitês na verdade. É um comitê federal, um mineiro e um paulista. Por ser um rio federal, estamos compatibilizando essas pessoas, existe um núcleo gestor formado por pessoas desses comitês, como eu disse. Nós estamos trabalhando e já estamos conciliando esse problema da dominialidade Vejam que interessante. Se considerarmos isso o limite de um Estado, o rio que passa por mais de um Estado é um rio Federal, mas se tivermos uma 111


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barragem em um rio Estadual onde a nascente e a foz estão dentro de um Estado, a água daquela barragem é gerida pelas leis federais, porque foram utilizados recursos federais. São coisas que nós inventamos e nós vamos tendo que conviver com isso e ajustar às leis Mas essa é uma questão. Agora, coleta e tratamento de esgoto, nós mencionamos que este país coleta 50%, trata 30% do esgoto coletado e avançamos muito pouco ainda na questão da água residuária utilizada na agricultura. Eu tive uma orientada aqui, professor Keigo, que trabalhou com opção de pimentão utilizando esgoto bruto da nossa estação de tratamento de esgoto que tem aqui dentro da escola. Como era: com o gotejamento, com mulching, e que tem 100% da utilização da água, claro que fazíamos a análise para ver se não tinha metal pesado nessa água. No final das contas, determinamos que o pimentão colhido sob essas condições dentro da estufa tinha muito menos coliforme fecal do que o pimentão que nós compramos na prateleira do supermercado. Desde que haja normas e padrões, é possível sim utilizar a água residuária para a produção de alimentos, ou se não for de alimentos, de cana, de celulose, não é verdade? Em um país que trata apenas 20% do seu esgoto, estações com tratamento primário têm um custo, o tratamento secundário tem um custo, o tratamento terciário tem outro custo. Um tratamento primário pode colocar essa água em qualidade suficiente para ser utilizada em agricultura, e não para ser lançada no corpo hídrico, colocando nutrientes e resolvendo o enorme problema do saneamento brasileiro. Nós temos que planejar onde essas estações podem ser colocadas e utilizar parte dessa água residual para produção, para agricultura. Esse é um outro desafio brasileiro. Aqui está a qualidade da água, essas curvas azuis mostram que nem todo o país ainda recebe água potável. Existe uma porcentagem das regiões brasileiras que não têm água potável, mas apenas 20% é tratado e coletamos 50%. Nós temos que mudar esse cenário o mais rápido possível. Planejar o crescimento da agricultura irrigada no contexto de bacia hidrográfica, claro, o Brasil tem 5,2 milhões de hectares irrigados, isso é muito importante. Vejam aqui, os senhores não conseguem ver, mas eu vou dizer aqui os números: o mundo tem 1,5 bilhão de hectares cultivados, praticamente 280 milhões de hectares são irrigados, 18% da área cultivada do planeta é irrigada. Vejam que interessante: 18% da área irrigada produz praticamente 44% de todo o alimento produzido no planeta para 7 milhões de pessoas. E vejam outro aspecto: esse produto representa 50% de tudo que é comercializado. Consegue-se agregar mais valor a quem produz no 113


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irrigado. Estimativas para 2050: essa área deverá aumentar para 1,7 bilhões de hectares, 23% da área irrigada, 23% irá produzir quase 60% de todo o alimento para 9,5 bilhões de habitantes. E terá um valor agregado aí de tudo o que é comercializado e representará 64%, ou seja, não será possível alimentar a população do planeta sem a tecnologia da irrigação. O professor Keigo mostrou aqui, claro, que nós temos que trabalhar muito com a pesquisa, com a extensão, para usar as técnicas necessárias para utilizar essa água cada vez mais eficiente. E o Brasil tem água e tem solo. Mas especificamente agora para o Brasil, que tem aí 65 milhões de hectares, temos praticamente aqui 6% da área irrigada, mas 6% da área irrigada brasileira é responsável por 20% de tudo o que é produzido no país em 114


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termos de agricultura. E são 43% do valor de produção. Em 2050, existem estudos recentes, o Brasil deverá chegar a praticamente 92 milhões de hectares cultivados, e tem um potencial para chegar a 10 milhões de área irrigada. Eu uso esse número 10, o dobro da atual área irrigada, que será responsável aí por praticamente 30% de tudo o que é produzido. A questão toda é, vamos, mais uma vez, gerenciar as bacias hidrográficas e onde essa água está disponível para que essa produção ocorra com sustentabilidade? Esse é o grande desafio brasileiro. Aqui estão as bacias hidrográficas, as regiões hidrográficas e quanto de água é utilizada para irrigação, a maior delas é no Paraná, onde nós estamos, seguida do Atlântico Sul. No Atlântico Sul, como os senhores sabem, temos 1 milhão de hectares irrigado de arroz. O arroz que está nas nossas mesas vem da área irrigada do Rio Grande do Sul. Isso nós temos maquiado, aqui a nossa área cultivada e irrigada, e sabemos como essa área irrigada tem crescido no país? Em 2003 nós tínhamos 3,4 milhões de hectares, em 2014 praticamente 5 milhões, e hoje aí estamos com 5,2 milhões de hectares. Em função do potencial da agricultura irrigada brasileira, nós crescemos uma média de 200.000 de hectares por ano, em termos de área irrigada. E aqui são os 115


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diferentes métodos, o método que mais se comercializa no Brasil é o método de irrigação do pivot central, seguido do método de irrigação localizada, gotejamento e microaspersão. Aqui estão as culturas que nós irrigamos mais em área: cana, arroz, soja, milho, e assim por diante, e aqui os métodos de irrigação. Isto aqui é fundamental, e aqui tem um ponto que eu quero destacar que são os métodos de irrigação que precisam ser avaliados periodicamente, da mesma maneira que fazemos manutenção dos nossos veículos, os sistemas de irrigação precisam ser avaliados. Os que trabalham com irrigação sabem que 116


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os equipamentos se desgastam e com isso nós interferimos na uniformidade com essa água aplicada, e portanto, temos ineficiência na produção dentro do campo, causando amadurecimento em tempos diferentes, com prejuízos na hora da colheita. Portanto, conhecer as culturas e os métodos é fundamental para a capacitação das pessoas. Tem um Estado que eu visito freqüentemente, que é o Estado de Nebraska. Os senhores sabem, é onde nós temos a maior área irrigada hoje nos EUA, com o sistema de pivot central. O que se observa ali é que a questão da eficiência, que é altamente vigiada naquele Estado, ela tem horas que está super-eficiente. De repente muda em função da troca de pessoas, ou seja, 117


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a questão da conscientização e capacitação é algo que tem que ser permanente. Não adianta capacitar um grupo e não fazer mais isso, nós temos que fazer isso continuamente, no mundo inteiro. E aí nós temos o problema neste país, que é a questão da extensão rural. Como os senhores sabem, a extensão hoje passa por enorme dificuldade, as Ematers e Catis do Estado de São Paulo não tem mais pernas. Por uma série de problemas que ocorreram no passado, a dificuldade está em difundir tudo o que é gerado pela pesquisa, para que chegue aos agricultores. Esse é um outro grande desafio. Então nós temos as culturas, os métodos irrigados em cada uma das regiões brasileiras. E o estudo feito por docentes aqui da escola mostra que o potencial de expansão da agricultura irrigada no Brasil é da ordem de 40 milhões de hectares. Onde se considera somente os níveis, onde se considera os níveis de alto e médio potencial para irrigação. Eu quero dizer que sou um professor da área de irrigação, mas a primeira aula que eu procuro trabalhar com os meus alunos, vocês sabem, que quando nós estudamos aqui nós não tínhamos como obrigatoriedade a disciplina de hidrologia. Nós mudamos isso já faz uns 15 anos, mas nunca se discutia se haveria água necessária para se fazer o projeto de irrigação, fazia-se o projeto e ia para o campo. Então é essa a discussão: primeiro, saber se tem água, se aquele projeto é possível nessa área, se é possível solicitar uma outorga, que é uma coisa muito recente. Nós temos que abordar se todo o nosso potencial é muito grande, evidentemente, e poderá trazer grande riqueza para o país. Veja, o contexto da agricultura irrigada dentro do sistema agrícola, dentro da microbacia e da região hidrográfica é algo muito recente neste país. Nós nunca pensamos dessa forma. O professor Keigo apresentou, de uma maneira bastante detalhada, como se fazer um bom manejo da irrigação. Eu tenho que conhecer esse importantíssimo parâmetro que é o consumo de água das plantas, associado à sua transpiração, evaporação do solo. Sem esse parâmetro não se pode fazer um projeto adequado, tanto para o projeto como para o seu manejo. Então, o que tem sido feito no mundo? O mundo tem colocado um grande número de estações meteorológicas à disposição de um conjunto de agricultores. Em função dessas novas tecnologias, os agricultores recebem informações a qualquer momento, para saber, para aquela cultura, quando e quanto ele tem que irrigar. A que hora tem que ser irrigado e, coincidentemente, nós podemos alcançar alta eficiência no uso da água. Portanto, conhecer a evapotranspiração das culturas ainda é um importante fator 119


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que precisa ser pesquisado. Para cada cultura existe um parâmetro que se chama coeficiente de cultura, ou seja, em cada estágio dessa planta existe uma necessidade da água. Não é porque tem um projeto que consegue aplicar 10 mililitros/hora que eu vou aplicar. Nessa fase da cultura ela precisa de menos água, porque tem um sistema regular mais raso, porque não tem tantas folhas ainda perdendo água, quer dizer, isso tem que ser feito ao longo do ciclo da planta. É muito importante que se desenvolvam pesquisas para determinar esse coeficiente para as diferentes variedades, muitas das variedades que são irrigadas foram variedades que foram desenvolvidas para sequeiro. Na hora que você irriga, você enfrenta um número enorme de problemas, portanto, a pesquisa tem que, a todo tempo, gerar coeficientes para ajudar os agricultores a utilizar essa água de maneira mais adequada. O solo é um importante meio para que essa planta se desenvolva. Quando nós queremos fazer uma adubação nós fazemos uma análise química, mas quando queremos fazer irrigação, poucas vezes fazemos uma análise físico-hídrica desse solo. Ou seja, são amostras que precisam ser indeformadas, não podem ser amostras deformadas, quer dizer, é importante conhecer a estrutura do solo para saber a máxima capacidade de retenção de água. Então esses parâmetros são fundamentais para que a gente tenha sucesso na irrigação, saber o quanto a planta perde e o quanto o solo é capaz de armazenar naquela profundidade daquela planta e daquela variedade. E outro, como eu já mencionei, uma variação no método de irrigação, que é muito importante, e o professor Keigo mencionou esse enorme potencial que o Brasil tem, que é a produção em ambiente protegido. É impressionante que é possível se produzir em ambiente protegido. Por unidade de água, por unidade de fertilizante, por unidade de solo, por unidade de estufa, se assim quiser dizer, é impressionante. Claro, estamos em um país tropical, existe muita tecnologia desenvolvida para clima temperado, mas, o professor Keigo pode nos confirmar esse número, mas 50% das pessoas que entram na atividade de produção agrícola desistem, porque a atividade de produção verde exige conhecimento, exige tecnologia. Então, estamos em um país tropical e esse potencial de produção em ambiente protegido ainda deverá ser conquistado. Esta é a fórmula utilizada para a determinação daquele coeficiente de cultura que eu mencionei. Então no campo isto aqui é uma grande balança, 121


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aqui tem 50 toneladas de solo, aqui tem uma pequena planta de pinhão manso. Nós estamos fazendo experimento aqui na fazenda e essa planta já está adulta, eu só não os convido a visitar essa ala porque nós estamos com um enorme problema aqui de carrapatos. Eu não quero os senhores contaminados com carrapatos, mas nós temos uma área experimental que desenvolve esse tipo de pesquisa, ou seja, desenvolvemos esse coeficiente, que é em função do quanto essa planta perde de água e em função do quanto eu meço na estação meteorológica, eu gero esse coeficiente. 125


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Esse coeficiente é que eu vou passar para o agricultor nas diferentes fases de crescimento da planta. Sem esse parâmetro, eu nunca vou ter eficiência na agricultura irrigada. Será impossível que eu aplique uma água e não sei se aquela está atendendo à necessidade daquela planta. Então, a eficiência que nós vamos conseguir, o que os países desenvolvidos têm feito, é cada vez mais se aprimorar em técnicas de solo e saber efetivamente quanto as plantas estão perdendo de água e repor aquela água que aquele solo suporta. E veja que um estudo que eu fiz em 2010 no Brasil é sobre a percepção sobre os temas da água pelos agricultores. Os agricultores percebem que existe uma questão de problema relacionado à disponibilidade, uma grande porcentagem deles. Existe uma grande porcentagem aqui dos agricultores percebe que existe uma maior disputa pela água, refletindo a nossa falta de planejamento. Mas vejam que interessante: o maior conflito de uso pela água da agricultura não é a agricultura com a indústria, nem agricultura com consumo urbano. É entre os próprios agricultores. Isso é inadmissível para um país que tem um enorme potencial de crescimento da agricultura imaginar que tem pessoas contratando advogados em disputas de conflitos pelo uso da água. Isso mais uma vez demonstra a nossa falta de planejamento. O grande desafio brasileiro é a capacitação das pessoas para que elas venham a atuar, nós acabamos de ver aqui a palestra do Leo, que é um jovem na parte de gestor ambiental formado nesta escola, hoje já atuando em uma agência de bacias do comitê PCJ. Nós vamos precisar de um exército de pessoas atuando. O país já tem 200 comitês de bacias instalados, que estão tentando implantar aqueles cinco instrumentos que eu comentei com grande potencial para sucesso na gestão da água, muito diferente de como nós gerimos a água no passado. Pela minha experiência com participação no comitê de bacias nessa época quando estávamos implantando a cobrança pelo uso da água aqui na bacia do PCJ, houve uma resistência enorme por parte dos agricultores, claro. Um país que cobra muitos impostos, todos questionam muito os investimentos, mas tivemos conquistas enormes do que diz respeito ao comitê PCJ. 100% do que é arrecadado é investido na bacia em que ele foi coletado, grande parte da prioridade é o saneamento. Arrecadamos hoje 50 milhões de reais e com contrapartidas que não chegam a 50, mas chegam próximo disso, portanto são 100 milhões de reais 127


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investidos no processo de gestão da bacia na busca da melhor qualidade da água. O passivo da bacia é da ordem de 11 milhões de reais, então os alunos dizem "ih, professor, vai demorar 250 anos". É, mas nós gastamos 250 anos estragando tudo, não dá para resolver isso tudo do dia para a noite. Há uma perspectiva muito positiva, essa de ter investimentos constantes na melhoria da água. Então, senhoras e senhores, vejam o exemplo aqui da região hidrográfica do Paraná. Quando analisamos aqui a demanda em relação à vazão média, nós temos a água, mas por estarmos amontoados estamos administrando uma série de conflitos na região. Os 200 comitês que eu comentei e o último desafio será de como nós vamos implantar a cobrança pelo uso da água em bacias que têm atividades predominantemente agrícolas. Se na bacia do PCJ a agricultura está pagando 10% do que paga a indústria e os serviços de abastecimento de água, em bacias que têm atividades predominantemente agrícolas não haveria recursos suficientes para ter processo de gestão. E aí nós vamos ter que fazer estudos, é claro, culturas com maior valor agregado poderiam contribuir mais, enfim, mas esse é um grande desafio que nós temos para encarar. E por último, professor Plínio, por último, no mecanismo da cobrança aqui na bacia PCJ, existe um coeficiente que é multiplicado pelo que a agricultura usa, e ele será tão menor quanto mais práticas conservacionistas aquele agricultor utilizar. Se aquele agricultor utiliza um sistema de gotejamento e fez investimentos para isso, ele pode abater do que ele deveria pagar pela água, não interessa ao comitê arrecadar um recurso se ele teria que ir agora na propriedade fazer aquele investimento. Quanto mais práticas conservacionistas esse agricultor faz, menor é aquele valor que você multipli129


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ca, a ponto de se ele tem que pagar 10.000 reais, ele pode abater os 10.000 reais e ter até direito de receber, entrando no conceito de pagamento por serviços ambientais que foi discutido hoje aqui pela manhã. Então eu quero concluir dizendo que a perspectiva em função do instrumento de lei que tem a possibilidade da sociedade participar, eu não conheço nenhuma outra lei brasileira que traz e convida a sociedade civil para participar dessas questões, acredito que nós teremos grandes chances de sucesso de ter uma agricultura mais forte, mais organizada, e com valor agregado. É inadmissível que um país como o Brasil, que é um grande produtor de café onde o agricultor brasileiro recebe 500 reais por uma saca de 60 kg de café. E no mercado de comercialização de café na Europa, as pessoas recebem 85.000 reais, ou seja, ou nós aprendemos a agregar valor àquilo que nós produzimos, ou nós vamos ser um grande país da agricultura, mas não vamos trazer riqueza para o nosso país. Esse é um outro grande desafio para o Brasil. Muito obrigado.

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MINICURSOS REALIZADOS DURANTE 6°BUNKYO RURAL E 5°SEMINÁRIO GEPURA DIA 9/10/2015 - SEXTA-FEIRA

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USO DE BARRAS DE LED NA HORTICULTURA Profa. Simone da Costa Melo - Grupo de Estudos e Práticas em Olericultura - GEPOL-ESALQ/USP e professsora do Departamento de Produção Vegetal da ESALQ. Falaremos do uso de barras LED, principalmente em ambiente protegido. Nós trabalhamos em três sistemas de produção: Trabalhamos com a produção em solo, com a produção em substratos e em sistemas hidropônicos. Atuamos na área de manejo da ferti-irrigação e tecnologias e prática em ambiente protegido, com o objetivo de aumentar a produtividade e a qualidade das hortaliças. O nosso grupo é o GPID, Grupo de Práticas em Irrigação e Drenagem, que desenvolve trabalhos junto ao setor privado e também para o setor público. Trabalhamos com o objetivo de viabilizar novas tecnologias e resolver problemas dos produtores que cultivam em ambiente protegido. Trabalhamos também na fase de pós-produção para avaliar a qualidade das tecnologias adotadas nesse ambiente. O cultivo protegido vem crescendo significativamente no Brasil. Esse crescimento se deve a alguns fatores. Em primeiro lugar, houve a melhoria da economia em geral. Depois, uma série de incidentes da natureza fez com que os produtores procurassem o cultivo protegido. Dentre esses fatores, podemos citar três mais importantes. 1 - Tivemos a crise hídrica que começou no início de 2013 e se prolongou até o final de 2014. Sabemos que isso levou à diminuição no nível dos reservatórios e isso levará vários anos para se recuperar. E, associado a essa crise hídrica, houve o crescimento de pragas e doenças, que vem inviabilizando a prática de cultivo em determinados períodos críticos de 135


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produção. 2 - A melhoria na economia trouxe as oportunidades de trabalho em indústrias, e a mão de obra rural qualificada ficou escassa em todas as regiões de produção. Assim, o funcionário rural, que é preparado para uma determinada prática, após o período de aprendizado, encontra outras atividades mais atraentes e acaba deixando o campo. No caso, pode ser um emprego cujo trabalho seja na sombra, ou que não esgote fisicamente. Nós estamos caminhando para a valorização, isto é um fato. O produtor precisa incorporar valores ao que está produzindo. 3 - As empresas estrangeiras buscam o mercado potencial. Elas estão olhando o Brasil, que tem grande potencial para consumo de hortaliças, e ao nosso redor existe o mercado da América Latina. Diferente de outros países mais desenvolvidos, cuja população parou de crescer ou está diminuindo, o país ainda tem um crescimento populacional, e isso representa um potencial para o consumo. O que estamos observando é que nos últimos anos tivemos a procura por ações significativas por essas empresas em busca de conhecimento para adequar a tecnologia nas condições tropicais e subtropicais, porque nós sabemos que não conseguimos transferir simplesmente a tecnologia de um país tropical. E essa necessidade faz com que nós nos preparemos para conseguir atender esse mercado novo que está se desenvolvendo. As mudanças climáticas apresentam-se como uma preocupação a mais para a atividade agrícola. Para os produtores de hortaliças, o cultivo protegido tem sido uma alternativa viável para diminuir os riscos por excesso de chuvas, geadas, estiagem e elevadas temperaturas. Essa tecnologia de cultivo vem aumentando significativamente, principalmente nas regiões sul e sudeste, com destaque para o estado de São Paulo. Nesse sistema o produtor dispõe de tecnologias como controle dos fatores ambientais no interior das estufas, injeção de CO2, uso de iluminação artificial, manejo da nutrição das plantas com base no controle dos fatores ambientais e maior eficiência no controle fitossanitário. A cultura hidropônica vem ajudando também na economia de água, considerando que há uma economia de 70% em relação ao cultivo tradicional. Além da economia da água, esse sistema evita desperdício de fertilizan136


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tes. Bom, entrando no nosso assunto que é o uso da LED na agricultura, consideramos que vários fatores influenciam na qualidade da produção de hortícolas. Dentre esses fatores, podemos citar os fatores ambientais, os fatores culturais e os fatores genéticos. Eu vou começar pelo fator genético. Por que não adianta ter uma tecnologia muito desenvolvida, mas ter um material genético ruim, ou pouco produtivo ou que não atinja o nível de qualidade exigida pelo consumidor. A escolha da variedade a ser plantada é de grande importância no início da nossa atividade. Em segundo lugar vem os fatores ambientais, que são radiação solar, ou seja, a luminosidade. Por exemplo, o tomate. Não há como obter alta produtividade do tomate sem a radiação solar suficiente. A temperatura é outro fator que interfere na fisiologia das plantas. Ela atua na absorção de nutrientes e na manifestação de distúrbios fisiológicos, isso significa diferença na qualidade do produto, como no nível de doçura, na coloração e em outros fatores. O movimento do ar também é importante, para renovar o ar de seu ambiente, e para que tenha o gás carbônico ideal para que possa fazer fotossíntese e produzir qualidade. E há outros fatores que influenciam como a umidade relativa do ar e fatores culturais, como o nível de umidade, onde até o sistema de irrigação acaba influindo, a nutrição mineral e o sistema de condução das plantas. Enfim, há todos esses componentes interagindo para aquele determinado cultivo. Mesmo com toda a tecnologia atual, não podemos isolar a planta desses fatores porque ela é o resultado da soma de todos eles.

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Isso significa que, quando pensamos em adotar uma nova tecnologia, como o uso das lâmpadas LED, eu posso adotar a melhor tecnologia nessa área, mas se os demais fatores não estiverem adequados, jamais posso alcançar a produtividade que aquela tecnologia me permite. Então, é impossível inserir uma nova tecnologia a um produto, sem me preocupar com todos os outros fatores. Agora falando em ambiente protegido, vamos usar a iluminação artificial em ambiente protegido, onde vou conseguir realmente uma produtividade um pouco melhor do que no ambiente natural. No ambiente protegido vou conseguir controlar de forma total ou parcial os fatores ambientais. Eu consigo controlar a radiação solar, consigo controlar a injeção de gás carbônico, e todos os fatores ambientais. Só que quando eu estou trabalhando em ambiente protegido, a estufa vai ser coberta com um material, e aqui no Brasil basicamente nós usamos plástico ou filme de polietileno. Nós ainda não usamos outros tipos de materiais como o vidro, que tem alto valor. Mas qual o problema em empregar o plástico? O plástico, devido a sua composição, ele não permite 100% da passagem da radiação solar, porque o plástico absorve parte dessa radiação. Ele reflete parte dessa radiação e deixa passar o restante, para o bem da estufa. Quanto maior é a transmissão dessa radiação, maior é a qualidade, mas temos que entender

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que 100% dessa radiação não será transmitida. De uma maneira geral, os plásticos permitem uma transmissão entre 90 a 93% da radiação solar que incide sobre ele. O restante, de 5 a 8% vai ser perdido. Bom, onde a lâmpada LED vai entrar nessa questão. Como a radiação solar é fundamental para a planta, nós podemos usar a lâmpada LED para complementar a radiação solar. Em alguns períodos do ano estará deficiente, ou em regiões com menor incidência solar. Na maior parte do território brasileiro há radiação solar abundante. Entretanto, na região Sul, no período de inverno, os índices de radiação não atendem os requeridos pelas frutas e hortaliças. E mesmo nessas regiões de alta radiação solar, dentro da estufa eu vou ter redução dessa radiação à medida que o plástico vai envelhecendo. Nós sabemos que os produtores não trocam o plástico porque tem o custo. A vida útil do plástico varia de 3 a 5 anos dependendo do material, e assim, os fabricantes de plástico recomendam a troca da mesma a cada três anos, ou no máximo quatro anos, mas tem produtores usando o plástico por seis anos, e à medida que ele vai envelhecendo e a poeira vai se depositando no plástico, por mais que o produtor lave esse plástico todos os anos, esse material vai sofrendo desgaste e a radiação solar que vai entrar dentro da estufa vai ser reduzida. Quanto mais velho o plástico, mais vai bloquear essa entrada da radiação solar. E isso dificulta ao produtor alcançar alta produtividade. Por esses motivos, a empresa nos procurou com o objetivo de testar as lâmpadas LED no cultivo de hortaliças, como tomate e pepino. E porque nós iniciamos o estudo com tomate? Todo o mundo sabe que todas essas plan139


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tas dentro da estufa têm o cultivo vertical. Nesse sistema vertical, à medida que a planta vai crescendo, as folhas vão sombreando as outras folhas. Então, esse sombreamento das folhas de baixo reduz a luminosidade naquele local. E, o que fazer para manter a luminosidade mais alta? Podemos usar as lâmpadas LED. (LED = Light Emitting Diodes) Essas lâmpadas LED poderão ser usadas, tanto para complementar aquela parte da planta que recebe menos radiação do sol, porque está sombreada, e também pode ser usada no topo, para o caso como no inverno, em que o número de horas de radiação é mais reduzido. E as plantas, como essas que apresentei, têm alta exigência de luminosidade. Vamos falar, no caso da produção de tomate, em ambiente protegido, que os produtores 20 a 25 kg por metro quadrado. E na Europa eles produzem

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120 kg. Temos um caminho longo a percorrer. E para isso temos que fazer uso de novas tecnologias. O Gustavo vai falar agora do uso das lâmpadas LED nas hortaliças e os resultados que a gente obteve nesse período, e quais são as aplicações do uso do LED. Só para fazer uma abordagem geral, hoje as lâmpadas LED são muito utilizadas na produção de mudas, no cultivo in vitro, para produção de diferentes espécies. Nós podemos usar as lâmpadas LED na produção final das hortaliças, e o que os produtores vêm perguntando bastante é, se eles podem usar as lâmpadas LED na produção de mudas. A produção de mudas é uma fase extremamente importante porque uma muda de má qualidade não vai proporcionar uma planta de alta produtividade. Impossível transplantar uma muda fraca e obter uma planta extremamente vigorosa. Além disso, a lâmpada LED poderá proporcionar uma precocidade na sua produção, ou seja, adiantar a sua produção. E no caso de produção de mudas, você pode reduzir o ciclo. Isso é extremamente importante principalmente no inverno, não só na região Sul, mas de uma maneira geral em todo o Sudeste, que têm problemas no inverno, onde a diminuição da incidência solar acaba esticando o tempo de crescimento da muda. Estamos falando de um cultivo vertical, mas há duas possibilidades: a produção de tomate industrial e a produção para a mesa. Essa última é vertical, mas a produção para a indústria é um cultivo horizontal. No caso do pepino é a mesma coisa. Para a mesa, a produção é vertical e para a indústria é horizontal, havendo também o plantio horizontal para a mesa. No cultivo vertical em ambiente protegido, a vantagem é a qualidade que é melhor e a perda é menor. Além disso, se pensarmos em meio-ambiente, no cultivo protegido o uso de agrotóxicos será bem menor. O Gustavo vai apresentar a pesquisa, mas queria lembrar que essas barras de LED que a empresa forneceu possuem lâmpadas vermelhas e azuis. Essa configuração foi desenvolvida visando essas plantas. O fabricante encontrou a proporção mais apropriada para essas plantas, de 20% de LED azul e 80% de LED vermelha, que é a que dá melhor resultado. O sol proporciona vários tipos espectros de radiação, desde a luz ultravioleta, a radiação conhecida como "dia", que é aquela que conseguimos ver, e a radiação infravermelha de ondas curtas, que promove o aquecimento. O espectro de radiação que chega do sol varia de 220 nm (nanômetro) para até 3.000 nm, enquanto a radiação medida por essa barra. As plantas não conseguem ficar sob radiação o tempo todo. É como todo 141


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ser vivo, elas precisam descansar. Cada planta tem um limite de tempo. Nós fizemos testes com tomate e vimos que ele não tolera mais do que 16 horas por dia. Se você ultrapassar isso, a planta ficará estressada. Ao invés dela produzir, ela vai se defender, usar seus mecanismos de defesa para o excesso de radiação que está recebendo, e isso causa problemas fisiológicos. O limite seria entre 12 e 16 horas de luz para essa espécie. Isso acontece também com o frango. O frango caipira leva mais de 60 dias para crescer, enquanto o frango industrial demora apenas 45 dias. Eu acho que isso causa estresse no animal e produz alterações fisiológicas que não são adequadas. O mesmo ocorre com as plantas. Respondendo a uma pergunta do participante: Embora eu não seja especialista em pragas, sei que algumas pragas respondem bem à falta de radiação ultravioleta. Então, quando a radiação chega do sol, se a gente estiver com o plástico, bloqueia a entrada da radiação ultravioleta e isso expulsa insetos como mosca branca e tripes, que não conseguem se movimentar porque precisam da radiação ultravioleta para viver e se locomover. Então, essa é uma forma de controle da praga através da radiação. Mas específico na radiação na faixa do vermelho e do azul, não temos nenhuma pesquisa científica, porque nos experimentos realizados o local é totalmente coberto e não entram insetos. Não é um lacre de 100%, mas a incidência de insetos é rara e não dá para saber como será num ambiente externo. Esses comprimentos de onda poderiam ser benéficos, mas a radiação ultravioleta, se bloqueada, ajuda bastante no controle de insetos.

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Apresentação do Gustavo Quesada, aluno de doutorado em Fitotecnia da ESALQ, natural da Costa Rica. Uma das técnicas adotadas em cultivo protegido é a suplementação luminosa no interior do dossel das plantas com lâmpadas de LED. Os LEDs que valeram o Prêmio Nobel de Física e que já ocupam lugar de destaque na gravação de mídias digitais e em iluminação estão agora avançando rumo à agricultura. Somos um grupo de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba (SP), e estamos tentando melhorar o rendimento das culturas usando o que chamamos de "suplementação luminosa". Uma das principais vantagens dessa tecnologia é poder complementar a radiação solar em regiões com menor incidência de luz ou poder iluminar partes da planta que recebem menor luz proveniente do sol pelo sombreamento. Os primeiros testes, feitos em hortaliças, mostraram um acréscimo de 15% na produtividade de minitomates da variedade Sweet Grape com o uso de barras de LED para fornecer a iluminação adicional. 143


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Os ganhos são obtidos, sobretudo, pelo aumento da eficiência fotossintética da cultura, devido à distribuição vertical mais homogênea da luz. O primeiro experimento está sendo realizado em ambiente protegido climatizado, composto por sistema de resfriamento evaporativo. O cultivo das plantas leva substrato inerte e a nutrição é feita por meio de solução nutritiva aplicada via sistema de irrigação por gotejamento. Azul e vermelho O estudo conduzido na estufa da ESALQ irá avaliar a eficácia e viabilidade da suplementação luminosa por meio da utilização de barras de LED posicionadas no interior do dossel das plantas de tomate, conduzidas com duas, três e quatro hastes. O primeiro experimento está sendo realizado em ambiente protegido climatizado, composto por sistema de resfriamento evaporativo pad&fan. O cultivo das plantas leva substrato inerte e a nutrição é feita por meio de solução nutritiva aplicada via sistema de irrigação por gotejamento. As barras de LED, fornecidas em parceria com a empresa Philips, são compostas por 20% de LED's azuis e 80% de LED's vermelhos, que emitem 220 µmol (micromol) de fótons por metro quadro e por segundo; têm 2,47 m de comprimento, 0,76 m de altura e 0,48 m de profundidade e durabilidade de 25.000 horas. Numa barra de LED, com 20 lâmpadas, o consumo de energia é de 105 watts por hora. A explicação para essa combinação de cores é que os LEDs vermelhos e azuis emitem comprimentos de onda do espectro luminoso que são empregados no processo fotossintético, processo bioquímico essencial para o crescimento e desenvolvimento das plantas. O uso de barras de LED colocadas na altura das partes da planta que recebem menos radiação pode aumentar a produtividade porque a planta irá realizar mais fotossíntese e produzir energia para a produção de frutos. Essa técnica, conhecida como "inter-lighting", é novidade no Brasil, utilizada até então apenas em países que se encontram em altas latitudes, como é o caso, por exemplo, de grande parte da Europa, Canadá e Japão, com a finalidade de aumentar a incidência da radiação fotossinteticamente ativa nos terços médio e inferior das plantas que são conduzidas na vertical. Outra forma de iluminação, mais comum, é chamada de "top-lighting", onde as lâmpadas ficam na parte superior, como se fosse o Sol. O ideal é que 144


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haja um espaço livre entre as plantas de 40 cm, para as lâmpadas serem colocadas no meio, e o ideal é que tais lâmpadas estejam a 1,50 m do chão. A vantagem das barras de LED é que a manipulação da luz se torna mais completa e com precisão, por exemplo, é possível se controlar a intensidade da luz, a cor da radiação, e também o local a receber a radiação. O aumento na produção de frutos por essa técnica tem sido explicado principalmente pelo aumento da eficiência fotossintética da cultura pela distribuição vertical mais homogênea da luz no dossel. Outra vantagem do emprego de LED's no cultivo protegido é sua baixa temperatura de operação (aproximadamente 25-35ºC), baixa tensão de operação e robustez física. Uma das principais vantagens dessa tecnologia é poder complementar a radiação solar em regiões com menor incidência de luz ou poder iluminar partes da planta que recebem menor luz proveniente do sol pelo sombreamento, como é o caso do tomate. À medida que a planta vai se desenvolvendo, suas partes mais baixas recebem menos luz pelo sombreamento do topo da planta. Portanto, o uso de barras de LED colocadas na altura das partes da planta que recebem menos radiação pode aumentar a produtividade porque a planta irá realizar mais fotossíntese e produzir energia para a produção de frutos. Embora essas lâmpadas não contribuam muito com o calor, o fato de estar numa estufa requererá uma ventilação para dissipar o calor interno. As barras de LED já estão em uso na Europa para o cultivo de tomate, pepino, pimentão e na produção de rosas. Cidades como Tóquio, Nova Iorque e Chicago já consomem plantas cultivadas por hidroponia e iluminadas por LED. Conclusão A suplementação entre o dossel aumenta a eficiência fotossintética da planta e a produtividade. Ainda há dúvidas sobre qual época é melhor para se aplicar o LED, e quanto tempo pode durar a exposição luminosa, o horário para desligar o LED, etc., pois os experimentos estão sendo realizados atualmente.

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USO DA MORINGA OLEIFERA NO TRATAMENTO DA ÁGUA Prof. Hiroshi Nozawa, engenheiro de pesca e consultor da JICA Sou Hiroshi Nozawa, moro na cidade de Mogi das Cruzes. Em 1961, formei-me na Universidade de Kagoshima, na Faculdade de Pesca, onde me especializei em piscicultura e em produtos marinhos. Daqui a apenas 2 dias, estarei completando 54 anos residindo no Brasil. Há 50 anos, o Japão passava por uma recessão e eu estava apaixonado pela civilização material, e achava que em algum local distante haveria oportunidade para me enriquecer, além de me libertar da tradicional sociedade japonesa. O objetivo era a fuga da sociedade, e assim, escolhi o local mais distante do planeta, que era o Brasil, como o meu novo mundo. Todo o dinheiro que eu e minha esposa tínhamos era 80 dólares para ser usado durante a viagem e na chegada ao Brasil. Carregava também 5 garrafas com esporos de cogumelo, que poderia servir para alguma coisa. Durante a viagem havia mais de 10 paradas em portos, e consegui juntar alguns trocados trabalhando como guia em inglês para imigrantes ricos. Atravessando o Oceano Índico e o Pacífico, chegamos a Santos depois de 60 dias de viagem. Na época, a cultura do cogumelo estava engatinhando no Brasil, e então, aqueles esporos de cogumelo foram muito úteis, e o conhecimento técnico adquirido no Japão foi muito útil para os cultivadores do Brasil. Depois, tive a sorte de deparar com um produto especial para o mercado mundial de alimentos saudáveis, que é o cogumelo do sol, Agaricus, que é reconhecido pelas suas propriedades anti-cancerígenas. Junto com o des147


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cobridor do Agaricus, sr. Furumoto, fomos os pioneiros no cultivo artificial e na difusão desse tipo de cogumelo. Assim, em parte como empreendedor independente, e em outras ocasiões como funcionário de entidades japonesas como JAIDO e JICA, pude me dedicar a vários trabalhos diferentes. Como produção de própolis, de stévia, como administrador de uma fazenda de gado de corte de 6 mil hectares, criação de tilápia e outros peixes tropicais. Fui dirigente de uma associação de empresas japonesa e brasileira na produção de atum. Além disso, fui funcionário de uma empresa fabricante de porcelana, representante de empresa japonesa em Hong Kong, atuei na criação de avestruz, jacaré, capivara e outros animais de pequeno porte. Trabalhei na pesquisa para cultivo de moringa, sachainch, chia, quinoa e cacto para produção de remédios naturais e óleos, no México, Nicarágua, Colômbia, Bolívia, Brasil, Paraguai e Peru. Atualmente, doenças relacionadas ao estilo de vida afetam 400 milhões de pessoas em todo o mundo e o cultivo de plantas para medicamentos naturais tem crescido bastante, com novas descobertas e trazendo bons resultados financeiros para os pequenos produtores, por serem produtos mais rentáveis. Tenho trabalhado bastante para divulgar e incentivar o cultivo dessas plantas. Dizem que existem 100 mil variedades de plantas reconhecidas no nosso planeta, mas são poucas as que podem contribuir para a melhoria da saúde humana. Dentre elas, eu acredito sinceramente que a Moringa é a variedade que mais qualidades possui para esse objetivo e faço da difusão do cultivo da Moringa, também conhecida como Erva de Árvore Santo, o meu último trabalho da minha longa missão nessa vida. Assim, fico feliz por ter essa oportunidade de estar aqui com vocês, ministrando essa palestra. Infelizmente, não tenho facilidade para idiomas estrangeiros, e o meu português não está à altura do que vocês merecem ouvir. Eu me admiro como eu consegui viver mais de 50 anos no Brasil sem aprender o português. Mas, por sorte, conto com o meu amigo Francisco Noriyuki Sato, que aceitou traduzir minha palestra. Ele também cuidou da montagem dos slides que pretendo apresentar e essa palestra não seria possível sem o empenho dele. Se estamos aqui hoje foi por causa da ajuda dele e gostaria de agradecê-lo nesta oportunidade.

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Vou apresentar agora a programação do minicurso de hoje: 1 - Pausa para o chá de Moringa e distribuição de sementes (10 min) 2 - Demonstração da purificação da água pela semente de Moringa (20 min). O resultado deverá aparecer depois de 2 horas. 3 - Particularidades da planta Moringa, métodos de plantio e experiências, em forma de slides. (90 min). Depois de assistirem a minha apresentação, verem a purificação da água na prática, e aprenderem sobre o seu cultivo e aproveitamento da planta, ficarei muito feliz se levarem para casa as sementes e plantarem a Moringa no quintal de sua casa, para cultivarem e apreciarem o sabor e as propriedades dessa planta muito especial. 4 - Verificação dos resultados da experiência da purificação da água (10 min) 5 - Peço que as perguntas sejam feitas no meio da apresentação de cada slide, para facilitar a compreensão. As sementes de moringa foram colocadas em duas garrafas contendo água. Uma delas continha a poluída água do Rio Piracicaba, enquanto a outra continha a água do lago defronte a faculdade, também poluída por lá viverem muitas aves de pequeno, médio e grande porte. Enquanto se processava a filtragem, foram iniciadas as explicações sobre a Moringa Oleifera. Visão geral da Moringa Os dados científicos desta palestra estão baseados nas pesquisas da Dra. Monica G. Marcu, da Universidade de Otawa, doutora em farmácia, que publicou o livro "Miracle Tree" em 2005; e em dados confirmados pelo Instituto de Análises Nutricionais da ANRESCO, dos Estados Unidos. Antigamente, Moringa era o nome do pote de água de cerâmica, que ficava em um local fresco, onde se armazenava a água filtrada e desinfetada. A Moringa vegetal também faz um trabalho semelhante e acredita-se que a origem do termo se deva a esse fato. A moringa é uma planta de crescimento extraordinário. Oito meses após o plantio, a Moringa já está medindo 5,5 metros de altura. As folhas podem 149


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ser colhidas para fazer chá medicinal. Elas possuem 539 componentes químicos, sendo 90 relativos à nutrição, 46 anti-oxidantes, e 36 anti-inflamatórios. Dentre as plantas conhecidas, é a que fornece a maior quantidade de elementos necessários à vida e à saúde do ser humano. A flor possui ingredientes que dizem que foram utilizados pela Cleópatra para fazer seus perfumes. No momento do florescimento, as flores são branco-azuladas, mas vão ficando na cor creme e depois amarelo, adquirindo um tom bonito e fascinante. O tempo para a frutificação varia de acordo com as condições cli150


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máticas, mas em geral, ocorre em até um mês após a floração e surgem vagens de 40 a 60 cm de comprimento. A vagem nova tem um sabor que se assemelha à vagem comum, carrega muitos nutrientes e pode ser consumido na alimentação. Abrindo a vagem da Moringa, os

compartimentos das sementes estão divididas em três partes. Quando ocorre a deiscência - separação espontânea dessas partes, como consequência da maturação, as sementes, que são em número de 20 a 25, são espalhadas voando através de suas 3 asas. As sementes: cada 100 sementes pesam de 35 a 40 gramas. Pode ser aproveitado como ingrediente alimentar, utilizado na fabricação de medicamentos e também na produção de biocombustível. O bagaço da semente pode ser triturado e usado na purificação da água. A raiz. Apesar do rápido crescimento da caule e das folhas, a raiz é proporcionalmente pequena. Isso causa-lhe uma fragilidade e pode cair, não su151


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portando a pressão do vento e do seu próprio peso. Essa raiz absorve água do subsolo e a armazena, podendo resistir a vários meses de seca. A raiz exala um forte aroma de "wasabi", raiz forte, e é utilizada como ingrediente do "curry", iguaria indiana muito apreciada no Japão. Explicação Geral sobre o cultivo e crescimento da Moringa Utilizando potes plásticos Colocar a semente em potes plásticos. Tudo depende das condições climáticas, mas no verão, a muda poderá germinar em 7 dias após semeada. Se a semente for plantada dentro de poucos meses após a colheita, a taxa de germinação é de 90%. Depois de um mês, a muda deverá ter aproximadamente 40 cm de comprimento e estará pronta para ser replantada. Espalhando as sementes no canteiro - As sementes foram espalhadas diretamente no canteiro. Aqui, em cada 1 metro quadrado foram colocadas 100 sementes. Quando as mudas crescerem, basta arrancar as melhores e replantar. A vantagem desse sistema é que não precisará dos potes plásticos e ocupará muito pouco espaço, mas demorará mais para as mudas crescerem. Plantio direto - Aqui, o plantio da semente é feito diretamente no local onde ela ficará para sempre. Em primeiro lugar, faz-se uma lombada e coloca o esterco. Coloca-se um pouco de terra sobre o esterco e coloca-se a semente no local. A distância entre as árvores será de 3 a 4 metros. Esse método é o que dá menos trabalho, mas demora mais para a muda crescer. Estima-se que demore 2 a 3 semanas para germinar. Nesse caso, evita-se o 152


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processo de fazer a muda e replantar. Plantio dos galhos - Depois da poda, os galhos podados são fincados no chão e com isso se obtém mudas. É preciso aguardar mais de 3 semanas para pegar. Uma história de crescimento extraordinário Setembro de 2010 - 9 meses após o plantio, tem 7 metros de altura. A grossura do tron-

co é de 8 cm. Janeiro de 2012 - 2 anos e meio após o plantio, mede 12 metros de altura. A grossura do tronco é de 12 cm. Abril de 2013 - 3 anos e 3 meses. O ramo secundário que nasceu atingiu mais de 10 metros de altura.

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Abril de 2013 - Tanto o tronco como o ramo secundário têm quase a mesma grossura, medindo 16 cm de grossura. Como cresce muito rápido, a madei-

ra é mole e, portanto não serve como material de construção. O pé de moringa acabou danificando o cano de água e por isso foi cortado. A raiz mede 50 x 60 cm. 154


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O plantio de mudas de moringa Com uma escavadeira manual, cava-se um buraco de 30 x 30 cm. Abre-se o pote de plástico para retirar a muda. Faz-se o plantio e cobre de terra. Distribuição das mudas: Colocando o composto orgânico para as mudas a serem plantadas. Esse composto é formado por folhas de moringa, capim gordura, capim braquiária e palha de arroz e são fermentadas até atingir a

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fermentação completa. Quando o composto baixar a temperatura até a temperatura ambiente, espalhar dentro da lombada. Depois, colocar terra e transferir a muda. A Moringa como escora viva. Na Amazônia, o pé de moringa é plantado junto com a pimenta do reino. A muda da pimenta é plantada um mês depois da moringa. A moringa vai proteger a pimenta do sol e permite que o pé

de pimenta se agarre a ela como suporte. Como a moringa cresce muito rápido, será necessário podar várias vezes, mas o galho podado poderá ser preparado como mais uma muda. Colheita e secagem das folhas de moringa para fazer chá Em Tomé Açu, Pará. A moringa está servindo para escorar a pimenda-do-reino, e aqui os galhos estão sendo podados. As folhas serão reti156


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radas dos galhos podados. Numa pequena produção, as folhas são lavadas com água. As folhas ainda continuam nos pequenos galhos, e são deixadas para secar na sombra. É melhor forrar as prateleiras de secagem com grelhas feitas de bambu ou madeira, para deixar passar o ar, do que forrar com plástico. Depois de retirar as folhas, os galhinhos serão cozidos para extrair um caldo que será utilizado como fertilizante líquido para pulverização das folhas. Na sala de secagem das folhas no Paraguai: Tem ventilador para forçar a circulação do ar. Dentro da sala, o fundo dessas prateleiras é feito com redes de plástico para passar ar. A umidade interna da sala de secagem do chá é de aproximadamente 10%.

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A folha de chá colhida nos arredores de São Paulo à esquerda, é mais clara. A folha colhida na Amazônia à direita é mais escura. Fatores como a duração do sol e a temperatura influ-

em na qualidade da clorofila. Através da colheita e venda das folhas de moringa, as famílias podem ter um rendimento melhor e, como conseqüência, uma vida social melhor. Na foto abaixo, famílias indígenas da região de Chaco, no Paraguai. A folha de

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moringa pode ser consumida in natura como suplemento alimentar. Pode ser apreciada com água quente para fazer o chá de infusão. Também poderá ser moída e transformada em pó. Mas trata-se de uma erva medicinal, e não se pode esperar um resultado imediato, como se fosse um remédio sintético. E o resultado, como em qualquer outro medicamento, varia muito de acordo com as condições de

saúde e o organismo de cada pessoa. Alguns anos atrás, comerciantes desonestos promoveram uma grande campanha para vender moringa no Paraguai, o que causou uma explosão no consumo do produto. Entretanto, o produto não apresentou um resultado tão rápido como dava a entender e como acontece com medicamentos sintéticos, e em apenas um ano, o valor do produto despencou a apenas um décimo do que valia no seu auge. Assim, não se pode divulgar visando apenas o enriquecimento imediato. Na próxima foto, a semente de moringa foi espalhada no terreno. E dentro de apenas 45 dias após a germinação, pode ser utilizado como adubo verde. Numa cultura hidropônica, o caldo da folha de moringa pode ser utilizado como fertilizante líquido natural, diminuindo-se a dependência por fertilizantes químicos.

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Através de um processo químico conhecido como polieletrólito, a semente trabalhará para a purificação e eliminação de bactérias da água poluída, como no teste que estamos realizando aqui. Materiais simples são utiliza-

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dos para teste de filtragem da água suja. Outras utilizações da moringa:

Na Culinária: salada e suco

Na Ração Animal e como ingrediente para Cosméticos

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Outros Assuntos 1 - Como no inverno a temperatura é mais baixa no Sul do Estado de São Paulo, a moringa é podada para ter mais resistência ao frio. 2 - Em Tomé Açu, no Pará, há o plantio da moringa oleífera para suporte vivo e sombra para o pé de pimenta-do-reino, além de servir como remédio natural, fertilizante natural e fonte de alimento na agricultura, pecuária e pesca. Há inúmeras utilizações dessa planta que ainda estão sendo descobertas. 3 - O teste com as duas garrafas de água suja alcançou pleno sucesso. Depois de duas horas, ambas já se apresentavam transparentes. O palestrante explicou que em alguns casos, dependendo da composição química da água poluída, pode demorar mais tempo. 4 - Embora as pesquisas sobre a moringa ainda estejam no começo, porque experimentos para confirmar propriedades medicinais de qualquer elemento demora muitos e muitos anos, é certo que o aproveitamento dessa planta chama a atenção de muitos países, principalmente de clima tropical e sub-tropical. Atualmente, países como Nicarágua cultivam a moringa em larga escala.

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USO DE SENSORIAMENTO EM ESTUDOS AMBIENTAIS Prof.Dr. Silvio Frosini de Barros Ferraz, Departamento de Engenharia Florestal da ESALQ/USP Vou usar 40 minutos do nosso tempo para explicar a parte teórica, e depois, teremos mais 20 minutos para fazer uma experiência em campo. Vamos comparar a umidade do solo numa área com grama e mais compactada, com o solo que está protegido debaixo de uma árvore num bosque, por exemplo, para ter uma ideia da diferença. Nós fazemos teste de infiltração, para verificar como aquela determinada área da floresta permite mais infiltração do que em outra área. Isso vai facilitar a compreensão desse assunto, que é melhor do que ficar falando três horas seguidas. O tema que eu organizei é sobre o papel da floresta na infiltração da água. Ou seja, o que acontece com a água, geralmente fornecida pela chuva, no solo de uma floresta. A chuva é a principal fonte para as bacias hidrográficas. Quando falta água no Estado de São Paulo, nós culpamos quem? O São Pedro, São Pedro controla a chuva segundo ditados populares. Falta água e o culpado é o santo. Mas não temos como pressionar um santo para fornecer mais água para um lugar. Podemos ter mais fé, rezar mais... A floresta desempenha papel importante na infiltração da água no solo. Quando há precipitação de chuva, há duas possibilidades: a água infiltra ou é escoada. Sei que há um meio de jogar sal nas nuvens voando de avião, mas isso, além de ser muito caro, vai contra a vontade de São Pedro, e não sou adepto dessa tecnologia. A chuva cai no solo e vamos ter vários caminhos que essa água vai percor167


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rer até desaparecer. A primeira coisa que a floresta vai fazer pode ser a interceptação da água. O que é interceptação da água? Todo o mundo já correu debaixo da árvore quando chove? Isso não é recomendado por causa dos raios, mas supondo que procure abrigo debaixo da árvore, ele realmente protege da chuva? Sim, um pouco. As folhas vão se molhando e chega a um ponto em que param de segurar a água. Não é como um guarda-chuva, as folhas não conseguem proteger por muito tempo. A chuva precipitada é interceptada pelas folhas das árvores, uma parte evapora e as folhas também utilizam a água, e o restante chega ao solo. No solo também acontece a evaporação de uma parte, outra parte é levada pelo escoamento superficial e o restante infiltra-se no solo. Qual é melhor: infiltrar ou escoar? A água infiltrada, como o próprio nome diz, passar por um filtro e irá fazer um percurso mais longo, o que é benéfico para nós, para chegar ao lençol freático, onde ocorre o escoamento sub-superficial, que irá resultar numa mina de água pura. Se a água escoar na superfície, ela vai levar tudo o que estiver a caminho, uma parte do solo, se tiver nutrientes no solo ela leva também. Mas qual o processo mais rápido? Infiltrar ou escoar. Escoar é muito mais rápido. Quando a água infiltra, temos a impressão de que perdemos a água, mas na verdade é um investimento. Vamos falar um pouco sobre infiltração. Se a gente conseguisse fazer com que toda água infiltrasse, não teríamos problema com a água. Os rios teriam água sempre e num volume igual. O que acontece no Rio Piracicaba? Choveu, enche. Acabou a chuva, a água diminui. E porque isso ocorre? É que estamos praticamente escoando a água. O rio enche com a chuva e logo depois está baixo, porque a água não está quase sendo aproveitada pelo 168


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solo. Na área urbana, claro, a água escoa porque há asfalto e cimento impedindo a infiltração, mas o fenômeno ocorre fora da área das cidades, na bacia inteira, chegando a cidades como Atibaia em São Paulo e Monte Verde em Minas Gerais. O que precisamos fazer para simplesmente não desperdiçar a água. A chuva depende de São Pedro, por isso, não dá para controlar, já a infiltração depende de nós. É importante sabermos como a floresta pode ajudar nesse processo. Em primeiro lugar, vejamos a composição do solo. O solo tem ar, água, minerais e matéria orgânica, como bactérias, fungos, raízes e insetos. 50% do solo é água e ar. Essa composição é extremamente importante para que haja infiltração. 25% do solo não é solo, é espaço preenchido por ar e 25% preenchido por água. Mais 46% de minerais e apenas 4% de material orgânico. O manejo inadequado do solo faz com que esse espaço da água e do ar diminua, compactando, portanto o solo e assim dificultando a infiltração. Aqui, o importante é entender como a água vai se acomodando no solo. Todos já devem ter brincado na areia da praia. Quanto mais a gente cava, a 169


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areia vai ficando mais úmida e chega a parte que tem água no fundo. O poço é a mesma coisa. Vai cavando e a terra vai ficando mais úmida até chegar o ponto onde a gente encontra água. Esse ponto é chamado de zona freática ou saturada. Ou seja, naquele ponto, o espaço vazio foi preenchido com água. Então, o que faz com que tenha mais água no fundo? A gravidade. A força da gravidade faz com que a água infiltre e chegue até a camada mais profunda. Agora, o que faz com que ela fique nesse nível e não desça mais? É a presença da rocha. Ali não tem mais como infiltrar, e começa a correr debaixo do solo. Na superfície do solo, a infiltração ocorre porque a terra não está compactada e tem espaços vazios para a água entrar, ou seja, essa terra não está saturada. Assim, a água vai descendo e liberando espaço para a entrada de mais água. O que acontece quando a água desce. Ela encontra a rocha, que pode ser permeável ou não, mas de qualquer forma, a água encontra sulcos para passar, o que chamamos de lençol freático, que vai aflorar no riacho. Pode171


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mos chamar de nascente do riacho, mas todo rio tem um monte de nascentes, e cada nascente despeja um pouco de água e o rio vai aumentando ao longo de seu percurso. Aqui temos três fotos que mostram diferentes tipos de solo. Só pelo visual, dá para saber que a infiltração de água será diferente para cada um desses

tipos de solo? Se fosse pegar na mão, esse primeiro esfarelaria na minha mão. Tem rocha no meio, areia, um monte de coisa. A do meio tem menos espaço vazio para encher. O solo é formado por partículas de areia, argila e silte. Quando o solo tem mais areia, vocês acham que tem mais espaço ou menos espaço? Como as partículas de areia são maiores do que as de argila, os espaços são maiores. No solo que tem areia a água infiltra mais. É por isso que na praia, quando jogamos água, ela some rapidamente. Enquanto que se jogarmos água na argila, ela demora mais para infiltrar. O importante é entender 172


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que, se temos mais espaço, teremos mais infiltração, e se tivermos menos espaço, menor será a infiltração. Dependendo do manejo, o solo pode ter mais ou menos espaço. Se passarmos com o rolo compressor sobre a terra, compactamos o solo e assim teremos menos espaço. Ao passo que se arearmos o solo com algum mecanismo, teremos mais espaço. Mesmo assim, há um limite para o espaço, dependendo das características próprias do solo. Se o solo é argiloso, poderá ficar mais arejado, mas não muito.

Se desejamos melhorar o solo, temos que preservar a característica natural do solo. Se ficou degradado, temos que devolver aquela característica para voltar o que era. Há produtores que se preocupam em preservar o solo e até exageram, o que não é bom, mas há também aqueles que não ligam para o solo e só se preocupam com a produção daquela safra. Isso é ruim. Vai chegar o ponto em que a água não entra mais no solo, e as plantas vão secando, mesmo com chuva.

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Há meios de calcular o volume de espaço, o que chamamos de porosidade. O tamanho e a configuração dos poros é variável e influencia a infiltração. Poros maiores são gravitacionais, ou seja, a água penetra por força da gravidade, e os poros menores são capilares. A areia, apesar de permitir a passagem da água, ela não armazena água. O que segura a água é a argila, por isso, é necessário que haja um equilíbrio entre os materiais minerais para permitir boa penetração da água. Há meios de medir isso e podemos levar uma mostra do solo para um laboratório e fazer a análise de sua composição. Começamos falando do solo para explicar como a floresta pode ajudar na sua preservação. Com a atual crise hídrica, todos os jornais estão falando desse assunto e afirmando que se tivermos muito mais florestas não teremos mais crise hídrica. A floresta aumenta a evaporação ou transpiração. Se transformarmos em floresta toda área de São Paulo, não teremos mais água, porque ela consome também. A cobertura florestal reduz o nível de água no solo, aumenta a 174


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capacidade de infiltração, regula a taxa de infiltração e escoamento, ou seja, distribui melhor um volume grande de água, como num temporal, e também atua na evapotranspiração. A área que fica bem debaixo de uma árvore é chamada de Serrapilheira. Trata-se da camada formada pela deposição e acúmulo de matéria orgânica em diferentes estágios de decomposição que reveste superficialmente o solo ou o sedimento aquático. É a principal via de retorno de nutrientes ao solo ou sedimento. Há também galhos, insetos e pequenas plantas que crescem no entorno. No começo, a infiltração é mais rápido por ter mais espaço livre. Depois, vai diminuindo até se estabilizar. A raiz tem uma função mecânica. Ela vai abrindo caminho à medida que vai crescendo, por outro lado, quando uma árvore morre, a raiz fica lá se decompondo, e é mais matéria orgânica para o solo, além de mais espaço. Significa também organismos no solo. E quando pensamos em organismos 176


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vivos, pensamos logo na minhoca. Minhoca é boa porque vai passando e aerando o solo. Podemos pensar em animais maiores. Se nós tivermos uma fauna, o solo vai se desenvolvendo com isso, com os dejetos que os animais produzem. A floresta em si não é uma esponja, mas retém a água e vai soltando aos poucos, e isso é muito bom. Esponja é o solo, se estiver aerado. A raiz não leva a água ao solo, ela tira a água para seu sustento. Mas, de qualquer forma, ainda assim, para as plantas é muito melhor ter uma floresta do que área cimentada ou solo compactado, que não permite a infiltração. Quem lava louça sabe onde segurar a esponja. A parte verde ou amarela. Seguramos a parte amarela, que é a que retém a água, como o solo, só que precisa estar aerado para permitir a infiltração. A infiltração é o movimento da água da superfície para o interior do solo, depois, ocorre a percolação, que é o movimento da água no perfil interno, e 177


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os dois processos são interligados. O processo resulta no preenchimento de espaços vazios e o posterior deslocamento para camadas mais profundas. A infiltração diminui com o aumento da umidade, e há a redução da infiltração gravitacional pelas forças capilares. Na floresta, a água infiltra no solo e vai abastecer o lençol freático, que depois poderá abastecer a nascente do rio. Esse processo é demorado, porque é um processo de filtragem. Em áreas com erosão ou alguma alteração no solo, esse processo é mais rápido, mas a água suja será despejada com pouca ou nenhuma filtragem. Podemos comparar com o trânsito. Se estamos numa rodovia como a Bandeirantes, podemos estar a 100 km/h, mas ao entrar na cidade de São Paulo, temos que diminuir a velocidade para 50 km/h. Isso, se o trânsito já não estiver parado, mas mesmo que esteja fluindo a 50 km/h, no começo circulará mais rápido, e à medida que a quantidade de veículos for aumentando, a velocidade diminuirá. O mesmo ocorre com a água. No começo entrará rápido no solo, mas à medida que a chuva continuar, a velocidade irá diminuir, pois os espaços livres já estarão ocupados. Assim, o excedente terá que escoar para um local mais baixo.

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Em resumo, o escoamento superficial, ou hortoniano, ocorre quando a intensidade da chuva é maior do que a capacidade de infiltração do solo. Trata-se do movimento da água de deslocamento por gravidade na superfície do solo. Respondendo a perguntas do público: 1 - O cerrado é importante para o Brasil, não só pela sua localização central, mas porque o cerrado tem solo arenoso e permite a infiltração da água, que depois reaparece como nascentes de diversos rios da região. 2 - No caso da Serra do Mar, como aquelas montanhas são formadas por rochas encobertas por camada de terra em que crescem árvores, quando chove bastante ocorre o deslizamento de terra. A água, após atingir a rocha, por não encontrar caminho para se movimentar, acaba descendo para o local mais baixo, levando junto a cobertura de terra e a vegetação. Esse solo da Serra do Mar é uma camada fina e não consegue armazenar muita água, fato que a água acaba atingindo a rocha rapidamente. Isso causa o deslizamento, que é um fato natural da terra, não é motivado pela ação humana. Mas, se o local for ocupado, por exemplo, por casas, a situação ficará ainda mais frágil, pois haverá menos espaço para a infiltração da água. 3 - Num cemitério aberto, a degradação dos corpos contribui para que a água seja contaminada. Essa água, ao escoar para o riacho, estará carregando junto os materiais em degradação, daí a dificuldade em encontrar-se locais para construir novos cemitérios. Em seguida, o Prof. Dr. Silvio Frosini de Barros Ferraz, juntamente com seus assistentes, conduziu o grupo para a parte externa do edifício, para demonstrar o uso de sensoriamento na prática. A capacidade de infiltração de um solo pode ser medida pelo uso de aparelhos denominados infiltrômetros, que utilizam a aplicação de água por inundação (mantém sempre um aporte de água à superfície). Trata-se de um equipamento simples e tubular, que é operado manualmente. Ao encostar esse infiltrômetro verticalmente no solo, abastecer o tubo com água até atingir a linha determinada. A água irá baixando de nível à medida que for infiltrando no solo. Esse tempo é medido e anotado. Esse procedimento é repetido em diversos locais dentro do mesmo terreno. Nota-se, com o experimento, que a infiltração da água é muito rápida no ponto embaixo de uma árvore, onde o solo não está compactado. Ao contrário, o ponto no 180


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local de passagem das pessoas, mais solidificado, demonstrou dificuldade na absorção da água. Para avaliar um grande terreno, será necessário repetir o teste em vários pontos, para se obter uma média confiável quanto à capacidade de absorção atual do solo. Além disso, é levada em conta a quantidade de chuva naquele período, bem como a temperatura e a umidade do ar. Esse resultado poderá nortear futuras ações do agricultor para aquela localidade e até para a escolha da variedade a ser plantada. O professor explica que, como essa característica do solo altera constantemente, pela utilização da propriedade na produção agrícola, pela ação da chuva ou pelo tempo em que não é utilizado, é necessário repetir a medição depois de algum tempo.

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Patrocínio

Rodovia Régis Bittencourt, Km 280 Embu/SP Brasil | +55 11 2139-2600 www.sansuy.com.br

Rodovia Hermínio Petrin (SP 308), KM 175 - Costa Pinto Piracicaba SP - CEP 13411-900 Telefone: (19) 3403-2000 http://www.raizen.com/

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INSTALAÇÃO DE TANQUES PARA PISCICULTURA E HIDROPONIA Marcelo Carrão Castagnolli, engenheiro agrônomo e gerente comercial aquanegócio da Sansuy S/A Indústria de Plásticos Eu acabei decidindo fazer a UNESP em Jaboticabal, onde existia mais de um professor na área de piscicultura, além de produção de camarão, entre outras coisas que já estavam acontecendo lá naquele local. Sou filho de esalquiano, os irmãos da minha mãe também são esalquianos, na família tem uma pancada de agrônomos e cada um seguiu uma área. A empresa Sansuy nasceu em 1966, tem tradição, são 48 anos aí de existência, capacidade de produção na casa de 38.000 toneladas de PVC transformada por ano, qualidade de inovação sempre com parcerias, já teve parceria com a ESALQ USP, para atender a necessidade do meio rural, que é a área que eu trabalho dentro da Sansuy. Dentro, nós temos como centro tecnológico, e engenharia de produto, e estão desenvolvendo melhores soluções para trazer um produto sempre comprometido com a preservação do meio-ambiente e conforme todas as leis nacionais. (exibição de um vídeo sobre a Sansuy) Vamos ver se eu consigo passar alguma coisa para vocês saírem pelo menos com a ideia de como é que é trabalhar com conservação de água, que é realmente abraçar a matemática, usá-la para química, além desses outros parâmetros biológicos, essa outra modelagem para a gente sair produzindo peixe sem gastar água, fazendo um uso mútuo também dessa água. Nós estamos em um instante bastante complicado. Estava lendo na semana passada que o ser humano tem que colocar na cabeça que água barata não existe mais. A partir de agora, a gente já está sentindo isso, a água tem custo, custo porque ela tem que ser limpa depois de usada, seja qual 183


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for o uso. Dentro desse contexto de escassez de água, não é que não tem mais água, a água está escassa, se a gente usar melhor, passa a ter água para todo o mundo. Com o crescimento populacional, basicamente esse já foi o grande salto que aconteceu dentro do planeta Terra, tem muito mais gente para dividir a água que existe dentro do planeta, só isso já fez, entre aspas, a água desaparecer. Aliado a tudo isso a gente tem uma série de alterações no clima, reposicionamento de estações do ano, está um negócio meio esquisito. Tão esquisito que este ano, se a gente for olhar como foi a reprodução do peixe, que é um bicho ainda muito ligado a todos os fatores ambientais, para saber se é hora ou não de reproduzir, muitas espécies de peixe falharam na estação de desova, quando era para ter peixe com as gônadas maduras, prontas para serem trabalhadas. Nós tivemos um problema porque eles não estavam no ponto para receber as doses de hormônio e botar para fora. E com essa história do crescimento da população, que a gente tem que ficar antenado, a água está escassa, mas todo mundo tem que comer, precisa de água para beber. (exibição de vídeo) Como é que está agora? Está faltando água e está faltando terra, que as empresas lá de fora estão de olho aqui dentro do país para trazer tecnologia para aumentar a produtividade dentro dos cultivos protegidos. A Europa praticamente não tem para onde expandir. China, se vocês olharem lá no mapa, tem uma área protegida de quase 3,5 milhões de hectares de área e o Brasil ainda tem como expandir, mas está faltando água. P: E você vê que eles estão indo para a África. É, lá tem pepino também. P: É, eles estão expandindo... Sim. Eles (as empresas) compraram metade da África ou mais. O problema é que 40% do solo da África é degradado, e isso não vai custar barato para botar em condição de produzir. Só que se você olha para o seu país e vê que a maior parte dele é montanha, cai neve e tenta tratar, não tem como. E precisa de alimento para levar para dentro da China, eles vão buscar terra, mesmo que para nós seja um absurdo, entre aspas. Estamos acostumados a pegar no mole, uma terra bonitinha, toda fácil de lidar, mas eles vão encarar pegar o solo degradado, recuperar esse solo, botar ele em condição de produzir. Então é isso que nós vamos ter que fazer também, arrega184


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çar a manga a partir de agora e esquecer tudo o que a gente achava que sabia e começar a reaprender a viver. Não quero estimular ninguém a desistir não. Então vamos. Eu comecei a trabalhar com rocha, fiz estágio durante 2 anos em geologia, para daí entender o que é que vem do magma do vulcão, ou da deposição - o que aconteceu naquela região - que pode ser diluído pela água e de repente estar presente na água a qual eu vou pegar no rio. Água que eu vou buscar em uma mina, em um poço artesiano que eu vou furar. Então, para ter mais ou menos uma noção da água na região deste país, eu preciso entender de geologia, mineralogia e como é o solo lá se formou. A partir disso eu consigo ter na cabeça quais vão ser os minerais, o que é que está presente naquela água, se aquela água é possivelmente fácil de ser lidada, ou se eu vou ter que gastar, colocar algum dinheiro para ver alguma condição para daí trabalhar com ela. Vocês estão cansados de ver que no Nordeste, se você cava um poço profundo, tem muita água lá embaixo. E você precisa dessalinizar essa água, não foi de graça que o sal está lá embaixo, então na formação de todo esse solo a gente teve um por que disso estar lá. E pensar aqui no solo. 2015 é o ano internacional do solo, e o que a gente precisa saber é que ele é um recurso não renovável, nós temos que trabalhar com ele pensando nas gerações futuras, porque é a base para a produção de alimento, é a base para produzirmos os animais, o alimento para produzirmos os animais que geram proteína animal que nós precisamos, medicamentos, todos os princípios ativos são tirados, a maior parte deles de plantas que precisam da terra para sobreviver. A função do ecossistema como um todo para tratar esses resíduos para ajudar a recuperar e manter essa qualidade de vida, e fazer geração de combustível. Vamos proteger então o solo, que é o começo de tudo. O grande problema que nós temos com a expansão das cidades, tem gerado a perda da cobertura vegetal. O uso insustentável e práticas de manejo do solo inadequadas que ainda estão sendo utilizadas, poluição que nós mesmos geramos, porque não sabemos lidar com nosso lixo, pastoreio excessivo e as alterações climáticas. Tudo isso levando em conta que nós temos o privilégio do planeta, boa parte de tudo isso foi criada por nós mesmos, então nada mais correto que a natureza esteja cobrando a conta, e quem vive agora neste instante, veio para a Terra neste instante, está aí para pagar essa conta, para resgatar isso daí. Quem sabe não fomos nós mesmos que, lá no passado, fizemos umas barbaridades, e agora viemos para 185


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botar isso no trilho de novo. Talvez seja esse tema, das tecnologias de manejo sustentáveis, seja o nosso foco central. Manter um sistema capaz de produzir alimento e sobrevivência dentro de um ambiente saudável para todos os seres humanos que estão aqui neste planeta, e animais também. Então como é que nós estamos: 33% do solo do planeta está de moderado a altamente degradado, em função de erosão, salinização, compactação, acidificação, poluição química, sem nutrientes, esgotados, porque já foi tirado de lá tudo o que tinha para tirar, e o que nós temos que fazer então? Recompor isso daí, porque isso está afetando a produção de alimento. Como é que a gente dessaliniza o solo? Nós temos alguns casos aqui no Brasil de salinização do solo por causa do homem. Pode ser uma, mas outra que é mais rápida e é mais drástica e que tem alterado bastante, nós temos alguns problemas com irrigação, o mal uso das técnicas de irrigação. Vamos enxergar então isso, esquece então o termo "irrigação", nós estamos trabalhando com o "molhamento de solo", se é que existe essa palavra horrorosa, nós estamos molhando o solo, e do "molhar o solo" a gente encharcou o solo, que começou a puxar lá de baixo o que tinha, foi capilaridade dela e começou a evaporar aqui em cima. Os espaços que tem no solo são tão pequenos que formam capilares. Se a água está saindo aqui em cima é porque está evaporando e o sol bateu e está puxando essa umidade por conta desse calor todo. Ela começa a trazer lá de baixo para as camadas superficiais o sal que foi armazenado na planta, então nós mesmos causamos também a salinização. 83% da população que vive abaixo do deserto do Sahara depende dessa terra para sobrevivência, 40% do solo da África estão degradados e vão ter que ser recuperados. E em países já desenvolvidos, você tem problemas de expansão de área, não tem área para trabalhar e produzir alimento. Então o nosso grande desafio está aí, nesse baita cenário a população humana quer chegar 9 bilhões de seres, vai aumentar a demanda por alimento, toda essa população vai precisar se nutrir, e isso só vai ser possível se a produção agrícola aumentar em torno de 60% olhando globalmente. Mas se olhar para os países em desenvolvimento, essa produção tem que crescer perto de 100% do que hoje é produzido nessas áreas. Essa pressão toda em cima do solo está fazendo com que a gente também pense que tem que ter floresta, tem o problema de urbanização, as cidades vão continuar crescendo, elas vão ocupar a área que poderia produzir alimento, tem que ter animal pastando, a gente precisa de alimento de origem animal, e as colheitas todas dos produtos agrícolas que vêm direto para o nosso consumo. 186


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Dentro desse planeta sustentável, a primeira coisa é aumentar o material orgânico do solo, manter a superfície do solo vegetada o ano todo, usar nutriente com parcimônia, consciência, sabedoria, promover rotação de cultura, ficar insistindo no mesmo vegetal, tirando o mesmo nutriente, nas mesmas proporções o ano todo e reduzir drasticamente problemas de erosão. Com isso, não é pouco, mas com tudo isso a gente pode enxergar a possibilidade de aumentar as colheitas em 58% do que existe. Além de garantir que essa terra vai ficar saudável e produtiva para as gerações futuras. Então a gente depende do solo, solos saudáveis, lógico, que são a base para ter uma produção de alimento saudável. São aí a base para vegetações, são cultivadas ou manejadas para alimentar animais, produzir fibras, combustível, produtos medicinais. O solo praticamente suporta a biodiversidade deste planeta, que corresponde a 1/4 da área total do planeta Terra. Ajuda a combater e nos adaptar às alterações climáticas fazendo a captação do carbono, segurando ele dentro do vegetal por mais tempo ou dentro do período aí da própria safra, todo aquele carbono que praticamente ele gerou durante a produção, ou ele vai conseguir reter durante o ciclo dessa fase. Outra coisa é o uso adequado do solo faz com que você aumente essa resiliência, alguém sabe dizer o que é resiliência? Não é só nesse caso, resiliência foi aplicada a tudo. É, isso, é mais no sentido de suportar. Lá atrás na engenharia civil formavam-se engenheiros civis sanitaristas. E na época da faculdade o que ela aprendeu, das primeiras turmas da Poli lá de São Paulo, que a função do rio é o afastamento de esgotos, que deveriam ser carregados pela sua correnteza. Tinha pouca gente morando dentro da cidade, dava tempo do ambiente fazer o serviço dele, e entregar uma água de boa qualidade para a cidade vizinha. A partir do instante que começou a aumentar a quantidade de gente na cidade, o volume de esgoto lançado deixou de ser um adubo e passou a ser poluente. A água começou a chegar à cidade vizinha, estragada. Quando começaram as discussões sobre manejo de bacia hidrográfica, estávamos o meu pai e eu em algumas dessas reuniões, e a gente levantou a bandeira de que o município seguinte deveria cobrar a conta da recuperação da qualidade da água do município que está atrás dele. Ou que, se isso for algo impossível, que cada município lançasse o seu esgoto antes do seu ponto de captação. Certo, só com isso resolveria e ninguém tinha que me187


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dir se tem ou não tem a qualidade de água. O próprio serviço de água do município não vai permitir que uma carga grande de poluente chegue um instante antes da captação dele, porque isso custa caro para ele recuperar, então era a maneira mais simples de resolver o problema. Só levamos paulada, ninguém quis dar a corda para isso que solucionava. Então o solo não é renovável, ele é limitado, nós temos que dar sustentabilidade para as gerações futuras. Daí tratando a parte que os agrônomos, dirigentes aí do país vão ter que pensar, isso tudo tem que virar lei, isso tudo tem que ter depois financiamento, não é parar e recuperar o solo degradado, mas tem que ser facilitado para quem quer fazer isso e tenha recurso suficiente para recompor a qualidade desse ambiente para que ele volte a produzir com saúde. Então qual é o problema deste planeta? Ele está com sede, porque ele tem fome, certo? Tem algo muito fácil. No Brasil ainda, apesar dos percalços políticos, econômicos etc. e tal, que espero eu que sejam passageiros, este país precisa aceitar que a gente foi abençoado por Deus. Acontece que boa parte da população deste planeta vai depender daquilo que o Brasil tem capacidade de produzir, e o dever de produzir, para que seja mantida a população no planeta. Então a brincadeira é essa, se a gente comparar água e seres humanos, a escassez está sendo notada porque existe muito ser humano dentro deste planeta. Aliado a isso, ainda tem o nosso jeito de lidar com água, que eu me lembre, até pouco tempo atrás, na hora de falar que era abundante alguma coisa, existia um jargão "ih, isso daí tem lá que nem água". Secou, não tem mais essa abundância toda aí que a gente dizia tinha. Quem é o grande usuário da água neste planeta? 70% agricultura. Nós vamos fechar a torneira, vai comer o quê? Não tem como. Então a Simone falou hoje cedo também na palestra dela, eu vou ter que bater na mesma tecla: qual é o primeiro uso da água? Abastecimento. O ser humano precisa de água senão o corpo dele entra em colapso, cachorro, boi, todo mundo que saiu de dentro da água, já que a vida nasceu dentro da água, a partir do instante que você saiu da água, você é altamente dependente de água. Você tem que colocar água para dentro para diluir todos os resíduos do metabolismo. Se você não bebe, entra em colapso. O uso industrial, porque muita coisa tem que ser produzida na indústria para que a gente consiga ter qualidade de vida. E o uso doméstico, vamos poder atuar fortemente aqui, que o maior ponto de desperdício de água. A agricultura já não desperdiça muito, hoje está mais sério ainda o uso da 188


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água para irrigação e também no uso industrial a legislação e as normas são mais severas, mas mesmo assim dá para reduzir o uso de água. Nessa época que a gente começou a discussão das bacias hidrográficas, como é que iria gerir esse recurso, teve um, se não me engano um advogado que se levantou e falou "poxa vida, hoje, com a atuação da CETESB, e com o enrijecimento da legislação, eu posso abertamente falar para vocês que no máximo 3% das indústrias ainda estão montando os seus sistemas de tratamento de água, eles assinaram o termo e aquela coisa toda, e eles ainda estão resolvendo nesse instante, por isso, 3% da indústria ainda tem problemas no tratamento de seus próprios esgotos. Olha, nos nossos município hoje, eu não posso dizer que 3% tratam do esgoto, infelizmente. Aí eu pergunto, qual é a função da CETESB, é só ao nível de indústria? Por que o município pode tudo e a indústria nada? Tem alguma coisa errada que precisa ser revista". De lá para cá talvez umas três décadas se passaram. Quanto de água a gente precisa então para produzir 1 kg de carne? Alguém tinha noção que são 15.000 litros de água para ter 1 kg de carne na cozinha? E 1 kg de trigo? Com 1,5 m³, não virou pó ainda, falando do trigo. Quanto um ser humano precisa beber de água? Todo médico fala, de 2 a 5 litros. Quem bebe menos do que isso está seriamente sujeito a ter problema renal. Grande diferença entre a medicina oriental e a nossa aqui, ocidental e oriental. Na oriental o foco é o rim, se o rim parar de funcionar, se qualquer coisa acontecer com o rim, o corpo do ser humano vai entrar em colapso. E uma série de problemas começará a ser desencadeados e tudo ao mesmo tempo. Para fazer esse cara voltar ao normal vai ser muito difícil, então o maior foco que tem lá fora é trabalhar a saúde do rim. Do rim depende o ser humano. Para produzir um tomate precisamos de 13 litros de água, uma batata eu preciso de 25 litros, uma laranja 50 litros, uma maçã 70 litros. Se isso for para a indústria, o que acontece, economiza água, se eu espremer a laranja e transformar em suco vai piorar essa conta. Então vamos ver. Para um ovo precisamos de 135 litros. Para produzir um copo de suco de laranja, 170 litros. Um copo de suco de maçã 190. Se eu tomo um copo de leite, 400 litros de água são necessários para que esse copo esteja na sua frente. Vamos para uma xícara de café: 140 litros, e uma xícara de café não tem 50 mililitros. O café ainda tem que ser lavado, tem que ser separado o que está maduro do que está verde, e é com água que se separa, não é com eletricidade. Tudo isso consome água no processo, consumia, porque muita gente já recircula essa água usada. Um copo de cerveja consome 75 litros 189


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para fazer, um copo de vinho 120, uma fatia de pão 40 litros. Se eu puser uma fatia de queijo em cima da fatia de pão, 90 litros, abrir um pacotinho de batata de comer, 185 litros, e o grande vilão aí é o hambúrguer, que consome 2400 litros de água. Do ponto de vista do uso de água a pegada é bastante profunda. Então quanto mais industrializado for o alimento, mais água é consumida ao longo do processo para que ele esteja na sua mesa, então é muito mais saudável comprar coisas do jeito que sai da propriedade, in natura, e trabalhar nesse processo todo, miniprocessos dentro de casa para economizar água e ter muito mais saúde. Então vamos lá. Escassez de água. Escassez física, escassez econômica. Física: a água é pouca, a quantidade de gente é muita. Econômica: a infraestrutura não foi feita. No Brasil hoje a gente está muito mais aqui embaixo do que em cima. Água apesar de tudo a gente tem, a escassez é econômica, não tem sistema de captação, não tem sistema de tratamento de água, muito menos de esgoto para recuperar a condição dessa água e ter essa água em uma condição de ser percolada dali a pouco. Essas são as áreas então críticas aí no planeta. Perto da gente já temos algumas condições aqui de escassez física, aqui em cima beirando a escassez física de água no nosso sertão do Nordeste brasileiro, esta água em uma condição que não deu nem para medir, mas praticamente não tem água. A região do Saara está beirando escassez física. Nas porções aqui embaixo do Saara a água está longe, ela vai precisar de muito investimento para que essa água chegue até onde precisa chegar. Fiquei sabendo que existem 2,6 bilhões de seres humanos sem acesso ao saneamento básico, 1,1 bilhão não tem acesso a água de boa qualidade, a água tratada, 1 bilhão sobrevive com menos de 1 dólar por dia, e 963 milhões de seres humanos apresentam sintomas de desnutrição. Todo desnutrido é magro? Não. Um desbalanceamento na dieta, isso gera desnutrição, porque ele não compensou aquilo que ele ingeriu, e é essa falta de medida gera sintomas de desnutrição, que é a nutrição não adequada. Basicamente o ser humano precisa de 3000 litros de água por dia para sobreviver, levando em conta que ele bebe 2 a 5 litros, mas todos os outros alimentos dele foram processados. Na média são necessários 3000 litros de água por dia para cada ser humano sobreviver neste planeta, bem nutrido. É um absurdo, se essa água não for recuperada para ter o uso, um grande absurdo, um desperdício sem tamanho que a gente estava praticamente fazendo sem pensar no amanhã. En190


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tão, vamos usar a água com eficiência a partir de agora, certo? Mas se meu amigo come dois hambúrgueres porque não almoçou hoje a tarde? Essa criatura, dos 3000 litros ele já saltou para algo perto aí de 8000 litros de água que ele gastou no resto do dia dele. Então, esse é o grande desafio nosso para esses próximos 50 anos. Agora, para chegar em 2050 faltam 35, então já encurtou esse tempo. Em 1970 a população era pequena ainda e o consumo de água, claro, era menor. Nos anos 2000 você vê que pouca coisa mudou, a gente continua usando mal a água. A partir de agora para 2030, e muito mais para 2050, a disponibilidade da água vai ser cada vez menor. A a gente tem que parar de desperdiçar água e reusar essa água. Pensar que essa água tem que ser bem usada ao longo de toda a cadeia produtiva, que seja lá onde quer que for, se é como insumo, para produzir carne, o que for, dá para melhorar ao longo de toda a cadeia de produção. O uso dessa água sem destruir o meio ambiente, para que esse ecossistema volte a fazer o serviço dele. Aproveitando um pouco sobre desnutrição, um dos problemas dela, nós temos aí 161 milhões de crianças afetadas por conta de má nutrição ou desnutrição crônica. 99 milhões de crianças estão abaixo do peso e 50 milhões de crianças já mostram problemas agudos de má nutrição, 2 bilhões de pessoas com sintomas de uma fome e deficiência de micronutriente. Ou pouco acesso ao alimento de boa qualidade, e metade de um bilhão, 500 milhões de seres humanos acima do peso, e com problemas de obesidade, que também é uma desnutrição. O que tudo isso causa: aumento do risco de morte, aumenta essas doenças e esses desencadeamentos de mau funcionamento do corpo do ser humano, praticamente não são relatadas no observatório aí e vão parar na Organização Mundial de Saúde como sendo diretamente ligadas a problema de desnutrição e de saúde, devido a essa má nutrição. Onde está esse pessoal todo que tem problema de nutrição? Sudeste da Ásia é um grande problema, está aí a maior concentração, 276 milhões de seres humanos que vivem aí praticamente com bem menos de 1 dólar por dia, região sul do Saara, 214 milhões, costa leste da Ásia, outros 161 milhões, temos aqui na América Latina e no Caribe outros 37 milhões e outros tantos estão espalhados por todo o resto do planeta. Há também o problema de divisão de renda e de manutenção em função dessa não-condição de acesso a alimento de boa qualidade. 191


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Existe uma receita do que tem que comer? Não. Os povos têm cada um o seu jeito de trabalhar o alimento, cada pessoa durante os estágios de desenvolvimento até a velhice, cada um dos estágios tem uma necessidade diferente. Se a pessoa trabalha com serviços pesados precisa tudo diferente de alguém que vive dentro do escritório. São condições diferentes, mas existem regras, linhas gerais para seguir, para melhorar a saúde, à partir do que a gente põe para dentro. Como? Vamos comer aí amido, carboidrato tem base de amido, frutas, vegetais mais variados o possível, legumes regularmente, que mais? Todo mundo ouviu isso desde criança: leite, derivados de leite, pirâmide dos alimentos, olhar para ela todo dia, sentar à mesa e fazer o uso consciente dos alimentos, comer carne de origem animal que o ser humano também precisa. Reduzir óleos e gorduras, água, beber o suficiente durante o dia, de 2 a 5 litros. Cada um sabe mais ou menos a quantia, se transpira mais ou transpira menos, manter aí um equilíbrio dessa energia do quanto você gasta durante o dia e o quanto você ingere, e praticar exercícios regularmente. Não falei nenhuma novidade aqui dentro, vocês estão cansados de ouvir isso, falta praticar, inclusive eu que estou fora de forma. Esse é o problema, limitar o consumo de açúcar, e tudo aquilo que estiver carregado de açúcar, limitar o consumo de sal, por incrível que pareça, eu estou com osteoporose, eu estava com osteopenia até o ano passado, porque eu exagero no sal, e o sal rouba o cálcio do meu osso. A partir do instante que virou o ano eu descobri que esse era um dos pepinos, e eu fui acertando a minha dieta, já está graças a Deus melhorando e eu consegui sair da osteoporose. Deve-se limitar o consumo de álcool, não estou dizendo para parar, calma, não sou xiita, até agora não briguei com ninguém, não estou falando "nunca mais beba", beba moderadamente, um copo por dia, que não faz mal para ninguém. O investimento na nutrição é que vai fazer todo o sentido, pessoas bem nutridas têm alto rendimento, alto desempenho escolar, na vida profissional e assim por diante, não vai ficar encostado no hospital gerando gasto, seja para o governo, seja para o plano de saúde, quem quer que for pagar a conta. Então, investir realmente nesses pontos, trabalhar essa condição de equilíbrio tanto para o organismo, pensar naquilo que em 1988, mais ou menos, quando a gente estava trabalhando na conscientização dos alunos da rede pública de ensino para que eles pensassem primeiro na autoecologia. Se eles, a partir do uso desse conhecimento passassem a poluir o mínimo possível, o planeta lá para frente iria agradecer. Isso eu estou 192


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falando alguma coisa perto de trinta e tantos anos para trás e essa brincadeira estava começando a faculdade e estava tentando mudar alguma coisa já desde aquela época. Vamos tentar começar primeiro na aula de ecologia para daí chegar algum dia no próprio planeta, seriam seres humanos mais capazes de transformar o nosso dia-a-dia. Em 2011 surgiu essa brincadeira e foi publicado um documento e nesse documento está a preocupação em cima do crescimento populacional, o avanço da distribuição de renda. Isso para melhorar o poder aquisitivo e ele vai buscar uma nutrição melhor, com um crescimento em 40% da produção de alimento deste planeta até 2030. Se pensar em 2011 para 2050, teríamos que crescer 70%. Do outro lado, mudanças climáticas, escassez de água, o aumento do reuso da terra e o aumento de demanda por pescado. Por que pescado? Por que não carne bovina? Uma proteína mais biodisponível para o ser humano. Por que não frango? O pescado porque nós temos 1/4 deste planeta com terra, 3/4 deste planeta com água, então a expansão tem que ser em cima da água, certo? Meu orientador no mestrado chegou um dia falando que teve um sonho estranho, que sonhou que o ser humano vivia em cima da água, não na água flutuando, em cima da água, dessa porção toda de água, vivia lá em cima. A terra é como se fosse um prédio cheio de arbusto, dentro um zoológico, uma beliche, tem flor para sentir o cheiro, os vegetais, é para isso que vai servir a terra. Como seria produzir o todo o necessário na água? O orientador Miguel, formado em medicina porque o pai dele queria, ele ficou até o quinto ano ou até metade de quase chegar no sexto ano, pegou todas as notas, entregou para o pai dele e falou "está aqui, eu fiz o que você me pediu, mas médico eu não vou ser". Focou em psicologia para tentar se entender, fez psicologia até o fim, uma vez psicólogo ele partiu para matemática, dentro da matemática estatística, uma vez estatística, dinâmica e a população de peixe. Foi trabalhar com dinâmica e a população de peixe. Dentro do Brasil 193


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virou consultor da FAO, passa a maior parte do tempo lá fora e volta aqui buscando solução para problemas em tudo quanto é canto que se pode imaginar. Duvido que alguém aqui vai acertar onde o Miguel escolheu para ir trabalhar. Bangladesh, é o lugar com a maior densidade demográfica encontrada neste planeta, tem mais ser humano do que m², e a quantidade de problemas é um absurdo e é lá que ele gosta de ficar porque é ali que está havendo problemas. Ele está tentando bolar equações matemáticas para resolver problemas e fazer com que aquele povo todo olhe para a frente com saúde e saúde do meio-ambiente. Fantástica a vida dele, esse cara me ensinou muita coisa. É um lunático. Qual é o nosso grande pepino? 9,3 a 9,6 ou seja, quase 10 bilhões de seres humanos vivem no planeta Terra até 2050. Existem aí uns metidos a calculista que já disseram que no nosso planeta a capacidade de suporte não passaria de 2 bilhões de seres humanos para haver equilíbrio. Ah, muito bem, na época estava em 6 bilhões, como é que vai passar a régua e vai falar esses 2 bilhões ficam e aqueles 4 saem? Não é bem assim. Então a capacidade de suporte que ele calculou, ele levou em conta o modelo de vida e tudo aquilo que aquele ser estava fazendo estragando o meio-ambiente, por isso a mudança de comportamento. Vamos parar de estragar o meio-ambiente, e vamos elevar a capacidade de suporte deste planeta. Esse é o desafio: mudança, sair do lugar. Mais de 800 milhões hoje sofrem de desnutrição crônica. Também não podemos fazer vista grossa, vou botar o tampão aqui e não enxergar, nós temos diversos irmãos nossos com problema de desnutrição. Aí à tarde, no mesmo ano de 2011, saí com essa história: o futuro é peixe. Como é que é o futuro do peixe? Porque não tem mais área para se trabalhar, não tem como ficar aumentando produtividade eternamente por m² de área cultivada, nós vamos ter que usar pescado. Vamos usar essa água, vamos manter a saúde e a qualidade da água para que de lá saia o alimento saudável, se vou produzir o alimento numa água podre, possivelmente eu vá comer algo podre, certo? Então não adianta mais apertar o botão da descarga do banheiro de casa e falar "vai com Deus", né? Vamos dar um jeito de tratar aquilo. Então está aí, o maior componente do agronegócio mundial é a aquicultura. Movimenta 600 bilhões de dólares por ano, é responsável por 17% da proteína animal que o ser humano tem acesso, que ele ingere, contabiliza 130 bilhões de dólares em exportações, ou seja, é um dos produtos ou é o produto mais trocado entre países e regiões deste planeta. O mercado dele 194


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é 2 vezes maior que o complexo de soja, alguém achava que isso era uma enormidade. Complexo de soja, eu não estou falando do grão, do feijão soja, tudo o que se faz a partir da soja, 7 vezes maior que o mercado da carne bovina. E nós temos capacidade de fazer algo 7 vezes maior produzindo pescado dentro do Brasil. Estou eu falando nisso aqui até agora mas não sei se vocês sabem o que é pescado, então, é tudo aquilo o que sai de dentro da água, tudo o que saiu de dentro da água é pescado. Então o peixe enquanto ele é vivo, a partir do instante que ele morreu, virou pescado, certo? Mexilhões, ostras, polvo, lula e o escambau, é pescado. 9 vezes maior do que o mercado da carne de aves, 20% maior do que todo o negócio de calçados do planeta. Tinha que ser, porque a maior parte deste planeta é água, o que sai da água tinha que gerar tudo isso de reboliço na economia deste planeta. Em 2014, a FAO publicou SOFIA, onde saem aí dados estatísticos sobre produção de pescado do planeta, e tomou um susto, porque o consumo per capita subiu para 19,2. Era 17 na publicação anterior, de repente, em 2012 saltou para 19,2. Então eu acho que já tivemos um probleminha aí, lembra que a gente falou que para 2030 precisava subir 40% da produção? E o ser humano não vai ficar comendo mais peixe, porque é mais saudável, porque o médico está lá toda hora batendo "come mais peixe, mais peixe, menos carne vermelha", essa coisa toda, a gente começa a ficar já um pouco mais preocupado. A produção mundial bateu em 2012, 150 milhões de toneladas, e quem é o maior produtor do planeta de pescado? China, 67 milhões, se não me engano. Para consumo humano, são 136,2 milhões e dessas 157,2 milhões de toneladas saem da China, a maior parte para chinês mesmo, e eles importam muita coisa, mas também mandam da China para cá muita coisa. Camboja e Vietnã estão cansados de tropeçar em produtos de origem asiática vendidos aqui no Brasil. Querem um exemplo? Panga, alguém já viu um escrito panga? O que é panga? Apelido de alguém, né? É um peixe fantásti195


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co, ele é um bagre de cor sem escama e filtrador, está na base daquela nossa pirâmide alimentar, então se nós formos pensar em termos de ciência, de produção, de proteína, um alto valor biológico facilmente assimilada pelo nosso corpo partindo de microalgas que estão presentes na água, ele é um peixe fantástico. Dessa microalga na água que ele se alimenta e pode, por exemplo, ser o resultado de uma fertilização - "poluição" quem sabe, - um esgoto que foi jogado no rio está gerando uma condição de produzir alga e esse bicho está lá filtrando e tirando proteína de altíssimo valor para o ser humano estar vivo. Esses peixes são fantásticos, esse panga vem para o Brasil sim. Na primeira vez que eu fui conversar com o Miguel, ele me jogou para fora da sala dele me chamando de assassino. Isso porque eu cheguei para ele com um plano de trabalho e falei "olha, eu queria fazer isto aqui no meu mestrado, você pode me orientar?" tomei um pé no traseiro e saí de lá expulso do departamento desse jeito, fui para casa dos meus pais e não consegui explicar direito. Dali duas semanas ele ligou na casa dos meus pais e falou "passa por aqui, preciso falar com você". Cheguei em Rio Claro, ele me pegou pela mão, foi de sala em sala de docente dentro do departamento dele, me apresentou pedindo desculpas pelo berro que ele deu, e que eu não era um assassino, e burro foi ele que não entendeu o que eu falei. O que eu fiz para ser xingado e expulso lá de dentro? Eu mostrei um modelo de produção de biomassa para ele, eu estava querendo produzir peixe, mais volume de peixe para processar na indústria e botar isso disponível para a população, mas não ficar fazendo peixe de 10kg, de 5kg, de 1kg, de 0,5kg. Olhando a curva de crescimento de peixe vai ter um ponto de máximo ali, onde eu tenho o máximo rendimento econômico no menor tempo possível. Essa coisa toda, muito bem, pego esse peixe, desmancho ele, tiro a carne toda do peixe, vocês todos, "nihonjin", já ouviram falar de "surimi", estou falando algo absurdo de fazer? Já fiz em casa, certo, carne de pescado. Por que é que a gente amassa a carne do peixe? Porque o gosto é ruim, se o gosto fosse bom, comia direto, mas não, o gosto é ruim. É ruim por que? É um peixe de oitava para baixo. E para nós, legal, eu arrasto aminoácido dele com água gelada, mas nós estamos pegando uma proteína que ninguém comeria, que era destinada ao consumo de animal, para fazer ração. Tira agora a carne para o ser humano comer e a proteína continua sendo excelente, o gosto era ruim, tirou o que era ruim do gosto, continua sendo carne de peixe. Muito bem, teve uma época que chegou o produto, não me lembro de que canto da Europa, se era espanhol, que foi na época do Collor, 196


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se não me engano, quando estava na história da URV, certo? Alguns aqui acho que nem lembram desse estado aqui da nação, mas boa parte daqui lembra da história da URV (Unidade Real de Valor - um índice para reajuste do dinheiro corroído pela inflação) antes de virar Real, e nessa brincadeira surgiu a calda de lagosta. Tirou o gosto ruim dela, recompôs em uma forminha de lagosta, porque aquilo vira um gel depois, e o peixe é legalzinho, botou ele no vapor depois que fez tudo isso e ele se aglutina com um pouquinho de amido, se não me engano. Fiz uma calda de lagosta que vale uma nota, ponho gosto de lagosta, pinto feito calda de lagosta, e você come achando que é lagosta, e é carne de peixe reconstituída, está certo? Essa foi a minha idéia que levei para o Miguel dar uma olhada, e deu uma lapada falando que eu era um assassino, que eu estava matando peixe muito jovem. Duas semanas depois ele fez as contas e falou "puxa, o cara tem um negócio que realmente vale a pena!", me chamou e depois pediu desculpas para todo mundo e falou "olha só, o que acontece em um ambiente onde pesca? E o que acontece em um outro ambiente onde não existe pesca?" Ele satura, então a pesca é benéfica, tem limite mas ela é benéfica. Nós temos que avançar sim, tem limite mas tem que avançar. Grande parte desse peixe é produzido em cativeiro, reprodução em laboratório produzido pelo homem, isso volta para os tanques de produção, então fica tranqüilo que não é esse bicho que está em extinção não. Extinção estão muitas espécies que a aquicultura não está trabalhando, aquilo que a aquicultura está trabalhando não extingue, porque tem produtor, e baixou a pressão da natureza. Se o grande volume de produção é na aquicultura, não tem por que o rio capturar exatamente aquilo que o vizinho está tirando de dentro do tanque. Na China, 16,1 milhões de toneladas daqueles 57 milhões são pescados, são capturados, 41,1 milhões são produzidos na aquicultura chinesa. No planeta Terra, está aí o que aconteceu: em 1960 a produção e captura era de 33,9 e aquicultura 1,6 milhão de toneladas. 2012: 91,3 captura, 66,6 aquicultura, isso está ainda mantendo elevada a produção de pescado no planeta Terra, porque a condição das águas está cada dia pior. São 130 milhões de dólares todo ano, 54% desse volume todo de capital é movimentado e ele sai de países em desenvolvimento e 46% sai de países desenvolvidos. O legal é que também é um negócio que está dando dinheiro para o país que precisa de dinheiro para terminar o seu desenvolvimento. Na exploração da pesca, praticamente 71% do estoque está sendo trabalha197


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do adequadamente, só que nós temos esse problema, 29%, que é o que sobra dos 71%, está mal planejado, e aí, exatamente, tende à extinção econômica no primeiro instante, depois passa a ser extinção biológica. Tem diferença entre extinção econômica e biológica. Econômica: hoje não vale a pena eu encher um barco, botar tudo e sair daqui pra buscar uma determinada espécie de peixe que praticamente não tem mais no meioambiente. Eu vou quebrar a cara, eu não vou conseguir tirar de dentro um volume capaz de pagar os meus custos, isso é extinção econômica. Extinção biológica causada pelo ser humano, tem de diversos tipos, e alguma delas é até acidental. Por exemplo, uma espécie de raia, cheia de espinho no dorso dela, teve um problema e ela vive só em volta da ilha do Reino Unido. O arraste da rede trazia para cima essa praga dessa raia, e ela foi dizimada e desapareceu. E por que é que raia desaparece tão fácil? É parente de tubarão. Demora seus 8, 10, 12 anos para atingir maturidade sexual, só põe 1 ovo ou 2, quem sabe 3 por estação de reprodução, não reproduz todo ano, é um bicho que, como todos esses cartilagenosos, têm problema de reprodução. Todo mundo fala que morre de medo do tubarão. Coitado desse bicho, difícil dele ficar dentro deste planeta, qualquer coisa em cima dele, vai embora, ele desaparece. Outro ser que o homem matou e acabou de dentro da Terra foi uma espécie de elefante marinho que só tinha no Estreito de Bering, e essa espécie foi liquidada a paulada. Enquanto a outra morreu por acaso porque enroscava na rede, o outro morreu a paulada porque precisava da banha desse bicho, da carne para sobreviver àquela condição de frio intenso. Então do consumo per capita em 1960 de 10 kg passamos a 19,2 kg para cada ser humano. Só isso já torna o mercado de pescado algo muito absurdo, algo muito grande. Onde nós temos essa condição de sobrevivência do ser humano ligada à pesca ou à aquicultura, ao pescado? 84% está na Ásia, 10% na África, 2 a 4% na América Latina e Caribe, e os outros 2% é dali para baixo,aqui perto da gente. Olha lá o que eu falei para vocês. Este aqui é o uso industrial como qualquer outro uso que a gente queira falar, não é para consumo humano. Antes a gente "desperdiçava", mais peixe, hoje com a escassez você vê que a curva está diminuindo, então mais técnicas estão sendo desenvolvidas para pegar aqueles peixes que têm o gosto ruim e transformar em algo que tem gosto bom para vir na nossa mesa, porque não tem mais peixe para botar na mesa. Nesse mesmo ano de 2011, essa foi a análise da FAO: para manter o consu198


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mo per capita - manter, já estragou a história porque não é mais 17 kg per capita, passou a 19 - seriam necessários 40 milhões de toneladas a mais, o que significa crescer de 2011 a 2030 2 milhões de toneladas de pescado produzido por ano. Alguém tem a noção de quanto se produz no Brasil? Ainda não tem 500 toneladas, então o quádruplo da agricultura brasileira por ano precisava crescer na produção de pescado. O Brasil é um dos países com o maior potencial, e isso ninguém tira, mesmo com essa falsa ideia de que está faltando água. Tem água, mas vamos usar melhor, temos clima, temos área, então o pais é um dos poucos deste planeta que tem espaço para produzir pescado próximo donde se produz o alimento para esse pescado. A coisa legal que aconteceu nesses últimos anos, eu não sei se observaram como ficou essa movimentação aí de grãos, o Brasil reduziu a exportação de grãos nesses últimos tempos. O que é que o Brasil está fazendo com esse grão, está armazenando? Não porque o Brasil não tem armazém, está certo, então está saindo de proteína vegetal produzindo animal, mais valor agregado e botando para fora na forma de proteína animal. Isso já foi legal, certo? Para a gente é excelente, ele achou um outro espaço, botou o grão de soja, o milho, o etc. e tal que produziu aqui dentro uma forma muito mais cara para fora. O peixe vai no mesmo caminho é só não atrapalhar, esse foi o grande problema da aquicultura dentro deste país até agora: governo, certo? Ele só atrapalhou. O primeiro relatório do Ministério da Pesca e Agricultura do país, onde disseram exatamente isso: que a produção brasileira chegou a 1,5 milhão de toneladas. E nós não chegamos a 500.000 toneladas, mas eles fabricam, mentem. Então vocês vão dizer para mim, você sentiu por que fechou esse ministério? Sinto muito, foi tarde, não devia ter saído do rascunho, sinto muito. Esse lado até que vale: 3,5 milhões de empregos foram criados nesse crescimento. O que está acontecendo com a aquicultura hoje no Brasil? Ela está se mecanizando, por incrível que pareça. Existem hoje máquinas desenvolvidas no Brasil, ninguém põe a mão no peixe, o peixe é bombeado e lançado com água lá para frente, uma mesa de classificação automática classifica os peixes por tamanho, contadores digitais, com células fotoelétricas. E lá dentro contam quantos peixes estão passando em cada uma daquelas bocas de classificação que você colocou classificando por tamanho. Uma única pessoa olha o serviço na máquina fazendo ajuste, onde antes, para vocês terem uma noção, uma mesa de classificação tinha 8 pessoas classificando por dia 12.000 peixes. Hoje, uma máquina de classificação classifica 199


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perto de 12.000 a 16.000 peixes por hora. Outra coisa legal é que o em 2009 foi registrado um crescimento do setor de 43,8%, simplesmente cresceu porque tinha espaço, porque tinha gente atirada para fazer acontecer mesmo sem a documentação devida. O sujeito iria ser preso, mas estão correndo atrás da documentação. O IBGE publicou recentemente que em 2014, as 27 unidades da federação e os 2871 municípios conseguiram a 3,87 bilhões de reais de pescados, 70% peixe, 20% camarão. Por que camarão está tão baixo aqui no Brasil? Estourou a capacidade de suporte, certo, o Brasil viu isso acontecer na Ásia, assistiu de perto o que aconteceu no Equador, e fez pior do que o Equador, 5 viroses pelo menos nós temos hoje no litoral do Brasil, para ter uma ideia de como se produz camarão hoje. 25 dias - está vendo aquele tanque ali montado perto do lago? - 25 dias dentro daquele tanque, 20 dias dentro do primeiro escavado, durante 20 dias então nessa fase final da engorda, final também entre aspas, mas esse bicho fica exposto ao vírus. Em 20 dias a doença não expressa nenhuma característica no animal, e ele vai para o mercado numa boa. Se ele passasse 45 dias, vivesse em contato com a água do mar, a doença apareceria, os sintomas apareceriam em forma de macha, etc. e tal, ninguém comeria o camarão. Hoje, 25 dias no berçário, 20 dias lá fora exposto, beleza, vai para o frigorífico em torno de 9 a 11 gramas. Já estão tentando mudar um pouco isso daí, levantar para 24 a 35 gramas o peso do camarão mais trabalhado por exemplo com água doce, que não tem vírus. Coloca sal na água, chegando aí perto de 10 partes por mil e leva esse bicho para até 25 ou 34 gramas sem jogar uma gota de água para fora. Só o que evapora você repõe com água doce, porque o sal não sai lá de dentro. Muito bem, e o que acontece com o resto da ração e com as fezes do camarão? Não precisa fazer nada, a bactéria come, e quando ela está comendo forma grumo, esse grumo o camarão pega e come. Riquíssimo em bactéria, ele não está comendo fezes, está comendo bactéria, perfeito, matou, o bicho é saudável, não expressa característica nenhuma de doença. Dá para fazer com peixe? Sim, como é que chama isso? Cultivo de mesocosmos, então você fecha todo o ciclo dentro do próprio tanque, bactéria e peixe sobrevivem, peixe que era um problema para fazer alimento agora deixou de ser. Putz grila! Eu comecei a trabalhar com peixe de verdade, sério, em 1984. Brincando de montar aquário dentro de casa, eu tinha 12 aquários com ambientes diferenciados, desde águas básicas a ácidas e tudo mais com espécies de tudo quanto é canto deste país e lá de fora. Mas foi legal, aí nessa brincadeira o que aconteceu: eu comecei a reproduzir peixes, e aí eu 200


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invadi o armário da minha mãe e comecei a pegar tudo o que existia e cumbuca e coisa que eu pudesse colocar um pouco de água e larvinha e ovinho e etc. etc. de peixe. Chegou um ponto que de repente o meu pai, professor universitário, me chega com um calhamaço de trabalhos publicados, põe na minha mão e fala "dá uma lida, vê se tem alguma coisa que te interessa", beleza, peguei. Comecei a ler, comprei caderno, e lá fui eu fazendo conta e gerando modelo matemático e tudo. Eu sempre gostei de matemática. Aí nessa brincadeira ele viu que eu tomei gosto, fiquei um pé de semana naqueles trabalhos todos, e aí estava lendo e falei "nossa, que coisa interessante", legal. No final de semana, antes da gente sair para o clube, ele falou "vem cá". Pensei que fosse para ajudar a fazer alguma coisa, chegou no fundo do quintal "está vendo este canto aqui no quintal? É seu, projeta uma unidade de recirculação de água aqui, com tudo isso que você está lendo e aprendendo". Tá bom, lá fui eu, desenhei, projetei toda a parte hidráulica, aquela coiseira toda. Ele virou para mim e falou "e aí, acabou?". Falei "acabei, né, dá uma olhada", e ele respondeu: "faz o seguinte, começa, monta". Montei, botei para funcionar, dali a uma semana, no outro fim de semana "tá, está bacana", esperou mais uma semana, falou "é, está bacana mesmo. Vamos fazer o seguinte? Agora você arranca tudo aquilo que está lá dentro de casa, devolve as vasilhas para sua mãe e eu quero de volta o meu escritório porque eu preciso estudar e trabalhar em casa para continuar dando aula, eu não tenho mais espaço nessa casa". Assim começou a história toda, desde lá eu sou chamado de louco, até os dias atuais. Porque tinha muita água neste país, todo mundo olhava para mim e falava "pô, por que você está gastando tanto tempo com esse negócio se ninguém vai fazer no país? Tem água demais, está gastando o seu tempo à toa.", mas eu não parei, eu continuei na minha loucura, na minha insanidade, e em 1984 eu fui em um seminário onde a maior preocupação era a crise hídrica que o Brasil passaria em 2000, no início dos anos 2000. Legal, em 1986 já era sabido que isso iria acontecer, e a maior preocupação nesse seminário era quais seriam as alternativas para se gerar energia elétrica, já que água vai passar a ser de uso exclusivo do ser humano, seja para ele vender, seja para agricultura para ter o que comer, porque vai faltar água. De 1988 até 1994 eu andei com um judeu aqui no país. Na época eu trabalhava com camarão e peixe, dessas pesquisas ele viu o que eu fazia e também foi me abastecendo com um monte de coisa que ele trouxe de Israel para que eu lesse e desenvolvesse. Chegou um ponto em que ele falou para mim "poxa, bacana, continue na sua linha. Em Israel, pra você 201


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ter uma ideia, nós produzimos peixe dentro da caixa d'água". Abastece as casas porque peixe não bebe água, peixe não polui água, se poluiu a água, você fez algo errado para que ele poluísse a água. Se você fizer certo a água continua limpa, e com fácil e barato tratamento. Aí põe a sementinha, você bebe, baixa o custo, e essa água não fica parada gerando larva do mosquito da dengue. Então o brasileiro ainda tem muita coisa para aprender, para usar a água da maneira correta. Então foi isso a maluquice. Em 1993, eu entrei no mestrado e montei um andar de produção superintensiva no Brasil, a primeira, com o uso de oxigênio e tudo. Chegamos a 180 kg de matrinchã por m³. Em 1995 ligamos uma hidroponia nessa produção de peixe para bombear o nitrato, fosfato e alguns compostos de potássio e tudo mais que estava circulando na água para o vegetal, e produzimos duas safras de alface. Então, vamos lá, a primeira coisa, vamos fazer um desafio, vamos pegar uma semente, trabalhar com uma expressão genética fantástica para produzir alface e vamos ver o que falta nessa água do peixe. Saiu com cara de alface, não tinha gosto de peixe, mas ficou meio amarelado, faltou cálcio e magnésio. Nossa, que coisa cara para se jogar dentro da água. Calcário do alambique já tem cálcio, já tem magnésio, muito bem, dissolve, um abraço, está feita a mistura, recompõe cálcio e magnésio na água. E para complicar um pouco mais, vou produzir pimentão porque hoje está valendo muito. Beleza, talvez o pimentão precise de alguma coisa a mais, mas eu posso adicionar na água sem matar peixe. Se for tóxico vai matar peixe, vai matar planta também, então pode sim aditivar. Ah, está faltando ferro, beleza, bota ferro na água, só que tem que ficar dosando, então tem muita gente da hidroponia que não gosta muito disso, porque infelizmente estamos acostumados a jogar água fora. Monta solução nutritiva, ela vai ficar para - vou chutar porque eu não conheço todos os detalhes de hidropônico - duas, três semanas de uso daquela água, baixou a concentração de sal, o que o cara faz? Abre a torneira, joga fora, coloca água nova, abre o saquinho - porque ele não quer fazer conta - joga ali dentro e faz de novo a solução. O certo seria o que: mede a solução para ver o que está faltando, repõe o que está lá e não joga água fora. Por isso que a Simone falou, é possível chegar a 70% de economia de uso de água. Na aquoponia, quanto nós vamos gastar de água em relação ao que se gasta na agricultura manual? Aquaponia, peixe de um lado gerando essa solução nutritiva, do outro lado planta pegando nutrientes dessa água. Quanto de água vai nessa brincadeira? Quem sabe algo em torno de 6% do que se gasta no cultivo tradicional com a planta enraizada no solo, então é uso eficiente da água sem contaminação, 202


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além de uma série de outras coisas mais. Chegando então aí em 2014, algo perto de 475.000 toneladas de pescado produzido no Brasil, com aumento de 20,9% em relação com o ano anterior. 198.000 toneladas foram de tilápia, então ele é o maior peixe produzido hoje no país. O segundo maior peixe produzido no Brasil em volume é o tambaqui. No ranking de pesca, a segunda posição do tambaqui com 139.000 toneladas, 29% do total produzido é tambaqui, 41% é tilápia. O nosso grande desafio para chegar lá em 2050: a pesca praticamente constante ou estagnada não vai levantar, não adianta mais querer rezar para o céu para atender porque não tem mais peixe para tirar da Terra, nós vamos ter que ampliar tudo isso que falta cultivando, produzindo. Assim, a aquicultura vai entrar no cenário. Nessa brincadeira, até 2050 precisaremos mais do que quintuplicar a quantidade de peixe que vai ter que produzir, vai ter que passar aí de 67 para 140 milhões de toneladas. Hoje está na casa de 67.000. 14% de toda proteína vai ser fornecida do pescado, hoje, vocês lembram, está em torno de 17, vai cair um pouco. Está variando aí de 1,4 até 1,8 kg de ração para cada kg de peixe produzido. Alguém chuta um palpite de como é esse índice conversão alimentar na Holanda por exemplo, que é um país onde não tem mais espaço para colocar cocô de bicho dentro da terra? Com tanta falta de espaço eles foram empurrando o mar,para conseguir ter área para produzir. Legal, bota mais um bicho lá dentro para você produzir, vai gerar mais resíduo, não dá. Qualquer ração para entrar no mercado holandês não pode ter índice de conversão alimentar maior do que 1 kg para 1 kg. Existem rações lá que proporcionam 0,85 kg de ração para 1 kg de músculo de peixe produzido. Não sou um mentiroso não, geração espontânea, entrando com 0,85 está saindo 1kg. Explica direito essa matemática aí que não está fechando. A ração, estou falando da base seca, ela está com 2% de água e o peixe de 1kg tem bem mais do que 2% de água ou seja, na base de 80% de água na composição desse 1kg, então é por aí que a conta fecha, ninguém me chama de mentiroso. Existem alguns movimentos, não sei se vocês têm acompanhado, de grupos de seres humanos que não se alimentam de determinado produto porque esse produto é daninho ao meio-ambiente, a Cíntia saiu dessas pessoas na Europa cheia de cartaz dizendo para não comer carne de salmão, porque salmão é carnívoro. Um bicho que come dieta com alto teor de proteína para gerar proteína, qual é a vantagem? Por isso que eu disse do bagre asiático, panga. Todo mundo mete a boca, muitas campanhas na internet já 203


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rolaram aqui no Brasil para dizer que ele é cheio de doença e isso e aquilo etc. e tal, não coma bagre. Verdade? Tem tudo isso de podre na carne do bagre? É, não é um dos melhores sabores que existe, mas tudo bem, dá para comer, também já comi, não tenho nada contra ele. Aquilo foi de gente daqui de dentro mesmo, quer vender tilápia a 40 contos o quilo do filé dizendo que a carne do panga que chegava no mercado variando de 8 a 12 reais, agora com essa zoeira do dólar não sei quanto foi, mas era um jeito de quebrar essa busca pelo panga, por carne de peixe barato dentro do supermercado, mostrar que estava cheio de cacareco lá dentro. Salmão, alguém sabe dizer se comer carne de salmão no sashimi ou no sushi, aquele que vai cru em cima, mata o ser humano? Não, mentiroso eu, 53 brasileiros "nihonjin" morreram, sim senhora, e era porque ele, perdão da palavra, espero que ninguém seja parente dele, nem o sapo barbudo, como dizia o Brizola, antes de morrer, foi para a televisão para falar que aquilo tudo era mentira e não era a carne do salmão que estava matando, quando sim difilobotríase é o nome da doença. Diphyllobothrium é o nome da tênia, certo, e dava no salmão ingerido in natura, é uma larva migrante, migram, foi para o cérebro e matou 53 "nihonjin" com sashimi de salmão, dentro do país. Põe na sua cabeça o seguinte: do Chile para cá não veio salmão sem Diphyllobothrium, tudo bem? Não ofendi ninguém? Então tá, Diphyllobothrium está disseminado em todos os cantos de produção de salmão do Chile. Como é que extingue? Se não me engano, 35 dias em uma câmara frigorífica a quase -30ºC, beleza, vai matar. Então a partir desse instante, constatou e escondeu da população que isso aconteceu aqui dentro, o salmão passou a entrar no Brasil depois dos 30 dias de resguardo dentro de uma câmara frigorífica de baixíssima temperatura. O que é que se come cru no Japão? Atum, muito bem, onde é que vive o atum? Lá na ponte que caiu, você não tem atum aqui perto da costa, está certo, então qual é o risco desse atum ter contato com parasita que está saindo do esgoto, ou que está sendo carregado por fezes de passarinho, por exemplo. Não tem, então um atum seguro, um peixe que não tenha contato com esse parasita que vai trazer problema para dentro do ser humano. E assim se usa wasabi, wasabi não é enfeite, certo. Wasabi está ali para limpar a carne, para higienizar, gengibre também, os dois são parentes também, wasabi e gengibre é tudo da mesma família. Se eu falar que no Brasil tem salmão o senhor vai me bater? Tem, fique tranqüilo, Monte Verde, pode ir para a região de Campos do Jordão, Monte Verde, de Urupema, lá, Santa Catarina, tem sim também salmão, água doce, daqui até é bem melhor. Hoje o salmão está limpo, hoje o salmão está limpo, hoje o salmão 204


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que vem vindo para cá está OK. Do Chile está vindo muito pouco, a produção lá praticamente sumiu, eles deram um tiro no pé, além da Diphyllobothrium que estava lá, eles arrumaram anemia infecciosa, aí uma doença causada por vírus, essa muito mais complicada de extinguir e desaparecer, porque ela não é exclusiva do salmão, tem outros bichos lá que também hospedam o vírus da anemia infecciosa. Hoje o Chile produz tirando a água do meio-ambiente, fechando o ciclo, então tira a água do meio-ambiente, limpa, mata tudo que tiver de vida lá dentro, essa água estéril põe para dentro da piscicultura, fecha o circuito ali dentro, pouquíssima água vem de fora para abastecer o que evapora, aí tudo bem sadio, então não tem risco de dar encrenca de aparecer virose nessa condição. Cinco recomendações que têm impulsionado o lance da agricultura. 1) Investir em pesquisa, inovação tecnológica, a transferência dessa tecnologia para reprodução, para controle de doenças, da alimentação, da nutrição, sistemas de produção de baixo impacto. 2) Foco na sustentabilidade, para tudo. 3) aumentar o consumo de pescado na base da cadeia sustentável. A proteína, complicado para ser trabalhada pela nutrição humana, é convertida aí para proteína animal de alto valor agregado, que são os filtradores, aí entra o universo das carpas, dos bagres, da tilápia e moluscos bivalve. 4) Zoneamento e ordenamento da ocupação. Não adianta nada você gerar essa tecnologia, conhecer o baixo impacto e depois não zonear, não ajustar como é que vai ser ocupada a área para produzir os pescados e prever a capacidade de suporte. 5) Aproveitamento então do que existe de mais recente da tecnologia da informação, zoneamento remoto, sistema de monitoramento, o ideal é apoiar essas formas sustentáveis de produção. Desde 2011 a coisa começou a complicar. Eu fui para o Nordeste em 2012, lá essa era a reportagem que estava na internet, trazendo como é que a coisa estava acontecendo no sertão. De lá para cá nada mudou, nenhuma gota caiu no sertão, só complicou ao ponto de no início do ano de 2014 a revista que mais fala de produção de peixe no Brasil falar da agricultura. Ela publicou matéria mostrando o que estava acontecendo com as águas dos reservatórios destinados à geração de energia elétrica. Na edição de agosto da revista, Gilmar contou a historinha da região no Ceará onde o 205


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DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra as Secas) construiu uma barragem chamada de Castanhão. Choveu tanto quando fechou a barragem em 2003, que em 40 dias ele encheu e vazou. Confidencial ou não, muita história surgiu aí com relação ao Castanhão, que foi tido pela FAO como exemplo de regularização de vazão de rio, para vocês terem uma idéia. De 2003 até agora a FAO mostrava o exemplo brasileiro de como regularizar a vazão de água em torno do rio sazonal. Dessa água do Castanhão, que vem pelo rio Jaguari, se não me engano, a produção de melão surgiu, então tem o que é irrigado de Russas, chapada do Apodi com água, etc. etc. Criou ali uma condição para muita coisa acontecer em um canto do Ceará onde ora tinha água, ora não tinha mais água. De lá para cá a coisa começou a complicar. Em todos os municípios, apesar do lago, eu percebi que a vocação era criar peixe. Então em 2014, a atividade gerou 3000 empregos diretos, 2000 indiretos e 18.000 toneladas de tilápia saíam de dentro do lago Castanhão. Ainda tem uma outra represa que fornece água para a Grande Fortaleza, uma parte da água que eles usavam para abastecimento do complexo lá de Fortaleza, mas do município vizinho vinha de Castanhão. No começo de 2014 estava com 37% da capacidade. Epa! Surgiu uma encrenca aí, 100 toneladas de tilápia andou morrendo no início de 2014 porque a condição da água não estava legal. Isso virou o Castanhão, uma bagunça, um verdadeiro caos, todos os outros reservatórios de água do Ceará secaram, todos os piscicultores instalados em todos os outros reservatórios de água do Ceará se mudaram para o Castanhão sem licença, sem coisa nenhuma. Encheu o poço e começou a produzir peixe, uma piscicultura do lado da outra e dá-lhe peixe, vamos embora porque aqui é o melhor lugar que tem, porque a temperatura é boa, porque o ciclo é curto e assim por diante, a coisa foi só embolando. Como estavam as represas no comecinho de 2014? Situação de Furnas: 32,3% do seu volume útil, chegava nele 324 m³ por segundo, saía dele 928 m³ por segundo, porque daí gerava energia elétrica, 604 era o teste por segundo nessa brincadeira. Três Marias e Belo Monte seguindo a mesma, vamos juntar, a temperatura não está esquentando, vai chovendo. Nenhum de vocês é piscicultor, ninguém fica sabendo de nada disso. Preciso contar para vocês, aumenta a temperatura o oxigênio cai fora de dentro da água, então começa a baixar o nível de oxigênio e o oxigênio vai subir. Por que é que a truta agüenta até 19ºC e o salmão pára com 15ºC? Porque quando começa a esquentar a temperatura o oxigênio vai embora, o bicho sente falta, então o salmão é muito mais exigente do que a truta com relação ao nível de oxigênio dissolvido na água. A coisa não está legal, então o bicho 206


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come menos para não morrer, há acúmulo de material orgânico, porque o bicho come e dá fezes para consumo, não tem mais renovação de água no reservatório, está parado, estático. E começaram as manifestações de bactérias, e os representantes dos produtores de medicamentos foram para Castanhão, porque na Castanhão ou se vacina a tilápia, ou não tem produção, morre tudo por causa de bactéria. Portanto, a área de peixe, se a seca prolongar, continua até o dia 15 de junho. Só 19% da água estava lá dentro do Castanhão, morreram mais de 4000 toneladas de peixe, gerando um prejuízo de 34 bilhões de reais para a região do Castanhão. Se alguém conhece o Nordeste e já andou pelo sertão, sabe o que é o tamanho do impacto de um negócio desses onde praticamente se produz. Todos aqueles municípios vizinhos do lago viraram um oásis, porque tinham oportunidade de emprego, porque estava gerando renda, porque estava produzindo renda, tudo isso arruinou, acabou. Qual é a previsão lá na frente? Fechou em 2003, vazou em 2003 o Castanhão, mas ele desapareceria em 2014 e 2015, epa! 2015, certo? Castanhão possivelmente sumirá do mapa. Rapidinho, o que é que foi visto então, nesse fatídico dia 15/1? Se vocês olharem para a gaiola de produção de peixe, ela já está com o aspecto sem vida, certo, isso significa depressão total de oxigênio, e isto foi o que sobrou. Engraçado, alguém tem um palpite do que pode ter ajudado a acelerar isso daí, qual foi o catalisador? Vocês viram que juntou um monte de coisa boa, mas alguma coisa gerou esse estalo que matou. Chegou a estação dos eventos, então nessa madrugada ventou. E por que o peixe morreu porque ventou? Suspendeu o que está lá embaixo, aquela podridão toda que está lá embaixo, então você imagina material orgânico em decomposição tem enxofre, tem H2S, ácido sulfídrico. O peixe tem resistência nenhuma a ácido sulfídrico, a gente morre por causa de um tal de cianeto aí, né, fácil, fácil. Animal de sangue quente vai para o saco por causa de cianeto, peixe você pode pôr cianeto que ele não sente, ele é um animal de sangue quente, fisiologicamente nada acontece com ele, mas H2S para a gente é um cheiro ruim, mata o peixe, não tem conversa. O vento simplesmente suspendeu a podredeira lá de baixo, chegou o enxofre na forma de H2S, estava o peixe defunto. Então 4000 toneladas de peixe foram retiradas do local e enterradas. Como é que a coisa acontece: 1 kg de truta, 76.000 litros de água corrente para produzir 1kg de peixe, enquanto o tradicional peixe tropical daqui do Brasil, consome aproximadamente 38.000 litros de água, considerando se essa vazão mirabolante que era recomendada de 10 litros por segundo para cada hectare de espelho d'água, essa era a recomendação que se aprendia para produzir peixe aqui no Brasil. Além de jogar 10 litros por segundo, a gente ainda perde com infiltração e por evaporação, então para abastecer 207


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o viveiro, se perde de 70 a 175 litros por minuto em cada hectare de espelho d'água. Sem abastecer o viveiro são necessários de 1520 a 3780 litros. Vocês viram o quanto era antes abastecendo o viveiro? 38.000 litros, reduziu, melhorou com uso mais eficiente. Alguém viu aqui no Brasil alguma pôça d'água. Virou pôça, não é mais viveiro, produzindo peixe. Não. Aqui a gente apodrece a água. Como é que nos Estados Unidos produz catfish sem ter uma gota d'água? É pôça d'água, é poça d'água. Primeira coisa, tem limite, certo, não pode passar de 54 kg de ração por dia em cada hectare de água - ah, vou dar 56 hoje, não vai dar nada, concordo com você - deu 1 mês 56-58 kg por dia, vai entrar em colapso, estoura a capacidade de suporte, vai morrer o seu peixe, você vai apodrecer essa água. Está bom, como é que você atrapalha a vida das algas dentro de um viveiro? Está dando ração, o peixe está comendo, as bactérias estão atacando, está virando nutriente e essa água vai logo logo ficar extremamente verde. Ou no viveiro de catfish no Estados Unidos, coisa grande de 10 hectares para cima, como fazem isso? Alguém tem algum palpite do que a gente pode fazer para bloquear a produção primária se não tem alga? A água está propícia, temperatura está legal, tem sol, tem nutriente, mas não tem alga, porque você fez alguma coisa. O que é que você pode fazer para matar essa alga? Colore a água, colore a água, é, põe corante na água, e acabou, entendeu? Põe algo que absorva a luz solar, ou que reflita, que causa reflexão, mas não deixa luz solar abundante sobrando porque vai surgir alga, colore, vai ver tanque de produção de peixe que é roxo, entendeu? Não tem problema nenhum, corante não faz mal para ninguém, o peixe não absorve, só não deixa o sol dar condição para criar alga. O que é então a recirculação de água? 38 a 76 litros gastos para cada kg de peixe produzido. Como é que anda a história do tanque de PVC, da facilidade para instalar, desinstalar, mexer, levar para onde vocês quiserem, ele é fácil de limpar, uma tranqüilidade, e o principal, higienização, sobra nada ali dentro de um ciclo para o outro, para levar a doença e causar perda de peixe. Todinho de plástico é fácil de limpar. Este é o tambaqui, este é um assentamento ao redor de Porto Belo. Este é pirarucu. 30.000 litros. Este peixe, 125 kg por m³, ele não respira o oxigênio na água, ele tem um pseudo pulmão, ele vem à tona, pega o ar e respira, e tira o oxigênio do ar, está certo, esse é o pirarucu. Problema: 27ºC na água, cava um buraco porque ele vai morrer, chegou a 25ºC ele dificilmente sobrevive. Água quente e ar frio, morre, diz o caboclo que ele pega pneumonia, brincadeira, certo, mas o caboclo fala que ele pega pneumonia.

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A instalação também é difícil. O início da nossa atuação com o sr Domingos, que é esse proprietário. Ele tinha que sombrear um tanque. Ele disse "sombrear tanque, isso é coisa de paulista", "é, paulista mesmo, que não sai do escritório, porque você fica dentro do ar condicionado, onde já se viu sombrear o tanque do peixe?", "Sr. Domingos, o senhor vai ver que é difícil de trabalhar na beira da água, certo, lá vira um espelho, sol reflete, então queima o cangote, queima a cara, vai ser difícil trabalhar, e o peixe também não gosta, ou o senhor já viu uma lojinha de protetor solar para o peixe, peixe não toma sol". Ele: "é coisa de paulista". Em 15 dias ele me ligou "olha, estou começando a cobrir aqui com forro e tirando as caldeiras aqui de perto porque eu não agüento, o sol na cara é insuportável. Eu falei "o senhor vai notar que o peixe vai mudar o comportamento, vai comer mais, vai crescer mais rápido". Dali a pouco, "nossa, virou outro peixe, come mais e o tempo todo. Eu consigo ficar lá, até a mulher, para falar a verdade, largou a cozinha e está lá com o peixe, não sai de lá, está me ajudando a criar". Ele ampliou 3 vezes essa produção. O que ele fazia antes, terra degradada, sem nutrientes, material orgânico, estava tentando produzir na horta alguma coisa para vender, alface não tinha jeito de alface, a goiaba dele era uma coisa esquisita cheia de verruga que ninguém comia, e assim que a gente tentou mudar lá dentro, "Sr. Domingos, a água que o senhor pega do igarapé passa pelo peixe, do peixe você joga na planta, vai começar a ter uma mudança.", "ah, mas será, não sei o que", foi, está aí, vocês vão ver no finalzinho como é que estão a produção de folheosa, o açaí, a goiaba dele que está dando padrão de mesa vai direto para o supermercado. O cocô do peixe, vamos falar direto, o que ele está fazendo, ele tirou água do igarapé e botou o peixe no meio do caminho, essa é uma condição para um peixe com pouca exigência, tolera trabalhar com alta densidade, é um modelo de produção para botar aqui em São Paulo? Acho que não, tem problema de temperatura, esse bicho não agüenta, "ah, eu vou pôr dentro de uma estufa", calma! Gás carbônico, esse bicho não vai ficar uma boa. O meu pai sempre dizia isso "enxerga o mapa do Brasil, procura pela foz do Rio Doce, tôco do Espírito Santo" alguém sabe que o nordeste brasileiro começa ali, na foz do Rio Doce? Então está aí, do Rio Doce para cima é nordeste, do Rio Doce para baixo é sudeste, então hoje o Espírito Santo tem duas legislações ficais, para cima do Vale do Rio Doce, para baixo do Vale do Rio Doce. Nessa brincadeira, passa uma régua fazendo um traço paralelo ao equador, dali para cima pode trabalhar, dali para baixo não, difícil, com cautela porque tem muito problema de doença. Gente, muito obrigado. 209


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ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ" (ESALQ)

Foto: José Roberto V. Moraes

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Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ) é uma das unidades fundadoras da Universidade de São Paulo (USP). Em 1901, foi inaugurada a Escola Agrícola Prática São João da Montanha, vinculada à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, com início das aulas em 3 de junho daquele ano. Em 1931, a instituição recebeu a denominação atual, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", ESALQ, em homenagem ao seu idealizador. Conta com cerca de 250 professores e 520 funcionários, mais de 3.000 alunos entre graduação e pós-graduação, que realizam suas atividades em uma área de 3.825,4 hectares, denominada Campus "Luiz de Queiroz", correspondente a mais de 50% da área total da USP. A ESALQ oferece 7 cursos de graduação e 14 programas de pós-graduação (PPG) (sendo um internacional), além de dois interunidades e um interinstitucional. Conta com 12 departamentos, cerca de 150 laboratórios, quatro estações experimentais localizadas em Anhembi, Anhumas, Itatinga e Piracicaba (Fazenda Areão, sede da Incubadora Tecnológica ESALQTec), e também com biblioteca que possui o mais completo acervo de obras relacionadas às Ciências Agrárias da América Latina. Com 14.361 profissionais formados, é a primeira instituição de ensino superior brasileira a superar a marca dos 11.000 engenheiros agrônomos. A partir de convênios com universidades estrangeiras, a ESALQ se insere no contexto internacional por meio da realização de intercâmbios de alunos e professores, além de oferecer programas de dupla-diplomação em Engenharia Agronômica e em Ciências dos Alimentos com escolas francesas.

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Graduação Possui " " " " " " "

mais de 2.000 estudantes e oferece 430 vagas anuais. Administração Ciências Biológicas Ciências dos Alimentos Ciências Econômicas Engenharia Agronômica Engenharia Florestal Gestão Ambiental

Pós-graduação

Em 1964, a ESALQ foi a primeira unidade da USP a implantar um programa de pósgraduação. Já ultrapassou a marca de 8.000 teses e dissertações defendidas e conta com mais de mil alunos matriculados. " Ciência Animal e Pastagem " Ciência e Tecnologia de Alimentos " Economia Aplicada " Engenharia de Sistemas Agrícolas " Entomologia " Estatística e Experimentação Agronômica " Fisiologia e Bioquímica de Plantas " Fitopatologia " Fitotecnia " Genética e Melhoramento de Plantas " Microbiologia Agrícola " Recursos Florestais " Solos e Nutrição de Plantas " Biologia Celular e Molecular Vegetal " Ecologia Aplicada " Bioenergia (interinstitucional: USP, Unicamp e Unesp) " Bioinformática

Pesquisa

A ESALQ conta com pesquisadores qualificados, excelente infraestrutura física, financiamentos de agências de fomento e forte cooperação com instituições do Brasil e do exterior, o que garante sua participação ativa no desenvolvimento de pesquisa nos cenários nacional e internacional. É referência nas áreas de: Biotecnologia e Bioenergia; Ciências dos Alimentos e Segurança Alimentar; Economia Aplicada, Logística e Agronegócios; Produção Animal; Produção Vegetal; Recursos Florestais e Manejo Ambiental.

Cultura e extensão

Levar à sociedade o que se faz e produz em meio acadêmico e científico, como forma de retorno ao investimento feito em espaço público, são os objetivos que permeiam a realização de atividades tais como culturais; publicações, cursos e eventos técnicos e científicos; visitas monitoradas e orientações ao produtor rural.

Contato: USP/ESALQ

Av. Pádua Dias, nº 11 - Piracicaba/SP, 13418-900 www.esalq.usp.br diretor.esalq@usp.br 212


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O QUE É GEPURA?

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GEPURA, Grupo de Estudos e Práticas para o Uso Racional da Água, surgiu a partir das primeiras ações para construção do Plano Diretor Socioambiental Participativo do Campus Luiz de Queiroz da USP, essas atividades tinham o propósito de discutir e propor ações para solucionar problemas socioambientais existentes no campus. Nesse contexto foram criados no Campus Grupos de Trabalhos (GTs) sobre diversas temáticas, do GT Água, foi criado o GEPURA, que teve sua formação efetivada e institucionalizada no Conselho do Departamento de Engenharia de Biossistemas (LEB/ESALQ/USP), e no Conselho do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP), sendo aprovado como um grupo inter-unidades no ano de 2007, conforme previsto na Comissão de Cultura e Extensão da USP. Atualmente o grupo desenvolve trabalhos relacionados à gestão de recursos hídricos, estudo e manejo de bacias hidrográficas e uso racional da água. Como parte do GT Água o GEPURA centraliza os trabalhos e projetos existentes relacionados à sua temática. Seguindo uma das diretrizes do Plano Diretor Socioambiental Participativo do Campus Luiz de Queiroz , o grupo realiza através da análise de parâmetros físico-químicos bimestralmente o monitoramento da qualidade da água do Ribeirão Piracicamirim e das Nascentes do campus Luiz de Queiroz . Esses mesmos parâmetros também são usados para realizar a análise dos projetos do monitoramento hidrológico do assentamento rural Milton Santos e avaliação da qualidade de água de um sistema de Captação de Água Pluvial.

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BUNKYO, A ENTIDADE REPRESENTATIVA DA COMUNIDADE NIPO-BRASILEIRA

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Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, mais conhecida por Bunkyo, desde sua fundação, em 1955, tem protagonizado as realizações mais importantes relacionadas à comunidade nipo-brasileira. Foi concebida com a finalidade de promover o entendimento e confraternização dos nipo-brasileiros e seu aperfeiçoamento cultural, intensificar a divulgação da cultura japonesa, fortalecer o intercâmbio entre o Brasil e o Japão e promover atividades assistenciais. Localizada no bairro da Liberdade, em São Paulo, a entidade congrega cerca de 350 voluntários que organizam aproximadamente 280 eventos ao longo do ano. Sua manutenção ocorre graças aos recursos advindos das anuidades de seus membros, pessoas físicas e jurídicas; locação de suas instalações para outras entidades e empresas e promoção de eventos. As atividades do Bunkyo envolvem desde aquelas de maior envergadura até as "cotidianas", como as sessões semanais de cinema. Elas estão distribuídas em diversas frentes, tais como a promoção de eventos culturais que se tornaram referência da cultura japonesa praticada neste país. Um exemplo é o Festival de Música e Dança Folclórica Japonesa, que reúne os melhores praticantes das artes de palco, tanto professores como alunos, do Brasil. Ou ainda, as comemorações relacionadas às datas marcantes da comunidade como a celebração do aniversário da imigração japonesa no Brasil, no dia 18 de junho. O Bunkyo também se dedica à organização de recepção e/ou homenagem, não somente para personalidades representativas do relacionamento Brasil-Japão, como àquelas de destacada presença em nosso país. Outro item refere-se à coordenação de eventos/ campanhas sociais envolvendo as entidades representativas dos nipo-brasiCentro Esportivo Kokushikan Daigaku, em São Roque leiros, de cunho rei214


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vindicatório ou de ajuda humanitária. Combinadas com as atividades cotidianas de difusão da cultura japonesa existem aquelas que extrapolam os limites físicos da entidade e atuam como elementos aglutinadores da comunidade nipo-brasileira. Merece destaque, por exemplo, o Festival de Danças Folclóricas Internacionais que, anualmente, reúne perto de 35 grupos de danças, representando aproximadamente 20 diferentes povos/países. O Festival das Cerejeiras Bunkyos realizado no Centro Esportivo Kokushikan Daigaku, em São Roque, promovido em conjunto com outras entidades nipo-brasileiras, que se constitui numa atração turística de grande envergadura na região. Ao lado disso, temos o Fórum de Integração Bunkyo - FIB que tem sido uma oportunidade para trocas de experiências, transmissão de conhecimentos e fortalecimento da união entre as entidades nipo-brasileiras de várias localidades do país. Bem como o Encontro Bunkyo Rural, que tem sido realizado em parceria com diferentes entidades do interior paulista, tendo como finalidade incentivar o empreendedorismo e a capacitação profissional, promovendo um frutífero relacionamento entre as empresas e as entidades. Além da promoção de inúmeros eventos, o Bunkyo também é responsável pela manutenção de três importantes unidades. Uma delas é o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, que está instalado em quatro andares do edifíciosede e é um dos mais importantes centros de preservação da memória dos imigrantes japoneses do país. Outra é o Pavilhão Japonês, localizado no Parque Ibirapuera, que foi construído em 1954 pelo governo japonês e a comunidade nipo-brasileira e doado à cidade de São Paulo, que comemorava o 4º Centenário de fundação. O local é considerado, atualmente, um dos importantes monumentos do intercâmbio entre BrasilJapão. Há ainda a manutenção do Centro Esportivo Kokushikan Daigaku, localizado em São Roque, de 23 alqueires, sendo que uma área de 194 mil m², aproximadamente, está coberta de mata atlântica. Neste Centro estão plantados mais de 400 pés de cerejeiras. Contato: Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social - Bunkyo Rua São Joaquim, 381 - Liberdade - São Paulo - SP CEP 01508-900 - tel.: (11) 3208-1755 www.bunkyo.org.br - e-mail: contato@bunkyo.org.br 215


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O QUE É BUNKYO RURAL?

O

Bunkyo Rural é uma das comissões temáticas formadas por associados-voluntários dentro da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social.

O objetivo da comissão Bunkyo Rural é promover o intercâmbio de ideias e conhecimentos entre produtores, profissionais, pesquisadores, estudantes e empresários/ fornecedores relacionados à área rural, propiciando a integração entre eles. O principal evento organizado por essa comissão é o Encontro Bunkyo Rural. Os Encontros Bunkyo Rural realizados até agora: - 2009 - Pompéia - 2013 - Mogi das Cruzes - 2010 - Araçatuba - 2014 - São Paulo - 2011 - Presidente Prudente - 2015 - Piracicaba Além do Bunkyo Rural, a entidade mantém outra atividade ligada à comunidade agrícola: a promoção do Prêmio Kiyoshi Yamamoto, que visa homenagear as personalidades que contribuiram para o desenvolvimento da agricultura no Brasil. O prêmio Kiyoshi Yamamoto já está na sua 45ª edição. Objetivo do 6º Encontro Bunkyo Rural O 6º Encontro Bunkyo Rural teve por objetivo aprofundar as discussões sobre as mudanças socioculturais e ambientais, que afetam o sistema da produção e abastecimento agrícola no Brasil. O tema escolhido foi a Àgua: Desafios para Conservação , um assunto bastante atual, onde as apresentações de soluções pelos especialistas, e as discussões entre autoridades, técnicos, agricultores e produtores, para auxiliar na melhoria da qualidade de vida do próprio agricultor. Comissão Bunkyo Rural 2015 Presidente: Tomio Katsuragawa Vice-presidente: Kiyoji Nakayama Vice-presidente: Carlos Kendi Fukuhara Membros:

Celso Norimitsu Mizumoto Fábio Maeda Francisco Noriyuki Sato Guenji Yamazoe Hiroshi Nozawa Issao Ishimura Katsuyoshi Murata Kazoshi Shiraishi Mauricio S. Tachibana Mitsutoshi Akimoto

Miyoko Shakuda Nobuyoshi Narita Osamu Matsuo Reimei Yoshioka Roberto Yoshihiro Nishio Shiro Kondo Shoji Korin Toshio Koketsu Yasuyuki Hirasaki

Informações: www.bunkyorural.com.br Rua São Joaquim, 381 - Liberdade - São Paulo/SP Tel. 11-3208-1755 216


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ABERTURA - 08/10/2015

Cerimônia de abertura do 6° Bunkyo Rural e 5° Seminário Gepura no auditório da ESALQ

Prof. Luiz Gustavo Nussio, Diretor da ESALQ

Harumi Arashiro Goya, presidente do Bunkyo, e prof. Antonio Roque Dechen, ex-diretor da ESALQ

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Grupo Vocal Luiz de Queiroz

Auditรณrio do Pavilhรฃo de Engenharia da ESALQ/USP em Piracicaba

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Carlos Kenji Fukuhara, vice-presidente da Comissão Bunkyo Rural e João Carlos de Souza Meirelles, Secretário de Energia do Estado de São Paulo

Harumi Arashiro Goya, presidente do Bunkyo, e prof. Marcos Folegatti

Harumi e prof. Dr. Plínio Barbosa de Camargo, diretor do Gepura/ESALQ

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Harumi Arashiro Goya e prof. Dr. Celso Omoto, do Departamento de Entomologia e Acarologia da ESALQ

Prof. Keigo Minami, Harumi Goya e Celso Mizumoto

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Celso Mizumoto e Kenia Gomes

Prof. Celso Omoto e Fรกbio Maeda do Bunkyo Rural

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Roberto Yoshihiro Nishio, da Comissão Bunkyo Rural e profa. Consuelo Franco Marra

Tomio Katsuragawa, presidente da Comissão Bunkyo Rural

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Eduardo Leo, da Agência PCJ (Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí)


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Alunas da ESALQ/USP durante o sorteio

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O engenheiro Hiroshi Nozawa, consultor da JICA, e o professor Plínio, no minicurso sobre Uso da Moringa Oleifera no Tratamento da Água

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À esquerda, a água do Rio Piracicaba no estado natural. No centro e à direita, a água já purificada pela moringa, ao final do minicurso

Francisco Sato, Hiroshi Nozawa e prof. Plínio com os alunos

Prof.Plínio recebe uma muda de moringa de Hiroshi Nozawa.

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Um alambique dentro da prรณpria ESALQ produz a famosa cachaรงa, que tem variados sabores e pode ser adquirido pelos visitantes.

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Uso de Sensoriamento em Estudos Ambientais do prof. Dr. Silvio Frosini de Barros, com parte teórica em sala e a prática perto do lago.

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