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Mensagem Com muita alegria, estamos realizando mais um Bunkyo Rural, este importante evento, que promove o intercâmbio de ideias e dissemina o conhecimento da área rural, afinal, o agronegócio é um dos principais setores da economia brasileira, responsável por uma parcela importante das riquezas do nosso País, que gera milhões de empregos. Através do Bunkyo Rural, temos a satisfação de exaltar a história dos imigrantes japonese, que em diferentes regiões do Brasil, contribuíram e contribuem de maneira destacada no desenvolvimento da agricultura, além de enaltecer a exitosa participação entre o Japão e o Brasil, em diversos projetos, que transformaram o nosso País em um dos maiores exportadores de alimentos para o mundo. Este ano, o tema do evento será SAFTA - Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu, uma contribuição excepcional protagonizada pelos imigrantes japoneses e que vem promovendo a exploração agrícola e pecuária de forma racional e sustentável em toda Amazônia. Teremos o privilégio de ouvir alguns dos maiores especialistas no assunto. Queremos difundir o modelo proposto pelo SAFTA, que hoje atrai a atenção de outros países e de inúmeras empresas comprometidas com a preservação do meio ambiente, como a Natura, uma das maiores empresas de cosméticos do mundo, que também estará conosco apresentando o seu case. Gostaria de manifestar nosso agradecimento pessoal ao governo japonês representado pelo Exmo. Sr. Embaixador, Akira Yamada, pelo apoio ao nosso País, principalmente à comunidade nipo-brasileira, por meio de recursos financeiros e do intercâmbio tecnológico para a formação de especialistas e técnicos nos programas oferecidos pela JICA. Agradecemos imensamente aos nossos patrocinadores e parceiros, à Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu - CAMTA, à Associação Cultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu - ACTA e à Associação Pan-Amazônia Nipo-Brasileira - APANB, os quais viabilizaram a organização deste evento, e à Comissão Organizadora, que trabalhou ativamente para o sucesso de mais um Bunkyo Rural. Muito obrigado a todos os participantes. Renato Ishikawa Presidente Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social
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Mensagem A Associação Cultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu - ACTA, no propósito de divulgar e fomentar a agricultura, mais especificamente os Sistemas Agroflorestais de Tomé-Açu - SAFTA, sistemas estes realmente "sustentáveis", recomendados e indicados por estudiosos, pesquisadores e profissionais da área para a Região Amazônica como um todo, realiza seminários, palestras e possibilita aos visitantes e profissionais interessados, oportunidades de conhecerem "in loco" e vivenciarem um aprendizado à respeito de nossos sistemas. Somos uma entidade que procura prerservar e, ao mesmo tempo, difunde os costumes, as tradições, a história, a língua e os legados de nossos pioneiros e da geração nipo-brasileira à toda comunidade, colaborando pela preservação do meio ambiente e um mundo melhor!
Silvio Shibata Presidente Associação Cultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu - ACTA
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Prezado Sr. Renato Ishikawa, Presidente do Bunkyo Em seu nome, gostaria de agradecer a toda comissão organizadora deste evento que trabalhou nos mínimos detalhes para que a live tivesse o sucesso atingido. E recebi com imensa alegria, o convite para participar do 13º LIVE do Bunkyo RURAL, com o tema SISTEMA AGROFLORESTAL - SAFTA, Alternativa para a Amazônia, representando a nossa Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu - CAMTA, cooperativa criada pelos nossos antepassados no ano de 1931, portanto há 90 anos, tenho a oportunidade de compartilhar a nossa história de muitas dificuldades, desafios, sobrevivência e superação para que tenhamos os dias de hoje. Em nome de todos os nossos cooperados e antepassados, venho, através deste texto, agradecer a todos, esperamos ter compartilhado a nossa história e o nosso SAFTA, que hoje é tão comentado. O nosso objetivo é que os nossos cooperados possam ter sustentabilidade e viabilidade econômica, podendo contribuir socialmente e, ao mesmo tempo, trabalhar em harmonia com o meio ambiente de forma sustentável. Parabéns à todos, agradeço pela oportunidade de ter aumentado o círculo de amizades, e desejamos que venha os próximos eventos do Bunkyo Rural. Muito obrigado, Respeitosamente
Alberto Ke iti Oppata Presidente Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu - CAMTA
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Agricultura Florestal A Associação Pan-Amazônia Nipo-Brasileira tem o prazer de participar deste evento na qualidade de colaborador. As SAFTAs são sistemas implantados em ToméAçu, que hoje servem como um modelo na agricultura, passando da monocultura ou monocultivo para pluricultura ou policultura, consorciado com o objetivo de melhorar a produtividade e a sustentabilidade, sem agredir e sem derrubar a mata para manter o meio ambiente. Personalidades expoentes da nossa região, como os senhores Ryota Oyama, Mizuta, Makinossuke Ussui, na Pimenta do reino, assim como o engenheiro agrônomo Renkichi Hiraga em pesquisa em Tomé-Açu, Goya no Melão e papaia, e Teruo Shimomaebara, por exemplo, foram muito importantes na acerola. Enumero também pesquisadores como o prof. Ichinoue, da JICA, mas só em 1999 é que tivemos a grata premiação do nosso colega, Noboru Sakaguchi, no prêmio Kiyoshi Yamamoto, no ano em que essa premiação passou a ser feita pelo Bunkyo. O tema do trabalho premiado do sr. Sakaguchi foi "Agricultura Florestal". Esse foi o primeiro reconhecimento público da SAFTA, e foi muito importante porque isso representou o reconhecimento de um trabalho longo desenvolvido pelo sr. Sakaguchi em Tomé-Açu, e foi um marco para todos os envolvidos no sistema. Desejamos que este evento também seja um marco, e que sirva de modelo e que seja também difusora do tema entre os órgãos governamentais, entre as empresas, e entre os agricultores e familiares, que possam adotar esse sistema, e principalmente, que se conscientizem da importância do Sistema Agroflorestal para a conservação do meio ambiente. Yuji Ikuta Presidente Associação Pan-Amazônia Nipo-Brasileira - APANB
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ÍNDICE Palestrantes................................................................ 09 Programação do 13° Bunkyo Rural ...................................11 Mensagens transmitidas na abertura .................................. 12 O que é Sistema Agroflorestal? Um resumo geral do tema abordado no 13° Bunkyo Rural ........ 13 Palestras Sustentabilidades e Crédito de Carbono Cléber Oliveira Soares .................................................... 25 SAFTA - Sistemas Agroflorestais: Alternativa para a Amazônia Alfredo Homma ............................................................ 41 Formação da CAMTA e SAFTA Alberto Oppata ............................................................. 51 Cooperação JICA x CAMTA Masayuki Eguchi ........................................................... 67 Sistemas Agroflorestais com Dendê Camila Brás Costa ......................................................... 77 A Importância das Cooperativas no Agro Digital George Hiraiwa ............................................................ 91 7
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PALESTRANTES Alfredo Homma Amazonense, 74 anos, Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e Professor da Universidade do Estado do Pará, agrônomo, doutorado em economia agrícola. Tem experiência em economia, extrativismo vegetal, desenvolvimento agrícola e história da agricultura e da imigração japonesa voltada para a região amazônica. Tem vários livros publicados sobre a Amazônia. Recebeu o Prêmio Nacional de Ecologia, Prêmio Prof. Edson Potsch Magalhães, Prêmio Jabuti, Prêmio Frederico Menezes da Veiga, Prêmio Samuel Benchimol, Medalha do Mérito CONFEA, Membro Legendário da SOBER, entre outros
Alberto Ke iti Oppata Agricultor com formação em Administração de Empresas, foi Secretário Geral do Sindicato dos Produtores Rurais de Tomé-Açu (2004 a 2011), foi Conselheiro Fiscal da CAMTA (2006 a 2008), diretor responsável pelo viveiro e cerimonial dos 80 anos da imigração japonesa (2008 a 2009), Membro do Conselho de Reestruturação do Hospital Amazônia de Quatro Bocas (2008 até hoje), foi presidente da ACTA (de 2008 a 2018). Foi bolsista da JICA, no curso de Chiiki Kaseika (2011), foi bolsista pela TUAT onde conheceu a indicação de procedência do Japão (2014). Foi diretor da CAMTA, responsável pela ouvidoria (2015 a 2017), e Presidente da CAMTA (desde 2018).
Camila Brás Costa Graduada em Engenharia Florestal, Mestre e Doutora em Manejo Florestal pelo Programa de Ciências Florestais da Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais. É coordenadora de Inovação de Produtos, no núcleo de Bioagricultura da Natura, área de Inovação Expandida. Atualmente responsável pelo desenvolvimento de novos ingredientes vegetais para uso em formulações cosméticas, utilizando tecnologias avançadas -Atua diretamente no desenvolvimento dos sistemas produtivos de manejo e cultivo, dentre eles modelos mais ecológicos de produção como o SAF Dendê, Sistema Agroflorestal com Dendê. 9
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Graduada em Engenharia Florestal, Mestre e Doutora em Manejo Florestal pelo Programa de Ciências Florestais da Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.
Cleber Oliveira Soares Cleber Oliveira Soares é diretor de Inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Foi diretor-executivo de Inovação e Tecnologia da Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (2017-2020). Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1996), onde também desenvolveu seu mestrado em Parasitologia Veterinária (1998) e o PhD em Ciências Veterinárias (2002).
George Hiraiwa Engenheiro agrônomo pela Esalq-Usp, empresário londrinense, coordenou a fundação da cooperativa de credito Sicoob Ouro Verde, presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina gestão 2000 a 2002. Foi Secretário da Agricultura do Paraná gestão 2018, atual coordenador do Polo de Inovação Agro chancelado pelo Ministério da Agricultura.
Masayuki Eguchi Representante Chefe da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), começou a trabalhar na área de Assistência Oficial de Desenvolvimento (AOD) do governo japonês desde 1991, no Fundo de Cooperação Econômica Ultramarina (OECF). Pela reestrutura de órgãos governamentais, transferiu-se ao Banco do Japão para Cooperação Internacional (JBIC) em 1999, onde atuou como diretor de avaliação de gestão operacional do departamento de administração geral, entre outros. Na JICA desde 2008, exerceu cargos de diretor de avaliação de gestão operacional do departamento de administração geral, diretor de planejamento de operação financeira do departamento estratégico, subdiretor geral sênior do departamento de avaliação de análises de crédito e meio ambiente. No exterior, foi Representante no Brasil em Rio de Janeiro, Representante sênior no Brasil em Brasília e Representante Chefe no Peru. Possui Bacharelado e Mestrado em Economia.
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PROGRAMAÇÃO DO 13°BUNKYO RURAL TOMÉ-AÇU - DIA 16/ABRIL/2021 Apresentação de Carlos Kendi Fukuhara, vice-presidente do
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Mensagens de autoridades e de entidades envolvidas PALESTRAS: 1) Sustentabilidades e Crédito de Carbono - Cléber Oliveira Soares 2) SAFTA - Sistemas Agroflorestais: Alternativa para a Amazônia - Alfredo Homma Vídeo do patrocinador Fundação Kunito Miyasaka 3) Formação da CAMTA e SAFTA - Alberto Oppata Vídeo do patrocinador CAMTA 4) Cooperação JICA x CAMTA - Masayuki Eguchi 5) Sistemas Agroflorestais com Dendê - Camila Brás Costa Vídeo do patrocinador Natura 6) A Importância das Cooperativas no Agro Digital George Hiraiwa Palavras de Encerramento: Tomio Katsuragawa, presidente da Comissão Bunkyo Rural
O conteúdo completo do evento está no vídeo, que pode ser acessado pelo www.youtube.com no Canal Bunkyo Digital 11
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MENSAGENS TRANSMITIDAS DURANTE A ABERTURA DO 13°BUNKYO RURAL - TOMÉ-AÇU
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Dr. Renato Ishikawa, Presidente da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social - Bunkyo
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Dr. Alysson Paolinelli, ex-Ministro da Agricultura (1974 a 1979)
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Sr. Silvio Shibata, Presidente da Associação Cultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu – ACTA
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Sr. Yuji Ikuta, Presidente da Associação Pan-Amazônia Nipo-Brasileira - APANB
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Sr. Masayuki Eguchi, Representante Chefe da Agência de Cooperação Internacional do Japão - JICA
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Sr. Keiji Hamada, Cônsul Principal do Japão em Belém
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Dr. Roberto Rodrigues, Ex-Ministro da Agricultura (2003 a 2006)
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Sr. Ryosuke Kuwana, Cônsul Geral do Japão em São Paulo
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Sr. Helder Barbalho, Governador do Estado do Pará
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Sr. Akira Yamada, Embaixador do Japão no Brasil
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A AGRICULTURA QUE CRIA FLORESTAS EM TOMÉ-AÇU Uma solução para o Brasil, que sofre pressões internas e externas por questões de preservação ambiental, foi apresentada por descendentes de japoneses do Estado do Pará no 13º Bunkyo Rural, que teve como tema "Sistemas Agroflorestais - SAFTA", e realizado no formato on-line no dia 16 de abril, contando com a participação de grandes autoridades.
Na década de 1950, ToméAçu prosperou com a cultura da pimenta-do-reino, chamada até de "diamante negro", e foi o seu maior produtor mundial, transformando aquela pequena cidade, distante 220 km de Belém, no detentor do segundo maior Produto Interno Bruto do Estado do Pará, perdendo apenas para a capital. A alegria durou pouco. Na década de 1960, após sucessivos cultivos da pimenta nas mesmas terras, começou a proliferação de fusariose, uma doença infecciosa causada por um fungo conhecido como "fusarium", que causa o apodrecimento da raiz. A fusariose pode ser vista também em qualquer cultivo, como maracujá, abacaxi e batata, e até hoje não foi encontrado um controle químico eficaz. Naquela época, muitas das plantações do "diamante negro" de Tomé-Açu fo13
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ram dizimadas por aquele fungo, e além disso, o preço do produto no mercado caiu no início da década de 1960 devido à concorrência de novos produtores de outros estados e também de outros países. Os agricultores de Tomé-Açu, que viviam bem até então, graças ao "diamante negro", passaram a ter uma vida realmente difícil, e não foram poucos os que deixaram o campo à procura de novos horizontes. Os japoneses que permaneceram na agricultura tiveram que buscar outras opções. Uma das mais interessantes foi o maracujá. O consumo dessa fruta começou a crescer em meados da década de 1970 à nível mundial. O Brasil, que nem figurava entre os maiores produtores no começo dos anos 70, chegou ao final da década como o maior exportador mundial. "A introdução da cultura do maracujá foi bem vista, uma vez que as condições climáticas ajudam, mas logo causou uma superprodução e o consequente excesso de oferta nos mercados do Pará e São Paulo, derrubando os preços", explica Alberto Oppata, presidente da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu - CAMTA, em sua palestra. Para evitar que tal problema se repita, a CAMTA decidiu investir numa unidade industrial para produzir-se polpas da fruta e assim aproveitar o excedente. Assim, a primeira indústria para processamento de 20 toneladas foi erguida em 1987, com a ajuda do governo japonês, através da Japan Internacional Cooperation Agency - JICA. Essa solução, com certeza, ajudou os produtores de maracujá e de outras frutas da região, porém, não resolvia um outro problema que é típico da monocultura, ou seja, aquele solo utilizado repetidas vezes para a mesmo cultivo facilitava a proliferação de doenças, como a fusariose. Além disso, para possibilitar uma alternância de solo, o agricultor precisava desmatar cada vez mais, provocando um desequilíbrio no meio ambiente nativo. O desequilíbrio ecológico causado pelos primeiros agricultores, que se fixaram na região, acabou ajudando, por exemplo, na proliferação dos pernilongos e da consequente transmissão da malária, o que levou muitos agricultores a perderem a vida.
A solução estava fisicamente bem perto Noboru Sakaguchi, engenheiro florestal recém-formado na Universidade Agrícola de Tóquio, chegou ao Estado do Pará em 1957, pretendendo cultivar serin14
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gueira e produzir a borracha. Ele plantou 12 hectares. Na época, Tomé-Açu vivia o auge da pimenta-do-reino e ninguém falava em desequilíbrio ambiental, exceto o engenheiro agrônomo japonês, Henkichi Hiraga, primeiro presidente da CAMTA fundada em 1949, que já advertia a todos sobre Noboru Sakaguchi o grande risco que corriam com a monocultura. Sakaguchi também plantou a pimenta-do-reino, mas se preocupou em plantar outras variedades no meio, que pudessem lhe proporcionar um retorno mais imediato. Sakaguchi percebeu que a própria natureza fazia o equilíbrio ambiental, e ao viajar pela Amazônia, notou que a população ribeirinha vivia de maneira simples, mas não passava fome. Os ribeirinhos plantam vários tipos de árvores frutíferas ao redor de suas casas, e enquanto uma está em fase de crescimento, outra dá frutos e eles se alimentam deles. Depois, quando termina a fase daquela fruta, a outra variedade está no ponto para ser colhida, e assim sucessivamente. Era um cultivo misto realizado de acordo com a própria natureza da Amazônia. Isso fez com que Sakaguchi começasse a plantar várias outras culturas de maneira mista. Ele chegou a explicar para outros agricultores, de que a agricultura deveria ser pensada de outra maneira na região Amazônica, que é diferente das regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas como a pimenta-doreino estava dando lucro, ninguém tomou providência. Afinal, ninguém mexe em time que está vencendo. Já as experiências anteriores dos imigrantes japoneses deveriam ter ensinado o risco da monocultura. As primeiras 187 famílias de imigrantes japoneses chegaram na Colônia Acará (atualmente Tomé-Açu) em 1929, através da Companhia Nipônica de Plantação do Brasil "Nantaku", para plantar cacau. Derrubaram árvores, promoveram queimadas, e plantaram uma área considerável, mas ignoraram os raios solares fortes da região, enquanto o cacau costuma crescer na sombra. Depois, tentaram cultivar hortaliças, e tiveram que providenciar o transporte dali até o porto, numa viagem de três horas, e mais o transporte de barco até o Mercado Ver-o-Peso, em Belém, que levava uma 15
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noite. Sofreram muito até encontrarem a pimenta-do-reino trazida em 1933, por Makinossuke Ussui, funcionário da "Nantaku", que viajou do porto de Kobe, no Japão, com a décima terceira leva de imigrantes. Ussui aproveitou a parada em Cingapura para pegar 20 mudas de pimenta-do-reino e as trouxe ao Brasil. Das 20 mudas, que foram preservadas na Estação Experimental de Açaizal, somente duas sobreviveram, mas foram suficientes para mudar o destino dos japoneses do Pará. Na época, já havia pimenta-do-reino naquele Estado trazida pelos portugueses, mas não era uma variedade produtiva. A monocultura da pimenta-do-reino deu bons resultados, mas foi uma alegria momentânea, e aprenderam então que, qualquer monocultura terá o mesmo destino.
A solução para evitar o desmatamento foi criar uma agricultura sustentável O engenheiro agrônomo Alfredo Homma, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, disse em sua palestra, que na Amazônia foram desmatados 78 milhões de hectares, que equivale mais do que os espaços ocupados pelos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná juntos, ou três vezes o tamanho do Estado de São Paulo. Ou numa dimensão internacional, cabem dois Japão nessa área desmatada. Esse é, portanto, um grande problema que precisa ser solucionado. A solução encontrada em Tomé-Açu, e que hoje é apontado como um modelo de gestão, expande para outras regiões da Bacia Amazônica e de vários países. Várias plantas são cultivadas simultaneamente no mesmo lugar, formando um equilíbrio, tal qual proporcionado pela natureza. O modelo recebeu o nome de SAFTA - Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu. A preocupação não é apenas de recuperação ambiental, mas sim, de proporcionar rendimentos aos produtores. Segundo Alberto Oppata, hoje, nas áreas onde havia o cultivo somente da pimenta-do-reino em Tomé-Açu, há uma plantação consorciada de culturas de curto, médio e longo prazo, ou seja, de maracujá, pimenta-do-reino, cacau, seringueira e dendê. Esse projeto foi feito entre as décadas de 80 para final de 90. Foi uma forma encontrada para que o agricultor tivesse uma renda de curto, médio e longo prazo. No primeiro ano, 16
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ele vai ter uma receita com maracujá, e antes do maracujá, o arroz e o feijão permitirão a subsistência. A pimenta-do-reino começa a produzir no terceiro ano, e o cacau começa a produzir no quinto ano como cultura perene. Hoje, tem também o açaí, no quinto ano, e no 35º ano já haverá uma formação completa com espécies florestais, e o agricultor teve rendimento durante todo esse tempo. O SAFTA fez com que o produtor não precisasse buscar e desmatar novas áreas. Fez com que o produtor pudesse se fixar numa área, produzindo no sistema consorciado, e pelos estudos, permanecendo durante 35 anos. Depois desse período, poderá extrair a madeira crescida e gerar mais recursos financeiros, para iniciar o ciclo novamente. A preocupação dos dirigentes da CAMTA também contempla a recuperação da fertilidade do solo. Depois de 90 anos extraindo os componentes minerais do solo através da agricultura e, principalmente, da monocultura, o solo precisa de recomposição, necessita da devolução desses materiais para se tornar produtivo novamente. Os compostos químicos, ou adubos, passam a não responder mais depois de algum tempo. Assim, a solução encontrada foi transformar os resíduos da produção do suco de frutas em compostagem para utilização na adubação. Esse material é vendido ao agricultor a preço de custo para melhorar a fertilidade do solo.
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A ajuda do governo japonês foi fundamental para o sucesso O governo japonês vem ajudando os imigrantes de Tomé-Açu a alcançarem uma estabilidade. Foi o que revelou Masayuki Eguchi, representante chefe da Agência de Cooperação Internacional - JICA, em sua palestra. Em 1974, em meio às dificuldades para encontrar uma cultura apropriada para as condições da região, o Japão apoiou a implantação da Instituto Experimental de Agricultura Tropical da Amazônia. Dez anos depois, a JICA ajudou na construção de uma fábrica de polpas da CAMTA para aproveitar melhor as frutas produzidas pelos cooperados, além de fornecer uma cooperação técnica para a difusão do Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu desde 1990. Entre 1990 e 2016, a JICA implementou sete projetos de cooperação técnica em conjunto com a Embrapa Amazônia Oriental e Apoio ao Projeto Comunitário. Esses projetos contemplam o desenvolvimento de um sistema de produção adequado para os trópicos úmidos da Amazônia, promoção da educação ambiental para moradores locais, atividades relacionadas à preservação da floresta, melhoria dos métodos utilizando os recursos florestais para melhorar a vida dos residentes ribeirinhos, desenvolvimento de mercado e plano de certificação agroflorestal, para ampliação de mercado, que proporciona aumento da renda dos agricultores, além de ajudar na conservação ambiental da Amazônia. Como resultado desse projeto, que foi implementado em parceria com a CAMTA e a Universidade de Agricultura de Tóquio, o cacau produzido em Tomé-Açu obteve a certificação Indicação Geográfica em 2018. Através da JICA, até hoje 659 técnicos brasileiros, incluindo profissionais da Embrapa, participaram dos Cursos de Capacitação no Japão sobre assuntos ligados à agricultura, e os temas mais recentes foram "Desenvolvimento de Valor de Cadeia" e "Transformação Digital". Entendendo que a Bacia Amazônica é um imenso conjunto que engloba vários países, e precisa ser preservado, a JICA vem realizando o Curso de Tecnologia de Sistemas Agroflorestais a nível internacional. No curso realizado em ToméAçu, participaram técnicos da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, onde a experiência da comunidade nikkei de Tomé-Açu ajudou na elaboração de planos de ação nesses países.
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Açaizeiro - foto CAMTA
Cabe lembrar, que além do auxílio técnico e financeiro para a agricultura, a JICA oferece ajuda na área de serviços de saúde. A população nikkei local estava envelhecendo e necessitando de assistência médica, enquanto os serviços públicos não conseguem atender essa grande demanda. No Pará, a Beneficência Nipo-Brasileira da Amazônia, com o nome anterior de Associação de Assistência aos Imigrantes Japoneses da Amazônia, foi fundada em 1965, e possui atualmente o Hospital da Amazônia em Belém, o Hospital Amazônia de Quadro Bocas, em Tomé-Açu, e o Centro de Reabilitação Social em Ananindeua. A construção dos hospitais contou com a ajuda da comunidade local, de instituições e empresas japonesas. A Beneficência Nipo-Brasileira da Amazônia oferece ainda serviços de atendimento médico móvel às pessoas que residem em locais de difícil acesso, e esse trabalho é desenvolvido em parceria com a JICA. Segundo Eguchi, entre 2021 e 2026, a JICA implementará o projeto para a melhoria do desmatamento ilegal na Amazônia através de tecnologias avançadas do Radar de Abertura Sintética (SAR) e inteligência artificial, junto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA. A entidade executará também o projeto de agricultura inteligente, que recebeu o nome de "Desenvolvimento Colaborativo da Agricultura de Precisão Digital para o Fortalecimento do Ecos19
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sistema de Inovação e a Sustentabilidade do Agro Brasileiro", junto com a Embrapa. Em relação a esse projeto, foi definida como área piloto a comunidade de Tomé-Açu, que poderá ter o horizonte ampliado para obter melhores resultados na produção.
Empresas também investem no Sistema Agroflorestal A preocupação com o aquecimento global tem levado instituições e empresas do mundo inteiro a olharem para a Bacia Amazônica, que tem o maior volume de água doce do mundo e abriga a maior floresta equatorial e tropical do mundo, e é extremamente rica em biodiversidade, fauna e flora, sendo em grande parte responsável pelo equilíbrio ambiental e climático do mundo. Uma dessas empresas é a Natura, uma indústria nacional de cosméticos, que participou do 13º Bunkyo Rural através da sua coordenadora de inovação Camila Brás Costa, apresentando a ligação da empresa com a SAFTA. A Natura possui um estudo de 13 anos, que pode ser o mais completo estudo de sistema agroflorestal com dendê do mundo. O óleo de palma, também conhecido como azeite de dendê, é extraído do fruto da palmeira de dendê, e é o óleo mais consumido no mundo. Mais de 50% dos produtos que estão na gôndola de supermercado contém o óleo de palma e na indústria de cosméticos também se faz uso do mesmo óleo. Os principais produtores mundi- Dendê gera o óleo mais consumido do mundo ais do óleo de palma, que são a Malásia e a Indonésia, mostram que a cadeia de fornecimento do óleo está atrelada ao desmatamento e está gerando conflitos sociais, porque a produção não contempla a sustentabilidade de forma abrangente. Na Amazônia brasileira, que também produz dendê, pode-se obter um resultado muito melhor porque está sendo introduzido dentro do sistema agroflorestal. Quando comparado com a monocultura do dendê, que comporta 143 plantas 20
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em um hectare, no SAF o dendê terá menos aproveitamento da terra (81 a 99 plantas por hectare) porque está no meio de outras plantas. Mas o objetivo é ter diversidade, por isso, na mesma área tem cacau, açaí e espécies anuais que ajudam o agricultor a cobrir os custos iniciais de implantação. Dessa forma, é possível aproveitar as áreas desmatadas e reconstituir a floresta, e ainda possibilitar um meio de vida aos produtores locais. Outro investimento da Natura nessa região amazônica é na ucuúba, que é uma planta cujo fruto oferece uma manteiga usada para hidratação e que é utilizada nos produtos da Natura. Antes disso, a ucuúba servia apenas no aproveitamento de sua madeira para produtos como cabo de vassoura e na construção civil, sem alcançar um valor relevante. "Temos relatos dos agricultores, que pela venda para a Natura eles passaram a receber três vezes mais do que recebiam na venda da madeira. E nós falamos num horizonte de produção de pelo menos 10 anos, por isso, a ucuúba, que é uma espécie ameaçada de extinção, passa a ser um recurso genético valorizado dentro daquele bioma e também trazendo uma renda interessante para o agricultor", concluiu Camila.
O olhar do governo federal sobre a agricultura do futuro O agronegócio até o final da década de 1990, mostrava que era necessário um grande volume de terras e muitas horas de trabalho do homem para se promover a produção no campo. Até essa época, menos de 25% da produtividade era explicada pelo fator tecnologia. Já na virada do século, mais de 70% dos fatores tem a ver com a introdução da tecnologia, pela inovação, explica Cleber Oliveira Soares, diretor de inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, mostrando como a tecnologia se tornou importante para a agricultura em tão pouco tempo. Traçando um cenário para a agricultura no futuro próximo, Cleber citou a população mundial atual de 7 bilhões de pessoas, que segundo estimativas, deverá ser de 9 bilhões de pessoas em 2050. Para atender essa demanda, a produção agrícola precisa crescer globalmente 70% até lá, e em países em desenvolvimento, a demanda será ainda maior e deverá chegar a 100%, ou seja, o dobro da produção atual. Haverá um crescimento populacional, uma expectativa de vida maior e, possivelmente, um maior poder de compra, o que gerará um aumento na demanda de alimentos. 21
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Para que isso seja possível, há uma grande necessidade de se investir em tecnologia, e além da aprendizagem do uso das ferramentas digitais, será necessário introduzir a agricultura de precisão, inteligência artificial e sobretudo inovação. O Brasil é uma grande potência agrícola e o principal exportador as maiores commodities do mundo, mas ainda é um importador de gêneros alimentícios. O sistema que combina sustentabilidade com bioeconomia gera riqueza e outros ativos ambientais, como exemplo, a mitigação de CO², que gera créditos de carbono e outros componentes que podem ser monetizados. Nesse quesito, o país está melhorando. Há 12 ou 15 anos, o Brasil tinha 5 milhões de hectares em sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta. No ano passado, foi estimado que existem 15 milhões de hectares. O MAPA irá anunciar em breve o Observatório Nacional da Agropecuária Brasileira, que terá painéis temáticos de quase toda produção agropecuária brasileira, fornecendo um mapa da produção e projeção nacional e também previsão dos potenciais problemas que poderão surgir. Um problema que precisa ser resolvido é que atualmente só 23% do espaço agrícola possui alguma conectividade. A projeção é dobrar a conectividade atual no meio rural em dois anos, instalando em torno de 5 mil antenas no campo.
Unindo as ideias de jovens com a agricultura O último palestrante da programação foi o engenheiro agrônomo George Hiraiwa, coordenador do Polo de Inovação Agro, que tem a chancela do MAPA. Participante do 11º Bunkyo Rural realizado em 2020, neste evento ele falou da importância das cooperativas na inovação tecnológica. "Inovação é coisa simples, é a observação e o aprendizado e pode acontecer em qualquer lugar, não precisa ser num grande centro nos Estados Unidos, Japão ou São Paulo. Tomé-Açu é extremamente inovadora", disse Hiraiwa, que depois descreveu a versatilidade dos agricultores nas culturas que se seguiram após a chegada dos imigrantes japoneses ao local em 1929. Entrando nos anos 2000, na agricultura digital, tudo aconteceu muito rápido. A 22
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Hackathon Smart Agro de 2017
porta de entrada para a agricultura digital foi a agricultura de precisão, ou seja, os maquinários, e hoje se faz gestão da produção por metro quadrado e até do ponto se for necessário. Para o agro a tecnologia vai ajudar na eficiência e a buscar produtividade, e se não for assim, não faz sentido. É importante a participação das cooperativas porque são elas que poderão levar essa tecnologia, a inovação, aos pequenos e médios produtores. "Nós aqui na região (Londrina) fizemos em 2016 o primeiro hackathon no agro. É impressionante a velocidade com que as coisas acontecem, e hoje temos um ecossistema pujante onde todas as academias, instituições de pesquisa, as cooperativas e empresas participam para traçar o caminho que nós queremos inovar. Isso é interessante porque se cria um ambiente principalmente para o jovem. Para a cooperativa, estimular a questão do ecossistema é funHackathon de Londrina (site: StartAgro) 23
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damental até para trazer os jovens para mais perto, e aí ele vai estar sempre perto acompanhando". "Outro aspecto, que está muito forte, são os fundos ESG (ambiental, social e de governança) ofertando dinheiro para o Brasil. Eles precisam investir em sequestro de carbono (remoção do gás carbônico da atmosfera) e um líder de cooperativa precisa estar muito antenado para ver o que está vindo. Já construíram toda a base do ESG, da agricultura sustentável. Agora é ter agilidade e utilizar a tecnologia para realmente aproveitar esses recursos que estão chegando. Há muita coisa acontecendo. Ontem, o Bacen acabou de lançar o birô verde, que é uma premiação para quem pratica agricultura sustentável", afirmou. "A questão que chama muita atenção é a segurança alimentar. O futuro será uma gestão conjunta do health tech (tecnologia da saúde), do food tech (tecnologia da produção alimentar) e do agri tech (tecnologia da produção agrícola). Existem 20 hubs de inovação na agricultura no Brasil, que é um espaço onde chegam as informações e se discute inovação e tecnologia. Tudo está acontecendo muito rápido". George Hiraiwa finalizou passando um recado para os jovens: "Estudem agricultura e estudem tecnologia da informação, e será um profissional muito valorizado no mercado de trabalho". O 13º Bunkyo Rural foi uma promoção conjunta da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social - Bunkyo, Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu - CAMTA, Associação Pan-Amazônica Nipo Brasileira, e Associação Cultural de Tomé-Açu - ACTA; teve o patrocínio da Fundação Kunito Miyasaka, Natura, CAMTA, Jacto, Sakata, Grupo NK, e Assessoria Kenji Kiyohara, e o apoio da Embaixada do Japão, JICA e Jornal Nippak
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SUSTENTABILIDADES E CRÉDITO DE CARBONO Palestrante: Cléber Oliveira Soares Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária Muito boa noite a todos. É um prazer estar aqui neste importante evento do 13º Bunkyo Rural. Quero cumprimentar a todos em nome do Sr. Renato Ishikawa, presidente do Bunkyo Rural, em nome do meu amigo, nosso eterno ministro Alysson Paolinelli, uma figura fantástica, uma grande liderança do agronegócio mundial; e cumprimentar o Dr. Alfredo Homma, nosso pesquisador da Embrapa; e, ao cumprimentá-lo, cumprimentar todos os painelistas e todos os colegas que estão aqui conosco neste importante evento. Eu fiz uma apresentação como guia. A ideia é falar um pouco sobre as perspectivas de inovação do agronegócio brasileiro. Uma agenda que estamos construindo sob uma liderança de nossa ministra Tereza Cristina, nosso secretário Fernando Camargo, e, nesta perspectiva de inovação, focar um pouco sobre a agenda de sustentabilidade, especialmente temas importantes e estratégicos para o desenvolvimento sustentável e o abastecimento, e o cumprimento da segurança alimentar do Brasil e do Mundo, por que não? Haja visto que o Brasil é uma grande potência, e uma grande liderança no agronegócio. E a ideia aqui é trazer algumas perspectivas e alguns panos de fundo partindo do princípio que, inicialmente, nós estamos modelando a estratégia de inovação para o agronegócio em cima de um pano de fundo que, 25
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dentre os principais fatores que estão influenciando a curva de progressão socioeconômica em qualquer atividade econômica - e no agronegócio não é diferente -, diante das mudanças rápidas de transformações que estão acontecendo na história da humanidade, os fatores, por exemplo, de cunhos social, governança, político, de negócios, já não são mais grandes fatores que estão promovendo essa curva de mudança socioeconômica. Se nós pegarmos o segmento do agronegócio e fizermos uma retrospectiva até final dos anos 90, mais de 70% dos fatores que explicavam o crescimento, especialmente produtividade do agronegócio brasileiro, eram dados pelo fator terra, ou seja, era necessário ter grande volume de terra, e pelo fator trabalho, no sentido que eram necessárias muitas horas-homem e muitas horasmáquinas para se promover uma produtividade no campo. E até o final dos anos 90 no Brasil agrícola, menos de 25% do fator de produtividade era explicado pela tecnologia. O que esse pano de fundo atual nos diz? Na virada do século, mais de 75% dos inputs e crescimentos socioeconômicos do agronegócio estão sendo explicados pela adoção tecnológica e de tecnologia, consequentemente, pela inovação. Ao ponto de hoje, nós visualizarmos no futuro muito próximo uma lógica e um modelo equacional que nós chamamos de B exponencial (B²) que é a combinação do biológico do agro exponencializado pelos bits da ciência da computação e das ciências digitais. Ao ponto 26
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de nós acreditarmos, eu particularmente muito, de que muito em breve os indicadores de produtividade deixarão de ser pautados, por exemplo, de litros por hectares, e não mais arrobas por hectares ou toneladas por hectares, ou quilos por hectares, e sim tecnologia por hectares. Por que essa visão? Pelo fato de que em um grão de soja, em copo de leite, em um bife de picanha ou um filé de pescado, tem tanto ou mais tecnologia do que as tecnologias embarcadas, por exemplo, nos componentes digitais. Então, esse pano de fundo das tecnologias da inovação alavancando e acelerando a transformação do agronegócio, especialmente, produtividade e produtividade associada à sustentabilidade, é uma das forças motrizes que nos faz olhar e selecionarmos cinco grandes drivers de inovação para o agronegócio brasileiro, que eu comentarei logo na sequência. Um outro pano de fundo importante é que no cenário futuro da agropecuária no mundo e nos trópicos, e no Brasil não é diferente - muito menos na região Amazônica e no território Tomé-Açu -, nós temos que ter em mente que a população global tende sempre a crescer. E nessa expectativa de crescimento, até um horizonte 2050, é muito bem sabido e conhecido, que haverá um diferencial de cerca de 2 a 2,5 bilhões de pessoas a mais na superfície da terra.
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Aqui o ponto de atenção é: com o crescimento populacional haverá e está havendo um aumento da expectativa e também um aumento do poder de compra, independentemente de qualquer cenário político, social e econômico e, consequentemente, serão necessários mais água - no sentido de otimização da água -, mais energia, mais alimentos, mais fibras e outros derivados, digamos assim, que venham do solo. Aqui o olhar não é só na agricultura, é um olhar da conexão da agricultura com a alimentação em comunidade. E, por outro lado, nós precisamos ter a ciência e a consciência de que as mudanças climáticas como um todo e, especialmente, os eventos extremos serão um dos fatores mais preponderantes como limitante da produção agropecuária como um todo. Dados estes panos de fundo, nós estamos formulando uma agenda de inovação para o Ministério da Agricultura e, consequentemente, seu transbordamento para todas as cadeias produtivas, todos os atores e elos do segmento produtivo do agronegócio brasileiro, pautada numa lógica de que o agronegócio brasileiro será cada vez mais bio - no sentido de suportável por ativos biológicos e digital - no sentido de que as ciências computacionais e digitais irão acelerar, como já estão acelerando, a transformação do agronegócio tropical e do agronegócio brasileiro.
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Diante desta perspectiva, nós estamos trabalhando em cima de cinco grandes eixos estratégicos e de algumas linhas diretivas. Um desses eixos estratégicos, senão o primeiro deles, mais importante e estratégico de fato, tem a ver com a Sustentabilidade. Por que Sustentabilidade? Sustentabilidade está no topo da agenda de qualquer corporação, de qualquer nação, de qualquer formulação estratégica. E quando nós falamos de sustentabilidade, a sustentabilidade é para além do olhar dos processos produtivos, para além do olhar dos modelos conceituais, para além do olhar da água, do carbono, do solo, mas também do componente clima e tempo. Não dá para nós falarmos de sustentabilidade, mesmo que seja no processo de descarbonização, se nós não olharmos a interface dos alimentos que compõem aquele sistema de produção. E por que não anteciparmos o futuro e o presente e pensarmos, visualizarmos em cima do agronegócio sustentável brasileiro um branding - uma narrativa como é muito bem pautado pelo nosso ministro Alysson Paolinelli - de que o agronegócio brasileiro é, sem sombra de dúvida, sustentável? O segundo eixo de inovação estratégica tem a ver com a Bioeconomia. Por que Bioeconomia? A bioeconomia tem como vários princípios, mas especialmente, um que nos chama muita atenção: o Brasil está diante da maior biodiversidade do planeta, está diante em termos absolutos e em termos relativos também. Nós temos no território brasileiro algo em torno de 20-22% da mega
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biodiversidade do planeta. Então, quando nós falamos de bioeconomia, nós estamos diante de uma oportunidade de alavancagem da economia agropecuária em cima da amplitude e diversificação da nossa matriz produtiva. A bioeconomia no olhar do Ministério da Agricultura é um olhar não só componente como, por exemplo, de bioinsumos - como nós lançamos recentemente sob a liderança da nossa ministra o Programa Nacional de Bioinsumos, que em ToméAçu é muito bem utilizado, como é o caso do uso de componentes para controle biológico de pragas, seção biológica de nitrogênio dentre outros temas. Tem a ver também com as diretrizes de linhas associadas aos recursos genéticos como bem citou, o nosso governador do Estado do Pará. Um exemplo clássico do uso sustentável do desenvolvimento do recurso genético natural do bioma brasileiro é o açaí, o guaraná, a Região Amazônica tem N exemplos para poder dar, não só para o Brasil, mas também para o mundo. E aqui chama a atenção, se nós olharmos o componente da oportunidade da bioeconomia brasileira e compararmos, contrastarmos isso com a situação da segurança alimentar no mundo, percebam que no mundo inteiro existe algo em torno de 8,7 milhões de espécies vegetais, destas, 20-22% estão no Brasil, e do total de 8,7 milhões, 70% da base alimentar do mundo está pautada em 9 espécies. E dessas 9 espécies nenhuma tem centro de origem no Brasil, e isso todos nós conhecemos muito bem, as espécies clássicas como milho, arroz, mandioca, palma de óleo, beterraba, e várias outras espécies. Então percebam que, ao mesmo tempo que é um grande desafio e uma grande oportunidade, o agronegócio brasileiro, no sentido lato da palavra, olhar para bioeconomia como um grande eixo estratégico. Além do componente da diversificação da sua matriz positiva, da biologia avançada, usando aí por exemplo, a edição gênica, a da própria bioenergia a partir da geração de energia renovável com biomassa, dentre outros e outros componentes. O terceiro eixo estratégico numa agenda de inovação para a sustentabilidade tem a ver com Digital. O Digital é para um olhar além da aprendizagem virtual, além do uso de ferramentas para agricultura de precisão. Nós estamos vivendo um momento onde a agricultura digital, onde a digitalização da agricultura, já não tem mais limites. A pandemia da Covid-19 acelerou de forma extremamente revolucionária a forma com que o agronegócio brasileiro, independentemente do tamanho, da escala, do tipo de produtor e inclusive do seu padrão social, usa os componen30
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tes digitais no seu dia a dia. Então, quando nós falamos do Eixo de Digital da agricultura, nós estamos falando de avançar em conectividade, avançar com ferramentas de inteligência artificial, avançar em agricultura de precisão e, porque não, para anteciparmos o futuro. E aqui, eu acho que é uma grande oportunidade a experiência das corporações japonesas e do estado japonês contribuir para alavancar tecnologias de ponta como Gêmeos Digitais e computação holográfica na nossa agricultura seja para pequenos ou médios, independente da escala. O quarto eixo de inovação é um olhar que damos muita atenção para o desenvolvimento das cadeias de ciclo curto, que é o nosso eixo de Inovação Aberta. Nós temos como princípio o olhar de Inovação Aberta suportado pelo fortalecimento da matriz da relação de parceria do agronegócio, ou seja, apostamos muito que o agronegócio continuará crescendo e acelerar seu crescimento a partir da experiência com outros setores econômicos e vice-versa, e outros setores econômicos ganharão mais força a partir da experiência do agronegócio. Para isso, nós estamos trabalhando numa agenda muito forte de fortalecimento e desenvolvimento das startups do agro, as nossas famosas agritechs, for31
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mulando o fortalecimento de ecossistemas de inovação, alianças estratégicas, mas sobretudo com princípio de empreendedorismo e o desenvolvimento de cadeias de ciclo curto. O que eu quero dizer com cadeia de ciclo curto? O consumidor quer cada vez mais, além de saber o produto que ele consome, saber a origem dele, quem produziu, como foi produzido, qual é a segurança que ele tem, especialmente quando se trata de produto alimentício. Mais uma vez: a pandemia do Covid-19 tem mudado a relação, a percepção e o hábito de consumo de nós consumidores com aquilo que nós ingerimos e colocamos na boca. E o quinto eixo estratégico é o eixo que denominamos Food Tech. Por que Food Tech? Nós somos sem sombra de dúvidas, como país, como nação agrícola, uma grande potência agrícola, mas percebam que nós somos muito mas muito eficientes - somos aí primeiro, segundo ou terceiro maior produtor exportador das principais commodities agrícolas do mundo - em contrassenso, nós importamos produtos processados. A lógica de desenvolver um agenda de Food Tech é exatamente a lógica de nós adicionarmos e agregarmos valor, sobretudo capturarmos valor sobre a agenda de produtos alimentícios, seja desenvolvendo novos ingredientes, seja desenvolvendo agenda de produtos plant-based, seja desenvolvendo, por exemplo, agregando um exemplo de Tomé-Açu a identidade da denominação geográfica de origem como vocês fizeram muito bem aí com o cacau, com o selo dedicado para a região de Tomé-Açu, seja desenvolvendo alimentos cultivados e, por que não, olharmos para a agenda de agricultura vertical, agricultura intensiva e fermentação de precisão. Dado esse panorama, dos 5 eixos estratégicos de inovação para a agricultura brasileira que está sendo pautado pela nossa ministra Tereza Cristina, eu quero trazer aqui alguns exemplos, alguns insights de ações que nós já estamos desenvolvendo especialmente na lógica de Sustentabilidade. Em Sustentabilidade, nós temos no Brasil algumas grandes experiências. Eu trouxe aqui - para não ser exaustivo -uma grande experiência que é o componente do protagonismo do consumidor. Nós estamos num momento ímpar no Brasil, do Brasil se posicionar como, de fato, um país cuja agricultura é descarbonizante, é sustentável, para além de um sistema de integração lavourapecuária, onde produz carne, leite, milho, soja, eucalipto, madeira, e produz bem-estar animal. Nós estamos conectando a agricultura a pessoas, e para 32
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isso, com esse propósito que a Embrapa, em parceria com o grupo Marfrig, colocou no mercado brasileiro, no meio do ano passado, o primeiro produto realmente MRV, realmente mensuráel, reportável e verificável, de forma que a sustentabilidade esteja de fato estimada, calculada e presumida. Um outro exemplo clássico que trago, no momento nós estamos olhando na lógica da sustentabilidade, e na transição da sustentabilidade para bioeconomia, é um modelo lógico na nossa percepção e está acontecendo no agronegócio brasileiro, cada vez mais fortalecendo a sua sustentabilidade. Percebam que a agricultura brasileira tem evoluído e vai evoluir de forma cada vez mais célere, nós passamos e continuamos com um pé muito forte na Revolução Verde, que foi a primeira grande onda da agricultura brasileira, foi iniciada de forma forte inclusive sob a liderança do nosso ministro Alysson Paollineli, entre os anos 1960 e 1990. Ainda é importante sim para a nossa agricultura, que é a agricultura baseada em monocultura numa visão monodisciplinar, com a produção muito forte de commodities, suportada por insumos sintéticos. Mas já estamos com um pé muito forte - para não dizer muitos pés - na segunda onda, no segundo movimento, que são os Sistemas Integrados de Produção, onde a lógica é a intensificação sustentável da cadeia produtiva, um olhar cada vez mais disciplinar. Estamos num momento de transição saindo de com33
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modities para a produção de alimentos, onde são produzidas, sob a mesma área, várias culturas. Mas o Brasil já antecipou o futuro e já estamos dando o próximo salto, a terceira grande onda da agricultura tropical, que é a Agricultura de Base Ideológica, onde num sentido positivo, os sistemas são cada vez mais complexos, a visão é cada vez mais multi ou transdisciplinar, aqui o olhar é para além de uma agricultura clássica de produzir alimentos e fibras, nós estamos produzindo multifuncionalidades, estamos produzindo aromas, ingredientes, componentes para fins farmacêuticos, cosméticos etc. E a visão aqui é de uma agricultura suportada por ativos biológicos, e para os senhores terem ideia do que eu estou falando em termos de dimensão, nesta safra de verão 2020-21, temos uma estimativa de que foi plantado no Brasil algo em torno de 42 milhões de hectares utilizando, por exemplo, fixação biológica de nitrogênio, que são as famosas bactérias de autotroca. Isso é simplesmente revolucionário, isso mostra que o futuro em termos de bioeconomia e sustentabilidade será cada vez mais uma agricultura suportada por ativos de base biológica. E os senho34
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res, principalmente da cultura japonesa conhecem muito bem. Além do modelo que está crescendo a uma velocidade tamanha, que são os sistemas integrados de produção, onde dentro dos sistemas integrados de produção, no modelo ILPF, as SAF (Sistemas AgroFlorestais) estão contidas. Agora, qual a importância dessa modelagem dessa perspectiva de combinar sustentabilidade e com bioeconomia? Tem várias importâncias, além de gerar a renda, riqueza, gerar a adição de valor e qualidade de vida, e também gera os ativos ambientais e ativos também econômicos. Aqui eu trago como exemplo o modelo lógico da evolução de Sistemas Integrados Lavoura-Pecuária-Floresta no Brasil (ILPF). Se nós voltarmos 12-15 anos atrás, nós tínhamos no Brasil algo em torno de 5 milhões de hectares em Sistemas Integrados Lavoura-Pecuária-Floresta e, no ano passado, nossos amigos da Embrapa estimaram que nós temos algo em torno de 15 milhões de hectares de Sistemas Integrados Lavoura-Pecuária-Floresta. E aqui, pegando apenas um recorte no horizonte temporal percebam que, quando nós utilizamos Sistemas Integrados, ou Sistemas Agrícolas Florestais, como são os casos das SAFs, nós mais do que produzindo e entregando produtos sustentáveis,
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nós estamos também contribuindo para outros ativos que podem ser monetizados, como, por exemplo, os ativos de mitigação de CO2, consequentemente, a mitigação de gás do efeito estufa, derivados positivos como, por exemplo, créditos de carbono e outros componentes que podem ser monetizados. Esse é um modelo lógico que nós visualizamos, que SAFs podem e têm tudo para continuar crescendo e contribuindo para além da entrega de produtos possíveis. Na agenda de Digital, mais uma vez a transformação digital no campo está muito célere, não é à toa que em 2017 para 2018, a cultura japonesa e as corporações japonesas cunharam o conceito incialmente denominado Sociedade 5.0. Com a situação da pandemia da Covid-19 este conceito caiu por terra, e hoje está se chamando Sociedade Digital. Isso mostra que o digital está mudando o paradigma de todos os setores econômicos. Com esse olhar e com essa visão, nós estamos desenvolvendo no Ministério da Agricultura uma estratégia. Nós temos um grande market place, uma lógica de Observatório Nacional da Agropecuária Brasileira, que muito em breve nossa ministra irá fazer esse anúncio, mas aqui estou trazendo para os senhores 36
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alguns highlights. Esse Observatório Nacional da Agropecuária Brasileira suporta e projeta grandes painéis temáticos, painéis estratégicos vinculados, por exemplo, aos principais produtos agrícolas brasileiros, e com isso nós podemos ter uma dimensão de safra, de previsão de colheita, de previsão também de potenciais problemas. Estamos projetando também painéis associados a temas estratégicos como, por exemplo, crédito rural, como zoneamento agrícola de risco climático para as principais culturas agrícolas brasileiras, e nós estamos também formulando painéis que nós chamamos de mapa geointerativo, onde para nós do setor agropecuário é importante sabermos qual é a dinâmica da cobertura de uma dada cultura, por exemplo, a soja, milho, pecuária, enfim, cacau, na superfície do território brasileiro. Esses painéis, muito em breve, estaremos anunciando por meio da nossa ministra Tereza Cristina. Além da lógica do Digital, nós sabemos muito bem que uma das grandes demandas de todos os setores do agronegócio brasileiro diz respeito à conectividade rural. Essa é uma agenda, uma das prioridades, senão a prioridade número 1 da ministra Tereza Cristina. Nós estamos atuando e trabalhando muito forte para darmos um salto em termos de conectividade no campo. A situação de conectividade rural no Brasil, nós sabemos que é muito crítica. No melhor cenário, que é essa imagem à esquerda, nós temos apenas 23% do 37
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espaço agrícola rural brasileiro com algum nível de conectividade. Nossa expectativa, nós já estamos com a estratégia pronta, nossa expectativa num horizonte de tempo curto, provavelmente num tempo de dois anos, nós pelo menos dobrarmos a conectividade rural no Brasil, com um adicional de algo em torno de 5 mil torres, antenas, provendo a conectividade no campo. E nós sabemos que, quando se leva conectividade, nós, consequentemente, estaremos adicionando e agregando valor, não só ao produto, mas para toda a sociedade que convive no espaço rural. O quarto eixo: nós estamos atuando muito forte em Inovação Aberta, e aqui o nosso princípio é a lógica de fortalecer a relação matriz parceria, estamos mapeando as agritechs ou startups que atuam no agro. Fizemos um exercício em 2019, onde foram mapeadas 1.125 startups que atuam tanto antes da porteira, quanto dentro da porteira quanto depois da porteira no Brasil. O link do acesso completo ao estudo do radar é www.radaragtech.com.br . E, agora, no dia 28, a nossa ministra vai anunciar o radar agritech 2020-2021, onde nós mapeamos 2.456 startups em plena operação no agronegócio brasileiro. Então, percebam a evolução e a velocidade na qual a inovação aberta está acontecendo no agronegócio. Em 2019, nós tínhamos 1.125; em 2020-2021, nós já estamos com mais de 2.400 startups. Esse é um modelo que está acon38
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tecendo no mundo inteiro e o Brasil não está ficando para trás, muito pelo contrário.
Aqui é apenas um exemplo de modelo de Inovação Aberta, uma chamada que nós fizemos voltada para o tema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) que é o ILPF Conecta. E o último exemplo que queria trazer, para encerrar, tem a ver com o eixo de Food Tech, onde nós precisamos, como comentei, adicionar, agregar e capturar valor sobre o agronegócio. É importante sabermos disso, mas não podemos continuar sendo apenas um grande provedor de commodities do mundo. Nós temos que agregar valor sobre os nossos produtos agrícolas. E aqui para não ser exaustivo, trago um exemplo: o Brasil é o maior produtor de café do mundo, nós somos o maior exportador de café do mundo, e precisamos ser referência em café de qualidade, em sabor, gourmetização, em máquina, em processamento, em blending, em cápsula, como são os países da Europa. Agradeço a todos pela atenção e espero ter explanado aqui sobre a perspectiva de inovação do agronegócio brasileiro e sigo à disposição. Obrigado.
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SAFTA - SISTEMAS AGROFLORESTAIS: ALTERNATIVA PARA A AMAZÔNIA Palestrante: Alfredo Homma Embrapa Amazônia Oriental Como o tempo é muito curto, eu gostaria de colocar três pontos como contribuição para o debate: 1 - Algumas das principais conquistas na agricultura na Amazônia e os também seus principais problemas. 2 - Grandes oportunidades que os Sistemas Agroflorestais (SAFs) apresentam para a Amazônia na busca de uma agricultura mais sustentável para a região. 3 - Trazer algumas conclusões com base nesses dois cenários. Eu não vou comentar sobre a história da imigração japonesa e nem a história dos SAFs, os quais acredito que já estejam sendo comentados por outros participantes. A agricultura da Amazônia deixou de ter uma importância de uma agricultura local, regional, estadual e passou a ter uma dimensão nacional e até internacional, como o dr. Allysson já falou. Mato Grosso é o maior produtor de algodão, de soja e de milho, e concentra o maior rebanho bovino brasileiro. O Estado do Pará, desde 1992, é o maior produtor de mandioca do país, maior produtor de abacaxi, maior produtor de cacau, de dendê e de assaí, e Rondônia também se destaca tornando-se na maior criadora de peixe nativo do país. Isso sem falar 41
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em outros estados que ficam entre a segunda até a quinta colocação nesses mesmos produtos, por exemplo, os estados do Tocantins e do Maranhão. Porém, nós temos também grandes problemas sobretudo no que se refere aos problemas ambientais, que começam a prejudicar o agronegócio brasileiro. A política ambiental brasileira teve um sucesso de 2004 até 2014, quando nós saímos da faixa de 2,5 milhões de hectares e conseguimos chegar a 500 mil hectares. À partir do segundo governo da Dilma Roussef, o desmatamento da Amazônia começa a subir e, no ano passado, nós desmatamos algo em torno de 1 milhão de hectares, dos quais o estado do Pará desmatou a metade, o estado do Mato Grosso desmatou algo em torno de 180 mil, Amazonas 150 mil, e Rondônia cerca de 125 mil hectares. Parece que a bola da vez está sendo agora o estado do Amazonas, que não desmatava e passou a desmatar, e Rondônia, que ficava na terceira posição, passou para a quarta. É neste contexto que eu queria colocar a importância dos SAFs no centro das alternativas. Nós já desmatamos na Amazônia 78 milhões de hectares, que equivale mais do que a soma dos espaços de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná juntos, ou três vezes o estado de São Paulo. Ou numa dimensão internacional, cabem dois Japão nessa área desmatada. Então, nós temos muita área desmatada. Eu acho que bastaria usar uma fração dessa área para reduzir essa pressão de desmatamento da floresta densa e da vegetação secundária. Para fazer a recuperação das áreas desmatadas o
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custo é muito alto, precisamos diminuir esse custo. Por exemplo, no estado do Pará, um pequeno produtor chega a pagar R$ 300,00 ~ 350,00 por tonelada de calcáreo. A experiência da imigração japonesa em Tomé-Açu trouxe uma grande experiência em relação aos sistemas agroflorestais, provando que o sucesso dos SAFs depende muito do mercado de uma planta componente, do mercado dessas plantas que fazem parte dos SAFs. Precisamos sair do romantismo visto em congressos nacionais e internacionais, de que o SAF pode ser feito num estalar dos dedos. A viabilização de um SAF e sua plena implementação pode demorar 5, 10 até 15 anos, uma vez que nós temos que esperar, por exemplo, uma castanheira produzir, o que leva de 10 a 15 anos, e assim por diante. Nós precisamos fazer então adaptação dessa SAF de Tomé-Açu para outros locais da Amazônia. Outra coisa importante, que eu acho muito mais importante, é a experiência dos produtores de Tomé-Açu proporcionando sempre uma retaguarda de novidades, que são adicionadas. O que, no caso de cultivo de alguns produtos perenes, basta uma fração de área plantada que já satura o mercado. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café e tem apenas 1,8 milhão de hectares de área plantada. É o maior exportador do suco de laranja, com apenas 600 mil hectares. No caso de culturas anuais nós precisamos de grandes áreas. O Brasil tem 37 milhões de hectares de soja, 17,5 milhões de hectares de milho e assim por diante.
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Essa experiência proporciona a existência de Imigrantes japoneses em ToméAçu, que são especialistas em castanha, em bacuri, e em outros cultivos, o que resultou em sete imigrantes japoneses da região laureados com o prêmio Kiyoshi Yamamoto, além de outros prêmios, como o Finep, Samuel Benchimol, Celso Furtado, e assim por diante, onde tem sempre novidades que são acrescentadas. O segundo ponto que eu queria enfatizar é que nós temos que fazer uma política de expansão dos SAFs na Amazônia. E uma das culturas que eu considero muito importante é o cacau. Pará tornou-se o maior produtor de cacau do Brasil. Doença no cacau da Bahia, que ficou reduzida a um quarto da quantidade máxima atingida. Desde que entrou a doença "vassoura de bruxa" no cacau da Bahia, em, 1989, a produção de cacau na Bahia ficou reduzida a um quarto da quantidade máxima atingida e o Brasil passou a ser um grande importador de cacau, importando de 15 a 26% do cacau pagando 200 a 230 milhões de dólares. O Brasil tem 200 mil ha de cacaueiro na Amazônia. Nós precisamos dobrar essa área plantada nos próximos 5 a 10 anos, precisamos fazer um Plano Nacional do Cacau e com isso nós podemos expandir os SAFs na região amazônica. Outra planta importante para a formação do SAF é a seringueira. O Brasil importa borracha desde 1951 pagando em torno de 300 a 330 milhões de dóla44
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res. Hoje importamos 61% da borracha vegetal consumida no país, um produto estratégico para a indústria brasileira. Temos 160 mil hectares de seringueira no Brasil, dos quais São Paulo tem a metade. O governo de São Paulo, em 2007, autorizou a seringueira para recompor áreas de reserva legal. Pará e Rondônia fizeram o mesmo com o cacaueiro, que poderá ser utilizado para recompor a reserva legal e que traz uma grande oportunidade. Eu costumo dizer que aquelas atividades em que não é possível fazer a mecanização, eu acho que não vão inventar uma máquina de colher cacau, de colher cupuaçu, uma máquina para sangrar seringueira, para colher pimenta do reino ou colher uva. Então,essas são as culturas ideais para pequenos produtores da região amazônica, uma vez que os médios e grandes produtores da região estão fugindo da produção intensiva por questões trabalhistas e outras questões sociais. Açaí é uma outra cultura que podemos expandir. No início do plano Real, um litro de açaí grosso custava R$ 1,50. Hoje, no ano passado, chegou a custar R$ 32,00. Uma valorização de mais de 2.000%. Da produção do Pará, 60% fica no estado, 30% vai para outros estados e estamos exportando apenas 10%. Isso significa que podemos expandir mais 50 mil hectares de açaizeiros, o que daria oportunidade para formação de novos SAFs. Dendezeiro é outra cultura, que o estado do Pará tem 200 mil ha plantados. Mas, o Brasil importa ainda 55% do óleo de dendê e 85% de pó de palmiste da Indonésia e da Colômbia, implicando na evasão de divisas na ordem de 470 45
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milhões de dólares. Precisamos dobrar essa área plantada nos próximos 5 a 10 anos, que seja na forma de monocultivo ou na forma de SAF. A castanheira é outra planta que combina muito bem com o sistema de SAFs, e a colônia japonesa de Tomé-Açu tem uma grande experiência com plantio de castanheiras. A oferta de castanha chegou no limite, estamos pagando 100 a 120 reais o quilo. Precisamos plantar 30 a 50 mil ha de castanheira para democratizar esse produto, para aumentar seu consumo interno e também o externo. Nós temos também uma grande responsabilidade com relação aos 750 mil pequenos produtores, que vivem na Amazônia Legal, que representam 80% dos produtores que vivem na região. Eles são responsáveis pela produção da mandioca, cacau, café, leite, açaí castanha, etc. e nós precisamos fazer uma modernização nesse tipo de agricultura. Nós precisamos aumentar a produtividade da terra, via mecanização agrícola, aposentando facão e enxada, com utilização de fertilizantes, uma vez que o que nós vendemos de fertilizantes e tratores aqui no estado do Pará é praticamente a mesma quantidade que o estado do Espírito Santo. O SAF também tem uma grande importância para gerar alternativa de emprego e renda para esse segmento de pequenos produtores. O SAF teria também uma grande importância no desafio de recuperar o passivo ambiental determinado no código florestal. A recuperação desse passivo ambiental custa dinheiro. Ninguém vai plantar árvores, porque pode custar 9 a 46
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10 mil reais aqui. Precisamos dar um sentido econômico para essa recuperação. O cacaueiro, a seringueira, o açaizeiro, e o dendezeiro seriam então interessantes para promover essa recuperação onde é possível realizá-la. Já para encerrar, eu queria colocar, que estou defendendo a necessidade de uma política pública para viabilizar a expansão dos SAFs na região. Temos aqui o grande desafio, que é tentar manter essa fronteira velha no atual espaço. Como disse, já desmatamos 78 milhões de hectares e precisamos fazer um esforço para evitar a formação de novas fronteiras, porque implicaria no desmatamento. Para isso, os cultivos perenes teriam uma grande importância, como disse, nós temos aqui na região amazônica algo em torno de 700 mil ha plantados de cultivos perenes, sendo 200 mil de cacau, 200 mil de seringueira, 200 mil de dendezeiro, e etc. E nós podemos dobrar essa área nos próximos 5 ~10 anos, que tem mercado para isso. Eu acredito que, se nós estabelecermos uma política pública coerente, nós podemos implantar algo em torno de 200 mil hectares de SAFs na região ama47
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zônica. Em termos de reflorestamento em toda Amazônia Legal, que ocupa apenas 1 milhão de ha, é a mesma coisa que tem lá no estado de São Paulo, tem em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Nós precisamos dobrar essa área reflorestada na Amazônia para recompor a reserva legal, para combinar com algumas SAFS, que permitam a colocação de algumas espécies madeireiras. Podemos dobrar essa área. Temos o grande desafio com relação à transição florestal. Nós estamos assistindo a curva da redução da cobertura florestal. Já desmatamos 18%. A grande pergunta da sociedade nacional e internacional é quando nós iremos parar esse desmatamento. Eu acho que o desmatamento da Amazônia ainda vai prosseguir nos próximos anos, se nós não colocarmos alternativas tecnológicas e econômicas para os pequenos, médios e grandes produtores. Precisamos apressar a transição florestal, via reflorestamento e via plantio de SAFs, via recuperação do passivo ambiental das reservas legais, para que essa curva ambiental volte a subir até um certo nível, que eu calculo que seja de 10 a no máximo 15 milhões de hectares, porque nós precisamos de áreas para as atividades produtivas. Com relação à bioeconomia, que está sendo colocado como uma grande tábua de salvação da Amazônia, nós precisamos sair do discurso fantasioso que carrega essa discussão da bioeconomia. Eu acredito na bioeconomia e nas possibilidades se nós promovermos a domesticação daqueles recursos extrativos, que já chegaram no limite da sua capacidade de 48
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oferta. Cada castanha, bacuri... Precisamos sair desse discurso abstrato da bioeconomia e passar para um discurso concreto, dando nomes a esses animais e plantas tornar viável a criação de certos animais e plantas, os quais precisamos fazer essa domesticação. Incentivar a criação de peixes, acho que podemos fazer uma revolução aqui na região. O Brasil fez uma revolução na criação de aves, tanto é que a partir de 2007, nós estamos produzindo mais carne de frango do que carne bovina. E o mesmo poderia ser feito com piscicultura. Nós encontramos produtores no estado do Pará, em Rondônia, combinando SAFs com a criação de peixes. Então, eu vejo aí uma grande alternativa. Com relação às pastagens, temos em números redondos, 50 milhões de hectares de pasto, ou duas vezes o tamanho do estado de São Paulo, representando a maior área de uso da Amazônia. 61% da área desmatada na Amazônia é ocupada por pasto. Precisamos reduzir essa área de pasto pela metade no contexto de médio e longo prazo, por exemplo, daqui a 10 ou 15 anos, liberando essa área para esses cultivos perenes e culturas anuais. Em termos de culturas anuais, nós temos 20 milhões de ha, que deveriam ser mantidos. O estado do Pará é o maior produtor de mandioca do país, mas os nossos pequenos produtores colhem 12 a 13 toneladas de raiz de mandioca por hectare, enquanto no Paraná, que é o segundo produtor, os seus produtores 49
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colhem 24 a 30 toneladas por hectare. É preciso melhorar a produtividade, sobretudo dos pequenos produtores. Não podemos esquecer da soja, que apesar de todas as críticas, ainda vai expandir na Amazônia, algo em torno de 10 milhões de ha nos próximos 10 ou 15 anos e precisamos direcionar essa cultura para regiões devastadas do pasto. E, finalmente, para encerrar, nós precisamos fazer um esforço para coibir os ilícitos, que existem na Amazônia: o desmatamento ilegal, extração de madeira ilegal, narco economia, tráfico de armas, contrabando da flora e da fauna, e assim por diante. Reforço a necessidade de uma política pública para que possamos aprimorar e expandir o SAF para outras partes da Amazônia mediante aqueles cultivos perenes que tenham mercado. Muito obrigado.
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A FORMAÇÃO DA CAMTA E DA SAFTA
Palestrante: Alberto Ke iti Oppata Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu - CAMTA Boa tarde a todos. Em nome dos nossos cooperados, gostaria de cumprimentar, primeiramente, ao sr. Renato Ishikawa, presidente do Bunkyo, e a sua equipe, que vem trabalhando para que esse 13° evento realmente alcance muito sucesso. Cumprimento também o Embaixador do Japão no Brasil, sr. Akira Yamada, e o ex-Ministro Alysson Paolinelli, que na década de 70 esteve em Tomé-Açu fazendo um repasse
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para a Embrapa, e assim, cumprimento os demais participantes e patrocinadores. Inicialmente, gostaria de apresentar a localização de Tomé-Açu, que fica a 220 km de Belém, no Nordeste Paraense.
Esse Certificado Histórico de Títulos e Ações, no valor de 10 milhões de ienes, viabilizou a criação da Companhia de Plantação do Brasil. Gostaria de agradecer nossos antepassados, que trabalharam para que hoje tivéssemos a nossa Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu - CAMTA. É uma forma de agradecer àqueles que realmente trabalharam bastante, deram suas vidas para que hoje tivéssemos um pouco de vida melhor em Tomé-Açu.
História da Imigração em Tomé-Açu Os primeiros imigrantes vieram para plantar o cacau em 1929, e naquele certificado mostrado anteriormente, na sua borda, já tem o cacau. O primeiro plantio realizado, infelizmente, não teve sucesso e partiram para cultivar hortaliças. Para vender a produção tinham que levar até o mercado de Ver-o-Peso em Belém. Isso fez com que os imigrantes criassem condições para o transporte daqui de Quatro Bocas para o porto, numa viagem de 3 horas, e o barco, que levava uma noite para chegar a Belém e assim fazer a venda no mercado. A nossa história começou a mudar apenas com a introdução da pimenta-doreino pelo sr. Makinosuke Ussui, em 1933. A pimenta-do-reino, durante e após 52
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a Segunda Guerra Mundial, se tornou em diamante negro fazendo com que o município de Tomé-Açu fizesse parte das cidades com o maior produto interno bruto do Estado do Pará, só sendo superado depois pelo minério de ferro. Mas, tudo o que é bom dura pouco. O sr. Renkichi Hiraga, engenheiro agrónomo, falecido em 1995, já advertia do perigo da monocultura no auge da era da pimenta-do-reino, e os problemas começaram na década de 1950, 1960 e foram até a década de 1970, com a doença da fusariose, que dizimou praticamente a pimenta-do-reino, fazendo com que os agricultores que viviam bem, passassem a ter uma vida realmente difícil daquele período em diante. Aí teve a introdução da fruticultura de maracujá, que foi uma produção grande e que causou uma superprodução e consequente lotação no Ceasa de Pará e Ceagesp de São Paulo. Assim, estudou-se uma maneira de não depender apenas da venda da fruta in natura. Resolveu-se investir numa unidade industrial para produzir-se polpa de frutas e assim aproveitar melhor a fruta. A primeira indústria de polpa 20 toneladas foi erguida, em 1987, com a ajuda da JICA. Essa indústria hoje vem processando 14 tipos de produtos, inclusive o maracujá. Os primeiros imigrantes desmataram para poder cultivar e acabaram causando um desequilíbrio ecológico, que acabou ajudando na grande proliferação 53
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dos pernilongos e da malária, e muitos acabaram perdendo a vida pela malária. Hoje, nas áreas onde havia o cultivo da pimenta-do-reino são plantados no sistema consorciado com culturas de curto, médio e longo prazo, ou seja, de maracujá, pimenta-do-reino, cacau, seringueira e dendê. Esse projeto foi feito na década de 1980 para final de 1990, e é uma forma de fazer com que o agricultor tivesse uma renda de curto, médio e longo prazo. No primeiro ano, ele vai ter uma receita com maracujá, e antes do maracujá, o arroz e feijão permitem a subsistência. a pimenta-do-reino começa a produzir no terceiro ano, e o cacau começa a produzir no quinto ano como cultura perene. Hoje, tem o açaí misturado, no quinto ano, e no 35º ano já teremos uma formação com espécies florestais. A área ocupada pelos produtores da CAMTA, que está em torno de 38 mil hectares somados os 170 produtores agroflorestais. São 144 propriedades com CAR (Cadastro Ambiental Rural), dentre 153, e são 2.800 produtores cadastrados. A área cultivada é de 5.126 hectares, com uma área para expansão de mais 2.438 hectares, isso considerando os 20% permitidos hoje, mas se aumentasse o limite haveria uma expansão ainda maior. O SAF que nós temos aqui dentre os cooperados tem 1 milhão de pés de cacau,
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ou seja 1 milhão de hectares. Em Tomé-Açu temos 4 milhões de pés de cacau no total. O projeto socioambiental que a nossa cooperativa trabalha abrange 25 comunidades de produtores familiares. A CAMTA tem um faturamento médio de 50 milhões de reais por ano e exportamos para os Estados Unidos, México, Alemanha, Argentina e Japão. Com isso, geramos direta e indiretamente 10 mil postos de trabalho, comercializando pimenta-do-reino (459 ton.), amêndoa de
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cacau (520 ton.), óleos vegetais (100 ton.) e polpas de frutas tropicais (3,459 ton.). Temos a certificação da agroindústria, que falaremos à seguir. Hoje, a capacidade de processamento da nossa agroindústria é de 7 mil toneladas de produtos agroflorestais por ano, e uma capacidade de armazenamento de 3 mil toneladas de congelados. Agradecemos ao governo do Japão, que nos tem ajudado bastante ao longo dos anos. Hoje o principal produto industrializado é o açaí, mas no começo era o maracujá, depois a acerola, cupuaçu, e hoje o nosso carro chefe é o açaí. Hoje, graças ao apoio do Nelson Nakada, que também está patrocinando este evento, a pitaia está chegando à Ceagesp em São Paulo, fazendo cumprir o nosso objetivo, que é tornar essa fruta popular, que nem banana e com preço acessível para todos. Essa é uma grande conquista graças à parceria que temos em São Paulo. Outro mercado que estamos trabalhando é o do sorbet, que estamos agora produzindo. Sorbet de açaí, o legítimo, que está tendo boa aceitação no mercado de São Paulo. O principal mercado nosso é o estado do Pará, que representa praticamente 60%, e o restante é dividido entre Maranhão e São Paulo, principalmente. Em termos de exportação, o nosso maior cliente é o Japão, a Argentina com a pimenta, a Alemanha, a Guiana Francesa e os Estados Unidos.
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CAMTA - Produção de adubo orgânico Depois de 90 anos apenas extraindo os componentes minerais do solo através da agricultura, o solo precisa de recomposição, precisa da devolução desses materiais para o solo para que seja produtivo novamente. Os compostos químicos passam a não responder mais depois de algum tempo. O resíduo industrial produzido pela CAMTA é transformado em adubo orgânico num processo de compostagem e vendido ao cooperado a preço de custo para melhorar a fertilidade do solo.
Há um trabalho de inclusão, que a CAMTA vem fazendo, com o departamento feminino, que ajuda a desenvolver novos produtos e o trabalho social que vem fazendo, enquanto o departamento de jovens ajuda na coordenação de apoio à produção, com grupos de acerola, de cupuaçu, de açaí e também de pimentado-reino. Tudo isso ajuda os nossos cooperados, para que estejam sempre antenados e em sintonia com a diretoria da cooperativa.
A breve história da SAFTA No final da década de 50, a pimenta-do-reino era conhecido como diamante negro, e em pleno auge da produção, foi advertido por Renkishi Hiraga do perigo da monocultura, mas quando se tem um produto bastante rentável, é difícil enxergar isso. 57
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Só depois de experimentar duras perdas, nas décadas de 1960 para 1970, quando a pimenta-do-reino foi dizimada, é que teve a necessidade de fazer a diversificação da cultura. Na década de 70, com a ajuda da Ceplac - Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, foi introduzindo novamente o cacau, aumentando a cartela de produtos dos produtores da região. O Noboru Sakaguchi, engenheiro florestal japonês, também colaborou bastante e fez com que o sistema fosse mais difundido. Os professores Scoth Subler e Masaaki Yamada, da Universidade da Florida, comprovaram a sustentabilidade científica do Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu. Nesta imagem, mostramos o sistema produtivo SAF em curto, médio e longo prazo, sobre o cultivo contínuo sustentável na mesma área, a consorciação das plantas anuais, geração de renda de curto, médio e longo prazo frutíferas e florestais. Fez com que o produtor pudesse se fixar numa área, produzindo em sistema consorciado e tendo renda contínua e sustentabilidade econômica com venda da produção diversificada, o uso de variedades melhoradas, conservação de recursos hídricos e do solo, e finalmente, a fixação do homem no campo com qualidade de vida. O SAF fez com que o produtor não precisasse ficar desmatando áreas e buscando novas áreas. Pelos estudos, o produtor poderá ficar nessa mesma área pelo prazo de 35 anos. E depois, renova-se 58
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novamente extraindo a madeira crescida para gerar mais recursos financeiros. Esse é o cultivo de dendê no sistema SAFTA, numa parceria da CAMTA, com a Natura, Embrapa e Icraf de 12 anos. Sobre isso, sei que a sra. Camila, da Natura, vai falar, então não entrarei nesse assunto.
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Difusão da SAFTA para a amazônia e outros países Esse é um trabalho social de difusão do SAFTA que a CAMTA vem fazendo em parceria com a JICA, abrangendo, além do nosso município, outros dos estados do Pará e Amazonas, e está sendo levado para outros países da América Latina, como Peru, Bolívia, Equador e Colômbia, e hoje está indo até para a África. O objetivo do SAFTA - Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu não é fazer uma floresta, mas fazer com que o homem do campo tenha uma sustentabilidade econômica por 35 anos pelo menos no mesmo local sem precisar desmatar novas áreas.
O Projeto Sócioambiental é uma parceria com uma ONG japonesa (WRS), levando a SAFTA da CAMTA a outros locais, com o objetivo de elevar a qualidade de vida, nesse caso, em Cametá, a 230 km de Tomé-Açu. Trata-se do tratamento de água e da construção de banheiro ecológico, com ensinamento do princípio de higiene. Cametá é formado por muitas ilhas e há uma necessidade grande de fazer o tratamento da água, e temos levado a ideia do banheiro ecológico porque não existem banheiros, fazem apenas um buraco e isso tem trazido grandes problemas ambientais. O banheiro ecológico que levamos é simples e barato para fazer.
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As principais Certificações da CAMTA: Indicação geográfica de cacau, de procedência, que a CTA detém e, no ano passado, em 31 de julho enviamos o primeiro lote para o Japão. O certificado de procedência geográfica traz rastreabilidade do produtor, como ele trata aquela área, como colhe o produto, transporta, fermenta o produto e como seca. Essa rastreabilidade e indicação de procedência têm nos ajudado bastante. Temos também o açaí orgânico em
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Cametá, em áreas nativas e agora temos o certificado da agricultura familiar, que conseguimos do Ministério da Agricultura em Brasília em parceria com a OCB.
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O Convênio Camta e JICA para implantação da Safta na Bolívia é um projeto sócioambiental. O objetivo da Camta não é ensinar, mas dividir o conhecimento, das experiências que temos adquirido, com erros e acertos ao longo dos anos. É compartilhar a experiência dos nossos produtores. Fizemos intercâmbio para a implantação da unidade piloto na Gana, África, através da Universidade de Tecnologia em Agricultura de Tóquio, que faz com que a nossa experiência da SAFTA seja levado para Gana.
A Camta recebeu vários prêmios ao longo dos anos, como o Nacional de Desenvolvimento Regional em 2010, que foi um dos primeiros que conseguimos, o prêmio Samuel Benchimol, do Banco da Amazônia de Empreendedorismo 63
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Consciente na categoria Projeto de Natureza Ambiental. Recebemos também o Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente na categoria Negócios Sustentáveis. Recebemos o Prêmio Internacional de Cacau, como "Cacau de Excelência" no evento realizado em Paris, na França. Isso ajudou bastante para que o nosso produto alcançasse o mercado do Japão. Temos como estimular ainda mais a produção do cacau do estado do Pará, para que ela melhore a sua produção e consigamos uma melhoria na qualidade de vida dos produtores através de um preço melhor.
Outro prêmio que recebemos é o da Finep na categoria social, um dos mais importantes para que pudéssemos alcançar o 1º lugar no Prêmio Finep de 2014, na categoria Tecnologia Social, onde fomos agraciados com um valor de 200 mil reais, o qual foi muito importante para ajudar nos trabalhos sociais da entidade. A Camta recebeu, em 27 de julho de 2018, a honrosa visita da Princesa Mako de Akishino, da Família Imperial japonesa. Ela conheceu a cooperativa, a comunidade japonesa de Tomé-Açu, e com isso trazendo mais visibilidade à região, e eu acredito que ela saiu contente, porque o pai dela também esteve 64
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fazendo uma visita em 2015, em Belém. Os japoneses ficaram muito felizes em receber a visita da Princesa, um fato inédito para a comunidade local. Finalizando, eu gostaria de agradecer pela oportunidade e lembrar que "Não podemos pensar verde estando no vermelho". O agricultor não pode ficar pensando no verde quando a sua agricultura está dando prejuízo. O Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu vem se aperfeiçoando ao longo do tempo fazendo com que o agricultor melhore essas condições, mas isso graças à nossa agroindústria. Se a agroindústria não estivesse aqui e o consumidor não comprasse nossos produtos, que carregam uma história de 90 anos, não seríamos o que somos. Deixo aqui registrado o nosso respeito e o agradecimento aos nossos parceiros e consumidores.
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A COOPERAÇÃO DA JICA PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL Palestrante: Masayuki Eguchi Agência de Cooperação Internacional do Japão - JICA Gostaria de compartilhar como o Japão tem acompanhado os imigrantes japoneses em Tomé-Açu e como veio desenrolando o tema da conjuntura rural até hoje e para o futuro. A minha apresentação é sobre a Cooperação da JICA no Desenvolvimento Agrícola Sustentável poderão entender o enfoque da JICA no apoio aos imigrantes e, em seguida, o tema de desenvolvimento do Brasil e agora o tema global. Os primeiros imigrantes japoneses se estabeleceram em Tomé-Açu em 1929 e fizeram repetidas tentativas em busca de culturas adequadas para a região. E encontraram a pimenta-do-reino, introduzida em 1934, que prosperou na década de 1950 em grande escala. No entanto, como efeito prejudicial da monocultura, veio a decadência com a proliferação do fungo fusariose e o preço da pimenta-do-reino caiu na década 67
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de 1960. Nessas circunstâncias, os imigrantes japoneses conseguiram aprender o plantio misto na natureza e o uso racional da floresta, que tornaram no que foi denominado sistema agroflorestal. O governo do Japão implementou vários esforços para melhorar e estabilizar a vida dos imigrantes em Tomé Açu. Em 1974, apoiamos a implantação da Estação Experimental de Agricultura Tropical da Amazônia. Em 1987, foi construída uma fábrica de sucos com o apoio da Jica. Além disso, devido a
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necessidade de diversificação da gestão agrícola e as necessidades crescentes para fortalecer a produção agrícola sustentável, a Jica tem fornecido a cooperação técnica para o desenvolvimento do sistema agroflorestal de Tomé Açu desde 1990. A Jica implementou sete projetos de cooperação técnica de 1990 a 2016, com orientações técnicas de especialistas japoneses tendo como contraparte a Embrapa Amazônia Oriental e Apoio ao Projeto Comunitário. No conceito de sistema agroflorestal estabelecido pelos imigrantes de ToméAçu, a Jica fortaleceu as atividades de pesquisas para cada recurso vegetal e cultura econômica, desenvolveu um sistema de produção adequado para a região Amazônica e forneceu técnicas de cultivo sustentável para estabelecer o SAFTA. A cooperação da Jica com a Embrapa teve o seu início através do Programa de Desenvolvimento do Cerrado - Prodecer, em 1974, e tem uma longa história de cooperação. A Embrapa é líder em pesquisa agrícola no Brasil e a Jica tem cooperado para contribuir para o desenvolvimento agrícola sustentável. O pro-
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jeto mais recente foi de 2010 a 2014. É um esquema de cooperação técnicacientífica em que as pesquisas são conduzidas pelas instituições japonesas e brasileiras em conjunto, para o desenvolvimento de tecnologia de produção de soja resistente à seca e ao calor, com a introdução de tecnologia de transferência de genes. Além disso, realizamos o curso de capacitação para outros países sobre o sistema agroflorestal em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental, e há ainda um grande número de pesquisadores da Embrapa que foram convidados para participar do curso temático realizado pela Jica no Japão. A partir de 1975 a 2019, mais 600 profissionais brasileiros, incluindo os profissionais da Embrapa, participaram dos cursos relacionados à agricultura da Jica no Japão. O modelo do sistema agroflorestal de Tomé Açu tem recebido grande atenção por motivo da compatibilidade de conservação ambiental e da produção agrícola na região amazônica, e no curso de treinamento realizado em conjunto com a Embrapa em Tomé-Açu, recebemos participantes de Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, os quais têm suas próprias florestas tropicais ama-
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zônicas. O conteúdo do curso foi capacitação teórica e prática do SAFTA. Cada participante formulou um plano de ação para promover o sistema agroflorestal no seu país após o curso.
Além disso, a Jica apoiou o projeto comunitário Plano de Divulgação e Certificação do Sistema Agroflorestal de Transição, com a sociedade civil, tendo como parceiros a Universidade de Agricultura e Tecnologia de Tóquio e a CAMTA - Cooperativa Agropecuária Mista de Tomé-Açu, por sete anos, de 2011 a 2018, para a melhoria de renda rural, conservação e recuperação do meio ambiente. Como resultado da cooperação, o cacau cultivado pelo meio do SAFTA obteve a Certificação de Indicação Geográfica em 2018. Assim, através de vários projetos de cooperação de longas datas, o SAFTA se expandiu para as comunidades vizinhas e contribuiu para conseguir a certificação para a área de produção e a melhoria da receita dos agricultores.
A agricultura que cria florestas na região amazônica Uma variedade de árvore frutífera cresce em consórcio com a floresta: açaí, tapereva, cupuaçu, pupunha, mangostim e manga. O sistema agroflorestal é 71
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uma combinação das palavras agricultura e silvicultura. Grandes fazendas com plantação em larga escala foram desenvolvidas na Amazônia por meio de desmatamento. As áreas de florestas perdidas nos últimos 35 anos são de aproximadamente 12% de toda a Amazônia, 440 mil quilômetros quadrados. Por outro lado, o sistema agroflorestal incorpora a diversidade natural e regenera as florestas e é uma agricultura com menor impacto ao meio ambiente. As mudas de pimenta-do-reino são plantadas ao lado das estacas. Planta-se bananeiras e cacau entre as pimentas. O cacau precisa de 40% de sombra para crescer e as grandes folhas das bananeiras crescem rapidamente e bloqueiam a luz do Sol, além de protegerem as mudas de cacau das chuvas e dos ventos fortes. Planta-se o taperebá, o açaí ou o mogno a uma distância de 24 metros entre a banana e o cacau. A fazenda dois anos depois, cada cultura não compete muito com a outra e crescem em conjunto. Após três anos, o taperebá, o açaí ou o mogno estão crescendo vigorosamente e à partir do terceiro ano, outras culturas além de bananeiras, incluindo o cacau dão frutos e crescem mais. A produção de cacau aumentou dramaticamente e os agricultores podem esperar um grande aumento nas receitas. Após sete anos, as bananeiras e os pés de pimenta-doreino morreram, mas cresceram grandes árvores de mogno. Após 15 anos, a fazenda do sistema agroflorestal se transformara num campo semelhante a uma floresta com o cacau e outros frutos crescendo sob as grandes árvores. Os sucos são produzidos sob estrita higiene na fábrica da CAMTA. Os sucos de fruta de Tomé-Açu são vendidos no Japão também. É popular porque combina com a consciência de saúde dos consumidores tem o valor agregado de ser bom para o meio ambiente, e o suco de açaí é muito gostoso. Os imigrantes japoneses, que vieram para Tomé-Açu, em 1929, superaram muitas dificuldades como a malária e a pobreza. Na época, iniciaram o plantio da pimenta-do-reino. Na década de 1960, a doença chamada fusariose reduziu drasticamente a renda e ficaram com o receio da monocultura. O imigrante sr. Sakaguchi teve dúvidas ao ver a população de ribeirinhos morando ao longo dos rios, porque ela está vivendo uma vida estável sem fome. Os ribeirinhos plantam vários tipos de árvores frutíferas ao redor de suas casas, e enquanto um dá frutos, eles se alimentam deles enquanto outras estão em fase de crescimento ou florescimento e assim por diante. Era um cultivo misto realizado de acordo com a natureza da Amazônia. O sr. Sakaguchi 72
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começou imediatamente a plantar várias culturas de maneira mista. O curso de treinamento de terceiros países do sistema agroflorestal foi realizado pela Jica em parceria com a Embrapa da Amazônia Florestal. O sistema agroflorestal de Tomé-Açu apoiado pela Jica é desenvolvido pelos nikkeis e é disseminada para países da Bacia Amazônica e tem como objetivo proteger o meio ambiente de toda a Amazônia. Hoje, o sistema agroflorestal está recebendo muita atenção à medida que a mudança climática é severa. A agricultura que regenera floresta sem desmatar novas áreas deve ser uma solução realista. A Jica apoiou o Projeto de Desenvolvimento Agrícola do Cerrado - Prodecer 1974 a 2001, representando o desenvolvimento de 345 mil hectares de terras agrícolas que receberam cooperação técnica e financeira da JICA. Hoje, o Brasil se tornou o maior produtor mundial de soja. Por outro lado, existem preocupações com o impacto ao meio ambiente devido a expansão das terras agrícolas à partir do desenvolvimento do cerrado. Compatibilizar o desenvol-
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vimento agrícola com a conservação ambiental é uma questão inevitável para o desenvolvimento agrícola sustentável. A Jica implementou a cooperação técnica do Projeto de Conservação do Corredor Ecológico do Cerrado de 2003 a 2006, em parceria com a Ibama, com o objetivo de melhorar a gestão integrada do ecossistema na área do corredor ecológico do cerrado, em particular o corredor de Paraná Pirineus.
Além disso, planejamos continuar a fornecer a cooperação com a consciência de equilibrar o desenvolvimento agrícola e a conservação do meio ambiente. De 2021 a 2026, executaremos o projeto para melhoria do controle de desmatamento ilegal na Amazônia por meio de tecnologias avançadas de SAR (Radar de Abertura Sintética) e inteligência artificial, junto com o Ibama. Executaremos também o projeto de agricultura inteligente "Desenvolvimento Colaborativo da Agricultura de Precisão e Digital para o Fortalecimento do Ecossistema 74
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de Inovação e a Sustentabilidade do Agro Brasileiro", com a Embrapa, para promover o desenvolvimento agrícola sustentável. Em relação ao último projeto, definimos como área piloto o Tomé-Açu e esperamos que o projeto leva a um nível maior de disseminação da SAFTA e a ampliação dos resultados. Muito obrigado.
Fale com a JICA:
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SISTEMAS AGROFLORESTAIS COM DENDÊ
Palestrante: Camila Brás Costa Natura Cosméticos S/A Carlos, Nelson, obrigada. Obrigada pela apresentação, pela organização impecável do evento. Agradeço também a CAMTA, Embrapa que estão aqui representadas pelo sr. Alfredo Homma e sr. Alberto Oppata, que são parceiros nossos desde o início dessa iniciativa do SAF-Dendê que começou lá no campo em 2007, 2008. No início, com o apoio da Finep; depois de 2016 até 2020, com o apoio da USH, com a entrada de um novo parceiro, o Centro Mundial Agroflorestral (ICRAF). A todos eu agradeço. Vamos falar hoje sobre os Sistemas Agroflorestais com Dendê - SAF Dendê, que é também um SAF já apresentado aqui. Eu tinha N imagens que poderia trazer para iniciar a apresentação, mas acho essa bem icônica, principalmente pelo momento que estamos vivendo. 77
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Estamos com a CAMTA sediando esse evento, e nós estamos falando de casa, então fica também um convite para a gente pensar como podemos contribuir para essas alternativas de forma individual também, seja fortalecendo as oportunidades que a Amazônia tem, que esse bioma incrível oferece, e contribuindo também na solução dos desafios, porque, na natureza, nada existe por si só, tudo é interdependente.
Como o Nelson falou, a Natura nasce de duas paixões: a paixão pela cosmética e também pelas relações. E, enquanto falávamos do evento, surgiu a pergunta: poxa, mas a Natura em um evento de Sistemas Produtivos? Como isso se conecta? Então vou contar um pouco para vocês. A Natura é uma empresa onde as três principais causas são: "Amazônia Viva", "Cada pessoa importa" e "Mais beleza, menos lixo". Quando a gente olha para essa causa da Amazônia Viva, nós temos diferentes frentes como a economia da floresta em pé, a valorização das pessoas e da floresta e o desmatamento zero. Todas essas frentes corroboram 12 dos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável propostos pela ONU para transformar o mundo. E aqui eu conto um pouco da Natura, que é uma empresa brasileira com mais de 50 anos. Em 2013, a Natura fez a aquisição da Aesop, em 2017 da The Body Shop, em 2020 da Avon, passando a compor então o grupo da Natura&Co, que, no ano passado, lançou a sua visão de sustentabilidade, onde ela estabelecia os compromissos e ações para questões mais urgentes no mundo. E, dentre 78
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elas, o compromisso com enfrentamento da crise climática e a proteção da Amazônia, a defesa dos direitos humanos e sermos mais humanos, e abraçar a circularidade e a regeneração. Isso inicia lá nos anos 2000, há 21 anos, quando a Natura lança a linha Ekos e, desde então, ela vem trabalhando com sociobiodiversidade, seja através de equipe de pesquisa avançada, trazendo inovação e tentando diferenciar os produtos da Natura, seja através do grupo de relacionamento e abastecimento da sociobio - que até apareceu o Mauro lá trás no vídeo que a CAMTA apresentou. É também muito atuante neste desenvolvimento da cadeia dos produtos da sociobio, buscando por trazer impacto positivo para essas cadeias. Então, estamos em diferentes biomas, mas como 79
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hoje estamos falando em específico da Amazônia, vou dividir com vocês o exemplo da Ucuúba, que é uma espécie que oferece uma manteiga fantástica de hidratação, utilizada nos produtos da Natura, e que a madeira dela vinha sendo utilizada para cabo de vassoura e estruturas de construção. A gente tem relatos dos agricultores que, pela venda da manteiga, eles passaram a receber três vezes mais do que recebiam na venda da madeira. E a gente fala de um horizonte de produção de pelo menos 10 anos. Então a ucuúba, que é uma espécie ameaçada de extinção, ela passa a ser um recurso genético valorizado dentro daquele bioma e também trazendo uma renda interessante para o agricultor. Eu falei um pouco das cadeias, mas a gente também traz esse olhar para sistemas mais ecológicos de produção, para agricultura regenerativa e um desses exemplos é o SAF Dendê. Aqui dá para ver as linhas duplas do dendê, nesta vista aérea, as espécies arbóreas no meio, também tem cacau que é uma espécie super importante. Na identidade do projeto, a gente consegue ver os 80
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frutos do cacau, o açaí pelos frutinhos roxos, as flores rosas representando o ipê e as espécies madeireiras, a gente tem espécies adubadeiras como margaridão no centro e o dendê bem no foco, e a percepção como se fosse de um fruto de dendê cortado, onde temos o óleo de palmiste lá no centro e, nas bordas, o óleo de palma. Por que a Natura foi se aventurar em um sistema como esse? A gente está falando sobre o óleo de palma, que é o óleo mais consumido do mundo. Na indústria cosmética, temos mais de 50% dos produtos, que estão na gôndola do supermercado contendo óleo de palma, e na indústria de cosméticos, a gente também faz uso. Quando a gente olha para os principais produtores mundiais - Malásia e Indonésia -, a gente observa que essa cadeia está atrelada ao desmatamento e a questões de conflitos sociais. Quando a gente vem para o Brasil e, principalmente, na Amazônia, que é o foco da atenção mundial, apesar da cadeia de palma na Amazônia ter menos riscos do que o que a gente observa no Sudeste aAsiático, a gente sabe que existe oportunidade para se fazer diferente. Então, a gente tem um estudo de 13 anos, talvez o mais completo de SAF com Dendê no mundo, ou talvez está aqui porque até hoje ninguém contou ou trouxe nenhuma informação diferente. Enfim, eu achei importante pontuar aqui que a palmeira é uma oleaginosa fantástica e muito interessante, porque senão a gente atrela as questões da forma como ela é produzida a espécie, o que 81
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não é uma verdade. E o que a gente tem de oportunidade aqui é trazer esse olhar da bioinspiração. Baseando então na biomimética, que é esse olhar inspirado na natureza para os sistemas produtivos, a gente está falando aqui de um número de plantas de dendê menor por hectare quando a gente olha no comparativo com o que se tem na monocultura - de 81 a 99 plantas, enquanto na monocultura se tem 143 ou até mais. Mas a gente faz isso porque a gente também quer trazer diversidade, então tem cacau, açaí, espécies anuais que ajudam o agricultor depois a cobrir os custos iniciais de implantação, e as espécies madeireiras também. Tudo aqui num manejo agroecológico.
Essa imagem trazendo e falando um pouco do mosaico de paisagem é boa para fazer um link com a fala do Alfredo Homma, que é muito interessante, já existe um passivo muito grande. A gente tem a oportunidade de utilizar dessas áreas já desmatadas para trazer os SAFs e considerar aí os sistemas de meio de vida. Só para explicar essa imagem: a gente tem no comecinho dessas colunas a floresta madura, a floresta manejada, a floresta secundária ou agrofloresta, e aí exatamente neste momento que a gente consegue observar os sistemas de meio de vida, ou seja, as pessoas com uma consideração muito 82
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mais relevante, porque o agricultor pode coletar vários outros produtos que contribuem para a segurança alimentar, para a soberania alimentar dele.
Falando disso, as espécies que existem nos sistemas vão além dessas, porque são diferentes unidades demonstrativas. Mas, trazendo as que consideramos principais, em categorias diferentes, as adubadeiras, as alimentícias, as oleaginosas e madeira. Se a gente olhar para as alimentícias, temos aqui açaí e mandioca - que são para o brasileiro o arroz e o feijão, para o paraense é o açaí e a mandioca que estão sempre no prato -, tem a pimenta do reino, que é o diamante negro, como o Oppata já comentou. Fora as espécies que entram na adubação verde, contribuindo para que esse agricultor consiga melhorar a qualidade do solo dele. Essas espécies estão ao longo desses 25 anos entregando produtos e em momentos diferentes, como aparece na imagem. E aqui é só para contar um pouco e dividir com vocês, que ao longo desses 25 anos, desde a implantação do sistema até os dias de hoje, foram inúmeros técnicos, colaboradores, pesquisadores, consultores e agricultores envolvidos, de onde a gente veio experenciando e chegando nesse local com o que quere83
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mos fazer. Então, a gente sabe que, olhando para os insumos do processo produtivo, a gente tem a oportunidade de trabalhar com uma adubação verde, com adubo orgânico, trazendo cobertura viva, espécies ameaçadas de extinção como a gente comentou aqui do caso da uccúba, espécies de ciclo anual e perene, trabalhar com inoculantes e biocaldas. Isso para o olhar do insumo, mas dá para ficar uma vida neste slide, mas tem o manejo ecológico, as práticas de agricultura regenerativa, todo esse olhar econômico, ambiental e social, sendo considerados no sistema e a gente sabe que isso acaba sendo uma vitrine tecnológica. Nas áreas com os agricultores existe um caderninho onde a gente recebe todos os visitantes, que dizem de onde são e tudo mais, então é uma riqueza incrível. Sem contar que, além da geração dos produtos, tem também a possibilidade dos serviços ambientais, que existe uma lei que preconiza valorizar esses serviços ambientais e toda mitigação das mudanças climáticas.
Falando um pouco dessa mitigação das mudanças climáticas, a gente traz para o sistema a espécie arbórea, que ajuda na fixação de carbono pela biomassa das árvores; a gente tem também, através do manejo ecológico, a incorporação no solo, então quando a gente usou lá no início do projeto o tritucap, que 84
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foi desenvolvido pela Embrapa, a gente garante essa incorporação no solo através do manejo orgânico, e é algo tal qual se propõe a iniciativa que foi lançada pelo governo francês na COP-21. A iniciativa "4 por mil" onde é preconizado então o nível mínimo de carbono no solo, e a gente observou, através 85
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de estudos muito bem embasados junto a Embrapa, que o SAF passa em quase 30% o nível sugerido por essa iniciativa. Lembrando que ontem, hoje é dia 16, foi celebrado o Dia Nacional de Conservação do Solo. Então, isso reforça que quando o desenho foi pensado lá atrás a gente já estava no caminho certo trazer esse olhar para a incorporação de carbono no solo. A gente está falando de uma maior resiliência do sistema, maior retenção de água, e tudo isso é favorecido por todo manejo que acontece no sistema. A
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gente tem uma adubação orgânica. Aqui mostra um pouco o que foi utilizado ao longo de todos esses anos. Existe sim um custo maior de distribuição de todo esse adubo, seguido pelo custo de colheita e podas e roçagem, porém essa mão de obra está bem distribuída, então a gente consegue trazer um equilíbrio para aquele agricultor ao longo do ano de esforço de mão de obra. E tudo isso favorece um melhor clima, não só para o agricultor, mas também para toda vida no sistema. Se a gente olhar para a unidade demonstrativa 1, que é a unidade do Jaílson Takamatsu: a gente 871 plantas e nesse sistema com maior número de plantas, a gente consegue reduzir em até 8ºC a temperatura. Então vocês imaginem para o agricultor no Pará, que está ali naquele clima intenso, uma diferença nesse nível é algo significativo. Era isso que eu queria trazer para vocês. Temos algumas imagens só para ilustrar. Então aqui do Cláudio Sugai, a área 3, em 2012 e 2019.
A área do Ernesto Suzuki desde o ano 1 até o ano 11. 87
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E aí respondendo ao que o Nelson perguntou lá trás, eu quis trazer um poema, acho que faz sentido para o momento em que a gente está, que estamos vivendo, e respondendo um pouco também o que uma marca
tem a ver com tudo isso, então isso aqui está no relatório anual: o que uma marca de beleza pode fazer pelo mundo? Pode cuidar da pele e salvar a pele ao mesmo tempo? Pode fazer uma floresta ficar maior em vez de menor? Uma marca de beleza pode fazer muita coisa pelo mundo. Por que não dá para ficar de braços cruzados. Tem que buscar um jeito novo de produzir. Tem que abolir ingredientes que não são bons. Não pode fazer testes em animais. Tem que diminuir os resíduos. Compartilhar as 88
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riquezas. Propor diálogos. Aproximar fronteiras e abrir o coração. Uma marca de beleza tem que fazer de tudo para deixar o mundo mais bonito. Era isso o que eu tinha para dividir com vocês. Fico à disposição para questionamentos. Obrigada a todos.
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A IMPORTÂNCIA DAS COOPERATIVAS NO AGRO DIGITAL Palestrante: George Hiraiwa Polo de Inovação Agro Boa noite a todos. Eu gostaria de iniciar cumprimentando o Embaixador Sr. Akira Yamada, e desta forma cumprimentar todas as autoridades japonesas, os nossos eternos ministros Roberto Rodrigues e Alysson Paollineli e, desta forma, cumprimentar as autoridades brasileiras. E um especial cumprimento aos amigos da CAMTA, dizer para vocês, aos cooperados e dirigentes, que vocês são o orgulho da comunidade nipo-brasileira. Vocês devem ser a empresa mais longeva formada pelos nossos imigrantes japoneses, foi numa mesma época quase que nasceu a Cooperativa Agrícola de Cotia, a Cooperativa Sul Brasil, e o Banco América do Sul. Infelizmente, não temos mais esses três ícones da economia dos nossos descendentes aqui no Brasil e vocês continuam firmes e fortes, por isso, uma reverência muito especial a todos dirigentes anteriores que chegaram até aqui construindo essa magnífica obra. E aos diretores do Bunkyo, puxa vida, que carinho que vocês dedicaram para esse evento! Eu venho acompanhando já há meses, um carinho especial, e vocês são os verdadeiros guardiões dos legados, os legados que nós aprendemos dos nossos antepassados. O tema "A Relevância do SAFTA" é uma verdadeira bênção, uma redenção para a agricultura da Amazônia brasileira. Queria contar aqui uma história, que 91
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quando eu fui como Gaimushou Kenshusei (bolsista do Ministério das Relações Exteriores do Japão) em 2000, o Sr. Antônio Kageyama foi meu colega de turma. Ele é daí de Santa Isabel, pertinho de Belém, e em 2017, ele nos levou até a cooperativa CAMTA, onde eu pude conhecê-los. Na verdade, eu já tinha recebido, principalmente o time de beisebol infantil em Londrina, aí nós começamos a ter uma relação mais intensa entre ToméAçu e Londrina através do esporte. Eu acho que também é um legado, que foi deixado pelos nossos antepassados. E também cumprimentar os nossos amigos palestrantes que me antecederam. Puxa vida, que tarde-noite magnífica, uma aula atrás da outra, realmente é muito gratificante ter participado. Coube a mim falar um pouco sobre a importância das cooperativas no digital ou até vice-versa, o digital nas cooperativas. Então, eu vou contar minha experiência de como entramos nesse processo do digital. Foi meio por acaso. Quando eu estava na presidência do SICOG, que é uma cooperativa de crédito, eu tinha largado o agro há um bom tempo já. Aí eu fui convidado para um hackathon de mobilidade urbana, onde nós "Nossa que bacana, 'hackathon'". O que é isso? Hacker? Temos o "hacker" de TI, os jovens, e o "thon" de maratona,
O 1 Hackathon Paranaense do Agronegócio foi realizado entre 8 e 10 de abril de 2016, dentro da 56 Exposição de Agropecuária e Industrial de Londrina, no Parque das Exposições Ney Braga. O tema foi “Smart Agro - Os Desafios do Agronegício Inteligente - IoT como fonte de Competitividade” 92
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prendemos essa garotada e eles fizeram um negócio, cada ideia uma melhor que a outra. Aí eu comentei com os organizadores, Sebrae, Senai e a PL do TI, "puxa, vamos fazer um do agro?" e foi assim que começou a minha história. Voltando ao agro com muita felicidade, mas sempre traçando o caminho da inovação e da tecnologia. Para falar em inovação, eu queria falar um pouco - até para levar um pouco de conceito - inovação é coisa simples, é a observação e o aprendizado e pode acontecer em qualquer lugar, não precisa ser num grande centro nos Estados Unidos, Japão ou São Paulo, não. Tomé-Açu é extremamente inovador e eu vou mostrar para vocês logo, logo. Mas antes, eu queria falar para vocês: o Steve Jobs já dizia que nós, para entendermos o futuro, precisamos entender o passado e é aí que se conectam os pontos. Conectar o passado com o futuro e você acreditar que em algum momento isso vai ajudar na vida da gente. Eu tenho outro amigo que fala bastante sobre inovação e eu vou tomar a liberdade de ler aqui um texto que eu ganhei dele, um caderninho. Ele chama-se Oscar Motomura. Ele fala assim: Honrando Todos os Seus Insights. Um insight pode vir na forma de uma imagem, de uma ideia, de um conceito, uma conexão inusitada, um rosto. É algo inédito que aflora por inteiro numa fração de segundos. Algo que acontece quando a sua mente se aquieta e você está sereno. É quando seu espírito está em ação. Então, é isso que é a questão da inovação. Insights são momentos. Imagina se em 1933 a pessoa que chegou lá em Tomé-Açu, até onde eu sei, faleceu uma pessoa e teve que ir até aportar em Cingapura, e se ela não tivesse morrido? O navio passava direto. E se a pessoa que desceu não tivesse comprado as vinte mudas? E se todas as mudas morressem? Parece que salvaram duas. Foi aí a primeira inovação. Aliás, quando chegou, o Alberto foi plantar cacau, não deu certo. Inovou e foi plantar verdura, teve que se virar. Aí a pimenta virou como dizem - o diamante negro. Aí eu faço um paralelo: nessa época, São Paulo e Paraná viviam o boom do café, aí quando chega a década de 1970, quando a pimenta também caiu, o café também com as geadas foi migrando de posição, eu acredito que vocês aí, as pessoas que começaram a observar a natureza e ver o que que dá para ser feito, foram chamadas de loucas. Foram os pioneiros no processo SAFTA, mas aí vocês evoluíram. Quando chegou na 93
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década de 2000, já criando a visão com a fruticultura e a provisão chegou. Chegou através da ajuda da JICA, do governo japonês, que ajudou vocês a implementarem a indústria de sucos na região. E no Sul, o que estava acontecendo? No Sul estava uma revolução tremenda. A conquista do cerrado e já o dirigente da JICA nos contou como aconteceu tudo, não só no cerrado, mas no Vale do São Francisco, ajudou a plantar a maçã no Sul do País. Então, a ajuda do governo japonês através da JICA foi fundamental para chegar até onde nós chegamos hoje. Então, na era 2000, já entrando na porta da agricultura digital, eu diria assim que tudo aconteceu muito rápido. Eu vou já chegar nos últimos cinco anos. A porta de entrada para agricultura digital foi a agricultura de precisão. Ou seja, os maquinários, onde nós fazíamos a gestão por hectare, hoje nós fazemos a gestão por metro quadrado e até no ponto se for necessário. Porque as tecnologias surgem a cada dia e um ponto que é muito importante: nós temos que ter consciência que a tecnologia, o que está aqui, é um meio e não um fim. Para o agro, a tecnologia vai ajudar as nossas eficiências, a buscar produtividade e senão não faz sentido, se não trouxer a evolução no agro. E como as cooperativas podem entrar nesse meio? É fundamental ao cooperativismo, porque são vocês que poderão levar ao pequeno e médio produtor a tecnologia, a inovação. Porque o grande já tem o seu trator, ele consegue se virar. Aliás, se ele não for eficiente, ele quebra. Os pequenos também. Mas o meio de se levar essa tecnologia é através das cooperativas. Então, nós aqui na região em 2016, fizemos o primeiro hackathon. O nosso hackathon! Nós fomos na JACTO e eu fui recebido pelo Sr. Chikao Nishimura e o Tsen Kang, Diretor de Inovação, e eles falaram "Interessante o que vocês querem fazer, nós vamos ajudar sim vocês a fazer esse primeiro hackathon" e, confesso a vocês que não fazia o menor sentido o que ia acontecer, mas é impressionante a velocidade. Hoje nós temos um ecossistema pujante onde todas as academias, instituições de pesquisa, as cooperativas, empresas, participam para traçar o caminho que nós queremos inovar. E isso é muito importante porque você cria um ambiente, principalmente, para o jovem. Então, para cooperativa estimular a questão do ecossistema é fundamental, até para vocês trazerem o jovem mais perto de vocês, aí ele vai estar sempre perto, sempre acompanhando. 94
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O quarto Hackathon Smart Agro foi realizado dentro da ExpoLondrina, em abril de 2019. Site: startagro.agr.br
Falando em tecnologia em si, começou naquela época com gestão de imagem, com a IOT, com sensores, foi evoluindo e foram se criando muitos dados. E hoje nós estamos neste momento, já estamos coletando esses dados e utilizando de novo a tecnologia, que é a inteligência artificial, para fazer a leitura desses dados e esses dados possam ser trazidos para criar uma startup ou para inovar uma empresa ou para melhorar, realmente, a produtividade. Outro aspecto que está muito forte com a pandemia, escancarou bastante dizer assim "Nada é mais forte e tão poderoso para uma ideia quando o seu tempo chega". Chegou o tempo para a agricultura regenerativa como foi dito hoje, dos fundos ESG, gente o que está acontecendo? O mundo inteiro, de repente, começou a ofertar dinheiro para o Brasil? Não é bem assim. É que eles têm culpa no cartório, eles têm que investir em sequestro de carbono e nós estamos preparados. 95
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Então, de novo, um líder de cooperativa tem que estar muito antenado, a diretoria, para ver o que está vindo. Esse momento é o de vocês, vocês construíram toda essa base do ESG, da agricultura sustentável, vocês já têm isso na mão, então agora é ter agilidade e utilizar a tecnologia para poder, realmente, se aproveitar desses recursos que estão chegando. Eu diria assim, vocês fizeram, eu acompanho muito aqui mais perto a questão do ILPF, o investimento é privado, custa caro, o Alberto falou "Se estiver no vermelho, não sobrevive", porque é caro cuidar do solo, é caro fazer o que vocês estão fazendo, e o benefício é público. O investimento é privado e o benefício é público. Nós nos beneficiamos. Lógico que o agricultor também se beneficia, porque ele vai cuidar do solo dele, mas está chegando a hora. Ontem, o Bacen acabou de lançar o birô verde. O que é esse birô verde? Nada mais é do que buscar mecanismos de premiar quem realmente pratica a agricultura sustentável e, é nessa hora que as startups vão entrar, porque precisa agilizar as certificações, baixar o custo das certificações. Então eu tenho certeza que logo, rapidinho, vão borbulhar startups trazendo soluções. Outro aspecto que eu vi que está muito forte na pandemia é a segurança do alimento. Essa agricultura regenerativa, na verdade, foi iniciada na década de 1980 por um americano chamado Robert Rodale, que nada mais é que saúde do solo e a saúde humana. Nós estamos juntos com o estado de São Paulo, com o grupo liderado pela Fundação Shunji Nishimura, acompanhando toda essa questão da movimentação do biodigital. Onde nós queremos integrar a health tech, que é saúde, food tech, que é a indústria de alimentos, e o agtech que é a produção de alimentos. Eu acho que o futuro é grandioso para vocês e eu fico a inteira disposição da CAMTA. Nós estamos já 96
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numa fase de construir nosso hub. O que é o hub? Um espaço físico onde vamos agregar todos esses ativos para discutir a inovação, para estar discutindo tecnologia. Então, eu faço questão de poder ajudar e eu fico muito feliz que a JICA tenha escolhido Tomé-Açu para fazer essas questões de estudo dos dados. Colocamos à disposição. Londrina já tem um hub do Senai, onde 40% dos projetos são do agro. Então, colocamo-nos à disposição. Eu também me articulo com todos os hubs do Brasil, então vamos ajudar vocês. Temos hoje algo em torno de 20 hubs espalhados no Brasil. Então a agricultura brasileira vai saber aproveitar a tecnologia e nós temos que ser firmes, porque a agricultura tropical é nossa. Fazer agricultura num país temperado é uma coisa, fazer aqui é outra, onde remonta plantio atrás de plantio, a doença, fungos, pragas, tudo é diferente, então ainda bem que nós temos a Embrapa, as universidades, e nós temos empresas e pessoas que querem se dedicar cada vez mais em prol da agricultura. Era isso o que eu queria passar para vocês e, principalmente, para os jovens. Olha, estude agronomia e estude tecnologia da informação. Eu conheço alguns agrônomos que são craques em TI, meu Deus, que profissional valorizado no mercado! Obrigado pela atenção de todos.
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TOMÉ-AÇU Tomé-Açu era um distrito e se tornou um município ao se separar de Acará, em 1955. Bem antes disso, em 1929, chegaram os primeiros 189 imigrantes japoneses, através de contrato com a Companhia Nipônica de Plantação (Nantaku). No início, os japoneses plantaram arroz e hortaliças, e logo encontraram dificuldades por causa do clima tropical e também pela dificuldade de escoamento da produção. Em 1933, com a chegada de mudas de pimenta do reino, os agricultores prosperaram graças ao preço elevado desse produto. Através dos imigrantes japoneses, Tomé-Açu tornou-se o maior produtor mundial de pimenta-do-reino, onde, depois da Segunda Guerra Mundial, cinco mil toneladas eram colhidas por ano.
A Segunda Guerra Mundial e o campo de concentração
Em decorrência da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1939, a presença de imigrantes japoneses e de países do Eixo era vista com desconfiança, pois acreditava-se que eles poderiam ser agentes infiltrados. Imigrantes de Belém, Parintins, Manaus e outras regiões foram obrigados a se submeter a uma situação de isolamento como em regime de campo de concentração no município de Acará, onde hoje se situa o atual Tomé-Açu. A escolha da região foi estratégica pois impedia, devido as barreiras naturais, o contato com os outros japoneses do exterior. O "campo de concentração" foi extinto em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Depois da decadência da pimenta-do-reino, por vários fatores, ainda hoje, Tomé-Açu contínua sendo a maior produtora brasileira da especiaria. Foi através dos japoneses que a região se transformou a maior produtora brasileira de acerola, além de grande produtora de outras frutas tropicais. Um dos destaques é o cacau, onde quase 100% é produzido no Sistema Agroflorestal, tornando Tomé-Açu uma referência internacional em agricultura sustentável.
Tomé-Açu hoje
Tomé-Açu é um município do estado do Pará, pertencente a Mesorregião do Nordeste Paraense, com 65 mil habitantes e 5.145.325 km² de extensão territorial. O município de Tomé-Açu é carinhosamente apelidada ainda hoje de “a Terra da Pimenta”, pelo fato de que os pioneiros japoneses a cultivavam nessa região e elevaram o Brasil, pela primeira vez, à condição de produtor mundial. O município dispõe de um diferencial no turismo rural através dos sistemas agroflorestais pelos quais se destaca no cenário mundial da fruticultura, além de ostentar como polo nacional do biodiesel, aspectos estes, que contribuem para a melhoria da infraestrutura de apoio ao turismo como os serviços de hospedagem, transportes e lazer. (fonte: https://www.prefeituratomeacu.pa.gov.br/)
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BUNKYO, A ENTIDADE REPRESENTATIVA DA COMUNIDADE NIPO-BRASILEIRA A Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, mais conhecida por Bunkyo, desde sua fundação, em 1955, tem protagonizado as realizações mais importantes relacionadas à comunidade nipo-brasileira. As atividades do Bunkyo estão distribuídas em diversas frentes, tais como os eventos culturais, como o Festival de Música e Dança Folclórica Japonesa, que reúne os melhores praticantes das artes de palco. Merece destaque, por exemplo, o Festival de Danças Folclóricas Internacionais que, anualmente, reúne perto de 35 grupos de danças, representando aproximadamente 20 diferentes povos/países. O Festival das Cerejeiras Bunkyos realizado no Centro Esportivo Kokushikan Daigaku, em São Roque, promovido em conjunto com outras entidades nipo-brasileiras, que se constitui numa atração turística de grande envergadura na região. Ou ainda, as comemorações relacionadas às datas marcantes da comunidade como a celebração do aniversário da imigração japonesa no Brasil, no dia 18 de junho. O Bunkyo também se dedica à organização de recepção e/ou homenagem, não somente para personalidades representativas do relacionamento Brasil-Japão, como àquelas de destacada presença em nosso país. Ao lado disso, organiza o Fórum de Integração Bunkyo - FIB que é uma oportunidade para trocas de experiências, transmissão de conhecimentos e fortalecimento da união entre as entidades nipo-brasileiras, e também o Encontro Bunkyo Rural, que tem como finalidade incentivar o empreendedorismo e a capacitação profissional no setor rural. Além da promoção de inúmeros eventos, o Bunkyo é responsável pela manutenção de três importantes unidades. Uma delas é o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, que está instalado em quatro andares do edifício-sede e é um dos mais importantes centros de preservação da memória dos imigrantes japoneses do país. Outra é o Pavilhão Japonês, localizado no Parque Ibirapuera, que foi construído em 1954 pelo governo japonês e a comunidade nipo-brasileira e doado à cidade de São Paulo. Há ainda o Centro Esportivo Kokushikan Daigaku, localizado em São Roque, de 23 alqueires. Neste Centro estão plantados mais de 400 pés de cerejeiras. O local, que conta com um pavilhão de exposições, está disponível para eventos internos e de terceiros.
Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social - Bunkyo Rua São Joaquim, 381 - Liberdade - São Paulo - SP CEP 01508-900 - tel.: (11) 3208-1755 www.bunkyo.org.br - e-mail: contato@bunkyo.org.br
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O cultivo responsável permite fartura na colheita e preservação da floresta Ao longo de sua trajetória, os cooperados da CAMTA aprenderam a respeitar o solo e as peculiaridades do ambiente. Compreenderam cedo que a Amazônia é uma região que merece respeito e que, quando bem tratada, dá frutos em abundância. A produção consciente, que valoriza e respeita a floresta, é responsável pela base da economia regional. Isso assegura uma produção contínua e sustentável, respeitando a cultura e os hábitos alimentares locais, ao mesmo tempo que garante a comercialização daquilo que é gerado. A CAMTA preocupa-se com as mudanças climáticas globais e sabe que, com a conscientização de seus cooperados e produtores, por meio do SAFTA, pode contribuir para reduzir a degradação florestal e os impactos negativos.
Nosso SAFTA
O SAFTA diferencia-se dos demais sistemas agroflorestais (SAFs) por cultivar culturas agrícolas, frutíferas e florestais em uma mesma área. Há culturas de ciclo curto, como arroz, milho, feijão, maracujá, mamão e banana; de ciclo médio, a exemplo de pimenta-do-reino, cacau, açaí e dendê); e de longo prazo, como andiroba e mogno.
Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu Avenida Dionísio Bentes 210 Centro, 68682-000 Tomé-Açu, Pará, Brasil
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Associação Pan-Amazônia Nipo-Brasileira Travessa 14 de Abril, 1128 (entre Av. Magalhães Barata e Av. José Malcher) Belém - Pará
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No dia 4 de março de 2021, a ACTA recebeu o prêmio AgroPará, na Categoria Cacau, promovida pelo Jornal Diário do Pará, que se trata da maior premiação do Norte e Nordeste do Brasil. A ACTA é substituta processual da Indicação Geográfica (IG) do Cacau de Tomé-Açu, e junto com a CAMTA, emitiu em 2020 mais de 7.500 selos para sacas de 50kg, representando 375 toneladas de cacau fino exportadas ao Japão. A produção do cacau de Tomé-Açu, certificada com a IG do Cacau, é produzida no Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu - SAFTA.
Associação Cultural e Fomento Agrícola de Tomé-Açu - ACTA Av. Dionisio Bentes, s/n, Centro Quatro Bocas 68682-000 – Tomé-Açu-PA
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O QUE É BUNKYO RURAL? O Bunkyo Rural é uma das comissões temáticas formadas por associados-voluntários dentro da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social. O objetivo da comissão Bunkyo Rural é promover o intercâmbio de ideias e conhecimentos entre produtores, profissionais, pesquisadores, estudantes e empresários/fornecedores relacionados à área rural, propiciando a integração entre eles. O principal evento organizado por essa comissão é o Encontro Bunkyo Rural, realizado no sistema on-line desde 2020 por causa da pandemia. Os Encontros Bunkyo Rural realizados até agora: - 2014 - São Paulo - 2018 - Bastos - 2009 - Pompeia - 2015 - Piracicaba - 2019 - Adamantina - 2010 - Araçatuba - 2020 - Pres.Prudente On-Line - 2011 - Presidente Prudente - 2016 - Pilar do Sul - 2017 - São Roque - 2020 - São Gotardo On-Line - 2013 - Mogi das Cruzes Além do Bunkyo Rural, a entidade mantém outra atividade ligada à comunidade agrícola: a promoção do Prêmio Kiyoshi Yamamoto, que visa homenagear as personalidades que contribuiram para o desenvolvimento da agricultura no Brasil. O prêmio Kiyoshi Yamamoto já está na sua 50ª edição. Objetivo do 13º Encontro Bunkyo Rural O 13º Encontro Bunkyo Rural tem por objetivo aprofundar as discussões sobre as mudanças socioculturais e ambientais que afetam o sistema da produção e abastecimento agrícola no Brasil. Com palestras sobre temas atuais, o encontro pretende levar novas ideias que possam auxiliar o agricultor e os profissionais de áreas relacionadas. O tema escolhido foi o “Sistema Agroflorestal”, um assunto focado na realidade da região, onde as apresentações de soluções pelos especialistas, e as discussões entre autoridades, técnicos, agricultores e produtores, poderão resultar na melhoria da qualidade de vida do próprio agricultor.
Membros: Adhemar Tikazawa Diógenes Kassaoka Fábio Maeda George Hiraiwa Issao Ishimura Izumi Honda Kenji Kiyohara Luciano Quaglia Maurício Tachibana Mauro Uyeno
Nelson Hitoshi Kamitsuji Carlos Kendi Fukuhara Celso Norimitsu Mizumoto Tomio Katsuragawa
Maximiliano Miura Nobuyoshi Narita Ronaldo Yuzo Ogassawara Rumy Goto Shinichi Yasunaga Toshio Koketsu Conselho Consultivo: Diógenes Kassaoka George Hiraiwa
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