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9º Bunkyo Rural
Mensagem Temos a imensa honra e satisfação de apresentar a 9ª edição do Bunkyo Rural, um evento que se realiza em parceria com a Associação Cultural e Esportiva Nikkey de Bastos. Como vimos enfatizando nas edições anteriores, este é um evento que está intimamente relacionado com a fase inicial de nossa presença neste país, quando a maioria se dedicava às atividades da zona rural. Portanto, é de especial significado promover uma nova edição do Bunkyo Rural neste ano em que celebramos os 110 anos da imigração japonesa no Brasil. Além disso, de realizá-la em Bastos, uma cidade e/ou região de importância estratégica para o desenvolvimento econômico da comunidade nipo-brasileira e deste país. Ao mesmo tempo, gostaria de ressaltar a feliz escolha do tema "mottainai" neste ano comemorativo aos 110 anos da imigração japonesa, uma postura intrinsecamente relacionada ao cotidiano japonês e que, atualmente, conquistou o reconhecimento universal. Na vida da comunidade de imigrantes japoneses e seus descendentes, a preocupação com o "mottainai" sempre foi considerada como algo óbvio, previsível, e agora vivemos um momento em que mais e mais pessoas passaram a considerar que essa é uma postura a ser aplicada de forma mais ampla e efetiva, até mesmo em questões ambientais visando evitar perdas e maximizar a produtividade. Ficamos muito satisfeitos que a abordagem do tema "mottainai" nas práticas agrícolas tenha como referência este 9º Encontro em Bastos e, ao mesmo tempo, honrados com a participação de notáveis lideranças do setor, tais como o Dr. Xico Graziano, professor da Unesp Jaboticabal (1976/92) e ex-secretário estadual de Agricultura (1996/98) e do Meio Ambiente (2007/10) de São Paulo, e o presidente do Conselho da Jacto, Jorge Nishimura. Desejamos sucesso a mais esta jornada do Bunkyo Rural e reiteramos nossos profundos agradecimentos aos patrocinadores e apoiadores, bem como o empenho de toda equipe organizadora. Harumi Arashiro Goya Presidente Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social
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Mensagem No intuito de oferecer alternativas para o sucesso de uma agricultura, que se debate no contexto de um mercado cada vez mais exigente e competitivo, o 9º Bunkyo Rural surge com uma extensa programação a ser discutida nesses dois dias. Diante de uma qualificada equipe de palestrantes e painelistas, que se colocam para esclarecer as dúvidas dos mais variados segmentos, esperamos cooperar para o surgimento de uma concepção moderna do que seja um empreendimento de sucesso. Agricultura digital, bioenergia, máquinas e equipamentos complexos, técnicas modernas, aliadas à preocupação socioambiental são alguns dos elementos que formam o temário do simpósio. Entretanto, o grande assunto desse encontro será a discussão do tema "Mottainai". A cidade de Bastos, que nos recebe para a realização desse evento, terá a oportunidade de oferecer riquíssimos subsídios que esperamos seja de grande utilidade a todos. Cumprimento a presença do seleto público que nos prestigia e agradeço aos renomados palestrantes e painelistas, que abrilhantam esse evento e que de modo voluntário aqui se apresentam. A Comissão Bunkyo Rural sente-se envaidecida pela realização desse magno encontro em parceria com a Acenba - Associação Cultural e Esportiva Nikkey de Bastos, destacando o apoio da CKC - Chuo Kaihatsu Corporation e da Prefeitura Municipal de Bastos, na pessoa do prefeito Manoel Rosa. Bom encontro a todos e muito obrigado. Tomio Katsuragawa Presidente da Comissão Bunkyo Rural
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Mensagem Com muita satisfação estamos sediando o 9º Bunkyo Rural em parceria com a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social na cidade de Bastos, com o apoio da Prefeitura Municipal de Bastos. Este evento será muito importante para a divulgação dos conhecimentos bem como para a troca de experiencias entre os participantes sobre o tema Mottainai. Agradecemos a confiança depositada pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistencia Social para que Bastos pudesse sediar o evento que tem grande importância para toda colônia nipo-brasileira, que sempre tem buscado aperfeiçoar as atividades desenvolvidas no Brasil. O tema Mottainai é alvo de muitas reflexões na sociedade mais consciente para que tenhamos atitudes cada vez mais sustentáveis diante do mundo consumista a que estamos sujeitos. Sabe-se que a nossa cultura nipônica sempre educou os mais novos com ideais de evitar desperdícios, orientados pelos imigrantes japoneses que vivenciaram dificuldades sociais e alimentares. Desejamos que o tema proposto gere muitas reflexões através das palestras que trarão muitas informações técnicas e inovações tecnológicas essenciais para que possamos desenvolver práticas sustentáveis no meio produtivo e de consumo para termos um meio ambiente menos degradado. Esperamos que cada participante seja o disseminador de informações e conhecimentos adquiridos no evento, na sua comunidade. Agradecemos a todos os palestrantes, participantes, Comissão Bunkyo Rural da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistencia Social, entidades, equipe da ACENBA - Associação Cultural e Esportiva Nikkey de Bastos e voluntários que não mediram esforços para que pudéssemos concretizar o 9º Bunkyo Rural em Bastos. Meus profundos agradecimentos a todos.
Takaharu Ebisawa Presidente da ACENBA 5
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ÍNDICE Palestrantes e Painelistas.................................................. 8 Programação do 9° Bunkyo Rural .................................... 14 O que é Mottainai? Dilza Muramoto ............................................................ 15 Palestra Magna Caminhos para o Futuro no Agro Dr. Francisco Graziano Neto ............................................. 23 Agricultura Protegida: Opções e Oportunidades Rumy Goto .................................................................. 45 Iluminando Ideias sobre a Energia Solar Rural Ricardo Saraiva ............................................................ 69 Tendências da Agricultura Orgânica Marcelo Laurino e outros................................................. 79 Produção de Bokashi Kunio Nagai .............................................................. 109 Sericicultura: Modelo de Diversificação e Transformação Wilian Aita ................................................................ 117 Produção de Café Robusta na Nova Alta Paulista Fernando Takayuki Nakayama ........................................ 135 Debate sobre Produção de Ovos Sérgio Kenji Kakimoto (moderador) ................................. 151 Mottainai: Nova Visão na Agricultura Jorge Nishimura ......................................................... 167 Segundo Dia Introdução à Agricultura Digital Carlos Otoboni ........................................................... As Oportunidades nas Culturas Exóticas Hélio Watanabe .......................................................... Cooperativismo e Associativismo Diógenes Kassaoka ...................................................... Bioenergia Jorge de Lucas Jr. ....................................................... 6
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Regionalização do Turismo Rural Graziela Castilho Grecco ............................................... 275 Debate sobre Turismo Rural Graziela Castilho Grecco (moderadora) ............................. 283 Agricultura Digital nas Pequenas e Médias Propriedades Carlos Otoboni ........................................................... 297 Princípio do Motiyori nas Associações Dilza Muramoto .......................................................... 313 Debate sobre Princípio do Motiyori Tiago Henrique (moderador) .......................................... 321 Ikigai - O Despertar do Novo Amanhecer Noriko Onishi Saito ...................................................... 343 Workshop de Atividades Esportivas Izumi Honda (coordenadora) .......................................... 349 Anexos 3ªCavalgada do Imigrante ............................................. 363 Bastos, a Capital do Ovo ............................................... 364 Bunkyo, a Entidade Representativa da Comunidade Nipo Bras. 365 Acenba - Símbolo da Identidade Nikkei ............................. 366 CKC - Chuo Kaihatsu Corporation .................................... 367 O que é Bunkyo Rural? .................................................. 368 Dia de Campo Exposição sobre Produção do Bicho da Seda Visita à produção de seda da Bratac Visita à produção de ovo da Granja Yoshikawa Visita à criação de aves e gado da Enerbio Alimentos Visita à indústria de gaiolas e de ração da Artabas Visita ao Museu Histórico Regional Saburo Yamanaka Registros fotográficos do 9° Bunkyo Rural em Bastos ........................................ 369
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PALESTRANTES E PAINELISTAS Carlos Eduardo de Mendonça Otoboni Possui graduação em Agronomia pela UNESP/Jaboticabal (1994), Mestrado (1999) e Doutorado (2003) em Agronomia (Produção Vegetal) pela mesma Instituição. Atualmente é professor do curso de Mecanização em Agricultura de Precisão da Faculdade de Tecnologia Shunji Nishimura de Pompéia e Diretor desta mesma Instituição. Também é professor das Faculdades Integradas de Ourinhos e Membro da Sociedade Brasileira de Nematologia. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitossanidade, atuando principalmente nos seguintes temas: nematoides, agricultura de precisão e precisão em proteção de plantas.
Dilza Muramoto Psicóloga com mais de 30 anos de experiência na área de Recursos Humanos. Atualmente é Diretora Executiva da Jinzai. Atuou como headhunter por 20 anos na Case Consultores - Grupo Catho como Vice Presidente e Diretora Executiva do Grupo Catho em Alphaville. Ministra palestra para estudantes universitários sobre: Mercado de Trabalho, Empregabilidade, Competências, etc. Atua em projetos de recolocação profissional para empresas e pessoas fisicas; Membro do Rotary Club, atua em projetos sociais e faz trabalhos voluntários para a ONG BSGI.
Diógenes Kassaoka Graduado em Agronomia pelas Faculdades Integradas Cantareira e pós-graduado MBA em Gestão dos Agronegócios, pela Esalq/USP. É diretor geral do Instituto de Cooperativismo e Associativismo da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, conselheiro da Cedaf – Conselho Estadual da Agricultura Familiar e presidente da comissão técnica de olericultura do Estado. Foi coordenador técnico do Programa de Agricultura em Ambiente Protegido e responsável técnico pelo Projeto Horta Educativa.
Fernando Takayuki Nakayama Possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002), mestrado em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005) e doutorado em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2011). Atualmente é pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios e efetivo do Governo do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Manejo e Tratos Culturais, atuando principalmente nos seguintes temas: fitotecnia - sistemas de produção. 8
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Francisco Graziano Neto, Xico Graziano Engenheiro Agrônomo pela Esalq/USP, mestre em Economia Agrária pela USP e Doutor em Administração pela FGV/SP, foi professor da Unesp/Jaboticabal, ocupou vários cargos públicos destacando-se os de Secretário Estadual do Meio Ambiente (2007-2010), Deputado Federal pelo PSDB/SP (1998 – 2006), Secretário Estadual de Agricultura (1996-98), Presidente do Incra (1995) e Chefe do Gabinete Pessoal do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995). Conferencista e escritor, publicou dez livros sobre os temas da questão agrária, agricultura, sustentabilidade e democracia. Consultor em organização, marketing de agronegócios e sustentabilidade, é professor de MBA da FGV/SP, sócio-diretor da OIA Brasil/Certificação sócio ambiental e sócio-diretor da ePolitics Graziano, empresa de posicionamento digital.
Graziela Castilho Sabino Grecco Turismóloga, sócia-proprietária do Projeto Santo Antônio - Sabino/SP. Docente das disciplinas de Análise Econômica do Turismo e Custos na UNIMEP, Consultora da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Instrutora dos Programas de Turismo Rural, Feira do Produtor do Sistema FAESP/SENAR-SP, Consultora em planejamento turístico, desenvolvimento regional e articulações para economia solidária e capital social
Helio Satoshi Watanabe Formado na Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista, trabalhou na Cooperativa Agrícola de Cotia - Cooperativa Central e na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo - CEAGESP. É especializado em fruticultura tropical, responsável pelo Programa Garantia de Sabor da CEAGESP, é consultor da JICA e é membro efetivo da Comissão Técnica da Produção Integrada de Anonáceas. Foi responsável pelo levantamento da movimentação de embalagem no ETSP - CEAGESP de 2004 a 2014.
Jorge de Lucas Junior Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1978), mestrado em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1983) e doutorado em Agronomia (Energia na Agricultura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1987). Livre Docência em Biodigestão Anaeróbia (1994). Atualmente é professor titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Tem experiência na área de Engenharia Agrícola, com ênfase em Energização Rural, atuando principalmente nos seguintes temas: biodigestão anaeróbia, biodigestores, aproveitamento de resíduos, biogás e manejo de dejetos. Fez viagens de 9
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estudos para Cuba, Itália, Espanha e Alemanha. Tem curso de proteção ambiental e conservação de energia no Japão (2006). Em 09/05/2017 recebeu o Prêmio Pesquisador Emérido do CNPq 2017. Atualmente é consultor na área de biodigestão anaeróbia da Sansuy Indústria de Plásticos S.A.
Jorge Nishimura Presidente do Conselho de Administração da Jacto S/A. Formado em Engenharia Mecânica, em 1976, trabalhou por três anos na Alemanha. Membro da Fundação Shunji Nishimura, que suporta diversas entidades educacionais. Fundador, em 1992, da Universidade da Família.
Kunio Nagai Formado em agronomia na ESALQ-USP-Piracicaba, em 1961 e em Administração de Empresas na Universidade Mackenzie, em 1974. Iniciou suas atividades profissionais na Cooperativa Agrícola de Cotia-CAC, onde ajudou a criar a empresa de sementes de hortaliças Agroflora. Criou também a empresa de sementes de hortaliças Tanebras. Foi professor de Agricultura Natural no Colégio Agrícola Cooper Rural, em Jacareí, da OISCA, pesquisador de agricultura orgânica no Instituto de Pesquisas e Difusões Agropecuárias da JATAK e é autor do livro: Manejo de Solo e Adubação, e co-autor do “Curso de Agricultura Natural”-Manual e vídeo. Atualmente é consultor em Agricultura Sustentável.
Marcelo Silvestre Laurino Engenheiro agrônomo pela Esalq/USP, tem pós-graduação em Agricultura Biológico – Dinâmica pela Universidade de Uberaba & Instituto Elo de Economia Associativa Botucatu. Trabalhou na Assistência Técnica e Fiscalização de Crédito Rural no Banespa e no Banco do Brasil. Atua na Articulação Institucional, Fomento e Fiscalização Federal Agropecuária voltada à Agroecologia e à Produção Orgânica junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento desde abril de 1983.
Max Trombini Milton César Maximiano Trombini nasceu em Ubatuba, onde iniciou os treinos de judô e jiu-jitsu na infância e adolescência. Hoje, Max Trombini é 3º Dan (grau) de judô, 4º Dan de jiu-jitsu, diretor executivo do Centro de Excelência da Associação de Judô de Bastos (SP) — onde treinou por um longo período —, ministra aulas de jiu-jitsu na Cia. Athletica, desde 1994, e judô no Colégio Magno, desde 1997, ambas as instituições localizadas na capital paulista, onde reside atualmente. É um dos maiores treinadores de judô do Brasil.
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Nobuyoshi Narita Possui graduação em Agronomia pela Universidade Estadual de Londrina(1985), mestrado em Agronomia (Horticultura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho(1990), doutorado em Agronomia (Horticultura) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho(2006). Atualmente é Pesquisador Científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios e colaborador da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em fitossanidade. Atuando principalmente nos seguintes temas: maracujá, vírus e afídeos.
Noriko Onishi Saito Presidente da Acrea - Associação Cultural Recreativa e Esportiva de Adamantina. Professora na escola Cristã de Adamantina, atuando na área por mais de 50 anos. Graduada em Pedagogia, História e Geografia pela FAFIA, com curso de especialização em Fundamentos de Didática Geral, e aprofundamento nos estudos de Déficit de Atenção (TDAH). Foi vereadora do município de Adamantina entre 2013 e 2016.
Reimei Yoshioka Filho de imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil em 1928, Yoshioka nasceu em Mirandópolis, interior de São Paulo. É formado em Saúde Pública, Serviço Social, Letras e Ciências e tem mestrado e doutorado em Geografia Humana. É membro efetivo da Comissão Bunkyo Rural. Foi professor-visitante da Universidade de Tenri, na Província de Nara, Japão, no Departamento de Estudos Brasileiros, de 1997 a 2001. Nesses quatro anos, estudou a problemática dos trabalhadores brasileiros no Japão, sobretudo com relação à Educação. O tema resultou em sua tese de doutoramento intitulada “Por que Migramos do e para o Japão”, e no livro “Dekasseguis com os Pés no Chão” (em coautoria com Silvio Sam). Nas atividades associativas e esportivas, Reimei Yoshioka foi atleta, dirigente e árbitro de beisebol; presidente da Federação Paulista de Beisebol e Softbol; vice-presidente do Bunkyo e coordenador do Núcleo de Informação e Apoio a Trabalhadores Retornados do Exterior (Niatre) – projeto conveniado com o Ministério do Trabalho e Emprego. Em 2011 foi agraciado pelo governo japonês, por meio do Ministério de Relações Exteriores, com o diploma de “Gaimu Daijin Hyosho Jo”.
Ricardo Saraiva Executivo nacional de novos negócios da Sices Brasil Energia Solar. Bacharel em Propaganda e Marketing pela Universidade Paulista
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Rumy Goto É professora adjunta da UNESP/FCA, na área de produção de hortaliças, Mestre em Agronomia/Horticultura, Doutor em Agronomia/Produção Vegetal, Livre Docente em Olericultura, Pós-Doutorado em Enxertia em Hortaliças (IVIA-Valencia/Espanha), representante pela UNESP/FCA na Comissão de Sementes e Mudas – Olericultura, do MAPA/São Paulo e representante da FCA, junto á Câmara Setorial de Hortaliças, cebola e batata da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo. Foi pesquisadora da EPABA/EBDA- BA (1977-1988) , professora da UESB/Vitória da Conquista/BA (1986-1989) e presidente da Associação Brasileira de Horticultura (ABH) de 1999 a 2005. Foi Coordenadora do Programa de Pós Graduação em Horticultura da UNESP/ FCA, Chefe do Departamento de Horticultura, Vice-Chefe do Departamento de Produção Vegetal. Recebeu o Prêmio Marcílio de Souza Dias da ABH em 2008, e foi paraninfa dos formandos em Engenharia Agronômica da UNESP/FCA dos anos: 1994, 2004, 2006.
Sergio Kenji Kakimoto Pesquisador independente e Consultor. É formado em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo (1989), bacharel em Direito, especialista em Gestão Pública (UNESP), pós-graduado em Administração Rural (FGV), pós-graduado em Agronegócio (PENSA USP), Ex-pesquisador da APTA-SP, Mestre em engenharia de produção (UFSCar). Atua na avicultura de postura e gestão da cadeia produtiva do ovo e desenvolvimento sustentável.
Uichiro Umakakeba Nasceu em Ichigi-Mura, Mie-ken, Japão, em 1946, vindo morar no Brasil com 10 anos. Aluno do professor Tosuke Sugui a partir dos 12 anos, ficou fora das competições oficiais de judô até 1968 quando recebeu o certificado de naturalização. Foi recusado, pela idade, pelo professor Chiaki Ishii (Bronze olímpico - Munique). Após muita insistência foi aceito para morar na Academia da Lapa e treinar sob a orientação do professor Ishii. No início de 1970, teve que voltar para Bastos, por causa da enfermidade de seu pai. Em julho de 1972, casou-se com Linda Naomi Fukumori Umakakeba; em setembro, tornou-se professor de judô de Bastos, sucedendo o seu professor Tosuke Sugui. Como atleta, foi Campeão Paulista em 1963 e 1968, e foi Campeão Brasileiro em 1972 e 1974. Foi também Campeão Ibero Americano. Foi depois Campeão Brasileiro na categoria supermaster por quatro anos consecutivos. Recebeu o 19º Troféu de Esporte Paulista, oferecido pelo Jornal Paulista. Hoje, com 61 anos, 7º grau, continua demonstrando a sua paixão pelo judô, comendo e dormindo junto com os estagiários do Projeto Bastos.
Wilian Aita Ger. C.Experim e Matéria Prima na Fiação de Seda BRATAC. Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual de Maringá. 12
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PROGRAMAÇÃO DIA 21/09/2018 (sexta-feira) 08:00 - 08:30 - Recepção e Café da Manhã - Anfiteatro Governador Mário Covas 08:30 - 08:45 - Abertura do Evento - O que é Mottainai - Dilza Muramoto - Palestra Magna - Dr. Francisco Graziano Neto - Ex-Secretário Estadual da Agricultura e do Meio Ambiente 10:15 - 12:30 - Agricultura Protegida: Opções e Oportunidades - Rumy Goto - Iluminando Ideias sobre Energia Solar Rural - Ricardo Saraiva 12:30 - Abertura da Exposição de Máquinas, Equipamentos e Veículos Automotivos Recinto de Exposições 12:35 - 14:00 - Almoço - (Recinto de Exposições) OPÇÃO 1 - (Recinto de Exposições) 14:00 - 17:00 - Mesa Redonda: Tendências da Agricultura Orgânica - Nobuyoshi Narita e Marcelo Laurino 17:00 - 18:00 - Workshop: Produção de Bokashi - Kunio Nagai OPÇÃO 2 - (Anfiteatro Mário Covas) 14:00 - 16:00 - Sericicultura: Modelo de Diversificação e Transform. Econ. e Social - Wilian Aita 16:00 - 17:00 - Etapas da Produção da Seda: Tecelagem, Tingimento e Acabamento - Wilian Aita 17:00 - 18:00 - Dia de Campo: Fazenda de Produção do Bicho-da-Seda OPÇÃO 3 - (ACENBA) 14:00 - 15:00 - Produção de Café Robusta na Nova Alta Paulista - Fernando Takayuki Nakayama 15:00 - 16:00 - Debate: Bastos, a Capital do Ovo - Sérgio Kenji Kakimoto e convidados 16:00 - 18:00 - Dia de Campo: Fabricação de Ração, Produção de Ovos, Process. e Industrialização - Artabas 19:00 - 20:00 - Solenidade Oficial do 9º Bunkyo Rural em Bastos (no Anfiteatro Mário Covas) 20:00 - 20:20 - Mottainai: Nova Visão na Agricultura - Jorge Nishimura (Anfiteatro Mário Covas) 20:20 - 22:00 - Jantar por Adesão - (Recinto de Exposições)
DIA 22/09/2018 (sábado) 08:00 - 08:30 - Recepção e Café da Manhã - (Anfiteatro Governador Mário Covas) 08:30 - 10:45 - Introdução à Agricultura Digital - Carlos Otoboni - As Oportunidades nas Culturas Exóticas - Hélio Watanabe 10:45 - 11:00 - Coffee Break 11:00 - 12:45 - Cooperativismo e Associativismo - Diógenes Kassaoka - Bioenergia - Jorge de Lucas Jr. 12:45 - 14:00 - Almoço - (Recinto de Exposições) OPÇÃO 1 - (Recinto de Exposições) 14:00 - 16:00 - Regionalização do Turismo Rural - Graziela Castilho Grecco 16:00 - 18:00 - Dia de Campo: Museu Histórico Regional Saburo Yamanaka, Jardim da Amizade e Enerbio Alimentos OPÇÃO 2 - (Recinto de Exposições) 14:00 - 16:00 - Agricultura Digital nas Pequenas e Médias Propriedades - Fatec Shunji Nishimura 16:00 - 18:00 - Workshop: Demonstração de Máquinas e Equipamentos OPÇÃO 3 - (ACENBA) 14:00 - 16:00 - Princípio do Motiyori nas Associações e Cooperativas - Dario Hayashi Morishigue 16:00 - 18:00 - Dia de Campo: Museu Histórico Regional Saburo Yamanaka, Jardim da Amizade e Enerbio Alimentos OPÇÃO 4 - (Associação de Judô de Bastos) 14:00 - 16:00 - Ikigai: O Despertar de um Novo Amanhecer (motivacional) - Noriko Onishi Saito 16:00 - 18:00 - Workshop: Atividades Esportivas - Sensei Umakakeba, Max Trombini e Reimei Yoshioka, e demonstração de Artes Marciais (kendô de Assis com taikô e sumô)
DIA 23/09/2018 (domingo) 06:30 - 07:30 - Recepção e Café da Manhã - Recanto das Águas - Distrito Varpa - Tupã 07:30 - 13:00 - III Cavalgada do Imigrante - Coordenação: Graziela Castilho S. Grecco 13:00 - 14:00 - Almoço - (Recinto de Exposições) 14:00 - 14:15 - Encerramento Endereços das Atividades: Anfiteatro Governador Mário Covas Av. 18 de Junho, 251 - Centro
Recinto de Exposições Kisuke Watanabe Rua Presidente Vargas - Centro
ACENBA Rua Adhemar de Barros, 466 - Centro - tel. (14) 3478-1209
Associação de Judô de Bastos Av. 18 de Junho, 400 - Centro - tel. (14) 3478-1946
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O QUE É MOTTAINAI? Palestrante: Dilza Muramoto Psicóloga, ex-headhunter da Case Consultores do Grupo Catho. Diretora Executiva da Jinzai
Quando vamos a um restaurante por quilo, temos a tendência colocar comida a mais no prato. Mas precisamos aprender a dosar e pegar somente o que comeremos. Em uma churrascaria, ocorre a mesma coisa. Vem aquele mundaréu de carne toda hora e enchemos o prato. Mas na verdade, tudo isso temos que tomar cuidado porque o que sobra vai para lixo. Vai para o lixo e não é aproveitado. Mas eu gostaria de comentar uma coisa. Dentro desse tema do "mottainai", que eu aprendi durante todos esses anos, tenho dito o seguinte: quem me vê hoje, como o coronel Kyono e outra série de pessoas que estão aqui e que me conhecem há muito tempo, acha que eu nasci em berço de ouro. Mas na verdade sofri muito na minha infância. Por isso a palavra mottainai para mim é muito importante. Eu nasci no meio do mato na cidade de Itaporã, no Mato Grosso do Sul, bem ao lado de uma reserva indígena. Costumo dizer que morei em uma horta porque eram quatro famílias morando em uma mesma casa no meio do mato. A família dos meus pais foi para essa localidade depois de saírem da região de Álvares Machado.
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Em Álvares Machado, naquela época, meu pai era jovem, um atleta, jogava beisebol e praticava atletismo. Aliás, lembro-me de umas cinco fotos dele com troféus, ele sempre tirava o primeiro lugar. Ele e outros dois irmãos competiam sempre, então, assim, resolveram não vir pra São Paulo, mas ir lá para o Mato Grosso plantar hortelã. Mas deu tudo errado. Passamos fome. Quando eu nasci, meu tio mais velho tinha seis filhos, o segundo tinha outros sete filhos. Em minha família nós éramos dois irmãos e havia mais uma família com mais dois filhos, todos morando na mesma casa. Por isso digo que era uma horta, com aquelas casas de barro e a gente não tinha o que comer. Comíamos o que plantávamos e o conseguíamos colher. Eu me lembro muito bem, que tudo era mottainai. Comíamos a parte vermelha da melância, mas a parte branca, da casca, era tirada. Mas não podíamos jogá-la fora. Uma parte ia para os porcos, a outra comíamos como "tsukemono". Ora ele era curtido, ora refogado. Era o que comíamos. Então toda a minha infância eu vivi nessas condições. Por isso para mim a questão do mottainai é muito importante. Ensinei meus filhos também dentro desse conceito, hoje eles fazem questão também de realmente prestar atenção com relação ao mottainai. E com isso tudo cheguei aonde cheguei, preservando essa cultura, esse saber dos nossos ancestrais, algo que venho desenvolvendo e batalhando. Formei-me em Psicologia, tenho dois filhos, uma médica e o outro formado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas. Ambos trabalham muito bem na área, estão superfelizes e, assim, todo esse legado que tivemos de nossos ancestrais foi superimportante. E continuo na batalha para transmitir tudo isso aos nossos jovens, que representam as futuras gerações. Em São Paulo faço parte do Nikkey Matsuri que surgiu na zona norte, e já estamos nos aproximando da 12ª edição, quando serei a presidente da festa. Fazemos o evento para promover a cultura japonesa, divulgar todo esse ensinamento que tivemos dos nossos pais e avós... Isso era uma introduçãozinha. Mas o mottainai está em todo japonês. Essa foto de baixo é uma pessoa muito importante no mundo, Wangari Maathai, que trouxe o mottainai para o Ocidente, de uma certa forma, porque ela foi a primeira mulher a receber o prêmio Nobel da Paz, e quando foi para o Japão,
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aprendeu a palavra mottainai. Aí o mundo começou a ouvir falar muito de mottainai. Hoje a palavra mottainai está sendo muito divulgada. Temos profissionais especializados em ministrar cursos sobre mottainai para as pessoas e empresas. Quando falamos de mottainai gente, não é só mottainai de comida, é mottainai no tempo, etc. E como desperdiçamos tempo. Existem pessoas para quem pedimos uma coisa e elas falam "ah, não vou poder". Elas sempre têm uma desculpa, vivem dizendo que estão sem tempo. Sempre digo nas minhas palestras que quando precisamos pedir alguma coisa para alguém, sempre pedimos para alguém que não têm tempo. As pessoas que não têm tempo, sempre dão um jeito de arranjar tempo. Então mottainai está no tempo, dinheiro, etc. Nós também não desperdiçamos dinheiro também? Eu mesma coisa desperdiço dinheiro. Defintivamente, mottainai está em todos os momentos de nossa vida. E se está em todos os momentos, então ela é muito importante. Escrevi um texto, mas na verdade não gosto de acompanhá-lo muito. Quando a Wangari trouxe a questão do mottainai, depois que o Quênia, na África, criou um cinturão verde, fiquei chocada. O Quênia sofreu é um país que sofreu muito, mas ela fez um cinturão verde plantando 40 milhões de árvores. Foi um grande trabalho que rendeu vários livros que colaboraram muito na divulgação do mottainai pelo mundo. Eu queria falar sobre uma questão, que está muito ligado ao mottainai. Wangari falou em três "R": reduzir, reutilizar e reciclar. Mas falamos em quatro "R": reduzir, reutilizar, reciclar e respeitar. O respeito, em todos os sentidos, para os japoneses é muito importante. Por isso gosto de aplicar os quatro "R". Não sei se os senhores viram na televisão, mas este ano se tem falado muito em respeito. Digo, respeito com tudo, pelo meio ambiente e, principalmente, pelo nosso cantinho. Sabe, tenho um cantinho na minha casa, em São Paulo. 17
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Tenho terra no meu quintal. Não é muito, mas consegui um filetezinho para plantar. Eu tenho uma parreira, consegui desenvolver um pé de amora, que está regada de frutinha, desse tamanho, docinha. Ah, tenho um pé de jabuticaba também. Acho que se cada um pudesse pensar um pouquinho desse jeito, de poder plantar, seria ótimo. Tem bastante gente que mora em São Paulo né? Poder plantar alguma coisa dentro do próprio quintal faria um grande bem para o meio ambiente. Nosso lar também ficaria melhor. Por isso defendo e propago os quatro "R". Pode ir um pouquinho mais pra frente? Então, falamos muito em natureza né? Precisamos reduzir o desperdício, reutilizar recursos finitos, reciclar o que for possível, e respeitar o ambiente em que vivemos. Essas coisas são superimportantes. A palavra mottainai está envolvida em tudo isso. Por isso ela é extremamente importante. Bom, o importante é isso. Estar consciente, e tentar transmitir, para as futuras gerações, a importância desse conceito. Normalmente dou palestra para jovens carentes e farei um trabalho agora, lá no colégio Franklin Roosevelt, que fica em frente ao Bunkyo, em São Paulo, em que durará quatro semanas. É uma atividade voluntária para trabalhar todos esses assuntos com os jovens. Costumo dizer que se pudéssemos salvar uma pessoa, que essa uma pessoa multiplica-se por 10, já me dava por satisfeita. Então é isso gente. Para finalizar a minha palestra, gostaria de passar um filminho bem rápido, que fala dessa questão do mottainai, e de como podemos e devemos reutilizar as coisas. É rapidinho, é um vídeo lá do Japão. Vamos ver. O texto na sequência é do vídeo exibido durante a palestra: O arroz é um alimento básico dos japoneses. Se o grão de arroz for consumido e o resto for descartado, com certeza eles dirão "mottainai". Essa velha expressão japonesa indica pesar por desperdiçar ou usar incorretamente algo que ainda tem valor, que demonstra respeito e gratidão pelas coisas. A ambientalista e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Wangari Maathai, ficou 18
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tão impressionada com a filosofia de mottainai que tornou como sua missão popularizar a palavra em todo o mundo. Os caules colhidos do arroz são secos e ganham uma nova vida em decorações do ano novo, tatame, e outros objetos de artesanato e artigos.
A moagem dos grãos produz pastas e farelo de arroz que não são desperdiçados. São usados em sabão, material de embalagem e até para encher travesseiros. Respeito pelo agricultor e relutância em produzir resíduos levam ao aproveitamento total. Deixar arroz no prato, é definidamente mottainai. Desde o século 18, a cidade de Hachinobe, em Tohoku, tem sido o lar do método de tecelagem Nanbu Sakiori. Tiras de tecidos velhos e desgastados são usadas na trama horizontal, enquanto fios de cânhamo ou algodão na trama vertical. Dessa forma, novas roupas podem ser tecidas. Isso mostra também respeito pelos itens, que foram fiéis por longo tempo. Atualmente Nanbu Sakiori é utilizado em bolsas, chapéus, estofados, tapeçarias e outros produtos. 19
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Esse tipo de tecelagem foi criado porque as pessoas pensavam que era mottainai jogar fora as roupas usadas. É uma pena se essa tradição desaparecer. Então nos esforçamos para conservá-la. Essa fábrica utiliza tecnologia de ponta para reciclar roupas usadas de fibras sintéticas. Esse método processa roupas velhas de poliéster, produzindo novas peças com qualidade idêntica dos vestuários originais. Isso é possível graças à tecnologia que desintegra o tecido a um nível molecular, produzindo um pó de poliéster exatamente igual ao fabricado a partir do petróleo. Essa invenção é uma novidade mundial. Olhe ao seu redor, você encontrará o espírito do mottainai em todos os lugares do Japão. Esses produtos são todos feitos de materiais de sucata. Criando gravatas a partir de cintos de segurança, os designers pensam meios e formas para aproveitar as cores e formas originais, dos materiais descartados. Até o óleo de fritura do tempurá é reprocessado em combustível diesel. É mottainai jogar todo esse óleo fora, então nós o coletamos e temos um recurso valioso. É um exemplo perfeito de mottainai. Há comunidades que estão começando a utilizar este combustível para abastecer ônibus públicos. 20
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O tradicional espírito do mottainai continua vivo na consciência japonesa. Desenvolvendo tecnologias, e criando produtos. Então é isso gente. Obrigada! Vamos fazer a diferença. Se cada um fizer alguma coisa. A gente vai fazer, este país melhor. A gente vai poder ensinar os nossos jovens, os futuros líderes dessa nação. A fazer um país melhor. Muito obrigada pela oportunidade hoje, e parabéns pelo evento.
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PALESTRA MAGNA: CAMINHOS PARA O FUTURO NO AGRO Palestrante: Francisco Graziano Neto Secretário Estadual da Agricutura (1996~1998) Secretário Estadual do Meio Ambiente (2007~2010) Muito obrigado. É um prazer, uma alegria, um privilégio estar aqui com vocês. Eu já participei do Bunkyo no ano passado e parece que gostaram. Eu quero cumprimentá-los a todos. Permitam-me, em nome de dois amigos, engenheiros agrônomos, Celso Mizumoto e Nelson Kamitsuji, que são meus colegas, formados lá em Piracicaba que vocês conhecem. O Nelson é nascido aqui em Adamantina e o Mizumoto veio junto com tantos outros criar essa capital do ovo, maravilhosa, de Bastos. A palestra magna que pediram para eu organizar quando conversamos com o Tomio, que é uma pessoa extraordinária, não me deram nenhum título. Vocês vejam aí: Palestra Magna. Eu fiquei meio confuso, "mas eu vou falar sobre o quê?!", é um negócio que você escolhe, não é fácil né? Porque depois eu fui ver o programa e o programa tem conteúdo técnico bastante interessante, logo depois a Rumy, formada conosco lá também em Piracicaba, vai falar sobre cultivo e depois, nossa, tem muita coisa técnica. Então, eu pensei "eu não vou falar sobre nada técnico, eu vou fazer uma reflexão que denote 'Caminhos Para o Futuro'". Falar em futuro não é muito fácil. Talvez a primeira preocupação minha, portanto, vai ser mostrar o que quer dizer futuro mesmo, quando a gente está 23
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num mundo que se modifica tanto e tão rapidamente. Então eu vou ter que fazer uma reflexão, vou utilizar aqui um pouco do meu aprendizado de vida nas ideias, como eu vejo o mundo e procurar fazer uma mensagem para vocês sobre quais são os nossos desafios, o que nós podemos olhar aí para frente. Eu vou começar longe. Copérnico viveu entre 1473 e 1543, talvez tenha sido um dos maiores, não se chamavam cientistas, um dos maiores filósofos da história humana. Copérnico era holandês, publicou, em 1530, um livro onde ele dizia que a Terra girava em torno do Sol, que a Terra não era o centro do universo, isso em 1530. E ele elaborou e muita gente achava que o que ele falou fazia sentido, mas não deram muita importância. Desde Aristóteles, portanto, na época grega, se construiu a ideia de que a Terra era o centro do universo. A terra não está movendo, eles diziam, pensa bem, como a Terra está se movendo nessa velocidade se tudo está parado? Se a Terra estivesse se movendo, as coisas estariam caindo, está certo? E durante milhares de anos, permaneceu esse raciocínio. Copérnico disse que não era bem assim, ele não foi muito ouvido. Em 1564, nasceu Galileu Galilei, esse é tido como o pai da ciência, esse é um homem muito importante na história da civilização. Galileu não foi o descobridor ou inventor do telescópio, mas ele aprimorou o telescópio. E quando ele publicou, em 1610, a obra dele, através do aprimoramento que ele fez com o telescópio, ele conseguiu ver as luas de Júpiter, ele conseguiu com um instrumento, aquilo que nós chamamos hoje uma ferramenta tecnológica, ele conseguiu medir aquilo que o Copérnico havia dito 80 anos antes. E ele chegou à seguinte conclusão "Copérnico está certo, a Terra não é o centro do universo", isso em 1610. A vida dele não foi fácil, desse homem, em 1616, a inquisição o acusou, em 1633 ele foi condenado. Ele morreu cego, pobre e desgraçado. Trezentos e cinquenta anos depois, ele foi absolvido: ele estava certo. Fantástico. Este homem na época dele foi tido como louco, ele não era louco, era ele que estava certo. Ele é tido como o pai da ciência, porque ele estabeleceu um critério desde então, lá trás, que passou a ser chamado como "método empírico": é preciso observar as coisas para prová-las, não basta apenas o raciocínio. Então o empirismo, o método científico, começa com o Galileu Galileu naquela época, depois vem se aprimorando e nós sabemos que isso já faz parte da nossa história da ciência. Eu começo então assim, a minha introdução do meu tema com vocês para 24
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tentar responder a pergunta "Como será o futuro?". Dois grandes momentos da história da civilização foram decisivos, e pessoas ou entidades fizeram previsões sobre o futuro. Vejam o que aconteceu:
Essa aqui é a curva da população humana do crescimento da população humana desde a época de Cristo. Praticamente a população humana não cresce durante séculos e séculos, até chegar em 1800. Em 1800, ela explode. Esse é daqueles gráficos que, por si só, falam. Em 1800, nós éramos um bilhão de habitantes na terra. Foi exatamente aqui que Thomas Malthus fez a famosa predição dele, que todo mundo aprende na escola (tomara que aprendam ainda), que a população está crescendo a uma taxa geométrica e a produção de alimentos a uma taxa aritmética. E, portanto, Thomas Malthus, que era demógrafo e pastor protestante, propôs em 1802: "Só há um caminho para a humanidade: controlar a população, porque senão haverá uma hecatombe". Ele previu aquele pico de crescimento populacional e disse temos que controlar, nós somos 1 bilhão e não vai dar para todo mundo. A história da civi25
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lização mostra, porque hoje nós somos 7,2 bilhões, que o Thomas Malthus errou a previsão dele, porque ninguém fez o controle populacional e a civilização foi para frente, tanto é que estamos aqui. A segunda previsão, no sentido em que eu quero conversar com vocês, foi feita em 1972, quando se publicou o livro chamado "Limites do Crescimento". O Clube de Roma contratou o MIT na época para discutir a finitude dos recursos naturais, a crise ecológica em 1970, o que estava acontecendo, a pressão populacional. Em 1970, nós já éramos 4 bilhões de habitantes e todo mundo dizendo "vai acabar tudo, vai acabar o ar, a água, o território, o níquel, precisamos fazer alguma coisa". Naquela época, não se falava em ecologia nem em meio ambiente, falava-se em recursos naturais: "Os recursos naturais vão se esgotar, o que nós faremos?". O MIT, com o Clube de Roma, estudou esse assunto por 4 anos e publicaram esse livro. E esse livro trazia essencialmente este gráfico:Em 1972, eles previam que a Terra, a humanidade e civilização
iriam entrar em um colapso mais ou menos quando as fugas se invertem. Aqui, a mortandade humana vai caindo de 50, 60, 70, faria isso os recursos natu26
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rais. Então, quando houvesse essas inversões, para resumir a história, haveria um colapso ecológico. Se vocês forem ver, se aqui é 2000 e aqui é 2050, quando é que seria mais ou menos aqui? Seria mais ou menos hoje. Teria havido um colapso. Isso eles em 1972, 82, 92, uns 50 anos, eles olharam que e pensaram "Daqui a 50 anos vai ter um colapso". O colapso não aconteceu. O MIT e o Clube de Roma, assim como Malthus, não conseguiram olhar, não acertaram. Em ambos os casos, a explicação do por que Thomas Malthus errou e porque o colapso ecológico não aconteceu é essa daqui: eles não consideraram o avanço tecnológico, vamos dizer de uma forma mais completa, eles não conseguiram prever o que aconteceria em termos do avanço tecnológico. O Thomas Malthus, em 1802, não conseguia imaginar que a produção de alimentos, iria acontecer com ela tudo o que aconteceu. Ele não podia imaginar que os pântanos seriam dragados e virariam zonas maravilhosas de produção na Inglaterra, na Polônia, na França, ele não conseguiria imaginar que os holandeses iriam fazer o mar recuar e ocupar áreas que estavam embaixo do mar, etc. Então, não é que desconsideraram, é que não conseguiram prever o avanço tecnológico. O Cube de Roma e o MIT também, e ninguém vai dizer que o MIT é uma entidade ruim de pesquisa, eles são sensacionais, mas eles não conseguiram. Tem sido extraordinário, maravilhoso o avanço tecnológico da civilização, surpreendente, imprevisível. A inteligência humana tem sido capaz de desenvolver, de avançar, de fazer coisas que nós não imaginamos desde aquela época. Nessa história da civilização, houve quem se opôs ao avanço tecnológico. O movimento mais conhecido no início do capitalismo, em 1812, na Inglaterra, ficou conhecido como Ludismo, porque Ludd era um tecelão que encabeçou 27
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uma revolta contra os teares. Olhem os teares como eram na época, tocados a vapor:
Ludd e os artesões e tecelões na época destruíram os teares. O que aconteceu com os tecelões e com o Ludismo? Perderam ou ganharam a guerra? Perderam. Os teares chegaram, ficaram, se aprimoraram e hoje são maravilhosas máquinas. Os tecelões desse processo foram se ajeitando, se ajustando, sabe-se lá, coitados dos tecelões, o que aconteceu com eles. Alguns se adaptaram aos teares "Já que a máquina veio, eu vou me adaptar a máquina", outros ficaram brigando com a máquina e, provavelmente, a máquina caiu na cabeça deles. Nós não sabemos ao certo o que aconteceu com os tecelões, mas com os teares nós sabemos, os teares foram cada vez mais aprimorados de forma maravilhosa. Eu uso o exemplo do Ludismo para condicionar agora já a nossa agricultura. Tem muita gente que fica pensando sobre a agricultura de uma certa forma lúdica. Existe como voltar ao passado? Há pessoas que ficam pensando no futuro saudosista do passado, como se o passado fosse possível ser trazido de volta e isso é difícil. Há possibilidade de isso acontecer? Nós vamos voltar ao 28
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passado ou nossa história é continuar indo para frente? A história da civilização tem mostrado que esse aqui vai ser o caminho. Não se descobriu ainda marcha ré na história: a história não dá marcha ré. E esse é um ensinamento que nós não podemos perder de vista quando pensamos o que vai ser de nós, nós temos uma tendência, principalmente quando chegamos a uma certa idade, de pensar assim "Poxa, mas era tudo tão bom antes, e agora como é que é?", nós ficamos um pouco presos ao passado. Faz parte da história da civilização e da história humana passar por essas dificuldades. Eu, com as minhas imagens, quero mostrar que não tem marcha ré, a marcha da história é para frente, progresso, para frente e para frente. Muito bem, por enquanto está tudo simples e bonito, não é? A pergunta é esta daqui "Como é que a gente engata essa marcha? Como é que aqui em Bastos, no interior de São Paulo, no Brasil, como brasileiros ou japoneses ou que sejam, como nós nos engatamos nessa marcha do progresso? Qual é o segredo? Quem sabe engatar essa marcha?". Esses têm sido os nossos dilemas quando nós discutimos o que vai acontecer, quando nós analisamos seja a produção de ovos no Brasil ou no mundo, seja a de grãos, na produção de leite, qualquer área que você vá estudar, você vê a marcha do progresso, você que a coisa está indo para frente, você vê o avanço tecnológico incrível, cada vez mais rápido, e a gente fica aqui pensando "Como é que eu pego isso? Como é que eu não perco o bonde da história?" e isso é que tem sido difícil. Muitos de nós, às vezes, ou porque ficamos acomodados, ou porque fazemos outras coisas, quando a gente olha fala "Nossa, estou perdendo o bonde da história" e sai correndo atrás, e esse é o problema a ser resolvido: como engatar a marcha do futuro? Na minha compreensão e naquilo que tenho de experiência de vida, eu diria: há tantas tarefas, mas há três tarefas fundamentais para se engatar a marcha da história do progresso.
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A primeira é essa daqui: é querer, é ter atitude, atitude positiva e proativa, quem, na agricultura do Brasil e do mundo ou em qualquer outro setor de atividade, ficou esperando as coisas acontecerem nesse mundo da tecnologia, o mundo foi para frente e ele ficou para trás. Aqui não dá para esperar, você tem que querer, tem que ir atrás. Quando nós, agrônomos, discutimos a assistência técnica do Brasil, vocês lembram-se da rede das casas de agricultura que existia no interior de todo estado de São Paulo, naquela época, as Ematers nos outros estados, todos os anos de 1950, 60 e 70, quando você vê aquela época e vê hoje, um dos grandes aprendizados que nós tiramos é o seguinte: qual o agricultor que foi para frente? Aquele que ficou esperando o agrônomo ir lá? Não, aquele que foi procurar. Ele foi lá e falou "Eu quero aprender a fazer isso daí", então o profissional consegue explicar porque tem que aprender e então abre a cabeça. Tem gente que sabe tudo (acha que sabe tudo) e fecha a cabeça, tem outros que ficam acomodados no seu canto. Então a atitude é fundamental. Eu achei aqui o slide, porque eu não conhecia, só ontem a noite eu achei. Olhem que interessante: "O problema não é o problema. O problema é a atitude em relação ao problema." Está certo? Problemas existem para serem resolvidos e eu vou mostrar para vocês alguns problemas que têm sido resolvidos e vocês vão ficar bem impressionados. Só para argumentar: a atitude é fundamental. O que podem fazer vocês da comunidade japonesa? No ano passado, discutimos lá no Cinturão Verde de São Paulo, como é que faz os terrenos, a valorização, as cidades estão avançando, os campos de produção estão ficando ameaçados pela expansão imobiliária, o que nós vamos fazer? Discutimos tanto isso, preparando encontros, tem que ir atrás, ficar esperando não dá certo. 30
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A atitude é fundamental, mas ela não basta. Junto com a atitude é preciso ter o conhecimento. O conhecimento é a luz. Então, a atitude é fundamental, eu quero, eu desejo; o conhecimento é degrau, é eu posso, eu sei, eu estudei, eu tive na escola, eu fui naquela reunião. E hoje em dia, vocês sabem, muita gente não vai nem na reunião. Tem gente que acha que é perda de tempo ir em reunião, você faz, faz e tenta convencer as pessoas "Vai lá, vai ser legal, vai ser importante", metade não vem. Não acha importante, despreza o conhecimento. "Ah tá bom, eu já 'faço conhecimento' na internet", vai lá e "googla" e acha conhecimento. É verdade, Google é show, o problema é que se ele "googla" o conhecimento e ou se fica só fazendo bobagem. Porque aquilo que é uma oferta de conhecimento, que é o Google, a internet, também é uma oferta de distração, então você fica a vida inteira vendo vídeos engraçados (tem um monte, não tem?) e o conhecimento fica para trás. Eu dou aula há quarenta anos. Hoje só dou aula em MBA, para profissionais, vou para o Brasil inteiro. Então quem é professor tem os dilemas que vemos hoje, buscar o conhecimento, porque está tudo na internet. Está, mas você precisa saber achar, porque senão você vai ter conhecimento ruim ou ficar se distraindo apenas. Então, primeiro a atitude, segundo conhecimento, terceiro, cooperação. O mundo é o mundo da colaboração. O mundo hoje é o mundo da cooperação. No mundo da tecnologia, nessa rapidez incrível, você não tem nem tempo, na hora que você domina uma tecnologia já aparece alguém que diz "Você viu lá o cara que lançou um produto", você fala "Pô, acabei de adotar isso, acabei de gastar o dinheiro aqui", já há outra forma de produzir, novos produtos em todos os ramos, como é que você sobrevive nisso sozinho? Não tem como, sozinho não vai ter futuro. Assim como ter atitudes positivas, não é todo mundo que as têm; buscar 31
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conhecimento, estudar, não é todo que faz; colaborar parece que é a maior dificuldade. Existe uma competição, um certo individualismo que bloqueia as pessoas. Onde nós estamos vendo hoje colaboração, está indo para frente. Vale do Silício na Califórnia é pura colaboração. Quem está ligado, e os jovens estão, você está vendo em São Paulo hoje, já estão alugando salas, escritórios para fazer cogestão, para fazer co-working, trabalhar em conjunto. Várias pessoas trabalhando juntas. As redes da internet permitem colaboração. Os melhores cientistas do mundo trabalham em rede, não trabalham sozinhos. Então, aqui estão, na minha modesta opinião, as três palavras mágicas para nós enfrentarmos o futuro: ter atitude, buscar conhecimento e fazer cooperação. Vale para qualquer ramo, para qualquer lugar, é muito simples. É simples de dizer, né? Mas então fica assim, eu sou colaborativo, eu vou atrás, mas é o seguinte, onde estão as respostas? Perguntaram para mim, perguntaram ontem, "eu vou fazer o que? Eu tinha uma terra arrendada para cana de açúcar, a usina faliu, eu faço o que com essa terra? O que você me recomenda?" Eu não sei, difícil, vai atrás, quer dizer, nós estamos acostumados a ter respostas, "me dá uma resposta", mas existe receita pronta? Não tem receita pronta. Antigamente, existiam algumas receitas, você sabia que plantar café era de um jeito e todo mundo fazia do mesmo jeito e durante 10, 20 e 30 anos era só aquilo que funcionava. Brotava daquele jeito, plantava daquele jeito, não mudava nada. Hoje, você dá uma errada no começo, vai plantar o café que é uma planta que demora anos e anos, já pensou se você fizer errado? Vai ficar com aquele café micado, como dizem hoje. Eu quero reconhecer que, teoricamente está bom, mas não é fácil como poderia ser. Olhe aqui, soluções: problemas existem para serem solucionados. Achar uma solução. Eu quero mostrar para vocês, agora, porque daqui a pouco eu vou terminar, as coisas estão sendo resolvidas, os problemas, as atitudes, o avanço científico. Existem coisas extraordinárias acontecendo na nossa cara, portanto, o meu raciocínio é o seguinte, se as algumas, como eu vou mostrar aqui, já existem, por que é difícil resolver nossos problemas aqui embaixo, aqui em Adamantina, em Ibiúna? Não é difícil, às vezes precisamos enxergar, mas as soluções estão aí, olhem algumas respostas a essa pergunta "Onde é que estão as respostas?". Isso aqui é uma resposta, isso aqui é biotecnologia: 32
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Se nós imaginássemos, quer dizer, nenhum de nós imaginava que daqui há 20 anos, que nós íamos conhecer produtos transgênicos como o algodão, por exemplo, que quem já plantou conhece algodão, sabe como é que é, como aquele algodão BT, que os cientistas pegaram o gene de um bacilo, botaram no gene do algodão de tal forma que a hora que a lagarta morde a folha do algodão, ela morre como se tivesse comido o bacilo, o Bacillus thuringiensis, então em vez de passar 12, 15 aplicações de venenos ou defensivos agrícolas no algodão, você passa 3,4, é um negócio maravilhoso, incrível. Como é que os cientistas são capazes de fazer essas coisas? Então a transgenia, a engenharia genética é algo incrível. Eu, outro dia fui ao laboratório da Embrapa em Londrina e eles já descobriram processos por engenharia genética que tornarão as plantas resistentes à seca, então, resistência a déficits hídricos é uma das fronteiras do conhecimento. As plantas geneticamente modificadas quando vem a seca, ficarão lá bonitonas, e quando, a gente sabe quem é da roça, está super seco, tem um matinho lá que está verde, não é isso? Então os cientistas estão há anos descobrindo qual é o gene que está facilitando aquela planta e botando isso no milho, na soja, nas plantas cultiváveis. Resistência à seca, já pensou isso no mundo todo? Que coisa sensacional! Elas soltam umas raízes, as plantas se fecham. Alguém podia imaginar que isso aqui fosse acontecer? Quem já trabalhou na roça, aplica defensivo agrícola, como era difícil aquilo lá, a gente tomava aquilo lá, molhava a todos nós, e então foi aprimorando e o que vai acontecer daqui a poucos anos? Qual é a tendência, o que está vindo aí? Uma agricultura onde os drones são inteligentes, eles, por computador, detectam onde tem o foco de uma lagarta, vão voando e jogam veneno só em cima do foco da lagarta, voam pela lavoura e jogam um pouco aqui e lá. Os 33
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estudos mostram que isso economiza 90% do que nós utilizávamos, com drones pulverizadores de defensivos agrícolas. Negócio sensacional!
Eu sou encantado com avanços tecnológicos e isso aqui é um avanço tecnológico: um quitute de inseto. O mundo come insetos, o mundo se aproveita da proteína dos insetos e a insetocultura está chegando aí. Aliás, isso é uma boa dica para alguém aqui que está pensando em alguma coisa diferente para fazer. Os laboratórios de ponta no mundo estão investindo muito nisso. Vocês sabem que os grãos cereais como milho, trigo, tem 6%, 8%, 10%, no máximo, de proteína; a carne em geral tem de 18%, 20% a 22%; os insetos têm de 45% a 60% de proteína. Inseto é proteína pura, portanto, pode esperar, nós vamos comer muito inseto, não se se vamos comer assim direto o bicho como se come no oriente, na China, mas, provavelmente, muitas farinhas super proteicas. Um dia nós vamos passar na padaria da esquina e vamos pedir "Eu quero um pão com 10% daquela farinha com de gafanhoto que dá um gostinho gostoso no pão e que dá 12% a mais de proteína no pão".
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A gente acha que não, mas alguém já tinha ouvido falar, a um tempinho atrás, de carcinocultura? Vocês já viram uma fazenda de camarão no Nordeste? Não tem nada mais impressionante do que aquilo. Isso é recentíssimo, não tem 20 anos, e o Brasil é um nos maiores produtores de camarão do mundo. Fazendas de camarão que são incríveis. Não é fazendo de boi, de gado, de agricultura, é camarão.
Este aqui é a linha das energias alternativas, é o que aconteceu no Brasil. Isso é no Piauí, foi instalado o ano passado. São 690 hectares de painéis solares em um projeto. Então o Nordeste que não sabia o que fazer com aquilo tudo, descobriu que nós temos sol. E como podia fazer que todos sempre disseram para nós que não temos nenhuma chance? Que as energias alternativas jamais vão competir com o petróleo. Pois, hoje, até o Brasil está competindo. Isso é energia solar. No Brasil, esses cata-ventos que já são 6600 em 534 par35
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ques eólicos estão gerando no Brasil 13,4 megabytes. Sabe quanto é isso? Mais que uma Itaipu. Às vezes, nós nem sabemos que isso está acontecendo, e isso está acontecendo. Então significa que logo o produtor que vai fazer irrigação não vai mais comprar energia. Para que comprar energia? Fabrique sua energia onde você irriga, lá no oeste da Bahia, aqui mesmo. São fronteiras do conhecimento incríveis que estão acontecendo, que nós estamos vendo, que eu estou aqui mostrando para vocês.
Isto aqui é outra coisa apavorante, para nós aqui, apavorante, mas é maravilhoso: são as fazendas no deserto. Isto aqui é no deserto do Saara. Há uma empresa chamada Sahara Forest, que está produzindo na Tunísia, está fazendo muitos projetos no deserto. Este daqui (página ao lado no alto) é um projeto no deserto da Austrália. Zero defensivos agrícolas, no deserto não tem praga, doenças, vírus, bactérias, não tem nada. Energia 100% captada. A água é do mar. Todos os projetos do Saara, da Austrália, água do mar dessalinizada. Uma coisa que era muito cara despendia muita energia e não tinha nenhum futuro, hoje é a coisa mais simples do mundo: pega a água do mar, dessaliniza, aproveita os sais minerais e bota água. Então, se você ficar olhando lá para frente e pensar "E se esse negócio aqui pega?", porque hoje é meio caro, mas tudo quando começa é caro, depois o preço vai caindo, se as fazendas, as chamadas smart farms (as fazendas inteligentes) nos desertos, no Saara, se vingar, sabe o que vai acontecer com as 36
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nossas maravilhosas áreas disponíveis no Brasil? Não vai precisar mais delas, vai sobrar terra no mundo, não vai faltar. Incrível, não? Será que isso vai acontecer? Não sei, mas depois que fizeram Dubai... Você olha aquilo ali e fala "Nossa", o que vem aí, nós não sabemos direito, mas pode sobrar terra, e aí nossa terra vai poder ficar cheia de onça, não vai precisar mais de terra. A Rumy vai falar para vocês depois de cultivo protegido, hidroponia, etc. Isso daqui não é hidroponia, como é que chama esse daqui? (ao lado) Aeroponia. Não é que se produz sem terra, só na água, produz sem terra e nem água. Produz assim no vento, nebulizando. Então, quer dizer que isso 37
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daqui, acabou. Você vai fazer canteiro para produzir, é sensacional! Você olha e fala "Hum, essa coisa aqui... Já pensou?".
E esses são alguns exemplos, carne do que é isso? Ontem nós comemos carne de Bonsmara, que o Sérgio ofereceu lá para a gente, misturada com o Wagyu. Qual carne é essa daqui? Artificial, não é carne verdadeira, é carne artificial. Já estão nesse nível: hambúrguer, bife criados em laboratório. Estamos ferrados com o nosso boi. O que vai acontecer com nossos bois? Nós não sabemos. "Ah, mas nada vai substituir a carne", não sei, para uns sim, para outros não, nós não sabemos e eu estou tentando transmitir isso. Este daqui foi inaugurado mês passado:
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É um estábulo com quarenta vacas leiteiras no mar da Holanda. O pasto foi para o mar. Incrível! Um projeto maravilhoso, tudo fechado em termos de energia, em termos de resíduos orgânicos, tudo que cai coleta, vai, volta, recicla, direitinho o conceito daqui o mottainai. Sensacional. Será? Aqui é para mostrar uma tendência, nós falamos disso no Bunkyo em Ibiúna no ano passado, e agora nós estamos vendo que isso está se acelerando. A Amazon comprou a Whole Foods, que é a maior rede de produtos orgânicos do mundo nos Estados Unidos. AAmazon comprou a Whole Foods e, mais recentemente, a Unilever comprou a Mãe Terra aqui no Brasil. Quer que eu pergunte para vocês? Perguntarei. Vocês acham que a Amazon e a Unilever fazem bobagem? Não, quem conhece sabe que eles não fazem bobagem. Se a Amazon comprou a Whole Foods e a Unilever comprou a Mãe Terra e entraram no ramo de orgânicos, o que isso está mostrando para gente? Esse negócio vai ficar bom. Portanto, se alguém está pensando alguma coisa legal para fazer, comece a estudar desde já, produção orgânica de ovos, eu estou com a minha filha lá, produzir bezerro orgânico em Goiás. Parece uma coisa meio de louco, de maluco, não sei, está todo mundo virando isso, por causa do medo dos agrotóxicos, não sei o que é e pouco importa o que é, isso aqui já está acontecendo e 39
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orgânico é uma coisa muito legal. "Ah, mas é muito difícil produzir orgânico", "duvido que isso daí funcione", "ah não sei se vai dar certo", "você acha que dá para alimentar o mundo com orgânicos?". Sei lá, vai atrás desse assunto, porque esse assunto é legal. Alguém aqui produz ovo orgânico? Eu produziria. Se eu me formasse amanhã, como me formei a 40 anos atrás lá em Piracicaba, e fosse daqui eu iria falar "Vou produzir ovo orgânico". Ovo é orgânico, obviamente, não é artificial, mas ovo sob a forma de produção caracterizada como orgânico. Muito bem, eu vou finalizar da forma como eu sempre faço, quem me conhece sabe que eu sou assim, quem vê diz que gosta e, às vezes, até me convidam para falar de novo, como aconteceu no Bunkyo.
Qual é o nosso maior desafio? Atitude, buscar conhecimento, entender o que está rolando no mundo, fazer cooperação, sozinho não vai para frente. Tudo bem, isso aí eu diria, são as palavras mágicas do sucesso, você não vai conseguir se você ficar olhando para trás, o mundo não dá marcha ré, enfim, os conselhos que eu vim aqui apresentar para vocês. Agora, se quero pensar no futuro, qual é o futuro nosso que estamos aqui e dos que não vieram aqui, mas estão presentes e estão acompanhando o trabalho 40
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que vocês fazem? Eu diria, o desafio é o maior de todos, é esse daqui:
Nós temos que dar valor aos jovens. Nós temos que, como se diz hoje, empoderar os jovens. Me lembraram aqui "Ah, você vai falar aquele negócio do cabelo branco e do cabelo preto?", vou. Nós que temos cabelos brancos, nós que temos conhecimento acumulado, se nós quisermos, um dia, ser julgados como alguém que teve sabedoria, a maior das sabedorias de quem já chegou na vida onde eu cheguei é ajudar os jovens a tomar os nossos lugares. E nós não estamos sabendo fazer isso, nós não estamos conseguindo fazer isso. No mundo todo este é o problema: é a sucessão. Se fala em sucessão familiar, sucessão empresarial, sucessão na fazenda, "é, mas nenhum filho ficou comigo, todos foram embora", por várias razões não estamos sendo capazes, não estamos tendo a sabedoria de passar o bastão para os jovens, porque para enfrentar esse mundo da tecnologia, juro, nós não somos capazes. Nós somos capazes de entender, mas não somos nós que fazemos a coisa acontecer. Eu vou dizer para vocês, acreditem em mim, todas aquelas invenções que eu mostrei para vocês foram criadas por jovens com menos de 30 anos. Nós que temos mais de 30 sabemos disso. O arrojo, a busca, é típico da nossa juventude (juventude é até os 30), depois vem a tendência a acomodação, ao conhecimento acumulado, a você fazer aquilo que fazia, etc. E nesse mundo tão tecnológico, tão desafiador, "Meu 41
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Deus, como é que nós vamos fazer, eu não sei", a saída é: pega seu filho, seu sobrinho, um jovem, nós temos que encontrar como, em casa ou fora de casa e empoderá-los. Eles gostam desse termo "empoderá-los". Aqui há jovens me ouvindo. O desafio nosso, de quem leciona, de quem quer olhar para frente é esse, esse talvez seja o maior deles, porque primeiro exige uma renúncia, porque quando você traz um jovem para cuidar de um negócio seu, você tem que renunciar o seu poder, e isso é difícil. Outra coisa, muitas vezes os jovens ou alguns falam as coisas e você fala assim "O cara está com umas ideias meio loucas", não é isso? Galileu foi tido como louco, mas era ele que estava certo. As ideias têm que ser um pouco loucas, senão elas não avançam, as ideias quando são todas "ah legal, legal..." você fica sempre no mesmo patamar, então para dar um passo, para fazer uma coisa, tem que ser um pouco louco mesmo, e quem faz o raciocínio ficar louco não somos nós, são os mais jovens que permitem o raciocínio ir para frente. Então esse é o maior dos nossos desafios, é nós encontrarmos formas ou fórmulas de trazer pessoas capazes de nos ajudar a enfrentar, para responder aquela pergunta "O que eu vou fazer? O que eu vou plantar? O que eu vou utilizar? Dá certo isso ou dá certo aquilo?". Muito conhecimento, muito ir atrás, conversar sempre com as pessoas, e, se possível, bota o menino do seu lado. Eu tive a graça e a felicidade de ter uma filha que se formou agrônoma como eu e está me ajudando com a fazenda lá em Goiás. Ela foi falar no Bunkyo de Ibiúna com o Kamitsuji. O Nelson conhece ela e alguns outros aqui; e ela está fazendo uma revolução na minha fazendinha e eu vou dizer, coisa que eu não faria, eu não teria coragem de fazer aquilo, eu falo para ela "Filha, mas vem cá, isso daí não vai...", e ela "Pai, mas se não fizer isso, melhor vender a fazenda", aí eu fico na dúvida "Mas isso custa dinheiro", "Então vamos pegar um financiamento, pegamos um com dois anos de carência, R$ 300,00 mensais para pagar", aí eu penso "Mas esse negócio de financiamento...", e ela "Mas pai..." e eu fico nessa dúvida, porque eu estou falando isso para vocês, mas eu preciso fazer em casa, né? Então eu falo para ela "Tá bom, então vamos lá, vai", então uns dois meses depois "Ai meu Deus do céu, ai meu Deus, a coisa está mudando e melhorando tudo". Nós criamos lá os bezerros, duzentas vacas, uma fazenda numa encosta de uma serra e uns bezerrinhos eram tudo uns merrequinhas, mas essa safra que nasceu agora, uns bezerrões 42
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desse tamanho. E ela fica toda assim "O que você achou da bezerrada, pai?", e eu falei "É filha, está bom, gostei. Um pouco caro...", e ela diz "Mas o que você prefere: ser caro ou ficar com aqueles 'cachorrinhos'?". Ela chamou os meus bezerros de cachorrinhos; os bezerrinhos quando desmamam, quem conhece um pouco isso, ficam com uns 150, 160, 180 kg. "Que isso pai, um bezerro quando desmama tem que ficar com uns 220kg. Nossa meta é um bezerro que desmamar estar com 250kg!", "Uau, filha!". Então é essa a sorte que eu tive e o aprendizado que me dá coragem de vir aqui, falar para vocês: os jovens nos ajudam, e quando você achar alguém que está dando uma ideia, e achar esse jovem muito louco, lembra do Galileu Galilei que foi tido como louco durante muitos anos e ele era o único que estava certo. A evolução é essa. Está aqui a mensagem final: o passado está aqui (cabeça) e o futuro basta a gente construir. Obrigado!
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AGRICULTURA PROTEGIDA: OPÇÕES E OPORTUNIDADES Palestrante: Rumy Goto Professora Adjunta da UNESP/FCA Muito obrigada pelo convite. Não sei se vou poder falar dessas oportunidades e opções, mas vou tentar. Ohayo gozaimasu para todo mundo, domo arigato. E, na verdade, falar de hortaliça. Fiquei pensando: "mottainai". Em um evento de mottainai, o que vou falar com relação a oportunidades? Mas, na verdade, hortaliça é muito mottainai, porque a gente acaba desperdiçando muito, jogando muito fora tanto as frutas como as hortaliças, e a minha área é a de hortaliças. Vou tentar falar um pouco, não vou ensinar nada em relação ao cultivo protegido, de como a agricultura protegida como se fosse proteger a agricultura, mas é cultivo protegido que é uma opção para a região. O Xico começou falando das histórias, e realmente quando a gente começa a acumular, não é questão de idade, mas a gente acumula experiências através dos anos. Eu quero contar um pouco a história para valorizarmos um pouco o que nós fizemos aqui no Brasil e a percepção que a Esalq teve em 1939: o então professor Gurgel era diretor da escola e ele percebeu que, até então, a nossa produção de hortaliças era feita com sementes importadas ou da Europa, principalmente França, ou Estados Unidos. Depois da guerra, isso acabaria dificultando a nossa importação de sementes. Então ele convidou o estudante 45
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Marcílio de Souza Dias, que era um estudante muito inteligente, que fazia estágio no Departamento de Genética e gostava muito de hortaliças, e convidou-o então assim que ele formou. O professor Marcílio de Souza tinha paixão pelas hortaliças, desde os tempos de estudante ele já convivia com os produtores de hortaliças do Cinturão Verde, principalmente Mogi das Cruzes. Aí se deu início. Hoje, a gente deve ao professor Marcílio de Souza Dias poder comer alface no verão, pois alface é uma cultura de inverno, só se cultivava no inverno. Quando comemos mais alface? No verão. Quando comemos mais hortaliças? No verão. As saladas são consumidas no verão, e nós não tínhamos brócolis, couve-flor, tudo era questão de poder ser produzido no inverno. E graças a Marcílio de Souza Dias, através de um programa de melhoramento, hoje a gente pode consumir brócolis, couve-flor, alface. As alfaces são vitalizadas, que no verão a gente come, tudo surgiu da cabeça do professor Marcílio de Souza Dias, é muito interessante essa questão.
Vejam ele aqui junto com o professor Ikuta, que também teve muita participação no melhoramento de couve-flor de verão. Através dos cruzamentos que ele andou realizando hoje a gente pode ter produtos melhores. Logicamente, que os programas foram sendo melhorados pelas empresas, mas vejam que ele só 46
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andava no meio da japonesada na região de Mogi das Cruzes. E quando, na véspera da sua aposentadoria, o pessoal falou assim: "Mas professor o senhor não fez mestrado, não fez doutorado, o senhor vai aposentar dessa forma?", e ele falou assim "Minhas teses são o que está no campo, na região de Mogi das Cruzes, essas são minhas teses". Então, a percepção daquela época era poder ajudar os produtores, não era publicar, publicar e publicar, como hoje só se valoriza as publicações. A gente também tem que lembrar, eu gosto assim de valorizar a japonesada, a colônia japonesa. Hiroshi Nagai teve uma grande contribuição na área de pimentão. Os pimentões eram muito viróticos, então ele estudou muito, colocou resistência a várias doenças viróticas. Ele trabalhava no Instituto Agronômico de Campinas. Ele tem monografias nas universidades americanas bastante renomadas. E o professor Kimoto, que muitos conheceram porque ele foi da Unesp de Botucatu, apesar de ele ter iniciado a vida acadêmica como professor na ESALQ, mas ele acabou com dois/três anos indo para Unesp Botucatu, ele tem bastante contribuição, inclusive foi meu segundo pai, então a gente faz uma homenagem aqui nesse evento muito pelo aprendizado. Então para ir voltando já que eu contei um pouco da história, vou começar falando das regiões como começou o cultivo protegido. O cultivo protegido no Brasil começou por volta da década de 80 na volta dos decasséguis que foram 47
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trabalhar uns anos para lá e no Japão eles viram muito do cultivo protegido e estruturas de proteção. E a gente tem duas influências muito importantes aqui no Brasil. Não sei se alguém já escutou falar de Almeria, uma região pobre, paupérrima. Ela produzia uvas, tanto para vinho quanto para consumo, mas ela foi se degradando, as serras muito ruins, uma região muito de vento (Almeria fica na beira do Mar Mediterrâneo). Eles cultivavam uvas com essas estruturas contravento, porque era uma região muito de vento. Essas estruturas para poder cortar o vento, alguns produtores começaram a falar "Vamos começar a colocar tomate, pimentão, como uma coisa só para poder oferecer para região". Aí eles começaram a ver que a terra, não é que era boa, dava para cultivar e enxergar a opção de cultivo nessa região, só que a terra era areia pura. Alguns tiveram ideia de começar a trazer esterco, terras mais férteis, começaram a montar estrutura para poder produzir tomate, pimentão. Hoje está essa beleza aqui:
Essa aqui é uma região, hoje, é esse mar de plástico formado lá. De um lado é Mar Mediterrâneo e de outro lado é o Mar de Plástico. Quando você chega de avião na região de Almeria você vê, nitidamente, essa paisagem 48
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toda plastificada. Mas como a terra era infértil, areia pura de mar, eles começaram a montar: traziam esterco do norte da Espanha e depois colocavam uma camada de terra deles, outra camada de esterco, e chamavam de terra arenado, que montavam no solo e iam compondo e, hoje, é considerado a horta europeia. Eles exportam tudo para Alemanha, Holanda durante o ano todo. Quando eles começaram, a água eles pegavam do degelo, a água é muito boa, que antes já estava preconizando 12 mil-18 mil hectares no máximo, porque a água poderia só molhar, irrigar, hoje chegaram a 30 mil. Hoje, estão no limite e não podem mais aumentar. Quando eu conheci essa região em 1995-1997, tinha assim: hotel 5 estrelas de um lado e o cultivo dos produtores ao lado das piscinas e resorts. Então é uma região que conseguiu sobreviver e é isso que eu estava querendo mostrar para vocês: as oportunidades que surgem com as dificuldades que a gente tem na agricultura. E com a horticultura que eles enxergaram esse nicho. Se vocês vão na região de Múrcia e Almeria, é uma região em que vocês só vão ver a produção. Múrcia se especializou mais em morangos, a região de Almeria em pimentão. Então falar assim "Ah, cultivo protegido é bom?", vai depender. Porque quando eu comecei a dar aula na Unesp, era exatamente o momento em que o cultivo protegido estava entrando no estado de São Paulo através de algumas famílias japonesas. Aí dizia assim "Cultivo protegido é bom para plantar pimentão colorido, verde, amarelo, é bom plantar pepino japonês, tomate", enfim, todo mundo começou a plantar "porque é bom para pimentão, tomate e tal", mas ficou uma febre, em todas as regiões, principalmente quem tinha dinheiro, começou a levantar estruturas, no fim de 3-4 anos foi todo mundo para o brejo. Então a gente tem que ver, nessa região de Bastos, quais são as cidades que eu tenho ao redor em que eu posso vender, porque todo mundo só fica focalizando Ceagesp, mas eu tenho que priorizar a minha região para baixar o custo para os consumidores terem alcance aos produtos de melhor qualidade. E temos que produzir qualidade. Eu tentei ver aqui e tem algumas regiões interessantes na região de Bastos. Quais são as cidades grandes que temos aqui? Para que eu possa visar esses mercados. Hoje, o mercado de hortaliças não é um 49
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mercadinho, não é você oferecer produtinhos na feirinha de esquina ou ponta de rua, eu tenho que oferecer mercadoria, hortaliças atrativas e com qualidade. Graças a Deus, a Lei da Rastreabilidade entrou aí, e não é qualquer fundo de quintal que pode vender nos grandes supermercados e nas feiras. A gente tem que ter responsabilidade de colocar produtos de qualidade. Então a gente tem que ver qual é o mercado, eu não posso ficar só visando São Paulo, eu posso ter o pequeno, posso ter uma ou duas estruturas, mas com uma produção boa e com qualidade, e é isso que eu tenho que buscar, isso que a gente tem que ver. Não é ir atrás de propaganda. "Ah porque no cultivo protegido só dá para produzir tomate grape, tomate pequeno, pimentão colorido", eu posso produzir pimentão colorido, mas se eu não tenho mercado, por que eu vou produzir? Uma vez, eu visitei em Brasília o setor de hortaliças, de cultivo protegido, e o pessoal plantava rabanete no ambiente protegido, eu pensei "Rabanete? Vai ficar muito caro!", mas o mercado deles era o Consulado Japonês, a família do pessoal que trabalhava ali, eles fisgaram esse mercado, eles pagavam rabanete. Eles ganhavam dinheiro de 20 em 20 dias, ou até de 15 em 15 dias eles estavam colhendo, isso é oportunidade, procurar oportunidade. Não é porque fulano na região está se dando bem com pimentão que você vai plantar pimentão. Você vai ser concorrente? Aí não vale a pena. Vamos procurar um nicho legal? Vamos procurar. Pode ser brócolis em ambiente protegido? Quem sabe? Tudo vai depender da oportunidade que a gente está buscando. Essa questão de visar, ter visão mercado é muito interessante. Então, isso é o que aconteceu. Nossos modelos quando chegaram no Brasil, principalmente 50
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em São Paulo, essa daqui é de um produtor de Itapecerica da Serra: Esse era o modelo que chegou do Japão. Quem já foi, a grande maioria já deve ter ido para o Japão, andando nos arredores do Japão, a gente via essas estruturas baixas, e não é porque os japoneses são baixinhos não, porque lá também o calor não é tão grande, pelo menos no inverno, e quando eles precisavam de alguma proteção, o verão deles é muito quente. Então essa é uma cópia dos modelos que os produtores tinham visto no Japão e trouxeram para poder colocar na região. Começou a evolução das culturas e a gente foi vendo o pessoal fazendo estruturas de madeira, o que a gente fala assim, essa aqui é uma estrutura que o pessoal de Santa Catarina desenvolveu para aquela região deles, porque o verão deles é de temperatura muito alta, então eles fizeram estruturas maiores, com ventilação que possa sair e, como tem muita chuva, eles fizeram uma estrutura com um abrigo e beiral, para quando chovesse não entrasse água nas estruturas. Cada um foi desenvolvendo as estruturas de acordo com o que tinha. Essa estrutura londrina, que alguém já deve ter escutado, é uma estrutura que a gente pegou do modelo espanhol, porque lá eram estruturas de 50-100 metros enormes, Trouxeram esse modelo e não deu muito certo. Hoje, com a 51
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evolução e experiência dos produtores, eles estão aumentando de 20 metros para 50, porque o sujeito não consegue ficar trabalhando numa área muito grande, chega metade dos 100 metros, ele não sabe se sai para frente ou para trás, e o calor vai aumentando. Então, essas questões de conforto a gente também tem que dar, não é só conforto, não é só proteger as culturas, o pessoal só acha que tem que proteger as culturas, mas as culturas em si, quando dá 50°C, as hortaliças vão morrer. Quais são os sintomas das hortaliças acima de 40°- 45°C? Se for tomate, ele vai abortar; as flores caem porque não aguentam, eles têm que sobreviver, porque de alguma forma eles vão abortando para poder sobreviver, isso é biológico. Então tem estruturas mais sofisticadas, mais caras, que a gente fala que são estruturas de ferro carbonizado, são estruturas maiores e tal. Hoje, a gente já sabe: aquela estrutura que tem um 1,8m-2m não se usa mais, porque a gente viu que nas nossas condições tropicais, a gente tem que ter pelo menos um pé direito acima de 3,80m-4m, senão as plantas não aguentam sobreviver com a quentura que é acumulada dentro dessas estruturas.
Também as empresas vieram cada vez mais procurando amenizar a temperatura, então isso que eu estou mostrando não é assim "Ah a receita dela, vamos colocar a tela azul, a tela vermelha", mas não existe receita! A produção de 52
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qualquer cultura não tem receita, cada um tem que observar e "conversar com as plantas que estão lá dentro". Então, várias empresas vão vendendo essas telas, "Ah porque a tela azul vai dar a luz vermelha que é melhor para as plantas", e o pessoal cai na conversa... Mas se sua região não tem necessidade ou falta de luminosidade, porque eu vou comprar telas mais caras?
Esse aqui é um produtor médio (ele fala que é pequeno), é uma produção familiar. Talvez o pessoal já tenha comprado, quem mora em São Paulo tem aquele mercado da feira de domingo, que é o Jorge Morikawa. Ele é de Embu das Artes e ele produz, ele viu o foco dele, hortaliças e mini-hortaliças, baby hortaliças, baby alface, baby alface romana. São uma linha de hortaliças saborosíssimas, que a gente consegue comer um pé sozinho praticamente de tão saborosa que ela é. Então, ele viu esse mercado interessante, que está perto de São Paulo, e ele faz isso e ele embala de acordo com o que o mercado exige. É uma produção totalmente protegida, ele iniciou colocando telas aluminizadas, e o que que faz? Ela ameniza a temperatura ambiente, abaixa 4° ou 5°C, torna o ambiente mais aconchegante para as plantas no verão. Só que a tela é muito cara, então, quando ele foi trocar, ele trocou por plástico, mas está conseguindo produzir de uma forma muito interessante.
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Então, a gente tem essas estruturas de Portugal também, que vocês estão vendo. São estruturas caríssimas, são estruturas ótimas, mas tem que ter ventilação, controle de temperatura, controle de umidade, tem umidificador. São tecnologias que nós podemos ir alcançando através dos resultados positivos que a gente tem e das condições que podemos ter. Podemos buscar. E as produções de hortaliças na Espanha e Portugal são praticamente feitas em pallets, que são colchõezinhos em que a gente coloca o substrato, não tem mais contato com o solo. É uma produção cara, mas num solo altamente contaminado isso pode ser uma saída, mas numa região nova que não tem essas contaminações de doenças de solo nós não vamos buscar essas coisas porque estão na moda, não existe moda, existe adequação das nossas condições. Isso aqui é um estudo que nós fizemos também, veja a estrutura como está diferente no Nordeste, em Juazeiro. Onde a gente tem uma luminosidade muito grande, temperatura muito alta e não tem chuva (na região de Juazeiro deve cair em torno de 400-500 mm por ano). É uma região semiárida, mas que tem uma radiação excelente. Então o que nós pensamos: precisamos diminuir essa radiação muito intensa, a temperatura é muito elevada para se cultivar o tomate. Então o que nós testamos foram várias telas, e a gente chegou à 54
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conclusão que algumas telas como essa branca reduziu a temperatura, mas não reduziu tanto a radiação para poder ter uma produção boa. Então são essas coisas que a gente começa a buscar e mostrar e cada um tem que realmente ir atrás das questões.
Olha que coisa bonita, quando se fala em produção de hortaliça, o pessoal fala assim "Ah são pequenos produtores, tudo é feito em 3-10 canteiros". Essa é uma região aqui de Mogi das Cruzes, a família Tomita, vocês devem conhecer. 55
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O sr. Tomita começou a produzir, hoje está na geração dos filhos. E essa sucessão também na região de Mogi das Cruzes demorou um pouco. Todos os filhos abandonaram, foram fazer Engenharia, foram trabalhar em outros lugares, e voltaram e revolucionaram. É o que o Xico falou, a ideia dos jovens é uma coisa, abre o peito e vamos fazer, aceitar o desafio. É o que a família Tomita fez e muitas famílias de Mogi fizeram também. A região de Ibiúna-Piedade, o que a gente a observa na história é que os produtores de Ibiúna-Piedade, os velhos, os pais, percebendo que eles já estavam perdendo um pouco essa questão, entregaram as propriedades para os filhos um pouco mais cedo que a região de Mogi. Isso eu percebo. Hoje, na região de Piedade e Ibiúna, você vê um outro estado de produção. Os filhos buscaram mercados diferentes, foram para os supermercados, abriram supermercados. E eu lembro que na década de 80, as feiras estavam sendo questionadas "Vale a pena ter feira em São Paulo?". As feiras em São Paulo estavam atrapalhando o trânsito. E os feirantes fizeram muitas reuniões e ficaram muito com medo da perda das feiras. Hoje as feiras existem, mas nesse ínterim com a força do supermercado entrando, o supermercado também teve a percepção que quem chamava os consumidores para entrar nos supermercados eram as frutas e hortaliças. Antigamente né, quem é do tempo deve saber: saco de batata, saco de cebola ficavam perto da entrada do banheiro, então quem queria comprar cebola tinha que ir até o fundo e ainda ficava dentro do saco e quando esses proprietários viram que supermercados da Espanha, da Europa, as hortaliças ficavam praticamente na porta, porque são produtos perecíveis, então todo dia a gente tem que comprar. O Pão de Açúcar começou a colocar as hortaliças na frente, outras redes que hoje não existem, começaram a colocar algumas gôndolas na frente, e perceberam o aumento do consumo. Aumento de entradas. E não é assim? Quando a gente entra "Hoje eu vou comprar alface", mas daqui a pouco a gente está saindo com a sacola cheia de outras coisas "Ah esqueci sabão em pó, bombril". E as hortaliças são uma coisa: se você compra um tomate legal num supermercado, você volta naquele supermercado; sabão, detergente, a marca é igual, você pode entrar em qualquer supermercado e comprar; mas a qualidade das hortaliças é diferente, e é isso que vocês, produtores têm que perceber: o meu produto tem que ser chamativo. Então a família Tomita lá de Mogi diversificou, hoje eles estão entrando tanto 56
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na linha de hidroponia quanto de hortifrúti protegido. Eles têm um setor que é minimamente processado, onde eles lavam, higienizam e vendem. Falando em higienização de minimamente processado, é assim, no Brasil, principalmente em São Paulo, tiveram algumas empresas muito espertas que não higienizavam e vendiam, aí esses produtos minimamente processados deram uma queda, mas hoje, já com a fiscalização e tal, o negócio está ressurgindo. Então, são coisas que não podem seguir a moda e querer ganhar dinheiro, a lei do "Só eu ganho", não, todo mundo tem que ganhar. Se você faz uma coisa errada e a sua propriedade é questionada, você está afetando também os outros produtores.
Essa aqui é a propriedade do Jorge Morikawa. Então a ideia dele, que com o tempo ele aprendeu, a maioria do que ele cultiva é alface. São baixinhas, então não precisava de estruturas com o pé direito tão alto. Então isso é evolução, isso é percepção do produtor. Então ele vai adequando e, como a mão de obra no campo também vai ficando cara, hoje ele plastificou praticamente toda área. Ele, com essa economia de herbicida e com o controle do ambiente, está conseguindo praticamente ser orgânico. Não é totalmente or57
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gânico, porque quando precisa de algum produto, ele utiliza, mas ultimamente, nos últimos anos, ele tem conseguido produzir bem. Olha as estruturas mais simples né, tudo é Brasil, Jorge Morikawa. Então olha, tudo para economizar mão de obra. Mão de obra no campo é um custo muito elevado, não tem como tecnificar. Tecnificação, não tem ninguém que possa ficar capinando, então a única tecnologia é o plástico, e que eu vou dizer, em meados de 90, os orgânicos não aceitavam esse tipo de cultivo, porque o plástico era químico, etc. Então é o que o Xico falou, se os orgânicos não aceitarem a tecnologia que a ciência produz, os orgânicos vão ficar para trás. É a mesma coisa com a couve-flor que tem resistência à uma doença bacteriana: ela teve um cruzamento com o rabanete, aí os orgânicos não plantam esse híbrido porque tem rabanete no meio. Rabanete é a da mesma família que couve-flor, mas os orgânicos não aceitam a utilização desse híbrido. No entanto, esse híbrido tem resistência a doenças. Então, essas coisas que a gente tem que começar a entender um pouco dos orgânicos.
São estruturas simples, que se você tiver material... É feito de madeira, não tem tanta estrutura, então pode começar por isso. A estrutura só tem 58
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que ter o pé direito alto. Então hoje, eu queria falar assim, produção de hortaliças, se você comparar com todos os segmentos da agricultura, milho, feijão... As hortaliças são as que mais empregam mão de obra. Essa mão de obra está sumindo do campo? Está sumindo do campo. Mas a mão de obra que, antigamente, ficava campinando, porque você usa um ser humano para ficar capinando... Bem, ninguém quer mais fazer. Então utiliza o plástico e o ser humano tem que se dedicar nas coisas que exigem um ser humano, que é qualidade, embalagem, seleção do produto, que isso só o olho humano consegue fazer. Você fazendo essa boa seleção, você tem o preço melhor no mercado. E aí você fala assim "Ah se você vê, o pessoal no supermercado, na feira compra o mais barato", tudo bem, compra uma alface mais barata, mas no dia seguinte a alface murchou, porque não teve qualidade, não estava no ponto de colheita, se você comprou uma alface amarga é porque passou do ponto. Mas se você vai e pensa "Essa alface do supermercado X", hoje tem N pontos de venda de hortifrúti em São Paulo, e o pessoal acaba comprando... A freguesia 59
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só gosta das alfaces do fulano de tal e é isso que a gente tem que começar. Tem redes de supermercado de confiança, uma vez eu conversei com a dona e falei "Vocês têm que colocar nomes nos tomates", se eu comi um tomate Débora e gostei daquele, eu tenho que voltar e falar assim "Olha gerente do setor, cadê aquele tomate?", óbvio que se compra também pelo preço, mas se o consumidor começa a exigir que eu compre o tomate Débora, eu comprei Sweet Grape do produtor Trebeschi e gostei, e ele tem que ter esse produto. O consumidor tem que exigir "Eu não vou comprar tomate qualquer". Nós, brasileiros, assim, "Ah, quando eu viajo para Itália, os tomates italianos são muito mais saborosos", porque o nosso mercado só sabe vender tomate verde, os europeus colhem tomate maduro, e os nossos tomates de hoje em dia têm uma pós-colheita interessante: se você deixar até 30 dias fora da geladeira, ele não estraga, porque não são aqueles tomates antigos. E é isso que as pessoas não conseguem evoluir, há o melhoramento... A genética evoluiu, mas as pessoas da Ceagesp, os compradores da Ceagesp são uns que, pelo amor de Deus, são do tempo da onça, não evoluem. O pimentão é gigante, para os produtores é muito interessante, vender uma caixa com 12, 13 pimentões já enche uma caixa, mas o consumidor hoje não compra pimentão grande. O pimentão Block também, quando nós tínhamos aqueles pimentões Block, que são aqueles quadradinhos, "Ih brasileiro não gosta disso, brasileiro gosta de retangular". Uma empresa trouxe e está aí no mercado, todo mundo gostando, porque hoje a carne para você ficar enchendo com pimentão é muito cara e não tem o que ficar enchendo. Enfim, era isso o que eu queria mostrar. Então, se você mecaniza uma área, e você dá um tratorzinho para um menino que está começando trabalhar, com 22, 23 anos, ele vai achar o máximo ser tratorista, é melhor que mandá-lo catar mato, porque você não vai dignificar ninguém, porque alguém vai falar assim "Onde você trabalha?", "Eu trabalho com o sr. Pedro", "E o que você faz?", "Eu sou tratorista", ele vai ser orgulhoso né? Então a tecnologia também tem que entrar nas hortaliças, e o pessoal acha que hortaliça não merece tecnologia... 60
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Essa característica de ciclo curto, a gente consegue manter um planejamento da área.
Só para vocês terem uma ideia: quanto custa uma estrutura? Eu só cotei esse custo da estrutura inicial no caso do pimentão, e quanto que o agricultor pode receber. Aqui a gente divide esse gasto em 15 anos, então a gente consegue, mas não pode ter tempestade, não pode ter nada,
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então a estrutura tem que ser boa para que não seja carregada por qualquer vento. Esse tomate enxertado. Então a gente fala assim "Ah, mas enxertar hortaliças?", porque na fruticultura isso é comum, mas nas hortaliças isso também nós trouxemos do Japão, essa cultura da enxertia, essa técnica da enxertia. Por quê? Porque você dá mais vigor às plantas, você alonga ciclo, você diminui o número de pulverizações, porque ela não deixa a doença do solo entrar, então é uma coisa bastante interessante. Logicamente, que o custo... Porque são duas sementes e são dois ciclos, mas você economiza, por exemplo, se numa cultura de pimentão você tinha 3 ou 4 meses para colher, hoje uma pessoa com pimentão enxertado fica colhendo de 18 a 24 meses, então isso é muito interessante, porque você não remexe tanto a estrutura. Pepino é uma outra opção também enxertado. Mas assim, hoje o mercado, quem visa São Paulo, o interior também acho que deveria começar a vender pepino japonês, é mais saboroso que pepino caipira. A questão de geração de emprego que está aqui, a gente vê o quanto a questão das hortaliças é importante. O que eu quero mostrar para vocês, nessa lógica da produção familiar, isso são hortaliças diferenciadas, esse coração de repolho tem folhas mais macias, muito mais interessantes, muito mais saborosas. Essa questão de repolho também no Brasil, todo mundo começou a procurar híbrido de repolho assim de folha mais dura, porque soca, bota no saco e ainda pula em cima. Não é não, Hélio? Essas são hortaliças do Jorge Morikawa, quem não conhece também a Ceagesp sábado e domingo que tem a feira, vá e conheça, porque é muito bonito e você 62
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vê essas hortaliças do Morikawa, ele está lá, mas são as irmãs que vendem lá, e são muito saborosas. E ele trouxe esse embalador do Japão. A alface é barata? Também a fazenda é barata, mas se você só ficar plantando o barato, você também não se alimenta. E isso são tecnologias que a gente vê, hoje tem produtores especialistas, inclusive de hortaliças, porque ninguém fica produzindo mudas nas suas casas. Tecnologias... Nós temos que incorporar tecnologias, se você quer melhorar a produção tem que entrar tecnologia, tem que avaliar se o solo está salino, que 63
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adubo você vai usar, não tem receita, cada um tem que cuidar da sua propriedade. Não é porque o vizinho falou que você vai fazer. Isso acontecia muito em hortaliças, e acontece muito, vai muito na conversa dos vendedores. Então, extrator de solução, com isso a gente mede o quanto deve colocar de adu-
bo ou não. São simples, antigamente era mais caro, hoje é mais barato. Para ver se você colocou potássio de mais ou de menos. E treinamentos... A gente gosta bastante de treinamento para poder produzir essas tecnologias no campo. A gente faz também mede 64
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o quanto tempo o fertilizante demora para atingir o final de linha, a gente faz testes com os gotejadores transparentes para mostrar para o produtor. Essas hortaliças diferenciadas são muito interessantes, mas tem que ver se o
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mercado vai atender. No Japão já faz tudo assim, porque já tem muitos solos contaminados. E essas tecnologias de transplantar. Quando nós fomos numa reunião lá em Ibiúna, o pessoal logo falou assim "Ah, uma colhedora automatizada", e um dos produtores falou "Não adianta ter uma colhedora se a mão de obra de transplantar não está certa", se você transplanta numa quantidade certa, você consegue colher todo mundo junto. Aí um rapaz chega, trabalha um mês, outro mês é outro, aí a profundidade do transplante é diferente, e isso dá diferença no final e no
ciclo também. Utilizar também as abelhas, são tecnologias que o Brasil já está importando, essas placas amarelas, azuis, para ver a população dentro da estrutura são coisas que a gente consegue.
Nosso mercado é esse: Ceagesp. Teve uma pessoa que falou "Tudo bem, a gente já viu a comida dos animais, e as pessoas compram onde?", porque a bagunça na Ceagesp é muito grande e, aliás, 66
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ainda continua. Mas é interessante, a feira é muito boa, não fique só comendo pastel, compre outras coisas na feira; as pessoas só vão na feira para comprar pastel. Olha o mercado em Barcelona, que lindo! Uma diferença muito grande, né? Nós podemos chegar lá? Podemos. Tudo depende do produtor e da vontade. O que foi falado: atitudes. Podemos chegar sim no mercado de Berlin, que não tem sujeira. Olha o mercado da Ceagesp... É demais... Mas isso é atitude do administrador da Ceagesp, não vou falar o nome aqui... Acho que ele não viaja né? Porque ele tem que ver, tem que melhorar, porque você vê rato... E não pode existir isso num mercado de hortaliças... Podemos mudar? Podemos. Olha que bonitinho, eles fazem embalagem para você ir comendo tomate na rua, vende cenoura com espetinho para você ir comendo, você molha, é muito legal. E aí tem a FLV em São Paulo né, a Feira de Legumes da APAS, é muito interessante, onde o pessoal também tenta mostrar o avanço, é isso que a gente vê. Em 2050, seremos 10 milhões. Quem vai produzir alimento para essa população que está crescendo rapidamente? E, muito obrigada! 67
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ILUMINANDO IDEIAS SOBRE ENERGIA SOLAR RURAL Palestrante: Ricardo Saraiva Executivo Nacional de Novos Negócios da Sices Brasil Energia Solar Bom, eu sou o Ricardo Saraiva, da Sices Brasil. Para quem não conhece, ela é a maior empresa do segmento para energia solar fotovoltaica. Energia solar, hoje é difícil quem não conhece. Pelo menos quem já ouviu falar, sabe que é a energia do futuro. Na verdade, energia do futuro no presente. Vou falar um pouco da Sices Agro, que é uma subdivisão da Sices, voltada para o agronegócio. Seu principal objetivo é fomentar negócios, para a área de energia solar fotovoltaica, dentro do agronegócio. A empresa Dilucs é a nossa parceira na região. O amigo Beto está presente aqui, ele é da região de Bastos, e está com um projeto em andamento com o Serginho. Então, com certeza, quem não conhece o Beto, vai conhecê-lo até domingo. Bom, essa é a nossa equipe. A Sices é formada por 218 funcionários, que movimenta mensalmente, só para vocês terem uma ideia, na base de 45 a 50 megawatts. Tem um vídeo rápido aqui, para ilustrar um pouco (entra vídeo). Bom, essa é a Sices pessoal. Hoje estamos aqui com a Dilucs, que está fomentando os negócios na região. 69
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Então vamos falar da energia solar fotovoltaica. Mas o que é a energia solar fotovoltaica? Acredito que muitos conheçam. Quem não conhece vou falar brevemente aqui. Nosso tempo é um pouco curto, mas agradeço ao Serginho pela oportunidade. Estive ontem, e infelizmente, não consegui chegar a tempo. Energia Solar fotovoltaica e seus benefícios. Vamos falar um pouco sobre os dois, como funcionam. Para quem não conhece, é interessante entender um pouquinho melhor. Uma das coisas que temos que ter o maior cuidado é com quem fazer. Por que onde fazer não é problema, e sim com quem fazer. Temos um exemplo aqui, de um telhado caído, uma instalação mal feita. Esse fica no parque Villa Lobos, em São Paulo. Então gente, temos que tomar um certo cuidado com isso, até porque estamos com um tipo de equipamento que tem uma durabilidade de, no mínimo, 25 anos.
Nesse negócio não é como um carro que você compra hoje, não gostou amanhã se vende. Então é interessante ter isso bem firme na cabeça. Trabalhar com algo de qualidade. Nós estamos finalizando aqui em Presidente Prudente a maior usina para auto consumo remoto no Brasil. Estamos com 3.12 megawatts na universidade Unoeste, que vocês devem conhecer. E ali o pessoal vai abrir o local para visitação. Quem quiser aproveitar pra conhecer um pouco mais sobre energia solar, entender como funciona e ver na prática acontecendo, seria interessante. Então passa lá, o pessoal estará à disposição. Acho que é interessante em termos de conhecimento. Desperdício de energia. Nos últimos três anos, o desperdício de energia custou R$ 61,7 bilhões. Gente o que seria o desperdício de energia? Vejam essa lâmpada acesa sem necessidade, TV ligada sem ninguém assistindo, ar condicionado sem ninguém usando. Isso seria desperdício de energia. Então estamos falando aí de mais de 60 bilhões de desperdício. É um número absurdamente alto. 70
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Segundo o relatório da Abesco, grande parte do problema pode ser resolvida com a modernização de equipamentos. Aqui temos o pessoal da Dilucs dando suporte né. Mas não é nada de sete cabeças, não é mesmo doutor? Gastos de energia na granja. Essas informações aqui, em relação a agricultura industrial. Na granja hoje a energia responde por 27,5% do custo de uma operação. Algo absurdamente alto. Com a energia solar conseguimos fazer um dimensionamento legal, correto. Ela consegue diminuir em 90% o custo de energia. Com o aumento de energia, a conta de luz está ficando cada vez mais pesado no bolso do brasileiro. Quem aqui não paga conta de energia? É algo que não tem como fugirmos, pesa 71
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muito no bolso, não é pouco. E entre 2014-2017, a tarifa média dos consumidores residenciais foi de 31,5%, e no final de 2018, o aumento acumulado chega a 44%. É um número muito alto né.
Então, precisamos ver que bandeira é essa? Bandeira vermelha é essa? Bandeira aquilo. Então é algo que tem que se pensar. E hoje o Brasil está em um momento que é o seguinte. Se crescer pouco, acabou a energia. Não há mais para onde ir, crescer em termos de energia. Então a solução é a energia solar fotovoltaica, sem sombra de dúvidas. Olha o gráfico, está pequeno, mas é só o acumulo tá? Vamos falar, em um breve resumo, as nossas opções de financiamento para energia solar fotovoltaica. Ontem o Banco do Brasil falou um pouco a respeito, mas vamos até um pouco além das possibilidades de financiamento. O BNDES está muito atento à energia solar fotovoltaica, cooperativa de crédito, banco público e privado. A verdade é que está todo mundo de olho nesse mercado. Hoje um payback se paga na base de cinco a seis anos, dependendo do tamanho do projeto. Em um residencial chega a até três ou quatro anos. Então, para quem paga R$ 300, R$ 400 de energia, começa a fazer sentido pensar em um sistema para deixar em casa com energia fotovoltaica, para não ficar dependente da concessionária. Então, a visão geral dos bancos é de concessão 72
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de crédito, porque muitas vezes fala: "poxa, mas eu tenho tanto, tenho crédito lá no banco, movimento mais de 1 milhão, mas chego no banco e ele não aprova meu crédito né". Então, tem muita coisa por trás disso daí. Na área de crédito há um momento em que há um excedente, para avaliar a manutenção de retorno do tomador, e como os riscos inerentes à sua constituição. Quem pode solicitar BNDES Finame Energias Renováveis? É o mais novo lançamento do BNDES para o segmento sustentável. Estamos falando de uma linha de financiamento focada à energia solar fotovoltaica com projetos de até 375 kw. E podem recorrer a ela empresas sediadas no país, individuais, produtores rurais, fundações, associações e cooperativas, pessoas físicas, e também condomínios. Os condomínios hoje têm um grande problema para tomada de crédito, que é a assembleia. Mas o BNDES lançou, de olho nessa crescente demanda, o finan73
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ciamento de energias renováveis, para condomínios também. O que eu posso financiar? Energia solar fotovoltaica de até 375, a mão-de-obra também. Você não tem aquele problema de "poxa, mas vou financiar equipamento, como vou financiar a mão-de-obra?". É possível conseguir os dois, você consegue captar o de associado também, em 30%, ok? As condições de financiamentos. A taxa de juros é composta por TLP, a taxa do BNDES, e o spread de banco, que é na média de 4%. Estamos falando de uma taxa média anual de 11,9%. Devido ao relacionamento com o banco, o spread acaba caindo, chega em 10,9%, alguma coisa. Com o prazo de até 10 anos, com carência de dois anos. O produtor rural sabe que tem coisas muito mais interessantes, no sentido de dinheiro. Mas aí tem essa outra opção aqui, para se trabalhar. As linhas de crédito do agronegócio, na visão dos bancos, dividem-se entre o pequeno, médio e grande produtor. O pequeno fatura até R$ 365 mil ao ano, o médio até R$ 1,6 milhão e o grande acima de R$ 1,6 milhão. E para isso, o banco criou linhas de crédito específicas. Começando com o pequeno produtor, falamos do Pronaf, que têm linhas de crédito a partir de 2,5% ao ano de juros. Chega a ser até um investimento a 74
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se pensar. Com prazo de até 10, com carência de três anos. Então, para um pequeno produtor, R$ 365 mil é algo que vai atender a demanda dele. E estamos falando desses R$ 365 mil, nós conseguimos atingir na base de 30% para capital de giro, então conseguimos aumentar também as demandas se for o caso, ok. E isso, nós operamos direto com a Sices, que é hoje correspondente do Banco do Brasil. E trabalhamos com a esteira agro, com as três principais linhas do mercado. Então, se por ventura houver o interesse, através de Dilucs, chega pra Sices, e fazemos todo o trabalho por lá. Uma vez que ele tem correspondente bancário, é simples o contato, envia até por e-mail a documentação. E a partir do momento em que foi aprovado, aí você vai até a sua agência e assina o contrato. É muito simples, faz com que se evite que você fique saindo, que entre e volte no banco. É uma facilidade que a temos. Se por alguma ventura houver uma demanda, através da Dilucs, a gente trabalha. Lembrando também que a Dilucs, tem um convênio com o Banco do Brasil, então podemos trabalhar mais próximos também. Pronamp, é uma linha voltada para o médio produtor, para o cara que fatura acima de R$ 365 mil até R$ 1,6 milhão. Ela tem taxa de 6% ao ano, prazo de até oito anos, carência de três. Financia até R$ 430 mil. Ótimo gente, com R$ 430 mil conseguimos fazer um projeto bacana.
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Baseando nisso também conseguimos trabalhar com capital de giro, e conseguimos subir um pouquinho mais também. Isso fazemos direto com a Sices Agro. Surgindo demanda, através da Dilucs, conseguimos trabalhar, agilizando o processo.
E, para finalizar, temos a Inovagro, uma linha usada bastante por grandes produtores, com taxas de juros de 6% ao ano também, com prazo de financiamento de até 10 anos e carência de até três. E agora o banco trabalha para poder aumentar esse limite, que hoje é de R$ 3,9 milhões, que não é ruim também, mas temos alguns projetos, de grande porte, que chegam a R$ 10 milhões, R$ 12 milhões e R$ 15 milhões, daí temos que dividir em vários anos para poder trabalhar com isso. A ideia do banco é elevar esse limite. Isso já está acontecendo, e é muito provável que no próximo ano-safra já tenhamos novidades a respeito disso. Então, R$ 3,9 milhões, e hoje essa linha trabalhamos direto com a Sices, isso é exclusivo no Brasil. Nós conversamos no mês passado. Além disso, é interessante também, deixar claro, os seguros que a Sices oferece. Então, além, de tudo que apresentamos de energia e possibilidades de financiamentos, a Dilucs, como parceiro nosso na participação em projetos, nós temos também seguros para garantir geração. Então, quando você comprou determinado equipamento, acima de 30 kw, é feito um estudo em 12 meses, quanto ele pode gerar. Não gerando esse determinado número em 12 meses, 76
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automaticamente o seguro o cobre, ressarcindo você por aquela falta de geração. Tem o all risks, um seguro que se por ventura tiver chuva, granizo, árvore que cai em cima do telhado ou raio quebrando o sistema, você ativa o seguro. E isso para o banco é muito importante. Gente, agradeço o tempo de vocês, aqui está o nosso contato. Foi um pouco rápido, a ideia ontem era prolongar um pouco mais, mas hoje, agradeço ao Serginho e o pessoal da organização por disponibilizarem esse tempo para nós. E estamos à disposição. Tem o nosso contato no monitor, se alguém precisar. Sices Agro Dilucs Muito obrigado gente!
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ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS, ARQUITETOS E AGRÔNOMOS DE TUPÃ E REGIÃO
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TENDÊNCIAS DA AGRICULTURA ORGÂNICA Palestrante: Marcelo Silvestre Laurino Auditor Fiscal Federal Agropecuário do MAPA Secretário Executivo da CPOrg/SP Boa tarde a todos. Eu sou descendente de italiano, eu tenho dificuldade para falar com o microfone, eu fico perdido aqui. Eu preciso das duas mãos para falar, mas tudo bem, vamos ver. Eu vou tentar falar pouco hoje, vou tentar dar uma introdução às conversas que vierem depois, que é falar sobre o processo de certificação. Primeiro, vou explicar quais são os processos de certificações para vocês, para quem não souber ainda e também explicar o porquê da certificação, porque a maior parte dos agricultores reclama muito da gente, reclama do Ministério da Agricultura como se nós fôssemos culpados disso, né? Deixa eu me apresentar: o meu nome é Marcelo Laurino e eu trabalho no Ministério da Agricultura desde o milênio passado, já faz 35 anos e, desde 20 anos para cá, eu trabalho no acompanhamento da produção orgânica. Eu fiz parte de várias comissões que acabaram escrevendo o regulamento todo, eu e mais umas trezentas pessoas acabamos escrevendo o regulamento da produção orgânica no Brasil hoje. E o que eu queria deixar bem claro é que esse regulamento não é do Ministério da Agricultura, é o Ministério da Agricultura que assina as normas, mas quem faz esse regulamento é a sociedade brasileira; a pessoa que assina é o Ministro da Agricultura, mas os ministros às vezes
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nem sabem o que estão assinando, eles vão na confiança do que a gente faz.
Mas é o seguinte: a produção orgânica vem como um atendimento a uma necessidade da sociedade mundial, não só da brasileira, as pessoas hoje estão cada vez mais interessadas em consumir produtos saudáveis. A ideia de colocarmos venenos na comida para salvar as nossas lavouras do ataque de pragas é uma coisa importante, mas ela não é a única maneira de fazer o cultivo de alimentos. Os agrotóxicos são usados porque eles são, numa certa medida, necessários quando a gente está trabalhando em sistemas desequilibrados. A proposta da agricultura orgânica é equilibrar os sistemas de ,tal forma que esses produtos não venham a ser usados, e as estratégias de equilíbrio do sistema são desde as adubações com materiais pouco solúveis e, se por acaso, trabalhar com diversidade, trabalhar com materiais adaptados às condições onde a gente trabalha, e, quando surge uma praga, existem vários métodos de controle de praga que são menos agressivos à saúde das pessoas, à saúde de vocês que estão lidando diretamente com os meios de controle e também do ambiente. O resultado disso é um tipo de solo que vai durar muito mais tempo. Eu não sei 80
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se vocês prestaram atenção na palestra da Dra. Rumy hoje, quando ela apresentou aqueles slides finais, ela mostrou rapidinho um slide da agricultura feita no Japão. Vocês lembram quando ela falou assim "É assim que se faz no Japão hoje" e ela mostrou vários vasos de cultivos em estufa, porque ela falava que os solos estão contaminados. E eu estava falando com ela agora na hora almoço, perguntei: "Mas esses solos estão contaminados com que? É aquele problema como o vazamento na indústria de Fukushima?" e ela falou "Não, com doenças bacterianas, porque o solo depois de certo tempo recebendo adubação química, recebendo herbicidas e toda sorte de veneno para controlar as pragas, ele vai perdendo a vida, vai se tornando uma coisa sem vida e fica cada vez mais difícil cultivar alguma coisa nesse solo". Agricultura orgânica é uma maneira de tentar fazer agricultura e deixar o solo cada vez mais fértil, como diriam os índios americanos "Nós não estamos herdando a terra dos nossos avós, nós estamos tomando emprestado a terra dos nossos netos." Então a gente tem a responsabilidade de deixar o solo produtivo para que as futuras gerações tenham a oportunidade de se alimentar como nós fizemos aqui agora, de ter um lugar onde comer. Então essa é a proposta da agricultura orgânica. É claro que não vai dar tempo e nem a proposta aqui de a gente entrar nos princípios e nas técnicas, o que seria bastante interessante, como é que se faz o sistema sustentável. O que nós vamos falar é outra coisa, vamos dizer como é que vocês podem comprovar para quem faz agricultura orgânica, como vocês podem comprovar para o consumidor que vocês estão cultivando dentro dos princípios e dentro das práticas da agricultura orgânica. Aqui no Brasil, existem três formas de ser fazer isso: a certificação por auditoria, a certificação participativa e as organizações de controle social. Então são três formas. Então como eu estava dizendo no começo, por que precisa certificar? Imaginem só. Eu chego no mercado, eu sou um cidadão que mora na cidade, é o exemplo que eu falo em todo lugar: eu chego num supermercado, eu sou descendente de italiano, toda quinta-feira e todo domingo eu tenho que comer uma macarronada, não uma macarronada com esse molho branco, essa meleca, eu preciso de macarrão com molho vermelho, eu acredito que meu sangue é vermelho por causa do tomate que eu como. Então eu procuro sempre um tomate que não tem veneno. Como é que eu vou saber se o tomate que está sendo vendido ali tem veneno ou não? Olhando para o tomate? Será que 81
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olhando para o tomate, experimentando, apertando o tomate, eu vou saber se foi utilizado agrotóxico sintético, se foi utilizado fertilizante mineral solúvel, se as matas ciliares daquela unidade de produção estão sendo preservadas, se a água que foi utilizada na irrigação foi de boa qualidade, se tem trabalho escravo, se os funcionários daquele sítio estão com os direitos trabalhistas deles respeitados, se eles estão trabalhando com segurança, se tem proteção contra contaminação de vizinho, como é que a gente vai saber isso? A gente só vai saber se alguém for ao sitio onde vocês trabalham e verificar se aquilo que vocês fazem está de acordo com os princípios da produção orgânica. Então alguém precisa ir lá ver o que vocês fazem para comparar com o regulamento e para depois dizer que a aquilo é produto orgânico para o consumidor ter uma segurança maior de que está levando o produto que ele quer mesmo. Então a gente infelizmente trabalha no sistema da desconfiança, não adianta você chegar lá e dizer que você produz no sistema orgânico, a não ser que você esteja vendendo para os seus amigos, família, vizinhos e para consumidores que têm acesso a onde você trabalha. Se você conseguisse fazer comercialização nessa cadeia curta, vendendo só para as pessoas que te conhecem, você não precisa de selo nenhum, porque você vai ser o seu selo de qualidade e as pessoas vão poder visitar o seu sítio e verificar o que você faz e os próprios consumidores vão fazer a fiscalização do processo. Mas quando você entra no supermercado e vai comprar suco de laranja, algumas vezes eu compro suco de laranja da Ecocitrus, de Montenegro, Rio Grande do Sul, porque o estado de
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São Paulo é gozado, não produz suco de laranja (uma das coisas que me deixa preocupado), eu preciso ter a certeza que alguém esteve lá em Montenegro e verificou a produção da laranja, a produção do suco e que aquele produto é o produto que eu quero comprar. Tudo bem? Deu para entender? O produto orgânico é um produto que vem de um sítio que foi cultivado em sistema orgânico, obedecendo aos princípios e as práticas. Para vender, você precisa de alguém que vá ao seu sitio e diga para o seu consumidor que você realmente segue os princípios das práticas. E quem é esse alguém? Como eu falei para vocês, aqui no Brasil a gente tem três métodos: o primeiro é o método da certificação. A certificação funciona assim: todo produtor orgânico, todos vocês que vão produzir no sistema orgânico, tem vários produtores orgânicos aqui, vocês têm um plano na cabeça, não é isso? Chama-se plano de manejo orgânico. Através desse plano de manejo orgânico, vocês colocam tudo que vocês pretendem fazer, qual é a semente que você vai usar, qual é o adubo que você vai usar, se você tiver problema com praga, o que vai fazer, como é que vai fazer o controle de vegetação, de onde vem a água, qual é a qualidade da água, o que você plantava antes, o que pretende plantar depois, como é que você vende, como é que você embala os produtos, como você lava os produtos... Tudo isso é o seu plano, o planejamento. Isso é um documento importante, porque toda vez que a gente coloca tudo o que a gente tem na cabeça no papel, a gente consegue enxergar melhor. Se, por exemplo, vocês ficarem pensando agora tudo o que vocês têm para fazer semana que vem, não é muita coisa? Não é coisa demais? Quando terminar a semana que vem vocês não vão ter esquecido de fazer muita coisa, porque vocês não conseguiram anotar tudo? E dar prioridade para aquilo que é importante, então é muito bom, hoje à noite vocês vão lembrar-se de mim: vocês vão pegar um pedaço de papel e escrever tudo o que vocês planejam fazer semana que vem. Vocês vão ver como a semana que vem vai ser muito mais produtiva. A produção orgânica tem isso: se você planejar tudo o que vai fazer e escrever, você vai conseguir enxergar e vai ver aquilo que você está fazendo de melhor, aquilo que pode melhorar, e você deixa um documento para alguém verificar se aquilo que você está pensando em fazer é da produção orgânica. Se você contrata, por exemplo, uma certificadora, você apresenta esse plano de manejo para certificadora, aí tem um equipe técnica que vai avaliar esse 83
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plano e dizer "Olha tudo isso que você pretende fazer está de acordo, mas tem uma coisa aqui que você não está fazendo direito, então isso daqui você vai ter que mudar", aí você recebe aquele pedido de melhoria, melhora o seu plano, apresentando um novo plano e na hora em que o documento estiver tudo certo, eles vão mandar aquilo que a gente chama de inspetor. Essa figura que está nessa foto. Isso aqui é uma foto real, numa auditoria que a gente fez acompanhando uma certificadora avaliando um produtor lá em Guaratinguetá. O inspetor vai ver se tudo aquilo que está escrito no seu plano de manejo está acontecendo realmente no seu sítio. Se estiver tudo em ordem, ele vai emitir uma coisa chamada "Relatório de inspeção". O inspetor ele entra mudo e
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sai calado do seu sítio, porque a função que ele tem é exclusivamente verificar se você está cumprindo o regulamento. Ele não pode, por exemplo, te dar uma orientação técnica. Você pode até perguntar para ele "Olha, o negócio é o seguinte, eu estou usando aqui um produto para controle de formiga, eu estou usando a isca da Cocapec de Franca, que é um produto que está aprovado. Posso usar a isca da Cocapec para controlar formiga cortadeira?", ele pode dizer sim ou não; o que ele não pode responder é, por exemplo, você pergunta "Eu estou com um problema de formiga cortadeira e não sei o que eu uso, será que você podia me dar uma recomendação?", isso o inspetor da certificadora não pode fazer, porque se ele fizer isso, ele vai estar te dando uma assistência técnica, uma orientação técnica, e ele está sendo pago por você mesmo para fiscalizar você. Se, por acaso, você gostar muito do trabalho do inspetor, você pode falar assim "Hoje é sexta-feira, você está fazendo inspeção do meu sítio numa sexta-feira; terminou a inspeção, você não quer voltar aqui amanhã no sábado e me dar uma orientação técnica?", a partir daí a intenção do inspetor, não vai ser a mesma que ele tinha quando ele entrou ali só para fiscalizar, ele vai estar ali porque está interessado no dinheiro que você vai pagar para ele para fazer a assistência técnica, e daí ele afrouxa a inspeção e a inspeção perde a credibilidade. Então os inspetores entram unicamente para ver se você está cumprindo o regulamento ou não; não perguntem coisas para eles, porque eles não vão responder. Se ele fizer o relatório de inspeção e for um relatório que atestou que está
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tudo em ordem no seu sítio, depois eles mandam para sede da certificadora e a certificadora emite um certificado orgânico, que é um documento que tem essa cara aqui. Então, a partir do momento que você tem o certificado, durante um ano, você pode vender produtos orgânicos que tiverem anotados no certificado. Se você tiver algum problema, por exemplo, ele viu que chegou ao limite da sua propriedade, tem uma cerca de arame farpado e não tem nada do lá de lá, ele fala "Eu só vou liberar essa produção para você, depois que você fizer uma cerca viva para impedir que o veneno da propriedade vizinha entre na sua lavoura". Ele deixa como condicionante, então ele fala "Achei uma não conformidade aqui, você não está conforme o regulamento porque está faltando um isolamento contra o veneno da produção vizinha". Só que o que pode acontecer na prática e às vezes acontece é você falar para ele "Não, espera um pouquinho. Meu vizinho tem um pasto, ele cria gado, ele não joga veneno aqui. Então, apesar de eu não ter cerca viva nenhuma, ele não vai usar veneno, não tem problema nenhum de contaminação da minha lavoura, então eu não preciso dessa barreira", mas o inspetor mantém a posição dele e o que você pode fazer é reclamar para o que a gente chama de Conselho de Recursos. Quando a certificadora toma uma decisão que não te interessa, você pode reclamar para o Conselho de Recursos, você fala "Olha, essa decisão para mim é injusta. Eu vou fazer a cerca viva um dia, mas eu não vou fazer agora, porque hoje não tem perigo de contaminação", e aí a comissão de recursos vai decidir. Toda certificadora tem que ter uma, certo? Deu para entender? Você apresenta o plano, esse plano é avaliado para saber se você está dentro ou fora do regulamento, se o plano estiver bonitinho, ele manda o inspetor para verificar se aquilo que você está fazendo realmente bate com o plano e se tiver tudo em ordem, o inspetor faz o relatório, leva para certificadora, e a certificadora emite o certificado que te permite comercializar produtos orgânicos durante um ano. Isso aí você paga, tem um custo. Aqui para nós, uma propriedade de 10 a 20 hectares fica R$ 3.000,00 - R$ 4.000,00 por ano. Então você paga. Você paga para alguém te fiscalizar, sai do seu bolso. Você paga os R$ 3.000,00 de matrícula e paga mais R$ 1.000,00 cada vez que um inspetor for lá. Porque às vezes o inspetor não é funcionário da certificadora, então você paga o dia de trabalho dele. O dia de trabalho de um técnico custa alguma coisa em torno de R$ 86
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700,00 - R$ 800,00, tem que pagar gasolina, hospedagem, a comida e tudo mais. Mas tem uma maneira de fazer com que a certificação tenha um custo mais barato: é quando você está numa região onde existe uma porção de gente que trabalha como vocês e tem duas maneiras de baratear o custo da certificação: o inspetor vem e essa despesa de deslocamento, vocês dividem entre vários produtores (no máximo três, porque senão o inspetor não vai fazer o serviço direito; uma certificação bem feita demora um dia, uma inspeção numa propriedade pequena e estiver tudo bem, em meio dia você consegue fazer, mas é apertado fazer isso), então se você tiver um inspetor que durante dois dias visita quatro propriedades, esse custo fica rateado. Agora, existe uma maneira mais barata de fazer isso: é quando você tem um corpo interno dentro da sua associação, do seu grupo, que faz metade do trabalho da inspeção, que a gente chama de Sistema de Controle Interno. Então é um técnico ou uma comissão que vocês montam, que vai a todos os sítios e verifica tudo aquilo que um inspetor veria, então faz o mesmo trabalho do inspetor, faz o relatório e fica aguardando a visita da certificadora. Quando vem o auditor da certificadora, ele vai verificar se todas as propriedades foram visitadas, se o check list foi apresentado, se teve algum problema e esse problema foi solucionado e várias outras coisas. Se no relatório estiver tudo em ordem, ao invés de ir a todas as propriedades, ele seleciona um número significativo de propriedades que tem naquele grupo, que é a raiz quadrada do número, por exemplo, se você tem 9 sítios no grupo, ele visita 3, se você tem 16, visita 4, se você tem 25, ele visita 5, a conta é essa. Aí o inspetor vai ver, se estiver tudo em ordem nessas 3, 4, 5 unidades de produção, o grupo inteiro é certificado e aí por um custo bem menor. Se tiver alguém com problema, o grupo inteiro "dança", ninguém é certificado. Então, a responsabilidade é compartilhada. Isso permite que um processo de certificação caia dos R$ 3.000,00 - R$ 4.000,00 por ano para R$ 600 a R$ 800 por ano, o que ainda é caro, mas é bem mais sossegado do que pagar essa taxa grande. Então é assim que funciona o processo de certificação. Depois que você passou por esse processo de certificação, toda vez que você for colocar um rótulo no seu produto, você vai utilizar um desses selos aqui. O selo do Sistema Orgânico de Avaliação da Conformidade, é o Brasil orgânico que você pode qualquer um desses três modelos, você não pode pintar de cor de rosa, mas 87
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usar um desses três modelos, o verde, o cinza ou o preto e branco. Mas é só para quem passou por um processo de certificação que pode usar esse selo.
As certificadoras que a gente tem no Brasil hoje são credenciadas pelo Ministério da Agricultura e a gente fiscaliza essas certificadoras, e elas também têm outro credenciamento em outro órgão que é o Instituto Nacional de Meteorologia Industrial, o Inmetro, então elas são acreditadas no Inmetro e credenciadas no Ministério da Agricultura. Elas sofrem uma dupla fiscalização, dupla não, o pessoal do Inmetro vai lá verificar o sistema de qualidade deles e a gente vai verificar a questão da produção orgânica. Semana que vem mesmo, eu já fui escalado para fazer uma auditoria junto com o Inmetro no IBD lá de Botucatu. Então a gente faz isso anualmente, essa é nossa rotina de trabalho. As certificadoras que a gente tem são: a maior delas que o IBD de Botucatu, tem a ECOCERT de Santa Catarina, a TECPAR do Paraná que é do governo do Paraná, a IMO que é lá de Alfenas, a OIA que é de Goiatuba, mas atende aqui a região, o Instituto Chão Vivo lá do Espírito Santo, uma nova que apareceu aqui agora é BCS, que tem sede em Florianópolis, uma lá em Joinville também é a Cugnier, que já tem 43 projetos certificados, o Instituto Mineiro de Agropecuária que tem uma política muito interessante, o IMA não cobra certificação para agricultor familiar, custo zero, mas eles só fazem isso em Minas Gerais. O governo do Paraná tem um programa de pagamento de certificação, então se você é um agricultor familiar do estado do Paraná e quiser se beneficiar do 88
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programa deles, eles pagam a certificação para você, só do estado. A gente tem tentado convencer o governo do estado de São Paulo a fazer a mesma coisa, mas está difícil. Um dia a gente consegue, só começamos a falar sobre isso há uns cinco anos, daqui a pouco tem um resultado aí do governo. E tem o outro Instituto Nacional de Tecnologia do Governo Federal Ministério da Ciência e Tecnologia, e uma certificadora mineira que começou a trabalhar agora, a última que eu fiz o levantamento no cadastro nacional não tinha nenhum projeto certificado ainda, mas já deve ter alguns aí, não sei, eu não fiz essa atualização recentemente... Certo? Deu para entender?
Desculpem, eu falo muito rápido, mas só para resumir: o que é o produto orgânico? É um produto que vem de um sistema orgânico. Sistema orgânico é um sítio onde foram aplicados os princípios e as práticas, se você cumpre isso, você é um produtor orgânico ou uma produtora orgânica. Se você quiser vender isso, você precisa de alguém que vá ao seu sítio verificar se aquilo que você está fazendo é produção orgânica ou não, se for produção orgânica, você vende como produto orgânico e se beneficia de uma extensão diferenciada no mercado, certo? Quem é que vai ao seu sítio verificar se você é orgânico ou não? Certificadoras, sistemas participativos de garantias e organizadores de controle social. Acabamos de falar como funciona uma certificadora. Agora nós vamos falar como funcionam os sistemas participativos de garantia que é uma invenção do povo brasileiro. O Brasil foi o primeiro país do mundo que colocou os sistemas participativos de garantia no regulamento. Funciona 89
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assim: esse aqui é o sistema participativo APOMS (Associação dos Produtores Orgânicos do Mato Grosso do Sul), isso aqui é uma visita/auditoria que nós fizemos lá, é uma foto real. Um sistema participativo de garantia funciona do mesmo jeito que a certificadora, só que com uma diferença muito importante, você não tem uma equipe técnica que está em Florianópolis, Botucatu, Goiatuba, Alfenas, você faz parte da equipe técnica que vai avaliar e tomar todas as decisões, você pode fazer parte, porque é um sistema onde você tem o direito e a obrigação de participar, por isso chama sistemas participativos de garantia. Tem três categorias de membro no sistema participativo: 1) os fornecedores, que é quem põe a mão na massa, é quem produz, quem processa, quem comercializa, quem produz a goiaba, que faz a geleia e quem vende a goiaba são os fornecedores; 2) depois tem outra categoria que é quem participa do processo mas não põe a mão na massa, que são os colaboradores, o colaboradores podem ser o técnico do CATI, o técnico da secretaria da agricultura, a merendeira da escola para onde vocês vendem o alimento, algum consumidor da feira (você está na feira e avisa que está produzindo produto orgânico e o consumidor fala "Eu gostaria muito de ver sua produção", aí você leva o consumidor no seu sítio e você pode levar a qualquer momento, e ele pode fazer parte das comissões de avaliação dos sistemas participativos), pessoas que não pertencem exatamente ao grupo de produtores; 3) e por último, a gente precisa de uma pessoa jurídica, uma associação ou uma cooperativa, eu nunca vi uma empresa, mas poderia ser uma empresa que se responsabilize pela qualidade do trabalho que está sendo certificado, certo? É o que a gente chama de Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade. Então, as visitas de inspeção que são feitas, e esse aqui é um caso de uma visita que foi feita lá na ANC de Campinas, você vê que a visita normalmente numa certificadora é feita por você e o inspetor, uma visita do sistemas participativos de garantia vai esse bando de gente todo, porque daí vai você, o pessoal que trabalha no seu grupo, seus vizinhos, os consumidores, os comerciantes, o técnico que alguma vez você pediu uma orientação, estudante de agronomia, você leva todo mundo para fazer parte da festa. E aí, nessas visi90
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Organização Participativa de Avaliação da Conformidade (OPAC)
tas, o objetivo não é só saber se você está fazendo tudo direitinho ou cometendo algum erro, a ideia também ali, diferente da inspeção, é você trocar informações com todas as pessoas que vão lá. De repente chama o Dr. Narita para participar da reunião, Dr. Narita está só quieto olhando e vê uma coisa que você poderia melhorar no seu pomar, ele vai parar a reunião e falar "Por que você não faz assim, assim, e assim?", de repente numa visita de inspeção vira uma palestra do Dr. Narita, pronto, então é um sistema muito mais rico em termos de troca de informações. E o que a gente tem percebido é que mesmo nós que somos velhos de guerra, técnico experimentado, toda vez que você vai numa reunião de grupo, você acaba aprendendo alguma coisa e tem aquele velho ditado né "Ninguém é tão inteligente que não tem nada a aprender, e ninguém é tão burro que não tem nada a ensinar", então toda reunião tem uma troca de informações e o grupo sempre sai mais sabido e mais rico num sistema desses. E a troca de experiência é um negócio muito importante. O que precisa para um sistema participativo de garantia funcionar? Precisa da pessoa jurídica e você precisa normalmente, os sistemas participativos de garantia são compostos por grupos de agricultores, e esses agricultores montam comissões, duas comissões são obrigatórias: a comissão de avaliação e o conselho de recursos. Lembra-se do conselho de recurso da certificadora? É o mesmo tipo. Como é que monta a comissão de avaliação? Então aqui tem o grupo de Bastos, o grupo de Tupã, o grupo de Marília e o grupo de Iacri, está bom? Cada um deles tem 4-5 membros, então você para montar uma comissão
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de avaliação, você pega um membro de cada grupo membro e pronto, montou a comissão de avaliação. Outros membros de cada grupo vão montar o conselho de recurso, porque quem analisa recurso, uma reclamação da comissão de avaliação, não pode ter participado do processo de avaliação. Essa história que eu contei para vocês, a comissão de avaliação foi lá e implicou com o fato de você não ter uma cerca viva para impedir o veneno do seu vizinho, aí você esperneou, justificou, mas a comissão de avaliação não quis nem saber, virou as costas e te deixou lá com uma inconformidade. Você pode reclamar para o conselho de recursos, dizer "Espera um pouquinho, eu não tenho nenhuma fonte poluidora então não preciso disso agora. Eu vou fazer no futuro, mas gostaria de ter a certificação no momento, até para ganhar dinheiro para poder plantar essa cerca viva". O conselho de recurso que foi feito por pessoas que não tiveram participando do processo de avaliação podem rever a decisão e pode te dar a certificação. Certo? Então funciona assim, você tem a visita de avaliação, aquela visita para verificar se está fazendo tudo certinho, chama-se Visita de Avaliação, onde os agricultores do seu grupo vão te visitar, andar pelo sítio que eles já conhecem, mas não só os agricultores do seu grupo, os agricultores dos outros grupos também, e mais os consumidores, técnicos e pessoas interessadas em participar do processo.
Entre uma visita da comissão da avaliação e outra, tem uma Visita de Pares. Você faz essa visita pela comissão de avaliação em maio, quando chega mais ou menos essa época, setembro/outubro, o grupo faz outra visita para complementar aquela, então são pelo menos 2 visitas por ano que cada unidade que está nos sistemas participativos de garantia recebe. Comissão de avaliação, comissão de recursos e as visitas de pares. 92
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Isso aqui é exatamente o processo que eu acompanhei no Rio Grande do Sul da RAMA (Rede Agropecuária Municipal lá de Rio Grande do Sul) que tem um sistema participativo muito interessante, bem inovador, mas é aqui: eles chegaram no sítio, chamaram o dono do sítio, o agricultor que mostrou todos os documentos, o mapa do sítio, toda relação de produtos que ele produz, tem mais de 80 produtos que ele produz, ele está mostrando, explicando como funciona; depois quando o pessoal acaba de ler os documentos levanta e vai andar pelo sítio. Então aqui eles estão andando pelo sítio todo, vendo o sistema de irrigação, vendo o que ele produz, ele está explicando alguma técnica de produção, o pessoal está discutindo com ele, verificam a cerca viva, anda pelo sítio todo. Terminou de fazer essa visita, o pessoal senta e faz o relatório. Depois que o relatório está terminado, você chama o produtor e fala "Olha, a produção que nós chegamos é essa aqui, você é certificado ou não é certificado, está te faltando alguma coisa", é nesse momento que o produtor pode apresentar um pedido de reconsideração para comissão. Terminado esse processo todo, se ele for considerado orgânico, ele recebe o certificado dele que é o certificado que tem a validade, e também muitos sistemas participativos fazem uma reunião com todos os membros de todos os grupos que, como todo mundo é responsável solidariamente por todas as decisões que todos os grupos tomam, então você precisa da ciência de tudo que está acontecendo, então o que eles fazem é de tempo em tempos, uma reunião com todo mundo, uma assembleia geral dizendo "Olha, esse mês nós fomos lá no sítio do Kunio Nagai, nós vimos a propriedade dele, o que ele está plantando, e uma coisa interessante que a gente viu, fora do sistema de certificação, é uma receita de bokashi que o Kunio Nagai faz", inclusive, ele vai dar essa receita daqui a pouco terminando essa palestra, então é uma alternativa muito interessante para fazer. E aí, passou pelo processo de certificação participativa, você recebe um certificado anual do mesmo jeito que a certificadora recebe. PERGUNTA 1: Nesse tipo de sistema de garantia participativa, você não tem a presença de pessoas assim, um engenheiro agrônomo... MARCELO: Você pode ter. Se de repente seu grupo tem um agrônomo, ou você conhece algum, ou o pessoal da CATI está disponível, eles podem ir lá, mas não é necessário. A certificadora, obrigatoriamente, só pode contratar como inspetores agrônomos, técnicos agrícolas, zootecnistas, veterinários, confor93
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me o que você faz lá, mas os sistemas participativos de garantia podem ser compostos só por produtores, porque o conhecimento tem que ser compartilhado entre eles. Se tiver um agrônomo, melhor ou pior, depende se o engenheiro conhece agricultura orgânica ou não. Mas pode ter ou não ter. E aí você recebe um certificado igualzinho ao outro certificado, tem a mesma cara, e você tem o direito a usar o selo. Eu mostrei para vocês as certificadoras. Elas são credenciadas no Ministério da Agricultura e avaliadas pelo Inmetro. Os sistemas participativos de garantia não têm uma norma internacional como tem a certificação, então o Inmetro não faz avaliação, é só o Ministério da Agricultura que credencia. A gente 11 certificadoras credenciadas no Brasil hoje, mas nós temos 25 sistemas participativos de garantia, que já são credenciados e tem vários outros em processo de credenciamento. O maior deles é a Rede Ecovida lá do Rio Grande do Sul, tem 2.900 processos, a ANC de Campinas e a Associação Biodinâmica daqui do estado de São Paulo, tem a ABIO do Rio de Janeiro, Rede Brotas Cerrado, a Orgânicos Sul de Minas e Minas Gerais, tem mais três no Rio Grande do Sul, além da Rede Ecovida, tem Associação Biodinâmica do Sul em Santa Catarina, tem no Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Cerrado, duas nos Ceará, duas em Pernambuco, uma no Rio Grande do Norte, uma no Piauí, duas na Bahia e uma em Turmalina no norte de Minas Gerais. E tem até um sistema participativo feitos exclusivamente por índios do Xingu, índios que fazem a certificação do mel e de outros produtos que ele produzem no Parque Nacional do Xingu, com apoio do Instituto Socioambiental, com apoia da ANC, mas esse pessoal produzia mel e eram certificados pela IBD, e eles resolveram assumir a responsabilidade de fazer a certificação dos seus próprios produtos; então uma vez por ano nós vamos lá, ficamos, uma vez por ano, 15 dias no meio da aldeia lá com eles, compartilhando lá do ambiente de produção. E é isso. Esses dois fazem parte do que a gente chama de sistema brasileiro. Você passou por um sistema de certificação por auditoria ou participativa, você ganha o direito de usar o selo do sistema. Agora, o Brasil é inovador em mais uma coisa, que é a história da venda direta ao consumidor final. Enquanto a gente estava em 2003 discutindo o novo regulamento, a lei que é de 2003 e existiam várias pessoas discutindo isso, alguém teve uma ideia e dizer, eu me lembro até o nome dele, chamava Paulo Meira da Silva, um agricultor que hoje está na rede Ecovida, mas ele estava no Rio 94
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Grande do Sul, na Ecocitrus, essa produtora de suco de laranja, e ele falou "Olha, faz 20 anos que eu sou produtor orgânico, eu faço uma feira aqui no município e eu tenho consumidores que me conhecem, e eu não preciso comprovar para eles que eu sou produtor orgânico, contratar uma certificadora ou fazer parte de um sistema participativo de garantia. Será que não tem outro mecanismo que o regulamento brasileiro pudesse adotar, que pudesse garantir que eu sou um produtor orgânico sem ter que passar por esse processo complicado? Que eu estou vendendo para quem me conhece..." Então foi aí que nós criamos a tal das organizações de controle social. Só que teve uma reação muito grande e forte do pessoal da certificadora e a organização de controle social nasceu com várias restrições. Primeiro lugar, você só pode fazer venda direta ao consumidor final sem certificação se você for agricultor familiar, ou seja, se você tiver aquele documento chamado DAP, Declaração de Aptidão ao Pronaf; se você montar um grupo e um grupo tem que no mínimo 3; você cadastrar isso no ministério da Agricultura; e você só fazer venda direta, você não pode fazer venda para intermediário, você não pode vender para uma loja, para um atacadista, você não pode vender para um supermercado ou restaurante, quer dizer, se você vender, você vai ter que dizer que esse produto não está sendo vendido como orgânico, agora vender como orgânico é só para o consumidor final. Quem é o consumidor final? O consumidor final pela legislação brasileira é quem consome o produto. Venda direta é toda aquela que não teve ninguém no meio, entre o produtor e consumidor. O mais tranquilo, comum e conhecido por todo mundo é a feira, onde você leva seu os produtos, o consumidor vai na feira uma vez por semana e compra os produtos. Se por acaso você não pode ir à feira aquele dia, você pode mandar alguém da sua família, não tem problema nenhum; ou se por acaso você e alguém da sua família não puderem ir, o que você pode fazer é mandar alguém do seu grupo. Então vocês que fazer parte de um produto só, você, por exemplo, pode levar o produto dele, só que na hora de vender o produto na banca, você separa o que é seu produto e que é o dele, coloca a sua DAP ali e a DAP que identifica os produtos dele. Você só não pode vender produto de um grupo do qual você não faz parte, porque se ele não pode vir na feira, você pode dizer que conhece ele, que já foi no sítio dele e que ele vai lá ao seu sítio ver o que está acontecendo. É aquele olhar externo que é necessário.
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Outra forma de venda direta é entrega ao consumidor: é quando você junta um grupo de produtores, faz uma cesta e entrega de casa em casa. Ou então quando alguém está passando na estrada, passa na frente do seu sítio, você coloca uma placa "Aqui tem produtos orgânicos", e a pessoa entra lá e compra no seu sítio mesmo. Outra forma de venda direta são as compras governamentais que é o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) que é o dinheiro que o governo federal dá para as prefeituras, proporcional ao número de alunos (crianças e adolescentes) na idade escolar e 30% desse dinheiro tem que ser comprado da agricultura familiar desse município. Se você tiver produção orgânica, o prefeito, se colocar em chamada pública, você pode vender com um preço 30% maior que o da chamada pública. E o PA, doação simultânea, que está suspenso no momento, ele não foi extinto. O atual governo não acabou com o PA, mas ele simplesmente não está colocando dinheiro no programa, então é mesma coisa que tivesse acabado com o programa... PERGUNTA 2: Só uma dúvida na parte de transição, não tem que ter o aval, por exemplo, da CATI? O pessoal não tem que fazer acompanhamento? MARCELO: Da transição? Eu falo depois da transição, eu não cheguei lá ainda... Então, outra forma de modalidade de venda direta é, por exemplo, venda a grupos de consumidores. Por exemplo, imaginem que vocês são um grupo de consumidores que vieram conversar comigo e eu sou um produtor e vocês vêm conversar comigo e cada um de vocês escolhe a quantidade de arroz, de feijão, de tomate, eu faço uma tabela e me programo para atender exatamente a necessidade de vocês. Então tudo aquilo que eu semear já está vendido para vocês, pelo menos apalavrado, e a gente pode inclusive combinar o preço que eu vou vender, e se algum dia eu me apertar, eu posso pedir dinheiro adiantado para vocês e pagar com produto. Esse é um sistema que está crescendo muito Brasil e se chama CSA, vocês já devem ter ouvido falar, a comunidade que sustenta o agricultor, é uma ideia genial e que você fecha ciclos. É como se um grupo de consumidores contratasse você para produzir alimentos para eles e aí esse sistema fica fechado, e num belo dia vocês vão ter uma relação tão forte com consumidores que aí vocês não precisarão de nada disso que eu estou falando aqui, porque vocês mesmos vão lá buscar o produto na unidade de produção onde ele está sendo produzido. Então essas são as modalidades de venda direta. 96
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Na venda direta, uma coisa importante: você tem que garantir o livre acesso do consumidor a sua unidade de produção, você está na feira e alguém chega "Poxa, gostei muito do seu produto, mas eu gostaria muito de visitar seu sítio", você tem que deixar o consumidor entrar, você não pode impedir a entrada dele, se por acaso você barrar o acesso e fala "Não, aqui você não entra", ele pode fazer uma reclamação e aí no dia seguinte eu estou lá e "taco" uma multa em você, então é obrigatório. Como é que funciona a tal da OCS? A OCS funciona como um grupo, como aquela visita de paras dos sistemas participativos de garantia. Você está num grupo de pessoas e vocês fazem um rodízio de quem vão visitar e, depois, uma vez por mês, vocês fazem uma reunião para discutir tudo aquilo que vocês estão passando, a feira, "vamos vender ali para prefeitura, vamos não sei o que, vamos fazer uma denúncia para o Ministério da Agricultura", o que, normalmente, o pessoal faz é aproveitar o dia da visita de pares para fazer a reunião também, então você faz reuniões em todos os produtores do seu grupo. Funciona assim. Na hora que você termina esse processo de credenciamento, você recebe um documento como esse aqui, a Declaração de Cadastro dos Produtores. Antigamente, você recebia esse documento e ele era assinado, hoje você recebe um documento digital que tem um borrão que a gente chama de QR Code, que qualquer consumidor na feira com aparelho celular, se você baixar o sistema leitor de QR Code, você fotografa aquele documento e abre a página do Ministério e diz se aquele documento é verdadeiro ou falso. Se vocês quiserem brincar, fazer essa brincadeira, vocês podem usar essa imagem que eu estou projetando para fazer essa experiência, essa imagem aciona o sistema de reconhecimento do QR Code. Então a gente tem vários consumidores nos ajudando com a fiscalização. E aí é o seguinte, você tem a declaração de cadastro e você pode dizer no rótulo do produto que você é um produtor ou uma produtora orgânica, que você está cadastrado na organização de controle social e está autorizado a vender produto orgânico diretamente para o consumidor final, mas você não pode usar o selo do sistema orgânico, porque é exclusivo para quem passou pela certificação por auditoria ou certificação participativa. Porque o selo identifica um produto de um consumidor que você não conhece, um consumidor em organização de controle social está ali, está vendo, você está conversando 97
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com ele, você sabe onde ele mora e pode ir na casa dele. Se vocês quiserem saber quem é que são os produtores orgânicos do Brasil, entrem nessa página aqui: www.agricultura.gov.br, é a página do Ministério da Agricultura. Na hora que você entra ali, você tem no canto esquerdo uma coisa chamada Orgânicos, quando você cutucar ali vai abrir essa página onde você tem a figura do agricultor sentado, você clica em cima dessa figura e vai baixar esse cadastro nacional dos produtores orgânicos. Se você cutucar ali no cadastro, baixa uma planilha que tem exatamente essa cara: o nome do produtor, se ele está numa OCS, numa OPAC ou numa certificadora qual é a certificadora dele, qual é o endereço, telefone dele, quais produtos ele produz. Então se você está interessado em montar uma loja e quer comprar produtos orgânicos, você quer saber duma região, você pode filtrar a região e saber, por exemplo, quais são os produtores orgânicos de Bastos, você entra aqui, faz uma pesquisa e sabe quem é produtor orgânico e está no cadastro nacional em Bastos, funciona assim, certo? Para vocês terem uma ideia, hoje nós temos no cadastro nacional, se vocês forem ver, tem 17 mil e não sei quantos produtores, se vocês entrarem no cadastro agora pode ter uma diferença e aparecer 21 mil, mas tem essa diferença porque uns 3 mil já foram excluídos do processo, porque o sistema funciona: as certificadoras incluem, mas elas excluem também; os sistemas participativos incluem, mas mandam o pessoal passear quando eles estão fazendo besteira; e as OCS também fazem isso; e tem gente que desista. Mas o sistema é bastante móvel. Quase metade dos produtores está naquele sistema que existe no mundo inteiro que é a certificação. O sistema de controle social já avançou para mais metade, 55% dos produtores brasileiros já estão sob o sistema de controle social, fugindo da certificação. E aqui é mais ou menos o mapa do estado de São Paulo, para vocês saberem onde estão as OCS. Tem uma concentração muito grande aqui na região sul do estado de São Paulo, aqui no Vale do Ribeira e aqui o mapa das OCS no Brasil. Organizações de controle social nós temos 374, com 4.600 produtores, uma média de 12 por OCS. Os campeões nacionais de OCS somos nós no estado de São Paulo que temos mais de 100 OCS cadastradas, e isso aqui se revelou uma política muito interessante de inclusão dos produtores rurais. E aqui é mais ou menos onde estão os produtores rurais no estado de São Paulo. E aqui são os novos sistemas participativos de garantia que estão se organi98
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zando. Aqui perto tem o pessoal da ECOFAM que está aqui presente com a gente e tem sede lá em Ipiguá na região de São José do Rio Preto, mas a gente tem um grupo se organizando em Sete Barras também, um grupo se organizando no município de Osasco, na grande São Paulo, que trabalha com produtos do ciclo do Cambuci, eles estão resgatando aquelas coisas da Mata Atlântica, Cambuci, Araçá, tem um esquema de comercialização muito bom, tem uma pessoal da APROVAP do Vale do Paraíba, o pessoal da COOPERACRA de Americana e um pessoal de um assentamento lá da região de Serrana, o pessoal do assentamento Sepe Tiaraju. Então quer dizer que tem um pessoal que já está se movimentando aqui para aumentar aquele número de 25 sistemas participativos de garantia que temos credenciados. Então esse é um resumo do que a gente tinha para apresentar para vocês. Desculpem, porque é muita informação, e a gente acaba não conseguindo falar pouco. Mas se tiverem alguma dúvida a respeito desses três processos, o que eu posso dizer é que a certificação é um processo que te garante a inserção no mercado, mas os sistemas participativos de garantia e as organizações de controle social são excelentes meios para você aprender técnicas que você ainda não sabe, quem vai te ensinar essa técnica não são necessariamente técnicos ou agrônomos, mas são agricultores que já passaram pelos mesmos problemas que você e talvez já tenham enxergado uma solução, e agricultores conversam com agricultores muito melhor que técnicos conversam com agricultores. PERGUNTA 3: [DÚVIDA INAUDÍVEL] MARCELO: A pergunta dele é: na unidade de produção dele, ele aplicou fertilizantes minerais, ou seja, fertilizantes por esterco; quanto tempo demora para essa unidade de produção ser considerada um sistema orgânico? Aí a gente vai falar de uma coisa chamada conversão orgânica. Se, por acaso, você hoje aqui, de tudo o que você está vendo aqui sobre produção orgânica, te interessou virar um produtor orgânico e você amanhã começar o manejo orgânico da sua unidade de produção, se você tiver culturas que tenham a colheita no mesmo ano da semeadura, como milho, feijão, arroz, culturas anuais, você vai ter que esperar um ano durante esse manejo para que aquilo que você semear no ano seguinte seja colhido como orgânico. Se o seu negócio for cultura permanente, pomar de laranja, pomar de caqui, abacate, fruta, alguma coisa, você tem que esperar um ano e meio, que é um processo um pouco 99
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longo. Isso significa que esse período é complicado, porque você vai fazer o plano, vai fazer o manejo orgânico, mas aquilo que você tiver não é um sistema orgânico completo, então você não pode vender o produto como orgânico, o produto vai estar em conversão orgânica. PERGUNTA 4: [DÚVIDA INAUDÍVEL] MARCELO: Três anos é o regulamento americano e o regulamento da comunidade europeia. Se você está plantando café para exportar para os Estados Unidos ou para a Europa, você tem que cumprir o período de conversão deles, porque você tem que atender a legislação do país de destino; agora, para vender aqui no Brasil, sempre foi a metade do tempo que eles usam na Europa, porque a gente acha que, como lá na Europa neva, os processos biológicos diminuem bastante, os processos biológicos são mais ativos aqui, então a gente pode contar com menos tempo, mas isso é o mínimo. Agora eu posso te dizer por experiência que para você ter um solo que foi revitalizado, que ganhou vida de novo, ele vai precisar pelo menos uns 5 anos para você estabelecer uma fertilidade permanente. Depois desses 5 anos é ladeira a baixo, aí o custo de produção diminui, sua produtividade aumenta e você tem menos problemas de praga... Você tem esse período... Agora a conversão legal para você poder ter o certificado é o período que eu te falei, no mínimo, um ano ou um ano e meio, a conversão real é um pouco mais longa, mas depois que você passou por essa conversão, os agricultores que venceram essa etapa, porque parece que é uma barreira, um salto em barreira, esses não voltam mais para o sistema convencional, porque descobriram que é muito melhor e mais saudável você ser um produtor orgânico a ser um produtor que depende de usar veneno que é um problema que atinge a sua saúde e da sua família. PERGUNTA 5: A certificadora ganha uma porcentagem por cada caixa de tomate certificada? MARCELO: A pergunta dele: a cada caixa de tomate a certificadora recebe uma porcentagem? Não, só tinha uma certificadora que fazia isso, fazia. Não faz mais porque ninguém quer. A certificadora virava a sua sócia, e a gente se perguntava "se você tem uma certificadora sócia, qual é a isenção que ela tem para te certificar?", se ela quer mais é que você venda, para ela ganhar mais também, então não está certo esse processo. Então hoje a gente não proibiu que as certificadoras façam isso, mas se por acaso a certificadora te apresentar, você pergunta "quanto custa para certificar?" e ela te fala "eu te cobro 100
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tanto por caixa ou eu te cobro um valor fixo", ela vai ter que te mostrar as duas modalidades e você vai optar por uma. Eu não conheço ninguém que está trabalhando mais no sistema de porcentagem, é o IBD que fazia isso. PERGUNTA 6: Se você produz orgânico, mas toda sua vizinhança tem agricultura convencional, é possível receber certificado? MARCELO: A pergunta dele: hipoteticamente, ele está num lugar rodeado de cana por todos os lados, ele é uma ilha lá, todo mundo é produtor convencional e ele é o único produtor orgânico; se isso o impede de ser produtor orgânico certificado. Não impede, mas você vai ter um custo adicional, porque você vai ter que erguer uma barreira entre você e o canavial do vizinho, para impedir, por exemplo, quando eles passarem herbicida ou quando eles passarem o maturador de cana, que aquele veneno acabe espirrando na sua lavoura. Melhor coisa a se fazer se estiver numa situação dessa é plantar eucalipto na cerca, porque o eucalipto vai crescer, daqui a pouco ele fica do tamanho desse pé direito e se, por acaso tiver um avião voando, ele não vai poder mais chegar perto do seu sítio, um pouco antes ele vai ter que suspender o voo, desligar o equipamento e fazer uma curva para lá, entendeu? Então, é uma das maneiras de você garantir sua lavoura. Mas, normalmente, o que a gente recomenda antes de brigar com seu vizinho é vai lá e conversa com ele "Vem cá, você já ouviu falar em cana orgânica? Por que você não experimenta fazer um pedacinho do seu sítio de cana orgânica para saber se esse negócio funciona? Por que você não faz esse pedacinho do lado do meu sítio, para você não contaminar o meu." Se o cara acreditar na sua conversa, ele vai te agradecer para o resto da vida, porque, por exemplo, o pessoal fala "Agricultura orgânica é coisa para agricultor pequeno", aí de repente eu mostro para vocês uma usina em Sertãozinho: a usina tem (a última vez que eu soube) 17 mil hectares de cana orgânica, está bom?. "Ah, mas não produz nada", a produtividade média do estado de São Paulo é 85 toneladas por hectare, produtividade média da usina, 120 T. A orgânica produz uma vez e meia o que produz as convencionais. Cana vocês sabem, a cada 3 anos vocês têm que dar um corte na cana, renovar o canavial porque ele vai perdendo força, na usina, eles dão o corte a cada 8 anos, porque não cai a produtividade; o custo é menor, o açúcar é melhor, tem mais açúcar, dura muito mais, e o cara ganha muito mais dinheiro. Se você conseguir convencer os seus vizinhos canavieiros, "experimenta só esse peda101
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cinho aqui em volta para você não contaminar e você vai ver que você vai ganhar mais dinheiro naquilo que você está fazendo". Mas vizinho é problema né? Vizinho é que nem parente, a gente não escolhe, Deus manda para gente e eu acho que essa é a grande lição que a gente tem que tomar para aprender a conviver em sociedade. Se vocês têm uns parentes ruins que nem eu tenho, a minha família assim, o pessoal só falta se matar... Mas aí o pessoal fala "Como é que você consegue tocar as coisas na Comissão da Produção Orgânica, discutir regulamentos com tantos interesses?", eu falo "É fácil, vindo da família que eu vim...". Parente e vizinho é uma prova de Deus. Se você conseguir dialogar com eles, você vai ter uma vida feliz, é isso. PERGUNTA 7: Posso fazer produção orgânica com sementes geneticamente modificados? MARCELO: Ela está perguntando se ela pode fazer produção orgânica com produtos geneticamente modificados. A resposta é um sonoro não. Não, você não pode trabalhar. Por exemplo, você tem um sítio e o sítio é muito maior do que você pode trabalhar e de repente você resolve arrendar para o seu primo, tocar metade do sítio e ele bota milho transgênico lá. Não pode. Porque os orgânicos não são "contra transgênicos", a gente usa o que a gente chama de princípio da precaução: a gente não sabe até agora se esses produtos são seguros ou não, quem faz os experimentos de segurança dos geneticamente modificados são as empresas que ganham muito dinheiro com eles, e se eles estão ganhando muito dinheiro, a gente tem medo que eles não sejam honestos o suficiente para dizer quando vai ter um problema. São as mesmas empresas que, no passado, por exemplo, inundaram o mundo de DDT e BHC dos clorados e, hoje, esses produtos são reconhecidos como cancerosos, mas há 50 anos atrás as empresas afirmavam com todas as letras que esses produtos eram seguros. Depois de morrerem milhões de pessoas, esses produtos foram retirados e eles falaram "Não, mas não era bem assim", e eles estão falando a mesma coisa dos produtos geneticamente modificados. Então, pelo princípio da precaução, a gente não usa transgênico e a gente tem que passar longe deles até a gente saber como isso funciona, e para saber como é que funciona, a gente precisa que algum órgão público faça esses testes que as empresas estão fazendo elas próprias. Como os órgãos públicos não estão fazendo isso, porque não têm interesse, não têm vontade política para fazer esses testes, a gente simplesmente proibiu os geneticamente mo102
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dificados e você não pode nem plantar. Agora você vai plantar o milho OGM e cultivar orgânico, você não vai ter vantagem nenhuma, porque a vantagem dos OGM é você pode usar 3 vezes o que você usa herbicida no normal, e no orgânico você não usa herbicida. Um milho que produz a toxina do bacillus thuringiensis, se você usar um produto com bacillus thuringiensis, um produto biológico, ele é muito mais eficiente do que o milho que você tem no orgânico, porque na modificação genético do milho, você consegue colocar 2 ou 3 toxinas do bacillus thuringiensis. No bacillus thuringiensis você tem quase 30 toxinas, então é muito mais eficiente no controle da lagarta e se você fizer uma coisa direitinho, uma adubação certinha, não vai dar lagarta no seu milho. Então, não, não pode, orgânicos e transgênicos são incompatíveis. PERGUNTA 8: [DÚVIDA INAUDÍVEL] MARCELO: A pergunta que ela fez: o produto da aquaponia pode ser certificado como orgânico? Depende da aquaponia que você faz. Se você pega a água do tanque de peixes e coloca em solução para as plantas sem o solo, não. Se você coloca isso no solo e você tem um solo rico em matéria orgânica e essa água passa pelo solo e depois, numa rede de drenagem, ela é captada para voltar para o tanque, sim. Mas, simplesmente, você colocar numa calha e você alimentar as plantas como se fosse um hidropônico, não. Para fazer agricultura orgânica, você precisa ter uma coisa chamada solo, e solo saudável sem produto químico, fertilizantes minerais e sem agrotóxico sintético, para você permitir que todas aquelas bactérias que existem no ambiente natural possam cumprir o papel delas. Qual é o papel das bactérias, fungos e organismos? É dar o alimento que a planta precisa na quantidade que ela precisa e na hora que ela precisa. Todas as plantas são inteligentes na hora de se alimentar; toda vez que uma planta precisa de nitrogênio, ela secreta uma substância e ativa determinados microorganismos no solo dizendo "Estou precisando de nitrogênio", essas bactérias e fungos vão fazer esse papel de alimentar a planta, quando a planta está satisfeita, ela fala "Obrigada, estou satisfeita, agora eu estou precisando de potássio" e outras bactérias vão começar a fazer esse trabalho. Então essa relação entre planta, solo e a rizosfera, que a gente fala, as bactérias, fungos e todos os bichos do solo, é fundamental para saúde da planta. Se você pegar, por exemplo, uma ureia, um sulfato de amônia, e coloca no solo, você quebra toda essa cadeia. A planta absorve muito mais nitrogênio do que ela pode 103
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processar e, absorvendo mais nitrogênio do que ela pode processar, ela fica fraca e cria alguns componentes intermediários que atraem as pragas. É por isso que o grande problema da agricultura orgânica não é nem o veneno, se você joga adubo, você desequilibra a planta, e desequilibrou a planta, as pragas acabam com a planta porque ela está em desacordo com o plano inicial da natureza. Então você só pode ter uma planta saudável, se você usar um solo o máximo possível parecido com as condições naturais, que é o solo rico em matéria orgânica e rico em vida. Se você tirar o solo do sistema, você não está fazendo agricultura orgânica. PERGUNTA 9: [DÚVIDA INAUDÍVEL] MARCELO: "Como o governo, o Ministério da Agricultura, poderia certificar os produtores e não precisar de certificadoras?". Depende em quem vocês vão votar no dia 26 de outubro. A maior parte dos candidatos quer ver a gente pelas costas. Eles falam assim "funcionário público é tudo um bando de vagabundo, temos que acabar com essa raça", então eles têm cada vez menos gente. Então, por que nós adotamos esse sistema de certificação? Por que você acha que com a equipe que o Ministério da Agricultura tem hoje, a gente daria conta de fiscalizar 17 mil produtores? Não mesmo. A gente consegue fiscalizar: porque temos 11 certificadoras para fiscalizar e 25 sistemas participativos de garantia, isso a gente ainda dá conta. Mas se fosse para gente assumir essa fiscalização, não daria. Isso custa dinheiro, custa vontade política, isso talvez fosse uma política muito interessante para desenvolver a saúde nesse país. A saúde mesmo, não a doença: alimentar as pessoas com alimentos saudáveis e diminuir as doenças. No fundo, eu tenho a intenção de que o estado brasileiro iria ganhar, iria gastar muito menos dinheiro pagando um bando de gente como eu fiscalizando as pessoas diretamente. Mas não é todo país que consegue fazer isso. O Chile consegue a cada dois anos, a equipe que o Chile tem consegue visitar todas as unidades de produção, porque eles têm gente para isso. Os agricultores chilenos ficam pedindo a mesma coisa que você pediu "Se a cada dois anos vem um agrônomo do Ministério da Agricultura aqui, por que eu estou pagando certificadora? Por que não tem vocês só?", eles têm esse dilema lá. E nós vamos celebrar um acordo de equivalência com o Chile. Daqui a alguns meses, vocês vão poder comprar produtos chilenos certificados pelas certificadoras deles como orgânicos aqui no Brasil, sem passar pela certificação da certificadora 104
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nacional; e tudo que você produzir aqui num sistemas participativos de garantia ou numa certificadora, vai poder ser vendido como orgânico lá no Chile, sem passar por uma certificação lá, é por isso que a gente conhece bem o sistema do Chile. PERGUNTA10: [DÚVIDA INAUDÍVEL] MARCELO: Tem um projeto de lei que está sendo muito mal lido. É que aquele projeto é o seguinte, se você ler só o projeto de lei, fica mais ou menos entendido que só vai poder vender produto orgânico em supermercado quem for produtor familiar, quem não for, não vende. Bobagem. Isso é bobagem completa, uma leitura completamente errada. Acontece que tinha um deputado lá, o deputado fez isso daqui... sabe aqueles caras que não tem nada o que fazer? Lá está cheio né? Vocês deviam ir lá distribuir um pouco de enxada para aqueles caras, uma atividade física, mental. É um projeto desnecessário que ele tentou juntar tudo o que já está escrito em outros regulamentos e colocar num regulamento só e está dando mor bafafá, porque o pessoal só está lendo o projeto de lei que modifica a lei, tem que ler os dois juntos. Se você ler os dois juntos, você não chega a essa conclusão. Mas se você ler só o projeto de lei você chega a conclusão "O que os caras estão querendo fazer? Querendo tirar todos os produtores? Só vai poder vender no supermercado o produtor familiar?", e é exatamente o contrário que a lei manda, mas é bagunça, má interpretação, justamente o cara que aprovou esse projeto de lei é o sujeito do projeto de lei dos venenos, o cara que está sendo financiado para criar uma bagunça, polêmica, para depois o projeto deles passar despercebido e eles entupirem a gente com mais veneno. PERGUNTA 11: [DÚVIDA INAUDÍVEL] MARCELO: O que o engenheiro Nobuyoshi Narita (foto) está falando é o seguinte "Para você produzir alguma coisa orgânica você tem que usar a semente orgânica, certo?". Essa é a regra, mas acontece que como quem fez essa regra foi gente que está no mercado, não fomos só nós, a maior parte de agricultores fala "Não tem semente disponível", então se não tem semente disponível, você não vai fazer agricultura orgânica? Então tem uma extensão 105
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que diz que se você não encontrar semente orgânica, você pode, com autorização da sua certificadora, do seu sistema participativo de garantia, você pode comprar sementes convencionais. Mas agora nós estamos fazendo uma outra modificação, porque esse regulamento está em discussão agora, em consulta pública, até o dia 22 de outubro, vocês façam o favor: leiam o regulamento e mandem sugestões para gente. Todas as comissões de produção orgânica do Brasil estão estudando isso e mudando o regulamento, e vocês que serão diretamente afetados por isso, se manifestem e coloquem a opinião de vocês, até o dia 22 de outubro. Quem quiser, depois entra em contato comigo que depois eu passo os textos que estão sendo discutidos. Então, o que a gente está fazendo é o seguinte: você não encontrou a semente orgânica, então você pode comprar a semente crioula, normal; há semente orgânica que é produzida como orgânica em outros países, você vai dar preferência para elas, porque são variedades desenvolvidas dentro de sistemas orgânicos. Não adianta você querer plantar um milho que foi híbrido, que tem uma raiz curta, mas milho não tem muito raiz, concorda? No plantio do milho, um do lado do outro, o milho não precisa ir nem no fundo, porque você joga todo adubo no pezinho dele; o milho orgânico não é um milho que tem pouca raiz, é um milho que tem uma baita de uma raiz e uma raiz que vai lá no fundo, nós perdemos essas variedades. Você precisa ter variedades adaptadas para os sistemas orgânicos e, se elas foram produzidas em outros países, que tragam essas variedades aqui para gente testar e tocar. Em último caso, você vai usar sementes convencionais, e as sementes convencionais você ainda pode pedir para as empresas te fornecerem sem veneno, sem tratamento com fungicida, elas fornecem isso. Se, em todos os casos você não conseguir, aí você está autorizado a usar a semente convencional, tratado com veneno e essa coisa toda, mas isso é em último caso. Mas é por isso que precisa da certificadora, porque ela vai ficar na sua orelha, o sistema participativo, a sua OCS vai falar "Não, procure outra alternativa para você sair dessa questão da semente". E diz aí o pessoal que estuda semente que metade do sucesso da lavoura que você faz é o manejo que você dá, a outra metade é a genética que você tem ali. Se você trabalhar com uma variedade que não serve para região, você nunca vai ter uma grande produ106
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ção, então você tem que ter uma variedade adaptada a isso. Muito mais importante que a semente orgânica é uma semente desenvolvida para sistema orgânico, melhorada com todas as características do sistema orgânico. Isso não vai ser de uma hora para outra que vamos conseguir, vocês sabem muito bem quanto tempo demora para selecionar uma variedade, para chegar num circuito comercial de 10 a 15 anos. Então nós temos muito trabalho pela frente e muito tempo para que as sementes fiquem de acordo com o que a gente está esperando. A CATI tem um cultivar, que não foi desenvolvido para sistema orgânico, que é o AL Avaré, mas que ele vai bem no sistema orgânico, mas ainda está precisando desenvolver uma variedade que saia das 9-10 toneladas por hectare, que alcance um pouco mais, mas 9-10 você consegue com AL Avaré sem muita firula.
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WORKSHOP: PREPARAÇÃO DE BOKASHI Palestrante: Kunio Nagai Especialista em Agricultura Natural e consultor em Agricultura Sustentável
O prof. Kunio Nagai, especialista em agricultura sustentável, realizou uma oficina prática de preparo do "bokashi", um adubo orgânico altamente eficiente, no Recinto de Exposições de Bastos. Por ser uma atividade prática, a simples transcrição da gravação da oficina não reproduz a riqueza de informações que foram transmitidas na participação ao vivo. Por isso, publicamos uma apostila da autoria do próprio prof. Kunio Nagai. Para uma compreensão mais completa do tema, recomendamos a leitura do material mais completo, que está disponível e pode ser baixado gratuitamente pela internet: https://issuu.com/nsp-editora/docs/manejo_do_solo_e_adubacao Bokashi simples O bokashi é um adubo orgânico que substitui perfeitamente os adubos químicos, contendo adequadamente os nutrientes N, P, K, Ca, Mg e S, além dos micronutrientes. O bokashi, ao contrário dos adubos químicos, fornece à planta nutrientes de forma gradual, branda e racional, pois a sua absorção não segue o processo de osmose, mas sim, através de microrganismos que se multiplicam na rizosfera das plantas.
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Existem várias fórmulas para se obter, a mais simples consiste no seguinte: Ingredientes: para produção de 1,0 t. (50%) Farelo de arroz: 500 kg (25%) Esterco de poedeira, puro, seco e peneirada: 250 kg (25%) Farinha de osso,fosfato natural, Biorin ou termofosfato: 250 kg Melaço (ou caldo de cana, garapa) 3 kg (15 L) Inoculante: Água: 300-350 L/ton de bokashi, dependendo da umidade dos ingredientes 3 L/kg Modo de preparo: - Misturar os ingredientes o mais uniforme possível. - Aplicar o inoculante diluído em 50 litros de água. - Umedecer a mistura com água, até atingir 50% de umidade. Quando se apertar um punhado da mistura e ele ficar moldado sem escorrimento de água entre os dedos, desmanchando facilmente ao ser tocado é a consistência ideal. Essa massa deve ser coberta com sacos de aniagem para evitar o ressecamento da superficie na fase inicial. - Haverá elevação de temperatura pela fermentação aeróbica, e quando atin-
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gir 50-60°C, deve ser revirada. Essa temperatura pode ser avaliada colocando um termômetro de barra, ou colocando uma barra de ferro no interior dessa massa durante alguns minutos, e depois, tocando com a palma da mão. Se não conseguir manter a mão na massa, ou segurar a barra de ferro por muito tempo, deverá ter atingido essa temperatura. - Pode ser que haja necessidade de revirar mais de uma vez por dia, dependendo da temperatura, e quando a fermentação terminar, a temperatura se estabiliza, o que ocorre normalmente, dentro de 7 dias, mais ou menos. Modo de aplicação. O bokashi pode ser aplicado, depois de estabilizada a temperatura, ou seja, terminado o processo de fermentação; estando o produto com a umidade de 12% pode ser ensacado e armazenado durante 6 meses no máximo, para ser utilizado na ocasião propícia. Quanto à dosagem, varia conforme a cultura, porém, pode ser tomada a base de 150 gramas por metro linear de plantas, ou na base de 500 a 1.000 gramas por metro quadrado. Depende também do tipo de solo e da cultura. O bokashi deve ser enriquecido com carvão triturado(fino do carvão), tratado com extrato pirolenhoso, na seguinte proporção: 1,0 litro do extrato para 50 litros de água, cuja solução é suficiente para tratar 100Kg de fino de carvão (pó e migalhas) e esta mistura aplicada em 500 kg de bokashi. >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
Adubo líquido caseiro (tenkei-jiru = suco abençoado) De uma maneira geral, as plantas nativas ou cultivadas desenvolvem-se em harmonia com a natureza, portando, nas superficies das folhas e nas rizosferas, microrganismos benéficos. Entretanto, em condições adversas, os microrganismos se enfraquecem e reduzem em número, prejudicando o desenvolvimento normal das plantas. Nestas condições, os adubos líquidos aplicados, nas folhas ou nos solos, irão beneficiar e fortalecer aqueles microrganismos debilitados, fornecendo hormônios, enzimas, sais minerais, vitaminas e outros ingredientes nutritivos e estimulantes.
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Preparo: O adubo líquido caseiro pode ser preparado na própria fazenda, com ingredientes disponíveis na região. Ingredientes: Biomassa vegetal (broto novo de capim, folhas novas e tenras, broto de bambu, artemísia, tiririca, etc., enfim materiais de plantas de crescimento vigoroso, cerca de dois sacos (tipo usado para cebola e batata) cheios com uma pedra no fundo para servir de peso; - Tambor de 200 litros; - Água pura; - 5,0 kg de farelo de arroz; - 2,0 kg de açúcar mascavo ou melaço, ou caldo de cana (5 vezes mais); - 1,0 L de inoculante. Processo: Coloca-se uma travessa de madeira (bastão) sobre o tambor e penduram-se os dois sacos de nylon telado cheios de biomassa triturada. Colocados todos os ingredientes, agitar o líquido com uma pá de madeira duas vezes ao dia, para forçar a aeração e facilitar a fermentação.
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Estado final do líquido Apresenta-se transparente no início, depois de 2 a 3 dias, completa a fermentação, e o líquido assume a cor verde-amarelada e emana cheiro agradável de fermentação alcoólica. Pode-se também adaptar uma bombinha de oxigenação de aquário, introduzindo o tubo dentro do tambor. Neste caso, acelera a fermentação e completa em um ou dois dias. O líquido resultante deve ser coado para a sua utilização, a fim de evitar o entupimento do pulverizador. Aplicação: A calda verde amarelada, produto da fermentação, poderá ser utilizada com diluição de 5 a 10% (5 a 10 litros em 100 litros de água) para pulverização foliar, e 10 a 20 litros em 100 litros de água para aplicação em solo. >>>>>>>>>>>>>>>>>>
Coleta de inoculante O inoculante pode ser coletado no próprio sitio, na mata ou no bambuzal. Processo: Em um cocho de bambu cortado ao meio, coloca-se arroz cozido sem sal, somente com água, de preferência do tipo cateto ou japonês, que é mais glutinoso. O cocho de bambu em formato de cocho deve ser fechado com a parte superior do bambu e amarrado com arame, elástico ou barbante, e colocado no bambuzal ou na mata, no solo, em meio às folhas secas, caídas. Deve protegê-lo com uma tela de ara113
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me para evitar o ataque de eventuais animais e, nos dias seguintes, examina, se há presença de bolor branco ou rosa, bolor de cor negra deve ser eliminado. Em período muito seco, convém umedecer as folhas caídas onde será colocado o cocho. Esse arroz assim embolorado é colocado em um balde de 20 litros, onde se acrescenta 0,5 kg de açúcar mascavo, ou melaço, ou caldo de cana (2,5 L), obtendo assim inoculante pronto para ser usado, após ser coado para retirar o arroz residual. Multiplicação do inoculante liquido: Uma vez obtido o inoculante, poderá ser multiplicado duas a três vezes. Ingredientes: - 20 litros de água pura, sem cloro ou qualquer produto químico ou contaminante; - 0,5 kg de açúcar mascavo ou melaço, ou 2,5 litros de caldo de cana; - 1,0 litro do inoculante. Colocar os ingredientes em um balde bem limpo e cobrir com tela ou pano para evitar insetos ou sujeiras. Agitar a solução duas a três vezes por dia. Após três dias, o inoculante estará pronto e deverá apresentar odor de fer114
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mentação alcoólica, idêntico ao inoculante original. Embalar o inoculante em vasilhames bem limpos e secos, isentos de produtos químicos ou contaminantes, e armazenar em local fresco ao abrigo da luz e calor. Kunio Nagai - kunionagai61@gmail.com
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SERICICULTURA: MODELO DE DIVERSIFICAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL Palestrante: Wilian Aita Gerente C. Experim. e Matéria Prima Fiação de Seda Bratac
Boa tarde, pessoal. Eu gostaria que vocês, senhores, estivessem mais próximos aqui para gente poder fazer um bate-papo bem descontraído, nada de ser muito formal. Se possível, vocês cheguem mais ao centro aqui. Geralmente, quem fica atrás são os mais estudiosos, mas hoje vou pedir para vocês ficarem mais próximos. Eu vou fazer uma apresentação, mas vai ser um jogo assim, talvez para quem não conheça a atividade, bem técnico. E o objetivo painel desse nosso da sericicultura é nós discutirmos as dificuldades que nós temos na atividade da cadeia produtiva e também buscar novas oportunidades. Então o pessoal que vai estar fazendo a apresentação junto comigo, vai estar dizendo as possibilidades que vai ter na sericicultura e em cada etapa ou elo da cadeia produtiva. E também a gente está trabalhando para formar, concretizar a câmara setorial da seda. Qual é o objetivo dessa câmara setorial? Nós fizemos, no mês de agosto, a jornada técnica da sericicultura aqui em Bastos. Nós tivemos a presença do secretário do Francisco Jardim e ele fez o compromisso de que seria importante formarmos a câmara setorial da seda do Estado de São Paulo para, novamente, levantar a cadeia produtiva, ver realmente as possibilidades e 117
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levar para os órgãos públicos as potencialidades e como nós podemos estar trabalhando. Eu gostaria, então, de iniciar as atividades, porém, agradecer a presença do pessoal, a Apta de Gália, o pessoal da prefeitura, Toninho, seu Miguel produtor, Sérgio, ele é da USP de São Carlos, nós temos parceiros da nossa empresa, o pessoal da Unesp de Tupã, Biossistema, nós temos a Apta de Adamantina, está fazendo composição aqui, nós temos o coordenador de teste também, que é um parceiro nosso e presidente da Abraseda, nós temos a Renata Amano, o Júlio, o Simões, não sei se ele está por aqui, ele estaria representando o secretário de Cultura, agronomia da FAE, o Júnior Taneguti, presidente da Bratac, nós temos um parceiro aqui que é o engenheiro ambiental, Flávio, estudioso da parte hídrica, também vai estudar a relação de crédito de carbono. Nós teríamos um parceiro do Banco do Brasil que fez uma apresentação de manhã, mas ele, nessa oportunidade, não vai estar aqui. Mas a intenção é juntar várias pessoas do elo e estar discutindo aqui. Bom, para algumas pessoas que já participaram da Jornada Técnica, eu vou ter a liberdade de apresentar um trabalho que foi feito/apresentado já pela
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Renata, na Jornada, falando sobre os desafios e oportunidades da cadeia produtiva para a evolução em comunidades e municípios. Como Mottainai é o evento aqui, a gente vai pincelar de uma forma bem rápida... Em 1940, nós começamos no dia 16 de setembro de 1940, completamos 78 anos. Então, mostrando que nós estamos desde 1940. A Abraseda nasceu e está crescendo, então, também é grande apoiadora da nossa atividade. Para dizer, a sericicultura no estado de São Paulo, como no Brasil, fazendo só um cenário aqui, nós temos só no corporativo. E por que a gente está trabalhando, pleiteando a câmara setorial da seda no estado de São Paulo? Desde 2011 até 2017, nós conseguimos uma evolução de quase 250% da produção comparado com outros estados, então nós tivemos alguns percalços, porém, apesar de todas as dificuldades, a gente conseguiu um cenário muito bom para que a gente conseguisse evoluir ao longo dos anos. Os assentamentos do ITESP contribuíram bastante, e região que estava realmente em decadência, a gente está voltando novamente a reerguer. Então a gente vê um grande potencial para estar trabalhando. Então, aqui em números, como é essa evolução: COMPARATIVOS - PRODUÇÃO DE CASULOS VERDES TOTAIS ANO-ANO
A gente visualiza que nós somos pequenos, o Paraná é o maior produtor, porém, São Paulo tem uma evolução bem sistêmica. E, bom, o foco seria a sericicultura como agente de transformação e econômica e social. Então aproveitando o slide que a Renata tinha apresentado, a grande pergunta que vem é a seguinte: a atividade é economicamente viável? Fazendo uma visualização, hoje, nós precisamos de uma estrutura mínima de
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2,4 hectares que vai estar produzindo 4 caixas, com duas pessoas. Então esse é o novo perfil e nós podemos melhorar muito mais. A realidade que nós temos aqui em Bastos é muito mais superior a esse número. Bom, o que significa isso? Uma área pequena, uma atividade familiar, uma pequena propriedade que tenha um casal, é possível fazer 9 criadas ao ano. Qualquer literatura vai dizer que no passado fazia sete criadas. Aqui em Bastos, nós conseguimos fazer onze criadas ao ano, né? O plantio, o período seria abril a junho, nós teríamos a primeira criada, depois o plantio de seis a oito meses. No passado, nós conseguiríamos fazer isso só após um ano de atividade de plantio, então a gente conseguiu reduzir pela metade. A produção plena que é 18 a 24 meses, no passado, demorava quase 2 anos ou até mais, então quer dizer que a gente está conseguindo por um ano e meio. A produtividade é 1.300 kg por hectare é um potencial do produtor modelo. A gente tem várias referências e a gente tem uma produtividade de 1.300 kg/ ha. Aqui no estado de São Paulo, não está chegando nesse número, porém, a gente conseguiria estar chegando com a participação dos pesquisadores, dos alunos, um trabalho em cima disso aqui. Variedades: Tailandesa e Taichi. São as variedades que foram melhoradas com a genética da Bratac, parceria com outros colaboradores. Não tem nenhuma Embrapa ou outra instituição trabalhando. Acho que teria espaço para a gente trabalhar nisso daqui. Investimento inicial: R$ 58.800,00. Porém, depois a gente vai explicar isso daqui: isso vai depender de cada produtor, pode começar com o que ele tem, de repente ele tem recursos na propriedade e não precisaria fazer investimento. E aí qual seria o retorno sobre o investimento? Uma média de dois a três 120
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anos. E qual seria a rentabilidade? Para o pequeno produtor, isso aqui não é para um grande empresário, mas nada impediria de fazer, R$ 52.000,00. E a unidade de referência? Eu falei que no Paraná tem algumas unidades de referência com produção de 1.300 kg a mais, teria a possibilidade até de R$ 72.000,00. Para uma agricultura familiar seria altamente rentável. Em números, imaginando que o produtor em média consiga tirar 65 kg por caixa, R$ 20,00 num padrão, nós teríamos aqui um produtor com 4 caixas, teria, com 9 criadas, um retorno de R$ 38.000,00. Mas se ele conseguir aumentar a unidade de produção por hectare, de 4 para 5, que é perfeitamente possível, nós estaríamos aumentando para quase R$ 50.000,00, uma diferença de R$ 10.000,00, por conta do aumento de produção por área. E vocês veem, qual é o maior custo de todo esse trabalho? Pela atividade, não é muito pesado e teria um rendimento substancial e ainda o incremento muito grande só fazendo o aumento da produtividade. O que significa isso em números para a atividade? Isso aqui significa o seguinte: fazendo uma correlação de que nós temos um produtor modelo de referência, ele está sendo trabalhado em conjunto com a EMATER, ele está tendo uma produção de 1.700 kg/há e essa produção significa R$ 33.000,00. Seria igual produzir a 240 arrobas de carne bovina, 30 mil litros de leite (é muito leite, dá para fazer muito queijo e haja pasto), 55 toneladas de mandioca (mas é fácil, porém, as terras têm que trabalhadas), também 2.123 caixas de laranja, ou 553 sacas de soja. Então você vê que a relação de rentabilidade é, comparativamente, "nossa será que dá tudo isso?", ou 77 sacas de café ou 1161,8 sacas de milho. Então você vê que uma relação para gente estar produzindo 1.700 kg, se colocar em números, é meio duvidoso, né? Mas são números, fontes feitas pela EMATER 121
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em 28 de junho; talvez a mandioca, leite tenham mudado, mas você vê que a relação é isso aqui. É, realmente, ao olhar crítico, talvez seja vantajoso.
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Uma rentabilidade média por safra... A gente teria a melhoria contínua para aumento da produtividade, como? -Fazendo análise e correção do solo: a gente tem conversado lá com o ITESP, semana passada a gente conversou, e eles estão fazendo um trabalho em conjunto com a Bratac para fazer isso daqui; - A adubação química orgânica: a gente já fez um trabalho com a Unesp de como fazer essa melhoria, então você vê que as conversas já estão sendo feitas e na prática também; - Manejo de poda e colheita: eu sei, porque o Porto já fez vários trabalhos nessa área, mas a gente precisaria estar trabalhando mais sobre esse tema aqui; - Fortalecimento das associações dos sericicultores: então tudo isso, a gente que precisaria fazer esse fortalecimento. - E uma maior representatividade do setor. Por que? Ora, a atividade gera, após o segundo ano, uma renda de mais de R$ 50.000,00, então se a gente trabalhar, no estado de SP, a gente tem uma produção mais baixa comparada com a produção modelo, se fizéssemos um trabalho de análise e correção do 123
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solo, trabalhasse mais na adubação, trabalhasse mais em manejo, genética da amoreira, que nós desenvolvemos, mas poderíamos fazer muito mais trabalhos com esse material, nós teríamos uma maior representatividade do setor, e aí a gente teria a capacidade de formação da câmara setorial. Alguém vai perguntar: "você falou em números, mas o que significa isso?" E eu falei aqueles R$ 58.000,00, a gente tem, mas isso pode ser um cenário diferente para cada produtor. Por que? Temos preparo de solo, plantio de amora, terraplanagem, são o início para fazer acontecer a atividade. Muitos produtores não terão o custo em cima disso, porque ele já tem uma estrutura montada, tem recursos e teria uma diluição em cima desses custos. A questão de terraplanagem, muitas prefeituras entram fazendo a parceria com o produtor, então teria uma redução de custos em cima da terraplanagem, R$ 2.000,00 a menos. Plantio da amora: é mão de obra familiar, não tem que fazer uma contratação, então já tem uma redução de mão de obra em cima também, já não é mais R$ 2.500,00. Preparo do solo: ele não tem que fazer locação, R$60/R$80 hora/máquina, ele já tem. Então isso daqui tudo poderia ser menos de 50%. Condição do barracão: madeiramento, estrutura metálica, tem muito produtor que tem condições de fazer a própria construção; produtores que são carpinteiros, pedreiros, isso é normal na propriedade rural. Então todos os custos
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estariam diluídos, praticamente, até um custo de metade. Então sem contabilizar o custo de mão de obra, só de materiais. Mecanização é outra etapa para facilitar a questão do manejo. Tudo isso daqui representaria para nós um custo de, aproximadamente, R$ 20.000,00. Imaginamos que o produtor teria condições de fazer esse trabalho com custo menor, a gente poderia dizer que poderia reduzir um terço, então o custo da produção dele e investimento inicial. Outro detalhe seria: como que a sericicultura estaria trabalhando como agente de transformação econômica e social? A gente tem várias agendas, falou-se em economia sustentável, ciclo de retorno de materiais, e aqui nós temos dentro desses 17 objetivos, a sericicultura está inserida em algumas. E quais seriam essas?
Primeiro, a gente tem a atividade "Erradicação da pobreza". Então vamos trabalhar com produtores rurais familiares com baixa renda, a gente poderia possibilitar um aumento de renda para esse pessoal, temos condições... "Fome Zero, Agricultura sustentável", a sericicultura é uma fonte de renda, trabalho para famílias. "Educação de qualidade", como que seria? A sericicultura iria proporcionar o aumento de jovens com habilidades, competências técnicas profissionais, por quê? Pesquisa e inovação estão inseridas nisso daqui.
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Outra, "Igualdade de gênero", tanto homem quanto mulher, qualquer que seja, terá que trabalhar, não tem separação de gênero. "Trabalho decente e crescimento econômico", então a atividade de economia rural e familiar que atinge níveis mais elevados de produtividade, isso é o que nós estamos fazendo: diversificação para o produtor, modernização tecnológica, inovação em setores de mão de obra intensiva. Vocês sabem que o sericicultor tinha um trabalho árduo, não tem mais, tem uma tecnologia voltada para esse pequeno produtor. Outra, nós, temos cidades e comunidades sustentáveis, porque a criação do bicho da seda viabiliza a capacidade de planejamento e gestão dos assentamentos, tornando-os mais participativos. Então, o que nós estamos fazendo nos assentamentos? Produtores rurais, a gente vê que, têm uma forma de fazer o planejamento da propriedade, a gente tem condições levar assistência técnica, gerar conhecimento, renda, é isso que a gente tem feito, e a gente faz um trabalho lá na ITESP, um assentamento, e eles estão ajudando para fazer acontecer mais ainda. A seda é ecológica, então, a gente está falando em Mottainai, em ecologia, recursos, então realmente há conscientização para o desenvolvimento de esti126
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los de vida, harmonia, tem tudo a ver. A "ação contra a mudança global do clima": foi falado aqui no painel da manhã sobre economia sustentável, geração de energia. A fonte é de origem animal, o bicho da seda demanda de áreas de plantio de amoreira, falar em crédito de carbono, teria a possibilidade de trabalhar em cima desse item. E o último seria a "Parceira em prol de metas": a sericicultura é aderente da agenda 2030 da ONU por promover a dignidade humana, contempla mais de 8 objetivos dos 17. Então a gente tem praticamente, mais da metade desse programa da ONU. A sericicultura está inserida nesse meio e a gente teria a possibilidade de fazer muita coisa com relação a esse tema. Algumas das ações previstas nos orçamentos da União e do estado em sinergia com a sericicultura. A gente está trabalhando também com os órgãos da CATI, da prefeitura, e a gente visualiza o seguinte: a gente consegue fazer, além do desenvolvimento regional, a inclusão de agricultores familiares, política de apoio à agricultura familiar voltada para sericicultura (isso aqui é uma coisa que nós precisamos trabalhar na cadeia produtiva), então a gente teria esses passos para fazer. Empreendedorismo e Economia Solidária: já foi falado de manhã esse tema que tem tudo a ver. 127
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Promover ações para o desenvolvimento da Economia Criativa; fomentar, constituir e consolidar empreendimentos econômicos solidários; estruturar empreendimentos econômicos solidários; realizar encontros de economia solidária. Então, o Dr. Graziano comentou alguns itens que acho que tem tudo a ver com o que ele falou. Tudo isso vai dizer o seguinte: a promoção do desenvolvimento ambientalmente sustentável e, aqui, nós temos um representante da engenharia ambiental, engenharia biossistemas, que realmente vai dizer se a gente está fazendo está trabalho e se realmente está dentro dos conceitos. É isso que a gente está buscando aqui. E, promoção de competitividade e atração de investimentos estratégicos, o que é isso? Mais tarde, o Dr. Sérgio vai falar das oportunidades, porque talvez vai dar competividade, a atração de investimentos estratégicos, ele tem uns trabalhos muito interessantes. E tudo isso vai levar ao fortalecimento da indústria têxtil brasileira, fortalecimento da cadeia produtiva da seda, é isso que a gente gostaria de propor para vocês nesse painel, que a gente consiga neste dia expor várias ideias para que a gente consiga, ao final, formar um grupo coeso para que a gente consiga montar e fomentar a câmara setorial da seda. Bom, agora eu passo a palavra, na sequência, eu ia convidar o Carlos Alberto 128
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para poder explicar. Eu sou o palestrante e coordenador dos trabalhos aqui.
Eu gostaria de convidar o Carlos Alberto para fazer a explanação do que tem sido feito nos assentamentos, como o ITESP tem trabalhado, para que a gente consiga fomentar mais a sericicultura e como a gente poderia melhorar e agregar renda ao produtor.
Carlos Alberto da Silva - ITESP Eu não vou utilizar nenhum recurso visual. Primeiro, boa tarde a todos. Em nome do diretor executivo da Fundação ITESP, Sérgio Maranhão, venho trazer um abraço forte a todos. Muito bom encontrar, chegando aqui, a Renata, encontra-los novamente. Temos avançado bastante nas discussões junto a Bratac, porque não é de hoje que é um grande parceiro da agricultura familiar, não só dos assentamentos, curais, principalmente os estaduais, os quais a Fundação ITESP detém hoje a posse dos assentamentos, foi criado justamente para isso, mas também os assentamentos federais, o qual o Incra, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, é respon129
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sável, a Bratac também tem sido um grande parceiro no desenvolvimento e na geração de renda para os agricultores familiares. Nós temos hoje, Pontal do Paranapanema, aqui na região oeste do estado, dados de caderneta de campo que fazem com que a sericicultura esteja hoje entre as 10 atividades que mais gera renda para a agricultura familiar. Nós temos ainda dados dessa mesma caderneta de campo que diz que a safra 16/ 17 foi responsável por cerca de 1 milhão de reais nos assentamentos onde tem sericicultores. Nós temos hoje cerca de 70 produtores rurais, nos 130, mais ou menos, assentamentos que nós temos, de assentamentos federias e assentamentos estaduais. E a pergunta que a gente acabou se fazendo a uns dias atrás numa reunião em Prudente é: como é que a gente vai fomentar ainda mais a sericicultura como atividade geradora de renda e, por que não como uma das principais geradoras de renda dentro de assentamentos rurais. E aí o Wilian nos traz a oportunidade e faz o convite seguinte "Carlos, vamos para lá, para Bastos, no Bunkyo Rural, nós vamos ter painéis para discutir a sericicultura, e aí a gente vai, junto com outras entidades, ver se a gente consegue, no esforço, criar a câmara setorial de sericicultura como já existe a câmara setorial de outras atividades".
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Para vocês terem uma ideia, em Mirante de Paranapanema, hoje a capital da reforma agrária, tem o maior número de assentamentos rurais do Brasil, são 38 assentamentos rurais em Mirante do Paranapanema. Lá ainda só tem 29 produtores fazendo sericicultura e o potencial disso é que lá nós temos 1.400 famílias nesses 38 assentamentos. E isso nós estamos falando só do universo de Mirante do Paranapanema, então nós temos hoje lá em Mirante 18 assentamentos com 29 produtores e a produção anual deles foi 27.840 kg de casulos por ano, com uma receita de R$ 556.800. Ou seja, em Mirante do Paranapanema está concentrada a maior renda proveniente da sericicultura. Eu falei de R$ 1.100.000,00 e Mirante deu R$ 556.800. Temos também, em Euclides da Cunha Paulista, 14 produtores. Mas nós temos lá o maior produtor, o maior sericicultor em assentamento. E eu, como não conhecia da atividade, fui perguntar para ele, o Sr. Domingos, "Sr. Domingos, quantos grãos de larvas o senhor pega para o cultivo?", e ele falou "200 gramas", e eu perguntei "E dá trabalho isso?", e ele respondeu "Muito, dá muito trabalho, 200 gramas de larva para gente cultivar aqui dá muito trabalho. Mas é o que vem tocando a minha propriedade e vem ajudando a minha família, porque faz trinta anos que eu sou sericicultor, faz trintas anos que eu tenho essa parceria com a Bratac e eu gostaria muito (ele mora no assentamento
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Porto Letícia, na beira do rio Paranapanema, pertinho de Rosana, no município divisa com Rosana), eu gostaria muito de ver, dentro do assentamento, muito mais barracões, porque fez a diferença na minha vida". E nós temos aqui as fotos de como é a casa dele hoje, como ele cria a família dele. E disse "consegui comprar hoje a casa para os meus filhos na cidade, estou conseguindo dar estudo aos meus filhos, um deles está fazendo Agronomia, e isso tudo, uma grande parcela disso, vem da sericicultura". Tem algumas dificuldades apontadas, além da empresa, os produtores apontam algumas dificuldades. E a gente conseguiu levantar lá, o Wilian, a Renata, através de diagnósticos, que a estabilidade do preço, da moeda (em relação ao câmbio) que se paga a sericicultura, diz que é um dificultador para o crescimento da atividade. Será que é? Não né. Mas eles levantaram isso como principais dificuldades, esse foi um diagnóstico feito pelos principais produtores. A carga de trabalho muito grande, dizem que a carga de trabalho para a sericicultura é grande. O produto final é muito perecível. Urgência no escoamento da produção. Falta de opção para a comercialização, ou seja, sobra ataque, a gente vai perder mais uma empresa. E o clima, eles dizem que é impróprio por isso a produtividade fica ainda baixa. Eu não sei se é isso realmente, e a gente tem que estudar um pouco mais a 132
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fundo, e a pesquisa apta está aí para nos ajudar, não se se isso é um dos grandes dificultadores, mas nós temos um campo maravilhoso para o aumento da sericicultura, como eu já falei, nós temos hoje na Fundação ITESP 7.200 famílias, 7.200 propriedades que nós atendemos na Coordenação Regional Oeste, com 10 escritórios da Fundação ITESP, com 200 servidores, nós temos ai uma ampla área para difusão e para o aumento da sericicultura. O que nós trazemos aqui, enquanto Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo, é a disponibilidade, é a vontade de aumentar a cultura que cada vez vem gerando mais renda para os produtores. Estamos à disposição. Eu só trouxe parâmetros, um panorama muito simples do que é que nós temos, o que está sendo implantado em Pontal e a margem que nós temos de implantação. Então por isso que nós somos parceiros, eu, o Wilian, a Renata estamos discutindo o campo com muita reponsabilidade. Dia 4 (mudamos a reunião) vamos ter uma reunião em Euclides da Cunha com o pessoal do Paraná, e o Júnior falou assim "E agora, Carlinhos, nós estamos discutindo lá em Bastos e vamos discutir com o pessoal do Paraná também?". Também, porque em Euclides da Cunha, em Rosana, quem pega é o posto lá, em Terra Rica, então a gente está afinando a viola para a gente tocar e fazer um show melhor, e o grande objetivo da Fundação ITESP em estar discutindo isso, estar vindo como parceiro é aumentar a renda dos agricultores familiares que nós trabalhamos diariamente. Então essa é a contribuição da Fundação e nós estamos aberto à discussão e inseridos na discussão da melhoria da produtividade, na melhoria da cadeia produtiva da sericicultura. E um dos passos que a gente está inserindo e queremos fazer parte é da câmara setorial de sericicultura. Muito obrigado.
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Assessoria e Consultoria Contรกbil e Fiscal
KENJI KIYOHARA
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PRODUÇÃO DE CAFÉ ROBUSTA NA NOVA ALTA PAULISTA Palestrante: Fernando Takayuki Nakayama Doutor em Agronomia pela UNESP Pesquisador Científico da APTA
A produção de Café Robusta é viável nesta região, e pode ser uma opção para a agricultura familiar. Eu vou falar porque pela própria característica de condução, da colheita dele, é uma cultura adequada para os moldes familiares. Mas antes de começar a falar de café, o Serginho já me apresentou, eu sou da APTA, estou vendo que tem outros colegas da APTA aqui. Só relembrar a missão nossa das escolas regionais, da APTA regional, que é fazer pesquisa, transferência de conhecimento e atender as demandas regionais. A nossa unidade fica sediada em Adamantina, é o polo Alta Paulista. É uma região que vai de ponteio até Panorama e entre o Rio Feio e o Rio do Peixe. Então a região de Bastos, a região aqui de Tupã está bem no centro da nossa região de atuação, essa região é a região da nossa unidade da APTA de Adamantina. Para vocês terem uma ideia, tem 33 municípios, Dracena, Tupã e uma pequena parte da IDR de Marília. É por isso que eu estou apresentando essa opção com base nos resultados que a gente obteve nessa região. Só para vocês terem uma ideia do raio x da região, o pessoal do IA levanta diariamente isso, mas é uma região muito diversificada. Alta Paulista foi, sobretudo, colonizada por imigrantes, nós da 135
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comunidade japonesa, foi uma das comunidades que mais atuaram em Alta Paulista nas décadas de 40, 50 e até 60, e muitos italianos, pessoal do leste europeu, então é uma região que a imigração teve uma atuação direta, e com isso quando ela foi colonizada foi uma região formada por pequenas propriedades. Então, se você fizer uma analogia hoje de como se encontra depois de três gerações herdando essas propriedades a gente tem um panorama de uma região que é formada por muitos proprietários rurais, mas com poucas opções para esses produtores. Antes de dar sequência, eu queria fazer uma homenagem, eu nunca fiz isso, mas uma homenagem para esse senhor aqui, por quê? Quando o Serginho me convidou e falou do propósito do Bunkyo Rural, eu fiquei refletindo em casa e resolvi escolher esse senhor para falar um pouquinho dele antes de entrar no café. Tá aqui: Mottainai, Bunkyo Rural, uso racional de recursos, e todo mundo falando de diversificação, tentar, de alguma forma, minimizar esses períodos de crise diversificando a produção rural. Esse senhor se chama Luís Ota, eu devo a minha vida a ele, por que ele é meu avô, ele é um senhor que já morreu, já está falecido. Mas eu convivi a minha infância toda com esse senhor e hoje eu tenho que confessar que ele estava muito à frente do tempo em que ele viveu. Ele chegou a Lucélia em 1945, 1944, estava abrindo Lucélia, a linha do trem estava chegando à região, estava em Tupã. Em Lucélia, Adamantina ela chegou em 1949, 1950. E quando esse senhor chegou, assim como vários outros imigrantes, ele não tinha teto, ele chegou para trabalhar e a única coisa que ele tinha era vontade de trabalhar. Trabalhou como arrendatário por alguns anos, claro que fez um grupinho de amigos, para arrendar a propriedade, plantar arroz e plantar milho. E com o dinheirinho que ele ganhou com esse arrendamento ele conseguiu comprar dois alqueires de terra, cinco hectares. Com esses dois alqueires de terra, e quando eu falo que ele estava à frente do tempo dele, ele pensou, ele fez um planejamento para explorar esses 2 alqueires de terra de forma que ele aproveitasse todos os recursos possíveis desses 2 alqueires de terra. Para onde ele foi? Fruticultura. Plantou poncã, murkot, manga, caqui, banana, mandioca, abacate, entre algumas criações também, porquinho, galinha. E porque que ele diversificou? Meu "ditchan", ele sempre teve um dinheirinho guardado, e nunca entrou num banco, ele guardava o que ele conseguia ganhar, com essas ferramentas que eu resolvi colocar aqui, ele tinha uma tesou136
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rinha de cortar poncã, de fruta, caqui. Ele tinha carriola, caixa, enxada, um animal de tração e uma perua Kombi que ele fazia as entregas todos os dias ao mercado da cidade. Com isso, ele fez um planejamento de vida onde ele não se matava de trabalhar. De manhã cedo ele ia fazer entrega, passava na quitanda 1, quitanda 2, mercado 3, mercado 4 com 20 ou 30 caixas de poncã, fruta, caqui, mandioca. Voltava para casa, almoçava, deitava na rede uma hora, depois que o Sol baixava um pouco ele ia para a roça, com isso ele tratava da criação, colhia a entrega do dia seguinte e descansava. Sempre atuava na colônia, Bunkyo, foi professor de judô, teve como hobby fazer as pesquisas dele, tentar colher fora de época, e teve uma qualidade de vida que eu confesso que hoje eu não tenho. Eu estou trabalhando praticamente 22 horas do dia, minha esposa reclama bastante disso, mas eu admiro ele e nada mais nobre do que fazer uma homenagem a ele nesse evento do Bunkyo de agricultura familiar. Ele mandou 4 filhos para a faculdade, hoje tem 4 netos que são médicos, tem a gente que é agrônomo, e fez a vida e instalou a família dignamente diversificando a propriedade. Desculpe tomar um pouco do tempo de vocês mas eu não tive como não fazer essa homenagem ao meu "ditchan". Nesse sentido, eu trouxe para vocês hoje uma cadeia produtiva, que é o café robusta, pensando a diversificação e eu vou falar o porquê. Nós estamos em uma região onde eu costumo dizer sempre, a Alta Paulista é uma região que tem clima ótimo, topografia maravilhosa, temperatura, precipitação nota 10. Eu não entendo porque aqui em Alta Paulista nada dá certo, eu falo sempre isso com o Serginho. A gente rodou alguns países no mundo, nós somos muito privilegiados, nossa terra de origem, lá no Japão, quantas catástrofes não acontecem lá. Outro dia, eu perguntei pro meu "ditchan", meu "ditchan" é japonês, não esse, outro "ditchan". Eu perguntei: Ditchan, tem vontade de voltar pro Japão? Ele falou: não, Japão não, para passear é bom, mas para morar nada é melhor que aqui. E a gente entende o por que. Tudo isso aqui ó, é nota 10, nós estamos sediados no Estado de São Paulo, o Estado mais rico da federação, temos rodovias, a logística é fantástica, e nada dá certo na região, agora por que será? Nós estamos saindo de uma época de uma cadeia muito atuante, que é a cana de açúcar, que tomou conta desde a década de 70 e essa cana está passando por um período bastante complicado onde a gente tá assistindo aí várias unidades 137
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transformadoras fechando, em recuperação judicial, os proprietários não estão recebendo.
Então vamos lá, vamos falar um pouquinho do por que a gente trouxe o café como proposta. O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, são dados da Colab que eu peguei hoje, a Colab soltou os resultados de 2018 ontem, foram publicados e esse ano nós vamos bater o recorde de produção de café no mundo. Nós nunca produzimos 60 milhões de sacas e esse ano nós vamos chegar
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nessa marca. Apesar de ter esse período de seca, um período difícil, mas as regiões cafeeiras foram de certa forma privilegiada porque conseguiram, quando precisou, um clima favorável para ter essa alta de produção. Então hoje, no Brasil, a gente produz, para ter uma ideia, 45 milhões de sacas de café arábica e 15 milhões de sacas de café robusta, para vocês terem uma ideia, eu gostaria que vocês começassem agora a diferenciar o que é arábica e o que é robusta. Teve um senhor, como se chama aquele senhor que estava aqui? Ele falou 'por que vai falar de café? Eu não estou entendendo!' aí eu expliquei para ele, ele falou 'tá doido falar de café', aí eu tive que explicar para ele o porquê da proposta do café. Se for pensar assim, e pensar que essa região toda foi alicerçada na cafeicultura e hoje não existe mais café aqui, que todo mundo acha loucura trazer o café de volta. A explicação vem porque o centro de origem desse café, o Cafe robusta, o centro de origem do café robusta é a África Equatorial, em duas linhagens
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diferentes, tem o conilon e tem o robusta. O conilon vem da Guiné equatorial e o robusta vem do Congo, dois países de alta temperatura e altitude baixa. O grupo robusta veio de uma região do Congo em que a altitude é 428 metros. Serginho, quanto tem Bastos de altitude? Bastos tem 420 metros, e o centro de origem do café robusta 428 metros. Qual é a temperatura média de Bastos? Adamantina nós temos uma temperatura média de 22,5 graus, 23 graus, olha a temperatura média do café robusta: 24 graus. Quando a gente pensa em arábica, centro de origem do café arábica: 1750 metros de altitude, temperatura média ideal do centro de origem: 19 graus celsius. Então, muita gente pergunta para mim assim: será que foi um erro ter plantado café arábica aqui? Se a gente tivesse um estudo desses lá na década de 50, eu diria que foi um erro. Seria muito mais negócio ter entrado no café robusta. E é com esse propósito que a pesquisa, na verdade, justifica a gente começar um trabalho, eu sempre falo assim: O cientista tem o direito de ser um pouco doido né. A APTA, por exemplo, trabalha de duas formas, uma é atendendo problemas de cadeias produtivas já existentes e que passam por problemas, então a gente tenta solucionar. E a outra forma de trabalhar é tentando, de alguma forma, oferecer novas opções para o produtor. E quando a gente se depara com esses dados aqui, a gente tem uma segurança de que justifica fazer pesquisa para oferecer isso como cadeia uma produtiva. Agora se o senhor chegar pra mim e perguntar: 'será que é um bom negócio criar pinguim aqui em Bastos?', o Serginho cria galinha né, pinguim dá certo Serginho? Então é esse tipo de questionamento que a gente tem que fazer, 140
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quando a gente se depara com isso aqui não é loucura, vamos tentar oferecer o robusta como uma nova opção. Então a primeira coisa que é preciso fazer é o zoneamento, que é destacar as regiões onde o café pode sim ser uma opção. Então foi feito esse trabalho, o IAC fez esse trabalho em 2003, sobre riscos de geada. Geada é um problema sério para esse café, e destacou, então, regiões onde seria possível o cultivo desse café robusta. Olha aí, todo o oeste paulista, esse trabalho foi feito em 2008, destacando a região apta para cultivar robusta, embasada em condições climáticas. Então toda a região verde do Estado de São Paulo pode ser cultivado esse café, tem solo, tem altitude, tem clima, e pode ser cultivado esse café. E o outro grande propósito que justifica a gente oferecer isso para o produtor é isso aqui: São Paulo é o maior consumidor de café do Brasil. Sempre alterna São Paulo e Minas, esse ano vai processar mais café do que Minas Gerais. Claro que Minas produz mais, mas São Paulo é o maior consumidor, as torrefadoras estão em São Paulo. E para café robusta, o café robusta é uma matéria prima que vai 100% no café solúvel, Nescafé. Vai 80% no café de cápsula, que é essas Dolce 141
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Gusto, Nespresso, todos esses cafés, que é a tendência de mercado hoje. Todas as solubilizadoras estão num raio de 200, 300 km aqui de Bastos. O que justifica eu buscar café lá em Rondônia e trazer para São Paulo para processar? Eu ir lá no Espírito Santo e trazer o café aqui em São Paulo para processar se eu posso produzir café aqui. Eu fiz uma conta, antes de vir para cá, do custo de trazer uma saca de café do Espírito Santo, de Linhares até Adamantina, que é essa empresa que financia esse projeto, quase R$100, com essa tabela de frete mínimo, então, deve ter passado de R$100 entre frete e tributação, ICM, tributo, para trazer esse café. Então se eu pago R$400 numa saca de café lá ela chega aqui a R$500, e a indústria precisa desse café, então isso nos ampara e nos dá mais segurança para oferecer esse produto para o produtor paulista, a gente tem clima, relevo, altitude, o mercado consumidor está todo aqui, então porque tem que trazer de fora? Olha aí: Tupã, Adamantina, pertinho aqui de… vocês. Catanduva tem a Cocam, Araras, que é a mais longe, tem a Nestlé, aqui em Londrina tem a Café Cacique, Café Iguaçu, que está aqui no norte do Paraná também. Então está tudo muito próximo da nossa região que é o mercado consumidor. E a tendência de mercado? A tendência mundial, de demanda de café é em cima de robusta. Para vocês terem uma ideia, nos últimos 6 anos, vamos falar de China. Chinês começou a tomar café, todo mundo sabe que o mercado chinês é bastante grande. E a China triplicou o consumo de café nos últimos 6 anos. Lá na Inglaterra tem uma estimativa que em 2021, Inglês toma o quê? Chá, mas em 2021 o café vai ultrapassar o chá. Eu estive no Japão no final do ano passado, muitos de vocês já estiveram lá também, tem aquelas geladeiras espalhadas pelo Japão inteiro, nos "Konbinis" - lojas de conveniência tem um painel daquele só com bebidas à base de café, e eu falei para o Serginho, esse café ainda não entrou lá, lá ainda é o tipo Americano, aquele café fraquinho e tal.
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A hora que quando o café concentrado entrar no Japão aumentará mais ainda a demanda por essa bebida, então eu costumo dizer o seguinte, não é loucura você oferecer o café como opção de renda, por quê? A gente não fica na mão de um comprador só. Não sei se vocês estão entendendo o que eu quero dizer. Eu tenho receio de algumas cadeias produtivas em que a gente depende somente de um comprador. Eu não quero criticar cadeia x, cadeia y, mas tem vários exemplos. Se eu não entregar para ele eu vou entregar para quem? Café não, café é a segunda bebida mais consumida do mundo atrás da água. Então é um respaldo bem interessante. Eu vou passando, não dá para ver foto, mas só para vocês terem uma ideia, aqui tem várias vantagens do café robusta, é um café com custo de produção menor, porque o robusta dá menos pragas, menos doenças do que o café arábica, ele produz na média 30% a mais do que o café arábica. Pulverização para ferrugem não precisa fazer, pulverização para cercoide muito pouco, nematoide ele é tolerante. A Alta Paulista parou de plantar café por causa de nematoide, nematoide não deixa formar café. Esse é tranquilo, por quê? Tem mais raízes, o sistema radicular do café robusta é desenvolvido, aproveitamento de fertilizante dele, a conversão de fertilizante dele é melhor do que a do arábica, então o custo de produção dele se torna bem menor. São várias vantagens. E quais são as desvantagens? Tem desvantagens? A primeira delas: mão de obra. O café robusta ainda não tem colheita mecanizada, tem semimecanizada e nós acreditamos que em breve terá mecanizada, só que hoje a realidade ainda é manual. É por isso que eu volto na agricultura familiar, como uma opção para agricultura familiar. Se a gente pegar os casos de sucesso na produção de café robusta no mundo, que é Vietnã, Malásia, Índia e alguns países africanos, os casos de sucesso são de agricultura familiar, onde o produtor tem 1 ou 2 hectares e própria família conduz. Outra dificuldade: o café robusta não gosta de frio, então se vier alguém aqui lá da região de Marília e falar 'eu quero plantar café robusta' não é que não dá, mas você tem uma condição melhor para o café arábica do que nós aqui em baixo, nós estamos a 400 metros. Esse projeto que eu estou apresentando para vocês esse ano foi selecionado pelo coordenador da APTA e nós apresentamos ele lá na Agrishow em Ribeirão Preto. Foi o projeto escolhido da secretaria para apresentar na Agrishow, e nós fomos lá, levei esse circo aí todo, máquina, degustação, muda, vaso, painel, 143
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a gente ficou lá, 5 dias de feira e vinha os caras lá de Franca e 'Fernando, isso aí vai bem lá em Franca? Falei, gente vocês estão no Arábica, Franca produz uma excelente qualidade de bebida no Arábica, não mexe com isso não. Nós estamos mexendo com robusta, mas lá para as regiões apropriadas. Baixa altitude, temperatura quente, quase não dá frio, lugar alto é Arábica. E é muito importante falar, eu não quero que vocês entendam que o robusta é concorrente do arábica. O café robusta, na verdade, ele valoriza o arábica, por que o perfume e o aroma é do arábica. O robusta não tem sabor, quanto mais neutro ele for melhor ele é, ele não pode estragar o arábica, ele sempre está junto com o arábica em várias porcentagens de mistura diferentes, porque, o aroma, o cheiro, o perfume é do arábica. Então eu tenho muito cuidado para não criar ciúmes no pessoal do arábica, os arabistas morrem de ciúmes. É que hoje ele complementa e melhora a qualidade do café arábica, e quem quebrou esse paradigma, até pouco tempo atrás a gente andava em São Paulo nas cafeterias, tinha uma placa bem grande lá '100% arábica', por quê? O Conilon era tido como uma bebida que estragava o arábica, uma bebida de baixa qualidade, aí ele ia todo para o café solúvel. Até que chegou uma empresa Suíça, chamada Nestlé, que em 2008 lançou um blend, uma cápsula de Nespresso chamado Kazaar, declarando que a escala de força desse Kazaar é 12, é o máximo da Nestlé, declarando que era a bebida mais forte e nobre da Nestlé, com 80% de robusta, e publicou isso. Aí todo mundo falou 'a Nestlé falando que o café 80% robusta é bom né', então isso foi uma quebra de paradigma, depois todas as empresas menores também começaram a utilizar isso na matéria prima e a gente vê que o motivo pelo qual eles incluem o robusta no blend é para o café ficar mais encorpado, mais cremoso, o teor de sólido solúvel no robusta é bem maior e ele tem uma característica de dar uma vida de prateleira melhor pro café arábica. O arábica oxida muito fácil, então quando você torra o café ou quando você compra o café no supermercado e abre o pacote em uma semana acabou o cheiro, acabou o perfume, porque 144
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oxidou, entrou ar, acabou a qualidade. O robusta não, quando você faz um blend e moe junto, ele melhora a vida de prateleira do arábica. Então vou deixar isso muito claro para ninguém achar que ele é concorrente ou que ele vai atrapalhar a cadeia produtiva do café arábica, não, ele está aumentando o consumo sim, por que a tendência da bebida a nível mundial é embasado em produtos à base de café robusta. Se o chinês começar a tomar café ele não vai tomar 100% arábica, é caro, e ele vai tomar o Nescafé solúvel. É claro que, com o passar do tempo, ele vai querer coisa melhor, querer melhorar a bebida, e aí sim entra espresso, entra cápsula, entra outras bebidas melhores. Mas a base, igual o Japão também, a bebida que se consome lá no Japão é à base de café robusta, não é arábica, tem o arábica para dar o aroma. Então, em cima de todos esses motivos nós fomos lá para o Espírito Santo, e andamos, fizemos uma comitiva do IAC e andamos em várias regiões do Espírito Santo porque lá é caso de sucesso. O Espírito Santo é um estado em que 80% do setor agrícola do Estado é alicerçado no café, sobretudo café conilon, e
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o maior produtor de café conilon a nível mundial, Espírito Santo produz 15% de café robusta em nível do país, e lá esse café não está na mão de grandes empreendedores. Linhares, Vila Velha, Colatina, são cidades colonizadas por imigrantes também, principalmente italianos, onde eles tem dois, três, quatro alqueires de café conduzidos a partir de agricultura familiar, isso deu bastante força para o estado de Espírito Santo. Eu fui num congresso lá apresentar um trabalho, e para vocês terem uma ideia da importância da cafeicultura no estado, quem abriu o evento foi o governador do estado de Espírito Santo. Eu entrei no auditório para falar de café lá no Espírito Santo e tinha quase duas mil pessoas para escutar. Aí outro dia eu dei essa mesma fala lá na minha cidade, eu sou de Lucélia, que é uma cidade pertinho daqui, o secretário de cultura me ligou e disse 'Taka, você pode dar uma palestra aqui sobre café' , 'Posso né, ainda mais na minha cidade, vai ser uma honra', então foi lá na câmara municipal, convidou todos os produtores, eu já desconfiava, acho que não vai dar muita gente, café o pessoal tem trauma. Cheguei lá e sabe quantas pessoas tinha para me escutar?
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Uma, um produtor. Então a gente vê que quando se fala em café, nós aqui da região, principalmente os mais antigos que já sentiram o drama de produzir café, ele sai correndo, igual o senhor que estava aqui, porque ele sabe o que foi o café. Aí depois que falamos de todas essas características ele começa a perceber que é embasado em conhecimento, embasado em pesquisa. Para vocês terem uma ideia, foram 10 anos de pesquisa, resumindo, nós trouxemos 20 clones do Espírito Santo, os melhores, em 2008 nós fomos lá, compramos esses clones e trouxemos para São Paulo. Até eu agradeço sempre o Incaper, que é o instituto capixaba de pesquisa, porque eles não esconderam nada de nós, eles cederam todo o material sem qualquer ciúme, nada. E desses 20 materiais genéticos que a gente trouxe, plantamos aqui em Adamantina estava indo tudo muito bem, depois de 3 anos, quando conseguimos formar a lavoura de café em Adamantina. Eu falei 'descobrimos a América, esse negócio é bom demais'. No ano seguinte, no ano de colheita, 2012, olha o que aconteceu, deu geada em Adamantina, queimou todo o café, só que dos 20 materiais que vieram, 4 materiais resistiram à geada, então isso para o produtor que estava investindo, para o empresário que estava investindo na pesquisa, eles desanimaram. Mas para nós da pesquisa, quando eu vi que 4 materiais resistiram à geada, tem uma solução,
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é em cima desses 4 que nós vamos trabalhar. Foi o que a gente fez, a pesquisa selecionou esses clones e a partir de 2012 nós selecionamos esses materiais e começamos a cruzar com o robusta do IAC, que é aquele cavalo que faz porta enxerto para o café arábica. O robusta é diferente do café arábica, o arábica não precisa de pólem de outra planta para cruzar, antes da abertura da flor, antes já ocorre a polinização. O robusta não, precisa da florada junto para um material cruzar com outro. Se plantar um pé de café robusta sozinho aqui não vinga um café, ele floresce mas não poliniza, a gente chama de alógama, quando autopoliniza é autógama, se tiver um vaso de arábica aqui ele vai produzir, robusta não. Então, precisa dessa combinação, por isso que nós selecionamos 4 materiais e cruzou entre eles mais os de São Paulo e esses 5 clones, 2 de São Paulo nós usamos, nós coletamos sementes das melhores plantas e formamos uma população de material cruzado, selecionado através desse projeto, e nesse material que está plantado em Adamantina apareceu uma planta muito produtiva e adaptável, tanto é que em 2016 deu geada de novo, formou sal grosso em cima da lasca da cerca e não teve problema, nenhum problema com o café, porque são materiais que já foram selecionados com sangue que aguenta frio, claro que a gente recomenda que se coloque quebra-vento, proteção, todos os procedimentos para que tenha sucesso, se não tiver quebra-vento ele judia mesmo. Conclusão, esses materiais que estão sendo conduzidos agora vai ser lançado a partir de 2020 um clone da APTA através dessa seleção de plantas, um clone nosso agora. Por que a gente conduz três anos de pesquisa pelo menos? Para ter três colheitas, nós marcamos as plantas. Então a gente começa a colher esse ano, esse ano tá bom, nota 10 a planta, tem vigor, tem produção, uniformidade, maturação, peneira, todos esses critérios para classificar. Ano que vem, vamos ver se continua bom, e aí a gente vai fazendo essa seleção. Como ela é uma planta clonal é muito mais fácil de trabalhar com genética, não tem problema de contaminação, a gente sabe da origem dela. E o resultado de produção, em Adamantina nós conseguimos chegar ao mesmo patamar dos melhores produtores do Espírito Santo, esse ano teve um material, chamado Ipiranga 501 que produziu 160 sacas de café por hectare, 32 litros de café por planta, ruas de 150 plantas colhidas, pesado planta a planta, média de 32 litros de café por planta. Então é um material muito interessante e que para o ano 148
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que vem, diferente do café arábica que apresenta bienalidade bem acentuada, o robusta não, o robusta produz esse ano e no ano que vem também, no outro ano produz também, ele não tem essa bienalidade. Só que sempre recomendamos irrigação, a única diferença entre o centro de origem e aqui, a altitude é a mesma, a temperatura é a mesma, mas lá no centro de origem chove mais e aqui a média é 1200, 1250 milímetros por ano, então a gente tem que irrigar e o robusta gosta de água. O arábica aguenta bem nos períodos de seca, o robusta tem uma diferença, a folha dele tem mais estômatos e o controle estomático do robusta é muito pouco, então se der vento seco, no mês de agosto ele murcha toda a planta, o arábica aguenta, mas a gente concluiu ai que é uma ótima opção de renda para o produtor, principalmente para o pequeno produtor. A proposta é não pro149
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duzir somente café, é utilizar o café como mais uma opção dentro da diversidade da propriedade, café não é um produto altamente perecível, eu posso armazenar o café lá no paiol, se eu tiver acerola, se eu tiver poncã eu tenho que vender, café não, permite o luxo de secar ele, ensacar e guardar, quando eu precisar de dinheiro e eu quiser vender eu vou lá e vendo. Outra vantagem, o café, a concentração de mão de obra na colheita é em um período que não coincide com a maior parte das atividades de safra na propriedade, a gente colhe o café na entressafra das outras culturas, então é uma ótima opção, principalmente esse café que se adapta muito bem aqui na região.
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DEBATE SOBRE PRODUÇÃO DE OVOS EM BASTOS Coordenador: Sérgio Kenji Kakimoto Mestre em Engenharia de Produção Avicultor e Consultor
José Evandro Morais: Bom, obrigado. Antes de mais nada, é uma honra estar participando desse Bunkyo Rural. Não tenho nem o que falar. A gente que trabalha com agropoedeira, e tem oportunidade de participar, praticamente do berço da tecnologia do setor no país, é muito orgulho. Tenho muita honra mesmo em estar aqui com vocês. Como o Serginho falou, acabei de defender a tese de doutorado, que está relacionada a algumas práticas de bem-estar animal, e diferentes densidades de alojamento das aves, num sistema convencional. Não sei se todo mundo está familiarizado com isso, mas seria galinhas em gaiola. Quantas aves eu coloco dentro de cada gaiola, basicamente, o trabalho é isso. Como tinham muitas dúvidas, cercamos a qualidade de ovos, itens de produção e fizemos o levantamento econômico do trabalho, utilizando também de score de lesão, parte de saúde das aves, no período em que foi executado o trabalho lá no Instituto de Zootecnia. O Serginho nos ajudou muito para viabilizar esse trabalho e nos auxiliou a concluí-lo. Existe um grande debate dentro do bem-estar animal, para que se tire as aves da gaiola. E a gente sabe que nem tudo o que se fala é verdade. O que muda é 151
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o sistema, e cada um tem coisas boas e ruins. Com certeza, o sistema de chão tem coisas boas e ruins. O que muda são as particularidades. Acabamos de visitar uma granja climatizada. Ela não é realidade de muitos produtores ainda, espero que se popularize de certa maneira, porque facilita o manejo e estava bem agradável lá dentro. Vocês perceberam o cheiro de amônia lá dentro? Estava agradável. E outra coisa que não sei se todos perceberam, quem entrou e conhece galinha viu que as aves não se assustaram com a nossa presença. Foi perguntado lá como é o posicionamento da luz na granja né, isso tudo é ambiência. Então as aves não tinham um excedente de luz, estavam em um ambiente confortável e não demonstraram repulsa à nossa presença. Então assim, quando vamos avaliar o bem-estar animal, temos que observar tudo isso. Então eu vou dizer que o sistema é ruim? É perverso? É muito questionável isso. Pelo menos as aves estavam bem de saúde. No nosso trabalho, usamos como modelo o sistema convencional, o mais conhecido, talvez pelo nome piramidal, tem vários nomes, mas é aquele que deriva do sistema californiano. E usamos densidades de alojamento, de 321 cm até 750 cm. Resumindo, colocamos grupos de três até sete aves, com galinhas brancas, ou poedeiras leves. O que observamos? No score de lesão, acho que a parte mais importante de tudo. Avaliamos tudo. Não tinha diferença na qualidade dos ovos. A produtividade, sim, tinha diferença. Se você tem menos aves, a produtividade é menor. Então, quando avaliamos a questão econômica, ela foi melhor por densamento. Mas isso não quer dizer que seja bom. Na hora que pegamos o score de lesão e tiramos uma fotografia da realidade criada no sistema convencional, 98% das aves tinham problemas de pata. Mas que problemas de pata? Calos. Além deles, tínhamos alteração morfológica dos dedos, os dedinhos tortos. Por quê? O sistema tem que ser assim para o ovo descer, então observamos isso em quase todas as aves. Sessenta porcento delas tinham problema de quilha. Por quê? Na hora que elas vão dormir se apoiam no piso, elas vão deitar fazem o mesmo e isso com o tempo, apesar de serem aves leves, apresentaram esse problema. E o que eu achei interessante, isso já uma particularidade. Quando reduzimos o grupo, aumentou a lesão de crista, e também de cloaca. Quando você reduz 152
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muito o grupo, não sei se sabem como a galinha se comporta. Na origem dela, a gente pega grupos de 12 a 15 indivíduos, no ambiente. Então tem o galo, tem um mais jovem, que vai entrar na reposição daquele galo, e as fêmeas, de diferentes idades. As fêmeas não mudam de lugar. Quem vai mudando é o macho, é ele que vai fazer essa troca genética no ambiente. Então a entrada de luz não é intensa, e elas vão ciscar e empoleirar. Então o ambiente tem que ser um pouco mais rico, para evitar esse problema de pata. É importante sabermos tudo isso para repensarmos o piso. Porque o resto do sistema está legal, bem dimensionado, mas o piso teria que realmente, na minha opinião, e no que a gente viu e tem comprovação científica disso, teria que melhorar essa parte. Quando você reduz muito o grupo, que teria no seu equilíbrio 12, 13 indivíduos, você cai para três, é o que o bem-estar quer também. Colocar poucas aves, você via aquele comportamento de briga mais intenso. Então a condição de saúde das aves era pior. Agora independente da densidade, as patas tiveram muitos problemas. Mas o problema não é tão grave quando vai para o chão, que não tem puleiro. Se o chão também for só colocar no chão e soltar por soltar, a gente fez o experimento de piso, e mais de 60% das aves tinham lesão pododermatite, início de bubblefoot, enfim, vários problemas até piores do se estivessem em gaiola. Então, basicamente, resumindo o nosso trabalho, é assim. Se no manual dessa linhagem diz 4 aves, eles são duas coisas que a gente acaba confundindo, a densidade, e o tamanho do grupo. Então na hora que for dimensionar ambiente, temos que pensar no número de indivíduos do grupo, para não deixar o animal dominante muito próximo do dominado. Quando o grupo é um pouco maior, temos aqueles indivíduos que a gente brinca, galera do deixa disso. Então eles mediam conflitos e diminuem as brigas. É preciso ter um grupo um pouquinho maior. Quatro aves já minimiza bem. Apesar de não parecer, esse indivíduo a mais consegue neutralizar muitos ataques. E você garante a saúde e longevidade desse lote. Mas, resumindo, se vocês seguirem somente o manual de linhagem, a maioria fala em quatro aves. Não sei se vocês já tiveram acesso a isso. Se respeitarmos isso, você pode trabalhar com outras taxas de ocupação, desde que tenha um ambiente melhor. Como a que acabamos de ver. Em resumo, 153
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o que posso deixar de mensagem? Há muita lenda, muita coisa que se propaga sem conhecimento científico. Espero que não aconteça o que ocorreu na Europa, por exemplo. Lá houve uma ditadura praticamente legislativa. Usa-se o nome democracia, mas na verdade foi uma ditadura legislativa para impor regras, sem entender o próprio bicho. E hoje a Europa importa quase 30% dos ovos da população do norte da África e do leste Europeu, que vende gaiola. Então o que fica? Não existe ambiente ruim ou bom. Existe o ambiente mal conduzido. E se estivermos entre nós, com exceção do nosso amigo aqui, que começou a criar no chão, ou criar como as pessoas que criaram no chão há 60, 80 anos atrás para vender comercialmente. Temos que contar com a experiência dessas pessoas, saber porque parou e onde errou para que não cometamos isso de novo. Deixo novamente o meu recado de que não existe ambiente ruim. Existe falta de conhecimento. Mas foi comprovado na tese. Basicamente é isso que eu tenho para dizer hoje. Não sei se fui otimista ou pessimista, mas enfim. Às vezes as pessoas acabam por não entender. Falamos uma coisa e acabam entendendo outra. Fica o recado. Obrigado! Sérgio Kakimoto: Agora eu gostaria de passar a palavra para o João. Ele é aluno da Unesp e tem um grupo que trabalharam juntos há alguns dias. Na realidade ele não quer que você entre tanto em detalhes técnicos, mas quer a percepção de vocês como alunos. Se vocês quiserem também falar e complementar o João, fiquem à vontade. Gostaria João, que em 10, 15 minutos, você passe a sua percepção de ter criado solto, o que achou de desafio, se todos os ovos vão botar dentro da gaiola, se vai ser muito sujo, se adoece. Aborde, dentro da sua percepção, o que viram e que compararam também com a produção em gaiola. Então, gostaria que você comentasse. João da Artabas: Bom pessoal, boa tarde, meu nome é João. Primeiramente, gostaria de dizer que é uma honra estar nessa mesa. Estou aqui também no meu grupo né. Eu não fiz nada sozinho, é importante lembrar isso. É um tema um pouco delicado esse de aves soltas, aves livres, é um termo "free range", as cinco liberdades, etc. Em um trabalho de faculdade, analisamos um cenário do mercado. Analisamos 154
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a cadeia produtiva da avicultura de postura. Vimos que há um mercado crescente, não sabemos até quando, se vai estacionar em uma porcentagem e não sabemos também se haverá uma tendência. Uma das coisas que também fazem com que isso prossiga ou não, é a questão cultural, o entendimento das pessoas, isso é muito relevante, impacta bem. Tentamos verificar se a estrutura que utilizamos para avicultura de postura comercial e intensiva, que são as gaiolas presas, confinadas, pode receber esse tipo de manejo. Então, se caso a tendência do mercado seja realmente a compra de ovos de aves soltas, será que o avicultor vai desmanchar todos os galpões para ter esse tipo de manejo? Ou a estrutura que temos hoje consegue se adaptar para esse tipo de produção? Pensando nisso, vendo o cenário do mercado, e também no que temos, como podemos fazer? Então, em nosso estudo pegamos um galpão californiano, que tem um espaçamento entre as instalações, que pode servir para essa área externa, no caso do freerange, e vimos que o comportamento das aves. Também pensamos que a debicagem era um problema, é onde o pessoal mais pega pesado, no bem-estar animal. Por que? Porque a debicagem correta não impacta tanto. Mas a debicagem errada sim. Então, nesse caso pensamos que não vamos debicar pra ver o que acontece. Um dos problemas que vimos, até, colocamos na apresentação, mas não trouxemos hoje, é que ocorre um desperdício além da conta da ração. Dá para ver porque com o bico maior ela seleciona o que vai comer, então acaba jogando para fora do cocho. Então, desperdiça mais. Outra coisa foi o ninho. Projetamos uma área de ninhos por aves e o que aconteceu? Chegou uma época que o ninho, reaproveitando as gaiolas, porque reaproveitamento de material. Tínhamos orçado, quando apresentamos para o Sergio, mais ou menos uns R$ 9 mil. Até pensamos "rapaz, a hora falarmos, ele vai nos mandar embora". E reutilizando todos os materiais, estrutura e tudo, caiu para um pouco mais de R$ 2 mil. Gastamos um pouco de dinheiro, gastamos, mas em relação ao que era de origem... E o que aconteceu? Esses ninhos, como eram reaproveitáveis, foram deteriorando e as galinhas começaram a fazer a postura no chão. E o que acontece? Ficou um tempinho assim, coisa de um mês. Quando renovamos tudo, elas ainda continuavam, porque acostumaram. 155
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Uma das coisas que sabemos hoje é que, assim, a manutenção, a área de ninho, o tipo de ninho, o manejo com esses equipamentos, são de extrema importância. Se termos um cenário mais para frente, precisamos já ir pesquisando. Temos que entender que hoje com isso, com esse tipo de produção, atendemos um nicho de mercado. Não dá para nós dizermos "Não, vamos tirar todas as gaiolas e soltar tudo", não dá. Mas o que podemos fazer? Assim como falaram do café, podemos pelo menos ter um tipo desse de produção na granja, caso esse mercado aumente, para atender todos os tipos de pessoas, clientes e consumidores. Quem vai comprar o ovo de galinha solta, compra, eu tenho para vender. Quem não quiser, não compra, é esse daqui. É um pouquinho mais caro, porque tem que ter um pouco mais de mão-de-obra. A tecnologia está avançando, talvez, o preço consiga ficar ali igualado, mas hoje não, temos que avançar a tecnologia. Se ninguém estudar nunca vai chegar. Se alguém puder estudar, e ir estudando, estudando, até que um dia chegue como aconteceu com a gaiola, vamos chegar em um preço competitivo. Quando começamos, pensamos que o bem-estar era soltar. Quando passamos a estudar mais, e levamos um ano e meio, percebemos que bem-estar animal no ambiente que você fornece às aves em geral. Um ambiente bem climatizado, uma gaiola com uma inclinação adequada, um piso com espaçamento entre os arames adequado, quantidade e qualidade da ração, ventilação, temperatura, etc, todos esses fatores bem regulados, estaremos fornecendo o bemestar pra ave. Entendeu? Então, não precisa só soltar, você pode soltar. Se morarmos em uma casa arrumadinha, estaremos em um ambiente confortável. Mas se morarmos em uma casa com um ambiente ruim, ficaremos estressados, não produzimos direito, não pensamos direito. Então é isso que acaba acontecendo. Precisamos entender esse processo, que existe a possibilidade, principalmente as indústrias alimentícias, elas estão falando de até 2025 abolir a compra de ovos de gaiolas. Mas, qual a porcentagem de mercado que eles representam? Entendeu? O ovo é vendido in natura, para indústria de alimento ele já tem um processamento. Temos que pensar nisso. Podemos atender ambos os mercados? Podemos. É isso que a gente quer falar.
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Solução tem. Mas temos que ver qual é a mais adequada, para você ver o que vai querer. Se o objetivo é lucrar mais, como todo produtor, porque manter uma granja é um custo elevado. Muitos fatores influenciam, ninho, área externa e a cobertura da área externa. Porque uma das cinco liberdades é o medo de predadores. Então é preciso pensar nisso. E também a estrutura ser adequada. Pode haver essa transição aí. Então acho que está sendo um trabalho muito interessante, estamos colhendo frutos, e essa conversa é muito boa para esclarecer. Gostaria de agradecer novamente ao Sérgio por ceder o espaço para pesquisarmos. Sérgio Kakimoto: Gostaria de abrir uma palavra para vocês, que fizeram parte do grupo. Se quiserem também fazer alguma consideração, fiquem à vontade. Lembrando que não usamos tecnologia nesse espaço, por isso ficou um espaço mais rústico. Mas temos muito o que implementar de tecnologia, estudos para serem feitos. É uma área ampla, que dá para ser estudada. Procuramos utilizar o galpão para não chegar no produtor e dizer "desmancha tudo que você tem e terá que fazer desse jeito". Porque até então essa realidade da Europa, de ter abolido, aqui esse meio de gaiola é uma realidade, que no Brasil, ainda é difícil a gente pensar nisso, porque você vai precisar de uma área maior, investir mão de obra nisso. Então, é como o professor também estava falando. É difícil pensarmos nisso, só que é um mercado a mais que você pode atender. Você não precisa trocar toda a sua granja ou trocar o seu manejo, mas é atender um mercado que exige isso. Bom, agradeço, então, as suas considerações e também do grupo. E depois se alguém tiver alguma pergunta, estou à disposição. Então muito obrigado. Sérgio Kakimoto: Quer falar um pouquinho? Carla Pizzolante: Não, só pra complementar, talvez para pegar a ideia deles, porque eu, a questão do bem-estar, que a grande maioria deve ter ouvido falar, e que o João explicou bem, onde começou essa onda do bem- estar. Eu tenho um pouco de preocupação que as pessoas têm apresentado a tendência em se preocupar muito com o animal, e não com a sociedade. A população está crescendo, precisa de um produto de proteína alto valor biológico. Temos que ter uma produção de alimento em maior quantidade. Para mim é meio difícil pensar em abolição animal, tirar tudo da gaiola, colocar no chão,
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em um espaço menor. Criaremos menos, pensando em um galpão que visitamos hoje, um lugar que você coloca 70 mil aves, quantidade que não se colocaria se você não tivesse os andares, nas gaiolas, né. Então como ele bem colocou, tem nichos de mercado. A realidade da Europa é uma coisa, e a do Brasil é outra. Nós temos extensão territorial e clima adequado para esse tipo de criação, que eu acho louvável e interessante o professor Gerson falar em relação às linhagens que é interessante também pra esse tipo de criação. Mas sempre pergunto, sou professora de bem-estar. Mas pergunto para os meus alunos. "Por que que a ave foi para a gaiola?'' Por "n" motivos, pela facilidade de manejo e pela questão da qualidade de ovo, entre outros. Nós, recentemente, realizamos um projeto, junto com um colega da Universidade de São Paulo (USP), e comparando chão e gaiola, e a questão microbiológica, ficou bem comprometida com relação quando comparada com a da gaiola. A gaiola não tinha nenhuma questão. Outra coisa que é preciso pensar em relação não só a instalação, que foi muito bem colocada por vocês, é que a ave, quando está no chão, muito provavelmente vai ter problemas com endoparasitas, coccidioses, essas coisas, e todos nós sabemos, que quando tem isso, você tem que colocar na ração dela produtos para que não se tenha esse tipo de verminose. Esse produto vai prejudicar às vezes a qualidade da casca do ovo. Não é Serginho? Porque há uma enzima, que é responsável pela firmação da casca do ovo. Quando você dá esse produto, interfere na produção dessa enzima. Quando ela deixa de produzir ácido carbônico, que é responsável pela formação da casca do ovo, ficará um ovo de qualidade ruim e a possibilidade de contaminação é muito maior. Então, isso é uma coisa que precisa ser pensada. Na qualidade do ovo, na sua produção. Acho que é uma linha de pesquisa grande que pode ser feita, né Serginho. Porque é muito fácil, vem um grupo e fala "vamos tirar tudo da gaiola", não é assim. Acho que tem outras questões. Questão da quantidade, que você vai estar deixando de produzir, e a qualidade do produto que vamos oferecer também. Aí acho louvável também essa questão de melhorar esse tipo de sistema alternativo, que é no médio produtor, a agricultura familiar. Então vejo como um nicho de mercado. Acho muito pouco provável que pegue essa legislação, 158
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porque as ONGs estão dentro dessas grandes empresas, forçando-as a produzirem dessa forma. Então é mais mercadológica a questão, mais filosófica. Não sei se vocês estão entendendo. Vamos citar, por exemplo, algumas pessoas que criam. A Coren cria nesse sistema alternativo. A Fazenda Tokyo, quem é o dono da Tokyo? É o filho do Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar. Então, lógico, eles precisam colocar esse tipo de produto no portfólio. O pequeno produtor hoje, que vai criar nesse sistema, precisa ver como será a questão mercadológica também. Acho que eu não deveria ter me aprofundado muito né. Mas gosto muito da criação de aves soltas. Sou partidária disso, gosto, todo mundo quer ver o animal bem, mas ele pode estar bem dentro de uma gaiola. Como o trabalho do Evandro, ele deu uma condição diferenciada para uma ave em um sistema convencional. Ela está bem né. Imaginem nós aqui nessas salas, em um calor absurdo. De repente tudo climatizado. Depende muito da situação que estamos. Ou estaremos bem ou não. Só completando essa questão de espaço, é muito relativa. Você pode ter uma quitinete, perfeita, com tudo. Morar em um lugar perfeito, de 20, 30 metros quadrados, que o atende. Ou você pode morar em uma casa enorme, caindo aos pedaços e não consegue cuidar daquilo. Tem muita área, mas só tem área. Então, tem que pensar em como está essa área. Exatamente, todos os itens que são necessários para que aquela vida que você está preservando ali, e que está produzindo, mantenha a saúde. Ela com saúde vai produzir coisas boas para nós. Temos que pensar muito nisso também. Então a questão de espaço é muito relativa. Sérgio Kakimoto: Exatamente, porque eu vi um caso, em um lugar solto, em um espaço maior 10x3, colocamos lá 500 aves, pintinhos, só que de repente veio uma chuva, muito forte, com vento. As 500 aves foram todas para um canto, morreu a metade. Se amontoaram. Então se tivesse um lugar melhor, não haveria possibilidade de amontoar, por isso é muito relativa essa questão. Tem que cair o tamanho do grupo né, porque forçamos a barra para esse animal. O tamanho do grupo é de no máximo 12, 15 indivíduos na natureza. Nunca aconteceria esse amontoamento. Carla Pizzolante: Muitos problemas que estão ocorrendo na Europa é que por lá colocaram o "cage free". Cage free é aquele que não está na gaiola, solto né, 159
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em um galpão, como o João explicou bem. Muitos problemas de fratura, porque elas se assustam, e vão fazer aquele voo curto. Mas elas batem contra os equipamentos, se machucam. Então eles estão perdendo muitas aves nesse sistema, porque fazem grupos, e mesmo os pequenos, acabam tendo algum tipo de excedente. Pode acontecer né. Então é uma coisa que ainda tem que melhorar. E eu ainda sou partidária, a favor da avicultura industrial, da criação no sistema mais convencional. Só uma última coisa, a professora Elenilsa falou, e acho que é fundamental hoje, utilizarmos muitos recursos, já disponíveis na própria natureza, que é a ecoeficiência. Então, quando você tem num galpão, um espaçamento, sem uma grama, por exemplo, que reflete. Aquilo ali é como se fosse, o negócio vai refletir a radiação solar e aquecer, e você está lá, no sistema de climatização, porém, de lado está refletindo. Então quer dizer, era para ter uma eficiência x, mas não está tendo. Mas você fala de um sistema que é antigo, esse conhecimento de proteção arbórea, envolta desse galpão, acho que tudo mundo aqui, viu isso em algum lugar, em algum livro. E isso está nos livros de ambiência há mais de 90 anos. Por que não se faz? Pequeno proprietário tem pomar, pode aproveitar esse envolto. Mas só para, não querer prolongar, porque o professor Gerson vai fazer uma apresentação interessante também, que acho importante. É de pensar nas aves. Porque essas linhagens, que nós utilizamos, elas foram melhoradas por muitos anos para estar em um sistema intensivo. Então esse tipo de sistema alternativo, acho que pede repensar a questão da genética. A ave, ela tem uma existência menor, em um sistema intensivo. É, acho que esse é um nicho que vai entrar fortemente. Temos aves, todas preparadas para um sistema acondicionado, onde a gente busca fornecer melhores condições de ambiente. Você soltar a ave em sistemas mais naturais exigirá uma ave mais natural, mais robusta, especialmente. Aí já vai entrar um pouco do que acho que a gente vai falar. Sérgio Kakimoto: Bom, vou passar a palavra agora para o professor Gerson Barreto Mourão. Ele é professor da USP, de Piracicaba, e trabalha hoje com linhagem de galinhas também, galinhas alternativas, criação alternativa. Então é bastante interessante, porque o Evandro trabalhou com galinhas bran160
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cas, geneticamente preparadas. E o João trabalhou com galinhas vermelhas, que são geneticamente bem trabalhadas, e o próprio Gerson está pegando raça pura né. Praticamente está desenvolvendo e criando novas linhagens. Então, gostaria de estar ouvindo a posição e os trabalhos então do professor. Então, o professor passa a palavra. Gerson Barreto Mourão: Serginho, muito obrigado pelo convite. Para mim é uma das primeiras oportunidades que a gente tem de falar um pouco sobre esse projeto, que está com a gente bem recentemente. Vou me permitir ficar em pé e falar um pouquinho. A gente tem, na verdade, é um projeto que une, no sentido amplo da palavra, grupos, como o pessoal do doutor Evandro, doutora Carla, o próprio Serginho, tem nos dado o apoio. É um projeto que está sob nossa responsabilidade, bastante recentemente. Temos formado um centro, ou buscado formar um centro de estudos de pesquisa, que vale para os jovens, que estão buscando oportunidade, e para as empresas, que têm interesse de responder perguntas que de repente, lá nas condições comerciais, não são possíveis. Dentro de um centro de estudos como o nosso, isso é muito aberto, e isso é o que nós gostaríamos de fazer com essa estrutura. Ela é relativamente antiga. O centro, ele fica aqui, só para gente apontar, é uma área de cerca de 22 hectares. Nós temos alguns pontos interessantes. Temos o incubatório próprio, galpões de cria, de reprodução. E nós temos dois grandes galpões aqui, que serviriam nos modelos comerciais, até para frangos de porte. O que a gente tem, que nos chamou a atenção, basicamente são duas coisas. O centro em si, vamos contar alguns detalhes, e os programas, ou programa de melhoramento de aves, que nós estamos chamando de coloniais ou caipiras. Nós temos essa diversidade, e aqui é uma foto de um dos momentos do nosso processo de seleção, que fomentamos um pouco dessa condição mais próxima, daquela condição mais natural. Ainda que não tenhamos objetivo dentro do programa de melhoramento, de dizer qual é o sistema, qual a forma mais adequada. Isso, o pessoal que trabalha com essa linha faz. Aqui a gente quer saber como são, quais são os animais mais adequados para essas estruturas. O centro, como depois vocês poderão ver, e o Serginho pode dividir isso com vocês, ele é descrito por essas estrutu-
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ras, e como eu disse, cerca de 22 hectares, pode-se fazer um cultivo no seu entorno, que nos dá um suporte, e que poderia servir de modelo para construção de modelos, para se definir quais sistemas seriam adequados, com maior amplitude, áreas mais extensas ou menos extensas. O foco não é dizer qual é o melhor sistema, mas se tiver o interesse, conseguimos abrigar pesquisas dessa natureza. As linhagens que temos, elas hoje têm todo o controle de pedigree, isso fazemos logo no nascimento, ainda usamos um sistema bem arcaico que é essa anilha de asa, logo no primeiro dia. É um trabalho que desenvolvemos, basicamente, com o nosso grupo de alunos. Como vocês aí, entre mestrandos, doutorandos, e os que estão lá na graduação também. As linhagens que nós temos são essas, e mais ou menos o que a gente entende que seriam as suas melhores aptidões. Temos uma linhagem chamada caipirinha, que é basicamente uma ave de dupla aptidão. Depois vou mostrar algumas fotos, e alguns dados bem gerais. Uma que nós chamamos carijó também dupla aptidão, uma terceira, que é a linhagem do ponto de vista de produção, é a mais próxima do corte, que nós chamamos de corte colonial. Uma quarta chamada de 7p, também de corte colonial, uma quinta chamada de baianinha, que é um grupo que chamo ali de manutenção da variedade genética, de conservação, que olhei todo o fenótipo diferente que está aparecendo dentro do nosso próprio programa. Nós temos outra chamada de perna longa. É um corte colonial, mas é mais tipo, esse frango mais pernudo. O pessoal chama de índio gigante, ainda que não seja. Ainda que não seja o índio gigante, a gente nem tem buscado esse tipo de animal. Mas é um dessa linha. Nós temos duas linhagens mais de postura. A caipirinha é muito boa, como eu disse, de dupla aptidão, e essa linhagem de ovos azuis, é 75% a 85% dos ovos das fêmeas produzem ovos azuis. É a linhagem mais postura que nós temos, e aí uma bem recente de prospecção ainda, que vai para uma ave mais exótica, que nós chamamos de carne preta. Tipo Ayam Cemani da Tailândia, alguma coisa desse sentido. Eu recebi essas linhagens há cerca de dois anos, e a gente vem controlando o pedigree de todas elas. Esse é um trabalho bem pesado, porque temos que
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inseminar, usando um certo grau, com especificamente cada galinha, anotar como a gente faz nos ovos, para termos um pouco desse sistema. Basicamente, temos grupos para aptidões específicas, como apontei anteriormente, e aí vêm mais ou menos os materiais e a gente tem aí as suas melhores qualidades, digamos assim. Vale lembrar que as raças, ou linhagens caipiras, produzem entre 60 e 90 ovos a cada ano. As nossas caipiras não se comparam às linhagens comerciais que vocês usam nessa região. Mas elas são pelo menos três vezes mais produtivas do que as linhagens caipiras. Mesmo a linhagem mais forte que temos, produz 220, 240 ovos em um primeiro ciclo, e as que produzem mais, chegam a 270, 290 mais ou menos. Essas coisas sempre vão se atualizando, para conhecermos um pouquinho melhor. Aqui nós temos uma camada de caipirão da Esalq, que atinge 2,8 kg a partir dos 70 dias, e 80%, 90% dos animais chegam a esse peso. Obviamente esses valores, fenótipos, variam muito de acordo com o sistema que se aplica. Então vocês viram lá na prática, que deve ter uma variedade importante. Então, se você manejar isso, e fornecer ração, como o senhor João, fornece lá para o frango ou para o galo caipira, ele vai crescer muito mais lentamente. Se você fomentar isso e fornecer alimento de boa qualidade, em boa quantidade, esses valores que estamos mostrando aqui devem ser alcançados. Conversão de metade da ordem de 3.1, 3.2, rendimento de carcaça dos experimentos que a gente fez, próximos de 72%, 73%. Variação, todas elas são coloridas, especialmente essa linhagem, o 7p, basicamente é uma linha de plumagem preta. Todo mundo tem pele amarela, especialmente, mas há variabilidade nisso. Nós não fechamos isso, não é um critério de escolha, de seleção, e sim qual a sua capacidade, dentro da linha de crescimento lento, e indo para um frango, um animal caipira, digamos assim. A gente pode avançar um pouquinho. Tem outras linhagens, essas de dupla aptidão, como a gente chamou de caipirinha, também tem variabilidade de cor. Na anterior, acho que a gente pode seguir. Tanto caipirinha quanto caipirão tem variabilidade com relação a plumagem. A gente não tem um padrão de cor. O 7p plumagem preta, carijó plumagem carijó, mesmo barrada como tradicional. Sistemas de produção, ela é a mais tardia, os frangos vão chegar a 2.8 com mais 93 dias. Mais tardia do que as anteriores. Podem ser abatidas mais cedo. Infelizmente a carcaça um pouco menor. Mas conversão é muito semelhante. Então ainda que seja uma linhagem gorde e postura, ela é razoa163
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velmente boa de desempenho. Termina a carcaça de bom tamanho, com um bom rendimento de condição alimentar. A carne de nababa é um pouco menos eficiente. Setenta porcento do ciclo aqui. Esse número não está correto. Na verdade a produção era de 260 e 580 ovos por ciclos semelhantes a caipirinha. E aqui faltaram algumas fotos para vocês acompanharem. Essas fêmeas da linhagem caipirão. Essa é uma grande diferença do que a gente encontra com relação as linhagens comerciais. São mais pesadas, são mais robustas, tem pernas mais longas. Especialmente para suportar sistemas onde há a necessidade de andar, caminhar, e atravessar ou de buscar até a proteção e sombreamento, viver em pastagem. É algo diferente daquela galinha que fica na gaiola. Está certo? Podem notar que parte dos animais está em gaiola, por conta da forma de reprodução que preciso desenvolver quando eu vou fazer a reposição. Mas a fase inicial onde eu faço a seleção, coloco esse animal no chão para simular um sistema próximo desse alternativo que a gente tem buscado. Um pouquinho mais sobre a linhagem, são só algumas fotos mais próximas. Especial essa galinha, uma parte dela tem esse topete, eu recebi isso, e até começamos a observar que é um negócio que todo mundo acha legal, interessante, mas percebemos que quando isso vai para o campo é um problema. Parte delas tem problema de buscar e identificar o próprio alimento, mesmo quando está lá no comedor. É algo que reduzimos já nessa última geração. Veja, é algo que atrai todo mundo, especialmente quando olhamos o pintinho e o pessoal quer, "ah, é lindo, maravilhoso, tem o topetinho". Quando ele aumenta de tamanho, essa ave tem dificuldade, não enxerga quase nada e tem dificuldade de encontrar o alimento. Nós tivemos perda de animal com esse tipo de fenótipo. Coisas que só descobrimos com a aplicação do teste em condições de campo. Como eu disse, tem esse animal, é muito atrativo do ponto de vista de quem o está comprando, mas é uma dificuldade do ponto de vista de aplicação dessa linha. E é uma linha superprodutiva. É algo que eu devo retirar nas próximas gerações. A carijó barbada, variação, a linha de ovos azuis, aí, obviamente, juntei as cores, são aves, uma parte delas tem tamanho normal, outra tem nanismo, porque é uma galinha que come pouco, super bem eficiente, é a linhagem mais próxima de uma comercial. Ela põe ovos azuis, que têm variação de cor. Tem variação, como eu disse, da baianinha, e esse fenótipo, tem a variação enor164
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me entre os animais. A carne preta é o animal com uma coloração bem escura. A carne em si tem a parte do epitélio que é bem colorido, basicamente o critério de seleção é encontrar logo no nascimento uma cloaca bem escura, bem preta. A gente olha língua, olhos, em geral isso é tudo escuro. Não necessariamente a pele, mas a carne, em si é. Nosso processo de encubação exige esse controle, que é diferente de tudo que fazemos em sistema comercial para garantir controle de pedigree. Ainda que seja um grupo relativamente pequeno, tenho lá mais ou menos, entre machos e fêmeas, 800 animais. Mas para fazer coleta, dia a dia, tem que ter lá o pessoal anotando, qual a galinha que pôs cada um dos ovos. Inclusive para eu fazer registro, para eu saber quem produz mais, quem é o progenitor, que gera frangas e frangos de melhor desempenho, e melhor produção de ovos. Por exemplo, essa é uma grande dificuldade. Nós temos a incubação, antiga, mas funciona superbem para gente lá, e aí envolve peso, nascimento. Os meus alunos vão coletando, pesam, e isso entra para as características que vamos avaliando ao longo do processo de produção. Recebemos um grupo de aves que tinham três anos e meio. Doutor Evandro e a doutora Carla me salvaram. Porque sou um cara da genética, do melhoramento, e produção de aves não é para qualquer um. Eu sou um qualquer um para produção de aves, ainda que conheça bem de genética. Eles me salvaram lá, e continuam me salvando no dia a dia para um monte de coisas. Mas esses animais, que tinham essa idade, ficaram conosco pelo menos seis meses, com um nível de postura de 75%. Com mais de três anos e meio e em gaiolas, que não é o ambiente deles né. As gaiolas são individuais. Talvez o Evandro saiba dizer a área mais ou menos que usamos para cada ave, mas eu não sei esse número. 420 cm por ave. Para cada uma delas. Esse é o processo, o pessoal, como eu disse, o doutor Evandro e a doutora Carla que nos ajudaram com a parte de avaliação, então nós introduzimos isso, essas linhagens, a história delas vem do início, meados dos anos 80, onde dois professores do departamento de genética fizeram uma busca, compraram mais ou menos 8 mil ovos, vindos de todo canto, levaram para dentro
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da Esalq, e começaram a trabalhar e separar linhas chamadas de coloniais e caipiras com genótipo nacional. Basicamente, ao longo desses 30 anos, eles fizeram uma seleção massal, fenotipicamente falando, nunca fizeram controle de pedigree. Quem faz controle de pedigree é a gente. E agora temos introduzido, com a ajuda do grupo de zootecnia, fazer uma série de avaliações, uma série de outras características que nunca foram avaliadas, com o uso dos equipamentos mais modernos, que eles podem depois tirar nossas dúvidas com relação a isso. Gostaríamos que isso não seja critério de seleção dessas aves hoje, provavelmente serão em algum momento. Avaliar essas características, como elas estão, se são adequadas ou não, aqui é só um subgrupo dos nossos dados, na 38ª semana de unidade. Bom, eu já me alonguei muito. O produto desse setor é basicamente pesquisa, principalmente pesquisa como motivo de formação de recursos humanos. Então se a gente pensar bem, eu e o grupo de "z" trabalhamos em duas coisas que nos interessam. Gosto de treinar gente com pesquisa, e eles pesquisam, e usam as pessoas para fazerem pesquisa. A gente treina gente, e usamos a pesquisa para treinar gente. Então fica aberto aí, e isso traz as duas coisas que são muito úteis para nós. Do setor em si, as linhagens, comercializamos como excedente que pesquisa os ovos, e como essa Etec pesquisa os pintinhos. E especialmente agradeço ali, ao Sergio Kakimoto, Serginho, tem nos ajudado muito, salvando-nos em momentos difíceis, e deixo aqui, publicamente, o meu agradecimento. Como eu disse, os pintinhos, têm acesso. Essas linhas não são fechadinhas, pelo menos ainda não são, para o público, e isso pode ser usado aí. Obviamente não temos condições de introduzir 80 mil pintinhos, 100 mil pintinhos, é uma produção caseira, um lugar pequenininho, mas tem funcionários, razoavelmente bons. Muito obrigado!
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MOTTAINAI: UMA NOVA VISÃO NA AGRICULTURA Palestrante: Jorge Nishimura Presidente do Conselho de Administração da Jacto S/A
Boa noite. Eu quero agradecer aos organizadores do Bunkyo Rural 9ª Edição pelo convite de estar aqui falando para vocês, compartilhando um pouco das nossas ideias com vocês. Existem estudos que indicam a necessidade de dobrar a produção de alimento até 2050. E quando se analisa o mundo, nós descobrimos que existem muitas poucas áreas disponíveis no mundo hoje. A Ásia já esgotou toda sua área disponível, a Europa idem, Estados Unidos tem muito pouco, sobrando alguma coisa na África e no Brasil. Para atender a demanda futura de alimentos e nós estamos nessa expectativa de que a produção precisará dobrar até 2050, nós temos que fazer algumas ações para sobrevivência da humanidade. Uma das coisas que se pode fazer para atender essa grande demanda é aumentar, expandir as áreas produtivas, e o Brasil é um dos países que dispõe de maior disponibilidade de área para agricultura no mundo. A outra coisa que precisamos fazer além da expansão da área é melhorar também a produtividade; o Brasil já tem conseguido bons avanços na produtividade, mas ainda temos muito que fazer ainda em relação à produtividade.
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Outro assunto que será extremamente relevante é reduzir os desperdícios que existem especialmente na nossa agricultura. Hoje se diz que nós perdemos em torno de 30% da produção, dentro da porteira, no transporte, na armazenagem e inclusive no consumo. Em termos de expansão, o Brasil dispõe de muitas áreas, ainda é possível a gente avançar nas áreas de pastagem no Centro-oeste, no Norte do país, sem que a gente tenha que destruir as florestas e trazer esse equilíbrio ambiental. Com relação à produtividade, o Brasil atuou nessas últimas décadas de uma forma admirável. Nós podemos criticar muitas coisas no Brasil, as coisas que não andam, mas dentro do campo da produtividade aqui no Brasil, nós podemos dizer que nós realmente fizemos a tarefa e estamos de parabéns. Quase praticamente dobramos a produtividade no campo nessas últimas décadas. E outra coisa que nós precisamos para realmente poder suprir a demanda do mundo, além da expansão da área, além da produtividade, é a redução de desperdício: nós realmente acabamos desperdiçando uma quantidade gigantesca de produtos dentro da porteira, através do transporte, da armazenagem, do consumo, nós temos desperdiçado algo em torno de 30% da produção. Significa que aquilo que nós produzimos, nós aproveitamos 70% e 30% é perdido.
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Então, nós temos esse grande desafio e o Brasil, chamado celeiro do mundo por tantos anos, se transformou realmente num celeiro, mas existe uma responsabilidade adicional de poder suprir o mundo com alimento, coisas que muitos países não poderão mais fazer daqui para frente. Na nossa empresa, a primeira vez que abordamos sobre o tema desperdício foi em torno do começo da década de 80. Em 1982 que nós começamos a falar pela primeira vez dentro da nossa empresa sobre desperdício. O meu pai recebeu uma homenagem do governo japonês em 1981, possivelmente, e ele foi convidado pelo governo japonês para receber essa homenagem. E durante essa homenagem, ele conheceu o presidente da Toyota no Brasil, que também era um dos homenageados naquela cerimônia. Esse presidente da Toyota fez um convite para o meu pai se ele gostaria de conhecer a fábrica da Toyota no Japão. Meu pai com certeza aceitou e, quando ele chegou nesse parque industrial, ele ficou extremamente impressionado com o que ele viu, e quando ele voltou para casa, ele veio com um misto de admiração e medo. Admiração por ver uma coisa fantástica acontecendo no Japão e medo de que se alguma empresa japonesa usando aquilo que eles praticavam no Japão viesse ao Brasil, nós não poderíamos sobreviver e concorrer com uma empresa que estivesse nesse padrão. Então, foi aí que meu pai enviou meu irmão Jiro para ir ao Japão e junto com ele foi o diretor industrial para conhecerem o que era o sistema Toyota ou o sistema japonês de produção. Nós fomos muito bem recebidos e apoiados pela comunidade japonesa, nesse ponto nós temos que dizer que a nossa raça é uma raça muito hospitaleira, muito gentil e muito colaborativa. Realmente, os japoneses nos apoiaram muito e nos ensinaram, nos instruíram com muita paciência, ensinaram todos os conceitos que eles tinham e faziam isso gratuitamente, de todo coração. Na nossa empresa, esse programa recebeu o nome de Zero. Zero significa desperdício zero, você vê que aí nós já começamos a introduzir o conceito de desperdício. E os japoneses nos ensinaram que qualquer coisa que a gente fizesse dentro de uma fábrica, dentro de uma empresa, que não agregasse nenhum valor ao produto final era considerado desperdício. Peças defeituosas eram consideradas desperdício, então foi um momento em que a empresa começou a trabalhar para melhorar a qualidade, para melhorar o nível de defeito de peças, e isso vem realmente influenciando todo mundo, porque eu acredito que naquele período nós éramos mais ou menos Sigma 3, a gente 169
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aceitava até 10%, 15% de peças defeituosas, e, hoje, na nossa empresa nós já falamos de 6 Sigma. Sigma 6 que significa que nós aceitamos algumas peças defeituosas por cada milhão de peças produzidas ou cada milhão de operações realizadas. Hoje, chegamos num refinamento tão impressionante, não só a Jacto, muitas empresas requerem hoje que as empresas fornecedoras sejam 6 Sigma, empresas que podem produzir 5 ou 6 defeitos por cada milhão de peças produzidas. É algo realmente desafiador, mas isso foi a herança que nós temos. Todo esse ensinamento delegado que nós aprendemos com o sistema japonês tem sido muito positivo para nós. A outra coisa é a respeito do estoque: começamos a introduzir o conceito just in time. Nós não precisamos de peça em estoque, garantias de peça de estoque, desde que a gente tenha um sistema em que nós podemos atender just in time. Nós não precisamos de uma peça cada vez e não precisamos de ir ao estoque no meio do caminho. Então, esse foi o momento em que nós produzimos o kanban, just in time, e todos esses conceitos conhecidos do sistema japonês. E tempo que também era uma coisa muito importante naquela época, porque nós desperdiçávamos muita mão de obra. No começo, eu me lembro ainda que eles nos diziam o seguinte "Olha, vocês são muito engraçados: vocês estão trabalhando numa máquina, vocês ligam a máquina no automático e ficam vendo a máquina trabalhar, e vocês não fazem nada nesse período em que a máquina está funcionando". Aí eles davam o exemplo de uma dona de casa que estava cozinhando e botava o feijão na panela de pressão, e ficava vendo a panela de pressão cozinhar; e a dona de casa não faz isso: ela vai lavar alface, vai arrumar a mesa, vai fazer outras coisas, fritar o bife, enquanto o feijão está na panela de pressão. Mas, na empresa, a gente botava uma máquina no automático para ficar olhando, aí pensamos que aquilo era ridículo, era um desperdício de tempo que não podia acontecer. Passados 36 anos desde que começamos a implantar o sistema japonês, ainda continuamos, até agora, enviando nossos colaboradores para aprender sobre o sistema no Japão, que hoje ganhou diferente, chama-se Sistema Lean. Ainda continuamos mandando os nossos gerentes, nossos diretores, para entender efetivamente esse sistema japonês que é algo extraordinário que aconteceu na nossa vida. Uma vez me perguntaram quem é uma pessoa que eu admirasse que não fosse 170
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meu pai ou meus parentes, e essa pergunta foi uma pergunta difícil de responder. Se eu fizer uma pergunta para vocês, talvez não seja tão fácil de responder, mas uma das pessoas que eu coloquei na minha lista foi Charles Deming. Deming foi um americano que foi ao Japão e deu início a todo esse processo do sistema japonês. Ele era um matemático estatístico, ele foi ensinar o japonês e, esse homem trouxe uma mudança no mundo inteiro, uma mudança fantástica. Então, esse é um homem que eu coloquei na lista como um dos homens admiráveis desse mundo. E o que é o sistema japonês? Quem melhor explicou sobre o sistema japonês foi o nissei americano chamado Willian Ouchi. Willian olhando tudo o que os japoneses vinham fazendo e acompanhando a indústria americana, começou a tentar buscar paralelos para ver o que tinha no Japão de diferente dos Estados Unidos, o que fazia os japoneses tão bem-sucedidos. Ele chegou a uma conclusão, ele disse que a diferença básica entre o Japão e o Estados Unidos já nessa época (coisa de 40-50 anos atrás), ele qualificou da seguinte forma: a teoria X e a teoria Z. Teoria X é onde que nós olhamos o homem como uma pessoa não confiável, uma pessoa que não tem inteligência, não tem capacidade de decisão, não tem capacidade de pensar, de engajar nos processos. A teoria X é um homem sem cabeça e sem coração. Olha só que coisa muito interessante: No Brasil: nós usamos o termo para trabalhador no Brasil, nós o chamamos de mão-de-obra e isso é realmente uma forma muito pejorativa de chamar uma pessoa, porque uma pessoa não é uma mão de obra, mão de obra é parte de uma pessoa, a pessoa tem cabeça, tem coração, tem inteligência, tem energia, no entanto, nós chamamos essa pessoa de mão-de-obra. Nós temos que mudar o vocabulário, porque é um termo extremamente pejorativo quando a gente chama. Mas a teoria X tratava assim mesmo "você não entende nada, você só obedece ao que a gente manda, e não faça mais nada, não pense nada, não sugira nada porque você não tem capacidade para isso", teoria X é isso. A gente entendia um pouco isso, porque tantas pessoas que saíram foram trabalhar nas linhas de montagem das montadoras vieram do campo e, realmente, as pessoas vinham sem a instrução. Acontece que todo mundo aprende, ao longo do tempo foi evoluindo e, no entanto, a gente continuava tratando essa pessoa como um incapaz, somente um robozinho, uma mão de obra para fazer as coisas. 171
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Na teoria Z, o japonês fez uma grande revolução baseada nesse conceito: o homem é visto de forma integral, um homem inteiro, tem braço, tem perna, tem inteligência, tem coração, tem engajamento, empolgação, essa é a teoria Z. O japonês começou a olhar o ser humano de uma forma diferente. E assim, então, isso basicamente é uma filosofia de "a gente é o ser humano". Daí que surgiram, porque a gente acreditava que as pessoas dentro da fábrica tinham cabeça, inteligência, competência, foram criados ciclos de controle de qualidade, onde a empresa criava ambientes onde as pessoas podiam pensar em como melhorar, como melhorar a qualidade, como melhorar a produtividade, como melhorar o ambiente de trabalho. Depois vieram as caixas de sugestão, onde você podia sugerir, usando sua cabeça, sua observação, e essas coisas, em grande parte, eram acatadas pela empresa, Kaizen, 5 S, e desse jeito, várias coisas dentro desse conceito. Na nossa sociedade, nós temos que pensar que a filosofia... Nós estamos vivendo um momento muito crítico na sociedade e o que nós não estamos fazendo é levando mais responsabilidade para as pessoas. Eu gosto do termo inglês ownership, as pessoas têm que se sentir donas das coisas. Se nós queremos melhorar uma cidade, as pessoas que moram nessa cidade têm que se sentir como se fossem donas, como coparticipantes, ter inter-relacionamento com a nossa sociedade. Então eu acredito que a transformação vem através
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da assunção de responsabilidade em todos os níveis, isso é que pode fazer uma grande diferença. Não usar as potencialidades das pessoas, do ser humano, talvez seja um dos grandes desperdícios da sociedade. Nós estamos falando sobre mottainai. Mottainai é não usar as potencialidades das pessoas, limitar as pessoas a simples atos manuais, isso é talvez um dos maiores desperdícios que a gente pode ter na nossa sociedade. Outro exemplo dessa filosofia, recentemente, a cinco anos atrás, nós iniciamos a implantação de um novo modelo educacional em Pompeia. Esse modelo educacional, nós trouxemos do Canadá, de Calgary. Essa escola é uma escolalaboratório que surgiu no Canadá, 22 anos atrás, porque o educador que fundou essa escola estava muito insatisfeito com a educação no Canadá. Agora, percebam bem o seguinte: o Canadá está entre as melhores educações do mundo desde faz tempo e continua hoje, o Canadá está no topo do nível educacional, se você pegar a lista ou qualquer outro conceito, vocês vão encontrar que o Canadá está lá em cima. No entanto, esse educador estava muito insatisfeito, ele não estava conformado em ver a escola. Então quando ele começou essa escola, uma escola pública-privada, uma escola em que ele é uma instituição privada, mas a escola é pública, e isso é um detalhe bem interessante. Quando ele começou essa escola, 20% dos alunos tinham alcançado um nível de excelência. Lá no Canadá, eles fazem avaliação pelo nível de excelência. Dos alunos que estudam nessa escola, quantos por cento realmente conseguem ser bem-sucedidos e tirar nota A ou bastante alta dentro das avaliações? Quando ele começou essa escola, ele conseguia alcançar 20% dos alunos de excelência. Bom, essa era é a média do Canadá e, com essa média, o Canadá é o topo do mundo. Ele foi trabalhando conceitos, as filosofias dele, e aumentou para 40% depois de um certo período, depois foi para 60%, e o último dado que eu tenho, do ano passado, acho que 83% dos alunos dessa escola alcançam um nível de excelência. Isso quebrou um paradigma que eu tinha, a gente imaginava que ia existir uma turma onde tinha alunos burrinhos, alunos medianos e alunos excelentes. Na realidade, essa escola e eles não fazem seleção nenhuma. Lá, quem chega para entrar na escola, entra. Eles conseguiram colocar 80% dos alunos em nível de excelência. E o que é que está por trás de tudo isso? Qual é o segredo dessa escola? Quando eu fui lá pela primeira vez, eu voltei sem saber o que é que 173
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estava por trás dessa mudança tão fantástica que nós vimos naquela escola. Fiquei um tempo pensando o que é que essa escola tem de diferente, aí uma hora caiu a ficha e falei "Poxa, agora já sei o que é", na realidade, eles implantaram a mesma filosofia, teoria Z, eles não usam esse conceito, mas eles deram ao aluno a responsabilidade de aprender, os professores têm que ensinar, mas o foco principal é que o aluno tem que aprender e eles deram ao aluno a responsabilidade. Por exemplo, avaliação: o aluno faz autoavaliação, eles que auto avaliam se aprendeu ou não. E por que autoavaliação? Porque eles confiam no aluno. Outra vez entramos nesses aspectos, você confia ou não confia? Você então delega, confia, e aí as pessoas vão desenvolver. Uma outra coisa que eles colocaram é que na nossa educação de hoje, tempo é fixo e qualidade é variável, isso significa que nos modelos educacionais hoje, o professor entra na sala de aula, dá 50 minutos de aula e se o aluno aprendeu ou não aprendeu, na próxima aula vai ser outra matéria, então tempo é fixo aqui no nosso país e a qualidade é variável. Essa qualidade é variável está ridícula. Eu fico olhando os dados de Pompéia, média de 3 no Nível Médio, e isso é coisa impossível de a gente tolerar, no entanto, essa é a realidade. Nessa escola, eles fizeram a inversão: qualidade é fixa e tempo é variável. E isso graças a tecnologia, sistemas, internet, computador, todas essas coisas facilitam o momento da transformação da educação, portanto, nessa escola qualidade é fixa e tempo é variável, os alunos podem levar meia hora para aprender, 40 minutos, uma hora, duas horas, mas ele só vai prosseguir a partir do momento em que ele aprendeu aquela matéria, e a escola está lá, os professores estão lá para facilitar o aprendizado do aluno, porque, de modo geral, todos alunos aprendem sozinhos. Outro detalhe interessante, nessa escola, eles geram nos alunos uma vontade enorme de aprender. Baseados na neurociência, eles descobriram que quando você gera uma empolgação na mente dos alunos, quando você gera essa empolgação, esse tempo que você tem de empolgação, os alunos aprendem muito rápido e muito profundamente. Profundamente é que eles aprendem para não esquecer nunca mais, e muito rápido é num espaço muito curto. Então eles geram projetos, geram coisas que os alunos fiquem muito empolgados e, naturalmente, não é mais trabalhando aula de matemática, aula de português, na realidade, nessa escola eles geram projetos e nesses projetos eles aplicam 5, 6, 7 diferentes matérias, matemática, biologia e tudo que der para colocar dentro desse projeto que o aluno tem necessidade para desenvolver esse pro174
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jeto, nessa hora eles aplicam a teoria e prática imediatamente para que o aluno fale "Ahh, geometria serve para isso, bacana!", e as pessoas não vão ficar chateadas com matemática, porque elas sabem que aquilo é muito importante para eles resolverem os problemas da vida. Então o ambiente dessa escola é muito gostoso, porque os alunos estão todos empolgados, a gente não vê aluno calado, chateado, eu vejo muito brilho nos olhos dos professores. Eu creio que nós estamos conseguindo um bom resultado, nós já estamos no quarto ano de implantação do curso aqui no Brasil. Outra coisa é a respeito da pessoa. Outra vez: nós temos que olhar o homem como um homem integral e cada homem é diferente de outro homem, cada mulher é diferente de outra mulher, não é a mesma coisa, tem alguns que vão se dar muito bem nas Artes, outros vão se dar muito bem na Ciência, outros na Biologia. Deus formou a gente de uma forma singular, única, então nós temos que respeitar as singularidades das pessoas e, para que a gente possa equacionar esse problema, os projetos são trabalhados em grupos. Então dentro do grupo alguém que é bom em fazer determinadas coisas e no fim todo mundo aprende, em trabalho em grupo. E é assim que a gente trabalha na vida também, não é? Então isso é muito importante. Agora, uma coisa que me chamou muita atenção, é que (o meu tempo é muito
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breve, então eu vou ter que resumir muito), mas é uma empresa foi contratada pela NASA para descobrir pessoas criativas. Eles trabalharam, estudaram, pesquisaram, e eles fizeram um trabalho muito bom para NASA. Eles encontraram um meio de descobrir, realmente, profissionais criativos, eles estavam atrás de profissionais criativos e inovadores, e conseguiram. E depois que eles terminaram todo o trabalho com a NASA, eles tinham um material muito rico nas mãos, então eles foram ver o que acontecia em relação à criatividade durante o transcurso da vida das pessoas. Eles começaram a trabalhar entre crianças, analisar o nível de criatividade e inovação em crianças e foram pegando por faixa etária até chegar na fase adulta. Eles descobriram algo interessante, que crianças com 4, 5 anos, têm um grau de inovação e criatividade em algo em torno de 90% ou mais, e à medida em que a criança ia para escola, esse índice ia caindo, ia para o Ensino Médio, para faculdade, para empresa, e esse índice ia de 90% para 2%. Então, o que é que nós estamos fazendo a nossa sociedade? Nós estamos massacrando as pessoas com relação a sua criatividade, a sua singularidade, a beleza que existe, por isso que as escolas hoje são lugares muito chatos, porque, na realidade, elas não dão liberdade para as pessoas serem o que são. Então, esse modelo educacional vem para resgatar isso. Deixa eu dizer para vocês, esse é o maior Mottainai que existe: você transformar alguém com alta criatividade e transformar isso em um nível basicamente sem criatividade. Nós temos um mundo hoje pouco criativo, né? E nós estamos descobrindo isso. Então quer dizer se existe Mottainai, nós temos que repensar os nossos modelos educacionais, a nossa educação, o ambiente das nossas empresas, o ambiente das nossas cidades, porque nós temos que mudar essa realidade. Se ficarmos só 2%, possivelmente, nós vamos sofrer as consequências que talvez nós já estejamos sofrendo hoje. Deixa eu falar sobre a nossa visão sobre agricultura, foi me colocado um texto lá "nova visão na agricultura": o mundo está mudando rapidamente e, com as tecnologias e conhecimentos disponíveis, essas mudanças estão sendo aceleradas cada vez mais. Os estudos dizem que o conhecimento na face da terra demorava no passado, 50 anos atrás, o conhecimento dobrava na face da terra a cada 50 anos. Essas coisas foram acelerando e, hoje, possivelmente, o último dado que eu tenho, a cada 18 meses o conhecimento dobra na face da terra. Então algo extraordinário está acontecendo na nossa sociedade, no tempo 176
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em que a gente vive. Não dá para gente pensar mais no mundo do futuro pensando de forma velha, temos que pensar novo, as coisas velhas ficaram obsoletas, temos que pensar no novo. Agora, é duro pensar no novo, não é fácil descobrir coisas novas, de fato, não é fácil. Então eu tenho um pensamento, já tenho digerido matemática a mais de dez anos, e tenho pensado que no futuro nós vamos ter que saber integrar mais as coisas. Nós vamos ter que integrar um com o outro, instituição com instituição, temos que pensar que todas as coisas devem estar integradas. Recentemente, eu perguntei para o pessoal nosso de Recursos Humanos da Jacto "O que vocês têm a ver com educação pública em Pompéia?", e aí, naturalmente, eles não deram resposta nenhuma, porque não tinham, mas eu disse "Sabe, tudo. Porque 40% desses meninos que estão na escola pública hoje vai trabalhar na Jacto um dia no futuro", agora, se nós recebemos uma mão de obra mal qualificada, de comportamento ruim, como é que nós vamos competir no futuro com gente desse jeito? Recentemente, nós demos aula para 300 funcionários da empresa e nós só contratamos pessoa de nível médio na empresa, do médio para cima. Nós tivemos que dar aula de matemática, aula de português, porque eles não conseguiam desenvolver nem matemática nem português a contente. E hoje, no sistema que nós atuamos, muitas coisas no computador, muitas coisas que nós precisamos de decisões do próprio funcionário. Então eu tenho pensado e alimentado, eu só vou resumir, esse é outro tema que poderia gastar horas para conversar, mas eu só vou dizer o que eu penso sobre o futuro: no futuro, as empresa estarão entrando num ambiente competitivo, onde o fator principal da competitividade vai ser o ecossistema no qual ela está inserida, se uma empresa estiver inserida dentro de um ecossistema avançado, desenvolvido e forte, contra uma empresa que estiver num ecossistema pouco desenvolvido ou não desenvolvido, certamente, as empresas que estiverem inseridas dentro desse ecossistema mais desenvolvido vão prevalecer. Então nós temos que pensar "Quem é que cria esse ecossistema?", nós. Nós temos que começar a juntar os punhos, nós temos que começar a trabalhar mais unidos, nós temos que entender que nós não somos uma ilha, não somos um indivíduo separado. Aliás, a nossa sociedade nos trouxe uma mentalidade muito individualista, mas nós temos que começar a fazer o pêndulo girar para o outro lado, porque nós somos uma sociedade, uma comunidade 177
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que precisa se interligar, e se existe oportunidade, no futuro, onde a gente possa ser mais competitivo, melhorar produtividade, melhorar inovação, melhorar num monte de coisa, é estar no ambiente onde nós estamos inserido à medida em que desenvolvemos o ecossistema. Então, competitividade no futuro está relacionada com o ecossistema no qual você está inserido. Se nós não estivermos um ecossistema forte, parrudo, desenvolvido, possivelmente nós vamos regredir, talvez quebrar, ou talvez nós vamos ficar irrelevantes. Agora, criar ecossistema exige dedicação, paciência, muita conexão, e nós temos que fazer isso continuamente para que a gente possa ter a oportunidade de brigar um dia no futuro em condições, pelo menos, de igualdade com outros ecossistemas. Creio que isso é uma questão muito importante também, porque não aproveitar a sinergia que existe dentro das comunidades também é Mottainai, também é desperdício, porque elas estão aí, só precisamos conectar. Com essa palavra, agradeço a atenção e muito obrigado por esse momento e essa oportunidade.
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INTRODUÇÃO À AGRICULTURA DIGITAL
Palestrante: Carlos Eduardo de Mendonça Otoboni Professor do curso de Mecanização em Agricultura de Precisão e Diretor da Faculdade de Tecnologia Shunji Nishimura
Eu vou falar um pouco do nosso trabalho. Nós estamos na Fatec de Pompeia, principalmente, na Fatec Shunji Nishimura. Só para registrar aqui, eu fui o primeiro palestrante do Bunkyo Rural. Não sei se vocês lembram, começou em 2010. Em 2010 foi lá na Fatec, estava começando a Fatec e teve o primeiro encontro de vocês, e eu fui dar uma palestra sobre agricultura de precisão, que naquela época estava chegando como uma e eu dei uma palestra ai para vocês sobre agricultura de precisão, e hoje, mais uma novidade é a agricultura digital, e eu estou aqui de novo para falar um pouco sobre esse assunto para vocês. Eu fico lá em Pompeia a semana toda, eu também sou o responsável pelo laboratório técnico de nematologia. Na verdade, a minha formação de graduação, mestrado e doutorado é na área de nematoides. Aquele bichinho que come a raiz da planta, um dos problemas da região. Então eu tenho um laboratório de análise lá também, que é uma parceria com uma empresa que é muito parceira da Fatec, e o empresário acabou investindo e montando um laboratório lá, e eu fico lá. E obviamente lá na Fatec Shunji Nishimura, quando a gente iniciou o curso de agricultura de precisão e de mecanização, a gente veio evoluindo muito nesses assuntos de tecnologia. Nos últimos 5 anos, e isso se deveu a uma popularização que teve com a tecnologia da informação, a agri179
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cultura digital vem se firmando como uma interessante ferramenta para os agricultores, técnicos de campo, de modo que a fazenda está no seu computador, na sua casa. Ainda é um trabalho bastante braçal, depende ainda de um conhecimento de manipulação da tecnologia bastante alto, mas a tendência é que essa agricultura digital vai chegar ao produtor sem dúvida alguma, e muitas coisas já dá para se fazer sozinho, e essa agricultura digital vai permitir no futuro que se faça uma agricultura de simulação. Então, o agricultor, antes de fazer o plantio, fazer a lavoura dele, pensando aqui só em culturas anuais, culturas orgânicas, ele vai poder simular lá, como se faz na indústria, vai fazer um protótipo de um equipamento, uma máquina, ferramenta. Primeiro o cara simula umas 200, 300 vezes para depois fazer o protótipo. O agricultor vai chegar nessa fase também, que ele vai poder simular lá o seu processo de produção, fazendo todos os cálculos e análises que precisam ser feitas e depois executar aquilo da melhor forma possível. A primeira coisa que eu pensei foi: vamos pegar um exemplo de missão de agricultura digital, para a gente uniformizar as ideias, porque a gente começa a ter um norte do que é esse assunto. Na primeira parte, eu vou fazer um ensaio aqui, de futurismo, que tem nos levado lá em Pompéia, principalmente com aquele Pool de Empresas, do Agronegócio, que partiu ali conosco, juntamente com a Jacto que é a nossa grande parceira a inovação à agricultura. O que tem levado essa inovação? Qual é o caminho que as empresas tem procurado para desenvolver novos produtos e tecnologias para a agricultura? E tem criado o espaço para a agricultura digital. E no segundo momento eu vou fazer uma apresentação de alguns cases de aplicação da agricultura digital na agricultura. Então, a agricultura digital nada mais é do que o uso intensivo de diversas técnicas ligadas à informática, aplicadas na gestão completa da propriedade agrícola, para auxílio às decisões que o produtor precisa tomar. A disponibilidade cada vez maior das economias digitais é a base para essas novas tecnologias. Essa definição é de uma empresa, da Falker, do Rio Grande do Sul, que é nossa parceira lá em Pompéia, na verdade de um engenheiro dessa empresa, que começou a estudar esse assunto, e fez essa definição bem clara. Então, nada mais é do que a chegada da tecnologia da informação de forma massiva, de forma popularizada e relativamente bastante barata. A cada dia mais está se barateando essas coisas ai. 180
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E olha que interessante. Para que serve a agricultura digital? Na verdade, vai ser uma importantíssima ferramenta de gestão, de o agricultor começar, ele vai plantar lá um milho, ou uma soja, trigo, um algodão. Então o que ele faz? Ele faz lá os planos dele, enterra mais ou menos 1700, 2500 reais por hectare dentro da terra, e precisa chover, porque se não acontecer isso ele vai perder todo aquele dinheirão, que ele investiu sobre o plantio. E a agricultura digital, vai ajudá-lo então a fazer simulações, a prever coisas, a ter informações mais assertivas da situação dele e, consequentemente, ter mais segurança da gestão do seu processo de produção, sem dúvida alguma. Bom, o que tem nos levado à inovação em Pompéia? No processo de inovação? É essa mudança que a gente está percebendo de como a agricultura está sendo realizada no campo, isso é um dado da FAO, e eles estudaram bastante essas evoluções, começaram lá pela silvicultura, os nômades, depois passando para a agricultura camponesa. Depois da segunda guerra mundial, chegamos à agricultura moderna baseada no uso de química, fertilizantes, inseticida e maquinários, foi a famosa revolução verde, e hoje nós estamos caminhando para o que a gente chama de agricultura baseada no conhecimento.
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Nos últimos 50 ou 60 anos, houve um acúmulo muito intenso de conhecimento agrícola, tanto por agricultores, como por técnicos de campo, cientistas, universidades, e centros de pesquisa. Porém, esse conhecimento fica muitas vezes guardado, nas universidades, nas bancadas de laboratório e não chega ao agricultor. Com a informática, biotecnologia, design, e integração, isso está começando a chegar mais rapidamente ao agricultor. E essa agricultura baseada no conhecimento é que tem sido o vetor que tem dirigido a inovação dentro das empresas do agronegócio. E três coisas tem demandado a evolução da tecnologia, que a gente chama de tecnologias exponenciais. É a própria tecnologia da informação, ou seja a digitalização do campo, que tem tudo a ver com a agricultura digital, a biotecnologia e a nanotecnologia, são três grandes vertentes ai, que tem chegado intensamente no campo. Principalmente a primeira, tecnologia da informação, a digitalização do campo já está em uso há muito tempo, muitos de vocês já devem ter usado ela, e ela já está acontecendo. Pela própria popularização d isso, hoje se você pega o seu smartphone você tem a mesma capacidade computacional que você tinha no desktop PC há 10 anos. Então, você pega o seu telefone que serve como um PC de capacidade computacional, que você pagava 3 mil dólares 10 anos atrás,
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e hoje você compra por 700 reais. Houve uma popularização, barateamento em função dessa chegada intensiva da tecnologia da computação. Você não precisa ter mais HD em casa, não precisa mais ter computador com HD, você faz tudo online, na nuvem, você acessa lá os computadores da Amazon, Microsoft, da própria Apple, está tudo na nuvem e pronto, você faz todo o processamento digital que você quer fazer e depois ter o resultado para você trabalhar. Na biotecnologia já tem algum tempo que isso está acontecendo. A mudança que a tecnologia trouxe numa herbicida em soja, eu lembro quando eu estava formando na faculdade, os caras que entendiam de herbicidas de soja eram chamados de mosca branca, o cara era disputado por todas as indústrias químicas. Hoje, quando vem a biotecnologia da transgenia, o cara perdeu o emprego, porque não precisa mais do cara para fazer o herbicida de soja. Obviamente, isso causou vários problemas, que a FAO está retornando a essa tecnicação. E a nanotecnologia é o desenvolvimento de novos materiais, principalmente de defensivos. É tudo mais seguro, menos tóxico, mais efetivo, dosagens menores, tudo trazendo ganhos de sustentabilidade e ambientais enormes. Dentre as 3 tecnologias, uma ressalva que eu faço é o seguinte, biotecnologia e nanotecnologia demandam muito investimento em ciência. E o Brasil infelizmente não tem essa capacidade, ela investe em ciência, mas não o suficiente para ele competir com outros lugares do mundo nessas duas tecnologias. Agora, dentro da tecnologia da informação, da digitalização do campo e da agricultura digital, o Brasil pode se aproveitar da popularização que houve nesse setor. Bom, a tecnologia exponenciada nada mais é do que a tecnologia que em determinado momento ocorre a disrupção desse produto, e ele vira uma coisa de conhecimento de mercado exponencial. Ou seja, aquela empresa atinge níveis inimagináveis de ganhos em função daquele produto que ela desenvolveu. E essas tecnologias exponenciais seguem 6 caracteristicas, que a gente chama de 6D´s que são importantes para o desenvolvimento para qualquer tipo de produto desse tipo. O primeiro é a Digitalização, que tem a ver com a agricultura digital, popularização que já ocorreu, o momento da Decepção, que o cara está com aquela tecnologia exponencial, aí ele olha e fica em dúvida se vai mesmo, tem que aguentar essa fase. A Disrupção, que vai romper aquele envelhecimento natural da empresa que é linear, e vai passar para um modelo 183
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exponencial, a Desmaterialização, que tem a ver com a Digitalização, produtos desmaterializados, que tem tudo a ver com a tecnologia da informação, são os que vão dominar aí o desenvolvimento, em vários setores, inclusive na agricultura. A Desmonetização tem que ser muito barata, para que todos possam usar, e a Democratização, não pode ter muito conhecimento envolvido à aquele produto, porque se tiver, não vai para frente, ele tem que ser fácil de usar e todo mundo ter acesso a ele, a tecnologia. Então, produtos e serviços da agricultura moderna seguirão principalmente esses 6 D´s de desenvolvimento. Vou dar um exemplo do caso do Uber, que é uma tecnologia exponencial, uma empresa exponencial. Em 2016 o dono do Uber, CEO, anunciou 2 bilhoes de viagens através do Uber. Só que é o seguinte, a gente demorou 5 anos para atingir 1 bilhao, e demorou 6 meses para atingir o segundo bilhão. Então houve o quê? um crescimento exponencial. E de quantos carros o Uber é 184
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dono? É totalmente desmaterializado, não possui frota de carros. Ele só organizou o setor, colocou as pessoas se comunicando entre si e usando os seus próprios veículos para funcionar o sistema. Existe o Airbnb. Quantos apartamentos ou casas ou hotéis que a Paula tem? Nenhum. Veja o Netflix, não tem loja. O que aconteceu com o Blackbuster, e todas as locadoras de vídeo? Então essa é a tal da Desmaterialização, a acessibilidade e tecnologia da informação, que vai chegar à agricultura também.
Drone, vou falar do caso do drone: eu fui vítima desse programa. O drone, segundo o DroneShow, já atingiu um volume em 2017 de 300 milhoes de faturamento. A tecnologia do drone. Tá aqui os usos na agricultura. A previsão é de crescer 30% em 2018. Pode ser mais. Ou seja, olha o tamanho do mercado do drone que houve nos últimos anos. E logo mais você será capaz de pilotar um drone, só usando os movimentos do corpo. Olha a ideia que os caras tiveram. Você vai dirigir o drone, vai vigiar a sua fazenda, vai digitalizar ela, vai ficar olhando o que está acontecendo no seu processo de produção e ainda vai fazer exercício físico. Vai ficar movimentando o drone com o corpo, porque você vai estar com o corpo dentro do drone, vai estar com o óculos da Google, vai estar 185
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olhando aqui, dirigindo o drone, vendo o que está acontecendo na sua lavoura, se está tudo bem, e vai estar fazendo exercício físico. Bom, o que aconteceu, em 2014, numa empresa lá em Pompeia. Eles falaram: vamos montar um negócio do drone, e eu fui lá e pedi esse plano de negócio para ele. Olha, tem um bilhete, vai no empreendedor, pede o serviço. Vem na startup, faz toda a análise da situação dele, depois retorna isso pro cliente. O que aconteceu com essa empresa? Não foi pra frente, acabou, não deu, não virou nada, não vendeu um serviço. Por quê? Houve essa exponencialidade do drone. Hoje qualquer um pode comprar um drone baratinho, e já começa a olhar lá a fazenda, olhar a produção, como está acontecendo, e com um pouquinho a mais de dinheiro já começa a pegar um pouco mais de experiência, já começa a bater umas fotos da sua fazenda, digitalizar ela, e daqui a pouco está fazendo coisas inimagináveis com essa informação. Segundo a federação de agricultores norte-americanos, a agricultura digital pode trazer ganhos de até 13% na produtividade e uma redução de 15% nos custos. O que eu faço hoje? Hoje eu uso a agricultura digital para nematoides. Obviamente, estão trabalhando isso mais lá em Goiás, Mato Grosso, que são as grandes áreas. Chega a reduzir os nematoides em 80%, porque é praga localizada. Por que eu preciso jogar o herbicida na área toda? Se eu posso jogar onde se tem os ninhos dos bichos. Então, chega a economizar em 80% defensivamente. Olha aí os ganhos econômicos, ambientais e até sociais do dinheiro. E isso tem tudo a ver com a nossa questão da complexidade que nós temos no processo de produção agrícola. O agricultor, agrônomo, ou técnico de campo tem que entender de uma séria de ciências, e outras como energia, economia, extração. O cara tem que ser macho. E olha que a gente vai para agricultura tropical, que é a agricultura brasileira, e você tem tudo isso, que vai precisar. Chove diferente, o clima aqui pra gente é caótico. Este ano, alguém estava comentando, choveu 400 ml até julho. Aqui chove mais ou menos 1400ml, tem que chover 1000ml até as últimas horas. Entendeu. Foi totalmente diferente do ano passado. E a agricultura tropical, ela depende do que você fez no ano passado, tem que estar no seu "hub" e ver se consegue fazer as coisas bem feitas esse ano. E a agricultura digital vai permitir isso, que você materialize, digitalize tudo aquilo que você fez no ano passado, para tomar decisões no presente. Enquanto lá na agricultura temperada não tem esse problema, porque todo ano o agricultor começa do zero. 186
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Tem o inverno, é que nem um botão de "reset", eu vou lá, desligo o computador, no ano que vem liga o computador, e começa tudo do zero. Não precisa das informações passadas. E olha a oportunidade que a gente tem, você pega milho, teve um cara aqui no Brasil, que produziu 411 sacas por hectare, e a nossa produtividade média naquele local é de 90 sacas. Então a falta de domínio daquela complexa agricultura tropical fez com que a nossa média caísse para 90 sacas. Mas teve um cara que dominou bem e.. . Que esse cara fez? Não dá para repetir? Qual é a receita? Soja: 173 sacas por hectare, a colheita da soja. A nossa média é 53 sacas. Ou seja, dá para crescer 3x em quantidade de soja. Arroz da Ásia, dá para crescer 2x. Por quê? Porque quando você compra semente, seja do que for, o potencial benéfico está ali na semente, e ela pode chegar a isso aqui. Ela só não vai chegar no potencial benéfico dela se alguns problemas acontece-
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rem durante o seu processo de produção. Então, nós temos uma extrema oportunidade para desenvolver as nossas quantidades nas lavouras. E a grande oportunidade dentro dessa área de inovação da agricultura, que nós vemos no momento, é esses três setores, que trabalham com a tecnologia da informação, digitalização do campo e desenvolver algoritmos que possam automaticamente nos entregar no nosso smartphone, como se fosse um painel de carro, o que está acontecendo na nossa lavoura, isso em tempo real. E como se fosse um painel de um carro, está lá na placa 80 Km por hora, e a hora que eu chego lá naquela placa o painel marca 100. O que eu faço? A decisão? Tiro o pé do acelerador. Ou então eu posso correr, por o pé no acelerador, tem frear, e assim por diante. E obviamente isso vai passar também por uma automatização bastante grande da agricultura. A entrada de maquinas autônomas e robôs para fazer os processos agrícolas: Dificilmente a gente vai competir aqui com japoneses, americanos, alemães, que já estão há anos luz à frente de nós em termos de sensores, equipamentos, baseados naquelas tecnologias exponenciais. Mas aqui a gente tem um papel fundamental, porque a nossa agricultura é tropical, diferente da deles. E o que eles fazem lá não serve para cá. Lembram do arado? O arado foi copiado deles lá. Então, o que a gente faz aqui é totalmente diferente do que eles fazem lá. E a gente tem que desenvolver as nossas coisas. E a próxima fronteira agrícola onde é? África. Que tipo de agricultura é lá? Tropical. Então nós vamos fazer a transferência do nosso conhecimento lá para os nossos "hubs" lá na África, sem dúvida. E por que agricultura digital? Se você tem dúvida, vamos ver por que a gente usa isso aqui 188
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para manejar nematoide. Como as coisas acontecem lá no campo. Pragas, doenças, fertilidade. A maneira A, B ou C? Nematoides por exemplo, como ele acontece? Agora eu pergunto pra você, como nós fazemos os nosso tratos culturais? Vai pulverizar, o equipamento a jato, quanto mais você acelera, mais ele joga veneno, se desacelera ele diminui, ou seja, para ficar tudo uniforme. Uniformidade de aplicação. Poxa, se as coisas acontecem da forma B, e C, por que eu estou fazendo da forma A? Porque a gente não tinha ferramenta nem tecnologia para fazer das formas B e C, e hoje nós temos, e passa pela agricultura digital. Então chegou lá um agricultor e falou: ah apareceu um desenvolvimento de nematoides lá na minha soja. Eu falo: a primeira coisa que eu faço é baixar a imagem do satélite, e olho. Ah você tem um problema, ali, ali e ali. 90% da sua fazenda está belezinha. Porque a gente fala que tem nematoide e a gente já arrepia. E não é assim, vamos ver como é que está essa situação. E ali ele já começa a entender como é o design que a gente falou, do problema dele, e ele pode atacar, com tecnologias, hoje já desenvolvidas, da forma C o problema que ele tem ali naquele campo. Então, a gente está migrando desse tipo de traço cultural para os traços B e C. Na de B, questões de fertilizar o solo e C , onde você vai pulverizar a fazenda contra percevejo. Um inseto que ataca a planta. Qual é o seu alvo? É o percevejo? É a planta né, tem que deixar tudo cobertinho. Não é o percevejo. Então você dá um tiro de canhão para matar um mosquito. E obviamente há muita perda econômica, ambiental, quando você faz esse tipo de trabalho. Mas hoje, e muito se deve a agricultura digital, a gente pode migrar do A pro B ou C. E agora eu vou dar alguns exemplos de como isso vem acontecendo. Essa digitalização do campo vem acontecendo. Primeira tela que chegou pra nós, que foi pioneira, foi da barra de luz. Quem estava aqui em 2010 já viu que a gente já apresentou. O mesmo slide, a mesma apresentação. Qual é a Barra de Luz? É um marcador GPS, que está ligado lá. Cons189
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telação satelital GPS, que é uma coisa inimaginável na nossa cabeça, tem lá 32 satélites, totalmente sincronizados a 22 mil quilômetros de altitude. Um avião voa na altura de 10 km, 10 mil metros, um avião de grande porte de passageiros. O satélite está a 22 mil quilômetros de altura, e sincronizados. Você liga agora o seu celular que tem um GPS, agora eu vou fazer essa pratica a tarde, você tem lá 6 metros, 3 metros de precisão, aonde você estiver no planeta Terra. Você tem a latitude e longitude, latitude 80 graus e no hemisfério sul e norte com 3 metros de precisao. Enquanto está voando lá, a 22 mil quilômetros, e você tem uma precisão dessas. Ela começou a digitalizar, quando ela saiu desse sistema que era só de navegação. O cara tinha que ter 2 neurônios na cabeça, 2 neurônios pequenos e ele conseguia dirigir. Dai passou a digitalização quando ele começou a materializar o campo de produção, teve uma telinha ali, e já começou essa tal de digitalização. Estamos falando há mais de 10 anos, uns 15 anos para trás. E o que eu posso entender com esse tipo de tecnologia? Olha, na época, eu já conseguia saber o seguinte. Convencer o cara a pulverizar a lavoura a 16 km por hora. Ele fez o trabalho lá, depois eu peguei o mapa digital do trabalho dele, que é esse ai. E como ele anda a 16 km. Quando ele
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andou a 16 km por hora? Onde está amarelo. Olha ai. Se viu, que danado. E eu mandei ele pulverizar a no maximo 16 km por hora, e tudo onde está amarelo ele correu a mais. E outra coisa, olha o buraco que ele deixou aqui no trajeto. O que aconteceu, ele já devia estar perto da hora do almoço. Ele não teve dúvidas, foi para casa, foi embora. Olha como ele correu no trajeto, foi para cima dos 16 km por hora. Imagina essa máquina pulando ai, causando dano em manutenção. Pergunto pro software, pro mapa digital do trabalho dele, quanto ele percorreu acima de 30 km por hora, olha lá onde está em amarelo. O cara voou. Ainda bem que o computador de bordo da máquina consegue corrigir essa dosagem, mas agora o cara foi pros quiabos né. Aumentou certos problemas quando você aumenta a pressão, no pico, diminui no outro. Então, nós já temos aqui a digitalização no campo há mais de 15 anos no meio da agricultura. E ai o outro já está mais sofisticado. Já tem um mapa digital lá no Google Earth, quando você vê lá o trabalho como foi feito, parece que foi feito bem feitinho. Teve aqui uma sobreposição, você vê que ficou duas vezes no mesmo lugar. Desperdicio. Mas na hora que você aproxima esse mapa você come-
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ça a ver. Olha ai, o tamanho do buraco que ele deixou. Talvez tinha algum obstáculo, para ele fazer essa curva. Obviamente isso aqui vai prejudicar a soja. A ressurgência dessa doença é muito veloz, e vai me demandar fazer, ao invés de uma, varias pulverizações no campo. Piloto automático: Olha, o nosso cafezal, usando tomate, olha o tamanho da parafernália que tem que fazer, tem que ter as antenas de radio, o módulo, exaustor, painel, computador de bordo do trator, receptor GPS, para dar a precisao correta, uma polegada de precisão. Esse trator é o que a gente tem lá em Pompeia, se você jogar uma moeda lá no campo e ter a coordenada dele, ele vai lá e busca sozinho. Olha aí como fica bonito, retinho. O mais interessante é que eu consigo digitalizar essas linhas. E se eu quiser colocar numa colhedora, eu coloco e ela anda sozinha lá no piloto automático. Isso aconteceu na cana. Qual é a bola da vez nos últimos 5 anos de produção de açúcar e álcool? É desenvolver e materializar as linhas de plantio, para colocar na colhedora de cana. Reduzir o pisoteio, principalmente. O pessoal está chegando a níveis de 15 - 20 % a mais de rendimento usando esse tipo de digitalização no campo. Com a tecnologia, ele desliga o pulverizador onde ele já passou, para tirar aquele problema da sobreposição, para vocês terem uma idéia, você chega a 192
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reduzir 96% da sobreposição em uma área. É muito dinheiro, e hoje nós temos até o corte de sessão, ele está olhando o serviço pelo retrovisor, isso é um problema, e eu posso dar uma bronca no meu operador. Ou se for eu mesmo o operador, eu tenho que fazer a coisa mais certinha da próxima vez.
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Hoje nós temos a telemetria, tudo isso que está acontecendo no campo, essa digitalização da operação, vai chegar para você em tempo real, ou no seu computador ou smartphone. O operador está lá trabalhando e você está olhando o trabalho dele. Qualquer erro ou qualquer problema que você enxergar naquela operação, tem até sistema de alerta, ele vai avisar você que está tendo problema, olha que interessante. Está com o smartphone no bolso, daqui a pouco você vê ele tremendo, você olha e vê que está tendo problema no trabalho do cara, você já telefona pro cara, e fala: para que está tendo problema. Às vezes ele não está vendo, o gestor da operação. Então você vai poder monitorar uma série de coisas, por exemplo: velocidade. Olha essa área, o cara estava trabalhando a 16 km por hora, e passou para 24 km por hora. Houve uma mudança na qualidade da pulverização. Olha que interessante isso aqui, isso foi telemetria. Os caras começaram várias frentes de trabalho, cada pavilhão deste uma máquina, e depois quando viram o trabalho dos caras, todo mundo tinha que trabalhar até essa corzinha aqui olha. Olha como ficou o serviço. Daí vem depois: ah não funcionou, o produto não presta. Por que não presta? Houve erro operacional. Aqui, aplicou quase metade da dose, que era 250 L por hectares no amarelo. Ele começou certo aqui, depois ele apertou um botão no computador e mudou tudo, ficou um chacoalhão, às vezes soltou um fio, ou alguma coisa, isso acontece às vezes algo quebra. Mas daí começou a fazer tudo errado. Então aqui, eu já poderia ter avisado ele. Pára, deu problema. Ele vai, pára, corrige, e faz o trabalho certo, porque desta forma não está funcionando. Só de parada para trocar o cara, demorou 35 minutos para trocar o operador. Por quê? O cara não estava lá na frente, não estava lá na hora. Por que 35 minutos para trocar de 194
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um operador para outro? Traduzindo esse tempo em dinheiro, só essa parada, já custou 180 reais. Fora isso, veja isso acontecendo em tempo real, faltou esse pedaço aqui que eu estou vendo em tempo real. Sobreposição: você esta vendo o trabalho, 4%, nesses casos aqui, 20%, nesse caso aqui. Jogou fora o produto. Só para se ter uma idéia, em 1000 hectares, se você trabalhar bico a bico em relação ao controle de corte de sessão, você já está tendo uma economia de 60 mil reais. Dá pra comprar um carrinho né? 195
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Só de usar, transferir essa tecnologia, de tirar do operador essa questão. Esse é um trabalho que foi feito lá, ainda bem braçal, foi feito em 2012. Lá em Pompeia, na nossa área de milho, pelo professor Tanaka e a Lívia Marques, que começaram a monitorar todos os fatores de produção que tinham lá no campo. Ver a produtividade, a matéria orgânica, o que usa aqui ele usou aqui, nematoide, QP. E gerou os mapas digitais de cada fator. Então, um mapa onde ele vê a porcentagem, quanto que ele adicionou na produtividade? 13% positivo. Aonde ele vê por cento, em 13% na área, a produtividade foi mais alta. Matéria orgânica 32%. Então em 32% onde a matéria orgânica estava alta, a produtividade foi alta. Nematoide -5%, negativo aqui, então aonde o nematoide estava alta em 5% a produtividade foi baixa. Qp 84%, opa! Achei o bicho. Então ficou uma relação de 84% da produtividade do nosso milho, lá em Pompeia. Lá é pequenininho, 12 hectares, o que a gente planta lá. O que é
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esse QP? Qualidade de plantio. Então descobrimos o que mais influenciou na produtividade do nosso milho, foi a produtividade do plantio. Qual foi a decisão? Tínhamos varias decisões: Mandar o operador embora, ou trocar a plantadeira, que a nossa plantadeira era desatualizada, devia ter trocada pela pantográfica, porque Pompeia se der um tropicão, você cai lá, porque você está no meio da Serra. Então a nossa decisão era a de trocar a semeadeira. Porque o operador era nós mesmos. Por que nós iriamos mandar embora nós mesmos? E então pedimos uma plantadeira para Baldan e ela bancou uma plantadeira pantográfica, e a gente resolveu o problema, e hoje a gente planta tudo bonitinho. Com a plantadeira pivotada, que afundava mais a semente é que ficava a semente rasa, e aí nascia tudo irregular. A aparência é que tudo isso hoje é muito trabalhoso. A TI, requer um conhecimento de tecnologia da informação alto, mas a tendência é que tudo isso vai ser automatizado, para o agricultor, você vai estar fazendo os processos, as máquinas vão ter os sensores, e vão estar te gerando esses mapas digitais automaticamente. E no final, o ideal é que o produtor, ao invés de ter grãos, quantidades de saques por hectare, tenha um mapa de lucratividade, saber o quanto ele ganhou. Por quê aqui eu ganhei muito dinheiro e aqui eu não ganhei nada? Porque não nasceu milho aqui olha, olha os buracos, foi prejuízo total. Você não coloca todos os custos aqui. Certo? E algumas inovações de cursos. Já foram desenvolvidos lá em Pompeia a primeira smart-trap. O que é a smart-trap? Para algodão. É uma armadilha totalmente digital, do bicudo do algodoeiro. Isso aqui já existe no mercado. É a armadilha normal, o produtor coloca lá no algodoeiro, só que todo dia ele tem que mandar um carinha lá, para ver se tem o bicudo do algodoeiro. O que o pessoal fez lá? Automatizou essa coleta de dados, e a câmera digital, fica 197
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batendo foto aqui, e você pode programar: eu quero uma foto a cada segundo, e vai bater uma foto a cada segundo. Ou você pode botar para tirar uma foto a cada 3 horas. Muito mais eficiente do que mandar um cara lá a cada 2 dias. E ele fica monitorando, isso aqui funciona a energia solar, isso aqui é um rádio, e isso aqui é transmitido automaticamente para o seu computador lá no seu escritório. E dai você fica monitorando lá a sua area de algodão, com relação ao ataque de bicudo. E depois, ele gera os alertas, você instala lá no seu algodoeiro, olha a foto, os bicudos capturados na armadilha. E ele te gera os alertas, olha o que ele esta dizendo, que aqui nessa área, já está cheia de bicudo, nessa região. Enquanto nessa região não tem nada de bicudo, tem um aqui. E você fica monitorando, ele está entrando por aqui olha. Foi interessante porque todo mundo achava que o bicudo ficava escondido na mata. Mentira, ele fica escondido na cana. Ele fica na cana escondidinho, e na hora que você planta o algodão, ele sai da cana e vem. É interessante, né. E você pode vir aqui e fazer
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o bloqueio para esse bicudo, ao invés de pulverizar o algodoeiro inteiro, pulveriza só onde ele está chegando, porque até ele chegar pra cá, vai demorar. Nematoide, olha, pode desenvolver ai, fazer demarcações de reboleio, ver qualquer outro problema localizado no campo. Você já tem o equipamento, você programa ele lá, aqui é o trator, aqui é o mapa de aplicação, e depois você realiza a aplicação só na reboleira (a parte mais densa do campo semeado). Isso nós fizemos em 2014, lá em Pirarema, foi um dos primeiros testes, dessa aplicação localizada de nermaticida em soja. 80% de economia. O talhão era enorme aqui. E só aplicamos em 9% do talhão. Se fossemos aplicar demais, deu 18% do talhão, por quê? Porque ele te deu um "buffer", por questão de segurança, por precisao de GPS, mas poderia ter aplicado em apenas 9% do talhão. Olha, manejo do agricultor, manejo localizado. Vamos de drone, 74 dias após o trabalho, deu resultado? Não precisa nem fazer a estatística né. Cadê o nematoide aqui? Sumiu. E aqui o manejo do agricultor, cheio de reboleira. Questão do herbicida. Glyphosate, quase proibiram agora né. Mas olha, nós já temos vários capins ai, plantas resistentes, em relação ao Glyphosate, e você começa a ver que isso aqui é do capim amargoso, nasceu na área. Tá lá olha, porque é resistente ao Glyphosate. Soja, passa lá, acaba tendo a resistência. Preciso pulverizar o segundo herbicida na área toda? Não, com a digitalização, você vai, demarca as regiões, 10 poligonos, e você pode tirar uma imagem de drone, de satélite, de alta resolução, ainda é cara, mas vai baratear. O drone é baratinho já hoje, todo mundo pode ter um. Você vai lá, voa, faz os polígonos, vai pulverizar o urgicida, coloca o herbicida só para ligar e desligar nesses polígonos. Curtinho e baratinho, sem agredir o meio ambiente, mesmo porque, não sei se vocês sabem, em gestão direta de defensivo, os pulverizadores, a tecnologia já está pronta desde a década de 90. Nós não usamos 199
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ainda para este tipo de trabalho. Está lá, guardado, na engenharia. Sensores hyperespectrais. Isso é uma novidade que vai crescer muito para nós. Eles vêem o que os olhos não vêem. Se a gente pega no espectro eletromagnético, das ondas eletromagnéticas, é só isso que a gente enxerga. Olha o tamanho do espectro magnético. Então tem muita coisa que a gente pode
desenvolver de sensores, que eles vão enxergar para nós aquilo que nós não estamos vendo. Isso aqui é um trabalho feito da CytroVita, em 2009, faz mais de 10 anos, detecção de laranjas com "greening". Sem eu saber que ela está com "greening". Antes ela estava lá com um chicotão vermelho e amarelo, amarelado, um dragão amarelo. LongPing, o nome da doença, do chinês. Dragao amarelo. Então, antes de você ver o sintoma, o sensor hyperespectral já está detectando a doença. É um bem preventivo. Essa é de algodão, na cidade de Luís Eduardo Magalhaes. Queria saber de nematoides. Eu falei, vamos de drone, olhei e digitalizei a área dele, com o drone. Olhei a área de algodão. Tem problema de nematoide aí? E olhando só a foto da área dele. Tem problema? Não né, não tem problema nenhum, não estou vendo nenhum buraco. Mas a hora que eu faço a análise invisível, uso 200
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esse tal de sensor hyperespectral, e eu começo a ver as reboleiras começando. Então, antes de dar o problema, é a mesma imagem, só que aqui eu estou calculando o índice de refração por diferença normalizada da área. E ai, eu fui lá e mostrei, olha, realmente, aqui tinha pouco nematoide, e aqui já estava lotado de nematoides, 2480 na raiz, tinha 2 tipos de nematoides, nematoide da galha e nematoide das lesões. Ou seja, antes de o problema acontecer, eu já sei que tem um problema na safra seguinte. Já vamos nos prevenir, usar alguma coisa nas manchinhas, para não dar problema no algodão do ano que vem. Ah, a minha fazenda tá espestiada de nematoides. Fui lá voando de drone, olhei numa área dele, depois analisei a imagem dele. Falei vish, isso é nematoide? O que está acontecendo? Realmente é nematoide, mas o que está fazendo ele virar demilitar desse jeito assim? O pulverizador. O cara, eu falei assim, perai, a primeira coisa que o senhor tem de problema aqui é a sua irrigação, que era pivô. O cara estava lavando a lavoura dele ali, tanto é que tem uma erosão forte aqui. E o que houve? O pulverizador e a roda do pivô estão acenando nematoide, o cara estava andando no barro. Então, a primeira coisa que o senhor tem que fazer é corrigir o seu manejo de irrigação. Depois a gente vê os outros problemas.
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Café, olha. Essa área aqui, está vendo o problema no café? Não né. Os olhos não vêem. Mas eu calculo e sei que essas plantas aqui já estão doentes, e essas daqui estão bombando. Isso daqui é fotossíntese. A planta absorve o vermelho e reflete o infravermelho. E esse índice mede esse pico. Quanto a planta está absorvendo de vermelho e quanto ela está refletindo de infravermelho. Quanto maior, mais sadia ela está. Calcular a área do problema na soja dá pra fazer. Café, economizar numa ação. O que eu consigo fazer numa área dessa aqui que tem problema com nematoides no café? Consigo reestabelecer a salubridade da planta? Não, já tentei de tudo. Mas o que dá para fazer? Dá para economizar em adubo. Faz sentido eu jogar adubo aqui o mesmo que eu jogo aqui? Não faz sentido né. Então com essa digitalização, a gente pode ter noção disso, transferir para o equipamen-
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to, e só adubar aonde eu vou ter produção de café. Aonde eu não tenho produção, eu não preciso. Então ali, em 3 ou 4 hectares economizamos 25% de fertilizante, paga as operações agrícolas. Máquinas que vão ler plantas diferentes, em função do tom de verde delas. Eu não estou vendo os tons diferentes de verde, mas a maquina vai ver. Vai ver que essa planta é daninha, essa é planta de agricultura, e ela vai aplicar o herbicida só nos pontos que tem necessidade. Manejo por satélite. Que é o que eu mais faço. Hoje a minha principal atividade é caçar nematoides do espaço, é o que eu faço todo dia. Então, eu fico baixando imagem do satélite e fico vendo aonde tem nematoides nas grandes áreas de produção lá em Goiás. Tanto que eu tenho esses 3 satélites, eu dou mais trabalho. LandSat-8, Sentinel 2, Geoeye. O Geoeye é de altíssima resolução, um pouquinho mais caro, esses dois aqui são gratuitos. Essa fazenda lá em Goiás tem 2 mil hectares. Está vendo o problema na área dela? Já começa a ver né. Olha lá, já tem um probleminha lá né. Mas na hora que eu calculo o índice, eu vejo a desgraça que eu caio né. Ai eu olho, tem talhão assim, e talhão desse jeito. A primeira recomendação de manejo de namatóide para ele. Você faz as estradas daqui e depois vem pra cá, certo? O contrario né, se não você vai estar disseminando nematoide. Olha, esse ta203
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lhão, está assim, assado, planta nesse sentido, que é melhor, você vai disseminar menos. Até o sentido do plantio dá para saber, através dessa digitalização. E fazer vários tipos de cálculo, talhão, gerar amostragem. Como que eu mostro naquele mundão de Deus, um talhão de 500 hectares com nematoides? Eu chego com uma enchada? Não, eu vou lá e falo para o fazendeiro, encarregado ir aqui, aqui e aqui. Eu quero saber o que você tem lá. O design do problema que me dá? O tamanho do problema, aonde ele tem problema, e como que está o problema dele, é a imagem que me dá. É a digitalização da área. Então aqui eu vou decidir o que está acontecendo. E ai eu sei que naquela safra, antes de ele colher, antes do agricultor colher, eu já sei que ele vai ter uma queda de 13% da produção. Essa área aqui, 8.13 hectares ele não vai colher nada, zero de soja. E ai vai, cada talhão, você pode fazer para ficar assim. Bom, isso era trabalhoso, dependia da minha cabeça, para fazer esse trabalho aqui. Hoje não depende mais, você pode fazer, esse mesmo trabalho aqui. Já foi democratizado então. Bem, eu e uma equipe de BigData lá em Pompeia desenvolvemos um algoritmo, um software, que faz isso aqui automaticamente, classifica a ima-
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gem automaticamente. Tem dois pivôs aqui ó, e ele que fez isso aqui, dizendo aqui que tinha 30 hectares com problema. Esse pivozao, de 200 e tantos hectares. Não 166 hectares, em 30 hectares o cara está com problema sério. Vetoriza, já transforma isso aqui em vetores, para você gerar mapas e a apli-
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cação localizada automática. Para eu fazer aquele tipo de analise eu devo demorar umas 2 horas. O software faz em 1 minuto. É só clicar um botãozinho lá e ele já faz o trabalho. Tem uma partição, contagem de plantas, isso virou uma empresa, lá em Pompeia. Chamada Cygni, que tem esse portal, se entra lá, tudo computação em
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nuvem, digital, você cadastra a sua fazenda lá, e automaticamente ele gera baixas, e mais satélites aqui, estou vendo aqui ó. Aqui choveu, aqui o cara começou a plantar, aqui choveu de novo, choveu, aqui ele já teve outro plantio dessa área, a cultura está crescendo. Já tenho aqui uma área mais produtiva. Imagem em tempo real. Eu estou vendo o que está acontecendo na fazenda. Posso separar por talhões. Tem esse talhão aqui, por exemplo, aqui a lavoura está crescendo, choveu, choveu, aqui já tá com nuvem, olha, está começando a aparecer uns buracos na área dele. Aqui ele já colheu, já vi que ele já colheu aquela área. Vamos pegar essa imagem aqui. Tá vendo aqui o problema? Nematoide. Olha lá, estava tudo bonitinho, até que está bonito, tem toda uma estatística. Mas no dia 21-01-2018 a 15-02, olha o que aconteceu com a área dele de soja. Foi lá pros quiabos. Ele estava com uma expectativa de produção dessa daqui, e na hora que deu, a expectativa de produção, olha os gráficos como mudaram. É isso que você vai ter no seu smartphone, em tempo real. Você vai estar olhando esses gráficos, e vai saber, que obviamente esse gráfico é muito melhor do que esse daqui. E daí vai tomar as providências, e decisões que você tem que tomar, em cima desse problema. Não vai esperar acontecer. Toda essa área tinha 71 hectares de problema. Você pode passar para o smartphone esses pontos aqui de amostragem inteligente, e o smartphone seu, leva você até o ponto de investigação para você saber qual é o problema que você tem na área. Então, olha, em 2015, eu fiz esse trabalho aqui, e demorei 2 horas, levei 4 horas na verdade, até baixar imagem, e fazer análises, levou 4 horas. O software faz isso em 5 minutos. E o mesmo resultado. Então, tudo isso aqui 207
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que é o processo, foi automatizado, democratizado, foi transformado e trazido para era digital. Qualquer um pode fazer. O que está crescendo e vindo a ser novidade hoje, e vai fazer com que essas coisas cheguem aos agricultores o mais rápido possível, para que ele possa tomar a decisão e a providência o mais rápido possível, e a corrigir os problemas, e ter maior gestão dos seus processos, é a conectividade. Muitas empresas estão se especializando em criar conectividade nas nossas fazendas. IntraNets. Eles vão lá, instalam uma série de equipamentos e você vai ter a sua Intranet na sua fazenda. Você pode ter a Vivo, a Claro na cidade, mas não na fazenda, pois elas não vão lucrar. Não tem gente em quantidade suficiente, né. Dificilmente a Vivo e a Claro vão colocar a antena lá perto da sua fazenda. Aqui no Estado de São Paulo, até que a gente está bem, agora, imagina lá, em Mato Grosso, Goiás. Não tem conectividade. As empresas estão desenvolvendo a possibilidade da conectividade das fazendas, para que eles possam ter acesso aí, e fazer a transferência dessas informações o mais rápido possível. E tudo isso, com a digitalização do campo e a gestão digital da fazenda. Os gargalos atuais são: Conectividade, Algoritmos de aplicativos customizados para os agricultores, e System of system. Sistemas que vão ler o que você fez lá, e vai juntar tudo isso e trazer numa plataforma bem simples de análise, o que está acontecendo lá na sua fazenda, em tempo real. Muito obrigado! 208
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AS OPORTUNIDADES NAS CULTURAS EXÓTICAS Palestrante: Hélio Satoshi Watanabe Consultor da JICA e responsável pelo Programa Garantia de Sabor da CEAGESP
Eu queria agradecer à comissão pelo convite para apresentar um tema um pouco exótico. Inicialmente, eu queria falar que frutas exóticas, na verdade, é tudo que vem de fora, laranja seria fruta exótica; mas para nós, na Ceagesp, a gente considera fruta exótica aquilo que tem pequeno volume de comercialização. Queria apresentar primeiro a Ceagesp. Ela é uma empresa de economia mista que pertence ao Ministério da Agricultura. São dois Ceasas que pertencem ao Ministério da Agricultura: a Ceagesp aqui em São Paulo e a Ceasa de Minas Gerais. Dentro do Estado de São Paulo, nós temos duas Ceasas municipais que é a de Santo André e a de Campinas, o restante pertence à nossa rede. Nós estamos na região oeste de São Paulo. Temos uma área de 750 m², 75 hectares. E na verdade, a infraestrutura já está obsoleta, são mais de 50 anos, e vocês podem verificar que são pavilhões e, hoje, num pavilhão, parar um caminhão no pavilhão é complicado, porque quando foi construído o Ceasa, os engenheiros foram nas grandes empresas da época e perguntaram "Qual seria o caminhão do futuro?" e falaram 7 metros, 8 metros, aí um engenheiro da Ford falou "Olha, o caminhão do futuro terá 11 metros". Então calcularam 30 metros, parar caminhão dos dois lados, 22 metros e ainda teria 8 metros 209
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para você circular no meio. Hoje, só uma carreta sem um cavalo dá 22 metros, vocês veem? Nós temos um problema terrível de logística, principalmente no final do ano. Nós temos 12 unidades no interior e a maior é a que está na capital paulista, que hoje a gente trabalha. Quando a gente fala de produtos são, mais ou menos, 180 a 200, e quando a gente fala de cultivar, pimentão roxo, vermelho, beterraba amarela, couve flor roxa, dá 900 a 1000 produtos por ano. Isso não contando flores e pescados. E nós recebemos produtos de mais ou menos 1500 municípios do círculo brasileiro e de mais ou menos 21 países por ano. Então, praticamente indo lá, você encontra tudo que é produto, concentrar facilita para quem compra. Um grande hipermercado trabalha mais ou menos com 120 produtos, um médio, 70 a 80; um pequeno, 30 a 40. Então, se ele ir lá, ele encontra tudo. Isso facilita os varejos, os serviços de alimentação. Este é o terceiro maior da América Latina, e hoje, passam lá, num dia bom, uma sexta-feira, mais ou menos umas 45 mil pessoas, uns 25 mil carros. É uma cidade dentro da cidade.
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Quem vai comprar lá? O pessoal fala "Supermercado não vai mais comprar", não, hoje, supermercado, as grandes redes, também por estratégia, têm uma política de comprar uns 25% lá, porque quando falta um produto, ninguém vai vender para o supermercado, porque supermercado quer pagar preço baixo. Mas aí tem feirante, sacolões, ambulantes, distribuidoras, restaurantes, hospitais, presídios, todo segmento vai comprar na Ceagesp. Bom, nós temos mais ou menos uns 2.800 a 3.000 atacadistas e vou mostrar mais aqui a parte de frutas que é o tema. Mas frutas exóticas, onde se vendem bastante? Hoje é nos horticenters, e um exemplo seria o mercadão de São Paulo, que o pessoal compra a um preço exorbitante. Por exemplo, uma pitaya, hoje uma unidade vocês vão pagar uns R$ 30,00 numa pitaya importada, mas é que não tem agora. Tem mercado? Tem. Vou comentar daqui a pouco, mas você pega aquela uva moscato lá de Pilar do Sul que o pessoal desenvolveu lá, você vai dar R$ 100,00, R$ 110,00 o quilo. Tem mercado? Tem. Fruta exótica é um nicho, tem alta sazonalidade. O que é isso? Tem um certo período, depois acaba, então, fruta exótica é uma fruta de alta sazonalidade. Bom, o mercado de fruta exótica eu já falei que é um produto que, para nós, é de pequeno volume, é um mercado de nicho mesmo, mas algumas frutas que vocês conhecem bem que eram exóticas, e se tornaram uma fruta de grande volume. O caso mais recente é a lichia, que começou aqui em Bastos em grande escala; mangostão lá do Pará e do sul da Bahia. Um produto que o pessoal fala, carambola, "Carambola vende?", vende, tem gente que tem lá 10 pés de carambola, trata bem, manda para São Paulo e vende bem, mas tem que ser coisa boa (e só um parênteses aqui da carambola: quem tem problema renal, a gente não aconselha comer carambola, porque carambola mata. Lá em Ribeirão Preto tinha 7 pessoas que faziam hemodiálise e um dos pacientes levou uma caixa de carambola, distribuiu para os amigos e em uma semana, dos 7, morreram 4. Aí foram verificar o que era, o que tinham comido em comum e era carambola. Então quem tiver problema renal, a gente recomenda não consumir carambola). Uma coisa que se vende bem é jabuticaba, hoje tem grandes plantios, 20, 30, 40 hectares de jabuticaba, é um produto difícil de trabalhar; no momento nós temos, meio que moda mas está aumentando muito, é a pitaya, grandes plantios, na região oeste se planta bastante; um pouco no passado, kiwi era uma planta bastante exótica e é ainda, e que hoje está consolidada no mercado. 211
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Fruta exótica tem que fazer marketing, experimentar. Então se fizer um bom marketing, você consegue colocar no mercado. E muita coisa que o pessoal fala assim "Essa fruta não é gostosa", mas é bonita, por exemplo, uma coisa que acho que vocês têm aqui que é praga, que é o physalis, popularmente o pessoal conhece como "saco de bode", tem no carreador, tem no cafezal, é uma fruta cara, os colombianos descobriram o physalis, mandaram para o Brasil e hoje se vê bem. Aqui estão o nome comum, a espécie e a família a que pertence algumas frutas exóticas:
E aqui também estão o volume da Ceagesp, a participação, eu vou comentar quase todas aqui, quando elas entram, qual o preço de algumas, que a gente faz a cotação lá:
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Esse daqui é o valor de cada uma:
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Nós temos desde acerola, jaca, acho que temos algumas frutas que vocês nem conhecem, que nem está aqui, uma africana chamada duvyalis, nós temos jatobá... Tudo se vende. Daqui eu tenho uma evolução para vocês verem o tamanho do mercado que nós temos lá, desde 2004 até 2017, desde abiu até umbu. Umbu o que é? Umbu é uma fruta, basicamente, quem consome são os nordestinos, nordestino tem saudades de comer jaca, umbu, porque lá em São Paulo, nordestinos, sem contar os descendentes, somos quase 8 milhões. Então tem muito mercado para essas frutas do Nordeste também.
Então o que eu falei para vocês a lichia né, que antes era uma fruta bem exótica com um mercado pequeno, hoje tem um mercado grande e todo mundo gosta de comer lichia e eu acho que semana que vem já começa a ter lichia no mercado. Nós temos várias formas de comercialização: ela solta, embalada, nós temos lichia desidrata (mais ou menos em agosto), tem lichia em compota, enfim, tem várias formas. E hoje, a grande moda de consumo de lichia é fazê-la com cobertura de chocolate, então se vende bastante.
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Onde se planta lichia? São Paulo com 82%, Paraná com 8%, Bahia Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Vocês veem que hoje lichia tem no Brasil inteiro. É um mercado de novembro a janeiro, nas festas se vende bem lichia. Eu não vou falar todos, mas aqui eu tenho por município onde tem as lichias: Quando entra lichia? Na verdade, começa em novembro, em relação à média (aqui a gente tira a média do ano e compara), começa a entrar em outubro, vai até dia 15 de fevereiro, mais ou menos. Então, quem tiver pensando em plantar lichia, ainda é um bom mercado. E aqui é o preço: outubro é começo, novembro entra bastante, mas a procura é grande, o preço ainda é bom, em dezembro cai o preço porque tem muitas outras opções, ameixa, pêssego, uva, por isso cai preço, mas a procura e grande; janeiro, por causa das férias; e ainda tem ainda concorrência de outras frutas. Então aqui tem o preço só para vocês terem uma noção, mas sem correção, de ano a ano, para vocês fazerem uma análise mais fria, tem os preços por quilo. 215
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Então, em dezembro de 2017, quase R$ 12,00 o quilo. Lá na Ceagesp. Só para vocês terem uma ideia, quanto que o produtor recebe? Esse é um estudo que eu fiz, mais ou menos, você pega o preço médio de qualquer produto na Ceagesp e multiplica por 0,7. Se vocês receberem 70% da fruta, de média qualidade para cima, está forte o seu preço; se estiver abaixo disso, está acontecendo alguma coisa. Carambola não é aquela carambola com bicho, manchada, hoje você tem que vender carambola desse jeito.
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Hoje, se produz muita carambola na região de Jaboticabal e tem que ser bonita. Qualquer coisa hoje, qualquer atividade na área de frutas e hortaliças, vocês têm que colocar em mente que produzir produtos desta qualidade para baixo estão fadados a quebrar, tem que ser média para cima. Hoje, tanto o atacado quanto varejo, e principalmente o consumidor, querem coisa boa e um preço justo. Então no mercadão de São Paulo, como eles vendem? Coloca-se numa cesta com 4 unidades, uma bandeja, o pessoal chama de gavetinha. E aqui está a participação em volume para vocês terem uma ideia do quanto que vende, foram 4 mil toneladas por ano lá no Ceagesp, só de São Paulo. São Paulo é quase 90%, o resto vem do Pará, Minas, Pernambuco, Santa Catarina, e total de 4.500 toneladas por ano. Aqui são os municípios para vocês terem uma ideia de com qual municípios vocês vão concorrer. Nós recebemos de 36 municípios ano passado. E aqui também, "Quando eu vou produzir carambola?", vai produzir carambola o ano inteiro, mas quando a carambola está acima da média, quando entra bastante carambola? Janeiro, fevereiro, março, abril é menos, até 217
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o inverno, aqui, agosto, está acima da média. No final do ano, está abaixo da média, então quem quiser produzir carambola, tem que produzir essa cultura a partir setembro, quando tem mais chance de ter um resultado econômico melhor. E o preço está acima da média de outubro em diante. Mangostim ou mangostão é uma fruta que hoje caiu no gosto dos consumidores. "Produz mangostão aqui na região oeste?" Produz, em Mirandópolis o pessoal está produzindo. Não é de excepcional qualidade, mas dá para competir no mercado. Então só para vocês terem uma ideia, essa é uma foto de julho, mais ou menos, o quilo lá no mercadão R$ 170,00 o quilo. Compram? Tem gente que compra. Para quem não conhece, lá é um mercado que o pessoal compra de duas, três frutas, é mais um mercado de turismo, mas vende. Para quem não conhece mangostão, a gente come a polpa branca. 218
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A Bahia está hoje em primeiro lugar na produção de mangostão (92%). Depois vem Pará, São Paulo e Espírito Santo. Taquaritinga, Irapuru também tem, Pacaembu, São Miguel Arcanjo, Valinhos, enfim, tem bastante gente que está plantando essa fruta exótica, mas o clima ideal é quente e úmido. Aqui está a sazonalidade, março e maio entra no Pará, e a partir de junho, julho, entra na Bahia. Só que o Pará está diminuindo muito, porque a cidade de Belém cresceu muito próximo aos produtores e está tendo muito roubo, até de mão armada, então a japonesada está parando de plantar. Mangostão acho que vai ficar mais no sul da Bahia. Amora preta se produz aqui na região de Presidente Prudente. Essa é uma amora importada e está R$ 180 o quilo. E só estou mostrando para dizer que existem esses mercados "fora do ponto", mas o pessoal compra. São Paulo, Minas Gerais é quem mais produz, mas Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão aumentando. 219
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Aqui são os municípios, para vocês terem uma ideia de onde que está produzindo, quem quiser visitar: Quando entra amora preta? Mais a partir de outubro para dezembro, então de janeiro até setembro está abaixo da média. Pitaya amarela, na verdade, quando tem pitaya roxa ou de polpa vermelha ou branca, ela não tem muita saída. Mas no meio do ano, quando é inverno, não produz pitaya vermelha, normalmente pitaya é importada, e só para vocês terem ideia: R$ 80,00 o quilo da pitaya. Pitaya vermelha:
O plantio da pitaya está aumentando muito, mas também, graças a Deus, o consumo e a demanda também estão aumentando bastante. A pitaya mais concorrida hoje é a do Rio do Grande do Sul, como é fora de época, é uma pitaya muito doce. No primeiro lugar dos municípios, Narandiba, vocês conhecem Arthur Nogueira, Farroupilha, Presidente Prudente, Bastos não está aqui. Recebemos de 77 municípios.
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Aqui também sazonalidade. Fica abaixo da média, na verdade, maio em diante ela diminui muito, até o pessoal de São Miguel Arcanjo queria fazer produção de pitaya colocando luz artificial, para ver se produzia fora de época, mas é um produto que tem potencial. Abiu acho que vocês conhecem, é uma fruta que eu acho gostosa, mas quem gosta muito são os nordestinos. Então tem o abiu amarelo e o verde. Não tem tanta distinção de preço e tem uma boa saída no mercado, vem crescendo ano a ano, tem bastante gente produzindo abiu, mas basicamente, quem produz abiu é o estado de São Paulo. O maior município é Mirandópolis (produz 62%). Na região de São José do Rio Preto também se produz razoavelmente abiu. E aqui está a sazonalidade. Ela dá esses picos aí, mas abiu vende bem o ano inteiro. Physalis que eu estava falando, o pessoal coloca como enfeite em 221
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cima de bolo, e é uma praga, erva daninha, se vende hoje, mas é mais para colocar como enfeite de bolo. Uma cumbuquinha dessa custa R$ 10,00 e chega até R$ 15,00. É importado, começou na Colômbia, mas hoje o pessoal de São Paulo e Minas Gerais está plantando bastante. Minas Gerais, naquela região de Jaíba, o pessoal está querendo plantar physalis também.
A principal fornecedora é a Colômbia. O pessoal está fazendo physalis até no Uruguai. Como é uma praga, a partir de setembro é o que mais entra physalis. Romã é um produto que só vendia no final do ano, o pessoal que está na passagem do ano tem que comer 7 sete grãos, doze grãos, guarda na carteira diz que nunca falta dinheiro, então você guarda na carteira e na passagem do ano, você joga nos cantos da casa, chupa e nunca falta dinheiro na carteira. No final do ano, realmente se vende romã, e o pessoal pergunta "Mas quem come romã?", Quem come essa romã importada é muito docinha, e basicamente hoje no mundo inteiro e só tem uma variedade. Na região aqui, o oeste de São Paulo é um dos maiores produtores de romã. R$ 35,00 o quilo. 222
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Fora os importados, São Paulo é onde mais produz, Pernambuco tem uma variedade chamada Rubi, muito bonita, parece um rubi mesmo, mas ela é muito ácida, é boa para fazer suco. Era uma fruta que só entrava no final do ano, agora você pode ver que dá o ano inteiro. O pessoal aprendendo a comer romã. O preço em dezembro de 2017 era R$ 12,00 o quilo, quando entra bastante, mas é tradição o pessoal comprar bastante romã para ter dinheiro na carteira. Sapoti uma fruta tipicamente nordestina, parece um pouco com caqui. É um mercado pequeno, mas constante. A maioria vem da Bahia, quase tudo do Nordeste e quem consome são os nordestinos. Os municípios que produzem sapo223
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ti, os volumes, a participação no mercado. A partir de agosto até janeiro que entra mais sapoti. Feijoa, infelizmente, a goiaba de regiões frias. Hoje, os australianos estão apostando muito nessa goiaba, uma goiaba branca, bastante gente do mundo está apostando na feijoa. Mas só que tem um problema: ela é muito sensível a bacteriosa. É uma planta, para quem não conhece, basicamente é só importada; tem alguma coisa de produção, o pessoal lá de São Joaquim está produzindo um pouco, fazendo teste, está se saindo bem.
Tudo abaixo da média, só fevereiro e dezembro...
Granadilla: isso aqui é um maracujá importado da Colômbia, mas o pessoal já está plantando bastante. É um maracujá doce, que é um fruto saboroso, mas quando entra bastante, o preço despenca muito. Já está plantando bastante aqui no Brasil. Por ser novidade, é caro, R$ 90,00 o quilo no mercadão. 224
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Em São Paulo, o pessoal já está plantando bastante Granadilla, com certeza aqui em Bastos, se plantar, vai dar. Coitada da Colômbia... As entradas a partir de agosto, então se for plantar para produzir, precisa ver se produz de janeiro a junho que está abaixo da média. É meio difícil né, maracujá aqui começa a produzir mais para o final do ano. Kino é uma fruta sul-africana. Essa eu considero como uma das piores frutas, nem fruta deveria ser, parece um pepino esse negócio. Pessoal coloca como enfeite na sala, em cima de bolo, mais para enfeitar, porque para comer, parece que está comendo pepino, e ainda vende a R$ 90,00 o quilo lá no mercadão. Os estados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná produzem Kino. Os municípios produtores estão na tabela ao lado. A entrada de kino acontece o ano inteiro, e eu, sinceramente, não sei quem consome esse negócio, porque ele é muito ruim. Esse daqui é gostoso, jambo cor-de-rosa. Basicamente, o pessoal que mais 225
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produz é ali perto de São José do Rio Preto, vende bem, tem jambo branco, no varejo vem nas bandejas. A entrada tem São Paulo com 11 toneladas, Bahia, Minas, mas São Paulo é a maior entrada da região: O município principal é Cedral, perto de São José do Rio Preto, mas você vê que o mercado é muito pequeno, de 12 toneladas por ano, então é uma oportunidade no mercado. Tem do final do ano até janeiro: Tamarillo, na verdade, eu não sei também porque vende no setor de frutas, porque na verdade é um tomate arbóreo, mas vende. Vocês veem: são só 5 toneladas. Para mim é uma hortaliça... Quando mais entra é junho, julho, depois diminui um pouco, dezembro, mas tem tamarindo o ano inteiro, e agora o pessoal está plantando aqui, porque antes era tudo importado. Uma fruta que o pessoal não dá importância nenhuma: tamarindo. Tamarindo é uma fruta que se vende bem na Ceagesp. Tem dois atacadistas que se especializaram em vender tamarindo. O que o pessoal faz? Suco. E tem um colega nosso que com a prática, ele desenvolveu uma tecnologia para conservar tamarindo. Quando tem tamarindo na época da produção, ele compra 4 ou 5 toneladas, estoca e
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vai vendendo o ano inteiro. Eu acho que aqui todo mundo tem pé de tamarindo, né? Uma bandejinha em São Paulo é R$ 5,00, mas vende 100 toneladas por ano de tamarindo. Dos municípios... Irapuru é o maior município produtor de tamarindo, com 81% do mercado. Promissão e Mirandópolis também produzem. Os preços de tamarindo, de agosto até outubro, estão acima da média, março também. Então, vocês têm que produzir nessa época aí. Framboesa é uma fruta que faz tempo que tem no mercado, é uma fruta que o ano inteiro é cara. Às vezes o pessoal fala de uma falsa framboesa que se produz aqui perto de Irapuru, parece um pé de morango, e o cara consegue produzir no meio do ano. Uma caixinha mais ou menos de 900 gramas, ele vende a R$ 80 - R$90 a caixinha. São 20 toneladas por ano. Irapuru é o primeiro município que produz essa "falsa framboesa", como eles falam. Maior volume ocorre em fevereiro e março. Julho, não sei como o cara produz fora de época, aí ele ganha dinheiro. Mirtilo não dá aqui, a região tem que ser mais fresca, mas é um produto que vem crescendo ano a ano. Eu, particularmente, não gosto de mirtilo, é uma fruta muito sem graça, mas é uma fruta que vem crescendo muito. Todo mundo quer vender mirtilo para o Brasil, o pessoal chileno, argentino, uruguaio... 227
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O mercado aqui é promissor. Os principais países exportadores são Chile, Estados Unidos, Argentina e Uruguai. Onde se produz no Brasil? Campos do Jordão, Rio Grande do Sul produz um pouco. Tem o ano inteiro, mas tem mais mirtilo em novembro e dezembro por causa das festas, o pessoal traz bastante. Essa daqui é uma fruta excepcional: pitanga. O único problema da pitanga é o tempo de prateleira ou para você mandar isso para o mercado, mas se você fizer um sistema refrigerado, é um ótimo mercado. Pitanga, sorvete, suco, não se comercializa muito porque é difícil porque apodrece muito rápido, mas se alguém fizer um sistema refrigerado, tem um mercado muito grande. É muito pouco, mas é um mercado interessante o da pitanga. 228
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Tem mais em São Miguel Arcanjo (produz 59%) e Mirandópolis (18%). Aqui na tabela estão as melhores oportunidades para vocês produzirem.
Decopon, apesar de ser uma tangerina sem semente, o único problema dela é que ela é azeda, ácida, mas existe marca comercial como a Kinsei, cuja acidez é alta, mas o pessoal consegue vender com um preço bom, mas está aumentando demais a Kinsei. Essa daqui é uma fruta africana, é uma das últimas frutas exóticas do mercado se chama Duvyalis, ela é doce com fundo ácido, entrou só duas vezes no ano passado, nós não temos dados nenhum. Não sei se vocês já viram essa Fruta do Milagre.
Essa Fruta do Milagre é o seguinte: você chupa essa fruta, daí 5 minutos você pode chupar qualquer fruta ácida, inclusive limão, que o limão fica docinho, pode chupar tranquilo. Chama-se Fruta do Milagre, o pessoal ali de São José do Rio Preto, um copinho de café é R$
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30,00, porque é novidade, mas é um mercado interessante. Cruá que, na verdade, é um melão, é para suco, o pessoal fala que e refrescante... Não é tão gostoso, mas se vende.
Bacupari, basicamente quem come são os nordestinos.
Canistel hoje está aumentando bastante. Ela, bem madura, é bem saborosa, doce; o grande problema do canistel é que por causa dessa cor amarela, o pessoal colhe verde e manda no mercado. Mas ela colhida bem madurinha fica bem gostosa. Hoje, vamos dizer, no varejo, cada fruta vale uns R$ 5,00. Cupuaçu se faz sorvete, que é gostoso. É uma fruta que nem poderia estar comercializando lá na Ceagesp, porque tem uma lei que proíbe, porque ela é um hospedeiro da vassoura de bruxa, então, de certa forma, é proibido 230
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comercializar, plantar cupuaçu, mas o pessoal traz e vende lá no mercado. Jatobá, o famoso chulezinho. O pessoal fala "Mas vende isso?", vende, jatobá tem duas empresas que vendem bem, trazem muito da Bahia. Melão Andino: Noni, na verdade é uma fruta, mas é uma fruta que o pessoal toma para combater o câncer. Então você entra na internet e tem várias reportagens sobre noni.
E teve um caso que caiu na minha mão, uma senhora me ligou dizendo que queria noni, na época ninguém tinha, eu já tinha ouvido falar mas nunca vi, e de repente apareceu lá na semana seguinte, essa mulher foi lá andar na Ceagesp, encontrou o noni e comprou. Ela tinha um câncer de seio, o médico falou "Olha, não tem mais jeito, você pode ir embora", e ela começou a tomar esse noni. Depois de 3 meses, ela voltou no médico, fez a radiografia e não tinha mais nada. Ela continua até hoje tomando esse noni, não é para qualquer tipo de câncer, mas para ela resolveu, então se vende muito como remédio, R$ 52,00 o quilo. Gente, quem for tomar esse noni, prepara, porque é muito ruim, acho que de tão ruim que é, a pessoa sara, é horrível. 231
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Cacau para suco se vende bem também. Cajá manga vocês conhecem, horrível desse jeito, mas os nordestinos têm saudade de comer cajá manga, então se vende bem. Quem produzir cajá manga de boa qualidade, tem um mercado muito bom.
Ingá está sumido do mercado, mas tem gente que manda para lá e vende bem.
Jujubi é uma fruta basicamente de chinês, é gostosinho, bem docinho e os chineses compram para caramba.
O pessoal chama de meloncito, também se vende bem, porque é docinho.
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Cambuci. Quem conhece? É uma fruta que estava praticamente sumida do mercado, hoje bastante gente está plantando Cambuci, inclusive existe uma rota que se chama rota Cambuci, começa em São Luiz do Paraitinga, perto de São José dos Campos, entra por Suzano e termina lá no bairro do Cambuci, em São Paulo. O pessoal fazendo feiras, aí tem geleia, bolo, licor, enfim, um monte de coisa com Cambuci. Então existe hoje a rota do Cambuci em São Paulo. Zabão, basicamente para fazer doce; mercado pequeno, só quem conhece, quem compra mais são os asiáticos.
Durian ou dorian, parece uma jaca. Teve um colega nosso que perguntou "que gosto tem durian?", o rapaz pensou e falou "é uma jaca misturada com chiclete", parece mais com uma jaca. Se você for na Tailândia, você vai no mercado, tem época que só tem durian, o pessoal adora, mas tem um cheiro muito forte, inclusive lá na Ásia é proibido entrar nos hotéis com durian, mas o pessoal lá adora. Abacaxi gomo de mel é um abacaxi muito doce, mas hoje gomo de mel quase não existe. 233
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Hoje existe um abacaxi chamado imperial que é muito doce. Para vocês terem uma ideia, tem uns três atacadistas lá produtor do sul da Bahia que está produzindo, e uma caixinha com 8 frutos mais ou menos, sempre dá R$ 50,00, R$ 60,00, porque é muito doce. Na verdade, o pessoal fala assim, aqui você corta e retira os frutinhos, mas qualquer abacaxi que você der um choque térmico, ele solta, tem que descascar de qualquer forma, porque não é fácil você tirar cada frutinho. Olho de Dragão, esse daqui o pessoal de Ribeirão Preto produz em quantidade razoável, e o pessoal hoje está chamando de lichia dourada.
Rambutan, parece com a lichia também, vem mais do sul da Bahia. O pessoal está aumentando. Para quem não conhece, parece mamona.
Pinha roxa, essa não fez muito sucesso porque a pessoa acha que está passada, mas é uma pinha muito doce. Tem lá em Alagoas, Palmeira dos Índios. 234
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Landsat entra de vez em quando. E aqui algumas novidades que nรณs temos lรก: beterraba amarela, cenoura branca, cenoura roxa, couve flor roxa, couve flor amarela e o brรณcolis romanesca. Quem for consumir couve flor roxa, a gente aconselha a nรฃo ferver porque sai a cor, tem que fazer no vapor.
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Bom, concluindo, frutas exóticas vocês têm que ver que é um nicho do mercado, é muito pequeno, é pouco conhecido para os consumidores, tem um preço alto e a sazonalidade é alta, entra um mês, dois meses e acaba. Então tem que ter na cabeça que é um nicho de mercado e normalmente o preço é alto. Era isso o que eu tinha para apresentar para vocês, muito rapidamente, muito obrigado.
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COOPERATIVISMO E ASSOCIATIVISMO
Palestrante: Diógenes Kassaoka Diretor Geral do Instituto de Cooperativismo e Associativismo da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de S.P.
E o tema hoje do evento deste ano é Mottainai. Mas antes de falarmos de outras coisas, eu queria provocar vocês para falar um pouco de organização rural. Só para eu localizar minha fala: quem aqui é produtor ou agricultor rural levante a mão; quem é técnico, agrônomo, estudante, levante a mão. E as outras pessoas, gestores de municípios... O Emerson é tudo né, o rapaz ali de vermelho é o Emerson, Secretário Municipal de Agricultura de Adamantina, então ele é produtor, engenheiro agrônomo, secretário, então minha estatística vai "dar pau" aqui. Então, hoje meu desafio é simples: falar sobre a organização dos produtores rurais em cooperativas e associações. Eu vou falar muito do pequeno produtor, mas depois a gente vai fazer algumas analogias com os grandes produtores. Bom, eu já fui apresentado, meu nome é Diogenes Kassaoka, sou sansei, neto de japonês, apesar dessa cara de colombiano, eu sou neto de japonês. Meu trabalho basicamente no Instituto de Cooperativismo e Associativismo é viajar o estado inteiro, organizando os pequenos produtores em cooperativas e associações, e vou discorrer um pouco com vocês o porquê isso é importante para o governo do estado e porque isso é tão importante para o pequeno 237
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produtor.
Eu nunca posso ir numa região sem fazer a minha lição de casa, então esse é um sistema de formação lá da Codeagro que a gente montou sobre as principais estatísticas dos municípios e que, a partir de agora, passado o período eleitoral, vai estar novamente disponível para todo cidadão, para poder ir lá e observar qual é a população do município, qual é a população rural e urbana. A gente aqui em Bastos, é o quarto maior município da EDR. O Eduardo Takaki que é da CATI aqui de Tupã; na divisão regional de Tupã, Bastos está com 20 mil habitantes e a população rural, olhem que interessante, ela tem 2 mil habitantes. Então é o maior município da região por ter uma área maior, mas se você olhar a população rural, o município de Bastos tem tanta população rural quanto o município de Tupã, e isso é sempre interessante para gente estar nos municípios e desenhar as nossas políticas públicas. Gosto de olhar também alguns dados de estatística básica. Aqui no município de Bastos, o IDH está em 219º, o que significa isso? O estado de São Paulo tem 645 municípios, então se dividirmos em três, o município de Bastos está na colocação 219, está lá no terço dianteiro dos municípios mais desenvolvidos do estado, está numa boa posição. Quando a gente olha o desafio de município pelo IDH de renda, renda pode ser mais distribuída, mas já beirando uns 7, e educação ainda tem bastante a evoluir, isso aqui vai levar o município de Bastos a outro nível de IDH, mas já 238
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é uma região considerada bastante desenvolvida. E olhando outros índices de desenvolvimento, Bastos está no grupo 1 do Estado. O que é o Grupo 1? Municípios com bons índices de riqueza, de saúde, de desenvolvimento. Quem é de Bastos levante a mão. Parabéns! Quisera que o estado fosse todo de grupo 1... Mas o município de Bastos está aqui, se desenvolvendo bem e está caminhando. E aqui, olhem que interessante: o que é esse mapa verde? Valor adicionado da agropecuária. Isso eu não sei se vocês sabiam, mas o município de Bastos é o 2º município do estado que mais adicionou valor à agricultura no ano de 2016. Olhem o gráfico de cor. Toda essa produção de ovo, toda essa sistemática produtiva, traz o município como o 2º maior na adição de valor da agropecuária do estado de São Paulo.
O Hélio mostrou como a fruticultura é importante para o estado, como ela tem bastante valor, mas é interessante que às vezes gente está aqui trabalhando, no dia a dia, e não pára para olhar esses números. Aí eu fiquei impressionado (sempre fico impressionado nas palestras do professor Carlos), mas também 239
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nas estatísticas nós temos que aprender a observar. Essas informações estão lá, estão disponíveis, a gente tem que aprender a observar melhor esses números para poder passar políticas mais interessantes. Com base nesses números, eu vou começar a caminhar para um outro assunto, a questão do cooperativismo, os princípios do cooperativismo. Eu queria ter tempo sempre para conversar sobre os princípios do cooperativismo, nós que operamos em cooperativas, o quanto isso é importante, queria poder falar da solidariedade, da união, do ganha-ganha e como tudo isso é importante para coletividade. A solidariedade é necessária para as pessoas produzirem, mas a gente tem um problema simples, e eu mostro esse mapa já faz 5 anos ao longo do estado inteiro. Os alunos que estão aqui: que mancha azul é essa atrás de mim? Essa é a mancha da população do estado de São Paulo. Onde está mais escuro tem mais gente, meio óbvio né? O estado de
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SP é tão interessante que um terço da população mora aqui e o outro terço mora nas grandes cidades. Então, por que a gente sempre fala disso? Olhem um mapa antigo (acima) onde está a produção a laranja, mais para o noroeste. Já a produção de limão está concentrada em Itajobi, aquelas regiões tradicionais; o café continua na bordadura do estado, onde tem altitude, aqui em Tupã também tem um pouquinho; a banana; tomate em Apiaí. Mas o que é interessante em mostrar esses números? É que onde tem produção agrícola não tem gente, e aí vou contar um segredo para vocês (para quem já esteve lá na outra reunião do Bunkyo, eu já contei, mas resolvi repetir): direto do produtor para mão do supermercado, só existe na televisão, porque a economia não permite. Você acha que é prático? Aqui em Adamantina, onde tem tomate, você acha que cada pequeno produtor vai pôr o tomate na sua caminhonete, pegar a rodovia para depois pegar a Castelo Branco, ir ao Ceasa. No Saveiro, e levar lá nos supermercados, funciona? Não, né? É inviável, não tem economicidade, não tem lógica, não faz sentido. Outra coisa que as pessoas não percebem é: o que é essa mancha vermelha no estado? Esse é um estudo bem bacana que está disponível no 241
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nosso site, do mapa da agricultura familiar: nós procuramos onde estão concentrados os produtores rurais (fácil, né?) aqui no Alto do Ribeira, Araçatuba, Pontal do Paranapanema, no conjunto de Andradina, Dracena, nos assentamentos, esse é o mapa do pequeno produtor. (obs. DAP é Declaração de Aptidão do Pronaf - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)
E aí pessoal, o que a indústria e o varejo escondem com muita habilidade do produtor com vários artifícios? Essa lógica aqui: você acha que todas essas estradas vão para São Paulo à toa? Max Miúra, você que é do Departamento de Economia, é à toa? Vocês que são de Bastos, é à toa que existe essa malha? Não né, elas percorrem o caminho do dinheiro, elas criam o caminho do dinheiro, e aí é que elas ganham a economia, é aí que os produtos se juntam. O Hélio trouxe aqui vários dados da Ceagesp, tem um dado interessante da Ceagesp: olhem quantos entrepostos existem no Brasil inteiro, do Ceasa, olhem no detalhe quantos existem em São Paulo. É uma bobagem ficar comparando estatística do estado de São Paulo com o Brasil; serve para algumas coisas, mas para lógica de consumo não funciona. A cada 100 km aqui a gente tem uma cidade com mais de 200 mil habitantes, 300 mil habitantes, e não tem isso no resto do Brasil. Tem essa quantidade de Ceasa em algum outro lugar? 242
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Mas vamos ver os detalhes em números. O Ceasa São Paulo está aqui com 3 bilhões de toneladas de produtos comercializados. Só para ser ter uma ideia, o segundo colocado, é o Ceasa Minas Gerais (Belo Horizonte) com 1,4 milhão, menos da metade. O terceiro colocado é o Ceasa Rio de Janeiro com mais 1,4
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milhão. Se somar os dois não dá o Ceasa São Paulo.
Agora, querem ver uma estatística interessante? Vamos lá. Os municípios que mais fornecem laranja para o Ceasa São Paulo: as manchas vermelhas (mapa acima) são as que mais mandam laranja para o Ceasa São Paulo, "bate" com a mancha de produção, no mapa ao lado, faz sentido não faz? E quais são os municípios que mais vendem laranja para o Ceasa Belo Horizonte? São Paulo. Quantos pés de laranja tem em São Paulo? Nenhum.
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O que aconteceu? A laranja saiu daqui, bateu aqui e daqui ela saiu do entreposto para outro Ceasa. Então a gente fala muito de gerar valor, de agregar valor, olha aqui seu valor, valor monetário, se perdendo na estrada para chegar em São Paulo. "Ah, mas só acontece no Ceasa Minas...", não é não, qual o município de São Paulo que mais fornece laranja para o estado do Espírito Santo? "Ah, mas é o transbordo do Ceasa que faz isso e aquilo...", mas a economia normal já deu um caminho para gente e essa questão na teoria, que eu sempre mostro para encher o saco do pessoal, porque a teoria é uma, mas a prática é outra... Emerson, você que é produtor, o que você está plantando lá? "Tomate verde." Se eu colocar você aqui, no centro desse gráfico, pode ser? Você me ajuda? Se o Emerson estivesse aqui, o que a indústria pensa? Ela pensa na competitividade, por isso a gente traz aqui as 5 forças competitivas, o que faz ele ser mais ou menos competitivo? Um poder grande é o poder de barganha dos fornecedores. Quantos fornecedores de insumo você tem lá? "Dois". E quantos clientes você tem lá? "Cinco". Então você concorda que o poder de barganha dos seus fornecedores é muito alto contra você? E o poder de barganha dos
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seus clientes também é muito alto contra você? E aí, ficam todos os produtores aqui, grande, médio, pequeno, todo mundo "se batendo", e é o que a gente chama, numa cadeia de valores, de dentro da porteira. Todo mundo preocupado com a rivalidade entre concorrentes, quando, na verdade, o que está afetando a sua rentabilidade é o poder de barganha dos seus fornecedores e clientes; é ali que está a margem, ou não? No detalhe. O professor Carlos não mostrou aqui no detalhe usar bem o insumo? Para quem atua com ovos, medicamento veterinário não dá para errar, não é barato errar. Então o que nós temos mostrado para o produtor, principalmente do hortifrúti, o mercado é o que a gente chama de spot, o preço varia. O preço do tomate vai variar para o Emerson independente do que aconteça, choveu, a Ana Maria fez uma receita, o mercado está aqui e você não tem força nenhuma de influenciar o mercado, zero, nenhuma chance disso, nem da flutuação, nem se a mercadoria vai chegar ou não no Ceasa, nada disso está no seu controle. Para você usar ferramentas clássicas de contrato que a soja tem, que o milho tem, isso não existe para hortifrúti, isso não existe para o pequeno produtor. E aí, a única forma que o pequeno tem de algum jeito passar por esses gargalos que ele enfrenta é trabalhando de forma cooperada, é trabalhando de forma associada. E por isso que eu falo, produtor, eu queria ter tempo para ficar conversando sobre união, solidariedade, princípios ou outras coisas, mas esse tempo não existe. Por que? É triste, porque se o pequeno produtor não compreender isso, ele está fadado a acabar, a deixar de existir ou ficar cada vez menor. Quantos produtores vocês conhecem que estão entrando naquela paranoia de diminuir custos, 246
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não é isso? Ele vai diminuindo custos, mas também vai diminuindo produtividade e perde qualidade e vai diminuindo, e aí ele vai lá numa reunião nossa do estado ou alguma outra e fala "Ah, meu filho não quer ficar", e dá vontade de perguntar "Mas devia?". O que você quer para o seu filho, coisa boa ou que ele não desenvolva? E aí sim, vem a pergunta seguinte "Ah, qual o melhor tipo de organização?" O melhor tipo de organização tanto faz, se seu problema é estrada, se você não está conseguindo se representar, se você não existe como um grupo, você quer poder falar com a prefeitura, a melhor forma é uma associação: o braço social do agricultor, representa, faz atividades culturais, atividades não lucrativas, para isso serve uma associação. "Quero ganhar escala, quero comercializar, comprar insumo, quero fazer todo esse tipo de atividade", parabéns, o nome do que você quer fazer se chama cooperativa. Não tente utilizar, vou usar aqui o Zé (Zé, se você contar para minha mulher, eu te mato): mulher não tem aquele poder e você pensa "Vou consertar", aí você pega aquela faquinha de pão Pulman e começa a consertar e ela fala "Vai dar errado", acabou sua vida, não tem chance de você ter sucesso, aí você erra, quebra o parafuso, corta o dedo e ela "Eu te disse", maldade, mulher é ruim (a minha é pior, porque ainda quebrei a ponta da faca, cortei o dedo, não soltou o parafuso e quebrou a ponta da faca, tudo culpa da minha mulher). É culpa da minha mulher ou eu é que estou tentando usar a ferramenta errada? O homem que errou, não a mulher. A gente é teimosa, quer resolver rápido, aí quando alguém fala que a gente não consegue "O que eu não consigo?". O senhor já fez isso alguma vez? Nenhuma né? O senhor tem pouca experiência, aposto que nunca fez isso, às vezes a gente faz e nem percebe que faz. Então cooperativa: quer fazer esse trabalho coletivo, todo esse trabalho em conjunto, o instrumento correto é a cooperativa, "Ah, mas eu tenho medo, cooperativa quebra...", gente, no Brasil, empresa quebra, cooperativa quebra, associação quebra. Mas o problema não é o instrumento, o problema, como o professor falou não é a faca do pão 247
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Pulman, para cortar o pão ela é boa, ela é ruim para soltar parafuso. Então, muitas coisas que a gente fala "Ah, cooperativa é ruim", a presidência da cooperativa é ruim, a diretoria da cooperativa é ruim, as coisas estavam ruins, mas a culpa é do instrumento? Eu cortei o dedo porque a faca era ruim ou porque eu sou teimoso? E aí por que a gente fala isso? Muitas vezes a gente faz esse trabalho... "Cooperativa tem que ter gestão coletiva", mas a gente vai na reunião pelo menos? Não vai; não vai na assembleia, não lê o balancete, nem sabe quem é o diretor da cooperativa agora, e depois a gente reclama "Pô, não sai nada certo", e aí eu pergunto "Qual é o seu número de cooperado?" "Não sei, tem número?", mas vamos seguir... Então, dica rápida, já que hoje toda conversa é rápida: não constitua nem cooperativa nem associação para buscar isenção tributária ou só para receber um apoio do governo, porque vai dar errado. Para buscar isenção tributária muito menos, Brasil é o país do imposto, só escapa do imposto partido político e igreja, o resto vai pagar. O Brasil é interessante, tem um imposto municipal que chama ISSQN, Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza, para vocês entenderem como é nossa forma tributária (mas hoje eu não vou ficar falando aqui de forma tributária). Então, também por ter um efeito didático, eu trouxe para vocês alguns dados, a diferença entre cooperativa e associação, mas vou deixar para vocês aí, não vou ficar lendo. Se é para representar a pessoa, associação; é para fazer uma atividade econômica, cooperativa e acabou. Simples assim. O restou é papelada, uma é no cartório e a outra é na junta comercial, está tudo escrito, não preciso ficar lendo. Agora, eu falei da solidariedade, da união. Cansei de ouvir palestras "Juntos somos fortes", aí o pessoal fala "Olha, um lápis sozinho não quebra, se juntar 10 e arramar com elástico não quebra", problema técnico aqui, qual a diferen248
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ça entre lápis e gente? Lápis é tudo igual. Se for sextavado, maravilha; lápis é bobo, não tem ideia, vontade, você bota o elástico lá e não foge. E juntar gente, é fácil? Juntar dois numa casa, criar filhos juntos, chamar de casamento, é fácil? Nunca é fácil, nada é fácil. Então, quando a gente vai trabalhar, e eu sempre falo, muito antes, eu talvez vá chegar e falar aqui para vocês de todos esses princípios do cooperativismo, a gente tem que ajudar o produtor a tomar essa decisão, "Puxa professor, é isso que me atormenta, como é que se toma essa decisão?". Recorra à teoria, à pirâmide de Maslow. Então assim, o indivíduo que está com a sua necessidade básica não atendida, não consegue pensar, não é isso? Então a gente pensa "Vocês não estão tendo renda, não tem a necessidade básica atendida, não conseguem sobreviver", e através disso a gente tentar conversar "Qual é o problema disso?", tem a geração nova, a geração milênio, a pirâmide de Maslow não funciona mais, a necessidade básica do ser humano agora, da meninada, é bateria e de-
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pois wi-fi, aí a terceira é ir ao banheiro. Está errado hein, se inverter as ordens aqui... Se estiver com bateria, wi-fi e esquecer de ir no banheiro, vai dar ruim. Mas por que eu coloquei isso aqui? Nós temos hoje um acesso, muito acesso à informação, a gente tem muitas formas de se comunicar, para ser mais preciso ou ambicioso, é como se a gente tivesse o mundo nas nossas mãos, praticamente. E ainda sim, a gente não sabe se comunicar, porque saber se comunicar não é falar, o segredo da comunicação não é falar, é quem está te ouvindo entender o que você está falando, porque senão... Alguém já viveu uma situação assim no trabalho, em casa, com um colega? Não que você esteja gritando, mas você está tentando explicar e ele não te escuta... Aí é que nasce a briga, assim é que os problemas de comunicação avançam e causam distúrbio. E aí a gente pensa "Mottainai", quanto desperdício, a gente não quer ouvir, não sabe ouvir, não tem tempo para ouvir, a gente quer descartar as coisas, quer abandonar as coisas, os animais, ou às vezes a gente quer abandonar as pessoas, problema técnico nisso em querer jogar alguma coisa fora. Max, você me ensinou isso quando eu era estagiário, não existe fora. Existe fora, Nelson? A gente costuma falar na economia "externalidade", professor Carlos, o senhor que é especialista, doutor, cadê o fora? Então vem nosso desafio, hoje aqui ou em cada dia que a gente está trabalhando, essa questão de con250
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versar com as futuras gerações, do que gente quer deixar para as futuras gerações, do nosso trabalho de sustentabilidade, uma agricultura mais harmônica com o meio ambiente, de pessoas mais harmônicas com o meio ambiente, provavelmente melhores do que nós somos, por que não? Gente que saiba que dá para atingir objetivos coletivos. Cada um aqui só tem um florete, curto, pequeno; se esse soldadinho aqui não tiver o mínimo o de alinhamento... O que faz um pelotão desalinhado, Nelson? "Não atira." Nada. (O Max falou que quer acabar com a minha estratégia e falou que vai bloquear o meu exército, Max deixa de ser chato só porque você é meu chefe). Mas pessoas que entendam objetivos coletivos... Meninos, vocês são mais novos que a gente, não existe conceito de normal. Normal é uma palavra que não existe para ser humano, porque para esse sul-africano aqui e esse sul-africano aqui, cada dentro da sua cultura está normal, e esse aqui vai pensar "Homem branco louco. Num sol desse, por que ele está com algodão em cima da pele?", e esse cara aqui deve estar pensando "Primitivo, andando descoberto..." Qual deles está certo? Qual das suas frutas exóticas é normal, Hélio? Qual está certa? Tudo é normal, tudo existe dentro da sua lógica, dentro do que ele é, e aí sim, nosso desafio, o verdadeiro desafio das cooperativas e associações não está na assembleia, no estatuto, em nada disso... Também eu estou brincando muito com elas aqui, porque eu sou casado, e não tem uma relação mais próxima como o casamento, o desafio do casamento também não está aqui em conversar, em ouvir, em mediar? O desafio da vida está em conversar, em respeitar as pessoas, em respeitar o caminho de cada um, e aí sim a gente tem capacidade de construir objetivos coletivos com ética, passar para as pessoas que ética, como eu disse no primeiro encontro que eu vim, ética não nasce sozinha, ética requer esforço, esforço diário. Aqui eu vi que no encontro tem várias palestras de judô, os judocas treinam todos os dias, duas vezes por dia até ficar bom. Pedir licença para vocês para trazer minha questão familiar. Aqui meu avô, Kasunori Kassaoka, que veio do Japão, do lado da minha tia, nossa família é 251
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de feirante, vendendo ovo aqui na feira. E quando o Nelson foi na secretaria conversar comigo "Ah, você conhece o Mottainai, você é descendente", e eu pensei "Não conheço... Por que meu avô não me ensinou o Mottainai? Por que eu não sabia isso". Sabe o que ele me ensinou? Ele dizia "Dioge, você tira prego da ripa, pega caixa tomate, tira prego, e guarda ripa e guarda prego", e um dia eu furei o pé numa ripa e falei "Ih vô, furei o pé porque eu não tirei o prego da ripa para eu não furar o pé", "Não Dioge, tira prego para ninguém furar o pé". E assim, lembro sempre do meu avô e lembro sempre do nosso compromisso com as futuras gerações. Vamos ensinar as pessoas a tirar os pregos e dizer que cada sucesso que a gente tem na vida, advém do nosso esforço e, ainda sim, mostrar que podemos ser felizes e continuar desenvolvendo e trabalhando para construir nosso estado, nossa nação. Muito obrigado.
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BIOENERGIA
Palestrante: Jorge de Lucas Jr. Professor Titular da Unesp e Consultor de Biodigestão Anaeróbica da Sansuy Indústria de Plásticos S/A
Bom dia! É uma satisfação participar deste evento pela primeira vez. Agradeço o convite da coordenação, as facilidades que a Sansuy me ofereceu para que eu pudesse chegar até aqui e abordar um tema que tem tudo a ver com o uso racional. Eu não conheço projetos nessa área que não se paguem em um curto prazo. Aposentei-me na Unesp de Jaboticabal na graduação, e agora estou vinculado à pós-graduação em Botucatu, também na Unesp. Mas não posso me afastar de Jaboticabal por conta de ressentimento, nós temos um projeto aprovado, para uso de biodigestores com todos os dejetos da universidade, e 10 hectares de batata doce. Batata doce é uma cultura muito energética, tomei paulada para aprovar esse projeto. Porque diziam que estava tirando alimento da mesa das pessoas. E por sorte existe uma batata doce industrial, muito mais produtiva, que pode chegar na ordem de 80 toneladas por hectare, com ciclos curtos de produção. Então, é só por isso que esse projeto foi salvo. Pela existência de uma cultura energética muito favorável. Vou mostrar um dado apenas disso, e vou focar no final da apresentação no 253
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dejeto de galinhas, até para descrever o que está acontecendo em Bastos. Para começar, não tem como fugirmos do crescimento populacional quando se trata de racionalizar recursos. Não existe vida sem se utilizar recursos, e nós temos três sistemas: solo, água e ar, que recebem todo o fruto desse processamento bom ou ruim. O homem não tem como fugir disso. Então, não temos também como fugir muito desse crescimento populacional, e quando se fala que em 2030 e 2050 a população será de tantos bilhões, nós temos que pensar que 30 anos passam muito rápido.
Eu posso dizer com duas vezes mais propriedade, que 30 anos passam muito mais rápido do que se imagina, significa que eu tenho mais de 60. E ao ter mais de 60 eu espero que nos próximos 30 anos eu possa dizer que 90 anos passam muito rápido. É assim que a gente vive. Então, crescimento populacional gera emprego para todo mundo, gera oportunidade para todos. Segundo dados da FAL de 2014, em 2030 nós precisaremos de 50% mais de energia, 40% mais de água limpa, e 35% a mais de alimentos. Então, o que é 2030 no tempo para nós? Se não pensarmos assim, com essa agilidade de que 2030 já está ai, e em relação a 2014, vamos precisar disso, 50%, 40%, 35%, num mundo que em 2014 um total de 768 milhões de pessoas não tinham acesso a água tratada, 2,5 bilhões tinham péssimas condições sanitárias ou 254
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ruins. E 1,3 bilhão não tinham acesso à eletricidade. Em 2030, nós vamos precisar de quase 50% a mais em relação a 2014. Bom, então corremos um risco de termos problemas na produção de ovos com a demanda desse mercado. Assim como o de todos os alimentos, só que, teremos que ser mais eficientes em produção, e eu não posso mais conceder desperdícios. Definitivamente, desperdícios não podem existir. E o prim gestor, que é o tema principal que vou tratar, é lidar com o desperdício, recolhe os excedentes que sobraram, para que nada falte. Seria mais ou menos pelo lado teológico, certo. Temos jovens aqui. Quem está na faixa de 9 até 30, 40 anos de idade está nessa faixa gorda aqui, da população. As mulheres podem pensar: tem mais homens. E os homens pensar: tem mais mulheres. Os jovens que estão aqui nessa faixa de idade tem que pensar o seguinte: as mulheres têm mais homens. E os homens têm mais mulheres. Não tem. Mas eles podem pensar o seguinte. A vida inteira tem mais concorrência, na hora de enviar um currículo para trabalho. E eu estou falando agora do Brasil. Não tenho escutado nas propagandas, no ambiente em que vivemos, alguém que aborde essa preocupação com o nosso jovem. Pode falar em educação, saúde, mas por favor não vem pôr conotação política aqui. Eu só estou dizendo que não escuto uma abordagem com profundidade dentro desse tema, do nos255
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so jovem. De 9 até 30 anos, 30 e poucos anos, em 2040 estará na faixa aqui, mais gorda populacional, e até 2060 também continuar, com maior concorrência a vida toda. Como tornar esse número maior, mais produtivo. Isso poderá gerar um problema muito sério no país, se não formarmos essas pessoas, dentro do conceito tema deste evento.
Muito bem. Estou cansado de ver projetos implantados no país inteiro. Eu disse muitos. Então se pensa na produção e depois vamos atrás das consequências. Como uma sequência lógica de projeto deve estar aqui. Bem no meio, entendendo o meio como fonte de recursos naturais, suporte de atividades e setores influentes. E aqui estão todos os itens, para se chegar num projeto, para se fazer transformações de espaço, para se aproveitar recursos, e para se controlar a emissão de influentes. A ordem dos projetos deve ser esta. Do meio, para a implantação. Televisor não, computador. Era 110, coloquei no 220 sem olhar, a ansiedade, ou na ânsia de ligar. Tá certo. Quantos de nós vamos ler o manual, antes de usar qualquer aparelho? Pois é. Então, nós temos que olhar um projeto nessa sequência. Qualquer resíduo orgânico tem dois caminhos somente: aeróbio ou anaeróbio. Eu posso dar dois exemplos de processamento aeróbio e anaeróbio. Aeróbio, compostagem. Estava conversando com o professor Paulo, de Tupã, eu falei "ah, eu enterrava o 256
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lixo, a fração orgânica quando tinha quintal, até os cachorros descobrirem, e começar a desenterrar. Olha, só este ato, alivia em 50% da carga de retirada de resíduo sólido urbano da minha casa. Desde que tenha espaço, faço um canteiro para a fração orgânica. E esse processo é tipo uma compostagem, um processo aeróbio, onde a energia se perde na forma de calor. E o outro caminho, vou agregar a energia na forma de mandar combustível, é o anaeróbio. Não há liberação de calor, e onde perde energia na forma de gás metano, por exemplo, que possa gerar energia elétrica. Então, vamos lá para o processo anaeróbio. Ele é fechado, o substrato é orgânico, um dos produtos, o biogás, cujo maior componente em quantidade é o gás metano. Este é carbono e hidrogênio, queimando vai virar CO2 e água. Gás metano, uma capacidade de aquecimento global no planeta de 21 vezes acima do CO2, então quando eu queimo eu gero CO2, eliminando a capacidade de aquecimento global do planeta do metano, que é 21 vezes pior. E gera água da queima do hidrogênio, além do que, num processo fechado, qualquer resíduo com potência fotogênica estará isolado do homem, dos animais, estará isolado do meio enquanto eles são gases. Nós temos controle nesse processo. Anaeróbio, muito embora tenha trabalhado também com aeróbio. Nós podemos descartar qualquer um desses, temos que olhar qual agrega o maior valor. Então, com o processo anae257
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róbio, nós vamos produzir saneamento e energia duplo, e vamos vendo alguns resultados disso aí. Imagine essa lagoa, numa subcultura, que tem lâmpada aí dentro, tinha plástico, frascos com medicamentos, vacinas, placenta e animais mortos. O agricultor jogava tudo nessa lagoa, está certo? Sendo biodigestor ou não, não importa, tem alguns materiais que têm a capacidade de causar doença muito séria. Nós temos que ter outros caminhos. Mas uma lagoa com dejetos vai ter emissão de gases para atmosfera, e daqui sai óxido nitroso, daí já estou falando 310 vezes a capacidade de aquecimento. E sai já afetando, sai o CO2, o odor. Quando nós convertemos uma lagoa dessas num biodigestor, vejam só, o próximo ponto. Essa lagoa está emitindo metano, óxido nitroso e outros. Quando converto o processo de semiaeróbio ou anaeróbio ou uma mistura disso, em um biodigestor eu fecho.
Ao isolar do ar, do meio aberto, nós promovemos um ambiente anaeróbio, e aí sim, vamos queimar os biogases, uma mistura de gases, com o favorecimento agora do processo para metano, um gás energético. E vamos eliminar para o 258
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meio a água, CO2 e nitrogênio, entre outros. Mas vejam que peguei metano, que é 21 vezes pior, e lancei CO2 e água. Pronto, só ali, já existe um ganho ambiental, e nós temos a facilidade de captar recursos hoje. O programa ABC, por exemplo, agricultura de base de carbono, tem baixas muito favoráveis. Isso tem feito produtores rurais que estão capitalizados não usar o dinheiro próprio, e entrar num plano, e pegar o dinheiro, lógico, numa taxa de juros, e com carência, que quando começar a pagar, payback já aconteceu, retornou o investimento. Isso tem acontecido muito em biodigestores. Ao lado tem um modelo de biodigestor. Pronto.
E aqui é um modelinho de como seria um sistema desses. Nós temos os galpões produzindo dejetos, temos sistemas pra todos os biodigestores, vários modelos no mercado. A Sansuy trabalha com pelo menos três modelos, para pequena, média e grande escala. E o novo aí que é lançamento, produzido no modelo alemão, para soja. Então, nós vamos ter o fomentador, e daqui nós vamos ter um adubo orgânico, energia, e teremos, por estar isolado, o saneamento. Com a redução de coliformes e termotolerantes da ordem de 99%, com reduções, disjuntores, e a estabilização da matéria orgânica para ser reutilizada sem concorrência com a própria planta, no caso do nitrogênio.
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Aqui está o resultado que nos surpreendeu. Vou abrir um parêntese e contarei uma história. Em 2012 estive na Alemanha, na Universidade de Ukenhein, para visitar projetos de biodigestores e fiquei encantado com um suporte que a instituição deu para a implantação de um sistema de um produtor rural de bovinos e suínos usando resíduo sólido urbano, lixo, mas lá eles separam em quatro frações, em alguns Estados em seis frações, já em casa. Então esse produtor pegava resíduo sólido urbano, fração orgânica, levava para propriedade, e foi a região da universidade, o nosso campus em Jaboticabal, gastando 200 mil até 300 mil de energia elétrica, e o lixo da cidade, indo pra um aterro que já está saturado. Por que não fazer projeto? Fiz e ouvi. "Jorge, você vai morrer se continuar nesse projeto, vão te matar". Porque tem licitação do lixo, você tem que esperar três anos. Não mandaram a licitação, mas se você não ganhar ou se for desviar o trajeto dos caras, corre risco de vida. Bom, eu estou aqui, porque desisti do projeto então, tá certo. Isso gera frustração, porque queria usar o lixo da cidade para abaixar o custo e a lógica é melhor você investir em ensino do que em energia elétrica, mas tudo bem. Três dias depois, à noite na televisão, vejo uma matéria em que as pessoas bombadas das academias estavam comendo batata doce. Pronto, vou misturar batata doce com dejeto. Eu falo dejeto, mas no dia a dia uso outros termos ok? Vamos misturar batata doce com os dejetos e pronto. Aí paulada. "Você está tirando alimento da mesa do povo". Aí existe a batata doce, com capacidade de produção de até 80 toneladas por hectare industrial, não é para mesa. Um teor de amido maior. Pronto, está aí uma cultura energética, que tenho certeza que confronta a cana energética. Produz 2.5 vezes por ano. E não preciso colher tudo de uma vez. O próprio solo é o armazenamento dessa batata doce. E se colher uma quantidade maior eu posso deixar dois meses armazenada, em um local seco, com sombra e ar. Pronto, está aí uma reserva energética para o produtor rural, e sem escala. Este projeto não é para o grande produtor e não é para o pequeno, é para todos. E permite um produtor que tem muito dejeto, associar-se com outro que tem área para produzir um pouco de batata doce e pagar todas as suas contas de energia elétrica. Então, a salvação foi o aparecimento dessa batata doce industrial, porque ninguém quer comer.
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Bom, e aí o resultado veio, e olha aqui. Zero, só dejeto de vaca. Vinte, 30%, 40% e 50% de produção de associação com batata doce. E esta resposta é linear. E vou mostrar a avaliação econômica desse estudo. Aqui mostramos que a resposta é linear. Olha, dejeto de vaca. Vaca mais 20%, 30%, 40% e 50% na matéria seca com batata doce. Uma cultura energética, que não precisa destilar, e me dá um gasto queimado. Estou dizendo de uma alternativa, que não é para o grande só, está certo? E aí, com essa missão, nós vamos conseguir equalizar a necessidade em cada um, de geração da sua própria energia, desde que tenha a sua própria área. Ou quem não tem área associe-se com quem tem e pague a conta de energia dos dois. Lembrando que, todas as propriedades que vi implantação de biodigestor, aumentaram o consumo de energia. Por quê? O meu custo de produção cai, então, ela sai de um custo de energia e aumenta porque passa agora a ter facilidade ou acesso. E nós que estamos acostumados a estar no Estado de São Paulo, achamos que em cada esquina temos um poste mesmo. E temos uma malha elétrica boa. Mas conheço propriedades nesse Brasil que não podem ampliar o seu sistema, estão querendo construir uma fábrica de ração e não tem energia para racionar os motores. Estou falando dos que estão na ponta. E quem está na ponta, são produtores que avançaram nesse país, que estão desbravando. E eles es261
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tão limitados à energia. Então, está aqui uma alternativa. Será que é viável economicamente? Olha aqui os índices da TIR (Taxas Internas de Retorno). Tudo acima de 46%. Olha aqui os projetos com 50% de batata doce. Eu fiz esse projeto, depois do estudo de casa, para 200 vacas confinadas. Já não é um pequeno produtor. Mais as batatas doces nas taxas aí, olha o VPL (Valores Presentes Líquidos), após 10 anos, e colocando todos os custos, até em TI para o produtor, para o funcionário que vai mexer no biodigestor, colocando, o custo de produção da batata doce. Colocando tudo, e o professor David, que é o orientador dessa tese, fala "Jorge, tem que aumentar despesas nesse projeto." Não é possível, porque vou marcar de dar aula e vou montar um biodigestor. Ele pensa em tudo pra inviabilizar. Porque são coisas que se pagam em dois anos, com carência de três ou quatro anos. E aqui o VPL para cada uma das ações. Eu não vou mostrar o mesmo conteúdo inteiro. Olha os índices de lucratividade. Ah, e digo mais, aqui é dejeto de vaca, tem uma concentração de carbono e nitrogênio mais alta. Imagina o de galinha, que tem muito nitrogênio e se eu adicionar qualquer carbono ali, a resposta é muito boa. Eu já trabalhei também com dejeto de suíno, e tem o mesmo nitrogênio que o de galinha. Então nós podemos buscar uma fonte de carbono para um dejeto de galinha no caso. Aqui está outra pesquisa, que simulamos o biodigestor aqui, agora eu já usei dejeto de suíno, e com pequeno acréscimo de batata doce. Mas também já testei a mandioca. Batata doce e mandioca em adição aos dejetos de suíno. Olha que diferença a produção de gás. Essa tese foi definida esta semana, então, olha aqui, já é um 262
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dejeto mais próximo que é o de galinha. A vantagem do biogás, então vocês podem ver, que não vou tomar muito tempo. Enfim uma simulação pra 100 mil poedeiras, num sistema automatizado. Nós já orientamos teses, comparando automatizado com sistema convencional e piramidal, com a retirada ou não de área dos dejetos, é possível produzir biogás com os dois tipos, tanto com aquele de aquisição de área, como aquele que fica em baixo das gaiolas. Então, fiz uma simulação aqui, de 100 mil poedeiras, com a retirada de água dos dejetos, e de propósito coloquei uns bois aqui atrás. Existem atividades que podem absorver os impactos ambientais de outras. Depois de produzir laranja com dejeto de galinha, posso produzir café. E no caso aqui, como eu tinha outra tese na área de bovino, dejeto de bovino. Eu vou produzir boi. Ah, mas o pessoal lá em Bastos não tem área para produzir bois. Um dia, não me lembro, três agricultores, ou produtores de ovos de Bastos, me procuraram lá em Jaboticabal. Eles estavam vendendo o dejeto de galinha a um preço tão baixo, que falei para eles. Olha, vou arrumar uma área próxima a Bastos e pagarei os R$ 15,00 que estão vendendo esses dejetos, e vou 263
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mostrar para vocês produtores de boi, vou pôr um biodigestor. Vou me associar a vocês e pagar a suas contas de energia elétrica. De tão baixo que estava o preço naquela época. Não sei quanto está hoje, certo. Por quê? A cultura bovina daria folga ambiental para a avicultura. E se busco folga ambiental, não vou só pagar para me desfazer do resíduo, tenho que agregar valor. Eu escolhi bovino aqui no caso para 100 mil galinhas. Ah, mas eu não tenho 100 mil galinhas. Mas o seu vizinho, você, o outro, e o outro e outro podem ter 100 mil galinhas. Eu queria ficar sócio de vocês cinco, e vamos pegar uma área, por um biodigestor, e produzir nessa área. Melhorando o solo inclusive. Ah, não tenho capital para investir nessa associação. Uma galinha produz de 80 gramas de dejetos por dia, com teor de matéria seca, num sistema automatizado de 27%. Lógico que isso varia de acordo com a época do ano, alimentação, mas é mais ou menos isso que a gente tem medido. Então 100 mil poedeiras, 8 mil quilos de estrume por dia, com matéria seca e uma carga diária que vou reduzir para 4% de matéria seca, e 50 mil quilos, mais ou menos de estrume, água de reciclo, água de lavagem de ovos, água de reuso, biofertilizante, vamos usar água limpa nesse sistema, tá certo. Então, dos 8 mil quilos, vou fazer 50 mil litros de substrato para o biodigestor. Aí entra o grande problema da avicultura. Se não tenho a área, mas tenho um volume de 8 mil, vou jogar para 50 mil de área. Por isso preciso de área pra absorver isso, que pode ser até arrendada. Porque fiz a avaliação econômica que é para jogar o biodigestor depois de 10 anos, então arrendo por 10 anos uma área. Produção de área de biogás. Com 100 mil galinhas e 910 metros cúbicos de biogás, isso é em pesquisa, consigo tocar um conjunto motogerador de 120 KVA. Esse motogerador já funciona no Brasil, não precisa importar. O importado é bom, mas nós temos conjuntos de bons motogeradores. Já vi em Minas Gerais em uma propriedade, 30 mil horas antes de ir pra retígio. Com 30 mil horas, esse motogerador já gerou muita energia. Bom, então consigo com 100 mil galinhas gerar 1275 kvh todos os dias. Hoje, pela legislação brasileira, posso injetar essa energia na rede. Eu não preciso desligar e usar, posso injetar na rede, e tenho cinco anos pra gastar essa energia. Faço um crédito de energia, então isso é bom, porque em alguns meses, um produtor que tem irrigação, por exemplo, não uso energia, ou em 264
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alguns meses ele usa muito. Com esse saldo que pode fazer, em cinco anos ele pode gastar. Tem um produtor em Goiás que paga 17 contas de energia, da padaria, do posto que ele abastece. Ah, mas ele arrenda, faz uma parceria lá, paga todas as contas das propriedades rurais dele, e de onde ele compra, combustível, pão. Então está aí, um produtor com 100 mil galinhas pode produzir 1274 kwh, e esse número não é teórico. Produção de biofertilizante das 100 mil galinhas. Olha, peguei aqui um dejeto, com 4,2 % de N (ni-
trogênio), e tem mais, 3,5% de P (fósforo) e 2,3% de K (potássio). Fazendo aqui a carga do biodigestor, e jogando 20% dos nutrientes fora, teremos 72,58 quilos de N por dia, 138 de P²O5 e 47 de K2O por dia. Convertendo o valor em ureia, supersimples, e cloreto de potássio, tem isso aqui em gramas. Ah Jorge, mas você está comparando 265
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com mineral? E a resposta? Nós temos tempo de resposta do biofertilizante, às vezes mais rápido que a ureia. Que absurdo é esse que você está falando? O biofertilizante tem uma água, é líquido, que ao ser aplicado desce, e atinge a raiz da planta, e se não aplicar a uréia no tempo certo, e se der uma chuva muito forte, se ela não for uma uréia protegida eu perco, e muito, por volatilização, infiltração, etc. Então, já cheguei a ter uma resposta com biofertilizante do que com a própria ureia, pensando em nitrogênio. Ai uma pergunta que todo mundo faz. O que faço com esse biofertilizante? Isso depende do tipo de solo, da fertilidade, das exigências, da cultura, entre outros. Fiz uma simulação com outra pesquisa, de produção de forragem, capim Tanzânia. Então nós temos lá essa disponibilidade, de N, P e K, conforme mostrados anteriormente. E aqui nós temos alguns dados de pesquisa. Nós aplicamos na produção de capim Tanzânia um biofertilizante. E obtivemos alguns dados. Por exemplo, para Jaboticabal, o ciclo de cortes seria no máximo 46 dias, então se pego 46 dias, divido pelo período de ocupação. Eu quero que os bois fiquem três dias em cada piquete, escorem em toda a área em três dias, e muda de piquete. Eu preciso de 16 piquetes. Fazendo um sis266
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tema rotacionário. Pessoal, escolhi o caminho da produção de boi, mas poderia ser qualquer outra cultura, correto? Então está lá. Pegamos os dados de pesquisa de novilhos, a raça menor, em pasto, consome em Tanzânia, 6,89 kg de matéria seca, para novilhos com 280 kg, eu vou pegar boi magro, novilho magro. Tá certo? E vou deixar no ponto para entrar no confinamento. Vou fazer ganho de massa muscular no pasto que ele baixa o custo, muito mais baixo o alimento, do que fazer confinamento.
Então, pegando os dados da pesquisa, nós vimos que seriam necessários 16 piquetes com 4,17 hectares cada um. Esses cálculos depois vocês acompanham. Então vejam, 100 mil galinhas vão me permitir ter 16 piquetes numa área 66,7 hectares. É isso que 100 mil galinhas precisam de área para produzir. Porque vou aplicar 7,8, aplicações, 7,95 aplicações na mesma área, aplicações de 50 quilos de n por hectare para ter esse tempo de crescimento na forragem. Fazendo os cálculos, todos nós poderemos ter 247 novilhos. Agora não sou 267
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mais um produtor de ovos só. Eu sou produtor de 865 bois que saíram de 280 kg e que chegaram a 350 kg num pasto. Pronto, agreguei uma renda e agora? Mas é difícil né, uma vez falei para um paranaense lá em Mato Grosso, olha se eu fosse você faria parte, criaria boi. Ele falou assim, já tomei prejuízo com boi. Você vai pôr dejeto de suíno, quando estiver com soja na sua área. Como que você vai jogar nitrogênio em cima de soja? Nunca. Hoje tem como. Ele tem uma área de descarte do dejeto, num período em que ele não pode aplicar na área que ele tem milho e soja. Então ele tem boi, e faz a adubação nesse período. Então pessoal, com 100 mil galinhas, no modelo de adubação que escolhi, de produção de novilhos, nós vamos conseguir deixar pronto para ir pra um confinamento. Daria pra fazer no ano três lotes de 90 dias, de período de horta, com confinamento, com 247 novilhos. Essa seria a instalação do confinamento. Se eu resolver levar o boi até o peso de abate. Aqui (última ilustração da página anterior) é só um modelo, para quem tem 100 mil galinhas, teria que ter 16 piquetes e 4,7 hectares, se quiser virar um produtor de boi. Dando um total três lotes e meio de 247 animais, esse é o modelo escolhido. Aqui está de onde surgiu a ideia da batata doce. Isso aqui é uma estação de tratamento de lixo na Alemanha. Dentro da cidade, todo o lixo não fica viajando muito. Aqui é um biodigestor, mais dois biodigestores. O lixo gera energia elétrica para o abastecimento público. Fiz um projeto semelhante para o município de Penápolis, e nós verificamos que 40 vacas, misturadas à fração orgânica do lixo da cidade, seriam suficientes para produzir 10 mil litros de leite por mês, 268
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num sistema confinado, que atenderiam toda a demanda social do município. E o lixo iria para as hortas. Escolhemos Penápolis porque a cidade tem um programa com 30 hortas comunitárias. Então está aí olha, eles fazem composto orgânico do lixo e energia. Tem coletores solares para geração de energia também, no teto. Aqui também é um biodigestor. E aqui em baixo desse teto é processado o lixo na parte da compostagem. Tratam os gases pra não dar odor na cidade. Aqui é a Universidade Ukenhein, onde é produzida destilagem de milho pra gerar energia. Podemos produzir outros, mas destilagem de milho é mais nobre para nós.
O controle do biodigestor (direita). E aqui está o produtor rural, que virou coletor de lixo. A maior renda desse produtor na Alemanha é de 90 euros por tonelada de lixo que pega na cidade. Segunda renda, vender energia elétrica, ele gera energia com dejeto de vaca e suíno. Terceira e quarta ren-
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das dele, leite e carne. Então ele tem mais dinheiro com o lixo. Isso é norte de Minas Gerais. Fui dar uma palestra em Uberlândia e encontrei uma propriedade rural. Um dos alunos era filho de um produtor e fomos na propriedade dele, pedi uma que tinha biodigestor para fazer a aula prática. Aqui está o biofertilizante saindo, o dejeto suíno. Estava seco, era setembro, não havia chuva. Olha lá como estava seco. Ele separa um pouquinho do sólido, e aplica no pasto onde ele produz leite. Olha o pasto. O líquido que sai aqui, ele tem o sistema de irrigação nos 16 piquetes dele. Aqui estão as vacas. Olha a ocupação, elas ficam só três dias em cada piquete. Olha o número de vacas. No dia seguinte elas iriam sair pra este, tá certo?
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As vacas fugiram quando faríamos o segundo corte, fugiram e invadiram a nossa área e comeram as 16 parcelas de biofertilizante. Quer dizer, deu perda no experimento total. A vaca não sabe de estatística. Se ela come um de cada pelo menos, tá certo. Não sabe. Deu perda total. E aluno chorando, lógico. Eu disse calma. Sempre que acontece uma coisa ruim, acontece outra ruim de novo, e depois vem uma boa. E ai nós fomos analisar os dados. O biofertilizante produziu quase igual o mineral, mas olha a lamina foliar (LF), 53% contra 37%. Por isso as vacas comeram o de biofertillizante. Não é porque elas enxergam o tom de verde, não enxerga, não diferencia. Elas comeram porque tinha mais folha. E é lógico que você vai ao rodizio você escolhe a carne que você quer. Elas tinham oferta com mais ou menos folha. E mais proteína. Proteína ela não ia diferenciar, mas a folha ela diferenciou. Esse produtor fez como uma pizza para as vacas. Trezentas vacas embaixo de um pivô central, e elas vão comendo como se fosse uma pizza. Dá uma volta em 40 dias.
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Então o pivô vem aplicando e as vacas vão comendo, e a ordenha no centro. Aqui está o biofertilizante (foto da página anterior), e lá (foto abaixo) o pivô
aplicando e as vacas vão comendo na frente. E a ordenha no centro, certo. Eu pedi pra orientar na fazenda, na área econômica, para fazer uma avaliação econômica com dados reais agora, fez essa semana, para 100 mil poedeiras. Então nós vamos ter receitas de energia elétrica e biofertilizante, nós vamos ter investimento. Custos operacionais, manutenção do gerador, depreciação, desimobilização, que seria jogar o gerador fora depois de 10 anos. E aí vêm as receitas todas, ela montou as planilhas. 272
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E isso vai ficar com vocês né. Observem que pedi para ela nesse primeiro estudo não considerar o biofertilizante, porque o produtor já o vende. Mesmo assim veio o payback de sete anos, e deu o índice de lucratividade de 43. O TIR ficou em 15, e a gente consegue financiar esse projeto a 7,5 hoje, num programa ABC, com 10 anos. Bom, então os dados não ficaram tão animadores, mas deu viabilidade. Agora, considerei esse biofertilizante, isto é, o produtor vai usar esse biofertilizante.
Aí a história, o TIR já passou para 39 quase, o VPL com 100 mil galinhas de R$ 874 mil, é o que ele receberia 10 anos após de lucro aí. Indice de lucratividade 186% em três anos. Se aumentar o número de galinhas, isso melhora273
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ria muito. Certo? Fiz pra 100 mil galinhas. Mas com um número maior de galinhas, e tendo área pra agregar esse valor, esse payback cai. Observando que quando nós adicionamos batata doce, 40% foi o melhor rendimento. Bom, coloquei aqui dois telefones, o meu particular e o da Sansuy. Coloquei o meu email da Unesp, e o e-mail da Sansuy. Como eu disse, depois que aposentei agora em março, estou em duas atividades. Depois de aposentado pude me dedicar à consultoria também. Então, vocês podem me encontrar se precisar alguma coisa via Sansuy, e até por esse endereço eletrônico e telefone particular, da Unesp. Muito obrigado!
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REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO RURAL Palestrante: Graziela Castilho Sabino Grecco Professora de Análise Econômica do Turismo e Custos da UNIMEP Consultora da Secretaria do Meio Ambiente, instrutora de Turismo Rural
Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer ao Sindicato Rural de Bastos por ter nos cedido toda estrutura dele para apoio deste Bunkyo Rural. Gostaria de agradecer a todos os alunos de Turismo Rural e outros que nos ajudaram a montar toda infraestrutura do Bunkyo. Sérgio Kakimoto, obrigada pela oportunidade. Eu vou dividir essa palestra em duas fases: primeiro eu vou dar uma pequena explanação sobre os últimos números do turismo e principalmente do turismo rural, e na segunda fase, a gente toma um cafezinho, vem aqui, e vamos fazer uma mesa redonda. Cláudio, eu vou convidar você para participar de uma mesa redonda, você, o Vagner, pessoas daqui da região, para gente descobrir, principalmente, as grandes necessidades daqui da região. Dentro dessas, fazer um plano de ação para melhorar as condições do turismo na nossa região. Está ok? Pode ser assim? O meu é rapidinho, gente. Só queria lembrar vocês que turismo rural é uma atividade. Para se ter turismo rural, nós precisamos ter uma propriedade rural. Essa propriedade rural tem que ser economicamente ativa, não obrigatoriamente no país de hoje que ela será rentável, porque nós sabemos, somos produtores rurais, nem todas as 275
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atividades a gente consegue ter propriedades rentáveis, mas ela tem que ter produção agropecuária para se configurar turismo rural. Ela tem que estar na zona rural e tem que estar comprometida com a produção agrícola ou agropecuária, agregando valor aos produtos, serviços e, principalmente, resgatando e promovendo patrimônio cultural e material da comunidade. O que vocês viram agora na abertura, e isso nós fizemos questão de mostrar, é que a cultura nessa região é muito forte. Individualmente, cada região ou cada município tenta preservar sua cultura. Nós temos o trabalho da Dirce em Arco-íris preservando a cultura Kaingang, porque ela está explicando a língua, ensinando a língua, ela está retomando os costumes para os mais jovens. Nós temos aqui em Bastos, não só a cerimônia do chá, mas a questão da dança, do cantar, do escrever (Nihongakou). Nós temos um apelo cultural muito forte e quando a gente fala em cultura, em jovens, eu coloco aqui também o vôlei, vocês, meninos, parabéns por vocês estarem defendendo Bastos, vocês são de quais regiões do Brasil? "Tem Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Maranhão, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná". Eu peço uma salva de palmas para esses meninos que ganharam os jogos regionais por Bastos. Nós temos na região os letônios, os letos nós temos em Lucélia, não é? Cadê a menina de Lucélia? Nós temos russos e alemães em Lucélia, italianos, espanhóis em Tupã, mas tem. O que a gente precisa realmente é trazer essa cultura de volta para o próprio povo, não deixar que terceiros explorem essa cultura, fazer a comunidade se apropriar daquilo que é dela, assumir culturalmente as nossas raízes, todo esse resgate histórico, para daí a gente se tornar cidadãos melhores. Lembrando os princípios de sustentabilidade que permeiam o turismo rural: Nós temos uma Sustentabilidade Econômica, porque nós temos que sobreviver. Nós temos uma Sustentabilidade Ambiental, e, quando eu falo de ambiente, não são só florestas, mas sim cidades, patrimônios, prédios, objetos. E nós temos uma Sustentabilidade Sociocultural, porque não adianta um estar bem, a comunidade tem que estar bem. Quando nós fazemos um plano e o trabalho de desenvolvimento regional, nós temos que criar oportunidades para 276
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que todos cresçam. E eu acho que isso é uma grande proposta do Mottainai, o uso racional de recursos. E quais são esses recursos? Nós estamos no estado de São Paulo, maior emissor de turistas do Brasil. Nós estamos no estado de São Paulo, o maior receptivo turístico do Brasil: todos os turistas que vem para o Brasil passam por São Paulo. Maior diversidade cultural do Brasil está no estado de São Paulo. O maior estado em número de habitantes do Brasil, o mais povoado. Nós temos a melhor malha rodoviária do Brasil. Nós temos o maior PIB do Brasil. E nós somos 36 etnias no estado de São Paulo que são em maior número fora do seu país de origem: é no estado de São Paulo que está a maior colônia japonesa fora do Japão, e aí nós vamos para os russos, alemães, espanhóis, e várias outras etnias que, no estado de São Paulo, estão em maior número fora do seu país de origem. Na última Veja da semana retrasada, na economia brasileira em 2017, nós movimentamos 520 bilhões de reais com o turismo no Brasil. Para vocês terem uma noção, na França, movimentou-se 715 bilhões de reais. A indústria do turismo hoje representa 7,9% do turismo nacional. 277
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Ainda na mesma revista, se a gente pensar em número de pessoas viajando, em 1960, apenas no mundo viajavam 69 milhões de pessoas, hoje em 2017, 1,3 bilhões de pessoas viajam. Isso é um número internacional, fonte cedida pela OMT, Organização Mundial do Turismo. Infelizmente, o Brasil, ano passado, re-
cebeu 6,5 milhões de visitantes. Só a Torre Eiffel em Paris recebeu sete milhões: só um monumento. Em Orlando, nós ganhamos de Orlando. O pessoal que ia para Disney resolveu vir para o Brasil, então a Disney recebeu 6 milhões em um ano. Um atrativo. Nós estamos falando de um país. Infelizmente, o turismo no Brasil não é levado a sério. E aqui, principalmente, nas cidades do interior também não é levado a sério, porque aqui não veem números que vão agregar valor à propriedade. Pelo Fórum Econômico Mundial, nós estamos em 1º lugar de potencial, mas estamos na 27º posição entre 136 países listados. Segundo o Ministério do Turismo, 66% do nosso território tem reservas naturais; nos Estados Unidos, só 19%, mas eles recebem 330 milhões de visitantes por ano, e nós recebemos 9 milhões, a maior parte em Foz do Iguaçu, no Parque Nacional das Cataratas.
Outros números muito interessantes, é assim: Brasil recebeu 5,8 bilhões de dólares de turistas internacionais vindo o ano passado, não estou falando de Copa gente, estou falando de um ano normal que não teve grandes eventos, e 278
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o país estava em crise e muitos evitaram de vir. Nós temos 2,4 milhões de leitos e a última pesquisa que o estado de São Paulo fez no começo do ano que eu não coloquei o número aqui, esses leitos estavam com apenas 40% de ocupação. Não existe uma política para atrair cliente. Por que eu estou falando de números? Porque, gente, 117 resorts no país, nós temos cinco na nossa região, e vocês dos municípios não estão aproveitando o público que vem. Quem vai visitar aldeia indígena Vanuíre, não paga para ir ver, não cobram. É muito bonito levar turista lá sem pagar, porque a empresa de turismo está recebendo para levar, e chega lá fala "Olha, eu vou levar um grupo aí, vocês armam um circo", não é? E não deixa recursos para eles. Vocês têm que se apropriar daquilo que vem de fora, porque outras pessoas estão ganhando dinheiro em cima das costas de vocês. Quem tem que ganhar dinheiro são vocês. Tem um cara que é sociólogo, ele é consultor da Organização Mundial do Turismo. Esse cara é o Domenico De Masi. Eu tive a oportunidade de estar pessoalmente com ele, ele é italiano, e ele fala o seguinte: basicamente, nós temos três tipos de turistas: nós temos aquele turista rico que vai para todo lugar do mundo, que tem 40 dias de férias por ano; nós temos o jovem e o pessoal da melhor da idade que estão viajando muito, que não tem dia para viajar, eles viajam o ano inteiro; e nós temos famílias que vão viajar mais finais de semana, feriados e férias com os filhos. Atualmente, pela globalização, esse povo quer o quê? Vou citar ainda o Domenico De Masi, ele fala o seguinte: esse público no mundo são 120 milhões de turistas que estão viajando. Eles querem viajar para conhecer locais fascinantes, cozinha genuína, oportunidades raras, base cômoda, hospedagem cordi279
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al, porém não invasiva, respeito à privacidade sem, no entanto, ficar em solidão. E é preciso que os destinos tenham recursos climáticos, naturais, históricos, artísticos, gastronômicos, culturais e organizativos. Vocês têm isso gente. Eu não preciso de um italiano falando. O cara é bom, mas eu não preciso trazer ele falando. Cada município de vocês no entorno, cada município no estado de São Paulo, tem isso. Sem precisar trazer dos outros. E quando eu falo do Mottainai e o uso racional de recursos: o que são recursos que nós precisamos? Recursos físicos: nós temos hotéis na região? De Marília até Dracena, vamos lá. Tem hotel? Tem. Tem restaurante? "Sim", tem. Tem empresa de ônibus? "Sim", tem. Em Marília tem aeroporto, em Prudente também, então tem avião também. Recursos ambientais: eu tenho mapa? Eu tenho monumento artístico ou histórico? Tenho casas antigas, museus? Recursos financeiros: não, está todo mundo pobre, ninguém tem, mas nós temos investidores locais e regionais que fazem esse investimento financeiro. Recursos sociais: vocês têm gente boa para trabalhar? Vocês têm um apelo de resgate cultural na região? Vocês estão trazendo Mottainai, o Bunkyo, que é um encontro estadual, nacional, da cultura de uma associação cultural? Então vocês têm um apelo social e cultural, e muito apelo histórico, vocês têm um a história riquíssima na região, para ser explorada desde que vocês tenham orgulho de demonstrá-la, desde que vocês se apropriem dela, desde que vocês entendam por que vocês estão aqui hoje, é por conta de uma história, por conta de uma cultural, e é por conta de uma mistura cultural, que deve ser respeitada e deve ser incorporada a cada um. Na nossa região nós temos tudo para formação do povo brasileiro, nós temos
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índios, brancos e negros, nós temos imigrantes de várias etnias, nós podemos demonstrar isso. Não existe um nicho explorando tanta diversidade no Brasil. Vocês têm no raio de 20 km muitos apelos para trabalhar isso: a riqueza do turismo pedagógico, porque quase todas as propriedades são trabalhadas, podemos ensinar para as crianças tudo isso; o apoio das comunidades que cada comunidade aqui no entorno tem um trabalho decisivo; a preservação dos costumes, porque gente eu estou há dois anos aqui em Bastos, e meu respeito pela cultura japonesa, eu estou em Arco-Íris e meu respeito pela cultura Kaingang ou Krenak também. Vocês têm muita coisa para mostrar e cada vez essa mistura, essa cerimônia do chá, me arrepia essa integração, essa união. Eu acho que vocês têm tudo para ir para frente. Será que a gente tem comida diferente? Será que cada um da região? Eu comi um peixe assado muito assado muito bom, mas eu também comi uma coisa que eu não gostei, o que foi mesmo? "Nhame", é mesmo, é esse negócio aí. E aí? É um milho vermelho esquisito que não tem gosto de nada, mas eu comi. E aqui em Bastos em comi muita coisa diferente, como comi em Tupã, como comi na Varpa, né? Recursos naturais vocês têm? Vocês não têm o Tietê como eu tenho casa, tudo bem, mas vocês têm cachoeira né gente, vocês têm o Salto lá em Lucélia, vocês têm um monte de coisa aqui por perto, a produção agropecuária riquíssima para ser explorada, inclusive, para serem explorados novos pratos. E agora eu queria passar para vocês, já terminando a minha fala, porque depois nós vamos ter a mesa redonda, só um filminho para vocês. [FILME: Um antropólogo estava estudando os usos e costumes de uma tribo africana quando, ao final dos trabalhos, propôs uma brincadeira às crianças da região. Colocou um cesto de doces embaixo de uma árvore e propôs uma 281
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corrida, e disse "Quem chegar primeiro, leva o cesto". As crianças se alinharam, prontas para correr, e quando elas prontas para correr, ele disse "Já!", todas deram as mãos e correram juntas até a árvore, pegaram o cesto juntas e comemoram juntas. O antropólogo olhou curioso para aquela situação e uma das crianças olhou de volta para ele disse "Ubuntu, tio, como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras iriam ficar tristes?". Ubuntu é uma palavra que representa uma filosofia e uma ética antiga africana que significa "Sou quem sou, porque somos todos nós". Uma pessoa com ubuntu tem consciência de que ela é afetada quando um semelhante seu é afetado, ela sabe que o mundo não é uma ilha, que ela precisa dos outros para ser ela mesma. Ubuntu fala de respeito básico sobre os outros. Ubuntu é compaixão, partilha, empatia. Ubuntu diz que ser humano é ser como os outros, e que ser como os outros deve ser tudo. Em outras palavras, gente precisa de gente para ser gente. Na verdade, quanto mais dedicado a outras gentes, mais gente você se tornará. Minha oração é que você faça a partir de hoje mais ou alguma coisa por alguém hoje, amanhã e sempre. Enxergue o outro. Conecte-se com gente. Faça alguma coisa por alguém, até porque ninguém é alguém sem um outro alguém. Somos seres únicos, mas fomos feitos para viver coletivamente. Deve ser por isso que na oração que Jesus nos ensina, Ele diz que o Pai é nosso, Ele diz que o pão é nosso. Quando pede livramento, Ele diz "livra-nos", e diz "que venha o Teu reino a nós". "Nós" é realmente uma mensagem que precisa não estar só na nossa boca, mas precisa estar dentro do nosso coração. Você precisa, para ser gente, estar diretamente ligado, com vínculos de amor, amizade e afeto, com outra gente. Vire-se para um ser humano e pratique sua fé nele. Ubuntu para você.]
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DEBATE SOBRE TURISMO RURAL
Coordenação: Graziela Castilho Sabino Grecco Professora de Análise Econômica do Turismo e Custos da UNIMEP Consultora da Secretaria do Meio Ambiente, instrutora de Turismo Rural
Graziela Castilho Grecco - Dirce, coloque um pouquinho a dificuldade de vocês, por favor. Dirce Kaingang - A dificuldade no nosso trabalho é material, telhas para construção, a gente não tem sapé para poder fazer nossa Casa Sagrada, que tem que estar fazendo, porque ela está caindo e a gente está com uma dificuldade tremenda. E, sem o material, a gente não tem como construir a Casa Sagrada, principalmente a Casa Sagrada. E o museu está... As paredes dele estão no bambu e as nossas peças não podem ficar lá dentro, porque os bichinhos estão comendo o bambu. Então aqueles pozinhos estragam também os nossos materiais, que são também o acervo do nosso museu. 283
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Então nós temos bastante dificuldade com a oca, que é a Casa Sagrada, e com o nosso museu. A gente também tem dificuldade com a cerâmica, porque nosso povo que fazia cerâmica e a gente não tem argila para gente fazer e para fazer também para vender as cerâmicas. Então a gente tem bastante dificuldade com o material também: tem as sementes com as quais a gente faz os nossos artesanatos e, às vezes, a gente compra semente de açaí em São Paulo para gente fazer nossos materiais. A gente também faz nossos materiais com fitas, porque não tem mais o ipê para fazer. Então a gente tem bastante dificuldade. O que a gente tem hoje, nossos artesanatos, é o que a gente tem dentro da aldeia. Às vezes, tem colar, que a gente compra semente de açaí para estar produzindo. Muitas pessoas acham que a nossa aldeia nós vivemos de artesanato, então nós vivemos disso, e muitas pessoas acham que a FUNAI ajuda a gente, que a gente tem uma pensão todo mês... Não: a FUNAI não ajuda em nada, nada, semente para plantar, nada, nem mesmo a FUNAI vai na aldeia para ver o que os índios estão passando. Então a gente tem dificuldade com muitas coisas, a gente está vivendo com o que nós temos, o que a gente vende. A gente compra semente para produzir material que é o nosso artesanato, e também a cultura que a gente está vivendo. Às vezes, a gente recebe, igual a Grazi falou, alunos lá, mas se você for pedir um preço eles não querem pagar, entendeu? E quando a gente vai para fora, se você joga o preço, a pessoa recusa a pagar o preço que a joga para se manter, para manter a nossa cultura. Susilene Kaingang - Boa tarde a todos. O meu nome é Susilene, sou da etnia Kaingang, sou assistente de kuiã, o meu nome Kaingang é Kysã, que significa Lua Bonita. Eu estava há três dias no Ceará, né? A professora falou para eu cumprimentar, mas eu já vou rasgando o pé. A gente ficou três dias viajando. Fomos apresentar o nosso museu, fomos falar de museus indígenas, onde a gente vê que é muito triste, não só a minha cultura Kaingang, mas a cultura de todos os povos indígenas que estavam lá falando dos seus museus. Porque a gente vê que o poder público não está interessado em ajudar o indígena. A gente tem o museu dentro da nossa aldeia... Eu queria muito que a Ana, 284
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prefeita, estivesse aqui, que a Secretária da Cultura também estivesse aqui, porque eu falo "É muito bonito você sair numa foto, ser postada no Face, né? É muito lindo..."... Não professora, eu falei que eu vou falar, eu vou bater com força agora, porque eu falo que a gente tem um museu lá, é que eu não trouxe, eu não sabia qual era o objetivo do encontro, porque eu vim aqui para apresentar uma dança, mas eu quero falar, porque lá dentro do nosso município, Arco Íris, a gente não é ajudado com material para o nosso museu, sabem por quê? Porque eles não entendem que o museu é o sagrado, é de onde vem a cura, é onde você dança, onde você conversa com seus antepassados. "Ah, o museu é onde guarda coisa velha", e não é onde guarda coisa velha. O museu é a memória dos nossos antepassados, é dos que sofreram, é dos que derramaram sangue, dos que morreram para que hoje eu esteja aqui sentada, para que eu tenha pajé, porque eu falo que antes de ser minha mãe, ela é minha pajé, minha parceira, eu sou assistente de pajé, assistente de kuiã, porque pajé, homem, kuiã, mulher. E eu estou aí trabalhando com a minha mãe há, mais ou menos, nossa parceira, desde 11 anos de idade. Então eu sei o que eu falo: primeiro nosso lado profissional, eu e ela, e depois mãe. Então eu falo que é muito importante que os municípios pensassem um pouco mais, porque eu vejo que toda pessoa que tem o seu material dentro de casa é um museu. E por que não cuidar desse museu, gente? Arco Íris é uma cidade riquíssima, eles não sabem o pote de ouro que tem dentro do município, porque nós temos dois museus dentro da cidade de Arco Íris, só que ele está localizado dentro da nossa Vanuíre, da terra indígena Vanuíre. Kaingang e Krenac têm o seu museu indígena, só que a gente não recebe nada. Por que a gente não recebe nada para manter o nosso museu? "Ah, porque eu queria que o museu fosse igual o da cidade de Tupã, cheio de vidraçaria, cheio de ar condicionado, vitrine", e não é isso o nosso museu. O Sérgio teve o prazer de conhecer o nosso museu, a Grazi teve o prazer de conhecer o nosso museu, vocês que estão me ouvindo, eu quero que vocês um dia passem lá para conhecer o nosso museu. Museu indígena é diferenciado, é uma cabana feita de sapé, com madeira, eucalipto tratado (porque a gente não tem outra madeira lá, e a gente nem pode cortar porque a gente está lá para preservar, não para destruir). Então é isso, eu fico muito revoltada, porque eu falo que nós estamos mantendo a nossa cultura, nossa resistência, nosso fortalecimento, buscando nosso sagrado, nosso ritual espiritual e eu falo que a cidade de 285
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Tupã está querendo acabar com a gente. Então até onde eu indígena, Kaingang, até onde a minha pajé vai para proteger as nossas crianças, o nosso povo? Porque gente, eu estou revoltada porque dentro de Tupã eles não respeitam a gente, as nossas pinturas sagradas... Porque essa pintura que está aqui é uma pintura Tremembé, essa aqui do outro lado é uma Anacé, que foi feita em museus. "Ah, mas você está aqui para falar de museu?", não, eu estou falando de museu porque é o museu que busca, é ele que traz o turista para dentro da aldeia, porque se eu não tiver a minha cultura, eles vão lá para que? Para ver casa de alvenaria? Para ver a índia andando de roupa que nem o branco me ensinou? Não é isso que eu quero mostrar. Eu falo que faço em amor a minha cultura, em amor ao meu antepassado, em amor ao meu povo, em amor as minhas crianças, porque eu não quero ver Kaingang acabado, porque eu já ouvi falar "O Kaingang é extinto. O Kaingang acabou". Opa! Kaingang não acabou não, eu estou aqui, a minha mãe está aqui, as minhas crianças estão aqui, porque nós somos um grupo de 12 pessoas. Se os outros que estão defendendo outra cultura, é porque é por vontade própria, mas eu, Kaingang, ainda estou aqui. Então eu, quando vejo a pintura, porque eu nem tive coragem de chegar no poste da cidade de Tupã para ver os postes pintados, sabem por quê? Porque é muito triste, foi meu antepassado, dos guerreiros que já se foram, e têm um significado. Todo indígena quando usa sua pintura é porque tem um significado para ele, não é brincadeira, então eu falo que isso daí entristece demais, mas eu busco, eu acendo a minha fogueira. Assim como eu falei para você, Sérgio, o mel que está lá, está te esperando, a gente vai fazer a flor, porque tudo tem o seu tempo, nada é no tempo que eu quero, nada é no tempo que minha pajé quer, mas tudo é no tempo dos nossos antepassados que já se foram. Então eu tenho essa missão, quando ele estiver pronto, eu tenho a minha consciência de quem doou mel, precisa ir lá tomar essa bebida sagrada, porque ela não é qualquer bebida, ela é sagrada. Então vai ter o momento certo, vai ter a hora certa. O meu trabalho eu tenho muito orgulho, porque eu não estou aqui para brincadeira, porque eu não estou aqui para me aparecer, porque às vezes a pessoa acha que eu coloquei um cocar vermelho na minha cabeça, pintei o meu rosto, coloquei uma roupa de tabó, "Ah, ela está bonitona, olha como ela é linda", eu 286
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sou linda para os meus encantados, eu sou linda para a minha cultura, porque eu tenho uma cultura a zelar. Gente é isso, é só um desabafo. A professora Grazi falou "Meu Deus, só se apresenta", e não, eu vou falar o que eu tenho que falar, porque está entalado, porque já passou o limite do pescoço. É isso aí, pessoal! Graziela Castilho Grecco - Adorei, Susi! Principalmente que vocês duas assumiram a história do pajé. Muito bem, parabéns! Serginho, conta um pouco da sua experiência, depois passa para o Wagner. Estão cobrando para gente encerrar, vou deixar você por último, está bom? Sérgio Kakimoto - Bom, a minha experiência é longa, mas eu vou resumir. Eu comecei a fazer o curso de Turismo e daí em diante, eu comecei descobrir o tesouro que eu tinha em casa. Eu tinha prédios que não usava, e hoje estou usando esses prédios e fazendo deles uma economia para mim. Eu tenho certeza, vocês vão ver daqui a pouco, nós vamos lá visitar o açougue, o escritório que está virando restaurante, nós também começamos a cultivar o mel, em pequena escala, mas a gente consegue fazer alguma coisa de útil. E a professora tem uma visão muito maior sobre isso, ela misturou a cultura do índio, do japonês, do bonsmara, do wagyu, ela fez uma salada mista e eu estou acreditando que desse projeto, dessa mesa redonda, vai sair um projeto, professora, tenho fé, e quem sabe... Eu estive no Japão uma vez, e eu fui para Hokkaido. Lá em Hokkaido já tinha uma programação do ônibus parar nesses locais, e lá também tem índio, a cultura indígena; aí a gente pousava, passava um dia com eles, assistia as danças, a música. Quer dizer, ali tinha uma cultura. Quem sabe a gente possa fazer isso também. Os turistas que vêm aqui para Bastos, ter uma van que possa levar para Varpa, levar para Arco Íris, as pessoas que vierem para Arco Íris virem para Bastos, e esse é o projeto da professora. Vou deixar para ela depois conduzir esse projeto. Em resumo, no final nós 287
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temos então o açougue, estamos divulgando a carne, nós temos galinha caipira, frango caipira, ovos caipiras também, em pequenas escalas, mas que nós estamos diversificando, e esse contato cultural é muito importante. Professora, minha palavra era isso. A batalha e o esforço são grandes, não são pequenos, mas nós estamos juntos. Vocês, lá de Arco Íris, contem conosco, né professora, contem conosco, porque nós vamos conseguir vencer esse turismo regional, está bom? Quero agradecer de coração, viu Susi, Dirce, por vocês terem vindo e acreditado no nosso convite, muito obrigado porque vocês estarem participando desse evento e vamos trabalhar juntos para nossa região. Muito obrigado. Wagner Luques (Contur Tupã) - Eu, primeiro quero dizer que fiquei até emocionado com que a Dirce e Susi disseram, porque eu ainda não tinha tido um contato tão próximo com elas. Elas não sabem, mas de repente até criaram polêmicas entre uma série de coisas entre o assunto do índio e o assunto do turismo, e eu até me emocionei, com o que vocês estão falando. Por quê? Porque é verdade que nós precisamos de ações públicas de não interferência nas ações privadas, mas sim de apoio, porque o que acontece: os índios estão lá preservando a sua cultura, o que eles precisam é de organização, o que eles precisam é linkar o que eles estão fazendo com as pessoas que pretendem investir. Na verdade, eu como empresário, representando um grupo de empresários, representando o Contur de Tupã que trata, especificamente, de dois anos para cá, nós passamos a pensar especificamente na ação do Turismo como fator econômico e não fator de festinha, às vezes eu brinco com isso, nós não estamos no turismo para fazer festa, nós estamos no Turismo como uma ação de fator econômico. Mas esse fator econômico só vai ser entendido a partir do momento que todos entenderem isso, e não ficarem cobrando do poder público. "Ah, constrói isso, faz aquilo, que eu vou sentar aqui e vou ficar esperando o turista chegar", não. A ação tem que ser inversa, nós temos que começar a fomentar as nossas atividades da base, e com essas atividades da base nós vamos pressionar o poder público a tomar ações efetivas.
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Nós começamos um trabalho já há algum tempo, a nossa mentora (né, Sérgio?) espiritual também, nossa mentora Graziela que veio e cutucou, colocou uma gotinha ali, a gente já acreditava em alguma coisa, aí veio outro maluco, o Sérgio, que, por sinal, nós somos amigos aquarianos juntos e nascemos no mesmo dia, praticamente, ele é do dia 5 e eu sou do dia 3 de fevereiro, então, nos encontramos nesse mundo maluco. E as ações têm que ser pontuadas nesse sentido... O que a gente está tentando fazer em Tupã: fazer com que os empresários acordem, com que as pessoas acordem, falar todo dia, tem que se falar todo dia em turismo como fator econômico, tem que se falar todo dia no turismo como fator social, que o fator econômico gera o fator social e traz a melhoria de vida, para que esses políticos, os gestores públicos, acordem para essa relação, porque enquanto eles não acordarem para essa relação, nós vamos ficar batendo na mesma tecla. Por isso tem a nossa representante da AMNAP, quem sabe ela consegue, porque tem aquela velha história "se você não conhece o presidente, se você conhece a secretária já é um bom começo, porque a secretária às vezes manda mais que o presidente". Então, essas ações pontuadas nos municípios, os gestores públicos podem fazer com que eles acordem, porque nós precisamos só isso: que os gestores públicos acordem para o Fator Turismo. Quando acordem para o fator Turismo como economia, está mais do que dito na sua palestra, Grazi, está mais do que dito em todas as pesquisas e todas as notícias do mundo em relação a isso, e só assim eles vão acordar, só assim nós não vamos ter mais ações de descaso, de destruição como as que fizeram com que o Museu Nacional do Rio de Janeiro se destruísse, por omissão, por descaso do poder público, e é o que acontece com vocês. Na semana retrasada, nós estivemos no Museu de Varpa, que guarda um acervo não municipal, mas um acervo mundial, porque a história dos Letos se confunde com a história mundial, porque eles se confundem lá com o comunismo da Rússia, a fuga em massa de um povo fugindo da opressão. Essa história é contada pelo mundo, ela não é contada em Tupã, ela é contada no mundo, e o acervo está correndo o mesmo risco do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Três meses atrás, nós tivemos um incêndio na frente do museu. Eu fui lá, Sérgio, para tentar apagar, porque eu comecei a entrar em desespero, porque é na frente do museu pegou no terreno. O bombeiro da cidade não foi, porque ele estava ocupado apagando outros focos de incêndio em lotes de dentro. Mas 289
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gente, ali tem que ser uma área estritamente protegida, porque nós temos um acervo mundial da história, como o dos índios. Então, nós temos que fazer essas ações. Estivemos lá semana passada e estamos exigindo cada vez mais do poder público, e se ele não tomar conta, vamos botar o dedo e trazer a iniciativa privada para dentro desses museus, inclusive, existe uma notícia boa: parece que está para se criar no Brasil uma lei... (é... a lei não vale muita coisa também não, depois que queima, mas dá para se fazer a movimentação). No caso do município de Arco Íris, tentar através da associação, se vocês tiverem uma associação dentro da aldeia com uma personalidade jurídica, conseguir um "recampeamento" de recursos para associação e, criando dentro da associação um departamento do museu da aldeia, é o que nós estamos fazendo em Varpa. Em Varpa, nós vamos criar o departamento do museu dentro da associação de moradores de Varpa. Esse departamento vai poder buscar recursos públicos diretamente com a associação, que vai fazer com que a gente diminua as formalidades de aplicação de recursos: se você vai comprar tinta, você não vai ficar fazendo 10 orçamentos e comprar a tinta pior. O município faz assim: 15 orçamentos e três licitações e acaba comprando a pior tinta que às vezes nem chega. Então, seria uma ideia para vocês formalizaram uma associação com personalidade jurídica dentro da aldeia e essa associação de moradores, com personalidade, pode gerir e buscar recursos públicos nesse sentido. Eu falo em meu nome, eu estou à disposição de lutar por isso, desde que eu tomei conhecimento mais efetivamente do turismo, através da nossa amiga, por isso estou aqui hoje, Grazi, estou com você, que é uma batalhadora, uma incentivadora e é a nossa inspiração dentro do Turismo. Essa ideia da regionalização do turismo pelos povos surgiu lá trás, quando nós fizemos a vaquinha para trazer um maluco, aquele doido que ela trouxe, que nem lembro o nome, e o doido falou "Gente, vocês têm todos os povos aqui. Vocês têm índios, vocês têm portugueses, espanhóis, italianos, vocês têm russos, vocês têm letos, alemães, japoneses, tudo num lugar", se você fizer num raio de 50 km, a gente tem 30 povos aqui, 40 povos do mundo, por que não explorar? Essa ideia começou lá trás e ela vem vingando. Existe uma proposta que a gente vai levar, inclusive eu estou conhecendo as 290
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meninas aqui agora, as Kaingangs, e a gente já está andando com isso, inclusive com a revista Perfil aqui de Bastos. Nós pretendemos criar o Circuito 294, que é a SP 294, que é um circuito 294 do tal corredor que vai passar no centro e vai ser um circuito turístico na cidade, através de impressão gráfica, através do apoio da iniciativa privada, você está indo atrás dessas ações para gente tentar pontuar o que tem nessas cidades e transformar a 294 nessa referência, e com isso a gente buscar mais recursos. O Contur está tentando fazer essas ações nesse sentido e levar efetivamente essas ideias para as pessoas. Isso surgiu naquela época e fazer com que esses povos sejam reconhecidos. Quem sabe a gente tomando essa iniciativa por nós, Bastos, Tupã, Lucélia, Arco Íris, Osvaldo Cruz, Adamantina, quem sabe a gente consiga levar isso a nível do estado e mudar essa situação. O Estado cria Circuito Turístico das Águas lá das águas sertanejas, na região de Barretos, Olímpia, que são milionários. Olímpia recebeu 40 mil pessoas no último final de semana, porque já tem o circuito pré-consolidado. Criaram o Circuito Sertanejo aqui, o estado criou, ele não ouviu as pessoas, ele criou o Circuito Sertanejo que é o nosso circuto, que é Paraguaçu, Quintana, Pompeia, Arco Íris, Tupã, mas eu já estou na 4ª reunião em Tupã de regionalização e eu não tive Paraguaçu, eu não tive Quintana, eu não tive Pompeia, eu tive Arco Íris, eu tive Bastos, Osvaldo Cruz, e se Deus quiser eu vou ter Adamantina junto nessas reuniões. Então por que fazer um circuito para o lado de lá? Façam um circuito do lado de cá. Porque esse circuito vai nos favorecer, a gente ia trazer recursos e buscar esses apoios em nível de estado. Então é isso o que eu quero falar, é isso que eu quero deixar bem claro, que a gente vai lutar e pontuando. E, Grazi, mais uma vez, eu não estou aqui para te puxar o saco, eu só quero dizer que você foi uma grande inspiração dentro da nossa cabeça, né maluquinho, meu irmão, Serginho? E que vocês, índios, lembrem-se que a mais de 12 anos atrás, eu fui da Coroa Vermelha em Porto Seguro, tirei foto com índio, peguei semente com ele, conheci os barracões de produção de artesanato em que eles produzem artesanato em nível de escala, muito artesanato, e trouxe para Arco Íris. Chamei na época algumas pessoas da aldeia e alguns políticos dali, mas nem vou mencionar nomes, porque, na época, eles não entenderam a proposta de que eu iria 291
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buscar a iniciativa privada para comprar as sementes, os cordões, os materiais, e criar um selo social indígena, uma marca social indígena para que o produto de vocês pudesse ser comercializado a nível mundial. Coloco-me à disposição de novo para vocês para colocar essa proposta, buscar esses materiais que a gente tem facilidade de buscar esses materiais. Se não tem esses materiais na região da aldeia, eu vou buscar fora, mas produzir esse detalhe, produzir essa marca. Só para vocês terem uma noção, que eu quero finalizar aqui, uma vez eu procurei uma loja que existe em Embu das Artes que chama Inhanomami, e levei aquela casinha de palha que o Irineu deu, a cabaninha que ele fazia, e levei lá para eles, a mulher viu e perguntou "Nossa, por quanto ele faz?", eu "Eu não sei qual o preço que ele vai querer", ela disse "Vê o preço, porque eu quero mil casinhas". Na época, o pessoal não teve condições de produzir, naquela época ele estava com alguns problemas de alcoolismo e não conseguiu produzir e também não se importou muito. Quem sabe vocês duas, ouvindo isso que acontece comigo, não com outra pessoa, me procure, eu posso tentar fazer isso de novo para vocês. Muito obrigado, obrigado Grazi, Sérgio, Dirce. Cláudia Azevedo dos Santos (AMNAP - Associação dos Municípios da Nova Alta Paulista) - Bem, boa tarde para vocês. Com alguns eu ainda não conversei. Eu agradeço a oportunidade em nome da AMNAP de estar aqui. A AMNAP, para quem não conhece, é uma associação com 30 municípios, desde Herculândia até Panorama. Então quando a gente fala na AMNAP, a gente defende um circuito que começa em Herculândia e vá até Panorama, até o final da linha. Um dos grandes problemas da associação é uma coisa chamada bairrismo, é um pouco difícil, porque às vezes um município que vai um pouco mais que o outro, às vezes é outro que precisa de mais atenção, mas enfim a gente está aprendendo a lidar com tudo isso. Esse ano que resolveram levantar temáticas dentro da AMNAP e foram levan-
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tadas 4 para esse ano: duas são clássicas, ferrovia e rodovia, e as outras são, hospital regional, porque nós temos duas escolas de medicina, mas não temos um hospital não região, e a outra é agricultura, principalmente a familiar, por isso eu estou aqui. Muito bacana sobre o turismo, óbvio, a gente tem tanta coisa boa para mostrar, sem dúvida. As nossas assembleias acontecem em 3 ou 4 ao ano, fora isso, nós temos fóruns temáticos produzidos nesse ano, já conseguimos organizar um fórum regional de Agricultura em julho e, agora, está agendado para novembro aqui em Bastos, o fórum de Assistência Social. Então assim, para organizar um fórum de Turismo para esse ano está um pouquinho complicado, mas para o ano que vem a gente já pode começar a organizar desde já, e uma coisa que ajuda bastante é criar uma comissão regional. O que seria? Constituída por quem? Nós somos três microrregiões: a microrregião de Tupã, a de Adamantina e a de Dracena, então nós temos que ter representantes das 3 microrregiões, sentar e conversar. E vocês, Dirce e Susi, senti bastante o apelo dramático, é triste, vamos levar isso. A vida de prefeito, eu assisto, é muito dura, eles têm as pastas diversas, eles não conseguem tomar pé de cada uma delas a fundo; os secretários que trazem e essas comissões temáticas, a ideia é justamente essa: trazer as questões e as soluções juntos. Se você levar só problema para ele, é complicado, então a gente tem que levar problemas e saídas, propostas, e eu convido vocês através de Tupã, do Contur, para vir com a gente, traz isso para gente, vamos sentar, ouvi-las, e ver que saída a gente pode achar, ou que começo né? Que primeiro passo? [COMENTÁRIO DA GRAZIELA INAUDÍVEL] Quando eu falo Turismo, é porque eu estou trazendo a questão delas. Quando você cria uma comissão dessas, os representantes das microrregiões trazem essas questões, e aí depois que a gente leva para os prefeitos. O último passo é levar para o prefeito. E olha gente, eu acredito assim: não adianta a gente ficar esperando governo estadual e federal, a gente é que tem que contar para eles o que a gente precisa e não eles acharem o que a gente precisa, e mandar aquele pacote padronizado que eles têm hábito. Então, vamos conhecer a nossa realidade,
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vamos estudá-la e ver como a gente pode andar, como dar esse primeiro passo, e não só pela causa de vocês, mas por tantas outras. Mesmo vocês, orientais, manifestação cultural, artística, o que ficou foi a cerimônia do chá, a Ikebana não tem mais, não é isso? Vamos cuidar de tudo isso, vamos nos ajudar todos. E a gente precisa dos políticos, não tem como fazer sem eles, não é? Gente é isso, estamos à disposição sempre. Obrigada. Dirce Kaingang - Eu vou falar para você, Cláudia, a gente não está levando o problema para Secretaria. O que a gente gostaria, como Tupã... É que eles fizeram um grande projeto: o parque indígena. Só que eles não convidaram os indígenas para falar. Então nós não estamos levando problemas eles, eles estão trazendo problemas para nós, indígenas, por mexer com as nossas coisas sagradas. E também falar de parque indígena sem falar com o próprio indígena, porque eu, liderança da cultura Kaingang, e também tem liderança da cultura Krenak, nós nunca participamos de uma reunião. Então nós, indígenas, estamos quietinhos dentro da nossa aldeia, enquanto eles, Secretário da Cultura e Prefeito, mexendo com nós indígenas, sem perguntar se nós queremos, sem perguntar se a gente quer andar com a nossa trouxa de artesanato na cabeça atravessando rodovia, arriscando a nossa vida e das nossas crianças. Então, quando vai mexer com indígena, eles têm que chegar e perguntar, fazer uma reunião principalmente com as lideranças da cultura. Não é cacique que fala por toda cultura, mas sim nós liderança da cultura; não é cacique e não é só um membro da aldeia que vai resolver a situação das culturas dentro das nossas comunidades. É isso que gostaria que vocês entendessem: nós, indígenas, não fazemos o pacote e levamos para Secretaria, a Secretaria que está levando problema para o indígena, fazendo projetos sem o índio ter conhecimento. Fora o que eles estão usando tudo que é do índio. Isso entristece a nós também, nisso a luta se torna maior ainda. Enquanto eles não sentarem, fazerem uma roda com as lideranças, nunca vai ter acordo. Tem que trabalhar direito, eles têm que mostrar tudo que eles querem. Querem trabalhar com índio? Então vamos fazer a reunião com o indígena, mas não é um indígena que trabalha na Secretaria da Cultura, mas sim com a liderança da cultura. É só isso. 294
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Graziela Castilho Grecco - Pessoal, eu agradeço a todos vocês. E gostaria de falar aqui que a Secretaria do Estado estaria presente hoje, justamente para ouvir essa proposta e conhecer os produtos que têm na região, porque existe interesse sim em fazer um plano de desenvolvimento regional, já foi falado, mas houve um desencontro, porque o palestrante que viria da Secretaria entrou de férias e ele quis mandar outra pessoa no lugar, mas houve um desencontro de informações e ele não pode vir. Mas existe, uma vez articulado todos os produtos de todas as regiões, existe interesse do Estado em estar proporcionando esse desenvolvimento regional. Agradeço a todos. Nós sabemos que o trabalho é grande, mas eu acredito em vocês. Parabéns.
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Realização:
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AGRICULTURA DIGITAL NAS PEQUENAS E MÉDIAS PROPRIEDADES Palestrante: Carlos Eduardo de Mendonça Otoboni Professor do curso de Mecanização em Agricultura de Precisão e Diretor da Faculdade de Tecnologia Shunji Nishimura
Esse talhão, o que é essa fazenda aqui ó. É aqui do lado da cidade. Deve ser cana, não sei exatamente o que é essa lavoura. Ou pode ser milho, pelo jeitão da planta, ou café. É café. Quem tem café aqui pertinho? Então é milho. Esse talhão tem 276,79 hectares. Consigo medir polígono, as manchas e dizer que nessa área, na mancha, que é um problema, vamos dizer assim, de fósforo por exemplo. Trinta porcento da minha área está com problema de fósforo e preciso corrigir. E é possível corrigir com precisão. Você consegue fazer a adubação localizada e faz reparos onde precisa ser corrigido. Não é preciso jogar na área inteira. Ah, é um problema de praga, eu consigo pulverizar só na área. Ainda muito braçal porque você tem que fazer o que? Medições braçais e todos esses polígonos aqui eu posso salvar. Salvei ó. Vou salvar o nome polígono. Salvei, e ele já foi materializado no meu banco de dados. Aqui, está vendo? Está escrito Bastos. Não dá pra ver lá 297
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né, mas está escrito Bastos, onde está azulzinho olha. Vou tirar o azulzinho. Bastos. Tem um polígono. Ah, quero jogar isso aqui lá para o software de agricultura de precisão. Vem aqui, olha, e eu posso exportá-lo, enviar para o meu e-mail, copiá-lo, entendeu? Ou seja, posso transferí-lo para qualquer outra mídia ou software que quiser e depois trabalhar com ele lá. O que mais? Vamos lá. Será que esse terreno aqui é inclinado ou é plano? Boa pergunta, interessante né. Vou comprar a fazenda, um sítio. Será que estou muito ferrado com relação à questão topográfica ou estou beleza? Vamos medir, não tem problema. Vamos ver primeiro se ele é caído para onde. Vou passar o mouse aqui. Parece que é bem plana. Eu vou fechar, colocar aqui. Vou colocar um caminho aqui olha. O negócio é bem planinho mesmo. A elevação está 460, 458...456..então, está indo nesse caminho aqui olha. Meu, o que tem o tamanho dele olha. Vamos passar aqui para metros. Tem 89 metros. Eu estou caindo um. Caindo olha, aqui é o ponto mais alto, e aqui o mais baixo. Estou caindo 4 metros, só dividir 4 por 80 eu tenho a inclinação do terreno. Vai dar uma mixaria, talvez 0,5% de declividade. É uma área filé hein! Vamos pegar aqui uma fazenda, uma outra fazenda. Essa daqui, por exemplo. Vamos supor que essa daqui é uma fazenda, uma grandona. Será que está adequada ao sistema ambiental? Em termos de reserva legal, área de APP, etc.? Eu consigo medir, pegar a fazenda aqui, calcular o polígono dela, e aqui, olha, fazer bem rapidinho aqui. Peguei o ponto aqui, roda para cá. Então ele tem uma mata, duas matas de app aqui, olha. No caso, tem um riozinho no meio, outra matinha aqui, outra ali. Eu tenho a área da fazenda, 406 hectares. Vinte porcento disso quanto que é? Dez porcento é igual a 40 hectares. Ele tem 80 hectares. Ele teria que ter 80 hectares de mata, ok? Como é uma fazenda grande, não pode considerar reserva legal. Vamos ver o tamanho das matinhas. Quantos hectares temos? Vou pegar outro polígono, salvar isso daqui. Vou vir aqui nessa matinha olha, é 298
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rapidinho. Fechar aqui. Oh rapaz, não salvei, desculpe. Fazenda. Então eu vou salvar. Salvar o polígono aqui. Agora faço a medição da matinha dele lá. Vamos ver quanto ela tem. Ela tem que ter, então, 80 hectares né? Essa aqui já deu 6 hectares. Falta muito ainda. Vamos salvar. Vou colocar aqui um, aqui mata um. Salvei, posso mudar a cor, data. Depois faço aqui uma edição. Aqui é app, não pode incluir. Deve ter outra matinha aqui olha. Vamos ver quanto é que ela dá. Essa aqui deu 12, 12+6=18. Está melhorando né? Vamos salvar. Dois, tem mais outro aqui né. Vou até pegar esse pequenininho. Para fazer com a maior fidelidade possível. E aqui deu mais 6. Então ele tem 18 +6 = 24 hectares. Ele precisava ter 80, está certo? Ele não está dentro da legislação. Daí posso vir aqui e clico no poligonozinho, propriedades, ele vai abrir a tela de novo. Depósito, a cor dele, ao invés de deixar vermelho. Vou colocar em amarelo para mostrar que são as matas. Eu posso destacar, estão vendo? Posso classificar cada polígono desses dentro da minha fazenda. Posso colocar uma cor, e depois faço uma legenda desse mapa, apontando o que que o cara tem de construção, terreno, área, preservação, mata e de app, entendeu? E faço um mapa da fazenda dele. Depois ainda posso salvar essa imagem, com todas as informações da fazenda. Então, para o pessoal que trabalha com mercado, comércio e venda de terra, é uma ferramenta fantástica. Vou lá no polígono dois, propriedades. Vou colocar a cor de novo, o amarelinho, para dizer que é a mata. Ah, peguei a outra lá. E vou lá no polígono três. Propriedades, por amarelinho. Opa. Olha aí, pronto. Tem o perímetro da fazenda dele, o cara precisa saber se ele está dentro da legislação. Um fiscal, por exemplo, iria fazer isso facilmente se quisesse, se conhecesse um pouquinho a tecnologia. Obviamente, isso aqui representa mais de uma fazenda. Eu sei que é mais de uma fazenda porque estou vendo as curvas aqui, que não se coincidem né. Normalmente cada agricultor faz de um jeito, e as curvas nas divisas não se coincidem. Posso medir represa, então olha, tem uma série de informações, só falta ter uma fazenda legal. Olha que legal essa fazenda. Bem certinha, quadriculadinha, os carreadores bem direcionados, como está a logística de colheita. E aqui perto também tem cana de açúcar. Isso aqui é cana com certeza. Tem muita cana aqui ainda né. Eu já estou vendo problema aqui olha. O que aconteceu aqui? Está com um problema sério. Pelo jeitão do negócio, posso até falar que são nematóides esse troço. Pelo design da mancha, minha suspeita é que acendeu a lanterninha. Eu sei 299
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que é nematóide? Não. Vou colocar o ponto A, demarcar a região, colocar as coordenadas, transferir para o meu receptor GPS. Pode ser online, pode ser até relógio, hoje você tem isso. E o seu smartphone. Que tem GPS à vontade. Olha essa área aqui, tem bastante problema. Provavelmente erosão. Um problema sério de erosão na fazenda aqui. Então, esse é o Google Earth Pro, que permite que se faça uma série de digitalizações no terreno, mensurações, avaliações e análises, só lembrando que ele é de alta resolução, mas é do passado. Se eu quiser uma informação mais atual, vou ter que ligar lá na Digital Blue e na Air Bus e falar assim: "Por favor, me dá uma imagem deste ano". Ai eles vão procurar lá no catálogo. Porque o satélite está lá olha, passando aqui em cima, está batendo foto, e eles estão pagando para manter essa tecnologia. Está com a equipe de solo, fazendo toda a manutenção do satélite. Então eles têm muito interesse, de pessoas e até empresas, que desenvolvam soluções para essa ferramenta deles. Eles até ajudam, é só entrar em contato e falar: "eu tenho uma aplicação pra essa sua ferramenta. Ah! Você tem? Qual é?". Daí explica para eles. E se falarem: "É, faz sentido", vão bancar você aqui, pode montar uma startup, e pode desenvolver um negócio em cima dessa plataforma tecnológica, de agricultura digital. E na agricultura gente, não tem nada. Então tem tudo para explorar na área ambiental, de mineração e nas cidades. Isso aqui está sendo muito utilizado, o pessoal usa para vigiar, monitorar, botar pontos de referência, dimensionar equipes e pessoal de segurança. Lá em Pompéia, o pessoal está usando, inclusive, imagens do Google Earth. A prefeitura contratou os alunos do Big Data para calcularem a metragem das 300
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casas. Então eles estão ficando lá né, vetorizando cada casinha e o terreno dela. Por que? O cara faz a casa, registra na prefeitura. O que ele faz depois? Faz um puxadinho aqui, outro ali. E a prefeitura que se... E na hora de falar sobre o fundo, ninguém vai lá, ficar entrando na casa dele. Acabou essa fase. Qualquer prefeito que entrar e quiser resolver essa questão, primeiramente terá que peitar a população, mas ele consegue fazer isso facilmente. Pergunta inaudível: Resposta: Então, quantos mil metros para calcular, registrar o IPTU, imposto, etc. Obviamente, tem uma questão legal, que você não está seguindo e a prefeitura tem todo o direito de ir lá e... Pergunta inaudível: Resposta: Se eu fosse o prefeito, fazia um trabalho desses e falaria para a população. Ao invés de comprar mais, vou baratear o IPTU da cidade, só que você vai pagar o real, e acertava dali para frente. Entendeu? Então, daqui para frente, a cada aumentadinha que você der, vou saber o que você fez, daí a gente vai corrigir o seu IPTU, deduzir o seu IPTU. Contar as árvores, será que o bosque aqui está bem arborizado? Quantas árvores por habitante tem que ter? O que a organização mundial da saúde fala? Uma imagem de 2017 olha, é só fazer uma contagem aqui dessas árvores, e já tenho aí. Então, essas tecnologias da informação, estou fazendo hoje um exercício mental. O que vai diferenciar eu de você é a criatividade. Ela está aí disponível, basta dominá-la, é uma questão de treinamento, ter uma capacitação sobre ela. E aí, com a sua criatividade, você pode desenvolver coisas fantásticas. Eu não uso mais GPS há cinco anos, só uso isso aqui ó. É a mesma precisão. Pra mim o - podia fechar. Vou viajar, só uso isso. Não uso mais, não tem mais GPS em carro. Faliu, ninguém vai comprar. Tem vários aplicativos aqui, uns baratinhos, outros gratuitos, igual a esse aqui ó. Já está me dando aqui um posicionamento, se vou tirar uma amostra aqui agora, é só copiar. Copiar não, tem aqui, é só mandar para o meu e-mail. Mando para meu e-mail aqui, já tem a coordenada desse ponto que estou aqui agora. Amostra 1 de solo, está aqui a coordenada dela. Volto mais um terreno, amos301
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tra do solo. Manda a coordenada. Depois tenho as coordenadas, posso interpolar o resultado. E ter um mapa de nutrição, de fertilidade do meu terreno. Olha lá, já abri o meu e-mail aqui, já está a minha coordenada lá. Já enviei. Foi, está no meu Google. Desse ponto aqui. Então, procurem, pega lá um dia por curiosidade, vai no Google Earth, e comece a olhar as fazendas. Eu uso para caçar nematoides, eu falei? Quer ver um negócio interessante? Lucas do Rio Verde é Mato Grosso né? Olha, foi lá para Lucas do Rio Verde. Rapidinho, olha que fácil. Estão vendo aqui? Uma empresa outro dia pediu pra eu ver se tem nematoide em Lucas do Rio Verde. Coloquei aqui em volta da cidade, e mais de mil pontos com possíveis áreas de soja atacadas por nematoides. Fiz um levantamento, eles foram lá, não foram nos mil, foram em cem. Deu 100% de acerto. Uma multinacional. Para um vendedor de insumo. Ele vai lá na fazenda do cara: "Onde tem nematoide aqui? Ah, não sei. Ali você tem. Vamos lá ver?". Daí vou com o agricultor, está lá. Acho que até tinha aqui, olha, nema1, vou levar vocês no nema1 aqui, uma área que tem nematoide. Isso aqui são, olha lá, nematoides. Soja. Não dá para ver direito, por causa da qualidade, mas olha lá, nematoides. Só pelo jeitão da mancha, isso daqui é a espécie do nematoide. Nematoide 2 olha, vou lá em outra fazenda, olha lá. Ele tem um monte. Aqui é cana-de-açúcar. Olha lá a manchinha. Isso aqui, é com certeza, nematoide. Só nematoide faz esse design na soja e cana, entendeu? É diferente de um problema de fertilidade de solo, é diferente de uma praga de solo. Era pra ter mais aqui, mas acho que eu... . Meus lugares aqui, não espera. Beleza? Esse é o mundão aqui, você pode até mudar de planeta, os caras não contentes, já fizeram toda a imagem de Marte. Se você quiser fazer a sua empresa em Marte, já estamos em Marte, vejam. Os caras já fotografaram Marte. É coisa que não cabe na minha cabeça. Como é que temos 32 satélites, sincronizados, voando ao redor da terra. A 22 mil quilômetros, e ligo o meu celular aqui ou no carro e tenho 3 metros de precisão. A matemática que está envolvida nisso dai não cabe na minha cabeça. Isso aí quem fez foi a guerra. Na verdade a tecnologia de GPS, satélite e tal, nasceu de uma necessidade na guerra. Um queria vigiar o outro. Uso americano, e eles foram vendo lá, as alternativas, e foram desenvolvendo esse tipo de arma de guerra, que hoje, dá para o civil. Mas são armas de guerra. Amanhã 302
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sai um problema no mundo, e eles podem desligar o sistema. Ninguém mais vai usar. Vamos lá, dá pra fazer a agricultura de precisão em Marte. Olha lá, as plantas, aqui são nematoides (risos). É uma pancada de asteroides né. Olha lá, nematoides, nematoide 1. Na verdade ficou a imagem do outro lá. Pode ir para a lua. Nela já fotografaram tudo. Olha lá, que bonita. Existem nematoides por lá. Uma visão da lua, a tecnologia é fantástica. E está sendo usada para ciência, análise ambiental, física, aeroespacial, e está disponível para ser utilizada na agricultura. E aquilo que falei. Dominou a ferramenta, é a criatividade de cada um que vai desenvolver novas tecnologias. Bom, isso aqui está beleza, vou sair fora. A outra coisa que quero mostrar para vocês é o SigniEgg, que nasceu lá na Fatec de Pompéia, com os alunos do curso de Big Data. Falei assim: "vocês conseguem classificar essa imagem de procura de nematoides através de um algoritmo? Através de um software?". Eles pegaram isso como um desafio, juntamente com um professor, também da área de computação, e começaram a desenvolver, a programação, foi aquele que mostrei na palestra passada. E virou isso aqui. Um empresário de Pompéia, Ricardo Cunha, que vocês devem conhecer da Ordem, viu, olhou aquilo ali, uma apresentação. E ele falou: "Nossa, esse negócio faz sentido hein". E ele é um grande fazendeiro, dono de nove propriedades, plantador de soja no Brasil. E ele falou: "Cara, isso faz sentido até para o meu negócio". Porque ele tem aquele tanquinho que vai na plantadeira, e aplica o produto no suco de plantio. Foi desenvolvido para inoculante de soja, mas você pode colocar nermaticida lá. E ele, sem querer, já tinha desenvolvido aquela máquina que ligava e desligava. Só faltava ter um mapa de aplicação. Poderia ser usado com aquele tipo de algoritmo. Uma vez nos encontramos em Pompéia, apresentados pelo Honda. Eu tenho esse equipamento aí. Ah, eu tenho essa solução para o problema de nematoides em soja e algodão. Daí ele se interessou, investiu e contratou pessoas. Investiu em equipamentos, computadores grandes, comprou lá na Amazon um hub imenso de HD. Tudo o que vou mostrar agora, não tem nada no computador. Estou fazendo virtualmente, tudo na nuvem. Tudo está na Amazon, nos Estados Unidos. Vou começar a processar aqui as coisas, e automaticamente vão até lá, pro303
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cessa e vem para cá. Vocês verão a velocidade que isso acontece. Ou seja, vou dar o comando aqui, vai lá para os Estados Unidos, para os computadores da Amazon, depois retornam para nós. Que é o SigniEgg. Já está o portal aqui, vou entrar. Acho que eu não fiz o logoff, então vou entrar direto. Ah, já entrou direto. Eu vou sair, porque ele está entrando direto. Vou sair. Pronto. Sai fora. Só para vocês verem que é realmente um portal. Eu tenho que ter um login e senha, tudo de graça. Obviamente é pago isso daqui, porque eu ajudei a desenvolver. Pelo menos isso. Justo né? Não precisa me pagar nada, eu falei para ele. Mas você me dá só o acesso. Para eu fazer os meus estudos, pegar uns alunos do curso e oferecer para eles fazerem os trabalhos de graduação. Criar novas aplicações, ele tem interesse nisso. Porque cada aplicação que desenvolvo, ele incorpora no produto dele, e pode oferecer para os outros agricultores. Olha lá, entrou direto. O meu Deus, terei que sair de novo. Sair. Agora vai sair. Então é um portal, vejam. Ou seja, vocês lembram que falei que fizemos em 2014 o primeiro projeto que ele quis, é aquele de drone. Fizemos o projeto de drone, o estudo de viabilidade econômica, aplicação, e não vendeu um caso porque custava 50 pila o hectare. Ninguém quis. Acharam muito caro. Ainda ficavam refém da gente. Tínhamos que ir lá, voar com o drone, pegar a imagem, processar, para depois devolver. Demorado. Então, lendo aquelas coisas de tecnologia exponencial, disruptivas, democratização. Tem que ser democrático, tem que ser barato e ser de graça no futuro. Se vai fazer isso daqui, você vai comprar a máquina dele lá. Porque estará alinhado. Ele vai ganhar vendendo máquinas e não acessando a tecnologia da informação. Hoje, o serviço do drone custaria R$ 50 o hectare. Esse daqui começa em R$ 1,80 o hectare. Olha só quanto já diminuiu. De R$ 50 pra R$ 1,80. Dependendo do tamanho da fazenda, vai virar centavos o custo disso daí. Quanto maior a fazenda, mais barato vai ficar. Então entro com o meu e-mail e a minha senha. Aqui está a minha fazenda. Tem cinco, seis fazendas já. Olha, estou rico. Não é nenhuma minha, são cases. Isso daqui foi papai, por exemplo. Papai pediu para fazer lá o estudo de caso dele, eu fiz. A Fazenda Alvorada, aquela que mostrei lá no satélite hoje, de Goiás, foi um dos primeiros casos que fizemos, em 2015. Essa aqui é uma fazenda lá em Goiás, da antiga Fite Sementes, do Grupo Progresso. São parceiros lá na Fatec. O Grupo Progresso mantém cinco alunos do Piauí. Ele foi lá no Piauí e falou: "Quem for estudar em Pompéia, vou bancar 304
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tudo". Os alunos vieram. Quem passou, ele banca tudo, dá casa, comida, alimentação, transporte e ainda paga um salário mínimo por mês para o cara. Por que? Ele quer investir. A fazenda dele no Piauí tem uns 40 hectares, mas não tem gente qualificada. Ele quer investir na região e na qualificação das pessoas. E ele já disse que não precisa trabalhar para mim quando vier pra cá. Se quiser trabalhar para outros, sem problemas, quero investir na qualificação das pessoas do Piauí. Então os meninos vêm, estudam, ficam três anos e depois voltam para lá trabalhar com essas máquinas inteligentes, fazer essas coisas aí. Eles têm uma fazenda em Goiás, eram donos da FT Sementes. E em 94 a FT Sementes foi vendida para a Monsanto. Teve esse momento na agricultura que as empresas da química e da biotecnologia compraram todas as empresas de sementes, e uma delas foi a FT. Eu, inclusive, estava com um contrato assinado com a FT Sementes. Estava saindo da graduação, ia trabalhar na FT Sementes para trabalhar nos nematoides da soja, porque já estava aqui em 92, ele queria fazer material de soja resistente. De repente neguinho não falou mais nada, eu ligava, ninguém atendia. Acabou, fui ver, vendeu para a Monsanto. Depois de 20 anos, em 2016, ele voltou a produzir sementes. Teve que ficar duas décadas sem produzir uma semente. E fomos fazer um teste na área de soja dele, que se der certo, será uma revolução, que é um plantio multivarietal. A plantadeira vai ter três ou quatro tipos de genética de semente. Ele tem problema de nematoide lá, vamos colocar os materiais de soja, de acordo com as manchas no terreno. Onde não tem nematoide vou colocar a cetil, que é mais produtiva. A resistência diminui produtividade. Então os materiais mais produtivos são aqueles mais cetíveis. E onde tem as reboleiras, nós vamos colocar os materiais resistentes. E a plantadeira vai fazer isso sozinho. A Precision Plan já tem essa tecnologia. Vai ligar e desligar. Você vai andar com a plantadeira lá, vai te cobrar, obviamente para fazer esses mapas. E aqui você vai colocas as sementes tal. Eu falei: "tem problema fazer para o meu tio da Embrapa, que é o pai da soja?". E ele falou: "Não, tendo o mesmo ciclo, não há problema nenhum. E mesmo que tiver um problema de ciclo, você vai lá e desseca depois, e colhe". Então vou fazer esse teste em Goiás. Outra fazenda que, essa aqui é a fazenda Rio Verde, ok? Essa aqui é a Fatec, fundação do senhor Nishimura, é a nossa 305
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área de milho lá. E essa área aqui, em Goiás, é cana. Vamos pegar essa área aqui que é bem legal. Então já cria a propriedade, olha. Automaticamente, a hora que cliquei na propriedade agrícola, o satélite já buscou lá olha. Quantas imagens eu tenho aqui? Vou ler aqui para vocês. Eu já tenho 328 imagens de satélite. A última que baixou aqui para mim, dia 20 de setembro de 2018. Que dia foi? Ontem. Essa imagem aqui é de ontem. Da fazenda. Automático e já cortou ela, porque imagens de satélite são gigantescas. Sessenta quilômetros por 60 km. Tem umas que são 150 km por 150 km. E essa fazenda aí não tem isso. É pequenininha. Então ela já cortou automaticamente. Olha, anteontem choveu lá? Claro que não. Eu estava lá. Mas sei que choveu olha! Aqui ele já plantou tudo olha. Aqui, aliás, ele colheu. Está colhendo cana agora. Aqui ele já tinha colhido tudo. Aqui ele estava começando a colher olha. Começou aqui a colher, vou colocar um mapa lá. Está começando a colher, aí ele foi colhendo, já sei quantos, consigo calcular aqui, quantos porcento ele colheu. Se ele é um fornecedor meu, de cana de uma usina, já sei que ele já está me entregando. Se ele fala que me entregou, sei que me entregou, entendeu? Ele também sabe que ele entregou, direitinho. Então, é uma via de mão dupla. O agricultor tem a informação real, mas o parceiro também tem. Então fica, tira aquela coisa lá da inverdade, da omissão, que muitas vezes acontece na agricultura, infelizmente. Aqui ele já colheu o talhão inteiro olha. E aí vou evoluindo nessas imagens com ele, vou lá para baixo. Olha lá quantas imagens tem. São 328 imagens, tenho o histórico dele. Na verdade, isso aqui começa em 2013. Então se quero saber na minha fazenda, como é que foram esses últimos, vamos dizer assim, cinco anos de produção, consigo analisar isso daí, e ter ideia do que aconteceu. E isso é o básico. Ver o lgp da imagem, qualquer imagem que eu cotar lá, virá para cá. Foi naquela época de seca olha. Essa imagem foi 29 de julho de 2018. Foi aquela seca brava que deu, já estava com problema sério na fazenda. Aí posso vir em talhões, tem três talhões na fazenda, e olha que interessante. Ele já me dá a área. Vou clicar no talhão, e aqui já estão as áreas. Esse talhão aqui tem 93 hectares, esse outro 37 hectares. Estou olhando aqui ó. E esse talhão aqui tem 87 hectares. Esse aqui que atualizei não baixou a imagem. Vou pedir para a moça verificar isso pra mim. Vou pegar esse talhão aqui ó, já vem com as imagens. A última imagem aqui ó, de ontem. Olha lá. Só o talhão está com a imagem, estão vendo? Atualizada. Está lá. Aqui ele colheu, está colhido, 306
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beleza. Vamos pegar uma imagem aqui ó. Essa é de 31 de agosto, ele não tinha colhido. Vou baixar mais algumas aqui. Agora vocês vão se assustar. Onze de agosto de 2018. Vou pegar mais para baixo, pegar aqui olha. Essa daqui é sentinels. Esse portal só baixa sentinela 2, e landsat. Então, perde pro Google Earth. Por que? Aqui o pixel é 10 metros, sentinela 2. E o landsat é 30 metros, então há falhas muito pequenas, não dá para ver muito detalhe, Ok? Precisa ter no mínimo talhões de 50 hectares, que pega um médio produtor. Um talhão, assim. O que você tem que trabalhar de talhão, que na hora que você for fazer essa análise de terreno, calcular, tem que ter o talhão, não pode ter caeador, se não ele mascara o resultado. Então, peguei essa área aqui. Vou colocar aqui algumas análises. Aquilo que falei, que eu demorava duas, quatro horas para fazer. Vou clicar aqui, esse clique vai lá para o computador da Amazon nos Estados Unidos e retornará para mim. Conta quanto tempo vai demorar. Eu demorava quatro horas para fazer esse serviço. Está ok? Vou pegar já, vai contando. Quanto tempo demorou? Acho que uma fração de segundos. Não foi? Por que? Já tem o algoritmo aqui. Está lá na Amazon, nos computadores deles. A hora que cliquei no botão, não tem o software aqui dentro, estou na internet. Estou usando a internet dentro do meu celular, entendeu? Não tem software, entrei na internet, no portal e fiz aquela análise lá, que eu demorava 40 minutos, quatro horas para fazer. Baixar imagem, recortar, colocá-la no software, que custa R$ 128 mil, a licença deles. Fazer a inteligência artificial do software, aqui é isso. E mandar ele classificar, demorava quatro horas. E aqui fez olha. E aí cara, o que que é o fantástico? Vou dar uma ampliada aqui para vocês verem maiores detalhes. Estão vendo a fazenda dele? Tem áreas de altíssima produção. Isso aqui é a fotossíntese da planta, onde está mais azul está bombando, está bebendo água, nutrientes e adubo. Entendeu? É isso que essa imagem está me dizendo. E onde está amarelo está capengando. Onde está vermelho está sofrendo. Então olha, tem aqui uma mancha no meio do terreno dele, que é de altíssima produtividade. É a área que mais vai produzir na fazenda dele, está ok? Ele vai migrando para cá, vai entrando em uma área mais problemática. No outro pedaço aqui do talhão, na verdade eram dois talhões, ele também tem aqui olha, uma área de alta produtividade, e normalmente nas bordas do talhão, é 307
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onde você tem problemas né. Poeira, ácaro, ataque de ácaro, a poeira vai diminuindo a fotossíntese da planta, está muito suja, e assim por diante. Mas olha que fantástico. Tenho aqui toda a informação da fazenda, e como será a sua produtividade. Tenho a fotografia antes dele colher e como vai colher naquela área. Consigo prever a quantidade em toneladas que ele terá? Consegue. É só vir em colher aqui no azul, colher no amarelo, colher no verde, e colher no vermelho, quatro níveis de colheita. Colhe lá uma amostrinha aqui, uma ali. Ele me dá as áreas. Quer ver? Deixe-me sair daqui. Vou lá para análise agora. Cadê esse? Aqui ó. Análise, está aqui. Agora vocês vão se assustar. Deixe baixar aqui, vamos ver se ele vai né. É, agora já demorou né? Por que? O algoritmo está mais pesado. Vamos ver se a internet vai funcionar. Consigo marcar e limpar ponto, colocar outras cores do terreno, exportar, salvar essa imagem no computador. Consigo fazer...vamos filho. É, acho que ele não vai processar. Ou caiu a internet. Talhões, pega esse aqui. Funcionando ele está, porque está baixando as imagens...Aqui, analisar. Olha lá, baixou. Perfeito? Olha lá. Esse aqui é o meu lgp, ele já me classifica as áreas para mim. Vai ter essa estatística do terreno. Cada barrinha dessa daqui corresponde ao nível de pixel na imagem, que corresponde a uma cor. Aqui no lgp não consigo ver tanta diferença, mas vamos voltar lá para a análise. Vamos colocar aqui o realce 2. Olha lá, Ok? E olha. Sei que ele vai colher muito bem, né, cana-de-açúcar, esse cara aqui nesse talhão, em quantos hectares? É só colocar o mouse lá em cima. Em 8.1 hectares, ele vai colher muito bem. Filé. Ele vai colher bem em 15.4 hectares. Esse talhão total aqui ele tem, vamos subir lá em cima, 93 hectares. Ele vai colher muito bem em 20 hectares e começam os problemas. Áreas que ele vai produzir menos. E aí, vão 22 hectares mais ruim, 13 ruim também, 6, ir para o péssimo aqui olha. Três hectares, e vai diminuindo. Vejam que fantástico. Antes de colher a cana, eu já sei o potencial de safra naquela área. Olha o tamanho da inteligência que temos hoje, na era digital, de analisar uma fazenda, uma área de produção, de tomar decisões.
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Pô, se tenho fornecedor, vejo o outro, o outro. Já começo a travar outras áreas, que preciso ter cana para manter a usina funcionando. Se já sei que os meus fornecedores, tenho todos eles mapeados, estão dando problema, já sei que tenho que travar. O fazendeiro, ele já tem aqui de quanto que ele vai colher. Ele ia comprar um trator, novo. Ele está olhando a cana assim, parece que está bonita. Mas a hora que ele olha para essa tecnologia, e vê que não está tão bom assim, vai esperar a melhor situação para investir, fazer uma aquisição, comprar outra área. Isso aqui é nematoide viu gente, nematoide em cana. Vocês acreditam que faz isso daí olha? Eles fazem isso. Em cana trabalhei muito com o pessoal da Usina São Luís, de Ourinhos, durante cinco anos. Nunca deram bola para nematoide em cana. Por que? Eles falavam assim: "Se nematoide me tirar umas 20, 30 toneladas está bom, eu planto mais". Isso acabou. Hoje, está difícil produzir, a margem de lucro das usinas está desse tamanho, por conta de todas as regulações e impostos, e adequações ambientais. Hoje o problema está sério, e eles estão começando a investigar esses negócios, tentando corrigir esses problemas. Olha, eu quero fazer uma amostragem no terreno lá. Eu venho aqui, e pá. Vou colocar olha, 1, 0, vou lá em um lugar bom, posso mostrar onde quiser. Coloquei três pontos de amostra aqui. Inteligentes, esse talhão aqui tem 93 hectares. Como vou caçar nematoides lá? Com enxadão? Vou andar em zigue zague em 93 hectares? Com cana? Tem que ser bom hein. Só a molecada nova é assim. Você consegue acabar com eles. Vai e coleta amostra lá. É o único jeito né. Por isso falo que não vivo mais sem essa tecnologia, vou onde eu quero, com precisão e não quero saber onde que tenho nematoides, eu já sei. A imagem está me dizendo. Eu só preciso saber quem é que está me ferrando, qual é o bicho que tem lá. Então tiro essas amostras aí, vamos dizer, de investigação inteligente, e a imagem vai me dar o design do problema. E vai mais viu gente, olha, posso ir para o mapa de aplicação. Vou pegar aqui um, nem sei usar direito isso aqui ainda. Valor da amostra, vamos lá. Vamos colocar aqui um mv bom, 44. Vamos colocar 0,45 vamos ver. Olha lá, ele já me criou os polígonos, naquele mv, onde eu falei, abaixo de 0 e 45, justifica aplicar nermaticida. É isso que estou dizendo para o computador. Daí vai da cabeça do agrônomo né! A tecnologia não vai ter essa inteligência. Talvez ela até tenha no futuro, a medida que você vai fazendo o seu trabalho naquela área, vai fazendo bem 309
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aquele talhão. No futuro isso vai se automatizar, porque ela já sabe como é a reação que você faz. Mas hoje, ainda depende da análise do tema né. Então, eu falei assim: "Olha, não tem jeito. Acima de 0,45 dvi, vou ter que aplicar o defensivo agrícola. Só que vou aplicar na área total?". Não, só apliquei nas áreas ruins olha. Naquelas que estão boas ainda, não vou aplicar. Mais ou menos aqui olha, 0,41 né? Eu não estou aplicando nem no verde, nem no azul. Então estou aplicando 22 + 13 = 35 +6 = 41, 44, 46, 47, 48. Quarenta e oito hectares, de 93 hectares, eu aplicaria o defensivo somente em 43 hectares. Mais de 50% de economia. Por isso digo que essa tal de digitalização do campo vai nos trazer, além de gestão, saber o que está acontecendo. Vai trazer uma economia grande para o agricultor, e uma economia ambiental fantástica. Vou passar aí daquela fase de fazer meus planos culturais tudo uniformezinho, que posso entregar pra vocês hoje, na palestra, para essa nova era de aplicações o que? Localizadas, de precisão, dos terrenos, e economizar no defensivo. E o meio ambiente agradece. As empresas disso querem me matar. Certo? Até que não, a Bae me chamou no dia 10 para dar uma palestra em São Paulo para eles só sobre isso daqui. De agricultura digital. Então, até a Bae está vendo vantagem nisso aqui. Ela não quer ferrar você, quer o agricultor como parceiro, não só comprador. Essa é a nova era. Pergunta inaudível: Resposta: Filho, isso daqui você vai exportar. Esse mapa vermelho aqui olha, você vai exportar, já vai mandar o kml, abrir aqui o kml. Já abriu, salvo no computador, coloco no pendrive, aí ainda tem um passo. Vou pegar esse kml, colocar no qgiz, que é grátis. Vou transformar de kml para shapefile, está ok? E depois vou pegar esse shapefile e colocar no monitor da máquina. Ela vai executar exatamente aquele trabalho lá que eu fiz. Sozinha, sem colocar a mão. Ok? O agricultor continuará plantando a soja, ou cana aqui, e a maquininha ali do Ricardo vai ligar e desligar, automaticamente, naquele mapa que decidi. De fazer a aplicação, daquela forma. E isso vai depender de cada um né. É só aprender a usar a ferramenta e você vai decidir. A análise o software faz pra você. A decisão, quem toma, é o agricultor, agrônoma ou técnico de campo. Está ok?
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Só que ainda dependo de criar esses pontos, ir lá investigar. Aquele que mostrei hoje para vocês, já estou terminando aqui. De hiperespectral, no futuro, a gente já sabe disso. Que as pragas, doenças, e outros problemas relacionados à fertilidade e condição do solo, criam, uma condição, de reflectância da planta, diferente em cada situação. Aqueles sensores, que já estão nos satélites, que embarcarmos nos drones, pode nos dizer a tal da, anota aí, assinatura espectral. Essa é a bola do futuro. A assinatura vai me dizer que é nematoide, sem eu precisar ir lá na área. E pasmem, vai me dizer até a espécie do nematoide. É meloidogyne. Porque ele come a planta, capa dentro da planta, cria uma toxemia, vai dar um distúrbio fisiológico na planta, que aquele enorme espectro magnético vai conseguir detectar. Vai chegar lá, vai dar um pico assim, que vai falar, ahh isso é pico de meloidogyne. Estou falando de zero até 2000, 2700 da.., a gente só enxerga ali na faixa dos 700. Perfeito? Pessoal, olha, sei que está cansativo. Mas era mais ou menos para dar uma noção disso daí. E assim, se você quer entrar nesse mundo, comece acessando o Google Earth, veja a sua fazenda ou a do seu cliente. Analise as mensurações, comece a tirar informações e a digitalizá-las. Com o tempo, você estará utilizando ferramentas mais sofisticadas. Não aprendi nada disso na faculdade. Tudo veio na fuçada, vamos fuçando, fuçando, fuçando. Cada vez mais essas tecnologias vão ficar mais intuitivas, como essa da Cygni, que qualquer um pode usar. Então, até o ano passado, dependia de você contratar um drone, pagar 5 paus por hora para fazer aquele serviço. Hoje, perdi o emprego né. Você faz, todo mundo faz. Pergunta inaudível: Resposta: Não, você entra no Google Earth, vai baixar o aplicativo na internet, e usar o Google Earth lá. O Cygni, ele usa o Google Earth de base lá. Está ok? Mas não é a plataforma de análise dele. Porque ele está pegando na imagem de hoje do satélite. Pergunta inaudível: Resposta: Você tem que desenhar né, como falei para você. Você tem que fazer na mão. Então vai demorar umas quatro horas para você fazer um talhão. Dá pra fazer.
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Qualquer um pode entrar lá e se cadastrar. É pago. É R$ 1,80 por hectare. Eles iam cobrar em 2016 R$ 50 reais por hectare, para fazer com o drone. Daí democratizou, desmaterializou, desmonetizou, e caiu para R$ 1,80. Se você tiver 500, 600 hectares, cai para R$ 0,40 e R$ 0,50. Pergunta inaudível: Resposta: Não precisa, porque você vai ter que investigar ainda. Você vai fazer a imagem, vai te mostrar onde está bem e ruim. Vai lá, tira a amostra. Manda para o laboratório de soja da fundação, para nematoides. Veja se não é um problema de compactação do solo ali na hora. Veja se não é uma praga de solo. Essa investigação você precisa fazer, mas ela é inteligente. Você não vai na área inteira, só vai nas manchas, que você tem problema. Pergunta inaudível: Resposta: Medição você faz no Google Earth, vai lá, cria o polígono. Se quiserem, podemos combinar de vocês irem lá um dia em Pompéia, e a gente dar um curso, de uso de Google Earth, para todos aprenderem a fazer essas mensurações. Porque é muito rápido, em duas horas, três horas, vocês fazem o curso lá, com a gente, e aprendem a usar o Google Earth para fazer mensurações de graça das suas fazendas. E aquilo que falei, é só questão de dominar a tecnologia. O que vai diferenciar eu de você, obviamente, é o meu conhecimento, no caso de nematoides, mas de outras áreas é o seu conhecimento e a sua criatividade. Está ok? Qualquer outro nematologista pode fazer esse trabalho, pode até fazer melhor que eu. Perfeito? Muito obrigado então! Grato pela participação e a presença de vocês. Estou disponível lá em Pompéia. Na verdade sou o que menos sabe disso daí, mas tem uns caras bem cobras lá, que estão no dia a dia, porque já faz cinco anos que não dou aula já. Já sai pra direção. Mas tem uns caras, o André Andrade, nessa área de satélite, que é top. O Zé Vitor, nessa parte de máquina, equipamento, tecnologia, programação de computadores, entende bem. O Gustavo Falin, na área de café, fala sobre fertilidade do solo, tem uns caras bem... nessa área aí. E os alunos saem melhor do que nós, porque eles pegam um pouquinho do Vitor, Gustavo, André, e ficam melhor que nós. Beleza?
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O PRINCÍPIO DO MOTIYORI NAS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS Palestrante: Dilza Muramoto Psicóloga, ex-headhunter da Case Consultores do Grupo Catho. Diretora Executiva da Jinzai
Boa tarde. Bom, em primeiro lugar, é um prazer estar aqui. Essa é minha terceira vinda a Bastos. A primeira eu vim pra um evento que todos anos vocês tem aqui em Bastos que é a festa do ovo. Isso faz acho que uns 3 anos atrás, ai agora em julho eu vim para o FIB, e agora estou aqui no Bunkyo Rural. Deixa eu me apresentar um pouquinho, eu sou Rotariana, Rotaract. Eu sou do Rotary Liberdade, em São Paulo. Hoje eu sou secretária do clube. Sou sócia fundadora de um clube do Rotary em São Paulo também, e ajudei um segundo clube a ser fundado em São Paulo. A gente faz diversos trabalhos em São Paulo pelo Rotary. Acabamos de montar uma padaria numa entidade em São Paulo, e a partir desse mês de Setembro a gente começou a fazer um trabalho em escola, com jovens num colégio muito conhecido na cidade de São Paulo, que aliás fica ali na Liberdade, que se chama Colégio Roosevelt, onde a gente está com o projeto Rumo, que você deve saber o que que é. Os Rotarianos sabem que a gente tem um projeto, chamado projeto Rumo, que a gente trabalha com jovens, em orientações. A gente faz um programa para os jovens e a gente trabalha. Então, no mês de Outubro eu vou estar lá, com esse colégio, durante 4 semanas. Uma vez por semana neste colégio, para trabalhar com jovens do 2º e 3º ano do segundo grau. Onde eu vou falar sobre o mercado de 313
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trabalho, sobre as profissões do futuro, tentar orientar talvez os jovens, que a gente já fez uma pesquisa, que do total de alunos que a gente vai atender nesse projeto, somente 30% já definiram a carreira, então, a minha missão nesse trabalho, que eu vou fazer em Outubro, é tentar abrir um pouquinho mais a visão deles, com relação às profissões do futuro. Onde eu vou estar aplicando um teste e vou estar fazendo um mini coach nesse grupo de pessoas. E fora isso, eu faço parte também de outras associações em São Paulo, faço parte de uma ONG há 49 anos, onde eu faço um trabalho voluntário basicamente a minha vida toda, onde eu também ajudo jovens. Eu dou palestras nas periferias de São Paulo, resgatando jovens da periferia de São Paulo. A gente tenta resgatar jovens das drogas, todo esse caminho complicado, que os jovens estão seguindo hoje, e no Rotary, a gente está direto fazendo isso. Fora isso, eu faço parte de algumas outras associações. A Associação Nikkei Yasukuni do Brasil. E o ano que vem eu vou ser presidente do 12º Nikkey Matsuri, que é um festival japonês, que a gente realiza lá em São Paulo. Que é um festival onde nós temos a participação, com uma circulação de 30 a 40 mil pessoas, nesse evento. Então no ano que vem, a gente vai estar realizando, e eu vou ser presidente deste festival. Bom, então é mais ou menos isso, o que eu faço em São Paulo. Sou casada, tenho meus filhos, marido, sogra de 97 anos que eu ajudo a cuidar. Hoje eu fugi né, essa semana, mas eu estou monitorando pelo celular, da cuidadora que está indo. Mediu a glicemia? Como está a pressão dela hoje? Ela está passando a noite e de manhã. Hoje já liguei pra lá, pra saber se está tudo bem com ela. Tem um cachorrinho, que está em um hotel no final de semana. Então a gente tem que montar toda essa estrutura né, pra poder sair e vir pra cá. Meu marido foi viajar para o Japão no mesmo dia, na quinta feira que eu vim para cá. Na quinta a noite, na mesma hora que eu estava encontrando o pessoal para vir pra cá, o meu marido estava indo para o aeroporto, para viajar para o Japão, está agora em Dubai, passeando né. E depois vai para o Japão, para China, vai ficar 30 dias viajando. Então, é tudo isso que acontece na vida da gente, mas a gente sempre dá um jeito. E eu nas minhas palestras sempre digo uma coisa que eu acho super importante. Quando a gente for pedir alguma coisa para alguém, a gente pede sempre para aquela pessoa que não tem tempo. Porque aquela pessoa que não tem tempo, sempre vai dar um jeitinho de arranjar um tempo, agora aquela 314
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pessoa que tem tempo de sobra, não adianta pedir, porque vai arranjar desculpa, e não vai ter tempo para ajudar a gente. Então é isso, por isso que é importante fazer todo esse trabalho, o Bunkyo Rural aqui, com o tema Mottainai. O tema mottainai é desperdício, e eu falo que desperdício, não é só desperdício de comida, que nem eu aprendi desde pequenininha, porque eu passei fome na minha infância. Eu falo que eu tive que comer na minha infância, sabe aquela parte da casca de melancia, a parte branca. Porque a parte vermelha a gente comia. E a parte branca, a nossa família cortava, picava e refogava para comer, ou eu fazia ela em conserva né, colocava um pouquinho de sal, e fazia ela em conserva. Eu comia isso na minha infância, e desde muito pequena que essa palavra de mottainai a gente vem ouvindo, de nunca deixar nada no prato, então o que foi colocado no prato tem que comer. Até hoje, quando eu vou a qualquer restaurante, por quilo, por exemplo, eu sei medir muito bem o que eu vou comer, e o meu prato fica limpinho. E os meus filhos aprenderam isso. Eu tenho dois filhos, uma filha hoje médica, e eles aprenderam isso comigo também. E o mottainai, não é só desperdício de alimento, de comida, é desperdício de tempo. Eu acho que muita gente desperdiça tempo. Porque viver essa vida, eu sempre falo isso. Viver essa vida simplesmente por viver. Existe uma frase que diz assim: Para gente saber o que a gente fez durante a vida, a gente só vai ver no momento da nossa morte. Quantas pessoas vão se lembrar da gente. "Nossa, o professor, foi um excelente professor, um excelente reitor." Quantas pessoas vão se lembrar da gente. E para que as pessoas se lembrem da gente, a gente precisa fazer alguma coisa. Se a gente sempre só ficar perdendo o nosso tempo, sem fazer as coisas, as pessoas não vão lembrar da gente, então isso é muito importante. Então, o mottainai também está ai, no desperdício do tempo. Agora também tem desperdício de dinheiro também, de dinheiro é a mesma coisa. Então, a gente desperdiça muitas vezes o dinheiro em muitas coisas. O desperdício está em tudo. Agora, o tema dessa atividade aqui, é motiyori. Motiyori, é uma palavra japonesa. A gente está trazendo. Por quê? Todas essas palavras, mottainai, motiyori, ikigai, está na moda agora, no mundo inteiro. Por exemplo, o mottainai quem trouxe do Japão, e começou a espalhar foi a Vangari, que foi a primeira mulher que recebeu o prêmio Nobel da Paz. Ela foi para o Japão, e ela viu a palavra mottainai, e ela achou fantástico. E o que que 315
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ela fez? Levou isso para fora, levou para Kenya. Lá no Kenya, ela tentou aplicar essa palavra mottainai, ela tem livros escritos sobre mottainai, e lá na África, ela conseguiu plantar 40 milhões de árvores. Então, por que né? Porque lá teve muitas destruições. Então, a palavra mottainai está pelo mundo. A palavra Ikigai, que é uma outra coisa. Que a gente fala assim: não é ikigai, ikigai. Mas quem escreveu um livro, se vocês forem numa livraria vocês vão ver, o título: "Ikigai". É um americano, que foi para o Japão, e aprendeu o que é Ikigai. E ele resolveu escrever um livro, que ele fez uma pesquisa de "Por quê Ikigai?" "O quê é Ikigai?". Então, ele através desse livro, ele está trazendo isso para o mundo, porque esse livro já foi traduzido em várias línguas. E agora vem o motiyori. O que é motiyori? Na verdade, eu acho que todo mundo faz motiyori. Todo mundo faz. Por exemplo, vocês quando tem uma festinha de família, você não fala? Olha fulano, me traz um bolo, faz uma torta. Ai cada um faz e leva uma coisa para a festa, não é? Isso é motiyori. Sabe quando todos levam? Então, todo o mundo coopera. O que é motiyiri? É cooperar. Entre as pessoas. Mas não é só cooperar em termos de comida, só nesses momentos de festa. Por exemplo, eu estou nesse grande evento que é o Nikkey Matsuri. Também é esse mesmo espírito de motiyori, que a gente realiza, que é o Nikkey Matsuri. Cada uma das pessoas está contribuindo com a parte dele. Então, isso é cooperar, e isso também está dentro da palavra motiyori, não é um alimento, mas é a mão de obra, o trabalho. O trabalho que a pessoa faz e que colabora para a gente fazer um grande evento. Então, todas essas palavras, a gente está usando muito aqui no Brasil, porque as pessoas estão fazendo, e a gente está querendo resgatar tudo isso também. É a nossa missão, eu sinto isso, como descendente. Eu já sou, quase que da terceira geração, mas acho que a gente tem essa obrigação. De poder transmitir isso, para um maior número de pessoas possíveis, para que as pessoas fiquem sabendo, que existe tudo isso. Porque lembram, que as pessoas ficam admiradas né. Quando nós tivemos as Olimpíadas aqui no Brasil, vocês lembram daquele fato, em que os japoneses começaram a limpar o Estadio lá? E todo mundo fica admirado de ver, nossa, e saiu lá a matéria, saiu foto, em noticiário. Mas isso é normal para o japonês. Para o japonês isso é normal. Aqui no Brasil a gente não consegue ver isso ainda. As pessoas vão para qualquer lugar, por exemplo, tem um lixo, o lixo fica lá na mesa, vai em restaurante, em algum lugar. Aqui não tem shopping né? Então, são aquelas mesas lá, na praça de alimentação, mas olha, tem lixo, tem lugar 316
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para colocar bandeja, as pessoas não fazem isso. Fazem questão que aquelas pessoas, que fazem limpeza lá no local, vão lá, peguem a bandeja e levem a bandeja, entendeu? Porque a pessoa não pensa na outra pessoa, que virá a sentar lá. Agora, a gente não, as pessoas falam inclusive, toda vez que eu vou em qualquer um desses lugares, eu faço questão de limpar, eu pego um guardanapo, passo no meu espaço, e deixo limpinho. Porque eu sei que logo depois de mim virá outra pessoa para sentar. Então, esse espírito é uma coisa que a gente está tentando passar, através de todos esses conceitos né, de mottainai, de ikigai, de motiyori. O motiyori também, isso também é motiyori, eu estou colaborando com uma outra pessoa que virá depois de mim. Então, muitas vezes a gente pensa "Ah, motiyori é só isso", e não é. Tem todas essas coisas, isso é cooperar. O que é cooperar? Cooperativismo. Existe tudo isso. Entao existe o conceito de cooperativismo, que é juntar pessoas para um negócio, por exemplo. Você cria uma cooperativa, mas isso também a gente pode usar, nesses momentos do dia a dia. O dia a dia que a gente vive, então, eu acho que juntando essas três coisas, eu falei do Ikigai, mas eu não expliquei o que é Ikigai. É que eu vou falar lá na associação de novo. Mas o Ikigari é assim, é a vontade. Eu acordo de manhã, e digo assim: Hoje o meu dia vai ser excelente, porque eu vou fazer isso, e isso. O meu dia vai ser excelente porque eu vou ajudar aquela pessoa. Ou quem já é avó, eu estou acordando hoje, porque os meus netinhos estão vindo em casa hoje, e eu vou fazer o docinho que eles gostam. Esse momento é o Ikigai. E a gente tem que ter isso todos os dias. Porque se a gente acordar desse jeito todos os dias, o dia vai ser maravilhoso. Isso é o espiríto de Ikigai. De como eu estou preparado, como eu levanto e vou fazendo as coisas. E isso é no dia a dia, que os jovens principalmente, eu acho que é super importante ter isso. " Ah, eu vou trabalhar hoje. Ahh poxa". Se acordar desse jeito, ai já não é mais Ikigai isso. Já é outra coisa, é preguiça. Então, se a gente somar tudo isso, que é o mottainai, o ikigai, se a gente somar tudo isso, eu acho que a vida fica mais leve. A gente vai conseguir fazer muito mais coisas. Lá em São Paulo, as pessoas perguntam se eu durmo. Eu durmo, e bem. Porque eu acho que por a gente fazer o bem para as pessoas, faz com que a gente se sinta bem. De vez em quando eu não estou muito boa, aí o sr Jiro aqui, me faz umas massagens aqui, e me deixa novinha de novo. Porque de vez em quando a gente também fica tensionado né. Mas é isso. Todas essas coisas são importantes na nossa vida. Eu não sei se alguém tem alguma pergunta para fazer, ou alguma obser-
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vação, com relação a isso que eu falei. Vocês vieram de Tupã. Tupã é pertinho daqui né. Pela formação do povo japonês, posso falar assim? Tudo isso dá certo pela formação do povo japonês e a sua cultura, o tratamento que ele tem no ambiente, você acha que isso funcionaria no Brasil também? Eu acho que sim. Existe uma coisa que o nosso professor Kimura sempre fala para mim. A quinta raça humana vai surgir aqui na nossa nação brasileira. E ele diz sempre o seguinte. Ele fala que tudo que a gente está fazendo agora, essa cultura de ética, de responsabilidade, isso vai ficar, e vai gerar a 5ª geração de humanos, que será no Brasil. Porque na verdade, o Brasil é um país que eu amo de coração. Eu não troco esse país por nada. Mas é um país onde a gente tem a maior miscigenação possível do mundo. Não existe, em outro lugar igual ao Brasil. Então, o Brasil é a quinta geração, que está surgindo aqui no Brasil, que será a síntese de todas as raças humanas. Então, eu acredito muito nisso. Por isso, que a principio, eu Dilza, até quando eu puder, eu vou estar sempre batalhando, nas atividades para trazer sempre a cultura, ensinar a cultura do Japão. Sabe, a questão da ética, da responsabilidade, do comprometimento com as pessoas, principalmente, gente. Quando a gente se compromete com alguém, a gente não pode falhar. Então, eu acho que essas coisas são importantes. E que nem eu falo né, quem me olha hoje pensa, a Dilza nasceu em berço de ouro, nunca sofreu. Eu sofri muito na minha infância, mas eu batalhei muito, com ética, com comprometimento, e quando eu falo que eu vou fazer, eu cumpro com o que eu vou fazer. O Jiro Kimura falou que, muitas vezes eu estou de salto alto, estou limpando o banheiro de salto alto. Eu não me importo gente, de tirar lixo do banheiro depois de um evento, mesmo que eu esteja de salto alto. Então é isso, eu acho que isso é importante. A gente ter isso na vida. Porque se não, a vida, para mim não teria sentido se eu não fizesse tudo que eu faço. Então, eu não me importo, de ter que entrar na cozinha, ter que fritar coisa, cozinhar, ter que queimar a mão, fazendo comida na cozinha. Lá em São Paulo, a gente cria eventos nas associações, lá para 200, 300 pessoas. Eu entro na cozinha, se tiver que fazer um sopão pra 500 pessoas, eu faço sopa para 500 pessoas. Então, eu acho que se cada um puder fazer um pouquinho, não digo que tenha que fazer as coisas que eu faço, mas se puder fazer de pouquinho em pouquinho, eu acho que a gente vai fazer a diferença, a gente vai conseguir fazer 318
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essa diferença, e a gente vai conseguir deixar algum legado, para as futuras gerações. Eu acho que eu tenho essa missão. O Nikkey Matsuri desse ano, por exemplo, nosso 11º Nikkey Matsuri, a gente teve prejuízo, e um prejuízo monstro. Eu banquei. Eu banquei um valor desse Nikkey Matsuri, que dá para comprar um carro zero, mas eu não me importo. Porque eu falei assim: esse dinheiro não vai me fazer falta agora, eu não preciso comprar um carro zero agora. Porque eu tenho um outro carro. Se o que eu fiz naquele momento foi muito importante. E houve o reconhecimento das pessoas, do esforço que nós fizemos para realizar este evento. Então, eu acho que essas coisas são importantes. Eu acho que isso é um legado, que a gente vai deixando, para as futuras gerações. Então, se cada um puder fazer um pouquinho. Gente, será fantástico né. Vai ser fantástico, porque cada um vai fazer a diferença nesse sentido. Então é isso. Tem mais alguma outra coisa? Eu estou super feliz hoje, fui conhecer o campo de golfe. Vocês conhecem o golfe? O campo de golfe? Quem é de Bastos acho que conhece né? Esse é um campo de golfe, que eu fiz questão de conhecer, que tem toda uma história maravilhosa, são 10 famílias, que lá atrás, que se juntavam, para uma festa de aniversário, não sei o que, mas sempre se reuniam. E um dia eles falaram: "Nossa, precisamos criar alguma coisa". E eles construíram o campo de golfe de Bastos com as próprias mãos. Não precisaram trazer nenhum técnico especializado na criação de campo de golfe. Eles têm 18 alqueires, buracos. São 18 buracos. Porque o golfe tem 9 ou 18. Aqui tem 18, é completo. E é maravilhoso, então, eu acho que essas coisas são legais, da gente ficar sabendo, da gente conhecer. E eu achei fantástica essa história.
VEJA TAMBÉM: Debate sobre Motiyori nas Associações e Cooperativas na página seguinte.
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Apoio:
Consulado Geral do Japão em São Paulo
Prefeitura Municipal de Bastos
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DEBATE SOBRE MOTIYORI NAS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS
Mediador: Tiago Henrique Jornal Evolução de Bastos e Região Guilherme Egea: Boa tarde a todos, gostaria de agradecer a presença de cada um aqui. Eu espero poder contribuir com vocês. Quem tiver dúvida pergunta também. Então, sobre o que eu passei já, vou falar algumas experiências, dessa área de cooperativismo, e toda essa parte da gente se ajudar, que eu acho que hoje a gente precisa disso. No mundo que está aí, a gente vê o quanto isso é cada vez mais importante. Eu comecei em São Paulo, sou de Adamantina. Fiz faculdade fora. Antes mesmo de ir para São Paulo, eu participava do DeMolay da cidade onde eu morava, Adamantina. E nisso, a gente sempre teve muito trabalho voluntário. Chegando a São Paulo, eu gosto de dizer que São Paulo, a gente não tem tempo para quase nada. Chegando à faculdade, eu disse que eu quero alguma forma de ajudar, e eu não tinha nenhuma referência em torno do assunto. Eu acabei de chegar na faculdade, eu não conheço ninguém por aqui. Nada mais justo do que eu ajudar na faculdade. E foi ai que eu conheci a Atlética. E a minha atlética, que é a Atlética da PUC de SP, onde eu fiz faculdade, ela é voltada 321
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para questão de evento. Quando você vai em festa, é muito essa questão de bebida, e eu achei que a gente podia ganhar um pouco. Mas a gente sempre estava apertado, porque dava uma festa, dava 6 meses, acabava o dinheiro, e não tinha mais o que fazer. E a gente conversou a seguinte ideia, eu conversei com o reitor da nossa faculdade, e foi uma boa experiência que eu tive que, hoje, eu estou formado, e até hoje eu continuo. Então, conversei com o reitor, viu que a gente participava de alguns cursos da área de Administração, eu sou formado em Administração pela PUC, e para fazer o nosso curso, fazia parte da FEA, então tinha, Economia, Contabilidade, Administração e Atuárias. Qual foi a ideia que eu tive? Como é que a gente consegue alguns recursos, para ter uma Atlética, para gente ajudar, para gente fazer almoço, para gente não viver só de festas, e também alguma estrutura de estudantes. No dia das matrículas das faculdades, a gente fez uma, carta, que foi aprovada pelo reitor, e ai quando o aluno fosse se matricular, se ele assinasse aquela carta, ele estaria repassando, 5 reais, só, da mensalidade, para a Atlética. Isso a gente estava com 10 alunos, todo mês. Na hora, todo mundo que foi entrar na faculdade, aceitou, porque ainda não sabia o que era uma Atlética, como funcionava. Isso estava, no primeiro ano, a gente foi barrado, eu não tive sucesso. Foi uma ideia, sendo sincero, bizarra, poxa, eu vou dar 5 reais por mês, durante anos, para uma pessoa que eu nunca vi na vida? Então a gente voltou, deu dois passos pra trás, montou projetos, a gente ajuda crianças hoje, na faculdade, a gente recebe, a nossa biblioteca que antes era muito pouco usada, se você for hoje na PUC de SP, no campo de Perdizes, está lotado de crianças, de sábado a gente se vestia de palhaços, brincava, levava idosos, lia pros idosos, então, a gente montou esses projetos. No ano seguinte, a gente voltou, favoreceu, então, são experiencias, que eu até estava fugindo um pouco da pauta aqui do Tiago. E hoje a gente conseguiu, todo mês, a Atlética da PUC, por volta de uma ideia de alguns amigos meus, ter um saldo médio de 50 mil, todo mês, e a sala está toda reformada, é um espaço grande. Tem lá dentro videogame, professor particular que a gente paga, e as pessoas quando chegam os alunos, olha, fiz tal matéria, peguei DP.DP é quando reprova, então tem professor, para todas as matérias, Economia, Estudo do mercado financeiro. Então, esse é um projeto que a gente fez, que graças a Deus continua. 322
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Estou muito feliz com isso até hoje. A cada dois meses a faculdade me pergunta: "e ai gente, está seguindo o plano, ta dentro do plano?" E graças a Deus está de pé ainda hoje. Então falando um pouco sobre mim, hoje eu sou sócio de um escritório de investimento, associada a Xp investimentos, a Xp é uma corretora, o nosso escritório é o maior escritório da cidade de SP, a gente está em 10 cidades, e a gente tem uma administração do dinheiro de clientes, um patrimônio perto de 1 bilhão de reais, e com mais ou menos 60 a 80 funcionários. A gente também guarda essa parte de moeda digital das empresas, essas coisas parecem até um pouco com o Sebrae, a gente ajuda muito as empresas. Então, isso é um pouco sobre mim. A gente vai passar para o Tiago, com o Claudio, e eu espero ajudar vocês. Gente fiquem à vontade para qualquer dúvida, tá bom? Obrigado. Cláudio Issamu Suzuki: Bom, boa tarde gente, meu nome é Cláudio Suzuki, sou de Maringá, e agradeço o Serginho pela oportunidade. E é difícil a gente falar tudo, em pouco tempo. Eu vou fazer só um resuminho. Quando a gente tem sucesso, ou a gente vem de família rica, ou precisa batalhar muito. De Maringá, aos 17 anos fui para o Japão, na época de 90. Voltei, abri empresa, aí fui convidado a participar da associação comercial, conselho jovem empresário, onde aprendi muito sobre associativismo. E depois em 2006, conheci uma ONG, que apoia o decasségui, e isso no Brasil inteiro. E de 2011 para cá, nós temos feito alguns trabalhos entre o Brasil e Japão. Nos últimos meses, eu passei 7 meses no Japão, e passei 5 aqui no Brasil. Nesses 7 meses que eu fiquei lá, foi para estudar os brasileiros que estão no Japão, que estrutura eles tem, como está a comunidade deles, se tem estrutura, o que pretendem fazer, como que é a vida deles lá. Uma vez que no Brasil, financeiramente, a economia não está nada boa, e a parte política pior ainda. Então, rapidamente era isso, então eu vou passar aqui para o nosso amigo Tiago. Para que ele possa fazer perguntas, vocês também. E caso eu não saiba responder, eu garanto que eu vou acionar nossos amigos universitários, para poder responder para vocês, ok. Muito obrigado.
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Tiago Henrique: Bom, Cláudio, você que viveu no Japão, teve essa experiencia do Nihon. E a Dilza falou sobre o motiyori. Como aplicar esse método nas associações e cooperativas? Cláudio: primeiramente, numa cooperativa, numa associação com japonês, nós temos que ter uma meta, um objetivo, um planejamento. Aonde nós queremos chegar daqui a 5, 10 anos. Porque se a gente não fizer isso, a gente não sabe o que a gente quer, então esse motiyori é muito bom. Que nem eu falo, às vezes você pede para 10 pessoas, 5 ajudam, e 5 são figurantes. Então, a gente deixa bem claro, o que realmente a gente quer fazer, e nesse caso que a Dilza comentou. Tem gente que não tem tempo mas ajuda, e tem gente que tem tempo e não ajuda. Então, até nisso a gente tem que saber escolher as pessoas. Então realmente isso é valido, e eu sempre falo, eu aprendi a fazer planejamento, e foi recente gente, não foi coisa de 10 anos atrás. É coisa de colocar 6 anos para cá. Depois que eu coloquei realmente um planejamento, nossa vida melhorou muito. Tanto na parte de serviço, de família. Principalmente família. Porque nós somos 15 desde 2014, e a gente fica trabalhando, não pára de trabalhar. A esposa trabalhando, e a gente não tem tempo, tem estresse. Então, assim, se a gente colocar um planejamento a gente consegue. Por mais que digam que planejamento é só para gente que tem dinheiro, que tem tempo. Não é desse jeito não. É ai que entra a palavra motiyori. Às vezes o pessoal pergunta: "Ah foi pro Japão, viaja bastante. Você tem uma empresa?". Tenho. Quantas pessoas? Uma. "Mas você não tem funcionário?". Não, para que eu preciso de funcionário, se eu tenho parceiros. E pensando na parte de finanças, eu tenho colegas. Hoje eu estou conhecendo o Guilherme. Se eu precisar de alguém de mídias sociais, eu tenho parceiros, então você está entrando com o motiyori. Olha gente, eu preciso disso, disso e disso. Vocês podem me ajudar a fazer isso? E no passado, eu briguei com varias entidades, até com o Japão, porque eu sou a favor, de ajudar os yonseis, a 4ª geração. Por que a família está lá no Japão, e o filho está aqui? Então, o Fernando, o Fernando daqui, ele não pode ir pro Japão. Entao eu peguei essa briga, com entidades lá do Sul, de São Paulo, e a gente está brigando, por meio de ajuda mútua, o motiyori, que é uma ajuda de cada um, um pouquinho de cada.
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Tiago: O Terceiro Setor, a gente percebe, né, Guilherme, que tem muitas dificuldades, muitas pedras no caminho. Como você disse aqui. Como é o segredo para poder driblar esses obstáculos que surgem ai, no terceiro setor? Guilherme: Pessoal, eu vou falar um pouco sobre esse assunto. Primeira coisa, como que eu vejo hoje para você driblar esse assunto. Para você driblar as dificuldades, e conseguir fazer uma ONG, um projeto, e sem fins lucrativos dar certo? A pessoa que está te ajudando. Ela sabe qual o seu objetivo com aquilo? Eu vou dar um exemplo. Eu sei que eu vou dar um exemplo do que a gente faz. No DeMolay a gente vende pizza em evento. Alguém compraria uma pizza que vale 10 reais, por 25, se não soubesse por que eu estou cobrando 25 nele? Eu acho que isso não acontece. Como a gente faz dentro do nosso DeMolay? Hoje eu não estou mais ativo, já atingi a maior idade do DMolay, sou Sênior, mas eu ajudo todo mundo. Os meninos, todos de até 21 anos que participam. Tudo, tudo que a gente vai fazer, a gente fala para quem está comprando, quem está ajudando, qual é o objetivo. E nisso, você pode ser a maior instituição que for, mas você precisa descer um degrau e ser sincero. Hoje, quem quiser visitar o nosso DeMolay lá hoje, pode olhar, tem todas as contas, o quanto a gente lucra, qual a participação, e as reservas de cada projeto. Nota: Segundo Wikipedia: A Ordem DeMolay é uma sociedade discreta criada por Frank Sherman Land a partir princípios filosóficos, fraternais, iniciáticos e filantrópicos, para jovens do sexo masculino com idade compreendida entre os 12 e os 21 anos incompletos. É uma organização para-maçônica fundada nos Estados Unidos, em 24 de Março de 1919, pelo maçom Frank Sherman Land patrocinada e mantida pela Maçonaria. A Ordem é inspirada na vida e morte do nobre francês Jacques de Molay, 23º e último Grão-Mestre da Ordem dos Templários, morto em 18 de março de 1314 junto a 3 de seus preceptores por contestar as falsas acusações de prática de diversas heresias como infidelidade à Igreja, sodomia, adoração de ídolos etc. Pode-se acreditar que o motivo de tais acusações fosse a ambição do Rei Filipe IV, o Belo e o Papa Clemente V, pelas posses da Ordem dos Templários, pois em caso de prisão, os bens do acusado passariam a pertencer ao Estado francês. A Ordem DeMolay possui cerca de 4 milhões de membros em todo o mundo e mais de 200 mil no Brasil. O DeMolay que completa 21 anos de idade, é deno325
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minado Sênior DeMolay, perde seu direito a voto e o de ocupar cargos efetivo e passa a poder acompanhar os trabalhos do Capítulo através da "Associação DeMolay Alumni". No Brasil, a Ordem é distribuída em mais de setecentos e noventa capítulos, sendo que os milhares de DeMolays regulares de todos os Estados da federação se reúnem frequentemente. Então hoje tem DeMolay, Maçonaria. As pessoas que ajudam vocês sabem o por quê? Ela sabe para onde vai ser destinado aquilo? Porque é muito simples vender alguma coisa ao preço que vale, e colocar o dinheiro no bolso. Agora a gente fez o 4º almoço, um almoço que deveria custar 20 reais a preço justo, a gente cobrou 40. Era para vender 200 ingressos, a gente vendeu 350. Para comer uma carne simples, com o mesmo arroz que tem em casa, feijão, e tinha gelatina. A gente esperava vender 200, a gente vendeu 350. Sabe por quê? Para cada pessoa que a gente foi vender, disso eu não estou falando nem de família. De pessoas que a gente parava na rua, inclusive em Marília, pessoas que compraram, e não foram para o evento em Adamantina. Porque a gente explicava olha, esse é o nosso 4º almoço, a gente tem um projeto vinculado às escolas públicas, e a gente escolhe os melhores alunos das escolas públicas, que são indicados pelos diretores, e os levamos para SP, para conhecerem os principais pontos turísticos. Então, por que deu certo? Por que faz sucesso? Porque às vezes, a pessoa não está perto dessa realidade, ela não está na escola pública, o filho não esta em escola pública, ou às vezes não tem filho, ou às vezes nunca passou uma dificuldade. Mas se ela souber, que comprando um convite, que ela sabe que vale 20 reais, a 40, que é o preço que a gente vendeu. A própria pessoa ajuda. Então a principal parte para fazer sucesso, tudo isso do terceiro setor, é ser honesto, e falar o que está acontecendo. Porque a gente está vivendo em um mundo que a gente vive de muitas promessas. É promessa para as eleições, vocês estão vendo todos os dias nas eleições. Se a gente fosse acreditar nisso, não estaria nessa condição que está hoje o país. E por que a gente não vê esses resultados? Porque são só promessas. Entao a gente está hoje buscando resultados, na prática. E quem que hoje faz as coisas na prática? Que mostra o serviço, que faz, que fala e que: "Oh, eu vou fazer isso", e quando você vai lá no evento que é 40 reais, não era a melhor carne, era uma carne simples, era um arroz, era só um feijão, mas tem a carne, tem o arroz, você vê todo mundo ajudando. Você vê empresários da 326
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cidade, que poderiam estar em qualquer outro lugar, mas estão ali para ajudar aquela causa. Então eu acho que a fórmula do sucesso para isso, se eu não estiver enganado, é a sinceridade e objetividade, no que você quer, que é o foco, que é ter sua meta. Olha, eu preciso vender 200. Foi o nosso foco. Por que a gente vendeu 350? Porque a gente foi sincero. Uns 150, foram pessoas que compraram, e não foram no evento. A pessoa praticamente doou 40 reais. Então eu acho que no meu ponto de vista, é isso que pega. Tiago: A gente sempre tem que ser claro né, objetivo. E falar diretamente com o publico alvo. Não adianta falar com um público que não tem nada a ver com o seu. E, como esse setor, essas entidades devem se apresentar, Cláudio, aos órgãos públicos, que é o principal, ou um dos principais meios para se conseguir recursos financeiros para essas entidades. Como essas entidades devem se apresentar, quais tipos de projetos são mais aceitos, enfim? Cláudio: Bom, a entidade tem que ser honesta. Eu sempre digo assim, se você tem bons projetos, dinheiro não falta. Por mais que o Governo Federal ou Estado esteja sem dinheiro, bons projetos são aprovados. Eu falo isso porque até eu estava conversando com o Tarin. A nossa entidade é uma ONG, que lançamos em 2006, e em 2008 nós tínhamos um projeto chamado micro-franquias, que nós tivemos a ideia de lançar, com a finalidade de ajudar os brasileiros que voltavam do Japão e queriam empreender. Só que na época, eles tinham uma poupança média de 75 mil dólares, e o dólar, na época estava em torno de dobro, então ele vinha com 150 mil reais. Nós resolvemos fazer um projeto, de no máximo 25 mil dólares. Então a pessoa gastaria 1/3 para investir no negócio e 2/3 para ele manter o negócio. E aí surgiu a ideia, que nós fizemos em Maringá, em parceria com a associação comercial, com o SEBRAE, e nós tivemos um projeto de 256 mil dólares, então um projeto para Maringá e região. Aí veio o Banco interamericano de Brasília, e uns conhecidos falaram: "Nossa, o projeto é muito interessante, vamos levar isso para Washington, que é a matriz". Ai eles levaram essa ideia para lá, e eles falaram: Nossa, é um projeto muito bom. Então, se vocês aceitarem, nós vamos mandar 3 consultores. Eu lembro que era um americano, uma colombiana, e uma espanhola. Eles vieram pra Maringá, ficaram uns 3 dias, e saíram com um projeto de 1 milhão e 200 mil dólares, 327
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e que foi aprovado. Até o pessoal da associação comercial falou assim: Nossa, aqui em Maringá, a gente nunca teve uma entidade, que conseguiu dinheiro a fundo perdido. E qual foi o diferencial que vocês conseguiram para alcançar esse sucesso? Primeiro trabalhar, e principalmente o projeto né. Então, em projeto bom, o dinheiro vem. Tiago: E em relação ao Guilherme, sobre investimentos de empresas privadas. As grandes empresas também podem financiar um projeto de uma entidade. Como essas pessoas devem abordar essas empresas? Você acha que é diferente do órgão público? Guilherme: Sobre a pergunta do nosso amigo Tiago, eu vejo um pouco de diferença, porque no órgão publico, a gente já tem uma certa obrigação de cobrar deles alguma coisa. Porque todo mundo que paga imposto, todo mundo aqui contribui, a gente que paga eles, não eles que nos pagam. Então, eu acho que no órgão publico, a gente pode ter as vezes uma postura até um pouco mais autoritária, mais rígida, olha, a empresa paga tanto, o que que vocês trazem? Agora, eu acho que no setor privado precisa ser uma abordagem mais assim, se a empresa tem uma imagem em prol da sociedade. Vou dar um exemplo simples. Souza Cruz, empresa de cigarro, ela hoje, se eu não me engano é a 4ª empresa que investe em marketing em propagandas ou público, ONGs para crianças, com o tema não fume. Por que ela faz isso? Porque ela sabe que o produto que ela vende tem uma imagem negativa. Para quebrar essa imagem negativa, para tentar quebrar, ela se desvincula e fala. Olha: tudo bem, a gente tem um produto que faz mal, que traz diversos malefícios, hoje o cigarro é uma das maiores causas de mortes, mas a gente tem mais de 4 mil crianças que a gente apoia, que a gente ajuda, e para qual a gente diz: não fume cigarro. Então, o setor privado, no meu ponto de vista, é você querer mostrar para o empresário, que vai ter um benefício intangível, que ninguém vai comprar o seu produto porque você ajuda uma ONG, talvez isso não aconteça, mas a sua imagem vai melhorar, isso a gente sabe que acontece, e a gente vê o retorno disso, ao longo dos anos. É mostrar para o empresário o quanto a imagem dele vai melhorar em relação aos seus concorrentes fazendo uma coisa boa, que talvez não seja do ramo da empresa. Eu vou dar um exemplo que teve aqui, saiu no jornal de 2017 e no começo de 2018. No dia 23 de dezembro, a Ford, de carros, demitiu 5 mil funcionários, 2 328
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dias antes do Natal. Você imagina, está faltando 2 dias para o Natal, a empresa demite 5 mil funcionários e você é um deles. Alguém imagina como o pessoal passou um Natal desses? Essa noticia é da Folha Mídia. Nos próximos 3 meses, caiu em 25% a venda de carros. Isso eu não estou falando dos carros mais caros, estou falando dos simples. Por que? Eu não trabalhei na Ford, mas eu não compraria. Dia 23 de dezembro, se ela mandar 5 mil funcionários, faltando 2 dias para o Natal, entendeu? Então, eu acho que numa empresa privada, a ideia é essa. É mostrar o quanto ela está vinculada à sua ONG, à sua entidade, que não vai trazer um retorno para ela de forma tangível, tá galera, não estou falando de dinheiro, estou falando de imagem, de ser uma empresa reconhecida nacionalmente, ser uma referência no assunto. Eu acho que é isso. Tiago: Quando a gente fala aqui, a gente fala da região também, as microempresas, médias empresas ai, que geram até ajuda, né. A Sandra já é um exemplo, um grupo de câncer, acaba recebendo bastante ajuda, bastante colaboração das empresas, investimento, que acaba trazendo muitas receitas fixas ai né. Mas enfim, receber 1 milhão de reais, 200 mil reais, do Governo Federal, ou uma empresa entrou para financiar o meu projeto, por 500 mil reais, Cláudio, como eu vou administrar esse investimento? Cláudio: No nosso caso é simples, se você pega um recurso de um órgão público, ele quer saber aonde você está gastando. E se você desviar 1 centavo, você pode ir para cadeia. Então, o que a gente sempre faz, a gente tenta procurar no mercado profissional da área, se ele vai cobrar ou se ele vai fazer isso sem o ônus pra entidade, então a gente pode fazer isso. Então, a Dilza, ela falou do motiyori, eu aprendi e gostei. Eu sempre trabalho dessa forma, na nossa rede de contatos, nós temos bons profissionais, então no nosso caso, nós tivemos uma parceria do SEBRAE, e nisso o SEBRAE nos cedeu alguns consultores, que fizeram todo esse processo. Porque se deixasse no meu nome, com certeza eu ia preso, porque eu não saberia fazer compras e contabilizar certinho, a gente ia fazer o pagamento, mas, pagar, pegar nota fiscal, fazer todo aquele acerto, prestação de contas, tem que tomar muito cuidado. Então, sempre que for pegar um valor, nem que seja de 30 mil, 40 mil, nós pegamos o SEBRAE para fazer a parte de capacitação, a prestação de contas. E ai no mercado o pessoal fala, a conta lá para o seu amigo que ele vai te dar 10%. Eu falo: olha, eu não quero saber de nada disso. Porque uma coisa que você faz agora, uma coisa que você planta agora, você vai colher lá na frente. 329
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Tiago: A fiscalização, ela é bem apertada, bem rígida, quando se trata do poder público. Cláudio: É que você tem que fazer a prestação de contas. Se você pagou, e não tem aquele retorno, eles vão ficar em cima de você. Você pagou e por que não concluiu aquilo lá? Então, automaticamente se você não concluiu e gastou, temos uma coisa errada. Então, com dinheiro público não se pode brincar, em hipótese nenhuma, você vai preso mesmo. Agora se for dinheiro de uma iniciativa privada, uma vez que estiver na conta, você faz o que você quer. Só que se você fizer também uma prestação de contas para aquela empresa que te forneceu aquele recurso, com certeza, vai surgir novos investimentos. Tiago: Guilherme, e a importância do bom relacionamento? Do network? Isso traz resultados também né, investimentos. Guilherme: Eu sempre falo, quanto mais gente você conhecer, maior a sua chance de ter sucesso. Você hoje as vezes não precisa saber fazer tudo. Mas se você conhecer cada pessoa que sabe fazer uma coisa bem, você consegue atingir o seu objetivo. Eu tenho um exemplo muito simples, é o líder, ele é uma pessoa que sabe empoderar cada pessoa no seu conjunto, para atingir aquele objetivo. Ele não vai para o financeiro, mas ele sabe ajudar o cara do financeiro a se sentir bem naquela atividade, ele sabe do poder da pessoa, dela talvez, conhecer os seus próprios sentimentos, metas, angustias. A gente tem um exemplo aqui, o Fábio, que está aqui com a gente, esse reitor. Ele é coach, tem gente, que talvez não conheça os seus medos, não conhece as suas próprias capacidades, ou às vezes, tem uma grande possibilidade de conseguir alguma coisa, mas não consegue, porque não conhece a sua própria capacidade. A gente vê as vezes em filme, aquela pessoa que canta no banheiro, e canta super bem, mas ela tem medo de subir no palco, ou de pegar no microfone e falar, e aí aquele poder fica escondido. E as vezes você não tem atitude, não conhece, e você não atinge aquele objetivo. Hoje, por exemplo, se você tem uma pessoa, que consegue te ajudar, consegue te ouvir, te passa a mensagem que você precisa, pra você fazer uma atividade. Voce pode ter certeza que você vai atingir. No DeMolay, a gente tem os tios acima de nós, tem os DeMolays, e a gente tem a távola. A távola é de 7 a 12 anos, são praticamente crianças. E a gente passa cada atividade, muitas vezes eles não conseguem nem entender nossas pronúncias, por conta das palavras, que não conhecem, 330
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mas a gente fala: Olha, vocês conseguem, perguntem, juntem todos, porque hoje, o network é o que domina o mundo. Você precisa conhecer as pessoas. Eu sempre falo, que hoje, quem não gosta de gente, não vai conseguir nada. Não vai conseguir, não vai ter sucesso. É imprecindivel, hoje no meu escritório, quando a gente vai contratar algum assessor. A primeira pergunta que eu faço: Para quantas pessoas você deu bom dia hoje? Se ela me falar nenhuma, eu já nem continuo a entrevista. Eu aponto para a porta. É um pouco autoritário, chato, é. Mas eu faço isso. Quando eu cheguei aqui, as pessoas que foram chegando antes de eu sentar nessa mesa, eu cumprimentei cada uma aqui. Porque eu acho que hoje, quem não tem um bom relacionamento, quem não conhece as pessoas, tem pouca possibilidade. Hoje o mundo é muito de conversas, a gente vê os políticos. O cara não apresenta nada, mas ele sabe falar, sabe se pronunciar, sabe conversar com as pessoas, ele sabe apertar a mão. Então eu acho que o network, principalmente para ONG, é importantíssimo, porque você divulga o que você faz, e consequentemente você traz recursos, sejam financeiros, quanto a mão de obra, pessoas para te apoiar nessa causa. Então, no meu ponto de vista, é o primeiro passo para você hoje ter um projeto, ter uma coisa para você saber compartilhar isso. Tiago: Ou seja, conheça mais as pessoas, né. Seja amigo de todo mundo, isso é importante. Você estar aberto a receber as novas amizades. Agora então, é a vez de vocês, direcionarem as perguntas para os nossos convidados. Quem será o primeiro? Ou primeira? Pode perguntar. Pode ser os senhores aqui também viu, Fábio, Doutor, Dario. Podem fazer as perguntas. Só que o microfone não vai chegar até ai. O fio está um pouco limitado, mas podem perguntar. Doutor Mário Vieira dos Santos: O nosso mundo de hoje, está muito fechado. Eu vinha conversando com o meu sobrinho e sobrinha. Ela veio do RJ, e a gente vê um mundo violento, hoje, nós não vemos causas. Nós vemos efeito. O hoje o danoso do Brasil é um Governo, aonde se não tiver motivo, ou passa a mão, não consegue nada. Na empresa particular, o dono é o responsável por tudo. Desde abrir a porta, até fechar a porta. Porque ele vai
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contratar pessoas, com quem vai lidar com seu dinheiro. E o pessoal do Governo, eu converso muito com o pessoal do projeto da Mooca. Então, eles acham que o dinheiro que eles têm lá, é do Governo. E a gente fala que não é deles. Se vocês pararem de pagar imposto, o Prefeito entra em falência, o Governo do Estado e o Governo Federal. Eles não têm dinheiro. O dinheiro é dos impostos que pagamos. Então, o nosso grande problema, como disse o Sérgio, é a falta de cooperação. Sem a cooperação e sem discernir aquilo que nos cabe e o que cabe ao outro, nós não chegamos a lugar nenhum. Então temos isso hoje, uma briga violenta. O filho querendo usufruir tudo o que o pai fez, com muito sacrifício. E ele sem sacrifício nenhum, quer se aproveitar daquilo que o pai, ou o avô deixou. Então, hoje, nós vivemos em um mundo egoísta, um mundo de dinheiro. Quem tem dinheiro tem amigo, quem não tem dinheiro não tem nem sobra. Então, a gente fala sempre, porque todo mundo pensa em interesses. Eu vou ali para dar o golpe naquele, porque eu sou mais esperto que ele. E isso tem desmotivado as empresas a procurar parceiros no Brasil. Como serviços, na França, Inglaterra, e também, em Portugal. Estavam no luxuoso Hotel Ritz em Paris, e saindo na porta, um senhor com uma pasta ia chegando. Ele vinha vindo. Cumprimentamos em francês e português, e ele disse assim: São brasileiros? Era o Secretário de Estado. Secretário da Agricultura da França. Chegando para o trabalho, sem segurança, sem nada, apenas com o seu motorista. Aqui nós estivemos em Brasília, doutor Dario, doutor Kakimoto, nós estivemos lá com o brigadeiro Juniti Saito. E ele estava fazendo um voo com a presidente Dilma na época. Desculpa se eu estou me alongando. Puseram um carro à disposição e fomos lá para o Senado, fomos para Câmara, eles brincaram, sentaram nos lugares dos políticos e bateram bastante foto, porque eram 9h da manhã e até 11h, tinha três deputados. Um falando, um escrevendo e o outro sentado. Então, lá na terça eles chegam, os funcionários também chegam, ficam terça, quarta, e na quinta feira 14h da tarde, você pode ir para o aeroporto que está lotado. Está todo mundo indo embora. Sexta feira, sábado, você pode jogar bola nas avenidas em Brasília. Estou falando mentira? Então, não tem comprometimento. Em qualquer país do mundo, o funcionário é responsável. Eu fui no Ministério do Trabalho, e eu fui receber a carteira. O ministro entregou o documento e falou: Olha, a caneta e o lápis que você está levando, é para o seu uso. Não é 332
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para família. E eu via colegas levando lápis, caderno, borracha, tudo para casa, para dar para o filho. Então, eles acham que o que é do Governo pode meter a mão. Eu brinco com todas as pessoas dizendo o seguinte: O Governo, vai fazer uma licitação e demora muito, porque muita gente entra. Uma obra por 3,5 milhões. Mexe aqui, mexe ali, daqui a pouco vem o Governador: "a gente precisa de um aditivo". Mas você pegou por 3,5 milhões. É, mas não dá. Para terminar essa obra vai precisar de mais ou menos 10 milhões. Vocês entenderam o espírito da coisa? Agora, no setor particular, fazer uma obra, ele vai, faz, te entrega com a chave na mão. A turma do Governo quer ser associada do Governo, quer meter a mão. Então, o que a gente diz é o seguinte. O nosso país é bom, tem gente honesta, de todas as qualidades, não podemos atingir a todos com a mesma tinta. Mas o que falta no país é responsabilidade, respeito pelas coisas públicas, e cooperação, como disse o doutor e a professora. Tiago: Obrigado, agora eu passo para ele. E eu tenho mais uma notícia muito bacana. Quem realizar a pergunta, vai ganhar um kit da Hinomoto. Então, quem vai ser a primeira? Pergunta inaudível. Cláudio: Escolha de colaboradores. Hoje você tem que escolher bem quem você vai chamar para sua associação. Então, eu digo assim, nossa entidade, se você chamar uma pessoa, que ela tem interesse, mas ela não tem tempo, fica difícil. Em qualquer entidade, para fidelizar as pessoas, sempre você tem que dar uma coisa muito importante. Nós temos essa entidade há 12 anos, então, toda terceira quinta de cada mês, fazemos uma reunião, e reúne todo o pessoal, de diversas áreas, e eles se perguntam assim: Como que você mantém aqueles eventos todos os meses aqui? É com o tempo que a gente aprendeu também. Nós fazíamos uma reunião no inicio, falando do que a entidade fez, para os membros dessa entidade, e chamamos as empresas para participar dessa reunião. Então, é assim. Traziam eles, cada um se apresentava, e por que deu certo? Porque a nossa reunião era das 19h às21h. Tem gente que trabalha o dia inteiro. Você chegou lá, você está com fome. Então a gente fazia essa parte de falar o que a nossa entidade fez, e cada um se apresenta. Tipo da empresa, cargo, e a gente começou a fazer um coffee break de 30 a 45 minutos. E isso, 333
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sempre patrocinado, então era bem legal. Porque o coffee break hoje é mais caro do que você alugar uma sala. Então, o inicio do período de 30, 40 minutos, que a gente fazia com que as pessoas se conversassem, e que fizessem negócio entre eles. Então, dessa forma, eu vou pra reunião, vou ficar 2 horas lá, eu vou conhecer gente, e vou tentar fazer negócios. E isso que deu certo. E depois a gente voltava, e tinha 50 minutos, 40, 50 minutos de palestra. Então, são microempresários, é muito fácil trazer um palestrante de finanças, de marketing, que vai agregar para eles, no dia a dia deles. Então isso, desde 2007, a gente tem feito esse trabalho. Então, aparece de 30, a 40 pessoas, dependendo do tema. Ás vezes tem um tema que é impactante e as pessoas querem saber, outros nem tanto, que a pessoa fala"Isso eu já sei", então vem uma quantidade menor de gente, mas fazemos sempre. Porque assim, se eu te convido para um evento, vocês estão aqui. Todo mundo está interessado em ter alguma informação, que valha alguma coisa. Se fizer dessa forma, que a pessoa possa participar, que nem o doutor falou agora. Interesse é a questão. Eu vou ter que dedicar duas horas do meu tempo lá. Será que vale a pena ou não? Pergunta inaudível. Guilherme: Bacana, boa pergunta. Gostei. Olha, como a gente faz? Eu hoje não faço dinâmica quando a gente vai buscar alguém, porque a gente já parte do pré-requisito que como é uma área bem específica, o investimento, não é tanto alto calculo, mas não é tão comercial, é um mesclado dos dois. A gente parte direto para dinâmica. Como eu percebo isso na dinâmica? Se eu parto do pressuposto que todo mundo que chegou para uma entrevista, passou por uma triagem, e atende os meus pré-requisitos, o que eu estou testando ali, o que eu estou querendo entender, é o pessoal. É como a pessoa é. Se ela é bem humorada, mal humorada, se ela dá bom dia ou não dá bom dia. Se ela diariamente chega no trabalho estressada ou calma. Então eu sempre vou supor isso. E eu pergunto. Eu pergunto assim: Olha, você hoje para estar aqui, você tem a idade que eu quero, você tem todos os prérequisitos, e o que que te difere dos outros 35 que eu entrevistei? Por que você e não os outros? "Ah, Guilherme, porque.. ". Eu já ouvi de tudo tá, cada resposta maluca. E tem gente que já falou. "Olha Guilherme, eu vim aqui porque eu tenho 3 filhos, moro a 25 km daqui, acordei às 4:30 da manhã, já deixei o almoço pronto para os meus filhos e meu marido, peguei 3 ônibus e vim até 334
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aqui. Me convence. Porque, hoje é muito fácil ver só o lado profissional, porque hoje 90% das relações tendem a ser mais para o lado profissional. Você conversa com o amigo, 5 minutos de conversa. E então? Como está lá no trabalho? Ninguém sabe conversar do seu pai, da sua mãe, do seu tio, sobre como está o seu cachorro. Então, eu, Guilherme. Eu sempre pergunto: Qual o seu nome? Mariana. Eu chego e falo: Mariana, você está contratada, até agora. Por que eu te contrataria? O que você tem de diferente dos outros? Porque é melhor que todo mundo que chegou aqui. Você faz engenharia? Vocês todos fazem engenharia. Por que que eu escolheria você de verde e não amarelo? Qual a diferença entre vocês? Você acorda, faz o seu café ou você faz o seu café, para sua namorada, para o seu filho? Você só faz o seu? Você retira a sua mesa? Ou deixa para sua mãe, para sua esposa? O trabalho, você levanta para olhar a hora no celular? Entendeu? Porque a parte profissional hoje está muito competitiva. Então eu percebo que hoje, todo mundo está se profissionalizando. Ok, excelente. Mas está ficando tudo muito robótico, eu percebo. Então, eu quando vou fazer isso, eu vejo como que a pessoa é. Eu prefiro hoje contratar gente com mais idade do que gente nova. Gente nova tem boa vontade, gente mais velha tem mais experiência. Consegue vivenciar um pouco mais, e ter mais habilidade de conversar, de entender uma situação. Guilherme: Uma pergunta excelente. Gente, se alguém também quiser compartilhar, depois eu até queria passar a palavra um pouco para o Fábio, para ele falar um pouco dessa parte de motivacionar as pessoas, para participar e para fazer parte dos grupos. Pergunta inaudível. Guilherme: Vou responder a sua e vou responder para ele. Eu vejo exatamente dessa forma. Hoje você percebe que a faculdade virou uma guerra. Hoje, diferente de uns 30 anos atrás, quando todo mundo saia louco para trabalhar. Estou me formando, eu vou trabalhar. Hoje, você está cagando de medo. Desculpa o termo, tá gente. Porque você sabe que você vai sair lá fora, e vai estar tendo uma guerra. Um pisando em cima do outro, um matando o outro. Tem que matar um leão por dia. E eu vejo isso como não ter meta de adaptação no nosso escritório, mas a gente tem benefícios para quem se adapta mais. Se não vocês vão se matar aqui dentro, então vamos conversar. Eu vejo muito isso, hoje nas faculdades. Você sabe que você vai encontrar um ringue. Desde criança você já é preparado, que quando você se formar você vai encontrar um 335
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ringue. Então eu acho que precisa mudar isso, e a faculdade é onde a gente vai mudar isso. Não que vão deixar de dizer que você tem que ser melhor que todo mundo. Hoje todo mundo é igual. Você pode ser melhor que eu em alguma coisa, e eu posso ser melhor que você em outra. Mas ninguém é diferente. Eu vejo muito isso. Vinicius, respondendo o que você falou, primeiro quero agradecer a vocês que vieram. Muito, muito legal. Se sintam felizes de estar aqui, porque, são poucos que tem isso. Hoje, se a gente estivesse na área de vocês ou se vocês se interessassem pelo que a gente vem conversando sobre vocês, para gente entender um pouco de vocês, conhecer melhor. O que eu acho que vocês têm que fazer? Eu acho que tem a parte de carreira, seja para um evento, então assim, voltando ao que o Cláudio falou, tem que dar algo em troca. Nem que seja um brinde, ou assim, alguma coisa que agregue à pessoa. E também na parte motivacional, eu acho que você precisa mostrar a uma pessoa que ela está aqui, que ela faz parte, ninguém aqui é ouvinte, ninguém aqui é palestrante, ou nada disso. A gente está aqui todo mundo debatendo, e eu queria só passar a palavra para o Fábio, o Fábio ele é excelente nesse assunto, uma pessoa que está uns 10 anos na nossa frente, eu queria que ele falasse um pouco disso para gente. Uma salva de palmas gente, pro Fábio. Fábio Botteon: Boa tarde a todos. Eu vou complementar a sua resposta. Eu acho uma coisa muito importante. Eu vivi uma experiência muito interessante, que é quanto ao cooperativismo frente ao fomento de alimentos, porque a professora Dilza falou, todo mundo aqui pensa em cooperativismo, vamos cooperar, vamos trazer comida, né. Eu acho importante sim, nós temos que trabalhar com isso, nós temos que trazer isso para as pessoas, eu sou voluntário dentro de uma instituição que cuida de renais crônicos e transplantados, eu vejo que você fala do serviço social, às vezes a gente fornece a cesta básica, você entrega a cesta básica no dia 30, no dia 10 a família vem pedir, porque o filho vendeu para pegar droga. É comum. Muito mais comum do que tomar água. E isso é muito mais comum. A gente observa que as pessoas não sabem usar o alimento da melhor forma. Então se produz muito alimento, não se come, se despreza. Esses dias eu fui dar aula em São Carlos, eu conheci um projeto que a prefei336
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tura tem, da geladeira comunitária. Eles têm uma geladeira na prefeitura, que fica em pontos da cidade, onde as pessoas vão lá, entregam, colocam o seu alimento e as pessoas que precisam buscam. E todo dia tem fiscal que passa e controla a higiene, e a qualidade desses alimentos. Isso é um diferencial. Eu nunca tinha visto em nenhuma outra cidade. Eu vi em Araraquara também, mas não tinha esse padrão de qualidade. Porque o alimento estraga, se a gente não toma cuidado. Então eu acho muito importante, se pensar, no motiyori, o quanto a gente desperdiça no alimento, que poderia ser utilizado. Quem é que faz sopa da casca do abacaxi? Então são o quê? 3, 4 pessoas, num público de 30. Olha o desperdício. "Ah, mas é a casca, tá sujo". Lava, limpa. Bateu, coou, você está bebendo um bom suco. Com tanta vitamina na casca da fruta. O quanto as pessoas utilizam o talo da couve, para fazer um omelete e servir para os filhos? Pronto. Então, o cooperativismo começa em casa, faz parte da educação. Eu tenho que começar a ensinar dentro do meu círculo familiar, um cooperando com o outro. Porque nós estamos em um mundo, e eu queria saber se alguém aqui. Viu, eu vou pedir um brinde. Se alguém aqui conseguiu captar alguma atitude aqui, que eu fiz proposital, no meio da palestra. Não, aquela hora eu tive que sair para entregar uma coisa para ela. Não foi naquela hora não. Eu estava sentado, eu não sai da minha cadeira. Isso. Eu comecei a tirar foto. A gente vive, um momento passando para outro. Pode dar o brinde para ele. A gente vive um momento sem pensar em viver aquele momento com intensidade. Então quando uma pessoa vem, e eu não tenho uma dinâmica, para ver o quanto ela tem esse espírito de colaboração, de parceria, eu pergunto para ela, por exemplo, o que dá identidade para ela. O que no seu projeto, vai dar de identidade para que as pessoas o abracem? Em alguns casos, é muito importante o jantar. Eu sempre brincava né. Eu estou me voluntariando. Que a gente chegava, pegava a bandeja e esperava a janta. Então, todo mundo ia, porque sentia uma janta gostosa. Agora, o quanto tem de identidade aquelas pessoas para abraçar aquele projeto? O que você cria de sentido para aquelas pessoas? Então você falou, a gente tem lá 200 alunos, nós estamos aqui em 9. O que esses nove vão ser diferenciais no mercado competitivo de trabalho na hora que sair da faculdade? Que é onde você está almoçando, é onde você está buscando. Ah, mas é um conhecimento simples. Não, isso é cooperação. Eu falo que conhecimento não tem dono. O conhecimento não tem dono, mas é poder. O que detém o conhecimento, ele consegue se 337
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alavancar na vida, ele consegue parcerias. Por quê? Sorte, não passa de conhecimento associado a parceria. "Ah, fulano teve sorte na vida" . Tá lá num bom emprego. Por que ele está num bom emprego? Porque ele tem um bom relacionamento e porque ele sabe o que ele faz. Porque na contratação, o técnico contrata qualquer um. O que precisa? Tem que ser formado em engenharia de produção, graduado em administração, graduado em psicologia, graduado em serviço social. Mas o que você faz lá dentro é a diferença. E o quanto você pode ser parceiro. Eu não sei se vocês chegaram a ver um vídeo do Roberto Justus, que ele fala, que ele não quer ser bom em tudo, ele procura pessoas boas para trabalhar no meio. Ai é o negócio dele. Então, o quanto é importante a gente ensinar dentro de casa, no seio familiar, a importância de dividir o alimento, de ponderar o uso dos recursos hídricos. O quanto a gente pode hoje, varrer a calçada ao invés de lavar com água. Agora na hora que a gente precisar sim, vamos lavar de verdade. Então, essas fontes naturais estão começando a ficar escassas, e a escassez, o maior problema que a gente tem na escassez, é devido ao desperdício. E hoje, a gente tem uma oferta muito grande de informação, com escassez de conhecimento. As pessoas não compartilham o seu conhecimento. E quanto mais eu compartilho o conhecimento, mais eu cresço. Então, o quanto a gente está preparado e sensível ao outro? Eu lembro quando o meu irmão assumiu a região em Tupã, ele procurou nos mercados todo alimento que não estava mais bonito para venda, para trazer para a região. Na primeira semana, chegaram 26 caixas daquelas plásticas, de verdura e legume. Todos bons para se utilizar. As pessoas não compram. Está machucado ali,cá. Mas, todos. Foi uma distribuição de alimento. E durante 2 anos, que ele ficou na administração, ele conseguiu levar comida para várias instituições que precisava. Que não tinham condições. Ele foi o presidente da região ali em Tupã. Então assim, o quanto a gente está preparado, para estar com o outro? O quanto você me traz um projeto e me faz parte desse projeto? Porque eu posso te entregar um projeto, mas ele é meu. Você não vai ter vontade de executar. Agora vamos construir um junto, e talvez a gente dê certo. Então eu acho que falta trazer essa, esse engajamento, que hoje é a palavra do momento né. É o quanto de coragem você tem, para trabalhar essas fragilidades frente o outro. O quanto de coragem a gente tem, para ir lá, e ofertar para o outro, um 338
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alimento que para gente não está sendo uma referência para uso, mas que vai ser muito bom para o outro. Na época da minha gestão, fiz muito trabalho, muito levantamento em acampamento, e assentamento. E a gente via que as pessoas, elas não sabiam aproveitar o que elas tinham. Elas ganhavam as coisas, e não sabiam usar. Então assim, adianta eu dar recurso para quem não tem, eu dar fomento a quem não tem? Então a gente precisa capacitar. Falando um pouquinho do que você fala né, dessa troca de diretoria a cada 2 anos, e como eu mantenho essas pessoas. O quanto essa causa é importante para elas. Comece a buscar pessoas que tem causa importante. O maior parceiro para ajudar dentro do câncer, é alguém que já teve câncer. E esse traz os seus parceiros, esse traz os colegas. A diretoria, ela pode mudar a cada 2 anos, a cada 10, a cada 50. Se não criar a identidade, eu não tenho. E hoje, 30% das invenções acontecem por técnica. 70% por comportamento. O quanto eu me comporto, dentro da empresa, o quanto eu sou parceiro das pessoas que trabalham. Então eu pergunto muito, em entrevista. "Me conta uma passagem da sua vida profissional, onde você fez algum projeto em conjunto". "Me traz alguma história da sua infância", "O que foi, como foi a sua infância". A pessoa conta se ela estava em escola particular, escola pública, se ela tinha amiguinho, se ela não tinha. Mas e os seus amigos, como que você sentava em trabalho em grupo? Como era isso? E as pessoas vão trazendo, e a gente começa a ver, se elas têm uma aptidão pro cooperativismo ou não. Então é muito importante, a gente estar pensando, o quanto eu estou também sensível, a estar participando disso com o outro. Por que as vezes eu fico muito restrito a mim. A gente cuida muito do umbigo, esquece do redor. Todo mundo cuida do umbigo e esquece a barriga, a barriga cresce, depois vai falar que está gordo. Não é? Mas o umbigo está lá, bonitinho, redondinho. Quase entrando, de tanta gordura que tem, mas bonitinho. Então assim, o quanto é importante eu cuidar do entorno. Eu olhar para as pessoas que estão no meu entorno, porque não é o nível sócio econômico que diferencia. É a sensibilidade em dar e receber. É a capacidade de estar junto, com o outro. Isso é parceria. O quanto eu estou junto com você, para nessa situação a gente construir. Isso é importante. Porque a construção coletiva tem a parte do individual. Mas ela traz assuntos muito bons, mas para isso ela tem que ter propósito. 339
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Se eu não tiver propósito não resolve. Então as vezes, aqui, dos 200, 50 querem um outro tipo de trabalho. Não querem trabalhar com o cooperativismo. Agora, eu faço parte de um grupo, que a gente trabalha, com liderança e inovação. Pessoal do shopping, do Paraná, inclusive eu vou estar em Maringá dando curso. O quanto está sendo importante, estar percebendo, o que hoje, nesse nosso mundo, e nessa nossa geração, que precisa de desafio, é importante inovar para liderar. Isso é muito importante. Então assim, você quer ser líder, você quer montar um projeto, você quer alavancar. Tragam pessoas para construir esse projeto junto. Porque o projeto não é meu, ele é nosso. Se eu, se o líder trabalhar só para ele, ele perde a equipe. Então, hoje, quanto mais nós tivermos conectados, muito mais produção a gente vai ter. Eu participei de um evento, no mês passado, que eu fui convidado por uma amiga, para gente escrever o capítulo brasileiro, dentro da onda do impacto global, frente a sustentabilidade. E estava lá o RH da Bosch, Mitsubishi, Honda, todos, todos, todos. Era unânime o trabalho, que o conjunto constrói. Todos. E ai você via uma interseção de empresas concorrentes trabalhando junto. E isso é muito bonito, isso é muito importante. Então eu acho que é muito importante a gente pensar isso. O quanto nós vamos construir. Porque nós crescemos, e nós crescendo, tudo se alavanca. Ok? Obrigado. Obrigado Tiago. Tiago: Mais alguém? Ultima pergunta pra finalizar. Tem duas. Uma da moça de Araçatuba. Pergunta inaudível Cláudio: Porque eles te gostam, eles te amam. Eles te reconhecem? Faça isso. As pessoas que não são reconhecidas não ficam. Dinheiro não mantém ninguém na empresa. A gente precisa de dinheiro para comer, beber, dormir e pagar conta. Qualquer um dá isso para a gente. Agora, o reconhecimento e a valorização humana é que faz você ficar. Tá. É reconhecimento e valorização humana. Isso é fundamental. Não se faz. Dinheiro a pessoa consegue em qualquer lugar. Eu me lembro, quando eu fui fazer o meu mestrado em Londrina, eu não tinha dinheiro, e não podia trabalhar porque eu ia receber a bolsa, a bolsa ia chegar em Maio, eu queria vender sanduiche natural. Eu obtive dinheiro. Mas, fazer comida é algo que me dá prazer, e reconhecer, e ser reconhecido, pelas pessoas que compravam aquilo me dava prazer e movimentava 340
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esse serviço. Então, o reconhecimento faz a pessoa ser parceira sua. Agora se eu não reconhecer, se eu não valorizar, se eu não entender que todo mundo tem fragilidade, todo mundo tem potencialidade, eu não vou ficar com você. Eu vou para o outro, que o outro me reconhece. Faça isso, tá. Tiago: Bom, infelizmente a gente vai ter que encerrar. Muito obrigado a todos.
Obs. Participaram do debate, com comentários e perguntas, além dos convidados cujas falas foram transcritas aqui, os seguintes debatedores: Dilza Muramoto, Jiro Kimura e Dario Morishigue.
(fotos de Tiago Henrique)
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IKIGAI - O DESPERTAR DO NOVO AMANHECER Palestrante: Noriko Onishi Saito Pedagoga, professora e presidente da Acrea - Associação Cultural Recreativa e Esportiva de Adamantina, e ex-vereadora de Adamantina
Agradeço muito o convite da comissão Bunkyo Rural e agradeço aos organizadores. Eu vou falar muito breve o que é Ikigai: o despertar de um novo amanhecer. Ikigai é a arte que o levará a descobrir os seus propósitos de vida. É uma palavra japonesa que se traduz como "razão de ser", ou "aqueles objetivos de vida que nos fazem levantar cedo todas as manhãs". Todos os dias nós levantamos de manhã para trabalhar, para fazer alguma atividade. Eu, normalmente, quando acordo, quando vou ao banheiro fazer as primeiras higienes pessoas, eu olho para o espelho e agradeço a Deus mais um dia que nós vamos passar. E isso para mim é o grande ikigai, é o renascer junto com o amanhecer. Eu sou professora aposentada do Estado, sou professora aposentada pela escola particular e tenho um trabalho de 50 anos nesse exercício. Eu não parei nenhuma vez, porque ainda continuo com meu objetivo de ser uma ikigai. Na escola, eu trabalho muito com crianças, que tem o Transtorno de Déficit de Atenção, eu acompanhei a vida dessas crianças desde muito pequenas. Com certeza, algumas são hiperativas, outros têm déficit de atenção, mas o espor-
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te vai ajudar muito essas crianças, na aprendizagem, no comportamento, é um exemplo para os pais poderem acompanhar as crianças. As crianças não podem caminhar sozinhas até uma certa idade, então eu parabenizo a todos os pais que estão presentes acompanhando seus filhos, porque isso é muito importante. Outra coisa importante também: quando a escola convoca os pais para conversar com a família, vocês atendam a escola imediatamente, porque alguma coisa não vai bem com o filho, então, antes de ele buscar auxílio com os amigos, a gente tem que socorrer. Esse é o trabalho que eu faço, eu tenho um grupo de pais que tem filhos com Transtorno de Déficit de Atenção e hiperatividade. No começo, eu também não conhecia esse termo "transtorno", realmente são tratados como transtornos, na época de desenvolvimento, entre outros problemas. Por isso, eu tive um aluno na minha sala totalmente diferente dos outros. Eu não sabendo, ele sofreu na minha mão e eu sofri na mão dele. A partir do momento em que eu fui buscar conhecimento desse problema, o que ele tinha, a minha cabeça mudou e a minha vida profissional também mudou bastante. Eu, enquanto professora, não obtive sucesso dado que nas dificuldades do dia a dia eu fui várias vezes pedir para a diretora que me ajudasse no tratamento dessas crianças, através de psicólogos, mas não obtive sucesso. Aí o que eu fiz? Entrei na política. Após ser eleita como vereadora, a primeira vereadora mulher e japonesa nissei na história do poder legislativo, fui eu, mas graças a Deus deu certo. A partir do momento que eu tomei posse, eu levei um projeto ao diretor da Faculdade, e ele viu realmente a grandeza desse projeto. A partir daí, nós fizemos uma parceria com o Instituto Social de Araçatuba onde eu levei, por 10 anos, pais, professores, psicólogos, fonoaudiólogos para se reunirem, onde nós fizemos 3000 horas de estudo. Hoje, ninguém mais precisa falar que não sabe nada, todos estão sabendo como é e sabem lidar com essa situação. Então esse é minha experiência em educação. Enquanto tiver saúde mental e física, eu pretendo trabalhar em prol dessas crianças. Trabalhar com criança normal é fácil, você ensina o bê-á-bá e ele aprende rapidinho. Crianças com transtornos demoram, tanto na parte de comportamento, quanto no cognitivo, então eles precisam de mais atenção. Por isso que eu estou aqui falando de educação. 344
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Outro ikigai que tive, também como vereadora, foi uma grande experiência política. A minha comunidade em Adamantina fez uma pesquisa entre os associados e chegou à conclusão que meu nome foi cogitado e não tinha rejeição para ocupar o poder legislativo. Eles insistiram muito para que eu me candidatasse, eu fui muito resistente, porque eu nunca fui política, mas no fim, pensando nas crianças, eu me arrisquei como candidata a vereadora, ganhei nessa eleição. Com essa eleição que eu ganhei, eu trouxe muitos benefícios ao município, para Adamantina, e principalmente para a comunidade japonesa. Fiz um projeto para concorrer a uma verba oferecida pelo Consultado Geral do Japão. O Consulado de São Paulo atende quatro estados: São Paulo e região sudeste. Então eu fiz o projeto e só duas cidades foram contempladas. Era como se fosse procurar uma agulha no palheiro. E toda vez que eu levava o projeto, ouvia "Isso aqui não está certo, tem que corrigir", eu trazia nas mãos e corrigia. Por isso, depois de dois anos de trabalho, nós conseguimos ganhar essa verba de 75 mil dólares, transformados em real, R$ 216 mil. O projeto era para a construção de dormitórios para o Lar dos Idosos de Adamantina, e com a obra a entidade pôde atender 60 idosos. O asilo, durante 10 anos, teve a contabilidade correta. Com o número correto não tem o que falar. O dinheiro foi muito bem aplicado. Outro ikigai que eu tenho: eu sou a primeira presidente mulher a ocupar lugares que sempre foram ocupados por homens, e por isso eu recebo atenção ao nosso clube. Havia uma galeria de fotos de 25 presidentes, mas em nenhuma ocasião se fazia uma reverência de gratidão e isso me incomodava muito. A partir do momento em que fui eleita presidente, a primeira coisa que eu fiz foi homenagear e agradecer aqueles 25 presidentes que nós tivemos e temos ainda. Dezoito são falecidos e sete estão com a gente. E o que nós fizemos? Uma grande festa e uma revista comemorativa dos 67 anos da ACREA (Associação Cultural Recreativa e Esportiva de Adamantina) e 36 anos do departamento de atletismo. Eu sei que no passado Bastos tinha um time muito forte de atletismo, era bastante competitivo. Infelizmente Bastos não conseguiu manter o atletismo, só que Adamantina está no auge, o nosso forte no esporte é o atletismo, foi campeã 26 vezes na tradicional competição Genzo Hara, que acontece no Ibirapuera em São Paulo. São 36 anos que o casal Takeshi e Toshie Matsuda trabalha voluntariamente para o nosso esporte que é o atletismo. O que nós fizemos? Uma homenagem ao casal Matsuda. Cada atleta deu R$ 100,00, 345
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juntamos R$ 10.000,00. Hoje são 100 crianças, mas começamos com 8 ou 9 crianças. Cem ex-atletas colaboraram com R$ 100,00 juntando R$ 10.000,00. Uma atitude pode mudar a história de várias gerações. Uma homenagem ao casal Matsuda, que atuou de 1981 a 2017. Nós também fizemos homenagem colocando o nome do casal no Recinto de Esportes. Hoje, nós alugamos o campo para nossa faculdade, ela paga aluguel e com esse aluguel administramos o nosso clube. Eles participaram dessa homenagem, momento por momento, ambos ficaram muito felizes. Outro evento que nós conseguimos também, através dessa gratidão, foi o reconhecimento aos nossos ex-presidentes, foi conseguirmos um jovem voluntário da JICA, que chegou em 25 de julho deste ano e deverá ficar até 2020. Ele estará conosco representando o governo japonês. Adamantina é a primeira cidade da região, que recebe um voluntário japonês. Outra conquista, que nós tivemos recentemente foi um jovem agrônomo, formado pela Unifai, que vai participar do projeto da CKC - Chuo Kaihatsu Corporation. Ele vai fazer um estágio pago pelo governo japonês e ficará por três semanas estudando o preparo e balanceamento da ração animal. Então essas são as muitas conquistas que nós estamos conseguindo. Outra também que tivemos sucesso foi o casal Matsuda, que foram homenageados com o Prêmio Paulista do Esporte, em abril deste ano, em São Paulo. Além disso, tivemos a indicação de uma pessoa de 99 anos, que foi homenageada em São Paulo pela sua longevidade. Então aí vocês como a atitude de gratidão, de uma reverência de muito obrigado, pode dar um justo reconhecimento a aqueles que lutaram e lutam voluntariamente. Tenho a certeza que esses antepassados nossos estão olhando para o nosso clube. Porque esse clube não tinha nenhum associado cadastrado. Todo o terreno que nós temos foi deles e nós temos 2600 metros quadrados de sede social, e 52 mil metros quadrados do campo de beisebol oficial e o campo de atletismo também oficial. Tudo isso é uma herança que nossos antepassados deixaram para nós e nós temos que preservar. E hoje eu fiquei muito contente de ver mais um jovem adamantinense participando do Bunkyo Rural. Então agora, eu e meu vice vamos preparar esses jovens para nos suceder no nosso cargo. Um desses rapazes é neto do primeiro presidente da Acrea. Eles são o legado que nossos antepassados deixaram para nós.
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Vocês também, continuem trabalhando com seus filhos, acompanhem eles enquanto vocês podem, porque daqui a pouco eles crescem e não vão querer mais a companhia dos pais. Parabéns para vocês todos. Sei que são várias modalidades esportivas. Parabéns a todos, participantes do judô, beisebol, kendô. Muito obrigada a todos, uma boa tarde, e o Bunkyo Rural está sendo um grande sucesso. O ano que vem será em Adamantina e conto com a presença de todos. Muito obrigada, boa tarde a todos!
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WORKSHOP DE ATIVIDADES ESPORTIVAS Embora não tenha nada a ver com técnicas agrícolas, esse tema foi incluído no 9° Bunkyo Rural para transmitir garra, dedicação e superação da arte marcial para os agricultores, com exemplos de atletas bem sucedidos em várias modalidades. Afinal, se esforçar, buscar meios para superar dificuldades e atingir os objetivos são caminhos de todos os empreendedores, inclusive dos produtores rurais.
Apresentação: Izumi Honda coordenadora do Projeto de Intercâmbio e Cooperação dos Agricultores Nikkeis da América do Sul da CKC Izumi: Vamos prosseguir com o programa, chamando o professor Uichiro Umakakeba. O professor nasceu em Ichigi-Mura, Japão, em 1946. Vindo morar no Brasil com 10 anos de idade. Aluno do professor Tosuke Sugui a partir dos 12 anos e ficou fora das competições oficiais de judô até 1968, quando recebeu o certificado de naturalização. Foi recusado, pela idade, pelo professor Chiaki Ishii (bronze olímpico de Munique). Após muita insistência, foi aceito para morar na Academia da Lapa e treinar sob a orientação do professor Ishii. No início de 1970, teve que voltar para Bastos por causa da enfermidade do seu pai. Em julho de 1972, casou-se com a Linda Naomi Fukumori Umakakeba, e em setembro tornou-se professor de judô de Bastos. Sucedendo o seu professor Tosuke Sugui. Como atleta, foi campeão paulista em 1963 e em 1968. Foi campeão brasileiro em 1972 e 1974. Foi também campeão brasileiro ibero-americano e depois campeão brasileiro na categoria supermaster por quatro anos consecutivos. Recebeu o 19º Troféu de Esporte Paulista, oferecido pelo Jornal Paulista. Hoje, com 61 anos, 7º grau, continua demonstrando a sua paixão pelo judô, comendo e dormindo junto com os estagiários do Projeto de Bastos. Com a palavra, professor Umakakeba, onegai shimasu. 349
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Umakakeba: Nós vamos fazer esse trabalho de palestras e recepção de técnicas, com o professor Max colaborando e como palestrante. Eu também como palestrante. Hoje vou fazer uma apresentação de técnicas, de golpes de judô, defesa pessoal e ginástica, tudo incluído nesse ju no kata que será demonstrado. Depois, mais tarde, a Eloani, aluna vinda do projeto social, hoje com 22 anos, e também com a colaboração do Projeto da JICA do governo japonês que enviou um jovem para fazer trabalho voluntário aqui por 2 anos. Para falar do judô e também sabendo que o título do Encontro Bunkyo Rural desse ano é Mottainai. Mottainai significa "que pena", não podemos desperdiçar a cultura japonesa trazida através do judô, que foi muito importante para o desenvolvimento da economia do estado de São Paulo, da região sudeste, por causa do povo japonês, penso eu. Nós, apaixonados pela prática do judô, da competição, sem saber, estávamos fazendo o trabalho de semear, levar a cultura japonesa entre os moradores brasileiros. Felizmente, a cultura foi aceita e todos os brasileiros concordam em dizer que a cultura japonesa é muito boa, não canso de agradecer aos meus pais, a sorte que eu tive de ter nascido no Japão e ter estudado até o quarto ano primário quatro anos no Japão, para receber orientação japonesa. Vindo a Bastos, conheci o judô. O meu professor trabalhava como voluntário judô é esporte que leva educação, não visa lucro, não tem ganho, apenas visa a educação. Trabalhou por 10 anos como voluntário em Bastos, depois se mudou para Presidente Prudente. O professor Tosuke Sugui, depois de 30 anos passou para mim, e hoje eu continuo fazendo o que eu dizia no começo: judô é esporte, e a disciplina, que eu aprendia dos meus pais, o que eu também aprendi na escola do Japão foram úteis e deu certo. A cidade aceitou, tanto que em 1990, ajudou a levantar essa gigante, a academia, para que pudéssemos atender a procura de muitos atletas vindos de todas as cidades do Brasil, aprendendo judô, judô conexão e judô educação. Recentemente estive no Japão para estudar como levar o judô para as escolas, e estou muito entusiasmado por estar trabalhando com crianças de 4 a 5 anos. 350
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A Escola Municipal de Bastos percebeu que, futuramente, as crianças saberão fazer um cumprimento respeitoso, uma criança já deve aprender a perdoar, respeitar o papai, a mamãe e o próximo. Precisamos começar com quem? O resultado vai surgir, mas alguém tem que começar. E Bastos está sendo um exemplo, a primeira semente plantada, trabalhar com crianças de 4 e 5 anos, sabendo o cumprimento em japonês, "Ohayou gozaimasu", "Arigatou gozaimasu", "Onegai shimasu", palavras em japonês. No caso do Japão, o judô é praticado nas escolas, assim como as artes marciais, kendo, sumô, tudo junto, fazendo parte do currículo escolar. Depois da Segunda Guerra, as artes marciais no Japão como disciplinas obrigatórias terminaram. O que aconteceu? A juventude foi se perdendo. Dez anos atrás, houve um esforço de educadores, que tentou e conseguiu colocar novamente o judô nas escolas lá no Japão. Sabe que o esporte leva à educação, e a comunidade fica toda feliz. O Japão agradece ao governo brasileiro por ter aceito o povo japonês como imigrante há 110 anos. São 110 anos de imigração japonesa no Brasil. Então o governo japonês vai ajudar a colocar o judô nas escolas públicas brasileiras, e tenho certeza que vai ser muito importante e todo mundo sabe que essa oferta do governo japonês para ajudar na educação dos estudantes pequenos do Brasil é muito boa, vai ser a nível nacional, estamos apenas na torcida muito grande para que isso realmente se concretize. Eu fiz a parte do primeiro grupo a ser chamado para estudar judô nas escolas do Japão. Esse mês foi o segundo grupo e o terceiro grupo vai viajar em seguida, para realmente termos professores capacitados para trabalhar com crianças, ensinando judô nas escolas. O que chamamos de ju no kata, é uma mistura de defesa pessoal, ginástica, alongamento. Então, o professor vai coordenar a apresentação. É um momento de muita concentração, muita disciplina, desde o cumprimento, se aprende a fazer o cumprimento corretamente. O jeito de caminhar, preparar, tudo é um ritual, organizado. Um vai fazer ataque com uma arma no rosto, ele sai, tira a mão e faz esse movimento. É um alongamento que eles estão fazendo, alongamento. É uma apresentação de judô que dá para praticar o judô sem ter roupa de competição, roupa de luta, com roupa comum podemos fazer esse treinamento, e com a arma ele vai meter a mão no rosto, ele 351
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toma chave de punho e rende batendo os pés. Pega na mão, tira e aplica um golpe, continuando, ele finaliza derrubando o parceiro no chão. Agora é o próximo golpe, é outra defesa. Vai outra vez com arma. Ele pega o punho, vai no rosto e toma outra chave de punho, e ele rende. É uma pequena apresentação chamada ju no kata, pelos alunos da Associação de Judô de Bastos comandada pelo professor Genta Taketani. São meninos de 9 e 10 anos. Agora, o professor Genta vai fazer a apresentação de nage no kata. É uma coletânea de todos os golpes do judô para fazer apresentação. Os dois depois de muito treino podem fazer demonstração de golpes. O cumprimento é muito importante, cumprimentar as autoridades, o parceiro. O executante chama-se Eloani, aquele que aplica o golpe; aquele que recebe, receptor, é o professor Genta Taketani, voluntário da JICA, por 2 anos em Bastos. Os dois tem que estar muito bem treinados, mas acho eu que a demonstração fica melhor quando o receptor recebe bem e o professor Genta Taketani está acostumado a trabalhar com atletas de alto nível do Japão. Sorte de Bastos. Primeiro professor voluntário dentro do Brasil foi para cidade de Bastos, porque eles tiveram, a explicação, o Bunka de Bastos é realmente confiável, não adianta academia com essa estrutura querer, porque se o Bunka não dá retaguarda, não aceita-
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riam Taketani sensei para Bastos. Técnica de quadril. São golpes usados nos campeonatos. Aí do lado esquerdo. e agora o lado esquerdo. Eu sugeri que os dois participassem do Campeonato Paulista de apresentação de Nage no Kata, serão muito bem avaliados. Okuriashi harai, técnica de pernas. Toda essa sequência, esses golpes, foram selecionados pelo pai do judô, criador do judô, professor Jigoro Kano há 150 anos e, até hoje, praticados e admirados. Estão terminando as técnicas de pernas. Agora, vem as técnicas de sacrifício chamadas sutemi waza, me sacrificando muito para projetar o meu parceiro. Caso o golpe não funcione, eu sou imobilizado. Parece que não deu certo. Não deu certo, mas ele finalizou muito bem. Muito bom. Izumi: Muito obrigada professor Umakakeba, e o voluntário da JICA. Obrigada pela apresentação, alunos do judô. Parabéns, estavam muito bonitos. Em seguida, vamos apresentar o judoca Max Trombini. Milton César Maximiano Trombini nasceu em Ubatuba, onde iniciou os treinos de judô e jiu-jitsu na infância e adolescência. Hoje, Max Trombini é 3º Dan de judô, 4º Dan de jiujitsu, diretor executivo do Centro de Excelência da Associação de Judô de Bastos - onde treinou por um longo período -, ministra aulas de jiu-jitsu na Companhia Athletica, desde 1994, e judô no Colégio Magno, desde 1997, ambas instituições localizadas na capital paulista, onde reside atualmente. É um dos maiores treinadores de judô no Brasil e, em 2007, ele foi técnico brasileiro no Mundial de Judô na técnica de ne-waza. Com a palavra, Max Trombini. Muito obrigada pela sua presença.
Max Trombini: Boa tarde a todos. Obrigado, meninos do judô que vieram prestigiar a palestra. Obrigado a autoridades da mesa. O tema que vou falar é sobre Mottainai. Eu pensei qual seria a analogia que eu faria em relação a Mottainai, tema do Encontro do Bunkyo Rural 2018, aqui na cidade de Bastos. Como foi dita na minha apresentação, eu conheci o judô bem cedo na cidade de Ubatuba. Nasci em 23 maio de 1968. Meu pai era um imigrante italiano, 353
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dono de um parque itinerante de diversões, o parque viajava por todos os lugares. A minha mãe era de Ubatuba e o parque foi embora, e minha criação ficou por conta da minha mãe e dos meus avós maternos. Meu pai foi embora com o parque. Eu fui criado pelo meu avô, Maximiano. Daí é que vem o Max, tenho o sobrenome em homenagem ao meu avô e a herança deixada por ele foi esse sobrenome, e por conta Maximiano, e comecei a ser chamado de Max. Eu me lembro que quando era criança, a vida era muito dura, porque minha mãe era empregada doméstica e meu avô era um jardineiro. Mas o que eu me recordo da minha infância e da minha vida são apenas momentos bonitos. Eu entendo hoje - não entendia naquela época - que a simplicidade, e muitas vezes chamada pobreza, não é tão dura como a gente imagina. Na verdade, a gente tem que pensar que o fato não importa, a percepção ao fato. Uma noite, eu estava deitado com meu avô; era uma noite de Lua bonita e eu deitado com meu avô. A gente morava num barraco de madeira na periferia de Ubatuba, a casa era de telha, e eu olhei para cima e vi o buraco na telha. Eu então disse ao meu avô "Se chover a gente vai se molhar todo", e ele me
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perguntou "Por que você está dizendo isso?", e eu "Porque tem um furo no telhado... A gente podia ter uma casa mais bonita... A gente é pobre...", mas, por que eu consegui ver a lua? Porque passava um raio de Lua pelo buraco. Então meu avô me disse "Em qual castelo, qual mansão, você consegue ver a Lua da cama?", na verdade, aquele era um momento mágico. Eu daria tudo para voltar naquele momento, ali abraçado ao meu avô em que ele transformou um momento num barraco de madeira em um momento mágico para mim. Então, eu acredito que isso também é Mottainai. Mottainai na vida, não é somente desperdício material, é o desperdício da amizade, do amor, é ver a vida de uma forma totalmente negativa. Nisso você está desperdiçando o seu tempo. Hoje, a gente se pergunta, eu tenho 50 anos, quanto tempo eu vou viver? Talvez eu tenha menos tempo de vida do que eu vivi até hoje. Eu quero morrer com 110, mas talvez não... Então eu tenho que usar cada segundo, cada minuto da minha vida, para praticar o bem. Eu acho que isso é uma forma de Mottainai. Eu aproveitar cada momento da minha vida, não desperdiçar os momentos. Quando a gente começa a ver a vida dessa forma, a gente passa a respeitar mais aqueles que estão a nossa volta. Respeitar muito mais os nossos empregadores, os nossos mestres, nossos pais, amigos, irmãos. Eu acho que isso é a forma mais pura do Mottainai, porque o Mottainai tem que funcionar de dentro para fora, não é simplesmente a gente ver o desperdício de fora para dentro, esse desperdício tem que estar muito cristalizado dentro do seu coração. Com 11 anos, meu avô veio a falecer. Para minha mãe foi uma época muito dura, porque ela tinha que trabalhar e meu avô cuidava da minha educação. Só ficou a minha avó. E eu comecei a ter muita revolta dentro de mim. O mundo desabou, porque eu queria saber porque meu pai tinha me abandonado. Foi então que eu conheci o judô. Me colocaram no judô porque no colégio eu tinha muitas brigas, e esse local, para mim é o local, a palavra "sagrado" é forte, mas eu sinto uma energia muito fortalecedora no judô. Porque o judô foi a base para minha vida, só que eu também tive o sonho de ser campeão, então o panfleto que chegou para mim em Ubatuba (agradeço ao meu professor Rodrigo). Eu não tinha dinheiro para pagar mensalidade, eu fazia faxina, ouvi falar então da cidade de Bastos. Quando eu cheguei em Bastos, eu tinha muita pujança, muita disposição, estava mais velho, talvez eu tivesse mais condições de chegar numa competi355
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ção, ser um grande campeão, mas eu vim a Bastos buscando a parte técnica, buscando ser campeão. Eu vim a Bastos para tentar chegar numa seleção, mas eu encontrei em Bastos uma família, e, mais que uma família, eu encontrei uma pessoa que serve de referência para mim como pai. Como eu fui criado sem o meu pai, com a morte do meu avô, eu materializei isso, e percebo cada dia que tem dado muito certo a todos os atletas que estão aqui, chegaram numa idade boa e não importa se chegarão à seleção, mas vocês vão ver que o judô é muito maior que isso. O judô traz consigo essa cultura do judô, do atlético, e isso aplicado no dia a dia, vocês com certeza terão resultados maiores, porque realmente faz toda diferença para uma sociedade, porque a sociedade de hoje está pedindo esse código ético. Dizem que a gente não pode viver sem a família. Eu casei com uma descendente de japoneses, sobrinha do Reimei Yoshioka (membro da comissão organizadora do Bunkyo Rural), que eu cumprimento com todo respeito, é o padrinho da minha esposa. Por coincidência, ele está aqui hoje, foram muitos Natais passandos com o Sr. Reimei, respeito total ao Sr. Reimei. Eu não tenho sangue japonês, mas, mesmo assim eu sei, eu estou dizendo isso com sangue japonês, de uma certa forma eu estou hoje aproveitando para conhecer a cultura desse país que transformou a minha vida através do judô, com o Sensei Umakakeba, que eu considero um pai. Deus tem sido muito bom comigo, porque hoje meu filho, com 12 anos, já mora aqui na casa há três anos com o sensei Umakakeba, e vai para São Paulo lutar judô em competição. E, na próxima sexta-feira, eu vou realizar um sonho: vou ao Japão com meu filho passar um mês na Universidade Tsukuba, muito conhecida no Japão. Então, eu não posso fazer Mottainai, eu não posso desperdiçar meu tempo. Não posso desperdiçar minhas amizades. E procuro entregar meu máximo ao Projeto Bastos, e as crianças sabem que são filhos de pessoas que trabalham muito e estão numa comunidade carente e um dia integrarão uma seleção brasileira, um dia chegarão numa faculdade. Então, hoje eu sou coordenador e estou aqui pregando o que eu acho que é nosso tesouro na vida, que é o nosso tempo, dedicação, porque a única coisa que se compartilha é esse tempo e o conhecimento, pois através da educação 356
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a gente pode transformar esse país. Muito obrigado cultura japonesa, povo japonês. Muito obrigado, pais, famílias, amigos. Domo arigatou gozaimasu. Izumi: Obrigada Max Trombini por essa emocionante palestra. Tudo o que ele falou é um conceito do judô: a arte marcial. Chamamos agora o Sr. Reimei Yoshioka para falar um pouco do beisebol. Reimei Yoshioka é um ex-presidente do Bunkyo, filho de imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil em 1928. Nasceu em Mirandópolis, é formado em Saúde Pública, Serviço Social e Letras e Ciências. Tem mestrado e doutorado em Geografia Humana. É membro efetivo do Bunkyo Rural, foi professor-visitante da Universidade de Tenri, da Província de Nara, Japão, no Departamento de Estudos Brasileiros de 1997 a 2001. Nesses quatro anos, estudou a problemática dos trabalhadores brasileiros no Japão, sobretudo com relação à educação. O tema resultou em sua tese de doutorado intitulada "Por que migramos do e para o Japão?", e no livro "Dekasseguis com os pés no chão", em coautoria com Silvio Sam. Nas atividades associativas e esportivas, o professor Reimei Yoshioka foi atleta, dirigente e árbitro de beisebol; presidente da Federação Paulista de Beisebol e Softbol; vice-presidente do Bunkyo e coordenador do Núcleo de Informação e Apoio a Trabalhadores Retornados do Exterior (Niatre) - projeto conveniado com o Ministério do Trabalho e Emprego. Em 2011 foi agraciado pelo governo japonês, por meio do Ministério de Relações Exteriores, com o diploma de "Gaimu Daijin Hyosho Jo". Com a palavra então, Sensei Yoshioka. Onegai shimasu. Yoshioka: Vocês não querem chegar aqui perto para poderem ver a imagem mais perto? Assim a gente conversa. Quem quiser sentar no dojo (área de prática de artes marciais), acho que pode também. Bom, muito obrigado pelo convite que me foi formulado para eu falar alguma coisa. Mottainai aplicado ao esporte. Como foi dito, eu fui presidente da Federação Paulista de Beisebol de 1991 a 1996. E, antes, eu gostaria de homenagear a cidade de Bastos, porque o segundo presidente da
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associação veio aqui de Bastos, o Dr. Isao Nishi, ele ficou quase 20 anos como presidente da Federação Paulista de Beisebol. E aqui de Bastos, o irmão dele, Tohoru Nishi, foi um excelente árbitro e também prefeito da cidade. Então, eu gostaria de fazer essa homenagem à cidade de Bastos. Eu queria falar algumas coisas sobre o beisebol e todo mundo tem uma imagem de que beisebol é um esporte caro, rápido e difícil, esporte de japonês, como se diz aqui no Brasil, mas não é nada disso. Eu gostaria então de desmistificar um pouco isso e mostrar. Quem aqui já viu um jogo de beisebol? Acho que quase todo mundo, né? Bastos tem um excelente time de beisebol e eu gostaria de dizer que beisebol pode ser praticado por qualquer um de nós. Eu já fui técnico, mas também já joguei bastante beisebol, e, como era muito ruim como atleta, acabei virando técnico, dirigente, árbitro, participante de associação e diretor de beisebol lá no Japão. Então, eu acho que quem quer, consegue fazer tudo isso, depende da vontade de cada um. Para mostrar que o beisebol é um esporte bastante interessante e inteligente, que ajuda na nossa educação com as crianças, eu queria dizer algumas coisas que muita gente desconhece ou não fala. O beisebol é um esporte que você pratica em time, é um esporte coletivo de 9 atletas, que inclusive tem um técnico, um árbitro e tudo mais. E é dividido em dois lados, o time atacante e o time de defesa. É um esporte que não dá para ter briga, porque a torcida de cá e de lá fica separada. Então, não dá oportunidade para brigar. Mesmo porque beisebol é um esporte de solidariedade, de formação de cidadania e tem atletas desde a faixa dos pequeninos. O atleta tem que ser esperto, entender o que vai fazer, entender o que o técnico está pedindo, o tempo que ele usa e agir de acordo com a situação. Por isso, essas orientações que ele recebe durante o treinamento de beisebol podem ser aplicadas na escola: o professor está falando e o aluno prestando atenção; no beisebol é a mesma coisa, os atletas ficam atentos ouvindo o que cada jogador tem que fazer. Nós dizemos que beisebol é um esporte de solidariedade, porque quando o rebatedor bate na bola aqui mais perto, o defensor vai e atravessa a bola, mas o outro defensor tem que vir, se o atleta escapar, ele já tem que pegar a bola
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para jogar. Então é um esforço de todo mundo para ter sucesso e, esse atleta que jogou a bola, tem que jogar para "matar" o corredor na terceira base, então ele se posiciona e faz a ponte para que a bola chegue o mais rápido possível. Então por isso é um esporte de solidariedade. Por exemplo, enquanto o rebatedor está concentrado, o arremessador vai jogar a bola e rebater, ele só está concentrado naquilo lá, só está prestando atenção. Então, uma vez eu perguntei para mãe de um atleta que nós temos lá "Como é que seu filho está na escola?", aí ela falou "Sensei, depois que meu filho começou a jogar beisebol, ele está indo muito bem na escola, ele está prestando bastante atenção no que o professor fala e tirando notas melhores", aí eu fiquei mais sossegado, porque todo mundo fala assim "Ah, ele joga beisebol, está cabulando aula, não está prestando muita atenção", mas não é, é o contrário. Ele está totalmente concentrado em rebater a bola. Aqui é a mesma coisa, ele está para rebater, os outros jogadores ficam todos prestando atenção, para saber o que é para fazer se ele rebater a bola e for para ele, então, estão concentrados sabendo o que fazer. Quando o jogador é um profissional. O jogador dá de tudo: ele vai para bola, dá o mergulho - o peixinho - para pegar a bola, então ele fica esperto, ágil, para poder pegar essas bolas. E outra coisa, o beisebol é um esporte que joga limpo. Esse corredor vai fazer o cone, então ele, para evitar de dar trombada com a defesa, mergulha e evita o toque na bola e trombar com a defesa. Aqui, por exemplo, é um jogo que não é um vingando o outro, falando mal do adversário, antes de começar o jogo, eles, em fila, cumprimentam o adversário e fazem toda a cerimônia de começo de jogo. No judô também é a mesma coisa, cumprimentar o adversário, faz todo o sinal de respeito para com o adversário, e tem os árbitros que ficam observando as atitudes dos atletas. É um esporte de respeito. Em todos os campeonatos brasileiros, inclusive no infantil, cantamos o hino nacional, tira-se o chapéu, há uma atitude de respeito com a bandeira brasileira. No Japão, nos campeonatos colegiais e universitários, eles agem da mesma forma. O respeito é tudo. O verdadeiro atleta não vai dar trombada na defesa adversária, ele pula para não trombar com esse atleta que está marcando o ponto.
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E o beisebol é cortesia e amizade entre os atletas, porque hoje pode ser adversário, mas essa amizade fica para o resto da vida. Eu estou com 82 anos, mas encontro muitos atletas que jogavam comigo e tenho amizade até hoje. Então, são situações que interessam para toda sociedade. Essa amizade desinteressada, muitas vezes segue até além do profissional. Então, esse também é o espírito do beisebol. Agora, como falam que o beisebol é um esporte caro, eu queria mostrar algumas coisas... O pessoal da República Dominicana, eles jogam beisebol na rua. Isso vocês podem praticar, isso de prática de beisebol pode começar na rua. Em Araçatuba, eu jogava beisebol na rua, descalço. Por isso, eu queria mostrar como vocês podem fazer isso. Eu vou apresentar algumas coisas e, se vocês tiverem vontade de tirar os calçados e subir no tatame, podem vir. (Há uma apresentação dos acessórios de beisebol) Izumi: Pessoal, quem quiser ficar junto da oficina de artes marciais, podem permanecer no tatame. A próxima oficina, também é uma arte marcial chamada Kendô. Vamos chamar o Sr. Haruo Otaka (foto), memória de Bastos. Ele veio da província de Kochi aos 19 anos para o Brasil, e mora em Bastos há mais de 64 anos. Hoje, ele está com 82 anos e, em sua vida toda desenvolveu a sericicultura, junto a BRATAC também desenvolveu máquinas, hoje, aposentado, continua firme, forte e saudável porque ele tem ikigai, como se motivar, como se sentir satisfeito todos os dias e como levar a vida com qualidade. Então, ele, juntamente comigo, eu sou Izumi Honda, sou natural de Santa Catarina, estou há 6 anos em São Paulo e faço parte da Federação Brasileira de Kendô. Por três vezes representei o Brasil no mundial de Kyoto no Japão, em 1997, no Taiwan e em 2009 no Brasil, quando o Brasil conquistou o 3º lugar no mundo, tanto no masculino quanto no feminino. Tenho 48 anos, e hoje eu trabalho na área da agricultura, sou engenheira agrônoma, e vou mostrar um pouco para vocês o que é o kendô. Kendô é uma arte marcial milenar que veio dos samurais. O Japão, durante a guerra, tinha seus soldados samurais, que lutavam com espada. Hoje, o uso da espada virou o esporte, utilizamos o "mokutou" feito de madeira maciça e 360
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o "shinai" é feito de bambu (vamos mostrar para vocês mais tarde). O kendô trabalha disciplina, caráter a formação do ser humano, o respeito, a educação, o amor ao próximo. A gente começa no cumprimento "rei" (curvar em reverência) e termina com "rei", que é o respeito ao próximo. Esses valores, a gente, desde criança, recebeu dos nossos senseis e aplicamos no nosso dia a dia até hoje. Esse é meu ikigai, a minha motivação está no meu caráter, de como levar a vida reta nesse mundo cheio de espertezas e corrupções. E a gente quer passar isso para vocês hoje, crianças, jovens e adolescentes, que estão presentes aqui, e fazer uma bela demonstração do que é o kendô. Se vocês tiverem interesse, procurem sites, são várias associações pelo Brasil a fora, e o Sensei Haruo Otaka daqui de Bastos poderá demonstrar, quem sabe Bastos tenha futuros atletas do kendô também. Kendo significa o caminho da espada. Então, eu vou apresentar - falar fica meio difícil - trarei meus equipamentos aqui e quem quiser vir, pode vir, ver mais perto, pois não vou falar mais no microfone, utilizarei somente a voz. Edgar Maruyama: Só aproveitando a oportunidade enquanto se preparam. Os golpes apresentados aqui, os esportes aqui praticados em Bastos, algumas coisas foram esquecidas. E já foi praticado no passado 361
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em Bastos o kendô e o sumô, outro esporte muito praticado no Japão. Eu tenho um pouco de lembranças desse "shinai", talvez Max também, não sei se você chegou a ter o sabor de sentir na pele o "shinai". Sou da época que era bambu mesmo. (Apresentação de kendô) Depois das apresentações esportivas, houve um show de taikô, tambores japoneses.
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As cavalgadas surgiram durante a ocupação de territórios, entre os séculos 17 e 18 no Brasil. Os tropeiros conduziam bois ou cavalos de uma fazenda para outra, montados em cavalos ou burros. Na época, era um trabalho duro, com risco de doenças, picada de cobras e insetos durante o percurso. Hoje é uma atividade de conservação histórica e cultural, mas há também aquelas com motivação religiosa ou esportiva, como fora no passado. A primeira Cavalgada do Imigrante ocorreu em novembro de 2016, promovida pela Secretaria Municipal de Cultura de Tupã, fazendo o percurso do Distrito de Varpa até a cidade de Bastos, num espaço de 33 quilômetros. A chegada da cavalgada foi na propriedade do empresário Sérgio Kenji Kakimoto, onde foi servido um almoço aos participantes. Este ano, a Cavalgada do Imigrante foi realizada no último dia do 9º Bunkyo Rural, e foi também um evento comemorativo do 90º aniversário da cidade de Bastos e do 110 aniversário da imigração japonesa no Brasil. 363
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Bastos tem forte ligação com o Japão. A cidade, de 20.588 habitantes, foi fundada por japoneses. Foi por meio da Companhia Colonizadora do Brasil, em japonês "Brasil Takushoku Kumiai" (Bratac) que surgiu a cidade de Bastos, cujas terras haviam sido adquiridas pela Confederação das Cooperativas de Emigrantes em 18 de junho de 1928. A Bratac já havia feito o mesmo com o Núcleo Tietê, mais tarde conhecido como Pereira Barreto. O escritório da Bratac em Bastos era gerenciado por Senjiro Hatanaka, que recebeu os primeiros imigrantes japoneses no local. No final de 1930, o número de famílias de imigrantes já chegava a 121, contabilizando um total de 653 pessoas. Nessa época havia ambulatório médico, escola primária (com ensino em japonês) e casa de beneficiamento de arroz. No início se plantava café, mas a crise de 1929, mais as geadas nos anos seguintes prejudicaram os negócios, e os agricultores tiveram que buscar alternativas. Primeiro foi o algodão e depois começaram a investir na criação do bicho-da-seda, com a fundação da empresa Fiação de Seda Bratac. Curiosamente, a história da cidade de Bastos sempre esteve ligada à cultura japonesa. Além de ter sido fundada por uma empresa japonesa, a introdução da sericicultura reforça essa ligação com o Japão. Desenvolvido por volta de 4 mil anos antes de Cristo, na China, a técnica do bicho-da-seda foi introduzida no Japão por volta do ano de 300 a.C, no início do período conhecido como Yayoi, quando chineses migraram para o arquipélago japonês levando também a cultura do arroz e uma organização social coletiva. Com a revolução industrial, o Japão se tornou um grande produtor de seda. Há cem anos, o Japão produzia 60% de toda a seda do mundo, e uma boa parte chegava à Europa partindo do porto de Yokohama. Bastos entrou nesse cenário internacional por causa da Segunda Guerra Mundial. Com o
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bloqueio das importações de seda da Itália e do Japão, grandes fornecedores mundiais, o Brasil precisou produzir a própria seda que consumia, além de exportar o excedente. Com o fim do conflito, Japão e Itália voltaram a produzir e exportar, baixando os preços e complicando os produtores nacionais. A situação piora com a chegada do fio sintético de nylon. Mas em 1962, a Bratac consegue o certificado de qualidade internacional, equiparando seu produto aos dos melhores produtores mundiais. Além disso, a Bratac introduziu 30 famílias japonesas especializadas na criação do bicho-da-seda, importou modernos equipamentos e contribuiu para o desenvolvimento dessa cultura em Bastos, e no Brasil. Hoje, os famosos mestres de confecção do quimono do Japão consideram a seda brasileira idêntica à produzida pelos japoneses. Os dados da última Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), do IBGE, mostram que, em 2016, o Brasil produziu 2,8 mil toneladas de casulos de bichoda-seda, ficando em quinto lugar na produção mundial, atrás da China, Índia e Uzbequistão e Tailândia. A avicultura surge para os imigrantes como uma atividade complementar à agricultura, mas passa a ser principal na década de 1950, quando houve um incremento tecnológico no setor. Bastos se tornou grande produtora de ovos e ainda hoje é o carro-chefe do município que ostenta o título de Capital do Ovo.
Foto da revista americana Life de 1939. Sala de aula em Bastos: descendentes de japoneses são a maioria
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BUNKYO, A ENTIDADE REPRESENTATIVA DA COMUNIDADE NIPO-BRASILEIRA A Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, mais conhecida por Bunkyo, desde sua fundação, em 1955, tem protagonizado as realizações mais importantes relacionadas à comunidade nipo-brasileira. Foi concebida com a finalidade de promover o entendimento e confraternização dos nipo-brasileiros e seu aperfeiçoamento cultural, intensificar a divulgação da cultura japonesa, fortalecer o intercâmbio entre o Brasil e o Japão e promover atividades assistenciais. Localizada no bairro da Liberdade, em São Paulo, a entidade congrega cerca de 350 voluntários que organizam aproximadamente 280 eventos ao longo do ano. Sua manutenção ocorre graças aos recursos advindos das anuidades de seus membros, pessoas físicas e jurídicas; locação de suas instalações para outras entidades e empresas e promoção de eventos. As atividades do Bunkyo envolvem desde aquelas de maior envergadura até as "cotidianas", como as sessões de cinema. Elas estão distribuídas em diversas frentes, tais como a promoção de eventos culturais que se tornaram referência da cultura japonesa praticada neste país. Um exemplo é o Festival de Música e Dança Folclórica Japonesa, que reúne os melhores praticantes das artes de palco, tanto professores como alunos, do Brasil. Ou ainda, as comemorações relacionadas às datas marcantes da comunidade como a celebração do aniversário da imigração japonesa no Brasil, no dia 18 de junho. O Bunkyo também se dedica à organização de recepção e/ou homenagem, não somente para personalidades representativas do relacionamento Brasil-Japão, como àquelas de destacada presença em nosso país. Outro item refere-se à coordenação de eventos/campanhas sociais envolvendo as entidades representativas dos nipo-brasileiros, de cunho reivindicatório ou de ajuda humanitária. Combinadas com as atividades cotidianas de difusão da cultura japonesa existem aquelas que extrapolam os limites físicos da entidade e atuam como elementos aglutinadores da comunidade nipobrasileira. Merece destaque, por exemplo, o Festival de Dan-
ças Folclóricas Internacionais que, anualmente, reúne perto de 35 grupos de danças, representando aproximadamente 20 diferentes povos/países. O Festival das Cerejeiras Bunkyos realizado no Centro Esportivo Kokushikan Daigaku, em São Roque, promovido em conjunto com outras entidades nipo-brasileiras, que se constitui numa atração turística de grande envergadura na região. Ao lado disso, temos o Fórum de Integração Bunkyo - FIB que tem sido uma oportunidade para trocas de experiências, transmissão de conhecimentos e fortalecimento da união entre as entidades nipobrasileiras de várias localidades do país. Bem como o Encontro Bunkyo Rural, que tem sido realizado em parceria com diferentes entidades do interior paulista, tendo como finalidade incentivar o empreendedorismo e a capacitação profissional, promovendo um frutífero relacionamento entre as empresas e as entidades. Além da promoção de inúmeros eventos, o Bunkyo também é responsável pela manutenção de três importantes unidades. Uma delas é o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, que está instalado em quatro andares do edifício-sede e é um dos mais importantes centros de preservação da memória dos imigrantes japoneses do país. Outra é o Pavilhão Japonês, localizado no Parque Ibirapuera, que foi construído em 1954 pelo governo japonês e a comunidade nipo-brasileira e doado à cidade de São Paulo, que comemorava o 4º Centenário de fundação. O local é considerado, atualmente, um dos importantes monumentos do intercâmbio entre Brasil-Japão. Há ainda a manutenção do Centro Esportivo Kokushikan Daigaku, localizado em São Roque, de 23 alqueires, sendo que uma área de 194 mil m², aproximadamente, está coberta de mata atlântica. Neste Centro estão plantados mais de 400 pés de cerejeiras. O local, que conta com um pavilhão de exposições, está disponível para eventos internos e de terceiros. Contato: Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social - Bunkyo Rua São Joaquim, 381 - Liberdade - São Paulo - SP CEP 01508-900 - tel.: (11) 3208-1755 www.bunkyo.org.br - e-mail: contato@bunkyo.org.br
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ACENBA - Sร MBOLO DE IDENTIDADE NIKKEI
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CKC foi fundada no ano de 1946 e trabalha como consultora e construtora integral, contribuindo para o melhoramento da infraestrutura especialmente na pesquisa geológica. Somos em 20 filiais no Japão e os trabalhos principais são, entre outros, a pesquisa na geomorfologia do solo, a pesquisa geotécnica e o desenho técnico civil. O departamento de Projetos Internacionais da CKC, atua em parcerias com projetos da JICA onde atualmente já somam mais de 350 projetos em mais de 90 países. Temos também um escritório em São Paulo onde atuamos principalmente no Brasil, mas também atuamos nos países da América do Sul. Alguns dos exemplos de projetos atuais são relacionados à Água "Melhoramento das perdas de água no Estado de São Paulo e também na Quênia, " Reabilitação do Sistema de Abastecimento da Água". Outro projeto está relacionado a Melhoria do Saneamento Básico do Litoral de Santa Catarina e à agricultura "Cultivo de Plantas com BDF no Rio Grande do Norte. Um dos mais recentes projetos na agricultura que atuamos é o projeto subsidiado pelo Ministério da Agricultura Floresta e Pesca do Japão intitulado "Projeto de Intercâmbio e Cooperação para Agricultores Nikkeis da América do Sul" onde atuamos como coordenadores deste projeto (Yoshihiro Omori e Izumi Honda coordenadores na América do Sul e Sra. Nao Iwano coordenadora no Japão) nos quatro países Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai com o Japão.
CKC - CHUO KAIHATSU CORPORATION Japão: 3-13-5, Nishi-waseda, Shinjuku-ku, Tokyo Tel. 81-3-3207-1711 Brasil: Rua Castro Alves, 527 - São Paulo/SP Tel. 55-11-3208-9610 367
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O QUE É BUNKYO RURAL? O Bunkyo Rural é uma das comissões temáticas formadas por associados-voluntários dentro da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social. O objetivo da comissão Bunkyo Rural é promover o intercâmbio de ideias e conhecimentos entre produtores, profissionais, pesquisadores, estudantes e empresários/fornecedores relacionados à área rural, propiciando a integração entre eles. O principal evento organizado por essa comissão é o Encontro Bunkyo Rural. Os Encontros Bunkyo Rural realizados até agora: - 2009 - Pompeia - 2014 - São Paulo - 2018 - Bastos - 2010 - Araçatuba - 2015 - Piracicaba - 2011 - Presidente Prudente - 2016 - Pilar do Sul - 2013 - Mogi das Cruzes - 2017 - São Roque Além do Bunkyo Rural, a entidade mantém outra atividade ligada à comunidade agrícola: a promoção do Prêmio Kiyoshi Yamamoto, que visa homenagear as personalidades que contribuiram para o desenvolvimento da agricultura no Brasil. O prêmio Kiyoshi Yamamoto já está na sua 48ª edição. Objetivo do 9º Encontro Bunkyo Rural O 9º Encontro Bunkyo Rural teve por objetivo aprofundar as discussões sobre as mudanças socioculturais e ambientais que afetam o sistema da produção e abastecimento agrícola no Brasil. Com palestras sobre temas atuais, o encontro levou novas ideias para auxiliar o agricultor e os profissionais de áreas relacionadas. O tema escolhido foi “Mottainai - Uso Racional de Recursos”, um assunto bastante atual, onde as apresentações de soluções pelos especialistas, e as discussões entre autoridades, técnicos, agricultores e produtores, poderão resultar na melhoria da qualidade de vida do próprio agricultor.
Coordenador do 9°Bunkyo Rural Membros: Américo Utumi Fábio Maeda Geni Satiko Sato Guenji Yamazoe Hiroshi Nozawa Issao Ishimura Katsuyoshi Murata Kazoshi Shiraishi Kenji Kiyohara Mauricio S. Tachibana Mitsutoshi Akimoto Miyoko Shakuda
Tomio Katsuragawa Carlos Kendi Fukuhara Celso Norimitsu Mizumoto Nelson Hitoshi Kamitsuji Nobuyoshi Narita Osamu Matsuo Reimei Yoshioka Roberto Yoshihiro Nishio Shinichi Yasunaga Shiro Kondo Shoji Korin Toshio Koketsu Yasuyuki Hirasaki Assessoria de Comunicação: Francisco Noriyuki Sato
Informações: www.bunkyorural.com.br Rua São Joaquim, 381 - Liberdade - São Paulo/SP Tel. 11-3208-1755
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Comissão Bunkyo Rural 2018 Presidente: Vice-presidente: Vice-presidente: