Nutrição em Pauta abril2021 impressa

Page 1

ISSN 1676-2274 A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO

R$30,00 - abril 2021 Ano 29 Número 167 Edição Impressa São Paulo

FOOD SERVICE

ANÁLISE DA TEMPERATURA DE REFEIÇÕES SERVIDAS EM DIFERENTES RECIPIENTES PARA PACIENTES DE UM HOSPITAL CATARINENSE

FUNCIONAIS

AVALIAÇÃO DO EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO DA BIOMASSA DA BANANA (MUSA SPP) VERDE EM MULHERES CONSTIPADAS

PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE SOBRE A IMPORTÂNCIA DO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO www.nutricaoempauta.com.br

+

ABRIL 2021 ESPORTE

| GASTRONOMIA | SAÚDE PÚBLICA | CLINICA | PEDIATRIA NUTRIÇÃO EM PAUTA 1



editorial

por Sibele B. Agostini

Percepção dos Profissionais de Saúde sobre a Importância do Serviço de Nutrição no Acompanhamento Nutricional dos Pacientes de um Hospital Público de Teresina, PI No âmbito hospitalar, é necessário fazer a detecção dos pacientes em risco nutricional, permitindo realizar intervenção nutricional primária nos mesmos, evitando assim, a instalação de um quadro de desnutrição. A nutrição hospitalar tem como maior objetivo a manutenção de um estado nutricional adequado de seus pacientes, envolvendo desde a prevenção até o tratamento de riscos nutricionais. Então, é possível destacar a importância do profissional nutricionista nas unidades de saúde, que a partir de um contato direto com o paciente, prova a efetividade de suas condutas no bom e adequado estado nutricional dos pacientes internados em hospitais que dispõem destes profissionais. O objetivo desse estudo foi analisar a percepção do setor de nutrição para outros profissionais da saúde em um hospital de Teresina, Piauí. Prepare-se para o Mega Evento Nutrição 2021 Online, englobando o 22o Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, 22o Congresso Internacional de Gastronomia e Nutrição, 9o Congresso Multidisciplinar de Nutrição Esportiva, 17o Fó-

rum Nacional de Nutrição, 16o Simpósio Internacional da American Academy of Nutrition and Dietetics (USA), 14o Simpósio Internacional da Nutrition Society (United Kingdom), 14o Simpósio Internacional do Le Cordon Bleu (França), que será realizado em São Paulo em agosto de 2021 e já conta com parcerias com as principais entidades internacionais e nacionais do setor.

Aproveite as informações científicas atualizadas desta edição da revista Nutrição em Pauta.

ABRIL 2021

Dra. Sibele B. Agostini CRN 1066 – 3a Região

NUTRIÇÃO EM PAUTA

3


nesta edição ABRIL 2021

5. Percepção dos Profissionais de Saúde sobre a Importância do Serviço de Nutrição no Acompanhamento Nutricional dos Pacientes de um Hospital Público de Teresina, PI 11. Avaliação do Risco Cardiovascular em Pessoas com Transtornos Psiquiátricos 18. Suplementação da Farinha do Mesocarpo do Coco Babaçu para Praticantes De Atividade Física: Achados de uma Revisão 24. Perfil Dietético, Seletividade Alimentar e Disbiose Intestinal em Crianças com Transtorno do Espectro Autista 30. Hortas Urbanas e Comunitárias na Cidade de Teresina-PI 36. Análise da Temperatura de Refeições Servidas em Diferentes Recipientes para Pacientes de um Hospital Catarinense 41. Avaliação do Efeito da Suplementação da Biomassa da Banana (Musa Spp) Verde em Mulheres Constipadas

Assine: (11) 5041.9321 assinaturas@nutricaoempauta.com.br FALE CONOSCO: (11) 5041.9321 contato@nutricaoempauta.com.br www.nutricaoempauta.com.br

48. Técnicas Gastronômicas Le Cordon Bleu

A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO

ISSN 1676-2274

Ano 29 - número 167 - abril 2021 - edição impressa

Editora Científica Diretor Conselho Científico

Consultor de Gastronomia Colaboradores Fotógrafo Assinaturas Indexação Editoração Eletrônica

4

ABRIL 2021

Publicação Bimestral da Nutrição em Pauta Ltda ME - Atualização Científca em Nutrição - R. Cristovão Pereira 1626 cj101 - Campo Belo - 04620-012 - São Paulo - SP - Brasil - Tel 55 11 5041-9321 nucleo@nutricaoempauta.com.br - www.nutricaoempauta.com.br

Dra. Sibele B. Agostini | redacao@nutricaoempauta.com.br Cláudio G. Agostini Jr. | diretoria@nutricaoempauta.com.br Prof. Dra. Andréa Ramalho (UFRJ/RJ),Prof. Dra. Avany Fernandes Pereira (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Claudia Cople (UERJ/RJ), Prof. Dr. Dan Waitzberg (FMUSP/SP), Prof. Dra. Eliane de Abreu – (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Fernanda Lorenzi Lazarim (UNICAMP/SP), Prof. Dra. Flávia Meyer (UFRGS/RS), Prof. Dra. Josefna Bressan (UFV/MG), Prof. Dra. Joy Dauncey (Cambridge/UK), Prof. Dra. Lilian Cuppari (UNIFESP/SP), Prof. Dra. Marcia Regina Vitolo (UNISINOS/RS), Prof. Dra. Maria Margareth Veloso Naves (UFG/GO), Prof. Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP/SP), Prof. Dr. Melvin Williams (Maryland/USA) , Prof. Dra. Mirtes Stancanelli (UNICAMP/ SP), Prof. Dra. Nailza Maestá (UNESP/SP), Prof. Dra. Nelzir Trindade Reis (UVA/RJ), Prof. Dr. Ricardo Coelho (UNIUBE/MG), Prof. Dr. Roberto Carlos Burini (FMUNESP/SP), Prof. Dra. Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC), Prof. Dra. Sonia Tucunduva Phillipi (USP/SP), Prof. Tereza Helena Macedo da Costa (UnB/DF), Prof. Dra. Tais Borges Cesar (FCF-UNESP/SP).

Chef Patrick Martin Chef Fabiana B. Agostini Alexandre Agostini assinaturas@nutricaoempauta.com.br A revista Nutrição em Pauta está indexada na Base de Dados PERI da ESALQ/USP Produzida em abril de 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Perception of Health Professionals about the Importance of the Nutrition Service in the Nutritional Monitoring of Patients in a Public Hospital in Teresina, PI

matéria de capa

Percepção dos Profissionais de Saúde sobre a Importância do Serviço de Nutrição no Acompanhamento Nutricional dos Pacientes de um Hospital Público de Teresina, PI RESUMO: Dentre as várias áreas da nutrição, tem-se a nutrição hospitalar, que envolve todo o cuidado com o paciente internado em uma unidade de saúde quanto ao seu estado nutricional, englobando avaliação do estado nutricional no momento da admissão hospitalar; evolução dietoterápica no prontuário, contendo avaliação real da ingestão alimentar diária; folhetos e materiais em geral explicativos, com recomendações gerais e para o caso clínico específico do paciente; orientações verbais e esclarecimento de dúvidas do paciente ou cuidador. Então, é possível destacar a importância do profissional nutricionista nas unidades de saúde, que a partir de um contato direto com o paciente, prova a efetividade de suas condutas no bom ou adequado estado nutricional dos pacientes internados em hospitais que dispõem destes profissionais. O objetivo desse estudo foi analisar a percepção do setor de nutrição para outros profissionais da saúde em um hospital de Teresina, Piauí. Foi realizada uma pesquisa quali-quantitativa aplicando-se um questionário após autorização por escrito do diretor do hospital. Trata-se de um questionário estruturado, com quatro perguntas subjetivas e uma pergunta aberta, direcionadas aos profissionais que trabalham direta ou indiretamente com questões alimentares e nutricionais de pacientes. A amostra foi constituída por 43 participantes, abordados de forma aleatória, onde foi devidamente explicado sobre o propósito da pesquisa e que voluntariamente aceitaram participar. ABRIL 2021

Na primeira pergunta, foi questionada a importância do setor de nutrição para recuperação do paciente. Dentre todos os participantes 37 marcaram a opção “muito importante” e seis marcaram a opção apenas “importante”. Na segunda questão foi perguntado se os outros profissionais achavam que o setor da nutrição estava cumprindo o seu papel no hospital no que diz respeito à recuperação do paciente através da dieta ofertada. Dos 43 que participaram, 32 responderam que sim, 2 responderam que não e 9 responderam talvez. Na terceira questão pretendia-se saber dos outros profissionais, o que achavam da alimentação em relação ao medicamento, se este ajuda ou atrapalha na ação medicamentosa, onde todos os 43 participantes declararam que a alimentação é necessária. Na quarta pergunta foi questionado sobre se o setor de nutrição estaria de acordo com as regras e normas do hospital, onde 39 responderam que sim e 4 responderam que não. E por último em relação à quinta questão que foi aberta, foram perguntadas que sugestões os participantes dariam ao setor de nutrição, de todos apenas nove responderam. Sobre as sugestões, estas foram perguntadas para que se pudessem ser colocadas em prática e para ser revisto o que tem de errado. Concluiu-se que a atuação nutricional na perspectiva dos profissionais de saúde do hospital referido da cidade de Teresina, Piauí, apresentou bem mais aspectos positivos do que negativos. NUTRIÇÃO EM PAUTA

5


Percepção dos Profissionais de Saúde sobre a Importância do Serviço de Nutrição no Acompanhamento Nutricional dos Pacientes de um Hospital Público de Teresina, PI ABSTRACT: Among the various areas of nutrition, there is hospital nutrition, which involves all care for patients admitted to a health unit regarding their nutritional status, including: assessment of nutritional status at the time of hospital admission; dietary therapy evolution in the medical record, containing real assessment of daily food intake; leaflets and general explanatory materials, with general recommendations and for the specific clinical case of the patient; verbal guidance and clarification of doubts of the patient and caregiver. Then, it is possible to highlight the importance of the nutritionist in the health units, who from a direct contact with the patient, proves the effectiveness of their conduct in the good and adequate nutritional status of the patients admitted to hospitals that have these professionals. The objective of this study was to analyze the perception of the nutrition sector for other health professionals in a hospital in Teresina, Piauí. A qualitative and quantitative research was carried out by applying a questionnaire after written authorization from the director of the hospital. It is a structured questionnaire, with four subjective questions and an open question, aimed at professionals who work directly or indirectly with patients’ food and nutrition issues. The sample consisted of 43 participants, randomly approached, where they were properly explained about the purpose of the research and who voluntarily agreed to participate. In the first question, the importance of the nutrition sector for patient recovery was questioned. Among all participants, 37 marked the option “very important” and six marked the option only “important”. In the second question, it was asked whether the other professionals thought that the nutrition sector was fulfilling its role in the hospital regard to recovery of the patient through the offered diet. Of the 43 who participated, 32 answered yes, 2 answered no and 9 answered perhaps. In the third question, it was intended to find out from the other professionals, what they thought of the food in relation to the medication, if it helps or disrupts the medication action, where all 43 participants declared that food is necessary. In the fourth question, it was asked whether the nutrition sector would be in accordance with the rules and regulations of the hospital, where 39 answered yes and 4 answered no. And lastly in relation to the fifth question that was opened, what suggestions were asked participants would give to the nutrition sector, of all only nine responded. Regarding the suggestions, these were asked so that if they could be put into practice and to review what is wrong. It was concluded that the nutritional performance from the perspective of the health professionals of the referred hospital in the city of Teresina, Piauí, presented well more positives than negatives.

6

ABRIL 2021

.................

Introdução . . . . . . . . . . . . .......

A alimentação e a nutrição constituem direitos fundamentais presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos e são requisitos básicos para a promoção e a manutenção da saúde, possibilitando a afirmação plena do potencial de crescimento e desenvolvimento humano com qualidade de vida e cidadania (FERREIRA; MAGALHÃES, 2007) Já dizia Boog (1996), que lidar com a nutrição é lidar com as vidas alheias e o nutricionista é o profissional legalmente habilitado para implementar a educação nutricional, infelizmente o que não ocorre na vivência hospitalar. Dentre as várias áreas da nutrição, tem-se a nutrição hospitalar, que envolve todo o cuidado com o paciente internado em uma unidade de saúde quanto ao seu estado nutricional, englobando: avaliação do estado nutricional no momento da admissão hospitalar; evolução dietoterápica no prontuário, contendo avaliação real da ingestão alimentar diária; folhetos e materiais em geral explicativos, com recomendações gerais e para o caso clínico específico do paciente; orientações verbais e esclarecimento de dúvidas do paciente e cuidador. Azuaya (2003) afirma que para recuperação do estado de saúde do indivíduo a alimentação é imprescindível, pois seja pela insuficiência alimentar em quantidade e/ou qualidade, com a má alimentação o sistema imunológico pode ser prejudicado, levando a uma menor resistência e o aumento da duração, da intensidade e da frequência das infecções prejudica a distribuição de alimentos ou o tratamento isolado das patologias associadas não são efetivos para a recuperação do estado nutricional e a manutenção da saúde. Quando não se tem uma sistematização destas ações, notam-se frequentes casos de desnutrição de pacientes internados. Estudos mostram que a desnutrição hospitalar é uma realidade atual nas unidades de saúde, e que aumenta conforme o tempo de internação do paciente. Apesar de alguns casos de desnutrição serem anteriores à internação, tem-se grande incidência de desnutrição intra-hospitalar, ou seja, aquela gerada durante a internação, mesmo em países desenvolvidos. No âmbito hospitalar, é necessário fazer a detecção dos pacientes em risco nutricional, permitindo realizar intervenção nutricional primária nos mesmos, evitando assim, a instalação de um quadro de desnutrição. A NUTRIÇÃO EM PAUTA


Perception of Health Professionals about the Importance of the Nutrition Service in the Nutritional Monitoring of Patients in a Public Hospital in Teresina, PI nutrição hospitalar tem como maior objetivo a manutenção de um estado nutricional adequado de seus pacientes, envolvendo desde a prevenção até o tratamento de riscos nutricionais. Então, é possível destacar a importância do profissional nutricionista nas unidades de saúde, que a partir de um contato direto com o paciente, prova a efetividade de suas condutas no bom e adequado estado nutricional dos pacientes internados em hospitais que dispõem destes profissionais. O objetivo desse estudo foi analisar a percepção do setor de nutrição para outros profissionais da saúde em um hospital de Teresina, Piauí.

. . . ........... Me to dol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Foi realizada uma pesquisa quali-quantitativa aplicando-se um questionário após autorização por escrito do diretor do hospital. Trata-se de um questionário estruturado, com quatro perguntas subjetivas e uma pergunta aberta, direcionadas aos profissionais que trabalham direta ou indiretamente com questões alimentares e nutricionais de pacientes. A amostra foi constituída por 43 participantes, abordados de forma aleatória, onde foi devidamente explicado sobre o propósito da pesquisa que voluntariamente aceitaram participar. O trabalho de pesquisa não foi submetido ao comitê de Ética e nem na Plataforma Brasil, realizado somente explicações sobre a pesquisa aos participantes, isto é, os profissionais de saúde que trabalham no hospital e com isso, fomos autorizados pelos mesmo a coletar suas informações.

. . . ...... R esu lt a do s e Dis c uss ã o . . .. . . . . . . Na primeira pergunta foi questionada a importância do setor de nutrição para recuperação do paciente, dando como alternativas: “Muito importante”, “importante”, “regular” e “pouco importante”. Dentre todos os participantes 37 marcaram a opção “muito importante” e 6 marcaram a opção apenas “importante”. As outras opções não obtiveram marcações, como pode ser visto na Tabela 1. Muitos estudos embasam a importância do profissional de nutrição para a recuperação do paciente e seABRIL 2021

matéria de capa

gundo Garcia (2006), a dieta hospitalar é importante por garantir o aporte de nutrientes ao paciente internado e, assim, preservar seu estado nutricional, pelo seu papel terapêutico em doenças crônicas e agudas e também por ser uma prática que desempenha um papel relevante na experiência de internação, uma vez que, atendendo a atributos psicossensoriais e simbólicos de reconhecimento individual e coletivo podem atenuar o sofrimento gerado por esse período em que o sujeito está separado de suas atividades e papéis desempenhados na família, na comunidade e nas relações de trabalho e encontra-se ansioso dado o próprio adoecimento, e pela disciplina e procedimentos hospitalares, muitas vezes pouco compreendidos. Na segunda questão foi perguntado se os outros profissionais achavam que o setor da nutrição estava cumprindo o seu papel no hospital no que diz respeito à recuperação do paciente através da dieta ofertada, respondendo entre “sim”, “não” ou “talvez”. Dos 43 que participaram, 32 responderam que sim, 2 responderam que não e 9 responderam talvez (Tabela 2). De acordo com Fottler (1997), a percepção da qualidade tem sido apontada como um fator determinante para a competitividade e a sobrevivência das organizações de saúde, o que requer a adoção de modelos adequados para medir a satisfação dos clientes. Por meio de questionamento a usuários acerca da satisfação com o cuidado nutricional, é possível se obter noções das fragilidades do serviço (SCHILLER, 1994) Demario et al., 2010 apontam em seu estudo, a dificuldade dos pacientes opinarem sobre mudanças na alimentação ou nas rotinas durante a internação e Garcia, 2006 aborda também a importância do paciente intervir em seu tratamento como aspecto fundamental na dieta hospitalar e na atenção nutricional. Dessa forma, a qualidade da alimentação hospitalar, o atendimento nutricional e a participação do paciente em seu tratamento alimentar e nutricional são fundamentais para a qualidade do atendimento hospitalar. Na terceira questão pretendia-se saber dos outros profissionais, o que achavam da alimentação em relação ao medicamento, se este ajuda ou atrapalha na ação medicamentosa. Foram dadas as alternativas: “A alimentação é necessária” e “A alimentação atrapalha a ação medicamentosa” onde todos os 43 participantes declararam que a alimentação é necessária (Tabela 3). Muitos processos patológicos em recuperação exigem do organismo um aporte nutricional adequado e administração de fármacos eficazes e seguros (GASSUL, 2007). No entanto, a associação entre os fármacos e nuNUTRIÇÃO EM PAUTA

7


Percepção dos Profissionais de Saúde sobre a Importância do Serviço de Nutrição no Acompanhamento Nutricional dos Pacientes de um Hospital Público de Teresina, PI Tabela 1 - Importância da nutrição para o processo de recuperação do paciente. Alternativas

N

%

Muito importante

37

86

Importante

6

14

Regular

0

0

Pouco importante

0

0

Fonte: Dados da pesquisa, 2020

Tabela 2 - Visão de outros profissionais da saúde sobre o setor de nutrição cumprir seu papel em relação à recuperação do paciente através da dieta ofertada. Alternativas

N

%

Sim

32

74,4

Não

2

4,6

Talvez

9

21,0

Pouco importante

0

0

Fonte: Dados da pesquisa, 2020

Tabela 3- Alimentação em relação ao medicamento. É necessária ou atrapalha na ação medicamentosa. Alternativas

n

%

A alimentação é necessária

43

100

A alimentação atrapalha

0

0

Fonte: Dados da pesquisa, 2020

Tabela 4 - Setor da nutrição de acordo as regras e normas do hospital. Alternativas

N

%

Sim

39

90,6

Não

4

9,3

Fonte: Dados da pesquisa, 2020

8

ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Perception of Health Professionals about the Importance of the Nutrition Service in the Nutritional Monitoring of Patients in a Public Hospital in Teresina, PI trientes possibilita a ocorrência de interações indesejáveis, permitindo um aumento ou diminuição da eficácia da droga, bem como do nutriente (FARHAT, 2007). E segundo Gomez (2009), considera-se interação entre alimentos e medicamentos quando um alimento ou um nutriente altera a eficácia de um medicamento, ou quando há interferência sobre o estado nutricional do indivíduo. Portanto, não só os fármacos podem interferir sobre a absorção e o aproveitamento dos nutrientes, como alguns alimentos e nutrientes também podem interferir sobre a ação destes. Por exemplo, no estudo de Lopes et al (2010), o anti-hipertensivo (captopril), identificado com um dos principais fármacos nas possíveis interações com alimentos e nutrientes, não é absorvido adequadamente quando administrado próximo ou durante as refeições; portanto, recomenda-se que o mesmo deve ser administrado uma hora antes ou duas horas após as refeições. Dessa forma, o estudo sugere um maior acompanhamento dos pacientes hospitalizados pelos profissionais de saúde durante a prescrição e/ou administração dos medicamentos, bem como se faz necessária uma orientação farmacológica aos pacientes usuários de medicamentos para o tratamento de patologias crônicas, a fim de minimizar as reações adversas e as interações medicamentosas (medicamento/medicamento e medicamento/alimento). Na quarta pergunta foi questionado sobre se o setor de nutrição estaria de acordo com as regras e normas do hospital, com alternativas “sim” e “não”. Onde 39 responderam que sim e 4 responderam que não (tabela 4). Essas normas dizem a respeito, das posturas estabelecidas e uso de adornos, que são proibidas no hospital. Com isso pode-se observar que há uma significância para o “sim” o que pode ser percebido no âmbito de trabalho pelo fato de que ainda não houveram fatores que marcassem inadequações nesse quesito. E por último em relação à quinta questão que foi aberta, foram perguntadas que sugestões os participantes dariam ao setor de nutrição. Apenas nove responderam, onde houveram respostas como: “De manhã pacientes ficam em jejum esperando a cirurgia, e a nutrição passa muito cedo e muitos pacientes não comem por estar gelado” “Horário certo da chegada das enfermarias, porque as vezes a alimentação chega muito tarde” “Melhoria do cardápio (variedades)” “Um atendimento mais individualizado ao paciente e não só pela prescrição” “Ter outras opções de cardápio” “Continuando o desempenho que está sendo feito” ABRIL 2021

matéria de capa

“Realizar plano alimentar” “Realizar a avaliação nutricional do paciente, dessa forma individualizando o desempenho do paciente” “Realizar plano de alta, com plano alimentar e orientações necessárias” Sobre as sugestões, estas foram perguntadas para que pudessem ser colocadas em prática e para ser revisto o que acontece de errado.

. . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . . . ....... Concluiu-se que a atuação nutricional na perspectiva dos profissionais de saúde do hospital referido da cidade de Teresina, Piauí, apresentou bem mais aspectos positivos do que negativos, indicando que há possibilidade de intervenção para otimização no que se julgue necessário, bem como, no atendimento ao paciente e nas relações entre os profissionais. Em relação aos aspectos positivos, o trabalho do nutricionista, juntamente com o dos outros profissionais da saúde foi destacado como sendo um alicerce fundamental para a melhoria do trabalho e, sobretudo, para um atendimento de qualidade.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Profa. Dra. Liejy Agnes dos Santos Raposo Landim - Mestre em alimentos e Nutrição/UFPI. Especialista em Nutrição Clínica nas Doenças Crônicas não transmissíveis/UNESC. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina, PI, Brasil. Profa. Dra. Adriana Barbosa Guimarães - Mestre em Saúde da Família pela UNINOVAFAPI. Especialista em Administração Hospitalar e Controle de Infecções em Serviços de Saúde. Docente do Curso Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina-PI. Enaylle Gomes Brandão; Emilia Regina Ribeiro Mota - Acadêmicos do Curso Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina-PI. NUTRIÇÃO EM PAUTA

9


Percepção dos Profissionais de Saúde sobre a Importância do Serviço de Nutrição no Acompanhamento Nutricional dos Pacientes de um Hospital Público de Teresina, PI

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Profissionais. Hospital. Nutrição. Paciente. KEYWORDS: Professionals. Hospital. Nutrition. Patient.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 20/8/20 – APROVADO: 25/3/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

AZUAYA, A. L. et al. Osdois Brasis: quem são, onde estão e como vivem os pobres brasileiros. Revista Estudos Avançados, v.17, n.48, p.91.2003. BOOG, M. C. F., RODRIGUES, K. R. M. & SILVA, S. M. F. Situação profissional dos nutricionistas egressos da PUCCAMP. Áreas de atuação, estabilidade, abandono da profissão, desemprego. Revista de Nutrição da PUCCAMP, p. 139-152, 1988. DEMÁRIO, R.L, Sousa, A.A.; Salles, R. K. Comida de hospital: percepções de pacientes em hospital público com proposta de atendimento humanizado. Cien Saude Colet v. 15, s. 1, 12751282, 2010. FARHAT, F.C.; IFTODA, D.M.; DOS SANTOS, P. H. Interações entre hipoglicemiantes orais e alimentos. Saúde Rev. v. 9, n.21, p.57-62, 2007. FERREIRA, V. A.; MAGALHÃES, L. Nutrição e promoção da saúde: perspectivas atuais. Cad Saúde Pública, v. 23, n. 7, p. 1674-1681, 2007. FOTTLER, M.D.; FORD, R.C.; BACH, S. A. Measuring patient satisfaction in healthcare organizations: qualitative and quantitative approaches. Best Pract Benchmarking Healthc. v.2, n.6, p.227-239,1997. GARCIA, R. W. D. A dieta hospitalar na perspectiva dos sujeitos envolvidos em sua produção e em seu planejamento. RevNutr, v.19, . 2, p.129-144, 2006. GASSUL, M.A.; CABRÉ, E. O trato gastrointestinal. In: GIBNEY, M.J.; ELIA. M.; LJUNCQVIST. O.; DOWSETT, J.J. Nutrição clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. GOMEZ, R.; VENTURINI, C.D. Interação entre alimentos e medicamentos. Porto Alegre: Letra e Vida; 2009. LOPES, M. EVERTON; et al. Análise das possíveis interações entre medicamentos e alimento/nutrientes em pacientes hospitalizados. São Paulo. Vol.8. no.3. July/Sept.2010. MELLO, E. D., et al. Desnutrição hospitalar cinco anos após o IBRANUTRI. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, Porto Alegre, , v.18. n.2, p. 65-69, Maio / Junho, 2003.

10

ABRIL 2021

MERHI, V. A. L.; et al. Estado nutricional de pacientes hospitalizados em um hospital privado. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, Porto Alegre, v. 19, n. 3,p. 116-122, Agosto / Setembro, 2004. SCHILLER, M.R.; MILLER-KOVACH, K.; MILLER, M. A. Patient satisfaction: a mark of quality. In: SCHILLER, M.R.; MILLER-KOVACH, K,; MILLER, M.A.; organizadores. Total quality management for hospital nutrition services. Gaithersburg, Maryland: Aspen Publishers; p. 22-32, 1994. TRINDADE, G. G. et al. COVID-19: therapeutic approaches description and discussion. An. Acad. Bras. Ciênc., v. 92, n. 2, 2020.https://doi.org/10.1590/0001-3765202020200466 VECCHIÉ, A. et al. Obesity phenotypes and their paradoxical association with cardiovascular diseases. Eur. J. Intern. Med., v. 48, p. 6-17, 2017.doi:10.1016/j.ejim.2017.10.020 WALLER, G. et al. Cognitive‐behavioral therapy in the time of coronavirus: Clinician tips for working with eating disorders via telehealth when face‐to‐face meetings are not possible.Int J Eat Disord, 2020.doi:10.1002/eat.23289 WANG, C. et al. Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 coronavirus disease (COVID-19) epidemic among the general population in China. Int J Env Res Pub He, v. 17, n. 5, p. 1729, 2020.https://doi. org/10.3390/ijerph17051729 WEISSMAN, R. S.; BAUER, S.; THOMAS, J. J. Access toevidence‐basedcare for eatingdisordersduringthe COVID‐19 crisis. Int J EatDisord, v. 53, n. 5, p. 639-646, 2020.doi:10.1002/eat.23279

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Assessment of Cardiovascular Risk in People with Psychiatric Disorders

clínica

Avaliação do Risco Cardiovascular em Pessoas com Transtornos Psiquiátricos

RESUMO: Pessoas com transtornos psiquiátricos estão mais propensas a apresentar hábitos pouco saudáveis. O uso de medicamentos antipsicóticos pode induzir o consumo de alimentos calóricos, o que leva ao ganho de peso e desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes e dislipidemias, que aumentam o risco cardiovascular nesses indivíduos. O objetivo da pesquisa foi investigar o risco cardiovascular segundo os critérios de Framingham em indivíduos com transtornos psiquiátricos. Estudo quantitativo, transversal, envolvendo 51 indivíduos com idade entre 20 e 59 anos, diagnosticados com transtornos psiquiátricos. Constatou-se que, segundo o Escore de Framingham, grande parte da população estudada apresentou baixo risco de desenvolver doenças cardiovasculares em 10 anos, porém os parâmetros bioquímicos, circunferência da cintura e IMC revelam presença de alto risco cardiovascular. ABSTRACT: People with psychiatric disorders are more likely to have unhealthy habits. The use of antipsychotic drugs can induce the consumption of caloric foods, which leads to weight gain and the development of chronic diseases such as diabetes and dyslipidemia, which increase the cardiovascular risk in these individuals. The aim of the research was to investigate cardiovascular risk according to the Framingham criteria in individuals with psychiatric ABRIL 2021

disorders. Quantitative, cross-sectional study, involving 51 individuals aged between 20 and 59 years, diagnosed with psychiatric disorders. It was found that, according to the Framingham Score, a large part of the studied population had a low risk of developing cardiovascular diseases in 10 years, but the biochemical parameters, waist circumference and BMI reveal the presence of high cardiovascular risk.

.................

Introdução . . . . . . . . . . . . ........

Adultos com doenças psiquiátricas estão mais propensos a apresentar hábitos e características pouco saudáveis, como tabagismo, obesidade, inatividade física e consumo excessivo de álcool. As causas são múltiplas, incluindo vulnerabilidade pré-mórbida associada a polimorfismos de genes reguladores de comportamento alimentar, metabolismo energético, sedentarismo, alimentação, tipo de medicação e uso de múltiplos medicamentos (MEYER; STAL, 2009). O uso de medicamentos antipsicóticos é importante para o tratamento clínico de pacientes com transtornos mentais, porém tem sido associado à obesidade, diabetes, dislipidemia, síndrome metabólica e elevada mortalidade. Algumas explicações para o ganho de peso NUTRIÇÃO EM PAUTA

11


Avaliação do Risco Cardiovascular em Pessoas com Transtornos Psiquiátricos

causado por antipsicóticos seriam seus efeitos anticolinérgicos, anti-histaminérgicos, antagonismo dos receptores de serotonina, além da interferência da predisposição genética. Os efeitos anti histaminérgicos podem levar à sedação, o que diminui a atividade e a movimentação com menor gasto energético diário; o antagonismo dos receptores de serotonina leva ao aumento do consumo de alimentos calóricos, fatos que colaboram para o ganho de peso, circunferência da cintura e IMC, fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) em longo prazo (GARCIA et al. 2013; ATTUX et al. 2009). Cerca de 30% das mortes no mundo são causadas por DCV, tem como fatores de risco a hipertensão arterial, circunferência da cintura elevada, obesidade, diabetes, estresse, tabagismo, hereditariedade, entre outros. Baseado nesses fatores de riscos e com o objetivo de prever o desenvolvimento de DCV, diversos pesquisadores começaram a desenvolver métodos, dentre eles se destaca o Escore de Risco de Framingham (ERF) uma das técnicas mais utilizadas na predição dessas doenças, que aborda variáveis simples, clínicas e laboratoriais, o que torna possível a estratificação do risco cardiovascular com a probabilidade de ocorrer um evento coronariano no período de 10 anos, identificando de forma adequada indivíduos de alto e baixo risco (ANDRADE, 2011; ALCOCER et al., 2011). A avaliação do risco cardiovascular por meio do ERF utiliza as seguintes variáveis: sexo, idade, colesterol, tabagismo, HDL- colesterol, pressão arterial sistólica e tratamento da hipertensão arterial. Cada um desses dados possui uma pontuação, o resultado é obtido com o somatório dos pontos e a quantidade total é estimada em um percentual classificado em três categorias: baixo risco (<10%), risco intermediário (entre 10% e 20%) e alto risco (>20%) (SBC, 2007). Assim, o objetivo desse estudo foi investigar o risco cardiovascular segundo os critérios de Framingham em indivíduos com transtornos psiquiátricos.

sentimento livre e esclarecido e o estudo foi aprovado no comité de ética e pesquisa segundo a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) com o seguinte número do CAAE: 69881417.6.0000.8007. Para avaliação do estado nutricional foi utilizado o índice de massa corpórea (IMC) e a medida da circunferência da cintura (CC) para avaliar o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO, 2000). Para a avaliação do consumo alimentar foi utilizado o recordatório de 24 horas, compreendendo o dia anterior a avaliação. Os dados do consumo alimentar foram calculados pelo software “Nutwin”, versão 1.5 do Departamento de Informática em Saúde da Universidade Federal de São Paulo (ANÇÃO et al. 2002), os alimentos não encontrados no programa foram incluídos, tomando por base a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO, 2011). Para avaliação do perfil lipídico, foram utilizados como referência os valores definidos na Atualização da Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose (SBC, 2017). Para avaliação do risco cardiovascular foi utilizado o Escore de Framingham, no qual cada variável possuía uma pontuação e o resultado foi concedido por meio do somatório dos pontos e quantidade total obtida foi estimada em um percentual classificado em três categorias: baixo risco (<10%), risco intermediário (entre 10% e 20%) e alto risco (>20%) (SBC, 2007). Os dados foram organizados em planilhas do excel, posteriormente foram exportados para o programa SPSS (for Windows® versão 22.0) para análise estatística dos resultados, utilizando os testes t de Student e correlação linear de Pearson, utilizando nível de significância de p ≤ 0,05 e nível de confiança de 95 %.

. . . . . . . . . . . . . . R e su lt a d o s . . . . . . . . . . . . . . . . ........

Na tabela 01 encontra-se os valores médios e desvios padrão dos parâmetros antropométricos utilizados na avaliação nutricional. Pode-se observar que em relação ao IMC, sexo feminino e masculino encontram-se na fai Estudo transversal realizado em 51 pessoas com xa de sobrepeso. No que diz respeito a CC, houve diferentranstornos psiquiátricos, na faixa etária entre 20 e 59 ça significativa, no qual o sexo feminino apresentou risco anos, sendo 34 homens e 17 mulheres que realizavam tra- elevado para desenvolver doenças cardiovasculares, e o tamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) III da sexo masculino se encontra na faixa de normalidade (Vacidade de Caxias - MA, todos assinaram o termo de con- lores de referência da CC: Sexo feminino - ≥80 elevado,

. . . ...... Mater i a l e Méto do s . . . . . . . . . . . . . . . .

12

ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Assessment of Cardiovascular Risk in People with Psychiatric Disorders

clínica

Tabela 01. Valores médios e desvios padrão da idade, parâmetros antropométricos, estado nutricional e pressão arterial dos participantes da pesquisa. Parâmetros

Sexo Feminino Média ± DP

Sexo Masculino Média ± DP

Idade (anos)

40,4± 10,8

39,2 ± 8,68

Peso (kg)

59,8± 13,2

70,0± 16,3

Altura (m)

1,52± 0,06

1,64±0,08

IMC (kg/m2)

25,6± 5,09

26,1± 6,07

CC (cm) PAS (mmHg) PAD (mmHg)

82,7± 15,0* 107,6± 13,4 65,8±7,95

91,7± 14,4* 116,5±12,4 74,7±9,28

*Valores significativamente diferentes. Teste t de Student. (p<0,05). IMC = Índice de Massa Corpórea. CC = Circunferência da Cintura. PAS= Pressão Arterial Sistólica. PAD= Pressão Arterial Diastólica.

Tabela 02. Valores médios e adequação da dieta habitual dos participantes da pesquisa. Energia/Nutrientes

Sexo Feminino Média ± DP

Sexo Masculino Média ± DP

Energia (kcal)

1351,2±341,0

0,318

Carboidrato (%)

68,2±5,48

Proteína (%)

21,1±4,67

1452±334,5 67,8±4,00 21,7±6,73

Lipídios (%)

9,59±2,71

11,8±5,52

0,076

p valor

0,304 0,505

Teste t student (p>0,05).Valores de referência: 10 a 30% de proteína, 20 a 35% de lipídeo e 45 a 65% de carboidratos (INSTITUTE OF MEDICINE, 2005).

Tabela 03. Valores médios e desvio padrão do perfil lipídico dos participantes da pesquisa. Parâmetros

Sexo Feminino Média ± DP

Sexo Masculino Média ± DP

Colesterol Total (mg/dL)

183,17± 57,31

0,781

Triglicerídeos (mg/dL)

158,47± 71,24

HDL colesterol (mg/dL)

45,00± 10,91

178,94±47,65 163,55±108,29 43,52±9,86

LDL colesterol (mg/dL)

118,50± 61,59

132,42±79,71

0,771

p valor

0,862 0,630

Não houve diferença estatisticamente significativamente diferentes entre os sexos. Teste de t de Student (p>0,05). Valores de referência: Colesterol total (<200 mg/dl). Triglicerídeos (<150 mg/dl). HDL - High Density Lipoprotein (>60 mg/dl). LDL - Low Density Lipoproteins (<100 mg/dl). (Atualização da Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, 2013). ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA

13


Avaliação do Risco Cardiovascular em Pessoas com Transtornos Psiquiátricos

≥88 muito elevado; Sexo masculino - ≥94 elevado, ≥102 muito elevado) (OMS, 2000). No que se refere, a pressão arterial sistólica e diastólica, apresentaram valores na faixa de normalidade, sem diferença significativa (p>0,05). Os valores médios e desvio padrão de energia e macronutrientes consumidos na dieta dos participantes da pesquisa se encontram na tabela 02. Ambos os sexos apresentaram consumo elevado de carboidratos, baixo consumo de lipídios e ingestão adequada de proteínas, desta forma, não houve diferença significativa entre eles. Na tabela 03 são apresentados os dados do lipidograma dos indivíduos, pode- se verificar que ambos os sexos apresentam hiperlipidemia mista, com LDL e triglicerídeos elevados, além de níveis de HDL abaixo do recomendado e não houve diferença significativa para nenhum parâmetro entre os sexos (p>0,05). A classificação do risco de desenvolver doenças cardiovasculares em 10 anos segundo o Escore de Framingham encontra-se na figura 01. O escore demonstrou que 11,8% dos participantes possuem alto risco, e 7,8% apresentam risco intermediário, no qual esses resultados são considerados um número significativo em pacientes com transtornos psiquiátricos, 80,4% foram classificados com baixo risco.

14

ABRIL 2021

Na figura 02 pode-se observar o resultado da análise de correlação entre o risco cardiovascular calculado através do escore de Framingham e o colesterol total. Os dados mostram associação significativa entre as duas variáveis.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . D is c uss ã o . . . . . . . . . . . . . .......

Neste estudo foi avaliado o estado nutricional, consumo alimentar, parâmetros bioquímicos e o risco de desenvolver doenças cardiovasculares em 10 anos de pessoas que apresentam transtornos psiquiátricos. Ambos os sexos apresentaram sobrepeso, sem diferença estatística, porém, as mulheres apresentaram risco elevado de desenvolver doenças cardiovasculares, segundo a CC. No estudo de Zorteá et al. (2009) também foi encontrado excesso de peso nesse grupo, segundo os autores, o ganho de peso ocorre devido ao uso de antipsicóticos, principalmente a clozapina, que está associada a maior incidência de diabetes e dislipidemias. A presença de obesidade visceral predominante

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Assessment of Cardiovascular Risk in People with Psychiatric Disorders

ABRIL 2021

clínica

NUTRIÇÃO EM PAUTA

15


Avaliação do Risco Cardiovascular em Pessoas com Transtornos Psiquiátricos

nas mulheres pode ser decorrente de alterações em sua composição corporal, uma vez que os hormônios sexuais femininos fazem a gordura ser armazenada nas nádegas, coxas e quadril e com o avanço da idade a produção de estrogênio diminui e o acúmulo de gordura pode migrar dessas regiões para a cintura, resultando em obesidade abdominal (PESSOA et al., 2017). Apesar do sexo masculino não apresentar risco elevado segundo a CC, vale destacar que não deixa de ser um quadro preocupante, visto que a média se encontra próxima a classificação de risco, além disso, a elevação desses valores é associada com risco cardiovascular, alterações no perfil lipídico, distúrbios metabólicos, hipertensão arterial, e diabetes (TURUCHIMA; FERREIRA; BENNEMANN, 2015). O excesso de peso deve ser tratado com o intuito de prevenir DCV, visto que causam efeitos metabólicos adversos nos níveis pressóricos. Além disso, a depressão, ansiedade e estresse psicossocial afetam a pressão arterial, pois estimulam o sistema nervoso simpático e leva ao aumento da frequência cardíaca, o que pode desencadear a hipertensão arterial em pessoas com transtornos psiquiátricos (CARLUCCI et al. 2013; QUINTANA, 2011). Entretanto, neste estudo, tanto os homens como as mulheres apresentaram níveis pressóricos normais, o que pode ser decorrente do uso crônico de medicamentos que possuem efeito hipotensor (SBC, 2016). No que se refere ao consumo alimentar foi verificado adequação de ingestão de proteínas, baixo consumo de lipídios e alto consumo de carboidratos, fato que pode ser decorrente de efeitos colaterais do uso crônico de antipsicóticos, principalmente os antagonistas dos receptores de serotonina que leva ao aumento do consumo de carboidratos simples, condição que também corrobora com o excesso de peso dos participantes (GARCIA et al., 2013). Os dados do perfil lipídico revelam que ambos os sexos apresentaram elevadas concentrações de LDL e triglicerídeos e reduzidas de HDL, o que caracteriza a hiperlipidemia, fator de risco para o desenvolvimento de aterosclerose, visto que a elevação do LDL induz a agressão ao endotélio vascular e inicia a formação da placa aterosclerótica (GONÇALVES et al., 2012). O consumo excessivo de carboidratos influencia as concentrações de triglicerídeos, uma vez que a excessiva glicose sérica circulante induz o acúmulo de gordura no tecido adiposo, dado observado no lipidograma dos participantes que apresentaram elevadas concentrações de LDL e triglicerídeos, enquanto o HDL se manteve abaixo do recomendado, fatores que têm sido associados ao risco cardiovascu-

16

ABRIL 2021

lar aumentado. Em relação a determinação do risco de desenvolver doenças cardiovasculares nos próximos dez anos, a maior parte dos indivíduos (80,40%) apresentou baixo risco cardiovascular, 7,80% apresentou risco moderado e 11,8% mostrou-se com alto risco para essa enfermidade, sendo importante considerar o percentual de risco moderado/alto, pois apesar de ter sido um percentual baixo nos indivíduos estudados, não pode ser considerado como tal, visto que associado com uma alimentação inadequada e as alterações que podem ser induzidas pelo uso de antipsióticos, esse percentual pode se elevar. No estudo de Cabral (2016) realizado com 298 pacientes com transtornos psiquiátricos, 81,9% apresentou baixo risco, 13,8% apresentou risco moderado e 4,4% mostrou alto risco. Em outro estudo, Haddad et al. (2017) analisou o risco de desenvolver doenças coronarianas por meio do ERF em 329 pacientes diagnosticados com esquizofrenia, entre 20 e 75 anos, no qual 68,8% dos pacientes apresentaram baixo risco, 31,6% risco intermediário e 7,6 % alto risco. No presente estudo, houve correlação positiva entre o risco cardiovascular calculado pelo escore de Framingham e o colesterol total, um quadro preocupante, pois a medida que aumenta o colesterol, se eleva também o risco, o que pode ser explicado pelo fato do colesterol ser um dos parâmetros exigidos para a avaliação do risco nesse escore. Além disso, a elevação lipídica sérica, principalmente, nos níveis de triglicerídeos, o aumento do colesterol total e o LDL são fatores que favorecem o aumento do risco para doença coronária (SAMPAIO, 2016).

. . . . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . .......

A partir dos resultados, pode-se observar que de acordo com o Escore de Framingham, grande parte da população estudada apresenta baixo risco de desenvolver doenças cardiovasculares em 10 anos, porém, os parâmetros bioquímicos e antropométricos revelam presença de alto risco cardiovascular nos pacientes estudados visto que, a elevação das taxas do perfil lipídico, o aumento da CC e do IMC estão relacionados com a causa de eventos cardíacos como a aterosclerose, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. Desta forma, devem ser incentivadas práticas alimentares adequadas, atividade física e controle do uso de medicamentos, para auxiliar NUTRIÇÃO EM PAUTA


Assessment of Cardiovascular Risk in People with Psychiatric Disorders

na modificação desses fatores de riscos, com o intuito de prevenir a ocorrência de eventos cardíacos e evitar que o escore se eleve.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores

Dra. Edinara Costa Santos; Dra. Soraya Soares da Silva; Dra. Antonia Rayanne Barros Rodrigues - Nutricionistas (Unifacema) Luana de Moura Monteiro – Fisioterapeuta. Mestre em Fisioterapia. Dra. Fabiane Araújo Sampaio - Nutricionista (UFPI). Mestre em Ciências e Saúde (UFPI). Doutora em Biotecnologia (Renorbio)

.. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Transtornos Mentais. Doenças cardiovasculares. Obesidade. KEYWORDS: Mental Disorders. Cardiovascular diseases. Obesity.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . RECEBIDO:27/1/21 – APROVADO: 20/3/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . REFERÊNCIAS

ALCOCER, L.A. et al. Global cardiovascular risk stratification: comparison of the Framingham method with the SCORE method in the Mexican population. Cir Cir., v.79, n.12, p.168-174, 2011. ANÇÃO, M.S. Programa de apoio à nutrição - NutWin versão 1.5 [CD-ROM]. São Paulo: Departamento de Informática em Saúde - SPDM - Unifesp/EPM. 2002. ANDRADE, M.F. Mitos e verdades sobre a utilização de sementes oleaginosas na prevenção e tratamento da doença cardiovascular. Nutrição em Pauta. Julho/2011. ATTUX, C. et al. Intervenções não farmacológicas para manejo do ganho de peso em pacientes com esquizofrenia em uso ABRIL 2021

clínica

de antipsicóticos. Arq Bras Endocrinol Metab., v.53, n.4, p.391-398, 2009. CABRAL, S.M.R. Risco cardiovascular e síndrome metabólica em indivíduos com transtornos mentais. Teresina. Dissertação [Mestre em saúde e comunidade]- Universidade Federal do Piauí. 2016. CARLUCCI, E.M.C et al. Obesidade e sedentarismo: fatores de risco para doença cardiovascular. Com. Ciênc. Saúde., v.24, n.4, p.375-384, 2013. GARCIA, P.C.O. et al. Perfil nutricional de indivíduos com transtorno mental, usuários do Serviço Residencial Terapêutico, do município de Alfenas – MG. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações., v.11, n.1, p.114-126, 2013. GONÇALVES, R.C. et al. Perfil lipídico e os fatores de risco para a doença aterosclerose em metalúrgicos de Quirinópolis-GO. Enciclopédia Biosfera., v.8, n.14, p.1615-1624, 2012. HADDAD, C. et al Coronary heart disease risk in patients withs chizophrenia: a Lebanese cross-sectional study. Journal of Comorbidity., v.7, n.1, p.79-88, 2017. MEYER, J.M.; STAL, S.M. The metabolic syndrome and schizophrenia. Acta Psychiatr Scand., v.119, n.1, p.1-14, 2009. PESSOA, E.V.M. et al. Relação entre fatores de risco cardiovascular e perfil lipídico em profissionais de uma instituição de ensino superior. Revista Eletrônica Acervo Saúde., p.328-335, 2017. QUINTANA, J.F. A relação entre hipertensão com outros fatores de risco para doenças cardiovasculares e tratamento pela psicoterapia cognitivo comportamental. Rev SBPH., v.14, n.1, 2011. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Atualização da diretriz brasileira de dislipidemias e prevenção de aterosclerose. Arq Bras Cardiol., v.109, n.2, 2017. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. IV Diretriz brasileira sobre dislipidemias e prevenção da aterosclerose. Arq Bras Cardiol, 2007. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. VII Diretriz brasileira sobre hipertensão arterial. Arq Bras Cardiol., v.107, n.3, 2016. SAMPAIO, R.L.L et al. Perfil socioeconômico, nutricional e fatores de risco cardiometabólico de pacientes esquizofrênicos em uso de antipsicóticos: Uma reflexão para intervenção nutricional. Rev Bras Promoç Saúde., v.29, n.1, p.60-67, 2016. TABELA BRASILEIRA DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS. NEPA-UNICAMP. 4 ed, rev. e ampl. 2011. TURUCHIMA, M.T; FERREIRA, T.N; BENNEMANN, R.M. Associação entre indicadores antropométricos (IMC e CC) em relação ao risco para doenças cardiovasculares. Saúde e Pesquisa., v. 8, p.55-63, 2015. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: Preventing and managing the global epidemic. Tec. l report series. 2000. ZORTÉA, K. et al. Avaliação antropométrica e bioquímica de pacientes com esquizofrenia usuários de clozapina. Rev. Nutr. Campinas., v.22, n.5, p.697-705, 2009.

NUTRIÇÃO EM PAUTA

17


Supplementation of the Mesocarpo Flour of the Babassu Coconut for Practitioners of Physical Activity: Findings of a review

Suplementação da Farinha do Mesocarpo do Coco Babaçu para Praticantes De Atividade Física: Achados de uma Revisão RESUMO: O presente artigo se trata de uma revisão da literatura científica nas bases de dados online/portais de pesquisa: LILACS, Scielo, e Google Acadêmico entre os anos de 2015 a 2021, sobre as propriedades funcionais da farinha do mesocarpo do coco babaçu aplicada na suplementação de praticantes de atividade física. Nos estudos selecionados, ficou claro o alto valor nutritivo do mesocarpo, seu benefício na saúde e sua provável importância na base alimentar de tais indivíduos, considerando sua composição significativa de carboidratos, lipídeos, proteínas e flavonóides. Essas afirmações são embasadas pelo fato do coco babaçu ser um fruto com uma carga nutricional, cultural e social elevada, cuja farinha é utilizada em tratamentos de reumatismo, artrite, úlcera, tumores e inflamações em geral (útero, ovários), além de ser muito indicado em casos de prisão de ventre, colite e obesidade para auxiliar no emagrecimento. Pesquisas demostram que a composição da farinha do mesocarpo do babaçu apresenta valores consideráveis de fibras, cálcio, magnésio, fósforo, ferro e outros nutrientes importantes para manutenção da saúde.

applied in the supplementation of physical activity practitioners. In the selected studies, the high nutritional value of the mesocarp and its beneficial in health and its probable importance in the food base of such individuals were made clear, through its considerable amounts of carbohydrates, lipides and proteins and flavonoides. These statements are based on the babassu being a fruit with a high nutritional, cultural and social load, where flour has already been used in treatments of rheumatism, arthritis, ulcer, tumors and inflammations in general (uterus, ovaries), is also very indicated in constipation, colitis and obesity to aid in weight loss. Research shows that the composition of babassu mesocarp flour presents considerable values of fibers, calcium, magnesium, phosphorous and iron and other important nutrients for health maintenance.

ABSTRAT: This article is a review of the scientific literature in online databases/research portals: LILACS, Scielo, and Google Scholar between 2015 and 2021, on the functional properties of the flour of the mesocarp of babassu coconut

Para Caspersen (1985) a atividade física é conceituada como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta em gasto energético maior que os níveis de repouso. Neste sentido durante

18

ABRIL 2021

.................

Introdução

. . . . . . . . . . ........

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Suplementação da Farinha do Mesocarpo do Coco Babaçu para Praticantes De Atividade Física: Achados de uma Revisão

a prática de atividade física, tanto o atleta quanto as pessoas que se exercitam por prazer precisam suprir adequadamente as necessidades do corpo (NICASTRO, 2018). A falta de conhecimento dos praticantes de atividade física em relação à alimentação saudável e suplementação nutricional vem sendo apontada em diversos estudos (BARROS, 2017). Diante dos fatos, é notório que o conhecimento dos praticantes de atividade física sobre alimentação saudável, nutrientes e fontes alimentares é insuficiente, bem como o conhecimento sobre suplementos alimentares (RODRIGUES, 2018). A farinha do mesocarpo de babaçu é usada como suplemento alimentar na alimentação escolar por seus valores nutritivos (OLIVEIRA et al., 2018). Apresentando uma quantidade e variedade de vitaminas significativas, a farinha é um importante aliado para a manutenção e o bom funcionamento do metabolismo, já que, nesse alimento, podemos encontrar as vitaminas A, B1, B2, B12, D, E, K3 (SILVA et al., 2021). Dessa forma, este estudo possui o objetivo de abordar e analisar a importância da suplementação da farinha do mesocarpo do coco babaçu para praticantes de atividade física, com o intuito de reforçar a relevância da sua utilização como suplemento alimentar para a obtenção de nutrientes, vitaminas e minerais, além do suprimento das necessidades do corpo e atuação como fonte de energia na prática de atividades físicas.

. . . ........... Me to dol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Este estudo tem como abordagem metodológica, uma pesquisa de revisão bibliográfica de cunho narrativa, explicativa e exploratória com abordagem qualitativa. A escolha deste método, pretende-se unir e resumir resultados de pesquisas sobre a importância da suplementação da farinha do mesocarpo do coco babaçu em praticantes de atividade física, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento acerca deste tema. Os dados foram interpretados, sintetizados e conclusões foram formuladas originadas dos vários estudos. (SILVA et al., 2019). A pesquisa foi realizada através de consulta nas bases dados Scielo, Lilacs, Google acadêmico. Foram selecionados 10 artigos no idioma português, entre os anos de 2015 a 2021. Optou-se pela pesquisa de publicações nacionais que tratavam do tema “farinha do mesocarpo do ABRIL 2021

esporte

coco babaçu na suplementação de praticantes de atividade física”. Os artigos foram estudados em sua plenitude e compilados a partir do eixo central da pesquisa para possível formação deste. Fez-se a pesquisa utilizando os descritores “Alimentos para Praticantes de Atividade Física”, “Alimentação Alternativa”, “Suplementos Nutricionais”.

. . . . . . . . . R e su lt a d o e D is c uss ã o. . . . . ........

Farinha do mesocarpo do coco babaçu

O babaçu é umas das plantas tradicionais nativas da flora brasileira e possui um grande potencial na finalidade medicinal (OLIVEIRA et al., 2018). A farinha do mesocarpo de babaçu é usada como suplemento alimentar na alimentação escolar por seus valores nutritivos. Outro emprego desta farinha são os extratos ricos em compostos fenólicos, flavonoides, apigenina, catequina, epicatequina e quercetina (OLIVEIRA et al., 2018). Mendes, 2015 constatou em um estudo que a catequina é um fitonutriente que tem alto efeito antioxidante e reduz a gordura corporal. O estudo observou que com o uso desse suplemento, a massa corporal magra aumentou mais rapidamente e que os flavonóides auxiliaram na melhoria do desempenho das atividades esportivas. O estudo de Neiva (2003) constatou que os efeitos das catequinas (catequinas e epicatequinas) na agregação plaquetária e os flavonóides são considerados aliados importantes contra infecções virais e microbianas. Esses nutrientes cooperam na oxigenação celular. A farinha do babaçu também é utilizada na medicina popular para o tratamento de dores menstruais, constipação, obesidade, reumatismo, ulcerações, leucemia e tumores e finalmente, em doenças inflamatórias relacionadas, como colite e artrite, o uso da farinha de mesocarpo de babaçu como medicamento é empírico e baseado no conhecimento popular (SILVA et al., 2017). As propriedades anti-inflamatória e analgésicas do mesocarpo de babaçu foram confirmadas experimentalmente usando um extrato de clorofórmio dos frutos secos (MAYA; RAO, 2019; DA SILVA; PARENTE, 2016). Perante as afirmativas expostas, pode-se inferir que a farinha do mesocarpo do coco babaçu e sua composição nutritiva, apresentam relevância no que se refere às suplementações em praticantes de atividade física, por possuir NUTRIÇÃO EM PAUTA

19


Supplementation of the Mesocarpo Flour of the Babassu Coconut for Practitioners of Physical Activity: Findings of a review

uma quantidade considerável de carboidratos, proteínas e flavonoides. Atividade física, conceitos e benefícios para as práticas cotidianas. Na antiguidade, desde os primeiros hominídeos, existia a percepção sobre a necessidade de se movimentar como uma forma de sobrevivência, visto que, os indivíduos dependiam exclusivamente da natureza para realizar suas atividades diárias. Com a evolução da sociedade, a comodidade e a facilidade na obtenção de recursos indispensáveis para a alimentação, higiene e demais prioridades, o homem se tornou cada vez mais sedentário (GUEDES, 2015). Na contemporaneidade, temas como atividade física, saúde e aspectos nutricionais se destacaram e obtiveram um espaço na rotina da população, com ênfase aos seus benefícios, além do alcance de padrões estéticos. Entretanto, os benefícios atrelados as movimentações voluntárias vão além dos benefícios associados ao físico, oportunizando a execução saudável e prazerosa de afazeres diários, por exemplo (COELHO, 2016). Alimentar-se de maneira saudável tem se tornado uma preocupação global, visto que as doenças crônicas não transmissíveis, tais como diabetes, câncer, doenças cardiovasculares e a obesidade representam uma grande ameaça para a saúde da população (MISSAGIA; REZENDE, 2017). A farinha do mesocarpo do coco babaçu como alternativa de suplementação em práticas de atividades físicas. O mesocarpo de babaçu é extraído da farinha em pó e dissolvido em água para uso popular como suplemento alimentar, pois é rico em carboidratos e sais minerais (GAITAN et al., 2015). Durante a prática de atividade física, tanto o atleta quanto as pessoas que se exercitam por prazer, precisam suprir adequadamente as suas necessidades (KNUTH et al., 2018). Desta maneira, a nutrição e o exercício estabelecem uma interrelação importante, pois uma alimentação balanceada e nutritiva melhora o rendimento do organismo, o desempenho físico, promove o reparo e construção de tecidos corporais, além de potencializar o efeito dos treinos, desta forma a farinha do mesocarpo do babaçu pode ser uma destas fontes, por ser considerado

20

ABRIL 2021

um alimento com alto valor nutricional, além de possuir uma considerável quantidade de carboidrato e proteínas, importantes para um despenho positivo na prática de atividade física (FONTES; NAVARRO, 2019). A falta de conhecimento sobre as alternativas para suprir as necessidades do organismo e aumentar o rendimento nas atividades físicas, faz com que em vários momentos os praticantes passem a adotar o uso de suplementações industrializadas de forma exagerada, desta forma buscar uma única fonte de alimento com substâncias importantes para este grupo vem ser de grande valia para evitar superdosagens de nutrientes e a farinha do babaçu se destaca por ser uma alternativa saudável de suplementação (OLIVEIRA, 2016). Dessa forma, com sua riqueza em carboidrato, proteína e a presença de propriedades anti-inflamatórias, a farinha do mesocarpo do coco babaçu pode atuar na suplementação e na manutenção dos sais minerais e vitaminas presentes no organismo humano, levando em conta que sua composição nutricional apresenta valores significativos de nutrientes como: carboidrato, proteínas, lipídios que são responsáveis pela energia durante e após exercício e como também a síntese proteica, e os micronutrientes ferro, cálcio, vitamina D, vitamina E, vitamina k3, vitamina B1, vitamina B2, vitamina B12, ácido fólico, magnésio, vitamina A e zinco, auxiliam no equilíbrio do organismos, destacando o ferro e zinco, que contribuem na oxigenação em exercícios de grande intensidade (aeróbico e anaeróbico) (SILVA et al., 2021). Como podemos observar no quadro 1. Com base nos dados fornecidos pela tabela, podemos inferir que a farinha apresenta quantidades consideráveis de carboidratos. Esse nutriente representa a principal fonte energética do organismo, tanto para os praticantes de atividade física quanto para os indivíduos sedentários. (BARROS, 2017). Quando consumido em quantidades adequadas, ajuda a preservar as proteínas teciduais e maximiza os resultados do treinamento (PAES, 2015). Para realização de exercícios existe um gasto de energia na contração muscular, por isso a necessidade de suplementação de carboidrato durante e pós exercício e como também oportunizando a realização de diversas funções vitais e contribuindo para a execução das atividades físicas. Os lipídios também representam uma fonte energética para o organismo durante a prática de atividade física (SILVA, 2015) e são ainda fundamentais no transporte de vitaminas lipossolúveis e fornecimento de ácidos graxos, notório que a farinha do mesocarpo do coco babaçu é de grande importância no âmbito esportiNUTRIÇÃO EM PAUTA


Suplementação da Farinha do Mesocarpo do Coco Babaçu para Praticantes De Atividade Física: Achados de uma Revisão

esporte

Quadro 1. Composição química e valor energético da farinha do mesocarpo do babaçu, utilizando o valor de referência de 100g da farinha. COMPOSTOS

COMPOSIÇÃO

Valor energético Carboidratos

329kcal 79,2g

Proteínas Lipídeos Colesterol Ferro Cálcio Vitamina D Vitamina E Vitamina k3

1,4g 0,2g NA g 18,3mg 61g 300,000 UI 2.500mg 300mg

Vitamina B1 Vitamina B2

380mg 1000mg

Vitamina B12 Ácido Fólico Magnésio

2000mg 162,50mg 39 g

Vitamina A Zinco Cinzas

140,000 UI 17,500mg 3,4g

Fonte: NEPA (2011).

vo, devido a sua vasta composição nutricional (BARROS; PINHEIRO; RODRIGUES, 2017). Diferente dos carboidratos, os lipídios não são encontrados em grandes quantidades no alimento. Entretanto, o quantitativo encontrado na farinha do mesocarpo do coco babaçu é o suficiente para a obtenção dos benefícios ofertados por esse componente, a função dos lipídios no exercício é de reserva energética e quando oxidados nas células, esse nutriente gera praticamente o dobro da quantidade de calorias liberadas na oxidação da mesma quantidade de carboidratos. Quando consumidos em excesso (não devem exceder 30% da ingestão calórica total) podem contribuir para o aumento do peso, doenças cardiovasculares, derrame cerebral e câncer. Para ter bons resultados é necessário uma prescrição correta de suplementos alimentares por nutricionistas (PINHEIRO, 2017). ABRIL 2021

Se relacionarmos a suplementação a base da farinha do mesocarpo do coco babaçu com as necessidades diárias de ingestão de vitaminas no corpo, concluímos que o alimento simboliza um importante aliado para o bom funcionamento dos compostos orgânicos que auxiliam na elaboração saudável do metabolismo, já que apresenta em sua composição uma quantidade significativa de vitaminas, como as vitaminas A, B1, B2, B12, D, E e K3. Os minerais cálcio, ferro, magnésio e zinco, aparecem de forma valiosa na composição nutricional desta farinha, e possuem inúmeros benefícios e grande relevância para a formação, construção e manutenção de funcionalidades do corpo na prática da atividade física (SILVA et al., 2017).

NUTRIÇÃO EM PAUTA

21


Supplementation of the Mesocarpo Flour of the Babassu Coconut for Practitioners of Physical Activity: Findings of a review

. . . ...... C onsi dera çõ es Finais . . . . . .. . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........

Este estudo permitiu a observação sobre a importância da utilização da farinha do mesocarpo do coco babaçu como uma alternativa nutricional para a suplementação corporal de praticantes de atividade física, considerando sua composição nutricional com propriedades nutritivas, e elevados níveis de minerais, nutrientes e vitaminas. Diante do fato de que muitos praticantes de atividades físicas acabam que por optar pelo uso de suplementações industrializadas, a suplementação a base da farinha do mesocarpo do coco babaçu atua como uma alternativa nutricional rica e benéfica a saúde. Desta maneira, o estudo se configura significativo, pois através do mesmo foi possível analisar e identificar a possibilidade da utilização da farinha do mesocarpo do coco babaçu como uma alternativa nutricional saudável e eficaz. Diante disso, mais pesquisas devem ser realizadas para que se comprove, de fato, a importância e as alternativas de suplementações naturais, a fim de auxiliar nas práticas de atividades físicas.

PALAVRAS-CHAVE: Alimentos para Praticantes de Atividade Física. Alimentação Alternativa. Suplementos Nutricionais. KEYWORDS: Foods for Persons Engaged in Physical Activities. Alternative Feeding. Dietary Supplements.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Sobre os autores

Erick Vinicius Rocha da Silva - Graduando do Curso de Licenciatura em Educação Fisica da Faculdade Anhanguera/Uniderp, Caxias-MA. Kaio Germano Sousa da Silva - Bacharel em Nutrição pelo Centro Universitário de Ciência e Tecnologia do Maranhão/ UNIFACEMA, Caxias-MA. Profa. Dra. Liejy Agnes dos Santos Raposo Landim - Nutricionista Doutoranda em Alimentos e Nutrição/UFPI. Mestre em Alimentos e Nutrição/UFPI. Wysllana Marinho Machado - Graduando do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Universidade Federal de Parnaíba/UFDPAR, Parnaíba-PI. Pedro Henrique Medeiros de Andrade ; Francisca Thawanny de Souza Silva; Ednaira Ruth Brito da Cruz - Graduandos em Enfermagem pelo Centro Universitário de Ciência e Tecnologia do Maranhão/ UNIFACEMA, Caxias-MA.

22

ABRIL 2021

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ RECEBIDO: 22/3/21 – APROVADO: 20/4/21

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ REFERÊNCIAS

BARROS, A. J. S. P. M. T. C.&. R. V. D. Conhecimento acerca da alimentação saudável e consumo de suplementos alimentares por praticantes de atividades físicas em academias. RBNE - Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, João Pessoa- PB, p. 301-311, 2017. CAETANO, N. E. A. Determinação de atividade antimicrobiana de extratos de plantas de uso popular como anti-inflamatório. Revista Brasileira de Farmacologia, Curitiba, v. 12, p. 132-135, 2015. CARVALHO, T. E. C. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Revista Brasileira de Medicina no Esporte, v. 9, n. 2, p. 43-56, 2015. CASPERSEN, C. J. E. A. Phisical Activity, Exercise and Physical Fitness: definitions and distinctions for health-related research. Public Health reports, v. 100, n. 2, p. 126131, 1985. COELHO, L. G.; CANDIDO, A. P. C.; MACHADO-COELHO G. L. L.; FREITAS, S. N. Associação entre estado nutricional, hábitos alimentares e nível de atividade física em escolares. Jornal de Pediatria - Vol. 88, N° 5, 2016. DA SILVA, B. P. PARENTE, J. P. An anti-inflammatory and immunomodulatory polysaccharide from orbignya phalerata. Fitoterapia , Milano, v. 72, n. 8, p. 887-893, 2016. FONTES E N; NAILA A; SANDINI, T. M. et al,. Acute and subacute (28 days) toxicity of green coffee oil enriched with diterpenes cafestol and kahweol in rats. Regulatory

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Suplementação da Farinha do Mesocarpo do Coco Babaçu para Praticantes De Atividade Física: Achados de uma Revisão

Toxicology and Pharmacology, v. 110, Feb 2019. GAITAN, R. N, Malafaia, O., Czeczko, N. G., Martin, N. L. P., Ferreira, L. M; Ribas C. A. P. M., & Araújo, L. R. R. Análise da cicatrização do cólon com uso do extrato aquoso da Orbignya phalerata (Babaçu) em ratos. Revista Acta Cirúrgica Brasileira, 21: 31-38, 2015. GUEDES, D. P; NETO, J. T. M; GERMANO, J. M; LOPES, V; SILVA, A. J. R. M. Aptidão física relacionada à saúde de escolares: programa fitness gram. Rev. Bras.Med. Esporte. Vol. 18, N° 2 – mar/abr, 2015. KNUTH, A. G; MALTA, D. C; DUMITH et al. Prática de atividade física e sedentarismo em brasileiros: resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 2008. Ciência & Saúde Coletiva, 16 (9): 3697-3705, 2018. MAYA, M. B. S.; RAO, V. S. Anti-inflammatory activity of Orbignia phalerata in rats. Phytotherapy Research, Oxford, v. 3, n. 5, p. 170-174, 2019. MENDES, A M. Caminhar: um ótimo exercício. ABC da Saúde, junho/2015. Disponível em: http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?624 Acesso em 20 fev. 2021. MISSAGIA, S. V.; REZENDE, D. C. A alimentação saudável sob a ótica do consumidor: identificando segmentos de mercado. XXXV Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, 2017. NEIVA, T. J.C. et al. Efeito das catequinas (catequina e epicatequina) na agregação plaquetária. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. [online]. 2003, vol.25, n.4, pp.207-212. ISSN 18060870. https://doi.org/10.1590/S1516-84842003000400005. NICASTRO, H. D. M. et al. Aplicação da escala de conhecimento nutricional em atletas profissionais e amadores de atletismo. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 14, n. 3, p. 205-208, 2018. NAVARO E. F.; NAILA A.; MAZZALI M. R. et al. Composition and physical properties of babassu seed (Orbignya phalerata) oil obtained by supercritical CO2 extraction. Journal of Supercritical Fluids, v. 150, p. 21-29, Aug. 2019. OLIVEIRA, N. A. Caracterização da farinha do mesocarpo e do óleo das amêndoas de babaçu ( Orbignya phalerata, Mart.) obtidos via extração com fluido supercrítico e líquido pressurizado: estudos pré-clínicos e toxicológicos. Universidade de São Paulo. Pirassununga, p. 210. 2018. OLIVEIRA, S.P., & Reyes, F. G. R. Biscoito com alto teor de fibra de milho: preparo, caracterização química e tecnológica e teste de aceitabilidade. Ciência e Tecnologia de Alimentos, 10(2): 273-86, 2016. OLIVEIRA, F. A. Os benefícios da atividade física no envelhecimento - uma revisão literária. Educação Física em Revista. V.5 n.1 jan/fev/mar/abr – 2016. PAES, S. R. Conhecimento nutricional dos pratiABRIL 2021

esporte

cantes de musculação de Estado de esportes do Distrito Federal. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 6, n. 32, p. 105-111, 2015. PINHEIRO, L. O., Carvalho, M. S., Cruz, O. G., Melere, C., Luft, V. C., Molina, M. C. B.& Chor, D. Eating patterns in the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil): an exploratory analysis. Cadernos de Saúde Pública, 32(5), e00066215, 2017. PONTES, M. Uso de suplementos alimentares por praticantes de musculação em academias de João Pessoa-PB. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 7, n. 37, p. 19-27, 2016. SILVA, K. G. S.; MELO, K. C.; SANTOS , S.A. P. de M. et al. Functional properties of babassu coconut mesocarp flour: a nutritional alternative against Covid-19. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 2, p. e58010212851, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i2.12851. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/12851. Acesso em: 8 mar. 2021. SILVA, K. G. S.; MORAIS, E. R. O; SILVA, F. T. S. E. et. al. A inclusão do surdo e deficiente auditivo no âmbito educacional: uma revisão. Revista Ciência & Saberes, v. ISLMC, p. 36-45, 2019. SILVA, K. G. S., BATISTA, I. V., COSTA, T. T., SIMPLICIO, A. P. M., LANDIM, L. A. S. R., & GOMES, F. O. (2017). Propriedades Funcionais do Coco Babaçu, Uma Revisão. Nutrição em pauta, 37: 39-42. SILVA, A. P. S. Caracterização físico-química e toxicológica do pó de mesocarpo do babaçu (Orbignya phalerata Mart): subsídio para o desenvolvimento de produtos (Dissertação de Mestrado) - Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil, 2015. RODRIGUES, R. A. P.Envelhecimento saudável e o exercício de direitos humanos. Revista Latino-Americana De Enfermagem, 15 (e3181), e3097, 2018. RODRIGUES, R. A. P. Envelhecimento saudável e o exercício de direitos humanos. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 27, n. 2, p. 30-43, 2019. DOI: http://dx.doi. org/10.1590/1518-8345.0000.3097 TABELA Brasileira de composição de alimentos. Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação- NEPA, UNICAMP, n. 4, 2011. VIEIRA, A. A. U. Atividade física - qualidade de vida e promoção da saúde. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte: Atheneu, 2015.

NUTRIÇÃO EM PAUTA

23


Dietetic Profile, Food Selectivity and Intestinal Dysbiosis In Children with Autistic Spectrum Disorder

Perfil Dietético, Seletividade Alimentar e Disbiose Intestinal em Crianças com Transtorno do Espectro Autista RESUMO: O autismo é caracterizado pelo comprometimento das habilidades comunicativas e comportamentais, além dos característica psicológicas, aspectos nutricionais e gastrointestinais vêm sendo descritos na literatura, assim visto a sua crescente importância faz-se imprescindível reunir os achados dessa temática, nesse sentido a presente pesquisa teve por objetivo descrever o perfil dietético, seletividade alimentar e disbiose intestinal em crianças com transtorno do espectro autista. Estudo de revisão de literatura, realizado no primeiro trimestre de 2021, a partir da busca cientifica nas bases Scielo, Lilacs e Pubmed com os seguintes termos: autismo, alimentação, disbiose e nutrição, foram incluídos artigos escritos em português ou inglês, realizados com crianças e publicados nos últimos 8 anos, foram excluídos artigos incompletos, realizados com adultos ou adolescentes e revisões de literatura. Os resultados evidenciam um padrão dietético inadequado nessa população com elevado consumo de alimentos que propiciam a disbiose intestinal, que por sua vez, relaciona-se ao agravamento do transtorno. ABSTRACT: Autism is characterized by compromised communication and behavioral skills, besides the psychological characteristics, nutritional and gastrointestinal aspects have been described in the literature, so as its growing importance makes it essential to gather the findings of this theme, in this

24

ABRIL 2021

sense this research aimed to describe the dietary profile, food selectivity and intestinal dysbiosis in children with autism spectrum disorder. A literature review study, conducted in the first quarter of 2021, based on the scientific search in Scielo, Lilacs and Pubmed with the following terms: autism, food, dysbiosis and nutrition, articles written in Portuguese or English, carried out with children and published in the last 8 years were included, incomplete articles carried out with adults or adolescents and literature reviews were excluded. The results show an inadequate dietary pattern in this population with high consumption of food that leads to intestinal dysbiosis, which in turn is related to the worsening of the disorder.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Int ro duç ã o

. . . . . . . . . . ........

O Termo autismo foi utilizado pela primeira vez em 1943 pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner para designar indivíduos com comportamento ritualístico e com importante comprometimento cognitivo, ao longo dos anos está denominação foi acrescida das descobertas da patologia tornando-se um conceito mais amplo, assim, NUTRIÇÃO EM PAUTA


Perfil Dietético, Seletividade Alimentar e Disbiose Intestinal em Crianças com Transtorno do Espectro Autista

atualmente o transtorno do espectro autista (TEA) é definido como uma condição ocasionada por alterações no neurodesenvolvimento sendo caracterizada pelo comprometimento das habilidades sócio comunicativas e comportamentais, com prevalência de interesses repetitivos, restritos e estereotipados em diversas atividades do cotidiano (NUNES; SCHMIDT, 2019). As alterações comportamentais podem se apresentar em diferentes níveis de gravidade (BAIO et al., 2018). Assim alguns indivíduos deste grupo apresentam deficiência intelectual (DI) grave, necessitando de cuidados permanentes, enquanto outros apresentam quociente de inteligência (QI) normal, com vida totalmente independente de cuidados de terceiros (OLIVEIRA; SERTIÉ, 2017). A etiologia da doença é ainda controversa, considera-se que o transtorno apresenta origem multicausal sendo influenciada por fatores genéticos e ambientais sofrendo maior influência deste último (SANDIN et al., 2014; PINTO et al., 2016). Com relação a sua epidemiologia verifica-se que dentre 1.000 nascidos vivos 16,8 manifestam o autismo, o equivalente a 1 diagnóstico a cada 59 crianças (BAIO et al., 2018). Os sintomas típicos do TEA estão presentes desde o nascimento, contudo, não são identificadas alterações significativas nas interações sócias, comunicativas e comportamentais, tais quais utilizadas para diagnóstico, nos primeiros seis meses de vida, dificultando assim o diagnóstico e intervenção precoce; a sintomatologia do TEA é observada de forma mais acentuada somente a partir dos 12 meses de idade na qual se identifica manuseio atípico de objetos, falta de atenção a sons e comportamentos repetitivos ou estereotipados (ZWAIGENBAUM, 2015). O diagnóstico ocorre em média após os cinco anos de idade, em decorrência de diversos fatores, como, escassez de serviços especializados, falta de contato e dificuldade no reconhecimento das manifestações pelos profissionais de saúde; a principal preocupação do diagnóstico tardio é consequente pior prognóstico com cronificação dos sintomas da doença (ZWAIGENBAUM et al., 2015). As características repetitivas, restritivas e estereotipadas, comum nestes pacientes, afetam também a alimentação podendo resultar no desenvolvimento da elevada seletividade na escolha de alimentos (RANJAN; NASSER, 2015; ZOBEL-LACHIUSA et al., 2015). Outro importante fator nutricional nessa população é a relação entre o autismo e disbiose intestinal; é frequentemente relatada em pacientes autistas alterações na composição ABRIL 2021

pediatria

e função da microbiota que resulta na ocorrência de distúrbios gastrointestinais, como alergias, intolerâncias alimentares e má absorção por insuficiência na produção de enzimas digestivas, que reduzem significativamente a variedade alimentar (WILLIANS et al., 2011; YANG et al., 2018). Outrossim, a disbiose intestinal relaciona-se com o aumento da permeabilidade do intestino que permite a passagem de macromoléculas para o sistema sanguíneos, os quais podem chegar ao sistema nervoso central e periférico reduzindo a efetividade do tratamento do TEA causando piora de prognóstico (WILLIANS et al., 2011; YANG et al., 2018). Visto a prevalência de seletividade alimentar e disbiose intestinal nessa população faz-se imprescindível reunir os achados dessa temática na literatura, assim a presente pesquisa teve por objetivo descrever o perfil dietético, seletividade alimentar e disbiose intestinal em crianças com transtorno do espectro autista.

. . . . . . . . . . . . . . . . Me to d ol o g i a . . . . . . . . . . . . . .......

Estudo de revisão de literatura, realizado no primeiro trimestre de 2021, a partir da busca de dados nas bases cientificas Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) com os seguintes termos: autismo, alimentação, disbiose e nutrição, estando todos cadastrados no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Foram incluídos artigos escritos em português ou inglês, realizados com crianças e publicados nos últimos 8 anos, foram excluídos artigos incompletos, realizados com adultos ou adolescentes e revisões de literatura. Todos os artigos encontrados foram salvos em drive e tiveram seus títulos lidos, os artigos repetidos foram apagados e os demais foram baixados para leitura rápida e exploratória dos resumos afim de verificar se os artigos apresentavam algum dos critérios de exclusão. Os artigos que se encaixaram em todos os critérios de inclusão foram lidos na integra e todas as informações consideradas importantes foram destacadas para compor o tópico esta revisão de literatura.

NUTRIÇÃO EM PAUTA

25


Dietetic Profile, Food Selectivity and Intestinal Dysbiosis In Children with Autistic Spectrum Disorder

. . . ...... R esu lt a do s e Dis c uss ã o . . .. . . . . . .

Perfil dietético de crianças autistas

No que se refere ao perfil dietético Rodrigues et al. (2020) ao realizar uma pesquisa com crianças autistas de 3 aos 10 anos de idade acompanhadas no Hospital e Maternidade APAMI (Associação de Proteção a Maternidade e a Infância), localizado no município de Vitória de Santo Antão – Pernambuco verificou que estas consomem mais frequentemente alimentos não saudáveis como ênfase no grupo alimentar que englobava doces, salgadinhos e guloseimas; essa mesma pesquisa mostrou ainda que as crianças com maior inadequação alimentar apresentaram maiores dificuldades nos aspectos comportamentais (r=0,47, p=0,009). Do mesmo modo, na pesquisa de Oliveira (2019) evidenciou-se a partir da análise do consumo alimentar de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no município de Vitória de Santo Antão – PE elevado consumo de doces, salgadinho e guloseimas principalmente por crianças abaixo de 6 anos. Outra pesquisa evolvendo criança com TEA, residentes no município de Arapongas Paraná, mostrou que estas preferem comumente alimentos que tenham gosto doce (55%) além disso 50% dos avaliados apresentavam resistência no consumo de legumes e verduras, e dentre os que relataram consumir somente 10% o realizava de forma regular (DA SILVA; ANDRADE, 2019). A preferência por alimentos açucarados pode ser resultante de diversas características do comportamento autistas, porém deve-se salientar que a introdução alimentar inadequada com a oferta de doces de forma compensatória pelo bom comportamento pode contribuir para um possível desenvolvimento de seletividade alimentar, característica comum nessa população (DA SILVA; ANDRADE, 2019).

Seletividade alimentar em crianças autistas

Crianças portadoras de autismo possuem cinco vezes mais seletividade alimentar quando comparada a crianças saudáveis da mesma faixa etária, sendo está a principal influenciadora do perfil dietético dessa população em geral o repertório alimentar destes é limitado ao máximo de 5 alimentos (CURTIN et al., 2014; SHARP et al., 2013). Apesar da elevada incidência de seletividade alimentar em portadores dessa patologia com repercussões

26

ABRIL 2021

significativas no consumo de alimentos a sua etiologia é ainda pouco definida, sugere-se que diversos componentes do TEA, tais como, modificações sensoriais, alterações comportamentais, comprometimento motores dentre outros influenciam na ocorrência e gravidade da seletividade alimentar (ROCHA et al., 2019). Independentemente dos fatores desencadeadores desta é imprescindível avaliar sua existência bem como identificar qual a principal conduta para reverter ou minimizar essa condição, uma vez que, influencia negativamente a variabilidade alimentar predispondo o indivíduo a carência de macro e micronutrientes e desequilíbrio energético, acarretando modificações antropométricas com danos significativos a saúde (FERREIRA, 2016). A pesquisa conduzida por Hubbard et al. (2014) com 53 crianças autistas evidenciou que a textura e consistência dos alimentos esteve relacionada a recusa alimentar entre a amostra avaliada. As características restritivas, repetitivas e estereotipadas frequentes em pacientes autistas são as principais motivadoras da ocorrência de seletividade alimentar visto que promovem fascínio por cores, sabores, cheiros, consistências e texturas específicas (KUSCHNER et al., 2017; POSAR; VISCOTI, 2018). Outro fator que pode influenciar a ocorrência da seletividade é a resposta exacerbada a diversos estímulos e experiências, dentre as quais, táteis, olfativas e bucais (POSAR; VISCONTI, 2018) fazendo com que crianças autistas apresentem uma resposta comportamental negativa a determinados tipos de alimentos por uma reduzida ou elevada sensibilidade sensorial (BEIGHLEY et al., 2013). As modificações sensoriais são frequentes em pacientes autistas, estima-se que cerca de 90% dos pacientes desenvolvem esta independente de sexo e idade, contudo são mais prevalentes em crianças (FERREIRA, 2016). Estas ocorrem em virtude do comprometimento do sistema nervoso central que afeta, consequentemente, a troca de mensagens neurais resultando em hipossensibilidade ou hipersensibilidade sensorial (POSAR; VISCONTI, 2018). Outrossim, as alterações comportamentais prejudicam a realização de funções executivas, tais como, saber os horários e tipos de alimentos ideais para cada refeição e podem influenciar na escolha e preferência alimentar resultando no consumo inadequado em quantidade, qualidade e horários (CZERMAINSKI et al., 2013). Um componente da tríade que caracteriza a seletividade alimentar é a dificuldade na introdução de novos alimentos, esta constitui-se em uma importante e frequente característica do paciente autista ocasionada pela NUTRIÇÃO EM PAUTA


Perfil Dietético, Seletividade Alimentar e Disbiose Intestinal em Crianças com Transtorno do Espectro Autista

hiperatividade e déficit de atenção presente neste grupo, considerando que esses pacientes se distraem com facilidade, sendo importante que os responsáveis da criança criem um ambiente seguro com ausência de poluições visuais ou auditivas que possam distrair a criança de forma que o alimento introduzido torne-se estimulante facilitando a sua aceitação (PORTELA, 2014). Outro importante fator contribuinte para a ocorrência da seletividade são as alterações motoras, tais como, dificuldade de mastigação deglutição, manuseio de talheres e outros utensílios alimentares que influencia o indivíduo a consumir alimentos mais adeptos a sua condição reduzindo a variabilidade alimentar influenciando de forma significativa a seletividade (KUSCHNER et al., 2017).

Disbiose intestinal no autismo

O trato gastrointestinal é habitado por conjunto de microrganismos com o predomínio de bactérias as quais podem ser comensais, probióticas ou patogênicas, estas devem estar presentes em quantidade e qualidade adequadas a fim de manter o equilíbrio do microbioma (MELO; OLIVEIRA, 2018). Quando ocorre desequilíbrio de bactérias intestinais, com aumento no número de patogênicas e redução de protetoras, manifesta - se o quadro denominado disbiose, a qual manifesta-se a partir de um quadro clínico bastante característico que inclui: constipação crônica, flatulência, cólicas e distensão abdominal (DOS SANTOS et al., 2018). Assim a presença de disbiose pode ser constatada por análise das proporções de bactérias comensais, probióticas e patogênicas do intestino ou a partir do rastreio sintomatológico, sendo esta a mais utilizada por sua praticidade e baixo custo, porém salienta-se que a análise das proporções de bactérias intestinais possui um resultado mais fidedigno (LOPES et al., 2017). Diversos fatores contribuem para o surgimento dessa condição com destaque ao uso indiscriminado de anti-inflamatórios, laxantes, antibioticoterapia, má digestão e reduzida ingestão de fibras (DOS SANTOS et al., 2018). Pesquisas evidenciam que a disbiose intestinal apresenta importante relação com uma série de doenças, principalmente as neurológicas com destaque ao autismo; acredita-se que em virtude do uso crônico de medicações e alterações de permeabilidade intestinal pacientes autistas apresentam maior propensão ao desenvolvimento dessa condição (QIAO et al., 2018). ABRIL 2021

pediatria

No estudo de Goularte et al. (2020) foram frequentes os relatos de sintomas gastrointestinais típicos de disbiose, dos quais 58,3% relataram flatulência, 50% constipação e 33,3% apresentavam diarreia aguda. Corroborando com esses achados, um estudo transversal e descritivo, evidenciou presença de disbiose em 87% da população avaliada sendo a presença de refluxos, flatulências, distensão abdominal, diarreia e constipação as mais comuns (SILVA; SANTOS; SILVA, 2020). Fulceri et al. (2016) ao realizar um estudo comparativo com 281 crianças portadoras de autismo identificou que estas apresentaram 22,6% mais chance de desenvolverem disfunções gastrointestinais quando comparadas as crianças sem o transtorno com destaque a constipação. Com relação a análise da microbiota intestinal, algumas pesquisas evidenciam que em pacientes autistas esta apresenta importante comprometimento da sua diversidade, com aumento do número de bactérias patogênicas, a exemplo o estudo de Plaza-Diaz et al. (2019) que realizou a análise de amostras fecais a partir de uma abordagem metagenômica de crianças autistas, identificou níveis aumentados de microrganismos patogênicos na microbiota nessa população, sendo os principais da família Cryptococcaceae (Candida ssp.), enterobacteriaceae (Escherichia coli, Shigella ssp.) e Clostridiaceae (Clostridium ssp.) a prevalência desta última foi relatada também no estudo de Iovene et al. (2017). Além de aumento no número de bactérias patogênicas evidências cientificas apontam que esta ocorre em detrimento da diminuição de grupos benéficos ao trato gastrointestinal, como no estudo de Tomova et al. (2015) que ao analisarem a microflora fecal de crianças autistas encontraram a diminuição significativa da razão Bacteroidetes/Firmicutes e elevação da quantidade de Lactobacillus spp. A importância em estudar a presença da disbiose intestinal nessa população baseia-se nas crescentes evidências que estas estão relacionadas ao agravamento do transtorno, como evidenciado por Fulceri et al. (2016) os quais identificaram que pacientes com disfunções gastrointestinais apresentaram de forma mais frequente irritabilidade e ansiedade, isolamento social, mostrando assim que a disbiose pode influenciar na intensidade sintomatológica do autismo (FULCERI et al., 2016). Do mesmo modo, Tomova et al. (2015) e Iovene et al. (2017) verificaram que as alterações nas proporções de bactérias intestinais apresentaram forte correlação com a gravidade do autismo, sendo mais comuns nesses a presença de NUTRIÇÃO EM PAUTA

27


Dietetic Profile, Food Selectivity and Intestinal Dysbiosis In Children with Autistic Spectrum Disorder

comportamento restritivos, repetitivos e estereotipados. A microbiota saudável possibilita a manutenção da homeostase do indivíduo propiciando a sintetização de diversas vitaminas, como as do complexo B e K, outrossim, estimula a produção de ácido butírico, propiônico e acético (KANG et al., 2013). Além disso, uma microbiota saudável é responsável por realizar a manutenção da integridade da mucosa intestinal impedindo que microrganismos patogênicos, alimentos não digeridos ou toxinas se desloquem através do organismo, sugere-se assim que a presença de disbiose propicia a quebra dessa barreira com ocorrência de hiperpermeabilidade intestinal que proporciona, por sua vez, a passagem de macromoléculas alimentares, toxinas e microrganismos patogênicos para circulação sistêmica, que resulta em endotoxemia metabólica e desenvolvimento de um estado inflamatório crônico, as quais ao alcançarem o cérebro afetam negativamente a sua função influenciando assim na intensificação da sintomatologia do TEA (KANG et al., 2013).

. . . ............ C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conclui-se que pacientes portadores de autismo apresentam um perfil dietético inadequado com um elevado consumo de alimentos doces e processados em detrimento do baixo consumo de alimentos in natura, estando esse perfil dietético intimamente relacionada a seletividade alimentar, característica habitual em pacientes com essa condição. Com relação a disbiose intestinal os achados sintomatológicos e análise das proporções de bactérias intestinais apontam que essa é frequente nesse grupo de pacientes influenciando de forma significativa na sintomatologia da doença. Sugere-se que estudos de campo, mais aprofundados que objetivem avaliar a tríade seletividade alimentar, disbiose intestinal e sintomatologia do autismo sejam realizados para melhor compreender essa relação, visto que fica evidente uma associação entre estes. A seletividade alimentar resulta em um padrão dietético inadequado caracterizado pelo baixo consumo de fibras associado ao elevado consumo de doces, que a nível intestinal influenciam em alterações quali-quantitativas de bactérias comensais, probióticas e patogênicas, a disbiose intestinal, que reflete na ocorrência de sintomas de gastrointestinais com destaque a diarreia que, por sua

28

ABRIL 2021

vez, pode agravar o padrão disbiótico pela varredura de microvilosidades. Essa cascata de acontecimentos reflete na permeabilidade da mucosa do intestino que quando aumentada permite a passagem de diversas macromoléculas e toxinas, as quais passam para circulação sanguínea e alcançam o cérebro afetando o sistema nervoso periférico e central piorando a sintomatologia do TEA.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Dra. Alícia Gleides Fontes Gonçalves - Nutricionista Residente em Neurologia. Dra. Larissa Souza e Silva – Nutricionista pela Universidade federal do Pará. Luana Silva Batista - Acadêmica Nutrição Universidade federal do Pará. Jéssica Carolina dos Santos Brabo; Paula Raquel Dias da Costa; Acadêmicas de Enfermagem da Universidade da Amazônia. Dra. Mayra de Brito Virgolino – Nutricionista. Pós-graduanda em saúde pública. Escola Superior da Amazônia. Dra. Carla Suelen Assunção da Silva – Nutricionista. Pós-graduanda em nutrição estética e esportiva.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ PALAVRAS-CHAVE: Autismo. Alimentação. Disbiose. Nutrição. KEYWORDS: Autism. Feeding. Disbiosis. Nutrition.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ RECEBIDO: 5/3/21 – APROVADO:10/4/21

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ REFERÊNCIAS

BAIO, J et al. Prevalence of autism spectrum disorder among children aged 8 years – autism and developmental disabilities monitoring network, 11 sites, United States, 2014. MMWR Surveillance Summaries. Virginia, v. 67, n. 6, p. 1-23, 2018. BEIGHLEY, J.S et al. Food selectivity in children with and without an autism spectrum disorder: investigation of diagnosis NUTRIÇÃO EM PAUTA


Perfil Dietético, Seletividade Alimentar e Disbiose Intestinal em Crianças com Transtorno do Espectro Autista

and age. Research in Developmental Disabilities. London, v. 34, n. 10, p. 3497-503, 2013. CURTIN, C; JOJIC, M; BANDINI, L.G. Obesidade em crianças com transtorno do espectro do autismo. Harvard Review of Psychiatry. Cambridge, v. 22, n. 1, p. 93 - 103, 2014. CZERMAINSKI, F.R et al. Funções executivas em crianças e adolescentes com transtorno do espectro do autismo: uma revisão. Psicologia. Ribeirão Preto, v. 44, n. 4, p. 518-525, 2013. DA SILVA ROSA, M; ANDRADE, A.H.G. Perfil nutricional e dietético de crianças com transtorno espectro autista no município de Arapongas Paraná. Revista Terra & Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa, v. 35, n. 69, p. 83-98, 2019. DOS SANTOS M.M et al. Efeitos funcionais dos probióticos com ênfase na atuação do kefir no tratamento da disbiose intestinal. UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 14, n. 37, p. 144-156, 2018. FERREIRA, N.V.R. Estado nutricional de crianças com transtorno do espectro autista. 2016. 155f. Dissertação (Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente, área de concentração: Neuropediatria, Nutrição Infantil) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. FULCERI, F et al. Gastrointestinal symptoms and behavioral problems in preschoolers with autism spectrum disorder. Digestive and Liver Disease, Milão, v. 48, n. 3, p. 248– 254, mar. 2016. GOULARTE, L.M et al. Transtorno do Espectro Autista (TEA) e hipersensibilidade alimentar: perfil nutricional e prevalência de sintomas gastrointestinais. Revista da Associação Brasileira de Nutrição-RASBRAN, v. 11, n. 1, p. 48-58, 2020. HUBBARD, K.L et al. A comparison of food refusal related to characteristics of food in children with autism spectrum disorder and typically developing children. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics. Sydney, v. 114, n. 12, p. 1981-1987, 2014. IOVENE, M.R et al. Intestinal dysbiosis and yeast isolation in stool of subjects with autism spectrum disorders. Mycopathologia, Califórnia, v. 182, n. 3-4, p. 349-363, Apr. 2017. KANG, D.W et al. Reduced incidence of Prevotella and Other Fermenters in Intestinal Microflora of Autistic Children. PLos ONE, San Francisco, v. 8, n. 7, p. 68322, 2013 KUSCHNER, E.S et al. The BUFFET Program: Development of a Cognitive Behavioral Treatment for Selective Eating in Youth with Autism Spectrum Disorder. Clinical Child And Family Psychology Review. Rio de Janeiro, v. 20, n. 4, p.403-421, 2017. LOPES, C.L.R; DOS SANTOS, G.M; COELHO, F.O.A.M. Prevalência de sinais e sintomas de disbiose intestinal em pacientes de uma clínica em Tersina-Pi. Ciência & Desenvolvimento-Revista Eletrônica da FAINOR. Bahia, v. 10, n. 3, 2017. MELO, B.R.C; OLIVEIRA, R.S.B. Prevalência de disbiose intestinal e sua relação com doenças crônicas não transmissíveis em estudantes de uma Instituição de Ensino Superior de Fortaleza-CE. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento. v.12, n.74, p.767-755, 2018. NUNES, D.R.P; SCHMIDT, C. Educação especial e autismo: das práticas baseadas em evidências à escola. Cadernos de Pesquisa, v. 49, n. 173, p. 84-104, 2019 OLIVEIRA, K.G; SERTIÉ, A.L. Transtornos do espectro autista: um guia atualizado para aconselhamento genético. Einstein. v. 15, n. 2, p:233-8, 2017. OLIVEIRA, Y.K.S. Consumo alimentar de crianças com ABRIL 2021

pediatria

transtorno do espectro autista (TEA) no município de Vitória de Santo Antão-PE. 2019. 67f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Nutrição) – Universidade Federal de Pernambuco, Bahia, 2018. PINTO, R.N.M et al. Autismo Infantil: impacto do diagnóstico e repercussões nas relações familiares. Revista Gaúcha de Enfermagem. v. 3, n. 37, p. 12-23, 2016. PLAZA-DIAZ, J, et al. Autism Spectrum Disorder (ASD) with and without Mental Regression Is Associated with Changes in the Fecal Microbiota. Nutrients, Basel, v. 11, n. 2, p. 337- 353, Feb. 2019 PORTELA, M.M.F.A. Controle restrito de estímulos em autistas: avaliação de um procedimento de Resposta de Observação Diferencial e estímulos com diferenças críticas. 2014. 59f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Experimental) – Pontificia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014. POSAR, A; VISCONTI, P. Sensory abnormalities in children with autism spectrum disorder. Journal of Pediatrics. v. 94, n. 4, p:342-350, 2018. QIAO, Y et al. Alterations of oral microbiota distinguish children withautism spectrum disorders from healthy controls. Scientific Reports. v. 1, n. 8, p. 1-12, 2018. RANJAN, S; NASSER, J. Nutritional Status of Individuals with Autism Spectrum Disorders: Do We Know Enough? Advances in Nutrition. v. 6, n. 4, p. 397–407, 2015. ROCHA, G.S.S et al. Análise da seletividade alimentar de crianças com Transtorno do Espectro Autista. Revista Eletrônica Acervo Saúde. v. 1, n. 24, p. 2-8, 2019. RODRIGUES, C.P.S et al. O consumo alimentar de crianças com Transtorno do Espectro Autista está correlacionado com alterações sensório-oral e o comportamento alimentar. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 9, p. 67155-67170, 2020. SANDIN, S et al. The familial risk of autism. Journal of the American Medical Association v. 311, n. 7, p.1770-7, 2014. SILVA, D.V; SANTOS, P.N.M; SILVA, D.A.V. Excesso de peso e sintomas gastrintestinais em um grupo de crianças autistas. Revista paulista de Pediatria, v. 38, N. 1, P. 15-20, 2020. SHARP, W; BURRELL, T.L; JAQUESS, D. L. The autism meal plan: A parenttraining curriculum to manage eating aversions and low intake among children with autism. Revista Autismo. v. 18, n. 6, p.712–722, 2013. TOMOVA, A et al. Gastrointestinal microbiota in children with autism in Slovakia. Physiology & Behavior, Zurique, v. 138, p. 179–187, Jan. 2015. WILLIAMS, B et al. Digestão e transporte de carboidratos prejudicados e disbiose da mucosa no intestino de crianças com autismo e distúrbios gastrointestinais. Revista Plos One. v.6, n.1, p. 245-285, 2011. YANG, Y; TIAN, J; YANG, B. Targeting gut microbiome: a novel and potential therapy for autism. Life Sciences. v. 194, n.1, p.11–19, 2018. ZOBEL-LACHIUSA, J et al. Sensory differences and mealtime behavior in children with autism. The American Journal of Occupational Therapy. v. 69, n. 5, p.1-8, 2015. ZWAIGENBAUM, L et al. Identification of Autism Spectrum Disorder: Recommendations for Practice and Research. Pediatrics. v. 136, n. 1, p.10-40, 2015. NUTRIÇÃO EM PAUTA

29


Urban and Community Gardens in the City of Teresina-PI

Hortas Urbanas e Comunitárias na Cidade de Teresina-PI

RESUMO: A horta comunitária é um espaço de cultivo onde há troca de experiência, nos quais os indivíduos interagem numa ação comum. Neste espaço, também desenvolvem habilidades sociais e cultivam amizades, que contribuem para sua socialização a um grupo criando uma identidade coletiva e ao mesmo tempo construindo a identidade individual. Nesse contexto, em Teresina, destacam-se as Hortas Comunitárias, como uma política pública da Prefeitura Municipal, objetivando gerar trabalho e renda, a melhorar o padrão alimentar das famílias carentes da periferia e aumentar a oferta de hortaliças para a comunidade. O presente estudo teve como objetivo realizar um levantamento da literatura científica sobre Hortas Urbanas e Comunitárias no município de Teresina-PI e sua relação com a sustentabilidade, promoção a saúde, bem como, a renda familiar dos agricultores. Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura científica, buscando de reunir pesquisas relacionadas a temática e incentivar os leitores sobre a importância tanto da implantação das hortas comunitárias, quanto da utilização dos produtos plantados e colhidos para trazer melhorias na saúde e na renda familiar, realizada no mês de junho de 2019, por meio das bases de dados online: Google Acadêmico e SCIELO, sendo inclusos artigos originais publicados no período de 2006 a 2018, em idioma português. Sabe-se que hortas caseiras e comunitárias, assim como

30

ABRIL 2021

outras instituições, facilitam o acesso à produção de alimentos, reduzem os custos de transporte entre o produtor e o consumidor, embelezam o espaço urbano, aumentam as relações sociais e a ampliação e troca de receitas com os produtos de hortas. Contudo, conclui-se que as hortas comunitárias podem melhorar a qualidade da alimentação das comunidades e incentivar hábitos alimentares saudáveis além de despertar o interesse para o resgate da cultura alimentar, o trabalho em grupos de produção e a melhoria do nível de renda. ABSTRACT : The community garden is a space for cultivation where there is an exchange of experience, in which individuals interact in a common action. In this space, they also develop social skills and cultivate friendships, which contribute to their socialization to a group by creating a collective identity and at the same time building individual identity. In this context, in Teresina, the Community Gardens stand out, as a public policy of the City Hall, aiming to generate work and income, to improve the food standard of poor families in the periphery and increase the supply of vegetables for the community. This study aimed to carry out a survey of the scientific literature on Urban and Community Gardens in the city of Teresina-PI and its relationship with sustainability, health promotion, as well as the family income of farmers. This study is an integrative review of NUTRIÇÃO EM PAUTA


Hortas Urbanas e Comunitárias na Cidade de Teresina-PI

the scientific literature, seeking to gather research related to the theme and encourage readers about the importance of both the establishment of community gardens, and the use of products planted and harvested to bring improvements in health and income family, held in June 2019, through the online databases: Google Academic and SCIELO, including original articles published from 2006 to 2018, in Portuguese. It is known that home and community gardens, as well as other institutions, facilitate access to food production, reduce transport costs between the producer and the consumer, beautify the urban space, increase social relations and increase and exchange revenue with vegetable products. However, it is concluded that community gardens can improve the quality of food in communities and encourage healthy eating habits, in addition to arousing interest in the recovery of food culture, working in production groups and improving the level of income.

. . . .............. Int ro du ç ã o

. . . . . . . . . .. . . . . . . .

A horta comunitária é um espaço de cultivo onde existe uma troca de experiência, cultura e conhecimento fazendo com que haja uma interação entre os indivíduos. Neste espaço, cultivam-se hortaliças, frutas, condimentos e espécies medicinais que são de crescimento rápido, utilizadas para despertar o interesse e o estimulo de um hábito alimentar mais saudável, assim contribuindo com a socialização e o desenvolvimento de habilidades sociais, permitindo a um grupo a criação de uma identidade coletiva, como também a construção da identidade individual (SEABRA JÚNIOR et al., 2003; SEABRAR JÚNIOR et al., 2010). Segundo Monteiro; Monteiro (2006), em Teresina-PI destacam-se as Hortas Comunitárias, como uma política pública da Prefeitura Municipal, principalmente na região do Grande Dirceu, com objetivo de gerar trabalho e renda, a melhorar o hábito alimentar das famílias carentes da periferia, aumentando a oferta de hortaliças no município assim sendo está uma medida combatente à pobreza. As políticas públicas incentivam o desenvolvimento das hortas comunitárias com o propósito de gerar renda e com isso reduzir a pobreza e proporcionar também segurança alimentar as famílias. De acordo com Barbosa (2007), existe uma grande importância no cultivo de hortícolas com o plantio de ABRIL 2021

saúde pública

forma orgânica, assim promovendo a segurança alimentar e nutricional dos indivíduos envolvidos, contudo, no quesito nutricional, a diversidade de espécies vegetais medicinais e alimentares contribui para a complementação da dieta familiar. Contudo, Pereira; Arce (2016), afirmam que os órgãos públicos, tanto municipais, estaduais e federais, criam programas comunitários que otimizem a utilização das hortas comunitárias para que possam auxiliar no estilo de vida saudável dos usuários, bem como, funcionar como geração de renda para as comunidades e agricultores. A grande maioria dos estudos de agricultura urbana e periurbana otimiza a geração de renda e a produção para o alto consumo, mesmo com sua dimensão referida em diferentes programas e políticas relacionadas à saúde (COSTA, 2015). Contudo, vale ressaltar que as hortas comunitárias de Teresina não apresentam isenção das dificuldades que existem na agricultura brasileira, incluindo a baixa produtividade, o uso indevido do local de cultivo, o baixo nível de vida no campo, e transferência para os intermediários de parte da renda que lhe é devida (CARNEIRO, 2018). De acordo com Monteiro; Mendonça (2004) a utilização de hortas comunitárias proporciona lazer e prazer, tendo o cultivo agrícola como uma ocupação e terapia complementar. De Carvalho et al., (2006), complementa ainda que há contribuição para o estilo de vida saudável favorecendo a promoção da boa saúde de todos os envolvidos no consumo dos produtos. Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo realizar um levantamento literário científico sobre Hortas Urbanas e Comunitárias no município de Teresina-PI e sua relação com a sustentabilidade, promoção à saúde, bem como, a renda familiar dos agricultores.

. . . . . . . . . . . . . . Me to d ol o g i a . . . . . . . . . . . . . . .......

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura científica, buscando de reunir pesquisas relacionadas a temática e incentivar os leitores sobre a importância tanto da implantação das hortas comunitárias, quanto da utilização dos produtos plantados e colhidos para trazer melhorias na saúde e na renda familiar. NUTRIÇÃO EM PAUTA

31


Urban and Community Gardens in the City of Teresina-PI

A busca foi realizada no mês de junho de 2019, por meio das bases de dados online: Google Acadêmico e SCIELO (Scidentific Eletrônic Library Online), utilizando os descritores: “Agricultura urbana”, “Cultivos agrícolas” e “Renda familiar”, cadastrados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Para os critérios de inclusão foram utilizados: referências científicas com a temática de hortas comunitárias no município de Teresina – PI, publicados no período de 2006 a 2018, sendo artigos originais, no idioma português. Para os critérios de exclusão foram estudos fora do objetivo da pesquisa, estudos de revisão, estudos que estivessem fora do período delimitado e não disponíveis em texto completo. Foram selecionados um total de 09 referências relacionadas a temática de hortas comunitárias, e logo após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão permaneceram 05 artigos originais para compor está revisão. As referências foram analisadas de forma sistemática e agrupadas em tabela sendo preenchida de acordo com: autor/ ano, título do artigo, métodos, principais resultados e conclusão. A revisão integrativa de literatura assegura os aspectos éticos, garantindo a autoria dos artigos pesquisados, sendo os autores citados tanto no corpo do texto como nas respectivas referencias deste trabalho, obedecendo as normas da Associação Brasileira de Normas – ABNT.

. . . ..... R esu lt a do s e Dis c uss õ es . . . . . . . . . . Nota-se que a estratégia das hortas comunitárias nas comunidades teresinenses apresentam papel significante no complemento extra na renda familiar dos agricultores, tendo em vista algumas dificuldades apresentadas pelos mesmo, como falta de financiamento, baixa demanda, furtos nas plantações e concorrências entre as hortas, são fatores relatados como motivos que dificultam o trabalho em hortas e a geração de renda principal das famílias que aderem a estratégia do trabalho com as hortas comunitárias para gerar renda familiar. Tendo em vista estas informações, na tabela 1 estão descritos os resultados referentes à caracterização dos levantamentos dos estudos encontrados sobre Hortas Urbanas e Comunitárias no município de Teresina-PI publicados no período de 2006 a 2018.

32

ABRIL 2021

Monteiro; Monteiro (2006), realizaram uma pesquisa de campo em 43 hortas comunitárias de Teresina-PI em que foram detectados que a maioria dos horticultores eram do sexo feminino, possuindo mais de 45 anos de idade, tendo ensino fundamental incompleto, vivendo com uma renda de até um salário mínimo e procedentes do interior do estado, sendo uma atividade familiar visto que os horticultores eram constituídos por filhos e cônjuges. Verificaram ainda que existia uma baixa capacitação entre os trabalhadores nas hortas, visto que apenas 63% deles obteve contato com cursos ou palestras em que ensinassem as práticas corretas do programa de hortas, faltando a organização social e no cultivo dos alimentos para que possa comercializá-los com mais qualidade e segurança. Portanto, foi possível notar que falta a participação da prefeitura nas melhorias das informações educacionais e de outros métodos, para que as famílias beneficiárias possam adotar melhores condições na prática de cultivo e assim proporcionar a boa qualidade dos produtos e promoção à saúde. Outra pesquisa realizada por Teixeira (2011), em que aponta que os horticultores organizam seus canteiros obedecendo as regras para realizar a drenagem correta, fazendo a contenção do solo e elevação dos canteiros com a utilização de materiais como, restos de construção (telhas, tijolos, madeiras), garrafas PET. Materiais estes, que prejudicam o solo e a qualidade da produção, uma vez que há o acúmulo de restos de lixo podendo atrair animais, insetos, podendo comprometer a saúde dos manipuladores e consumidores. Nas hortas visitadas, notou-se que havia preferência no plantio de hortícolas de pequeno porte, como as cebolinhas, coentro, alface, vendendo estes produtos para pequenas mercearias da região. Também foi percebido diante aplicação do questionário e entrevista, baixo nível de escolaridade dos horticultores, relatos de pequenos furtos por não ter vigilantes e falta de assistência técnica que induzem ao não investimento em melhores condições de cultura agrícola na região. O estudo corrobora que é de insumo importância a utilização das hortas urbanas para a geração de renda familiar dos horticultores. No estudo de Silva et al., (2014), em que entrevistou 60 horticultores, a maioria deles possuíam idade entre 50 e 60 anos, identificando que residem, trabalham e são proprietários nas terras a muito tempo, sendo em sua maioria com baixa escolaridade, buscando então na agricultura um meio de sobrevivência. Foi identificado que os produtos de maior plantio nestas hortas urbanas são: abóbora, alface, batata-doce, berinjela, beterraba, cebolinha, cenoura, coentro, couve, feijão-vagem, maxixe, pepino, pimenta, pimentão, quiabo, rúcula, tomates e as planNUTRIÇÃO EM PAUTA


Hortas Urbanas e Comunitárias na Cidade de Teresina-PI

saúde pública

Tabela 1. Caracterização das referências bibliográficas sobre Hortas Urbanas e Comunitárias no município de Teresina-PI e sua relação com a sustentabilidade, promoção à saúde, bem como, a renda familiar dos agricultores. Autor/ano Título

Métodos

Principais resultados

Conclusão

MONTEIRO; Hortas comunitárias MONTEIRO, de Teresina: política 2006 pública de geração de renda e promoção do desenvolvimento local

Os dados secundários foram coletados no IBGE, na SDR e em pesquisas realizadas em bibliotecas e na Internet. Aplicou-se questionários a 10% dos 2.430 produtores cadastrados na Prefeitura de Teresina nas 43 Hortas Convencionais.

Os horticultores optam pelo cultivo que gera baixo rendimento. As principais dificuldades são: baixa demanda; falta de estrutura e organização; concorrência entre os produtores; roubos; concorrência com outros e a falta de financiamento.

Apesar da geração de rendimentos para os horticultores estes ainda representam muito pouco, servindo menos como fonte única e mais como complemento da renda

TEIXEIRA, 2011

Agricultura urbana na cidade de Teresina: hortas comunitárias-políticas públicas ou segurança alimentar?

Realizado um levantamento qualitativo com entrevista e aplicação de questionário mediante visitas de campo

O baixo nível de escolarização, aliado a falta de assistência técnica, refletindo a não melhoria nos investimentos em novas culturas agrícolas por parte dos horticultores.

Mesmo diante as diversas dificuldades relatadas, a utilização da agricultura urbana se faz importante para a renda familiar dos horticultores, corrobora para uma melhor sustentabilidade, economia e melhora da alimentação da sociedade.

SILVA et al., 2014

Agricultura urbana em Teresina: o rural que permanece na Cidade.

Pesquisa qualitativa, a partir do uso de observação direta, aplicação de questionário com 75 agropecuaristas e entrevistas com antigos moradores da área, representantes e uso de depoimento de agricultores urbanos envolvidos.

Alguns entrevistados apontam trabalhar em outros cargos durante parte do dia (pedreiros, lavadeiras, domésticas, frentistas) e buscavam na agricultura urbana um outro meio de complemento da renda, devido à baixa escolaridade entre eles.

Ressalta-se que a agricultura urbana tem contribuído para enfrentar desafios, como desemprego, fome e pobreza. Cumprindo finalidades econômicas, sociais, apoiando a independência financeira e induzindo a melhor consumo alimentar.

SILVA et al., 2016

Agricultura Urbana: Horta Comunitária Do Bairro Dirceu Arcoverde II Em Teresina – PI: Um estudo de Caso

Realizou-se um estudo do tipo exploratório descritivo com 102 horticultores do bairro Dirceu Arcoverde II em Teresina/PI, no período de março a abril de 2016, aplicando questionário junto a 20 horticultores.

Observou-se que dos 20 horticultores da pesquisa, sexo masculino equivalendo a 55% e apenas 45% do sexo feminino. 50% dos homens entre 61 a 70 anos, enquanto 35% das mulheres entre 41 a 60 anos.

A Horta Comunitária do bairro Dirceu Arcoverde II, Teresina/PI apresenta um relevante papel para a geração de renda e para o desenvolvimento familiar dos envolvidos nesta atividade.

CARNEIRO et al., 2018

Iniciativas de hortas comunitárias municipais em Teresina: Práticas Promotoras de Renda e Trabalho

A pesquisa é qualitativa, com a observação do fenômeno social das hortas urbanas dos bairros Dirceu e Renascença II, com o registro de experiências e visões de mundo.

O estudo mostrou que a maioria dos entrevistados são aposentados e 50% realizam o trabalho com a colaboração de integrantes da família e com poucos instrumentos tecnológicos.

Constatou-se que existe uma racionalidade específica de plantação e comercialização em hortas urbanas comunitárias.

Fonte: Dados da pesquisa, 2019. ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA

33


Urban and Community Gardens in the City of Teresina-PI

tas medicinais e ornamentais, todos destinados a venda para obtenção da renda familiar dos horticultores e para a melhora da qualidade alimentar dos consumidores. Alguns dos entrevistados relataram que trabalhavam durante parte do dia em outros cargos (pedreiros, domésticas, frentistas, costureiras) e, outra parte do dia iam realizar as atividades da horta urbana afim de obter uma renda a mais para o sustento da família. Portanto nota-se que os horticultores estão em busca de complemento alimentar, renda e mais segurança quanto aos pequenos furtos. Silva, et al., (2016), realizaram sua pesquisa com 102 horticultores na qual aplicaram um questionário com 20 deles, observando que a maioria era do sexo masculino 50% dos homens entrevistados eram casados e com idade entre 61 a 70 anos, enquanto 35% das mulheres entrevistadas eram casadas com idade entre 41 a 60 anos, 55% dos horticultores possuíam 1º grau completo e apenas 10% o 2º grau completo, deixando claro o nível de baixa escolaridade entre os entrevistados. De acordo com os resultados encontrados, a renda obtida pelos horticultores através da venda dos produtos, permite que eles complementem o sustendo de suas famílias, demonstrando a importância que a agricultura urbana impõe, desde a melhora da qualidade alimentar das famílias do bairro em que estão inseridas, até a fonte de renda dos horticultores. Carneiro, et al., (2018), relata que a maioria entrevistados são aposentados (59,38%), 50% realizam o trabalho com a colaboração da família e com poucos instrumentos tecnológicos, em relação a renda, com a comercialização das hortaliças 50% conseguem até um salário mínimo e 43% até dois salários mínimos, onde as horas trabalhadas variam entre 4 a 8 horas diárias. Além disso, foi visto que a comercialização agrícola era a única fonte de renda dos agricultores entrevistados, sendo realizada a venda na própria horta e aqueles que possuíam maior número de lotes conseguiam traçar estratégias de venda melhores, negociando com donos de restaurantes que compram em maiores quantidades. Todavia, a produção nem sempre é contínua e suficiente durante o ano todo, pelos motivos de custo, mão-de-obra, organização e o clima quente da cidade de Teresina-PI. Os autores afirmam ainda que as hortas caseiras e comunitárias, assim como outras instituições, facilitam o acesso à produção de alimentos, reduzem os custos de transporte entre o produtor e o consumidor, embelezam o espaço urbano e aumentam as relações sociais.

34

ABRIL 2021

. . . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . . . ........ Em virtude ao contexto acima mencionado, observa-se que não há tantos artigos sobre essa temática, contudo, os artigos encontrados enfatizam as dificuldades na produção, baixa escolaridade, furtos, baixa assistência técnica aos produtores, bem como, entre os benefícios trazidos por meio da agricultura urbana destacam-se a sustentabilidade, geração de renda extra e de alimento, uma vez que, os horticultores buscam na agricultura urbana uma forma a mais de sustento de suas famílias. Contudo, sugere-se que as hortas urbanas e comunitárias sejam mais assistidas pelo poder público, com melhores investimentos de recursos financeiros e assistência técnica, viabilizando além da renda e a sustentabilidade, o conhecimento aos alimentos, distribuição de uma melhor e maior variedade de alimentos, a promoção da saúde, convivência social, vantagens ambientais, consciência ecológica, trabalho em equipe, além de proporcionar o prazer e o gosto de plantar, pois cultivar é uma boa forma de ocupação e terapia para os horticultores. Portanto, pode-se concluir que a agricultura urbana implementada através das hortas comunitárias, pode melhorar a qualidade da alimentação das comunidades e incentivar hábitos alimentares saudáveis além de despertar o interesse para o resgate da cultura alimentar, o trabalho em grupos de produção e a melhoria do nível de renda familiar dos agricultores.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Profa. Dra. Liejy Agnes dos S. R. Landim - Doutoranda em Alimentos e Nutrição (UFPI). Mestre em Alimentos e Nutrição pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Docente do Curso Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina-PI. Prof. Adolfo Marcito Campos de Oliveira - Graduado em Farmácia (UFPB). Graduado em tecnologia de Alimentos (UFSC). Graduado em Análises Clínicas (UFPI). Mestre em Alimentos e Nutrição (UFPI). Docente do Curso Bacharelado em Nutrição, Bacharelo em Farmácia do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina-PI. NUTRIÇÃO EM PAUTA


Hortas Urbanas e Comunitárias na Cidade de Teresina-PI

Prof. Cícero Tadeu Tavares Duarte - Graduado em Administração (CEUT). Especialista em gerência de recursos humanos (UECE). Especialista em MBA em gestão empresarial (FGV). Mestre em Engenharia de Produção (UNIP). Diretor Administrativo da Tadeu Duarte & consultores associados. Docente do curso Bacharelado em Administração, Bacharelado em Nutrição, Bacharelado em Engenharia de Produção do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina-PI. Ana Karyne Frota Prado Araújo; Edna Lara Vasconcelos da Silva Gomes; Izabelle Christinna Goiabeira Silva; Maria Cecília Cavalcante de Oliveira Hammes; Maria Tereza Rocha Duarte; Maria Vitória Silva - Acadêmicas do Curso Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina-PI.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

saúde pública lógica, p. 47-60, 2006. PEREIRA, F. S. C; ARCE, E. V. A gestão nas hortas comunitárias da cidade de Americana. Revista Tecnológica da Fatec Americana, v. 4, n. 1, p. 25, 2016. SEABRA JÚNIOR. S; CARDOSO, A. I. A.; BÔAS, S. O. V.; OLIVEIRA, A. M. Cultivando Hortaliças: uma brincadeira de criança. Horticultura Brasileira. Botucatu, v. 21, n.2, 2003. SEABRA JÚNIOR, S.; PIZANO, R. E.; BENEVIDEZ, E. M.; MAGALHÃES, J. Projeto Comunidade Feliz: horta comunitária com idosos. In: Congresso Brasileiro de Olericultura, 50. Anais... Guarapari: ABH, 2010. SILVA, J. A. da. Agricultura urbana em Teresina: o rural que permanece na cidade. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, p.25-230, 2014. SILVA, M. do S. G. da et al. Agricultura Urbana: Horta comunitária do bairro Dirceu Arcoverde II em Teresina-PI – um estudo de caso. Agrarian Academy, Centro Científico Conhecer Goiânia, v.2, n.4, p.16-26, 2016. TEIXEIRA, M. A. de C. M. Agricultura urbana na cidade de Teresina: hortas comunitárias-políticas públicas ou segurança alimentar? Universidade Estadual Paulista. Rios Claros, São Paulo, p.17-172, 2011.

PALAVRAS-CHAVE: Agricultura Urbana. Cultivos agrícolas. Renda Familiar. KEYWORDS: Urban Agriculture. Agricultural crops. Family Income.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 5/9/19 – APROVADO:2/3/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

BARBOSA, J. M. Uso e manejo de plantas alimentares em ambientes agrícolas e florestais em Iporanga, SP., 2007. CARNEIRO, C. T. et al. Iniciativas de hortas comunitárias municipais em Teresina: práticas promotoras de renda e trabalho. Revibec: revista iberoamericana de economia ecológica, v. 28, p. 149167, 2018. COSTA, C. G. A. et al. Hortas comunitárias como atividade promotora de saúde: uma experiência em Unidades Básicas de Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, p. 3099-3110, 2015. DE CARVALHO, P. G. B et al. Hortaliças como alimentos funcionais. Horticultura Brasileira, v. 24, n. 4, p. 397-404, 2006. MONTEIRO D; MENDONÇA M. Quintais na Cidade: a experiência de moradores da periferia do Rio de Janeiro. Agriculturas v.1, p. 29-31, 2004. MONTEIRO, J.R; MONTEIRO, M. do S. L. Hortas comunitárias de Teresina: agricultura urbana e perspectiva de desenvolvimento local. Revibec-Revista Iberoamericana de Economía EcoABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA

35


Analysis of the Temperature of Meals Served in Different Containers for Patients in a Catarinense Hospital

Análise da Temperatura de Refeições Servidas em Diferentes Recipientes para Pacientes de um Hospital Catarinense RESUMO: A temperatura é um dos fatores relacionados a baixa aceitação de dietas no ambiente hospitalar. Objetivou-se avaliar a temperatura da dieta livre destinada aos pacientes hospitalizados servida em três diferentes recipientes. Aferiu-se a temperatura das dietas em quatro momentos: porcionamento da primeira dieta e da última dieta, e distribuição da primeira e da última dieta ao paciente no setor de internação. As refeições foram servidas em três tipos de recipientes: bandeja térmica com recipiente de plástico, embalagem de alumínio e embalagem de isopor. A maior redução de temperatura ocorreu na etapa de porcionamento em todos os tipos de embalagem e a embalagem de alumínio conseguiu manter maior percentual da temperatura de três das quatro preparações avaliadas. Conclui-se que a embalagem de alumínio foi o que suportou melhor a temperatura da dieta, seguido da bandeja térmica com recipiente de plástico e da embalagem de isopor.

36

ABRIL 2021

ABSTRACT: Temperature is one of the factors related to the low acceptance of diets in the hospital environment. The study aims to evaluate the temperature of the free diet for hospitalized patients served in three different containers. The temperature of the diets was measured in four moments: beginning of the portioning of the first and the last diet, distribution of the first and last diet to the patient in the inpatient sector. The meals were served in three types of containers: thermal tray plastic container, aluminum container and styrofoam container. The greatest temperature reduction occurred in the portioning stage in all types of containers and the aluminum one managed to maintain a higher percentage of the temperature of three of the four evaluated preparations. As a final remark, it is possible to affirm that the aluminum container was the one that best supported the temperature of the diet, followed by the thermal tray with plastic one and the styrofoam one.

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Análise da Temperatura de Refeições Servidas em Diferentes Recipientes para Pacientes de um Hospital Catarinense

food service

. . . .............. Int ro du ç ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

prato principal. As refeições foram servidas em três tipos 
 de recipientes: bandeja térmica Alban® com recipiente de plástico, embalagem de alumínio e embalagem de isopor. Após o preparo, as refeições foram armazenadas em balcão O nutricionista na Unidade de Alimentação e térmico entre 80ºC e 100ºC até as 10h15, com o início do Nutrição (UAN) tem como finalidade realizar trabalho porcionamento das dietas. A temperatura dos alimentos técnico, administrativo e no fornecimento de refeições foi aferida em quatro momentos distintos: porcionamento balanceadas do ponto de vista nutricional e com adequa- da primeira (10h15), porcionamento da última marmita do controle higiênicossanitário (RIBEIRO; BONI, 2016; (10h45) e ao chegar ao setor de internação, quando a priABREU; SPINELLI; PINTO, 2013). Compete ao nutricio- meira (10h50) e a última marmita (11h05) foi entregue nista dentro das UANs hospitalares, além de acompanhar ao paciente. Para aferir a temperatura dos alimentos, utilio estado nutricional dos pacientes, a produção e distri- zou-se termômetro digital tipo espeto em aço inox, -50 + buição de refeições para prevenção e tratamento de en- 300ºC, da marca Incoterm®, modelo AF-1309. Após porcionadas, as dietas foram armazenadas fermidades (RIBEIRO; BONI, 2016; SOUZA; SPINELLI; no carro de transporte, não término de aço inoxidável, e MATIAS, 2016). organizadas por setores de internação. Ao término des No entanto, para que a dieta oferecida ao paciense processo, as dietas foram distribuídas e entregues nos te tenha boa aceitação, deve-se garantir aspectos como quartos dos pacientes. O setor de internação escolhido foi o gosto, a cor, a forma, o aroma, a textura, o horário de aquele onde os três tipos de recipientes eram necessários. distribuição e a temperatura das refeições (PROENÇA et Para a tabulação dos dados, utilizou-se o programa Mial., 2005; SANTOS; GONTIJO; ALMEIDA, 2017). Além disso, o binômio tempo e temperatura adequado propi- crosoft Office Excel®, versão 2007. Calculou-se a média da cia segurança alimentar nas diferentes etapas de produção temperatura das quatro preparações servidas dos três dias de refeições, evitando o crescimento microbiano (SILVA; avaliados. CASTAGNOLI; MOURA, 2018; RIBEIRO; BONI, 2016). Após a cocção, os alimentos devem ser mantidos a temperatura superior a 60ºC por, no máximo, 6 horas (BRASIL, 2004) ou por até 1 hora em temperatura inferior a 60ºC . . . . . . . . . . . . . . R e su lt a d o s . . . . . . . . . . . . . . . . ........ 


 (ABERC, 2015). Segundo Sousa, Gloria e Cardoso (2011), a temperatura é um dos fatores que mais influenciam na baixa As médias de temperatura dos três dias analisaaceitação de dietas no ambiente hospitalar, tornando o dos estão na Tabela 1. Nota-se que já no início do porcioíndice de resto ingestão acima do aceitável para populanamento o prato principal apresentou temperatura infeção enferma (FATEL et al., 2018a). Esta pesquisa teve por objetivo avaliar a temperatura da dieta livre destinada aos rior a 60ºC em todos os tipos de embalagens avaliados. O mesmo ocorreu com a guarnição nas embalagens de pacientes hospitalizados em três tipos de recipientes. isopor e térmica com recipiente de plástico, e com o feijão . porcionado na embalagem de alumínio . No porcionamento da última dieta, todas as preparações estavam em . . . ........... Me to dol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

 temperatura inferior a 60ºC, independentemente da embalagem. Consequentemente, a temperatura dos alimentos foi reduzindo ao longo da distribuição aos pacientes 
 no leito. Observou que a maior redução de temperatura Este trabalho foi realizado em um hospital de dos alimentos aconteceu na etapa de porcionamento do Blumenau, Santa Catarina, durante o estágio curricular de que na distribuição, exceto o feijão servido na embalagem Nutrição em Alimentação Coletiva, ano de 2018. A temde alumínio (Tabela 2). Ressalta-se que o porcionamento peratura da dieta livre, fornecida no almoço dos pacieniniciou nas embalagens térmicas com recipiente de plástites, foi aferida em três dias consecutivos e era composta por: arroz, feijão, uma opção de guarnição e uma opção de co, após nas embalagens de alumínio e, por fim, nas emABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA

37


Analysis of the Temperature of Meals Served in Different Containers for Patients in a Catarinense Hospital

balagens de isopor. Analisando o período total, entre a primeira dieta porcionada e a última dieta servida no último leito (P 1 – PX e P 1 – PX (%)), a embalagem de alumínio conseguiu manter maior percentual da temperatura do arroz e do feijão; em seguida a embalagem térmica com recipiente de plástico e a embalagem de isopor teve o menor percentual. Diferentemente, no prato principal, a embalagem térmica com recipiente de plástico consta com maior percentual.

. . . ............... Dis c usss ã o . . . . . . . . . . . .. . . . . . . .

O presente estudo apresentou diferenças de temperatura entre os tipos de embalagem avaliados, demonstrando a influência desta no binômio tempo-temperatura e, consequentemente, na segurança alimentar da refeição que os pacientes consumirão. Quintaes e Alves (2006) também analisaram a temperatura de dietas hospitalares fornecidas em dois tipos de recipientes: alumínio e polipropileno. Os autores concluíram que o polipropileno se mostrou mais adequado à manutenção da temperatura da dieta em relação ao alumínio, diferindo do encontrado no presente estudo. Ribeiro e Roni (2016) encontraram 33,3% das dietas livres com temperaturas menores que 60ºC no balcão término antes do porcionamento, o que pode ser justificado pela temperatura inadequada do balcão. Ou seja, se nesta etapa as preparações já estão em temperatura de risco, as etapas subsequentes podem propiciar ainda mais o crescimento microbiano. Entre as embalagens avaliadas, notaram maior redução de temperatura no isopor do que no tambor térmico (RIBEIRO; RONI, 2016). Desta forma, os valores encontrados devem ser analisados com cautela, pois os alimentos podem permanecer em temperaturas inferiores a 60ºC por, no máximo, 1 hora (ABERC, 2015). Em uma UAN institucional, de 20 preparações proteicas avaliadas no início da distribuição, 7 apresentavam temperatura inferior ao recomendado e, ao final da distribuição, 5 preparações estavam em temperatura menores de 60ºC. As temperaturas variam no início da distribuição de 49,1ºC a 79,5ºC e no final de 41,1ºC a 82,6ºC (COSTA; MOURÃO, 2019). Comparando embalagens descartáveis que permitiam o reaquecimento da dieta hospitalar na copa e pratos térmicos com refil descartável, Souza, Spinelli e Matias (2016) notaram maior temperatura nas primeiras embalagens. Porém, o sistema de distribuição deste

38

ABRIL 2021

local é diferente do presente estudo. Em um hospital paulista, apenas 5,4% das dietas estavam em temperatura segura no momento do porcionamento, tendo como possíveis motivos a sobreposição de cubas no banho maria e cubas dispostas em balcão não térmico, principalmente o prato principal (SOUZA; SPINELLI; MATIAS, 2016). Quanto ao tipo de alimento, Quitaes e Alves (2006) demonstraram maior diminuição da temperatura do feijão em ambos os recipientes (alumínio e polipropileno). Em um hospital de Florianópolis – SC, as carnes e as guarnições já apresentavam menores temperaturas no buffet, antes do porcionamento. No final da distribuição, todas as preparações estavam em temperaturas menores que 60ºC nos diferentes recipientes: isopor e tambor térmico (RIBEIRO; RONI, 2016). Já em um hospital paulista, todos os pratos principais se encontravam em temperatura inadequada na montagem das dietas e nas copas e apenas 7,1% atingiram a temperatura recomendada após o reaquecimento (SOUZA; SPINELLI; MATIAS, 2016). Como possíveis motivos para inadequações entre diferentes preparações, está o modo de preparo, pois pratos principais grelhados, assados ou sem molho, por exemplo, terão maior dificuldade de manter a temperatura necessária (SOUZA; SPINELLI; MATIAS, 2016; FATEL et al., 2018b). No que se refere a guarnição, o macarrão é referido como de risco, pois havia o hábito de usar água fria para resfriá-lo (SILVA; CASTAGNOLI; MOURA, 2018), entretanto, ao colocá-lo no balcão térmico, a temperatura se elevava para mais de 60ºC. Contudo, Fatel et al. (2018b) observaram, em um restaurante universitário, que a guarnição foi a preparação que mais manteve a temperatura, sendo as opções servidas: purê, polenta, creme de milho e canjiquinha. No presente estudo, alguns fatores podem ter interferido no controle térmico das dietas, como a falta de espaço no buffet e consequentemente a sobreposição de algumas cubas sobre o balcão de inox, sem tratamento térmico, o que também é reportado na literatura (SOUZA; SPINELLI; MATIAS, 2016; SILVA; CASTAGNOLI; MOURA, 2018). O armazenamento inadequado das dietas nos carrinhos de distribuição também sem tratamento térmico. Além disso, o setor escolhido ficava localizado próximo da cozinha, ou seja, se a pesquisa tivesse sido realizada em outro setor, a temperatura das preparações seria ainda mais inferior. Da mesma forma, a temperatura pode ser influenciada pelo serviço e agilidade do copeiro na entrega das dietas. Ribeiro e Roni (2016) citaram como causas das não conformidades de temperatura: mau funcionamento de equipamentos, falta de calibração dos termômetros, uso de carros de transporte não térmicos e falta de treinamento da equipe. Para estudos futuros, sugere-se a observação da temperatura de cocção dos alimentos e o tempo das prepaNUTRIÇÃO EM PAUTA


Análise da Temperatura de Refeições Servidas em Diferentes Recipientes para Pacientes de um Hospital Catarinense

food service

Tabela 1 - Temperatura média, em graus Celsius (°C), da dieta livre na distribuição segundo o tipo de embalagem. Blumenau, SC, Brasil, 2018. Arroz EA

EI

Feijão EP

EA

EI

Prato Principal

Guarnição EP

EA

EI

EP

EA

EI

EP

P1 71,7 68,7 68,0 59,3 67,0 65,7 60,3 56,7 52,3 58,7 53,3 57,0 P X 52,3 44,0 47,3 51,0 45,7 47,7 55,0 44,0 44,0 45,7 39,7 48,0 L 1 47,3 38,0 41,7 47,0 41,7 42,7 46,3 40,7 38,7 42,7 38,3 42,7 L X 44,0 32,7 38,0 38,0 35,0 39,3 44,3 35,7 38,3 39,0 33,0 38,7 Legenda: EA = embalagem de alumínio; EI = embalagem de isopor; EP = embalagem térmica Alban® com recipiente de plástico; P 1 = primeira dieta a ser porcionada; P X = última dieta a ser porcionada; L1 = primeiro leito a receber a dieta; L X = último leito a receber a dieta.

Tabela 2 – Diferença de temperatura, em graus Celsius (°C), da dieta livre entre os diferentes momentos de aferição. Blumenau, SC, Brasil, 2018. Arroz EA

EI

Feijão EP

EA

EI

Prato Principal

Guarnição EP

EA

EI

EP EA

EI

EP

P1 - PX (porcionamento) 19,4 24,7 20,7 8,3 21,3 18 5,3 12,7 8,3 13 13,6 9 PX – L1 (distribuição entre 3,3 5,3 3,7 9 6,7 3,4 2 5 0,4 3,7 5,3 4 final do porcionamento e início da distribuição) P1 – LX (tempo total: entre 27,7 36 30 21,3 32 26,4 16 21 14 19,7 20,3 18,3 início do porcionamento e final da distribuição) P1 – LX (quanto manteve da 61,4 47,6 55,9 64,1 52,2 59,8 73,5 63,0 73,2 66,4 61,9 67,9 temperatura inicial (%)) Legenda: EA = embalagem de alumínio; EI = embalagem de isopor; EP = embalagem térmica Alban® com recipiente de plástico; P 1 = primeira dieta a ser porcionada; P X = última dieta a ser porcionada; L1 = primeiro leito a receber a dieta; L X = último leito a receber a dieta. ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA

39


Analysis of the Temperature of Meals Served in Different Containers for Patients in a Catarinense Hospital

rações em espera e manutenção, de modo a verificar o binômio-temperatura nas etapas anteriores ao porcionamento e a distribuição das dietas hospitalares.

. . . ........ C ons idera çõ es Finais . . . . . . . . . . .

A embalagem de alumínio manteve melhor a temperatura da preparação para arroz e feijão. Diante dos achados, faz-se necessário a aquisição e o investimento em equipamentos que garantam a temperatura e o seu controle adequado, associado ao treinamento dos funcionários para o monitoramento correto deste processo.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores

Dra. Sabrina Hodecker; Dra. Vanessa Costa Bezerra - Nutricionistas pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Blumenau-SC-Brasil. Profa. Dra. Vanessa Korz - Nutricionista pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Docente do Curso de Nutrição da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Blumenau-SC-Brasil. Dra. Tatiane dos Santos Aligleri; Dra. Talita Regina Cattoni - Nutricionistas no Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital Santo Antônio, Blumenau-SC-Brasil.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Embalagem de alimentos. Dieta. Serviço Hospitalar de Nutrição. KEYWORDS: Food Packaging. Diet. Food Service Hospital.

REFERÊNCIAS

ABERC. Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas. Manual ABERC de práticas de elaboração e serviço de refeições para coletividades. São Paulo: Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas, 2015. ABREU, E.S.de; SPINELLI, M.G.N.; PINTO, A.M.S. Gestão de unidade de alimentação e nutrição: um modo de fazer. 5. ed. São Paulo: Metha, 2013. 378 p. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária- ANVISA. Resolução – RDC Nº 216, de 15 de Setembro de 2004. Estabelece procedimentos de boas práticas para serviço de alimentação, garantindo as condições higiênico-sanitárias do alimento preparado. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 setembro de 2004. COSTA, J.T.G.; MOURÃO, L.H.E. Temperatura na cocção e distribuição de preparações proteicas em uma Unidade de Alimentação e Nutrição. Nutrição em Pauta, v. 9, n. 49, p. 35-39, mar. 2019. FATEL, E.C.S.; et al. Avaliação do índice de resto ingestão da refeição do almoço dos pacientes e acompanhantes da ala de clínica médica e cirúrgica de um hospital universitário no oeste do paraná. Nutrição em Pauta, v. 26, n. 150, p. 31-36, jun. 2018a. FATEL, E.C.S.; et al. Mensuração e monitoramento de temperaturas de alimentos quentes durante o processo de distribuição de alimentos. Nutrição em Pauta, v. 26, n. 153, p. 32-37, dez. 2018b. PROENÇA, R.P.C; et al. Qualidade nutricional e sensorial na produção de refeições. Florianópolis: UFSC, 2005. QUINTAES, K.D.; ALVES, E. Efeito do material de embalagem na temperatura de consumo de dietas hospitalares. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 3, n. 8, p.12-19, abr./jun. 2006. RIBEIRO, F.P.; BONI, B.R. Análise do processo de distribuição das dietas livres servidas aos pacientes de uma Unidade de Alimentação e Nutrição hospitalar. Higiene Alimentar, v. 30, n. 256/257, p.152-156, maio/jun. 2016. SANTOS, V.S.; GONTIJO, M.C.F.; ALMEIDA, M.E.F.de. Efeito da gastronomia na aceitabilidade de dietas hospitalares. Nutrición Clínica y Dietética Hospitalaria, v. 37, n. 3, p. 17-22, 2017. SILVA, G.M.F.da; CASTAGNOLI, J.L.; MOURA, P.N.de. Relação tempo-temperatura na distribuição de refeições. Nutrição em Pauta, v. 26, n. 149, p. 31-34, abr. 2018. SOUSA, A.A. de; GLORIA, M.S.; CARDOSO, T.S. Aceitação de dietas em ambiente hospitalar. Revista de Nutrição, v. 24, n. 2, 287-294, 2011. SOUZA, C.K.S.; SPINELLI, M.G.N.; MATIAS, A.C.G. Temperaturas das dietas de pacientes servidas em um hospital. Revista Univap, São José dos Campos, v. 22, n. 39, p. 5-15, jul. 2016.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 8/3/21 – APROVADO:17/4/21

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Evaluation of the Effect of Banana Biomass Supplementation (Musa Spp) Green in Constipated Women

funcionais

Avaliação do Efeito da Suplementação da Biomassa da Banana (Musa Spp) Verde em Mulheres Constipadas RESUMO: A constipação intestinal é caracterizada pelo endurecimento das fezes e diminuição da evacuação. A nutrição possui importância no tratamento e prevenção com ênfase no consumo de alimentos fontes de fibras, pois podem minimizar os sintomas. A banana (Musa spp) apresenta quantidade significativa de amido resistente que age no organismo na formação da microbiota local e melhora o trânsito intestinal. O objetivo da pesquisa foi avaliar o efeito da suplementação da biomassa da banana verde em mulheres constipadas. Trata-se de um estudo quantitativo, longitudinal, envolvendo mulheres entre 20 e 59 anos, que foram suplementadas com 25g de biomassa da banana verde durante trinta dias. Utilizou-se o questionário de Roma III e escala de Bristol para o diagnóstico de constipação. Constatou-se que a suplementação da biomassa de banana verde poderá contribuir no tratamento dos sintomas da constipação intestinal, independente do consumo de fibras. ABSTRACT: Intestinal constipation is characterized by hardening of the stool and decreased bowel movement. Nutrition is important in the treatment and prevention with an emphasis on the consumption of fiber-rich foods, as they can minimize symptoms. The banana (Musa spp) has a significant amount of resistant starch that acts on the body in the formation of the local microbiota and improves intestinal transit. The objective of the research was to evaluate ABRIL 2021

the effect of green banana biomass supplementation on constipated women. This is a quantitative, longitudinal study, involving women between 20 and 59 years old, who were supplemented with 25g of green banana biomass for thirty days. The Rome III questionnaire and the Bristol scale were used to diagnose constipation. It was found that supplementation of green banana biomass may contribute to the treatment of symptoms of intestinal constipation, regardless of fiber consumption.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Int ro duç ã o . . . . . . . . . . . . .......

A constipação intestinal é considerada como a diminuição da frequência evacuatória, caracterizada pelo endurecimento das fezes e diminuição de evacuações que interferem nas funções colônicas e anorretais. Possui elevada prevalência e atinge todas as idades e gêneros, sendo mais frequentes em mulheres. Resulta de diferentes mecanismos que eventualmente alteram a motilidade intestinal, incluindo a inercia do cólon ou mudanças que acarretam dificuldade de evacuação com obstrução distal ou síndrome de defecação obstruída. Para o diagnóstico da constipação intestinal pode ser utilizado o consenso de NUTRIÇÃO EM PAUTA

41


Avaliação do Efeito da Suplementação da Biomassa da Banana (Musa Spp) Verde em Mulheres Constipadas

Roma III e a escala de Bristol (TRISÓGLIO et al., 2010). A literatura tem demonstrado a participação da nutrição na prevenção e tratamento do desequilíbrio do trato gastrointestinal, com ênfase no consumo de alimentos fontes de fibras, que estão relacionados a fermentação de seus compostos no intestino grosso, no qual influencia o pH do cólon, a velocidade do trânsito intestinal e a produção de subprodutos com importante função fisiológica, sendo assim, uma dieta com teor adequado de fibras é essencial para prevenção e tratamento da constipação. Além de ser importante para a prevenção da constipação, as fibras alimentares atuam no controle da glicemia, concentrações de lipídeos e na prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis. (BERNAUD; RODRIGUES, 2010; THAMER; PENNA, 2006; HENN; ALVES, 2020; PRADO; SILVA; MONGE, 2012). A banana (Musa spp) da família botânica Musaceae, tem sua origem no extremo oriente, considerada uma fruta típica de clima tropical. A banana verde é considerada um alimento funcional, pois quando cozida, possui ação funcional satisfatória, por ter em sua composição fibras solúveis e insolúveis no qual apresentam funções que beneficiam nosso organismo, além disso, o amido resistente presente nesta fruta verde (cerca de 20%) possui efeitos fisiológicos no intestino, age no organismo na formação da microbiota local, melhora o trânsito intestinal e aumenta o bolo fecal (RANIERI; DELANI, 2014; EERLIGEN; DELCOUR, 1995). A elevada prevalência da constipação, relevância funcional da biomassa da banana verde e ainda a escassez de dados que verifique a eficácia da suplementação desse alimento em indivíduos constipados justificaram a realização desse estudo que teve como objetivo, avaliar o efeito da suplementação com biomassa de banana verde em indivíduos com constipação.

. . . ............ Meto dol o g i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Estudo de abordagem quantitativa e longitudinal, realizado com 28 mulheres que se autorrelataram como constipados, na faixa etária entre 20 e 59 anos, acompanhadas no Centro de Especializado Ambulatorial Materno Infantil (CEAMI) em Caxias-Maranhão, todas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e o estudo foi aprovado no comitê de ética e pesquisa segundo a resolu-

42

ABRIL 2021

ção 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) com o seguinte número do CAAE:58713916.0.0000.8007. Foi aplicado os critérios de ROMA III e escala de Bristol para o diagnóstico de constipação, resultando em 23 mulheres constipadas, que foram suplementadas durante um mês, entretanto, no decorrer desses 30 dias houve duas desistências, finalizando com uma amostra de 21 participantes. Para avaliação do estado nutricional foi utilizado o índice de massa corpórea (IMC) e a medida da circunferência da cintura (CC) para avaliar o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO, 2000). Para avaliação do consumo alimentar foi realizado o método de registro alimentar de três dias, sendo dois dias na semana e mais um dia no final de semana, os dados foram analisados por meio do programa computadorizado NutWin versão 1.5. Os alimentos não encontrados no programa foram incluídos, tomando por base a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO) (ANÇÃO, 2012; TACO, 2011). Para a obtenção da biomassa utilizada neste estudo, as bananas com a casca foram lavadas, em seguida colocou-se numa panela de pressão com água sob toda a fruta, deixando cozinhar por cerca de 10 minutos. Logo após o cozimento, retirou-se as cascas e as polpas foram processadas por meio de moagem até que se obteve uma pasta homogênea. Em seguida, a biomassa foi pesada e colocada 25g em cada embalagem plástica e armazenadas sob refrigeração (RANIERI; DELANI, 2014). Após o recebimento dos resultados e diagnóstico de constipação, as participantes foram suplementadas por 30 dias. Após a realização dessas etapas, os dados foram organizados em planilhas do Excel®, para realização de análise descritiva das variáveis observadas nos grupos estudados. Posteriormente, os dados foram exportados para os programas teste t de Student, Mann-Whitney para análise estatística dos resultados.

. . . . . . . . . . . . . . . R e su lt a d o s . . . . . . . . . . . . . . ........

Os valores médios e desvios padrão dos parâmetros antropométricos estão descritos na tabela 01. Pôde-se verificar que não houve diferença estatística entre as variáveis antes e após 30 dias de suplementação com a biomassa da banana verde e ainda que as participantes constipadas apresentaram sobrepeso e risco elevado para NUTRIÇÃO EM PAUTA


Evaluation of the Effect of Banana Biomass Supplementation (Musa Spp) Green in Constipated Women

funcionais

Tabela 01: Valores médios e desvios padrão da idade e estado nutricional de constipados antes e após a suplementação com biomassa da banana verde. Parâmetros

T0 (n=21) Média ± DP

T30 (n=21) Média ± DP

p valor

Idade (anos)

31,57 ± 10,33

31,57 ± 10,33

0,630

Peso (kg)

65,64 ± 12,21

64,88 ± 12,37

0,752

Estatura (cm)

158,95 ± 0,69

158,95 ± 0,69

0,505

IMC (kg/m²)

26,23 ± 5,50

25,89 ± 5,40

0,738

CC (cm)

83,18 ± 15,47

82,76 ± 15,35

0,801

Fonte: Dados da pesquisa. *Não houve Valores significativamente diferentes entre os participantes (p> 0,05), teste t de Student e Mann-Whitney. IMC = Índice de Massa Corpórea; CC=Circunferência da Cintura; T0= Antes da suplementação; T30= Após a suplementação.

Tabela 02: Valores médios e desvios padrão do consumo de energia, macronutrientes, fibra alimentar e ingestão de água na dieta habitual de constipadas antes e após a suplementação com biomassa da banana verde. Energia/Nutrientes

T0 (n=21) Média ± DP

T30 (n=21) Média ± DP

p valor

Energia (Kcal)

1846,98 ± 584,18

1958,43 ± 655,49

0,564

Proteína (%)

17,73 ± 3,56

16,49 ± 3,41

0,266

Lipídeo (%)

27,30 ± 6,65*

22,44 ± 8,02*

0,039

Carboidrato (%)

56,29 ± 7,57

59,73 ± 6,59

0,124

Fibra Alimentar (g)

10,08 ± 8,01

9,55 ± 6,25

0,814

Ingestão de Água (mL)

1770 ± 320

1700 ± 435

0,975

Fonte: Dados da pesquisa. * Não houve valores significativamente diferentes entre os participantes antes e após a suplementação com biomassa da banana verde, teste t de Student (p<0,05). Valores de referência: 10 a 30% de proteína, 20 a 35% de Lipídeo, 45 a 65% de carboidratos e ingestão de Água diária: 2,7L (INSTITUTE OF MEDICINE, 2005). Fibra25-30g/dia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Antes da suplementação; T30= Após a suplementação.

ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA

43


Avaliação do Efeito da Suplementação da Biomassa da Banana (Musa Spp) Verde em Mulheres Constipadas

Tabela 03: Distribuição da frequência dos critérios de Roma III para constipação, antes e após a suplementação. Critérios de Roma III

T0 (n)

%

T30 (n)

%

Valor de p

Nunca raramente Algumas vezes Frequentemente Maior parte das vezes Sempre Fezes duras ou fragmentos

1 5 6 7 2

4,8 23,8 28,6 33,3 9,5

6 12 2 1 0

28,6 57,1 9,5 4,8 0

0,000

Nunca raramente Algumas vezes Frequentemente Maior parte das vezes

2 7 4 7

9,5 33,3 19,0 33,3

7 9 3 2

33,3 42,3 14,3 9,5

Sempre Sensação de obstrução ou bloqueio anorretal

1

4,8

0

0

Nunca raramente Algumas vezes Frequentemente Maior parte das vezes Sempre Sensação de evacuação incompleta

3 12 3 2 1

14,3 57,1 14,3 9,5 4,8

13 7 1 0 0

61,9 33,3 4,8 0 0

0,001

Nunca raramente Algumas vezes Frequentemente Maior parte das vezes Sempre Manobras manuais

0 7 5 6 3

0 33,3 23,8 23,6 14,3

33,3 11 1 1 1

7 52,4 4,8 4,8 4,8

0,000

Nunca ou raramente Algumas vezes Frequentemente Maior parte das vezes Sempre Frequência evacuatória

16 4 1 0

72,6 19,2 4,8 0

21 0 0 0

100 0 0 0

<3 vezes por semana 4 a 6 vezes por semana

14 6

66,7 28,6

1 15

4,8 71,4

Esforço evacuatório

0,0010

0,000

0,001

≥7 vezes por semana 1 4,8 5 23,8 Fonte: Dados da pesquisa. Teste Qui-quadrado. *Houve diferença significativa entre os participantes antes e após a suplementação.

44

ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA


Evaluation of the Effect of Banana Biomass Supplementation (Musa Spp) Green in Constipated Women

funcionais

Tabela 04: Distribuição da frequência quanto as alterações dos tipos de fezes de 1 a 4, antes e após a suplementação. Escala de Bristol

N (T0)

%

N (T30)

%

Valor de p

Fezes tipo 1

3

14,3

---

---

-----

Fezes tipo 2

14

66,7

7

33,0

0,001

Fezes tipo 3

3

14,3

10

47,0

Fezes tipo 4

1

4,8

4

19,0

Fonte: dados da pesquisa. *houve valores significantes entre o tipo de fezes antes e depois da suplementação teste Man-Whitrey (p<0,05).

doenças cardiovasculares, segundo o IMC e a CC, respectivamente. Os valores médios e desvios padrão do consumo alimentar e ingestão de água estão descritos na tabela 02. Não houve diferença estatística significativa em relação a energia e macronutrientes, exceto para os lipídeos (p< 0,05), com redução de sua ingestão após os 30 dias de suplementação com a biomassa da banana verde. Os resultados da análise do consumo de fibra alimentar e água, distribuídos antes e após a suplementação com a biomassa da banana verde revelaram baixa ingestão para ambos os momentos avaliados, sem diferença significativa (p>0,05). Na tabela 03 são apresentados os valores da frequência dos critérios de Roma III antes da suplementação (T0) e após a suplementação (T30), no qual mostram resultados satisfatórios para todos os questionamentos após a suplementação, com diferença significativa. Quanto ao critério esforço evacuatório, 33,3% e 4,8 % das participantes, respectivamente, no T0 e T30 relataram que o fazem na maior parte das vezes. No parâmetro fezes endurecidas ou fragmentadas, 33,3% das participantes afirmaram possuir na maior parte das vezes em T0, porém houve redução desse número para 9,5% em T30. No critério sensação de obstrução e bloqueio anorretal, em T0 14,3% das entrevistadas responderam que nunca ou raramente tiveram essa sensação enquanto que após o consumo diário de 25g de biomassa da banana verde, houve um aumento desse percentual para 61,9%. Vale destacar que 66,7% das entrevistadas relataram realizar < 3 evacuações por semana em T0, e em T30, 71,4% confirmaram fazer de 4 a 6 evacuações semanais. Na tabela 04 são apresentados a distribuição ABRIL 2021

quanto a consistência de fezes, conforme a escala de Bristol antes e após a suplementação. Os valores comparativos em percentual para os tipos de fezes de 1 a 4 mostram diferenças significativas para os quatro tipos de fezes analisadas. Observa-se que 66,7% dos avaliados apresentavam fezes tipo 2 e após a suplementação houve redução da prevalência para 33% enquanto que as consistências de fezes tipo 3 e 4 aumentaram sua prevalência após o uso da biomassa da banana verde, com 14,3% no T0 para 47% no T30 e 4,8% no T0 para 19% em T30, respectivamente, o que revelou melhora na função intestinal.

. . . . . . . . . . . . . . . D is c uss ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . ......

Este estudo avaliou o estado nutricional, riscos para doenças cardiovasculares, consumo de macronutrientes, fibras, água e sintomas da constipação intestinal antes e após a suplementação com biomassa da banana verde em mulheres nessa condição. As participantes apresentam sobrepeso, segundo o IMC e risco elevado para doenças cardiovasculares, conforme a CC. Resultados semelhantes foram encontrados por Abrantes (2007) que também diagnosticou prevalência de sobrepeso em mulheres. De acordo com Talley et al. (2004) a diminuição do tempo de trânsito intestinal e respostas secretoras alteradas poderiam explicar o sobrepeso em pacientes constipados. Quanto ao consumo de macronutrientes, as muNUTRIÇÃO EM PAUTA

45


Avaliação do Efeito da Suplementação da Biomassa da Banana (Musa Spp) Verde em Mulheres Constipadas

lheres apresentaram adequação na ingestão de energia e macronutrientes, o que poderá contribuir para redução de peso nas participantes. Por outro lado, houve baixa ingestão de fibras antes e após a suplementação, sem diferença significativa, esse nutriente apresenta papel importante no trato gastrintestinal ao servir como substrato na microbiota e aumentar o bolo fecal (CUPPARI, 2014). De outro modo, Colli et al. (2002) afirmaram que o excesso desses nutrientes pode prejudicar absorção de minerais como zinco e cálcio, portanto deve-se obedecer as recomendações. Além disso, o consumo excessivo de fibras associado a baixa ingestão hídrica pode induzir efeito rebote e favorecer o desenvolvimento de constipação. Sobre este aspecto, as mulheres investigadas consumiram baixa ingestão de água, sem diferença entre o T0 e T30, porém não foi avaliado o consumo de outras bebidas, o que pode ter limitado os achados do estudo. Quanto a presença de constipação identificada pelo consenso ROMA III e Escala de Bristol pôde-se verificar que as mulheres constipadas apresentaram redução dos sintomas após a suplementação com a biomassa da banana verde em todos os critérios, com diferença significativa. Vale destacar o critério de esforço evacuatório que antes houve prevalência as respostas sempre e frequentemente, enquanto que após a suplementação mais de 80% das participantes responderam quanto ao questionamento, nunca ou raramente e algumas vezes. Segundo Garrigues et al. (2004) esse critério associado a presença de obstrução e bloqueio anorretal são considerados de melhor acurácia para confirmação da constipação. Outro critério de destaque é o número de evacuações semanais, pois após a suplementação houve aumento significativo no número de evacuações semanais por maior parte da população estudada. Vale enfatizar que a escala de Bristol, confirmou os resultados encontrados pelo ROMA III. Pode-se constatar que as nossas participantes evoluíram dos tipos de fezes 1 e 2, consideradas constipadas para as fezes do tipo 3 e 4 em sua maioria, classificadas como funcionamento intestinal normal. Ambos os instrumentos confirmam a possível eficácia da biomassa da banana verde sobre os sintomas da constipação. A propósito, o amido resistente presente na banana verde confere ação na microbiota intestinal e volume fecal, semelhantes as fibras solúveis e insolúveis (RANIERI; DELANI, 2014). Os fatores associados com a presença de constipação antes e após a suplementação da banana verde, revelaram que não houve alterações significativas desses fatores predisponentes quando comprado o T0 e T30, res-

46

ABRIL 2021

saltando que os sintomas da constipação reduziram mesmo na presença de baixo consumo de fibras e água. Assim, apesar de fatores associados a constipação como baixa ingestão de fibra e de água, a suplementação de biomassa da banana verde se mostra eficaz para o controle dos sintomas da constipação, aumentando o número de evacuações e melhorando a consistência das fezes, segundo os critérios de Roma III e Escala de Bristol.

. . . . . . . . . . . . . . . C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . . . . .......

Pode-se constatar que a suplementação da biomassa de banana verde poderá contribuir no tratamento alternativo para os sintomas da constipação intestinal, independente do consumo de fibras. Nesse sentido, a presença do amido resistente na biomassa de banana verde parece ser responsável pela evolução do tratamento devido sua ação na microbiota intestinal e volume fecal. Vale destacar que os dois instrumentos de diagnóstico, critérios de Roma III e Escala de Bristol, evidenciaram melhora dos sintomas da constipação após a suplementação com a biomassa, sem alterações significativas no estado nutricional, risco cardiovascular e consumo alimentar das participantes. Portanto, a nutrição desempenha papel fundamental no tratamento de pessoas com constipação e o consumo da biomassa da banana verde pode ser estimulado, porém novas pesquisas devem ser realizadas para que haja um consenso quanto ao tempo e quantidade que deve ser suplementado.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores

Dra. Mirian dos Santos da Silva; Dra. Jhennifer da Silva Sousa; Dra. Lígia da Costa Morais; Dra. Luana Trindade Sales - Nutricionistas (FACEMA). Dra. Edinara Costa Santos - Nutricionista (FACEMA). Graduanda em Tecnologia de Alimentos (UemaNet). Dra. Fabiane Araújo Sampaio - Nutricionista (UFPI). Mestre em Ciências e Saúde (UFPI). Doutora em Biotecnologia (Renorbio). NUTRIÇÃO EM PAUTA


Evaluation of the Effect of Banana Biomass Supplementation (Musa Spp) Green in Constipated Women Dra. Amanda Marreiro Barbosa - Nutricionista (UFPI). Mestre em Nutrição (UFSC). Doutora em Fisiologia (UFSC).

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Constipação intestinal. Biomassa. Banana. Microbiota. KEYWORDS: Intestinal constipation. Biomass. Banana. Microbiota.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 1/3/21 – APROVADO:10/4/21

funcionais for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein, and amino acids. Washington (DC): National Academy Press; 2005. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília, 2008. PRADO, A.C.C; SILVA, L.R; MONGE, S.M. Análise do teor de fibras da dieta laxante servida em um hospital público. Nutrição em Pauta., n.9, p.25-29, julho - 2012. RANIERI, L.M; DELANI, T.C.O. Banana verde (Musa spp): obtenção da biomassa e ações fisiológicas do amido resistente. Re. U. Review., v.20, n.3, p. 43-49, 2014. TALLEY, N; HOWEL, S; POULTON, R. Obesity and chronic gastrointestinal tract symptoms in young adults: a birth cohort study. Am. J. Gastr., v.99, n. 9, p.1807-1814, 2004. TABELA BRASILEIRA DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS. NEPA-UNICAMP. 4 ed, rev. e ampl, 2011. THAMER, K.G; PENNA, A.L.B. Caracterização de bebidas lácteas funcionais fermentadas por probióticos e acrescidas de prebióticos. Cienc. Tecnol. Aliment., v.26, n.3, p.589-595, 2006. TRISÓGLIO, C. et al. Prevalência de Constipação Intestinal entre Estudantes de Medicina de uma Instituição no Noroeste Paulista. Rev. Bras Colt., v.30, n.2, p.203-209, 2010. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: Preventing and managing the global epidemic. Tec. l report series, 2000.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS

ABRANTES P.M. et al. Avaliação da qualidade das prescrições de antimicrobianos dispensadas em unidades públicas de saúde de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública., v.23, n.1, p.95-104, 2007. ANÇÃO, M.S. et al. Programa de apoio à nutrição - NutWin versão 1.5 [CD-ROM]. São Paulo: Departamento de Informática em Saúde - SPDM - Unifesp/EPM; 2002. BERNAUD, F.S.R; RODRIGUES, T.C. Fibra alimentar: Ingestão adequada e efeitos sobre a saúde do metabolismo. Arq. Bras. Endocrinol. Metab., v.57, n.6, p.397-405, 2013. COLLI, C. et al. Alimentos funcionais. In: Cuparri L. et al. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar da Unifesp/EPM: nutrição clinica no adulto. Barueri, Manole, p.55-70, 2002. CUPPARI, L. Nutrição clínica no adulto – Guia de medicina ambulatorial e hospitalar (UNIFESP/Escola Paulista de Medicina). 1 ed. São Paulo: Manole, 2014. EERLIGEN, R.C; DELCOUR, J.A. Formation, analysis, structure and properties of tipe III enzyme resistant starch. J. Cereal Sci., v.22, n.2, p.129-138, 1995. GARRIGUES, V. et al. Prevalence of constipation: agreement among several criteria and evaluation of the diagnostic accuracy of qualifying symptoms and self reported definition in a population-based survey in Spain. Am. J. Epidemiol., v.159, n.5, p.520-526, 2004. HENN, R; ALVES, G.C.P.P. Avaliação do índice de qualidade dos cardápios da alimentação infantil oferecidos aos pré-escolares de Palhoça-SC. Nutrição em Pauta., n. 55, p.22-29, março - 2020. INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary reference intakes ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA

47


Técnicas Gastronômicas Le Cordon Bleu Com mais de 120 anos de experiência no ensino da Gastronomia, o Le Cordon Bleu é líder mundial com sua rede de Institutos de Ensino da Arte Culinária e Administração da Hospitalidade. Oferecendo uma ampla gama de cursos de grande prestígio como: Cuisine, Pâtisserie, Boulangerie e diversos cursos de curta duração disponíveis nas unidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A rede de 35 escolas em 20 países gradua mais de 20 mil estudantes por ano. O Le Cordon Bleu também se orgulha das suas instalações de última geração e da sua dedicação em manter seus cursos sempre atualizados com a mais recentes tecnologias, viabilizando a colocação dos seus alunos no Mercado. Estamos felizes em compartilhar nossas receitas utilizando as técnicas clássicas e modernas ensinadas nas nossas escolas.

. . . ................ Int ro du ç ã o. . . . . . . . . . . .. . . . . . .

A receita do Le Cordon Bleu apresentada nesta edição é Panaché de Legumes Brasileiros com Pesto de Ervas .

48

ABRIL 2021

. . . . . . . . . . . . . . . . . . Ing re d i e nte s . . . . . . . . . . . ....... 200g de toletes de pupunha 6 quiabos 3 folhas de couve 1 dente de alho 30 ml de azeite 1 chuchu 20g de manteiga 200g de pinhão cozido 2 batatas doce 2 maxixes 1 cebola roxa 1 pimenta cambucu PANC Sal Limão tahiti

Pesto de ervas Coentro Salsinha Alho Castanha do Pará Queijo minas curado Azeite Sal

. . . . . . . . . . . . Mo d o d e Pre p aro. . . . . . . . . . .......

1. Cortar os toletes de pupunha chanfrado em ângulo, temperar com sal e assar ao forno 160 graus por 15 minutos, forno pré aquecido. 2. Cozinhar o pinhão em água abundante com sal. Descascar, cortar ao meio e reservar. 3. Cortar o chuchu em tamanho regular e forma desejada. NUTRIÇÃO EM PAUTA


gastronomia

Saltear em fogo baixo com manteiga e sal, fogo baixo, abafar e deixar acabar o cozimento. 4. Grelhar na frigideira quente sem gordura o quiabo cortado ao meio, até tostar ligeiramente, salpicar sal. 5. Retirar o talo central da couve e cortar as folhas em chiffonade (tiras finas). Levar ao fogo com 1 dente de alho picado e fio de azeite e sal, saltear rapidamente. 6. Descascar a batata doce a assar com sal, embrulhada no papel alumínio, até que esteja cozida e macia. Retirar do papel, amassar grosseiramente com garfo, agregar azeite e sal a gosto. 7. Lavar bem o maxixe, retirar as sementes, cortar em mini cubos. 8. Cortar a cebola em mini cubos, mantendo o tamanho dos cubos de maxixe. 9. Cortar a pimenta em mini cubos do tamanho do maxixe e cebola, misturar os 3, colocar sal, gotas de limão a gosto deixar dessorar um pouco antes de servir. 10. Lavar e secar bem as folhas de PANC. 11. Processar as ervas, alho, castanha do pará, queijo e ir adicionando azeite. Ajustar sal.

. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Sobre o autor

Chef Patrick Martin - Executive & Technical Director Le Cordon Bleu Anima

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ PALAVRAS-CHAVE – alho, azeite, cebola KEYWORDS – garlic, olive oil, onion

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ RECEBIDO: 10/11/2020 – APROVADO: 10/12/2020

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ REFERÊNCIAS “L’École de la Pâtisserie” - Le Cordon Bleu® institute - Larousse.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........

Copyright Le Cordon Bleu 2020 ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA

49


50

ABRIL 2021

NUTRIÇÃO EM PAUTA


EAD PROFISSIONAL NUTRIÇÃO EM PAUTA

VEJA OS NOVOS CURSOS EAD EM WWW.NUTRICAOEMPAUTA.COM.BR

Suplementos Esportivos Fitoterapia Nutrição e Estética Mindful Eating Nutrição e Pediatria Nutrição no Envelhecer Estratégias para Emagrecimento Microbiota Instestinal Cirurgia Bariátrica Nutrição e Esportes


19 a 21/agosto - Online 100 horas de palestras, mesas redondas, simpósios, apresentações gastronômicas, temas livres e pôsteres, disponível a partir do primeiro dia do congresso, durante 3 meses.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.