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Uma publicação de Zezinhos
Sexo
Perguntas sem-vergonha Transformar
Sonhe grande
Ele é ela
Vida de Drag Queen Funk
Dentro do pancadão
Moda
Verão florido
Todos contra o bullying Essa palavrinha difícil está cada vez mais presente na rotina das escolas pelo Brasil. O primeiro passo para combater o problema é entendê-lo e perceber que só com muita união chegaremos à solução
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editorial
Se essa não é a maior redação do Brasil, certamente é a mais bonita e animada
Sabe quando você TIRA férias, passa um tempo em outro lugar e depois volta? É ótimo sair e conhecer coisas novas. Mas é tão bom voltar pra casa. Tomar banho no nosso banheiro, dormir na nossa cama, reencontrar as pessoas queridas... A sensação de fazer esta edição da Zzine foi essa: a de voltar pra casa. A Zzine nasceu em 2009, em uma oficina de jornalismo na Casa do Zezinho. Não conhece? Corre lá... É uma ONG que incendeia as mentes e corações da molecada do Capão Redondo. Depois de seis meses de trabalho duro, criamos a edição número zero. Da primeira vez, foi no atropelo. Sem cronograma ou planejamento, mas foi gostoso. Tanto que deixou um gostinho de quero mais. E virou um sonho. Que íamos dividindo com quem parava mais de 5 minutinhos pra conversar: temos uma revista feita por jovens do Capão, mas queremos mais, muito mais... Depois dos “5 minutinhos”, tinha início um processo contagioso. E nosso time de educadores cresceu. Alguns largaram o emprego em redações, outros encararam a jornada dupla em reuniões que nunca acabavam. Quanto
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menos dormíamos, mais sonhávamos. E assim ficamos fortes pra sonhar cada vez mais alto. Hoje, o Zzine é coordenado por uma equipe apaixonada. Somos quatro jornalistas, dois fotógrafos e um designer – além de duas jornalistas-mirins (jovens da edição zero que estão na faculdade). Todo esse povo para dar aquele apoio moral e técnico pra quem realmente interessa: os jovens repórteres, fotógrafos, designers e produtores da Casa do Zezinho. Os “Zziners” têm de 14 a 22 anos. Alguns são curiosos, observadores. Outros são ousados e questionadores. Juntos, formam um grupo afiado, divertido e desafiador. Que a cada semana nos chacoalha as certezas da profissão. Este é o resultado do primeiro mergulho deles no jornalismo (na nossa imparcial opinião, a melhor profissão do mundo). Depois da formação, voltaram pra rua, escola, busão e outros lugares que conheciam, mas com outro olhar. O olhar de repórter. O olhar de quem olha e vê. E eles viram. Ouviram, sentiram e clicaram um mundo que já não era o mesmo.
Engoliram a timidez para tirar dúvidas sobre sexo. Convenceram a galera a revelar seus piores micos. Viraram poetas no sarau que rola dentro da esola. Soltaram a mente pra entender os sonhos. Incendiaram o pátio da escola até arrancar as raízes do bullying. Decifraram o comportamento das tribos. Choraram ao ouvir a história de uma drag queen. Reviraram brechós atrás de dicas de moda. E viveram os riscos do pancadão. Assim, lançamos a primeira revista Zzine. A cada três meses sai uma nova edição. Sempre feita aqui na nossa Casa, por jovens que olham, escutam e sentem antes de escrever. Temos um ano de Zzine garantido pelo Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, ligado à prefeitura, que recolhe o imposto de renda de empresas. A empresa que apostou na gente foi a Ambev. Temos também o blog www.revistazzine. wordpress.com com outras matérias e nosso dia a dia na redação. Além de camiseta customizada, brilho no olho, calor no coração e muita, muita energia... Mas a gente quer mais. Tem cinco minutinhos?
Foto de capa Jawanne Rodrigues
Tudo o que podemos ser
sumário
Conselho Editorial Angela Dannemann e Saulo Garroux Coordenadoras do projeto Amanda Rahra, Maria Célia Gonçalves e Nina Weingrill Educador de formação Mauricio Monteiro Filho EducadorA de texto Ana Aranha Educadores de fotografia Guilherme Gomes e Lucas Albin Educador de Arte André Rodrigues Estagiárias Natália Barbosa e Beatriz Mendes Equipe Amanda Cristina Soares, Bianca Dias, Bruna Ramos, Caroline Rosa, Daiane Karoline Soares, Dara Bezerra, Diogo dos Santos, Everene Julieth Dias, Francisco Santos, Guilherme de Oliveira, Ingrid Souza, Jackeline Duarte, Janaire Rodrigues, Rael Ferreira, Sthefanie Pereira, Caique Barbosa, Carolyne Pereira, Jawanne Rodrigues, Jenyssis Chaves, Jenyffer Chaves, Jéssica Novais, José Vinícius Feitosa, Joseane Campos, Kayam Mendes, Luane Ferreira, Matheus Oliveira, Mayara Paula Santos, Michael Douglas Santos, Mônica Reis, Natália Ferreira, Rafael Rocha, Rafaela Andrade, Silvana Oliveira, Taís Gomes, Talitha Gomes, Vanessa Ribeiro Agradecimentos Tia Dag, Corina Macedo, Gilson Martins, Agenor Mendes, Renata Costa, Rodrigo Sousa, Júlio de Sena, Muller Silva, Zinho, Mascote, Luis Otávio, Alexandre Zukemura, Luca Lopes, Larissa Ribeiro, Dalton Assis, Jessica Kibrit, Izabela Moi, todos os entrevistados, familiares e amigos dos Zziners, tios, tias e funcionários da Casa do Zezinho, professores e gestores de todas as escolas da região Associação Educacional e Assistencial Casa do Zezinho Rua Anália Dolácio Albino, 30 • Pq. Maria Helena CEP 05854-020 • São Paulo/SP • Fone: (11) 5818.0878
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saúde
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relacionamentos
Todo mundo tem dúvidas sobre sexo. Confira aqui a resposta para algumas delas.
Na hora do xaveco, pegue leve para não acabar levando um toco
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fala sério Divirta-se com as histórias dos micos da galera
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entrevista Rodrigo Ciríaco luta contra tudo e todos para manter sarau vivo
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transformar Cada geração é diferente, mas todas sonham. Descubra o que motiva as pessoas hoje
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CAPA Bullying é coisa séria e precisa acabar. A mobilização de toda a escola pode combatê-lo
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perfil Conheça a história de Diego, que quebra barreiras virando Kethellyn
Acompanhe nas redes
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Todo mundo tem um lugar ao sol. Basta se encontrar. Veja aqui algumas turmas diferentes
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estilo Confira os looks que estão bombando e fique na moda
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diversidade
diário A diversão pode virar pesadelo no pancadão. Conscientize-se
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saúde
SEXO
O assunto mais falado entre a galera texto Janaire Rodrigues, Ingrid Souza e Guilherme de Oliveira foto Jawanne Rodrigues ilustração Julieth Dias
Desvendamos tudo que você sempre quis saber sobre sexo mas teve vergonha de perguntar. Confira as dicas de especialistas para um sexo mais consciente
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lguns jovens sentem vergonha em falar sobre isso, ficam vermelhos e quietos. Outros são mais caras-de-pau e fofocam mesmo. Mas, quando se forma uma das famosas rodas de amigos, aí todo mundo se solta e fala sobre tudo: paquera, namoro, medo, virgindade, a primeira vez, experiências, ficadas naquela festa... Para entender melhor o tema, fizemos uma pesquisa entre os jovens para saber quais são suas principais dúvidas sobre sexualidade. E, para respondê-las, entrevistamos o sexólogo Alessandro Ezabella e a educadora da oficina de Sexualidade da Casa do Zezinho, Renata Regina. Eles tiraram as nossas dúvidas e com certeza muitas das suas também!
Por exemplo, o clitóris Existe uma questão física, anatômica. do pênis dos meninos, das meninas e a glande, que é a cabeça do você toca numa região são regiões com muitos nervos, e quan , dá prazer. Mas cada assim... opa! Dá uma sensação diferente ‘o que é prazer pra mim?’, r pessoa tem que descobrir e se pergunta - até pra não ficar uma de que jeito eu gosto de sentir prazer?’ e prazer é só na penetração. relação muito genitalizada, onde sexo , pode ser um jeito de Não, é mais do que isso, pode ser um beijo outra parte do corpo. olhar, pode ser um toque em qualquer
A gente ainda vive numa soc iedade machista, e parece que só o homem é capaz de gozar quando se masturba . Isso não é verdade, pois dep ende da mulher se permit ir, se conhecer, se tocar, para também atingir o orgasm o por meio da masturbação. O pro blema é que muitas garota s tem vergonha, pensam que é feio ou proibido. Mas ess a é uma forma de autoconhe cimento para meninos e me nin as. O único alerta a fazer é a que stão do excesso, quando iss o impede a pessoa de se rel acionar afetiva e socialment e.
Por que as pessoas insistem em não usar ? Muita gente fala que é uma questão de falta de informaç ão ou de educação, mas talvez que o que fale mais alto realm ente é a coisa do momento: ‘Ah, será que não dá pra confi ar nessa pessoa? Tá tão gostoso aqui... ’. Já os garotos ficam preocupados em manter a ereção: ‘Nossa, eu vou perder a ereção. Meu Deus, vamos logo!’. Às vezes, colocar a camisinh a acaba sendo uma complicação. Por isso, meninas, fica a dica: na hora do vamos ver, tente usar seu charme e um joguinho de sedução, para fazer com que o menino use a bend ita camisinha para não correr o risco de engravidar e pega r doenças.
DOI?
não doeu’. Aí Muitas falam que dói e outras falam ‘Ah, de sangrar fato o e a gente pensa: dói ou não dói? A dor membrana tem a ver com o tipo de hímen, que é uma pode ser mais de pele fina na entrada da vagina (que profundamente ou menos fechada), mas também está com que a relacionada com o nervosismo, que faz sofrido ter ina men vagina se contraia. O fato de a não, a pressão algum tipo de abuso, se sentir pronta ou contam do(a) namorado(a) e das amigas também vez, tenha eira prim muito. Por isso, na hora de ter a sua ém especial. certeza de que está preparada e com algu e, tudo bem. Se não for a hora de perder a virgindad
do, como e com quem quer ter Hoje em dia a gente pode escolher quan e tendo a responsabilidade de filho, e ninguém quer perder a juventud O método mais recomendado cuidar de um bebê. Por isso, fique atento. a, tanto a feminina quanto a para prevenir a gravidez é usar camisinh mas, se você combinar isso masculina (pois também previne doenças), o é ainda maior. Vale lembrar com a pílula anticoncepcional, a prevençã o médica antes de escolher que é muito importante procurar orientaçã . Além disso, a pílula tem uma qual o melhor anticoncepcional para você tomar e transar logo depois. fase de adaptação, por isso não adianta
Mas o que é perder a
nte Se a gente pensar biologicamente, é o rompimento do hímen, que geralme acontece na primeira vez em que há penetração. Mas, na verdade, a gente descobriu que é quando a pessoa não tem mais aquela inocência, já está pensando ativamente em sexo, cheio de malícia, e tenta vivenciar isso na prática, tipo aquela ficada que ultrapassa alguns limites, aquela mão boba gostosa, aquele amasso mais apertado, aquele esfrega, sexo oral...
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RELACIONAMENTOs
xaveco furado texto Janaire Rodrigues, Ingrid Souza e Guilherme de Oliveira ilustração Michael Douglas
VEJA MAIS TOCOS E XAVECOS EM REVISTAZZINE. WORDPRESS. COM
Quem nunca chegou num menino ou numa menina pra fazer aquela cantada que viu no twitter ou até mesmo no Orkut? Como aquela: Não é seu aniversário, mas você está de parabéns! Todos nós temos essa fase. Ainda mais quando é pra conquistar aquela pessoa com quem você tanto quer ficar. Às vezes dá certo, mas tudo depende da personalidade do garoto ou da garota, para poder chegar naquele clima e até quem sabe rolar uma ficada. Uns usam o método da conversa, jogando aquele xavequinho básico. Outros chegam chegando, sendo diretos até demais. Os jovens de hoje arriscam bastante quando estão a fim de conquistar aquele(a) gatinho(a) e usam paqueras que deixam a pessoa até constrangida. Para saber o que está rolando na cabecinha desses jovens desesperados para namorar, fizemos a operação “caça paqueras” para descobrir desde as cantadas mais simples até aquelas que deixam a pessoa xavecada completamente envergonhada! Mas, nessa operação, descobrimos também aquelas tentativas que não dão certo, e acabam em toco...
O menino disse: Fecha comigo? Ela respondeu: Da fruta que você gosta eu como até o caroço. Ele: Você é muito bonita. Ela: Pena que não posso te dizer o mesmo! Ele: Quer ficar comigo? Ela: No momento não trabalho como babá! A menina chegou perto do menino e perguntou se ele queria ficar com ela. Ele responde: Hoje não estou disponível, vem amanhã. Ele: Posso te beijar? Ela: Não, porque meu namorado tá do outro lado da rua.
Ele: Me chama de torres gêmeas e se joga em mim, avião! Ele: Seus pais são deuses? Ela: Não, por quê? - Porque eles têm um anjo em casa. Ela: Seu pai é advogado? Ele: Não, por quê? Ele fez direito, hein! Ele: Seu pai é dono da TAM? Ela: Não, por quê? - Porque você é um avião! Ela: Eu sei que você não é nem dengue, nem gripe, mas se eu te pego, vou direto pra cama!
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MAcacos me mordam!
fala sério
Quem nunca pagou mico que atire a primeira pedra. Se todo mundo passa por isso, o jeito é se divertir compartilhando essas histórias
texto Bianca Dias e Carol Freitas ilustração Bruna Ramos e Bianca Dias
King kong de Baixo do caminhAo
olha que loira Sou professor de uma academia. Lá, tinha uma loira sensacional e eu nem gosto muito de loira. Um dia, cheguei para o estagiário que me ajudava dizendo que tinha uma loira sensacional, de calça branca, fazendo aula de dança.Ele me disse: Pô, ela é minha mãe. E eu: Pô, sua mãe é simpática. Wesley, 26 anos
ops...carro errado Eu e minha amiga Celia fomos comprar umas cestas. Fui e ela ficou me esperando dentro do estacionamento. Ao voltar com as cestas, abri o porta malas e joguei elas lá dentro. Quando fui abrir a porta do motorista, vi um senhor no banco do passageiro que começou a gritar com o susto. Acho que ele deve tomar remédio até hoje por isso. Disse a ele: “Calma, meu senhor, não é um assalto. Errei de carro! Do outro lado, Célia quase fazia xixi na calça de tanto rir da minha distração. Beatriz, 34 anos
Mico da cueca Tinha mania de chegar em casa, tirar a calça e deixar ao lado da cama, para que, quando levantasse, não me atrasasse pra escola. Um dia, como sempre, fiz isso. Estava na aula, quando vi minha cueca no chão. Ao tirar a calça no dia anterior, a cueca saiu junto. Quando a vesti, entrou apenas em uma perna e, conforme andei, ela caiu. Dei o alarme: “Perderam uma cueca!”. E sofri o resto do dia, vendo os colegas surrando minha cueca de um lado para o outro. Gilson, 35 anos
Teve uma vez que eu fui ficar com um garoto bonitinho. Eu gostava dele. Então, marcamos de ficar atrás de um caminhão. Estávamos lá ficando quando chegou minha tia. Eram mais ou menos duas horas da tarde. Com o susto da chegada da minha tia, eu e ele nos escondemos debaixo do caminhão. Nesse momento, minha tia encontrou uma vizinha fofoqueira e elas ficaram conversando até umas quatro horas. Só conseguimos sair do esconderijo umas duas horas depois. Tayna, 15 anos
bunda de fora Estávamos do lado do Shopping Campo Limpo. Eu e uns amigos apostamos que conseguiríamos tomar uma torre de 2 litros em 3 minutos. Perdemos e, para pagar a aposta, tínhamos que subir de cueca a ladeira que fica ao lado do shopping. Enquanto isso, vinha um ônibus e nós decidimos fazer uma lua. Quando o ônibus estava quase perto de nós, fizemos uma fileira e mostramos a bunda para o pessoal do ônibus, que estava cheio. Começaram a gritar: “Gostosos”! Matheus, 19 anos
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entrevista
Pé na porta
da educação Ele já foi proibido de recitar poesias no pátio e de divulgar livros dentro da escola. Conheça Rodrigo Ciríaco, o professor que incomoda a rede pública porque sonha com um ensino melhor. texto Beatriz Mendes
foto Natália Barbosa
Rodrigo Ciríaco, 30 anos, é professor de história da escola Jornalista Francisco Mesquita, na zona leste, apontada pela avaliação do estado como uma das dez piores de São Paulo. Ele trabalha em meio às portas trancadas da educação pública: baixo salário, fraca infraestrutura, muita burocracia. Mas nunca deixou de olhar pelos buracos das fechaduras, experimentando quais são as chaves capazes de abrir a escola para projetos e atividades que despertem o interesse dos alunos e comunidade. As tentativas, porém, incomodam a rede de ensino. Por isso, Rodrigo já passou bem perto de ser demitido algumas vezes. Ironicamente, a cada fechadura que o professor abre, corre o risco de ser expulso e trancado para fora da rede de ensino que deseja libertar. Rodrigo começou a trabalhar cedo ajudando os pais no boteco da família, depois foi office-boy e animador de festas. Ele, que estudou na rede pública desde a pré-escola, formou-se em história na Universidade de São Paulo (USP). Ainda na faculdade, decidiu dedicar sua carreira às escolas públicas, pois sentiu o dever de retribuir o investimento que a sociedade havia feito em seu ensino. Como professor, lançou dois livros sobre sua experiência e fundou os “Mesquiteiros”, grupo de alunos que faz teatro e sarau de poesias (leia mais na página 11) fora do horário das aulas. Seu primeiro livro, “Te pego lá fora”, é uma reunião de contos baseados no cotidiano escolar. Rodrigo dedica a obra a “ todas as vítimas da nossa falta de educação”. Os contos provocam os leitores com histórias sutis e inocentes, que revelam muito sobre o universo de valores e costumes da escola. No lançamento, a direção tentou expulsá-lo por expor os problemas. Não conseguiu. Rodrigo alimenta também um blog onde divulga atividades culturais, seus livros e, muitas vezes, desabafa. Um de seus desabafos gerou muita polêmica e, mais uma vez, tentativa de expulsão. Mas, pelo menos por enquanto, Rodrigo ficou. Para entender o seu trabalho, a Zzine foi até a escola, acompanhou a atividade do seu grupo e tentou descobrir as motivações que alimentam o dia a dia do professor.
Zzine: Como você nutre a vontade de mudança dentro da escola? Rodrigo: Não desistindo. Como diz o poeta Sérgio Vaz, o final é quando você desiste. Briga tem hora para acabar, a luta é para uma vida inteira. Em alguns momentos, dá uma baqueada e aí você precisa parar, pedir licença, respirar. Mas, quando me recupero, volto. Se você quer alguma coisa, tem que fazer barulho.
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Z: Por que trabalhar em escola pública? R: Minha formação sempre foi no ensino público. Por isso, senti que devia retribuir. Não acho que todos os professores são obrigados a ter essa vontade de mudança. Acho que, acima de tudo, tem que ser profissional. Quer ganhar seu dinheiro? Tudo bem, mas tem que fazer o trabalho direito. Mas, infelizmente, muitos estão aqui por falta de opção.
Z: O conteúdo dado na escola é apropriado para essa geração? R: Escola é um lugar muito chato, precisa ter aulas mais interessantes. Não precisa muita tecnologia, acredito que com um giz eu posso fazer algo bacana. Mas precisa de professor bem preparado, com boa formação, tempo para preparar a aula, discutir com a equipe de professores. A maior parte dos professores têm dois, três empregos, não vão há muito tempo no cinema, não vão ao teatro, não leem. Informação tem preço. A gente acaba ensinando com o que tem. Z: Como o trabalho é diferente com o grupo que criou, os Mesquiteiros? R: Temos mais liberdade. Está ali quem quer estar, eles não são obrigados a ir. No meu caso, a liberdade está no sentido de experimentação, porque podemos trabalhar conteúdos novos, coisas que eles queiram fazer e descobrir. Z: O que muda quando um aluno vira “mesquiteiro”? R: A postura do mesquiteiro é diferente. Até em sala de aula, dá para perceber a mudança. Eles são mais seguros para agir. Muitos chegaram bem quietos, depois começam a brincar mais e aprendem a se colocar melhor. Z: E o que você aprendeu com esse grupo? R: Aprendi a valorizar as pequenas coisas. Antes, eu ficava desanimado se vinha pouca gente no sarau, hoje não. O mais importante é a molecada. Se conseguirmos três moleques
Conheça o blog do professor: www.efeitocolateral.blogspot. com. E O Do SARAU: www.mesquiteiros. blogspot.com
O professor Rodrigo Ciríaco lançou livro sobre a realidade de seus alunos e criou um espaço de livre expressão no meio do pátio. Para isso, enfrenta resistência dentro da escola e quase foi demitido.
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Z: Por que seu blog gera problemas na escola? R: Não falo mal de ninguém e não escrevo mentira. A nossa escola está há muito tempo entre as piores do estado. Uma diretora saiu daqui deixando uma dívida de 16 mil reais. Certa vez, escrevi que nossos alunos têm uma péssima imagem na comunidade, são vistos como putas, vagabundos e nóias. Escrevi isso para dizer que tínhamos que fazer algo. Um professor imprimiu esse post e disse que eu tinha xingado os alunos. Por causa disso, tive problemas com a direção, vice-diretor, supervisora de ensino, secretaria de ensino. Em algumas reuniões, eles estavam com o texto na mão e me perguntavam coisas que não estavam escritas. Perguntaram por que eu falo sobre o desvio de 16 mil reais. Respondi: “É mentira?” Mais grave do que eu falar sobre isso, é terem permitido que isso acontecesse. Z: Os outros professores concordam com a repreensão? R: Até então, muitas atitudes da direção eram
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abraçadas pelos professores. Mas desta vez muitos viram que eu realmente não havia xingado os alunos. A diretora queria que eles fizessem um documento pedindo o meu afastamento. Eles responderam que não. Depois disso, acho que muita coisa mudou. Z: Como foi quando lançou o livro sobre a escola? R: Quando publiquei, levei um exemplar para o diretor e perguntei se podia lançar na escola.
a secretaria de ensino chegou a avaliar se me processaria pelo que escrevi
Na hora, ele recebeu e não falou nada. Depois, disse que tinha encaminhado o livro para a secretaria de ensino. O órgão estava avaliando se eu poderia responder a um processo administrativo pelo que escrevi. Eles só não puderam abrir um processo contra mim porque o nome da escola não estava citado no livro. Z: E o segundo livro, como foi recebido? R: Agora, a justificativa para não ter lançamento na escola é que não podemos vender lá dentro. Mas, todo ano, parques de diversões e cursinhos de informática vão fazer propaganda na escola. Agora, no sarau, em que os recursos obtidos com as vendas iriam para a manutenção das atividades, não podemos vender nem um livro. Z: Como lida com os alunos que deixam a escola pelo trabalho? R: Não tem como prender o aluno. A maior parte dos meninos de rua são da periferia e têm casa e família. E por que eles estão na rua? Porque são os mais guerreiros. Entre os 9 e 10 anos, rompem com escola e família para tentar sair da miséria, da exploração, da violência doméstica. O Brasil não é um país pobre, precisa é melhorar a distribuição de renda. O estado paga 8 reais por hora para um professor, enquanto estudantes de engenharia fazem estágios de 3 mil reais.
Fotos Arquivo Sarau dos Mesquiteiros
para estar no sarau já está ótimo, pois eles poderiam estar em qualquer lugar, mas estão aqui. Podiam estar na rua, sem fazer nada, sem aprender nada, mas estão aqui.
Projeto criado por iniciativa do professor Rodrigo Ciríaco mostra, desde 2006, que a escola pública pode, sim, ser palco de ações criativas e inovadoras, que subvertam a rigidez dos conteúdos usualmente transmitidos em sala
Os mesquiteiros O pátio da escola não era o mesmo que recebe os alunos durante a semana. Ao invés da luz branca de sempre, as luminárias estão apagadas. Elas servem de suporte para barbantes compridos, que deixam ao alcance das mãos uma chuva de livros: obras infantis, clássicos e produções de escritores das periferias. Num canto, uma mesa com comida e bebida à vontade. No outro, uma mesa de pintura para as crianças, com tintas e papéis espalhados. Entre elas, muitas mesas e cadeiras apontam em direção ao palco, onde um grande cartaz anuncia: Sarau dos Mesquiteiros. No centro de tudo isso, dois canhões de luz de teatro apontam para o centro das atenções daquela noite na escola: o microfone. Esse é o cenário montado para o Sarau dos Mesquiteiros, onde alunos, ex-alunos, pais e comunidade são bem-vindos todo último sábado do mês. Os anfitriões montam uma lista de quem quer participar e vão chamando cada nome ao microfone – sempre com muita empolgação - para recitar poemas próprios, de escritores que admiram ou cantar e tocar música. Nesse espaço, a regra é a liberdade de expressão e pensamento. Um regulamento bem diferente das horas em sala de aula durante a semana, em que os conteúdos transmitidos são rígidos e não dão margem à experimentação e à participação dos jovens. Além da liberdade para falar, os participantes entram em contato com a escrita de autores das periferias, uma literatura que dificilmente entra na sala de aula. “Para mim, literatura eram escritores como Shakespeare. Eu não conhecia essa literatura que retrata a nossa realidade”, afirma Vanessa de Araújo, 16 anos, mesquiteira há cinco anos.
O sarau nasceu de um projeto bolado pelo professor Rodrigo Ciríaco, em 2006, quando eles liam, faziam um jornal com temas de suas vidas e montavam peças de teatro. O grupo cresceu e, em 2009, ganhou identidade própria: “Mesquiteiros”, uma brincadeira com o nome da escola (Jornalista Francisco Mesquita) e o clássico da literatura Os Três Mosqueteiros. O lema do grupo é o mesmo dos personagens do romance: “um por todos, todos por um”. O último encontro de 2011 reuniu mais de 50 pessoas. Assistir a jovens, adolescentes e crianças com poesia na mão, microfone à frente e coragem para recitar seus sentimentos à plateia revela a valorização e segurança que o projeto planta nos participantes. “Vivemos uma realidade que nos deixa inferiores, temos perspectivas pouco otimistas profissionalmente. Mas aqui nos valorizamos. Mesmo que eu não siga carreira nas artes, sei que posso conseguir o que quiser. Se eu lutar, eu consigo”, diz Jéssica Queiroz, 18 anos, mesquiteira há três. Mas, embora a procura pelo microfone aumente, a direção e os gestores do ensino não se envolvem. Pelo contrário. No dia que a Zzine foi à escola, quase que o sarau não aconteceu. A secretaria de ensino havia proibido o evento, alegando que o professor e os alunos não tinham autorização para usar o espaço. A liberação só saiu poucas horas antes do início do sarau, quando o projeto foi pauta de uma reportagem do Jornal SPTV, da Rede Globo. Os Mesquiteiros venceram a batalha em 2011, mas ainda não têm certezas sobre 2012. “É difícil encontrar professores que incentivam os alunos. Muitos dizem ‘quem quiser que aprenda’. Já o Rodrigo tenta mudar isso”, diz Vanessa. “A escola não tem outros projetos. Se acabarem com o nosso, como vai ficar?”
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sonhos
Não importam as dificuldades, as barreiras, os desafios. O jovem brasileiro está mais pé no chão do que nunca. E continua sonhando com uma vida melhor. texto Bia Mendes, Joseane Campos, Mônica Reis e Silvana Oliveira foto Jawanne Rodrigues, Jéssica Novais e Natália Barbosa ilustração Agenor Mendes Júnior
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icar bilionário? Ser um cantor de rap famoso? Viajar o planeta de bicicleta? Estudar em outro país? Mudar o mundo? Sonhar é fácil. É só começar a pensar nas coisas que desejamos pro nosso futuro que a cabeça vai longe. A gente deseja muita coisa durante a vida. Mas, de acordo com uma pesquisa recente feita com mais de mil jovens brasileiros, os sonhos mudaram em relação aos das gerações anteriores. Se antes a juventude tinha sonhos de paz, amor, igualdade e liberdade, a geração atual quer o que está mais à mão, como formação profissional e emprego. “Os anos 70 trouxeram conquistas muito importantes pra sociedade, como o movimento hippie”, afirma Rita Alves, pesquisadora do grupo Jovens Urbanos da PUC. Essa era uma época em que a informação viajava em massa. Onde TV, jornais e revistas tinham um mesmo discurso. Hoje, com a internet, sabemos que, além da Globo, existem milhares de lugares para buscar informação sobre um determinado assunto. Isso faz com que novos e menores movimentos culturais ganhem destaque, sem necessariamente precisar atingir todo mundo. E assim, sonhos quase secretos saem do baú para encontrar pessoas que os levem adiante. Além da tecnologia, essas mudanças também têm a causa num amadurecimento mais rápido do jovem. Quando criança, a gente sonha com coisas como ser astronauta, sem realmente pensar como queremos chegar lá. Ao ficarmos mais velhos, os sonhos se tornam mais próximos da realidade, mais possíveis, como morar num lugar mais tranqüilo. No estudo da BOX 1824, empresa que mapeou as tendências de comportamento dos jovens brasileiros, 92% deles concordam que a soma das pequenas ações do dia-a-dia pode mudar a sociedade. Então, independentemente de ser possível ou impossível, nosso sonho traduz nossa projeção de vida para o futuro. Ou seja, sonhar é e sempre será importante. E mais ainda é correr atrás deles. Confira a seguir os pequenos e grandes sonhos dos nossos entrevistados:
“Quero ser veterinária, ter uma casa própria e, depois, ter dois filhos.” Ketlin Correia de Araujo, 16 anos
e de perseguir o sonho, mesmo que seja o do momento.” Joseane Campos Almeida, 17 anos
“Eu já realizei um sonho: conquistei minha estabilidade financeira. Antes, quando eu morava no Norte, não tinha nem o que vestir. Mas continuo sonhando: em me formar em história!” Fernanda Almeida da Silva, 20 anos
“Sonho tanta coisa! Ver a minha família mais unida, trabalhar na profissão que eu escolhi, o Jornalismo. Também quero viajar e viver em um mundo melhor, sem violências, sem drogas, um mundo mais sonhador.” Mônica Reis, a Nická, 17 anos
“Meu sonho é ter uma fazenda, porque gosto muito de sossego e tranqüilidade. ” Rosana da Conceição Campos, 34 anos “Quero comprar uma casa e ter um carro. Para isso precisarei continuar trabalhando muito, ou ganhar na loteria. Mas o principal mesmo é ser alguém bem sucedida para que possa ter meus filhos e dar um futuro melhor pra eles.” Rosangela Aparecida Campos, 30 anos “Viajar pelo mundo e conhecer Paris e também o Egito. E isso me lembra que também tenho o sonho de terminar meus estudos para fazer uma boa faculdade. O que não pode é deixar de sonhar
“Sonhar é não desistir. Por isso, nunca desisti do meu maior sonho, que era ser mãe e construir uma família. Médicos disseram que eu nunca poderia engravidar. Hoje tenho três filhas lindas. Agora quero ver a minha casa construída e me recuperar do derrame que tive e do qual ainda sofro as conseqüências. E vou melhorar!” Silvia Pelicano Felippe, 47 anos “Já realizei um dos meus primeiros grandes sonhos, que era me formar na área de Artes Visuais. Agora, quero ter uma casa na praia, onde possa viver no meu mundo particular.” Agenor Júnior, 25 anos
“Sonho em ver os jovens felizes e com o fim da criminalidade. Já realizei um grande sonho de trabalhar na Casa do Zezinho.” Rafael Dombrauskas, 23 anos “Quero me formar em Engenharia Mecânica. Sei que se eu batalhar por aquilo que realmente gosto, com certeza não haverá fronteiras entre meus sonhos e eu.” Müller Nogueira, 15 anos “Quero concluir o colegial e alguns cursos que faço. Também quero fazer uma faculdade. E também ajudar os mais necessitados.” Silvana Oliveira, 17 anos “Sonho em ser professor de português, pois gosto muito de ler. Também sonho em ser escritor, mas não gosto muito de escrever.” Rafael Tsuyoshe, 10 anos “Sonho em ser um dançarino de hip-hop, mas sei que tenho que estudar muito pra poder alcançar meus objetivos.” Igor Xavier, 12 anos “Quando eu crescer quero ser desenhista, ando sempre praticando.” Moises Lima, 10 anos “Sonho em ser bombeiro, porque acho essa profissão muito atraente.” Thiago Gomes, 12 anos “Sonho em ser policial, para combater o crime e acabar com as drogas.” João Pedro, 13 anos “Quero ser um atleta profissional de badminton e jogar na França” Geovanne Lima, 12 anos “Quero ser jogador de futebol. Igor Xavier, 12 anos Gabriel Pereira, 9 anos Thayna de Abreu, 14 anos “Quero ser goleira.” Amanda da Silva, 14 anos
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capa
Todo mundo sofre – ou já sofreu – com o bullying nas escolas, mas existe uma solução para combatê-lo: a união. texto Vanessa Ribeiro, Kayan Alves Mendes, Mayara Paula, Jawanne Rodrigues e Jéssica Novais fotos Jawanne Rodrigues, Jéssica Novais e Kayan Alves Mendes
Quando se trata de bullying, você pode ser vítima ou vilão. Ou ambos. Para virar essa mesa, o único herói é a mobilização de todo mundo junto e misturado
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Você sabe qual é a moda do momento? Acha que é Restart? Luan Santana? Lady Gaga? Justin Bieber? Não, a nova onda entre os jovens é o bullying! Recentemente, jornais e programas de TV têm tratado o tema mais abertamente. Mas você sabe o que a palavra significa? Bullying é uma agressão física ou verbal que causa traumas como baixa autoestima e sentimento de inferioridade. O fato do bullying ter virado moda pode ser bom. Como o assunto está na boca do povo, as escolas começam a pensar em alternativas para rever os direitos das vítimas. É o que diz a professora Elaine Souza, 42 anos, formada em História, Geografia e Pedagogia. Para ela, haverá épocas em que o assunto virá à tona, como agora. Em outras, o sofrimento de alguns será mascarado. Mas, em sua opinião, o bullying sempre existirá. Para começar a lidar com o problema é necessário que a vítima fale e que alguém a escute. A tendência, porém, é o isolamento. Bruna*, 11 anos, é uma garota negra, baixinha, tímida e meiga, que costuma ir à escola com o cabelo preso. Um colega de sua classe, da 5°série, a apelidou de “neguinha da macumba”. Ela conta que ele a humilha diariamente, há dois anos, na frente de todos, insultando também seus familiares. Ela não procura a direção da escola, pois tem medo da reação. Bruna já sofreu até ameaças de agressão. Com frequência, ela conta a seus pais o que vive na escola, mas eles trabalham muito e não têm tempo para procurar a direção. “Quando falto, ele fala mal de mim para a classe. Ele xinga meu pai, minha mãe, minha família toda. Até a etiqueta da minha calça ele zoa. Não consigo nem dormir à noite”.
Para começar a lidar com o problema, é necessário que a vítima fale e alguém escute CHAMANDO ATENÇÃO Se não combatido, o bullying pode causar trauma. Luiza* é um exemplo. Dezesseis anos, magra, pele clara, cabelo escuro. Quando criança, sofria com apelidos como “anoréxica”, “esqueleto”, “pau ambulante”. Essas eram algumas das formas como os bullies (quem faz bullying) se referiam a ela. Luiza já se sentiu muito mal por conta das agressões verbais. Tinha vergonha de sair na rua por medo de críticas. “Se não estou satisfeita com a minha aparência, a culpa é deles”. A garota notou que deveria viver normalmente a partir do momento que resolveu contar tudo a seus pais. Atenciosos, eles conversaram sobre o problema e a ajudaram a se valorizar. Até hoje, porém, ela não acredita quando recebe um elogio. Acha que foi feito só para lhe agradar. Com um lenço amarrado na cabeça, chapéu e blusão, Luiza criou seu próprio estilo. Em seu consultório, a psicóloga Valdeti Silva, que também é professora
de ensino médio, tenta mostrar às vítimas que o problema não está nelas e sim nos agressores. Geralmente, eles vêem a agressão como forma de chamar a atenção e também precisam de tratamento emocional. Pedro*, 11 anos, já pensou na possibilidade de revidar, mas conta que bater não adianta, pois a violência poderá agravar seu caso. Tímido, poucos amigos, usa óculos. É o “nerd” da turma e conta que começou a sofrer bullying assim que mudou de escola. Não é visto como amigo e sim como divertimento do grupo, e é desmoralizado na frente de seus colegas. “Tem um que me bate mais. Ele me chuta, dá murros, socos no meu peito e também tapa na minha cara”. Pedro é agredido até quando está jogando bola. O jeito que ele achou para se livrar das ameaças e xingamentos foi passar o intervalo com alguns garotos do colegial. Muitas pessoas sabem o que se passa com ele, porém nenhuma providência foi tomada.
*Nomes fictícios
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capa
Na escola Davi Nasser, a união faz a força contra o problema do bullying. Lá, alunos, professores e até um policial se envolveram no combate à violência
“Bullies são influenciáveis, não buscam sua identidade e podem se dar mal no futuro”
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QUEM SÃO OS AGRESSORES? As vítimas são crianças ou jovens tímidos e aparentemente estudiosos. Há mais de cinco anos, desde o 7° ano do ensino fundamental, os colegas zombam de como Maria* se veste. Com um estilo pessoal, ela não se preocupa em combinar as peças, alterna entre roupas largas e justas. Boa aluna, ela conta que não se preocupa em seguir a moda e por isso já viveu muitas situações que a chatearam. Atualmente, quando ouve um insulto, ignora. Para ela, é a melhor coisa a fazer, pois os agressores gostam de vê-la magoada. A jovem tem uma forte opinião sobre os bullies. Ela acha que eles são muito influenciáveis, não buscam sua própria identidade e podem seguir por caminhos errados e acabar envolvendo-se com prostituição, drogas e outros crimes. As vítimas são as mais afetadas. Segundo a psicóloga Valdeti, porém, os bullies também precisam de tratamento, mas é muito raro que busquem ajuda. “Em geral, alguém tem que conversar para conscientizá-los, eles não sabem por que praticam e nem as
conseqüências de seus atos. Os agressores não reconhecem, mas têm essa necessidade, é como se fosse uma patologia”, ela explica. O bullying não é crime. Mas, segundo o soldado da Polícia Militar Fausto Alves Ramalho, ações como a agressão física podem ser caracterizadas como lesão corporal, o que dá pena de 3 meses a 1 ano de detenção. UMA ESCOLA CONTRA O BULLYING Para combater o problema, Fausto realiza ações na escola David Nasser, na zona sul de São Paulo, desde agosto de 2010. Com a sua ajuda e a de uma professora mediadora, 25 alunos se uniram para fazer vídeos, uma peça de teatro e uma palestra sobre o bullying para toda a escola assistir. O programa se chama Jovens Construindo a Cidadania (JCC). Washington Wendell Silva encenou, na peça de teatro, o que sofre. O garoto da 7ª série é perseguido porque é baixinho e quieto. Durante a peça, o público não achou graça no que os agressores faziam. Ao contrário, alguns ficaram indignados ao ver a cena. Mas, mesmo assim, ao final da peça,
Washington voltou a ser agredido na vida real: um garoto lhe deu um soco no rosto. Então, Stephany Igino da Silva, aluna responsável pela palestra, mostrou que estava mesmo vestindo a camisa do programa. Ela defendeu o amigo, conversando com o agressor para descobrir o motivo da agressão. ’’A primeira coisa para começar a combater o bullying é aceitar as diferenças’’, diz Stephany que passou a conversar com os envolvidos sempre que identifica um caso. ‘’Digo para eles que todo mundo é diferente. Se fossemos todos iguais, não tinha graça’’. Fabiana Laurentino, a professora mediadora dessa escola, conta que, por medo do que pode acontecer, as vítimas não se sentem à vontade para pedir ajuda. Entretanto, na David Nasser, com a mudança na abordagem, a equipe gestora garante sigilo nas ações de proteção às vÍtimas. “O bullying pode ser combatido, principalmente com a ajuda dos alunos que têm noção da gravidade do problema”, diz Fabiana. Desde que as ações na escola se iniciaram, os alunos parecem se sentir mais seguros. No pátio, as cabeças baixas deram lugar a sorrisos e novas amizades. Quando um problema acontece, é organizado um círculo restaurativo, que é uma reunião em que se discute quem praticou, quem sofreu e os motivos do bullying, mostrando para o agressor as marcas que ele deixou na vítima. Para enfrentar o problema, é preciso união, interação entre todos na escola, neutralidade para solucionar os casos e rejeitar sempre todas as formas de preconceito. O projeto pioneiro da David Nasser é um grande exemplo para todas as escolas.
O relato de um ex-bullY Henrique, 19 anos, confessa que sentia prazer em debochar dos colegas na escola
Zzine: Por que você começou a praticar o bullying? Henrique: Um dia, três meninos me bateram na frente de todo mundo .Fiquei mal com isso e resolvi me vingar. Z: O que você sentia? H: Prazer. Dava status na escola. Z: Como bully, teve algo que fez e se lembrará a vida toda? H: Dois garotos que não gostávamos entraram nas cabines do banheiro. Cuspimos na maçaneta do lado de dentro, e eu fechei a porta pelo lado de fora. Para abrir a porta eles tiveram que colocar a mão na “nojeira” que nós tínhamos feito. Z: Qual foi sua sensação ao fazer os garotos passarem por essa situação? H: Poder, pois eles viram que fomos nós, mas não podiam fazer nada. Meu pensamento na hora foi: “Comigo ninguém pode, mas posso com todos”. Eles davam risada, mas acho que era por medo.
Z: Você nunca foi punido? H: Ah... Minha mãe batia cartão na diretoria (risos). Me lembro que tinha seis páginas de reclamações no livro negro. Uma vez, minha mãe chegou na escola e uma professora começou a chorar dizendo que eu induzia o pessoal a fazer bagunça. Z: Seus atos o prejudicaram? H: Sim, fui reprovado três vezes na escola. Foi difícil, mas hoje tenho um bom emprego. Z: Você ainda pratica bullying? H: Não, agora tenho consciência do que realmente é brincadeira. Sei que a diversão de hoje não vai valer a pena no futuro. Não consegui amigos verdadeiros e sim inimigos. Z: O que diria às vítimas? H: Tente se impor, se proteger. Não deixe as pessoas pisarem em você. Converse com os seus pais, professores, peça ajuda e mostre que você tem potencial.
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perfil
Ele vira ela, ela vira ele
A história de um transformista que superou os obstáculos dentro e fora de si texto Jenyffer Stephany e Kayan Alves Mendes fotos Jenyssis Windenen
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Tudo começou quando Regina Célia, durante sua gravidez, foi a uma parteira e ela lhe disse que seria uma menina. Mas Regina, decidida, insistiu dizendo que seria menino. Dito e feito, as duas estavam certas. Nasceu um menino, com aura de menina. Hoje, com 20 anos, Diego Knuts divide a rotina com Kethellyn Loren. Durante o dia, ele é auxiliar administrativo e maquiador, à noite, incorpora a estrela dos palcos. O filho de Regina é um transformista. Quando pequeno, Diego brincava de casinha, com bonecas e gostava de pegar o salto de sua mãe. Crescendo, passou a dar selinho em seus amigos. Aos 15 anos, namorou algumas mulheres, mas sob pressão da família. Com dificuldade de aceitar que era gay, entrou em depressão e decidiu procurar tratamento psicológico. Ele superou essa fase com a ajuda de grupos de apoio,
e o auxilio de amigos. Foi quando entrou em contato com o mundo do transformismo através de um travesti e uma peça de teatro na qual interpretou o papel de drag-queen. Um dos momentos mais difíceis foi quando se assumiu publicamente. Aos 16 anos, quase foi apedrejado na escola, pois foi o primeiro gay a se assumir. Em casa, a mãe diz que levou um choque: ‘’Você se pergunta: Onde foi que eu errei? Eu eduquei. O que está acontecendo? Será que ele é abusado pra preferir isso? E então pensei: ‘Não!’ Eu não errei! É uma opção dele. Ele nasceu assim. Ele preferiu mostrar a que veio’’. Ela diz que até hoje tem dificuldade para aceitar, e o repreende quando ele dá “gritos exagerados”. Foram muitas as complicações na família. Diego morava com seus avós, e sua mãe não queria que eles o vissem transformado. Apesar disso, a primeira pessoa
A cultura drag não é bem aceita e sofre preconceito a aceitar Kethellyn foi sua avó, que sempre lhe dava colo e consolo. Alem da avó, Diego encontrou colo em outra pessoa inesperada: sua ex-namorada. Quando se assumiu gay, terminando o namoro, ela reagiu bem, disse que era lésbica e passou a ajudá-lo com maquiagens e roupas femininas. Hoje, Diego tem expectativas positivas para sua vida. Como maquiador, adotou o nome artístico de Thiego e, com ele, quer superar suas dificuldades, lutar pelos seus sonhos e derrubar fronteiras. Já como Kethellyn, ele procura uma vida de alegrias e vitórias. A drag Kethellyn faz muitos eventos profissionais, como shows em casamentos, aniversários e formaturas. Diego tenta unir os dois personagens em um só, assimilando as características de Kethellyn em seu perfil masculino. Até sua mãe se reconhece na Kethellyn: ’’Ouvi ele dizendo que, quando se transforma, se inspira em mim. Sempre fui muito peruona, então eu acho que a Kethellyn é meio teatro. Eu não me envolvo muito com ela e nem quero que ela queira se mostrar mais que eu’’. Além dela, ele também se inspira na
drag-queen Léo Áquila que hoje em dia é uma travesti que faz shows e participa de programas de TV. Kethellyn também se inspira na rainha do bate-cabelo Robytt Moon e em Dimmy Kieer, o Dicésar, do Big Brother Brasil 10. Mas a cultura drag ainda não é bem aceita. Nós observamos que há poucos lugares onde Kethellyn se sente segura. Passamos uma noite com ela na Virada Cultural. Ao chegar, já nos espantamos, porque tivemos que ficar atentos aos skinheads, grupo racista que agride homossexuais, travestis, negros, nordestinos e outros. Na volta para casa, um jovem gritou com Kethellyn agressivamente: ’’Quem é você? O que está fazendo aqui?’’. Só faltou bater nela. Ficamos muito assustados. Depois, fomos aos lugares que ela frequenta, como boates e a Rua Vieira de Carvalho. Lá, nos sentimos mais tranquilos para andar sem medo. A todas as pessoas que por algum motivo sofrem preconceito, Diego deixa o recado: “Caia no palco, se jogue, mas nunca desista. A cada dia que passa, uma nova estrela vai brilhar. Nunca deixe de brilhar’’.
A transformação de Diego em Kethellyn leva tempo e exige atenção aos detalhes. Mas vale todo o esforço quando ela se vê brilhando luxuosa no palco
Dicionário Drag Queen Às vezes, não entendemos o que a Kethellyn diz. Confira algumas de suas expressões:
Abafa - Fica calada, não comenta nada Aleijo - problema Alibã - policiais Aqué - dinheiro Bagaceira - de baixo nível Bofescândalo - Homem gostoso Colocada - alguém que abusou de drogas ou álcool Elza - roubo Jogo o cabelo na senhora - bato em você Ferver - animar Lady - lésbica de aspecto feminino Ligar o pisca alerta - voltar a si, acordar Luxuosa - alguém bem produzido Mona - mulher, amiga Naja - fofoqueira Ocó - homem Se joga, pintosa - Algo como ‘vá em frente’ Tô passada - Expressão de espanto Uó – feio
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diversidade
Às vezes a gente se sente meio deslocado na nossa família biológica. Por isso, criamos e fazemos parte de tribos, que são as nossas famílias de estilos cada um que encontre a(s) sua(s). Confira a seguir três tribos completamente diferentes para que você possa se inspirar. texto Michael Douglas, Caíque Barbosa, Vinícius Feitosa, Jenyffer Stephany, Talitha Castilho e Tais Gomes fotos Jenyssis Windenen, Rael Ferreira da Silva
Cada um no seu estilo, Pedro e Cris se orgulham de representar suas tribos. Ele é um nerd convicto e ela uma ativista do hip-hop.
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omeça quando a gente é jovem. Mudamos nosso vocabulário, o jeito que nos vestimos, os amigos, os lugares que frequentamos. Pode ser que dure muito, pode ser que passe rápido ou que a gente se envergonhe de algumas coisas quando ficarmos mais velhos. Mas é fato: fazer parte de uma tribo (ou de algumas) é legal. A gente se sente acolhido, compartilha experiências e pode fazer o que gosta sem ser julgado. Roqueiro, pagodeiro, bicicleteiro, funkeiro, viciado em internet... Não importa. Pode ter certeza de que, um dia, você vai fazer parte de um grupo. “A formação de tribos se intensificou com os avanços tecnológicos dos últimos anos. A nossa geração é a primeira a ter diversos meios de comunicação, que nos interligam e aproximam, o que diversificou nossos gostos e relacionamentos”, conta Roseli. Ou você acha que, em qualquer outro momento da história, seria possível ter, no Brasil, um grupo de jovens que organiza um evento que celebra o rock japonês?
Conexão oriente Safira Issobota de Oliveira tem 16 anos, olhos castanhos e cabelo vermelho, roxo e preto. Gosta de se vestir como uma estudante japonesa e faz parte da tribo otakus - termo usado no Japão para designar um fã, às vezes obcecado, por determinado assunto. No Brasil, esse é também o nome de uma tribo muito ligada na cultura pop japonesa. Eles curtem o j-rock – rock japonês, formado por bandas de aparência andrógina, em que o cuidado com o figurino extravagante e a maquiagem sombria são tão importantes quanto os instrumentos. Gostam também de comida japonesa, animes (desenho animado japonês), mangás (histórias em quadrinhos japonesas) e jogos de temática oriental. Outra prática comum entre eles é o cosplay, um hobby em que as pessoas se fantasiam de personagens de filme, animação, vídeo game, quadrinhos, series de TV ou até mesmo livros. Os eventos de cosplay, como a
CCB – Cruzada Cosplay Brasil – atraem otakus de todo o país desde a década de 1990. Hoje, já existe até uma TV Otaku (http://tv.grupootaku. com), com audiência garantida. Apesar da popularidade, Safira, que encontrou o grupo do qual faz parte, o Ibiras j-rock, no Orkut, acha que a tribo ainda sofre preconceito. “Estava andando com o pessoal e percebi que as pessoas nos estranhavam. Mas já me acostumei e não ligo para os outros”. Uma vez por mês, garotos da cidade (e de fora) marcam de se encontrar no Parque Ibirapuera, em São Paulo, para trocar idéias, conhecer novos amigos e se divertir. “Aqui, todas as pessoas me compreendem do jeito que sou”, diz Safira, conhecida como Safy. Já Carlos Henrique, o Hiiki, entrou pra turma para fugir do lugar comum. “Queria sair da rotina, ouvir outras músicas e não usar as mesmas roupas, cabelo e acessórios que todo mundo”, diz. O crescimento e a diversificação do número de tribos também é um reflexo da nova geração. “Antes, tínhamos costumes que impediam o adolescente de ser ele mesmo, como casar cedo e formar uma família. Agora temos mais tempo para pensar, além de estarmos muito mais conectados a coisas diferentes”, explica a antropóloga Roseli.
A expressão da liberdade Os costumes e as tradições, no entanto, não impediram as pessoas de criar suas tribos no passado. “O hip-hop [criado na década de 1970] é um movimento de liberdade”. É assim que Cristiane Correia Dias, 32 anos, define sua tribo que, hoje, se baseia em quatro elementos: o MC (mestre de cerimônias), o DJ (discjockey), o grafitti e o break. O MC é o porta-voz do hip-hop, que compõe as letras e rimas e anima a galera. Já o DJ faz as bases e colagens rítmicas e tem sua arte complementada pelo grafitti, que expressa, com latas de spray e rolos de pincel, o protesto, a indignação e a identidade do movimento. Os Bboys e Bgirls são os representantes de break, uma das danças do hip-hop. Para Cris, que é integrante de um grupo
de break, o hip-hop começou como “diversão, depois, profissão e acabou virando um desejo de ensinar as pessoas”. Por isso, ela se tornou professora da Casa do Zezinho. “Meu irmão cantava rap. Comecei a acompanhá-lo em passeios culturais de ritmos de danças diferentes. Vi apresentações da dança hip-hop e me interessei pelo ritmo”, conta ela, que hoje ensina cerca de 700 alunos na Casa. E defende: “Hip-hop não é só cultura e música. É um movimento de protesto e de resgate, principalmente de jovens que estão próximos das drogas e do crime”.
Orgulho nerd Avessos a protestos, os nerds defendem sua tribo com orgulho. Mas não foi sempre assim. O termo nerd era usado como forma de discriminação daquele que não tem vida social, usa óculos e não pratica esportes. Para virar a mesa, eles se fortaleceram e tornaram legal um apelido que nasceu pra ser pejorativo. “Esse negócio de nerd, ser uma pessoa introspectiva, por exemplo, é meio balela, porque eu não era o cara mais popular da escola, mas eu sempre andei com caras que se interessavam pelas mesmas coisas que eu”, conta Pedro Zambarda, que tem 22 anos. Hoje, para ser um nerd, é preciso ter um conhecimento profundo sobre videogames e tecnologia. “Ser nerd tá na moda, até por conta de programas da TV e filmes, como Big Bang Theory e Guerra nas Estrelas. A gente, quando encontra alguma coisa, estuda até o fim. Eu, por exemplo, sou viciado em leitura. Cheguei a ler 30 livros em um ano. Quando parei para contar, pensei: nossa, acho que eu sou meio doente”, conta Pedro, rindo. Apesar das peculiaridades, Pedro acredita que há um nerd em cada um de nós. “Por exemplo, uma mãe que cozinha muito bem é nerd. Ela pode não ser a melhor cozinheira da região, mas é melhor que a média em determinado assunto”, diz. A antropóloga Roseli complementa: “O importante é saber que, mesmo com suas diferenças entre roupa, ideologia e gostos, somos todos iguais”.
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estilo
Moda:
tô dentro ou tô fora? texto Caroline Ventura Rosa
Os vestidos com estampas diferentes, que parecem que não combinam entre si estão super em alta. Para não se confundir na combinação, escolha sapatos que combinem com pelo menos uma cor do vestido. Dê preferência aos sapatos lisos.
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Não é primavera, mas vocês já devem ter visto que, por todos os lados e em todas as lojas só se vê uma coisa: flores. A tendência de estampas chegou com tudo e está com diversos looks para passarmos um ótimo verão em 2012. O Zzine fez uma seleção de estampas bacanas pra você ficar por dentro. Lembrando que o mais importante – muito mais do que estar na moda – é que a roupa caia bem em você. Então, fique ligada nas dicas:
foto Jawanne Rodrigues
Outra dica é usar blusinhas ou vestidos com manguinha. Isso ajuda a disfarçar um braço mais cheinho e fica elegante para ir trabalhar, por exemplo. Se o florido é mais reservado, abusem das cores mais fortes nos pés!
Longo é tudo de bom no verão! É um jeito de estar arrumada e confortável ao mesmo tempo. Só cuidado com o comprimento. Se você for baixinha demais, prefira longos que escondam seu pé ;) Nos pés: rasteirinhas e espadrilhas!
Abuse das saias com cinturas altas. Além de esconder a barriga, ela alonga a silhueta das mais baixinhas! Cores fortes e estampas grandes ajudam a colorir o visual. Nesse caso, prefira combinar o look com um sapato neutro ou nude.
diário
RITmo e risco Droga, bebida, sexo, diversão, dança, pedofilia, vulgaridade. Desvendamos tudo o que rola no pancadão texto Dara Souza e Sthephany Souza ilustração André Rodrigues
A gente nunca tinha ido ao pancadão, mas tínhamos muita curiosidade. Então, decidimos ir para conferir o que acontece nessa balada tão comentada. Chegamos às 19h30 no “fluxo”, que é como o pessoal chama a festa. A rua era escura, escondida e havia muitas pessoas do lado de fora. Na entrada, o segurança implicou por causa de nossa idade – temos apenas 14 anos –, mas nos deixou entrar. Na verdade, ele estava mais preocupado em olhar para as roupas das meninas: quanto mais curtas, mais fácil entrar. Na hora da revista, só uma garota de 17 anos foi barrada, ela estava com maconha. Quando entramos, ainda havia poucas pessoas. O ambiente estava tranqüilo, porque estava tocando música eletrônica e axé. Mas, lá pelas 21h, as luzes piscaram e saiu fumaça do palco. Então, começou a batida. Todo mundo foi dançar e a “pegação” rolou solta. As músicas têm muitos palavrões e todo mundo canta junto. A dança é muito sensual e passa dos limites. Algumas mulheres exageram na hora de dançar. Elas usam shorts curto, top e rebolam como se estivessem fazendo sexo. Nós vimos até algumas que tiravam a roupa e ficavam só de calcinha e sutiã. Muitas das coisas que acontecem no pancadão são perigosas, principalmente para adolescentes.
Ela transou pela primeira vez ali, naquela quadra escura, com um menino desconhecido. Os homens passam a mão no corpo de meninas, jovens com roupas muito curtas dançam músicas eróticas e homens mais velhos oferecem bebidas alcoólicas para adolescentes. Na hora da saída, alguns meninos levaram uma amiga nossa de 17 anos para uma rua deserta. Ela nos contou que eles tentaram fazer sexo, mas ela não quis. Dias depois, no final de outro pancadão, outro menino a levou para uma quadra, dentro de uma escola. Ela transou pela primeira vez ali, naquela quadra escura, com um menino que nem conhecia. Disse também que não tinha conforto e que ficou com o corpo machucado. Ela falou que não se arrependeu, mas nós não achamos legal. Esse é um momento muito importante para ser vivido assim, sem amor. Esses bailes aconteceram em um galpão
fechado, mas também tem pancadão em lugares abertos. Os carros vão chegando, abrem o porta-malas e ligam o som bem alto. Toda vez, em algum momento, os vizinhos reclamam do barulho. Quando os policiais chegam, todo mundo sai correndo ou leva bomba de gás lacrimogêneo, cassetete e tiro de borracha. Nós até conhecemos uma família que perdeu uma filha pisoteada em um pancadão. O nosso aviso para todos os jovens que curtem funk é para que, se forem para o pancadão, não aceitem bebida de gente desconhecida – o melhor é não beber, para que não se aproveitem de você. Não conversem com pessoas estranhas, principalmente as meninas, que não devem dar muita confiança para garotos com más intenções. Vocês podem se arrepender depois.
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O texto pode ser digitado no computador ou escrito a mão (desde que com letra legível,). Deve acompanhar o nome
completo do autor, nome de sua escola, telefone (casa e celular) e contato de email, Orkut ou Facebook (se tiver). O concurso vai premiar apenas trabalhos assinados pelo próprio autor.
O prêmio será: duas entradas para o Hopi Hari com vale
transporte para a ida e a volta. Se o vencedor for menor de idade,
o prêmio será entregue na presença de seus pais ou responsáveis.
*Escolas Carolina Cintra da Silveira, David Nasser, Deputado João Sussumu Hirata, Fernando Gasparian, Miguel Munhoz Filho, Octales Marcondes Ferreira, Padre Sabóia de Medeiros, Presidente Café Filho, Professor Luiz Gonzaga Pinto e Silva e Waldir Rodolfo de Castro. Se você não é dessas escolas, envie um email ou entregue seu texto na Casa do Zezinho: Rua Anália Dolácio Albino, 30 - Pq. Maria Helena - São Paulo/SP.