4 minute read
O primeiro porta-contentores elétrico e sem tripulação já navega
O PRIMEIRO PORTA-CONTENTORES ELÉCTRICO E SEM TRIPULAÇÃO JÁ NAVEGA
Muito se tem falado, com razão, no automóvel, como sendo o veículo motorizado de porte médio, mais avançados nesse caminho que vem sendo trilhado de autonomizar e substituir a energia motora com base nos combustíveis fósseis por energia eléctrica, bem menos poluente. Todavia, nós fomos falando também na rapidez com que essa mudança se estava a operar também no transporte marítimo, nos navios.
Advertisement
Agora, com a primeira viagem realizada de um navio com propulsão eléctrica e com inteira autonomia, começamos de facto a entender, que o futuro já está aí. A prova está dada e o pioneiro navio cargueiro eléctrico autónomo do mundo completou a sua primeira viagem.
Este avanço da tecnologia irá economizar 1.000 toneladas de emissões de carbono por ano. Chama-se Yara Birkeland e é o primeiro navio de transporte de contentores totalmente eléctrico e livre de emissões do mundo. A embarcação completou a sua viagem inaugural na Noruega. Birkeland viajou cerca de 14 km desde Porsgrunn até ao porto de Brevik, de acordo com um comunicado de imprensa enviado pelos seus fabricantes, a Yara. Apesar de parecer uma viagem curta, como grande produtora de fertilizantes, a Yara realiza cerca de 40.000 viagens de camião por ano para transportar os seus produtos até o porto de exportação de Brevik. O porta-contentores substituirá as viagens de camião a partir do próximo ano.
Assim, esta alteração de estratégia de transporte deverá reduzir 1.000 toneladas de emissões de carbono por ano. Os trabalhos de construção do navio de contentores totalmente eléctrico de 80 metros de comprimento começaram no início de 2017. Este foi projectado para transportar entre 103 e 120 contentores numa única viagem. O Birkeland é alimentado por uma bateria de 7 MWh e pode viajar a uma velocidade máxima de 15 nós. O apoio financeiro para a construção deste navio cargueiro veio da Enova, uma empresa do governo norueguês que promove o uso de energia renovável. A Enova concedeu uma doação de 133 milhões de coroas norueguesas (cerca de 13,25 milhões de euros) para construir Birkeland. A embarcação conta com um vasto conjunto de tecnologias de navegação autónoma. Traz sensores que podem detectar objectos como caiaques na água, icebergues e outros obstáculos. Todas estas integrações para operações autónomas foram fornecidas pela Kongsberg. No futuro, o navio será capaz de carregar e descarregar a sua carga, carregar a sua bateria e navegar sem qualquer envolvimento humano, informou a empresa. É verdade que ainda não está tudo pronto, a partir do ano que vem, o porta-contentores fará duas viagens semanais com tripulação com a finalidade de testar a tecnologia auto-navegável por um período de dois anos, após o qual o navio será certificado como autónomo e a ponte de comando será removida do navio. Além de limpar as suas emissões de transporte, a Yara, um dos maiores emissores de carbono da Noruega, também planeia produzir amoníaco verde. Como produtora de fertilizantes, a Yara requer grandes quantidades de amoníaco, cuja produção contribui com pouco mais de 1% das emissões globais de gases com efeito de estufa, diz o comunicado da Yara à imprensa. A empresa de fertilizantes também quer usar este amoníaco verde como combustível para navios.
Protege o ambiente, mas ataca a nossa profissão
Ainda há pouco tempo escrevíamos, aqui na nossa revista, que um estudo, publicado recentemente prevê que dentro de cinco anos haverá uma escassez de marítimos para tripular os actuais navios mercantes, podendo levar a um aumento dos riscos para as cadeias de abastecimento global. O relatório deste estudo da Seafarer Workforce, prevê, com base em projecções de crescimento do comércio marítimo, que seriam necessários mais 89.510 oficiais até 2026. Todavia, perante a entrada em funcionamento, prevista para daqui a dois anos, tempo de testagem atrás referido, tudo parece indicar que em vez de falta de Oficiais o que se comece a verificar é um excesso dos mesmos. De facto, daqui para a frente o que é de supor é que mais destes navios entrem em funcionamento, sem qualquer tripulante a bordo, o que certamente ameaçará a profissão dos marítimos num espaço de dez a quinze anos. O passo seguinte será, certamente, pôr esses navios a interagir uns com os outros de forma a evitar rumos e conflituantes e acidentes resultantes. Este acontecimento deve motivar análise e tomada de medidas por parte das instituições que tutelam o transporte marítimo e a formação de forma não estarmos a formar pessoas que não encontrarão colocação profissional futura. É de crer que as Escolas Náuticas do mundo tenham que adequar os seus cursos para esse futuro, que já está aí. Mais técnicos de instalação e manutenção dessas novas tecnologias do que tripulantes para navios. Em minha opinião, a nossa ENIDH deverá começar a preparar a transformação dos actuais cursos de Engenharia de Máquinas Marítimas para cursos de Engenharia Mecatrónica. Da mesma forma, compete ao Ministério do Mar e à DGRM começarem a analisar estas implicações e a preparar as futuras necessárias novas regulamentações no que diz respeito aos actuais marítimos em paralelo com os futuros técnicos. As mudanças são sempre trabalhosas, difíceis e demoradas principalmente quando são feitas em cima do joelho, à pressa e sem ouvir as partes interessadas.