A REVOLUÇÃO DA PALHA EM IRAQUARA! Ninguém junta mais estrumo pra aduba plantação o plástico acabou com a palha o artesão passa fome Que na sua propriedade Não haja desmatação
Não faça queimada na roça Pois não é a solução Junte a palha E cubra a terra Acredite e verá! Assim diz, um cancioneiro popular
Vista de Iraquara
A Revolução de uma palha! “Uma Revolução pode começar a partir de uma única palha!” Masanobu Fukuoka
Masanobu Fukuoka foi quem introduziu a revolução da palha entre nós. Apenas observando os campos de arroz japoneses, lançou os princípios da agricultura selvagem que consistem em: não cultivar, não utilizar fertilizantes químicos, não mondar nem mecânica, nem quimicamente e não depender de produtos químicos. Tudo que fez, na verdade, foi retomar a herança do trabalho simples e próximo à terra de seus antepassados, recusando-se a adotar os procedimentos do modelo de agricultura intensiva associado à monocultura e à dependência do agricultor aos insumos do mercado. De acordo com Fukuoka, a razão pela qual as técnicas aperfeiçoadas parecem necessárias é porque o equilíbrio foi de tal modo rompido por estas mesmas técnicas que a terra se tornou dependente delas. Pelo contrário, ele recomenda recobrir o solo com palha, para interromper por um momento a germinação de plantas espontâneas, e semear através de bombinhas de sementes: “Não há método mais fácil nem simples para fazer crescer as sementes. Este método pouco mais requer que semear à mão e espalhar palha, mas precisei de mais de trinta anos para atingir essa simplicidade” (2008, p. 43) Espalhar palha relaciona-se com tudo: com a fertilidade da terra, a germinação das sementes e ervas espontâneas, a proteção contra os animais, a irrigação das culturas. A palha alimenta, protege e umedece a terra. Ao suprimir as práticas agrícolas inúteis, o trabalho do agricultor se transforma, contemplador, o agricultor precisa observar as relações naturais do lugar, estar atento ao ciclo das estações e das luas, para saber qual o momento certo de cultivar: Podemos cultivar legumes em qualquer lugar onde o crescimento das ervas daninhas for variado e forte. A familiarização com o ciclo anual e com o esquema de crescimento das ervas daninhas e das gramíneas é muito importante. Observando a variedade e o tamanho das ervas daninhas num determinado espaço, podemos avaliar de que tipo de solo se trata e quais são as suas deficiências. (2008, p. 70)
O mais importante não é a técnica de cultivo, mas o estado de espírito do agricultor! (FUKUOKA, Masanobu. A revolução de uma palha. 2 ed. Via Optima Editorial: Porto, 2008.)
Vamo catá palha!? Antes ouve como tudo começou.
Esta é a Casa de Tupã! Pegamos um avião para Salvador com destino a Iraquara, uma cidade que se localiza no coração da Bahia, com a intenção de levar sementes de Santa Catarina e fazer a Revolução da Palha em Iraquara. A cidade é rural e vive do cultivo de palma e feijão gandú. Clima quente e seco, o vermelho da terra salta na vista. Fomos recebidas pela Sol na Casa de Tupã, um espaço cultural que realiza ações com crianças da região. A Sol preparou uma programação para nos receber e passamos duas semanas envolvidas com o lugar e com as pessoas incríveis que encontramos por lá.
Começamos tirando da mala as sementes que trouxemos de Santa Catarina pra trocar em Iraquara. Espécies variadas de espontâneas disseminadas na ilha e que imaginamos que poderiam se dar bem no clima seco do sertão, como aroeira, crotalária, capins diversos, picão...
Óia a Erva de Touro!!
O quintal da Casa de Tupã se tornou nosso laboratório, iniciamos uma compostagem e cuidamos dos canteiros que já estavam por lá, identificando as plantas que ninguém conhecia.
Sol nos levou até o Poço de Manoel Félix, onde foi a fundação da cidade, lá que ouvimos a história do lugar.
Presta atenção! Conta-se que Manoel Félix, médium e fundador do povoado, indo em direção à Paraíba, encontrou um poço de águas salobras no meio do sertão.
Ali se fundou esta cidade, formada de um solo poroso suspenso sobre grutas e lagos subterrâneos. Por isso, aqui nos sentimos leves e o tempo passa diferente. Pensando bem, Iraquara também é uma ilha, mas uma ilha no meio do sertão.
Conhece a expressão: lata d’água na cabeça?
Cuidado com os Bonitinhos!!! Pois é, em Iraquara antes de ter água canalizada, todo mundo ia buscar água neste poço. As tias e avós levavam água pra casa com uma lata na cabeça. Hoje não precisa mais, pois tem a bomba d’água.
O poroso causa vertigens!
Pelas ruas de Iraquara O povo por aqui tem costume de arrancar o pouco mato que cresce e queimar na frente de casa. Começamos a catar palha pela cidade e levar para uma praça de chão batido, utilizada para amarrar os cavalos no dia da feira. Teve gente que estranhou e gente que achou normal, vinham conversar, falar sobre plantas que conheciam e suas propriedades.
Tá vendo esta trepadeira, a frutinha dela é doce e serve pra cura um monte de mal, vou levar pra minha fia!
Ólha isso Sol, é uma plantinha que cresce na beira da rua!!!!
Seu Zu, que você tá fazendo? To pegando remédio pra próstata.
Quem disse que ninguém junta palha em Iraquara? VAI UMA PALHA AÍ?
SIM!
OBRIGADA!
Olha a palha!
Que serรก que elas vรฃo fazer com essa palha?
Que doidas!!!
JÁ FAZEM TRÊS DIAS QUE CHEGAMOS NA PRAÇA DE MANHÃ E ALGUÉM BOTOU FOGO NA PALHA QUE JUNTAMOS! PRECISAMOS TOMAR UMA PROVIDÊNCIA!!!!! Mãos à obra!!
Produção de cartazes, lambe-lambes e é claro, o Manifesto da Palha, para distribuir e colar na cidade.
No outro dia, os cartazes surtiram efeito, ninguÊm mais queimou palha na praça!
E TEM MAIS PALHA A CAMINHO!
HEHEHE!
Quanta palha, quanto bichinho!!!!
Pica palha aí pra gente joga no nosso canteirinho!
PICA PALHA!!
Missão Cumprida!
Agora a praça tá cheia de guardião!
Pode deixar que eu molho as plantas pra você!!!
Mas antes de ir embora, um encontro mais que especial... O meninas, vocês não podem ir embora sem conhecer o meu jardim!
Pode entrá!
ISSO QUE É REVOLUÇÃO DA PALHA!!!!!
No jardim do Vadinho dĂĄ pra se perder. Tem muita vida! Muita palha, passarinho, gatinho e planta milagrosa, ele nos deu vĂĄrias sementes pra levar de volta pra Santa Catarina e disseminar nos nossos jardins.
Viva a palha!!!! A palha ĂŠ riqueza no sertĂŁo!
Antes de sairmos de Iraquara preparamos uma ação especial, que só podia ser um grande bombardeio de sementes no quintal da Casa de Tupã. Adivinha quem gostou da ideia?
FIM!
A Revolução da Palha em Iraquara foi um trabalho desenvolvido durante o período de Residência Artística em agosto de 2014 em Iraquara- BA, na Casa de Tupã. Com a participação de Bruna Maresch, Anne Solimar Sol e Nara Milioli.