A
Letra primeira, primordial, em maiúscula ou na caixa alta. Carrega sutilmente a origem caligráfica de quando foi outrora desenhada com pincel em tinta preta. Família tipográfica tradicional, primeiramente desenhada no século XVIII por William. Letra A, como cabeça e primeira da fila, espalha sua turma pelo vazio das folhas brancas. Elas devem ser discretas,quase sempre invisíveis, servindo a tipos como Balzac e mais tarde a Castro Alves, vocalizando desejos de quem escreve para conspirar ou para seduzir. Letrinhas que também são testemunhas de um momento, passagens no tempo-espaço, que fotografa o mundo e imprime na retina as marcas dos desenhos: revolução industrial que devorou mãos e pincéis ou revolução digital que maltrata mentes e sentidos. Quem não entender as travessuras dos algoritmos jamais conseguirá se manter surfando na liquidez dessas paisagens alucinadas.
e cantos agressivos e dominada por ortogonalidades, tem vocação autoritária e se impõe impávido e durão em muitos lugares da cidade. Por trás da diagonal vermelha, proíbe e coíbe abusos. Não confundir com seu primotímido, que não usa nenhuma faixa e, permissivo, cria oásis raros e acolhedores. Em lados diferentes, em muitos sítios, na verdade, são farinhas da mesma estaca, vigilantes aos movimentos, mas sobretudo aos que encostam e permanecem parados. Quando baixa a noite e terminam suas observações, relaxam, livres das tarefas e descansam. Ao dormir se tornam minúsculas de formas arredondadas com elegantes curvas e poucas retas. Ao clarear do dia sacodem com força seus suportes fazendo alarde de suas funções e somente os desavisados que ainda se mantém estáticos, são punidos.
Jesus na
cozinha, à vista
por
como
todas as
em tempos
momentos
M
Eric desenhou um M maiúsculo que lembra porteira, portal, portão. Porteira de fazendo, portal de campo de concentração, portão de estação de trem. É um M de muitas personalidades, capaz de mimetizar vocações e profissões. Às vezes bipolar como o M/H de motéis/bordéis que quer parecer lugar família e não espaço de atividades suspeitas. Este M se presta a estas malandragens sem se preocupar com seu passado clássico, quase moderno, que sintetiza o espírito da Revolução Industrial da Inglaterra. Adaptado ao mundo moderno, digital e estrambólico, sabe que ninguém vai denunciá-lo por ceder seus préstimos ao pet shop da esquina, ao buteco da beira da praia, ao logo do advogado. Ninguém se importa nem sabe de onde ele vem… e pouco importa, revolta-se o híbrido da família Dead History que critica esse vale tudo, que vale nada. O fim da história. Que merda.
O design e o desenho dos objetos fotografam a sua época. São arqueologias culturais e materiais que permitem entender de forma sensível o tempo que passou e os dias em que vivemos. ¶ O desenho da Futura de Paul Renner em 1928 representa a ideia da linha de montagem fordista, assim como a Bits de Paul Elliman (2000) é arqueologia industrial que nos alerta para os excessos do consumo e indica, que depois dos primados da produção e do consumo, o próximo ciclo terá que levar em consideração a sustentabilidade. Dead history o manifesto tipográfico de Scott Makela do final do século XX abre as mentes para o fim de uma era. O fim de uma história. Um posicionamento frente a sociedade e um alerta dos efeitos culturais de sua produção. O projeto de Makela, também afirma que a partir da escritura Post Script, chegaram ao fim as convenções tipográficas renascentistas e mecânicas. Só quem se adaptar e estabelecer novas
sobreviverá. Claudio