Cadernos do Olhar#22/Paisagem – Inverno 2017

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A la matinada, no sé si l’endemà o un altre dia, vaig sortir a poc a poc i vaig veure les muntanyes altes sota un cel tacat de núvols. Vaig córrer pels créixens i em vaig aturar a la soca del salze. Les primeres fulles encara eren a dins dels brots, però el brots ja verdejaven. No sabia cap on tirar; si em distreia, els brins d’herba em burxaven els ulls—i entre els brins em vaig adormir fins que el sol va ser alt. Mercè Rodoreda, ‘La salamandra’, La meva Cristina, 1983.

Cadernos do Olhar #22 Paisagem


OLHAR#22 Cadernos do Olhar #22 Julho 2017 Texto, edição & design Claudio Ferlauto Fotografias M aialu Burger Ferlauto Tipografia Bodoni Contato claudio@qu4tro.com.br Outras edições issuu.com/olhargrafico

Dins el jardí de pedres, un film de llum entre dos ràfecs encén les ones del mar de la penombra.

Aigua arrissada: peixos blancs e vermells mouen les brànquies sota la pluja. Ricard Martínez Pinyol, Anyil, 2016.

PAISAGEM MEGASIAP

Cadernos do

Inverno 2017

Desenhos Masia, caminho para Manacor, Mallorca Ilha dos Corais SC Antes e depois da chuva, Mallorca Corcovado de Ubatuba SP Serra da Mantiqueira, Gonçalves MG Cristo Redentor, Rio de Jneiro RJ Sant Llorenç des Cardassar, Mallorca Itamambuca, Ubatuba SP


Este ermo não tem nem cachorro de noite. É tudo tão repleto de nadeiras. Só escuto as paisagens há mil anos. Chegam aromas de manhã em mim. Só penso as coisas com efeitos de antes. Nas minhas memórias enterradas vão achar muitas conchas ressoando… Seria areal de um mar extinto este lugar onde se encostam cágados? Manoel de Barros, ‘Deslimites da palavra’, O livro das ignorãças, 1993.



Non dei piú ammirar, se bene stimo, lo tuo salir, se non come d’un rivo se d’alto monte scende giuso ad imo. Maraviglia sarebbe in te se, privo d’impedimento, giú ti fosse assiso, com’a terra quïete in foco vivo. Quinci rivolse inver’ lo cielo il viso. Dante Alighieri, ‘Paradiso’, La divina comedia, 1308–1312


Ontem, ainda à beira do mar, olhamos no horizonte da baía da Guanabara uma dúzia de lindos veleiros coloridos e quando nos demos conta estávamos correndo em direção às montanhas, deixando para trás, no calçadão, cocares, arcos e flechas e o tapa sexo, pois parecia uma nova invasão de discos voadores portugueses, chegando para, de novo, nos colonizar. E mais uma vez, uma dissidência desmiolada jogava-se alegremente ao mar, junto ao merdô de Ipanema, com a alegria de quem descobre que não tem futuro nem passado… Cauim, cauim, cauim… Claudio Ferlauto, Noites cariocas, 1974.


A la banda de llevant la vegetació era exuberant. A la banda de ponent no hi plovia mai. A la banda de llevant la pluja no parava. I a la banda de la pluja ja hi havia dotze fonts: la de l’espígol, la del romaní, la dels créixens, la de la camamilla, la de la sargantana, la del grèvol, la de l’escurçó, la de la formiga, la de l’oronell, la de l’esparver, la de la rosella, la del rossinyol, la de la mallerenga… no dotze, tretze. Mercè Rodoreda, ‘Viatge al poble de les dues roses’, Viatges i flors, 1984.


Cadernos do Olhar #22 Paisagem Abriu uma das janelas: a paisagem exibia todas as suas belezas. Sob o fermento de um sol intenso, todas as coisas pareciam perder o peso: o mar, ao fundo, era uma mancha de pura cor; as montanhas que de noite lhe haviam parecido esconder terríveis armadilhas, eram agora massas de vapor prestes a dissolver-se, mesmo a torva cidade, como um rebanho ao pé do pastor, estendia-se saciada, ao redor; no porto, os navios estrangeiros ancorados […] não bastavam para pôr uma nota de perigo naquela calma magestosa. O sol daquela manhã […] embora longe do máximo de sua força, mostrava-se o autêntico soberano do local: um sol violento e impudico, um sol narcotizante que anulava as vontades e mantinha todas as coisas numa imobilidade servil, embalada em sonhos violentos, em violências que participavam da própria arbitrariedade dos sonhos. Lampedusa, O leopardo, 1954.


A la matinada, no sé si l’endemà o un altre dia, vaig sortir a poc a poc i vaig veure les muntanyes altes sota un cel tacat de núvols. Vaig córrer pels créixens i em vaig aturar a la soca del salze. Les primeres fulles encara eren a dins dels brots, però el brots ja verdejaven. No sabia cap on tirar; si em distreia, els brins d’herba em burxaven els ulls—i entre els brins em vaig adormir fins que el sol va ser alt. Mercè Rodoreda, ‘La salamandra’, La meva Cristina, 1983.

Cadernos do Olhar #22 Paisagem


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