Cadernos do Olhar #31 O FIM DO LIVRO

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Cadernos do Olhar #31 Primavera 2018

O LIVRO O fim do jornal impresso ĂŠ conhecido: a banca de peixes da feira ou a caixa de areia dos gatos. E o do livro?


«Muito já se falou sobre um iminente fim do livro como o conhecemos hoje. A materialidade das letras impressas sobre papel estaria destinada a desaparecerna virtualidade das telas dos computadores e dos e-books. Apesar de todos os prognósticos, o velho e bom livro impresso vem dando sinais de vida renovada. O livro da gráfica é uma introdução aos temas que compõe esse universo. O designer Claudio Ferlauto e a editora Heloisa Jahn escrevem ensaios curtos sobre diferentes assuntos relacionados ao livro e à impressão. (...) O formato é ade-quado para as pretensões

didáticas da obra, voltada para uma geração pouco afeita aos textos longos e contínuos. E coerente com o que os autores consideram uma das características centrais do design editorial hoje: as apropriações, bricolagens, mixagens, manipulações e fusões derivadas. A obra vai trocando em miúdos os vários elementos que compõem o objeto-livro. (...) Um ponto a favor do livro é seu design. Tem capa dura, incomum no formato reduzido. Não é grosso a ponto de dificultar o ato de segurar ou folhear. Em suma, um objeto bom de ler e ver». Adélia Borges, Gazeta Mercantil, outubro 2001.


Sumário

Capa/Decameron, Bocaccio ¶ Fausto, Joham W. von Goethe ¶ Il Deserto dei tartari, et altri, Dino Buzzati; Heródoto, Garnier. Contra Capa/ Mirall trencat, Merce Rodoreda ¶ Le città invisibile, Italo Calvino ¶ Barcelona, Robert Hughes ¶ O livro da gráfica, CF e Heloisa Jahn, texto de Adélia Borges ¶ Meu nome é vermelho, Orhan Pamuk ¶ Le compte de Monte-Cristo, Dumas ¶ Vie et morte en quatre rimes, Amos Oz ¶ Una storia semplice, et altri, Leonardo Sciascia ¶ Cenas de vida siciliana, Giovani Verga et altri ¶ Menino de engenho, José Lins do Rego ¶ Beyond Coinceptual Art, Seth Siegelaub ¶ Storie dell’Arte, Marco Vacchetti ¶ Inquisiciones – Otras Inquisiciones, Jorge Luis Borges ¶ Relatos, Julio Cortazar ¶ Obras Completas, Molière, Garnier ¶ Tirant lo Blanc, Joanot Martorell ¶ D. Quijote, Cervantes ¶ Llibre d’Amic e Amat, Ramon Llull ¶ Quarteto de Alexandria: Justine, Balthazar, Clea, Mountoline, Lawrence Durrell ¶ Os honrados mafiosos, Gay Talese ¶ Le Rouge et le Noir, Stendhal ¶ El perquè de tot plegat, Quim Monzó ¶ O vinho da juventude, John Fante ¶ Arte como experiência, John Dewey ¶ Design as Politics, Tony Fry ¶ Sul guardare, John Berger ¶ Técnicas do observador et altri, Jonathan Crary ¶ The Solid Form of Language, Robert Bringhurst ¶ I racconti, Tomasi di Lampedusa ¶ Calligrammes, Guillaume Apollinaire ¶ Vi Vendo, José ‘Dedé’ Ferlauto ¶ Anyil, Ricard Pinyol ¶ Offline, Ana Rovati ¶ Paulo Monteiro et altri, Alberto Tassinari ¶ Desenhos, Regina Siveira ¶ A Pintura – Textos essenciais, Jacqueline Lichtenstein et altri ¶ Alex Flemming, Mayra Laudanna ¶ Tantra Coisa, José Roberto Aguilar

«No fim nossa arte se extinguirá, nossas cores esmaecerão. Ninguém mais se interessará por nossos livros e por nossas pinturas. E os que se interessarem, não compreenderão mais nada, e perguntarão com uma careta porque esta ausência de perspectiva — se é que poderão encontrar as próprias obras. A indiferença dos homens, o tempo e as catástrofes destruirão nossa arte. A cola das nossas encadernações, conforme a fórmula árabe, contêm escamas de peixe, osso, mel, e nossas páginas são lustradas com clara de ovo e amido. Os camundongos vorazes as comerão com despudorada gula. Os cupins, os carunchos e mil espécies de bichos roerão nossos preciosos manuscritos até desaparecerem. As encadernações racharão, as páginas se soltarão. Criados indiferentes, ladrões e crianças rasgarão, sem pensar, as páginas e as pinturas, donas de casa irão usá-las para acender o fogo. […] De tempo em tempo, algum censor religioso, furiosamente inspirado, declarará que tudo aquilo é pecado, cobrirá tudo com extrato de nogueira. Ou uma criança recortará as páginas para fazer caricaturas e se divertir, os pais ou os irmãos se masturbarão sobre as figuras femininas, e assim as páginas ficarão grudadas, não só por causa disso, mas também por obra da lama, da cola que transborda, da saliva adensada com todos os restos possíveis de comida. Onde as páginas se grudaram, pontos de mofo desbrocharão como flores». Orhan Pamuk Meu nome é vermelho

O FIM DO LIVRO


«Voici les questions qui reviennent sur le tapis: Pour quelle raison écrivez-vous? Et pourquoi de cette manière? Cherchez-vous à influencer vos lecteurs, et si oui, dans quel sens? Quel rôle vos récits jouent-ils? Biffez-vous, modifiez-vous constamment ou écrivez-vous d’un seuel jet sous le coup de l’inspiration? Quel effet cela vous fait-il d’être célèbre? […] Écrivez-vous à la main ou à la machine?» Amos Oz


«Io credo nei siciliani che parlano poco, che non se agitono, che si rodono dentro e soffrono: i poveri che ci salutano con un gesto stanco, come da una lontananza di secoli… Questo popolo ha bisogno di essere conosciuto ed amato in ciò che tace, nelle parole che nutre nel cuore e non dice…» Leonardo Sciascia Gli zii di Sicilia.1958


Abriam-se por esse tempo, o quarto dos santos. O santuário coberto de preto e as estampas viradas todas para as paredes. Os santos estavam com vergonha de olhar para o mundo. Era assim a religião do engenho onde me criei.

«I am not an artist. I have been involved in the business of art for the past 4 years. Within that period many things have changed; the artists who make art, the manner and situation in which art are exhibited in… the broadening of the (geographical) area where artists chose to work… but 2 basic things have not changed: – 1) the people who control art and – 2) the rights and controls an artist has in the sale and exhibition of his art». Seth Siegelaub, 1970


«Portanto diante de uma tela ou de um bloco de mármore podemos experimentar algumas perguntas: narra uma história? Qual? De que tipo? De que modo?» Storie dell'arte Marco Vacchetti

«En el octavo libro de la Odisea se lee que los dioses tejen desditas para que las futuras generaciones no les falte algo que cantar; la declaración de Mallarmé: ‘El mundo existe para llegar a un libro’, parece repetir, unos treinta siglos después, el mismo concepto de una justificación estética de los males. Las teleologías, sin embargo, no coinciden íntegralmente; la del griego corresponde a la época de la palavra oral; y la del francés, a una época de la palabra escrita. En una se habla de cantar y en otra de libros. Un libro, cualquier libro, es para nosotros un objeto sagrado: ya Cervantes, que tal vez no escuchaba todo lo que se decía la gente, leía hasta ‘los papeles rotos de las calles’». Em Del culto de los libros, 1951


«Y si, parece que es así, que te has ido diciendo no sé qué cosa, que te ibas a tirar al Sena, algo por el estilo, una de esas frases de plena noche, mezcladas de sábanas y boca pastosa, casi siempre en la oscuridad o con algo de mano o de pie rozando el cuerpo del que apenas escucha, porque hace tanto que apenas te escucho quando dices cosas así, eso viene del otro lado de mis ojos cerrados, del sueño que otra vez me tira hacia abajo». ‘El Rio’, 1976

Editora Garnier Frères, Paris



«Recentemente durante o jantar, minha

mãe relembrou uma passagem do Quarteto de Alexandria. Embora sua mais recente leitura da obra tenha sido feita anos atrás. Sua face se iluminava quando lembrava de algumas passagens importantes —como o nome dos personagens, a descrição dos locais— e outros fragmentos expressivos de sua leitura do texto. Essas lembranças detalhadas eram transmitidas com entusiasmo e prazer, um evocativo testemunho da permanência da obra épica de Lawrence Durrell.


Ocorreu-me então que eu nunca tinha ouvido alguém descrever uma experiência com mídia integrada dessa forma enfática. Esta obra tinha uma significado especial para ela: de um jeito ou de outro uma força me dizia que sua leitura havia sido interativa. O fato de Durrell ter estruturado os quatro volumes do Quarteto para ser lido em qualquer ordem permitiu a ela uma forma primitiva de experiência interativa

».

Jessica Helfand em 21 grandes designers… de Debbie Millman



Dal momento che mi avete assegnato questo premio, fosse vi interessarà sapere, in breve, che cosa esso significa per me. Trovo ripugnante la competitività dei premi. E, nel caso di questo especifico premio, la pubblicazione della lista dei finalisti, la suspense pubblicizzata ad arte, la especulazione sugli scrittori coinvolti, neanche fossero cavalli, l’enfasi complessiva su vincitori e vinti, tutto è falso e fuori posto, visto que si tratta de letteratura.


«…e faceva provvista di storielle da raccontare agli amici quando fra una settimana sarebbe ritornato a Roma. Ma aveva torto: era troppo uomo di mondo per essere avvezzo a tuffare l’indagine sua al di sotto delle più evidenti apparenze e, ciò che gli appariva come umoristica esibizione de provincialismo era tutt‘altro che comico: erano i tragici soprassalti di una classe che vedeva sfuggire il proprio primato latifondistico, cioè la propria ragione di essere e la propria continuità sociale…» ‘I gattini ciechi’, 1957


Calligrammes, sous-titré Poèmes de la paix et de la guerre 1913-1916, est un recueil de poésie concrète de Guillaume Apollinaire publié le 15 avril 1918 aux éditions Mercure de France et contenant de nombreux calligrammes dont le plus connu est La Colombe poignardée et le Jet d'eau. Apollinaire, dans une lettre à André Billy, affirmera : «Quant aux Calligrammes, ils sont une idéalisation de la poésie vers-libriste et une précision typographique à l'époque où la typographie termine brillamment sa carrière, à l'aurore des moyens nouveaux de reproduction que sont le cinéma et le phonographe».

Guillaume Apollinaire, 1913

Na mesa era um devasso Na cama era de nada

Aigua arrissada:

peixos blancs i vermells mouen les brànquies sota la pluja. Ricardo Pinyol, 2016

José Otávio 'Dedé' Ferlauto


Quanto mais desejo, mais invento o que vejo. Fernando Lemos, 2016

«Vou sair da internet. Um ano. Calma. Ainda não sei quando. Calma é só uma ideia. Sim estou falando sério. Isso, eu não entraria mais no skype etc. Não, eu não vou desaparecer, […] Depois de alguns dias sem acessar a internet, me dei conta de que apesar de meu aparente ‘desaparecimento’, a intensidade e o valor de cada uma das conversas que passei a ter se multiplicaram. Ou seja, se por um lado tenha morrido virtualmente, por outro lado, confesso, fazia muito tempo que não me sentia tão viva». Ana Rovati, 2018


«Estra nho e ond s desenhos em pé e mesmos a onde tudo s e toca, s marg de igu ens d aldad essas, s e com as lin esenham has. ão am um eq uilíbrio bíguas, e a Como rticula e uma m entre o reversibilid Transb ade de cá e ordam ao me o de od smo te mpo a esenho para lá delas. rrastam f -no pa ora, mas ra den tro.» Alb erto T assina

ri

ista, a da art da lógic o tr n e ,d m las seriam ma que traze que de coisas ras das tação do enig ites, o que é b m o s m «As anifes m de seus li os? pura m mplam l, alé a mais i. Afina ando as conte s 95 e 9 d 1 o Faria, dentr mos qu remete Agnaldo


«O desenho remete sempre à ordem de um projeto; pressupõe uma antecipação do espírito que concebe abstratamente e representa mentalmente a forma que quer realizar, o objetivo que busca atingir. O desenho não é matéria nem corpo, nem acidente, escreve Zuccaro em Idea del pittore, e sim forma, concepção ideia, regra e finalidade —em suma, uma atividade superior do intelecto». Jacqueline Lichtenstein A pintura – O desenho e a cor.


«As l etr as pint a com das [ fr eq u …] s ência ão u g ráfi desd cos-p e 199 tilizadas i c t órico obr a por F 0. En s, ela s. A lemm t end s com idas ing outr a lgumas r p como õem epr o s, ma e [ d … l u e t é ] z ment alem em c rias os onjun vár ias de j ão, i ng lês or nalís tic t s o u s as de pa as em e esp la vr a anho por tu s, l». M guês ayra , Laud anna emente rreg am mol loridos esco co os ej es «D

da tela». na superfície


O FIM D Cadernos do Olhar #31 Primavera 2018

Editor Claudio Ferlauto

Tipografia Baskerville–Gill Sans ¶ Didot–Avenir ¶ Electra ¶ Bodoni–EHU Sans ¶ Garamond–Myriad ¶ Hoefler Text–Futura Contatos qu4troarquitetos@gmail.com issuu.com/olhargrafico ¶ facebook/Olhar Grafico


Cadernos do Olhar #31 Primavera 2018

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