Quarentena Parte I – Março 2020

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Quarentena Dias de mudanças: o fim de um mundo Parte I Primeira semana

Claudio Ferlauto Cadernos do Olhar Março 2020


QUARENTENA A origem da palavra vem da língua vêneta designando o período de quarenta dias em que todos os barcos deveriam ser isolados antes que passageiros e tripulantes pudessem desembarcar durante a epidemia da peste negra nos séculos 14 e 15, sendo inspirado no trentino, período de trinta dias imposto pela primeira vez em 1377 em Ragusa, dominada por Veneza. [1] [2] Apesar da quarentena ser considerada pelos historiadores modernos como uma das primeiras contribuições fundamentais à prática da saúde pública, [3] Czeresnia, assinala que no momento de sua instituição, em épocas da peste, não tinha sua devida importância reconhecida. Estava integrada à práticas de fumigamento e desinfecção junto as fogueiras purificadoras das encruzilhadas de uma cidade; desinfetar com perfumes e enxofre os indivíduos, casas roupas e outros objetos, etc.. [4]


As noções de contágio, continua ela, estavam associadas à uma concepção ontológica do contato com espíritos, demônios, algo que entra no corpo, flechas lançadas pelos deuses etc., (sendo necessário o isolamento e expulsão), e/ou associada à noção de miasmas e perturbação do equilíbrio e harmonia da physis. [4] A propagação da epidemia foi descrita na época da peste, como semelhante a um incêndio, a doença é transferida de um doente ao outro assim como o fogo se espalha. Nos casos de lepra, uma doença que esteve fundamentalmente associada à noção de contágio/contato, a doença era associada à impureza espirituale os doentes era proscritos, expulsos da comunidade, destituídos de direitos civis e considerados socialmente mortos. [4] wikepedia 1 MAYER,Johanna. The Origin Of The Word ‘Quarantine’ https://www.sciencefriday.com/articles/the-origin-of-the-word-quarantine/ Aces. 22/03/2020 2 CDC. Etymologia: Quarantine. Emerg Infect Dis. 2013;19(2):263. https:// dx.doi.org/10.3201/eid1902.et1902 Aces. 22/03/2020 3 ROSEN, George. Uma história da saúde pública. SP: Hucitec/UNESP/ Abrasco, 1994 p.63 4 Ir para: a b c CEZERESNIA, Dina. Do contágio à transmissão: Ciência e cultura na gênese do conhecimento epidemiológico. RJ: Fiocruz, 1997


A rua é tranquila. Em frente, temos um prédio residencial de arquitetura modernista, à direita, uma clínica de serviços médicos para tratamento intensivo de pacientes de pós-operatório. Passa uma ambulância. Poucas pessoas na rua. É o medo do coronavirus.

Vizinhos invisíveis. Deles ouvimos as vozes e, de vez em quando, música de rádio. Os passarinhos descem ao jardim para se alimentar. Comem frutas e minhocas. Não faz mais calor. Na sala, a TV desligada, nos obriga a observar com atenção, coisas que não vemos no dia a dia.


The street is quiet. In front of the window is a residential building with modernist architecture, on the right a medical service clinic for intensive care of postoperative patients. An ambulance passes. Few people on the street. It is the fear of the coronavirus.

View from the back window Invisible neighbors. From them we hear the voices and, from time to time, radio music. The birds go down to the garden to feed. They eat fruit and earthworms. It is no longer hot. In the living room, the TV turned off, obliges us to carefully observe things that we don’t see on a daily basis.


Desenho velhas cenas de aeroportos, sempre lotados, e cada vez mais, exigindo mais de nosso tempo e da paciência de quem viaja. Cobram tudo até o ar que respiramos. Começou pela bagagem despachada, depois ameaçaram cobrar as de mão, os lanches, a marcação de assento. E a boiada sem reclamar.

Agora estou aqui a me perguntar quanto que eles estão dispostos a pagar para que voltemos a voar? Depois do caos, gostaria de saber, — se estas empresas ainda existirem—, voltarão a nos explorar sem dó nem piedade?

E como serão as aulas e palestras neste novo mundo?


I redraw old airport scenes, always crowded, and more and more, demanding more of our time and the patience of those who travel. They charge everything up to the air we breathe. It started with checked baggage, then they threatened to charge hand luggage, snacks, seat reservations. And the cattle

without complaint. Now I’m here asking myself how much are they willing to pay for us to fly again? After the chaos, I would like to know, – if these companies still exist – will they exploit us without mercy or pity?

And what will classes and lectures be like in this new world?


A grande conjunção em Capricórnio corresponde ao erguer muros, construir cercas, estabelecer limites, ficar imóvel para proteger-se. Hoje, Saturno, o astro síntese do aglomerado, ingressando pela primeira vez em Aquário, assinala a primeira fresta, a primeira janela, porta ou ponte de saída para além da presente situação. ¶ Aquário é o conhecimento do futuro, do que está por vir, e dentro da crise assinalam as oportunidades que livram do perigo. Assim, as orientações e previsões de tendências futuras através do simbolismo zodiacal podem ser de grande utilidade, visando preparar-nos para quando o pêndulo da natureza inverter seu curso da contração para a expansão, possamos estar preparados para surfar as novas aquarianas da inovação que necessariamente vão se transbordar por sobre as represas capricornianas. Antonio Carlos Bola Harres


Quarentena Dias de mudanças: o fim de um mundo Parte I Primeira semana

Claudio Ferlauto Cadernos do Olhar #37 Março 2020


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